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Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática RODOLFO EDUARDO VERTUAN UM OLHAR SOBRE A MODELAGEM MATEMÁTICA À LUZ DA TEORIA DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA Londrina 2007

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Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática

RODOLFO EDUARDO VERTUAN

UM OLHAR SOBRE A MODELAGEM MATEMÁTICA À LUZ DA TEORIA DOS

REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Londrina

2007

RODOLFO EDUARDO VERTUAN

UM OLHAR SOBRE A MODELAGEM MATEMÁTICA

À LUZ DA TEORIA DOS

REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina, como requisito para obtenção do Título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª Lourdes Maria Werle de Almeida.

Londrina

2007

Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

V568o Vertuan, Rodolfo Eduardo.

Um olhar sobre a modelagem matemática à luz da teoria dos registros de representação semiótica / Rodolfo Eduardo Vertuan. – Londrina, 2007. 141f. : il.

Orientador: Lourdes Maria Werle de Almeida.

Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) − Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Exatas, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática, 2007.

Bibliografia: f. 137-141.

1. Educação matemática – Estudo e ensino – Teses. 2. Matemática – Estudo e ensino – Teses. 3. Modelos matemáticos – Teses. 4. Matemática – Semiótica – Teses. I. Almeida, Lourdes Maria Werle. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Ciências Exatas. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática. III. Título.

CDU 51:37.02

RODOLFO EDUARDO VERTUAN

UM OLHAR SOBRE A MODELAGEM MATEMÁTICA

À LUZ DA TEORIA DOS

REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina, como requisito para obtenção do Título de Mestre.

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Lourdes M. Werle de Almeida Orientadora

Universidade Estadual de Londrina

Profª. Drª. Neri Terezinha Both Carvalho Universidade Federal de Santa Catarina

Profª. Drª. Regina Luzia Corio de Buriasco Universidade Estadual de Londrina

Londrina, ___ de ____________ de 2007.

Aos meus pais, Eduardo e Claudete,

pelo incentivo e ensinamentos

e à minha querida esposa Daiane,

pelo apoio e compreensão.

AGRADECIMENTOS

À Deus, razão de minha existência, pela vida, sabedoria e coragem.

Agradeço a todos os que contribuíram para a realização desta dissertação, pois sem

suas palavras de incentivo nada seria possível. Com especial carinho,

À minha orientadora Drª Lourdes Maria Werle de Almeida, pelas sugestões, críticas,

pela paciência e amizade dispensadas na construção deste trabalho.

À minha família pela compreensão e palavras de incentivo.

Às professoras Neri Terezinha Both Carvalho e Regina Luzia Corio de Buriasco,

pelas relevantes sugestões apresentadas na construção deste trabalho.

Aos alunos do 1º ano do Curso de Licenciatura em Matemática do ano de 2006 que

participaram deste trabalho, pelas discussões realizadas, opiniões compartilhadas e

amizades construídas.

Aos professores e colegas do curso de Mestrado, pela contribuição de cada um.

À professora Terezinha Ângela Gazarine Gameiro, que me motivou, ainda no ensino

fundamental, a seguir seus passos enquanto professor de Matemática.

A CAPES pelo apoio financeiro.

“Educar é mais que preparar para o futuro, é ensinar a construí-lo.

Preparar seres criativos, independentes, cidadãos conscientes e

solidários que possam ser capazes de participar efetivamente da

vida social e política, assumindo tarefas e responsabilidades. Seres

que saibam se comunicar nos mais diferentes níveis, dialogar num

mundo interativo e interdependente, utilizando sua cultura para

emancipação, transformação e libertação”.

Francisco Fialho (Educador)

VERTUAN, Rodolfo Eduardo. Um olhar sobre a Modelagem Matemática à luz da Teoria dos Registros de Representação Semiótica. 2007. 141 p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

RESUMO

Este trabalho apresenta uma investigação sobre a utilização de diferentes registros em atividades de Modelagem Matemática. O estudo está fundamentado na teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval e na Modelagem Matemática como alternativa pedagógica. A investigação tem como objetivo verificar se os diferentes registros associados a um objeto matemático tornam-se presentes em atividades de Modelagem Matemática bem como se estas atividades possibilitam o tratamento, a conversão e a coordenação entre os registros. Neste sentido, a pesquisa consiste na observação, descrição e análise dos registros produzidos pelos alunos em atividades de Modelagem. Para tanto, organizamos um “curso de Modelagem Matemática”, no qual alunos do 1º ano do Curso de Licenciatura em Matemática que cursavam a disciplina de Cálculo e Geometria Analítica I pela primeira vez, se envolveram com um conjunto de atividades de Modelagem, a partir das quais propomos discussões com ênfase no objeto matemático “derivada”. A partir da análise dos registros dos alunos, infere-se que a Modelagem Matemática torna presente a utilização de diferentes registros bem como possibilita o tratamento, a conversão e a coordenação entre eles. A análise revela que esta coordenação, por sua vez, contribui para a compreensão dos objetos matemáticos discutidos bem como da situação-problema investigada. Palavras-chave: Modelagem Matemática; Educação Matemática; Registros de Representação Semiótica.

VERTUAN, Rodolfo Eduardo. A view over Mathematical modeling under the light of the Theory of Register of Semiotic Representation. 2007. 141 p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

ABSTRACT

This work presents an investigation about the utilization of different registers in activities of Mathematical Modeling. The study is based on the theory of Semiotics Representation Registers from Raymond Duval and on Mathematical Modeling as pedagogical alternative. The objective of the investigation is to verify whether the different registers associated to a mathematical object become present in activities of Mathematical Modeling as well as if these activities enable the treatment, the conversion, and the coordination between the registers. Therefore, the research consists on the observation, description and analysis of the registers produced by students in Modeling activities. So, we have organized a “course of Mathematical Modeling”, in which the students of the first year of the Course of Licentiate in Mathematics studying the subject of Calculus and Analytical Geometry 1, got involved, for the first time, with a set of Modeling activities, from which we proposed discussions with emphasis on the mathematical object “derivative”. From the students’ registers, we infer that Mathematical Modeling makes present the utilization of different registers as well as makes possible the treatment, conversion, and coordination between them. The analysis reveals that this coordination, contributes for the comprehension of the mathematical objects discussed as well as the comprehension of the problem-situation investigated.

Keywords: Mathematical modeling; Mathematical Education; Register of Semiotic Representation

SUMÁRIO

Introdução. ..............................................................................................................14

Problemática..............................................................................................................16

Estrutura do trabalho................................................................................................16

CAPÍTULO 1: Registros de Representação Semiótica ...............................................18

1.1 Representações e representações semióticas...................................................18

1.2 Registros de Representação Semiótica .............................................................21

1.2.1 A formação de uma representação identificável .......................................22

1.2.2 O tratamento .............................................................................................22

1.2.3 A conversão ..............................................................................................24

1.3 A coordenação entre registros ...........................................................................27

1.4 Registros de Representação Semiótica e o ensino e aprendizagem da Matemática .......................................................................................................29

CAPÍTULO 2: Modelagem Matemática na Educação Matemática ..............................33

2.1 Introdução ..........................................................................................................33

2.2 A Modelagem Matemática e modelo matemático...............................................33

2.2.1 As etapas de uma atividade de Modelagem Matemática..........................34

2.3 Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática....................36

2.4 A Modelagem Matemática na sala de aula.........................................................38

2.5 Modelagem Matemática e o ensino e aprendizagem da Matemática.................40

CAPÍTULO 3: Investigação desenvolvida: a estruturação de um quadro teórico e os procedimentos de pesquisa ..........................................................................43

3.1 Introdução ..........................................................................................................43

3.2 Modelagem Matemática e Registros de Representação Semiótica ...................43

3.3 Procedimentos para o desenvolvimento da pesquisa ........................................49

3.3.1 Caminho Metodológico...............................................................................50

3.3.2 O grupo de alunos ....................................................................................51

3.3.3 O objeto matemático .................................................................................51

3.3.4 A condução das atividades .......................................................................52

3.3.5 Coleta e análise dos dados.......................................................................53

CAPÍTULO 4: Descrição dos dados e análise à luz do quadro teórico estabelecido ..55

4.1 Introdução ..........................................................................................................55

4.2 A condução das atividades de Modelagem Matemática ....................................55

4.2.1 A escolha dos temas e das situações-problema.......................................56

4.2.2 A utilização de diferentes registros ..........................................................58

4.3 A condução das análises....................................................................................59

4.4 Apresentação das atividades e análise local......................................................61

4.4.1 As primeiras atividades de Modelagem Matemática.................................62

4.4.1.1 O movimento das marés .............................................................62

4.4.2 Outras atividades da Modelagem Matemática ..........................................68

4.4.2.1 Dinâmica da nupcialidade no Brasil ............................................69

4.4.2.1.1 O uso dos registros na situação: “dinâmica da nupcialidade”............................................................75

4.4.2.2 Probabilidade de uma pessoa não se casar................................80

4.4.2.2.1 O uso dos registros na situação: “probabilidade de uma pessoa não se casar” .......................................87

4.4.3 Atividades de Modelagem Matemática apresentadas pelos alunos: o terceiro momento..................................................................................... 95

