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X SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL ARQUITETURA MODERNA E INTERNACIONAL: conexões brutalistas 1955-75 Curitiba. 15-18.out.2013 - PUCPR UMA APROXIMAÇÃO ÀS CONEXÕES BRUTALISTAS, HESTNES FERREIRA EM CONTINUIDADE COM LOUIS KAHN Alexandra Maria Barros Alves Chaves Silva Vidal Saraiva Faculdade de Arquitectura e Artes. Universidade Lusíada _ Porto, CITAD Rua Dr. Lopo de Carvalho 4369-006 Porto, Portugal 00351917561379, [email protected]

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X SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL

ARQUITETURA MODERNA E INTERNACIONAL: conexões brutalistas 1955-75

Curitiba. 15-18.out.2013 - PUCPR

UMA APROXIMAÇÃO ÀS CONEXÕES BRUTALISTAS, HESTNES FERREIRA EM

CONTINUIDADE COM LOUIS KAHN

Alexandra Maria Barros Alves Chaves Silva Vidal Saraiva

Faculdade de Arquitectura e Artes. Universidade Lusíada _ Porto, CITAD

Rua Dr. Lopo de Carvalho 4369-006 Porto, Portugal

00351917561379, [email protected]

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RESUMO

1 Introdução

O Brutalismo em Portugal não teve grande impacto, nem seguidores, em parte justificado pelo regime politico, Estado Novo, implementado no nosso País entre 1933 até 1974.

Os poucos arquitetos que poderiam de alguma forma serem capazes de entender e transpor as características do Brutalismo para a sua arquitetura, foram os que tiveram acesso ao movimento Internacional, mais concretamente em Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

Hestnes Ferreira (Lisboa, 1931) é um arquiteto português que teve o privilégio de estudar e trabalhar com Louis I. Kahn, entre 1963/65, contatando diretamente com esta corrente arquitetónica. A sua arquitetura destaca-se do panorama nacional português.

O objetivo deste artigo é mostrar como Hestnes Ferreira, tal como Louis I. Kahn desenvolvem os seus processos de conceção e materialização das suas obras, mas ao mesmo tempo, criando uma linguagem própria de interpretação e concretização.

Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho de investigação mais alargado que coincidiu com a minha tese de doutoramento, realizada na Universidade da Corunha, sob o tema A influência de Louis I. Kahn na obra de Hestnes Ferreira, defendida em Julho de 2011.

Para validar esta afirmação propomos um método de análise comparativa entre os dois arquitetos e uma obra de cada um.

2 Portugal e as conexões Brutalistas

A definição do Brutalismo enquanto corrente arquitetónica não é consensual entre os todos os críticos e investigadores, esta corrente é normalmente datada entre 1955-1975. O conceito base que a distingue de outros períodos centra-se na relação entre os aspetos construtivos e a inovação tecnológica, revelando afinidades e estimulando novas contribuições. Tal como Hitchcock afirma ([1958] 1987, 582) também afirmamos que é muito difícil,

… catalogar os arquitetos e as suas obras numa categoria específica, acima de tudo, esta é a fase da história da arquitetura, em que o futuro deve basear-se em conceitos, tão diferentes, e tantas vezes contraditórios, retirados da arquitetura dos últimos 200 anos.

William Curtis ([1982] 1996), para nós é o que melhor analisa a arquitetura moderna, com a tripla questão What, Why and How?

.

A sua principal preocupação prende-se pela maneira como as ideias são transmitidas, com a interação vital entre a invenção individual e as convenções previstas pelo estilo e pela tradição da época.

Ana Tostões, no seu ensaio Arquitectura Moderna Portuguesa: os Três Modos, (IPPAR 2004,145) escreve,

Tempo de pluralidade, os anos 60 são marcados por um esforço de desenvolvimento industrial por parte do regime e simultaneamente pela ruptura que o eclodir da guerra de África constitui. De tal modo, que as rupturas estéticas dos anos 60 não podem ser dissociadas da erupção das crises políticas e sociais agudizadas pelo início da guerra colonial e da fase final de decomposição do regime fascista.

3 Conclusão

O carácter das obras, de Hestnes Ferreira e Louis Kahn, é definido por uma tríade: as aberturas que recebem e transmitem luz; os materiais – elementos decisivos para a caracterização, e que têm diferentes presenças e expressam o modo como os edifícios interagem com o Lugar.

A mais-valia destes dois arquitetos está na capacidade de ambos conseguirem alcançar a sublime intemporalidade das suas obras, através da simplicidade formal, a relação material, estrutural e construtiva.

As suas obras podem ser um contributo para a formação dos arquitetos e para a compreensão da arquitetura.

Palavras-chave: Hestnes Ferreira. Louis Kahn. Conexões Brutalistas

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ABSTRACT

1 Introduction

The Brutalism in Portugal had no great impact, not followers, in part justified by the political regime, the Estado Novo, implemented in our country from 1933 until 1974.

The few architects who would somehow be able to understand and implement the characteristics of Brutalism for its architecture, were those who had access to the international movement, specifically in England and the United States.

