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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FABÍOLA MARIALVA MARQUES DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR, O PRÉDIO DE VIDRO São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FABÍOLA MARIALVA MARQUES

DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,

O PRÉDIO DE VIDRO

São Paulo 2011

FABÍOLA MARIALVA MARQUES

DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,

O PRÉDIO DE VIDRO

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Design, área de concentração em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Profa. Dra. Ana Mae Barbosa.

São Paulo 2011

M317d MARQUES, Fabíola Marialva

Design em diálogo no espaço universitário: A memória do Edifício Theatro Casa do Ator, o Prédio de Vidro / Fabíola Marialva Marques. - 2011 217f.;il.; 30 cm. Orientador: Ana Mae Barbosa Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011. Bibliografia: f. 207-210. 1.Design. 2. Memória. 3. Arquitetura. 4. Prédio de Vidro. 5. Universidade. I Título.

CDD 741.6

DEDICATÓRIA

Dedico este espaço para, mais do que agradecer, mandar aquele abraço a todos os amigos e os professores que confiaram nesta pesquisa, em especial a minha Banca – Ana Mae Barbosa, Maria Helena Flynn e Marcia Merlo, com grande consideração intelectual agradeço a atenção, dedicação e paciência ao contribuir com um pouco de todo conhecimento. Agradeço a todos aqueles que participaram da pesquisa, oferecendo apoio, respondendo a entrevista, deixando seu depoimento e disponibilizando seu tempo para contar uma boa história. Aquele abraço especial para o arquiteto Francisco Petracco, ao reitor Gabriel Rodrigues, Regina Ambrósio, Lucilene Casteliano Faria, Ricardo Centurione, Ailton Bernardes, Dr. Fabiano Laperuta, arquiteta Deise Marques Araujo, engenheiros Delduque Oliveira, Eduardo Sobrosa, Wilson Mello, Luis Araujo, Luiz Crepaldi, Leonardo Lenharo e meus eternos mestres, no curso de arquitetura da Universidade Anhembi Morumbi. Um abraço carinhoso a uma pessoa muito especial que tornou esta dissertação possível; Luciano Gilio, muito obrigada pelo apoio, dedicação, companheirismo e cumplicidade. Aquele abraço para a algumas pessoas especiais que estão sempre presente, Mã, Abu, Cláudio Lima, Melissa, por entender o processo, acompanharem os desafios e dificuldades que se vive ao fazer uma pesquisa, sempre oferecendo um ombro amigo nas horas mais difíceis. Aquele abraço, também, aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários, colegas que conheci, amigos que conquistei durante os 10 anos de Anhembi Morumbi e que sempre levarei no coração. E mesmo não podendo fazê-lo fisicamente, aquele abraço ao meu pai, distante;

mas sempre vivo e presente.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo traçar a trajetória da concepção

e uso do Prédio de Vidro, a Unidade 6 da Universidade Anhembi Morumbi,

situado na Rua Casa do Ator, nº 275, do Campus Vila Olímpia.

A Universidade Anhembi Morumbi nasce em 1971 a partir da iniciativa

de um pequeno grupo de engenheiros e arquitetos do estado de São Paulo

locados no Departamento de Obras Públicas liderados por Gabriel Mário

Rodrigues, onde iniciam suas atividades em uma única edificação no Bairro do

Morumbi abrigando o curso de Turismo com quatro turmas de 90 alunos. Em

1978, transfere-se para o Bairro da Vila Olímpia, expandindo-se posteriormente

para os Bairros do Brás, Centro, Brooklin e Bela Vista, totalizando cinco Campi.

Atualmente, 40 anos após sua fundação, transformou-se em uma universidade

com aproximadamente 32.000 alunos distribuídos em quinze edificações,

oferecendo 104 cursos entre graduação, pós-graduação, graduação tecnológica e

graduação executiva. A partir de 2005, passa a integrar a Rede Internacional de

Universidades Laureate presente em 28 países.

Diante de tal contexto, esta pesquisa propõe resgatar, através de

documentos e testemunhos, a história do primeiro edifício da Instituição

concebido para ser um espaço universitário, contrariando as adaptações em

espaços fabris já existentes no tecido urbano, que fazia até 2001. É uma tentativa

de resgatar uma parte da Memória da Universidade Anhembi Morumbi contada a

partir de sua arquitetura, bem como identificar aspectos interpretativos deste

espaço acadêmico, decodificar sua obra, entender seu design estabelecido e

identificar elementos que possibilitem o significado de sua forma.

Palavras-chave: Design. Memória. Arquitetura. Prédio de Vidro. Universidade.

ABSTRACT

This paper aims to trace the trajectory of the design and use of Prédio de

Vidro, Unit 6 at Anhembi Morumbi University, located at Actor House Street, nº.

275, Vila Olímpia Campus.

The University Anhembi Morumbi born in 1971 on the initiative of a

small group of engineers and architects of the Sao Paulo state leased at the

Department of Public Works led by Gabriel Mario Rodrigues, which begin their

activities in a single building in the neighborhood of Morumbi harboring Tourism

course with four classes of 90 students. In 1978, he moved to the district of Vila

Olímpia, expanding later to the neighborhoods of Bras, Downtown, Brooklyn and

Bela Vista, totaling five campuses. Today, 40 years after its founding, became a

university with approximately 32,000 students distributed in fifteen buildings,

offering 104 courses from undergraduate, graduate, undergraduate and graduate

technology executive. Starting in 2005, joins the Laureate International Network

of Universities in 28 countries.

Given this context, this research proposes to redeem, through

documents and testimony, the history of the institution's first building designed

to be a university area, contrary to the adaptations in existing manufacturing

spaces in the urban fabric, which was until 2001. It is an attempt to rescue a part

of the Memory Anhembi Morumbi told from its architecture, and identify

interpretive aspects of academic space, decode his work, understand and identify

established design elements that enable the significance of its shape.

Keywords: Design. Memory. Architecture. Prédio de Vidro. University.

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Reitor

Gabriel Mário Rodrigues

Vice-reitor

Ricardo Grau

Pró-reitora

Josiane Tonelotto

Coordenação de Mestrado em Design

Jofre Silva

Corpo Docente (2011)

Agda Regina de Carvalho

Ana Mae Barbosa

Cristiane Ferreira Mesquita

Gisela Beluzzo de Campos

Jofre Silva

Luisa Paraguai

Márcia Merlo

Rachel Zuanon

Rosane Preciosa

Corpo Docente (2009-2011)

Kátia Castilho

Maria Izabel Ribeiro

Maria Lúcia Bueno

Mônica Moura

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Ana Mae Barbosa

Orientadora

Universidade Anhembi Morumbi

Profa. Dra. Márcia Merlo

Professora convidada Interna

Universidade Anhembi Morumbi

Profa. Dra. Maria Helena de Moraes Flynn

Professora convidada Externa

Universidade Católica de Santos

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 14

INTRODUÇÃO 15

CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA 25

1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA 25

1.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL 29

1.3 A UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI 37

CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO 83

2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6 83

2.2 UM POUCO SOBRE O ARQUITETO 93

2.3 A ARQUITETURA 118

2.3.1 O DESENHO 118

2.3.2 A ESTRUTURA 142

2.3.3 O RITMO 153

2.4 A CONSTRUÇÃO 165

CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL 188

O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM 188

A ESCOLA ABERTA 194

CONSIDERAÇÕES FINAIS 202

PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 205

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 207

ANEXOS 211

APRESENTAÇÃO 14

INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA 2

1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA 25

CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO 83

2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6 83

CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL 188

O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM 188

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 207

ANEXOS 211

CONSIDERAÇÕES FINAIS 202

PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 205

ANEXOS 211ANEXOS 211

Figura 1 – Implantação do Prédio de Vidro – Desenho do Complexo Theatro, no

Campus Vila Olímpia, com a fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua

Casa do Ator, sobre recorte do Bairro Vila Olímpia no mapa GEGRAN, de 1974.

Fonte: Acervo Pessoal da Autora

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Implantação do Prédio de Vidro 10

Figura 2 Complexo Theatro 19

Figura 3 Estabelecimento de campus no estrangeiro 33

Figura 4 McDonaldização da Educação Superior 34

Figura 5 Programas conjuntos 34

Figura 6 Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi 36

Figura 7 Capa do livro "Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda" 37

Figura 8 Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi 39

Figura 9 Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo 40-42

Figura 10 Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi 43

Figura 11 Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi 45

Figura 12 Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo 45

Figura 13 Fachada principal do Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia 46

Figura 14 Informativo Faculdade Anhembi Morumbi 47

Figura 15 Logotipo das Instituições 47

Figura 16 Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi 48-49

Figura 17 Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: 50

Figura 18 Semana Brasileira de Moda 51

Figura 19 Laboratório específico de gastronomia 54-55

Figura 20 Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde 54-55

Figura 21 Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi 56-57

Figura 22 Antiga sede da Alpargatas 59

Figura 23 Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá 62

Figura 24 Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997 63

Figura 25 Mapa de localização do Campus Centro 64

Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 61

Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 61

Figura 28 Projeto do Campus Centro 62

Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 65

Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 65

Figura 28 Projeto do Campus Centro 66

Figura 29 Implantação atual do Campus Centro 67

Figura 30 Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia 69

Figura 31 Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 70

Figura 32 Fachada do Campus Vale do Anhangabaú 71

Figura 33 Fachada principal do Campus Morumbi 72

Figura 34 Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi 72

Figura 35 Mapa do Campus Morumbi 73

Figura 36 Fachada do Complexo Theatro 74

Figura 37 Fachada do Complexo Theatro 75

Figura 38 Evolução urbana do Campus Vila Olímpia 76-77

Figura 39 Fachada lateral do Complexo Theatro 78

Figura 40 Informe publicitário Folha de São Paulo: 79

Figura 41 Laboratório de Simulação do curso de Medicina 80

Figura 42 Fachada do Campus Avenida Paulista 80

Figura 43 Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi 81

Figura 44 Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi 81

Figura 45 Mapa de uso e ocupação do solo da Regional de Pinheiros 83

Figura 46 Francisco Colman 85

Figura 47 Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275 88

Figura 48 Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro 90

Figura 49 Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro 90

Figura 50 Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6 91

Figura 51 Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6 92

Figura 52 Francisco Petracco 93

Figura 53 Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo 95

Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 92

Figura 55 Clube XV de Santos 92

Figura 56 Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina 93

Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 96

Figura 55 Clube XV de Santos 96

Figura 56 Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina 97

Figura 57 Palácio da Justiça de Santa Catarina 97

Figura 58 Residencia Cláudio Morelli 98

Figura 59 Residencia Vicente Izzo 98

Figura 60 Residencia Pedro Marrey 98

Figura 61 Edifícios residências 98

Figura 62 Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz 99

Figura 63 Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê 100

Figura 64 Projeto para Palácio das Nações 101

Figura 65 Projeto Escola Museu, Jundiaí 102

Figura 66 Escola Gomes Cardim 102

Figura 67 Jardim Santo Inácio 104

Figura 68 Jardim Santo Inácio 104

Figura 69 Escola Poá 105

Figura 70 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago - 1º projeto 107

Figura 71 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108

Figura 72 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108

Figura 73 Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro 111

Figura 74 Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro 112

Figura 75 Distribuição atual do Campus Centro 113

Figura 76 Mapa do Campus Centro 114

Figura 77 Compatibilização dos projetos para o Campus Centro 115

Figura 78 Fachada da Unidade 6 116

Figura 79 Ata de reunião de 10 de junho de 1999 117

Figura 80 Croqui da Unidade 6 118

Figura 81 Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro 122

Figura 82 Pavimento tipo da Unidade 6 124

Figura 83 Pavimento tipo da Unidade 7 124

Figura 84 Pavimento tipo da Unidade 5 125

Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 122

Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 122

Figura 87 Unidade 05, projeto de 2005. 123

Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 126

Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 127

Figura 87 Unidade 05, projeto de 2005. 127

Figura 88 Átrio Central 128

Figura 89 Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência 129

Figura 90 Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. 130

Figura 91 Circulação vertical 131

Figura 92 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 132

Figura 93 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 133

Figura 94 A espiral do Conhecimento. 134

Figura 95 Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. 135

Figura 96 Evolução do Prédio de Vidro 138-139

Figura 97 Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001 141

Figura 98 Fachada frontal do Prédio de Vidro 142

Figura 99 Corte esquemático da concepção estrutural 144

Figura 100 Croqui com medidas 145

Figura 101 Fachada esquemática da concepção estrutural 146

Figura 102 Corte esquemático da concepção estrutural 146

Figura 103 Detalhamento do piso de Steel Deck 147

Figura 104 Detalhe de conexões nas treliças 148

Figura 105 Sala de aula padrão 150

Figura 106 Projeto do Auditório no Prédio de Vidro 155-156

Figura 107 Capela de São Judas Tadeu 157

Figura 108 Capela de São Judas Tadeu, vista externa 158

Figura 109 Capela de São Judas Tadeu, vista interna 159

Figura 110 Esplanada do Complexo Theatro 160

Figura 111 Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. 162

Figura 112 Proporções arquitetônicas 164

Figura 113 Cliente Astra Zeneca 166

Figura 114 Cliente EFACEC do Brasil Ltda 166

Figura 116 Pedra Fundamental 166

Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 167

Figura 115 Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro 167

Figura 116 Pedra Fundamental 170

Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 171

Figura 118 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 172-173

Figura 119 Cápsula do Tempo 174-175

Figura 120 Capela São Judas Tadeu 176

Figura 121 Arquiteto Francisco Petracco 177

Figura 122 Coração Solar do Prédio de Vidro 178

Figura 123 Cobertura de vidro. 179

Figura 124 Construção do Prédio de Vidro 180-181

Figura 125 Construção do piso do Prédio de Vidro 182-183

Figura 126 Fachada do Prédio de Vidro em construção 184-185

Figura 127 Fachada do Prédio de Vidro 186

Figura 128 Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração” 187

Figura 129 Acabamento do piso 189

Figura 130 Impactos estéticos por falta de manutenção 190 - 191

Figura 131 Rebaixo do piso 192

Figura 132 Iluminação da escada do Prédio de Vidro 193

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Intervenções arquitetônicas da AOP 17

Tabela 2 Histórico arquitetônico das Universidades realizados por Pinto e Buffa (2006) 26

Tabela 3 Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi 53

Tabela 4 Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi 60-61

Tabela 5 Quadro único anexo a LEI Nº 8.211 89

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus 53

Gráfico 2 Número de salas de aula por Campus 54

Gráfico 3 Número de laboratórios de informática por Campus 54

Gráfico 4 Número de laboratórios específicos por Campus 54

Gráfico 5 Relação de funcionários na AOP 76

Gráfico 6 Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu 157

14

APRESENTAÇÃO

Durante o colegial em Alfenas, os professores

comentavam a diferença no desempenho dos estudantes de

ensino médio em cidades com universidade; diziam que este

tipo de instituição era um elemento muito marcante no

contexto social e urbano, e assim um estímulo para os

estudantes que também gostariam de vivenciar as

experiências universitárias.

Particularmente, a convivência era muito

estimulante. Como era amiga de Viviane Velano, realizava os

estudos acadêmicos no gabinete da reitoria da Unifenas, e a

frequência dentro dos espaços universitários só aumentavam

o desejo de participar deste universo acadêmico.

Em 2001, após ter cursado um ano na faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Alfenas, solicitei

a transferência para a Universidade Anhembi Morumbi, na

qual fui convidada a trabalhar no departamento de

Assessoria a Obras e Projetos (AOP). Trabalhei neste

departamento por 10 anos, acompanhando as mudanças e o

desenvolvimento do espaço físico da universidade,

participando de alguns processos de reconhecimento e

recadastramento de cursos da Universidade Anhembi

Morumbi, regularização dos imóveis junto à Prefeitura da

Cidade de São Paulo e desenvolvimento e implantação de

novos espaços acadêmicos que se apresentavam desde salas

de aula até laboratórios específicos das faculdades em

cursos① tradicionais a inovadores.

Em janeiro de 2011, desliguei-me da AOP para me

dedicar aos estudos acadêmicos e a docência. Embora a

mudança na área de atuação profissional, a área universitária

sempre foi muito presente e marcante na minha trajetória, o

que levou a instigar questões relacionadas aos projetos de

espaços universitários.

Os anos de convivência e experiência dentro da

Universidade Anhembi Morumbi conduziram-me a uma

pesquisa sobre o espaço da Instituição. Esta que me acolheu

como aluna de graduação e pós-graduação, funcionária da

área administrativa e, atualmente, como funcionária da área

acadêmica como professora. Esta experiência proporcionou

um olhar diferenciado sobre seu espaço acadêmico, que não

é construído com fins estritamente acadêmicos, mas também

considera aspectos econômicos, sociais, jurídicos, culturais e

comerciais.

Alfenas é uma cidade no sul

do Estado de Minas Gerais

com economia agropastoril

voltada para o café;

contudo é conhecida por

suas duas universidades: A

Universidade Federal de

Alfenas (UNIFAL) e a Uni-

versidade de Alfenas – José

do Rosário Vellano

(UNIFENAS).

Viviane Araújo Velano

Cassis (1981), filha de Edson

Antônio Velano (1943-

2008), fundador da

Unifenas. Atualmente é Pró-

reitora de Planejamento e

Desenvolvimento da Uni-

versidade de Alfenas.

1. Ver anexo da relação de

cursos oferecidos pela

Universidade Anhembi

Morumbi.

15

INTRODUÇÃO

Segundo portal do Ministério da Educação e Cultura

(MEC), para uma Instituição de Ensino Superior (IES) iniciar

suas atividades, deve solicitar seu credenciamento de acordo

com sua organização acadêmica. O credenciamento, com as

prerrogativas de autonomia, depende de ter um

funcionamento regular e um padrão satisfatório de

qualidade. O recredenciamento da IES deve ser solicitado ao

final de cada ciclo avaliativo do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior (Sinaes); que avalia

instituições, cursos e desempenho dos estudantes por meio

de processos coordenados pela Comissão Nacional de

Avaliação da Educação Superior (Conaes).

Num processo de avaliação da IES, são considerados

aspectos como o ensino, pesquisa, extensão,

responsabilidade social desenvolvido pela instituição, gestão

da instituição, seu corpo docente e discente. O espaço físico

é avaliado dentro de um indicador de instalações físicas,

como exigência mínima para avaliação e funcionamento de

um curso de graduação.

Esta premissa leva a crer que a proposta

arquitetônica deve privilegiar ambientes da tríade

educacional: ensino, pesquisa e extensão; bem como demais

espaços auxiliares que possibilitem seu funcionamento.

Desta forma, para abrir um curso, por exemplo, a

Comissão de Especialista de Ensino pelo MEC, estabelece

uma infraestrutura básica para abertura e funcionamento e

exige a existência de espaços, que podem ser construídos e

adaptados pela IES, ou, ainda, podem ser utilizados em

parceria ou convênio com outras instituições. Contudo,

apesar de definir os ambientes necessários, não estabelece

diretrizes para um plano qualitativo deste espaço, ficando a

cargo da Instituição definir a infraestrutura que lhe melhor

convém.

A Assessoria de Obras e Projetos (AOP) responsável pelas

intervenções, de caráter educacional, nos imóveis adquiridos

pela Universidade Anhembi Morumbi, atende essas diretrizes

de infraestrutura solicitadas pelo MEC, de três formas

distintas:

1. Novas construções: Dependendo da necessidade

acadêmica, o número de salas ou localidade distinta dos

campi existentes e do porte da construção, a universidade

contrata um projeto arquitetônico para suas instalações, o

qual será a tradução da ideia que o arquiteto julga ser

necessário para atender a demanda solicitada. O projeto

16

contratado terá a imagem moldada a partir de um briefing

da instituição e de como o espaço se manifesta para o seu

idealizador; culminando na construção de um novo

edifício;

2. Implantação de novo Campus: Em caso de um edifício já

consolidado que atenda a necessidade acadêmica e a

localidade, a universidade ora contrata um projeto

arquitetônico, ora desenvolve junto ao AOP a adaptação

dos espaços, traduzindo as exigências acadêmicas ao

espaço a ser modificado para o novo uso;

3. Adaptação de edifícios existentes: Quando a universidade

já apresenta o espaço físico dentro da própria instituição,

o ambiente é adaptado de acordo com as novas

necessidades acadêmicas pela própria AOP.

Além da construção de novos espaços, a Anhembi

Morumbi, mantém parcerias e convênios de espaços físicos,

buscando em outras Instituições, públicas ou privadas, a

locação de infraestrutura que complementem suas

instalações atendendo as exigências acadêmicas do seu

curso; por exemplo, a parceria em laboratórios do Instituto

de Pesquisa e Tecnologia (IPT) da Universidade de São Paulo

(USP) para cursos nas áreas de Engenharias e tecnologias; ou

ainda convênios com Hospitais para estágios acadêmicos em

cursos da área da Saúde. Em ambos os casos, os principais

motivos de convênio ou parceria acontecem devido à

complexidade da infraestrutura e o custo dos equipamentos

para montagem de um espaço que será utilizado

eventualmente durante o curso.

Embora a AOP desenvolva espaços de acordo com as

diretrizes de infraestrutura básica estabelecida pelo MEC, a

construção de um edifício acadêmico é resposta, não só de

uma proposta arquitetônica, mas também dos anseios da

Instituição.

As diferenças encontradas nas edificações de Ensino

Superior traduzem o posicionamento adotado pelas

Universidades dentro do Cenário Educacional e,

consequentemente, a proposta em investimento de suas

infraestruturas; sujeitando o projeto à ação de valorização e

desvalorização de seu ambiente, sob o aspecto físico,

influenciando em seu reconhecimento simbólico.

Esta diferenciação, encontrada nas edificações da

Universidade Anhembi Morumbi, evidencia aspectos

acadêmicos, econômicos, sociais, jurídicos, culturais e

comerciais da Instituição; o que instigou a realização desta

pesquisa.

17

FORMA DE INTERVENÇÃO CAMPUS EXEMPLO

1

NOVAS CONSTRUÇÕES

Campus Vila Olímpia

(Unidade 5, Unidade6 e Unidade7)

Campus Morumbi – Edifício Jardim

Campus Vila Olímpia – Ginásio da Unidade 5 Campus Morumbi – Edifício Jardim

2

IMPLANTAÇÃO DE NOVO CAMPUS

Campus Centro

Campus Morumbi – Galpão

Campus Vale do Anhangabaú

Campus Avenida Paulista

Campus Avenida Paulista Campus Morumbi – Galpão

3

ADAPTAÇÃO DE EDIFÍCIOS

EXISTENTES

Campus Vila Olímpia

(Unidade1 e Unidade 9)

Adaptações Gerais

Campus Vila Olímpia – Unidade 9 Campus Vila Olímpia – Unidade Gastronomia Graduação Executiva

Tabela 1 – Intervenções arquitetônicas da AOP – Exemplos dos tipos de intervenções arquitetônicas realizadas pela AOP nos imóveis adquiridos pela Universidade Anhembi Morumbi com intuito

de atender as diretrizes de infraestrutura solicitadas pelo MEC, desenvolvendo ambientes para fins acadêmicos.

Fonte: Tabela elaborada pela autora

18

ABORDAGENS DO PROBLEMA

Para Kahn, em Giurgola e Mehta (1994), a vontade

de expressão do homem é a razão de ser do indivíduo, sendo

que cada gesto é um signo. As Instituições são carregadas

destes signos, sendo que “muitas vezes, essas edificações são

concebidas como recintos cercados por paredes sólidas que

não deixam adivinhar a flexibilidade das circulações internas,

disposições que correspondem, no interior, à necessidade de

reclusão e, no exterior, à expressão simbólica”.

Contudo, nem sempre a proposta que o arquiteto faz

para um espaço seduz seu usuário. Isto por que os signos

físicos projetados precisam ser apropriados por quem os

vivencia. O usuário em contato com o edifício, percorre-o

identificando, vivenciando e (re) conhecendo os significados

pessoais que cada ambiente e elemento lhe transmitem,

podendo apropriar-se ou rejeitar este lugar.

A consolidação do projeto universitário em um

edifício e a forma como ele é reconhecido, conduziu a

seguinte questão: “quais fatores contribuem para que se

reconheça o partido arquitetônico e identifique o espaço

acadêmico de uma Universidade?”.

Como esta é uma questão ampla, procurou-se focar

em um estudo de caso do Edifício Theatro Casa do Ator,

conhecido como Prédio de Vidro, no Campus Vila Olímpia da

Universidade Anhembi Morumbi, a fim de conseguir

identificar, a partir de uma análise de sua trajetória, desde o

processo criativo do arquiteto aos valores simbólicos da

arquitetura, a história por trás de seu design. Acredita-se que

as memórias nas edificações da Instituição traduzem a

História da Universidade Anhembi Morumbi, seu processo

para a posição de destaque no cenário educacional, como

resposta a seus objetivos de crescimento, seu planejamento

estratégico na distribuição dos Campi na malha urbana e as

dificuldades e resultados alcançados na concepção e

implantação de seus cursos. E, ainda, que a interpretação dos

usuários de seus espaços esteja intimamente ligada ao

repertório sociocultural e satisfação com a Instituição como

um todo, seja por sua infraestrutura, como também por

questões acadêmicas e institucionais.

19

HIPÓTESE

A hipótese identificada para esta pesquisa foi:

Analisando a trajetória arquitetônica do Edifício

Theatro Casa do Ator da Universidade Anhembi Morumbi,

conhecido como Prédio de Vidro, é possível identificar

elementos arquitetônicos, com base nos aspectos históricos

e simbólicos, que contribuem para que o usuário deste

espaço reconheça e identifique o ambiente acadêmico.

A memória do Prédio de Vidro evidencia a presença

destes elementos na arquitetura desde o projeto, passando

pela construção, a manutenção até o uso do espaço

acadêmico.

OBJETIVO GERAL

O presente trabalho tem como objetivo investigar a

memória do Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da

Universidade Anhembi Morumbi, conhecido como Prédio

de Vidro, buscando identificar os elementos arquitetônicos

de seus ambientes que representem a atividade-fim que é

ser um espaço universitário.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar o contexto físico, econômico, político e cultural

em que se enquadra a Universidade Anhembi Morumbi;

Identificar o partido arquitetônico e o processo criativo

do arquiteto Francisco Petracco para o Prédio de Vidro;

Identificar os motivos das diferenças entre projeto e

construção;

Analisar quais elementos o usuário percebe no espaço.

Figura 2 - Complexo Theatro

– Unidade 6 e 7 do Campus

Vila Olímpia, fachada

frontal do Prédio de Vidro,

frente para a Rua Casa do

Ator, com totem de

identificação da unidade

em primeiro plano, seguido

pelo Prédio de Vidro e ao

fundo a Unidade 7.

Fonte: Acervo Universidade

Anhembi Morumbi

20

INSTRUMENTAL TEÓRICO

A partir de 1960, diante dos questionamentos sobre

a Arquitetura Moderna e sua funcionalidade, a subjetividade

no ato de projetar passa a ser questionada. Começa-se a

avaliar a pré-existência ambiental do projeto, suas relações

com o lugar, seu entorno; o importante papel da História e a

Tradição na arquitetura; as relações antropológicas e

psicológicas com a arquitetura, de forma a analisar como as

pessoas percebem e interagem com o espaço.

Para Harvey (2005), as práticas espaciais são providas

de sutilezas e complexidades estreitamente implicadas em

processo de reprodução e de transformação das relações

sociais e as generalidades dos seus usos. Harvey tenta

explicar esta complexidade em uma grade de práticas

espaciais em três estágios: o vivido, o percebido e o

imaginado.

Nojima (1999) classifica os aspectos comunicacionais

do espaço urbano, sob o ponto de vista de alguns teóricos

que apresentam noções de leitura e interpretação do espaço.

Sendo eles:

Lynch (1982) propõe que o repertório cultural e a

percepção sensorial que o observador tem, faz com que

ele leia as relações e distinções sugeridas pelo meio.

Santos (1985) estabelece como método de

análise do espaço, a investigação sobre a função que os

elementos compõem dentro de um ambiente urbano.

Sendo que a leitura e a interpretação do meio ambiente

aconteçam devido à percepção e interação dos elementos

observados dentro de um contexto de tempo e lugar.

Cullen (1984) define visão serial como a sucessão

de súbitas revelações ou surpresas percebidas pelo

usuário no decorrer do percurso. E indica que a leitura e

interpretação do ambiente urbano conceituam o local e o

conteúdo, isto inter-relacionado a termos como:

individualização da paisagem; identificabilidade por

elementos e identificabilidade por tradição funcionalista,

temas elaborados por ele.

Rapoport (1978) aborda o cunho psicológico do

meio ambiente construído como possibilidade de

comunicação não verbal, possibilitada pela leitura de

signos que reconheceu na cidade. Implica três estágios de

inter-relação com o ambiente: conhecer, sentir e agir.

Ferrara (1988), analisa a leitura não verbal do

meio urbano a partir da semiótica, sugerindo uma Teoria

do espaço urbano composta de três vertentes: percepção,

leitura e interpretação do espaço urbano.

Também, é possível encontrar uma classificação

semelhante na área do Design. Norman (2004) divide a

21

prática do design em três níveis: o visceral, o

comportamental e o reflexivo. O autor estabelece uma

relação entre as ciências cognitivas e a visão sobre o lugar e

as emoções no design, sendo que a leitura e a interpretação

do meio ambiente acontecem devido à percepção e a

interação dos elementos observados dentro de um contexto

de tempo e lugar.

Ou ainda, Okamoto (2002) que busca compreender o

que o usuário de hoje vê e como interpreta a realidade, a

partir de seu comportamento e ideais, classificando o

processo criativo arquitetônico em dois elementos: os

objetivos e os subjetivos.

Embora termos distintos, em uma análise geral,

todos os teóricos dividem a leitura do espaço em três

momentos: o identificar, o vivenciar e o interpretar.

O identificar sendo a análise inicial que se faz, o

contato imediato. É um estado pré-consciente, anterior ao

entendimento do que é o gosto ou aversão ao projeto, está

relacionado à primeira impressão e aos cinco sentidos.

Implica em uma relação de observador e objeto observado.

O vivenciar é o percurso realizado por entre o

edifício. É uma primeira interação a partir do uso dos cinco

sentidos ao conhecimento da sensação evocado por ele.

Insinua a leitura do espaço e suas relações de forma

consciente, quando o observador analisa o objeto observado.

O interpretar é a leitura simbólica que orienta as

atividades e dá sentido com o uso. É quando os elementos

arquitetônicos são entendidos e, a partir de uma análise,

evocam sentimentos que completam os espaços com

imagens pessoais, causando emoções e tocando o imaginário

de quem usa. O observador reflete sobre o objeto observado

e dá a ele sentido e significado próprio.

Diante deste contexto, esta pesquisa buscou um

método para leitura do espaço universitário através da

análise arquitetônica do espaço e percepção gerada a partir

da interação dos usuários com o meio ambiente, através de

leituras dos textos Del Rio (1996) e Ricceur (2010).

O estudo sobre o espaço universitário baseou-se nos

conceitos históricos de Pinto e Buffa (2006) e Chistopher

Charle, Jacques Verger (1996).

A busca pela compreensão do design do espaço

universitário, entender qual a proposta de Educação no

Ensino Superior, baseou-se na leitura de textos de Onusic

(2009), Oliveira (2009), Morosini (2005), Wanderley (1988),

Lauanda (1987) e Minogue (1981), enquanto a história da

Universidade Anhembi Morumbi e do Prédio de Vidro

22

aconteceu através de depoimentos e pesquisa documental,

além da leitura de Rodrigues (2005).

METODOLOGIA ADOTADA

Para desenvolvimento deste trabalho, a primeira

parte constituir-se-á de uma pesquisa bibliográfica, com

revisão de literatura nas áreas de Arquitetura, Educação e

Design, referente às linhas de pesquisa sobre Universidade.

Além de livros, serão estudados e analisados pesquisas e

artigos desenvolvidos principalmente sobre a Universidade

Anhembi Morumbi.

Visualizando as várias opções de projeto universitário

e toda a sua complexidade, esta pesquisa utilizar-se-á de

estudo de caso de um projeto consolidado, sendo analisado o

Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da Universidade

Anhembi Morumbi, no Campus Vila Olímpia, projetado pelo

arquiteto Francisco Petracco. Uma universidade particular

que solicitou a construção de um edifício para expansão do

seu campus que resultou na edificação de um prédio em

vidro e aço, mas comumente conhecido como Prédio de

Vidro por seus funcionários e alunos, já demonstrando certa

identificação e reconhecimento do espaço.

Para a análise do edifício, foi considerada uma

pesquisa documental e entrevistas levando em consideração

as referências arquitetônicas adotadas pelo arquiteto,

definidas como: desenho, estrutura e ritmo. Os temas são

ilustrados com desenhos e imagens que permitem o

entendimento do edifício a partir de suas características

arquitetônicas funcionais, formais e estruturais; uma análise

urbana avaliando seu entorno e sua evolução histórica;

representações de sua organização, acessos e circulações,

aberturas e fechamentos, distribuição de espaços, estruturas

e suas memórias.

As análises simbólicas são oriundas de depoimentos

e testemunhos em questionário②, além de entrevistas com

o arquiteto e funcionários da área administrativa da

Instituição.

