uma líder que tem como missão formar líderes · explicou um dos primeiros pilotos da divisão...

3
A história leva-nos para o ano de 1956. O professor irlandês Anthony McKenna lançou-se numa nova aventura: criar uma escola que seguisse o currículo americano. Começando por se localizar num apartamento em Pedrouços, a escola hoje co- nhecida como Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) foi mudando de nome e de instalações ao longo dos anos, estan- do hoje situada em Sintra. Dos três aos 18 anos de idade, provenientes de cerca de 40 países di- ferentes, pelos cenários da CAISL cruzam-se aproximadamente 600 alunos, nascendo, assim, num mesmo espaço, um ambiente multicultural perfeitamente adequado para dar um impulso a futuras experiências internacionais únicas. A escola tem o apoio do Departamento de Estado Americano (US Department of State, Office of Overseas Schools), sendo o ensino reconhecido pelo Ministério da Educação português. Desde 1956 foram muitos os momentos que marcaram a história desta instituição. Viajando pela extensa cronologia são imensas as datas a assinalar mas vamos voltar, em particular, a 1997. Hillary Clinton, então primeira-dama dos EUA, vem a Portugal inaugurar as obras da escola no Linhó, um momento hoje materializado por vá- rias fotografias e uma pá com a sua assinatura, exibidas no adro principal das novas instalações. Por outro lado, o antigo Embaixador Americano Frank Carlucci deslocou-se a Portugal oficial- mente em 2012 apenas com o fim de inaugurar a última fase de expansão do campus da escola. E se é de líderes que falamos, nada melhor do que centrar atenções na figura de Blannie Cur- tis, atual Diretora da CAISL. E quem é Blannie Curtis? Esta é a pergunta que se coloca, desde logo, e que gerou um prolongado silêncio por parte da nossa entrevistada. “A minha educação foi toda feita com base no objetivo de ser profes- sora. Esta é a minha mentalidade. Não consigo pensar em mim mesma não sendo professora. O conceito de liderança abrange diferentes pontos de vista. Mais do que chefiar uma equipa, transmitir ordens e mostrar qual o melhor caminho a seguir, um líder está sempre presente para ouvir, aconselhar e ser um parceiro em todos os momentos. Como explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença entre um chefe e um líder: um chefe diz, vá! Um líder diz, vamos”, pintando assim o retrato de muitas organizações. Falamos em concreto da Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) que tem hoje como líder a figura de Blannie Curtis, uma eterna professora de inglês que se aventurou pela complexa rede das atividades fora das salas de aula e aceitou o desafio de ser diretora da CAISL. A Revista Pontos de Vista leva-o a conhecer Blannie Curtis, uma americana que se rendeu aos encantos de Portugal. UMA LÍDER QUE TEM como missão formar líderes Mas a determinado momento decidi que queria estar um pouco mais envolvida noutras ativida- des fora da sala de aula e comecei a estudar para ser administradora escolar, obtendo, para tal, um mestrado nessa área. Depois de ter passado pelo Colégio Internacional de Caracas, na Venezuela, vim para cá e tornei-me diretora da CAISL. Este é basicamente o resumo da minha vida profis- sional”, partilhou Blannie Curtis. Em nenhum momento da sua vida esperou ser o que é atual- mente. Essa é também uma das certezas deixadas por alguém que olha para a função dos diretores de escola como um “emprego estranho”. Muitos deles estudaram e exerceram as suas atividades como professores, envolveram-se nos currículos e abraçaram a missão de educar os líderes do futu- ro. Mas ser diretor de uma escola ultrapassa essa filosofia. “Trata-se, no fundo, de gerir um negó- cio. Temos de conhecer um pouco de tudo, desde legislação local, recrutamento de pessoal, gestão de recursos humanos. No meu caso em parti- 80 LIDERANÇA NO FEMININO Blannie Curtis na entrega dos diplomas durante a graduação dos alunos finalistas em junho de 2014. Tipicamente, cerca de 30% dos alunos da CAISL seguem os estudos nos E.U.A., 30% ficam em Portugal, 30% vão para o Reino Unido e os restantes 10% vão para outros países. Fotografia: emigus/net

Upload: others

Post on 20-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Uma líder qUe tem como missão formar líderes · explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença

