um estudo sobre a vertente marxista da dependência

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DOCUMENTOS DE TRABAJO IELAT _____________________________________________ Instituto de Estudios Latinoamericanos Universidad de Alcalá Nº 46 Enero 2013 Maíra Machado Bichir À guisa de um debate: um estudo sobre a vertente marxista da dependência

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Leitura para aula de Cepal e Teorias da DependênciaFundamentos de América Latina I

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  • DOCUMENTOS DE TRABAJO IELAT

    _____________________________________________

    Instituto de Estudios Latinoamericanos Universidad de Alcal

    N 46 Enero 2013

    Mara Machado Bichir

    guisa de um debate: um estudo sobre a vertente marxista da dependncia

  • guisa de um debate: um estudo sobre a vertente marxista

    da dependncia

    Mara Machado Bichir

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    Mercedes Martn Manzano

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    Inmaculada Simn

    Vanesa Ubeira Salim

    Lorena Vsquez Gonzlez

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    Impreso y hecho en Espaa

    Printed and made in Spain

    ISSN: 19898819

    Consejo Editorial

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    Isabel Garrido

    Carlos Jimnez Piernas

    Manuel Lucas Durn

    Diego Luzn Pea

    Jos Luis Machinea

    Pedro Prez Herrero

    Daniel Sotelsek Salem

    Unin Europea

    Sergio Costa (Instituto de Estudios Latinoamericanos,

    Universidad Libre de Berln, Alemania)

    Ana Mara Da Costa Toscano (Centro de Estudios

    Latinoamericanos, Universidad Fernando

    Pessoa, Porto, Portugal)

    Georges Couffignal (Institute des Haute Etudes de

    LAmrique Latine, Paris, Francia)

    Leigh Payne (Latin American Centre and Brasilian

    Studies Programme, Oxford, Gran Bretaa)

    Amrica Latina y EEUU

    Juan Ramn de la Fuente (Universidad Nacional

    Autnoma de Mxico, Mxico)

    Eduardo Cavieres (Pontificia Universidad Catlica de

    Valparaso, Chile)

    Eli Diniz (Universidad Federal de Ro de Janeiro,

    Brasil)

    Carlos Marichal (El Colegio de Mxico, Mxico)

    Armando Martnez Garnica (Universidad Industrial

    de Santander, Bucaramanga, Colombia)

    Marcos Neder (Trench, Rossi e Watanabe Advogados

    Sao Paulo, Brasil)

    Peter Smith (Universidad de California, San Diego,

    EEUU)

    Francisco Cueto (Facultad Latinoamericana de

    Ciencias Sociales FLACSO-, Repblica

    Dominicana)

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    guisa de um debate: um estudo sobre a vertente marxista da dependncia

    Mara Machado Bichir

    Resumo:

    O presente artigo dirige seu foco ao estudo do pensamento dependentista, e em particular, vertente marxista da Teoria da Dependncia, a qual se constitui enquanto perspectiva de anlise sobre a problemtica do subdesenvolvimento e da dependncia latino-americana. Assim, os objetivos da investigao consistem na apresentao e discusso dos antecedentes da Teoria da Dependencia os movimentos histricos, econmicos, polticos e sociais referentes sua formulao , seu papel dentro da histria do pensamento latino-americano, seus interlocutores intelectuais e polticos, bem como sua estrutura de pensamento.

    Mestranda do programa de ps-graduao em Cincia Poltica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Brasil. Graduou-se em Relaes Internacionais pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP), Brasil; Integra atualmente o Grupo de Pesquisa Marxismo e Pensamento Poltico e sua pesquisa de mestrado contou com o financiamento da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP). Contacto: [email protected]

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    I. Introduo

    A constituio do pensamento dependentista est inscrita em um momento histrico de profundas mudanas no sistema internacional, mudanas essas que se manifestaram concretamente tanto nas dimenses poltica, econmica e social latino-americanas1, quanto na efervescncia intelectual produzida nessa mesma regio. Se por um lado as duas grandes guerras mundiais e, principalmente, a crise de 1929 significaram a reestruturao das economias desses pases, por outro impulsionaram debates intensos acerca da problemtica desenvolvimento/subdesenvolvimento, conjugando a emergncia de um olhar propriamente latino-americano realidade que tinha lugar naquele perodo. As mudanas instauradas a partir desse perodo abrem uma nova fase na Amrica Latina, caracterizada pelo processo de industrializao, a qual avana at meados da dcada de 1950, quando reconfiguraes na ordem mundial, articuladas aos limites e problemticas internas aos pases da regio repercutem em uma profunda crise do capitalismo dependente latino-americano, crise essa que se manifesta politicamente na polarizao entre revoluo e contra-revoluo.

    Em meio complexa conjuntura que vivia a Amrica Latina, marcada por possibilidades e incertezas, e s discusses poltico-tericas dela emergidas, desenvolveu-se o pensamento dependentista, o qual buscou responder s questes que estavam colocadas na trajetria histrica da regio. Quais as razes do subdesenvolvimento nos pases latino-americanos? Quais as perspectivas futuras para suas economias e sociedades? Os levantes sociais que se multiplicavam desde a dcada de 1950 conduziriam estruturao de uma nova ordem latino-americana? Essas e diversas outras temticas envolviam as mentes daqueles que se debruavam sobre a anlise da realidade que os circunscrevia, motivando discusses intelectuais e tericas acaloradas, e, mais ainda, fortes embates polticos.

    O presente artigo dirige seu foco ao estudo do pensamento dependentista, e em particular, vertente marxista da Teoria2 da Dependncia, a qual se constitui como perspectiva analtica da problemtica da dependncia latino-americana. Assim, os objetivos da investigao consistem na apresentao y discusso dos antecedentes da Teoria da Dependencia os movimentos histricos, econmicos, polticos e sociais referentes sua formulao , seu papel dentro da histria do pensamento latino-americano, seus interlocutores intelectuais e polticos, bem como sua estrutura

    1 Adota-se aqui a perspectiva da Amrica Latina como um todo, ainda que heterogneo, na medida em

    que se busca ressaltar o compartilhamento de um passado colonial e de sua insero na diviso internacional do trabalho comuns e afirm-la como regio no apenas geogrfica, mas, fundamentalmente poltica. 2 O termo teoria aparece aqui entre aspas na medida em que ele objeto de debates no apenas entre

    os prprios autores dependentistas, mas tambm entre os estudiosos desse pensamento e da temtica da dependncia. Embora se questione o estatuto terico da dependncia, tal denominao reflete o modo pelo qual tal pensamento se difundiu na Amrica Latina e nos demais pases do mundo. Uma visualizao dessa problemtica possvel a partir das seguintes obras: Cardoso (1970); Weffort (1978); Marini (1994); Moraes (2010).

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    de pensamento.

    A relevncia da presente investigao se justifica uma vez que o pensamento produzido no interior da vertente marxista da dependncia possui um grande relevo no debate latino-americano e mundial sobre o desenvolvimento. Suas crticas s teorias da modernizao e ao desenvolvimentismo cepalino introduziram, graas sua caracterizao do capitalismo dependente, una nova noo, una nova viso acerca do subdesenvolvimento latino-americano: A dependncia e o subdesenvolvimento latino-americano so estudados segundo uma nova perspectiva da teoria do imperialismo, ou seja, a partir do olhar dos pases dependentes. (SANTOS, 1970)

    Embora o pensamento daqueles autores tenha se difundido para diversas regies do mundo, o mesmo encontra pouca interlocuo na academia brasileira. Desde sua constituio at recentemente, os escritos de Ruy Mauro Marini, Vnia Bambirra e Theotnio dos Santos gozaram de reduzida recepo e repercusso no ambiente acadmico brasileiro, e tais autores foram objetos de escassas interpretaes e anlises no Brasil3.

    O trabalho est dividido em quatro sees, sendo que a primeira tem como objetivo apresentar uma contextualizao do processo histrico-concreto, bem como uma caracterizao dos movimentos polticos e intelectuais que antecederam a formulao das teses dependentistas; a segunda se dedica ao estudo do processo de constituio da Teoria da Dependncia; a terceira consiste em um breve esforo de sistematizao dos principais elementos que conformam o pensamento da vertente marxista da dependncia. Finalmente, a ltima seo corresponde s consideraes finais acerca do trabalho exposto.