Hestnes Ferreira (Lisbon, 1931) is a Portuguese architect who had the privilege of studying and working with Louis I. Kahn, between 1963/65, directly contacting with this architectural style. Its architecture stands out from the Portuguese national scene.

The purpose of this article is to show how Hestnes Ferreira as Louis I. Kahn develops their processes for design and realization of their works, but at the same time, creating its own language interpretation and implementation.

This article was drawn from a larger research work which coincided with my PhD thesis, held at the University of A Coruña, under the theme The influence of Louis I. Kahn's in the work of Hestnes Ferreira, defended in July 2011.

To validate this statement we propose a method of comparative analysis between the two architects and a building of each.

2 Portugal and Brutalism connections

The definition of Brutalism, an architectural style, isn’t consensus among all critics and researchers, this style is usually dated from 1955 to 1975. The basic concept that distinguishes it from other periods is focuses on the relationship between technological innovation and constructive aspects, revealing affinities and stimulating new contributions. As Hitchcock says ([1958] 1987, 582) and also stated that it is very difficult,

catalog the architects and their works in a specific category, above all, this is the stage of history of architecture in the future must be based on concepts, so different, and often contradictory, taken from the architecture of the last 200 years .

William Curtis ([1982] 1996), for us, is the one who looks best, modern architecture, with the triple question What, Why and How?

Their main concern is the way ideas are transmitted, with the vital interaction between the individual invention and conventions provided by the style and tradition of the time.

Ana Tostões, in his essay Portuguese Modern Architecture: the Three Ways (IPPAR 2004,145) writes,

Time plurality, the 60s are marked by an effort of industrial development by the regime and simultaneously by breaking the outbreak caused by the war in Africa. In this way, the aesthetic ruptures 60s can’t be dissociated from the eruption of political and social crises sharpened by the onset of colonial war and the final stage of decomposition of the Fascist regime.

3 Conclusions

The nature of the works, of both, Louis Kahn and Ferreira Hestnes, is defined by a triad of apertures which receive and transmit light; materials - for characterizing critical elements and which have different appearances and express how buildings interact with the place.

The added value of these two architects is the ability to succeed; both reach the sublime timelessness of his works, through formal simplicity, achieved by material, structural and constructive relationship.

Both works can be a contribution to the training of architects and understanding of architecture.

Keywords: Hestnes Ferreira. Louis Kahn. Brutalist Connections

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UMA APROXIMAÇÃO ÀS CONEXÕES BRUTALISTAS, HESTNES

FERREIRA EM CONTINUIDADE COM LOUIS KAHN

1 Introdução

O Brutalismo em Portugal não teve grande impacto, nem seguidores, em parte justificado pelo

regime politico, Estado Novo, implementado no nosso País entre 1933 até 1974.

Os poucos arquitetos que poderiam de alguma forma serem capazes de entender e transpor as

características do Brutalismo para a sua arquitetura, foram os que tiveram acesso ao movimento

Internacional, mais concretamente em Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

Hestnes Ferreira (Lisboa, 1931) é um arquiteto português que teve o privilégio de estudar e

trabalhar com Louis I. Kahn, entre 1963/65, contatando diretamente com esta corrente

arquitetónica. A sua arquitetura destaca-se do panorama nacional português.

O objetivo deste artigo é mostrar como Hestnes Ferreira, tal como Louis I. Kahn desenvolvem os

seus processos de conceção e materialização das suas obras, mas ao mesmo tempo, criando

uma linguagem própria de interpretação e concretização.

Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho de investigação mais alargado que coincidiu com

a minha tese de doutoramento, realizada na Universidade da Corunha, sob o tema A influência de

Louis I. Kahn na obra de Hestnes Ferreira, defendida em Julho de 2011, orientada por Joaquín

Fernandez Madrid e defendida em Junho de 2011.

Para validar, a aproximação às conexões Brutalistas, propomos um método de análise

comparativa entre os dois arquitectos, Louis Kahn e Hestnes Ferreira. Mais concretamente entre

uma obra de cada um, o Salk Institute (1959|1965) e a Escola Secundária José Gomes Ferreira

(1976|80).

O objectivo deste artigo é mostrar como Hestnes Ferreira, tal como Louis Kahn desenvolvem os

processos de conceção e materialização das suas obras, mas ao mesmo tempo criando uma

linguagem própria de interpretação e concretização.

Como síntese, apresenta-se um quadro da minha autoria (Fig.1), que se encontra na minha tese

de doutoramento que ajuda a comparar e compreender o percurso destes dois arquitectos.

