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Rev. IG. São Paulo, 16(1/2), 7-19,jan.ldez.l1995 UMA INTERPRETAÇÃO ALTERNATIVA DA ORIGEM DOS TURMALINA LEUCO- GRANITOS DE MAILASQUI, SÃO PAULO Paulo Cesar PRESSINOTTI Rubens Borges da SILVA Yociteru HASUI Femando Antonio Guimarães MARTINS RESUMO Os granitos de fonte crostal são importantes por constituírem forte inêlicação de ambien- te colisional e por serem potenciais portadores de mineralizações epigenéticas de inúmeros elementos litófilos iSn. W, Li, Be, U, Nb, Ta, ETR, etc.). . Apresenta-se aqui uma interpretação alternativa sobre a origem dos turmalina leucogra- nitos que ocorrem a norte da localidade de Mailasqui, Estado de São Paulo - o Granito de Mailasqui - e faz-se uma primeira abordagem do potencial metalífero deste tipo particular de plutonito ácido que ocorre nas proximidades da cidade de São Paulo. ABSTRACT Based on field, geochemical and geophysical data, an anatectic crosta! source is propo- sed for the tourmaline leucogranites from north of the town of Mailasqui, State of São Paulo, Brazil. In addition, an evaluation of their metalliferous potential is presented. 1 INTRODUÇÃO . O termo turmalina granito é utilizado para designar rochas de composição granítica que apresentam turmalina da série schorlita-dravita. Boro, um componente menor de rochas graníti- cas, encontra-se em concentrações maiores em turmalina granitos com teores variando de-0,2 a 0,3% de B203 em peso, podendo atingir até 1,0%. O feldspato alcalino normalmente é o microc1ínio micropertítico ou o ortoc1ásio, e a mica principal é a moscovita (comumente suposta primária), com biotita subordinada; os minerais acessórios são, caracteristicamente, peraluminosos (andaluzita, granada e cordieri- ta). A soma Qz + Ab + Or normativo tende a ser maior que 95%. Quimicamente, apresentam um enriquecimento de Si02 e K2O, bem como de elementos-traços e voláteis, o que é atribuído a fusões parciais altamente diferenciadas. Encraves básicos geralmente estão ausentes, existindo, contudo, encraves oriundos das rochas encaixantes. O modo de ocorrência é variável, podendo aparecer na forma de peque- nos corpos, como na província granítica herci- niana da Europa e na Tailândia (Main Range da Malásia), ou na forma de extensas massas graní- ticas, como nos "Upper Himalaias" (PICHA- VANT & MANNING, 1984). A importância econômica destes granitos reside na associação espacial de mineralizações de Sn, W, U, Be, Li, Au, ETR, etc., tais como aquelas que ocorrem nas províncias graníticas . hercinianas de. Portugal, Espanha e França ou mesmo na Tailândia (Sn, W). A descoberta dos turmalina leucogranitos de Mailasqui, pelos autores, decorreu da aplica- ção de um método de exploração mineral volta- do para selecionar áreas-alvo potencialmente favoráveis a mineralizações de Sn e W associa- das a plutonismo ácido (IPT, 1991). O método .envolvia a conjugação de vários mapas temáti- cos para detectar feições indicativas da existên- cia de corpos graníticos intrusivos aflorantes ou subaflorantes. A integração desses mapas (por exeJIlplo, intensidade de fraturamento, campos locais de fraturamento, anomalias aerorradiométricas e fotointerpretado) indicou a existência de um corpo granítico intrusivo dentro do batólito gra- nítico de São Roque, próximo à localidade de Mailasqui, SP (PRESSINOTTI, 1992; PRESSI- 7

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Rev. IG. São Paulo, 16(1/2), 7-19,jan.ldez.l1995

UMA INTERPRETAÇÃO ALTERNATIVA DA ORIGEM DOS TURMALINA LEUCO-GRANITOS DE MAILASQUI, SÃO PAULO

Paulo Cesar PRESSINOTTIRubens Borges da SILVAYociteru HASUIFemando Antonio Guimarães MARTINS

RESUMO

Os granitos de fonte crostal são importantes por constituírem forte inêlicação de ambien-te colisional e por serem potenciais portadores de mineralizações epigenéticas de inúmeros

elementos litófilos iSn. W, Li, Be, U, Nb, Ta, ETR, etc.). .

Apresenta-se aqui uma interpretação alternativa sobre a origem dos turmalina leucogra-nitos que ocorrem a norte da localidade de Mailasqui, Estado de São Paulo - o Granito deMailasqui - e faz-se uma primeira abordagem do potencial metalífero deste tipo particular deplutonito ácido que ocorre nas proximidades da cidade de São Paulo.

ABSTRACT

Based on field, geochemical and geophysical data, an anatectic crosta! source is propo-sed for the tourmaline leucogranites from north of the town of Mailasqui, State of São Paulo,Brazil. In addition, an evaluation of their metalliferous potential is presented.

