uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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UMA APLICAÇÃO DO SISTEMA LEAN DE PRODUÇÃO À INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS: O CASO DA LINHA DE PRODUÇÃO DE COLORAÇÃO PARA CABELO Mariana Soares Bahury Paula Bittencourt Beer Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Vinicius Carvalho Cardoso Rio de Janeiro Janeiro de 2016

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Page 1: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

UMA APLICAÇÃO DO SISTEMA LEAN DE PRODUÇÃO

À INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS:

O CASO DA LINHA DE PRODUÇÃO DE COLORAÇÃO

PARA CABELO

Mariana Soares Bahury

Paula Bittencourt Beer

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Produção da

Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Vinicius Carvalho Cardoso

Rio de Janeiro

Janeiro de 2016

Page 2: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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UMA APLICAÇÃO DO SISTEMA LEAN DE PRODUÇÃO

À INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS:

O CASO DA LINHA DE PRODUÇÃO DE COLORAÇÃO

PARA CABELO

Mariana Soares Bahury

Paula Bittencourt Beer

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Prof Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc (Orientador)

________________________________________________

Prof. Eduardo Galvão Moura Jardim, PhD

________________________________________________

Prof. Klitia Valeska Bicalho de Sá, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Janeiro de 2016

Page 3: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

ii

Bahury, Mariana Soares

Beer, Paula Bittencourt

Aplicação do Sistema Lean de Produção à Indústria de

Cosméticos: O Caso da Linha de Produção de Coloração para

Cabelo/ Mariana Soares Bahury, Paula Bittencourt Beer – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

XIV, 99 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Vinicius Carvalho Cardoso Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de

Engenharia de Produção, 2016. Referências Bibliográficas: p. 98-99 1. Redução de perdas 2. Aplicação do Lean

Manufacturing. 3. Indústria de Cosméticos

I. Cardoso, Vinícius Carvalho II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção. III. Uma Aplicação do Sistema Lean de Produção à Indústria de Cosméticos: O Caso da Linha de Produção de Coloração para Cabelo

Page 4: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

iii

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer, primeiramente, as nossas famílias, que nos

apoiaram não só na realização deste trabalho, mas em todas as etapas de nossas

vidas. Sem eles não teríamos chegado até aqui com êxito.

Ao professor Vinicius Cardoso, por todo o conhecimento transmitido não só

para a realização deste trabalho, mas durante o curso de Engenharia de Produção e

por toda a paciência e tempo disponibilizado para que fosse possível escrever este

texto.

Aos professores e colegas de faculdade que enriqueceram toda essa nossa

trajetória tanto no âmbito acadêmico quanto pessoal e profissional.

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iv

"Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência."

Santo Agostinho

Page 6: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Aplicação do Sistema Lean de Produção à Indústria de Cosméticos: O Caso da

Linha de Produção de Coloração para Cabelo

Mariana Soares Bahury

Paula Bittencourt Beer

Janeiro/2016

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Curso: Engenharia de Produção

O presente trabalho teve como objetivo principal propor soluções de melhoria para

uma linha de produção de coloração para cabelos através da aplicação de ferramentas

do Sistema Toyota de Produção, o sistema Lean Manufacturing. Sendo assim, seria

possível reduzir os custos de produção, melhorando a produtividade e mitigando os

gastos com perdas em processo, de forma a tornar a empresa mais competitiva no

mercado de cosméticos. Importante observar que essa estratégia está totalmente

alinhada ao contexto em que a empresa está atualmente inserida, tanto do ponto de

vista interno como externo, ou seja, seus custos estão mais altos do que o esperado e

a competição no setor é bastante acirrada. Portanto, o estudo aqui apresentado faz

uma análise completa do processo e dos principais custos envolvidos, seguida das

sugestões de melhoria compondo um ganho final estimado de noventa mil reais

mensais e redução de tempo total de processamento em quase dezessete por cento,

comprovando assim a existência de um enorme potencial de melhoria no processo.

Palavras-chave: Lean Manufacturing; Perdas; Custos; Cosméticos

Page 7: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

An Application of Lean Production System to the Cosmetics Industry: The Case

of Production Line for Hair Dyeing

Mariana Soares Bahury

Paula Bittencourt Beer

January/2016

Advisor: Vinícius Carvalho Cardoso

Course: Industrial Engineering

This study aimed to propose a few solutions for a production line for hair dyeing by

applying some of Toyota Production System tools (the Lean Manufacturing System).

Thus, it would be possible to reduce production costs while improving productivity and

mitigating the costs with material losses. In consequence, the company would be more

competitive in the cosmetic market. Important to note that this strategy is fully aligned

with the context in which the company is now inserted, from both points of view:

internal and external. That means their costs are higher than expected and competition

in cosmetic industry is quite fierce. Therefore, the study presented here makes a

complete analysis of the process and the main costs involved, followed by suggestions

to improve the process. In the end, all the solutions proposed give an estimated gain of

ninety thousand reais per month, besides the throughput time reduction in almost

seventeen percent. Seen that, it is clear that there is a huge potential to improve

company results.

Keywords: Lean Manufacturing; Losses; Costs; Cosmetics

Page 8: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

vii

Sumário

INTRODUÇÃO......................................................................................................................................... 1

1 CONTEXTO EM QUE A EMPRESA ESTÁ INSERIDA ........................................................................... 3

2 A ESTRATÉGIA DA EMPRESA EM QUESTÃO.................................................................................... 5

3 OBJETO DE ESTUDO ....................................................................................................................... 8

3.1 OBJETIVO ................................................................................................................................. 8 3.2 UNIDADE DE ANÁLISE................................................................................................................... 9 3.3 TEMA ...................................................................................................................................... 9

4 MÉTODO ..................................................................................................................................... 10

4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA ............................................................................................................ 10 4.2 ENTENDIMENTO E ANÁLISE DA ESTRUTURA DE CUSTOS ....................................................................... 11 4.3 DEFINIÇÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE .............................................................................................. 11 4.4 ESTUDO DA UNIDADE DE ANÁLISE.................................................................................................. 11 4.5 IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS RAÍZES ............................................................................................... 12 4.6 PROPOSTAS DE MELHORIA .......................................................................................................... 12 4.7 ESTIMATIVA DOS RESULTADOS ..................................................................................................... 12

5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................. 13

5.1 ESTUDOS DOS MÉTODOS DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS (MASP) .............................................. 13 5.1.1 Introdução ....................................................................................................................... 13 5.1.2 Método de Kepner & Tregoe ............................................................................................ 13 5.1.3 Método de Processo de Pensamento da Teoria das Restrições .......................................... 13 5.1.4 Método QC Story (PDCA) .................................................................................................. 14 5.1.5 Análise de causas raiz (ACR) ............................................................................................. 15 5.1.6 Análise da Árvore de Falha ............................................................................................... 16 5.1.7 Gráfico de Pareto ............................................................................................................. 18

5.2 O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO............................................................................................... 18 5.2.1 A Filosofia JIT (Just in Time) .............................................................................................. 19 5.2.2 Kanban e Produção Puxada.............................................................................................. 20 5.2.3 O Controle de Qualidade Zero Defeitos (CQZD)/Poka Yoke ................................................ 20 5.2.4 Autonomação .................................................................................................................. 21 5.2.5 Kaizen – Melhoria Contínua ............................................................................................. 22 5.2.6 5 S - Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke ...................................................................... 23 5.2.7 SMED (Single Minute Exchange of Die) ............................................................................. 23 5.2.8 Operação Padrão/Lição de Um Ponto (LUP) ..................................................................... 25 5.2.9 Mapeamento de Fluxo de valor (Value Stream Mapping ou VSM) ..................................... 26 5.2.10 Perdas (As fontes de desperdício) ................................................................................. 27 5.2.11 OEE (Overall Equipment Efficiency) .............................................................................. 29 5.2.12 Supplier Management ................................................................................................. 30 5.2.13 Gestão da Mudança .................................................................................................... 32

6 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................ 35

6.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA ............................................................................................................ 35 6.1.1 Processo Produtivo: O macroprocesso .............................................................................. 38

6.2 ENTENDIMENTO E ANÁLISE DA ESTRUTURA DE CUSTOS ....................................................................... 40 6.2.1 Custos diretos vs Custos indiretos ..................................................................................... 43

6.3 DEFINIÇÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE .............................................................................................. 46 6.3.1 O Produto ........................................................................................................................ 47

6.4 ESTUDO DA UNIDADE DE ANÁLISE.................................................................................................. 48 6.4.1 Mapeamento da cadeia de valor do macroprocesso ......................................................... 48 6.4.2 Mapeamento da cadeia de valor da Linha 102 ................................................................. 51 6.4.3 Análise do processo produtivo na linha L102 .................................................................... 55

Page 9: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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6.5 IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS RAÍZES ............................................................................................... 68 6.5.1 Uso do diagrama de Ishikawa .......................................................................................... 68 6.5.2 Uso dos 5 porquês ........................................................................................................... 70 6.5.3 Diagrama de transição Ishikawa para 8 perdas do Lean ................................................... 71 6.5.4 As 8 Perdas do Lean Thinking ........................................................................................... 73

6.6 PROPOSTAS DE MELHORIA .......................................................................................................... 81 6.6.1 Kanban/FIFO ................................................................................................................... 81 6.6.2 SMED .............................................................................................................................. 83 6.6.3 5S .................................................................................................................................... 83 6.6.4 Poka Yoke ........................................................................................................................ 84 6.6.5 Kaizen/PDCA.................................................................................................................... 85 6.6.6 LUP (Lição de Um Ponto) .................................................................................................. 87 6.6.7 Relacionamento com fornecedores .................................................................................. 89 6.6.8 Autonomação .................................................................................................................. 89 6.6.9 Gestão da Mudança......................................................................................................... 89

6.7 ESTIMATIVA DOS RESULTADOS ..................................................................................................... 90

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 98

Page 10: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

ix

Lista de Figuras

FIGURA 1: DIAGRAMA DA METODOLOGIA DO PROJETO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ..... 10

FIGURA 5: CICLO PDCA - MELHORIA CONTÍNUA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA; FABICIACK (2009) ............................................................................................... 15

FIGURA 6: DIAGRAMA DE ISHIKAWA. FONTE: ISHIAKAWA 1993 ......................................... 16

FIGURA 7: DIAGRAMA DE ISHIKAWA COM CAUSAS PREENCHIDAS. FONTE:ISHIKAWA 1993 .. 16

FIGURA 8: TABELA DE SÍMBOLOS DE CAUSALIDADE. FONTE:LIMNIOS, 2007 ....................... 17

FIGURA 9: OS DEZ MANDAMENTOS DO KAIZEN. FONTE: KAIZEN INSTITUTE ....................... 22

FIGURA 10: ESTÁGIOS CONCEITUAIS DO SMED E AS TÉCNICAS ASSOCIADAS. FONTE: SHINGO, 1985 ....................................................................................................... 25

FIGURA 11: APLICAÇÃO DO MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR. FONTE: ROTHER & SHOOK., 1999 .................................................................................................................... 26

FIGURA 12: SÍMBOLOS UNIFICADOS DO MAPEAMENTO DE FLUXO DE VALOR. FONTE: MICONLEANSIXSIGMA ............................................................................................. 27

FIGURA 13: CÁLCULO DO OEE ILUSTRATIVO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .................. 30

FIGURA 14 - SEGMENTAÇÃO DE FORNECEDORES. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA; PROCUREMENTLEADERS ........................................................................................ 32

FIGURA 15 - CICLO DE GESTÃO DA MUDANÇA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA; RHIWALE

WORDPRESSA ....................................................................................................... 34

FIGURA 16: LAYOUT ATUAL DA FÁBRICA. FONTE: A EMPRESA .......................................... 37

FIGURA 17: MACROPROCESSOS DE PRODUÇÃO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............. 38

FIGURA 18: ESTRUTURA DE CUSTOS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............................. 41

FIGURA 19: PRODUTO FINAL DA L102. FONTE: A EMPRESA ............................................. 48

FIGURA 20 - VSM MACROPROCESSOS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ........................... 49

FIGURA 21 - VSM DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............................................ 52

FIGURA 22: MAPA SIMPLIFICADO DA LINHA COM PONTOS DE REJEITO IDENTIFICADOS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 67

FIGURA 23 - ANÁLISE DE CAUSAS DE PERDA DE VALOR DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 69

FIGURA 24: TABELA DE 5 PORQUÊS N1. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ........................... 70

FIGURA 25: TABELA DE 5 PORQUÊS N2. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ........................... 71

FIGURA 26- DIAGRAMA ISHIKAWA VS. LEAN. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .................... 72

FIGURA 27: LAYOUT ATUAL DO ESTOQUE DE CUBAS. FONTE: A EMPRESA ......................... 82

FIGURA 28: LAYOUT ATUAL (ESQUERDA) E LAYOUT PROPOSTO (DIREITA). FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 82

FIGURA 29: MODELO DE SEPARAÇÃO DE PRODUTOS PARA REINTEGRAÇÃO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 84

FIGURA 30: FOLHA KAIZEN PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 86

FIGURA 31: EXEMPLO DE LUP. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ...................................... 88

Page 11: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

x

FIGURA 32: 8 PERDAS DO LEAN VS PROPOSTAS DE MELHORIA. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 92

FIGURA 33: VSM FUTURO DO MACROPROCESSO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓRPRIA .......... 95

FIGURA 34 - VSM FUTURO DA LINHA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .............................. 96

Page 12: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Lista de Gráficos

GRÁFICO 1 - RECEITA JÁ DESCONTADA DE IMPOSTOS. FONTE: ABIHPEC .......................... 1

GRÁFICO 2: FATURAMENTO DAS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS NO BRASIL (2014). FONTE: EUROMONITOR INTERNACIONAL; BAIN&COMPANY ..................................................... 3

GRÁFICO 3: MARKET-SHARE DA INDÚSTRICA DE COSMÉTICOS NO BRASIL EM % POR

COMPANHIA (2008). FONTE: EUROMONITOR INTERNACIONAL ..................................... 4

GRÁFICO 4: REALIZAÇÃO VS RESPEITO (VISÃO ANUAL). FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ...... 5

GRÁFICO 5: REALIZAÇÃO VS RESPEITO (VISÃO MENSAL). FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA.... 6

GRÁFICO 6: VALOR ANUAL DA PRODUÇÃO POR FONTES DE CUSTO. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ................................................................................................................. 8

GRÁFICO 7: COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DOS PRODUTOS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA. 43

GRÁFICO 8: VALOR MENSAL DE PERDAS MATERIAIS ACIMA DO PREVISTO. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 44

GRÁFICO 9: COMPOSIÇÃO DAS PERDAS POR TIPO DE MATERIAL (ENTRE JUN 14 E ABR 15). FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .............................................................................. 45

GRÁFICO 10: PERDAS CAUSADAS PELA INEFICIÊNCIA DE PRODUTIVIDADE NO TRABALHO

(OUTLIER NÃO INCLUÍDO NA MÉDIA). FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ......................... 46

GRÁFICO 11: MATRIZ PERDAS VS PRODUÇÃO VS INEFICIÊNCIA . FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 47

GRÁFICO 12: EFICIÊNCIA DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA, EMPRESA ................. 56

GRÁFICO 13: TEMPO MÉDIO MENSAL PARA TROCAS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ........ 57

GRÁFICO 14: GRÁFICO DE PANES POR MÁQUINA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............. 58

GRÁFICO 15: PRINCIPAIS OFENSORES - PERDA DE MATERIAL. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 64

GRÁFICO 16: MEDIÇÕES DE PESO - L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ...................... 77

GRÁFICO 17: RESULTADOS DO TESTE DE CAPABILIDADE. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA . 77

GRÁFICO 18: MOTIVOS DE DEVOLUÇÃO DE CUBA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ........... 79

Page 13: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

xii

Lista de Tabelas

TABELA 1: MASP – PDCA. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............................................ 14

TABELA 3: CÁLCULO DOS TEMPOS DE CICLO E SETUP PARA VSM DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 53

TABELA 4: PANES E SUAS CAUSAS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ................................. 59

TABELA 5: OCUPAÇÕES DO OPERADOR DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA ............. 61

TABELA 6: COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DOS PRODUTOS DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 62

TABELA 7: CUSTOS COM MATERIAL E PERDAS DE MATERIAL. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 63

TABELA 8: PRI FINAL, CONSIDERANDO TODAS PERDAS EM PROCESSO. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 63

TABELA 9: PERDAS DE MATERIAL DE ACORDO COM O VSM – EM UNIDADES E POR OC. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .............................................................................. 65

TABELA 10: PERDAS DE MATERIAL DE ACORDO COM O VSM – EM REAIS E MENSAL. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 65

TABELA 11: PERDAS DE MATERIAL DE ACORDO COM O VSM – EM % E MENSAL. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 66

TABELA 12: MOTIVOS DE EXPULSÃO NOS PONTOS DE REJEITO DA L102. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .......................................................................................... 68

TABELA 13: PERCENTUAL DE MATERIAIS EM CONFORMIDADE QUE SÃO DESCARTADOS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA .............................................................................. 75

TABELA 14: PERDA DE ITENS BONS POR MÊS. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA.................. 76

TABELA 15: GANHOS COM KAIZEN ................................................................................. 87

TABELA 16: CUSTO UNITÁRIO DO PRODUTO APÓS MELHORIAS. FONTE: ELABORAÇÃO

PRÓPRIA ............................................................................................................... 94

Page 14: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

xiii

Lista de Siglas

AC: Artigos de embalagem. Sigla de origem francesa (Articles de Condicionnement)

BOM: Bill Of Materials (lista de materiais de um produto)

CD: Centro de Distribuição

CQZD: Controle de Qualidade Zero Defeito

FIFO: First In First Out (primeiro a entrar primeiro a sair)

JIT: Just In Time

LUP: Lição de Um Ponto

MOD: Mão de Obra Direta

MOS: Mão de obra indireta para as linhas de envase (engloba supervisores e técnicos)

MP: Matéria-Prima

OC: Ordem de Acondicionamento (ordens de produção para as linhas de envase)

OEE: Overall Equipment Efficiency (eficiência das máquinas)

OF: Ordem de Fabricação (ordens de produção para a fabricação das fórmulas)

PCP: Planejamento e Controle da Produção

PDCA: Plan Do Check Act

PF: Produto Final ou Produto Acabado

SK: Superkit (componente do produto final sendo estudado)

SMED: Single Minute Exchange of Die (troca rápida de ferramentas)

STP: Sistema Toyota de Produção

TH: Taxa Horária

TR: Taxa de Rendimento

UP: Unidade de Produção

VQ: Vigilância da Qualidade

VSM: Value Stream Mapping

Page 15: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 1 -

Introdução

O presente trabalho será desenvolvido em uma empresa líder mundial no ramo

de cosméticos com fábricas no Brasil, nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

No entanto, o estudo ficará limitado apenas à produção da fábrica do Rio de Janeiro,

onde a visitação facilitará o desenvolvimento do projeto, já que a empresa está

diretamente relacionada com o campo de atuação profissional de uma das autoras.

Importante comentar que, por questões de sigilo do negócio, o nome da

empresa em questão não será mencionado e os dados fornecidos neste trabalho não

comprometem a companhia.

Seguindo as tendências mundiais do aumento dos cuidados com o corpo, a

demanda brasileira por produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos cresceu

significativamente nos últimos anos. Segundo a ABIHPEC, essa indústria cresce em

torno de 10% ao ano no Brasil, país que ocupa o terceiro lugar no ranking dos maiores

mercados consumidores do setor de beleza do mundo, atrás apenas dos Estados

Unidos e China. Esse crescimento se dá, principalmente, devido ao aumento da renda

das classes C e D e à inserção cada vez maior do público masculino neste mercado,

Gráfico 1 - Receita já descontada de impostos. Fonte: ABIHPEC

Contudo, o crescimento deste setor atraiu a entrada de muitos concorrentes e,

portanto, houve uma maior necessidade de se diferenciar e criar vantagens

43

38

35

30

27

24

2120

1815

1412

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18181818

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0

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20141998 199919971996 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

+13%

R$ Bilhões US$ Bilhões

Receita líquida da Indústria Brasileira de Cosméticos, Higiene pessoal e

Perfumaria

Page 16: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 2 -

competitivas sustentáveis a longo prazo. Para isso é preciso garantir a excelência

operacional nas operações, entregando produtos com qualidade e a preços

acessíveis. O setor é bastante dependente, também, de lançamentos de novos

produtos e inovações em suas fórmulas, acirrando ainda mais a briga pelo market

share desse mercado. A ABIHPEC calcula que 30% do faturamento a cada dois anos

seja com produtos recém-lançados.

Atualmente, o Brasil enfrenta uma crise político-econômica, com taxas de

inflação, desemprego e câmbio constantemente crescentes ao longo dos últimos

meses deste ano. A instabilidade econômica, além de potencialmente encarecer o

preço das matérias-primas em função dos reajustes de preço, também pode afetar

severamente a venda de itens cosméticos. No entanto, mesmo diante das incertezas

no setor macroeconômico, é importante que a empresa em questão mantenha seus

investimentos para ser competitiva, através de uma forte gerência sobre seus gastos.

Tendo em vista o panorama do setor e a conjuntura econômica do país

atualmente, o presente trabalho realizará um estudo de caso a fim de identificar os

custos envolvidos nos processos de produção com o objetivo de tornar todo o

processo mais eficiente e produtivo.

Para isso, então, este documento consiste em sete capítulos. No capítulo um

será exposto o contexto em que a empresa está inserida, ou seja, o momento vivido

pela mesma levando em considerações fatores internos e externos a ela. No capítulo

dois será explicada de forma geral qual a estratégia da empresa. No capítulo três será

definido o objeto de estudo, que inclui o objetivo deste trabalho, a unidade a ser

analisada e o tema que servirá de base para a construção do texto. No capítulo quatro,

será apresentado o método o qual será o direcionador para os capítulos seguintes do

trabalho. No capítulo cinco será feita a revisão bibliográfica dos conceitos e filosofias

necessários para a compreensão da aplicação dos mesmos no estudo de caso. No

capítulo seis será feito o estudo de caso seguindo o método construído no capítulo

quatro. Por fim, no capítulo sete, serão expostas as conclusões sobre os resultados

obtidos, confrontando a situação inicial com a situação final, após as sugestões de

melhoria propostas.

