uma viagem no tempo: elementos para a história de campinas

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1. Considerações iniciais 2. Pesquisar Campinas 3. Campinas, um município paulista 4. Transformações no espaço do (antigo) Município de Campina 5. Nas camadas do tempo: entrelaçamentos entre o rural e o urbano 6. Marcas e marcos da Cidade 7. Para conhecer mais: fontes para a história de Campinas 8. Bibliografia 1846. Festa do Divino. Miguel Dutra. Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp Final do século XIX. Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Acervo: MIS Início do século XX. Transporte de lenha no Distrito de Sousas. Fotografia de Austero Penteado. Acervo: MIS Final do século XIX. Antiga Escola Complementar, instalada no Solar da Viscondessa de Campinas, no Largo da Catedral. Acervo: MIS 1817-1818. Pouso de Tropeiros. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

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Abordagem histórica da constituição do antigo território de Campinas/SP com atenção sobre as relações entre os universos rural e urbano

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Page 1: Uma viagem no tempo: elementos para a história de Campinas

1. Considerações iniciais

2. Pesquisar Campinas

3. Campinas, um município paulista

4. Transformações no espaço do (antigo) Município de Campina

5. Nas camadas do tempo: entrelaçamentos entre o rural e o urbano

6. Marcas e marcos da Cidade

7. Para conhecer mais: fontes para a história de Campinas

8. Bibliografia

1846. Festa do Divino. Miguel Dutra.Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

Final do século XIX. Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.Acervo: MIS

Início do século XX. Transporte de lenha no Distrito de Sousas.Fotografia de Austero Penteado. Acervo: MIS

Final do século XIX. Antiga Escola Complementar, instalada no Solar daViscondessa de Campinas, no Largo da Catedral. Acervo: MIS

1817-1818. Pouso de Tropeiros. Thomas Ender.Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

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Pesquisar Campinas

O município de Campinas guarda, com atenção, testemunhos de seu passado cafeicultor.A economia cafeeira, entretanto, não emergiu no curso do século XIX de maneira aleatóriae externa ao seu mundo rural e urbano; sua constituição se deu internamente, alimentadapor mudanças paulatinas nas formas de organização produtiva e alicerçada, antes detudo, na produção de abastecimento e mercado interno.

Os contornos do município também sofreram transformações. Originado em 1797, quan -do da constituição da Vila de São Carlos, este território manteve-se coeso por 125 anos eapenas na década de 1920 ele viveu seu primeiro desmembramento com a emancipaçãode Americana (1924). Nos setenta anos seguintes, Campinas deu origem a seis outros mu-nicípios: Sumaré, Valinhos, Nova Odessa, Paulínia, Hortolândia, Cosmópolis; cidades queemergiram de bairros rurais, de unidades produtivas, de complexos agrícolas açucareirose cafeicultores, de colônias de trabalhadores, de núcleos coloniais privados e estatais, decomunidades agrárias, enfim, de dinâmicas e redes produtivas internas que, por caminhossingulares, geraram novas configurações territoriais.

Este livro toma como objeto o antigo município de Campinas, entendendo-o como baseterritorial de diversos processos de formação, desenvolvimento, sobreposição e/ou trans-formação de atividades de abastecimento, produção açucareira e produção cafeeira. Emnosso entender, é através desta perspectiva, que poderemos refletir por novas e outrasangulações, acerca de uma trajetória rica e surpreendente de formação e desenvolvi-mento histórico; processo que deu origem não apenas à cidade de Campinas, mas a seteoutros municípios, todos componentes da atual Região Metropolitana de Campinas.

Considerações iniciais

Quando criança, meu pai percorria cidades barrocas de Minas Ge-rais encantado com o que via. Ruas coloniais, edifícios e detalhesconstrutivos ganhavam um tal brilho em seu olhar, que nós ten-távamos identificar naquilo que ele enxergava, as pistas de umverdadeiro mapa do tesouro. Assim, nós crescemos; atentos aosdetalhes no alto dos muros, em restos de piso, em fragmentos deparede, em telhados e malhas urbanas que, com o passar dotempo, alimentaram e se traduziram numa percepção de mundofundida a uma militância surda e profunda de preservação de umtesouro maior chamado História. Com os anos, todas as cidadese municípios se tornaram interessantes, ao mesmo tempo emque tentávamos compreender de forma mais profunda, as teiasde significados e experiências que se escondiam no interior decada uma delas. E assim começamos a observar melhor o que noscercava e a perceber a urgência de zelar pela preservação de umagama infindável de testemunhos imersos em processos acelera-dos de crescimento e transformação urbana. Daí veio a gradua-ção e a pós-graduação em História e com elas adquirimosferramentas para o trato do tempo: a percepção de que os fenô-menos se constituíam em meio às mudança e permanência, àsintercalações, sobreposições e rupturas, e com base nestas di-mensões de tempo, procuramos desenvolver uma perspectiva dereflexão específica acerca dos testemunhos urbanos e rurais, ouainda, acerca da cultura material nas/das cidades e zonas rurais,na busca de analisar o município como território histórico. Tra-tava-se de compreender a História nos municípios para refletirsobre a História dos municípios, parecendo-nos inegável consi-derar que, antes de tudo, estes territórios permitiam-nos perce-ber a História em seus diferentes processos de constituição ematerialização na forma de edificações, expressões artísticas, ma-neiras de viver, hábitos culinários, enfim, em um vasto conjuntode experiências e códigos culturais perpassados por significaçõesde presente e passado.

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Campinas, um município paulista

O antigo município de Campinas (para nos ater ao período de sua constituição, no final do século XVIII), atéseu primeiro desmembramento (no começo do século XX), contou com atividades, processos e dinâmicas as-sociadas às chamadas economia mercantil de abastecimento, economia açucareira e economia cafeeira, sistemasou ainda, complexos agrários que, para além da esfera local, promoveram mudanças estruturais na centenáriahistória paulista.

Este município, no curso do século XX, e em especial em meio à crise da economia cafeeira, diversificou suasatividades e ensaiou novo leque de arranjos produtivos, originando-se deste processo novos segmentos agroin-dustriais, além de ganhar maior complexidade os setores de comercio e serviços. A partir da década de 1930,o município viveu um novo momento histórico, marcado pela multiplicação de fábricas e estabelecimentos,pela modernização agrária e instalação de novos bairros nas proximidades de grandes rodovias em implantação(Via Anhanguera, em 1948; Rodovia Bandeirantes em 1979; Rodovia Santos Dumont, na década de 1980). Osbairros conquistaram melhor condição de urbanização entre as décadas de 1950 e 1990, ao mesmo tempo emque sua malha urbana aumentou 15 vezes e sua população, cerca de 5 vezes. Em especial, no curso das décadasde 1970 e 1980, os fluxos migratórios levaram a população a praticamente duplicar de tamanho.

Na atualidade, com uma área de 801 km², Campinas reúne uma população de pouco mais de 1 milhão de ha-bitantes no interior de quatro distritos (Joaquim Egídio, Sousas, Barão Geraldo, e Nova Aparecida) e centenasde bairros. Seu vigor econômico e social, tem-lhe permitido cumprir o papel de capital da nona região maispopulosa do país, a Região Metropolitana de Campinas (2000), um território abrangente de 19 municípios, comuma população de 2.633.523 habitantes (IBGE/2007) que se faz responsável pela geração de renda de R$ 58,06bilhões/ano, correspondente a 7,99% do PIB paulista e 2,7% do PIB nacional.

Campinas também se insere no Complexo Metropolitano Estendido de São Paulo, macrometrópole do hemisfériosul que conta com uma população superior a 29 milhões de habitantes (75% da população do Estado de SãoPaulo); por esta razão, a cidade se acha integrada a um corredor de produção, circulação e serviços abrangentede 65 municípios, responsável pela geração de 65,3% do PIB estadual e 22,1% do PIB nacional. Na condição deum dos maiores entroncamentos do Brasil, o município apresenta dois aeroportos (entre eles, o segundo maiorterminal de carga o país), diversas ferrovias históricas, nove rodovias, cerca de duzentas linhas de ônibus urbanoe cem linhas de ônibus metropolitanos e intermunicipais.

Distribuição dos municípios paulistas. Fundação SEADE

Mapa da Província de São Paulo (1886), com destaque para presença de entroncamento viário na região de Campinas; representação de entroncamento

viário no Município de Campinas em 2010. Acervo: Mirza Pellicciotta

Estudo preliminar acerca da formação territorial da Região Metropolitana deCampinas, com identificação dos desmembramentos. Acervo: Mirza Pellicciotta

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Como estudar a história deste município em meio a processos tão acelerados de urbanização?

O município de Campinas vem merecendo uma ampla variedade de trabalhos acadêmicos acerca de seus ca-minhos de constituição e transformação social, econômica, cultural, territorial. Em especial, o aprofundamentoalcançado pelas pesquisas em história agrária, ou ainda, no campo das transformações urbanas tem nos auxi-liado a identificar, resgatar e compreender caminhos singulares de constituição, transformação e desenvolvi-mento histórico. Vale observar, neste sentido, que em cerca de 240 anos de história institucional, a porçãourbana do município de Campinas só ganhou relevância efetiva (em escala territorial) nos últimos cinquentaanos. Entre sua criação, em 1797, e o primeiro desmembramento em 1924, ainda, o município deu origem aapenas 6 distritos: o distrito do Carmo e Santa Cruz (1870), de Souza e de Valinhos (1896), de Vila Americana(1904), Cosmópolis (1906) e de Rebouças/Sumaré (1906), estes três últimos originados de núcleos coloniais(espontâneos e oficiais) criados em seu território.

Outra questão fundamental: as atividades, processos e dinâmicas que, conforme teremos oportunidade deobservar, fizeram-se associadas às chamadas economia mercantil de abastecimento (no curso do século XVIII),à economia açucareira (entre as últimas décadas do séc. XVIII e as primeiras do séc. XIX) e à economia cafeeira(a partir de 1830, perdurando por mais de cem anos), também ganharam lugar particular no campo político:a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso, em 1774 correspondeuà hegemonia da economia mercantil de abastecimento; a criação da Vila de São Carlos, em 1797 se deu por forçada implantação da economia açucareira e a elevação da vila à condição de cidade de Campinas, em 1842, ocor-reu com a instauração efetiva de uma economia cafeeira).

Estes sistemas/complexos agrários, por sua vez, dividiram espaço no território de Campinas em diferentes in-tensidades e períodos. A produção mercantil de abastecimento, em particular, manteve relações de comple-mentaridade com a economia açucareira, ainda que num percurso de concentração fundiária e fortalecimentodas relações escravistas. Já a emergência da economia cafeeira, que acelerou a concentração fundiária e am-pliou significativamente o plantel de escravos transformando Campinas no centro mais populoso de escravosda Província de São Paulo na década de 1870, fragilizou, ou mesmo desestruturou as bases da antiga economiamercantil de abastecimento, disseminando outro padrão de relações produtivas.

1929. Mapa do Município de Campinas. Fonte: PMC

1938. Mapa do Município de Campinas. Fonte: PMC

1938. Mapa do Município de Campinas(com identificação dos eixos viários). Fonte: PMC

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Campinas, uma viagem no Tempo procura refletir sobre estes fenômenos de sobreposiçãoe permanência, de transformação e recriação na constituição dos universos urbano e agráriode Campina, entre os séculos XVIII e XX, à luz de estudos de diferentes áreas de conhecimento(história econômica, história social, demografia, geografia, arquitetura, entre outras). Entrenossas buscas está a de adentrar de maneira mais profunda nas esferas internas de gestação,desenvolvimento e entrelaçamento destes sistemas/complexos, mantendo a atenção sobresuas dinâmicas de mercado, alterações fundiárias e transformações das relações de trabalho.

Início do século XX, distrito de Sousas. Fotografia de Austero Penteado.Fonte: MIS Campinas

1817/1818. Casa paulista. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

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Transformações no espaço do (antigo) Município de Campinas

1827. Vila de São Carlos, aquarela de Jean Baptiste Debret. Acervo: Coleção Marqueses de Bonneval

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10 Uma viagem no Tempo - Elementos para história de Campinas

As atividades de abastecimento, desde o século XVI, foram responsáveis por fixar colonizadores nos vastosterritórios paulistas. No entanto, foi no século XVIII que a descoberta de ouro nos atuais estados de MinasGerais, Goiás e Mato Grosso, transformaram as terras paulistas numa zona primordial de abastecimento; osgêneros ali produzidos seguiam por caminhos fluviais e terrestres, em diferentes direções, para dar forma, nocurso do tempo, a distintas porções de “sertões” especializados na produção de alimentos.

A pecuária, por sua vez, ganhou forma nesta porção da América Portuguesa ao longo do século XVIII e, desdea origem, contou com a presença de populações procedentes de outras capitanias, entre elas, da própria ca-pitania das Minas Gerais. Mas, ao se integrar à rede de abastecimento paulista, a pecuária também transfor-mou as bases de deslocamento deste território, instituindo um padrão de circulação fundado noentron camento viário de estradas e picadas, de tropas e carroças;e este sistema, para sua fruição, exigiua instalação de equipamentos e serviços específicos na forma de pousos, pontes, roças. Foi neste percurso,então, que o antigo município de Campinas ganhou duplo lugar: como área – estratégica - de produção degêneros de abastecimento e de apoio à circulação viária.

Já as lavouras paulistas de cana de açúcar começaram a surgir nas últimas décadas do século XVIII no chamado“quadrilátero do açúcar”, região localizada na porção sul da Capitania entre os atuais municípios de Piracicaba,Mogi Guaçu, Campinas e Itu. Motivadas por demandas econômicas e políticas específicas, as plantações decana procedentes da vila de Itu alcançaram o território de abastecimento que já dava forma ao antigomunicípio de Campinas, trazendo consigo novas mudanças: um sistema fundiário baseado em grandespropriedades monocultistas de caráter escravista (africano) e fundado na adoção de inovações tecnológicas,bem como num comércio internacional exigente de novos aprimoramentos viários.

As bases de produção canavieira deram lugar à instalação e expansão dos cafezais no curso da década de1830, valendo observar que esta “economia cafeeira” traria consigo outro conjunto de demandas econômicas,sociais, políticas, constando entre elas: uma forte demanda por trabalhadores em tempos marcados pela in-terrupção do tráfico de escravos africanos (origem da introdução de trabalhadores livres estrangeiros e po-bres); novas exigências quanto à qualidade e capacidade de escoamento da produção (razão da adoção deum sistema ferroviário em complemento as estradas tropeiras, carroçáveis e fluviais); a necessidade de im-portar maquinarias e inovações tecnológicas (destinadas a aprimorar a qualidade dos grãos e disputar osmercados internacionais de cafés finos) e de promover nova rede de serviços urbanos. Estas mudanças pro-moveriam importantes alterações populacionais, ambientais, urbanísticas, econômicas e políticas, respon-sáveis no curso de um século (1830/1930) pela complexificação, integração e mercantilização de umagrande variedade de atividades rurais e urbanas, redesenhando se não apenas o território da atual RMC,mas todo o território paulista.

Nos quadros de constituição dosmunicípios paulistas identificamos odesmembramento da vila de Mogi Mirimno antigo e vasto território da Vila deJundiaí. Fonte: Fundação Seade

A Vila de São Carlos (1797), origem de Campinas, também sedesmembrou das terras de Jundiaí. Fonte: Fundação Seade

Em representação das atuais regiões metropolitanas paulistas(São Paulo, Campinas e baixada santista), visualizamos o aindagrande território pertencente ao município de Campinas, outrora

abrangente de 8 municípios da atual RMC(Região Metropolitana de Campinas). Fonte: Fundação Seade

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As mudanças trazidas pelo complexo cafeeiro deram forma, também, a novas configurações territoriais, de-senvolvendo-se inúmeros bairros rurais, complexos agrícolas, colônias de trabalhadores, entre outros. Delassurgiriam os distritos de Valinhos (distrito em 1896; município em 1953); Americana (distrito em 1904; muni-cípio em 1924); Cosmópolis (distrito em 1906; município em 1944); Sumaré (distrito de Rebouças, em 1909;município de Sumaré em 1953); Paulínia (distrito m 1944; município em 1964), além de Nova Odessa (a partirde Americana, constituindo-se como distrito em 1938 e município em 1959) e Hortolândia (a partir de Sumaré,constituindo-se como distrito em 1953 e município em 1991).

O antigo município de Campinas, criado em 1797 com um território que, na atualidade, corresponderia àsáreas de 8 municípios dos atuais 19 participantes da região Metropolitana de Campinas, traz em sua trajetóriade constituição, diferentes marcos e marcas de desenvolvimento. No século XVIII, a Freguesia de Nossa Senhorada Conceição das Campinas do Mato Grosso, criada em 1774, nasceu em terras da Vila de Jundiaí, com fortesvínculos com a Estrada dos Goiases e com a Vila de Mogi Mirim. Sua transformação em Vila de São Carlos, em1797, correspondeu ao estabelecimento de novos vínculos produtivos e mercantis com a Vila de Itu e com o“quadrilátero do açúcar”, deixando-se transformar nas formas de ocupação e desenvolvimento econômico ori-ginal. Sua elevação à condição de cidade de Campinas, em 1842, demarcou um novo tempo: a expansão decafeeiros procedentes do Vale do Paraíba permitiu ao antigo município estabelecer novos vínculos com a ci-dade de São Paulo e desempenhar funções estratégicas de desenvolvimento junto ao novo oeste paulista emformação. Campinas se firmaria como centro estratégico de comércio e serviços do complexo cafeeiro já nasegunda metade do século XIX.

Da expansão dos canaviais no interior de seu município, à sobrevivência e expressividade de novas zonas açu-careiras, passando pela manutenção, em parte das áreas, de uma agricultura de abastecimento; o fato é queCampinas deu origem a sete municípios entre as décadas de 1920 e 1990, e que, ainda hoje, seu municípiomantém presente uma dinâmica surpreendente entre as porções urbana e rural. uma relação que já perdura230 anos.

1929. Mapa do Município de Campinas. Fonte: PMC

1964. Mapa do Município de Campinas.Na análise das representações observamos o notável crescimentoda malha urbana entre as décadas de 1930 e 1960. Fonte: PMC

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Nas camadas do tempo: entrelaçamentosentre o rural e o urbano

1817/1818. Tropeiros. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

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Das origens da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição (1774) à constituição da cidade de Campinas (1842),passando pela criação da Vila de São Carlos (1797), ganhou forma diferentes complexos produtivos que acada tempo, fizeram nascer paisagens e traçados urbanos singulares. Suas marcas encontram-se sobrepostasem meio às zonas rural e urbana do município de Campinas.