1 INTRODUÇÃO

. O termo turmalina granito é utilizado paradesignar rochas de composição granítica queapresentam turmalina da série schorlita-dravita.Boro, um componente menor de rochas graníti-cas, encontra-se em concentrações maiores emturmalina granitos com teores variando de-0,2 a0,3% de B203 em peso, podendo atingir até1,0%. O feldspato alcalino normalmente é omicroc1ínio micropertítico ou o ortoc1ásio, e amica principal é a moscovita (comumentesuposta primária), com biotita subordinada; osminerais acessórios são, caracteristicamente,peraluminosos (andaluzita, granada e cordieri-ta). A soma Qz + Ab + Or normativo tende a sermaior que 95%. Quimicamente, apresentam umenriquecimento de Si02 e K2O, bem como deelementos-traços e voláteis, o que é atribuído afusões parciais altamente diferenciadas.Encraves básicos geralmente estão ausentes,existindo, contudo, encraves oriundos dasrochas encaixantes. O modo de ocorrência évariável, podendo aparecer na forma de peque-nos corpos, como na província granítica herci-niana da Europa e na Tailândia (Main Range da

Malásia), ou na forma de extensas massas graní-ticas, como nos "Upper Himalaias" (PICHA-VANT & MANNING, 1984).

A importância econômica destes granitosreside na associação espacial de mineralizaçõesde Sn, W, U, Be, Li, Au, ETR, etc., tais comoaquelas que ocorrem nas províncias graníticas

. hercinianas de. Portugal, Espanha e França oumesmo na Tailândia (Sn, W).

A descoberta dos turmalina leucogranitosde Mailasqui, pelos autores, decorreu da aplica-ção de um método de exploração mineral volta-do para selecionar áreas-alvo potencialmentefavoráveis a mineralizações de Sn e W associa-das a plutonismo ácido (IPT, 1991). O método.envolvia a conjugação de vários mapas temáti-cos para detectar feições indicativas da existên-cia de corpos graníticos intrusivos aflorantes ousubaflorantes.

A integração desses mapas (por exeJIlplo,intensidade de fraturamento, campos locais defraturamento, anomalias aerorradiométricas efotointerpretado) indicou a existência de umcorpo granítico intrusivo dentro do batólito gra-nítico de São Roque, próximo à localidade deMailasqui, SP (PRESSINOTTI, 1992; PRESSI-

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Rev. IG. São Paulo, 16(1/2), 7-19,jan./dez./1995

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Por: F. A. G. Mor!ins 8 FI C. Pressinotti.

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r+"'--+1 LEUCOGRANITO MAILASQUI. TURMALlNA

L:,:-_+...tJ LEUCOGRANITO (3b), FINO E NÃO-FOLIA DO

FILiTO, MICA'XISTO FINO E, SUBORDINADAMENTE,QUARTZITO E METACALCÁRIO

G';-;:;;"-J BLASTOMILONITO E GRANITO PORFIRÓIDE FOLIADO.L_.--~':J . -r~:~r-::=JGRANITO SÃO ROQUE. BIOTITA GRANITO COM MEGACR1S-

l:t..t~ fA~~ e~A66\D;r.A~~:OO:D~~~6~OM ~::~~~~I~~~~~~~t:-).

0,5t'!!I

O 0,5 1,0 ',5

--- CONTATO GEOLÓGICO DEFINIDO

'-'- CONTATO GEOLÓGICO APROXIMADO

--- FALHA

- - LINEAMENTOSFOTOGEOLÓGICOS

/ FOLIAÇÃO/XISTOSIDADE COM MERGULHO INDICADO

75°/ OU VERTICAL A SUBVERTICAL

&202 ~~~~g~~:F~c~M~~~~~~~~O~~~~~~RICO.

FIGURA 1 - Mapa geológico preliminar do Leucogranito Mailasqui.

NOTTI et ai., 1992). Reconhecimento geológi-co de superfície constatou a presença de um;tur-malina leucogranito, intrusivo e discordante noreferido batólito. Mapeamento geológico naescala 1: 50.000 (FIGURA 1) e levantamentogeoquímico por sedimento de corrente e con-centrados de minerais pesados foram efetuadospara avaliar seu potencial metalífero. .

Simultaneamente à descoberta e à avalia-ção do potencial estano-tungstenífero do grani-to de Mailasqui, OLIVEIRA et ai. (1991) efe-tuaram mapeamento geológico, na escala 1:50.000, da folha de São Roque, para oPrograma de Desenvolvimento de RecursosMinerais -Pró-Minério, assinalando a existên-cia de dois pequenos corpos de turmalina grani-tos ao norte de Mailasqui, com exposição ao

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redor de lkm2 e 0,5km2, de contatos eminente-mente intrusivos, composição variando de álca-li-granitos a. sieno-granitos, estrutura isótropa,podendo, localmente, exibir estruturas de fluxodado pela orientação pn~ferencialde prismas ouagregados minerais de turmalina.

ANDRADE (1992) apresentou mapa geo-lógico simplificado do Complexo GranitóideSão Roque - CGSR, São Paulo; descrevendo,entre outras, duas fácies peraluminosas distin-tas, sendo que uma' delas correspondia aos cor-pos.de turmalina granitos de OLIVEIRA et ai.(op. cit.). Posteriormente, ANDRADE (1993)reuniu estes corpos turmaliníferos sob a deno-minação de turmalina monzogranitos, e, sobcritériospetrográficos, litoquímicos, e tipologiado zircão, foi favorável ao modelo dessas

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rochas representarem o produto de fraciona-mento magmático, a partir de magma de linha-gem cálcio-alcalina (Complexo Granítico deSão Roque).