Page 17: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 3 -

1 Contexto em que a empresa está inserida

Atualmente, o Brasil é o terceiro maior consumidor mundial na indústria de

cosméticos com um faturamento anual de cerca de USD 50bn, atrás somente de EUA

e Japão, e com um forte crescimento nos últimos anos (acima de 8%). Isso se deve,

sobretudo, graças à migração de milhões de pessoas das classes E/D para a classe

C, criando um grande mercado consumidor em um país de 200 milhões de pessoas.

*CAGB: Compound Annual Growth Rate (Taxa de Crescimento Annual Composta)

Gráfico 2: Faturamento das indústrias de cosméticos no Brasil (2014). Fonte: Euromonitor internacional; Bain&Company

Esse crescimento tem atraído muitas empresas para o setor, acirrando a

concorrência e levando os concorrentes a uma busca constante por liderança em

custos e em gestão de operações. Além disso, a Empresa em estudo precisa estar

cada vez mais preparada para ser capaz absorver parte desse mercado em

crescimento e ganhar market-share, ainda mais considerando o cenário de crise

político-econômica que o país está vivendo nesse momento.

Page 18: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 4 -

Gráfico 3: Market-share da indústrica de cosméticos no Brasil em % por companhia (2008). Fonte: Euromonitor Internacional

Page 19: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 5 -

2 A estratégia da empresa em questão

Até o ano de 2014, a fábrica vinha enfrentando dificuldades para atingir o plano

de produção, isto é, a produção realizada estava constantemente inferior à produção

planejada. O não cumprimento do plano de produção acarreta em um risco de ruptura

dos produtos no mercado e uma consequente perda de clientes e Market-Share. Ter

sempre produtos na estante disponíveis para o cliente é indispensável para a

manutenção da imagem da marca e da fatia do mercado.

Em 2014, de forma a solucionar este problema, a empresa montou um time de

Planejamento e Controle da Produção (PCP) para estruturar melhor o planejamento da

produção e evitar as possíveis rupturas dos produtos no mercado. Até então, por esse

motivo, a prioridade da fábrica era o cumprimento do plano de produção, não medindo

esforços para que isso acontecesse, ou seja, sem pensar muito na contenção dos

custos. O gráfico abaixo ilustra a situação da fábrica nesse periodo e a melhora nos

resultados a partir de outubro de 2014, quando a equipe foi reestruturada.

Gráfico 4: Realização vs respeito (visão anual). Fonte: Elaboração Própria

Page 20: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 6 -

Gráfico 5: Realização vs respeito (visão mensal). Fonte: Elaboração Própria

O indicador “Realização” refere-se ao volume total produzido comparado com o

volume total planejado. Já o indicador “Respeito” mostra se a produção final do mês

corresponde ao mix de produtos planejado.

Com essa mudança na estrutura da equipe, gradativamente a empresa

conseguiu atingir as metas mensais de produção. No entanto, o foco na priorização do

cumprimento do plano levou a um aumento dos custos de produção acima do

esperado, pois foi preciso contratar temporários para a produção e estruturar um time

de PCP que não existia. Além disso, as perdas de material estavam altíssimas, pois na

obrigação de atingir a meta de produção, a operação deixava de lado os cuidados com

reaproveitamento de material e as paradas para ajustes de máquina que poderiam

evitar um volume grande de desperdício. Então, a empresa começou a gastar mais

para produzir uma unidade do que antes, seja por gastos maiores com mão de obra ou

matéria-prima.

Além disso, o fato de a fábrica envasar produtos de diferentes características

físico-químicas, bem como utilizar formatos diferentes de embalagem, fez com que ela

se tornasse uma fábrica bastante complexa e de difícil gerenciamento.

A variedade de produtos, variabilidade dos processos e as diferenças nos

volumes de pedidos são alguns dos fatores que mais contribuem para essa

complexidade, dificultando a implementação de padrões e de controles de processo e

exigindo uma melhor estruturação dos procedimentos para evitar os diversos tipos de

desperdícios existentes na produção, ou seja, tudo aquilo que não agrega valor ao

cliente.

Como já explicado anteriormente, a concorrência no setor vem aumentando

nos últimos anos e a crise político-econômica, além das crises hídrica e energética no

Page 21: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 7 -

país, contribuem para um cenário desfavorável para as empresas com altos custos.

Portanto, para manter-se vivo neste mercado, é preciso ser excelente em custos e em

processos.

Page 22: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 8 -

3 Objeto de estudo

3.1 Objetivo

Além do que já foi exposto anteriormente, vale explicar que a fábrica e a sede

administrativa possuem CNPJ’s distintos e, portanto, os produtos devem ser vendidos

de uma para outra, não podendo ser simplesmente fornecidos, devido a imposições

legais. Contudo, em se tratando de uma mesma empresa, a fábrica não pode querer

lucrar em cima da sua sede administrativa e, portanto, vende seus produtos com o

mínimo de lucro possível, apenas para não caracterizar doação. Sendo assim, a

redução de custos é a única forma de se ter ganhos financeiros dentro da fábrica.

Portanto, o papel da fábrica na cadeia de suprimentos é produzir com o menor custo

possível, possibilitando maiores margens para a operação como um todo.

Dado o contexto exposto anteriormente, a fábrica percebeu a necessidade

urgente de redução de custos e aumento da eficiência da produção. Importante

ressaltar que essa redução deve ser realizada sem prejudicar o resultado de produção

conquistado. Para reiterar a necessidade de redução de custos já exposta, podemos

ver no gráfico abaixo que o custo unitário médio dos produtos da fábrica aumentou em

torno de 5% a cada ano desde 2013 (o correspondente a R$ 0,10 por ano).

Gráfico 6: Valor anual da produção por fontes de custo. Fonte: Elaboração Própria

0.5

2.5

1.5

0.0

1.0

2.0

2014 2015

MOD

Terceirização

20% Custos indiretos

17%

Custo unit. médio/produto

(R$)

2013

16%

AC

Matéria-prima

2%1% 2%

15%

11% 12%

42%

44% 41%

24% 27% 25%

1.902.01

+5%

2.09

168 205 175# k Unid.

produzidas:

CAGR

Page 23: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 9 -

Sendo assim, e tendo em vista o panorama do setor e a conjuntura econômica

do país atualmente, o presente trabalho realizará um estudo de caso a fim de

identificar os custos envolvidos nos processos de produção, analisar as perdas

inerentes a essas operações e sugerir melhorias com o objetivo de tornar todo o

processo mais eficiente e produtivo. Por fim, será estimada a redução de custos a ser

alcançada com as propostas de melhorias. Nosso foco será a redução dos custos de

produção de uma das linhas da fábrica a ser definida posteriormente.

3.2 Unidade de análise

A unidade de análise será uma das linhas de produção da fábrica, a ser

definida posteriormente, segundo alguns critérios específicos a serem escolhidos e

explicitados ainda neste documento.

3.3 Tema

Para realizar este trabalho, faremos um estudo de operações de forma a

realizar propostas de melhorias aos sistemas que criam e entregam os produtos da

empresa em estudo. Isso inclui desenhar e analisar o processo de produção da

unidade de análise selecionada, de maneira a identificar os potenciais pontos de

melhoria e torná-la mais eficiente e produtiva, ou seja, produzir mais com custos

menores. As ferramentas de análise e propostas de melhoria serão baseadas

principalmente nos conceitos do Sistema Toyota de Produção (STP), visto que o

objetivo maior desse projeto é transformar o processo produtivo da linha escolhida em

um processo mais enxuto, com menos desperdícios e maior eficiência. Portanto, o

Lean Manufacturing nos servirá como embasamento principal.

Page 24: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 10 -

4 Método

Este trabalho será realizado com base em uma aplicação prática. Para isso

serão realizadas visitas em campo para coleta dos dados, assim como pesquisas

bibliográficas em livros, artigos, sites diversos e monografias. Abaixo, encontra-se um

esquema ilustrativo de todas as etapas do método de trabalho utilizado, com suas

respectivas entradas e saídas:

Figura 1: Diagrama da metodologia do projeto. Fonte: Elaboração própria

4.1 Descrição da empresa

De forma a situar o leitor sobre o campo de atuação da empresa e sobre os

macroprocessos e áreas existentes na mesma, será destinado um capítulo do estudo

de caso para esta apresentação. Assim será possível ter uma visão do processo como

um todo, explicitando a escolha da área a ser estudada e a sua posição nos processos

da empresa.

Descrição da empresa

Etapas da MétodoEntradas Saídas

Entendimento e análise da estrutura de

custos

Definição da unidade de análise

Estudo da unidade de análise

Identificação das causas raízes

Propostas de melhoria

Estimativa dos resultados

Dados, textos sobre

a fábrica

Setor da fábrica a

ser estudado

Dados de custosInformações de

custos tratadas

Informações de

custos por linhaLinha a ser estudada

Dados da linha

escolhida

Informações sobre

problemas da linha

Problemas da linha Causas raízes

Potenciais de

melhoriaSoluções

Soluções Impacto financeiro

1

2

3

4

5

6

7

Page 25: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 11 -

4.2 Entendimento e análise da estrutura de custos

Existem diversos métodos de custeio a serem aplicados às empresas, levando

em consideração custos diretos, indiretos, fixos e variáveis. A estrutura de custos da

empresa será, então, entendida mais a fundo, para que a partir dela sejam

identificados os principais ofensores e que, posteriormente, seja possível estimar os

ganhos com as propostas e melhoria a serem sugeridas.

Definidos os principais ofensores ao custo total dos produtos, como sendo os

mais impactantes para o aumento do custo final, de forma global para a fábrica,

seguiremos com a seleção da linha mais relevante nesse impacto negativo. Vale

ressaltar que nem todos os componentes poderão ser abordados neste projeto, uma

vez que a alteração de alguns desses custos dependeria de decisões superiores e

estratégicas da empresa, fugindo do escopo do trabalho, como é o caso das

terceirizações.

4.3 Definição da unidade de análise

Uma vez definidos os componentes relevantes para o resultado financeiro da

fábrica, iremos construir uma matriz comparativa de todas as linhas de produção que

leve em consideração os elementos escolhidos anteriormente, ou seja, os principais

contribuintes para os elevados custos de produção. A partir dessa matriz, ficará

evidente qual a linha que deverá ser estudada, visto que melhorias aplicadas a ela

trarão resultados extremamente positivos para a fábrica.

4.4 Estudo da unidade de análise

Definida a linha de produção a ser analisada mais a fundo, serão coletados

dados para fins de análise dos processos da mesma, de forma a mapear potenciais

pontos de melhoria para redução dos custos. A análise se iniciará com a construção

de um Value Stream Mapping (VSM), tanto do macroprocesso quanto da linha

escolhida, seguido de análises mais detalhadas sobre a eficiência, a ocupação do

tempo do operador e as perdas com materiais da linha.

Nesta etapa serão levados em consideração os dados históricos dos relatórios

gerenciais da empresa, assim como as observações feitas pelas autoras em campo

em diferentes momentos do dia e em datas diversas, também. As entrevistas com os

operadores e com os funcionários que acompanham a linha mais de perto serão

essenciais neste momento. Afinal, eles são os maiores conhecedores da linha.

Page 26: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 12 -

4.5 Identificação das causas raízes

A partir de todas as informações recolhidas anteriormente, metodologias de

identificação de problemas, como o diagrama de Ishikawa, o método dos 5 porquês e

as 8 perdas do sistema Lean poderão ser utilizados para identificar com clareza as

causas raízes e os potenciais pontos de melhoria. Neste momento é importante avaliar

tudo que não agrega valor ao processo, ao produto, ao acionista ou ao cliente.

4.6 Propostas de melhoria

Tendo os problemas da linha mapeados e suas perdas quantificadas, serão

elaborados os planos de melhoria utilizando as ferramentas do Sistema Toyota de

Produção. A cada plano de melhoria proposto, será estimado o ganho em performance

e em valor.

4.7 Estimativa dos resultados

A partir das propostas de melhoria definidas no tópico anterior, serão

consolidados todos os ganhos estimados e calculado o impacto global que os mesmos

gerarão na redução de custos do produto em questão, segundo a estrutura de custos

definida anteriormente. Da mesma forma, serão construídos os VSMs futuros,

indicando o resultado das melhorias propostas.

Page 27: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 13 -

5 Revisão Bibliográfica

5.1 Estudos dos métodos de análise e solução de problemas (MASP)

5.1.1 Introdução

Um problema pode ser definido como um desvio da condição ou situação

desejada, ou seja, um resultado esperado, porém não alcançado. Um método é um

caminho sistematizado para analisar e solucionar problemas. Antes de começarmos a

aplicar soluções, o mais importante é antes disso identificar o problema em si para ter

certeza que está atacando a causa certa do problema (ALVAREZ, 1997).

Existem diversos tipos de métodos de identificação, análise solução de

problemas. Por fins práticos, iremos abordar nesse trabalho apenas os métodos mais

importantes: Método Kepner & Tregoe, o Processo de Pensamento da Teoria das

Restrições e o QC Story. Todos esses métodos são considerados métodos hard, uma

vez que consideram ser possível alcançar a solução do problema (ALVAREZ, 1997).

5.1.2 Método de Kepner & Tregoe

Desenvolvido da década de 50, compõe-se basicamente de 3 processos

(KEPNER-TREGOE,1977):

Análise de problema – identificação da causa

Análise de decisão – escolha de uma solução

Análise de problema potencial – planejamento da implantação da

solução

5.1.3 Método de Processo de Pensamento da Teoria das

Restrições

Desenvolvido na década de 90, consiste em 3 processos para responder às

seguintes perguntas (GOLDRATT, 1990):

"O que mudar?" – definição do problema

"Mudar para o quê?" – definição de uma solução viável

"Como fazer a mudança?" – elaboração de um plano de ação

Page 28: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 14 -

5.1.4 Método QC Story (PDCA)

Desenvolvido na década de 60, esse método, também conhecido como PDCA

(Plan-Do-Check-Act ou Plan-Do-Check-Adjust), é composto por um número de etapas

cujo número pode variar consideravelmente – iremos abordar 8 etapas descritas

conforme a tabela abaixo (JUSE, 1991):

Tabela 1: MASP – PDCA. Fonte: Elaboração própria

Este método é o que tem sido mais amplamente usado historicamente pelas

empresas, por ser fácil de ser assimilado e por ser o único que possui uma estrutura

formal compreendendo etapas relacionadas à análise, solução, implantação e

avaliação da solução. Sua última etapa, representada pela letra “A” faz com que

tenhamos ciclos contínuos de PDCA, ou seja, novos planos de melhoria podem surgir

da recapitulação dos processos, gerando mais melhorias a cada ciclo. Este método

está intimamente relacionado ao conceito Kaizen do Sistema Toyota de Produção, a

ser explicado mais a frente.

Etapa Descrição Sub-etapas

Identificação do

problema

Observação

Análise

Plano de ação

Ação

Verificação

Padronização

Conclusão

Definir o problema e reconhecer

sua importância

Investigar características

específicas do problema

Descobrir as causas

fundamentais

Conceber um plano para bloquear

essas causas

Bloquear causas fundamentais

Verificar se a ação foi efetiva

Prevenir o reaparecimento do

problema

Recapitular o processos e

consolidar o aprendizado

• Escolha do problema

• Recolher histórico, perdas & ganhos, anal. pareto• Nomear responsáveis

• Descoberta das características através da coleta de dados

• Cronograma, orçamento e meta

• Definir possíveis causas

• Escolher e investigar as mais prováveis (hipóteses)

• Treinamento

• Execução da ação

• Elaboração da estratégia de ação

• Elaboração do plano de ação

• Comparação dos resultados

• Listar efeitos secundários e verificar a continuidade do pb

• Elaboração e comunicação do padrão

• Educação, treinamento e acompanhamento

• Listagem dos problemas remanescentes

• Planejamento de próximos passos

P

D

C

A

Page 29: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 15 -

Figura 2: Ciclo PDCA - melhoria contínua. Fonte: Elaboração própria; FABICIACK (2009)

5.1.5 Análise de causas raiz (ACR)

5.1.5.1 Cinco Porquês

O método dos 5 porquês é usado para que possamos identificar a causa de

algum problema e ele consiste em formular a pergunta "Por quê" sucessivas vezes

para chegarmos à causa raiz do problema (BAUER et al.,2002).

A razão para um problema pode, muitas vezes, levar a outras perguntas e, por

isso, repetir a pergunta mais de uma vez pode levar à verdadeira causa. Trata-se de

uma ferramenta aparentemente simples, por não haver análise estatística, mas que na

verdade requer um rigor lógico para que as relações de causas e efeito sejam

respeitadas. O método pode ser aplicado através dos seguintes passos, brevemente

explicados:

1. Defina do problema, qual situação desejamos entender;

2. Pergunte-se porque a situação anterior é verdadeira

3. Para a razão descrita após o 2o porquê, pergunte porque novamente

4. Continue perguntando porquês até quando puder

5. Quando não houver mais respostas aos porquês, a raiz do problema foi

identificada

5.1.5.2 Ishikawa

Também conhecido como diagrama de Causa e Efeito ou Espinha de Peixe, o

diagrama de Ishikawa liga um efeito às suas possíveis famílias de causas. Apesar da

Page 30: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 16 -

família de causas poder variar consideravelmente de um caso para outro, a forma

mais conhecida usada para categorizar essas causas é o 6Ms : Matéria-prima,

Máquina, Medida, Meio ambiente, Mão de obra e Método (BAUER et al.,2002) .

Figura 3: Diagrama de Ishikawa. Fonte: Ishiakawa 1993

O diagrama nos ajuda a pensar nas potenciais causas para um problema

dentro de cada família. O ideal é que se busque uma discussão em grupo de fatos

que nos levem às possíveis causas alocadas dentro de cada um dos Ms. Todas as

causas devem então ser relatadas no diagrama.

Figura 4: Diagrama de Ishikawa com causas preenchidas. Fonte:Ishikawa 1993

.

5.1.6 Análise da Árvore de Falha

Também conhecida como Análise da Árvore de Causa e Efeito, essa análise

consiste em, através de um diagrama lógico, descobrir como um ato inesperado num

sistema pode ser uma consequência de uma falha (ou de uma combinação delas) nos

seus subsistemas (LIMNIOS, 2007). Essas falhas devem ser exaustivas, cobrindo

100% do problema, e mutuamente exclusivas.

Os passos para desenvolver essa análise são:

Page 31: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 17 -

Começar a análise a partir do problema, que será chamado de "evento

de topo", correspondendo a uma anomalia do sistema;

Para esse evento de topo, determinar todos os possíveis eventos de

falha, que podem ter gerado esse problema individualmente ou

combinados;

Determinar para cada evento da etapa anterior, quais seriam os

eventos que, em conjunto ou separadamente, os causaram

Construir a árvore usando os conectores corretos para cada tipo de

causalidade do problema.

A tabela de símbolos de causalidade (não exaustiva) pode ser vista abaixo:

Figura 5: Tabela de símbolos de causalidade. Fonte:Limnios, 2007

Page 32: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 18 -

5.1.7 Gráfico de Pareto

Gráfico de Pareto é uma ferramenta da qualidade que dispõe a informação com

o objetivo de tornar visualmente claro quais são as causas ou problemas mais

importantes, possibilitando a priorização e concentração de esforços sobre os mesmos

(FLEMMING, 2005).

O Princípio de Pareto, também conhecido como a regra 80-20, sugere que,

para muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos provém de 20% das causas.

Consiste em um gráfico composto de barras, na forma de um histograma com

valores individuais apresentados na ordem decrescente, e de uma linha, que

representa o valor cumulativo total. O eixo vertical à esquerda indica a frequência de

ocorrência, ou qualquer outra unidade de medida que atribua a importância ou o peso

daquele valor em relação aos outros, enquanto que o eixo vertical à direita representa

a porcentagem cumulativa do número total de ocorrências.

5.2 O Sistema Toyota de Produção

A história do Sistema Toyota de Produção (STP) é calcada nos valores da

família Toyoda, os quais, segundo Womack (1992), tiveram êxito primeiro no ramo de

maquinaria têxtil, quando foram capazes de desenvolver teares tecnicamente

superiores. Nos anos 30, iniciaram sua produção automobilística com a Toyota Motor

Corporation.

Ainda segundo Womack (1992), logo após a Segunda Guerra Mundial, o Japão

enfrentava dificuldades para ingressar na produção em larga escala de veículos

automotores, pois o mercado no Japão era limitado e diversificado e, portanto, a

produção em massa não se justificava; a força de trabalho nativa ganhou força com os

sindicatos, exigindo melhores condições de trabalho; a economia do país estava

devastada pela guerra; e havia grandes concorrentes internacionais como a GM e a

Ford. Nesse contexto, era preciso pensar em um modelo que se adequasse à indústria

automobilística japonesa naquele momento.

Na década de 50, Taiichi Ohno juntamente com sua equipe, estudou a fundo o

livro de Henry Ford Today and Tomorrow, visitou plantas nos Estados Unidos e iniciou

um período de colocar em prática princípios de autonomação e de fluxo unitário de

peças nas fábricas da Toyota. Tudo isso juntamente com as ideias de produção

puxada dos supermercados norte americanos e com os ensinamentos pioneiros sobre

qualidade de W. Edwars Deming, fez com que surgisse o que conhecemos por

Sistema Toyota de Produção. Nos anos 90, a publicação do livro “A máquina que

Page 33: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 19 -

mudou o Mundo” (Womack, Jones, Roos, 1991) fez o STP ficar conhecido como Lean

Production (LIKER, 2005).

Taiichi Ohno desenvolveu uma representação simples do STP através da

ilustração de uma casa. Ohno (1997) classifica em dois os pilares que sustentam essa

casa, que é o STP: o Just in Time (JIT) e a Autonomação (Jidoka). O primeiro significa

remover ao máximo possível os estoques e pulmões utilizados para cobrir possíveis

problemas das máquinas. Dessa forma, os problemas ficam imediatamente visíveis e

são produzidas peças na quantidade e no momento exato em que foram demandadas.

