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Fundação Universidade Federal do Rio Grande Mestrado em Engenharia Oceânica Uma Análise Preliminar dos Processos de Dragagem do Porto de Rio Grande, RS Ronaldo José Torres Dissertação apresentada para a obtenção do título de mestre em Engenharia Oceânica. Orientador: Dr. Antônio Libório Philomena Rio Grande, RS Julho, 2000

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Fundação Universidade Federal do Rio Grande

Mestrado em Engenharia Oceânica

Uma Análise Preliminar dos Processos de

Dragagem do Porto de Rio Grande, RS

Ronaldo José Torres

Dissertação apresentada para a obtenção do

título de mestre em Engenharia Oceânica.

Orientador: Dr. Antônio Libório Philomena

Rio Grande, RS

Julho, 2000

À Fernanda, ao Kevin e

à minha família

Agradecimentos

Agradeço ao Dr. Antônio Libório Philomena pela orientação, empenho

e amizade no decorrer deste trabalho.

Aos engenheiros da Superintedência do Porto do Rio Grande por terem

cedido os dados aqui apresentados.

Aos professores do Laboratório de Oceanografia Geológica e do

Departamento de Oceanografia pela discussão e ajuda na aquisição parte

das informações.

Aos professores e aos colegas que me acompanharam durante o

período do curso de mestrado.

Ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado.

Um agradecimento todo especial à Fernanda e ao Kevin pelo incentivo,

paciência e carinho dedicados nesse período.

i

SUMÁRIO

Lista de Tabelas .......................................................................................................... v

Lista de Figuras .......................................................................................................... vi

Resumo ........................................................................................................................ vii

Abstract ....................................................................................................................... viii

1 - Introdução ................................................................................................................ 1

1.1. Engenharia Oceânica: Princípios Básicos .............................................. 1

1.2. Dragagem: Definição e Histórico ............................................................... 2

1.3. O Porto do Rio Grande ................................................................................. 4

1.4. Antecedentes ................................................................................................. 6

1.5. Objetivos e Justificativa ................................................................................ 7

2 - Área de Estudo ....................................................................................................... 9

2.1. Descrição da Planície Costeira do Rio Grande do Sul ......................... 9

2.2. Aspectos Hidro-Geológicos e Climáticos da Bacia da Laguna

dos Patos e Lagoa Mirim .......................................................................... 10

2.3. Evolução da Barra do Rio Grande e Dinâmicas Estuarina e

Costeira ........................................................................................................ 18

2.4. Descrição Física e Informações Sócio-Econômicas do Município

de Rio Grande ............................................................................................. 29

2.5. Porto do Rio Grande: Sua Importância e Seus Canais de

Navegação ................................................................................................... 31

ii

2.6. Áreas e Processo de Deposição e Erosão no Porto do Rio

Grande .......................................................................................................... 35

2.6.1. Superporto ........................................................................................ 35

2.6.2. Porto Novo ......................................................................................... 38

2.6.3. Porto Velho ........................................................................................ 39

2.7. Aspectos da Fauna e Flora do Estuário da Laguna dos Patos e

Plataforma Continental .............................................................................. 40

2.8. Qualidade da Água e do Sedimento na Região Portuária e

Estuarina ...................................................................................................... 48

3 - Metodologia .......................................................................................................... 54

3.1. Conceito de Modelo ................................................................................... 54

3.2. Pesquisa Bibliográfica, Aquisição dos Dados e Construção do

Modelo Temático ........................................................................................ 55

4 - Aspectos tecnológicos da dragagem ............................................................. 58

4.1. Objetivos da Dragagem............................................................................. 58

4.2. Tipos de Dragas e Meios de Transporte ............................................... 58

4.3. Dragagem Ambiental ................................................................................ 64

4.4. Manejo do Material Dragado .................................................................... 67

4.5. Características das Dragagens do Porto do Rio Grande .................. 67

5 - Aspectos Ecológicos .......................................................................................... 70

5.1. Fontes de Contaminação do Sedimento .............................................. 70

5.2. Impactos Ambientais da Dragagem (Diretos e Indiretos) ................. 71

5.2.1. Dispersão e deposição de sedimentos ressuspensos ......... 73

iii

5.2.2. Resultados da alteração batimétrica .......................................... 75

5.2.3. Efeitos de mudanças na configuração de linha da costa ....... 76

5.2.4. Perda de habitats de fundo e recursos pesqueiros ................. 76

5.2.5. Ruído gerado pelas dragas em operação ................................. 77

5.2.6. Efeitos benéficos ............................................................................. 77

5.3. Impactos Causados Pelo Manejo do Material Dragado .................... 78

5.3.1. Despejo em mar aberto e na zona costeira ............................... 79

5.3.2. Despejo em terra ............................................................................. 83

5.3.3. Construção de aterros .................................................................... 85

5.3.4. Acreção de praia .............................................................................. 85

5.3.5. Outros usos benéficos ................................................................... 87

6 - Aspectos Econômicos e Jurídicos .................................................................. 89

6.1. Custos Envolvidos em Operações de Dragagem ............................... 89

6.2. Relação Custo X Benefício ...................................................................... 92

6.3. Economia Ecológica X Economia (Neo)Clássica ............................... 94

6.4. Valoração Ambiental .................................................................................. 96

6.5. Legislação Voltada ao Meio Ambiente e ao Processo de

Dragagem...................................................................................................... 98

7 - Comparação Com Outros Portos, Rios e Canais ...................................... 107

8 - Resultados e Discussão ................................................................................. 113

8.1. Avaliação da Dragagem de 98 (Volumes e Custos) ......................... 113

8.2. Comparação do Volume de Sedimento Dragado com o

Volume Proveniente da Bacia de Drenagem ...................................... 116

iv

8.3. Alterações nos Regimes de Circulação Estuarina ........................... 117

8.4. Efeito da Agricultura e Urbanismo ........................................................ 119

8.5. Efeito da Poluição (Contaminantes) nos Sedimentos ..................... 120

8.6. Comentários sobre a Flora e Fauna .................................................... 123

8.7. Área de Deposição do Material Dragado ............................................ 126

8.7.1. Atual sítio de despejo ................................................................... 126

8.7.2. Novas áreas de despejo .............................................................. 126

8.8. Legislação, Licitação e Custos da Dragagem ................................... 129

8.9. Valoração Ambiental ................................................................................ 131

8.10. Proposta do Modelo Conceitual .......................................................... 133

9 - Conclusões e Recomendações .................................................................... 139

10 - Bibliografia ....................................................................................................... 144

11 - Anexos ................................................................................................................159

v

Lista de Tabelas

Tabela 1. Descrição da área das bacias hidrográficas dos rios que compõem

o sistema Patos-Mirim e sua área de abrangência................................. 15

Tabela 2. Características dos principais sistemas fluviais da bacia da Laguna

dos Patos.......................................................................................................... 17

Tabela 3. Percentual de granulometria de sedimento de acordo com as

profundidades no estuário da Laguna dos Patos.................................... 26

Tabela 4. Local de ocorrência dos principais tipos sedimentares existentes

no estuário da Laguna dos Patos. .............................................................. 26

Tabela 5. Calado máximo ao longo do porto. ....................................................... 34

Tabela 6. Caracterização da fauna bentônica da região estuarial. .................. 43

Tabela 7. Principais tipos de dragas, denominação inglesa correspondente e

categoria na qual está incluída. ................................................................... 59

Tabela 8. Custos da dragagem referentes aos trechos do porto...................115

Tabela 9. Índices de contaminação dos sedimentos da região portuária por

metais pesados. ...........................................................................................123

vi

Lista de Figuras

Figura 1. Mapa representando a Bacia Hidrográfica da Laguna dos Patos -

Lagoa Mirim. ....................................................................................................... 13

Figura 2. Mapa detalhando a disposição do estuário e do município de Rio

Grande, incluindo as áreas do porto. ............................................................ 22

Figura 3. Principais tipos de draga mecânica. ............................................. 61 - 62

Figura 4. Draga hidráulica......................................................................................... 65

Figura 5. Draga de sucção auto-transportadora. ................................................. 65

Figura 6. Demonstração da operação de dragagem realizada por draga auto-

transportadora.................................................................................................... 75

Figura 7. Processos que influenciam a distribuição de poluentes orgânicos

associados ao material dragado...................................................................82

Figura 8. Imagem de satélite mostrando a desembocadura da Lagoa dos

Patos e região praial com a formação de um vórtice na pluma de

sedimentos que sai da Lagoa......................................................................121

Figura 9. Fotos da bacia de contenção para o sedimento proveniente da

dragagem do cais da Central de Hortigranjeiros. ....................................128

Figura 10. Modelo esquemático representando os compartimentos nos quais

se dividem os modelos e a simbologia utilizada em modelos

ecológicos.........................................................................................................137

Figura 11. Diagrama representando os fluxos de energia num modelo de

dragagem. ......................................................................................................138

vii

Resumo

Este trabalho lida com a problemática que envolve os processos de

dragagem do Porto do Rio Grande (RS). Este tema, de grande importância

para as atividades portuárias e da sociedade que depende do mesmo, é aqui

tratado de forma a levantar alguns pontos relativos às dragagens em si,

assim como do destino do material dragado. Através das informações

obtidas por pesquisa bibliográfica e visitas ao porto e à draga que operou no

período de março a agosto de 1998, foi possível elaborar um modelo

preliminar destes processos. Neste modelo constam aspectos tecnológicos,

ecológicos e econômicos que envolvem as atividades de dragagem. São

vistos, ainda, as principais técnicas e equipamentos de dragagem, modos de

utilização e despejo do material dragado, os custos envolvidos e a legislação

nacional e internacional pertinente a estas atividades. O volume de

sedimento dragado do canal portuário foi da ordem de 3 milhões de metros

cúbicos a um custo aproximado de US$ 4,5 milhões (equivalente a R$ 6

milhões na época). Este material foi descartado em mar, fora da Barra do Rio

Grande, a uma profundidade de aproximadamente 13 metros. São

mencionadas, ainda, alternativas de despejo e manejo do sedimento para

dragagens futuras, dando ênfase para o monitoramento das operações de

dragagem e do despejo do sedimento.

viii

Abstract

“A Preliminary Appraisal of Dredging Processes in the

Port of Rio Grande (RS - Brazil)”

This work deals with dredging processes of the Port of Rio Grande. The

subject is presented in such a way that it stands the major problems related to

the dredging process itself and spoil disposal options. Data gathered from a

bibliographic review and visits to the port and dredge that carried out the

dredging work from March to August, 1998, were used to develop a preliminary

appraisal of this process. The model elaborated consists of technological,

ecological and economical aspects. Also, there is shown a review of the main

dredging equipments, modes of spoil disposal, costs and Brazilian and

international laws involved with the dredging activities. The volume dredged

from the port channel was about 3 million cubic meters at an appoximate cost

of US$ 4.5 million. The spoil was disposed at sea, at 13 meter depth. It’s

mentioned a few alternatives for the disposal of the spoil for future dredging

works on this location, as well as the importance of monitoring the dredging

activities and disposal options.

1

1. Introdução

1.1 Engenharia Oceânica: Princípios Básicos

O homem vem, há muitos séculos, explorando os recursos existentes

nas regiões terrestres, chegando a explorar até quase a totalidade de alguns

destes recursos. Os mares e oceanos, pouco explorados, até então, tornam-

se o meio natural para novas pesquisas.

Uma área da ciência em pleno desenvolvimento é a Engenharia

Oceânica, a qual busca desenvolver novas tecnologias para a explotação dos

recursos oceânicos e costeiros.

As áreas de atuação do profissional em engenharia oceânica são:

1. Estruturas Oceânicas

- Interação solo-fluido-estrutura;

- Dinâmica e construção de estruturas flexíveis;

- Hidrodinâmica de sistemas oceânicos.

2. Engenharia Costeira

- Processos de sedimentação e morfodinâmica costeira;

- Qualidade ambiental (água e ar);

2

- Hidráulica lacustre-costeira;

- Aspectos geotécnicos costeiros;

- Obras marítimas e portuárias.

3. Projeto e Análise em Sistemas Oceânicos

- Projeto e simulação aplicados em equipamentos portuários, na

indústria pesqueira e similares;

- Medição e análise de dados em Engenharia Oceânica;

- Instrumentação Oceânica.

Dentro das obras marítimas e portuárias, destacam-se os processos

para construção e manutenção dos canais navegáveis, principalmente

aqueles utilizados para entrada e saída de navios de portos, e que

geralmente sofrem algum processo de diminuição em sua profundidade,

sendo necessária a operação de dragagem destes canais.

1.2. Dragagem: Definição e Histórico

O termo dragagem é, por definição, a escavação ou remoção de solo

ou rochas do fundo de rios, lagos, e outros corpos d’água através de

equipamentos denominados “draga”, a qual é, geralmente, uma embarcação

ou plataforma flutuante equipada com mecanismos necessários para se

3

efetuar a remoção do solo. Os principais objetivos da dragagem são o

aprofundamento e alargamento de canais em rios, portos e baías; a

construção de diques e preparar fundações para pontes e outras estruturas.

O processo de dragagem também é utilizado para a exploração de depósitos

minerais, diamantes e recursos marinhos de valor comercial tais como

alguns tipos de moluscos (Compton’s Encyclopedia, 1998).

Os historiadores relatam que a dragagem é uma arte muito antiga.

Vestígios do trabalho humano envolvendo técnicas primitivas de dragagem

foram encontrados em muitos locais da Terra e tratam-se de sinais que

datam milhares de anos antes de Cristo. Em tais circunstâncias, a

embarcação era, provavelmente, uma canoa e o meio de escavação uma pá

manuseada por uma pessoa. Na Grécia antiga, eram construídos canais

artificiais com fins de irrigação e também para unir corpos d’água, como é o

caso de traços encontrados indicando ter havido canais de diversas épocas

da história e que ligavam o Rio Nilo ao Mar Vermelho. Também, dados

históricos relatam a construção do canal da Babilônia, construído pelo Rei

Nabucodonossor, e que unia os rio Tigre e Eufrates (Bray, 1997 e Compton’s

Encyclopedia, 1998).

O mais longo e mais velho canal ainda existente é o Grande Canal da

China, com mais de 1.600 km de extensão e que levou cerca de 2.000 anos

para ser construído (suas obras iniciaram no século 7 AC e terminaram por

4

volta do ano 1280 DC). Na Europa, os pioneiros na construção de canais

foram os italianos, porém os franceses prezam pela quantidade e extensão

de seus canais. Atualmente, os holandeses são os que mais investem em

tecnologia para a construção de canais para a drenagem de seu território.

Todos os grandes sistemas hídricos do norte da Europa estão

interconectados por canais artificiais (Compton’s Encyclopedia, 1998).

1.3. O Porto do Rio Grande

O porto do Rio Grande é o porto marítimo mais meridional do Brasil,

localizado na margem oeste do Canal do Norte, sendo este o escoadouro

natural de toda a bacia hidrográfica da Laguna dos Patos (Duarte, 1997). O

Rio Grande é o porto de melhores condições geográficas e de infra-estrutura

para o escoamento da produção de todo o Rio Grande do Sul e norte da

Argentina (Corrêa Jr., 1992, em Hartmann, 1996), sendo de grande

importância para a economia do município, do Estado e do País, além de ser

o terceiro porto mais importante do Brasil, atrás apenas dos portos de Santos

e do Rio de Janeiro (Amaral, 1997).

O município de Rio Grande localiza-se na planície costeira do Rio

Grande do Sul, compreendendo um território de terras baixas na restinga do

Rio Grande, a sudoeste da embocadura da Laguna dos Patos. Por estar em

5

um ambiente estuarino, que propicia naturalmente acumulações

sedimentares de origem marinha e continental, as condições hidrodinâmicas

representam uma característica física marcante da região onde se encontra o

município e a zona portuária. Tal condição natural explica o assoreamento

permanente do canal, fato que contribui para a redução de sua profundidade,

obrigando a dragagens periódicas (a cada dois ou três anos) para manter a

navegabilidade e o calado em 40 pés (12 metros) (Amaral, 1997). A ação

humana, através principalmente da agricultura, propicia o aporte de

sedimento para a bacia de drenagem.

O estudo sobre o comportamento evolutivo do sistema lagunar, e a

avaliação das taxas de deposição, importação e exportação de material, vem

ao encontro das necessidades inerentes aos problemas de dragagem,

construção portuária e da própria evolução da região como porto mais

importante do Mercosul (Hartmann, 1996).

O canal navegável, com 18 km desde a embocadura até a cidade de

São José do Norte, aproxima-se da margem rio-grandina no trecho entre o

pontal oeste da barra e o pontal da Mangueira, atual área do Complexo

Superporto-Distrito Industrial, e faz uma curva para o lado oposto, passando

junto a São José do Norte. As profundidades do canal variam de 10 a 14

metros.

6

A necessidade de navegação de embarcações de grande porte faz

com que se mantenha uma profundidade adequada do canal, e que sua

manutenção receba um planejamento contínuo da administração do porto.

Entretanto, os estudos desta manutenção não devem considerar apenas os

fatores econômicos, mas também, cuidados relacionados ao ambiente que

constitui a desembocadura do estuário da Laguna dos Patos.

1.4. Antecedentes

Até o presente momento não foi realizado nenhum trabalho específico

sobre o processo de dragagem do Canal de Acesso ao Superporto de Rio

Grande e seus impactos ambientais. As informações que se têm a este

respeito são comentários feitos por pesquisadores, em trabalhos

relacionados a outros temas, principalmente da área de geologia costeira e

estuarina, que mencionam e discutem sobre este processo, tais como a tese

de doutoramento de Hartmann (1996) e dissertações de mestrado como a de

Calliari (1980), assim como tópicos de trabalhos científicos que tratam sobre

a qualidade da água do estuário da Lagoa dos Patos e do município de Rio

Grande (Baumgarten e Niencheski, 1998) e um breve comentário em estudos

de impacto ambiental da região portuária (Tagliani e Asmus, 1997).

7

O trabalho aqui realizado seguiu os mesmos moldes daqueles

desenvolvidos por Cook e Bridge (1971), Soule e Oguri (1976) e pelo

Departamento de Recursos Naturais da Geórgia (Georgia Department of

Natural Resources, 1975), os quais mostram claramente os aspectos de

engenharia, ecologia e economia referentes a estuários e portos do

Mississippi, da Geórgia, e da Califórnia, respectivamente, mostrando que

este tipo de estudo é realizado a muitos anos em outros paises. Outros

trabalhos mais recentes podem ser vistos em (USEPA, 1992, 1994 e

CRWQCB, 1996), os quais discutem técnicas modernas de dragagem,

manejo de material dragado e monitoramento de operações de dragagem e

sítio de despejo.

1.5. Objetivos e Justificativa

Do ponto de vista histórico, a maioria dos portos se desenvolveram em

estuários e tornaram-se centros populacionais e industriais. Canais de

navegação em estuários e na entrada de portos podem necessitar freqüentes

dragagens para mantê-los abertos (Gibertoni, 1998). O material sedimentar

proveniente destas dragagens é geralmente conduzido para o mar e

despejado. Entretanto, o material dragado em estuários industrializados pode

conter quantidades expressivas de metais pesados e outros contaminantes,

os quais são transferidos para o local de despejo.

8

O Porto de Rio Grande encaixa-se perfeitamente nestas

características, tendo se desenvolvido na região do estuário da Laguna dos

Patos, e sofrido intensa industrialização ao seu redor nos últimos anos.

Torna-se, então, necessária a avaliação dos possíveis impactos que as

operações de dragagem e re-alocação do sedimento possam causar para a

região.

Este trabalho visa a elaboração de um modelo temático que concilie

aspectos de engenharia, ecologia e economia, relacionados ao processo de

dragagem do canal do porto do Rio Grande, incluindo alternativas de manejo

do material dragado e que possa servir de subsídio para a elaboração de um

modelo computacional numa etapa posterior. Será realizada, também, uma

revisão bibliográfica sobre temas e situações atuais que envolvam este

assunto.

9

2. Área de Estudo

2.1 Descrição da Planície Costeira do Rio Grande do Sul

A planície costeira do Rio Grande do Sul apresenta diferentes tipos de

solos e formações sedimentares de diversas origens ao longo de seus 90

km de largura (em média; sentido leste-oeste), sendo constituída pela Bacia

de Pelotas, apoiada sobre um embasamento composto pelo complexo

cristalino Pré-cambriano e pelas sequências sedimentares e vulcânicas,

paleozóicas e mesozóicas da Bacia do Paraná. Sua origem é relacionada

com os movimentos tectônicos que conduziram à abertura do Atlântico Sul,

ocorrida a partir do Cretácio, e havendo um acúmulo de mais de 10.000 m de

sedimentos de natureza essencialmente clástica terrígena (Villwock e

Tomazelli, 1995). Estas formações sedimentares encontram-se muito bem

conservadas e, apesar da grande dinâmica da superfície, estão ocupadas

por dezenas de corpos lagunares de tamanhos variados que possuem uma

sedimentação fina intensa (Godolphim, 1976, em Hartmann, 1996).

As formações sedimentares desta região apresentam um estado de

conservação e uma diversidade morfológica tal, que permitem uma imagem

completa dos eventos sedimentares que se sucedem, facilitando muito a

análise e observação que se queira fazer sobre o assunto. Através das

características morfológicas e sedimentológicas, pode-se observar um

10

sistema de barreiras arenosas, múltiplas e convexas, que revelam a

formação do sistema lagunar originado através de variações climáticas e

flutuações no nível relativo do mar (regressão-transgressão) durante o

Quaternário (Martins et al., 1989; Villwock e Tomazelli, 1995).

2.2. Aspectos Hidro-Geológicos e Climáticos da Bacia da Laguna dos Patos e

Lagoa Mirim

A linha da costa do Rio Grande do Sul apresenta dois lobos convexos

que englobam a Laguna dos Patos ao norte e a Lagoa Mirim ao sul, estando

estas duas lagunas ligadas pelo canal de São Gonçalo. A concavidade

formada no encontro dos dois lobos formam a embocadura da Laguna dos

Patos, comunicação do sistema lagunar com o Oceano Atlântico (Long, 1989,

em Hartmann, 1996).

A Laguna dos Patos, com 250 km de extensão e largura média de 60

km, é alongada no sentido NE-SW e dispõe-se paralelamente à planície

costeira (Figura 1). Ela é caracterizada por um fundo relativamente plano, com

6 a 7 metros de profundidade média e ocorrência de pontais progressivos na

margem oeste, sendo que as maiores profundidades encontram-se

próximas à restinga (margem leste) e estão dispostas paralelamente ao eixo

principal da laguna, com gradual diminuição da batimetria no sentido

noroeste (Herz, 1977).

11

A restinga consiste na faixa arenosa que separa a Laguna dos Patos

do Oceano Atlântico, compreendendo a porção nordeste da Planície Costeira

e apresentando uma área de aproximadamente 170 km2. É formada por uma

sucessão de múltiplas barreiras cuja origem relaciona-se com as flutuações

do nível relativo do mar durante o Quaternário e também com o clima e taxa

de fornecimento de material sedimentar.

Os sedimentos encontrados no piso lagunar mostram um domínio

síltico/arenoso em quase toda a laguna. Na porção norte, o sedimento

lamoso (argila) predomina na margem leste, junto à restinga. Na porção sul,

a textura argilosa representa uma porcentagem mais significativa, chegando,

em alguns locais, a ser maior que o índice de sedimento síltico/arenoso, e

tendo origem na floculação das partículas trazidas em suspensão (Hartmann,

1996).

Toldo Jr. (1991) dividiu a Laguna dos Patos de acordo com a isóbata

de 5 metros. A margem interna ou flanco lagunar corresponde à área

compreendida entre a linha da costa e a isóbata de 5 metros e apresenta

uma composição essencialmente arenosa. O soalho ou piso lagunar

corresponde a um fundo plano, que desenvolve-se além da isóbata de 5

metros e apresenta uma composição essencialmente síltico-argilosa.

12

Na região estuarina, a areia fina predomina principalmente nas

margens de enseadas e em bancos devido à ação de ondulações, e nos

canais, a deposição de sedimentos siltico-argilosos apresenta maiores

proporções, estando associada a processos de floculação. Porém, no Canal

do Rio Grande, próximo à desembocadura, o predomínio é de sedimentos

arenosos (Calliari, 1980).

O Estado do Rio Grande do Sul possui um clima subtropical,

mesotérmico brando, superúmido, com verão quente e sem estação seca

bem definida (Nimer, 1989). A temperatura média anual oscila entre 16 e

20°C. A média do mês mais quente fica entre 22 e 26°C e a média do mês

mais frio entre 10 e 15°C. A precipitação pluviométrica anual varia entre 1000

e 1500 mm e o número de geadas por ano varia desde um, em Torres, até

mais de quinze em Santa Vitória do Palmar (Villwock e Tomazelli, 1995).

A ação climática (ventos, sistema de frentes, e pluviosidade) controla

as taxas de intemperismo e de erosão sobre os continentes. Esta influência

se faz sentir inclusive na composição mineralógica e na maturidade textural

dos sedimentos clásticos acumulados nas margens lagunares e continental

(Villwock e Tomazelli, 1995).

13

Figura 1. Mapa representando a Bacia Hidrográfica da Laguna dos Patos -Lagoa Mirim. Extraído de Hartmann (1996).

14

O regime hídrico do sistema Laguna dos Patos/Mirim é regido pelo

conjunto de rios, lagos e arroios que fazem parte desta bacia hidrográfica. Os

rios de maior influência são: Jacuí/Taquari, Caí, Sinos, Gravataí e Velhaco,

desaguando no Lago Guaíba, e Camaquã e Pelotas, diretamente na Laguna

dos Patos. Os rios que deságuam na Lagoa Mirim são: Piratini, Jaguarão,

Taquari, Cebolati e Pelotas, além da Lagoa Mangueira, sendo que a Lagoa

Mirim está unida à Laguna dos Patos através do Canal de São Gonçalo (a

área referente a cada bacia está representada na Tabela 1). Grande parte do

material sedimentar deste sistema é proveniente destes corpos d’água e é

transportado em suspensão pelas águas da Laguna dos Patos. Outra parte

do sedimento é erodido do leito lagunar através da ação de ondas

provocadas pelo vento, gerando o regime de circulação deste sistema (Herz,

1977).

O fluxo de material transportado pelos rios desenvolvem correntes que

se projetam para o interior da laguna. Tais correntes são influenciadas pela

morfologia da laguna a qual propicia que fortes ventos, soprando ao longo do

comprimento da mesma, desenvolvam uma forte corrente na região axial.

Isso ocasiona diferenças de nível das águas de até dois metros entre as

extremidades norte e sul (desembocadura), e correntes mais fracas em

sentido inverso ao longo das margens (Zeltzer, 1976).

15

Tabela 1. Descrição da área das bacias hidrográficas dos rios que compõemo sistema Patos Mirim e sua área de abrangência. Fonte: Herz, 1977.