1.1 Objetivo

Este trabalho tem por objetivo apresentaruma interpretação alternativa sobre a origemdestesturmalinaleucogranitos,e tecerumapri- .

meira abordagem do potencial metalífero destetipo particular de plutonismo que ocorre nasproximidades da cidade de São Paulo, combase em levantamentos exploratórios efetuados,contexto tectônico regional e das rochas encai-xantes.

2 GEOLOGIA REGIONAL

No Estado de São Paulo, estendendo-sedesde a proximidade da barra do Rio dos Pilõescom o Ribeira até as cercanias da cidade deMairiporã, são reconhecidos vários complexosgraníticos de dimensões batolíticas (e.g. com-plexos graníticos de Agudos Grandes, SãoRoque, Itaqui, Cantareira, etc.); no conjunto,apresentam direção geral NE concordante coma estruturação regional. São limitados ao nortepor seqüências metavulcano-sedimentares eectiníticas do grupo São Roque (REGO, 1930;IPT, 1989) e, ao sul, por biotita xistos, gnaissese migmatitos do Complexo Embu (HASUI etaI., 1976). No interior de alguns desses comple-xos é comum a presença de encraves metasse-dimentares, limitados ou não por falhas (FIGU-RÀ2).

A semelhança lítica e estrutural dessa imen-sa massa granitóide com o "Complexo GraníticoTrês Córregos" (HASUI et aI., 1984) permitesupor, por analogia, que grande parte desses ter-renos tidos como granitos sintectônicos aindavenha a ser caracterizada como infracrustal gra-nito-gnáissica injetada por granitóides, à seme-lhança do que é reportado para o complexo gra-nítico Três Córregos (HASUI et aI., op. cit).

3 O GRANITO DE MAILASQUI

3.1 Petrografia

Macroscopicamente, trata-se de um turma-lina leucogranito porfirítico, de granulação finaa média, estrutura maciça ou, localmente, comfraca orientação. O estudo de 4 seções delgadasindicou composição modal 3b (IUGS 1973 -FIGURA 3 e TABELA 1), com um pequenopredomínio do feldspato alcalino - um micro-c1ínio micropertítico ou não (30 a 50%), sobreo plagioc1ásio - um oligoc1ásio-albita (30 a

40%); o volume de quartzo varia de 20 a 30% ea biotita entre 1 e 2%. Schorlita (turmalinapreta) pode chegar a um volume modal superiora 5% no granito. Mica branca, moscovita maissericita, encontra-se intimamente associada abiotita, outros acessórios incluem epídoto, apa-tita, carbonato e opacos.

Schorlita pode apresentar ocorrência pene-trativa e mesma textura que o granito. Foi con-siderada um constituinte primário por apresen-tarestruturas de fluxo - micrólitosde turmalinasuborientados e na forma de nuvens dentro dogranito e em veios aplíticos. Schorlita de natu-reza hidtotermal ocorre largamente distribuídaem veios de quartzo turmaliníferos, na formade massas compactas e. colunares, em veiospegmatíticos, podendo ainda apresentar-se naforma de rosetas com cristais aciculares de tur-malina.

3.2 Produtos de Alteração Metassomática

Com base em reconhecimento geológico eestudos petrográficos, foi localizado, até omomento, um único afloramento de rochametassomatizada, tendo sido caracterizadacomo quartzo-mica-turmalina graisen, ocorren-do numa superfície de uns 20m2,onde o termograisenizado grada para produtos argilosos(vide R-1528b FIGURA 1 e TABELA 1).Presença de mica pardo-esverdeada com volu-me modal de até 3% foi observada em outrospontos, em que análises litoquímicas no leuco-granito revelaram teores da ordem de 1.000ppm de F e 200 ppm de Li, sugestivos de pro-cessos de alteração.

3.3 Relações de contato

As relações de contato mostram c1aramt'm-te que se trata de um corpo intrusivo e discor-dante dentro do batólito granítico de SãoRoque, este último constituído predominante-mente por biotita-horblenda monzogranitocinza (ANDRADE, 1993), de textura grosseira,foliado e com megacristais de feldspato potás-,sico cinza. É notável o fraturamento da rocha

encaixante na zona de contato, por onde foraminjetadas apófises de material quartzo-feldspáti-co e turmalinífero. Na zona de contato nãoforam observados termos graníticos intermediá-rios.

É comum, no interior do leucogranito tur-malinífero, a presença de encraves com dezenasa centenas de metros quadrados do granitóideencaixante, que ocorre tanto na sua periferiacomo no seu interior.

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Rev. IG. São Paulo, 16(112), 7-19,jan.ldez.l1995

47°411'W23°30'5

48°00'W23°411'5

24°30'547o415'W

I>':.~>J Sedimentos Fonerozóicos

~ P.eg,matitase granitos turmgL-:...J l/n/feros

[I] . I-Mai/asquiVI . Leucagramtos 2 T'

T'

G - ICO- ICO

~ Granitos não Fofiados

[2]+ +

+ + Granitos Fofiados+ + +

47°30'W23°15'5

46030'W23°111'5

23° 30'S

2401li's4S0411'W

1.0 20 304fkm

I 8 Grupo Sãa Roque e .serra Itaberaba

~ Grupo Açungui

0 Complexo Embu

0 Complexo Amparo

FIGURA 2 -Quadro geológico regional.