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Louis I. Kahn Hestnes Ferreira

2010 2009 2008 2007 Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de 2006 Coimbra 2005 2004 Prémio Valmor 2002, para o Edifício do ISCTE II / ICS 2003 2002 2001 2000 Centro de Recursos da Benedita 1999 Professor Catedrático convidado do departamento de 1998 Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da 1997 Universidade de Coimbra. 1996 Centro de Patogénese Molecular Faculdade de Farmácia 1995 Edifício ISCTE II/ ICS 1994 Centro de Formação do INDEG/ ISCTE 1993 Prémio Nacional de Arquitectura,pela AAP, Agência Avis 1992 Biblioteca Jesus Bento Caraça 1991 Tribunal Judicial da Moita 1990 Ala Autónoma do ISCTE 1989 Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa 1988 Agência da Caixa Geral de Depósitos, Aviz 1987 Docente no curso de Arquitectura na Cooperativa Árvore 1986 1985 1984 Bairro das Fonsecas e Calçada| 1983 Unidade Residencial João Barbeiro 1982 Prémio Nacional de Arquitectura e Urbanismo, da AICA 1981 Casa da juventude de Beja 1980 1979 Ginásio Escola José Gomes Ferreira 1978 Escola José Gomes Ferreira, em Benfica 1977 Edifício Iscte I 1976 1975

Kahn morre em Nova York 1974 Colabora na Direcção Geral das Construções Escolares Museu de Arte Britânico Yale 1973

Medalha Royal Institute of British Arch Museu Kimbell 1972 medalha de ouro do American Institute ofArchitect 1971 Docente na ESBAL

Instituto Indiano de Gestão 1970 Biblioteca Phillips Exeter 1969 Habitações geminadas em Queijas

Sher-e-Bangla, Nagar 1968 Edifício Guadiana 1967 Colabora no GTH da Camâra Municipal de Lisboa

Igreja Unitária em Rochester 1966 1965 Planos dos Centros Governamentais do Paquistão

Laboratórios Instituto Salk 1964 Hospital Principal em Dacca (como responsável) Colégio Bryn Marw 1963 Escola Superior de Administração em Ahmedabad

Consulado de Angola 1962 Escola de Arte em Filadélfia Kahn ensina Master Studio em Yale 1961 Diploma-se em Arquitectura na ESBA

Habitação Esherick 1960 Colabora no Gabinete de Urbanização Câmara de Almada 1959 Habitação em Albarraque

Laboratórios Richards de Investigação médica 1958 Viagem de regresso: Bélgica, Escócia, Inglaterra e Paris 1957 Viagem à Noruega, Suécia e permanece na Finlândia

Balneários em Trenton 1956 Trabalha no atelier de Arménio Losa 1955 Termina o curso Especial de Arquitectura, na Escola de 1954 Belas Artes do Porto 1953

Extensão da Galeria de Yale 1952 1951 Inicia a formação Universitária em Lisboa, na Escola de

Kahn ensina Design em Yale 1950 Belas Artes 1949 1948

Kahn deixa Stonorov para abrir o seu atelier 1947

Legenda:

Distinções ou prémios Actividade Docente Actividade Profissional Período permanência Actividade Dependente de Hestnes nos EUA

Fig.1 Quadro Comparativo entre Louis Kahn e Hestnes Ferreira

(fonte: esquema da autora)

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2 Portugal e as conexões Brutalistas

Internacionalmente

A definição do Brutalismo enquanto corrente arquitetónica não é consensual entre os todos os

críticos e investigadores, esta corrente é normalmente datada entre 1955-1975. O conceito base

que a distingue de outros períodos centra-se na relação entre os aspetos construtivos e a

inovação tecnológica, revelando afinidades e estimulando novas contribuições. Tal como

Hitchcock afirma ([1958] 1987, 582) também afirmamos que é muito difícil,

… catalogar os arquitetos e as suas obras numa categoria específica, acima de tudo, esta é

a fase da história da arquitetura, em que o futuro deve basear-se em conceitos, tão

diferentes, e tantas vezes contraditórios, retirados da arquitetura dos últimos 200 anos.

William Curtis ([1982] 1996), para nós é o que melhor analisa a arquitetura moderna, com a tripla

questão What, Why and How?

A sua principal preocupação prende-se pela maneira como as ideias são transmitidas, com a

interação vital entre a invenção individual e as convenções previstas pelo estilo e pela tradição da

época.

Ao integrar as conexões Brutalistas, impõem-se uma referência ao conceito defendido por Reyner

Banham, publicado em 1963 no The New Brutalism: Ethic or Aesthetic.

Esta publicação é referenciada por todos e demonstra a sua importância no panorama

internacional.

Banham sugere a possibilidade de uma conexão brutalista ao constatar que me diferentes países,

de vários continentes, surgem obras que podem ser incluídas nesta corrente.

Se utilizarmos a definição dada por Banham, no Brutalismo as obras caracterizam-se pelo uso do

betão armado aparente, ressaltando a técnica utilizada.

Em Portugal

Em Portugal documentação era escassa e a publicação de revista da especialidade, estava divida

entre a revista Arquitectura, e outros periódicos, onde a crítica e o pensamento eram o ponto

fulcral, entre eles podemos salientar: Colóquio-Artes, Jornal de Artes e Letras, O Tempo e o

Modo, Análise Social, Informação Social, Diário de Lisboa, entre outros.

Dentro dos autores mais activos podemos mencionar Nuno Portas, Carlos Duarte, Martins Barata,

Pedro Vieira de Almeida.