JUSTIFICATIVA

Não se pode negar que para elaboração de um

projeto arquitetônico de IES, o arquiteto pode modificar o

projeto diante de diretrizes, avaliação e aprovação da gestão

2. Ver anexos com relação

de entrevistados e ques-

tionário aplicado sobre a

pesquisa.

23

que administra a instituição, fazendo, muitas vezes, com que

o projeto inicial não seja concretizado. No entanto, a

Instituição deve entender o olhar proposto para o que se

constrói, pois é isso que irá possibilitar a compreensão, por

meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado

como identidade do lugar, já que o homem utiliza-se das

construções para falar de si.

Segundo Ferrara (2007), percorrer a construção

supõe não só ler os materiais e competências estruturais

existentes, mas também perceber “que a espacialidade cria

uma teoria do espaço enquanto comunicação ideológica da

cultura e exige o resgate das manifestações presentes nas

suas constituições históricas”.

Para Okamoto (2002), os arquitetos devem

desenvolver projetos que atendam a permanente

necessidade de interação afetiva do homem com o meio

ambiente, favorecendo o crescimento pessoal, a harmonia

no relacionamento social e melhorando a qualidade de vida.

O arquiteto, a partir da composição feita através da

forma, função e estrutura, projeta o espaço com elementos

de design selecionados em seu repertório, com certa

intenção de leitura; proporcionando uma construção que

resulta de uma técnica e uma estética. Essa intenção é a

tradução real de dados inconscientes de algo que acredita ser

seu ideal de universidade.

Quando idealizada, a arquitetura do espaço

universitário deve compreender e satisfazer as necessidades

do usuário, apresentar, em si, signos que garantam a

qualificação do ambiente acadêmico e, consequentemente,

seu valor social e cultural, já que o usuário lê o design

presente no projeto e deixa-se descobrir no percurso de seu

espaço os usos, hábitos, valores, crenças e signos.

Assim, como a arquitetura segue uma ordem e a

imagem está carregada de lembranças, o contato e a

interação com um espaço arquitetônico possibilita uma

forma de decifrar a composição. O ambiente edificado, que é

a materialização de uma imagem mental do autor, deixa de

ter um único significado e passa a ser significado para o

usuário.

Por meio de uma análise dos múltiplos aspectos do

espaço universitário do Edifício Theatro Casa do Ator, busca-

se identificar estes significados, suas características, possíveis

deficiências e a forma como se articula com o usuário.

Verificar se o Prédio de Vidro traduz uma arquitetura

com a forma de ensino, com a função educadora a ser

exercida nos usuários que o vivenciam e experimentam seu

24

espaço, e se é capaz de transmitir informações, aglutinar

pessoas e produzir sensações que o identifiquem como um

espaço universitário.

De forma que esta dissertação pretende contribuir

com o estudo deste espaço universitário, retratando o

processo desde sua concepção até sua construção e uso.

ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

A pesquisa será dividida em três capítulos, sendo:

O primeiro capítulo busca identificar o espaço

universitário, a relação entre a arquitetura e a educação, os

conceitos de ensino superior nacional, com o objetivo de

contextualizar o cenário educacional até chegar à instituição

do estudo de caso. Apresentando sua História, um panorama

sobre seu espaço construído, analisando brevemente suas

edificações e procurando o entendimento da Instituição a

partir de sua arquitetura.

O segundo capítulo ilustrará a trajetória do Prédio de

Vidro, seu território, as principais razões para a construção,

apresentação do arquiteto, a busca pelo significado do seu

projeto, as grandes mudanças ocasionadas durante a

construção e os elementos que o descaracterizam.

O terceiro capítulo apresentará um olhar sobre seus

espaços através de depoimentos, que adentram em

simbologias pessoais e respostas as entrevistas, sobre como

o espaço cria símbolos para seus usuários③.

E, por fim, serão apresentadas as considerações finais

sobre a pesquisa, buscando entender a arquitetura do

edifício e identificar quais são os elementos que

proporcionem uma interação entre projeto e o seu uso.

3. Foram identificados nas

respostas aos questioná-

rios além dos aspectos

arquitetônicos, significa-

dos atribuídos ao espaço

a partir das considerações

relacionadas à satisfação

e insatisfação frente à

política educacional ado-

tada pela instituição. Não

cabendo a esta pesquisa

classificar ou analisar es-

tes resultados.

25

CAPÍTULO 1 – CONDIÇÃO HISTÓRICA

1.1 O Ensino Superior e a Arquitetura

“O ensino começou quando um homem, sentado

embaixo de uma árvore, se pôs a discutir, sem sa-

ber que era um professor, com jovens que ignora-

vam ser estudantes; pensavam simplesmente no

que se dizia na companhia de um homem tão

agradável. E desejavam que um dia seus filhos

também tivessem a oportunidade de ouvir um ho-

mem igual. Foi assim que nasceu a primeira escola

e nasceu o primeiro pátio de recreio: consequên-

cia das aspirações do homem.”

(Kahn apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)

Pode-se dizer que o início da educação aconteceu a

partir da possibilidade de transmissão do conhecimento.

Troca de experiências iniciadas com conversas entre pais e

filhos, passando a ser documentada com a invenção da

escrita pelos fenícios, difundida com a criação da primeira

Escola de Ciências por Thales, retransmitida a partir do

florescimento da Enciclopédia com Plínio, questionada na

Educação Escolástica de Bacon, explorada com o surgimento

de Academias e Bibliotecas a partir do Humanismo, impressa

no lançamento do primeiro livro de Gutenberg, formulada

nas primeiras teorias para o Ensino até as Reformas

Educacionais atuais.

Cada um destes fatos históricos proporcionou a

construção de espaços que abrigassem a divulgação do

saber, estabelecendo sentido construtivo a partir da cultura

predominante em cada contexto. Em um período de

Antiguidade Clássica, o Ensino se dava em ágoras, teatros e

fóruns; na Idade Média em Igrejas; no Renascimento até aos

dias de hoje em Academias e Universidades.

Pinto e Buffa (2006) traçam um histórico sobre a

arquitetura das universidades investigando aspectos

políticos, sociais, filosóficos, históricos, pedagógicas e

diretrizes arquitetônicas e urbanísticas, destacando as

seguintes fases:

Surgimento

Século XV

Século XVII

Século XX

26

SURGIMENTO SÉCULO XV SÉCULO XVII SÉCULO XX

CONTEXTO

Maior uso da escrita;

Desgaste da exclusividade no

conhecimento detido pela

Igreja;

Criação de escolas com técnicas

de leitura.

Financiamento de alunos pela

igreja;

Segregação de alunos pela

aristocracia, em vestuário

acadêmico, cerimônias

universitárias, atividades

sociais, atividades pedagógicas

e em uso dos prédios das

universidades.

Reforma política e

religiosa;

Educação com regime de

internato para formação

integral do cidadão.

Ideia de Campus, com a educação

funcionando no campo, longe do

descontrole das cidades.

Espaço para atividades de ensino e

pesquisa acadêmica, situados num

determinado sítio, com suas próprias

regras, leis e instituições próprias.

CONSTRUÇÃO

Construção simples, similar ao

modelo colonial;

Cerimônias importantes

realizadas em igrejas, com

espaços mais amplos e propícios

para reunião de pessoas.

Construções com ar gótico

simples e austero

Bibliotecas com ambientes mais

elaborados.

Inspiração em claustros

medievais, com plantas

quadrangulares e espaço

articulador cercado por arcadas

cobertas com as laterais

abertas.

Reestruturação da

arquitetura, cercando

edifícios acadêmicos com

alas de dormitório e

espaços de serviços que

sustentem as atividades

internas de moradia

articulado por um espaço

central.

Edifícios acadêmicos isolados, mas espaço

para abrigar uma comunidade inteira,

separados por áreas verdes abertas;

Rejeita a tradição das estruturas em

claustros

A construção principal era a biblioteca;

marcando a ruptura entre o ensino ligado à

Igreja e o ensino livre.

Plantas com estilo clássico de arquitetura,

numa representação simbólica de

academicismo e racionalidade.

CONFORTO

AMBIENTAL

Aberturas definidas pelas

técnicas construtivas, gerando

fechamentos sem grandes

aberturas;

Não apresentavam função

especifica para ensino, sem

isolamento, privacidade ou

conforto, portanto sem

conforto ambiental de

iluminação, ventilação, acústica

ou térmico.

Circulação livre nas arcadas

proporcionando melhor

ventilação ao edifício.

Espaço central articulador

composto de gramado ,

com fácil acesso e

visualização do conjunto,

possibilitando iluminação

e ventilação dos

ambientes internos de

cada sala.

Formas simples e com muitas aberturas

permitindo que os edifícios tivessem

iluminação e ventilação apropriada.

Tabela 2 – Histórico arquitetônico das Universidades realizado por Pinto e Buffa (2006), em Arquitetura, urbanismo e educação: campus universitários brasileiros; referente a pesquisa financiada pelo CNPQ, sobre a evolução das universidades, desde a Idade Média, mostrando a evolução no continente europeu, na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, mostrando o surgimento do campus universitário, sua organização e significado. Fonte: Tabela elaborada pela autor, do artigo publicado no Anais do Vi Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, pág. 5724 -5746

27

A escolha do local apropriado para uma escola

estimulará o diretor de um instituto a sugerir ao

arquiteto o que uma escola deveria ser, com o

que ele já definirá um início de programa. (Kahn

apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)

No texto de Giurgola e Mehta (1994), quando

mencionado o pensamento de Kahn, o “início de um

programa” refere-se ao programa arquitetônico,

estabelecido pelo solicitante, no qual se definem quais são os

ambientes necessários para a construção do espaço.

A elaboração de um programa arquitetônico parte da

premissa de que os profissionais envolvidos entendem o

objetivo do espaço, as exigências formais, funcionais,

estruturais e os estímulos psicológicos que lhe são atribuídos.

Decidir o partido a ser adotado, selecionar quais ambientes

serão contemplados, manipular de que forma irá se organizar

e se isto fará parte da composição arquitetônica, ou ainda

garantir abrangência necessária ao fim a que se destina, são

fundamentos que acompanham o arquiteto na busca por

repertório e desenvolvimento de seu processo criativo.

Projetar um espaço, em arquitetura, exige

fundamentos para o entendimento da função, do público e

das expectativas que o projeto gera; seja por parte do

usuário, seja por parte da administração, seja, ainda, por

parte do próprio arquiteto, mas acima de tudo, por parte do

observador, que independente do vínculo com o edifício,

incita uma percepção sensorial e afetiva que proporcionará o

entendimento do objeto e sua compleição.

A Universidade, o lugar, que segundo Wanderley

(1988), é privilegiado para conhecer a cultura universal e as

várias ciências, tem a função de criar e divulgar o saber com a

finalidade da Educação com base no ensino, na pesquisa e

extensão.

Lauanda (1987) posiciona-se frente à questão da

função da Universidade dizendo que é preciso voltar-se para

o homem tal qual qualquer questão de Filosofia da Educação,

isto porque, acredita que a Universidade apoia-se no caráter

livre do conhecimento, bem além das estruturas políticas da

instituição.

Já Minogue (1981), acredita que as universidades são

capazes “de criar seu próprio interesse na busca do

conhecimento”, sendo que esta busca pode ser influenciada

por outros tipos de excitação; tais como politica, religião,

patriotismo entre outros.

Assim, o espaço de ensino universitário é resultado

28

de ambientes que insiram o usuário ao universo do saber,

calcado no tripé da educação: o ensino, a pesquisa e a

extensão, devendo proporcionar locais para

desenvolvimento de atividades acadêmicas geradoras de

conhecimento que colaborem no processo de ensino e

aprendizagem.

E como explicitar estes princípios nestes ambientes?

Como produzir estes espaços?

Como projetar esta arquitetura universitária que

atenda a função primordial de se produzir e difundir

conhecimento?

Sabendo que não existe resposta exata a este

questionamento, o arquiteto busca no contexto histórico,

econômico e político da instituição respostas que

possibilitem o entendimento das expectativas para o seu

espaço físico. As características de cada Instituição

influenciam o programa arquitetônico, por vezes sendo

possível identificar, o foco de espaços físicos para alunos em

instituições privadas, que atuam a partir da quantidade

discente na instituição; enquanto o foco em instituições

públicas, que prioriza a pesquisa, é dedicado aos docentes.

Os agentes usuários das Instituições de Ensino,

definidos por Wanderley (1988), são os professores, alunos e

funcionários. Podendo, ainda, incluir outros agentes deste

espaço, tais como: familiares dos alunos e convidados

externos (palestrantes, auditores, prestadores de serviços e

afins).

Este público, que mesmo pequeno e esporádico, tem

grande influência na permanência dos usuários tradicionais

dentro da universidade, já que o contato possibilita

intercâmbio de ideias e participações construtivas que

reforçam o pensamento de espaço inclusivo e disseminador

de experiências e conhecimento.

Conhecer o usuário da Universidade proporciona

identificar as peculiaridades de projeto, identificar a quem se

destina possibilita determinar fluxos, acessos, demarcações

territoriais de áreas públicas e privadas, administrativas e

acadêmicas, o dimensionamento destas áreas, a tipologia do

partido arquitetônico, as prioridades do espaço e as

expectativas de usos e usuários.

29

1.2 O Ensino Superior no Brasil

De acordo com Pinto e Buffa (2006), apesar das

missões jesuítas oferecerem cursos superiores de teologia, o

ensino superior no Brasil inicia-se com a chegada da família

real. Primeiramente em Salvador e depois no Rio de Janeiro,

são criados: cursos superiores profissionais para militares, na

Academia Militar e Academia da Marinha; cursos de

medicina e cirurgia; cursos de matemática exigidos pela

engenharia militar e engenharia civil; cursos para

profissionais da burocracia do Estado, como agronomia,

química, desenho técnico, economia política e arquitetura;

cursos para profissionais produtores de bens simbólicos,

como música, desenho e história.

No período imperial brasileiro, estes cursos são

implementados com a vinda da Missão Francesa de 1820,

sendo aberta a Academia de Direito de São Paulo e Olinda

em 1827.

Em 1920, é criado o primeiro ensino superior com

nome de universidade, a Universidade do Rio de Janeiro.

Posteriormente, a Universidade de Minas Gerais (1927) e a

Universidade de São Paulo (1934), chegando a um total de 37

universidades em 1964.

Até o fim do Estado Novo, os modelos universitários

brasileiros eram semelhantes aos das universidades

europeias, a partir dali, adotam os modelos norte-

americanos influenciados pela contribuição tecnológica do

esforço bélico, inclusive referente à organização espacial da

cidade universitária.

Segundo Charles e Verger (1996), as instituições

universitárias transformaram-se profundamente durante os

séculos, o que de certa forma possibilita compreender

melhor uma parte da herança intelectual e do

funcionamento das sociedades.

Para Morosini (2005), os modelos mais marcantes

Institucionais de Educação Superior, no Brasil, foram:

Modelo napoleônico: registro mais antigo e com

vertentes presentes até hoje, marcada pela presença

do elitismo, formação profissional isolada e

transmissão do saber. Temos como exemplo Escolas

de Medicina, Politécnica e de Direito, com formação

de profissionais para atendimento das necessidades

da sociedade, com referência no mundo do trabalho.

Modelo humboldtiano: marcado pela liberdade

acadêmica e pesquisa como principal meio de

construção de conhecimento. O surgimento da

Universidade de São Paulo marca a nova requisição de

instituições universitárias mais integradas, para além

30

da formação, mas agora baseado na articulação do

tripé de ensino, pesquisa e extensão.

Modelo latino-americano: marcada pela busca de

nova ordem social fortalecendo a compreensão do

homem e da convivência humana. Universidades

Ibero-americana, fundadas após a ditadura militar, são

exemplos por acreditarem na participação coletiva

universitária.

Modelo inovador e sustentável: Fortifica elementos

institucionais mantenedores de transformação, com

diversidade na base financeira, fortalecimento do

centro diretivo, estímulo à comunidade acadêmica,

consolidação da cultura empreendedora integrada.

São modelos de parques científicos e tecnológicos em

que as universidades podem se autotransformar para

um caráter proativo e sob controle.

Modelo comercial/empresarial: instituições com

capital privado e acionistas, visam lucro e

assemelham-se a empresas privadas. O conhecimento

é voltado para a prática. Como por exemplo

Universidades que admitem administração com

aplicadores de mercado, com capitais privados e

acionista, visando à lucratividade e gestão semelhante

a empresas privadas.

Numa análise feita por Onusic (2009), o Ensino Superior

no Brasil apresenta uma trajetória histórica de quatro fases:

Antes de 1930, com predomínio de instituições públicas;

Entre 1930 a 1964, com a consolidação do ensino

privado;

Entre 1964 a 1980, com a reforma do ensino superior e o

predomínio do setor privado; e

Entre 1980 a 2002, com o aumento de oferta de vagas do

setor privado, o crescimento de vagas não preenchidas e

evasão acadêmica.

Atualmente, das 2.314 IES registradas pelo Inep,

cerca de 90% são privadas, estando mais concentrada numa

classificação de pequeno porte com até 1.000 alunos. Pode-

se notar que a característica da Educação Superior no Brasil

está calcada em um modelo privatizado com ininterrupta

expansão.

Morosini (2005) avalia que a demanda por Educação

Superior é responsável pela abertura da Educação no setor

privado, visto que o crescimento da economia do

conhecimento, as mudanças demográficas paralelas às

limitações orçamentárias do Estado não conseguem atender

todo o movimento para a educação continuada.

Enquanto Martins (2009) atribui o surgimento deste

novo padrão de Educação Superior à implantação da

Reforma de 1968, onde se privilegiou uma estrutura seletiva,

acadêmica e social facilitando a organização de empresas

educacionais, de forma que a escalada da privatização não

31

representou uma democratização do acesso ao Ensino

Superior no país, apenas uma ampliação de vagas no setor

privado.

De acordo com Silva Jr e Sguissard (1999), as

políticas públicas para a educação superior brasileira e as

reações dos diferentes setores (públicos e privados),

promoveram um reordenamento no espaço social através do

fortalecimento de processos mercantilistas, o que tem

acentuado a transformação das identidades das IES

particulares.

Este processo pode ser entendido como reflexo da

transição do modelo de capitalismo fordiano para o atual

capitalismo pós-moderno vivenciado de forma mundial,

contudo não é foco desta pesquisa centrar-se nesta questão.

O entendimento deste novo contexto, apenas, sugere, de

forma isolada, que em um predomínio de IES particulares,

que buscam atender a demanda de mercado, estas estão

cada vez mais modificando sua identidade, profissionalizando

as empresas, racionalizando sua estrutura organizacional

interna e buscando atender a seu mais novo objetivo: o

lucro.

O intenso movimento de fusões institucionais de

universidades privadas no Brasil, que vem ocorrendo desde

2007, a exemplo da Anhanguera e da Estácio de Sá, traduz

bem esse novo contexto. Estas fusões refletem a necessidade

de reestruturação do processo de gerenciamento entre

universidades, com adaptação da filosofia aos novos

resultados de crescimento qualitativo, quantitativo e, acima

de tudo, financeiro. Embora se observe que, muitas vezes,

este crescimento qualitativo não sendo atingido.

Além de transitar pelo entendimento da cultura e

sociedade nacional, este novo perfil com visão lucrativa

intervém no perfil institucional e, consequentemente, no

processo construtivo dos seus espaços físicos. As IES

particulares, numa tentativa de atingir nichos de mercado e

diferenciar-se de suas concorrentes, estabelecem, a partir do

seu corpo administrativo, medidas que a individualizem ou

minimizem seus custos como forma de garantir destaque.

Desta forma, é comum verificar instituições sendo

amplamente reformadas e instalando materiais e

revestimentos luxuosos como atrativos para alunos de classe

A e B, enquanto outras instituições revelam baixo

32

investimento na infraestrutura com foco no público de

classes C, D e E.

O reflexo deste mercantilismo da educação preocupa

Arquitetura, não só na questão da descaracterização da

identidade, mas também na forma como esta política faz

com que o Edifício apresente aspectos de baixa qualidade do

espaço físico influenciando no conforto ambiental até

questões psicológicas, podendo gerar apartação social.

Enquanto a escolha ou intervenção no tipo de

revestimento de um edifício possa, por um lado, alterar

somente a estética do edifício; por outro, pode indicar uma

segregação de público onde, culturalmente, alguns usuários

sintam-se deslocados e excluídos acreditando não ter

recursos financeiros para estudar neste lugar; já a falta de

investimento na construção pode acarretar em má qualidade

espacial, impossibilitar a acessibilidade, prejudicando a

ergonomia e o conforto ambiental. Por exemplo, é comum

identificar algumas construções que para ampliação da área

acadêmica, constroem salas sem iluminação e ventilação

natural.

Oliveira (2009) identifica quatro consequências da

globalização na Educação que podem gerar resultados

positivos e negativos, favorecendo o crescimento acelerado

das Instituições, generalizando a educação e aumentando a

oferta de mercado:

1. A crescente centralidade da educação na discussão

acerca do desenvolvimento e da preparação para o

trabalho, decorrente das mudanças em curso na base

técnica e no processo produtivo;

2. A crescente introdução de tecnologias no processo

educativo, por meio de softwares educativos e pelo

recurso à educação a distância;

3. A implementação de reformas educativas muito

similares entre si na grande maioria dos países do

mundo;

4. A transformação da educação em objeto do interesse

do grande capital, ocasionando uma crescente

comercialização do setor.

Nesta última dimensão, tem se dedicado bastante atenção

ao debate em curso na Organização Mundial do

Comércio/Acordo Geral de Tarifas e Comércio

(OMC/GATT), acerca da conceituação da educação como

um bem de serviço. A aprovação de tais acordos faria com

que a educação passasse a ser regida pelas normas que se

aplicam à comercialização de serviços em geral (cf. Dias,

33

2003, 2004; Dourado, 2002; Siqueira, 2005; Rikowski,

2003; Kelk & Worth, 2002). Em consequência, ter-se-ia,

além da ampliação da mercantilização na área, a

internacionalização da oferta, com a penetração de

grandes corporações multinacionais em países menos

desenvolvidos. Entretanto, mesmo sem a aprovação de

tais acordos, a educação tem se transformado,

crescentemente, em mercadoria. Instituições lucrativas

crescem a olhos vistos, assim como a internacionalização

da oferta (cf. Altbach, 2000, 2002; Balan, 1990, 1993,

2000; Callan, 1997; Carlson, 1992; Morey, 2001). Nas

singelas palavras de Angel Gurria, secretário geral da

OECD, em manifestação realizada em Lagonissi, Grécia, em

28/06/2006, ao encerrar a conferência de Ministros de

Educação daquela Organização: "A educação é hoje uma

mercadoria negociável. Tornou-se exportável, portável e

negociável." (Oliveira, 2009, pag. 740)

Morosini (2005) resume estas consequências em um

processo que denomina como Internacionalização. Um

esforço sistemático com objetivo de tornar a educação

superior mais próxima às exigências e desafios de uma

sociedade, uma economia e um mercado de trabalho mais

globalizados. Esta internacionalização é baseada em relações

entre nações e suas instituições. Dentro das definições para

internacionalização da Educação Superior, vem se

desenvolvendo um modelo de educação transnacional ligado

ao capitalismo acadêmico, baseado em processos de ensino.

Podendo ser:

1. Estabelecimento de campus no estrangeiro – curso e

currículo em instituição estrangeira com supervisão e

língua da instituição matriz.

2. Modelo padrão de exportação – curso no exterior, em

instituição educacional ou organização corporativa, por

instituição de país industrializado para país em

desenvolvimento. Exemplo: Cursos oferecidos na Malásia

por instituições australianas e/ou britânicas.

Figura 3 – Estabelecimento de campus no estrangeiro: Campanha da Universidade de Chicago com Campus em Paris para estudos nas áreas de ciências sociais, naturais e físicas. Fonte: Site Paris Travel Guide

34

3. “McDonaldização” da Educação Superior – cursos via

pacote por meio de franchising, a instituição cede o

nome e o currículo, supervisionando e controlando a

qualidade de ensino dentro de outra instituição. Como

exemplo, pode-se citar as redes de referência em

Gastronomia e Hotelaria, sendo respectivamente,

Kendall College e Glion, nas áreas de Hospitalidade da

UAM.

4. Programas conjuntos oferecidos por instituições de

educação superior em outro país. Entende-se como

exemplo o grupo de universidades da Rede Laureate, que

conta, atualmente, com 66 instituições em 28 países – 5

instituições na América do Norte, 29 instituições na

América Latina, 19 instituições na Europa, 2 instituições

no nordeste da África e 11 instituições na Ásia.

Figura 4 –McDonaldização da Educação Superior: Foto da fachada de Glion na Suíça, referência na área em hotelaria. Fonte: Site Glion Figura 5 – Programas conjuntos: Mapa de localização dos Campi da Rede Laureate, grupo internacional de universidades, com mais de 66 instituições de ensino, em 28

países. Fonte: Site Laureate

35

Em 2006, a Associação Brasileira das Mantenedoras

do Ensino Superior (ABMES) editou um documento de

“Políticas para a Educação Superior – Propostas do Setor

Privado”, para impulsionar o desenvolvimento do ensino

superior particular no Brasil. Diante do documento, Gabriel

Mário Rodrigues, presidente da associação e reitor da

Universidade Anhembi Morumbi, em entrevista ao Portal

Aprender do Ensino Superior sob tema de “Ainda há muito

que fazer pelo ensino privado”, traçou um panorama sobre a

situação do ensino superior no Brasil:

“O ensino particular, para atender à demanda da

democratização educacional, cresceu bastante

nesses últimos anos, e está em uma fase de

consolidação. Principalmente nas grandes

cidades, terá como tendência a união de

instituições, no sentido de aprimorar suas

práticas, tanto de gestão quanto pedagógicas,

para fazer frente à concorrência das grandes

universidades. Por outro lado, com o advento da

tecnologia da informação, novas formas de

entrega de cursos existirão - o que

obrigatoriamente fará com que as instituições

mudem o processo de ensinamento. Na realidade,

estamos próximos de uma transformação no

processo de ensino, tudo será diferente do que

estamos acostumados.”

Ainda segundo Rodrigues, em entrevista ao Portal

Educação da UOL, frente a um cenário educacional com

muita concorrência, com aumento de custos acadêmicos e a

queda do poder aquisitivo da população, a educação, sob o

ponto de vista de negócio, apresenta uma oportunidade para

captação de recursos do setor privado para financiar a

expansão da Educação; na perspectiva do investidor, pode

ser uma atividade instigante e com bom retorno, desde que

bem administrada.

Dentro deste contexto, a Universidade Anhembi

Morumbi, primeira, universidade brasileira adquirida por

capital estrangeiro, em 2005, teve o Banco Pátria como

administrador principal do seu fundo de investimento,

reestruturando organizacionalmente a universidade para sua

venda. Segundo Oliveira (2009) a aquisição foi manifestada

nos seguintes termos:

“A aquisição do controle acionário da

universidade paulista Anhembi Morumbi pelo

grupo americano Laureate, em dezembro,

representou muito mais que um bom negócio

para o arquiteto Gabriel Monteiro Rodrigues, de

73 anos, fundador da instituição. Com a venda,

fechada por 165 milhões de reais, pela primeira

vez uma instituição estrangeira passou a mandar

36

em uma universidade no Brasil, um marco da

entrada do capital internacional num setor da

economia que tem aumentado exponencialmente

de tamanho. No ano passado, somente os cursos

universitários privados movimentaram algo em

torno de 15 bilhões de reais, ou 50% mais que

três anos atrás. A injeção de recursos de um

grupo do porte do Laureate, com universidades

espalhadas por 15 países, deve dar novo fôlego a

esse mercado. De acordo com os planos do

Laureate, 100% das ações da Anhembi Morumbi

serão adquiridas pelos americanos até 2013.”

(Oliveira, 2009, pag. 744,745)

Até 2011, 51% das ações da Universidade Anhembi

Morumbi foram adquiridas pela Rede Laureate que conta

com 600 mil estudantes distribuídos em 100 Campi. A UAM

possui 5% deste corpo acadêmico, com mais de 30 mil alunos

distribuídos nos Campi Vila Olímpia, Centro, Morumbi,

Paulista, Anhangabaú e com previsão de crescimento de mais

três Campi até 2013, segundo voz corrente da universidade.

Figura 6 – Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi: composto de cinco campi: 1. Campus Vila Olímpia, no bairro Vila Olímpia. 2. Campus Centro, no bairro Brás. 3. Campus Anhangabaú, no bairro Centro. 4. Campus Morumbi, no bairro Brooklin Velho. 5. Campus Avenida Paulista, no bairro Bela Vista. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora

37

1.3 A Universidade Anhembi Morumbi

De acordo com o livro Se não foi a primeira, não foi a

segunda – o desafio de implantar a faculdade de Turismo no

início dos anos 70, Rodrigues (2005), conta a trajetória da

Universidade Anhembi Morumbi desde a fundação até os

dias atuais.

A partir da formação fundamental, participação

acadêmica e inspiração em Clycie Mendes Carneiro (ex-

professora e jornalista), Rodrigues sonhava em cursar

comunicação, mas acaba formando-se em arquitetura por

influência de sua mãe. Ao finalizar a graduação, trabalha no

Departamento de Obras Públicas (DOP) de São Paulo onde

fiscaliza obras e construções escolares. Dentro do DOP,

começou a idealizar projetos de comunicação, tais como

revistas, seminários e projetos dessa natureza. E na

reestruturação do departamento, no governo de Adhemar de

Barros, foi encarregado para implantar o Grupo Técnico de

Comunicação (GTCom) com objetivo de fazer o DOP ser

reconhecido como principal construtor de obras do Estado de

São Paulo mostrando o valor de seus profissionais. Com este

trabalho iniciou, também, cursos de

Figura 7 – Capa do livro “Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda: O desafio de implan-tar a faculdade de Turismo do Mo-rumbi no início dos anos 70”, do Reitor Gabriel Mário Rodrigues sobre o pionei-rismo do curso de Turismo da Uni-versidade Anhem-bi Morumbi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

38

treinamento para funcionários com capacitação e divulgação

dos trabalhos. Frente a alguns problemas políticos internos

no departamento, começa a questionar-se sobre seu futuro

profissional e a possibilidade de seguir novos desafios, tal

como a criação de um curso preparatório para os

funcionários do DOP ingressarem em faculdades. Em

conjunto com Vitório Lanza Filho, engenheiro agrimensor e

Walter Rodrigues da Silva, desenhista, idealizam a

Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura - OBTC, a

futura mantenedora da Faculdade de Turismo do Morumbi.

Diante o incentivo à criação de novas Instituições de

Ensino Superior pelo governo de Médici, Rodrigues e seus

sócios entram com requerimento no MEC para solicitar a

autorização de funcionamento de um curso superior. Em

meio à necessidade de conseguir um prédio para iniciar as

atividades, encontram parceria com uma ordem religiosa de

irmãos pavonianos recém-chegados em São Paulo, que

contava com poucos seminaristas, e não conseguiam finalizar

uma construção do seu espaço educacional, visto os poucos

irmãos em formação. Desta forma, começaram a reformar

este edifício, na Rua Visconde de Nacar, nº 86, no bairro Real

Parque com a proposta de alugar quando estivesse

construído.

Segundo Rodrigues (26/08/11), de maneira geral, o

desenvolvimento do sistema universitário paulista e

brasileiro foi baseada no aproveitamento de edificações pré-

existentes, em um primeiro momento na ocupação de

algumas instituições religiosas que deixaram de oferecer

serviços educacionais e tiveram seus espaços desocupados,

posteriormente por espaços fabris que, também

desocupados, apresentavam áreas com grandes vãos

possibilitando a distribuição de salas de aula. Somente mais

tarde, entre 1980 e 1990, as Instituições passaram a construir

espaços específicos para o Ensino Superior devido ao

aumento de demanda e vagas no setor privado da Educação.

Este primeiro espaço acadêmico que a Instituição iria

ocupar, era composto por dois blocos um correspondente a

parte destinada aos dormitórios dos seminaristas, e a outra

estava nos alicerces, com a obra parada por falta de verba

para finalização, o que possibilitou sua inteira remodelação a

partir do projeto e obra administrados por Rodrigues.

Na metade do ano de 1970, dividindo atividades

entre o DOP e a obra da sede, une-se a Vitório Lanza, Walter

Rodrigues, August Wagner Tafner, com apoio dos irmãos

39

Figura 8 – Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi: Parte integrante da edição piloto na publicação “Estudos Turísticos”, apresentando o corpo administrativo da Faculdade de Turismo do Morumbi, em 1972. Fonte: Estudos Turísticos: Órgão oficial da Faculdade de Turismo Morumbi – São Paulo; edição piloto, junho – 1972.