4.4.3.1 Justiça e qualidade de vida...........................................................95

4.4.3.1.1 O uso dos registros na situação: “justiça e qualidade de vida”.......................................................................100

4.4.4 As demais atividades............................................................................... 103

4.4.1.1 O número de pessoas com câncer no Brasil........................................ 103

4.4.4.2 Carga Tributária no Brasil...........................................................104

4.4.4.3 Volume máximo de uma caixa....................................................105

4.4.4.4 Alergias.......................................................................................108

4.4.4.5 O mercúrio das lâmpadas fluorescentes ................................... 111

4.4.4.6 Desemprego no Brasil................................................................ 112

4.5 Análise Global das informações ....................................................................... 113

4.5.1 Modelagem Matemática, diferentes registros e derivada: o que ficou para os alunos... .............................................................................................124

Considerações Finais...............................................................................................131

Referências..............................................................................................................137

LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1 Figura 1: Resolução no registro algébrico (exemplo1) .............................................23

Figura 2: Exemplo de conversão entre registros de representação semiótica .........24

Figura 3: Resolução do exemplo 1 no registro gráfico e algébrico...........................25

CAPÍTULO 2 Figura 4: Etapas possíveis no desenvolvimento de uma atividade de Modelagem

Matemática................................................................................................36 CAPÍTULO 3 Figura 5: Consumo mensal de água na cidade de Londrina-PR..............................46

Figura 6: Número de casos (em %) de alergias no decorrer de alguns anos...........47

Figura 7: Gráfico construído para a situação da “incidência de alergias na população no decorrer dos anos” ...........................................................48

CAPÍTULO 4 Figura 8: Esquema utilizado para interpretação da situação das marés ...................64

Figura 9: Tratamentos nos registros algébrico e gráfico e conversões entre estes dois registros.............................................................................................65

Figura 10: Tratamentos no registro gráfico no caso das marés.................................66

Figura 11: Probabilidade do 1º casamento por sexo e grupo de idade......................70

Figura 12: Probabilidade do 1º casamento – Masculino ...........................................71

Figura 13: Probabilidade do 1º casamento – Feminino .............................................71

Figura 14: Gráfico de M(i)........... ...............................................................................73

Figura 15: Gráfico do Modelo obtido para a probabilidade do homem se casar pela primeira vez diante da idade............................................................ 78 Figura 16: Gráfico do percentual de adultos sozinhos...............................................81

Figura 17: Gráfico de 104.466,4.0622,0)( 2 +−= iiiS ...................................................82

Figura 18: Esquema de conversão na ordem em que se encontram nas resoluções dos alunos............................ .................................................88 Figura 19: Inferência sobre o esquema de conversão utilizado pelos alunos............88

Figura 20: Resposta de um aluno à pergunta 4 do questionário 3.............................90

Figura 21: Primeiro exemplo de registro produzido por alunos ao definir derivada...92

Figura 22: Segundo exemplo de registro produzido por alunos ao definir derivada....................................................................................................92

Figura 23: Terceiro exemplo de registro produzido por alunos ao definir derivada....................................................................................................93 Figura 24: Quarto exemplo de registro produzido por alunos ao definir derivada......93

Figura 25: Quinto exemplo de registro produzido por alunos ao definir derivada......94

Figura 26: Calculo de S’(30).......................................................................................94

Figura 27: Gráfico sobre Justiça e Qualidade de Vida...............................................96

Figura 28: Pontos (j,Q(j)) - real...................................................................................98

Figura 29: Gráfico de Q(j) ..........................................................................................99

Figura 30: Gráfico de Q’(j) .........................................................................................99

Figura 31: Tabela de valores (j,Q(j)).........................................................................101

Figura 32: Pontos (j,Q(j)) - alunos............................................................................101

Figura 33: Pontos (j,Q(j)) –computador....................................................................101

Figura 34: Quanto o governo tirou, em média, com impostos de cada brasileiro....104

Figura 35: Tratamento no registro figural ................................................................106

Figura 36: Conversão do Registro Língua Natural para o Algébrico........................114

Figura 37: Conversão do Registro Algébrico para o Gráfico....................................115

Figura 38: Conversão do Registro Gráfico para o Língua Natural (exemplo 1).......117

Figura 39: Conversão do Registro Gráfico para o Língua Natural (exemplo 2).......118

Figura 40: Conversão do Registro Gráfico para o Língua Natural (exemplo 3).......119

Figura 41: Representações gráficas equivocadas da função V(x)...........................121

Figura 42: Esquema dos registros e transformações realizadas no problema da caixa........................................................................................................124

Figura 43: Definição de derivada por um aluno........................................................125

Figura 44: Resultado do Teste de Mann-Whitney – BioEstat...................................128

Figura 45: Box-plot das notas obtidas pelos alunos que participaram e que não participaram do curso............................................................................129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 46: Registros utilizados na situação “O movimento das marés”...................132

Figura 47: Exemplo de conversão não congruente e congruente ...........................133

Figura 48: Finalidades da conversão do registro gráfico para o registro língua natural .....................................................................................................134

14

“O grande desafio é desenvolver

um programa dinâmico,

apresentando a ciência de hoje

relacionada a problemas de hoje

e ao interesse dos alunos”.

(D’Ambrosio, 1997, p.32-33)

A Matemática, face ao conjunto de atividades humanas, ocupa um

lugar que pode ser considerado importante na sociedade. No âmbito dos

educadores matemáticos as pesquisas que tratam do papel da Matemática na

sociedade, das relações da Matemática com a realidade e influências que estas

relações exercem sobre o ensino e a aprendizagem têm crescido nas últimas

décadas. Manter estas relações é, segundo Davis e Hersh (1998), importante para

as aulas de Matemática, pois “a Matemática provém da conexão da mente com o

mundo externo...” (p.293).

No entanto, muitos professores desconhecem aplicações da

Matemática em contextos diferentes do escolar. Fidelis (2005), em pesquisa

realizada com alunos do 4º ano de Licenciatura em Matemática, verificou que

mesmo aqueles que afirmavam que a Matemática estava presente em tudo, quando

exemplificavam, faziam menção a situações rotineiras e simples tais como compra,

venda, medidas.

Uma idéia corrente é de que a matemática presente no Ensino

Médio e no Ensino Superior – principalmente – tem pouca relação com situações da

realidade. Muitos atribuem à esta não aplicabilidade da Matemática no cotidiano o

desinteresse dos alunos em relação a conteúdos desta disciplina.

Neste contexto, Pérez (2004) argumenta que a “trajetória profissional

nos tem mostrado que a maioria dos alunos encontra dificuldades para aprender os

conceitos matemáticos e poucos conseguem perceber a utilidade e aplicação do que

aprenderam” (p.251).

INTRODUÇÃO

15

Para D’Ambrosio (1997), a disciplina matemática surge como

[...] uma estratégia desenvolvida pela espécie humana ao longo de sua história para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível, e com o seu imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural e cultural. (p.7, [grifo nosso])

Levando em consideração esta idéia de D’Ambrosio, parece

adequado que a escola possa promover um ensino no qual os alunos tenham a

possibilidade de compreender os objetos matemáticos1, conhecer e relacionar as

várias representações destes objetos e utilizá-los para interpretar fatos da realidade

e, é com esta perspectiva que, neste trabalho, abordamos a Modelagem Matemática

enquanto alternativa pedagógica.

Pensamos a Modelagem Matemática como um dos caminhos que

podem estimular e envolver os alunos e oportunizar a aprendizagem de conteúdos

matemáticos, explicitando alguns dos propósitos de se estudar os objetos

matemáticos, adequados para a interpretação e análise de situações-problema.

Não se trata de encarar os objetos matemáticos simplesmente como

ferramentas necessárias para a resolução de um problema, mas de tomá-los,

também, como objetos de estudo com um fim em si mesmos. Ou seja, no decorrer

da atividade de Modelagem Matemática não basta utilizar os objetos matemáticos

necessários para resolver um problema sem estudá-los por si só.

Buscando possibilitar a compreensão do objeto matemático presente

nas atividades de Modelagem Matemática, é que faremos uso da Teoria dos

Registros de Representação Semiótica2 de Raymond Duval3. Segundo essa teoria, a

utilização de diferentes registros de representação associados a um mesmo objeto

matemático e a coordenação adequada entre estes registros representa uma

possibilidade do aluno compreender o objeto matemático como um todo.

1 Objeto matemático é qualquer entidade, real ou imaginária, a qual nos referimos ou da qual falamos, na atividade matemática. (FONT et al, 2005) 2 Esclarecemos o que entendemos por Registros de Representação Semiótica no Capítulo 2 deste trabalho. 3 Raymond Duval: filósofo e psicólogo francês que desenvolveu estudos em Educação Matemática e trabalhou no Instituto de Pesquisa em Educação Matemática de Estrasburgo, França, de 1970 a 1995.

16

Na nossa pesquisa, desenvolvemos no primeiro semestre de 2006,

um curso extra-curricular com 10 alunos do 1º ano do curso de Licenciatura em

Matemática, durante o qual, ao mesmo tempo em que buscamos discutir situações

da realidade por meio de atividades de Modelagem Matemática, discutimos os

diferentes registros de representação semiótica utilizados na construção de um

modelo matemático, atentando para a compreensão do objeto matemático

representado.

