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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FABÍOLA MARIALVA MARQUES
DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,
O PRÉDIO DE VIDRO
São Paulo 2011
FABÍOLA MARIALVA MARQUES
DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,
O PRÉDIO DE VIDRO
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Design, área de concentração em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Profa. Dra. Ana Mae Barbosa.
São Paulo 2011
M317d MARQUES, Fabíola Marialva
Design em diálogo no espaço universitário: A memória do Edifício Theatro Casa do Ator, o Prédio de Vidro / Fabíola Marialva Marques. - 2011 217f.;il.; 30 cm. Orientador: Ana Mae Barbosa Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011. Bibliografia: f. 207-210. 1.Design. 2. Memória. 3. Arquitetura. 4. Prédio de Vidro. 5. Universidade. I Título.
CDD 741.6
DEDICATÓRIA
Dedico este espaço para, mais do que agradecer, mandar aquele abraço a todos os amigos e os professores que confiaram nesta pesquisa, em especial a minha Banca – Ana Mae Barbosa, Maria Helena Flynn e Marcia Merlo, com grande consideração intelectual agradeço a atenção, dedicação e paciência ao contribuir com um pouco de todo conhecimento. Agradeço a todos aqueles que participaram da pesquisa, oferecendo apoio, respondendo a entrevista, deixando seu depoimento e disponibilizando seu tempo para contar uma boa história. Aquele abraço especial para o arquiteto Francisco Petracco, ao reitor Gabriel Rodrigues, Regina Ambrósio, Lucilene Casteliano Faria, Ricardo Centurione, Ailton Bernardes, Dr. Fabiano Laperuta, arquiteta Deise Marques Araujo, engenheiros Delduque Oliveira, Eduardo Sobrosa, Wilson Mello, Luis Araujo, Luiz Crepaldi, Leonardo Lenharo e meus eternos mestres, no curso de arquitetura da Universidade Anhembi Morumbi. Um abraço carinhoso a uma pessoa muito especial que tornou esta dissertação possível; Luciano Gilio, muito obrigada pelo apoio, dedicação, companheirismo e cumplicidade. Aquele abraço para a algumas pessoas especiais que estão sempre presente, Mã, Abu, Cláudio Lima, Melissa, por entender o processo, acompanharem os desafios e dificuldades que se vive ao fazer uma pesquisa, sempre oferecendo um ombro amigo nas horas mais difíceis. Aquele abraço, também, aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários, colegas que conheci, amigos que conquistei durante os 10 anos de Anhembi Morumbi e que sempre levarei no coração. E mesmo não podendo fazê-lo fisicamente, aquele abraço ao meu pai, distante;
mas sempre vivo e presente.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo traçar a trajetória da concepção
e uso do Prédio de Vidro, a Unidade 6 da Universidade Anhembi Morumbi,
situado na Rua Casa do Ator, nº 275, do Campus Vila Olímpia.
A Universidade Anhembi Morumbi nasce em 1971 a partir da iniciativa
de um pequeno grupo de engenheiros e arquitetos do estado de São Paulo
locados no Departamento de Obras Públicas liderados por Gabriel Mário
Rodrigues, onde iniciam suas atividades em uma única edificação no Bairro do
Morumbi abrigando o curso de Turismo com quatro turmas de 90 alunos. Em
1978, transfere-se para o Bairro da Vila Olímpia, expandindo-se posteriormente
para os Bairros do Brás, Centro, Brooklin e Bela Vista, totalizando cinco Campi.
Atualmente, 40 anos após sua fundação, transformou-se em uma universidade
com aproximadamente 32.000 alunos distribuídos em quinze edificações,
oferecendo 104 cursos entre graduação, pós-graduação, graduação tecnológica e
graduação executiva. A partir de 2005, passa a integrar a Rede Internacional de
Universidades Laureate presente em 28 países.
Diante de tal contexto, esta pesquisa propõe resgatar, através de
documentos e testemunhos, a história do primeiro edifício da Instituição
concebido para ser um espaço universitário, contrariando as adaptações em
espaços fabris já existentes no tecido urbano, que fazia até 2001. É uma tentativa
de resgatar uma parte da Memória da Universidade Anhembi Morumbi contada a
partir de sua arquitetura, bem como identificar aspectos interpretativos deste
espaço acadêmico, decodificar sua obra, entender seu design estabelecido e
identificar elementos que possibilitem o significado de sua forma.
Palavras-chave: Design. Memória. Arquitetura. Prédio de Vidro. Universidade.
ABSTRACT
This paper aims to trace the trajectory of the design and use of Prédio de
Vidro, Unit 6 at Anhembi Morumbi University, located at Actor House Street, nº.
275, Vila Olímpia Campus.
The University Anhembi Morumbi born in 1971 on the initiative of a
small group of engineers and architects of the Sao Paulo state leased at the
Department of Public Works led by Gabriel Mario Rodrigues, which begin their
activities in a single building in the neighborhood of Morumbi harboring Tourism
course with four classes of 90 students. In 1978, he moved to the district of Vila
Olímpia, expanding later to the neighborhoods of Bras, Downtown, Brooklyn and
Bela Vista, totaling five campuses. Today, 40 years after its founding, became a
university with approximately 32,000 students distributed in fifteen buildings,
offering 104 courses from undergraduate, graduate, undergraduate and graduate
technology executive. Starting in 2005, joins the Laureate International Network
of Universities in 28 countries.
Given this context, this research proposes to redeem, through
documents and testimony, the history of the institution's first building designed
to be a university area, contrary to the adaptations in existing manufacturing
spaces in the urban fabric, which was until 2001. It is an attempt to rescue a part
of the Memory Anhembi Morumbi told from its architecture, and identify
interpretive aspects of academic space, decode his work, understand and identify
established design elements that enable the significance of its shape.
Keywords: Design. Memory. Architecture. Prédio de Vidro. University.
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Reitor
Gabriel Mário Rodrigues
Vice-reitor
Ricardo Grau
Pró-reitora
Josiane Tonelotto
Coordenação de Mestrado em Design
Jofre Silva
Corpo Docente (2011)
Agda Regina de Carvalho
Ana Mae Barbosa
Cristiane Ferreira Mesquita
Gisela Beluzzo de Campos
Jofre Silva
Luisa Paraguai
Márcia Merlo
Rachel Zuanon
Rosane Preciosa
Corpo Docente (2009-2011)
Kátia Castilho
Maria Izabel Ribeiro
Maria Lúcia Bueno
Mônica Moura
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Ana Mae Barbosa
Orientadora
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Márcia Merlo
Professora convidada Interna
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Maria Helena de Moraes Flynn
Professora convidada Externa
Universidade Católica de Santos
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 14
INTRODUÇÃO 15
CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA 25
1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA 25
1.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL 29
1.3 A UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI 37
CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO 83
2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6 83
2.2 UM POUCO SOBRE O ARQUITETO 93
2.3 A ARQUITETURA 118
2.3.1 O DESENHO 118
2.3.2 A ESTRUTURA 142
2.3.3 O RITMO 153
2.4 A CONSTRUÇÃO 165
CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL 188
O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM 188
A ESCOLA ABERTA 194
CONSIDERAÇÕES FINAIS 202
PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 205
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 207
ANEXOS 211
APRESENTAÇÃO 14
INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA 2
1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA 25
CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO 83
2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6 83
CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL 188
O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM 188
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 207
ANEXOS 211
CONSIDERAÇÕES FINAIS 202
PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 205
ANEXOS 211ANEXOS 211
Figura 1 – Implantação do Prédio de Vidro – Desenho do Complexo Theatro, no
Campus Vila Olímpia, com a fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua
Casa do Ator, sobre recorte do Bairro Vila Olímpia no mapa GEGRAN, de 1974.
Fonte: Acervo Pessoal da Autora
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Implantação do Prédio de Vidro 10
Figura 2 Complexo Theatro 19
Figura 3 Estabelecimento de campus no estrangeiro 33
Figura 4 McDonaldização da Educação Superior 34
Figura 5 Programas conjuntos 34
Figura 6 Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi 36
Figura 7 Capa do livro "Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda" 37
Figura 8 Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi 39
Figura 9 Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo 40-42
Figura 10 Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi 43
Figura 11 Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi 45
Figura 12 Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo 45
Figura 13 Fachada principal do Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia 46
Figura 14 Informativo Faculdade Anhembi Morumbi 47
Figura 15 Logotipo das Instituições 47
Figura 16 Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi 48-49
Figura 17 Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: 50
Figura 18 Semana Brasileira de Moda 51
Figura 19 Laboratório específico de gastronomia 54-55
Figura 20 Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde 54-55
Figura 21 Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi 56-57
Figura 22 Antiga sede da Alpargatas 59
Figura 23 Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá 62
Figura 24 Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997 63
Figura 25 Mapa de localização do Campus Centro 64
Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 61
Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 61
Figura 28 Projeto do Campus Centro 62
Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 65
Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 65
Figura 28 Projeto do Campus Centro 66
Figura 29 Implantação atual do Campus Centro 67
Figura 30 Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia 69
Figura 31 Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 70
Figura 32 Fachada do Campus Vale do Anhangabaú 71
Figura 33 Fachada principal do Campus Morumbi 72
Figura 34 Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi 72
Figura 35 Mapa do Campus Morumbi 73
Figura 36 Fachada do Complexo Theatro 74
Figura 37 Fachada do Complexo Theatro 75
Figura 38 Evolução urbana do Campus Vila Olímpia 76-77
Figura 39 Fachada lateral do Complexo Theatro 78
Figura 40 Informe publicitário Folha de São Paulo: 79
Figura 41 Laboratório de Simulação do curso de Medicina 80
Figura 42 Fachada do Campus Avenida Paulista 80
Figura 43 Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi 81
Figura 44 Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi 81
Figura 45 Mapa de uso e ocupação do solo da Regional de Pinheiros 83
Figura 46 Francisco Colman 85
Figura 47 Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275 88
Figura 48 Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro 90
Figura 49 Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro 90
Figura 50 Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6 91
Figura 51 Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6 92
Figura 52 Francisco Petracco 93
Figura 53 Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo 95
Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 92
Figura 55 Clube XV de Santos 92
Figura 56 Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina 93
Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 96
Figura 55 Clube XV de Santos 96
Figura 56 Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina 97
Figura 57 Palácio da Justiça de Santa Catarina 97
Figura 58 Residencia Cláudio Morelli 98
Figura 59 Residencia Vicente Izzo 98
Figura 60 Residencia Pedro Marrey 98
Figura 61 Edifícios residências 98
Figura 62 Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz 99
Figura 63 Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê 100
Figura 64 Projeto para Palácio das Nações 101
Figura 65 Projeto Escola Museu, Jundiaí 102
Figura 66 Escola Gomes Cardim 102
Figura 67 Jardim Santo Inácio 104
Figura 68 Jardim Santo Inácio 104
Figura 69 Escola Poá 105
Figura 70 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago - 1º projeto 107
Figura 71 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108
Figura 72 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108
Figura 73 Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro 111
Figura 74 Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro 112
Figura 75 Distribuição atual do Campus Centro 113
Figura 76 Mapa do Campus Centro 114
Figura 77 Compatibilização dos projetos para o Campus Centro 115
Figura 78 Fachada da Unidade 6 116
Figura 79 Ata de reunião de 10 de junho de 1999 117
Figura 80 Croqui da Unidade 6 118
Figura 81 Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro 122
Figura 82 Pavimento tipo da Unidade 6 124
Figura 83 Pavimento tipo da Unidade 7 124
Figura 84 Pavimento tipo da Unidade 5 125
Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 122
Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 122
Figura 87 Unidade 05, projeto de 2005. 123
Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 126
Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 127
Figura 87 Unidade 05, projeto de 2005. 127
Figura 88 Átrio Central 128
Figura 89 Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência 129
Figura 90 Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. 130
Figura 91 Circulação vertical 131
Figura 92 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 132
Figura 93 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 133
Figura 94 A espiral do Conhecimento. 134
Figura 95 Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. 135
Figura 96 Evolução do Prédio de Vidro 138-139
Figura 97 Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001 141
Figura 98 Fachada frontal do Prédio de Vidro 142
Figura 99 Corte esquemático da concepção estrutural 144
Figura 100 Croqui com medidas 145
Figura 101 Fachada esquemática da concepção estrutural 146
Figura 102 Corte esquemático da concepção estrutural 146
Figura 103 Detalhamento do piso de Steel Deck 147
Figura 104 Detalhe de conexões nas treliças 148
Figura 105 Sala de aula padrão 150
Figura 106 Projeto do Auditório no Prédio de Vidro 155-156
Figura 107 Capela de São Judas Tadeu 157
Figura 108 Capela de São Judas Tadeu, vista externa 158
Figura 109 Capela de São Judas Tadeu, vista interna 159
Figura 110 Esplanada do Complexo Theatro 160
Figura 111 Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. 162
Figura 112 Proporções arquitetônicas 164
Figura 113 Cliente Astra Zeneca 166
Figura 114 Cliente EFACEC do Brasil Ltda 166
Figura 116 Pedra Fundamental 166
Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 167
Figura 115 Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro 167
Figura 116 Pedra Fundamental 170
Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 171
Figura 118 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 172-173
Figura 119 Cápsula do Tempo 174-175
Figura 120 Capela São Judas Tadeu 176
Figura 121 Arquiteto Francisco Petracco 177
Figura 122 Coração Solar do Prédio de Vidro 178
Figura 123 Cobertura de vidro. 179
Figura 124 Construção do Prédio de Vidro 180-181
Figura 125 Construção do piso do Prédio de Vidro 182-183
Figura 126 Fachada do Prédio de Vidro em construção 184-185
Figura 127 Fachada do Prédio de Vidro 186
Figura 128 Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração” 187
Figura 129 Acabamento do piso 189
Figura 130 Impactos estéticos por falta de manutenção 190 - 191
Figura 131 Rebaixo do piso 192
Figura 132 Iluminação da escada do Prédio de Vidro 193
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Intervenções arquitetônicas da AOP 17
Tabela 2 Histórico arquitetônico das Universidades realizados por Pinto e Buffa (2006) 26
Tabela 3 Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi 53
Tabela 4 Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi 60-61
Tabela 5 Quadro único anexo a LEI Nº 8.211 89
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus 53
Gráfico 2 Número de salas de aula por Campus 54
Gráfico 3 Número de laboratórios de informática por Campus 54
Gráfico 4 Número de laboratórios específicos por Campus 54
Gráfico 5 Relação de funcionários na AOP 76
Gráfico 6 Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu 157
14
APRESENTAÇÃO
Durante o colegial em Alfenas, os professores
comentavam a diferença no desempenho dos estudantes de
ensino médio em cidades com universidade; diziam que este
tipo de instituição era um elemento muito marcante no
contexto social e urbano, e assim um estímulo para os
estudantes que também gostariam de vivenciar as
experiências universitárias.
Particularmente, a convivência era muito
estimulante. Como era amiga de Viviane Velano, realizava os
estudos acadêmicos no gabinete da reitoria da Unifenas, e a
frequência dentro dos espaços universitários só aumentavam
o desejo de participar deste universo acadêmico.
Em 2001, após ter cursado um ano na faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Alfenas, solicitei
a transferência para a Universidade Anhembi Morumbi, na
qual fui convidada a trabalhar no departamento de
Assessoria a Obras e Projetos (AOP). Trabalhei neste
departamento por 10 anos, acompanhando as mudanças e o
desenvolvimento do espaço físico da universidade,
participando de alguns processos de reconhecimento e
recadastramento de cursos da Universidade Anhembi
Morumbi, regularização dos imóveis junto à Prefeitura da
Cidade de São Paulo e desenvolvimento e implantação de
novos espaços acadêmicos que se apresentavam desde salas
de aula até laboratórios específicos das faculdades em
cursos① tradicionais a inovadores.
Em janeiro de 2011, desliguei-me da AOP para me
dedicar aos estudos acadêmicos e a docência. Embora a
mudança na área de atuação profissional, a área universitária
sempre foi muito presente e marcante na minha trajetória, o
que levou a instigar questões relacionadas aos projetos de
espaços universitários.
Os anos de convivência e experiência dentro da
Universidade Anhembi Morumbi conduziram-me a uma
pesquisa sobre o espaço da Instituição. Esta que me acolheu
como aluna de graduação e pós-graduação, funcionária da
área administrativa e, atualmente, como funcionária da área
acadêmica como professora. Esta experiência proporcionou
um olhar diferenciado sobre seu espaço acadêmico, que não
é construído com fins estritamente acadêmicos, mas também
considera aspectos econômicos, sociais, jurídicos, culturais e
comerciais.
Alfenas é uma cidade no sul
do Estado de Minas Gerais
com economia agropastoril
voltada para o café;
contudo é conhecida por
suas duas universidades: A
Universidade Federal de
Alfenas (UNIFAL) e a Uni-
versidade de Alfenas – José
do Rosário Vellano
(UNIFENAS).
Viviane Araújo Velano
Cassis (1981), filha de Edson
Antônio Velano (1943-
2008), fundador da
Unifenas. Atualmente é Pró-
reitora de Planejamento e
Desenvolvimento da Uni-
versidade de Alfenas.
1. Ver anexo da relação de
cursos oferecidos pela
Universidade Anhembi
Morumbi.
15
INTRODUÇÃO
Segundo portal do Ministério da Educação e Cultura
(MEC), para uma Instituição de Ensino Superior (IES) iniciar
suas atividades, deve solicitar seu credenciamento de acordo
com sua organização acadêmica. O credenciamento, com as
prerrogativas de autonomia, depende de ter um
funcionamento regular e um padrão satisfatório de
qualidade. O recredenciamento da IES deve ser solicitado ao
final de cada ciclo avaliativo do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior (Sinaes); que avalia
instituições, cursos e desempenho dos estudantes por meio
de processos coordenados pela Comissão Nacional de
Avaliação da Educação Superior (Conaes).
Num processo de avaliação da IES, são considerados
aspectos como o ensino, pesquisa, extensão,
responsabilidade social desenvolvido pela instituição, gestão
da instituição, seu corpo docente e discente. O espaço físico
é avaliado dentro de um indicador de instalações físicas,
como exigência mínima para avaliação e funcionamento de
um curso de graduação.
Esta premissa leva a crer que a proposta
arquitetônica deve privilegiar ambientes da tríade
educacional: ensino, pesquisa e extensão; bem como demais
espaços auxiliares que possibilitem seu funcionamento.
Desta forma, para abrir um curso, por exemplo, a
Comissão de Especialista de Ensino pelo MEC, estabelece
uma infraestrutura básica para abertura e funcionamento e
exige a existência de espaços, que podem ser construídos e
adaptados pela IES, ou, ainda, podem ser utilizados em
parceria ou convênio com outras instituições. Contudo,
apesar de definir os ambientes necessários, não estabelece
diretrizes para um plano qualitativo deste espaço, ficando a
cargo da Instituição definir a infraestrutura que lhe melhor
convém.
A Assessoria de Obras e Projetos (AOP) responsável pelas
intervenções, de caráter educacional, nos imóveis adquiridos
pela Universidade Anhembi Morumbi, atende essas diretrizes
de infraestrutura solicitadas pelo MEC, de três formas
distintas:
1. Novas construções: Dependendo da necessidade
acadêmica, o número de salas ou localidade distinta dos
campi existentes e do porte da construção, a universidade
contrata um projeto arquitetônico para suas instalações, o
qual será a tradução da ideia que o arquiteto julga ser
necessário para atender a demanda solicitada. O projeto
16
contratado terá a imagem moldada a partir de um briefing
da instituição e de como o espaço se manifesta para o seu
idealizador; culminando na construção de um novo
edifício;
2. Implantação de novo Campus: Em caso de um edifício já
consolidado que atenda a necessidade acadêmica e a
localidade, a universidade ora contrata um projeto
arquitetônico, ora desenvolve junto ao AOP a adaptação
dos espaços, traduzindo as exigências acadêmicas ao
espaço a ser modificado para o novo uso;
3. Adaptação de edifícios existentes: Quando a universidade
já apresenta o espaço físico dentro da própria instituição,
o ambiente é adaptado de acordo com as novas
necessidades acadêmicas pela própria AOP.
Além da construção de novos espaços, a Anhembi
Morumbi, mantém parcerias e convênios de espaços físicos,
buscando em outras Instituições, públicas ou privadas, a
locação de infraestrutura que complementem suas
instalações atendendo as exigências acadêmicas do seu
curso; por exemplo, a parceria em laboratórios do Instituto
de Pesquisa e Tecnologia (IPT) da Universidade de São Paulo
(USP) para cursos nas áreas de Engenharias e tecnologias; ou
ainda convênios com Hospitais para estágios acadêmicos em
cursos da área da Saúde. Em ambos os casos, os principais
motivos de convênio ou parceria acontecem devido à
complexidade da infraestrutura e o custo dos equipamentos
para montagem de um espaço que será utilizado
eventualmente durante o curso.
Embora a AOP desenvolva espaços de acordo com as
diretrizes de infraestrutura básica estabelecida pelo MEC, a
construção de um edifício acadêmico é resposta, não só de
uma proposta arquitetônica, mas também dos anseios da
Instituição.
As diferenças encontradas nas edificações de Ensino
Superior traduzem o posicionamento adotado pelas
Universidades dentro do Cenário Educacional e,
consequentemente, a proposta em investimento de suas
infraestruturas; sujeitando o projeto à ação de valorização e
desvalorização de seu ambiente, sob o aspecto físico,
influenciando em seu reconhecimento simbólico.
Esta diferenciação, encontrada nas edificações da
Universidade Anhembi Morumbi, evidencia aspectos
acadêmicos, econômicos, sociais, jurídicos, culturais e
comerciais da Instituição; o que instigou a realização desta
pesquisa.
17
FORMA DE INTERVENÇÃO CAMPUS EXEMPLO
1
NOVAS CONSTRUÇÕES
Campus Vila Olímpia
(Unidade 5, Unidade6 e Unidade7)
Campus Morumbi – Edifício Jardim
Campus Vila Olímpia – Ginásio da Unidade 5 Campus Morumbi – Edifício Jardim
2
IMPLANTAÇÃO DE NOVO CAMPUS
Campus Centro
Campus Morumbi – Galpão
Campus Vale do Anhangabaú
Campus Avenida Paulista
Campus Avenida Paulista Campus Morumbi – Galpão
3
ADAPTAÇÃO DE EDIFÍCIOS
EXISTENTES
Campus Vila Olímpia
(Unidade1 e Unidade 9)
Adaptações Gerais
Campus Vila Olímpia – Unidade 9 Campus Vila Olímpia – Unidade Gastronomia Graduação Executiva
Tabela 1 – Intervenções arquitetônicas da AOP – Exemplos dos tipos de intervenções arquitetônicas realizadas pela AOP nos imóveis adquiridos pela Universidade Anhembi Morumbi com intuito
de atender as diretrizes de infraestrutura solicitadas pelo MEC, desenvolvendo ambientes para fins acadêmicos.
Fonte: Tabela elaborada pela autora
18
ABORDAGENS DO PROBLEMA
Para Kahn, em Giurgola e Mehta (1994), a vontade
de expressão do homem é a razão de ser do indivíduo, sendo
que cada gesto é um signo. As Instituições são carregadas
destes signos, sendo que “muitas vezes, essas edificações são
concebidas como recintos cercados por paredes sólidas que
não deixam adivinhar a flexibilidade das circulações internas,
disposições que correspondem, no interior, à necessidade de
reclusão e, no exterior, à expressão simbólica”.
Contudo, nem sempre a proposta que o arquiteto faz
para um espaço seduz seu usuário. Isto por que os signos
físicos projetados precisam ser apropriados por quem os
vivencia. O usuário em contato com o edifício, percorre-o
identificando, vivenciando e (re) conhecendo os significados
pessoais que cada ambiente e elemento lhe transmitem,
podendo apropriar-se ou rejeitar este lugar.
A consolidação do projeto universitário em um
edifício e a forma como ele é reconhecido, conduziu a
seguinte questão: “quais fatores contribuem para que se
reconheça o partido arquitetônico e identifique o espaço
acadêmico de uma Universidade?”.
Como esta é uma questão ampla, procurou-se focar
em um estudo de caso do Edifício Theatro Casa do Ator,
conhecido como Prédio de Vidro, no Campus Vila Olímpia da
Universidade Anhembi Morumbi, a fim de conseguir
identificar, a partir de uma análise de sua trajetória, desde o
processo criativo do arquiteto aos valores simbólicos da
arquitetura, a história por trás de seu design. Acredita-se que
as memórias nas edificações da Instituição traduzem a
História da Universidade Anhembi Morumbi, seu processo
para a posição de destaque no cenário educacional, como
resposta a seus objetivos de crescimento, seu planejamento
estratégico na distribuição dos Campi na malha urbana e as
dificuldades e resultados alcançados na concepção e
implantação de seus cursos. E, ainda, que a interpretação dos
usuários de seus espaços esteja intimamente ligada ao
repertório sociocultural e satisfação com a Instituição como
um todo, seja por sua infraestrutura, como também por
questões acadêmicas e institucionais.
19
HIPÓTESE
A hipótese identificada para esta pesquisa foi:
Analisando a trajetória arquitetônica do Edifício
Theatro Casa do Ator da Universidade Anhembi Morumbi,
conhecido como Prédio de Vidro, é possível identificar
elementos arquitetônicos, com base nos aspectos históricos
e simbólicos, que contribuem para que o usuário deste
espaço reconheça e identifique o ambiente acadêmico.
A memória do Prédio de Vidro evidencia a presença
destes elementos na arquitetura desde o projeto, passando
pela construção, a manutenção até o uso do espaço
acadêmico.
OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem como objetivo investigar a
memória do Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da
Universidade Anhembi Morumbi, conhecido como Prédio
de Vidro, buscando identificar os elementos arquitetônicos
de seus ambientes que representem a atividade-fim que é
ser um espaço universitário.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Analisar o contexto físico, econômico, político e cultural
em que se enquadra a Universidade Anhembi Morumbi;
Identificar o partido arquitetônico e o processo criativo
do arquiteto Francisco Petracco para o Prédio de Vidro;
Identificar os motivos das diferenças entre projeto e
construção;
Analisar quais elementos o usuário percebe no espaço.
Figura 2 - Complexo Theatro
– Unidade 6 e 7 do Campus
Vila Olímpia, fachada
frontal do Prédio de Vidro,
frente para a Rua Casa do
Ator, com totem de
identificação da unidade
em primeiro plano, seguido
pelo Prédio de Vidro e ao
fundo a Unidade 7.
Fonte: Acervo Universidade
Anhembi Morumbi
20
INSTRUMENTAL TEÓRICO
A partir de 1960, diante dos questionamentos sobre
a Arquitetura Moderna e sua funcionalidade, a subjetividade
no ato de projetar passa a ser questionada. Começa-se a
avaliar a pré-existência ambiental do projeto, suas relações
com o lugar, seu entorno; o importante papel da História e a
Tradição na arquitetura; as relações antropológicas e
psicológicas com a arquitetura, de forma a analisar como as
pessoas percebem e interagem com o espaço.
Para Harvey (2005), as práticas espaciais são providas
de sutilezas e complexidades estreitamente implicadas em
processo de reprodução e de transformação das relações
sociais e as generalidades dos seus usos. Harvey tenta
explicar esta complexidade em uma grade de práticas
espaciais em três estágios: o vivido, o percebido e o
imaginado.
Nojima (1999) classifica os aspectos comunicacionais
do espaço urbano, sob o ponto de vista de alguns teóricos
que apresentam noções de leitura e interpretação do espaço.
Sendo eles:
Lynch (1982) propõe que o repertório cultural e a
percepção sensorial que o observador tem, faz com que
ele leia as relações e distinções sugeridas pelo meio.
Santos (1985) estabelece como método de
análise do espaço, a investigação sobre a função que os
elementos compõem dentro de um ambiente urbano.
Sendo que a leitura e a interpretação do meio ambiente
aconteçam devido à percepção e interação dos elementos
observados dentro de um contexto de tempo e lugar.
Cullen (1984) define visão serial como a sucessão
de súbitas revelações ou surpresas percebidas pelo
usuário no decorrer do percurso. E indica que a leitura e
interpretação do ambiente urbano conceituam o local e o
conteúdo, isto inter-relacionado a termos como:
individualização da paisagem; identificabilidade por
elementos e identificabilidade por tradição funcionalista,
temas elaborados por ele.
Rapoport (1978) aborda o cunho psicológico do
meio ambiente construído como possibilidade de
comunicação não verbal, possibilitada pela leitura de
signos que reconheceu na cidade. Implica três estágios de
inter-relação com o ambiente: conhecer, sentir e agir.
Ferrara (1988), analisa a leitura não verbal do
meio urbano a partir da semiótica, sugerindo uma Teoria
do espaço urbano composta de três vertentes: percepção,
leitura e interpretação do espaço urbano.
Também, é possível encontrar uma classificação
semelhante na área do Design. Norman (2004) divide a
21
prática do design em três níveis: o visceral, o
comportamental e o reflexivo. O autor estabelece uma
relação entre as ciências cognitivas e a visão sobre o lugar e
as emoções no design, sendo que a leitura e a interpretação
do meio ambiente acontecem devido à percepção e a
interação dos elementos observados dentro de um contexto
de tempo e lugar.
Ou ainda, Okamoto (2002) que busca compreender o
que o usuário de hoje vê e como interpreta a realidade, a
partir de seu comportamento e ideais, classificando o
processo criativo arquitetônico em dois elementos: os
objetivos e os subjetivos.
Embora termos distintos, em uma análise geral,
todos os teóricos dividem a leitura do espaço em três
momentos: o identificar, o vivenciar e o interpretar.
O identificar sendo a análise inicial que se faz, o
contato imediato. É um estado pré-consciente, anterior ao
entendimento do que é o gosto ou aversão ao projeto, está
relacionado à primeira impressão e aos cinco sentidos.
Implica em uma relação de observador e objeto observado.
O vivenciar é o percurso realizado por entre o
edifício. É uma primeira interação a partir do uso dos cinco
sentidos ao conhecimento da sensação evocado por ele.
Insinua a leitura do espaço e suas relações de forma
consciente, quando o observador analisa o objeto observado.
O interpretar é a leitura simbólica que orienta as
atividades e dá sentido com o uso. É quando os elementos
arquitetônicos são entendidos e, a partir de uma análise,
evocam sentimentos que completam os espaços com
imagens pessoais, causando emoções e tocando o imaginário
de quem usa. O observador reflete sobre o objeto observado
e dá a ele sentido e significado próprio.
Diante deste contexto, esta pesquisa buscou um
método para leitura do espaço universitário através da
análise arquitetônica do espaço e percepção gerada a partir
da interação dos usuários com o meio ambiente, através de
leituras dos textos Del Rio (1996) e Ricceur (2010).
O estudo sobre o espaço universitário baseou-se nos
conceitos históricos de Pinto e Buffa (2006) e Chistopher
Charle, Jacques Verger (1996).
A busca pela compreensão do design do espaço
universitário, entender qual a proposta de Educação no
Ensino Superior, baseou-se na leitura de textos de Onusic
(2009), Oliveira (2009), Morosini (2005), Wanderley (1988),
Lauanda (1987) e Minogue (1981), enquanto a história da
Universidade Anhembi Morumbi e do Prédio de Vidro
22
aconteceu através de depoimentos e pesquisa documental,
além da leitura de Rodrigues (2005).
METODOLOGIA ADOTADA
Para desenvolvimento deste trabalho, a primeira
parte constituir-se-á de uma pesquisa bibliográfica, com
revisão de literatura nas áreas de Arquitetura, Educação e
Design, referente às linhas de pesquisa sobre Universidade.
Além de livros, serão estudados e analisados pesquisas e
artigos desenvolvidos principalmente sobre a Universidade
Anhembi Morumbi.
Visualizando as várias opções de projeto universitário
e toda a sua complexidade, esta pesquisa utilizar-se-á de
estudo de caso de um projeto consolidado, sendo analisado o
Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da Universidade
Anhembi Morumbi, no Campus Vila Olímpia, projetado pelo
arquiteto Francisco Petracco. Uma universidade particular
que solicitou a construção de um edifício para expansão do
seu campus que resultou na edificação de um prédio em
vidro e aço, mas comumente conhecido como Prédio de
Vidro por seus funcionários e alunos, já demonstrando certa
identificação e reconhecimento do espaço.
Para a análise do edifício, foi considerada uma
pesquisa documental e entrevistas levando em consideração
as referências arquitetônicas adotadas pelo arquiteto,
definidas como: desenho, estrutura e ritmo. Os temas são
ilustrados com desenhos e imagens que permitem o
entendimento do edifício a partir de suas características
arquitetônicas funcionais, formais e estruturais; uma análise
urbana avaliando seu entorno e sua evolução histórica;
representações de sua organização, acessos e circulações,
aberturas e fechamentos, distribuição de espaços, estruturas
e suas memórias.
As análises simbólicas são oriundas de depoimentos
e testemunhos em questionário②, além de entrevistas com
o arquiteto e funcionários da área administrativa da
Instituição.
