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UMA PROPOSTA DE RECONSTITUIÇÃO DOS MARCOS HISTÓRICOS INSTITUCIONAIS DO COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DOMINGUES DA COSTA - EFM.

CONCONHINHAS - PR

Adálcia Canedo da Silva Nogueira1

Dr. José Carlos da Silva2

RESUMO

A pesquisa pretende realizar o resgate da história institucional do Colégio Estadual José Domingues da Costa – EFM localizado na cidade de Congonhinhas - PR. Trata-se de uma unidade educacional do ensino fundamental e médio de natureza pública. Os estudos de recuperação documental e reconstituição histórica de instituições escolares, embora recentes, alcançaram densa produção e legitimada identidade epistemológica na tradição investigativa da história da educação brasileira. Busca-se manejar os instrumentais próprios da pesquisa histórica de abordagem qualitativa, que consistem precipuamente em levantar documentos oficiais e registros institucionais para compor a temporalidade histórica e social registrando-a no Marco Situacional do Projeto Político Pedagógico. Espera-se que a pesquisa produza uma sistematização documental e uma interpretação sócio-histórica referencial sobre a trajetória da escola na produção da História da Educação do sistema público de Educação do Paraná

Palavras-chaves: História. História da Educação. História das Instituições Escolares. Marco situacional

ABSTRACT

The survey intend to perform the rescue of the institutional history of the Colégio Estadual José Domingues da Costa-FSM located in the town of Congonhas-PR. This is an educational unit of elementary and middle public nature. The document recovery and reconstitution studies of his-torical educational institutions, although recent, dense production and legitimated identity reached epistemological investigative tradition of the history of Brazilian education. We seek to manage the own instrumentals of historical research, qualitative approach, which consist mainly in raising institutional records and official documents to compose the historical social temporal-ity and registering it in the Situational Teaching Political project Milestone. It is expected that the research produces a documentary systematization and a socio-historical interpretation about the trajectory of the referential in the school production of the history of education of the public education system of Paraná.

Key-words: History. History of education. History of School Institutions. Marco Situational.

1Mestrado em Educação pela Universidade estadual de Londrina - UEL (2012). Pedagoga da Rede Pública do Estado do Paraná. Docente na Universidade Estadual do Paraná – Campus de Cornélio Procópio.. 2 Doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (2009). Docente da Universidade Estadual do Norte do Norte do Paraná (UENP). Orientador do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.

2

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de intervenção foi decorrente do reconhecimento de uma lacuna existente

com relação à aplicação da pesquisa histórica, nucleada na pesquisa em Historia da Educação

para a constituição do Marco Situacional do Projeto Político Pedagógico PPP do Colégio Estadu-

al José Domingues da Costa – EM.

Com relação ao Marco Situacional do Projeto Político Pedagógico analisamos fontes

documentais acervadas no arquivo inativo e buscamos fontes orais para o registro sistematizado

da história da instituição escolar e sua trajetória no município em consonância com o projeto

político educacional do Estado e do País.

O Objeto de estudo derivou-se da constatação da particular carência de estudo no campo

da história da educação que efetue levantamentos e análises a partir da recente linha investigativa

fundamentada a história das instituições escolares que explicite histórico, econômico e

socialmente a inserção da instituição escolar no município de Congonhinhas.

A investigação produziu uma breve incursão no histórico da Escola Normal denominado

Escola Normal Regional para cuja finalidade a Instituição escolar foi criada na de 1960, a partir

das referências já vigentes na História da Educação brasileira consubstanciado da economia do

Estado nacional.

Entendemos ser interessante e necessário empreender uma breve reflexão sobre a Escola

Normal Regional no Paraná, na direção de compreender o descompasso entre os processos de

industrialização e de formação dos cursos profissionalizantes para as áreas rurais do interior do

Estado.

O presente estudo foi estruturado em três momentos. O primeiro momento, tal como

dispõe a referência metodológica que o fundamenta, estrutura-se na busca de uma síntese

histórica da economia do norte Pioneiro do Paraná e do município de Congonhinhas. No segundo

momento enfocamos a pesquisa bibliográfica e histórica documental com o recorte na história

instituições escolar como maneira de elucidar no Marco Situacional do Projeto Político

Pedagógico a gênese político pedagógica do Colégio. Por último, à luz do referencial teórico e

epistemológico assumido e, a partir da revisão bibliográfica necessária, e da pesquisa das fontes

primárias e orais, registramos a história do Colégio Estadual José Domingues da Costa – EFM,

Congonhinhas Paraná.

3

1.1 A ABORDAGEM METODOLOGIA

Tendo em vista à dimensão do estudo proposto, a investigação pretende investigar

documentos institucionais buscando interpretar e registrar seu constructo histórico,

caracterizando sua identidade institucional no tempo a partir do breve histórico do Norte

Pioneiro do Paraná, e do município de Congonhinhas.

A questão fundante que nos inquietou foi: Qual a relação entre a história documental da

educação e a dimensão da história posta no Marco Situacional do PPP? Quais seriam as

principais fontes históricas conservadas pelo Colégio? Nosso objetivo no cumprimento da

intervenção que hora finalizamos constituiu-se em inventariando as fontes histórias existentes

organizando o registro da história, subsidiar o Marco Situacional contribuindo com a reflexão

àqueles que compõem a instituição escolar, possibilitando a valorização de seu sentido histórico

e sócio político e fomentando um olhar analítico a instituição educacional considerando sua

prática social como ponto de partida e como ponto de chegada Saviani (2005).

O presente estudo produziu um documento da História do município e da unidade escolar

relevante ao Marco Situacional do PPP como materialização das circunstâncias históricas

vividas, e dos sujeitos que a produziram, situando desde a ampla conjuntura, até o seu entorno;

desde o passado mais remoto, até o passado mais recente da vida institucional escolar como

cultura organizacional a fim de compreendê-la no contexto dinâmico da produção da economia,

sociedade e política.

Optamos por uma investigação histórica de cunho qualitativo, e concepção dialética,

fundamentada pela revisão bibliográfica. Na fundamentação histórica, de abordagem qualitativa

o procedimento da pesquisa se dá na reconstituição dos fatos institucionais que já ocorreram,

registrando como ocorreram através do método histórico-descritivo. Qualitativa porque estará

envolvendo registros precisos e interpretação dos dados coletados, utilizando-se de descrição e

narrativa. E na concepção dialética da educação, porque se fundamentará no conceito de

realidade como totalidade.

Assim, buscamos interpretar a realidade conforme postula Saviani;

[...] E no âmbito da investigação histórico-educativa essa implicação é duplamente reforçada do ponto de vista do objeto, em razão da determinação histórica que exerce sobre o fenômeno educativo, e do ponto de vista do enfoque, dado que pesquisar em história da educação é investigar o objeto educação sob a perspectiva histórica. (SAVIANI, 1998, p.11-12).

Através da pesquisa documental levantamos as fontes primárias nos arquivos mais

prováveis, a começar pelo arquivo inativo de documentos na Secretaria do Colégio, documentos

do acervo do Núcleo Regional da Educação, fontes documentais no Departamento Municipal de

4

Educação no município, escolha criteriosa de fontes orais, para seleção e registro da história do

Colégio.

Consideramos nos apropriar de um referencial teórico-metodológico sólido e específico

pautando-nos pelos referenciais de Sanfelice (2005, 2006, 2007, 2009), Saviani (1998, 1999,

2005), Miguél (1992), Piloto (1953,1959,1960) e a produção do Histedbr3 para fundamentar o

tema proposto com a dimensão do recorte regional, reconhecendo os marcos cronológico e as

motivações ideológicas e políticas da organização de uma Instituição Escolar de formação pro-

fissionalizante no município de Congonhinhas.

O presente estudo não teve a intenção, ou a pretensão de desvelar todos os elementos

envolvidos na criação e trajetória histórica da referida instituição escolar. Evidenciamos e

registramos os que tivemos acessos a partir das escassas fontes e parco acervo documental

escolar. Contudo, cabe salientar que descobrir ou revelar dados não significa um trabalho de

coligir dados com uma visão de história estática, factual, míope. A esse respeito reforça

Sanfelice (2009):

[...] o singular - uma instituição específica - é um objeto único, delimitado no espaço e no tempo, dentre outras múltiplas instituições inter-relacionadas. [...] o estudo das Instituições escolares e ou educativas poderá acrescentar conhecimento histórico à história da educação se além de revelar as minúcias das singularidades escolares, inserir a compreensão e a explicação delas na totalidade (SANFELICE, 2009, p. 198).

E sendo este o enfoque, e perspectiva intencionamos apresentar elementos para a

compreensão do processo de formação econômica e produção social da identidade do Norte

Pioneiro do Paraná e dentro dela, os fatos históricos que marcaram a criação e da Escola Normal

Grau Ginasial, atualmente Colégio estadual José Domingues da Costa - EFM aprofundando o

significado institucional e as contradições, os registros e as lacunas historiográficas referentes a

essa unidade escolar.

3 Grupo de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação - Sediado na Faculdade de Educação da UNICAMP – SP, tem articulado desde 1986 a participação de grupos de pesquisa área de História da Educação em várias instituições de ensino superior, públicas e privadas do país.

5

2 OS BASTIDORES HISTÓRICOS E AS POLÍTICAS HEGEMÔNICAS DA

COLONIZAÇÃO DO NORTE PIONEIRO DO PARANÁ: CONTEXTUALIZANDO O

LENTO PROCESSO DE EXPANSÃO ECONÔMICA E SOCIAL.

Neste item pretendemos contextualizar a ocupação econômica e a formação social do

norte pioneiro, referência histórica fundamental para o entendimento e considerações propostas

pelo estudo. Nessa direção, buscaremos reconstruir algumas coordenadas históricas e políticas, já

densamente analisadas por estudos de estrita investigação histórica, para principiar a presente

proposição voltada para a dimensão de compreensão do fenômeno educacional. Esse intento

decorre da opção metodológica que empreendemos, na qual não se pode entender a questão da

educação separada das contradições econômicas e políticas.

Para que possamos analisar as atuais formas de organização social, as instituições e as

matrizes da cultura do norte pioneiro situamos suas origens na formação econômica do Paraná

que se efetua na transição do século XIX para o século XX, com a estrutural expansão da

produção cafeeira e a agregação de ciclos produtivos derivados e incidentais, como a pecuária

extensiva, a criação de porcos, as lavouras de milho, feijão e arroz em processo de minifúndio de

subsistência.