A história leva-nos para o ano de 1956. O professor irlandês Anthony McKenna lançou-se numa nova aventura: criar uma escola que seguisse o currículo

americano. Começando por se localizar num apartamento em Pedrouços, a escola hoje co-nhecida como Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) foi mudando de nome e de instalações ao longo dos anos, estan-do hoje situada em Sintra. Dos três aos 18 anos de idade, provenientes de cerca de 40 países di-ferentes, pelos cenários da CAISL cruzam-se aproximadamente 600 alunos, nascendo, assim, num mesmo espaço, um ambiente multicultural perfeitamente adequado para dar um impulso a futuras experiências internacionais únicas. A escola tem o apoio do Departamento de Estado Americano (US Department of State, Office of Overseas Schools), sendo o ensino reconhecido pelo Ministério da Educação português. Desde 1956 foram muitos os momentos que

marcaram a história desta instituição. Viajando pela extensa cronologia são imensas as datas a assinalar mas vamos voltar, em particular, a 1997. Hillary Clinton, então primeira-dama dos EUA, vem a Portugal inaugurar as obras da escola no Linhó, um momento hoje materializado por vá-rias fotografias e uma pá com a sua assinatura, exibidas no adro principal das novas instalações. Por outro lado, o antigo Embaixador Americano Frank Carlucci deslocou-se a Portugal oficial-mente em 2012 apenas com o fim de inaugurar a última fase de expansão do campus da escola. E se é de líderes que falamos, nada melhor do que centrar atenções na figura de Blannie Cur-tis, atual Diretora da CAISL. E quem é Blannie Curtis? Esta é a pergunta que se coloca, desde logo, e que gerou um prolongado silêncio por parte da nossa entrevistada. “A minha educação foi toda feita com base no objetivo de ser profes-sora. Esta é a minha mentalidade. Não consigo pensar em mim mesma não sendo professora.

O conceito de liderança abrange diferentes pontos de vista. Mais do que chefiar uma equipa, transmitir ordens e mostrar qual o melhor caminho a seguir, um líder está sempre presente para ouvir, aconselhar e ser um parceiro em todos os momentos. Como

explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença entre um chefe e um líder: um chefe diz, vá! Um líder diz, vamos”, pintando assim o retrato de muitas organizações. Falamos em concreto da Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) que tem hoje como líder a figura de Blannie Curtis, uma eterna professora de inglês que se aventurou pela complexa rede das atividades fora das salas de aula e aceitou o desafio de ser diretora da CAISL. A

Revista Pontos de Vista leva-o a conhecer Blannie Curtis, uma americana que se rendeu aos encantos de Portugal.

Uma líder qUe temcomo missão formar líderes

Mas a determinado momento decidi que queria estar um pouco mais envolvida noutras ativida-des fora da sala de aula e comecei a estudar para ser administradora escolar, obtendo, para tal, um mestrado nessa área. Depois de ter passado pelo Colégio Internacional de Caracas, na Venezuela, vim para cá e tornei-me diretora da CAISL. Este é basicamente o resumo da minha vida profis-sional”, partilhou Blannie Curtis. Em nenhum momento da sua vida esperou ser o que é atual-mente. Essa é também uma das certezas deixadas por alguém que olha para a função dos diretores de escola como um “emprego estranho”. Muitos deles estudaram e exerceram as suas atividades como professores, envolveram-se nos currículos e abraçaram a missão de educar os líderes do futu-ro. Mas ser diretor de uma escola ultrapassa essa filosofia. “Trata-se, no fundo, de gerir um negó-cio. Temos de conhecer um pouco de tudo, desde legislação local, recrutamento de pessoal, gestão de recursos humanos. No meu caso em parti-

80

LIDERANÇA NO FEMININO

Blannie Curtis na entrega dos diplomas durante a graduação dos alunos finalistas em junho de 2014. Tipicamente, cerca de 30% dos alunos da CAISL seguem os estudos nos E.U.A., 30% ficam em Portugal, 30% vão para o Reino Unido e os restantes 10% vão para outros países.