Bacia Hidrográfica Área (km2) Região de Abrangência

Laguna dos Patos 10.360

Jacuí/Taquari 79.770 Depressão Central, Planalto

Caí 6.825 Serra do Nordeste, Depressão Central

Sinos 4.930 Serra do Nordeste, Depressão Central

Gravataí 6.413 Litoral Norte, Depressão Central

Velhaco 5.588 Litoral Norte, Serra do Sudeste

Camaquã 23.963 Litoral Norte, Serra do Sudeste

Pelotas 4.103 Serra do Sudeste, Litoral Sul

Total 147.132

Lagoa Mirim 3.749

Piratini 6.188 Serra do Sudeste, Litoral Sul

Jaguarão 8.563 Campanha, Litoral Sul

Taquari 4.000 Uruguai

Lagoa Mangeira 6.625 Litoral Sul

Cebolati 15.875 Uruguai

Pelotas 5.500 Uruguai

Total 50.638

A configuração lagunar é diretamente relacionada ao regime histórico

eólico da região. Este sistema de correntes e ondas que atuam nas margens

da laguna propiciam a formação de esporões emersos e banco arenosos

submersos (Toldo Jr, 1991). Se os ventos de todas as direções forem

equivalentes em velocidade e duração, uma configuração circular deveria ser

atingida, mas normalmente, as lagunas apresentam-se em forma oval e são

16

alongadas na direção dos ventos predominantes (Zenkovitch, 1958, em Toldo

Jr, 1991). Segundo Zenkovitch, estes processos em lagoas estreitas e

alongadas desenvolvem enseadas e esporões deposicionais, que tendem a

crescer e convergir de modo a dividir a laguna em uma série de bacias

menores, cuja forma refletirá o regime regional dos ventos.

Considerando-se este aspecto, podemos verificar que a Laguna dos

Patos sofre um processo de segmentação que mostra uma largura entre

baías opostas muito maior do que se apresentou quando da sua formação

(Zeltzer, 1976). Porém, segundo Toldo Jr (1991), os pontais presentes na

margem interna oeste projetam-se para o interior da laguna, indicando um

atual e incipiente processo de segmentação, enquanto que na parte sul da

margem interna leste ocorre um franco processo de erosão. Esta erosão

resulta principalmente da propagação das ondas na laguna e o resultado

deste processo não indica a tendência de segmentação total da laguna.

Existem muitas referências quanto ao volume de descarga dos rios

que compõem o sistema Laguna dos Patos/Lagoa Mirim, porém não se tem

valores precisos sobre os volumes de material sedimentar provenientes

destas bacias hídricas. Segundo Herz (1977), 58% do volume de água na

Laguna dos Patos é proveniente do complexo Guaíba, 13,2% do rio Camaquã

e 28,8% da Lagoa Mirim através do Canal de São Gonçalo, sendo que os rios

Jacuí e Taquari representam 85% da descarga fluvial no Guaíba. Os

17

restantes 15% estão representados pelos rios dos Sinos, Caí e Gravataí.

Dados mais detalhados podem ser vistos na Tabela 2.

O Guaíba apresenta uma vazão máxima de 15.000 m3/s durante o

inverno e mínima de 41 m3/s nos períodos de estiagem. O rio Camaquã, por

apresentar um relevo mais suave que aquele dos rios que compõem o

sistema que desagua no Guaíba, mostra vazão máxima de 5.300 m3/s e

mínima de 6 m3/s. O Canal de São Gonçalo apresenta valores de vazão

máxima de 3.000 m3/s e mínima de 700 m3/s. A vazão máxima já medida no

Canal de Rio Grande (desembocadura da laguna) foi de 22.674 m3/s com

valor médio anual de 5.100 m3/s (Herz, 1977).

Tabela 2. Características dos principais sistemas fluviais da bacia da Lagunados Patos. * Incluído na área da bacia do Jacuí. ** Superfície total da bacia dosistema Guaíba. *** Área total da bacia de drenagem da Lagoa Mirim. Fonte:Baisch, 1994.

Vazão (m3/s) Comp. Área Alt. Nasc.

Rio Máx. Mín. Méd. (km) (km2) (m)

Caí 955 0,2 80 250 4980 1000

Sinos 430 1,9 56 125 3820 800

Gravataí 68 5,0 28 65 2200 30

Jacuí 5688 41,7 714 740 71600 730

Taquari 7040 1,3 315 380 * 1150

S. Guaíba 14181 50,0 1193 50 ** 85750

Camaquã 5300 6 316 350 16900 450

C. São G. 3000 n.d. 566 70 *** 50638

18

A contribuição de sedimentos para a Laguna dos Patos é feita

principalmente por material sólido em suspensão. Baisch (1994) estimou

valores de descarga sólida do sistema Guaíba e do rio Camaquã da ordem

de 5,3 milhões de toneladas por ano, sendo que 82% provém do Guaíba e

18% do Camaquã.

2.3. Evolução da Barra do Rio Grande e Dinâmicas Estuarina e Costeira

Das análises morfológicas mais importantes de serem realizadas

nesta área, a extremidade sul da Laguna dos Patos e sua proximidade e

contato com o oceano, apresenta-se de grande importância e interesse para

a compreensão da evolução da planície costeira (Herz, 1977). A região da

desembocadura recebe todo este aporte de sedimento proveniente do

sistema hidrográfico mencionado anteriormente, além de sofrer forte

influência do oceano, gerando padrões de vazante (saída de água da laguna)

e enchente (entrada de água do mar) muito peculiares.

No início do século passado, a barra era denominada de banco, sendo

composta por quatro bancos que apresentavam uma textura arenosa. As

cristas destes bancos situavam-se numa profundidade pouco inferior a 2

metros, e canais que chegavam a profundidades de 4,5 metros eram

encontrados na região entre estes bancos. Porém, devido à ação do aporte

sedimentar proveniente da laguna e das dinâmicas estuarina (regimes de

19

enchente e vazante) e costeira, o assoreamento destes canais fêz com que a

profundidade fosse diminuindo gradativamente (de 4,4 metros em 1800 para

3,6 em 1849 e 2,2 em 1860) (Amaral, 1997).

Segundo Vassão (1988, em Hartmann, 1996), propôs-se, em 1875, a

construção de dois molhes convergentes com o intuito de fixar e estabilizar a

barra, proporcionando também o aumento da profundidade do canal. Estes

molhes teriam comprimento de 3.500 metros (molhe oeste) e 2.940 metros

(molhe leste), com a distância de 850 metros entre os pontais.

Em 1883 foi criada uma comissão chefiada pelo engenheiro Honório

Bicalho, então diretor das obras públicas da Secretaria do Estado.

O início da construção do molhe leste se deu em 1898. Desta data, até

1905, muitas dificuldades impediram o andamento das obras. Em 1904,

capitalistas e industriais norte-americanos associados a investidores

europeus, criam a “Compagnie Française du Port do Rio Grande do Sul” que

encarregou-se da execução das obras.

Para auxiliar na manutenção da profundidade do canal, durante os

anos de 1912 a 1914 foi realizada dragagem por sucção do banco,

permitindo a continuação do processo de construção dos molhes.

20

Em 1915, após a conclusão das obras de construção dos molhes, a

profundidade do canal que era de 6,5 m, passou a sofrer novo processo de

assoreamento, passando a ter profundidade de 4 metros devido à formação

de nova barra. No decorrer deste ano, a hidrodinâmica do canal fêz com que o

canal pelo lado leste se aprofundasse para mais de 7 metros e no lado oeste

5 metros. Dois anos depois, ambos os lados do canal (junto aos molhes

leste e oeste) tinham profundidades de 7,5 metros e o centro do canal

apresentava mais de 11 metros.

Na década de 20, foi observada a formação do banco axial entre os

molhes e o engordamento das praias em ambos os lados da base dos

molhes. Desde então, o processo de adaptação da nova barra tornou-a mais

estável nas suas características principais.

Vitola (1995), através da comparação de plantas batimétricas dos anos

de 1946 e 1956, calculou os volumes de sedimento entre os molhes e Barra

do Rio Grande. Este autor constatou, através de análise de regressão linear,

que existe uma tendência de diminuição da profundidade deste local com o

passar do tempo, tendendo a estabilizar a profundidade em torno dos 6

metros.

Uma visão mais detalhada do processo de abertura da barra do Rio

Grande pode ser vista em Hartmann (1996) e em trabalhos de outros autores

21

por ele citados como Motta (1969), Calliari (1980), Godolphim (1983) e

Vassão (1988).

A região estuarina compreende toda a área que pode receber alguma

influência de água marinha. Usualmente delimita-se o estuário à área que vai

desde a embocadura da laguna em Rio Grande até uma linha imaginária que

liga a Ilha da Feitoria à Ponta dos Lençóis (Figura 2). Porém, em períodos

especiais de estiagem e de ventos provenientes do quadrante sul, este limite

pode deslocar-se mais para o norte, assim como, em ocasiões de muita

pluviosidade e ventos do quadrante norte, a saída de água doce em excesso

pode fazer com que a zona costeira receba uma grande quantidade desta

água, transferindo a região estuarina para o oceano (Calliari e Fachin, 1993;

Bonilha, 1996).

O estuário da Laguna dos Patos é classificado como um Estuário de

Planície Costeira ou como Estuário de Barreira segundo a classificação de

Fairbridge (1980, em Hartmann, 1996). Kjerfve (1994) também denominou o

estuário da Lagoa dos Patos de estrangulado, pois trata-se de uma laguna

estreita e comprida, composta por células elípticas conectadas entre si e com

um único canal de conexão com o mar, longo e estreito.

22

Figura 2. Mapa detalhando a disposição do estuário e do município de RioGrande, incluindo as áreas do porto (Porto Velho, Porto Novo e Superporto).Extraído de Hartmann (1996).

23

Os regimes de fluxo no sistema estuarino estão relacionados aos

desníveis que ocorrem dentro da laguna e na zona costeira. Os ventos

exercem grande influência sobre as marés e as correntes no sistema

lagunar-estuarino. Ventos de NE tendem a baixar o nível do mar na barra,

impelindo as águas da laguna para o Canal do Norte e ocasionando o

escoamento das mesmas em direção ao mar (regime de vazante). Os ventos

de SW e SE, pelo contrário, elevam o nível do mar na barra, impelindo a água

do sistema lagunar para o interior e formando uma corrente do mar para a

laguna (regime de enchente) (Calliari, 1980).

O padrão de distribuição vertical e horizontal da salinidade, permite que

seja feita a classificação do estuário de acordo com os quatro tipos de

circulação propostos por Cameron e Pritchard (1963, em Paim e Moller Jr.,

1986), sendo estes: ausência de circulação estuarina, no qual uma descarga

lagunar muito alta faz com que o estuário se comporte como grande

exportador de material em suspensão para a plataforma costeira; estuário do

tipo bem estratificado, onde é favorecida a floculação e deposição de

sedimentos, porém, não permite a consolidação dos sedimentos finos recém

depositados devido a inversões dos fluxos de enchente próximo ao fundo

criando, dessa forma, contínuas ressuspensões, as quais favorecem a

exportação de material pela porção superior da coluna d’água; estuário

parcialmente estratificado, quando associado a fluxos intensos de enchente

ou fracas descargas fluviais, favorecendo a importação de material em

24

suspensão devido ao transporte residual para o interior da laguna, bem como

a deposição e consolidação desse material; e estuário homogêneo, situação

em que as descargas fluviais são extremamente baixas ou os níveis junto à

costa excepcionalmente altos, gerando, assim, condições que favorecem a

entrada de água salgada para o interior da laguna, situação não favorável à

concentração e deposição de sedimentos finos na região, pois as águas

oceânicas se apresentam pobres em material em suspensão. É importante

salientar que as observações dos fluxos sejam obtidas através de valores

líquidos (após um determinado intervalo de tempo) e não instantâneos.

Um estudo das correntes na região estuarina indicou a salinidade

como o melhor indicador indireto da dinâmica do estuário (Alvarez et al.,

1980). Este estudo mostrou, também, que a distribuição e magnitude da

velocidade das correntes no estuário tem consequência significativa na

mobilização dos sedimentos de fundo e apresentam relação direta com a

situação meteorológica atuante sobre esta área e sobre a Laguna dos Patos,

além de influênciar a entrada da água oceânica e consequente variação de

maré.

Mata e Moller (1993), através de modelos matemáticos, definiram o

tempo de descarga do estuário da Laguna dos Patos. O tempo de descarga é

definido como o tempo necessário para substituir o volume de água doce

25

dentro do estuário e está relacionado à vazão fluvial, à maré astronômica e à

distância atingida pela água salgada dentro do estuário.

Estes autores concluíram que o tempo de descarga, independente de

fatores meteorológicos (casos em que o vento não é o fator determinante), é

representado pelo ciclo de marés, sendo que o tempo médio de descarga é

de aproximadamente 6 dias.

Quanto ao sedimento de fundo, Calliari (1980) constatou que o tipo

predominante é a areia-fina, principalmente nas margens de enseadas e em

bancos. Nos canais, devido à hidrodinâmica mais elevada associada a

processos de floculação, a deposição de sedimentos síltico-argilosos

apresenta maior proporção. Em resumo, conforme aumenta a profundidade,

diminui o tamanho do grão, estando diretamente relacionada à energia do

ambiente (Tabelas 3 e 4). Porém, no Canal do Rio Grande, próximo à

desembocadura, o predomínio é de sedimentos arenosos.

De acordo com a batimetria, na região estuarina as maiores

profundidades restringem-se aos canais de navegação, tanto naturais como

artificiais, variando entre 3 e 19 metros. Esta região é, também, repleta de

estruturas de pouca profundidade, representada pelos bancos e coroas. Os

baixios mais expressivos, com profundidade inferiores a 1 metro, são

representados pelo banco do Saragonha, baixio da Feitoria e diversas

26

corôas, entre elas a de Dona Mariana, junto à margem leste do Canal do Rio

Grande, ao norte da Ponta dos Pescadores (Hartmann, 1988).

Tabela 3. Percentual de granulometria de sedimento de acordo com asprofundidades no estuário da Laguna dos Patos. Fonte: Calliari e Tagliani(1997).

Profundidade(m)

Cascalho(%)

Areia(%)

Silte(%)

Argila(%)

0 - 1 2,01 87,78 3,31 6,83

1 - 3 3,89 79,97 6,70 9,27

3 - 5 3,74 66,85 12,37 16,68

5 - 10 1,89 54,43 21,03 22,53

> 10 0,42 53,32 27,36 18,79

Tabela 4. Local de ocorrência dos principais tipos sedimentares existentesno estuário da Laguna dos Patos. Fonte: Calliari e Tagliani (1997).

Tipo de fundo Local de ocorrência

Arenoso Margem lagunar e grandes bancos

Areno - síltico Regiões adjacentes à margemlagunar e aos grandes bancos

Areno - argiloso Partes externas dos canais e parteinterna das enseadas

Misto (argila + silte + areia) Enseadas (sacos) e partes externasdos canais

Síltico - argiloso Canais e adjacências

Argilo - síltico Zonas mais profundas dos canais eregiões mais abrigadas (zonasinternas dos sacos)

27

Segundo Baisch (1994), do total de sedimentos que são

descarregados na Laguna dos Patos, apenas 25% atinge a região estuarina.

Portanto, das 5.300.000 ton/ano, cerca de 1.200.000 ton/ano é a quantidade

de material em suspensão que é aportada no estuário.

Na região costeira, a dinâmica dos ventos, as ondas por eles geradas

e as correntes litorâneas que se desenvolvem quando as ondas chegam à

linha da costa, aliados às variações de maré e às ressacas produzidas pelas

tempestades, são responsáveis pelas constante alteração nos processos

erosivos e deposicionais aí presentes (Villwock e Tomazelli, 1995).

A plataforma Sul-Brasileira é caracterizada por duas regiões diferentes

quanto à morfologia de fundo. A região ao sul da Barra do Rio Grande

apresenta-se extremamente homogênea e lisa. Ao norte, a plataforma tem

irregularidades topográficas, representadas por bancos arenosos lineares,

sendo que a diferença entre a crista e a cava destes bancos pode atingir

cerca de 5 metros (Calliari e Fachin, 1993).

Como os ventos predominantes na região são de NE, as correntes

litorâneas geradas por vento tem direção NE-SW durante a maior parte do

ano. Os ventos do quadrante sul (SW, S e SE) geram correntes no sentido

contrário. Estas correntes geradas por ventos NE apresentam um transporte

28

preferencial de sedimentos finos em direção ao sul. Por outro lado, as

correntes litorâneas geradas pela incidência dos ventos do quadrante sul

apresentam maior eficiência na remobilização de sedimentos arenosos

apresentando um transporte preferencial para o norte.

Motta (1969) verificou que as ondulações (swell) de maior energia e

menor esbeltez provém de SE e estão geralmente associadas a

tempestades, com altura significativa superior a 2,0 metros. As ondas

provenientes do quadrante leste-nordeste, associadas ao vento NE

predominante, são vagas curtas e esbeltas, de período variado e de menor

energia, cuja altura significativa é de cerca de 1,5 metro.

Calliari e Klein (1993), num estudo referente à caracterização das

praias ao sul da Barra do Rio Grande, afirmam que as marés astronômicas

são insignificantes em relação a qualquer estudo que seja feito na região

costeira e estuarina, sendo os fatores meteorológicos os principais

responsáveis pelas variações do nível d’água (maré meteorológica). Através

do estudo do regime de ondas incidente nesta região, foi observado um

comportamento sazonal, com tendência ao desenvolvimento do perfil de

acreção de praia entre os meses de novembro e março, e do perfil de erosão

no restante do ano.

29

2.4. Descrição Física e Informações Sócio-Econômicas do Município de Rio

Grande

O município de Rio Grande tem uma população de aproximadamente

180.000 habitantes. Sua área é de 3.340 km2 e localiza-se na extremidade sul

da Laguna dos Patos. A área compreendida pelo município está dividida em

cinco distritos: 1o) Cidade do Rio Grande e Balneário Cassino; 2o) Ilha dos

Marinheiros e ilhas menores (das Pombas, dos Cavalos, da Pólvora,

Leonídio, Caldeirão, das Cabras e Constância); 3o) Povo Novo, Torotama,

Mosquito e Martin Coelho; 4o) Taim; e, 5o) Vila da Quinta (Vieira e Rangel,

1993, em Duarte, 1997).

A cidade do Rio Grande está localizada nas margens da região

estuarina da laguna, numa restinga limitada nos quadrantes sul e noroeste

por enseadas rasas marginais (Saco da Mangueira, do Martins e do Justino),

ao norte pelo Canal do Norte e ao leste pelo canal de acesso da laguna ao

Oceano Atlântico (Canal do Rio Grande). Rio Grande possui uma rede

hidrográfica interna, formada por lagoas e arroios, com muitos banhados

permanentes e temporários, resultantes da dificuldade de escoamento

superficial, consequência da baixa declividade e da permeabilidade do solo

arenoso (Duarte, 1997).

30

O município de Rio Grande possui um clima subtropical úmido, com

forte influência do oceano (Strahler e Strahler, 1996 em Braga, 1997). Neste

município, o predomínio de ventos com direção nordeste foi observado para a

maioria dos meses do ano, excetuando-se os meses de maio, junho e julho

onde a maior ocorrência foi da direção norte, sendo verificado nestes meses

uma grande incidência de ventos de sudoeste e oeste (Braga, 1997).

A cidade do Rio Grande tem parte de sua economia voltada para o mar,

sendo privilegiada por sua localização e pelo porto marítimo de importante

valor para toda a região sul. Seu parque industrial está formado por três

indústrias de pescado, cinco de fertilizante (quatro de processamento e uma

de mistura), uma têxtil, três de extração e refino de óleo vegetal, uma refinaria

de petróleo, uma de moagem e benefício de farinha, um frigorífico e uma de

conservas alimentícias, distribuídas na Área Urbana de Ocupação intensiva e

no seu Distrito Industrial (modificado de Tagliani e Asmus, 1997).

Outra atividade importante do município é a agricultura, principalmente

o arroz e a cebola. A população urbana do município dedica-se às atividades

dos setores secundário e terciário da economia, predominando as atividades

de movimentação de cargas no porto, produção de fertilizantes, derivados do

petróleo e indústrias de pesca e cereais (Habiaga, 1998).

31

Sobre a movimentação do porto, ela está dividida em granéis sólidos

(soja e fertilizantes), granéis líquidos (derivados de petróleo e produtos

químicos) e carga geral (contêineres contendo fumo, calçados, arroz, resinas

termoplásticas, móveis, couro, borracha, celulose, entre outros). No período

de 1991 a 1998, o total geral destes produtos transportados pelo porto

(importação/exportação) foi, em média, de 11 milhões de toneladas, sendo

que o maior volume ocorreu em 1998, com o total de 13,9 milhões de

toneladas. Deste volume, cerca de 15% corresponde a cargas gerais, 25% a

granéis líquidos e 60% a granéis sólidos (SUPRG, 1999a).

2.5. Porto do Rio Grande: Sua Importância e Seus Canais de Navegação

O Porto do Rio Grande está localizado na margem oeste do Canal do

Norte, na desembocadura da Laguna dos Patos. Este porto encontra-se

muito bem localizado e estruturado para o escoamento da produção agrícola

e industrial de todo o Rio Grande do Sul e norte da Argentina (Corrêa Jr.,

1992, em Hartmann, 1996).

O Canal do Norte constitui-se de um canal navegável com extensão

aproximada de 18 km, indo desde a embocadura até a cidade de São José

do Norte. Este canal aproxima-se da margem rio-grandina no trecho entre o

Pontal Oeste da Barra e o Pontal da Mangueira, atual área do complexo

32

superporto-distrito industrial, e faz uma curva para o lado oposto, passando

junto a São José do Norte. As profundidades deste canal variam de 10 a 14

metros.

O Porto Velho, com aproximadamente 640 metros de cais e

profundidade aproximada de 2 a 5 metros, constitui-se hoje em terminal

pesqueiro, de passageiros, área de turismo e lazer, serviços e militar

(Capitania dos Portos e Distrito Naval).

O Porto Novo constitui-se de um canal artificial dragado sobre a Corôa

do Ladino, construído em 1916, ligando o Porto Velho ao Canal do Norte.

Este porto apresenta 1.952 metros de cais e profundidade aproximada de 8 a

10 metros, apresentando os terminais para carga geral, granéis sólidos e

líquidos, contêineres e fertilizantes na margem portuária e na outra margem

do canal artificial, encontra-se a ilha pertencente à Marinha do Brasil, onde se

localiza uma base militar.

O Superporto do Rio Grande foi idealizado no final da década de 60 e

início de 70 pelo Comandante Zaven Boghossian, na época diretor do

Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPVN). As principais

características deste porto são o canal de acesso, dragado de 12 a 14

metros, que permite a entrada de navios de até 60.000 toneladas; o tráfego

rodoviário do porto fica fora do perímetro urbano; e o porto apresenta

33

terminais especializados por tipologia de carga, evitando que ocorra a

mistura das mesmas (Amaral, 1997).

Ótimas condições naturais e grande potencial econômico são os dois

motivos que levaram o Governo Federal a escolher Rio Grande para sediar

estas instalações portuárias e o complexo industrial a ele anexo. Dentre as

condições naturais destacam-se a grande área para expansão (8 a 9 km), a

baixa amplitude de maré (aproximadamente 0,5 m), águas protegidas

estando localizado no interior do estuário da Laguna dos Patos, com bom

calado, além de possuir uma grande área para o retroporto e o Distrito

Industrial do Rio Grande (DIRG).

O atual calado do canal comporta receber navios de 60 a 70 mil

toneladas, incluindo os navios porta-contêineres, porém não atende aos

navios de 100 a 200 mil toneladas que necessitam de uma calado maior (16

a 20 metros) e que deverão dominar o transporte de longo curso no próximo

século (Amaral, 1997).

O Canal de Acesso ao porto desenvolve-se através da Barra e ao longo

do Canal do Norte, prolongando-se até o Porto Novo e Porto Velho. Este canal

pode ser dividido em cinco trechos: a) externo aos molhes, com 200 metros

de largura, 5.000 metros de extensão e profundidade média de 14 metros; b)

interno aos molhes (da cabeça ao enraizamento), com largura de 200 m,

34

extensão de 4.100 m e 14 m de profundidade; c) zona portuária, do

enraizamento dos molhes até o baixio de Dona Mariana, com largura variando

de 200 a 300 m, extensão de 4.900 m e profundidades entre 10 e 15 m; d)

canal do Porto Novo, com 150 m de largura, 2.500 m de extensão e 10,5 m de

profundidade; e, e) canal do Porto Velho, com aproximadamente 100 m de

largura e 5 m de profundidade (Portobrás, 1979).

Tabela 5. Calado máximo ao longo do porto. Fonte: SUPRG, 1999b.

Terminal Profundidade (pés/m)

Leal Santos Alimentos 26.5 / 8.1

Tecon (Contêineres) 40 / 12.2

Dolfins de transbordo 40 / 12.2

Termasa 40 / 12.2

Tergrasa (cais de navios) 40 / 12.2

Tergrasa (cais de barcaças) 16 / 4.9

Bianchini 40 / 12.2

Ceval 40 / 12.2

Adubos Trevo 36 / 11

Petrobras (pier) 36 / 11

Copesul 32 / 9.8

Porto Novo (fertilizantes) 30 / 9.2

Porto Novo (contêineres) 31 / 9.5

Porto Velho 15 / 4.6

Na bacia de evolução do Superporto, cada terminal tem sua própria

bacia, que se localiza entre a frente de acostagem e o canal principal de

acesso. No Porto Novo e no Porto Velho, as bacias de evolução são

35

constituídas de áreas em frente aos berços de acostagem, tendo 200 m de

largura e de 8 a 10,5 m de profundidade e 100 m de largura e 2,5 a 4 m de

profundidade, respectivamente. O quadro atual do calado máximo ao longo

do porto pode ser visto na Tabela 5. As profundidades foram definidas após a

dragagem realizada em 1998 através da portaria no 605 (SUPRG, 1999b).

2.6. Áreas e Processo de Deposição e Erosão no Porto do Rio Grande

2.6.1. Superporto

Como a maioria dos rios do Estado do Rio Grande do Sul (que não

são afluentes do Rio Uruguai) desaguam no sistema Laguna dos

Patos/Lagoa Mirim, o Canal do Norte drena para o oceano uma bacia com

área aproximada de 160.000 km2.

Segundo Calliari (1980), este emissário lagunar tem sido estável em

posição, largura, profundidade e comprimento e sua margem oeste encontra-

se protegida da erosão, exceção feita aos períodos de grandes enchentes,

nos quais sua estabilidade pode ser alterada devido às fortes correntes de

vazante que podem causar erosão.

36

Na margem leste do Canal do Norte, as características dos episódios

de deposição e erosão podem ser acompanhados através das observações

dos ciclos de enchente e vazante. Nesta margem, porém, predominam os

episódios de deposição de sedimentos na porção próxima à

desembocadura, com a formação de bancos de areia como pode-se

observar na enseada formada atrás da Ponta dos Pescadores, cujo banco

original deu origem ao Pontal do DEPREC (Calliari, 1980 e Hartmann, 1996).

