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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA ADRIANA ZANELA NUNES CONECTORES CONCLUSIVOS EM PERIÓDICOS CARIOCAS: Uma visão variacionista RIO DE JANEIRO 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

ADRIANA ZANELA NUNES

CONECTORES CONCLUSIVOS EM PERIÓDICOS CARIOCAS:

Uma visão variacionista

RIO DE JANEIRO

2009

2

CONECTORES CONCLUSIVOS EM PERIÓDICOS CARIOCAS:

Uma visão variacionista

Adriana Zanela Nunes

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Linguística.

Orientadora: Profª Doutora Helena Gryner.

Rio de Janeiro Agosto de 2009.

3

CONECTORES CONCLUSIVOS EM PERIÓDICOS CARIOCAS:

Uma visão variacionista

Adriana Zanela Nunes

Orientadora: Professora Doutora Helena Gryner

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Linguística.

Examinada por:

________________________________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Helena Gryner

________________________________________________________________________

Profa. Doutora Letícia Rebollo Couto – Letras Neolatinas/UFRJ

________________________________________________________________________

Profa. Doutora Christina Abreu Gomes – Linguística/UFRJ

________________________________________________________________________

Profa. Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis – Letras Vernáculas/UFRJ, Suplente

________________________________________________________________________

Profa. Doutora Myrian Freitas – Linguística/UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro Agosto de 2009

4

À Josué Vieira Nunes, meu amado pai e querido amigo. A ele minha eterna gratidão por tudo que fez por mim.

5

IN MEMORIAM:

Ao meu querido irmão Marcos Henrique Zanela Nunes pela saudade sempre presente;

Aos meus avós paternos (Nicéas Nunes e Augusta Vieira Nunes) e maternos (João Zanella e

Evangelina de Souza Zanella).

6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus que me sustentou dando forças e saúde para chegar até aqui; À Profa. Doutora Helena Gryner, minha orientadora que, mesmo sabendo de meus limites, acreditou ser possível realizar este trabalho, apoiou-me e esteve sempre ao meu lado. Com sua ajuda e paciência infinitas este trabalho pode ser realizado; Às Profas. Doutoras Letícia Rebollo Couto, Christina Abreu Gomes, Maria Aparecida Lino Pauliukonis e Myrian Freitas por terem aceitado o convite para compor a banca examinadora; Ao Prof. Doutor Luíz Edmundo Bouças Coutinho pelo apoio e incentivo acadêmico que dele recebi; Ao meu amado irmão Paulo Henrique Zanela Nunes, pelo carinho e ajuda imensos nos primeiros passos com o Word e na confecção das tabelas e slides; Agradeço ainda, de modo especial, ao Prof. Doutor Walter de Souza Lopes, pelo incentivo e orientação acadêmica constantes, desde quando ainda estava relutante se devia ou não ingressar no Mestrado. Minha gratidão também à Profa. Mestra Jaqueline Silveira Coriolano, ao Prof. Doutorando Victor Luiz Silveira, ao Prof. Mestre Waniston Coelho Celeri. Todos esses muito me ajudaram, atendendo-me de várias maneiras, nos mais diversos momentos; À Profa. Doutora Erotilde Goreti Pezatti que, em solicitação ao meu e-mail, enviou alguns de seus artigos sobre conectores conclusivos pertinentes ao meu trabalho; À Fátima, da secretaria da Pós-Graduação, sempre me orientando com os prazos acadêmicos e incentivando-me constantemente. Aos caríssimos amigos da nossa biblioteca: Inês, Francisco e “Pelé” pela incansável paciência em ajudar na procura daquele livro não encontrado nas prateleiras; A todos esses, o meu muito obrigada de coração!!!

7

SINOPSE

Estudo da variação linguística entre os conectores conclusivos explícitos: portanto (conector canônico); e, por isso, pois, então, assim, aí, consequentemente (conectores não-canônicos) e o conector zero, não explícito. Pesquisa fundamentada nos Princípios da Teoria da Variação e do Funcionalismo linguístico, baseada na amostra de textos midiáticos de jornais cariocas (acervo PEUL/UFRJ).