Em entrevista concedida o historiador Roberto Bondarick4 remete a uma economia à base

de troca, produção artesanal e os produtos para a venda eram o suíno (sistema de safra) e o

plantio de fumo que o porco não comia quando plantado no meio dos mangueirões. Vamos ter

registros de produção para o mercado a partir da construção da ferrovia na década de 1930.

A criação de porcos se dá entre a Serra da Esperança (Congonhinhas - Ribeirão do Pinhal

- Nova Fátima - Abatiá - até o Rio Itararé). Tivemos ainda no movimento ocupacional deste

espaço geográfico a extração de madeira (a peroba, principalmente). Os safristas foram

extraordinários desbravadores da região para a agricultura do café e, com a decadência

econômica da safra, tornaram-se os pioneiros produtores da economia cafeeira, mudança que

passa a caracterizar o processo ocupacional das terras do norte - paranaense com a adesão de

muitos safristas. Quanto à agricultura tivemos o plantio do café e de algodão. (BONDARICK,

2006).

As cidades se caracterizavam por prestação de serviços e comércio sempre voltado para o

campo, inclusive com a venda a crédito (Pagar na colheita ou na safra).

Segundo Bondarick (2006) essa ferrovia seria comprada e construída por ingleses como

um ramal da ferrovia conhecida como Sorocabana que ligava Santos a São Paulo passando por

4Mestre (2007), pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Ponta Grossa, Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Cornélio Procópio. Docente em História do Paraná e Formação Histórica Paranaense;

6

Ourinhos. Novos produtores e potenciais proprietários foram atraídos para a região, assim como

trabalhadores braçais, principalmente oriundos do Estado de Minas Gerais e do Nordeste que,

desprovidos de poder de compra e de crédito, vinham em busca de lograr vender sua força de

trabalho neste rincão agrícola brasileiro.

A área foi financiada por bancos estrangeiros, principalmente ingleses, e a propriedade da

terra se deu por colonos paulistas, mineiros e imigrantes que beneficiados pelo “Convênio de

Taubaté”5 estimavam lucros provenientes do café. Esse Convênio limitava o plantio de novos

cafezais nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, deixando livre para o plantio

de novas lavouras, regiões ainda não desbravadas como o Norte do Paraná, tal como aponta o

historiador Bondarick (2006).

Neste contexto, o desenvolvimento da região se deu a partir do da construção da

“Ferrovia”, portanto, as histórias da ferrovia e da colonização, o surgimento e organização do

comércio e o desenvolvimento das cidades se mescla.

As cidades nascentes se caracterizavam por serem núcleos de prestação de serviços e

comércio, sempre voltados para plantio de algodão, fumo, arroz, feijão e milho, inclusive com

difícil escoamento comercial com a venda a crédito (pagar na colheita ou na safra) dada à

péssima qualidade das picadas e estradas. Assim “a falta de meios para vender a produção fazia

com que a produção local fosse muito pobre” (STECA; FLORES, 2008, p. 126).

Todo norte velho ou pioneiro6, era colonizado principalmente por habitantes de São Paulo

e Minas Gerais e que eram detentores de capital e para cá convergiam atraídos pela fertilidade da

terra para o plantio do café, atividade que, em conseqüências das fortes geadas, e posteriormente

da trágica Geada Negra de 18 de julho, passou-se ao cultivo de algodão. Porém, os sertões do

Norte pioneiro tiveram suas picadas abertas por muitas outras correntes migratórias, econômicas

e sociais. A formação da economia do norte pioneiro paranaense teve como fator fundamental,

por tanto a cultura tardia do café, ou como postulam Steca; Flores (2008):

A questão da fronteira entre São Paulo e Paraná sempre ocorreu em razão da dominação inicial da primeira sobre a segunda Província. Se geograficamente foi fácil delimitar suas divisas, economicamente não foi [...] o medo do perigo paulista., ou seja, o medo de a elite paranaense perder a região Norte pioneira para são Paulo e, assim, ver diminuído seu poder frente ao crescimento da Região Norte. (STECCA; FLORES, 2008, p. 128).

Nessa matriz de produção das condições de vida material, centrada na exploração da terra

5 Firmado em 26 de fevereiro de 1906, definiu as bases do que se chamaria política de valorização do café, e oficializou a intervenção estatal para proteger o comércio e a elevação dos preços do produto.6 Costuma-se classificar como Norte Velho ou Norte Pioneiro como convencionou-se chamar, o conjunto de cidades e lugarejos formados a partir do fim do século XIX, ocupado mais intensamente pelos ciclos colonizadores do extrativismo da madeira, da exploração do mate, da ocupação da pecuária e criação extensiva de suínos, até nuclear-se na economia regional do café, efetuada entre 1910 a 1940.

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e de suas riquezas, combinadas entre si de maneira inorgânica e desarticulada, não há espaço

para o reconhecimento da educação como prioridade.

Nossa premissa é de que não é possível entender a educação ou a escola fora dos liames

da economia e sociedade, em seus movimentos estruturais. Essas coordenadas, de natureza

histórica, explicarão às marcas culturais e institucionais da gênese, desenvolvimento e identidade

da oferta de educação e da filosofia política de inspiração da Escola Normal Regional no Norte

do Paraná, quase que como uma missão emergencial, anacrônica e retardada, se tomarmos as

bases de compreensão da proposta burguesa ou moderna de relação entre ensino e produção

industrial e urbana.

Por fim, não se pode descartar o distanciamento sócio cultural da cidade de Jacarézinho,

que era o pólo regional dominante também no campo político e religioso. E nesse contexto

econômico, político e social, assim como em todo o Brasil, havia a carência para a formação de

professores na educação básica função para qual foi criada a instituição escolar como Escola

Normal Regional Alfredo Andersen ora denominado Colégio Estadual José Domingues da Costa

- EM

2.1 MARCOS REFERENCIAIS E APONTAMENTOS HISTÓRICOS DA

FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CONGONHINHAS.

Com a expansão cafeeira do Sul de São Paulo para o Norte do Paraná, deu-se a ocupação

da população de Congonhinhas inicialmente formada por paulistas e mineiros, vindos para a

Colônia Mineira, atualmente conhecida como Siqueira Campos por volta de 1854.

Com interesse de povoar o sertão paranaense e resolver o problema de mão de obra o que

poderia trazer rápida valorização da terra, atraindo povoamento de homens sedentários, utilizou-

se o sistema de aldeamento de índios às margens de Rios. De acordo com Steca; Flores (2008)

não havendo índios na região do vale dos Rios Ivaí e Jataí, foram trazidas índios Caiuás do Mato

Grosso para o Tibagi e erguido o Aldeamento São Pedro de Alcântara de fronte à Colônia militar

do Jataí:

Apesar de despovoado a regiões pertencia aos índios Kaigang, estes índios também eram chamados Coroado por cortarem seus cabelos à moda dos frades franciscanos. Eram famosos por sua hostilidade e por sua inimizade com os Cauiuás, que não tardaram a aparecer, o que deixou em pânico as populações que habitavam a colônia, Entretanto, cansados de lutar com outras tribos e de passarem fome, o que eles queriam também aldearem-se o que acabou sendo feito na fazenda São Jerônimo, de propriedade do Barão de Antonina (STECA; FLORES, 2008, p. 121).

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A Serra Jataizinho é a região dos atuais municípios de São Jerônimo da Serra, Curiúva,

Congonhinhas e Laranjinha. A população da Colônia Jataí era formada por paulistas, mineiros e

paranaenses. Segundo Wachowicz (1995) o que marca a vinda de mineiros para a região são os

seguimentos de tropeiros e proprietários de terra.

De acordo com o entrevistado Sr. Joaquim Canedo da Silva7 os primeiros moradores

chegaram ao sertão em 1924 quando se deu início ao povoamento de Congonhinhas. Quando

chegaram aqui as primeiras cinco famílias proprietárias de um quinhão (500 alqueires paulistas)

divididas igualmente entre as cinco famílias vindas da colônia Mineira, formados por imigrantes

vindos de São Sebastião do Paraíso, Estado de Minas Gerais, em sua maioria descendentes de

Portugueses e Espanhois. Já havia moradores na região e eram os índios embora fossem poucos.

As pesquisas mostraram tratar-se de remanescentes de do povo Caingangue visto que a maioria

tinha sido aldeados em São Jerônimo da Serra, Jataizinho e Laranjinha.

Segundo Canedo também já ocupavam o espaço geográfico desde 1923 as Famílias dos

Senhores Manoel Antonio de Paiva e do Senhor Francisco Faustino na hoje conhecida como

Serra dos Faustinos. E da mesma forma residiam na região às famílias dos Senhores João Felício

e José Felício.

Em 1926, José Domingues da Costa, José Carlos de Oliveira, Joaquim Luiz de Oliveira,

João Canedo da Silva e a Senhora. Eugenia Domingues da Costa, visando à formação de um

Patrimônio, doaram à Mitra Diocesana, uma área de nove alqueires de terras no Município de

São Jerônimo. Nesse mesmo ano, os fundadores da povoação mandaram construir uma capela de

madeira que teve por padroeira Nossa Senhora Aparecida.

Em 1924, chegaram à região José Domingues da Costa, João Canedo da Silva, José Luiz de Oliveira, Joaquim Luiz de Oliveira, Messias Teodoro da Costa e sua esposa, Eugênia Domingues da Costa, após adquirirem área de quinhentos alqueires de terras, dos quais foram separados nove alqueires e doados à Mitra Diocesana, para a formação de um povoado. (FERREIRA, 2006, p.89).

O Senhor Joaquim Canedo relata que a história que conhece é que Congonhinhas origina-

se da abundância da planta da erva denominada pelos índios congonha conhecida pela tradição

de seu abundante emprego como substituta do café. Segundo o entrevistado, ele se lembra que se

fazia chá de folhas de laranjeira e de qualquer erva que tivesse bom paladar, pois ainda não se

produzia o café na região e o seu transporte era bastante difícil, portanto o preço elevadíssimo

para as famílias pioneiras. Diz ele contam que o diminutivo Congonhinhas se deve ao minúsculo 7 Filho de João Canedo da Silva é o morador vivo mais antigo nascido e residente no município. Aos 82 anos é um dos safristas ainda vivos do Norte Pioneiro, daqueles que criou porcos em meio à roça, transportou-os a pé, no lombo de burro e progressivamente em carro de boi e carroção. Somente na década 1952 comprou o primeiro caminhão de Congonhinhas para transportá-los e também para transportar café para Paranaguá. Ele é História Viva do Norte Pioneiro. Entrevista concedida em 19/06/2012.

