uma anÁlise multicaso das barreiras para … · fim de vida, recentemente colocadas pela política...

13
UMA ANÁLISE MULTICASO DAS BARREIRAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA DE PRODUTOS Marina Bouzon (UFSC ) [email protected] Carlos Manuel Taboada Rodriguez (UFSC ) [email protected] Kannan Govindan (SDU ) [email protected] Nos últimos anos, o interesse em temas como cadeia de suprimento de ciclo fechado e logística reversa têm atraído atenção de profissionais da indústria e do meio acadêmico. A logística reversa (LR) ganhou atenção tanto em países desenvolvidos como em economias emergentes, como o Brasil. Entretanto, o país enfrenta desafios como a infraestrutura logística deficiente e pressões para o destino final adequado para os produtos em fim de vida, recentemente colocadas pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Neste contexto, este artigo tem por objetivo identificar as principais barreiras, ou barreiras chaves, para a LR no Brasil. Um quadro de investigação é proposto incluindo uma revisão de literatura sistemática e estudo de caso múltiplo em três empresas no sul do país: uma manufatura que oferece soluções em refrigeração, uma empresa provedora de serviços logísticos e gestão ambiental e uma indústria de eletrodomésticos. Este artigo contribui como uma lista abrangente de barreiras da LR e com a identificação de barreiras chaves apontadas por estas organizações. As três empresas estudadas consideraram como maior desafio em implementar a LR no Brasil o fato que a LR é um investimento incerto, uma vez que há dificuldade em prever seus benefícios econômicos. Palavras-chaves: Logística reversa, barreiras, estudo de caso XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

Upload: dinhcong

Post on 18-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UMA ANÁLISE MULTICASO DAS

BARREIRAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA

LOGÍSTICA REVERSA DE PRODUTOS

Marina Bouzon (UFSC )

[email protected]

Carlos Manuel Taboada Rodriguez (UFSC )

[email protected]

Kannan Govindan (SDU )

[email protected]

Nos últimos anos, o interesse em temas como cadeia de suprimento de

ciclo fechado e logística reversa têm atraído atenção de profissionais da

indústria e do meio acadêmico. A logística reversa (LR) ganhou atenção

tanto em países desenvolvidos como em economias emergentes, como o

Brasil. Entretanto, o país enfrenta desafios como a infraestrutura logística

deficiente e pressões para o destino final adequado para os produtos em

fim de vida, recentemente colocadas pela Política Nacional dos Resíduos

Sólidos (PNRS). Neste contexto, este artigo tem por objetivo identificar as

principais barreiras, ou barreiras chaves, para a LR no Brasil. Um quadro

de investigação é proposto incluindo uma revisão de literatura sistemática

e estudo de caso múltiplo em três empresas no sul do país: uma

manufatura que oferece soluções em refrigeração, uma empresa

provedora de serviços logísticos e gestão ambiental e uma indústria de

eletrodomésticos. Este artigo contribui como uma lista abrangente de

barreiras da LR e com a identificação de barreiras chaves apontadas por

estas organizações. As três empresas estudadas consideraram como maior

desafio em implementar a LR no Brasil o fato que a LR é um investimento

incerto, uma vez que há dificuldade em prever seus benefícios econômicos.

Palavras-chaves: Logística reversa, barreiras, estudo de caso

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

2

1. Introdução

O impacto ambiental de produtos tornou-se uma preocupação corrente nas últimas décadas (GURTOO; ANTONY,

2007). Como os governos estão criando leis ambientais e consumidores estão crescentemente reconhecendo o valor

de produtos verdes, as empresas precisam reduzir o impacto ambiental de seus produtos através de sua cadeia de

suprimento. Neste contexto, a gestão da cadeia de suprimentos verde (Green Supply Chain Management – GSCM) é

considerada como um dos esforços mais relevantes com o objetivo de integrar necessidades ambientais em sistemas

de cadeias de suprimentos (GOVINDAN ET AL., 2014). De acordo com Zhu, Sarkis e Lai (2008) e Diabat e Govindan

(2011), o conceito de GSCM vai desde compras “verde” - a fim de integrar gestão de ciclo de vida desde

fornecedores, manufatura, cliente – até o fechamento do ciclo com a logística reversa (LR). Logística reversa é o

processo de movimentação de bens de seu ponto de destino final com o objetivo de recapturar valor ou disposição

final adequada. LR envolve questões como reciclagem, remanufatura, retornos, reuso e necessidades de descarte para

estar disponível para requisições de serviço adequadas (GOVINDAN ET AL., 2012).

