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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA INSTITUTO DE QUÍMICA ADNÍVIA SANTOS COSTA MONTEIRO Especiação de Chumbo e Cádmio: desenvolvimento de métodos eletroanalíticos para a avaliação da influência da matéria orgânica natural e substâncias húmicas Araraquara 2017

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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

INSTITUTO DE QUÍMICA

ADNÍVIA SANTOS COSTA MONTEIRO

Especiação de Chumbo e Cádmio: desenvolvimento de métodos

eletroanalíticos para a avaliação da influência da matéria orgânica

natural e substâncias húmicas

Araraquara 2017

ADNÍVIA SANTOS COSTA MONTEIRO

Especiação de Chumbo e Cádmio: desenvolvimento de métodos

eletroanalíticos para a avaliação da influência da matéria orgânica

natural e substâncias húmicas

Tese apresentada ao Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de doutora em Química.

Orientador: Prof.Dr. André Henrique Rosa Co-orientador: Prof. Dr. José Paulo S. Pinheiro

Araraquara 2017

DADOS CURRICULARES

1 IDENTIFICAÇÃO

1.1 Nascimento: 24 de Agosto de 1987

1.2 Nacionalidade: Brasileira

1.3 Naturalidade: Itabaiana-Sergipe

1.4 Filiação: Josefa Júlia dos Santos

Antonio Paz da Costa

Nome em citações bibliográficas: COSTA, A. S.; Costa, Adnivia Santos;

MONTEIRO, A.S.C.; MONTEIRO, ADNÍVIA SANTOS COSTA; MONTEIRO,

ADNÍVIA S.C.;

2 FORMAÇÃO ACADÊMICA

2.1 Graduação em Química Bacharelado

Universidade Federal de Sergipe, UFS, Brasil.

Título do Trabalho de Conclusão de Curso: Uso de espectroscopia de fluorescência

na caracterização das fontes de matéria orgânica dissolvida no estuário do Rio

Piauí.

Período: 2005 - 2008

Orientador: José do Patrocínio Hora Alves

2.2 Mestrado em Química

Universidade Federal de Sergipe, UFS, Brasil.

Título: Caracterização da matéria orgânica dissolvida das bacias hidrográficas do

Estado de Sergipe.

Período: 06/2009- 06/2011

Orientador: José do Patrocínio Hora Alves

3 PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Artigos publicados no período do doutorado

1. WATANABE, C.H.; GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; LIRA, V.S.; KUMAR,

N.T.; BUENO, C.C.; FRACÁCIO, R.; ROSA, A.H. Toxicity assessment of arsenic and

cobalt in the presence of aquatic humic substances of different molecular sizes.

Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 139, p. 1-8, 2017.

2. MONTEIRO, A. S. C.; PARAT, C.; ROSA, A. H., PINHEIRO, J. P. "Towards field

trace metal speciation using electroanalytical techniques and tangential

ultrafiltration". Talanta, v.152, p. 112-118, 2016.

3. GONTIJO, E. S. J.; WATANABE, C. H.; MONTEIRO, A. S. C.; TONELLO, P. S.;

SILVA, G.A.; ROESER, H. M. P.; FRIESE, K.; ROSA, A. H. Distribution and

bioavailability of arsenic, aluminium and iron in natural waters of a mining area in the

Quadrilátero Ferrífero (Brazil) studied by ultrafiltration and diffusive gradients in thin

films. Chemosphere, v. 164, p. 290-298, 2016.

4. SOUZA, S.O.S.; MONTEIRO, A.S.C.; ÁVILA, D.V.L.; CORREIA, F.O.; GARCIA,

C.A.B.; ALVES, J.P.H.; ARAÚJO, R.G.O. Optimization of analytical method for the

simultaneous determination of thorium and uranium in mineral fertilizers by

inductively coupled plasma optical emission spectrometry. Doi. 0103 – 5053. Journal

of the Brazilian Chemical Society, v.27, p. 799-806, 2016.

3.2 Artigos submetidos

1. PINHEIRO, J.P.; MONTEIRO, A.S.C.; JANOT, N.; GROENENBERG, B.J.; ROSA,

A.H. Especiação termodinâmica de metais traço com substâncias húmicas: o modelo

Nica-Donnan. Submetido na revista Química Nova em janeiro 2017.

2. ARGUELHO, M.L.P.M.; ALVES, J.P.H.; MONTEIRO, A.S.C.; GARCIA, C.A.B.

Characterization of dissolved organic matter in an urbanized estuary located in

Northeastern Brazil. Submetido no Journal Environmental Monitoring and

Assessment em 2016

3.3 Trabalhos publicados em anais de eventos científicos

1. GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; WATANABE, C.H.; TONELLO, P.S.; DA

SILVA, G. A.; ROESER, H.M.P.; FRIESE, K.; ROSA, A.H. Effect of humic

substances and iron on the complexation of arsenic in aquatic systems. In 18th

Meeting of International Humic Substances Society (IHSS), período de 11 a 16

setembro 2016, Kanazawa-Japão. (Oral)

2. MONTEIRO, A. S. C.; GONTIJO, E. S. J.; WATANABE, C. H.; SANTOS, F.F.;

PINHEIRO, J. P.; ROSA, A. H. Speciation of Cd, Pb and Zn in Aquatic Systems by

Ultrafiltration and ICP OES. In 9th Symposium for European Freshwater Sciences,

período de 05 a 10 julho de 2015, Geneva - Switzerland. (Pôster)

3. MONTEIRO, A. S. C.; PINHEIRO, J. P.; PARAT, C.; ROSA, A. H. Especiação de

metais por técnicas eletroanalíticas e ultrafiltração tangencial. In XI Encontro

Brasileiro de Substâncias Húmicas, período de 19 a 23 de outubro de 2015, São

Carlos-SP. (Pôster)

4. MONTEIRO, A. S. C.; BUENO, C.C.; GONTIJO, E.S.J.; SANTOS, F.F.; ROSA, A.

H. Distribuição de Cd e Pb nas diferentes frações de ácidos fúlvicos aquáticos. In

XI Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas, período de 19 a 23 de outubro de

2015, São Carlos-SP. (Pôster)

5. MONTEIRO, A. S. C.; PINHEIRO, J. P.; PARAT, C.; ROSA, A. H. Towards on-site

free metal determination in natural waters using tangential utrafiltration with

electrochemical detection. In 8º Congresso Analítico da Argentina, período de 03 a

06 de novembro de 2015, La Plata – Argentina. (Pôster)

6. MONTEIRO, A. S. C.; PINHEIRO, J. P.; PARAT, C.; ROSA, A. H. Análise “on-

site”: uma nova abordagem para o monitoramento de espécies metálicas em

ambientes aquáticos. In 2º Congresso Internacional RESAG (Gestão da água e

monitoramento ambiental), período de 09 a 11 de dezembro de 2015, Aracaju –

SE. (Pôster)

7. GONTIJO, E. S. J.; WATANABE, C. H.; MONTEIRO, A. S. C.; TONELLO, P. S.;

SILVA, G.A.; ROESER, H. M. P.; FRIESE, K.; ROSA, A. H. Análise da distribuição

de metais e metaloides e o papel da matéria orgânica natural utilizando análise

multivariada. In XI Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas, período de 19 a

23 de outubro de 2015, São Carlos-SP. (Pôster)

8. WATANABE, C.H.; GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; ROSA, A.H.;

FRACÁCIO, R. Avaliação ecotoxicológica de arsênio em frações de substâncias

húmicas de diferentes tamanhos moleculares. In XI Encontro Brasileiro de

Substâncias Húmicas, período de 19 a 23 de outubro de 2015, São Carlos-SP.

9. SILVA, E.V.; MONTEIRO, A.S.C.; SANTOS, M.S.; ALVES, J.C.; COSTA, S.S.L.;

GARCIA, C.A.B.; ALVES, J.P.H.; ARAÚJO, R.G.O. Identificação das fontes

emissoras de metais traço em material particulado atmosférico total e inalável de

uma área urbana usando análise de componentes principais. In V Workshop de

Quimiometria, período de 09 a 11 de abril de 2014, em Arembepe-Ba. (Pôster)

10. MONTEIRO, A.S.C.; GONTIJO, E. S. J.; WATANABE, C. H.; PINHEIRO, J.P.

ROSA, A. H.; Fractionation and characterization of dissolved organic matter from

Sorocabinha and Itapanhaú rivers (SP/Brasil). In: 17th Meeting of International

Humic Substances Society (IHSS), período de 1 a 5 de setembro de 2014,

Ioannina, Grécia. (Pôster)

11. WATANABE, C.H.; ROSA, A.H.; FRACÁCIO, R.; LIRA, V.S.; SÁ, T.R.;

GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; Cobalt and aquatic humic substances:

complexation assays and ecotoxicology tests with Ceriodaphnia 8úbia. In: 17th

Meeting of International Humic Substances Society (IHSS), período de 1 a 5 de

Setembro de 2014, Ioannina, Grécia. (Pôster)

12. GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; FERNANDES, M.L.; REIS, D.A.;

DOMINGUES, M.T.; WATANABE, C.H.; TONELLO, P.S.; ROESER, H.M.P.;

FRIESE, K.; ROSA, A.H.; Use of Ultrafiltration and Diffusive Gradients in Thin

Films to Evaluate the Influence of the Dissolved Organic Matter in the Arsenic

Speciation. In: 17th Meeting of International Humic Substances Society (IHSS), 1 a

5 setembro 2014, Ioannina, Greece. (Pôster e oral)

13. GOVEIA, D.; MONTEIRO, A.S.C.; JUIZ, C.O.; ROSA, A.H.; PINHEIRO, J.P.S.;

Complexação de cd(II) e pb(II): interação com nanopartículas e a matéria

orgânica. VII encontro de química ambiental (ENQAmb), período de 6 a 9 de

outubro de 2014, Brasília (DF). (Pôster)

14. MONTEIRO, A. S. C.; GONTIJO, E. S. J.; WATANABE, C. H.; PINHEIRO, J. P.;

ROSA, A. H. Molecular size fractionation, optical properties and characterization of

dissolved organic matter. In I Simpósio em Tecnologia, Inovação e

Sustentabilidade Ambiental, período de 26 a 28 de novembro de 2014, Sorocaba

(SP). (Pôster)

15. GONTIJO, E. S. J.; MONTEIRO, A. S. C.; WATANABE, C. H.; ALMEIDA DOS

REIS, D., SANTOS, F. F.; DOMINGUES, M. T.; OLIVEIRA, E. G., NASCIMENTO,

L. P.; TONELLO, P. S.; ROESER, H. M. P.; ROSA, A. H. Study of the effects of

natural organic matter on aluminium, arsenic and iron speciation. In I Simpósio em

Tecnologia, Inovação e sustentabilidade Ambiental, período de 26 a 28 de

novembro de 2014, Sorocaba (SP). (Pôster)

16. SOUZA, S.O.S.; MONTEIRO, A.S.C.; ÁVILA, D.V.L.; CORREIA, F.O.; GARCIA,

C.A.B.; ALVES, J.P.H.; ARAÚJO, R.G.O. Otimização de método analítico para a

determinação simultânea de Tório e Urânio em fertilizantes minerais por ICP OES.

In 17º Encontro Nacional de Química Analítica (ENQA), período de 06 a 09 de

outubro de 2013, Belo Horizonte, MG. (Pôster)

Trabalhos premiados

1. WATANABE, C.H.; MONTEIRO, A.S.C.; GONTIJO, E. S. J.; ROSA, A.H.; LIRA,

V.S.; BUENO, C.C.; KUMAR, N.T.; FRACÁCIO, R.; ROSA, A.H. Eco-toxicological

assessment of arsenic and cobalt in fractions of aquatic humic substances of

different molecular sizes. Este trabalho recebeu o prêmio de Travel Award como

um dos melhores trabalhos apresentado na forma oral e pôster no 18th

International Conference of International Humic Substances Society (IHSS)

realizado no período de 11 a 16 de setembro de 201, Kanazawa-Japão.

2. BUENO, C.C.; GONTIJO, E.S.J.; MONTEIRO, A.S.C.; DOMINGUES, M.T.;

RANGEL, E.C.; ROSA, A.H.; Arsenic and cadmium removal efficiency by

magnetic Zea mays husk biochar. In I Simpósio em Tecnologia, Inovação e

Sustentabilidade Ambiental, realizado no período de 26 a 28 de novembro de

2014, em Sorocaba-SP. Este trabalho recebeu Mensão Honrosa por ter sido

classificado entre os três apresentados na forma oral.

4 Participação em eventos

1. 8º Congresso Analítico da Argentina, período de 03 a 06 de novembro de 2015, La

Plata – Argentina. (congresso)

2. Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas, período de 19 a 23 de outubro de

2015, São Carlos-SP. (congresso)

3. Workshop in Enviromental Nanotechnology. Programa de Pós-Graduação em

Ciências Ambientais (PGCA), UNESP campus Sorocaba, período de 24 - 25 de

junho de 2015. (outra)

4. I Simpósio em Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade Ambiental, realizado nos

dias 26, 27 e 28 de novembro de 2014, em Sorocaba-SP. (congresso)

5. 17th Meeting of International Humic Substances Society (IHSS), período de 1 a 5

de Setembro de 2014, Ioannina, Grécia. (congresso)

5. Formação e atividade complementar

1. Palestra “Especiação de Metais em Ambientes Aquáticos” ministrada durante a

Disciplina de Poluição Ambiental ofertada pelo curso de Engenharia Ambiental da

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus Sorocaba /SP,

em 06 de maio de 2015, às 08:15h, com duração de 2 (duas) horas/aula.

2. Participação no Curso de Química Forense oferecido pela Renova Cursos e

Eventos, Ribeirão Preto, 12 de abril de 2015, com carga horária de 9 horas.

3. Participação em minicurso: Methods to investigate the nanoparticles in

environmental. Workshop in Environmental Nanotechnology. Programa de Pós-

Graduação em Ciências Ambientais (PGCA), UNESP – campus Sorocaba, 24 de

junho 2015, com carga horária de 3 horas.

4. Participação no Workshop in Enviromental Nanotechnology. Programa de Pós-

Graduação em Ciências Ambientais (PGCA), UNESP campus Sorocaba, período

de 24 - 25 de junho de 2015.

5. Participação em minicurso: SUBSTÂNCIAS HÚMICAS: UM NOVO OLHAR, que

fez parte da programação do XI Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas,

entre os dias 20 e 21 de outubro de 2015, com carga horária de 4 horas.

6. Participação em minicurso: Avances tecnológicos e técnicas cromatográficas y em

detección elemental mediante fluorescência de rayos X. 8º Congresso Analítico da

Argentina, 04 de novembro de 2015, La Plata - Argentina.

7. Participação no treinamento de Configuração e Instalação do equipamento VA

Stand 663 e IME 663. (Carga horária: 16h). Universidade Federal de Alagoas –

Arapiraca / AL, no período de 13 e 14 de janeiro de 2015.

8. Participação em minicurso: Técnicas de Análises Inorgânicas por via úmida –

Uma abordagem ambiental. I Simpósio em Tecnologia, Inovação e

Sustentabilidade Ambiental, realizado nos dias 26, 27 e 28 de novembro de 2014,

em Sorocaba-SP.

9. Participação no treinamento de Configuração e Instalação do equipamento VA

Stand 663 e IME 663. (Carga horária: 16h). Universidade Federal de Alagoas -

Arapiraca/ AL, no período de 13 e 14 de janeiro de 2015.

1. Participação em bancas de trabalhos de conclusão

Participação em banca de Mayra Luna Favero. Análise da germinação e do

crescimento da Crotalaria Juncea em solo degradado incorporado em rejeitos da

mineração de fosfato. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Engenharia Ambiental) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho àquela que me amou com minhas

imperfeições, medo e inseguranças.

Mãe dedico a senhora (In Memoriam) porque mesmo não

estando mais aqui, ainda é a minha motivação, exemplo

de mulher guerreira, mãe e amiga. Sonhamos e

esperamos juntas por esse momento, faltando tão pouco

Deus te colheu do meu jardim e sei que a senhora é a flor

mais linda e graciosa do céu, um dia nos reencontraremos

e agradecerei, por todo amor, paciência, pelo colo sempre

que voltava pra casa e principalmente por sempre

acreditar e lutar por mim quando já não me achava capaz.

Você faz muita falta, pois sempre foi meu porto seguro, te

amo hoje muito mais que ontem! Nunca te esquecerei...

Amo você!!

AGRADECIMENTOS

A Deus por iluminar meu caminho e me dar forças para seguir em frente, por ser

meu refúgio, minha esperança e perseverança, pela saúde e por ter tornado tudo

possível. Meu Deus eu creio, adoro e espero sempre em Ti.

A minha mãe Josefa Júlia (in memoriam), meu pai Antonio Paz (meu maior

incentivador) e minha irmã Adnycleive que são e sempre serão minha inspiração

para vencer. O amor e a confiança que sentem por mim, me fazem vencer todos os

obstáculos. Amo muito vocês, vocês são tudo pra mim.

Ao meu esposo Denyson, por estar sempre ao meu lado e por não me deixar

desistir, por sempre apoiar meus sonhos, por compartilhar os momentos difíceis, por

isso, digo que se amor é decisão eu decidi amar Você. Te amo!

À minha bisavó Maria pequena que sempre me apoiou desde o primeiro dia em que

decidi viver esse sonho, sendo meu anjo protetor, sempre com palavras de

motivação e amor.

Aos meus familiares, tios, tias, primos, avós, amigos de Carira e Aracaju por

acreditar, incentivar e sempre me oferecerem palavras de conforto. Principalmente

pelo apoio no período de enfermidade e falecimento de minha mãe.

Ao meu orientador Dr. André Henrique Rosa por ter me acolhido em seu laboratório,

obrigada pelos ensinamentos, confiança e por todas as oportunidades.

Ao Dr. Paulo Pinheiro por ter sido além de um co-orientador, um professor amigo,

muito paciente e sempre prestativo, obrigada pelo conhecimento compartilhado.

Muito obrigada por tudo!

À Cláudia Watanabe que desde que cheguei em Sorocaba foi uma amiga-

companheira de todos os momentos, sempre disposta a ajudar, ensinar e por ter

uma excelente qualidade: a de saber ouvir! Obrigada por todas as vezes que me

ouviu e me aconselhou.

A EriK Sartori por todo suporte experimental, construção dos mapas, discussões de

resultados e parceria nos artigos, além da ajuda de sempre.

A Carol Bueno amiga de uma espiritualidade enorme agradeço por sempre me

ensinar a observar o lado bom das situações. Obrigada pela amizade e conselhos.

Aos demais amigos do laboratório (Ignácio Montero, Ely e Minéia) pela amizade,

momentos compartilhados e pela ajuda de sempre. Aos amigos da UNESP

Araraquara principalmente Ariane e Felipe por me acolherem tão bem e serem

solícitos sempre que eu preciso. Aos amigos anjos Rennan Geovanny e Wander

Botero pela disponibilidade de sempre.

Aos queridos Sr. Oswaldo e Sra. Lídia pelos 3 anos que me receberam em sua

casa, pelo carinho, atenção, orações e ensinamentos. Às meninas que passaram

pela pensão (Andréia, Nat, Elaine, Carol) que fizeram minha estadia muito mais

alegre.

À toda equipe de profissionais da UNESP- Sorocaba, principalmente a Letícia e

Suzan pela disponibilidade e suporte para o desenvolvimento deste trabalho.

À FAPESP pela bolsa concedida (processo 2013/14122-0) e apoio financeiro para o

desenvolvimento deste trabalho.

RESUMO

Os estudos de especiação em águas naturais são a chave para a compreensão do

comportamento e destino dos íons metálicos no ambiente, uma vez que estes elementos

podem ser encontrados em diversas formas químicas (livres ou complexados). A

mobilidade, biodisponibilidade e transporte desses íons podem ser influenciados pela

presença da matéria orgânica natural (MON) e as substâncias húmicas aquáticas (SHA),

principais ligantes presente no ambiente aquático. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho

foi desenvolver métodos eletroanalíticos utilizando a cronopotenciometria de redissolução

anódica (SCP) e a técnica de redissolução nernstiana na ausência de gradientes (AGNES)

capazes de determinar a concentração de cádmio total (CdT) e livre (CdL), respectivamente,

diretamente em amostras de águas dos rios Itapanhaú (RI) e Sorocabinha (RS) localizados

no estado de São Paulo, que possibilitem uma futura aplicação on-site. E avaliar a influência

da MON e SHA extraídas desses rios nas interações com o Cd(II) e/ou Pb(II). Para

investigar o efeito da sazonalidade foram coletadas amostras de água no março e novembro

de 2014, as quais foram caracterizadas através de parâmetros de qualidade da água,

carbono orgânico dissolvido (COD), espectroscopia UV/Vis e concentrações de metal total,

dissolvido e “livre” (ultrafiltrado em 1kDa com fluxo tangencial - UFT). As SHA e suas

frações (ácido húmico (AH) e fúlvico (AF) foram caracterizadas por meio da análise

elementar, RMN 13C e fracionadas através da UFT com membranas de 100, 30,10, 3 e 1

kDa. Os métodos desenvolvidos de SCP (determinação do CdT) e de AGNES

(determinação do CdL) aplicados nas amostras de águas in natura e ultrafiltradas em 1kDa,

foram validados por comparação com a espectroscopia de absorção atômica com

atomização em forno de grafite (GF-AAS). Os resultados encontrados revelaram que as

principais diferenças entre as águas dos RI e RS estão associadas possivelmente à maior

influência da água do mar e da sazonalidade no RS. A composição estrutural das SHA e AF

apresentou maior predominância de compostos alifáticos. A distribuição do COD após o

fracionamento molecular mostrou que as frações predominantes nas SHA e AF estiveram

entre 10 e 1 kDa, enquanto que para os AH, 50% do COD é maior que 100kDa. Os

resultados de SCP (LD de 1,6x10-9 mol L-1) e AGNES (LD de 1,9x10-9 mol L-1) revelaram o

seu potencial na quantificação do Cd(II) total e livre, respectivamente, nas amostras

estudadas. Os estudos da interação de Cd(II) e Pb(II) com os AF e AH revelaram que

ambos os materiais dos RI e RS apresentaram maior complexação com Pb(II), e a

complexação aumenta com o aumento do pH.

Palavras-chave: Ácidos fúlvicos. Ácidos húmicos. SCP. AGNES.

ABSTRACT

The study of speciation in natural waters are crucial to understand the behaviour and fate of

metal ions in the environment, since these elements can be found in different chemical forms

(complexed or free). The mobility, bioavailability and transport of these ions can be

influenced by natural organic matter (NOM) and aquatic humic substances (AHS), which are

the main ligands in aquatic environments. The objective of this thesis was to develop

electroanalytical methods using the techniques stripping chronopotenciometry (SCP) and

absence of gradients and nernstian stripping (AGNES), which are able to determine the

concentration of total (TCd) and free (FCd) cadmium directly in water samples from the rivers

Itapanhaú (RI) and Sorocabinha (RS), located in the state of São Paulo. It would make

possible a future on-site measurement applications. This study also aimed to evaluate the

influence of NOM and AHS extracted from these rivers in the interactions with Cd(II) and

Pb(II). Water samples were taken in march and november/2014 in order to investigate the

effect of seasonality. These samples were characterised using water quality parameters,

dissolved organic carbon (DOC), UV/VIS spectroscopy and concentrations of total, dissolved

and free metal (ultrafiltered through 1 kDa membrane with tangential flow- TUF). AHS and

their fractions (humic, HA, and fluvic acid, FA) were characterised by elemental analysis,

NMR 13C. They were fractionated through TUF through membranes 100, 30, 10, 3 and 1

kDa. The methods developed of SCP (TCd determination) and AGNES (CdL determination)

applied in the in natura and ultrafiltered (1 kDa) samples were validated using graphite

furnace atomic absorption spectrometry (GFAAS). The results showed that the main

differences between the waters from RI and RS are related probably to the influence of

seawater and seasonality. The structural composition of AHS and FA presented higher

content of aliphatic compounds. The distribution of DOC after size fractionation showed that

the predominant fractions in the AHS and FA were between 10 and 1 kDa. On the other

hand, 50% of the material was higher than 100 kDa in the HA. The results of SCP (LoD:

1.6x10-9 mol L-1) and AGNES (LoD: 1.9x10-9 mol L-1) revealed their potential in quantification

of total and free Cd(II), respectively, in the samples analysed. The study of interactions of

Cd(II) and Pb(II) with FA and HA showed that both materials from RI and RS presented

higher complexation with Pb(II). The complexation increases with the pH for both materials.