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tamanho das folhas da erva, mas que ele não sabe ao certo, pois a congonha dos índios que ele

conhece não tem a folha especialmente pequena por tanto fomos buscar colidir dados conforme

Ferreira (2006) ao afirmar que etimologicamente:

Congonhinhas Palavra formada pelo termo “congonha” acrescida do sufixo diminutivo feminino “inha”. O termo “congonha” vem do tupi “Cuã-cõi”... dedo gêmeo, designan-do espécie de planta, trata-se de uma variedade de ilecineas de folhas pequenas mais amarga do que a erva-mate, com mais forte dose de teína, que as nossas Leis conside-ram nocivas e condenam seu emprego ou mistura com a erva-mate legítima. Segundo Aurélio Buarque de Hollanda o termo “congonha” vem do tupi “kõ’gõi”... o que man-tém o ser. (AN, OB, AGC), (FERREIRA, 2006, p.89).

Nesta região a ocupação territorial ficavam muito distantes entre si, e por questões geo

políticas econômicas por decisão das autoridades de São Jerônimo da Serra franqueou-se os

impostos cobrados na época às pessoas que trabalhassem na derrubada da mata, formando um

caminho até Cornélio Procópio o povoamento foi iniciado.

Em 1.930, a freguesia foi elevada a Distrito de Polícia, e em 1.934 a Distrito Judicial de

São Jerônimo. Pelo Decreto-Lei Estadual nº 7.573, de 20 de outubro de 1.938 foi criado o

Distrito Administrativo de Congonhinhas pertencente ainda a São Jerônimo.

Em 26 de fevereiro 1945, por Decreto Estadual nº 311, Congonhinhas foi elevada a muni-

cípio tornando-se sede do Município de Araiporanga. Constata-se aqui o desmembramento, do

município de Congonhinhas que até então era Distrito de Araiporanga, elevando-se a município

no ano de 1945.

Através do Decreto Estadual n.º 140, de 16 de janeiro de 1932, o povoado foi elevado à categoria de Distrito Policial, nesta mesma data, mas pelo Decreto n.º 141, Congonhi-nhas foi elevado à de Distrito Judiciário, no município de São Jerônimo da Serra. O De-creto-Lei n.º 7.573, de 20 de outubro de 1938, criou o Distrito Administrativo de Con-gonhinhas. A Lei Estadual n.º 311, de 26 de fevereiro de 1945, criou o município. (FERREIRA, 2006, p.89).

Em 29 de dezembro de 1962 foi criada a comarca de Congonhinhas, sua instalação

ocorreu em 12 de dezembro de 1964 no regime político Ditatorial do governo de Getulio Vargas.

Neste regime político os governadores e prefeitos eram nomeados, e, portanto foram nomeados

prefeitos da nossa cidade neste período os cidadãos, 1º Flávio Maria Sobrinho, 2º Dr. Davi

Xavier da Silva, 3º Coronel Julio Pedro Ferreira e em 4º Ermelino Fulgêncio Durães.

Após sucessivas indicações realizaram-se as primeiras eleições em 19 de janeiro de 1945

sendo eleito por aclamação direta da população o prefeito Dr. Davi Xavier da Silva, que foi

também o primeiro médico a estabelecer-se nesta cidade. Dados que colidimos em Ferreira

(2006):

10Flávio Maria Sobrinho foi o primeiro prefeito nomeado e o dr. David Xavier da Silva o primeiro prefeito eleito. Segundo o pesquisador José Carlos Veiga Lopes, “em 1932 o município a que pertencia Congonhinhas era apenas São Jenônimo e não ainda São Jerônimo da Serra. Quando criado o município, a sede do mesmo foi transferida de São Jerônimo (então Araiporanga) para Congonhinhas e São Jerônimo foi extinto e incorporado a Congonhinhas. O Decreto 377, de 17/02/1932, extinguiu o distrito e Congonhinhas, enquanto o Decreto 1.096, de 15/07/1935, criou o distrito policial de Congonhinhas. Pela Lei 311, de 26/02/1945, foi transferida para o distrito de Congonhinhas a sede do município de Araiporanga (ex-São Jerônimo), que então tornou-se município.” (FERREIRA, 2006, p.89).

Fontes orais relatam que se tentou por duas vezes mudar o nome da Cidade. Na primeira

vez por Cereslândia no mandato do prefeito Osório Silva pelos idos de 1950 ou 1951. De acordo

com o Professor Santino Gonçalves8 o nome deriva-se da mitologia, pois Ceres era a deusa da

agricultura e Cereslândia designaria por tanto a “capital da agricultura”. Canedo conta que na

ocasião o Sr. Eduardo Nunes9 pautado por seu conhecimento empírico/religioso fazia a defesa da

troca do nome alegando que toda cidade com nome no diminutivo não se desenvolve, mas,

porém não obteve adesão dos concidadãos.

Em entrevista concedia Dr. César Nunes10 nos esclareceu que Ceres deriva-se da

mitologia romana e que era a deusa da fertilidade e da agricultura, particularmente dos grãos.

Era também conhecida como a deusa mãe e considerada como deusa da lei, da ordem e do

casamento. Na qualidade de deusa da agricultura, fez várias e longas viagens ensinando os

homens a cuidarem da terra e das plantações. Ceres era retratada na arte com um cetro, um cesto

de flores e frutos e tinha uma coroa feita de orelhas de trigo. Inclusive a palavra cereal deriva-se

de Ceres, comemorando a associação da deusa com os grãos comestíveis.

E ainda segundo Gonçalves houve uma segunda tentativa de mudança do nome da cidade

em 1952 pelos Senhores. Salvador Domingues de Campos e Virgilio Bueno para Nova Lourdes

em alusão a Nossa Senhora de Lourdes, visto que a Cidade vizinha, também alude a uma

padroeira das terras de Portugal Nova Fátima. Proposta que também não foi aceita pela

população.

A princípio a economia baseava-se na produção de arroz, milho, feijão, cana-de-açúcar,

que era utilizada para fazer rapadura e açúcar escuro. Havia também engorda de suínos e as

pessoas que trabalhavam com estas atividades eram chamadas de safristas. Não havia estradas,

somente picadas indígenas, onde só passavam cavaleiros e suas mercadorias como sal, açúcar,

querosene, vestimentas vinham de Pinhalão e eram transportadas em cargueiros no lombo de

animais e carros de bois, demoravam alguns dias para chegar.

8 Pedagogo É professor de geografia da Rede Pública Estadual. Foi Secretário Municipal de Educação de Congonhinhas (2009-2010) quando iniciou uma pesquisa ainda em andamento para reconstituir a História do município.Entrevista concedida pelo em 22/06/2012.9Antigo safrista do município e que aqui residiu até seu falecimento na década de 1980. 10 Professor livre docente e pesquisador da Unicamp. Filosofo e escritor brasileiro. Entrevista concedida em 23/06/2012.

11

De acordo com o Professor Santino Gonçalves11, para se abrir a primeira picada até

Cornélio Procópio, a Comarca de São Jerônimo instituiu o “Imposto do Fogão”. Cada cidadão

deveria pagar o imposto ou trabalhar cortando árvores, visto que a lenha era o combustível

utilizado para o cozimento da alimentação. Quem trabalhasse cortando árvore era isento de pagar

o referido imposto.

Segundo Carvalho; Silva (2007) a época eram tropeiros, o Sr Joaquim Adão, José

Celestino e outros. Havia os que faziam transporte em carros de boi sendo esses os Senhores.

Joaquim Luiz de Oliveira, José Carlos de Oliveira, João Canedo da Silva e somente quando se

abriu uma estradinha para Cornélio Procópio, foi que então começaram a vir cargas e carroções

de tração animal.

Em 1.937, construíram uma estradinha para Jataizinho, nesta época apareceram os primeiros carros, caminhões que transportavam porcos gordos e produção dos safristas para serem vendidos em Jataizinho. Em 1.938, começou a correr o primeiro ônibus que se chamava na época de “Jardineira”, era aberta dos lados, sem nenhum conforto, fazia o percurso de Congonhinhas à Cornélio Procópio e vice-versa Mais tarde, vieram ônibus da empresa Paraná e já eram bem confortáveis, o percurso era também para São Jerônimo da Serra. (Carvalho; Silva, 2007, p.22).

Nessa matriz de produção das condições de vida material, centrada na exploração da

terra, combinadas entre si de maneira inorgânica e desarticulada com a safra de porcos e cultivo

de lavoura de subsistência não há espaço para o reconhecimento da educação e da escola como

instituição social basilar ao desenvolvimento local.

3. BREVE HISTÓRIA DA ESCOLA NORMAL REGIONAL NO PARANÁ,

A partir da década de 1930 aventou-se a importância do papel do Estado na Educação à

necessidade da implantação de uma política nacional de ampliação do ensino, assim como a

expansão da escola pública, dada a necessidade de garantir o direito constituído à formação

escolar.

Entre a década de 1930 e 1940 surge o movimento ruralista, com uma fachada de alguns

ideais socializantes e humanistas, e naquele momento se propunha a discutir ideologizadamente

o papel da educação rural inserida no projeto de Estado nacional: esse discurso sobre a educação

rural está imbricado ou relacionado às questões de superpopulação urbana, desemprego, e

colonização interna. A escola para a cidade, para o meio urbano estaria definida como “natural”,

a zona rural, no entanto, aonde as forças civilizatórias ainda não chegaram, necessitava de uma 11 A história foi relatada por seu avô de geração a geração , Senhor José Gonçalves Idalgo (1902 – 1984) era de que tendo ele dez (10) filhos, cada semana um filho era enviado a ceifa de árvores para abertura da picada.

12

escola produtora de subempregos e de relativas práticas integradoras, capazes de fazer com que

homens e mulheres se sentissem adaptados ao meio. E, ao mesmo tempo, a escola deveria

preparar para que esse homem aprendesse o suficiente para relacionar-se economicamente e se

tornar produtivo no meio rural.

Conforme postula TANURI (2000) o Movimento Ruralista teve:

Propostas e iniciativas no sentido de ajustar os currículos da escola primária e normal às peculiaridades do meio. Buscava-se utilizar a escola para reforçar os valores rurais da civilização brasileira, para criar uma consciência agrícola e assim se constituir num instrumento de fixação do homem ao campo. Com vistas à preparação de professores especializados para o magistério na zona rural, defendeu-se a criação de “escolas normais rurais”, cuja denominação expressava não apenas a localização da escola em zonas agrícolas e pastoris, mas, sobretudo o objetivo de transmitir conhecimentos de agronomia e higiene rural. (TANURI 2000, p. 75).