8

LISTA DE TABELAS:

Tabela 1 – Frequência de conectores conclusivos – p.17

Tabela 2a – Efeito de nível de conectividade no uso de portanto vs. conector zero – p.65

Tabela 2b – Efeito de nível de conectividade no uso de portanto vs. conector não-canônico– p.66

Tabela 3a – Efeito de gênero discursivo no uso de portanto vs. conector zero – p.70

Tabela 3b – Efeito de gênero discursivo no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.70

Tabela 4a – Efeito de referência temporal no uso de portanto vs. conector zero – p.72

Tabela 4b– Efeito de referência temporal no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.73

Tabela 5a – Efeito de proximidade no uso de portanto vs. conector zero – p.75

Tabela 5b – Efeito de proximidade no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.76

Tabela 6a – Efeito de polaridade no uso de portanto vs. conector zero – p.78

Tabela 6b – Efeito de polaridade no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.79

Tabela 7a – Efeito de sequência temporal no uso de portanto vs. conector zero – p.82

Tabela 7b – Efeito de sequência temporal no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.82

Tabela 8a – Efeito de periódico no uso de portanto vs. conector zero – p.85

Tabela 8b – Efeito de periódicos no uso de portanto vs. conector não-canônico – p.86

Tabela 9 – Portanto vs. conector zero – p.95

Tabela 10 – Portanto vs. conector não-canônico – p.96

Tabela 11 – Portanto vs. conector zero – p.97

Tabela 12 – Portanto vs. conector não-canônico – p.98

LISTA DE QUADROS:

Quadro 1 – Principais tipos de expansão por realce – p.30

Quadro 2 – Distribuição dos dados por periódicos e gêneros discursivos – p.53

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................11 2. OBJETO DE ESTUDO......................................................................................16

2.1. Conexão explicação-conclusão..............................................................16 2.2. Os conectores.........................................................................................17

2.2.1. Conector portanto..........................................................................18 2.2.1.1. Gramaticalização do portanto................................................20

2.2.2. Conectores não-canônicos: e por isso, pois, então........................26 2.2.3. Conector zero.................................................................................27

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..........................................................................29

3.1. Visão da linguística...............................................................................29

3.1.1. Halliday.........................................................................................29 3.1.2. Mann & Thompson.......................................................................31 3.1.3. Câmara Jr......................................................................................31 3.1.4. Neves.............................................................................................32 3.1.5. Maingueneau.................................................................................33 3.1.6. Gryner...........................................................................................33 3.1.7. Silva..............................................................................................34

3.2. Visão das gramáticas tradicionais........................................................35

3.2.1. Rocha Lima..................................................................................35 3.2.2. Said Ali.........................................................................................36 3.2.3. Cunha............................................................................................37 3.2.4. Cunha & Cintra.............................................................................37 3.2.5. Azeredo.........................................................................................38 3.2.6. Bechara..........................................................................................39 3.2.7. Garcia............................................................................................41 3.2.8. Borba.............................................................................................41

4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS..................................43

4.1. Pressupostos teóricos.............................................................................43

4.1.1. Sociolinguística e Teoria da Variação...........................................43 4.1.2. Funcionalismo linguístico..............................................................44 4.1.3. Análise do discurso argumentativo................................................48

10

4.2. Pressupostos metodológicos...................................................................51

4.2.1. Caracterização da amostra e obtenção dos dados...........................51 4.2.2. Tratamento dos dados.....................................................................53 4.2.3. Análise quantitativa........................................................................55

5. HIPÓTESES........................................................................................................56

5.1. Variáveis linguísticas..............................................................................56 5.1.1. Nível de conectividade....................................................................56 5.1.2. Gênero discursivo............................................................................56 5.1.3. Referência temporal.........................................................................57 5.1.4. Proximidade.....................................................................................57 5.1.5. Polaridade........................................................................................58 5.1.6. Sequência temporal..........................................................................58

5.2. Variável social.........................................................................................59 5.2.1. Periódicos.........................................................................................59

6. ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS............60

6.1. Variáveis dependentes..............................................................................60 6.2. Variáveis independentes...........................................................................61

6.2.1. Variáveis linguísticas........................................................................62 6.2.1.1. Nível de conectividade..............................................................62 6.2.1.2. Gêneros discursivos...................................................................66 6.2.1.3. Referência temporal...................................................................71 6.2.1.4. Proximidade...............................................................................73 6.2.1.5. Polaridade..................................................................................76 6.2.1.6. Sequência temporal....................................................................79

6.2.2. Variável social...................................................................................83

6.2.2.1. Periódicos...................................................................................83 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................90 ANEXOS....................................................................................................................95

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1. INTRODUÇÃO

O estudo em questão trata de um fenômeno variável: o uso do conector que introduz

orações conclusivas, no discurso argumentativo na imprensa. Encontramos variação entre o

conector canônico portanto; conectores não-canônicos (aqueles que alternam com o portanto)

e por último a ausência do conector – conector zero.

