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Um balanço Ana Sofia Ferreira João Madeira Pau Casanellas (coord.)

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Page 1: Um balan o - Universidade NOVA de Lisboa · Paula Godinho, Memórias de pedra na Galiza e no norte de Portugal: usos do passado ... en ‘Estrellas que alcanzar’ (2010), de Mikel

Um balanço

Ana Sofia FerreiraJoão Madeira Pau Casanellas(coord.)

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Violência política no século XX Um balanço

Ana Sofia FERREIRA João MADEIRA

Pau CASANELLAS (coord.)

Lisboa Instituto de História Contemporânea

2017

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Fotografia da capa: “Na Rotunda da Avenida, a heroína Amélia Santos”. [S.l.]: [s.n.], 1910. Postal comemorativo da implantação da República Portuguesa. Por detrás da barricada, grupo de revolucionários rodeiam Amélia Santos de pistola apontada. Desenho da capa: Mineral Gràfics http://mineralgrafics.com/ Maquetagem: L’Apòstrof http://apostrof.coop/ Violência política no século XX. Um balanço Ana Sofia FERREIRA, João MADEIRA, Pau CASANELLAS (coord.) Instituto de História Contemporânea Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova de Lisboa Lisboa Novembro de 2017 ISBN: 978-989-98388-3-3

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Violência política no século XX

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Índice

Introduçaõ ............................................................................................................................................. 7

Reflexões teóricas e metodológicas Eduardo González Calleja, “Bellum omnium contra omnes”. Una reflexión general sobre el empleo deliberado de la fuerza en los conflictos políticos .................................................. 10 Patrícia Fernandes, ‘War is peace, freedom is slavery, ignorance is strength’ — O poder violentador da palavra ........................................................................................................................................... 32

Pau Casanellas, Violencia política: entre legitimidad y legalidad. “Terrorismo” y estigmatización de la contestación .................................................................................................................................. 41

Xabier Insausti, Sobre la violencia: Schmitt, Benjamin y Agamben .................................................... 47

Memória: as marcas da violência Gilberto Calil, Revisionismo e embates em torno da memória: a abordagem de Elio Gaspari sobre a repressão e a resistência à ditadura brasileira ................................................... 56

Paula Godinho, Memórias de pedra na Galiza e no norte de Portugal: usos do passado e o lugar do devir .................................................................................................................................. 70

Rui Bebiano, Párias ou resistentes? Memória, culpa e silenciamento do Holocausto e do Gulag ........... 82

Representações da violência: cinema, literatura, meios de comunicação Carlos Pulpillo Leiva, Luis María de Lojendio, cronista de la Guerra Civil Española ..................... 91

Igor Barrenetxea Marañón, Cine, cárcel y represión franquista en ‘Estrellas que alcanzar’ (2010), de Mikel Rueda .......................................................................... 103

Iker Arranz, Pessoa, poetry and violence: an impossible dialogue ....................................................... 116

Juan Andrés García Martín, La crítica al terrorismo en la prensa democrática española durante el tardofranquismo y la transición ....................................................................................................... 125

Luis M. Calvo Salgado, Moisés Prieto, La mediatización del atentado a través de tres ejemplos del siglo XX: 1914, 1944 y 1963.............................................................................. 137

Moisés Prieto, The Swiss TV News and the Francoist Violence (1969-1975) ............................... 165

Pacifismo, antimilitarismo e resistências à guerra Albérico Afonso Costa Alho, Violência política do Estado contra os “de baixo” no contexto da I Guerra Mundial — Um aviso contra aos opositores à guerra .................................... 183

Gonçalo Graça, Resistências à instrução militar no escotismo português (1913-1926) ..................... 195

José Manuel Lopes Cordeiro, A polémica sobre a deserção durante a guerra colonial .................... 209

Pere Solà Gussinyer, “Means and aims”. Political violence and pacifism in world-wide anarchist ranks during the first half of 20th century: anarchism, political and symbolic violence ........................... 223

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Violência política no século XX

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Portugal: da República ao 25 de Abril Ana Sofia Ferreira, 4ª Frente de Combate: a luta armada em Portugal (1970-1974) ..................... 236

Constantino Piçarra, A violência política em torno da reforma agrária, 1975-1976 ....................... 243

Luís Farinha, A Noite Sangrenta: crime e castigo. Um desfecho possível para o triénio trágico português do pós-guerra ...................................................................................................................... 252

Márcio José Monteiro Matos, A Organização da Clandestinidade Política do PCP: da Ditadura Militar ao 25 de Abril de 1974 .................................................................................... 262

Espaços coloniais: luta armada, repressão, descolonização Anabela Silveira, Muito os unia, tanto os separava. O encontro impossível entre o MPLA e a UPA: das fundações à guerrilha .......................................................................... 276

Filipa Sousa Lopes, O silenciar da oposição ao Estado Novo na questão de Goa (1954) ................ 287

Javier Colodrón, La adaptación del discurso libertario a la nueva realidad postcolonial cubana ........ 298

Entre o “foco” e guerrilha urbana: o modelo latino-americano Guillermo Gracia Santos, Transmisión y aceptación del modelo tupamaro en las organizaciones armadas europeas ................................................................................................... 310

Pablo Baisotti, Una amarga experiencia de liberación argentina: el caso de los montoneros ................ 323

Patricia Calvo González, El M26J y el discurso mediático y propagandístico: un caso de justificación pública del ejercicio de violencia ........................................................................................ 335

Tradição autoritária, ditaduras e repressão no Cone Sul Abel Guillén Ruiz, El terrorismo de Estado en Uruguay (1968-1985). Una aproximación a través de dos casos representativos y una crítica a la situación actual ................................................. 351

Ana Marília Carneiro, ‘Em câmara lenta’: literatura, testemunho e censura na ditadura militar brasileira ............................................................................................................. 363

Janaína Martins Cordeiro, Coerção e consentimento durante os ‘anos de chumbo’ da ditadura no Brasil ......................................................................................................................... 376

José Vieira da Cruz, Da Lei suplicy ao AI-5: a ditadura brasiliera e a legislação repressiva às instituições estudantis, 1964-1968................................................................................................. 385

Julio Lisandro Cañón Voirin, Conformación de una maquinaria de guerra estatal contrarrevolucionaria, Argentina 1955-1973 ..................................................................................... 398

Lucia Grinberg, Violação de direitos políticos: a repercussão das cassações de mandatos parlamentares na grande imprensa (Brasil, 1964) .............................................................................. 412