    1. Antecedentes da Teoria da Dependncia

    O perodo que se estende do incio da Primeira Guerra Mundial at o final da dcada de 1950 est associado a modificaes no padro de comrcio internacional, as quais implicaram repercusses nas estruturas polticas e econmicas dos pases latino-americanos. O contexto da Primeira Guerra significou para tais pases a reduo da

    3 Nos ltimos anos, entretanto, tem-se produzido um esforo de resgate no Brasil do debate sobre a

    Teoria da Dependncia, e em especial sobre a vertente marxista da dependncia. Alguns trabalhos que refletem tal esforo podem ser aqui citados: CORREA PRADO, Fernando (2011). Histria de um no-debate: a trajetria da teoria marxista da dependncia no Brasil. In: XVI Encontro Nacional de Economia Poltica - Dilemas do desenvolvimento brasileiro, Uberlndia. Anais XVI Encontro Nacional de Economia Poltica - Dilemas do desenvolvimento brasileiro; CORREA PRADO, Fernando; MEIRELES, Monika. Teoria da dependncia revisitada: elementos para a crtica ao novo-desenvolvimentismo dos atuais governos de centro-esquerda latino-americanos. In: Rodrigo Castelo Branco. (Org.). Encruzilhadas da Amrica Latina no sculo XXI. 1 ed. Rio de Janeiro: Po e Rosas, 2010, v. 1, p. 169-190; BUENO, F. M; SEABRA, Raphael (2010). O pensamento de Ruy Mauro Marini e a atualidade do conceito de superexplorao do trabalho. In: IV Simpsio Lutas Sociais na Amrica Latina, Londrina-PR. Anais do IV Simpsio Lutas Sociais na Amrica Latina; BICHIR, Mara Machado (2009). Da CEPAL Teoria da Dependncia: as mutaes de um conceito. In: II Simpsio de Ps-Graduao em Relaes Internacionais do Programa San Tiago Dantas, So Paulo. Anais do II Simpsio de Ps-Graduao em Relaes Internacionais do Programa; LUCE, Mathias Seibel (2008). La expansin del subimperialismo brasileo, Patria Grande, v. n.9, p. 48-67.

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    demanda por seus produtos primrios no mercado internacional, a reduo dos investimentos diretos4 da Europa na Amrica Latina e a cobrana de dvidas relacionadas a emprstimos feitos pelos pases europeus, o que se refletiu em dois desequilbrios na regio: i) na queda no valor absoluto do comrcio, a qual implicou numa diminuio das receitas de exportao e no declnio dos ingressos de capital; ii) no desajuste interno, provocado pela queda da receita do Estado. (BULLMER-THOMAS, 2005) Tais movimentos instauraram uma crise financeira interna em muitas economias latino-americanas, visto que suas estruturas produtivas estavam voltadas quase que exclusivamente para a exportao de bens primrios.

    A profunda depresso que assolou o sistema internacional de naes em 1929 ao mesmo tempo em que produziu grandes transformaes nas economias internas de cada pas e no relacionamento comercial estabelecido entre estes, foi responsvel por introduzir questionamentos ao pensamento econmico vigente e dominante at aquele momento. O liberalismo clssico, que havia conduzido as escolhas e as orientaes econmicas dos pases ao longo de quase dois sculos, criticado e atacado em suas principais bases, e substitudo pelas idias e pressupostos do pensamento keynesiano emergente. Os princpios do livre-comrcio, da autoregulao da economia, do papel coadjuvante do Estado nos ordenamentos econmicos, do laissez-faire cedem espao a polticas de revalorizao do papel do Estado, demonstradas no retorno do intervencionismo e do protecionismo econmico.

    nesse contexto que tem lugar o impulso industrializao na Amrica Latina, o que representou uma profunda alterao nos marcos econmicos da regio. Deste modo, a crise de 1929, atrelada aos efeitos das duas grandes Guerras Mundiais, estimulou a passagem de um desenvolvimento econmico voltado para fora para um desenvolvimento direcionado para dentro, dando incio ao processo de industrializao nacional nos pases latino-americanos.

    A poltica de industrializao, ancorada no modelo de substituio de importaes, comeou a ser implementada no final da dcada de 1920, tendo sido viabilizada, dentre outros fatores, pela mudana ocorrida no setor de exportaes no incio do sculo XX. Estimulou-se uma transferncia dos ganhos de produtividade do setor exportador para a economia no-exportadora, o que permitiu o desenvolvimento de manufaturas direcionadas para o mercado interno, substituindo, desse modo, a importao de bens de consumo em alguns pases. Dessa forma, j no incio da dcada de 1930 era possvel vislumbrar a formao de setores industriais na Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Mxico e Peru, pases que possuam um mercado interno em potencial. (BULLMER - THOMAS, 2005)

    Com o advento da II Guerra Mundial tem lugar um aprofundamento daquele processo. Na medida em que a crescente demanda por bens primrios refletiu um aumento das exportaes latino-americanas, foi possvel um acmulo de reservas na regio, reservas essas que foram empregadas nos setores industriais daqueles pases. (THORP, 2005) De acordo com Donghi, a II Guerra Mundial teve um papel ainda maior

    4 Os investimentos diretos, nesse perodo, estavam concentrados fundamentalmente nos setores de

    infraestrutura dos pases da Amrica Latina, em geral em atividades vinculadas exportao - transportes, energia eltrica.

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    do que a crise de 1929 no estmulo proporcionado ao processo de industrializao na regio. (DONGHI, 1976, pp. 380-381)

    Cumpre salientar que a substituio de importaes na regio, apesar de constituir uma experincia comum da Amrica Latina, no se deu de maneira homognea, nem concomitante. Tal fato se deve s peculiaridades internas de cada pas, que determinavam a dinmica e a configurao das economias nacionais, o que se refletiu nos diferentes nveis de industrializao e na participao das manufaturas no Produto Interno Bruto (PIB) de cada pas. (FFRENCH-DAVIS, MUOZ, PALMA, 2005).

    Em meio a esse contexto de transformaes, impulsionadas pelos avanos industriais na regio, adquire relevo a temtica do desenvolvimento na Amrica Latina. Os debates, que at aquele momento se estruturavam em torno de interpretaes produzidas na Europa e nos Estados Unidos5, passam a refletir formulaes essencialmente latino-americanas, fundamentadas em um esforo de reviso crtica das anlises dominantes presentes nos estudos sobre desenvolvimento econmico ao longo das dcadas de 1940 e 19506.

    A temtica do desenvolvimento comea a assumir contornos no final da II Guerra Mundial, em um contexto no qual a problemtica do desenvolvimento econmico dos pases subdesenvolvidos passa a constituir objeto de estudo e de preocupao da intelectualidade europia e estadunidense. (AGARWALA e SINGH, 1969, p. 10) No interior desse movimento, trabalhos como os de Walt Whitman Rostow e o de William Artur Lewis, publicados na dcada de 1950, notabilizaram-se entre os demais escritos e conformaram, ao lado das obras de Ragnar Nurkse e de Paul N. Rosenstein-Rodan, uma tradio de pensamento que se tornou conhecida como Teoria(s) do Desenvolvimento ou Teoria(s) da Modernizao.

    No modelo formulado por Rostow (1974, p. 16), o processo de desenvolvimento econmico est associado a um conjunto de etapas - a sociedade tradicional; as precondies para o arranco; o arranco; a marcha para a maturidade; e a era do consumo de massa.

    William Arthur Lewis, por sua vez, ao se propor a investigar at que ponto as variaes que ocorreram nos pases mais ricos quando se desenvolveram podem repetir-se nos pases mais pobres, se se desenvolverem (1960, p. 22), identifica a existncia de causas imediatas ao desenvolvimento: esforo para economizar; aumento do conhecimento e de sua aplicao; expanso do volume de capital ou de recursos outros por habitante, bem como enfatiza a necessidade de compatibilizao de instituies e crenas ao desenvolvimento econmico. (LEWIS, 1960, pp. 13-14)

    O desenvolvimento, na perspectiva dos tericos do desenvolvimento, concebido como sinnimo de crescimento econmico e pode ser avaliado e medido a partir dos indicadores scio-econmicos de cada pas. A condio de

    5 Faz-se referncia aqui s interpretaes sobre o desenvolvimento associadas tanto teoria econmica

    clssica, de David Ricardo, quanto ao pensamento de estudiosos das denominadas Teorias do Desenvolvimento ou Teorias da Modernizao. 6 Tal esforo protagonizado principalmente pela Comisso Econmica para a Amrica Latina (CEPAL),

    por meio dos escritos de Ral Prebisch, Celso Furtado, Anbal Pinto, entre outros.