Em GSCM, LR é considerada a iniciativa com maior dificuldade de implementação quando comparada a compras

“verde” e design for environment (HSU ET AL., 2013). Além disso, apesar da importância aparente que a LR tem

recebido, pouca pesquisa foi realizada nessa área (VAN DER WIEL; BOSSINK; MASUREL, 2012). A maior parte das

pesquisas anteriores sobre as barreiras para a implementação da LR está concentrada em países desenvolvidos

(ABDULRAHMAN; GUNASEKARAN; SUBRAMANIAN, 2014). A LR tem ganhado importância no Brasil pelos seguintes

fatores: implementação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), questões econômicas, questões sociais e

marketing verde. Por outro lado, as empresas brasileiras tem que lidar com problemas como a infraestrutura logística

deficiente do país (DA ROCHA; DIB, 2002; ARKADER; FERREIRA, 2004). Considerando esta conjuntura, este artigo

tem o objetivo de identificar as barreiras chaves que impedem o desenvolvimento da LR no Brasil. Um quadro de

investigação é proposto incluindo uma revisão de literatura sistemática e a abordagem de estudo de caso múltiplos

em três empresas no sul do país.

2. Revisão de literatura

2.1. Barreiras da logística reversa

Embora a LR tenha recebido muita atenção nos últimos anos, ainda é um conceito relativamente novo (VAN DER

WIEL; BOSSINK; MASUREL, 2012). LR compreende todas as atividades envolvidas no processamento, gestão,

redução, e disposição de resíduos perigosos e não-perigosos desde a produção, embalagem e uso dos produtos

(ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999; ROGERS; TIBBEN‐LEMBKE, 2001; GOVINDAN; SARKIS; PALANIAPPAN, 2013).

Apesar de as empresas estarem progressivamente sofrendo pressão para engajar nestas atividades por motivos

ambientais, sociais e econômicos, ao mesmo tempo, há muitas barreiras para o desenvolvimento da LR que limitam a

sua implementação (KAPETANOPOULOU; TAGARAS, 2011). Em geral, a LR é considerada pelas empresas como uma

parte da cadeia de suprimentos subvalorizada por conta de vários motivos (ABDULRAHMAN; GUNASEKARAN;

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

3

SUBRAMANIAN, 2014). A lucratividade da LR é multifacetada pois depende de diversos aspectos, tais como:

inovações tecnológicas que podem contribuir para reduzir o preço dos processos de recuperação, preço de mercado

dos materiais e as quantidades de materiais recuperados (VAN DER WIEL; BOSSINK; MASUREL, 2012).

Com base em um processo de revisão de literatura cauteloso (para mais detalhes, consultar capítulo 3), tem-se por

objetivo o desenvolvimento de uma estrutura conceitual, uma vez que “o ponto de início para a pesquisa de estudo de

caso é uma estrutura conceitual e suas questões” (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). A Tabela 1 apresenta uma

compilação das barreiras encontradas na literatura. As barreiras foram categorizadas com base no seu significado e

similaridades. As principais categorias são: Mercado e Competidores (M&C), Gestão (G), Tecnologia e

Infraestrutura (T&I), Governança e Processos de Cadeia de Suprimentos (G&CS), Questões Econômicas (E),

Conhecimento (C) e Leis (L).

Tabela 1 - Estrutura conceitual: Barreiras da LR.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

5

3. Métodos

O objetivo deste estudo é identificar as barreiras mais relevantes que impedem o desenvolvimento da LR no

Brasil. Para atingir este objetivo, um quadro de investigação está exposto na Figura 1, incluindo abordagem de

estudo de caso com o objetivo de mapeamento (identificar e descrever as variáveis críticas) (STUART ET AL.,

2002). Primeiramente (Passo 1, Figura 1), publicações de periódicos internacionais foram analisadas para

identificar as barreiras da LR e construir a estrutura conceitual da pesquisa, apresentada na Tabela 1. Miles e