Weder Ferreira da Silva, Na antessala do golpe civil-militar: a UDN e o processo de desestabilização política brasileira (1945-1964) ................................................................................. 422

À feu et à sang: Europa na primeira metade do século XX Alessandro Saluppo, Violence and identity: practices and imaginary constructs of destructiveness in Squadrismo ......................................................................................................... 432

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Violência política no século XX

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Marcela Lucci, El “otro” como opresor. La influencia de la violencia política española en el programa del catalanismo separatista de Buenos Aires. 1910-1940 .................................................... 443

Matteo Millan, “We are living dreadful times: it is not an agricultural strike, but true Bolshevism”. Practices and political cultures of agrarian middle-classes in the Po Valley (1900-1921) .............................................................................................................. 456

Óscar Sainz de la Maza, Ainhoa Campos Posada, Bautismo de fuego: reflexión sobre vieja y nueva violencia en la Gran Guerra (1914-1918) ............................................................................ 466

A Segunda República espanhola em guerra: espaços e agentes da violência Ainhoa Campos Posada, Vivir y sobrevivir en una ciudad asediada: la justicia republicana y el abastecimiento en Madrid durante la Guerra Civil ..................................................... 481

Jaume Valentines-Álvarez, Tecnologías para sobrevivir la violencia total, 1936-45. Tragedia de refugios antiaéreos en tres actos, prólogo y cuadro final ...................................... 497

Óscar Álvarez Gila, Voces contra la Cruzada. Crítica y propaganda sobre la dimensión religiosa de la Guerra Civil española desde el exilio vasco en Estados Unidos (1941-1943) ............................. 508

A natureza repressiva do franquismo Alejandro Pérez-Olivares, The City of Franco? Concerning Madrid, Public Order and Dictatorship’s Repressive Nature ................................................................................................. 519

Daniel Oviedo Silva, El enemigo a las puertas: porteros, violencia política y prácticas acusatorias en la posguerra madrileña ................................................................................ 531

Enrique Tudela Vázquez, Buscar la vida: violencia política como causa de las migraciones interiores en la posguerra española. Granada-Barcelona, 1940-1955 .................................................. 546

Estefanía Langarita, Responsabilidades políticas y la construcción de la dictadura: represión económica y apoyos sociales ................................................................................................................. 557

Josep Màrius Climent, Los Batallones de Trabajadores en la posguerra y el proceso de imposición de una dictadura militar en España. El 27º Batallón Disciplinario de Soldados Trabajadores (1940-1942) ............................................................................................. 566

Juan Carlos García Funes, Trabajos forzados para los prisioneros de guerra: estudio del territorio castellano-leonés (1937-1942) ............................................................................. 579

Miguel Ángel Melero Vargas, “Los abajo firmantes”: deconstrucción de la violencia republicana y colaboración en la franquista. Los procesos militares y sus actores ..................................................... 599

Santiago Vega Sombría, Los orígenes siniestros de la Brigada Político Social .................................. 616

Franquismo e género Carmen Guillén, Violencia legal durante el franquismo: prostitución y Patronato de Protección a la Mujer. Un estudio de caso de la ciudad de Murcia (1939-1956) ................................................. 629

Maialen Altuna Etxeberria, La violencia simbólica como base del sistema de género franquista. Una aproximación desde el análisis del cuerpo y de la sexualidad ............................ 641

Maria Eugenia Cruset, Exilios y resistencia: el rol de las mujeres ................................................... 652

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Violência política no século XX

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Legitimidades e impacto da violência política: de 1945 aos nossos dias Alejandro Adán Pascual, Roberto López Torrijos, Terrorismo ‘offshore’ (claves empresariales en las organizaciones yihadistas) y acciones comunicativas informales en el terrorismo nacionalista ........ 662

Eloisa Betti, Gendering political violence in early Cold War Italy. The Bologna case ......................... 673

Mirco Dondi, Murders in post-war northern Italy ........................................................................... 684

Ottavio D’Addea, Instabilità geopolitica dopo la guerra fredda: la strategia di al-Qaida dagli anni novanta agli attacchi dell’11 settembre ................................................................................ 694

O País Basco: da violência à paz Álvaro Ramírez Calvo, Repetición, acumulación, ¿solución? Los medios vascos ante la disipación de la violencia política ......................................................................................................... 704

Antonio Rivera Blanco, Javier Gómez Calvo, Siempre se recuerda lo que nunca ocurrió: represión franquista y memoria colectiva en el País Vasco ................................................................... 715

David Vale, ETA y Transición: reflexiones sobre el proceso que condujo a la democracia .................. 727

Irene Moreno Bibiloni, La coordinadora Gesto por la Paz de Euskal Herria y la visibilización de la violencia en el País Vasco: la violencia de persecución .................................................................. 738

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O silenciar da oposição ao Estado Novo na questão de Goa (1954)

The muzzling of the opposition in the case of Goa (1954)

Filipa Sousa Lopes Instituto de História Contemporânea – Universidade Nova de Lisboa

Resumo A mudança do paradigma colonial no pós-guerra, fruto da Carta das Nações Unidas e o avanço do movimento independentista no território indiano, determina que o problema do colonialismo para a oposição e para o regime seja recolocado. Após a proclamação da independência da Índia, o Governo da União Indiana, em 1950, solicita ao Governo Português que comecem as conversações quanto ao futuro das colónias portuguesas no Indostão. A intransigência do regime português em não aceitar negociações para a questão de Goa intensifica o número de ações, a que o Governo responde com uma forte repressão policial. A “Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu”, subscrita pelos membros da Comissão Central (CC) do Movimento Nacional Democrático (MND) e enviada a vários jornais provoca a detenção de Albertino Macedo, Virgínia Moura, Ruy Luís Gomes, José Cardoso Morgado Júnior e, mais tarde, António Lobão dando origem a um dos mais duros julgamentos políticos ao longo de 24 sessões. Num momento em que é reclamado o diálogo para o caso de Goa, Salazar ativa o seu aparelho repressivo não só contra o MND mas também contra o Movimento da Paz e o MUD Juvenil. Abstract In postwar the colonial paradigm change, which was the result of the UN Charter and the advancement of the Indian independence movement in the territory, determined the reattachment of the problem of colonialism for the opposition and of the regime of Salazar. In 1950 after the proclamation of the independenceof India, the Government of the Indian Union requested thePortuguese governmentto start talkson the futureof the Portuguese coloniesinHindustan. The Portuguese regime intransigence in not accept the negotiation in the case of Goa increased the number of actions, which the Government replied with a strong police repression. The “Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu”, subscribed by the members of Central Commission of theNational DemocraticMovement (MND) and sent to the newspapers, caused the arrest of Albertino Macedo, Virgínia Moura, Ruy Luís Gomes, José Cardoso Morgado Júnior, and later António Lobão, began one of the harshest political trials, over 24 sessions. In the moment that the opposition claimed the dialogue for the case of Goa, Salazar activated the repressive apparatus not only against the MND but also againstthe Peace Movement and the Youth Movement of Democratic Unity (MUD Juvenil). Com a proclamação da independência da Índia, a 15 de agosto de 1947, após um longo processo iniciado nos anos vinte sob a liderança de Gandhi, a apreensão com Ultramar, em particular quanto a Goa, é notória. O clima político e ideológico do mundo preocupa Salazar que receia pela soberania portuguesa em Goa, Macau e Timor, fruto da reordenação do mapa da Ásia. As palavras dos futuros dirigentes da Índia anteviam dificuldades. Nehru