Na porção próxima a São José do Norte há um equilíbrio entre erosão e

deposição, apresentando profundidade maior na margem leste que na oeste,

e não ocorrendo formação de bancos nesta margem.

Um estudo realizado em 1972 pelo Instituto de Pesquisas Radioativas

da Universidade Federal de Minas Gerais, em conjunto com o Instituto de

Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal Rio Grande do Sul, mostrou

o ativo comportamento hidráulico da região através de radio-isótopos

adicionados ao sedimento, servindo como um mecanismo trapeador.

Através da retirada de sedimentos do Canal do Porto Novo e sua

caracterização radioativa, este experimento teve por finalidade verificar o

comportamento deste sedimento caso ele fosse lançado na Coroa de Dona

Mariana (em frente ao Superporto, porção final do Canal de Rio Grande),

verificando se ele voltaria ou não à região de origem.

37

Concluiu-se que o material se movimenta rapidamente para fora do

local de despejo ocorrendo grande espalhamento em direção à

desembocadura do canal. Observou-se, também, que em épocas de fluxo

mais intenso, o material que cai no canal se movimenta rapidamente, sendo

recolocado em suspensão.

Villwock, et al (1972), realizaram um estudo da mineralogia de argila

dos sedimentos de fundo da laguna, demonstrando que o mecanismo

deposicional na região do Canal de Rio Grande é muito complexo, uma vez

que as condições de fluxo e refluxo são comandadas pelos ventos e

precipitação pluviométrica. Neste estudo, demonstrou-se que o material em

suspensão, após sofrer floculação devido ao aumento de salinidade,

concentra-se junto ao fundo, constituindo uma camada de lama bastante

fluida, que se desloca para montante durante a enchente e para jusante

durante a vazante. O fluxo e refluxo desta lama fluida sobre o fundo origina

depósitos de acréscimo ou colmatagem. Martins (1971) estudou a

sedimentação neste canal, dividindo-o em zonas, com base nas fácies

sedimentares de fundo, em três províncias distintas: lagunar, transicional e

marinha.

Hartmann (1996) afirma que, através de sondagens realizadas em

1994 e 1995, o assoreamento do Canal de Acesso é da ordem de 2m/ano,

sendo que o valor médio anual é de 1,5 m/ano (ou o equivalente a

38

aproximadamente 900.000 m3 de sedimento, considerando um canal com

3.000 metros de comprimento por 200 m de largura) e a taxa de

sedimentação diária foi calculada como sendo próxima a 4,1mm/dia. Esta

sedimentação foi comprovada como sendo um processo de floculação que

está associada à interação entre as águas doces de vazante e as salgadas

de enchente. Este autor comprovou a necessidade de dragagens periódicas

do canal através da quantificação da taxa de assoreamento.

2.6.2. Porto Novo

No início do século, a comunicação entre o Porto Velho e o Canal do

Norte era feito apenas pelo Canal da Barca. Porém, com a necessidade de

encurtar o caminho percorrido pelas embarcações para entrar e sair deste

porto, foi feita a dragagem do Canal do Porto Novo em 1916, sobre a corôa do

Ladino.

Os fatores responsáveis pelo assoreamento que ocorre na Bacia do

Porto Novo ainda não são plenamente conhecidos, entretanto, sabe-se que

os mesmos obedecem a um comportamento sazonal, com maior

assoreamento nos trimestres de outubro a dezembro e janeiro a março e

menor assoreamento nos trimestres de abril a junho e julho a setembro.

Estima-se que os fatores responsáveis pelo assoreamento seriam a

39

temperatura média das águas, salinidade, taxa pluviométrica e ventos

(Calliari, 1980).

A taxa mensal de assoreamento para esta bacia foi quantificada em

torno de 30.000 m3 (estudo da “Companhia Française Du Port do Rio Grande

do Sul” no início deste século, e que praticamente não apresentou variação

em seu valor; em Calliari, 1980). A bacia do Porto Novo poderia ter sua

profundidade mantida através dos agentes naturais - a exemplo do que

acontece com a bacia do Porto Velho - caso fossem uniformizadas as bacias

deste canal com a do Canal de Ligação ao Porto Velho através de seu

alargamento.

2.6.3. Porto Velho

Segundo Calliari (1980), com a abertura do Canal de ligação entre o

Porto Velho e o Porto Novo, os escoamentos ao Canal do Norte fizeram-se

pelo canal artificial, ocasionando o assoreamento do Canal da Barca (que

liga Rio Grande a São José do Norte), o qual atualmente necessita de

dragagens freqüentes para sua manutenção. Por outro lado, a abertura deste

canal artificial causou um aprofundamento geral na Bacia do Porto Velho.

Esta bacia mantém, assim, sua regularidade, não estando sujeita a grandes

assoreamentos.

40

2.7. Aspectos da Fauna e Flora do Estuário da Laguna dos Patos e

Plataforma Continental

Dos ecossistemas costeiros, os estuários são os que requerem

maiores cuidados, devido a suas características flori-faunísticas de notável

importância e alta produtividade biológica, condicionada às misturas que

ocorrem entre águas doces e salgadas (Duarte, 1996). Por outro lado, os

estuários sofrem com os impactos provenientes tanto de processos naturais

quanto da ação do homem.

As características estuariais (área confinada e protegida com aspectos

morfológicos, físicos e químicos peculiares e com alta produtividade

biológica) tornam a região peculiarmente importante, assegurando um

complexo de atividades urbanas, portuárias e industriais (Asmus, et al.,

1985). Segundo estes autores, a partir da avaliação de elementos bióticos e

abióticos e da maneira de como eles se distribuem, pode-se identificar e

delimitar 11 tipos diferentes de ambientes que constituem a estrutura básica

do sistema ecológico do estuário da Laguna dos Patos. Os ambientes por

eles definidos foram: 1) plataforma proximal; 2) embocadura da laguna; 3)

canais; 4) zona intermediária; 5) sacos protegidos; 6) ilhas; 7) marismas; 8)

praias oceânicas; 9) dunas; 10) lagoas interiores; e 11) terrenos elevados.

41

Destes ambientes, os três primeiros são os que mais nos interessam

neste estudo, juntamente com o ítem 8 (praias oceânicas), por serem os

mais afetados pelo processo de dragagem e sítio de despejo, porém, zonas

intermediárias e mesmo sacos protegidos também podem ser impactados.

Numa breve caracterização dos processos biológicos existentes nesta

região, podemos destacar a comunidade planctônica (fito e zooplâncton),

comunidade bentônica (organismos colonizadores do substrato), os peixes e

a vegetação emergente e submersa.

Os estudos referentes ao fitoplâncton estuarino são relativamente

recentes. Abreu (1987) estudou o comportamento dos níveis de Clorofila-a

encontrando uma certa sazonalidade em sua concentração (62% na

primavera e 82% no outono). Na primavera foi observada a dominância da

diatomácea Skeletonema costatum, e no verão passa a ser do ciliado

Mesodinium rubrum. Este autor observou, ainda, que nos períodos de

entrada da cunha salina, a maior estabilização da coluna d’água e o aumento

na disponibilidade de luz no canal fornecem melhores condições para o

desenvolvimento do fitoplâncton.

Quanto à comunidade zooplanctônica, Montú (1980) encontrou 84

espécies, sendo 50 de água doce e 34 de origem marinha. A maioria destas

espécies (65) e as maiores abundâncias (média das densidades máximas

42

de cada espécie - 527 ind/m3) foram encontradas durante os meses de verão.

No inverno, apenas 25 espécies estiveram presentes com densidades

médias de 250 ind/m3.

Esta autora observou, ainda, que os organismos dominantes, tanto em

riqueza de espécies quanto em número de organismos, estavam

representados por copépodos e cladoceros de água-doce. O copépodo

marinho Acartia tonsa (densidades máximas de 3.369 ind/m3 durante a

primavera) e a larva do cirripédio Balanus improvisus (densidade máxima de

12.743 ind/m3 durante o verão) foram dominantes durante os regimes de

enchente e mixohalinização da cunha salina. O copépodo de água-doce

Notodiaptomus incompositus apresentou-se dominante durante os períodos

de vazante, comuns nos meses de inverno e primavera. Foi observado,

também, que as condições hidrodinâmicas e a salinidade representam

importantes fatores na diversidade e distribuição do zooplâncton e que a

temperatura é o principal parâmetro para a ocorrência de espécies límnicas.

A fauna bentônica foi caracterizada por Capitoli et al. (1978) e

Bemvenuti et al. (1978). Estes autores encontraram 44 espécies de

organismos da infauna e epifauna, sendo os mais abundantes os crustáceos

peracaridos (17 espécies) e poliquetas (13 espécies), com predomínio dos

organismos marinhos eurihalinos e estuariais. As principais espécies

encontradas podem ser vistas na Tabela 6.

43

Tabela 6. Caracterização da fauna bentônica da região estuarial. Modificadode Capitoli et al. (1978).

EspéciesMarinhasEstenohalinas

Artemesia longinaris e Pleoticus mulleri (crustacea),Psammobatis sp. e Sympterigia acuta (pisces). Aparecemem breves períodos.

EspéciesMarinhasEurihalinas

Penaeus paulensis e Callinectes sapidus (crustacea;sazonais); Balanus improvisus e Cyrtograpsus angulatus(crustacea), Neanthes succinea (polichaeta) e Paralichthyssp. (pisces) são espécies que podem permanecer e emalguns casos reproduzir-se na área estuarial.

EspéciesEstuariariais

Littoridina australis (molusca, gastropoda), Erodonamactroides e Tagelus plebeius (molusca, pelecypoda),Laeonereis acuta, Nephthus fluviatilis e Heteromastussimilis (polichaeta), Cyprideis multidentata, Kalliapseudesschubartii, Pseudosphaeroma sp., Bathyporeiapusbisetosus, Melitacf lagunae, Corophioidea indet.,Chasmagnathus granulata, Metasesarma rubripes(crustacea) e Achirus garmani (pisces).

EspéciesLímnicas

Littoridina charruana, Tanais sp. e Palaeomonetesargentinus. Aparecem na porção superior do estuário.

As seguintes espécies mostraram-se dominantes na região

(Bemvenuti et al., 1978): Erodona mactroides (molusco bivalvo presente em

todo estuário com densidades entre 29 ind/m2 no canal, até 3722 ind/m2 no

Saco do Arraial); Heleobia sp. (também molusco gastropode, com

densidades de 40.000 ind/m2 em águas rasa); Kalliapseudes schubartii

(crustáceo presente também em águas rasas, densidade de 1.013 ind/m2) e

os poliquetos Laeonereis culveri, Neanthes succinea, Hemipodus olivieri,

Heteromastus similis e Vephtys fluviatilis (densidades de 101 ind/m2 na

44

desembocadura e canal de acesso até 977 ind/m2 no Saco do Arraial). Nos

canais, com profundidades entre 5 e 14 metros, a fauna mostrou-se pobre,

com poucos crustáceos, moluscos e poliquetos, porém ocasionalmente

foram encontradas altas densidades do molusco gastrópode Littoridina

australis (que apresentou densidades de até 1500 ind/m2 na região do canal).

Dentre as espécies comercialmente importantes, estes autores citam o

camarão rosa (Penaeus paulensis) e o caranguejo azul (Callinectes sapidus),

os quais aparecem sazonalmente no estuário.

Em um estudo no qual foram realizados experimentos de defaunação

e recolonização dos organismos bentônicos de uma enseada do estuário da

Lagoa dos Patos, Bemvenuti (1992) observou que após a defaunação dos

substratos moles, a recolonização do mesmo ocorreu através do

recrutamento de larvas de Laeonereis acuta e pela migração de adultos de

Nephtys fluviatilis, Heteromastus similis e Kalliapseudes shubartii. O processo

de resiliência (capacidade de recuperação) e recolonização do habitat

depende de diversos fatores bióticos e abióticos que incluem as condições

do próprio substrato, temperatura, salinidade (que varia com a sazonalidade),

predação e oportunismo de outras espécies e também da capacidade de

reprodução das espécies afetadas. Observou-se também que os crustáceos,

principalmente os caranguejos (Chasmagnathus granulata) e camarões

(Penaeus paulensis) tendem a povoar as zonas mais rasas, onde ocorre

algum tipo de vegetação, em busca de abrigo. Algumas espécies foram

45

capazes de recolonizar o substrato em um prazo que variou de 19 dias até

pouco mais de um mês.

No estuário da Laguna dos Patos, as pradarias de gramíneas

marinhas estão representadas por Ruppia maritima (Asmus, 1985). Segundo

este autor, as pradarias de R. maritima destacam-se por apresentar alta

biomassa e geração de detritos vegetais, pela associação de diversas

espécies da flora e fauna estuarina, e por fornecer proteção a muitas

espécies de organismos bentônicos e peixes, sendo área de reprodução de

peixes e crustáceos. Além de R. maritima, outras espécies de gramíneas

também estão presentes no supra e mesolitoral, tais como, Juncus acutus,

Spartina densiflora, S. alterniflora e Scirpus robustus (Capitoli et al., 1978).

O estudo das macroalgas bentônicas, realizado por Coutinho e

Seeliger (1986), apontou a existência de 94 espécies de macroalgas, sendo

40 cianofíceas, 25 clorofíceas, 25 rodofitas, 3 feofitas, e 1 xantofita. Destas

espécies, 46 apareceram o ano todo não apresentando sazonalidade,

enquanto que as demais foram divididas em dois grupos de 24 espécies,

cada grupo aparecendo durante o verão/outono ou inverno/primavera,

alternadamente. Esta sazonalidade está relacionada a variações na

salinidade, temperatura da água e índice de radiação solar, o qual é

dependente entre outras coisas, da profundidade e da turbidez da água.

Dentre as espécies que aparecem durante o verão e o outono, 15 delas

46

apresentaram o maior crescimento neste período, estando relacionado às

maiores salinidades observadas nestes meses. Durante o inverno e a

primavera, o maior pico foi representado por 11 espécies estando

relacionado à menor temperatura da água e reduzido regime de luz. A maior

diversidade foi observada no final do outono.

Calliari et al. (1977) relacionaram o tipo de substrato da região

estuarina com a presença de algumas espécies bentônicas e afirmaram:

“acredita-se que diferentes tipos de fundo determinam habitats preferenciais,

os quais influenciarão no povoamento tanto da fauna como da flora da

região”.

Com relação à ictiofauna, Chao et al. (1987) relataram a presença de

110 espécies que alternam sua ocorrência no estuário de acordo com

distintas estratégias de vida, porém poucas são abundantes ou frequentes.

Segundo estes autores, este estuário constitui a mais importante área de

criação e crescimento para grande parte dos peixes e crustáceos

comercialmente explorados no litoral sul do Brasil.

A melhor descrição da ictiofauna do estuário é encontrada em Chao et

al. (1987). Estes autores observaram que esta comunidade está dividida em

pelo menos três assembléias: aquelas associadas ao substrato de fundo, as

espécies de meia-água e as espécies costeiras. Foi observado o maior

47

número de espécies durante o verão e meses quentes, principalmente no

início do outono, estando relacionado à época reprodutiva e ao recrutamento

de juvenis. A redução no número de espécies durante o inverno está

associada aos períodos de intensa chuva e períodos de vazante do canal,

resultando em baixa salinidade.

Baseados na abundância, distribuição espacial e temporal e no ciclo

de vida, Chao et al. (1987) agruparam os peixes deste estuário em cinco

categorias:

1. Peixes que residem no estuário: são aqueles que completam seu ciclo de

vida dentro do estuário. A maioria das espécies estão presentes durante

todo o ano. As espécies incluem Odontesthes sp., Xenomelaniris

brasiliensis, Jenynsia lineata, Achirus garmani, Hyperochilus fissicornis e

Genidens genidens (bagre) dentre as mais abundantes.

2. Peixes marinhos que depedem do estuário: são aquelas espécies

marinhas que utilizam o estuário para desova podendo habitar estas áreas

durante seus primeiros anos de vida. Algumas espécies de peixes

cianideos podem ser encontrados durante todo o ano (Micropogonias

furnieri, Macrodon ancylodon e Menthicirrhus americanus) além da tainha

(Mugil platanus).

3. Espécies anadrômica (que vivem no mar e se reproduzem em água doce)

tais como os bagres Netuma barba e N. planifrons que entram a Lagoa

dos Patos no inverno e na primavera.

48

4. Espécies oportunistas: muitas espécies utilizam o estuário como viveiro

natural (“nursery”) durante seus primeiros estágios de vida (pós-larva e

juvenis). Dentre estas espécies encontram-se Cynoscium striatus,

Umbrina canosai, Ctenoscinea gracilicirrhus, Prionotus punctatus, Prepilus

paru e Lagocephalus laevigatus, os quais aparecem durante vários meses

do ano. Alguns juvenis e adultos de Trichiurus lepturus e Porichtys

porosissimus aparecem durante os meses quentes quando as salinidades

próximo ao fundo do estuário encontraram seus valores mais elevados.

Por outro lado, os bagres de água-doce Parapimelodus valencinnesi e

Pimelodus clarias foram encontrados nas épocas de baixa salinidade,

especialmente nos períodos de maior precipitação pluviométrica.

5. Visitantes ocasionais: aqueles peixes marinhos ou de água-doce que

aparecem esporadicamente e de forma irregular no estuário. Peixes

tropicais das famílias Carangidae, Serranidae, Pomacentridae, Gerreidae e

Balistidae foram registrados em aparições durante o verão.

2.8. Qualidade da Água e do Sedimento na Região Portuária e Estuarina

A Laguna dos Patos recebe despejos de diferentes fontes: agrícolas,

urbanas e industriais de várias cidades situadas nos seus arredores, em

particular da Grande Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande.

49

Baisch (1994) ao avaliar a composição dos sedimentos de fundo da

Laguna dos Patos e do sistema hídrico que desagua nesta laguna observou

que a evolução de metais pesados e oligo-elementos no sistema lagunar

está condicionado com o aporte de água do sistema Guaíba e do rio

Camaquã. O fluxo de sedimentos e material em suspensão destes sistemas

foram quantificados e apresentam valores na ordem de 4.800.000 t/ano

sendo 120.000 t/ano em C.O.P. (carbono orgânico particulado) e 16.500 t/ano

em N.O.P (nitrogênio orgânico particulado). O sistema Guaíba contribui com

83% deste aporte de sólidos, com 85% do C.O.P. e 91 % do do N.O.P. O

Camaquã representa 17%, 15% e 9% deste aporte, respectivamente.

Ainda segundo este autor, o fluxo de oligo-elementos metálicos

particulados e dissolvidos para o meio lagunar, mostra o aporte de metais

provenientes do sistema Guaíba e do rio Camaquã, estando o material em

suspensão contaminado com cobre (Cu), zinco (Zn), chumbo (Pb) e cromo

(Cr). O sistema Guaíba é influenciado pelo aporte de seus tributários, os

quais representam muitas zonas urbanas, industriais e agrícolas, e pelo

complexo urbano-industrial-portuário de Porto Alegre. Quanto ao rio

Camaquã, foi observado o aporte principalmente de cobre (Cu), proveniente

da região de mineração, estando a concentração deste metal neste rio em

nível mais elevado que a do sistema Guaíba.

50

Na região estuarial, Hartmann (1996) classificou o sedimento de fundo

no Canal de Rio Grande através das concentrações de nutrientes (CNH)

indicando que o material está representado por sedimentos inorgânicos

antigos ou depósitos orgânicos estabilizados. Porém, o nível de nutrientes na

margem oeste do canal apresentou-se maior pois nesta margem localiza-se

a região portuária e a cidade do Rio Grande. Calliari (1980) também

considerou as descargas de efluentes provenientes das indústrias

instaladas na margem oeste do canal, assim como aquelas instaladas no

Saco da Mangueira, demonstrando a presença de metais pesados como

zinco, cádmio, chumbo e cobre em amostras do sedimento desta região,

principalmente o sedimento argiloso.

Baisch (1997) e França (1998) descrevem a contaminação dos

sedimentos presentes nesta área. As regiões mais contaminadas (por

matéria orgânica e metais) são a região do Porto Novo, região adjacente ao

emissário cloacal da cidade e região do Superporto, próximo aos efluentes

das indústrias de fertilizantes.

Estes autores dizem que a contaminação encontrada nos sedimentos

da região em estudo é alta, estando associada principalmente aos esgotos

domésticos. O chumbo (Pb) foi o metal que apresentou o maior índice de

contaminação, estando associado aos efluentes cloacais/pluviais e às

atividades portuárias, seguido pelo zinco (Zn) e cobre (Cu). As indústrias de

51

fertilizantes contribuem principalmente para as concentrações de cádmio

(Cd), cromo (Cr) e fósforo (P).

Porém, nos canais mais profundos, não foi observado problemas de

contaminação. Isto se deve ao assoreamento destes canais por sedimentos

provenientes da bacia versante; às atividades de dragagens, as quais

removem os sedimentos superficiais mais contaminados; e a processos

naturais de dispersão/diluição dos contaminantes devido à forte dinâmica

hidro-sedimentar destas zonas (Baisch, 1997). Este autor sugere, ainda, o

constante monitoramento das operações de dragagem para se verificar a

possível liberação de metais e compostos orgânicos e inorgânicos para o

meio hídrico e a biota.

Vários trabalhos tiveram o objetivo de avaliar a qualidade da água que

margeia a cidade de Rio Grande e o estuário, dentre eles destacam-se

Almeida et al. (1984, 1993) e Baumgarten e Niencheski (1998).

Em um estudo da poluição orgânica ao redor da cidade do Rio Grande,

Almeida et al. (1984), através da análise de parâmetros como temperatura,

salinidade, oxigênio dissolvido, peso sestônico, amônia, fosfato e

detergentes aniônicos, observaram regiões eutrofizadas e com altas

concentrações de nitratos e fosfatos nas áreas de baixa hidrodinâmica e

valores relativamente mais baixos na região do Canal do Rio Grande, devido

52

à maior dinâmica. Almeida et al. (1993) mapearam 76 pontos de lançamento

de efluentes domésticos, industriais e pluviais e identificaram 12 áreas

hídricas potencialmente comprometidas, principalmente em termos de

contaminação orgânica, em função da presença destes efluentes domésticos

lançados sem tratamento, associados ou não a efluentes industriais.

Baumgartem e Niencheski (1998) apresentaram, para as áreas

portuárias, duas situações hidrológicas distintas: 1o) característica de inverno

- regime de vazante com água doce em superfície e regime de enchente com

água salgada no fundo; 2o) característica de verão - regime de enchente sem

estratificação salina, com dominância de águas salgadas. Foi observado

que, no Superporto, a intensa e instável hidrodinâmica do Canal do Rio

Grande dilui e dispersa os poluentes lançados aumentando a capacidade de

depuração deste ambiente e não apresentando preocupações em termos de

nutrientes e metais.

A entrada de água salgada (livre de contaminantes) no estuário,

favoreceu a descontaminação de nutrientes nas águas de superfície na

entrada do Porto Novo. Entretanto, a diluição não foi suficiente para

descontaminar a região do Porto Velho, junto aos terminais pesqueiros,

estando esta área exposta ao lançamento de compostos ricos em nitrogênio

(N) e fósforo (P). Com relação aos metais pesados dissolvidos, estes

autores observaram a presença de chumbo (Pb) nas águas do Porto Novo e

53

Porto Velho, nos períodos de estratificação salina no estuário durante o

inverno, não tendo sido evidenciada na presença de água salgada e

homogeneidade vertical. Sendo o chumbo um metal intensamente

bioacumulado, muito tóxico na água e com uma meia vida elevada, foi

ressaltado que devem ser controlados e fiscalizados os procedimentos

industriais e portuários que resultem em liberação de chumbo para a água

(Niencheski e Baumgarten, 1997).

54

3. Metodologia

3.1. Conceito de Modelo

Um modelo é, por definição, uma formulação simplificada que imita

um fenômeno real e pela qual se podem fazer predições. Na sua forma mais

simples, os modelos podem ser verbais ou gráficos (informais). Porém, para

permitirem predições quantitativas com um certo grau de confiabilidade, os

modelos devem ser estatísticos e matemáticos (formais).

A elaboração de um modelo começa, geralmente, com a construção de

um diagrama (também conhecido por modelo gráfico, conceitual ou

temático). Os modelos devem conter: 1) fontes de energia ou função motriz

externa; 2) componentes (propriedades ou variáveis de estado); 3) vias de

fluxo, que mostram onde os fluxos de energia ou transferência de matéria

ligam as propriedades (componentes) umas às outras e com as fontes de

energia; e, 4) interações ou funções interativas, onde as forças e as

propriedades interagem para modificar, ampliar ou controlar os fluxos ou criar

novas propriedades emergentes.

Os modelos simulados por computadores permitem predizer os

prováveis resultados à medida que se mudam os parâmetros ou que se

retiram alguns. Desta forma, uma formulação matemática muitas vezes pode

55

ser regulada por operações computacionais para melhorar sua adaptação ao

fenômeno real. Quando um problema tiver sido devidamente definido e

delimitado, desenvolve-se uma hipótese ou série de hipóteses, que pode ser

testada, rejeitada ou aceita através de experimentação.

Maiores detalhes a respeito de modelagem podem ser vistos em Hall

e Day (1977) e Odum (1983).

3.2. Pesquisa Bibliográfica, Aquisição dos Dados e Construção do Modelo

Temático

Foi realizado um levantamento histórico sobre os tipos de dragas

existentes, os processos de dragagem, as dragagens anteriores realizadas

neste canal e, também, uma comparação do estuário da Laguna dos Patos

com outros estuários, rios e portos do Brasil e do mundo. Uma discussão

sobre problemas comuns a estes estuários, principalmente considerando-se

os processos e custos de dragagem, tornou-se ponto fundamental no

desenvolvimento desta dissertação.

Uma avaliação, a partir de informações do atual processo de

dragagem, foi realizada a fim de se obter dados a respeito do volume de

material dragado, regime de circulação e deposição/erosão de sedimento no

56

canal, e uma análise sobre a escolha de áreas de descarga do material

dragado. Estes fatores farão parte dos aspectos de engenharia que serão

considerados para a construção do modelo.

Os aspectos ecológicos do modelo levam em consideração o

levantamento da bacia hidrográfica do sistema Laguna dos Patos/Lagoa

Mirim, verificando-se o aporte de sedimentos para estes corpos hídricos e

quanto deste sedimento atinge a desembocadura do estuário. Além disso, foi

realizado um levantamento da influência do impacto da dragagem sobre a

flora e a fauna bentônica na região dragada, e se a retirada deste sedimento

afeta outros fatores ambientais e habitats do canal.

Quanto à parte econômica do modelo, foi efetuada a avaliação do custo

operacional do processo de dragagem. Foram estimados valores (custos)

para os aspectos ambientais pertinentes à parte ecológica do modelo,

permitindo que seja feita uma discussão quanto à reposição de recursos

naturais degradados e eventuais usos benéficos do material dragado que

seria descartado.

