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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOII BIOTA

    II Ciclo de Estudos em Biologia de Tangar da Serra

    I Ciclo Nacional de Estudos de Biologia

    07 a 11 de Novembro de 2011

    ISSN 2175-6392

    Apoio: FAPEMAT 1

    Levantamento de plantas utilizadas em um terreiro de umbanda: Iemanj Amor eCaridade, no municpio de Tangar da Serra - MT

    Danilo S. Ferreira, Michele S. Gonalves, Felipe de S. Palis,Luciana T. da C. de Oliveira e JosuR. da S. Nunes

    Autor para correspondncia:[email protected]

    Palavras-chave:rituais, umbanda, plantas medicinais.

    1. Introduo

    As religies afro-brasileiras surgiram no sculo XIX a partir de tradies trazidas pelosescravos vindos da frica (Gomes et al., 2008). Apesar de serem obrigados a seguirem ocatolicismo, com o batismo e participao nas missas e proibidos de praticar suas religies, osescravos conseguiram desenvolver e transmitir suas tradies religiosas (Negro, 1994; Oliveira,2006; Travassos et al., 2008). Logo, no demorou para se espalhar por todo o Brasil possuindodiversas denominaes regionais, tais como xang, tambor de mina, jurema, batuque, candombl,umbanda, entre outros (Prandi, 2004).

    A umbanda brasileira comeou a ser formada por volta de 1530, tendo o primeiro terrenofundado em 1908 (Gonalves, 2007). Diferente das demais religiosidades, a umbanda rene asculturas e as tradies religiosas brasileiras. Segundo Silva (2005), a umbanda se originou a partir

    do catolicismo trazido pelos portugueses na poca da colonizao do Brasil, das crenas dosgrupos indgenas, do espiritismo Kardecistae e das religies das vrias etnias africanas.

    Na vinda para o Brasil, os negros trouxeram consigo o conhecimento dos poderes dasplantas, associando assim, os rituais religiosos ao uso das plantas medicinais (Cardoso eNascimento, 2008). Na umbanda as entidades espirituais que determinam o uso apropriado doselementos das plantas, podendo estas ser ingeridas na forma de bebida, inaladas e usadas embanhos. Alm disso, as plantas facilitam a comunicao com entidades espirituais (Tucan et al.,2004).

    O uso de folhas, sementes, razes, caules e frutos so comuns em cerimnias de Umbanda,no entanto, as propriedades curativas e suas respectivas funes em rituais podem variarbastante de uma regio para outra. Diante disso, esse trabalho teve como objetivo realizar umlevantamento de plantas que so utilizadas no terreiro de umbanda Iemanj Amor e Caridade(Nao Omoloc), na cidade de Tangar da Serra (MT), na inteno de se conhecer mais arespeito dessa religio, alm de fornecer dados para uma futura comparao entre as diferenteservas utilizadas pelos demais terreiros de Umbanda brasileiros.

    2. Material e Mtodos

    O Centro de Umbanda Iemanj Amor e Caridade (Nao Omoloc) uma instituio semfins lucrativos e est localizado no municpio de Tangar da Serra - MT. O terreiro conta comrezadores, benzedores, Pai e Me de Santo e erveiros. Os cultos ocorrem trs vezes por semanano perodo da noite e, durante o dia, o Centro atende a populao que busca a cura, tantoespiritual quanto material.

    Para a coleta de dados foram feitas observaes e participaes nos cultos. Posteriormente,um questionrio foi aplicado ao Pai de Santo responsvel pelo terreiro, a fim de obter informaessobre o uso e a importncia das plantas utilizadas nos rituais. Tambm se buscou conhecer a

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOII BIOTA

    II Ciclo de Estudos em Biologia de Tangar da Serra

    I Ciclo Nacional de Estudos de Biologia

    07 a 11 de Novembro de 2011

    ISSN 2175-6392

    Apoio: FAPEMAT 2

    origem dos espcimes vegetais, ou seja, se as mesmas so compradas ou cultivadas e qual ocusto da aquisio ou manuteno desses materiais. Alm disso, foram feitas perguntas sobre aorigem do conhecimento acerca dos rituais, assim como os trabalhos mais requisitados pelapopulao tangaraense.