PROBLEMÁTICA

Esta pesquisa se encaminha no sentido de identificar os diferentes

registros de representação semiótica utilizados pelos alunos em atividades de

Modelagem Matemática. Com esta finalidade investigamos as questões: as

atividades de Modelagem que tem por objetivo o estudo de um objeto matemático

dão lugar à exploração de diferentes registros de representação semiótica? Estas

atividades viabilizam o tratamento e a conversão destes registros? Provocam a

coordenação entre os diferentes registros?

Buscamos também inferir, a partir do referencial teórico, se a

interação Modelagem Matemática e Registros de Representação Semiótica leva à

compreensão, tanto do problema não matemático em estudo quanto dos objetos

matemáticos envolvidos no estudo desse problema.

ESTRUTURA DO TRABALHO

A estrutura do texto compreende quatro capítulos, além da

Introdução e das Considerações Finais. Na Introdução apresentamos o tema,

algumas justificativas e o objetivo da pesquisa. No capítulo 1 abordamos a Teoria

dos Registros de Representação Semiótica. No capítulo 2 tratamos da Modelagem

Matemática enquanto alternativa pedagógica para o ensino e a aprendizagem da

Matemática. O capítulo 3 apresenta o quadro teórico que estabelecemos

relacionando Modelagem Matemática e os Registros de Representação Semiótica e

17

também descreve procedimentos que usamos para desenvolver a pesquisa. O

capítulo 4 apresenta a descrição dos dados e a análise destes à luz do quadro

teórico. Em seguida, apresentamos as Considerações Finais e as Referências

Bibliográficas utilizadas na pesquisa.

18

1.1 REPRESENTAÇÕES E REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS

Entendemos a aprendizagem como um processo que depende de

múltiplos fatores, entre os quais se encontram as diversas interações que o

estudante tem com o meio, com os professores, com os demais alunos e com as

ferramentas a que tem acesso. Entre estas ferramentas estão os sistemas de

representação externa, tais como os signos matemáticos, as representações

gráficas, a escrita em língua natural.

Para compreender como se dá a aprendizagem dos alunos em

Matemática é importante, dentre outras coisas, abordar as funções e as influências

que as representações externas desempenham na compreensão dos conceitos

matemáticos1.

Segundo Fonte et al (2005),

[...] ‘compreender’ ou ‘saber’ um objeto matemático consiste em ser capaz de reconhecer suas propriedades e representações características, relacioná-lo com os restantes objetos matemáticos e usar este objeto em toda a variedade de situações problemáticas prototípicas que lhe são propostas em aula. Deste ponto de vista a compreensão alcançada por um sujeito em um momento dado dificilmente será total ou nula, mas será parcial e progressiva (p.16, [tradução livre]).

Para Duval (2003), compreender um conceito matemático implica

em ser capaz de diferenciar o objeto matemático da representação que o torna

acessível. Para o autor, “[...] os objetos matemáticos, começando pelos números,

não são objetos diretamente perceptíveis ou observáveis com a ajuda de

instrumentos” (p.14) e o acesso aos objetos matemáticos acontece por meio da

utilização de uma representação, seja ela uma representação interna ou externa.

1 Utilizaremos “compreensão dos conceitos matemáticos” com o mesmo significado de “conceitualização dos objetos matemáticos”.

CAPÍTULO 1

REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

19

Damm (1999) coloca que “[...] não existe conhecimento matemático

que possa ser mobilizado por uma pessoa, sem o auxílio de uma representação”

(p.137).

Para Rico (2000) as representações matemáticas (externas) são

[...] aquelas ferramentas – signos ou gráficos – que fazem presentes os conceitos e procedimentos matemáticos e com os quais os sujeitos particulares abordam e interagem com o conhecimento matemático, ao dizer, registram e comunicam seu conhecimento sobre a matemática (p.3, [tradução livre]).

Neste sentido, “representa-se” para tornar algo presente, algo esse

que existe e é substituído pela representação. Uma representação é de fato uma

“representação” se exprimir idéias e se provocar na mente daqueles que o percebem

uma atitude interpretativa.

Duval (2004) considera que as representações podem ser mentais,

internas ou computacionais e semióticas. Para o autor, as representações mentais

cumprem a função de objetivação. Consistem num conjunto de imagens e

concepções que um indivíduo pode ter sobre um objeto, sobre uma situação ou

sobre aquilo que está associado ao objeto ou a situação. Tais representações estão

associadas à interiorização das representações externas.

As representações internas ou computacionais, segundo Duval

(2004), são aquelas que privilegiam o tratamento de uma informação, que por sua

vez se caracteriza pela execução automática de uma determinada tarefa, a fim de

produzir uma resposta adaptada à situação. Estas representações tratam, assim, da

codificação de uma informação. O algoritmo da adição é um exemplo deste tipo de

representação. Estas representações não são conscientes do sujeito. Trata-se de

um registro mecânico que o sujeito executa sem pensar em todos os passos

necessários para a sua resolução. “O sujeito acaba executando certas tarefas sem

pensar em todos os passos necessários para a sua realização (por exemplo, os

algoritmos computacionais, ou mesmo os algoritmos das operações)” (DAMM, 1999,

p. 139).

As representações semióticas, por sua vez, são produções

constituídas pelo emprego de signos pertencentes a um sistema de representação,

20

os quais têm suas dificuldades próprias de significado e de funcionamento (DUVAL,

2004). A escrita em língua natural, a escrita algébrica e os gráficos cartesianos são

exemplos de representações semióticas. Tais representações são externas e

conscientes ao indivíduo e realizam de maneira indissociável as funções de

objetivação e tratamento. No entanto, aqui o tratamento não é automático, mas

intencional.

Um dos papéis desempenhados pelas representações semióticas é

o da comunicação, ou seja, o de exteriorizar as representações mentais, tornando-

as acessíveis às outras pessoas. Além disso, o modo como o aluno gera ou lida com

uma representação semiótica revela de alguma forma como ele representou essa

informação internamente. Saber interpretar a representação produzida pelo aluno,

pode ajudar o professor a realizar intervenções mais adequadas no seu processo de

construção do conhecimento.

Segundo Duval (2004) a utilização de diferentes representações

semióticas contribui para uma reorganização do pensamento do aluno e influencia a

atividade cognitiva da pessoa que as utiliza. Neste sentido, as representações

semióticas são essenciais para a compreensão dos conceitos matemáticos. Por isso,

o autor considera que entender estas representações simplesmente como suporte

para as representações mentais, consiste numa visão ingênua e errônea. Nesse

contexto, Duval apresenta e faz uma distinção entre os termos “semiósis” e “noésis”.

Entende-se por semiósis “a apreensão ou a produção de uma representação

semiótica” (DUVAL, 2004, p.14) e, por noésis, os atos cognitivos, como “a

apreensão conceitual de um objeto, a discriminação de uma diferença ou a

compreensão de uma inferência” (DUVAL, 2004, p.14). Para o autor, não existe

noésis sem semiósis, ou seja, não há conceitualização de um objeto matemático

sem utilizar, para isso, representações deste objeto.

Para que ocorra a aprendizagem de um conceito matemático, a

noésis (conceitualização do objeto matemático) deve ocorrer por meio de

significativas semiósis (representações). Isto implica em dizer que a compreensão

em matemática acontece na medida em que o sujeito que aprende, consegue

coordenar os vários registros de representação associados a um mesmo objeto

21

matemático. Estabelecer coordenações entre os vários registros significa

potencializar a compreensão deste objeto matemático.

O que acontece, freqüentemente, é que se confunde o que é o

objeto representado e o que é representação em si. Muitos alunos, por exemplo,

acreditam que a função polinomial do 2º grau é y=ax2+bx+c, quando, na verdade,

esta é apenas uma das muitas representações utilizadas para o objeto matemático

“função polinomial do 2º grau”.

Talvez, essa confusão seja corroborada pela forma

compartimentalizada com que a Matemática vem sendo ensinada em muitas salas

de aula. Muitas vezes, os alunos “aprendem” a encontrar o vértice da função

quadrática sem terem visto o gráfico da função e sem associar este ponto (vértice)

com o aspecto do gráfico. Abordadas em momentos diferentes ou em situações

diferentes, estas diferentes representações perdem a sua importância para a

compreensão do objeto matemático. Duval propõe, com a finalidade de contribuir

para a construção do conhecimento do aluno, que sejam mobilizados nas aulas,

simultaneamente, vários e diferentes registros de representação semiótica para um

mesmo objeto matemático.

1.2 REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

O termo ‘registros de representação semiótica’ é usado para

designar os diferentes tipos de representação semiótica. As representações língua

natural, tabular, gráfica, figural e algébrica são exemplos de tipos diferentes de

registros de representação. Cada uma delas consiste num registro de

representação2 diferente (ou sistema de representação).

Um registro de representação semiótica é um sistema de signos que tem por objetivo não somente a comunicação, mas também o tratamento da informação e a objetivação. Nem todo sistema de signos constitui um registro. Por exemplo, as placas de trânsito das estradas são significantes (triângulo→ perigo, vermelho → proibição,...) e não podem se caracterizar como um registro no sentido de Duval, uma vez que não há a possibilidade

2 Neste trabalho, utilizaremos os termos “registro” e “registro de representação” com o mesmo significado de “registro de representação semiótica” a fim de evitar repetições.