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A Revista Arquitectura, entre 1957 e os anos 60, sob a iniciativa de Carlos Duarte, Nuno Portas,

Gomes da Silva, Pedro Vieira de Almeida entre outros, desempenha um papel primordial na

divulgação crítica do panorama Português e simultaneamente faz eco das experiências nos

Países Nórdicos, em Itália, em Barcelona, dos projectos dos brutalistas Britânicos, de Candilis, de

Kahn e de Aalto.

Nuno Portas, no artigo que escreve no catálogo da exposição realizada pela Fundação de

Serralves, Arquitectura Moderna Portuguesa, anos sessenta-anos oitenta (Portas, Mendes 1991,

24), descreve,

…a revista desempenha um papel importante na divulgação crítica e criteriosa do panorama

português, e simultaneamente, reúne estudos originais sobre tipologias residenciais, a

construção da cidade, habitat rural, política de habitação, construção clandestina, … Não

admira assim que a crítica polifacetada a que se obrigou, esteja sempre presente a

necessidade de ultrapassar o entendimento da evolução da “arquitectura moderna” como

estrita renovação do gosto e das formas.

Hestnes Ferreira, após regressar a Portugal, publica dois artigos na revista Arquitectura, um sobre

o Planeamento Urbano e Arquitectónico nos Estados Unidos1 e outro sobre Aspectos e correntes

actuais da arquitectura Americana2.

O número 185 da revista francesa, L’architecture d’aujourd’hui, sob o título Portugal an II, tinha por

objectivo principal mostrar o percurso da arquitectura portuguesa do séc. XX até à data

(Maio/Junho 1976). E a convite de Bernad Huet3, Raúl Hestnes Ferreira foi o coordenador da

publicação e contou com o apoio de Manuel Miranda.

Embora o contexto internacional mostrasse uma nítida mediatização da arquitectura, a publicação

de artigos de arquitectura em periódicos não especializados foi pouco comum em Portugal, entre

1974 e 1986.

Na maioria dos artigos e ensaios, os autores salientam as diferenças que se verificavam nos

programas sociais, quer ao nível dos meios técnicos, quer na linguagem formal enfatizando os

aspectos vitais e determinantes, capazes de tornar uma obra eficaz e comunicativa.

Ana Tostões, no seu ensaio Arquitectura Moderna Portuguesa: os Três Modos, (IPPAR 2004, 145)

escreve, sobre a relação Portuguesa entre a arquitectura e a construção.

Tempo de pluralidade, os anos 60 são marcados por um esforço de desenvolvimento

industrial por parte do regime e simultaneamente pela ruptura que o eclodir da guerra de

África constitui. De tal modo, que as rupturas estéticas dos anos 60 não podem ser

dissociadas da erupção das crises políticas e sociais agudizadas pelo início da guerra

colonial e da fase final de decomposição do regime fascista.

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Como o objectivo passa por analisar e comparar uma obra de Louis Kahn e uma de Hestnes

Ferreira, devo referir Josep Maria Montaner (2001, 114) e como esta sua descrição influenciou

este trabalho de investigação,

Se a essência da arquitetura radica em suas qualidades espaciais, a análise arquitetônica

deve tender a desvelar as estruturas ocultas que configuram e articulam cada edifício.

Este enquadramento é necessário para justificar que Hestnes projecta em continuidade com Louis

Kahn, fruto do seu percurso académico e profissional.

Portugal estava isolado e as influências eram escassas e descontínuas.

As revistas tiveram um papel importante na divulgação, mas não foi suficiente para a assimilação

desta corrente arquitectónica em Portugal.

Entre Kahn e Hestnes Ferreira

Hestnes Ferreira, tem um percurso diferente da maioria dos arquitectos da sua geração. Ainda no

decorrer da sua formação, viaja pela Europa, e permanece na Finlândia entre 1957|1958 onde

frequentou como estudante voluntário o Instituto Finlandês de Tecnologia de Helsínquia,

estudando com o urbanista Otto Meurman e no estúdio de Arquitectura com Heikki Siren.

Hestnes Ferreira justifica a sua ida para a Finlândia4 pelo facto de Alvar Aalto ter sido sempre uma

figura mítica, que exerceu sempre uma grande atracção sobre várias gerações. Esta primeira

experiência Internacional foi importante para a compreensão e o conhecimento das referências da

arquitectura de Kahn.

A sua relação com Kahn desenvolve-se a nível académico e a nível profissional. Enquanto

colaborador do escritório de Kahn, entre 1963 e 1965, em Filadélfia, Hestnes participa

essencialmente nos Planos dos Centros Governamentais do Paquistão em Dacca e Islamabad;

nos Edifícios da Assembleia Nacional em Dacca e Islamabad; no Hospital Principal em Dacca ,

como responsável; na Escola Superior de Administração em Ahmedabad, União Indiana; e na

Escola de Arte em Filadélfia.