JUSTIFICATIVA
Não se pode negar que para elaboração de um
projeto arquitetônico de IES, o arquiteto pode modificar o
projeto diante de diretrizes, avaliação e aprovação da gestão
2. Ver anexos com relação
de entrevistados e ques-
tionário aplicado sobre a
pesquisa.
23
que administra a instituição, fazendo, muitas vezes, com que
o projeto inicial não seja concretizado. No entanto, a
Instituição deve entender o olhar proposto para o que se
constrói, pois é isso que irá possibilitar a compreensão, por
meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado
como identidade do lugar, já que o homem utiliza-se das
construções para falar de si.
Segundo Ferrara (2007), percorrer a construção
supõe não só ler os materiais e competências estruturais
existentes, mas também perceber “que a espacialidade cria
uma teoria do espaço enquanto comunicação ideológica da
cultura e exige o resgate das manifestações presentes nas
suas constituições históricas”.
Para Okamoto (2002), os arquitetos devem
desenvolver projetos que atendam a permanente
necessidade de interação afetiva do homem com o meio
ambiente, favorecendo o crescimento pessoal, a harmonia
no relacionamento social e melhorando a qualidade de vida.
O arquiteto, a partir da composição feita através da
forma, função e estrutura, projeta o espaço com elementos
de design selecionados em seu repertório, com certa
intenção de leitura; proporcionando uma construção que
resulta de uma técnica e uma estética. Essa intenção é a
tradução real de dados inconscientes de algo que acredita ser
seu ideal de universidade.
Quando idealizada, a arquitetura do espaço
universitário deve compreender e satisfazer as necessidades
do usuário, apresentar, em si, signos que garantam a
qualificação do ambiente acadêmico e, consequentemente,
seu valor social e cultural, já que o usuário lê o design
presente no projeto e deixa-se descobrir no percurso de seu
espaço os usos, hábitos, valores, crenças e signos.
Assim, como a arquitetura segue uma ordem e a
imagem está carregada de lembranças, o contato e a
interação com um espaço arquitetônico possibilita uma
forma de decifrar a composição. O ambiente edificado, que é
a materialização de uma imagem mental do autor, deixa de
ter um único significado e passa a ser significado para o
usuário.
Por meio de uma análise dos múltiplos aspectos do
espaço universitário do Edifício Theatro Casa do Ator, busca-
se identificar estes significados, suas características, possíveis
deficiências e a forma como se articula com o usuário.
Verificar se o Prédio de Vidro traduz uma arquitetura
com a forma de ensino, com a função educadora a ser
exercida nos usuários que o vivenciam e experimentam seu
24
espaço, e se é capaz de transmitir informações, aglutinar
pessoas e produzir sensações que o identifiquem como um
espaço universitário.
De forma que esta dissertação pretende contribuir
com o estudo deste espaço universitário, retratando o
processo desde sua concepção até sua construção e uso.
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
A pesquisa será dividida em três capítulos, sendo:
O primeiro capítulo busca identificar o espaço
universitário, a relação entre a arquitetura e a educação, os
conceitos de ensino superior nacional, com o objetivo de
contextualizar o cenário educacional até chegar à instituição
do estudo de caso. Apresentando sua História, um panorama
sobre seu espaço construído, analisando brevemente suas
edificações e procurando o entendimento da Instituição a
partir de sua arquitetura.
O segundo capítulo ilustrará a trajetória do Prédio de
Vidro, seu território, as principais razões para a construção,
apresentação do arquiteto, a busca pelo significado do seu
projeto, as grandes mudanças ocasionadas durante a
construção e os elementos que o descaracterizam.
O terceiro capítulo apresentará um olhar sobre seus
espaços através de depoimentos, que adentram em
simbologias pessoais e respostas as entrevistas, sobre como
o espaço cria símbolos para seus usuários③.
E, por fim, serão apresentadas as considerações finais
sobre a pesquisa, buscando entender a arquitetura do
edifício e identificar quais são os elementos que
proporcionem uma interação entre projeto e o seu uso.
3. Foram identificados nas
respostas aos questioná-
rios além dos aspectos
arquitetônicos, significa-
dos atribuídos ao espaço
a partir das considerações
relacionadas à satisfação
e insatisfação frente à
política educacional ado-
tada pela instituição. Não
cabendo a esta pesquisa
classificar ou analisar es-
tes resultados.
25
CAPÍTULO 1 – CONDIÇÃO HISTÓRICA
1.1 O Ensino Superior e a Arquitetura
“O ensino começou quando um homem, sentado
embaixo de uma árvore, se pôs a discutir, sem sa-
ber que era um professor, com jovens que ignora-
vam ser estudantes; pensavam simplesmente no
que se dizia na companhia de um homem tão
agradável. E desejavam que um dia seus filhos
também tivessem a oportunidade de ouvir um ho-
mem igual. Foi assim que nasceu a primeira escola
e nasceu o primeiro pátio de recreio: consequên-
cia das aspirações do homem.”
(Kahn apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)
Pode-se dizer que o início da educação aconteceu a
partir da possibilidade de transmissão do conhecimento.
Troca de experiências iniciadas com conversas entre pais e
filhos, passando a ser documentada com a invenção da
escrita pelos fenícios, difundida com a criação da primeira
Escola de Ciências por Thales, retransmitida a partir do
florescimento da Enciclopédia com Plínio, questionada na
Educação Escolástica de Bacon, explorada com o surgimento
de Academias e Bibliotecas a partir do Humanismo, impressa
no lançamento do primeiro livro de Gutenberg, formulada
nas primeiras teorias para o Ensino até as Reformas
Educacionais atuais.
Cada um destes fatos históricos proporcionou a
construção de espaços que abrigassem a divulgação do
saber, estabelecendo sentido construtivo a partir da cultura
predominante em cada contexto. Em um período de
Antiguidade Clássica, o Ensino se dava em ágoras, teatros e
fóruns; na Idade Média em Igrejas; no Renascimento até aos
dias de hoje em Academias e Universidades.
Pinto e Buffa (2006) traçam um histórico sobre a
arquitetura das universidades investigando aspectos
políticos, sociais, filosóficos, históricos, pedagógicas e
diretrizes arquitetônicas e urbanísticas, destacando as
seguintes fases:
Surgimento
Século XV
Século XVII
Século XX
26
SURGIMENTO SÉCULO XV SÉCULO XVII SÉCULO XX
CONTEXTO
Maior uso da escrita;
Desgaste da exclusividade no
conhecimento detido pela
Igreja;
Criação de escolas com técnicas
de leitura.
Financiamento de alunos pela
igreja;
Segregação de alunos pela
aristocracia, em vestuário
acadêmico, cerimônias
universitárias, atividades
sociais, atividades pedagógicas
e em uso dos prédios das
universidades.
Reforma política e
religiosa;
Educação com regime de
internato para formação
integral do cidadão.
Ideia de Campus, com a educação
funcionando no campo, longe do
descontrole das cidades.
Espaço para atividades de ensino e
pesquisa acadêmica, situados num
determinado sítio, com suas próprias
regras, leis e instituições próprias.
CONSTRUÇÃO
Construção simples, similar ao
modelo colonial;
Cerimônias importantes
realizadas em igrejas, com
espaços mais amplos e propícios
para reunião de pessoas.
Construções com ar gótico
simples e austero
Bibliotecas com ambientes mais
elaborados.
Inspiração em claustros
medievais, com plantas
quadrangulares e espaço
articulador cercado por arcadas
cobertas com as laterais
abertas.
Reestruturação da
arquitetura, cercando
edifícios acadêmicos com
alas de dormitório e
espaços de serviços que
sustentem as atividades
internas de moradia
articulado por um espaço
central.
Edifícios acadêmicos isolados, mas espaço
para abrigar uma comunidade inteira,
separados por áreas verdes abertas;
Rejeita a tradição das estruturas em
claustros
A construção principal era a biblioteca;
marcando a ruptura entre o ensino ligado à
Igreja e o ensino livre.
Plantas com estilo clássico de arquitetura,
numa representação simbólica de
academicismo e racionalidade.
CONFORTO
AMBIENTAL
Aberturas definidas pelas
técnicas construtivas, gerando
fechamentos sem grandes
aberturas;
Não apresentavam função
especifica para ensino, sem
isolamento, privacidade ou
conforto, portanto sem
conforto ambiental de
iluminação, ventilação, acústica
ou térmico.
Circulação livre nas arcadas
proporcionando melhor
ventilação ao edifício.
Espaço central articulador
composto de gramado ,
com fácil acesso e
visualização do conjunto,
possibilitando iluminação
e ventilação dos
ambientes internos de
cada sala.
Formas simples e com muitas aberturas
permitindo que os edifícios tivessem
iluminação e ventilação apropriada.
Tabela 2 – Histórico arquitetônico das Universidades realizado por Pinto e Buffa (2006), em Arquitetura, urbanismo e educação: campus universitários brasileiros; referente a pesquisa financiada pelo CNPQ, sobre a evolução das universidades, desde a Idade Média, mostrando a evolução no continente europeu, na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, mostrando o surgimento do campus universitário, sua organização e significado. Fonte: Tabela elaborada pela autor, do artigo publicado no Anais do Vi Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, pág. 5724 -5746
27
A escolha do local apropriado para uma escola
estimulará o diretor de um instituto a sugerir ao
arquiteto o que uma escola deveria ser, com o
que ele já definirá um início de programa. (Kahn
apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)
No texto de Giurgola e Mehta (1994), quando
mencionado o pensamento de Kahn, o “início de um
programa” refere-se ao programa arquitetônico,
estabelecido pelo solicitante, no qual se definem quais são os
ambientes necessários para a construção do espaço.
A elaboração de um programa arquitetônico parte da
premissa de que os profissionais envolvidos entendem o
objetivo do espaço, as exigências formais, funcionais,
estruturais e os estímulos psicológicos que lhe são atribuídos.
Decidir o partido a ser adotado, selecionar quais ambientes
serão contemplados, manipular de que forma irá se organizar
e se isto fará parte da composição arquitetônica, ou ainda
garantir abrangência necessária ao fim a que se destina, são
fundamentos que acompanham o arquiteto na busca por
repertório e desenvolvimento de seu processo criativo.
Projetar um espaço, em arquitetura, exige
fundamentos para o entendimento da função, do público e
das expectativas que o projeto gera; seja por parte do
usuário, seja por parte da administração, seja, ainda, por
parte do próprio arquiteto, mas acima de tudo, por parte do
observador, que independente do vínculo com o edifício,
incita uma percepção sensorial e afetiva que proporcionará o
entendimento do objeto e sua compleição.
A Universidade, o lugar, que segundo Wanderley
(1988), é privilegiado para conhecer a cultura universal e as
várias ciências, tem a função de criar e divulgar o saber com a
finalidade da Educação com base no ensino, na pesquisa e
extensão.
Lauanda (1987) posiciona-se frente à questão da
função da Universidade dizendo que é preciso voltar-se para
o homem tal qual qualquer questão de Filosofia da Educação,
isto porque, acredita que a Universidade apoia-se no caráter
livre do conhecimento, bem além das estruturas políticas da
instituição.
Já Minogue (1981), acredita que as universidades são
capazes “de criar seu próprio interesse na busca do
conhecimento”, sendo que esta busca pode ser influenciada
por outros tipos de excitação; tais como politica, religião,
patriotismo entre outros.
Assim, o espaço de ensino universitário é resultado
28
de ambientes que insiram o usuário ao universo do saber,
calcado no tripé da educação: o ensino, a pesquisa e a
extensão, devendo proporcionar locais para
desenvolvimento de atividades acadêmicas geradoras de
conhecimento que colaborem no processo de ensino e
aprendizagem.
E como explicitar estes princípios nestes ambientes?
Como produzir estes espaços?
Como projetar esta arquitetura universitária que
atenda a função primordial de se produzir e difundir
conhecimento?
Sabendo que não existe resposta exata a este
questionamento, o arquiteto busca no contexto histórico,
econômico e político da instituição respostas que
possibilitem o entendimento das expectativas para o seu
espaço físico. As características de cada Instituição
influenciam o programa arquitetônico, por vezes sendo
possível identificar, o foco de espaços físicos para alunos em
instituições privadas, que atuam a partir da quantidade
discente na instituição; enquanto o foco em instituições
públicas, que prioriza a pesquisa, é dedicado aos docentes.
Os agentes usuários das Instituições de Ensino,
definidos por Wanderley (1988), são os professores, alunos e
funcionários. Podendo, ainda, incluir outros agentes deste
espaço, tais como: familiares dos alunos e convidados
externos (palestrantes, auditores, prestadores de serviços e
afins).
Este público, que mesmo pequeno e esporádico, tem
grande influência na permanência dos usuários tradicionais
dentro da universidade, já que o contato possibilita
intercâmbio de ideias e participações construtivas que
reforçam o pensamento de espaço inclusivo e disseminador
de experiências e conhecimento.
Conhecer o usuário da Universidade proporciona
identificar as peculiaridades de projeto, identificar a quem se
destina possibilita determinar fluxos, acessos, demarcações
territoriais de áreas públicas e privadas, administrativas e
acadêmicas, o dimensionamento destas áreas, a tipologia do
partido arquitetônico, as prioridades do espaço e as
expectativas de usos e usuários.
29
1.2 O Ensino Superior no Brasil
De acordo com Pinto e Buffa (2006), apesar das
missões jesuítas oferecerem cursos superiores de teologia, o
ensino superior no Brasil inicia-se com a chegada da família
real. Primeiramente em Salvador e depois no Rio de Janeiro,
são criados: cursos superiores profissionais para militares, na
Academia Militar e Academia da Marinha; cursos de
medicina e cirurgia; cursos de matemática exigidos pela
engenharia militar e engenharia civil; cursos para
profissionais da burocracia do Estado, como agronomia,
química, desenho técnico, economia política e arquitetura;
cursos para profissionais produtores de bens simbólicos,
como música, desenho e história.
No período imperial brasileiro, estes cursos são
implementados com a vinda da Missão Francesa de 1820,
sendo aberta a Academia de Direito de São Paulo e Olinda
em 1827.
Em 1920, é criado o primeiro ensino superior com
nome de universidade, a Universidade do Rio de Janeiro.
Posteriormente, a Universidade de Minas Gerais (1927) e a
Universidade de São Paulo (1934), chegando a um total de 37
universidades em 1964.
Até o fim do Estado Novo, os modelos universitários
brasileiros eram semelhantes aos das universidades
europeias, a partir dali, adotam os modelos norte-
americanos influenciados pela contribuição tecnológica do
esforço bélico, inclusive referente à organização espacial da
cidade universitária.
Segundo Charles e Verger (1996), as instituições
universitárias transformaram-se profundamente durante os
séculos, o que de certa forma possibilita compreender
melhor uma parte da herança intelectual e do
funcionamento das sociedades.
Para Morosini (2005), os modelos mais marcantes
Institucionais de Educação Superior, no Brasil, foram:
Modelo napoleônico: registro mais antigo e com
vertentes presentes até hoje, marcada pela presença
do elitismo, formação profissional isolada e
transmissão do saber. Temos como exemplo Escolas
de Medicina, Politécnica e de Direito, com formação
de profissionais para atendimento das necessidades
da sociedade, com referência no mundo do trabalho.
Modelo humboldtiano: marcado pela liberdade
acadêmica e pesquisa como principal meio de
construção de conhecimento. O surgimento da
Universidade de São Paulo marca a nova requisição de
instituições universitárias mais integradas, para além
30
da formação, mas agora baseado na articulação do
tripé de ensino, pesquisa e extensão.
Modelo latino-americano: marcada pela busca de
nova ordem social fortalecendo a compreensão do
homem e da convivência humana. Universidades
Ibero-americana, fundadas após a ditadura militar, são
exemplos por acreditarem na participação coletiva
universitária.
Modelo inovador e sustentável: Fortifica elementos
institucionais mantenedores de transformação, com
diversidade na base financeira, fortalecimento do
centro diretivo, estímulo à comunidade acadêmica,
consolidação da cultura empreendedora integrada.
São modelos de parques científicos e tecnológicos em
que as universidades podem se autotransformar para
um caráter proativo e sob controle.
Modelo comercial/empresarial: instituições com
capital privado e acionistas, visam lucro e
assemelham-se a empresas privadas. O conhecimento
é voltado para a prática. Como por exemplo
Universidades que admitem administração com
aplicadores de mercado, com capitais privados e
acionista, visando à lucratividade e gestão semelhante
a empresas privadas.
Numa análise feita por Onusic (2009), o Ensino Superior
no Brasil apresenta uma trajetória histórica de quatro fases:
Antes de 1930, com predomínio de instituições públicas;
Entre 1930 a 1964, com a consolidação do ensino
privado;
Entre 1964 a 1980, com a reforma do ensino superior e o
predomínio do setor privado; e
Entre 1980 a 2002, com o aumento de oferta de vagas do
setor privado, o crescimento de vagas não preenchidas e
evasão acadêmica.
Atualmente, das 2.314 IES registradas pelo Inep,
cerca de 90% são privadas, estando mais concentrada numa
classificação de pequeno porte com até 1.000 alunos. Pode-
se notar que a característica da Educação Superior no Brasil
está calcada em um modelo privatizado com ininterrupta
expansão.
Morosini (2005) avalia que a demanda por Educação
Superior é responsável pela abertura da Educação no setor
privado, visto que o crescimento da economia do
conhecimento, as mudanças demográficas paralelas às
limitações orçamentárias do Estado não conseguem atender
todo o movimento para a educação continuada.
Enquanto Martins (2009) atribui o surgimento deste
novo padrão de Educação Superior à implantação da
Reforma de 1968, onde se privilegiou uma estrutura seletiva,
acadêmica e social facilitando a organização de empresas
educacionais, de forma que a escalada da privatização não
31
representou uma democratização do acesso ao Ensino
Superior no país, apenas uma ampliação de vagas no setor
privado.
De acordo com Silva Jr e Sguissard (1999), as
políticas públicas para a educação superior brasileira e as
reações dos diferentes setores (públicos e privados),
promoveram um reordenamento no espaço social através do
fortalecimento de processos mercantilistas, o que tem
acentuado a transformação das identidades das IES
particulares.
Este processo pode ser entendido como reflexo da
transição do modelo de capitalismo fordiano para o atual
capitalismo pós-moderno vivenciado de forma mundial,
contudo não é foco desta pesquisa centrar-se nesta questão.
O entendimento deste novo contexto, apenas, sugere, de
forma isolada, que em um predomínio de IES particulares,
que buscam atender a demanda de mercado, estas estão
cada vez mais modificando sua identidade, profissionalizando
as empresas, racionalizando sua estrutura organizacional
interna e buscando atender a seu mais novo objetivo: o
lucro.
O intenso movimento de fusões institucionais de
universidades privadas no Brasil, que vem ocorrendo desde
2007, a exemplo da Anhanguera e da Estácio de Sá, traduz
bem esse novo contexto. Estas fusões refletem a necessidade
de reestruturação do processo de gerenciamento entre
universidades, com adaptação da filosofia aos novos
resultados de crescimento qualitativo, quantitativo e, acima
de tudo, financeiro. Embora se observe que, muitas vezes,
este crescimento qualitativo não sendo atingido.
Além de transitar pelo entendimento da cultura e
sociedade nacional, este novo perfil com visão lucrativa
intervém no perfil institucional e, consequentemente, no
processo construtivo dos seus espaços físicos. As IES
particulares, numa tentativa de atingir nichos de mercado e
diferenciar-se de suas concorrentes, estabelecem, a partir do
seu corpo administrativo, medidas que a individualizem ou
minimizem seus custos como forma de garantir destaque.
Desta forma, é comum verificar instituições sendo
amplamente reformadas e instalando materiais e
revestimentos luxuosos como atrativos para alunos de classe
A e B, enquanto outras instituições revelam baixo
32
investimento na infraestrutura com foco no público de
classes C, D e E.
O reflexo deste mercantilismo da educação preocupa
Arquitetura, não só na questão da descaracterização da
identidade, mas também na forma como esta política faz
com que o Edifício apresente aspectos de baixa qualidade do
espaço físico influenciando no conforto ambiental até
questões psicológicas, podendo gerar apartação social.
Enquanto a escolha ou intervenção no tipo de
revestimento de um edifício possa, por um lado, alterar
somente a estética do edifício; por outro, pode indicar uma
segregação de público onde, culturalmente, alguns usuários
sintam-se deslocados e excluídos acreditando não ter
recursos financeiros para estudar neste lugar; já a falta de
investimento na construção pode acarretar em má qualidade
espacial, impossibilitar a acessibilidade, prejudicando a
ergonomia e o conforto ambiental. Por exemplo, é comum
identificar algumas construções que para ampliação da área
acadêmica, constroem salas sem iluminação e ventilação
natural.
Oliveira (2009) identifica quatro consequências da
globalização na Educação que podem gerar resultados
positivos e negativos, favorecendo o crescimento acelerado
das Instituições, generalizando a educação e aumentando a
oferta de mercado:
1. A crescente centralidade da educação na discussão
acerca do desenvolvimento e da preparação para o
trabalho, decorrente das mudanças em curso na base
técnica e no processo produtivo;
2. A crescente introdução de tecnologias no processo
educativo, por meio de softwares educativos e pelo
recurso à educação a distância;
3. A implementação de reformas educativas muito
similares entre si na grande maioria dos países do
mundo;
4. A transformação da educação em objeto do interesse
do grande capital, ocasionando uma crescente
comercialização do setor.
Nesta última dimensão, tem se dedicado bastante atenção
ao debate em curso na Organização Mundial do
Comércio/Acordo Geral de Tarifas e Comércio
(OMC/GATT), acerca da conceituação da educação como
um bem de serviço. A aprovação de tais acordos faria com
que a educação passasse a ser regida pelas normas que se
aplicam à comercialização de serviços em geral (cf. Dias,
33
2003, 2004; Dourado, 2002; Siqueira, 2005; Rikowski,
2003; Kelk & Worth, 2002). Em consequência, ter-se-ia,
além da ampliação da mercantilização na área, a
internacionalização da oferta, com a penetração de
grandes corporações multinacionais em países menos
desenvolvidos. Entretanto, mesmo sem a aprovação de
tais acordos, a educação tem se transformado,
crescentemente, em mercadoria. Instituições lucrativas
crescem a olhos vistos, assim como a internacionalização
da oferta (cf. Altbach, 2000, 2002; Balan, 1990, 1993,
2000; Callan, 1997; Carlson, 1992; Morey, 2001). Nas
singelas palavras de Angel Gurria, secretário geral da
OECD, em manifestação realizada em Lagonissi, Grécia, em
28/06/2006, ao encerrar a conferência de Ministros de
Educação daquela Organização: "A educação é hoje uma
mercadoria negociável. Tornou-se exportável, portável e
negociável." (Oliveira, 2009, pag. 740)
Morosini (2005) resume estas consequências em um
processo que denomina como Internacionalização. Um
esforço sistemático com objetivo de tornar a educação
superior mais próxima às exigências e desafios de uma
sociedade, uma economia e um mercado de trabalho mais
globalizados. Esta internacionalização é baseada em relações
entre nações e suas instituições. Dentro das definições para
internacionalização da Educação Superior, vem se
desenvolvendo um modelo de educação transnacional ligado
ao capitalismo acadêmico, baseado em processos de ensino.
Podendo ser:
1. Estabelecimento de campus no estrangeiro – curso e
currículo em instituição estrangeira com supervisão e
língua da instituição matriz.
2. Modelo padrão de exportação – curso no exterior, em
instituição educacional ou organização corporativa, por
instituição de país industrializado para país em
desenvolvimento. Exemplo: Cursos oferecidos na Malásia
por instituições australianas e/ou britânicas.
Figura 3 – Estabelecimento de campus no estrangeiro: Campanha da Universidade de Chicago com Campus em Paris para estudos nas áreas de ciências sociais, naturais e físicas. Fonte: Site Paris Travel Guide
34
3. “McDonaldização” da Educação Superior – cursos via
pacote por meio de franchising, a instituição cede o
nome e o currículo, supervisionando e controlando a
qualidade de ensino dentro de outra instituição. Como
exemplo, pode-se citar as redes de referência em
Gastronomia e Hotelaria, sendo respectivamente,
Kendall College e Glion, nas áreas de Hospitalidade da
UAM.
4. Programas conjuntos oferecidos por instituições de
educação superior em outro país. Entende-se como
exemplo o grupo de universidades da Rede Laureate, que
conta, atualmente, com 66 instituições em 28 países – 5
instituições na América do Norte, 29 instituições na
América Latina, 19 instituições na Europa, 2 instituições
no nordeste da África e 11 instituições na Ásia.
Figura 4 –McDonaldização da Educação Superior: Foto da fachada de Glion na Suíça, referência na área em hotelaria. Fonte: Site Glion Figura 5 – Programas conjuntos: Mapa de localização dos Campi da Rede Laureate, grupo internacional de universidades, com mais de 66 instituições de ensino, em 28
países. Fonte: Site Laureate
35
Em 2006, a Associação Brasileira das Mantenedoras
do Ensino Superior (ABMES) editou um documento de
“Políticas para a Educação Superior – Propostas do Setor
Privado”, para impulsionar o desenvolvimento do ensino
superior particular no Brasil. Diante do documento, Gabriel
Mário Rodrigues, presidente da associação e reitor da
Universidade Anhembi Morumbi, em entrevista ao Portal
Aprender do Ensino Superior sob tema de “Ainda há muito
que fazer pelo ensino privado”, traçou um panorama sobre a
situação do ensino superior no Brasil:
“O ensino particular, para atender à demanda da
democratização educacional, cresceu bastante
nesses últimos anos, e está em uma fase de
consolidação. Principalmente nas grandes
cidades, terá como tendência a união de
instituições, no sentido de aprimorar suas
práticas, tanto de gestão quanto pedagógicas,
para fazer frente à concorrência das grandes
universidades. Por outro lado, com o advento da
tecnologia da informação, novas formas de
entrega de cursos existirão - o que
obrigatoriamente fará com que as instituições
mudem o processo de ensinamento. Na realidade,
estamos próximos de uma transformação no
processo de ensino, tudo será diferente do que
estamos acostumados.”
Ainda segundo Rodrigues, em entrevista ao Portal
Educação da UOL, frente a um cenário educacional com
muita concorrência, com aumento de custos acadêmicos e a
queda do poder aquisitivo da população, a educação, sob o
ponto de vista de negócio, apresenta uma oportunidade para
captação de recursos do setor privado para financiar a
expansão da Educação; na perspectiva do investidor, pode
ser uma atividade instigante e com bom retorno, desde que
bem administrada.
Dentro deste contexto, a Universidade Anhembi
Morumbi, primeira, universidade brasileira adquirida por
capital estrangeiro, em 2005, teve o Banco Pátria como
administrador principal do seu fundo de investimento,
reestruturando organizacionalmente a universidade para sua
venda. Segundo Oliveira (2009) a aquisição foi manifestada
nos seguintes termos:
“A aquisição do controle acionário da
universidade paulista Anhembi Morumbi pelo
grupo americano Laureate, em dezembro,
representou muito mais que um bom negócio
para o arquiteto Gabriel Monteiro Rodrigues, de
73 anos, fundador da instituição. Com a venda,
fechada por 165 milhões de reais, pela primeira
vez uma instituição estrangeira passou a mandar
36
em uma universidade no Brasil, um marco da
entrada do capital internacional num setor da
economia que tem aumentado exponencialmente
de tamanho. No ano passado, somente os cursos
universitários privados movimentaram algo em
torno de 15 bilhões de reais, ou 50% mais que
três anos atrás. A injeção de recursos de um
grupo do porte do Laureate, com universidades
espalhadas por 15 países, deve dar novo fôlego a
esse mercado. De acordo com os planos do
Laureate, 100% das ações da Anhembi Morumbi
serão adquiridas pelos americanos até 2013.”
(Oliveira, 2009, pag. 744,745)
Até 2011, 51% das ações da Universidade Anhembi
Morumbi foram adquiridas pela Rede Laureate que conta
com 600 mil estudantes distribuídos em 100 Campi. A UAM
possui 5% deste corpo acadêmico, com mais de 30 mil alunos
distribuídos nos Campi Vila Olímpia, Centro, Morumbi,
Paulista, Anhangabaú e com previsão de crescimento de mais
três Campi até 2013, segundo voz corrente da universidade.
Figura 6 – Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi: composto de cinco campi: 1. Campus Vila Olímpia, no bairro Vila Olímpia. 2. Campus Centro, no bairro Brás. 3. Campus Anhangabaú, no bairro Centro. 4. Campus Morumbi, no bairro Brooklin Velho. 5. Campus Avenida Paulista, no bairro Bela Vista. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora
37
1.3 A Universidade Anhembi Morumbi
De acordo com o livro Se não foi a primeira, não foi a
segunda – o desafio de implantar a faculdade de Turismo no
início dos anos 70, Rodrigues (2005), conta a trajetória da
Universidade Anhembi Morumbi desde a fundação até os
dias atuais.
A partir da formação fundamental, participação
acadêmica e inspiração em Clycie Mendes Carneiro (ex-
professora e jornalista), Rodrigues sonhava em cursar
comunicação, mas acaba formando-se em arquitetura por
influência de sua mãe. Ao finalizar a graduação, trabalha no
Departamento de Obras Públicas (DOP) de São Paulo onde
fiscaliza obras e construções escolares. Dentro do DOP,
começou a idealizar projetos de comunicação, tais como
revistas, seminários e projetos dessa natureza. E na
reestruturação do departamento, no governo de Adhemar de
Barros, foi encarregado para implantar o Grupo Técnico de
Comunicação (GTCom) com objetivo de fazer o DOP ser
reconhecido como principal construtor de obras do Estado de
São Paulo mostrando o valor de seus profissionais. Com este
trabalho iniciou, também, cursos de
Figura 7 – Capa do livro “Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda: O desafio de implan-tar a faculdade de Turismo do Mo-rumbi no início dos anos 70”, do Reitor Gabriel Mário Rodrigues sobre o pionei-rismo do curso de Turismo da Uni-versidade Anhem-bi Morumbi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
38
treinamento para funcionários com capacitação e divulgação
dos trabalhos. Frente a alguns problemas políticos internos
no departamento, começa a questionar-se sobre seu futuro
profissional e a possibilidade de seguir novos desafios, tal
como a criação de um curso preparatório para os
funcionários do DOP ingressarem em faculdades. Em
conjunto com Vitório Lanza Filho, engenheiro agrimensor e
Walter Rodrigues da Silva, desenhista, idealizam a
Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura - OBTC, a
futura mantenedora da Faculdade de Turismo do Morumbi.
Diante o incentivo à criação de novas Instituições de
Ensino Superior pelo governo de Médici, Rodrigues e seus
sócios entram com requerimento no MEC para solicitar a
autorização de funcionamento de um curso superior. Em
meio à necessidade de conseguir um prédio para iniciar as
atividades, encontram parceria com uma ordem religiosa de
irmãos pavonianos recém-chegados em São Paulo, que
contava com poucos seminaristas, e não conseguiam finalizar
uma construção do seu espaço educacional, visto os poucos
irmãos em formação. Desta forma, começaram a reformar
este edifício, na Rua Visconde de Nacar, nº 86, no bairro Real
Parque com a proposta de alugar quando estivesse
construído.
Segundo Rodrigues (26/08/11), de maneira geral, o
desenvolvimento do sistema universitário paulista e
brasileiro foi baseada no aproveitamento de edificações pré-
existentes, em um primeiro momento na ocupação de
algumas instituições religiosas que deixaram de oferecer
serviços educacionais e tiveram seus espaços desocupados,
posteriormente por espaços fabris que, também
desocupados, apresentavam áreas com grandes vãos
possibilitando a distribuição de salas de aula. Somente mais
tarde, entre 1980 e 1990, as Instituições passaram a construir
espaços específicos para o Ensino Superior devido ao
aumento de demanda e vagas no setor privado da Educação.
Este primeiro espaço acadêmico que a Instituição iria
ocupar, era composto por dois blocos um correspondente a
parte destinada aos dormitórios dos seminaristas, e a outra
estava nos alicerces, com a obra parada por falta de verba
para finalização, o que possibilitou sua inteira remodelação a
partir do projeto e obra administrados por Rodrigues.
Na metade do ano de 1970, dividindo atividades
entre o DOP e a obra da sede, une-se a Vitório Lanza, Walter
Rodrigues, August Wagner Tafner, com apoio dos irmãos
39
Figura 8 – Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi: Parte integrante da edição piloto na publicação “Estudos Turísticos”, apresentando o corpo administrativo da Faculdade de Turismo do Morumbi, em 1972. Fonte: Estudos Turísticos: Órgão oficial da Faculdade de Turismo Morumbi – São Paulo; edição piloto, junho – 1972.