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    subdesenvolvimento, por sua vez, atribuda s debilidades internas econmicas, sociais e polticas desses mesmos pases, debilidades essas explicitadas no texto de Lewis, como a escassez de capital, a instabilidade das instituies, a debilidade tecnolgica, entre outras. (LEWIS, 1960, p. 25) Outra semelhana fundamental diz respeito ao ponto de partida compartilhado por estes autores, qual seja a viso de mundo e da realidade concreta expressa em suas obras, cujos fundamentos se ancoram em experincias e modelos de desenvolvimento prprios dos pases industrializados e desenvolvidos. Nesse sentindo, os pases subdesenvolvidos so analisados a partir das mesmas chaves explicativas utilizadas para a compreenso do desenvolvimento dos pases do industrializados.

    A influncia que o debate acerca do desenvolvimento e da modernizao dos pases subdesenvolvidos, gestado no pensamento europeu e estadunidense, exerceu no pensamento latino-americano explicita-se nas concepes produzidas no mbito da Comisso Econmica para a Amrica Latina (CEPAL), comisso regional criada pela Organizao das Naes Unidas (ONU), em 1948.

    O estruturalismo latino-americano, nomenclatura por meio da qual ficou conhecido o pensamento desenvolvido no mbito da CEPAL, foi responsvel por imputar uma crtica profunda teoria econmica clssica das vantagens comparativas de David Ricardo, qual se filiava uma grande parcela das anlises acerca do desenvolvimento econmico. Ral Prebisch, ao analisar o papel ocupado pela Amrica Latina na diviso internacional do trabalho e as possibilidades de desenvolvimento que se colocavam para os pases da regio, contraps-se noo de que a especializao dos pases em determinadas atividades implicaria, por meio do comrcio internacional, em benefcio mtuo para o conjunto dos pases, presente na tese defendida por Ricardo (1996, p. 97).

    Prebisch chamou ateno para o desequilbrio existente na difuso do progresso tcnico para os pases industrializados e para os pases produtores de bens-primrios. Enquanto nos pases centrais tm lugar uma distribuio gradual do fruto do progresso tcnico entre todos os grupos sociais e classes sociais, nos pases da periferia explicitam-se diferenas profundas nos nveis de vida de sua populao e da populao dos pases industrializados. A industrializao nos pases perifricos se apresentaria, segundo o autor, como nico meio de elevao progressiva do nvel de vida das massas, visto que possibilitaria de fato a captao de parte dos frutos do progresso tcnico. (PREBISCH, 1986, p. 479)

    A crtica imputada teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, introduzida por Ral Prebisch, ao mesmo tempo em que significou uma ruptura com a interpretao econmica dominante at o momento e a constituio de uma nova concepo acerca do padro de relacionamento entre os pases no comrcio internacional, repercutiu concretamente nas polticas implementadas pelos governos da regio7. A influncia das premissas de Ral Prebisch e das formulaes desenvolvidas no interior da CEPAL foi sentida em pases como Argentina, Brasil, Chile,

    7 Na mesma medida em que as idias formuladas por Ral Prebisch e pelos demais integrantes da CEPAL

    refletem o processo de industrializao que se estabelecia na Amrica Latina, as polticas de governo desses pases expressavam a recepo daquele pensamento na prtica.

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    Mxico e Uruguai, onde o desenvolvimentismo se converte na ideologia dominante e na matriz por excelncia das polticas pblicas (MARINI, 1992, p. 80).

    O avano do processo de industrializao latino-americana est inscrito em um contexto mais amplo de expanso e acelerao tanto da circulao do capital produtivo quanto da circulao do capital dinheiro, bem como de reestruturao da economia mundial, conduzida pelos Estados Unidos no ps-guerra. (MARINI, 1977) Tais mudanas se refletem em um reordenamento da diviso internacional do trabalho, em que a estrutura centro-periferia, caracterizada pela CEPAL como um intercmbio desigual entre pases desenvolvidos e subdesenvolvidos, em que os primeiros exportavam produtos manufaturados periferia e os ltimos, matrias-primas e alimentos ao centro, complexifica-se em funo do papel cada vez mais decisivo assumido pela indstria em alguns pases como Argentina, Brasil e Mxico. O efeito produzido por tal mudana foi (...) un reescalonamiento, una jerarquizacin de los pases capitalistas en forma piramidal y, por consiguiente, el surgimiento de centros medianos de acumulacin que son tambin potencias capitalistas medianas (). (MARINI, 1977, p. 08)

    Esse contexto de reestruturao da economia capitalista mundial e de expanso monetria, permitiu aos Estados Unidos a ampliao de sua capacidade de acumulao, impulsionando, nesse pas, um acelerado processo de monopolizao de capital8. Como expresses concretas dessa monopolizao de capital emergem as transnacionais ou multinacionais9, empresas que possuem 25% ou mais de seu investimento, produo, emprego ou vendas no exterior, e dentro das quais h a integrao de capitais nacionais a movimentos de fuses, trustes e acordos internacionais. (MARINI, 1977)

    A ampliao e fortalecimento das empresas transnacionais esto vinculados rentabilidade que seus investimentos implicam, critrio esse dentro do qual esto includos a infra-estrutura de transportes, as matrias-primas, a energia e principalmente o custo da mo-de-obra e o mercado interno disponvel. No interior desse movimento que se manifesta na expanso dos investimentos diretos, principalmente por parte dos Estados Unidos, a Amrica Latina conforma-se como uma das principais receptoras dessas inverses. (MARINI, 1977)

    Os investimentos estrangeiros diretos e, em maior medida, os investimentos provenientes dos EUA na regio, proporcionaram, segundo Marini, o fortalecimento da indstria manufatureira de pases como Argentina, Mxico e Brasil. Marini (1977) identifica nesse processo a internacionalizao do sistema produtivo nacional dos pases latino-americanos. Articulado a essa conseqncia est o aprofundamento do processo de concentrao e centralizao do capital naqueles pases; impactos negativos sobre a classe trabalhadora, bem como alteraes nas estruturas produtivas

    8 A extensa massa de capital acumulada pelos monoplios estadunidenses reverteu-se, em grande

    medida, em reinvestimentos diretos no exterior e em investimentos em ttulos. Marini afirma que no ano de 1968, 61% do total de investimentos diretos mundiais correspondiam ao capital estadunidense. 9 Marini empresta de Sidney y Damm a definio de multinacionais. Cit. Chapoy, A. Las empresas

    multinacionales y Amrica Latina, em Corporaciones multinacionales en Amrica Latina. Ed. Periferia, Buenos Aires, 1973.

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    latino-americanas10.

    A industrializao latino-americana, conduzida atravs do modelo de substituio de importaes e influenciada pelos preceitos cepalinos, embora tenha representado profundas alteraes na estrutura econmica daqueles pases, enfrentou grandes entraves e obstculos sua consecuo. A prpria CEPAL, ao longo da dcada de 1960, a partir da anlise da evoluo do processo industrial na regio, empenhou-se na busca por explicaes s dificuldades encontradas por cada pas na concretizao de sua produo industrial nacional. (BIELSCHOWSKY, 2000, p. 37)

    Embora o processo de substituio de importaes tenha se constitudo enquanto forma caracterstica de desenvolvimento de alguns pases latino-americanos11 durantes as dcadas de 1930-1950, elementos tanto de ordem econmica, quanto de ordem poltica questionaram a sobrevivncia desse modelo de desenvolvimento econmico. (SUNKEL; PAZ, 2005, p. 76) Ao analisar os rumos do modelo de substituio de importaes luz dos eventos histricos daquele perodo, Sunkel e Paz sublinham que

    Si bien es cierto que la expansin industrial, sobre todo en pases ms grandes de rea, alcanz ritmos y dimensiones considerables, no lo es menos que tiende a agotarse en los ltimos anos, de modo que el ritmo de desarrollo viene decayendo. La poltica redistributiva hace crisis en la medida que la economa no expande con rapidez suficiente para atender las crecientes necesidades de los sectores ingresos medios y bajos () El proceso de industrializacin no parece haber conseguido la incorporacin creciente de las masas rurales desplazadas y de los sectores urbanos de bajos ingresos a la esfera de la actividad econmica moderna (...) Por otro lado, el estancamiento del sector rural, de las exportaciones y del proceso de industrializacin durante la ltima dcada se tradujeron en una disminucin del ritmo de crecimiento del ingreso. (.) de este modo hace crisis la alianza que existi entre los empresarios, los sectores medios urbanos y los obreros organizados durante el perodo de expansin industrial (SUNKEL; PAZ, 2005, pp. 76-77)