A economia mercantil de abastecimento deu origem à freguesia de Nossa Senhora da Conceição; neste pe-ríodo, unidades produtivas de diferentes tamanhos deixaram-se orientar pela passagem da Estrada dos Goia-ses enquanto na porção urbana em formação, o Pouso das Campinas Velhas e a capela provisória (seguida àIgreja Matriz) lançavam as bases do traçado urbano. Do Pouso das Campinas Velhas, seguiam dois caminhos:um deles para a igreja do povoado através da “rua de baixo” (atual Rua Luzi tana), e um segundo traçado quese confundia com a estrada e que rumava para o bairro de Santa Cruz (pela atual Rua Coronel Quirino), áreaem que se instalaria um segundo pouso de tropeiros. Entre estes dois traçados, a freguesia veria nascer asruas “de cima” (atual Barão de Jaguara) e “do meio” (atual Dr Quirino).

A instauração de uma economia açucareira, que criou a Vila de São Carlos, fez multiplicar as unidades agrícolasnas proximidades da Estrada dos Goiases e ao redor do núcleo urbano, tomando como base os arruamentosda freguesia. Na porção urbana, o casario, acompanhado por largos, praças e estabelecimentos comerciais,seguiu por terrenos planos e altos rumo à estrada de Itu (Av. Moraes Sales), eixo viário aberto no começo doséculo XIX entre as duas vilas açucareiras, erguendo-se no meio do percurso a chamada “matriz nova” (atualCatedral Metropolitana).

A economia cafeeira conferiu o título de cidade à Campinas e lhe atribuiu novos sentidos e dinâmicas ruraise urbanas. Os antigos traçados da freguesia e da vila ganharam novo volume de estabelecimentos, deli-neando-se nos fundos da matriz nova, uma área planificada de ruas, casas e fábricas que seguiam em direçãoà recém-instalada estação ferroviária. Os arruamentos da freguesia e da vila (ruas de baixo, do meio e de cima),também ganharam um novo volume de comércio e serviços. Na porção norte, o antigo eixo da Estrada dosGoiases (Rua Coronel Quirino), fez nascer um bairro residencial sofisticado que teve a av. Júlio de Mesquitacomo eixo, ao mesmo tempo em que as Companhias Paulista e Mogiana fizeram nascer nas porções sul eoeste, os primeiros bairros operários.

No curso do século XX, a economia cafeeira (mesmo em crise) legou ao município amplas condições de de-senvolvimento comercial, industrial e de serviços, desdobrando-se deste complexo uma história de diversifi-cação agrícola alinhada aos processos de industrialização.

1874. Câmara Municipal em desenho de H. Lewis. Acervo: BMC

1905. Praça Bento Quirino recebe mudas de alecrins (1904), osprimeiros lampadários de arco voltaico (iluminação elétrica) e o

recém inaugurado monumento túmulo de Carlos Gomes. Acervo: MIS

2010. Praça Bento Quirino. Acervo: DETUR Campinas

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14 Uma viagem no Tempo - Elementos para história de Campinas

As lavouras e criação de animais começaram a surgir nas terras que deram origem à cidade deCampinas há cerca de 270 anos.

Os habitantes do bairro rural conhecido como Mato Grosso de Jundiaí, produziam milho, feijão,arroz, algodão e criavam porcos, gado, cavalos e bois, estimulados pelo comércio que entãoganhava forma no vale do rio Mogi Guaçú, uma zona montanhosa banhada a leste pelo rioAtibaia e ao norte pelo rio Mogi Guaçu.

Na primeira metade do século XVIII, a passagem de tropeiros pela Estrada dos Goiases (abertaem 1722), rumo aos núcleos mineradores de Goiás e de Minas Gerais, somada à descoberta dealguns veios auríferos, fizeram nascer uma região populosa, localizada ao norte da chamada“Serra Acima” (planalto paulista), em terras da Vila de Jundiaí (1651).

Este crescimento populacional, associado às atividades da estrada e da mineração, deram lugara um “mercado consumidor insaciável” (OLIVEIRA SOARES, 2003) que, em poucas décadas, feznascer um novo município, a Vila de Mogi Mirim (em 1769).

Com uma população de 1303 habitantes em 1766, e de 1925 pessoas em 1778, Mogi Mirimestimulou o crescimento do número de lavradores e criadores do bairro do Mato Grosso deJundiaí. Nestas paragens, em 1767 já se contabilizava a presença de 185 habitantes em 38fogos (roças), espalhados por uma vasta área, e ainda, se incluída a área entre os rios pinheirose Jaguari, conhecida como “rocinha” (atual região de Vinhedo), seriam 265 habitantes distri-buídos por 53 fogos.

Bairro do Mato Grosso de Jundiaí

As “picadas” do bairro rural de Mato Grosso ganharam novossentidos quando esta porção da vila de Jundiaí se viu cortadapela “Estrada dos Goiases”, nas primeiras décadas do século XVIII.

Início do século XX. Rio Atibaia no distrito de Sousas.Fotografia de Austero Penteado. Fonte: MIS Campinas

1841. Acampamento nas planícies do Guanabi. Noël Ai�meé PissisFonte: Pessoa. Ângelo (org). Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

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O povoamento do bairro Mato Grosso também contou com estímulos procedentes da Me-trópole Portuguesa que, na década de 1760, reconfigurou o território paulista como capitaniareal (após um breve período de incorporação ao governo do Rio de Janeiro), passando suaadministração para o governo de Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão com a incumbênciade promover a ocupação e desenvolvimento produtivo dos sertões.

O “Pouso das Campinas” ou “das Campinas Velhas” foi criado no interior da sesmaria de Anto-nio da Cunha de Abreu, com o duplo papel de abastecer a estrada e impulsionar uma ocupa-ção mais sistemática na região. Nas suas proximidades começaram a surgir núcleos depovoamento em clareiras – ou “campinhos” – localizados em pontos diferentes da Estradados Goiases, e que formaram entre as décadas de 1750 e 1770, o “Bairro Rural do Mato Grosso”,em terras da Vila de Jundiaí. Eram dois os núcleos de povoamento originais: o “das CampinasVelhas” e o “de Santa Cruz”. Um terceiro núcleo surgiria na década de 1770, com a criação ofi-cial da Freguesia de Nossa Senhora das Campinas do Mato Grosso, em um terceiro “campinho”,localizado entre as duas áreas anteriores.

Vale observar, também, que nas terras situadas a sudeste do (antigo) município de Campinas,foram as atividades ligadas a Estrada dos Goiases que promoveram os primeiros movimentosde povoamento. A presença de um ponto de apoio para os viajantes rumo às minas de ourodas Gerais e de Goiás, deu origem à formação da atual cidade de Valinhos.

Desta porção de sertão, chegam nos notícias de hábitos alimentares de um bairro rural emque “todos viviam de roça, de lavouras ou de tropas” (PUPO, 1969) e no qual, segundo um an-tigo ditado popular paulista: “enquanto houver mandioca e milho, qualquer um cria seu filho”.Instalado nas imediações da Estrada dos Goiases, a região vira nascer diversos ranchos e pe-quenos sítios (com média de 1 a 2 alqueires) produtores de milho, feijão, arroz, pequena quan-tidade de algodão, cana de açúcar e fumo, e que, através do Pouso das Campinas do MatoGrosso, abasteciam tropeiros e viajantes em sua jornada para os sertões de Mato Grosso,Goiás e Minas Gerais, atual triângulo mineiro (SOUZA, 1952:5). Ao pouso das “Campinas doMato Grosso” (construído em meio a três pequenos descampados ou “campinhos” no interiordas matas) cabia a comercialização de gêneros, somando-se a ele diversos ranchos e sítios(com média de 2 alqueires) nos quais prevalecia uma vida pacata e relativamente isolada.

Início do século XIX. Jaguaricatu. Jean-Baptiste Debret. Fonte: Pessoa. Ângelo (org).Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

Mapa da Estrada dos Goiases, século XVIII.Fonte: Pessoa. Ângelo (org). Conhecer Campinasnuma Perspectiva Histórica, 2005

1817/1818. Paulista viajando com poncho.Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

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16 Uma viagem no Tempo - Elementos para história de Campinas

A elevação de Mogi Mirim à condição de Vila se fez seguida pela transformação do bairro ruraldo Mato Grosso num novo distrito e freguesia da vila de Jundiaí. Em 1774 surgia, o Distrito eFreguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso; um território quepassava a assumir funções administrativas, religiosas e militares sobre uma ampla área comdiversos outros bairros. Na ocasião da criação do distrito e freguesia de Nossa Senhora da Con-ceição (com a edificação de uma Igreja Matriz, um cemitério bento e a instalação de um párocopara a área), os lavradores se achavam distribuídos por nove bairros rurais ou “centros de sítios”:Ponte Alta, Dois Córregos, Mato Dentro, Paragem do Atibaia, Anhumas, Campo Grande, Pi-nheiros/Ribeirão, Brumado e Piçarrão (SANTOS, 2002; VILLELA, 2006).

No ano seguinte, em 1775, Nossa Senhora da Conceição já contabilizava uma produção signi-ficativa (e generalizada) de milho, feijão, arroz e algodão, a criação de porcos em 22 fogos (uni-dades produtivas), de gado em 11 fogos, de cavalos (em média de 1 a 2 por fogo) e de bois decarro, além de já contar com a presença de 47 escravos e agregados em 35 fogos, registrandouma população de 200 pessoas (PUPO, 1969:21). Entre eles, 29 sitiantes viviam de “roça” (daprodução em terras próprias, em media com 2 alqueires) e 3 deles produziam aguardente.

Na origem desta nova Freguesia, o que ganhava forma de fato, era uma nova economia de sub-sistência, fundada no sistema e dinâmica de posses, de pastagens e de criações de caráter emi-nentemente mercantil, apesar de outras atividades permanecerem presentes, entre elas, aexploração de ouro, uma economia de auto-subsistência familiar e uma economia propria-mente de subsistência (CELIA,2000: 34/36).

Freguesia de Nossa Senhora daConceição das Campinas doMato Grosso

1863. Pouso de Tropeiros do bairro da Rocinha (atual Vinhedo). Desenho de H. Lewis. Acervo: MIS

\Meados do século XIX. Pouso do Juqueri. Quadro de Henrique Távola baseado em desenho de Hercules Florence. Fonte: Pessoa. Ângelo (org).

Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

1834. Pessoas a caminho da missa. Fragmento de aquarela de J.B. Debret. Coleção: Marqueses de Bounerval

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E neste caso, passados onze anos desde sua criação, Nossa Senhora da Conceição das Campi-nas do Mato Grosso registrava num novo recenseamento, datado de 1785, a presença de dozesitiantes com mais de cinco escravos (com um plantel total de 80 cativos) e de dois engenhos:os engenhos Atibaia (de Joaquim Aranha Barreto de Camargo, no bairro do Mato Dentro) eLagoa (de Teodoro Ferraz Leite).

Entre os moradores, a Freguesia também começava a atrair famílias procedentes das vilas epovoados mais tradicionais, em particular de Atibaia, Jundiaí, Mogi Mirim, Araçariguama, Tau-baté, Moji Guaçu, Sorocaba, ou ainda, de Itú e Porto Feliz, áreas que já se firmavam pela pro-dução de açúcar (PUPO, 1969).

Os primeiros arruamentos traçados para a instalação do centro da Freguesia (1774) surgirampara interligar a Praça da Matriz às áreas dos “campinhos”, formados próximos à “Estrada dosGoiases”. Eram três os campinhos e três os arruamentos. O primeiro “campinho”, área em quese instalou o “Pouso dos Campinhos” ou “Pouso das Campinas Velhas”, achava-se localizado -segundo estudos de Antonio da Costa Santos - entre o atual Viaduto do “Laurão” e o Estádiodo Guarani. Em seu entorno, um embrião de povoamento mais conhecido como “bairro dasCampinas Velhas” se compunha de pequenas lavouras e de um incipiente comércio (voltadopara a estrada) que hoje se acharia localizado - segundo o historiador José Roberto do Amaral- nas imediações da avenida Moraes Sales. Deste período, a cidade guarda remanescentes doantigo “cemitério bento” do bairro rural, na área da atual Creche Bento Quirino (no Largo deSão Benedito), e um conjunto de edificações mais conhecido como Casa Grande e Tulha(1790/1795) que no passado, integrou a “Chácara do Paraíso”. Este bem encontra-se tombadopelo Município e preservado pela família do Prefeito Antonio da Costa Santos.

O segundo “campinho” localizava-se na região do atual Largo Santa Cruz, área em que tambémse desenvolveram atividades relacionadas à “Estrada dos Goiases”, como lavouras e pastos, eem que se formou o “bairro de Santa Cruz”, com pequenas casas e uma capela, a capela deSanta Cruz (1822). A capela e anexos recebeu a partir de 1911 a presença de irmãs dominica-nas que ali mantém, na atualidade, o Pensionato São Domingos.

1817/1818. Paulistas. Thomas Ender.Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelasde Thomas Ender. Ed. Kapa

1817/1818. Paulistas. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasilnas aquarelas de Thomas Ender. Ed.Kapa

826. Moça branca pobre.Fonte: Formosa sem Dote.Charles Landseer.Fonte: Pessoa. Ângelo (org).

Década de 1870. Capela de Santa Cruz, em desenho de H. Lewis. Acervo: BMC

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Já o terceiro “campinho”, marcado por uma trajetória histórica diferente, ganharia forma nasimediações da atual Praça Bento Quirino e num período subsequente: na ocasião em queo “bairro rural“ deixava se reconhecer como “Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dasCampinas do Mato Grosso”, em 1776.

Entre os arruamentos constavam a “rua de cima” (atual R. Barão de Jaguara), a “rua do meio”(atual R. Dr. Quirino) e a “rua de baixo” (atual R. Luzitana); estes traçados se prolongavam emsentido longitudinal à estrada até encontrarem-se com ela na altura dos pousos. A “rua decima” (Barão de Jaguara) interligava a Praça da Matriz às “Campinas Velhas”; a “rua de baixo”(Luzitana) prestava-se a ligar a Praça da Matriz com o bairro de Santa Cruz. A Freguesia tinha,então, seu núcleo central (Praça Bento Quirino) voltado para a região norte da cidade (emdireção da atual Prefeitura Municipal de Campinas). Ainda hoje nesta área, nos deparamoscom outros arruamentos originais, entre eles, a Rua Coronel Rodovalho (antigo Beco do Ro-dovalho) e a Travessa São Vicente de Paula (antigo Beco do Inferno).

Quando da criação da Freguesia, a capela provisória foi instalada no local em que hoje seencontra o monumento túmulo de Carlos Gomes; a construção definitiva da Igreja Matrizse deu na outra metade da praça (nas proximidades da atual Igreja do Carmo) em 1781,com um cemitério bento aos fundos. Os três arruamentos originais seguiam paralelos a esteespaço; a área da atual Avenida Anchieta achava se tomada por um terreno pantanoso epelo córrego Tanquinho. Este terreno limitou o crescimento da cidade por cerca de um sé-culo, sendo necessário a execução de obras de saneamento para urbanizar a região (1870).

Novos lavradores de cana de açúcar (procedentes de Itú, Taubaté , entre outras vilas) comseus escravos e recursos para montar engenhos e formar grandes plantações no meio àsmatas, circundaram o povoado com as plantações e se tornaram responsáveis, cerca de 20anos depois, pela criação de uma nova Vila, a Vila de São Carlos (1794).

Década de 1870. Igreja Matriz, em desenho de H. Lews. Acervo: BMC

1817/1818. Rancho de tropeiros. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nasaquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

Início do século XX. Imagem do Distrito de Sousas. Austero Penteado. Acervo: MIS

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Treze anos depois, em 1798, a antiga freguesia já se achava elevada à Vila de São Carlos (1797) eregistrava, além de um crescimento no comércio de abastecimento (milho, feijão, farinha, touci-nho, trigo e aguardente), a presença de 37 engenhos com produção de 8.843 arrobas de açúcar.

Em 1804, então com 34 engenhos, mantinham-se ativos 361 roceiros vinculados à produção deabastecimento e 11 produtores de cana “de partido”; números que, em 1816, passariam para 45engenhos e produção de 46.560 arrobas de açúcar. No ano de 1818, já seriam 60 engenhos pro-dutores de 100 mil arrobas de açúcar e em 1836, no apogeu da economia açucareira na Vila deSão Carlos, 93 engenhos com destilação e 93 destilarias produziriam 158.447 arrobas de açúcar e7.399 canadas de aguardente, volume correspondente a um terço de toda a produção de açúcarda Província de São Paulo.

No âmbito da produção de açúcar, propriamente dita, a Vila de São Carlos superara a produçãode Itú na década de 1820, cabendo-nos considerar que esta vila centenária vinha enfrentando oproblema de saturação de suas terras desde o ano de 1784, questão, por sua vez, que nos ajudaa compreender a velocidade da expansão dos canaviais pela terra campineira.

Vila de São Carlos

1827. Vila de São Carlos. Aquarela de Jean Baptiste Debret. Acervo: Coleção Marqueses de Bonneval

1766. Carta Corográfica da Capitania de São Paulo. Fonte: Leituras CartográficasHistóricas e contemporâneas. São Paulo: Brasil Connects, 2003

1823. Do Pouso de Santa Cruz avistava-se a Vila de São Carlos e, depois, a cidade de Campinas. Aquarela de Edmund Pink. Acervos: Bovespa

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Segundo Celso Pupo, foi no ano de 1788, que teve início a segunda fase de concessões de ses-marias na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, processo que permitiu o acesso dos lavra-dores de cana (do “quadrilátero do açúcar”) a uma nova estrutura fundiária em formação; as terrastão ricas em matas se deixariam incorporar à economia açucareira em expansão. Foi neste pro-cesso, ainda, que se decidiu pela elevação da freguesia à condição de vila, com seu termo e ins-tâncias políticas próprias. As rápidas mudanças na composição e funcionamento da sociedadecampineira também se fizeram sentir nas dinâmicas de escoamento e comércio. Estas mudanças,que contaram com uma forte presença do governo da capitania/província de São Paulo, diziamrespeito às melhorias da estrutura viária de todo o “quadrilátero do açúcar”, datando dos primeirosanos do século XIX a abertura de uma estrada entre Itú e a Vila de São Carlos; o melhoramentoda estrada carroçável entre esta vila e Franca; a abertura em 1824 de uma nova estrada carroçávelentre a vila de São Carlos e Jundiaí; a abertura em 1826 de uma estrada entre a vila de São Carlose o barranco do rio Jaguari; a construção de um rancho de telhas na entrada da cidade em 1818.Estas obras ampliariam e qualificariam em muito a rede viária anterior, além de criar novas e im-portantes condições de acesso ao porto de Santos. Além dos melhoramentos viários, o governoda capitania/província de São Paulo também interviria na questão da importação de escravos nabusca de auxiliar o desenvolvimento da economia açucareira na “serra acima”.