22

de transformar um elemento em outro, diferentemente do que ocorre com todo elemento de um registro... (SILVA e FIGUEIREDO, 2003, p.8)

Para ser considerado um registro de representação, um sistema de

signos precisa permitir três atividades cognitivas: a formação de uma representação

identificável, o tratamento de um registro de representação e a conversão de um

registro de representação para outro (DUVAL, 2004).

1.2.1 A FORMAÇÃO DE UMA REPRESENTAÇÃO IDENTIFICÁVEL

Dizemos que uma representação é identificável quando é possível

reconhecer nesta representação o que ela representa, no caso da Matemática, o

objeto matemático que representa. Para isso, o sistema de signos precisa ser

comum a todas as pessoas, ou seja, ser estabelecido socialmente. Assim, uma

representação identificável permite que a pessoa que se depara com ela, selecione

as características e os dados do conteúdo que está sendo representado.

Esta atividade cognitiva é cumprida, por exemplo, pelas placas de

trânsito. É estabelecido socialmente que uma circunferência com um traço diagonal

feito sobre dois carros paralelos entre si, indica que é proibida a ultrapassagem.

Mesmo satisfazendo esta condição, as placas de trânsito não são consideradas

registros de representação semiótica, pois não existe nem a possibilidade de

tratamento e nem a de conversão nestes tipos de representação.

1.2.2 O TRATAMENTO

O tratamento de uma representação consiste na transformação

desta representação em outra pertencente ao mesmo registro de partida. O

tratamento é, portanto, uma transformação interna a um registro. Segundo Duval

(2004):

Os tratamentos são transformações de representações dentro de um mesmo registro: por exemplo, efetuar um cálculo ficando estritamente no mesmo sistema de escrita ou de representação dos números; resolver uma equação ou um sistema de equações; completar uma figura segundo critérios de conexidade e de simetria (p.16).

23

Este tipo de transformação talvez seja a mais utilizada pelos

professores de Matemática, uma vez que corresponde a procedimentos de

justificação. Na expectativa de que os alunos ‘compreendam’ determinados

conceitos, o professor procura ‘o melhor registro’ do qual pode fazer uso para

justificar uma idéia referente àquele conceito.

Assim, se o conceito estudado for “derivada”, por exemplo, pode ser

que o professor utilize somente às regras de derivação e de forma estritamente

algébrica. Na medida em que realizam os cálculos (tratamentos matemáticos), os

alunos acabam ‘compreendendo’ como devem fazer para calcular derivadas. Mas

realizar tratamentos em um só registro não significa que o aluno compreendeu o

conceito de derivada. Significa sim, que o aluno sabe manipular (calcular) uma das

representações de derivada (neste tipo de registro). Este modo de trabalhar o

conteúdo derivada, pode ocasionar a confusão, por parte dos alunos, entre o

conceito derivada e a representação que o tornou acessível.

O tratamento dado a um determinado conceito depende da forma

utilizada para representá-lo e não do conteúdo ao qual está vinculado este conceito.

Como exemplo, tomemos o tratamento apresentado no registro algébrico:

Exemplo1: Encontrar o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de 2)( xxf =

em x=2.

Resolução no Registro Algébrico:

4)2('2.2)2('.2)(')( 2 =⇒=⇒=⇒= ffxxfxxf

Logo, o coeficiente angular é igual a 4.

Figura 1: Resolução no Registro Algébrico (exemplo 1)

O tratamento realizado apresenta regras próprias de funcionamento,

advindas do registro em que é realizado. Sua natureza e número variam muito de

um registro a outro. Conseqüentemente, as dificuldades em realizar tratamentos

dependem do registro em que ele é feito. Igualmente, podemos inferir que as

compreensões emergentes de cada registro também são distintas e dependentes do

registro utilizado.

24

Deste modo, as compreensões do conceito matemático podem ser

parciais, uma vez que um único registro pode não contemplar todas as

características do objeto. Por isso, é adequada uma abordagem que relacione estes

vários registros. Neste registro, Duval sugere a conversão entre os registros de

representação semiótica.

1.2.3 A CONVERSÃO

A conversão consiste na transformação da representação de um

objeto matemático em uma representação deste mesmo objeto em outro registro, ou

seja, as conversões são transformações externas ao registro da representação de

partida. Para Duval (2004), “as conversões são transformações de representações

que consistem em mudar de registro conservando os mesmos objetos denotados:

por exemplo, passar da escrita algébrica de uma equação à sua representação

gráfica” (p.16).

Diferente do tratamento, em que as tranformações são feitas

internamente a um registro, como no caso da Figura 1, na conversão as

transformações acontecem entre diferentes registros. No exemplo da figura 2

observamos duas conversões: a primeira delas acontece do registro algébrico para o

tabular e a segunda, do registro tabular para o gráfico.

3xy = → →

Figura 2: Exemplo de Conversão entre Registros de Representação Semiótica

A conversão entre registros é uma atividade cognitiva diferente do

tratamento. Para Duval (2004), esta atividade de transformação representacional é

y x -2 -8 -1 -1 0 0 1 1 2 8

1ª CONVERSÃO 2ª CONVERSÃO

25

fundamental, pois é ela “[...] que conduz aos mecanismos subjacentes à

compreensão” (p.16).

É importante não confundir os processos de conversão com os de

tratamento, pois “a conversão exige do sujeito o estabelecimento da diferença entre

significado e significante” (DAMM, 1999, p.147), ou seja, entre o conceito

matemático representado e o símbolo utilizado para representá-lo.

A conversão é um passo fundamental no trabalho com representações semióticas, pois a transformação de um registro em outro, conservando a totalidade ou uma parte do objeto matemático que está sendo representado, não pode ser confundida com o tratamento. O tratamento estabelece internamente ao registro, já a conversão se dá entre os registros, ou seja, é exterior ao registro de partida. (DAMM, 1999, p.147).

Isso quer dizer que ao realizar a atividade de conversão os alunos

são obrigados a diferenciar a representação (significante), do conceito matemático

representado (significado). Para Duval (2003) a compreensão em matemática está

associada à atividade de conversão de ao menos dois registros de representação

semiótica.

Encontrar o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de 2)( xxf = em x=2, pode se resumir a um tratamento, como vimos na figura 1. No

entanto, usar diferentes registros para 2)( xxf = , faz com que uma conversão

conduza a resposta procurada (figura 3).

Resolução no Registro Gráfico e Algébrico:

Figura 3: Resolução do exemplo 1 no Registro Gráfico e Algébrico

414==

∆∆

xy

tratamento conversão

26

0. >yx

0. >yx

Duval (2004) e Damm (1999) apontam para a necessidade de não

se confundir a atividade de conversão com duas outras atividades que estão muito

próximas desta: a interpretação e a codificação.

“A interpretação requer uma mudança de quadro teórico, ou modificação de contexto, não implicando mudança de registro. A ação de codificar é a transcrição de uma representação em um outro sistema semiótico diferente daquele onde ela é dada” (DAMM, 1999, p.147).

Interpretar uma expressão algébrica do tipo cxbxay ++= .. 2

significa, por exemplo, mudar do contexto matemático para outro contexto, sem

necessariamente mudar de registro de representação. A expressão algébrica pode

significar para o aluno uma expressão do tipo que representa a velocidade de uma

bola no decorrer do tempo, quando esta é jogada pra cima e volta ao ponto de

partida.

Já a codificação acontece, por exemplo, quando, a partir de um

conjunto de informações contidas no enunciado de um problema, o aluno é capaz de

“retirar” estas informações organizando-as num registro diferente do registro de

partida, que no caso era o registro lingua natural.

Uma conversão pode ser congruente ou não congruente. De modo

geral, uma conversão é considerada congruente quando o registro de chegada deixa

transparecer o registro de partida, ou seja, quando a representação obtida após a

conversão deixa transparecer a representação existente antes da conversão. De

maneira análoga, diz-se que uma conversão é não congruente quando o registro de

chegada em nada lembra o registro de partida.

Consideremos duas conversões, ambas do registro língua natural3

para o registro algébrico.

O produto da abscissa e da ordenada é maior que zero.

O conjunto dos pontos cuja abscissa e cuja ordenada têm o mesmo sinal.

3 Termo utilizado por Duval no livro “Aprendizagem em Matemática: Registros de Representação Semiótica”, em seu artigo “Registros de Representações Semióticas e Funcionamento Cognitivo da Compreensão em Matemática” – páginas 18 e 25.

conversão

conversão

27

Na primeira conversão apresentada, o registro de chegada ( 0. >yx )

é praticamente uma transcrição do registro de saída (o produto da abscissa e da

ordenada é maior que zero), ou seja, o registro de chegada deixa transparecer o

registro de saída. Neste caso, a conversão é congruente. Já na segunda conversão

apresentada, o registro de chegada em nada lembra o registro de saída e por isso, é

considerada não congruente.

Um fator que influencia no nível de congruência ou de não

congruência de uma conversão é o sentido em que esta se dá. Realizar a conversão

do registro língua natural para o algébrico não apresenta, na maioria das vezes, a

mesma dificuldade e o mesmo custo cognitivo que realizar uma conversão do

registro algébrico para o registro língua natural. Ou seja, construir um gráfico dado

sua expressão algébrica, não apresenta a mesma dificuldade que construir uma

expressão algébrica dada sua representação no registro gráfico. Não significa,

também, que realizar a conversão em um sentido implique em uma conversão

natural, por parte do aluno, no outro sentido.