A Lei Orgânica do Ensino Normal - Decreto Lei n. 8.530, de 2-11946, Capítulo III, inciso

4º normaliza os Tipos de Estabelecimentos de Ensino Normal, constituindo em três: o curso

normal regional (destinado o primeiro ciclo de ensino normal tão somente a regência do ensino

primário), a escola normal (destinado segundo ciclo desse ensino a formação geral de

professores primários com curso ginasial). E o instituto de educação (além dos cursos próprios

da escola normal, ministraria o ensino de especialização do magistério e de habilitação para

administradores escolares do grau primário).

No que diz respeito à formação de professores para as escolas rurais no Paraná, as

mesmas foram idealizadas a partir do modelo da educação mexicana, visando uma educação

adaptadora do homem ao meio rural e integradora do trabalho intelectual/braçal de acordo com a

realidade campesina, visando à fixação das famílias a terra. A adaptação da missão cultural

mexicana constituiu-se o germe da Escola Normal Regional no estado: instaladas as escolas,

jovens concluintes do curso primário poderiam, conforme dispunha Erasmo Pilloto, dedicar-se

ao ensino, tendo esses novos professores, após as devidas orientações, a responsabilidade de

agentes sociais das comunidades, reputando como meta complementar o aperfeiçoamento

cultural e profissional dos professores rurais, integrando homens e mulheres da comunidade ao

progresso cultural desejável à nação (PILOTTO, 1959, p.57).

No México a educação rural surgiu pós-revolução (1917) em decorrência da necessidade

de reforma agrária e melhor utilização de recursos naturais. Segundo Lourenço Filho, a política

Educacional seguia dois princípios: “o da ação federal no ensino e o da escola de Ação social”.

(LOURENÇO FILHO, 1952 p. 114). Foram então criadas as Missões Culturais que deveriam

arrebanhar jovens que no interior do país houvessem concluído o primário e fazer o necessário

convencimento para que se dedicassem ao ensino primário. Os jovens missionários deveriam

13

dirigir-se as localidades e lá permanecerem orientando os professores até o estabelecimento de

suas escolas.

A educação rural no Estado do Paraná era de extrema precariedade a as professoras da

zona rural mal tinham a formação primária, daí surge à inquietação quanto à necessidade de

levar, estender, a experiência das Missões Culturais para o interior do Estado. Esses jovens

deveriam permanecer algum tempo em cada localidade para orientar os futuros professores e

instalar escolas e os novos professores tinham por missão:

(...) atuar como mentores e líderes sociais desinteressados de pequenas comunidades, e cujos objetivos acessórios [eram]: procurar o melhoramento cultural e profissional dos mestres rurais e integrar a gente adulta da comunidade no progresso cultural médio desejável da nação. (PILOTTO, 1959. p. 57).

Portanto, as Escolas Normais Regionais poderiam ser cursadas ao término do nível

primário e preparavam professores para o magistério primário em escolas rurais ou isoladas.

Essa proposição representou uma política de formação de professores que buscou suplantar os

índices de carência de professores que sequer conheciam os rudimentos de leitura e da escrita

nos rincões do Estado.

Miguel (1992) relata que Pilotto adaptou as missões culturais mexicanas

experimentalmente para a realidade das escolas rurais das cidades de Palmeiras e Cerro Azul e,

que posteriormente vieram a tornar-se o núcleo inspirador para a realidade das escolas rurais

paranaenses expandindo-se para os sertões do Norte Pioneiro do Paraná, alcunhadas como

Escolas Normais Regionais. Trata-se da invenção de uma instituição que nasce de uma política

contingencial a ser adotada para o momento histórico e situação caótica da formação dos

professores da zona rural do Paraná. A Escola Normal Regional é, portanto, uma inovação de

Pilotto e uma pioneira originalidade institucional do Paraná.

Paradoxalmente, ao exorbitante numero de professores concentrados nos centros urbanos

maiores do Paraná, havia um déficit impar no interior do Estado, visto que as escolas normais

concentravam-se nas maiores cidades: Curitiba, Paranaguá, Ponta grossa, Londrina e

Jacarezinho:Estávamos vendo os passos da evolução final do processo de formação de professores no Paraná. A última medida de importância nesse sector foi à disseminação, no interior do Estado, de cursos normais regionais, isto é, escolas de formação de professores dentro do l° ciclo do grau médio, exigindo- se, porém, a idade mínima de 13 anos para ingresso. Isso em 1949 e 50. O caso é que, naquela data, mais da metade dos professores primários do Estado tinha apenas o curso primário ou mal tinha o curso primário. [...] E via-se o «déficit» no alarmante fato de todo o ensino da zona rural estar entregue a professoras comumente de formação eficientíssima, nos melhores casos de formação apenas de curso primário. (PILOTTO, 1953, p.97).

14

A matriz pedagógica dessa ação estatal fundamenta-se na concepção teológico-

pedagógica da Didática Magna de João Amós Comênio, a noção de escola democrática

unificada, entendendo que a educação deveria ser para todos independente de classe social ou

gênero, e assim a escola normal regional para formação de professores primários se constituiu,

aceitando alunos do sexo feminino e masculino, e sua ênfase não foi a ciência, mas a instrução e

moral. O ensino de dava a partir do que lhes era comum, “passo-a-passo e com muita ordem” ou

segundo Pilotto (1959):

(...) proceder passo a passo e acabadamente. Trata-se de um quadro de cinco pontos composto por I- ensino inicial da leitura; II- ensino inicial da aritmética; III- aulas ao ar livre; IV- recreação e V- Associações de amigos da escola e associações de ex- alunos (PILOTTO, 1959. p. 32).

Aqui vamos nos deter ao item V: a criação de Associações de Amigos da Escola. Baseada

no princípio de necessidade mútua entre comunidade e escola: um precisa do outro, Pilotto

igualmente criou outra inovação institucional no Paraná. Resultou da reclamação dos

campesinos de que as escolas isoladas não eram devidamente inspecionadas, e dos professores

do afastamento da família e da falta de sua cooperação com as atividades e necessidades

cotidianas da escola.

A organização simples e eficiente com objetivos bem definidos da experiência mexicana

instruindo criação uma Associação de Amigos junto a cada escola isolada rural serviu uma vez

mais como referencial para Pilotto. Uma associação de cada escola

Que reunisse os vizinhos, para um trabalho de fomento ã educação e amparo ã obra educativa escolar; tinham como função auxiliar a escola para que cumprisse seu mister de melhorar a vida do homem residente no local; conseguir locais para atividades esportivas, atividades agrícolas, para recreio das crianças, para aulas ao ar livre, ou obter mobiliário; auxiliar a manter a escola em boas condições de funcionamento, realizando pequenos reparos e melhorando as condições higiênicas; realizar esforços para assegurar matrículas e freqüência regular dos alunos; auxiliar o inspetor, a realização de festivais obtendo fundos e outras atividades necessárias ao bom andamento da educação (PILOTTO, 1959. p. 32).

Ou seja, o no bojo da concepção liberal está à sociedade assumindo responsabilidades do

Estado somada a escola normal regional criação de política de expansão emergencial das escolas

de formação de professores do secretário estadual do Paraná Erasmo Pilloto. Seu escopo

ideológico é eclético, de matriz escolanovista, assumindo seus ideais e concepções matriciais,

com sincretismos de matiz assistencialista e culturalistas, derivados dos princípios que marcaram

as missões culturais mexicanas, inspiradoras e modelares:

Daí a política de levar a escola normal para o interior, recrutar, em cada município, os seus alunos aí mesmo, entre moças do lugar, e que aí ficassem, depois, exercendo o

15magistério. Foram, dentro desse espírito, criados 24 cursos normais regionais [...] Qualquer um que fosse, então, ver algumas dessas escolas, veria que ardente espírito de idealismo se estava vivendo ali: Haveria de ver como mestres e alunos estavam identificados num colossal esforço em favor da escola. Como pensavam com grandeza no magistério. Como realizavam com o mais belo entusiasmo [...] (PILOTTO, 1953, p. 98).

O funcionamento desse Curso Normal Regional estava condicionado à existência de um

curso primário e de duas escolas primárias isoladas a ele interligadas e que serviriam de prática

pedagógica aos alunos deste curso. A formação do professor primário se constituía de uma

proposta de profissionalização especializada que o ajudasse a entender as necessidades da

profissão, assimilar a cultura geral e apropriar-se da formação da personalidade do educador.

Podemos considerar sobre os Cursos Normais Regionais que a concepção de Pilotto era de

natureza dualista: a formação dos alunos/as dos Cursos normais regionais previa dois níveis:

aqueles que compunham o grupo da média da classe e os que estavam acima dessa média, e isso

se considerando os pressupostos de inteligência e personalidade.

Ao outro contingente, se relegaria um “trabalho de caráter mais prático, mais de acordo

com o seu desenvolvimento, com as suas possibilidades” (PILOTTO, 1954); no entanto todos

receberiam uma educação geral sólida que lhes garantisse o domínio atrelado à função social

daquele contexto da análise das condições concretas com as quais os homens se relacionam para

produzir a existência, dos interesses divergentes produzidos pela divisão social do trabalho e

pelas forças contraditórias em que engendram o movimento da história. É ainda Pilotto (1954)

que descreve a pobreza e rudimentariedade de nossas professoras paranaenses nessa década, e

notadamente parecer manejar uma rigorosa analise econômica de base, destoando da cartilha

idealista e moralizante de muitos agentes políticos de sua época:

[...] E assim poderíamos continuar, por centenas de cartas que temos em nosso poder, e as cartas pertencem aos mais vários municípios do Estado, às mais várias regiões económicas, a zonas de culturas, diferentes, habitadas por homens de raças diversas, italianos, russos, caboclos, poloneses, japoneses, ucranianos... localizados em zonas de café, de mate, de trigo, ou de mineração, de serrarias. . As professoras não se conhecem umas às outras e todas falam num só tom e quase numa só frase. É a monotonia de um testemunho para compor o quadro mais vivo da nossa escola isolada rural. A implacável presença do fator económico, «... mas também quando faltam, não posso darinstrução». (PILOTTO, 1954, p. 77-78).

Que escola dar a esses habitantes tão diversos e economicamente desprovidos? Seguindo

este modelo, os professores, alunos do Curso, eram instados a promover a elevação cultural do

homem do campo. Elaborou também instruções que tinham por finalidade formar o professor

para ser um profundo conhecedor do meio no qual a escola estava situada, com consciência dos

problemas regionais e liderar a comunidade para a solução dos mesmos. Quanto à ação escolar

16

propriamente dita, os alunos deveriam estudar os problemas pedagógicos relacionados à região e

promover a cultura pedagógica orientando não só os pais dos alunos, mas toda a comunidade.