    O desenvolvimento industrial nacional, ao se tornar mais complexo, significava, naquelas economias, maior dependncia tecnolgica, assim como pressupunha a necessidade, cada vez mais premente, de entrada de insumos externos e financiamento estrangeiro. (FALETTO, 1998) A poltica de substituio de importaes, nesse sentido, no lograra a reduo da vulnerabilidade das economias latino-americanas aos choques externos nem a diminuio de suas limitaes de divisas. (FFRENCH-DAVIS, MUOZ, PALMA, 2005)

    Para Marini, a crise que se configurou na maioria dos pases latino-americanos, na dcada de 1960, foi uma crise de acumulao e de realizao da produo, a qual se manifestou por um lado, no estrangulamento da capacidade para importar os elementos materiais necessrios para o desenvolvimento do processo de produo e, por outro, nas restries encontradas para a realizao da produo. (MARINI, 1992, p. 80) As motivaes dessa crise encontravam razes no fato de a industrializao haver sido conduzida sobre as bases da velha economia

    10

    As modificaes instauradas nas estruturas industriais latino-americanas dizem respeito produo de bens sunturios nesses pases, i.e., bens que apenas um estrato muito limitado de suas populaes pode consumir. Assim, negligenciam-se as necessidades concretas de consumo das sociedades latino-americanas. 11

    De acordo com Theotnio dos Santos, a industrializao se afirmou, sobretudo, no Brasil, Mxico, Argentina, e, em parte, no Chile e na Colmbia. (SANTOS, 2000, p. 74)

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    exportadora12, isto , sem acudir a reformas estruturais capazes de criar um espao econmico adequado ao crescimento industrial. (MARINI, 1992, p. 80)

    Os setores industriais latino-americanos, que comearam a se fortalecer no final da dcada de 1920, no conseguiram atingir a auto-suficincia, permanecendo, em grande medida, vinculados aos auspcios da economia internacional atravs das exportaes de bens primrios e das dvidas contradas via emprstimos estrangeiros. As divisas necessrias manuteno da capacidade de importar, advindas das exportaes latino-americanas, continuavam sujeitas tendncia secular da deteriorao das relaes de troca, j diagnosticada pela CEPAL. (MARINI, 1992, p. 81) Dessa forma, uma queda nas importaes de produtos primrios latino-americanos pelos pases centrais, representava necessariamente a reduo das exportaes latino-americanas, comprometendo a consecuo do processo de substituio de importaes na regio. Por outro lado, os investimentos diretos, os emprstimos e financiamentos estrangeiros, que constituam, ao lado das exportaes de bens primrios, uma fonte de divisas para o processo de substituio de importaes, comearam a restringir, em certa medida, a capacidade importadora da Amrica Latina, uma vez que os lucros obtidos no mercado internacional, deveriam se converter em divisas, que teriam que ser subtradas ao montante obtido com as transaes externas. (MARINI, 1992, p. 82)

    Essa crise do capitalismo dependente, manifestada no esgotamento do desenvolvimento latino-americano, expressava, segundo Vnia Bambirra (1971, p. 38), as contradies decorrentes do fato de o processo de industrializao latino-americano ter se desenvolvido nos marcos da integrao monoplica mundial, contradies essas que se refletiam na

    disminucin del ritmo de crecimiento en las tasas de capacidad instalada no utilizada de las industrias, en el crecimiento de los ndices de desempleo, en el aumento de la deuda externa junto con la acentuada descapitalizacin de las economas nacionales provocada por las enormes remesas de capitales hacia el exterior, bajo la forma de exportacin de ganancias, royalties, servicios, etctera. (BAMBIRRA, 1971, p. 38)

    Como respostas profunda crise que havia se instaurado na Amrica Latina, tm lugar lutas sociais e polticas em diversos lugares do continente, processos esses que contestavam o modo de produo capitalista e que propunham uma ruptura com a ordem estabelecida.

    (...) el ascenso de las luchas sociales en la regin se registr de manera ininterrumpida, provocando una radicalizacin poltica que cristaliz, en un polo, en la Revolucin Cubana, a fines de la dcada y, en el otro, en las dictaduras militares que, a partir del golpe militar de 1964 en Brasil, se implantaron en diversos pases. (MARINI, 1999, p. 12)

    Como expresses do ascenso do movimento popular na dcada de 1960 na regio latino-americana Vnia Bambirra, em seu artigo Diez aos de insurreccin en Amrica Latina, elenca: a formao de novas organizaes de esquerda no Brasil, como

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    Donghi ressalta alguns obstculos impostos pelo setor primrio poltica desenvolvimentista e aos esforos de industrializao latino-americana. Este setor foi responsvel por obstruir tanto a consecuo da reforma agrria, necessria elevao da capacidade produtiva dos pases e expanso da demanda interna, quanto a edificao de estruturas industriais modernas, j que se mostrava resistente a financiar os custos da industrializao na regio. (DONGHI, 1976)

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    a Organizao Revolucionria Marxista Poltica Operria (POLOP) e a Ao Popular e a resistncia popular ao golpe militar de 1961 no Brasil; a instalao do movimento guerrilheiro na Guatemala entre 1961 e 1963; a formao da Frente Sandinista de Libertao Nacional, em 1961, na Nicargua; o incio de um movimento insurrecional na Venezuela, em 1962; o novo carter assumido pelo movimento campons na Colmbia e o surgimento das guerrilhas nesse mesmo pas; o movimento campons no sul do Peru, a formao do Movimiento Izquierda Revolucionria (MIR) e da Frente Izquierda Revolucionria (FIR) no Peru, bem como as aes guerrilheiras peruanas; tentativas de guerrilhas em pases como Paraguai, Argentina, Equador, Honduras e Brasil entre os anos de 1960 a 1963. (BAMBIRRA, 1971, p. 32)

    Frente aos levantes insurrecionais populares e s organizaes polticas de esquerda latino-americanas se ergueram as classes dominantes, em um esforo de conteno das mobilizaes populares por meio da represso, da perseguio poltica, entre outras medidas contra-insurgentes, o que teve seu cume com a instaurao de golpes militares na regio.

    precisamente nesse contexto de mudanas na realidade econmica e social e de efervescncia poltica que tm lugar no campo do pensamento latino-americano debates e crticas ao desenvolvimentismo, ideologia produzida no mbito da CEPAL e da qual se apropriou a burguesia industrial latino-americana, a qual passa a sofrer duros ataques, sendo questionada poltica e intelectualmente. Gesta-se nesse momento, uma nova tradio de pensamento latino americano, que passaria a ser conhecida como dependentista.

    2. Emergncia e constituio da Teoria da Dependncia

    A emergncia do pensamento dependentista est ancorada no Chile, em Santiago, cidade onde estavam fixadas instituies como a CEPAL, o Instituto Latino-americano de Planejamento Econmico e Social (ILPES), rgo da CEPAL, e centros universitrios como o Centro de Estudos Scio-econmicos (CESO), o Instituto de Economia e o Instituto de Sociologia, da Universidade do Chile, onde se reuniram estudiosos de diversos pases latino-americanos13, permitindo um ampliado intercmbio intelectual e de experincias poltico-sociais. (FALETTO, 1998) O protagonismo do Chile nesse processo ressaltado por Ruy Mauro Marini:

    A partir de 1968, concomitantemente generalizao dos golpes militares e ao avano da represso no continente, a intelectualidade de esquerda comea a convergir para o Chile, que conservava intacto seu regime democrtico e que acaba por converter-se no locus privilegiado de elaborao da nova teoria. (MARINI, 1992, p. 88)

    Tendo sido formulada em meio s discusses sobre o fracasso do projeto desenvolvimentista latino-americano e em um momento de questionamento da ordem social e econmica capitalista, sobretudo pelo movimento revolucionrio cubano, de 1959, a Teoria da Dependncia trazia em seu bojo, de acordo com Enzo Faletto (1998, p. 110), duas grandes questes: o debate sobre as motivaes do atraso latino-americano (ele seria resultado das condicionantes internas ou externas?) e a discusso sobre qual o melhor meio para atingir o desenvolvimento (atravs de

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    Muitos desses estudiosos haviam sido exilados de seus pases, como era o caso de Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra, todos exilados aps o golpe militar de 1964, no Brasil.