E quais seriam os limites do termo da Vila de São Carlos? Que relação eles teriam com a área dafreguesia? Como se estruturavam as novas fazendas de cana? E que relações mantinham com alavoura de abastecimento? Valeria ainda indagar: em que proporção as terras desta nova vila sefariam ocupadas? Sabemos por Celso Pupo que o processo de concessão de sesmarias se pro-longou de 1788 a 1822, “tendo sido mais intensa na época do florescimento da indústria açuca-reira”. Nas terras conhecidas como “Salto Grande”, localizadas na porção noroeste da Vila de SãoCarlos, vale considerar, estabeleceu-se um grupo de sesmeiros (Antônio Machado de Campos,Antonio de Sampaio Ferraz, Francisco de São Paulo e André de Campos Furquim) interessado emcultivar cana de açúcar e aguardente nas margens dos rios Atibaia e Jaguari (afluentes do Rio Pi-racicaba). Entre as sesmarias, formou-se a fazenda Machadinho (pertencente a Domingos da CostaMachado) que, em fins do século XIX, deu origem ao distrito e posterior município de Americana(1924). Também na porção sudeste da Vila de São Carlos, intensificou-se o povoamento das terrasque dariam origem a Valinhos.

Enfim a considerar os estudos pioneiros de Maria Thereza Schorer Petrone (1968), a respeito daimplantação e desenvolvimento da lavoura açucareira no “quadrilátero do açúcar”, sabemos queestas lavouras teriam se auto-financiado. De forma simultânea, elas contaram tanto com proprie-dades grandes (com mais de 400 alqueires), quanto com médias (com 20 a 400 alqueires) e pe-quenas (com menos de 20 alqueires), variando suas proporções conforme as áreas e períodos.

1846. Personagem da região de Campinas desenhado por Miguel Dutra.Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

1846. Personagem da região de Campinas desenhado por Miguel Dutra. Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

1817/1818. Thomas Ender.Fonte: Viagem ao Brasil nasaquarelas de Thomas Ender.Ed. Kapa

“...a sociedade campineira sofreu uma transformação significa-tiva, deixando de ser uma sociedade “rural de autoconsumo” – comum elevado índice de livres, para ser uma região de “agriculturavoltada para a comercialização”, onde a presença de escravos,principalmente, tornou se preponderante. Na base dessa socie-dade, o escravo passou a ganhar maior importância para o esta-belecimento de uma economia agrária voltada ao comércio, e em1814, quando a vila de Campinas não tinha completado vinte anosde existência, a mesma já despontava como uma região com fortepresença de mão de obra escrava, para em 1829 superara antigavila de Itú, e muitas outras”. (TEIXEIRA, 2007)

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Também se fizeram presentes diferentes modalidades de agricultores (de sítios ‘de posse’ ou de terrasdevolutas; com terras por compra; sesmeiros) e de “lavradores” (donos de terra com engenhos, la-vradores sem terra ‘a favor’, canas ‘de partido’), valendo observar que, tanto as pequenas quanto asgrandes fazendas se utilizaram do trabalho escravo, predominando entre as propriedades paulistasos escravos africanos.

Por outro lado, Petrone também nos chamou atenção para o fato de que as técnicas produtivas so-freram poucas transformações no curso do tempo; que a introdução de uma nova variedade de canafoi capaz de ampliar em muito a produtividade; que questões como as de fertilidade da terra, debi-lidades das técnicas de cultivo, necessidades de lenha para os engenhos, ou ainda, limitações na ca-pacidade de processamento do açúcar, provocaram um parcelamento de grandes propriedades (paraa instalação de novos engenhos), assim como o deslocamento das lavouras em busca de novas terras,estendendo-se as plantações por regiões mais amplas. Na atualidade, a ampliação dos estudos sobreo “quadrilátero do açúcar” e de seu papel na transformação da Capitania/Província de São Paulo, nospermite tratar do território campineiro numa perspectiva de história regional.

Na barra de imagens: inserir legenda; ““...a sociedadecampineira sofreu uma transformação significativa,deixando de ser uma sociedade “rural de autoconsumo” –com um elevado índice de livres, para ser uma região de“agricultura voltada para a comercialização”, onde a pre-sença de escravos, principalmente, tornou se preponder-ante. Na base dessa sociedade, o escravo passou a ganharmaior importância para o estabelecimento de uma econo-mia agrária voltada ao comércio, e em 1814, quando a vilade Campinas não tinha completado vinte anos de existên-cia, a mesma jádespontava como uma região com forte pre-sença de mão de obra escrava, para em 1829 superar aantiga vila de Itú, e muitas outras”. (TEIXEIRA, 2007)

Meados do século XIX. Tacho de cozimento. Aquarela de H Florence. Fonte: Pes-soa. Ângelo (org). Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

1820. Dna. Francisca Miquelina de Souza Queiroz.Óleo sobre tela. Fonte: Pessoa. Ângelo (org).

Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

1848. Plantação de cana de açúcar. Aquarela de Hércules Florence. Acervo: Cirilo Hercules Florence

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“As lavouras paulistas de cana de açúcar (de caráter mercantil) começaram a surgir nas úl-timas décadas do século XVIII na porção sul da Capitania, no chamado “quadrilátero doaçúcar” (entre os atuais municípios de Piracicaba, Mogi Guaçu, Campinas e Itu) em decor-rência de fatores econômicos e políticos. A presença e expansão dos canaviais pelo terri-tório que viria a ser Campinas (município que no começo do século XIX correspondia aoterritório de oito municípios da RMC) tiveram origem neste período e desde sua implan-tação motivaram uma série de transformações. Data deste período a abertura e instalaçãode grandes propriedades monocultistas, a introdução do trabalho escravo africano, atransformação dos sistemas viários, o desenvolvimento do comércio internacional, umasérie de inovações tecnológicas, além de uma profunda transformação ambiental.

A Vila de São Carlos, por sua vez, foi visitada por ilustres viajantes que nos deixaram relatosimpressionantes de sua vida cotidiana, constando entre eles, o engenheiro militar LuizD’Alincourt, em 1818; o naturalista e botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire, em 1819;o comerciante e arquiteto inglês, Edmund Pink, em 1823; o desenhista auto-didata francês,que se fixou na Vila, em 1825, e ainda, o ilustre artista francês Jean-Baptiste Debret, em1827, e o viajante Daniel Kidder, em 1838.

Seus relatos nos permitem identificar algumas mudanças que então se operavam numantigo bairro rural que, em pouco mais de 20 anos, conseguira alcançar o prestigioso títulode vila. E entre as mudanças constavam a formação e o desenvolvimento de uma vida ur-bana, a estruturação de grandes propriedades agrícolas monocultistas e escravistas e ointenso desenvolvimento do comércio, consolidando-se o município, já neste período,como um importante entreposto de regiões e cidades de Goiás, Uberaba, Franca, entreoutras povoações (ZALUAR, 1860). O açúcar destacava-se, então, como o “primeiro, e maisconsiderável ramo de exportação”, assim como a “escravatura [no] (...) principal ramo deimportação” (D’ALINCOURT, 1818) firmando-se a cidade “pela sua posição”, ou ainda, peloseu lugar como “ponto de encontro das tropas que levam açúcar para o litoral e de lá tra-zem sal e outros artigos” (KIDDER, 1838).

Meados do século XIX. Solar da batalha da venda grande. Aquarela de Miguel Dutra. Fonte:Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

Meados do século XIX Cidade de Campinas. Aquarela de Miguel Dutra. Fonte: Bardi, P.M.Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

Câmara Municipal. Óleo de Ruy Martins Ferreira (1974) baseado em desenho de H. Lewis, de 1874. Acervo: CMC

“....De 156 cativos em 1779, passou a deter 1059 em 1800, aumentando essa cifra para 2461 em 1817e 4761 em 1829. Foi inclusive neste último ano que a população escrava superou a população livrecomposta por 3634 indivíduos (respectivamente 56,7% e 43,3%)” (FERRAZ, 2001: 58/59). Apesar dogrande número de arrobas de açúcar, que se extraem de Campinas, a cultura desse fertilíssimo edelicioso país deve reputar se .nascente ainda há legas e léguas de terreno inteiramente coberto demato virgem”. (D’ALLINCOURT, 1818)

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Em seu desenho urbano, achava-se presente nas proximidades do recém instaladoPouso Real, junto à Capela de Santa Cruz, a rua da pinga, arruamento no qual tropeiros,viajantes, comboeiros de escravos, moradores do bairro e da cidade buscavam bebida,festas e “fandangos”. As ruas de baixo (atual rua Luzitana), do meio (atual rua dr Quirino)e de cima (atual rua Barão de Jaguará), abertas na encosta natural do córrego do Tan-quinho, prestavam-se a interligar as áreas dos pousos das Campinas Velhas e Santa Cruz,além de concentrar as dezenas de estabelecimentos de comércio e serviços que a vilapassava a ostentar: em 1804 seriam 34; em 1822, já se contabilizavam 90 estabelecimen-tos.

Além das atividades de comércio, eram nos terrenos mais altos junto à Matriz de NossaSenhora da Conceição (Matriz Velha, já demolida e hoje substituída pela Basílica doCarmo), que teria início as obras da Matriz Nova (atual Catedral Metropolitana) e dos pri-meiros casarões do açúcar, edifícios solenes que em meados do século XIX passavam adisputar o entorno do largo do Rosário. Em sua primeira visita à Campinas, em 1846,Dom Pedro II teria assistido uma apresentação de cavalhadas neste largo.

As mudanças também se fariam presentes com o surgimento de uma sociedade maiscomplexa e desigual, constituída por senhores, escravos, comerciantes, artífices, lavra-dores de abastecimento, entre outros, que chegavam à vila precedentes de diferentesregiões e continentes para, em poucas décadas, imprimir nela uma profusão de novoshábitos, costumes, valores à vida social. E entre estas mudanças, constariam as de padrãoalimentar, datando deste período, a disseminação do uso do açúcar, da manteiga, dasespeciarias, dos ovos e das frutas nas refeições diárias dos mais abastados. Nas palavrasde Vitalina P S Queiroz: “Quem não conhecia em Campinas e não festejava a mamã Maria,mamã Honoria, mamã Marciana (...) Quem não as conhecia e não as saudava pedindonotícias dos seus filhos brancos?”

Os recenseamentos de época nos esclarecem sobre estas mudanças. Segundo CelsoMaria de Melo Pupo: “em 1798 Campinas exportou 8443 arrobas de açúcar, 7,5 quintaisde algodão, 1412 quintais de arroz, 305 alqueires de milho, 132 alqueires de feijão, 69alqueires de farinha, 906 arrobas de toucinho e 15 arrobas de fumo (...) Em 1805 teveaumentado o saldo, exportando 28492 arrobas de açúcar” (PUPO, 1969: 74).

1830. O “socamento” das taipas da Matriz Nova, desenho de Hércules Florence. Acervo: MIS

1817/1818. Pouso. Thomas Ender. Fonte: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Ed. Kapa

1890. Sobrado da família Teixeira Nogueira, ao lado da Igreja do Rosário. Acervo: MIS/BMC

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Em relação ao crescimento populacional, a Vila de São Carlos receberia um fluxo mi-gratório significativo, a começar pelo contingente progressivo de escravos africanos,registrando-se no ano de 1822, 7369 habitantes nas áreas rural e urbana, entre eles2389 brancos, 3434 pretos e 1546 pardos. Na área urbana, também se faria contabilizadaa presença de cerca de 1000 moradas de casas (localizadas no traçado original do po-voado), além dos primeiros sinais de uma vida urbana caracterizada por atividades co-merciais e artesanais, ou ainda, pela presença de trabalhadores especializados (entreeles: ferreiros, tecelões, carpinteiros, lojistas, taverneiros, etc), além de uma elite eco-nômica e política escravocrata com papel determinante na edificação da Vila.

No âmbito dos costumes, entre eles, os alimentares, as tradições paulistas - fundadasnas variações do milho verde ou seco (cozido, pamonha, curau, creme, pudim, mingau,canjica, pipoca, fubá grosso, fubá mimoso), da mandioca (farinha, canjica..), do feijão,do arroz (com feijão, com frango ou galinha, com suã ou porco, com leite doce ou sal-gado), da horta (com destaque para a abóbora) e da criação de animais domésticos(destaque para o porco, o frango e a galinha) – se somam aos saberes e fazeres africa-nos, portugueses e de outras regiões da colônia, ou ainda, da província, dando lugar auma nova modalidade de culinária, composta, entre outros aspectos, pelos doces –entre eles: aletria, baba-de-moça, bavaroise de laranja, arroz doce, beijos de claras, docede abóbora, goiabada, merengues (ABRAÃO, 2008).

1846. Registro das cavalhadas apresentada ao Imperador D.Pedro II no Largo do Rosário.Acervo: Cirillo H. Florence

Por volta de 1865. Congada registrada por Christiano Jr no Rio de Janeiro. Acervo: IPHAN

1890. Registro do primeiro sobrado da Vila, pertencente ao Capitão Pedro Gonçalves Meira, no Largo do Rosário. Acervo: MIS/BMC

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No curso das décadas de 1830/1840, as fazendas de cana de açúcar, com seus engenhos,dinâmicas de comércio, estruturas de funcionamento e de abastecimento, começarama dar lugar às lavouras e fazendas de café, gênero agrícola que trazia outras necessida-des, mas também novas perspectivas de desenvolvimento e comercialização; foi emmeio a este processo, aliás, que em 1842 a Vila de São Carlos se tornou cidade de Cam-pinas. As mudanças foram, mais uma vez, muito rápidas, mas desta vez, a propagaçãodas lavouras extensivas de café se faria acompanhar pela aceleração da concentraçãofundiária e da posse de escravos, alargando-se rapidamente as bases de uma sociedadeescravocrata que crescia em paralelo à desarticulação da economia mercantil de abas-tecimento.

A expansão dos cafezais contaria também com a decretação da Lei de Terras pelo go-verno imperial (1850); esta lei substituía o sistema de sesmarias (interrompido desde1822) pela regulamentação de contratos de compra/venda de propriedades, e passavaa considerar a categoria de terra devoluta como terra “não ocupada”, colocando “em dis-ponibilidade”, imensas extensões, ou ainda, porções de terra dos sertões paulistas

Cidade de Campinas

“...é possível sugerir que a concentração da posse escrava em grandes escravariasna cidade de Campinas já se iniciou na primeira metade do XIX, atingindo provavel-mente seu ápice na década de 1860, quando alcançou 72,5% do total da escravaria”.(FERRAZ, 2012: 67)

Fazenda Três Pedras. Aquarela de Castro Mendes. Acervo: Maria Luiza Pinto de Moura

Quadro da evolução da população escrava em Campinas (1836-1886).Fonte: Pessoa, A. (org) Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

Meados do século XIX. Queimada. Aquarela de Miguel Dutra. Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico Artista Paulista. Ed. Masp

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No ano de 1854, o município já contava com 117 fazendas de café e 6000 escravos, des-pontando como o quarto produtor paulista nesta modalidade agrícola. No final da dé-cada de 1860, enquanto a produção de açúcar registrava 60.000 arrobas, um montantede 189 fazendas alcançava a cifra de 1.000.000 de arrobas de café, conferindo à cidadeo papel de “epicentro das mudanças” da economia cafeeira em expansão pelo territóriopaulista. Na mesma ocasião, o município receberia o título de “cabeça de comarca” por serevelar um dos municípios mais opulentos da Província. Entre as décadas de 1870 e 1880,Campinas alcançaria um crescimento ainda mais notável, transitando de 1.300 mil arrobasno começo dos anos de 1870 para 10.300 mil arrobas em 1886, período no qual a cidadese tornou conhecida como “capital da lavoura” da região oeste paulista (SEMEGHINI, 1988).

Os altos preços obtidos pela produção no mercado internacional também permitiramaos fazendeiros do município e região solucionar o problema do transporte, fazendo ins-talar uma rede ferroviária de longo alcance, orientada pelas necessidades das unidadesprodutivas. Neste caso, as fazendas cafeeiras de Campinas passaram a contar, em 1872,com a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (direção sudeste/oeste); em 1874, coma Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (direção sul/nordeste); em 1894 com o RamalFérreo Campineiro (leste) e em 1899 com a Companhia de Carris Agrícola Funilense (no-roeste). Numa perspectiva complementar, somaram-se investimentos privados destina-dos a conferir aprimoramento aos processos “racionais” (inclusive mecânicos) deprodução e beneficiamento do café, especializando-se o município na importação e pro-dução local de equipamentos destinados a aumentar a qualidade dos grãos e permitir-lhe adentrar no mercado internacional de cafés finos, de alto valor agregado.

As fazendas de café aceleraram a concentração fundiária e ampliaram significativamenteo plantel de escravos transformando Campinas no centro mais populoso de escravos daProvíncia de São Paulo na década de 1870, ao mesmo tempo em que a expansão da eco-nomia cafeeira fragilizou, ou mesmo desestruturou as bases da antiga economia mer-cantil de abastecimento, disseminando um outro padrão de relações produtivas na terra.Neste caso, se até meados do século XIX, a economia açucareira dividira espaço com aprodução mercantil de abastecimento, ou mesmo, com atividades propriamente deabastecimento (ainda que trouxesse em si um percurso de concentração fundiária e for-talecimento das relações escravistas), foi a expansão do complexo cafeicultor que difi-cultou ou mesmo impediu a convivência destes diferentes e tradicionais sistemasagrários no município.

Início do século XX. Fazenda São Francisco. Foto de Austero Penteado. Acervo MIS

Início do século XX. Distrito de Sousas. Imagem de Austero Penteado. Acervo: MIS

Final do século XIX. Estação da Paulista redefinindo o crescimento da cidade. Acervo: MIS

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No âmbito da produção agrícola, a chamada “economia cafeeira” promoveria umamplo conjunto de transformações, entre eles a transformação do trabalho es-cravo para o trabalho livre; a intensificação da agricultura para exportação; a ex-pansão do comércio internacional; a substituição acelerada da cobertura vegetalpela produção de café (e cultivo diversificado de gêneros); a entrada massiva degrupos populacionais procedentes das mais variadas regiões do Brasil e domundo (cerca de 70 grupos étnicos); a intensificação da urbanização; a comple-xificação dos sistemas de escoamento (estradas tropeiras, linhas férreas, estradasde rodagem, aviação); a complexificação e divesificação do uso de tecnologias naprodução. A economia cafeeira, neste caso, seria responsável pela complexifica-ção, integração e mercantilização de uma grande variedade de atividades ruraise urbanas.

No âmbito da urbanização, o café, motivaria os lavradores a exigir o cumprimentode um novo papel da cidade: o papel de fornecer para as lavouras, novas condi-ções para seu desenvolvimento. À cidade cafeeira, caberia, de fato, gerar um novoleque de serviços e de atividades necessário à estruturação e desenvolvimentodas lavouras, das colheitas, do beneficiamento e do escoamento do café.

No curso do século XIX, portanto, as dimensões rural e urbana passavam a se en-trelaçar de maneira inédita; da produção agrícola originava-se a maior acumula-ção de riqueza, enquanto da cidade, toda uma dinâmica de escoamento,migração, comércio e serviços garantia a sustentabilidade e o desenvolvimentodo complexo cafeeiro, ampliando-se as melhorias infra-estruturais (canalizaçãode água e esgoto, transporte urbano, energia, mercados de abastecimento, ofici-nas, fábricas, fundições..) e de forma concomitante, a complexificação e especia-lização das atividades rurais e urbanas (casas de comércio, instituições educativase de saúde, etc..).

