uma releitura do gÊnero literÁrio conto de fadas · resumo segundo as dce’s, a escola...
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UMA RELEITURA DO GÊNERO LITERÁRIO CONTO DE FADAS
Autor: Egly Hadlich1
Orientador: Raquel Terezinha Rodrigues2
RESUMO
Segundo as DCE’S, a escola brasileira deu abertura a um grande número de alunos, estes oriundos das várias classes sociais. Para tanto, questiona-se um meio de valorizar suas culturas e possibilitar a uma aprendizagem mais ampla na leitura, oralidade, escrita e linguística; bem como uma maior reflexão sobre a importância da leitura. Dessa forma, o presente estudo propõe uma maneira de interpretar os contos de fadas, de modo a ampliar o horizonte de leitura e de interpretação dos alunos, refletir sobre os seus valores culturais, o mundo mágico e os elementos presentes nos contos de fadas. Este artigo constitui-se numa pesquisa bibliográfica, tendo aplicação em atividades didáticas, realizadas pelos alunos, abertas à comunidade escolar, as atividades do projeto foram: varal de contos, contação de histórias, releitura dos contos pelos alunos, exposição dos textos e encenação das obras “Chapeuzinho Vermelho” (Irmãos Grimm) e “Chapeuzinho Amarelo” (Chico Buarque de Holanda). Com boa participação dos alunos, conseguiu-se atingir o principal objetivo que era o de possibilitar uma aprendizagem mais concisa e um gosto maior pela leitura naqueles alunos envolvidos com o projeto. Ao se de pararem com um novo horizonte de expectativas, em relação à leitura, os alunos puderam criar e recriar a história, com finais diversos, ampliando ainda mais sua criatividade.
PALAVRAS-CHAVE: Conto; Conto de Fadas; Literatura Infanto-Juvenil; Literatura Infantil
1 Aluna do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, área de Língua Portuguesa/Literatura. Professora do Colégio Estadual Edite Cordeiro Marques – Turvo-PR2 Orientadora: Dra em Literatura, Mestre em Literatura e Teoria Literária. Prof. Adj. do Depto de Letras – Unicentro/Guarapuava
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ABSTRACT
According to the DCE'S, the Brazilian school has opened a large number of students, those from the various social classes. To this end, the question is a means of valuing their culture and enable a wider learning in reading, speaking, writing and language, as well as a further reflection on the importance of reading. Thus, this study proposes a way to interpret fairy tales in order to broaden the horizon of reading and interpretation of the students reflect on their cultural values, the magical world and the elements present in fairy tales. This paper constitutes a literature search, and application in educational activities carried out by students, opened the school community, the project activities were: clothesline stories, storytelling, re-reading the stories by the students, exhibition texts and staging of works "Little Red Riding Hood" (Brothers Grimm) and "Yellow Riding Hood" (Chico Buarque de Holanda). With good participation of students, we were able to achieve the main goal was to enable a more concise learning and a greater taste for reading those students involved with the project. When they stop with a new horizon of expectations, in relation to reading, students were able to create and recreate the story with different end, further expanding your creativity.
KEY-WORDS: Tale, Fairy Tale, Literature Children and Youth, Children's Literature
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1 INTRODUÇÃO
O presente projeto intitulado Uma Releitura do Gênero Literário Contos de
Fadas. Tem como objetivos, ler e refletir sobre valores culturais, o mundo mágico e
os elementos presentes nos contos de fadas, de modo que se evidenciasse as
aproximações destes com a realidade dos alunos.
Propôs-se ainda “Uma Releitura do Gênero Literário Contos de Fadas”,
analisando os elementos apresentados nos contos e mostrando aos alunos como se
dá a estrutura de textos do gênero conto. Através da proposta de releitura, foram
mostradas diferentes versões de um mesmo conto de fadas, comparando-as e
refletindo com os educandos sobre a função social desses contos e sua interferência
em nossas vidas, além de realizar leituras diversas de outros contos de fadas;
reescrevendo-os sob a perspectiva do adolescente e apresentando à comunidade
escolar os resultados do trabalho realizado.
Para justificar essa escolha, partiu-se do pressuposto que a escola pública
brasileira deu abertura a um número crescente de alunos, estes oriundos de classes
sociais menos favorecidas. Com isso a escola começou a enfrentar problemas, pois
não estava preparada para receber esta clientela.
À escola coube começar a discutir seu verdadeiro papel enquanto projeto
para o Ensino Básico do Brasil. Assim, a partir das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica, questiona-se: “Quem são os sujeitos da escola pública? De onde
eles vêm? Que referências sociais e culturais trazem para a escola?” (DCE, 2008, p.
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A partir deste questionamento é importante refletir que nosso aluno tanto é
um ser social quanto um indivíduo único, que traz consigo a sua cultura, à qual deve
ser dada a devida importância para que o aluno se constitua um ser pleno de sua
cidadania.
Para esta tarefa ser realmente realizada, deve-se ter um currículo construído
a partir de todas as instâncias envolvidas na educação bem como os interessados
nesta. A partir desse pressuposto desenvolveu-se o presente trabalho.
Uma das grandes preocupações da escola é o envolvimento com a língua
materna, em todos os seus aspectos: oralidade, leitura, escrita, literatura e análise
lingüística.
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2 O SURGIMENTO DA LITERATURA INFANTIL
Segundo Lajolo e Zilberman (2010) para entendermos o processo de
surgimento da Literatura Infantil, é necessário que voltemos nosso olhar para a
Idade Média, pois diferentemente desta, a burguesia se consolida como classe
social apoiada em dinheiro, não mais em terras.
Além disso, desenvolve uma cultura mais pacifista para evitar confrontos
mais sangrentos entre a população. Para isso necessitou de contar com algumas
instituições que começam a solidificar-se num contexto bem diferente do modelo
feudalista.
A primeira dessas instituições é a família que precisa assumir um caráter
mais doméstico, sendo a mãe, a cuidadora dos filhos. Ao pai caberia o trabalho para
o sustento dessa família. E para isso, era preciso promover a criança para que se
tornasse um adulto ajustado aos interesses da burguesia.
Da mesma maneira, à escola caberia a incumbência de ajudar a criança a
preparar-se para conviver com o mundo adulto segundo as exigências desta nova
sociedade. E como ferramenta desta nova empreitada está a criação do livro que
apresenta um caráter bastante ideológico na consolidação da burguesia.
Em relação à Idade Média, não havia nenhum sistema de proteção à
criança, nem tão pouco estas tinham acesso às obras literárias. Quanto as histórias
que sabiam, essas lhe eram contadas oralmente, pois a criança era considerada um
“adulto em miniatura” que participava de todas as atividades dos adultos. Dessa
forma
Na sociedade antiga, não havia a infância: Nenhum um espaço separado do “mundo adulto”. As crianças trabalhavam e viviam juntas com os adultos, testemunhavam os processos naturais da existência (nascimento, doença, morte), participavam junto deles da vida pública (política), nas festas, guerras, audiências, execuções, etc., tendo assim se assegurado nas tradições culturais comuns: na narração de histórias, nos cantos, nos jogos. (ZILBERMAN, 2003, p. 36 apud DIETER RICHTER, s. d; p. 36)
As histórias a elas contadas eram pequenos contos inventados pela
população menos favorecida, que necessitava desabafar seus infortúnios, sua
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própria condição de miserabilidade e sofrimento. Surgem aí as raízes de uma
literatura oral e, lógico, esta sofria alterações conforme quem as contava. Segundo
Zilberman, (2003) a Literatura Infantil propriamente dita servia-se dos contos
folclóricos da Idade Média. Tais contos não eram de fadas nem tampouco infantis.