No currículo proposto para o Curso Normal Regional, previsto na Lei Orgânica do

Ensino Normal, Instituída pelo Decreto-Lei 8.350, de 02 de janeiro de 1946, as concepções de

educação, arte e cultura se inter-relacionam num ideário explicitamente escolanovista,

demonstrando como havia a intencionalidade da preparação cultural e a elevação do nível do

saber do povo, por meio da difusão do conhecimento e da cultura:

[...] Considere-se, ainda, a importância desse fato, não apenas do ponto de vista da formação para o magistério, mas da oportunidade de ampliação da cultura geral no interior do Estado. [...] Considere-se, ainda, que os cursos ginasiais do Estado [...] que abrigam 4 vezes mais que os cursos de formação de professores, custaram 24,08 % das despesas estaduais com a educação, isto é, quase dez vezes mais do que aqueles cursos. (PILOTTO, 1953, p. 98).

Além do baixo investimento explicitado no discurso textual o foco na cultura geral esta

evidenciada na matriz do Normal de Nível Ginasial para formação de professores primários, as

únicas disciplinas estabelecidas para as três séries que faziam parte da estrutura curricular do

Curso eram de arte e cultura geral.

Pilotto preocupava-se com a expansão da rede de ensino público em seu aspecto

quantitativo e intencionava organizar o sistema educacional e cultural e moderno sob

responsabilidade do Estado, articulando suas diferentes instâncias de modo a garantir qualidade

mínima de ensino escolar. E sob esta perspectiva econômica, histórico, político e educacional.

Preocupamo-nos, até aqui, em buscar compreender as relações existentes entre o contexto

social, o cenário político e sua influência histórica na educação e especialmente na criação do

Curso Normal Regional no Brasil, no Paraná. Em decorrência de nosso objeto regional, no próxi-

mo item analisaremos brevemente a criação da Escola Normal Regional Grau Ginasial na cidade

de Congonhinhas, um curso que nasceu da necessidade de enfrentamento ao analfabetismo, uma

unidade escolar com redentora atuação no cenário econômico e cultural da conjuntura político

dos anos 1950 -1960 vivida entre o e declínio da economia safrista e a tardia economia cafeeira

no município.

Esperamos evidenciar a particularidade da Escola Normal Regional Grau Ginasial “Alfre-

do Andersen” como marco histórico na formação docente de Congonhinhas e gênese do Colégio

do Colégio Estadual José Domingues da Costa, contribuindo para inseri-la na história política de

formação docente através da criação do Curso Normal Regional no Brasil, em face da ação polí-

tica e do pensamento de Pilotto (1953), ocorridas tardiamente no Paraná e, ainda mais, nas carac-

terísticas conjunturais do Norte Pioneiro.

17

Buscamos ter o contexto como foco visto constituir-se indicador fundamental para os

estudos de base histórica e educacional, como intencionamos. Para tanto, como veremos,

Sanfelice (2006) ressalta a importância das fontes historiográficas, em contraste com a lacuna de

registros e a pouca experiência de preservação de documentos em nossa identidade da pesquisa

educacional e produção de historiografia da educação brasileira.

3.1 BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO E DA HISTÓRIA DA ESCOLA NORMAL GRAU REGIONAL “ALFREDO ANDERSEN”, AO ATUAL COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DOMINGUES DA COSTA - EFM : RECOMPONDO O MARCO SITUACIONAL.

Abordamos a história da primeira instituição escolar de preparação para o magistério pri-

mário de Congonhinhas. Sendo uma instituição que começa a funcionar no ano de 1959 como

política pública emergencial, a Escola Normal Regional de Grau Ginasial só teria sua oficializa-

ção em 1965 e em 1966 se tornaria Escola Normal de Grau Colegial orientou-se por teorias esco-

lanovistas e foi implantada no modelo pedagógico proposto por Erasmo Pilotto (1953) para aten-

der as populações rurais ou isoladas, no período em que esteve à frente da Secretaria Estadual de

Educação e Cultura do Paraná entre 1949 - 1951.

Entendemos que a história das instituições escolares perpassa o registro dos fatos históri-

cos relevantes, mas nele não se esgota, porque a intenção que nos guia deve ser a de “[...] com-

preender e interpretar a própria educação praticada em uma dada sociedade e que se utiliza das

instituições escolares, como um espaço privilegiado para executá-la” (SANFELICE, 2006, p.

25).

O marco situacional, portanto a história institucional do Colégio José Domingues poderá

ser entendida se considerarmos que a resistência ou manutenção, a permanência ou mudança

ocorridas nos Cursos que aqui existiram está ligada a um posicionamento político ou como afir-

ma Saviani: “Toda prática educativa contém inevitavelmente uma prática política” (SAVIANI,

1999, p. 98).

Assim para compreender a proposta educacional construída elo coletivo não podemos

perder o foco e como já demonstramos o projeto de criação de um tipo de escola denominado de

Normal Regional foi idealizado e começou a ser implantado pelo Secretário de Estado Erasmo

Emiliano Pilotto, como política pública emergencial orientada por teorias escolanovistas para

profissionalizar professores para atender as populações rurais ou isoladas, no período em que ele

esteve à frente da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Paraná entre 1949–1951.

Então vejamos. Ao investigarmos os primórdios da educação em Congonhinhas

confirmamos junto as fontes orais o notório conhecimento da população de que primeiro

18

professor público a atuar no município foi o Sr. Norberto Sumbach, em 1.929, em uma escola de

madeira construída no povoado pela prefeitura Municipal de São Jerônimo da Serra, fato que

pudemos comprovar no Histórico oficial do município:

O que primeiro Professor a atuar no município foi o Sr. Norberto Sumbach, em 1.929, num Povoado chamado acampamento, construída pela Prefeitura Municipal de São Je-rônimo da Serra ficando até 1.934. De 1.934 a 1.950, em uma escola de madeira, que si-tuava onde hoje é Ação Social,12 vieram atuar como professoras as senhoras: Beatriz Martins de Almeida Castro e Diva Costa Vilas Boas (CARVALHO; SILVA 2007 p.23).

Mais tarde essa escola passou para o povoado de Congonhinhas, e o entrevistado Sr

Joaquim Canedo da Silva13 relata que no ano de 1949, duas décadas depois havia ainda uma

parcela de população campesina que não freqüentava a escola pública, pois a única “escolinha de

madeira” não comportava o a demanda existente.

Sem o que havia a questão das exigências da vida do campo onde os meninos eram

integrados ao trabalho, o período de safra, as distancias e o perigo de locomoção das crianças até

o povoado.

Desta forma, os agricultores pais das crianças da roça proprietários de terras pagavam

alguém que soubesse “mais” para ensinar os filhos homens a ler e escrever e a escola

invariavelmente tratava-se de rancho de construção pau-a-pique14 coberto de sapê situado em

meio ao sertão. O lanche constituía-se de merenda levadas em marmitas. Nestas escolas não se

conhecia caderno e lápis e o material escolar constituía-se em uma "lousinha" e "pedra de

escrever". Escrevia-se a lição passada pelo professor, resolvia-se a respectiva lição, o professor

corrigia e apagava-se para se escrever nova lição. Isso em todas as “matérias”, assim tudo

deveria ser aprendido e memorizado. Usava-se a palmatória na correção das lições dadas para se

evitar cometer erros, como por exemplo, a “tabuada cantada” (recitada sem interrupção num

mesmo compasso e tom de voz) ou o calculo mental. A classificação se realizava por livros que

o aluno avançava individualmente independente do coletivo da turma. Canedo afirma que foi até

o “quarto livro” em um ano, não tendo passado por exame classificatório. Considerando então o

patriarca da família que já soubesse o suficiente para o que fora enviado as letras, foi tirado da

classe e ingressou no serviço braçal na propriedade da família.

Aos 14 anos, tendo aprendido a ceara foi enviado para administrar a safra de criação de

porcos e aos peões que lá trabalhavam15. Sua família à época constituía-se ao todo em 22 irmãos

vivos, dos quais 10 eram mulheres, estas todas analfabetas. Vestiu sua primeira calça comprida e

12 Rua Dr. Davi Xavier da Silva – 34813 Entrevista concedida por Joaquim Canedo da Silva em 20/06/201214 Construção de troncos de árvores e piso batido de terra15 Lembra que tendo ele uma condição sócia econômica de filho de proprietário de terra, trabalhava, e dormia lado-a-lado com os peões no mesmo rancho em tarimbas feitas ripas de madeira de palmito e forquilhas de madeira. E era ela o cozinheiro de todos, não haviam mulheres na safra.

19

calçou seu primeiro sapato aos 18 anos de idade, assim como foi com todos os mancebos de sua

condição sócio econômica que vivia no campo: vestiam-se com camisolões, andavam,

trabalhavam e iam a escola descalços. Porém, muitas crianças de condições econômicas

empobrecidas, em áreas isoladas do campo eram destituídas de qualquer escolaridade,

permanecendo assim famílias inteiras analfabetas.

Podemos compreender este relato a luz da pesquisa de Steca e Flores (2008):

No Norte Pioneiro, sociedade no século IXI seguia os mesmos padrões das sociedades paulistas e mineira, o seja, latifúndio, uso de trabalho escravo e patriarcalismo. Não havia ainda se desenvolvido a cultura cafeeira. Plantavam algodão, fumo, arroz, feijão e milho. A comercialização era difícil. Não havia estradas que ligassem a região com o resto do Estado e, mesmo com São Paulo, eram picadas de péssima qualidade. A falta de meios para vender a produção fazia com que a população local fosse muito pobre. (STECA; FLORES, 2008, p.126)

Reportamo-nos ainda a afirmação das autoras Steca e Flores (2008) ao analisar que a

coragem, a obstinação e o esforço na produção da sobrevivência marcaram a gente do Norte

Pioneiro.

E nesse contexto econômico, político e social, conforme já analisado anteriormente, as-

sim como em todo o Brasil rural, havia a carência para a formação de professores na educação

básica.

Dalarosa (1999) afirma que a história, sendo produto da ação do homem, é um processo

dialético e resulta das contradições das relações sociais que transformam suas características. E a

função da história da educação é a socialização e a formação do ser para a vida em sociedade.

Qual seria exatamente o nosso papel, como pesquisadores da história da educação?

A história da educação tem a Função de provocar esta reflexão, pois definir os fins edu-cativos é definir ao mesmo tempo, a sociedade, a cultura, e o homem que se quer pro-mover... O estudo da história deve possibilitar compreender as relações de poder e os mecanismos de exclusão que se produz e reproduz em determinados contextos sociais, para poder alavancar mudanças que possibilitam a superação das condições de exclusão. (DALAROSA, 1999, p. 47).