Keywords: fluvic acids, humic acids, SCP, AGNES.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Exemplo de curva de SSCP na (•) ausência do ligante, M, e () na

presença do ligante, M+L, indicando a variação do potencial de deposição, Ed,1/2 e

tempo limite, .. ......................................................................................................... 43

Figura 2- Mapa do Estado de São Paulo indicando a localização dos pontos de

amostragem os rios Sorocabinha e Itapanhaú. ......................................................... 51

Figura 3- Pontos de amostragem (a) rio Itapanhaú e (b) rio Sorocabinha. ............... 52

Figura 4- Sistema de ultrafiltração em fluxo tangencial utilizado para obtenção da

fração dos metais livres (M). ..................................................................................... 55

Figura 5- Ilustração da extração das substâncias húmicas das águas dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú. ......................................................................................... 58

Figura 6- Procedimento de extração e purificação dos ácidos fúlvicos e húmicos

presentes nas substâncias húmicas aquáticas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú. .. 59

Figura 7- Esquema do fracionamento molecular dos extratos de SHA, AF e AH dos

rios Itapanhaú e Sorocabinha. ................................................................................... 62

Figura 8- Sistema utilizado para a realização dos experimentos eletroquímicos. .... 62

Figura 9- Exemplo do eletrodo de trabalho impressos/serigrafados (screen-printed)

de carbono utilizado neste trabalho. .......................................................................... 64

Figura 10- Pré-tratamento eletroquímico do eletrodo impresso de carbono. ............ 64

Figura 11- Resultado do teste cinético para obtenção do tempo de equilíbrio

representativo dos experimentos realizados com as amostras de SHA, AF e AH

(100 mg L-1) nas condições de pH e força iônica natural das águas dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú. ......................................................................................... 68

Figura 12- Curva de temperatura de pirólise (curva à esquerda) e de atomização

(curva à direita) para solução aquosa de Cd(II) 4,8x10-8 mol L-1. .............................. 70

Figura 13- Descrição da metodologia de especiação de Cd(II) em águas naturais por

AGNES, UF-SCP e UF-GF-AAS proposta por este trabalho..................................... 71

Figura 14- Definição operacional das frações do metal total, dissolvido e livre. ....... 78

Figura 15- Dendograma: cálculo da distancia Euclidiana e método de ligação Ward’s

para as variáveis: metal total, metal dissolvido e metal livre em águas coletadas dos

rios Sorocabinha e Itapanhaú, Estado de São Paulo. ............................................... 79

Figura 16- Dendograma: calculo da distancia Euclidiana e método de ligação Ward’s

para as amostras de água em relação aos meses de março (período chuvoso) e

novembro (período seco) de 2014 coletadas nos rios Sorocabinha e Itapanhaú,

Estado de São Paulo. ................................................................................................ 80

Figura 17- Distribuição dos íons metálicos nas frações livres, complexada e

particulada encontrados no rio Sorocabinha no período chuvoso e seco. ................ 84

Figura 18- Distribuição dos íons metálicos nas frações livre, complexada e

particulada encontrados no rio Itapanhaú no período chuvoso e seco. .................... 85

Figura 19- Espectros de RMN para as amostras de SHA e AF dos rios Itapanhaú e

Sorocabinha nos períodos estudados. ...................................................................... 88

Figura 20- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento

molecular das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das

amostras do rio Itapanhaú na coleta 2 comparando-as com a amostra in natura

(novembro/2014). ...................................................................................................... 92

Figura 21- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento

molecular das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das

amostras do rio Sorocabinha na coleta 2 comparando-as com a amostra in natura

(novembro/2014). ...................................................................................................... 93

Figura 22- Comparação da distribuição de COD nas seis frações obtidas após

fracionamento molecular das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF

purificados das amostras do rio Sorocabinha e Itapanhaú (novembro/2014). .......... 94

Figura 23- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento

molecular das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das

amostras do rio Itapanhaú (a) e Sorocabinha (b) da coleta 2 (novembro/2014). ...... 95

Figura 24- Distribuição dos metais Zn, Cu, Fe, Al presentes originalmente nas

frações do COD das amostras de AF e AH dos rios Sorocabinha (a e b) e Itapanhaú

(c e d) extraídos da coleta 2. ..................................................................................... 96

Figura 25- Comparação do metal total adicionado com os resultados de metal das

amostras ultrafiltradas medidas por SCP e com o metal livre medido diretamente por

AGNES nas amostras do rio Itapanhaú (a) e Sorocabinha (b). ............................... 102

Figura 26- Curvas de (obtidas por meio da AGNES) para o ácido fúlvico do

rio Itapanhaú período chuvoso (AF RI-02), comparando as diferenças de

complexação do Cd(II) (pH 7) e Pb(II) (pH 6,5) e força iônica 0,01mol L-1. ............. 106

Figura 27- Comparação das curvas de (obtidas por meio da AGNES) para o

AF e AH do rio Itapanhaú período chuvoso, experimentos realizados com Cd(II) em

pH 7 (a) e Pb(II) em pH 6,5 (b), força iônica 0,01mol L-1. ....................................... 107

Figura 28- Influência do pH na complexação do Cd(II) (pH 6, 7 e 8) (a), e do Pb(II)

em pH (5, 5,5 e 6,5 (b), com o AF do rio Itapanhaú. ............................................. 108

Figura 29- Influência da origem do material extraído na complexação do Cd AF RS e

AF RI-02 (pH 6, 7 e 8) (a), e do Pb AF RS-02 e AF RI-02 em pH (5, 5,5 e 6,5) (b). 109

Figura 30- Influência da sazonalidade na complexação do Cd e AF RI (pH 6, 7 e 8)

(a) e do Pb AF RI em pH (5, 5,5 e 6,5) (b), para os períodos chuvoso (01) e seco

(02). ......................................................................................................................... 110

Figura 31- Curvas de SSCP experimental e teórica para o Cd (a) e Pb (b) com a

SHA extraída do rio Sorocabinha a pH 6. ............................................................... 111

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Valores de constantes de velocidade de perda da molécula de água da

esfera interna de coordenação para o Al, Ca, Cd, Co, Cu, Cr, Fe, Hg, Mn, Ni, Pb e

Zn. ............................................................................................................................. 37

Tabela 2- Características e condições operacionais utilizadas no ICP OES com vista

axial para a análise multielementar de Al, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn nas

amostras após digestão ácida. .................................................................................. 56

Tabela 3- Valores dos limites de detecção e de quantificação para os metais Al, Cd,

Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn analisados por ICP OES. ........................................ 57

Tabela 4- Informações sobre a concentração dos ligantes utilizados nos

experimentos de e AGNES em função do pH. .......................................................... 73

Tabela 5- Parâmetros eletroquímicos utilizados nos experimentos para Cd(II) e

Pb(II). ........................................................................................................................ 73

Tabela 6- Resultados dos parâmetros físico-químicos das amostras coletadas no rio

Itapanhaú e Sorocabinha em dois períodos de amostragem no ano de 2014. ......... 74

Tabela 7- Comparação das médias de carbono orgânico dissolvido encontradas

neste trabalho com outros rios nacionais e internacionais. ....................................... 76

Tabela 8- Resultados de MT, MD, MP, ML, MC, determinados nas águas do rio

Sorocabinha coletadas na coleta 1 (março/2014) e coleta 2 (novembro/2014)......... 81

Tabela 9- Resultados de MT, MD, MP, ML, MC, determinados nas águas do rio

Itapanhaú coletadas no período chuvoso (março/2014) e no período seco

(novembro/2014). ...................................................................................................... 82

Tabela 10- Resultados da composição elementar livre de cinzas das SHA e AF

extraídos das amostras de água coletadas nos rios Itapanhaú (SHA RI) e (AF RI) e

Sorocabinha (SHA RS) e (AF RS) nos dois períodos estudados. ............................. 87

Tabela 11- Valores de porcentagens relativas de diferentes grupos de carbono

presentes nas amostras de SHA e ácidos fúlvicos extraídos dos rios Itapanhaú (SHA

RI) e (AF RI) e Sorocabinha (SHA RS) e (AF RS) em março/2014 em

novembro/2014. ........................................................................................................ 87

Tabela 12- Resultados das distribuições do COD (%massa) das amostras extraídas

dos rios Itapanhaú (SHA, AF, AH RI) e Sorocabinha (SHA, AF, AH RI) em março

(01) e novembro (02) /2014. ...................................................................................... 91

Tabela 13- Comparação dos resultados da determinação de Cd total por SCP e GF-

AAS nas amostras coletadas nos rios Sorocabinha e Itapanhaú em novembro/2014.

.................................................................................................................................. 99

Tabela 14- Comparação dos resultados da determinação de Cd livre nas amostras

ultrafiltradas acidificadas por SCP e GF-AAS. ........................................................ 100

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Ácidos fúlvicos.

AGNES Do inglês, absence of gradients and nernstian equilibrium stripping,

redissolução nernstiana na ausência de gradientes.

AH Ácidos húmicos.

ANOVA Análise de variância.

AM Amazonas

ASV Do inglês anodic stripping voltammetry, voltametria de redissolução

anódica.

Cd(II) Espécie livre do cádmio.

CdT Concentração de cádmio total.

CdL Concentração de livre.

CLE – SV Do inglês competitive ligand exchange–stripping voltammetry,

voltametria de redissolução competitiva por troca de ligante.

COD Carbono orgânico dissolvido.

CONAMA Conselho nacional de meio ambiente.

DBO Demanda bioquímica de oxigênio.

DC-SV Do inglês direct current stripping voltammetry, voltametria de

redissolução de corrente contínua.

DGT Do inglês diffusive gradient in thin films, gradiente difusivo em filmes

finos.

DMT Do inglês donnan membrane technique, técnica de membrana Donnan.

DP-SV Do inglês differential pulse stripping voltammetry, voltametria de pulso

diferencial.

DTA Análise térmica diferencial.

EDTA Do inglês ethylenediamine tetraacetic acid, ácido etilenodiamino tetra-

acético

EIS Eletrodo de íons seletivo.

FM Fracionamento molecular.

FT Fósforo total.

GF AAS Espectrometria de absorção atômica com atomização em forno de

grafite.

GIME-VIP Do inglês gel integrated microelectrode, microeletrodo integrado a gel.

HCA Do inglês hierarchical cluster analysis, análise de agrupamento

hierárquico.

HMDE Do inglês hanging mercury drop electrode, eletrodo de gota de

mercúrio convencional.

ICP OES Espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado.

IHSS Do inglês international humic substances society, sociedade

internacional de substâncias húmicas.

IS Do inglês inner sphere, esfera interna.

kDa Unidade de massa atômica

M Metal livre.

ML Metal complexado.

LOD Limite de detecção.

LOQ Limite de quantificação.

MD Metal dissolvido.

MES Ácido 2-N- morfolinoetanosulfônico.

MFE Do inglês mercury film electrode, eletrodo de filme de mercúrio.

ML Metal complexado.

MOD Matéria orgânica dissolvida.

MON Matéria orgânica natural.

MOP Matéria orgânica particulada.

MOPs Ácido 3-N-morfolinopropanosulfônico.

MP Metal particulado.

M-SHA Complexo metal-substância húmica aquática.

MT Metal total.

NT Nitrogênio total.

OD Oxigênio dissolvido.

OS Do inglês outher sphere, esfera externa.

Pb(II) Espécie livre do chumbo.

pH Potencial hidrogeniônico.

PLM Do inglês Permeation Liquid Membrane, permeação em membrana

líquida.

RI Rio Itapanhaú.

rpm Rotação por minuto.

RMN Ressonância magnética nuclear.

RS Rio Sorocabinha.

SCP Do inglês stripping chronopotentiometry, cronopotenciometria de

redissolução anódica.

SHA Substâncias húmicas aquáticas.

SSCP Do inglês Scanned deposition potential, varredura de potencial de

deposição.

SW-SV Do inglês Direct current stripping voltammetry, voltametria de onda

quadrada.

TG Termogravimétrica.

UFT Ultrafiltração em fluxo tangencial.

UV-VIS Ultravioleta-visível.

VRA Voltametria de redissolução anódica.

24

LISTA DE SÍMBOLOS

AgCl cloreto de prata.

Ag prata

As arsênio.

Au ouro

Al alumínio

C carbono

Cd cádmio

Cl- cloreto.

Cr cromo Cu cobre.

concentração total do ligante.

concentração do metal na solução.

concentração do ligante livre na solução.

concentração do complexo na solução.

concentração do metal livre no interior da solução.

concentração do ligante livre no interior da solução.

concentração de íon metálico amalgamado.

concentração de íon metálico no interior da solução.

inverso do tempo e a derivada do potencial.

potencial.

. potencial de deposição.

potencial de redução padrão do metal.

25

potencial de deposição aplicado ao eletrodo.

F constante de Faraday.

Fe ferro.

constante de proporcionalidade.

HCl ácido clorídrico.

H3PO4 ácido fosfórico

Hg mercúrio.

corrente de reoxidação.

corrente de deposição.

constante de velocidade de formação do complexo.

constante de velocidade de dissociação do complexo.

K constante de estabilidade.

constante de formação para o complexo de esfera externa.

constante de dissociação para o complexo de esfera externa.

e

constantes de velocidade para a substituição da molécula de por

no complexo da esfera interna.

constante de velocidade de perda da molécula de água da esfera.

interna.

inclinação (slope) da curva de calibração.

n número de elétrons envolvidos no processo de redução/oxidação.

Mn manganês.

Ni níquel.

Pb chumbo.

Pt platina.

carga associada com o Hg depositado.

26

R constante dos gases.

desvio padrão dos ruídos.

tempo de transição.

tempo.

temperatura.

tempo de deposição

energia da interação eletrostática adimensional.

taxa de varrimento/ varredura.

Y ganho ou fator de pré-concentração.

constante de proporcionalidade.

Zn zinco.

x metal ausente na fração.

< os valores após os símbolos correspondem aos valores do limite de

detecção obtidos por ICP OES.

27

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 29

2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 32

2.1. Matéria orgânica natural, substâncias húmicas e sua interação com

espécies metálicas .................................................................................................. 32

2.2. Descrição da complexação de metais traço com ligantes em sistemas

aquáticos.................................................................................................................. 34

2.2.1. Mecanismo de Eigen ...................................................................................... 36

2.3. Técnicas analíticas para análise de especiação .......................................... 38

2.3.1. Técnicas eletroanalíticas de redissolução ...................................................... 39

2.3.1.1. Cronopotenciometria de redissolução (SCP) ............................................ 39

2.3.1.2. Técnica de redissolução nernstiana na ausência de gradientes (AGNES)43

2.4. Ultrafiltração em fluxo tangencial (UFT) ....................................................... 45

2.5. Cádmio e chumbo no ambiente ..................................................................... 46

2.5.1. Cádmio ........................................................................................................... 47

2.5.2. Chumbo .......................................................................................................... 47

3. OBJETIVOS ..................................................................................................... 49

3.1. Objetivo geral .................................................................................................. 49

3.2. Objetivos específicos ..................................................................................... 49

4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 51

4.1. Área de estudo e amostragem ....................................................................... 51

4.2. Caracterização das águas in natura dos rios ............................................... 53

4.2.1. Qualidade da Água ......................................................................................... 53

4.2.2. Determinação do carbono orgânico dissolvido (COD) .................................... 53

4.2.3. Espectroscopia na região do Ultravioleta-Visível (UV-Vis) ............................. 54

4.2.4. Determinação das frações do metal total, dissolvido e livre presentes

originalmente nas águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú ..................................... 54

4.2.5. Análise exploratória dos dado ......................................................................... 57

4.3. Extração das substâncias húmicas aquáticas presentes nas águas dos

rios Sorocabinha e Itapanhaú ................................................................................ 57

4.3.1. Extração e purificação das frações (ácidos húmicos e fúlvicos) presentes no

extrato das substâncias húmicas aquáticas .............................................................. 59

4.4. Caracterização das substâncias húmicas aquáticas e suas frações ......... 60

28

4.4.1. Composição Elementar ................................................................................... 60

4.4.2. Espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN ¹³C) ...................... 60

4.4.3. Análise Térmica .............................................................................................. 61

4.5. Fracionamento molecular das substâncias húmicas aquáticas e suas

frações ..................................................................................................................... 61

4.6. Experimentos Eletroquímicos ....................................................................... 62

4.6.1. Produção do eletrodo de trabalho ................................................................... 63

4.6.2. Desenvolvimento da metodologia eletroanalítica utilizando as técnicas SCP e

AGNES para determinação de cádmio total e livre nas amostras de água dos rios

Itapanhaú e Sorocabinha, que possibilite uma futura aplicação on-site .................... 65

4.6.2.1. Experimentos de cronopotenciometria de redissolução (SCP) em meio

ácido (metal total nas amostras in natura e ultrafiltradas acidificadas) ..................... 66

4.6.2.2. Experimentos de AGNES: determinação do Cd(II) livre nas amostras in

natura....... ................................................................................................................. 66

4.6.2.3. Experimentos de ultrafiltração com membranas de 1kDa para a validação

da metodologia proposta ........................................................................................... 67

4.6.2.4. Determinação do Cd(II) por GF-AAS ........................................................ 69

4.6.3. Estudo das interações do Cd(II) e Pb(II) com os ácidos fúlvicos e húmicos

utilizando AGNES ...................................................................................................... 72

4.7. Descarte de resíduos ...................................................................................... 73

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 74

5.1. Caracterização das amostras de águas “in natura” dos rios Sorocabinha

e Itapanhaú .............................................................................................................. 74

5.2. Influência da matéria orgânica natural na especiação dos metais

originalmente presentes nas águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú ............ 77

5.3. Caracterização das substâncias húmicas aquáticas e suas frações ......... 86

5.4. Fracionamento molecular das substâncias húmicas aquáticas e suas

frações ..................................................................................................................... 90

5.5. Desenvolvimento da metodologia eletroanalítica utilizando as técnicas

SCP e AGNES para determinação de cádmio total e livre nas amostras de

água dos rios Itapanhaú e Sorocabinha, que possibilite uma futura aplicação

on-site ...................................................................................................................... 97

5.5.1. Determinação de cádmio total na amostra in natura por SCP ........................ 97

5.5.2. Determinação de cádmio total nas amostras ultrafiltradas (<1 kDa)............... 99

5.5.3. Determinação de cádmio livre na amostra in natura por AGNES ................. 101

29

5.6. Estudo das interações do Cd(II) e Pb(II) com os ácidos fúlvicos e

húmicos purificados dos rios Itapanhaú e Sorocabinha em diferentes

estações utilizando AGNES .................................................................................. 104

6. CONCLUSÃO ................................................................................................. 112

7. TRABALHOS FUTUROS ............................................................................... 114

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 115

29

1. INTRODUÇÃO

A crescente industrialização e expansão demográfica têm, inevitavelmente,

introduzido poluentes no ambiente, ocasionando, por exemplo, a degradação dos

recursos hídricos (KAUSHIK et al., 2009; OTERO et al., 2015). Um dos poluentes

mais comuns encontrados em ambientes aquáticos são os metais traço (DANG, et

al., 2015). O termo “metais traço” tem sido utilizado para definir elementos químicos

que em baixas concentrações no ambiente podem vir a constituir uma fonte

potencial para a poluição ambiental (MARTINS et al., 2011). Os metais traço

desempenham um papel muito importante no ambiente, pois em sua maioria são

essenciais à vida em concentrações moderadas e tóxicos em concentrações

elevadas.

Sendo assim, a importância do estudo desses metais nos ambientes

aquáticos está relacionada aos riscos de contaminação dentro da cadeia trófica,

visto que os organismos aquáticos tendem a acumular metais em seus tecidos,

mesmo quando a água possui níveis desses compostos abaixo da concentração

máxima tolerada pelas legislações vigentes, como por exemplo, a resolução nº

357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). E geralmente são

considerados persistentes, bioacumulativos e não degradáveis.

Os metais traço podem ser encontrados no ambiente aquático em uma

variedade de formas (livres (M) ou complexados (ML)). Na coluna d’água, os íons

metálicos podem estar associados ao material particulado (partículas orgânicas ou

inorgânicas em suspensão, adsorvido ou assimilado por organismos vivos) e à

fração dissolvida na forma de íons livres hidratados e complexados a ligantes

orgânicos (macromoléculas ou ligantes coloidais, por exemplo, aminoácidos,

carboidratos, substâncias húmicas (ácidos húmicos e fúlvicos)) e inorgânicos

(HCO3-, CO3

2-, SO42-, Cl-, OH-) (BUFFLE, 1988).

Os íons metálicos livres e/ou ligados fracamente aos compostos orgânicos

e/ou inorgânicos presentes na fração dissolvida tem uma biodisponibilidade

superior do que os presentes no material particulado e formando complexos

estáveis, e, portanto, apresentam uma maior toxicidade (MONTEIRO, et al., 2016).

E em função da forma química como ele está presente nessa fração, das quais

nem todas são igualmente tóxicas, tem-se uma maior ou menor absorção por parte

da biota (TEMPLETON et al., 2000).

30

O conhecimento convencional, em estudos toxicológicos é de que as

espécies que controlam a biodisponibilidade do metal traço são os cátions livres

hidratados (MOREL;HERING, 1993; TORO et al., 2001), porém, devido às águas

naturais apresentarem uma multiplicidade de ligantes capazes de fazer ligações

com íons metálicos, apenas uma pequena parte do metal total dissolvido existe

como cátions livres hidratados (BUFFLE, 1988).

Nesse contexto, podemos concluir que a biodisponibilidade dessas espécies

metálicas é influenciada pela sua forma encontrada na natureza e não só pela sua

concentração total (JAMALIA, et al., 2009; MOREL;HERING, 1993). E assim surge

o interesse nos estudos em especiação química de metais traço.

Especiação química, de acordo com a união internacional de química pura e

pura e plicada (IUPAC do inglês, international union of pure and applied chemistry),

consiste na distribuição de um elemento entre espécies químicas definidas em um

sistema. Em outras palavras, é a distribuição das diferentes espécies de um dado

elemento químico numa amostra, considerando as espécies complexadas e não

complexadas e a distinção entre os diferentes estados de oxidação. A análise de

especiação é descrita como procedimentos analíticos de identificação e/ou medida

quantitativa de uma ou mais espécies químicas presentes em uma amostra.

A análise de especiação de metais traço em águas naturais é complicada,

uma vez que a tese de um sistema natural em equilibrio químico não é

normalmente válida no meio ambiente, pois cada uma das espécies metálicas pode

se comportar de maneira diferente em termos de mobilidade e reatividade, estando

ainda sujeitas às mudanças de condições da matriz (temperatura, pH e força

iônica). Por outro lado assumir que apenas o íon metálico livre é toxico traduz uma

simplificação enorme de um sistema muito complexo.

Sendo assim, os modelos e experimentos de especiação química de metais

traço com diferentes superfícies/agentes complexantes em águas naturais são a

chave para a compreensão da biodisponibilidade, transporte e mobilidade dos

metais traço no ambiente. Para responder a este desafio têm sido desenvolvidas

plataformas de modelos de especiação termodinâmica (por exemplo, Visual MinteQ

(GUSTAFSSON, 2006), ECOSAT (KEIZER; VAN RIEMSDIJK, 1995) e/ou

ORCHESTRA (MEEUSSEN, 2003) além de técnicas e métodos analíticos capazes

de medir a concentração de íons metálicos livres e de realizar estudos de

especiação dinâmica aos níveis de concentrações de metais traço em águas

31

naturais (TOWN; VAN LEEWEN, 2001; TOWN; VAN LEEUWEN 2003), uma vez

que as quantidades de metais traço presentes em águas naturais são difíceis de

medir e determinar, os cátions livres é ainda mais desafiador, visto que a sua

concentração muitas vezes é encontrada no intervalo inferior ou igual a nanomolar

(MONTEIRO et al., 2016).