O presente trabalho apresenta-se como uma forma preliminar,

portanto, optou-se por elaborar apenas o modelo temático deixando o modelo

matemático e computacional para trabalhos futuros que darão

prosseguimento a esta análise através de simulações do que ocorre no

57

ambiente. O conhecimento dos processos pertinentes à dragagem do Porto

do Rio Grande tornam-se indispensáveis nesta elaboração e serão

mostrados aqui de forma sintética.

58

4. Aspectos Tecnológicos

Esta parte deste trabalho tem por objetivo dar uma breve introdução

sobre os processos de dragagem, tipos de dragas, sistemas de transporte e

as práticas de manejo do material dragado.

4.1. Objetivos da Dragagem

O processo de dragagem apresenta-se dividido em dois grupos (Bray,

et al., 1997), que são, a dragagem inicial na qual é formado o canal artificial

com a retirada de material virgem, e as dragagens de manutenção, para a

retirada de material sedimentar depositado recentemente, com a finalidade

de manter a profundidade do canal propiciando a movimentação de

embarcações de vários tamanhos em portos e marinas. Um terceiro tipo de

dragagem em fase de implantação em muitas partes do mundo é a

“dragagem ambiental”, a qual procura remover uma camada superficial de

sedimento contaminado por compostos orgânicos e inorgânicos, sem que

haja a ressuspensão destes contaminantes (GE Study Report, 1998).

4.2. Tipos de Dragas e Meios de Transporte

Existem diversos tipos de draga utilizadas comumente neste tipo de

operação, as quais são classificadas em mecânica, hidráulica e mista

59

(mecânica/hidráulica), sendo que cada uma destas possui diferentes tipos

de mecanismo e operação (ALAD/CBD, 1972, Bray et al., 1997). A Tabela 7

mostra os principais tipos de dragas e suas respectivas categorias.

Tabela 7. Principais tipos de dragas, denominação inglesa correspondente ecategoria na qual está incluída. Fonte: ALAD/CBD (1972).

Categoria Tipo

Dragas de alcatruzes

(bucket dredge)

Mecânica (Mechanical) Dragas de caçambas

(grab dredge)

Dragas escavadeiras

(dipper dredge)

Dragas de sucção

(suction dredge)

Hidráulica (Hydraulic) Dragas de sucção com desagregadores

(cutter suction dredge)

Dragas auto-transportadoras

(trailing hopper dredge)

As dragas mecânicas são utilizadas para a remoção de cascalho,

areia e sedimentos muito coesivos, como argila, turfa, e silte altamente

consolidado. Estas dragas removem sedimentos de fundo através da

aplicação direta de uma força mecânica para escavar o material,

independente de sua densidade. Os principais tipos de dragas mecânicas

60

são as escavadeiras flutuantes (tais como as de caçamba e as de garras) e

as dragas de alcatruzes (também conhecidas por “bucket ladder”, estas

dragas dispõem de uma corrente sem fim com caçambas que trazem o

material de fundo até uma esteira montada em uma lança que eleva e projeta

o material dragado a uma certa distância, ou o despeja em outra

embarcação). Os sedimentos escavados com a utilização de dragas

mecânicas são geralmente transportados em barcas ou barcaças,

dependendo do volume a ser transportado. As dragas mecânicas podem ser

vistas na Figura 3.

Nos Estados Unidos, as dragas hidráulicas respondem por

aproximadamente 95% das atividades de dragagem (Bohlen, 1990). Estas

dragas são mais adequadas para a remoção de areia e silte pouco

consolidado, removendo e transportando o sedimento na forma líquida. São

em geral bombas centrífugas, acionadas por motores a diesel ou elétricos,

montadas sobre barcas e que descarregam o material dragado através de

tubulações que variam de 0,15 m a 1,2 m de diâmetro, mantidas sobre a

água através de flutuadores. A bomba produz vácuo na entrada da tubulação

e a pressão força água e sedimento através da tubulação. Estas dragas não

podem operar com material que contenha grandes pedras.

61

Figura 3. Principais tipos de draga mecânica. Extraído de Davis et al. (1990) eBray et al. (1997).

62

Figura 3. (Continuação)

63

Os tipos de draga de sucção (Figura 4) são as aspiradoras e as

cortadoras. Nas aspiradoras, a sucção é feita por meio de um grande bocal

de aspiração, como o dos aspiradores de pó. Com o auxílio de jatos de água,

o material é desagregado e, através de aberturas no bocal, é aspirado e

levado junto com a água aos tubos de sucção. A draga opera contra a

corrente, podendo fazer cortes em bancos de material sedimentado de até 10

metros de largura. Cortes mais largos podem ser conseguidos por uma série

de cortes paralelos. Este tipo de bocal é utilizado quando se tratar de material

fino e de fraca coesão, em cortes rasos, não cortando material coesivo e não

podendo fazer cortes em bancos cujo material pode desmoronar sobre o

bocal e impedir a sucção. As características específicas de uma draga

dependem das bombas e da fonte de energia escolhida. A máxima extensão

de corte que uma draga desse tipo pode realizar é da ordem de 1.100 metros.

Como essas dragas se deslocam corrente acima com bastante rapidez, não

é conveniente dispor de tubulação em terra ligadas a elas, e sim ligadas a

barcas; e para maior eficiência, a tubulação de recalque não deve ter mais de

300 metros de comprimento, nem se elevar acima de 1,5 metros do nível da

água (Linsley e Franzini, 1978).

As dragas de sucção cortadoras dispõem de um rotor aspirador,

equipado com lâminas que desagregam o material já consolidado para que

este possa ser aspirado para o interior do tubo de sucção que se insere no

núcleo do rotor. O funcionamento é idêntico ao da aspiradora, porém

64

apresentam maior eficiência, e ao invés de atuarem numa linha reta, o

movimento da draga descreve a trajetória de um arco. Uma variação deste

tipo de draga são as auto-transportadoras, as quais são navios, com tanques

(cisterna) de fundo móvel, onde o material dragado é depositado, sendo a

seguir transportado para o mar onde é descarregado, dispensando o uso de

barcaças (Figura 5).

As dragas hidráulicas, ao aspirar o sedimento, trazem junto uma

grande quantidade de água. Conforme os tanques das barcaças e de dragas

auto-transportadoras vão se enchendo, é necessário eliminar esta água

excedente fazendo-a transbordar para fora da embarcação. Este processo

chama-se “overflow”.

4.3. Dragagem Ambiental

A dragagem ambiental é um processo muito diferente da dragagem de

manutenção, assim como os equipamentos utilizados em ambos os casos.

Enquanto a dragagem de manutenção tem como principal meta manter,

satisfatoriamente, as profundidades de portos, rios e canais propiciando a

navegação, a dragagem ambiental visa a retirada de uma determinada

quantidade de sedimentos contaminados (GE Study Report, 1998).

65

Figura 4. Draga hidráulica. Extraído de Bray et al. (1997).

Figura 5. Draga de sucção auto-transportadora. Extraído de Bray et al. (1997).

66

Na dragagem de manutenção ocorre a retirada de forma rápida de

uma grande quantidade de material sedimentar, sendo que muitas vezes não

se é dada a devida importância ao manejo do material dragado. Por outro

lado, na dragagem ambiental existem procedimentos rigorosos aplicados

tanto à operação de dragagem, quanto ao transporte e manejo deste

material, assim como de sua disposição (USEPA, 1994).

O tipo de draga utilizado na dragagem ambiental é uma draga

hidráulica especialmente adaptada, desenvolvida no Japão e na Holanda, e

que pode retirar sedimentos finos contaminados com um mínimo de

ressuspensão. As principais adaptações para este tipo de draga são a

utilização de escudos e telas (cortina de silte) ao redor do sítio de dragagem,

operação da draga em velocidades reduzidas e o processo de “overflow” deve

ser evitado, mantendo a mistura água/sedimento na cisterna da embarcação.

Maiores detalhes podem ser vistos em Dredging International (1998) e

USEPA (1994).

A dragagem ambiental, para que seja considerada eficaz, deve cumprir

os seguintes objetivos:

• minimizar a dispersão de sedimentos contaminados para as áreas

adjacentes ao sítio de dragagem. Isto é possível diminuindo o processo de

ressuspensão e redeposição, evitando a fuga de material dragado através

de eventuais furos na tubulação da draga e evitando a prática do “overflow”;

67

• o manejo, tratamento e despejo (disposição) do rejeito de dragagem (tanto

água quanto sedimento) deve ser feito de maneira segura no aspecto

ambiental e de forma aceitável no aspecto social;

• a operação deve ser completada no menor tempo possível, obtendo a

máxima remoção de sedimentos contaminados e a mínima remoção de

água e sedimentos limpos.

4.4. Manejo do Material Dragado

Existem três alternativas para se dispor do material dragado, sendo

elas, despejo em mar aberto, despejo em terra em local confinado e

utilização benéfica do material. Estas alternativas serão vistas mais

detalhadamente na próxima seção que se refere aos impactos ambientais.

4.5. Características das Dragagens do Porto do Rio Grande

As áreas sujeitas a dragagem ao redor da cidade do Rio Grande são:

- Canal de Acesso ao Porto do Rio Grande

- Canal de Acesso à Bacia de Evolução do Porto Novo

- Bacia de Evolução do Porto Novo

- Bacia de Evolução do Porto Velho

- Canal dos Pescadores (5a Secção da Barra)

- Terminal de Trigo e Soja

68

- Terminal Eteno-COPESUL

- Doca da Estação Hidroviária de São José do Norte

- Doca da Capitania dos Portos

- Molhes da Barra-Ancoradouro

- Doca Hortifrutigranjeiros

- Doca Yacht Club do Rio Grande

- Canal de Acesso a Ilha da Pólvora

De acordo com os registros disponíveis a respeito das dragagens

periódicas do Porto de Rio Grande, a taxa de assoreamento na região do

porto é de aproximadamente 1.400.000 m3 por ano, divididos em três áreas

distintas, sendo elas: - Canal do Rio Grande, aproximadamente 1.040.000

m3/ano; - canal de acesso ao Porto Novo, 75.000 m3/ano, e; - bacia de

evolução do Porto Novo, 285.000 m3/ano (Portobrás, 1979).

No período entre 1982 e 1997, foram dragados um total de 24,5

milhões de m3 de sedimento com uma média anual de 1,6 milhão de m3

(Calliari e Tagliani, 1997).

Quanto ao destino do material dragado do porto de Rio Grande, o

sedimento é despejado em mar aberto, estando o sítio de despejo situado a

4 milhas náuticas da praia do Mar Grosso em São José do Norte e a cerca de

5 milhas do molhe oeste, com uma profundidade de 13 metros, sendo que

69

este local foi empregado até a dragagem de 1998 (Figura 2). Novas opções

de despejo serão comentadas mais adiante.

Sabe-se que a contínua deposição de sedimentos sobre um

determinado local cria um efeito de “shoaling” (diminuição da profundidade)

com a formação de bancos de areia. Porém, no local de despejo das

dragagens realizadas no porto de Rio Grande, não se tem conhecimento da

batimetria do sítio de despejo citado acima, nem de seu comportamento.

70

5. Aspectos Ecológicos

5.1. Fontes de Contaminação do Sedimento

Os metais pesados associados aos sedimentos são comumentes

classificados como residuais e não-residuais (Clark, 1997). Os metais

residuais são definidos como aqueles que fazem parte da matriz silicatada

do sedimento e que se encontram principalmente na estrutura cristalina dos

minerais. Já os metais traços não-residuais não fazem parte da matriz

silicatada e são incorporados aos sedimentos por processos tais como

adsorção, precipitação e complexação com substâncias orgânicas e

inorgânicas.

A fase não-residual dos metais inclui os metais “trocáveis” (aqueles

fracamente adsorvidos ao material sedimentar), além dos metais associados

aos carbonatos, a matéria orgânica e sulfetos, bem como a óxidos e

hidróxidos de ferro e manganês. Nesta fase incluem-se os metais de origem

antropogênica e o seu estudo tem grande importância à medida que eles

representam a fração dos metais que podem eventualmente repassar para o

meio aquático através do processo de dessorção, solubilização e destruição

de complexos.

71

Os mecanismos pelos quais as substâncias tóxicas movem-se da

coluna d´água para o sedimento de fundo e vice-versa são aspectos

importantes para o estudo do transporte de poluentes. Um destes

mecanismos envolve água intersticial, ocorrendo em sedimentos estuarinos

até uma profundidade de um metro abaixo da superfície do solo. A água

retida pelo sedimento fornece um meio propício para a troca de poluentes

entre o sedimento e a água (Partheniades, 1992).

Muitos contaminantes orgânicos possuem uma baixa solubilidade na

água estando, portanto, associados ao material em suspensão e são

transportados para o solo através da deposição destes sedimentos.

Poluentes metálicos geralmente estão associados a dejetos industriais e

urbanos que liberam partículas sólidas que ficam em suspensão ou como

metais dissolvidos provenientes de práticas agrícolas e atividades industriais

(Davis et al., 1990).

5.2. Impactos Ambientais da Dragagem (Diretos e Indiretos)

Os impactos ambientais associados ao processo de dragagem e

despejo do material dragado podem ser caracterizados por apresentarem

efeitos diretos sobre habitats e organismos, ou indiretos, atribuídos a

alterações na qualidade da água (Kennish, 1994). Distúrbios físicos,

72

associados à remoção e re-alocação de sedimentos, provocam a destruição

de habitats bentônicos, aumentando a mortalidade destes organismos

através de ferimentos causados por ação mecânica durante a dragagem, ou

por asfixia conforme estes são sugados pela draga. Quanto ao efeito indireto,

a ressuspensão do sedimento de fundo remobiliza contaminantes e

nutrientes afetando a qualidade da água e a química global do estuário.

Antes de se realizar qualquer operação de dragagem, algumas

análises devem ser feitas para se estabelecer uma grande variedade de

parâmetros essenciais no processo de planejamento e seleção dos

métodos de dragagem (Bray et al., 1997), são eles:

• avaliação meteorológica para estabelecer padrões de vento tanto no sítio

de dragagem quanto no de despejo do material dragado e a incidência de

chuvas fortes e nevoeiro, os quais podem afetar a operação;

• estudos hidrológicos para medir as marés, correntes e ondas e definir a

forma do leito do canal a ser dragado, assim como do sítio de despejo;

• estudos geológicos e geotécnicos para determinar a natureza dos

materiais a serem dragados, usados ou descartados;

• estudos ambientais para identificar os efeitos potenciais destas operações

no ambiente, tanto durante a execução do trabalho, quanto após sua

conclusão e estabelecer condições com as quais os resultados de

monitoramentos ambientais subsequentes possam ser comparados;

73

• uma avaliação geral para estabelecer restrições operacionais, estatutárias

e legais as quais podem afetar o trabalho.

De acordo com Davis et al. (1990) e Bray et al. (1997), estes impactos

podem ser divididos nas seguintes categorias:

5.2.1. Dispersão e deposição de sedimentos ressuspendidos

A ruptura e desagregação dos sedimentos de fundo podem causar

uma grande variedade de impactos ambientais. Os problemas aparecem

principalmente quando os sedimentos estão contaminados por compostos

químicos, resíduos domésticos, óleos e graxas. Os produtos tóxicos e

contaminantes liberados pelos solos perturbados podem se dissolver ou

entrar em suspensão e contaminar ou causar grande mortalidade de

espécies estuarinas e marinhas de importância pesqueira direta e/ou

indireta para a região onde está sendo realizada a dragagem. As partículas

em suspensão podem redepositar no fundo sufocando os animais

bentônicos ou forçando-os a migrar para outras regiões. Compostos

orgânicos em suspensão podem consumir o oxigênio disponível na água e

temporariamente causar condições de estresse para muitos animais

aquáticos. Se os sedimentos em suspensão estiverem em alta concentração

e persistirem por um longo período, o qual geralmente está relacionado com

74

o tempo destinado à operação de dragagem, a penetração de luz na coluna

d’água pode reduzir-se, causando danos a algas fotossintetizantes, corais e

outros organismos aquáticos.

A ressuspensão dos sedimentos ocorre principalmente no início da

escavação e durante sua transferência para os locais de despejo. As dragas

hidráulicas introduzem no ambiente uma quantidade menor de material em

suspensão que as dragas mecânicas, porém ainda podem causar impactos

no local de dragagem, principalmente devido à prática do “overflow”. O

conhecimento prévio da hidrografia (fluxos de correntes e marés) da área a

ser dragada é essencial para a identificação de locais mais sucetíveis aos

efeitos destes trabalhos. A escavação de fundos moles remove os

organismos que vivem no sedimento. Se a taxa de sedimentação nesta área

for grande, os sedimentos de fundo recentemente depositados podem formar

e restaurar estes habitats quando o trabalho estiver terminado.

A Figura 6 mostra, de forma esquemática, os processos que

influenciam a ressuspensão de sedimentos durante o processo de

dragagem.

75

Figura 6. Operação de dragagem realizada por draga auto-transportadoramostrando a pluma de turbidez produzida pela boca de sucção e peladescarga de “overflow”, assim como sua influência na dispersão dosedimento. Extraído de Kennish (1996).

5.2.2. Resultados da alteração batimétrica

O aprofundamento de canais, ancoragens e a construção de

atracadouros podem alterar os padrões de correntes e da ação das marés.

Estudos e modelagens hidrográficas podem ser necessárias para se evitar

que situações indesejáveis sejam criadas no caso destes padrões

apresentarem fluxos de corrente fortes e turbulentos. Estas situações podem

variar desde manobras pouco seguras das embarcações que trafeguem pela

área dragada, até um aumento na frequência da necessidade de dragagem

ou a distúrbios nos recursos pesqueiros de importância para a região. O

aprofundamento de canais podem também causar alterações indesejadas

nas condições de penetração da cunha salina. Estas alterações poderiam

acarretar na morte de organismos dulceaquicolas que não suportam

variações de salinidade ou cuja variação aceitável é pequena.

76

5.2.3. Efeitos de mudanças na configuração de linha da costa

As alterações batimétricas trazidas pela dragagem (aprofundamento

ou alargamento de canais e cursos d’água) podem modificar as velocidades

e direção de fluxo provenientes destes corpos d’água. Esta possibilidade

deveria ser examinada cuidadosamente para assegurar que as alterações

não irão modificar as configurações na zona costeira através da erosão,

acreção de sedimentos ou formação de bancos. O aumento na profundidade

pode resultar numa intensificação na atividade de ondas na costa com o

consequente aumento no transporte de sedimentos litorâneos, resultando

num acelerado processo de erosão ou acreção na zona praial.

5.2.4. Perda de habitats de fundo e recursos pesqueiros

A dragagem de substratos moles pode remover importantes

organismos vivos do fundo. Entretanto, este substrato será rapidamente

recolonizado por outros organismos bentônicos algum tempo após

terminada a operação de dragagem. Este processo de recolonização pode

variar de poucos dias até vários anos dependendo do tipo de organismos

existentes, tipo de substrato e condições ambientais e dinâmicas do local.

Como o habitat natural provavelmente sofrerá alterações devido à operação

de dragagem, a nova população poderá ser diferente da original. É

aconselhável determinar se as modificações nos padrões de correntes irão

77

comprometer ou encorajar o repovoamento dos organismos originais e dos

recursos pesqueiros associados a estes. Além disso, mesmo os

organismos que vivem na coluna d’água podem sofrer com a inibição de

seus padrões de migração ao encontrar um meio líquido totalmente

modificado pelo sedimento.

5.2.5. Ruído gerado pelas dragas em operação

Todo tipo de equipamento mecânico gera ruídos mas a maior parte

das atividades de dragagem são relativamente silenciosas quando

comparadas a muitas outras atividades de construção. Entretanto, alguns

tipos de dragas produzem ruídos muito fortes quando trabalhando em argilas

muito coesas, ou então o uso de explosivos, compressores e brocas

utilizadas para quebrar rochas. Os problemas com o barulho são mais

significantes a noite quando os níveis de ruídos ambientais são menores.

5.2.6. Efeitos benéficos

Kennish (1996) relatou que a maioria das pesquisas relacionadas

com dragagem e manejo do material dragado tratam apenas de impactos

ambientais, ignorando os benefícios proporcionados por estas operações.

Estes efeitos benéficos incluem: - ressuspensão ou aumento de nutrientes

benéficos permitindo uma melhora na produtividade do sistema estuarino; -

78

melhoria na dinâmica e circulação em estuários e baías, e; - melhoria no uso

comercial e recreativo de corpos d’água.

As atividades de dragagem podem, em alguns casos, aumentar a

quantidade de oxigênio e nutrientes, os quais estavam presentes no

sedimento e são liberados na coluna d’água. A eutrofização também pode

ser controlada ou eliminada. Alguns tipos de dragas podem ser modificadas

para permitir a fixação de fosfatos no sedimento de fundo através da adição

de cal, sendo esta uma forma barata e efetiva de melhorar a qualidade da

água em lagos sujeitos ao aporte de fertilizantes ricos em nitratos utilizados

por fazendeiros.

5.3. Impactos Causados Pelo Manejo do Material Dragado

De acordo com Davis et al. (1990), as técnicas de manejo de material

dragado pode ser dividida em seis categorias:

1. a opção pela não execução de dragagem, minimizando os impactos

ambientais e não necessitando o despejo de qualquer tipo de material;

2. despejo em mar aberto, com e sem contenção;

3. despejo na zona costeira, confinado e não confinado;

4. despejo em terra, confinado e não confinado;

5. tratamento de sedimentos contaminados através de técnicas de

tratamento de materiais perigosos;

79

6. uso de uma combinação das opções 2 a 5.

A muito tempo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos

(USEPA), em cooperação com o Corpo de Engenheiros do Exército

Americano (USACE), vem desenvolvendo pesquisas sobre o manejo de

material dragado. Um relatório técnico (USEPA, 1992) desenvolvido por esta

agência estabelece três alternativas principais, que são: - despejo em mar

aberto; - despejo confinado, e; - alternativas de uso benéfico tais como a

restauração de habitats (marismas, mangues e ilhas), reconstrução e

acréscimo de praias, aquacultura, agricultura e construções que necessitem

de aterros, entre outros.

Para uma melhor compreensão dos processos relacionados ao

manejo do material dragado, foi feita uma revisão da literatura existente, das

quais destacam os seguintes pontos:

5.3.1. Despejo em mar aberto e na zona costeira

Este tipo de despejo é o mais comum e mais utilizado método de

despejo de material dragado, e tem sido o menos oneroso dentre os

métodos, apesar de ecologicamente discutível. Para este método existem

poucas ou nenhuma limitação com a escolha do local de despejo, e a

capacidade dos oceanos para absorver qualquer tipo de resíduo sólido

80

incluindo o rejeito de dragagem tem sido considerada ilimitada, apesar de já

estar faltando espaço para este tipo de despejo, como é o caso da região de

Nova Iorque.

No despejo em mar aberto são consideradas duas regiões principais.

A primeira é aquela onde o despejo ocorre em águas profundas, após a

plataforma continental. Nesta região, assume-se que o material depositado

permanecerá no mesmo local, não havendo riscos para o ambiente.

A segunda região é aquela que compreende a plataforma continental,

entre as isóbatas de 40 a 200 metros. Esta representa uma zona de alta

energia caracterizada por fortes incidências de ondas e correntes.

A região costeira representa a área compreendida entre a isóbata de

40 metros e a linha de praia. Esta zona também é de alta energia, dominada

por ondas, correntes e pela deriva litorânea, com um grande potencial para o

deslocamento e movimento de sedimentos.

Considera-se, ainda, as zonas de canais, rios, lagos, lagoas, estuários

e baías onde ocorram movimento de sedimento em grande escala. Nestes

locais, os níveis de energia são similares àqueles da região costeira. Porém,

com a influência de correntes de maré, alguns tipos de estruturas

construídas para canalizar o fluxo destes corpos d’água e irregularidades

81

nestes fluxos, pode-se resultar em padrões multidirecionais de ondas e

correntes.

De acordo com o relatório da EPA, os impactos provocados por este

tipo de despejo referem-se a alterações na qualidade da água (química) e

toxicidade (biológica) na coluna d’água, e impacto sobre organismos

bentônicos, seja por asfixia ou por bioacumulação de contaminantes

presentes no sedimento, além de afetar os organismos da coluna d’água

que estão associados ao bentos. Na Figura 7 estão representados os

processos que influenciam na distribuição de poluentes orgânicos

associados ao despejo do material dragado.

O despejo na coluna d’água pode ser predominantemente dispersivo

ou não-dispersivo. Nos sítios não-dispersivos, a intenção é que o material

permaneça no fundo. Nos sítios dispersivos, o material pode distribuir-se

durante o despejo ou ser erodido do fundo após um determinado período, e

pode ser removido e transportado para fora da área de despejo através da

ação de correntes e/ou ondas. Em ambos os casos, o sítio de despejo pode

ser monitorado e gerenciado de diversas maneiras para reduzir ou evitar

impactos ao ambiente.

82

Figura 7. Processos que influenciam a distribuição de poluentes orgânicosassociados ao material dragado, tanto na coluna d’água como no substrato.Modificado de Kennish (1994).

83

Existem quatro métodos de despejo e manejo deste material dragado,

sendo eles:

• não-confinado, representando o método mais utilizado através do mundo.

Consiste apenas no despejo do material limpo (sem contaminantes);

• confinado, no qual o material dragado é despejado em depressões na

região costeira, ou retido entre diques;

• cobertura com uma capa de sedimento limpo, utilizado principalmente para

cobrir material contaminado;

• formação de ilhas, também considerado como uso benéfico de material

dragado.

5.3.2. Despejo em terra

O despejo em terra de sedimentos provenientes de dragagem pode

ser feito de duas maneiras principais: não confinado e confinado. Este tipo

de despejo é uma opção que pode ser considerada apenas onde existam

grandes áreas de terra de pequeno valor em seu estado original, próximas às

regiões dragadas. Na maioria dos casos, este despejo é realizado pelo

bombeamento do material dragado diretamente no sítio de despejo.

O despejo em terra inevitavelmente tem algum tipo de impacto

ambiental, mas, quando bem projetado e executado, pode fornecer alguns

benefícios econômicos, mesmo que as propriedades do material dragado

84

sejam pobres para usos em construção ou agricultura. Entretanto, em muitos

portos o espaço disponível torna-se restrito, e o uso destas áreas torna-se

inviável ou economicamente proibitivo.

Quando o sedimento dragado está contaminado, o despejo confinado

torna-se a principal opção. Conforme aumentam as preocupações com o

ambiente, muitos países proibem todas as formas de despejo de lixo e

sedimento de dragagem no mar. Neste caso, torna-se necessária a utilização

de diques de contenção, no qual o material dragado é colocado para que seja

monitorado e manejado. Com o ressecamento deste material, muitos

compostos voláteis, principalmente o PCB, são desprendidos para a

atmosfera (Chiarenzelli, et al., 1998).

A construção destes diques para o despejo confinado drasticamente

aumenta os custos referentes ao processo como um todo. Estimativas do

Corpo de Engenheiros do exército americano (USACE, Davis et al., 1990),

sugerem que o custo unitário para dragagem e despejo em áreas confinadas

é pelo menos cinco vezes maior que aquele referente ao despejo no mar.