Com isso, pelos irmãos Grimm houve a primeira adaptação de contos, os
quais iriam transmitir valores burgueses do tipo ético e religioso para instigar o jovem
a um determinado papel social. Por outro lado, lhe é mantido o caráter maravilhoso
que trará para perto a pequena participação da criança no meio adulto. Ou seja, por
meio da magia, do maravilhoso, a criança foge às pressões familiares e realiza-se
no sonho. Para o surgimento da Literatura Infantil é importante considerar que
(...) a França durante o classicismo francês, no século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas como literatura (...) apropriadas à infância: as Fábulas de La Fontaine, editadas entre 1668 e 1694, As Aventuras de Telêmaco, de Fénelon, lançadas póstumas, em 1717, e os Contos da Mamãe Gansa, cujo título original era Histórias ou narrativas do tempo passado com moralidades, que Charles Perrault publicou em 1697 (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 15)
Ainda é preciso apontar que
Perrault não é responsável apenas pelo primeiro surto de literatura infantil, cujo impulso inicial determina, retroativamente, a incorporação dos textos citados de La Fontaine e Fénelon. Seu livro provoca também uma preferência inaudita pelo conto de fadas, literarizando uma produção até aquele momento de natureza popular e circulação oral, adotada doravante como principal leitura infantil. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 16)
A Literatura Infantil, segundo Lajolo e Zilberman (1999), em decorrência da
forte industrialização assume um grande papel de comercialização, ou seja, o
objetivo principal da burguesia crescente não é a literatura em si, mas o comércio da
mesma. E, à escola cabe o importante papel de promover e estimular o consumo do
livro. E, é claro com a crescente escolarização da criança tem-se como resultado um
maior consumo do livro.
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Os laços entre a literatura e a escola começam desde este ponto: a habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que coloca a literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo que se impõem aos poucos; e, de outro como caudatória da ação da escola, a quem cabe promover e estimular como condição de viabilizar sua própria circulação.” (LAJOLO e ZILBERMAN 1999, p. 18)
Para a autora o papel da literatura nesse momento é atender os anseios da
burguesia e principalmente do poder vigente, ou seja, educar as crianças para
serem mais pacifistas, enquanto adultos, e também atender às expectativas do novo
mercado que se abria com a revolução industrial. A liberdade de criação era relativa,
e de certa forma também havia uma preocupação que é incorporada aos poucos nas
criações de literatura infantil:o universo afetivo e emocional da criança.
Assim,
[...] organiza-se igualmente a história do gênero no Ocidente. Do grande elenco de obras publicadas no século XVIII, poucas permaneceram, porque então era flagrante o pacto com as instituições envolvidas com a educação da criança. Mas, ao sucesso dos contos de fadas de Perrault, somou-se o das adaptações de romances de aventuras, como já os clássicos Robinson Crusoé (1719), de Daniel Defoe, e Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift, autores que asseguraram a assiduidade de criação e consumo de obras.” (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 20)
Segundo a autora é visível a definição de livros que vão agradando ao novo
público, com isso no século XIX, os irmãos Grimm, em 1812, editam a coleção de
contos de fadas que, dado o sucesso, converte-se em sinônimo de Literatura Infantil
para crianças.
[...] em primeiro lugar, a predileção por histórias fantásticas, modelo adotado sucessivamente por Hans Christian Andersen, nos seus Contos (1833), e James Barrie, em Peter Pan (1911), entre os mais célebres. Ou então por histórias de aventuras, transcorridas em espaços exóticos, de preferência, e comandadas por jovens audazes: eis a fórmula de James Fenimore Cooper, em O último dos moicanos (1826), Jules Verne, nos vários livros publicados a partir de 1863, ano de Cinco semanas num balão, Mark Twain, em As aventuras de Tom Sawyer (1876), ou Robert Louis Stevenson, em A ilha do tesouro (1882). Por último, a apresentação do cotidiano da criança, evitando a recorrência a acontecimentos fantásticos e procurando apresentar a vida
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diária como motivadora de ação e interesse, conforme procedem o Cônego Von Schimid, em Os ovos de Páscoa (1816), a Condessa de Ségur , em As meninas exemplares (1857), Louise M Allcott, em Mulherzinhas (1869), Johanna Spiry, em Heidi (1881), e Edmond De Amicis, em Coração (1886). (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 20-21).
E é nessa vertente que surge uma Literatura Infantil que, a princípio, tem
uma grande preocupação com sua maneira de inserir ideais em suas crianças e que
aos poucos, escritores vão aprimorando uma Literatura Infantil mais adequada a
elas.
Barone (2007), ao citar Zilberman diz que a idéia de Literatura Infantil surgiu
com o objetivo educativo e ideológico. Ou seja, a Literatura Infantil enquanto
literatura para ser lida prazerosamente não era primordial. A sua importância estava
centrada no aspecto pedagógico.
Cândido (2004), citado por Barone (2007) salienta para um aspecto
humanizador da literatura, o qual permite o desenvolvimento de traços que ele
considera essenciais no ser humano, como inteligência e o desenvolvimento das
emoções, bem como o senso de beleza, humor e disposição. Assim, faz com que a
criança, através da literatura consiga perceber a complexidade do mundo que a
cerca. E dessa forma reforça também esse aspecto pedagógico sob outro prisma.
E esta ideia aos poucos se consolida na Literatura Infantil, não mais de
apenas atender aos aspectos pedagógicos ou os anseios de uma sociedade; esta se
liberta desse processo e vem valorizar o ser da criança, ou seja, o que ela realmente
deseja como ler para despertar-se nos seus sonhos, imaginações e fantasias.
2.1A Literatura Infantil no contexto do Brasil
Zilberman e Lajolo (1999) afirmam que a chegada da família real ao Brasil é
de grande importância, pois com ela veio a tipografia que mais tarde viria ajudar na
tradução de textos de Literatura Infantil europeus para o português e na construção
de uma literatura para as crianças realmente de cunho brasileiro. Pois,
Se a Literatura Infantil européia teve seu início às vésperas do século XVIII, quando, em 1697, Charles Perrault publicou os célebres Contos da Mamãe Gansa, a literatura infantil brasileira só veio a surgir muito tempo depois,
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quase no Século XX, muito embora ao longo do Século XIX reponte, registrada aqui e ali, a notícia do aparecimento de uma ou outra obra destinada a crianças (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 23)
Ou seja, se a literatura infanto-juvenil europeia iniciou-se no século XVIII, no
Brasil apenas no século XX se nota maior produção literária infantil, remontando,
ainda, apenas as reproduções das literaturas europeias, não se constituindo,
portanto, numa literatura infanto-juvenil essencialmente brasileira.
Importante salientar que os primeiros livros eram apenas traduções da
literatura europeia e que os países da Europa trazem em suas produções literárias
infantis grande valorização da pátria através dos aspectos geográficos, ufanistas,
cultural e político.
Também aparece aqui o surgimento de algumas obras escritas no Brasil,
que seguem o mesmo modelo dos livros de Literatura Infantil europeu: a valorização
da pátria. No entanto, como esses não correspondiam às expectativas do povo
brasileiro, principalmente quanto à escrita de alguns vocábulos.
Assim, segundo Lajolo e Zilberman (1999) intelectuais, jornalistas e
professores esforçam-se para produzir livros infantis ligados aos projetos de
modernização da nação brasileira. Também importante ressaltar que a Literatura
brasileira tem forte ligação com a própria Literatura Infantil, pois no Brasil.