O desempenho destas funções (de caráter comercial, industrial, financeiro, infra-estruturail) na segunda metade do século XIX, por sua vez, levaria Campinas a setransformar em um pólo de desenvolvimento econômico de uma região muito maisampla, que também se achava em formação, a região conhecida como “complexocafeicultor” do Oeste Paulista. A cidade de Campinas, a partir de então, se amplia-ria de maneira considerável, mas sempre se orientando pelas demarcações dorocio – área na qual a malha urbana permaneceu inserida por cerca de cem anos(ou, até as últimas décadas do século XIX).

“A rede ferroviária de Campinas cumpriu papel primordial na estruturação, desenvolvimento e expan-são do complexo cafeicultor paulista. Em seu papel de entroncamento viário entre a “capital e o inte-rior”, as linhas das Companhias Paulista e Mogiana se integravam na região central da cidade paratransferir toda a produção da região oeste para a zona portuária, passando por São Paulo”.

1929. Mapa de Campinas, com marcação de ferrovias. Acervo: Mirza Pellicciotta

Mapas das ferrovias de Campinas e distribuição das fazendas na década de 1920Fonte: Pessoa. Ângelo (org).Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

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Nas terras a sudeste do município, área que já se encontrava em formação desde o séculoXVIII, a multiplicação dos cafezais, a instalação dos trilhos da Cia. Paulista de Estradas de Ferroe a fixação de imigrantes, em especial, italianos, fez nascer um novo distrito, o distrito de Va-linhos (1896). Décadas depois, esta área substituiria a produção de café pela fruticultura (figo,uva), elevando se a município em 1953.

Na porção noroeste, em terras do “Salto Grande” (Americana), os canaviais foram substituídospor café em meados do século XIX, e ainda, por lavouras de algodão cultivadas por imigrantesprocedentes do sul dos Estados Unidos (1865). Com a instalação dos trilhos da CompanhiaPaulista de Estradas de Ferro (1872) rumo ao oeste da Província de São Paulo, surgiu nas pro-ximidades da estação um núcleo urbano; este núcleo, estimulado pela presença de imigran-tes alemães (década de 1870) e italianos (década de 1880) desenvolveu importantesespecializações (primeiras tecelagens, como Carioba) e contribuiu para a formação do distritode Vila Americana (1904); vinte anos depois, este distrito elevou se à município (1924),constituindo se no primeiro território a se desmembrar das terras campineiras”.

Na porção oeste do município, a região já se encontrava ocupada desde, pelo menos, a se-gunda metade do século XIX, por fazendas, quilombos e núcleos de colonos. Em 1868, o po-voado conhecido como Quilombo (origem a Sumaré) recebeu sua primeira capela emdevoção a Sant’Ana, e a partir de 1875, com a passagem dos trilhos da Companhia Paulistade Estradas de Ferro, uma estação. Nas suas imediações surgiram as primeiras indústrias ecasas de comércio, seguindo-se a mudança de nome para “Rebouças”. Em 1909, já marcadopelo desenvolvimento industrial, o povoado foi elevado a distrito, tendo seu nome alteradopara Sumaré em 1944. Na década de 1950, imerso numa forte expansão industrial no interiordo Estado de São Paulo, a cidade recebeu novas empresas nacionais e estrangeiras, e se fezelevado à município em 1953, desprendendo-se das terras campineiras.

Numa área próxima ao antigo povoado de Quilombo (Sumaré), o povoado de Jacuba (Hor-tolândia) também se firmou no curso do século XIX, e na segunda metade deste século, jáse achava ocupado por lavouras de café e algodão. Suas terras receberam os trilhos da Com-panhia Mogiana de Estradas de Ferro que, no entanto, não fez instalar por ali uma estação.Foram necessários 45 anos para a construção da estação Jacuba. Por outro lado, foi em 1947,com a Cerâmica Ortolan, que o núcleo urbano ganhou novas feições, seguindo-se sua ele-vação à condição de distrito de Sumaré, em 1953. Em 1958, Jacuba teve seu nome alteradopara Hortolândia e em 1991, tornou-se município, desmembrando-se das terras de Sumaré.

Início do século XX. Fazenda de Café no interior Paulista. Acervo: Arquivo Público do Estado de São Paulo

Início do século XX. Fazenda de Café no interior Paulista. Acervo: Arquivo Público do Estado de São Paulo

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Ainda na porção noroeste do (antigo) município de Campinas, nas imediações do antigopovoado de Quilombo, em área ocupada por antigas sesmarias, a passagem dos trilhos daCompanhia Paulista de Estradas de Ferro, a partir de 1873, estimulou o cultivo de algodãoe melancia e, na Fazenda Pombal, de propriedade de Carlos José de Arruda Botelho, teveorigem um novo núcleo de colonização; um núcleo destinado a receber imigrantes russos.Os colonos (em sua maioria da Letônia) começaram a chegar em 1898, mas poucos se inte-ressaram em permanecer; o empreendimento acabaria adquirido pelo governo do Estadode São Paulo que ali implantou, a partir de 1905, o “Núcleo Colonial Nova Odessa”. Esteslotes de terra, acompanhados por implementos agrícolas, construção de casas, entre outrasações, seriam oferecidos por financiamento à famílias russas de origem judaica (as únicasautorizadas a sair da Rússia pelo seu governo), que chegaram à região em maio de 1905.Em 1938, o povoado se faria elevado à condição de distrito do município de Americana eem 1959, Nova Odessa se transformaria num novo município.

Também, na porção noroeste do (antigo) município de Campinas, em terras conhecidascomo Funil (origem de Cosmópolis), instalou-se, no princípio da década de 1890, um em-preendimento privado de colonização pertencente ao Coronel José de Sales Leme; este em-preendimento tencionava instalar uma estrada de ferro (Companhia Carril AgrícolaFunilense) e uma colônia de imigrantes suíços no bairro do funil. As terras previstas para oprojeto, no entanto, acabaram adquiridas pelo governo do Estado que ali implantou o “Nú-cleo Colonial Campos Sales” (1896), um empreendimento voltado a fixar trabalhadores emlotes privados de terra, e a promover o desenvolvimento produtivo de uma promissora re-gião. O núcleo recebeu, nos primeiros anos do século XX, imigrantes procedentes das maisvariadas regiões do mundo (suiços, alemães, austríacos, russos, italianos, portugueses, entreoutros) e, a partir de 1904, passou a contar com a implantação da Sociedade Anônima UsinaEster, da família Nogueira, que ali instalou uma importante zona açucareira, responsávelpor elevar o núcleo a distrito em 1906 e, em 1944, à Município.

No percurso de implantação da Companhia Carril Agrícola Funilense, inaugurada em 1899,surgiu o povoado de José Paulino (1906), um aglomerado urbano que nasceu próximo aostrilhos, em terras já longamente ocupadas que agora recebiam imigrantes em sua maioriaitalianos para trabalho nas fazendas da região. O povoado que daria origem à Paulínia inte-grou os caminhos de desenvolvimento das novas estruturas produtivas em implantação naregião nas primeiras décadas do século XX, adquirindo a condição de distrito em 1944 deCampinas e a condição de município em 1964. A partir de 1968, a construção da refinariaReplan, da Petrobras, acelerou o desenvolvimento local.

Início do século XX. Estação Carlos Botelho, da Companhia Carril Agrícola Funilense, instalada no Mercado Municipal de Campinas. Acervo: MIS

Início do século XX. Vista aérea do novo Mercado Municipal de Campinas. Acervo: MIS

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MARCAS IMIGRANTES

De forma concomitante, a chegada de imigrantes, impulsionada pela economiacafeeira, também ganhava forma em meados do século XIX com um grupo defamílias suiças trazidos para a Colônia Senador Vergueiro, em Limeira. Este pro-cesso seria intensificado nas décadas seguintes, registrando-se entre as décadasde 1870 e 1945 a entrada e fixação de 2,2 milhões de imigrantes na capital e nointerior de São Paulo, integrantes de cerca de 70 grupos étnicos dos mais diver-sos continentes.

Esta imigração em massa, orientada pelas necessidades rurais e urbanas docomplexo cafeeiro, prestaria-se a fixar os colonos em diferentes regiões, pro-priedades e atividades – de grandes fazendas cafeeiras à núcleos colonias pro-motores de abastecimento - , contando-se com o auxílio das estradas de ferro,para garantir o sustento e o escoamento da produção de regiões mais interio-rizadas. Campinas, por sua vez, ocuparia um lugar estratégico em meio a estasdinâmicas e fluxos populacionais: o de principal entrocamento viário e de ser-viços do interior paulista, passando pela cidade (e em parte se fixando nela) oscerca de 70 grupos étnicos constituidores da província e Estado de São Paulo.

A riqueza cultural trazida por esta circulação, enfim, passaria a se expressar numleque de novos hábitos e costumes que mais uma vez ganhava forma nomundo paulista – elementos que em 1934 achavam-se associados à presençano conjunto do Estado de: 32,5% de italianos (304.977 pessoas); 19% de portu-gueses (176.591 pessoas); 17,2% de espanhóis (160.524 pessoas); 14% de japo-neses (131.709 pessoas); 2,9% de alemães (26.998 pessoas); 2,8% de sírios(25.610 pessoas); 0,2% de norte-americanos (1632 pessoas).

As famílias imigrantes que penetraram nos territórios paulistas a partir dasúltimas décadas do século XIX até as primeiras décadas do século XX,oriundas, sabe-se hoje, de setenta grupos étnicos, chegavam a São Pauloatravés do porto de Santos, procedentes diretamente da Europa ou doporto do Rio de Janeiro, para dali seguir, em massa, para as zonas cafei-cultoras. Uma vez nas fazendas, as famílias se deparavam com um universomuito particular de sobrevivência e trabalho: isolados e, ao mesmo tempoimersos numa rotina extenuante de trabalho, cabia a cada uma delas res-ponder por alguns mil pés de café, o que implicava no envolvimento dascrianças, das mulheres e por vezes, dos idosos (os “enxada” e “meia en-xada”) numa lida diária difícil, nem sempre compensatória, e que ao finallhes rendia um valor fixo pelos cafezais tratados; um valor variável pelacolheita e algum valor (ou não...) pelos serviços prestados ao fazendeiro.

Início do século XX. Família de imigrantes italianos em Campinas. Acervo: CMU

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Entre os hábitos e costumes propriamente alimentares, a presença deum grande número de italianos no interior e na capital do Estado re-forçava o gosto pelo queijo, pelo arroz (enriquecido pelos risottos),pela polenta de farinha de milho (em substituição, muitas vezes, aopão), pelos peixes, galinhas e frangos, pela vitela, coelho, lebre e car-neiro, além de popularizar o uso das massas de farinha de trigo e in-troduzir/reforçar condimentos e aromáticos (manjericão, sálvia,orégano...).

Os portugueses, de presença estrutural, reforçariam as tradições deconsumo da carne, de frangos, peixes/sardinhas, bacalhau, camarõese frutos do mar, de leitões, cabritos e cordeiros refogados em vinho,de azeitonas, pepinos, pimentões, tomate, arroz, feijão, vinho, cominho,além das sobremesas a base de ovos, nozes, figos, melões, marmelos,amêndoas e romãs. Os espanhóis reforçariam o consumo de azeite deoliva e do alho (heranças romanas), do açúcar, do arroz, do tomate, dabatata, da pimenta do reino e de diferentes tipos de carnes (caças, car-neiro, aves, leitão, gado) e linguiças, introduzindo-se o açafrão, a alca-chofra, o grão de bico e uma série de pratos típicos.

Os japoneses trariam novas técnicas de produção ou ainda, novas for-mas de preparar peixes, crustáceos, mariscos, algas, arroz, legumes,chás, vegetais além de introduzir o saquê e popularizar (mais recente-mente) o consumo da soja. Os alemães, com uma presença modestae procedência de regiões diferentes da Alemanha, não chegariam pro-priamente a difundir uma culinária própria mas reforçar o já tradicionalconsumo de cerveja, carne salgada e sobretudo o porco, introduzindonovas formas de preparar os presuntos, chouriços, salsichas, joelho emortadela; eles também reforçariam o consumo de repolho, batatas,ovos, creme de leite, maçãs, canela, pimenta, introduindo ou valori-zando a mistura de sal e açúcar. Os sírios libaneses também trariamnovas formas de preparar os peixes, o arroz, o carneiro, a galinha, in-troduzindo ou popularizando o consumo de pinhão, iogurte, óleo oupasta de gergelim. Os norte americanos – de presença relevante naregião de Campinas – ampliariam o consumo de frutas e legumes (comdestaque para milho, maçã, abóbora, batatas doce, quiabos, feijões,cebolas), enriqueceriam as maneiras de preparar as carnes (hambur-guers) e galinhas (frango empanado), os bolos e tortas, além de intro-duzir as tradições do breakfast (ovos, bacon, pão, mingaus, geléias,sucos de frutas, chás). (PELLICCIOTTA, 2012)

Instalados numa modesta casa, era-lhes permitido cultivar uma pequena horta, criar alguns ani-mais de pequeno porte (aves, suínos), utilizar de alguma pastagem para criar poucas vacas e ca-valos, ou ainda, plantar um pouco de milho, arroz e feijão em terrenos indicados pelo fazendeiro.A família Rigon, imersa num território que em pouco mais de 60 anos acabaria por reunir cercade um milhão de italianos, contava então com seus costumes e tradições para seguir adiante,procurando se adaptar às características, condições, relações e perspectivas deste novo país.

Ora, a criação, matança e transformação dos animais em alimento transcendia a um simples ritualde abastecimento. O consumo de aves e porcos, ou ainda, de uma novilha, dava-se, geralmente,em meio às festas do calendário comunitário (natal, páscoa, carnaval, padroeiros, etc) ou dosacontecimentos familiares (casamentos, batizados, aniversários, etc), valendo considerar que,fosse qual fosse a razão da matança, tratava-se de garantir o consumo imediato das carnes, oque incluía a partilha com familiares ou vizinhança, ou mesmo a venda em feiras públicas e açou-gues. Mas, no caso de impedimento do consumo imediato, entrava em cena um corpo de pro-cedimentos culturalmente balizados: o salgamento, a defumação, a secagem e o cozimento -processos que, a depender das tradições regionais, originavam presuntos, morcelas, salames, sal-sichas e demais alimentos criados de carnes em conserva.

Entre os rituais, a matança do porco obedecia a uma sequência de processos com vistas a garantirao longo de um determinado período, um consumo variado de produtos. Os processos come-çavam logo nos primeiros dias após a matança. De fato, enquanto a família consumia as carnesmais nobres e frescas, ela também preparava o codeguim (codeghino), um embutido de carnecrua, couro e orelha pré-cozidos que ficaria de três a sete dias na cura. A lingüiça, de elaboraçãosemelhante, deveria permanecer por mais de um mês na cura, prolongando com isso o consumoda carne. Por fim, a família derretia, filtrava e armazenava a gordura para com ela preparar seuspratos cotidianos. O preparo das carnes, o cultivo e preparo dos alimentos, a organização e asrelações de trabalho, a celebração de datas importantes, os rituais de casamento, de batizado,são hoje percebidos como elementos fundantes de uma cultura caipira de mútiplas origens, eneste mesmo sentido, como elementos de uma tradição paulista tecida entre muitos povos.

Início do século XX. Núcleo Colonial Campos Sales (atualCosmópolis). Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo

Início do século XX. Casa imigrante no interior deSão Paulo. Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo

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O complexo cafeeiro, que contou com Campinas em seu percurso de estruturação,se espalhou pelos contrafortes ocidentais da Mantiqueira (Campinas, Itu, Jundiaí, Am-paro, Bragança, São João da Boa Vista, Mococa) depois de passar pelo Vale do Paraíba,e “aproveitando os afloramentos de terra roxa”, ele seguiu pela região ao norte deCampinas para a depressão periférica (Limeira, Araras, Rio Claro, Leme, Piraçunungae Descalvado). O café alcançou nas últimas décadas do século XIX, os maciços de Ri-beirão Preto (dividido pelo Rio Pardo) e os de Araraquara, separados pelo vale do rioMogi-Guaçu, e a partir deles, as plantações seguiram pelas “grandes extensões deterra roxa no planalto ocidental paulista” (de Mococa ao Vale do Paranapanema,acompanhando o escarpamento da cuesta).

No início do século XX, esta imensa expansão registrava a presença de 110 milhõesde cafeeiros no maciço de Ribeirão Preto (entre as terras, ao norte, de Batatais e asterras, ao sul, de Ribeirão Preto, Sertãozinho, São Simão, Cravinhos e Santa Rita doPassa Quatro) e de 100 milhões de cafeeiros no maciço de Araraquara (à esquerda doRio Mogi-Guaçu, rumo às terras de São Carlos do Pinhal, Descalvado, Pitangueiras,Araraquara, Bebedouro e Jaboticabal). Na zona compreendida entre Araraquara e acalha do rio Tietê (nas proximidades de Jaú e Brotas) também se achava presente 70milhões de pés de café (entre as décadas de 1880 e 1910), e do outro lado do RioTietê, na área junto à cuesta, outros 45 milhões de cafezais (nas regiões deBotucatu/São Manoel, com prolongamento para Lençóis, Avaré, Piraju e SaltoGrande), eixo, por sua vez, que no começo do século XX já começava a se aproximardas imediações de Bauru (PELLICCIOTTA, 2010).

Com tal volume de produção, seria inevitável que nas últimas décadas do século XIXa economia cafeeira assumisse o centro das atenções, dos investimentos e das rela-ções de poder no território paulista, restando aos criadores de gado e aos lavradoresde subsistência - há muito instalados em várias porções do “sertão” -, a alternativa deregulamentar suas “posses” e aderir ao novo processo ou vender suas terras e migrarmais para o oeste. De fato, ambos os fenômenos ganharam lugar e as “bocas de ser-tão” passaram a se deslocar cada vez mais para oeste e a avançar pelas terras de mata,consideradas as mais férteis para abrir as lavouras de café; os conflitos seriam inevi-táveis. Ao sistema ferroviário, que acompanhava as plantações, coube ainda o papelde acelerar a penetração e transformação de vastas áreas de campo e mata em novasáreas de lavoura, criação e industrialização, potencializando o desenvolvimento, a ar-ticulação e a geração de um padrão de ocupação estruturado na monocultura exten-siva, na diversificação do capital, na especialização regional e na migração em massa(PELLICCIOTTA e FURTADO, 2010).

Família José Manuel de Arruda. Acervo: Maria Luiza Pinto de Moura

1903. A Florada do Café. Quadro de Antônio Ferrigno (1863-1940). Acervo: Sociedade Rural Brasileira

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Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, enfim,grande parte da Província/Estado de São Paulo já se achava transformada pela ex-pansão sem precedentes da economia cafeeira, segmento agrícola que, ao aprimorarsuas relações e vínculos com o mercado, deixara-se (re) organizar como setor pro-dutivo de forma a alcançar os mais altos níveis de qualidade exigidos pelo comérciointernacional. O século XX começaria marcado, então, pelo crescimento aceleradodas cidades e pela sedimentação/fortalecimento de suas zonas de produção e cir-culação.