Este aumento no custo se dá devido ao custo de construção destes diques,

às limitações no manejo e ao monitoramento que deverá ser constante.

Tanto para o despejo não confinado como para o confinado, alguns

aspectos ambientais devem ser observados: - a contaminação do lençol

85

freático (água subterrânea); - o odor provocado pela deposição de material

lamítico e decomposição de matéria orgânica; - impacto visual, e; - destruição

da flora, fauna e da região onde o material é depositado.

5.3.3. Construção de aterros

Dentre os usos benéficos do material dragado, a utilização destes

sedimentos para aterros é um dos métodos mais conhecidos e utilizados. No

passado, se os sedimentos dragados não eram utilizados para a construção

de aterros, ele era despejado geralmente no mar. Atualmente, o uso deste

material em aterros tornou-se muito significante pelas seguintes razões:

a) é mais barato dispor o material dragado numa área de aterro do que

dispo-lo em mar aberto ou em terra;

b) no aspecto ambiental, é mais aceitável a utilização deste material em

aterros do que o seu despejo no mar ou em terra;

c) existe hoje em dia uma necessidade da construção de aterros para o

desenvolvimento de áreas portuárias, industriais e residenciais, assim

como para uso em áreas recreativas ou na agricultura.

5.3.4. Acreção de praia

A erosão costeira é um grande problema para muitas praias oceânicas

e estuarinas. Para minimizar os efeitos desta erosão, a acreção de praia é

86

realizada através da dragagem de areia não contaminada de canais, rios e

até mesmo de sítios na zona costeira. Este material é então transportado até

as praias erodidas por caminhão, pela tubulação das dragas hidráulicas ou

através de dragas auto-transportadoras. Além disto, em algumas praias é

possível depositar o sedimento em montes ou bancos no fundo do mar, onde

muito deste material poderia ser carregado para a praia pela ação das

ondas.

Esta operação pode resultar em alterações na topografia e batimetria e

na destruição de comunidades bentônicas da região onde o sedimento será

depositado. Por outro lado, uma operação bem planejada pode minimizar

estes efeitos e tirar vantagem do poder de recuperação dos ambientes das

praias e adjacências, assim como da biota associada a estes ambientes.

Quando o material dragado é usado para acreção de praias, ele deverá

corresponder à composição do sedimento da praia a qual está sendo

erodida, além de apresentar baixos teores de sedimentos finos (silte e

argila), matéria orgânica e poluentes.

Os custos referentes ao processo de acreção de praia referem-se

principalmente ao transporte do material e técnicas de manejo e despejo do

mesmo. Estes custos podem variar de aproximadamente US$ 5,00 até cerca

de US$ 20,00 por metro cúbico (USEPA, 1999).

87

5.3.5. Outros usos benéficos

Os usos benéficos de material dragado incluem uma grande variedade

de opções as quais podem utilizar este material para alguma finalidade

produtiva. O material dragado é fonte valiosa de solo com grande poder de

manejo e gerenciamento, com capacidade de fornecer melhorias e

benefícios ambientais e sócio-econômicos.

As principais categorias na qual o sedimento dragado pode ser

utilizado para uso benéfico são:

• Restauração e melhoramento de habitats aquáticos (mangues,

marismas, ilhas artificiais)

• Uso em aquacultura

• Uso em parques e recreação (comercial e não-comercial)

• Agricultura e silvicultura

• Uso em aterros e cobertura para lixões

• Estabilização e proteção da costa e controle de erosão (através de

arrecifes artificiais, quebramares e bancos de areia)

• Uso industrial e na construção civil (incluindo desenvolvimento

portuário, de aeroportos, urbano e residencial)

• Produção de cerâmicas (pouco explorado por ser um processo

muito caro)

88

Todas estas técnicas de manejo do material dragado estão descritas

de forma completa em Kullenberg (1974-75), Bruun (1976), Engler e Mathis

(1989), Davis et al. (1990), Engler (1990), USEPA (1992), Bruun (1994),

Kennish (1996), Bray et al. (1997).

89

6. Aspectos Econômicos e Jurídicos

6.1. Custos Envolvidos em Operações de Dragagem

Os custos convencionais a serem considerados nas operações de

dragagem são influenciados por algumas condições operacionais e

dependem da qualidade do gerenciamento e da tripulação que operam os

equipamentos de dragagem, podendo sofrer variações conforme a

organização e o sítio de dragagem.

De uma forma geral, segundo Bray et al. (1997), os custos

operacionais clássicos são os seguintes:

• combustível e lubrificantes;

• ítens de consumo;

• tripulação;

• planejamento e supervisão;

• manutenção e reparos rotineiros;

• desgaste;

• seguro;

• despesas gerais;

• implicações financeiras (depreciação, amortização e taxas de juros sobre o

capital empregado).

90

Como existem, geralmente, empresas responsáveis apenas por

realizar operações de dragagem, deve-se fazer uma boa distinção entre os

custos que estas empresas têm ao realizar uma dragagem e o preço que ela

cobra pelo serviço. Os custos são relativamente fáceis de se obter e estão

especificados acima, porém, os preços praticados pelas empreiteiras podem

variar de acordo com o tempo e determinadas circunstâncias, podendo não

haver relação com os custos de execução. Portanto, é difícil estimar-se com

precisão o preço de um projeto em particular sem o devido conhecimento dos

preços praticados no mercado de dragagem e as estratégias de preço das

empreiteiras. Neste caso, a consulta a especialistas e consultores torna-se

necessária.

Para a maioria das operações de dragagem, o custo total depende de

dois elementos básicos: 1) o custo de mobilização e desmobilização dos

equipamentos e mão-de-obra; e 2) o custo da realização do trabalho

propriamente dito. Os custos operacionais são facilmente estimados, já os

custos de mobilização dependem fortemente do tempo de execução do

trabalho e de sua localização, e o preço pode sofrer grande influência do

mercado. Desta forma, torna-se difícil, mesmo para a empreiteira, estimar os

custos de mobilização muito antes da realização do trabalho, particularmente

se este será realizado em locais remotos, longe dos centros onde ocorrem

atividades de dragagem regularmente.

91

Segundo Bruun (1989), a empresa contratada pode fornecer o serviço

através do fretamento pelo tempo de execução ou de acordo com o volume a

ser dragado. No caso do fretamento por tempo, o cliente pagará o serviço de

acordo com o tempo despendido no processo, sendo supervisionado pelo

mesmo, e estando a empresa contratada livre de riscos, pois a

responsabilidade pelo projeto é do cliente.

No caso do contrato que considere o volume dragado, o pagamento é

feito de acordo com a produtividade, sendo mais atraente para o cliente mas

envolvendo um risco maior para a empresa contratada. A responsabilidade

também está ligada ao cliente, o qual deve ter algum conhecimento para a

escolha e correto emprego do equipamento.

Existem alguns aspectos importantes que devem ser observados na

hora de se contratar uma empresa de dragagem. Deve-se escolher o tipo de

contrato (preço fixado ou reembolsamento dos custos), a forma ou

mecanismo de contratação (por licitação ou negociação), os termos

constantes no contrato, a forma como deverá ser o pagamento e verificar se

será por tempo de serviço ou pelo volume a ser dragado. O cliente fica

responsável por fornecer à empreiteira algumas informações que são: tipo de

solo, batimetria, dados de vento, correntes e ondas, visibilidade,

movimentação de navios e embarcações na área, entre outras.

92

Os parâmetros econômicos relacionados ao manejo de resíduos

sólidos (lixo e rejeito de dragagem) são um caso especial de custos de

transporte (Broadus, 1990). Segundo este autor, os custos de transporte

para sítios de despejo no oceano são menores que aqueles para o

transporte em terra, sendo o primeiro o preferido na maioria dos casos. O

verdadeiro problema aparece na medida que se avaliam os benefícios de

cada um. Os benefícios no manejo de resíduos sólidos, assim como de

dragagem, ocorrem principalmente na forma de baixos custos ambientais,

tais como baixo risco para a saúde humana, baixo dano aos recursos vivos,

pequenas alterações estéticas no ambiente, entre outros. Em Nova Iorque,

estes resíduos costumavam ser transportados para um sítio de despejo a

106 milhas náuticas da costa, sendo que o custo deste transporte era cerca

de 4 vezes mais alto que o custo referente ao despejo em outro sítio a 12

milhas da costa. Porém, autoridades sanitárias afirmaram que o custo

ambiental e social para este despejo a 106 milhas era muito menor que

aquele do sítio mais próximo à costa.

6.2. Relação Custo X Benefício

O processo de otimização de operações de dragagem consiste de

quatro pontos básicos:

• seleção de um projeto apropriado;

93

• identificação do potencial de demanda e desenvolvimento futuro;

• estimativa de custos e benefícios, e;

• seleção da opção mais eficaz economicamente.

A obtenção da relação custo-benefício é um processo interativo, o qual

geralmente trata de uma quantidade considerável de dados, e muitas vezes

requer o uso de uma combinação de análises estatísticas e técnicas

computacionais para se obter bons resultados (Bray et al., 1997).

Os custos relacionados com o desenvolvimento de projetos de

dragagem, segundo este autor, incluem:

• o custo da dragagem inicial para a obtenção de uma nova configuração;

• os custos de dragagens de manutenção;

• os custos causados pela interrupção ou atraso na entrada de navios no

porto devido ao menor calado causado pelo assoreamento e à própria

operação de dragagem, e;

• os custos envolvidos em operações portuárias e melhoramentos que

propiciem a movimentação de navios maiores e em maior número.

Os benefícios gerados incluem:

• melhorias na navegação em rios, portos e canais, e;

• o aumento na movimentação portuária.

94

Ao se comparar os valores obtidos para os custos, com aqueles

referentes aos benefícios, pode-se determinar a viabilidade de um

determinado projeto de dragagem. Esta comparação é feita descontando os

valores dos benefícios dos valores referentes aos custos. Quando o valor dos

benefícios for maior, isto significa que o esquema é viável.

Um fator muito importante e que não é relacionado por Bray et al.

(1997) é a verificação de impactos ambientais, sua importância, os danos

que podem causar na economia local e se o projeto de dragagem irá trazer

algum tipo de prejuizo ou de benefício ao ambiente. Este tipo de situação

pode ser visto em Roberts (1976) e Adams e Berg-Andreassen (1989) e que

serão discutidos mais adiante.

6.3. Economia Ecológica X Economia (Neo)Clássica

Segundo May (1995), o termo economia ecológica refere-se a esforços

colaborativos para estender e integrar o estudo e o gerenciamento do “lar

natureza” (ecologia) e do “lar da humanidade” (economia). Por terem o

mesmo radical (oikos - “lar”), a junção destes dois termos sugere que a

economia ecológica deveria ser direcionada para um melhor gerenciamento

95

das interações entre o homem e a natureza, de modo a assegurar o bem-

estar tanto das próximas gerações quanto das espécies.

A necessidade de conceituar o valor econômico do meio ambiente,

bem como de desenvolver técnicas para estimar este valor, surge do fato de

que a maioria dos bens e serviços ambientais e das funções providas ao

homem pelo ambiente não é reconhecida pelo mercado. Algumas correntes

de economistas têm procurado desenvolver conceitos, métodos e técnicas

que objetivem calcular os valores econômicos detidos pelo ambiente

(Marques e Comune, 1997).

A partir dos fundamentos da teoria neoclássica (a qual pressupõe que

o capital natural pode ser substituído infinitamente pelo capital material, feito

pelo homem), surgiram nos anos 60 e 70 a economia dos recursos naturais

e posteriormente, nos anos 80, a economia ambiental. Os objetivos destas

linhas eram alcançar o uso “ótimo’’ de recursos naturais renováveis e não-

renováveis (o que frequentemente significava apenas maior retorno financeiro

com menor custo, e que muitas vezes podia levar estes recursos naturais à

completa exaustão ou extinção), e também com ênfase largamente voltada à

questão de poluição, sendo esta percebida como uma externalidade do

processo de produção e consumo, ou seja, uma falha dos mecanismos de

mercado, que pode ser tratada pelos vários meios de internalização de

custos ambientais nos preços dos produtos (Merico, 1996).

96

A economia ecológica, apoiada nas leis da termodinâmica, procura

valorar os recursos ecológicos com base nos fluxos de energia líquida dos

ecossistemas. O conceito de economia ecológica é muito amplo e rico em

controvérsias, mas que de uma forma geral engloba os princípios de

proteção ambiental com integrações da eficiência econômica (Marques e

Comune, 1997).

Ainda segundo estes autores, a evidente degradação dos recursos

hídricos e do ar é uma prova de que a valoração da capacidade assimilativa

do ambiente, um dos serviços prestados pelo ambiente ao homem, não pode

se dar via mercado. A espera da solução de mercado pode resultar em

perdas de tais funções, redundando em redução do bem-estar não somente

da geração presente mas também da futura, já que o meio ambiente

desempenha funções econômicas.

6.4. Valoração Ambiental

“Referir-se à Terra, incluindo nela os seres vivos, como “capital natural”

é uma forma de reduzir a natureza a um instrumento para uso humano,

reduzindo-a a um fator de produção, como outro qualquer“ (Merico, 1996). De

acordo com este pensamento, este autor frisa que é importante lembrar que

este “capital” é a pré-condição básica, não somente para a existência da

97

produção, mas da existência da própria vida. É fundamental, portanto, a

consideração ética de que todas as formas de vida têm direito a existir,

independente de seu possível uso para os seres humanos. No entanto, da

forma como a economia funciona, há uma tendência implícita que faz com

que os bens produzidos (ou seja, não naturais) tenham preços, os quais

podem ser observados no mercado, enquanto os bens e serviços

proporcionados pela natureza e as funções gerais dos ecossistemas não

podem ser comprados ou vendidos em nenhum mercado. Desta forma, se

deixarmos que a alocação de recursos seja feita pelo livre mercado, a

tendência será de exaurir, estressar ou romper o equilíbrio do ambiente

natural.

A partir desta premissa e de que estes bens e serviços são

proporcionados livremente pela natureza, muitos autores classificam os

métodos de valoração ambiental de diversas formas (Marques e Comune,

1997), porém, em termos gerais, são representados nas seguintes

categorias:

• métodos que se utilizam de informações de mercado, obtidas direta ou

indiretamente, e os mais empregados nas questões ambientais são: valor

de propriedade, salários e despesas com produtos semelhantes ou

substitutos;

• métodos que se baseiam no estado das preferências, que na ausência de

mercado, é averiguado através de questionários ou das contribuições

98

financeiras individuais ou institucionais feitas aos órgãos responsáveis

pela preservação ambiental;

• métodos que procuram identificar as alterações na qualidade ambiental,

devido aos danos observados no ambiente natural ou construído pelo

homem e na própria saúde humana.

De acordo com Merico (1996), quando os mercados de bens e

serviços não existem ou quando não existem mercados alternativos, há a

necessidade de se aplicarem métodos de valoração contingentes, ou seja,

com certo grau de incerteza. Nestes casos, o método mais comumente

empregado é o de “disposição a pagar”, no qual é perguntado às pessoas

quanto elas estariam dispostas a pagar por um benefício, pela restauração

ou preservação do ambiente natural, ou quanto elas estariam dispostas a

receber como compensação para tolerar uma determinada queda na

qualidade ambiental.

6.5. Legislação Voltada ao Meio Ambiente e ao Processo de Dragagem

As leis que regem o meio ambiente no Brasil surgiram a partir de 1934

com os Códigos de Águas. Posteriormente, surgiu o Código Florestal (1965),

de Proteção a Fauna (1967) e de Pesca (1967) e referiam-se a áreas

setorizadas dos recursos naturais (Cunha, 1993 em Tagliani e Asmus, 1997).

Em 1973, um decreto instituiu a Secretaria Especial do Meio Ambiente

99

(SEMA), com o objetivo de elaborar e estabelecer normas e padrões relativos

a preservação do meio ambiente, em especial dos recursos hídricos, e foi

através deste órgão que o governo brasileiro procurou esclarecer e educar o

povo para o uso dos recursos naturais através de programas em escala

nacional.

Em 1981, a Lei 6938 de 31 de agosto definiu a Política Nacional do

Meio Ambiente, com o objetivo de preservação, melhoria e recuperação da

qualidade ambiental, assegurando condições de desenvolvimento sócio-

econômico, os interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade

da vida humana.

Ainda neste ano, a fim de dar uma maior integração e coordenação à

política ambiental a nível nacional e compatibilizar a atuação a nível federal,

estadual e municipal, foram criados o Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). O primeiro

representa o conjunto articulado de órgãos, entidades, regras e práticas da

União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios e das

fundações instituídas pelo Poder Público, sendo estes responsáveis pela

proteção e melhoria da qualidade ambiental, sob a direção do CONAMA.

O CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo que assessora, estuda e

propõe ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governamentais para o

100

meio ambiente e os recursos naturais e delibera, no âmbito de sua

competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente

ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.

O CONAMA, através de suas resoluções define normas a serem

observadas quando da elaboração de Relatórios de Impacto Ambiental

(RIMA), observação e monitoramento de atividades modificadoras do meio

ambiente (Duarte, 1996). Algumas destas resoluções referem-se à

importância da preservação ambiental em portos, terminais, aterros

sanitários, distritos industriais e áreas destinadas ao processamento e

destino final de resíduos tóxicos ou perigosos.

O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, instituído em maio de

1988 e aprovado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

(CIRM) em 1990, visa orientar a utilização racional dos recursos da zona

costeira, dando prioridade à conservação e proteção de sistemas estuarinos,

lagunares, praias, restingas e dunas.

A Política Marítima Nacional, aprovada em outubro de 1994, tem por

finalidade orientar o desenvolvimento das atividades marítimas do país, seja

no mar, nos rios, lagoas e lagos navegáveis.

101

A Constituição brasileira de 1988 trata dos assuntos sobre os quais a

competência federal é exclusiva, entre elas: águas, energia, navegação

lacustre, fluvial e marítima, sendo que leis complementares podem autorizar

os Estados a legislar sobre as matérias relacionadas. Já a legislação

municipal trata dos assuntos cuja competência é do município, prevalecendo

sobre a federal e a estadual. Os Estados têm a competência legislativa

residual, ou seja, aquela não reservada à legislação federal nem à municipal,

ou complementar a elas.

Um ponto interessante a ser destacado na Lei Orgânica do Município

de Rio Grande, de 4 de abril de 1990, é que ela considera as áreas

estuarinas, áreas de lagoas e a faixa litorânea como “áreas de proteção

permanente” numa analogia ao que é feito quanto às áreas de manguezais

na constituição Federal (Duarte, 1996).

A FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) instituída em

1990, fêz uma proposta, em 1993, de emquadramento dos recursos hídricos

da parte sul da Laguna dos Patos, no qual foi realizado um levantamento

detalhado dos diversos usos dos recursos hídricos desta região definindo e

classificando as áreas estuarinas e as áreas límnicas que drenam o

município do Rio Grande (Tagliani e Asmus, 1997).

102

Recentemente, através da Lei 8.630/93, foi instituída a Lei de

Modernização dos Portos, a qual define normas para a nova legislação

portuária, incluindo suas instalações, uso de mão-de-obra, regulamentação

aduaneira, questões voltadas ao meio ambiente e atribuições regulatórias

(Gibertoni, 1998; Anexo I).

A legislação brasileira é muito vaga quando se trata especificamente

das operações de dragagem. Existe apenas uma norma estabelecida pela

Diretoria de Portos e Costas (DPC - órgão vinculado ao Ministério da Marinha)

intitulada Norma da Autoridade Portuária no 11 (NORMAM-11), de 30 de

setembro de 1998.

Nesta norma, ficou estabelecido que as dragagens poderão ser

realizadas com diversos objetivos tais como: para estabelecimento inicial de

uma determinada profundidade, para manutenção de profundidade de certo

local e para execução de aterro.

Esta norma estabelece a documentação que deverá ser entregue pelo

interessado à Capitania dos Portos na área de jurisdição do sítio a ser

dragado e do sítio de despejo, assim como as exigências feitas pela Diretoria

de Hidrografia e Navegação (DHN) para constar em cartas náuticas, no banco

de dados da Marinha, ser divulgado em Avisos aos Navegantes e delimitar o

local a ser dragado de acordo com o Regulamento para Sinalização Náutica.

103

As áreas de despejo poderão ser estabelecidas previamente pela

Capitanias dos Portos, através de Normas de Procedimentos e em consenso

com os órgão locais de controle do meio ambiente. O estabelecimento prévio

da área de despejo visa tornar mais ágil a tramitação dos processos de

dragagem, especialmente aqueles que tratem de manutenção de canais de

acesso ao porto e dos berços de atracação, de interesse para a segurança

da navegação. Caso os órgãos de controle do meio ambiente local não se

pronunciem a respeito da área escolhida dentro do prazo de 30 dias, as

Capitanias poderão estabelecer a área de despejo em caráter precário,

comunicando o fato aos citados órgãos. Caso o volume a ser dragado exceda

a um milhão de metros cúbicos, deverá ser apresentado um estudo de

dispersão dos sedimentos jogados no mar, em função do detalhamento

hidrodinâmico da região, como ventos e correntes reinantes, dentre outros,

elaborado por uma entidade reconhecida. (O capítulo referente a dragagem e

construção de aterros encontra-se no Anexo II.)

Numa forma ilustrativa, mostramos uma breve síntese sobre a

legislação internacional que trata do controle das operações de dragagem e

manejo do material dragado.

As primeiras leis existentes em outros países datam de 1899, quando

o governo norte-americano criou a Legislação de Rios e Portos (Rivers and

104

Harbors Act). A partir desta data, qualquer tipo de obras a serem realizadas

em portos e rios, incluindo operações de dragagem e aterro, só poderiam ser

realizadas quando aprovadas pelo Corpo de Engenheiros do Exército (United

States Army Corps of Engineers - USACE). Em 1949, o governo inglês

instituiu a Lei de Proteção da Costa (Coast Protection Act). A partir daí,

diversas leis foram criadas em diversos países para regulamentar este tipo

de trabalho e principalmente o que deveria ser feito com o material

proveniente das dragagens.

Então, em 1972, foi realizada a primeira etapa da Convenção de

Londres sobre a prevenção de poluição marinha pela descarga de lixo e

outros resíduos (London Dumping Convention - Convention on the Prevention

of Marine Pollution by Dumping of Waste and Other Matter - Convenção Sobre

Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras

Matérias, 29 de dezembro de 1972). O conjunto de normas da LDC

prescrevem os passos a serem tomados para se evitar a poluição resultante

de descargas no oceano.

A jurisdição da LDC refere-se às águas internacionais,

regulamentando as condições nas quais a descarga de material de

dragagem devem ser manejadas e que afetam diretamente os aspectos

políticos, técnicos e ambientais deste tipo de operação. Estão atualmente

105

vinculados à LDC 64 países, sendo que o Brasil aderiu à convenção em

1982. A última reunião para regulamentar a convenção foi realizada em 1996.

A LDC contém uma série de anexos listando uma grande quantidade

de componentes e compostos químicos os quais são considerados

perigosos ou potencialmente perigosos e, portanto, sujeitos a

regulamentação. Quando esta regulamentação se refere a dragagens e

disposição do material dragado no oceano, os termos envolvidos são os

seguintes:

• presença de elementos traço;

• presença em quantidades significativas;

• verificação da “meia-vida” do componente/composto químico;

• avaliação da toxidade;

• avaliação da persistência;

• verificação de bio-acumulação.

Uma vez verificados estes parâmetros, a questão passa a ser

identificar as concentrações nas quais os compostos podem ser

considerados “traço”, de meia-vida curta (especialmente aqueles que podem

sofrer reações químicas quando em contato com água salgada, criando

compostos metálicos) ou longa (tais como organoclorados, que podem ser

bio-acumulados em qualquer concentração).

106

Quanto ao manejo do material dragado, a LDC recomenda:

• deve-se fazer amostragens representativas do material dragado;

• deve-se avaliar as características gerais do sedimento;

• deve-se avaliar quais são os contaminantes principais;

• se necessário, deve-se fazer testes biológicos para mostrar que o

material a ser despejado não causará efeitos crônicos ou bio-

acumulação em organismos marinhos sensíveis.

Maiores detalhes sobre esta convenção podem ser encontrados em

Kullenberg (1974-75), Davis et al. (1990), Senado Federal (1991) e Bray et al.,

(1997). Um resumo encontram-se no Anexo III.

107

7. Comparação com outros portos, rios e canais

Nos Estados Unidos, dragagens de rotina geram aproximadamente

200 milhões de metros cúbicos de sedimento anualmente, sendo que

metade deste volume é despejado em mar aberto (Bohlen, 1990). A textura

destes sedimentos cobrem todo o espectro de tamanho de grãos, desde

cascalho até silte e argila. O grau de contaminação química do material

dragado apresenta-se relacionado com as cargas de contaminantes,

estando estes, geralmente associados a sedimentos de granulação fina e

com alto conteúdo de matéria orgânica. Em média, aproximadamente 10%

deste volume de sedimento dragado anualmente está altamente

contaminado, enquanto 10 a 20 % está limpo e livre de contaminantes. O

restante deste sedimento contém concentrações moderadas de uma grande

variedade de contaminantes orgânicos e inorgânicos.

Estudos recentes realizados nos portos de Nova Iorque e Nova Jersey

tratam da melhor maneira de lidar com o rejeito do material dragado,

seguindo regras específicas sobre a qualidade do material dragado que

pode retornar ao oceano (Marcus Group, 1998). O material retirado destes

portos é caracterizado como lama e areia. Este material tem sido

exaustivamente analisado, podendo conter pequenas quantidades de

compostos químicos e metais pesados. Entretanto, os níveis de

contaminação estão significativamente abaixo daqueles classificados como

108

perigosos ou tóxicos e, de fato, a lama retirada destes portos está sendo

processada e utilizada de forma segura como aterro para áreas industriais e

municipais. Porém, uma questão importante vem à tona: “se este material é

seguro o suficiente para ser utilizado em terra, então porque foi proibido de

ser despejado no oceano?” A resposta está no problema que os cientistas

chamam de “bioacumulação”, ou seja, em despejos em mar aberto, a lama

com baixos níveis de contaminantes exerce um perigo para organismos

marinhos de pequeno porte e peixes que se alimentam destes organismos,

pois estes acumulam compostos químicos que poderiam causar riscos às

pessoas que se alimentam dos peixes contaminados. Isto não ocorre em

terra, pois esta lama passa a ser processada com aditivos tais como

calcário, solidificando-se e retendo qualquer contaminante a este sedimento.

O produto final pode, então, ser confinado e recoberto por areia, compostos

agregados ou asfalto, não representando nenhum risco para a saúde das

pessoas, flora e fauna.

Existem muitos estudos sobre os efeitos de dragagens e manejo do

material dragado sobre a biota. Alguns deles, como é o caso de Soule e

Oguri (1976), Rosenberg (1977), Parrish et al. (1989) e Flemer et al. (1997),

fizeram análises e estudos de recolonização de bentos e impactos de

contaminantes e bioacumulação nos organismos que habitam o fundo de

canais e que estão diretamente associados a atividades de dragagem.