Esta está extremamente ligada à literatura brasileira como um todo e que não podemos dissociá-las enquanto os períodos literários vigentes em nosso país. “As relações da literatura infantil com a não infantil são tão marcadas, quanto sutis. Se se pensar na legitimação de ambas através dos canais convencionais da crítica, da universidade e da academia, salta aos olhos a marginalidade da infantil. Como se a menoridade de seu público a contagiasse, a literatura infantil costuma ser encarada como produção cultural inferior. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 11)
Até aqui, apenas traduções estrangeiras, agora além dessas, adaptações
mais modernas surgem. Exemplo disso,
Os Contos Seletos das Mil e Uma Noites (1882), Robinson Crusoé (1885), As Viagens de Gulliver (1888), as Aventuras do Celebérrimo Barão de
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Münchhausen (1891), Contos para Filhos e Netos (1894) e Dom Quixote de La Mancha (1901). Temos, também, os clássicos de Grimm, Perrault e Andersen que são divulgados nos Contos da Carochinha (1894), nas Histórias da Avozinha (1896) e nas Histórias da Baratinha (1846). (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 29)
Entre as muitas traduções estão a de João Ribeiro (1891) do livro italiano
Cuore; e a partir de 1915 as traduções e adaptações de Arnaldo de Oliveira Barreto.
O livro Contos Infantis, 1886, de Júlia Lopes de Almeida e de Adelina Lopes Vieira.
Em 1904, Olavo Bilac e Coelho Neto editam seus contos pátrios e, em 1907, Júlia
Lopes de Almeida lança as Histórias de nossa terra, entre outros. Em 1919, com o
romance Saudade, Tales de Andrade encerra esse período na Literatura Infantil
brasileira.
A literatura infantil daquela época deixou a desejar, segundo Lajolo e
Zilberman (1999) já que se via muito mais os interesses burgueses do que
realmente o interesse das crianças a ser defendido. Assim,
A adaptação do modelo europeu que nos chegava geralmente através de Portugal, nesse primeiro momento da literatura brasileira não se exerceu apenas sobre o conto de fadas. Ocorreu também a apropriação brasileira de um projeto educativo e ideológico que via no texto infantil e na escola (e, principalmente, em ambos superpostos) aliados imprescindíveis para a formação de cidadãos. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 32)
Apesar de os contos de fadas atraírem o interesse dos pequenos leitores,
estes eram apenas uma tradução e não necessariamente uma literatura infantil
brasileira. Sendo assim, foi a partir do início do século XX quando alguns pedagogos
e estudiosos começaram a questionar a inserção de temas que não condiziam com
os interesses das crianças é que escritores começam a preocupar-se com uma
Literatura Infantil mais apropriada a elas.
Segundo Lajolo e Zilberman (1999) através de reclamações pela ausência
de material de leitura e de livros para a infância brasileira, fica bem claro que o
objetivo comum da época era a importância do hábito de ler para a formação do
cidadão. Formação esta que a curto, médio e longo prazo, era o papel que se
esperava da escola. Ao contrário disso tem-se que:
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Modernistas, de um lado dando-nos o conteúdo estético do período; Monteiro Lobato, de outro, impondo uma práxis que, se é voltada para as letras, [...] . Mas, com Monteiro Lobato estamos no campo da ficção infantil, gênero que se constituiu no ponto de encontro dessas vertentes (LAJOLO e ZILBERMAN, 1999, p. 54)
São muitos os seguidores de Lobato, não necessariamente com a sua
qualidade, mas com o mesmo esforço de primar por uma Literatura Infantil que não
esteja servindo aos interesses da burguesia vigente ou da pedagogia aplicada pela
escola segundo os interesses da sociedade.
A Literatura Infantil então passa a trazer temas mais corriqueiros da criança,
criando um universo fantástico que evita a convencionalidade do patriotismo, da
própria linguagem ou mesmo do recorte da realidade. Exemplo dessa obra é o
poema de Vinícius de Moraes “A Casa” que posteriormente aparecerá.
Para Lajolo e Zilberman, (1999, p. 55), um exemplo disso é a obra de
Monteiro Lobato que desde seu primeiro livro para crianças, [...] Narizinho
Arrebitado, o autor fixa o espaço e boa parte do elenco que vai ocupá-lo e ocupar-se
em aventuras de todo tipo: é o Sítio do Pica-Pau Amarelo, propriedade de Dona
Benta, que vive originalmente acompanhada de sua neta, a menina Lúcia, conhecida
por Narizinho, e de uma cozinheira antiga e fiel, Tia Anastácia.
Além disso,
[...] é impossível falar sobre literatura infanto-juvenil e não inserir, neste quadro, Monteiro Lobato. Preocupado com a literatura infantil, Monteiro Lobato publicou, em 1921, Narizinho Arrebitado – segundo livro de leitura para uso das escolas primárias. Embora estivesse estreando na literatura escolar com Narizinho Arrebitado, Monteiro Lobato já trazia em sua primeira obra as diretrizes de uma literatura infanto-juvenil. (BIASIOLI, 1993, p. 92)
E desta outras personagens surgem, bem como inúmeras obras que vão
agradar o público infantil. E serão seguidores de Lobato inúmeros escritores, entre
eles: Graciliano Ramos, Erico Veríssimo, Menotti de Pichia, Lourenço Filho, Paulo
Guanabara, Viriato Correia. Estes autores procuram recuperar um discurso mais
familiar que se identifica com o leitor ressaltando a maturidade da Literatura Infantil
segundo o objetivo desta a de fazer parte de um grupo de maior excelência e
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prestigiado da arte literária.
Ao falar de Monteiro Lobato, podemos dizer que este foi o primeiro a pensar
na Literatura Infantil como algo a desenvolver o hábito e o prazer pela leitura não
mais como obrigação pedagógica desta.
Para Biasioli (1993) atualmente o que se vê no Brasil é uma diversidade de
temas que enriquecem o mercado livreiro, o que nem sempre garante o sucesso
destes, já que, há uma grande quantidade de outros atrativos para o público infanto-
juvenil.
A crítica literária nem sempre tem como alvo falar dessa literatura, sendo
esta marginalizada. Por outro lado, o mercado editorial brasileiro cresce
consideravelmente e, com isso, a Literatura Infantil ganha cada vez mais espaço no
setor. Para isso tem escolhido algumas temáticas que são de seu interesse: a
sexualidade, a adolescência, a comédia, o suspense e o fantástico. Quanto às
crianças ainda preferem ficar com o fantástico.
Para a autora “Preservar as relações entre a literatura e a escola, ou o uso
do livro em sala de aula, decorre de ambas compartilharem um aspecto em comum:
a natureza formativa.” Segundo Zilberman,
A literatura sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais um obra foi concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com seu destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois a conhecê-lo melhor. (ZILBERMAN, 2003, p. 25)
Portanto, ainda que escola e literatura sigam os mesmos caminhos, ambas
não se identificam. Mesmo que a escola se utilize da ferramenta do livro de literatura
para concretizar seus objetivos. E caberá ao professor que metodologia utilizar e de
que obra literária utilizar para despertar no aluno o prazer pela leitura e valorizar a
obra por ele lida.
O que a ficção lhe outorga é uma visão de mundo que ocupa as lacunas resultantes de sua restrita experiência existencial, por meio de sua linguagem simbólica. Logo, não se trata de privilegiar um gênero ou uma espécie em detrimento de outras, uma vez que os problemas peculiares
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necessitam ser examinados à luz dos resultados alcançados pelo escritor: e sim de admitir que, seja pelo conto de fadas, pela reapropriação de mitos, fábulas e lendas folclóricas, ou pelo relato de aventuras, o leitor reconhece o contorno no qual está inserido e com o qual compartilha lucros e perdas (ZILBERMAN, 2007, p. 27).