O município de Campinas, cujas lavouras cafeeiras já se encontravam em declíniono final do século XIX, achava-se agora consolidado como centro político, comerciale financeiro, como centro prestador de serviços especializados, irradiador de tecno-logias, qualificador e distribuidor de mão de obra, mostrando-se ainda presente emsua imensa zona rural, uma importante diversificação agrícola que, neste contexto,também passava a contar com a presença de imigrantes, ou ainda, com colôniasagrícolas de imigrantes (privadas e estatais).

Mas, para além da complexidade produtiva e do requinte alcançado pelas moradiasurbanas e rurais dos latifundiários do café, a porção urbana experimentaria diversasalterações infra-estruturais e funcionais: dotada de novas funções e atribuições (eco-nômicas, políticas, sociais e culturais) no interior do Estado de São Paulo, a cidadecafeeira se consolida como um pólo de desenvolvimento econômico e de serviçosdo “complexo cafeicultor”.

No caso da cidade de Campinas, a malha da região central se expandiria em direçãoaos trilhos instalados pelas Companhias Paulista (1872) e Mogiana (1874) e em suasproximidades passaram a se fixar casas de comércio, fundições, importadoras demaquinarias, instituições políticas, educativas e de saúde, voltadas a atender mora-dores e visitantes oriundos de todo o “oeste paulista” em desenvolvimento.

1907. Banquete republicano no interior do Theatro São Carlos. Acervo: CMU

1905. Passagem de Santos Dumont pela Rua 13 de Maio e imediações. Acervo: BMC

Propaganda de Fábrica de Chapéus. Fonte: Pessoa. Ângelo(org).Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

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Marcas e marcos da cidade

Obras da nova sede da Prefeitura Municipal de Campinas, erguida entre os anos de 1966 e 1968. Acervo: MIS

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Podemos passear pelas marcas históricas de Campinas quando percorremos um qua-drilátero compreendido entre a Via Expressa Valdemar Paschoal (Expresso Aquidabã),Rua Coronel Quirino (Cambuí), Av Barão de Itapura, Av. Andrade Neves e Av. Pref. JoséNicolau L. Maselli (nas margens dos trilhos da Cia Paulista). É nesta porção da cidadeque encontramos testemunhos do antigo “bairro rural”, da Freguesia de Nossa Se-nhora da Conceição (1774), da Vila de São Carlos (1797) e da Cidade de Campinas(1842), na forma de fragmentos ainda resistente à vida agitada da nova cidade.

De fato, se as antigas “picadas” do bairro rural de Mato Grosso viram chegar, no co-meço do século XVIII, a “Estrada dos Goiases”, uma estrada que alcançava o bairropelas imediações da atual Av. Princesa do Oeste para dali seguir pela rua Coronel Qui-rino (Cambuí), passando pelo Largo Santa Cruz em direção à cidade de Jaguariúna;foi no início do século XIX que um novo eixo viário ganhou forma neste território:uma estrada carroçável procedente de Itú chegava à Vila de São Carlos (Campinas)por meio da atual Av. Dr Moraes Sales.

2010. Foto aérea de Campinas, com marcações das primeiras áreas de formação, hoje submersas no território urbano. Acervo: Mirza Pellicciotta

2010. Foto aérea de Campinas, com marcações da passagem da antiga Estrada dos Goiases e área do pouso de Santa Cruz, testemunhos hoje submersos no território urbano. Acervo: Mirza Pellicciotta

2010. Foto aérea de Campinas, com identificação da área que, no curso dos séculos XVIII e XIX, abrigou o centro da Freguesia deNossa Senhora da Conceição, da Vila de São Carlos e da cidade de Campinas. Acervo: Mirza Pellicciotta

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Ainda, nas últimas décadas do mesmo século XIX, Campinas passava a contar com um complexo ferroviário de grandemagnitude, instalado então na porção sul do município. As companhias Mogiana e Paulista de Estradas de Ferro criariamali suas estações e trilhos para então circundar a cidade (sentido sul/sudoeste/oeste) e fazer nascer os primeiros bairrosde trabalhadores (Vila Industrial, Bonfim, Guanabara, Ponte Preta).

Nesta pequena porção da cidade, localizada na confluência de uma vasta malha urbana, nós encontramos os testemunhosmais antigos de sua história. Entre eles, a área em que se ergueu, no século XVIII, os primeiros pousos localizados na mar-gem da estrada “dos Goiases”; o cemitério bento do bairro rural do “Mato Grosso de Jundiaí”, ou ainda, os arruamentosque, neste mesmo século, marcaram a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do MatoGrosso (1774), origem da Vila de São Carlos (1797) e da cidade de Campinas (1842). De maneira mais específica, o cha-mado “Centro Velho” corresponde à área do antigo Rocio da Vila de São Carlos, área na qual se concentrou, por mais decem anos (ou até o final do século XIX), todo o estímulo de desenvolvimento da cidade, configurando-se em seu interioro casario, os arruamentos, as instituições e os espaços públicos do primeiro século de história de Campinas.

“Primeiros arruamentos de Campinas, ainda presentes na cidade contemporânea. Na imagem vemos em amarelo, as áreas aproximadas dos pousosdas Campinas Velhas (ao norte) e de Santa cruz (ao sul); também o traçado da ferrovia (Cia Paulista) em azul escuro e as três primeiras ruas da freguesia:rua de baixo (à esquerda, hoje rua Luzitana), rua do meio (hoje, dr. Quirino) e rua de cima (hoje, Rua Barão de Jaguara). No círculo rosa, o marco zerode Campinas, a atual Praça Bento Quirino”.

Início do século XX .Vagão da Cia Mogiana. Acervo: MLPM

Final do século XIX. Avenida Andrade Neves:importante papel no desenvolvimento da cidade. Acervo: MIS

1878. Mapa de Campinas. Acervo: PMC Foto aérea de Campinas da década de 1940 com marcaçãodos primeiros arruamentos. Acervo: Mirza Pellicciotta

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Em termos mais abrangentes, a região central é formada também pelas áreas que, nofinal do século XIX, começaram a nascer nas margens dos trilhos do novo complexoferroviário (instalado a partir de 1872), e que deram origem aos primeiros bairros deCampinas, localizados nos chamados arrabaldes da cidade. Neste sentido, entre o finaldo século XIX e o início do século XX, começava a se formar nas proximidades do atual“centro velho”, os primeiros bairros de migrantes e imigrantes que chegavam à Cam-pinas, atraídos pela implantação de fábricas, de fundições, de cortumes, de atividadesde comércio, de estabelecimentos hospitalares e escolares, entre tantos outros, im-pulsionados pela economia cafeeira. Este processo permaneceu intenso no curso dasdécadas seguintes, multiplicando-se várias vezes a malha urbana original da cidade.

Entre os remanescentes mais antigos desta porção da cidade estão os associados àpassagem da Estrada dos Goiases, identificados no pequeno desenho acima, por mar-cas bege. O “Pouso das Campinas” ou “das Campinas Velhas” foi criado no interior dasesmaria de Antonio da Cunha de Abreu, com o duplo papel de abastecer a estrada eimpulsionar uma ocupação mais sistemática na região. Nas suas proximidades come-çaram a surgir núcleos de povoamento em clareiras – ou “campinhos” – localizadosem pontos diferentes da Estrada dos Goiases, e que formaram entre as décadas de1750 e 1770, o “Bairro Rural do Mato Grosso”, em terras da Vila de Jundiaí. Eram doisos núcleos de povoamento originais: o “das Campinas Velhas” e o “de Santa Cruz”. Umterceiro núcleo surgiria na década de 1770, com a criação oficial da Freguesia de NossaSenhora das Campinas do Mato Grosso, em um terceiro “campinho”, localizado entreas duas áreas anteriores.

O primeiro “campinho”, área em que se instalou o “Pouso dos Campinhos” ou “Pousodas Campinas Velhas”, achava-se localizado - segundo estudos de Antonio da CostaSantos - entre o atual Viaduto do “Laurão” e o Estádio do Guarani. Em seu entorno, umembrião de povoamento mais conhecido como “bairro das Campinas Velhas”, se com-punha de pequenas lavouras e de um incipiente comércio (voltado para a estrada)que hoje se acharia localizado - segundo o historiador José Roberto do Amaral - nasimediações da avenida Moraes Sales.

2010. Vista aérea de Campinas, com indicação aproximada da passagem das antigas Estrada dos Goiases e Estrada de Itú e das primeiras áreas de formação, hoje submersas no território urbano. Acervo: Mirza Pellicciotta

2010. Vista aérea com indicação aproximada da passagem das antigas Estrada dos Goiases e Estrada de Itú e das primeiras áreas de formação. Acervo: Mirza Pellicciotta

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Deste período, a cidade guarda remanescentes do antigo “cemitério bento” do bairrorural, na área da atual Creche Bento Quirino (no Largo de São Benedito), e um conjuntode edificações mais conhecido como Casa Grande e Tulha (1790/1795) que no passado,integrou a “Chácara do Paraíso”. Este bem encontra-se tombado pelo Município e pre-servado pela família do Prefeito Antonio da Costa Santos.

O segundo “campinho”, localizava-se na região do atual Largo Santa Cruz, área em quetambém se desenvolveram atividades relacionadas à “Estrada dos Goiases”, como lavou-ras e pastos, e em que se formou o “bairro de Santa Cruz”, com pequenas casas e umacapela, a capela de Santa Cruz (1822). A capela e anexos recebeu a partir de 1911 a pre-sença de irmãs dominicanas que ali mantém, na atualidade, o Pensionato São Domingos.

Já o terceiro “campinho”, conforme observamos anteriormente, teve sua história asso-ciada à instalação da “Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do MatoGrosso”, em 1774, abrigando na atual Praça Bento Quirino aquela que teria sido a igrejamatriz (em local hoje ocupado pela basílica do Carmo).

Como abordamos anteriormente, na segunda metade do século XVIII, alguns grupos efamílias do “bairro rural” mais enriquecidos com as lavouras comerciais, dirigiram-se àsinstâncias oficiais para pleitear para o “bairro rural” a condição de Freguesia, erigindo-se em 1774 na atual Praça Bento Quirino – em uma área localizada entre o “Pouso dasCampinas Velhas” e o núcleo de Santa Cruz – uma capela provisória que marcaria a pre-sença da Igreja Matriz, além de um cemitério bento e das primeiras edificações da área.

Os marcos da freguesia, depois elevada à condição de vila, encontram-se na Praça BentoQuirino, além dos restos mortais de seu fundador, Barreto Leme, achar-se na Basílicado Carmo.

Meados do século XX. Fotografia aérea da Praça XV de Novembro. Acervo: MIS

Meados do século XX. Vista aérea da região do Largo São Benedito. Acervo: MIS

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Na área da atual Praça Bento Quirino, também conhecida como “marco zero” (em refe-rência à demarcação do rocio), encontramos testemunhos da transformação do “BairroRural do Mato Grosso” (1750/1776) em povoado e “Freguesia de Nossa Senhora da Con-ceição das Campinas do Mato Grosso” (1776/1794), e desta, em Vila de São Carlos(1794/1842). Em seu interior e nas ruas mais próximas, vários espaços, construções e mo-numentos registram estes acontecimentos, ou preservam certos usos ou tradições ado-tadas há mais de duzentos anos.

De maneira particular, na região localizada entre a Praça Bento Quirino e o edifício daPrefeitura Municipal, na Avenida Anchieta, nós encontramos os primeiros arruamentostraçados para a instalação do centro da Freguesia (1774); arruamentos que, em sua ori-gem, buscaram interligar a Praça da Matriz às áreas dos “campinhos”, formadas próximasà “Estrada dos Goiases”. Eram três os arruamentos: a rua de cima (atual R. Barão de Ja-guara), a rua do meio (atual R. Dr. Quirino) e a rua de baixo (atual R. Luzitana), sendo queestes traçados se prolongavam em sentido longitudinal à estrada até encontrarem-secom ela, na altura dos pousos. A “rua de cima” (Barão de Jaguara) interligava a Praça daMatriz às “Campinas Velhas”; a “rua de baixo” (Luzitana) prestava-se a ligar a Praça da Ma-triz com o bairro de Santa Cruz. A Freguesia tinha, então, o seu núcleo central (PraçaBento Quirino) voltado para a região norte da cidade (em direção da atual Prefeitura Mu-nicipal de Campinas), registrando-se ainda hoje nesta área, alguns outros arruamentosoriginais como a Rua Coronel Rodovalho (antigo Beco do Rodovalho) e a Travessa SãoVicente de Paula (antigo Beco do Inferno).

Também na praça Bento Quirino, encontramos edificações e marcos históricos da maiorimportância, como a Igreja do Carmo (construção de 1938) que guarda os restos mortaisdo fundador oficial do cidade, o sesmeiro Barreto Leme. Nas origens desta praça, marcoda criação da Freguesia, foi construída uma primeira capela no local em que hoje se en-contra o monumento túmulo de Carlos Gomes, mas para a construção da Igreja Matriz,foi escolhida a outra metade da praça, sendo erguido o templo nas proximidades daatual Igreja do Carmo em 1781, com um cemitério bento aos fundos. A “Matriz Velha” (ouainda, Matriz de Santa Cruz) seria demolida em 1930, para dar lugar à nova igreja. Nocentro da Praça, ainda, outros monumentos instalados na Iª República registram a im-portância que a área continuou a desempenhar na cidade no curso do tempo, como oMonumento a Bento Quirino (do início da década de 1920), o monumento túmulo deCarlos Gomes (inaugurado em 1905) e o busto de César Bierrenbach (de 1912). No localem que hoje se encontra o monumento túmulo de Carlos Gomes, funcionou por maisde um século, a Cadeia Pública.

LARGO DA MATRIZ VELHA

1867. Carnaval na Praça Bento Quirino com os “beduínos” do Club Semanal. Acervo: MLPM

Início do século XX. Praça Bento Quirino, com coreto, hoje instalado no Largo do Pará. Acervo: MIS

Início do século XX. Igreja do Carmo, com traços e estruturasoriginais após reforma de 1870. Acervo: MIS/BMC

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No entorno da Praça, algumas edificações, incluindo o prédio do Jockey Clube (1925),remontam ao período áureo do café (últimas décadas do século XIX/ primeiras do sé-culo XX) e nas ruas mais próximas, outros edifícios testemunham aspectos fundamen-tais da história da cidade, como o Solar do Barão de Itapura, localizado na rua RegenteFeijó e datado de 1883 (atual prédio da PUCC central). A riqueza e sofisticação desteedifício nos sugerem o quanto os mundos “rural” (das plantações de café) e “urbano” seachavam articulados na Campinas do século XIX.

Também na região do “marco-zero” do rocio, encontramos os antigos arruamentos quedescem em direção à atual Prefeitura Municipal, valendo considerar que, no passado(até a década de 1860), a área da atual Avenida Anchieta se achava ocupada pelo cór-rego Tanquinho e por um terreno pantanoso (terreno que, por muito tempo, limitou ocrescimento da cidade nesta direção). Foram necessárias obras de saneamento, inicia-das na década de 1870, para urbanizar a região, instalando-se nesta ocasião a SantaCasa de Misericórdia (1876) e a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte (1875) - bemtombado pelo Estado de São Paulo. Esta área, na atualidade, permanece importantepara a cidade, abrigando o prédio da Prefeitura Municipal de Campinas (erguido na dé-cada de 1950), além dos prédios da Biblioteca Municipal Prof. Ernesto Manoel Zink edo Museu de Arte Contemporânea/ MAC. Nas imediações, se destaca ainda o “JardimCarlos Gomes”, criado em 1884 (a partir de uma área conhecida como “Largo do Lixo”)e reurbanizado em 1913. Uma outra edificação importante da área é a atual Escola Es-tadual Carlos Gomes, antiga Escola Normal; prédio projetado pelo iminente arquitetoRamos de Azevedo, inaugurado em 1903, que se constituiu em um dos mais importan-tes edifícios educacionais da primeira Republicana em Campinas.

Primeira década do século XX. Monumento túmulo de Carlos Gomes,instalado em terreno outrora ocupado pela Câmara Municipal. Acervo: MIS

Residência de Bento Quirino dos Santos, transformada nas primeiras décadasdo século XX em Escola de Comércio. Acervo: MLPM Final do século XIX. Santa Casa de Misericórdia: primeiro

hospital da cidade de Campinas. Acervo: MIS1905. Em lugar do antigo Mercado, o Desinfectório Municipal

(criado em 1896). Acervo: MIS/BMC

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O Largo do Rosário surgiu a partir da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário(inaugurada em 1817 e demolida em 1956), na então Rua do Rosário (atual Francisco Gli-cério), sendo instalado nas imediações, estabelecimentos comerciais diversificados edestacados, a incluir os mais modernos ateliês fotográficos (como o Atelier FotográficoNickelsen e Ferreira, em 1890); tipografias (como a Casa Genoud, fundada em 1876 e “OLivro Azul”, instalado na Rua Barão de Jaguara); lojas de fazendas e armarinhos (como a“Casa Alemã, fundada em 1883, na Rua Barão de Jaguara); hotéis (como a Pensão Com-mercial de Alda Borgesin, na Rua. Dr. Quirino); consultórios; bancos e associações e es-paços agremiativos (como o Centro de Ciências, Letras e Artes, fundado em 1901, einstalado na Rua Conceição). O Largo do Rosário passava a atrair também a instalaçãode residências luxuosas, como o Solar do Visconde de Indaiatuba (de 1846, reconstruídoapós incêndio na década de 1990), sendo que a dinâmica e riqueza concentrada nestaárea levaram o o Largo a assumir feições muito diferentes no curso do tempo.

Através da antiga Rua do Rosário (atual Francisco Glicério) alcançava-se também, nas pri-meiras décadas do século XIX, as fundações da futura Matriz Nova (posteriormente, Ma-triz da Conceição e hoje, Catedral Metropolitana) iniciadas em 1807. O grande portedesta construção já sugeria um projeto arrojado de desenvolvimento urbano, perdu-rando as obras até 1883, ano de sua inauguração. Nas imediações desta mesma Matriz,seria criado um outro conjunto de construções e casarios imponentes, entre eles o TeatroSão Carlos (construído em 1850, demolido e reconstruído em 1930 como Teatro Munici-pal, e novamente demolido em 1965) e o Solar do Barão de Itatiba (1878), mais conhecidocomo “Palácio dos Azulejos”; edifício que hoje abriga o Museu da Imagem e do Som,entre outros setores da Secretaria Municipal de Cultura. O atual edifício dos Correios eTelégrafos viria mais tarde, em 1948

LARGO DO ROSÁRIO

1890. Largo do Rosário, utilizado como centro de atividades e feiras livres. Acervo: MIS/BMC

1895. Largo do Rosário transforma-se em Jardim do Rosário. Acervo: MIS

Final do século XIX. Estabelecimento comercial na Rua Barão de Jaguara. Acervo: MIS

Final do século XIX. Ateliê fotográfico naRua Barão de Jaguara. Acervo: MIS

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Nos fundos da Catedral, achava-se instalado nas primeiras décadas do século XIX, o Largode Jurumerval, importante núcleo de abastecimento da cidade e que cerca de cem anosdepois, daria lugar à instalação do “Mercadão“ (inaugurado em1908). Nesta baixada, se-riam instalados também, no final do século XIX, os trilhos da Estrada de Ferro Funilense,prestando-se o edifício do mercado a servir de Estação para o embarque de passageirosque seguiam em direção ao “Bairro do Funil” (atual Cosmópolis), passando os trilhos pelorecém criado bairro do Guanabara e pelas terras da Fazenda Santa Genebra (de proprie-dade do Barão Geraldo de Resende).