E aqui gostaríamos de demonstrar que essa concepção de educação e sociedade pressupõe

que em economias baseadas na produção de subsistência não há exigência estrutural ou necessi-

dade de um sistema educacional universal, pois a escola acaba sendo espaço reservado para al-

guns ilustrados, e quase sempre a educação é realizada em condições precárias e emergenciais.

Trata-se do reconhecimento de uma intrínseca relação entre os interesses que movem as

relações econômicas, e as especificas diretrizes que regem a escola, a sociedade e a cultura como

derivação. Neste sentido, nosso pressuposto histórico contempla o pensamento de Gramsci

(1989) de que as relações econômicas históricas sociais e da cultura produzem os diversos pro-

20

cessos de formação de interesses do estado e da sociedade capitalista, dos quais se originam a

matriz da escola, e, portanto, de como a Escola Normal Regional de Grau Ginasial “Alfredo An-

dersen” desenvolveu um projeto sócio educativo para as camadas sociais que dela dependiam.

Abordamos a história da primeira instituição escolar de preparação para o magistério pri-

mário de Congonhinhas. Sendo uma instituição criada como política pública emergencial, a Es-

cola Normal Regional orientou-se por teorias escolanovistas e foi implantada no modelo pedagó-

gico proposto por Erasmo Pilotto (1953) para atender as populações rurais ou isoladas, no perío-

do em que esteve à frente da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Paraná entre 1949 -

1951. Para Gramsci:

Não se compreende nada da vida coletiva dos camponeses, bem como dos germes e fer-mentos de desenvolvimento aí existentes, se não se levam em consideração, se não se estuda concretamente e não se aprofunda esta subordinação efetiva aos intelectuais: todo desenvolvimento orgânico das massas camponesas, até um certo ponto, está ligado aos movimentos dos intelectuais e dele depende. (GRAMSCI, 1982, p. 13).

Assim o Curso Normal Regional de Congonhinhas, Norte Pioneiro do Estado do Paraná

que foi criada nos idos de 1959 como a Escola Normal Regional Grau Ginasial “Alfredo Ander-

sen”, durante o governo do Excelentíssimo Governador, Sr. Moysés Wulli Lupion de Tróia

(1956 – 1968) engendrou-se com relativa morosidade. É relevante observar que, a partir das fon-

tes a que tivemos acesso, a intenção de reconstituir seu marco situacional só foi possível em par-

te dado ao exíguo tempo disponibilizado para pesquisa. Não tivemos condições de analisar todo

o seu aspecto institucional. Ainda assim, buscamos as análises possíveis estabelecendo um deter-

minado perfil do Curso pelas fontes bibliográficas que tratam do Normal Regional no Estado,

principalmente através da produção de Tanuri ( 2000), Pilotto (1953; 1954; 1959; 1960) e Mi-

guel (1992;) com o recorte regional angariado e analisado as por meio Fichas Individuais dos

Alunos, e também coleta de fontes orais, visto não termos encontrado fichas individuais de pro-

fessores ou qualquer outro documento documental arquivada no Colégio

O Colégio ficou como guardião do arquivo inativo do extinto Curso que comprovem a

instalação do Curso Normal Regional Grau Ginasial “Alfredo Andersen”, como Decreto de ins-

talação, Autorização e Funcionamento. Dados obtidos demonstraram o fato de que não há no

acervo do Colégio uma coletânea que delibere sobre o funcionamento do Curso. E mesmo o Nú-

cleo Regional de Ensino também não dispõe de arquivo de legislação relativa à regulamentação

estadual que ordenou a vida do ensino Normal Regional, a estrutura e o funcionamento das Esco-

las Normais Regionais no Norte Pioneiro do Paraná, em função de ter sido criado na década de

1990, embora supostamente devesse ter assumido a responsabilidade sobre o arquivo documental

da anterior Delegacia de Ensino e, posteriormente, da Inspetoria Regional de Ensino.

21

Constatamos então que o Colégio Estadual José Domingues da Costa originou-se da

Escola Normal Regional Grau Ginasial “Alfredo Andersen”, funcionando desde 1959 de acordo

com as fichas individuais de alunos. Seus primeiros anos tiveram como diretora a senhora Ivone

Luiza de Carvalho, dado coletado do livro de Registro de Exames de Alunos da segunda série no

ano de 1960 e não tendo prédio próprio, a referida escola funcionava em dualidade

administrativa com o Grupo Escolar Osório Silva, utilizando-se de três (4) salas de aula no

período vespertino. Este Curso formou professores proeminentes no município s exemplo das

senhoras Beatriz Martins de Almeida Castro e Diva Costa Vilas Boas.

Pelas exigências econômicas e consequentes políticas educacionais, foi oficialmente

instalada como Escola Normal de Grau Colegial de Congonhinhas no dia 12 de dezembro de

1.965, de acordo com a Portaria nº. 6.517/65 expedida pelo Excelentíssimo Senhor Secretário da

Educação, Dr. Lauro Rêgo Ramos e em17 de novembro de 1965 foi designada a Prof. Neusa

Antonia do Rocio Borges para o expediente da secretaria da escola sendo nomeado Inspetor

Regional de Ensino, Sr. Paulo Sidrião de Alencar Freitas, o Professor Carlos Pucinelli em 14 de

dezembro de 1965 para responder pela Direção.

No dia 1º de março de 1966, numa das salas do grupo escolar Osório Silva ocorreu a aula

inaugural do Curso Normal de grau Colegial de Congonhinhas e os trabalhos escolares relativos

ao ano letivo de 1966 marcaram história no dia 02 de março de 1966. Neste ano a Escola normal

adotou o Currículo proposto pela Secretaria estadual de educação e Cultura (SEC) em face da

não aprovação do currículo organizado pela escola.

Constatamos através das fontes históricas que por um Ofício expedido pela Inspetoria

Regional de Ensino 16dirigido à Divisão do Ensino Normal da SEC, no dia 27 de setembro de

1966, o Inspetor do Ensino médio, Professor Milton A. Chaves propôs: 1º) dispensar o professor

Carlos Pucinelli da função gratificada de Diretor da escola; 2º) Designar a professora Neusa

Antônia do Rocio Borges para exercer a função gratificada de diretora da Escola a partir de 1º de

agosto de 1.966.; 3º Designar a professora Eraide Maruch da Silva para exercer a função

gratificada de Assistente Técnica da Escola normal de grau Colegial de Congonhinhas, tendo

sido a referida proposta aceita pelo Sr Secretario de educação e Cultura.

Destacamos que não foi possível desvincular o marco situacional do Colégio Estadual

José Domingues da Costa da história da profissionalização de professores para o magistério pri-

mário visto que a história dessa Instituição Escolar é marcada pelo funcionamento do Curso Nor-

mal Regional de Grau Ginasial no período que compreende entre 1959 a 1965, passando a Nor-

mal de Grau Colegial a partir de 1966 e preparou trabalhadores intelectuais para a docência na

rede pública municipal e estadual de Congonhinhas por longas gerações. Salientamos que como

16 Equivalente ao atual Núcleo Regional de Educação

22

Curso Normal Regional – Grau Ginasial (equivalia à 5ª a 8ª séries do EF) exigia para seu ingres-

so o exame de Admissão que tinha a função de selecionar os alunos egressos do então curso pri-

mário e o Grau Colegial ao 2º grau. A pesquisa comprovou que o número de alunos que presta-

vam o referido exame e eram aprovados era alto, entretanto esse número reduzia-se espantosa-

mente no processo de evasão e repetência durante o processo chegando um número ínfimo de es-

tudantes a conclusão dos 4º anos dos referido Curso.

A partir de 1966 exigia-se para o Curso Normal Grau Colegial, “Exame Vestibular” para

ingresso conforme consta na Ficha Individual de alunos aprovados, o que excluía determinado

contingente da população. Para inscrição exigis-se e está anexado a pasta de documentação do

aluno, Atestados de Saúde e de Boa Conduta dos candidatos do/a candidato/a. Marcadamente a

dualidade entre os profissionais da educação primária e secundária caracterizou-se fundamental-

mente pelo poder sócio econômico. Ou seja, reforça-se em instância local a figura da normalista

já destacada no Estado e na nação: formação de moças da elite.

A obrigatoriedade o exame de admissão e de vestibular funcionou como um mecanismo

de controle social restritivo de ingresso à determinada camada da população, visto que não havia

vagas suficientes nos ginásios para o contingente de egressos do ensino primário e os Cursos

Normais Grau Colegial eram considerados Cursos elitizados.

Outra questão é que se fazia aí uma espécie de estratificação social escolar, visto que o as

professoras da maior população que se concentrava na zona rural, por ausência de transporte es-

colar e pelas distâncias sem acesso a profissionalização continuou como “professora leiga”.

Observamos pelas fontes documentais que por ocasião do Grau Colegial equivalendo a

escola Secundária em 1966, e ao atual Ensino Médio motivou transferências de jovens congo-

nhenses de famílias que estudavam fora e que retornam de Nova Fátima, Curitiba para estudar na

cidade natal. Há também matriculas e transferências de jovens vindos dos municípios de Pinha-

lão e São Jerônimo o que nos leva a ponderar que o Curso foi formador de professores em nível

regional.

Neste período destacamos os/as normalistas que posteriormente seriam profissionais da

educação que lecionaram a gerações de Congonhenses, tais como: Lydia Duarte Machado, Be-

nildes Canedo da Silva, Carlos Augusto Donner Kluge, Maria de Lourdes Latance, Emilia Dutra

ferreira, Georgina Luiz da Silva, José Olegário Ribeiro Lopes Nicéia Ayub Juliano.

Em 17 de fevereiro de 1967, foi designada a professora Vânia Mírian Avelleda Sottile

para exercer a função gratificada de Diretora da Escola e em 14 de junho deste mesmo ano

designou-se para a função gratificada de Secretária da Escola Normal Grau Colegial, a

professora Josira Nunes de carvalho .

23

Conforme o PPP do Colégio, por volta de 1968 passou a ser a Escola passa a ser

nominada Escola Norma Estadual “Alfredo Andersen”. Não encontramos pasta de alunos e nem

Livros de exames ou qualquer outra fonte documental refere aos anos 1968 e 1969,

Em 1970 a Srª. Benildes Canedo da Silva17 assume a função gratificada de Secretária e

em 1971 assume a função gratificada da Direção Escola Normal Estadual “Alfredo Andersen” a

permanecendo até o ano de 1977 e na Secretaria a professora Nicéia Aiub Juliano. Em 14 de

abril de 1978, a pedido de sua diretora, assume a função gratificada da escola a professora

Nilséia Aiube Juliano e foi designada em vinte e dois de junho de 1978 para função de secretária

a professora Lurdes Olenanos Querubin. Assim são as sucessivas nomeações polítias aos cargos

administrativos, sendo que nenhuma escapou do marco do improviso e da precariedade, que foi

a tônica das políticas estaduais de muitos governos com relação ao investimento na educação

pública, especificamente com relação a formação de professores.