41
Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários A– “Vestibulando”: 10 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 13; B– “Faça Turismo a sua profissão”: 17 e 21 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6 e 10, respectivamente; “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; C – “Faculdade de Turismo, um novo curso a Cr$ 2.300,00”: 20 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6; “1º Curso Superior de Turismo no Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 16; D – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno, página 16 Fonte: Acervo Digital Folha
42
Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários E – “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; F – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 28 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 12; Fonte: Acervo Digital Folha
43
Figura 10 - Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, Campus no Real Parque , em 1971; com sobreposição do informe publicitário do Curso Superior de Turismo, vinculado na Folha de São Pau- lo em 14 de fevereiro e 02 de março de 1971,no Primeiro Caderno, nas páginas 2 e 16, respectivamente. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi e Acervo Digital Folha, montagem elaborada pela autora
Campus no Real Parque , -
Campus no Real Parque , -
44
Renata e Floriano Rodrigues e implantam a Faculdade de
Turismo do Morumbi, iniciando as atividades no ano
seguinte. De acordo com Rodrigues, a data de nascimento da
Instituição foi baseada na primeira aula lecionada no curso
de Turismo, no dia 9 de março de 1971.
A opção pelo curso de Turismo é decorrente do
objetivo inicial de oferecer cursos diferenciados no mercado,
fora dos padrões acadêmicos de graduação existentes na
época. Segundo Rodrigues, em reportagem ao Portal da
Universidade Anhembi Morumbi④ sobre a metodologia
implantada no curso, no lançamento de seu livro, ele conta:
“Seria fácil imprimir à Faculdade de Turismo do Morumbi uma abordagem em Ciências Sociais, a fim de proporcionar-lhe uma aura agradável e eminentemente cultural. Contudo, a realidade do turismo brasileiro exigia outra atitude, uma metodologia própria. Se as matérias que influem diretamente no fenômeno do turismo fossem lecionadas com autonomia em relação às outras matérias básicas, seria um curso técnico e não superior. ‘Turisficamos’ a Geografia, a Economia, a Psicologia e a História para conferir um conteúdo superior ao curso de Turismo. É isso que não existia em parte alguma do mundo” (Rodrigues, 2005)
Concomitante a esta iniciativa, um grupo de
publicitários de São Paulo, liderados por João Batista Reimão
Netto, implantam, em 24 de junho de 1969, a Faculdade de
Comunicação Social Anhembi, tendo como mantenedora o
Instituto Superior de Comunicação Publicitária – ISCP.
Diante do crescimento da Faculdade de Turismo e da
intenção de Reimão de mudar de ramo, das novas opções de
mercado e tendências para o futuro da Educação, a OBTC e a
ISCP passam a dividir o mesmo espaço físico.
Com a fusão das duas Instituições veio à dúvida: em
qual Campus permanecer?
O campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, no
bairro Real Parque, embora apresentasse um edifício com
ambientes bem adaptados para desenvolver as atividades de
ensino e aprendizagem com salas visivelmente bem
iluminadas e ventiladas, visto que fora reformado com o
intuito educacional, não oferecia a possibilidade de expansão
naquele momento, assim não apresentava espaço suficiente
para abrigar a transferência do curso de Comunicação Social
em suas instalações.
O prédio da Faculdade de Comunicação Social
Anhembi apresentava alguns problemas junto a Prefeitura
por ser um espaço fabril, de produção de cera, adaptado
4. Ver reportagem “Livro do
Reitor Dr. Gabriel Mário
Rodrigues fala sobre o
pioneirismo do curso de
Turismo na Universidade”
disponível em
http://anhembi.br/publiqu
e/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=5089&sid=2,
acessado em 25/08/2011.
45
Figura 11 – Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi: Frente para a Rua Pará, em 1969. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi igura 12 – Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo, em 25 de setembro de 1969, Caderno Ilustrada página 34, apresentando a fachada do Campus. Fonte: Acervo Folha
46
para instalações acadêmicas da Faculdade de Comunicação
Social, contudo apresentava um grande potencial de
expansão capaz de abrigar os dois cursos no mesmo espaço.
Esta questão de infraestrutura facilitou a decisão de
concentração das faculdades na Casa do Ator, nº 90; já que
em 1973, o MEC autoriza a transferência de sede da
Faculdade de Turismo do Morumbi para o bairro da Vila
Olímpia.
Embora autorizada cinco anos antes, somente em
1978 a mudança acontece de fato. Em meio à frustração do
corpo administrativo e de alguns alunos que não aprovavam
a ideia da mudança devido à distância entre os Campi, de
aproximadamente 7 km, é adotado o nome de Faculdade
Anhembi Morumbi para que os alunos não perdessem a
identidade de suas instituições.
No início da década de 80, a ISCP e a OBTC, verificam
que a convivência diária já facilitava a integração entre corpo
acadêmico e administrativo de ambas as faculdades, o que
estimulou a união das duas entidades, em 1982; sendo que o
Instituto permanece como entidade mantenedora e assume
a responsabilidade da então Faculdade Anhembi Morumbi.
Imagem 13 – Fachada principal da Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia: frente para a Rua Casa do Ator, número 90, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
47
Figura 14 – Informativo Faculdade Anhembi Morumbi: Catálogo de 1982, como instrumento de informação sobre o processo de fusão entre Faculdade de Turismo Mo-rumbi e Faculdade de Comunicação Social Anhembi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 15 – Logotipo das Instituições: Faculdade de Comunicação Social Anhembi e Faculdade de Turismo do Morumbi, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
49
49
Figura 16 – Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi: desde a fundação da Faculdade de Turismo do Morumbi até os dias atuais. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
50
40
Imagem 17 – Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: cruzamento entre as ruas Casa do Ator e Baluarte, década de 1980. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
51
De 1985 a 1997, a partir de uma organização
acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão
de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se
como Universidade implantando onze novos cursos.
Baseando-se num processo de qualificação
profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da
evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro
Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação
Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e
multimídia, futuramente transformado em Design Digital.
De 1985 a 1997, a partir de uma organização
acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão
de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se
como Universidade implantando onze novos cursos.
Baseando-se num processo de qualificação
profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da
evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro
Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação
Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e
multimídia, futuramente transformado em Design Digital.
Figura 14 – Semana Brasileira de Moda realizada pela Faculdade Anhembi Morumbi,
no final da década de 1990 Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
Figura 18 – Semana Brasileira de Moda: realizada pela Facul-dade Anhembi Mo-rumbi, no final da década de 1990. A – Mesa de apresentação da Semana Brasileira de Moda B – Vestuário em exposição Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
52
Em 1997, a cargo da filha de Rodrigues, arquiteta
Ângela Regina Rodrigues de Paula Freitas, é idealizado e
concebido o projeto de ampliação do prédio sede. Com a
saída de seu irmão Floriano Rodrigues da Faculdade Anhembi
Morumbi, Ângela passa a dedicar-se à área administrativa
deixando o arquiteto Glauco Humberto Fioritti a frente do
departamento de obras e projetos e, posteriormente, a
arquiteta Deise Marques Araújo.
A partir daí a Instituição cresce ano a ano e o Campus
Vila Olímpia é ampliado com novas construções em espaços
próximos ou distantes deste conjunto principal.
Deise que entrou na instituição em 1994, recém-
formada no curso de arquitetura pela Universidade de Belas
Artes, desenvolvia junto à coordenação de cursos estudos
para mapear as salas da universidade e alocar os alunos de
graduação nas salas existentes. As salas, neste período,
tinham distribuição padrão e atendiam a todos os cursos de
forma tradicional e unificada. Contudo, diante das
reclamações acadêmicas e solicitações administrativas, a
arquiteta propõe a implantação de laboratórios específicos
demarcando o perfil do curso e proporcionando maior
identidade a cada espaço. Estes laboratórios caracterizaram
as necessidades acadêmicas exigidas pelas coordenações de
cursos e equipavam os espaços com materiais próprios para
as aulas a serem ministradas.
O que se observou desta iniciativa da arquiteta Deise
foi que os alunos, que anteriormente depredavam os
laboratórios por falta de cuidado com os equipamentos,
mudaram seu comportamento demonstrando maior apreço
pelo lugar. Assim, alunos do curso de comunicação ganharam
estúdios e laboratórios de foto e vídeo, enquanto alunos de
moda ganhavam ateliês de corte e costura, reconhecendo,
dentro do ambiente educacional, laboratórios que refletiam
as atividades profissionais que seriam enfrentadas no
mercado de trabalho, adotando uma visão de que os
laboratórios eram também ambientes de trabalho e não só
extensão da sala de aula. Um exemplo, foi o laboratório de
Planejamento Turístico para o curso de Turismo como um
laboratório de informática composto de equipamentos
digitais e mapoteca.
A partir da década de 1980, as instalações dos cursos
da Anhembi Morumbi fortalecem-se com o desenvolvimento
de projetos práticos, tais como: Rádio Brasil 2000, em 1986; e
Colégio Anhembi Morumbi, em 1993.
53
Campus Unidade Área do Terreno (m²) Área Construída (m²) Sala de Aula Laboratório de
Informática Laboratório Específico
Vila Olímpia
1 6.000,00 6.940,54 916,87 44,34
5 6.443,94 30.481,80 3.060,67 918,99 1.272,59
6 1.994,93 9.696,41 1.871,97 630,42 62,55
7 2.987,88 15.657,39 3.090,64 491,16 400,65
9 1.733.59 1.686,78
1.002,09
Centro Master 1
24.896,79 45.792,10 8.649,51 1.603,76 9.965,58
Master 2 14.686,03 16.523,17 206,72
8.265,46
Anhangabaú Edifício
635,90 8.500,96 629,80 109,84
Morumbi Galpão
13.836,16 7.982,25 316,00 908,46 4.089,60
Edifício Jardim 3.087,22 10.702,14 2.219,14 766,51 1.039,87
Av. Paulista Edifício
990,00 9.092,45 1.898,68 264,14 957,32
Tabela 03 – Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi: Nesta relação é possível verificar a importância dos laboratórios específicos na Instituição. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011. Gráfico 01 – Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus: Nota-se que a maior concentração de laboratórios específicos está, hoje, no Campus Centro; Campus Vila Olímpia e Campus Morumbi. Da infraestrutura total da Instituição 25% corresponde a Laboratórios de informática, 84% a Sala de aula e 17% a Laboratório específico. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011.
54
Gráfico 02 – Número de salas de aula por Campus.
Gráfico 03 – Número de laboratórios de informática por Campus.
Gráfico 04 – Número de laboratórios específicos por Campus. Fonte: Gráficos elaborados pela autora, dados de junho de 2011.
55
Figura 19 – Laboratório específico de gastronomia: A - Campus Vila Olímpia, composto por 6 cozinhas, sala de vinhos, área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult lounge; B – Campus Centro, composto por 12 cozinhas, 2 salas de vinho, laboratório nestlé; área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult longe; C – Vista lateral esquerda da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia D - Vista lateral direita da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 20 – Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde: A e B – Hospital Simulado do Centro de Simulação e Treinamento da Escola de Ciências da Saúde C – Vista lateral esquerda do Hospital Simulado D – Vista lateral direita do Hospital Simulado Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
56
56
A- Laboratório específico do curso de Turismo B - Laboratório específico do curso de Arquitetura C - Laboratório específico do curso de Teatro – Laboratório de planejamento turístico. Maquetaria Sala de Ensaio
E – Laboratório específico do curso de Aviação F – Laboratório específico do curso de Design de Laboratório de Simulação de vôo Moda – Ateliê de corte e confecção
I- Laboratório específico do curso de Veterinária Laboratório Morfofuncional
57
57
D – Laboratório específico do curso de Rádio e TV Estúdio de Vídeo e gravação
G – Laboratório específico do curso de Quiropraxia H -Laboratório específico do curso de Produção Laboratório de Quiropraxia Musical – Ilha de edição
I – Laboratório específico do curso de Maquiagem J – Laboratório específico do curso de Engenharia Civil K – Laboratório específico do curso de Direito Laboratório de Visagismo e Maquiagem Laboratório de Metalografia e Metrologia Mini Tribunal
Figura 21 – Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
58
Entre 1978 e 1998, diante do crescimento da
Universidade, a infraestrutura física é ampliada e a Anhembi,
que a princípio tinha apenas um edifício na Rua Casa do Ator,
passa a contar com cinco unidades distribuídas no Bairro da
Vila Olímpia.
Em 1997, a instituição havia comprado o antigo
prédio fabril da indústria têxtil São Paulo Alpargatas, na
divisa dos tradicionais bairros paulistanos, Mooca e Brás, o
edifício da Alpargatas que outrora fora tombado pelo
Patrimônio Histórico. Após o credenciamento como
Universidade Anhembi Morumbi, a instituição expande sua
estrutura e porte acadêmico, adaptando este edifício para
uso educacional, contribuindo para requalificação de áreas
degradadas da cidade de São Paulo, constituindo o Campus
denominado Centro, e iniciando suas atividades em 1998.
De acordo com Vargas e Castilho (2006), intervir em
centros urbanos “pressupõe avaliar sua herança histórica e
patrimonial, seu caráter funcional e sua posição relativa na
estrutura urbana, mas principalmente, precisar o porquê de
se fazer necessária a intervenção.”
A empresa Alpargatas, que inicia suas atividades em
3 de abril de 1907, com a vinda do escocês Robert Fraser
associado a um grupo inglês, constroem no Bairro da Mooca,
a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Apesar dos
problemas na produção decorrentes do período entre
guerras, a empresa se consolida no mercado passando a
chamar-se São Paulo Alpargatas S.A., a partir da década de
1940.
Na década de 1990, transfere sua fábrica para o
nordeste mantendo apenas a sede do escritório em São
Paulo, desocupando as instalações na Rua Doutor Almeida
Lima, 1134. Para implantação do novo Campus, Deise
desenvolve um estudo com a potencialidade de ocupação do
edifício para a administração apresentar junto ao MEC. A
partir deste estudo, o arquiteto Francisco Petracco, então
coordenador do curso de arquitetura da instituição
apresenta um projeto⑤, o qual não é realizado.
Para Vargas e Castilho (2006), a recuperação de
centros urbanos nos dias atuais significa melhorar a imagem
da cidade, perpetuar a história e criar um espírito de
comunidade e pertencimento ao lugar. A reutilização de
edifícios, a valorização do patrimônio construído, a
otimização da infraestrutura já estabelecida, a recuperação
do comércio, implementam ações atrativas para
Ver histórico da empresa
Alpargatas, disponível em
http://www.alpargatas.com.
br/index.htm, acessado em
25/08/2011.
5. Ver detalhamento do projeto
no Capítulo 2, em “um pouco
sobre o arquiteto”, na página
93
59
investimentos, moradores, usuários e turistas que dinamizam
a
Figura 22 – Antiga sede da Alpargatas Fonte: Foto de Frucci, pertencente ao acervo da Universidade Anhembi Morumbi
55
60
LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL
ALPARGATAS UNIVERSIDADE ANHEMBI
MORUMBI
1907 • Robert Frase inicia a construção da fábrica brasileira de calçados. • Produção de alpargatas, rodas e encerados no bairro da Mooca. • A empresa muda o nome para São Paulo Alpargatas S.A.
1910 • Num país cafeeiro, os empregados que trabalham na lavoura utilizam alpargatas na colheita e encerado na secagem do produto. • A empresa coloca suas ações na BOVESPA.
1920 • Superprodução de café e quebra da bolsa de valores de Nova Iorque fazem cessar a fabricação de alpargatas.
1930
• Momento de instabilidade no país. Contudo, a Alpargatas tem total apoio de seus funcionários. • Getúlio Vargas assume o Governo Provisório. • Por ocasião da Revolução Constitucionalista inicia-se a fabricação de fardas, mochilas e barracas.
1940
• A empresa muda de nome em definitivo para o atual São Paulo Alpargatas S.A. • O Brasil está na Segunda Guerra Mundial. Faltam alimentos e combustível. • A empresa retoma a produção de alpargatas e consegue crescer em meio à adversidade. • Ao fim da Segunda Guerra a empresa lança o primeiro brim pré-encolhido “O Coringa”.
1950
• Primeira empresa a adotar o jingle como estratégia de comunicação. Todas as rádios tocam os jingles da Alpargatas Roda. • Lança a calça jeans Far West, calçados Sete Vidas e lonas Sempre Viva. • Juscelino Kubitschek assume o Governo Federal. • A Alpargatas patrocina as transmissões dos jogos da Copa do Mundo. Vitória do Brasil.
1960
• Lança as sandálias Havaianas, calçados Conga, Bamba, Passo Doble e Calças Coringa, Rodeio e Topeka. • O termo “fajuta” é incorporado ao dicionário Aurélio por decorrência das campanhas das Havaianas. • A empresa adquire a Chenille do Brasil produtos das colchas Madrigal. • Alteração do logotipo. Um triângulo que lembra o “A” inicial da Alpargatas com a sensação de movimento é o novo símbolo da empresa.
61
LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL
ALPARGATAS UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
1970 • Iniciam -se as campanhas de cunho social com o slogan “Criança calçada, criança sadia”.-USTOP; TOPPER; TRAVELLER • Aquisição da fábrica Rainha.
• Publicitários instalam em São Paulo a Faculdade de Comunicação Social Anhembi Morumbi • Engenheiros e arquitetos implantam a Faculdade de Turismo do Morumbi, a primeira do país.
1980
• Adquire a Jeaneration •Lançamentos da década: Samoa; Jeans TOP PLUS • Prêmio “Maiores e Melhores Empresa do Ano”, Revista EXAME.
• União da Faculdade Anhembi e Faculdade Morumbi. • Na segunda metade da década integram-se outras duas organizações: Rádio Brasil 2000FM e Colégio Anhembi Morumbi. • Inaugura o CEBRAFAM-Centro Brasileiro de Formação para a Moda.
1990 • Licencia as marcas Timberland e Mizuno; • Recorde na produção de Havaianas:100 milhões de pares
• Lança o primeiro Curso Superior de Moda do Brasil. • Adquire o prédio da Alpargatas no Brás. • Credencia-se como Universidade. • Inaugura o Campus Centro e o primeiro Centro de Gastronomia da América Latina. • Ganha o Prêmio Master Imobiliário 98-SECOVI categoria Revitalização Urbana de São Paulo. • Implanta os Cursos Superiores de Formação Específica (sequenciais) com duração de 2 anos.
2000 • Novo recorde de produção de Havaianas. •É considerada pela Revista Exame uma das “Melhores Empresas para se Trabalhar”.
• Implanta o conceito de Graduação Modulada. • Cria a Associação de Ex-Alunos. • Inaugura o Centro de Educação Permanente em Saúde Anhembi Morumbi, o Campus Vale do Anhangabaú e o Centro de Design e Moda.
Tabela 4 – Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi. Histórico das empresas desde 1907, com a construção da fábrica brasileira de calçados por Robert Frase; até o final do século XX, com a criação do Centro de Design e Moda pela Universidade Anhembi Morumbi. Fonte: Tabela adaptada pela autora da Linha do tempo elaborada por Moda Brasil, disponível no site Moda Brasil. Disponível em: http://www2.uol.com.br/modabrasil/trilhadotempo/linhadotempo/index.htm, acessado em 25/08/2011.
62
economia urbana e contribuem para a melhoria da qualidade
de vida.
Visando estes objetivos, a Universidade Anhembi
Morumbi desenvolve um planejamento estratégico que
culmina na contratação do arquiteto Vicente Giffoni, do Rio
de Janeiro, para desenvolver um estudo para um centro de
Educação, Cultura e Lazer, similar ao que havia projetado em
1993, para a Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca. A
proposta seria fundamentada no conceito de Shopping
Universitário, onde a universidade teria equipamentos de
convivência, tais como cinema, hotel, teatro e lojas, além dos
tradicionais espaços educacionais.
O projeto do Campus Centro buscava a requalificação
do edifício, recuperando e preservando as características
básicas da estrutura arquitetônica e histórica da construção
feita para a Alpargatas; revitalizando uma área abandonada a
margem da linha ferroviária e transformando o campus em
uma centralidade destinada, não somente a área acadêmica,
mas também aberto a comunidade.
mas também aberto a comunidade. mas também aberto a comunidade. mas também aberto a comunidade.
Vicente Giffoni Filho é arquiteto urbanista formado pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro em 1985, com produção nas áreas acadêmicas,
construção, interiores e planejamentos imobiliários. Fundou o curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro, em
1996. E, atualmente, mantém o escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e
Planejamento Ltda.
Figura 23 – Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá, com capacidade para 15000 alunos, na Barra da Tijuca, 1993, projeto. Fonte: Site oficial do escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e Planejamento, disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/ port/, acessado em 23/08/2011
63
Figura 24 – Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997, projeto desenvolvido pela arquiteta Deise Marques Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
64
O projeto recebe o Prêmio Master Imobiliário de
1998, por Revitalização Urbana na cidade de São Paulo
com a recuperação urbana do quadrilátero urbano
compreendido entre a Radial Leste e a Linha da CPTM,
no Bairro do Brás.
A construção inicia-se em novembro de 1997,
finalizando a primeira fase em janeiro de 2004.
Atualmente, este Campus continua em construção,
devido o potencial construtivo para expansão e a
crescente demanda pelo Ensino Superior.
O prêmio, criado em 1995 pelo Capitulo Nacional Brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias (Fiabci/Brasil) e o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), é uma homenagem da indústria imobiliária a produção de alto nível de arquitetura, engenharia, construção, desenvolvimento urbano, incorporação, administração, vendas e marketing, entre outras atividades relacionadas.
Figura 25 – Mapa de localização do Campus Centro no quadrilátero urbano compreendido entre a Radial Leste, Linha da CPTM e Viaduto Bresser. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora
65
Figura 26 – Fachada principal do Campus Centro, frente para a Rua Doutor Almeida Lima. Figura 27– Fachada posterior do Campus Centro, frente para Radial Leste. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Acervo Vicente Giffoni. Disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/port/, acessado
em 25/08/2011.
66
Figura 28 – Projeto do Campus Centro desenvolvido pela arquiteta Deise Marque Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni, para obtenção de financiamento junto Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
67
676767
Figura 29 – Implantação atual do Campus Centro: projeto da arquiteta Deise Marques Araújo, com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. O espaço ainda vem sofrendo modificações diante do crescimento da Instituição, realizados pelo Departamento de Obras e Projetos da Instituição. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
68
As propostas de implantação do Campus Centro
elaboradas pela arquiteta Deise e Giffoni são, relativamente,
similares. Algumas áreas da primeira proposta foram
remanejadas ou extintas, tais como:
A área de Esporte e Lazer hoje é ocupada por salas
de aula denominadas Città;
o Centro de Eventos com 6 salas de aula e um mini
teatro foi substituído pela Área de Eventos com
Teatro Anhembi Morumbi, com capacidade para 700
lugares, e duas quadras poliesportivas descobertas
O Centro de Rádio e TV foi transferido para área de
Práticas Jurídicas e Forense.
A área de Práticas Jurídicas e Forense não foi
implantada no Campus Centro. Foi projetada uma
área denominada Núcleo de Práticas Jurídicas no
Campus Vale do Anhangabaú, sendo transferida,
recentemente, para o Campus Avenida Paulista.
A área institucional não foi construída, teve a
academia instalada de 2007 a 2010, sendo que ,
atualmente, abriga a área da Central de Atendimento
ao Candidato e Agência Experimental. O piso das
áreas que não são ocupadas academicamente não foi
finalizado.
Segundo arquiteta Deise (02/08/2011), em 1998, o
Campus Centro inicia suas atividades com aproximadamente
400 alunos, chegando a quase 700 no segundo semestre e
saltando para algo em torno de 2000 alunos no terceiro
semestre. As obras que estavam sendo realizadas
paralelamente a ocupação do campus tem seu ritmo
acelerado. E as propostas para os laboratórios específicos
passam a ser mais bem elaborados.
Desta forma, para desenvolver a área de
gastronomia, medicina veterinária, fisioterapia, buscou-se o
que se tinha de referência, informada pelas coordenações de
curso, na área para desenvolvimento dos projetos. Como o
espaço era generoso, com pé-direito alto, vãos grandes,
instalações e fundações existentes, os custos da obra eram
direcionados para investir em revestimentos diferenciados;
tentando conciliar a estrutura histórica com acabamentos
atuais.
Com o crescimento da instituição, a concorrência de
mercado, que exibiam abertura de novas universidades, e um
estudo apontando o baixo crescimento vegetativo da
população brasileira, a Anhembi Morumbi com uma visão
69
empreendedora, em 1999, implanta cursos Sequenciais.
Estes cursos tinham intuito de atenderia, não somente a
demanda de calouros na faixa etária entre 17 e 22 anos,
recém-saídos do Ensino Médio, mas conquistaria, também,
um público mais velho, atuante no mercado de trabalho e
que buscavam enriquecer o currículo, profissionalizar-se,
inserindo diplomas de Formação Específica, com duração de
dois anos.
Em 2000, associa-se a outras IES de diversas regiões
do país e cria a Universidade Virtual Brasileira (uvb.br),
posteriormente denominada Instituto Universidade Virtual
Brasileiro (iuvb.br) responsável pela oferta de cursos à
distância e on-line.
O Campus Vila Olímpia que até então tem seus
espaços adaptados para atender a demanda acadêmica,
consegue aprovação de investimento para ampliação de sua
infraestrutura predial e expansão da marca. A instituição, que
havia adquirido o lote onde funcionava o antigo Retiro dos
Artistas de São Paulo, constrói, em 2001, seu primeiro
edifício vertical neste campus, a Unidade 6, projeto do
arquiteto Francisco Petracco, da qual a trajetória será
discorrida no capítulo 2. Embora os alunos do curso de
arquitetura solicitassem a transferência do curso para o
prédio, são os cursos sequenciais – Cursos Superiores de
Formação Específica, que lá são alocados, de acordo com
demanda de mercado crescente e a grande quantidade de
alunos ingressantes nesta nova modalidade acadêmica.
Figura 30 – Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia, frente para a Rua Casa do Ator, evidenciando a estrutura metálica e o vidro com destaque para a escada central solta do chão através de tirantes. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
70
Em 2001, cria-se o curso de Mestrado em
Hospitalidade e para abrigar este novo corpo acadêmico,
reforma-se o a Unidade 8, denominando como Villagio, para
implantação da área de Stricto Sensu. Neste ambiente, além
das áreas de pesquisa, encontra-se um ambiente de
convivência com lojas, cafés como lugar de estar no campus.
Ainda, em 2001, dando continuidade na iniciativa de
revitalização arquitetônica, inaugura o novo campus no
Centro Velho de São Paulo, demonstrando apoio no sentido
de melhoria da área central. Para o reitor Rodrigues, o
Campus Vale do Anhangabaú, atendia duas necessidades
básicas da Universidade: uma de ordem privada, que seria a
expansão de infraestrutura com melhores espaços sob o
aspecto logístico; e a outra, de ordem pública referente à
ativação do processo de valorização e revitalização do Centro
de São Paulo.
Vargas e Castilho (2006), narram o processo de
preservação urbana, comum no período de 1970 a 1990,
como um momento em que a preocupação estava na
importância da preservação das vizinhanças e na restauração
histórica de edifícios, com o aproveitamento da estrutura
existente e introdução de novas atividades, principalmente
Figura 31 – Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 , apresentando o novo Campus Anhangabaú como mais uma opção de localização e espaço acadêmico na área de Direito e Negócios. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
71
de lazer e cultura. O objetivo deste período é a valorização da
memória, na organização da sociedade em defesa ao
patrimônio histórico e na divulgação de que os centros da
cidade seriam espaços essenciais para a vida urbana,
carregado de infraestrutura, identidade e orgulho cívico.
A proposta para o Campus Vale do Anhangabaú,
atendia estas prerrogativas, marcando a presença da
Universidade Anhembi Morumbi no Centro Histórico da
cidade de São Paulo, através da intervenção em um edifício
que outrora abrigava a sede do Banco de Boston desde 1960.
O Banco de Boston acompanhava a dinâmica de
deslocamento das atividades centrais para novos polos, tais
como a transferência de instituições que buscavam
tecnologia e edifícios mais modernos na Avenida Paulista,
caminhando para Avenida Faria Lima, depois Marginais e
finalmente na área do Brooklin – onde a cidade assume o
novo conceito de cidade que sobrevive sem a infraestrutura
básica aliada a um estilo arquitetônico⑥. A Instituição
bancária passa a ter sua sede em um arranha-céu próximo a
Marginal Pinheiros com 145 metros, até ser vendido ao
Banco Itaú, em 2006.
O projeto do Campus Vale do Anhangabaú, atende as
Figura 32 – Fachada do Campus Vale do Anhangabaú frente para a Rua Líbero Badaró, com vista para o cruzamento com a Avenida São João. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
necessidades arquitetônicas advinda de seu programa e
demanda acadêmica, mas não atrai seu público de imediato.
Embora a infraestrutura urbana facilite o acesso com as
proximidades das estações de metro São Bento e
Anhangabaú, os horários das aulas e a falta de segurança da
região central inibiram o sucesso da iniciativa. Atualmente,
6. MEYER, Regina - O centro da
metrópole como projeto -
artigo da coletânea São Paulo
XXI – Entre o projeto e a
história – Viva o Centro, pág.
6 a 10, disponível em
http://www.vivaocentro.org.
br/download/publicacoes/sa
opaulocenroxxi.pdf, acessado
em 05/05/2011.
72
com nova politica de segurança por parte da Prefeitura para
a área, busca-se novamente uma tentativa para se dar vida à
área Central.
Em 2002, é inaugurado o Campus Morumbi, também
sob um aspecto de requalificação de galpão fabril, a antiga
Durex, no bairro do Brooklin. Embora a construção não
apresente o mesmo valor histórico das outras construções, a
iniciativa de se manter toda a estrutura e instalações
aparentes, gerou um universo simbólico para a área de
concentração do campus, que inicialmente, implantados os
cursos de Design e Moda, e atualmente ampliado para Escola
de Arte, Arquitetura, Design, Moda e Business School São
Paulo (BSP).
Os galpões requalificados ganharam o nome de
Galpão das Artes, proporcionado por novos e grandes
espaços de ateliês e laboratórios específicos com objetivo de
agrupar todas as atividades artísticas e poder expandir a
identidade própria desta Escola. Em 2007, a infraestrutura
acompanha o crescimento do campus e emerge um edifício
de 10 andares denominado Edifício Jardim, visto o grande
bosque refletido em sua fachada de vidro.
Figura 33 - Fachada principal do Campus Morumbi, frente para a Avenida Roquei Petroni Junior, evidenciando sua escadaria de acesso ao campus. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
Figura 34 – Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi, da arquiteta Deise Marques, para efeito ilustrativo da edificação. Na imagem, foi retirada a vegetação das árvores, existentes em frente ao edifício, que refletem o jardim no fechamento em vidro. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
73
73
Figura 35 – Mapa do Campus Morumbi, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
74
A partir de 2003, continua-se a expansão da
infraestrutura do Campus Vila Olímpia, iniciando obras para
construção do segundo edifício vertical, interligado a
Unidade 6, a uma nova unidade intitulada de Unidade 7,
ficando a cargo da arquiteta Deise que era a então
coordenadora da AOP naquele ano.
Segundo Deise (02/08/2011), a proposta do novo
edifício seria compor um diálogo entre a nova construção e a
existente, contudo este diálogo deveria ser encontrado na
oposição da arquitetura desenvolvida por Petracco, isto
porque qualquer edificação que sugerisse a mesma
linguagem, única deste edifício existente, seria uma
competição de arquitetura.
Desta forma, mesmo com que as construções
apresentassem características distintas em seu projeto, o
diálogo aconteceria entre os níveis dos prédios. Como o
terreno é íngreme, o pavimento térreo da unidade 7
acompanharia o térreo da unidade 6, ficando três metros
acima do nível da rua, isto faria com que a nova edificação
ficasse solta do solo. Nesta cota a entrada do edifício
aconteceria pela própria unidade 6. O desnível gerado entre
o térreo e a rua, provocaria um primeiro subsolo, fazendo
que a construção criasse outro acesso, uma entrada
independente para a unidade 7.
Figura 36 – Fachada do Complexo Theatro, vista da Rua Casa do Ator. A esquerda, unidade 6 projeto de Francico Petracco, a direita, unidade 7,projeto de Deise Marques. É possível identificar a diferença de materiais onde um é de estrutura metálica azul e vidro e a o outro em tijolo aparente e revestimento tipo fulget. Nota-se, também, a relação de níveis dos edifícios, no qual o pavimento térreo da Unidade 6 forma uma esplanada com o pavimento térreo da Unidade 7; e o subsolo da Unidade 7 favorece uma entrada independente a esta unidade. Fonte: Desenho em AutoCAD produzido pela autora
75
Ainda de acordo com Deise (02/08/2011), outro
motivo para opção pelo volume fechado na Unidade 7 é
resposta a um fator econômico, isto porque foi solicitado
pela instituição uma maior economia no uso de vidro,
cortinas e materiais acústicos. E embora esta solicitação
produzisse uma arquitetura distinta, o partido do projeto
preferiu por um sistema construtivo que mantivesse o
mesmo perfil da Unidade 6, o que resultou na utilização do
aço como elemento de estruturação do projeto, haja vista o
valor do aço no mercado financeiro e, acima de tudo, a
agilidade durante a construção.
Outro ponto levantado por Deise (02/08/11) foi à
aproximação do partido entre as edificações por meio de sua
modulação estrutural. Como não é possível conhecer a
demanda de alunos a serem matriculados, as salas de aula
precisavam apresentar um caráter mais flexível. Facilitando a
modificação e redimensionamento da mesma.
