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1 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA HOMEM E SOCIEDADE Profª Teresinha Minelli Tavares

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UNIP – UNIVERSIDADE

PAULISTA

HOMEM E SOCIEDADE

Profª Teresinha Minelli Tavares

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ALUNO (A) _________________________CURSO:____________________

PERÍODO: ( ) MANHÃ ( ) NOTURNO

PRINCIPAIS VISÕES SOBRE A ORIGEM HUMANA:

O EVOLUCIONISMO

O Evolucionismo é uma teoria fundamentada em achadosde

fósseis concretos ou em experiências bio-genéticasrealizadas,

embora eventualmente questionadas em suasconclusões:

A teoria evolucionista e a explicação da biologia para a origem e

evolução do ser humano;

A colaboração da teoria antropológica sobre a visão da biologia e do

evolucionismo a antropologia defende que a explicação puramente

biológica é apenas uma parte de nossa complexa evolução o papel

do comportamento cultural também foi determinante para

surgimento de nossa espécie como é hoje.

A antropologia afirma que é falsa a afirmação que o ser humano é

determinado pelo clima ou pela herança genética; sim, as

populações se adaptam a diferentes meio ambientes para sobreviver,

mas não é o meio ambiente que determina nosso comportamento;

sim, cada indivíduo é resultado de uma herança genética, o que não

significa que é “escravo” dessa herança.

Voltar às origens da cultura é também voltar à origem da

humanidade. Ter costumes e hábitos aprendidos é um

comportamento relacionado com a nossa sobrevivência e evolução

enquanto espécie. O tema possibilita uma abordagem que ressalta a

importância da compreensão do ser humano como um ser bio-psico-

social, ou seja, somos seres cujo comportamento é determinado ao

mesmo tempo:

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BIO - por nossas características orgânicas (o tipo de aparelho físico

que temos e como podemos utilizá-lo);

PSICO - por nossas experiências pessoais racionais e afetivas de

mundo e;

SOCIAL - pelo meio social onde vivemos.

Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que

nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como

preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar

através desta ou daquela língua?

Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a

Paleontologia e a História, tem explorado profundamente essa

questão sobre a diferença do Homem em relação ao resto do mundo

animal que nos cerca. Até o momento puderam concluir que nosso

comportamento é fruto de um processo histórico no qual BIOLOGIA e

CULTURA modelaram nossos ancestrais.

CULTURA - rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um

indivíduo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de

diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas,

etc.

http://www.alunosonline.com.br/filosofia/o-que-e-cultura/

Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a

cultura foram responsáveis por tamanhas mudanças em nossa

espécie, que hoje achamos um fato “natural” não necessitarmos

entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”.

Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou

saber que alimentos são comestíveis e como devemos prepará-los?

Quem inventou o primeiro tipo de calçado, ou descobriu como

fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importância

decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de ser humano?

Essas questões devem ser respondidas ao longo desse tema.

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No séc. XIX Charles Darwin (biólogo), afirmou que todas as espécies

vivas resultam de uma EVOLUÇÃO ao longo do tempo. Isso significa,

que se retornássemos em nosso planeta há milhões de anos atrás

não encontraríamos as espécies conforme as vemos hoje. Cada ser

vivo, para chegar até hoje, passou por sucessivas e pequenas

transformações que possibilitaram sua sobrevivência; esse processo

de mudanças orgânicas ocorre por necessidade de ADAPTAÇÃO AO

MEIO. Consideremos que as condições do meio como clima,

quantidade na oferta de alimentos e todas as questões relacionadas

às condições ambientais, estão em constante mudança. Pois bem, as

formas de vida existentes precisam acompanhar essas mudanças,

estando sujeitas – segundo Darwin – a dois destinos:

a) podem se adaptar e ao longo de muitas gerações apresentarem

mudanças visíveis;

b) não conseguem se adaptar, entrando em extinção.

Quais são as espécies que conseguem se adaptar?

São as que possuem alguns indivíduos do grupo dotados de

características tais que o permitem sobreviver e gerar uma prole

(conjunto de filhos/as) que dá continuidade a essas características.

Os outros indivíduos de sua mesma espécie que não possuam tais

características, não conseguindo “lutar” pela sobrevivência, têm mais

chances de morrer sem deixarem descendentes. Assim, após muitas

gerações, temos uma espécie que já não se parece com seu primeiro

exemplar.

A possibilidade da geração de uma prole com características que

permitam a adaptação ao meio é, para os evolucionistas, chamada de

“seleção natural” – sobrevivem apenas aqueles indivíduos com

traços que os permitam a sobrevivência. Ao lado da seleção natural,

as mutações aleatórias também são responsáveis pelas modificações

de um organismo ao longo do tempo.

Uma das dificuldades do senso-comum em aceitar as idéias

evolucionistas, está no fato que não podemos “ver” a evolução

acontecendo apesar de ela estar sempre acontecendo , isto é, não

testemunhamos alterações expressivas, pois as mudanças são muito

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sutis e ao longo de períodos de tempo muito longos do ponto de vista

do ser humano.

As alterações podem ser consideradas em intervalos de tempo não

inferiores a cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito além de

qualquer evento que possamos acompanhar. Mas podemos

acompanhar sim a luta pela sobrevivência e a mudança de hábitos

em muitas espécies, como os pombos que povoam as cidades, mas

não estão tão concentrados demograficamente nos campos. Essa

espécie encontrou um ambiente ótimo nas cidades construídas pelos

seres humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e

alimento, com a vantagem de estar livre de predadores como nas

florestas e campos. Faz parte de sua evolução esse novo ambiente.

Assim entendemos que a evolução biológica de todas as espécies

vivas não acontece sem influência de muitos fatores, não acontece de

forma “mágica” e independente do tipo de meio e hábitos que

podemos observar.

Hoje em dia o darwinismo está com uma nova roupagem e temos

teorias como o pós-darwinismo ou neo-darwinismo, que são

conseqüência do desenvolvimento de nossa tecnologia de pesquisa, e

do próprio conhecimento cujas portas foram abertas por Charles

Darwin para seus sucessores.

"O APARECIMENTO DO HOMO SAPIENS

“uma espécie que trabalha"

O homem descende do macaco. Essa foi à afirmação

polêmica de Darwin na segunda metade do séc. XIX e que dividiu

opiniões na sociedade moderna. Essa polêmica permanece até hoje,

pois encontrou como opositor o ponto de vista de uma prática

humana muito mais antiga que a teoria da evolução: a religião. Não

conhecemos nenhuma crença, em nenhuma cultura que coincida e

concorde totalmente com a afirmação de Darwin. Da perspectiva das

crenças, a criação da vida é atribuída a um “ser criador”, a algo

externo e superior a toda a vida existente. Ao conjunto de teorias e

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explicações que partem desse tipo de raciocínio, denominamos

“criacionismo”. Pois bem, para pensar como Darwin e a maior parte

dos cientistas até hoje, esqueça suas crenças. A ciência não

reconhece como possível a existência de seres superiores que tenham

dado origem à vida, e muito menos entende que o ser humano é uma

espécie “privilegiada” ou “superior”, seja pela capacidade de

raciocínio, seja pela capacidade de criar crenças.

Para os evolucionistas, todas as espécies vivas foram

surgindo das transformações de outras já existentes, dando origem a

novas espécies, enquanto outras se extinguiram. Os primeiros

humanos, chamados cientificamente de hominídeos, surgiram

das transformações de algumas famílias de símios que fazem parte

dos chimpanzés.

Nossa espécie surgiu devido a mudanças biológicas e ao

surgimento da cultura. Que mudanças biológicas são essas que nos

diferenciam dos símios?

O aumento da caixa craniana que nos dotou de um volume

cerebral muitas vezes maior que o de um macaco.

A postura ereta, que possibilita utilizarmos apenas os membros

inferiores para nos locomover.

E o surgimento do polegar opositor, que possibilita a nossa

espécie da capacidade do chamado “movimento de pinça”.

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São a partir dessas três características básicas que

desenvolvemos inúmeras outras características fascinantes

como a capacidade da fala ou ainda a de fabricar instrumentos

para nossa sobrevivência.

Mas essas características como inteligência, fala e indústria

não teria surgido em nossos ancestrais se não fosse à presença de

um tipo de comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos

ancestrais, que é o comportamento baseado na CULTURA. Ou seja, a

necessidade de comunicação, cooperação e divisão de tarefas facilitou

o desenvolvimento dessas características BIOLÓGICAS.

Características biológicas: forma, funcionamento e estrutura

do corpo. É a nossa anatomia, características herdadas

biologicamente e que não são resultado da nossa escolha

pessoal.

Características culturais: todo comportamento que não é

baseado nos instintos, mas nas regras de comportamento em

grupo que nos permite transformar a natureza para a

sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir significados e

sentidos ao mundo através dos símbolos (a cor branco

simboliza a paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status).

Durante muito tempo pensou-se que o ser humano já teria surgido

plenamente dotado dessas características em conjunto. Hoje

sabemos que nossa cultura foi determinante para modelar nossas

características biológicas ao longo do tempo, e vice-versa. Nossos

ancestrais foram lentamente se transformando em humanos, e essa

espécie que somos agora, foi aos poucos sofrendo pequenas

transformações que ao longo de milhões de anos nos diferenciaram

totalmente de qualquer ancestral símio.

No início da história humana, nossos ancestrais eram muito

semelhantes a um macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o cérebro

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era menor e a mandíbula maior. A postura não era totalmente ereta,

e as mãos não tinham muita habilidade, pois o polegar ficava mais

próximo dos outros dedos. O tamanho do cérebro foi aumentando

muito devagar, como também a postura ereta surgiu gradualmente, e

igualmente o polegar opositor não surgiu repentinamente. A cada

geração, mudanças muito sutis transformaram a espécie, e nesse

processo a cultura teve um papel fundamental, pois possibilitou ou

exigiu que nosso ancestral desenvolvesse comportamentos capazes

de mudar nossa estrutura biológica.

Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com

duas características que são a posição da laringe resultante da

postura ereta e a utilização das mãos para trabalhos de fabricação de

instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de “pedra

lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais complexas e

passou a utilizar uma área do cérebro, que é a mesma que nos

permite falar.

É importante compreender que nossa espécie não é fruto de coisas

inexplicáveis, mas resulta de um longo e lento processo de

evolução, que significa mudanças ao longo do tempo. Essas

mudanças por sua vez, são fruto de uma dura luta por parte de

nossos ancestrais para sobreviver em condições pouco favoráveis e

convivendo com espécies mais fortes e predadores mais bem

preparados fisicamente para tal. Nossos ancestrais não tinham a

mesma caixa craniana que temos hoje, e não eram tão inteligentes;

não tinham a postura totalmente ereta, e não viviam em cidades.

Eram mais uma espécie entre tantas outras, e o pouco que puderam

fazer então determinou sua sobrevivência, e mais que isso,

determinou COMO somos hoje.

Sobreviveram lascando uma pedra na outra para conseguir objetos

pontiagudos e cortantes que serviam como arma de caça, como

raspador de alimentos ou qualquer utilidade para a vida humana.

Dormiam em cavernas, ao invés de fabricar abrigos. Durante muito

tempo o domínio do fogo era um mistério, portanto não comiam

muitos alimentos cozidos. Nessa época não havia escrita, e os únicos

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vestígios de comunicação encontrados são as pinturas em cavernas

(arte rupestre) e pequenas estatuetas representando figuras

femininas. Eram organizados em bandos que praticavam caça e

coleta, por isso dependiam de deslocamentos constantes em busca de

alimento. Durante quase quatro milhões de anos sobreviveram dessa

forma, e nesse período de tempo nossa forma física foi se alterando,

até que no chamado período “neolítico”, houve uma revolução.

A “revolução neolítica” foi um período marcante em nossa

evolução, durante o qual o ser humano desenvolveu técnicas

determinantes para a história de nossa espécie:

A agricultura e a domesticação de animais, que permitiram o

sedentarismo (começamos a construir abrigos e povoados ao

invés de habitar em abrigos naturais). A agricultura e a

domesticação de animais significaram a garantia de

alimentação dos grupos humanos, independente do sucesso na

caça e coleta. Isso permitiu à nossa espécie se fixar por

períodos prolongados em determinados lugares, formando

aldeias e também colaborou para o crescimento demográfico. É

nesse momento que o ser humano começa a TRABALHAR, e

não mais viver da caça/coleta que o tornava dependente dos

recursos nos territórios habitados. A introdução do trabalho

como estratégia de sobrevivência, segue um padrão

estabelecido em nossa evolução para obter resultados:

A divisão de tarefas;

A cooperação com o grupo;

E a especialização.

Essas características são importantes uma vez que possibilita que

cada um de nós realize apenas um tipo de tarefa. Não é possível

produzir sozinho tudo que necessitamos em nossa vida. Se não

tivessem desenvolvido a capacidade de trabalho, baseado nos

princípios acima, provavelmente, nossos ancestrais não teriam tido

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sucesso em sua evolução, e nenhum de nós estaria aqui hoje,

compartilhando a condição se HUMANOS.

Até hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para

viabilizar nossa existência social. A capacidade de dividir tarefas

cooperar e se especializar permite atingir objetivos com resultados

mais efetivos e também possibilita um conjunto social com melhor

qualidade de vida.

O conjunto de tudo que o grupo social produz torna viável uma

existência cultural, nos libertando da “lei da selva”. O trabalho

humano se fundamenta em características básicas como comunicação

e cooperação. Fixando-se em um lugar, inaugurando o sedentarismo,

o ser humano passa a viver em uma sociedade organizada.

Mais alimentos disponíveis, mais segurança com as casas fabricadas,

maior permanência do grupo, isso tudo levou a uma maior

reprodução da espécie. Tais condições permitiram aos nossos

ancestrais uma organização social mais complexa baseada na

SOCIEDADE, e não mais em bandos. A comunicação também sofre

uma revolução que foi o surgimento da ESCRITA.

A partir da escrita e do surgimento das grandes civilizações da

Antiguidade como Egito, Grécia e China, conhecemos exatamente

como a humanidade se desenvolveu. Mas para chegar até esse ponto,

nossos ancestrais percorreram um longo caminho. Ele é o resultado

de um processo muito longo no tempo, e para os quais foram

determinantes:

A postura ereta;

A capacidade craniana;

O polegar opositor;

E a aquisição da fala.

Entretanto, nenhuma dessas características nos valeria muita coisa se

não tivéssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado

em regras de convivência social, divisão de grupos em

parentesco, divisão do trabalho e uma mente dotada de raciocínio

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lógico e abstrato ligado à criatividade e imaginação. Foram nossas

capacidades de ORGANIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO que definiram tal

resultado, afastando nossa espécie do comportamento instintivo e

determinando essa longa e rica viagem chamada HUMANIDADE.

“Clifford GEERTZ – como a Antropologia evidencia a

importância da cultura na evolução da espécie humana.”

Silas GUERRIERO afirma na pg. 24 do texto “A origem do antropos”,

indicado na bibliografia:

CURIOSIDADES DE ALGUMAS ESPÉCIES

Homo habilis conseguia fazer utensílios de pedra, inclusive armas,

com as quais podia caçar animais, o que lhe permitiu incluir a carne

na sua dieta.

Homo erectus, um descendente direto do Homo habilis. Seu corpo e

crânio eram maiores (cerca de 900 centímetros cúbicos). Sabia usar,

também, o fogo, vivia em cavernas e conseguia construir elaborados

instrumentos de pedra.

Finalmente, há cerca de 200 mil anos, surgiu o Homo sapiens, cujo

crânio media 1.500 centímetros cúbicos. Ele é o nosso antepassado

mais próximo, e foi o que melhor soube transformar a natureza em

seu benefício.

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CRIACIONISMO AULA

01 EVOLUCIONISMO

Deus criou o homem e os

demais seres vivos já na

forma atual há menos de

10 mil anos

X

O homem e os demais

seres vivos são resultado

de uma lenta e gradual

transformação que

remonta há milhões de

anos

Os fósseis (inclusive de

dinossauros) são animais

que não conseguiram

embarcar na Arca de Noé

a tempo de salvarem-se

do dilúvio

X

Os fósseis e sua datação

remota confirmam que a

extinção de espécies

também faz parte do

processo evolutivo

Deus teria criado todos os

seres vivos seguindo um

propósito e uma intenção

X

As transformações

evolutivas são resultado de

mutações genéticas

aleatórias expostas à

seleção natural pelo

ambiente

O homem foi feito à

imagem e semelhança de

Deus e, portanto, não

descende de primatas

X

O homem não é

descendente dos primatas

atuais, mas tem uma

relação de parentesco.