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lamentava as condições deploráveis da Índia Portuguesa e a necessidade de se proceder à sua integração na União Indiana1.

Estabelecidas as relações diplomáticas entre os dois governos ao nível de Legações2 a União Indiana não tardou em propor negociações quanto ao futuro do Estado Português da Índia e a 27 de fevereiro de 1950, através da sua Legação em Lisboa reivindicou formalmente a soberania sobre as colónias portuguesas no Indostão. Caeiro da Matta, ministro dos Negócios Estrangeiros, passados 4 meses, a 15 de junho, entregou a resposta portuguesa, considerando que as negociações desejadas pela União Indiana seriam “apenas para definir a forma como o Estado Português da Índia seria integrado na União Indiana” por essa razão o governo português “deve lealmente declarar que ele não pode discutir e muito menos aceitar para ela a solução que se lhe propõe”3.

A inflexibilidade de princípios de Lisboa aumenta o tom dos protestos da União Indiana. Nehru considera inaceitável que, havendo a Índia obtido dos ingleses a sua liberdade, continuem a existir áreas de domínio estrangeiro e a 14 de janeiro de 1953, insiste numa nova Nota à qual Lisboa recusa de novo a negociação.

Fruto da posição obstinada de Salazar em recusar o diálogo com Nehru, as vozes da oposição fazem-se ouvir. Se, num primeiro momento, para os movimentos da oposição ao Estado Novo a política colonial defendida pelo Regime era secundada pela lista dos grandes problemas nacionais, em que a sua luta e reivindicações centravam-se no derrube do regime, na conquista, das liberdades fundamentais, dum sistema democrático e do melhoramento das condições de vida do povo português agora reclamavam que se fizesse um debate público sobre Goa, para informar e alertar a opinião portuguesa alienada do conflito luso-indiano. Apesar de assistirmos no pós-guerra à mudança do paradigma colonial, fruto da Carta das Nações Unidas e ao triunfo do movimento independentista no território indiano, as palavras usadas pela oposição no que concerne ao problema colonial são cuidadosamente escolhidas para não criar desunião no seio da população portuguesa onde existia em torno das colónias um certo consenso nacional. A defesa e salvaguarda da manutenção do Império, promovendo a concórdia e a pacificação de todos os portugueses, sem que esta colida com a integridade territorial, era a posição no grupo dos Republicanos. Cunha Leal4, Moreira de Campos e Nuno Rodrigues dos Santos5, numa nota à imprensa intitulada “O caso da Índia”, defendem um debate público em que era necessário que se estabelecesse uma ampla liberdade, para que todos fornecessem ideias e “armas” para a 1: Discurso de Nehru, na tomada de posse como ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo provisório indiano, a 27 de setembro de 1946. 2: As relações entre Portugal e a União Indiana mantinham-se através do consulado-geral de Portugal em Bombaim, para, em outubro de 1948, passarem a ser através da Legação em Nova Deli, entregue ao ministro Vasco Vieira Garin. Nos fins de 1949, a União Indiana abriu uma Legação em Lisboa entregue ao ministro Zare Katachuta Menon. 3: “Memorial entregue pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros ao Ministro da União Indiana em Lisboa”, em 15 de junho de 1950. In Vinte anos de Defesa do Estado Português da India (1947-1967), vol. I, 219-221. Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros, 1967. 4: Cunha Leal (1888-1970) militar, publicista e político português. Membro do Partido Republicano Nacionalista, fundou a União Liberal Republicana em 1923. Apoiante do golpe de Estado do 28 de Maio de 1926, cedo passou a opor-se à nova situação política. Enquanto governador do Banco Central de Angola, critica publicamente os efeitos que a política financeira do ministro têm em Angola, assim como a sua interferência no orçamento e nas finanças da província. Acusado de conspirar contra o Governo será preso. Enviado para os Açores evade-se, só regressando a Lisboa em finais de 1932 devido a uma amnistia. Na oposição ao Estado Novo participa, enquanto independente por Angola, nas listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD) às eleições de 18 de novembro de 1945. Será candidato da oposição nas eleições para a Assembleia Nacional de 1949. Em 1950 participa no Directório Democrato-Social, criado por António Sérgio, Jaime Cortesão e Mário Azevedo Gomes e, em 1951 é um dos principais apoiantes, com Henrique Galvão, da candidatura de Quintão de Meireles à Presidência da República. “Portal da História, Biografias”. Acedido a 10 de janeiro de 2013, http://www.arqnet.pt/portal/biografias/cunha_leal.html. Sobre Cunha Leal ver Farinha, “Francisco Pinto Cunha Leal – Intelectual e Político – Estudo Biográfico – 1888-1970”. 5: Nuno Aires Rodrigues dos Santos (1910-1984) um dos "republicanos históricos" tendo sido, durante a ditadura de Salazar, um combatente antifascista, com fortes convicções democráticas e humanistas. “Wikipedia Nuno Aires Rodrigues dos Santos”. Acedido a 10 de janeiro de 2013, http://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_Rodrigues_dos_Santos.

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defesa da Pátria, de modo a evitar consequências desastrosas. Deveria ser, “concedido aos discordantes do regime — mas de reconhecido patriotismo e sem filiações partidárias que justifiquem quaisquer suspeitas a tal respeito — ampla autorização para se manifestarem contra a tentativa de esbulho do Pandita Nehru” em comícios públicos, ou através da Emissora Nacional e, ao menos para este momento, sem censura prévia. Salazar respondeu anunciando que no momento atual não era vantajoso para o país desenvolver uma campanha em comícios, pois segundo este “correríamos o risco de perder, no tumultuar de paixões incontroladas, a razão que incontestavelmente nos assiste”6.