Frente ao exposto, este trabalho apresenta o desenvolvimento de métodos

usando técnicas eletroanalíticas, como a cronopotenciometria de redissolução

anódica (SCP) e a técnica de redissolução nernstiana na ausência de gradientes

(AGNES) em conjunto com a ultrafiltração em fluxo tangencial (UFT) com posterior

detecção por espectrometria de absorção atômica com atomização em forno de

grafite (GF-AAS) para a determinação da concentração do cádmio total e livre em

amostras de águas naturais dos rios Itapanhaú (RI) e Sorocabinha (RS), testando a

viabilidade do método proposto para futuras aplicações on-site. Além disso, nesse

trabalho também foi avaliado às interações de Pb(II) e Cd(II) (determinados usando

AGNES) com os ácidos fúlvicos e húmicos extraídos a partir das águas naturais

destes dois rios RS e RI de características diferentes e em duas estações do ano.

32

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Matéria orgânica natural, substâncias húmicas e sua interação com

espécies metálicas

A matéria orgânica natural (MON) consiste em toda matéria orgânica

presente nos ecossistemas naturais, diferindo da matéria orgânica viva e dos

compostos de origem antropogênica. Encontrada em águas naturais, é constituída

de uma mistura complexa de vários compostos, sendo que, a sua maior parte

(~80%) ainda possuem estrutura química indefinida (BUFFLE, 1988) com tempo de

permanência mais longo no ambiente e relativamente resistente à degradação. Os

outros 20% da MON correspondem aos compostos com estrutura química definida,

tais como carboidratos e aminoácidos (ROSA et al., 2004). A composição desta

mistura pode estar relacionada à sua origem.

Quanto a sua distribuição no ambiente aquático, pode ser encontrada como

matéria orgânica dissolvida (MOD) ou como matéria orgânica particulada (MOP). A

MOD ou carbono orgânico dissolvido (COD) é definida operacionalmente como a

fração que atravessa uma membrana de porosidade 0,45 μm e geralmente constitui

a maior parte da matéria orgânica presente em água de rios. Por sua vez, a MOP é

aquela que fica retida na membrana de 0,45 μm (THURMAN, 1981).

Estima-se que cerca de 50% do COD em águas superficiais consiste de

matéria orgânica refratária do tipo substâncias húmicas aquáticas (SHA). SHA são

definidas como macro-moléculas complexas, constituídas de diferentes estruturas

aromáticas e alifáticas, ricas em grupos funcionais, contendo oxigênio, como por

exemplo, ácidos orgânicos polares. As SHA são de ocorrência natural (biogênicas),

heterogêneas, apresentam coloração escura, com diferentes massas molares e

tamanhos provenientes da composição de resíduos animais e vegetais bem como,

pela atividade de síntese de microrganismos (ROCHA; ROSA, 2003).

Estas substâncias são transportadas para as águas naturais (rios, lagos e

oceanos) por meio de processos de lixiviação e/ou erosão dos solos, sendo estas

de origem alóctone, como também podem ser produzidas diretamente no meio

aquático por decomposição de constituintes celulares de organismos aquáticos

nativos, sendo estas de origem autóctone (ROMÃO et al., 2003).

33

As substâncias húmicas aquáticas (SHA) podem ser extraídas utilizando

diferentes metodologias. A extração das SHA é operacional, podendo-se ainda,

dependendo do estudo, realizar o fracionamento das SHA para à obtenção de

frações com propriedades físico-químicas similares em função do pH, por exemplo,

em humina (insolúvel), ácidos fúlvicos (fração solúvel) e ácidos húmicos (solúvel

em meio alcalino e insolúvel em pH menor que 2) (ROCHA; ROSA, 2003; ROSA et

al., 2005).

As SHA foram extraídas, pela primeira vez, de uma fonte na Suécia, por

Berzelius (1806). Já a denominação “ácido fúlvico” foi introduzida por Oden (1919),

em um trabalho sobre a origem da cor nas águas naturais (STEVENSON, 1994).

Além disso, as SHA podem ser classificadas como substâncias de coloração

escura, de natureza heterogênea, estrutura complexa e indefinida (STEVENSON,

1994; ABATE; MASINI, 2002).

Desde que foi isolada a primeira amostra de substâncias húmicas, é comum

aparecerem grandes interrogações sobre sua gênese, sua estrutura química e sua

representatividade. Estas questões estão intimamente ligadas não só à

complexidade própria das substâncias húmicas, mas também à variabilidade

resultante das diferentes origens e distintas técnicas de extração e purificação. A

criação e estabelecimento de uma estrutura molecular para as substâncias

húmicas é tema controverso.

Um novo modelo para as SHA foi proposto por Piccolo (2007) no qual estas

substâncias são descritas como associações supramoleculares de moléculas

heterogêneas relativamente pequenas, associadas por interações mais fracas

como as de Van der Waals, , CH- e pontes de hidrogênio e não por ligações

covalentes. Segundo o mesmo autor, os ácidos húmicos (AH) são originados,

principalmente, pela associação de compostos hidrofóbicos, que são estáveis em

pH neutro devido às forças dispersivas hidrofóbicas (Van der Waals, , CH- ).

Com a diminuição do pH, ocorre aumento progressivo da estrutura molecular dos

AH, através das interações por pontes de hidrogênio, até ocorrer sua floculação em

baixos valores de pH. Já os ácidos fúlvicos (AF), são originados, principalmente,

pela associação de pequenas moléculas hidrofílicas que apresentam grupos

funcionais ácidos, os quais mantêm seus constituintes solúveis em qualquer faixa

de pH.

34

As SHA representam a principal classe de complexantes naturais e devido à

complexidade da MON, os estudos de complexação com íons metálicos têm sido

conduzidos especialmente com as SHA, por estas serem capazes de alterar sua

mobilidade, biodisponibilidade e consequente toxicidade (ROCHA; ROSA, 2003,

2004; OLIVEIRA et al., 2006; TONELLO et al., 2007; ELBISHLAWI; JAFFE, 2015).

Essa afinidade das SHA por metais traço se deve ao fato dessas

substâncias serem constituídas por diversos sítios ionizáveis provenientes de

grupos químicos como fenólicos e ácidos carboxílicos, os quais são considerados

os principais sítios de complexação nos ácidos húmicos e fúlvicos. Vale a pena

ressaltar que o comportamento da MON/SHA com os metais traço depende da

estabilidade do complexo formado, quando são complexos de ligações fortes, por

exemplo, não exerce nenhuma toxicidade. Essa estabilidade, depende do número

de átomos que formam a ligação com o metal, a natureza e a concentração do íon

metálico, concentração da MON, pH e tempo de complexação (ROCHA; ROSA,

2003).

Considerando o amplo conjunto de fatores (pH, força iônica, temperatura,

tipo e concentração de ligantes, potencial redox, etc) que exercem influência sobre

a matéria orgânica natural e as SHA e o quão complexa e variável pode ser sua

composição, o entendimento dos mecanismos pelos quais estas interferem nos

ciclos e destinos finais dos poluentes tem sido foco de diversos estudos em

ambientes aquáticos (ROCHA; ROSA., 2003; 2004; OLIVEIRA et al., 2006;

ELBISHLAWI; JAFFE, 2015; MONTEIRO et al., 2016).

2.2. Descrição da complexação de metais traço com ligantes em sistemas

aquáticos

Como descrito anteriormente, o íon metálico pode formar ligações com

diversos tipos de ligantes, conhecer a natureza de sua complexação em solução,

com especial atenção à cinética das reações é interessante para um maior

entendimento do seu comportamento e distribuição na coluna d’água.

35

Considerando que um íon metálico M pode: (i) se associar reversivelmente

com um ligante L para formar um complexo ML eletroinativo e (ii) ser reduzido a

M0, em um eletrodo, teremos o seguinte esquema:

ne-

onde são as constantes de velocidade de formação e dissociação do

complexo, respectivamente, e as cargas das espécies foram omitidas para

simplificar. O equilíbrio termodinâmico em solução entre o metal e o ligante é

descrito pela constante de estabilidade, K:

Equação 1

Em matrizes ambientais, é comum considerar a situação de excesso de

ligante, isto é, a condição em que a concentração total de ligante é muito superior à

concentração total do metal (BUFFLE, 1988). Isso decorre do fato, de que as

soluções/amostras de interesse, geralmente apresentam concentrações de metais

a nível traço. A aproximação será que >> levando à logo

tanto no volume da solução ou na superfície do eletrodo. Neste caso,

podemos considerar a concentração do ligante constante e definir uma nova

constante de ligação como:

Equação 2

onde, e representa a concentração total do ligante e do metal na solução

respectivamente e:

é a concentração do ligante livre na solução;

é a concentração do metal livre na solução;

é a concentração do complexo na solução;

o tempo.

36

2.2.1. Mecanismo de Eigen

Os íons metálicos são um caso particular dentro da cinética química, pois é

regido por um mecanismo característico designado por mecanismo de Eigen

(EIGEN; TAMM, 1963). Este vem sendo utilizado por mais de meio século, para

descrever a cinética de complexação dos íons metálicos em sistemas aquosos

sendo composto por duas etapas principais: (i) formação de um complexo

precursor na esfera externa de coordenação (do inglês, outher sphere (os)); (ii)

posterior liberação da molécula de água da esfera interna (do inglês, inner sphere

(is)) com entrada do íon metálico, para formar uma ligação de coordenação com o

ligante, como descrito nas equações 3 e 4.

Equação 3

Equação 4

onde e

são as constantes de formação e de taxa de dissociação para o

complexo de esfera externa, ; e

são as constantes de

velocidade para a substituição da molécula de por no complexo da esfera

interna, e vice -versa, respectivamente.

A etapa limitante da velocidade para a formação do complexo de esfera

interna é a perda de uma molécula de água da esfera interna. A

constante de velocidade é geralmente nomeada como e assim, = . O valor

de é independente do ligante L e a Tabela 1 mostra alguns valores de metais

que podem ser encontrados na literatura (MARGERUM et al., 1978).

37

Tabela 1- Valores de constantes de velocidade de perda da molécula de água da esfera interna de coordenação para o Al, Ca, Cd, Co, Cu, Cr, Fe, Hg, Mn, Ni, Pb e Zn.

Íon Metálico (s-1) Faixa de valores

Pb2+ 7×109

Hg2+ 2×109

Cu2+ 1×109 (0,2-5)×109

Ca2+ 6×108 (0,5-9)×108

Cd2+ 3×108 (1-5)×108

Zn2+ 7×107 (3-50)×107

Mn2+ 3×107 (0,4-5)×107

Fe2+ 4×106 (1-4)×106

Co2+ 2×106 (0,2-2)×106

Ni2+ 3×104 (1-4)×104

Fe3+ 2×102 (2-200)×102

Al3+ 1 0,2-16

Cr3+ 5×10-7 (4-6)×10-7

Na formação sucessiva de complexos etc., o valor de torna-se

dependente da natureza do ligante e geralmente aumenta com a diminuição do

número de moléculas de água presentes na esfera interna (MARGERUM et al.,

1978).

Por outro lado, a formação dos complexos de esfera externa é puramente

eletroestática sendo que as constantes de velocidade para a formação/dissociação

do complexo na esfera externa são procedentes de (energia da interação

eletrostática adimensional) e das mobilidades do e , representadas por

seus respectivos coeficientes de difusão (MARGERUM et al., 1978).

Como é geralmente muito menor que a constante global, , para a

formação do complexo de esfera interna a partir de pode ser escrita

como:

Equação 5

38

2.3. Técnicas analíticas para análise de especiação

Em paralelo ao desenvolvimento teórico em especiação de metais traço foi

observado nos últimos anos um progresso em relação ao desenvolvimento de

métodos e técnicas analíticas que possibilitassem a separação e quantificação das

espécies de interesse, ou ainda técnicas que permitissem a especiação direta nas

amostras de águas. A escolha do método ou técnica adequada ao estudo em

especiação deve levar em consideração alguns critérios como: interferência da

matriz, sensibilidade, tempo de análise, disponibilidade de equipamento, exatidão

e/ou precisão e custo.

Pesavento et al. (2009) apresentaram uma revisão sobre métodos/técnicas

analíticos de determinação de concentração de íons metálicos livres, fração de

espécies lábeis e capacidade de complexação em águas naturais. Esta revisão

separa as técnicas que permitem a separação das espécies para posterior

quantificação, como exemplo, as técnicas de gradiente difusivo em filmes finos (do

inglês, Diffusive Gradient in Thin Films-DGT), de membrana Donnan (do inglês,

Donnan Membrane Technique-DMT) e permeação em membrana líquida (do

inglês, Permeation Liquid Membrane-PLM), das técnicas eletroanalíticas que

compreendem a voltametria de redissolução anódica (do inglês, Anodic Stripping

Voltammetry-ASV), voltametria de redissolução competitiva por troca de ligante (do

inglês, Competitive Ligand Exchange–Stripping Voltammetry- CLE-SV),

cronopotenciometria de redissolução (do inglês, Stripping Chronopotentiometry-

SCP), redissolução nernstiana na ausência de gradientes (do inglês, Absence of

Gradients and Nernstian Equilibrium Stripping-AGNES) e microeletrodo integrado a

gel (do inglês, Gel Integrated Microelectrode-GIME-VIP), e ainda técnicas

cromatográficas como a cromatografia de troca iônica e o emprego de resinas

complexantes.

No entanto, a maioria das técnicas apresentadas nesta revisão precisa de

algum tratamento prévio (eliminar a matéria orgânica e/ou pré-concentrar as

espécies), para a posterior quantificação das espécies, o qual pode ocasionar

alterações na representatividade da amostra original.

Neste trabalho optou-se em utilizar para os estudos de especiação os

métodos eletroanalíticos porque estes apresentam requisitos como sensibilidade e

seletividade adequada e custo moderado.

39

2.3.1. Técnicas eletroanalíticas de redissolução

Análise de redissolução é um método analítico que utiliza uma etapa de

elétrolise no interior da solução para redução (pré-concentração) de um metal a

partir da solução para o pequeno volume de um eletrodo (uma gota pendente ou

um filme fino) de mercúrio. Após esta etapa de deposição, o metal é reoxidado a

partir do interior do eletrodo, sendo a sua quantificação efetuada utilizando uma

técnica eletroquímica adequada. Se as condições hidrodinâmicas durante a etapa

de pré-eletrólise forem mantidas constantes e efetuando uma calibração adequada,

este conjunto de técnicas pode ser usado para determinar concentrações de metais

em soluções com limites de detecção muito baixos, da ordem de nmol L-1 (MOTA et

al., 1995).

A grande vantagem do método, em comparação com a análise voltamétrica

direta na solução original, é a pré-concentração do material a ser analisado sobre

ou no interior do eletrodo (por fatores de 100 a > 1000), de modo que a corrente de

redissolução é menos perturbada pelas cargas ou correntes de impurezas

residuais. A técnica é especialmente útil para a análise das soluções muito diluídas

(< 10-7 até 10-11 mol L-1).

O eletrodo de mercúrio utilizado em análise de redissolução pode ser um

eletrodo de gota de mercúrio convencional (HMDE, do inglês Hanging Mercury

Drop Electrode) ou um eletrodo de filme de mercúrio (MFE, do inglês, Mercury Film

Electrode). Uma vez que o MFE tem um volume muito menor e uma área maior do

que o HMDE apresenta uma sensibilidade mais elevada. Além dos eletrodos de

mercúrio, eletrodos sólidos (por exemplo, Pt, Ag, C) são usados com menor

frequência, sem mercúrio para íons que não podem ser determinados pelo

mercúrio (por exemplo, Ag e Au).

2.3.1.1. Cronopotenciometria de redissolução (SCP)

A literatura revela que a voltametria de redissolução anódica (VRA) é uma

excelente técnica para determinar as concentrações de metais traço em solução,

porém, na presença de agentes complexantes orgânicos podem sofrer

interferências que dificultam a análise (BUGARIN et al., 1994).

40

As medidas em VRA são sensíveis à adsorção de substâncias orgânicas

podendo afetar significativamente o sinal dos íons metálicos. A magnitude deste

efeito varia de acordo com o parâmetro de escala de tempo relevante (como

derivados de taxa de varredura e/ou frequência de modulação nas seguintes

técnicas: voltametria de redissolução de corrente contínua (do inglês, Direct

Current Stripping Voltammetry- DC-SV); voltametria de pulso diferencial (do inglês,

Differential Pulse Stripping Voltammetry- DP-SV) e a voltametria de onda quadrada

(do inglês, Direct Current Stripping Voltammetry- SW-SV)), sendo que os modos de

escala mais curtos de tempo (DP e SW) são mais fortemente afetados.

Inúmeras estratégias têm sido desenvolvidas para resolver a interferência de

adsorção, as mais comuns envolvem alguma modificação da superfície do eletrodo,

tipicamente a aplicação de um revestimento de polímero (por exemplo, Nafion®).

No entanto, é muito difícil de modificar a superfície do eletrodo, de forma

reprodutível e bem caracterizado. Procedimentos de troca de meio também têm

sido testados, mas na prática é extremamente difícil obter dados confiáveis e

reprodutíveis com esta abordagem. Outro fator que complica é a avaliação

experimental da extensão da labilidade dos complexos, exigindo uma variação

eficaz da escala de tempo da técnica muitas vezes longa.

Para resolver muitos destes problemas, foi desenvolvida a

cronopotenciometria de redissolução (SCP, do inglês, stripping

chronopotentiometry) que tem a mesma etapa de deposição descrita para a

voltametria de redissolução anódica (VRA), mas a quantificação do metal

acumulado é feita através da aplicação de uma corrente de reoxidação constante,

e o sinal analítico é o tempo necessário para a reoxidação (o tempo de

transição, ) (TOWN; VAN LEEWEN, 2001).

Assim, para um dado tempo de deposição, o sinal pode ser aumentado por

utilização de uma corrente de reoxidação menor. O limite para este aprimoramento

vai ser, no entanto, determinado na prática pela presença de impurezas redox

ativas, tais como o oxigênio.

O sinal analítico em SCP é uma variação do potencial, , em função do

tempo. O declive desta curva, na ausência de um processo faradaico, é

determinado pela capacitância do eletrodo de camada dupla, este declive é

modificado na presença de espécies adsorvidas. Logo, a forma correta é

41

determinar os tempos de deposição da área sob os picos no plot entre

versus . Usa-se a notação para denotar o inverso do tempo e a derivada do

potencial (que é o sinal medido).

SCP: a importância da depleção completa

Uma das características mais interessantes da SCP é utilizar uma corrente

de reoxidação suficientemente pequena para obter a depleção completa na etapa

da reoxidação. Isto permite simplificar o tratamento teórico (pois não existe camada

de difusão dentro do eletrodo) e evitar muitos dos problemas de adsorção de

matéria orgânica à superfície do eletrodo que tendem a distorcer os sinais das

técnicas voltamétricas (TOWN; VAN LEEWEN, 2002).

Deste ponto de vista os eletrodos de filme fino de mercúrio (MFE) são muito

atrativos para usar com estas técnicas, pois neste eletrodo, o metal é transportado

rapidamente para a superfície durante a reoxidação, de maneira que as medidas

são realizadas quase sempre em condições de depleção completa.

Do ponto de vista teórico as equações durante a deposição e o número de

mols dos íons metálicos amalgamados são dadas (TOWN; VAN LEEWEN, 2001).

por:

Equação 6

E o número de mols reoxidados é dado por:

Equação 7

onde é a corrente de redissolução/reoxidação é o valor limite para o

tempo de transição obtido por potenciais de deposição muito maiores que o

potencial padrão, . No modo da depleção o número de mols depositado é

igual ao número de mols reoxidados e o tempo de transição limite é dado por:

Equação 8

representando o balanço de carga para a depleção completa.

42

Teoricamente, deveria aumentar continuamente à medida que diminui. No

entanto, quanto menor for maior será a competição por agentes oxidantes

presentes na solução como o oxigênio. Monteiro et al., (2016) utilizando um

eletrodo MFE (área superficial de 9,6 mm), corrente de redissolução de 2,5x10-6A,

e tempo de deposição 45s encontraram 1,6x10-9 mol L-1, como a concentração

mínima detectável de Cd total em amostras de águas naturais de rios, que é similar

ao encontrado em medidas feitas com DP-SV seguindo a mesma metodologia.

Um seguimento natural do desenvolvimento de SCP foi a aplicação de SCP

por etapas, isto é, a SCP para a varredura de potencial de deposição (SSCP, do

inglês scanned deposition potential), como uma abordagem para a determinação

dos parâmetros de especiação de metais, além de ser capaz de fornecer

informação tanto sobre a natureza dinâmica, quanto sobre a heterogeneidade dos

complexos metálicos (TOWN; VAN LEEWEN, 2003). As curvas de SSCP são

construídas a partir de uma série de experimentos a diferentes potenciais de

deposição, e representando os tempos de transição em função dos potenciais

de deposição (“pseudopolarograma”). A principal vantagem da utilização da SSCP

é a possibilidade de determinar as constantes de associação/dissociação do

sistema em estudo, contanto que o coeficiente de difusão do ligante seja

conhecido.

A Figura 1 exemplifica duas curvas de SSCP, uma onde só existe o íon

metálico ( M) e outra em presença de ligantes complexantes ( M+L). Pode-se

observar que a presença dos ligantes ocasiona um decréscimo na intensidade do

sinal do íon metálico. Esse decréscimo varia de acordo com à afinidade dos

ligantes pela espécie metálica e das condições experimentais (pH, força iônica e

concentração e tipo do ligante, por exemplo).

43

Fonte: Paulo Pinheiro

2.3.1.2. Técnica de redissolução nernstiana na ausência de gradientes (AGNES)

AGNES é uma técnica eletroquímica de redissolução utilizada para a

determinação direta da concentração de metal livre, consistindo em duas etapas

sequenciais: a primeira etapa é a deposição e a segunda é a reoxidação do metal.

Na etapa de deposição se aplica um potencial próximo do potencial de

redução padrão do metal e espera-se até atingir o equilíbrio termodinâmico entre o

metal amalgamado e o interior da solução (a concentração acumulada depende

apenas de (concentração de íon metálico no interior da solução) e é

independente de qualquer outra característica do meio, como a complexação ou

adsorção eletrolítica (assumindo a existência de uma quantidade suficientemente

grande de eletrólito de fundo amortecendo a força iônica, de modo que as

atividades e concentrações são sempre proporcionais), por causa do equilíbrio de

Nernstian prescrito pela Eq. (9). No fim da etapa de deposição, obtém-se a razão

entre o metal amalgamado e em solução segundo a equação (GALCERAN, et al.,

2004):

Figura 1- Exemplo de curva de SSCP na (•) ausência do ligante, M, e () na presença do

ligante, M+L, indicando a variação do potencial de deposição, Ed,1/2 e tempo limite, ..

44

[

] Equação 9

onde Y representa o ganho (ou fator de pré-concentração), é a

concentração de metal amalgamado, é a concentração de íon metálico no

interior da solução, E0 é o potencial de redução padrão do metal e E1 o potencial de

deposição aplicado ao eletrodo, R é a constante dos gases, F a constante de

Faraday, n é o número de elétrons envolvidos no processo de redução/oxidação e

a temperatura.

Na segunda etapa se reoxida o metal amalgamado com intuito de medi-lo e

o tempo de reoxidação ) é diretamente proporcional a . Nesta etapa, o

metal amalgamado é quantificado usando uma cronopotenciometria de

redissolução anódica tendo como potencial inicial (PARAT et al., 2011), que

resulta no sinal obtido que é diretamente proporcional à concentração de íon

metálico no interior da solução:

Sinal = Y. Equação 10

Dessa forma, AGNES funciona de uma forma análoga a um eletrodo de íons

seletivo (EIS) permitindo a determinação direta do valor do íon metálico livre na

solução, mas com um limite de detecção da ordem de nM (para tempos de

deposição de 1 a 2 min em eletrodos de filme de Hg) característico das técnicas

eletroquímicas de redissolução anódica (GALCERAN, et al., 2004; PARAT et al.,

2011). Além disso, conhecendo o valor do metal livre na solução e o balanço de

massa para o metal é simples obter o valor da constante de estabilidade K.

Esta técnica já foi aplicada com bons resultados, por exemplo, na

modelagem de chumbo (Pb2+) com a matéria orgânica isolada de sistemas

aquáticos urbanos (PERNET et al., 2011) mas é especialmente interessante para

medidas de zinco (Zn), metal para o qual não existe um EIS comercial (CHITO et

al., 2012).