Após a construção da Unidade 7, a arquiteta Deise foi
convidada a desenvolver o projeto para a unidade 5, também
no Campus Vila Olímpia; formando, assim, o Complexo
Theatro, composto por três imponentes edifícios na rua Casa
do Ator, integrando uma nova paisagem da região.
agilidade durante a construção or, integrando uma nova paisagem da região.
Figura 37 – Fachada Complexo Theatro, frente para a Rua Casa do Ator, com a Unidade 6 em primeiro plano e a Unidade 7 ao fundo, mostrando a diferenças arquitetônicas entre as fachadas de vidro e de tijolo a vista; bem como sua integração a partir da esplanada do térreo, com entrada pela Unidade 6 Fonte: Acervo pessoal da autora
76
Figura 38 - Ocupação urbana dos imóveis destinados as unidades acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi no Campus Vila Olímpia, no período de 1978 a 2011 Fonte: Desenho da autora
78
Atendendo a globalização, em 2005, a Universidade Anhembi
Morumbi alia-se a Rede Internacional de Universidades
Laureate, com o objetivo de ampliar sua presença no
mercado, conferindo um caráter internacional. Os cursos da
Universidade Anhembi Morumbi passam a oferecer
vantagens como complemento da grade curricular e estágios
internacionais.
Nesta mesma época, o departamento de obras e
projetos da universidade é terceirizado, e a equipe que
outrora era composta de quase 15 funcionários passa a
contar com uma equipe de seis pessoas na empresa GMA
Incorporadora e dois funcionários na AOP da universidade.
Gráfico 5– Relação de funcionários na AOP, no decorrer dos anos e expansão do campus Fonte: Tabela elaborada pela autora
Figura 39 – Fachada lateral do Complexo Theatro, com a Rua Casa do Ator entre as unidades 6, em primeiro plano, e a Unidade 5, ao fundo. É possível observar a arquitetura semelhante entre a Unidade 5 e 7, o que faz com que a arquitetura da Unidade 6 destaque-se na paisagem. Fonte: Acervo pessoal da autora
79
Figura 40– Informe publicitário Folha de São Paulo: Recorte do Informe publicitário apresentado como encarte na Folha de São Paulo, em dezembro de 2005, anunciando a aliança entre a Universidade Anhembi Morumbi e a Rede Internacional de Universidades Laureate Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
80
Em 2006, com o reconhecimento da CAPES aos dois
cursos de Mestrado, o Mestrado em Design e o Mestrado de
Comunicação, ratificam o status como Universidade.
E, em 2007, a AOP é reestabelecida dentro da
Instituição, sob a gerência do arquiteto Glauco Humberto
Fioritti, arquiteto urbanista, formado pela Universidade de
Belas Artes e que já trabalhava na instituição na área de
Segurança do Trabalho há aproximadamente 15 anos.
Neste mesmo ano, o Campus Centro passa por nova
transformação, parte de suas instalações são readequadas
para receber o curso de Medicina, com ênfase na prática de
simulação, a partir do uso do SimMan 3G.
Em 2008, a Universidade inaugura o Campus Avenida
Paulista. O edifício que abrigava a Faculdade de São Paulo
(FASP), agora sedia a área de Negócios da Universidade
Anhembi Morumbi. O edifício projetado inicialmente para ser
um espaço comercial, apresentava uma série de problemas
legais para funcionamento acadêmico, um dos motivos que
fizeram com que a antiga faculdade abandonasse o imóvel.
Ciente da importante localização do Campus, a Instituição
opta por investir na infraestrutura deste espaço, localizado
em um dos maiores centros empresarial da América Latina.
vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo
da Instituição.
Sim Man 3G é um manequim
de última geração que simula
comportamentos humanos,
tais como choro, sangra-
mento, convulsão e responde
a estímulos químicos, biológi-
cos, radiológicos e nucleares.
Ver:
http://portal.anhembi.br/pu-
blique/cgi/cgilua.exe/sys/star
t.htm?infoid=5325&sid=2
vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo
da Instituição.
Figura 41– Laboratório de Simulação do curso de Medicina, com destaque para a presença do boneco SimMan 3G, que simula comportamentos humanos e facilita demonstrar situações de casos reais a partir da programação do equipamento, dinamizando o método de ensino.
Figura 42 – Fachada do Campus Avenida Paulista, frente para a Avenida Paulista, nº2000, com destaque para o calçadão no primeiro plano e a presença da Universidade Anhembi Morumbi na Avenida que é o cartão postal da cidade de São Paulo. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
81
Neste mesmo ano, incorpora a Business School São
Paulo – BSP, com intuito de fazê-la seu braço especializado
em MBAs e cursos para empresas dentro do Campus
Morumbi. Com a transferência da sede da BSP para o
Campus Morumbi e todos os riscos administrativos e
financeiros devidamente planejados e ajustados, a
Universidade deparou-se com uma questão incomum, o
Campus caracterizado pelo público dos cursos da Escola de
Artes, Arquitetura, Design e Moda eram totalmente distintos
do público da BSP, evidenciando suas diferenças
socioculturais.
Os alunos da BSP são profissionais formados com
mais de cinco anos de experiência de mercado, sendo a
maioria diretores ou executivos de liderança das grandes
empresas; enquanto os alunos da UAM são em sua maioria
jovens recém-saídos do colegial e cursando sua primeira
faculdade. Com perfis distintos desde o vestuário até o valor
do investimento no curso, a universidade proporcionou
diferenças no espaço físico dos dois segmentos acadêmicos.
Esta diferença de cultura acadêmica tem sido superada, mas
já existe projeto para transferência deste público para uma
unidade estritamente de negócios.
Figura 43- Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi, com recepção para os alunos, conta com balcão de informação poltrona estofadas e mesas de estudo.
Figura 44– Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi, com o espaço do corredor vazio, de acordo com a entrega da obra em 2007. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
82
Atualmente, a Universidade, respeitada pela sua
missão de “contribuir para a construção de um mundo
melhor, produzindo conhecimento e formando talentos
criativos e empreendedores, capazes de ter sucesso em sua
vida pessoal, social e profissional”⑦ é, em muito, o reflexo
de seu idealizador, que a princípio queria ser jornalista,
cursou arquitetura, trabalhou no DOP com fiscalização de
escolas, idealizou e implantou cursos de formação
profissional e tornou-se um empreendedor da Educação⑧;
abraçando a visão de criar “uma intuição moderna, arrojada
e inovadora, com modelos pedagógicos e administrativos
diferenciados e capazes de desenvolver, nos alunos sua
competência para empreender e inovar em sua atuação
profissional.”
Atualmente, após 40 anos de sua fundação, que
iniciava com 360 alunos em uma única edificação no Bairro
do Morumbi, a universidade conta com:
32 mil alunos cursando a universidade;
44 cursos de graduação;
14 cursos de graduação tecnológica;
11 cursos on-line;
19 cursos de especialização;
11 cursos de graduação executiva;
3 cursos de mestrado;
765 funcionários administrativos e
835 professores atuando na Instituição.
Todas as atividades distribuídas em um total
de 77.292,44 de m² da área de São Paulo, com 162.465,00 de
m² construídos, lançados em 5 Campi, com um total de 15
edificações.
7. Missão e Visão divulgadas no
site da Universidade
Anhembi Morumbi:
Disponível em:
http://portal.anhembi.br/pu-
blique/cgi/cgilua.exe/sys/star
t.htm?sid=119. Acesso em
14.01.2011
8. Ver citação de Rodrigues
(2005), “Queria ser jornalista,
graduei-me em arquitetura,
trabalhei para o estado, abra-
cei a causa do Turismo e há
35 anos sou um empreende-
dor educacional.” Pag. 246
83
Capítulo 2. VIVENCIAR O prédio de vidro
2.1 A origem da unidade 6
De acordo com o portal da Prefeitura de São Paulo⑨,
o bairro da Vila Olímpia compõe o distrito de Itaim Bibi em
conjunto com a Chácara Itaim, Vila Funchal, Brooklin Novo,
Brooklin Paulista, Jardim Edith, Cidade Monções, Conjunto
JK, Vila Cordeiro, Vila Gertrudes e Vila Uberabinha.
9. Disponível em
http://www.prefei-
tura.sp.gov.br/cidad
e/secretarias/subpre
feituras/pinheiros/hi
storico/index.php?p
=472, acessado em
18 de julho de 2011
Figura 45 – Mapa de uso
e ocupação do solo da
Regional de Pinheiros,
incluindo o Bairro Vila
Olímpia, evidenciando
que a macrozona de
estruturação urbana da
área onde situa o cam-
pus Vila Olímpia da
Universidade Anhembi
Morumbi é Zona Mista
de Alta Densidade.
Fonte: Site da Subprefei-
tura de Pinheiros
84
Este distrito surge com características de bairro
popular, entre a década de 1920 e 1930, com uma população
modesta de classe média, nas terras da chácara de 120
alqueires do general José Vieira Couto de Magalhães. A
propriedade, que posteriormente foi passada para seu irmão
Leopoldo, era conhecida como “terreno de Bibi”, que
acrescido do passado indígena, em que Itaim em tupi
significa pedra pequena, origina o nome do Bairro.
A Vila Olímpia fazia parte do espólio da chácara, que
segundo Sávio (2004), tiveram as propriedades do general
desmembradas por seus herdeiros em lotes e pequenas
chácaras entre a parte alta, próximo a avenida Santo Amaro e
Bandeirantes e terrenos na parte baixa, próximo a avenida
Nações Unidas e Presidente Juscelino Kubitschek .
Por estar distante do corredor de passagem entre
Santo Amaro e o centro da cidade, teve um desenvolvimento
lento. Sávio (2004), conta que enquanto na década de 70,
apresentava-se como bairro de classe média consolidada, a
ocupação era mista, sendo que na parte alta estabeleciam-se
casas térreas e assobradadas geminadas com edifícios
residenciais de pequeno porte, enquanto na parte baixa,
próximos aos córregos uberada e uberabinha, encontravam-
se as indústrias e depósitos fabris, delimitados pelas favelas
Coliseo e Juscelino Jubitschek.
Assim se manteve até 1989, quando, durante a
administração de Janio Quadros, o arquiteto Julio Neves,
apresenta o projeto do “Bulevar Zona Sul”, como resposta ao
transito existente nesta região e valorização imobiliária da
área. O projeto consistia em demolições e reurbanização de
quadras no eixo da Avenida Brigadeiro Faria Lima e
Engenheiro Carlos Berrini, rejeitado por moradores da área, o
que acarretou seu primeiro veto. O projeto é retomado no
governo de Luiza Erundina, mas só é aprovado em 1993, na
gestão de Paulo Maluf, decorrente da Operação Urbana da
Faria Lima.
De acordo com Sávio (2004), o então prefeito Maluf
anunciou o prolongamento da Avenida Brigadeiro Faria Lima
como obra emblemática de sua gestão, viabilizada pela
venda de potencial construtivo através da Operação Urbana.
Contudo, receando não concluir a obra até o final do
mandato, iniciou o projeto com recursos que previa
recuperar posteriormente por meio do interesse do mercado
imobiliário na região.
Com a inauguração em 1997, evidenciava-se o
85
aumento de casas noturnas e de espetáculos, bares e
restaurantes, aferindo o nome de Brejo Alegre decorrente da
atratividade no entreterimento noturno.
No portal do Bairro Vila Olímpia⑩, conta-se que as
primeiras construções horizontais, com gabaritos baixos
residenciais e comerciais, tinham as ruas identificadas por
números. Na Seção de Denominação de Lougradores
Públicos, a oficialização da rua Casa do Ator, refere-se a Casa
de Ator como sendo a residência do artista.
A origem do nome aconteceu com a chegada da
entidade circense, de Francisco Colman, que constrói sua
sede no número 275, fazendo com que esta rua passe a
abrigar uma casa para artistas circenses aposentados, com
algumas atividades da Academia Piolin de Artes Circenses,
patrocinada pelo governo estadual. A entidade funcionou
entre o período de 1978 até 1982, vendendo seu terreno a
mantenedoura da Universidade Anhembi Morumbi em 1995.
Em relatos no Blog Verônica Tamaoki, a pesquisadora
escreve como a coleção de Boletim Mensal da Federação
Circence constituída por Francisco Colman chegou as suas
mãos possibilidando realizar uma pesquisa sobre o Circo no
Brasil no início do século.
Figura 46 – Francisco Colman, entre 1979 e 1980.
Fonte: http://blog.pindoramacircus.com.br
Tamaoki relata que enquanto aluna da Academia
Piolin, quando a escola funcionava sob as arquibancadas do
Estádio do Pacaembu, conheceu Colman como diretor. Narra
10. Ver histórico no site Bairro
Vila Olímpia, disponível em
http://www.bairroilaolimp
ia.com.br/htmHISTORIA.ht
m, acessado em 18 de
julho de 2011.
Verônica Tamaoki é
jornalista, atriz e diretora
circense, produziu o
evento Circo Nerino no
Sesc Pompéia em
homenagem ao palhaço
Piolin, fundou o site
Pindorama Circus com
notícias do Circo Brasileiro,
escreveu o livro Circo
Nerine ao lado de Roger
Avanzi. Os relatos sobre a
Casa dos Artista no Bairro
Vila Olímpia encontram-se
Disponíveis em http://
blog.pindoramacircus.com
.br/category/circo-teatro,
acessado em 18 de julho
de 2011.
86
a trajetória do artista que foi secretário do Circo Nerine, em
1936 lança a revista Scena, em 1950 é diretor e redador da
revista Máscaras e em 1977, torna-se presidente da
Associação Piolin de Artes Circenses, entidade responsável
pela Casa do Ator, em São Paulo.
Segundo depoimentos do pesquisador Sérgio Freitas,
em 11 de abril de 1977, a Secretaria do Estado dos Negócios
da Cultura, Ciência e Tecnologia, fundou a Associação Piolin
de Artes Circenses, inaugurando suas atividades com o
“Festival Piolin de Artes Cirscenses”, “Natal no Circo” e o
espetáculo de circos no Ginásio do Estadio Municial “Paulo
Machadao de Carvalho”. Em 08 de agosto de 1977, inaugura
a Escola Oficial de Artes Circenses dirigida ao ensino e
aprimoramento das artes circenses, com aulas as segundas e
quartas-feiras no Estádio Municipal “Paulo Machado de
Carvalho”
No portal da Fundação Nacional das Artes, em
depoimento de Dirce Tangará Militello, o principal objetivo
da escola de circo, naquela época, era tentar trazer de volta a
profissão dos mestres circenses.
Assim, Sr. Francisco Colman e seu secretário
Waldemar Merizio Vieira, administravam um espaço e
reinvindicavam auxílio à classe dos profissionais do circo.
Tamaoki, em visita a Casa do Ator no ano de 1986,
conta que Francisco Colman morava no escritório da sede e
Sr. Waldemar continuava ao seu lado como caseiro. Quando
retornou entre os anos de 1991 e 1992, Sr. Waldemar
informou-lhe da morte de Colman.
A Casa do Ator não era apenas uma casa, eram
várias. Tinha uma casa central, e outras casas,
inclusive uma edícula comprida, uma capela, um
jardim e acho que mais uma pequena casa no
fundo do terreno. Entre os apartamentos situados
na edícula, esses com quarto e banheiro, e nas
outras casas, acredito que havia uma média de
uns 25. Muitas vezes, a Academia Piolin ensaiou
no quintal da Casa do Ator, no início da década de
1980, e já na época, a maioria de seus
apartamentos estava vazio. (Veronica Tamaoki⑪,
2007)
De acordo com os relatos do engenheiro Delduque
(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve
com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte
edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.
Revista Scena: Revista
Circense, órgão oficial do
Circo Theatro Romano.
Revista Máscara: Revista
Circense, órgão oficial do
Sindicato dos Atores
Teatrais, Cenógrafos e
Cenotécnicos do Estado
de São Paulo.
11. Disponível em
http://blog.pindoramacirc
us.com.br/category/circo-
teatro
Delduque Oliveira
Martins, foi Diretor de
Gestão de Campus e de
Patrimônio da Uni-
versidade Anhembi Mo-
rumbi e atualmente tra-
balha como Superin-
tendente do Instituto
Racine em São Paulo.
87
De acordo com os relatos do engenheiro Delduque
(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve
com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte
edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.
A Universidade dividia o espaço com a Associação Piolin, que
mantinha o espaço também para guardar materiais e
equipamentos artisticos para locação, tais como som
fantasias, equipamentos de circo, entre outros.
No final da década de 1990, segundo Savio (2004), o
bairro da Vila Olímpia sofria intensa verticalização,
valorização fundiária e adensamento; com constução de
vários edificíos comerciais. A instituição, sob regência de
Rodrigues, conhecedor do mercado imobiliário e aspirando
ampliação da infra-estrutura do Campus Vila Olímpia,
adquire, em 12 de janeiro de 1994, o terreno da Casa do
Ator, 265, sob propriedade de “Casa do Ator Centro de
Comunicações Artísticas e Culturais”. O terreno de 1.000m²
continha uma pequena edificação, a capela e a grande área
do estacionamento. E em 23 de março de 2005, adquire o
lote 275, também com 1000m² composto de pequenas
edificações. Estes lotes demonstravam sua vocação
educacional, onde outrora participaram da construção da
Academia Piolin, agora seria espaço pertencente aos anseios
acadêmicos de Ensino Superior.
Ainda que o bairro estivesse passando por esta
crescente imobiliária e a universidade estivesse contando
com aproximadamente três mil alunos, no final da década de
1990, o terreno encontrava-se em Z2, zona que corresponde
ao uso predominatemente residencial com densidade
Imagem 47 – Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275, pela Universidade Anhembi Morumbi, em 1995. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
88
demográfica baixa. Terrenos nestas condições, segundo a
Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA):
Corresponde à parte da área urbana não
incluída nos perímetros das demais zonas,
caracterizando-se pela predominância
residencial, sendo também permitidos usuos
comerciais, de serviços, industriais de pequeno
porte e institucionais. Nesta zona, as edificações
podem ter área construída máxima igual à
ocupação do lote, ocupando apenas metade do
terreno, sendo permitido que nos edifícios
residenciais, a área construída seja o dobro da
área do lote, com uma ocupação menor da
superfície do lote (SEMPLA⑫, grifo da autora)
Diante da legislação, a administração da Universidade
Anhembi Morumbi solicita um estudo para verificar qual o
potencial construtivo do terreno e depara-se com o resultado
de construção com, no máximo, a equivalência da área do
terreno de 2.000 m²; metragem esta que não atenderia a
estimativa de crescimento almejada.
Consciente de que a legislação urbanistíca define
acordos e propõe limites invisíveis, Eduardo Sobrosa, sócio
da construtora Sobrosa⑬, que acompanhando o processo
em reuniões com o engenheiro Delduque, procura uma
lacuna nesta legislação que possibilitasse a construção de um
edifício para a universidade. A construtora que estava
trabalhando em pequenas reformas na unidade 5 e fazia
algumas demolições no Campus Centro, via o potencial de se
manter parceria na construção de novos edifícios e consoliar
os laços com a instituição. Sua insistência na pesquisa revela
uma possibilidade construtiva na LEI Nº 8.211, de 06 de
março de 1975.
Esta Lei, que estabelecia condições de localização,
aproveitamento, ocupação e recuos para edificações
destinadas a estabelecimento de ensino, onde apresentava
como aproveitamento do terreno de (40 x 50) metros que, a
princípio, permitirra uma construção de apenas uma vez o
lote do terreno; com o uso desta lei permitiria a construção
de quase 4.000 m²; resultado do aumento do
aproveitamento que antes tinha coeficiente 1 e, passa a ser
2. Embora a área possa ser maior, a taxa de ocupação
permanecesse igual, considerando a ocupação da metade do
terreno.
Estes dados podem ser melhor visualizados, na
análise da tabela abaixo:
12. Secretaria Municipal de
Planejamento, disponível
em http://www.prodam.
sp.gov.br/sempla/zone.ht
m, acessado em 18 de
julho de 2011
13. Ver histórico da
Construtora Sobrosa no
Capítulo 2 – A construção
Ver Anexo com a Lei Nº
8.211
89
Com a possibilidade de verticalização oferecida pela
legislação, Sobrosa reuniu-se⑭ ao corpo administrativo para
apresentar a solução com um estudo das exigências mínimas
e possíveis características que pré-determinariam o edifício a
ser implantado na Casa do Ator, 275. Investi na
verticalização do gabarito acadêmico pela universidade, em
um bairro residencial, acompanhava a ascensão imobiliária
vivenciada pela Vila Olímpia, no final da década de 1990,
descrita por Sávio (2004); com torres comerciais que
substituiam antigos sobrados e galpões do bairro, atraídos
por soluções tecnológicas e especificações técnicas de última
geração, além de flexibilidade espacial dos novos edifícios
com a sofisticação dos empreendimentos.
15. O arquivo denominado
Prefeitura.doc, não
apresentou data e a
Construtora , também, não
soube informar com
precisão. Acredita-se que as
negociações ocorreram
entre o segundo semestre
de 1998 e o primeiro
semestre de 1999.
Lei dos estabelecimentos do ensino pertencentes ao sistema educacional do estado de São Paulo e dos estabelecimentos de educação infantil
Zona de
uso
Coeficiente de
aproveitamento
Taxa de ocupação
máxima Recuos mínimos Estacionamento de veículos
Espaço destinado a desembarque e manobras de
veículos
A B C D E F G H I
Z1 1 1 0,5 - 6 3 uma vaga p/ cada 75 m² de área
edificada resultante da aplicação dos
coeficientes estabelecidos na coluna C
para os estabelecimentos de categoria
E1 e E2;
p/ os estabelecimentos da cat.
E3 a COGEP estabelecerá p/ cada caso
específico o nº mínimo de vagas
É obrigatório proporcionar fora do logradouro púb. de
acesso e especificar no projeto os pátios e vias de
circulação destinadas a:
a) embarque e desemb. de estudantes;
b) carga e descarga de veículos de serviço;
c) parada temporária e manobra de veículos
Z2 2 2 0,5 0,5 6 3
Z3 6 2 0,5 0,5 5 -
Z4 6 2 0,5 0,7 5 -
Z5 6 2 0,5 0,8 - -
Z6 3 1,5 0,5 0,7 6 3
Z7 - - - - - -
Tabela 5– Quadro único anexo a LEI Nº 8.211, de 06 de março de 1975, complementado pelas LM 8.769/78 e 9.094/80, com diretrizes para construção de espaços pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo, com grifo da autora nos itens referentes ao projeto do Edifício Theatro Casa do Ator. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/ legislacao/index.php?p=8664, acessado em 18 de julho de 2011.
90
A instituição que até o momento, só realizava
adaptações nas unidades da Vila Olímpia, investe na
atualização de sua infraestrutura e faz emergir um edíficio
consolidando o seu crescimento no mercado educacional,
marcando o prestígio do recém-adquirido status de
Universidade Anhembi Morumbi.
Figura 48 – Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes impostas pela Lei Nº 8.211, referente aos recuos mínimos exigidos para aprovação do projeto com uso educacional. Fonte: Desenho elaborado pela autora
Imagem 49 – Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes da Lei Nº 8.211 Fonte: Google maps 2011, com edição da autora.
-
91
Figura 50 – Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
92
Figura 51 – Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
93
2.2. Um pouco sobre o arquiteto
Partindo deste contexto, da importância do terreno
para a rua e bairro, das dificuldades enfrentadas para
potencializar a construção do edifício e a relevância da
construção na conjuntura da Universidade, era preciso
apontar o arquiteto que idealizaria o projeto. A partir de
entrevistas, publicações em revistas e sua tese de doutorado,
foi possível conhecer Francisco Petracco.
Petracco era o coordenador do curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, com rica
trajetória profissional acadêmica e arquitetônica, quando
convidado a projetar o Prédio de Vidro.
Neto de arquiteto e de pai artesão industrial e
violinista, foi seduzido pela profissão do avô quando desde
cedo o acompanhava em suas obras.
Em sua vida acadêmica conhece o professor Vicente
Mecozzi, desenhista e pintor, que incentivava alunos com
aptidões plásticas a inclinarem-se ao curso de Arquitetura;
Orestes Rosalia que romantizava a História em fatos poéticos
e humanísticos; e Pedro Corona, já na graduação, grande
promotor do Desenho do Projeto e do Desenho do
Francisco Petracco é neto de
Francisco Verrone, arquiteto
responsável por projetar e
coordenar as obras da IRF
Matarazzo, tais como
Maternidade Matarazzo e
Casa das Caldeiras.
Figura 52 – Francisco Petracco
Fonte: Acervo Anhembi Morumbi
94
Urbanismo, por quem tem grande admiração pelo
aprendizado pelo desenho referenciado no tempo e espaço.
Em sua formação arquitetônica, além das atividades
pedagógicas cursadas na universidade, participava de
atividades paralelas ao curso, garantindo ser de grande
importancia para formação pessoal e profissional, tais como
estágios, concursos, acampamentos de topografia e jogos
internos do curso. Estas atividades estimulavam o desejo
participativo estudantil e o envolvimento com a educação.
Nos estágios que frequentou, impulsionado pelo
crescimento do Brasil incentivado por Juscelino, aprendeu
através de diálogos extra-aulas, a influência dos canteiros de
obra na linguagem arquitetônica e o raciocínio construtivo.
Trabalhou em escritórios com Eduardo Corona, Fábio
Penteado, Paulo Mendes da Rocha, Botti Rubin, Jorge
Wilheim, Julio Neves, entre outros.
As primeiras experiências acadêmicas foram como
instrutor em cursos de Aspirante a Oficial e Tenente de
Artilharia, enquanto ainda era estudante, no qual, por
virtude da estrutura militar, aprendeu os conceitos de
ordem, respeito, espírito de equipe e nacionalismo.
Posteriormente, já arquiteto formado, lecionou no
curso de preparação de Professor de Desenho na FAAP, em
1963, e em 1964, a partir da reformulação vivenciada pelo
Mackenzie, é convidado a dar aulas nesta instituição
buscando enfatizar o Desenho como aprendido com Pedro
Corona.
No ano de 1971, com a implantação do terceiro curso
de arquitetura no Estado de São Paulo por Osvaldo Correa
Gonçalves em Santos, Petracco presenciou a unanimidade
profissional e ideologia comportametnal de uma Escola com
foco no Modernismo, tendo o desenho e o projeto
arquitetônico como pré-requisito do curso; deixando a
cadeira de Projeto em 1996. Em 1983, compõe o corpo
docente do curso da Faculdade de Belas Artes, recriado por
Jorge Caron. Em 1992, retorna ao Mackenzie para ministrar
aulas aos trabalhos de graduação interdisciplinar (TGI),
permanecendo lá até hoje.
Em 1994, torna-se coordenador do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Anhembi Morumbi, com a
missão de construir um novo curso para a universidade
buscando formar uma Escola que traduzisse sua experiência
e anseios. Na formação do curso, coordenou professores
como Orpheu Zamboni para Projeto, Maria Helena Flynn em
95
História e Luiz Carlos Chichierchio em Conforto. Infelizmente,
só Chichierchio permanece no corpo docente atualmente.
Pouco antes da venda para o grupo Laureate, em 30 de junho
2003, Petracco deixa a coordenação do curso dedicando mais
tempo às atividades arquitetônicas profissionais.
O início de sua carreira profissional acontece em
1959, com a maturidade da linguagem moderna paulistana,
conhecida como “Escola Paulista de Arquitetura Moderna”,
impulsionada, principamente, pela presença do arquiteto
Villanova Artigas; com quem Petracco tem convivência
durante o regime militar. As obras de Petracco encontram-se
num período pós-Artigas e traduz os impactos ocasionados
pelas transformações sócio-políticas e culturais dos anos de
1960 e, mesmo que se adaptando as novas configurações
sociais, não perdem as posições ideológicas funcionais.
Entrando na década de 1970, com um quadro
internacional exigindo novas formas e significados para a
arquitetura, Petracco (2004) relata que a arquitetura passou
por uma reformulação em seu conceito de forma, mas sem
alterar as perspectivas da arquitetura moderna, e sim
embasada em questões filosóficas para produção de espaços
para o ser humano.
Figura 53 – Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo, projeto, equipe coordenada pelo Arquiteto Eduardo Knezse de Mello. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
96
para o ser humano.
Figura 55– Clube XV de Santos - Fotografia da Obra construída. A -Fachada frontal, B -Fachada lateral direita e C -Vista aérea. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 54– Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos, obra construída. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
97
Figura 57 – Palácio da Justiça de Santa Catarina– Obra construída. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 56 – Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. A – Perspectiva externa. B – Planta do conjunto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
98
Figura 61– Edifícios residências: A - Edifício Lorena. B - Edifício Paulista Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 58– Residencia Cláudio Morelli
Figura 59– Residencia Vicente Izzo
Figura 60– Residencia Pedro Marrey Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
99
Figura 62 – Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
100
Figura 63 – Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
101
Figura 64 – Projeto para Palácio das Nações. A – Corte perspectiva do conjunto. B- Perspectiva Externa. C-Perspectiva Interna. D – Vista aérea. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
102
Para Petracco (2004), o projeto para o Edifício
Escolar é um dos temas mais emocionantes pela
complexidade, abrangência e política educacional que
deveria ser de sociabilização democrática.
A evolução de um povo é sem dúvida
proporcional à sua alfabetização, à sua
educação, à sua culturalização e, por fim ao
estudo continuado. Admira-nos, ou melhor,
constrange-nos ler trabalhos do final do
século XIX, e primeira metade do século XX,
como os de Anísio Teixeira, e constatar a
reduzidíssima evolução que conseguimos,
devido à não implementação de planos
simples e sumários, obviamente impedidos
por interesses da manutenção do “status
quo”. Observando os Atos Institucionais, tais
como o 477, do regime de exceção pós 1964,
(...) perniciosos às questões da Educação,
verificamos a pertinência de nossa afirmação.
Voltando-nos, todavia, para o conteúdo
arquitetônico das escolas brasileiras, o
objetivo precípuo deste capítulo, verificamos
fases luminares na história da educação
nestes últimos mais de cem anos, e suas
construções escolares. Entendemos, em
sentido lato, que esta afirmação seja
totalmente cabível e desejável num país
emergente. Cremos que edifícios escolares
centenários da Europa ainda se prestam, e
bem, a esse exercício, principalmente no que
diz respeito ao ensino secundário e superior,
onde prima a tradição do ensino consolidado,
cientificamente opulente, capaz de gestar
gerações de cientistas, filhos, pais e avós.
Sem ufanismos acreditamos, todavia que
países como o nosso têm na qualidade
arquitetônica e do espaço da escola, um
componente transcendental na formação
democrática e intelectual do nosso alunato.
São as vicissitudes de um povo em formação
que se coadunam integralmente com espaços
despojados, simples e alegres, como as
escolas propostas pelo arquiteto Silva Neves,
(1938) características que até hoje buscamos.
Sem destruir o mérito de outros arquitetos,
que sem dúvida deram grande contribuição à
leitura deste percurso das construções
escolares, antes da vigência do convenio
escolar em 1949, (quando não tinham
respaldo de uma política contextual de apoio
para seus projetos, repetindo modismos
europeus), acreditamos que os anseios e
posturas de nossa sociedade se compuseram
harmoniosamente com as propostas quase
espartanas da simplicidade modernista, onde
não existe a busca do suntuoso, mas a
103
procura do espaço: a escola aberta. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004, pag. 225-226)
Diante deste discurso, Petracco projetou uma série
de edifícios educacionais com corpos independentes, mas
interligados por meio de áreas de convivência, onde
acontecem as atividades sociais. Sendo elas:
Figura 66 –Escola Gomes Cardim, A - Fachada Principal. B- Planta do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 65 – Projeto Escola Museu, Jundiaí. A – Fachada principal. B – Fachada lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
104
Figura 68 – Jardim Santo Inácio. A - Perspectiva da entrada das salas de aula. B -Fachada do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 67 – Jardim Santo Inácio. A -Planta do conjunto, B - vista da área de convivência. C- Corte. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
105
Figura 69 – Escola Poá. A - Perspectiva do conjunto. B - Maquete eletrônica do projeto, vista frontal. C - Maquete eletrônica do projeto, vista lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
106
Delduque (26/07/11), conta que a primeira proposta
de trabalho da Universidade Anhembi Morumbi em conjunto
com Petracco foi para o Campus de Interlagos. Um Campus
na região de Parelheiros, para atender a expansão da
Universidade em área com grande densidade populacional e
carente deste equipamento urbanos, Universidade.