Huberman (1994) recomendam a construção de uma estrutura conceitual que fundamenta a pesquisa (Passo 2.a),

a fim de ter uma visão prévia dos constructos gerais ou categorias a serem estudadas (VOSS; TSIKRIKTSIS;

FROHLICH, 2002). Esta pesquisa ajudou a melhor delinear a lacuna de pesquisa (Passo 2.b). Combinando a

lacuna de pesquisa e a estrutura conceitual, foi elaborada a questão de pesquisa (Passo 3). A fim de investigar a

questão de pesquisa, uma abordagem de pesquisa multi-caso foi escolhida incluindo três empresas brasileiras de

diferentes setores com sistemas de LR já implementados. O método de estudo de caso tem sido reconhecido

como sendo particularmente apropriado para examinar questões “por quê”, “o quê”, e “como”, a serem

respondidas com um entendimento relativamente completo da natureza e complexidade de um fenômeno (VOSS;

TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). Para isso, diretrizes da literatura foram consideradas (STUART; MCCUTCHEON ET

AL., 2002; VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002; SEURING, 2008; WEIMER; SEURING, 2009; YIN, 2009). Um

protocolo de estudo de caso foi criado para garantir a confiabilidade da pesquisa, assim como garantir

importantes informações para atividades de pesquisas seguintes (Passo 4), conforme recomenda Yin (2009). A

unidade de análise foi selecionada com base no critério de melhorar a confiabilidade e qualidade dos dados, tais

quais: (i) as empresas deveriam ser brasileiras e localizadas em território nacional; (ii) as empresas devem ter um

programa de LR já implementado; e (iii) as empresas devem concordar em participar do estudo e prover acesso

aos dados. As principais fontes de evidência (Passo 5) usadas na pesquisa foram entrevistas semiestruturadas,

que foram suportadas por conversas informais, observações pessoais, análise de documentos e websites com o

objetivo de triangulação. Desta forma, os três casos foram analisados (Passo 6) com base na estrutura conceitual

da pesquisa (Tabela 1). Por fim, uma análise cruzada dos casos foi conduzida e os resultados foram derivados

(Passo 7).

Figura 1 - Quadro de investigação.

4. Descrição e análises dos estudos de caso

4.1 Caso I – empresa multinacional em soluções de refrigeração

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

7

A empresa do primeiro estudo de caso é uma multinacional brasileira com mais de 30 anos de mercado, que

oferece soluções em refrigeração. A empresa vende para mais de 80 países, com uma capacidade de produção de

mais de 30 milhões de produtos por ano. A empresa atualmente emprega aproximadamente 9.600 funcionários

no Brasil e em cinco outros países. Por razões de confidencialidade, a empresa é chamada de “Empresa I” ou

“Caso 1”. A Empresa I começou os processos de LR no Brasil no final dos anos 1980, anteriormente à legislação

ambiental para retorno de produtos. A prática da LR começou com a coleta de produtos em fim de vida do

mercado brasileiro para extrair o valor residual dos materiais. Os produtos retornados são desmontados e os

materiais são usados em processos de reciclagem. Considerando todos os componentes do produto, mais de 99%

do peso dos produtos em fim de vida é reciclado. Esta alta taxa de reciclagem é resultado da sua constituição

predominante de metal. Desta forma, o valor residual do material impulsiona o processo de recuperação. A

Empresa I opera o programa de LR em parceria com os revendedores, terceirizando o transporte de produtos em

fim de vida de volta para a planta industrial. Para encorajar a LR, a Empresa I oferece uma taxa de conversão:

cada N produtos em fim de vida retornados são equivalentes a um novo produto enviado para a o revendedor. A

taxa de conversão (N) depende do tamanho do produto retornado, variando de oito a 16. Por meio da análise de

dados, as barreiras chaves para o desenvolvimento da LR na Empresa I estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Barreiras da LR para o Caso I.