Ambos descendem de um

ancestral comum já extinto

(simios)

A origem da vida ainda

não é explicada de modo

satisfatório pelos

X

Aspectos fundamentais

envolvendo a origem da

vida ainda precisam ser

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evolucionistas mais bem esclarecidos,

mas o método científico e

não-dogmático é o

caminho mais adequado

para atingir esses

objetivos

EXERCÍCIOS

01 - Sobre a evolução da espécie humana, podemos afirmar que:

I. O desenvolvimento de habilidades físicas e intelectuais na

espécie humana deve-se principalmente ao fato de nossa

hereditariedade garantir aos novos membros da espécie

características vantajosas como a capacidade intelectual e

do uso da razão, bem como habilidades motoras como o

polegar opositor.

II. Nossa evolução deve-se ao mesmo tempo a fatores de três

ordens diferentes - às respostas do nosso organismo às

demandas impostas pelo meio ambiente, às demandas

coletivas desenvolvidas por nossa característica gregária e

às lentas modificações físicas que disso se sucederam.

III. O desenvolvimento de um cérebro maior, da postura ereta e

o surgimento do polegar opositor foram fatores

determinantes para que nossos ancestrais tivessem

sobrevivido. Entretanto, os biólogos não admitem que essas

sejam características que nos atribuam superioridade em

relação aos outros seres vivos.

IV. De acordo com a teoria evolucionista a espécie humana teve

origem ao mesmo tempo em todos os continentes, isso

explica o fato de que em cada lugar encontramos

características biológicas diferenciadas como a cor da pele,

dos olhos, estatura média do grupo e assim por diante.

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A) Estão corretas as alternativas I, II e IV

B) Estão corretas as alternativas II, III e IV

C) Estão corretas as alternativas II e IV

D) Estão corretas as alternativas I, II e III

E) Estão corretas as alternativas II e III

02 - A respeito do evolucionismo, podemos afirmar que:

A) Os evolucionistas e antropólogos encaram a espécie humana como um exemplo especial da evolução uma vez que as outras espécies vivas evoluem muito mais lentamente pelo fato de não terem

desenvolvido um cérebro equivalente ao nosso. Isso permitiu que nossa espécie sofresse modificações que dificilmente serão igualadas por qualquer outro ser vivo. B) Segundo o evolucionismo, todas as espécies conseguem evoluir,

portanto não existe possibilidade de mudança na quantidade de espécies existente, e sim na sua condição biológica que sofre alteração a cada passo da evolução.

C) Para os evolucionistas, todo organismo EVOLUI. Evolução para eles significa que todas as espécies que evoluem se tornam necessariamente melhores, mais complexas e com organismos

superiores aos que tinham há milhares de anos atrás. D) A busca de restos humanos pré-históricos nos obrigou a considerar a evolução da espécie humana como um outro animal

qualquer. Além disso, segundo essa teoria todas as espécies vivas são fruto de uma longa e lenta evolução, não apenas o ser humano. Devemos então compreender que o processo da vida é evolutivo, inacabado e sem um objetivo ou plano pré-definido.

E) Segundo o evolucionismo, apenas as espécies superiores evoluem, enquanto as inferiores acabem sofrendo extinção.

03 - Entre as características que definem e marcam as especificidades da espécie humana, podemos apontar:

A) É uma espécie que dependeu das características biológicas para definir a Humanidade. A única diferença entre o Humano e as outras espécies, pode ser resumida à evolução biológica de um cérebro

capaz de efetuar operações complexas. B) Organiza agrupamentos de indivíduos que definem formas coletivas e ordenadas de práticas, pensamento, comportamento,

convivência e sobrevivência. Não podemos compreendê-la sem considerar como a evolução cultural interferiu na evolução biológica. C) Define-se coletivamente dentro de grupos que compartilham a mesma história e que ignoram as diferenças e hierarquizações entre

as diversas sociedades e culturas existentes.

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D) Trata-se de uma espécie que tem garantido em sua carga genética a capacidade de aprendizado e socialização, reproduzindo através da

história sempre as mesmas respostas às mesmas necessidades, que são únicas para todos os indivíduos da espécie. E) Pode ser explicada através da capacidade para inovação, transformação e adaptação das formas de vida socioculturais que, a

cada geração procura garantir inevitavelmente o progresso.

04 - Segundo a teoria evolucionista:

A) a espécie humana é uma das mais antigas existentes no planeta, tendo surgido praticamente no momento em que o nosso planeta

resfriou o suficiente para permitir a existência de uma imensa diversidade biológica. B) nossa espécie é um exemplo de evolução; nenhuma outra espécie foi capaz de evoluir tanto quanto a nossa, por isso encontramos

humanos que habitam em todas as partes do planeta, enquanto as outras espécies se restringem a territórios específicos. C) cada espécie surgiu em um determinado momento, de acordo com

a maior capacidade de sobreviver naquele ambiente; assim, nossos antepassados humanos tiveram que conviver com mamíferos como os dinossauros, pois ambos necessitam do mesmo tipo de condição

climática e ambiental. D) evoluir é uma medida da superioridade de uma espécie; assim, todas as espécies que sobreviveram à extinção podem ser

consideradas melhores que seus antepassados. O melhor exemplo disso é o ser humano. E) a espécie humana evoluiu de antepassados que foram adquirindo lentamente capacidades que os diferenciavam de um ancestral

comum aos macacos, e nessa cadeia evolutiva podemos encontrar as famílias de Australopitecus, os Homo Habilis e os Homo Erectus.

05 - A explicação evolucionista mais aceita sobre a origem geográfica do ser humano afirma que:

A) nossa espécie teve origem de algumas famílias de macacos da África, e só mais tarde surgiram os primeiros hominídeos no Norte (Europa) e Oriente Médio.

B) o ser humano teria surgido ao mesmo tempo em dois pontos do globo – África e Europa – tendo se dispersado pelo resto do mundo a partir das eras glaciais.

C) somos originários da Europa, por isso durante muito tempo ela foi chamada de o “velho continente”; dali partiram as correntes migratórias para o resto do globo. D) nossa espécie teve origem indeterminada geograficamente; as

evidências fósseis são bastante confusas e não possibilita afirmarmos de onde viemos.

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E) o ser humano teve origem de algumas famílias de hominídeos africanos, que se dispersaram pelo globo em busca de alimento,

adquirindo características locais em conseqüência da adaptação a diferentes ambientes.

06 - Assinale a alternativa correta. De acordo com as descobertas da arqueologia e da paleontologia, o homo sapiens-sapiens se

desenvolveu: A) A partir da criação de uma espécie dotada de capacidades

especiais, reproduzidas à imagem e semelhança de formas superiores e sobrenaturais, tendo permanecido estável e imutável através dos tempos com o destino de povoar e dominar o planeta.

B) A partir de transformações anatômicas sucessivas e formas de adaptação ao meio e às demais espécies, pertencendo a um grupo de espécies que desenvolveram uma capacidade simbólica como

instrumento adaptativo e de organização das relações com o ambiente e com os demais indivíduos da espécie através de regras e cooperação. C) Como a forma mais sofisticada de evolução, sendo portanto o

resultado de um processo contínuo de progresso das espécies em direção a uma forma definitiva e superior de vida biológica, podendo ser tomada como modelo do projeto evolutivo pelo qual todas as

espécies devem passar. D) Como resultado de uma evolução prevista, pois nenhuma outra espécie teria tido capacidade de desenvolver raciocínio, postura ereta

e comportamento modelável pela cultura. E) A partir da evolução casual de uma família de símios que começou a gerar uma prole com cérebro avantajado e a postura ereta

07 - As principais vertentes de explicação sobre a origem humana atualmente, segundo o texto de Silas GUERRIERO “As origens do

antropos” são respectivamente: A) a evolucionista que defende que viemos dos macacos, a funcionalista que defende que nossa espécie cumpre a função de

manter a evolução e a criacionista, baseada em um conjunto de evidências sobre a criação de nossa espécie por um ser superior. B) a criacionista que defende que somos criados pelos macacos, a

evolucionista que afirma baseada em evidencias que somos fruto de uma evolução critica, e a estruturalista, responsável pela afirmação que nossa estrutura biológica foi favorecida por eventos climáticos.

C) a evolucionista, baseada em um conjunto de evidências que sugerem que somos fruto de uma evolução que partiu dos símios e a criacionista, baseada em um conjunto de dogmas e crenças que

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partem da idéia de um ser superior que criou a vida humana exatamente como ela é hoje, e procuram na ciência um

embasamento para essa afirmação. D) a teoria do ponto crítico, que defende que nossos ancestrais sofreram

uma “revolução” evolucionista que o transformou em ser humano; a

evolucionista, que afirma ter sido nossa evolução do macaco ao homem um

longo e lento processo e a metodológica, responsável pela idéia segundo a

qual a natureza tem seu próprio método de evolução, independente de

forças superiores.

E) a científica representada pelo ponto crítico, e as religiosas representadas

pelo evolucionismo teológico.

08 - Afinal, o ser humano é fruto de uma evolução?

A) Não. O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus

B) Sim. De acordo com a teoria da evolução somos apenas mais uma

espécie animal

C) Não. A teoria da evolução não está provada

D) Sim. Evoluiu a partir do macaco, que por sua vez não evoluiu

E) Não. As descobertas científicas atuais colocam em dúvida a

evolução e mostram que, desde o início, o ser humano já possuía

essa forma atual

DETERMINAÇÕES BIOLÓGICAS E PROCESSO CULTURAL

Cada indivíduo possui um fenótipo, que corresponde à aparência

física, entretanto somos portadores de genótipos que são genes que

carregamos.

FENÓTIPO: (características - pele clara e olhos azuis)

GENES: (são as informações hereditárias de um organismo )

• Durante muito tempo acreditava-se que cada raça correspondia

uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada surgiram as

teorias deterministas.

• DETERMINISMO BIOLÓGICO – Defendia que a herança

genética seria responsável pelo comportamento diferenciado do

ser humano dentro de cada cultura.

• DETERMINISMO GEOGRÁFICO – Defendia que o meio

ambiente no qual essa ou aquela população se desenvolveu,

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também seria um fator determinante para a cultura ali

desenvolvida. Portanto, populações de lugares com clima

quente, ou muito frio teriam sofrido influências que somadas ao

fator biológico, explicariam costumes, mentalidade, valores e

tradições.

• Então a geografia desempenhou um importante papel para a

diversidade de tipos humanos? Sem dúvida! Ao longo do

processo evolutivo, mudanças importantes ocorreram para

permitir a sobrevivência de nossa espécie em diferentes meios.

A quantidade de melanina na pele e a dimensão do aparelho

nasal foram sendo modelados para permitir nossa

sobrevivência. Como a grande família humana foi seguindo

rumos diferentes, os grupos migravam para esse ou aquele

lugar, carregavam um conjunto genético que foi se

estabilizando ao longo da história. Isso foi criando fenótipos

próprios a cada população humana que viveram praticamente

isoladas umas das outras durante tempo suficiente para que

fosse surgindo um tipo de “padrão” que chamamos etnia

• Mas não existe uma determinação biológica/geográfica que

sustente a explicação sobre a diversidade cultural. Esses

fatores são importantes na relação do ser humano com o meio,

seja para sobreviver, seja para se relacionarem com os outros,

mas não são determinantes.

Exemplos: Nós não dependemos dos genes para isto ou aquilo,

podemos com esforço chegarmos onde queremos, porém indivíduos

que carregam genes para alguma coisa chega ao mesmo resultado

com mais facilidades

Para qualquer comportamento humano que seja levantado, a

resposta é que o meio e a genética podem ser elementos que

influenciam os grupos humanos, mas não há como afirmar que

eles definem por si sós a nossa espécie.

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Ter tendência a gostar mais de arroz e feijão ou de peixe cru, faz

parte de algo que aprendemos, e não de uma informação genética

que não pode ser manipulada.

• E claro que carregamos a herança genética, mas não podemos

afirmar, por exemplo, que um filho de alcoólatra possa ser alcoólatra

também. O ser humano é uma espécie moldável e criativa. Em cada

grupo social as respostas às necessidades e a qualidade dos vínculos

sociais resultam de uma história que é única aquele grupo.

Portadores das marcas da história, das experiências coletivamente

vividas, das soluções criadas, cada grupo vai construindo um

conjunto absolutamente único que é sua CULTURA.

EXERCÍCIOS

01 - Durante muito tempo acreditava-se que cada raça

correspondia uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada surgiram

algumas teorias, quais foram? Explique-as.

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

_____________________________________________________

02 - AS MENINAS LOBO

Após ler o texto escreva um texto (minimo 15 linhas,

descrevendo as possiveis causas que as meninas lobos não

conseguiram se adaptar a vida humana.

20

NA Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente

numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças. Amala e

Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha

um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de 8

anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu

comportamento era exatamente semelhante aquele de seus irmãos

lobos.

Elas caminhavam de quatro patas, apoiando-se sobre os joelhos e

cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os

trajetos mais longos e rápidos.

Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne

crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça

para frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram

recolhidas, passaram o dia acabrunhadas (abatidas) . Eram ativas e

ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos.

Nunca choraram ou riam.

Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu,

humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para

aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário

de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos

poucos.

Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se

apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras

crianças com que mais conviveu.

A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos,

inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar

(não desenvolvido), aprendendo a executar ordens simples.

_______________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

21

______________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

03 - Procure informar-se sobre a história de Tarzan. Com base no

que foi estudado no texto acima sobre as meninas-lobo, explique

por que essa lenda é inverossímil. (mínimo 15 linhas)

_____________________________________________________

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________

04 - Sabemos que desde a Antiguidade, o Homem procura explicações para a grande diversidade cultural, que é característica do conjunto das sociedades humanas. Entre essas explicações,

existem aquelas que atribuem à diversidade cultural a fatores geográficos e biológicos. Sobre essas afirmações, uma das alternativas abaixo é correta. Assinale-a:

A - Não é correto que fatores como clima, oferta de alimentos e raça influencia a cultura, uma vez que a cultura é uma herança social que não depende de fatores externos à própria sociedade.

B - É correta essa afirmação, uma vez que a cultura é apenas uma solução para os problemas de sobrevivência da espécie humana, e dependendo do clima e do espaço onde se desenvolve uma cultura

ela será uma resposta a essas condições; além disso, é sabido que o fator racial influencia em questões como a capacidade de desenvolvimento tecnológico e de organização institucional.

22

C - Geografia e biologia são fatores importantes, mas não determinantes para o desenvolvimento de uma cultura, pois podemos

encontrar populações que vivem em meio ambientes muito semelhantes, porém suas culturas são diferentes. A cultura não é apenas resposta ao meio ou de capacidades inatas, mas um conjunto de hábitos e costumes, saberes e instituições que se desenvolve de

maneira única em cada sociedade. D -Não é correta essa afirmação, pois apesar da geografia não ser determinante para as características de uma cultura, a biologia é que

consiste num aspecto fundamental; podemos perceber isso através de culturas que se desenvolvem igualmente para cada raça humana, ou seja, as culturas dos brancos, negros, amarelos e índios.

E - É correta essa afirmação, pois a geografia influencia uma cultura através de aspectos como clima, qualidade do solo, distâncias em relação ao mar; já a biologia influencia em aspectos como a

diversidade biológica à disposição de uma população em seu meio e que é fundamental como recurso para sua sobrevivência. Utilizando os recursos adequadamente, uma cultura se desenvolve melhor.

05- Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam

a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias

constituiriam um fator de importância primordial entre as causas das

diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das

civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Eles nos informam,

pelo contrário, que essas diferenças se explicam antes de tudo pela

história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel

preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de

aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de

todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das

características específicas do Homo Sapiens”.

(Declaração redigida por vários cientistas em 1950, no pós-nazismo,

no encontro da Unesco em Paris)

“Nada, no estado atual da ciência, permite afirmar a superioridade ou

a inferioridade intelectual de uma raça em relação à outra”.

Claude Lévi-Strauss, “Raça e cultura”

Os dois pensamentos citados acima têm como objetivo:

A) confirmar as teses que atribuíram características e aptidões raciais

inatas.

23

B) afirmar que as diferenças do ambiente físico condicionam a

diversidade cultural.

C) negar a grande diversidade cultural da espécie humana.

D) negar as teses deterministas biológicas, lutando contra o

preconceito racista e todas as tentativas de discriminação e de

exploração.

E) legitimar a hierarquia de raças.