40

41

Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários A– “Vestibulando”: 10 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 13; B– “Faça Turismo a sua profissão”: 17 e 21 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6 e 10, respectivamente; “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; C – “Faculdade de Turismo, um novo curso a Cr$ 2.300,00”: 20 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6; “1º Curso Superior de Turismo no Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 16; D – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno, página 16 Fonte: Acervo Digital Folha

42

Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários E – “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; F – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 28 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 12; Fonte: Acervo Digital Folha

43

Figura 10 - Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, Campus no Real Parque , em 1971; com sobreposição do informe publicitário do Curso Superior de Turismo, vinculado na Folha de São Pau- lo em 14 de fevereiro e 02 de março de 1971,no Primeiro Caderno, nas páginas 2 e 16, respectivamente. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi e Acervo Digital Folha, montagem elaborada pela autora

Campus no Real Parque , -

Campus no Real Parque , -

44

Renata e Floriano Rodrigues e implantam a Faculdade de

Turismo do Morumbi, iniciando as atividades no ano

seguinte. De acordo com Rodrigues, a data de nascimento da

Instituição foi baseada na primeira aula lecionada no curso

de Turismo, no dia 9 de março de 1971.

A opção pelo curso de Turismo é decorrente do

objetivo inicial de oferecer cursos diferenciados no mercado,

fora dos padrões acadêmicos de graduação existentes na

época. Segundo Rodrigues, em reportagem ao Portal da

Universidade Anhembi Morumbi④ sobre a metodologia

implantada no curso, no lançamento de seu livro, ele conta:

“Seria fácil imprimir à Faculdade de Turismo do Morumbi uma abordagem em Ciências Sociais, a fim de proporcionar-lhe uma aura agradável e eminentemente cultural. Contudo, a realidade do turismo brasileiro exigia outra atitude, uma metodologia própria. Se as matérias que influem diretamente no fenômeno do turismo fossem lecionadas com autonomia em relação às outras matérias básicas, seria um curso técnico e não superior. ‘Turisficamos’ a Geografia, a Economia, a Psicologia e a História para conferir um conteúdo superior ao curso de Turismo. É isso que não existia em parte alguma do mundo” (Rodrigues, 2005)

Concomitante a esta iniciativa, um grupo de

publicitários de São Paulo, liderados por João Batista Reimão

Netto, implantam, em 24 de junho de 1969, a Faculdade de

Comunicação Social Anhembi, tendo como mantenedora o

Instituto Superior de Comunicação Publicitária – ISCP.

Diante do crescimento da Faculdade de Turismo e da

intenção de Reimão de mudar de ramo, das novas opções de

mercado e tendências para o futuro da Educação, a OBTC e a

ISCP passam a dividir o mesmo espaço físico.

Com a fusão das duas Instituições veio à dúvida: em

qual Campus permanecer?

O campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, no

bairro Real Parque, embora apresentasse um edifício com

ambientes bem adaptados para desenvolver as atividades de

ensino e aprendizagem com salas visivelmente bem

iluminadas e ventiladas, visto que fora reformado com o

intuito educacional, não oferecia a possibilidade de expansão

naquele momento, assim não apresentava espaço suficiente

para abrigar a transferência do curso de Comunicação Social

em suas instalações.

O prédio da Faculdade de Comunicação Social

Anhembi apresentava alguns problemas junto a Prefeitura

por ser um espaço fabril, de produção de cera, adaptado

4. Ver reportagem “Livro do

Reitor Dr. Gabriel Mário

Rodrigues fala sobre o

pioneirismo do curso de

Turismo na Universidade”

disponível em

http://anhembi.br/publiqu

e/cgi/cgilua.exe/sys/start.

htm?infoid=5089&sid=2,

acessado em 25/08/2011.

45

Figura 11 – Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi: Frente para a Rua Pará, em 1969. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi igura 12 – Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo, em 25 de setembro de 1969, Caderno Ilustrada página 34, apresentando a fachada do Campus. Fonte: Acervo Folha

46

para instalações acadêmicas da Faculdade de Comunicação

Social, contudo apresentava um grande potencial de

expansão capaz de abrigar os dois cursos no mesmo espaço.

Esta questão de infraestrutura facilitou a decisão de

concentração das faculdades na Casa do Ator, nº 90; já que

em 1973, o MEC autoriza a transferência de sede da

Faculdade de Turismo do Morumbi para o bairro da Vila

Olímpia.

Embora autorizada cinco anos antes, somente em

1978 a mudança acontece de fato. Em meio à frustração do

corpo administrativo e de alguns alunos que não aprovavam

a ideia da mudança devido à distância entre os Campi, de

aproximadamente 7 km, é adotado o nome de Faculdade

Anhembi Morumbi para que os alunos não perdessem a

identidade de suas instituições.

No início da década de 80, a ISCP e a OBTC, verificam

que a convivência diária já facilitava a integração entre corpo

acadêmico e administrativo de ambas as faculdades, o que

estimulou a união das duas entidades, em 1982; sendo que o

Instituto permanece como entidade mantenedora e assume

a responsabilidade da então Faculdade Anhembi Morumbi.

Imagem 13 – Fachada principal da Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia: frente para a Rua Casa do Ator, número 90, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

47

Figura 14 – Informativo Faculdade Anhembi Morumbi: Catálogo de 1982, como instrumento de informação sobre o processo de fusão entre Faculdade de Turismo Mo-rumbi e Faculdade de Comunicação Social Anhembi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 15 – Logotipo das Instituições: Faculdade de Comunicação Social Anhembi e Faculdade de Turismo do Morumbi, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

48

48

49

49

Figura 16 – Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi: desde a fundação da Faculdade de Turismo do Morumbi até os dias atuais. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

50

40

Imagem 17 – Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: cruzamento entre as ruas Casa do Ator e Baluarte, década de 1980. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

51

De 1985 a 1997, a partir de uma organização

acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão

de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se

como Universidade implantando onze novos cursos.

Baseando-se num processo de qualificação

profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da

evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro

Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação

Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e

multimídia, futuramente transformado em Design Digital.

De 1985 a 1997, a partir de uma organização

acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão

de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se

como Universidade implantando onze novos cursos.

Baseando-se num processo de qualificação

profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da

evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro

Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação

Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e

multimídia, futuramente transformado em Design Digital.

Figura 14 – Semana Brasileira de Moda realizada pela Faculdade Anhembi Morumbi,

no final da década de 1990 Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

Figura 18 – Semana Brasileira de Moda: realizada pela Facul-dade Anhembi Mo-rumbi, no final da década de 1990. A – Mesa de apresentação da Semana Brasileira de Moda B – Vestuário em exposição Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

52

Em 1997, a cargo da filha de Rodrigues, arquiteta

Ângela Regina Rodrigues de Paula Freitas, é idealizado e

concebido o projeto de ampliação do prédio sede. Com a

saída de seu irmão Floriano Rodrigues da Faculdade Anhembi

Morumbi, Ângela passa a dedicar-se à área administrativa

deixando o arquiteto Glauco Humberto Fioritti a frente do

departamento de obras e projetos e, posteriormente, a

arquiteta Deise Marques Araújo.

A partir daí a Instituição cresce ano a ano e o Campus

Vila Olímpia é ampliado com novas construções em espaços

próximos ou distantes deste conjunto principal.

Deise que entrou na instituição em 1994, recém-

formada no curso de arquitetura pela Universidade de Belas

Artes, desenvolvia junto à coordenação de cursos estudos

para mapear as salas da universidade e alocar os alunos de

graduação nas salas existentes. As salas, neste período,

tinham distribuição padrão e atendiam a todos os cursos de

forma tradicional e unificada. Contudo, diante das

reclamações acadêmicas e solicitações administrativas, a

arquiteta propõe a implantação de laboratórios específicos

demarcando o perfil do curso e proporcionando maior

identidade a cada espaço. Estes laboratórios caracterizaram

as necessidades acadêmicas exigidas pelas coordenações de

cursos e equipavam os espaços com materiais próprios para

as aulas a serem ministradas.

O que se observou desta iniciativa da arquiteta Deise

foi que os alunos, que anteriormente depredavam os

laboratórios por falta de cuidado com os equipamentos,

mudaram seu comportamento demonstrando maior apreço

pelo lugar. Assim, alunos do curso de comunicação ganharam

estúdios e laboratórios de foto e vídeo, enquanto alunos de

moda ganhavam ateliês de corte e costura, reconhecendo,

dentro do ambiente educacional, laboratórios que refletiam

as atividades profissionais que seriam enfrentadas no

mercado de trabalho, adotando uma visão de que os

laboratórios eram também ambientes de trabalho e não só

extensão da sala de aula. Um exemplo, foi o laboratório de

Planejamento Turístico para o curso de Turismo como um

laboratório de informática composto de equipamentos

digitais e mapoteca.

A partir da década de 1980, as instalações dos cursos

da Anhembi Morumbi fortalecem-se com o desenvolvimento

de projetos práticos, tais como: Rádio Brasil 2000, em 1986; e

Colégio Anhembi Morumbi, em 1993.

53

Campus Unidade Área do Terreno (m²) Área Construída (m²) Sala de Aula Laboratório de

Informática Laboratório Específico

Vila Olímpia

1 6.000,00 6.940,54 916,87 44,34

5 6.443,94 30.481,80 3.060,67 918,99 1.272,59

6 1.994,93 9.696,41 1.871,97 630,42 62,55

7 2.987,88 15.657,39 3.090,64 491,16 400,65

9 1.733.59 1.686,78

1.002,09

Centro Master 1

24.896,79 45.792,10 8.649,51 1.603,76 9.965,58

Master 2 14.686,03 16.523,17 206,72

8.265,46

Anhangabaú Edifício

635,90 8.500,96 629,80 109,84

Morumbi Galpão

13.836,16 7.982,25 316,00 908,46 4.089,60

Edifício Jardim 3.087,22 10.702,14 2.219,14 766,51 1.039,87

Av. Paulista Edifício

990,00 9.092,45 1.898,68 264,14 957,32

Tabela 03 – Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi: Nesta relação é possível verificar a importância dos laboratórios específicos na Instituição. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011. Gráfico 01 – Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus: Nota-se que a maior concentração de laboratórios específicos está, hoje, no Campus Centro; Campus Vila Olímpia e Campus Morumbi. Da infraestrutura total da Instituição 25% corresponde a Laboratórios de informática, 84% a Sala de aula e 17% a Laboratório específico. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011.

54

Gráfico 02 – Número de salas de aula por Campus.

Gráfico 03 – Número de laboratórios de informática por Campus.

Gráfico 04 – Número de laboratórios específicos por Campus. Fonte: Gráficos elaborados pela autora, dados de junho de 2011.

55

Figura 19 – Laboratório específico de gastronomia: A - Campus Vila Olímpia, composto por 6 cozinhas, sala de vinhos, área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult lounge; B – Campus Centro, composto por 12 cozinhas, 2 salas de vinho, laboratório nestlé; área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult longe; C – Vista lateral esquerda da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia D - Vista lateral direita da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 20 – Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde: A e B – Hospital Simulado do Centro de Simulação e Treinamento da Escola de Ciências da Saúde C – Vista lateral esquerda do Hospital Simulado D – Vista lateral direita do Hospital Simulado Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

56

56

A- Laboratório específico do curso de Turismo B - Laboratório específico do curso de Arquitetura C - Laboratório específico do curso de Teatro – Laboratório de planejamento turístico. Maquetaria Sala de Ensaio

E – Laboratório específico do curso de Aviação F – Laboratório específico do curso de Design de Laboratório de Simulação de vôo Moda – Ateliê de corte e confecção

I- Laboratório específico do curso de Veterinária Laboratório Morfofuncional

57

57

D – Laboratório específico do curso de Rádio e TV Estúdio de Vídeo e gravação

G – Laboratório específico do curso de Quiropraxia H -Laboratório específico do curso de Produção Laboratório de Quiropraxia Musical – Ilha de edição

I – Laboratório específico do curso de Maquiagem J – Laboratório específico do curso de Engenharia Civil K – Laboratório específico do curso de Direito Laboratório de Visagismo e Maquiagem Laboratório de Metalografia e Metrologia Mini Tribunal

Figura 21 – Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

58

Entre 1978 e 1998, diante do crescimento da

Universidade, a infraestrutura física é ampliada e a Anhembi,

que a princípio tinha apenas um edifício na Rua Casa do Ator,

passa a contar com cinco unidades distribuídas no Bairro da

Vila Olímpia.

Em 1997, a instituição havia comprado o antigo

prédio fabril da indústria têxtil São Paulo Alpargatas, na

divisa dos tradicionais bairros paulistanos, Mooca e Brás, o

edifício da Alpargatas que outrora fora tombado pelo

Patrimônio Histórico. Após o credenciamento como

Universidade Anhembi Morumbi, a instituição expande sua

estrutura e porte acadêmico, adaptando este edifício para

uso educacional, contribuindo para requalificação de áreas

degradadas da cidade de São Paulo, constituindo o Campus

denominado Centro, e iniciando suas atividades em 1998.

De acordo com Vargas e Castilho (2006), intervir em

centros urbanos “pressupõe avaliar sua herança histórica e

patrimonial, seu caráter funcional e sua posição relativa na

estrutura urbana, mas principalmente, precisar o porquê de

se fazer necessária a intervenção.”

A empresa Alpargatas, que inicia suas atividades em

3 de abril de 1907, com a vinda do escocês Robert Fraser

associado a um grupo inglês, constroem no Bairro da Mooca,

a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Apesar dos

problemas na produção decorrentes do período entre

guerras, a empresa se consolida no mercado passando a

chamar-se São Paulo Alpargatas S.A., a partir da década de

1940.

Na década de 1990, transfere sua fábrica para o

nordeste mantendo apenas a sede do escritório em São

Paulo, desocupando as instalações na Rua Doutor Almeida

Lima, 1134. Para implantação do novo Campus, Deise

desenvolve um estudo com a potencialidade de ocupação do

edifício para a administração apresentar junto ao MEC. A

partir deste estudo, o arquiteto Francisco Petracco, então

coordenador do curso de arquitetura da instituição

apresenta um projeto⑤, o qual não é realizado.

Para Vargas e Castilho (2006), a recuperação de

centros urbanos nos dias atuais significa melhorar a imagem

da cidade, perpetuar a história e criar um espírito de

comunidade e pertencimento ao lugar. A reutilização de

edifícios, a valorização do patrimônio construído, a

otimização da infraestrutura já estabelecida, a recuperação

do comércio, implementam ações atrativas para

Ver histórico da empresa

Alpargatas, disponível em

http://www.alpargatas.com.

br/index.htm, acessado em

25/08/2011.

5. Ver detalhamento do projeto

no Capítulo 2, em “um pouco

sobre o arquiteto”, na página

93

59

investimentos, moradores, usuários e turistas que dinamizam

a

Figura 22 – Antiga sede da Alpargatas Fonte: Foto de Frucci, pertencente ao acervo da Universidade Anhembi Morumbi

55

60

LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL

ALPARGATAS UNIVERSIDADE ANHEMBI

MORUMBI

1907 • Robert Frase inicia a construção da fábrica brasileira de calçados. • Produção de alpargatas, rodas e encerados no bairro da Mooca. • A empresa muda o nome para São Paulo Alpargatas S.A.

1910 • Num país cafeeiro, os empregados que trabalham na lavoura utilizam alpargatas na colheita e encerado na secagem do produto. • A empresa coloca suas ações na BOVESPA.

1920 • Superprodução de café e quebra da bolsa de valores de Nova Iorque fazem cessar a fabricação de alpargatas.

1930

• Momento de instabilidade no país. Contudo, a Alpargatas tem total apoio de seus funcionários. • Getúlio Vargas assume o Governo Provisório. • Por ocasião da Revolução Constitucionalista inicia-se a fabricação de fardas, mochilas e barracas.

1940

• A empresa muda de nome em definitivo para o atual São Paulo Alpargatas S.A. • O Brasil está na Segunda Guerra Mundial. Faltam alimentos e combustível. • A empresa retoma a produção de alpargatas e consegue crescer em meio à adversidade. • Ao fim da Segunda Guerra a empresa lança o primeiro brim pré-encolhido “O Coringa”.

1950

• Primeira empresa a adotar o jingle como estratégia de comunicação. Todas as rádios tocam os jingles da Alpargatas Roda. • Lança a calça jeans Far West, calçados Sete Vidas e lonas Sempre Viva. • Juscelino Kubitschek assume o Governo Federal. • A Alpargatas patrocina as transmissões dos jogos da Copa do Mundo. Vitória do Brasil.

1960

• Lança as sandálias Havaianas, calçados Conga, Bamba, Passo Doble e Calças Coringa, Rodeio e Topeka. • O termo “fajuta” é incorporado ao dicionário Aurélio por decorrência das campanhas das Havaianas. • A empresa adquire a Chenille do Brasil produtos das colchas Madrigal. • Alteração do logotipo. Um triângulo que lembra o “A” inicial da Alpargatas com a sensação de movimento é o novo símbolo da empresa.

61

LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL

ALPARGATAS UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

1970 • Iniciam -se as campanhas de cunho social com o slogan “Criança calçada, criança sadia”.-USTOP; TOPPER; TRAVELLER • Aquisição da fábrica Rainha.

• Publicitários instalam em São Paulo a Faculdade de Comunicação Social Anhembi Morumbi • Engenheiros e arquitetos implantam a Faculdade de Turismo do Morumbi, a primeira do país.

1980

• Adquire a Jeaneration •Lançamentos da década: Samoa; Jeans TOP PLUS • Prêmio “Maiores e Melhores Empresa do Ano”, Revista EXAME.

• União da Faculdade Anhembi e Faculdade Morumbi. • Na segunda metade da década integram-se outras duas organizações: Rádio Brasil 2000FM e Colégio Anhembi Morumbi. • Inaugura o CEBRAFAM-Centro Brasileiro de Formação para a Moda.

1990 • Licencia as marcas Timberland e Mizuno; • Recorde na produção de Havaianas:100 milhões de pares

• Lança o primeiro Curso Superior de Moda do Brasil. • Adquire o prédio da Alpargatas no Brás. • Credencia-se como Universidade. • Inaugura o Campus Centro e o primeiro Centro de Gastronomia da América Latina. • Ganha o Prêmio Master Imobiliário 98-SECOVI categoria Revitalização Urbana de São Paulo. • Implanta os Cursos Superiores de Formação Específica (sequenciais) com duração de 2 anos.

2000 • Novo recorde de produção de Havaianas. •É considerada pela Revista Exame uma das “Melhores Empresas para se Trabalhar”.

• Implanta o conceito de Graduação Modulada. • Cria a Associação de Ex-Alunos. • Inaugura o Centro de Educação Permanente em Saúde Anhembi Morumbi, o Campus Vale do Anhangabaú e o Centro de Design e Moda.

Tabela 4 – Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi. Histórico das empresas desde 1907, com a construção da fábrica brasileira de calçados por Robert Frase; até o final do século XX, com a criação do Centro de Design e Moda pela Universidade Anhembi Morumbi. Fonte: Tabela adaptada pela autora da Linha do tempo elaborada por Moda Brasil, disponível no site Moda Brasil. Disponível em: http://www2.uol.com.br/modabrasil/trilhadotempo/linhadotempo/index.htm, acessado em 25/08/2011.

62

economia urbana e contribuem para a melhoria da qualidade

de vida.

Visando estes objetivos, a Universidade Anhembi

Morumbi desenvolve um planejamento estratégico que

culmina na contratação do arquiteto Vicente Giffoni, do Rio

de Janeiro, para desenvolver um estudo para um centro de

Educação, Cultura e Lazer, similar ao que havia projetado em

1993, para a Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca. A

proposta seria fundamentada no conceito de Shopping

Universitário, onde a universidade teria equipamentos de

convivência, tais como cinema, hotel, teatro e lojas, além dos

tradicionais espaços educacionais.

O projeto do Campus Centro buscava a requalificação

do edifício, recuperando e preservando as características

básicas da estrutura arquitetônica e histórica da construção

feita para a Alpargatas; revitalizando uma área abandonada a

margem da linha ferroviária e transformando o campus em

uma centralidade destinada, não somente a área acadêmica,

mas também aberto a comunidade.

mas também aberto a comunidade. mas também aberto a comunidade. mas também aberto a comunidade.

Vicente Giffoni Filho é arquiteto urbanista formado pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro em 1985, com produção nas áreas acadêmicas,

construção, interiores e planejamentos imobiliários. Fundou o curso de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro, em

1996. E, atualmente, mantém o escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e

Planejamento Ltda.

Figura 23 – Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá, com capacidade para 15000 alunos, na Barra da Tijuca, 1993, projeto. Fonte: Site oficial do escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e Planejamento, disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/ port/, acessado em 23/08/2011

63

Figura 24 – Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997, projeto desenvolvido pela arquiteta Deise Marques Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

64

O projeto recebe o Prêmio Master Imobiliário de

1998, por Revitalização Urbana na cidade de São Paulo

com a recuperação urbana do quadrilátero urbano

compreendido entre a Radial Leste e a Linha da CPTM,

no Bairro do Brás.

A construção inicia-se em novembro de 1997,

finalizando a primeira fase em janeiro de 2004.

Atualmente, este Campus continua em construção,

devido o potencial construtivo para expansão e a

crescente demanda pelo Ensino Superior.

O prêmio, criado em 1995 pelo Capitulo Nacional Brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias (Fiabci/Brasil) e o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), é uma homenagem da indústria imobiliária a produção de alto nível de arquitetura, engenharia, construção, desenvolvimento urbano, incorporação, administração, vendas e marketing, entre outras atividades relacionadas.

Figura 25 – Mapa de localização do Campus Centro no quadrilátero urbano compreendido entre a Radial Leste, Linha da CPTM e Viaduto Bresser. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora

65

Figura 26 – Fachada principal do Campus Centro, frente para a Rua Doutor Almeida Lima. Figura 27– Fachada posterior do Campus Centro, frente para Radial Leste. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Acervo Vicente Giffoni. Disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/port/, acessado

em 25/08/2011.

66

Figura 28 – Projeto do Campus Centro desenvolvido pela arquiteta Deise Marque Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni, para obtenção de financiamento junto Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

67

676767

Figura 29 – Implantação atual do Campus Centro: projeto da arquiteta Deise Marques Araújo, com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. O espaço ainda vem sofrendo modificações diante do crescimento da Instituição, realizados pelo Departamento de Obras e Projetos da Instituição. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

68

As propostas de implantação do Campus Centro

elaboradas pela arquiteta Deise e Giffoni são, relativamente,

similares. Algumas áreas da primeira proposta foram

remanejadas ou extintas, tais como:

A área de Esporte e Lazer hoje é ocupada por salas

de aula denominadas Città;

o Centro de Eventos com 6 salas de aula e um mini

teatro foi substituído pela Área de Eventos com

Teatro Anhembi Morumbi, com capacidade para 700

lugares, e duas quadras poliesportivas descobertas

O Centro de Rádio e TV foi transferido para área de

Práticas Jurídicas e Forense.

A área de Práticas Jurídicas e Forense não foi

implantada no Campus Centro. Foi projetada uma

área denominada Núcleo de Práticas Jurídicas no

Campus Vale do Anhangabaú, sendo transferida,

recentemente, para o Campus Avenida Paulista.

A área institucional não foi construída, teve a

academia instalada de 2007 a 2010, sendo que ,

atualmente, abriga a área da Central de Atendimento

ao Candidato e Agência Experimental. O piso das

áreas que não são ocupadas academicamente não foi

finalizado.

Segundo arquiteta Deise (02/08/2011), em 1998, o

Campus Centro inicia suas atividades com aproximadamente

400 alunos, chegando a quase 700 no segundo semestre e

saltando para algo em torno de 2000 alunos no terceiro

semestre. As obras que estavam sendo realizadas

paralelamente a ocupação do campus tem seu ritmo

acelerado. E as propostas para os laboratórios específicos

passam a ser mais bem elaborados.

Desta forma, para desenvolver a área de

gastronomia, medicina veterinária, fisioterapia, buscou-se o

que se tinha de referência, informada pelas coordenações de

curso, na área para desenvolvimento dos projetos. Como o

espaço era generoso, com pé-direito alto, vãos grandes,

instalações e fundações existentes, os custos da obra eram

direcionados para investir em revestimentos diferenciados;

tentando conciliar a estrutura histórica com acabamentos

atuais.

Com o crescimento da instituição, a concorrência de

mercado, que exibiam abertura de novas universidades, e um

estudo apontando o baixo crescimento vegetativo da

população brasileira, a Anhembi Morumbi com uma visão

69

empreendedora, em 1999, implanta cursos Sequenciais.

Estes cursos tinham intuito de atenderia, não somente a

demanda de calouros na faixa etária entre 17 e 22 anos,

recém-saídos do Ensino Médio, mas conquistaria, também,

um público mais velho, atuante no mercado de trabalho e

que buscavam enriquecer o currículo, profissionalizar-se,

inserindo diplomas de Formação Específica, com duração de

dois anos.

Em 2000, associa-se a outras IES de diversas regiões

do país e cria a Universidade Virtual Brasileira (uvb.br),

posteriormente denominada Instituto Universidade Virtual

Brasileiro (iuvb.br) responsável pela oferta de cursos à

distância e on-line.

O Campus Vila Olímpia que até então tem seus

espaços adaptados para atender a demanda acadêmica,

consegue aprovação de investimento para ampliação de sua

infraestrutura predial e expansão da marca. A instituição, que

havia adquirido o lote onde funcionava o antigo Retiro dos

Artistas de São Paulo, constrói, em 2001, seu primeiro

edifício vertical neste campus, a Unidade 6, projeto do

arquiteto Francisco Petracco, da qual a trajetória será

discorrida no capítulo 2. Embora os alunos do curso de

arquitetura solicitassem a transferência do curso para o

prédio, são os cursos sequenciais – Cursos Superiores de

Formação Específica, que lá são alocados, de acordo com

demanda de mercado crescente e a grande quantidade de

alunos ingressantes nesta nova modalidade acadêmica.

Figura 30 – Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia, frente para a Rua Casa do Ator, evidenciando a estrutura metálica e o vidro com destaque para a escada central solta do chão através de tirantes. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

70

Em 2001, cria-se o curso de Mestrado em

Hospitalidade e para abrigar este novo corpo acadêmico,

reforma-se o a Unidade 8, denominando como Villagio, para

implantação da área de Stricto Sensu. Neste ambiente, além

das áreas de pesquisa, encontra-se um ambiente de

convivência com lojas, cafés como lugar de estar no campus.

Ainda, em 2001, dando continuidade na iniciativa de

revitalização arquitetônica, inaugura o novo campus no

Centro Velho de São Paulo, demonstrando apoio no sentido

de melhoria da área central. Para o reitor Rodrigues, o

Campus Vale do Anhangabaú, atendia duas necessidades

básicas da Universidade: uma de ordem privada, que seria a

expansão de infraestrutura com melhores espaços sob o

aspecto logístico; e a outra, de ordem pública referente à

ativação do processo de valorização e revitalização do Centro

de São Paulo.

Vargas e Castilho (2006), narram o processo de

preservação urbana, comum no período de 1970 a 1990,

como um momento em que a preocupação estava na

importância da preservação das vizinhanças e na restauração

histórica de edifícios, com o aproveitamento da estrutura

existente e introdução de novas atividades, principalmente

Figura 31 – Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 , apresentando o novo Campus Anhangabaú como mais uma opção de localização e espaço acadêmico na área de Direito e Negócios. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

71

de lazer e cultura. O objetivo deste período é a valorização da

memória, na organização da sociedade em defesa ao

patrimônio histórico e na divulgação de que os centros da

cidade seriam espaços essenciais para a vida urbana,

carregado de infraestrutura, identidade e orgulho cívico.

A proposta para o Campus Vale do Anhangabaú,

atendia estas prerrogativas, marcando a presença da

Universidade Anhembi Morumbi no Centro Histórico da

cidade de São Paulo, através da intervenção em um edifício

que outrora abrigava a sede do Banco de Boston desde 1960.

O Banco de Boston acompanhava a dinâmica de

deslocamento das atividades centrais para novos polos, tais

como a transferência de instituições que buscavam

tecnologia e edifícios mais modernos na Avenida Paulista,

caminhando para Avenida Faria Lima, depois Marginais e

finalmente na área do Brooklin – onde a cidade assume o

novo conceito de cidade que sobrevive sem a infraestrutura

básica aliada a um estilo arquitetônico⑥. A Instituição

bancária passa a ter sua sede em um arranha-céu próximo a

Marginal Pinheiros com 145 metros, até ser vendido ao

Banco Itaú, em 2006.

O projeto do Campus Vale do Anhangabaú, atende as

Figura 32 – Fachada do Campus Vale do Anhangabaú frente para a Rua Líbero Badaró, com vista para o cruzamento com a Avenida São João. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

necessidades arquitetônicas advinda de seu programa e

demanda acadêmica, mas não atrai seu público de imediato.

Embora a infraestrutura urbana facilite o acesso com as

proximidades das estações de metro São Bento e

Anhangabaú, os horários das aulas e a falta de segurança da

região central inibiram o sucesso da iniciativa. Atualmente,

6. MEYER, Regina - O centro da

metrópole como projeto -

artigo da coletânea São Paulo

XXI – Entre o projeto e a

história – Viva o Centro, pág.

6 a 10, disponível em

http://www.vivaocentro.org.

br/download/publicacoes/sa

opaulocenroxxi.pdf, acessado

em 05/05/2011.

72

com nova politica de segurança por parte da Prefeitura para

a área, busca-se novamente uma tentativa para se dar vida à

área Central.

Em 2002, é inaugurado o Campus Morumbi, também

sob um aspecto de requalificação de galpão fabril, a antiga

Durex, no bairro do Brooklin. Embora a construção não

apresente o mesmo valor histórico das outras construções, a

iniciativa de se manter toda a estrutura e instalações

aparentes, gerou um universo simbólico para a área de

concentração do campus, que inicialmente, implantados os

cursos de Design e Moda, e atualmente ampliado para Escola

de Arte, Arquitetura, Design, Moda e Business School São

Paulo (BSP).

Os galpões requalificados ganharam o nome de

Galpão das Artes, proporcionado por novos e grandes

espaços de ateliês e laboratórios específicos com objetivo de

agrupar todas as atividades artísticas e poder expandir a

identidade própria desta Escola. Em 2007, a infraestrutura

acompanha o crescimento do campus e emerge um edifício

de 10 andares denominado Edifício Jardim, visto o grande

bosque refletido em sua fachada de vidro.

Figura 33 - Fachada principal do Campus Morumbi, frente para a Avenida Roquei Petroni Junior, evidenciando sua escadaria de acesso ao campus. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

Figura 34 – Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi, da arquiteta Deise Marques, para efeito ilustrativo da edificação. Na imagem, foi retirada a vegetação das árvores, existentes em frente ao edifício, que refletem o jardim no fechamento em vidro. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

73

73

Figura 35 – Mapa do Campus Morumbi, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

74

A partir de 2003, continua-se a expansão da

infraestrutura do Campus Vila Olímpia, iniciando obras para

construção do segundo edifício vertical, interligado a

Unidade 6, a uma nova unidade intitulada de Unidade 7,

ficando a cargo da arquiteta Deise que era a então

coordenadora da AOP naquele ano.

Segundo Deise (02/08/2011), a proposta do novo

edifício seria compor um diálogo entre a nova construção e a

existente, contudo este diálogo deveria ser encontrado na

oposição da arquitetura desenvolvida por Petracco, isto

porque qualquer edificação que sugerisse a mesma

linguagem, única deste edifício existente, seria uma

competição de arquitetura.

Desta forma, mesmo com que as construções

apresentassem características distintas em seu projeto, o

diálogo aconteceria entre os níveis dos prédios. Como o

terreno é íngreme, o pavimento térreo da unidade 7

acompanharia o térreo da unidade 6, ficando três metros

acima do nível da rua, isto faria com que a nova edificação

ficasse solta do solo. Nesta cota a entrada do edifício

aconteceria pela própria unidade 6. O desnível gerado entre

o térreo e a rua, provocaria um primeiro subsolo, fazendo

que a construção criasse outro acesso, uma entrada

independente para a unidade 7.

Figura 36 – Fachada do Complexo Theatro, vista da Rua Casa do Ator. A esquerda, unidade 6 projeto de Francico Petracco, a direita, unidade 7,projeto de Deise Marques. É possível identificar a diferença de materiais onde um é de estrutura metálica azul e vidro e a o outro em tijolo aparente e revestimento tipo fulget. Nota-se, também, a relação de níveis dos edifícios, no qual o pavimento térreo da Unidade 6 forma uma esplanada com o pavimento térreo da Unidade 7; e o subsolo da Unidade 7 favorece uma entrada independente a esta unidade. Fonte: Desenho em AutoCAD produzido pela autora

75

Ainda de acordo com Deise (02/08/2011), outro

motivo para opção pelo volume fechado na Unidade 7 é

resposta a um fator econômico, isto porque foi solicitado

pela instituição uma maior economia no uso de vidro,

cortinas e materiais acústicos. E embora esta solicitação

produzisse uma arquitetura distinta, o partido do projeto

preferiu por um sistema construtivo que mantivesse o

mesmo perfil da Unidade 6, o que resultou na utilização do

aço como elemento de estruturação do projeto, haja vista o

valor do aço no mercado financeiro e, acima de tudo, a

agilidade durante a construção.

Outro ponto levantado por Deise (02/08/11) foi à

aproximação do partido entre as edificações por meio de sua

modulação estrutural. Como não é possível conhecer a

demanda de alunos a serem matriculados, as salas de aula

precisavam apresentar um caráter mais flexível. Facilitando a

modificação e redimensionamento da mesma.