No PCP, numa altura em que a união da oposição já não era possível a abordagem perante o problema colonial foi diferente. Na sua campanha pela Paz denunciou o terror salazarista na Índia Portuguesa e apelou ao regresso dos soldados. Defendendo que os povos das colónias portuguesas deviam lutar firme, decidida e corajosamente contra os seus exploradores, deviam lutar pela igualdade de direitos, pela defesa dos seus interesses7. Já desde 1951, o Partido apoiava “o direito do povo dos domínios portugueses na Índia escolher livremente o seu destino”8, para mais tarde reafirmar esta posição na Declaração do PCP de Maio de 1954, insistindo que se iniciem negociações de modo a “que se garanta liberdade plena ao povo goês, para ele poder expressar livremente a sua vontade”9.

Os discursos entre Portugal e a Índia crispam-se e os conflitos agravam-se. Os crescentes atos de voluntários nacionalistas indianos, satyagrahis, culminam com a invasão e ocupação dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, a 22 de julho de 195410. A aproximação do dia 15 de agosto de 1954, data em que a União Indiana comemorava o 7° aniversário da sua independência, a ansiedade aumenta perante a possibilidade de uma marcha satyagraha sobre Goa. No jornal República são relembrados os momentos heróicos da história do povo português: o “glorioso” dia 14 de agosto de 1385, em que, como portugueses, segundo o República, “reivindicamos, orgulhosamente, no dia de hoje a glória de Aljubarrota. Do mesmo modo, reivindicamos os legítimos direitos de Soberania na Índia Portuguesa, onde os portugueses chegaram e trabalharam muitos séculos antes de existir a União Indiana”11.

O PCP, por seu lado, acusa o Governo de continuar a recusar as propostas de negociação do Governo da União Indiana. O Avante! dá conta do aumento de militares, material e vasos de guerra enviados para Índia, bem como do aumento da repressão nesses territórios e na metrópole contra portugueses que exigem a negociação. O órgão do PCP recorda que os soldados que iam para a Índia não eram voluntários12, sugerindo a realização de abaixo-assinados e a organização, por toda a parte, de comissões que exigissem do governo a solução pacífica para o caso de Goa, Damão e Diu e o regresso imediato dos soldados com

6: “O caso da Índia”. República, n.º 8445, 21 de junho de 1954:1,6. 7: “Trabalho escravo nas colónias! Chamamos os povos coloniais à luta contra os negreiros salazaristas”. Avante!, VI série, n.º 163, dezembro de 1951: 4. 8: “Terror Salazarista na Índia Portuguesa, Que os soldados voltem para casa”. Avante!, VI série, n.º 159, maio de 1951: 2. 9: “Declaração do Partido Comunista Português de Maio de 1954”. A Oposição colaboracionista dos falsos democratas no Caso de Goa”. Avante!, VI série, n.º 189, julho de 1954:1. 10: A União Indiana irá encerrar a sua Legação em Lisboa, a 11 de junho, mas o Governo português manterá a sua em Nova Deli. A 8 de Agosto de 1955, a União Indiana decide encerrar a Legação portuguesa em Nova Deli. As posições radicalizam-se, foi expulso o cônsul da Índia em Goa, Nova Deli expulsa os funcionários portugueses de Bombaim e, entre agosto e setembro, o Governo português envia os batalhões de caçadores Índia e Vasco da Gama. 11: “Aljubarrota”. República, n.º 8499, 14 de agosto de 1954:1. 12: O gabinete do ministro da Defesa fornecera a seguinte nota, nos dias 26 e 29 de agosto: desembarcaram no porto de Mormugão de bordo dos navios Índia e Moçambique para reforços das guarnições locais, tropas e elementos das organizações policiais da Metrópole. “Nestes como em todos os restantes expedicionários foi possível verificar o mesmo espírito de decidido fervor patriótico que instantaneamente se apossou das forças armadas e da generalidade dos portugueses que labutam em todas as partes do Mundo, ao terem conhecimento de que podia perigar a integridade da terra portuguesa do Oriente”. “Na Índia Portuguesa já se encontram os contingentes militares que vão reforçar a guarnição local”. República, n.º 8515, 30 de agosto de 1954:9.

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inscrições por toda a parte de frases: “PAZ EM GOA”; “NEGOCIAÇÃO!” e “PELA LIBERDADE DOS POVOS! PELA PAZ! PELA NEGOCIAÇÃO!”13.

Será nesta direção que, a 11 de agosto, foi subscrita entre os membros da Comissão Central (CC), a “Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu”, e enviada depois a vários jornais do Porto, provocou a detenção de Albertino Duarte Macedo, Virgínia de Faria Moura, Ruy Luís Gomes (a 19 de agosto), José Cardoso Morgado Júnior (a 20 de agosto) e, mais tarde, António Lobão Vital (a 26 de agosto) dando origem a um dos mais duros julgamentos políticos, ao longo de 24 sessões14.

Neste documento os autores começavam por responsabilizar o Governo por fomentar uma onda de “exaltação belicista”, pelo envio de material de guerra e de forças expedicionárias para o Ultramar e evidenciavam a “ignorância” em que se encontrava a opinião pública nacional e internacional, “desligada de qualquer preocupação de esclarecimentos acerca das condições de vida e das aspirações dos povos de Ultramar e, em especial, dos povos de Goa, Damão e Diu”. Demonstravam a falta de informação por parte da população no sentido em que não conseguiam responder a um conjunto de questões, pois em nenhum momento da vigência Estado Novo foram dados esclarecimentos sobre a vida dos povos de Ultramar, assim como a imprensa não podia “analisar com inteira independência e objectividade”, não só os problemas de Ultramar como por outro lado os do resto do país, devido à censura. Era relembrado ainda que, desde 1945, os movimentos populares reclamavam um conjunto de Liberdades Fundamentais que tinham sido suprimidas pelo Estado Novo, pois para os autores da Nota Oficiosa a “supressão das liberdades fundamentais é elemento essencial da orientação política do Estado Novo” apontando como exemplos a morte camponesa de Baleizão (Beja), Catarina Eufémia, ou os acontecimentos em S. Tomé em 1954, que levou à morte de muitos trabalhadores negros, ou mesmo as prisões de democratas e partidários da Paz15. Consideravam que o Governo do Estado Novo revelou-se impotente para resolver os problemas na metrópole, relativos à habitação, à saúde pública, à alimentação, à assistência à mãe e à criança, ao pleno emprego e à previdência, por isso não podia convencer ninguém de que era “capaz de resolver tais problemas no Ultramar”. São ainda relembradas, na Nota Oficiosa, as duras críticas ao Acto Colonial e à administração de Goa proferidas, em 1949, desde o interior da Assembleia Nacional, pelo deputado goês Froilano de Melo, em que responsabilizava o Governo do Estado Novo pela “vaga de ressentimento, de desinteresse e desânimo” que lavrava na Índia e alertava para as possíveis consequências para Portugal “face às ambições de estranhos”16.