Ao descrever o projeto, Petracco apresenta um
memorial bem detalhado onde expõe que:
Em terreno de 120.000m2 com 2 nascentes, 2
pequenas “matas ciliares”, justapostas a seus
cursos d’água, e vários lagos pensou-se a
implantação um campus nos moldes das grandes
universidades européias e americanas. Deveria
contemplar as atividades pedagógicas em todos
seus enfoques, teóricas e práticas, coroados pelos
cursos de extensão, de iniciação científica e de
pesquisa. Pela sua localização, próximo a bairros
de baixa renda, também era objetivo trabalhar
junto à comunidade pensando-lhe serviços e
oferecendo suas instalações para conjunto sócio,
cultural e esportivo. Pretendia-se enfim perfazer o
arcabouço da educação ou seja a formação
competente, diálogo com a sociedade, coroando
com a educação continuada de qualidade. O
terreno com topografia acidentada em sua maior
parte, e seus conteúdos físicos favoráveis
representará um sério desafio para a implantação
do conjunto. Dos partidos possíveis, o pavilionar,
vários edifícios espalhados pela área geralmente
de integração difícil, optou-se pela hipótese de
um grande setor pedagógico como centro das
atividades e outras, pontuais de apoio, dialogando
e coadjuvando com o edifício principal, dentro de
uma proposta de arquitetura compositiva
coerente com a linguagem moderna. Desta forma
propusemos a conjunção de dois elementos
baixos e longos com pavimento térreo,
predominantemente livre e mais dois superior,
dispostos de maneira a criar um núcleo com todos
os ambientes de salas de aulas, laboratórios e
oficinas. Uma laje cobertura, desenha-se junto
aos blocos, contendo espaços administrativos e
outras de vivência. Evitando pilares que pudesse
cercear e engessar a maleabilidade dos espaços, e
ainda como elemento simbólico de linguagem,
propusemos uma grande viga treliça metálica que
atiranta as vigas estruturais desta grande
marquise. Completando a composição
implantamos um bloco redondo com uma
estrutura externa que abriga um teatro auditório
no andar térreo e uma biblioteca, situada em dois
pavimentos elevados em forma de anel circular,
com um grande vazio central que integra os dois
espaços, da platéia e dos ambientes de leitura.
Fazem parte do conjunto um Ginásio coberto,
com uma elegante cobertura formada por vigas
metálicas esbeltas dentro de um ritmo marcante,
atirantada em uma super viga, também metálica,
que se apoia em dois pilares “gigantes”. Em
virtude da topografia e do lago, propusemos um
107
anfiteatro a céu aberto, cuja arquibancada se casa
às curvas de nível, que tem como palco uma
concha acústica em forma de casca de concreto,
que juntamente com a água colabora para a boa
acústica. A proximidade contígua da estrada de
ferro da antiga Fepasa concorria para a
viabilidade de implantação do campus, mas
mesmo assim a Universidade preferiu investir em
campus espaços pela cidade seguindo um
procedimento já adotado por outras Instituições
postergando sua eventual implantação. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto
para o Campus Interlagos da Universidade
Anhembi Morumbi. pág. 245-247)
Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta do
Campus em Parelheiros estava relacionado a expansão do
trem metropolitano, atual “Linha 9 – Esmeralda da CPTM”.
Esta linha atenderia a região com a estação denominada
Parelheiros, próxima ao terreno; contudo, a viabilização
mostrava-se cada vez mais remota. Considerando a distância
do Campus e a falta deste transporte urbano público na
região, adiou-se a implantação na expectativa da futura
construção. Como até o momento não foi finalizada, o
projeto não foi retomado.
Com a compra da antiga sede da Alpargatas, o foco
de expansão na região de Parelheiros foi redirecionado para
a área central. Atualmente, o terreno está inserido dentro de
uma Área de Preservação Ambiental (APA), onde a
viabilidade para construção é pequena. E a proposta
concebida para ser a ampliação da Universidade Anhembi
Morumbi como um espaço amplo de cultura, lazer e
aprendizagem procrastina aos olhos de seus idealizadores.
Figura 70 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 1º projeto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
108
Figura 72– Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto A – Corte das salas. B – Corte do conjunto. C – Corte do conjunto esportivo. D – Perspectiva do conjunto esportivo. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 71 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. A – Implantação. B – Vista aérea do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
109
Voltando-se para a outra área de implantação do
novo Campus, próximo ao Brás, o novo programa previa não
só o diálogo com o edifício, mas com a área central da cidade
de São Paulo. Esta região que apresenta a história da cidade
em suas ruas e edificações revela em seus galpões industriais
como foi um período do desenvolvimento econômico da
cidade. Petracco, conhecedor da importância da área,
desenvolve um projeto de acordo com o descritivo abaixo,
reproduzido na íntegra:
Em 1996, a Instituição da qual era
Coordenador de Curso, adquiriu o imóvel
onde situou-se por décadas a Indústria
Alpargatas São Paulo SA, na rua Almeida
Lima. Um edifício Art Deco, despojado, sem
adereços de outros edifícios da época, porem
com características marcantes. Formado por
dois grandes blocos de 24 m de largura por
64 m de comprimento e sete pavimentos de
altura ligados por um núcleo central de
circulação vertical e apoio. Anteriormente
contratado pela própria Alpargatas, a fim de
buscar as vocações possíveis de adequações
do prédio, fizemos vários estudos e
concluímos que pelas qualidades dos espaços
ligados por um grande núcleo de circulação,
como também pela estrutura de suas lajes
cogumelo com pilares distanciados 8 m entre
si, o uso mais adequável seria de um
Shopping ou uma Universidade. Pelas
características da área de entorno optou-se
pela Universidade.
Fizemos então um Estudo Preliminar, com
programa forjado para demonstrar a
viabilização do Empreendimento que satisfez
o Reitor da Universidade comprando-a
consciente da importância do
empreendimento numa área fantasticamente
rica em potenciais urbanísticos. Iniciamos o
estudo de implantação do Campus. Trata-se
de uma área de terreno de 25.000 m2 com
45.000 m2 construídos sendo 16.000 m2 nas
torres e o restaurante, em galpões, térreos
em sua maioria. Embora os edifícios tivessem
um apelo maior, também, outros
apresentaram boa qualidade, e em
contraposição aqueles edifícios altos e
emergentes na época, tinham uma inserção
mais adequada à área. Tal constatação nos
fez preservar todas as áreas sem qualquer
demolição, propondo apenas a readequação
e revitalização. Propusemos dois grandes
eixos ortogonais, o primeiro uma
continuação da rua Frei Gaspar que
penetraria no Campus, com a mesma largura
110
da rua permanecendo toda região do
entorno com a vivência universitária. O
outro, paralelo à rua Almeida Lima, portanto
perpendicular ao primeiro, serviria de ligação
de todas atividades acadêmicas e seus
rebatimentos, cruzando todos os 200 m de
terreno, do Viaduto Alcântara Machado de
um lado até o Museu da Imigração do outro,
para cuja praça teria posteriormente uma
abertura, pois era intenção incorpora-lo às
atividades culturais do Campus, até porque
seu Reitor era descendente de imigrantes
italianos. O programa rico e eclético constava
de dois centros, o de cultura e o de
atividades acadêmicas propriamente dito. Da
rua acesso dirigíamos-nos em frente ao
Museu do Bairro, do qual a Alpargatas tinha
grande participação, para a esquerda ao
conjunto de atividades culturais como o
Cinema de Arte, Teatro, Praça das Livrarias e
Galeria de Arte, que espelhavam-se na Praça
de apoio e lanchonetes e cafés. Do outro lado
da rua de acesso localizavam-se a
administração e Biblioteca de um lado e os
DAs, com Diretório Central de outro,
terminando em uma grande arena de
discussão dos problemas acadêmicos
universitários, Oficinas e Laboratórios.
Tínhamos desta forma, quatro grandes
núcleos interligados porém resguardados,
dando-lhes o caráter próprio a cada um
deles, preservando-os em suas devidas
posturas, que hoje infelizmente vimos
quebradas, entre o comportamento
acadêmico e o de um mero shopping. Além
do mezanino que dava apoio às atividades do
térreo, propomos cinco andares de salas de
aula e Laboratórios, todos eles com uma
grande área central de vivência e apoio
pedagógicos, com as coordenações e
pequenas bibliotecas especificas às
atividades que abrigavam. O sexto andar,
aproveitando o grande espaço que servia de
refeitório e vivência aos operários,
propusemos um auditório com balcões em
sua periferia desfrutando de seu alto pé-
direito. No sétimo andar a administração da
reitoria e dos negócios da Universidade. Os
dois blocos eram ligados por uma elegante
cobertura que cobria o vão central dos
edifícios além de ordenar as muitas torres
das casas de maquinas, caixas d‟água, etc.
Ainda ligando-os propusemos uma rampa
que atendesse a evasão dos alunos em hora
de pico, que dava um fecho ao vazio central
dando-lhe um caráter majestoso, digno das
atividades dos encontros acadêmicos. O
conjunto Art Deco deveria inicialmente ser
111
composto por três alas ligadas por dois
núcleos. Faziam parte da fase inicial, que
culminou sendo a definitiva, dois blocos o
núcleos que os unia, mas parte de outro
núcleo que deveria interligar uma terceira
perna, o que descaracterizava a singeleza do
segundo bloco, justamente o mais
proeminente para a paisagem oeste, ou seja
a vista do Centro da Cidade. Era realmente
um anexo, que incomodava, porém grande
demais para ser demolido. Tivemos então a
ideia de usa-lo como edifício suporte de um
quadro Mondrianesco de mensagens
oportunas que escondendo-o, devolvesse a
pureza da torre justaposta. A fachada oposta
à rua existia uma grande marquise em
balanço que derrubar enfatizando o corpo
central dando-lhe maior verticalidade. (Tese
de Doutorado - Petracco, 2004, Memorial do
projeto para o Campus Centro da
Universidade Anhembi Morumbi. pág. 255-
258)
Figura 73 – Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. A – Fachada Frontal. B - Fachada Posterior Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
112
Figura 74 – Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. Entrada por acesso central principal, cruzando com acesso secundário no interior do complexo. Eixos de circulação que articulam o projeto e sua distribuição das áreas acadêmicas, administrativas e de convivência. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
113
Apesar das tratativas, vistorias ao imóvel, análises e
propostas apresentadas pelo arquiteto a instituição, este
projeto acaba não sendo executado.
Comenta-se pelos corredores administrativos da
universidade, que o projeto desenvolvido por Petracco,
apesar de preservar toda a edificação vertical da antiga sede
da Alpargatas, os galpões térreos existentes precisariam ser
demolidos para atender ao novo programa, com auditórios e
áreas comerciais. Esta intervenção exigiria a demolição de
grande parte da cobertura e estrutura dos edifícios gerando
perda ao valor histórico da construção e, consequentemente,
maior gasto para edificação de novos espaços.
Atualmente, toda a área onde está concentrada a
parte de lojistas e laboratórios específicos, tais como de
aviação civil, estúdios, gastronomia, spa e salas de aula do
Città seria demolida.
Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta de
intervenção de Petracco sugeria o rebaixamento do piso em
alguns ambientes de convivência e auditórios, o que faria
com que a construção tivesse um prazo de execução mais
longo. Como a inauguração já estava agendada, a demora na
implantação do novo Campus não atendia ao planejamento
estratégico da Instituição.
Estas seriam algumas das justificativas adotadas para
a contratação da consultoria do arquiteto carioca Vicente
Giffoni e da nova proposta para o campus, onde se propunha
áreas de intervenção que não alteravam a malha estrutural e
a cobertura existente; uma infraestrutura com características
mais comerciais, assemelhando as instalações da
universidade a um Shopping Center; e cronograma de
adaptações do antigo espaço fabril, executadas em um curto
prazo, para reconfiguração do edifício em espaço acadêmico.
114
114
Figura 76 – Mapa do Campus Centro, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
115
115
Figura 77 – Compatibilização dos projetos para o Campus Centro. Implantação apresentada pelo arquiteto Francisco Petracco com sobreposição da atual implantação do Campus Centro, projetado pela arquiteta Deise Marques Araújo sob consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. Da esquerda para a direita, é possível identificar as diferenças na planta: No atual “Teatro Anhembi Morumbi”, cabine primária de energia e quadras, foi proposto por Petracco um amplo espaço de exposições e uma quadra poliesportiva com arquibancadas. No térreo dos edifícios, onde, hoje, está concentrado a central de atendimento ao aluno, agência experimental e praça de alimentação, no projeto de Petracco estariam as áreas administrativas e diretórios da universidade. Nos galpões, onde, atualmente, estão as lojas, central de atendimento ao aluno, estúdios, salas de aula do Città, spa, centro de gastronomia, seriam lojas e auditórios na proposta de Petracco. E onde se concentra a parte administrativa da Instituição seria um espaço de apoio a convenções. Fonte: Proposta de Implantação do arquiteto Francisco Petracco extraída da Tese de Doutorado (Petracco, 2004) e a Implantação do Campus cedida pelo acervo da Universidade Anhembi Morumbi, dados de 2011.
116
Embora nenhuma das propostas tenha sido
concretizada, Campus de Interlagos e Campus Centro,
Petracco é convidado a desenvolver um novo projeto de
expansão da infraestrutura no Campus Vila Olímpia.
Dando continuidade ao crescimento acadêmico e as
transformações da Universidade Anhembi Morumbi, a
instituição demanda de novas áreas e espaço para receber os
novos alunos.
O Campus Vila Olímpia, primeira campus da
universidade, sediaria sua primeira construção de edifício
projetado para ser um espaço acadêmico, a Unidade 6: O
Prédio de Vidro.
E em 10 de junho de 1999, a construtora Sobrosa
apresentaria, durante uma reunião de planejamento na
instituição com Ângela Freitas, Eng. Delduque Martins, Arqto.
Petracco e Eng. Eduardo Sobrosa, as diretrizes exigidas pela
legislação para darem início no processo projetual. E é a
partir desta reunião, que fica estabelecido a data para
inauguração da nova unidade, no primeiro semestre de 2001.
Figura 78 – Fachada da Unidade 6 no Campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, destacando a presença da estrutura metálica e do vidro e evidenciando sua escada principal, elemento central da edificação. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
117
Figura 79 – Ata de reunião de 10 de junho de 1999, referente aos questionamentos sobre as possibilidades construtivas de acordo com a legislação corrente para Z2 e construção de estabelecimento de ensino. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
118
2.3 A ARQUITETURA
Nas obras de Petracco, é possível identificar sua linha
“modernista e estruturalista”, valorizada no contexto urbano,
habilmente interpretado. A leveza das edificações, que
parecem flutuar sobre o chão, contraria a presença marcante
das estruturas que modulam sua arquitetura em conjunto
com o material bruto empregado.
Segundo Petracco (2004), toda a arquitetura
apresenta o projeto, a tecnologia e a história como
elementos indissociáveis, “porque advém das constantes
leituras dos comportamentos que as linguagens
arquitetônicas nos transmitem, assim como das
possibilidades das soluções tecnológicas que permitem sua
estabilidade”. Como estes elementos serão usados, depende
da liberdade que o arquiteto explora em seu processo
projetual e no atrevimento que o instiga no momento de
criação. Assim a leveza derivada do desenho, estabiliza-se em
suas estruturas mencionando a natureza do material em seus
esforços.
Esta tríade apresentada por Petracco tem referência
na organização que Vilanova Artigas que defende na reforma
das faculdades de arquitetura no Brasil, em 1968, a
instauração de três departamentos dentro da Escola: o de
Projeto, o de Técnicas e o de História. Em sua tese de
doutorado, Petracco discute estas bases conceituais do
ensino de Arquitetura:
Vitruvio Escolas Lucio Costa Petracco
Voluptas Projeto Proporção Desenho
Soliditas Tecnologia Comodulação Estrutura
Commoditas História Modinatura Ritmo
E é neste tripé desenvolvido pelo arquiteto, que esta
pesquisa, busca desvendar as características arquitetônicas
presente em seu projeto para a Unidade 6, do Campus Vila
Olímpia, tentando observar, a partir do próprio pensamento
do arquiteto, uma estrutura para análise de sua obra.
2.3.1 O Desenho
Para o Desenho, instrumento básico para a arte
de projetar, verifica-se que o autor pode ser o
O arquiteto João Ba-
tista Vilanova Artigas
(1915 – 1985) foi um
arquiteto referência do
movimento moderno
da Arquitetura Brasi-
leira, conhecido como
Escola Paulista.
119
protagonista solitário e desenvolver todos os três
estágios num só trabalho, ou seja, o gesto inicial
do primeiro traço, a evolução para a otimização e
um eventual declínio da composição de sua obra
em processo. O início é difícil; o papel em branco
a quem o autor se dirige e o inibe, os primeiros
passos que quebram o silêncio e iniciam um
diálogo cognitivo da mensagem. (...) Vencido este
constrangimento o autor dirige-se audaciosa e
livremente em busca da conclusão de sua
proposta em forma de síntese e é este o
momento de equilíbrio, autoanálise e
discernimento: o equilíbrio e a clareza do escopo
de sua frase sob o risco de romper a referida
síntese, exacerbar-se e torná-la piegas, distorcida
pelos ruídos de uma comunicação poluída,
entroncada por uma proliferação de sinais que só
a fazem fragilizar-se. (...) A este tipo de mensagem
gráfica que chamamos de Desenho Historiológico,
ou seja, aquele portador de leitura e de crítica de
um determinado desenho histórico. (Petracco,
2004, pág. 417 a 419)
Sobrosa (19/07/11) conta que após a primeira
reunião sobre legislação passaram-se cerca de 50 dias para a
apresentação da primeira proposta. Os recuos que a lei
exigia, fizeram com que o engenheiro esperasse um projeto
tradicional, um grande cubo em concreto armado com
janelas sequenciais, térreo com lanchonetes e áreas
administrativas, todavia foi surpreendido com a proposta em
vidro e estrutura metálica apresentada por Petracco.
O croqui de Petracco apresentava o projeto de um
espaço aberto, um prédio com estrutura em aço e vidro onde
a relação entre o público e o privado é tão tênue que não se
vê fechamentos, apenas sua permeabilidade e livre acesso ao
conhecimento. Suspenso sob uma grande esplanada, o
térreo que se encontra a 60 centímetros acima do nível da
rua, pode ser acessado por uma ampla e suave escada com 9
metros de largura. Todo o acesso é rodeado por um jardim
compondo o desenho do talude e formando uma barreira
natural entre o espaço interno e o externo, sem a
necessidade de edificar qualquer volume como forma de
anteparo.
Na fachada frontal, face com a Rua Casa do Ator, é
possível observar o grande vão de 33 metros, gerado pelo
desenho de sua estrutura e modulação. O travamento
metálico, além de estruturar o volume, demonstra uma
repetição compassada em um padrão lógico e geométrico de
seu esquema de continuidade e constância, sendo
interrompido, somente, pela presença marcante da escada,
120
Figura 80 – Croqui da Unidade 6, desenvolvida pelo arquiteto Francisco Petracco para apresentar a fachada do edifício com frente para a rua Casa do Ator, em estrutura metálica com vãos de 33 metros e fechamento em vidro. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
121
elemento central da edificação, pendente por tirantes.
A escada, que simbolicamente, apresenta sentido de
ascensão é solta do solo, como que representasse uma
secção, um corte em um caminho infinito de sabedoria que
assim que adentrado não tem limites, nem pra cima, nem pra
baixo, nem para os lados. Ela expande-se em si mesmo,
através da transparência, de sua leveza, e por força ao
contrariar a gravidade.
Por ser uma arquitetura em vidro, é possível observar
que as laterais contemplam brises, controlando a insistência
da luz por adentrar pelos ambientes acadêmicos, sem
impedir sua passagem, mas legitimando sua entrada.
Durante a noite, este edifício pode ser entendido
como o farol do conhecimento, suas luzes acesas emanam o
caminho a ser percorrido na busca por sabedoria e discussão.
Um volume cúbico de vidro que amplia as fronteiras da sala
de aula, carregando em si questionamentos sobre quais são
os limites na construção de um espaço universitário,
projetando não só o conteúdo produzido dentro da sala de
aula, mas o que se concilia com a dinâmica da cidade.
Segundo Petracco (22/07/11), a proposta era
proporcionar a liberdade ao espaço e, para tanto, precisava
vencer grandes vãos, tornando os espaços mais flexíveis. O
prédio deveria ser todo livre, livre de paredes, livre de
estruturas, livre de preconceitos, livre de segredos. Um
espaço que evidenciasse a transparência de seu conteúdo,
que expusesse a sociedade todo o conhecimento difundido
em seu interior, revelando as atividades acadêmicas à cidade
e consistindo-se em um lugar onde os estudantes poderiam
estar e admirar o horizonte, o cotidiano e a paisagem. E é,
em virtude desta transparência que o edifício foi apelidado
por alunos e funcionários como o “Prédio de Vidro”, forma
como será tratado desta parte do texto em diante.
Este projeto significaria muito mais que o
crescimento e desenvolvimento da Universidade Anhembi
Morumbi configurava a transformação do Campus que
mantinha uma postura de adaptação de espaços existentes,
para um novo modelo de espaço educacional, uma
construção com valor reconhecido devido a sua imponência,
e a forma como utilizou o aço para estruturar destacando a
tecnologia e a concepção de um edifício atraente e captador
de atenção.
Graças ao pensamento do arquiteto, das análises
reflexivas, da pesquisa artística para o edifício, e das
122
exigências legais sobre o terreno; a proposta materializa-se
em um desenho organizado com ambientes restritos e
abertos, espaços públicos e espaços privados, diretrizes
básicas evidenciadas em seus outros projetos educacionais já
construídos e publicados.
Pode-se observar, através da planta de pavimento
tipo, que a distribuição do espaço corresponde a 65% da área
para salas de aula, 12% ao vazio central do átrio, 20% para
circulação – incluindo escadas, elevadores, galerias de
circulação, e 3% para áreas de apoio, tais como sanitários e
depósito.
A disposição interna do andar apresenta uma planta
dividida em dois corpos acadêmicos - uma releitura aos
colégios coloniais onde apresentava a separação entre o sexo
dos alunos, com uma ala feminina e outra masculina;
separados por um vazio do átrio que centraliza toda a área
de convivência, permitindo ao usuário do espaço acadêmico
estabelecer uma relação entre o espaço restrito e o espaço
aberto - situação cada vez mais escassa no espaço
universitário da instituição.
Com intuito de diminuir as galerias de circulação das
edificações e ampliar o potencial construtivo de salas de aula
- espaços com maior valor agregado a universidades, a
arquitetura dos edifícios na Anhembi Morumbi está sendo
direcionada a perder a relação do espaço de convívio com os
ambientes acadêmicos. Pode-se observar esta relação,
conforme comparativos apresentado nas plantas do
Complexo Theatro – Unidade 5, 6 e 7 do Campus Vila
Olímpia, edifícios projetados para o uso acadêmico.
Figura 81 – Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar) Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
Pavimento tipo é o
nome dado a planta
baixa do pavimento
que tem sua distribui-
ção interna repetida
em outros andares da
construção.
123
Esta análise permite observar, a segregação do
espaço de convivência, como é o campo visual do usuário ao
caminhar pelas galerias de circulação, como é a relação entre
aberturas e fechamentos dos espaços e como que com o
passar do tempo os ambientes enclausurados vão
aumentando.
No Prédio de Vidro, a única barreira visual das
galerias para a área de convivência é proporcionada pela
circulação vertical representada pelos elevadores. Elevadores
estes que são panorâmicos e possibilitam visualizar todo o
cotidiano de seu interior.
Na unidade 7, ainda é possível ter contato com a área
de convivência. Ela é interrompida também pela circulação
vertical representada pela escada. A escada por ser,
completamente, vazada possibilita visão parcial do convívio,
obstruído apenas pela distância entre o patamar da galeria
de circulação e o patamar da escada. Contudo a área de visão
é bem reduzida, diante da disposição das salas e pátio
central.
Já na Unidade 5, inicia-se o princípio de exclusão da
relação convívio e galerias de circulação, sendo que o contato
visual com a área de convivência é quase nulo.
Pode-se notar, também, a disposição das galerias de
circulação, que permitem isolamento e clausura dos espaços
acadêmicos, a disposição é idealizada para otimização da
área construída de salas de aula, o que resulta no
distanciamento desta a área com o convívio.
Em um recorte destas áreas por unidade, é possível
observar a evolução da circulação até a restrição da galeria.
Estas galerias de circulação, assim como as salas de aula
tradicionais também, apresentam sua aptidão educacional na
dimensão lúdica de espaços concebidos para a vida coletiva.
São locais que refletem a harmonia e a totalidade da
diversidade do conhecimento e deveriam chamar a atenção
para a riqueza que trazem ao processo de aprendizagem,
pelo simples fato de também permitir a troca de informação,
seja ela relevante ou não.
No Prédio de Vidro, em declarações colhidas na
construtora (19/07/11), a proposta do vazio central seria de
fácil execução com pilares estruturando as extremidades,
facilitando o processo construtivo e agilizando o prazo da
obra, porém o arquiteto já previa o balanço da galeria de
circulação, consequência da ausência de pilares. Na
concepção arquitetônica, a presença da estrutura interferiria
125
Figura 82 – Planta do pavimento tipo da Unidade 6 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (2º andar), projeto arquiteto Francisco Petracco, 2001 Figura 83 – Pavimento tipo da Unidade 7 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2003 Figura 84 – Pavimento tipo da Unidade 5 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2005 Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
126
no olhar, no diálogo sobre o espaço coletivo, no desenho do
espaço que deveria ser percebido dos múltiplos pavimentos,
sem interrupção, como se fosse um balcão de contemplação,
um mirante aos movimentos acadêmicos; e deveria ser
executado de acordo com o projeto do arquiteto.
Enquanto a proposta para as salas de aula, separadas
da cidade por uma pele de vidro, também traduzem uma
filosofia educativa: estar em contato com a sociedade,
proporcionando uma nova experiência acadêmica. A ideia da
sala que capta a mítica relação entre a natureza e o
conhecimento, utilizando-se da transparência para
demonstrar ações urbanas como o tempo e o espaço, expõe
o usuário a atuar sua experiência. O usuário torna-se artista e
plateia de e para a cidade, neste palco que encena a ensino
de forma dinâmica e aberta.
Já as galerias de circulação, tradicionalmente,
construídas como lugar de passagem, foram projetadas
oferecendo uma percepção do entorno educacional de forma
instantânea, um flash para a memória. Na condição proposta
por Petracco, a circulação permite que a paisagem seja um
quadro a ser apreciado, tendo como tela de fundo o jeito
acadêmico, a conversa descontraída com o colega, a troca de
conhecimento com o professor, a pressa desajeitada do
atrasado ou, simplesmente, a concentração no olhar distante
do estudante.
Figura 85 - Unidade 06, projeto de 2001 Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas para o átrio central Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
127
Figura 86 - Unidade 07, projeto de 2003. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas parcialmente abertas para o átrio central Figura 87 - Unidade 05, projeto de 2005. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas exclusivamente para a galeria de circulação Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
128
Figura 88 – Átrio Central A - Vista do Átrio central a partir das galerias de circulação; B- Vista do Átrio Central a partir do 2º pavimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora
129
129
Figura 89 – Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência, destaque para o campo de visão proporcionado pelo vazio central, com detalhes da caixa do elevador panorâmico, que com a porta aberta possibilita a vista da escada principal ao fundo e da distribuição da circulação nos três pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal da autora
130
Na circulação vertical, os elevadores panorâmicos, são
exercícios de perceptibilidade construtiva. Mais uma
releitura do pensamento de Mies van der Rohe, sobre a
arquitetura de “pele e osso”; ou seja, estrutura e membrana
externa que unem técnica e detalhes gerando vazios
espaciais que serão preenchidos com vida.
Envolto por uma malha estrutural vazada, os
elevadores, evidenciam a habilidade acadêmica. Ensinam
através de suas engrenagens como é o seu funcionamento.
É como se o edifício tivesse vida e fosse possível vê-lo
pulsando, transportando os usuários em seu eixo,
conduzindo, distribuindo os estudantes por entre os quatro
pavimentos num ato de comunicação e encontro. Assumindo
o papel de passeio e portal de contemplação, consentindo ao
usuário novos ângulos para o olhar e notar a Academia.
Figura 90 – Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. É possível observar as engrenagens do elevador em movimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora
Figura 91 – Circulação vertical A – Vista da galeria de circulação para o átrio central, com destaque para a estrutura do elevador; B – Engrenagens da circulação vertical; C – Vista dos elevadores no 2º pavimento, destaque para a estrutura metálica e o
fechamento em vidro, conforme proposta da Arquitetura Moderna de Mies van der Rohe; D- Detalhe do elevador em movimento; E – Acesso a
circulação vertical, porta do elevador aberta; F – Acesso a circulação vertical, porta dos elevadores fechada destaque para a transparência da
estrutura com vista para o átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora
132
E por fim a escada principal, o espiral de entrada ao
conhecimento.
Envolta por uma caixa quadrada cercada por vidros,
circular pela escada principal conectando-se a todos os pisos,
é um “passeio arquitetônico”, conforme proposto por Le
Corbusier⑮. Em um lance evidencia o entorno com a
paisagem externa, em outro patamar revela a arquitetura e
sua paisagem interna e por vezes comprova a presença
marcante da estrutura do edifício.
Suspensa do chão por uma estrutura de tirantes, em
um gesto de composição, a escada foi disposta sobre um
espelho d´água com uma rotação de 45º em seu eixo. A
intervenção gerada por este movimento evidencia a leveza
do volume resultante dos novos ângulos agudos e obtusos da
fachada, promovendo uma aresta que imprime a
centralidade, não só da escada, mas do cubo como um todo.
15. Ver Le Corbusier
em Por uma
arquitetura. São
Paulo:
Perspectiva, 1994.
Figura 92 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, estruturada por cabos de aço, compondo o volume de aço e vidro Fonte: Arquivo pessoal da autora
15. Ver Le Corbusier em Por
uma arquitetura. São Paulo:
Perspectiva, 1994.
133
Minha primeira obra em aço, porém com partido de que
se assemelha muito à primeira escola projetada há quase
quarenta anos atrás. Duas alas de salas de aula e um
grande vazio central, fechado na parte frontal por uma
cortina, vazado pelo volume de uma escada com sabor de
escultura e na posterior pelas salas de Coordenação e
Laboratórios pertinentes. Como na precedente o vão
central é generoso, 15,40 m antecipado por um maior, de
quase 33m. Os mesmos anseios dos passos fluidos, onde
as circulações horizontais e verticais servem de espaços
para o comportamento coloquial de interação. O grande
saguão é um espaço árido onde as pessoas constroem sua
dinâmica, através de encontros cotidianamente
sistemáticos dos diálogos acadêmicos com a riqueza de
seus pés-direitos descontínuos e variáveis. As salas de
panos de vidros refletem o convívio com a sociedade
expondo-se e magnetizando. A busca da harmonia se faz
na repetição da linguagem estrutural de seus
componentes principais, sempre solicitadas a grandes vãos
e no espaço térreo, já em detalhe, pelo ritmo de suas lajes
mistas de formas metálicas. A escada tem a tem a
proposição de não macular a generosidade do térreo de
vivência, tão esquecido nos programas contemporâneos
de escolas e por isso não apoia no chão, está alçada por
três tirantes que se pendem a cobertura e se engasta nas
vigas dos andares, refletindo-se no espelho d’água, como
se fosse o acesso virtual do conhecimento. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto para o
Campus Interlagos da Universidade Anhembi Morumbi.
pág. 261)
Figura 93 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. Fonte: Arquivo pessoal da autora
134
Figura 94 – A espiral do Conhecimento.
A - Vista da escada principal a partir da cobertura, com detalhe para o rebaixo do piso para o espelho d´água que não foi finalizado . B - Detalhe de fixação do cabo de aço que sustenta a escada principal, que mesmo em seu ponto de apoio mantém a escada solta da estrutura . C – Vista da escada principal a partir do espelho d´água. D- Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro,
frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. E – Vista da caixa de vidro do espiral do conhecimento, a partir da cobertura. Fonte: Arquivo pessoal da autora
135
Figura 95 – Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. A – Vista para a área externa; B – Vista para a área interna: pavimento; C – vista para área interna: térreo; C – Vista da cobertura para o térreo; D – Vista do espelho d´água para a cobertura de vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora
136
Diante dos estudos realizados para o projeto,
Petracco (22/07/11) conta que convida o aluno do curso de
arquitetura Luis Cláudio Araújo, ciente de que este tinha
domínio em programas digitais, para desenhar o projeto
executivo de arquitetura em AutoCAD. Também participaram
deste projeto Ana Lydia Faria, Leonardo Lenharo e Luiz
Crepaldi.
Para Araújo (14/07/11), a experiência em trabalhar
com “Chico”, como Petracco é conhecido por ele, foi um
grande aprendizado.
Eu sempre tive a visão “romântica” da arquitetura
e pude vivenciar parte dela em meus trabalhos
com Chico. Como eu era técnico em edificações já
havia trabalhado em escritórios antes de
trabalhar com ele e até hoje foi a melhor relação
chefe funcionário que já tive. (Depoimento de
Araújo em 14 de julho de 2011)
Araújo descreve poeticamente a experiência no
escritório como se fosse “uma janela que se abria em um
quarto fechado”, e que lhe possibilitou conhecer três Chicos
durante o período acadêmico: o Chico-Patrão, o Chico-
Coordenador e o Chico-amigo. Sobre o Chico-Patrão ele
comenta:.