109

Com relação à “dragagem ambiental”, um relatório técnico

desenvolvido pela empresa norte-americana General Electric (GE Study

Report, 1998) discute o que se deve, ou não, fazer para se retirar quantidades

significativas de PCB contidos no sedimento do leito do Rio Hudson, no norte

do estado de Nova Iorque. As técnicas de dragagem necessárias para esta

operação ainda estão sendo desenvolvidas e equipamentos próprios para a

remoção deste sedimento superficial existem apenas no Japão e Holanda.

Testes realizados com dragas hidráulicas comuns indicaram que este

procedimento poderia trazer riscos para a saúde humana. Isto porque um

nível residual de contaminantes permaneceria na camada superficial do

sedimento ou na coluna d’água, sendo ingerido por peixes, e sendo

rapidamente incorporados pela cadeia trófica.

Uma outra questão gerada por este relatório está relacionada com o

que fazer com o material dragado, o qual representa um volume de

aproximadamente 1,3 milhão de metros cúbicos. A solução mais viável seria

o confinamento deste material em terra para a construção de aterros, porém,

além do volume de sedimento ser muito grande, muitas autoridades locais e

cidadãos consideraram este confinamento perigoso devido à presença de

PCB, embora tenha sido provado que este contaminante, ao ser enterrado,

não mais traria riscos para a população.

110

A estimativa de custo para este projeto foi de US$ 55 milhões incluindo

a contratação de mão-de-obra e equipamentos especializados e a

construção de aterros nas áreas próximas à região de dragagem, pois o

transporte deste material até outros locais de despejo já existentes, ou

mesmo para o oceano, elevaria o custo da operação para cerca de US$ 200

milhões.

Roberts (1976) fez uma demonstração de usos benéficos de material

dragado a partir de lagos e reservatórios no estado de Illinois (E.U.A.),

mostrando que o material dragado destes reservatórios poderia ser utilizado

com sucesso na agricultura, principalmente em plantações de trigo. Segundo

este autor, o sítio de descarga do material dragado teve seu valor monetário

aumentado graças à possibilidade de uso deste solo na agricultura.

Um estudo realizado na Louisiana (E.U.A.) por Adams e Berg-

Andreassen (1989) relaciona fatores ambientais e econômicos para se

avaliar a viabilidade de um projeto de dragagem. Neste estudo foram

demonstrados modelos hidrodinâmicos, ambientais e econômicos que

justificavam a execução do projeto em questão. O ponto mais interessante

neste trabalho foi a inclusão do aspecto ambiental na avaliação da relação

custo/benefício. Os custos por eles relacionados são: - custo de dragagem

(inicial e de manutenção); - custo de auxilio e balizamento para a navegação; -

custo de transporte do material dragado, e; - avaliação de danos ambientais

111

(principalmente nas áreas de produção pesqueira e bancos de ostras de

extração econômica). No final a avaliação foi propícia ao projeto de dragagem

de um canal de 12 pés (3,6 metros) de profundidade atravessando uma zona

de estuário e pântanos, sem que houvessem muitos danos ao ambiente.

No Brasil existem poucos trabalhos que discutam as implicações

voltadas às atividades de dragagem. Destes, a maioria relaciona-se a

modelos hidrodinâmicos, avaliação de impactos de contaminação

principalmente por atividades portuárias, e em alguns casos, a análise de

custo-benefício de determinados projetos de dragagem. Como será feita

adiante uma análise do custo da dragagem do porto do Rio Grande, gostaria

de destacar dois trabalhos realizados no Brasil, e que tratam diretamente dos

custos de dragagem no porto de Belém (PA; Ahimor, 1998) e do

desassoreamento dos canais do Tietê e Pinheiros em São Paulo (Cesar

Neto, 1988). No primeiro caso, foi realizada uma dragagem no porto de

Belém durante os primeiros meses de 1996 na qual o calado do porto foi

aprofundado para 7,5 metros. Foi utilizada uma draga de sucção e recalque

com capacidade para dragar 300 metros cúbicos por hora. O volume total

dragado foi da ordem de 300.000 metros cúbicos a um custo aproximado de

R$ 2,00 por metro cúbico. Há neste trabalho uma descrição bem detalhada

sobre os custos com pessoal, serviço técnico, manutenção, consumo de

combustíveis e lubrificantes, seguro, transporte, entre outros.

112

No caso do desassoreamento dos canais do Tietê e Pinheiros em São

Paulo, a dragagem do material depositado a partir das descargas sólidas

provenientes do esgotos sanitários e da erosão das respectivas sub-bacias,

é a única forma possível de manutenção das profundidades dos canais e

outros locais dos reservatórios de Edgard de Souza e Billings. O serviço é

efetuado da seguinte forma: - dragagem do material de fundo através de

dragas de sucção e recalque ou de “drag-lines”; - lançamento do lodo líquido

nas margens ou em “bota-foras” intermediários (terrenos ao longo das

marginais) para desidratação, e; -transporte do material seco, em

caminhões, para um destino que fica a critério do empreiteiro do transporte,

não havendo registro sobre qual é este destino. O volume dragado destes

canais é de aproximadamente 6.100.000 metros cúbicos por ano, a um custo

aproximado de US$ 31 milhões, ou seja, aproximadamente R$ 9,00 por

metro cúbico.

Este autor faz uma análise de custo na qual os preços cobrados

mundialmente para a execução deste tipo de serviço pouco variam, situando-

se na base de US$ 1,00 por metro cúbico, para recalque a curta distância,

para material arenoso e US$ 1,20 para material argiloso utilizando dragas de

sucção e recalque. Se a dragagem for feita com dragas de caçamba, o preço

cai para US$ 0,80 por metro cúbico para material argiloso e US$ 1,00 para

material arenoso. Soma-se a este valor o transporte, que se for hidroviário, é

muito mais baixo que o transporte feito por caminhão.

113

8. Resultados e Discussão

8.1. Obras de dragagem no Porto de Rio Grande (volumes e custos)

Com a crescente importância do Porto de Rio Grande que se

desenrola desde o século passado, a melhoria das condições de

navegabilidade na Barra da Laguna dos Patos culminou na construção dos

Molhes da Barra. Esta obra, iniciada em 1898 e concluída em 1915, é uma

das maiores obras de engenharia costeira no Brasil. Posteriormente, a

abertura do Canal do Rio Grande em 1972 foi responsável pelo

aprofundamento do canal, permitindo a entrada de navios de grande calado.

Os molhes fixaram a barra, propiciando o aumento da profundidade natural

de 2,5 para 6 m. A obra de dragagem do canal artificial fez com que a

profundidade fosse elevada para 14 m. Esta cota batimétrica é mantida,

desde então, através de dragagens periódicas realizadas a cada 2 ou 3 anos

(Hartmann, 1996).

O projeto inicial feito pela Superintendência do Porto para a dragagem

realizada no período de março a agosto de 1998 previa um volume de

dragagem de aproximadamente 1.700.000 m3, avaliado de acordo com

levantamento batimétrico realizado previamente ao processo de licitação.

Porém, como a contratação e início do processo de dragagem ocorreram

vários meses após concluída a licitação, o volume total de sedimentos

114

retirado do porto foi aproximadamente 40% maior que o previsto. Admite-se

como hipótese para esta maior taxa de assoreamento, o aumento de material

sedimentar trazido para a desembocadura da Laguna dos Patos em

decorrência das grandes taxas pluviométricas em toda a região sul do Brasil,

provocada pelo fenômeno meteorológico “El Niño”. O volume total dragado

neste período foi de 2.940.000 m3.

A contratação de uma firma particular para realizar o serviço de

dragagem possibilitou a utilização de uma draga de sucção de auto-

contenção (hopper dredge), dispensando o uso de barcaças para o

transporte do material dragado, e com a capacidade da cisterna (porão do

navio) de 4.800 m3.

De acordo com a Superintendência do Porto, o custo desta operação

recebeu valores diferenciados para cada uma das áreas do porto (canal do

Rio Grande, canal de acesso ao Porto Novo e bacia de evolução do Porto

Novo) variando de US$ 1,44 a US$ 1,97 dependendo de sua proximidade

com o local de despejo do material (o qual era situado fora da barra do

estuário, em frente à praia do Mar Grosso no município de São José do Norte

- vizinho a Rio Grande - e a cerca de 5 milhas náuticas do molhe leste, com

profundidade aproximada de 13 m), e do volume dragado em cada área. O

custo total desta operação ficou em torno de US$ 4,4 milhões, estando os

115

custos para cada área dragada discriminados na Tabela 8, conforme planília

de custos.

Tabela 8. Custos da dragagem referentes aos trechos do porto.

Área do porto Volume dragado Custo por m3 Custo total

Canal de Acesso 2.300.000 m3 US$ 1,44 US$ 3.750.000,00

Canal de Acesso àBacia do Porto Novo

265.000 m3 US$ 1,97 US$ 220.000,00

Bacia do Porto Novo 375.000 m3 US$ 1,87 US$ 430.000,00

Em visita à draga “Poseidon” da companhia norte-americana Great

Lakes Dredge & Docking, foram obtidos os dados referentes à embarcação e

alguns dos custos com a operação de dragagem, sendo eles:

• A draga “Poseidon” é uma draga auto-transportadora com sistema

hidráulico de sucção e duas cabeças cortantes com braços ajustáveis para

as variadas profundidades.

• Suas dimensões são 103 metros de comprimento, 17 metros de boca e

aproximadamente 4 metros de calado e capacidade da cisterna de 4.800

metros cúbicos.

• A tripulação desta draga é composta por 24 pessoas sendo que 21 destas

faziam o trabalho permanente na embarcação e 3 engenheiros faziam o

trabalho de planejamento e supervisão, hora embarcados, hora em terra.

116

• O trabalho realizado demorou aproximadamente 7 meses e neste período

a draga consumiu aproximadamente 150.000 litros de combustível.

• Uma despesa extra, porém, que ficou a cargo da companhia seguradora à

qual a draga estava segurada, foi o conserto de um grupo de estacas de

ancoragem de um dos terminais do porto, os quais foram abalroados pela

draga durante o processo de dragagem.

8.2. Comparação do volume de sedimento dragado com o volume

proveniente da bacia de drenagem

A partir das informações obtidas sobre o volume de sedimento

dragado, pode-se traçar uma relação entre o volume de sedimento que chega

ao estuário proveniente do complexo Laguna dos Patos - Lagoa Mirim, o

volume de sedimento que se deposita no canal e a quantidade que sai para

o oceano através da barra do Rio Grande.

A quantidade de sedimentos em suspensão que chegam ao estuário é

da ordem de 2.000.000 de toneladas* (Baisch, comunicação pessoal), sendo

que uma parte deste sedimento é depositada nas enseadas, praias, baixios

e canais do estuário, outra parte é exportada para o oceano e uma grande

parte é responsável pelo assoreamento do canal e zona portuária cujo

volume é da ordem de 1.400.000 metros cúbicos* por ano (Portobrás, 1979).

117

Não se tem quantificado o volume de sedimento marinho que entra no

estuário, porém sabe-se que este sedimento é de grande importância.

Comparando o volume dragado no período de março a agosto de 1998

(aproximadamente 3.000.000 m3, visto que a dragagem anterior havia sido

realizada no final de 1995, indicando uma média de assoreamento de

1.200.000 m3 por ano) com o volume proveniente da bacia de drenagem

(aproximadamente 2.000.000 m3), observa-se uma forte relação entre estes

valores, assumindo que do total de sedimentos que aportam no estuário,

parte dele é exportado para o oceano e outra parte depositada em outras

zonas do estuário não sujeitas a dragagem.

* 1 tonelada ≈ 1 metro cúbico

8.3. Alterações nos regimes de circulação estuarina

Sabe-se que o aprofundamento de um canal em região de muita

descarga fluvial ou região propensa a mudanças de fluxo de entrada e saída

de água, como é o caso do estuário da Laguna dos Patos, pode gerar

alterações no padrão de circulação destas águas.

118

Um fenômeno que ocorre na praia do Cassino, e que muitas pessoas

associam ao processo de dragagem, é a aparição esporádica de lama em

certos locais da praia. Diversos autores incluindo Villwoock et al. (1972),

Borzone e Griep (1991) e Calliari e Fachin (1993) afirmam que este evento

ocorre de forma natural e cíclica e que o volume de material dragado é

infinitamente menor que o volume de lama existente na área adjacente à

desembocadura do estuário embora nunca tenha havido um monitoramento

das atividades de dragagem. Porém, Calliari (em Santos, 1998) afirma que a

dragagem do canal de acesso ao porto e o aumento da batimetria pode ter

aumentado a velocidade das águas que escoam da Lagoa dos Patos para o

Oceano Atlântico aumentando a periodicidade deste evento.

Em estudo recente, Calliari e Griep (1999) fizeram a análise das

possíveis alterações de fluxo no canal e a entrada da cunha salina no

estuário com o futuro aprofundamento do canal e prolongamento dos molhes

da barra, obra que visa o aumento do calado no porto para a entrada de

navios de maior capacidade de carga. Estes autores concluíram que com a

alteração na secção do canal a entrada da cunha salina sofreria alterações,

de modo que a salinidade na porção superior do estuário sofreria uma

redução em até 70% do valor encontrado na configuração atual do estuário.

Porém, com o prolongamento dos molhes, redirecionamento da

desembocadura e redução da largura da mesma, a secção transversal nesta

não será muito alterada, minimizando o efeito sobre a hidrodinâmica no

119

canal. Com o aprofundamento do canal, serão retirados cerca de 18.000.000

m3 de sedimento deste local. O principal problema é quanto ao destino deste

volume enorme de material.

8.4. Efeito da agricultura e urbanismo

O sedimento que atinge o estuário e a região portuária de Rio Grande,

como já foi visto, é proveniente da bacia de drenagem da Lagoa dos Patos e

Mirim. Tagliani (em Santos, 1998) acredita que o grande volume de

sedimento que atinge esta região, e que também é responsável pelo

fenômeno da lama na praia do Cassino, é decorrente do mau uso do solo e

de uma agricultura inadequada, que nas últimas décadas acelerou o

processo de erosão próximo aos rios que deságuam na lagoa.

O manejo destas áreas rurais, assim como o controle do

desmatamento próximo aos rios é de vital importância para a manutenção

dos níveis de sedimento exportados pelo complexo Laguna dos Patos/Lagoa

Mirim, assim como o controle da expansão das zonas urbanas e industriais.

Da mesma mesma forma, controlando-se os efluentes urbanos e industriais

das cidades que margeiam esta laguna e seu estuário, haveria uma possível

redução nos níveis de sedimentos em suspensão que atingem a região de

120

Rio Grande, incluindo aí, uma possível melhoria na qualidade química da

água e do próprio sedimento.

8.5. Efeito da poluição (contaminantes) nos sedimentos

Atualmente não existe nenhum estudo que relacione a contaminação

do substrato do canal do porto do Rio Grande com as atividades de

dragagem deste porto.

Segundo Baisch (comunicação pessoal), as operações de dragagem

devem ser monitoradas. Como a dragagem ressuspende uma grande

quantidade de metal pesado na pluma de sedimento da boca de dragagem e

da operação de “overflow”, o melhor período para se realizar as dragagens do

canal é durante os períodos de vazante, situação na qual o sedimento

ressuspendido será levado para fora da Barra do Rio Grande e depositará no

oceano, minimizando a contaminação da coluna d’água. Porém, mesmo que

seja tomada esta atitude, uma grande quantidade deste material poderá ser

depositado na praia do Cassino, seja pelos depósitos lamíticos que

aparecem esporadicamente na praia, seja pelo refluxo que certos regimes

hídricos podem provocar nesta praia (Figura 8).

121

Figura 8. Imagem de satélite mostrando a desembocadura da Lagoa dosPatos e região praial com a formação de um vórtice na pluma de sedimentosque sai da Lagoa. Extraído de Hartmann (1988)

Este mesmo autor, em estudo recente (Baisch, 1997) relaciona a

contaminação do sedimento por matéria orgânica e metais pesados. A

matéria nos sedimentos foi analisada através de três parâmetros: Carbono

Orgânico Particulado (COP), Nitrogênio Orgânico Particulado (NOP) e Fósforo

Total (P - Total). Os locais que apresentaram maior contaminação orgânica

são aqueles próximos a emissários cloacais e industriais, especialmente na

Coroa do Boi, na embocadura do Saco da Mangueira.

O teor de Fósforo Total, proveniente das indústrias de fertilizante e

emissários cloacais, encontrou-se muito acima do valor de referência para

sedimentos não contaminados (8.550 mg de fósforo e compostos fosfatados

122

por quilograma de sedimento contra 700 mg/kg para o valor de referência).

Foi verificado, ainda, que os sedimentos dos canais de navegação

apresentavam-se empobrecidos em matéria orgânica, sendo de composição

predominantemente inorgânica.

Quanto aos elementos traços metálicos presentes nos sedimentos da

região portuária, este autor verificou a presença de seis principais

componentes, sendo eles: chumbo (Pb), cobre (Cu), cádmio (Cd), zinco (Zn),

cromo (Cr) e níquel (Ni). O procedimento utilizado para a obtenção das

concentrações destes metais foi através da obtenção do fator de

enriquecimento (FE), através da normalização destes metais pelo alumínio

(Al). Para verificar possíveis contaminações, estes metais foram comparados

a valores de referência, que são aqueles encontrados em áreas onde não há

contaminação por estes metais, ou seja, onde sua concentração é próxima

daquela encontrada na natureza. Estes locais geralmente estão situados em

sacos abrigados, principalmente no limite do estuário, próximos às pontas da

Feitoria e dos Lençóis. Os resultados obtidos por este autor estão

representados na Tabela 9.

123

Tabela 9. Fatores de enriquecimento para metais pesados presentes noestuário da Lagoa dos Patos. Siglas: E.C. - Emissário cloacal, I.F. - Indústriade fertilizante, I.G. - Indústria geral, E.P.S. - Equipamentos portuários esucatas, A.P. - Atividade portuária, P - pequeno e G - grande. Modificado deBaisch (1997).

Pb Cu Zn Cd Cr Ni

Valor de referência 1,40 1,40 4,50 0,34 3,80 2,10

Canal de Acesso/Superporto

1,55 -2,85

1,78 -3,84

2,10 -4,12

2,13 -30,35

1,26 -4,15

1,54 -2,67

Canal de Acesso aoPorto Novo

12,66 -13,56

5,95 -6,98

5,04 -5,95

8,99 -11,55

1,15 -2,13

1,13 -1,86

Bacia do Porto Novo 3,69 -5,87

2,98 -4,21

2,68 -2,97

4,36 -5,20

2,25 -3,55

2,95 -13,46

Bacia do Porto Velho 15,03 -16,40

6,15 -6,45

2,58 -3,28

6,85 -7,30

2,11 -3,02

3,90 -4.30

Fontes - E.C.- I.F.

- E.C.- I.G.

- E.C.- I.G.

- I.F.- E.C.

- E.P.S. - A.P.

Impacto G G P G P P

8.6. Comentários sobre a flora e fauna

Não existem estudos que relacionem as operações de dragagem e

seus impactos sobre a biota nos canais de navegação do porto do Rio

Grande, porém, algumas considerações podem ser feitas através da análise

de trabalhos pré-existentes.

124

Costa (1997) afirma que os principais efeitos da ação antropogênica

sobre pradarias submersas no estuário são as atividades de pescarias e

navegação em águas rasas, as dragagens e os depósitos de material

dragado e a adição de efluentes orgânicos e inorgânicos. Estas atividades

acarretariam uma deposição de grandes quantidades de sedimento, alta

turbidez (redução na quantidade de luz) ou agitação do fundo, podendo

envolver altas mortalidades de plântulas ou inviabilização das sementes, que

determinariam a ausência ou redução das pradarias.

Este autor relaciona, ainda, a deposição de material dragado em

determinados lugares do porto e que podem ter ação benéfica tais como

criação de marismas na Ilha do Terrapleno através do transplante de

vegetação de marismas sobre o depósito de material dragado, ou prejudicial

como é o caso da deposição de material fino dragado no Porto Velho e

depositado próximo às Ilhas do Cavalo e Pólvora, e que pode estar

prejudicando as pradarias do Saco do Arraial. Uma avaliação das técnicas

existentes para a restauração de pântanos salgados e outras comunidades

de plantas e sua relação com os custos que elas acarretariam podem ser

vistas em Jones (1976) e Fonseca et al. (1982).

Bemvenuti (1997) afirma que algumas espécies dominantes de

invertebrados bentônicos deste estuário mostraram uma alta capacidade de

recolonização após perturbações que provocaram defaunação do substrato.

125

Porém, este fato indica que se deve ter cautela na interpretação de eventuais

impactos antropogênicos sobre o sistema, pois efeitos agudos sobre o

ambiente podem estar sendo mascarados pela rápida capacidade de retorno

dos organismos à sua condição original.

Não há registros de trabalhos que relacionem os organismos

planctônicos (fito e zooplâncton) e a ictiofauna da região com a atividade de

dragagem. Porém, estudos realizados nos Estados Unidos, atribuem à

ressuspensão de sedimento, principalmente se este estiver contaminado,

alguns fatores que podem afetar a comunidade zooplanctônica (DeCoursey e

Vernberg, 1975 e Sullivan e Hancock, 1977). Os aspectos relacionam-se

principalmente à alimentação, pois a maioria das comunidades do

zooplâncton são filtradoras, e a ingestão de partículas inorgânicas pode

afetar a nutrição e o crescimento destes organismos. Além disso, os

sedimentos ressuspendidos podem aderir aos ovos ou aos próprios

animais, tanto plâncton quanto peixes, causando danos a suas células, ou

ainda, em casos onde há algum tipo de contaminação pode haver

bioacumulação e o “envenenamento” de populações pelágicas. A maior

turbidez na água pode provocar alterações nos ciclos de vida destes

organismos, afetando principalmente as espécies de interesse econômico

para a pesca.

126

8.7. Áreas de deposição do material dragado

8.7.1. Atual sítio de despejo

Embora não existam estudos sobre a influência deste despejo no sítio

próximo ao molhe leste (praia do Mar Grosso) sobre a flora e a fauna, sobre a

possível contaminação da coluna d’água e sedimentos de fundo, nem

informações batimétricas do local, Calliari e Tagliani (1997) estimam que a

possível formação de um banco arenoso na região da praia possa afetar a

ação das ondas que incidem sobre o molhe leste ocasionando a ruptura da

raiz do mesmo como já ocorreu anteriormente.

8.7.2. Novas áreas de despejo

A grande questão passa a ser identificar qual o destino que será dado

a este material dragado. As alternativas propostas são as seguintes (de

acordo com Calliari e Tagliani, 1997):

1. propiciar acreção de praia e despejar este material diretamente na raiz do

molhe leste através de bombeamento deste material ou pelo simples

despejo do mesmo na zona de arrebentação, a cerca de 2 milhas da raiz

do molhe. Este último, porém, ainda não foi comprovado, pois sabe-se que

127

esta região sofre constante erosão. Como não existem muitos estudos

sobre a dinâmica do local, não se pode afirmar com exatidão se este

material será realmente deslocado para a praia ou se será erodido;

2. utilizar o material arenoso para aterros urbanos e na zona

portuária/industrial, assim como utilizar o material fino (silte e argila) na

formação e manutenção de ilhas artificiais e em marismas;

3. isolar o material contaminado em diques de contenção;

4. despejar este material no mar, em locais fora da rota de navegação e a

profundidades maiores que 20 metros.

Na Figura 9 podemos ver o dique de contenção utilizado recentemente

para a deposição do sedimento retirado do cais da Central de Hortigranjeiros

próximo ao Museu Oceanográfico e ao Yacht Clube de Rio Grande, no período

de fevereiro a maio de 2000. Esta bacia de decantação foi impermeabilizada

para evitar a infiltração de contaminantes contidos no sedimento retirado do

canal. Ao secar este material, serão feitas análises químicas do mesmo.

Caso não haja contaminação por metais pesados, este sedimento será

utilizado em aterros ou na agricultura. Se o material estiver contaminado ele

será depositado no lixão da cidade.

128

A)

B)

Figura 9. Bacia de contenção para o sedimento proveniente da dragagem docais da Central de Hortigranjeiros ocorrida de fevereiro a maio de 2000. A)Vista geral da área com a draga de sucção na direita e o MuseuOceanográfico ao fundo (Foto: Jornal Agora, Rio Grande, 17/03/2000). B)Detalhe do muro de contenção (Foto: A.L. Philomena).

129

8.8. Legislação, licitação e custos da dragagem

Como foi visto anteriormente, a legislação existente no Brasil que trata

específicamente de dragagens é muito superficial. Para uma melhor

compreensão deste assunto, sugerimos que se faça uma compilação das

leis internacionais, assim como daquelas em uso em outros países, a fim de

regulamentar o processo de dragagem nos portos e corpos d’água no Brasil.

Segundo informações da Superintendência do Porto de Rio Grande, as

únicas leis que foram aplicadas no processo de dragagem do porto em 1998

foram aquelas referentes ao processo de licitação da empresa que seria

responsável pela dragagem (leis 8.666/93 e 8.883/94, Gibertoni, 1998). O

critério utilizado pela SUPRG foi a escolha da empresa cuja proposta fosse

mais vantajosa, tanto em termos do menor valor da operação de dragagem

quanto em relação ao tempo de execução.

A Convenção Sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de

Resíduos e Outras Matérias regulamenta o despejo de material de dragagem

em mar aberto, fora do mar territorial e nos fornece subsídios suficientes para

montarmos uma legislação específica, incluindo os procedimentos que

deverão ser observados na disposição deste material, assim como no

monitoramento dos sítios de despejo. Ou seja, estas normas poderiam ser

aplicadas não só em águas internacionais, mas também dentro de nosso

mar territorial.

130

Em 1996 foi criado o Grupo Executivo para Modernização dos Portos

(GEMPO, 1996), o qual visava elaborar, implementar e monitorar o Programa

Integrado de Modernização Portuária (PIMOP). Este programa consistia da

elaboração de legislação específica, através do Plano de Ação

Governamental para o Subsetor Portuário e do Programa Anual de Trabalho

do GEMPO. Dentro deste programa, em 1996 foi iniciada a elaboração da

Política Nacional de Dragagem, onde foram estabelecidos os objetivos e o

modelo de exploração da atividade de dragagem. A implementação desta

política de dragagem deveria ter acontecido entre 1997 e 1999, porém até o

momento não se tem conhecimento sobre sua efetivação.

Quanto ao processo de licitação para a contratação da empresa que

desenvolveria a dragagem do Porto de Rio Grande, a Superintendência do

Porto considerou apenas o custo mais baixo dentre as empresas

concorrentes, não observando aquela que, embora tivesse um custo maior,

não sujeitaria o ambiente a impactos causados pela remoção de sedimentos

possivelmente contaminados e sua localização errônea.