Após a construção da Unidade 7, a arquiteta Deise foi

convidada a desenvolver o projeto para a unidade 5, também

no Campus Vila Olímpia; formando, assim, o Complexo

Theatro, composto por três imponentes edifícios na rua Casa

do Ator, integrando uma nova paisagem da região.

agilidade durante a construção or, integrando uma nova paisagem da região.

Figura 37 – Fachada Complexo Theatro, frente para a Rua Casa do Ator, com a Unidade 6 em primeiro plano e a Unidade 7 ao fundo, mostrando a diferenças arquitetônicas entre as fachadas de vidro e de tijolo a vista; bem como sua integração a partir da esplanada do térreo, com entrada pela Unidade 6 Fonte: Acervo pessoal da autora

76

Figura 38 - Ocupação urbana dos imóveis destinados as unidades acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi no Campus Vila Olímpia, no período de 1978 a 2011 Fonte: Desenho da autora

77

78

Atendendo a globalização, em 2005, a Universidade Anhembi

Morumbi alia-se a Rede Internacional de Universidades

Laureate, com o objetivo de ampliar sua presença no

mercado, conferindo um caráter internacional. Os cursos da

Universidade Anhembi Morumbi passam a oferecer

vantagens como complemento da grade curricular e estágios

internacionais.

Nesta mesma época, o departamento de obras e

projetos da universidade é terceirizado, e a equipe que

outrora era composta de quase 15 funcionários passa a

contar com uma equipe de seis pessoas na empresa GMA

Incorporadora e dois funcionários na AOP da universidade.

Gráfico 5– Relação de funcionários na AOP, no decorrer dos anos e expansão do campus Fonte: Tabela elaborada pela autora

Figura 39 – Fachada lateral do Complexo Theatro, com a Rua Casa do Ator entre as unidades 6, em primeiro plano, e a Unidade 5, ao fundo. É possível observar a arquitetura semelhante entre a Unidade 5 e 7, o que faz com que a arquitetura da Unidade 6 destaque-se na paisagem. Fonte: Acervo pessoal da autora

79

Figura 40– Informe publicitário Folha de São Paulo: Recorte do Informe publicitário apresentado como encarte na Folha de São Paulo, em dezembro de 2005, anunciando a aliança entre a Universidade Anhembi Morumbi e a Rede Internacional de Universidades Laureate Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

80

Em 2006, com o reconhecimento da CAPES aos dois

cursos de Mestrado, o Mestrado em Design e o Mestrado de

Comunicação, ratificam o status como Universidade.

E, em 2007, a AOP é reestabelecida dentro da

Instituição, sob a gerência do arquiteto Glauco Humberto

Fioritti, arquiteto urbanista, formado pela Universidade de

Belas Artes e que já trabalhava na instituição na área de

Segurança do Trabalho há aproximadamente 15 anos.

Neste mesmo ano, o Campus Centro passa por nova

transformação, parte de suas instalações são readequadas

para receber o curso de Medicina, com ênfase na prática de

simulação, a partir do uso do SimMan 3G.

Em 2008, a Universidade inaugura o Campus Avenida

Paulista. O edifício que abrigava a Faculdade de São Paulo

(FASP), agora sedia a área de Negócios da Universidade

Anhembi Morumbi. O edifício projetado inicialmente para ser

um espaço comercial, apresentava uma série de problemas

legais para funcionamento acadêmico, um dos motivos que

fizeram com que a antiga faculdade abandonasse o imóvel.

Ciente da importante localização do Campus, a Instituição

opta por investir na infraestrutura deste espaço, localizado

em um dos maiores centros empresarial da América Latina.

vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo

da Instituição.

Sim Man 3G é um manequim

de última geração que simula

comportamentos humanos,

tais como choro, sangra-

mento, convulsão e responde

a estímulos químicos, biológi-

cos, radiológicos e nucleares.

Ver:

http://portal.anhembi.br/pu-

blique/cgi/cgilua.exe/sys/star

t.htm?infoid=5325&sid=2

vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo

da Instituição.

Figura 41– Laboratório de Simulação do curso de Medicina, com destaque para a presença do boneco SimMan 3G, que simula comportamentos humanos e facilita demonstrar situações de casos reais a partir da programação do equipamento, dinamizando o método de ensino.

Figura 42 – Fachada do Campus Avenida Paulista, frente para a Avenida Paulista, nº2000, com destaque para o calçadão no primeiro plano e a presença da Universidade Anhembi Morumbi na Avenida que é o cartão postal da cidade de São Paulo. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

81

Neste mesmo ano, incorpora a Business School São

Paulo – BSP, com intuito de fazê-la seu braço especializado

em MBAs e cursos para empresas dentro do Campus

Morumbi. Com a transferência da sede da BSP para o

Campus Morumbi e todos os riscos administrativos e

financeiros devidamente planejados e ajustados, a

Universidade deparou-se com uma questão incomum, o

Campus caracterizado pelo público dos cursos da Escola de

Artes, Arquitetura, Design e Moda eram totalmente distintos

do público da BSP, evidenciando suas diferenças

socioculturais.

Os alunos da BSP são profissionais formados com

mais de cinco anos de experiência de mercado, sendo a

maioria diretores ou executivos de liderança das grandes

empresas; enquanto os alunos da UAM são em sua maioria

jovens recém-saídos do colegial e cursando sua primeira

faculdade. Com perfis distintos desde o vestuário até o valor

do investimento no curso, a universidade proporcionou

diferenças no espaço físico dos dois segmentos acadêmicos.

Esta diferença de cultura acadêmica tem sido superada, mas

já existe projeto para transferência deste público para uma

unidade estritamente de negócios.

Figura 43- Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi, com recepção para os alunos, conta com balcão de informação poltrona estofadas e mesas de estudo.

Figura 44– Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi, com o espaço do corredor vazio, de acordo com a entrega da obra em 2007. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

82

Atualmente, a Universidade, respeitada pela sua

missão de “contribuir para a construção de um mundo

melhor, produzindo conhecimento e formando talentos

criativos e empreendedores, capazes de ter sucesso em sua

vida pessoal, social e profissional”⑦ é, em muito, o reflexo

de seu idealizador, que a princípio queria ser jornalista,

cursou arquitetura, trabalhou no DOP com fiscalização de

escolas, idealizou e implantou cursos de formação

profissional e tornou-se um empreendedor da Educação⑧;

abraçando a visão de criar “uma intuição moderna, arrojada

e inovadora, com modelos pedagógicos e administrativos

diferenciados e capazes de desenvolver, nos alunos sua

competência para empreender e inovar em sua atuação

profissional.”

Atualmente, após 40 anos de sua fundação, que

iniciava com 360 alunos em uma única edificação no Bairro

do Morumbi, a universidade conta com:

32 mil alunos cursando a universidade;

44 cursos de graduação;

14 cursos de graduação tecnológica;

11 cursos on-line;

19 cursos de especialização;

11 cursos de graduação executiva;

3 cursos de mestrado;

765 funcionários administrativos e

835 professores atuando na Instituição.

Todas as atividades distribuídas em um total

de 77.292,44 de m² da área de São Paulo, com 162.465,00 de

m² construídos, lançados em 5 Campi, com um total de 15

edificações.

7. Missão e Visão divulgadas no

site da Universidade

Anhembi Morumbi:

Disponível em:

http://portal.anhembi.br/pu-

blique/cgi/cgilua.exe/sys/star

t.htm?sid=119. Acesso em

14.01.2011

8. Ver citação de Rodrigues

(2005), “Queria ser jornalista,

graduei-me em arquitetura,

trabalhei para o estado, abra-

cei a causa do Turismo e há

35 anos sou um empreende-

dor educacional.” Pag. 246

83

Capítulo 2. VIVENCIAR O prédio de vidro

2.1 A origem da unidade 6

De acordo com o portal da Prefeitura de São Paulo⑨,

o bairro da Vila Olímpia compõe o distrito de Itaim Bibi em

conjunto com a Chácara Itaim, Vila Funchal, Brooklin Novo,

Brooklin Paulista, Jardim Edith, Cidade Monções, Conjunto

JK, Vila Cordeiro, Vila Gertrudes e Vila Uberabinha.

9. Disponível em

http://www.prefei-

tura.sp.gov.br/cidad

e/secretarias/subpre

feituras/pinheiros/hi

storico/index.php?p

=472, acessado em

18 de julho de 2011

Figura 45 – Mapa de uso

e ocupação do solo da

Regional de Pinheiros,

incluindo o Bairro Vila

Olímpia, evidenciando

que a macrozona de

estruturação urbana da

área onde situa o cam-

pus Vila Olímpia da

Universidade Anhembi

Morumbi é Zona Mista

de Alta Densidade.

Fonte: Site da Subprefei-

tura de Pinheiros

84

Este distrito surge com características de bairro

popular, entre a década de 1920 e 1930, com uma população

modesta de classe média, nas terras da chácara de 120

alqueires do general José Vieira Couto de Magalhães. A

propriedade, que posteriormente foi passada para seu irmão

Leopoldo, era conhecida como “terreno de Bibi”, que

acrescido do passado indígena, em que Itaim em tupi

significa pedra pequena, origina o nome do Bairro.

A Vila Olímpia fazia parte do espólio da chácara, que

segundo Sávio (2004), tiveram as propriedades do general

desmembradas por seus herdeiros em lotes e pequenas

chácaras entre a parte alta, próximo a avenida Santo Amaro e

Bandeirantes e terrenos na parte baixa, próximo a avenida

Nações Unidas e Presidente Juscelino Kubitschek .

Por estar distante do corredor de passagem entre

Santo Amaro e o centro da cidade, teve um desenvolvimento

lento. Sávio (2004), conta que enquanto na década de 70,

apresentava-se como bairro de classe média consolidada, a

ocupação era mista, sendo que na parte alta estabeleciam-se

casas térreas e assobradadas geminadas com edifícios

residenciais de pequeno porte, enquanto na parte baixa,

próximos aos córregos uberada e uberabinha, encontravam-

se as indústrias e depósitos fabris, delimitados pelas favelas

Coliseo e Juscelino Jubitschek.

Assim se manteve até 1989, quando, durante a

administração de Janio Quadros, o arquiteto Julio Neves,

apresenta o projeto do “Bulevar Zona Sul”, como resposta ao

transito existente nesta região e valorização imobiliária da

área. O projeto consistia em demolições e reurbanização de

quadras no eixo da Avenida Brigadeiro Faria Lima e

Engenheiro Carlos Berrini, rejeitado por moradores da área, o

que acarretou seu primeiro veto. O projeto é retomado no

governo de Luiza Erundina, mas só é aprovado em 1993, na

gestão de Paulo Maluf, decorrente da Operação Urbana da

Faria Lima.

De acordo com Sávio (2004), o então prefeito Maluf

anunciou o prolongamento da Avenida Brigadeiro Faria Lima

como obra emblemática de sua gestão, viabilizada pela

venda de potencial construtivo através da Operação Urbana.

Contudo, receando não concluir a obra até o final do

mandato, iniciou o projeto com recursos que previa

recuperar posteriormente por meio do interesse do mercado

imobiliário na região.

Com a inauguração em 1997, evidenciava-se o

85

aumento de casas noturnas e de espetáculos, bares e

restaurantes, aferindo o nome de Brejo Alegre decorrente da

atratividade no entreterimento noturno.

No portal do Bairro Vila Olímpia⑩, conta-se que as

primeiras construções horizontais, com gabaritos baixos

residenciais e comerciais, tinham as ruas identificadas por

números. Na Seção de Denominação de Lougradores

Públicos, a oficialização da rua Casa do Ator, refere-se a Casa

de Ator como sendo a residência do artista.

A origem do nome aconteceu com a chegada da

entidade circense, de Francisco Colman, que constrói sua

sede no número 275, fazendo com que esta rua passe a

abrigar uma casa para artistas circenses aposentados, com

algumas atividades da Academia Piolin de Artes Circenses,

patrocinada pelo governo estadual. A entidade funcionou

entre o período de 1978 até 1982, vendendo seu terreno a

mantenedoura da Universidade Anhembi Morumbi em 1995.

Em relatos no Blog Verônica Tamaoki, a pesquisadora

escreve como a coleção de Boletim Mensal da Federação

Circence constituída por Francisco Colman chegou as suas

mãos possibilidando realizar uma pesquisa sobre o Circo no

Brasil no início do século.

Figura 46 – Francisco Colman, entre 1979 e 1980.

Fonte: http://blog.pindoramacircus.com.br

Tamaoki relata que enquanto aluna da Academia

Piolin, quando a escola funcionava sob as arquibancadas do

Estádio do Pacaembu, conheceu Colman como diretor. Narra

10. Ver histórico no site Bairro

Vila Olímpia, disponível em

http://www.bairroilaolimp

ia.com.br/htmHISTORIA.ht

m, acessado em 18 de

julho de 2011.

Verônica Tamaoki é

jornalista, atriz e diretora

circense, produziu o

evento Circo Nerino no

Sesc Pompéia em

homenagem ao palhaço

Piolin, fundou o site

Pindorama Circus com

notícias do Circo Brasileiro,

escreveu o livro Circo

Nerine ao lado de Roger

Avanzi. Os relatos sobre a

Casa dos Artista no Bairro

Vila Olímpia encontram-se

Disponíveis em http://

blog.pindoramacircus.com

.br/category/circo-teatro,

acessado em 18 de julho

de 2011.

86

a trajetória do artista que foi secretário do Circo Nerine, em

1936 lança a revista Scena, em 1950 é diretor e redador da

revista Máscaras e em 1977, torna-se presidente da

Associação Piolin de Artes Circenses, entidade responsável

pela Casa do Ator, em São Paulo.

Segundo depoimentos do pesquisador Sérgio Freitas,

em 11 de abril de 1977, a Secretaria do Estado dos Negócios

da Cultura, Ciência e Tecnologia, fundou a Associação Piolin

de Artes Circenses, inaugurando suas atividades com o

“Festival Piolin de Artes Cirscenses”, “Natal no Circo” e o

espetáculo de circos no Ginásio do Estadio Municial “Paulo

Machadao de Carvalho”. Em 08 de agosto de 1977, inaugura

a Escola Oficial de Artes Circenses dirigida ao ensino e

aprimoramento das artes circenses, com aulas as segundas e

quartas-feiras no Estádio Municipal “Paulo Machado de

Carvalho”

No portal da Fundação Nacional das Artes, em

depoimento de Dirce Tangará Militello, o principal objetivo

da escola de circo, naquela época, era tentar trazer de volta a

profissão dos mestres circenses.

Assim, Sr. Francisco Colman e seu secretário

Waldemar Merizio Vieira, administravam um espaço e

reinvindicavam auxílio à classe dos profissionais do circo.

Tamaoki, em visita a Casa do Ator no ano de 1986,

conta que Francisco Colman morava no escritório da sede e

Sr. Waldemar continuava ao seu lado como caseiro. Quando

retornou entre os anos de 1991 e 1992, Sr. Waldemar

informou-lhe da morte de Colman.

A Casa do Ator não era apenas uma casa, eram

várias. Tinha uma casa central, e outras casas,

inclusive uma edícula comprida, uma capela, um

jardim e acho que mais uma pequena casa no

fundo do terreno. Entre os apartamentos situados

na edícula, esses com quarto e banheiro, e nas

outras casas, acredito que havia uma média de

uns 25. Muitas vezes, a Academia Piolin ensaiou

no quintal da Casa do Ator, no início da década de

1980, e já na época, a maioria de seus

apartamentos estava vazio. (Veronica Tamaoki⑪,

2007)

De acordo com os relatos do engenheiro Delduque

(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve

com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte

edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.

Revista Scena: Revista

Circense, órgão oficial do

Circo Theatro Romano.

Revista Máscara: Revista

Circense, órgão oficial do

Sindicato dos Atores

Teatrais, Cenógrafos e

Cenotécnicos do Estado

de São Paulo.

11. Disponível em

http://blog.pindoramacirc

us.com.br/category/circo-

teatro

Delduque Oliveira

Martins, foi Diretor de

Gestão de Campus e de

Patrimônio da Uni-

versidade Anhembi Mo-

rumbi e atualmente tra-

balha como Superin-

tendente do Instituto

Racine em São Paulo.

87

De acordo com os relatos do engenheiro Delduque

(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve

com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte

edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.

A Universidade dividia o espaço com a Associação Piolin, que

mantinha o espaço também para guardar materiais e

equipamentos artisticos para locação, tais como som

fantasias, equipamentos de circo, entre outros.

No final da década de 1990, segundo Savio (2004), o

bairro da Vila Olímpia sofria intensa verticalização,

valorização fundiária e adensamento; com constução de

vários edificíos comerciais. A instituição, sob regência de

Rodrigues, conhecedor do mercado imobiliário e aspirando

ampliação da infra-estrutura do Campus Vila Olímpia,

adquire, em 12 de janeiro de 1994, o terreno da Casa do

Ator, 265, sob propriedade de “Casa do Ator Centro de

Comunicações Artísticas e Culturais”. O terreno de 1.000m²

continha uma pequena edificação, a capela e a grande área

do estacionamento. E em 23 de março de 2005, adquire o

lote 275, também com 1000m² composto de pequenas

edificações. Estes lotes demonstravam sua vocação

educacional, onde outrora participaram da construção da

Academia Piolin, agora seria espaço pertencente aos anseios

acadêmicos de Ensino Superior.

Ainda que o bairro estivesse passando por esta

crescente imobiliária e a universidade estivesse contando

com aproximadamente três mil alunos, no final da década de

1990, o terreno encontrava-se em Z2, zona que corresponde

ao uso predominatemente residencial com densidade

Imagem 47 – Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275, pela Universidade Anhembi Morumbi, em 1995. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

88

demográfica baixa. Terrenos nestas condições, segundo a

Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA):

Corresponde à parte da área urbana não

incluída nos perímetros das demais zonas,

caracterizando-se pela predominância

residencial, sendo também permitidos usuos

comerciais, de serviços, industriais de pequeno

porte e institucionais. Nesta zona, as edificações

podem ter área construída máxima igual à

ocupação do lote, ocupando apenas metade do

terreno, sendo permitido que nos edifícios

residenciais, a área construída seja o dobro da

área do lote, com uma ocupação menor da

superfície do lote (SEMPLA⑫, grifo da autora)

Diante da legislação, a administração da Universidade

Anhembi Morumbi solicita um estudo para verificar qual o

potencial construtivo do terreno e depara-se com o resultado

de construção com, no máximo, a equivalência da área do

terreno de 2.000 m²; metragem esta que não atenderia a

estimativa de crescimento almejada.

Consciente de que a legislação urbanistíca define

acordos e propõe limites invisíveis, Eduardo Sobrosa, sócio

da construtora Sobrosa⑬, que acompanhando o processo

em reuniões com o engenheiro Delduque, procura uma

lacuna nesta legislação que possibilitasse a construção de um

edifício para a universidade. A construtora que estava

trabalhando em pequenas reformas na unidade 5 e fazia

algumas demolições no Campus Centro, via o potencial de se

manter parceria na construção de novos edifícios e consoliar

os laços com a instituição. Sua insistência na pesquisa revela

uma possibilidade construtiva na LEI Nº 8.211, de 06 de

março de 1975.

Esta Lei, que estabelecia condições de localização,

aproveitamento, ocupação e recuos para edificações

destinadas a estabelecimento de ensino, onde apresentava

como aproveitamento do terreno de (40 x 50) metros que, a

princípio, permitirra uma construção de apenas uma vez o

lote do terreno; com o uso desta lei permitiria a construção

de quase 4.000 m²; resultado do aumento do

aproveitamento que antes tinha coeficiente 1 e, passa a ser

2. Embora a área possa ser maior, a taxa de ocupação

permanecesse igual, considerando a ocupação da metade do

terreno.

Estes dados podem ser melhor visualizados, na

análise da tabela abaixo:

12. Secretaria Municipal de

Planejamento, disponível

em http://www.prodam.

sp.gov.br/sempla/zone.ht

m, acessado em 18 de

julho de 2011

13. Ver histórico da

Construtora Sobrosa no

Capítulo 2 – A construção

Ver Anexo com a Lei Nº

8.211

89

Com a possibilidade de verticalização oferecida pela

legislação, Sobrosa reuniu-se⑭ ao corpo administrativo para

apresentar a solução com um estudo das exigências mínimas

e possíveis características que pré-determinariam o edifício a

ser implantado na Casa do Ator, 275. Investi na

verticalização do gabarito acadêmico pela universidade, em

um bairro residencial, acompanhava a ascensão imobiliária

vivenciada pela Vila Olímpia, no final da década de 1990,

descrita por Sávio (2004); com torres comerciais que

substituiam antigos sobrados e galpões do bairro, atraídos

por soluções tecnológicas e especificações técnicas de última

geração, além de flexibilidade espacial dos novos edifícios

com a sofisticação dos empreendimentos.

15. O arquivo denominado

Prefeitura.doc, não

apresentou data e a

Construtora , também, não

soube informar com

precisão. Acredita-se que as

negociações ocorreram

entre o segundo semestre

de 1998 e o primeiro

semestre de 1999.

Lei dos estabelecimentos do ensino pertencentes ao sistema educacional do estado de São Paulo e dos estabelecimentos de educação infantil

Zona de

uso

Coeficiente de

aproveitamento

Taxa de ocupação

máxima Recuos mínimos Estacionamento de veículos

Espaço destinado a desembarque e manobras de

veículos

A B C D E F G H I

Z1 1 1 0,5 - 6 3 uma vaga p/ cada 75 m² de área

edificada resultante da aplicação dos

coeficientes estabelecidos na coluna C

para os estabelecimentos de categoria

E1 e E2;

p/ os estabelecimentos da cat.

E3 a COGEP estabelecerá p/ cada caso

específico o nº mínimo de vagas

É obrigatório proporcionar fora do logradouro púb. de

acesso e especificar no projeto os pátios e vias de

circulação destinadas a:

a) embarque e desemb. de estudantes;

b) carga e descarga de veículos de serviço;

c) parada temporária e manobra de veículos

Z2 2 2 0,5 0,5 6 3

Z3 6 2 0,5 0,5 5 -

Z4 6 2 0,5 0,7 5 -

Z5 6 2 0,5 0,8 - -

Z6 3 1,5 0,5 0,7 6 3

Z7 - - - - - -

Tabela 5– Quadro único anexo a LEI Nº 8.211, de 06 de março de 1975, complementado pelas LM 8.769/78 e 9.094/80, com diretrizes para construção de espaços pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo, com grifo da autora nos itens referentes ao projeto do Edifício Theatro Casa do Ator. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/ legislacao/index.php?p=8664, acessado em 18 de julho de 2011.

90

A instituição que até o momento, só realizava

adaptações nas unidades da Vila Olímpia, investe na

atualização de sua infraestrutura e faz emergir um edíficio

consolidando o seu crescimento no mercado educacional,

marcando o prestígio do recém-adquirido status de

Universidade Anhembi Morumbi.

Figura 48 – Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes impostas pela Lei Nº 8.211, referente aos recuos mínimos exigidos para aprovação do projeto com uso educacional. Fonte: Desenho elaborado pela autora

Imagem 49 – Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes da Lei Nº 8.211 Fonte: Google maps 2011, com edição da autora.

-

91

Figura 50 – Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa

92

Figura 51 – Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa

93

2.2. Um pouco sobre o arquiteto

Partindo deste contexto, da importância do terreno

para a rua e bairro, das dificuldades enfrentadas para

potencializar a construção do edifício e a relevância da

construção na conjuntura da Universidade, era preciso

apontar o arquiteto que idealizaria o projeto. A partir de

entrevistas, publicações em revistas e sua tese de doutorado,

foi possível conhecer Francisco Petracco.

Petracco era o coordenador do curso de Arquitetura

e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, com rica

trajetória profissional acadêmica e arquitetônica, quando

convidado a projetar o Prédio de Vidro.

Neto de arquiteto e de pai artesão industrial e

violinista, foi seduzido pela profissão do avô quando desde

cedo o acompanhava em suas obras.

Em sua vida acadêmica conhece o professor Vicente

Mecozzi, desenhista e pintor, que incentivava alunos com

aptidões plásticas a inclinarem-se ao curso de Arquitetura;

Orestes Rosalia que romantizava a História em fatos poéticos

e humanísticos; e Pedro Corona, já na graduação, grande

promotor do Desenho do Projeto e do Desenho do

Francisco Petracco é neto de

Francisco Verrone, arquiteto

responsável por projetar e

coordenar as obras da IRF

Matarazzo, tais como

Maternidade Matarazzo e

Casa das Caldeiras.

Figura 52 – Francisco Petracco

Fonte: Acervo Anhembi Morumbi

94

Urbanismo, por quem tem grande admiração pelo

aprendizado pelo desenho referenciado no tempo e espaço.

Em sua formação arquitetônica, além das atividades

pedagógicas cursadas na universidade, participava de

atividades paralelas ao curso, garantindo ser de grande

importancia para formação pessoal e profissional, tais como

estágios, concursos, acampamentos de topografia e jogos

internos do curso. Estas atividades estimulavam o desejo

participativo estudantil e o envolvimento com a educação.

Nos estágios que frequentou, impulsionado pelo

crescimento do Brasil incentivado por Juscelino, aprendeu

através de diálogos extra-aulas, a influência dos canteiros de

obra na linguagem arquitetônica e o raciocínio construtivo.

Trabalhou em escritórios com Eduardo Corona, Fábio

Penteado, Paulo Mendes da Rocha, Botti Rubin, Jorge

Wilheim, Julio Neves, entre outros.

As primeiras experiências acadêmicas foram como

instrutor em cursos de Aspirante a Oficial e Tenente de

Artilharia, enquanto ainda era estudante, no qual, por

virtude da estrutura militar, aprendeu os conceitos de

ordem, respeito, espírito de equipe e nacionalismo.

Posteriormente, já arquiteto formado, lecionou no

curso de preparação de Professor de Desenho na FAAP, em

1963, e em 1964, a partir da reformulação vivenciada pelo

Mackenzie, é convidado a dar aulas nesta instituição

buscando enfatizar o Desenho como aprendido com Pedro

Corona.

No ano de 1971, com a implantação do terceiro curso

de arquitetura no Estado de São Paulo por Osvaldo Correa

Gonçalves em Santos, Petracco presenciou a unanimidade

profissional e ideologia comportametnal de uma Escola com

foco no Modernismo, tendo o desenho e o projeto

arquitetônico como pré-requisito do curso; deixando a

cadeira de Projeto em 1996. Em 1983, compõe o corpo

docente do curso da Faculdade de Belas Artes, recriado por

Jorge Caron. Em 1992, retorna ao Mackenzie para ministrar

aulas aos trabalhos de graduação interdisciplinar (TGI),

permanecendo lá até hoje.

Em 1994, torna-se coordenador do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Anhembi Morumbi, com a

missão de construir um novo curso para a universidade

buscando formar uma Escola que traduzisse sua experiência

e anseios. Na formação do curso, coordenou professores

como Orpheu Zamboni para Projeto, Maria Helena Flynn em

95

História e Luiz Carlos Chichierchio em Conforto. Infelizmente,

só Chichierchio permanece no corpo docente atualmente.

Pouco antes da venda para o grupo Laureate, em 30 de junho

2003, Petracco deixa a coordenação do curso dedicando mais

tempo às atividades arquitetônicas profissionais.

O início de sua carreira profissional acontece em

1959, com a maturidade da linguagem moderna paulistana,

conhecida como “Escola Paulista de Arquitetura Moderna”,

impulsionada, principamente, pela presença do arquiteto

Villanova Artigas; com quem Petracco tem convivência

durante o regime militar. As obras de Petracco encontram-se

num período pós-Artigas e traduz os impactos ocasionados

pelas transformações sócio-políticas e culturais dos anos de

1960 e, mesmo que se adaptando as novas configurações

sociais, não perdem as posições ideológicas funcionais.

Entrando na década de 1970, com um quadro

internacional exigindo novas formas e significados para a

arquitetura, Petracco (2004) relata que a arquitetura passou

por uma reformulação em seu conceito de forma, mas sem

alterar as perspectivas da arquitetura moderna, e sim

embasada em questões filosóficas para produção de espaços

para o ser humano.

Figura 53 – Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo, projeto, equipe coordenada pelo Arquiteto Eduardo Knezse de Mello. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

96

para o ser humano.

Figura 55– Clube XV de Santos - Fotografia da Obra construída. A -Fachada frontal, B -Fachada lateral direita e C -Vista aérea. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 54– Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos, obra construída. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

97

Figura 57 – Palácio da Justiça de Santa Catarina– Obra construída. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 56 – Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. A – Perspectiva externa. B – Planta do conjunto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

98

Figura 61– Edifícios residências: A - Edifício Lorena. B - Edifício Paulista Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 58– Residencia Cláudio Morelli

Figura 59– Residencia Vicente Izzo

Figura 60– Residencia Pedro Marrey Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

99

Figura 62 – Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

100

Figura 63 – Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

101

Figura 64 – Projeto para Palácio das Nações. A – Corte perspectiva do conjunto. B- Perspectiva Externa. C-Perspectiva Interna. D – Vista aérea. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

102

Para Petracco (2004), o projeto para o Edifício

Escolar é um dos temas mais emocionantes pela

complexidade, abrangência e política educacional que

deveria ser de sociabilização democrática.

A evolução de um povo é sem dúvida

proporcional à sua alfabetização, à sua

educação, à sua culturalização e, por fim ao

estudo continuado. Admira-nos, ou melhor,

constrange-nos ler trabalhos do final do

século XIX, e primeira metade do século XX,

como os de Anísio Teixeira, e constatar a

reduzidíssima evolução que conseguimos,

devido à não implementação de planos

simples e sumários, obviamente impedidos

por interesses da manutenção do “status

quo”. Observando os Atos Institucionais, tais

como o 477, do regime de exceção pós 1964,

(...) perniciosos às questões da Educação,

verificamos a pertinência de nossa afirmação.

Voltando-nos, todavia, para o conteúdo

arquitetônico das escolas brasileiras, o

objetivo precípuo deste capítulo, verificamos

fases luminares na história da educação

nestes últimos mais de cem anos, e suas

construções escolares. Entendemos, em

sentido lato, que esta afirmação seja

totalmente cabível e desejável num país

emergente. Cremos que edifícios escolares

centenários da Europa ainda se prestam, e

bem, a esse exercício, principalmente no que

diz respeito ao ensino secundário e superior,

onde prima a tradição do ensino consolidado,

cientificamente opulente, capaz de gestar

gerações de cientistas, filhos, pais e avós.

Sem ufanismos acreditamos, todavia que

países como o nosso têm na qualidade

arquitetônica e do espaço da escola, um

componente transcendental na formação

democrática e intelectual do nosso alunato.

São as vicissitudes de um povo em formação

que se coadunam integralmente com espaços

despojados, simples e alegres, como as

escolas propostas pelo arquiteto Silva Neves,

(1938) características que até hoje buscamos.

Sem destruir o mérito de outros arquitetos,

que sem dúvida deram grande contribuição à

leitura deste percurso das construções

escolares, antes da vigência do convenio

escolar em 1949, (quando não tinham

respaldo de uma política contextual de apoio

para seus projetos, repetindo modismos

europeus), acreditamos que os anseios e

posturas de nossa sociedade se compuseram

harmoniosamente com as propostas quase

espartanas da simplicidade modernista, onde

não existe a busca do suntuoso, mas a

103

procura do espaço: a escola aberta. (Tese de

Doutorado - Petracco, 2004, pag. 225-226)

Diante deste discurso, Petracco projetou uma série

de edifícios educacionais com corpos independentes, mas

interligados por meio de áreas de convivência, onde

acontecem as atividades sociais. Sendo elas:

Figura 66 –Escola Gomes Cardim, A - Fachada Principal. B- Planta do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 65 – Projeto Escola Museu, Jundiaí. A – Fachada principal. B – Fachada lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

104

Figura 68 – Jardim Santo Inácio. A - Perspectiva da entrada das salas de aula. B -Fachada do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 67 – Jardim Santo Inácio. A -Planta do conjunto, B - vista da área de convivência. C- Corte. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

105

Figura 69 – Escola Poá. A - Perspectiva do conjunto. B - Maquete eletrônica do projeto, vista frontal. C - Maquete eletrônica do projeto, vista lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

106

Delduque (26/07/11), conta que a primeira proposta

de trabalho da Universidade Anhembi Morumbi em conjunto

com Petracco foi para o Campus de Interlagos. Um Campus

na região de Parelheiros, para atender a expansão da

Universidade em área com grande densidade populacional e

carente deste equipamento urbanos, Universidade.