Os autores da Nota Oficiosa demonstravam ainda que, mesmo neste momento de crise, os poderes da PIDE foram reforçados e estendida a sua ação repressiva a todos os povos do Ultramar, através decreto n.º 39.749 de 9 de Agosto de 1954. Por isso, concluíam que só um Governo democrático poderia resolver os problemas nacionais, “quer na metrópole quer no ultramar”, reclamando a abertura de negociações com a União Indiana tendo em

13: “Queremos a solução pacífica no caso de Goa, Damão e Diu”. Avante!, VI série, n.º191, setembro de 1954:1,3. 14: Segundo informação, de 4 setembro de 1954, de um agente da PIDE, “têm sido introduzidos nas caixas de correio das habitações, e bem assim distribuído e espalhados na via pública, vários panfletos da CC do MND, visando o caso da India Portuguesa”. ANTT/PIDE-DGS - Ruy Luís Gomes - DEL.P. 56/54 - NP3063, p.114. 15: As Liberdades Fundamentais reclamadas pelos movimentos populares desde 1945 e indicadas na Nota Oficiosa do MND eram: “as condições mínimas de honestidade das eleições para deputados e para a Presidência da República (recenseamento honesto, liberdade de propaganda e fiscalização do acto eleitoral); Abolição da Censura, da PIDE, dos campos de concentração e dos tribunais plenários de Lisboa e Porto; Revogação das medidas de segurança para presos políticos, medidas que permitem, de facto, a prisão perpétua; Liberdade de reunião, associação, expressão de pensamento e religião; Reintegração dos funcionários públicos, empregados e operários afastados dos seus lugares por serem desafectos do Estado Novo; Liberdade de formação e actuação dos partidos políticos”.Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu, ibidem, pp.188-191. 16: Idem, ibidem.

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vista as “legítimas aspirações dos Povos de Goa, Damão e Diu”17. Já em agosto de 1954, através do Avante!, o PCP defendia que o problema de Goa não podia ser resolvido pelo regime atual: “só um governo que seja capaz de dar autonomia aos povos coloniais, prestar-lhes auxílio fraterno, abrir-lhes o caminho para uma vida livre poderá resolver por forma justa e definitiva o problema colonial, que o fascismo agrava de ano para ano”18. Neste assunto os autores da Nota Oficiosa, adiantavam que para a negociação — único meio de evitar a Guerra —, seria necessário que o Presidente da República usasse dos poderes que a Constituição lhe conferiu para formar Governo19.

Acusados os subscritores da Nota Oficiosa de conspiração contra a segurança externa do Estado — traição à Pátria — e de fazerem parte de associação ilegal, pois segundo o relatório da PIDE, a Nota, “pelo seu conteúdo, da crítica odienta e anti-patriótica à atitude do Governo da Nação no caso da Índia, integra diversas infrações penais”, o que podia “fornecer elementos à União Indiana para persistir quando não intensificar, a sua política de invasão e absorção dos enclaves portugueses — actos esses manifestamente prejudiciais ao Estado Português”20. O processo da CC do MND vai incrementar, dentro de um quadro em que as liberdades são limitadas, uma onda de contestação e de manifestação de posições relativas ao caso de Goa. O julgamento só serealizará oito meses mais tarde, no Tribunal Plenário do Porto, e as audiências vão ser o momento de maior crítica à política do Governo e não só no que concerne ao problema de Goa. Apareceram para depor no Tribunal Plenário do Porto, o historiador António José Saraiva, Mário Cal Brandão, Manuel Luís Guedes Pinheiro, Mem Verdial, Alberto Saavedra, Alberto Oliveira Vilaça, Maria Isabel Aboim Inglês, António Macedo, Luís Neves Real, Eduardo Ralha, Olívio França e Humberto Pereira Diniz Lopes.

Uma das primeiras testemunhas a abordar o conteúdo da Nota Oficiosa foi Alberto Oliveira Vilaça, observando que a Nota “ao contrário das hipóteses que possam ser formuladas, é patriótica e mais que patriótica [ .] não havendo na mesma qualquer palavra de defesa da União Indiana”, mas sublinha que nela se referia ànecessidade de resolver o problema com a União Indiana, tendo em conta a salvaguarda da independência nacional, e criticando também o ambiente de guerra criado21. Esta ideia foi também defendida por António Macedo que, ouvido no Tribunal, mencionou que existia uma correção a fazer à Nota quanto à ordem em que foram apresentadas as conclusões. Para António Macedo, a 1ª conclusão seria a de pedir a substituição do Governo por outro que pudesse resolver os problemas nacionais para que se resolvesse “o problema com a União Indiana por negociações ouvindo previamente a opinião pública”22. Mem Verdial, no seu testemunho, reafirmou que fora o patriotismo dos réus que os teria levado a “chamar a atenção do governo para o perigo que corremos” pois em sua opinião, a Nota, do princípio ao fim, era a afirmação de factos verdadeiros”. Observando que no presente Governo não se garantiam ao povo os direitos consignados na Lei, pois para Mem Verdial, “há um Governo e em Lisboa há uma casa (referia-se à Assembleia Nacional) onde estão os indivíduos não legitimamente eleitos e por isso não representam a maioria do povo português”23.

17: Idem, ibidem. 18: “A política provocadora e agressiva do governo no caso da Índia. Ameaça a vida pacífica do povo português”. Avante!, VI série, n.º 190, agosto de 1954:1, 2. 19: Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu. ANTT/PIDE-DGS- Ruy Luís Gomes - DEL.P. 56/54 - NP3063, pp. 188-191. 20: Processo de Averiguações por crimes contra a Segurança do Estado a decorrer no 2º Juízo Criminal do Porto, 1ª Secção. ANTT/PIDE-DGS - Ruy Luís Gomes- SC/PC101/54- NP5099, p.31. 21: Idem, ibidem, pp.414-415. 22: Idem, ibidem, pp.399-400. 23: Idem, ibidem, pp.405-406.