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    modelos j existentes ou de um modelo prprio?). Nesse sentido, tal pensamento representou

    um esforo crtico para compreender as limitaes de um desenvolvimento iniciado num perodo histrico em que a economia mundial estava j constituda sob a hegemonia de enormes grupos econmicos e poderosas foras imperialistas (...) (SANTOS, 2000, p. 26)

    A Teoria da Dependncia ou Teorias da Dependncia, entendida como parte integrante da histria das idias latino-americanas (FALETTO, 1998, p. 109) e como corrente estruturada de pensamento, constituiu-se a partir de um conjunto de trabalhos formulados ou publicados entre os anos de 1964 e 1967, os quais impulsionaram um intenso debate intelectual na regio. (MARINI, 1992, p. 88) Participaram ativamente dessa construo dois grupos de estudiosos que, ao longo de sua trajetria, distanciaram-se e opuseram-se em discusses acaloradas acerca do carter dependente do capitalismo latino-americano. De um lado, o brasileiro Fernando Henrique Cardoso e o chileno Enzo Faletto, integrantes do ILPES, sintetizaram sua interpretao a respeito do desenvolvimento econmico latino-americano na obra, que se tornaria mundialmente conhecida, Dependncia e Desenvolvimento na Amrica Latina, escrita entre 1966 e 1967, e de outro, o alemo Andr Gunder Frank e os brasileiros Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra, membros do CESO, publicaram textos, tambm amplamente difundidos em diversos pases, como The development of underdevelopment, de 1966, Subdesarrollo y revolucin, de 1967, Socialismo o fascismo: el dilema latinoamericano, de 1968 e El capitalismo dependiente latinoamericano, de 1972, respectivamente.

    Embora estes grupos tenham rivalizado em seus estudos acerca da realidade econmica, poltica e social latino-americana, tanto no que diz respeito opo metodolgica, quanto no que tange s implicaes polticas de suas teses, ambos assumiram uma posio crtica em relao ao pensamento cepalino, na medida em que ressaltavam que a industrializao nos pases latino-americanos no havia se consolidado como matriz de um desenvolvimento econmico nacional autnomo, e mais ainda, ela teria aprofundado os laos de dependncia14 da regio em relao ao centro desenvolvido. (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970]; MARINI, 2000 [1973]) A compreenso acerca do fenmeno da dependncia, constitui-se, para tais autores, como elemento estruturante de suas anlises, orientando suas interpretaes acerca da realidade concreta latino-americana. Ruy Mauro Marini afirma que a dependncia deve ser entendida como relao de subordinao entre naes formalmente independentes, em cujo mbito as relaes de produo das naes subordinadas so modificadas ou recriadas para assegurar a reproduo ampliada da dependncia. (MARINI, 2000 [1973], p. 109). Tal concepo compartilhada tanto por Theotnio dos Santos quanto por Vnia Bambirra, sendo que para o primeiro, o carter condicionante da dependncia se revelaria no condicionamento da economia de determinados pases ao desenvolvimento e expanso da economia qual tais pases esto submetidos (SANTOS, 1972 [1968], p. 45) e para a ltima, a dependncia poderia ser utilizada

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    A problematizao da dependncia latino-americana no inaugurada pelos dependentistas. Celso Furtado, em sua obra Uma economia dependente, de 1956, utiliza o termo dependente para caracterizar a economia brasileira. Nessa obra, Furtado considera a economia brasileira dependente do comrcio exterior (pp. 22-23) e dependente das exportaes primrias (p. 65).

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    enquanto

    categora analtico-explicativa fundamental de la conformacin de las sociedades latino-americanas y, a travs de ella, de definir el carcter condicionante concreto que las relaciones de dependencia entre el centro-hegemnico y pases perifricos tuvieron en el sentido de conformar determinados tipos especficos de estructuras econmicas, polticas y sociales atrasadas y dependientes. (BAMBIRRA, 1979 [1973], pp. 7-8)

    Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, por sua vez, admitem que

    a dependncia da situao de subdesenvolvimento implica socialmente uma forma de dominao que se manifesta por uma srie de caractersticas no modo de atuao e na orientao dos grupos que no sistema econmico aparecem como produtores ou consumidores (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970], p. 39)

    Ao mesmo tempo, possvel vislumbrar, segundo Magnus Blomstrm e Bjrn Hettne, economistas suecos e estudiosos da Teoria da Dependncia, a convergncia daqueles autores em torno de algumas questes importantes, quais sejam:

    i) El subdesarrollo est conectado de manera estrecha con la expansin de los pases capitalistas industrializados. ii) El desarrollo y el subdesarrollo son aspectos diferentes del mismo proceso universal. iii) El subdesarrollo no puede ser considerado como la condicin primera para un proceso evolucionista. iv) La dependencia, sin embargo, no es solo un fenmeno externo sino que tambin se manifiesta bajo diferentes formas en la estructura interna (social, ideolgica y poltica) (BLOMSTRM, HETTNE, 1990, p.15)

    Ao nos debruarmos sobre os escritos dos tericos da dependncia e de estudiosos que tm como objeto de anlise essa teoria, possvel notar grandes discordncias e variaes no que tange classificao das distintas vertentes da Teoria da Dependncia. O debate em torno da classificao das vertentes do pensamento dependentista e de sua heterogeneidade conceitual permite que autores e estudiosos se refiram a essa tradio intelectual como Teorias da Dependncia, ressaltando seu carter multifacetado.

    Para Joo Manuel Cardoso de Mello, a Teoria da Dependncia se ramifica em duas vertentes: a primeira, representada por Andr Gunder Frank; e a segunda, por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto15. (MELLO, 1994) Luiz Carlos Bresser-Pereira, por sua vez, divide os tericos da dependncia em trs vertentes: a da superexplorao capitalista, que conta com Andr Gunder Frank, Ruy Mauro Marini e Theotnio dos Santos; a da dependncia associada, representada por Fernando Henrique Cardoso; e a do nacional-desenvolvimentismo, tendo como tericos Celso Furtado e ele prprio (BRESSER-PEREIRA, 2005).

    Em seu texto A Teoria da Dependncia Balano e perspectivas (2000), Theotnio dos Santos sugere como tentativa mais acertada de diviso e classificao dos tericos dependentistas ainda que passvel de crticas o quadro definido por Magnus Blomstrm e Bjrn Hettne. A diviso proposta por estes autores apresenta

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    Joo Manuel Cardoso de Mello no atribui qualquer terminologia a essas correntes, realizando apenas uma caracterizao de ambas.

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    quatro subdivises16, dentre as quais:

    i) corrente crtica ou autocrtica estruturalista dos cientistas sociais ligados CEPAL, os quais admitem os limites de um projeto de desenvolvimento nacional. Oswaldo Sunkel, Celso Furtado e Ral Prebisch17 aparecem como representantes desse grupo. Fernando Henrique Cardoso considerado, em alguns momentos, como pertencente a essa corrente;

    ii) corrente neomarxista, que congrega Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra, assim como os demais pesquisadores do Centro de Estudos Socioeconmicos da Universidade do Chile (CESO). Embora Andr Gunder Frank seja identificado, em algumas ocasies, como membro dessa vertente, este se afasta do enfoque dialtico, presente nos demais neomarxistas, ao negar seu vnculo terico estreito com o marxismo;

    iii) corrente representada por Enzo Faletto e Fernando Henrique Cardoso, que, segundo os autores, poderia ser caracterizada como uma corrente marxista mais ortodoxa, tendo em vista sua aceitao do papel positivo do desenvolvimento capitalista e da impossibilidade ou no necessidade do socialismo para alcanar o desenvolvimento;

    iv) corrente que se distingue das tradies marxistas ortodoxas e neomarxistas, composta por Andr Gunder Frank18. (BLOMSTRM e HETTNE, 1984, apud SANTOS, 2000, pp. 27-28)

    Fernando Henrique Cardoso, por seu turno, no prefcio oitava edio de Dependncia e desenvolvimento na Amrica Latina, de 2004, rene no que ele denomina escola dependentista ou tradio neomarxista Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos, Andr Gunder Frank, assim como outros autores como Rgis Debray e Eduardo Galeano, e enfatiza a existncia de uma aproximao meramente vaga, por fora das coisas, entre a perspectiva desses autores e a sua e a de Enzo Faletto19. (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970], p. 10)

    Tendo em vista as distintas classificaes e as divises no interior do pensamento dependentista, optou-se por adotar, ao longo do texto, a terminologia Teoria da Dependncia, em vez de Teorias da Dependncia, por identificarmos um ponto de partida comum a todas as vertentes dessa escola de pensamento: o carter dependente do capitalismo latino-americano. A distino entre as diferentes vertentes que compem tal perspectiva, por sua vez, operada a partir de uma classificao prpria, pautada em duas dimenses, quais sejam, terico-metodolgica e poltica.