No âmbito da amostra utilizada, o conector portanto é o conector canônico por ser o

mais frequente. Os conectores não-canônicos que ocorrem menos frequentemente são: por

isso, pois, então, aí, assim, e, consequentemente. Estes conectores explícitos e o zero são

mutuamente substituíveis.

Gryner (2000) em A sequência argumentativa: estrutura e funções propõe um

esquema para caracterizar a estrutura da sequência do texto argumentativo.

A autora apresenta um quadro com a estrutura argumentativa básica, constituída por

categorias e funções facultativas e obrigatórias. Trata-se simplificadamente das seguintes

categorias: posição – ponto de vista – asserção básica sustentada pelo locutor;

explicação/justificação – explicitação das causas e razões da posição defendida pelo locutor;

sustentação – evidência que sustenta a posição do locutor; contraste – oposição entre duas

categorias; conclusão – fecho da argumentação, confirmação da posição defendida pelo

locutor; avaliação (ou coda) – asserção externa ao argumento que expressa a atitude do

locutor.1

Explicação/justificação, sustentação e contraste constituem a argumentação

propriamente dita; posição e conclusão constituem a tese e sua retomada; coda constitui uma

avaliação externa ao texto.

1 Encontramos alguns casos de orações conclusivas que constituem verdadeiras codas.

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Desse artigo, interessa-nos a relação entre explicação e conclusão, cujas

características e desdobramentos serão observados na análise das conclusivas na modalidade

escrita.

Quanto às orações conclusivas são basicamente uma relação de causalidade

(causa/efeito). Embora ocorra entre sintagmas, orações ou períodos, esse estudo analisa

especificamente a ligação entre orações e períodos.

A presença de uma oração explicativa anteposta anuncia uma oração como a

conclusiva, o que é crucial na caracterização das conclusivas justapostas e das ocorrências

ambíguas.

Nossa hipótese mais geral é de que há uma correlação sistemática entre o uso

variável do conector (variantes) e os contextos em que as variantes ocorrem (variáveis

independentes ou grupos de fatores). Ela se baseia no pressuposto variacionista de que a

língua é um sistema variável, isto é, a variação ocorre com regularidade dentro do sistema.

Ao analisarmos as diversas formas de conexão conclusiva pudemos identificar

variantes explícitas, entre as quais a mais frequente (aqui considerada canônica) é o conector

portanto. A essa variante alterna-se uma segunda, constituída pelo conjunto dos demais

conectores (não-canônica). Ambas opõem-se a uma terceira: a variante zero, sem conector.

Exemplos:

- Variante portanto

(1) De fato, não há como o presidente eleito aceitar uma renegociação da dívida de estados e municípios, por exemplo, sem que o governo federal transfira - em decorrência de uma reforma tributária - mais responsabilidades para o âmbito de governadores e prefeitos. Nesse caso, a União poderia abrir mão de receitas, pois estará também se desvinculando de despesas ou transferências obrigatórias para cofres estaduais e municipais. Portanto, o momento continua a austeridade fiscal.

[Editorial - O Globo]

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- Variante não-canônica

(2) A existência de um sistema de auditoria competente é pré-requisito para o fortalecimento do mercado de capitais, eis que os participantes desse mercado têm, como instrumento indispensável para tomar suas decisões, as informações divulgadas pelas companhias abertas e, dentre elas, as demonstrações contábeis auditadas por auditores independentes registrados na CVM. Por isso, a qualidade das informações divulgadas é de fundamental importância para a credibilidade do mercado.

[Crônicas - Jornal do Brasil]

- Variante zero

(3) Li, rindo, que o Romário (foto) exigir (sic) de seu beneficente patrocinador que monte, no Fluminense, um time competitivo no ano que vem. Só que em torno dele, Romário - e foi a partir daí que comecei a rir. Ou bem um time é de competição, sem o Romário, ou bem ele passa a ser um time de distração, para o Romário. Duas idéias simpáticas, mas irreconciliáveis.

Ø Se o futuro do futebol argentino está nessa confusa e inábil seleção de Cavenaghi, Cangela e outros que tais, não haverá outra saída senão curtir o passado, ao bandoneon.

[Opinião - Extra]

O objetivo da pesquisa é identificar os fatores que favorecem ou desfavorecem a

escolha de uma variante, em detrimento das outras. Neste trabalho analisamos as formas

conclusivas argumentativas em textos midiáticos de jornais cariocas, o que indica que

trabalharemos com textos da modalidade escrita e não oral. Nossa proposta é analisar

estatisticamente o uso dos conectores conclusivos a partir dos seguintes jornais: Jornal do

Brasil, O Globo, Extra e O Povo, coletados e selecionados para a amostra PEUL/UFRJ,

verificando o efeito dos diferentes contextos.