06 - “Folha - A senhora leu as declarações do presidente da

Universidade Harvard, Lawrence Summers, que sugeriu que

diferenças biológicas inatas entre homens e mulheres poderiam

explicar a existência de um número menor de pesquisadoras nas

ciências exatas?

Collin - Ele disse isso?

“Folha - A senhora leu as declarações do presidente da Universidade

Harvard, Lawrence Summers, que sugeriu que diferenças biológicas

inatas entre homens e mulheres poderiam explicar a existência de

um número menor de pesquisadoras nas ciências exatas?

Collin - Ele disse isso?

Folha - Disse.

Collin - É um comentário estúpido. Isso me lembra de um comentário

de um jornalista que disse que o nível das universidades francesas

tinha caído por causa do número grande de mulheres que estavam

estudando.

Ele foi processado e, no processo, várias mulheres levaram livros de

sua autoria para a mesa do juiz. Elas encheram a mesa com livros e

ganharam o processo.

Folha - No entanto, testes oficiais aplicados em estudantes no Brasil e

em outros países do mundo mostram que meninos têm, em média,

melhor desempenho em matemática, enquanto meninas têm notas

melhores em português ou em sua língua materna. Negar essas

diferenças não prejudica o entendimento dessa questão?

Collin - Mesmo se essas estatísticas que você citou forem realmente

corretas, elas têm que ser analisadas a partir do contexto cultural. Se

24

for realmente verdade, e não estou dizendo que é, isso não permite

dizer que essas diferenças ocorrem por razões naturais. Uma menina

que recebeu menos incentivo da família do que um garoto poderá ter

desempenho pior, mesmo se estudar na mesma classe. Essas

diferenças, caso existam, são muito sensíveis ao contexto cultural.”

(Jornal Folha de São Paulo, Segunda-feira, 2 de maio de 2005,

“ENTREVISTA DA 2ª” com FRANÇOISE COLLIN, por ANTÔNIO GOIS)

De acordo com a posição que Françoise Collin assume nesta

entrevista, qual das afirmações abaixo é INCORRETA:

A) as diferentes aptidões de homens e mulheres não se devem a

causas naturais.

B) homens e mulheres agem diferentemente sobretudo por terem

sempre recebido um aprendizado diferenciado.

C) a constituição genética feminina é o que determina o pior

desempenho das mulheres em matemática.

D) uma menina que recebeu menos incentivo de seu grupo cultural

para gostar de matemática tenderá a ter um desempenho mais fraco

do que o de um menino que tenha sido estimulado a gostar das

ciências exatas.

E) é falso que as diferenças de comportamento existentes entre

pessoas de sexo diferentes sejam determinadas geneticamente.

07 - Muita gente ... acredita que os nórdicos são mais inteligentes do

que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica;

que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos

são empreendedores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são

nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a

preguiça dos negros, a imprevidências dos índios e a luxúria dos

portugueses.” (LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito

antropológico. 17ª ed. RJ: Zahar,2004, p.17).

Escolha a alternativa CONTRÁRIA à forma de pensar apresentada na

citação acima.

25

A) A cultura do homem é determinada pela quantidade de livros lidos.

B) A cultura do homem é determinada pelos aspectos geográficos.

C) A cultura do homem é determinada pela sua genética.

D ) A cultura do homem é resultado do criacionismo.

E) A cultura do homem não é determinada pelo aspecto biológico.

CULTURA

A antropologia propõe que a cultura é à base de nossa forma de

encarar o mundo à nossa volta e dar formas e significados a ele.

Vamos considerar que grande parte das coisas que realizamos em

nosso dia-a-dia, incluindo planos pessoais e organização de regras de

convivência, é resultado de um modelo coletivo de pensar como

devemos ser?

Isto significa que aprendemos a estar no mundo, e não

simplesmente somos “jogados” nele. Desde a língua que falamos

para nos comunicar, até os símbolos que associamos a crenças,

sonhos e mensagens, são criados de acordo com uma mentalidade

coletiva comum. Esse “modelo” para nos comunicar e dar sentido ao

que pensamos, é dado pela nossa cultura.

E em cada uma das culturas humanas, aquilo que nos faz rir, chorar

ou sonhar varia imensamente.

Para Edward Tylor, (antropólogo) cultura é um conjunto complexo

que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os

costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo

homem enquanto membro de uma sociedade. E claro que para outros

autores o conceito é diferente, pois cada um tem uma forma de

analisar a palavra.

CULTURA NA VISÃO DE ALGUNS AUTORES

26

• Franz Boas– relação entre o individuo e a sociedade, ou seja, as

reações do individuo na medida em que são afetadas pelos

costumes do grupo que vive;

• B.Malinoswski – E a totalidade

• Goodenough – e uma organização de tudo que a sociedade

conhece e acredita

• M.Harris – Estilo de vida pessoal

• Anthony Giddens – Conjunto de regras, valores e a produção de

bens materiais.

• Geertz, podemos afirmar que a cultura é produto do humano,

mas o humano é também produto da cultura. Não fosse essa

extraordinária capacidade de articulação e fabricação de

símbolos, provavelmente não teríamos sobrevivido e, se o

tivéssemos conseguido, não teríamos diferenças anatômicas tão

marcantes frente a nossos parentes mais próximos. Em outras

palavras, não estaríamos aqui contando essa história.”

Concluindo, entre todas as definições de cultura que foram

apresentadas, hoje em dia na antropologia, o consenso gira em torno

de nossa capacidade de simbolização.

Para expressar a cultura dependemos da utilização dos símbolos.

Língua, conceitos, valores, idéias, crenças, tudo que faz parte da

cultura humana é baseada em símbolos que precisam de uma

convenção social para serem associados pelos indivíduos a um

mesmo significado, e faz com que seja possível a interpretação dos

conteúdos comunicados.

Cada local tem a sua simbologia, porém alguns símbolos são

mundiais

27

ENDOCULTURAÇÃO: é o processo permanente de aprendizagem de

uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a

partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a

morte. Este processo de aprendizagem é permanente, desde a

infância até à idade adulta de um indivíduo.

A medida que o individuo nasce, cresce, e desenvolve, ele aprende

envolvendo-se cada vez mais a agir da forma que lhe foi ensinado

Senso comum

O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira

compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que

pertencemos e das experiências atuais que continuam sendo

efetuadas. Baseia-se em conhecimentos espontâneos e intuitivos,

uma forma de conhecimento que fica no nível das crenças. Este

conhecimento vai do hábito à tradição, muitos deles, aprendemos

com os nossos pais que aprenderam com nossos avós ...

EX.: Peixe

Senso comum fatores

• Fatores como crenças, desejos, tradição, fazem com que haja

um apego ao senso comum. Não são raros os casos em que as

crenças do senso comum produziram comportamentos

preconceituosos, com base numa postura dogmática diante da

compreensão dos fenômenos.

• Durante muito tempo, acreditou-se que uma determinada raça

fosse superior à outra. Não raro, o radicalismo em torno dessas

crenças levou à condenação de pessoas que foram perseguidas

28

pelo simples fato de criticá-las ou por se enquadrarem como

hereges ou como membros de uma etnia inferior.

O conhecimento científico

• É o que é produzido pela investigação científica, através de

seus métodos.

• O pensamento científico é uma forma de o homem tentar

alterar uma realidade através da corroboração (confirmação)

de uma lei.

Ex.: Bom ou ruim? Depende?

Vacinas / Bombas

EXERCÍCIOS

01 “... é o conjunto dos comportamentos, saberes e saber fazer

característicos de um grupo humano ou de uma sociedade dada,

sendo essas atividades adquiridas através de um processo de

aprendizagem, e transmitidas ao conjunto de seus membros."

(LAPLANTINE, 1995, p.120).

Escolha a alternativa que corresponda ao conceito acima.

A) Cultura

B) Antropologia

C) Sociologia

D) Sociedade

E) Vida

29

“02 - Os operários alemães são muito cultos.”

“Aquela menina não tem cultura nenhuma.”

As frases acima expressam que tipo de pensamento ou explicação:

A) senso crítico

B) senso comum

C) explicação científica

D) explicação crítica

E) bom senso

03 - Podemos identificar uma cultura através de:

1) dinâmica e adaptação

2) repetição e ritualização

3) traços materiais, linguagem, artes etc.

4) maior ou menor quantidade e qualidade de conhecimentos.

A) são corretas as alternativas 1, 2 e 4

B) são corretas apenas as alternativas 1, 2 e 3

C) são corretas apenas as alternativas 1 ,3 e 5

D) todas as alternativas são corretas

E) apenas as alternativas 3 e 4 são corretas

04- “É a parte do ambiente feita pelo homem.” (Herskovits). Tal

afirmação se refere ao conceito de:

A) tecnologia

B) natureza

C) cultura

D) criacionismo

E) relativismo cultural

05 - É correto afirmar que:

1) existem diferentes explicações sobre a origem do homem

30

2) todos são incultos 3) uma sociedade não existe sem cultura

4) o homem não é um ser cultural 5) uma cultura não existe sem sociedade

A) as alternativas 2, 3 e 4 estão corretas

B) todas as alternativas estão corretas

C) as alternativas 1, 3, 4 e 5 são corretas

D) as alternativas 2 e 5 estão corretas

E) as alternativas 1 - 3 e 5 estão corretas

06 - Ao adquirir a cultura, podemos dizer que o homem:

A) não perdeu a propriedade animal, geneticamente determinada, de

repetir os atos de seus antepassados

B) desenvolveu a propriedade animal, de repetir os atos de seus

antepassados, com a necessidade de copiá-los e sem se submeter a

um processo de aprendizado.

C) manteve intacto o processo de transmissão de conhecimento

determinado pela genética aos seus descendentes.

D) perdeu a propriedade animal, geneticamente determinada, de

repetir os atos de seus antepassados, sem a necessidade de

simplesmente copiá-los e passou a se submeter a um processo de

aprendizado que é cultural.

E sofreu uma mutação biológica que o possibilitou, alterar

geneticamente a sua mente.

07- A cultura interfere em nosso plano biológico. Essa afirmação pode

ser considerada:

A) Verdadeira, pois em cada cultura nascemos com uma herança

biológica diferente; assim, os traços físicos de um japonês serão

diferentes de um mexicano, e assim por diante.

B) Falsa, pois a cultura faz parte do nosso comportamento, sem ter

qualquer relação com nossas características biológicas.

31

C) Verdadeira, pois de acordo com cada costume os indivíduos se

relacionam diferentemente com seus corpos, e as doenças

psicossomáticas são um exemplo dos efeitos possíveis de um tipo de

vida sobre nosso organismo.

D) Verdadeira, pois em todas as culturas as mulheres praticam

necessariamente rituais que modelam ou alteram a forma física.

E) Falsa, pois a biologia não determina nenhum tipo de cultura.

08- fatores. Assim, a cultura que recebemos de nossos pais, não será

a mesma que nossos netos conhecerão. Essas transformações podem

ser explicadas como se segue:

I. A capacidade de aprendizado faz com que a cultura tenha a

característica de ser acumulativa; a cada geração selecionamos,

descartamos ou aperfeiçoamos a herança cultural recebida.

II. O contato com outras culturas agiliza as mudanças; muitas vezes

esse contato pode influenciar algumas características, transformando-

as.

III. As transformações podem ser resultados do impacto de alguns

fatos históricos como guerras e revoluções, por isso culturas

semelhantes em um momento histórico podem ser diferentes um

pouco depois.

IV. As transformações culturais são resultados da capacidade que

cada cultura tem para se adaptar a uma nova situação histórica,

funcionando como uma espécie de “seleção natural”, as mudanças

culturais podem determinar quais sociedades serão dominantes e

quais serão dominadas.

A) Estão corretas II e III.

B) Apenas I está correta.

C) Todas estão corretas.

D) Estão corretas I e IV.

E) Estão corretas I, II e III.

32

09 - O Professor Pardal é uma personagem de Banda Desenhada que

representa um cientista muito inteligente, criativo e inventivo. Nesta

imagem podemos vê-lo a evitar passar por debaixo de uma escada,

pois isso supostamente dá azar - mas sem reconhecer, sem assumir

o receio. Ele sabe que a ciência é incompatível com a superstição. Só

que...

Porque serão as superstições tão resistentes à análise racional e

científica?

_____________________________________________

_____________________________________________

10 - Os textos a seguir apresentados referem vários conhecimentos.

Identifique quais são conhecimentos científicos e quais são

vulgares.

1. Muitos habitantes de Faro sabem onde fica a sede da Câmara

Municipal de Faro. _____________________

2. Em Portugal (nas zonas urbanas, mas, sobretudo nas zonas

rurais) é muito frequente a crença de que alimentos como a

33

canja de galinha e os citrinos (laranjas, tangerinas, limões,

etc.) ajudam a curar as constipações. _______________

3. «Numa tradução da História Natural, de Plínio, escrita no início

da era cristã, pode ler-se o seguinte parágrafo (...): “A mão da

mulher com a menstruação torna o vinho em vinagre, seca as

colheitas, mata as sementes, murcha os jardins, embacia os

espelhos, oxida o ferro e o latão (sobretudo quando a Lua está

na fase de quarto minguante), mata as abelhas, o marfim

perde o seu brilho, os cães enlouquecem se lambem o seu

mênstruo...” (...) Algumas comunidades judaicas da Europa

Oriental acreditam que, se as mulheres se aproximarem das

conservas durante a menstruação, estas estragar-se-ão. Na

Carolina do Norte mantém-se a crença tradicional de que, se a

mulher amassar um bolo durante o período, este não será

comestível.» _________________

4. Plutão leva 247,7 anos a completar uma volta em torno do Sol.

____________________________________________

5. A temperatura média na superfície de Plutão é de 237 graus

negativos. _________________________

6. No planeta Mercúrio, que é o mais próximo do Sol, chegam a

registar-se temperaturas de 430 graus (positivos).

________________________

HERANÇA CULTURAL

Da mesma forma como cada família pode deixar aos seus

descendentes uma herança material (patrimônio familiar), a nossa

sociedade nos deixa uma HERANÇA de valores, modos de agir e

pensar, conhecimentos, e assim por diante. É parte da nosso

PATRIMÔNIO CULTURAL, seja material ou imaterial.

Então, temos que a CULTURA influencia nossas vidas em diversos

níveis:

A moral;

34

As noções de higiene pessoal;

Os sentimentos;

Nossa alimentação;

Os critérios de beleza;

As necessidades e o uso da tecnologia;

O que entendemos como SAÚDE e também a DOENÇA;

Nosso gestual e a forma como utilizamos o corpo, entre tantos

outros.

Assim, podemos identificar facilmente indivíduos de diferentes

culturas por características como:

Modo de agir

De vestir

De caminhar

De comer

Ou mesmo pela mais simples delas - a língua que cada um

deles fala

Desde que fase de nossas vidas essa influência

acontece?

Desde o parto, somos condicionados pela nossa cultura.

35

Da esquerda para a direita:

África, Índia, Inglaterra, Nova Zelândia, Brasil.

A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGICO

Ao longo de nossas vidas o nosso corpo físico é intensamente afetado

pelas nossas experiências culturais.

Para manter tradições, obedecer a regras e principalmente, para nos

sentirmos INCLUÍDOS (o que dá aquela sensação de confiança e auto

estima, quando nos sentimos parte de um todo, quando

“pertencemos” a um lugar social), nosso corpo físico é submetido

frequentemente a exigências.

Portanto, o que o autor chama de “PLANO BIOLÓGICO” é exatamente

nossa forma física, saúde e aparência corporal.

Pense em quantas situações ao longo de nossas vidas nosso corpo é

atingido em função de experiências culturais. Para lembrar alguns

exemplos:

O tipo de parto que cada cultura oferece e considera melhor;

Perfuração ou alargamento de lóbulos, lábios, pálpebras;

Técnicas de desenhos ou formação de saliências na pele como

Tatuagens, e implantes;

A dieta cotidiana que pode incluir desde insetos; carnes dos

mais variados tipos e partes de animais (cruas ou cozidas);

36

ingestão de bebidas alcoólicas ou qualquer outra que altere

igualmente a percepção e reações;

Alimentos processados industrialmente; vegetais, raízes,

sementes, folhas, frutas e flores; grãos e castanhas.

Neste item você pode ter considerado algumas coisas muito normais

e outras repugnantes. Pense que se você tivesse sido socializado em

outra cultura, suas escolhas poderiam ter sido completamente

invertidas.