Para a autora é bem claro que o papel do professor não deverá partir da
utilização da obra literária para atividades gramaticais, mas sim pela qualidade
estética que a obra apresente.
Assim, o aluno deve ser levado ao encontro do texto literário numa condição
de desafio, para o qual, ele vá descobrindo nas suas inúmeras leituras de obras
literárias, tanto o prazer de ler, quanto a condição de melhor entender o próprio
mundo que cerca-o.
Segundo a DCE, (p. 75)
O primeiro olhar para o texto literário, tanto para os alunos de Ensino Fundamental como do Ensino Médio, deve se de sensibilidade, de identificação. O professor pode estimular o aluno a projetar-se na narrativa e identificar-se com algum personagem. Numa apresentação em sala de aula o educando revela-se e, “provocado” pelo docente, justifica sua associação defendendo seu personagem.
Dessa maneira os alunos sentem-se provocados e serão levados a falar do
entendimento que tiveram da narrativa. E a cada nível de texto, crescem tanto no
seu aspecto cognitivo e por si só começam buscar suas próprias leituras.
Para Garcia (2006) na DCE, “a literatura resulta o que precisa ser definido
na escola: a Literatura no ensino pode ser somente um corpo expansivo, não-
orgânico, aberto aos acontecimentos a que os processos de leitura não cessam de
forçá-las.”
É pertinente afirmar que o trabalho realizado em sala de aula com o texto
literário não pode ser apenas um elemento de profusão para os estudos lingüísticos,
mas sim uma oportunidade única de levar o aluno a refletir sua existência e
aprimorar seu conhecimento.
2.2A Origem dos Contos de Fadas
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Sobre a origem dos contos de Fadas, aponta Mattar (2007) ao citar Coelho
que:
Os primeiros registros dos contos de fadas datam de 4.000 a.C., feitos pelos Egípcios, com o Livro do Mágico. Na seqüência apareceram na Índia, Palestina (Velho Testamento), Grécia Clássica, sendo o Império Romano o principal divulgador das histórias mágicas do Oriente para o Ocidente. A materialidade sensorial do Oriente, co ma luxúria da Arábia, Pérsia, Irã e Turquia, se contrapunha à cultura dos celtas e bretões no ocidente, cheia de magia e sespiritualidade. (MATTAR, 2007, apud COELHO, 1987)
Para a autora os contos de fadas nem sempre tiveram esse caráter de
maravilhoso ou encantador para a criança. Muito mais do que maravilhoso, os
contos eram cheios de simbologia, criaturas assustadoras representando o ser
humano na condição de seus anseios, medos, vícios e tentações. Aliás, diferente do
que se pode pensar, os contos de fadas nunca foram escritos para as crianças, nem
para transmitir ensinamentos morais. Sabe-se que os contos, na sua originalidade,
traziam cenas adúlteras, incestos, entre outros.
Ela salienta ainda que na Era Clássica, os contos de fadas que tinham um
profundo caráter da realidade maravilhosa, foram perdendo tal característica e
recebendo nova roupagem colorida e maravilhosa, transformando-se nos contos de
fadas para crianças. A evolução dos contos de fadas passa por uma série de
mudanças até chegar ao dito conto de fadas ou conto maravilhoso. Há informações
de que o início dessas transformações teria sido com Perrault, no século XVIII, na
Alemanha, com Andersen no século XIX, na Dinamarca e com Walt Disney, no
século XX, na América. Já para outros estudiosos a transformação dos contos de
fadas em literatura infantil teria ocorrido em países de língua inglesa, pelo trabalho
de vendedores ambulantes que viajavam por diversos povoados vendendo
pequenos volumes baratos que continham histórias simplificadas do folclore e dos
contos de fadas, sem as passagens mais agressivas, sendo de fácil leitura.
Independente de se provar a verdadeira origem dos contos de fadas é
notório perceber em suas adaptações, de acordo com Mattar (2007) ao citar Costa e
Braganha que os contos aparecem distorcidos de sua forma original e que nas
muitas adaptações retiraram-se passagens consideradas mais fortes, com o objetivo
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de não assustar a criança, privando-a de situações conflitantes.
2.3 A Característica do Conto de Fadas
Mattar ao citar Propp diz que os contos de fadas apresentam a mesma
seqüência de ações ou funções narrativas que outras histórias, e que apesar da
diversidade de temas todos poderiam ter uma origem comum. O pesquisador
formulou uma estrutura básica para os contos de fadas, envolvendo início, ruptura,
confronto e superação de obstáculos e perigos, restauração e desfecho.
Com isso,
O início se caracteriza pelo aparecimento do herói ou da heroína e do problema que vai desestabilizar a paz inicial, a ruptura, quando o herói vai para o desconhecido, deixando a proteção e desligando-se da vida concreta, o confronto e a superação de obstáculos e perigos, quando o herói busca soluções fantasiosas, a restauração é quando se inicia o processo de descoberta do novo, das potencialidades e das polaridades e o desfecho, o retorno à realidade, com a união dos opostos, iniciando o processo de crescimento e desenvolvimento (MATTAR, 2007, p. 16, apud COELHO, 1987, s. p.)
Os contos de fadas vêm mostrar obstáculos a serem vencidos, como um
ritual de criação, do qual, o herói alcançará sua auto-realização. A tranquilidade só
será restaurada no desfecho da narrativa.
Quanto a serem chamados de contos de fadas ou maravilhosos há
controvérsias. Para alguns autores os contos de fadas tratam da realização interior
ou existencial do herói, enquanto os contos maravilhosos tratam da realização
exterior ou social do mesmo. Para outros, os contos de fadas são chamados de
maravilhosos, não pelo predomínio de fadas, mas de situações maravilhosas nos
contos.
Os contos de fadas são de origem celta, da qual, a etimologia da palavra
vem do latim fatum, que significa destino, fatalidade. Ademais,
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[...] com ou sem a presença de fadas (mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica (reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfose, tempo e espaço fora da realidade conhecida, etc) e têm como eixo gerador uma problemática existencial. Ou melhor, têm como núcleo problemático a realização existencial do herói ou da heroína, realização que, via de regra, está visceralmente ligada à união homem-mulher (MATTAR, 2007, p. 18 apud COELHO, 1987, s. p.)
Dessa forma, Independentemente de todas as possíveis caracterizações, a
medicina milenar hindu acreditava que os contos de fadas tinham poder terapêutico
através de sua meditação. Já com a psicanálise teremos as maiores contribuições
na análise dos significados mais profundos dos contos de fadas.
2.4Uma Visão Mais Moderna dos Contos
Para Bettelheim (2010) a condição necessária para sermos adultos em
equilíbrio depende de uma maturidade psicológica e alcançada de acordo com a
idade relacionada, se conseguirmos encontrar um significado para nossas vidas.
Esta condição não se dá da noite para o dia, pois é necessária uma construção
gradativa, a partir do momento em que alcançamos um pensamento mais emocional
até alcançar o racional, ou seja, a fase adulta.
O autor questiona o posicionamento de muitos pais que querem que seus
filhos tenham a mesma compreensão madura da vida. E nessa busca que temo ser
humano em relação ao significado de sua vida está a criança, a qual, dependendo
do contexto em que está inserida, terá maior ou menor dificuldade para crescer com
maturidade aliada aos significados presentes em sua vida. É imprescindível para se
obter essa maturidade que a criança é tão importante para si quanto para o outro.