Do Chico patrão, aprendi a melhor relação
entre funcionário e empregados. Aprendi as
coisas boas e ruins, pois como era só eu
trabalhando pra ele percebi que eu deveria
ser um de seus fatores motivacionais. Ele
sempre me contava dos momentos áureos de
seu escritório, cheio de desenhistas e muitos
trabalhos (...). Eu mesmo não sei dizer como
era, mas uma colega minha, Adriana Barbosa,
que chegou a visitar seu escritório, na Rua
Itápolis, me dizia que lá era cheio de
desenhistas trabalhando. Então sendo o seu
único funcionário pude acompanhar projetos
em seus primeiros traços e participar em
alguns pequenos momentos destes, mas
minha função maior era tornar o seu
desenho digital. Passá-lo para um AutoCAD,
CorelDRAW, etc. O que não era fácil porque
ele valorizava muito o traço e sentia a perda
da sua identidade quando via seus projetos
na tela de um monitor.
137
Ao sair do escritório em 2000, Araújo trabalha com a
empresa Sistemac até 2002, por indicação do próprio
Petracco. A empresa era responsável pela estrutura metálica
do Prédio de Vidro, onde Araújo vai trabalhar no projeto da
escada principal fazendo parte da equipe que projetou e
executou os detalhes da circulação vertical metálica.
Luiz Fernando Crepaldi (13/07/11) era responsável
pelas maquetes eletrônicas da primeira proposta e do
projeto final do projeto e teve participação nos desenhos
executivos. Recorda do final de semana, faltando apenas três
dias para o prazo final de entrega do projeto para a
universidade, as pranchas ainda não estavam finalizadas, e a
convite de Araújo auxilia nestes desenhos. Crepaldi ao
caminhar pelo edifício relembra das experiências
profissionais, mas também das acadêmicas onde o professor
Jose Henrique Seraphim, professor de estrutura metálica da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Anhembi Morumbi, apresentava aos alunos o canteiro de
obras do Prédio de Vidro.
Leonardo Lenharo (14/07/11) comenta que foi
convidado a participar do projeto quando estava no segundo
ano da faculdade, assim que Araújo vai trabalhar na
Systemac. Explana sobre a oportunidade de trabalho no
projeto que acredita ter “identidade e caráter próprio”. Para
Lenharo a riqueza da experiência estava nas conversas que
teve com o arquiteto em seu ateliê nos finais de semana ao
detalhar o projeto que considera ser “um espaço livre e de
contato entre todos alunos e professores”.
Ana Lydia Faria (22/03/11) conta que trabalhou com
“Chico Petracco”, em um primeiro momento, como estagiária
e depois como assistente de curso na função de assistente de
pesquisa dos professores da faculdade de Arquitetura e
Urbanismo. Quando participou do projeto da Unidade 6 o
prédio já estava concluído, desta forma desenvolvia desenho
para apresentação do projeto aos mantenedores, participou
de novos projetos para implantação do auditório e
desenvolveu detalhes de paisagismo. Ana Lydia refere-se à
Petracco com muita calentura, relembrando o aprendizado
que adquiriu com o professor, o coordenador e o arquiteto.
Posteriormente, conheceu melhor a produção arquitetônica
de Petracco quando foi convidada a participar da equipe que
trabalhou na pesquisa de doutorado do arquiteto,
digitalizando parte de sua obra.
139
Figura 96 –Evolução do Prédio de Vidro A - Primeiro estudo volumétrico para aprovação do projeto da Unidade 6, junto a Prefeitura de São Paulo, desenvolvida pela Construtora Sobrosa. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa
B - Maquete eletrônica da primeira proposta para o Prédio de Vidro, desenvolvido por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa
C - Maquete eletrônica da proposta final do Prédio de Vidro, desenvolvida por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa D - Primeira publicação do Prédio de Vidro no Catálogo do Processo Seletivo de 2001 . Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
140
Pelas maquetes eletrônicas do Prédio de Vidro é
possível observar a evolução do projeto, como o arquiteto foi
soltando o traço, e concluindo seus pensamentos e ideais em
um volume mais equilibrado e intenso. A arquitetura buscou
sua identidade, e já nos primeiros esboços, sugeriu a sua
conduta acadêmica, representou sua estrutura e conversou
com o entorno.
Na primeira maquete do estudo volumétrico do
projeto, nota-se que o volume já estava resolvido com a
presença marcante da escada principal, no eixo da edificação
direcionando o foco do olhar em um sentido de ascensão.
Chama à atenção a posição da escada de acesso entre o
mezanino e o térreo. Deslocada do eixo central do edifício
para próximo da garagem, talvez demonstre que o intuito do
arquiteto sempre foi soltar a circulação vertical principal do
chão, mas sem a confiança de como seria. Também é possível
observar a presença da estrutura, não com a ênfase do
projeto final, mas participando do conjunto.
As alterações exploradas por Petracco, na segunda
maquete, revela a força do projeto. A estrutura torna-se
evidente expondo seu esqueleto rígido e tecnológico; a pele
de vidro confirma sua presença abolindo as paredes sólidas e
opacas, fazendo as salas tornarem-se infinita; e, por fim,
surge o espelho d´água compondo a expressividade do
edifício, contrapondo a dualidade do peso na solidez da
forma e leveza do estado líquido da água. A cobertura da
escada remete uma leitura da cúpula coroando o elemento
de destaque que agora, embora suspenso do chão, chega até
o pavimento térreo.
A última maquete eletrônica aprovada reforça o cubo
conceitual, demonstrando a presença de um auditório
proposto no térreo. A fachada impõe sua presença com um
jogo de tecnologia e rigidez, resultante da estrutura; cheios e
vazios, decorrentes dos panos de vidro; e abertos e fechados,
consequência do desenho volumétrico. Agora, o coroamento
da escada se faz pela expressão espiritual da pirâmide de
vidro que lembra o conhecimento egípcio e toda sua forma
clássica.
A pedido de Delduque (26/07/11), esta última
imagem foi ampliada e emoldurada para ser exposta na área
administrativa da universidade, na sala do departamento de
obras e projetos do Campus Vila Olímpia, lá permanecendo
até 2003 quando o departamento é transferido para o
Campus Centro e em seguida extinto.
141
Atualmente, não se sabe onde este quadro está
guardado.
E, por último, a fotomontagem que foi feita a partir
do edifício finalizado para o Catálogo do Processo Seletivo
feito pela Universidade Anhembi em 2001, sendo a primeira
publicação impressa da instituição com a apresentação do
projeto. Esta imagem prova a concretização do desenho
idealizado pelo arquiteto e a realização do conjunto de
espaços projetado a partir da combinação do aço e do vidro.
Com o surgimento dos cursos de Graduação
Modulada, novos catálogos são elaborados publicando o
projeto do Edifício Theatro Casa do Ator.
Figura 97 – Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001, formato A4, apresentando o Prédio de Vidro para os alunos e candidatos
Fonte: Acervo Anhembi Morumbi
142
2.3.2 A Estrutura
Podemos afirmar que a Estrutura, em termos físicos, seja a sistematização dos elementos construtivos que formam uma determinada composição arquitetônica. Da mesma maneira ela compareceu na formação de todos os corpos, sejam concretos ou abstratos. Não seria exagero dizer que a Engenharia, forjada na Revolução Industrial com suas novas propostas, Ter, de certa forma, se sobreposto à Arquitetura no comportamento técnico profissional relevante, em virtude desta preocupação. Mas Estrutura como a vemos não é um mero dimensionamento de peças e sim proposta plástico-estética, filosófica até, e por isso aquela impressão tecnicista se dissipa. Pensamo-la como formalizadora, da asa de um pássaro, às costelas que abrigam os pulmões, à estrutura dos espaços construídos, assim como a estrutura de todos os processos compositivos, que se observa em todas Artes Plásticas, na Poesia, Música etc e, por que não, também nas ciências. (Petracco, 2004, pag.429 a 431)
Figura 98 – Fachada frontal do Prédio de Vidro, com destaque para a estrutura em aço e vidro Fonte: Tese de Doutorado Petracco, 2004
143
Embora a unidade 6 seja conhecida como Prédio de
Vidro, o que marca sua presença, na Rua Casa do Ator, é a
estrutura do edifício. A leveza do aço, somado a liberdade do
vão livre e a originalidade do projeto alude a linguagem da
arquitetura brasileira a partir de um apelo tecnológico, como
o paradigmático edifício de Mies van der Rohe para o Crown
Hall.
Para Andrade (2006), apesar de o Modernismo
Brasileiro destacar o uso do concreto armado em suas
edificações, alguns arquitetos identificaram vantagens na
construção com aço, tais como liberdade projetual graças a
possibilidade de desenvolver projetos mais expressivos,
flexibilidade no uso em virtude do sistema geométrico
modular, maior área útil obtida através de vãos estruturais
maiores, menor prazo para execução decorrente do
planejamento sistematizado, abertura de frente de trabalho
simultânea, e fabricação do material.
Ainda segundo Andrade (2006), as primeiras
construções metálicas aconteciam como uma reprodução da
linguagem do concreto armado, sem evidenciar o material
utilizado. Com o passar do tempo, “a primeira grande
renovação” pós-modernista mineira abre espaço para a
aliança com o aço, grande parte graças às condições
adequadas da distancia com mar, a presença do minério do
ferro no solo e o apoio tecnológico da Usina Siderúrgica de
Minas Gerais (Usiminas). Mas foi na arquitetura corporativa
nacional que esta estrutura vem se destacado. Muito pelas
possibilidades estruturais e soluções técnicas, contudo mais
pela questão econômica e simbólica. A construção metálica
proporciona a redução no desperdício de material de
construção e transmite a imagem do progresso.
Apesar das facilidades apontadas, pode-se observar
que a mão-de-obra qualificada para este método construtivo
ainda é escassa; o custo da obra, embora sem desperdício,
ainda é mais caro que a construção em concreto; e a
produção em larga escala ainda não está tão pronta a
produzir e construir, proporcionando a redução do déficit
habitacional por exemplo.
Petracco (22/07/11) conta que, embora já tivesse
feito stands para exposições, o Prédio de vidro foi sua
primeira obra metálica. Uma audácia projetada para ser
emocionante, uma entrada por um pórtico metálico do
saber. Esta estrutura, realmente, compõe um pórtico,
chamado de indeformável devido à estabilidade obtida pelos
S.R. Crown Hall
(1956), Faculdade de
Arquitetura no Insti-
tuto de Tecnologia de
Illinois em Chicago,
projetado pelo arqui-
teto alemão Mies van
der Rohe.
144
Figura 99 – Corte esquemático da concepção estrutural com as cargas acidentais proporcionadas pela ação do vento e da gravidade Fonte: Desenho da autora
travamentos em X.
De acordo com Salvadori (2006), essa estabilidade
deriva da resistência que a estrutura tem frente às forças,
basicamente, de ventos laterais e terremotos, assegurada
pelos encaixes rigidamente presos as vigas e pilares. Esta
estrutura, não só canaliza as forças externas para o solo
como também resistem com um balanço relativamente
pequeno.
No Prédio de Vidro, Petracco utiliza da estabilidade
proporcionada pela estrutura para compor a estética da
fachada em duas treliças horizontais e duas treliças verticais.
As treliças horizontais são vigas que vencendo o vão
longitudinalmente no prédio, absorvem as forças verticais
atuantes na edificação, a exemplo a própria força da
gravidade. Enquanto as treliças verticais estabilizam o Prédio
de Vidro contra os esforços horizontais que agem
perpendicularmente a estrutura do edifício, como por
exemplo a ação dos ventos.
Os contraventamentos apresentam perfis em “I” de
0,20 x 0,20 metros, dimensionamento que garante a
estabilidade da edificação deixando-se aparente os formatos
em “X” na fachada.
No plano horizontal, as lajes do primeiro pavimento e
da cobertura auxiliam o contraventamentos da fachada,
reforçando a estrutura contra as ações e efeitos do vento.
Nas fachadas, a estrutura do térreo apresentam vãos
de 33 metros de largura, na fachada frontal, e 17,50 metros
nas fachadas laterais. Para vencer tais vãos, o projeto exigiu
perfis de viga soldada (VS) de 0,35 x 0,30 metros na parte
inferior com vãos de treliça de 3,50 metros; e perfis coluna
viga soldada (CVS) de 0,35 x 0,35 metros na parte superior
com vãos de treliças de 2,60 metros.
145
Figura 100 – Croqui do Prédio de vidro com dimensionamento dos vãos e estrutura Fonte: Croqui elaborado pela autora
146
Este dimensionamento permite que a treliça superior
estruture o projeto por tração sustentando todo o peso entre
o terceiro e quarto andar, enquanto a treliça inferior trabalha
por compressão, suportando todo o peso do mezanino ao
segundo pavimento; por fim, transmitindo as cargas das lajes
de steel deck até o solo.
Além da compressão, a treliça inferior sofre um
esforço maior por ser uma treliça de transição de onde
nascem novos pilares que sustentam o edifício e
descarregam as cargas nos pilares da extremidade. É a
existência desta viga que possibilita que a fachada apresente
seu vão central com 33 metros.
O piso de steel deck utilizado no projeto do Prédio de
Vidro, consiste em formas metálicas com aplicação de
concreto no formato trapezoidal. Conforme Dias (1997), o
desenho geométrico de trapézio, das chapas, aumentam as
propriedades de resistência, permitindo vencer maiores
cargas e vãos sem apoios intermediários. O concreto trabalha
em conjunto com a chapa, evitando deformação.
Economicamente, assume a função de fôrma, evitando
gastos com madeiramento e permitem a instalação de
Figura 101 – Fachada esquemática da concepção estrutural, apresentando a disposição das treliças e os esforços atuantes na estrutura, no qual a treliça horizontal absorve os esforços verticais, enquanto a treliça vertical absorve os esforços horizontais. Fonte: Desenho elaborado da autora
Figura 102 – Corte esquemático da concepção estrutural com a distribuição dos esforços aplicados na edificação Fonte: Desenho da autora
147
conectores, podendo ser calculada pelo sistema misto, ou
seja, ligação de aço e concreto.
Na planta quadrada do edifício, a modulação
determina o compasso da estrutura, uma presença seriada
de perfis metálicos que permitem a flexibilidade espacial com
vãos dispostos, aproximadamente, a cada 3,50m. Como a
proposta idealizou o uso de divisórias de dry-wall para
fechamentos internos, as salas apresentariam disposições
maleáveis de acordo com a demanda do curso ou solicitação
administrativa.
Embora a planta de estrutura apresente a modulação
de 3,50 metros, as vigas lançadas no piso vencem vãos de 8,0
metros, diferente do padrão de piso steel deck normatizado
em vãos máximos de 4,0 metros. Isto acontece, porque a
Systemac desenvolveu um sistema para aplicação do piso
com uso de ferragens para aumentar a resistência do piso, o
que possibilita laje pré-fabricada trabalhar como uma laje
nervurada, utilizar menos perfis durante a execução e
baratear o custo da obra. Contudo, por estar bi apoiada
sobre a viga, a movimentação da estrutura facilita o
surgimento de fissuras no piso.
Por recomendação da empresa que executou a
estrutura, todos os perfis são soldados. De acordo com Dias
(1997), para a fabricação de perfis estruturais de aço
soldados é exigido um esboço da composição exata do perfil,
com as características geométricas, marcação das bordas e
extremidades componentes, a altura do cordão da solda, etc.
Este processo embora trabalhoso permite grande variedade
de formas e dimensões entre as seções
Diferente da Unidade 7, toda a estrutura do Prédio
de Vidro, além dos perfis, apresenta suas conexões soldadas,
conservando a continuidade do material e suas propriedades.
Figura 103 – Detalhamento do piso de Steel Deck com apresentação da malha estrutural de distribuição e a presença de perfis de ferro CA50 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
148
De acordo com Dias (1997), a vantagem no uso de
conexões soldadas é a maior rigidez nas ligações; redução de
custo de fabricação, não gerando a necessidade de fazer
furações e produzir parafusos; além da redução na
quantidade de aço, já que as conexões apresentam-se
compactas e um melhor acabamento final para limpeza e
pintura.
No caso da Unidade 7, a estrutura é parafusada com
parafusos de alta resistência exigindo mais cuidado na
compra, visto que as ligações tem controle de aperto
definido, controle de deformação compatível à corrosão
atmosférica, entre outros itens.
Independe se a estrutura é soldada ou parafusada,
segundo Salvadori (2006), para que o aço, quando exposto a
intempéries, não enferruje é preciso fazer uma pintura
periódica para impedir a oxidação. Esta pintura, conhecida
como tinta intumescente retarda a propagação de chamas e
a elevação da temperatura do aço, sendo premissa básica
exigida pelo Corpo de Bombeiro para liberação do Auto de
Vistoria do Bombeiro (AVCB). Delduque (26/07/11), relata
que ciente do alto custo da pintura, durante as vistorias para
o obtenção do AVCB, os fiscais apresentavam alta rigidez na
validação dos projetos, sendo necessário desenvolver uma
série de laudos comprovando o uso da tinta para emissão de
documentação e liberação do Prédio de Vidro para
funcionamento.
Apesar do valor reconhecido, a tecnologia da
estrutura de aço, a transparência da pele de vidro, do partido
arquitetônico abraçar questões referentes ao espaço interno
e externo trabalhando a continuidade visual, o edifício
apresentava algumas questões a serem discutida referente
ao conforto ambiental da edificação.
Figura 104 – Detalhe de conexões nas treliças. A – Unidade 6 com conexões soldadas na treliça frontal. B – Unidade 7 com conexão parafusada na estrutura do átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora
149
Em um estudo realizado por pesquisadores do IPT,
sobre a sustentabilidade nos aspectos de conforto e
desempenho das edificações, reconhece-se que a sensação
de conforto é subjetiva. Em artigo para a revista Téchine, os
pesquisadores atribuem a definição da norma ASHRAE 55
como a melhor explicação do termo, quando se diz que o
conforto térmico é a condição mental que expressa a
satisfação com o ambiente térmico de forma individual,
sendo impossível conseguir condições satisfatórias a todos os
ocupantes do ambiente ao mesmo tempo.
No questionário realizado pela autora com usuários
do espaço, no primeiro semestre de 2011, foram levantadas
algumas reclamações relacionadas ao conforto ambiental do
Prédio de Vidro, sendo que uma pequena parcela das 80
respostas colhidas, quando indagados se recomendariam ter
aulas no Prédio de Vidro, responderam que o edifício
apresenta certo desconforto térmico.
“Definitivamente recomendaria. Apesar de sentir
falta do conforto térmico.” R.G. Funcionário
“Recomendaria, apesar do conforto ambiental
falho.” A.M.R. Professora
“Não recomendaria. Pela fachada de vidro, muita
luz natural, pouca ventilação nas salas de aula e
áreas pouco aproveitadas.” E.H. aluno
“Não recomendaria. Existe vazamento sonoro
entre as salas. Elevadores em sua maioria sempre
em manutenção. Chove nos laboratórios e salas
de aula. Piso cheio de irregularidades. Banheiros
mal cheirosos por problemas de esgoto. Anexos
entre unidade 6 e 7 perigosos por terem baixo
parapeito e quando chove a aderência do piso e
insatisfatória”. A.F. ex-aluno e funcionário
“Definitivamente não recomendaria. O prédio
sofre de super insolação, o que em alguns
momentos do dia torna impossível ver com
clareza a lousa, ou utilizar projeções. O calor
também se tornava um problema. O uso de ar
condicionado é pouquíssimo eficiente, pois não
há isolamento eficiente nos painéis de vidro
(vidros duplos ou algo assim) ou nas divisórias
internas. O pátio interno é amplo, porém não
propicia real integração entre os ambientes.” P.K.
ex-aluno
150
Diferente do projeto original, onde consta o detalhe
do brise-soleil nas fachadas laterais da edificação, durante a
construção do Prédio de Vidro o orçamento para instalação
deste elemento de contenção de raios solares, amplamente
utilizado na composição da arquitetura moderna prevenindo
contra a incidência direta de radiação solar no interior do
edifício, não é aprovado.
Perante a exclusão deste dispositivo arquitetônico,
seria fundamental a escolha de um vidro, tecnologia ou
tratamento adequado à incidência de radiação solar,
garantindo que o ambiente passasse da claridade à
penumbra sem interferir na qualidade espacial e no conforto
ambiental das salas.
Para Corbioli (2001), a seleção do vidro para uma
edificação deve ser avaliada de forma ampla e com
planejamento em longo prazo, pois uma instalação
equivocada de material pode trazer problemas diversos de
acordo com o seu comportamento nas distintas condições do
dia-a-dia; e uma possível correção, às vezes, torna-se inviável
pelo custo da troca ou da tecnologia a ser empregada.
Segundo o autor, a luz solar pode ser dividida em três
componentes, sendo a luminosidade, responsável pela
iluminação dos ambientes; os raios infravermelhos que
causam o aquecimento do espaço; e os raios ultravioletas,
responsáveis pelo desbotamento. Já o vidro pode se
classificar em três tipos, o incolor comum que é utilizado
apenas para o fechamento deixando passar a luz e o calor; os
coloridos que apresentam grande capacidade de absorção de
raios infravermelhos, e que consequentemente diminuem o
aquecimento do ambiente; e os metalizados que refletem
boa parte da radiação solar. A combinação entre estes tipos
Figura 105: Sala de aula padrão com uso de cortinas tipo “black out” como forma de contenção da claridade em momentos que o espaço exige uma iluminação mais baixa, por exemplo para uso de equipamento de projeção . Fonte: Acervo da autora
151
de tratamentos nos vidros garantem efeitos capazes de
transmitir, refletir e absorver melhor as radiações solares.
Em casos como o do Prédio de Vidro, para solucionar
problemas referentes ao calor nas salas, de acordo com
Corbioli (2001), os vidros deveriam ter índices na faixa de
20% a 30% voltados para a transmissão do calor. Estes
índices estão relacionados a cor dos vidros. O problema é
que quanto menor os índices, mais escuros ficam os
ambientes, criando a necessidade do uso de lâmpadas para
iluminar as salas mesmo em dias claros e ensolarados.
Referente ao sistema de ar condicionado, Corbioli
(2001) atribui ao tipo de arquitetura, guiada pelos padrões
estrangeiros, a necessidade de se adotar a instalação destes
equipamentos, que por causa do aquecimento das salas são
frequentemente utilizados. Por orientação de Joana
Gonçalves, do departamento de tecnologia da arquitetura da
USP, o fato de permitir a ventilação cruzada no período
noturno, muito auxiliaria na dissipação do calor acumulado
ao longo do dia, resfriando a estrutura no primeiro horário
do dia seguinte.
Outro fator que exige o constante uso do ar
condicionado é o coeficiente de sombreamento do vidro.
Quanto maior o fator solar pior o desempenho energético do
material, e consequentemente mais uso do equipamento. No
caso da unidade 6, que não apresentava em seu projeto
original o sistema de ar condicionado, justificaria a falta de
cálculo na capacidade do material em relação ao sistema;
contudo, poderia ter sido previsto o processo de metalização
garantindo o sombreamento do vidro e uma boa reflexão
solar.
Referente ao conforto acústico, parte dos problemas
relacionam-se ao uso de vidro na fachada, que segundo
Corbioli (2001), adotar vidros duplos auxiliariam no
isolamento. Para Schaia Akkerman, sócio-diretor da Acústica
Engenharia, é de fundamental importância para a acústica, a
compatibilização de projetos de estrutura, caixilharia, vidros,
ar condicionado, iluminação e interiores, visto que cada ruído
gera uma curva acústica distinta, e o que pode parecer
inofensivo, como um sistema hidráulico, quando não tratado
pode acarretar efeitos sonoros desagradáveis para dentro do
ambiente.
No caso do Prédio de Vidro, a região onde está
localizado gera um problema ainda maior, o barulho causado
pelo intenso tráfego e rota de avião, ruídos graves, são os
152
mais difíceis de isolar, determinando o uso de lâminas
espessas para barrar as frequências variadas, fato que não foi
instalado nesta unidade, talvez por problemas no orçamento
ou pronta-entrega de material.
Mas não só do vidro depende a boa acústica, o
ambiente também precisa ser bem vedado, as divisórias
entre as salas de aula deveriam conter revestimento acústico
interno, ou ao menos que as divisórias se prolongassem até o
teto acima do forro, evitando que o ruído de uma sala fosse
transmitido para a outra. O que se observa na unidade 6 é
que a divisória, sem o revestimento interno, termina assim
que o forro é instalado, trazendo mais um problema ao
conforto ambiental do edifício.
A implantação do edifício que privilegiou a escada na
face frontal auxilia a acústica criando uma barreira e
reduzindo as condições de exposição do ruído que vem da
rua. O projeto utiliza-se do vazio central para uma melhor
ventilação cruzada, pouco sendo utilizado por questões de
segurança com relação aos equipamentos de multimídia que
ficam dentro das salas.
Sabe-se que durante a idealização do projeto,
algumas tecnologias para tratamento do vidro, cortinas
automatizadas ou revestimentos acústicos eram escassas no
mercado ou apresentavam alto valor de investimento, bem
como poderiam demandar uma customização do material
para o ambiente, fatores que justificariam a não instalação
de materiais mais eficientes. Contudo as sugestões
elaboradas pelo arquiteto, tal como o brise, também, foram
descartadas durante a construção, prejudicando as condições
ambientais do edifício. Estas modificações geram discussões
e algumas impressões negativas referentes à qualidade do
projeto, tais como apresentadas nos depoimentos de alunos,
ex-alunos e professores na recomendação do espaço.
O que fica evidente é que o elemento de destaque da
Unidade 6, o vidro que motivou o apelido do prédio, deveria
ter sido tratado com mais dedicação, já que a quantidade de
material utilizado e o conhecimento dos problemas que
poderiam provocar eram inequívocos. O edifício, que situado
em uma área de alto trafego, sofreria das interferências
sonoras constantes, e a proposta de translucidez exigia maior
cuidado durante sua execução, maior investimento, recursos
e tratamentos especiais.
153
2.3.3 O Ritmo
Podemos considerar Ritmo em Arquitetura como
a organização compositiva dos espaços, obtida
por meio da disposição harmônica de elementos
construtivos, sejam vedos ou estruturais.
(Petracco, 2004, pág. 451)
Petracco (2004), no texto sobre ritmo, reconhece a
importância de parâmetros no ato projetual, sendo o
principal a modulação, que apesar de estabelecer limites e
restringir ideias, organiza o pensamento arquitetônico. Esta
modulação expressa o compasso da edificação, que abriga o
programa, os anseios do arquiteto, representa seu repertório
e retrata sua proposta. Enfim, é o ritmo do projeto.
Ainda segundo Petracco (2004) “o arquiteto é o
agente transformador da cultura e da identidade de sua
sociedade”, assim expressa na arquitetura valores que
vinculem o projeto ao âmbito da cultura, seja relacionado a
linguagem arquitetônica, ao posicionamento da instituição,
ou na relação com a sociedade.
Para a composição do Prédio de Vidro, o arquiteto
precisava traçar uma relação entre a forma exigida pela
legislação e os ideais de projeto. Esta dialética exigia valores
estéticos a ser incorporado na arquitetura como resposta ao
processo de consolidação do Campus, insinuando um edifício
com característica para multiuso, que acompanhasse a
dinâmica da instituição. Esta condição foi o que reforçou a
importância do ritmo na edificação.
O edifício que é quase um quadrado com a
capacidade de abrigar 1.800 alunos distribuídos entre térreo,
mezanino e quatro pavimentos. Além de possuir dois
subsolos para estacionamento.
No térreo foi proposto um auditório com capacidade
para 180 lugares, com plateias distribuídas entre o térreo e o
mezanino, que veio a ser implantado na construção vizinha, a
Unidade 7, com a capacidade para 420 lugares, atendendo
eventos de maior porte. Os fechamentos verticais seriam
realizados com a modulação de painéis de madeiras
pivotantes; uma contraposição entre o material tradicional e
a estrutura inovadora. Contudo, para atingir uma área de
8.125m² construídos, ocupação máxima aprovada pela
Prefeitura, foi considerada e aprovada a exclusão do
auditório.
154
A - Planta do pavimento térreo com plateia do Auditório
B - Planta do mezanino com plateia do Auditório Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora
155
C - Corte Longitudinal com representação do Auditório D - Fachada posterior com representação do Auditório no pavimento térreo
Figura 106 - Projeto do Auditório no Prédio de Vidro, projeto de Francisco Petracco Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora
156
Esta escolha, que por um lado excluiu um importante
equipamento do universo acadêmico, destacou a estrutura
metálica modulada; gerou uma área de pilotis, símbolo da
Arquitetura Moderna e precursora na linguagem de térreo
livre neste Campus; e evidenciou a presença da Capela de
São Judas Tadeu.
A Capela, datada de 1944, é doação de Otillia
Amorin, atriz e cantora carioca que dedicou uma parte de sua
trajetória profissional ao circo. A artista oferece ao Retiro dos
Atores a escultura de São Judas Tadeu, patrono das causas
desesperadas, tornando-se padroeiro da capela. Por
acreditar que o espaço simbolizava paz e trazia boas
vibrações, Rodrigues solicita permanência da construção na
concepção do novo espaço.
Com capacidade para 24 pessoas sentadas, foi quase
destruída durante as escavações do subsolo, e a pedido de
Gláucia Rodrigues, filha do reitor Gabriel Rodrigues, foi
agraciada com o Restauro⑯ de sua construção.
Foram refeitas as pinturas internas e algumas
restaurações da estrutura. Duas das quatro janelas foram
substituídas por vitrais com leitura floral, as janelas
posteriores mantem o mesmo formato com a conservação da
esquadria metálica. Parte do telhado foi refeito sendo
substituída parte das telhas de barro existente por telhas de
vidro translúcidos sobre o altar, melhorando a iluminação
interior e proporcionando maior valor espiritual a
construção. O piso cerâmico foi restaurado com tratamento
químico para limpeza e impermeabilização a fim de facilitar a
preservação. Ao lado da Capela foram mantidos a imagem do
patrono São Judas Tadeu e o sino, ambos originais da
edificação.
A conservação da capela é o reflexo de uma
consciência sobre o valor da preservação da História, uma
tentativa de se manter um lugar de espiritualidade dentro da
instituição, mesmo que com preferência religiosa definida.
Do ponto de vista simbólico, o contraste entre a
Capela de São Judas Tadeu e o Prédio de Vidro evidenciam
uma mudança de valores na construção tardo eclética
passando para a edificação com estilo “high tech”, quase que
numa leitura indicando a transição do Campus e sua busca
pela modernização da infraestrutura.
Situada ao fundo do terreno, em seu lugar de origem,
a localização por si só não foi capaz de promover o interesse
da comunidade acadêmica em conhecer o espaço, menos
16. Não foram encontrados,
nos registros da universi-
dade, dados sobre arquiteta
que restaurou a Capela tais
como nome ou referências
de projeto em que atuou. O
nome Beth foi mencionado
pelo engenheiro Delduque
quando comentava sobre o
projeto e das recordações
de algumas reuniões que fi-
zeram durante a obra de
restauro.
157
ainda visitá-lo. Mesmo com a intenção generosa de livre
acesso, onde o arquiteto abre o espaço para visualização da
capela, poucas pessoas conhecem a sua existência na
Universidade Anhembi Morumbi.
Dos 101 entrevistados nesta pesquisa, quando
questionados sobreo grau de satisfação com a infraestrutura
Capela São Judas Tadeu na Unidade 6, do Prédio de Vidro,
considerando 1 (um) para “nada satisfeito” e 5 (cinco) para
“muito satisfeito”, apenas 52 entrevistados responderam
esta pergunta, sendo que 32% afirmaram não conhecer a
capela, impossibilitando a resposta sobre o questionamento.
Gráfico 06 – Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu na Unidade 6 do Campus Vila Olímpia Fonte: Arquivo pessoal da autora
Figura 107 – Capela de São Judas Tadeu, localizada no térreo do Prédio de Vidro, na área posterior a construção, vista frontal. Fonte: Arquivo pessoal da autora
158
Figura 108 - Capela de São Judas Tadeu, vista externa.
A – Inscrição sobre a porta de entrada da capela com detalhes da doação pela atriz Ottilia Amorin; B – Imagem de São Judas Tadeu original da capela desde a docação de Ottilia Amorin; C – Vista do conjunto da capela; D – Vista exterior da da porta de entrada ; E – Vista interior da porta de entrada; F- Abertura com vitral trabalhado instalado após a restauração;
G – Abertura com esquadria original da capela. Fonte: Arquivo pessoal da autora
159
Figura 109 – Capela São Judas Tadeu, vista interna. A – Altar da capela; B – Vista lateral direita, sentido altar; C – Vista lateral esquerda, sentido altar; D – Vista lateral direita, sentido porta de entrada; E – Vista lateral esquerda, sentido porta de entrada. Fonte: Arquivo pessoal da autora
160
Figura 110 – Esplanada do Complexo Theatro. Integração entre as áreas de convivência da Unidade 6 e Unidade 7 onde é possível ver a localização da Capela no fundo do terreno, de forma que embora sem obstrução visual, é pouco identificada pelos usuários deste espaço. Fonte: Desenho elaborada pela autora
161
Já o térreo, atende o seu propósito, uma grande
praça aberta, estendendo naturalmente a rua para dentro do
convívio universitário, local de acesso aos andares e ao
mezanino, onde se encontram as maiores salas da unidade,
com 150m² de área útil. Salas espaçosas e suficientemente
confortáveis para abrigar oficinas, ateliês ou laboratórios
específicos.