Ao descrever o projeto, Petracco apresenta um

memorial bem detalhado onde expõe que:

Em terreno de 120.000m2 com 2 nascentes, 2

pequenas “matas ciliares”, justapostas a seus

cursos d’água, e vários lagos pensou-se a

implantação um campus nos moldes das grandes

universidades européias e americanas. Deveria

contemplar as atividades pedagógicas em todos

seus enfoques, teóricas e práticas, coroados pelos

cursos de extensão, de iniciação científica e de

pesquisa. Pela sua localização, próximo a bairros

de baixa renda, também era objetivo trabalhar

junto à comunidade pensando-lhe serviços e

oferecendo suas instalações para conjunto sócio,

cultural e esportivo. Pretendia-se enfim perfazer o

arcabouço da educação ou seja a formação

competente, diálogo com a sociedade, coroando

com a educação continuada de qualidade. O

terreno com topografia acidentada em sua maior

parte, e seus conteúdos físicos favoráveis

representará um sério desafio para a implantação

do conjunto. Dos partidos possíveis, o pavilionar,

vários edifícios espalhados pela área geralmente

de integração difícil, optou-se pela hipótese de

um grande setor pedagógico como centro das

atividades e outras, pontuais de apoio, dialogando

e coadjuvando com o edifício principal, dentro de

uma proposta de arquitetura compositiva

coerente com a linguagem moderna. Desta forma

propusemos a conjunção de dois elementos

baixos e longos com pavimento térreo,

predominantemente livre e mais dois superior,

dispostos de maneira a criar um núcleo com todos

os ambientes de salas de aulas, laboratórios e

oficinas. Uma laje cobertura, desenha-se junto

aos blocos, contendo espaços administrativos e

outras de vivência. Evitando pilares que pudesse

cercear e engessar a maleabilidade dos espaços, e

ainda como elemento simbólico de linguagem,

propusemos uma grande viga treliça metálica que

atiranta as vigas estruturais desta grande

marquise. Completando a composição

implantamos um bloco redondo com uma

estrutura externa que abriga um teatro auditório

no andar térreo e uma biblioteca, situada em dois

pavimentos elevados em forma de anel circular,

com um grande vazio central que integra os dois

espaços, da platéia e dos ambientes de leitura.

Fazem parte do conjunto um Ginásio coberto,

com uma elegante cobertura formada por vigas

metálicas esbeltas dentro de um ritmo marcante,

atirantada em uma super viga, também metálica,

que se apoia em dois pilares “gigantes”. Em

virtude da topografia e do lago, propusemos um

107

anfiteatro a céu aberto, cuja arquibancada se casa

às curvas de nível, que tem como palco uma

concha acústica em forma de casca de concreto,

que juntamente com a água colabora para a boa

acústica. A proximidade contígua da estrada de

ferro da antiga Fepasa concorria para a

viabilidade de implantação do campus, mas

mesmo assim a Universidade preferiu investir em

campus espaços pela cidade seguindo um

procedimento já adotado por outras Instituições

postergando sua eventual implantação. (Tese de

Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto

para o Campus Interlagos da Universidade

Anhembi Morumbi. pág. 245-247)

Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta do

Campus em Parelheiros estava relacionado a expansão do

trem metropolitano, atual “Linha 9 – Esmeralda da CPTM”.

Esta linha atenderia a região com a estação denominada

Parelheiros, próxima ao terreno; contudo, a viabilização

mostrava-se cada vez mais remota. Considerando a distância

do Campus e a falta deste transporte urbano público na

região, adiou-se a implantação na expectativa da futura

construção. Como até o momento não foi finalizada, o

projeto não foi retomado.

Com a compra da antiga sede da Alpargatas, o foco

de expansão na região de Parelheiros foi redirecionado para

a área central. Atualmente, o terreno está inserido dentro de

uma Área de Preservação Ambiental (APA), onde a

viabilidade para construção é pequena. E a proposta

concebida para ser a ampliação da Universidade Anhembi

Morumbi como um espaço amplo de cultura, lazer e

aprendizagem procrastina aos olhos de seus idealizadores.

Figura 70 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 1º projeto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

108

Figura 72– Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto A – Corte das salas. B – Corte do conjunto. C – Corte do conjunto esportivo. D – Perspectiva do conjunto esportivo. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

Figura 71 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. A – Implantação. B – Vista aérea do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

109

Voltando-se para a outra área de implantação do

novo Campus, próximo ao Brás, o novo programa previa não

só o diálogo com o edifício, mas com a área central da cidade

de São Paulo. Esta região que apresenta a história da cidade

em suas ruas e edificações revela em seus galpões industriais

como foi um período do desenvolvimento econômico da

cidade. Petracco, conhecedor da importância da área,

desenvolve um projeto de acordo com o descritivo abaixo,

reproduzido na íntegra:

Em 1996, a Instituição da qual era

Coordenador de Curso, adquiriu o imóvel

onde situou-se por décadas a Indústria

Alpargatas São Paulo SA, na rua Almeida

Lima. Um edifício Art Deco, despojado, sem

adereços de outros edifícios da época, porem

com características marcantes. Formado por

dois grandes blocos de 24 m de largura por

64 m de comprimento e sete pavimentos de

altura ligados por um núcleo central de

circulação vertical e apoio. Anteriormente

contratado pela própria Alpargatas, a fim de

buscar as vocações possíveis de adequações

do prédio, fizemos vários estudos e

concluímos que pelas qualidades dos espaços

ligados por um grande núcleo de circulação,

como também pela estrutura de suas lajes

cogumelo com pilares distanciados 8 m entre

si, o uso mais adequável seria de um

Shopping ou uma Universidade. Pelas

características da área de entorno optou-se

pela Universidade.

Fizemos então um Estudo Preliminar, com

programa forjado para demonstrar a

viabilização do Empreendimento que satisfez

o Reitor da Universidade comprando-a

consciente da importância do

empreendimento numa área fantasticamente

rica em potenciais urbanísticos. Iniciamos o

estudo de implantação do Campus. Trata-se

de uma área de terreno de 25.000 m2 com

45.000 m2 construídos sendo 16.000 m2 nas

torres e o restaurante, em galpões, térreos

em sua maioria. Embora os edifícios tivessem

um apelo maior, também, outros

apresentaram boa qualidade, e em

contraposição aqueles edifícios altos e

emergentes na época, tinham uma inserção

mais adequada à área. Tal constatação nos

fez preservar todas as áreas sem qualquer

demolição, propondo apenas a readequação

e revitalização. Propusemos dois grandes

eixos ortogonais, o primeiro uma

continuação da rua Frei Gaspar que

penetraria no Campus, com a mesma largura

110

da rua permanecendo toda região do

entorno com a vivência universitária. O

outro, paralelo à rua Almeida Lima, portanto

perpendicular ao primeiro, serviria de ligação

de todas atividades acadêmicas e seus

rebatimentos, cruzando todos os 200 m de

terreno, do Viaduto Alcântara Machado de

um lado até o Museu da Imigração do outro,

para cuja praça teria posteriormente uma

abertura, pois era intenção incorpora-lo às

atividades culturais do Campus, até porque

seu Reitor era descendente de imigrantes

italianos. O programa rico e eclético constava

de dois centros, o de cultura e o de

atividades acadêmicas propriamente dito. Da

rua acesso dirigíamos-nos em frente ao

Museu do Bairro, do qual a Alpargatas tinha

grande participação, para a esquerda ao

conjunto de atividades culturais como o

Cinema de Arte, Teatro, Praça das Livrarias e

Galeria de Arte, que espelhavam-se na Praça

de apoio e lanchonetes e cafés. Do outro lado

da rua de acesso localizavam-se a

administração e Biblioteca de um lado e os

DAs, com Diretório Central de outro,

terminando em uma grande arena de

discussão dos problemas acadêmicos

universitários, Oficinas e Laboratórios.

Tínhamos desta forma, quatro grandes

núcleos interligados porém resguardados,

dando-lhes o caráter próprio a cada um

deles, preservando-os em suas devidas

posturas, que hoje infelizmente vimos

quebradas, entre o comportamento

acadêmico e o de um mero shopping. Além

do mezanino que dava apoio às atividades do

térreo, propomos cinco andares de salas de

aula e Laboratórios, todos eles com uma

grande área central de vivência e apoio

pedagógicos, com as coordenações e

pequenas bibliotecas especificas às

atividades que abrigavam. O sexto andar,

aproveitando o grande espaço que servia de

refeitório e vivência aos operários,

propusemos um auditório com balcões em

sua periferia desfrutando de seu alto pé-

direito. No sétimo andar a administração da

reitoria e dos negócios da Universidade. Os

dois blocos eram ligados por uma elegante

cobertura que cobria o vão central dos

edifícios além de ordenar as muitas torres

das casas de maquinas, caixas d‟água, etc.

Ainda ligando-os propusemos uma rampa

que atendesse a evasão dos alunos em hora

de pico, que dava um fecho ao vazio central

dando-lhe um caráter majestoso, digno das

atividades dos encontros acadêmicos. O

conjunto Art Deco deveria inicialmente ser

111

composto por três alas ligadas por dois

núcleos. Faziam parte da fase inicial, que

culminou sendo a definitiva, dois blocos o

núcleos que os unia, mas parte de outro

núcleo que deveria interligar uma terceira

perna, o que descaracterizava a singeleza do

segundo bloco, justamente o mais

proeminente para a paisagem oeste, ou seja

a vista do Centro da Cidade. Era realmente

um anexo, que incomodava, porém grande

demais para ser demolido. Tivemos então a

ideia de usa-lo como edifício suporte de um

quadro Mondrianesco de mensagens

oportunas que escondendo-o, devolvesse a

pureza da torre justaposta. A fachada oposta

à rua existia uma grande marquise em

balanço que derrubar enfatizando o corpo

central dando-lhe maior verticalidade. (Tese

de Doutorado - Petracco, 2004, Memorial do

projeto para o Campus Centro da

Universidade Anhembi Morumbi. pág. 255-

258)

Figura 73 – Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. A – Fachada Frontal. B - Fachada Posterior Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

112

Figura 74 – Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. Entrada por acesso central principal, cruzando com acesso secundário no interior do complexo. Eixos de circulação que articulam o projeto e sua distribuição das áreas acadêmicas, administrativas e de convivência. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

113

Apesar das tratativas, vistorias ao imóvel, análises e

propostas apresentadas pelo arquiteto a instituição, este

projeto acaba não sendo executado.

Comenta-se pelos corredores administrativos da

universidade, que o projeto desenvolvido por Petracco,

apesar de preservar toda a edificação vertical da antiga sede

da Alpargatas, os galpões térreos existentes precisariam ser

demolidos para atender ao novo programa, com auditórios e

áreas comerciais. Esta intervenção exigiria a demolição de

grande parte da cobertura e estrutura dos edifícios gerando

perda ao valor histórico da construção e, consequentemente,

maior gasto para edificação de novos espaços.

Atualmente, toda a área onde está concentrada a

parte de lojistas e laboratórios específicos, tais como de

aviação civil, estúdios, gastronomia, spa e salas de aula do

Città seria demolida.

Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta de

intervenção de Petracco sugeria o rebaixamento do piso em

alguns ambientes de convivência e auditórios, o que faria

com que a construção tivesse um prazo de execução mais

longo. Como a inauguração já estava agendada, a demora na

implantação do novo Campus não atendia ao planejamento

estratégico da Instituição.

Estas seriam algumas das justificativas adotadas para

a contratação da consultoria do arquiteto carioca Vicente

Giffoni e da nova proposta para o campus, onde se propunha

áreas de intervenção que não alteravam a malha estrutural e

a cobertura existente; uma infraestrutura com características

mais comerciais, assemelhando as instalações da

universidade a um Shopping Center; e cronograma de

adaptações do antigo espaço fabril, executadas em um curto

prazo, para reconfiguração do edifício em espaço acadêmico.

114

114

Figura 76 – Mapa do Campus Centro, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi

115

115

Figura 77 – Compatibilização dos projetos para o Campus Centro. Implantação apresentada pelo arquiteto Francisco Petracco com sobreposição da atual implantação do Campus Centro, projetado pela arquiteta Deise Marques Araújo sob consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. Da esquerda para a direita, é possível identificar as diferenças na planta: No atual “Teatro Anhembi Morumbi”, cabine primária de energia e quadras, foi proposto por Petracco um amplo espaço de exposições e uma quadra poliesportiva com arquibancadas. No térreo dos edifícios, onde, hoje, está concentrado a central de atendimento ao aluno, agência experimental e praça de alimentação, no projeto de Petracco estariam as áreas administrativas e diretórios da universidade. Nos galpões, onde, atualmente, estão as lojas, central de atendimento ao aluno, estúdios, salas de aula do Città, spa, centro de gastronomia, seriam lojas e auditórios na proposta de Petracco. E onde se concentra a parte administrativa da Instituição seria um espaço de apoio a convenções. Fonte: Proposta de Implantação do arquiteto Francisco Petracco extraída da Tese de Doutorado (Petracco, 2004) e a Implantação do Campus cedida pelo acervo da Universidade Anhembi Morumbi, dados de 2011.

116

Embora nenhuma das propostas tenha sido

concretizada, Campus de Interlagos e Campus Centro,

Petracco é convidado a desenvolver um novo projeto de

expansão da infraestrutura no Campus Vila Olímpia.

Dando continuidade ao crescimento acadêmico e as

transformações da Universidade Anhembi Morumbi, a

instituição demanda de novas áreas e espaço para receber os

novos alunos.

O Campus Vila Olímpia, primeira campus da

universidade, sediaria sua primeira construção de edifício

projetado para ser um espaço acadêmico, a Unidade 6: O

Prédio de Vidro.

E em 10 de junho de 1999, a construtora Sobrosa

apresentaria, durante uma reunião de planejamento na

instituição com Ângela Freitas, Eng. Delduque Martins, Arqto.

Petracco e Eng. Eduardo Sobrosa, as diretrizes exigidas pela

legislação para darem início no processo projetual. E é a

partir desta reunião, que fica estabelecido a data para

inauguração da nova unidade, no primeiro semestre de 2001.

Figura 78 – Fachada da Unidade 6 no Campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, destacando a presença da estrutura metálica e do vidro e evidenciando sua escada principal, elemento central da edificação. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

117

Figura 79 – Ata de reunião de 10 de junho de 1999, referente aos questionamentos sobre as possibilidades construtivas de acordo com a legislação corrente para Z2 e construção de estabelecimento de ensino. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa

118

2.3 A ARQUITETURA

Nas obras de Petracco, é possível identificar sua linha

“modernista e estruturalista”, valorizada no contexto urbano,

habilmente interpretado. A leveza das edificações, que

parecem flutuar sobre o chão, contraria a presença marcante

das estruturas que modulam sua arquitetura em conjunto

com o material bruto empregado.

Segundo Petracco (2004), toda a arquitetura

apresenta o projeto, a tecnologia e a história como

elementos indissociáveis, “porque advém das constantes

leituras dos comportamentos que as linguagens

arquitetônicas nos transmitem, assim como das

possibilidades das soluções tecnológicas que permitem sua

estabilidade”. Como estes elementos serão usados, depende

da liberdade que o arquiteto explora em seu processo

projetual e no atrevimento que o instiga no momento de

criação. Assim a leveza derivada do desenho, estabiliza-se em

suas estruturas mencionando a natureza do material em seus

esforços.

Esta tríade apresentada por Petracco tem referência

na organização que Vilanova Artigas que defende na reforma

das faculdades de arquitetura no Brasil, em 1968, a

instauração de três departamentos dentro da Escola: o de

Projeto, o de Técnicas e o de História. Em sua tese de

doutorado, Petracco discute estas bases conceituais do

ensino de Arquitetura:

Vitruvio Escolas Lucio Costa Petracco

Voluptas Projeto Proporção Desenho

Soliditas Tecnologia Comodulação Estrutura

Commoditas História Modinatura Ritmo

E é neste tripé desenvolvido pelo arquiteto, que esta

pesquisa, busca desvendar as características arquitetônicas

presente em seu projeto para a Unidade 6, do Campus Vila

Olímpia, tentando observar, a partir do próprio pensamento

do arquiteto, uma estrutura para análise de sua obra.

2.3.1 O Desenho

Para o Desenho, instrumento básico para a arte

de projetar, verifica-se que o autor pode ser o

O arquiteto João Ba-

tista Vilanova Artigas

(1915 – 1985) foi um

arquiteto referência do

movimento moderno

da Arquitetura Brasi-

leira, conhecido como

Escola Paulista.

119

protagonista solitário e desenvolver todos os três

estágios num só trabalho, ou seja, o gesto inicial

do primeiro traço, a evolução para a otimização e

um eventual declínio da composição de sua obra

em processo. O início é difícil; o papel em branco

a quem o autor se dirige e o inibe, os primeiros

passos que quebram o silêncio e iniciam um

diálogo cognitivo da mensagem. (...) Vencido este

constrangimento o autor dirige-se audaciosa e

livremente em busca da conclusão de sua

proposta em forma de síntese e é este o

momento de equilíbrio, autoanálise e

discernimento: o equilíbrio e a clareza do escopo

de sua frase sob o risco de romper a referida

síntese, exacerbar-se e torná-la piegas, distorcida

pelos ruídos de uma comunicação poluída,

entroncada por uma proliferação de sinais que só

a fazem fragilizar-se. (...) A este tipo de mensagem

gráfica que chamamos de Desenho Historiológico,

ou seja, aquele portador de leitura e de crítica de

um determinado desenho histórico. (Petracco,

2004, pág. 417 a 419)

Sobrosa (19/07/11) conta que após a primeira

reunião sobre legislação passaram-se cerca de 50 dias para a

apresentação da primeira proposta. Os recuos que a lei

exigia, fizeram com que o engenheiro esperasse um projeto

tradicional, um grande cubo em concreto armado com

janelas sequenciais, térreo com lanchonetes e áreas

administrativas, todavia foi surpreendido com a proposta em

vidro e estrutura metálica apresentada por Petracco.

O croqui de Petracco apresentava o projeto de um

espaço aberto, um prédio com estrutura em aço e vidro onde

a relação entre o público e o privado é tão tênue que não se

vê fechamentos, apenas sua permeabilidade e livre acesso ao

conhecimento. Suspenso sob uma grande esplanada, o

térreo que se encontra a 60 centímetros acima do nível da

rua, pode ser acessado por uma ampla e suave escada com 9

metros de largura. Todo o acesso é rodeado por um jardim

compondo o desenho do talude e formando uma barreira

natural entre o espaço interno e o externo, sem a

necessidade de edificar qualquer volume como forma de

anteparo.

Na fachada frontal, face com a Rua Casa do Ator, é

possível observar o grande vão de 33 metros, gerado pelo

desenho de sua estrutura e modulação. O travamento

metálico, além de estruturar o volume, demonstra uma

repetição compassada em um padrão lógico e geométrico de

seu esquema de continuidade e constância, sendo

interrompido, somente, pela presença marcante da escada,

120

Figura 80 – Croqui da Unidade 6, desenvolvida pelo arquiteto Francisco Petracco para apresentar a fachada do edifício com frente para a rua Casa do Ator, em estrutura metálica com vãos de 33 metros e fechamento em vidro. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004

121

elemento central da edificação, pendente por tirantes.

A escada, que simbolicamente, apresenta sentido de

ascensão é solta do solo, como que representasse uma

secção, um corte em um caminho infinito de sabedoria que

assim que adentrado não tem limites, nem pra cima, nem pra

baixo, nem para os lados. Ela expande-se em si mesmo,

através da transparência, de sua leveza, e por força ao

contrariar a gravidade.

Por ser uma arquitetura em vidro, é possível observar

que as laterais contemplam brises, controlando a insistência

da luz por adentrar pelos ambientes acadêmicos, sem

impedir sua passagem, mas legitimando sua entrada.

Durante a noite, este edifício pode ser entendido

como o farol do conhecimento, suas luzes acesas emanam o

caminho a ser percorrido na busca por sabedoria e discussão.

Um volume cúbico de vidro que amplia as fronteiras da sala

de aula, carregando em si questionamentos sobre quais são

os limites na construção de um espaço universitário,

projetando não só o conteúdo produzido dentro da sala de

aula, mas o que se concilia com a dinâmica da cidade.

Segundo Petracco (22/07/11), a proposta era

proporcionar a liberdade ao espaço e, para tanto, precisava

vencer grandes vãos, tornando os espaços mais flexíveis. O

prédio deveria ser todo livre, livre de paredes, livre de

estruturas, livre de preconceitos, livre de segredos. Um

espaço que evidenciasse a transparência de seu conteúdo,

que expusesse a sociedade todo o conhecimento difundido

em seu interior, revelando as atividades acadêmicas à cidade

e consistindo-se em um lugar onde os estudantes poderiam

estar e admirar o horizonte, o cotidiano e a paisagem. E é,

em virtude desta transparência que o edifício foi apelidado

por alunos e funcionários como o “Prédio de Vidro”, forma

como será tratado desta parte do texto em diante.

Este projeto significaria muito mais que o

crescimento e desenvolvimento da Universidade Anhembi

Morumbi configurava a transformação do Campus que

mantinha uma postura de adaptação de espaços existentes,

para um novo modelo de espaço educacional, uma

construção com valor reconhecido devido a sua imponência,

e a forma como utilizou o aço para estruturar destacando a

tecnologia e a concepção de um edifício atraente e captador

de atenção.

Graças ao pensamento do arquiteto, das análises

reflexivas, da pesquisa artística para o edifício, e das

122

exigências legais sobre o terreno; a proposta materializa-se

em um desenho organizado com ambientes restritos e

abertos, espaços públicos e espaços privados, diretrizes

básicas evidenciadas em seus outros projetos educacionais já

construídos e publicados.

Pode-se observar, através da planta de pavimento

tipo, que a distribuição do espaço corresponde a 65% da área

para salas de aula, 12% ao vazio central do átrio, 20% para

circulação – incluindo escadas, elevadores, galerias de

circulação, e 3% para áreas de apoio, tais como sanitários e

depósito.

A disposição interna do andar apresenta uma planta

dividida em dois corpos acadêmicos - uma releitura aos

colégios coloniais onde apresentava a separação entre o sexo

dos alunos, com uma ala feminina e outra masculina;

separados por um vazio do átrio que centraliza toda a área

de convivência, permitindo ao usuário do espaço acadêmico

estabelecer uma relação entre o espaço restrito e o espaço

aberto - situação cada vez mais escassa no espaço

universitário da instituição.

Com intuito de diminuir as galerias de circulação das

edificações e ampliar o potencial construtivo de salas de aula

- espaços com maior valor agregado a universidades, a

arquitetura dos edifícios na Anhembi Morumbi está sendo

direcionada a perder a relação do espaço de convívio com os

ambientes acadêmicos. Pode-se observar esta relação,

conforme comparativos apresentado nas plantas do

Complexo Theatro – Unidade 5, 6 e 7 do Campus Vila

Olímpia, edifícios projetados para o uso acadêmico.

Figura 81 – Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar) Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora

Pavimento tipo é o

nome dado a planta

baixa do pavimento

que tem sua distribui-

ção interna repetida

em outros andares da

construção.

123

Esta análise permite observar, a segregação do

espaço de convivência, como é o campo visual do usuário ao

caminhar pelas galerias de circulação, como é a relação entre

aberturas e fechamentos dos espaços e como que com o

passar do tempo os ambientes enclausurados vão

aumentando.

No Prédio de Vidro, a única barreira visual das

galerias para a área de convivência é proporcionada pela

circulação vertical representada pelos elevadores. Elevadores

estes que são panorâmicos e possibilitam visualizar todo o

cotidiano de seu interior.

Na unidade 7, ainda é possível ter contato com a área

de convivência. Ela é interrompida também pela circulação

vertical representada pela escada. A escada por ser,

completamente, vazada possibilita visão parcial do convívio,

obstruído apenas pela distância entre o patamar da galeria

de circulação e o patamar da escada. Contudo a área de visão

é bem reduzida, diante da disposição das salas e pátio

central.

Já na Unidade 5, inicia-se o princípio de exclusão da

relação convívio e galerias de circulação, sendo que o contato

visual com a área de convivência é quase nulo.

Pode-se notar, também, a disposição das galerias de

circulação, que permitem isolamento e clausura dos espaços

acadêmicos, a disposição é idealizada para otimização da

área construída de salas de aula, o que resulta no

distanciamento desta a área com o convívio.

Em um recorte destas áreas por unidade, é possível

observar a evolução da circulação até a restrição da galeria.

Estas galerias de circulação, assim como as salas de aula

tradicionais também, apresentam sua aptidão educacional na

dimensão lúdica de espaços concebidos para a vida coletiva.

São locais que refletem a harmonia e a totalidade da

diversidade do conhecimento e deveriam chamar a atenção

para a riqueza que trazem ao processo de aprendizagem,

pelo simples fato de também permitir a troca de informação,

seja ela relevante ou não.

No Prédio de Vidro, em declarações colhidas na

construtora (19/07/11), a proposta do vazio central seria de

fácil execução com pilares estruturando as extremidades,

facilitando o processo construtivo e agilizando o prazo da

obra, porém o arquiteto já previa o balanço da galeria de

circulação, consequência da ausência de pilares. Na

concepção arquitetônica, a presença da estrutura interferiria

124

125

Figura 82 – Planta do pavimento tipo da Unidade 6 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (2º andar), projeto arquiteto Francisco Petracco, 2001 Figura 83 – Pavimento tipo da Unidade 7 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2003 Figura 84 – Pavimento tipo da Unidade 5 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2005 Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora

126

no olhar, no diálogo sobre o espaço coletivo, no desenho do

espaço que deveria ser percebido dos múltiplos pavimentos,

sem interrupção, como se fosse um balcão de contemplação,

um mirante aos movimentos acadêmicos; e deveria ser

executado de acordo com o projeto do arquiteto.

Enquanto a proposta para as salas de aula, separadas

da cidade por uma pele de vidro, também traduzem uma

filosofia educativa: estar em contato com a sociedade,

proporcionando uma nova experiência acadêmica. A ideia da

sala que capta a mítica relação entre a natureza e o

conhecimento, utilizando-se da transparência para

demonstrar ações urbanas como o tempo e o espaço, expõe

o usuário a atuar sua experiência. O usuário torna-se artista e

plateia de e para a cidade, neste palco que encena a ensino

de forma dinâmica e aberta.

Já as galerias de circulação, tradicionalmente,

construídas como lugar de passagem, foram projetadas

oferecendo uma percepção do entorno educacional de forma

instantânea, um flash para a memória. Na condição proposta

por Petracco, a circulação permite que a paisagem seja um

quadro a ser apreciado, tendo como tela de fundo o jeito

acadêmico, a conversa descontraída com o colega, a troca de

conhecimento com o professor, a pressa desajeitada do

atrasado ou, simplesmente, a concentração no olhar distante

do estudante.

Figura 85 - Unidade 06, projeto de 2001 Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas para o átrio central Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora

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Figura 86 - Unidade 07, projeto de 2003. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas parcialmente abertas para o átrio central Figura 87 - Unidade 05, projeto de 2005. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas exclusivamente para a galeria de circulação Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora

128

Figura 88 – Átrio Central A - Vista do Átrio central a partir das galerias de circulação; B- Vista do Átrio Central a partir do 2º pavimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora

129

129

Figura 89 – Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência, destaque para o campo de visão proporcionado pelo vazio central, com detalhes da caixa do elevador panorâmico, que com a porta aberta possibilita a vista da escada principal ao fundo e da distribuição da circulação nos três pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal da autora

130

Na circulação vertical, os elevadores panorâmicos, são

exercícios de perceptibilidade construtiva. Mais uma

releitura do pensamento de Mies van der Rohe, sobre a

arquitetura de “pele e osso”; ou seja, estrutura e membrana

externa que unem técnica e detalhes gerando vazios

espaciais que serão preenchidos com vida.

Envolto por uma malha estrutural vazada, os

elevadores, evidenciam a habilidade acadêmica. Ensinam

através de suas engrenagens como é o seu funcionamento.

É como se o edifício tivesse vida e fosse possível vê-lo

pulsando, transportando os usuários em seu eixo,

conduzindo, distribuindo os estudantes por entre os quatro

pavimentos num ato de comunicação e encontro. Assumindo

o papel de passeio e portal de contemplação, consentindo ao

usuário novos ângulos para o olhar e notar a Academia.

Figura 90 – Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. É possível observar as engrenagens do elevador em movimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora

Figura 91 – Circulação vertical A – Vista da galeria de circulação para o átrio central, com destaque para a estrutura do elevador; B – Engrenagens da circulação vertical; C – Vista dos elevadores no 2º pavimento, destaque para a estrutura metálica e o

fechamento em vidro, conforme proposta da Arquitetura Moderna de Mies van der Rohe; D- Detalhe do elevador em movimento; E – Acesso a

circulação vertical, porta do elevador aberta; F – Acesso a circulação vertical, porta dos elevadores fechada destaque para a transparência da

estrutura com vista para o átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora

131

132

E por fim a escada principal, o espiral de entrada ao

conhecimento.

Envolta por uma caixa quadrada cercada por vidros,

circular pela escada principal conectando-se a todos os pisos,

é um “passeio arquitetônico”, conforme proposto por Le

Corbusier⑮. Em um lance evidencia o entorno com a

paisagem externa, em outro patamar revela a arquitetura e

sua paisagem interna e por vezes comprova a presença

marcante da estrutura do edifício.

Suspensa do chão por uma estrutura de tirantes, em

um gesto de composição, a escada foi disposta sobre um

espelho d´água com uma rotação de 45º em seu eixo. A

intervenção gerada por este movimento evidencia a leveza

do volume resultante dos novos ângulos agudos e obtusos da

fachada, promovendo uma aresta que imprime a

centralidade, não só da escada, mas do cubo como um todo.

15. Ver Le Corbusier

em Por uma

arquitetura. São

Paulo:

Perspectiva, 1994.

Figura 92 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, estruturada por cabos de aço, compondo o volume de aço e vidro Fonte: Arquivo pessoal da autora

15. Ver Le Corbusier em Por

uma arquitetura. São Paulo:

Perspectiva, 1994.

133

Minha primeira obra em aço, porém com partido de que

se assemelha muito à primeira escola projetada há quase

quarenta anos atrás. Duas alas de salas de aula e um

grande vazio central, fechado na parte frontal por uma

cortina, vazado pelo volume de uma escada com sabor de

escultura e na posterior pelas salas de Coordenação e

Laboratórios pertinentes. Como na precedente o vão

central é generoso, 15,40 m antecipado por um maior, de

quase 33m. Os mesmos anseios dos passos fluidos, onde

as circulações horizontais e verticais servem de espaços

para o comportamento coloquial de interação. O grande

saguão é um espaço árido onde as pessoas constroem sua

dinâmica, através de encontros cotidianamente

sistemáticos dos diálogos acadêmicos com a riqueza de

seus pés-direitos descontínuos e variáveis. As salas de

panos de vidros refletem o convívio com a sociedade

expondo-se e magnetizando. A busca da harmonia se faz

na repetição da linguagem estrutural de seus

componentes principais, sempre solicitadas a grandes vãos

e no espaço térreo, já em detalhe, pelo ritmo de suas lajes

mistas de formas metálicas. A escada tem a tem a

proposição de não macular a generosidade do térreo de

vivência, tão esquecido nos programas contemporâneos

de escolas e por isso não apoia no chão, está alçada por

três tirantes que se pendem a cobertura e se engasta nas

vigas dos andares, refletindo-se no espelho d’água, como

se fosse o acesso virtual do conhecimento. (Tese de

Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto para o

Campus Interlagos da Universidade Anhembi Morumbi.

pág. 261)

Figura 93 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. Fonte: Arquivo pessoal da autora

134

Figura 94 – A espiral do Conhecimento.

A - Vista da escada principal a partir da cobertura, com detalhe para o rebaixo do piso para o espelho d´água que não foi finalizado . B - Detalhe de fixação do cabo de aço que sustenta a escada principal, que mesmo em seu ponto de apoio mantém a escada solta da estrutura . C – Vista da escada principal a partir do espelho d´água. D- Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro,

frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. E – Vista da caixa de vidro do espiral do conhecimento, a partir da cobertura. Fonte: Arquivo pessoal da autora

135

Figura 95 – Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. A – Vista para a área externa; B – Vista para a área interna: pavimento; C – vista para área interna: térreo; C – Vista da cobertura para o térreo; D – Vista do espelho d´água para a cobertura de vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora

136

Diante dos estudos realizados para o projeto,

Petracco (22/07/11) conta que convida o aluno do curso de

arquitetura Luis Cláudio Araújo, ciente de que este tinha

domínio em programas digitais, para desenhar o projeto

executivo de arquitetura em AutoCAD. Também participaram

deste projeto Ana Lydia Faria, Leonardo Lenharo e Luiz

Crepaldi.

Para Araújo (14/07/11), a experiência em trabalhar

com “Chico”, como Petracco é conhecido por ele, foi um

grande aprendizado.

Eu sempre tive a visão “romântica” da arquitetura

e pude vivenciar parte dela em meus trabalhos

com Chico. Como eu era técnico em edificações já

havia trabalhado em escritórios antes de

trabalhar com ele e até hoje foi a melhor relação

chefe funcionário que já tive. (Depoimento de

Araújo em 14 de julho de 2011)

Araújo descreve poeticamente a experiência no

escritório como se fosse “uma janela que se abria em um

quarto fechado”, e que lhe possibilitou conhecer três Chicos

durante o período acadêmico: o Chico-Patrão, o Chico-

Coordenador e o Chico-amigo. Sobre o Chico-Patrão ele

comenta:.