Foto

grafi

a: em

igus/n

et

Page 2: Uma líder qUe tem como missão formar líderes · explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença

cular, tive de construir o campus escolar e, por isso, tive de lidar com toda a angústia associada a um processo de construção. Entre todas estas funções, nunca deixei de sentir a minha vocação e o gosto que tenho em trabalhar com os alunos porque é precisamente por isso que aqui estou hoje”, descreveu a responsável. No fundo, é como se existissem duas Blannie Curtis, uma mais di-recionada para o mundo do negócio e outra que nunca se esqueceu que o seu sonho sempre foi ser professora. Quando se fala em gerir um negócio, sendo mulher, as dificuldades são acrescidas? Como em tudo na vida, existem sempre dois lados que refletem diferentes perspetivas. “Por um lado é mais fácil porque julgo que as mulheres conse-guem ler melhor as pessoas do que os homens. Por exemplo, quando está numa reunião, ela ouve o que as pessoas estão a dizer mas vê que há sempre algo mais além disso”, explicou. Por ou-tro lado, quando se olha num ângulo de negócio, Blannie Curtis acredita que é mais difícil para uma mulher assumir a linha da frente, exemplifi-cando: “eu não consigo contabilizar as vezes em que já estive numa reunião com colegas do sexo masculino e eles julgavam que eu era a secretária. Isto acontece regularmente”.

A VOz FEMININA tEM PODERApesar de o facto de ser mulher nunca ter sido, em nenhum momento da sua vida profissional, um impedimento para chegar mais longe na sua carreira, Blannie Curtis tem consciência de que nem sempre olham para uma mulher como uma profissional com força suficiente para dar voz a um negócio. A atual diretora da CAISL assumiu

pela primeira vez um cargo administrativo na Venezuela e recorda esse tempo: “fui muito feliz durante esse período mas lembro-me de ter qua-tro diretores a entrevistarem-me em simultâneo para diretora do terceiro ciclo e de me dizerem que, uma vez que já tinham uma mulher na ad-ministração, não precisavam de outra. No fundo não acreditavam que uma mulher tivesse força suficiente para ter uma voz naquele contexto”. Para haver uma equipa de administração exem-plar, Blannie Curtis não descura o facto de serem necessárias duas perspetivas diferentes. Nem um homem é melhor gestor, nem uma mulher é me-lhor gestora. No fundo, são dois ângulos que se complementam em prol de um mesmo objetivo. “Não quereria trabalhar numa equipa como esta se fossem todos homens ou todas mulheres. Essa nunca seria uma perspetiva saudável”, salientou. Ambos têm os seus valores e seremos sempre uma equipa forte se tivermos todas as perspeti-vas”, ressalvou.

“tENhO O MEU CORAÇãOE A MINhA ALMA NA CAISL”

“Em primeiro lugar, nunca conseguiria gerir um projeto se não acreditasse no mesmo”. Quando questionada acerca dos alicerces que sustentam uma profissional de sucesso, Blannie Curtis não hesitou na sua resposta. Acreditar na missão da CAISL fundamenta o seu percurso profissional e pessoal. “Tenho o meu coração e a minha alma na CAISL”, confessou a diretora. Saber o que se está a fazer e qual a razão para que assim seja são dois vetores fundamentais para que se atinja um sentimento de realização profissional. Além disso, Blannie Curtis acredita que, com as suas

funções, está ainda a exercer um forte impac-to no Mundo. Trabalhar numa escola continua a ser uma função digna e, tanto ela como a sua equipa, têm essa consciência e desenvolvem os seus trabalhos de acordo com os mais elevados padrões de exigência. Sendo uma extraordinária profissional, Blannie Curtis não encara o suporte emocional e familiar como tendo sido elemen-tos fundamentais para o seu sucesso. Solteira, a diretora da CAISL tem uma extensa rede de

81

Breve percurso profissionalde Blannie Curtis:- Em 1975 termina a licenciatura em história, com minor em Inglês e Educação e em 1978 termina um mestrado em história; - Mais tarde, em 1993, termina o segundo mestrado, este em administração de escolas internacionais;- O seu percurso na educação começou em Louisiana como professora de Inglês e Estu-dos Sociais, chegando pela primeira vez a Por-tugal e à American School em 1984;- teve o seu primeiro papel de administração escolar como Principal do secundário no Co-legio Internacional de Caracas, na Venezuela;- Regressou à CAISL 1997 onde ocupou o car-go de diretora. teve como grandes conquistas o aumento do número de alunos, o desenvol-vimento do plano estratégico educacional e financeiro da escola e a construção do novo campus em Sintra;- Em 2009 fez o seu mais recente certificado em International School Counseling.