No que se refere aos custos de dragagem, uma proposta a ser

considerada para as operações de dragagem no Porto de Rio Grande seriam

(de acordo com CRWQCB, 1996):

131

1. os custos com testes de sedimento, para se avaliar a operação de

dragagem, e os métodos de despejo;

2. os custos com a operação de dragagem e transporte, incluindo a

mobilização do equipamento de dragagem e métodos de transporte;

3. custos com técnicas de manejo do material dragado (técnicas que tornam

o sedimento propício para ser disposto em aterros ou outros usos

benéficos);

4. desenvolvimento e gerenciamento dos sítios de despejo, desde a sua

preparação, passando pela manutenção e prosseguindo com seu

monitoramento a longo prazo.

8.9. Valoração ambiental

Economia é uma ciência que examina a alocação de recursos

(principalmente os escassos) para variados usos, e está relacionada com a

compreensão dos valores de bens e serviços, assim como das atividades

comerciais da sociedade.

O principal objetivo da Economia é de viabilizar a utilização de bens e

serviços na sociedade. Na economia de uma forma geral aplicam-se valores

para produtos, os quais são medidos em unidades de algum tipo de moeda.

Este é o caso de produtos manufaturados, de recursos naturais explorados

de alguma forma e serviços providos por médicos, mecânicos, entre outros.

132

Entretanto, na Economia convencional, torna-se difícil designar valores

para estes tipos de bens e serviços. Aqui entra a teoria da Economia

Ecológica, a qual tenta avaliar os custos sociais e ambientais que são

associados à depreciação de recursos e degradação ecológica.

Philomena (1989a, 1989b, 1989c e 1994) e Philomena e Cozza (1997)

discute a possibilidade da utilização de conceitos alternativos como

“Emergia” e “Transformidade” para a avaliação de recursos e serviços

ambientais na Laguna dos Patos e na região costeira no sul do estado do

Rio Grande do Sul.

Emergia representa a qualidade de uma determinada energia, e

transformidade é a energia solar equivalente necessária para gerar uma

unidade de um determinado objeto com uma maior concentração de energia

(Odum, 1988).

Podemos observar que as maiores fontes de recursos renováveis para

esta região são a energia solar e a chuva, os quais representam cerca de

93% das fontes de energia natural (Philomena, 1989b). O vento, embora seja

uma fonte de energia consideravelmente menor, é muito importante no ciclo

hidrológico, especialmente nos sistemas agrícolas e na interação solo-água

tanto na laguna e estuário quanto na plataforma continental. Este autor

133

considerou, ainda, os recursos não renováveis tais como a produção de

fertilizantes e refino de petróleo.

Estes aspectos podem ser utilizados na geração do modelo de

dragagem. Para tanto é necessário se obter o valor referente à emergia ou a

transformidade que uma operação de dragagem poderá assumir. Assim

como os valores referentes aos recursos renováveis (principalmente a pesca)

que o processo de dragagem pode afetar e também os percalços que poderá

trazer para a atividade portuária, de navegação e turismo. O manejo do

material dragado também carrega alguns custos embutidos, tais como

alterações na qualidade da água, eventuais mudanças estéticas (quando

usado para aterro), entre outras.

8.10. Proposta do modelo conceitual

Na elaboração de um modelo ecológico, podemos considerar três

partes: ambiental, tecnológica e econômica/social, como pode ser visto na

Figura 10a (Philomena, 1989a).

Os modelos ecológicos costumam ser planejados de acordo com uma

simbologia específica. Odum (1971) desenvolveu uma linguagem sistêmica

(Figura 10b) que serve para caracterizar os fluxos de energia entre as partes

específicas do modelo. Dentro desta simbologia destacam-se as fontes de

134

energia para o sistema; as perdas de energia; ítens de produção,

conservação e consumo; e locais onde ocorrem interações entre estes fluxos,

assim como a transação energia-capital monetário.

O modelo conceitual de uma operação de dragagem pode ser visto na

Figura 11. Este modelo específico foi criado de acordo com as informações

obtidas no decorrer deste trabalho e que podem ser aplicadas para o

processo de dragagem do canal do Porto de Rio Grande.

Neste modelo, as principais fontes são: sol, vento, chuva, marés, ciclo

geológico, agricultura, espécies migratórias que se utilizam do estuário para

procriar ou se desenvolver, mão de obra, eletricidade, bens e serviços,

investimento e legislação.

No compartimento ambiental, o sol, o vento, as chuvas e o ciclo de

marés, estimulam as plantas que por sua vez servem de alimentos para

animais herbívoros e estes para animais carnívoros, e todos geram detritos.

O ciclo geológico (principalmente a erosão) e a agricultura influenciam na

quantidade de sedimentos e na qualidade da água que aportam para a área

que será realizada a dragagem, e por sua vez este sedimento influencia tanto

as plantas quanto os animais aí presentes.

135

No compartimento tecnológico do modelo, o tipo de draga irá influir

diretamente na ressuspensão de sedimento e este influi na parte ambiental,

seja na quantidade de sedimento em suspensão, seja sobre as espécies

que migram para o estuário ou para fora deste, em períodos reprodutivos ou

para fins de alimentação. Ainda com relação aos aspectos tecnológicos, a

definição de práticas de manejo para o material dragado, terá efeito sobre as

plantas e animais, tanto do estuário como de áreas de aterro, de despejo ou

praias.

No compartimento econômico/social, a sociedade é influenciada pela

legislação, investimentos, bens e serviços, combustíveis e eletricidade, e é

esta sociedade a responsável pela legislação que afeta na escolha do tipo de

draga e manejo do material dragado. O investimento geralmente vem de fora

e serve para a contratação de mão de obra, empreiteira de dragagem,

manutenção e compra de combustível e geração de eletricidade.

Todos os aspectos levantados anteriormente, e descritos ao longo

deste trabalho podem ser perfeitamente aplicados neste modelo a fim de

gerar um número significativo de informações úteis na elaboração de novos

projetos de dragagem.

136

O único ponto a ser aprofundado nestes aspectos refere-se ao

monitoramento que deveria ser feito durante a dragagem e despejo do

material dragado mas que não é realizado. Pela legislação brasileira, o

Ibama é o órgão que seria responsável por este monitoramento, porém não

se tem registro de suas atividades nesta área, assim como a falta de uma

legislação específica para o processo de dragagem e manejo deste material.

137

a)

b)

Figura 10. a) Modelo esquemático representando as partes na qual sedividem os modelos. Modificado de Philomena e Cozza, 1997. b) Simbologiautilizada em modelos ecológicos. Modificado de Odum, 1971.

138

Figura 11. Diagrama representando os fluxos de energia num modelo dedragagem.

139

9. Conclusões e Recomendações

A partir das informações obtidas neste trabalho preliminar, podemos

relacionar as seguintes conclusões e recomendações para dragagens

futuras ou outros trabalhos científicos nesta área:

• Verificada a grande importância do porto de Rio Grande para toda a região

sul do Brasil e mesmo para o Mercosul, admite-se que a movimentação

portuária hoje em dia depende fundamentalmente da capacidade de carga

dos navios, a qual é cada vez maior. Como navios de grande capacidade

apresentam suas dimensões proporcionalmente grandes, incluindo seu

calado, a necessidade de se manter a profundidade do porto é de

fundamental importância, já que se observa um assoreamento natural e

antropogênico dos canais de navegação presentes no estuário da Laguna

dos Patos.

• Através de material já publicado e dos dados adquiridos através da

SUPRG (Superintendência do Porto do Rio Grande), observou-se que o

volume de sedimentos que atingem a região estuarina e a zona portuária é

maior que o volume de material dragado, sendo que uma parte deste

material é exportada para o oceano através da desembocadura dos

molhes da barra.

140

• O grande volume de sedimento observado principalmente nesta última

dragagem deve-se a dois fatores: mau uso do solo e agricultura

inadequada em toda a área da bacia hídrica que desagua na Laguna dos

Patos e devido às fortes chuvas que atingiram toda a região nos dois anos

que precederam a dragagem.

• O aprofundamento do canal do Rio Grande, para possibilitar a entrada de

navios maiores que os que atualmente atracam no porto, acarretaria em

alterações na hidrodinâmica do canal e do próprio estuário. Para minimizar

esta influência, serão feitas modificações na configuração dos molhes da

barra com o prolongamento dos mesmos e estreitamento do canal, de

modo que, mesmo com a maior profundidade, não se altere a entrada da

cunha salina no estuário.

• Sabe-se através de estudos anteriores que o sedimento existente no canal

está contaminado principalmente por metais pesados e matéria orgânica

provenientes da região portuária, região adjacente ao emissário cloacal da

cidade e regiões próximas aos efluentes das industrias de fertilizantes. A

dragagem ressuspende este sedimento e seus contaminantes para a

coluna d’água. Desta forma, as operações de dragagem do canal

deveriam ser, no mínimo, realizadas em períodos de vazante, de forma que

o material ressuspendido seja levado para o mar.

• O atual sítio de despejo mostra-se impróprio pois pode provocar a

formação de um banco arenoso na região da praia, afetando na incidência

141

das ondas sobre a raiz do molhe leste, ocasionando a ruptura do mesmo.

Além disso, a distância é muito próxima da costa, podendo ocasionar

reflexos para o litoral. Dentre as alternativas existentes estão o seu

despejo em mar aberto a uma profundidade maior que 20 metros.

• Outras alternativas de utilização deste material são em aterros na região

urbana, portuária e industrial, assim como para a formação de ilhas

artificiais e marismas dentro do estuário quando o material estiver “limpo”,

livre de contaminantes. O material contaminado deverá ser isolado em

diques de contenção. Outra opção seria sua utilização sobre a raiz do

molhe leste, seja pelo bombeamento direto para esta área, acarretando

num maior custo, seja pelo seu despejo na zona de arrebentação próxima

a esta raiz, embora esta seja uma solução duvidosa, pois não se sabe ao

certo qual será o comportamento deste sedimento devido à constante

erosão desta região. Propomos que sejam feitos estudos da

hidrodinâmica e dinâmica dos sedimentos neste local antes que esta

opção seja efetivada.

• O monitoramento da qualidade da água e do sedimento é fundamental e

deveria ser realizada antes, durante e depois das operações de dragagem,

porém isto não acontece. Segundo os responsáveis pela dragagem, a

única informação relevante é o tipo de substrato e o volume a ser dragado.

Este monitoramento deveria ser realizado pelo Ibama, porém nunca

ocorreu nas dragagens realizadas até o momento.

142

• Da mesma forma que não se tem informações sobre a influência da

dragagem sobre a contaminação dos sedimentos e da coluna d’água,

também não se sabe qual a influência desta sobre a biota existente no

canal nem na área de despejo do material dragado. Trabalhos futuros

deverão ser realizados para se verificar a ação destas operações sobre a

flora e a fauna do estuário e regiões adjacentes.

• A falta de uma legislação brasileira específica para esta atividade provoca

o descaso das autoridades e empresas, já que nenhum dos trabalhos

sobre dragagem encontrados no Brasil, indica que tenha sido feito algum

tipo de monitoramento. Prova disto é que a SUPRG considerou apenas os

custos com a dragagem quando da licitação e contratação da firma

empreiteira que realizou o trabalho em 1998, porém deveria ter observado

dentre as empresas concorrentes, aquela que pudesse também realizar

um serviço que tivesse o menor impacto sobre o meio ambiente. Para a

dragagem a ser realizada no segundo semestre de 2000, a concientização

da necessidade do monitoramento, fêz com que fossem tomadas as

medidas necessárias junto à FURG para a realização do mesmo.

• Quanto aos custos a que devem ser considerados, propomos os

seguintes: 1) custos com testes de sedimento e monitoramento

previamente à dragagem; 2) custos com a operação de dragagem

propriamente dita, além da mobilização do equipamento de dragagem e

transporte do sedimento; 3) custos com técnicas de manejo do material

143

dragado e 4) desenvolvimento e gerenciamento de locais propícios ao

despejo.

• Por fim, através do modelo aqui elaborado, verifica-se quais são os pontos

nos quais o processo de dragagem deverá ser otimizado e fornece

subsídios para estudos futuros na área de dragagem do porto de Rio

Grande e regiões estuarinas. Os principais pontos a serem considerados

são: escolha do tipo ideal de draga e método de manejo e descarte do

sedimento dragado, monitorament o dos impactos na flora, fauna e

qualidade da água e sedimentos e ainda os custos operacionais e

referentes ao monitoramento .

• Ainda quanto a trabalhos futuros, cabe salientar a necessidade de se

implementar o modelo numérico e a realização de simulações do mesmo.

Da mesma forma, deverão ser elaborados estudos sobre a influência das

atividades de dragagem e do aprofundamento do canal sobre as

estruturas portuárias, principalmente sobre os cais de atracação, pois a

retirada de sedimentos destes canais pode provocar instabilidades no

solo e a ruptura dos mesmos. Além disso, estudos mais aprofundados

sobre a utilização de sedimento dragado em aterros na área portuária e

suas influências na dinâmica do solo e lençol freático também deverão ser

desenvolvidos.

144

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11. Anexos

Anexo I: Legislação Portuária.

A LEI DE MODERNIZAÇÃO DOS PORTOS

Carla Adriana C. GibertoniAdvogada e autora do livro Teoria e Prática do Direito Marítimo

Antes de mais nada, é necessário refletir sobre alguns aspectosda vida nacional onde está inserido o Porto. O porto é o termômetro quemede a temperatura da economia de um país.

Dentro do arcabouço jurídico vigente, são possíveis modelosportuários com enormes variações, dependendo das alternativas adotadaspara seus diversos aspectos. São tantos esses aspectos e alternativas quequase pode-se dizer que nele são cabíveis vários modelos.

Estamos prestes a ingressar numa nova etapa. Alias, nada graveou singular, já que assim tem ocorrido em quase todos os países; como naEspanha, onde foram editadas três leis e feitos vários ajustes ao longo dosprimeiros quinze anos do processo de reformas. A Lei nº 8630/93 se propôs a promover as mudanças necessáriasdo portos a fim de alcançar os parâmetros mínimos internacionais demovimentação de portos, mas fundamentalmente, de maneira específicapara que pudéssemos aproveitar as locações regionais de cada terminalportuário.

A nova legislação coloca os portos brasileiros diante de grandesdesafios práticos e jurídicos, dentre eles: reformular o sistema degerenciamento de operações e de mão-de-obra, eliminar as interferênciascorporativas e burocráticas, e, principalmente, aproveitar, de forma racional,os espaços e as instalações. Não é suficiente a privatização dos serviços, mas sim a quebra domonopólio das operações e promover competitividade, permitindo eficiênciae a diminuição de custos nas atividades portuárias. E só através da eficiênciaé que podemos alcançar boa produtividade, baixos custos. E custos baixosatravés da competitividade. Quem não tem competitividade morre. É essa atratativa da iniciativa privada.

160

Apesar das inúmeras questões ainda não solvidas levantadas poressa legislação, cujo o intuito foi o de afastar o Governo das operaçõesporturárias, podemos citar como principais aspectos positivos o que seguem:

1. descentralização administrativa com maior autonomia dosportos - através do CAP, AP, OGMO, ATP;

2. unificação do comando das operações portuárias através dooperador portuário;

3. eliminação de privilégios tanto da administração do porto, dostrabalhadores e de usuários com a revogação da legislação passada;

4. instauração da competitividade, principalmente com aautorização dos terminais de uso privativo movimentarem cargas de terceiros;

5. consolidação da legislação portuária, pela própria lei;

6. modernização. O Novo Modelo Portuário Brasileiro - do ponto de vista de um portocomo elo de cadeia logística de transporte - tem como base jurídica:

Lei dos Portos ............................... Lei nº 8.630/93 Leis de Licitações ........................ Lei nº 8.666/93 e 8.883/94 Leis de Concessão ...................... Lei nº 8.987/95 e 9.074/95 Lei de Delegação .......................... Lei nº 9.277/96 Lei de Desestatização ..................Lei nº 9.491/97 e MP nº 1.594/97

Subsidiariamente podemos mencionar ainda, pela existência deinterfaces diretas ou implícitas, a "Lei de Defesa da Concorrência" (Lei nº8.884/94 - de Defesa da Ordem Econômica) e o "Código de Defesa doConsumidor" (Lei nº 8.078/90 - de Proteção do Consumidor); assim comoaqueles diplomas legais relativos às duas outras dimensões do porto: meioambiente, condições sanitárias, comércio exterior e tributação.

Imaginar um porto é algo quase imediato. No entanto, se nessacaracterização forem incluídos aspectos funcionais e institucionais,possivelmente essa imagem não seja tão imediata. Os portos surgiram e se desenvolveram para serem as interfacesentre os deslocamentos aquaviários e terrestres, de pessoas e produtos. Damesma forma que eles, também os equipamentos, os processos e asorganizações necessários àqueles deslocamentos se desenvolveram,constituindo-se o que se denomina logística. Os portos são, assim, elos decadeias logísticas; necessariamente no plural, tanto porque eles dividem os

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segmentos aquaviário e terrestre, como porque os portos desempenhamesse papel para múltiplas cadeias logísticas (diferentes origens, destinos epercursos). Neste caso, o direcionamento da análise é a carga. Por que?

É importante compreender que não se pode analisar porto deforma isolada, mas sim como um elo da cadeia de transportes. Pergunta-se:adiantaria porto sem navios com carga?

O que precisamos analisar quando se fala em Porto, então, é acadeia logística dos meios de transporte, onde o porto aparece como elofundamental nas trocas comerciais, seja no âmbito interno seja no âmbitointernacional.

De qualquer forma, os portos são também agentes econômicos,ao menos em dois sentidos: a) eles geram o fluxo de produtos e a presençadestes nos mercados podendo, com isso, alterar-lhes o valor. É o caso dasfunções alfandegária. b) sua existência, seu funcionamento e suas atividadesgeram riquezas. O ponto principal neste caso é a mercadoria. Além disso, o porto representa um ente físico, através daocupação do espaço e suas fronteiras onde suas atividades são realizadas eonde estão instalados os seus equipamentos. O ponto principal, neste caso,são as instalações.

Apesar dessas duas outras dimensões existentes, é preciso ter-se claro que o processo de reformas portuárias em curso, implantado com a"Lei dos Portos" é, essencialmente, o estabelecimento de novas bases parauma nova forma de organização e funcionamento dos portos como elo decadeia logística.

A questão da desestatização da produção é muito importante.Vejamos o porquê. Comparando os princípios de direito público e direitoprivado, temos a seguinte visão: a regra geral de direito público é fazersomente o que é permitido, a concepção de direito privado, é não fazer oproibido; a ênfase no direito público é o instrumental, ou seja, a burocracia,enquanto no nível privado, o que importa é o resultado e não a forma em si; apostura em relação aos empregados no âmbito público é a isonomia, e noâmbito privado a customeirização, ou seja, tratar diferentemente osdesiguais; o instrumento corretivo no direito público é a punição, no direitoprivado teremos a punição mais a premiação; a informação dos atospraticados no direito público é a publicidade, enquanto no direito privado, osegredo é a alma do negócio. Diante dessas diferenças, imaginar que com odireito público você pode ter eficiência na produção é uma “covardia”,principalmente quando se fala em atividade portuária, onde existe toda umaconfiabilidade entre o armador e aquele que o representa, a carga que estásendo manipulada, etc.

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Evidentemente que, se consideradas todas as variáveis, não serápossível estabelecerem-se duas condições exatamente iguais. O que sealmeja, outrossim, é minimizar as diferenças, partindo-se das variáveis maisrelevantes. Por exemplo: a definição do ISS é atribuição municipal e, só porcoincidência, suas alíquotas serão iguais entre dois portos.

Alguns questionamentos estão sendo levantados. São questõescujas resoluções são necessárias para que se possa implantar umambiente concorrencial, que trará eficiência (distributiva, alocativa eprodutiva). É a concorrência que trará essa eficiência, sem dúvida. Mas, emcontrapartida, esse objetivo da concorrência somente terá sentido se houverbases isonômicas. PORTO ORGANIZADO

A Lei dos Portos, logo em seu Art. 1º, tem dois enunciados queservem de ponto de partida para a compreensão do que sejam eles:

“PORTO ORGANIZADO: o construído e aparelhado para atender asnecessidades da navegação e da movimentação e armazenagem demercadorias, concedido ou explorado pela União, cujo tráfego e operaçõesportuárias estejam sob jurisdição de uma autoridade portuária;” “ÁREA DOPORTO ORGANIZADO: a compreendida pelas instalações portuárias, quaissejam ancouradouros, docas, cais, pontes e pieres de atracação eacostagem, terrenos, armazéns, edificações e vias de circulação interna, bemcomo pela infra-estrutura de proteção e acesso aquaviário ao porto tais comoguias-correntes, quebra-mares, eclusas, canais bacias de evolução e áreade fundeio que devam ser mantidas pela Administração do Porto, referida naSeção II do Capítulo VI desta Lei.”

Aliás, cabe aqui uma observação interessante. A lei brasileira é aúnica legislação no mundo onde os portos são denominados de portosorganizados! Mas, quem sabe tal denominação valha no sentido deempenhar esforços para tornar nossos portos em portos organizados, deuma forma sadia. Ou seja, com cautela e progressivamente ajustar osmétodos e as tecnologias de trabalho adequadas ao processo.

Cumpre, desde logo, observar o seguinte:

Porto Organizado é um conceito essencialmente funcional: umconjunto de atributos e instalações para que possa ser realizado o tráfego eas operações portuárias.

Do ponto de vista físico, é difícil imaginar um terminal que nãorequeira os mesmos tipos de instalações previstas para os portos

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organizados; mesmo porque, ele também demanda tráfego aquaviário eexiste para que operações portuárias sejam realizadas: por conseguinte,aquelas duas conceituações são insuficientes para distinguir um do outro.1

Apesar de não estar explícito, as definições referentes a "operaçãoportuária" e "operador portuário", objeto do mesmo artigo da Lei, e daquela de"arrendamento", do seu Art. 4º e outros, evidenciam que num PortoOrganizado podem existir inúmeros operadores portuários, arrendatários e,mesmo titulares de instalações de uso privativo, atuando concorrencialmente.É a concorrência Intra-Porto.

A cada Porto Organizado corresponde uma Autoridade Portuária.Como conseqüência, também uma administradora, que é a própriaAutoridade Portuária e um OGMO - Órgão Gestor de Mão-de-Obra. Nenhumadessas organizações existe, obrigatoriamente, para as instalações portuáriasde uso privativo.

Apesar de ser nebulosa a diferença física de estar dentro ou forados Portos Organizados, do ponto de vista institucional a diferença ésignificativa.

Some-se isso à autorização acriteriosa dada ao Poder Executivopara desmembrar as áreas dos Portos Organizados, disposição do Art. 50 daLei, ver-se-á que a definição da abrangência de um dado Porto Organizado,ou a caracterização de uma dada instalação portuária de uso privativo, sepertencente ou não a um Porto Organizado, pode ser uma decisão pouco"científica".

Devido às indefinições, vários conflitos estão hoje em curso. Omais antigo, porem, tendo já tramitado em elevadas instâncias, inclusive jáfora do "sistema portuário", é o de Praia Mole, no Espírito Santo.

Mas ressalte-se que, apesar das demandas já existentes, aindanão há jurisprudência a respeito das matérias portuárias sob a égide da Leinº 8.630/93 e da Portaria nº 94/95.

INSTALAÇÕES PORTUÁRIAS DE USO PRIVATIVO

Dos dispositivos pertinentes às Instalações Portuárias de UsoPrivativo no texto legal - Lei nº 8.630/93 - podemos extrair algumas de suascaracterísticas. Insuficientes, porem, para as distinguirem, tanto dos PortosOrganizados como de suas instalações arrendadas e, mesmo, deoperadores portuários:

a) As Instalações Portuárias de Uso Privativo podem estarsituadas dentro ou fora dos Portos Organizados (art. 1º, § 1º, V);

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b) podem ser implantadas em terreno onde o interessado tenhaseu domínio útil ou em patrimônio da União (Art. 4º, II);

c) podem ser de duas modalidades (Art. 4º, §2º, II): exclusivo, paramovimentação exclusiva de carga própria; e, misto, para movimentação decarga própria e de carga de terceiros.

d) Tampouco sua utilização permite uma diferenciação: "... utilizadana movimentação e ou armazenagem de mercadorias destinadas ouprovenientes de transporte aquaviário..." (Art. 1º, § 1º, V). Isso é exatamenteum dos conceitos empregados para conceituar a operação nos PortosOrganizados (Art. 1º, §1º, II), diferenciando-se daquela apenas porque prevêque, nestes casos, elas sejam realizadas por "operador portuário";

e) é difícil imaginar uma delas que não requeira a maior parte, oumesmo todas as instalações e infra-estruturas que pretendem caracterizar aárea de um Porto Organizado (Art. 1º, § 1º, IV). Ou seja: é difícil estabeleceruma diferenciação clara entre uma Instalação Portuária de Uso Privativo euma Instalação Arrendada em Porto Organizado, na medida em que a maiorparte das características acima são indistintamente aplicáveis a ambas.

As diferenciações que existem, apesar de insuficientes, acabampor explicitar e reforçar aspectos heteronômicos, na contramão de uma dasbases do NMPB, que é justamente a isonomia:

a) As Arrendadas só podem estar dentro de um Porto Organizado(as de Uso Privativo podem estar localizadas também fora deles). Assim asArrendadas estarão sob jurisdição de uma Autoridade Portuária, "que exercesuas funções de forma integrada e harmônica com as autoridadesaduaneira, marítima, sanitária, de saúde e de polícia marítima..." (Art. 3º),além de se encontrarem sob a jurisdição de um CAP e um OGMO.

b) As de Uso Privativo estão sujeitas à fiscalização de todas asdemais autoridades (aduaneira, marítima, sanitária, de saúde e de políciamarítima) (Art. 6º, § 3º). Distinguem-se, porém, no que tange à fiscalização deuma Autoridade Portuária, pois as defora do Porto Organizado, não estarão sujeitas, enquanto as que seencontram dentro, por dedução, estarão sujeitas àquela fiscalização, já quenão são excepcionalizadas da Seção II do Capítulo VI ("Da Administração doPorto Organizado").

c) Diferença na obrigação do recolhimento do AITP - Adicional deIndenização do Trabalhador Portuário Avulso (Arts. 61 a 68): para asArrendadas e as de Uso Privativo dentro do Porto Organizado: é devido (o fatogerador é a operação de carga e descarga - art. 62, que só é conceituada

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para o Porto Organizado - Art. 1º, § 1º, II); para as de Uso Privativo localizadasfora do Porto Organizado esse adicional não é devido.

d) A autorização para o funcionamento das de Uso Privativo (sejadentro ou fora dos Portos Organizados) são sempre feitas pela União, por atounilateral (art. 6º), como poder concedente; já os contratos de arrendamentosão firmados pela Autoridade Portuária como delegatária, ou pela União, nãocomo poder concedente, mas no caso de exploração direta, sempre atravésde licitação (Art. 4º, I).

e) Os contratos para movimentação de cargas de terceiros nas deUso Privativo são explicitamente regidos pelas normas de direito privado,sem participação ou responsabilidade do poder público (Art. 6º, §2º);enquanto que, para aquela realizada nas arrendadas, mesmo não havendomenção explícita, pode haver normas definidas pelo CAP e pela AP.

f) Às de Uso Privativo é facultada a contratação de trabalhadores aprazo indeterminado, dentro dos instrumentos normativos de trabalho dasrespectivas categorias econômicas preponderantes (petroleiros,metalúrgicos, papel & celulose, etc.); enquanto as arrendadas, por integraremPortos Organizados, têm várias regras de trabalho especificadas pelosCapítulos IV, V e alguns outros dispositivos dispersos da Lei.2

g) As cláusulas dos contratos de adesão, que formalizam asautorizações, feitas pela União, para a exploração das Instalações Portuáriasde Uso Privativo (Art. 6º, § 1º) são praticamente as mesmas dos contratos dearrendamento, firmados pela União ou sua concessionária (AutoridadePortuária), para as instalações arrendadas dentro do Porto Organizado (Art 4º,§ 4º).