Somente a partir do ano de 1976, o Curso Normal Grau Colegial passa a ter sede própria18

quando na gestão no governo do Estado do Paraná, Sr. João Elísio Ferraz é construída a sede do

Ginásio Estadual de Congonhinhas, que passou a ser nominado Aídes Nunes da Silva e de

acordo com fontes orais, passou a ser nominar-se José Domingues da Costa em homenagem ao

benemérito que doou o terreno onde está construído o prédio do Colégio.

No ano de 1980 através do parecer nº 309/79, é aprovado em caráter provisório, o projeto

de implantação do Ensino de 2º Grau no Colégio Estadual José Domingues da Costa, de

Congonhinhas, com a programação das habilitações do Curso Magistério no período matutino e

Básica em Comércio no período noturno.

Pela Resolução nº 2.702/82 de 04 de outubro de 1982, ficou autorizado a funcionar o

Colégio Estadual José Domingues da Costa - Ensino de 2º Grau no município de Congonhinhas,

resultante da reorganização da Escola Normal Colegial “Alfredo Andersen”. Fica o

estabelecimento autorizado a ministrar as habilitações plenas Magistério e Básica em Comércio.

Posteriormente, na mesma década de 1980, é autorizado o funcionamento da habilitação

plena Técnico em Contabilidade pela Resolução nº 2.500/85 de 23 de maio de 1985.

Na década de 1990 são cessados definitivamente as atividades escolares da Habilitação

Auxiliar de Contabilidade e Habilitação do Magistério pela resolução nº 2.279/97 e autorização

de funcionamento do Curso de Educação Geral pela Resolução 2455/97, mudando-se então a

nomenclatura do Colégio através da Deliberação 003/98 C.E.E deixando se ser Colégio Estadual

José Domingues da Costa - Ensino de 2º Grau, passa a denominar-se Colégio Estadual José

Domingues da Costa - Ensino Médio.

17 Pedagoga. Diretora da Escola normal Grau Colegial (1971 -7977). Professora aposentada do Curso de Magistério.18 Está situado à Avenida Manoel Ribas, s/nº.

24

A partir do ano de 2008 tendo crescido a demanda de estudantes do Ensino Fundamental

- segundo Seguimento e tendo o prédio do Colégio salas ociosas, deixa sua tradição de formação

em nível secundarista que já não é profissionalizante e é autorizado pela resolução nº 3073/09 o

Colégio Estadual José Domingues da Costa, passou a ofertar o ensino fundamental ,

denominando-se então Colégio Estadual José Domingues da Costa – Ensino Fundamental e

Médio.

Portanto, Colégio Estadual José Domingues da Costa. Ensino Médio da Cidade de Con-

gonhinhas, sob a Jurisdição do Núcleo Regional de Educação de Cornélio Procópio - Pr19, ofere-

ce a modalidade de Ensino Fundamental e Médio no período matutino, vespertino e noturno,

com faixa etária 10 a 17 anos e alguns alunos com idades mais avançadas.

Como o município caracteriza-se economicamente pela pequena agricultura, pelo

funcionalismo público, comercio e do trabalho informal, o Colégio recebe é crianças e jovens de

situação sócio-econômica financeira de classe média baixa e sendo 60% dos seus alunos são

oriundos do campo, filhos de pequenos agricultores, assentados, beneficiários do programa

Banco da Terra e moradores dos patrimônios localizados na zona rural que sobrevive

financeiramente da cultura da terra. Os que estão na zona urbana sobrevivem dos setores

produtivos acima mencionados e da informalidade.

As famílias dos estudantes que compõe a comunidade escolar em sua maioria trabalham

na lavoura (60%) não dispondo de questões estruturais de transporte e de tempo para o

acompanhamento de seus filhos, comparecendo à escola com exceção se forem convocados.

Os alunos do período Noturno são trabalhadores, e na maioria sobrevivem de trabalhos

agrícolas, uma grande porcentagem na informalidade os mesmos compõe uma diversificada fai-

xa etária entre 14 a 40 anos. Assim podemos considerar que:

A população rural é vista como dados do IBGE é uma população condenada ao esqueci-mento. Com o avanço do capitalismo no campo, subordinadas à lógica do capital, cria-ram-se três problemas para os camponeses: um desenvolvimento desigual, um processo excludente que veio se caracterizar no êxodo rural e, por fim, um modelo de agricultura que produz relações sociais ora atrasadas ora modernas. Este capitalismo voraz e selva-gem gerou a concentração da propriedade e da renda, a concentração urbana, o desem-prego e a intensificação da violência, além de demarcar o urbano como superior ao ru-ral. (NASCIMENTO, 2009, p. 101).

Do quadro de docentes doze (13) pertencem ao quadro próprio do magistério, efetivos em

suas disciplinas, porém destes, o número de cinco (5) profissionais detêm seu maior numero de

aulas em outro estabelecimento de ensino, e apenas completam sua Carga Horária (CH) no

Colégio. Os docentes que completam o quadro atual de professores do Colégio são contratados

19Sede na Avenida Minas Gerais, 435,Centro, CEP: 86300-000

25

pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) e também dividem CH em outras instituições

escolares, sendo que um bom número tem CH mínima nesse estabelecimento.

Uma observação mais acurada quanto ao perfil profissional do atual colegiado

demonstra que no nível da formação 90% dos professores possui graduação em suas disciplinas.

Quanto à titulação do quadro atual de professores, nem todos estão habilitados para suas

disciplinas, todos os habilitados possuem pós-graduação lato senso (especialização) e somente

uma profissional possui pós-graduação stricto senso (mestrado em educação).

Observamos que há uma porcentagem de docentes que concentram CH mínima no

Colégio e pelo fato de não terem maior Carga Horária (CH) na Instituição de Ensino não criam

sentimento de pertença estando ausentes em Reuniões Pedagógicas e Grupos de trabalho visto

que lhes é dado opção de escolher participar na instituição onde detém maior CH.

O quadro de professores e funcionários demonstra ainda hoje estar constituído por profis-

sionais contratados por Processo Seletivo Simplificado (PSS) necessário para ajustes curricula-

res, demandas técnicas e de apoio sem concurso público. Esses profissionais têm as mesmas

obrigações daqueles concursados, porém, não dispõe dos mesmos direitos e estabilidade. Exem-

plo disso é de que o regime de trabalho como professor PSS não lhes oferece estabilidade funcio-

nal e férias remuneradas.

Sanfelice (2006) postula que a imersão feita pelos pesquisadores e suas tentativas em

compreender o que apresentam as Instituições escolares no processo histórico, exige que bus-

quem estabelecer relações para além de sua interioridade. Segundo ele, nenhuma instituição ma-

nifesta sua identidade plena em si mesma, por isso afirma Sanfelice, é fundamental olhar para o

seu entorno. Um entorno que se inicia bem junto a ela, mas que pode ser uma caminhada para

uma dimensão cada vez mais macro:

Mergulhar no interior de uma Instituição Escolar, com o olhar do historiador, é ir em busca das suas origens, do seu desenvolvimento no tempo, das alterações arquitetônicas pelas quais passou, e que não são gratuitas; é ir em busca da identidade dos sujeitos (professores, gestores, alunos, técnicos e outros) que a habitaram, das práticas pedagógi-cas que ali se realizaram, do mobiliário escolar que se transformou e de muitas outras coisas. Mas o essencial é tentar responder à questão de fundo: o que esta instituição sin-gular instituiu? O que ela instituiu para si, para seus sujeitos e para a sociedade na qual está inserida? Mais radicalmente ainda: qual é o sentido do que foi instituído? (SANFE-LICE, 2006, p.24).

Assim, podemos considerar que Congonhinhas é uma cidade que não concentra uma

agenda comercial ou industrial, neste contexto, o Colégio Estadual José Domingues da Costa

_EFM consubstancia-se em única opção para as camadas que estão à margem do processo eco-

nômico e cultural regional. Para os jovens do campo que compões a comunidade escolar, desejar

qualquer Curso profissionalizante em nível médio incide em seleção, pois não há vagas públicas

26

suficientes e a também em deslocamento intermunicipal, para o qual 60 % da camada estudantil

não dispõe de condições estruturais para financiamento. Parece-nos por tanto que,

Em relação ao espaço físico do Colégio, ao se estabelecer em prédio próprio na década de

1970 era composto de quatro (04) salas de aula, uma sala da direção e uma sala para

funcionamento da secretaria. Possuía três (03) banheiros, sendo um (1) masculino; um (1)

feminino e um (1) coletivo de professores; um (01) antigo vestiário reformado onde se

improvisou a cozinha, anexo um (01) cubículo que funcionava como sala do Grêmio Estudantil.

e pátio Coberto.

Na década de 1990 a rede física passou por um processo de reforma e ampliação e está

constituída atualmente de uma (04) salas de aula (01) sala aula improvisada funcionamento da

cantina escolar, espaço físico que foi construído com apoio financeiro da comunidade uma 01

biblioteca 02 (dois) banheiros anexos subdividida com divisórias de madeira em duas outras

salas: uma também improvisada em sala de aula e uma para a Equipe Pedagógica. Ressaltamos

que o improviso não permite às professoras pedagogas as condições exigidas de trabalho no que

tange privacidade e caráter de confidencialidade com relação ao atendimento a estudantes, aos

professores, aos pais e a comunidade externa. Possui ainda um (01) laboratório de informática,

também dividido em sala improvisada para professores, com dois (02) depósitos em anexo; três

(03) banheiros, sendo um (1) masculino, um (1) feminino e um (1) coletivo de professores; uma

(01) cozinha; um (01) pátio coberto; um (01) laboratório de Química, Física e Biologia; uma

(01) sala da direção; uma (01) sala da secretaria; uma (01) sala de Arquivo de Documentação

Escolar anexa a Secretaria; um (01) antigo vestiário reformado que funcionou como cozinha e

que agora funciona como saleta de entrega de leite; anexo um (01) cubículo que funciona como

depósito; uma (01) quadra coberta; uma (01) casa do caseiro; pátio gramado em frente do

colégio.

Apesar da ampliação física do Colégio se dá na década de 1990, mas o marco Situacional

nos autoriza dizer que não houve também ampliação da demanda e o número de salas de aula

não é suficiente pra o numero de estudantes matriculados.