Para nossa investigação, propusemos várias categorias analíticas que foram

operacionalizadas como grupos de fatores para fins de análise estatística através do Programa

Goldvarb (2001).

Esta pesquisa não é apenas quantitativa, mas qualitativa. É uma pesquisa quantitativa

na medida em que calcula matematicamente as taxas de uso das variantes, através de um

pacote de programas – o Programa Computacional Goldvarb (2001). É também qualitativa,

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pois analisa e interpreta os resultados a partir de hipóteses e reflexões baseadas nos princípios

linguísticos que a nortearam.

A distribuição deste trabalho é a seguinte:

No capítulo dois, apresentamos o objeto de estudo, ou seja, o conector conclusivo,

com as três variantes: conectores explícitos – canônico, portanto, e não-canônicos (por isso,

pois, então, aí, assim, e, consequentemente) e conector zero (ausência de conector). Nesse

capítulo, descreveremos o processo de gramaticalização que deu origem ao conector portanto.

Comentamos ainda a natureza dos não-canônicos e do conector zero.

No capítulo três, procedemos à revisão bibliográfica, levando em conta alguns

conceitos gramaticais acerca dos conectores conclusivos com base em alguns estudiosos, tais

como: Carlos Henrique da ROCHA LIMA (1983); José Carlos de AZEREDO (2008); Celso

Ferreira da CUNHA & Luís Filipe Lindley CINTRA (2007); Evanildo BECHARA (2009);

Maria Helena de Moura NEVES (2000); Joaquim Mattoso CÂMARA Jr. (1986); Manuel

SAID ALI (1971) e Celso Ferreira da CUNHA (1970).

No capítulo quatro, abordamos primeiramente os pressupostos teóricos e

metodológicos deste estudo: a Teoria da Variação Linguística, proposta por Labov (1972); o

Funcionalismo Linguístico (GIVÓN, 1995; HALLIDAY & HASAN, 1976) e a Análise do

Discurso (ADAM, 2008).

Tratamos em seguida, da caracterização da amostra, da delimitação do corpus da

pesquisa, além de discorrer sobre aspectos da análise quantitativa.

No capítulo cinco, apresentamos as hipóteses da pesquisa.

No capítulo seis, procedemos à análise dos dados. Analisamos quantitativamente e

interpretamos os resultados estatísticos das variáveis independentes (estruturas discursivas e

extralinguísticas).

15

No capítulo sete, apresentamos as considerações finais deste estudo. Seguem-se as

referências bibliográficas.

Por fim, constam em anexo as tabelas referentes às melhores rodadas realizadas pelo

Programa Goldvarb (2001), ou seja, aquelas em o programa selecionou o maior número de

fatores relevantes, com a melhor significância. Estas tabelas referem-se respectivamente às

análises binárias, de portanto vs. conector zero, e de portanto vs. conector não-canônico, e

constituem ponto de referência para a análise estatística.

Passamos, a seguir, à definição do objeto do presente estudo.

16

2. OBJETO DE ESTUDO

2.1. Conexão explicação-conclusão

Nosso objeto de estudo é a variação entre conectores conclusivos. Trata-se, portanto,

da variação entre formas de conexão entre orações explicativas e conclusivas. Em (4), (5) e

(6) abaixo, exemplificamos esta relação em diferentes configurações.

(4) Recebendo os cuidados do excelente treinador Roberto Morgado Junior (dispensa qualificações), [explicação=como] a castanha nascida e criada no Haras San Francesco, pode mesmo ser uma pule salvadora para a rapaziada que já está a perigo nesta prova final da semana. Portanto, [conclusão=portanto] quem acreditar, embarque nesta canoa, pois, as informações recebidas são que o jóquei Gilvan Guimarães será responsável por sua direção, está confiante na vitória.

[Opinião - O Povo]

(5) Mas [explicação=como] o samba não atingiu a esse apogeu de graça, não. Foi preciso muita luta e uma grande dose de sofrimento de muitos pioneiros. [conclusão=portanto] Por isso vejo 2004 com exagerada esperança de um novo tempo.