Como vantagens, AGNES apresenta uma boa seletividade, um baixo limite

de detecção (nmol L-1) e é indiferente à adsorção de matéria orgânica na superfície

do eletrodo, porém, poucos metais formam amálgama com o mercúrio (cobre,

45

cádmio, chumbo, zinco, índio, tálio, bismuto, estanho). A principal desvantagem da

AGNES é o tempo de duração da etapa de deposição necessário para atingir o

equilíbrio, que pode requerer tempos de análise muito elevados até se atingir o

equilíbrio na etapa de deposição (de minutos a horas) com a diminuição da

concentração (GALCERAN et al, 2004), no entanto, isto pode ser atenuado pelo

uso de um eletrodo de filme fino de mercúrio.

Outra abordagem utilizada para estudar a especiação de metais traço em

águas naturais é a ultrafiltração em fluxo tangencial, descrita a seguir.

2.4. Ultrafiltração em fluxo tangencial (UFT)

A ultrafiltração em fluxo tangencial (UFT) é uma técnica que permite separar

compostos em função do tamanho molecular. E é um dos métodos citados na

literatura capaz de discriminar a concentração do “metal livre" (M), para isso, o

procedimento é geralmente realizado com uma membrana de pequena porosidade,

como por exemplo, 1 kDa, para distinguir a espécie livre das coloidais (substâncias

dissolvidas com tamanhos maiores que 1kDa retidas na membrana, por exemplo

as substâncias húmicas). As espécies metálicas quantificadas no ultrafiltrado,

fração (<1kDa), são geralmente definidas como “livres”, embora os cátions

metálicos presentes nesta fração possam também estar complexados à pequenos

ligantes orgânicos ou inorgânicos que apresentam tamanho suficientemente

pequeno para atravessar a membrana (BURBA et al., 1994; MONTEIRO, et al.,

2016).

A UFT é uma técnica atrativa por ser simples, dispensar o uso de reagentes,

minimizando, assim, possíveis contaminações e alterações na representatividade

original da amostra, e de baixo custo (ROMÃO; ROCHA, 2005). Além disso, a UFT

pode ser utilizada também em estudos de fracionamento molecular das diversas

matrizes (MON, SHA, ácidos húmicos (AH) e fúlvicos (AF)) (SARGENTINI et al.,

2001; WATANABE et al., 2017).

Como estas matrizes podem ser constituídas por diferentes compostos de

diferentes tamanhos, o fracionamento molecular que é um procedimento baseado

no tamanho molecular (com uso de membranas de diversos tamanhos, variando de

100 a 1 kDa) permite diminuir a heterogeneidade e a complexidade da matéria

46

orgânica, facilitando, assim, a compreensão do comportamento e distribuição dos

íons metálicos nessas matrizes a partir de suas frações (SARGENTINI et al., 2001;

ROCHA; ROSA, 2003).

Os resultados obtidos por Sargentini e colaboradores (2001) demonstraram

que o fracionamento possibilitou separar e concentrar as SHA extraídas de

amostras de águas coletadas no rio Negro-AM em seis frações com diferentes

tamanhos moleculares: F1: >100, F2: 50-100, F3: 30-50, F4: 10-30, F5: 5-10 e

F6 < 5 kDa. Sendo a distribuição de carbono encontrada descrita como F6 > F2 >

F3 > F1 > F4 > F5 e a maior porcentagem dos íons metálicos originalmente

presentes nas SHA esteve complexada na fração F2.

Vale ressaltar que a ultrafiltração é um método de separação e que para a

determinação das espécies livres de interesse no ultrafiltrado se faz necessário

uma técnica analítica para esse fim, que pode ser tanto uma espectroanalítica

(espectrometria de absorção atômica com atomização em forno de grafite (GF

AAS) e/ou espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado

(ICP OES)) ou uma eletroanalítica, logo o limite de detecção estará relacionado à

técnica escolhida.

2.5. Cádmio e chumbo no ambiente

Sabe-se que íons metálicos como cobre, ferro, manganês e zinco são

micronutrientes essenciais em processos de função fisiológica para a maioria dos

seres vivos (OTERO et al., 2015). Já os elementos considerados mais perigosos

para a saúde humana e meio ambiente são o chumbo, cádmio, mercúrio e arsênio.

Estes íons têm sido amplamente estudados e os seus efeitos nos humanos

regularmente revistos por órgãos internacionais como a organização mundial de

saúde (OMS) (JARUP, 2003).

Neste trabalho, os estudos de especiação e interação com a matéria

orgânica serão realizados com o cádmio e chumbo. Estes metais traço foram

escolhidos particularmente, por serem considerados elementos potencialmente

tóxicos ao meio ambiente, seres humanos e animais, bem como, por não

possuírem nenhuma função fisiológica no organismo, além de formarem amálgama

47

com os eletrodos de filme de Hg, permitindo sua detecção por AGNES e SCP

(MOREIRA; MOREIRA, 2004; SHUJUN, et al., 2014).

2.5.1. Cádmio

O cádmio (Cd) é um metal traço encontrado na natureza associado a sulfitos

de minérios de zinco, cobre e chumbo (CETESB, 2012). É considerado um metal

potencialmente tóxico, não apenas pelos altos níveis de toxicidade, mas também

devido a sua ampla distribuição e aplicação industrial, podendo ser encontrado em

alimentos, água e ar. Emissões de cádmio aumentaram de maneira drástica

durante o século 20, pois os produtos contendo Cd são raramente reciclados, e por

causa disso, muitas vezes são descartados junto com o lixo doméstico. A principal

fonte de exposição ao cádmio em seres humanos é o tabagismo, bem como

ingestão de alimentos contaminados por fertilizantes agrícolas, esgotos e

deposição atmosférica (JARUP et al., 2000; KIPPLER et al., 2012).

O Cd(II) pode bioacumular em plantas aquáticas, invertebrados, peixes e

mamíferos causando danos renais e aos ossos, sendo considerado cancerígeno

pela agência internacional de pesquisa em câncer (CETESB, 2012). Estes danos à

saúde são ocasionados devido à afinidade do cádmio por estruturas biológicas

contendo grupos tióis, como por exemplo, proteínas, enzimas e ácidos nucléicos

(MERCÊ et al., 2003).

Os valores máximos permitidos de Cd total em água potável e águas doces

estabelecidos pela legislação brasileira (Portaria 2914/2011 e CONAMA nº

357/2005), são 0,005 e 0,001-0,01 mg L-1, respectivamente.

2.5.2. Chumbo

O chumbo (Pb) é um elemento de ocorrência natural geralmente associado à

minérios, principalmente àqueles que contêm zinco, sendo amplamente utilizado

pelas indústrias de baterias, tintas, corantes e cosméticos (CETESB, 2012). A sua

presença em ambientes aquáticos é proveniente da deposição atmosférica, da

lixiviação do solo e do descarte direto do contaminante (JARUP, 2003).

48

O Pb é considerado um metal potencialmente tóxico na sua forma dissolvida,

principalmente na forma iônica, Pb(II), pois assim encontra-se mais disponível para

ser assimilado pela biota aquática, mesmo quando encontrado em baixas

concentrações. No entanto, em sistemas aquáticos, apenas uma pequena fração

do Pb está dissolvida na água, visto que a maior parte do metal encontra-se

particulado e ligado a outros compostos, como por exemplo, às substâncias

húmicas. Este fato confere ao Pb pouca mobilidade e biodisponibilidade (NORDEC,

2003).

O efeito do chumbo na saúde humana depende da intensidade e duração da

exposição. As principais vias de exposição da população geral ao chumbo são oral

e inalatória (CETESB, 2012). As concentrações máximas estabelecidas pela

legislação brasileira de Pb em água potável e águas doces, são de 0,01 e 0,01 a

0,033 mg L-1, respectivamente (Portaria 2914/2011 e CONAMA nº 357/2005).

49

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

Desenvolver métodos eletroanalíticos utilizando as técnicas SCP e AGNES

capazes de determinar a concentração total e livre de cádmio diretamente em

amostras de águas naturais dos rios Sorocabinha e Itapanhaú, que possibilitem

uma futura aplicação on-site. E avaliar a influência das substâncias húmicas

aquáticas extraídas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú nas interações do Cd(II) e

Pb(II) utilizando AGNES.

3.2. Objetivos específicos

Caracterizar as amostras de águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú

coletadas em duas estações do ano (seca e chuvosa) em 2014, em função

dos parâmetros de qualidade de água, quantidade e qualidade do carbono

orgânico dissolvido e metais originalmente presentes, para identificar as

principais diferenças entre os dois rios;

Extrair as substâncias húmicas e suas frações, ácidos fúlvicos (AF) e

húmicos (AH), das águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú seguindo o

método recomendado pela sociedade internacional de substâncias húmicas

(do inglês, international humic substances society – IHSS) e caracterizá-las

por meio da análise elementar e RMN 13C, a fim de investigar se há

diferenças significativas da composição estrutural entre as substâncias

húmicas e suas frações AF e AH;

Realizar o fracionamento molecular das substâncias húmicas e suas frações

(ácido húmico e ácido fúlvico) extraídas do RS e RI utilizando a ultrafiltração

em fluxo tangencial com membranas de tamanhos de 100, 30, 10, 3 e 1 kDa

e comparar com o fracionamento da sua amostra in natura correspondente,

50

além de avaliar a distribuição do carbono orgânico e dos metais

originalmente presentes nessas amostras, nas diferentes frações obtidas;

Validar o método de AGNES proposto para a quantificação de cádmio livre

nas amostras e água in natura através de experimentos usando a

ultrafiltração em fluxo tangencial com membrana de 1kDa e o método de

SCP proposto para a quantificação do cádmio total diretamente nas

amostras de águas in natura e ultrafiltradas acidificadas dos rios Itapanhaú e

Sorocabinha, com os resultados obtidos por GF-AAS;

Avaliar as principais diferenças das interações de Cd(II) e Pb(II)

determinados por AGNES, com os ácidos fúlvicos e húmicos extraídos das

águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú levando em consideração fatores

como origem do material, sazonalidade e diferentes condições de pH.

51

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Área de estudo e amostragem

Duas áreas de estudo, rio Itapanhaú (latitude 24°41'59" e longitude

47°35'43.68) e Sorocabinha (latitude 23°50'23"e longitude 46°08'21") (Figura 3),

foram escolhidas a fim de investigar e comparar a influência de ambientes

diferentes, na formação da matéria orgânica natural (MON) e sua interação com o

Cd(II) e Pb(II). Afim de avaliar a influência da sazonalidade na MON nas águas dos

rios Sorocabinha e Itapanhaú foram coletados (~200 L) de amostras de águas

naturais em duas estações do ano, uma no período chuvoso (março/ 2014) e outra

no período seco (novembro/ 2014).

Fonte: Autoria própria

Figura 2- Mapa do Estado de São Paulo indicando a localização dos pontos de

amostragem os rios Sorocabinha e Itapanhaú.

52

O rio Itapanhaú está localizado no Parque Estadual da Serra do Mar,

situando-se na 7ª Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos, município de

Bertioga-SP e exerce papel fundamental no desenvolvimento econômico das

comunidades locais (atividades de pesca), no turismo e na agricultura

(GOVEIA et al., 2011).

O rio Sorocabinha situa-se no município de Iguape-SP, e é um dos afluentes

do rio Ribeira de Iguape, localizado próximo à Estação Ecológica da Jureia,

situando-se na 11ª Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos - Ribeira do

Iguape-litoral Sul (GOVEIA et al., 2011).

Esses rios foram escolhidos por apresentar altas concentrações de carbono

orgânico dissolvido (COD), o que pode ser observado pela coloração amarela-

castanho das águas coletadas na Figura 3. Uma das principais características que

difere um ambiente do outro é que o rio Sorocabinha sofre influência da maré por

estar mais próximo ao mar (1,49 Km - distância em linha reta até o mar) comparado

com o rio Itapanhaú que está a 2,9 Km (distância em linha reta até o mar), valores

aproximados.

Fonte: autoria própria.

Fonte: autoria própria.

(a) (b)

Figura 3- Pontos de amostragem (a) rio Itapanhaú e (b) rio Sorocabinha.

53

As amostras foram coletadas na camada superficial, utilizando recipientes de

polietileno de 50 L previamente limpos. Antes da coleta os recipientes foram

lavados duas a três vezes com a água a ser amostrada, após coleta estas

amostras foram levadas ao laboratório, armazenadas a 4°C até a análise. Todos os

procedimentos de coleta, conservação e análise obedeceram às metodologias

descritas no standard methods (AMERICAN, 2005).

4.2. Caracterização das águas in natura dos rios

4.2.1. Qualidade da Água

A qualidade da água foi avaliada a partir das medidas in situ, de pH,

condutividade e oxigênio dissolvido (OD), utilizando uma sonda multiparâmetro da

marca Hanna modelo HI9829, previamente calibrada, bem como, por meio das

análises de fósforo total (PT), nitrogênio total (NT), cloreto (Cl-), demanda

bioquímica de oxigênio (DBO), turbidez e cor (todas realizadas em laboratório e em

triplicata). A análise de PT e Cl- foram realizadas seguindo procedimento do

método 4500-P e 4500 Cl-B, descritos no standard methods (AMERICAN, 2005). O

NT foi determinado por meio do método 10071 (digestão com persulfato- Kit da

marca Hach). A DBO5 foi obtida pela diferença entre o OD inicial medido in situ e o

OD realizado no laboratório após 5 dias da coleta. A turbidez e a cor foram

medidas em um turbidímetro e medidor de cor da marca Quimis, respectivamente.

4.2.2. Determinação do carbono orgânico dissolvido (COD)

Para a determinação do carbono orgânico dissolvido (COD), as amostras

foram previamente filtradas em membranas de nitrato de celulose da marca

Millipore de 0,45 μm, acidificadas com H3PO4, armazenadas em frascos âmbar e

deixadas sob refrigeração. As concentrações do COD foram medidas em triplicata,

pela combustão da amostra à 800ºC em um analisador de carbono da marca

Analytik Jena Multi modelo N/C 3100.

54

4.2.3. Espectroscopia na região do Ultravioleta-Visível (UV-Vis)

As medidas de absorbâncias nos comprimentos de onda 254 e 436 nm

foram realizadas no espectrofotômetro da marca Varian modelo Cary 50 usando

cubetas de quartzo de 1 cm, nas amostras filtradas em membranas de nitrato de

celulose da marca Millipore de 0,45 μm. A água ultrapura (18,2 MΩ.cm, Millipore)

foi utilizada como branco (ELBISHLAWI; JAFFE, 2015).

4.2.4. Determinação das frações do metal total, dissolvido e livre presentes

originalmente nas águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú

As frações do metal total e dissolvido originalmente presentes nas águas dos

rios Sorocabinha e Itapanhaú, foram obtidas após a digestão ácida (em triplicata),

das amostras in natura bruta (representando a concentração do metal total - MT) e

das amostras previamente filtradas em membranas de nitrato de celulose de

0,45 μm, para obtenção da concentração dos metais dissolvidos (MD), seguindo o

procedimento descrito no método 3005A da agência de proteção ambiental do

Estados Unidos (do inglês, US Environmental Protection Agency - USEPA ,1992).

Os ácidos HNO3 (65%) e HCl (37%) utilizados na digestão foram previamente

purificados usando um destilador sub-boiling. Como alguns metais podem

encontrar-se a nível de traços as amostras foram pré-concentradas, com fator de

pré-concentração de 6, para posterior determinação quantitativa.

Para a obtenção da fração dos metais livres (M) foram realizados

experimentos utilizando um sistema de ultrafiltração em fluxo tangencial (UFT) feito

de teflon, com uma membrana de celulose regenerada de 1 kDa de 76 mm de

diâmetro, da marca Millipore, acoplado a uma bomba peristáltica da marca Gilson

Minipuls 3, com tubulação de tygon da marca Agilent (Figura 4). Após cada

experimento, a limpeza do sistema e da membrana era realizado usando 50 mL de

NaOH (0,1 mol L-1) e 50 mL de HCl (0,009 mol L-1). Após cada etapa, o sistema foi

exaustivamente lavado com água ultrapura (18,2 MΩ.cm, Millipore), e as

membranas foram estocadas em solução de etanol 10% na geladeira.

55

Fonte: Autoria própria.

Neste sistema, cerca de 200 mL das amostras previamente filtradas em

membranas de 0,45 μm foram recirculados no sistema por aproximadamente 30

minutos para a ambientação das amostras no sistema. Após esse tempo, alíquotas

de 2 mL foram recolhidas, acidificadas com HNO3 1,0 mol L-1 e refrigeradas para

posterior determinação da “fração livre”. Vale ressaltar, que inicialmente foram

realizadas otimizações para estabelecimento das condições ideais de trabalho com

os sistemas de UFT a fim de minimizar e evitar possíveis vazamentos. Para isso,

as variações do fluxo de recirculação (2 mL min-1) e vazão da gota entre 9-11s

foram ajustadas e a velocidade da bomba peristáltica fixada em 6 rpm, para não

haver variação da pressão interna no sistema.

A quantificação dos metais nas frações total, dissolvida e livre foi realizada

utilizando o ICP OES (espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente

acoplado) com vista axial da marca Agilent Technologies modelo 700 series. O

método otimizado no ICP OES permitiu a determinação multielementar de Al, Cd,

Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn. A Tabela 2 exibe as condições operacionais

utilizadas no ICP OES durante as determinações.

Bomba Peristáltica

Figura 4- Sistema de ultrafiltração em fluxo tangencial utilizado para obtenção da fração dos metais livres (M).

56

Tabela 2- Características e condições operacionais utilizadas no ICP OES com vista axial para a análise multielementar de Al, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn nas amostras após digestão ácida.

Parâmetros Valores

Potencia de radiofrequência (W) 1100

Vazão de gás no plasma (L min -1) 15,0

Vazão de gás auxiliar (L min -1) 1,5

Vazão do gás nebulizador (L min -1) 0,6

Tipo de nebulizador Concêntrico (tipo Sea Spray)

Câmara de pulverização Tipo ciclone

Linhas de Emissão (nm)

Al (237,312)

Cu (327,395)

Pb (220,353)

Cd (214.439)

Fe (238.204)

Zn (213.857)

Co (228,615)

Mn (257,610)

Cr (267,716)

Ni (231,604)

A Tabela 3 mostra sumariamente os limites de detecção (LD) e de

quantificação (LQ) calculados para as frações do metal total, dissolvido e livre,

usando ICP OES. O LD foi calculado usando a recomendação da União

Internacional da Química Pura e Aplicada (IUPAC) como (3 x SDbranco /Inclinação

da curva) e o LQ = (10 x SDbranco /Inclinação da curva), sendo SDbranco o desvio

padrão de dez medidas das intensidades de emissão das soluções do branco do

método (água ultrapura + HCl + HNO3).

57

Tabela 3- Valores dos limites de detecção e de quantificação para os metais Al, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn analisados por ICP OES.

Concentrações em (µg L-1) das frações do metal

Total (MT) Dissolvido (MD) Livre (M)

LD LQ LD LQ LD LQ Al 38,3 127,8 30,0 92,3 11,0 36,9

Cd 1,0 3,2 0,5 1,8 0,1 0,3

Co 1,1 3,8 1,5 4,9 0,3 1,0

Cr 0,7 2,5 0,5 3,0 0,2 0,8

Cu 0,5 1,7 0,9 3,0 0,2 0,8

Fe 76,1 243,5 28,8 95,9 0,9 3,0

Mn 0,4 1,4 0,5 1,8 0,1 0,5

Ni 3,5 11,8 6,0 19,9 0,1 3,3

Pb 15,4 51,3 15,4 51,5 1,0 3,3

Zn 13,1 43,5 10,5 34,9 2,6 8,5

4.2.5. Análise exploratória dos dados

O software Statistica 6.0 foi usado para aplicação da análise de

componentes hierárquicos (HCA) aos resultados obtidos das concentrações dos

metais (total, dissolvido e livre). E a análise de variância (ANOVA) de fator único,

no intervalo de 95 % de confiança, calculada no Excel, foi aplicada ao conjunto dos

dados obtidos através dos espectros de RMN 13C.

4.3. Extração das substâncias húmicas aquáticas presentes nas águas dos

rios Sorocabinha e Itapanhaú

O método de cromatografia de adsorção em coluna foi escolhido para a

extração das SHA do rio Sorocabinha e Itapanhaú. Este procedimento foi proposto

por Thurman et al. (1981) e é recomendado pela IHSS. O método para extração

possui três etapas: (1) montagem/empacotamento das colunas; (2) passagem das

amostras pelas colunas e (3) eluição das substâncias húmicas retidas na coluna. O

sistema montado para a extração está ilustrado na Figura 5.

58

O preenchimento da coluna cromatográfica foi feito com a resina DAX 8 que

foi previamente purificada para a retirada de possíveis grupos hidrofílicos retidos. A

purificação da resina consistiu em deixá-la imersa sob agitação em temperatura

ambiente em soluções de metanol por 20 minutos, HCl 0,1 mol L-1 (24 horas) e

NaOH 0,1 mol L-1 (24 horas). Após cada etapa, a resina foi exaustivamente lavada

com água ultrapura (18,2 MΩ.cm, Millipore). Com a resina purificada, as colunas

foram preenchidas até cerca de 50 a 60 % da sua capacidade, o restante foi

preenchido com água ultrapura. Após o empacotamento da resina, 100 mL de HCl

0,1 mol L-1 foi percolado através da coluna para otimização do processo de fixação

das SHA na resina.

Antes de iniciar a etapa 2, cerca de 150 L das amostras de água dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú foram acidificadas com HCl 6 mol L-1 até pH inferior a 2

para que as substâncias húmicas pudessem ser adsorvidas pela resina DAX-8. Em

seguida, foi montado um sistema com fluxo de 15 mL min-1 descendente por

gravidade. Após a saturação da resina, foi realizada a eluição do material retido

com NaOH 0,1 mol L-1, para a obtenção do extrato contendo as SHA o qual teve o

seu pH ajustado para o pH da amostra original, entre 5,5 - 6,5 para os extratos do

RS e 6,0 - 6,5 para os extratos do (RI). Os extratos foram mantidos sob

refrigeração e em frascos âmbar, estas amostras foram nomeadas como

substâncias húmicas aquáticas (SHA) e é constituída de ácido húmico e fúlvico.

Fonte: Autoria Própria.

Figura 5- Ilustração da extração das substâncias húmicas das águas dos rios Sorocabinha

e Itapanhaú.

Resina

DAX-8

59

4.3.1. Extração e purificação das frações (ácidos húmicos e fúlvicos) presentes no

extrato das substâncias húmicas aquáticas

As SHA obtidas na etapa anterior foram mantidas sob refrigeração e em

frascos âmbar. Parte desse extrato foi acidificado até pH 2 com HCl 6 mol L-1 e em

seguida, centrifugado por 30 minutos a 2500 rpm, em centrífuga de bancada,

marca Nova, para a separação dos ácidos fúlvicos (AF) fração solúvel, dos ácidos

húmicos (AH). Em seguida, o AF foi percolado novamente através da coluna

preenchida com a resina DAX-8, para pré-concentração e eluído novamente com o

NaOH 0,1mol L-1. O AF eluído foi colocado em contato com uma resina catiônica

Dowex por 24 horas, para a remoção dos possíveis íons presentes ou incorporados

durante o processo. Os AH foram lavados exaustivamente com água ultrapura

(18,2 MΩ.cm, Millipore), até o teste negativo para cloretos utilizando nitrato de

prata. A Figura 6 ilustra a etapa desse procedimento também recomendado pela

IHSS. Posteriormente uma alíquota do AF e AH foi enviada para a análise do COD.

Fonte: Autoria Própria

Figura 6- Procedimento de extração e purificação dos ácidos fúlvicos e húmicos presentes

nas substâncias húmicas aquáticas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú.