Do Chico patrão, aprendi a melhor relação

entre funcionário e empregados. Aprendi as

coisas boas e ruins, pois como era só eu

trabalhando pra ele percebi que eu deveria

ser um de seus fatores motivacionais. Ele

sempre me contava dos momentos áureos de

seu escritório, cheio de desenhistas e muitos

trabalhos (...). Eu mesmo não sei dizer como

era, mas uma colega minha, Adriana Barbosa,

que chegou a visitar seu escritório, na Rua

Itápolis, me dizia que lá era cheio de

desenhistas trabalhando. Então sendo o seu

único funcionário pude acompanhar projetos

em seus primeiros traços e participar em

alguns pequenos momentos destes, mas

minha função maior era tornar o seu

desenho digital. Passá-lo para um AutoCAD,

CorelDRAW, etc. O que não era fácil porque

ele valorizava muito o traço e sentia a perda

da sua identidade quando via seus projetos

na tela de um monitor.

137

Ao sair do escritório em 2000, Araújo trabalha com a

empresa Sistemac até 2002, por indicação do próprio

Petracco. A empresa era responsável pela estrutura metálica

do Prédio de Vidro, onde Araújo vai trabalhar no projeto da

escada principal fazendo parte da equipe que projetou e

executou os detalhes da circulação vertical metálica.

Luiz Fernando Crepaldi (13/07/11) era responsável

pelas maquetes eletrônicas da primeira proposta e do

projeto final do projeto e teve participação nos desenhos

executivos. Recorda do final de semana, faltando apenas três

dias para o prazo final de entrega do projeto para a

universidade, as pranchas ainda não estavam finalizadas, e a

convite de Araújo auxilia nestes desenhos. Crepaldi ao

caminhar pelo edifício relembra das experiências

profissionais, mas também das acadêmicas onde o professor

Jose Henrique Seraphim, professor de estrutura metálica da

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Anhembi Morumbi, apresentava aos alunos o canteiro de

obras do Prédio de Vidro.

Leonardo Lenharo (14/07/11) comenta que foi

convidado a participar do projeto quando estava no segundo

ano da faculdade, assim que Araújo vai trabalhar na

Systemac. Explana sobre a oportunidade de trabalho no

projeto que acredita ter “identidade e caráter próprio”. Para

Lenharo a riqueza da experiência estava nas conversas que

teve com o arquiteto em seu ateliê nos finais de semana ao

detalhar o projeto que considera ser “um espaço livre e de

contato entre todos alunos e professores”.

Ana Lydia Faria (22/03/11) conta que trabalhou com

“Chico Petracco”, em um primeiro momento, como estagiária

e depois como assistente de curso na função de assistente de

pesquisa dos professores da faculdade de Arquitetura e

Urbanismo. Quando participou do projeto da Unidade 6 o

prédio já estava concluído, desta forma desenvolvia desenho

para apresentação do projeto aos mantenedores, participou

de novos projetos para implantação do auditório e

desenvolveu detalhes de paisagismo. Ana Lydia refere-se à

Petracco com muita calentura, relembrando o aprendizado

que adquiriu com o professor, o coordenador e o arquiteto.

Posteriormente, conheceu melhor a produção arquitetônica

de Petracco quando foi convidada a participar da equipe que

trabalhou na pesquisa de doutorado do arquiteto,

digitalizando parte de sua obra.

138

139

Figura 96 –Evolução do Prédio de Vidro A - Primeiro estudo volumétrico para aprovação do projeto da Unidade 6, junto a Prefeitura de São Paulo, desenvolvida pela Construtora Sobrosa. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa

B - Maquete eletrônica da primeira proposta para o Prédio de Vidro, desenvolvido por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa

C - Maquete eletrônica da proposta final do Prédio de Vidro, desenvolvida por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa D - Primeira publicação do Prédio de Vidro no Catálogo do Processo Seletivo de 2001 . Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

140

Pelas maquetes eletrônicas do Prédio de Vidro é

possível observar a evolução do projeto, como o arquiteto foi

soltando o traço, e concluindo seus pensamentos e ideais em

um volume mais equilibrado e intenso. A arquitetura buscou

sua identidade, e já nos primeiros esboços, sugeriu a sua

conduta acadêmica, representou sua estrutura e conversou

com o entorno.

Na primeira maquete do estudo volumétrico do

projeto, nota-se que o volume já estava resolvido com a

presença marcante da escada principal, no eixo da edificação

direcionando o foco do olhar em um sentido de ascensão.

Chama à atenção a posição da escada de acesso entre o

mezanino e o térreo. Deslocada do eixo central do edifício

para próximo da garagem, talvez demonstre que o intuito do

arquiteto sempre foi soltar a circulação vertical principal do

chão, mas sem a confiança de como seria. Também é possível

observar a presença da estrutura, não com a ênfase do

projeto final, mas participando do conjunto.

As alterações exploradas por Petracco, na segunda

maquete, revela a força do projeto. A estrutura torna-se

evidente expondo seu esqueleto rígido e tecnológico; a pele

de vidro confirma sua presença abolindo as paredes sólidas e

opacas, fazendo as salas tornarem-se infinita; e, por fim,

surge o espelho d´água compondo a expressividade do

edifício, contrapondo a dualidade do peso na solidez da

forma e leveza do estado líquido da água. A cobertura da

escada remete uma leitura da cúpula coroando o elemento

de destaque que agora, embora suspenso do chão, chega até

o pavimento térreo.

A última maquete eletrônica aprovada reforça o cubo

conceitual, demonstrando a presença de um auditório

proposto no térreo. A fachada impõe sua presença com um

jogo de tecnologia e rigidez, resultante da estrutura; cheios e

vazios, decorrentes dos panos de vidro; e abertos e fechados,

consequência do desenho volumétrico. Agora, o coroamento

da escada se faz pela expressão espiritual da pirâmide de

vidro que lembra o conhecimento egípcio e toda sua forma

clássica.

A pedido de Delduque (26/07/11), esta última

imagem foi ampliada e emoldurada para ser exposta na área

administrativa da universidade, na sala do departamento de

obras e projetos do Campus Vila Olímpia, lá permanecendo

até 2003 quando o departamento é transferido para o

Campus Centro e em seguida extinto.

141

Atualmente, não se sabe onde este quadro está

guardado.

E, por último, a fotomontagem que foi feita a partir

do edifício finalizado para o Catálogo do Processo Seletivo

feito pela Universidade Anhembi em 2001, sendo a primeira

publicação impressa da instituição com a apresentação do

projeto. Esta imagem prova a concretização do desenho

idealizado pelo arquiteto e a realização do conjunto de

espaços projetado a partir da combinação do aço e do vidro.

Com o surgimento dos cursos de Graduação

Modulada, novos catálogos são elaborados publicando o

projeto do Edifício Theatro Casa do Ator.

Figura 97 – Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001, formato A4, apresentando o Prédio de Vidro para os alunos e candidatos

Fonte: Acervo Anhembi Morumbi

142

2.3.2 A Estrutura

Podemos afirmar que a Estrutura, em termos físicos, seja a sistematização dos elementos construtivos que formam uma determinada composição arquitetônica. Da mesma maneira ela compareceu na formação de todos os corpos, sejam concretos ou abstratos. Não seria exagero dizer que a Engenharia, forjada na Revolução Industrial com suas novas propostas, Ter, de certa forma, se sobreposto à Arquitetura no comportamento técnico profissional relevante, em virtude desta preocupação. Mas Estrutura como a vemos não é um mero dimensionamento de peças e sim proposta plástico-estética, filosófica até, e por isso aquela impressão tecnicista se dissipa. Pensamo-la como formalizadora, da asa de um pássaro, às costelas que abrigam os pulmões, à estrutura dos espaços construídos, assim como a estrutura de todos os processos compositivos, que se observa em todas Artes Plásticas, na Poesia, Música etc e, por que não, também nas ciências. (Petracco, 2004, pag.429 a 431)

Figura 98 – Fachada frontal do Prédio de Vidro, com destaque para a estrutura em aço e vidro Fonte: Tese de Doutorado Petracco, 2004

143

Embora a unidade 6 seja conhecida como Prédio de

Vidro, o que marca sua presença, na Rua Casa do Ator, é a

estrutura do edifício. A leveza do aço, somado a liberdade do

vão livre e a originalidade do projeto alude a linguagem da

arquitetura brasileira a partir de um apelo tecnológico, como

o paradigmático edifício de Mies van der Rohe para o Crown

Hall.

Para Andrade (2006), apesar de o Modernismo

Brasileiro destacar o uso do concreto armado em suas

edificações, alguns arquitetos identificaram vantagens na

construção com aço, tais como liberdade projetual graças a

possibilidade de desenvolver projetos mais expressivos,

flexibilidade no uso em virtude do sistema geométrico

modular, maior área útil obtida através de vãos estruturais

maiores, menor prazo para execução decorrente do

planejamento sistematizado, abertura de frente de trabalho

simultânea, e fabricação do material.

Ainda segundo Andrade (2006), as primeiras

construções metálicas aconteciam como uma reprodução da

linguagem do concreto armado, sem evidenciar o material

utilizado. Com o passar do tempo, “a primeira grande

renovação” pós-modernista mineira abre espaço para a

aliança com o aço, grande parte graças às condições

adequadas da distancia com mar, a presença do minério do

ferro no solo e o apoio tecnológico da Usina Siderúrgica de

Minas Gerais (Usiminas). Mas foi na arquitetura corporativa

nacional que esta estrutura vem se destacado. Muito pelas

possibilidades estruturais e soluções técnicas, contudo mais

pela questão econômica e simbólica. A construção metálica

proporciona a redução no desperdício de material de

construção e transmite a imagem do progresso.

Apesar das facilidades apontadas, pode-se observar

que a mão-de-obra qualificada para este método construtivo

ainda é escassa; o custo da obra, embora sem desperdício,

ainda é mais caro que a construção em concreto; e a

produção em larga escala ainda não está tão pronta a

produzir e construir, proporcionando a redução do déficit

habitacional por exemplo.

Petracco (22/07/11) conta que, embora já tivesse

feito stands para exposições, o Prédio de vidro foi sua

primeira obra metálica. Uma audácia projetada para ser

emocionante, uma entrada por um pórtico metálico do

saber. Esta estrutura, realmente, compõe um pórtico,

chamado de indeformável devido à estabilidade obtida pelos

S.R. Crown Hall

(1956), Faculdade de

Arquitetura no Insti-

tuto de Tecnologia de

Illinois em Chicago,

projetado pelo arqui-

teto alemão Mies van

der Rohe.

144

Figura 99 – Corte esquemático da concepção estrutural com as cargas acidentais proporcionadas pela ação do vento e da gravidade Fonte: Desenho da autora

travamentos em X.

De acordo com Salvadori (2006), essa estabilidade

deriva da resistência que a estrutura tem frente às forças,

basicamente, de ventos laterais e terremotos, assegurada

pelos encaixes rigidamente presos as vigas e pilares. Esta

estrutura, não só canaliza as forças externas para o solo

como também resistem com um balanço relativamente

pequeno.

No Prédio de Vidro, Petracco utiliza da estabilidade

proporcionada pela estrutura para compor a estética da

fachada em duas treliças horizontais e duas treliças verticais.

As treliças horizontais são vigas que vencendo o vão

longitudinalmente no prédio, absorvem as forças verticais

atuantes na edificação, a exemplo a própria força da

gravidade. Enquanto as treliças verticais estabilizam o Prédio

de Vidro contra os esforços horizontais que agem

perpendicularmente a estrutura do edifício, como por

exemplo a ação dos ventos.

Os contraventamentos apresentam perfis em “I” de

0,20 x 0,20 metros, dimensionamento que garante a

estabilidade da edificação deixando-se aparente os formatos

em “X” na fachada.

No plano horizontal, as lajes do primeiro pavimento e

da cobertura auxiliam o contraventamentos da fachada,

reforçando a estrutura contra as ações e efeitos do vento.

Nas fachadas, a estrutura do térreo apresentam vãos

de 33 metros de largura, na fachada frontal, e 17,50 metros

nas fachadas laterais. Para vencer tais vãos, o projeto exigiu

perfis de viga soldada (VS) de 0,35 x 0,30 metros na parte

inferior com vãos de treliça de 3,50 metros; e perfis coluna

viga soldada (CVS) de 0,35 x 0,35 metros na parte superior

com vãos de treliças de 2,60 metros.

145

Figura 100 – Croqui do Prédio de vidro com dimensionamento dos vãos e estrutura Fonte: Croqui elaborado pela autora

146

Este dimensionamento permite que a treliça superior

estruture o projeto por tração sustentando todo o peso entre

o terceiro e quarto andar, enquanto a treliça inferior trabalha

por compressão, suportando todo o peso do mezanino ao

segundo pavimento; por fim, transmitindo as cargas das lajes

de steel deck até o solo.

Além da compressão, a treliça inferior sofre um

esforço maior por ser uma treliça de transição de onde

nascem novos pilares que sustentam o edifício e

descarregam as cargas nos pilares da extremidade. É a

existência desta viga que possibilita que a fachada apresente

seu vão central com 33 metros.

O piso de steel deck utilizado no projeto do Prédio de

Vidro, consiste em formas metálicas com aplicação de

concreto no formato trapezoidal. Conforme Dias (1997), o

desenho geométrico de trapézio, das chapas, aumentam as

propriedades de resistência, permitindo vencer maiores

cargas e vãos sem apoios intermediários. O concreto trabalha

em conjunto com a chapa, evitando deformação.

Economicamente, assume a função de fôrma, evitando

gastos com madeiramento e permitem a instalação de

Figura 101 – Fachada esquemática da concepção estrutural, apresentando a disposição das treliças e os esforços atuantes na estrutura, no qual a treliça horizontal absorve os esforços verticais, enquanto a treliça vertical absorve os esforços horizontais. Fonte: Desenho elaborado da autora

Figura 102 – Corte esquemático da concepção estrutural com a distribuição dos esforços aplicados na edificação Fonte: Desenho da autora

147

conectores, podendo ser calculada pelo sistema misto, ou

seja, ligação de aço e concreto.

Na planta quadrada do edifício, a modulação

determina o compasso da estrutura, uma presença seriada

de perfis metálicos que permitem a flexibilidade espacial com

vãos dispostos, aproximadamente, a cada 3,50m. Como a

proposta idealizou o uso de divisórias de dry-wall para

fechamentos internos, as salas apresentariam disposições

maleáveis de acordo com a demanda do curso ou solicitação

administrativa.

Embora a planta de estrutura apresente a modulação

de 3,50 metros, as vigas lançadas no piso vencem vãos de 8,0

metros, diferente do padrão de piso steel deck normatizado

em vãos máximos de 4,0 metros. Isto acontece, porque a

Systemac desenvolveu um sistema para aplicação do piso

com uso de ferragens para aumentar a resistência do piso, o

que possibilita laje pré-fabricada trabalhar como uma laje

nervurada, utilizar menos perfis durante a execução e

baratear o custo da obra. Contudo, por estar bi apoiada

sobre a viga, a movimentação da estrutura facilita o

surgimento de fissuras no piso.

Por recomendação da empresa que executou a

estrutura, todos os perfis são soldados. De acordo com Dias

(1997), para a fabricação de perfis estruturais de aço

soldados é exigido um esboço da composição exata do perfil,

com as características geométricas, marcação das bordas e

extremidades componentes, a altura do cordão da solda, etc.

Este processo embora trabalhoso permite grande variedade

de formas e dimensões entre as seções

Diferente da Unidade 7, toda a estrutura do Prédio

de Vidro, além dos perfis, apresenta suas conexões soldadas,

conservando a continuidade do material e suas propriedades.

Figura 103 – Detalhamento do piso de Steel Deck com apresentação da malha estrutural de distribuição e a presença de perfis de ferro CA50 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

148

De acordo com Dias (1997), a vantagem no uso de

conexões soldadas é a maior rigidez nas ligações; redução de

custo de fabricação, não gerando a necessidade de fazer

furações e produzir parafusos; além da redução na

quantidade de aço, já que as conexões apresentam-se

compactas e um melhor acabamento final para limpeza e

pintura.

No caso da Unidade 7, a estrutura é parafusada com

parafusos de alta resistência exigindo mais cuidado na

compra, visto que as ligações tem controle de aperto

definido, controle de deformação compatível à corrosão

atmosférica, entre outros itens.

Independe se a estrutura é soldada ou parafusada,

segundo Salvadori (2006), para que o aço, quando exposto a

intempéries, não enferruje é preciso fazer uma pintura

periódica para impedir a oxidação. Esta pintura, conhecida

como tinta intumescente retarda a propagação de chamas e

a elevação da temperatura do aço, sendo premissa básica

exigida pelo Corpo de Bombeiro para liberação do Auto de

Vistoria do Bombeiro (AVCB). Delduque (26/07/11), relata

que ciente do alto custo da pintura, durante as vistorias para

o obtenção do AVCB, os fiscais apresentavam alta rigidez na

validação dos projetos, sendo necessário desenvolver uma

série de laudos comprovando o uso da tinta para emissão de

documentação e liberação do Prédio de Vidro para

funcionamento.

Apesar do valor reconhecido, a tecnologia da

estrutura de aço, a transparência da pele de vidro, do partido

arquitetônico abraçar questões referentes ao espaço interno

e externo trabalhando a continuidade visual, o edifício

apresentava algumas questões a serem discutida referente

ao conforto ambiental da edificação.

Figura 104 – Detalhe de conexões nas treliças. A – Unidade 6 com conexões soldadas na treliça frontal. B – Unidade 7 com conexão parafusada na estrutura do átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora

149

Em um estudo realizado por pesquisadores do IPT,

sobre a sustentabilidade nos aspectos de conforto e

desempenho das edificações, reconhece-se que a sensação

de conforto é subjetiva. Em artigo para a revista Téchine, os

pesquisadores atribuem a definição da norma ASHRAE 55

como a melhor explicação do termo, quando se diz que o

conforto térmico é a condição mental que expressa a

satisfação com o ambiente térmico de forma individual,

sendo impossível conseguir condições satisfatórias a todos os

ocupantes do ambiente ao mesmo tempo.

No questionário realizado pela autora com usuários

do espaço, no primeiro semestre de 2011, foram levantadas

algumas reclamações relacionadas ao conforto ambiental do

Prédio de Vidro, sendo que uma pequena parcela das 80

respostas colhidas, quando indagados se recomendariam ter

aulas no Prédio de Vidro, responderam que o edifício

apresenta certo desconforto térmico.

“Definitivamente recomendaria. Apesar de sentir

falta do conforto térmico.” R.G. Funcionário

“Recomendaria, apesar do conforto ambiental

falho.” A.M.R. Professora

“Não recomendaria. Pela fachada de vidro, muita

luz natural, pouca ventilação nas salas de aula e

áreas pouco aproveitadas.” E.H. aluno

“Não recomendaria. Existe vazamento sonoro

entre as salas. Elevadores em sua maioria sempre

em manutenção. Chove nos laboratórios e salas

de aula. Piso cheio de irregularidades. Banheiros

mal cheirosos por problemas de esgoto. Anexos

entre unidade 6 e 7 perigosos por terem baixo

parapeito e quando chove a aderência do piso e

insatisfatória”. A.F. ex-aluno e funcionário

“Definitivamente não recomendaria. O prédio

sofre de super insolação, o que em alguns

momentos do dia torna impossível ver com

clareza a lousa, ou utilizar projeções. O calor

também se tornava um problema. O uso de ar

condicionado é pouquíssimo eficiente, pois não

há isolamento eficiente nos painéis de vidro

(vidros duplos ou algo assim) ou nas divisórias

internas. O pátio interno é amplo, porém não

propicia real integração entre os ambientes.” P.K.

ex-aluno

150

Diferente do projeto original, onde consta o detalhe

do brise-soleil nas fachadas laterais da edificação, durante a

construção do Prédio de Vidro o orçamento para instalação

deste elemento de contenção de raios solares, amplamente

utilizado na composição da arquitetura moderna prevenindo

contra a incidência direta de radiação solar no interior do

edifício, não é aprovado.

Perante a exclusão deste dispositivo arquitetônico,

seria fundamental a escolha de um vidro, tecnologia ou

tratamento adequado à incidência de radiação solar,

garantindo que o ambiente passasse da claridade à

penumbra sem interferir na qualidade espacial e no conforto

ambiental das salas.

Para Corbioli (2001), a seleção do vidro para uma

edificação deve ser avaliada de forma ampla e com

planejamento em longo prazo, pois uma instalação

equivocada de material pode trazer problemas diversos de

acordo com o seu comportamento nas distintas condições do

dia-a-dia; e uma possível correção, às vezes, torna-se inviável

pelo custo da troca ou da tecnologia a ser empregada.

Segundo o autor, a luz solar pode ser dividida em três

componentes, sendo a luminosidade, responsável pela

iluminação dos ambientes; os raios infravermelhos que

causam o aquecimento do espaço; e os raios ultravioletas,

responsáveis pelo desbotamento. Já o vidro pode se

classificar em três tipos, o incolor comum que é utilizado

apenas para o fechamento deixando passar a luz e o calor; os

coloridos que apresentam grande capacidade de absorção de

raios infravermelhos, e que consequentemente diminuem o

aquecimento do ambiente; e os metalizados que refletem

boa parte da radiação solar. A combinação entre estes tipos

Figura 105: Sala de aula padrão com uso de cortinas tipo “black out” como forma de contenção da claridade em momentos que o espaço exige uma iluminação mais baixa, por exemplo para uso de equipamento de projeção . Fonte: Acervo da autora

151

de tratamentos nos vidros garantem efeitos capazes de

transmitir, refletir e absorver melhor as radiações solares.

Em casos como o do Prédio de Vidro, para solucionar

problemas referentes ao calor nas salas, de acordo com

Corbioli (2001), os vidros deveriam ter índices na faixa de

20% a 30% voltados para a transmissão do calor. Estes

índices estão relacionados a cor dos vidros. O problema é

que quanto menor os índices, mais escuros ficam os

ambientes, criando a necessidade do uso de lâmpadas para

iluminar as salas mesmo em dias claros e ensolarados.

Referente ao sistema de ar condicionado, Corbioli

(2001) atribui ao tipo de arquitetura, guiada pelos padrões

estrangeiros, a necessidade de se adotar a instalação destes

equipamentos, que por causa do aquecimento das salas são

frequentemente utilizados. Por orientação de Joana

Gonçalves, do departamento de tecnologia da arquitetura da

USP, o fato de permitir a ventilação cruzada no período

noturno, muito auxiliaria na dissipação do calor acumulado

ao longo do dia, resfriando a estrutura no primeiro horário

do dia seguinte.

Outro fator que exige o constante uso do ar

condicionado é o coeficiente de sombreamento do vidro.

Quanto maior o fator solar pior o desempenho energético do

material, e consequentemente mais uso do equipamento. No

caso da unidade 6, que não apresentava em seu projeto

original o sistema de ar condicionado, justificaria a falta de

cálculo na capacidade do material em relação ao sistema;

contudo, poderia ter sido previsto o processo de metalização

garantindo o sombreamento do vidro e uma boa reflexão

solar.

Referente ao conforto acústico, parte dos problemas

relacionam-se ao uso de vidro na fachada, que segundo

Corbioli (2001), adotar vidros duplos auxiliariam no

isolamento. Para Schaia Akkerman, sócio-diretor da Acústica

Engenharia, é de fundamental importância para a acústica, a

compatibilização de projetos de estrutura, caixilharia, vidros,

ar condicionado, iluminação e interiores, visto que cada ruído

gera uma curva acústica distinta, e o que pode parecer

inofensivo, como um sistema hidráulico, quando não tratado

pode acarretar efeitos sonoros desagradáveis para dentro do

ambiente.

No caso do Prédio de Vidro, a região onde está

localizado gera um problema ainda maior, o barulho causado

pelo intenso tráfego e rota de avião, ruídos graves, são os

152

mais difíceis de isolar, determinando o uso de lâminas

espessas para barrar as frequências variadas, fato que não foi

instalado nesta unidade, talvez por problemas no orçamento

ou pronta-entrega de material.

Mas não só do vidro depende a boa acústica, o

ambiente também precisa ser bem vedado, as divisórias

entre as salas de aula deveriam conter revestimento acústico

interno, ou ao menos que as divisórias se prolongassem até o

teto acima do forro, evitando que o ruído de uma sala fosse

transmitido para a outra. O que se observa na unidade 6 é

que a divisória, sem o revestimento interno, termina assim

que o forro é instalado, trazendo mais um problema ao

conforto ambiental do edifício.

A implantação do edifício que privilegiou a escada na

face frontal auxilia a acústica criando uma barreira e

reduzindo as condições de exposição do ruído que vem da

rua. O projeto utiliza-se do vazio central para uma melhor

ventilação cruzada, pouco sendo utilizado por questões de

segurança com relação aos equipamentos de multimídia que

ficam dentro das salas.

Sabe-se que durante a idealização do projeto,

algumas tecnologias para tratamento do vidro, cortinas

automatizadas ou revestimentos acústicos eram escassas no

mercado ou apresentavam alto valor de investimento, bem

como poderiam demandar uma customização do material

para o ambiente, fatores que justificariam a não instalação

de materiais mais eficientes. Contudo as sugestões

elaboradas pelo arquiteto, tal como o brise, também, foram

descartadas durante a construção, prejudicando as condições

ambientais do edifício. Estas modificações geram discussões

e algumas impressões negativas referentes à qualidade do

projeto, tais como apresentadas nos depoimentos de alunos,

ex-alunos e professores na recomendação do espaço.

O que fica evidente é que o elemento de destaque da

Unidade 6, o vidro que motivou o apelido do prédio, deveria

ter sido tratado com mais dedicação, já que a quantidade de

material utilizado e o conhecimento dos problemas que

poderiam provocar eram inequívocos. O edifício, que situado

em uma área de alto trafego, sofreria das interferências

sonoras constantes, e a proposta de translucidez exigia maior

cuidado durante sua execução, maior investimento, recursos

e tratamentos especiais.

153

2.3.3 O Ritmo

Podemos considerar Ritmo em Arquitetura como

a organização compositiva dos espaços, obtida

por meio da disposição harmônica de elementos

construtivos, sejam vedos ou estruturais.

(Petracco, 2004, pág. 451)

Petracco (2004), no texto sobre ritmo, reconhece a

importância de parâmetros no ato projetual, sendo o

principal a modulação, que apesar de estabelecer limites e

restringir ideias, organiza o pensamento arquitetônico. Esta

modulação expressa o compasso da edificação, que abriga o

programa, os anseios do arquiteto, representa seu repertório

e retrata sua proposta. Enfim, é o ritmo do projeto.

Ainda segundo Petracco (2004) “o arquiteto é o

agente transformador da cultura e da identidade de sua

sociedade”, assim expressa na arquitetura valores que

vinculem o projeto ao âmbito da cultura, seja relacionado a

linguagem arquitetônica, ao posicionamento da instituição,

ou na relação com a sociedade.

Para a composição do Prédio de Vidro, o arquiteto

precisava traçar uma relação entre a forma exigida pela

legislação e os ideais de projeto. Esta dialética exigia valores

estéticos a ser incorporado na arquitetura como resposta ao

processo de consolidação do Campus, insinuando um edifício

com característica para multiuso, que acompanhasse a

dinâmica da instituição. Esta condição foi o que reforçou a

importância do ritmo na edificação.

O edifício que é quase um quadrado com a

capacidade de abrigar 1.800 alunos distribuídos entre térreo,

mezanino e quatro pavimentos. Além de possuir dois

subsolos para estacionamento.

No térreo foi proposto um auditório com capacidade

para 180 lugares, com plateias distribuídas entre o térreo e o

mezanino, que veio a ser implantado na construção vizinha, a

Unidade 7, com a capacidade para 420 lugares, atendendo

eventos de maior porte. Os fechamentos verticais seriam

realizados com a modulação de painéis de madeiras

pivotantes; uma contraposição entre o material tradicional e

a estrutura inovadora. Contudo, para atingir uma área de

8.125m² construídos, ocupação máxima aprovada pela

Prefeitura, foi considerada e aprovada a exclusão do

auditório.

154

A - Planta do pavimento térreo com plateia do Auditório

B - Planta do mezanino com plateia do Auditório Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora

155

C - Corte Longitudinal com representação do Auditório D - Fachada posterior com representação do Auditório no pavimento térreo

Figura 106 - Projeto do Auditório no Prédio de Vidro, projeto de Francisco Petracco Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora

156

Esta escolha, que por um lado excluiu um importante

equipamento do universo acadêmico, destacou a estrutura

metálica modulada; gerou uma área de pilotis, símbolo da

Arquitetura Moderna e precursora na linguagem de térreo

livre neste Campus; e evidenciou a presença da Capela de

São Judas Tadeu.

A Capela, datada de 1944, é doação de Otillia

Amorin, atriz e cantora carioca que dedicou uma parte de sua

trajetória profissional ao circo. A artista oferece ao Retiro dos

Atores a escultura de São Judas Tadeu, patrono das causas

desesperadas, tornando-se padroeiro da capela. Por

acreditar que o espaço simbolizava paz e trazia boas

vibrações, Rodrigues solicita permanência da construção na

concepção do novo espaço.

Com capacidade para 24 pessoas sentadas, foi quase

destruída durante as escavações do subsolo, e a pedido de

Gláucia Rodrigues, filha do reitor Gabriel Rodrigues, foi

agraciada com o Restauro⑯ de sua construção.

Foram refeitas as pinturas internas e algumas

restaurações da estrutura. Duas das quatro janelas foram

substituídas por vitrais com leitura floral, as janelas

posteriores mantem o mesmo formato com a conservação da

esquadria metálica. Parte do telhado foi refeito sendo

substituída parte das telhas de barro existente por telhas de

vidro translúcidos sobre o altar, melhorando a iluminação

interior e proporcionando maior valor espiritual a

construção. O piso cerâmico foi restaurado com tratamento

químico para limpeza e impermeabilização a fim de facilitar a

preservação. Ao lado da Capela foram mantidos a imagem do

patrono São Judas Tadeu e o sino, ambos originais da

edificação.

A conservação da capela é o reflexo de uma

consciência sobre o valor da preservação da História, uma

tentativa de se manter um lugar de espiritualidade dentro da

instituição, mesmo que com preferência religiosa definida.

Do ponto de vista simbólico, o contraste entre a

Capela de São Judas Tadeu e o Prédio de Vidro evidenciam

uma mudança de valores na construção tardo eclética

passando para a edificação com estilo “high tech”, quase que

numa leitura indicando a transição do Campus e sua busca

pela modernização da infraestrutura.

Situada ao fundo do terreno, em seu lugar de origem,

a localização por si só não foi capaz de promover o interesse

da comunidade acadêmica em conhecer o espaço, menos

16. Não foram encontrados,

nos registros da universi-

dade, dados sobre arquiteta

que restaurou a Capela tais

como nome ou referências

de projeto em que atuou. O

nome Beth foi mencionado

pelo engenheiro Delduque

quando comentava sobre o

projeto e das recordações

de algumas reuniões que fi-

zeram durante a obra de

restauro.

157

ainda visitá-lo. Mesmo com a intenção generosa de livre

acesso, onde o arquiteto abre o espaço para visualização da

capela, poucas pessoas conhecem a sua existência na

Universidade Anhembi Morumbi.

Dos 101 entrevistados nesta pesquisa, quando

questionados sobreo grau de satisfação com a infraestrutura

Capela São Judas Tadeu na Unidade 6, do Prédio de Vidro,

considerando 1 (um) para “nada satisfeito” e 5 (cinco) para

“muito satisfeito”, apenas 52 entrevistados responderam

esta pergunta, sendo que 32% afirmaram não conhecer a

capela, impossibilitando a resposta sobre o questionamento.

Gráfico 06 – Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu na Unidade 6 do Campus Vila Olímpia Fonte: Arquivo pessoal da autora

Figura 107 – Capela de São Judas Tadeu, localizada no térreo do Prédio de Vidro, na área posterior a construção, vista frontal. Fonte: Arquivo pessoal da autora

158

Figura 108 - Capela de São Judas Tadeu, vista externa.

A – Inscrição sobre a porta de entrada da capela com detalhes da doação pela atriz Ottilia Amorin; B – Imagem de São Judas Tadeu original da capela desde a docação de Ottilia Amorin; C – Vista do conjunto da capela; D – Vista exterior da da porta de entrada ; E – Vista interior da porta de entrada; F- Abertura com vitral trabalhado instalado após a restauração;

G – Abertura com esquadria original da capela. Fonte: Arquivo pessoal da autora

159

Figura 109 – Capela São Judas Tadeu, vista interna. A – Altar da capela; B – Vista lateral direita, sentido altar; C – Vista lateral esquerda, sentido altar; D – Vista lateral direita, sentido porta de entrada; E – Vista lateral esquerda, sentido porta de entrada. Fonte: Arquivo pessoal da autora

160

Figura 110 – Esplanada do Complexo Theatro. Integração entre as áreas de convivência da Unidade 6 e Unidade 7 onde é possível ver a localização da Capela no fundo do terreno, de forma que embora sem obstrução visual, é pouco identificada pelos usuários deste espaço. Fonte: Desenho elaborada pela autora

161

Já o térreo, atende o seu propósito, uma grande

praça aberta, estendendo naturalmente a rua para dentro do

convívio universitário, local de acesso aos andares e ao

mezanino, onde se encontram as maiores salas da unidade,

com 150m² de área útil. Salas espaçosas e suficientemente

confortáveis para abrigar oficinas, ateliês ou laboratórios

específicos.