STI<ECKEISEN 197:3 (fUGS)

10 -quartzolito (5i1exito)

Ib - granitóides quartzosos2 .alcali-feldspato gronito3 - granito (3a) (3b)4 - granodiorito15. tonalito6 -alcali-feldspato sienito7 - sienito8 - monzonito9 - monzodiorito

10 - diorito/gabro/anortosito

" prefixo "quartzo"

Q

A p

... turmalina

leucogranitomailasque

FIGURA 3 - Composição modal QAP doLeucogranito Mailasqui.

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4 POSSÍVEIS PROCESSOS ENVOLVIDOSNA GÊNESE DOS TURMALINA

LEUCOGRANITOS

A semelhança composicional de termosevoluídos da série cálcio-alcalina e dos produ-tos gerados por fusão parCial da crosta é gran-de, de tal modo que, para explicar a associaçãoobservada (granito cálcio-alcalino e leucograni-to), foram aventados quatro possíveis proces-sos, quais sejam:

a) diferenciação magmática de um magmacálcio-alcalino (CBSR), em que oS,ter-mos mais evoluídos corresponderiamaos turmalina leucogranitos. Com baseem estudos litoquímicos, diagramaspetrogenéticos.e tipologia de zircão,ANDRADE (1993) foi favorável a estahipótese;

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Valores expressos em porcentagem.P =presença, tr =traços, onde P > tr.* Turmalina leucogranito. Vide composição modal QAP, FIGURA 3.**Turmalinagraisen. .

Fonte: IPT, 1991.

b) de acordo com o modelo evolutivo dosgranitos cálcio-alcalinos proposto porWERNICK (1984), pode ocorrer gera-ção de granito por fusão, na base dacrosta, induzida por magma básico cál-cio-alcalino ascendente. ANDRADE(1993) fez menção a esta possibilidade;

c) a terceira possibilidade advém da reinter-pretação da origem dos granitóides cale-donianos e hercinianos iberianos (CAS-TRO, 1991), para os quais, na região daSerra dos Gredos, no Maciço Central daEspanha, demonstrou-se decorrer dainjeção de magma máfico num front deanatexia crostal, resultando numa asso-ciação final em complexos básicos, bio,.tita-homblenda granodioritos, cordieritagranodioritos e leucogranitos;

d) a quarta possibilidade corresponderia àfusão parcial de rochas crustais, queocorrem em zonas colisionais associa-das a zonas de espessamento crustal,com geração de plutonito tipo S.

Diante das relações de campo, do quadrogeológico local e regional, de dados geoquími-cos, petrográficos, mineralógicos e evidência

gravimétrica, serão apresentados e discutidosos fatores que levaram à interpretação de grani-to tipo S, em detrimento de outros possíveisprocessos; lembrando que variações químicasnão são conclusivas para suportar modelospetrogenéticos em granitóides; é necessário queas relações de campo sejam bem conhecidas(CASTRO, 1991). '

5 DISCUSSSÃO

5.1 Relações de campo

As relações de campo mostraram que:a) o granito Mailasqui corta discordante-

mente o granito cálcio-alcalino encai-xante - CBSR;

b) o CGSR é foliado, o que não ocorre como leucogranito Mailasqui. Isto permitedizer que o granito encaixante passoupor um evento de deformação que nãoafetou o leucogranito;

c) o CGSR é porfiróide, apresenta texturagrosseira, deformação dúctil, encravesmicrogranulares de termos mais primiti-vos. Não se encontram litotipos indica-tivos de porções apicais de intrusões

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TABELA 1- Composição modal do turmalina leucogranito Mailasqui

AMOSTRAS

MINERALOGIA *R-201 *R-202 *R-203 *R-1528a **R-1528b

MICROCLÍNIO 40 25-30 35 50PLAGIOCLÁSIO - - - - 20-25PLAGIOCLÁSIO (oligo-c1ásio-albita) 25-30 40 30-35 -

PLAGIOCLÁSIO (oligoc1ásio) - - - 20-25QUARTZO 30 30 20 20 25-30BIOTITA (+ mica branca) <5 <5 - - -

TURMALINA (afrisita) - - 10-15 <5 5-10MOSCOVITA - - - - 5-10MICA PARDO-CLARA - - - 5MOSCOVITA-SERICITA P P - -SERICITA - - P - 35EPÍDOTO P P - PARGILO MINERAIS P -

TITANITA - trAPATITA - - - trCARBONATO - - - PHIDRÓXIDOS DE Fe P P - -OPACOS tr tr - tr tr

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graníticas ou de processos de alteraçãoassociadas a cúpulas graníticas. Essasfeições são características dos corposposicionados em níveis mesozonais,atualmente expostos pela erosão;

d) o leucogranito Mailasqui apresenta tex-tura eqüigranular média a fina. São inú-meros os encraves do granitóide encai-xante, tanto na periferia como no inte-rior do leucogranito. Sua intrusão estáassociada a regime tectônico fÚptil, emque se tem, junto ao contato, notávelfraturamento da encaixante por onde foiinjetado material turmalinífero, tendosido observado até mesmo megacristalde feldspato potássico rompido por veioaplítico. Outros pequenos corpos de leu-cogranitos intrusivos e discordantesforam detectados ao redor do corpoprincipal (FIGURA 1). Estudos deexemplos de turmalina leucogranitosque ocorrem na forma de pequenos cor-pos têm demonstrado tratar-se de intru-sões alojadas em altos níveis crustais,com pressão litostática menor que 3kbar(PICHAVANT & MANNING, 1994).