    A pesquisa foi realizada nos dias 12, 14, 15 e 22 de julho de 2010. Os dois primeiros diasforam caracterizados pela observao e participao nos cultos. Esta etapa contou com acolaborao de um dos integrantes do terreiro que explicava o significado de cada ritual. No dia 15e 22 do mesmo ms foi feita a aplicao do questionrio.

    As plantas utilizadas nos rituais foram identificadas, quando possvel, at gnero ou espcie.Aquelas que no tivemos acesso foram classificadas de acordo com a nomenclatura popular.

    3. Resultados e Discusso

    As plantas utilizadas nos rituais de Umbanda, bem como suas funes e forma de uso estoapresentadas no quadro 1.

    Quadro 1Informaes sobre utilizao e forma de uso das plantas nos rituais de Umbanda.Planta Etnoindicao Forma de uso

    Abre-caminho Trazer boa sorte Banho e defumaoAlecrim (Rosmarinus officinale) Acalmar esprito BanhoAlfavaca (Ocimum basilicum) Melhorar a sade Ch

    Alfazema (Lavandula sp.) Obrigao de cabea DefumaoApolnia Descarrego e mal olhado BanhoAriri Mal olhado BanhoArruda (Ruta Graveolens) Quebrante e mal olhado BanhoAvenca (Adiantumsp.) Obrigao de cabea BanhoBoldo (Plectranthus sp.) Acalmar o esprito ChBrilhantina (Pileasp.) Mal olhado BanhoErva-doce (Pimpinella sp.) Curar vcios BanhoEspada de So-Jorge (Sansevieriasp.)

    Neutralizar energias negativas Uso externo

    Gameleira (Ficus sp.) Mal olhado Defumao

    Guin (Petiveria sp.) Descarrego BanhoJaborandi (Pilocarpus sp.) Limpeza ou descarrego BanhoMamica de porca (Zanthoxylumsp.) Sacudimento domiciliar BanhoManjerona (Origanumsp.) Limpeza ou descarrego BanhoNega-mina (Siparunasp.) Limpeza ou descarrego BanhoQuebra-demanda Mal olhado PasseSo-Jos Obrigao de cabea Uso externo

    O custo da manuteno do terreiro e das plantas utilizadas nas cerimnias e rituais irrisrio. A maioria das plantas cultivada no prprio terreiro, no fundo da casa do Pai de Santo,

    onde se encontra Arruda, Alecrim, Alfazema, Avenca, Boldo, Erva-doce, Espada de So Jorge,Guin e Jaborand.

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    ISSN 2175-6392

    Apoio: FAPEMAT 3

    Plantas como a Mamica-de-porca, Gameleira e Nega-mina so coletadas no mato.Segundo o entrevistado no necessrio nenhum ritual pra essa coleta. Maciel (2006) diz quepara se utilizar determinadas plantas deve-se pedir permisso ao orix, dono da referida planta.Segundo a autora, a aroeira de Ogum, Mamica-de-porca e Avenca de Oxossi. Possivelmente,o entrevistado no se sentiu a vontade em falar sobre tal ritual, ou mesmo optou por no relevarinformaes aos entrevistadores.

    As plantas no disponveis na horta do terreiro so compradas em uma casa de Umbandana cidade de Tangar da Serra. Nesse local podem ser encontradas as plantas mais utilizadasnas cerimnias, trabalhos e banhos. O preo varia de R$ 5,00 R$ 10,00 o pacote. Alm disso,podem-se comprar resinas e charutos (tabaco) que so utilizados em todas as cerimnias.