    Enquanto no campo terico-metodolgico as anlises se vinculam ora ao

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    Para uma melhor visualizao da diviso proposta por Magnus Blomstrm e Bjrn Hettne, ver: BLOMSTRM e HETTNE, 1990, pp. 77- 104. 17

    Considera-se nessa diviso as obras mais recentes desses autores, referentes ao perodo ps-1970. 18

    Magnus Blomstrm e Bjrn Hettne no apresentam uma nomenclatura especfica para a vertente representada por Andr Gunder Frank. 19

    Fernando Henrique Cardoso afirma que a escola dependentista teria engolido tanto ele, quanto Enzo Faletto, na medida em que a obra Dependncia e desenvolvimento na Amrica Latina teria sido difundida e catalogada como pertencente quela tradio de pensamento, a qual, segundo Cardoso, sustentava pontos de vista bem distintos dos nossos (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970], p. 10)

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    ecletismo ora ao marxismo, na dimenso poltica, identificam-se duas posturas distintas frente dependncia: a primeira est associada interdependncia, e a segunda, ao anti-imperialismo e ao anti-capitalismo. Nesse espectro, Andr Gunder Frank se vincula, de um lado, ao ecletismo terico-metodolgico, e, de outro, ao anti-imperialismo e ao anti-capitalismo. A primeira classificao se justifica, pois, Frank, ao mesmo tempo em que admite sua participao, em alguma medida, no pensamento neo-clssico, keynesiano e marxista, afirma que seus estudos sobre desenvolvimento no se localizam em nenhum desses campos. (FRANK, 1996) No que se refere ao aspecto poltico de suas anlises sobre o subdesenvolvimento, as obras de Frank esto marcadas pelo enfrentamento ao imperialismo, fenmeno ao qual a dependncia estaria intrinsecamente conectada, e pelo compromisso com a ruptura da ordem capitalista. (FRANK, 1966)

    Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra so classificados de maneira semelhante: filiam-se ao marxismo, ao adotarem o materialismo histrico-dialtico como referencial terico-metodolgico em suas interpretaes acerca da realidade concreta latino-americana, e evidenciam, em suas obras, posturas anti-imperialistas e anti-capitalistas, visto que consideram que a superao da dependncia latino-americana apenas poderia se dar por meio de uma revoluo socialista.

    Finalmente, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto compartilham um ecletismo terico-metodolgico e caracterizam a integrao entre as economias latino-americanas e o mercado internacional, na dcada de 1960, como interdependente. Atribui-se tal ecletismo a esses autores tendo em vista o prefcio edio inglesa de Dependency and development in Latin America, escrito por Cardoso e Faletto em 1976, em que ambos realizam uma extensa explanao acerca do mtodo por eles empregado na referida obra. Nele, os autores fazem referncia a trs tradies distintas do pensamento social: weberiana, marxista e estruturalista (cepalina). Ao mesmo tempo em que ressaltam sua tentativa de restabelecer a tradio intelectual baseada na cincia social compreensiva, afirmam se valer da abordagem dialtica para a anlise da sociedade, de suas estruturas e de seus processos de mudana. Explicitam, ademais, por meio da opo pelo mtodo histrico-estrutural, sua aproximao com o estruturalismo cepalino. Da perspectiva poltica, Cardoso e Faletto sugerem a possibilidade de se consolidar uma relao de interdependncia20 entre os pases latino-americanos capitalisticamente mais avanados e o mercado internacional, na qual haveria lugar para um desenvolvimento-capitalista-associado das economias latino-americanas. (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970], pp. 164; 196) A categoria interdependncia, introduzida como possibilidade de dinamizar as naes industrializadas e dependentes da Amrica Latina (CARDOSO; FALETTO, 2004 [1970], p 186), somada assertiva dos autores sobre a solidarizao dos investimentos

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    A passagem em que Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto apresentam a categoria interdependncia segue transcrita: No que concerne barreira da capacidade de importao, cabe supor que diminui muito seu significado depois que se forma o setor interno de produo de bens de capital; seria mais um obstculo transitrio, cuja importncia decisiva apareceria na primeira fase de expanso da economia industrial avanada. Os vnculos posteriores com o mercado internacional poderiam ser do tipo normal nas economias modernas, nas quais sempre h interdependncia (CARDOSO; FALETTO, 2004, p. 165)

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    industriais estrangeiros com a expanso econmica do mercado interno nos pases latino-americanos, demonstram, em certa medida, uma diluio do fenmeno do imperialismo na dinmica dos pases latino-americanos, o que os distancia dos demais representantes da Teoria da Dependncia.

    3. A vertente marxista da dependencia

    As formulaes de Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra devem ser situadas tanto no movimento histrico concreto, quanto na trajetria histrica do pensamento latino-americano. Tendo em vista que a primeira seo foi dedicada contextualizao do momento histrico em que tal pensamento foi erigido e a segunda, sua apresentao enquanto uma das vertentes da Teoria da Dependncia, objetiva-se nesta seo construir um breve panorama do lugar ocupado por tais autores na histria do pensamento latino-americano. Para a consecuo de tal exerccio, recorrer-se- inicialmente a uma concisa biografia dos autores, seguida da apresentao das influncias que a vertente marxista carrega em sua conformao, bem como das crticas por ela empreendida CEPAL, aos Partidos Comunistas latino-americanos e aos foquistas. Por meio desse caminho, acredita-se que ser possvel apresentar as principais formulaes daqueles autores, assim como explicitar sua contribuio ao pensamento latino-americano.

    Ruy Mauro Marini, nascido em 1932, na cidade de Barbacena, Minas Gerais, graduou-se em Administrao, na Escola Brasileira de Administrao Pblica (EBAP), ligada Fundao Getlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, instituio na qual iniciou seus estudos na rea de cincias sociais e na qual teve a oportunidade de conhecer Alberto Guerreiro Ramos, professor de Sociologia e um dos principais integrantes do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Durante o seu curso de graduao obteve, em setembro de 1958, uma bolsa de estudos do governo francs para cursar o Instituto de Estudos Polticos da Universidade de Paris, na Sciences Po., onde se dedicou ao estudo sistemtico da obra de Karl Marx e de autores marxistas, como Lnin. Nos dois anos vividos na Frana, perodo que coincidiu com o auge do desenvolvimentismo na Amrica Latina e no Brasil, Marini estabeleceu contato com o movimento estudantil francs, bem como com o processo de descolonizao das colnias francesas, por meio das lutas por libertao nacional travadas na Indochina e na Arglia, fatos que produziriam efeitos em seu pensamento, principalmente no que diz respeito sua interpretao acerca da temtica do desenvolvimento. Como o prprio Marini afirma:

    As teorias do desenvolvimento, em voga nos Estados Unidos e nos centros europeus, se me revelaram, ento, como o que realmente eram: instrumento de mistificao e domesticao dos povos oprimidos do Terceiro Mundo e arma com a qual o imperialismo buscava fazer frente aos problemas criados no aps-guerra pela descolonizao. Comea, ento, o meu afastamento em relao CEPAL, fortemente influenciado, ademais, pela minha crescente adscrio ao marxismo. (MARINI, 2005 [1990], pp. 62-63)

    Ainda na Frana, Marini se aproximou do grupo que editava, no Brasil, a revista Movimento Socialista, rgo da Juventude do Partido Socialista, grupo ao qual Marini se integraria na fundao da POLOP, em 1961. Regressando ao Brasil, em 1960,

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    Ruy Mauro Marini reassumiu seu cargo no Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos (IAPI), de onde estava afastado desde seu ingresso na EBAP. Somavam-se a isso trabalhos jornalsticos na agncia de notcias cubana Prensa Latina e no jornal estudantil O metropolitano21, encarte dominical de O dirio de notcias.

    Theotnio dos Santos Jnior, nascido a 11 de janeiro de 1937, em Carangola, Minas Gerais, teve sua formao intelectual associada ao perodo de afirmao do desenvolvimentismo brasileiro entre a segunda gesto do governo Vargas e o governo Kubistchek. (SANTOS, 1994) Graduou-se em Sociologia, Poltica e Administrao Pblica, pela Faculdade de Cincias Econmicas (FACE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo realizado ali estudos no campo do pensamento social brasileiro (Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodr) das Teorias do Desenvolvimento (Franois Perroux, Gunnar Myrdal, W. W. Rostow, Albert Hirschman, W. A. Lewis, Celso Furtado, Igncio Rangel), assim como do marxismo (Karl Marx, Friedrich Engels). Durante o perodo de 1958 a 1961, em que atuou como bolsista e monitor em tempo integral da Faculdade de Cincias Econmicas, teve a oportunidade de travar discusses com grandes intelectuais brasileiros, dentre eles Alberto Guerreira Ramos, Florestan Fernandes, lvaro Vieira Pinto, Hlio Jaguaribe. Ao mesmo tempo em que Santos desenvolvia sua atividade intelectual, este se aproximava mais e mais da militncia poltica, o que era, em grande medida, motivado por seu interesse pelo pensamento de esquerda brasileiro.