Estes dados convergem no sentido de que'o CGSR já estava alojado, solidificado e defor-mado, quando foi intrudido pelo leucogranito,ou seja, que estes corpos são diácronos.

5.2 Dados geofísicos

A FIGURA 4 apresenta uma anomalia gra-vimétrica indicativa de espessamento crustal.Associados a esta anomalia encontram-se os tur-malina granitos de Perus, Tico-Tico e Mailasqui,sendo que o granito Tico-Tico aflora na formade um corpo elíptico, alongado e foliàdo nasbordas segundo N80oE,direção esta coincidentecom o traço axial da anomalia gravimétrica.

Com relação aoturmalina granito Tico-Tico,é composto basicamente por quartzo, microclí-nio, plagioclásio e biotita, e os acessórios maiscomuns são granada, turmalina, moscovita e zir-cão (PENALVA & HASUY, 1970). Estudosgeocronológicos pelo método Rb-Sr em rochatotal, efetuados por TASSINARI (1988), indica-ram idade de 700 :t 140 Ma com razões iniciais87Sr/86Srde 0,706 :t0,0015 e 0,711. Apesar doserros relativos às determinações (TASSINARIop. cit), a razão inicial obtida é elevada.

Os turmalina granitos de Perus ocorrem naforma de pequenas bossas. A intrusão dos tur-malina granitos parece relacionada a um anticli-nal, aparentemente do tipo isoclinal com planoaxialE- W e mergulho forte para norte. Sãorochas leucocráticas, de granulação variando de1 a 5 mm, constituídas essencialmente de quart-zo, plagioclásio sódico e micropertita, tendocomo acessórios apatha, alanita, granada, rarís-

23°00'

-?O~

-~:~ ~.__~~~~e-60~;~

Bo.. Qrovlmitrlco: IPT (1987)24°00'

LE.GENDA

...--78- Linha isogólica (eQuidistõncia 2mgal)

'\/, ,.FIGURA 4 -Mapa Gravimétrico'Bouguer.

12

Alinhame'ríto grav,méfrlco

Pegmafif08 e grQnilOS furmaliníferas

Turmalina leucogranifos ~--~io~~o_sf~~~

10 20 30 40km

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simas palhetas de moscovita e, mais importante,turmalina. A turmalina, mineral na maior partesecundário, aparece em porcentagem até supe-rior a 10% na rocha. A uma porcentagem de nãomais de 10% do total da turmalina da rocha éatribuída origem primária (HASUI, 1963).

A associação anomalia gravimétrica indi-cativa de espessamento crustal e granitos comturmalina não é fortuita no Estado de SãoPaulo. O mapa gravimétrico doESP (IPT,1987) apresenta um alinhamento de linhas iso-gálicas, definindo uma anomalia gravimétricacom amplitude maior que 50 mgal, com direçãoparalela à costa e gradiente de 1 a 2 mgal/kmdescendente em direção ao continente. A zonaaxial desta anomalia é balizada pelos lineamen-tos de Itapeúna e Ribeira. Posicionado no traçoaxial desta anomalia, PRESSINOTTI (1992)descreveu turmalina-ákali-feldspatos granitos emoscovita granitos com granada e turmalinacomo acessórios (granitos Areado e Serra daBoa Vista). A repetição dos fatos observados,ou seja, anomalia gravimétrica com indicaçãode espessamento crustal e ocorrência de turma-lina granitos, é considerada como uma evidên-cia de relação causa e efeito.

5.3 DefQrmação

A FIGURA 5 foi obtida através da compi-lação e simplificação dos dados estruturaisexistentes nas folhas geológicas de Cabreúva

.7°0(:

.""'- Fotollneamento, foliações

-'-, -Y - Slnformaouolnclinal sem ou com flanca Invertido

- t- . y. Anti10rma'.ou anticlinal .em ou com flanco Invertido

- Folha

Falha provóvel

c;> Zona 0.101 da ari~malla oravlmétrlca (FIGURA 6)

(SANTORO, 1984), Santana do Parnaíba (IPT,1984a) e Guarulhos (IPT, 1984b). Nesta FIGU:.RA observam-se:

a) a associação existente entre granitos-gnáissicos elíticos e zonas de cisalha-mento, em que a maior intensidade dedeformação fica evidenciada nas mar-gens desses corpos, em situação sugesti-va de, até mesmo, estiramento; e

b) na zona éoincidentecom o traço axialdaanomalia gravimétrica,os traços de folia;;.ção tendema se posicionarsegundoa dire-ção E-W. Numa escala de maior detalhe,o mapa geológicode Santanado ParnaJba(IPT, 1984a, esc. 1:50.000) mostra que,além da foliação;vários traços estruturais(eixos axiais de dobras, clivagem ardosia-na, lineações decrenulação, etc.) tomamdireçãogeralE-W na zona considerada.

É neste contexto de anomalia gravimétricaregional, deformação e descontinuidade estru-turais que afioram os granitos turmaliníferos dePerus, Tico-Tico e Mailasqui.

5.4 Dados petroquímicos

BATCHELOR & BOWDEN (1985) utiliza-ram os valores catiônico-moleculares de DE LAROCHE et aI. (1980) na proposição de diagramadiscriminante de sete campos tectônicos, segun-do um trend de evolução compatível com o ciclode Wilson. O resultado obtido para o granito

46°45'

I ~~;' IPeomatltos e ~ranltos turmallnfferos

23°30'46°30'

~ Granitos não- follado.