Nos pavimentos tipo, a distribuição de dois blocos
principais com 220 m² deixa explorar a divisão das salas com
repartição de uma até cinco salas de aula, de acordo com a
necessidade acadêmica. Esta flexibilidade decorre da
modulação estrutural e fechamento das paredes em placas
de gesso, de fácil montagem e desmontagem. A possibilidade
de modificar o tamanho das salas sem grandes impactos na
infraestrutura era algo tentador.
Durante o uso, várias alterações foram feitas na
distribuição das salas, desvirtuando consideravelmente a
qualidade flexível do espaço⑰ e interferindo no valor de
aceitação do espaço pelo usuário. Salas pequenas, num
corredor com muitas portas geraram um impacto negativo
aos estudantes.
É possível identificar na opinião dos alunos, a relação
que estabelecem entre o espaço acadêmico e as áreas de
reclusão social, presídios ou penitenciárias. Tal associação
pode estar relacionada a uma memória coletiva das relações
que estas instituições apresentam, tais como a distribuição
de salas ao redor de um pátio central, o banho de sol
associado ao intervalo para o café; ou ainda questões mais
acadêmicas, como “grade” curricular, “disciplina” do curso,
inspetores de corredor, entre outros. Estas são hipóteses que
merecem outro estudo, mas que podem ser ponto de partida
para entendimento de comentários respondidos na pesquisa:
“O conceito do edifício é de improviso. A
aparência, olhando por dentro, é de que se está
numa penitenciária.” T.C. ex-aluno
“Acredito que, com o espaço do mezanino e os
corredores na lateral, lembram uma prisão e sua
celas de confinamento, talvez um ar mais colorido
resolva ou ajude esse lado sombrio.” D.P.
Professor
“ Parecia que eu estava em uma prisão.” M.M. ex-
funcionária
“Acho que o partido adotado em conceitos de
materiais é muito válido, porém a forma da
17. Ver anexo Distribuição de
salas em Uso acadêmico no
período de 2001 a 2011.
162
distribuição interna torna difícil uma convivência
maior.” N.P.S ex-aluno
“Achei o espaço das salas de aulas e de
convivência muito apertados.” N.A.R.F. aluna
Nestas respostas, a percepção espacial demonstra a
distinta relação que o usuário tem do espaço, seja por meio
de apelo solicitando maior intervenção para as áreas de
convívio, ou identificando a relação nada intimista com a
construção, como também a satisfação pelos materiais do
espaço. Estas questões estão diretamente relacionadas ao
repertório do usuário e como ele é aplicado no ambiente
edificado.
Os espaços de salas de aula projetados para atender
a modulação da estrutura, com salas amplas e arejadas, são
redefinidos não respeitando a paginação da esquadria ou
forro, não atendem as dimensões mínimas para ambientes
de estudo e lançam o mobiliário de acordo com o número de
estudantes necessário dentro da sala. Estas divisões de salas
com vãos menores adaptados para a crescente demanda
acadêmica justifica a sensação de ambientes “apertados”
Além de a disposição prejudicar o ângulo de visão
dos estudantes que se sentam próximo às extremidades da
Figura 111 – Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. A – Divisão original das salas da unidade 6 B – Divisão atual das salas da unidade 6, no 3º andar Fonte: Desenho adaptadao pela autora
163
sala, não conseguindo visualizar o quadro negro por
completo, a distribuição da iluminação natural é deficiente,
adentrando no ambiente pela abertura de menor dimensão;
evidenciando mais uma alteração da arquitetura que
interfere no conforto ambiental do Prédio de Vidro.
Estas modificações são decorrentes a proposta do
edifício apresentar-se com o máximo de flexibilidade das
salas. Assim a distribuição dos ambientes acontece de acordo
com o programa solicitado pela instituição, permitindo o uso
do espaço tanto de forma acadêmica como administrativa.
Embora o edifício seja composto basicamente de
salas de aula e laboratórios, em todos os pavimentos foram
previstos sanitários masculinos e femininos, escadas de
emergências e áreas técnicas; dispostos na parte posterior do
edifício. Como complemento as áreas acadêmicas – 32 salas
de aula e 9 laboratórios de informática, o Prédio de Vidro
conta com a presença de dois departamentos
administrativos: a Central de Tecnologia e Informação (CTI), e
o departamentos de Áudio Visual; além de duas áreas de
apoio ao aluno: o posto bancário do Santander e a Copiadora
Tecopy; e um laboratório específico para a área de Direito, o
mini tribunal de práticas jurídicas.
A distribuição dos ambientes acadêmicos acontece
ao redor do grande vão central, de 15 metros de altura que
se origina no primeiro pavimento e alcança a cobertura,
assegurando a transparência visual de todo o espaço interno
e a iluminação por meio da grande cobertura em vidro
translúcido.
Os acessos aos ambientes acontecem numa cadência
fluida decorrente da continuidade espacial projetada, são
amplas galerias de circulação que variam suas dimensões de
acordo com a organização do fluxo de estudantes, de forma
que em frente aos elevadores onde a concentração na
chegada e saída das aulas é intensa até sua distribuição,
apresentam-se galerias com 3,00 metros de largura. Em
frente as salas de aula que exigem maior conforto e
facilidade no percurso, as galerias apresentam-se com2,10
metros de largura, e na área restrita a interligação entre as
galerias de circulação principais, foi previsto 1,75 metros de
largura para passagem dos estudantes a frente dos
sanitários.
164
Figura 112 – Proporções arquitetônicas. A – Corte transversal esquemático do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado B – Corte transversal horizontal do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado Fonte: Desenho elaborada pela autora
165
2.4 A Construção
Para a construção do Prédio de Vidro, a Instituição
solicitou a três construtoras, através de carta convite, a
formalização de propostas para concorrência na execução do
edifício. Este é o procedimento comercial adotado pela
Anhembi Morumbi nas negociações que envolvem compra
ou contratação, mantido até os dias atuais.
O departamento de compras envia a carta-convite
com as especificações técnicas elaboradas pelo
departamento de obras e projetos ao fornecedor, e assim
aguarda as propostas a fim de avaliar a empresa em critérios
de preço, prazo, histórico construtivo e qualidade nas obras
realizadas.
A Construtora Sobrosa, uma das concorrentes, tinha
um diferencial; como já estava a par das negociações desde a
compra do terreno e auxiliou na viabilização do projeto,
estava ciente das exigências legais que a construção
acarretaria. Desta forma apresentou uma proposta não só
com o valor estimado da obra, como também ofereceu a
Instituição a legalização do projeto junto a Prefeitura sem
custos adicionais. Esta jogada comercial fez com que
ganhasse a concorrência.
A Construtora Sobrosa, fundada em 1989 sob o nome
Sobrosa Melo e Silva Construções e Engenharia Ltda.,
apresentava dez anos de experiência no mercado de
construção civil e já trabalhava com a Universidade Anhembi
Morumbi em pequenas obras da antiga unidade 5. Com uma
estratégia de marketing para fidelizar-se com o cliente, a
construtora apostava no desenvolvimento de parcerias
comerciais. Para tanto demonstrava participação nas
atividades contratadas e buscava envolver-se nas metas da
contratante.
Para a obra na Anhembi Morumbi, com intuito de
demonstrar uma prioridade à universidade, a Construtora
disponibilizou o acompanhamento da obra pelo corpo
diretivo, com engenheiro Wilson Mello no trabalho em
campo, enquanto o engenheiro Eduardo Sobrosa realizava os
tramites comerciais.
Para Delduque (26/07/11), a contratação da Sobrosa
era quase certa, visto que além de apresentar melhores
condições para viabilização do projeto, já conhecia o sistema
administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, o que
facilitaria o andamento da obra e agilizaria as burocracias
que envolvem a construção.
166
Aprovada a contratação para a construção do Prédio
de Vidro a construtora apresentou o cronograma da obra
com data prevista para início das obras em junho de 1999, a
construtora previa um prazo de nove meses para construção
do Prédio de Vidro, de forma que a Universidade Anhembi
Morumbi já poderia contar com os alunos em sala de aula no
segundo semestre de 2000. Como a Universidade estava
crescendo, o foco para a expansão estava na finalização do
prédio da Alpargatas no Brás, o que resultou no adiamento
dos inícios da obra.
Em uma pesquisa de mercado sobre a proposta dos
cursos de Sequenciais, a Instituição que já esperava uma
aceitação positiva foi surpreendida com a procura pelos
cursos no Campus da Vila Olímpia. Diante deste novo
contexto dos rumos de expansão, Delduque relembra que,
para retomar as tratativas do Prédio de Vidro, precisava
desenvolver um planejamento preciso entre a construção e o
início das aulas, solicitando a construtora Sobrosa o
planejamento técnico da construção.
A construtora previu a entrega do Prédio de Vidro em
duas fases, sendo a primeira com a entrega do mezanino e
mais dois pavimentos tipos para 29 de fevereiro de 2000 e a
Figura 113 – Cliente Astra Zeneca, situada na Rodovia Raposo Tavares, Km 26,90, Cotia / SP, onde a Construtora Sobrosa executou a construção da nova portaria do complexo em cobertura metálica com balanço ancorada em estrutura de concreto armado. Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011
Figura 114 – Cliente EFACEC do Brasil Ltda. – Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô, em que a Construtora Sobrosa construiu a subestação elétrica da Estação Tamanduateí para alimentação da Linha Verde do metrô de São Paulo Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011
167
Figura 114 –Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro, com data de início prevista para junho de 1999 e término nove meses depois em março de 2000 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
168
conclusão final para 31 de julho de 2000, considerando o
início dos trabalhos em primeiro de setembro de 1999. Com
término da obra, finalizaria e entregaria a aprovação do
projeto junto a Prefeitura de São Paulo.
Com a conclusão da primeira fase, previa-se que os
andares a serem utilizados pelos alunos deveriam contar com
a construção de um caminho protegido de acesso ao prédio,
e tapumes provisórios instalados nas salas que não tivessem
a cortina de vidro finalizada.
Como na concorrência para a construtora, foram
feitas concorrências para todos os seguimentos da obra,
configurou-se o quadro abaixo com alguns dos fornecedores
que foram levantados nos documentos da universidade e da
construtora:
ÁREA EMPRESA
Construtora SOBROSA MELO E SILVA CONSTRUÇÃO E ENGENHARIA LTDA
Concreto DIAMOND FIX PERFURAÇÃO E CORTE EM CONCRETO S/C LTDA
Estrutura SYSTEMAC CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA
Impermeabilização IMPERPOL IMPERMEABILIZAÇÕES LTDA
Muro de arrimo RIMOBLOCO
Piso TECNIPISO ENG. PISOS E REVEST. LTDA
Piso de Borracha da escada
INDEVAL
Vidro CONTEMPERA – DISTRIBUIDORA DE VIDROS LTDA
Com o início da obra e o canteiro de obras instalado,
a primeira ação tomada foi à demolição e remoção das
edificações existentes no terreno.
Como a capela era a única construção a ser mantida,
algumas soluções para sua permanência foram levantadas. A
primeira ideia seria fazer um reforço na fundação para que
pudesse escavar abaixo e ampliar a área de estacionamento
e foi descartada mediante o custo que iria gerar. Outra opção
seria a desmontagem da estrutura e a reconstrução a partir
do mesmo material, mas o valor da mão-de-obra e a
possibilidade de se perder a capela inviabilizaram a proposta.
E por fim, optou-se por não escavar sob a construção e fazer
um muro de contenção para suportar as cargas produzidas
pelo empuxo da terra naquele local.
Em seguida, cravaram fundações profundas em todo
o perímetro da obra para iniciar a contenção perimetral do
terreno, utilizando perfis metálicos e pranchões de madeira
que seriam incorporados posteriormente às cortinas laterais.
A escavação do terreno foi dividida em duas etapas, a
primeira deixando taludes de contenção no perímetro da
obra para compensar o empuxo da área de corte. E a
segunda etapa, após o travamento das cortinas perimetrais,
169
escavar pelos complementos das lajes dos subsolos.
Ao término da escavação, a pedra fundamental,
datada de outubro de 1999 marcou a cerimônia de colocação
da primeira pedra na construção do Prédio de Vidro.
Esta solenidade do início da obra contou com o
tradicional ritual de se adicionar uma cápsula do tempo com
documento e cartas das pessoas envolvidas no evento.
Delduque (26/07/11), conta que o reitor Gabriel Rodrigues
escreveu uma carta de próprio punho, a qual leu durante o
evento, e depositou dentre de uma caixa de vidro com fotos,
canetas, o vídeo institucional da universidade, a ata de
reunião das pessoas presentes e outros documentos
administrativos.
Lucilene Casteliano Faria (22/07/11), oradora
durante a missa realizada na cerimônia, narra que escreveu
uma carta contando sobre o nascimento do seu filho, e junto
dela depositou o cordão umbilical e uma aliança. Ela
relembra que quem ministrou a homilia foi Frei Leonel, bem
relacionado com a Diretoria da Universidade.
A ideia desta capsula do tempo, surgiu da descoberta
de uma caixa encontrada durante as escavações da obra,
próximo à capela de São Judas Tadeu. Dentro da caixa
metálica, fechada com um cadeado, foram descobertos
jornais datados de 1943 envolto em um saco plástico.
Quando os operários da obra encontraram tal caixa levaram
ao conhecimento do engenheiro Delduque que rememora ler
uma matéria sobre a pintura de bancos na Alemanha para
diferenciar o uso do espaço público entre judeus e alemães.
Estes jornais foram levados para restauro sob
responsabilidade do professor Sebastião Hermes Verniano,
que na época estava como assistente de reitoria. Após o
restauro, os documentos ficaram guardados com Diva
Aparecida Correa, também assistente na reitoria, responsável
por coletar publicações e documentos da Instituição que
saiam em mídia externa.
Com a saída de Diva da universidade, conta-se que os
documentos foram para a biblioteca aos cuidados da
Bibliotecária Maria do Rosário Godoi (Madu). Atualmente,
sob administração da bibliotecária Marli Cacciatori, esta
relata que não se tem cadastro de catalogação ou entrada
destes documentos na Biblioteca da universidade e
desconhece onde possam estar guardados. Rodrigues
(26/08/12) acredita que foram enterrados, novamente, em
conjunto a nova cápsula do tempo.
170
Embora a pedra fundamental seja, tradicionalmente,
cravada no canto nordeste das construções, esta escultura
está implantanda no lado noroeste do Prédio de Vidro, a
esquerda da capela, onde foi originalmente encontrada a
primeira cápsula do tempo.
Figura 116 – Pedra Fundamental
A - Detalhe da Pedra Fundamental com inscrição do marco inicial da construção B - Pedra Fundamental em primeiro plano, datada de outubro de 1999, implantada a noroeste do terreno. Acima da Pedra está o sino originário da Capela.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
171
Figura 117 – Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental A – Cerimônica ministrada por Frei Leonel; B - Cerimônia religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Rodrigues, arquiteta Angela Freitas; C – Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio
religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio
religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário
173
Página 118 – Cerimônia Religiosa da Pedra Fundamental A – Discurso Reitor Gabriel Rodrigues na presença de Prof. Hermes Verniano,; F – Prof. Hermems Verniano Figura 171 e 172: Discurso do Reitor durante a cerimônia de inauguração da Pedra Fundamental, na presença de prof. Hermes Verniano, Nilton Campos, Lúcia Ribeiro, Maria Helena Flynn, Angela Freitas, Eng. Eduardo Sobrosa, Wandy Cavalheiro, Eng. Vilson Mello e Eng. Delduque Martins. B – Prof. Hermes Verniano; C - Angela Freitas; D - Delduque Martins; E- Reitor Gabriel Mário Rodrigues; F – Prof. Hermes, Eng. Eduardo Sobrosa e arquiteto Francisco Petracco guardando depoimentos dentro da caixa de vidro; G – Discurso do Reitor Gabriel Rodrigues; H - Apresentação prof. Hermes Verniano; I – Guarda de depoimentos dentro da caixa de vidro a ser enterrada sob a Pedra Fundamental. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
174
Figura 119 – Cápsula do Tempo A – Caixa de vidro enterrada como capsula do tempo com material datados da cerimônia de lançamento da pedra fundamental, com depoimentos, revistas, jornais e publicações de 2001; B e C – Fechamento da base por Jair Barreto e funcionários administrativos da manutenção da Universidade Anhembi Morumbi; E, F e G – Cerimônia religiosa sobre a Pedra Fundamental com a presença do Reitor Gabriel Rodrigues, Angela Freitas e Frei Leonel. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
176
Ainda referente as escavações, surgiu nos corredores
da universidade a lenda de que dois corpos foram
encontrados na retirada de terra. Como o terreno sediava a
residência dos artistas, dizem que lá foram enterradas duas
belas atrizes, que vestidas de branco, continuam a caminhar
pelos cantos do Prédio de Vidro procurando o antigo lar.
Funcionários da manutenção comentam que até hoje o
pessoal da limpeza não tem apreço pelos serviços noturnos
no edifício, evitando ao máximo o uso dos vestiários,
situados no subsolo, por ser o local onde se avistam os vultos
com mais frequência. Questionado sobre a crendice, Sobrosa
divertiu-se com a estória, afirmando que não foram
encontrados corpos no local, somente a cápsula do tempo.
Com a obra em andamento, a primeira reunião
acontece em 22 de outubro de 1999, e consta em ata de
reunião que o projeto de cálculo estrutural do Prédio de
Vidro estava a cargo de Sodré Engenharia. No decorrer da
obra, a empresa Systemac, responsável pela montagem da
estrutura metálica, sugere a troca do projeto de cálculo
indicando a empresa Kelly Pilteco, renomada em cálculo de
torres de transmissão.
Embora alguns críticos contestem o
dimensionamento da estrutura do Prédio de Vidro, Petracco
(22/07/11) afirma que é a estrutura que dá força ao projeto.
De fato o contorno das linhas ortogonais, proposta pela
estrutura metálica, em contraste com a cortina de vidro e o
vão livre do térreo, alternam o desenho em cheios e vazios
que atraem pelo próprio confronto do peso e da leveza.
Durante a construção, com as estacas a pouco mais
de um metro da capela, notaram que a pequena construção
apresentava trinca. Como não se conseguia acessar devido a
profundidade em que o
terreno estava
escavado, precisou-se
esperar nivelar o piso
para fazer os reparos na
construção com intuito
de preservar sua
estrutura. Conta-se que
a trinca na capela
chegou a abrir um vão
de cinco centímetros.
Figura 120 – Capela São Judas Tadeu isolada durante o processo construtivo do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
177
Com o esqueleto da obra pronto, as lajes pré-
fabricadas foram lançadas e os fechamentos que deveriam
ser em placas de siporex, acabaram sendo executadas em
blocos de tijolo, em função do atraso pela espera do
material, que não tinha a pronta entrega. Com o prazo de
entrega do prédio diminuindo, os últimos andares acabaram
sendo executados com blocos de tijolo tradicional.
Conforme a estrutura do edifício ia se formando, e os
detalhes construtivos foram surgindo, Sobrosa (19/07/11)
relembra que nas vistorias do arquiteto a troca de
experiências era sempre interessante. Conta que Petracco
incluía a participação dos operários em tomada de decisão de
acabamentos ou detalhes da obra, a atitude demonstrava o
interesse do arquiteto na opinião do construtor e motivava o
operário a sentir-se parte do processo construtivo. Tal
atitude faz parte da metodologia de trabalho do arquiteto
que acredita que o trabalho em equipe é melhor que a
postura de alguns arquitetos que preferem ilhar-se como
dono da verdade.
Da construção Delduque (26/07/11) recorda a passagem em
que o arquiteto explicava aos operários a importância do
desenho no piso, no centro da área de
Figura 121 – Arquiteto Francisco Petracco em visita a construção do Prédio de Vidro durante a instalação dos perfis de sustentação em estrutura metálica Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
178
convivência do Prédio de Vidro. O arquiteto atribuiu ao
ponto central do edifício a imagem do sol, de forma que as
juntas de dilatação douradas representam os raios solares
emergindo em meio ao azul do piso de granilite. Ainda
comenta que durante o assentamento do piso, o arquiteto
acompanhou de perto a execução subindo e descendo os
andares para verificar se a composição estava de acordo com
o desenho proposto.
Figura 122 - Coração Solar do Prédio de Vidro A - Juntas de dilatação douradas representando os raios solares emergindo em meio ao azul do piso de granilite Fonte: Arquivo pessoal da autora B – Evento “Danças Circulares” ministrados no primeiro andar do Prédio de Vidro sobre o Coração Solar. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
179
Mesmo que a tecnologia permitisse rapidez na
execução, alguns imprevistos fizeram com que as aulas
fossem iniciadas antes do término das obras. A cobertura de
vidro, por atraso na fabricação de material, apresentava-se
como um vão aberto nos primeiros dias de aula. Delduque
(26/07/11) conta que para remediar a situação pediu para
transportarem um grande banner em lona de propaganda da
universidade que estava no Campus Centro para revestir a
cobertura a fim de evitar que chovesse dentro do Prédio de
Figura 123 – Cobertura de vidro no vazio central do Prédio de Vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora
Vidro. A solução, contudo, durou pouco tempo, com a
primeira chuva no bairro da Vila Olímpia, a lona estava cheia
de água. Delduque recorda a ligação feita pela manutenção
solicitando a liberação dos alunos da unidade e a autorização
para rasgar o material com intuito de evitar algum acidente.
E foi após sua autorização que o Prédio de Vidro teve todos
os seus andares lavados com a enxurrada d´água advinda da
cobertura. Pouco tempo depois a cobertura foi finalizada em
estrutura metálica e vidro.
A obra foi finalizada em julho de 2001,e embora
alguns arremates tenham ficado para serem resolvidos, a
universidade já contava com sua nova unidade no Campus
Vila Olímpia.
Entendendo a universidade como polo gerador de
deslocamento veicular, a Prefeitura da Cidade de São Paulo
solicita a construtora um plano de melhorias para o tráfego e
estudo de vagas do estacionamento que atendesse a nova
demanda de veículos que frequentaria o bairro⑱.
Com toda a documentação aprovada, a Construtora
entrega o Habite-se do Prédio de Vidro após seis meses do
término da obra.
18. Ver anexo Plano de
Melhorias e Estudo de
vagas para estacionamento.
181
Página 124 – Construção do Prédio de Vidro A – Canteiro de obra; B – Escavações para lançamento das fundações; C – Lançamento das primeiras estruturas metálicas; D, E e F –Concretagem do piso. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
182
Página 125 – Construção do piso do Prédio de Vidro A e B – Lançamento do piso steel deck; C, D, E e F – Concretagem do piso; Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
184
Página 126 – Fachada do Prédio de Vidro em construção A – Esqueleto metálico com edição da autora; B – Esqueleto metálico visto do estacionamento da antiga Unidade 5; C – Esqueleto metálico com a presentaça da estrutura da escada principal. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
187
Em 2009, durante a exposição “A boa arquitetura de
uma geração” organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanettini
em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço
(CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica
(ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design
Panamericana, chamou a atenção o cartaz de propaganda
exposto pela CBCA para divulgação de suas atividades e a
forma como atua no mercado, com a imagem do Prédio de
Vidro como pano de fundo. O projeto que já havia sido
publicado em material institucional de marketing da
Universidade Anhembi Morumbi e exposto na Bienal de
Arquitetura, agora era referenciado como marco na
construção metálica nacional, rompendo os limites da
arquitetura educacional para ser um projeto de referência
arquitetônica.
O arquiteto (22/07/11) conta que ao chegar no
evento para prestigiar os colegas, surpreendeu-se com a
exposição do seu projeto no cartaz do patrocinador. Mesmo
sem seu conhecimento e aprovação, interpretou a publicação
como uma forma de reconhecimento do para o seu trabalho.
Página 127 – Fachada do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Sobrosa Constru-tora Figura 207 e 208 – Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração”, de 25 de outubro de 2009; organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanet-tini em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design Panamericana. Destaque par o cartaz de publicidade da CBCA com tema de fundo o Prédio de Vidro Fonte: Acervo arquiteto Francisco Petracco
188
CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL
3.1 o fim do começo ou o começo do fim?
Para Rocha (2007), a vida de um edifício está
compreendida em duas fases. A primeira é a fase da
construção quando uma série de problemas relativos a
durabilidade podem ser resolvidos, tais como a orientação
adequada do projeto, as normas técnicas e legais
devidamente atendidas, o programa de uso bem resolvido, e
a qualidade dos materiais condizentes com a propostas
estrutural e arquitetônica. A segunda fase refere-se ao uso,
quando surgem os problemas a partir do desgaste e usos
indevidos, necessitando de manutenção constante.
Enquanto na construção os detalhes construtivos
asseguram condições e facilidade para a manutenção, é no
ato de conservar que se encontra o grande segredo da vida
útil do edifício. Um exemplo clássico, e que pode ser adotado
para o Prédio de Vidro, é o uso da cortina de vidro no
edifício. Ao projetar, o arquiteto está ciente de que a
manutenção e limpeza do vidro garantem a boa aparência da
construção, portanto, quando opta por este tipo de
revestimento para a fachada, prevê pontos de apoio na
cobertura para sustentação dos equipamentos da limpeza.
Consequentemente a manutenção contrata funcionários que
irão descer pela fachada higienizando e vistoriando o estado
dos vidros, garantindo a conservação do material no estado
que foi idealizado. Na falha de um dos processos, o edifício
pode ter a arquitetura comprometida pela falta de limpeza,
depredação ou ainda pelo próprio desgaste do material.
De acordo com Rocha (2007), certos sistemas e
equipamentos prediais exigem serviços de inspeção e
vistorias programadas a fim de garantir sua conservação,
devendo ser realizada independente de deformidades
estarem aparentes ou mesmo não existirem. A falta de
manutenção em caráter preventivo acarreta em desgastes
desnecessários, substituições e, futuramente, novos custos.
No Prédio de Vidro, o que se tem observado é que a
falta de manutenção tem prejudicado a imagem do edifício,
transmitido uma imagem de descuido e negligência por parte
da instituição. Nos depoimentos apresentados, pode-se notar
que grande parte do desconforto do usuário está relacionado
a problemas de manutenção, tais como sanitários,
equipamentos de ar condicionado e limpeza.
189
Na escada principal, o piso de borracha aplicado
sobre a estrutura metálica, apresenta problemas de
aderência, onde o material está descolado do piso nas juntas
entre a escada e a construção. Para correção, o revestimento
do piso deveria ser removido, a estrutura ser retratada para
retirar qualquer agente contaminante que pudesse interferir
na aderência e trocar pelo novo revestimento.
Figura 129: Acabamento do piso no Prédio de Vidro descolando na junta entre a escada e o piso do pavimento, no quarto andar. Fonte: Acervo da autora
Outra questão são os impactos estéticos
proporcionados por problemas de impermeabilização, tais
como:
Infiltração na estrutura metálica do edifício e da
escada;
O crescimento de vegetação na estrutura;
Infiltração na fachada posterior.
Problemas de infiltração acarretados pelo período de
chuvas não interferem somente na estética do edifício, mas
também comprometem o desempenho da estrutura. A água
ao atravessar a peça de concreto pode atingir suas
armaduras, que sujeitas a ferrugem, podem ficar tão
comprometidas a ponto de romperem.
A descaracterização do Prédio de Vidro, resultado
das inúmeras modificações de layout35 e da manutenção
precária, evidencia certo descaso da instituição para com o
edifício. Mas o que mais chama a atenção é a falta de
finalização do projeto.
Sabe-se que a construção do auditório foi descartada
mediante área máxima exigida pela Prefeitura, contudo o
resultado gerou uma grande praça de convivência e
190
continuidade urbana. Mas não se pode dizer do mesmo do
espelho d´água.
O rebaixo do espelho d´água foi idealizado para
refletir a escada principal, chegou a ser preenchido com água
em 2008 para uma atividade da Escola de Engenharia e
Tecnologia, contudo por falta de impermeabilização, a água
escorreu para o primeiro subsolo, precisando urgentemente
ser esvaziado.
Recorrentemente, o arquiteto solicita ao
departamento de obras e projetos a finalização do espelho
d´água para finalização do projeto, o retorno embora sempre
positivo, ainda não se concretizou.
E por fim, o projeto inacabado da iluminação da
escada. Com o inicio das aulas e a escada na penumbra já
que a iluminação não havia sido finalizada, foi solicitada a
manutenção a instalação de lâmpadas de vapor metálico em
caráter provisório. Contudo é possível observar que até hoje
as lâmpadas não foram substituídas pelo seu projeto de
iluminação original e funcionam como sistema de iluminação
definitivo.
191
Figura 130 – Impactos estéticos por falta de manutenção A - Infiltração na estrutura do Prédio de Vidro; B - Infiltração na estrutura da escada principal; C - Crescimento de vegetação na estrutura da Fachada Principal, frente para a Rua Casa do Ator; D - Infiltração presente na Fachada Posterior do Prédio de Vidro, vista da Rua Gomes de Carvalho, é possível observar o desgaste da pintura e a falta de manutenção. Fonte: Acervo da autora
192
Figura 131: Rebaixo do piso, no pavimento térreo.
A e B – Vista de onde deveria ter sido feito a instalação do espelho d´água. Foi cogitado pelo arquiteto utilizar o espaço como um jardim com uso de vegetação e pedra, contudo a
instituição somente disponibilizou quatro vasos com palmeiras dispostos nas extremidades do espaço.
Fonte: Acervo da autora
193
Figura 132: Iluminação da escada do Prédio de Vidro A - O projeto provisório que se tornou definitivo com a aplicação de apenas uma lâmpada por pavimento, o que deixa a escada em total penumbra no período noturno, dificultando o acesso e conduzindo o intenso uso dos elevadores. B – Detalhe da fixação das luminárias Fonte: Acervo da autora da pintura e a falta de manutenção.
194
3.2 A Escola Aberta
Entender o processo da concepção do projeto, a
construção e os anseios da instituição contratante facilita o
entendimento de seu espaço edificado. É possível identificar
um fio condutor que delimita o percurso do projeto, os
motivos das adequações e mudanças do projeto em virtude
de questões econômicas; culturais, tanto do arquiteto
quanto da universidade; e sociais relacionando a arquitetura
não só a seus ocupantes, mas também de como se apresenta
para a cidade.
Na elaboração de um projeto universitário, estar
atento ao que se constrói, possibilita a compreensão, por
meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado
e como se traduz como identidade do lugar.
Para Ferrara (1988), toda representação é uma forma
de imagem; um gesto que codifica parcialmente o universo
através de uma expectativa de interpretá-lo. E a ação
interpretante é o modo usado para a representação da
linguagem.
Já Bordenave (1984) descreve o meio como a própria
mensagem, o que faz deste uma forma de linguagem. O
homem, a partir de uma necessidade de partilhar com os
demais o que pensa ou sente, cria símbolos que tomam o
lugar de algo que está na mente ou no sentimento; fazendo-
se visível e público o que há de mais privado em cada ser.
E segundo Jung (1977) o homem utiliza uma
linguagem cheia de símbolos para se comunicar. Seja ela um
termo, nome ou imagem que se familiariza com o cotidiano e
suas conotações especiais, além do significado evidente e
convencional que se pode atribuir a este símbolo.
Estudos realizados pelo PROARQ/FAU/UFRJ sobre
valores e significados atribuídos aos espaços, constataram
que quando um usuário entra em contato com um
determinado espaço, recebe impactos iniciais a partir das
impressões que ele visualiza e que geram nele uma
percepção; esta é a primeira etapa de um processo de
conhecimento do lugar (processo cognitivo). Nos próximos
passos desta percepção imediata, a possibilidade de
discriminar e classificar os signos do ambiente é garantido
pelo domínio que o usuário tem do código apresentado, do
qual decorre uma percepção mecânica independente das
características contextuais temporais ou espaciais. Em
sistemas similares, a percepção desprovida de qualquer
195
parâmetro codificado, é tensa e profundamente influenciada
pelas características espaciais ou temporais, sendo,
necessariamente, a apreensão do novo como descoberta
perceptiva.
Desta forma, muitas podem ser as vertentes de
interpretações do contexto apresentado, já que a trajetória
do Prédio de Vidro pode ser analisada sob vários pontos de
partida. O olhar pode-se voltar para a História de um espaço
completamente distinto das edificações do Retiro dos
Artistas, mas que mantém certa relação ao atribuir como
nome oficial da unidade “Edifício Theatro Casa do Ator”;
também pode ser interpretado sob o viés da tecnologia em
que, como marco da arquitetura, o projeto está alinhado ao
movimento High Tech presente no cenário arquitetônico
mundial na década de 1990; outro aspecto seria a evolução
urbana apresentada com a verticalização da Universidade e
do Bairro Vila Olímpia; ou ainda a concepção arquitetônica
do edifício e a relação de design adotada em sua arquitetura
com intuito de ser reconhecido como espaço universitário,
entre tantas outras.