O segundo está diretamente ligado ao primeiro, visto que assim que um problema é

detectado, ele deve ser corrigido. Esse princípio dá ao operador o poder de interação

com a máquina, caso haja alguma não conformidade durante a produção.

Segundo Liker (2005), o coração do Sistema Toyota de Produção é a redução

de perdas. Por isso, atualmente, o STP é amplamente estudado e seus princípios

aplicados por indústrias e empresas de todo o mundo, as quais tem o objetivo de

reduzir custos, aumentar a qualidade dos seus produtos e garantir vantagens

competitivas.

5.2.1 A Filosofia JIT (Just in Time)

“O Just In Time (JIT) é muito mais do que uma técnica ou um conjunto de

técnicas de administração da produção, sendo considera como uma completa filosofia”

(CORRÊA et al., 2012, pag. 592). Sendo assim, o JIT visa a manufatura em um fluxo

contínuo e tem como objetivos principais garantir a qualidade e permitir a flexibilidade

do processo, através da eliminação das perdas. Para isso a produção só acontece

quando há demanda, no local e quantidade exatos.

[...] o termo sugere muito mais que se concentrar apenas no tempo de entrega, pois isso poderia estimular a superprodução antecipada e daí resultar em esperas desnecessárias. Na verdade, O Sistema Toyota também realiza a produção com estoque zero, ou sem estoque, ou seja, cada processo deve ser abastecido com os itens necessários, na quantidade necessária, no momento necessário – Just in time, ou seja, no tempo certo, sem geração de estoque (SHINGO, 1996, p.103).

Dessa maneira, então, a filosofia JIT elimina os custos de estocagem,

inventário e movimentação/transportes desnecessários, além de custos com a gestão

desses estoques, focando, de fato, no que agrega valor para o cliente. Para isso, uma

característica importante do sistema JIT é a produção “puxada”, em que eu só produzo

quando há real necessidade de produzir, ou seja, quando há demanda direta do meu

cliente, seja ele interno ou externo. Assim, não há acúmulo de estoques finais nem

Page 34: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 20 -

intermediários durante o processo, mas sim um fluxo unitário de peças, como proposto

por Taiichi Ohno.

Essa filosofia é bem diferente da filosofia mais tradicional conhecida como

produção “empurrada”, onde há produção independente da demanda do cliente, ou

seja, são feitas previsões e estimativas e, a partir daí, os materiais são “empurrados”

ao longo da cadeia até serem armazenados no estoque, aguardando a criação da

demanda que vai gerar o consumo.

5.2.2 Kanban e Produção Puxada

Kanban é uma palavra japonesa que significa cartão. Esse cartão tem como

objetivo disparar a produção dos estágios anteriores, à medida que o produto é

demandado pelo cliente. Uma etapa só pode produzir se a seguinte disparar

necessidade de produção e assim por diante. O Kanban é, então, uma ferramenta de

aplicação prática do sistema de produção puxado.

De acordo com Ohno (1997), as funções do kanban são basicamente o

fornecimento de informações sobre o transporte de material e sobre a produção,

impedindo a superprodução e o transporte desnecessário, pois o item será produzido

e/ou transportado somente sob demanda.

Para que o Kanban funcione, no entanto, é preciso definir com clareza quem

são os fornecedores e clientes de cada etapa da cadeia produtiva. Normalmente, são

utilizadas embalagens ou identificações padronizadas para que se saiba de forma

visual o produto e quantidade em questão.

5.2.3 O Controle de Qualidade Zero Defeitos (CQZD)/Poka Yoke

O Sistema Toyota de Produção se baseia no conceito de Controle de

Qualidade Zero Defeito, ou seja, qualquer forma de anomalia ou anormalidade

encontrada no processo deve ser eliminada imediatamente. Segundo Ghinato (1995),

existem alguns pontos fundamentais que sustentam o CQZD: inspeção na fonte

(método com caráter preventivo); dispositivos à prova de falhas (Poka-Yokes) e

redução do tempo entre a detecção do erro e aplicação da corretiva.

A meta do CQZD é "garantir" que um sistema seja capaz de produzir "consistentemente" produtos livres de defeitos. Este conceito, na Toyota, é aplicado a todas as operações e processos de forma que cada operação e cada processo seja planejado considerando todas as possibilidades de falha. Esta postura preventiva evita a execução sob condições anormais (erros) que gerariam o defeito (GHINATO, 1995, p. 173).

Page 35: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 21 -

Dessa maneira, cada operador deve ser responsável por garantir a qualidade

do produto que está sob sua responsabilidade, através de inspeções próximas ao

processo e em tempo real, para impedir que um erro se propague por toda a cadeia e

por todo o lote de produção. Ohno (1997) diz que um erro no início do processo é

grave, pois prejudica toda a cadeia produtiva, gera perda de tempo com retrabalho e

não agrega valor ao produto para o cliente. Portanto, é preciso que o erro seja

corrigido em sua origem, a fim de prevenir problemas futuros.

O Poka-Yoke foi desenvolvido por Shiengo Shingo e pode ser definido como

um dispositivo a prova de falhas, que ajuda a inspecionar 100% dos produtos,

impedindo a ocorrência de defeitos (SHINGO, 1996). Portanto, o Poka-Yoke é uma

das formas de se garantir a qualidade total, pois emite alertas e/ou faz com que a linha

de produção pare caso algum produto passe defeituoso.

5.2.4 Autonomação

O conceito de autonomação surge com os esforços de Ohno para que o

operador pudesse dar um toque humano e inteligência às máquinas, ou seja, ele teria

autonomia de parar a linha de produção toda vez que fosse detectada uma anomalia.

Dessa maneira, visa-se impedir a propagação de defeitos e eliminação de

anormalidades no processo. Por esse motivo, a autonomação está estritamente ligada

ao conceito de controle de qualidade zero defeito (CQZD). “O CQZD é a base

operacional essencial para a prática da autonomação” (GHINATO, 1995, p. 173).

O fato de a máquina parar para que seja consertado o defeito no momento em

que o mesmo ocorreu torna o problema visível e tem como objetivo identificar a sua

causa fundamental, evitando que o mesmo seja reincidente. A autonomação, então,

está intimamente ligada à autonomia do operador e, não necessariamente, à simples

automação.

Embora a autonomação esteja freqüentemente associada à automação, ela não é um conceito restrito às máquinas. É importante notar que o conceito de autonomação tem muito mais identidade com a ideia de autonomia do que com automação. Enquanto a autonomia para a interrupção da linha é condição fundamental, a automação desempenha um papel secundário, nem sempre presente. No STP a autonomação é ampliada para a aplicação em linhas de produção operadas manualmente. Neste caso, qualquer operador da linha pode parar a produção quando alguma anormalidade for detectada (GHINATO, 1995, p. 172)

Segundo Shingo (1996), a instabilidade da produção gera a necessidade de

estoques e, portanto, para que não tenhamos que criar estoques, é preciso eliminar

todos os fatores que possam causar instabilidade no processo. Por isso, é

Page 36: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 22 -

extremamente importante que o operador seja multifuncional e seja capaz de

identificar anomalias. O Poka-Yoke definido anteriomente, é uma das formas de

auxiliar o operador na detecção das anomalias.

5.2.5 Kaizen – Melhoria Contínua

A palavra japonesa Kaizen significa melhoramento contínuo e é um método

gradual e incremental de implementação de melhorias que devem envolver desde

gestores a trabalhadores das linhas de produção (CORRÊA, 2012).

É importante saber diferenciar a ferramenta Kaizen do conceito Kaizen. A

ferramenta, assim como o conceito, também se baseia na filosofia de melhoria

contínua, mas é um meio de difusão da metodologia de maneira sistematizada e

aplicável. Já o conceito Kaizen é uma filosofia ampla, que faz parte da cultura da

empresa e que deve ser aplicada a todos os processos, por todos os funcionários e a

todo momento.

A aplicação de um projeto Kaizen se utiliza de um conjunto de ferramentas de

identificação de problemas, de análise de causas e de modo de falha (análise de cinco

porquês, diagrama de Ishikawa), visando gerar ações que terão como produto padrões

e procedimentos (Lição de Um Ponto – LUP; PDCA) que buscam a eliminação

constante e gradual das perdas. Na filosofia Kaizen a melhoria é um processo

contínuo e o que foi feito hoje, pode já não ser mais o melhor método para amanhã.

Por esse motivo, o Kaizen está intimamente ligado ao ciclo PDCA, explicado

anteriormente neste documento.

Figura 6: Os dez mandamentos do Kaizen. Fonte: Kaizen Institute

OS DEZ MANDAMENTOS DO KAIZEN

1. O desperdício é o inimigo nº1. Para eliminá-lo é preciso sujar as mãos.

2. Melhorias graduais feitas continuadamente; não é ruptura pontual.

3. Todos na empresa tem de estar envolvidos, desde os gestores do topo e intermédios, até o pessoal de

base; a metodologia não é elitista.

4. A estratégia deve ser barata. O aumento da produtividade deve ser feito sem investimentos significativos.

Não se deve aplicar somas astronômicas em tecnologia e consultorias.

5. Aplicar-se em qualquer lugar; não serve só para os japoneses.

6. Apóia-se numa gestão visual, numa total transparência de procedimentos, processos e valores; torna os

problemas e os desperdícios visíveis aos olhos de todos.

7. Focaliza a atenção no local onde se cria realmente o valor ('gemba', em japonês).

8. Orienta-se para os processos.

9. Dá prioridade às pessoas, ao humanware; acredita que o esforço principal de melhoria deve vir de uma nova

mentalidade e estilo de trabalho das pessoas (orientação pessoal para a qualidade, trabalho em equipe,

cultivo da sabedoria, elevação da moral, autodisciplina, círculos de qualidade e prática de sugestões

individuais ou de grupo)

10. O lema essencial da aprendizagem organizacional é aprender fazendo.

Page 37: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 23 -

5.2.6 5 S - Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke

Liker (2005) afirma que um dos princípios do Sistema Toyota de Produção

deve ser o controle visual, para que os problemas apareçam. Segundo ele, se não

mantivermos a organização e a limpeza, iremos esconder problemas e aceitar

maneiras disfuncionais de produzir. A metodologia japonesa utilizada para assegurar a

limpeza, a organização e a disciplina dos ambientes é chamada de 5S (Seiri, Seiton,

Seiso, Seiketsu e Shitsuke) e suas etapas estão descritas abaixo, de acordo com Liker

(2005):

Separação (Seiri): Nesta primeira etapa é feita a separação daquilo que é

necessário do que é desnecessário, ou seja, aquilo que os operadores realmente

precisam para trabalhar daquilo que não serve para a realização do seu trabalho.

Dessa forma, elimina-se o que é inútil, ganhando-se espaço para trabalhar;

Organização (Seiton): Em segundo lugar, cada objeto separado como útil na

etapa anterior, ganha um local específico onde será armazenado. Nesta etapa é

importante priorizar objetos e ferramentas que são utilizados com mais frequência para

armazenamento em locais de mais fácil acesso. Após essa organização, fica mais fácil

e rápida a localização de cada objeto. Cabe aqui um ditado conhecido “Um lugar para

cada coisa e cada coisa em seu lugar”;

Limpeza (Seiso): O processo de limpeza age também como forma de

inspeção, pois é através da limpeza que expomos condições anormais e somos,

então, capazes de identificar previamente falhas que poderiam causar problemas de

qualidade ou quebra de máquinas;

Padronizar (Seiketsu): A penúltima etapa diz respeito à padronização dos

procedimentos e das condições a que o ambiente deve ser mantido, para servir de

modelo às auditorias e monitoramentos dos primeiros três S’s;

Sustentar (Shitsuke): A última etapa consiste na manutenção de todas as

etapas anteriores, além de manter funcionando o conceito de melhoria contínua.

5.2.7 SMED (Single Minute Exchange of Die)

“SMED é um acrônimo da expressão em inglês Single Minute Exchange of Die

e se refere a uma série de princípios para realizar trocas de ferramentas (setups) em

tempos inferiores a 10 minutos (single minute significa tempo em minutos expresso

com um único dígito)” (CORRÊA e al.,2012, p.642).

Page 38: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 24 -

O SMED foi desenvolvido por Shingo na década de 50 de forma a reduzir

consideravelmente os tempos de trocas nas indústrias. Segundo ele, a operação de

setup pode ser dividida em dois tipos: setup interno e setup externo. O primeiro diz

respeito às operações que somente podem ser executadas com a máquina parada,

como a limpeza de bombas ou troca de moldes. O segundo diz respeito às operações

que podem ser realizadas com as máquinas ainda em funcionamento, como o

transporte de moldes antes e depois da troca e separação de ferramentas necessárias

à troca (CORRÊA et al., 2012, p.642).

A aplicação do SMED pode ser feita em cinco estágios, segundo Corrêa

(2012):

Estágio Preliminar: Nesta etapa são feitos os registros e observações de todas

as informações relevantes sobre como está sendo feito o setup atual. Normalmente

são utilizadas câmeras de vídeo para que possam ser feitas análises posteriores com

mais calma e cautela;

Estágio 1: Neste estágio ocorre a separação das atividades entre internas e

externas e é nesse momento que todas as atividades internas devem ser

questionadas;

Estágio 2: Nesta etapa são definidas ações para que as atividades internas

sejam convertidas em atividades externas, como por exemplo preparação de moldes e

ferramentas;

Estágio 3: Após convertidas todas as atividades internas possíveis em

atividades externas, é preciso otimizar as atividades internas que restaram, ou seja,

trabalhar para que aconteçam no menor tempo possível. Não se pode negligenciar,

contudo, a otimização das atividades externas;

Estágio 4: Finalmente, são registradas com detalhes todas as novas atividades

internas e externas, assim como são criados procedimentos padrão para a execução

das mesmas.

Page 39: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 25 -

Figura 7: Estágios conceituais do SMED e as técnicas associadas. Fonte: Shingo, 1985

5.2.8 Operação Padrão/Lição de Um Ponto (LUP)

A LUP é uma ferramenta para a realização de treinamentos rápidos e eficazes

que consiste em facilitar o aprendizado e prática de uma determinada atividade

utilizando-se desenhos, fotos ou diagramas em apenas uma folha de papel.

A principal vantagem desta técnica é que as informações são apresentadas

gradualmente (ponto a ponto) através de ilustrações, que facilitam a assimilação.

Cada LUP deve conter apenas um assunto, elaborado após a comprovação

dos resultados, ajudando a reforçar pontos específicos que estejam causando

problemas recorrentes.

Em geral, as empresas podem adotar 3 tipos de LUP:

Conhecimento básico: contém informações sobre o desenvolvimento

das atividades, processos, etc.

Solução de problemas: contém informações sobre os problemas

identificados, como solucioná-los e como preveni-los, com base em

exemplos concretos de falhas e defeitos.

Melhorias: contém informações que expõe o raciocínio empregado para

realizar a melhoria e seus efeitos

Page 40: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 26 -

5.2.9 Mapeamento de Fluxo de valor (Value Stream Mapping ou

VSM)

Segundo Liker (2005), a primeira pergunta a se fazer quando se fala de

Sistema Toyota de Produção é “o que o cliente espera desse processo?”. Isso é a

definição de valor. Para isso, a primeira coisa que deve ser feita é mapear o fluxo de

valor de um processo.

O VSM é uma ferramenta do Lean Manufacturing que objetiva documentar,

analisar e otimizar a criação de valor da cadeia de materiais e informações para a

produção de um produto ou um serviço para um cliente, através da eliminação

desperdícios da cadeia. O VSM pode ser útil especialmente para a redução do tempo

de ciclo de produção, pois ele expõe o desperdício nos processos atuais e fornece um

roteiro para o melhoramento do processo no futuro. Para usarmos o método, devemos

aplicar os 5 passos a seguir

1. Identificar a família ou o produto alvo. Criar um fluxo, definir um problema,

definir objetivos e discutir o fluxo com a equipe;

2. Desenhar qual é o estado atual da cadeia de valor, isto é, quais são as

etapas, atrasos e fluxos de informação necessários para a entrega do produto;

3. Avaliar o estado atual do mapa de fluxo em termos de criação de valor e

eliminação de desperdícios;

4. Desenhar o fluxo futuro de criação de valor;

5. Trabalhar para a condição do estado futuro.

Figura 8: Aplicação do mapeamento do fluxo de valor. Fonte: Rother & Shook., 1999

Page 41: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 27 -

A simbologia utilizada é unificada para garantir o entendimento de todos na

organização uma vez que os mapas de fluxo de valor costumam ser elaborados,

analisados e discutidos em conjunto por pessoas de diferentes cargos hierárquicos na

organização. Na figura abaixo, podem ser observados os símbolos mais utilizados na

elaboração do mapa de fluxo de valor.

Figura 9: Símbolos unificados do Mapeamento de Fluxo de Valor. Fonte: miconleansixsigma

5.2.10 Perdas (As fontes de desperdício)

Segundo Shingo (1996) qualquer atividade que não contribui para a operação

pode ser classificada como uma perda, ou seja, qualquer atividade que não agrega

valor ao produto e, consequentemente, ao cliente. Ohno (1997) e Shingo (1996)

dividiram as perdas em sete categorias diferentes a serem apresentadas mais

detalhadamente a seguir. Liker (2005) considera a perda por desperdício intelectual

como uma oitava categoria relevante de perdas.

5.2.10.1 Perda por superprodução

A perda por superprodução é considerada por Ohno (1997) como sendo a mais

crítica, pois a partir dela pode surgir a maioria dos outros tipos de perda. Segundo ele,

produzir além do que o consumidor deseja provoca estoques desnecessários e leva à

Page 42: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 28 -

redução da motivação para trabalhar em melhoria contínua, já que existe um estoque

assegurando as possíveis falhas. Consequentemente, há negligência com perdas por

defeito, já que, da mesma maneira, existem produtos em estoque para substituir

aqueles com problemas de qualidade. Há ainda custos extras com transporte desses

produtos além da demanda.

5.2.10.2 Perda por espera

A perda por espera, segundo Liker (2005), acontece nos períodos em que não

há nenhuma operação sendo executada, ainda que os recursos estejam sendo

contabilizados, ou seja, a espera por material, por mão de obra, por conserto de

equipamento, por transporte dos itens já finalizados ou por qualquer outra coisa desse

tipo que ocorra na produção.

5.2.10.3 Perda por transporte desnecessário

De acordo com Liker (2005), a perda por transporte desnecessário se

caracteriza pelo carregamento de peças em processamento durante longas distâncias,

tornando o processo ineficiente e movimentando materiais para dentro e fora do

estoque entre um processo e outro.

5.2.10.4 Perda por processamento incorreto ou superprocessamento

Este tipo de perda engloba processamentos com etapas desnecessárias,

processos ineficientes devido a ferramentas ou design de produto inadequados ou até

mesmo processos que geram produtos com qualidade superior à necessária (LIKER,

2005).

5.2.10.5 Perda por excesso de estoque

As perdas por excesso de estoque são vistas tanto do ponto de vista das

matérias-primas quanto do ponto de vista dos produtos finais. Excesso de estoque

pode estar escondendo outros problemas na produção, como desbalanceamento,

entregas atrasadas, defeitos, quebras ou altos tempos de setup (LIKER, 2005).

5.2.10.6 Perda por movimentos desnecessários

Qualquer movimento dos operadores que não tem relação com a natureza do

seu trabalho, como procura por ferramentas, é considerado perda por movimento

desnecessário. Segundo Barnes (1977), o estudo de tempos e movimentos visa

Page 43: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 29 -

desenvolver o melhor método para execução de determinada tarefa, buscando assim,

reduzir os custos.

5.2.10.7 Perda por defeito

As perdas por defeito nada mais são do que os produtos concebidos com

algum problema de qualidade. Seja por retrabalho, por descarte ou pela necessidade

de produzir peças extras, esses produtos defeituosos geram perdas para a fábrica

(LIKER, 2005).

5.2.10.8 Perda por desperdício intelectual

O desperdício intelectual, segundo Liker (2005), considera que o não

engajamento dos operadores no processo decisório leva a perda de tempo, de ideias,

de habilidades, de melhorias e de aprendizado, por não estar aproveitando a

capacidade criativa dos mesmos.

5.2.11 OEE (Overall Equipment Efficiency)

OEE (Overall Equipment Effectiveness) é uma métrica para medir o tempo de

produção planejado que é verdadeiramente produtivo. Quando a linha tem um OEE

inferior a 100%, há oportunidades de melhoria de produtividade, caso contrário a

produção seria "perfeita". A OEE pode ser útil em termos de benchmarking, para

compararmos a produtividade entre empresas, ou para compararmos a produtividade

do período atual com dados históricos.

Abaixo podemos ver um esquema ilustrativo da representação da OEE.

Page 44: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 30 -

Figura 10: Cálculo do OEE ilustrativo. Fonte: Elaboração Própria

Portanto, para calcularmos o OEE devemos aplicar a seguinte fórmula:

Onde:

A equação simplificada do OEE pode ser escrita, portanto, como:

5.2.12 Supplier Management

Com uma competição global crescente desde a última década, executivos tem

sofrido imensa pressão para tornar suas organizações o mais lean e eficiente possível.

Tem

po

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tura

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OEE – Overall Equipment Efficiency

Page 45: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 31 -

Para enfrentar a competição, normalmente as empresas tem reduzido o seu tamanho,

se concentrado em competências chave e terceirizando as não chave. Essa tendência

recente faz com que a gestão do relacionamento com fornecedores se torne cada vez

mais importante (WINTER, 1998).

Uma empresa pode conseguir uma vantagem competitiva considerável

(qualidade superior a seus concorrentes), se compartilhar seus conhecimentos com

seus fornecedores (DYER, 2006).

Para escolher qual relação uma empresa gostaria de ter com seu fornecedor,

ela precisa pensar estrategicamente, isto é, segmentando seus fornecedores em

parceiros e de curto-prazo e atribuindo níveis diferentes de recursos para cada grupo.