Formas de tratamento de doenças que podem incluir uma imensa

lista como a ingestão de fitoterápicos, preparados químicos

conhecidos como remédios; rituais que envolvem ou não a

participação e presença física do doente que pode ser submetido a

todo tipo de intervenção passiva ou ativa – às vezes o doente precisa

ingerir, inalar, sugar outras vezes ele é sugado; cortes, incisões,

perfurações, com ou sem anestesias, e muitos outros tipos.

- modelagem do corpo com muitas técnicas diferentes como dietas,

cirurgias e implantes, ou treinos especiais (militares, esportivos,

rituais ou de espetáculos);

- uso de vestuário e adornos corporais. Neste item você pode se

perguntar como nossa indumentária pode interferir no plano

biológico, mas é possível sim. As famosas “mulheres girafas” da

Tailândia (Ásia), que desde os cinco anos começam a utilizar argolas

no pescoço com o objetivo de esticá-los; as mulheres chinesas que

durante séculos enfaixavam os pés para evitar seu livre crescimento;

o processo de treinamento das modelos ocidentais que para serem

vistas com roupas e acessórios à venda pela indústria da moda se

submetem a dietas incríveis de emagrecimento e treino para o

controle do corpo, movimento e expressões faciais na passarela.

A participação em festas e ocasiões especiais, que além de exigir o

controle da postura e gestual em função da utilização de vestimentas

especiais, exigem também a submissão (em alguns casos) de horas

em jejum e em seguida horas de ingestão de uma quantidade incrível

de alimentos e bebidas;

37

A submissão a rotinas que podem gerar lesões físicas e/ou

desconfortos psicológicos dos mais variados graus;

O desenvolvimento de doenças psicossomáticas; a reação do

organismo na forma de doença a experiências negativas;

Você pode fazer o exercício de encontrar outros e tantos inúmeros

exemplos. Não restam dúvidas do quanto submetemos nossos corpos

em função das experiências culturais.

Interpretamos isso como algo “natural”. Entretanto é muito comum a

reação de espanto, indignação ou repúdio ao que os “outros” fazem

com seus corpos. Ter a vida de uma modelo da moda pode parecer

normal entre nós, mas pode ser considerado incompreensível aos

outros, tanto quanto perfurar lábios para o uso de botoques nos

parece.

38

Da esquerda para a direita:

Kayapó (Xingú, Brasil) foto de Jean P. DUTILEUX

Foto em revista de forma física e saúde

Sumotori Tailandesa

EXERCÍCIOS

01 - Alfred KROEBER afirma que existe uma diferença muito grande

entre a evolução biológica dos animais e do ser humano. Para

fundamentar sua idéia, ele cita o fato que os ursos polares

desenvolveram ao longo de muitas gerações grossas camadas de

pelos para sobreviver ao clima de seu meio ambiente, enquanto o ser

humano ao invés de desenvolver pelos, utiliza roupas e cobertas.

Ao realizar essa comparação, o autor está:

A) demonstrando a importância da superioridade humana em relação

aos outros animais, uma vez que nossa espécie é capaz de se adaptar

a qualquer meio ambiente.

39

B) demonstrando a inferioridade da espécie humana, que depende

dos recursos extra-orgânicos (exteriores ao corpo) para sobreviver,

enquanto os outros animais são capazes de desenvolver

características ideais de adaptação.

C) ressaltando as diferenças entre animais e seres humanos,

baseando-se em conceitos exclusivos da biologia; essa ciência é a

única a definir de forma coerente e correta essa diferença.

D) afirmando que apenas com a cultura é possível uma espécie

evoluir; como os animais não utilizam a cultura, eles não evoluem.

E) demonstrando que a evolução biológica do ser humano é diferente,

pois nossa espécie não necessitou de uma adaptação biológica a

diferentes meios. A cultura se mostrou como uma forma de

adaptação ainda melhor e superior ao possibilitar a adaptação a

qualquer ambiente sem necessidade da lenta adaptação genética.

02 - Sabemos que a cultura interfere no plano biológico dos

indivíduos. A esse respeito é correto afirmar que:

A) Ao evoluir culturalmente uma cultura proporciona a evolução

biológica aos indivíduos, pois ambas não podem ser separadas.

B) Não é possível observarmos claramente essa interferência, uma

vez que é uma teoria antropológica e não da biologia.

C) Em cada cultura o ser humano dispõe de um plano biológico

distinto, assim não podemos comparar o organismo de alguém da

cultura árabe com outros da cultura ocidental, por exemplo.

D) A cultura possibilita conhecermos melhor nosso plano biológico,

através da evolução de conhecimentos que desvendam seu

funcionamento.

E) As doenças psicossomáticas são exemplos visíveis da forma como

os hábitos de uma cultura afetam nossa saúde.

40

03 - Alguns africanos que foram transportados violentamente como

escravos para um continente desconhecidos passaram a apresentar

uma apatia profunda, que podia provocar a morte. Denominou-se a

essa doença o nome de “banzo”. Esse é um dos fatos que prova que:

A) os africanos não tinham tanta capacidade de se adaptar ao novo

continente e condições de vida diferentes da anterior.

B) a cultura africana não facilitava a motivação para uma nova

situação.

C) a cultura interfere no funcionamento biológico de seus indivíduos.

D) o novo continente não facilitou a adaptação dos africanos, que

sofreram a seleção natural.

E) deveriam ter sido escravizados no próprio continente africano para

evitar essas mortes.

04 - Leia o texto abaixo e responda o que se pede:

“Anorexia Nervosa é um transtorno do comportamento

alimentar que se desenvolve principalmente em meninas

adolescentes e caracteriza-se por uma grave restrição da

ingestão alimentar, busca pela magreza, distorção da imagem

corporal e amenorréia (suspensão da menstruação).

(...)Acrescentando a todas estas dificuldades* o apelo da moda

e o culto à magreza, dá para entender que ser mulher e

adolescente, no mundo de hoje, é um duplo fator de risco para

o desencadeamento de um transtorno alimentar.” Cybelle

Weinberg, publicado pelo “Portal Psi”, no endereço eletrônico:

http://www.redepsi.com.br

41

[*] no texto original a autora descreve o quadro psico-social de

transformações muito observadas na puberdade.

É possível perceber através da descrição feita pela autora que:

A) em nossa cultura, todos os adolescentes têm sua forma física e

saúde afetados pelos apelos da moda e o culto à magreza.

B) não há como evitar o desencadeamento da anorexia nervosa, pois

faz parte da visão de mundo dos adolescentes.

C) ser mulher e adolescente no mundo de hoje é um fator de risco

para a saúde.

D) os apelos da cultura da moda e do culto à magreza são fatores de

risco para o desencadeamento de um transtorno alimentar.

E) o transtorno alimentar entre as adolescentes é comum apenas

quando elas fazem parte do mundo da moda, onde o apelo à magreza

se transformou em culto.

05 – Olhe a foto, após isto responda:

Porque as Tailandesas utilizam este tipo de argola no Pescoço?

__________________________________

42

06 – Escreva alguns conceitos brasileiros que possam serem vistos como não natural na visão de outros paises:

______________________________________________________________________________________________________________

07- Em nossas vidas nosso corpo é atingido em função de

experiências culturais, a qual podemos citar:

I - tipo de parto que cada cultura oferece e considera melhor;

II - Perfuração ou alargamento de lóbulos, lábios, pálpebras;

III - Técnicas de desenhos ou formação de saliências na pele como

Tatuagens, e implantes;

IV - A dieta cotidiana que pode incluir desde insetos; carnes dos mais

variados tipos e partes de animais (cruas ou cozidas); ingestão de

bebidas alcoólicas ou qualquer outra que altere igualmente a

percepção e reações;

Estão corretas as alternativas:

A) Todas B) I e II C) III – IV

D) I e III E) III e IV

08 – Escreva duas atitudes ou hábitos que lhe causam indignação

ou repúdio ao que os “outros” fazem com seus corpos. Explique por que!

_____________________________________________________

09– Em que temos a CULTURA influencia nossas vidas:

I - A moral

II - As noções de higiene pessoal

III - Os sentimentos;

IV - Nossa alimentação

V - Os critérios de beleza

Estão corretas as alternativas:

43

A – Todas

B – I apenas

C – I e II

D – II e III

E – III – IV e V

10- Como podemos identificar indivíduos de diferentes culturas?

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

OS INDIVÍDUOS PARTICIPAM DIFERENTEMENTE DE SUA

CULTURA

É impossível todos os indivíduos de um grupo terem exatamente o

mesmo comportamento, apesar de compartilharem a mesma “visão

mundo”.

A individualidade está garantida em primeiro lugar pelo fato de que

nem uma pessoa pode sozinha conhecer e dominar todos os

conhecimentos, a história e o conjunto de valores de seu próprio

povo.

Somos socializados e aprendemos ao longo da vida aquilo que é mais

importante para sermos aceitos e participarmos de uma cultura. Mas

nossa participação é sempre diferente de um indivíduo para o outro.

Em que critérios se baseiam essas diferenças individuais?

As diferenciações baseadas no sexo dos indivíduos:

Com exceção de algumas sociedades africanas - nas quais as

mulheres desempenham papéis importantes na vida ritual e

44

econômica, a maior parte das sociedades humanas permite uma mais

ampla participação na vida cultural aos elementos do sexo masculino.

As diferenciações baseadas na idade dos indivíduos:

Uma criança não está apta a exercer as funções dos adultos, portanto

os motivos biológicos ficam explícitos nesses casos.

Porém, há impedimentos etários totalmente arbitrários e criados pela

nossa cultura: p.ex., por que podemos ter licença para dirigir e votar

aos 18 anos, e não aos 16, ou 20?

As diferenciações baseadas na impossibilidade de TODOS os

indivíduos serem socializados da MESMA forma:

Alguns aspectos se sobrepõem a outros, alguns traços são reforçados

e outros não: Einstein era um gênio na física, mas provavelmente um

desastre ao piano, e incapaz de pintar um quadro.

É impossível que todos nós recebamos as MESMAS informações

durante nosso crescimento, portanto existe um espaço na cultura,

onde o grupo não determina totalmente sua vida.

As diferenciações baseadas nas diferenciações de classe social:

Nas sociedades que diferenciam os indivíduos de acordo com o

pertencimento a determinadas classes sociais, existem tendências e

limites para a socialização, que impedem que aqueles que estão mais

abaixo na pirâmide social, tenham acesso à grande parte da cultura

produzida pelo seu grupo.

EXERCÍCIOS

01 - A história de um povo pode interferir de muitas formas em sua cultura. Podemos perceber isso principalmente através do que segue:

45

A) A história precisa ser conhecida pelos indivíduos de um grupo, do contrário eles não podem ser influenciados por ela.

B) É através da relação com a história através de uma herança cultural, que não se dá de forma consciente, que os indivíduos atuam em uma sociedade. C) Apesar de percebermos a influência da história em nossa cultura,

não existe qualquer tipo de pesquisa cientifica que comprove isso. D) Os mesmos fenômenos históricos afetam de forma idêntica culturas que são diferentes.

E) É principalmente através da cultura material que percebemos a influência da história em nossa cultura, pois a cultura imaterial não nos influencia tanto.

02 - Partindo do princípio de que a cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo, pessoas de culturas diferentes usam

lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. Escolha a alternativa correta: A) A visão de mundo determina as respostas e o comportamento

humano a partir da sociedade em que está inserido. B) O processo de alimentar-se é característica de todo ser vivo, portanto, o homem se alimenta de uma mesma maneira em qualquer

que seja a cultura de que faça parte. C) Não há diferenças entre as visões de mundo, a cultura sempre se apresenta de uma mesma forma seja qual for a sociedade.

D) Um índio amazonense concebe o mundo e a sua forma de vida da mesma maneira de um paulistano que sempre viveu na cidade de São Paulo.

E) Na concepção de mundo, todo ser humano deve se submeter aos seus instintos e desprezar a cultura em que vive.

03 - Leia a seguinte afirmação:

“Mesmo em um país de maioria católica, encontramos crenças e

práticas de muitas outras religiões.”

Essa afirmativa está corretamente associada ao que segue:

A) uma vez que os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, é possível que muitos deles sejam estimulados a participar de religiões diversas.

B) todas as culturas devem estimular a diversidade religiosa uma vez que a visão de mundo impede a existência de uma única crença. C) a presença de muitas religiões tem relação com o etnocentrismo

que caracteriza as culturas mais antigas. D ) as lentes através das quais enxergamos o mundo se tornam mais precisas quanto mais religiões uma cultura tiver.

46

E) a presença de muitas religiões é um sinal de que uma cultura não possui visão de mundo.

04 - Leia a seguir a parábola de Roger Keesing:

“Uma jovem da Bulgária ofereceu um jantar para os estudantes

americanos, colegas de seu marido, e entre eles foi convidado

um jovem asiático. Após os convidados terem terminado os

seus pratos, a anfitriã perguntou quem gostaria de repetir, pois

uma anfitriã búlgara que deixasse os seus convidados se

retirarem famintos estaria desgraçada. O estudante asiático

aceitou um segundo prato, e um terceiro – enquanto a anfitriã

ansiosamente preparava mais comida na cozinha. Finalmente,

no meio de seu quarto prato o estudante caiu ao solo,

convencido de que agiu melhor do que insultar a anfitrião pela

recusa da comida que lhe era oferecida, conforme o costume

de seu país”. (Apud LARAIA, Cultura – um conceito

antropológico, 2005: 72)

O trecho acima descreve corretamente o seguinte:

A) que os envolvidos estão tentando impor seu ponto de vista como o

mais correto a todos que estão presentes.

B) que devemos deixar de lado nossas regras sempre que estamos

perante o diferente.

C) que quando pessoas de culturas diferentes estão em contato,

necessariamente elas seguem impulsos instintivos, deixando sua

cultura em segundo plano.

D) que os envolvidos estão praticando o relativismo cultural, por isso

não conseguem chegar a um consenso sobre a atitude correta a ser

tomada na situação.

47

E) que a cultura condiciona a nossa visão de mundo, ficando claro

nesse tipo de situação que cada um procura agir de acordo com seus

valores próprios, sem perceber os valores dos outros.

05 - Leia o trecho abaixo:

“Antigamente os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, econômicos, religiosos, estéticos e comportamentais (brigavam pelo direito de usar os cabelos

compridos e vestir uma calça velha-azul-e-desbotada). (...) As crianças e os jovens do início do terceiro milênio não vivem um sonho coletivo de mudança social. Seu sonho é meramente

subjetivo, tribal e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do cotidiano como os games, amigos, namoro, aparência, do que os „grandes temas‟ da década de 1970. Os pais mais à esquerda já não conseguem conversar

com os filhos os assuntos que eles, na sua época, consideravam importantes. Também, não conseguem fazê-los cumprir as pequenas coisas: regrar a hora de eles voltarem para casa, o

tempo de ficar nos games, ler os jornais e revistas.” (Raimundo DE LIMA, Revista Espaço Acadêmico, nº 61, Junho 2006, disponível no endereço eletrônico -

http://www.espacoacademico.com.br/061/61lima.htm)

Esse texto está corretamente associado com a seguinte afirmação

A) a cultura tem uma lógica própria, assim quando uma geração é

pressionada procura novas soluções mesmo que desagradem os mais

velhos.

B) a cultura é dinâmica, e as mudanças às vezes podem colocar em

conflito interesses e valores das gerações mais velhas com as novas.

C) a visão de mundo dos mais velhos está incorreta, e os jovens

devem buscar novas formas de comportamento mesmo que a

sociedade esteja em conflito com essa atitude.

48

D) a lógica de mundo da nova geração está incorreta e os mais

velhos deveriam orientar melhor seus próprios filhos para garantir um

comportamento mais adequado.

E) a cultura é dinâmica, e esse conflito de gerações vai

necessariamente levar a novas mudanças que acabem com qualquer

comportamento indesejado.

06 - Somos socializados e aprendemos ao longo da vida aquilo que é

mais importante para sermos aceitos e participarmos de uma cultura.

Mas nossa participação é sempre diferente de um indivíduo para o

outro.

Em que critérios se baseiam essas diferenças individuais?

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DIVERSIDADE CULTURAL – ETNOCENTRISMO

RELATIVISMO CULTURAL

DIVERSIDADE CULTURAL

É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos

nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os

Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas

condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais

enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita).

Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao

49

passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal.

Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente

correto; a maior parte das sociedades condenam esse ato. O

infanticídio (morte dada a uma criança) é moralmente repelente para

a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos

países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida;

algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar

após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que

pertenciam os assassinos de um dos seus.

Podemos notar através destes exemplos a diversidade cultural,

existentes .