4.2 Caso II – Um operador de Logística Reversa

O segundo estudo de caso avaliou uma empresa brasileira provedora de serviços logísticos e gestão ambiental,

fundada em 1994. Por questões de confiabilidade, a empresa é chamada de “Empresa II” ou “Caso II”. A

Empresa II trabalha com principalmente produtos em fim de vida, como: eletroeletrônicos em geral,

refrigeradores, condicionadores de ar e impressoras. A Empresa II também recebe refugo de produção de

indústrias. A empresa opera nas seguintes áreas: tratamento e destinação de resíduos sólidos e líquidos;

manufatura reversa; consultoria e engenharia em água, solo e ar; recuperação e revalorização de metais de

indústrias; gás e óleo (remediação de solos e águas subterrâneas). Para este estudo, a investigação foi realizada

na unidade de manufatura reversa. O estudo de caso focou no retorno de refrigeradores em fim de vida referentes

ao programa brasileiro de eficiência energética (EE). O principal objetivo deste projeto é reduzir o consumo de

energia na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Em paralelo, este projeto pretende reduzir a quantidade de

conexões ilegais de energia (gatos). Para isso, a Empresa II trabalha em parceria com o governo federal.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

8

Refrigeradores de alto consumo de energia são substituídos por novos e, ao mesmo tempo, as conexões ilegais

são desfeitas. A Empresa II coleta os refrigeradores usados e transporta até sua planta de manufatura reversa. As

barreiras encontradas no Caso II estão na Tabela 3.

Tabela 3 – Barreiras da LR para o Caso II.

4.3 Caso III – uma indústria de eletrodomésticos

A empresa do terceiro estudo de caso é uma empresa brasileira fabricante de produtos eletroeletrônicos. Por

razões de confidencialidade, será chamada de “Empresa III” ou “Caso III”. A Empresa III é uma das líderes

mundiais em eletrodomésticos, considerada uma das empresas mais importantes do setor. A Empresa III realiza

LR de produtos em fim de vida e retorno de embalagens. A empresa opera em três programas importantes: (i)

Coleta e reciclagem de embalagem de produtos que foram vendidos diretamente ao consumidor; (ii)

Similarmente à operação da Empresa II, a Empresa III realiza a substituição de refrigeradores usados com alto

consumo de energia por novos com consumo de energia reduzido. Os refrigeradores antigos são reciclados e

quase 90% dos materiais é recuperado; (iii) Há um programa recentemente implementado para a coleta de

refrigeradores em fim de vida a fim de atender à nova PNRS, com a intenção de incluir os varejistas como

pontos de descarte para os consumidores. As barreiras chaves identificadas na análise da Empresa III estão

apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4 – Barreiras da LR para o Caso III.

4.4 Analise cruzada e discussão

A análise cruzada dos casos comparou as barreiras chaves identificadas em cada caso. O conteúdo dos casos foi

interpretado por meio de comparação com a estrutura conceitual desenvolvida para este estudo, apresentada na

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

9

Tabela 1. A Tabela 5 mostra os resultados da análise cruzada. A principal barreira identificada nos três casos foi

a barreira “incerteza relacionada a questões econômicas” (E3). Os três casos consideraram a LR um investimento

incerto. Claramente, os acionistas exercem pressão para obter lucro (ALVAREZ-GIL; BERRONE ET AL., 2007) e o

alto investimento inicial para a LR pode influenciar os gestores a dar prioridade a outros tipos de investimentos

que tenham maior visibilidade e retornos econômicos rápidos (GONZÁLEZ-TORRE; ÁLVAREZ ET AL., 2010).

Quatro barreiras foram destacadas por duas empresas. A barreira “Falta de capacitação técnica” (TI1) está

relacionada com o fato que os funcionários não estão bem treinados em questões ambientais (VAN DER WIEL;

BOSSINK; MASUREL, 2012) e possuem um baixo nível de conhecimento tecnológico (ABDULRAHMAN;

GUNASEKARAN; SUBRAMANIAN, 2014). Esta barreira foi apontada pelas Empresas I e III. No Brasil, há uma falta

de especialistas para as operações de LR. Alguns autores (SAAVEDRA ET AL., 2013) perceberam este problema na

indústria de remanufatura. “Falta de infraestrutura” (TI4) é uma outra barreira confirmada pelos Casos I e II.