Geralmente, em sala de aula, um sentido da conversão é

privilegiado, como se ao trabalhar este sentido da conversão, automaticamente

estaria se trabalhando a conversão no sentido contrário. Nesta perspectiva,

desenhar num plano cartesiano uma função dada em seu registro algébrico

apresentaria a mesma dificuldade e os mesmos custos cognitivos que a atividade de

escrever a expressão algébrica de uma função a partir de sua representação no

registro gráfico, idéia esta que, segundo a teoria dos Registros de Representação

Semiótica, é falsa (DUVAL, 2004).

1.3 A COORDENAÇÃO4 ENTRE REGISTROS

Segundo Duval (2003), a atividade matemática de mobilizar

simultânemente ao menos dois registros de representação ou a possibilidade de

trocar a todo o momento de registro de representação, sinaliza criatividade do aluno.

4 Termo utilizado por Duval no livro “Aprendizagem em Matemática: Registros de Representação Semiótica”, em seu artigo “Registros de Representações Semióticas e Funcionamento Cognitivo da Compreensão em Matemática” – páginas 16,17,18 e 19.

28

Para Jahn e Karrer (2004), o número de registros mobilizados e

relacionados no estudo de um objeto matemático influencia na possibilidade de

compreensão deste objeto pelo aluno:

[...] a aprendizagem de um conceito matemático consiste em desenvolver coordenações progressivas entre vários sistemas de representação semiótica. Sua teoria (de Duval) está inserida no modelo cognitivo do processo da aprendizagem matemática, cujo foco está na complexidade cognitiva do pensamento humano. Neste contexto, a principal preocupação reside na análise das condições cognitivas internas, necessárias para o estudante entender Matemática, as quais compõem o que ele intitula de arquitetura cognitiva. Desta forma, na concepção desse autor, o entendimento matemático depende, então, da mobilização de vários registros e, por conseqüência, um indivíduo aprende Matemática se ele integra, em sua arquitetura cognitiva, todos os registros necessários como novos sistemas de representação (p.16-17).

Neste sentido, parece que mais importante do que a conversão é a

coordenação entre os registros, é enxergar nos diferentes registros o mesmo objeto

matemático representado. Enquanto a semiósis apresenta os vários registros de

representação em relação a um conceito, a noésis busca a coordenação entre estes

registros. Quanto mais tranqüila for esta coordenação, mais o aluno diferencia o

objeto da sua representação.

Torna-se importante, portanto, promover no ensino um ambiente em

que surjam diferentes registros para o mesmo objeto matemático e em que haja a

necessidade de realizar a conversão e a coordenação entre estes registros. Como

aponta Duval (2003), a criatividade e o conhecimento do aluno se aprimoram muito

mais na utilização de diferentes registros do que na formação de um registro e no

tratamento deste, embora sejam estas as atividades realizadas com maior

frequência nas aulas de Matemática.

A coordenação não implica em realizar somente uma conversão do

registro algébrico para o tabular e, em seguida, realizar uma conversão do registro

tabular para o gráfico, por exemplo, mas compreender que todos estes registros

dizem respeito ao mesmo objeto matemático e podem mesmo se complementar no

sentido de que um registro pode expressar características ou propriedades do objeto

matemático que não são expressas com clareza em outro registro.

Segundo Damm (1999), a coordenação entre registros de

representação permite que os alunos, ao trabalharem com um determinado objeto

29

matemático, troquem de registro de modo a escolher aquele em que os custos de

tratamento e funcionamento sejam menores.

No entanto, a coordenação pode não ser espontânea. O aluno pode

realizar conversões de um registro para outro mas não ter relações entre os

diferentes registros fortemente construídas em sua mente. Estas relações poderão

ser construídas pelos alunos por meio da coordenação entre registros, logo, essa

constitui condição fundamental para a conceitualização do objeto matemático e deve

ser estimulada durante as aulas.

1.4 REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA E O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA

MATEMÁTICA

Diversos estudos (DOMINONI e ALMEIDA, 2005; VIZZOLI, 2004;

KALEFF, 2005; GARCIA e PALÁCIOS, 2006; FLEMMING, LUZ e COELHO, 2002;

JAHN e KARRER, 2004; FONT e INGLADA, 2003; MARANHÃO e IGLIORI, 2003;

FREITAS, 2003), entre outros, têm sido realizados no âmbito da Teoria dos

Registros de Representação Semiótica, na perspectiva de Duval, nos mais

diferentes contextos.

Dominoni e Almeida (2005) investigaram como alunos do 1º ano do

Ensino Médio aprendiam o objeto matemático “função exponencial” quando

participavam de uma seqüência didática elaborada segundo critérios da Engenharia

Didática (ARTIGUE, 1996). As autoras, com base na teoria de Duval, concluíram que

a coordenação entre registros, muito mais do que o tratamento e a conversão,

precisa ser estimulada nos alunos, contribuindo para a apreensão do objeto

matemático.

Vizzoli (2004), ao trabalhar com alunos e professores de um curso

de jovens e adultos, investigando problemas de proporção-porcentagem, percebeu

que os mesmos registros de representação necessários para a compreensão do

objeto matemático podem constituir-se em obstáculos aos alunos e, muitas vezes,

aos professores. O autor enfatiza que muitas das dificuldades dos alunos em utilizar

30

alguns tipos de registros estão relacionadas com dificuldades que o aluno tem em

relação ao uso dos registros.

Nesta linha, Kaleff (2005) discute os registros semióticos e sua

relação com obstáculos cognitivos apresentados por professores na resolução de

problemas introdutórios às geometrias não-euclidianas. A partir das respostas dadas

pelos professores na resolução de problemas e dos resultados de entrevistas, a

autora identificou a ocorrência de três categorias de eventos: os registros semióticos

adotados pelos sujeitos, as respostas elaboradas e os prováveis obstáculos

cognitivos. Dentre os prováveis obstáculos cognitivos, a autora cita a tendência dos

professores de, ao adotarem registros não-discursivos na resolução das atividades,

se aterem enclausurados a um mesmo tipo de registro, ou àqueles com

características muito próximas, sinalizando que a coordenação entre registros não é

pratica destes professores.

Ainda em relação a pesquisas realizadas com professores, Garcia e

Palácios (2006) investigaram como professores de química usam as representações

semióticas. Perceberam que quanto mais se progride em nível acadêmico, maior é a

preferência pelas representações não gráficas. O estudo mostra, ainda, que as

conversões entre registros são mais freqüentes entre as representações

congruentes.

Muitas pesquisas são realizadas investigando o uso de diferentes

registros de representação semiótica nos livros didáticos, buscando conhecer quais

os tratamentos, as conversões e as coordenações destes registros.

Flemming, Luz e Coelho (2002) tratam da importância de se

desenvolver um material didático que contemple a conversão e a coordenação entre

registros, principalmente quando este material é direcionado a cursos de educação a

distância, em que não se tem um professor de matemática que possa orientar os

alunos no processo de aprendizagem.

Também com relação aos livros didáticos, Jahn e Karrer (2004)

analisaram como três livros tratam as transformações lineares. Concluíram que,

mesmo trabalhando o conteúdo de formas distintas, ambos os livros não capacitam

31

o aluno a estabelecer coordenações progressivas entre os registros, uma vez que a

apresentação deles se faz de forma imediata e pronta, sendo suficiente o trabalho

com determinadas conversões.

Inglada e Fonte (2003) estudaram como diferentes livros textos

apresentam e trabalham o conceito de derivada, em uma análise macroscópica

(ligada à organização dos conteúdos) e em uma análise microscópica (ligada às

funções semióticas). Os autores apontam que, dentre os conflitos semióticos

encontrados, destacam-se, por sua relevância, aqueles que originam o livro texto ao

deixar para os alunos a realização de determinadas funções semióticas que são

básicas para a interpretação do texto. Além disso, enfatizam que ao introduzir a

derivada nos cursos superiores é importante permitir que os alunos distingam,

claramente, a derivada em um ponto da função derivada.

Azcárate et al (1996) afirma que o êxito em Matemática depende da

riqueza das representações mentais dos conceitos matemáticos, o que implica num

trabalho em que os vários registros de representação estejam envolvidos, uma vez

que as representações semióticas, além de comunicar as representações mentais,

contribuem para sua reorganização e construção.

Pensamos que é importante levar em conta que os estudantes constroem seu conhecimento ao longo de vários anos e que seu contato com os conceitos é cada vez mais profundo de forma que o desenvolvimento progressivo de suas capacidades permite utilizar técnicas cada vez mais adequadas e poderosas (AZCÁRATE et al, 1996, p.17, [tradução livre]).

Maranhão & Igliori (2003) enfatizam que “[...] um sucesso em

matemática não se constitui necessariamente em um sucesso cognitivo” (p.61). Para

as autoras, não basta chegar à resposta “correta” para um problema se o aluno não

mobilizar, de forma consistente, as unidades cognitivas específicas do

funcionamento dos registros utilizados para a obtenção da resposta.