Parceiros estratégicos são fornecedores que geralmente fornecem insumos de

alto valor agregado e que desempenham um importante papel de diferenciação no

produto final. O comprador deve manter um alto nível de comunicação e interação com

esses fornecedores, compartilhando investimentos e garantindo que o parceiro tenha

total capacidade de executar seu papel na cadeia produtiva.

Já o segundo grupo de fornecedores, de curto-prazo, são aqueles que

fornecem insumos não estratégicos, isto é, padronizados e que pouco contribuem para

a diferenciação do produto final. Dessa forma, esses fornecedores não precisam do

mesmo grau de atenção e assistência dado aos fornecedores do primeiro grupo. No

entanto, vale ressaltar que, com esse segundo grupo, também é válida a tentativa de

se estabelecerem relações colaborativas de longo prazo. Assim, os custos

administrativos de contratação podem ser reduzidos e os fornecedores podem realizar

economias de escala na produção.

Além disso, há também o grupo de fornecedores correspondente às relações

transitórias, o que ocorre quando o fornecedor tem um mix de portfólio que se

enquadra nos dois primeiros grupos. Nesse caso, a relação será administrada em

diferentes níveis ao longo da organização, sempre deixando clara a natureza do

compromisso.

Por fim, existe um quarto grupo, que diz respeito aos fornecedores

colaboradores. São aqueles que são altamente visíveis para a organização e que são

usados com certa regularidade, mas que não podem oferecer uma proposta de valor

original. Nesses casos, o progresso é feito através do desenvolvimento de novos

projetos colaborativos entre as partes, com o objetivo de aumentar o desempenho e

Page 46: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 32 -

trazer outros benefícios estratégicos, como o tempo de comercialização ou a partilha

de conhecimentos.

A figura abaixo nos permite visualizar com clareza os quatro grupos:

Figura 11 - Segmentação de fornecedores. Fonte: Elaboração própria; Procurementleaders

5.2.13 Gestão da Mudança

Nas últimas décadas, as grandes empresas tem passado por uma nova onda

de intensa e constante mudança, resultante da velocidade com a qual os fluxos de

informação e capital fluem. Essa nova e necessária cultura de se manter em

movimento o tempo todo apresenta, na verdade, mais um grande desafio para os

executivos: entender o lado humano da gestão da mudança, isto é, o alinhamento da

cultura, das pessoas, dos valores e dos comportamentos de uma companhia em torno

de ações coletivas e sustentáveis que tragam os resultados desejados.

Uma transformação estrutural de longo prazo deve ter quatro características

principais: escala, magnitude, duração e importância estratégica. Não há metodologia

que possa ser aplicada em qualquer caso, mas existem alguns princípios que podem

ser aplicados na maioria deles (JONES, 2004):

Atenção sistemática ao "lado humano": Qualquer transformação pode

criar "problemas pessoais" em uma companhia, o que pode colocar os resultados em

risco. Por isso é necessário desenvolver desde cedo uma abordagem para a gestão

da mudança, começando pelos líderes e então engajando outros envolvidos

importantes no processo. Essa abordagem deve ser baseada em uma avaliação

PARCEIROS

COLABORADORES

TRANSITÓRIO

CURTO

PRAZO

VALOR AGREGADO

IMP

OR

NC

IA C

RÍT

ICA

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TR

AT

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ICA

Alta

Baixa

AltoBaixo

Segmentação de fornecedores

Page 47: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 33 -

realista do histórico da organização, se essa está preparada e tem capacidade para

mudar.

Começar pelo topo: Os líderes devem ser os primeiros a abraçar a

causa e a abordagem sugerida para a gestão da mudança, a fim de desafiar e motivar

o resto da organização.

Envolver todas as camadas: Programas de transformação começam a

partir da definição da estratégia e de metas para desenvolvimento e implementação,

afetando diferentes níveis da organização. Líderes dentro da companhia devem ser

identificados e treinados para que possam implementar as mudanças a seus

subordinados, gerando um efeito em cascata através da organização.

Formalizar a situação: A articulação de um enunciado formal justificando

e descrevendo a gestão da mudança na companhia é uma grande oportunidade para

que os líderes da empresa expressem seu alinhamento com o programa.

Criar responsabilidade: Motivação e responsabilidades dos líderes são

essenciais para fazer a mudança efetivamente acontecer em todos os níveis de

influência ou controle. Essa responsabilidade é geralmente criada envolvendo os

indivíduos na identificação de problemas e proposta de soluções, e reforçada através

de prêmios ou incentivos.

Comunicar a mensagem: Os melhores programas de mudança são

aqueles que reforçam constantemente as mensagens chave através de conselhos

regulares e no tempo certo para todos os funcionários, com direito a feedbacks.

Avaliar o background cultural da empresa: Um diagnóstico inicial sobre

a cultura da empresa antes da implementação da mudança pode ser muito útil. A partir

desse diagnóstico, podem-se descobrir informações para avaliar o quão preparada a

empresa realmente está para a mudança, identificando possíveis conflitos e

reconhecendo fontes de liderança, influência e resistência.

Atingir a cultura explicitamente: Uma vez que a cultura está entendida,

ela pode ser realmente atingida pelo programa de mudança. Os líderes devem ser

explícitos sobre a cultura e os comportamentos não explícitos que melhor suportarão a

nova abordagem de negócios, encontrando oportunidades e recompensando esses

comportamentos. Para isso, é preciso criar uma situação inicial padrão, definir um

estado final desejado e desenvolver planos detalhados de transição.

Preparar-se para o inesperado: Programas de mudança dificilmente

seguem fielmente seu plano de implementação, pois as pessoas tendem a agir de

Page 48: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 34 -

maneiras inesperadas. Para gerir a mudança proposta com eficácia, deve-se reavaliar

continuamente o impacto dessa mudança, a vontade da organização em executá-la e

a sua capacidade em adotar a próxima onda de transformação. Utilizando-se dados

reais de campo e apoiando-se em informações e processos decisórios sólidos, líderes

da mudança poderão, então, fazer os ajustes necessários para manter a dinâmica e

gerar resultados.

Comunicar-se com o indivíduo: A mudança é uma jornada tanto

institucional, quanto pessoal. Os indivíduos (ou os times) precisam compreender como

seu trabalho será mudado, o que será esperado deles depois e como eles serão

avaliados. Líderes devem ser o mais claros e honestos possível.

Figura 12 - Ciclo de Gestão da Mudança. Fonte: Elaboração própria; Rhiwale Wordpressa

Gestão da

mudança

Sucesso

Avaliar para

mudar

Sustentar a

mudança

Preparar para

mudar

Implementar a

mudança

Planejar a

mudança

Page 49: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 35 -

6 Estudo de Caso

O presente trabalho se baseia em uma aplicação prática do conteúdo abordado

anteriormente na Empresa em questão. Para tal, é necessário realizar entrevistas,

análises de documentos e acompanhamentos práticos, construindo, assim, uma base

de informações para a aplicação da metodologia e do conteúdo estudado na revisão

bibliográfica.

6.1 Descrição da Empresa

A Empresa atua em mais de 100 países. As fábricas localizadas no Brasil são

muito estratégicas para a companhia. A Empresa atende a quatro tipos de mercado

diferentes quanto ao público e ao canal de distribuição, que representam as quatro

áreas de atuação da companhia:

Produtos de grande público, que contemplam os produtos direcionados

ao mercado de massa e que são distribuídos em canais de varejo;

Produtos profissionais, que correspondem aos produtos usados nos

salões de beleza pelos seus profissionais. Sua distribuição é feita unicamente através

dos próprios salões de beleza;

Produtos dermatológicos, que correspondem aos dermocosméticos e

são comercializados em farmácias, drogarias e lojas exclusivas, tendo os

dermatologistas como seus principais parceiros de negócio; e

Produtos de luxo, cuja distribuição é seletiva em todo o mundo, através

de lojas de departamento, perfumarias, free-shops, e-commerces exclusivos,

distribuidores e lojas independentes.

O presente trabalho será embasado na fábrica localizada no Rio de Janeiro,

onde a coloração para cabelos representa o maior volume de produção. Outros

produtos desenvolvidos nesta fábrica são desodorantes, protetores solares, xampus e

condicionadores, produtos dermatológicos em geral, entre outros. A fábrica produz

para todas as divisões apresentadas acima, com exceção dos produtos de luxo, que

são importados na sua totalidade.

Atualmente a fábrica conta com aproximadamente 300 funcionários e a

produção acontece em uma escala 40x48, ou seja, em uma semana funciona de

segunda a sábado e na outra somente de segunda à sexta-feira. Atualmente existe

uma divisão em três turnos, sendo o primeiro (turno A) de 6h às 15h, com uma hora de

Page 50: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 36 -

almoço; o segundo (turno B) de 13h às 22, também com uma hora de almoço; e o

terceiro (turno C) de 22h às 6h, incluindo uma hora de jantar.

Abaixo se pode conhecer o layout atual da fábrica.

Page 51: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 37 -

Figura 13: Layout atual da fábrica. Fonte: A empresa

Produção (envase)

Fabricação

Estoque de AC e PF

Estoque de MP

Pesagem

Page 52: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 38 -

Como mostrado na figura acima, a fábrica conta com uma área chamada de

produção, que é a área responsável pelo envase dos produtos, ou seja, é onde o

creme é colocado dentro da embalagem que será vendida ao consumidor final. Esta

área possui 17 linhas, sendo 10 delas destinadas a produtos de coloração. A fábrica

também dispõe de uma área destinada à pesagem das matérias primas e outra

destinada à fabricação das fórmulas: o molho, como será chamado daqui em diante no

trabalho. Além disso, há dois tipos de estoques: um para o armazenamento das

matérias primas (MP) e outro para os materiais de embalagem (AC) e para os

produtos acabados (PF).

Importante ressaltar que as entradas de MPs e ACs ocorrem nas mesmas

docas onde o produto final (PF) é expedido. Esse local está indicado pelas setas à

esquerda no layout da fábrica apresentado acima.

Os serviços de logística, compras, contabilidade e financeiro também estão

presentes na fábrica. Embora a fábrica tenha grande autonomia, boa parte de seus

processos são regulamentados pelos padrões internacionais do Grupo.

A fábrica do Rio de Janeiro se baseia em três pilares principais: assegurar a

qualidade dos seus produtos; garantir a segurança dos seus funcionários; e promover

a excelência operacional através da melhoria contínua dos seus processos e melhoria

dos indicadores de performance, além da redução das perdas, diminuição dos

resíduos e consequentemente, reduzindo seus custos produtivos, tudo isso buscando

sempre uma maior consciência ambiental.

6.1.1 Processo Produtivo: O macroprocesso

Para fins de compreensão dos próximos capítulos deste trabalho, é preciso

entender como funciona o processo de produção mais no detalhe. Primeiramente, será

apresentado o macroprocesso pelo qual os produtos passam dentro da fábrica.

Figura 14: Macroprocessos de produção. Fonte: Elaboração Própria

Envase Expedição

• Recebimento da matéria-prima que

será usada na fabricação dos produtos

• Recebimento dos componentes (ACs) para acondicionamento dos

produtos

• Fabricação do bulk ou

molho

• Envase do molho na

sua embalagem para composição do

produto final

• Envio dos produtos

finais para o centro de distribuição

Macroprocessos

Recebimento da matéria-prima

Recebimento dos componentesFabricação

Page 53: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 39 -

Como em qualquer empresa, o cliente é o ponto focal e, portanto, o processo

se inicia com a criação da demanda por um produto por parte do cliente, que será vista

pelo setor de Supply Chain. A partir daí, será feito o planejamento de produção a longo

prazo, que contempla um horizonte de 12 meses. Além disso, é ainda o Supply Chain

a área responsável por garantir o fornecimento dos insumos (MPs e ACs) necessários

para atendimento do plano de produção. O procedimento da companhia diz que todos

os materiais devem estar no estoque interno da fábrica com um mês de antecedência.

Isso só é possível, visto que, no mês anterior já se sabe mais ou menos qual será o

plano de produção para o mês seguinte. O contato com os clientes e os fornecedores,

então, acontece sempre mensalmente.

O setor de Fluxo Logístico é o responsável por gerir a entrada dos insumos

solicitados pela área de Supply Chain. É também a área que controla o

endereçamento de todos os materiais nas posições corretas no estoque. Cabe a esse

setor, garantir que não haja divergências entre o que o sistema diz que existe e o que,

de fato, existe fisicamente no estoque. Além disso, é a área responsável pelo

abastecimento das linhas de envase com os ACs e pelo transporte dos paletes de

produtos finais (PFs) para a área de armazenagem.

A área que realiza o planejamento da produção a curto prazo é o Planejamento

e Controle da Produção (PCP). A área de Supply Chain repassa a necessidade

mensal e o PCP programa a fabricação dos molhos e o envase dos produtos

diariamente, emitindo Ordens de Fabricação (OF) e Ordens de Produção (OC)

considerando, normalmente, um horizonte de sete dias. A partir das ordens eletrônicas

lançadas pelo PCP, são geradas demandas de fabricação e envase para a operação.

A Qualidade é uma área transversal ao processo e que tem total interface com

todas as partes. Ela possui um laboratório específico para cada tipo de análise (MP,

AC, molho e PF), que são feitas em diferentes etapas do processo. Nesse momento é

importante que sejam analisados os padrões de cor, tamanho, torque, peso, etc., a fim

de garantir a qualidade do produto final.

Os insumos (MP e AC) são analisados no momento em que dão entrada no

estoque e a análise de molho é feita imediatamente após a fabricação do mesmo

sendo que, dependendo do molho, a mesma pode ser realizada pelo próprio fabricante

ou ter que ser enviada ao time da qualidade no laboratório. Já os produtos finais

devem possuir amostras coletadas no início, meio e fim do processo de envase, as

quais o operador deve levar até o laboratório para que sejam feitos testes de torque,

estanqueidade (vazamento) e aspecto de todos os componentes do produto final.

Page 54: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 40 -

Apenas após esta aprovação, o lote é poderá ser expedido para os Centros de

Distribuição (CD). Não se pode esquecer que há também as chamadas Vigilâncias da

Qualidade (VQ), que são análises feitas pelo próprio operador na linha de produção a

cada trinta minutos. Nela são feitas praticamente as mesmas análises e, portanto, a

linha também dispõe dos equipamentos como o torquímetro e o equipamento para

teste de estanqueidade.

É importante frisar que, caso haja alguma divergência de conformidade com as

especificações requeridas, se não existir possibilidade de retrabalho, os materiais são

destruídos.

Em suma, para que o processo de envase se inicie é preciso que ocorra o

recebimento dos materiais necessários, sejam eles MPs ou ACs. Em seguida, começa

o processo produtivo em si, que é dividido em duas grandes etapas chamadas de

fabricação e envase e os dois setores juntos formam a chamada UP (Unidade de

Produção). A primeira delas diz respeito à fabricação do creme ou, como normalmente

é chamado, do molho. Essa etapa diz respeito à ao processo químico que ocorre nos

reatores e, depois de fabricado, esse molho é descarregado em tanques móveis e

transportado até a chamada zona de envase. O envase nada mais é do que o conjunto

de linhas de produção, onde o molho será colocado na sua respectiva embalagem,

tornando-se um produto final. Esses produtos são encaminhados para o estoque e de

lá seguem para os centros de distribuição. Todo esse processo é sustentado pelos

setores e procedimentos mencionados acima.

Por fim, é importante comentar que a fábrica do Rio de Janeiro possui produtos

que são fabricados e envasados internamente, assim como também possui produtos

que são fabricados internamente, mas envasados em terceiros e ainda outros que são

fabricados e envasados internamente, mas são encartuchados em empresas

terceirizadas.

6.2 Entendimento e análise da estrutura de custos

Para realizar uma análise de custos antes e depois das proposições de

melhoria, vamos, em um primeiro momento, descrever a estrutura de custos global da

fábrica, pois o custo de todos os produtos é calculado com base nela. Em seguida,

quando falarmos especificamente da linha a ser estudada, vamos analisar o custo do

seu produto específico segundo essa estrutura geral a ser apresentada logo a seguir.

A estrutura utilizada pela mesma está esquematizada na figura abaixo:

Page 55: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 41 -

Figura 15: Estrutura de Custos. Fonte: Elaboração Própria

Podemos classificar os custos dos produtos da Empresa em duas vertentes:

Custos Diretos e Custos Indiretos, compondo o chamado PRI, que nada mais é do que

o custo final do produto.

Os custos diretos são compostos dos itens que são diretamente alocados aos

produtos. São eles:

1. Custos com matérias primas (MPs) utilizadas na fabricação do molho;

2. Custos com os componentes, ou seja, as embalagens utilizadas no

envase (ACs);

3. Custos com mão de obra, compreendendo os operadores das linhas de

envase (MOD) e os técnicos de manutenção do envase (MOS);

4. Custos com contratos terceirizados, visto que alguns produtos são

enviados para terceiros em algum momento do processo;

É importante ressaltar, portanto, que a Empresa segue um método de custeio

padrão e, portanto, possui alguns padrões de custo que são construídos ao final de

cada ano para serem a base de comparação para o ano seguinte. Com relação às

previsões de perdas em processo, por exemplo, a empresa faz uma estimativa dos

gastos com material além do necessário para compor uma unidade de produto. Essa

estimativa de perdas é feita por famílias de produto e é chamada de perda standard.

Essa perda standard já é embutida no custo final do produto (o PRI) juntamente com o

custo do material (MP, AC, molho e PF).

Com relação à mão de obra, as mesmas previsões são realizadas e padrões

são estabelecidos. É feito anualmente um cálculo de quantas horas operacionais

serão necessárias para produzir o volume projetado para o ano seguinte, levando em

Para produção do

bulk

Matéria-

prima

Componen-

tesMão de obra

Contratos

terceirizadosFabricação Envase Fábrica

Embalagens (ACs)

Salário dos funcionários

envolvidos

diretamente na

produção e na

manutenção

Pagamento de contratos para

atividades de

envase fora da

fábrica

Salário dos funcionários

envolvidos na

fabricação

Depreciação e staff

(administração

, limpeza. etc)

Gastos com água, lenergia,

impostos,

utilidades,

treinamentos,

etc

Estrutura de Custos

Diretos Indiretos

1 2 3 4 5 6 7

Page 56: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 42 -

conta o histórico de performance das linhas, a velocidade das máquinas e o número

de operadores necessários para operar cada linha de produção. Tendo esses três

parâmetros definidos, calcula-se uma taxa de rendimento (TR) por linha de produção.

Com base nisso, o cálculo do custo de mão de obra por produto é feito multiplicando-

se essa TR (no caso, a TR considerada é aquela que representa a linha de produção

na qual o produto em questão será produzido) pela chamada taxa horária (TH), que

nada mais é do que a massa salarial total de mão de obra direta dividida pelo número

de horas previstas para realizar o volume de produção planejado.

Os custos com contratos terceirizados dizem respeito ao custo total que se tem

para terceirizar um produto, ou seja, envasá-lo fora da fábrica. Não entraremos no

racional de cálculo deste componente, pois não iremos analisar produtos feitos em

terceiros neste trabalho.

Já os custos indiretos compreendem aqueles que não podem ser alocados e

relacionados diretamente ao produto e, portanto, são rateados segundo algum critério

(volume de produção, por exemplo):

5. Custos de Fabricação, ou seja, os salários de operadores e técnicos de

manutenção do setor de fabricação, bem como a depreciação dos

equipamentos;

6. Custos de Envase, ou seja, os salários dos funcionários do staff em

horário administrativo e os custos com depreciação;

7. Custos gerais da fábrica, nos quais estão incluídos gastos com água,

energia, utilidades, etc.

Para o cálculo de cada um dos componentes dos custos indiretos, tem-se

diferentes formas de rateio. Para o cálculo dos custos indiretos de produção, por

exemplo, o rateio é feito somando-se o total dos custos de produção pelo volume a ser

produzido. Já para encontrar a parcela referente aos custos de fabricação, o rateio

leva em consideração não somente o volume de fabricação, mas também a

complexidade de cada fórmula. Para isso é calculado um fator para cada uma das

fórmulas, levando em conta o tempo de elaboração e o volume e, então, feito o rateio.

Para os custos indiretos gerais da fábrica o rateio é feito pelas unidades de produto

final.

Page 57: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 43 -

6.2.1 Custos diretos vs Custos indiretos

Baseado na descrição e esquema apresentados na figura 18, podemos ver que

a vertente que é afetada diretamente pelas linhas de produção é a dos custos diretos.

Como o escopo deste trabalho não é analisar os contratos terceirizados, temos os

custos com matéria-prima, componentes e mão de obra a serem aprofundados.

Nesse sentido, é preciso definir o que é desperdício para essas três categorias

de custos. Para os gastos com matéria-prima e componentes, o sentido é o mesmo:

qualquer material utilizado a mais do que o necessário para produzir uma unidade de

um produto é uma perda no processo e, logo, um desperdício. Portanto, para essas

duas categorias, o indicador utilizado para medir esse desempenho é o indicador de

perdas em processo.

Já para os custos de mão de obra, o que se deve medir é o quanto da mão de

obra é necessário para a produção de uma unidade. Quando a quantidade de horas

de mão de obra utilizada supera a considerada necessária definida nos padrões, os

custos reais serão superiores aos custos planejados. Portanto, esta categoria está

diretamente relacionada à eficiência do processo, ou seja, quanto tempo é preciso

gastar para a produção de uma unidade comparado a quanto tempo está, de fato,

sendo gasto para isso.

Abaixo o gráfico representa a composição de custos da fábrica, prevista para o

ano de 2015.

Gráfico 7: Composição dos custos dos produtos. Fonte: Elaboração Própria

Page 58: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Podemos ver que, além dos custos com material incluindo a perda standard

estimada, a qual também está presente nas previsões de custo, como já explicado

anteriormente, o gráfico abaixo mostra o quanto a fábrica vem perdendo desde 2014,

além do previsto nos custos. Qualquer valor diferente de zero no indicador abaixo

significa variações em relação aos custos previstos para o ano.