Podemos analisar que não há equivalência na disponibilização do material humano, ou

seja, não existe um funcionário responsável pelo espaço da biblioteca que realize cadastro do

acervo e controle de empréstimos de livros, atendimento a usuários da comunidade estudantil ou

da sociedade que precisem ter acesso ao acervo da biblioteca. O próprio acervo da biblioteca do

aluno está constituído basicamente de livros didático públicos e os exemplares de todas as áreas

estão obsoletos ou são específicos de literatura. Parece ainda haver uma lógica perversa de que

os livros físicos estariam superados e que pesquisa se faz em sítios da internet.

27

Também não há um profissional capacitado como laboratorista responsável pela

manutenção do funcionamento dos micros, por fazer a atualização de programas necessários,

pela organização do laboratório de informática, mantendo-o preparado para que o docente das

diferentes disciplinas o encontre pronto para uso maximizando o tempo de suas aulas.

O Colégio existe a mais de 40 anos e a exigência de construção do Laboratório de

química física e matemática e biologia advém desde a autorização do Segundo Grau na década

de 1980 como requisito para registro de certificados do Curso profissionalizante, no entanto só

foi construído na década de 2000. Seu espaço físico é muito bom, mas faltam recipientes e tubos

de ensaio e materiais necessários ao desenvolvimento das aulas. A limpeza desses recipientes,

pias de alumínio requer tratamento especial, portanto, como no caso do laboratório de

informática, ou se tem um funcionário para a manutenção, ou se remunera hora/permanência de

laboratório para que o professor das disciplinas possa fazê-lo. Não há educação sem

financiamento, e não se faz qualidade sem o mínimo necessário.

O colégio possui espaço adequado para cadeirante pelo fato de não possuir escadas de

acesso ao prédio e nem nas suas dependências, porém não tem seu ambiente adaptado para

receber os portadores de deficiências físicas, pois não possui rampa, nem banheiro adaptados que

permita a acessibilidade e promova a inclusão.

Através de tópicos mais objetivos e potencialmente identificáveis, a demanda de matrícu-

las, a grade curricular, as nomeações e composições de agentes administrativos, as nomeações de

suas direções, a localização espacial e do espaço físico da escola, enfim, em todas essas aproxi-

mações logramos identificar e organizar os registros históricos, políticos e estruturais do Colé-

gio: o Marco Situacional de seu PPP.

28

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira questão que gostaríamos de analisar é porque optamos por escrever a história

do Colégio estadual José Domingues da Costa _ EM a partir do instrumental básico da

pesquisa . O componente que nos moveu foi a explicitação da necessidade de se registrar a me-

mória da educação como fato sócio histórico e social inalienável da história e da formação cultu-

ral de um povo, no caso específico desta pesquisa, da educação voltada para a cidade eminente-

mente rural de Congonhinhas.

A memória histórica, a imagem a representação reflete a relação que se faz com o concei-

to de ruptura do ciclo de pobreza do norte pioneiro pela via educação e, conseqüentemente, atra-

vés da profissionalização de professores. Ou seja, o processo civilizatório rural dependia da es-

cola e de seus profissionais. A escolha do objeto a ser estudado definiu todo o trabalho de pes-

quisa, pois se estabeleceu uma profunda relação de empatia com a descurada educação do cam-

po. Retrato das gentes do Norte Pioneiro, e das pequenas propriedades de agricultura familiar do

município de Congonhinhas

A pesquisa demonstrou que tem sido negada uma dívida histórica para com as populações

rurais, que têm sido marginalizadas pelos poderes centrais e assim depreciadas e mantidas à mar-

gem do processo de desenvolvimento e dos direitos democráticos. Inclusive, tendo sua escola ex-

cluída de um projeto histórico e político de educação que contemple desde a formação básica e

superior. Estudar demanda, portanto a 60% da população estudantil do município de Congonhi-

nhas uma tarefa árdua de deslocamento, desgaste e stress de viagens em condições nem sempre

propicias, ausência de material de pesquisa na zona rural, impossibilidade de permanecer na sede

em virtude dos fatores tempo/trabalho associados às questões estruturais alimentação e disponi-

bilidade de transporte escolar.

Notamos através da pesquisa o determinismo histórico que legitima a existência de uma

concepção, ainda dominante, de que a escola rural é inferior à escola urbana e, assim, a Escola

no campo, desde sua institucionalização, foi um resíduo em processo de extinção e não um

projeto necessário ao cultivo da identidade do homem e da mulher do campo como se pode

observar com o processo de desativação de 13 escolas situadas nos patrimônios rurais, sendo que

atualmente 60% dos alunos precisam ser transportados para as escolas na cede do município:

Em anos anteriores funcionavam as seguintes escolas rurais municipais: Escola Rural Mun. Belo Horizonte–Bairro Água Branca (desativada); Esc. Rural Mun. Duque de Ca-xias-Bairro dos Canedos (desativada); Escola Rural Mun. Marabá – Fazenda Marabá (desativada); Escola Rural Municipal Osvaldo Cruz – Bairro do Aíde (desativada); Es-cola Rural Mun. Princesa Isabel – Fazenda Bela Vista (desativada); Escola Rural Muni-cipal São João – Bairro dos Valérios (desativada); Escola Rural Mun. São José – Bairro Pedra Amarela – (desativada); Escola Rural Municipal Tiradentes – Fazenda Floresta

29( desativada); Escola Rural Mun. José Bonifácio–Bairro São Benedito ( desativada); Esc. Rural Mun. Nossa Senhora de Fátima – Faz. Suiça (desativada); Escola Rural Mun Frei Demétrio – Bairro dos Cunha (desativada); Esc. R. Mun. Nossa Senhora Apda –Faz. Acampamento (desativada); Escola Rural Municipal São Pedro – Quinhão oito (de-sativada); Escola Rural Municipal Padre Anchieta – Cessação Temporária. Devido ao movimento migratório da Zona Rural para a Zona Urbana levou a desativação da maio-ria dessas escolas . Hoje temos em funcionamento as escolas Rurais: Oscar Lunas e Vi-tal Brasil. E os alunos destas escolas desativadas são transportados para as escolas urba-nas Boas (CARVALHO; SILVA, 2007 p.25).

O que podemos ver, contudo, é que suas bases se legitimam nos fundamentos históricos

da educação brasileira e há que não há uma proposta alternativa para o Paraná, para o Norte Pio-

neiro do Paraná de um projeto que contemple política pedagógica ligada à história e à cultura das

populações campesinas, da educação infantil à universidade, para formação docente do campo

invertendo a lógica de estudar para sair do campo.

Procuramos demonstrar a relevância da História, da História da Educação e da História

das Instituições Escolares para a elaboração do Marco Situacional cujo papel é desvelar os

elementos estruturais determinantes do modelo de sociedade, e do projeto institucional e seus

profissionais implicando considerar as mudanças ocorridas em todas as camadas sócio-político-

econômico durante a trajetória da instituição e de que forma afetaram a política educacional da

instituição.

Em segundo lugar, o que se pretende com o marco Situacional é a explicitação de uma

conjuntura estrutural macro e não apenas uma análise da instituição na perspectiva micro, pois

isto pressupõe compreender-nos inseridos no processo histórico de nação, estado e região,

município, bairro onde a escola está inserida.

Nesta perspectiva, contextualizar a história que engendrou o projeto educacional do

Colégio e conhecer sua construção histórica, político e social possibilitou dialeticamente, ao

colegiado conhecer onde trabalha, a comunidade estudantil pressupõe ter noção da

processualidade vivida para que se pudesse ter acesso à educação formal, ao conhecimento

elaborado de forma a que se valorizem os bens que se possuem, especialmente os bens culturais

e, por suposto sua conservação.

Em terceiro, procuramos pontuar os dois aspectos basilares da estrutura da unidade

escolar: administrativa e pedagógica. Visto que, a primeira relaciona-se a gestão patrimonial

praticamente considera os elementos físicos e materiais como a arquitetura do prédio da escola e

a sua estrutura física, distribuição das salas, espaços livres, evidenciando-se suas possibilidades

e limites. Relativo à estrutura pedagógica, detém entre outras funções, a de teoricamente,

organizar as funções educativas para que a escola cumpra seu papel social com qualidade,

conservando sua memória pedagógica e institucional.

30

A organização de uma instituição ou unidade escolar voltada para fins emancipatórios

está em vinculá-la a uma trama de relações que se materializam em suas representações. Isto

quer dizer que o Marco Histórico institucional, precisa ser sistematizado a partir da pesquisa em

específico da história das instituições escolares, visto que contempla: fontes documentais,

história de vida de professores, das disciplinas escolares, da cultura escolar, de métodos de

ensino, de material didático, diretrizes pedagógicas e suas pressuposições políticas do padrão

arquitetônico, do mobiliário, da concepção espacial políticas educacionais,.

Nesta pesquisa, temos como fontes os documentos históricos, fontes orais, atas, quadro

de professores que guardam estreitas relações e se constituem hoje em fidedignas fontes

históricas.

Ao inventariarmos a História do Colégio Estadual José Domingues da Costa - EM

revitalizamos e reorganizamos seus registros históricos através do Marco Situacional do Projeto

Político Pedagógico da Instituição de Ensino entendendo que este é o momento do PPP em que

se dá a contextualização da realidade e nela inserindo a instituição escolar: como se configurou,

qual a relação histórica, sócio-econômico, político e cultural macro e como seu desenho na

cotidianidade da instituição escolar, como se configura atualmente.

Por fim, esperamos ter apresentado elementos para a compreensão do processo de forma-

ção econômica e produção social da identidade do norte do Paraná e dentro dela, as possíveis

motivações e supostas contradições que marcaram a criação e vida institucional do Colégio Esta-

dual José Domingues da Costa - EFM. Aprofundando seu significado histórico institucional, os

registros e as lacunas historiográficas referentes a essa unidade escolar.

Para melhor entender o contexto desta que Escola Norma de grau Ginasial “Alfredo An-

dersen” que legitimamente tornou-se Colégio Estadual José Domingues da Costa - EFM nos re-

portamos a Monlevade ao postular que Política Educacional é o: “conjunto de intenções e ações

com as quais os Poderes Públicos respondem às necessidades de escolarização dos diversos gru-

pos da sociedade”. (MONLEVADE, 2002, p. 42). E acrescentamos, em diferentes tempos e con-

textos históricos. O presente estudo é uma interpretação parcial, mas esperançosa desse evento

histórico e educacional, um convite a outros ensaios e reflexões, na consideração da polifonia da

vida e da história.

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5. REFERENCIA

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