Freitas (2003) verificou que, geralmente, os alunos iniciam a

resolução de um problema operando registros numéricos e, somente após

realizarem alguma descoberta, procuram realizar conversões para registros em que

possam validar as conjecturas que eles identificaram e que consideram plausíveis.

32

Mas como promover situações, no âmbito das aulas de Matemática,

ricas em registros e nas quais os alunos sintam a necessidade do uso destes

diferentes registros?

Na tentativa de buscar respostas para esta questão, investigamos a

Modelagem Matemática como alternativa pedagógica.

33

2.1 INTRODUÇÃO

Segundo Ponte (1992), as relações entre Matemática e realidade

podem aparecer ao longo dos processos de ensino e de aprendizagem, seja como

ponto de partida para a introdução de novos conceitos matemáticos, seja por meio

de exemplos de aplicações de conceitos matemáticos, seja no estudo de situações-

problema que podem ser extra-matemáticas.

Neste capítulo, apresentamos algumas considerações a respeito da

alternativa de estudo de situações-problema por meio da matemática conhecida por

Modelagem Matemática. Nesta abordagem, é possível que os alunos utilizem

conceitos matemáticos já conhecidos – aplicando-os – ou frente a uma situação

“nova”, busquem estratégias diferentes de resolução, caso em que a atividade de

Modelagem1 seria o ponto de partida para a introdução de novos conceitos.

2.2 MODELAGEM MATEMÁTICA E MODELO MATEMÁTICO

Para Bassanezi (2002)

quando se propõe analisar um fato ou uma situação real cientificamente, isto é, com o propósito de substituir a visão ingênua desta realidade por uma postura crítica e mais abrangente, deve-se procurar uma linguagem adequada que facilite e racionalize o pensamento (p.18).

Uma forma de buscar esta linguagem pode implicar na construção

do que chamamos de ‘modelo matemático’ e consiste, segundo Bassanezi (2002),

num “conjunto de símbolos e relações matemáticas que representam de alguma

forma o objeto estudado” (p.20). Uma equação, uma tabela, um gráfico, são

exemplos de modelos matemáticos. Modelagem Matemática consiste na obtenção,

validação e aplicação de modelos matemáticos (D’AMBROSIO, 1986).

1 Para evitar repetições, deixarei de escrever, às vezes, o adjetivo “Matemática” para o termo Modelagem.

CAPÍTULO 2

MODELAGEM MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

34

Para Granger (apud BIEMBENGUT, 2003), o modelo “é uma

imagem que se forma na mente, no momento em que o espírito racional busca

compreender e expressar de forma intuitiva uma sensação, procurando relacioná-la

com algo já conhecido, efetuando deduções” (p.11).

Neste sentido, D’Ambrosio (1986) percebe o modelo como um ponto

de ligação entre as informações captadas pelo indivíduo e sua ação sobre a

realidade e pode ser considerado um recurso que dá as pessoas condições de

exercer seu poder de análise da realidade. Tal afirmação aponta tanto para o caráter

dinâmico do processo de Modelagem Matemática quanto para a subjetividade

relacionada ao modelo matemático.

Chevallard (2001), ao abordar a elaboração de modelos considera

que um aspecto essencial da atividade matemática consiste em construir um modelo (matemático) da realidade que queremos estudar, trabalhar com tal modelo e interpretar os resultados obtidos nesse trabalho, para responder as questões inicialmente apresentadas. Grande parte da atividade matemática pode ser identificada, portanto, como uma atividade de modelagem matemática (p.50).

Embora consideremos a construção de um modelo matemático

essencial na atividade de Modelagem Matemática, não o consideramos como o fim

deste tipo de atividade, mas como uma alternativa capaz de permitir uma

compreensão mais global acerca da situação investigada, buscando uma resposta

para o problema.

2.2.1 ETAPAS DE UMA ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA

De modo geral, o desenvolvimento de uma atividade de Modelagem

Matemática envolve várias etapas. A primeira delas começa quando o modelador se

depara com uma situação situação-problema que deseja investigar.

Inicialmente, o modelador precisa identificar as características e

variáveis essenciais que parecem influenciar diretamente no problema. Esta etapa

de simplificação envolve a tomada das decisões sobre o que pode ser ignorado e a

análise de como esses aspectos essenciais podem estar conectados.

35

Bassanezi (2002) coloca que

quando se procura refletir sobre uma porção da realidade, na tentativa de explicar, de entender, ou de agir sobre ela – o processo usual é selecionar, no sistema, argumentos ou parâmetros considerados essenciais e formalizá-los através de um sistema artificial: o modelo (p.19).

Após a escolha das variáveis consideradas importantes na resolução

do problema, vem a etapa em que são introduzidos os conceitos matemáticos

formais e as notações. Esta etapa de abstração envolve a seleção dos objetos

matemáticos necessários para representar a situação em estudo.

A etapa seguinte envolve a manipulação com a representação

matemática a fim de perceber características, usar conceitos ou técnicas e obter um

modelo matemático. Durante esta etapa, a experiência de uma pessoa com outras

situações de Modelagem e com diferentes objetos matemáticos tem grande

influência.

Finalmente, a última etapa no desenvolvimento de uma atividade de

Modelagem Matemática, é a validação do modelo matemático e a interpretação da

resposta encontrada, ambas feitas à luz da situação original.

A validação do modelo se dá no processo de intermediação entre o

problema original e o modelo matemático. Caso a resposta obtida pelo modelo seja

válida, utilizamos o mesmo para fazer previsões, tomar decisões e/ou analisar a

situação em estudo. Caso a resposta não seja válida, o modelador deve reiniciar

todo o processo de Modelagem Matemática, desde a seleção das variáveis

envolvidas e dos conceitos-chaves essenciais até a obtenção de outro modelo

matemático.

Tais etapas podem ser mais bem representadas no esquema da

Figura 4. Este esquema foi construído baseado em uma representação feita por

Kehle e Lester (2003), cuja ênfase reside na transição, ao resolver uma situação-

problema de Modelagem Matemática, de um contexto não matemático para um

contexto matemático.

36

Figura 4: Etapas possíveis no desenvolvimento de uma atividade de Modelagem Matemática.

No âmbito da Educação Matemática, tão importante quanto o

produto final – a resposta para o problema ou o modelo matemático – são as

discussões realizadas no decorrer do desenvolvimento da atividade, tanto as

discussões sobre os objetos matemáticos envolvidos quanto as discussões sobre a

situação não matemática em si.

[...] o mais importante não é chegar imediatamente a um modelo bem sucedido, mas caminhar seguindo etapas em que o conteúdo matemático vai sendo sistematizado e aplicado [...]. Mais importante do que os modelos obtidos são o processo utilizado, a análise crítica e sua inserção no contexto sócio-cultural. O fenômeno modelado deve servir de pano de fundo ou motivação para o aprendizado das técnicas e conteúdos da própria matemática. As discussões sobre o tema escolhido favorecem a preparação do estudante como elemento participativo na sociedade em que vive. (BASSANEZI, 2002, p.38)

2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

A Matemática tal como vem sendo ensinada em algumas salas de

aula, tem contribuído para a formação de pessoas conformadas com o que lhes é

posto. Ou seja, ao trabalhar a Matemática, apresentando seus conteúdos sem

contexto significativo para os alunos e enfatizando a técnica em vez dos conceitos, o

que pode ficar é a impressão de que na Matemática os conteúdos estão prontos,

37

apresentam caráter estanque e não são aplicáveis a situações com que o estudante

se depara fora da escola ou à outras áreas do conhecimento.

Como conseqüência dessa impressão, ao se deparar com uma

situação baseada em argumentos matemáticos para justificar e defender uma idéia,

as pessoas, muitas vezes, se vêem sem meios para discutir e analisar tal situação,

uma vez que, de modo geral, o envolvimento que têm com a Matemática os leva a

pensar que a Matemática não admite contestações.

Concordamos com Barbosa (2003) quando afirma que

Se estamos interessados em construir uma sociedade democrática, onde as pessoas possam participar de sua condução e, assim, exercer cidadania, entendida aqui genericamente como inclusão nas discussões públicas, devemos reconhecer a necessidade de as pessoas se sentirem capazes de intervir em debates baseados em Matemática. (p.6)

Mas como criar condições das pessoas se sentirem capazes de

intervir em debates que necessitam de argumentações baseadas na Matemática?

Acreditamos que uma forma de contribuir para que as pessoas

tenham o hábito de duvidar, questionar e interpretar situações que usam de

argumentos matemáticos é, desde os primeiros anos escolares, discutir situações-

problema nas aulas de Matemática ao mesmo tempo em que se discute conceitos

matemáticos (constantes do programa escolar ou não). Pensamos que para

aprender a discutir problemas do cotidiano por meio da Matemática é preciso fazer

disso uma prática nas aulas de Matemática.

Neste contexto, a Modelagem Matemática pode contribuir para o que

Bassanezi (2002) chama de um “novo modelo de educação menos alienado e mais

comprometido com as realidades dos indivíduos e sociedades” (p.15). Neste sentido,

a sala de aula é considerada, conforme Silva (2005), um “laboratório de cidadania”.