Mais do que referenciar o que os diferentes críticos e historiadores dizem sobre Kahn, importa

analisar o que Hestnes pensa e até que ponto se traduz na sua arquitectura.

Louis Kahn iniciou a prática profissional ainda sob a égide do movimento moderno, contudo

evoluiu noutro sentido, a partir da década de cinquenta. Hestnes Ferreira refere,

Kahn não defendeu princípios que depois renegasse, havia sempre uma evolução, o

pensamento dele flutuava, evoluía, assim como evoluía a arquitectura dele, criando novos

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conceitos e espaços. A coerência com que destacou nessa altura a importância da

arquitectura moderna, dado o seu contributo para a renovação da arquitectura americana e

para si próprio, nos anos trinta e quarenta, levou-o também mais tarde a ser dos primeiros a

criticar a arquitectura moderna, nos anos cinquenta. (Alves 2011,287)

Hestnes Ferreira ao longo da sua carreira, também têm seguido a mesma relação de coerência

concetual e formal. A mais-valia de Hestnes Ferreira é projectar em acordo com a sua consciência

concetual e formal, e não estar dependente de modas ou estilos.

A consciência formal e concetual são também sentidas na forma expressiva como este arquiteto

desenvolve a ideia, traduzindo-se num esquisso expressivo (Fig.2) e próximo de Louis Kahn.

Fig.2 Esquisso de Hestnes Ferreira_ Ginásio Escola José Gomes Ferreira

(fonte: do arquivo pessoal do Arquitecto Hestnes Ferreira)

Em termos de conceção formal, quer Louis Kahn, quer Hestnes Ferreira, desenvolvem os seus

projectos através da manipulação de sólidos geométricos regulares, separadamente ou

combinados entre si.

Na Escola José Gomes Ferreira (fig.3) a conceção formal é determinada pelo jogo constante entre

o esfera, o cubo e o cilindro em termos volumétricos, podendo interagir em termos bidimensionais

com a referência ao círculo, ao quadrado e ao semicírculo.

Willy Serneels (Neves 2002, 22) relativamente à Escola Secundária José Gomes Ferreira,

escreve5,

As visões de conjunto não desaparecem sob a presença das entidades que a compõem e,

para mais, a abordagem dos edifícios é sempre gerida por sequências que asseguram as

transições. Assim se instala uma dialéctica das escalas.

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Fig.3 Vista Exterior_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: do arquivo pessoal do Arquitecto Hestnes Ferreira, na altura da conclusão da obra)

No Salk Institute todo o conjunto é traduzido pelo uso constante do cubo ou do paralelepípedo ao

mesmo tempo que introduz a interseção com diferentes planos, ao nível do volume dos gabinetes

dos investigadores.

Em ambas as obras os dois arquitectos evidenciam mais as suas propostas com a definição

criteriosa dos materiais utilizados e pela visibilidade constante sobre o método construtivo

empregue.

A questão feita por Kahn "Brick what do you want to be? ....and the brick said...I want to be an

arch..!" 6 reforça a ideia da vontade de ser do material.

Hestnes reconhece esta atitude no processo de conceção e materialização de Louis Kahn.

Claro que se reconhece muito bem, o que é a mão dele e o que é sensibilidade dele. O

tratamento dos materiais dele se é ferro ou se é madeira. Ele sabe interpretar o material e

sabe adaptá-lo à totalidade da obra. É como ele diz, a totalidade da obra vive com todos os

elementos. (Alves 2011, 294)

O carácter brutalista está também associado à materialidade, em termos de tipo e método.

No tipo, em Salk Institute, Kahn consegue relacionar o betão, o travertino e a teca de forma

exemplar. Esta articulação assume um papel importante pois constitui a base compositiva, de

cada parte que compõe o edifício. Louis Kahn pretendia que na definição e escolha dos materiais

a aplicar numa obra, estes não fossem contrastantes, mas que pudessem criar uma imagem

contínua dando ao edifício um carácter monolítico.

No método, Louis Kahn atribui sempre uma importância grande à definição da estrutura dos seus

edifícios e mais uma vez o seu resultado é fruto do processo formal, conceptual e material.

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A estrutura não encerra apenas as suas capacidades estruturais, também inova em termos

formais, ao mesmo tempo que tenta integrar as infraestruturas no processo formal e conceptual.

Em Salk, as escadas e as galerias de acesso assumem uma importância muito significativa na

imagem final do conjunto. Este edifício, pelo uso específico, foi projectado com a inclusão de pisos

técnicos, para permitir que o seu uso fosse prolongado no tempo, sem chegar a um ponto de

ruptura pela falta de espaço para novas infraestruturas.

Hestnes Ferreira partilha destas mesmas preocupações e consegue obter, de igual modo,

elementos estruturais diferenciados e imagens estruturais marcantes.

A importância dada à estrutura, era praticamente inexistente no contexto Português, Hestnes cita

que a sua estadia na Finlândia lhe permitiu, pela primeira vez, pensar na importância que a

estrutura tem para o edifício e como esta influencia a arquitectura. 7

Numa das entrevistas realizadas com o arquitecto, obtivemos a sua confirmação, de como para

ele a estrutura influencia todo o processo de formal, conceptual e material definindo o edifício.