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Os depoimentos de Alberto Saavedra, Maria Isabel Aboim Inglês, Manuel Luís Guedes Pinheiro e Mário Cal Brandão centraram-se fundamentalmente sobre o sentido que os autores da Nota davam à palavra negociação. Mário Cal Brandão ao reafirmar a posição das outras testemunhas, acrescentou que, se tivesse conhecido o texto, e se lhe fosse dada a oportunidade de assinar esse documento, não teria dúvidas nenhumas. Disse ainda que os democratas pensaram em fazer um documento dirigido ao Presidente da República, tendo elaborado “um projeto desse documento que foi submetido à aprovação de vários indivíduos e corta daqui, corta dacolá, formaram-se as linhas gerais do documento e então pensou-se em lhe dar a maior expansão e colher assinaturas de várias personalidades, como antigos Ministros e outras até anteriores ao 28 de Maio e alguns precursores, mas estava-se a poucos dias do 15 de Agosto e não foi possível dar execução à publicação ou envio do referido documento”. Acrescenta que esse documento se identificava em certas passagens com a nota do MND e se “fossem reconhecidos aos naturais da Índia os direitos fundamentais, nunca se teria passado o que se passou”. Segundo Mário Cal Brandão, “as negociações são sempre negociações e o que era necessário era fazer ver àUnião que não era possível a transferência e se fossem dadas as liberdades fundamentais só aos povos de Goa, Damão e Diu para se manifestarem, eles seriam os próprios a dizerem que não queriam qualquer transferência”24. Humberto Lopes, no seu depoimento, afirma que “não é solução para o problema de Goa, Damão e Diu, não ouvir esses povos, não fazer jus às suas aspirações (…)”. O documento pretendia, segundo Humberto Lopes, “ser um duche de água fria e julgo”, considerando que “era preciso um apelo à consciência da Nação para que não se deixe arrastar por uma vaga emocional, por um estado emocional. O propósito era nitidamente de fazer baixar a temperatura”25.

Sobre a acusação de que a Nota do NMD pretendia dividir os portugueses, Eduardo Ralha e o historiador António José Saraiva prestam depoimento. Eduardo Ralha esclarece que o que dividia os portugueses era a atitude do Governo, admitindo que a independência da Índia fosse uma fatalidade geográfica, mas que “se o povo de Goa estivesse naquele bem-estar que desejaríamos para nós, certamente que não desejaria separar-se do Governo”26. Para António José Saraiva “era preciso partir do princípio que os portugueses não estavam divididos, mas a unidade não existia em relação ao caso de Goa, Damão e Diu e não podia ver nessa tentativa de discussão do problema um intuito de divisão duma unidade nacional que não existia”27.

Se alguns consideravam que assinariam a Nota caso isso lhes fosse solicitado, Olívio França era da opinião, que não se devia “escrever o papel porque tendo a oposição sido posta à margem deveria deixar-se de responsabilidade a cargo do Governo que teria de resolver todo o problema; que chegou a escrever também um papel que foi submetido a uma roda de amigos e em que isso estava bem expresso e uns diziam que o papel devia ser publicado”28.

Tanto Francisco Pulido Valente como Aquilino Ribeiro, não estando presentes no Tribunal Plenário, enviaram uma declaração em defesa de Ruy Luís Gomes. Para Francisco Pulido Valente, o que em França ou Inglaterra era exercício de direito fundamental e virtude cívica em Portugal era crime pois “nega-se à inteligência, à cultura e à moralidade deste homem ilustre o direito de ter opiniões pessoais e diferentes das opiniões do governo sobre problemas do povo português”29. Aquilino Ribeiro manifestou a sua opinião em carta 24: Idem, ibidem, pp.325-327. 25: Idem, ibidem, pp.302-304. 26: Idem, ibidem, pp.354-355. 27: Idem, ibidem, pp.316-317. 28: Idem, ibidem, pp.364-366. 29: Declaração de Francisco Pulido Valente enviada ao Tribunal Plenário do Porto, 4 de abril de 1955. AHS/ICS - Espólio Pinto Quartin, 700 - Doc.169.

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considerando que “desde que a Censura obstou à publicação do referido manifesto, automaticamente ele reverteu ao domínio estricto, puramente subjectivo, da esfera individual do Dr. Ruy Gomes. Queda ou devia quedar [sic], se a orgânica estadual é lógica, um acto exclusivamente da sua consciência. Não é legítimo considerar que o abstracto seja, em vez do concreto e positivo, artigo de devassa para tribunais e matéria de leis”. Para Aquilino Ribeiro, com todo este processo pretendia-se atingir “o adversário que preconiza o regresso às liberdades democráticas”30.

Enquanto decorria o processo da CC do MND, desenvolveu-se um movimento de apoio e solidariedade em defesa dos presos, com inscrições murais em diversas localidades, mensagens e depoimentos de importantes personalidades. A Comissão Portuguesa pela Paz fez circular, em janeiro de 1955, um documento intitulado Agrava-se a situação na Índia, onde defendia a abertura imediata de negociações entre os dois governos “como único meio de afastar o perigo de uma guerra”31. O MND através do seu boletim Unidade! ou do boletim da Comissão Inter-Profissões de Lisboa informava sobre o clima de intimidação e terror em que decorria o julgamento erecordava as decisões da IX Assembleia de Delegados do MND, em 1953, segundo os quais “a implantação da democracia em Portugal só poderá ser — e será — o resultado vitorioso da acção dos democratas portugueses em íntima ligação com o povo”32.