Embora possam ser percebidas na literatura diferentes perspectivas

para a Modelagem Matemática, existe o consenso de que as atividades de

Modelagem podem trazer contribuições importantes para os processos de ensino e

de aprendizagem da Matemática. Uma idéia compartilhada pelos autores, de modo

geral, é de que a Modelagem Matemática deve ser desenvolvida a partir de casos

38

autênticos da realidade e não de casos fictícios. “Casos autênticos”, neste contexto,

dizem respeito à situações reais, cujos dados são verdadeiros e não correspondem

à situações “criadas”.

Niss (1992) enfatiza a importância de se utilizar casos autênticos de

aplicação e Modelagem Matemática no ensino, principalmente para “tornar visível o

significado da matemática para se compreender e lidar com o mundo” (p.2).

Nesta pesquisa, entendemos a Modelagem Matemática como uma

alternativa pedagógica para o ensino e aprendizagem da Matemática, que discute,

por meio da Matemática, uma situação-problema que pode, inicialmente, ser

apresentada no contexto não matemático.

2.4 A MODELAGEM MATEMÁTICA NA SALA DE AULA

Diversas experiências de Modelagem Matemática têm sido

realizadas em salas de aula (BARBOSA, 1999; BORBA e BIZZELI, 1999; FRANCHI,

1993; MALHEIROS, 2004; ALMEIDA e DIAS, 2004; BRITO e ALMEIDA, 2005;

BORSSOI e ALMEIDA, 2005; KEHLE e CUNNINGHAM, 2002; KEHLE e LESTER,

2003), entre muitos outros e o modo como são conduzidas estas experiências

reflete, muitas vezes, a necessidade de adequação ao contexto escolar.

As atividades de Modelagem podem ser integradas às aulas de

Matemática sob a forma de projetos extensos (com duração de semanas ou meses)

e/ou de situações que podem requerer uma ou duas aulas, apenas. De qualquer

modo, a Modelagem pode servir como motivação para introduzir novos conceitos

e/ou aplicar conceitos já adquiridos.

De modo geral, os alunos estão acostumados com ambientes de

aprendizagem que constituem aulas discursivas e expositivas, nas quais existe

pouca interação entre professor e aluno e entre alunos, bem como pouca discussão

acerca de situações e de problemas que poderiam ser relacionados com a

Matemática.

39

Levando em consideração esta situação, é adequado que o

envolvimento dos alunos com a Modelagem Matemática seja um processo gradativo,

aumentando no decorrer das atividades. Desse modo, os estudantes se acostumam,

aos poucos, com o ambiente de Modelagem na sala de aula.

Assim,

“[...] na medida em que o aluno vai realizando as atividades nos diferentes momentos” [...] “a sua compreensão acerca do processo de Modelagem, da resolução dos problemas em estudo e da reflexão sobre as soluções encontradas vai se consolidando.” (ALMEIDA e DIAS, 2004, p. 26)

Neste sentido, alguns autores sugerem que as atividades de ensino

por meio da Modelagem podem atravessar três momentos ou casos (ALMEIDA E

DIAS, 2004; BARBOSA, 2003).

Em um primeiro momento o professor desenvolve com os alunos um

trabalho de Modelagem já estruturado. Para isso, apresenta a descrição da situação-

problema e o problema formulado, bem como os dados qualitativos e quantitativos

necessários para a resolução do mesmo. Neste caso, cabe aos alunos a resolução

do problema, sendo o professor um orientador do trabalho de resolução.

Não se trata de apresentar aos alunos um trabalho de Modelagem

pronto, mas de construir com os mesmos tanto as idéias necessárias para a

resolução do problema quanto o modelo em si, atentando para todas as etapas de

uma atividade de Modelagem Matemática. Como a atenção do aluno também deve

estar voltada para as etapas presentes no desenvolvimento de uma Modelagem, é

preferível, neste primeiro momento, a escolha por trabalhos não muito complexos

(BORSSOI, 2004).

No segundo momento, o professor traz para a sala de aula uma

situação-problema já estruturada (no contexto não matemático), além de um

conjunto de informações sobre ela. Neste caso, cabe aos alunos, em grupo, a

seleção das variáveis consideradas essenciais para a resolução do problema, a

formulação de hipóteses, a dedução do modelo, sua validação e a interpretação das

respostas encontradas diante da situação inicial.

40

Finalmente, também distribuídos em grupos, os alunos são

incentivados a desenvolverem uma atividade de Modelagem Matemática desde a

escolha do problema até a obtenção de uma resposta para o problema.

Em todos estes momentos, o professor é concebido como

“colaborador” e “participante” do processo de investigação dos alunos, uma vez que

seu papel é dialogar com eles acerca de seus procedimentos e orientá-los quando

preciso. Malheiros (2004) considera que nas atividades de Modelagem Matemática,

o professor atua como um “mediador” do processo de aprendizagem.

2.5 MODELAGEM MATEMÁTICA E O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

Ao discutir situações da realidade e verificar a aplicabilidade da

Matemática em diferentes contextos, os alunos, além de entender melhor a

realidade que os cerca, podem ter uma visão mais ampla da Matemática e construir

conhecimentos a respeito dos aspectos matemáticos com que se deparam nas

atividades de Modelagem.

Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas utilizando a Modelagem

Matemática como uma alternativa pedagógica para o ensino e a aprendizagem da

Matemática (FRANCHI, 1993; SILVA, 2005; SKOVSMOSE, 2001; KAISER, 2004;

MASS, 2004; ALMEIDA e DIAS, 2004; BRITO e ALMEIDA, 2005; BORSSOI E

ALMEIDA, 2005; BARBOSA, 1999; FERRUZI, 2003; NISS, 1992; BLUM e NISS,

1991; KEHLE e CUNNINGHAM, 2002; KEHLE e LESTER, 2003), entre outros.

Para Almeida e Dias (2004) a Modelagem pode proporcionar

[...] aos alunos oportunidades de identificar e estudar situações-problema de sua realidade, despertando maior interesse e desenvolvendo um conhecimento mais crítico e reflexivo em relação aos conteúdos matemáticos (p. 25).

Segundo Brito e Almeida (2005), compreender e agir sobre a

realidade viabiliza ao aluno a possibilidade de atribuir sentido e construir significados

para os conceitos matemáticos com que se defronta nas aulas de matemática, o

que, segundo os autores, contribui para sua aprendizagem.

41

Borssoi e Almeida (2005), a partir de uma pesquisa realizada com

alunos de um curso superior de Química concluíram que a Modelagem pode

contribuir para a aprendizagem significativa (como compreendida por Ausubel), dos

conceitos matemáticos.

Almeida e Dias (2004) atentam para o fato de a Modelagem ser uma

atividade essencialmente cooperativa, sendo que tal cooperação desempenha papel

fundamental na construção do conhecimento. Neste contexto, Barbosa (1999)

chama a atenção para a idéia de que a Modelagem, na sala de aula, “reorganiza as

relações de conhecimento entre professor e aluno, com nova divisão de

responsabilidades” (p.76).

Niss (1992) atenta para uma das finalidades da Educação

Matemática que é tornar visível o papel da Matemática no mundo. Neste sentido, a

Modelagem pode, além de mostrar onde encontrar a Matemática fora da própria

disciplina, identificar algumas das razões que determinam o papel da Matemática.

Para Skovsmose (2001), as situações de Modelagem Matemática podem contribuir

para a formação de um cidadão crítico e participante na sociedade, seja nas

discussões sociais, econômicas e/ou políticas. Silva (2005), ao realizar uma

pesquisa com 35 alunos de uma escola de Ensino Médio, percebeu que as salas de

aula podem se tornar verdadeiros “laboratórios de cidadania”.

Blum e Niss (1991) afirmam que as atividades de Modelagem podem

contribuir para que os alunos se tornem confiantes e capazes de resolver problemas.

Tornar-se confiante para resolver problemas matemáticos implica, para muitos

alunos, numa mudança de crença. Sentir-se incapaz de resolver um problema

matemático acarreta uma série de limitações nas aulas de matemática e, superar

este sentimento de incapacidade, pode trazer superações dos alunos em relação às

dificuldades de aprendizagem. Neste contexto, também Mass (2004), estudando a

mudança de crenças em um grupo de alunos, percebeu que o trabalho com

Modelagem Matemática em sala de aula possibilita mudanças nas crenças dos

alunos em relação à própria Matemática, em relação ao seu ensino e, sobretudo, em

relação a si mesmos frente à Matemática.

42

Para Kaiser (2004) o envolvimento com Modelagem pode contribuir

para que os alunos tenham uma visão mais aberta dos problemas matemáticos e

passem a considerar a possibilidade de diversas formas de resolução. Além disso,

“a Modelagem pode tornar acessível a ligação entre vários conteúdos, possibilitando

ainda a retomada de conceitos já trabalhados, imprimindo, desse modo, um caráter

espiral ao currículo” (BARBOSA, 1999, p.78).

Embora pesquisas tenham percebido o potencial das atividades de

Modelagem para estabelecer relações entre diferentes conteúdos, retomar os

conteúdos já abordados em outras situações, parece ainda haver uma lacuna no

que diz respeito à compreensão de um objeto matemático que emerge em situações

de Modelagem, a partir dos diferentes registros de representação associados a este

objeto. Assim, a nossa pesquisa procura avançar nesta direção, estabelecendo

relações entre Modelagem Matemática e a Teoria dos Registros de Representação

Semiótica.