HCl

6 mol L-1

cloretos

60

4.4. Caracterização das substâncias húmicas aquáticas e suas frações

4.4.1. Composição Elementar

A composição elementar das amostras de SHA foi determinada em relação

ao conteúdo de carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio (CHNO). Os extratos

foram secos a 40ºC em estufa com renovação de ar e enviadas para análise no

departamento de química da Universidade Federal de Sergipe. A análise elementar

dos materiais foi realizada no equipamento LECO modelo CHN628 e os resultados

foram tratados com CHN628 software versão 1,30. O equipamento operou com

hélio (99,995%) e oxigênio (99,99%) com temperatura do forno e pós-queima a 950

e 850ºC, respectivamente. O equipamento foi calibrado com padrão EDTA de

(41,0% C, 5,5% H e 9,5% N) utilizando uma faixa de massa entre 10 - 200 mg. O

padrão e as amostras foram analisados utilizando 100 mg para amostras em folha

de estanho.

Os valores de C, H e N foram corrigidos pelo teor de cinzas, utilizando as

informações obtidas pelos dados da análise termogravimétrica. O percentual de (%

O) foi determinado conforme descrito na equação:

% O = [100 % – (% C + % H + % N + % S)] Equação 11

As razões atômicas foram calculadas da seguinte forma:

⁄⁄

⁄⁄ e

⁄ ⁄ .

4.4.2. Espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN ¹³C)

As análises de RMN ¹³C foram realizadas no instituto de química da UNESP-

Araraquara, em um espectrômetro da marca Bruker modelo Avance III 400 MHz

WB operando na frequência de 100,61 MHz. As amostras secas a 40ºC em estufa

com renovação de ar, foram acondicionadas em um rotor de 4 mm e

posteriormente analisadas nas seguintes condições experimentais: banda espectral

para polarização cruzada de 20 kHz, pulso de preparação do próton de 3,8 μs,

tempo de contato de 1 ms, tempo de aquisição de 12,8 ms e tempo de espera para

61

relaxação de 500 ms. Os deslocamentos químicos foram expressos em ppm

(GOVEIA et al., 2011)

4.4.3. Análise Térmica

Para a análise termogravimétrica (TG) e análise térmica diferencial (DTA) 2

mg das amostras de SHA e AF previamente secas em estufa a 40 ºC, foram

analisadas sob atmosfera de ar, com aquecimento de 25 a 1000 ºC a uma taxa de

10 ºC min-1. As curvas de TG e DTA foram registradas simultaneamente usando o

TGA-DTA-DSC simultâneo da marca TA Instruments modelo Q600.

4.5. Fracionamento molecular das substâncias húmicas aquáticas e suas

frações

O fracionamento molecular foi realizado nas amostras de SHA, AF e AH

extraídas das amostras de água provenientes dos rios Sorocabinha e Itapanhaú

coletadas nos períodos seco e chuvoso. A concentração de todas as amostras

fracionadas foi fixada em 250 mg L-1 de COD e o pH entre 5,5 e 6, para fins

comparativos.

O procedimento consistiu na passagem de 150 mL das amostras, por meio

do sistema de ultrafiltração em fluxo tangencial (detalhado na seção 4.2.4) com

membranas de celulose regenerada de tamanhos moleculares de 100, 30, 10, 3 e 1

kDa com 76 mm de diâmetro. As frações obtidas foram avolumadas quando

necessário para 35 mL em tubo falcon com água ultrapura (18,2 MΩ.cm, Millipore).

Todo procedimento foi realizado com a velocidade da bomba em 6 rpm, controle de

pressão/vazão recirculação da amostra foi fixado em 2 mL min-1 e separadamente,

apesar da Figura 7 o mostrar em série.

Em cada fração foi determinada a concentração de carbono e de metais

totais. Para a determinação do metal total nas frações obtidas, as amostras foram

acidificadas com HNO3 1 mol L-1 até pH entre 2 e 3.

62

Fonte: Autoria Própria.

4.6. Experimentos Eletroquímicos

Os experimentos eletroquímicos foram realizados utilizando um

potenciostato Ecochemie da marca Autolab modelo PGSTAT10 acoplado ao

Metrohm 663 VA Stand e a um computador utilizando o software GPES 4.8

(Eco Chemie) ilustrado na Figura 8, com uma configuração de três eletrodos: o

eletrodo de filme fino de Hg depositado no eletrodo de carbono, um eletrodo

auxiliar (carbono vítreo) e um eletrodo de referência (Ag/AgCl) da marca Metrohm.

Fonte: Autoria Própria.

Figura 8- Sistema utilizado para a realização dos experimentos eletroquímicos.

Bomba

100 kDa

F1 F2

AF

AH

SHA

F4 F3 F5

Bomba

30 kDa

Bomba

10 kDa

Bomba

3 kDa

Bomba

1 kDa

F6

Figura 7- Esquema do fracionamento molecular dos extratos de SHA, AF e AH dos rios Itapanhaú e Sorocabinha.

63

Todas as medidas de AGNES e SCP foram realizadas em triplicata, à

temperatura ambiente (23 - 26°C). A solução foi purgada durante 15 min no início

de cada experiência e a célula eletroquímica foi continuamente purgada com o gás

nitrogênio durante as medidas. As amostras foram acondicionadas em copos

descartáveis de poliestireno de 40 mL.

A calibração foi realizada diariamente antes, utilizando concentrações

conhecidas de metais. Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram

estimados a partir das curvas de calibrações usando a seguinte equação:

Equação 12

sendo, 3 para LD e 10 para LQ, é a média do desvio padrão dos ruídos

e é a inclinação (slope) da curva de calibração.

4.6.1. Produção do eletrodo de trabalho

Neste trabalho foram utilizados eletrodos de carbono impressos/serigrafados

(screen-printed) como eletrodo de trabalho (Figura 9), produzidos por Corine Parat

na Universidade de Pau et des Pays de l’Adour, França da seguinte maneira:

inicialmente, os eletrodos foram impressos em suporte de poliestireno para serigrafia

(Sericol) usando tintas específicas e adequadas como as adquiridas em Acheson

Colloids. Em seguida, foram secos à temperatura ambiente por 1 hora e deixados

na estufa à 60°C por 1 hora, finalizando o processo de impressão. Após esta etapa,

espalhou-se manualmente uma camada de isolante sobre as vias condutoras

deixando disponível uma área circular de 9,6 mm (PARAT et al., 2011; MONTEIRO

et al., 2016). Esse é o primeiro trabalho realizado no Brasil que utiliza este tipo de

eletrodo, para estudos de Cd(II) e Pb(II) com as substâncias húmicas aquáticas.

64

Fonte: Autoria Própria.

Figura 9- Exemplo do eletrodo de trabalho impressos/serigrafados (screen-printed) de carbono utilizado neste trabalho.

Para os experimentos com o Cd(II) e Pb(II), foi necessária a deposição diária

do filme de Hg no eletrodo de carbono. Anterior a esta etapa, o eletrodo foi

condicionado usando um pré-tratamento eletroquímico (Figura 10): cinquenta

sucessivas varreduras de voltametria cíclica entre -0,8 e +0,8 V a 0,1 Vs-1 em uma

solução de acetato de amônio (NH4CH3COOH 1,0 mol L-1) em HCl (0,5 mol L-1)

(MONTERROSO et al., 2004). O filme fino de Hg foi preparado ex-situ (fora da

célula) em 0,24 mmol L-1 de nitrato de Hg(II) em ácido nítrico 0,73 mmol L-1 (pH 1,9)

e depositado no eletrodo por eletrodeposição a -1,3 V por 700s usando uma

velocidade de rotação do agitador de 1000 rpm.

Após cada dia de trabalho a carga associada com o Hg depositado foi

determinada para avaliar o desenvolvimento do filme de mercúrio. Isto foi realizado

por integração eletrônica da varredura linear de redissolução (do inglês, linear

sweep stripping) do pico de Hg com uma taxa de varrimento 0,005 V s-1 em

5 mmol L-1 de tiocianato de amônio (pH 3,4) usando uma etapa de redissolução de

-0,15 V a +0,4 V (MONTEIRO et al., 2016).

Fonte: Autoria Própria.

Figura 10- Pré-tratamento eletroquímico do eletrodo impresso de carbono.

65

4.6.2. Desenvolvimento da metodologia eletroanalítica utilizando as técnicas SCP e

AGNES para determinação de cádmio total e livre nas amostras de água dos rios

Itapanhaú e Sorocabinha, que possibilite uma futura aplicação on-site

A metodologia proposta foi aplicada nas amostras de água dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú coletadas no período seco (novembro/2014) previamente

filtradas em membranas de nitrato de celulose 0,45 μm para obtenção da fração

dissolvida, nomeada de in natura. Para a realização dos experimentos foi

necessário fazer quatro adições (spike) da solução padrão de Cd(NO3)2 8,9x10-4

mol L-1 com o objetivo de obter concentração total de Cd(II): 0,7; 1,5; 2,4 e

3,2 x10-7 mol L-1 nas amostras após a filtração, uma vez que este íon metálico não

estava presente originalmente nas amostras. Nessa amostra, foram aplicados três

tipos de tratamentos:

a) acidificada com HNO3 1,0 mol L-1 antes de ser analisada por por SCP

para obter a concentração total do Cd(II) dissolvido: nomeada de in

natura acidificada;

b) analisada diretamente usando AGNES para obter a concentração de

Cd(II) livre;

c) ultrafiltrada em 1 kDa, e em seguida, acidificada com HNO3 (1,0 mol L-1)

para análise por SCP, para obter a concentração de metais, incluindo

tanto o Cd(II) livre quanto o Cd(II) coordenado a ligantes com tamanho

inferior a 1 kDa: nomeada de ultrafitrada acidificada. Os resultados

dessa etapa foram comparados com os obtidos por AGNES.

As amostras obtidas nos tratamentos (a) e (c) foram analisadas também por

GF-AAS para a validação da metodologia.

66

4.6.2.1. Experimentos de cronopotenciometria de redissolução (SCP) em meio

ácido (metal total nas amostras in natura e ultrafiltradas acidificadas)

Inicialmente foram realizados testes de otimização do método de SCP para a

obtenção do potencial de deposição ( ), tempo de deposição ( ) e da corrente

( ) 2,5x10-6 A, de maneira a obter as condições que permitissem melhores valores

de LD e mitigação da influência do oxigênio presente nas amostras. Esses testes

foram realizados em 20 mL de solução de NaNO3 com uma concentração

conhecida de Cd(II) e variando-se o ( ), o ( ) e ( ) aplicados.

Com as melhores condições econtradas: -0,78 V(vs Ag/AgCl), 45s,

e 2,5x10-6 A, aplicada até que o potencial de -0,30 V fosse alcançado,

velocidade de rotação 1000 rpm (somente durante a etapa de deposição), as

medidas de SCP foram realizadas em 20 mL das amostras acidificadas após a

adição do Cd(II). A acidificação da amostra foi necessária nas medidas com SCP,

pois o objetivo era determinar o Cd total presente nas amostras.

O sinal da SCP é o tempo de transição característico , o qual é dado por:

Equação 13

onde o limite da corrente de difusão é proporcional a concentração do metal no

interior da solução e a constante de proporcionalidade.

4.6.2.2. Experimentos de AGNES: determinação do Cd(II) livre nas amostras in

natura

Para as medidas de AGNES foi necessário fixar o pH desejado previamente,

usando o tampão MES. De acordo com Soares (1999) o tampão MES não se liga

ao Cd(II). No caso da amostra de água do rio Sorocabinha manteve-se a força

iônica natural, mas para a amostra do rio Itapanhaú, a força iônica foi fixada em

0,010mol L-1 acrescentando NaNO3 e monitorando a condutividade da solução. Isto

é necessário, uma vez que uma força iônica suficientemente elevada

(>10 mmol L-1) e um sistema bem tamponado são obrigatórios para a obtenção de

resultados precisos em AGNES (AGUILAR et al., 2013).

67

A concentração dos íons metálicos livres foi determinada pelo método de

AGNES de acordo com o procedimento desenvolvido por Parat e colaboradores

(2011), onde a quantificação do metal amalgamado na etapa de equilíbrio é feita

usando uma medida cronopotenciométrica. Após a escolha do , foram realizadas

medidas de AGNES variando os (30, 45, 60, 90, 120, 240, 300 e 600 segundos)

até encontrar o tempo, a partir do qual, a concentração de Cd(II) permaneceu

constante e consequentemente já atingiu o equilíbrio termodinâmico, para obtenção

de LD da ordem de 1 a 5 nMol L-1.

Nesta otimização o sinal de AGNES é a carga ( ) correspondente ao metal

amalgamado no eletrodo de mercúrio que é dado por:

Equação 14

onde é o tempo de reoxidação, é a corrente de reoxidação aplicada na fase

de redissolução, é uma constante de proporcionalidade e

é a concentração

do metal livre no interior da solução.

4.6.2.3. Experimentos de ultrafiltração com membranas de 1kDa para a validação

da metodologia proposta

Inicialmente foram realizados testes cinéticos para determinação do tempo

necessário para o estabelecimento do equilíbrio dos íons Cd(II) com as amostras

de SHA, AF e AH extraídas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú, no sistema de UFT

com membranas de 1 kDa. Para esses experimentos, foram preparados 200 mL de

soluções de SHA, AF e AH 100,0 mg L-1 de COD, em seguida foi feito um spike de

Cd(II) nas soluções (a partir de solução intermediária de 2,4x10-3 mol L-1 de Cd(II))

para obter concentração final de 1,4x10-4 mol L-1 de Cd(II). Os testes foram

realizados no pH natural das amostras. Nesse experimento, as soluções

preparadas ficaram em agitação constante. Alíquotas de 2 mL da amostra

ultrafiltrada foram coletadas antes do spike e após 10, 20, 30, 40, 50, 60, 90, 120,

150, 180, 210, 240, 300 minutos após a adição do Cd(II). Depois de coletadas as

amostras foram analisadas por ICP OES.

A Figura 11 representativa de todas as amostras de ambos os rios, indicou

que é necessário aguardar 20 minutos para o estabelecimento do equilíbrio.

68

Fonte: Autoria própria.

Figura 11- Resultado do teste cinético para obtenção do tempo de equilíbrio representativo

dos experimentos realizados com as amostras de SHA, AF e AH (100,0 mg L-1) nas

condições de pH e força iônica natural das águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú.

Após esta etapa, o sistema de UFT devidamente limpo, foi ambientado por

15 minutos com um litro das amostras de águas in natura dos rios estudados, com

o pH e força iônica natural sob agitação constante para condicionamento da

membrana. Em seguida, uma alíquota de 25 mL foi retirada da amostra in natura e

iniciado o procedimento de ultrafiltração, recolhendo-se a primeira alíquota de

ultrafiltrado (25 mL).

Após essa primeira alíquota, foram realizadas quatro adições da solução

padrão de Cd(NO3)2 8,9x10-4 mol L-1 com o objetivo de obter concentração total de

Cd(II) de 0,7; 1,5; 2,4 e 3,2x10-7 mol L-1 na amostra in natura. Após cada adição, o

pH da amostra in natura foi ajustado para o valor original usando NaOH 1,0 mol L-1

devido à pequena variação induzida pelo ácido presente na solução padrão de

Cd(II) e em seguida, foram recolhidas alíquotas de 25 mL amostra in natura e após

os 20 minutos do tempo de equilíbrio foram ultrafiltrados 25 mL de amostra. Todas

as adições de Cd(II) foram calculadas levando-se em consideração a variação do

volume na amostra in natura.

A quantificação do Cd(II) nas alíquotas das amostras in natura e ultrafiltradas

(UF) após o spike foi realizada por SCP (em 20 mL das amostras após acidificação

0,0E+00

5,0E-05

1,0E-04

1,5E-04

2,0E-04

2,5E-04

3,0E-04

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300

Cd

(m

ol

L-1

)

Tempo (min)

69

com HNO3 1,0 mol L-1) e por GF-AAS (5mL das amostras sem acidificar) para

validação dos resultados de SCP.

4.6.2.4. Determinação do Cd(II) por GF-AAS

O Cd(II) foi determinado em 5 mL das amostras in natura e ultrafiltradas

(UF) após o spike, para a validação dos resultados obtidos por SCP. As condições

de análise para a determinação de Cd(II) nas amostras de águas naturais por

GF-AAS foram obtidas após a otimização do programa de aquecimento do tubo de

grafite, utilizando soluções analíticas contendo 4,8x10-8 mol L-1 de Cd(II) (preparado

após diluição da solução padrão 8,9x10-3 mol L-1) em HNO3 2% (v/v) na presença

dos modificadores químicos (5 μL Pd(NO3)2 + 3 μL Mg(NO3)2).

A avaliação do comportamento térmico do Cd (λ= 228,8 nm) permitiu

selecionar, respectivamente, 700 e 1600 ºC como temperaturas ideais de pirólise e

atomização, respectivamente (Figura 12). A curva de calibração para Cd (0,9; 1,8;

4,4; 7,1 e 8,9x10-8 mol L-1) foi realizada nas mesmas condições (preparada após

diluição da solução padrão 8,9x10-3 mol L-1). Todas as medidas foram realizadas

em triplicata. Quando necessário, foram realizadas diluições adequadas das

amostras usando água ultrapura água ultrapura (18,2 MΩ.cm, Millipore). Os LD e

quantificação LQ obtidos foram 0,6 μg L-1 (0,5x10-8 mol L-1) e 1,9 μg L-1

(1,7x10-8 mol L-1), respectivamente.

70

Figura 12- Curva de temperatura de pirólise (curva à esquerda) e de atomização (curva à

direita) para solução aquosa de Cd(II) 4,8x10-8 mol L-1.

A Figura 13 resume a metodologia proposta neste trabalho publicado na

revista Talanta. Esses métodos foram desenvolvidos e testados com a finalidade

de uma futura aplicação on-site.

´

71

Fonte: adaptada de MONTEIRO et al., 2016.

Filtração em 0,45 µm

Bomba Peristáltica

Spike Cd (II) (10-7 mol L-1)

0,7 ; 1,5; 2,4 e 3,2

(c) ultrafiltrada (UF)

acidificada

SCP AGNES

Metal Livre + complexos orgânicos

e/ou inorgânicos (<1kDa)

A validação analítica do método proposto foi realizada por comparação dos

resultados obtidos por GF-AAS em (a) e (c);

Metal Total Metal Livre

(a) In natura acidificada

(b) in natura

200 µL de HNO3

1,0 mol L-1

200 µL de HNO3

1,0 mol L-1

SCP GF-AAS

GF-AAS

Figura 13- Descrição da metodologia de especiação de Cd(II) em águas naturais por

AGNES, UF-SCP e UF-GF-AAS proposta por este trabalho.

72

4.6.3. Estudo das interações do Cd(II) e Pb(II) com os ácidos fúlvicos e húmicos

utilizando AGNES

Os experimentos de Cd(II) e Pb(II) com as amostras dos AH e AF dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú (período seco e chuvoso) foram efetuados em dias

diferentes em duplicata ou triplicata e consistem em duas etapas: calibração e

titulação das amostras detalhadas a seguir:

1) Calibração

As calibrações diárias de AGNES foram realizadas utilizando 20 mL de uma

solução de NaNO3 com força iônica de 0,01 mol L-1 ( parâmetro mantido constante

durante todo o experimento).

A primeira leitura de AGNES feita nesta solução foi nomeada de branco,

após a leitura do branco, foram adicionados consecutivamente 35, 37, 150 e 150

µL de uma solução de Cd(II) 3,0x10-6 mol L-1, resultando na curva de calibração

com concentrações finais de Cd(II) (5,0x10-9 e 1,0; 3,0 e 5,0x10-8 mol L-1). As

calibrações do Pb(II) foram construídas com adições de 23, 23 e 91 µL de uma

solução de Pb 4,8x10-6 e 32 µL de uma solução de Pb 4,8x10-5 mol L-1, resultando

nas concentrações finais de Pb(II) (5,0x10-9, 1,0x10-8, 3,0x10-8 e 1,0x10-7 mol L-1).

2) Titulações das amostras com Cd(II) e Pb(II)

Os ligantes (ácidos húmicos e fúlvicos) foram adicionados diretamente à

solução presente na célula eletroquímica após o final da curva calibração, as

concentrações adicionadas dos ligantes serão exibidas na Tabela 4. Após a adição

do ligante a solução foi tamponada de acordo com o pH desejado.

Os experimentos foram realizados em três pH diferentes para cada metal. A

escolha do pH, está relacionada ao pH natural das amostras de água coletada nos

rios Sorocabinha e Itapanhaú. Para os experimentos com Cd(II), realizados em pH

6,0; 7,0 e 8,0. Os valores de pH foram ajustados utilizando o tampão MOPs

(ácido 3-N-morfolinopropanosulfônico). Nos experimentos realizados com o Pb(II)

em pH 5,0; 5,5 e 6,5 o ajuste do pH foi realizando usando o tampão MES (ácido 2-

N- morfolinoetanosulfônico). Além dos tampões soluções de NaOH (0,1 mol L-1) e

HCl (0,1 mol L-1) também foram utilizadas para o ajuste do pH quando necessário.

73

Feito o ajuste do pH, foram realizadas medidas de AGNES para cada adição

de metal Cd (5,0x10-8, 1,0x10-7, 1,5x10-7, 2,0x10-7, 3,0x10-7, 6,0x10-7, 1,0x10-6,

2,0x10-6, 3,0x10-6 e 5,0x10-6 mol L-1) e Pb (1,0x10-7, 1,5x10-7, 2,0x10-7, 3,0x10-7,

4,5x10-7, 6,0x10-7, 1,0x10-6, 1,5x10-6, 2,0x10-6, 3,0x10-6 e 4,0x10-6 mol L-1). Os

parâmetros eletroquímicos estão apresentados na Tabela 5.

Tabela 4- Informações sobre a concentração dos ligantes utilizados nos experimentos de e AGNES em função do pH.

Metais Concentração dos Ligantes (mg L-1)

Cd2+

pH

6,0

7,0

8,0

17,0 ± 0,5

Pb2+

4,5 ± 0,7 pH

5,0

5,5

6,5

Tabela 5- Parâmetros eletroquímicos utilizados nos experimentos para Cd(II) e Pb(II).

Parâmetros Eletroquímicos Cd2+ Pb2+

Potencial de deposição Ed -0,72 -0,615

Tempo de deposição (s) duas etapas

45/90 45/90

Corrente (A) 2,0 x10-6 2,0 x10-6

Tempo de medida (s) 20,0 20,0

Agitação (rpm) 1000 1000

4.7. Descarte de resíduos

O tratamento, segregação e destinação dos resíduos gerados nesse trabalho

obedeceram ao estabelecido nas diretrizes básicas para o gerenciamento de

resíduos na UNESP, que está disponível em

http://www.unesp.br/prad/imagens/manual-residuos.pdf.

74

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Caracterização das amostras de águas “in natura” dos rios Sorocabinha e

Itapanhaú

Os resultados dos parâmetros utilizados para avaliação da qualidade da

água e os dados do COD e absorbância em 254 e 436 nm (Tabela 6) permitiram

um maior entendimento das principais diferenças das águas dos rios Sorocabinha

(RS) e Itapanhaú (RI), coletadas em março/2014 (coleta 1), período de ocorrências

de chuva em ambos os ambientes, denominado período chuvoso, e em

novembro/2014 (coleta 2) que abrangeu um período excepcionalmente muito seco.

Tabela 6- Resultados dos parâmetros físico-químicos das amostras coletadas no rio Itapanhaú e Sorocabinha em dois períodos de amostragem no ano de 2014.