Através da Rua do Rosário chegava-se ainda ao Largo do Tanquinho, atual Largo do Pará;área de muitas erosões provocadas pelo nascimento do córrego do tanquinho, que seriaurbanizada na década de 1840. Nos vários nomes que esta área adquiriu, nós podemostestemunhar as transformações que o mundo político de Campinas enfrentava. Entre osseus nomes, constam: Praça da Independência (1848), Praça dos Andrada (1872), PraçaSão Paulo (1882), Praça do Pará (1896), Praça João Pessoa (1930) e enfim, Largo do Pará(1937).

No curso das décadas seguintes, a instalação da Estação da Companhia Paulista (1872)em uma área também localizada aos fundos da Matriz Nova, acabaria por implantar naregião um conjunto de novos arruamentos marcado por uma outra dinâmica de serviçose de atividades relacionados com a ferrovia; em especial, hotéis (como o “Hotel Paulista”na rua 13 de Maio, fundado em 1888 e a “Pensão Suissa” na Rua Dr. Campos Salles, pre-sente em 1914); casas de comércio e fábricas (como a “Grande Fábrica Industrial” de “li-cores, xaropes e gasosas, águas minerais e espirito rectificado” na rua Ferreira Penteado;a “Fábrica de Chapéus”, na Rua General Osório; a “Fábrica de Móveis, Carpintaria e Col-choaria” entre as ruas Conceição e Dr. Quirino; ou ainda, fábricas de fumo e de louça debarro, na Rua 13 de Maio).

LARGO DA CATEDRAL

Segunda metade do século XIX. Antiga residência da Viscondessa de Campinas,situada no Largo da Catedral. Acervo: MIS

Final do século XIX. Matriz Nova,após conclusão e consagração (1883).Acervo: MIS

Final do século XX. Solar da família Ferreira Penteado (1878);edifício que abrigou a partir de 1908 o Paço Municipal e hojecedia o Museu da Imagem e do Som. Acervo: MIS/DETUR

1897. Postal “Lembrança de Campinas”, com pontosinterligados pela R. 13 de Maio. Acervo: MIS

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Através da rua 13 de maio chegava-se à “área da estação”, “largo da estação” ou “área daPaulista”; região que também marcou a história de Campinas. De fato, a instalação daslinhas férreas das Companhias Paulista (1872) e Companhia Mogiana (1874), trouxe paraa então pequena cidade, uma outra dinâmica e sentido histórico. Através destas compa-nhias, Campinas adquiriu um papel de “entroncamento” viário de novo porte: por ela pas-savam carregamentos de café oriundos dos mais diversos núcleos de povoamento efazendas do interior da Província, ou ainda, para ela confluíam diferentes necessidades:a compra de maquinarias para a produção cafeeira, o envio dos filhos para os estudos, arealização de tratamentos médicos... Com a presença da ferrovia, Campinas assumiu oimportante papel de “entreposto” de serviços do interior da Província, depois do Estadode São Paulo; papel que lhe foi atribuído pela própria economia cafeeira.

Em função deste novo sentido, começou a se formar nas proximidades da Estação, umoutro pólo de comércio, mas acima de tudo, uma nova área de serviços, composta prin-cipalmente por hospitais (como a Real Sociedade de Beneficência Portuguesa, de 1879)e escolas (como o “Quarto Grupo Escolar”, hoje Escola Estadual Orozimbo Maia, de 1924).Nas proximidades dos trilhos, ainda, instalou-se um novo conjunto de fábricas e em-preendimentos especializados (como a Companhia Lidgerwood/Museu da Cidade; Com-panhia Mac Hardy, de 1875 e a Cervejaria Columbia, localizadas na Avenida SenadorSaraiva), além de áreas de moradia dos trabalhadores empregados nas mesma atividades.A região da estação passava a marcar, portanto, o início de uma outra vida urbana, a dacidade cafeeira.

O antigo pátio da ferrovia registra a importância e intensidade deste processo: dezenasde trilhos compõem um cenário do “encontro” de milhares de sacas de café, de produtosabastecimento, maquinarias, artigos diversos de consumo, ou ainda, de passageiros emtrânsito entre a capital e o interior de São Paulo. Nas origens deste pátio, achavam-se ins-talados os cemitérios da Vila de São Carlos – os cemitérios “do Santíssimo Sacramento”,“Público”, “dos Protestantes” e “das Almas”, que foram deslocados a partir de 1881 para oCemitério do Fundão (1881), posteriormente chamado de Cemitério da Saudade (1925).Em seu lugar, as Companhias Paulista e Mogiana criaram o pátio, instalaram oficinas (deconserto; de locomotivas; de carros e vagões), armazéns gerais, caixa d’água, rotunda euma usina geradora. Na área externa, encontram-se ainda o túnel de pedestre, abertoem 1915 para dar acesso aos ferroviários e moradores da “Vila Industrial”.

LARGO DA ESTAÇÃO

“Estação da Paulista” no final do século XIX. Acervo: MIS/BMC

1935. Vistas do alto da Catedral: à frente, a Rua Conceição (antiga Formosa); aos fundos, asruas 13 de Maio (antiga São José) e Costa Aguiar (antiga Constituição). Acervo: MIS/BMC

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Com a instalação das Companhias de Estradas de Ferro Paulista (a partir de 1872) eMogiana (1874), o crescimento urbano de Campinas ultrapassou o espaço do rocio einiciou a formação dos arrabaldes.

Instalados em áreas mais distantes do centro, na proximidade das linhas férreas, sur-gem os primeiros bairros especializados da cidade, constituídos por trabalhadoresferroviários, por chacareiro (fornecimento de víveres), entre outros. Estas áreas demoradia e trabalho dão origem, entre as décadas de 1870 e o início do século XX, àVila Industrial, à Ponte Preta, ao “Fundão” (na porção sul da malha urbana); à Guana-bara e ao Taquaral (na porção norte); ao Bonfim e ao Botafogo (na porção oeste); ao“Frontão” e aos Cambuhys (na porção leste), valendo observar que, de todas estasáreas, apenas a região leste “escapa” diretamente a influência dos trilhos.

As novas áreas prestam-se, então, a fornecer gêneros de abastecimento (leite, verdu-ras, cereais, frutas, carne), artigos de couro, ferro e bronze, madeira e manufaturadosem geral (cerveja, gelo, chapéus, etc) aos empreendimentos e moradores abastadasda região central, e ainda, aos mercados que então começam a ser abertos pela fer-rovia.

A “Vila Industrial”, área de moradia de trabalhadores das Companhias Paulista e Mo-giana, forneceria atendimento contínuo às tarefas de administração, operacionaliza-ção e manutenção da Estrada de Ferro. Seu traçado teve origem com a instalação deprédios da imigração entre as atuais ruas Sales de Oliveira e Pereira Lima (1891) - pré-dios depois utilizados pela companhia Mac Hardy e pela Companhia Mogiana -, ecom a construção de conjuntos de casas para os funcionários da “Paulista”, de pro-priedade da Companhia. Datam das duas primeiras décadas do século, ainda, a trans-formação de alguns edifícios em oficinas da Companhia Mogiana e a construção (pelainiciativa privada) das travessas Manoel Dias (1908) e Travessa Manoel Freire (1918)para a moradia de ferroviários da Companhia Mogiana.

OS PRIMEIROS BAIRROS

Mapa de 1878. Acervo: MIS

• Início do século XX. Nos fundos da Estação, a Vila Industrial,área de moradia de ferroviários e trabalhadores. Acervo: MIS/BMC

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A região também recebeu neste período inicial, numa área em declive, a instalação de um outro conjunto deinstituições essenciais à cidade, mas que se pretendia distantes do centro: o Lazareto dos Morféticos (1863, jádemolido), o Lazareto dos Varilosos (1874, já demolido) e o Asilo dos Inválidos (1905). Na mesma “baixada”,uma outra atividade conferiria marcas importantes à paisagem: o caminho das boiadas (trajeto da atual RuaSalles de Oliveira) e o abastecimento de carnes e couros para a cidade, fazendo-se presente o Matadouro Mu-nicipal (1885, já demolido), a Companhia Curtidora Campineira de Calçados (1890), o Cortume Campinense(do final do século XIX, já demolido), o Cortume Cantusio (1911); esta especialização levaria a Vila Industrial aser popularmente conhecida como “bucheiro” (em função da proximidade dos cortumes).

Os antigos bairros da Ponte Preta e do Fundão, nos arrabaldes, também surgiram próximos da ferrovia.

O Fundão originou-se da Capela de São Francisco, (também conhecida como “capela dos escravos”), instaladaem 1875 num local conhecido como “Palheiro”; esta capela (hoje em dia localizada na avenida da Saudade)desempenhou um papel importante como núcleo de orações e de festividades em uma zona de fronteirasentre o mundo rural e urbano de Campinas. Mas, foi com a instalação de um novo cemitério para a cidadeque a área ganhou desenvolvimento. O “Cemitério do Fundão”, criado com bases em preceitos higiênicos dofinal do século XIX, foi inaugurado em 1892 (posteriormente rebatizado de “Cemitério da Saudade”), dandoinício a uma lenta urbanização da área também conhecida como “Fundão”.

Este cemitério de inspiração positivista pretendia abrigar em seu interior, todos os cidadãos campineiros, in-dependentemente da origem social e crença religiosa, reservando-se setores para ex-escravos, imigrantes,barões, católicos e protestantes de Campinas. Ainda hoje, o Cemitério da Saudade registra a diversidade social(e os espaços conferidos a ela) que Campinas possuía em fins do século XIX.

No mesmo período, entre o novo cemitério e a Vila Industrial, e nas margens dos trilhos da Companhia Paulistae da “Estrada Pública para São Paulo”, surgiu um outro núcleo de moradia de trabalhadores, o bairro da PontePreta. Esta área teve seus primeiros arruamentos abertos nas proximidades do Armazém da Companhia Pau-lista e de suas pontes (estruturas que ainda hoje se mantém presentes na cidade, como a ponte localizadaentre as avenidas Francisco Glicério e Rua Abolição, bem tombado pelo Município). No novo bairro, foi insta-lada uma nova caixa d’água (antes localizada no Largo do Pará); obra que, ainda hoje, encontra-se em utilizaçãopela SANASA na rua Abolição.

A Ponte Preta se marcou também pela gestação de uma identidade cultural própria, caracterizada, antes detudo, pela partilha de algumas atividades de lazer em comum, em especial, o futebol. Estas atividades, prati-cadas em diversos “campinhos” do bairro (em especial, na Avenida Ângelo Simões), passaram a reunir joga-dores amadores de toda a cidade, em torneios intensivos, originando-se desta prática, várias agremiações defutebol, mas acima de tudo, o mais antigo dos clubes de futebol ainda em funcionamento no Brasil, a PontePreta Futebol Clube, criada em 1900.

Final do século XIX. Festa no Asilo dos Varilosos. Acervo: MIS

Antigo matadouro (situava-se na rua do matadouro, atual rua Saldanha Marinho) demolido no final do século XIX.

Acervo: Antonio Carlos Lorette

Abertura da Avenida da Saudade, para interligação com o Cemitério.Início do século XX. Acervo: MIS

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Os bairros do “Bom Fim” e do Botafogo também nasceram nas proximidades das linhas férreasda Companhia Mogiana: o Bonfim, localizado em terrenos mais secos e altos, o Botafogo, emuma área marcada por lagoas e brejos.. As origens do Bonfim remontam às últimas décadas do século XIX, com a instalação nas pro-ximidades dos trilhos da Paulista e da Mogiana, do “Hyppódromo” do Joquei Clube Campineiro(1878), área em que se praticavam corridas de cavalos. Na mesma ocasião e região, instalou-se também estabelecimentos industriais, como a Fábrica Faber & Irmão (fundição de ferrocriada em 1858), a Fábrica de Sabão Corôa (instalada no Largo do Bom Fim) ou a Fábrica deTecidos Elásticos de Hermann Landwekamp (de —); além de se multiplicar os estabelecimen-tos comerciais (secos e molhados, padarias, boticas, bares, barbearia, entre outros), criadosespecialmente por imigrantes portugueses, italianos e libaneses para atender às populaçõesde trabalhadores e as populações rurais em trânsito nesta área. Os arruamentos do Bonfimsurgiram do loteamento de terras da Fazenda Chapadão, em uma área que já se encontravamarcada pelas picadas, vielas e curvas de um “mundo rural“ em transição.

O bairro do Botafogo, instalado numa área de brejos e pequenas lagoas, enfrentou dificulda-des para a instalação de moradias, ao mesmo tempo em que mereceu a fixação de instituiçõesde grande destaque na pequena cidade, firmando-se como um importante bairro de serviços:Colégio Culto à Ciência (1874), Hospital da Real Sociedade Portuguesa de Beneficiência; oHospital da Sociedade de Socorros Mútuos, depois transformado em Hospital Sagrado Cora-ção de Jesus.

Década de 1940. Hospital Beneficência Portuguesa, fundado nas últimas décadas do século XIX. Acervo: MIS

Final do século XIX. Imagem do Hipódromo, no bairro do Bonfim. Acervo: MIS/BMCFinal do século XIX. Colégio Culto à Ciência(1874), depois “Ginásio de Campinas”

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Nas origens do bairro do Guanabara, encontramos a estação da Companhia Mogiana, estrada deferro criada em Campinas e que, no curso de sua história, estabeleceu ligações diretas com o sulde Minas Gerais. Esta estação servia, ainda, à Estrada de Ferro Funilense (que seguia para o bairrodo Funil/hoje Cosmópolis, passando pelo atual Distrito de Barão Geraldo) e à Companhia Cam-pinense (em direção a Sousas e Cabras, área atualmente de Joaquim Egídio), registrando-segrande movimento de passageiros (que iam e viam de áreas rurais do Município), gado e cargasde abastecimento. Em paralelo aos trilhos, formou-se o Boulevard Barão de Itapura (hoje, avenidaBarão de Itapura) para dar acesso à duas importantes instituições da cidade: a Estação Agronô-mica (hoje, Instituto Agronômico, criado em 1887), um centro de pesquisas agrícolas da mais altaimportância na história da cidade e do interior do Estado de São Paulo; e o Liceu de Artes e Ofícios(atualmente, Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, criado em 1897).

Já o Bairro do Taquaral tem uma história diferente, apesar de contemporânea à do Guanabara.Suas origens se dão com a instalação de moradias e de estabelecimentos comerciais na proximi-dade dos trilhos do Ramal Férreo Campineiro (ferrovia local que seguia em direção aos arraiaisde Sousas e Joaquim Egídio) e da “Estrada Pública para Mogi Mirim” (através da R. Paulo de Al-meida Nogueira), entre outras picadas e estradas carroçáveis para as áreas de fazendas, entreelas, a Fazenda São Quirino (ou Fazenda Taquaral) no final do século XIX. De fato, nas proximida-des dos bairros do Taquaral e Guanabara, produziam-se diversos ítens de abastecimento da ci-dade (entre eles, o leite, verduras, cereais e frutas), além de se reunir diversos estábulos noTaquaral. Por esta mesma razão, os moradores deste bairro se “especializaram” em um pequenocomércio de abastecimento e em atividades ligadas às estradas, por onde passavam boiadas,carroças, tropas, e posteriormente a linha 3 do bonde, atingindo-se, nas extremidades destebairro, um grande “tanque” de águas escuras cercado por bambuzais, onde as lavadeiras da regiãose reuniam com frequência.

Na trajetória singular deste bairro chegou a se formar duas “colônias” de moradores, separadaspelo traçado da Rua Paula Bueno; de um lado, a colônia “do Pito Acesso” (nome associado ao há-bito de homens e mulheres se reunirem em torno de fogueiras acesas para queimar lixo e folhassecas); de outro, a colônia “do Carvalhino” (em homenagem a um morador). Estas populaçõespermaneceram, por muitas décadas, ocupando uma área considerada “pobre” pela cidade, emfunção da permanência dos traços rurais e pela pequena infra-estrutura presente.

O loteamento de novas terras na proximidade destes bairros, permitiu a formação de outras áreas,como o Parque Industrial (nas proximidades da Vila Industrial); o São Bernardo (nas proximidadesda Ponte Preta); o “Chapadão”, a “Vila Nova Campinas” e “Vila Amélia” (em terras loteadas da Fa-zenda Chapadão, entre o Bonfim e o Guanabara); ou ainda, novos bairros entre o núcleo de SantaCruz (Frontão) e o Cambuí.

(1896): inspirado em ideais positivistas e maçons, visava formar os filhos da elite cafeeira. Acervo: MIS/BMC

1901. Avenida Barão de Itapura. Acervo: MLPM

Final do século XX. No Taquaral, o Lyceo de Artes e Ofícios (1892/1897),hoje Liceu Salesiano N.Sra. Auxiliadora. Acervo: MIS/BMC

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Na região norte de Campinas, em terrenos mais distantes dos trilhos de trem, formou-se os bair-ros do “frontão” (nas proximidades do Largo de Santa Cruz) e dos Cambuhys.

No “Frontão”- nome atribuído no início do século XX à região do centenário Largo de Santa Cruz-, a cidade cafeeira fez instalar vários estabelecimentos fabris, em particular, a Fundição dos Ir-mãos Bierrenbach (1858). Ao mesmo tempo, as marcas deixadas pela antiga passagem de tro-peiros pela área, mantinham ali uma mistura de tradições religiosas e profanas, de grandepresença na cidade.

O bairro dos “Cambuhys” começou a ser urbanizado na virada dos séculos XIX e XX, a partir deuma área ocupada há muito tempo por chácaras e núcleos de moradia popular (com importantepresença de descendentes africanos) nas proximidades do Córrego Anhumas (atual AvenidaNorte Sul). Nesta região se instalara, na segunda metade do século XIX, a Olaria Imperial de Sam-paio Peixoto, além do Depósito Municipal e do empreendimento “Filtros Cia. Esgottos”. O bairromereceu, também, a instalação do Passeio Público (criado na década de 1870, na área do atualCentro de Convivência Cultural) e no início do século XX, a presença progressiva de moradiasabastadas, além da instalação de novos espaços de lazer e a criação de instituições importantes,como o Colégio Progresso.