Gráfico 8: Valor mensal de perdas materiais acima do previsto. Fonte: Elaboração Própria

O gráfico acima mostra, então, as perdas de material além do previsto no custo

dos produtos, ou seja, havia uma perda média de R$ 300.000,00 por mês acima do

esperado, o que representa uma perda de quase 50% a mais do que o planejado, no

momento da construção dos padrões de perda standard. Isso significa que a fábrica

vinha tendo gastos consideravelmente superiores com materiais, o que se deve,

sobretudo, aos gastos acima do esperado com componentes de embalagem e com o

creme (Bulk), conforme podemos observar no gráfico abaixo:

-600

-400

-200

0

200

400

Média= -307

AUG/14JUL/14JUN/14 SEP/14 OCT/14 NOV/14 DEC/14 JAN/2015 FEV/2015 MAR/2015 ABR/2015

k R$

+44%

Valor mensal de perdas materiais

Inclindo MP (matéria-prima), ACs, Bulk e WIP (produtos finais)

Page 59: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Gráfico 9: Composição das perdas por tipo de material (entre Jun 14 e Abr 15). Fonte: Elaboração Própria

Em relação às perdas financeiras provenientes da ineficiência do processo e da

força de trabalho, isto é, o volume de horas trabalhadas além do previsto para

determinado volume de produção, temos alguns comentários a fazer.

Apesar desses custos ainda serem relativamente muito expressivos, em 2015,

houve uma redução de aproximadamente 150% de horas ineficientes em relação a

2014, principalmente em função de dois fatores:

1. Não foi necessariamente uma melhora nos processos e na eficiência do

trabalho, devido à realização de um ajuste do número standard de horas de

trabalho esperadas para um volume de produção, a fim de torná-lo mais

compatível com a realidade da fábrica. Este ajuste foi realizado para 2015,

valendo a partir de janeiro deste ano, que é onde vemos a mudança no

comportamento do gráfico;

2. Alocação de um grupo de trabalho voltando especificamente para

melhoria da performance do processo, agindo pontualmente e o mais

rapidamente possível sobre cada problema de ineficiência identificado.

Os comportamentos citados acima podem ser verificados no gráfico a seguir.

Component consump.

21

41

16

43

WIP consumption

Raw Material cons

Bulk Consumption

% Perdas materiais por tipo de material

MP (matéria-prima), ACs, Bulk e WIP (produtos

finais)

Page 60: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Gráfico 10: Perdas causadas pela ineficiência de produtividade no trabalho (outlier não incluído na média). Fonte: Elaboração Própria

6.3 Definição da unidade de análise

A unidade de análise será definida levando em conta o contexto exposto

anteriormente. Vimos que os principais gastos da fábrica hoje são provenientes dos

custos diretos e que há um impacto significativo com relação às perdas materiais e

aos gastos com ineficiência, os quais aumentam ainda mais os custos referentes à

vertente dos custos diretos.

Como não há priorização de um produto específico na fábrica, a unidade de

análise a ser estudada será uma das linhas de produção, a ser escolhida com base

em três fatores:

Perdas materiais:

Ineficiência:

ú

Representatividade na produção mensal em unidades:

á

365

218218310290242256

127198

1096 4778

239523

191

1,500

2,500

500

3,000

1,000

0

2,000

+225%

MA

R/1

4

FE

B/1

4

JA

N/1

4

AP

R/1

4

MA

Y/1

4

JU

N/1

4

JU

L/1

4

AU

G/1

4

SE

P/1

4

153

(k R$)

OC

T/1

4

NO

V/1

4

312

2,645

Média 2014

Média 2015

153

-69%

DE

C/1

4

DE

C/1

5

JA

N/2

015

FE

V/2

015

MA

R/2

015

AB

R/2

015

MA

I/2015

JU

N/2

015

JU

L/2

015

Outlier

Valor mensal das perdas de ineficiência dos trabalhadores

(% horas trabalhadas além do projetados x taxa horária média por trabalhador)

Page 61: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Gráfico 11: Matriz Perdas vs Produção vs Ineficiência . Fonte: Elaboração própria

Por apresentar uma alta representatividade no número de itens produzidos e

um alto percentual de perdas, além de uma ineficiência de 29%, relativamente alta em

relação às outras linhas, a linha que estudaremos nesse trabalho será a L102.

Vale ressaltar que a L109 apresenta altíssimo índice de ineficiência, mas um

estudo mais detalhado da mesma não foi cogitado, pois a empresa tem um projeto em

andamento para substituição desta linha. Da mesma forma, a L114 não será

analisada, pois seu alto índice de perdas se deu devido a um problema pontual e não

crônico, como é o caso da L102.

6.3.1 O Produto

O produto final da L102 caracteriza-se por um kit de coloração para cabelos. O

mesmo contém um frasco plástico contendo o creme revelador (ou molho oxidante,

como é normalmente chamado); uma bisnaga metálica contendo a tintura (ou

simplesmente molho); um kit com a bula, um par de luvas e um creme reparador,

chamado de superkit (SK); e um cartucho de papel, que nada mais é do que a caixa

onde todos esses componentes serão inseridos e a qual será distribuída para o

consumidor final. A caixa de embarque contém seis PFs e um palete contém 870

unidades de PF. Uma representação do produto pode ser vista abaixo:

Page 62: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Figura 16: Produto final da L102. Fonte: A Empresa

Apesar de todos os produtos que passam por essa linha possuírem o mesmo

formato, a nuance da tinta varia, o que faz haver necessidade de lavagem da linha a

cada troca de nuance. Isso torna as trocas (setups) mais complexas e demoradas

6.4 Estudo da unidade de análise

6.4.1 Mapeamento da cadeia de valor do macroprocesso

O macroprocesso em que a linha em questão está inserida é idêntico ao

macroprocesso apresentado anteriormente neste documento. Contudo, para fins de

identificar os tempos de ciclo de cada etapa do processo e o fluxo de material e de

informações que permeiam esta linha de produção especificamente, as autoras

optaram por construir um VSM. O mapa de fluxo de valor foi simplificado por questões

de praticidade e pode ser encontrado abaixo.

Page 63: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Figura 17 - VSM Macroprocessos. Fonte: Elaboração própria

Throughput time = 3,65 dias1,75hrs6,830hrs

10,92hrs

1,75 hrs

10,75 hrs

1,75hrs

24hrs 6 hrs 24hrs

Tempo de Processamento =

12,08 horas

Demanda Mensal1.500.000

unids coloração

CT = 1,75hr

ST = 1,00hr

CT = 6,83 hr

ST =0,92 hr

CT = 1,75hr

ST = 0,75hr

CT = 1,75hr

ST = 0,83hr

ExpediçãoControle de Qualidade

ProduçãoPesagem Fabricação

DistribuiçãoPedidosNecessidades

Plano de ProduçãoSemanal

Plano de Produção

MRPMatéria prima

Plano de distribuição

Diário

Fornecedor

ACs

Fornecedor

MensalMensal

10hrs10hrs 6hrs 24hrs24hrs

VSM do Macroprocesso:

CT: Tempo de Ciclo

ST: Tempo deSetup

Page 64: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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O VSM foi construído levando em consideração o tamanho de um lote de

produção hoje, que corresponde, na Fabricação, a 800Kg de molho e, na Produção, a

15.400 unidades.

A primeira etapa no processo é a etapa da Pesagem das matérias primas, em

que o operador é responsável por verificar e separar todas as MPs que compõem o

molho em questão. O tempo de ciclo (CT) de pesagem de uma OF é de, em média,

1,75 horas (uma hora e quarenta e dois minutos). Ao fim, todas as matérias primas

pesadas são colocadas separadamente em um único palete, que é direcionado para a

zona de “OFs Pesadas”. O tempo médio de preparação anterior ao início da atividade

(ST) de pesagem em si é de, em média, 50 minutos. Esse tempo inclui todo o tempo

de separação das MPs no estoque e disponibilização das mesmas no posto de

pesagem.

Em seguida, assim que o reator onde ocorrerá a Fabricação do molho estiver

disponível, este palete será encaminhado para próximo dele e, então, se inicia o

processo de fabricação. O processo de setup da etapa de Fabricação leva em torno de

45 minutos. A Fabricação de um lote do produto em questão leva, em média, 1,75

horas (uma hora e quarenta e cinco minutos), levando em consideração o tempo de

análise e aprovação do molho (que para este produto, especificamente, é feita pelo

próprio fabricante), descarregamento na cuba móvel e lavagem do reator, ou seja, o

tempo total necessário para disponibilizar uma cuba cheia para o envase.

No envase, para uma OC, o tempo necessário para envasar esta quantidade é

de um total de 6,8 horas (seis horas e quarenta minutos), considerando o tempo total

em que as máquinas estão operando, ou seja, levando em consideração que a linha

possui paradas, esperas, trocas e panes nas máquinas. Cada um desses itens será

explicado melhor mais adiante. O tempo de setup na Produção, ou seja, o tempo

levado para preparar a linha para o envase de um produto diferente leva, em média,

55 minutos.

Como pode ser visto pelo VSM, o envase do produto, etapa também chamada

de Produção, é o gargalo do processo, por ser o responsável por ditar o ritmo do

mesmo, já que é a etapa que tem o maior tempo de processamento. O tempo de

Produção é quase quatro vezes maior do que o tempo de Fabricação. Sendo assim, a

Fabricação acaba gerando estoque elevado de cubas móveis e ociosidade na sua

capacidade de fabricação dos molhos. Portanto, faz ainda mais sentido otimizarmos a

linha de produção em detrimento das outras etapas do processo.

Page 65: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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O tempo total de processamento, que é o tempo necessário para agregação de

valor, ou seja, o tempo em que o produto está efetivamente sendo trabalhado é de 12

horas. Além disso, o lead time do processo, que é o tempo total requerido para que o

produto seja finalizado passando por todas as etapas do processo, incluindo os

tempos de preparação e espera, é de 3,65 dias. Estes dados podem ser encontrados

na linha do tempo na parte inferior do VSM.

A partir dessas informações, será possível construir um VSM específico para a

linha 102, levando em conta criação de valor ao longo do processo, os estoques

intermediários existentes e os possíveis pontos de melhoria para a criação do VSM

futuro.

6.4.2 Mapeamento da cadeia de valor da Linha 102

Agora, para melhor entendimento e detalhamento dos processos e da criação

de valor dentro da linha de produção escolhida, será desenhado o VSM específico

para a L102. Esse VSM foi construído com base no ciclo completo de apenas um

produto, desde o início da cadeia até o final. As quantidades de material indicadas

acima das máquinas de frasco, superkit, bisnaga e cartucho indicam a quantidade

contida em cada unidade mínima de medida de recebimento desses materiais (caixas

de recebimento do material ou bags).

Page 66: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Figura 18 - VSM da L102. Fonte: Elaboração própria

Enchedorafrasco

Tampadora Encartucha-deira

Balançadinâmica

Encaixota-dora

Paletiza-dora

CT = 22 s

ST =11s

CT = 20 s

ST =11s

CT = 3 s

ST = 0

CT = 15 s

ST = 11s

CT = 30 s

ST =0s

CT =12 s

ST = 11s

162

kits

3,2k

frascos

Linha 102

870

unidades

600

caixas

11s

Enchedoratinta

CT = 50 s

ST = 23s

259

bisnagas.

12s

tempo total

Alimentadorade kits

CT = 8 s

ST = 0s600

cartuchos

B

B

40sAlimentadorafrasco

CT = 12 s

ST = 0s

12s 30s 58s 15s 3s 20s 22s 172s

0s 23s 11s 0s 11s 11s 239s

tempo útil deprodução

Page 67: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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Para calcularmos os tempos de ciclo, cronometramos o tempo de processo

produtivo de cada máquina em 3 ciclos de 15 minutos para, em seguida, tiramos uma

média desse valor.

Já para calcularmos os tempos de setup interno da linha, consideramos o

tempo médio gasto com microparadas por máquina. Nessa linha, as máquinas

funcionam ininterruptamente após o setup geral da produção (cujo valor já foi

explicitado no VSM do Macroprocesso) e há microparadas frequentes, sobretudo em

algumas máquinas específicas que costumam apresentar problemas. A partir desse

valor médio de microparadas por máquina combinado à probabilidade de Poisson de

ocorrer aquele número de eventos, pudemos calcular o valor que deverá ser gasto

com o setup de cada máquina. Os valores de ciclo cronometrados e o cálculo dos

tempos de setup podem ser melhor entendidos na planilha abaixo:

Tabela 2: Cálculo dos tempos de ciclo e setup para VSM da L102. Fonte: Elaboração própria

Com o molho pronto, o envase pode ser iniciado. Primeiramente, assim que o

operador abre a OC (que foi criada anteriormente pelo PCP) na tela do computador

presente no posto operador, é fornecida toda a lista dos materiais necessários para

produzir aquele produto, ou seja, a BOM (Bill of Materials). O operador de

empilhadeira, então, irá alimentar a linha de acordo com os pedidos que o operador de

produção realiza no sistema. Da mesma maneira, o sistema irá indicar ao operador

qual a cuba móvel contendo o molho que ele deverá buscar na fabricação. Nesse

caso, é o próprio operador que faz o transporte da cuba para a zona de produção e

que realiza a conexão da mesma na linha. Enfim, tendo todos os materiais disponíveis

na linha, o operador pode iniciar a produção daquela ordem.

Tempo médio de observação (m) 15

Tempo médio por pane (s) 30

Tempo obs/número de panes 2,50

Lâmbida Poisson 1,09

EtapasDuração

(s)

Duração

(min)

Número de Panes

/ máquina

Probabilidade de

ocorrência

(Poisson)

Tempo

estimado de

setup (s)

Total

Enchedora Frasco 24 0,4 1 37% 11 35

Tampadora 30 0,5 0 34% 0 30

Enchedora de tinta // Pulmão 50 0,8 2 20% 23 73

Encartuchadeira 15 0,3 1 37% 11 26

Balança dinâmica 3 0,1 0 34% 0 3

Encaixotadora 20 0,3 1 37% 11 31

Paletizadora 22 0,4 1 37% 11 33

Subtotal 164 2,7 6 234% 67 231

Page 68: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 54 -

Importante observar que no caso do molho de oxidante, a alimentação das

linhas de produção é direta por tubulação. Não há o processo de descarga em cubas

móveis. Portanto o operador precisa deslocar apenas a cuba com o molho de tinta

para a linha.

A linha de produção é composta por nove máquinas conectadas em linha. O

processo se inicia paralelamente na frasqueira e na enchedora de tinta. A frasqueira é

alimentada por big bags de frascos, ou seja, grandes sacos contendo 3.200 unidades

de frasco. Dela os frascos são posicionados de pé em uma esteira e são

encaminhados para a enchedora de oxidante, a qual contém seis bicos. Em seguida

eles passam pela tampadora, onde são tampados e seguem pela esteira até se

juntarem com as bisnagas.

O processo das bisnagas acontece paralelamente. As bisnagas já vêm

tampadas, lacradas e com a arte pronta, aberta apenas na parte superior. Elas são

fornecidas em caixas contendo 259 unidades cada. O operador alimenta a enchedora

de tinta com as bisnagas vazias para que sejam preenchidas e, em seguida, se

encontrem com os frascos já cheios e tampados.

O terceiro elemento do kit de coloração, o superkit, se junta aos dois outros

também em um processo paralelo. Os superkits já vêm prontos do fornecedor. Sendo

assim, o operador apenas alimenta o posicionador de kits e o mesmo faz a função de

acrescentá-los aos dois outros componentes. Assim, os três juntos seguem para a

encartuchadeira. Esta máquina o operador deverá alimentar com os cartuchos, os

quais são fornecidos fechados e com a arte pronta. Uma caixa contém 600 unidades.

Nesta etapa, o cartucho é aberto e os três componentes são colocados dentro dele

para, então, ser fechado e colado. O kit completo segue para a balança dinâmica, que

irá, por peso, verificar a presença de todos os componentes. Caso falte algum item ou

tenha peso em excesso, a mesma irá expulsar o produto da linha para que seja

verificado.

Os produtos bons passam direto seguindo para a case packer, onde serão

encaixotados e receberão automaticamente uma etiqueta de identificação, em

seguida. Cada caixa contém seis PFs, como já indicado anteriormente. Por fim, todas

as caixas seguem para a paletizadora automática, que irá paletizar as caixas segundo

a especificação fornecida para o programa da máquina. O palete pronto deverá ser

“declarado” no sistema e, só então poderá seguir para o estoque, levado pelo

operador de empilhadeira.

Page 69: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 55 -

É importante ressaltar que durante esse processo existem pontos de rejeito, ou

seja, locais em que os materiais identificados como não conformes serão expulsos da

linha, de forma a garantir a qualidade do produto que chegará ao cliente. Os pontos de

rejeito podem ser encontrados mais a frente quando analisarmos as perdas de

material.

Finalizado o molho, as amostras deverão ser encaminhadas para o laboratório

de qualidade e a OC deverá ser encerrada no sistema.

Importante ressaltar que esta linha é, hoje, operada por dois operadores.

6.4.3 Análise do processo produtivo na linha L102

Como vimos na definição da unidade de análise a ser estudada, a L102 foi

selecionada como objeto de estudo segundo os critérios de eficiência do processo e

perdas de material. Portanto, os próximos passos serão direcionados a analisar esta

linha de produção segundo essas duas perspectivas.

6.4.3.1 Eficiência do processo

A eficiência do processo da Linha 102 pode ser medida e avaliada

heuristicamente pelo OEE. Como podemos observar no gráfico abaixo, apenas em

2015, houve uma queda de 14% do OEE da fábrica em relação ao início do ano, o que

se deve, sobretudo, ao aumento do percentual de perda de cadência. Em relação aos

tempos percentuais atrelados a panes e esperas, podemos ver que eles se

mantiveram praticamente constantes. Além disso, vale ressaltar que a meta de OEE

da fábrica é de 64% e a da linha 102 é de 55%. Dessa forma, em média, os valores de

OEE obtidos estão 4% abaixo da meta.

Page 70: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 56 -

Gráfico 12: Eficiência da L102. Fonte: Elaboração própria, Empresa

Pode-se observar que existem 4 tipos de perdas associados à perda de

eficiência, que são tipos definidos pela própria empresa: perda de cadência, trocas,

panes e esperas. Cada um deles será melhor analisado a seguir.

Perda de Cadência

A cadência da linha é a velocidade com a qual a linha trabalha e essa

velocidade padrão, atualmente, é de 75 unidades por minuto para a produção de um

lote de produtos (15.400 unidades). No entanto, na prática, ela acaba sendo menor em

função de sucessivas microparadas (paradas inferiores a 5 minutos, segundo as

normas da empresa) observadas. Em 15 minutos, podem ser observadas em torno de

5 micro paradas, o que, em 1 hora, acrescentaria 20 micro paradas. Em paradas de,

em média, 30s como observamos, esse tempo extra seria de 10 minutos a cada hora,

ou seja, deixando de produzir 750 unidades por hora, o que significa praticamente um

palete (870 unidades). A partir de dados históricos e de observações em linha,

detectamos que essas microparadas acontecem principalmente em função de:

ACs vindos do fornecedor em má qualidade, o que implica a parada da

máquina para remoção do AC danificado;

ACs que "tombam" ou que ficam em uma direção perpendicular o

suficiente à direção esteira para impedir a passagem de outros itens;

56% 51% 53% 50% 52% 46% 43% 48% 51%

9%11% 9% 11% 11%

16%16%

19% 12%

5%6% 7% 8% 6% 6% 6%

7%6%

23% 24% 25% 26% 25% 24% 27%22%

25%

6% 8% 6% 5% 6% 8% 7% 4% 6%

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto YTD 2015

Utilização da L102

% OEE % Perda de cadência %Troca %Panes %Espera

Page 71: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 57 -

Máquinas que não estão bem reguladas, muitas vezes em função ao

mau posicionamento do AC ante o "bico" ou o "braço" da máquina.

Trocas

O tempo de troca corresponde ao tempo de setup da máquina, quando a

nuance (a cor) da coloração usada é trocada e deve-se começar a produção de outra

nuance. Nesse caso, devemos trocar a cuba contendo o molho da tinta, fazer lavagem

da máquina e realizar o setup da máquina para que o código correspondente ao novo

produto seja gravado na embalagem. Esse tempo hoje é de em torno de 55 minutos,

considerado bastante alto se comparado a outras fábricas do grupo que envasam

produtos de mesmas características. Um tempo de troca padrão para esse produto

seria de 20 minutos.

Gráfico 13: Tempo médio mensal para trocas. Fonte: Elaboração própria

Panes

Panes correspondem a paradas superiores a 5 minutos e, geralmente, estão

associadas a problemas mais graves com as máquinas. Os números percentuais não

cresceram ao longo de 2015, mas, também, não diminuíram mesmo com

manutenções frequentes, tanto preventivas quanto corretivas. A cada parada técnica

grave, os operadores da linha chamam um técnico mecânico, mas este, ao tratar o

problema, não está atacando a causa raiz e sim fazendo um mero ajuste para que a

linha volte a funcionar o mais rápido possível, já que os problemas de quebra das

máquinas são bastante recorrentes. Como podemos ver no gráfico abaixo, as

Page 72: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 58 -

máquinas que apresentam problemas são as mesmas no decorrer dos meses, assim

como apresentam os mesmos problemas com frequência.

Gráfico 14: Gráfico de Panes por máquina. Fonte: Elaboração própria

Vemos que o maior impacto vem do Posicionador de SK. Esse impacto se dá

devido ao alto número de microparadas na linha em função desta máquina, sendo o

principal motivo para tal, a alteração das especificações do superkit, que faz com que

o plástico fique preso na máquina. Como esse é um projeto específico que envolve

projeto de nova máquina e/ou de nova embalagem e que já está em andamento na

fábrica, iremos desconsiderar este tópico para fins de análise nesse trabalho. Para tal,

a cor utilizada no gráfico acima é diferenciada.

Abaixo, encontramos a tabela com os tempos de parada de cada máquina e

com o respectivo motivo, considerando os 5 primeiros meses de 2015. A fábrica

possui, portanto, a descrição do problema na máquina e não apenas em qual máquina

está o problema.