    A formao intelectual de Vnia Bambirra, nascida a 13 de julho de 1940, em Belo Horizonte, Minas Gerais, tambm se deu na Faculdade de Cincias Econmicas da UFMG, onde Bambirra se graduou em Sociologia, Poltica e Administrao Pblica, atuando como bolsista em tempo integral na mesma faculdade, entre os anos de 1959 e 1962. Durante esse perodo, Bambirra entrou em contato com o pensamento isebiano, por meio das conferncias proferidas por Roland Corbisier, Gilberto Paim, lvaro Vieira Pinto, Alberto Guerreiro Ramos, conferncias essas que eram dedicadas aos bolsistas da FACE. Bambirra, ao comentar as reaes dos bolsistas a essas conferncias, afirma:

    Todos esses mestres foram intensamente sabatinados por ns, questionados ou glorificados. ramos contestatrios (sic) num sentido positivo. J por essa poca, se comeava a gestar na cabea de alguns de ns, pelo questionamento da teoria cepalina e da sua congnere, a isebiana, os germens ainda muito embrionrios da teoria da dependncia. (BAMBIRRA, 1991)

    Do ponto de vista poltico, o contato de Vnia Bambirra com a militncia de esquerda teve incio desde cedo, a partir da figura de seu pai, militante comunista. A participao no movimento estudantil mineiro, no perodo de faculdade, no qual Bambirra compartilhava com muitos a crtica e o questionamento da linha poltica do Partido Comunista Brasileiro, anunciava uma militncia poltica ativa, fortemente influenciada pela Revoluo Cubana, que se consubstanciaria na fundao da ORM-POLOP. justamente nesse momento, mais precisamente em 1960, ano que antecede o I Congresso da POLOP, que se situa o encontro das trajetrias intelectuais e polticas

    21

    O Metropolitano era produzido por um grupo da Unio Metropolitana de Estudantes, o qual era formado por Csar Guimares, Carlos Diegues, Slvio Gomes, Rubem Csar Fernandes, Carlos Estevam Martins, entre outros.

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    de Vnia Bambirra, Theotnio dos Santos e Ruy Mauro Marini22.

    A partir da, Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra, representantes do que se denominou como vertente marxista dependncia, tiveram suas trajetrias intelectuais, polticas e, at mesmo, pessoais, entrecruzadas em diversos momentos. Militaram juntos na Organizao Revolucionria Marxista Poltica Operria (ORM-POLOP), iniciaram suas carreiras acadmicas docentes na Universidade de Braslia, em 1962 e 1963, compartilharam o perodo de exlio no Chile e no Mxico, onde, respectivamente, integraram o Centro de Estudos Scio-Econmicos (CESO) e lecionaram durante longo perodo na Universidad Nacional Autnoma de Mxico (UNAM), retornando, posteriormente, com a reabertura democrtica, ao Brasil, onde retomaram suas atividades docentes na Universidade de Braslia, onde tudo comeara. (MARINI, 2005 [1990]; BAMBIRRA, 1991; SANTOS, 1994) Tal histrico propiciou, indubitavelmente, discusses e reflexes coletivas acerca das problemticas e dilemas latino-americanos, debates esses dos quais Andr Gunder Frank, em grande medida, compartilhou.

    A trajetria da constituio dessa vertente da Teoria da Dependncia esteve associada, em grande medida, militncia poltica de seus representantes em partidos de esquerda latino-americanos, como a POLOP, partido de esquerda brasileiro que tinha como suas principais referncias Lnin, Trotsky, Rosa Luxemburgo e Bukharin, e o Movimiento Izquierda Revolucinaria (MIR)23, no Chile. As reflexes produzidas por tais estudiosos, dessa forma, para alm de refletirem crticas interpretao cepalina acerca do subdesenvolvimento e do processo de industrializao latino-americano, expressavam as discusses e problemticas que permeavam as organizaes de esquerda latino-americanas, e particularmente, brasileiras.

    Os integrantes da vertente marxista da dependncia, em meio ao contexto de efervescncia social e poltica das dcadas de 1950 e 1960, que teve na Revoluo Cubana seu auge, depararam-se com diversos questionamentos e debates que foram colocados tanto aos intelectuais quanto aos militantes de partido de esquerda latino-americanos. Vislumbravam-se, naquele momento, possibilidades de transformao da realidade da regio, o que demandava estudos e anlises sobre temticas como o carter da revoluo, o sujeito revolucionrio, o papel do Estado no processo revolucionrio, as tticas e estratgias para a tomada do poder e as caractersticas das classes dominantes e trabalhadoras daquele perodo histrico.

    Preocupados com a formulao de um pensamento latino-americano a partir da tica do capitalismo dependente, o qual marcava profundamente as economias dos pases dessa regio, tais estudiosos buscaram, a partir do materialismo histrico-dialtico, desenvolver reflexes acerca da realidade particular latino-americana, nas quais se inscreviam perspectivas de transformao e de superao da sua

    22

    Vnia Bambirra e Theotnio dos Santos j se conheciam antes dessa data. Conheceram-se na UFMG e se casaram, tendo vivido juntos at meados da dcada de 1980. 23

    A partir da leitura dos memoriais de Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos e Vnia Bambirra e de outros textos (TRASPADINI; STDILE, 2005), possvel depreender que embora Santos e Bambirra estivessem prximos ao MIR, apenas Marini se filiou a este partido. Theotnio dos Santos se filiou ao Partido Socialista Chileno, enquanto Vnia Bambirra, embora no estivesse filiada a nenhum dos dois partidos, esteve prxima de ambos.

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    dependncia, ambas vinculadas revoluo socialista. Os autores, no apenas em seus escritos, mas tambm em seus memoriais reconhecem a influncia que o marxismo teve em suas formulaes. (MARINI, 2005 [1990]; BAMBIRRA, 1991; SANTOS, 1994) Desde a teoria do valor de Karl Marx, passando pelas teorias do imperialismo de Vladimir Ilitch Lnin, Rosa Luxemburgo e Nicolai Bukharin e pelos escritos conjuntos de Marx e Friedrich Engels, a herana marxista e marxiana se fizeram presentes tanto em seus escritos, quanto em suas posturas diante da realidade, caracterizando, ademais, suas prxis polticas. A influncia marxiana nesses autores se explicita nas anlises por eles produzidas, as quais reivindicam o materialismo histrico-dialtico como mtodo para a apreenso da realidade concreta (MARINI, 2000 [1973]; BAMBIRRA, 1979 [1973]; SANTOS, 1972 [1968]) e particularmente na tese de Marini acerca da superexplorao do trabalho, tese essa que desenvolvida essencialmente a partir da teoria do valor de Marx. J a influncia do marxismo clssico em Bambirra, Marini e Santos, pode ser percebida fundamentalmente na apropriao crtica que tais autores fizeram dos estudos sobre o imperialismo realizados por Lnin, Luxemburgo e Bukharin. Como afirma Theotnio dos Santos (1970)

    O estudo do desenvolvimento do capitalismo nos centros hegemnicos deu origem teoria do colonialismo e do imperialismo. O estudo do desenvolvimento de nossos pases [pases latino-americanos] deve dar origem teoria da dependncia.

    Por isso devemos considerar limitados os enfoques dos autores da teoria do imperialismo. Tanto Lenin, Bukarin, Rosa Luxemburg, os principais elaboradores marxistas da teoria do imperialismo (...) no abordaram a questo do imperialismo do ponto de vista dos pases dependentes. Embora a dependncia deva ser situada no quadro global da teoria do imperialismo, ela tem sua realidade prpria, que constitui uma legalidade especfica no processo global e age sobre ele desta maneira especfica. Compreender a dependncia, conceituando-a e estudando seus mecanismos e sua legalidade histrica, no significa apenas ampliar a teoria do imperialismo, mas tambm contribuir para a sua reformulao. (SANTOS, 1970, p. 41)

    O pensamento de Marini, Bambirra e Santos, estruturado no mbito dos debates sobre o sub/desenvolvimento e sobre a dependncia latino-americana, embora guardasse relao com um dos principais referenciais explicativos da Comisso Econmica para a Amrica Latina (CEPAL) - o conceito de centro-periferia - representava uma crtica anlise e s respostas oferecidas pela CEPAL ao subdesenvolvimento dos pases da regio. Tais autores reconheciam, em seus escritos, o os esforos cepalinos para construir uma perspectiva que refletisse o olhar latino-americano sobre sua prpria realidade, bem como seus avanos em relao s teorias econmicas clssicas e s teorias da modernizao, mas chamavam ateno para os limites de sua concepo. A vertente marxista da dependncia ressaltava que a desigualdade centro-periferia, caracterizada pela CEPAL como transferncias de renda, representavam, na verdade, transferncias de valor. Marini, em sua obra Dialtica da Dependncia (2000 [1973]) evidencia como tais transferncias esto assentadas no processo de superexplorao do trabalho na periferia. Segundo Marini (2000 [1973]) as naes perifricas, desfavorecidas pelo intercmbio desigual, procuram compensar suas perdas de renda geradas pelo comrcio internacional atravs do aumento da explorao do trabalhador, o que se d por mecanismos como o incremento da intensidade do trabalho, o prolongamento das jornadas de trabalho e a expropriao

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    de parte do trabalho necessrio ao trabalhador para repor sua fora de trabalho. Tais mecanismos, empregados com o intuito de aumentar a mais-valia absoluta, implicam em uma remunerao dos trabalhadores abaixo de seu valor, o que, por sua vez, constitui uma superexplorao do trabalho.