Esta fato ratifica a afirmação que o Brasil tem uma infraestrutura logística deficiente (DA ROCHA; DIB, 2002;

ARKADER; FERREIRA, 2004), que aumenta os custos de transporte. Estes custos são principalmente resultado das

diferenças regionais na infraestrutura do país, a matrix de transporte desigual (a modalidade de transporte

rodoviário representa aproximadamente 60% do total de cargas transportadas no país), uma rede ferroviária

subdesenvolvida e altos custos portuários. Outra questão importante para os Casos II e III é a barreira

“Dificuldades com membros da cadeia de suprimentos” (GSC1). A responsabilidade compartilhada para as

atividades de retorno de produtos e especialmente os custos envolvidos nesse processo é a principal preocupação

para estas empresas. A barreira “Falta de informação sobre os canais reversos” (K2) é também um obstáculo

para os Casos I e II. Estas empresas constataram que não há disseminação apropriada de informação com relação

aos canais de retorno disponíveis para clientes para retornar seus produtos em fim de vida.

Entre as barreiras identificadas em apenas um caso, a barreira “Falta de tecnologias recentes” (TI3) foi

considerada como um impedimento chave pelo Caso III pois alguns de seus produtos enfrentam o desafio

tecnológico para as atividades de reciclagem. Similarmente, a barreira “Questões de tecnologia e de pesquisa e

desenvolvimento de produtos relacionadas à recuperação de produtos” (TI5) foi apontada pela Empresa I. Neste

caso, como afirmado previamente, a Empresa I já começou a considerar processos de fim de vida na fase de

pesquisa e desenvolvimento de seus produtos, como por exemplo técnicas de projeto para desmontagem e

projeto para reciclagem. Atualmente, a principal preocupação está no processo de desmontagem, que ainda não é

rápido e é, consequentemente, custoso. A próxima barreira é “Planejamento e previsão limitados” (GSC2),

indicada pela Empresa III. Muitas empresas tem dificuldade em prever e planejar a cadeia reversa devido ao grau

de diversidade dos produtos e dos fluxos. Finalmente, a barreira “Falta de leis motivadoras” (P4) foi identificada

no Caso II. Nesta questão, a Empresa II refere-se à regulamentação que motive as indústrias a implementar a LR

e gerenciar o meio ambiente. Ao mesmo tempo, leis podem também motivar clientes a comprar produtos mais

verdes.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

10

Tabela 5 – Análise dos estudos de caso com base na estrutura conceitual.

5. Considerações finais

A logística reversa - que é influenciada por questões econômicas, sociais, legislativas e ambientais - está

crescendo em importância e aplicação, conforme afirmado neste trabalho. O objetivo deste artigo foi identificar

as barreiras chaves que impedem o desenvolvimento da LR no Brasil. Para isso, um quadro de investigação foi

usado como guia incluindo um processo sistemático de revisão de literatura e uma abordagem de estudo de caso

múltiplo em três empresas no sul do país. Este estudo oferece contribuições para a implementação da LR de

forma global, pois é baseado num processo sistemático de busca de barreiras em artigos internacionais. Em

particular, este estudo inclui implicações gerenciais para o contexto industrial brasileiro. Gestores industriais

algumas vezes tem que improvisar nas subdesenvolvidas atividades da LR. Este trabalho pode auxiliar, estes

gestores na implementação efetiva da LR ao desenvolver estratégias para superar as barreiras chaves destacadas

neste estudo. O conhecimento das barreiras da LR pode ajudar as indústrias a melhor implementar e gerir os

fluxos reversos, cobrindo a lacuna entre soluções existentes e futuras para a LR. Futuras pesquisas podem

estender este estudo considerando outros casos a fim de aumentar a generalização dos resultados.

REFERÊNCIAS

ABDULRAHMAN, M. D.; GUNASEKARAN, A.; SUBRAMANIAN, N. Critical barriers in implementing

reverse logistics in the Chinese manufacturing sectors. International Journal of Production Economics, v.

147, n. Part B, p. 460-471, 2014.

ABRAHAM, N. The apparel aftermarket in India - a case study focusing on reverse logistics. Journal of

Fashion Marketing and Management, v. 15, n. 2, p. 211-227, 2011.

ALKHIDIR, T.; ZAILANI, S. Going green in supply chain towards environmental sustainability. Global

Journal of Environmental Research, v. 3, n. 3, p. 246-251, 2009.