Rio Sorocabinha Rio Itapanhaú

Parâmetros Coleta 1 Coleta 2

Chuvoso Seco Chuvoso Seco

pH 5,3 ± 0,1 6,7 ± 0,03 6,1 ± 0,04 6,3 ± 0,03

Condutividade µS cm-1 124,0 ± 0,1 1043,0 ± 0,8 109,0 ± 0,2 189,0 ± 0,2

Nitrogênio Total

mg N L-1 3,3 ± 0,1 0,6 ± 0,2 1,0 ± 0,22 0,9 ± 0,1

Fósforo Total mg P L-1 0,3 ± 0,1 0,8 ± 0,1 0,2 ± 0,03 0,5 ± 0,1

Cloreto mg Cl-1 L-1 13,3 ± 0,5 30,3 ± 0,5 11,8 ± 0,39 12,8 ± 0,3

Turbidez NTU 2,7 ± 0,2 6,0 ± 0,1 5,9 ± 0,2 3,7 ± 0,1

OD mg O L-1 3,2 ± 0,2 1,4 ± 0,03 2,7 ± 0,17 1,8 ± 0,1

DBO5 mg L-1 2,0 ± 0,1 1,1 ± 0,1 0,2 ± 0,05 1,2 ± 0,1

Cor u.C 500,0 ± 0,1 280,3 ± 0,1 246,8 ± 0,19 270,8 ± 0,1

COD mg L-1 52,5 ± 0,5 18,9 ± 0,1 16,2 ± 0,12 16,0 ± 0,1

λ 254 nm 1,0 0,8 0,8 0,8

λ 436 nm 0,06 0,1 0,1 0,07

A254/A436 15,6 11,9 11,7 11,3

75

Os rios apresentaram valores de pH semelhantes que variaram de 5,3 a 6,6

no rio Sorocabinha e de 6,1 a 6,3 no rio Itapanhaú, o valor mais ácido encontrado

no RS pode está associado a uma maior concentração de COD encontrado na

coleta1. A condutividade elevada (>100 μS cm-1) em ambos os rios permite inferir

que esses ambientes apresentam muitos íons dissolvidos na água, o que pode ser

comprovado com os resultados de metais (Tabela 6). O valor atípico

(1043,0 μS cm-1) encontrado no RS além da presença de metais pode está

associado à presença de sais oriundos da água do mar (GOVEIA; ROCHA, 2011),

inclusive nesse período a concentração do íon Cl- dobrou chegando a 30,3 mg L-1.

A presença de nitrogênio total (NT) e fósforo total (PT) pode estar associada

tanto às fontes naturais (origem alóctone, dissolução dos solos e decomposição da

matéria orgânica) quanto antropogênicas (do uso de fertilizantes, despejos

domésticos e industriais) e podem ser transportados para os rios em razão da

drenagem das águas em áreas agrícolas e urbanas. Os maiores valores

(3,3 mg L-1 para o RS e 1,3 mg L-1 para o RI) das concentrações de NT foram

encontrados no período chuvoso, sugerindo que as chuvas, são responsáveis pelo

aporte de NT de origem difusa (urbana e/ou agrícola) nesses ambientes,

entretanto, todos os valores de NT estão de acordo com o especificado pelo

CONAMA 357, até 3,7 mg L-1. Já os de fósforo apresentam-se acima dos valores

máximos permitidos pelo CONAMA, que estabelece o limiar de 0,05 mg L-1.

Observa-se também pela Tabela 6 que os rios possuem elevada

concentração de COD. Os valores encontrados para o RS foram bem diferentes em

relação aos dois períodos estudados, uma vez que no período chuvoso (coleta1)

esse rio exibiu um valor de COD de 52,5 mg L-1. Já os valores de COD do RI

permaneceram praticamente constantes, porém levemente maior também na

coleta 1. Os maiores valores encontrados nessa coleta podem está relacionado à

contribuição da lixiviação dos solos e plantas para os rios através das chuvas, e no

RS, pode ser um pode ser um indicativo da contribuição de fontes antropogênicas

(lançamentos de esgotos urbanos, por exemplo) para o acréscimo do valor de COD

nesse período.

A Tabela 7 mostra uma comparação dos resultados de COD dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú encontrados neste trabalho com outros rios brasileiros e

de outros países. Estas diferenças na quantidade de carbono em diversos

ambientes dependem das condições locais, como por exemplo, contribuição

76

antropogênica, sazonalidade, vegetação, degradação microbiana, clima e

diferenças na geomorfologia (JAFFÉ et al., 2004; GOVEIA et al., 2011; YLÖSTALO

et al., 2016).

Tabela 7- Comparação das médias de carbono orgânico dissolvido encontradas neste trabalho com outros rios nacionais e internacionais.

Rio Média COD

(mg L-1) Referência

Rios no Brasil

Rio Piauí (Sergipe) 6,0 Costa et al., 2011

Rio Niquim (Alagoas) 6,0 Botero et al., 2014

Rio Negro (Amazonas) 12,0 Júnior et al., 2001

Rio Ribeira de Iguape (São Paulo) 37,0 Goveia et al., 2011

Rios de outros países

Rio Howjin (Taiwan) 8,3 Shiua; Leea, 2017

Rio Sagami (Japão) 1,1 Kikuchi et al., 2017

Rio Xiaoqing (China) 19,3 Jiang et al., 2017

Yeongsan River (Gwangju, Korea) 4,9 Chon et al., 2017

Este trabalho

Rio Sorocabinha 35,7

Rio Itapanhaú 16,0

O parâmetro COD representa uma medida quantitativa da matéria orgânica

total dissolvida na água. Ambientes com altas concentrações de carbono

geralmente ocasionam baixos valores (1,4 a 3,2 mg L-1) de oxigênio dissolvido

(OD), como os encontrados neste trabalho (Tabela 6) nos períodos estudados,

como possível consequência do aumento da atividade microbiana durante o

processo de degradação da matéria orgânica.

Outra característica peculiar desses ambientes é a coloração amarela, a

qual pode está associada à presença das substâncias húmicas. As medidas de UV-

Vis têm sido utilizados como método semi-quantitativo para caracterizar a matéria

orgânica presente em águas naturais. A absorbância em 254 nm, por exemplo, é

típico de substâncias ricas em grupos aromáticos, tipo substâncias húmicas. E a

77

razão ⁄ é um indicador da sua origem (JAFFÉ et al., 2004; MONTEIRO

et al., 2016).

Os valores dessa razão encontrados para o RS no período chuvoso foi de

15,6 e 11,9, respectivamente, no período seco. E 11,7 e 11,3 para o RI nos

períodos chuvoso e seco, respectivamente (Tabela 6). Os resultados similares das

amostras sugerem que a origem da MOD é possivelmente de fontes semelhantes.

Os valores no intervalo de 4,4 e 11,3 medidos nas águas da Bacia do rio

Orinoco por Battin (1998) foram associados à matéria orgânica que possuem maior

predominância de carbonos aromáticos, típicos de substâncias como tanino e/ou

húmicas provenientes da degradação das plantas e solos, ou seja, alóctone

(JAFFÉ et al., 2004). Logo, pode-se inferir que a fonte da MOD dos ambos os rios

estudados é semelhante e predominantemente alóctone, porém no período

chuvoso, além da degradação das plantas e solos, fontes antropogênicas (esgotos

urbanos e/ou agrícolas) podem ter contribuído para o acréscimo dos valores de

COD e da razão ⁄ encontrados para o rio Sorocabinha, nesse período.

5.2. Influência da matéria orgânica natural na especiação dos metais

originalmente presentes nas águas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú

Os resultados das concentrações de metal total (MT), metal dissolvido (MD),

metal particulado (MP), “metal livre” (M) e metal complexado (ML) encontrados nos

rios Sorocabinha e Itapanhaú após detecção por ICP OES estão exibidos nas

Tabelas 8 e 9, respectivamente. O fluxograma apresentado na Figura 14 exibe a

definição operacional das frações dos metais adotadas neste trabalho.

78

Fonte: Autoria própria.

Figura 14- Definição operacional das frações do metal total, dissolvido e livre.

Inicialmente foi aplicada aos dados pré-processados usando

autoescalamento, a análise de agrupamento hierárquico, do inglês Hierarchical

Cluster Analysis (HCA), que permite a visualização de dados multidimensionais em

duas ou três dimensões e, ainda, a determinação de grupos de elementos (ou de

amostras) com comportamentos semelhantes (HORTELLANI et al., 2008). Foi

construída uma matriz (14x6) de dados usando as concentrações dos Al, Cu, Co,

Cr, Fe, Mn e Zn determinados nas amostras de água coletadas nos meses de

março e novembro/2014 como linhas, e as concentrações de metal total (MT),

metal dissolvido (MD) e metal livre (M) para os Rios Sorocabinha (RS) e Itapanhaú

(RI) como colunas.

Para o cálculo das distâncias interpontos foi usada à medida Euclidiana e

para ligação (a geração dos grupos) foi aplicado o método Ward’s. O gráfico

resultante que ilustra os agrupamentos formados é chamado de dendograma

(HORTELLANI et al., 2008).

A Figura 15 mostra o dendograma obtido entre as variáveis das

concentrações do MT, MD e M. Pode-se observar a formação de dois grupos com

dissimilaridade de 45% entre as concentrações dos íons metálicos dos dois rios.

No entanto, percebe-se que há um agrupamento entre as formas de metal

79

dissolvido e livre em ambos ambientes. Para o metal total verificou-se uma

associação entre as similaridades de 90% entre o grupo formado pelas descrições

MT-RS, MD-RS e MD-RI e 55% entre M-RS, M-RI e MT-RS, talvez relacionadas à

maior variância nas concentrações dos metais entre os meses de março e

novembro/2014.

Figura 15- Dendograma: cálculo da distância Euclidiana e método de ligação Ward’s para

as variáveis: metal total, metal dissolvido e metal livre em águas coletadas dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú, Estado de São Paulo.

A Figura 16 ilustra o dendograma entre os metais e as duas campanhas.

Pode-se verificar uma similaridade para todos os metais em ambas as ocasiões de

amostragem. Porém, na distância escalonada em 66%, pode estabelecer uma

similaridade entre os três grupos dos metais. O primeiro, formado pelos metais Fe

e Al, que são elementos provenientes principalmente do intemperismo dos rios,

apresentaram em geral as maiores concentrações de MT (Tabelas 8 e 9) durante

todo o período em estudo para ambos os rios, inclusive acima dos valores máximos

(100,0 e 300,0 µg L-1, respectivamente) permitidos pela resolução nº 357/2005 do

CONAMA para águas doces de Classe 2.

80

A predominância do manganês no segundo grupo, com aproximadamente

65% de dissimilaridade, difere dos demais grupos possivelmente devido ao Mn está

predominantemente presente nesses rios em sua forma livre e/ou hidratada ou

ainda complexado a compostos inorgânicos com tamanho <1kDa. Por fim, o grupo

3, formado pelos elementos Co, Cu, Cr e Zn, representam os microelementos pois

estes apresentaram concentrações a nível de traços (µg L-1) em relação ao máximo

estabelecido pela Resolução nº 357/2005 do CONAMA para águas doces de

Classe 2 (ver tabelas 8 e 9), apresentou-se em dois subgrupos, relacionando-se Cr,

Co e Cu com concentrações obtidas como uma ordem de grandeza menor do que

o Zn, provavelmente pelo o último ser um dos elementos mais utilizado em

materiais do nosso dia a dia.

Os íons metálicos Cd(II) e Pb(II) estiveram ausentes nas tanto nas amostras

de água do rio Sorocabinha quanto no Itapanhaú nos dois períodos estudados.

Figura 16- Dendograma: cálculo da distância Euclidiana e método de ligação Ward’s para

as amostras de água em relação aos meses de março (período chuvoso) e novembro

(período seco) de 2014 coletadas nos rios Sorocabinha e Itapanhaú, Estado de São Paulo.

81

Tabela 8- Resultados de MT, MD, MP, ML, MC, determinados nas águas do rio Sorocabinha coletadas na coleta 1 (março/2014) e coleta 2 (novembro/2014).

x = metal ausente na fração.

< = os valores após os símbolos correspondem aos valores do LD obtidos por ICP OES exibidos na Tabela 3 (seção 4.2.4).

Metais Rio Sorocabinha (março/2014)

Rio Sorocabinha (novembro/2014)

Valor

Máximo

CONAMA 357

MT MP MD M ML MT MP MD M ML µg L

-1

µg L-1 µg L-1

Al

1015,3 ± 23,1 332,2 ± 14,4 683,1 ± 9,0 136,4 ± 0,001 546,6 75,9 ± 20,7 35,9± 6,0 40,0 ± 3,1 27,9 ± 0,7 12,1 100,0

Co

0,5 ± 0,10 0,09 ± 0,02 0,42 ± 0,1 <0,3 0,4 <1,1 x <1,5 <0,3 x 50,0

Cr

0,8 ± 0,22 0,34 ± 0,1 0,45 ± 0,1 <0,2 0,4 0,8 ± 0,3 0,4 ± 0,2 0,3 ± 0,1 <0,2 0,3 50,0

Cu

0,9 ± 0,06 0,02 ± 0,001 0,9 ± 0,2 0,2 ± 0,02 0,7 5,9 ± 0,9 3,5 ± 0,8 2,4 ± 0,1 <0,2 2,38 20,0

Fe

1348,4 ± 18,1 131,2 ± 6,4 1217,2 ± 9,8 118,3 ± 0,02 1098,9 711,3 ± 18,1 369,7 ± 8,3 341,6 ± 9,8 137,3 ± 0,4 204,3 300,0

Mn

77,7 ± 1,5 5,1 ± 0,3 72,6 ± 0,7 59,6 ± 0,8 13,0 107,5 ± 0,9 5,5 ± 0,19 102,0 ± 0,7 99,3 ±0,2 2,7 100,0

Zn

18,2 ± 0,03 8,7 ± 0,6 9,5 ± 2,1 <2,6 9,5 15,1 ± 0,3 2,1 ± 0,3 13,0 ± 0,1 <2,6 13,0 180,0

82

Tabela 9- Resultados de MT, MD, MP, ML, MC, determinados nas águas do rio Itapanhaú coletadas no período chuvoso (março/2014) e no período seco (novembro/2014).

x = metal ausente na fração.

< = os valores após os símbolos correspondem aos valores do LD obtidos por ICP OES exibidos na Tabela 3 (seção 4.2.4).

Metais Rio Itapanhaú (março/2014)

Rio Itapanhaú (novembro/2014) Valores

Máximos

CONAMA

357

MT MP MD M ML MT MP MD M ML

µg L-1

µg L-1 µg L-1

Al

327,8 ± 13,1 144,5 ± 5,1 183,2 ± 8,1 40,1 ± 0,01 143,1 132,8 ± 8,3 0,2 ± 0,1 132,6 ± 1,6 11,1 ± 0,001 121,6 100,0

Co <1,1 x

<1,5 <0,3 x

<1,1 x <1,5 <0,3 x

50,0

Cr <0,7 x

<0,5 <0,2 x <0,7

x <0,5 <0,2 x

50,0

Cu 0,7 ± 0,1 0,2 ± 0,05 0,46 ± 0,1 <0,2 0,5 1,1 ± 0,1 1,1 ± 0,1 <0,9 <0,2 x

20,0

Fe 1012,1 ± 7,8 593,9 ± 3,0 418,2 ± 4,8 19,9 ± 0,1 398,3

1532,1 ± 7,8 787,2 ± 5,8 744,9 ± 13,6 24,7 ± 2,1 720,2 300,0

Mn 37,9 ± 0,03 9,1 ± 0,1 9,1 ± 0,1 <0,1 9,1 84,8 ± 0,03 13,8 ± 0,4 71,0 ± 0,7 55,0 ± 0,5 16,0 100,0

Zn 11,3 ± 4,1 3,9 ± 1,0 7,4 ± 2,0 <2,6 7,4

3,1 ± 0,09 1,6 ± 0,1 1,52 ± 0,2 <2,6 1,5 180,0

83

As Figuras 17 e 18 exibem a distribuição dos íons metálicos na fração

particulada, complexados aos compostos coloidais com tamanho molecular < 0,45

µm e >1kDa, como por exemplo as SHA presentes na matéria orgânica de origem

natural ou antropogênica (M-SHA), e ainda distribuídos na fração ultrafiltrada, onde

podem estar apresentar-se em suas formas livres (M) e/ou hidratadas ou ainda

formando complexos com compostos de tamanhos menores que 1kDa.

Analisando os gráficos de distribuição dos íons metálicos nas frações

particulado, complexado e livre é possível observar que há variação no

comportamento dos metais quantificados, tanto espacial quanto temporal. Essas

variações entre os rios estudados podem estar associadas à origem da matéria

orgânica dissolvida (MOD), a qual pode afetar tanto a natureza química

(quantidade de ligantes disponíveis) quanto a sua concentração (ZHANG et al.,

2013).

A Figura 17 mostra a distribuição dos íons metálicos quantificados no rio

Sorocabinha. É possível observar que no período chuvoso houve uma maior

tendência dos metais, Al (67%), Co (82%), Cr (56%), Cu (98%), Fe (90%), Mn

(93%) e Zn (51%) apresentaram-se na fração dissolvida (ML+ M) e com exceção

do Mn (77 % na fração livre - M), preferencialmente complexados aos ligantes de

elevada massa molecular, tipo substâncias húmicas aquáticas presente na MOD.

Além do Mn, apenas Al, Fe e Cu foram encontrados em sua forma livre ou

complexados a ligantes < 1kDa.

Comparando-se essa distribuição com a do período seco, o Al, Fe e Mn que

apresentaram um decréscimo na porcentagem do metal complexado e

consequentemente um aumento da porcentagem de suas espécies livres (13 - 37%

para o Al, 9 – 19% para o Fe e 77 – 99%) enquanto que os microelementos como

Co, Cr e Cu apresentaram uma maior afinidade com o material particulado. Esse

comportamento pode estar relacionado ao decréscimo do COD, variando de

52,5 mg L-1 no período chuvoso para 19,0 mg L-1 no período seco.

84

Em relação aos resultados exibidos na Figura 18, para o rio Itapanhaú, é

perceptível uma maior dissimilaridade na distribuição dos metais Al, Cu e Mn em

função da sazonalidade. No período chuvoso o Al apresentou cerca de 44%

complexado ao material particulado, enquanto no seco 100% foi encontrado na

fração dissolvida, porém aproximadamente 91% complexado. Já o Cu apresentou-

se ligado, preferencialmente ao material particulado no período seco. O Mn metal

mais biodisponível no período seco foi encontrado predominantemente livre. Esses

resultados sugerem que o material particulado lixiviado para os rios pela chuva ou

ainda a ressuspensão desses metais para a solução apresentam maior influência

na sua especiação. Não foi observada uma relação entre esse comportamento e a

concentração do COD, pois os dois períodos apresentaram concentrações

similares, 16,2 mg L-1 no período chuvoso e 15,9 mg L-1 no período seco.

Íons metálicos encontrados no rio Sorocabinha Íons metálicos encontrados no rio Sorocabinha

Período chuvoso Período seco

Figura 17- Distribuição dos íons metálicos nas frações livres, complexada e particulada

encontrados no rio Sorocabinha no período chuvoso e seco.

85

Figura 18- Distribuição dos íons metálicos nas frações livre, complexada e particulada

encontrados no rio Itapanhaú no período chuvoso e seco.

Os resultados deste trabalho assemelham-se aos encontrados por Zhang e

colaboradores (2013), e implicam em sugerir que compostos com tamanho entre

(1kDa<ML<0,45 µm) que formam a fração de metais complexados ou chamada de

fração coloidal por aqueles autores, desempenham um papel importante no

transporte de muitos metais em águas doces. Por exemplo, essa fração coloidal

tem influenciado na especiação do Fe e Al, através da formação de Fe-hidróxidos,

argilas ou complexos com compostos orgânicos. Já em relação ao Mn, tantos os

resultados encontrados por Zhang e colaboradores quanto neste trabalho, sugerem

que os colóides orgânicos ou inorgânicos, ou seja, os compostos de alta massa

molecular, não exercem um controle significativo sobre o transporte de Mn nas

águas doces, uma vez que o Mn apresenta-se preferencialmente na sua forma

livre, por exemplo, Mn(II), forma frequentemente encontrada nesses ambientes.

Por fim, é importante ressaltar que a toxicidade da maioria dos metais está

associada à sua forma livre, ou seja, os íons metálicos livres são mais tóxicos que

os complexados. Dessa forma, quanto mais fortemente ligado a matéria orgânica

ou ao material particulado, menos biodisponível e menor é a toxicidade do íon

metalálico frente aos organismos aquáticos (ELBISHLAWI; JAFFE, 2015).

Íons metálicos encontrados no rio Itapanhaú Íons metálicos encontrados no rio Itapanhaú

Período chuvoso Período seco

86

Neste trabalho foram encontrados os íons Al, Fe, Mn e Cu em sua forma

livre, o que reforça a importância do monitoramento dessas espécies nas águas

dos rios Sorocabinha e Itapanhaú. Apesar das concentrações encontradas, serem

relativamente baixas, estes elementos não se degrada no ambiente e quando

incorporados por microrganismos podem acumular e alcançar níveis mais altos da

cadeia trófica e exercer sua toxicidade.

5.3. Caracterização das substâncias húmicas aquáticas e suas frações

Os resultados obtidos através da análise elementar (livre de cinzas) por meio

das razões atômicas H/C, C/N e O/C (Tabela 10) e da integração dos espectros de

RMN 13C (Tabela 11 e Figura 19) permitiram uma avaliação geral da composição

estrutural (tipo de carbono), bem como a estimativa do grau de aromaticidade e

humificação das substâncias húmicas extraídas dos rios Sorocabinha e Itapanhaú.

A razão H/C está relacionada com o grau de aromaticidade das SHA, logo,

valores elevados dessa razão indicam maior número de carbonos alifáticos que

insaturados. Em relação à razão O/C, acredita-se que esta é um indicador do teor

de hidratos de carbono (carboidratos) e ácidos carboxílicos de substâncias

húmicas. Já a relação C/N é um indicador das fontes de substâncias húmicas em

sistemas naturais (ROSA, 2004; ROMÃO et al., 2005).

A Figura 19 ilustra os perfis dos espectros de RMN obtidos. Os espectros

apresentam características semelhantes, com regiões/picos bem definidos nas

regiões 1, 2, 3 e 5. A região 1 (0–65 ppm) é referente aos deslocamentos de

carbonos alifáticos, por exemplo, alcanos; a região 2 (65–110 ppm) corresponde

aos grupamentos de carbonos alifáticos substituídos por oxigênio (C-O hidroxilas,

éteres). Na região 3 (110–150 ppm) e na 4 (150–160 ppm) são observados

deslocamentos de carbonos aromáticos e aromáticos ligados a oxigênio (fenólicos

e carboxilas), respectivamente. Já as regiões 5 e 6 entre 160-190 e 190-220 ppm

são referentes ao deslocamentos de grupamentos carboxílicos e carbonílicos (C=O

de cetonas, ésteres e amidas), respectivamente (ROMÃO et al., 2007; ROCHA;

ROSA, 2003).

87

Tabela 10- Resultados da composição elementar livre de cinzas das SHA e AF extraídos das amostras de água coletadas nos rios Itapanhaú (SHA RI) e (AF RI) e Sorocabinha (SHA RS) e (AF RS) nos dois períodos estudados.

Tabela 11- Valores de porcentagens relativas de diferentes grupos de carbono presentes nas amostras de SHA e ácidos fúlvicos extraídos dos rios Itapanhaú (SHA RI) e (AF RI) e Sorocabinha (SHA RS) e (AF RS) em março/2014 em novembro/2014.

Deslocamentos químico (ppm)/ Atribuições (%)

Amostras

0-65 R1

65-110 R2

110-150 R3

150-160 R4

160-190 R5

190-220 R6

C-alifáticos

C-O Hidroxila

C-aromático

C-aromático-O

C-O Carboxílicos

C-O Cetonas

SHA RS-01 45,65 24,64 13,04 1,45 13,04 2,17

SHA RS-02 43,69 20,39 20,39 2,91 9,71 2,91

SHA RI-01 58,06 18,71 12,26 0,65 9,68 0,65

SHA RI-02 46,60 21,36 17,48 2,91 9,71 1,94

AF RS-01 39,18 19,59 22,68 4,12 11,34 3,09

AF RS-02 44,09 16,13 20,43 3,23 11,83 4,30

AF RI-02 40,63 16,67 21,88 3,13 13,54 4,17

Parâmetros

Coleta 1 (período seco - março/2014)

SHA RS - 01 AF RS - 01 SHA RI - 01 AF RI - 01

C (%) 45,69 40,11 35,13 30,30 H (%) 6,53 5,12 6,0 4,10 N (%) 1,30 1,02 1,10 0,70 O (%) 46,5 53,7 57,85 64,9

Razão C/H 0,58 0,65 0,49 0,62 Razão C/O 1,31 1,00 0,81 0,62 Razão C/N 41,10 51,88 38,31 47,32

Coleta 2 (período chuvoso – novembro/2014)

SHA RS - 02 AF RS - 02 SHA RI - 02 AF RI - 02

C (%) 33,95 46,63 35,02 48,1 H (%) 4,68 4,46 5,7 4,7 N (%) 1,00 1,09 1,0 1,1 O (%) 60,4 47,8 58,31 46,1

Razão C/H 0,60 0,87 0,51 0,85 Razão C/O 0,75 1,30 0,80 1,39 Razão C/N 39,49 49,86 40,90 51,60

88

Figura 19- Espectros de RMN para as amostras de SHA e AF dos rios Itapanhaú e

Sorocabinha nos períodos estudados.