Esse sentimento é necessário para que uma pessoa se sinta satisfeita consigo mesma e com o que está fazendo. Para não ficar à mercê dos acasos da vida, devemos desenvolver nossos recursos íntimos, de modo que nossas emoções, imaginação e intelecto se ajudem e se enriqueçam mutuamente. Nossos sentimentos positivos nos dão força para desenvolver nossa racionalidade; só a esperança no futuro pode sustentar-nos nas adversidades que inevitavelmente nos deparamos (BETTELHEIM, 2010, p. 10)
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É de extrema importância para a criança a maneira como seus pais
conduzem a vida de seus filhos e para o autor a literatura poderá ajudá-la melhor.
Diferente das cartilhas ou manuais utilizados em sala de aula, pois estes procuram
apenas informar ou divertir, podendo por em xeque até mesmo a aprendizagem da
leitura, transformando esta num ato meramente mecânico. Aliás, não é somente pelo
ato da leitura que a pessoa poderá enriquecer a sua vida, mas sim pelo quanto esta
leitura é expressiva ou representativa em sua vida. O livro de literatura infantil deve
ser questionado quando não contribui com um significado mais profundo e
envolvente, dependendo do estágio no qual a criança se encontra. E nesse sentido
Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras as suas emoções, estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações, reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam (BETTELHEIM, 2010, p. 11)
Para o autor, nas contribuições da literatura infantil estão os contos de fadas,
que são de grande relevância para a criança ou o adolescente, pois através deles
podem-se resolver problemas íntimos e propor soluções concretas em qualquer
sociedade em que estive inserido o indivíduo. E, a importância dos contos de fadas
pode estar tanto no aspecto técnico que envolve a mente consciente, pré-consciente
e a inconsciente.
Com a possibilidade de o conto de fadas trabalhar o intelecto da criança, ela
poderá superar suas decepções narcisistas, seus dilemas edipianos, suas
rivalidades fraternas, tornando-se capaz de abandonar o infantil de sua vida,
adquirindo um sentimento de individualidade e de auto-estima, juntamente com um
sentimento de obrigação moral não somente porque o adulto lhe propôs, mas
porque ela mesma alcançou com um enfrentamento não racional, mas
familiarizando-se com os contos de fadas que em resposta aos devaneios e sua
imaginação, terão condições de lidar conscientemente e inconscientemente, com as
pressões do dia-a-dia. Este é o segredo dos contos de fadas.
Quando o inconsciente da criança é sufocado, este se apropria do
consciente e a mesma terá uma conduta mais séria e compulsiva, danificando sua
17
personalidade. Ainda que para muitos pais a criança não deva ser exposta aos
sentimentos que a perturbem e que para estas reservem-se apenas situações
otimistas, deve-se lembrar de que a vida real não é constituída somente de fatos
felizes. Os contos de fadas transmitem, nesse sentido, às crianças de forma variada
que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, mas que se a pessoa
não se intimidar e enfrentar as provações inesperadas e injustas, dominará todos os
obstáculos e ao fim sairá vitoriosa.
Ao nos depararmos com histórias modernas percebemos que estas deixam
de mencionar, muitas vezes, alguns dos problemas existenciais como o
envelhecimento, a morte, os limites de nossa existência, nem tampouco o desejo da
vida eterna. Diferentemente, os contos de fadas iniciam suas histórias, por exemplo,
com a morte da mãe ou do pai, ou colocam a figura do pai como sendo bem mais
velho e que está próximo de deixar este mundo. Para a personagem principal é
gerada uma situação de desconforto, algo que não é diferente de nossas vidas. Este
é o papel do conto de fadas, mostrar ao pequeno leitor os dilemas que poderemos
enfrentar em nossas vidas.
Quanto à presença do bem e do mal, o conto de fadas retrata-os de maneira
igual. É a personagem que corporifica ou o bem ou o mal. E para a criança torna-se
uma questão moral a ser resolvida. Assim, Bettelheim reforça que:
O mal não é isento de atrações. Simbolizado pelo poderoso gigante ou dragão, o poder da bruxa, a astuta rainha em “Branca de Neve” e com freqüência se vê temporariamente vitorioso. Em muitos contos de fadas, um usurpador consegue por algum tempo tomar o lugar que de direito pertence ao herói (...) Não é o fato de o malfeitor ser punido da história que torna a imersão em contos de fadas uma experiência de educação moral (...) Nos contos de fadas, como na vida, a punição ou o medo dela é apenas um fator limitado de inibição do crime. A convicção de que o crime não compensa é um meio de inibição mais afetivo, e é essa a razão pela qual, nas histórias de fadas, a pessoa má sempre perde (BETTELHEIM, 2010, p. 16)
Para o autor, a criança se identifica com o herói não pela condição de o bem
sempre vencer o mal, mas porque ele, o herói, é atraente para ela. E é nessa
identificação que a criança imagina o sofrimento e sofre com ele em suas
dificuldades e sente-se vencedora junto com o herói no final da história.
Nos contos de fadas as personagens não são boas e más ao mesmo tempo,
18
como na realidade. Mas a criança ao perceber estes extremos que dominam o
conto, também ela dominará o conto. Essa dualidade presente na personagem, o
bom, o mal, o virtuoso, o vil, o preguiçoso, o belo e o feio, ajudam a criança a
entender essas diferenças para melhor resolverem seus problemas. O que muitas
outras obras literárias de cunho infantil não asseguram ao pequeno leitor.
2.5 O Encantamento e a Magia no Conto de Fadas
Ao ler um conto de fadas não somente nos deparamos com o bem que este
possa trazer para o nosso intelecto, mas pela obra de arte que o é, pois suas
qualidades literárias são indiscutíveis, posto que
Os contos de fadas são ímpares, não só como forma de literatura, mas como obras de arte integralmente compreensíveis pela criança como nenhuma outra forma de arte o é. Como sucede com toda grande arte, o significado mais profundo do conto de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida (BETTELHEIM, 2010, p. 20)
Estes também expressam nossa herança cultural, inúmeras interpretações e
trazem, de acordo com a época em que foram criados, temas religiosos, oníricos,
fantásticos. Afinal, se perguntarmos que tipo de contos seria mais interessante para
a criança numa determinada faixa etária? Para o autor, isso dependeria do estágio
psicológico da criança. O conto dirá à criança que mesmo diante das adversidades,
se ela não desistir, tiver coragem, poderá superar seus medos, mesmo longe de
seus genitores.
Bettelheim (2010, p. 26) diz que cada conto de fadas vai transmitir à criança
ou ao adolescente informações necessárias aos enfrentamentos das adversidades
existenciais de seu dia-a-dia. Sem dúvida alguma quando o pai conta um conto de
fadas para a criança, este contará algum que porventura ele tenha gostado na
infância. A criança ouvinte poderá identificar-se com o mesmo ou não. No entanto,
após outras leituras, a criança irá identificar-se de acordo com a sua experiência de
vida e seus conflitos vivenciados até aquele momento. Também outra condição
importante para que a família apenas conte o conto, sem fazer nenhuma análise
19
prévia dos acontecimentos nestes. O maravilhoso nos contos de fadas está no fato
da criança ou adolescente extrair sozinho as suas interpretações.
A criança apresenta um pensamento de que as coisas com as quais convive,
além de ser humano, têm também vida. E o conto de fadas está de acordo com o
mundo em que ela vive, possibilitando respostas nesse mundo mágico, muito mais
do que o mundo racional imposto pelo adulto.