    Marini (2000 [1973]), Bambirra (1979 [1973]) e Santos (1972 [1968]), desvelaram ainda a estratgia de industrializao propugnada pela CEPAL, afirmando que esta no conduziria ao rompimento da dependncia latino-americana, mas sim ao seu recrudescimento. Para essa vertente, a dependncia dos pases perifricos constituiria um elemento intrnseco ao sistema capitalista, e, mais que isso, necessrio ao seu desenvolvimento e sua reproduo. Dessa forma, sua superao s poderia estar associada superao da prpria lgica de acumulao e do modo de produo capitalista.

    No que tange ao pensamento marxista latino-americano, os autores da vertente marxista da dependncia, a partir de suas obras, estabeleceram dilogo com os partidos comunistas latino-americanos e com os foquistas24, remetendo a ambos crticas s suas interpretaes acerca da realidade latino-americana e s suas formulaes tticas e estratgicas do processo revolucionrio na regio. Marini (1977 [1969]), Bambirra (1971) e Santos (1972 [1968]) identificavam nas anlises empreendidas pelos Partidos Comunistas latino-americanos graves incongruncias, as quais os conduziam adoo de tticas e estratgias polticas errneas.

    A crtica aos Partidos Comunistas principiava na forma como suas anlises eram produzidas: tratava-se, segundo aqueles autores, de uma transposio mecnica das formulaes erigidas no Partido Comunista da Unio Sovitica acerca da realidade sovitica, para a Amrica Latina. Tal interpretao no correspondia, segundo aqueles autores, ao marxismo, como o concebiam materialismo histrico-dialtico -, nem s particularidades do processo histrico, das formaes sociais e econmicas latino-americanas. Com relao ao seu contedo interpretativo, Bambirra, Marini e Santos se opunham tese de que os pases latino-americanos, por permanecerem, todavia, em um estgio feudal, deveriam realizar antes suas revolues democrtico-burguesas, para depois, empenharem-se em uma revoluo de carter socialista. Para aqueles autores, o carter da revoluo na Amrica Latina deveria ser anticapitalista, uma vez que a formao social e econmica dos pases da regio era capitalista, e no feudal, como afirmavam os militantes dos Partidos Comunistas. Do mesmo modo, tais autores discordavam do papel e do carter atribudo burguesia nacional na revoluo. Em contraposio ao carter progressista e nacional conferido pelos Partidos Comunistas burguesia latino-americana, a vertente marxista da dependncia acentuava seu carter contraditrio, uma vez que ela estava, em grande medida, associada aos interesses imperialistas e no poderia, dessa maneira, aliar-se classe trabalhadora em uma luta contra o imperialismo. (MARINI, 1977 [1969]; BAMBIRRA, 1971; SANTOS, 1972 [1968])

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    Os foquistas eram integrantes de organizaes de esquerda latino-americanas que encontravam no foquismo sua ttica e estratgia revolucionrias. Tendo como principais formuladores Ernesto Guevara Che Guevara - e Rgis Debray, o foquismo concebia que o incio da luta insurrecional deveria se dar por meio da criao de focos guerrilheiros. (BAMBIRRA, 1971, p. 56) Para um estudo mais aprofundado sobre o foquismo, consultar: DEBRAY, Rgis. Revoluo na Revoluo?. Havana: Casa de las Amricas, 1967

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    Os foquistas, por sua vez, foram criticados pelos autores, e, particularmente por Vnia Bambirra, em seu artigo The errors of the foco theory (1968), por subestimarem a necessidade de um Partido estruturado, a relevncia da formao ideolgica de seus militantes e o papel poltico do proletariado na luta insurrecional. Dentro da concepo foquista, a formao tanto do Partido, quanto dos revolucionrios se daria na prpria luta, no sendo, portanto, necessria a formao poltica de seus quadros. De acordo com Bambirra (1971, p. 57), o imediatismo foquista escondia uma arraigada concepo elitista que relegava a um segundo plano a organizao e a participao criativa das massas, reduzindo seu papel, quando muito, a apoiar ativamente o movimento guerrilheiro. Ao privilegiarem os focos guerrilheiros como ttica poltica, conferindo centralidade luta armada, os foquistas subordinavam o partido fora da guerrilha e o poltico ao militar. (BAMBIRRA, 1968, p. 18) A autora contrape-se a tal ttica e chama a ateno para o papel que tanto a luta ideolgica, quanto a luta poltica assumem na formao de um quadro poltico. Para Bambirra, a luta armada no suficiente no processo de formao de conscincia revolucionria. (BAMBIRRA, 1968)

    4. Consideraes finais

    A compreenso do pensamento formulado no interior da vertente marxista da dependncia pressupe no apenas a leitura e a interpretao das obras de seus autores, mas tambm, e em igual medida, um olhar cuidadoso e atento sobre o contexto as determinaes sociais, econmicas e polticas em meio ao qual tal pensamento se constituiu. No caso de Ruy Mauro Marini, Vnia Bambirra e Theotnio dos Santos, suas reflexes se inscreveram em um momento de crise do capitalismo dependente latino-americano, em que novas organizaes de esquerda se estruturavam como alternativas s esquerdas tradicionais - representadas pelos Partidos Comunistas latino-americanos - em um movimento de questionamento e enfrentamento ordem capitalista mundial. Tal crise se via refletida no campo do pensamento latino-americano, o qual se ressignifica a partir da crtica ao desenvolvimentismo cepalino. Tais processos so determinantes emergncia da vertente marxista da dependncia, como salienta Marini:

    Parte integrante do desenvolvimentismo foi a crtica exercida sobre ele, no curso da primeira metade da dcada de 60, por parte de uma intelectualidade que se formara sob sua influncia, mas que no pertencia a essa corrente de pensamento. Este ponto requer, porm, ser tratado com cuidado, j que no se pode ver o desenvolvimento das ideologias como mero desdobramento delas mesmas. De fato, o pensamento que se vai estruturar mais adiante, na segunda metade da dcada, no constitui uma simples resposta ao desenvolvimentismo: ele foi tambm, numa ampla medida, o resultado das lutas que se registram no interior da esquerda. (MARINI, 1992, p. 85)

    Marini, Bambirra e Santos, ao dialogarem criticamente tanto com o pensamento cepalino, quanto com o marxismo latino-americano, introduziram importantes contribuies ao pensamento latino-americano, quais sejam: o desvelamento da estratgia de industrializao ensejada pela CEPAL como soluo para os entraves ao desenvolvimento dos pases latino-americanos; a interpretao da realidade concreta latino-americana e do fenmeno da dependncia a partir de uma

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    perspectiva marxista; a crtica s interpretaes dos partidos comunistas latino-americanos, bem como s suas tticas e estratgias polticas; o engajamento e a prxis revolucionria socialista sob os quais estavam assentados no apenas seus escritos, mas tambm suas militncias polticas.

    Embora as anlises e teses formuladas no interior da vertente marxista da dependncia, tenham se difundido no s na Amrica Latina, mas tambm por diversos pases do mundo, ela teve pouca expresso e reconhecimento no Brasil. As referncias Teoria da Dependncia no Brasil so majoritariamente associadas vertente dependentista representada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto. O ostracismo intelectual e poltico a que foram submetidos os autores da corrente marxista pode ser identificado no fato de algumas de suas obras, principalmente no que se refere a Marini e a Bambirra, no terem sido traduzidas para o portugus e no circularem pelo pas. A marginalizao desses autores no se explica apenas pelo contedo terico por eles produzido, mas tambm pela militncia poltica que eles exerceram.

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