1909. Coreto e equipamentos do Passeio Público. Acervo: MIS/BMC

Década de 1890. Missa campal na Praça Carlos Gomes. Acervo: MIS/BMC

Final do século XIX. Rua Conceição (antiga Rua Formosa), com catedral aos fundos. Acervo: MIS

1880. Passeio Público de Campinas. Acervo: MIS/BMC

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A cidade cafeeira de Campinas se compunha ainda, no final do século XIX, dos Arraiaisde Sousas (originalmente chamada de “Ponte do Atibaia”) e de Joaquim Egídio, localiza-dos na região leste. Estes arraiais se formaram na proximidade de grandes fazendas decafé e receberam, na década de 1890, um ramal férreo de 33 km de extensão, capaz deinterliga-los ao centro de Campinas: a Companhia Ramal Férreo Campineiro (ou “cabrita”).Na mesma ocasião, Sousas foi elevada à condição de Vila (1896), delimitando-se seu Dis-trito. Este distrito recebeu, então, a instalação de duas usinas hidroelétricas, as usinas deMacaco Branco e do Jaguari, construídas no início do séc XX. No curso das décadas se-guintes, as suas terras cansadas de café passaram a ser parceladas e vendidas aos mesmosimigrantes que as haviam tratado, ganhando forma um novo conjunto pequenas pro-priedades, produtoras de abastecimento. Em sentido paralelo, os moradores da área di-namizaram as atividades urbanas, criando-se em Sousas e em Joaquim Egídio umrepertório diversificado de “ofícios urbanos”, além do cultivo de tradições diversificadas,nacionais e estrangeiras (em especial, italianas) que até hoje, permanecem presentes nes-tes Distritos. Na verdade, estas áreas foram capazes de preservar diversos espaços e tra-dições oriundas do mundo cafeeiro de Campinas, como as festas de São Roque, SãoJoaquim e Santana, originadas de heranças paulistas e imigrantes.

Na zona sudoeste, outros dois bairros rurais ganharam lugar nas últimas décadas do sé-culo XIX, as colônias alemã de Friburgo e uma parte da colônia suiça de Helvetia, deno-minada “Bairro Fogueteiro”. A pequena colônia agrícola de Friedburg (Friburgo) surgiuem Campinas entre 1864 e 1877, período no qual se reuniram famílias procedentes daregião do Reno (que haviam se fixados originalmente na Fazenda Ibicaba/Limeira em1847) com duas famílias suiças originadas do Cantão de Berna e, entre os anos de1870/1877, a outras famílias alemãs de Schleswig-Holstein (norte da Alemanha) recémsaídas da Fazenda Sete Quedas. Foi desta Fazenda, na verdade, que se originaram a maiorparte das famílias de Friburgo. Na condição de pequenos proprietários, estas famílias eri-giram um núcleo comunitário que chamaram de Friedburg (Friburgo) e que se compunhade uma escola, de uma igreja luterana e, posteriormente, de um cemitério; ao redor donúcleo, as mesmas famílias dariam início a produção de batatas, milho, verduras, a criaçãode animais e a comercialização de ovos e derivados de leite que ofereciam pelo menosuma vez por semana na cidade. Deste núcleo originaram-se também novas colônias agrí-colas em Monte Mor, Elias Fausto, Cruz Alta e Bauru (Weber, 1989). À semelhança de Fri-burgo, o núcleo rural do “Fogueteiro” foi formado por famílias de origem suíça, em suamaioria, reunidas na colônia de Helvétia, em Indaiatuba, que no final do século XIX ad-quiriram terras na região sul de Campinas.

ARRAIAIS E BAIRROS RURAIS

Início do século XX. Usina de Salto Grande em Campinas. Acervo: CMCPFL

Início do século XX. Prática da caçada, divertimento apreciado pelas elites campineiras. Fotografia de Austero Penteado. Acervo: MIS

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Nas primeiras décadas do século XX, a dinâmica da economia cafeeira impulsionou a for-mação de uma dezena de novas áreas, instaladas nas proximidades dos trilhos e das estradas“carroçáveis”. E numa perspectiva complementar, ela promoveu a instalação de diferentesinstituições e instalações indústriais.

A Vila Industrial, por exemplo, recebeu a “Empresa Fabril” (de propriedade de Antonio Correade Lemos), a Fábrica de Tecidos de Seda Nossa Senhora Auxiliadora (1926) e a SociedadeAnonyma Industrias de Seda Nacional (década de 1920); indústrias que motivaram a cons-trução de novas áreas de moradia operária, como a Vila Tofanello (antigo “Furasóio”), a VilaStanislau, a Vila Getúlio Vargas e a Vila Genny. A Ponte Preta recebeu a instalação de indús-trias de tecelagem no curso da década de 1920.

No Botafogo instalaram-se a Fábrica de Tecidos Elásticos Godoy Valbert S.ª (1920) e a Fábricade Chapéus Cury, além do bairro receber o Colégio Técnico Bento Quirino (1918), o GrupoEscolar Orozimbo Maia; o Hospital Vera Cruz e a Clínica Penido Burnier.

O Taquaral recebeu a instalação de algumas indústrias cerâmicas e olarias no curso dos anos1930, além de uma refinaria de açúcar, período em que também ganhou lugar dois timesde futebol: o palestrino e o paulista, formados por portugueses, italianos e brasileiros.

OS NOVOS BAIRROS

1900. Mapa Campinas. Acervo: PMC

1916. Mapa Campinas. Acervo: PMC

Início do século XX. Vista da porção leste da cidade, com o Circulo Italiani Uniti aos fundos. Acervo: MIS/BMC

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Na trajetória de urbanização do bairro do Cambuí, o traçado da rua Coronel Quirinodemarcou, inicialmente, um novo eixo de ocupação da área, e entre as décadas de 1920e 1930, deu-se o delineamento da atual Avenida Júlio de Mesquita, avenida que faria ainterligação das duas áreas mais antigas desta região: os terrenos e edificações próxi-mos ao Jardim Público e as edificações e espaços centenários do Largo de Santa Cruz.O Largo de Santa Cruz, já no início do século XX, recebeu alguns clubes (Regatas, em1918; Tênis Clube, em 1914) e um centro popular de diversões (o “Frontão”, inauguradoem 1897), espaço em que se praticava o jogo de “pelota basca”, nova modalidade es-portiva da cidade que levaria à constituição da Associação Campineira de Péla e doClube de Pelota Basca (fechado em 1930).

O bairro do Bonfim, originalmente de feições irregulares, ganhou melhoramentos entreas décadas de 1920 e 1930, seguindo-se a instalação da Paróquia em 1942, a Igreja deBom Jesus do Bonfim, dos padres vicentinos. O Bonfim transformou-se num “ponto deencontro” de corridas de cavalos e posteriormente, de carros; de “peladas” (levadas peloBonfim Futebol Clube); ou ainda, de tradições carnavalescas que desde a década de1920 atraíram a população da cidade para a apresentação dos blocos “do Funil” e do“Unidos do Bonfim” nos desfiles da Rua Alberto Sarmento e nos salões do Clube Bonfim.

O bairro da Guanabara, de origem ferroviária, deu origem, no final dos anos 1920, ao“Guanabarino”, time de futebol da estação, e na década seguinte, ao Esporte Clube Mo-giana, com seu estádio próprio (ainda que inacabado), o “Campo das Laranjeiras”. Até adesativação da linha ferroviária, em 1971, a Estação da Guanabara (localizada nas pro-ximidades da Avenida Barão de Itapura) manteve tradições ferroviárias da mais alta sig-nificação.

No curso da década de 1920, mais um trecho da Fazenda Chapadão foi loteada paradar lugar ao “Jardim Guanabara” e ao “Jardim Chapadão” (entre os bairros do Bonfim edo Guanabara), e a partir da década de 1930, à Vila Nova (entre os bairros do Guanabara,Taquaral, Jardim Guanabara e Jardim Chapadão), formando-se também entre as déca-das de 1920 e 1930, a “Vila Itapura”, entre as atuais avenidas Orozimbo Maia e Barão deItapura.

1929. Mapa de Campinas. Acervo: PMC

Década de 1920. Fábrica de Tecidos Elásticos. Acervo: MIS

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Entre os anos 1900/1930, a malha urbana de Campinas duplicou, concentrando-se naárea central ou ainda, em alguns pontos dos arrabaldes, uma nova população atraídapelas atividades industriais e de serviços. Os novos bairros, instalados em áreas internasou próximas ao antigo rocio, mantiveram-se ligados às atividades e especializações quepermaneceram concentradas na região central da cidade, ao menos até os anos 1930.

Entre os bairros que se formaram na região sul da cidade, a partir da Vila Industrial, es-tavam o São Bernardo e o Parque Industrial; bairros que surgiram como áreas de moradiade trabalhadores das Companhias Paulista e Mogiana, dos Cortumes Cantúsio e FirminoCosta, entre outros, mantendo-se na proximidade dos próprios cortumes, pastos, currais,estradas boiadeiras, ou ainda, de antigas instituições como o “Lazareto dos Morphéticos”e o “Lazareto dos Varilosos”. A formação destes bairros originou-se de terras loteadasapós a falência da Companhia Pastoril de Carnes Verdes/Matadouro, na década de 1920,mas só no final da década de 1940 (ocasião da implantação da Via Anhanguera), eles ti-veram suas terras regulamentadas.

Na região norte, os novos bairros surgiram nas proximidades do Cambuí e do Taquarale se orientaram pela antiga linha férrea Funilense; nesta porção do município achavam-se presentes o núcleo de Barão Geraldo (originalmente ligado à Fazenda Santa Genebra,de propriedade do Barão Geraldo de Rezende) e o bairro do Funil (hoje Cosmópolis).

Década de 1920. Escola Normal de Campinas, na ocasião de sua inauguração. Acervo: MIS

Demolição do Palacete Ambrust para alargamento da rua Tomaz Alvez. Acervo: Maria Luiza Pinto de Moura

Final da década de 1920.Rua Barão de Jaguara e Largo do Rosário. Acervo: MIS

Final da década de 1920. Praça Bento Quirino. Acervo: MIS

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Entre os anos 1920 e 1930, o loteamento de novas terras na proximidade destes bairros, permitiu a formação deoutras áreas, como o Parque Industrial (nas proximidades da Vila Industrial); o São Bernardo (nas proximidadesda Ponte Preta); o “Chapadão”, a “Vila Nova Campinas” e “Vila Amélia” (em terras loteadas da Fazenda Chapadão,entre o Bonfim e o Guanabara); ou ainda, novos bairros entre o núcleo de Santa Cruz (Frontão) e o Cambuí.

Foi também na década de 1930, que o poder público iniciou uma série de iniciativas com a perspectiva de in-tervir e ordenar seu desenvolvimento urbano. Em 1931, o poder municipal criou a “Comissão de Urbanismo”,em 1934 contratou o urbanista Prestes Maia e aprovou o “Código de Construções”, conjunto de medidas quepermitiram as autoridades da cidade propor e implementar o “Plano de Melhoramentos Urbanos de Campi-nas”, mais conhecido como “Plano Prestes Maia”, em 1938. Através deste Plano, a malha urbana recebeu umconjunto de diretrizes de “áreas de especialização” (orientadas para receber indústrias, serviços e habitação),além de um novo “sistema viário” (estruturado por vias “radiais” e “perimetrais” capazes de conectar as áreasde especialização e a área central); de um novo padrão de edificações públicas (com a orientação de criaçãode “bairros residenciais, compostos de jardins, escolas, comércio e zoneamento próprio) e de “reservas deáreas verdes” nas regiões em expansão.

No âmbito rural, impactadas pela crise da economia cafeeira (no final da década de 1920), as propriedadesforam tomadas por grande diversificação produtiva, e em pouco tempo, as lavouras de algodão voltaram aconferir ao município uma forte presença no Estado; Campinas tornou-se um dos maiores produtores de al-godão no território paulista. Associado a isto, seu parque industrial voltou-se para o setor de beneficiamentodo algodão e transformou Campinas no principal centro manufatureiro do Estado. Esta associação entre agri-cultura e indústria, aliás, somada à presença de uma infra-estrutura urbana significativa, atraíram para a cidadegrandes empresas de fabricação de óleos vegetais (entre elas, a Sanbra e a Swift) e transformaram a cidadenum núcleo destacado de atividades industriais e, especialmente, agro-industriais.

1937. Desenho integrante do "Plano de Melhoramentos Urbanos" de Prestes Maia, para reforma do Largo do rosário, já prevendo ademolição da Igreja do Rosário. Acervo: Coleção Ricardo Badaró

1937. Desenho integrante do "Plano de Melhoramentos Urbanos" de Prestes Maia. Acervo: MIS

Década de 1940. Escola Orozimbo Maia, criada em 1924. Acervo: MIS 1934. Largo do Rosário, com monumento a Campos Sales. Acervo: MIS

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Em meio a esta nova dinâmica, novos setores econômicos se estruturaram e, em particular, uma nova mo-dalidade de “negócios” imobiliários (sensível a uma cidade que ao mesmo tempo “escapava” de seu perímetrooriginal e do poder de controle municipal) e um novo setor ligado a implementação do transporte rodoviário,projeto de caráter nacional que buscava atingir áreas produtivas mais interiorizadas no País.

Neste percurso, o Plano de Melhoramentos Urbanos (anos 1930) que projetara para os 50 anos seguintesum crescimento urbano de 400%, também buscara corrigir distorções para potencializar as vocações de de-senvolvimento. Estas diretrizes foram seguidas e gerenciadas até o ano de 1946, procurando o poder públicoordenar o crescimento urbano de forma a “preencher” os vazios que a cada momento se faziam presentesno interior da malha da cidade. Foi no curso da década de 1940, por exemplo, que o bairro do Botafogo con-seguiu superar antigas limitações de crescimento; os “entraves” que o haviam induzido ao isolamento pas-saram a ser superados, entre eles, a presença da Chácara do “Seo” Feliciano (loteada na década de 1940), a“curva da Mogiana” (que fechava seu acesso ao Bonfim) e um entroncamento de caminhos que impunha li-mitações de tráfego à região (área em que hoje se acha a Av. Andrade Neves).

Na porção noroeste da cidade, Campinas veria nascer diferentes experiências de moradia; os novos bairrossurgidos nesta região entre as décadas de 1940 e 1950 desdobraram-se do Guanabara e do Bonfim atravésdo parcelamento de terras da antiga Fazenda Chapadão. Os bairros Chapadão, Castelo, Jardim Guanabara,Jardim Dom Bosco, Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, Jardim IV Centenário, surgiram em meio às matas deeucalipto e plantações. A cidade de Campinas fazia-se redesenhar em diferentes diversas direções, semprenas proximidades dos complexos produtivos em consolidação.

• Início da década de 1940. Bairro do Castelo em formação. Acervo: MIS

Fábrica de Seda Nacional, na Vila Industrial. Acervo: BMC

Santa Casa de Misericórdia com seu terreno integral, antes da aquisição da Prefeitura Municipal para construção de nova sede. Acervo: MIS

Década de 1940. Vista aérea de Campinas, com detalhe do Estádio Moisés Lucarelli em construção. Acervo: MIS

Vista aérea de Campinas. Acervo: MIS

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A região central também passou a viver mudanças: o alargamento de ruas e a construção dosprimeiros prédios exigiram constantes demolições.

E neste processo de expansão, o poder público perdeu o controle do crescimento da cidade. Amotivação em construir em terrenos baratos e sem infra-estrutura, localizados em áreas bensdistantes da zona central, traria sérias dificuldades para a população e uma ampliação de custospara o poder público, encarregado de realizar as obras necessárias de saneamento e energia.Os negócios imobiliários também atingiram grandes lucros com os terrenos localizados entrea malha central e os novos loteamentos, multiplicando-se ainda mais seu volume. Neste sen-tido, se Campinas ocupava até o ano de 1945 um território de 16.246.000m 2; entre os anos de1946 e 1954, o território se fez ampliado para 53.653.130 m 2.

A partir de então, as terras localizadas no sudoeste da cidade, passaram a receber grande nú-mero de loteamentos, espalhados por imensa região, chegando-se a aprovar unidades queatingiam as fronteiras do município com Indaiatuba e Itupeva. Abertos em meio a pastos, eu-caliptos, sítios e fazendas, surgiram entre os anos 1950 e 1960, a Vila Pompéia, o Jardim CamposElíseos, o Jardim Paulicéia, Cidade Jardim, o Jardim do Lago, a Vila Mimosa e Vila Rica; lotea-mentos em que os próprios moradores abriam seus poços e se utilizavam, quando possível,de instalações elétricas privadas (geradores), contando como diversão apenas, o rádio, os ro-deios e o futebol.

A situação de Campinas se tornaria ainda mais complexa com a instalação, a partir da décadade 1950, da indústria pesada (produção de bens intermediários, de consumo durável e de ca-pital); fato que levou Campinas a se tornar um dos eixos-industriais do interior do Estado deSão Paulo. Os novos bairros de Campinas, nascidos desta nova fase de desenvolvimento, de-sempenhariam um lugar diferente na história da cidade, deixando cada vez mais de se orientarpela região central, para se aproximar dos novos eixos produtivos em implantação. Estes bairrosse tornariam com o tempo, em embriões de “novos centros urbanos”, dotados de novas traje-tórias e experiências históricas.

Rua Conceição (antiga Rua Formosa), com a Catedral aos fundos e o Cine Rink, na porção esquerda da imagem. Acervo: MIS

1948. Edifício dos Correios e Telégrafos, na ocasião de sua inauguração. Acervo: MIS

Edifício do Correio Popular, construído ainda nos anos 1930. Acervo: BMC

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A região central, de maneira especial, se fez alvo de uma intensa especulaçãoimobiliária que, a partir da década de 1950, iniciou uma disputa desenfreadapelos melhores terrenos e condições de infra-estrutura da cidade, derru-bando-se edifícios históricos para o alargamento de ruas e a construção denovos edifícios (caso da Igreja do Rosário, demolida em 1956 para o alarga-mento da Avenida Francisco Glicério). Ao contrário dos novos bairros, o cen-tro passava então a sofrer com uma intensa “verticalização” estimulada pelomesmo capital imobiliário.

Entre as décadas de 1950 e 1970, novos bairros também surgiram na regiãonorte da cidade, impulsionados por uma dupla dinâmica: por um lado, pelaabertura de uma nova área de moradia, a partir do bairro do Taquaral; poroutro, pela implantação na região, de um novo pólo de desenvolvimento tec-nológico, inaugurado pela criação de uma área de pesquisa do InstitutoAgronômico na Fazenda Santa Elisa, e pela instalação da Universidade Esta-dual de Campinas na década de 1960. Na atualidade, esta área da cidade sedestaca pela grande concentração de experiências culturais e artísticas, mo-vidas pela presença da UNICAMP na região.

Na porção noroeste da cidade, Campinas também viu nascer entre as déca-das de 1940 e 1950, diferentes experiências de moradia. Inicialmente, osnovos bairros desta região se formaram da expansão dos bairros do Guana-bara e do Bonfim pelas terras da antiga Fazenda Chapadão, surgindo emmeio às matas de eucalipto e plantações, os bairros do Chapadão, do Castelo,o Jardim Guanabara, o Jardim Dom Bosco, o Jardim Nossa Senhora Auxilia-dora e o Jardim IV Centenário.