3943147151173

391492

696723734

0

20

40

60

80

1002,000

1,500

1,000

500

0

Pale

tizad

ora

Outr

os

Enched

ora

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inta

Enched

ora

de O

xid

ante

Encart

uchad

eira

1,197

Encaix

ota

do

ra

1,418

Manip

ula

do

r

Etiq

ueta

do

ra

% panes por

máquina

Tempo médiomensal de panes

por máquina (min)

Dis

trib

uid

or d

e T

am

pa

Tra

nsp

ort

ad

or/

Este

ira

Alim

enta

do

r d

e F

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Alim

enta

do

r d

e B

isnag

a

1,524

Po

sic

ionad

or d

e S

up

erk

it

Page 73: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 59 -

Tabela 3: Panes e suas causas. Fonte: Elaboração própria

Esperas

Finalmente, as esperas correspondem aos tempos de espera para recarregar

os itens que estão faltando (e eventualmente aguardar que o operador de

empilhadeira traga os insumos do estoque), como molho e ACs. Decorre normalmente

da falta de planejamento do operador e/ou do operador de empilhadeira. Em alguns

casos, a espera decorre do atraso na fabricação do molho ou até mesmo de mão de

obra, quando o operador precisa ajudar em algum trabalho numa outra linha, pois só

ele possui conhecimento da troca de uma bomba, por exemplo.

Importante salientar que todas as máquinas possuem, mais ou menos, o

mesmo ritmo, com exceção da enchedora de oxidante e tampadora, onde o número de

peças por minuto deve ser ligeiramente maior do que as outras, pois existe um pulmão

antes do encontro de todos os componentes na encartuchadeira (a representação do

mesmo pode ser encontrada no VSM). Além disso, todas as máquinas estão

TOTAL %

Posicionador de Superkit SK retido pelo plástico envolvente 7620 19%

Caixas não armando 2310 6%

Caixa agarrando no virador 1085 3%

Falha na introdução/elevador/empurrador 1175 3%

Caixas rasgando 2064 5%

Falha na selagem da caixa 455 1%

Cartucho com fechamento ruim / Aba 1885 5%

Falha na introdução 2185 6%

Cartucho não armando 1810 5%

Falta de marcação do laser 105 0%

Frasco amassado 480 1%

Frasco ao contrário 395 1%

Tampa presa rosqueador 405 1%

Variação de peso 675 2%

Falha no rosqueador - torque baixo 550 1%

Expulsando frasco bom 775 2%

Não expulsando frasco ruim 110 0%

Falta de marcação do laser 280 1%

Bisnaga amassada sujou fechamento 1120 3%

Bisnaga ao contrário sujou fechamento 95 0%

Gota não caindo 180 0%

Bisnaga descentralizada 605 2%

Bisnaga caindo fora do copo 395 1%

Fechamento ruim 343 1%

Copo pulando 715 2%

Falta de marcação do laser 160 0%

Paletizadora Falha no posicionamento da caixa 2460 6%

Alimentador de Frasco / Frasqueira Frasco não conforme 215 1%

Alimentador de Bisnaga Bisnaga não conforme 195 0%

PANES

Enchedora de Oxidante/ Tampadora-Rosqueador

Enchedora de Tinta

Encartuchadeira

Encaixotadora

Page 74: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 60 -

interligadas pela mesma esteira, fazendo com que a parada de uma máquina faça com

que todas as outras parem em paralelo.

Ainda sobre a eficiência da linha, temos que a demanda média por mês do

produto em questão é de aproximadamente 1.500.000 unidades e que, com os

resultados de performance atuais, a empresa não está sendo capaz de atender o nível

de serviço desejado. Considerando que a empresa tem, disponível para

funcionamento, 24 dias por mês durante 24 horas, com uma cadência de 75 unidades

por minuto e uma OEE de 51%, a linha seria capaz de produzir aproximadamente

1.321.920 unidades. Contudo, devemos ainda descontar 10% do total disponível, que

refere-se à política de manutenção da empresa, em que todos os seus equipamentos

devem ter uma taxa de ocupação de apenas 90%. Sendo assim, na situação atual, a

empresa está sendo capaz de produzir apenas 1.200.000 unidades mensais, em

média. Para atingir as 1.500.000 unidades demandadas por mês, então, seria preciso

chegar a uma OEE de 65%. Para conseguir esse resultado, será preciso trabalhar,

principalmente, na redução dos tempos de pane e de perda de cadência, podendo

também haver boas oportunidades nos tempos com trocas, como vimos acima.

6.4.3.2 Ocupação do operador

Na linha 102, há sempre 2 operadores trabalhando durante cada turno. Um

deles se ocupa principalmente da vigilância de qualidade e da limpeza das máquinas.

O outro se ocupa do reabastecimento da linha, alimentado-a constantemente com

frascos, bisnagas, caixas e superkits, além da movimentação e paletes de AC e de

PFs. Em teoria, as funções de cada um são bem delimitadas, mas, na prática, as

tarefas podem acabar se confundindo em função da demanda mais urgente.

A vigilância da qualidade ocorre de 30 em 30 minutos e leva cerca de 10

minutos para ser realizada. A limpeza organizacional ocorre no início de cada turno e

leva cerca de 10 minutos para ser concluída. Essa limpeza é prevista e não entra no

cálculo do OEE. No entanto, é possível que ocorra a necessidade de limpezas durante

o turno se houver algum incidente/pane que suje as máquinas.

Além disso, como já apontado anteriormente, ocorrem microparadas em média

a cada 5 minutos, que param em torno dos 30 segundos e não menos do que isso,

pois o operador precisa identificar a máquina que parou, identificar a falha na máquina,

consertá-la e, eventualmente, limpá-la, o que levaria mais do que 30 segundos, nesse

caso. Dependendo da quantidade de microparadas em um turno, pode tomar um

tempo útil considerável do operador.

Page 75: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 61 -

Ao visitarmos a fábrica, percebemos que os operadores ocupam praticamente

todo o seu tempo com atividades operacionais seguidas, uma após a outra, tendo

quase nenhum tempo extra para refletir em soluções de longo-prazo para os

problemas recorrentes da linha, comunicar aos supervisores possíveis observações ou

até mesmo gerenciar seu próprio resultado (OEE, perdas, produção, etc). A tabela

abaixo mostra as atividades previstas do operador, que cobrem no mínimo 90% do

seu tempo útil, ou seja, 90% do seu tempo total, excluindo-se a limpeza prevista e as

vigilâncias da qualidade, que são obrigatórias. Vemos que a perda de tempo com

limpeza não programada é bastante grande e sabe-se que ela acontece na maioria

das vezes devido a panes, que acabam fazendo o produto vazar dentro das máquinas,

provocando o seu derramamento.

Tabela 4: Ocupações do operador da L102. Fonte: Elaboração própria

6.4.3.3 Perdas de material

Vamos, primeiramente, analisar a composição dos custos dos produtos da

L102, segundo a estrutura de custos já apresentada anteriormente neste documento.

Abaixo podemos ver o custo unitário de cada um dos componentes dos custos diretos

e indiretos, assim como o custo mensal total de cada um, considerando uma média de

produção de 1.200.000 unidades, como foi exposto anteriormente.

Ocupação Frequência (taxa) Duração (s) % tempo útil

Alimentação de Frasco 10/10 min 120

Alimentação de Bisnaga 5/5 min 30

Alimentação de Superkit 6/6 min 10

Alimentação de Cartucho 7/7 min 30

Alimentação de Caixa 15/15 min 20

Microparada 5/5 min 30

Limpezas não esperadas 15/15 min 500

Limpeza prevista 8/8 hrs 600

Controle de qualidade 30/30 min 600

93%

Não entra na

conta do OEE

Page 76: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 62 -

Tabela 5: Composição dos Custos dos produtos da L102. Fonte: Elaboração Própria

Pode-se perceber que o custo unitário do SK e do molho de coloração são os

mais altos, visto que são produtos semi-elaborados, que já possuem um valor

agregado maior, por já terem passado por um processo de produção mais robusto do

que os outros componentes. O molho veio da transformação das matérias-primas e o

SK veio da produção do creme reparador e da sua união com a bula e o par de luvas.

Vale ressaltar que nesses custos estão embutidos as perdas standards

definidas pela empresa como perdas aceitáveis e inerentes ao processo.

Considerando, então, as perdas standards, o custo atual unitário do produto é de R$

1,96, como mostrado na tabela acima. A coluna “Custo Mensal” informa os custos

mensais totais levando em conta apenas essas perdas previstas. Contudo, como já

exposto anteriormente de forma global, há também perdas acima dos valores previstos

no custo do produto. Portanto, as perdas totais serão apresentadas logo a seguir.

A tabela abaixo indica o percentual de perda standard considerado para cada

um dos componentes acima, o custo real unitário dos produtos (desconsiderando

qualquer perda prevista), as perdas totais médias por mês de cada um e o custo total

real, considerando todas as perdas e custos com materiais. Todos esses dados foram

fornecidos pela empresa, em seus relatórios gerenciais.

Custo Unitário Custo Mensal

SK 0,378R$ 453.180,00R$ MOLHO TINTA 0,564R$ 676.364,00R$ MOLHO OXIDANTE 0,064R$ 77.052,00R$ FRASCO 0,101R$ 120.912,00R$ TAMPA 0,033R$ 39.960,00R$ CAIXA 0,066R$ 78.672,00R$ ETIQUETA 0,005R$ 6.024,00R$ BISNAGA 0,216R$ 259.764,00R$ CARTUCHO 0,346R$ 415.404,00R$ CONSUMÍVEIS 0,026R$ 31.764,00R$ MOD 0,051R$ 60.900,00R$

TOTAL 0,11R$ 128.001,05R$

Custo Final 1,96R$ 2.347.997,05R$

DIRETOS

INDIRETOS

Page 77: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 63 -

Tabela 6: Custos com Material e Perdas de Material. Fonte: Elaboração Própria

Analisando as duas tabelas acima apresentadas, vemos que os gastos com

perdas de material giram em torno de 93 mil reais por mês, o que representa em torno

de 10% do total de perdas com material da fábrica (considerando que existem perdas

na Pesagem, Fabricação, Linhas de envase e Estoque). Além disso, como podemos

ver na tabela abaixo, o custo do produto passa de R$ 1,90 sem considerar qualquer

perda, para R$ 1,98, quando consideradas as perdas totais em processo atualmente,

ou seja, as perdas standards e as perdas acima do standard.

Tabela 7: PRI final, considerando todas perdas em processo. Fonte: Elaboração Própria

% Perda

Standard

Custo

UnitárioCusto Mensal Perdas

Custo Total (Material +

Perdas)DIRETOS

SK 0,5% 0,378R$ 453.180,00R$ -R$ 453.180,00R$ MOLHO TINTA 7,4% 0,525R$ 629.761,64R$ 50.937,97R$ 680.699,61R$ MOLHO OXIDANTE 4,5% 0,061R$ 73.733,97R$ 3.892,53R$ 77.626,50R$ FRASCO 4,0% 0,097R$ 116.261,54R$ 14.206,38R$ 130.467,92R$ TAMPA 2,0% 0,033R$ 39.960,00R$ -R$ 39.960,00R$ CAIXA 0,6% 0,066R$ 78.672,00R$ -R$ 78.672,00R$ ETIQUETA 1,9% 0,005R$ 6.024,00R$ -R$ 6.024,00R$ BISNAGA 3,2% 0,210R$ 251.709,30R$ 13.723,54R$ 265.432,85R$ CARTUCHO 2,0% 0,339R$ 407.258,82R$ 10.119,13R$ 417.377,96R$ CONSUMÍVEIS - 0,026R$ 31.764,00R$ -R$ 31.764,00R$ MOD - 0,051R$ 60.900,00R$ -R$ 60.900,00R$

INDIRETOS

TOTAL - 0,107R$ 128.001,05R$ -R$ 128.001,05R$

Custo Final - 1,90R$ 2.277.226,32R$ 92.879,55R$ 2.370.105,87R$

Custo Unitário

DIRETOS

SK 0,378 MOLHO TINTA 0,567 MOLHO OXIDANTE 0,065 FRASCO 0,109 TAMPA 0,033 CAIXA 0,066 ETIQUETA 0,005 BISNAGA 0,221 CARTUCHO 0,348 CONSUMÍVEIS 0,026 MOD 0,051

INDIRETOS

TOTAL 0,107

Custo Final 1,98

Page 78: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 64 -

Abaixo podemos ver o gráfico dos principais ofensores em relação às perdas

de material. O mesmo foi construído levando em consideração tanto a perda em reais

quanto a perda em quantidade. Podemos ver que os principais ofensores são o molho

de tinta e o frasco de oxidante.

Gráfico 15: Principais Ofensores - Perda de Material. Fonte: Elaboração Própria

Importante observar que a grande maioria das bisnagas são perdidas com

molho dentro. Elas, no entanto, não se encontram no quadrante crítico por terem um

valor agregado muito menor do que o do molho. Contudo, a redução de perdas de

molho estará diretamente relacionada à redução de perda de bisnaga, visto que os

dois são perdidos em boa parte juntos. Através da análise que fizemos no chão de

fábrica (apresentada logo abaixo) e, em seguida, comparando com os resultados

obtidos nos relatórios gerenciais, podemos ver que a perda de bisnagas cheias é de,

em média, 92% do total de bisnagas. Esse número comprova a premissa de que a

grande maioria das bisnagas são perdidas junto do molho.

Antes de iniciarmos a análise para identificação dos problemas e causas

raízes, iremos estudar mais a fundo os possíveis pontos de perdas de material na

linha de produção. Assim, iremos encontrar, juntamente com os dados acima, os

materiais que causam o maior impacto nas perdas e os pontos onde são rejeitados na

linha.

Pela observação em campo de uma OC, pudemos constatar o montante de

perdas por ponto de rejeito na linha, assim como quais itens são perdidos em cada um

deles. Importante ressaltar que consideramos apenas os itens identificados acima

150,000

100,000

50,000

0

60,00040,00020,0000

Quantidade

$

MOLHO OXIDANTE

CARTUCHO

BISNAGA

MOLHO TINTA

FRASCO

Page 79: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 65 -

como os principais ofensores. A tabela abaixo nos mostra a evolução das perdas ao

longo do VSM construído da linha.

Tabela 8: Perdas de material de acordo com o VSM – em unidades e por OC. Fonte: Elaboração Própria

Considerando uma média de 80 lotes desse produto no mês, pudemos

construir a tabela abaixo, que nos fornece informações sobre o total de perdas em

reais por produto e por etapa do VSM.

Tabela 9: Perdas de material de acordo com o VSM – em reais e mensal. Fonte: Elaboração Própria

Se compararmos a tabela acima com a tabela 7, vemos que o total de perdas

por mês se equipara para todos os produtos, com exceção do frasco e do molho de

tinta. Para o molho, devemos considerar, além desses R$ 33.331,00 acima

apresentados, uma média de 17Kg de perda por OC devido à sobra na cuba móvel, à

purga de início de produção (para retirar o ar da tubulação) e à sobra nas mangueiras

e tubulação. Sendo assim, o total mensal de perda de molho chega a R$ 49.000,00, se

equiparando, também, com os resultados obtidos na tabela 7. Os motivos de não

reconciliação dos dados de perda do frasco serão analisados na etapa seguinte do

projeto.

Bisnaga Frasco Cartucho Molho Tinta (KG) Molho Oxidante (KG)

Alimentador de Frascos

Enchedora de Oxidante 52 3,64

Tampadora 184 12,88

Enchedora de Tinta 380 15

Alimentador de Superkits

Encartuchadeira 239 277 94 11,3 19,39

Balança Dinâmica 172 355 263,5 8,2 24,85

Encaixotadora 54 54 54 2,7 3,78

Paletizadora 17

Total 845 922 411,5 54,2 64,54

Perda por OC

Bisnaga Frasco Cartucho Molho Tinta (KG) Molho Oxidante (KG) Total

Alimentador de Frascos -R$ -R$ -R$ -R$ -R$ -R$

Enchedora de Oxidante -R$ 403,040R$ -R$ -R$ 253,635R$ 656,675R$

Tampadora -R$ 1.426,142R$ -R$ -R$ 897,478R$ 2.323,620R$

Enchedora de Tinta 6.376,636R$ -R$ -R$ 13.440,000R$ -R$ 19.816,636R$

Alimentador de Superkits -R$ -R$ -R$ -R$ -R$ -R$

Encartuchadeira 4.010,568R$ 2.146,963R$ 2.552,155R$ 10.124,800R$ 1.351,095R$ 20.185,582R$

Balança Dinâmica 2.886,267R$ 2.751,523R$ 7.154,180R$ 7.347,200R$ 1.731,548R$ 21.870,718R$

Encaixotadora 906,153R$ 418,542R$ 1.466,132R$ 2.419,200R$ 263,390R$ 5.473,417R$

Paletizadora -R$ -R$ -R$ -R$ -R$ -R$

Total 14.179,62R$ 7.146,21R$ 11.172,47R$ 33.331,20R$ 4.497,15R$ 70.326,648R$

Perda por mês $

Page 80: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 66 -

Abaixo podemos ver o % que cada um desses itens representa na perda

mensal total.

Tabela 10: Perdas de material de acordo com o VSM – em % e mensal. Fonte: Elaboração Própria

Os itens iluminados representam pouco mais de 80% de todas as perdas de

material na linha. Deve-se, portanto, focar no estudo desses pontos de rejeito:

Enchedora de tinta (bisnaga e molho de tinta); Encartuchadeira (bisnaga, cartucho e

molho de tinta); Balança Dinâmica (bisnaga, frasco, cartucho e molho de tinta) e

Encaixotadora (molho de tinta, relacionado à perda de bisnagas).

Abaixo segue o mapa simplificado da linha com os pontos de rejeito

identificados. Os pontos iluminados correspondem aos pontos iluminados na figura a

seguir, que dizem respeito aos pontos mais críticos com relação a perdas de material.

Bisnaga Frasco Cartucho Molho Tinta (KG) Molho Oxidante (KG) Total

Alimentador de Frascos 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Enchedora de Oxidante 0,0% 0,6% 0,0% 0,0% 0,4% 0,9%

Tampadora 0,0% 2,0% 0,0% 0,0% 1,3% 3,3%

Enchedora de Tinta 9,1% 0,0% 0,0% 19,1% 0,0% 28,2%

Alimentador de Superkits 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Encartuchadeira 5,7% 3,1% 3,6% 14,4% 1,9% 28,7%

Balança Dinâmica 4,1% 3,9% 10,2% 10,4% 2,5% 31,1%

Encaixotadora 1,3% 0,6% 2,1% 3,4% 0,4% 7,8%

Paletizadora 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Total 20,2% 10,2% 15,9% 47,4% 6,4% 100,0%

Perda por mês %

Page 81: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 67 -

Figura 19: Mapa simplificado da linha com pontos de rejeito identificados. Fonte: Elaboração própria

A tabela abaixo indica o motivo de expulsão em cada um dos pontos de rejeitos

identificados acima. Sabe-se que todos esse pontos identificados são aquele onde há

o maior rejeito de produtos bons, que poderiam ser reaproveitados. Conforme visto na

tabela a seguir, a expulsão no item 5, por exemplo, não significa que os outros

componentes estejam ruins, assim como no item 6 todos eles além do cartucho

(bisnaga, frasco e superkit) poderiam ser reaproveitados. O mesmo acontece no item

7, em que é preciso verificar qual o componente do kit que apresenta problemas de

peso antes de sair jogando tudo fora. No item 8, normalmente, o problema é apenas

na caixa e algumas vezes chega a amassar o cartucho, raramente amassando a

LINHA 102

Entrada de Frascos

Enchedora de oxidante

Enchedora de Tinta

1

Ponto de Rejeito

2

3

4

E ncartu

chad

eira

5

6Balança

Dinâmica

7

EncaixotadoraPaletizadora

Etapas do Processo

Alimentador de SK

Tampadora

8

Page 82: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 68 -

bisnaga. Portanto, é possível aproveitar grande parte dos componentes na grande

maioria dos casos.

Tabela 11: Motivos de expulsão nos pontos de rejeito da L102. Fonte: Elaboração própria

6.5 Identificação das causas raízes

Observou-se que a linha possui perdas consideráveis em eficiência e materiais,

gerando o consumo de recursos sem possibilitar a criação de valor para o cliente. Para

que as perdas possam ser identificadas e eliminadas, utilizou-se primeiramente o

diagrama de Ishikawa para identificar de forma geral as possíveis causas de perdas no

processo e, em seguida, foi utilizado o princípio dos 8 tipos de erro ou desperdício

considerados no Lean Thinking para organizá-las de acordo com sua natureza.

6.5.1 Uso do diagrama de Ishikawa

Primeiramente, elaboramos um diagrama de Ishikawa considerando qualquer

problema que dê origem a uma perda, ou seja, a não agregação de valor para o

cliente. Para alguns itens, vimos necessidade de elaborar uma análise de 5 porquês,

para chegarmos mais perto da sua causa raiz. O diagrama pode ser visto abaixo.