Nos pavimentos tipo, a distribuição de dois blocos

principais com 220 m² deixa explorar a divisão das salas com

repartição de uma até cinco salas de aula, de acordo com a

necessidade acadêmica. Esta flexibilidade decorre da

modulação estrutural e fechamento das paredes em placas

de gesso, de fácil montagem e desmontagem. A possibilidade

de modificar o tamanho das salas sem grandes impactos na

infraestrutura era algo tentador.

Durante o uso, várias alterações foram feitas na

distribuição das salas, desvirtuando consideravelmente a

qualidade flexível do espaço⑰ e interferindo no valor de

aceitação do espaço pelo usuário. Salas pequenas, num

corredor com muitas portas geraram um impacto negativo

aos estudantes.

É possível identificar na opinião dos alunos, a relação

que estabelecem entre o espaço acadêmico e as áreas de

reclusão social, presídios ou penitenciárias. Tal associação

pode estar relacionada a uma memória coletiva das relações

que estas instituições apresentam, tais como a distribuição

de salas ao redor de um pátio central, o banho de sol

associado ao intervalo para o café; ou ainda questões mais

acadêmicas, como “grade” curricular, “disciplina” do curso,

inspetores de corredor, entre outros. Estas são hipóteses que

merecem outro estudo, mas que podem ser ponto de partida

para entendimento de comentários respondidos na pesquisa:

“O conceito do edifício é de improviso. A

aparência, olhando por dentro, é de que se está

numa penitenciária.” T.C. ex-aluno

“Acredito que, com o espaço do mezanino e os

corredores na lateral, lembram uma prisão e sua

celas de confinamento, talvez um ar mais colorido

resolva ou ajude esse lado sombrio.” D.P.

Professor

“ Parecia que eu estava em uma prisão.” M.M. ex-

funcionária

“Acho que o partido adotado em conceitos de

materiais é muito válido, porém a forma da

17. Ver anexo Distribuição de

salas em Uso acadêmico no

período de 2001 a 2011.

162

distribuição interna torna difícil uma convivência

maior.” N.P.S ex-aluno

“Achei o espaço das salas de aulas e de

convivência muito apertados.” N.A.R.F. aluna

Nestas respostas, a percepção espacial demonstra a

distinta relação que o usuário tem do espaço, seja por meio

de apelo solicitando maior intervenção para as áreas de

convívio, ou identificando a relação nada intimista com a

construção, como também a satisfação pelos materiais do

espaço. Estas questões estão diretamente relacionadas ao

repertório do usuário e como ele é aplicado no ambiente

edificado.

Os espaços de salas de aula projetados para atender

a modulação da estrutura, com salas amplas e arejadas, são

redefinidos não respeitando a paginação da esquadria ou

forro, não atendem as dimensões mínimas para ambientes

de estudo e lançam o mobiliário de acordo com o número de

estudantes necessário dentro da sala. Estas divisões de salas

com vãos menores adaptados para a crescente demanda

acadêmica justifica a sensação de ambientes “apertados”

Além de a disposição prejudicar o ângulo de visão

dos estudantes que se sentam próximo às extremidades da

Figura 111 – Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. A – Divisão original das salas da unidade 6 B – Divisão atual das salas da unidade 6, no 3º andar Fonte: Desenho adaptadao pela autora

163

sala, não conseguindo visualizar o quadro negro por

completo, a distribuição da iluminação natural é deficiente,

adentrando no ambiente pela abertura de menor dimensão;

evidenciando mais uma alteração da arquitetura que

interfere no conforto ambiental do Prédio de Vidro.

Estas modificações são decorrentes a proposta do

edifício apresentar-se com o máximo de flexibilidade das

salas. Assim a distribuição dos ambientes acontece de acordo

com o programa solicitado pela instituição, permitindo o uso

do espaço tanto de forma acadêmica como administrativa.

Embora o edifício seja composto basicamente de

salas de aula e laboratórios, em todos os pavimentos foram

previstos sanitários masculinos e femininos, escadas de

emergências e áreas técnicas; dispostos na parte posterior do

edifício. Como complemento as áreas acadêmicas – 32 salas

de aula e 9 laboratórios de informática, o Prédio de Vidro

conta com a presença de dois departamentos

administrativos: a Central de Tecnologia e Informação (CTI), e

o departamentos de Áudio Visual; além de duas áreas de

apoio ao aluno: o posto bancário do Santander e a Copiadora

Tecopy; e um laboratório específico para a área de Direito, o

mini tribunal de práticas jurídicas.

A distribuição dos ambientes acadêmicos acontece

ao redor do grande vão central, de 15 metros de altura que

se origina no primeiro pavimento e alcança a cobertura,

assegurando a transparência visual de todo o espaço interno

e a iluminação por meio da grande cobertura em vidro

translúcido.

Os acessos aos ambientes acontecem numa cadência

fluida decorrente da continuidade espacial projetada, são

amplas galerias de circulação que variam suas dimensões de

acordo com a organização do fluxo de estudantes, de forma

que em frente aos elevadores onde a concentração na

chegada e saída das aulas é intensa até sua distribuição,

apresentam-se galerias com 3,00 metros de largura. Em

frente as salas de aula que exigem maior conforto e

facilidade no percurso, as galerias apresentam-se com2,10

metros de largura, e na área restrita a interligação entre as

galerias de circulação principais, foi previsto 1,75 metros de

largura para passagem dos estudantes a frente dos

sanitários.

164

Figura 112 – Proporções arquitetônicas. A – Corte transversal esquemático do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado B – Corte transversal horizontal do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado Fonte: Desenho elaborada pela autora

165

2.4 A Construção

Para a construção do Prédio de Vidro, a Instituição

solicitou a três construtoras, através de carta convite, a

formalização de propostas para concorrência na execução do

edifício. Este é o procedimento comercial adotado pela

Anhembi Morumbi nas negociações que envolvem compra

ou contratação, mantido até os dias atuais.

O departamento de compras envia a carta-convite

com as especificações técnicas elaboradas pelo

departamento de obras e projetos ao fornecedor, e assim

aguarda as propostas a fim de avaliar a empresa em critérios

de preço, prazo, histórico construtivo e qualidade nas obras

realizadas.

A Construtora Sobrosa, uma das concorrentes, tinha

um diferencial; como já estava a par das negociações desde a

compra do terreno e auxiliou na viabilização do projeto,

estava ciente das exigências legais que a construção

acarretaria. Desta forma apresentou uma proposta não só

com o valor estimado da obra, como também ofereceu a

Instituição a legalização do projeto junto a Prefeitura sem

custos adicionais. Esta jogada comercial fez com que

ganhasse a concorrência.

A Construtora Sobrosa, fundada em 1989 sob o nome

Sobrosa Melo e Silva Construções e Engenharia Ltda.,

apresentava dez anos de experiência no mercado de

construção civil e já trabalhava com a Universidade Anhembi

Morumbi em pequenas obras da antiga unidade 5. Com uma

estratégia de marketing para fidelizar-se com o cliente, a

construtora apostava no desenvolvimento de parcerias

comerciais. Para tanto demonstrava participação nas

atividades contratadas e buscava envolver-se nas metas da

contratante.

Para a obra na Anhembi Morumbi, com intuito de

demonstrar uma prioridade à universidade, a Construtora

disponibilizou o acompanhamento da obra pelo corpo

diretivo, com engenheiro Wilson Mello no trabalho em

campo, enquanto o engenheiro Eduardo Sobrosa realizava os

tramites comerciais.

Para Delduque (26/07/11), a contratação da Sobrosa

era quase certa, visto que além de apresentar melhores

condições para viabilização do projeto, já conhecia o sistema

administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, o que

facilitaria o andamento da obra e agilizaria as burocracias

que envolvem a construção.

166

Aprovada a contratação para a construção do Prédio

de Vidro a construtora apresentou o cronograma da obra

com data prevista para início das obras em junho de 1999, a

construtora previa um prazo de nove meses para construção

do Prédio de Vidro, de forma que a Universidade Anhembi

Morumbi já poderia contar com os alunos em sala de aula no

segundo semestre de 2000. Como a Universidade estava

crescendo, o foco para a expansão estava na finalização do

prédio da Alpargatas no Brás, o que resultou no adiamento

dos inícios da obra.

Em uma pesquisa de mercado sobre a proposta dos

cursos de Sequenciais, a Instituição que já esperava uma

aceitação positiva foi surpreendida com a procura pelos

cursos no Campus da Vila Olímpia. Diante deste novo

contexto dos rumos de expansão, Delduque relembra que,

para retomar as tratativas do Prédio de Vidro, precisava

desenvolver um planejamento preciso entre a construção e o

início das aulas, solicitando a construtora Sobrosa o

planejamento técnico da construção.

A construtora previu a entrega do Prédio de Vidro em

duas fases, sendo a primeira com a entrega do mezanino e

mais dois pavimentos tipos para 29 de fevereiro de 2000 e a

Figura 113 – Cliente Astra Zeneca, situada na Rodovia Raposo Tavares, Km 26,90, Cotia / SP, onde a Construtora Sobrosa executou a construção da nova portaria do complexo em cobertura metálica com balanço ancorada em estrutura de concreto armado. Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011

Figura 114 – Cliente EFACEC do Brasil Ltda. – Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô, em que a Construtora Sobrosa construiu a subestação elétrica da Estação Tamanduateí para alimentação da Linha Verde do metrô de São Paulo Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011

167

Figura 114 –Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro, com data de início prevista para junho de 1999 e término nove meses depois em março de 2000 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

168

conclusão final para 31 de julho de 2000, considerando o

início dos trabalhos em primeiro de setembro de 1999. Com

término da obra, finalizaria e entregaria a aprovação do

projeto junto a Prefeitura de São Paulo.

Com a conclusão da primeira fase, previa-se que os

andares a serem utilizados pelos alunos deveriam contar com

a construção de um caminho protegido de acesso ao prédio,

e tapumes provisórios instalados nas salas que não tivessem

a cortina de vidro finalizada.

Como na concorrência para a construtora, foram

feitas concorrências para todos os seguimentos da obra,

configurou-se o quadro abaixo com alguns dos fornecedores

que foram levantados nos documentos da universidade e da

construtora:

ÁREA EMPRESA

Construtora SOBROSA MELO E SILVA CONSTRUÇÃO E ENGENHARIA LTDA

Concreto DIAMOND FIX PERFURAÇÃO E CORTE EM CONCRETO S/C LTDA

Estrutura SYSTEMAC CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA

Impermeabilização IMPERPOL IMPERMEABILIZAÇÕES LTDA

Muro de arrimo RIMOBLOCO

Piso TECNIPISO ENG. PISOS E REVEST. LTDA

Piso de Borracha da escada

INDEVAL

Vidro CONTEMPERA – DISTRIBUIDORA DE VIDROS LTDA

Com o início da obra e o canteiro de obras instalado,

a primeira ação tomada foi à demolição e remoção das

edificações existentes no terreno.

Como a capela era a única construção a ser mantida,

algumas soluções para sua permanência foram levantadas. A

primeira ideia seria fazer um reforço na fundação para que

pudesse escavar abaixo e ampliar a área de estacionamento

e foi descartada mediante o custo que iria gerar. Outra opção

seria a desmontagem da estrutura e a reconstrução a partir

do mesmo material, mas o valor da mão-de-obra e a

possibilidade de se perder a capela inviabilizaram a proposta.

E por fim, optou-se por não escavar sob a construção e fazer

um muro de contenção para suportar as cargas produzidas

pelo empuxo da terra naquele local.

Em seguida, cravaram fundações profundas em todo

o perímetro da obra para iniciar a contenção perimetral do

terreno, utilizando perfis metálicos e pranchões de madeira

que seriam incorporados posteriormente às cortinas laterais.

A escavação do terreno foi dividida em duas etapas, a

primeira deixando taludes de contenção no perímetro da

obra para compensar o empuxo da área de corte. E a

segunda etapa, após o travamento das cortinas perimetrais,

169

escavar pelos complementos das lajes dos subsolos.

Ao término da escavação, a pedra fundamental,

datada de outubro de 1999 marcou a cerimônia de colocação

da primeira pedra na construção do Prédio de Vidro.

Esta solenidade do início da obra contou com o

tradicional ritual de se adicionar uma cápsula do tempo com

documento e cartas das pessoas envolvidas no evento.

Delduque (26/07/11), conta que o reitor Gabriel Rodrigues

escreveu uma carta de próprio punho, a qual leu durante o

evento, e depositou dentre de uma caixa de vidro com fotos,

canetas, o vídeo institucional da universidade, a ata de

reunião das pessoas presentes e outros documentos

administrativos.

Lucilene Casteliano Faria (22/07/11), oradora

durante a missa realizada na cerimônia, narra que escreveu

uma carta contando sobre o nascimento do seu filho, e junto

dela depositou o cordão umbilical e uma aliança. Ela

relembra que quem ministrou a homilia foi Frei Leonel, bem

relacionado com a Diretoria da Universidade.

A ideia desta capsula do tempo, surgiu da descoberta

de uma caixa encontrada durante as escavações da obra,

próximo à capela de São Judas Tadeu. Dentro da caixa

metálica, fechada com um cadeado, foram descobertos

jornais datados de 1943 envolto em um saco plástico.

Quando os operários da obra encontraram tal caixa levaram

ao conhecimento do engenheiro Delduque que rememora ler

uma matéria sobre a pintura de bancos na Alemanha para

diferenciar o uso do espaço público entre judeus e alemães.

Estes jornais foram levados para restauro sob

responsabilidade do professor Sebastião Hermes Verniano,

que na época estava como assistente de reitoria. Após o

restauro, os documentos ficaram guardados com Diva

Aparecida Correa, também assistente na reitoria, responsável

por coletar publicações e documentos da Instituição que

saiam em mídia externa.

Com a saída de Diva da universidade, conta-se que os

documentos foram para a biblioteca aos cuidados da

Bibliotecária Maria do Rosário Godoi (Madu). Atualmente,

sob administração da bibliotecária Marli Cacciatori, esta

relata que não se tem cadastro de catalogação ou entrada

destes documentos na Biblioteca da universidade e

desconhece onde possam estar guardados. Rodrigues

(26/08/12) acredita que foram enterrados, novamente, em

conjunto a nova cápsula do tempo.

170

Embora a pedra fundamental seja, tradicionalmente,

cravada no canto nordeste das construções, esta escultura

está implantanda no lado noroeste do Prédio de Vidro, a

esquerda da capela, onde foi originalmente encontrada a

primeira cápsula do tempo.

Figura 116 – Pedra Fundamental

A - Detalhe da Pedra Fundamental com inscrição do marco inicial da construção B - Pedra Fundamental em primeiro plano, datada de outubro de 1999, implantada a noroeste do terreno. Acima da Pedra está o sino originário da Capela.

Fonte: Arquivo pessoal da autora

171

Figura 117 – Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental A – Cerimônica ministrada por Frei Leonel; B - Cerimônia religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Rodrigues, arquiteta Angela Freitas; C – Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio

religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio

religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário

172

173

Página 118 – Cerimônia Religiosa da Pedra Fundamental A – Discurso Reitor Gabriel Rodrigues na presença de Prof. Hermes Verniano,; F – Prof. Hermems Verniano Figura 171 e 172: Discurso do Reitor durante a cerimônia de inauguração da Pedra Fundamental, na presença de prof. Hermes Verniano, Nilton Campos, Lúcia Ribeiro, Maria Helena Flynn, Angela Freitas, Eng. Eduardo Sobrosa, Wandy Cavalheiro, Eng. Vilson Mello e Eng. Delduque Martins. B – Prof. Hermes Verniano; C - Angela Freitas; D - Delduque Martins; E- Reitor Gabriel Mário Rodrigues; F – Prof. Hermes, Eng. Eduardo Sobrosa e arquiteto Francisco Petracco guardando depoimentos dentro da caixa de vidro; G – Discurso do Reitor Gabriel Rodrigues; H - Apresentação prof. Hermes Verniano; I – Guarda de depoimentos dentro da caixa de vidro a ser enterrada sob a Pedra Fundamental. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

174

Figura 119 – Cápsula do Tempo A – Caixa de vidro enterrada como capsula do tempo com material datados da cerimônia de lançamento da pedra fundamental, com depoimentos, revistas, jornais e publicações de 2001; B e C – Fechamento da base por Jair Barreto e funcionários administrativos da manutenção da Universidade Anhembi Morumbi; E, F e G – Cerimônia religiosa sobre a Pedra Fundamental com a presença do Reitor Gabriel Rodrigues, Angela Freitas e Frei Leonel. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

175

176

Ainda referente as escavações, surgiu nos corredores

da universidade a lenda de que dois corpos foram

encontrados na retirada de terra. Como o terreno sediava a

residência dos artistas, dizem que lá foram enterradas duas

belas atrizes, que vestidas de branco, continuam a caminhar

pelos cantos do Prédio de Vidro procurando o antigo lar.

Funcionários da manutenção comentam que até hoje o

pessoal da limpeza não tem apreço pelos serviços noturnos

no edifício, evitando ao máximo o uso dos vestiários,

situados no subsolo, por ser o local onde se avistam os vultos

com mais frequência. Questionado sobre a crendice, Sobrosa

divertiu-se com a estória, afirmando que não foram

encontrados corpos no local, somente a cápsula do tempo.

Com a obra em andamento, a primeira reunião

acontece em 22 de outubro de 1999, e consta em ata de

reunião que o projeto de cálculo estrutural do Prédio de

Vidro estava a cargo de Sodré Engenharia. No decorrer da

obra, a empresa Systemac, responsável pela montagem da

estrutura metálica, sugere a troca do projeto de cálculo

indicando a empresa Kelly Pilteco, renomada em cálculo de

torres de transmissão.

Embora alguns críticos contestem o

dimensionamento da estrutura do Prédio de Vidro, Petracco

(22/07/11) afirma que é a estrutura que dá força ao projeto.

De fato o contorno das linhas ortogonais, proposta pela

estrutura metálica, em contraste com a cortina de vidro e o

vão livre do térreo, alternam o desenho em cheios e vazios

que atraem pelo próprio confronto do peso e da leveza.

Durante a construção, com as estacas a pouco mais

de um metro da capela, notaram que a pequena construção

apresentava trinca. Como não se conseguia acessar devido a

profundidade em que o

terreno estava

escavado, precisou-se

esperar nivelar o piso

para fazer os reparos na

construção com intuito

de preservar sua

estrutura. Conta-se que

a trinca na capela

chegou a abrir um vão

de cinco centímetros.

Figura 120 – Capela São Judas Tadeu isolada durante o processo construtivo do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

177

Com o esqueleto da obra pronto, as lajes pré-

fabricadas foram lançadas e os fechamentos que deveriam

ser em placas de siporex, acabaram sendo executadas em

blocos de tijolo, em função do atraso pela espera do

material, que não tinha a pronta entrega. Com o prazo de

entrega do prédio diminuindo, os últimos andares acabaram

sendo executados com blocos de tijolo tradicional.

Conforme a estrutura do edifício ia se formando, e os

detalhes construtivos foram surgindo, Sobrosa (19/07/11)

relembra que nas vistorias do arquiteto a troca de

experiências era sempre interessante. Conta que Petracco

incluía a participação dos operários em tomada de decisão de

acabamentos ou detalhes da obra, a atitude demonstrava o

interesse do arquiteto na opinião do construtor e motivava o

operário a sentir-se parte do processo construtivo. Tal

atitude faz parte da metodologia de trabalho do arquiteto

que acredita que o trabalho em equipe é melhor que a

postura de alguns arquitetos que preferem ilhar-se como

dono da verdade.

Da construção Delduque (26/07/11) recorda a passagem em

que o arquiteto explicava aos operários a importância do

desenho no piso, no centro da área de

Figura 121 – Arquiteto Francisco Petracco em visita a construção do Prédio de Vidro durante a instalação dos perfis de sustentação em estrutura metálica Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

178

convivência do Prédio de Vidro. O arquiteto atribuiu ao

ponto central do edifício a imagem do sol, de forma que as

juntas de dilatação douradas representam os raios solares

emergindo em meio ao azul do piso de granilite. Ainda

comenta que durante o assentamento do piso, o arquiteto

acompanhou de perto a execução subindo e descendo os

andares para verificar se a composição estava de acordo com

o desenho proposto.

Figura 122 - Coração Solar do Prédio de Vidro A - Juntas de dilatação douradas representando os raios solares emergindo em meio ao azul do piso de granilite Fonte: Arquivo pessoal da autora B – Evento “Danças Circulares” ministrados no primeiro andar do Prédio de Vidro sobre o Coração Solar. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi

179

Mesmo que a tecnologia permitisse rapidez na

execução, alguns imprevistos fizeram com que as aulas

fossem iniciadas antes do término das obras. A cobertura de

vidro, por atraso na fabricação de material, apresentava-se

como um vão aberto nos primeiros dias de aula. Delduque

(26/07/11) conta que para remediar a situação pediu para

transportarem um grande banner em lona de propaganda da

universidade que estava no Campus Centro para revestir a

cobertura a fim de evitar que chovesse dentro do Prédio de

Figura 123 – Cobertura de vidro no vazio central do Prédio de Vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora

Vidro. A solução, contudo, durou pouco tempo, com a

primeira chuva no bairro da Vila Olímpia, a lona estava cheia

de água. Delduque recorda a ligação feita pela manutenção

solicitando a liberação dos alunos da unidade e a autorização

para rasgar o material com intuito de evitar algum acidente.

E foi após sua autorização que o Prédio de Vidro teve todos

os seus andares lavados com a enxurrada d´água advinda da

cobertura. Pouco tempo depois a cobertura foi finalizada em

estrutura metálica e vidro.

A obra foi finalizada em julho de 2001,e embora

alguns arremates tenham ficado para serem resolvidos, a

universidade já contava com sua nova unidade no Campus

Vila Olímpia.

Entendendo a universidade como polo gerador de

deslocamento veicular, a Prefeitura da Cidade de São Paulo

solicita a construtora um plano de melhorias para o tráfego e

estudo de vagas do estacionamento que atendesse a nova

demanda de veículos que frequentaria o bairro⑱.

Com toda a documentação aprovada, a Construtora

entrega o Habite-se do Prédio de Vidro após seis meses do

término da obra.

18. Ver anexo Plano de

Melhorias e Estudo de

vagas para estacionamento.

180

181

Página 124 – Construção do Prédio de Vidro A – Canteiro de obra; B – Escavações para lançamento das fundações; C – Lançamento das primeiras estruturas metálicas; D, E e F –Concretagem do piso. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

182

Página 125 – Construção do piso do Prédio de Vidro A e B – Lançamento do piso steel deck; C, D, E e F – Concretagem do piso; Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

183

184

Página 126 – Fachada do Prédio de Vidro em construção A – Esqueleto metálico com edição da autora; B – Esqueleto metálico visto do estacionamento da antiga Unidade 5; C – Esqueleto metálico com a presentaça da estrutura da escada principal. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora

185

185

186

187

Em 2009, durante a exposição “A boa arquitetura de

uma geração” organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanettini

em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço

(CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica

(ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design

Panamericana, chamou a atenção o cartaz de propaganda

exposto pela CBCA para divulgação de suas atividades e a

forma como atua no mercado, com a imagem do Prédio de

Vidro como pano de fundo. O projeto que já havia sido

publicado em material institucional de marketing da

Universidade Anhembi Morumbi e exposto na Bienal de

Arquitetura, agora era referenciado como marco na

construção metálica nacional, rompendo os limites da

arquitetura educacional para ser um projeto de referência

arquitetônica.

O arquiteto (22/07/11) conta que ao chegar no

evento para prestigiar os colegas, surpreendeu-se com a

exposição do seu projeto no cartaz do patrocinador. Mesmo

sem seu conhecimento e aprovação, interpretou a publicação

como uma forma de reconhecimento do para o seu trabalho.

Página 127 – Fachada do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Sobrosa Constru-tora Figura 207 e 208 – Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração”, de 25 de outubro de 2009; organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanet-tini em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design Panamericana. Destaque par o cartaz de publicidade da CBCA com tema de fundo o Prédio de Vidro Fonte: Acervo arquiteto Francisco Petracco

188

CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL

3.1 o fim do começo ou o começo do fim?

Para Rocha (2007), a vida de um edifício está

compreendida em duas fases. A primeira é a fase da

construção quando uma série de problemas relativos a

durabilidade podem ser resolvidos, tais como a orientação

adequada do projeto, as normas técnicas e legais

devidamente atendidas, o programa de uso bem resolvido, e

a qualidade dos materiais condizentes com a propostas

estrutural e arquitetônica. A segunda fase refere-se ao uso,

quando surgem os problemas a partir do desgaste e usos

indevidos, necessitando de manutenção constante.

Enquanto na construção os detalhes construtivos

asseguram condições e facilidade para a manutenção, é no

ato de conservar que se encontra o grande segredo da vida

útil do edifício. Um exemplo clássico, e que pode ser adotado

para o Prédio de Vidro, é o uso da cortina de vidro no

edifício. Ao projetar, o arquiteto está ciente de que a

manutenção e limpeza do vidro garantem a boa aparência da

construção, portanto, quando opta por este tipo de

revestimento para a fachada, prevê pontos de apoio na

cobertura para sustentação dos equipamentos da limpeza.

Consequentemente a manutenção contrata funcionários que

irão descer pela fachada higienizando e vistoriando o estado

dos vidros, garantindo a conservação do material no estado

que foi idealizado. Na falha de um dos processos, o edifício

pode ter a arquitetura comprometida pela falta de limpeza,

depredação ou ainda pelo próprio desgaste do material.

De acordo com Rocha (2007), certos sistemas e

equipamentos prediais exigem serviços de inspeção e

vistorias programadas a fim de garantir sua conservação,

devendo ser realizada independente de deformidades

estarem aparentes ou mesmo não existirem. A falta de

manutenção em caráter preventivo acarreta em desgastes

desnecessários, substituições e, futuramente, novos custos.

No Prédio de Vidro, o que se tem observado é que a

falta de manutenção tem prejudicado a imagem do edifício,

transmitido uma imagem de descuido e negligência por parte

da instituição. Nos depoimentos apresentados, pode-se notar

que grande parte do desconforto do usuário está relacionado

a problemas de manutenção, tais como sanitários,

equipamentos de ar condicionado e limpeza.

189

Na escada principal, o piso de borracha aplicado

sobre a estrutura metálica, apresenta problemas de

aderência, onde o material está descolado do piso nas juntas

entre a escada e a construção. Para correção, o revestimento

do piso deveria ser removido, a estrutura ser retratada para

retirar qualquer agente contaminante que pudesse interferir

na aderência e trocar pelo novo revestimento.

Figura 129: Acabamento do piso no Prédio de Vidro descolando na junta entre a escada e o piso do pavimento, no quarto andar. Fonte: Acervo da autora

Outra questão são os impactos estéticos

proporcionados por problemas de impermeabilização, tais

como:

Infiltração na estrutura metálica do edifício e da

escada;

O crescimento de vegetação na estrutura;

Infiltração na fachada posterior.

Problemas de infiltração acarretados pelo período de

chuvas não interferem somente na estética do edifício, mas

também comprometem o desempenho da estrutura. A água

ao atravessar a peça de concreto pode atingir suas

armaduras, que sujeitas a ferrugem, podem ficar tão

comprometidas a ponto de romperem.

A descaracterização do Prédio de Vidro, resultado

das inúmeras modificações de layout35 e da manutenção

precária, evidencia certo descaso da instituição para com o

edifício. Mas o que mais chama a atenção é a falta de

finalização do projeto.

Sabe-se que a construção do auditório foi descartada

mediante área máxima exigida pela Prefeitura, contudo o

resultado gerou uma grande praça de convivência e

190

continuidade urbana. Mas não se pode dizer do mesmo do

espelho d´água.

O rebaixo do espelho d´água foi idealizado para

refletir a escada principal, chegou a ser preenchido com água

em 2008 para uma atividade da Escola de Engenharia e

Tecnologia, contudo por falta de impermeabilização, a água

escorreu para o primeiro subsolo, precisando urgentemente

ser esvaziado.

Recorrentemente, o arquiteto solicita ao

departamento de obras e projetos a finalização do espelho

d´água para finalização do projeto, o retorno embora sempre

positivo, ainda não se concretizou.

E por fim, o projeto inacabado da iluminação da

escada. Com o inicio das aulas e a escada na penumbra já

que a iluminação não havia sido finalizada, foi solicitada a

manutenção a instalação de lâmpadas de vapor metálico em

caráter provisório. Contudo é possível observar que até hoje

as lâmpadas não foram substituídas pelo seu projeto de

iluminação original e funcionam como sistema de iluminação

definitivo.

191

Figura 130 – Impactos estéticos por falta de manutenção A - Infiltração na estrutura do Prédio de Vidro; B - Infiltração na estrutura da escada principal; C - Crescimento de vegetação na estrutura da Fachada Principal, frente para a Rua Casa do Ator; D - Infiltração presente na Fachada Posterior do Prédio de Vidro, vista da Rua Gomes de Carvalho, é possível observar o desgaste da pintura e a falta de manutenção. Fonte: Acervo da autora

192

Figura 131: Rebaixo do piso, no pavimento térreo.

A e B – Vista de onde deveria ter sido feito a instalação do espelho d´água. Foi cogitado pelo arquiteto utilizar o espaço como um jardim com uso de vegetação e pedra, contudo a

instituição somente disponibilizou quatro vasos com palmeiras dispostos nas extremidades do espaço.

Fonte: Acervo da autora

193

Figura 132: Iluminação da escada do Prédio de Vidro A - O projeto provisório que se tornou definitivo com a aplicação de apenas uma lâmpada por pavimento, o que deixa a escada em total penumbra no período noturno, dificultando o acesso e conduzindo o intenso uso dos elevadores. B – Detalhe da fixação das luminárias Fonte: Acervo da autora da pintura e a falta de manutenção.

194

3.2 A Escola Aberta

Entender o processo da concepção do projeto, a

construção e os anseios da instituição contratante facilita o

entendimento de seu espaço edificado. É possível identificar

um fio condutor que delimita o percurso do projeto, os

motivos das adequações e mudanças do projeto em virtude

de questões econômicas; culturais, tanto do arquiteto

quanto da universidade; e sociais relacionando a arquitetura

não só a seus ocupantes, mas também de como se apresenta

para a cidade.

Na elaboração de um projeto universitário, estar

atento ao que se constrói, possibilita a compreensão, por

meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado

e como se traduz como identidade do lugar.

Para Ferrara (1988), toda representação é uma forma

de imagem; um gesto que codifica parcialmente o universo

através de uma expectativa de interpretá-lo. E a ação

interpretante é o modo usado para a representação da

linguagem.

Já Bordenave (1984) descreve o meio como a própria

mensagem, o que faz deste uma forma de linguagem. O

homem, a partir de uma necessidade de partilhar com os

demais o que pensa ou sente, cria símbolos que tomam o

lugar de algo que está na mente ou no sentimento; fazendo-

se visível e público o que há de mais privado em cada ser.

E segundo Jung (1977) o homem utiliza uma

linguagem cheia de símbolos para se comunicar. Seja ela um

termo, nome ou imagem que se familiariza com o cotidiano e

suas conotações especiais, além do significado evidente e

convencional que se pode atribuir a este símbolo.

Estudos realizados pelo PROARQ/FAU/UFRJ sobre

valores e significados atribuídos aos espaços, constataram

que quando um usuário entra em contato com um

determinado espaço, recebe impactos iniciais a partir das

impressões que ele visualiza e que geram nele uma

percepção; esta é a primeira etapa de um processo de

conhecimento do lugar (processo cognitivo). Nos próximos

passos desta percepção imediata, a possibilidade de

discriminar e classificar os signos do ambiente é garantido

pelo domínio que o usuário tem do código apresentado, do

qual decorre uma percepção mecânica independente das

características contextuais temporais ou espaciais. Em

sistemas similares, a percepção desprovida de qualquer

195

parâmetro codificado, é tensa e profundamente influenciada

pelas características espaciais ou temporais, sendo,

necessariamente, a apreensão do novo como descoberta

perceptiva.

Desta forma, muitas podem ser as vertentes de

interpretações do contexto apresentado, já que a trajetória

do Prédio de Vidro pode ser analisada sob vários pontos de

partida. O olhar pode-se voltar para a História de um espaço

completamente distinto das edificações do Retiro dos

Artistas, mas que mantém certa relação ao atribuir como

nome oficial da unidade “Edifício Theatro Casa do Ator”;

também pode ser interpretado sob o viés da tecnologia em

que, como marco da arquitetura, o projeto está alinhado ao

movimento High Tech presente no cenário arquitetônico

mundial na década de 1990; outro aspecto seria a evolução

urbana apresentada com a verticalização da Universidade e

do Bairro Vila Olímpia; ou ainda a concepção arquitetônica

do edifício e a relação de design adotada em sua arquitetura

com intuito de ser reconhecido como espaço universitário,

entre tantas outras.