À volta do problema de Goa e da cooperação entre os democratas portugueses contra a política colonial de Salazar, Pedro Ramos de Almeida, no artigo “Notas e história sobre a unidade”, publicado na revista Vértice, foca um exemplo pouco conhecido: “cerca de 1954, António Sérgio, após diversos encontros com Ângelo Veloso, fazia publicar com a ajuda do MUD Juvenil (que também se encarregava de grande parte da distribuição da edição) documentos seus e de patriotas goeses que condenavam a posição colonial bélica de Salazar na Índia”33. As cartas de António Sérgio dirigidas ao ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues são publicadas pela CC do MUD Juvenil. Apesar do MUD Juvenil não estar inteiramente de acordo com as cartas de António Sérgio dirigidas ao ministro do Ultramar, pois para a CC do MUD Juvenil a negociação era o único meio para a resolução das divergências, as cartas vão ser encaradas como um importante contributo para a luta mostrando que para além do que os divide, o que os “UNE CONTRA A GUERRA É BEM MAIOR E MAIS SAGRADO”34. António Sérgio nas suas cartas sugeria como orientação futura na resolução do problema de Goa: “1º - Iniciar uma convivência cívica de autêntica unidade nacional, abolindo o regime de guerra fria civil e reconhecimento aos Portugueses do Ultramar e da Metrópole as liberdades cívicas fundamentais (…); 2º - Desprender-nos da letra e do espirito do Acto Colonial e suprimir as discriminações raciais na Índia Portuguesa — desacertos que, unindo-se à falta de liberdade cívicas, originaram indignação entre os Goeses. O qual favoreceu as ambições estrangeiras e deu aos adversários um excelente protesto para se apresentarem com o rótulo de “libertadores”; 3º - Negociar com os habitantes da nossa Índia as condições de um regime de larguíssima autonomia, com o máximo possível do nosso auxílio para o progresso cultural e material, dentro da Comunidadedas populações

30: “Carta de Aquilino Ribeiro” in Processo de Averiguações por crimes contra a Segurança do Estado, a decorrer no 2º Juízo Criminal do Porto, 1ª Secção. ANTT/PIDE-DGS - Ruy Luís Gomes - SC/PC101/54 - NP5099, pp. 591-592. 31: “Agrava-se a situação na Índia”, AComissão Nacional da Paz, Lisboa, janeiro de 1955. AHS/ICS - Espólio Pinto Quartin, 2974 - Doc.0289. 32: “Trabalhadores! Solidarizemo-nos com a Comissão Central”, Movimento Nacional Democrático, Comissão Inter-Profissões de Lisboa, ibidem, 0691- Doc.0160. 33: Almeida, “Notas e história sobre a unidade”, 28. 34: António Sérgio desmascara a política de Salazar no problema da Índia, 1954. CasaComum.org, Cota – 93835.Acedido a 12 de maio de 2013, http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_93835. (Maiúsculas no original).

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portuguesas”35. Visto Sarmento Rodrigues, não reconhecer razão em nenhum ponto da sua primeira carta, António Sérgio, numa linguagem mais incisiva responde-lhe, afirmando que os portugueses não estão unidos, não por divergência de ideologias políticas mas sim por “uma incompatibilidade de orientação moral”. Segundo António Sérgio, será impossível haver unidade, enquanto o Governo “não decidir respeitar os direitos inerentes à consciência espiritual”36.

A ideia transmitida, ao ministro do Ultramar, de que a revolta dos Goeses era anterior à existência da União Indiana foi retomada por António Sérgio, num manuscrito intitulado “Questão de Goa”. Nesse manuscrito, onde riscou algumas das frases, acrescentou que quando a revolta dos Goeses “nasceu, sobreveio naturalmente a simpatia da União Indiana pelos Goeses protestários. Essa simpatia manifestou-se de maneira incorrecta, pela exigência da incorporação de Goa na União Indiana. Evidentemente, o justo seria ouvir os próprios goeses por meio de um plebiscito fiscalizado pela ONU”. Considerava ainda que o “começo da solução do problema está na [falta de] liberdade de expressão do pensamento, tanto para os portugueses da metrópole como para os portugueses de Goa. Todos nos queixamos do mesmo mal, mas alguns portugueses de Goa pensam em protestar violentamente, e os portugueses da metrópole não o fazem”37. Que plebiscito estaria António Sérgio a propor? Que opções teria em mente: integração na União Indiana, união com Portugal ou a Independência?

Reclamado, cada vez mais, o diálogo para o caso de Goa os movimentos num esforço conjunto desenvolvem diferentes ações. O MUD Juvenil e a Comissão de Paz do Porto, seguindo as orientações da IV Assembleia de Delegados, realizada clandestinamente em Lisboa, em setembro de 1954, vão desempenhar um papel destacado na campanha de esclarecimento e mobilização popular pela “Paz em Goa” e em defesa dos presos. No entanto, para Sacuntala de Miranda, membro do MUD Juvenil, as “directivas vindas de cima recomendavam a realização de Assembleias de Paz. Mas não se julgava apropriado falar de colonialismo, da sua natureza e da justiça das aspirações dos nacionalistas. Temia-se ferir as susceptibilidades de um país largamente convencido da legitimidade da missão civilizadora de Portugal no Mundo” (2003:64)38. Vários jovens coloniais, entre eles Carlos Veiga Pereira defendiam da necessidade de uma tomada de posição em relação às colónias nas Assembleias de Paz39. Recordando a sua passagem pelo MUD Juvenil e as suas concessões do movimento de resistência indiano contra o colonialismo inglês, Sacuntala “sonhava com um movimento de massas que defendesse explicitamente esses valores”. No entanto deparou-se com “um pequeno grupo de activistas que não se atreviam a pronunciar as palavras “comunismo”, “socialismo” ou “colonialismo” (…)”40.

Mas, já antes da IV Assembleia de Delegados, num dos panfletos do MUD Juvenil, intitulado “PAZ NA ÍNDIA”, eram descritos os vários problemas com que a juventude se deparava, desde o desemprego aos salários de miséria e “agora, uma preocupação ainda mais grave: A AMEAÇA DE UMA GUERRA que já fez correr sangue e ameaça vida de milhares de jovens Portugueses Indianos” reclamando, “QUE O CONFLITO DE GOA

35: Carta de António Sérgio ao Ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues, 6 de agosto de 1954, Lisboa. ibidem. 36: Carta de António Sérgio ao Ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues, 21 de agosto de 1954, Lisboa, ibidem. 37: Questão Goa - Manuscrito de António Sérgio. CASES, Espólio António Sérgio, Cx. 4 – Política- Separata 22. (Riscado no original). 38: Miranda, Memórias de um peão nos combates pela liberdade, 64. Sacuntala de Miranda nasceu nos Açores em 1934, cresceu sob a influência de seu pai indiano, natural de Goa, com “fortes convicções anticolonialistas e uma enorme admiração pela luta de libertação da Índia, conduzida por Gandhi e Nehru”. Em Lisboa participou no MUD Juvenil, no Movimento Nacional da Paz e nas campanhas eleitorais. Dois anos após a campanha de 1958 exilou-se em Londres, passando a trabalhar em conjunto com a “Goa League”, proferindo palestras sobre o regime salazarista. 39: E em Março de 1952, Carlos Veiga Pereira, Agostinho Neto e Marília Branco foram detidos por recolherem assinaturas para o “Apelo para um Pacto de Paz”. 40: Miranda, Memórias de um peão nos combates pela liberdade, 43.