~ Granitos ov6ides e foliados

fotolineoinentos compilado de.: SANTORO(1984)IPT (19840)IPT 11984b)

.p Ocorrência mineral

O) Envollório doo minerol'l zo~õ.o ou':feroo

FIGURA 5 - Relação entre domos granito-gnaissicos ovóides e foliação.

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Mailasqui, em duas amostras estudadas, indicouo campo dos granitoscrustais (FIGURA 6a).

Os diagramas de PEARCE et aI. (1984)Si02 x Y, Si02 x Nb e Y x Nb, elaborados para adiscriminação de campos tectônicos geradoresde granito, indicaram,para os dois primeiros dia-gramas, o campo VAG + COLG, e, para o ter-ceiro diagrama, o campo VAG + SIN-COLG(FIGURAS 6b,c,d). Estes diagramas apresentamnum mesmo campo discrimiminteos tipos VAGe COLG, não sendo, portanto, os mais adequa-dos para fazer a distinção entre estas tipologias.

<i

~+o()<J)

(\jo:

1000 2=Rl- 4Si -l1(Na+K) - 2(Fe+ Tr

y ppm

WPGamaslras

. R. 1528

. R- 203'

r--f

Pearce el 01 (1984)

WPG granilóidesintraplaca,

VAG+COLG I VAG gran'lóides de

arco vulcánicoCOLG granilóides

40 00 60 70 80 5i02% colisionai..

Entretanto, a nível mundial, o tipo VAG reúnesérie granítica expandida, série esta não observa-da junto ao leucográriitoMailasqui. Isto possibi-lita suspeitarque o granito é do tipo COLG.

Diagrama de normalização de elementosde terras raras, em duas amostras do GranitoMailasqui, analisadas porespectrometria deplasma - ICP, apresentou 'nítido enriquecimen-to,dos ETR leves sobre os ETR pesados e umpequeno empobrecimento do Eu (FIGURA 6e).O padrão obtido é análogo ao dos granitóidesda série 'transformação de KEQIN et aI. (1984).

amoslras

DIAGRAMA Rl- R2 (De Ia Rache el.al,.1980)campos segundo SOlcheiar e Sowden (1985)

1- plagiogranilo, mantalieos.

2- gronil6ides de borda continenlal.

3- granilóldel caledonianos (soerguimenlopós-sutura ).

4- granil6ides lord1- orogenicos.

5- grdnil6ides anorogenieas.

6- gronil6ides cruslais,

7- granilóides pós-orogenieos.

3000

Nb ppm

WPGamostras

. R-1528. R-203

1a;1 .. I Peorce el 01. (1984).WPG ,granitóides

inlraplaeo.VAG+COLG I V4G gran't6ides d.

Oreo vulcánico

COLG gronil6ides

40 50 60 70 ao 5i02% . colisionais.

amostras looo

j. R-1528. R- 203 ..g

-à '008 .

ORGgraniMides de ~ 1~çade'a me ;;WPGgt'anitóide~o-oceánlco.~ 10 ,

ORG I VAG ~~6~~fJ~~a. (j o

'00 syn-cg~~ vUlcãni;o,Yppm sin-c09r~r~~~~es

WPG

'o~,

, Illm"",,, d

FIGURA 6 -Diagramas petroquímicos.

A TABELA 2 apresenta os resultados ana-líticos dos elementos maiores, elementos-traçosselecionados e ETR do leucogranito Mailasqui(duas amostras); e, adicionalmente, uma médiados elementos maiores e alguns traços dos leu-cogranitos Margeride (Maciço Central Francês)e Manaslu (upper Himalaias).

5.5 Síntese

Os dados levantados apontaram que:1) o granito Mailasqui está espacialmente

14

omaslrQSR- 203R-1528

lalores de normali-zação de Evensenai 01 (1978).

.3<HHJi,fJ~~5'~w/!~'::

associado à descontil1uidaderegional -lineamento gravimétrico E-W, indicati-vo deespessal11entocrustal;

2) o alojamento do granito Mailasqui ocor-reu ,num tempo pós granitogênese cál-cio-a1calina.OCGSR já se havia aloja-do na crosta, solidificado e deformado;

3) O granito em foco apresenta mineralo-gia, petrografia e litoquímica compatí-vel aos granitos tipo S (gerados porfusão parcial da crosta);

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4) existe anomalia gravimétrica com indica-ção de espessamento crustal e presençade turmalina granitos em outras áreas doEstado de São Paulo (PRESSINOTTI,1992); tal como registrado para a regiãoem foco;

TABELA 2 - Composição química dos turma-lina leucogranitos Mailasqui, Margeride eManaslu - Elementos maiores, elementostraços selecionados e ETR.

No conjunto, os dados apontam que o leu-cogranito Mailasqui represente um plutonitogerado num processo deformacional, relaciona-do com as grandes zonas de cisalhamento trans-corrente e/ou de empurrão.

Com relação aos granitos cálcio-alcalinosencaixantes, poderiam representar tanto grani-tos pré-colisionais, como produtos híbridosgerados em fase colisional (BONIN, 1987).

