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Uma forma narrativa privilegiada na pesquisa: a carta Rosaura Soligo - Unicamp 18 de Setembro de 2018 SIMPÓSIO I do VIII CIPA Pesquisa narrativa (auto)biográfica em educação: trajetórias e dispositivos teoricometodológicos

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Page 1: Uma forma narrativa privilegiada na pesquisa: a carta...razões, mas especialmente para ampliar o processo de profissionalização do magistério –e nos propomos a incentivá-los

Uma forma narrativa privilegiada na pesquisa:

a carta

Rosaura Soligo - Unicamp

18 de Setembro de 2018

SIMPÓSIO I do VIII CIPAPesquisa narrativa (auto)biográfica em educação: trajetórias e dispositivos teoricometodológicos

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O propósito do ensaio escrito para este Simpósio – edesta apresentação – é evidenciar a relevância dacarta como forma de registro da pesquisa narrativa.

A questão que movimentou a pesquisa a que merefiro no texto e nesta mesa foi: como a comunicaçãoonline se constitui em experiência formativa paraquem dela participa?

A experiência da escrita no espaço virtual: a voz, avez, uma conquista talvez é o título da tese.

A abordagem metodológica foi chamada de pesquisanarrativa em três dimensões por, intencionalmente,articular as fontes narrativas de dados, um modonarrativo de produzir conhecimento e o registronarrativo de todo o trabalho desde o início.

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O desafio assumido como pesquisadora foi:

• adentrar a pesquisa com todos sentidos,• nutrir-se em todas as fontes,• considerar o conhecimento legitimado um guia, e

não uma doutrina,• narrar o vivido e pluralizar os modos de produzir

ciência.

Essas sugestões propostas por Nilda Alves foramtomadas como pressupostos orientadores da posturade pesquisadora.

E teve também esse sentido a busca por uma estéticada coerência conteúdo-forma-registro.

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As análises evidenciaram que a comunicação porescrito online é formativa sempre que se constitui em umaexperiência de fato, por responder a algum tipo denecessidade pessoal, e que os modos de aprender nosdispositivos de comunicação online passaminvariavelmente pela linguagem escrita, fato históriconovo nos processos de interlocução direta.

Nesta mesa, abordo especialmente um aspecto dessetrabalho, que é a potência da escrita narrativa em formade carta, que se constituiu em registro contínuo dapesquisa, fonte de dados complementar e modo deproduzir conhecimento sobre a pesquisa e a pesquisadora– por isso, um dispositivo autobiográfico importante.

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Há uma tensão permanente no registro narrativo de umgênero predominantemente expositivo, como é uma tese.Sim, porque o que se produz como resultado de umapesquisa de doutorado é uma tese, não é uma narrativainteiramente aberta, uma história descompromissada de aprioris.Sim, porque uma tese se orienta por um modo depensamento lógico-científico e uma carta se orienta porum modo de pensamento narrativo. São modos diferentesde funcionamento cognitivo que remetem a modosdiferentes de organização da experiência e de construçãoda realidade.Vem daí a tensão. Mas é dessa tensão que nasce apossibilidade de uma escrita diferente, mais autoral,literaturizada de algum modo.

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A escolha da carta

como forma narrativa de registro da pesquisa

se justifica por muitas razões

políticasfilosóficaslinguísticas.

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Por quê?

Nesse caso, a carta tende a contribuir para oempoderamento pessoal e a profissionalização domagistério.

Sabemos o quanto textos mais formais, como osacadêmicos, nos quais predomina o modo depensamento lógico-científico, são considerados difíceis deescrever pela maioria dos educadores – e das pessoastodas, de maneira geral.

O desafio tende a ser menor porque a carta é um textomuito familiar, existe um destinatário a quem o escrito éendereçado e é explícita a circunstância comunicativa detratar assuntos que fazem sentido tanto para quemescreve quanto para quem lerá.

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Se compreendemos a importância política doseducadores tornarem públicos os seus textos – por muitasrazões, mas especialmente para ampliar o processo deprofissionalização do magistério – e nos propomos aincentivá-los nesse sentido e a ser solidários com eles paraque se animem a registrar o que pensam e fazem,começar pelas cartas, para as quais há geralmente umapredisposição hospitaleira, parece ser um caminhoviável.

Conhecer o registro de pesquisas acadêmicas em formade carta pode ser um bom começo...

A carta é um texto democrático, flexível, que admitecontravenções e pode abrigar qualquer tipo deconteúdo.

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Estabelece uma comunicação por escrito com umdestinatário ausente, no qual o autor pode tudo. Emuma carta, fica bem narrar, argumentar, descrever,expor, transcrever outros textos, citar, inserir imagens eoutros recursos gráficos, ainda mais agora quandotemos disponíveis as ferramentas de edição que sepopularizaram com o uso do computador e permiteminserir no corpo do texto o que antes, em tempos decartas manuscritas ou mesmo já quandodatilografadas, por certo permaneceria na condiçãode anexos.

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Quando a carta é escolhida como forma de registrode uma pesquisa acadêmica, ou de um ensaio, oresultado pode ser uma composição disso tudo, naqual predominará uma narrativa hospitaleira, aabrigar outros modos de dizer. E, nesse lugar deregistro, no contexto de produção de conhecimento,a carta pode ainda se configurar em narrativapedagógica, isto é, em um texto formativo paraoutros educadores, para outros pesquisadores.

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Se houvesse essa categoria, talvez pudéssemos dizer que os textos acadêmicos são antônimos das cartas.Em geral, eles são impessoais. Elas não.Em geral, eles escondem as intenções. Elas não.Em geral, eles são difíceis. Elas não.Em geral, eles são formais. Elas não.Em geral, eles se fazem passar por outros. Elas não.Em geral, eles não são produzidos com desejo. Elas sim.Em geral, eles não são manipulados com prazer. Elas sim.Em geral, eles não têm emoção. Elas sim.Em geral, eles não são acessíveis. Elas sim.Em geral, eles não são sedutores. Elas sim. Em geral, eles não são procurados. Elas sim.Em geral, eles são masculinos. Elas são femininas quase sempre.Em geral. Apenas em geral.

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A compreensão da importância da carta como umdispositivo autobiográfico potencialmente formativo,que se aprofundou durante a pesquisa de doutorado,levou à organização de grupos de formação deprofessores e de formadores, que desde então acontecempor meio de cartas. Tem sido uma experiência potente,

amorosa e singular para todos os participantes, e areflexão a esse respeito está documentada em um artigoescrito para VIII Seminário Fala OUTRA Escola (SOLIGO,2017).

Hoje, há vários gêneros que cada vez mais escrevo emforma de carta: ensaio, capítulo de livros, orientaçõespedagógicas, além de um livro, da dissertação, da tese.

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Contato

[email protected]://rosaurasoligositeoficial.wordpress.com/

https://rosaurasoligo.wordpress.com/

http://lattes.cnpq.br/0281100094726534

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SIMPÓSIO I do VIII CIPA: Pesquisa narrativa (auto)biográfica em educação: trajetórias e dispositivos teoricometodológicos

Jacqueline F. dos Santos Morais | Diego Leandro Marín Ossa | Rosaura Soligo | Inês F. S. Bragança