De maneira geral, há uma maior predominância de estruturas alifáticas,

grupos na composição de todas as amostras, pelo fato de apresentarem maiores

percentuais e grupamentos majoritários situados nas regiões 1 e 2 do espectro

RMN de 13C. E a variação da composição dos demais grupos de carbono ocorreu

em função da sazonalidade e do procedimento de extração das amostras.

Comparando a fração do ácido fúlvico (AF) com o seu respectivo extrato de

SHA observou-se que as amostras dos AF obtidos nos dois períodos apresentam

uma estrutura “levemente” mais aromática devido ao acréscimo das porcentagens

de deslocamentos (Tabela 11) mais pronunciados nas regiões associadas aos

carbonos aromáticos, R3 e R4 do espectro e por apresentar maiores valores da

razão C/H (Tabela 10). Estes resultados sugerem que para comparações com

outros trabalhos deve ser levado em consideração os processos de obtenção, uma

vez que a depender deste, as substâncias húmicas, podem apresentar

composições e estruturas diferentes e consequentemente suas interações com

89

espécies metálicas e/ou outros poluentes, podem ser diferentes. Neste trabalho

optamos em usar os ácidos fúlvicos purificados.

Em função da origem (local de coleta), tanto as amostras SHA quanto as de

AF extraídas do RS-01 apresentaram maiores valores das razões C/H (indicativo

de aromaticidade), C/O (um indicador do teor de hidratos de carbono (carboidratos)

e ácidos carboxílicos presentes nas substâncias húmicas) e C/N (relacionada às

fontes e degradação de SHA) em detrimento das amostras SHA e AF do RI-01

(STEVENSON, 1994; LU et al., 2000; GIOVANELA et al., 2010; GOVEIA et al.,

2011). Estes resultados são indicadores de que as amostras (SHA e AF RS-01)

são constituídas com maiores teor de cadeias carbônicas insaturadas e aromáticas

(CH2=CH2) e apresentam um maior grau de humificação, devido à diminuição da

acidez e teores de carboidratos e aminoácidos/proteínas (GIOVANELA et al., 2010;

GOVEIA et al., 2011). Já as amostras provenientes da coleta 2 são mais similares.

Os dados de RMN corroboram com essa interpretação.

Em relação à influência da sazonalidade, as amostras (SHA RI-02 e SHA

RS-02) são levemente mais aromáticas e ricas em compostos carbonílicos do que

as amostras coletadas no período chuvoso (SHA RI-01; SHA RS-01), chegou-se a

essa conclusão devido ao aumento nos teores dos carbonos aromáticos e

carbonílicos R3, R4 e R6, respectivamente, em detrimento dos demais carbonos

encontrados nas regiões, R1, R2 e R5 do espectro. Já as amostras AF RI-01 e 02 e

AF RS-01 e 02, apresentaram composições semelhantes nos períodos estudados.

Outra observação à respeito desses resultados é em relação à razão C/N a

qual pode ser um indicador das fontes e grau de decomposição das substâncias

húmicas em ambientes naturais. Sendo assim, as amostras dos RS e RI

apresentaram similaridade, pois ambas, apresentaram elevados valores (>20)

dessa razão e segundo Giovanela e colaboradores (2010), esses valores sugerem

que a vegetação local (plantas terrestres) é responsável pelo processo de

decomposição da matéria orgânica, essas substâncias podem apresentar

predominância de material original - lignocelulósico em detrimento de material

proteico.

Essas diferenças na distribuição e quantidade de grupos funcionais

presentes nas amostras estudadas podem estar relacionadas ao processo de

decomposição da matéria orgânica natural/original, o qual tende a levar a

transformações que dependem do tipo de substrato original, presença e

90

características de micro-organismo, além de outros fatores ambientais tais como:

intensidade de radiação solar, temperatura, oxigênio, pH etc (OLIVEIRA et al.,

2007; ROCHA et al., 2003).

A análise de variância (ANOVA) de fator único foi aplicada ao conjunto dos

dados obtidos através dos espectros de RMN 13C apresentados na Tabela 11, a fim

de verificar se no intervalo de 95 % de confiança, as amostras, apresentariam

diferença significativa, entre elas, tanto em relação ao processo de extração do

material, quanto em relação à variação sazonal. Os resultados da ANOVA

revelaram que apesar das amostras apresentarem algumas variações em suas

composições estruturais, não há diferença significativa entre elas, uma vez que os

resultados de Fcalculado (0,022 – 0,90) foram sempre menores que o

Ftabelado/crítico (~4,96), além disso, os valores de p encontrados (p>0,05)

também indicam que não há diferença significativa entre o conjunto de dados.

5.4. Fracionamento molecular das substâncias húmicas aquáticas e suas

frações

Na caracterização da MON e do extrato das SHA e suas frações (AF e AH) é

muito importante conhecer a distribuição de tamanhos moleculares, tanto para

perceber se após os processos de extração e purificação, as frações resultantes

ainda são representantes da composição original da amostra in natura, ou se esses

procedimentos ocasionariam comportamentos diferentes de distribuições de COD,

quanto para investigar se os íons metálicos originalmente presentes, têm

interações preferenciais com alguma das frações.

As Figuras 20, 21, 22 e 23 e a Tabela 12 exibem a distribuição das frações

com diferentes tamanhos moleculares em função das respectivas porcentagens de

carbono nas amostras extraídas (SHA, AH e AF) dos rios estudados. Para as

amostras das SHA e AF e in natura foram obtidas seis frações, e para os AH

apenas 5, assim descritas: F1 >100 kDa;30 <F2< 100 kDa; 10 < F3 <30 kDa; 3< F4 <

10 kDa; 1 < F5 < 3 kDa (para SHA e AF) ou F5 <3 (para AH) e F6 <1 kDa.

91

Tabela 12- Resultados das distribuições do COD (%massa) das amostras extraídas dos rios Itapanhaú (SHA, AF, AH RI) e Sorocabinha (SHA, AF, AH RI) em março (01) e novembro (02) /2014.

Os primeiros resultados exibidos correspondem à comparação do

fracionamento das amostras em função do processo de extração da amostra.

Observando as distribuições do COD para as amostras provenientes do rio

Itapanhaú (Figura 20) nota-se que a amostra in natura é especialmente rica em

COD entre 10 e 1 kDa com 78% do total em duas frações (F4 a 28% e F5 a 50%).

Em seguida observa-se que o extrato (SHA) é semelhante ao AF, quando

comparados à amostra in natura, pois ambos apresentam-se mais distribuídos nas

frações maiores (F1, F2 e F3), são semelhantes nas frações (F4 e F5) e bem

menores nas inferiores a 1kDa (F6). Esse comportamento indica que nesse caso,

os AF são majoritários no extrato do rio Itapanhaú, uma vez que a amostra SHA é a

soma do AF e AH. Por outro lado, o AH aparece predominantemente nas frações

maiores F1 com 50%, F2 com 17% e F3 com 21% e 11% nas menores (F4 e F5),

estando ausente da F6, como era esperado.

Amostras Amostra

Distribuição

COD (% massa)

Distribuição COD (% massa)

SHA RS - 01 F3>F5>F2>F1>F4>F6 SHA RS - 02 F4>F5>F3>F1>F6>F2

AF RS - 01 F4>F5>F3>F1>F6=F2 AF RS - 02 F5>F4>F3>F6>F1>F2

SHA RI - 01 F3>F4>F1=F5>F2>F6 SHA RI - 02 F5>F4>F3>F2>F1>F6

AF RI - 01 F3>F4>F1>F5>F2>F1 AF RI - 02 F5>F4>F3>F1>F2=F6

AH RS-02 F1>F4>F3>F2>F5

AH RI-02 F1>F3>F2>F4>F5

92

Figura 20- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento molecular

das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das amostras do rio

Itapanhaú na coleta 2 comparando-as com a amostra in natura (novembro/2014).

A Figura 21 exibe a distribuição do COD para as amostras do rio

Sorocabinha. O COD da amostra in natura do rio Sorocabinha (Figura 21),

apresentou-se mais distribuído do que o do rio Itapanhaú, com 85% do material

entre 30 e 1kDa (F3 = 30%, F4 = 22% e F5 = 33%). Comparando a distribuição das

SHA, AF e AH extraídos com os resultados da amostra in natura, foi observado que

o extrato de SHA apresenta uma maior predominância da F4 (compostos entre 3 e

10kDa), em detrimento da amostra in natura, cuja predominância, é da F3 e F5, em

relação as demais frações, F1, F2 e F6, apresentaram distribuição semelhantes.

Os AF seguem majoritariamente o SHA salvo que são maiores na F5 e menores na

F4 onde se aproximam bastante da amostra in natura. Em relação aos AH

Relativamente aos AH a fração majoritária continua a ser a F1 com 50% como no

Itapanhaú, mas curiosamente o resto do material (41%) aparece na F4.

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5 F6

F>100 30<F<100 10<F<30 3<F<10 1<F<3 F<1

Dis

trib

uiç

ão

do

CO

D (

%m

as

sa

)

Frações

SHA_C2 AH_C2 AF_C2 In natura_C2

Rio Itapanhaú

93

Figura 21- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento molecular

das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das amostras do rio

Sorocabinha na coleta 2 comparando-as com a amostra in natura (novembro/2014).

A Figura 22 exibe uma completa comparação entre as três amostras (SHA,

AF e AH) extraídas dos dois rios estudados. Observando as distribuições do

carbono nas diferentes frações para o extrato (SHA) e ácidos fúlvicos (AF) nota-se

que há uma distribuição similar, mesmo estas amostras sendo provenientes de rios

diferentes.

As amostras de SHA extraídas do RS apresenta maior predominância de

compostos de maiores tamanhos, F4 em detrimento das do RI que tem maior

porcentagem dos compostos menores F5. Em relação aos AF a maior composição

é dos grupos de menores tamanhos (F5) e para o RS há ainda uma porcentagem

maior de compostos (<1kDa). Os ácidos húmicos presentes nesses rios tem uma

maior abundância dos compostos de alta massa molecular (F>100 kDa), como

previsto pela literatura, isso pode ocorrer devido a facilidade desses compostos em

formar agregados. O que difere essas amostras é que os AH do RS também

apresentam uma quantidade expressiva de compostos entre 3 e 10 kDa.

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5 F6

F>100 30<F<100 10<F<30 3<F<10 1<F<3 F<1

Dis

trib

uiç

ão

do

CO

D (

%m

as

sa

)

Frações

SHA_C2 AH_C2 AF_C2 In natura_C2

Rio Sorocabinha

94

Figura 22- Comparação da distribuição de COD nas seis frações obtidas após

fracionamento molecular das amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados

das amostras do rio Sorocabinha e Itapanhaú (novembro/2014).

Em relação à sazonalidade, Figura 23, as amostras do RI seguem o mesmo

comportamento nos dois períodos, pois, observou-se uma maior predominância

dos compostos de tamanho (1<F5<3 kDa) no período seco. Já as amostras do RS

apresentaram comportamentos diferentes, as SHA RS-02 apresentaram um

acréscimo na fração F4 em relação à SHA RS-01, enquanto as AF RS-02

apresentaram acréscimo na fração F5. Estes resultados sugerem que as amostras

que apresentaram maior porcentagem nas frações menores estejam em estágios

mais avançados de decomposição, corroborando com o observado pelos

resultados de RMN.

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5 F6

F>100 30<F<100 10<F<30 3<F<10 1<F<3 F<1

Dis

trib

uiç

ão

do

CO

D (

%m

assa)

Frações

Coleta 2

SHA-RS SHA RI AH-RS AH RI AF-RS AF RI

95

A Figura 24 ilustra a distribuição dos íons metálicos presentes originalmente

nas frações de AH e AF extraídos dos rios Sorocabinha e Itapanhaú no período

seco (coleta 2). De maneira geral, os resultados evidenciam as diferença das

afinidades dos metais (Cu, Zn, Fe e Al) em função do material extraído e suas

origens.

No ácido fúlvico obtido de ambos os rios, Figura 24a e 24c, nota-se que a

distribuição dos íons metálicos presentes nos AF apresentou o mesmo padrão de

distribuição do COD e estiveram preferencialmente distribuídos nas frações de

menor tamanho (F4 e F5), frações que apresentaram as maiores porcentagens do

COD. Isso pode ser um indicativo que nesse caso a concentração do COD governa

a distribuição desses metais nas amostras do AF. Esse padrão não foi observado

para a distribuição no AH, no qual estiveram mais distribuídos nas frações (F1 e

F3), apesar da F3 apresentar uma pequena porcentagem do COD, indicando que

nesse caso, outros grupos químicos tenham contribuam para a complexação

desses íons nessa fração.

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5 F6

F>100 30<F<10010<F<30 3<F<10 1<F<3 F<1

Dis

trib

uiç

ão

do

CO

D (

%m

assa)

Frações

SHA RI1-01 SHA RI-02 AF RI-01 AF RI-02

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5 F6

F>100 30<F<10010<F<30 3<F<10 1<F<3 F<1

Frações

SHA RS-01 SHA RS-02 AF RS-01 AF RS-02

Figura 23- Distribuição de COD nas seis frações obtidas após fracionamento molecular das

amostras parcialmente purificadas SHA, AH e AF purificados das amostras do rio Itapanhaú

(a) e Sorocabinha (b) da coleta 2 (novembro/2014).

96

0

10

20

30

40

50

60

F1 F2 F3 F4 F5

Frações do COD

(b) AH RI - 02

0

10

20

30

40

50

F1 F2 F3 F4 F5 F6

Va

lore

s d

e D

istr

ibu

içã

o e

m %

Frações do COD

(a) AF RI - 02

0

10

20

30

40

50

F1 F2 F3 F4 F5 F6

Va

lore

s d

e D

istr

ibu

içã

o e

m %

Frações do COD

(c) AF RI - 02

0

10

20

30

40

50

60

70

F1 F2 F3 F4 F5

Frações do COD

(d) AH RS - 02

Figura 24- Distribuição dos metais Zn, Cu, Fe, Al presentes originalmente nas frações do

COD das amostras de AF e AH dos rios Sorocabinha (a e b) e Itapanhaú (c e d) extraídos da

coleta 2.

97

5.5. Desenvolvimento da metodologia eletroanalítica utilizando as técnicas

SCP e AGNES para determinação de cádmio total e livre nas amostras de

água dos rios Itapanhaú e Sorocabinha, que possibilite uma futura aplicação

on-site

A metodologia proposta e desenvolvida neste trabalho com ensaios em

laboratório oferece uma nova perspectiva para especiação de metais traço em

águas naturais, no que diz respeito às futuras análises on-site. Como já descrito

anteriormente, a análise de especiação de metal traço não é uma tarefa simples

devido à complexidade das matrizes ambientais. Além disso, a coleta e tratamento

das amostras de águas naturais podem promover e/ou induzir às alterações na

distribuição das espécies antes das medidas em laboratório. Dessa forma, medidas

on-site são preferíveis, uma vez que elas evitam problemas devido à contaminação

durante a amostragem, adsorção de metal nas paredes do recipiente e a

instabilidade das espécies metálicas durante o transporte e armazenamento antes

das medidas (MONTEIRO et al., 2016).

Ao longo dos anos um grande esforço foi feito para conceber o design de

sensores químicos para medidas on-site e há uma vasta literatura sobre sensores

químicos para medidas aquáticas (BUFFLE et al., 2000), porém estes métodos se

concentram principalmente na determinação de metal total. E em termos de

portabilidade para sistemas de detecção on-site, os dispositivos eletroquímicos são

os mais vantajosos devido ao seu pequeno tamanho e baixa demanda de energia.

5.5.1. Determinação de cádmio total na amostra in natura por SCP

A determinação do Cd total foi realizada nas amostras in natura filtradas

(0,45 µm) e posteriormente acidificadas para obter a concentração total do metal

dissolvido (MONTEIRO et al., 2016).

Inicialmente, o sistema eletroanalítico foi calibrado para obter o valor da

constante de proporcionalidade; (Equação 13), utilizando três ou quatro adições

de metal medidas em triplicata. Dez curvas de calibração foram construídas no

intervalo de 3,0 x10-9 a 1,0 x10-7 mol L-1 para obtenção do LD que variou de

0,8 a 2,4 x10-9 mol L-1 e sete curvas de calibração foram construídas na faixa de

3x10-9 a 1,0 x10-7 mol L-1 e de 1,0 a 3,0 x10-7 mol L-1 produzindo um LD no intervalo

98

3,6 a 9,8x10-9 mol L-1 que é da mesma ordem de grandeza do LD obtido por

GF-AAS (5,0x10-9 mol L-1) (MONTEIRO et al., 2016).

É importante mencionar que os valores de LD podem ser melhorados

utilizando tempos de deposição mais elevados (60 a 600s) tradicionalmente

utilizados em voltametria de redissolução. Neste trabalho utilizamos o tempo de

45s e os LD obtidos foram comparáveis com os do GF-AAS

(MONTEIRO et al., 2016).

De maneira geral, os resultados das análises de Cd(II) por SCP e GF-AAS

exibidos na Tabela 13 foram considerados satisfatórios, visto que apresentaram

elevados valores de concordância entre o valor adicionado e valor medido

(% recuperação), uma vez que em se tratando de amostras ambientais, conseguir

medidas reprodutíveis é difícil. A porcentagem de recuperação das medidas feitas

por SCP variou de 85 a 109%, com média de 96%, sendo estes ligeiramente

melhores que os encontrados por GF-AAS, os quais variaram entre 85 a 97%, com

valor médio de 91%.

Estes resultados confirmaram e validaram a capacidade da SCP em

determinar com precisão a concentração do Cd(II) total adicionado nas amostras

de águas naturais estudadas tanto em laboratório quanto em on-site, uma vez que

os únicos tratamentos realizados nas amostras foram a filtração em 0,45 µm e

acidificação com o HNO3, que podem facilmente serem realizados em campo, não

sendo necessário métodos prévios para destruir a matéria orgânica para a

determinação do Cd total provavelmente devido à fraca ligação de Cd(II) com a

matéria orgânica. Para outro metais como Cu(II) ou Pb(II), esta simplificação da

metodologia assumida neste trabalho deve ser validada (MONTEIRO et al., 2016).

99

Tabela 13- Comparação dos resultados da determinação de Cd total por SCP e GF-AAS

nas amostras coletadas nos rios Sorocabinha e Itapanhaú em novembro/2014.

Rio

[Metal Adicionado] 10

-7 mol L

-1

GF-AAS

10-7

mol L-1

Recuperação (%)

SCP 10

-7 mol L

-1

Recuperação (%)

Sorocabinha 0,7 0,7 93 0,8 109

Sorocabinha 1,5 1,4 92 1,3 85

Sorocabinha 2,4 2,2 92 2,4 100

Sorocabinha 3,3 2,9 85 3,3 100

Itapanhaú 0,7 0,7 97 0,7 102

Itapanhaú 1,5 1,3 88 1,4 93

Itapanhaú 2,4 2,1 88 2,5 106

Itapanhaú 3,3 3,0 91 3,0 91

Fonte: adaptada MONTEIRO et al., 2016.

5.5.2. Determinação de cádmio total nas amostras ultrafiltradas (<1 kDa)

Para melhores resultados o tempo de condicionamento das amostras no

sistema de UFT foi fixado em 15 minutos e fluxo nas válvulas de recirculação e o

fluxo de saída do ultrafiltrado foram definidos como 1,0 e 0,3 mL min-1

respectivamente.

Os resultados obtidos após determinação por SCP e GF-AAS das amostras

ultrafiltradas em 1 kDa e acidificadas, representam a concentração de Cd(II),

incluindo tanto o íon metálico livre quanto o metal coordenado a pequenos ligantes

que foram capazes de permear a membrana. A Tabela 14 exibe os resultados de

duas réplicas dos experimentos de UFT-SCP e UFT-GF-AAS para cada rio

estudado.

100

Tabela 14- Comparação dos resultados da determinação de Cd livre nas amostras

ultrafiltradas acidificadas por SCP e GF-AAS.

Cd adicionado

UFT/SCP

UFT/GF-AAS

Cd adicionado

UFT/SCP

UFT/GF-AAS

Cd (10-7 mol L-1)

Itapanhaú 1 Itapanhaú 2

0,7 0,3 0,2 0,7 0,3 0,2

1,5 0,5 0,5 1,5 0,4 0,5

2,4 1,0 0,9 2,4 0,9 0,9

3,2 1,3 0,9* 3,2 1,3 1,0*

Sorocabinha 1 Sorocabinha 2

0,7 0,4 0,5 0,7 0,5 0,5

1,5 0,9 0,9 1,5 0,8 1,1*

2,4 1,4 1,4 2,4 1,3 1,5

3,2 1,8 1,9 3,2 1,8 2,0

Pontos discordantes Fonte: adaptada MONTEIRO et al., 2016.

Analisando os resultados da Tabela 14 pode-se inferir que se houver a

disponibilidade de um sensor eletroquímico que permita o uso do método para

análise de SCP e ainda a possibilidade de levar o sistema de ultrafiltração nos dias

de coleta, a SCP pode ser utilizada como técnica de quantificação das espécies

livres, minimizando assim, a possibilidade de adulteração da amostra durante o

transporte e armazenamento da amostra. Chegou-se a este entendimento através

da comparação dos resultados obtidos com as duas técnicas, os quais mostraram

mais uma vez o potencial e bom desempenho do método proposto para a medir a

concentração de metais totais em amostras ácidas por SCP, uma vez que houve

apenas três resultados discordantes obtidos por GF-AAS marcados com um

asterisco (*).

Explorando os dados da Tabela 14, é importante evidenciar que a

concentração do Cd(II) “livre” representa 39% (rio Itapanhaú) a 58% (rio

Sorocabinha) do total adicionado, indicando que a outra parte do Cd pode estar

ligada aos compostos coloidais, tipo substâncias húmicas, que ficaram retidas na

membrana de 1kDa. E embora os valores de COD e pH dessas amostras sejam

101

semelhantes, o valor de Cd(II) medido nas amostras ultrafiltradas é elevado para o

rio Sorocabinha.

5.5.3. Determinação de cádmio livre na amostra in natura por AGNES

AGNES foi aplicada diretamente na amostra in natura filtrada (0,45 µm) para

obter a concentração de metal livre. O desenvolvimento do método para medidas

de AGNES consistiu de duas etapas realizadas consecutivamente. A primeira foi à

verificação da condição de equilíbrio (medidas em diferentes tempos de deposição,

habitualmente de 30 a 360s) para medidas de AGNES no potencial de deposição

escolhido, procedimento que deve ser realizado sempre que ocorrer possíveis

variações do potencial do eletrodo de referência. As condições de equilíbrio foram

atingidas quando o tempo de reoxidação chegou a ser o mesmo para o aumento do

tempo de deposição (GALCERAN et al., 2004).

A segunda etapa é a calibração, realizada para obter o valor da constante de

proporcionalidade (Equação 14) usando três ou quatro adições de metal medidas

em triplicata. Nove curvas de calibração foram medidas no intervalo de

0,6x10-9 a 1,0x10-7 mol L-1 para o cálculo do LD que variou no intervalo de

0,7 a 3,6x10-9 mol L-1.

Ressalta-se que este LOD representa o limite para o Cd(II) livre e é

considerado como um excelente resultado quando comparado com valores obtidos

por eletrodos de íons seletivos que são frequentemente de duas a três ordens de

grandezas mais elevadas. Melhorar estes valores não será tão simples, uma vez

que um potencial de deposição próximo da corrente limite já foi utilizado

(MONTEIRO et al., 2016).