Fig.4 Vista Interior Anfiteatro_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: do arquivo pessoal do Arquitecto Hestnes Ferreira)

Não podemos deixar de datar a Escola José Gomes Ferreira, entre 1976 e 1980, foi projectada e

construída de modo a acentuar a expressão final do edifício. (Fig.4)

O edifício correspondente ao Ginásio (Fig.5) iniciou a sua construção dois anos mais tarde, tendo

sido concluído ao mesmo tempo da Escola. Este edifício é formal, concetual e materialmente

similar ao conjunto da Escola José Gomes Ferreira.

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Fig.5 Vista interior rampas de acesso aos diferentes níveis _ Ginásio da Escola José Gomes Ferreira

(fonte: do arquivo pessoal do Arquitecto Hestnes Ferreira)

Para melhor ilustrar, como esta mesma atitude é constante também em Hestnes Ferreira,

transcreve-mos este parágrafo da segunda entrevista realizada, transcrita e autorizada pelo

arquitecto e que se encontra em anexo na minha tese de doutoramento.

Os painéis de betão branco foram moldados in situ, segundo o nosso desenho, recorrendo à

utilização de cofragens metálicas de grande dimensão e beleza, entretanto destruídas, são

fundamentais para a expressão do edifício como uma escultura, é como uma parede com as

suas regras próprias independente das do interior, embora haja um trabalho de

convergência entre os dois sistemas.

Também o edifício do Ginásio da Escola Secundária José Gomes Ferreira obedeceu às

condicionantes e ao sistema construtivo usado na Escola. (Alves 2011, 303-4)

O betão, como material tem a capacidade de assumir as mais variadas formas e texturas, aliada a

capacidade de proporcionar diferentes efeitos de luz e sombra.

A complexidade deste edifício é grande, tal como a sua dimensão. Não obstante, a sua imagem

revela a simplicidade da forma aliada a plasticidade do material empregue.

A luz é o elemento potenciador da qualidade expressiva da obra destes dois arquitectos. Para

Louis Kahn, a importância da localização de uma obra associada à exposição solar dos seus

compartimentos, permitiu-lhe evoluir na sua procura incessante de materializar o espaço.

Nas obras de Raúl Hestnes Ferreira (Fig.6), sentimos a presença de todas as interrogações e

conclusões proferidas por Louis I. Kahn, em relação à luz e à sua presença na arquitectura.

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Fig.6 Vista Interior acessos verticais_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: do arquivo pessoal do Arquitecto Hestnes Ferreira, na altura da conclusão da obra)

A luz, tanto em Louis Kahn, como em Hestnes Ferreira é o elemento essencial na determinação

da arquitectura de ambos. A luz revela a edificação, as suas intenções, os seus espaços, as suas

formas e os seus significados.

Para analisar as obras de Hestnes Ferreira, criamos uns esquemas semelhantes aos realizados

por Urs Büttiker, os relativos às obras de Louis Kahn.

A forma como Kahn e Hestnes captam a luz vertical diferencia-os de outros arquitectos, pela

geometria da abertura, entenda-se por dimensão e forma.

A luz vertical, utilizada por Kahn e Hestnes, assume duas possibilidades e consequentemente

determina dois espaços luminosos diferenciados.

Um primeiro, quando associam a espaços interiores de grande escala, permitindo a ampliação da

projecção do feixe de luz, em espaços interiores; e um segundo, quando diminuem a dimensão da

abertura, direcionam e intensificam o feixe de luz, aumentando a concentração luminosa num

ponto.

No esquema seguinte (Fig.7), a forma e a dimensão da abertura, sobre as escadas dos acessos

verticais, intensificam o feixe de luz, ao mesmo tempo que aumentam a concentração da

luminosidade num determinado ponto. A luz ao incidir sobre as escadas produz um grau elevado

de iluminação, ao mesmo tempo que cria sobre o espaço circundante um contraste muito definido

entre luz e sombra.

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Fig.7 Vista Interior acessos verticais_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: esquema da autora)

Louis Kahn, no Salk Institute, não utiliza este tipo de solução, mas podemos sempre relembrar os

acessos verticais da Extensão da Galeria de Yale, ou a Luz projectada, sobre o espaço principal

da Igreja Unitária de Rochester, ou sobre o espaço central da Biblioteca Philip Exeter, em New

Hampshire.

A luz diagonal é a mais utilizada na arquitectura Norte Americana e Europeia, quando comparada

com a luz utilizada por outras culturas não Ocidentais. Normalmente este tipo de luz é aquele que

tem mais influência sobre os espaços, ao permitir a leitura das horas solares e da estação do ano.

Kahn associa a este tipo de luz dois procedimentos diferentes, num primeiro mantém a abertura

no plano de fachada e introduz outros elementos de controle de intensidade; num segundo recua

a abertura relativamente ao plano de fachada.