Escolher um ponto de partida sugere decifrar as
inquietações do observador.
Neste contexto optou-se tratar interpretações que
conduziram a escolha do objeto: o design de sua arquitetura
a partir da memória documentada. A problemática do que é
um espaço universitário traduzido pelo pensamento do
arquiteto sobre o que é a formação universitária; onde
pressupõe que o uso do espaço é uma ferramenta para
preparar um futuro profissional atuante na sociedade,
traduzindo o espaço do Prédio de Vidro como um edifício
que acompanha a transformação da sociedade. E como são
as relações estabelecidas entre o espaço percebido e as
relações geradas pelas experiências nele vividas, de usuários
que gostam, abandonam, estranham, surpreendem-se,
reencontram as referências simbólicas nesta arquitetura,
identificando a importância da História do projeto para
entendimento de seu design.
Para Ricceur (2010), a noção de espacialidade
corporal e ambiental está intrínseca a evocação da
lembrança, partindo da reflexão como forma de explicá-la.
Uma associação perceptiva de recordações e leituras do
espaço físico, articulada a sensações e sentidos de fluxos,
instiga a memória íntima e, posteriormente, a memória
compartilhada. Assim, o espaço edificado diferencia-se do
196
espaço habitado, enquanto um é resultado apenas da
construção, e o outro está relacionado ao uso, ao
relacionamento estabelecido gerando lembranças, ligações
afetivas ou não. Durante o período que esta relação é
mantida para si desenvolve uma memória intima, e a partir
do momento em que é transmitida ao outro estimula uma
memória compartilhada.
Para Del Rio (1996), a percepção é “um processo
mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, que
se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos
e, principalmente, cognitivos”. Assim, desde o primeiro
contato com o ambiente, o homem se inter-relaciona através
dos seus sentidos, à percepção, à memória, aos valores
culturais e ao espaço em que se está imerso, passando a
sentir e carregar as informações dos significados culturais,
percebendo e reavaliando o ambiente de modo a dialogar
ciclicamente com ele. O ambiente construído dirige ao
usuário estímulos sensoriais, captados pelos cinco sentidos. A
partir da compreensão, a racionalidade gera um processo de
organização mental, na qual a realidade percebida é
representada por esquemas e imagens mentais associadas.
Ao deparar-se com um espaço, as cores, formas, padrões de
luz, cheiros sons ou ruídos que estão presentes são sentidos.
A experiência conjunta, de todas as características
perceptuais, motoras ou conceituais que podem ser
identificadas, estabelece valores para o espaço. Os detalhes
são assimilados e culminam no reconhecimento ou
distanciamento do usuário, a partir de significados que ele
atribui, variando de acordo com a vivência cultural e as
estruturas cognitivas prévias.
A arquitetura, por proporcionar projetos livres e
independentes, assume a possibilidade de gerar novos
significados na medida em que é percorrida. No ambiente
construído, o usuário identifica o lugar e tem o poder de
transformá-lo. Este espaço, que a princípio é fruto do desejo
do arquiteto, que já percorreu esta trajetória de leitura a
interpretação, passa a ser o lugar do usuário.
A partir da compreensão e reconhecimento do lugar
pelo usuário, que faz uma análise e uso de seus valores
impregnados pelos elementos edificados desse espaço, este
atribui o significado que melhor traduz seus anseios
inconscientes. Isto porque, ele não observa somente a
função específica do que foi construído, mas também faz a
relação dos aspectos simbólicos do conjunto para com ele.
197
Assim, um edifício apresenta, em si, forma de se
expressar baseado em símbolos e elementos representativos
do seu conceito arquitetônico. O espaço é entendido não só
pelo que tem de visível, mas da relação com a história
cultural, a composição do conjunto edificado e a forma como
quem o desvenda.
Isto justificaria o fato da associação do espaço do
Prédio de Vidro ao espaço cerceante da vida humana. As
lembranças geradas pelo sistema educacional com
regulamentos e leis transferidas e identificadas no espaço
como a representação de ambientes enclausurados, cheio de
portas, ou exposição através das cortinas de vidro,
transmitindo a sensação de um usuário que tem sua
liberdade vigiada. Vivenciar o edifício é deparar-se com
obstáculos que, embora projetados para garantir maior
contato, visibilidade e socialização, inquietam e ameaçam a
zona de conforto de alguns usuários. A sensação de
exposição, ligado ao fato de não estar no casulo familiar, é
reforçada pelo predomínio do vazio, da luz e da abertura.
Esta mesma relação, também, traduz os depoimentos
em que os espaços abertos e as praças geram insegurança
pela exposição e opressão geradas pelas sombras e cores. As
sensações aguçadas pela arquitetura traduzem a experiência
pessoal traduzindo a estrutura em leveza ou solidez; o vidro
em exposição ou liberdade visual; praça para comemoração
ou aridez; circulação em movimento ou estar; distribuição da
sala em flexibilidade ou enclausura; da arquitetura em
inovação ou falta de conforto. Esta orientação da percepção
a valores opostos partem do conhecimento, do uso e das
referências particularmente adotadas, e produzem a
identificação da arquitetura como espaço destinado a sua
função, neste caso para a universidade.
Na pesquisa realizada fica evidente esta dualidade.
As mesmas perguntas e espaços questionados a um público
constituído por alunos, ex-alunos, arquitetos, professores,
usuários da arquitetura como um todo, alternam o resultado
na sua própria concepção de como é habitar o Prédio de
Vidro. Algumas vezes evidenciam a paixão do estudante que
deseja usufruir deste espaço, outras vezes relatam o
desconforto com a arquitetura.
Para Ricceur (2010), o ato de construir caracteriza a
configuração do tempo pela composição do enredo;
conformando o espaço construído geométrico, mensurável e
calculável, que qualifica a forma de vida; ao tempo narrado
198
que interage nas experiências de uma época. De tal modo
que a construção insere-se no vazio urbano como narrativa
de um contexto momentâneo, facilitador da história, gostos
e formas culturais de uma época.
O Prédio de Vidro é uma narrativa do processo de
inovação arquitetônica da Universidade Anhembi Morumbi
traduzindo a manipulação de um conjunto de fatores
técnicos, construtivos, socioeconômicos e culturais em uma
arquitetura sólida, emotiva, com valorização da história
desde o nome da rua até iniciativa do arquiteto em suas
primeiras experiências metálicas. Assim sendo esta traduz o
tempo de ver e ler uma época, uma arquitetura
essencialmente, moderna com apelo tecnológico reflexo da
evolução arquitetônica da Instituição.
Para Ricceur (2010), tudo na História tem início no
testemunho. Apesar da carência principal de confiabilidade, é
a segurança de que algo realmente aconteceu, de que foi
assistido por alguém, ou atestado com outros tipos de
documentos que desarma aqueles que precisam dos arquivos
como forma precisa da realidade. Calcada neste pensamento,
os depoimentos, tanto coletivos como privados, resgataram a
história do Prédio de Vidro em conversas informais,
transcrições das lembranças e transformações que afetaram
tanto espaço, como a própria memória consultada.
Ricceur (2010) escreve que o testemunho dá
condições formais ao conteúdo das “coisas do passado”, das
condições de possibilidade de processo efetivo da operação
historiográfica. Parte-se da memória declarada, passa-se pelo
arquivo e pelos documentos e termina como prova
documental. Uma relação de processo onde há o registro de
vivências e formas de rememorar.
Assim o estudo da história do projeto busca entender
os acontecimentos que derivaram a construção do Prédio de
Vidro, trazendo a tona o conhecimento do seu processo.
Conhecer a origem, a escala do território, do bairro, do lote;
chegando ao edifício e os impactos ambientais e urbanos
inevitavelmente gerados a partir de sua proposta
construtiva; a busca pela transformação do ambiente urbano
em que está inserido e produzindo novas extensões urbanas
numa relação de espaço público e privado; e a evidencia de
que este é um projeto a ser finalizado, que não está
integralmente pronto, seja pelas mudanças construtivas, seja
pela falta de alguns elementos projetados, ou ainda pelas
mudanças de seu layout; mas acima de tudo, porque é uma
199
proposta de não ser um projeto fechado há um tempo
preciso, mas passível de acompanhar a dinâmica da
instituição.
A construção do edifício demonstra a construção de
um conhecimento, propício de uma época, de um anseio
momentâneo da instituição o e de um ideal do arquiteto. O
tempo muda, as expectativas e as referências também.
Buscar o elemento flexível, adaptável as mudanças sociais e
históricas está além das barreiras arquitetônicas, por que o
espaço universitário é só a casca para a formação
profissional, a produção do conhecimento vai além das
barreiras de espaço e do tempo.
Na arquitetura de seu espaço deve-se observar a real
busca do arquiteto em projetar um espaço universitário com
qualidade para difusão do conhecimento. A transformação
arquitetônica e o crescimento da Universidade Anhembi
Morumbi gerou um design representado através da fachada
inovadora, um traço do ideal projetado pelo arquiteto de se
conceber uma Escola Aberta.
Esta Escola traduzida na construção de um objeto de
uso humano que compõe uma nova paisagem social
educativa para o Ensino Superior rompe os paradigmas de
que o corpo acadêmico edificado é determinado por salas de
aulas com paredes e muros, propondo espaços livres e
translúcidos. Decorrente de uma sociedade capitalista e
consumista, os ideais propostos de transparência, igualdade
e liberdade, estão sendo convertidos a conceitos de
fragmentação e isolamento do espaço, garantindo sensações
de falta de conforto e segurança. Uma contradição
legitimada, onde a rua expulsa o indivíduo e o muro o liberta.
No Prédio de Vidro o arquiteto busca integrar o viver
na cidade dentro de um ambiente acadêmico; criar lugares
comuns, produzindo praças, pátios, mirantes em constantes
diálogos com a cidade; propõe uma união do pátio ao
espelho d´água, que mesmo que não emitente do reflexo da
escada num sentido de ser o portal do conhecimento, torna-
se banco, oferecendo um novo cenário de convivência e
troca de conhecimento. A Capela de São Judas Tadeu, que
mesmo escondida atrás do edifício, preserva o ar lúdico e
bucólico do que já representou um dia ao retiro dos artistas
que ali viveram, garantindo espiritualidade e memória em
suas portas abertas a comunidade. As galerias de circulação
que convertem a comunicação do programa e do público
revelam como a comunidade acadêmica funciona. Desta
200
forma, os espaços não são projetados simplesmente como
resposta a sua função, mas sim, são geradoras de novas
formas, usos, sentidos, sensações e lições.
Embora não contemple todas as questões
estabelecidas pelo tripé da educação universitária o ensino, a
pesquisa e a extensão, já que o espaço dispõe de salas de
aula, laboratórios de informática e um laboratório específico,
sua composição estrutural favorece a utilização do edifício de
acordo com o planejamento espacial proposto pela
instituição, cabendo à universidade abrigar todas as
diretrizes do MEC em um único espaço ou distribuindo pelas
demais construções do campus.
No Prédio de Vidro o compasso da estrutura permite
quebrar o protocolo e superar a lógica da disciplina como na
Escola da Ponte⑲, onde não se precisa separar o ensino por
lugar fixo ou fechado, podendo ser organizados em grupos
de interesse comum, criando espaços de inclusão, inter-
relação e conexão.
Problemas com a cortina de vidro, provedora de luz
natural e calor, evidenciam o apego à exposição do conteúdo
de forma clássica. Este padrão herdado do ensino tradicional
gera inquietações quando o novo modelo questiona a
projeção de conteúdo onde é preciso virar as costas para o
natural e cotidiano, ao invés de integrar-se a ele.
Considerando as dificuldades proporcionadas pelo viés da
sustentabilidade dos materiais e técnicas empregadas,
indaga-se a tendência atual de priorizar as relações
insustentáveis criadas com longos corredores e salas de aulas
fechadas, enclausurados por suas portas fechadas, enquanto
se podem explorar elementos que possibilitem ventilação e
iluminação natural.
Pode-se dizer que na busca de identificar fatores que
caracterizariam o Prédio de Vidro como um espaço
universitário, o que se desvendou foi que para elaboração de
espaços acadêmicos deve-se evidenciar a consciência social
da arquitetura como forma convidativa a educação. Não são
o acabamento, revestimentos ou tratamentos do edifício, ou
suas salas, galerias de circulação, pátios ou laboratórios que
fazem de um espaço um local de aprendizagem, afinal o que
se aprende por meio do ensino não é físico, é empírico e vai
muito além dos limites edificados do espaço acadêmico.
E este pensamento pode ser identificado na proposta
de Petracco, um projeto que aproxima os lugares às pessoas;
evidenciam as engrenagens de seu funcionamento; os
Escola da Ponte é uma instituição pública portu-guesa, referência na forma-ção básica integrada de seus alunos. Disponível em http://www.escoladaponte.com.pt/, acessado em 12/08/2011
201
esforços de sua estrutura; cria sentidos e significados
distintos a partir de seus vazios; e abre-se para a cidade.
E isto, pode-se dizer do Prédio de Vidro, que cada
usuário guarda um pouco do espírito livre do projeto, que
desconstrói as barreiras; algumas vezes gerando desconforto,
outras insegurança, mas acima de tudo transmitindo
liberdade e transpondo os obstáculos tradicionais do espaço
universitário.
202
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa que partiu do intuito de discutir o espaço
universitário cogitou, em um primeiro momento, o estudo
sobre os espaços acadêmicos da Universidade Anhembi
Morumbi a partir de sua produção arquitetônica, para um
entendimento sobre o ambiente universitário sob o viés da
Instituição. Contudo, a escolha do Prédio de Vidro como foco
de pesquisa reflete a importância dada a esta edificação, que
foi a primeira obra construída pela Universidade para sediar
seus espaços acadêmicos, e que marcou a preocupação da
Instituição em não mais, adaptar espaços fabris através de
uma maquiagem arquitetônica, mas de qualificar seus
ambientes com melhores acabamentos e infraestrutura
diferenciada.
Conhecendo os espaços acadêmicos da Instituição,
pode-se observar que a Universidade apresenta três tipos de
construções:
As construídas, evidenciando uma arquitetura
com aspectos modernos e inovadores, tais como
as novas edificações do Campus Vila Olímpia –
Unidade 5, 6 e 7, e a do Campus Morumbi, o
Edifício Jardim;
As adaptações de patrimônio industrial, com
requalificação de infraestrutura e mudança da
categoria de uso, num processo de valorização
patrimonial e urbana, tais como o Campus Centro
e os Galpões do Campus Morumbi; e.
As adaptações de edifícios existentes em centros
urbanos da metrópole, demonstrando
investimentos em áreas que apresentam ampla
rede de transporte e maior visibilidade comercial,
além de requalificar e valorizar o patrimônio
existente, tais como o Campus Paulista e Campus
Vale do Anhangabaú.
Para o atual universo educacional, além do
acadêmico, a apresentação de uma infraestrutura
consolidada, esteticamente bela e atrativa é um diferencial
competitivo. O investimento dedicado às instalações físicas
reflete um posicionamento da instituição sob aspectos
acadêmicos, culturais, sociais e comerciais. A partir do
momento em que a universidade se propõe a marcar sua
203
presença no mercado de Ensino Superior, adotou uma
política de reestruturação de seus edifícios, propondo não só
uma cenografia para os usuários, mas uma qualificação de
seus ambientes acadêmicos.
E foi a partir deste contexto que se observou a
possibilidade de um estudo sobre os aspectos importantes
para o entendimento da arquitetura e construções da
Universidade Anhembi Morumbi, e a partir deles tratar a
memória institucional de sua História, com foco na análise
deste edifício pioneiro concebido para representar o
potencial construtivo da instituição, o Prédio de Vidro, do
arquiteto Francisco Petracco.
Em arquitetura, o espaço universitário considerado
ideal se traduz na construção da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, (FAU-USP),
projetada por Vilanova Artigas. O edifício é um jogo de
volumes fechados e abertos proporcionando um percurso
corrente, uma fluidez com limites imperceptíveis entre o
espaço público e o privado demonstrando completa
liberdade a seu usuário. As vedações internas são quase
exoneradas onde os níveis dos andares conformam a
delimitação dos ambientes com o máximo de translucidez
aflorando todas as sensações proporcionadas pela natureza:
luz, calor, frio, barulho, silêncio, e afins. O vazio central
organiza a distribuição das galerias de circulação, rampas,
salas e espaços acadêmicos. O espaço abriga todas as
atividades definidas pela tríade do Ensino Superior: Ensino
com suas salas, ateliês, laboratórios; a Pesquisa com
Biblioteca, departamentos, diretoria, auditório, diretoria,
secretaria; e a Extensão com espaço de convivência, salão
caramelo, museu, café e grêmio.
Este espaço universitário, provavelmente, foi
utilizado por Petracco como referência para conceber o
Prédio de Vidro. Algumas relações podem ser feitas a partir
da análise do edifício.
As duas obras contam sua história a partir da
estrutura, enquanto o Prédio de Vidro trabalha a tecnologia
do aço, a FAU-USP retrata a linguagem brutalista do concreto
aparente característico do movimento Escola Paulista de
Arquitetura. Os pilares de Artigas destacam-se através de seu
desenho, enquanto a estrutura de Petracco intensifica a força
do projeto.
A caixilharia em vidro apresenta o entorno de forma
atrativa e aberta sendo cuidadosamente tratado na
204
arquitetura de Artigas com o uso de empenas suspensas que
garantem um maior controle da luminosidade; ação que não
ocorre no Prédio de Vidro em detrimento a exclusão do brise
soleil.
Nos dois projetos é possível observar a presença do
pátio central iluminado por uma cobertura translúcida.
Enquanto na FAU a cobertura é composta por vigas
entrelaçadas vedadas por domus, o projeto de Petracco
apresenta uma malha estrutural em aço e vidro.
A circulação vertical das construções descreve o
passeio interno e as sensações de mudança do espaço, de
forma que no projeto de Artigas este percurso é feito pelo
pedestre através das rampas, ao passo que na UAM esta
transição acontece mecanicamente por meio dos elevadores
panorâmicos.
Até mesmo nas questões de conforto ambiental os
problemas são similares, tanto no projeto de Artigas como no
projeto de Petracco, a acústica e o conforto térmico são
decorrentes do uso e disposição do material. Contudo, a
FAU-USP, atualmente passa por um processo de restauro da
edificação onde alguns problemas estão sendo reavaliados.
E é em um único espaço arquitetônico que os
projetos não coincidem. Enquanto a FAU-USP apresenta um
térreo interligado o espaço urbano ao espaço acadêmico,
onde o usuário é convidado a adentrar o recinto; o Prédio de
Vidro abre seu espaço a cidade, mas interrompe a entrada ao
espaço acadêmico a partir da segmentação entre acadêmico
e convivência. Esta segregação pode ser atribuída ao fato da
proposta de auditório que não foi construída, onde o térreo
teria um outro uso, além da área de convívio entre os alunos.
Mas o que se pode concluir, é que nos dois projetos o
partido adotado para o espaço universitário decorre dos
ideais políticos e acadêmicos que os arquitetos guardam da
Academia. Ambos tiveram sua vida profissional ligada a área
acadêmica, foram professores e buscaram estruturar o
Ensino de Arquitetura e Urbanismo nas universidades em
que atuaram. Desta forma, o projeto não é apenas a
representação do seu design, mas um conjunto de aspirações
decorrente da produção de cada arquiteto, podendo ser
considerados a síntese da relação arquitetônica à proposta
de ensino.
E retomando a questão principal desta pesquisa, só
foi possível chegar a esta conclusão a partir do conhecimento
205
da História do projeto, seus elementos arquitetônicos, sua
construção e a forma como vem sendo utilizado; bem como
entender a trajetória do arquiteto, a postura da Universidade
Anhembi Morumbi e como a evolução de seu patrimônio
arquitetônico proporcionou a oportunidade de construção do
Prédio de Vidro.
PROPOSTA PARA FUTUROS TRABALHOS
A trajetória da Universidade Anhembi Morumbi
apresenta uma relação rica com a arquitetura, onde é
possível identificar a preocupação da instituição com
questões não só acadêmicas, mas sociais e urbanas. Talvez
esta preocupação seja decorrente de ter a frente da reitoria
um arquiteto urbanista, que mesmo empresário do ensino,
sempre demonstrou aos que o conhecem, a preocupação
com a História, haja visto seus discursos em cerimônias
institucionais e na publicação de seu livro narrando a
fundação do primeiro curso de graduação em Turismo.
Apesar do interesse da Instituição e da boa vontade
dos que participaram para a elaboração deste trabalho,
pode-se concluir que muito ainda precisa ser feito para
documentar o percurso desta instituição.
Algumas dificuldades foram enfrentadas neste
estudo a fim de colher material para análise, tais como
documentos, datas e projetos das construções. Parte do
material produzido pelas construções da universidade
encontra-se perdido no arquivo morto ou foram excluídos
destes arquivos, solicitado a catalogação e arquivamento
adequado em local próprio para consulta, como a própria
biblioteca da universidade.
Muito do material aqui apresentado é decorrente de
depoimentos de pessoas que trabalham ou trabalharam com
a Instituição, sendo que algumas ainda ficaram de
encaminhar seus depoimentos. A documentação fotográfica
dos primeiros anos da universidade e da obra foi adquirida
junto ao acervo da universidade nos departamentos de
marketing, obras e reitoria; e da construtora do Prédio de
Vidro. Poucos documentos foram conseguidos a partir do
departamento de projetos e obras e biblioteca.
Foram entrevistados o arquiteto, reitor, funcionários
e ex-funcionários, alunos e ex-alunos que sempre tinham
206
algo a acrescentar que não faz parte dos arquivos da
Instituição.
Desta forma, e diante da riqueza de material que se
pode produzir, narrando a trajetória da instituição, o
desenvolvimento do patrimônio arquitetônico da
universidade e da relação urbana com a ocupação de espaços
da cidade pelo Ensino Superior, a pesquisadora sugere que se
inicie um processo de memória da Universidade Anhembi
Morumbi, com intuito de resguardar suas conquistas
arquitetônicas e educacionais, evidenciando o seu processo
de gestão institucional, que vivenciou um período familiar e
agora apresenta uma administração multinacional,
apontando outras Histórias tão promissoras e que carecem
ser contadas.
207
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estrutura e ritmo – Tese de Doutorado –
Universidade de São Paulo, 2004
211
ANEXOS
ANEXO 1 - RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS
(EM ORDEM ALFABÉTICA)
Gabriel Mário Rodrigues
Reitor da Universidade Anhembi Morumbi
Francisco Petracco Arquiteto autor do projeto
Ana Lydia Faria Assistente/ estagiária no projeto da Unidade 6
Deise Marques Araújo
Arquiteta, autora dos projetos Unidade 5 e 7 Do Campus Vila Olímpia; Edifício Jardim no Campus Morumbi e Adequação dos imóveis dos Campi Centro e Morumbi para uso acadêmico
Delduque Oliveira Martins
Diretor administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, durante a obra do Prédio de Vidro
Eduardo Sobrosa
Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro
Francisco Petracco Arquiteto autor do projeto
Jair Barreto
Coordenador de Manutenção – Conservação predial
Glauco Humberto Fioritti Gerente de Projetos e Obras
José Leôncio Coordenador de Manutenção – Conservação do patrimônio
Leonardo Lenharo Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6
Luis Araujo Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6
Luiz Fernando Crepaldi Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6
Lucilene Santos Funcionária do Marketing – área de reconhecimento
Rosângela Albuquerque Coordenadora do Departamento Pedagógico
Wilson Mello Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro
Alunos Alunos usuários do espaço
Professores Professores usuários do espaço
Funcionários Funcionários usuários do espaço – segurança, limpeza, administrativo
212
ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975
ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975 Legislação - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975
Estabelece condições de localização, aproveitamento, ocupação e recuos para edificações destinadas a estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e aos estabelecimentos de educação infantil. (Alterada) Complementada pelas LM 8.769/78 e 9.094/80 Mantidas as disposições pela LM 13.885/04 Ver DM 45.726/05 - Retificado DOM 14/03/85 - já anotado MIGUEL COLASUONNO, Prefeito do Município de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por lei. Faço saber que a Câmara Municipal, em sessão de 28 de fevereiro de 1.975, decretou e eu promulgo a seguinte lei: Art. 1º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil são enquadrados nas categorias de uso E1, E2 e E3, definidas pela Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, devendo obedecer a todas as exigências fixadas para essas categorias de uso, bem como as exigências da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, excetuando-se o estabelecido por esta lei. Art. 2º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil poderão instalar-se nas zonas de uso constantes do Quadro anexo, de acordo com todas as exigências nele fixadas quanto à área mínima de terreno, coeficiente de aproveitamento máximo, taxa de ocupação máxima, recuos mínimos obrigatórios, área destinada a estacionamento, embarque, desembarque e manobras de veículos e demais exigências desta lei. Art. 3º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de
educação infantil regularmente instalados até a data da publicação desta Lei, em qualquer zona de uso, exceptuando-se as zonas Z-1 e os corredores de uso especiais Z8-CR1 quando a área construída já tenha ultrapassado as exigências estabelecidas no Quadro anexo, poderão ser objeto de ampliação, desde que atendendo às seguintes condições:
I - seja motivada por necessidades técnicas devidamente comprovadas e justificadas pelo órgão competente para a fiscalização dos estabelecimentos de ensino; II - receba parecer favorável da Comissão de Zoneamento, que poderá, em caráter excepcional, adotar critério diverso do estabelecido nas colunas B, C, D e E do Quadro anexo; III - a área a ser edificada não ultrapasse a 20% da construção existente; IV - as novas partes edificadas que se beneficiarem das disposições deste artigo deverão atender às exigências das colunas H e I do Quadro anexo.
Art. 4º - Quando no imóvel de localização do projeto do estabelecimento de ensino pertencente ao sistema educacional do Estado de São Paulo ou estabelecimentos de educação infantil houver áreas arborizadas de valor paisagístico ambiental, a critério da Prefeitura e mediante acordo formal com esta, em que os proprietários e seus sucessores se responsabilizem pela sua total preservação e manutenção, a área edificada resultante da aplicação dos coeficientes fixados no Quadro anexo poderá ser acrescida de área igual à área arborizada a ser preservada. Parágrafo único - O acréscimo de áreas a que se refere o "caput" deste artigo destinar-se-á exclusivamente a instalações escolares. Art. 5º - Os estabelecimentos de educação infantil, bem como os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, poderão se instalar em imóveis localizados em zonas de uso Z-1, desde que:
213
I - numa faixa de 250 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a qualquer outra zona de uso onde são permitidos os usos objeto desta lei; II - numa faixa de 500 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a outro estabelecimento escolar de mesmo grau de atendimento; III - o interessado obtenha a anuência expressa, devidamente firmada e registrada em Registro de Títulos e Documentos, de todos os proprietários limítrofes ao imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento, bem como de, pelo menos, dois-terços dos proprietários dos imóveis que tenham mais de 50% de sua área contida numa faixa de 100 metros de largura envolvendo o imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento escolar; IV - não será permitida a derrubada ou a remoção de nenhuma árvore sem prévia autorização da Administração Municipal. § 1º - A largura das faixas a que se refere este artigo poderá ser alterada, a critério da Comissão de Zoneamento, quando atingirem obstáculos de transposição impossível ou difícil. § 2º - Para efeito do disposto no item II deste artigo, será considerada a ordem cronológica de entrada do pedido de licença ou de funcionamento ou de aprovação de projeto para cada Administração Regional, separadamente. Art. 6º - Os estabelecimentos de educação infantil e os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, regularmente instalados anteriormente à vigência da Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, ou da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, em zonas que passaram à categoria de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1, deverão atender apenas
às disposições do item IV do artigo 5º e admitindo-se exclusivamente as reformas essenciais à segurança e higiene das edificações, instalações e equipamentos. Parágrafo único - No caso de reforma com aumento de área construída, será considerado como um projeto novo, devendo atender integralmente ao disposto nesta lei. Art. 7º - Aos estabelecimentos de ensino ou de educação infantil instalados em zonas de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1 em situação irregular na data da publicação desta lei, que não puderem atender o que ora é estatuído, fica estabelecido que após o encerramento do atual ano-letivo será aplicado o disposto no Capítulo VI do Decreto 11.106 de 28 de junho de 1974. Art. 8º - Para atender às exigências de vagas para estacionamento de veículos previstas no Quadro anexo, poderá ser utilizado um outro imóvel localizado a uma distância máxima de 100 metros, mediante a vinculação desse imóvel com o estabelecimento de ensino. Parágrafo único - As disposições deste artigo não se aplicam às zonas de uso Z-1. Art. 9º - Não se aplica o disposto no artigo 24 da Lei nº 7.805, de 1 de novembro de 1972, aos estabelecimentos de ensino que se beneficiarem com o estatuído nesta lei. Art. 10 - As edificações que, ao utilizarem os benefícios desta lei, ultrapassarem aos valores máximos permitidos para a zona de uso em que se localizam, não poderão ter outra destinação que não as objeto desta lei. Art. 11 - A aplicação dos benefícios desta lei às zonas de uso especial Z-8 fica a critério da Comissão de Zoneamento da Coordenadoria-Geral de Planejamento – COGEP. (Ver Res. SEMPLA/CZ 82/82)
214
Art. 12 - Os novos estabelecimentos de ensino objeto desta lei, que se instalarem em imóveis lindeiros a vias que integrem o sistema de vias expressas ou o sistema de vias arteriais do Município, não poderão se beneficiar desta lei. Art. 13 - Publicado pelo Presidente da Câmara e pelo Prefeito, faz parte integrante desta lei o Quadro anexo. Art. 14 - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 6 de março de 1975, 422º da fundação de São Paulo
O PREFEITO, MIGUEL COLASUONNO O Secretário de Negócios Internos e Jurídicos, THEÓPHILO ARTHUR DE SIQUEIRA CALVACANTI FILHO O Secretário das Finanças, KLAUS DIETMAR ALVAREZ. Respondendo pelo Expediente O Secretário de Obras, IVAN LUBACHESCKI O Secretário Municipal da Educação, ROBERTO FERREIRA DO AMARAL O Secretário dos Negócios Extraordinários, LUIZ MENDONÇA DE FREITAS Publicada na Chefia do Gabinete do Prefeito, em 6 de março de 1975. O Chefe do Gabinete, ERWIN FRIEDRICH FUHRMANN
215
ANEXO 4 - PLANO DE MELHORIAS Controlador com 08 planos compatíveis com equipamento existente no corredor Santo Amaro. Local: Av. Hélio Pellegrino X Praça Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte). 1) Controladores compatíveis com a rede proposta para a Vila Olímpia. Especificações Técnicas: - 08 fases veiculares;
- 02 fases para pedestres;
- trabalhar em rede;
- mínimo de 08 planos;
- acessibilidade à qualquer outro controlador similar ( para programação e leitura) Locais: - Av. Hélio Pellegrino X R. Nova Cidade
- Av. Hélio Pellegrino X R. Atílio Inocentti (acesso da R. Fiandeiras)
- R. Ribeirão Claro X R. Quatá
- R. Ribeirão Claro X R. Casa do Ator
- R. Ribeirão Claro X R. Gomes de Carvalho
- R. Ribeirão Claro X R. Cardoso de Melo
- R. Ribeirão Claro X Hélio Pellegrino 2) Deverão ainda ser implantados os seguintes equipamentos:
- Colunas semafóricas:
a) braços projetados: 10
b) colunas simples: 22
- Grupos focais:
a) para veículos: 21
b) para pedestre: 32 - Laços detetores (seções): 10
- Botoeiras para pedestres: 16
- Cabos elétricos (4 x 11/12”): 1.500 metros para ligações entre controladores e grupos focais. 3) Readequação da configuração geométrica do cruzamento da Av. Hélio Pellegrino com a Pça. Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte), a ser semaforizado, conforme Croqui nº 1 juntado às Fls. 99 à 101 do processo nº 1999-0243.453-3.
4) Deverá ser implantada e/ou revitalizada a sinalização horizontal e vertical dos cruzamentos indicados nos itens 01 e 02.
216
ANEXO 5 – ESTUDO DE VAGAS PARA ESTACIONAMENTO São Paulo, 12 de Julho de 2000. À CET Rua Jaques Felix, 66 – 6º andar São Paulo - SP Att.: Luis Fernando Corresp. N° 240/2000 Prezados Senhores, Conforme solicitação de V.S.ª encaminhamos documentação conforme processo nº 1999-0.243.453-3 de acordo com os documentos relacionados abaixo que seguem em anexo:
nº278; com a ROD estacionamentos para 160 vagas
de estacionamento;
conforme tabela a seguir:
Sem mais para o momento, Atenciosamente,
Sobrosa Melo e Silva Construtora e Engenharia Ltda.
Tr. Ubirassanga,35 - São Paulo - SP Fone 5561 7505 Fax 5561 7504
www.sobrosa.eng.br