6 LEVANTAMENTOS EXPLORATÓRIOS

Granitos do tipo S são notadamente reco-nhecidos por estarem associados com minerali-zações de elementos litófilos (Sn, W, Be, Li,Nb, Ta, ETR, U, etc). Devido às característicaspetroquímicas e modais do Granito Mailasqui,supõe-se que se lhes associam mineralizaçõesde Sn e W, por isso foi alvo de amostragem desedimentos de corrente e concentrados debateia com respectivas análises geoquímicas,mineralógicas, teste de stainning visando àidentificação do seu potencial mineral.

As análises geoquímicas e mineralógicasdos concentrados de bateia não revelaram qual-quer evidência de mineralização de Sn ou W.Mostraram-se relativamente pobres em mine-rais pesados, sendo estes constituídos em até85% por turmalina preta. Os demais mineraispesados identificados foram: zircão, fluorita,granada, traços de apatita, xenotima, anatásio eopacos.

Até a presente data, não se tem referênciade mineralizações de Sn e W associadas aosturmalina granitos enfocados. Porém, a cercade 40 km E da cidade de São Paulo, no municí-pio de Moji das Cruzes, SP, FRANCO (1945)relatou a presença de pegmatito (minaLoureiro), encaixado em xistos e gnaisses pro-fundamente alterados, constituído por feldspato(microc1ínio?) que se acha totalmente caulini-zado, apresentando grande quantidade deambligonita, lepidolita, "moscovita, cassiterita,tantalita, turmalina, apatita e quartzo. No entan-to, ocorrem minerais uraníferos secundários(fosfatos e silicatos) preenchendo fraturas tantonos turmalil1agranitos como nos pegmatitos dePerus (ATENCIO, 1991). Os pegmatitos, porsua vez, podem ser do tipo simples (quartzo,turmalina preta e feldspato caulinizado), comocomplexos, estes também mineralizados a.Li eBe (albita, microc1ínio,quartzo, turmalina, lepi-dolita, apatita, berilo e granada).

Embora não se disponha de informaçõesque leucrogranitos sejam fontes de ouro, o con-texto tectônico no qual eles aparecem espacial-mente relacionados (cavàlgamentos e transcor-

15

Mailasqui 'Margeride 'ManasluR-1528a R-203 (7 anal.) (59 ana!.)

SiOz (%) 73,9 74,6 74,24 73,99Alz03 14,3 14,6 14,53 14,72Fez03 0,21 0,29 0,56 0,83(*)FeO 0,28 0,28 0,63 -CaO 0,91 0,49 0,65 0,48MgO 0,64 0,14 0,17 0,16NazO 4,0 3,5 3,69 4,10KzO 4,6 4,9 4,33 4,49MnO 0,02 0,04 0,02 0,02TiOz <0,05 <0,05 0,04 0,07PzOs 0,11 0,08BaO 0,03 0,03S 0,005 < 0,005F 0,039 0,026 - 0,10HzO+ 0,42 0,77 - 0,79COz 0,40 0,15 0,08 -soma total 99,86 99,90 100,26 99,89O:::F 0,02 0,01 - 0,04soma final 99,84 99,90 - 99,85HzO- 0,02 0,06 0,79 -

LiOz - 0,02 0,01-0,3BZ03 - 0,13 0,02-0,3Rb (ppm) - 393 385Sr - 13 59Nb L20 L20U 1 2W L3 L3Zr 64 60Sr 220 180CI L20 L20Li 45 73Pb 62 53Zn 9 12Cr 15 <5Ni 11 <5Sn <5 <5Mo <5 <5y 21 26La 7,950 11,560Ce 16,120 23,780Nd 9,170 29,910Sm 2,100 8,010Eu 0,354 1,430Gd 1,990 5,720Dy 2,060 5,730Ho 0,488 l,i60Er, 1,260 3,190Yb 0,944 3,210Lu 0,131 0,410

1 Fonte PICHA V ANT & MANNING 1984).(*) total Fe como Fe203.R-1528a, R-203 Leucogranito Mailasqui, análisesGeolab, métodos instrumentais e vias úmidas. ETRvia ICP.

5) os dados petroquímicos e o padrão dosETR convergem para o campo dos gra-nitos colisionais.

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rências) induz a estas mineralizações, além doque corpos graníticos são fontes térmicas quepodem remobilizar e concentrar metais. Na pro-víncia metalogenética Variscana é reportadoque as principais mineralizações de U, Sn, W eAu (Portugal, Espanha e França) estão espacial-mente associadas a leucogranitos peralumino-sos, a duas micas, onde a natureza crustal damaioria destes granitos é bem conhecida. Umexemplo claro são as mineralizações de U, Sn,W e Au ao redor do complexo granítico peralu-minoso de Saint Sylvestre a noroeste do MaciçoCentral Francês (CUNEY elal., 1990).

Parte desta associação (U, Au) pode estarna região compreendida entre Perus eAraçariguana, balizada pela anomalia gravimé-trica E-W (FIGURA 4). Além das ocorrênciasuraníferas, associadas aos turmalina granitos epegmatitoscomplexos de Perus, são cadastra-das dezenas de ocorrências auríferas em veiosde quartzo e aluvionares (IPT, 1981, 1984a).Somente no exocontato Sul do granito Tico-Tico são descritas treze ocorrências de ouro,sendo quatro em veios de quartzo com pirita eas demais aluvionares, porém o conjunto posi-cionado em zona de alta incidência de deforma:"ção com paralelização de estruturas (foliação,traços axiais de dobras, lineações de crenula-ção, eixos de dobras inclinadas, etc.), num con-texto geológico análogo ao das zonas de cisa-lhamento ligadas a transcorrência.