ALVAREZ-GIL, M. J. ET AL. Reverse logistics, stakeholders' influence, organizational slack, and managers'

posture. Journal of Business Research, v. 60, n. 5, p. 463-473, May 2007.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

11

ANDIÇ, E.; YURT, Ö.; BALTACIOĞLU, T. Green supply chains: Efforts and potential applications for the

Turkish market. Resources, Conservation and Recycling, v. 58, n. 0, p. 50-68, 2012.

ARKADER, R.; FERREIRA, C. F. Category management initiatives from the retailer perspective: a study in the

Brazilian grocery retail industry. Journal of Purchasing and Supply Management, v. 10, n. 1, p. 41-51, 2004.

BEAMON, B. M. Designing the green supply chain. Logistics information management, v. 12, n. 4, p. 332-

342, 1999.

BERNON, M. ET AL. An exploration of supply chain integration in the retail product returns process.

International Journal of Physical Distribution and Logistics Management, v. 43, n. 7, p. 586-608, 2013.

CARTER, C. R.; ELLRAM, L. M. Reverse logistics: a review of the literature and framework for future

investigation. Journal of Business Logistics, v. 19, n. 1, p. 85-102, 1998.

CHAN, F. T. S.; CHAN, H. K. A survey on reverse logistics system of mobile phone industry in Hong Kong.

Management Decision, v. 46, n. 5, p. 702-708, 2008.

CHAN, F. T. S.; CHAN, H. K.; JAIN, V. A framework of reverse logistics for the automobile industry.

International Journal of Production Research, v. 50, n. 5, p. 1318-1331, 2012.

DA ROCHA, A.; DIB, L. A. The entry of Wal-Mart in Brazil and the competitive responses of multinational and

domestic firms. International Journal of Retail & Distribution Management, v. 30, n. 1, p. 61-73, 2002.

DIABAT, A.; GOVINDAN, K. An analysis of the drivers affecting the implementation of green supply chain

management. Resources, Conservation and Recycling, v. 55, n. 6, p. 659-667, 2011.

GONZÁLEZ-TORRE, P. ET AL. Barriers to the Implementation of Environmentally Oriented Reverse Logistics:

Evidence from the Automotive Industry Sector. British Journal of Management, v. 21, n. 4, p. 889-904, 2010.

GOVINDAN, K. ET AL. Barriers analysis for green supply chain management implementation in Indian

industries using analytic hierarchy process. International Journal of Production Economics, v. 147, p. 555-

568, 2014.

GOVINDAN, K. ET AL. Analysis of third party reverse logistics provider using interpretive structural modeling.

International Journal of Production Economics, v. 140, n. 1, p. 204-211, 2012.

GOVINDAN, K.; SARKIS, J.; PALANIAPPAN, M. An analytic network process-based multicriteria decision

making model for a reverse supply chain. The International Journal of Advanced Manufacturing

Technology, p. 1-18, 2013.

GURTOO, A.; ANTONY, S. Environmental regulations: Indirect and unintended consequences on economy and

business. Management of Environmental Quality: An International Journal, v. 18, n. 6, p. 626-642, 2007.

HERVANI, A. A.; HELMS, M. M.; SARKIS, J. Performance measurement for green supply chain management.

Benchmarking: An International Journal, v. 12, n. 4, p. 330-353, 2005.

HSU, C.-C. ET AL. Supply chain drivers that foster the development of green initiatives in an emerging

economy. International Journal of Operations & Production Management, v. 33, n. 6, p. 656-688, 2013.

JANSE, B.; SCHUUR, P.; BRITO, M. A reverse logistics diagnostic tool: the case of the consumer electronics

industry. The International Journal of Advanced Manufacturing Technology, v. 47, n. 5-8, p. 495-513,

2010/03/01 2010.

KAPETANOPOULOU, P.; TAGARAS, G. Drivers and obstacles of product recovery activities in the Greek

industry. International Journal of Operations & Production Management, v. 31, n. 2, p. 148-166, 2011.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

12

KRIKKE, H.; HOFENK, D.; WANG, Y. Revealing an invisible giant: A comprehensive survey into return

practices within original (closed-loop) supply chains. Resources, Conservation and Recycling, v. 73, n. 0, p.

239-250, 2013.

LAU, K. H.; WANG, Y. Reverse logistics in the electronic industry of China: a case study. Supply Chain

Management: An International Journal, v. 14, n. 6, p. 447-465, 2009.