Diferem, apenas, pela exclusão de: remuneração pelo uso da infra-estrutura, direitos e deveres dos usuários e hipóteses de extinção docontrato. Isso é compreensível pela inaplicabilidade, ou pelo pressuposto dainexistência de infra-estrutura comum disponibilizada por outrem (o que, naprática, não vem sendo verificado). Em síntese, as Instalações Portuárias de Uso Privativo têm, emrelação às Instalações Arrendadas menos regulamentação; menosfiscalização ou, ao menos, mais distante; menos ônus. Há duas correntes para o entendimento do que vem a ser"...cargas de terceiros..." , possível de ser movimentada pelos TerminaisPrivativos:

1. Cargas de outrem, desde que da mesma natureza daquelaproduzida pelo titular do Terminal Privativo (aparentemente o espírito daabertura dada pela Lei);

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2. Qualquer carga, de qualquer natureza. Na prática, o segundo entendimento tem prevalecido, o quesignifica que os Terminais Privativos podem ser vistos como umArrendamento sem todos aqueles condicionantes ou restrições. Some-se à nebulosidade da conceituação a competência legal doPoder Executivo (Governo Federal) de desmembrar as concessões portuárias(Art. 50 - DT), como de fato já o fez, para se concluir que, no campo daspossibilidades jurídico-administrativas, uma dada área ou instalação pode vira ser caracterizada como Instalação Arrendada ou Instalação Portuária deUso Privativo e, bem assim, dentro ou fora da área do Porto Organizado. Ouseja, por um simples ato administrativo ela pode ser ou não beneficiadapelas vantagens que foram acima mencionadas. Na medida em que todos esses instrumentos delegatórios são delongo prazo, torna-se imperioso que este aspecto da regulação sejaprontamente aclarado e posto em prática, a fim de evitar privilégios ou, nomínimo, demandas judiciais.

MÃO-DE-OBRA A questão da mão-de-obra tem sido a grande motivação alegadapara as reformas portuárias. É por isso que o PL-8, base para a Lei dosPortos, era essencialmente voltado a fazer alterações profundas naorganização do trabalho portuário. Duas são as modificações essenciais:

1. Implantação da MULTIFUNCIONALIDADE no trabalho portuário;

2. A centralização da gestão do trabalho portuário no OGMO. Ainda hoje, apesar de quase todos os institutos definidos pela Leidos Portos estarem formalmente implantados em praticamente todos osPortos Organizados do País, muitas indefinições ainda existem. Mas, restaevidente, a necessidade de resoluções que não afetem o andamento dosistema portuário. Recentemente, assistimos às manifestações detrabalhadores portuários contra a aprovação da Medida Provisória nº 1728-19/98, que determina que as escalações dos trabalhadores avulsos passama ser realizadas exclusivamente pelos Órgãos Gestores de Mão-de-Obra(Ogmos).

ALFÂNDEGA

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Esta é outra questão que merece estudos apartados, por issoapenas nos limitaremos a poucos enunciados. A Lei dos Portos dispõe que"Exercem suas funções no Porto Organizado, de forma integrada eharmônica, a Administração do Porto, denominada autoridade portuária, e asautoridades aduaneira, marítima, sanitária de saúde e de polícia marítima"(Art. 3º). Mas, de acordo com o Regulamento Aduaneiro - RA (Decreto N.º91.030/85) a Autoridade Aduaneira tem precedência sobre as demaisautoridades, em tudo aquilo que interessar à fiscalização (Art. 10). Faz-senecessária uma reforma paralela da organização e atuação também dessasautoridades aduaneiras, a fim de não interferir no processo logístico.

MEIO AMBIENTE

A Lei 8.630/93 assegura "... ao interessado o direito de construir,reformar, arrendar e explorar instalação portuária, dependendo:.... e deaprovação do Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente - RIMA..." (Art. 4º, §1º). A preocupação do legislador é justificável, na medida em que osportos, invariavelmente, estão localizados em áreas marítimas, baías,estuários, lagos ou foz de rios; e para suas implantações e desenvolvimentosrequerem intervenções nesse ambiente pré-existente: dragagem paraaumento das lâminas d'água, derrocagens, aterro de áreas tipo manguezais;afora as obras necessárias à logística terrestre. Mais recentemente, dado que muitas áreas urbanas sedesenvolveram contiguamente aos portos, qualquer projeto para suasampliações exige, também, análise de impactos urbanísticos e respectivasmedidas mitigadoras, envolvendo, aqui, os próprios princípios do direitourbanístico. A Lei dos Portos também define algumas competências:

1. ao CAP - Conselho de Autoridade Portuária: "... assegurar ocumprimento das normas de proteção do ambiente..." (Art. 30, 1º, XII);

2. À Administração do Porto: "...fiscalizar as operações portuárias,zelando para que os serviços se realizem ... e respeito ao meio ambiente ..."(Art. 33, § 1º, VII). A matéria em termos de procedimentos e de processo decisórioainda não está clara e deve ser regulamentada para o seu exercício.

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A Constituição Federal de 1988 trata do meio ambiente em quatroartigos: art. 23, VI; 24, VIII; 170, VI e 225, §§ 1º, I, III, IV, VII e 4º. A todos os níveis do Poder Público compete proteger o meioambiente e combater a poluição, em qualquer de suas formas; mas que écompetência apenas da União, Estados e Distrito Federal legislar sobre otema. Excluem-se dessa função, por conseguinte, os Municípios. Meio ambiente é matéria recente, tanto em termos de consciênciasocial como mesmo de técnica; mas o é, principalmente em seus aspectosjurídicos. Assim, na esteira da Constituição de 1988 temos como normas deapoio as seguintes leis e decretos:

- Lei Nº 7.804, de 18 de julho de 1989, que "Altera a Lei nº 6.938,de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do MeioAmbiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, a Lei n º7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei nº 6.803, de 02 de junho de 1980, edá outras providências";

- Decreto nº 98.892, de 26 de janeiro de 1990 que "Dispõe sobre aorganização e o funcionamento Conselho Superior do Meio Ambiente(CSMA)";

- Decreto Nº 99.274, de 06 de junho de 1990, que "Regulamenta aLei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de1981, que dispõem, respectivamente, sobre a criação de EstaçõesEcológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional doMeio Ambiente, e dá outras providências"; e

- Decreto Nº 99.355, de 27 de junho de 1990, que "Dá novaredação aos artigos 5º, 6º, 10, e 11 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de1990, que regulamenta as Leis nºs, 6.902, de 27 de abril de 1981 e 6.938, de31 de agosto de 1981 e dá outras providências..." Quanto ao aspecto normativo: é de competência do CONAMA -Conselho Nacional do Meio Ambiente - baixar as normas necessárias àexecução e implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, cabendoaos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização dasmedidas emanadas do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),elaborando normas e padrões supletivos e complementares. Quanto ao licenciamento de obras e outras intervenções: o órgãoestadual competente, integrante do SISNAMA expedirá licença prévia para aconstrução, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento eexercício de atividades consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras,sem prejuízo de outras licenças. O pedido de licenciamento será instruído por

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um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) que deverá conter diagnósticoambiental da área; descrição da ação proposta e sua alternativas; eidentificação, análise e previsão de impactos significativos, positivos enegativos. Quanto à fiscalização: ela e o controle da aplicação de critérios,normas e padrões de qualidade ambiental serão exercidas pelo IBAMA, emcaráter supletivo à atuação dos órgãos seccionais estaduais e dos órgãoslocais. No caso específico dos portos, fruto de lei posterior, sãoacometidas responsabilidades específicas aos CAPs e às AutoridadesPortuárias, conforme anteriormente exposto. Uma primeira possívelinterpretação é que, com isso, ambos estariam passando, implicitamente, aintegrar o SISNAMA, com suas respectivas funções. Porem, da mesma formaque ainda não estão perfeitamente claras e concordes as competências dosórgãos federais, estaduais e municipais, nem seus processos decisórios, aincorporação desses novos componentes ao Sistema aumenta aquelaszonas cinzentas. Na prática, algumas dúvidas e conflitos terão que sersolucionados a exemplo da atuação do CAP e da AP, nas áreas dos PortosOrganizados, que poderá ser ou não exercida com exclusividade ouparalelamente à dos demais órgãos. Em caso de divergência de critérios,qual deverá prevalecer e qual o mecanismo de solução de conflitos? Oslicenciamentos devem ser submetidos ao Plano de Zoneamento do porto? Épreciso aclarar essas e outras muitas lacunas ainda existentes. O que está claro na lei é a necessidade de se efetuar o pedido decontemplação das áreas portuárias. Sem a efetivação do pedido direcionadoao CAP não haverá, e nem poderia haver ex officio, a manifestação quanto àsáreas em questão. Essa é a tratativa da Lei nº 8.630/93. Afora os aspectos institucionais, a recomendar a estabilização dasregras ambientais, há ainda os econômicos: a dimensão das medidasrecomendadas pode ser o diferencial entre a viabilidade ou não daimplantação de um projeto portuário.

ATRIBUIÇÕES REGULATÓRIAS É compreensível a existência de lacunas quanto às atribuiçõesregulatórias, dado que a Lei dos Portos foi promulgada antes do início doprocesso de desestatização nas estradas e ferrovias; porém há algumasdefinições estratégicas que precisam ser tomadas antes da implementaçãoda estrutura regulatória a viger no setor portuário.

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Seria coerente com a diretriz descentralizadora que vige no setorportuário a ratificação do conceito de regulação em dois níveis: federal e local,envolvendo cada Porto Organizado, corroborando com o objetivo maior deimplantação de um ambiente concorrencial entre os portos (inter-portuário) edentro de cada um deles (intra-portuário): cada nível regulatório estariafocado na respectiva concorrência. A conceituação da regulação, definição de sua missão econsagração de seu instrumental ainda carece de consolidação para que osetor seja estabilizado. Por exemplo: as exatas competências e,principalmente limites, da AP e do CAP no processo decisório da regulação;a forma de solução de divergências entre ambos, uma vez esgotada a vianegocial; entre o binômio CAP/AP e as demais autoridades; entre asinstituições regulatórias e autoridades locais e aquelas de nível federal. Nessas definições, alem das questões organizacionais gerais,propriamente ditas, também devem ser enumeradas a Defesa daConcorrência; Natureza da Atividade; Porto Organizado; InstalaçõesPortuárias de Uso Privativo; PDZ - Plano de Desenvolvimento e Zoneamento;Arrendamento; Tarifas; Mão-de-Obra, servindo como um marco inicialdefinidor de competências das diversas instituições e do respectivo processodecisório. Isso, sempre na perspectiva de consolidação de um modelo paraque possa vigorar no setor portuário brasileiro um ambiente concorrencialsaudável.

Notas:

1. Indica a lógica, o método científico e a boa técnica legislativa que umaconceituação deva: enunciar o que é próprio, o que é específico do objetoconceituado; ou, o que lhe distingue dos aparentemente similares; e, depreferência, se possível, enunciar-se ambos. Não é o caso dessasdefinições! 2. Esses dispositivos explicitam o pressuposto de que as de uso privativoforam concebidas para serem dedicadas, especializadas e parte de umacadeia produtiva (petroquímica, siderurgia, celulose, etc.), e não para atuaçãono "mercado portuário".

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Anexo II: Parte da NORMAN 11, referente a dragagens e aterros.

CAPÍTULO 2 - DRAGAGENS E ATERROS

0201 -DRAGAGEMAs dragagens poderão ser realizadas com diversos objetivos tais

como: para estabelecimento inicial de uma determinada profundidade, paramanutenção de profundidade de certo local e para execução de aterro.

Os processos relativo à realização de dragagens para execução deaterro obedecerão, no que couber, ao contido no item 0203 e no item 0206,devendo ser encaminhados em um único processo.

0202 -ÁREAS DE DESPEJO PREESTABELECIDASAs Capitanias poderão estabelecer, previamente, através das Normas

de Procedimentos, áreas para despejo de material dragado de suajurisdição, em consenso com os Órgãos locais de controle do meio ambientee ouvida a DHN, com informação para o Comando do Distrito Naval. Oestabelecimento prévio da área de despejo visa tornar mais ágil a tramitaçãodos processos de dragagem, especialmente aqueles que tratam demanutenção dos canais de acesso ao porto e dos berços de atracação, deinteresse para a segurança da navegação. Caso os órgãos de controle demeio ambiente local não se pronunciem a respeito da área escolhida dentrodo prazo de 30 dias, as Capitanias poderão estabelecer a área de despejoem caráter precário, comunicando o fato aos citados órgãos.

0203 -DOCUMENTAÇÃO A SER ENTREGUE PELO INTERESSADOO interessado na obtenção do parecer sobre dragagem deverá

apresentar à OM com jurisdição sobre o local pretendido, os seguintesdocumentos:

a) requerimento dirigido a CP;b) memorial descritivo contendo as coordenadas geogr·ficas das

áreas de dragagem e de despejo pretendidas, volume da dragagem,natureza do fundo e do material dragado, tipo de balizamento e equipamentoa ser utilizado durante os serviços;

c) planta de situação e localização, podendo ser utilizada a cartanáutica de maior escala da área;

d) cópia de protocolo requerendo o parecer do órgão local decontrole do meio ambiente;

e) caso o volume de dragagem exceda a um milhão de metroscúbicos, apresentar um estudo de dispersão dos sedimentos jogados nomar, em função do detalhamento hidrodinâmico da região, como ventos ecorrentes reinantes, dentre outros, elaborado por uma entidade reconhecida;e

f) documento comprobatório de posse da área ou autorização deseu proprietário, se for o caso, quando o local escolhido para lançamento dosdespejos se situar em terra.

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Esta dispensado o documento citado em e quando os despejos foremlançados em terra, ou quando já existir área de despejo previamenteestabelecida pela Capitania, conforme item 0202.

0204 -COMPETÊNCIA PARA EMISSÃO DO PARECER FINALO parecer final sobre dragagens será emitido pelas Capitanias.

0205 -EXIGÊNCIASOs despachos pelas Capitanias nos requerimentos deverão

estabelecer as seguintes exigências:a) que os despejos sejam efetuados, preferencialmente, nos

períodos do início da maré vazante;b) que seja comunicado à CP, para informação à DHN, o início da

dragagem, as coordenadas da área a ser dragada e da área de despejospara divulgação em Avisos aos Navegantes, comunicação semelhantedeverá ser efetuada por ocasião do término da dragagem;

c) que a área dragada seja delimitada por bóias luminosas do tipoespecial, pintadas na cor amarela, exibindo, no período noturno, luz amarelacom um dos seguintes ritmos: grupo de ocultação, lampejo simples, grupode lampejos com 4 ou 5 lampejos, grupo de lampejo composto ou códigomorse com exceção das letras A e U, de acordo com o Regulamento paraSinalização Náutica. A DHN deverá ser informada sobre ritmo, período e fasedetalhada escolhidos (exigências a serem feitas no caso de dragagem emáreas situadas em local de tráfego de navios ou tráfego intenso de outrasembarcações); e

d) seja encaminhada à DHN, após a realização dos trabalhos, umacópia da folha de sondagem da área dragada e da área de despejo, paraatualização da carta náutica da região.

As Delegacias e Agências encaminharão o processos de dragagempara a Capitania.

0206 -COMUNICAÇÃO DE DRAGAGENS REALIZADASAo fim de cada ano, as OM deverão comunicar à DPC, as dragagens

ocorridas nas suas áreas de jurisdição, constando, dentre outros dados: áreada dragagem e de despejo com as respectivas coordenadas, volume enatureza do material dragado.

0207 -ATERROS SOBRE ÁGUASO aterro em águas da União é coisa excepcional, que ela própria

executa ou autoriza que outro o faça em circunstância especial, quando entãofixa as regras julgadas cabíveis, conforme legislação vigente.

A autorização para realização de aterros deverá ser considerada comomedida extraordinária concedida aos Estados, aos Municípios e a entidadeseducacionais, culturais ou de finalidades sociais e, em se tratando deaproveitamento econômico de interesse nacional, à pessoa física ou jurídica.

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O interessado na realização de aterros em águas deverá se dirigir aoÓrgão do Departamento do Patrimônio da União (DPU), do Ministério daFazenda na Unidade da Federação, apresentando a documentação que lhefor exigida por aquele órgão para obtenção da respectiva autorização. Oprocesso terá sua tramitação normal na Secretaria do Patrimônio da União,após o cumprimento das formalidades legais, entre as quais se incluiconsulta ao MM, que se fará por meio da Capitania da jurisdição .

O encaminhamento do processo, dentro do Ministério da Marinha,obedecerá ao previsto no item 0106, do CapÌtulo 1.

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Anexo III: Resumo da Convenção de Londres de 1972 (última atualização em1996).

CONVENTION ON THE PREVENTION OF MARINE POLLUTION BY DUMPINGOF WASTES AND OTHER MATTER

CONVENÇÃO SOBRE PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO MARINHA PORALIJAMENTO DE RESÍDUOS E OUTRAS MATÉRIAS

LOCAL E DATA DA CONCLUSÃO DA NEGOCIAÇÃO: Cidade do México,Londres, Moscou e Washington, 29/12/72

NATUREZA: Multilateral

ABRANGÊNCIA: Global

ANO DE ENTRADA EM VIGOR DO ATO: 1975

ANO DE ENTRADA EM VIGOR NO BRASIL: 1982

ANO DA ASSINATURA OU ADESÃO DO BRASIL: 1982

RATIFICAÇÃO PELO BRASIL: DLG Nº 10, de 31/03/82, publicado em 02/04/82

PROMULGAÇÃO PELO BRASIL: DEC Nº 87.566, de 16/09/82, publicado em17/09/82

OBJETIVO:

Controlar efetivamente as fontes de contaminação do meio marinho e adotartodas as medidas possíveis para impedir a contaminação do mar peloalijamento de resíduos e outras substâncias que possam gerar perigo para asaúde humana, prejudicar os recursos biológicos e a vida marinha, bemcomo danificar as condições ou interferir em outros usos legítimos do mar;encorajar acordos regionais suplementares à Convenção. Esta convenção écomposta por 22 artigos e 3 anexos.

DISPOSITIVOS DO ATO:

Cada Parte deve:

• Regulamentar o alijamento de maneira a:

a) proibir o alijamento de resíduos ou outras substâncias do Anexo I;

b) exigir permissão especial prévia para alijamento de resíduos ou outrassubstâncias do Anexo II;

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c) exigir permissão geral prévia para alijamento de todos os demaisresíduos ou substâncias.

• Expedir permissões nos casos previstos, de substâncias:

a) que sejam transportadas em seu território;

b) que sejam transportadas em embarcação ou aeronave registrada oucom bandeira de seu território, quando o transporte tenha lugar em território de Estado não Parte.

• Somente aceitar exceções:

a) para salvaguardar a segurança de vidas humanas ou de embarcações,aeronaves, plataformas e outras construções no mar;

b) em casos de força maior por inclemências do tempo;

c) se configurar o único meio de evitar a ameaça ou na probabilidade deque danos do alijamento sejam menores que a ameaça.

• Designar autoridade para:

a) expedir permissões especiais;

b) expedir permissões gerais;

c) manter registros da natureza e quantidade permitidas a alijar;

d) vigiar e controlar as condições dos mares.

• Adotar leis e regulamento para aplicar a Convenção;

• Tomar medidas para prevenir e punir contravenções;

• Cooperar na elaboração de procedimentos sobre aplicação da Convençãoe na informação de transgressões;

• Colaborar, dentro da IMO, para:

a) treinamento de pessoal técnico e científico;

b) fornecimento de equipamento, instalações e serviços para pesquisa,vigilância e controle;

c) despejo e tratamento de resíduos e outras medidas para minimizar acontaminação por alijamento;

d) elaborar procedimentos para determinação de responsabilidades esolução de controvérsias.

Conteúdo do Anexo I da Convenção:

1. Compostos orgânicos halogenados.

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2. Mercúrio e compostos de mercúrio.

3. Cádmio e compostos de cádmio.

4. Plásticos persistentes e demais materiais sintéticos persistentes, porexemplo, redes e cabos que possam flutuar ou ficar em suspensão no marde modo que venham a dificultar materialmente a pesca, a navegação ououtras utilizações legítimas do mar.

5. Petóleo cru, óleo combustível, óleo diesel pesado, fluidos hidráulicos,lubrificantes e misturas que contenham tais óleos, embarcados para finsde alijamento.

6. Resíduos e outras substâncias de alto nível radioativo que tenham sidodefinidos pelo órgão internacional competente, atualmente a AgênciaInternacional de Energia Atômica, como impróprios para serem lançadosao mar, por motivos de saúde pública, biológica ou otros.

7. Substâncias de qualquer forma (por exemplo: sólidos, líquidos,semilíquidos, gasosos ou viventes) produzidos para a guerra química oubiológica.

8. Os parágrafos precedentes do presente Anexo não serão aplicados àssubstâncias que se transformem rapidamente no mar em substânciasinócuas mediante processos físicos, químicos ou biológicos com acondição que:

• não dêem mau sabor à carne dos organismos marinhoscomestíveis;

• não ponham em perigo a saúde do homem ou dos animaisdomésticos.

9. O presente Anexo não se aplicará a resíduos ou outras substâncias, porexemplo, a lama de águas residuais e entulhos de dragagens quecontenham as substâncias a que se fez referência nos ítens 1 a 5anteriores, como vestígios de contaminantes. Tais resíduos estarãosujeitos às disposições do Anexo II ou III desta convenção.

Conteúdo do Anexo II

As seguintes substâncias e materiais que requerem especial atenção,são enumeradas:

A) Resíduos que contenham quantidades consideráveis das seguintessubstâncias:

• Arsênico e seus compostos;

• Chumbo e seus compostos;

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• Cobre e seus compostos;

• Zinco e seus compostos;

• Compostos orgânicos de silício;

• Cianuretos;

• Fluoretos;

• Pesticidas e seus subprodutos não-incluídos no Anexo I.

B) Ao conceder permissões para o alijamento de grandes quantidades deácidos e álcalis, ter-se-á em conta a possível presença nesses resíduos dassubstâncias enumeradas no parágrafo “A” e das seguintes substânciasadicionais:

• Berílio e seus compostos;

• Cromo e seus compostos;

• Níquel e seus compostos;

• Vanádio e seus compostos.

C) Os “containers”, sucatas e outros resíduos volumosos que possamsubmergir até o fundo do mar, podendo dificultar a pesca ou a navegação.

D) Os resíduos radioativos ou outras substâncias radioativas não-incluídasno Anexo I. Na emissão da permissão para alijamento destas substâncias,as Partes Contratantes devem ter em conta plenamente as recomendaçõesdo órgão internacional competente, atualmente a Agência Internacional deEnergia Atômica.

Conteúdo do Anexo III

Entre os fatores que deverão ser examinados ao estabelecer critérios queregulem a concessão de permissões para o alijamento de substâncias nomar deverão figurar os seguintes:

A) Características e composição da substância:

1. Quantidade total e composição média da substância alijada (por exemplo:por ano).

2. Forma, por exemplo: sólida, lodosa, líquida ou gasosa.

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3. Propriedades: físicas (por exemplo: solubilidade e densidade), químicas ebioquímicas (por exemplo: demanda de oxigênio, nutrientes) e biológicas(por exemplo: presença de virus, bactérias, fermentos, parasitos).

4. Toxidade.

5. Persistência: física, química ou biológica.

6. Acumulação e biotransformação em materiais biológicos ou sedimentos.

7. Suscetibilidade às permutas físicas, químicas e bioquímicas e interaçãono meio aquático com outros materiais orgânicos ou inorgânicosdissolvidos.

8. Probabilidade de que se produzam alterações ou outras permutas quereduzam a possibilidade de comercialização dos recursos (pescados,moluscos, etc.)

B) Características do local de lançamento e método de depósito:

1. Localização (por exemplo: coordenadas da zona de lançamento,profundidade e distância da costa), localização em relação a outras zonas(por exemplo: áreas de lazer, de desova, de viveiros e pesca e de outrosrecursos exploráveis).

2. Taxa de eliminação por períodos específicos (por exemplo: quantidade pordia, por semana, por mês).

3. Métodos de embalagem e contenção, se os houver.

4. Diluição inicial conseguida pelo médodo de descarga proposto.

5. Características da dispersão (por exemplo: efeitos das correntes, marés eventos sobre o deslocamento horizontal e a mistura vertical).

6. Características da água (por exemplo: temperatura, pH, salinidade,estratificação, índice de oxigênio da contaminação - oxigênio dissolvido(OD), demanda química de oxigênio (DQO) e demanda bioquímica deoxigênio (DBO) - nitrogênio em forma orgânica e mineral, incluindoamoníaco, substâncias em suspensão, outros nutrientes e produtividade).

7. Características do fundo (por exemplo: topografia, característicasgeoquímicas, geológicas e produtividade biológica).

8. Exitência e efeitos de outros alijamentos que tenham sito efetuados nazona de alijamento (por exemplo: informações sobre conteúdo de metaispesados e conteúdo de carbono orgânico).

9. Ao emitir uma permissão para efetuar uma operação de alijamento, asPartes Contratantes deverão levar em consideração se existe uma basecientífica adequada, para determinar, como se expõe no presente Anexo,as consequências de tal alijamento na dita zona, levando-se em conta asvariações sazonais.

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C) Considerações e condições gerais:

1. Possíveis efeitos sobre o lazer (por exemplo: a presença de materialflutuante ou encalhado, turvação, maus odores, descoloração e espumas).

2. Possíveis efeitos sobre a vida marinha, piscicultura, cultura de moluscos,cardumes e zonas de pesca, colheita e cultivo de algas marinhas.

3. Possíveis efeitos sobre outras utilizações do mar (por exemplo:depreciação da água para fins industriais, corrosão submarina dasestruturas, interferência de materiais flutuantes com as operações denavios, interferência de depósitos de resíduos e objetos sólidos no fundodo mar com a pesca e a navegação, e proteção das zonas de importânciaespecial para fins científicos ou de conservação).

4. Disponibilidade prática de métodos alternativos de tratamento, despejo oueliminação situados em terra, ou de tratamento para converter a matériaem substâncias menos nocivas, para seu alijamento no mar.