Page 3: Uma líder qUe tem como missão formar líderes · explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença

amigos que, devido ao seu estilo de vida inter-nacional, não vivem em Portugal. “Tenho bons amigos cá mas as pessoas que considero como membros da minha família estão, neste momen-to, um pouco por todo o Mundo. O Skype é, por isso, maravilhoso”, brincou. Há cerca de 15 anos nesta função, a CAISL significa hoje uma vida de trabalho. “Significa que estou a fazer alguma coisa certa por esta geração de jovens”, colmatou.

QUEM é A CAISL?Se, no início, procurámos saber quem é Blannie Curtis, importa também conhecer aquele que tem sido o seu principal foco de trabalho. Quem é, afinal, a Carlucci American International School of Lisbon? “É uma escola que tem como

principal preocupação o sucesso dos seus alunos. Queremos que cada jovem defina o seu próprio caminho de sucesso. Não lhes dizemos que para terem sucesso têm de fazer determinadas coisas e ter nota máxima em todos os exames. Não têm de ser estrelas de futebol. Têm sim de trabalhar arduamente e procurarem as áreas em que têm mais sucesso, perseguindo-as depois como se se tratasse de um sonho de vida”, salientou. Tudo nesta escola é feito a pensar no aluno, desde as atividades, às próprias instalações que refletem isso mesmo. O desenvolvimento da criatividade, do espírito de equipa, da solidariedade e da li-derança caminha lado a lado com uma educação que se quer ampla e completa. A amplitude do conhecimento é, aliás, um dos maiores benefícios de uma educação americana. “Provavelmente a grande diferença entre o sistema americano e outros consiste no facto de nós não etiquetarmos os jovens para tirarem grandes notas. É óbvio que

82

LIDERANÇA NO FEMININO

Alguns dados sobre a Carlucci AmericanInternational School of Lisbon:- Fundada em 1956 por Anthony A. McKenna, a CAISL era e ainda é a única escola americana credenciada e licenciada em Portugal;- Em 2001 a escola acrescentou ao seu título o nome de Frank Carlucci, embaixador dos EUA em Portugal, de 1974 a 1977;- é hoje gerida pela Fundação Escola America-na de Lisboa;- é acreditada pela New England Association of Schools and Colleges (NEASC) e o Council of International Schools (CIS);- Abrange o ensino desde o pré-escolar (três anos de idade) até ao 12º ano.- Atualmente, o corpo estudantil abrange cer-ca de 40 nacionalidades sendo que, 45% dos alunos são portugueses e a segunda naciona-lidade mais comum é a norte americana, com cerca de 15% dos alunos;- Nos últimos dois anos de escolaridade (11º e 12º anos), a CAISL oferece a possibilidade do estudante frequentar dois programas em simultâneo: o American high School Diploma e o International Baccalaureate (IB).

isso é fundamental, mas para ser um ser humano de sucesso tem que ter bem mais do que notas al-tas nos exames”, defendeu Blannie Curtis. Como país de segundas oportunidades, nos EUA há li-berdade para se ser o que se quiser. “Se um jovem estudou para ser matemático e, depois, na facul-dade, percebe que quer ser um artista, eu estou inteiramente do lado dele”, partilhou.É esta a filosofia da CAISL. Sendo uma escola de excelência, mais do que ensinar factos da histó-ria ou regras da matemática, aqui o objetivo será sempre o de ensinar o jovem a aprender, a des-cobrir e a pensar por si mesmo. Blannie Curtis, a eterna professora de inglês que nunca descarta uma ida a Nova Orleães todos os verões, deixou por isso uma mensagem aos seus pupilos: “acre-ditem em vocês e trabalhem para que essas cren-ças estejam sempre no devido lugar. Se algo cor-rer mal, voltem atrás, ultrapassem e continuem o vosso caminho”.

O campus atual da escola inclui, além dos edifícios académicos, um ginásio coberto de 1400 m2, mais de 10.000 m2 de campos de desporto exteriores e um centro de Artes que inclui salas de artes plásticas,

canto coral, orquestra e um teatro totalmente equipado com capacidade para 450 pessoas.

Pais a observar aluno a fazer experiência na Feira Anual de Ciência que tem lugar todos os anos em Fevereiro. A escola recebe alunos desde os três anos de idade. A educação americana baseia-se num equilíbrio entre o desenvolvimento académico, artístico e físico da criança.

Foto

grafi

a: em

igus/n

et Fo

togr

afia:

emigu

s/net