ETNOCENTRISMO

É a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e

validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou

sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as

realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios

padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o

nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os

valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica,

declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os

homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por

todas as outras sociedades e culturas. Adaptando esta perspectiva,

não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos

legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.

RELATIVISMO CULTURAL

É considerar o mundo DO PONTO DE VISTA DO OUTRO,

entendendo seu sistema simbólico, seus próprios valores de mundo

como beleza, justiça, honra, medo, e assim por diante.

É deixar de tomar a NOSSA própria cultura (visão de mundo) como

medida para julgar os outros.

50

Se pensarmos que a cada cultura corresponde uma diferente “visão

de mundo”, percebemos que os indivíduos se organizam

mentalmente para estar no mundo de acordo com os valores

introjetados de sua cultura. Tornamos “nosso” aquilo que é cultural.

Exercitando. Vamos pensar sobre os sentimentos humanos.

Obviamente, nossas emoções são universais. Amor, ódio, paixão,

rivalidade, raiva, afeto, ironia, alegria, euforia e tudo quanto

possamos lembrar agora, fazem parte da humanidade.

Entretanto, as EXPERIÊNCIAS QUE SUSCITAM este ou aquele

sentimento, e a forma como expressamos o que sentimos isso é

cultural.

Muitas situações que fazem um brasileiro rir podem não ter o mesmo

efeito em pessoas de outros povos. Ou ainda, situações como o

funeral que exigem circunspecção e tristeza em algumas culturas

podem exigir expressões de alegria em outras.

O exercício de relativizar é se colocar na condição do outro.

Pois bem, muitas vezes fazemos julgamento equivocados do

comportamento alheio, simplesmente pelo fato de desconhecer as

motivações que levaram a tal ou qual atitude.

Quando não temos a “chave simbólica” que permite a relativização

dos costumes, tendemos a nos fechar em nosso etnocentrismo.

Tudo bem, precisamos relativizar, não é mesmo?

Sim, é correto que tenhamos reações mais respeitosas e éticas com

os “outros”. Mas tanto o relativismo cultural como o etnocentrismo

podem ser encontrados em diferentes graus, e quando praticados de

forma radical, se tornam destrutivos das relações humanas.

Quer dizer que relativizar demais pode ser perigoso?

Sim! Quando apenas relativizamos tudo, aceitando qualquer atitude

alheia como normal, natural e aceita, podemos correr o risco de não

ter mais referencial ético de mundo.

Em termos práticos, isso significaria, por exemplo, tornar aceito como

normal as mutilações dos órgãos genitais femininos praticados em

algumas sociedades de cultura mulçumana, principalmente em

comunidades africanas. Percebe que deve existir um limite para a

51

prática do relativismo? Relativizar deve ser algo estimulado

socialmente, mas dentro de padrões de respeito à integridade física,

psíquica e moral do outro.

O oposto também é verdadeiro. Etnocentrismo é sempre

ruim?

Não! Na verdade, todas as culturas praticam etnocentrismo de

alguma forma. Quando reagimos com aversão ao fato da alimentação

em algumas culturas incluir pratos com animais como insetos, cães

ou lesmas (o famoso “escargot” francês), preferindo um bom arroz

com feijão, estamos sendo um pouco etnocêntricos. Isso é

necessariamente ruim?

Bem, na medida em que pode servir para reforçar nossa identidade

cultural e nos trazer bem estar dentro de nosso próprio padrão

cultural, não é uma atitude ruim. Mas quando a aversão ao outro

é tão grande que precisamos excluí-lo, destruir seus costumes

estamos atingindo um grau de etnocentrismo inaceitável.

O relativismo extremo pode levar à ausência de noções éticas. O

etnocentrismo extremo pode levar ao genocídio e às práticas racistas

/ preconceituosas.

Relativismo cultural e etnocentrismo supõem a presença da

DIFERENÇA.

Esse “outro” que aparece nas frases acima, pode estar ao nosso lado.

Atualmente o mundo todo reflete de uma forma mais intensa sobre o

convívio entre as diferentes culturas/etnias.

MORAL – ÉTICA

• Moral : Hábitos- Costumes - O que diz respeito à ética

• Estabelece regras de condutas, construção do caráter.

• Algumas passagens nossa:

• Anomia – Sem regras (a etapa das crianças pequenas: com

seu egocentrismo natural da infância, elas querem fazer

somente o que desejam, sem considerar os outros e sem seguir

regras e normas, acham que pode tudo)

• Heteronomia – Faço pelos outros – Ex. Vou chamar seu pai.

52

• Autonomia – De dentro para fora (faço porque acho correto)

• ETICA – estudo dos juízos (ato de julgar) de apreciação

referentes à conduta humana do ponto de vista do bem e o

mal. Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa

conduta do ser humano.

Exercícios

01 - Em seu texto “O etnocentrismo”, Claude Lévi-Strauss afirma que é muito antiga a atitude que “consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais, morais, religiosas, sociais e

estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos”. A) consiste numa visão de mundo em que nosso próprio grupo é

tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através de nossos valores, nossos modelos, e nossas definições do que é a existência B) significa a supervalorização da própria cultura em detrimento das

demais. C) é uma atitude universal, pois todos os indivíduos crêem que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única

expressão. D)as apreciações negativas dos padrões culturais dos povos diferentes nunca foram utilizadas para justificar a violência praticada

contra “o outro”. E) a propensão em considerar o nosso modo de vida como o mais natural e o mais correto pode levar a numerosos conflitos sociais, tais como a xenofobia, o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os

estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social.

02 - „Buda nasceu estando sua mãe, Mãya, agarrada, reta, a um ramo da árvore. Ela deu à luz em pé. Boa parte das mulheres na

Índia ainda dão à luz desse modo‟. Para nós, a posição normal é a mãe deitada sobre as costas, e entre os Tupis e outros índios brasileiros a posição é de cócoras”.

(Roque LARAIA, “A cultura condiciona a visão de mundo do homem”, citado na bibliografia do conteúdo) Com essa descrição das técnicas do nascimento e da obstetrícia, o

autor procura demonstrar que:

A) Não existem diferentes maneiras culturais de efetuar ações que

são fisiológicas.

53

B) Mesmo em atos que podem ser classificados como naturais, há

diferenças culturais

C)Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico e

por isso a utilização do mesmo é determinada geneticamente.

D) o exercício de atividades consideradas como parte da fisiologia

humana não reflete diferenças de cultura.

E) as técnicas de obstetrícia da chamada civilização ocidental são

mais evoluídas e, por isso, deveriam ser imitadas pelos demais

povos.

03 - Diversidade cultural é corretamente definida como:

A) Um modelo ideal da Antropologia, que, no entanto não

corresponde à realidade das culturas humanas.

B) Característica inata do ser humano, que o leva a ter um

comportamento único para cada tipo de situação enfrentada.

C) Observação que comprova que todas as sociedades possuem uma

tendência natural para evoluir.

D) A forma como a Antropologia pratica sua metodologia de

pesquisa, com o objetivo de garantir que nenhum grupo cultural

deixe suas tradições e prefira as mudanças ou inovações.

E) Característica do comportamento humano, que considera as

influências do meio ambiente, da herança cultural e da história do

povo de um local sobre o comportamento correspondente à média

dos indivíduos de um grupo social.

04 – Leia o texto, em seguida responda: O autor esta correto em

suas afirmações? Justifique a resposta

Existem verdades para descobrir no domínio moral, mas nenhuma

cultura possui o monopólio destas verdades. As diferentes culturas

necessitam de aprender umas com as outras. Para que tomemos

consciência dos erros e dos nossos valores, é necessário conhecer

como procedem as outras culturas, e de que forma reagem ao que

nós fazemos. Aprender com diferentes culturas pode ajudar-nos a

54

corrigir os nossos valores e a aproximar-nos da verdade acerca do

modo como devemos viver.

A- Por que existem diferenças culturais?

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B - O etnocentrismo existe ainda hoje no Brasil? Dê exemplos.

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05 - No planeta Terra existe uma enorme diversidade cultural. As

diferentes comunidades humanas desenvolveram diferentes línguas,

costumes, normas, valores, etc. Por isso, existem milhares de

culturas diferentes. Por vezes, as pessoas de uma sociedade não

respeitam as culturas de outras sociedades, consideram-nas

inferiores e “atrasadas”. A essa atitude chama-se

_________________ Este é a atitude característica de quem só

reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na

sua própria cultura. As pessoas que pensam desse modo, consideram

frequentemente que, sendo a sua cultura superior, têm o direito de a

impor (pela força se necessário) a outros povos. Existem exemplos de

atitudes etnocêntricas em muitas sociedades. Na Europa foi uma

atitude habitual durante séculos, ostentada não só pelas pessoas do

povo como por intelectuais.

06 - O que vem a ser relativismo cultural ?

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07 – Analise o texto e responda que tipo de conceito foi utilizado pelo

pai, depois responda: _______________________________

55

a) O pai estava certo? Por quê?

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b) Se você fosse o pai do menino como agiria? Por quê?

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- A temporada de pesca começaria no dia seguinte, mas o menino,

de onze anos, sempre queria ir pescar... Saiu com seu pai no

final da tarde para pegar peixes-lua e percas, cuja pesca era

liberada. Amarrou uma isca e começou a praticar arremessos,

provocando ondulações coloridas na água. Logo as ondulações se

tornaram prateadas por causa do efeito da Lua nascendo sobre o

lago.

Quando o caniço vergou, soube haver algo enorme do outro lado da

linha. O pai o olhava com admiração enquanto habilmentearrastava

56

o peixe ao longo do cais. Finalmente, com cuidado, levantou o

peixe.

Era o maior que havia visto. Mas era um peixe cuja pesca só seria

permitida na temporada, que iniciava no dia seguinte, dali a algumas

horas.

Ele e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras para trás e

para à frente sob a luz da lua. O pai acendeu um fósforo e olhou o

relógio. Eram dez da noite - faltavam duas horas para a abertura da

temporada. O pai olhou para o peixe, depois para o menino.

- Você tem de devolvê-lo, filho - disse.

- Mas, papaiiii ! – reclamou.

- Vai aparecer outro peixe - disse o pai.

- Não tão grande como este – choramingou...

Observou à volta do lago. À forte luz do luar podia ver que não

havia outros pescadores nem barcos. Mesmo sem ninguém por

perto sabia, pela clareza da voz do pai, que a decisão não era

negociável. Devagar tirou o anzol da boca do enorme peixe e o

devolveu à água escura.

A criatura movimentou rapidamente seu corpo poderoso e

desapareceu.

Desconfiou que jamais veria um peixe tão grande como aquele.

Isso aconteceu há trinta e quatro anos. Hoje, aquele menino é

um arquiteto de muito sucesso em Nova Iorque. O chalé do pai

ainda está lá, numa ilha em meio do lago, perto o mesmo cais.

Mas há três décadas, ambos estavam certos. O menino estava

certo ao pensar que nunca mais conseguiria pescar um peixe tão

maravilhoso como aquele, mas não houve perda, porque o pai

também estava certo ao exigir da devolução:

08 - Sobre o relativismo cultural, é correto afirmar:

57

A) É uma forma de encarar a diversidade cultural rejeitando

qualquer etnocentrismo, ao propor que a cada cultura corresponde

uma lógica própria, e que devemos respeitar o ponto de vista de seus

indivíduos, sem tentar impor rótulos.

B) É uma teoria baseada nos princípios estruturalistas desenvolvidos

por Lévi-Strauss, que defende que não há nenhuma característica

universal que iguale o ser humano.

C) O relativismo defende que todas as culturas tendem a se

assemelhar com o passar do tempo, e que ao difundir nossos hábitos

estamos colaborando com esse processo.

D) Deriva das concepções antropológicas que defendem que existe

uma única cultura que deu origem a todas as outras.

E) É uma teoria profundamente influenciada pelo evolucionismo e

que defende privilégios às culturas mais avançadas.

RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS

As relações étnico-culturais são todas as situações nas quais

diferentes culturas/etnias são colocadas em contato, ou precisam

negociar interesses, debater questões em comum.

Que tal pontuar algumas questões e situações do mundo atual nas

quais as relações étnico-culturais estão no centro dos debates e

suscitam a reflexão? São questões que trazem à tona o relativismo

cultural e o etnocentrismo, além de boas doses de ética, justiça e

novos parâmetros para as relações humanas.

Essas questões / situações seriam:

- Qual é a realidade dos povos indígenas

que convivem com a nossa sociedade

nacional aqui no Brasil? E quais são suas

reivindicações?

58

- Qual é a importância da eleição de

Barack Hussein Obama como Presidente

dos Estados Unidos da America?

- Quais são os principais argumentos a

favor e contra a política de cotas para

afrodescendentes ingressarem nas

universidades públicas brasileiras?

- Como e por que é exercido o

preconceito contra nordestinos nas

regiões sul e sudeste do

Brasil?

As respostas a essas questões não possuem um consenso, são

polêmicas sociais. Elas dependem em grande parte da posição e da

capacidade de imparcialidade de quem as responde. De qualquer

forma, pode-se caracterizar certas respostas como resultado de

atitudes etnocêntricas ou relativistas.

Dependendo da perspectiva a partir da qual se avalia essas

questões, podemos obter respostas muito desencontradas.

Em um mundo globalizado, onde o contato entre as diferentes

culturas e povos é cada vez mais intenso e necessário, existe uma

preocupação geral e a tendência a considerar reprováveis as atitudes

que resultem em discriminação, preconceito, exclusão ou práticas

moralmente/fisicamente agressivas.

A garantia dos direitos humanos e as lutas pelo tratamento igualitário

entre os povos têm trazido à tona importantes discussões sobre as

relações étnico-culturais.

59

O que nos leva de volta ao conceito de CULTURA.

Cada cultura desenvolve um sistema simbólico que permite aos

indivíduos se relacionarem dentro de uma mesma linguagem de

mundo.

Ocorre que durante muitos séculos, um relativo isolamento entre os

povos teve como resultado o surgimento de muitas etnias diferentes

ao redor do mundo.

Vamos desenvolver o conceito de ETNIA.

Segundo o dicionário HOUAISS:

Etnia. ANTROPOL coletividade de indivíduos que se diferencia por sua

especificidade sociocultural, refletida principalmente na língua,

religião e maneiras de agir; grupo étnico [Para alguns autores, a

etnia pressupõe uma base biológica, podendo ser definida por uma

raça, uma cultura ou ambas; o termo é evitado por parte da

antropologia atual, por não haver recebido conceituação precisa].

Na história da Antropologia, desde final do século XIX teve início um

movimento de recusa às teorias evolucionistas, que

relacionavam a base biológica das populações humanas com a

cultura.

Quais eram os pressupostos do EVOLUCIONISMO SOCIAL?

Parte da idéia de que haveria uma “escala evolutiva” entre os povos.

De acordo com esse pensamento, poderíamos encontrar

povos/culturas “mais evoluídos” e outros “menos evoluídos”. O

resultado óbvio foi o sentimento de superioridade de algumas

culturas sobre outras, que justificou decisões políticas como invasões,

extermínios e a prática da discriminação e do racismo. Esse

pensamento partia do pressuposto que a cultura é determinada pela

herança genética de uma população.

Ao recusar essas teorias, a antropologia substituiu o conceito de

RAÇA (de base extremamente biologizante) pelo de ETNIA.

Atualmente é consenso na antropologia, que a cultura não é

determinada pelo padrão de herança genética de uma população.

60

O conceito de “raça” mostra-se impreciso uma vez que tenta

determinar divisões em uma espécie que é única: o ser humano.

Raça é uma construção social, e não uma realidade biológica.

O conceito de etnia, contrariamente ao de raça, dá ênfase aos

aspectos da herança cultural de um povo como forma de caracterizar

a diferença de comportamento entre as várias populações humanas.

Sempre que o assunto envolve questões de conflito de interesses

entre populações, e este conflito revela questões culturais de

qualquer abrangência, trata-se de questões étnico-raciais.

Esses conflitos podem se revelar com diferentes graus de expressão e

intolerância. Um povo pode expressar seu preconceito, racismo ou

ódio, tanto por questões bastante específicas como a religião, ou os

hábitos de vestuário / alimentação / higiene, ou ainda através de

repúdio total ao outro.

Entretanto não existe intolerância mais aceitável ou menos aceitável,

simplesmente pelo fato dela abranger apenas um aspecto da cultura

alheia, ou por ter se tornado tão profunda que apenas se resolve com

o extermínio desse outro.

É necessário perceber que a intolerância em qualquer dos casos é

desnecessária, condenável e pouco efetiva no sentido de resolver

conflitos de interesses entre dois ou mais povos.