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SEJA RESOLVIDO POR MEIOS PACÍFICOS. E é esse verdadeiro e único caminho patriótico. Porque ele corresponde à vontade expressa da juventude e do povo português. (…) O GOVERNO PORTUGUÊS DEVE CONFERENCIAR COM O GOVERNO INDIANO DISCUTIR AS RESPECTIVAS OPINIÕES, NO SENTIDO DE RESOLVER AMIGAVELMENTE O CONFLITO (…)”41. Também no Ateneu de Coimbra, clube frequentado pelos jovens da Casa dos Estudantes do Império, eram constantes os comentários sobre Goa e sobre a atitude do Governo. Segundo os informadores da PIDE, os jovens consideravam que se “fosse um governo de democracia e liberdade, já de há muito que o assunto se tinha resolvido, sem perda de vidas e com prestígio para nós”. Também surge a informação que estes defendiam “Que a Índia é dos indianos e por conseguinte nada ali temos que fazer e o que se devia já ter adoptado há muito, era a entrega imediata de todos os seus territórios em poder dos portugueses assim se saia com honra”42.

Às inscrições em diversas localidades com mensagens de apoio e solidariedade e às diferentes ações dos movimentos, o Governo responde com uma forte repressão policial sobre os seus autores. Em janeiro de 1955, quando Artur Oliveira Almeida procedia a inscrições murais de frases como “Libertai Ruy Luís Gomes, Virgínia Moura e Paz na Índia”43, na sequência das prisões dos dirigentes do MND, foi preso pela PSP, em Vila Nova de Gaia. Principiando, deste modo um novo processo: o do MUD Juvenil, com 52 arguidos, todos eles acusados de desenvolverem atividades contra a segurança do Estado, orientados pelo PCP. Salazar ativava o seu aparelho repressivo não só contra o MND mas agora contra o movimento e comissões de defesa da Paz e o MUD Juvenil. Dos muitos jovens presos vão surgindo informações sobre a campanha pela Paz em Goa e sobre o comportamento moral e político destes jovens. Destas informações destacamos a carta do Diretor da PIDE ao Diretor Geral do Ensino Superior e Belas Artes, referente a 19 estudantes que se encontravam pronunciados no Tribunal Criminal do Porto. Acusados, todos eles, de crimes contra a segurança do Estado e de pertencerem à ramificação ou sector da “associação secreta e subversiva comunista” procuravam, segundo o Diretor da PIDE, “minar, no caso da Índia, a coesão indispensável à defesa dos sagrados interesse nacionais, bandeando-se com a União Indiana. Para este a propaganda comunista, inteligente e sem escrúpulos conseguiu fazer desses jovens dóceis instrumentos dos seus desígnios. Depois de lhes arrancar das almas e das consciências a noção de Pátria e de lhes adulterar, ou até eliminar, o amor pela Família (…)”44.

O julgamento do MUD Juvenil gerará um expressivo movimento de solidariedade, através de organizações como a Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), a Associação Internacional dos Juristas Democratas (AIJD) e a tomada de posição de vários intelectuais, sobretudo franceses, que endereçaram um telegrama ao Presidente da República, Craveiro Lopes, acusando a gravidade do estado de saúde do preso Hermínio Marvão, devido ao tratamento desumano nas prisões portuguesas. Solicitavam a sua hospitalização, a proibição do uso de “métodos brutais nas prisões portuguesas” e a

41: “PAZ NA ÍNDIA”, A Comissão Central do MUD Juvenil, agosto de 1954. ANTT/PIDE-DGS/ DEL.P.9668 - NP 6976, pp. 410-411. (Maiúsculas no original). 42: Da informação da PIDE também constavam as seguintes afirmações: “b) Que a ditadura de Salazar nos leva à Ruína, tanto pelo lado financeiro, como pela perca inútil de vidas, por uns bocados de terra que nada valem e que de direito não são nossas. c) Que o Governo está conduzindo o problema, por uma forma vergonhosa, fazendo uma propaganda inteiramente balofa, que ninguém acredita, porquanto os goeses estão desejosos de se unirem aos seus irmãos de raça. d) Que temos de abrir os olhos, pois a política de Salazar é só de carne para canhão, perfeito sistema fascista”. Cópia Informação, 3 de setembro de 1954. ANTT/PIDE-DGS - Casa dos Estudantes do Império – DEL. C/SR3767 - NP4480, p.140. 43: ANTT/PIDE-DGS- Artur Oliveira Almeida - SC/PC-47/55 - NP5110 e 5111, vol.1, p.283. 44: Carta do Director da PIDE ao Director Geral do Ensino Superior e Belas Artes, 31 de outubro de 1955, ibidem, vol.2, p.24.

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“liberdade provisória Herminio Marvão companheiros Veloso, Ramos, Maria Cecília, Hernâni Vilaça e Neto”45

Arrastando-se o julgamento do MUD Juvenil, entre dezembro de 1956 e junho de 1957, os membros do Movimento foram condenados por “conjuração contra a segurança do Estado por meio de associação ilícita e secreta”. Também em 1957 terminará o processo da CC do MND ecomo as acusações de traição à Pátria e de pertença a organizações ilegais não puderam ser provadas, os réus acabaram por ser condenados a 18 meses de delitos menores, mas acabaram por cumprir mais de dois anos de detenção.

O debate político e ideológico tornava-se cada vez mais difícil. A realidade política portuguesa parecia insensível às transformações que o fim da guerra implicava, o início do processo de descolonização por pressão das novas realidades. Com uma opinião pública controlada e manipulada, pela censura, pela PIDE e por uma forte propaganda, alertar para o perigo da ação do Governo em recusar a negociação com Nehru e despertar as consciências alheadas do conflito luso-indiano, era uma batalha corajosa. A perda da liberdade abatia-se sobre os que falavam. A violência exercida sobre as oposições silenciava as vozes divergentes da política que o Governo defendia à volta da questão de Goa.

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45: Almeida, “Salazar, o MUD Juvenil e a solidariedade ao povo português”, 8.

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