Neste contexto pode estar a mineralizaçãoprimária de ouro de Araçariguama, situada noexocontato E dos granitóides São Roque, bali-zado por zona de cisalhamento (Z. C deAraçariguama OLIVEIRA et ai., 1991). Aí éassinalada anomalia aerogamaespectométricade urânio, tório e potássio (FERREIRA, 1991),correspondendo à área onde SANTORO (1984)mapeou três bossas graníticas quartzo.:.feldspá-ticas. Trabalhos exploratórios no local permiti-ram observar que os veios de quartzo minerali-zados encontram-se encaixados tanto em grani-to quartzo-feldspático leucocrático e cisalhadoquanto em metassedimentos miloníticos, próxi-mo ao contato com o granito (distância métri-ca); e, possivelqlente, em metabásicas (?) total-mente alteradas.

Atualmente, a mineralizàção auríferadeAraçariguama está sendo objeto de reavaliação.Apesar da importância geológica de que ela' sereveste, os trabalhos de mapeamento geológicoefetuados na área não contemplaram seu deta-lhamento, de modo que ainda . não se dispõe' deum quadro geológico definido sobre a mesma.

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7 DISCUSSÃO

A potencialidaqe. de um corpo granítico édependente de vários fatores que incidem inte-rativamente. Neste aspecto, pode-se salientar, aprincípio, que são de extrema importância acomposição e a quantidade de fundido. Estassão, em grande parte, função direta do ambientetectônico de geração do magma. Outros fatoressão a cristalização fracionada e a diferenciaçãomagmática que ocorrem durante a ascensão docorpo granítico na crosta e, finalmente, a dife-renciação fluido-fundido. Dentro desse contex-to, pode-se dizer que os leucogranitos doEstado de São Paulo, até agora identificados,são sempre corpos pequenos, não se constituin-do em corpos grandes e estratóides, como osleucogranitos himalaianos.

Essa situação pode ser explicada pelo pro-cesso de geração do magma. No caso himalaia-no, a geração do magma tem um forte compo-nente nos falhamentos de empurrão que provo-cam espessamento crustal e acarretam, nos blo-cos subjacentes, metamorfismo crescente emdireção à fácies granulito (FYFE & KERRICH,1985, FYFE, 1991), o que tem como conse-qüência forte desidratação. Dessa forma, gran-de volume de fluido aquoso é liberado para osplanos de thrusting, favorecendo a geração degrande.quantidadede fundidos e voláteis, o queirá influenciar favoravelmente a mineralização.No caso paulista, a geração do magma pareceestar controlada por uma fase tectônica na quala transcorrência é o maior componente e, nestasituação, o volume de magma e fluidos gerado-res são menores, o que irá prejudicar os proces-sos mineralizantes na fase hidrotermal do gra-nito. Para que haja mineralização, faz-se neces-sária uma compensação como, por exemplo, asencaixantes fornecerem fluidos e elementosmineralizantes para'o granito. Essa pode ser asituação dos turmalina granitos de Perus queestão encaixados em metassedimentos e pos-suem pegmatitos complexos, enquanto o leuco-granito Mailasqui, éhcaixado em granito-gnais-se (deficiente em fluidos), não apresenta evi-dência marcante de processos de interaçãorocha-água, pois é pobre em veios de quartzo.

8 CONCLUSÕES

Feições estruturais, caracterizadas por altastaxas de deformação ei.concentradas ao longode faixas, vêm sendo reconhecidas como zonasde cisalhamento dúctilligadas a cavalgamentose transcorrências qÚeincidiram em contexto detectônica colisional;.A esse quadro relacionam-se ,granitos de 'origemcrustal e, notadamente,mineralizações deSn,W eAu.

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Ao novo corpo de turmalina granito, deMailasqui,associa-se uma faixa com expressi-va descontinuidade estrutural E- W, aparente-mente abrigando granitogênese do tipo S, aindanão entendida s,atisfatoriamente. Esta granito-gênese e a faixa',que a contém também podem,à semelhança dos granitos hercinianos daEuropa, representar alvo de prospecção paraSn, W, U e Au, principalmente quando o grani-to se encaixar em metassedimentos.

9 AGRADECIMENTOS

Os alltores agradecem às geólogas MírianCruxen B. de Oliveira, pelos estudos petrográ-ficos, e Maria Cristina de Moraes, pelos estu-dos de Ininerais pesados; aos geólogos HendrikHerman Ens, pela elaboração dos diagramaspetroquímicos, e Mário Lincoln de C.Etchebehere, pela revisão do texto e sugestõesefetuadas; e, .ao desenhista Arthuro E. PietroYbars e equipe, pela confecção dos desenhos.

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Endereço dos autores:

Paulo Cesar Pressinotti, Rubens Borges da Silva e Femando Antonio Guimarães Martins - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado deSão Paulo - IPT - Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira - Butantã - 05508-901 - São Paulo, SP - Brasil.Yoceteru Hasui - DPM - IGCE - Unesp - Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro, Avenida Vinte e Quatro A n° 1.515, BelaVista, Caixa Postal 178 - 13.506-900 - Rio Claro, SP.

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