Para Bettelheim (2010) é neste ponto que impera o trabalho na escola em
relação à criança. Primeiro porque procura desenvolver atividades com as cartilhas
que tem por objetivo informar e quando quer entreter é de maneira superficial,
segundo porque levam histórias muito parecidas com a realidade. Exemplo disso
são as fábulas com seu teor moral, do qual a criança não poderá extrair nenhum
significado além daquele presente na narrativa. Além disso quando os contos de
fadas são contados, são apenas com caráter pedagógico, não permitindo à criança
sua reflexão sobre a magia presente nos mesmos, e quais os benefícios a criança
poderá tirar em causa própria. Nesse sentido,
A audição do conto de fadas traz à criança idéias sobre como poderia criar ordem a partir do caos que é a sua vida interior. O conto de fadas sugere não só isolar e separar os aspectos díspares e confusos de sua experiência em pólos opostos, mas também projetá-los em diferentes personagens (BETTELHEIM, 2010, p. 108)
Outro detalhe importante é que tanto os pais quanto a escola insiram os
contos de fadas em forma de leitura dramatizada, que não se preocupam em lidar
com estes em torno da aprendizagem do aluno, mas sim com a magia presente nas
crianças.
Levando em consideração o exposto, este trabalho selecionou como corpus
dois contos de fadas: o conto “Chapeuzinho Vermelho” e “A Pessoa Mais – Atraente
– Do – Que – A – Média Adormecida.” Das tantas versões de Chapeuzinho
Vermelho, está a de Perrault, da qual Bettelheim descarta e conclui que a melhor
versão seria a dos irmãos Grimm, portanto uma das mais populares em relação aos
contos de fadas.
20
Uma menininha encantadora e “inocente” engolida por um lobo é uma imagem que deixa na mente uma marca indelével (...) em Chapeuzinho Vermelho, tanto a avó quanto a menina são efetivamente engolidas pelo lobo. Chapeuzinho Vermelho, como na maioria dos contos de fadas, existe em muitas versões diferentes. A mais popular é a dos irmãos Grimm, na qual Chapeuzinho e a avó renascem e o lobo recebe um castigo bem merecido (BETTELHEIM, 2010, p. 233)
A menina, numa atitude mais audaciosa decide ouvir não a voz de sua mãe,
mas a de um lobo sedutor. Ao chegar à casa da vovó, eis que encontra o lobo
disfarçado de vovó na cama e após indagações de Chapeuzinho, também engole a
menina. Como salvação entra em cena o caçador, que retira ambas da barriga do
lobo e lhe dá um tremendo corretivo.
Essa história, por mais simples que pareça, é alvo de grande reflexão
quando se trata de meninas ingênuas. Não se deve dar ouvidos a qualquer pessoa e
que talvez, as mais gentis encontradas na rua, sejam as mais perigosas.
No entanto, ela consegue se sobrepor ao sedutor perigoso e resgatar em si
sua condição mais social e humana: aceitou a proteção do caçador que estaria na
vez da proteção paterna, o que a faz retornar para uma situação de maior
segurança.
Chapeuzinho é amada universalmente porque, embora virtuosa, é tentada; e porque sua sorte nos diz que confiar nas boas intenções de todos, que parece ser tão bom, na realidade nos deixa sujeitos a armadilhas. Se não houvesse algo em nós que aprecia o grande lobo mau, ela não teria poder sobre nós. Por conseguinte, é importante entender sua natureza, mas ainda mais importante é saber o que o torna atraente para nós. Por mais atraente que seja a ingenuidade, é perigoso permanecer ingênuo a vida toda. (BETTELHEIM, 2010, p. 239)
Para o autor a história de Chapeuzinho Vermelho é o despertar da
adolescência com suas emoções, que estão relativamente adormecidas e que inclui
as angústias e desejos mais antigos que reaparecem nesse período. O autor diz que
está ainda uma fase ligada aos nossos sentimentos edipianos, embora o que
interessa nesse estudo é a valorização do conto de fadas em sala de aula e de
como este poderá ajudar as crianças ou os adolescentes na construção de sua
própria personalidade.
21
Quanto ao conto “A Pessoa Mais – Atraente – Do – Que – A – Média
Adormecida.”, de James Finn Garner, traz uma versão bem inovadora e moderna
perante os demais contos de fadas. Este conto fala de um casal politicamente
correto que dividia tudo, inclusive anseios e desejos, dos quais um deles era ter um
filho. No entanto, a rainha não conseguia engravidar. Até que um dia quando se
banhava num riacho dialogou com uma rã, que assegura-lhe que ela irá engravidar.
Mas que para isso acontecesse era preciso relaxar, realizar exercícios físicos e partir
para uma dieta mais natural. E eis que engravidou e nasceu linda menina que
chamaram de Rosamunda.
A felicidade era tanta que realizou no palácio uma grande festa. O cardápio
servido fora o mais natural possível. Havia entre os convidados 12 mulheres sábias
envolvidas com magia e racionalismo ocidental. Todas, ao chegarem perto do bebê,
desejavam coisas maravilhosas. Mas eis que o rei comete um grande erro, não
chama a décima terceira mulher por questões de superstição. A mulher sentindo-se
humilhada comparece a festa e deseja que esta nova criatura seja uma mulher mal
casada, insatisfeita e entediada. No entanto, a décima segunda mulher não havia
ainda feito seu desejo, assim desejou que Rosamunda ao chegar à puberdade,
perfurasse seu dedo numa roca e permanecesse dormindo cem anos, até que os
homens vindouros fossem mais acolhedores e bem resolvidos. O rei amedrontado
mandou que se escondesse qualquer objeto pontiagudo no castelo, mas de nada
adiantou, pois quando a menina chegou a sua puberdade perfurou o dedo e dormiu
por cem anos. Neste ínterim muitas histórias apareciam em torno da princesa,
muitos jovens por lá queriam chegar, mas eram impedidos.
Passados os cem anos, chega ao reino um jovem aparentemente bem
resolvido e ditoso, o futuro príncipe com quem Rosamunda se casaria. Então ao ver
a princesa concluiu que esta estava num processo de profunda meditação e não
desejava atormentá-la, mas mesmo assim veio acordá-la. Para a surpresa da
princesa, este era demasiadamente bom e de caráter sublime, mas imaturo para
assumir um compromisso mais sério. A decepção da princesa fora tanta que para
sua infelicidade tornou-se uma mulher insatisfeita e entediada. O desejo da décima
terceira mulher cumpriu-se e todos foram infelizes para sempre.
3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
22
Para que se possa trabalhar melhor com os contos de fadas, com intenção
de adequar teoria à prática do trabalho em sala de aula, iniciar-se-á com
apresentação de um conto de James Finn Garner “A Pessoa Mais – Atraente – Do –
Que – A - Média Adormecida.”, para posteriormente trabalhar a teoria em torno do
conto. Após, far-se-á um estudo melhor elaborado sobre o gênero literário proposto
neste projeto de intervenção pedagógica, o qual será aplicado numa turma de
8a série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Edite Cordeiro Marques –
Ensino Fundamental e Médio, com a duração de doze aulas. A aplicação das
atividades propostas no Projeto foi acompanhada pela equipe pedagógica e pela
direção.
1. Leitura do conto “A Pessoa Mais-Atraente-Do-Que-A-Média Adormecida”,
de James Finn Garner;
2. Breve discussão com os alunos sobre os possíveis significados da nova
releitura dada ao conto da Bela Adormecida;
3. Estudo sobre os elementos técnicos que compõem o conto em si;
4. Contação livre por parte dos alunos sobre as várias propostas de
releitura da obra Chapeuzinho Vermelho;
5. Contação do conto de fadas Chapeuzinho Vermelho sob a versão dos
irmãos Grimm;
6. Leitura da versão do conto Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque de
Holanda;
7. Atividades de leituras diversas de contos de fadas;
8. Proposta de uma nova construção dos contos de fadas politicamente
corretos sob o olhar contemporâneo;
9. Sarau de apresentação da obra proposta com a presença dos pais dos
alunos participantes.