Um povo pode e deve saber valorizar suas próprias características

sem que seja necessário diminuir, discriminar ou repudiar os que são

diferentes.

Percebemos que há um uso político dessas intolerâncias, e que serve

como justificativa para ações que atinjam moral, física e socialmente

muitos povos.

Abaixo, um trecho do documento “Diretrizes curriculares nacionais

para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de

história e cultura afro-brasileira e africana”, publicado pela Secretaria

Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. MEC, Brasília:

2004 e que pode ser encontrado na íntegra no endereço eletrônico:

http://www.espacoacademico.com.br/040/40pc_diretriz.htm

61

Esse trecho traz importantes conceitos e revela uma importante

questão das relações étnico-raciais no Brasil atualmente.

Questões introdutórias

O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da

educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de

políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de

reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata,

ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais,

antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o

racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros.

Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de

conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que

eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial

- descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de

europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma

nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus

direitos garantidos e sua identidade valorizada.

É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos

negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de

mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva,

seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm,

também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos

brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas

devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores

qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com

formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e

discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das

relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre

descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas.

Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são

indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como

o é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos

62

descendentes de africanos.

Políticas de Reparações, de Reconhecimento e Valorização, de

Ações Afirmativas

A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade

tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos

negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e

educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em

virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da

população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos

com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no

pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em

iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações.

Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que

cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que assinala o

dever do Estado de garantir indistintamente, por meio da educação,

iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um,

enquanto pessoa, cidadão ou profissional. Sem a intervenção do Estado,

os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as

estatísticas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema

meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por

critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de

privilégios para os sempre privilegiados.

Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem

oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso

na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-cultural afro-

brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos

como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para

alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos

níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e

participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão.

A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento,

63

valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação,

passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei

10639/2003, que alterou a Lei 9394/1996, estabelecendo a

obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e

africanas.

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis,

culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade

daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem

a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos,

raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas

negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura

apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente

desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira;

mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem

os mesmos patamares que os não negros, é por falta de

competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades

seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos

para os negros.

Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de

estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar

a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos

diferentes níveis de ensino.

Reconhecer exige que se questionem relações étnico-raciais baseadas

em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos

depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente

violentas, expressam sentimentos de superioridade em relação aos

negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual.

Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos

históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos

escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade,

desde as formas individuais até as coletivas.

Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua

descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar,

64

compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado

por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos,

brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade,

ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo

pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os

estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele,

menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados

como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de

estudar questões que dizem respeito à comunidade negra.

Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüentados em

sua maioria por população negra, contem com instalações e

equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no

domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de

negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar-se com

respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que

impliquem desrespeito e discriminação.

Políticas de reparações e de reconhecimento formarão programas

de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas

dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas

para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir

desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura

social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao

determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a

compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de

combate ao racismo e a discriminações, tais como: a Convenção da

UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as

formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao

Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas de

2001.

Nos trechos em itálico e sublinhado estão destacados alguns

importantes princípios das políticas de ações afirmativas traçadas

pelo Programa Nacional de Direitos Humanos.

65

Vamos a algumas questões que estão esclarecidas nos

trechos em destaque:

01 - Quais populações são alvos da preocupação sobre a condição de

exclusão ou tratamento preconceituoso?

_________________________________________________

_________________________________________________

02 - Qual o argumento do documento sobre a ênfase nas políticas de

reparação voltadas à comunidade de afro descendentes pelo Estado

brasileiro?

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

________________________________________________

03 - Como o documento define “ações afirmativas”?

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

04 - Para compreender a importância das discussões que envolvem

as relações étnico-culturais atualmente, leia abaixo uma das questões

dissertativas do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes) realizado pelo MEC anualmente.

ENADE 2006 – Prova de FORMAÇÃO GERAL para todos os

cursos (QUESTÃO 9 – DISCURSIVA):

Sobre a implantação de “políticas afirmativas” relacionadas à adoção

de “sistemas de cotas” por meio de Projetos de Lei em tramitação no

Congresso Nacional, leia os dois textos a seguir.

66

Texto I

“Representantes do Movimento Negro Socialista entregaram ontem

no Congresso um manifesto contra a votação dos projetos que

propõem o estabelecimento de cotas para negros em Universidades

Federais e a criação do Estatuto de Igualdade Racial.

As duas propostas estão prontas para serem votadas na Câmara,

mas o movimento quer que os projetos sejam retirados da pauta.

(...) Entre os integrantes do movimento estava a professora titular de

Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne

Maggie. „É preciso fazer o debate. Por isso ter vindo aqui já foi um

avanço‟, disse.”

(Folha de S.Paulo – Cotidiano, 30 jun. 2006, com adaptação.)

Texto II

“Desde a última quinta-feira, quando um grupo de intelectuais

entregou ao Congresso Nacional um manifesto contrário à adoção de

cotas raciais no Brasil, a polêmica foi reacesa. (...) O diretor

executivo da Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

(Educafro), frei David Raimundo dos Santos, acredita que hoje o

quadro do país é injusto com os negros e defende

a adoção do sistema de cotas.”

(Agência Estado-Brasil, 03 jul. 2006.)

Ampliando ainda mais o debate sobre todas essas políticas

afirmativas, há também os que adotam a posição de que o critério

para cotas nas Universidades Públicas não deva ser restritivo, mas

que considere também a condição social dos candidatos ao ingresso.

Analisando a polêmica sobre o sistema de cotas “raciais”, identifique,

no atual debate social.

Analisando a polêmica sobre o sistema de cotas “raciais”, e

seu conhecimento de mundo RESPONDA: a) Por que o manifesto dos negros estão contra a votação dos projetos que propõem o estabelecimento de cotas para negros em

Universidades Federais e a criação do Estatuto de Igualdade Racial? (8 a 10 linhas) ______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

67

______________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b) Por que o diretor executivo da Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), frei David Raimundo dos

Santos, defende a adoção do sistema de cotas.” (8 a 10 linhas) _______________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________

05 - O conceito de etnia veio a substituir o de raça, pois:

A) era uma necessidade de modernização dos referenciais conceituais tradicionais das ciências a partir dos movimentos sociais

da década de 1960. B) as mudanças políticas do séc. XX que trouxeram a hegemonia norte-americana impediram a continuidade do uso do conceito de

raça, pois tratava-se de uma teoria européia. C) não existe base científica que comprove a validade do uso do conceito de raça, e os abusos ideológicos de povos dominantes que o utilizaram como justificativa histórica para subjugar e exterminar

povos, trataram de bani-lo. D) o conceito de etnia faz parte do senso comum, sendo melhor interpretado que o conceito de raça.

E) a identidade racial é um conceito menos abrangente que o de identidade étnica; apesar do primeiro ser mais explicativo, considera-se menos útil da perspectiva antropológica, daí a preferência pelo

conceito de etnia.

06 - Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam

a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias

constituiriam um fator de importância primordial entre as causas das

diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das

civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Eles nos informam,

pelo contrário, que essas diferenças se explicam antes de tudo pela

história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel

68

preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de

aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de

todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das

características específicas do Homo Sapiens”.

(Declaração redigida por vários cientistas em 1950, no pós-nazismo,

no encontro da Unesco em Paris)

“Nada, no estado atual da ciência, permite afirmar a superioridade

ou a inferioridade intelectual de uma raça em relação à outra”.

Claude Lévi-Strauss, “Raça e cultura”

Os dois pensamentos citados acima têm como objetivo:

A) confirmar as teses que atribuíram características e aptidões

raciais inatas.

B) afirmar que as diferenças do ambiente físico condicionam a

diversidade cultural.

C) negar a grande diversidade cultural da espécie humana.

D) negar as teses deterministas biológicas, lutando contra o

preconceito racista e todas as tentativas de discriminação e de

exploração.

E) legitimar a hierarquia de raças.

07 - Podemos apontar como exemplos de “políticas afirmativas” para

resgatar a condição social de um grupo dentro de uma sociedade que

praticou exploração e preconceito contra uma etnia:

A) mudanças no currículo educacional que valorizem a experiência

histórica desse grupo; instituição de cotas para acesso ao ensino

público superior; valorização de sua cultura.

69

B) obrigatoriedade de freqüência a escolas de uso exclusivo de

indivíduos dessa etnia; proibição de casamentos interraciais para

garantir a integridade étnica de cada grupo.

C) instituição de modelos de comportamento aceitáveis para que os

indivíduos desse grupo se sintam mais integrados à sociedade; banir

o uso de imagens dos indivíduos desse grupo étnico em publicidade e

livros didáticos; tornar obrigatório o uso de vestimentas étnicas.

D) utilizar com maior frequência imagens dos indivíduos desse grupo

étnico em publicidade e livros didáticos; legalizar práticas criminosas

de grupos radicais que se supõem defensores de direitos étnicos.

E) conscientizar toda a população da necessidade do convívio étnico

baseado na democracia e direitos plenos; atribuir privilégios legais

aos indivíduos das etnias em desvantagem social em todas as

instâncias da vida coletiva.

08 - Os conflitos étnico-culturais podem ser percebidos através de

manifestações como:

A) Pactos de amizade e compreensão entre diferentes povos.

B) Atos de racismo, ódio ou preconceito entre diferentes povos.

C) Estudos antropológicos mais aprofundados sobre povos exóticos e

distantes.

D) Políticas que procuram reconhecer o direito de todos.

E) Atos de união entre indivíduos que tem a mesma herança

biológica.

CULTURA NA SOCIEDADE ATUAL - CULTURA POPULAR –

CULTURA ERUDITA – MEIOS DE COMUNICAÇÃO

O PODER DA CULTURA

É muito comum que as pessoas em seu dia-a-dia não se dêem conta

que nossos hábitos, costumes valores morais ou formas de

70

julgamento são o resultado de um processo histórico de nosso

grupo social.

Entretanto, facilmente consegue-se relacionar a nossa vida material

como a tecnologia, por exemplo, como resultante de um processo

complexo de desenvolvimento que envolve conhecimento e condições

técnicas-econômicas de implantação.

Isso porque, no primeiro exemplo, estamos falando de um aspecto

imaterial, simbólico, da cultura humana. Em geral, as pessoas

tendem a naturalizar mais essa dimensão humana, dando como certo

que se trata de algo que não procede de escolhas e muito menos de

formas coletivas de vivência.

O fato é que a história de qualquer grupo social interfere o

tempo todo em seu presente, sendo impossível separarmos a

cultura de um povo de sua história.

As diferentes histórias de cada povo podem ser interpretadas

antropologicamente, como estratégias locais de sobrevivência e

reprodução, mas não se encontram desvinculadas da história da

espécie humana como um todo.

Assim, podemos afirmar que estamos em um mesmo momento da

história de nossa espécie, em âmbitos que envolvem nossa evolução

e nossa relação com o meio ambiente.

Entretanto, cada povo em seu local específico, é o resultado das

relações entre os indivíduos e seu grupo social. Como resultado das

interferências pessoais em um dado conjunto de instituições, regras,

leis e tecnologia que formam uma totalidade social é que podemos

perceber a CARACTERÍSTICA, a ESPECIFICIDADE de uma cultura.

É possível observar um grupo social a partir de sua perspectiva

histórica, e como resultado percebemos que cada grupo é único,

mesmo quando passa por eventos semelhantes e utiliza as mesmas

convenções sociais.

Portanto, a cultura nesse caso, é um elemento agregador que

promove a intermediação das relações entre os indivíduos. Mas

quando observamos a passagem do tempo (= história) em dois

grupos diferentes que utilizam o mesmo referencial cultural,

71

percebemos que não é possível encontrar os mesmos resultados. Esta

é a base do que denominamos CULTURA REGIONAL.

No Brasil, temos a existência de regiões geográficas que definem

regiões culturais diferentes.

A experiência histórica em cada uma delas determinou características

particulares dentro da grande totalidade que chamamos de “cultura

brasileira”, ou cultura nacional.

Assim como ocorre com os regionalismos, ocorre também com

relação à sociedade nacional.

Portanto as culturas regionais e nacionais se referem sempre a

experiências compartilhadas por uma população durante um período

de tempo suficiente para deixar marcas nas relações sociais, na visão

de mundo desse povo.

Neste âmbito é que reside a questão da relação indivíduo-sociedade.

Ao mesmo tempo em que cada um de nós é marcado pela história de

nosso grupo social, também marcamos essa história, com a

possibilidade de reforçar certos comportamentos, repetindo-os e

mantendo-os atuantes, ou recusando-os e enfraquecendo sua

importância.

Somos ao mesmo tempo resultados de uma HERANÇA cultural e

produtores dessa herança para as próximas gerações. Não nos damos

conta disso em nosso cotidiano, e a única forma de consciência disso

se expressa através da necessidade pessoal em defender e preservar

certos traços de comportamento e recusar outros.

Se partirmos dessa compreensão de cultura como resultado da vida

sócio-histórica dos indivíduos que atuam em um grupo, podemos

então detalhar alguns aspectos importantes da vida cultural em nossa

sociedade atualmente.

Nossas condições materiais de existência afetam nossas condições

psíquicas e culturais, e vice-versa. Em nossa sociedade, existe a

questão do pertencimento a classes sociais, ou em outras palavras,

da renda como determinante das posições na hierarquia social.

Assim, notamos certos padrões de comportamento que se associam

a padrões de consumo, e que por sua vez se associam a um conjunto

72

de valores morais, ou estéticos, ou de gosto, capazes de criar grupos

de pessoas que se identificam e mantêm características e hábitos

próprios.

Para facilitar a compreensão desse fenômeno, utilizamos os conceitos

de cultura popular, cultura erudita e cultura de massa.

José Luiz dos SANTOS explica:

Comecemos por esta última indagação, a qual é bem antiga na

história das preocupações com cultura. É que, a partir de uma idéia

de refinamento pessoal, cultura se transformou na descrição das

formas de conhecimento dominantes nos Estados nacionais que se

formavam na Europa a partir do fim da Idade Média. Esse aspecto

das preocupações com a cultura nasce assim voltado para o

conhecimento erudito ao qual só tinham acesso setores das classes

dominantes desses países, esse conhecimento erudito se contrapunha

ao conhecimento havido pela maior parte da população, um

conhecimento que supunha inferior, atrasado, superado, e que aos

poucos passou também a ser entendido como uma forma de cultura,

a cultura popular.

As preocupações com cultura popular são tentativas de classificar as

formas de pensamento e ação das populações mais pobres de uma

sociedade, buscando o que há de específico nelas, procurando

entender a sua lógica interna, sua dinâmica e principalmente, as

implicações políticas que possam ter.

(...) De fato, ao longo da história a cultura dominante desenvolveu

um universo de legitimidade própria, expresso pela filosofia, pela

ciência e pelo saber produzido e controlado em instituições da

sociedade nacional, tais com a universidade, as academias, as ordens

profissionais (de médicos, advogados, engenheiros e outras). Devido

à própria natureza da sociedade de classes em que vivemos, essas

instituições estão fora do controle das classes dominadas. Entende-se

por cultura popular as manifestações culturais dessas classes,

manifestações diferentes da cultura dominante, que estão fora de

73

suas instituições, que existem independentemente delas, mesmo

sendo suas contemporâneas.

(Santos, J.L. 2006, pp.54-55)

A conclusão é que denominamos cultura erudita toda a produção

material e imaterial resultante de conhecimento intelectual e

técnicos especializados, letrados, que dependem de

treinamento constante e dedicação – de tempo e de

investimentos financeiros.

Já a cultura popular é uma produção resultante de

conhecimentos da tradição oral, do convívio e da

informalidade. O treinamento normalmente é proporcionado

com baixos investimentos, ou mesmo como estratégia de

sobrevivência. São artistas, artesãos, ou trabalhadores que

dominam sua técnica de forma autodidata e reproduzem

aprendizados que passam de geração a geração.

E quanto à cultura de massa?

Bem, é um fenômeno que depende da existência dos meios de

comunicação de massa como o rádio, a televisão, o cinema, a

imprensa, a Internet e assim por diante.

A cultura de massa resulta do trabalho empresarial sobre produtos e

artistas tanto da cultura erudita quanto da cultura popular.

Não há criadores espontâneos da cultura de massa. Há empresários

e técnicos, atrelados a uma empresa (editoras, gravadoras,

produtoras, grupos de comunicação) que visa lucro com os

produtos culturais.