Anos 1950. Vista aérea da cidade de Campinas. Acervo: MIS

Teatro Municipal de Campinas nos anos 1950. Acervo: MIS 1956. Demolição da Igreja da Rosário paraalargamento da Av.Francisco Glicério, conforme orientação do Plano Prestes Maia. Acervo: MIS

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Já nas proximidades do Bonfim, formou-se entre as décadas de 1950 e 1960, o Jardim Eu-lina, o Jardim Boa Vista, o Jardim Campineiro e o Campo dos Amarais. Por fim, na mesmaregião, mas em terras bem mais distantes, foram criados no final da década de 1970, asVilas Padre Anchieta e Nova Aparecida. Estes bairros residenciais da região oeste, no en-tanto, se fizeram marcados por trajetórias urbanas muito diferentes. Por um lado, os nú-cleos de moradia formados entre os anos 1940 e 1950 nas proximidades do JardimChapadão (como os Jardim Dom Bosco, criado em 1947, e o Jardim Nossa Senhora Auxi-liadora, de 1957), se caracterizaram por uma menor densidade populacional e por ummaior poder aquisitivo.

Vista aérea de Campinas. Acervo: MIS

Anos 1960. Obras de edificação da Prefeitura Municipal de Campinas (iniciadas em 1966 e concluídas em 1968). Acervo: MIS

1952. Malha urbana de Campinas. Acervo: MIS

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Na porção leste da cidade, a partir do bairro “dos Cambuhys” (urbanizado entre as décadas de 1920 e 1930),ganhou forma entre as décadas de 1950 e 1970, uma região que, desde sua origem, se encontrava afastadadas linhas férreas, e portanto, da lógica dos novos fluxos econômicos. Como desdobramento, esta área pas-sou a concentrar um conjunto de bairros residenciais de maior sofisticação, entre eles os bairros Nova Cam-pinas, Jardim Planalto, Jardim das Paineiras, Jardim São Carlos, Chácara da Barra, Jardim Flamboyan, JardimBoa Esperança. Esta nova área rumava, ainda, para os antigos arraiais de Sousas e Joaquim Egídio; regiãocuja dinâmica de desenvolvimento se fizera interrompida pela a crise da economia cafeeira e pela falênciada Companhia Campineira de Estradas de Ferro, encontrando-se também deslocada dos fluxos econômicosque passavam a “revolucionar” a cidade. Nesta região, de fato, ainda hoje encontramos as “pistas” mais clarasdo que foi a área rural de Campinas no período cafeeiro.

Ainda na porção leste, nas proximidades dos trilhos ferroviários das Companhias Sorocabana e Mogiana, eda estrada para Valinhos, seriam instalados entre as décadas de 1930 e 1970, um novo pólo de fábricas ede agro-indústrias, além de uma nova área de moradia de trabalhadores. Esta nova área de ocupaçãoachava-se localizada nas imediações dos bairros da Ponte Preta e do Fundão (Cemitério da Saudade), fa-zendo nascer, inicialmente, um conjunto de vilas (Progresso, Cura D’Ars, Jardim Santa Odila, Vila JoaquimInácio, Jardim Caio Lourenço, Jardim Tupi, Jardim Antonio Francisco e Vila Alberto) nas proximidades daFábrica de Óleos Vegetais Swift (1938), da Tecelagem Matarazzo (rua General Carneiro), entre outras; áreasque permaneceram até o final da década de 1950, sem as instalações de água, esgoto e eletricidade. Dequalquer forma, foi a partir desta dinâmica que se estruturou na região, os bairros: Jardim Proença, VilaLemos, Vila Orozimbo Maia, Jardim Santa Eudoxia, Jardim Carlos Lourenço, Vila Orozimbo Maia, Jardim SãoFernando, Jardim Santa Eudoxia.

Na região noroeste formaram-se entre as décadas de 1950 e 1960, a partir do Bonfim, o Jardim Eulina, oJardim Boa Vista, o Jardim Campineiro e o Campo dos Amarais.

Anos 1950. Planta da cidade de Campinas. Acervo: PMC

1964. Mapa do Município de Campinas. Acervo: PMC

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A porção sudoeste da cidade, no curso da década de 1970, viu nascer o Jardim Rosana, Vila Perseude Barros, Jardim Novo Campos Elíseos, Jardim Alvorada, Jardim Santa Lúcia, Jardim Ipiranga, JardimIpaussurama e Jardim Tropical, sendo que, para além da Rodovia Bandeirantes, já começava a nascero Jardim Campo Grande, o Jardim Florense, o Jardim Rossin, cidade Satélite Íris, o Jardim Planaltode Viracopos, ou ainda, o Jardim Itatinga, localizado entre as rodovias Bandeirantes e Santos Du-mont. Nos anos 1980, seriam acrescentados ainda outros loteamentos nas proximidades dos já exis-tentes, em um momento no qual Campinas já ultrapassava os 650 mil habitantes. Nesta décadaganhou forma a região do Jardim Ouro Verde e as novas unidades do “Distrito Industrial de Campi-nas”, mais conhecidas como DICs. Nos anos 1990, Campinas atingiria cerca de 850 mil em 1991, ul-trapassaria os 900 mil em 1996 e chegaria em 1 milhão de habitantes em 2003.

Na região noroeste, surgiram no final da década de 1970, as Vilas Padre Anchieta e Nova Aparecida.Estes bairros residenciais da região oeste, no entanto, se fizeram marcados por trajetórias urbanasmuito diferentes. Por um lado, os núcleos de moradia formados entre os anos 1940 e 1950 nas pro-ximidades do Jardim Chapadão (como os Jardim Dom Bosco, criado em 1947, e o Jardim Nossa Se-nhora Auxiliadora, de 1957), se caracterizaram por uma menor densidade populacional e por ummaior poder aquisitivo. Em sentido diferenciado, os núcleos instalados nas proximidades da RodoviaAnhanguera, no final da década de 1970, ainda que pretendessem oferecer condições satisfatóriasaos seus moradores, eles se marcaram por uma grande densidade populacional e pelo menor poderaquisitivo, como foi o caso do “Conjunto Habitacional Padre Anchieta”, projetado para abrigar 20mil pessoas, mas que em 1993, já reunia 60 mil.

Anos 1970. Mapa de Campinas. Acervo: PMC

Evolução da população de Campinas 1900-2000.Fonte: Pessoa. Ângelo (org). Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

Centro da cidade na década de 1960.Acervo: MIS

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Os “novos bairros” na macroregião leste de Campinas surgiram de uma área ocupada, originalmente,por chácaras e pequenas fazendas produtoras de café, alimentos, leite e carne para a cidade. Esta for-mação, no entanto, se fez marcada por grandes contradições: por um lado, a cidade viu nascer umaárea de moradias abastadas e de importantes espaços de lazer; por outro, a região recebeu estabele-cimentos fabris que, em poucas décadas, orientaram para o mundo do trabalho a nova dinâmica deocupação urbana. Estes dois processos ocorreram de forma paralela.

Já nas proximidades dos trilhos ferroviários das Companhias Sorocabana e Mogiana, e da estrada paraValinhos, seriam instalados entre as décadas de 1930 e 1970, um novo pólo de fábricas e de agro-in-dústrias, além de uma nova área de moradia de trabalhadores. Esta nova área de ocupação achava-selocalizada nas imediações dos bairros da Ponte Preta e do Fundão (Cemitério da Saudade), fazendonascer, inicialmente, um conjunto de vilas (Progresso, Cura D’Ars, Jardim Santa Odila, Vila Joaquim Iná-cio, Jardim Caio Lourenço, Jardim Tupi, Jardim Antonio Francisco e Vila Alberto) nas proximidades daFábrica de Óleos Vegetais Swift (1938), da Tecelagem Matarazzo (rua General Carneiro), entre outras;áreas que permaneceram até o final da década de 1950, sem as instalações de água, esgoto e eletri-cidade.

De qualquer forma, foi a partir desta dinâmica que se estruturou na região, os bairros: Jardim Proença,Vila Lemos, Vila Orozimbo Maia, Jardim Santa Eudoxia, Jardim Carlos Lourenço, Vila Orozimbo Maia,Jardim São Fernando, Jardim Santa Eudoxia.

A instalação de um novo parque industrial e agro-industrial na cidade, associado à inauguração denovos traçados viários e a presença de uma forte especulação imobiliária, influiriam diretamente naconstituição de uma nova cidade de Campinas. O grande contingente de trabalhadores que se insta-lara, no curso dos anos 1930, nas proximidades de fábricas, a partir dos anos 1950, passou a se orientarpela abertura de grandes rodovias - Anhanguera, (1948), Bandeirantes (1979) e Santos Dumont (dé-cada de 1980) – eixos viários que atuaram como vetores de ocupação, estimulando a urbanização deinúmeras áreas; neste percurso, entre as décadas de 1950 e 1990, a cidade cresceria 15 vezes em seuterritório e 5 vezes em seu contingente populacional. Entre os anos de 1955 e 1976 a malha urbanade Campinas atingiu o volume de 85.737.828 m 2 e e 1986, 129 milhões de m2: em pouco mais de 40anos, a cidade se tornou quatro vezes maior.

Na atualidade, a cidade possui cerca de 300 bairros distribuídos em 6 macroregiões (central, norte,leste, sul, noroeste e sudoeste) e 4 distritos (Barão Geraldo, Nova Aparecida, Sousas e Joaquim Egídio),áreas que são administradas por 6 diretorias das Macroregiões, 14 Administrações Regionais (ARs) e 4Sub-Prefeituras (para gestão dos Distritos).

Década de 1940. Indústria Swift Armour. Acervo: BMC

Década de 1970. Região da Estação ferroviária. Acervo: MIS

Edifícios do Largo das Andorinhas. Acervo: BMC

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Para entender mais: fontes para a história de Campinas

1846. Plantação de café entre árvores queimadas. Aquarela de Miguel Dutra. Acervo: Museu Republicano de Itú

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A historiografia brasileira, nas últimas décadas, tem promovido uma verdadeira varredura no estudo das dinâmicas de abas-tecimento e desenvolvimento do mercado interno em diferentes regiões brasileiras dos períodos colonial e imperial. Poresta razão, há cerca de quarenta anos se constituiu uma grande área de pesquisa conhecida como “história social da agri-cultura” que na atualidade encontra-se em sua terceira geração de historiadores (Maria Yeda Linhares, Francisco Carlos Tei-xeira, Ciro Cardoso, Hebe Castro, João Fragoso, Manolo Florentino, Marcia Motta).

No âmbito do território paulista, os caminhos de uma “história social da agricultura” cumpre papel primordial, uma vez queesta porção do País ganhou forma e lugar, antes de mais nada, nos percursos de abastecimento e produção agrícola que aolongo do tempo, promoveu.

A presença desta perspectiva de abordagem, somada a uma vertente mais recuada de estudos originada na FFLCH/USP ena Escola de Sociologia e Política entre os anos de 1930 e 1940 (origem das obras de Sérgio Buarque de Holanda, AntônioCandido, Maria Izaura Pereira de Queiroz, entre outros); tem contribuído, de maneira profunda, para uma nova compreensãodas trajetórias de formação e transformação paulista, mantendo-se atenção especial sobre a existência de uma centenáriae singular história agrária.

As temáticas que se desdobram desta grande perspectiva de abordagem, por sua vez, dizem respeito aos processos de ocu-pação e parcelamento da terra; às dinâmicas de abastecimento; ao desenvolvimento das relações mercantis no universoagrário; à transformação dos processos produtivos; à constituição das bases de uma sociedade escravista; ao teor das relaçõesescravistas; aos processos de transição do trabalho escravo para o trabalho livre; ao desenvolvimento das relações capitalistasno campo; ao desenvolvimento urbano em direta sincronia com as transformações rurais; à constituição de uma sociedadelivre; às transformações do Estado; às migrações e transformação do território rural e urbano, entre outras.

Nos parece importante considerar o quanto a trajetória e história urbana paulista se constituem legatárias dos processosagrários; perspectiva, no entanto, que nem sempre se faz percebida. De forma concomitante, as dinâmicas agrárias costu-mam ter suas trajetórias singulares sobrepostas umas as outras, numa mistura de referências e testemunhos que nos dificulta,igualmente, compreender os processos de entrelaçamento dos mundos rural e urbano em percursos específicos de tempo.

No caso do (antigo) município de Campinas, as pesquisas sobre as atividades mercantis de abastecimento, de forte presençanos séculos XVIII e parte do XIX, ainda se acham reduzidas frente aos estudos dos processos açucareiro e cafeeiro dos séculosXIX e XX. Esta temática ainda permanece restrita aos trabalhos de poucos pesquisadores, entre eles, Celso Maria de MelloPupo, Jolumá Brito e mais recentemente Maria Isabel B. Célia Danieli e Paulo Eduardo Teixeira. Vale considerar, entretanto,que os estudos focados nas mudanças populacionais, ou ainda, nos percursos de produção de abastecimento para as mon-ções e para a Estrada do Anhanguera/do Goiases, em regiões próximas à Campinas, vem se avolumando, cabendo-nos des-tacar os trabalhos de Maria Luiza Marcílio, Lucila Brioschi e Carlos de Almeida Prado Bacellar, acerca da formação da porçãonordeste do Estado de São Paulo.

1846. Capitalista. Aquarela de Miguel Dutra.Fonte: Bardi, P.M. Miguel Dutra, o Poliédrico

Artista Paulista. Ed. Masp

Meados do século XIX. Carretão de Café.Aquarela de Hercules Florence. Acervo: MIS

Final do século XIX. Cidade de Campinas. Acervo: MIS

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Estes estudos tem-nos permitido compreender que, no curso do século XVIII, uma nova economiade subsistência, fundada num outro sistema e dinâmica de posses, pastagens e criações, e associadadiretamente às relações mercantis, encontrava-se em formação na região, e na contra mão de umamaneira paulista centenária de habitar os sertões (fundada na agricultura itinerante e resistente aofortalecimento das relações de mercado). O desenvolvimento de atividades agropastoris, somadoà penetração e fixação, pela porção nordeste da capitania, de um forte e contínuo contingente demineiros, acabaria por imprimir mudanças profundas no sistema de ocupação e produção tradicio-nal paulista, reforçando progressivamente, as relações de mercado no trato da terra, das criações eno atendimento dos viajantes. Em pouco tempo, uma sucessão de posses e/ou sesmarias integradasa “pousos” na margem dos caminhos, daria forma a unidades produtivas com seus roçados (de man-dioca, cana, feijões, bananas, algodão, milho), ou ainda, com campos de pastagem e criação (degado vacum, cavalar e suínos), visando oferecer sustentação a estrada.

Já o chamado “ciclo do açúcar” na região de Campinas, desde o trabalho pioneiro de Maria TherezaSchorer Petrone, vem merecendo uma significativa atenção à luz do grande número de variáveisque esta pesquisadora levantou acerca das formas de implantação e desenvolvimento da lavouraaçucareira no “quadrilátero do açúcar”. Suas reflexões, pela qualidade da leitura, encontram-se pre-sentes numa ampla gama de investigações acerca da presença de pequenos agricultores, de tro-peiros, de escravos. Na atualidade, a ampliação dos estudos sobre o “quadrilátero do açúcar” e deseu papel na transformação da Capitania/Província de São Paulo, nos permite tratar do territóriocampineiro numa perspectiva de história regional.

Os estudos sobre o “complexo cafeeiro” e seu lugar na trajetória histórica do município de Campinas,por sua vez, não poderiam deixar de ser vastos; e entre suas várias frentes de investigação, umadelas vem desempenhando um papel particular: os estudos na interface entre história agrária e es-cravidão, um notável campo de pesquisa que tem nos permitido estabelecer conexões entre os pe-ríodos açucareiro e cafeeiro de Campinas - para nos ater apenas ao nosso objeto de estudos.

Primeiras décadas do século XX. Cidade de Campinas. Acervo: BMC/MIS

Primeiras décadas do século XX. Rua Barão de Jaguara. Acervo: MIS

1914. Escola Municipal do Guanabara. Fonte: Pessoa. Ângelo (org).Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

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Vale considerar que os campos de demografia e linguística, trouxeram – e continuam a trazer - contri-buições particulares ao estudo das populações migrantes; populações que desde o século XVIII inte-graram a constituição do município e região, nos parecendo importante considerar que mais de 70grupos étnicos deixaram a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, para no curso das décadas de1880/1930 seguir rumo ao interior paulista, passando boa parte deles pelo entroncamento ferroviáriode Campinas.

No campo, propriamente dito, de uma história urbana do município de Campinas, as contribuiçõessão diversas e extensivas a diferentes modalidades de análises. A cidade gerou uma importante e vi-gorosa crônica urbana já no final do século XIX e em meados do século XX, somaram-se os primeirosensaios acadêmicos, gestados à luz da criação da Faculdade de História na Pontifícia Universidade deCampinas. No curso dos anos 1970, a partir da criação da Universidade Estadual de Campinas, a temá-tica “Campinas” passou a receber um vasto leque de estudos que, na atualidade, encontra-se dissemi-nado entre as áreas de ciências humanas, ciências exatas e biológicas.

No campo da História, pesquisadores como Celso Maria de Mello Pupo, José Roberto do Amaral Lapa,entre outros, inspiraram a investigação de novas frentes, achando-se presente na atualidade, pesquisassignificativas nas áreas de história, economia, educação, antropologia, linguística, sociologia, ciênciaspolíticas, arquitetura, urbanismo, medicina, entre outras.

A cidade também conta com importantes bibliotecas, arquivos, centros de documentação, laboratóriosde pesquisa, entre eles, o centenário Centro de Ciências Letras e Artes, o Centro de Memória da Uni-camp, o Arquivo Edgar Leuenrotbh da Unicamp, o Núcleo de Estudos de População (NEPO) da Unicamp,os laboratórios de Estudos da Linguagem (Labeurb/Unicamp), da Faculdade de Educação (Lantec/Uni-camp), de Arquitetura e Urbanismo da PUCC; o GCOR, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo daUnicamp, entre muitos outros. Na relação bibliográfica que se segue, encontramos parte dos estudosgerados nestas instituições.

Entre as obras destinadas ao ensino fundamental e médio, também são diversas as contribuições eentre elas, destacamos o livro Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, organizado pelo prof. Ân-gelo Emílio da Silva Pessoa em parceria com professores da Rede Municipal de Educação. Estruturadocomo material de subsidio didático para o ensino fundamental e médio, a obra vem acompanhada deum CD com mais de 500 imagens e foi publicada pela Secretaria Municipal de Educação em 2005, tra-zendo contribuição significativa ao ensino da história campineira.

1925. Grupo de formandas da Escola Normal. Fonte: Pessoa. Ângelo (org).Conhecer Campinas numa Perspectiva Histórica, 2005

Primeiras décadas do século XX. Estação da Paulista. Acervo: MIS

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