Em continuidade com Louis Kahn também Hestnes Ferreira adopta os mesmos procedimentos do

mestre.

Fig.8 Vista Interior salas de aula_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: esquema da autora)

No esquema anterior (Fig.8) a dimensão e o posicionamento da abertura em relação ao plano de

fachada limitam a projecção e a intensidade da luz.

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O mesmo também acontece em Salk Institute, através da definição das aberturas e o seu

posicionamento relativo à fachada, ao mesmo tempo que cria um plano diagonal que permite

direcionar a luz.

Fig.9 Vista exterior acesso salas de aula_ Escola José Gomes Ferreira

(fonte: esquema da autora)

Na Escola Secundária José Gomes Ferreira, Hestnes Ferreira, ao projectar uma pérgola (Fig.9),

introduz um espaço de transição e permite que a abertura seja mais contida e a luz produzida

sobre o espaço da sala de aula mais contínua e uniforme.

As figuras 7, 8 e 9 já foram incluídas no meu artigo8 submetido e aceite, a aguardar publicação

dos artigos Conferência Anual da Rede de Morfologia Urbana, realizado em Coimbra, em 27 e 28

Junho de 2013, no Departamento de Engenharia Civil.

Em Salk, Louis Kahn cria uma platibanda por forma a limitar a abertura ao nível dos corredores

exteriores, e recuando o plano de fachada consegue um espaço de transição que protege os

espaços interiores, relativamente à luz.

A expressão tantas vezes referida, - Sem luz não existe arquitectura - , assume uma validade

extrema na obra de ambos.

Kahn estabelece a relação entre dois conceitos: luz e silêncio, o silêncio representa o que não

existe e a luz representa o existente.

O silêncio, nas obras de ambos, é traduzido pela simplicidade e neutralidade dos espaços, obtido

pela ausência de ornamentação e pela simplicidade e clareza de formas.

A arquitectura de ambos é caracterizada por espaços homogéneos, valorizados pela luz e pelo

silêncio.

Nas obras de Hestnes Ferreira, sentimos a presença de todas as interrogações e conclusões

proferidas por Louis I. Kahn, em relação à luz e à sua presença na arquitectura.

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3 Conclusão

O carácter das obras, de Hestnes Ferreira e Louis Kahn, é definido por uma tríade: as aberturas

que recebem e transmitem luz; os materiais – elementos decisivos para a caracterização, e que

têm diferentes presenças e expressam o modo como os edifícios interagem com o Lugar.

A mais-valia destes dois arquitetos está na capacidade de ambos conseguirem alcançar a sublime

intemporalidade das suas obras, através da simplicidade formal, a relação material, estrutural e

construtiva.

A mais-valia de Louis Kahn como também a de Hestnes Ferreira é a aliarem a simples capacidade

estrutural de um edifício também uma capacidade plástica, traduzida em qualidade final do

conjunto.

Hestnes Ferreira nunca se pronunciou de forma explícita relativamente ao conceito silêncio,

contudo podemos fazer uma analogia com a definição dada por Louis Kahn.

A arquitectura de Hestnes é caracterizada por espaços homogéneos, valorizados pela luz e pelos

materiais. O silêncio, nas suas obras, pode ser traduzido pela simplicidade e neutralidade dos

espaços, obtido pela ausência de ornamentação e pela simplicidade e clareza de formas.

As suas obras podem ser um contributo para a formação dos arquitetos e para a compreensão da

arquitetura.

A importância da obra de Louis Kahn é transversal entre continentes e culturas distintas. No

entanto a sua transmissão foi selectiva e esteve ao alcance de poucos arquitectos. Esta afirmação

é totalmente validada pelo colóquio Internacional organizado pelo Institut Supérieur d’Architecture

Saint-Luc, em Bruxelas, nos dias 16, 17 e 18 de Março de 1995, sob o tema Louis I. Kahn_ Les

enseignements de l’oeuvre_l’oeuvre dans l’enseignement.

Willy Serneels (1933|1999) foi o principal impulsionador deste encontro. Para além de Hestnes

Ferreira (1931), participam Shane de Blacam (1945), Irlandês; Ahmet Gülgönen (1940), Turco;

Bernard Huet (1934|2001), Francês; David H. Karp, Americano; Bernard Kohn (1931), Francês e

Anant Rajé (1929|2009), Indiano.

Neste colóquio foram organizadas cinco mesas redondas9 e Hestnes Ferreira10 participou na mesa

redonda sob o tema Les outils de la Conception, juntamente com Ahmet Gülgönen moderados por

Roland Matthu e Pierre Lison como relator.