Ponto de Rejeito Problema identificado

1Frasco deitado na esteira

Frasco amassado

2Frasco sem tampa

Tampa enjambrada

3 Frasco com problema na marcação de lote

4Bisnagas com a arte desorientada

Marcação de lote e validade

5 Não houve abertura de cartucho

6Cartuchos com aba aberta

Marcação de lote/validade

Peso baixo

Peso alto

8 Caixas amassadas

7

Page 83: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 69 -

Figura 20 - Análise de causas de perda de valor da L102. Fonte: Elaboração própria

MáquinaMeio

ambienteMétodo

MDOMedidaMaterial

Perda

de valor

Falta de limpeza

Falta de organização

Fornecimento de ACs

abaixo do volume comprado

Para de trabalhar

Trabalho incorreto

5 porquês n1

Expulsa itens bons

Tempo longo de espera

Não reintegração de

itens que foram descartadosmas estão bons

Fornecimento de ACs

não conformes

Layout

desfavorável

Desorganização do

estoque de cuba

Desmotivação

Falta de

interesseTrabalho muito

operacional

Falta de alerta para

parada de máquina

Ishikawa da Linha 102

5 porquês n2

Excesso de

fabricação Sobrepeso das bisnagas

Tempo excessivo

procurando a pane/setup

Pouca instrução

Carência de alerta

de fim de molho

Excesso de Vigilâncias

de Qualidade

Page 84: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 70 -

Para montar o diagrama de Ishikawa, o primeiro passo foi definir o problema

principal, objetivamente. Em seguida, fizemos um brainstorming (tempestade de

ideias) para levantar todas as possíveis raízes que pudessem dar origem ao nosso

problema principal, levando em consideração a estrutura dos 6Ms. A partir disso,

começamos a pensar, num segundo nível, as possíveis causas para as causas do

primeiro nível. O resultado foi que algumas causas eram absolutas (não havia

segundo nível), outras tinham uma ou duas sub-causas e, além disso, havia um

terceiro grupo que julgamos que haveria necessidade de montar uma tabela dos 5

porquês para chegar à verdadeira causa raiz, que não seria tão imediata como nos

casos anteriores. O resultado da aplicação dos 5 porquês para essas duas causas

estudadas mais a fundo pode ser visto no tópico a seguir.

6.5.2 Uso dos 5 porquês

Figura 21: Tabela de 5 porquês n1. Fonte: Elaboração própria

5 porquês

Por que ocorrem muitas

(micro)panes?

Porque a máquina está

frequentemente desregulada

Por que a máquina está

desregulada?

Porque os consertos são

imediatos, de curto-prazo

Por que os consertos são

imediatos?

Porque não se busca entender a

causa raiz da desregulagem da máquina

Por que não se busca a causa

raiz?

Por desconhecimentos das

metodologias de análise de causas pelos funcionários

Por que falta conhecimento por

parte dos funcionários?

Porque não houve treinamento e

instrução vinda de cima

n1

Page 85: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 71 -

Figura 22: Tabela de 5 porquês n2. Fonte: Elaboração própria

6.5.3 Diagrama de transição Ishikawa para 8 perdas do Lean

Para que ficasse mais clara e evidente a relação entre a análise feita através

do diagrama de Ishikawa e as 8 perdas da filosofia Lean (conforme citado na revisão

bibliográfica), foi elaborada a tabela de transição abaixo.

5 porquês

Por que não há reintegração de

produtos expulsos incorretamente?

Porque não existe local propício

para a separação dos itens bons

Por que não há um local propício?Porque não existe procedimento

formal para esta atividade

Por que não há instruções para a

realização dessas reintegrações?

Porque não houve uma

compreensão da necessidade de tais instruções

Por que não há essa

compreensão?

Por desconhecimento da gerência

do impacto financeiro da não reintegração de itens

Porque a gerência desconhece

esse impacto financeiro?

Por que não há um controle e

cobrança do que é descartado pelas linhas

n2

Page 86: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 72 -

Figura 23- Diagrama Ishikawa vs. Lean. Fonte: Elaboração própria

Legenda:

Problemas por excesso de

fabricação

Problemas de treinamento

dos funcionários

Problemas de fornecimento

Problemas de controle de

qualidade

Problemas de desperdício

por não antecipação

Problemas de

funcionamento das

máquinas

8 Perdas do Lean vs.

IshikawaMáquina

Meio

AmbienteMétodo Material Medida

Mão de

obra

1) SuperproduçãoExcesso de

fabricação

2) EsperaOrganização

das cubas

Tempode

troca das

cubas

3) Transporte

desnecessário

Esteira longa/

Falta de alerta -

muitos frascos

desperdiçados

4) Procedimentos

incorretos

Falta de alerta -

não há

antecipação

Itens não

reintegrados/

tempo de vig.

qualidade

Fornecimen-

to de ACs não

conformes/

abaixo do vol

esperado

Sobrepeso

das

bisnagas

5) Excesso de estoque

Perda de

molho por

excesso de

cubas

6) Movimentos

desnecessários

Falta de alerta -

Procura da

causa da pane

ou

microparada

7) Defeito

Panes e

microparad

as nas

máquinas

8) Desperdício

intelectual

Atividades

repetitivas

Desmotiva-

ção do

operador

Perda de valor

Page 87: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 73 -

6.5.4 As 8 Perdas do Lean Thinking

6.5.4.1 Perda por superprodução/perda por excesso de estoque

A única perda por superprodução do processo produtivo é a fabricação

excessiva de molho, principalmente coloração, uma vez que, como vimos no VSM dos

macroprocessos, a fabricação é mais rápida que a produção, gerando muito estoque

entre os dois processos. A consequência disso é que há um excesso de cubas em

espera, o que dificulta o trabalho dos operadores em encontrar a cuba, além de o

molho ficar um tempo considerável parado no estoque, o que pode prejudicar a sua

qualidade, visto que um molho de coloração corre risco de oxidação.

6.5.4.2 Perda por espera

Como descrito no item anterior, o operador perde muito tempo durante a troca

de cubas de tinta, necessária para que se inicie a produção de uma nova nuance na

linha em questão. Isso acontece porque, como há muitas cubas em estoque e por elas

não estarem organizadas de acordo com uma lógica ou metodologia, o operador perde

muito tempo procurando a cuba certa. Não há endereçamento de cubas no estoque de

molho e, assim, o operador é obrigado a buscar a cuba olhando etiqueta por etiqueta,

que são números extremamente pequenos.

Estima-se que esse tempo seja de, em média, 10 a 15 minutos. Vimos que o

tempo ideal de troca para produtos dessa natureza é de 20 minutos, comparando com

outras fábricas que possuem processo e tecnologia semelhantes. Portanto, perder de

10 a 15 minutos procurando pela cuba certa, significa gastar mais da metade do tempo

ideal de troca com a procura pelo tanque.

Um segundo motivo da demora em transportar a cuba móvel da fabricação

para a linha de envase é o fato de o layout do estoque de cubas não favorecer o

respeito pela regra FIFO (First In Firs Out). Para que o operador retire a cuba que está

atrás e que, portanto, foi a primeira a ser colocada, ele precisa retirar a cuba da frente

primeiro, para então retirar a de trás e depois reposicionar a da frente no lugar. Isso

faz o operar perder cerca de 3 minutos além do tempo de procura das cubas. Por esse

motivo, hoje, muitos operadores não respeitam a regra FIFO e, consequentemente,

podem ocasionar outro tipo de problema, que é o caso do vencimento dos molhos, que

tem prazo de validade de alguns dias apenas. Um lote de molho de 800kg custa R$

8.960,00. Essa é a perda que recai sobre a fábrica quando um lote inteiro de molho

vence devido ao não respeito da regra FIFO. Essas perdas ocorrem principalmente

Page 88: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 74 -

nos casos de devolução de cuba das linhas de envase para a fabricação, que serão

abordados mais a frente no tópico 6.5.4.5.

6.5.4.3 Perda por transporte desnecessário

Temos aqui dois pontos importantes a tratar. Primeiramente, o operador não

tem visão nenhuma de quando o molho de tinta está acabando. Sendo assim, apenas

quando o conjunto chega à balança dinâmica, que a mesma começa a rejeitar por

peso baixo, é que o operador sabe que acabou o molho de tinta. Assim, além de

desperdiçar todas as bisnagas que saíram com peso abaixo do especificado, os

frascos cheios e tampados de oxidante também são jogados no lixo, pois de uma

nuance para a outra o lote é alterado e, portanto, os materiais não podem ser

aproveitados.

Em segundo lugar, existe uma movimentação desnecessária de material,

devido ao tamanho do transporte no caso dos frascos de oxidante. A esteira que

transporta os frascos cheios para o encontro com a bisnaga e o superkit tem

capacidade para aproximadamente 100 frascos. Em resultado, esses frascos recebem

a marcação do lote antigo e percorrem a longa esteira entre a tampadora e a

encartuchadeira, até que o operador perceba que o lote será alterado, sendo obrigado

a descartar todos eles. Levando em conta a média de 80 ordens de produção por mês,

são descartadas 8.000 unidades de frasco, o que representa 11% do total das perdas

atuais.

6.5.4.4 Perda por procedimentos incorretos

Reintegração de materiais

A primeira perda que se enquadra nesse tipo é a não reintegração de itens que

foram erroneamente descartados da linha. Eles não são reincorporados à linha por

cinco motivos principais, conforme vimos na análise dos 5 porquês e em análises

anteriores: primeiro, os operadores da linha não possuem tempo suficiente para se

dedicar a essa atividade, pois como já explicitado no tópico 6.4.3.2, 93% do seu tempo

está ocupado com outras atividades; além disso, falta espaço físico, pois não há um

local propício para fazer essa separação dos materiais que estão bons dos que estão

defeituosos; outro motivo é o fato de não haver um controle do que é descartado pelos

operadores durante o turno, então não há uma preocupação com o que se está

descartando, ou seja, falta treinamento e motivação; além disso, não existe uma

metodologia clara e formal para que o operador saiba como e quando ele deve fazer

Page 89: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 75 -

essa reintegração dos materiais bons; por fim, a gestão não tem conhecimento do

impacto que esse problema tem nas perdas. Sendo assim, a decisão de descartar os

materiais é mais rápida e fácil. A tabela abaixo mostra o percentual de itens bons do

total que é jogado fora atualmente.

Tabela 12: Percentual de materiais em conformidade que são descartados. Fonte: Elaboração Própria

Para exemplificar situações em que itens bons são rejeitados na linha,

podemos usar o exemplo dos pontos de rejeito da encartuchadeira, balança dinâmica

e encaixotadora, três das quatro máquinas apontadas no item 6.4.3.3 como principais

ofensoras em perdas. As bisnagas e frascos rejeitados nos dois pontos de rejeito da

encartuchadeira, por exemplo, normalmente não apresentam qualquer problema de

qualidade. São rejeitadas, apenas por uma falha na abertura do cartucho, falha no

fechamento do cartucho ou falha de marcação de lote também no cartucho. No caso

da balança dinâmica, os itens expulsos por “peso alto” normalmente estão também

dentro dos padrões de qualidade e podem ser totalmente reintegrados. A expulsão

nesse caso serve como forma de aviso de que algum dos componentes está com

sobrepeso. No caso da expulsão por “peso baixo”, pode ser problema no peso da

bisnaga, do oxidante ou do SK, contudo, os outros itens não apresentam desvios e

devem ser reintegrados. Por fim, no caso da encaixotadora, só não devem ser

reaproveitados os itens que tiverem sido danificados com o amassamento da caixa.

Hoje, grande parte desses itens são descartados, como vemos na tabela 13. O

descarte de itens bons representa uma perda de R$ 39.497,00, como pode ser visto

na tabela abaixo.

Material % de Material em conformidade

Bisnaga 60%

Frasco 80%

Cartucho 15%

Molho Tinta (KG) 60%

Molho Oxidante (KG) 80%

Page 90: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 76 -

Tabela 13: Perda de itens bons por mês. Fonte: Elaboração Própria

Alerta de molho

Em um segundo momento, como já citado no item anterior, vemos que não há

um alerta na linha para indicar que o molho está chegando ao fim, o que permitiria ao

operador se antecipar com algumas tarefas e, antes que o molho se esgote, começar

a trabalhar pela troca da cuba, evitando que a linha fique mais tempo parada. Hoje,

não há um procedimento claro e padronizado para trocas.

Vigilância da qualidade

A terceira perda consiste no tempo gasto para vigilância da qualidade. Como já

relatado, esse procedimento ocorre de 30 em 30 minutos e leva cerca de 10 minutos

para ser concluído. Além disso, esse procedimento é realizado enquanto a linha

continua funcionando, o que significa que esse operador desvia completamente a sua

atenção do funcionamento da linha para o exercício dessa obrigação. Se

eventualmente houver panes, caberá ao outro operador resolver sozinho o problema,

além de dificultar a percepção de microparadas, visto terá um operador a menos para

identificá-la.

Sobrepeso nas bisnagas

Uma outra perda importante identificada foi a questão do sobrepeso nas

bisnagas de coloração. Uma bisnaga deve conter 47g de molho, conforme consta na

especificação da mesma. Contudo, verificamos que as bisnagas continham, em média,

47,6g, conforme gráfico abaixo.

Material Perda $

Bisnaga 8.507,77R$

Frasco 5.716,97R$

Cartucho 1.675,87R$

Molho Tinta (KG) 19.998,72R$

Molho Oxidante (KG) 3.597,72R$

Total 39.497,05R$

Perda de itens bons por mês

Page 91: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 77 -

Gráfico 16: Medições de Peso - L102. Fonte: Elaboração Própria

Conversando com os operadores, os mesmos afirmaram que o medo de

provocar um bloqueio de qualidade por peso baixo fazia com quem eles colocassem

em torno de 0,6g a mais em cada bisnaga. No entanto, após a realização de um teste

de capabilidade na linha, provamos que não há variação tal que justifique esse

sobrepeso. Os resultados desse teste encontram-se abaixo. Vemos que as medidas

feitas encontram-se consideravelmente distante do valor mínimo de peso aceitável

definido por lei (42,8g) e que o Cpk (índice que avalia a capabilidade do processo

associado somente às causas comuns. As empresas normalmente adotam como bom

um valor acima de 1,33) encontrado foi de 7,65, ou seja, um índice bastante elevado,

comprovando que a linha não possui varação significativa.

Gráfico 17: Resultados do teste de capabilidade. Fonte: Elaboração Própria

Além disso, é importante ressaltar que, para fins legais, é a média de peso de

uma amostragem que deve ser 47g e não o mínimo. Portanto, não é necessário elevar

47,00

48,06

47,73

48,04

47,3547,51

47,39

47,62 47,6547,56

46,40

46,60

46,80

47,00

47,20

47,40

47,60

47,80

48,00

48,20

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Medições de Peso - L102

Meta Média

*Cada ponto do gráfico foi obtido a partir da média de peso de 10 bisnagas

0

5

10

15

20

25

30

40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

Histogramme

Mínimo aceitável Cpk: 7,65

Page 92: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 78 -

o peso da bisnaga, para garantir o peso correto. Considerando 0,6g de molho a mais

por bisnaga e levando em conta a produção de 1.200.000 unidades por mês, temos

uma perda mensal de R$ 8.064,00 devido ao sobrepeso.

Qualidade dos ACs

A última perda por procedimentos incorretos identificada consiste na falha na

entrega de ACs pelo fornecedor, que costuma entregar o bag de frascos com uma

quantidade abaixo da definida contratualmente. Como não há procedimento formal

para a conferência da quantidade entregue pelo fornecedor, essa divergência nunca

havia sido identificada antes. Foi identificada uma diferença de 200 a 300 frascos a

menos por bag. Sabendo que cada bag contém 3.200 unidades, a fábrica estaria

recebendo até 9,4% frascos a menos em cada bag. Isso gera perdas para a fábrica,

uma vez que se paga por 3.200 unidades e se recebe 200 a 300 unidades a menos.

Aqui voltamos ao ponto levantado anteriormente, do porquê as perdas de frasco

observadas em linha não reconciliavam com as perdas vistas nos relatórios gerenciais.

Considerando as 1.200.000 unidades por mês, teríamos usado 375 bags de frasco, o

que corresponderia a 75.000 unidades de frasco a menos no total. Isso representa a

metade das perdas com frasco no mês, chegando a um valor de aproximadamente R$

7.000,00. Somando esse valor com o valor de perda real dos frascos visto em linha,

reconciliamos com o valor visto nos relatórios gerenciais.

6.5.4.5 Perda por excesso de estoque

Nesse item se enquadram também as perdas dos itens 6.5.4.1 e 6.5.4.3, pois,

em ambos os casos, há mais suprimentos ou itens no processo do que o necessário.

Além disso, há um ponto importante a ser abordado sobre a questão das cubas que

são devolvidas da linha de produção por diversos motivos, gerando estoque de molho

na fabricação. Os motivos mais comuns de devolução podem ser vistos no gráfico

abaixo:

Page 93: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 79 -

Gráfico 18: Motivos de Devolução de Cuba. Fonte: Elaboração Própria

Essas cubas muitas vezes retornam da linha de produção e fogem do radar do

PCP para que entrem na linha novamente. Como já dito anteriormente, a regra FIFO

não é respeitada e às vezes esses molhos são perdidos, pois passam da validade.

Pelos dados históricos da empresa, tem-se uma perda média de 200Kg por mês por

esse motivo, resultando em uma perda de R$ 2.240,00.

É importante ressaltar, no entanto, que o número de ocorrências de devolução

de cubas deveria ser zero, visto que esse não é o fluxo comum do processo. É preciso

trabalhar em cima dos pontos destacados no gráfico acima, para que a devolução não

aconteça. No entanto, como esses problemas não estão diretamente relacionados ao

processo da linha 102 especificamente, não serão abordados no escopo deste

documento.

6.5.4.6 Perda por movimentos desnecessários

Quando a máquina para em função de uma pane ou microparada, o operador

inevitavelmente perde alguns segundos ou minutos se deslocando pela linha e

procurando o problema em todas as máquinas até finalmente encontrá-lo, pois não há

nada indicativo na linha de onde ocorreu o problema. Estima-se que o operador perca

em torno de 15 segundos para identificar onde ocorreu o problema. Visto que a linha

perde, por hora, em torno de 10 minutos com paradas e que metade desse tempo é

buscando identificar onde ela, de fato, parou, perdemos 5 minutos por hora.

Da mesma maneira, quando há panes ou microparadas, o operador perde

tempo procurando as ferramentas necessárias para o conserto da máquina que parou.

Isso ocorre principalmente em função da desorganização e falta de ferramentas e/ou

52,63%36,84%

10,53%

Motivos de Devolução de Cuba

QUALIDADE DO MOLHO

PROBLEMA DE INVENTÁRIO

QUALIDADE DO AC

Page 94: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 80 -

materiais de limpeza, o que é consequência da falta de um local definido e para deixá-

las.

6.5.4.7 Perda por defeito

Uma das principais perdas, como vimos nas análises anteriores, consiste no

alto índice de panes, gerando perda de material em função dos defeitos que recaem

sobre os ACs e baixa performance das máquinas, impactando diretamente no

indicador de OEE da linha. Apesar do operador ou do mecânico buscarem solucionar

o problema, eles se limitam a consertá-lo a curto prazo, não buscando a verdadeira

causa raiz das panes. A consequência disso é a ocorrência frequente de panes e

microparadas de mesma natureza, gerando perdas de tempo (do operador, da linha

parada) e de material (materiais defeituosos e rejeitados). Como já mostrado

anteriormente, a fábrica já possui uma estratificação do problema em cada máquina,

contudo não possui ainda um modelo de estudo aprofundado para se chegar até o

modo de falha e causa raiz do problema. A redução das panes levaria, portanto, à

redução nas perdas de material defeituosos, além do aumento da eficiência da linha.

Além disso, não há especificações nas máquinas, os chamados nominal value

settings, que poderiam facilitar muito o trabalho do operador, auxiliando-o a deixar a

máquina regulada por mais tempo. Muitas vezes, a realização de ajustes que

deveriam ser simples e rápidos e que poderiam ser facilmente realizados pelo

operador, necessitam da ajuda de um mecânico, o que requer o tempo de espera do

mesmo, além de tudo. Sabe-se ainda que para 100% das panes e estima-se que, para

ao menos 50% das microparadas, o operador procura chamar um técnico, pois ele não

sabe resolver nem os problemas mais simples sozinho. A média diária de tempo de

espera por um técnico para a resolução de problemas simples é de 10 minutos. Este

tempo entra no percentual de panes, no cálculo de OEE.

Por fim, sabe-se que uma parcela das perdas por defeito na linha são advindas

dos ACs que chegam do fornecedor para a fábrica já não conformes. O caso dos

cartuchos é o caso mais crítico nesse sentido. A fábrica recebe do fornecedor o palete

já envolvido com plástico retrátil, de forma a evitar tombamento de caixas. Contudo, as

12 caixas das bordas do palete acabam amassando e, consequentemente, em torno

de 10 cartuchos por cada um dessas caixas amassam também. Sendo assim, no fim

do mês tem-se uma perda de 13.440 cartuchos, o que representa em torno de 40% da

perda total e um montante correspondente de R$ 4.561,00.

Page 95: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 81 -

6.5.4.8 Perda por desperdício intelectual

Como vimos no tópico 6.4.3.2, o operador realiza muitas tarefas repetitivas e

operacionais que não agregam valor à fábrica e nem a ele próprio. Sendo assim,

perde-se a oportunidade de desenvolver um operador capaz de entender e analisar

mais a fundo os problemas da linha de produção e de propor soluções junto com o

time de manutenção e de performance. No final das contas, o operador deveria ser o

maior conhecedor da linha que ele opera, visto que de todos os funcionários da fábrica

é ele quem passa mais tempo na linha. Além disso, ele é peça fundamental no

processo de mudança. Isso é reiterado por Hartmann (1992, p.75), que diz que “a

participação dos operadores, que utilizam os equipamentos diariamente, juntamente

com a Manutenção, supervisores e engenheiros (...) no grupo de trabalho é o

elemento crítico de sucesso desta atividade”.

Portanto, a atual distribuição de tarefas provoca falta de motivação no

operador, que entende que seu trabalho é estritamente operacional, assim como não é

aproveitada sua capacidade intelectual para auxiliar na resolução de problemas e

melhorar os resultados da linha de produção.

6.6 Propostas de melhoria

A partir dos problemas identificados e relatados nos tópicos anteriores, as

autoras levantaram algumas propostas de melhoria através, principalmente, da

utilização de ferramentas da filosofia Lean Manufacturing.

6.6.1 Kanban/FIFO

Como foi visto anteriormente, há uma superprodução de molho na fabricação,

em função do tempo de processamento do molho, que é bem menor do que o do

envase. Isso gera um acúmulo de cubas e dificulta o processo de picking do operador

no momento que ele deve procurar a cuba para realizar uma troca na linha. Portanto,

uma solução simples, barata e bastante eficiente nesse caso, seria a implementação

de um sistema Kanban entre a fabricação e a produção.