Eles se apropriam dessa cultura através de contratos e divulgam todo

tipo de produção cultural através do mercado para que as pessoas

adquiram esse material. São classificados como “de massa”, porque o

mesmo conteúdo atinge um imenso número de pessoas ao mesmo

tempo. A massa é ao mesmo tempo um fenômeno quantitativo, pois

são muitas pessoas, e psicológico. O indivíduo que faz parte da

74

massa responde de forma imatura ao que recebe. Repete as opiniões

alheias, pois não é capaz de ter opinião própria, e tem uma relação

mais emocional que crítica em relação ao gosto. Gosta porque

todos gostam, porque está na moda, e assim o inclui em um

movimento; gosta porque esse consumo lhe dá status e uma

boa visibilidade social. Na massa, o indivíduo gosta de ser

diferente, mas igual. Quer ter personalidade, mas não quer

chamar a atenção.

Portanto podemos falar em uma cultura popular de massas, e uma

cultura erudita de massas? Sim! Para exemplificar, os livros que se

tornam campeões de vendas, normalmente são um exemplo da

cultura erudita de massas. Já a maior parte dos programas

televisivos de auditório, exemplifica a cultura popular de

massa. Esse tipo de programa se baseia na antiga receita do circo,

um palco e uma audiência que espera ser entretida por um

apresentador que lhes proporciona carisma, admiração e que lhes

mostra a vida como um espetáculo.

EXERCÍCIOS

01 - Leia o trecho a seguir e escolha entre as alternativas aquela que

corresponde ao pensamento expresso pelo autor:

“Da mesma forma, como a cultura erudita é desde sempre

associada com as classes dominantes, sua expansão pode ser

vista como uma expansão colonizadora. A ampliação de seus

domínios como, por exemplo, através da expansão da rede de

escolas e de atendimento médico, pode ser entendida como

uma forma de controle social, que mantêm as desigualdades

básicas da sociedade em benefício da minoria da população.”

(SANTOS, J.L. O QUE É CULTURA, pg. 56)

75

A) para o autor, a divisão entre cultura erudita e popular mostra

uma relação de poder, pois uma minoria tem acesso ao conhecimento

erudito, mas não toda a população.

B) ele demonstra como a compreensão de como dividimos entre

cultura erudita e popular tem interesse apenas para os médicos e

professores que ocupam cargos públicos para atendimento à

população.

C) conclui que as desigualdades da sociedade poderiam ser resolvidas

se a classe dominante providenciasse a expansão das redes de

educação e atendimento à saúde da população.

D) o autor se posiciona nitidamente a favor da colonização e da

expansão das desigualdades básicas que atingem de forma

inaceitável a minoria da população.

E) a expansão da rede de escolas e de atendimento médico podem

ser exemplos de cultura erudita e cultura popular respectivamente.

02- Em nossa sociedade os meios de comunicação de massa fazem

parte da paisagem social moderna. Esta afirmação pode ser considerada correta se associada às seguintes observações:

A) Nossa sociedade estabelece uma hierarquia de status através da imposição de uma mesma cultura para todos os indivíduos. A essa imposição denominamos cultura de massa.

B) Não podemos saber exatamente que tipo de influência cultural cada indivíduo recebeu em nossa sociedade, pois as culturas erudita, popular e de massa são muito semelhantes entre si. C) A história cultural recente de nossa sociedade revela que os

indivíduos já não se relacionam mais com seu passado como era o costume nas gerações anteriores. As pessoas não são influenciadas pela história de sua cultura.

D) Esses meios estão presentes em todas as esferas de nossa vida social tais como a religião, a profissão, o lazer, a educação ou a política; eles difundem formas de comportamento e estilos de vida.

E) Apesar da influência da cultura de massa no gosto de grande parcela da população, os indivíduos que fazem parte da massa não se deixam influenciar em termos de comportamento pelo gosto alheio.

03 - Podemos afirmar que a massa é um fenômeno ao mesmo tempo quantitativo e psicológico. Essa colocação está:

A) Errada, pois a massa significa apenas uma grande quantidade de pessoas, não atingindo a afetividade dos indivíduos.

76

B) Correta, pois a massa é ao mesmo tempo um fenômeno demográfico de concentração urbana, e psicológico, uma vez que os

indivíduos são influenciáveis pelos produtos dessa cultura. C) Correta, pois ao mesmo tempo em que falar em massa significa falar em um grande número de pessoas, elas são afetadas psicologicamente, pois resistem às possíveis influências dos meios de

comunicação de massa, o que as torna estressadas. D) Errada, pois não é possível perceber como o fenômeno associado à existência de uma massa de pessoas pode afetar psicologicamente

os indivíduos. E) Correta em termos, pois ao mesmo tempo em que podemos perceber que fazer parte da massa significa que há muitas pessoas

envolvidas em processos semelhantes, não há evidências de que isso possa afetar psicologicamente os indivíduos.

04 - Quando pensamos a cultura de um grupo social, é possível

ressaltar diferentes aspectos que a caracterizam. É muito comum

associarmos essa cultura a modos de ser e sentir que são

característicos desse grupo, que são seu patrimônio.

Essa ênfase da cultura como patrimônio de um povo está associado

a que tipo de cultura?

A) cultura erudita

B) cultura de classe

C) cultura popular

D) cultura de massa

E) cultura patrimonial

05 - Atualmente é nítida a grande influência dos meios de

comunicação de massa como a televisão, o cinema e a Internet na

vida cultural de todos os povos. Quase todo o conteúdo que circula

nesses meios, como filmes novelas, reality shows, publicidade, é

chamado de “indústria cultural”. Isto porque são produtos feitos de

77

forma padronizada para atingir um imenso numero de pessoas ao

mesmo tempo, como os bens produzidos em uma indústria.

Esse tipo de cultura que predomina como forma de expressão em

nossa sociedade está associado a que tipo de cultura das listadas

abaixo?

A) cultura erudita.

B) cultura de classe.

C) cultura popular.

D) cultura de massa.

E ) cultura patrimonial.

06 - Questão do ENADE 2006 – Prova de Conhecimentos Gerais

para todos os cursos avaliados, (QUESTÃO 3)

Jornal do Brasil, 3 ago. 2005.

Tendo em vista a construção da idéia de nação no Brasil, o

argumento da personagem expressa:

A) a afirmação da identidade regional.

B) a fragilização do multiculturalismo global. C) o ressurgimento do fundamentalismo local. D) o esfacelamento da unidade do território nacional.

E) o fortalecimento do separatismo estadual. 07 - O Brasil possui regiões que são delimitadas geograficamente

como Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Em cada uma

delas existe um tipo característico de comportamento muito

marcante, que diferencia as pessoas que ali vivem. A esse fenômeno

chamamos:

78

A) Culturas regionais.

B) Evolucionismo social.

C) Etnocentrismo.

D) Cultura globalizada.

E) Conflito étnico-cultural.

08 - De acordo com os versos de uma canção de Chico Buarque,

como reproduzidos abaixo, assinale a alternativa correta:

"O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô,

mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Meu maestro soberano/ Foi Antonio

Brasileiro."

("Paratodos", canção gravada por Chico Buarque em 1993.)

A) Podemos perceber a denúncia preconceituosa que se manifesta

contra a miscigenação de indivíduos originários de diferentes

culturas.

B) O autor poetiza o processo histórico de movimentação das

populações no território nacional e a mistura que resulta do encontro

das culturas regionais.

C) Fica nítido o posicionamento do autor a favor das lutas em torno

do direito à diferença.

D) Ele tenta provocar polêmica sobre a questão dos regionalismos

culturais no Brasil, colocando como superior a influência de um

maestro e inferior a influência de baianos, mineiros ou paulistas.

E) É uma forma poética de explicar o processo de globalização

cultural.

09 - Assinale a alternativa correta. O rádio, a televisão, o cinema,

o jornal, as revistas, as publicações em geral, são meios de

comunicação cujos interesses de lucro procuram dar mais espaço

para a divulgação dos produtos:

79

A) Da cultura popular.

B) Da cultura de elite.

C) Do folclore.

D) Da cultura de massa.

E) Do regionalismo cultural.

10 – Defina: Cultura Erudita – Cultura Popular:

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A SOCIEDADE

IDENTIDADE CULTURAL NA ATUALIDADE

MULTICULTURALISMO – TRIBALISMO URBANO

PESQUISA ANTROPOLOGICA

Segundo Stuart HALL -

MULTICULTURAL: características sociais e problemas de

governabilidade apresentados por sociedades com diferentes

comunidades culturais.

MULTICULTURALISMO: estratégias e políticas usadas para

governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade

em sociedades multiculturais.

É um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem que uma delas predomine.

Muitos países no mundo de hoje são sociedades multiculturais, e

enfrentam muitos problemas políticos para que todos se sintam

80

INCLUÍDOS; não apenas com direitos iguais, mas que sejam

igualmente valorizados como parte de uma sociedade múltipla.

Portanto o debate do multiculturalismo nos leva aos conceitos de

IDENTIDADE CULTURAL, e conseqüentemente de DIFERENÇA

CULTURAL.

Quem é igual a quem em uma sociedade multicultural? Ou mais,

quem quer ser igual a quem, quem quer ser diferente e mesmo assim

tratado igualmente?

O conceito de identidade cultural permite compreender os processos

através dos quais os indivíduos passam a tomar como “gosto” ou

“preferência pessoal” um conjunto que expressa sua subjetividade e o

coloca nas relações interpessoais de forma a sentir que pertence a

um coletivo.

A identidade cultural de um grupo se manifesta tanto externamente,

através de práticas coletivas próprias, rituais, vestuário e adornos

corporais, por exemplo; como intersubjetivamente, quando cada

indivíduo entende como próprio de si mesmo um conjunto de hábitos

e formas de sensibilidade que foram coletivamente constituídas.

Para constituir uma identidade, os indivíduos passam pelos

processos de socialização, endoculturação, recebem a visão de

mundo de sua cultura, introjetam os valores. Todos os conceitos

trabalhados anteriormente nos outros módulos fazem parte dos

processos de identificação.

A diferença está no seguinte ponto. A cada cultura corresponde um

imenso e vasto repertório de hábitos, saberes, valores, técnicas.

Nenhum indivíduo, de qualquer cultura que seja, pode conhecer,

entrar em contato e experimentar a totalidade desse conjunto.

Ao entrar em contato com diferentes setores e ordens da sociedade,

cada indivíduo entra em um processo de identificação, onde os

elementos de sua subjetividade vão se reorganizando em função de

novas experiências. A cada uma delas o sujeito avalia qual seu grau

de envolvimento e como delas se aproxima. Perguntas como: “Fazer

isso, DESTA forma, me dá prazer?”; “Eu me sinto bem ao pensar

sobre esse assunto DESTA maneira?”; “Eu considero justo que as

81

pessoas tomem ESTA tal atitude em tal situação?”; “Eu percebo

beleza NESTA forma de aparência social?”

Tais questionamentos fazem parte da capacidade de REFLEXÃO que

cada um de nós possui, e que nas sociedades contemporâneas faz

parte de uma exigência para nossos posicionamentos e atitudes.

Somos o tempo todo “cobrados” a uma “opinião pessoal”, a um

“estilo pessoal”, a uma “atitude pessoal”, a “ter personalidade”

Somos cobrados a “ter identidade” (também uma outra noção do

senso comum bastante confusa, pois entende que podemos “perder”

nossa identidade).

Bem, em nossa trajetória pessoal e os contatos sociais que vão se

sucedendo ao longo da vida, temos a oportunidade de obter

informações ou participar de diferentes grupos que relacionam os

elementos culturais de forma original e passam a construir uma

“identidade própria”. Nesse contato, podemos nos identificar mais, ou

menos com cada tipo de comportamento, nos fazendo mais próximos

ou distantes de uma ou outra forma de identidade coletiva.

Essa identidade pode ser compreendida dentro dos seguintes

processos:

Relacional: é “em relação” ao outro que afirmamos nossa

identidade.

Processual: faz parte de um sistema complexo (pois inclui a

referência dada pelo grupo, a subjetividade, as relações entre

os vários grupos com diferentes identidades e assim por

diante), e contínuo ao longo da vida de cada indivíduo.

Contrastiva: para que se destaque de forma única, cada grupo

precisa se fazer contrastar dos demais. A referência da

diferença é o que faz a identidade.

Nas sociedades modernizadas atualmente, podemos encontrar um

amplo espectro (fantasma) de grupos que se identificam de forma

bem distinta, o que faz com que pareça que identidade é sempre uma

questão de escolha, uma opção.

Mas não é exatamente assim que acontece no cotidiano das pessoas.

82

Para cada grupo social existem identidades que são hegemônicas, ou

seja, dominantes em relação a muitas outras. Estamos falando sobre

a forma como certos grupos exercem PODER sobre outros.

As identidades hegemônicas correspondem a modelos do padrão

moral, que são impostos a todos os indivíduos dessa dada sociedade,

tanto através de mecanismos de socialização, como através da

punição moral e da vigilância através de normas e leis.

Desta forma, há como um “padrão” de comportamento social, e

desde que as atitudes dos indivíduos se enquadrem dentro desse

padrão aceito, a identidade cultural de um ou outro grupo que crie

uma identidade será aceita pela maioria que segue o modelo imposto.

Entretanto, existem processos de constituição de grupos com

identidades que de alguma forma negam ou entram em conflito com

esse padrão hegemônico.

Nesse caso, a sociedade tenta reprimir o processo de

desenvolvimento dessas identidades, tratando os indivíduos

participantes através de estratégias que geram exclusão social – o

estereótipo (modelo), o estigma, o preconceito.

Quando há uma severa desaprovação relacionada à certa identidade

social, seus participantes passam a receber um tratamento social

desigual cuja mensagem bastante clara é: “não aceitamos sua

identidade”. Ser estigmatizado em função de características de

comportamento ou crenças é algo que podemos encontrar em

referência a diversas identidades sociais ao longo da história.

O estereótipo se realiza quando a sociedade cria uma imagem

mental (um imaginário) falso com idéias que reduzem a identidade

cultural de um certo grupo a conteúdos que pretendem denegrir,

diminuir a importância desse tipo de comportamento. É como

comumente se diz “rotular alguém”. Os critérios que possibilitam criar

essas idéias não possuem comprovação e não são demonstráveis,

mas possuem força moral sobre a maioria dos indivíduos do grupo.

O preconceito é um julgamento estabelecido previamente a qualquer

conhecimento aceitável. É um conceito sobre pessoas que é pré-

estabelecido. Um pré-conceito de fato, pois se organiza em torno de

83

associações lógicas questionáveis e sem contato com a realidade

sobre a qual pretende afirmar qualquer coisa. Essas associações

fazem a ligação entre características físicas e conteúdo mental,

psicológico ou moral dos “outros”. “Os negros são inferiores”, “as

louras são burras”, “os pobres são ladrões” são afirmações

carregadas de preconceito.

O termo “minorias sociais” surge a partir da década de 70 do séc.

XX. Ele procurava designar a existência de grupos dentro da

sociedade contemporânea, cujos traços característicos ou

comportamento expresso não correspondiam ao modelo hegemônico.

Por que essa referência de dimensões? Minoria e maioria?

Exatamente a o que elas se referem? Apenas ao número de pessoas?

Entendia-se que estatisticamente, a maioria das pessoas

correspondia às expectativas dos padrões morais que regem a

conduta dentro de nossa sociedade. Também correspondia ao termo

maioria, por conseguir impor através da hegemonia (fatores que

influenciam nas decisões) um modelo padrão de identificação.

À minoria corresponderia então grupos estatisticamente inferiores, e

inferiores também em termos de poder ou alcance para fazer valer a

legitimidade de sua identidade coletiva.

Atualmente o conceito de minoria se refere a essa dimensão da

posse do poder de controle sobre a moral da sociedade ou da

ausência desse mesmo poder. À posse do discurso sobre os direitos

ou da ausência do reconhecimento social de direitos iguais. Não

existe mais a noção de maioria ou minoria estatística, mesmo porque

essa questão é muito relativa ao universo social ao qual esse ou

aquele grupo pode estar relacionado. Num certo contexto a minoria é

realmente menor estatisticamente em relação a certo universo de

pessoas, mas em outro contexto essa minoria pode representar até

mesmo uma maioria estatística.

Uma minoria pode ser constituída por traços básicos de uma etnia,

ou de uma forma de orientação da sexualidade, ou de uma crença.

Um determinado grupo social passa a ser reconhecido como “minoria

social” quando vem de alguma forma se expressar, exigindo um

84

tratamento que não gere exclusão social ou desigualdade de direitos

aos cidadãos.