Paulo Varela Gomes, no seu ensaio A tradição do Novo, publicado no livro Projectos Raúl

Hestnes Ferreira, afirma,

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Hestnes Ferreira desempenha um papel absolutamente singular no panorama da

arquitectura Portuguesa contemporânea. É continuadamente um arquitecto dos anos 50-60

trabalhando nos anos 70, 80, 80 e 2000. Não é nisso o único entre os autores da nossa

arquitectura-de-autor, mas é certamente aquele que não pós de lado a pesquisa formal e a

vontade expressiva de arquitectos como Kahn, claro, mas também Aalto, Ridolfi, Scarpa,

Johnson ou Rudolf, em nome da “comunicação” com o público, ou seja, em nome da

tradição, fosse ela “vernacular”, clássica ou modernista. (Neves 2002, 5)

Hestnes consegue projectar em continuidade com Kahn, sem cair na tentação da cópia, contudo,

a sua capacidade de síntese e de interpretação permite-lhe alcançar uma imagem forte tal como a

do mestre.

Agradecimentos

Ao arquiteto Raúl Hestnes Ferreira, pela contínua disponibilidade e pela cedência de todo o

material gráfico e fotográfico, bem como todo o apoio dado ao longo de todo o meu processo de

investigação, bem como a todos os colaboradores do seu escritório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alves, Alexandra Maria. A influência de Louis I. Kahn na obra de Hestnes Ferreira. Coruña: Universidad de Coruña, 2011 Curtis, William J.R. Modern Architecture since 1900. Singapore: Phaidon, (1982)1996 Hitchcock, Henry Russel. Architecture, Nineteenth and Twentieth Centuries. Yale: University Press, (1958)1987 IPPAR. Arquitectura Moderna Portuguesa 1920.1970. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico, 2004 Montaner, Josep Maria. A Modernidade Superada – Arquitectura, arte e Pensamento do séc.XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 2001

Neves, José Manuel das. Raúl Hestnes Ferreira- Projectos 1959-2002. Porto: Asa Editores II,SA, 2002 Pinto, Nuno Norte, Almeida, Alexandre (Eds). Book of Abstracts of PNUM 2013, the 2013 Annual Conference of Portuguese Network of Urban Morphology, Coimbra, June 27 and 28, 2013, Coimbra: Department of Civil Engineering of the University of Coimbra

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Portas, Nuno, Mendes, Manuel. Arquitectura Portuguesa Contemporânea - Anos sessenta/ anos oitenta. Porto: Edit. Fundação de Serralves, 1991 Louis I. Kahn : enseignements de l'œuvre, l'œvre dans l'enseignement : actes du colloque organisé par l 'Institut superieur d 'architecture Saint-Luc Bruxelles les 16, 17 et 18 mars 1995 / [édité par le Centre d'Etude, de Recherche et d'Action en Architecture].

1 Este primeiro artigo foi publicado na Revista Arquitectura, #91, Janeiro – Fevereiro, 1966, pp.1-8

2 O segundo artigo também foi publicado na mesma revista, #98, Julho – Agosto, 1967, pp.148

3 Este arquitecto foi redactor-chefe desta publicação, entre 1974 e 1976, amigo e colega de Hestnes Ferreira no período em que este

permaneceu nos Estados Unidos. 4 Cfr., 1ª entrevista a Hestnes Ferreira (Alves 2011, 279)

5 Este comentário faz parte de um testemunho intitulado, Convite a uma descoberta, onde o autor foi convidado a realizar um passeio,

tendo a três obras de Hestnes Ferreira: a Escola Secundária de Benfica, em Lisboa, a Casa da Juventude em Beja e por último a

Unidade Residencial João Barbeiro, na mesma cidade.

6 Esta citação de Louis Kahn foi imortalizada no contexto cinematográfico, pelo actor Woody Harrelson, no papel de um arquitecto,

no filme Proposta Indecente (1993), passando da esfera da arquitectura para o conhecimento comum da população.

O objectivo que Kahn pretendia, era enfatizar a importância que os materiais desempenham no resultado final de uma obra. Para além

do modo como intervêm nos processos formais e concetuais.

7 Cfr., 1ª entrevista a Hestnes Ferreira (Alves 2011, 282)

8 Neste momento ainda só estão disponíveis os abstracts para consulta.

Saraiva, Alexandra. A dimensão da Forma Urbana, Hestnes Ferreira em continuidade com Louis Kahn. 2013, 515-519, In Book of

Abstracts of PNUM 2013, the 2013 Annual Conference of Portuguese Network of Urban Morphology, Coimbra, June 27 and 28, 2013,

Coimbra: Department of Civil Engineering of the University of Coimbra

9 As outras quatro mesas estavam distribuídas por:

_ Le Cheminement de la Composition, com Jacques Fredet e Paul Petit, moderada por Joseph Polet e relatada por Pierre Van Assche

_ L’Ordre et la composition, com Shane de Blacam e Yves Lepère, moderada por Willy Van Bel, e relatada por Jean-Paul Verleyen

_ Projet et Histoire, com Bernard Huet e Renzo Salvadori, moderada por Xavier de Coster e relatada por Jean-Louis Vanden Eynde

_ Étique et esthétique, com Bernard Kohn e Marc Emery, moderada por Willy Serneels e relatada por Brigite De Groof.

10 Todos os arquitectos que participaram neste congresso viram publicados alguns elementos do seu trabalho na revista Quadrens 12,

editada pelo Centre d'Etude, de Recherche et d'Action en Architecture.