Se houvesse, por exemplo, dois espaços disponíveis especificamente para as

cubas da L102, o operador não teria dificuldade algum em encontrá-las e a fabricação

apenas fabricaria mais molho se um dos espaços estivesse vazio. Além disso, é

preciso fazer uma modificação no layout do estoque de cubas, para que todos possam

respeitar o método FIFO, assim evitando que os molhos passem da validade e sejam

perdidos.

Page 96: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 82 -

Figura 24: Layout atual do estoque de cubas. Fonte: A empresa

Abaixo podemos ver como ficaria o layout do estoque de cubas com o Kanban

implementado e com a retirada das grades de apoio, para que a regra FIFO seja

respeitada.

Figura 25: Layout atual (esquerda) e Layout proposto (direita). Fonte: Elaboração Própria

Essas melhorias trariam uma economia de 15 minutos por troca realizada na

linha, além de prevenir as perdas usuais de R$ 2.240,00 por mês, conforme exposto

no item 6.5.4.5, por problemas de molho vencido, devido ao não respeito da regra

FIFO, seja por esquecimento do molho que veio de uma devolução de cuba da

produção ou por facilidade de retirada da cuba que estaria mais a frente.

L102 L103 L104

Page 97: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 83 -

6.6.2 SMED

Como vimos nos tópicos anteriores, o benchmarking de tempo para a

realização das trocas em uma linha como a L102 é de 20 minutos. Como o tempo

médio de troca hoje se encontra em 55 minutos, temos que reduzi-lo em 60%. Com a

melhoria acima implementada, já temos 15 minutos a menos no tempo de troca,

passando-o para 40 minutos. A aplicação da metodologia SMED, nesse caso, nos

faria chegar facilmente aos 20 minutos, visto que o objetivo da ferramenta é a

realização da troca em menos de 10 minutos. Como o benchmarking da empresa é de

20 minutos, colocamos os 20 minutos como meta para a realização das trocas.

Com a aplicação do SMED, então, haveria um procedimento formal de

realização de trocas, provocando a redução do tempo de troca de 55 para 20 minutos,

o que nos traria um ganho de OEE de três pontos percentuais, atingindo 54%.

6.6.3 5S

Como foi apresentado anteriormente, o operador perde tempo por não haver

locais específicos para cada objeto e ferramenta na linha. Além disso, uma das

dificuldades de reintegração dos materiais bons de volta na linha é a falta de um local

adequado para a realização da separação entre o que está bom e o que precisa ser

descartado. Para esses dois casos, portanto, uma solução adequada seria a

implementação da metodologia 5S.

Estima-se que com o padrão de 5S estabelecido, o operador ganhará em torno

de 12 minutos do seu turno, considerando que a cada pane, são perdidos 1,5 minutos

para encontrar todas as ferramentas necessárias e que existem, em média, oito panes

por turno. Esse tempo representa 10% do tempo de panes da linha e, portanto,

teríamos um ganho de 2,5 pontos percentuais no OEE, alcançando 56,5%.

Para o caso da reintegração dos materiais, sugere-se criar um espaço

dedicado para a separação dos materiais bons para que possam ser reintegrados na

linha de forma prática e organizada, garantindo que apenas os materiais defeituosos

sejam jogados fora. É importante ressaltar que a implementação desta melhoria está

diretamente atrelada à proposta de solução dos itens 6.6.6 e 6.6.9, que tratam da

padronização dos procedimentos e da mitigação do desperdício intelectual,

respectivamente. Para que o processo de reintegração seja viável, portanto, é preciso

que haja padrões e que as tarefas do operador sejam reestruturadas, de forma que

haja tempo para esta atividade. Sendo assim, a criação desse espaço seguiria os

princípios da metodologia 5S, visto que se inicia com separar, seguida de organizar,

Page 98: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 84 -

limpar, padronizar o processo e sustentá-lo. O esquema abaixo ilustra como seria esse

espaço. Estima-se que ao menos 50% dos produtos bons que são jogados fora hoje

seriam aproveitados. Portanto, o ganho seria de R$ 19.748,00, no mínimo.

Figura 26: Modelo de Separação de produtos para reintegração. Fonte: Elaboração Própria

6.6.4 Poka Yoke

Para mitigar as perdas devido ao desconhecimento do momento em que o

molho está chegando ao fim, sugere-se a instalação de um dispositivo Poka Yoke, de

forma que ele emita um sinal sonoro quando o molho atingir certo nível, parando

também as enchedoras (de tinta e de oxidante) para evitar que as bisnagas saiam

vazias e que os frascos de oxidante encham a esteira com a numeração de lote

incorreta. Vimos que 11% do total de perdas com frasco de oxidante se devem a este

motivo. Como as perdas de frasco são as mais relevantes nesse sentido, estima-se

um ganho de R$ 1.248,00 por mês, considerando a perda dos frascos e do molho de

oxidante. Importante ressaltar que o aviso de que o molho encontra-se no final,

adiantaria o operador para as tarefas de troca, agilizando também este processo.

Além disso, para reduzir perdas de tempo e os movimentos desnecessários do

operador em buscar qual a máquina que parou toda vez em que houver uma pane ou

microparada, uma boa solução seria a implementação de um Poka Yoke (Andon

System) em cada máquina para sinalizar a sua paralisação através de luzes

vermelhas (como uma sirene) acima da máquina em que ocorreu o problema. Isso nos

traria um ganho de 4 pontos percentuais no OEE, que chegaria a 60,5%, se

considerarmos que o tempo de demora para identificar o problema seria

consideravelmente reduzido.

Page 99: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 85 -

6.6.5 Kaizen/PDCA

Como o conceito de Kaizen está relacionado à melhoria contínua e o ciclo

PDCA também impõe que as melhorias sejam sempre aprimoradas e alteradas

conforme novas necessidades, levando da mesma forma a uma melhoria contínua,

nada mais justo do que propor soluções juntando os dois conceitos.

Para resolver o problema das panes recorrentes, é preciso realizar um Kaizen

para cada uma delas, de forma que sejam feitas as análises de causas objetivando

encontrar a causa raiz e o modo de falha de cada pane, bem como o

acompanhamento das ações implementadas durante um período, para avaliar a

eficácia das mesmas. Assim, seria possível atacar o problema diretamente no ponto

causador, evitando que ele ocorra novamente com a frequência com que ocorre hoje.

Abaixo podemos ver um exemplo de folha Kaizen que poderia ser usado. Vemos que

o PDCA está embutido no processo Kaizen.

Page 100: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 86 -

Figura 27: Folha Kaizen para resolução de problemas. Fonte: Elaboração Própria

Plano de Ação

1

2

3

Título do Projeto:

Grupo de Trabalho:

Descrição do Problema: Pareto das perdas:4

5 Objetivos:

6 Análise do Problema:

Data:

6.1 Brainstorming

6.2 Ishikawa

MáquinaMeio

ambienteMétodo

MDOMedidaMaterial

Perda

de valor

Ishikawa da Linha 102

7

8 Monitoramento dos Resultados

6.3 5 Porquês

Descrição do Problema 1º Porquê 2º Porquê 3º Porquê 4º Porquê 5º Porquê

Problema 1

Problema 2

DATA AÇÃO QUEM QUANDO STATUS

1 16

2 17

3 18

4 19

5 20

6 21

7 22

8 23

9 24

10 25

11 26

12 27

13 28

14 29

15 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

9 Padronização das Ações (LUPs e Procedimentos criados)

FOLHA KAIZEN

P

D

C

A

Page 101: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

- 87 -

Visto que hoje, em torno de 70% das panes são devido a problemas

recorrentes, a elaboração de projetos Kaizen para todas elas reduziria drasticamente o

percentual de panes encontrado no resultado de OEE atual. Sendo conservador,

supusemos um ganho de 35% (metade do total de problemas recorrentes) no

percentual de panes após a aplicação da metodologia Kaizen na L102. Portanto,

chegaríamos a um OEE de 69,5%.

Sabe-se também que com o aumento da performance da linha, os problemas

de perdas de materiais com defeito reduziriam. Utilizando a mesma base de cálculo de

redução de 35% das panes, estima-se que a quantidade de materiais defeituosos

também reduziria proporcionalmente. Sendo assim, haveria um ganho de R$

10.790,00.

Tabela 14: Ganhos com Kaizen

Fonte: Elaboração Própria

6.6.6 LUP (Lição de Um Ponto)

Dando continuidade à proposta de implementação dos projetos Kaizen descrita

acima, a LUP poderia ser um produto final de alguns deles, ou seja, poderiam ser

elaboradas lições de um ponto, por exemplo, sobre a posição dos elementos de uma

máquina, que antes eram os causadores de uma pane recorrente. Para isso, pode-se

utilizar também os Nominal Value Settings, que nada mais são do que valores

nominais de ajuste que as máquinas devem respeitar para o seu bom funcionamento.

Ou seja, a LUP se utilizaria dessas marcações nas máquinas da posição correta onde

cada elemento deve estar. Essa combinação Kaizen/LUP, então, ajudaria a garantir a

eficácia dos projetos.

Para o caso das perdas com sobrepeso das bisnagas, poderia também ser

realizada uma LUP, indicando qual a maneira correta de se verificar o peso e de

mantê-lo na média e não acima dela. Dessa forma, a perda mensal de R$ 8.064,00

seria extinta. Abaixo um exemplo de modelo de uma LUP.

Material Ganhos com Kaizen

Bisnaga 1.985,15R$

Frasco 500,23R$

Cartucho 3.323,81R$

Molho Tinta (KG) 4.666,37R$

Molho Oxidante (KG) 314,80R$

Total 10.790,36R$

Perda de itens bons por mês

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Figura 28: Exemplo de LUP. Fonte: Elaboração Própria

Page 103: uma aplicação do sistema lean de produção à indústria de

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6.6.7 Relacionamento com fornecedores

Na etapa de análise e identificação dos problemas, vimos que existem alguns

problemas com relação aos materiais recebidos dos fornecedores. No caso dos

frascos, são enviadas unidades a menos e no caso dos cartuchos, parte deles vem

com problemas de qualidade, impossibilitando o seu uso na linha de produção.

Portanto, é preciso estabelecer relações estreitas com os fornecedores, para que eles

conheçam o processo e entendam o impacto que isso pode causar à empresa. No

caso desses dois fornecedores, especificamente, é importante que seja estabelecida

uma relação de fornecedores colaboradores, de forma que trabalhem no

desenvolvimento de projetos colaborativos, conforme explicado na revisão

bibliográfica, para que problemas desse tipo não voltem a ocorrer.

Estima-se que, com as relações com os fornecedores sendo estreitadas, a

“perda” por desfalque no recebimento de frascos e a perda por problemas de

qualidade nos cartuchos não ocorram mais. Sendo assim, o ganho seria de R$

11.561,00 (considerando as perdas com cartuchos defeituosos e as perdas com não

recebimento correto de frascos calculadas anteriormente neste documento).

6.6.8 Autonomação

Com a instalação dos Poka Yokes sugeridos acima, o operador identificaria

mais rapidamente onde ocorreu a anomalia, no momento em que alguma máquina

parar. Essa ajuda na identificação das falhas, juntamente com o conceito de

autonomação, tornaria o operador mais independente dos técnicos para a resolução

de algumas das panes na linha. É evidente que seja necessário a realização de alguns

treinamentos para que se atinja esse nível de conhecimento e maturidade na

operação. Contudo, pode-se estimar que os 10 minutos de espera por um técnico

perdidos diariamente por turno seriam eliminados. Isso traria um ganho de 2 pontos

percentuais no OEE da linha, chegando, finalmente, a 71,5%.

6.6.9 Gestão da Mudança

Muitas das propostas de melhoria descritas acima envolvem mudança de

cultura e criação ou alteração de procedimentos que irão modificar a rotina dos

funcionários. Sendo assim, é preciso que haja uma gestão da mudança extremamente

forte para que todas as soluções possam ser implementadas com sucesso e para que

sejam sustentáveis a longo prazo. Afinal de contas, algumas alterações só serão

sustentáveis se a cultura da empresa foi modificada. É preciso que haja um

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engajamento top down, começando pela liderança e se desdobrando até o chão de

fábrica, envolvendo todos os níveis e áreas da empresa. A situação deve ser

formalizada para que todos entendam os motivos das mudanças e criem

responsabilidades com elas. Para isso, é de extrema relevância, também, que os

resultados conseguidos sejam comunicados com certa frequência, para que os

funcionários vejam que todo o esforço está valendo a pena.

Com a redução dos tempos de troca e da frequência das panes e

microparadas, o operador ganhará mais tempo para realizar análises mais elaboradas

dos problemas que acontecem na linha. É extremamente importante envolver o

operador na análise de causas do que ocorre em sua linha de produção, pois ele é o

maior conhecedor. Além disso, a melhora no rendimento das máquinas também reduz

o volume de rejeitos, tornando mais viável a reintegração dos mesmos, pois

demandará menos tempo do operador. Nesse sentido, é preciso rever todas as

atividades da operação, para que sejam criados procedimentos e programadas

capacitações para cada uma dessas atividades novas e agregadoras de valor

passíveis de serem implementadas.

Além disso, esta linha apresentou apenas três bloqueios de lote de PF por

problemas de qualidade em 2015, estando desde março sem bloquear.

Complementarmente, não houve nenhuma parada para revisão em linha este ano.

Portanto, a vigilância da qualidade poderia ser feita com tempos maiores de

espaçamento, desde que a qualidade continue sendo garantida, o que é bastante

provável, devido às análises de causa mais robustas que serão feitas e aos

dispositivos Poka Yoke que serão instalados. Assim, o operador também ganharia

tempo para realizar outras tarefas, como a reintegração dos materiais bons, o

adiantamento de algumas atividades da troca e a realização de análises para

implementação de projetos de melhoria.

Por fim, pode-se afirmar que esta melhoria é transversal a todas as outras, pois

sustenta as mudanças que serão realizadas. Da mesma maneira, reduz-se o

desperdício intelectual dos operadores, reduzindo o número de atividades apenas

operacionais e envolvendo-o na resolução de problemas, desenvolvendo também seu

senso crítico.

6.7 Estimativa dos resultados

A partir de todas as propostas acima, pode-se estimar o ganho total que

teríamos, caso todas elas fossem implementadas. Esses ganhos foram citados

individualmente no texto, no momento da proposição da solução e foram, neste

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- 91 -

momento, consolidados na tabela abaixo para melhor visualização. Importante

ressaltar que os ganhos com gestão da mudança não foram quantificados, pois essa

mudança de cultura e sustentação dos resultados permeia todas as propostas de

melhoria. Foi apontado apenas que a gestão de mudança trará melhorias tanto de

performance quanto de redução de perdas de material, através da mitigação do

desperdício intelectual.

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Figura 29: 8 Perdas do Lean vs Propostas de Melhoria. Fonte: Elaboração Própria

8 Perdas do Lean vs Sugestões

de MelhoriaKanban/FIFO SMED 5S Poka Yoke Kaizen/PDCA LUP

Supplier

ManagementAutonomação

Gestão de

Mudança

1) Superprodução R$ 2.240,00

2) Espera15 minutos por

troca (OEE

52,5% )

3) Transporte Desnecessário R$ 1.248,00

4) Procedimentos Incorretos20 minutos por

troca (OEE 54%)R$ 19.748,00 R$ 8.064,00 R$ 7.000,00

5) Excesso de EstoqueIdem

Superprodução

6) Movimentos Desnecessários OEE 56,5% OEE 60,5%

R$ 10.790,00

OEE 69,5%

8) Desperdício Intelectual

Ganhos Mensais Estimados

7) Defeito R$ 4.561,00 OEE 71,5%

Ganhos de Performance Redução de Perdas de Material

Incremento de OEE

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Os ganhos de OEE estão apresentados de forma cumulativa da esquerda para

a direita, ou seja, as propostas de melhoria mais à direita já contemplam os ganhos

das melhorias à esquerda. Portanto, o OEE final atingido é o valor mais à direita:

71,5%.

Para o cálculo do ganho em reais que a melhoria do OEE traria, é preciso,

primeiro, entender como o custo com MOD foi calculado no preço do produto. Como

explicado anteriormente, existe uma taxa de rendimento que relaciona o produto e a

linha onde ele será produzido, chamada de TR. Para a linha L102, a TR atual é 0,0630

e o custo com MOD é 0,051 reais para uma unidade produzida, considerando duas

pessoas na linha, um OEE de 55% (padrão estabelecido para esta linha no budget

anual) e uma cadência de 75 unidades por minuto. Se atingirmos um OEE de 71,5%, a

nova TR passa a ser 0,0484 e o custo com MOD chega a 0,039 reais, ou seja, uma

redução de 23%. Com esse OEE, a linha é capaz de entregar a demanda 1.500.000

unidades mensais. Considerando, então, esse valor de produção, o ganho mensal em

reais com custo de MOD seria R$ 17.578,00.

Com relação às perdas de material, se somarmos todos os ganhos acima

apontados, temos um ganho mensal de R$ 53.651,00, ou seja, as perdas seriam

reduzidas em 43%.

Colocando ambos os ganhos na estrutura de custos que está sendo utilizada,

vemos que o custo unitário final do produto passaria a ser R$ 1,92, ao invés de R$

1,98, ou seja, haveria uma redução de 3%. Para a venda de 1.500.000 unidades por

mês a diferença de custos seria de R$ 90.000,00.

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Tabela 15: Custo unitário do produto após melhorias. Fonte: Elaboração Própria

Abaixo podem ser encontrados os VSMs futuros, indicando a redução do

tempo total do processo de envase no VSM do macroprocesso e explicitando as

melhorias sugeridas devem ser inseridas no VSM da linha. Vale ressaltar que algumas

melhorias como 5S e Kaizen devem ser aplicadas no processo como um todo, ou seja,

estarão presentes em todos os lugares da linha. Contudo, indicamos no diagrama os

locais onde hoje temos as situações mais críticas para serem melhoradas, apenas

para fins de representação.

Ganhos Custo Unitário Novo

SK - 0,378R$ MOLHO TINTA 24.970,02R$ 0,546R$ MOLHO OXIDANTE 2.587,48R$ 0,063R$ FRASCO 11.131,72R$ 0,099R$ TAMPA - 0,033R$ CAIXA - 0,066R$ ETIQUETA - 0,005R$ BISNAGA 6.239,03R$ 0,216R$ CARTUCHO 8.722,74R$ 0,341R$ CONSUMÍVEIS - 0,026R$ MOD - 0,039R$

INDIRETOS

TOTAL - 0,107R$

Custo Final 53.651,00R$ 1,92R$

DIRETOS

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Figura 30: VSM futuro do macroprocesso. Fonte: Elaboração prórpria

Throughput time = 3,54 dias1,75hrs4,79hrs

10,33hrs

1,75 hrs

10,75 hrs

1,75hrs

24hrs 6 hrs 24hrs

Tempo de Processamento =

10,04 horas

Demanda Mensal1.500.000

unids coloração

CT = 1,75hr

ST = 1,00hr

CT =4,79 hr

ST =0,33 hr

CT = 1,75hr

ST = 0,75hr

CT = 1,75hr

ST = 0,83hr

ShippingControle de Qualidade

ProduçãoPesagem Fabricação

DistribuiçãoPedidosNecessidades

Plano de Produção

Semanal

Plano de Produção

MRPMatéria prima

Plano de distribuição

Diário

Fornecedor

ACs

Fornecedor

MensalMensal

10hrs10hrs 5hrs 24hrs24hrs

VSM do Macroprocesso:

16,8% de redução

de tempo de

processamento

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Figura 31 - VSM futuro da Linha. Fonte: Elaboração própria

Enchedorafrasco

Tampadora Encartucha-deira

Balançadinâmica

Encaixota-dora

Paletiza-dora

CT = 22 s

ST =11s

CT = 20 s

ST =11s

CT = 3 s

ST = 0

CT = 15 s

ST = 11s

CT = 30 s

ST =0s

CT =12 s

ST = 11s

162

kits

3,2k

frascos

Linha 102

870

unidades

600

caixas

Enchedoratinta

CT = 50 s

ST = 23s

259

bisnagas.

Alimentadorade kits

CT =8 s

ST = 0s600

cartuchos

B

B

40sAlimentadorafrasco

CT = 12 s

ST = 0s

Legenda:

PokaYoke

SMED

5S

Kaizen

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7 Conclusão

A escolha do Sistema Toyota de Produção como embasamento teórico para o

estudo dos processos da linha e para as melhorias sugeridas foi extremamente útil por

prover uma ampla gama de teorias e ferramentas que visam à eliminação de

desperdícios, maximizando a geração de valor no processo.

A partir das análises realizadas, ficou evidente que a linha de produção

estudada possui muitas oportunidades de melhoria. No entanto, é importante ressaltar

que os ganhos estimados neste trabalho (em torno de R$ 90 mil mensais para uma

produção 25% maior, atingindo a demanda 1,5 milhões de unidades) não são valores

precisos, uma vez que tais melhorias não foram ainda implementadas.

Visto que essa linha foi escolhida estrategicamente por ser aquela que

apresenta os piores resultados de eficiência, é interessante usá-la de linha piloto para

a implementação das propostas sugeridas e comparar os resultados reais com as

estimativas feitas aqui. A partir daí, poder-se-ia replicar os resultados que obtiverem

maior sucesso para outras linhas, lembrando que a fábrica em questão possui ainda

10 linhas de coloração, bastante semelhantes com a linha estudada.

Finalmente, vale ressaltar que este projeto de graduação limitou-se a propor

melhorias que gerassem valor, munindo-se das ferramentas do Lean. Entretanto, é

importante lembrar que o Lean Thinking não é apenas um conjunto de ferramentas,

mas sim uma filosofia de produção que deve estar presente em todos os níveis dentro

da empresa: desde a diretoria até a operação, objetivando o fornecimento de valor ao

cliente a custos mais baixos. Dessa forma, uma mudança sustentável e duradoura no

sistema produtivo da fábrica exige foco na implementação como uma das reais

necessidades da fábrica.

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