131

Estando na parte final deste trabalho de pesquisa, somos levados a

retomar nossa problemática inicial: identificar os diferentes registros de

representação semiótica utilizados pelos alunos em atividades de Modelagem

Matemática e investigar as seguintes questões – as atividades de Modelagem que

tem por objetivo o estudo de um objeto matemático dão lugar à exploração de

diferentes registros de representação semiótica? Estas atividades viabilizam o

tratamento e a conversão destes registros? Provocam a coordenação entre os

diferentes registros? Buscamos também inferir, a partir do referencial teórico, se a

interação Modelagem Matemática e Registros de Representação Semiótica leva à

compreensão, tanto do problema não matemático em estudo quanto dos objetos

matemáticos envolvidos no estudo desse problema.

A partir das reflexões que fizemos, tendo esta problemática e estas

questões como norte, retomamos aqui, em linhas gerais, as compreensões

construídas ao longo da investigação.

Ao utilizar a Modelagem Matemática como alternativa pedagógica,

inserimos os alunos em um contexto de aprendizagem em que a discussão de

situações-problema, a participação ativa e o uso de diferentes registros se fazem

essenciais. Mais do que simplesmente utilizar diferentes registros, em Modelagem,

os alunos são levados a relacionar estes registros ao buscar uma solução para a

situação-problema em estudo, tal como na situação do “movimento das marés”, em

que para encontrar um modelo matemático que representasse a situação

investigada, os alunos coordenaram os registros figural, tabular, gráfico e algébrico

(figura 46). Estes registros, segundo Duval (2004), evidenciam o modo como os

alunos entendem determinado objeto matemático ao mesmo tempo em que

promovem novas interpretações acerca destes objetos e de outros relacionados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

132

Figura 46: Registros utilizados na situação “O movimento das marés”

As anotações dos alunos durante o desenvolvimento das atividades

mostraram certa resistência dos mesmos em relação à utilização do registro gráfico

e à atividade de coordenação. Notamos que tal resistência diminuiu

consideravelmente durante o curso, talvez, devido às atividades de Modelagem

exigirem, de certo modo, que diferentes registros de um objeto matemático fossem

utilizados e relacionados, a fim de possibilitar a compreensão do objeto matemático

e da situação investigada. Para este fim, tanto a utilização do registro gráfico quanto

a coordenação dos registros envolvidos tornaram-se ações adequadas.

A coordenação, no que tange a pares de registros ou ainda à

conversões isoladas, foi realizada desde o início do curso. Com o tempo, para

responder aos problemas investigados, os alunos coordenavam os diferentes

registros. Esta coordenação, ao possibilitar a compreensão dos objetos

matemáticos, contribuiu, também, para que os alunos adquirissem certa

familiaridade com os conteúdos contemplados, tanto que no final do curso

desenvolviam as atividades de Modelagem com maior rapidez e autonomia. Tal

133

familiaridade possibilita aos alunos o reconhecimento de um mesmo objeto

matemático, seja em parte ou no todo, em seus diferentes registros.

No decorrer do curso, notamos que algumas vezes os alunos só

utilizavam os diferentes registros sem estabelecer relações entre eles, realizando

apenas transformações internas aos registros, ou seja, tratamentos. Diante deste

quadro, por exemplo, os alunos apresentaram dificuldades em relacionar a

expressão algébrica de uma função cúbica com o gráfico correspondente ou de

modo geral, dificuldades em representar uma função em seu registro gráfico a partir

do registro algébrico.

Outras vezes, os alunos utilizavam diferentes registros e

estabeleciam relações entre pares de registros, realizando a atividade de conversão.

Em atividades de Modelagem Matemática, as conversões não são realizadas por

uma questão de escolha, mas de necessidade, sejam elas conversões congruentes

ou não congruentes (figura 47).

Figura 47: Exemplo de conversão não congruente e congruente

Segundo Duval (2004) as conversões não congruentes são,

geralmente, aquelas em que os alunos apresentam maiores dificuldades. Talvez, por

isso, muitos alunos procuram resolver os problemas matemáticos sem realizar

conversões deste tipo. Com Modelagem, estas conversões passaram a ser

realizadas sem maiores problemas e até mesmo com certa naturalidade.

134

Verificamos que as conversões aconteciam ora para se obter um

registro em que os tratamentos eram considerados mais fáceis, ora para se obter um

registro que melhor respondesse ao problema inicial e ora para se obter um registro

cujas interpretações complementassem as interpretações advindas dos registros

iniciais.

No caso específico das conversões realizadas do registro gráfico

para o registro língua natural, identificamos quatro finalidades em se realizar tal

conversão. Esta conversão foi utilizada tanto para entender a situação que se

pretendia modelar, para justificar a escolha da transformação de um dado registro

para o registro gráfico, para explicar alguns aspectos do objeto matemático utilizado

na atividade de Modelagem quanto para interpretar a situação não matemática em

estudo (figura 48).

Figura 48: Finalidades da conversão do registro gráfico para o registro língua natural

Muitos alunos, ainda, utilizavam, relacionavam e tiravam conclusões

sobre o problema investigado em função dos registros, ou seja, coordenavam os

diferentes registros e estabeleciam relações com o problema. Vale lembrar que “[...]

passar de um registro de representação à outro não é somente mudar de modo de

tratamento, é também explicar as propriedades ou os aspectos diferentes de um

mesmo objeto” (DUVAL, 2003, P.22). Assim, quando os alunos realizam conversões,

congruentes ou não congruentes, e conseqüentemente, coordenações, é por que

conhecem e compreendem diferentes aspectos e propriedades do objeto

135

matemático. Um exemplo de coordenação é mostrado na figura 46 referente ao

movimento das marés.

Em termos gerais, verificamos que, de fato, as atividades de

Modelagem Matemática viabilizam a utilização e exploração de diferentes registros

de representação semiótica bem como os processos de tratamento, de conversão e

de coordenação entre registros.

Estes processos se tornaram mais freqüentes e mais intensos no

decorrer do envolvimento dos alunos com as atividades de Modelagem e por meio

das interpretações advindas destes processos é que a compreensão do objeto

matemático presente na Modelagem e, conseqüentemente, da situação não

matemática estudada foi se consolidando. Neste sentido, entendemos que a

interação Modelagem Matemática e Registros de Representação Semiótica contribui

para a aprendizagem de conceitos matemáticos e, conseqüentemente, para a

discussão de situações da realidade.

Neste sentido, consideramos importante realizar conversões e

coordenações para a aprendizagem em matemática. No entanto, sabemos que

estas transformações, de modo geral, não acontecem espontaneamente. Este

trabalho apresenta a Modelagem Matemática como alternativa pedagógica que

possibilita a realização destas transformações.

“Na medida em que a matemática tende a diversificar os registros de representação, sua aprendizagem específica pode contribuir fortemente para o desenvolvimento das capacidades cognitivas globais dos indivíduos. Visar esse desenvolvimento sem se fixar de forma míope sobre a aquisição de tal ou tal noção particular é provavelmente o aporte maior que se pode esperar da aprendizagem matemática para a sua educação” (DUVAL, 2003, p.29-30).

As atividades de Modelagem Matemática imprimiram, aos poucos,

uma nova postura nos alunos diante das situações propostas, uma postura de

reflexão em relação ao objeto matemático e em relação à situação-problema.

Os alunos participantes do curso tiveram a oportunidade de

“perceber” suas dúvidas, pensar sobre elas, manifestá-las e saná-las. Muitos destes

alunos, motivados pelas atividades de Modelagem desenvolvidas no curso,

aproveitaram a oportunidade de avançar nas experiências ligadas à Modelagem,

136

apresentando na “Semana da Matemática” da universidade, na forma de

comunicação científica, alguns dos trabalhos desenvolvidos por eles.

Embora esta pesquisa tenha sido desenvolvida com uma turma de

alunos do curso superior, como o foco central da pesquisa foi a utilização de

diferentes registros em atividades de Modelagem Matemática, ela pode ser uma

referência, também, a professores do Ensino Médio, devido às possibilidades e

contribuições que a interação entre Modelagem e Registros de Representação

Semiótica pode proporcionar à aprendizagem em Matemática.

Chegando ao final desta pesquisa, não poderíamos nos furtar de

apontar para as possibilidades de novos estudos que podem ser realizados e que

vislumbramos em função do que realizamos. Nesta perspectiva, ainda com relação

às atividades de Modelagem, futuras pesquisas podem ser encaminhadas no

sentido de investigar um registro específico e as transformações relacionadas a este

registro, tal como o registro gráfico, tão evitado pelos alunos no início desta

investigação. Outro assunto passível de investigação é quanto a função e influência

desempenhada pelos objetos tridimensionais nas representações semióticas, tal

como aconteceu no caso do volume máximo de uma caixa em que um aluno, em

vez de utilizar uma representação semiótica para compreender o enunciado do

problema, construiu de fato uma caixa de papel com as características do enunciado

do problema.

Esperamos que esta reflexão inicial sobre as contribuições que a

Modelagem Matemática e os Registros de Representação Semiótica têm para a

aprendizagem em Matemática, possa atingir também professores de diferentes

níveis de ensino que, como nós, buscam tanto compreender os registros produzidos

por seus alunos quanto conhecer novos modos de trabalhar a matemática.

137

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