Um dos traços marcantes da sociedade contemporânea tem sido

exatamente esse. Setores da sociedade que possuem características

marcantes o suficiente para que lhes seja atribuída uma identidade, e

que se organizam em torno de reivindicações de direitos sociais. É

uma nova forma de atuação política, que foge dos padrões

tradicionais e se organiza em torno de propostas de ação que gere

impacto positivo, esclarecimento e receptividade da sociedade. São

as chamadas “ações afirmativas”, cuja mobilização procura gerar um

debate na sociedade em termos de direitos de igualdade e reverter

situações de preconceito, estigma ou estereótipos.

Afinal, quando as pessoas tomam contato com a realidade do outro

há uma possibilidade de se abandonar preconceitos.

São chamadas minorias hoje, principalmente grupos étnicos que em

muitos lugares são oprimidos por sua condição de origem; grupos de

orientação sexual não heterossexual (homossexuais, travestis,

bissexuais); grupos de orientação religiosa não católica ou

protestante.

Ao lado das chamadas minorias sociais, podemos encontrar grupos

que se organizam em torno de propostas de lazer, consumo,

atividades lúdicas, arte e que em alguns casos, a atuação política se

faz também presente.

São as chamadas “tribos urbanas”.

Em grandes cidades do mundo todo, desde o final da II Guerra

Mundial, podemos testemunhar o fenômeno da formação desse tipo

de constituição de uma coletividade. Com o crescimento do mercado

capitalista de consumo, surgiu uma forma de expressão de

identidades que com ele dialoga às vezes rejeitando os mecanismos

que seduzem os indivíduos a participar dele, às vezes colaborando

para aumentar seu repertório. Esses grupos se constituem em torno

de estilos de vida, construindo uma estética própria, atividades de

sociabilidade, valores e rituais que os diferenciam da sociedade em

geral.

85

Vamos citar alguns: “rappers”, “metaleiros”, “jipeiros”, “skatistas”,

“emos”, “góticos”, “moto bikers”, “modernos primitivos” (que

praticam muitos estilos de modificação corporal como tatuagens,

piercings, implantes, entre outros).

Os grupos que se organizam em torno de estilos de vida, formando

essas “tribos” são a expressão de novas formas de sensibilidade

social. Normalmente, o senso comum considera “exagero” e reprime

ou procura desmoralizar através do estigma, as pessoas que

participam dessas tribos.

O que esse fenômeno social nos mostra, para além do que o senso

comum consegue compreender, é que atualmente os indivíduos

procuram refletir sobre sua subjetividade e expressá-la de formas

criativas e originais. Através da convivência nesses grupos,

experimentam novas formas de convívio social e colocam em jogo

novos valores. Sem a pretensão de se tornarem hegemônicos, eles

provocam na sociedade uma reflexão sobre nossos padrões de

conduta.

E sobre a pesquisa antropológica?

Qual sua importância para essa temática das identidades

contemporâneas?

A pesquisa de campo reescreveu a história da antropologia.

Ela veio a ser uma alternativa às chamadas “pesquisas de gabinete”,

que se caracteriza por manter o pesquisador distante da vida real dos

indivíduos que pretende conhecer.

A partir do contato direto entre pesquisador e cultura pesquisada, os

pressupostos sobre cultura e comportamento humano sofreram

mudanças importantes.

Nesse tipo de pesquisa, o cientista passa um longo período de tempo

convivendo na cultura que quer conhecer. Ele se torna o que

chamamos de “observador participante”. Ou seja, ele não chega com

questionários prontos e não se preocupa com a quantidade de

respostas obtidas para a mesma questão.

86

Sua principal preocupação é obter “informantes”, que são pessoas

que lhe facilitam o trânsito, os contatos e debatem com o

pesquisador sobre suas dúvidas a respeito do que está sendo

observado.

Ele também não se limita a ser um observador, mas passa a

participar de algumas atividades com seus anfitriões, procurando se

colocar sempre que possível no lugar do outro.

O principal, portanto, é tentar encontrar uma perspectiva de

abordagem desse outro, que seja diferente do olhar imparcial e

distante do observador de laboratório. Ao observar, mas também

participar, o pesquisador tem a oportunidade de utilizar o “olhar

antropológico”.

Ao mudar sua própria subjetividade, o pesquisador promove uma

mudança interna de valores e permite que o outro seja interpretado

dentro de seu próprio conjunto de conceitos, dentro de sua própria

visão de mundo.

Após a permanência em campo, o pesquisador se retira, física e

subjetivamente. Esse distanciamento posterior é o período de

reflexão sobre os dados obtidos, quando ele pode garantir que não

estará sendo etnocêntrico, mas também procura evitar o risco de se

transformar no outro. Como cientista, é necessária uma

imparcialidade em seu discurso, e há a procura de um meio termo,

no qual o pesquisador consiga falar sobre o outro sem ser

etnocêntrico, de fora para dentro, ou etnocêntrico, de dentro para

fora. Assim, ele deve procurar a elaboração de uma interpretação que

possa garantir a imparcialidade. Não está “em defesa” de ninguém,

nem de sua própria cultura, nem da do outro.

Os relatos produzidos pelos antropólogos em campo são chamados

de “etnografias”, que literalmente significa o registro escrito da

experiência étnica.

As técnicas de observação de campo da antropologia passaram a

influenciar muitos campos de estudo, que passaram a produzir

pesquisas semelhantes.

87

O resultado é que temos hoje uma grande produção de textos,

teorias, teses e artigos que abordam ENCONTROS COM O OUTRO.

EXERCÍCIOS

01 - Uma característica marcante das identidades culturais no mundo

globalizado contemporâneo é a que segue:

A) a imposição de um único modelo referencial para a constituição das identidades, anulando a possibilidade da diversidade cultural;

B) tem predominado a consciência sobre a necessidade de respeitar a diversidade cultural, por isso existe uma intensa troca de experiências culturais para definir todas as identidades atualmente;

C) as identidades nacionais passam a ser mais importantes que as identidades globalizadas e desenraizadas; D) deixa de existir um único modelo de referências simbólicas para a

construção das identidades, surgindo um número imenso de identidades grupais dentro de uma mesma sociedade; E) existe uma maior flexibilidade para que cada sociedade escolha qual cultura quer adotar como modelo; esse processo é portanto

unicamente de caráter político, pois pressupõe que uma sociedade se posicione criticamente em relação ao multiculturalismo presente na mundialização (globalização) cultural.

02 - A importância da pesquisa de campo na observação

antropológica do outro, pode ser corretamente associada com: A) pelo fato de terem oportunidade de conviver com o “outro”, os antropólogos podem compreender melhor e desenvolver planos de

ação mais viáveis para as culturas estudadas, interferindo naquela realidade. B) o antropólogo necessita apoio áudio-visual de uma equipe

especializada, pois a permanência em campo exige o registro imediato de todas as situações vividas. C) a antropologia aconselha aos pesquisadores que não abram mão

de seus próprios valores, não se deixando influenciar pelo “outro” na experiência da observação participante. D) esse tipo de pesquisa exige uma mudança de valores por parte do

pesquisador, para que seja possível compreender o “outro” a partir de sua própria visão de mundo. E) o objetivo da pesquisa de observação participante é dar voz ao “outro”; ao dar oportunidade do outro se posicionar, o antropólogo

pode permanecer imparcial, sem se deixar influenciar pelas opiniões de seus entrevistados.

88

03 - Constituem elementos através dos quais podemos perceber a

identidade e a manipulação simbólica que uma “tribo urbana” realiza:

A) a coerência e a previsibilidade de seu comportamento perante os

outros

B) a presença de traços que permitem aos “outros” reconhecê-los,

podendo estar em sua vestimenta, gírias, crenças entre outros

C) a coerência e a previsibilidade de seus traços específicos como

Forma de distinguir-se dos demais; a coerência e a previsibilidade de

seus traços específicos como forma de distinguir-se dos demais

D) a seleção totalmente arbitrária e incoerente de características que

os tornem irreconhecíveis perante os outros

E) o “estilo” que se resume à sua aparência

04 - Malinowski foi o primeiro antropólogo a desenvolver a

metodologia de pesquisa de campo que caracteriza até hoje a

Antropologia. O tipo de pesquisa por ele criado é chamado de:

A) Estruturalismo

B) Pesquisa de observação participante

C) Metáfora orgânica

D) Pesquisa de modelos culturais e diversidade

E) Antropologia Cultural

05 - Quando as tradições culturais de um grupo constituem o único

modelo de referência para a construção da identidade cultural de

seus indivíduos, podemos caracterizar essa sociedade como:

A) comunidade relacional

B) sociedade tradicional

C) sociedade moderna

D) grupo complementar de identidade

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E) modelo de diversidade cultural

06 - Quando as tradições culturais de um grupo deixam de ser o

único modelo de referência para a construção da identidade cultural

de seus indivíduos; além das tradições, os meios de comunicação

podem influenciar os valores coletivos. Então podemos caracterizar

essa sociedade como:

A) comunidade relacional

B) sociedade tradicional

C) sociedade moderna

D) grupo complementar de identidade

E) modelo de diversidade cultural

07 - Leia o trecho do artigo de José Magnani, transcrito abaixo, utilize

os conhecimentos adquiridos sobre o tema, e selecione a alternativa

correta:

Um primeiro significado, mais geral, de tribo urbana, tem como

referente determinada escala que serve para designar uma tendência

oposta ao gigantismo das instituições e do Estado nas sociedades

modernas: diante da impessoalidade e anonimato destas últimas,

tribo permitiria agrupar os iguais, possibilitando-lhes intensas

vivências comuns, o estabelecimento de laços pessoais e lealdades, a

criação de códigos de comunicação e comportamento particulares.

Em outro contexto, tribo evoca o „primitivo‟ e designa pequenos

grupos concretos com ênfase não já em seu tamanho, mas nos

elementos que seus integrantes usam para estabelecer diferenças

com o comportamento „normal‟: os cortes de cabelo e tatuagens de

punks, carecas, a cor da roupa dos darks e assim por diante.

(http://www.aguaforte.com/antropologia/magnani1.html.)

90

A) as tribos urbanas refletem a tentativa de alguns jovens de fugir da

massificação imposta pelo ritmo das grandes cidades e do

capitalismo.

B) as tribos urbanas refletem o comportamento selvagem de alguns

jovens que não possuem cultura.

C) tribos urbanas são os aglomerados de jovens que não estão

inseridos no mercado de trabalho. Como índio também não está

acostumado a trabalhar, deu-se o nome de “tribo” a estes grupos.

D) o jovem que participa de uma tribo urbana é um arruaceiro, sem

cultura.

E) tribos urbanas é um nome diferenciado para designar um bando de

delinqüentes

08 - O contato com a diferença é necessário para que um povo tome

consciência de sua própria identidade cultural. Essa afirmação:

A) Está correta, pois no encontro com o outro realizamos a

alteridade, abandonando a perspectiva que naturaliza a cultura e as identidades que ela produz. B) Pode ser considerada errada, pois cada povo constrói ao longo de

sua história uma identidade de forma consciente e racional, sendo desnecessário o contato com a diferença para que sua própria identidade seja valorizada C) Está errada, pois a identidade cultural faz parte da essência, da

alma de um povo, dispensando qualquer processo de contato D) Pode ser considerada correta, pois não existem exemplos na história de povos que refletissem conscientemente de sua própria

identidade cultural sem o conflito com a diferença E) Pode estar correta, quando se trata de traços individuais da identidade; está errada quando nos referimos a traços que dão

identidade às práticas coletivas de uma cultura

09 - Sobre a metodologia de pesquisa antropológica, é correto

afirmar:

A) A antropologia sempre se distinguiu das outras ciências humanas pela sua metodologia de pesquisa que inclui a coleta de dados direta por parte do pesquisador.

B) Houve uma mudança histórica importante na pesquisa antropológica a partir do momento em que os pesquisadores

91

deixaram de coletar dados indiretamente e desenvolveram técnicas de pesquisa de campo.

C) A pesquisa antropológica exige que o pesquisador faça uma pesquisa de gabinete antes de proceder a coleta direta dos dados em sua pesquisa de campo. D) Para a antropologia, é indiferente que o pesquisador colete os

dados diretamente ou não, pois o importante é seu trabalho posterior de análise conceitual do material. E) Houve uma mudança histórica importante na pesquisa

antropológica a partir do momento em que os pesquisadores deixaram de coletar dados diretamente e desenvolveram técnicas de pesquisa de gabinete.

10- A respeito do conceito de “minorias sociais”, assinale a

alternativa correta:

A) Elas surgem como resultado de uma nova forma de organização

política em nossa sociedade, quando grupos identificados com

questões sociais comuns em relação à desigualdade passam a

reivindicar direitos civis.

B) São minorias os grupos que podemos identificar como pouco

representativos da ordem geral de uma sociedade.

C) Elas surgem como resultado de movimentos políticos oficiais, que

reconhecendo a falta de direitos iguais, incitam parte da sociedade a

se organizar.

D) As minorias são os grupos pouco expressivos quantitativamente,

portanto não têm interesse para a sociedade em geral, sendo apenas

uma forma de identidade cultural.

E) As minorias são sempre o equivalente a “tribos urbanas”.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES

NOTAS – NP1 ________ SUB ________ MÉDIA : _______

NP2 ________ EXAME _________

92

DATAS AVALIAÇÕES : NP1 : ____/____/________

NP2 : ____/____/________

SUB: ____/____/________

EXAME: ____/____/________

FIM

REFERÊNCIAS

Grande parte deste material foi cedido pela líder de disciplina de

Homem e Sociedade ( DP online), extraído das seguintes referências:

93

E Roque de Barros LARAIA, na pg. 58 do texto “Idéia sobre a origem da cultura” no livro “CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO”:

“O desenvolvimento do conceito de cultura”, “Teorias modernas sobre a cultura”, in LARAIA, R.B. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17ª ed., 2005. pp 30-52; 59-64.

“Primeiros movimentos”, “O Passaporte”, in ROCHA, Everardo. O QUE É ETNOCENTRISMO, São Paulo: Brasiliense, 19ª ed., 2004,

pp. 23-55. “Os pais fundadores da etnografia – Boas e Malinowski”, in

LAPLANTINE, F. APRENDER ANTROPOLOGIA, SP: Brasiliense, 2007. PP. 75-92

LARAIA, Roque de B. – “A cultura condiciona a visão de mundo do homem”; “A cultura interfere no plano biológico”; “Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura”, in CULTURA – um conceito antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 21ª Ed, 2007.

Pp. 67 – 86. RIBAS, João C. “O olhar”, in GUERRIERO, Silas (org). ANTROPOS E

PSIQUE – o outro e sua subjetividade. SP: Olho d´Água, 2003. Pp 87-96.

“Pensando em partir”, “Primeiros movimentos”, in ROCHA, E. O QUE É ETNOCENTRISMO, SP: Brasiliense, 12ª ed., 1996.

BOAS, Franz. “Raça e Progresso”, in CASTRO, C. (org.)– Antropologia Cultural, Jorge Zahar, 2004, PP. 67-86. “Os métodos da etnologia”, in CASTRO, Celso (org.) Franz BOAS -

ANTROPOLOGIA CULTURAL, Jorge Zahar, 2004. SANTOS, J. L. O QUE É CULTURA, SP: Brasiliense, 2006 “A cultura em

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KEMP, K. “Identidade cultural”, in GUERRIERO, S (Org.). ANTROPOS E PSIQUE. O outro e sua subjetividade. São Paulo: Ed. Olho D‟água, 5ª. Ed., 2004. LAPLANTINE, F. “Os pais fundadores da etnografia – Boas e Malinowski”, in Aprender Antropologia, Brasiliense, PP.75-92.

HALL, Stuart. IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE, Rio de Janeiro: DP&A, 2003, 7ª ed.

PASSADOR, Luiz Henrique. O campo da antropologia: constituição de uma ciência do homem, in ANTROPOS E PSIQUE – o outro e sua

subjetividade, SP: Olho d´Água, 2003. pp 29-49. ELETRÔNICAS

94

MINER, Horace. Ritos Corporais entre os Nacirema, disponível na

Web, <http://www.aguaforte.com/antropologia/nacirema.htm> Relações étnico-culturais. “Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e

cultura afro-brasileira e africana.” Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. MEC, Brasília: 2004. Texto disponível eletronicamente no endereço,

<http://www.espacoacademico.com.br/040/40pc_diretriz.htm> <http://www.alunosonline.com.br/filosofia/o-que-e-cultura/> acesso

em 20 fev. 2010