4 RESULTADOS
Para realização do projeto, buscou-se analisar os elementos apresentados
no conto lido; mostrar aos educandos como se dá a organização da estrutura de
textos do gênero apresentado; ler e ouvir diferentes versões de um mesmo conto de
fadas, comparando-as; refletir com os educandos sobre a função social dos contos
de fadas e sua interferência em nossas vidas; realizar leituras diversas de outros
23
contos de fadas; refletir e reescrever os contos de fadas lidos sob a perspectiva do
adolescente e apresentar à comunidade escolar e aos pais dos alunos envolvidos no
projeto o resultado do trabalho realizado.
Para tanto, na aplicação do projeto de Intervenção Pedagógica, criaram-se
frases para a chamada ao projeto. As frases eram “Procura-se uma princesa”,
“Quem tem medo do lobo mau” e “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Estas
frases foram colocadas em vários espaços do colégio, inclusive nas salas de aula. A
partir da proposta, percebeu-se uma curiosidade geral dos alunos do colégio como
um todo. Depois de criada a ambiência em sala de aula, o trabalho iniciou-se pelas
perguntas: “Você já ouviu falar em contos de fadas?” “Se ouviu falar, de que forma
tomou contato com os contos de fadas?: família, escola, televisão, teatro e outro”.
“Se ouviu o conto por inteiro, qual (is) você conhece?” Quanto a essas perguntas, a
maioria já havia ouvido falar em contos de fadas, no entanto poucos lembravam
como haviam tido acesso. Alguns mencionaram a escola em primeiro lugar e depois
a família. Pediu-se aos alunos que contassem alguns contos de fadas, os quais
foram contados incompletos.
Após a aplicação das perguntas, houve uma conversa inicial, na qual foram
abordadas as características peculiares dos contos, a origem destes, de como eram
num período mais remoto, a sua finalidade e quais eram os contistas clássicos. Essa
prática fora desenvolvida de acordo com a teoria presente no trabalho. Foram
entregues aos alunos um resumo do conteúdo com base na apresentação do
trabalho. Na apresentação da introdução do trabalho houve boa participação dos
alunos enquanto ouvintes.
Fez-se uma introdução acerca dos contos de fadas em geral. Em seguida,
entregou-se o texto “A Bela Adormecida” recortado em tiras, para que os alunos
montassem-no numa sequência lógica. Poucos alunos tiveram rapidez no processo
de montagem o que denotou desconhecimento do texto ou dificuldade de
desenvolver uma sequência lógica de texto. Após o texto montado, utilizou-se o
recurso do álbum seriado com gravuras do conto para condução, por parte da
professora, de uma primeira leitura do texto. Houve boa resposta por parte dos
alunos, pois estes se envolveram na história contada. Realizada a leitura, conferiu-
se a seqUência lógica do texto e trabalhou-se a estrutura do conto. Para isso,
entregou-se um material com a síntese dos elementos estruturais que compõem o
conto. Aproveitou-se o conto "A Bela Adormecida" para os alunos identificarem os
24
elementos do conto. Essa atividade foi demorada, no entanto houve grande êxito na
atividade.
Depois dessa introdução, utilizou-se o recurso da internet para os alunos
efetuarem a leitura orientada de contos de fadas de autores clássicos, a partir de
uma lista, eles escolheram um conto de fadas e após um período de duas aulas
foram encaminhados para efetuarem a pesquisa. Após o conto lido e impresso,
houve tempo livre para realizar a leitura de outros contos de fadas. A atividade
tornou-se muito interessante, pois os alunos além do acesso aos contos tiveram o
recurso de imagens referentes aos textos. Percebeu-se que o aluno, ainda que de
oitava série, compreende melhor o texto, através do lúdico.
Na segunda parte da aplicação fez-se a desconstrução dos contos de fadas,
utilizando-se o conto "A Pessoa Mais - Atraente - Do - Que - A - Média -
Adormecida" para uma leitura silenciosa. Após, alguns alunos buscaram o
significado das palavras desconhecidas; simultaneamente realizava-se, com o
auxílio da professora, a interpretação do texto. Esta propunha um questionamento
sobre o comportamento do indivíduo oriental e ocidental. O autor procura defender a
cultura oriental, pois, segundo o mesmo, nesta valorize-se o ser humano como um
todo, ou seja, de maneira holística. O autor também questiona o casamento e
propõe um final contrário ao conto tradicional da Bela Adormecida: príncipe e
princesa não se casam e ela, a princesa, permanece entediada sonhando com um
parceiro ideal.
Percebeu-se que foi difícil a interpretação, pois além dos termos difíceis,
eles demonstraram maior preferência pelos contos tradicionais, os quais, mostram
uma vida mais “cor-de-rosa” e apresenta a célebre frase “foram felizes para sempre”.
Para a sequência dessa atividade trabalhou-se o filme Sherek como parte da
desconstrução dos contos de fadas, pois o filme trata de um ogro, Sherek, que mora
num pântano e tem sua propriedade invadida por personagens dos contos de fadas.
Aliado a isso há num reino vizinho o conde Farquaard que pretende casar-se com
uma princesa para obter mais poder. É aí que começa a desconstrução dos contos,
pois a princesa é mostrada como uma pessoa linda e que sonha com o príncipe
encantado. No entanto, é o ogro que a encontra presa numa torre e ambos
apaixonam-se. A princesa revela-se, também, como um ogro e vivem felizes para
sempre. Para a realização dessa atividade criou-se ambiência na sala de aula com
os recursos de telão, onde os alunos assistiram ao filme. Após isso, os alunos
25
discutiram o enredo presente no filme e responderam questões dirigidas pela
professora voltadas ao filme. Os alunos gostaram muito dessa atividade, já que
foram levados a refletir sobre o enredo do texto, o comportamento dessa ou aquela
personagem, o uso de muitas cores nas imagens do filme e principalmente numa
proposta diversa do usual em contos de fadas.
Para retomar a essa desconstrução dos contos de fadas, trabalhou-se o
conto da Chapeuzinho Vermelho dos irmãos Grimm: leitura dramatizada e análise do
mesmo segundo o autor Bruno Bettelheim que menciona que o conto traz elementos
que tratam da menina que deixa de ser criança e entra na puberdade; afasta-se do
relacionamento dos familiares para enfrentar seus medos, desejos e o despertar da
sua sexualidade. Por outro lado, o texto menciona, segundo o autor, a proteção de
que ainda esta menina necessita e que apesar de sua coragem para arriscar-se
perante o mundo, ainda precisa ouvir a família para não ser enganada por pessoas
que não fazem parte de seu contexto familiar. Ao efetuar-se a análise do texto, esta
causou algum estranhamento aos alunos, pois para eles parecia difícil acreditar que
a desobediência da menina Chapeuzinho não seria apenas um capricho, mas sim a
mudança dela para a fase púbere. Partiu-se, após a sequência dessa atividade, para
o filme "Deu a Louca na Chapeuzinho" que conta a historia do desaparecimento de
doces e receitas destes. São acusados desse desaparecimento o Lobo, o
Lenhador , Chapeuzinho Vermelho e a Vovó.
O final da narrativa encerra-se com uma proposta bem instigante: o vilão da
história é um singelo coelhinho todo fofo, que parece não oferecer perigo a ninguém.
Os aluno com embasamento do conto tradicional "Chapeuzinho Vermelho"
mostraram-se bem à vontade para identificar no contexto social quem podem ser os
vilões da história passando-se por uma pessoa gentil e muito benévola. Seus
comentários revelaram que eles poderiam ser vítima de alguém da família, de um
colega, de propostas mirabolantes e até das interferências da mídia. Ao concluir-se
o trabalho de desconstrução dos contos de fadas leu-se, ainda, o gênero textual
poema narrativo "Chapeuzinho Amarelo" de Chico Buarque de Holanda que narra a
história de uma menina que tem medo de tudo. No decorrer da história, ela
consegue superar seus medos e enfrenta o vilão representado pelo Lobo.
