UM TIPO DE VIDA

Bié nasceu e vive numa cidade grande, bem grande. Uma das maiores

cidades do Brasil.

Como todos os meninos que nascem e moram em cidades grandes,

Bié assiste aos programas de televisão, tem perfil no Facebook, vai

ao teatro quando os pais têm dinheiro, vai ao cinema quando os pais

têm dinheiro, estuda numa escola, não dispensa a praia no verão,

joga bola onde encontra um lugarzinho para jogar e frequenta as

festinhas de aniversário dos amigos e colegas.

Bié conhece muito bem esse tipo de vida.

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OUTRO TIPO DE VIDA

E como todo menino ou menina que leva a vida no dia a dia de

uma cidade grande, Bié conhecia muito pouco ou quase nada de um

outro modo de vida que também existe, que tem um montão de

gente vivendo assim: a vida dos meninos e dos adultos que nascem

e crescem na roça, no meio do mato, dividindo o tempo com os

animais de couro ou de pena, com as árvores grandes e pequenas,

com as plantas de todos os cheiros, com os rios, os riachos e as

cachoeiras.

Bié não conhecia nada desse outro tipo de vida. Até o dia da

grande viagem.

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A GRANDE VIAGEM

O pai de Bié também morava na cidade grande, mas nasceu numa

roça bem sossegada, bem longe do lugar agitado onde eles viviam.

Um dia o pai resolveu fazer uma viagem de volta, matar a saudade

que sentia dos bichos, dos caminhos, das cercas e dos espinhos que

continuavam lá no meio do mato. E também do avô, da avó, dos tios

e dos primos que ainda viviam naquele mesmo lugar.

Quando Bié soube do projeto do pai, foi logo arrumando a

mochila:

— Tô aí, pai, nessa grande viagem.

— Será uma viagem muito longa, meu filho — disse o pai.

— Melhor ainda — respondeu Bié, que gostava muito de desafios.