Escolher um ponto de partida sugere decifrar as

inquietações do observador.

Neste contexto optou-se tratar interpretações que

conduziram a escolha do objeto: o design de sua arquitetura

a partir da memória documentada. A problemática do que é

um espaço universitário traduzido pelo pensamento do

arquiteto sobre o que é a formação universitária; onde

pressupõe que o uso do espaço é uma ferramenta para

preparar um futuro profissional atuante na sociedade,

traduzindo o espaço do Prédio de Vidro como um edifício

que acompanha a transformação da sociedade. E como são

as relações estabelecidas entre o espaço percebido e as

relações geradas pelas experiências nele vividas, de usuários

que gostam, abandonam, estranham, surpreendem-se,

reencontram as referências simbólicas nesta arquitetura,

identificando a importância da História do projeto para

entendimento de seu design.

Para Ricceur (2010), a noção de espacialidade

corporal e ambiental está intrínseca a evocação da

lembrança, partindo da reflexão como forma de explicá-la.

Uma associação perceptiva de recordações e leituras do

espaço físico, articulada a sensações e sentidos de fluxos,

instiga a memória íntima e, posteriormente, a memória

compartilhada. Assim, o espaço edificado diferencia-se do

196

espaço habitado, enquanto um é resultado apenas da

construção, e o outro está relacionado ao uso, ao

relacionamento estabelecido gerando lembranças, ligações

afetivas ou não. Durante o período que esta relação é

mantida para si desenvolve uma memória intima, e a partir

do momento em que é transmitida ao outro estimula uma

memória compartilhada.

Para Del Rio (1996), a percepção é “um processo

mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, que

se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos

e, principalmente, cognitivos”. Assim, desde o primeiro

contato com o ambiente, o homem se inter-relaciona através

dos seus sentidos, à percepção, à memória, aos valores

culturais e ao espaço em que se está imerso, passando a

sentir e carregar as informações dos significados culturais,

percebendo e reavaliando o ambiente de modo a dialogar

ciclicamente com ele. O ambiente construído dirige ao

usuário estímulos sensoriais, captados pelos cinco sentidos. A

partir da compreensão, a racionalidade gera um processo de

organização mental, na qual a realidade percebida é

representada por esquemas e imagens mentais associadas.

Ao deparar-se com um espaço, as cores, formas, padrões de

luz, cheiros sons ou ruídos que estão presentes são sentidos.

A experiência conjunta, de todas as características

perceptuais, motoras ou conceituais que podem ser

identificadas, estabelece valores para o espaço. Os detalhes

são assimilados e culminam no reconhecimento ou

distanciamento do usuário, a partir de significados que ele

atribui, variando de acordo com a vivência cultural e as

estruturas cognitivas prévias.

A arquitetura, por proporcionar projetos livres e

independentes, assume a possibilidade de gerar novos

significados na medida em que é percorrida. No ambiente

construído, o usuário identifica o lugar e tem o poder de

transformá-lo. Este espaço, que a princípio é fruto do desejo

do arquiteto, que já percorreu esta trajetória de leitura a

interpretação, passa a ser o lugar do usuário.

A partir da compreensão e reconhecimento do lugar

pelo usuário, que faz uma análise e uso de seus valores

impregnados pelos elementos edificados desse espaço, este

atribui o significado que melhor traduz seus anseios

inconscientes. Isto porque, ele não observa somente a

função específica do que foi construído, mas também faz a

relação dos aspectos simbólicos do conjunto para com ele.

197

Assim, um edifício apresenta, em si, forma de se

expressar baseado em símbolos e elementos representativos

do seu conceito arquitetônico. O espaço é entendido não só

pelo que tem de visível, mas da relação com a história

cultural, a composição do conjunto edificado e a forma como

quem o desvenda.

Isto justificaria o fato da associação do espaço do

Prédio de Vidro ao espaço cerceante da vida humana. As

lembranças geradas pelo sistema educacional com

regulamentos e leis transferidas e identificadas no espaço

como a representação de ambientes enclausurados, cheio de

portas, ou exposição através das cortinas de vidro,

transmitindo a sensação de um usuário que tem sua

liberdade vigiada. Vivenciar o edifício é deparar-se com

obstáculos que, embora projetados para garantir maior

contato, visibilidade e socialização, inquietam e ameaçam a

zona de conforto de alguns usuários. A sensação de

exposição, ligado ao fato de não estar no casulo familiar, é

reforçada pelo predomínio do vazio, da luz e da abertura.

Esta mesma relação, também, traduz os depoimentos

em que os espaços abertos e as praças geram insegurança

pela exposição e opressão geradas pelas sombras e cores. As

sensações aguçadas pela arquitetura traduzem a experiência

pessoal traduzindo a estrutura em leveza ou solidez; o vidro

em exposição ou liberdade visual; praça para comemoração

ou aridez; circulação em movimento ou estar; distribuição da

sala em flexibilidade ou enclausura; da arquitetura em

inovação ou falta de conforto. Esta orientação da percepção

a valores opostos partem do conhecimento, do uso e das

referências particularmente adotadas, e produzem a

identificação da arquitetura como espaço destinado a sua

função, neste caso para a universidade.

Na pesquisa realizada fica evidente esta dualidade.

As mesmas perguntas e espaços questionados a um público

constituído por alunos, ex-alunos, arquitetos, professores,

usuários da arquitetura como um todo, alternam o resultado

na sua própria concepção de como é habitar o Prédio de

Vidro. Algumas vezes evidenciam a paixão do estudante que

deseja usufruir deste espaço, outras vezes relatam o

desconforto com a arquitetura.

Para Ricceur (2010), o ato de construir caracteriza a

configuração do tempo pela composição do enredo;

conformando o espaço construído geométrico, mensurável e

calculável, que qualifica a forma de vida; ao tempo narrado

198

que interage nas experiências de uma época. De tal modo

que a construção insere-se no vazio urbano como narrativa

de um contexto momentâneo, facilitador da história, gostos

e formas culturais de uma época.

O Prédio de Vidro é uma narrativa do processo de

inovação arquitetônica da Universidade Anhembi Morumbi

traduzindo a manipulação de um conjunto de fatores

técnicos, construtivos, socioeconômicos e culturais em uma

arquitetura sólida, emotiva, com valorização da história

desde o nome da rua até iniciativa do arquiteto em suas

primeiras experiências metálicas. Assim sendo esta traduz o

tempo de ver e ler uma época, uma arquitetura

essencialmente, moderna com apelo tecnológico reflexo da

evolução arquitetônica da Instituição.

Para Ricceur (2010), tudo na História tem início no

testemunho. Apesar da carência principal de confiabilidade, é

a segurança de que algo realmente aconteceu, de que foi

assistido por alguém, ou atestado com outros tipos de

documentos que desarma aqueles que precisam dos arquivos

como forma precisa da realidade. Calcada neste pensamento,

os depoimentos, tanto coletivos como privados, resgataram a

história do Prédio de Vidro em conversas informais,

transcrições das lembranças e transformações que afetaram

tanto espaço, como a própria memória consultada.

Ricceur (2010) escreve que o testemunho dá

condições formais ao conteúdo das “coisas do passado”, das

condições de possibilidade de processo efetivo da operação

historiográfica. Parte-se da memória declarada, passa-se pelo

arquivo e pelos documentos e termina como prova

documental. Uma relação de processo onde há o registro de

vivências e formas de rememorar.

Assim o estudo da história do projeto busca entender

os acontecimentos que derivaram a construção do Prédio de

Vidro, trazendo a tona o conhecimento do seu processo.

Conhecer a origem, a escala do território, do bairro, do lote;

chegando ao edifício e os impactos ambientais e urbanos

inevitavelmente gerados a partir de sua proposta

construtiva; a busca pela transformação do ambiente urbano

em que está inserido e produzindo novas extensões urbanas

numa relação de espaço público e privado; e a evidencia de

que este é um projeto a ser finalizado, que não está

integralmente pronto, seja pelas mudanças construtivas, seja

pela falta de alguns elementos projetados, ou ainda pelas

mudanças de seu layout; mas acima de tudo, porque é uma

199

proposta de não ser um projeto fechado há um tempo

preciso, mas passível de acompanhar a dinâmica da

instituição.

A construção do edifício demonstra a construção de

um conhecimento, propício de uma época, de um anseio

momentâneo da instituição o e de um ideal do arquiteto. O

tempo muda, as expectativas e as referências também.

Buscar o elemento flexível, adaptável as mudanças sociais e

históricas está além das barreiras arquitetônicas, por que o

espaço universitário é só a casca para a formação

profissional, a produção do conhecimento vai além das

barreiras de espaço e do tempo.

Na arquitetura de seu espaço deve-se observar a real

busca do arquiteto em projetar um espaço universitário com

qualidade para difusão do conhecimento. A transformação

arquitetônica e o crescimento da Universidade Anhembi

Morumbi gerou um design representado através da fachada

inovadora, um traço do ideal projetado pelo arquiteto de se

conceber uma Escola Aberta.

Esta Escola traduzida na construção de um objeto de

uso humano que compõe uma nova paisagem social

educativa para o Ensino Superior rompe os paradigmas de

que o corpo acadêmico edificado é determinado por salas de

aulas com paredes e muros, propondo espaços livres e

translúcidos. Decorrente de uma sociedade capitalista e

consumista, os ideais propostos de transparência, igualdade

e liberdade, estão sendo convertidos a conceitos de

fragmentação e isolamento do espaço, garantindo sensações

de falta de conforto e segurança. Uma contradição

legitimada, onde a rua expulsa o indivíduo e o muro o liberta.

No Prédio de Vidro o arquiteto busca integrar o viver

na cidade dentro de um ambiente acadêmico; criar lugares

comuns, produzindo praças, pátios, mirantes em constantes

diálogos com a cidade; propõe uma união do pátio ao

espelho d´água, que mesmo que não emitente do reflexo da

escada num sentido de ser o portal do conhecimento, torna-

se banco, oferecendo um novo cenário de convivência e

troca de conhecimento. A Capela de São Judas Tadeu, que

mesmo escondida atrás do edifício, preserva o ar lúdico e

bucólico do que já representou um dia ao retiro dos artistas

que ali viveram, garantindo espiritualidade e memória em

suas portas abertas a comunidade. As galerias de circulação

que convertem a comunicação do programa e do público

revelam como a comunidade acadêmica funciona. Desta

200

forma, os espaços não são projetados simplesmente como

resposta a sua função, mas sim, são geradoras de novas

formas, usos, sentidos, sensações e lições.

Embora não contemple todas as questões

estabelecidas pelo tripé da educação universitária o ensino, a

pesquisa e a extensão, já que o espaço dispõe de salas de

aula, laboratórios de informática e um laboratório específico,

sua composição estrutural favorece a utilização do edifício de

acordo com o planejamento espacial proposto pela

instituição, cabendo à universidade abrigar todas as

diretrizes do MEC em um único espaço ou distribuindo pelas

demais construções do campus.

No Prédio de Vidro o compasso da estrutura permite

quebrar o protocolo e superar a lógica da disciplina como na

Escola da Ponte⑲, onde não se precisa separar o ensino por

lugar fixo ou fechado, podendo ser organizados em grupos

de interesse comum, criando espaços de inclusão, inter-

relação e conexão.

Problemas com a cortina de vidro, provedora de luz

natural e calor, evidenciam o apego à exposição do conteúdo

de forma clássica. Este padrão herdado do ensino tradicional

gera inquietações quando o novo modelo questiona a

projeção de conteúdo onde é preciso virar as costas para o

natural e cotidiano, ao invés de integrar-se a ele.

Considerando as dificuldades proporcionadas pelo viés da

sustentabilidade dos materiais e técnicas empregadas,

indaga-se a tendência atual de priorizar as relações

insustentáveis criadas com longos corredores e salas de aulas

fechadas, enclausurados por suas portas fechadas, enquanto

se podem explorar elementos que possibilitem ventilação e

iluminação natural.

Pode-se dizer que na busca de identificar fatores que

caracterizariam o Prédio de Vidro como um espaço

universitário, o que se desvendou foi que para elaboração de

espaços acadêmicos deve-se evidenciar a consciência social

da arquitetura como forma convidativa a educação. Não são

o acabamento, revestimentos ou tratamentos do edifício, ou

suas salas, galerias de circulação, pátios ou laboratórios que

fazem de um espaço um local de aprendizagem, afinal o que

se aprende por meio do ensino não é físico, é empírico e vai

muito além dos limites edificados do espaço acadêmico.

E este pensamento pode ser identificado na proposta

de Petracco, um projeto que aproxima os lugares às pessoas;

evidenciam as engrenagens de seu funcionamento; os

Escola da Ponte é uma instituição pública portu-guesa, referência na forma-ção básica integrada de seus alunos. Disponível em http://www.escoladaponte.com.pt/, acessado em 12/08/2011

201

esforços de sua estrutura; cria sentidos e significados

distintos a partir de seus vazios; e abre-se para a cidade.

E isto, pode-se dizer do Prédio de Vidro, que cada

usuário guarda um pouco do espírito livre do projeto, que

desconstrói as barreiras; algumas vezes gerando desconforto,

outras insegurança, mas acima de tudo transmitindo

liberdade e transpondo os obstáculos tradicionais do espaço

universitário.

202

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa que partiu do intuito de discutir o espaço

universitário cogitou, em um primeiro momento, o estudo

sobre os espaços acadêmicos da Universidade Anhembi

Morumbi a partir de sua produção arquitetônica, para um

entendimento sobre o ambiente universitário sob o viés da

Instituição. Contudo, a escolha do Prédio de Vidro como foco

de pesquisa reflete a importância dada a esta edificação, que

foi a primeira obra construída pela Universidade para sediar

seus espaços acadêmicos, e que marcou a preocupação da

Instituição em não mais, adaptar espaços fabris através de

uma maquiagem arquitetônica, mas de qualificar seus

ambientes com melhores acabamentos e infraestrutura

diferenciada.

Conhecendo os espaços acadêmicos da Instituição,

pode-se observar que a Universidade apresenta três tipos de

construções:

As construídas, evidenciando uma arquitetura

com aspectos modernos e inovadores, tais como

as novas edificações do Campus Vila Olímpia –

Unidade 5, 6 e 7, e a do Campus Morumbi, o

Edifício Jardim;

As adaptações de patrimônio industrial, com

requalificação de infraestrutura e mudança da

categoria de uso, num processo de valorização

patrimonial e urbana, tais como o Campus Centro

e os Galpões do Campus Morumbi; e.

As adaptações de edifícios existentes em centros

urbanos da metrópole, demonstrando

investimentos em áreas que apresentam ampla

rede de transporte e maior visibilidade comercial,

além de requalificar e valorizar o patrimônio

existente, tais como o Campus Paulista e Campus

Vale do Anhangabaú.

Para o atual universo educacional, além do

acadêmico, a apresentação de uma infraestrutura

consolidada, esteticamente bela e atrativa é um diferencial

competitivo. O investimento dedicado às instalações físicas

reflete um posicionamento da instituição sob aspectos

acadêmicos, culturais, sociais e comerciais. A partir do

momento em que a universidade se propõe a marcar sua

203

presença no mercado de Ensino Superior, adotou uma

política de reestruturação de seus edifícios, propondo não só

uma cenografia para os usuários, mas uma qualificação de

seus ambientes acadêmicos.

E foi a partir deste contexto que se observou a

possibilidade de um estudo sobre os aspectos importantes

para o entendimento da arquitetura e construções da

Universidade Anhembi Morumbi, e a partir deles tratar a

memória institucional de sua História, com foco na análise

deste edifício pioneiro concebido para representar o

potencial construtivo da instituição, o Prédio de Vidro, do

arquiteto Francisco Petracco.

Em arquitetura, o espaço universitário considerado

ideal se traduz na construção da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São Paulo, (FAU-USP),

projetada por Vilanova Artigas. O edifício é um jogo de

volumes fechados e abertos proporcionando um percurso

corrente, uma fluidez com limites imperceptíveis entre o

espaço público e o privado demonstrando completa

liberdade a seu usuário. As vedações internas são quase

exoneradas onde os níveis dos andares conformam a

delimitação dos ambientes com o máximo de translucidez

aflorando todas as sensações proporcionadas pela natureza:

luz, calor, frio, barulho, silêncio, e afins. O vazio central

organiza a distribuição das galerias de circulação, rampas,

salas e espaços acadêmicos. O espaço abriga todas as

atividades definidas pela tríade do Ensino Superior: Ensino

com suas salas, ateliês, laboratórios; a Pesquisa com

Biblioteca, departamentos, diretoria, auditório, diretoria,

secretaria; e a Extensão com espaço de convivência, salão

caramelo, museu, café e grêmio.

Este espaço universitário, provavelmente, foi

utilizado por Petracco como referência para conceber o

Prédio de Vidro. Algumas relações podem ser feitas a partir

da análise do edifício.

As duas obras contam sua história a partir da

estrutura, enquanto o Prédio de Vidro trabalha a tecnologia

do aço, a FAU-USP retrata a linguagem brutalista do concreto

aparente característico do movimento Escola Paulista de

Arquitetura. Os pilares de Artigas destacam-se através de seu

desenho, enquanto a estrutura de Petracco intensifica a força

do projeto.

A caixilharia em vidro apresenta o entorno de forma

atrativa e aberta sendo cuidadosamente tratado na

204

arquitetura de Artigas com o uso de empenas suspensas que

garantem um maior controle da luminosidade; ação que não

ocorre no Prédio de Vidro em detrimento a exclusão do brise

soleil.

Nos dois projetos é possível observar a presença do

pátio central iluminado por uma cobertura translúcida.

Enquanto na FAU a cobertura é composta por vigas

entrelaçadas vedadas por domus, o projeto de Petracco

apresenta uma malha estrutural em aço e vidro.

A circulação vertical das construções descreve o

passeio interno e as sensações de mudança do espaço, de

forma que no projeto de Artigas este percurso é feito pelo

pedestre através das rampas, ao passo que na UAM esta

transição acontece mecanicamente por meio dos elevadores

panorâmicos.

Até mesmo nas questões de conforto ambiental os

problemas são similares, tanto no projeto de Artigas como no

projeto de Petracco, a acústica e o conforto térmico são

decorrentes do uso e disposição do material. Contudo, a

FAU-USP, atualmente passa por um processo de restauro da

edificação onde alguns problemas estão sendo reavaliados.

E é em um único espaço arquitetônico que os

projetos não coincidem. Enquanto a FAU-USP apresenta um

térreo interligado o espaço urbano ao espaço acadêmico,

onde o usuário é convidado a adentrar o recinto; o Prédio de

Vidro abre seu espaço a cidade, mas interrompe a entrada ao

espaço acadêmico a partir da segmentação entre acadêmico

e convivência. Esta segregação pode ser atribuída ao fato da

proposta de auditório que não foi construída, onde o térreo

teria um outro uso, além da área de convívio entre os alunos.

Mas o que se pode concluir, é que nos dois projetos o

partido adotado para o espaço universitário decorre dos

ideais políticos e acadêmicos que os arquitetos guardam da

Academia. Ambos tiveram sua vida profissional ligada a área

acadêmica, foram professores e buscaram estruturar o

Ensino de Arquitetura e Urbanismo nas universidades em

que atuaram. Desta forma, o projeto não é apenas a

representação do seu design, mas um conjunto de aspirações

decorrente da produção de cada arquiteto, podendo ser

considerados a síntese da relação arquitetônica à proposta

de ensino.

E retomando a questão principal desta pesquisa, só

foi possível chegar a esta conclusão a partir do conhecimento

205

da História do projeto, seus elementos arquitetônicos, sua

construção e a forma como vem sendo utilizado; bem como

entender a trajetória do arquiteto, a postura da Universidade

Anhembi Morumbi e como a evolução de seu patrimônio

arquitetônico proporcionou a oportunidade de construção do

Prédio de Vidro.

PROPOSTA PARA FUTUROS TRABALHOS

A trajetória da Universidade Anhembi Morumbi

apresenta uma relação rica com a arquitetura, onde é

possível identificar a preocupação da instituição com

questões não só acadêmicas, mas sociais e urbanas. Talvez

esta preocupação seja decorrente de ter a frente da reitoria

um arquiteto urbanista, que mesmo empresário do ensino,

sempre demonstrou aos que o conhecem, a preocupação

com a História, haja visto seus discursos em cerimônias

institucionais e na publicação de seu livro narrando a

fundação do primeiro curso de graduação em Turismo.

Apesar do interesse da Instituição e da boa vontade

dos que participaram para a elaboração deste trabalho,

pode-se concluir que muito ainda precisa ser feito para

documentar o percurso desta instituição.

Algumas dificuldades foram enfrentadas neste

estudo a fim de colher material para análise, tais como

documentos, datas e projetos das construções. Parte do

material produzido pelas construções da universidade

encontra-se perdido no arquivo morto ou foram excluídos

destes arquivos, solicitado a catalogação e arquivamento

adequado em local próprio para consulta, como a própria

biblioteca da universidade.

Muito do material aqui apresentado é decorrente de

depoimentos de pessoas que trabalham ou trabalharam com

a Instituição, sendo que algumas ainda ficaram de

encaminhar seus depoimentos. A documentação fotográfica

dos primeiros anos da universidade e da obra foi adquirida

junto ao acervo da universidade nos departamentos de

marketing, obras e reitoria; e da construtora do Prédio de

Vidro. Poucos documentos foram conseguidos a partir do

departamento de projetos e obras e biblioteca.

Foram entrevistados o arquiteto, reitor, funcionários

e ex-funcionários, alunos e ex-alunos que sempre tinham

206

algo a acrescentar que não faz parte dos arquivos da

Instituição.

Desta forma, e diante da riqueza de material que se

pode produzir, narrando a trajetória da instituição, o

desenvolvimento do patrimônio arquitetônico da

universidade e da relação urbana com a ocupação de espaços

da cidade pelo Ensino Superior, a pesquisadora sugere que se

inicie um processo de memória da Universidade Anhembi

Morumbi, com intuito de resguardar suas conquistas

arquitetônicas e educacionais, evidenciando o seu processo

de gestão institucional, que vivenciou um período familiar e

agora apresenta uma administração multinacional,

apontando outras Histórias tão promissoras e que carecem

ser contadas.

207

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Paulo, 2009.

PETRACCO, Francisco L.M. Arquitetura: Desenho,

estrutura e ritmo – Tese de Doutorado –

Universidade de São Paulo, 2004

211

ANEXOS

ANEXO 1 - RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS

(EM ORDEM ALFABÉTICA)

Gabriel Mário Rodrigues

Reitor da Universidade Anhembi Morumbi

Francisco Petracco Arquiteto autor do projeto

Ana Lydia Faria Assistente/ estagiária no projeto da Unidade 6

Deise Marques Araújo

Arquiteta, autora dos projetos Unidade 5 e 7 Do Campus Vila Olímpia; Edifício Jardim no Campus Morumbi e Adequação dos imóveis dos Campi Centro e Morumbi para uso acadêmico

Delduque Oliveira Martins

Diretor administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, durante a obra do Prédio de Vidro

Eduardo Sobrosa

Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro

Francisco Petracco Arquiteto autor do projeto

Jair Barreto

Coordenador de Manutenção – Conservação predial

Glauco Humberto Fioritti Gerente de Projetos e Obras

José Leôncio Coordenador de Manutenção – Conservação do patrimônio

Leonardo Lenharo Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6

Luis Araujo Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6

Luiz Fernando Crepaldi Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6

Lucilene Santos Funcionária do Marketing – área de reconhecimento

Rosângela Albuquerque Coordenadora do Departamento Pedagógico

Wilson Mello Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro

Alunos Alunos usuários do espaço

Professores Professores usuários do espaço

Funcionários Funcionários usuários do espaço – segurança, limpeza, administrativo

212

ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975

ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975 Legislação - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975

Estabelece condições de localização, aproveitamento, ocupação e recuos para edificações destinadas a estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e aos estabelecimentos de educação infantil. (Alterada) Complementada pelas LM 8.769/78 e 9.094/80 Mantidas as disposições pela LM 13.885/04 Ver DM 45.726/05 - Retificado DOM 14/03/85 - já anotado MIGUEL COLASUONNO, Prefeito do Município de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por lei. Faço saber que a Câmara Municipal, em sessão de 28 de fevereiro de 1.975, decretou e eu promulgo a seguinte lei: Art. 1º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil são enquadrados nas categorias de uso E1, E2 e E3, definidas pela Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, devendo obedecer a todas as exigências fixadas para essas categorias de uso, bem como as exigências da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, excetuando-se o estabelecido por esta lei. Art. 2º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil poderão instalar-se nas zonas de uso constantes do Quadro anexo, de acordo com todas as exigências nele fixadas quanto à área mínima de terreno, coeficiente de aproveitamento máximo, taxa de ocupação máxima, recuos mínimos obrigatórios, área destinada a estacionamento, embarque, desembarque e manobras de veículos e demais exigências desta lei. Art. 3º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de

educação infantil regularmente instalados até a data da publicação desta Lei, em qualquer zona de uso, exceptuando-se as zonas Z-1 e os corredores de uso especiais Z8-CR1 quando a área construída já tenha ultrapassado as exigências estabelecidas no Quadro anexo, poderão ser objeto de ampliação, desde que atendendo às seguintes condições:

I - seja motivada por necessidades técnicas devidamente comprovadas e justificadas pelo órgão competente para a fiscalização dos estabelecimentos de ensino; II - receba parecer favorável da Comissão de Zoneamento, que poderá, em caráter excepcional, adotar critério diverso do estabelecido nas colunas B, C, D e E do Quadro anexo; III - a área a ser edificada não ultrapasse a 20% da construção existente; IV - as novas partes edificadas que se beneficiarem das disposições deste artigo deverão atender às exigências das colunas H e I do Quadro anexo.

Art. 4º - Quando no imóvel de localização do projeto do estabelecimento de ensino pertencente ao sistema educacional do Estado de São Paulo ou estabelecimentos de educação infantil houver áreas arborizadas de valor paisagístico ambiental, a critério da Prefeitura e mediante acordo formal com esta, em que os proprietários e seus sucessores se responsabilizem pela sua total preservação e manutenção, a área edificada resultante da aplicação dos coeficientes fixados no Quadro anexo poderá ser acrescida de área igual à área arborizada a ser preservada. Parágrafo único - O acréscimo de áreas a que se refere o "caput" deste artigo destinar-se-á exclusivamente a instalações escolares. Art. 5º - Os estabelecimentos de educação infantil, bem como os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, poderão se instalar em imóveis localizados em zonas de uso Z-1, desde que:

213

I - numa faixa de 250 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a qualquer outra zona de uso onde são permitidos os usos objeto desta lei; II - numa faixa de 500 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a outro estabelecimento escolar de mesmo grau de atendimento; III - o interessado obtenha a anuência expressa, devidamente firmada e registrada em Registro de Títulos e Documentos, de todos os proprietários limítrofes ao imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento, bem como de, pelo menos, dois-terços dos proprietários dos imóveis que tenham mais de 50% de sua área contida numa faixa de 100 metros de largura envolvendo o imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento escolar; IV - não será permitida a derrubada ou a remoção de nenhuma árvore sem prévia autorização da Administração Municipal. § 1º - A largura das faixas a que se refere este artigo poderá ser alterada, a critério da Comissão de Zoneamento, quando atingirem obstáculos de transposição impossível ou difícil. § 2º - Para efeito do disposto no item II deste artigo, será considerada a ordem cronológica de entrada do pedido de licença ou de funcionamento ou de aprovação de projeto para cada Administração Regional, separadamente. Art. 6º - Os estabelecimentos de educação infantil e os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, regularmente instalados anteriormente à vigência da Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, ou da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, em zonas que passaram à categoria de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1, deverão atender apenas

às disposições do item IV do artigo 5º e admitindo-se exclusivamente as reformas essenciais à segurança e higiene das edificações, instalações e equipamentos. Parágrafo único - No caso de reforma com aumento de área construída, será considerado como um projeto novo, devendo atender integralmente ao disposto nesta lei. Art. 7º - Aos estabelecimentos de ensino ou de educação infantil instalados em zonas de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1 em situação irregular na data da publicação desta lei, que não puderem atender o que ora é estatuído, fica estabelecido que após o encerramento do atual ano-letivo será aplicado o disposto no Capítulo VI do Decreto 11.106 de 28 de junho de 1974. Art. 8º - Para atender às exigências de vagas para estacionamento de veículos previstas no Quadro anexo, poderá ser utilizado um outro imóvel localizado a uma distância máxima de 100 metros, mediante a vinculação desse imóvel com o estabelecimento de ensino. Parágrafo único - As disposições deste artigo não se aplicam às zonas de uso Z-1. Art. 9º - Não se aplica o disposto no artigo 24 da Lei nº 7.805, de 1 de novembro de 1972, aos estabelecimentos de ensino que se beneficiarem com o estatuído nesta lei. Art. 10 - As edificações que, ao utilizarem os benefícios desta lei, ultrapassarem aos valores máximos permitidos para a zona de uso em que se localizam, não poderão ter outra destinação que não as objeto desta lei. Art. 11 - A aplicação dos benefícios desta lei às zonas de uso especial Z-8 fica a critério da Comissão de Zoneamento da Coordenadoria-Geral de Planejamento – COGEP. (Ver Res. SEMPLA/CZ 82/82)

214

Art. 12 - Os novos estabelecimentos de ensino objeto desta lei, que se instalarem em imóveis lindeiros a vias que integrem o sistema de vias expressas ou o sistema de vias arteriais do Município, não poderão se beneficiar desta lei. Art. 13 - Publicado pelo Presidente da Câmara e pelo Prefeito, faz parte integrante desta lei o Quadro anexo. Art. 14 - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 6 de março de 1975, 422º da fundação de São Paulo

O PREFEITO, MIGUEL COLASUONNO O Secretário de Negócios Internos e Jurídicos, THEÓPHILO ARTHUR DE SIQUEIRA CALVACANTI FILHO O Secretário das Finanças, KLAUS DIETMAR ALVAREZ. Respondendo pelo Expediente O Secretário de Obras, IVAN LUBACHESCKI O Secretário Municipal da Educação, ROBERTO FERREIRA DO AMARAL O Secretário dos Negócios Extraordinários, LUIZ MENDONÇA DE FREITAS Publicada na Chefia do Gabinete do Prefeito, em 6 de março de 1975. O Chefe do Gabinete, ERWIN FRIEDRICH FUHRMANN

215

ANEXO 4 - PLANO DE MELHORIAS Controlador com 08 planos compatíveis com equipamento existente no corredor Santo Amaro. Local: Av. Hélio Pellegrino X Praça Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte). 1) Controladores compatíveis com a rede proposta para a Vila Olímpia. Especificações Técnicas: - 08 fases veiculares;

- 02 fases para pedestres;

- trabalhar em rede;

- mínimo de 08 planos;

- acessibilidade à qualquer outro controlador similar ( para programação e leitura) Locais: - Av. Hélio Pellegrino X R. Nova Cidade

- Av. Hélio Pellegrino X R. Atílio Inocentti (acesso da R. Fiandeiras)

- R. Ribeirão Claro X R. Quatá

- R. Ribeirão Claro X R. Casa do Ator

- R. Ribeirão Claro X R. Gomes de Carvalho

- R. Ribeirão Claro X R. Cardoso de Melo

- R. Ribeirão Claro X Hélio Pellegrino 2) Deverão ainda ser implantados os seguintes equipamentos:

- Colunas semafóricas:

a) braços projetados: 10

b) colunas simples: 22

- Grupos focais:

a) para veículos: 21

b) para pedestre: 32 - Laços detetores (seções): 10

- Botoeiras para pedestres: 16

- Cabos elétricos (4 x 11/12”): 1.500 metros para ligações entre controladores e grupos focais. 3) Readequação da configuração geométrica do cruzamento da Av. Hélio Pellegrino com a Pça. Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte), a ser semaforizado, conforme Croqui nº 1 juntado às Fls. 99 à 101 do processo nº 1999-0243.453-3.

4) Deverá ser implantada e/ou revitalizada a sinalização horizontal e vertical dos cruzamentos indicados nos itens 01 e 02.

216

ANEXO 5 – ESTUDO DE VAGAS PARA ESTACIONAMENTO São Paulo, 12 de Julho de 2000. À CET Rua Jaques Felix, 66 – 6º andar São Paulo - SP Att.: Luis Fernando Corresp. N° 240/2000 Prezados Senhores, Conforme solicitação de V.S.ª encaminhamos documentação conforme processo nº 1999-0.243.453-3 de acordo com os documentos relacionados abaixo que seguem em anexo:

nº278; com a ROD estacionamentos para 160 vagas

de estacionamento;

conforme tabela a seguir:

Sem mais para o momento, Atenciosamente,

Sobrosa Melo e Silva Construtora e Engenharia Ltda.

Tr. Ubirassanga,35 - São Paulo - SP Fone 5561 7505 Fax 5561 7504

www.sobrosa.eng.br

217

ANEXO 6 – DISTRIBUIÇÃO DE SALAS EM USO ACADÊMICO NO

PERÍODO DE 2001 A 2011