Novamente, os alunos identificaram que o medo não era trazido pelo próprio lobo,
mas sim pelos medos que desenvolvera em torno dos próprios receios outorgados
pela família.
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Ao desenvolver-se a parte artística, na qual, os alunos fizeram desenhos a
partir dos contos de fadas. A atividade teve o objetivo de inserir os alunos a
produção textual, ou seja, a partir dos textos pesquisados na internet, elaboraram
um novo começo, desenvolvimento e conclusão para o conto lido. As novas
propostas de construção foram lidas pelos alunos, e estes para a elaboração do
texto final, em duplas, criaram textos com uma roupagem mais contemporânea que
propunham desde narrativas mais lúdicas, problemas com o meio ambiente, sociais
e familiares. Os textos desenvolvidos, nessa etapa, tiveram uma classificação de
satisfatórios para ótimos. Pois de uma maneira geral apresentaram fatos bem atuais,
no entanto percebeu um problema bem crucial: o uso inadequado da pontuação, da
escrita e alguns poucos coM problemas de paragrafação, coesão e coerência.
Fizeram-se orientações por parte da professora, mas evitou-se correção individual
dos textos, pois a ideia era que os alunos digitassem seus textos e quando o
material estivesse exposto para a clientela escolar, os próprios alunos identificassem
a necessidade de maior organização dos textos.
No decorrer dessa atividade resgatou-se os contos “Chapeuzinho Vermelho”
e “Chapeuzinho Amarelo” com os quais alguns alunos ensaiaram os textos de forma
dramatizada para futura apresentação à comunidade. Para essa atividade
realizaram-se ensaios extra-classe, construiu-se o figurino e o cenário com ajuda
dos alunos. Aproveitou-se ainda os textos produzidos pelos alunos para que estes
estivessem dramatizando-as para futura apresentação à comunidade escolar.
Na aplicação do caderno de implementação tivemos um bom
aproveitamento por parte dos alunos, salvo os alunos faltosos que não tiveram o
acompanhamento necessário na compreensão das atividades. Das atividades
propostas houve dificuldade na discussão do conto contemporâneo "A Pessoa Mais
- Atraente - Do - Que - A - Média - Adormecida" do autor James Finn Garner , pois
havia palavras a serem buscadas no dicionário e a proposta do autor de uma vida
mais holística e um final contrário aos contos de fadas tradicionais, o qual, trouxe-
lhes estranhamento. Outra dificuldade encontradas foram a ortografia, pontuação e
coesão de alguns textos produzidos, pois percebeu-se, claramente, que alguns
alunos, tem este comprometimento na sua escrita, embora tenham-se empenhado
nas atividades e principalmente na demonstração dos resultados obtidos: coletânea
de textos, dramatização dos contos e textos por eles produzidos. Também tivemos
bons resultados na apresentação proposta à comunidade escolar e pais dos alunos
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envolvidos no projeto.
Esta apresentação aconteceu na última semana de novembro e para esta,
os alunos efetuaram várias apresentações nos turnos da manhã e tarde o que
possibilitou a todos os alunos desses turnos apreciarem os resultados que foram: a
encenação das obras "Chapeuzinho Vermelho", "Chapeuzinho Amarelo" ; a
dramatização de alguns contos contemporâneos elaborados pelos alunos e
apresentação da coletânea desses textos. O encerramento no turno da tarde
culminou com um chá apreciado pelos alunos e pais deste envolvidos no projeto.
Outra etapa que se desenvolveu simultaneamente foi a aplicação do GTR
baseado no Projeto “Uma Releitura do Gênero Literário Contos de Fadas”. Este
trabalho foi realizado "on line". Como tutora, coordenei nove alunos participantes.
Esta tutoria foi desenvolvida através de três temáticas, cada qual tendo como tarefas
o "Diário", atividade individual entre a tutora e o aluno e o "Fórum", atividade de
integração entre a tutora e os alunos participantes. A primeira temática, voltada a
apresentação dos alunos e a reflexão e a discussão dos mesmos sobre o tema
proposto no Projeto de Intervenção Pedagógica. A segunda, trabalhou a
apresentação da Produção Didático Pedagógica e a terceira, pediu aos alunos que
sugerissem propostas de implementação didático pedagógica votada ao tema
trabalhado.
Os resultados dessa tutoria foram muito enriquecedores, pois cada
participante ao seu modo refletiu sobre a proposta, comentou sobre seu trabalho em
sala de aula e propôs sugestões novas de como trabalhar o tema abordado. Segue
abaixo, de maneira mais geral as reflexões e propostas dos alunos. No quesito
reflexão, os alunos mencionaram a importância dos contos de fadas enquanto
indicadores de realidade e fantasia para os alunos, das condições sociais de
produção, de contextualização e de suas qualidades literárias no despertar do gosto
pela leitura ao nosso aluno. Para alcançar este objetivo, os professores vieram
somar com a proposta descrevendo algumas das atividades de práticas de leitura
que já desenvolvem ou que pretendem desenvolver.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término do presente trabalho, percebeu-se nos alunos um grande
interesse pela leitura. Dessa forma, sua maior atenção deu-se em virtude da
28
curiosidade nas histórias dos contos.
Os contos com final nada previsível tornaram-se objeto de questionamento,
tendo em vista que os que trazem um final feliz se configuram como maioria. Vale a
pena ressaltar que a curiosidade e a pesquisa nos próprios contos colaboraram para
uma melhoria significativa na leitura dos alunos, maior apropriação dos vocabulários
e mais entendimento acerca de palavras “novas”, ou melhor, desconhecidas até
então pelos alunos, devido ao pouco ou nenhum hábito de leitura mais assídua.
Contudo, notou-se o envolvimento dos alunos no projeto, gerando satisfação
e modificando as aulas de literatura, tornando-as mais interessantes e menos
entediantes, fato que possibilitou a adesão de grande parte dos alunos, buscando,
por si só, realizar as leituras e a reconstrução dos contos segundo suas vivências e
experiências pessoais.
Finalmente, a capacidade de interpretação dos alunos ficou evidenciada
quando da recriação da história lida, recontada, por eles, segundo sua interpretação
e, nesse momento, nota-se a universalidade do tema contido no conto que, embora
traga um significado diferente para cada aluno, teve alcance a todos,
independentemente de sua cultura e sua situação sócio-cultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARONE, Leda Maria Codeço. Apontamentos para a Construção do Sujeito Leitor. Construção Psicopedagógica, Vol. 15, no 12. São Paulo: Dez/2007
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 24ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010
BIASIOLI, Bruna Longo. AS Interfaces da Literatura Infanto Juvenil: Panorama entre o Passado e o Presente. Terra Roxa e Outras Terras – Revista de Estudos Literários, Vol. 9. Londrina, 2007
GARNER, James Finn. Mais Contos de Fadas Politicamente Corretos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996
LAJOLO, Mariza; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira. 6ª Ed. São Paulo: Ática, 1999
29
MATTAR, Regina Ribeiro. Os Contos de Fadas e suas Implicações na Infância. Disponível em: http://www.fc.unesp.br/upload/pedagogia/tcc%20regina20%-%20find. Acessado em: 24/09/2010
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Curitiba: 2008.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. 11a Ed. São Paulo: Global Editora, 2003
http://www.google.conm.br//search?html=ptr&source=hp&ga+origem+dos+contos+de+fadas&neta. Acessado em: 23/10/2010
http://www.google.com.br/search?hl=ptbr&sourch=hpg=a+origem+dapografia&