Os resultados obtidos de Cd(II) livre determinado diretamente nas amostras

dos rios Itapanhaú e Sorocabinha por AGNES foram comparados com os

resultados do metal total nas amostras in natura e ultrafiltrada ambas acidificadas,

obtidos por SCP, como mostra as Figuras 25a e 25b, respectivamente. A

comparação destes resultados permitiu avaliar a contribuição dos pequenos

ligantes inorgânicos que conseguem permear a membrana de 1kDa na especiação

do Cd. Se essa contribuição for significativa esperava-se observar valores maiores

do Cd(II) na solução ultrafiltrada, pois se deve lembrar que ao acidificar a amostra e

102

analisa-la por SCP tem-se a concentração total do Cd (“livre+ Cd que estava ligado

a compostos orgânicos e/ou inorgânicos com tamanhos <1kDa).

Fonte: adaptada de MONTEIRO et al., 2016

Figura 25- Comparação do metal total adicionado com os resultados de metal das

amostras ultrafiltradas medidas por SCP e com o metal livre medido diretamente por

AGNES nas amostras do rio Itapanhaú (a) e Sorocabinha (b).

Observando os dados para o rio Itapanhaú (Figura 25 a) nota-se que a

fração livre do cádmio determinada diretamente por AGNES e a fração

determinada na fração ultrafiltrada por SCP são semelhantes, ou seja, seus

resultados são próximos. Essa concordância permite inferir que a especiação do

Cd(II) nessa amostra está relacionada diretamente a matéria orgânica natural,

representada pelo COD, uma vez que, a contribuição dos possíveis compostos de

tamanho < 1kDa, foi minoritária.

No entanto, para as amostras de água in natura do rio Sorocabinha

(Figura 25b) o valor do cádmio livre medido por AGNES é menor do que o valor

medido na fração ultrafiltrada, o que indica que as amostras de água do rio

103

Sorocabinha possivelmente é mais concentrada em pequenos ligantes inorgânicos

e/ou orgânicos que são capazes de permear a membrana de 1 kDa. Este

comportamento pode estar associado às características físico-químicas

(apresentados na seção 5.1) das águas do rio Sorocabinha, o qual apresentou

maior valor de condutividade do Sorocabinha (1043,0 μS cm-1) e Cl- (30,3 mg L-1)

em comparação com os encontrados para o rio Itapanhaú (189,0 μS cm-1) e

Cl- (12,8 mg L-1), provavelmente devido ao RS ter uma maior contribuição de sais

oriundos da água do mar. Os íons Cl- podem atravessar a membrana de 1kDa e

formar ligações com o Cd(II).

Outra observação a ser levada em consideração é que a concentração do

Cd “livre” na fração do ultrafiltrado do rio Sorocabinha é aproximadamente o dobro

da encontrada no rio Itapanhaú enquanto o metal livre Cd(II) (AGNES) na amostra

in natura é na verdade menor, indicando que a especiação do Cd(II) é diferente em

ambas as amostras dos rios, sendo controlada principalmente pela matéria

orgânica no rio Itapanhaú, enquanto que no rio Sorocabinha os ligantes de baixa

massa molecular (1kDa) inorgânicos e a concorrência de outros cátions e íons (por

exemplo, Cl-) são maiores para esse rio e devem ser levados em consideração. A

partir desses resultados, pode se concluir que a ligação do Cd(II) com a matéria

orgânica natural é principalmente eletrostática e que a competição com outros íons

possivelmente é muito efetiva (MONTEIRO et al., 2016).

Levando em consideração o COD, inclusive em relação à sua concentração

similar em ambos os rios, a natureza da matéria orgânica presente pode ser

diferente devido às relativas quantidades das frações de ácidos fúlvicos e húmicos

presentes. A força iônica mais elevada e os cátions presentes no rio Sorocabinha

sugerem que a fração húmica do COD é menos estável, ou encontra-se agregada.

Já no Itapanhaú essa fração húmica pode ainda ser significativa. Em trabalhos

futuros pretendemos investigar esta questão com mais detalhes (MONTEIRO et al.,

2016).

A fim de confirmar as observações descritas foram realizadas medidas de

AGNES nas amostras ultrafiltradas sem acidifica-las de duas amostras do rio

Sorocabinha (enriquecida com 2,4 e 3,2x 10-7 mol L-1 de Cd(II)) para determinar a

proporção de Cd(II) livre na solução ultrafiltrada. Os resultados mostraram que

apenas uma parcela de 37 a 45% do total de Cd(II) adicionado nesta fração é livre,

confirmando assim, que o Cd(II) estar realmente complexado na amostra

104

ultrafiltrada não acidificada provavelmente por pequenos ligantes inorgânicos

(MONTEIRO et al., 2016).

Neste trabalho foi validada a determinação da concentração total de Cd(II)

por SCP nas amostras in natura e ultrafiltrada acidificada com um LD de 1,6x10-9 M

e a determinação do Cd(II) livre por AGNES com um LD de 1,9x10-9 M

comparando-se com os resultados obtidos GF-AAS (seção 5.5.1). Além disso, foi

demonstrado também que a especiação de metais proposta pela metodologia

fornece informações válidas sobre o Cd(II) total e livre ao ser capaz de elucidar

adicionalmente a contribuição de ligantes inorgânicos e/ou orgânicos (<1kDa) na

complexação de metais nas amostras in natura (MONTEIRO et al., 2016).

5.6. Estudo das interações do Cd(II) e Pb(II) com os ácidos fúlvicos e

húmicos purificados dos rios Itapanhaú e Sorocabinha em diferentes

estações utilizando AGNES

Esta nova metodologia consiste em efetuar titulações dos ácidos húmicos

fúlvicos extraídos dos rios Sorocabinha (AHS e AFS) e Itapanhaú (AHI e AHS) com

o Cd(II) e Pb(II) em uma ampla faixa de concentração, seguindo a variação do

metal livre por AGNES. Este experimento permite extrair parâmetros para a

modelagem dos resultados por NICA-DONNAN (trabalhos futuros) e assim

compreender melhor as interações do metal com os diferentes ligantes.

Inicialmente foram feitas otimizações dos métodos para a obtenção de limite

de detecção (LD) adequados para a análise das espécies livres de Cd(II) e Pb(II),

por AGNES. Logo, o LOD obtido para Cd(II) variou de (1,0 a 6,0x10-9 mol L-1) e

(3,0 a 8,0x10-9 mol L-1) para o Pb(II). Para avaliar a reprodutibilidade dos

experimentos, bem como da técnica, os experimentos foram realizados em

duplicata e/ou triplicata quando necessário e de maneira geral, como pode ser

observado nas Figuras 26 a 30, os resultados foram bem reprodutíveis,

evidenciando a precisão nas medidas de AGNES.

Todos os experimentos com as amostras estudadas foram realizados em

três pH diferentes para cada metal. A escolha desses pH, está relacionada ao pH

natural das amostras de água coletada nos rios Sorocabinha e Itapanhaú, bem

como a uma simulação prévia realizada no programa Visual MinteQ, para

verificação das faixas de pH onde as espécies de Cd(II) e Pb(II) estivessem

105

predominantemente na sua forma complexada, logo os pH de trabalho foram 6, 7 e

8 para o Cd(II) e 5, 5,5 e 6,5 para o Pb(II).

As principais diferenças das interações do Pb(II) e Cd(II) com os ácidos

fúlvicos e húmicos extraídos dos rios Sorocabinha e Itapanhaú levando em

consideração fatores como, origem do material, sazonalidade, a heterogeneidade

dos complexos formados e diferentes condições de pH foram avaliadas em função

do comportamento dos valores das constantes ( ⁄ obtidas após

as titulações dos AF e AH. Para melhor interpretação dos resultados os dados de k’

foram normalizados (log k’/concentração do AF e/ou AH adicionado (kg L-1) para

obtenção de K (L g-1 AF e/ou AH) e posterior construção dos gráficos

(concentração do metal total) versus K (L g-1 AF e/ou AH).

A Figura 26 exibe a comparação da complexação do Pb(II) (pH 6,5) e Cd(II)

(pH 7,0) com o AF extraído do rio Itapanhaú coleta 2. Os valores de K foram

sempre maiores para o Pb(II) do que para o Cd(II) independente do material

estudado em qualquer concentração adicionada sugerindo que as ligações (AF-Pb)

são mais fortes, ou seja, o Pb(II) complexa mais em comparação às ligações do

(AF-Cd).

O perfil das curvas obtidas fornece informações quanto à heterogeneidade

dos complexos AF/AH-Metal. Se o sistema for homogêneo, será obtida uma linha

reta (constante) indicando que a proporção ⁄ se mantem qualquer que seja

a proporção de metal total/ligante total. Quando o sistema é heterogêneo a razão

⁄ decresce com o aumento da razão metal total/ligante total. Este

decréscimo é observado porque inicialmente a concentração do metal é baixa,

logo, estes tendem a ocupar os sítios de complexação mais fortes presentes nos

AF e AH. Conforme a vai aumentando, os sítios mais fortes estão ocupados e

os íons metálicos vão ocupando os sítios mais fracos. Dessa forma a complexação

entre o AF-Pb é muito heterogênea, enquanto que para o cádmio é praticamente

homogênea.

106

Figura 26- Curvas de (obtidas por meio da AGNES) para o ácido fúlvico do rio

Itapanhaú período chuvoso (AF RI-02), comparando as diferenças de complexação do

Cd(II) (pH 7) e Pb(II) (pH 6,5) e força iônica 0,01mol L-1.

As Figuras 27a e 27b exemplificam a comparação da complexação do Pb(II)

(pH 6,5) e Cd(II) (pH 7,0) com o AF e AH, respectivamente, comportamento

observado em todas as amostras estudadas. Nota-se que os valores das

constantes para o mesmo metal são sempre maiores para a complexação com o

AH, o qual apresenta comportamento mais heterogêneo, uma vez que o ácido

húmico é conhecido por apresentar menos sítios com cargas negativas e um maior

grau de variabilidade dos grupos disponíveis para complexar estes metais,

enquanto que o AF apresenta mais cargas e menor variedade de grupos (MILNE;

KINNIBURGH; TIPPING, 2001).

Este efeito é bem evidente para o Cd(II) onde a complexação com o AH é

mais heterogênea e mais forte para uma razão metal ligante baixa, porém, com o

aumento da concentração do metal a complexação dos AF torna-se mais efetiva,

pois há mais grupos. Além disso, estes resultados corroboram com o que já foi

demonstrado na literatura que as interações entre metais traço e o material húmico

pode ocorrer através de interações não específicas, como à carga negativa residual

e/ou específicas, entre cátions e grupos funcionais presentes (DOMINGOS, et al.,

2004).

0,0E+00

1,0E+05

2,0E+05

3,0E+05

4,0E+05

5,0E+05

6,0E+05

7,0E+05

8,0E+05

0,0E+00 5,0E-07 1,0E-06 1,5E-06 2,0E-06 2,5E-06 3,0E-06 3,5E-06

K (

L g

-1 A

F e

AH

)

CMT

Cd AF RI-02 Pb AF RI-02

107

Tanto para os experimentos Cd(II) (Figura 28a) quanto para o Pb(II) (Figura

28b) os maiores valores de K foram encontrados com o aumento do valor de pH e

consequentemente foi observado uma maior complexação e heterogeineidade.

Conforme vai ocorrendo a desprotonação (acréscimo da carga negativa e/ou

posições ionizadas presente nos ligantes) o valor de K’ aumenta (KINNIBURG et

al., 1999). Dessa forma o pH 8 para o Cd(II) e o pH 6,5 para o Pb(II) permitiu uma

maior interação desses metais traço com os AF e AH estudados. Estes resultados

sugerem que quando forem quantificados Cd(II) e Pb(II) nas águas dos rios

Sorocabinha e Itapanhaú com pH variando de 5,3 a 6,3 (seção 5.1), provavelmente

o Cd(II) estará mais disponível do que o Pb(II), uma vez que o AH e AF presentes

nessas amostras apresentaram maior afinidade pelo Pb(II).

0,0E+00

2,0E+04

4,0E+04

6,0E+04

8,0E+04

1,0E+05

0,0E+00 5,0E-07 1,0E-06 1,5E-06 2,0E-06

k (

L g

-1 C

OD

)

CMT

Cd AF RI-02 Cd AH RI-02

(a)

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

0,0E+00 1,5E-06 3,0E-06

CMT

Pb AF RI-02 Pb AH RI-02

(b)

Figura 27- Comparação das curvas de 𝐾𝑥𝐶𝑀 𝑇 (obtidas por meio da AGNES) para o AF e

AH do rio Itapanhaú período chuvoso, experimentos realizados com Cd(II) em pH 7 (a) e

Pb(II) em pH 6,5 (b), força iônica 0,01mol L-1.

108

Em relação à origem, pode-se inferir por meio dos resultados exibidos nas

Figuras 29a e 29b, que para ambos os casos em pH mais baixos as complexações

são semelhantes mas que para os pH mais elevados no caso do Cd(II) é mais forte

com o AF RI do que com o AF RS mas se observa o inverso em relação ao Pb(II)

onde a complexação é maior para o rio Sorocabinha.

0,0E+00

3,0E+04

6,0E+04

9,0E+04

1,2E+05

1,5E+05

0,0E+00 1,0E-06 2,0E-06 3,0E-06

k (

L g

-1 C

OD

)

CMT

Cd AF RI-02 pH6 Cd AF RI-02 pH7

Cd AF RI-02 pH8

(a)

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

0,0E+00 1,0E-06 2,0E-06 3,0E-06

CMT

Pb AF RI-02 pH 5 Pb AF RI-02 pH 5,5

Pb AF RI-02 pH 6,5

(b)

Figura 28- Influência do pH na complexação do Cd(II) (pH 6, 7 e 8) (a), e do Pb(II) em pH

(5, 5,5 e 6,5 (b), com o AF do rio Itapanhaú.

109

A Figura 30 mostra a comparação dos resultados em função da

sazonalidade para os AF extraídos do rio Itapanhaú. A complexação é

sistematicamente maior na coleta 2 (período seco) do que na coleta 1 (período

chuvoso). A diferença é maior no caso do Cd(II) do que para o Pb(II), e no caso do

Cd(II) maior aos pH 6 e 7 do que a pH 8. Nota-se que a distribuição das frações

indica que no caso da coleta 1 a predominância é da fração F3 com 45% seguida

da F4 com 27% e da F5 com 7% enquanto na coleta 2 a fração mais preominante é

a F5 com 35%, seguida da F4 com 26% e F3 com 23%. Esta distribuição com

maior abundância de moléculas menores na coleta 2 indica em geral maiores

densidades de cargas por moléculas, o que justificaria uma maior complexação. As

titulações potenciométricas para determinar as quantidades de cargas estão em

andamento, o que permitirá brevemente confirmar a origem deste comportamento.

0,0E+00

5,0E+04

1,0E+05

1,5E+05

0,0E+00 1,0E-06 2,0E-06 3,0E-06

K (

L g

-1 C

OD

)

CMT

Cd AF RS-02 pH6 Cd AF RS-02 pH7Cd AF RS-02 pH8 Cd AF RI-02 pH6Cd AF RI-02 pH7 Cd AF RI-02 pH8

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

0,0E+00 1,0E-06 2,0E-06 3,0E-06

CMT

Pb AF RI-02 pH5 Pb AF RI-02 pH5,5

Pb AF RI-02 pH6,5 Pb AF RS-02 pH5

Pb AF RS-02 pH5,5 Pb AF RS-02 pH6,5

(b)

Figura 29- Influência da origem do material extraído na complexação do Cd AF RS e AF

RI-02 (pH 6, 7 e 8) (a), e do Pb AF RS-02 e AF RI-02 em pH (5, 5,5 e 6,5) (b).

(a)

110

Durante este trabalho foram realizados experimentos de SSCP para estudar

a heterogeneidade da complexação e apenas um exemplo será mostrado aqui.

Esse estudo pretende investigar métodos capazes de obter informações de

heterogeneidade a partir da inclinação da curva de SSCP que é intercalada nos

experimentos de AGNES.

Na SSCP é a inclinação da curva que reflete a heterogeneidade do

complexo SHA-Metal. Os gráficos de SSCP apresentam duas curvas, uma

referente à curva teórica (Fitting curve SSCP – linha cheia) obtida por intermédio de

equações estabelecidas para combinar os valores teóricos, ajustando os valores do

(potencial padrão) e (tempo) e a outra curva representa os dados

experimentais (linha com marcadores). A curva teórica é para um sistema

homogêneo, quanto mais distante for a curva experimental (SSCP [Cd]= 5,1x10-3)

da curva teórica (Fitting curve SSCP [Cd]=5,1x10-3), por exemplo, mais

heterogêneo é o sistema. Observando os resultados parciais obtidos neste trabalho

(Figura 31), é possível inferir que a pH 6 os complexos formados para a

concentração de Cd estudada são praticamente homogêneos para ambas SHA

estudadas, enquanto que, os formados com o Pb(II) ao mesmo pH, apresentam

uma inclinação maior nos pontos experimentais nas curvas de SSCP quando

0,0E+00

5,0E+04

1,0E+05

1,5E+05

0,0E+00 1,0E-06 2,0E-06 3,0E-06 4,0E-06

K (

L g

-1 A

F)

CMT

Cd AF RI-01 pH6 Cd AF RI-02 pH6

Cd AF RI-01 pH7 Cd AF RI-02 pH7

Cd AF RI-01 pH8 Cd AF RI-02 pH8

(a)

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

0,0E+00 2,0E-06 4,0E-06

CMT

PB AF RI-01 PH5 Pb AF RI-02 pH5

Pb AF RI-01 pH5,5 Pb AF RI-02 pH5,5

Pb AF RI-01 pH6,5 Pb AF RI-02 pH6,5

(b)

Figura 30- Influência da sazonalidade na complexação do Cd e AF RI (pH 6, 7 e 8) (a) e

do Pb AF RI em pH (5, 5,5 e 6,5) (b), para os períodos chuvoso (01) e seco (02).

111

comparados com a curva teórica, evidência de um comportamento bastante

heterogêneo.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

-0,85 -0,75 -0,65 -0,55

τ (s

)

Edep (V)

(a) SHA RS- Cd(II)

SSCP [Cd]=5,1e-3

Fitting Curve SSCP[Cd]=5,1 e-3

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

-0,75 -0,65 -0,55 -0,45 -0,35

Edep (V)

(b) SHA Sor- Pb(II)

SSCP [Pb]=6,2 e-4

"Fitting Curve SSCP[Pb]=6,2 e-4"

Figura 31- Curvas de SSCP experimental e teórica para o Cd(II) (a) e Pb(II) (b) com a SHA

extraída do rio Sorocabinha a pH 6.

112

6. CONCLUSÃO

Os resultados da avaliação da qualidade da água dos rios Sorocabinha (RS)

e Itapanhaú (RI) permitiram verificar que a maiores diferenças entre esses rios se

devem à maior contribuição da água do mar no rio Sorocabinha, o qual apresentou

maiores valores de condutividade e cloreto principalmente no período de estiagem.

A MON foi caracterizada como predominantemente de origem alóctone e a

concentração do COD foi maior no RS em detrimento do RI e apresentaram

maiores valores quando comparados com rios de outros países. Os metais, Al, Co,

Cr, Cu, Fe, Mn, e Zn foram encontrados em ambos os rios, em maiores

concentrações no RS, e no período chuvoso para ambos. Estes metais

apresentaram-se predominantemente na fração dissolvida, complexados à fração

coloidal. E apenas Al, Fe, Cu e principalmente Mn apresentara-se em suas “formas

livres” e dessa forma, mais biodisponíveis para internalização pela biota aquática;

A análise de ANOVA intervalo de 95 % de confiança aplicada aos dados de

caracterização das substâncias húmicas e ácidos fúlvicos extraídos a partir da

MON para os rios estudados revelaram que apesar das amostras apresentarem

algumas variações em suas composições estruturais, não há diferença significativa

entre elas. Houve uma maior predominância de estruturas alifáticas na composição

de todas as amostras, porém as amostras provenientes do RS no período chuvoso

são mais humificadas e aromáticas do que as do RI. Em relação à influência da

sazonalidade, as amostras (SHA RI-02 e SHA RS-02) são mais aromáticas e ricas

em compostos carbonílicos do que as amostras coletadas no período chuvoso

(SHA RI-01; SHA RS-01).

A partir do fracionamento molecular das amostras das SHA e AF e in natura

foram obtidas seis frações, e apenas 5 para os AH, assim descritas: F1 >100

kDa;30 <F2< 100 kDa; 10 < F3 <30 kDa; 3< F4 < 10 kDa; 1 < F5 < 3 kDa ou F5 <3 e

F6 <1 kDa. As amostras de SHA extraídas do RS apresenta maior predominância

de compostos de maiores tamanhos, F4 em detrimento das do RI que tem maior

porcentagem dos compostos menores F5. Em relação aos AF a maior composição

é dos grupos de menores tamanhos (F5) e para o RS há uma ainda uma

porcentagem maior de compostos (<1kDa). Os ácidos húmicos presentes nesses

113

rios tem uma maior abundância dos compostos de alta massa molecular (F>100

kDa). A distribuição dos metais presentes originalmente nas frações estudadas, de

maneira geral, evidenciaram as diferença das afinidades dos metais (Zn, Fe, Al e

K) em função do material extraído e suas origens. No AF de ambos os rios, os

metais estiveram preferencialmente distribuídos nas frações de menor tamanho (F4

e F5) enquanto que no AH estiveram mais distribuídos nas frações (F1 e F3).

A metodologia desenvolvida para a especiação de Cd(II) nas amostras de

água dos RS e RI, validada em laboratório combinando UFT–SCP e AGNES é

capaz de ser utilizada em experiências on-site, uma vez que para a quantificação

por SCP apenas a filtração e acidificação das amostras é necessário, enquanto que

por AGNES a amostra é apenas filtrada. Os resultados forneceram informações

válidas em relação às concentrações totais e livres de cádmio e, adicionalmente,

alguma interpretação sobre a contribuição dos pequenos ligantes inorgânicos na

complexação do Cd(II). A determinação de Cd(II) total nas amostras (in natura e

ultrafiltrada em 1kDa) acidificadas por SCP teve limite de detecção de

1,6x10-9 mol L-1 e o LD para a determinação de Cd(II) livre usando a AGNES foi

1,9x10-9 mol L-1.

As principais diferenças das interações do Pb(II) e Cd(II) com os ácidos

fúlvicos e húmicos extraídos dos rios Sorocabinha e Itapanhaú usando AGNES

foram avaliadas levando em consideração fatores como, origem do material,

sazonalidade e heterogeneidade através do comportamento dos valores de K. Os

resultados obtidos mostram uma complexação mais efetiva para o Pb(II) do que

para o Cd(II) como esperado. Considerando o mesmo metal, os valores de K

indicaram que o AH tem maior potencial complexante e comportamento mais

heterogêneo que o AF. Em relação à variação do pH tanto para os experimentos

com Cd(II) quanto para o Pb(II), os maiores valores de K foram encontrados com o

aumento do valor de pH e consequentemente foi observado uma maior

complexação e heterogeneidade. Comparando os AF e AH obtidos dos RI e RS

não existe uma tendência clara, já em relação à sazonalidade a complexação é

mais efetiva no período seco que no chuvoso.

114

7. TRABALHOS FUTUROS

a) Determinação dos parâmetros NICA-Donnan para os ácidos húmicos e

fúlvicos aquáticos purificados, frações (obtidas após fracionamento) e dos

rios Sorocabinha e Itapanháu dos dois períodos de coleta (março e

novembro de 2014

Titulações potenciométricas das 8 amostras sob três diferentes forças

iônicas;

Modelagem dos resultados de potenciometria e da interacção com Cd2+ e

Pb2+ com Orchestra/PEST;

b) Experimentos de AGNES e SSCP nas amostras após o fracionamento

molecular do AF e AH purificado dos rios Sorocabinha e Itapanhaú

Simulação dos resultados esperados em cada fração com Orchestra

baseado nos parâmetros obtidos para os materiais purificados não

fracionados;

c) Tratamento dos dados experimentais obtidos por SSCP para aferir a

heterogeneidade e labilidade do Cd(II) e Pb(II) com os AF e AH purificados

e suas frações.

d) No trabalho de pos-doc pretende-se continuar o desenvolvimento da

detecção on-site terminando o trabalho para o Cd(II) e Pb(II) e

desenvolvendo a detecção para o Hg(II).

115

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