MEADE, L.; SARKIS, J.; PRESLEY, A. The theory and practice of reverse logistics. International Journal of

Logistics Systems and Management, v. 3, n. 1, p. 56-84, 2007.

MILES, H.; HUBERMAN, M. Qualitative Data Analysis: A Sourcebook. Beverly Hills, CA: Sage

Publications, 1994.

MUDGAL, R. K. ET AL. Modelling the barriers of green supply chain practices: an Indian perspective.

International Journal of Logistics Systems and Management, v. 7, n. 1, p. 81-107, 2010.

RAHIMIFARD, S. ET AL. Barriers, drivers and challenges for sustainable product recovery and recycling.

International Journal of Sustainable Engineering, v. 2, n. 2, p. 80-90, 2009.

RAVI, V.; SHANKAR, R. Analysis of interactions among the barriers of reverse logistics. Technological

Forecasting and Social Change, v. 72, n. 8, p. 1011-1029, 2005.

ROGERS, D.S.; TIBBEN-LEMBKE, R. S. Going Backwards: reverse logistics trends and practices. Reno:

Reverse Logistics Executive Council, 1999.

ROGERS, D.S.; TIBBEN-LEMBKE, R. S.; COUNCIL, R. L. E. Going backwards: reverse logistics trends

and practices. Reverse Logistics Executive Council Pittsburgh, PA, 1999.

ROGERS, D.S.; TIBBEN‐LEMBKE, R. An examination of reverse logistics practices. Journal of Business

Logistics, v. 22, n. 2, p. 129-148, 2001.

SAAVEDRA, Y.M.B. ET AL. Remanufacturing in Brazil: case studies on the automotive sector. Journal of

Cleaner Production, v. 53, n. 0, p. 267-276, 2013.

SARKIS, J.; GONZALEZ-TORRE, P.; ADENSO-DIAZ, B. Stakeholder pressure and the adoption of

environmental practices: The mediating effect of training. Journal of Operations Management, v. 28, n. 2, p.

163-176, 2010.

SEURING, S. A. Assessing the rigor of case study research in supply chain management. Supply Chain

Management: An International Journal, v. 13, n. 2, p. 128-137, 2008.

SHARMA, S. ET AL. Analysis of barriers for reverse logistics: an Indian perspective. International Journal of

Modeling and Optimization, v. 1, n. 2, p. 101-6, 2011.

STAROSTKA-PATYK, M. et al. Barriers to reverse logistics implementation in enterprises. Advanced Logistics

and Transport (ICALT), 2013 International Conference on, 2013. IEEE. p.506-511.

STUART, I. ET AL. Effective case research in operations management: a process perspective. Journal of

Operations Management, v. 20, n. 5, p. 419-433, 2002.

VAN DER WIEL, A.; BOSSINK, B.; MASUREL, E. Reverse logistics for waste reduction in cradle-to-cradle-

oriented firms: Waste management strategies in the Dutch metal industry. International Journal of Technology

Management, v. 60, n. 1-2, p. 96-113, 2012.

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

13

VOSS, C.; TSIKRIKTSIS, N.; FROHLICH, M. Case research in operations management. International journal

of operations & production management, v. 22, n. 2, p. 195-219, 2002.

WANG, B.; SUN, L. A review of reverse logistics. Applied Sciences, v. 7, n. 1, p. 16-29, 2005.

WEIMER, G.; SEURING, S. Performance measurement in business process outsourcing decisions: Insights from

four case studies. Strategic outsourcing: An international journal, v. 2, n. 3, p. 275-292, 2009.

YIN, R. K. Case study research: Design and methods. California: Sage Publications, 2009.

ZHU, Q.; SARKIS, J.; LAI, K.-H. Green supply chain management: pressures, practices and performance within

the Chinese automobile industry. Journal of Cleaner Production, v. 15, n. 11, p. 1041-1052, 2007.

______. Green supply chain management implications for “closing the loop”. Transportation Research Part

E: Logistics and Transportation Review, v. 44, n. 1, p. 1-18, 2008.

______. Green supply chain management innovation diffusion and its relationship to organizational

improvement: An ecological modernization perspective. Journal of engineering and technology management,

v. 29, n. 1, p. 168-185, 2012.