    O terreiro coordenado pelo Pai e Me de Santo, ambos de meia idade, que soresponsveis por realizar os trabalhos semanais. Alm de fazerem os rituais de cura na populaofrequentadora do centro, eles tambm realizam a iniciao de jovens como Filhos de Santo.Todos esses conhecimentos foram obtidos com os antepassados que tambm eram praticantesda religio. A relativa idade avanada dos responsveis pelos rituais curativos, juntamente com aexperincia dos mesmos em curar variadas doenas, faz com que eles se tornem figurasrespeitadas como mantenedores do saber (Oliveira e Trovo, 2009).

    Os trabalhos mais procurados pela populao, frequentadores ou no do centro, so:limpeza ou descarrego, neutralizao de energias negativas, cura de vcios e a busca de boasorte. Tais doenas so curadas com o auxlio das ervas curativas aliadas com rezas e rituaisrealizados pelo Pai de Santo do terreiro. Dentre as plantas mais procuradas para tais rituaisdestacam-se a arruda (Ruta graveolens) e a alfavaca (Ocimum sp.), que so cultivadas no prprio

    terreiro. De acordo com Silva et al., (2000)a R. graveolens destaca-se como uma das plantasmais importantes para a cura de mal olhado e quebranto, visto que ela possui alto poder decura mgico-religioso. De acordo com Oliveira e Trovo (2009) Ocimum sp. utilizada para a curade mal olhado e espinhela cada, no entanto, o centro de Umbanda Iemanj Amor e Caridadeutiliza a planta para melhorar a sade. Tal fato demonstra as variaes existentes entre diferentesregies brasileiras.

    Dentre as famlias botnicas que foram citadas pelos entrevistados, as que apresentarammaior representatividade foram as famlias Lamiaceae com cinco espcies e Rutaceae com trsespcies. As demais famlias apareceram com apenas um representante cada.

    A predominncia de Lamiaceae em rituais de umbanda tambm foi encontrada por Arjona etal., (2007)e Lima et al., (2010). Essa famlia possui ampla distribuio mundial, alm de ser ricaem leos volteis e muito utilizada pela medicina popular de diversos pases (Simes e Spitzer,

    2004). Dentre todos os indivduos da famlia que so utilizados nos rituais, quatro dos cincogneros citados so exticos (Lorenzi e Souza, 2008). Este fato revela a ligao da religio comos antepassados africanos, que trouxeram estas espcies para o Brasil na busca da manutenode suas religies.

    4. Agradecimentos

    Ao Centro de Umbanda Iemanj Amor e Caridade (Nao Omoloc) pelo tempo einformaes cedidas, ao Professor DSc. Rogrio Benedito da Silva Aez, que nos ajudou naidentificao das plantas utilizadas. Nosso total agradecimento Universidade do Estado de MatoGrosso, que sempre contribuiu e incentivou o pensamento cientfico.

    5. Referncias Bibliogrficas

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOII BIOTA

    II Ciclo de Estudos em Biologia de Tangar da Serra

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    07 a 11 de Novembro de 2011

    ISSN 2175-6392

    Apoio: FAPEMAT 4

    Arjona FBS; Montezuma RCM e Silva IM. 2007. Aspectos etnobotnicos e biogeografia deespcies medicinais e/ou rituais comercializadas no mercado de Madureira, RJ. Caminhos deGeografia, 8: 41-50.

    Cardoso MC e Nascimento S. 2008. Etnobotnica e os Templos Umbandistas . Trabalho deConcluso de Bacharel do Curso de Teologia da Faculdade de Teologia Umbandista.

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    Gonalves EP. 2007. As religies Afro-brasileiras: origens, desenvolvimento e influncias no Brasile no serto paraibano. Monografia, Curso de Graduao em Teologia, SEP, Paraba.

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    Negro LN. 1994. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo Social. Revista de Sociologia -USP, 5: 113-122.

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    sobre esta prtica no estado da Paraba. Revista Brasileira de Biocincias, 7: 245-251.Prandi R. 2004. O Brasil com ax: candombl e umbanda no mercado religioso. EstudosAvanados, 18: 223-238.

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