[Crônicas - O Povo]

(6) Esta semana, qualquer fato novo é suspeito. [explicação=como] Até temporal pode ser manobra eleitoreira. [conclusão=portanto] Ø Desconfie de tudo. O cachorro está diferente? O café com um gosto estranho? Possíveis sinais de que algo está sendo preparado. [conclusão=portanto] Ø Analise cada "bom-dia" para saber sua intenção secreta. Se lhe derem um "oi", pergunta em que sentido. [conclusão=portanto] Ø Não acredite em nada que lhe disserem, muito menos os jornais. E não duvide dos paranóicos - desconfie de quem não for!

[Crônicas - O Globo]

Em (4), (5) e (6), temos uma relação de causa/explicação-resultado/conclusão. Em

(4) e (5) a oração explicativa precede a conclusiva com a presença do conector conclusivo

explícito e em (6) com a ausência de conector. Portanto, temos uma relação de explicação do

porquê de um fato ter ocorrido em uma oração precedente e um resultado atingido

(concluído) na oração subsequente.

17

Como veremos, uma evidência de que a relação entre a oração conclusiva e a oração

explicativa é paratática, e a posição fixa da explicação, que antecede necessariamente a

conclusiva.

2.2. Os conectores

Encontramos no corpus grande diversidade de conectores conclusivos em

distribuição desigual (cf. tabela 1):

Tabela 1: Frequência de conectores conclusivos

Pressupondo distintos graus de coesão entre explicativa e conclusiva,

operacionalizamos a análise da variação propondo três variantes. Assim, temos:

a) Para a maior conexão, a variante portanto, forma canônica,2 o conector mais

frequente, específico das conclusivas;

b) Para a menor conexão, variante zero, isto é, ausência de marca de conexão;

2 Embora seja apontado nas gramáticas tradicionais, como o conector prototípico de conclusão (por exemplo em Penso, logo existo), não se registrou nenhuma ocorrência do conector logo nos periódicos analisados.

CONECTORES CONCLUSIVOS TOTAL

portanto 44

e 41

por isso 27

pois 16

então 15

assim 12

aí 2

com isso 1

consequentemente 1

TOTAL 159

18

c) A variante não-canônica, constituída pelo conjunto dos conectores menos

frequentes e em geral não específicos das conclusivas.3

2.2.1. Conector portanto

Dominique Maingueneau (1996) analisa as relações de causalidade entre P e Q, ou

seja, relação entre causa/justificação + consequência/conclusão, expressa pela fórmula P

portanto Q.

Na oração causal, P focaliza a causa enquanto na oração conclusiva Q focaliza o

resultado. Como a causa P antecede obrigatoriamente o resultado Q, a presença da explicativa

leva à interpretação de Q como conclusão, mesmo na ausência de conector.

(7) [P=causa] O voto é a maior arma do eleitor. [Q=resultado] Portanto, é fundamental que a população examine com calma e critério as propostas, reflita sobre cada uma delas, confira se as promessas na eleição passada de fato foram cumpridas e principalmente, não se deixe levar por apelos meramente eleitoreiros.

[Editorial - Extra]

Na relação lógica (causa + consequência) se estabelece o silogismo em (7a): Assim,

Garcia (1973, p.283) define silogismo: "A expressão formal do método dedutivo. Uma

argumentação na qual de um antecedente que une dois termos a um terceiro, infere-se um

consequente que une esses dois termos entre si.” Das duas proposições que unem o silogismo,

as duas primeiras chamam-se premissas, e a última, conclusão. Como no exemplo clássico:

Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Sócrates é mortal. No entanto, o argumento

silogístico não se limita à linguagem da lógica (cf. (7a)):

3 Observe-se que o conector conclusivo e apresenta grande ambiguidade.

19

(7a) Todas as armas se usam com cuidado. O voto é a maior arma. Portanto [se o voto é uma arma], usa-se com cuidado.

Na relação justificação + conclusão, “o voto é a maior arma do eleitor”, é uma

afirmação genérica e consensual em um sistema de sufrágios. É, portanto, uma justificativa

legitimada pelo interlocutor e serve de base para o aviso do enunciador de que “é fundamental

o exame calmo e criterioso das propostas.” Desta forma, o escritor persuade o leitor da

legitimidade da sua conclusão. Vale ressaltar que neste texto existem dois atos de fala:

i) Afirmar a relação lógica entre causa e consequência;

ii) Justificar uma avaliação subjetiva (Maingueneau, 1996).

Da mesma forma Halliday & Hasan (1976) distinguem a relação externa (lógica ou

objetiva) e relações internas (atitude e atos de fala), e Mann & Thompson (1992, p.71)

distinguem causais e resultativos intencionais dos não-intencionais.

No exemplo (8) a ausência do conector não prejudica a interpretação conclusiva:

(8) Toda esta digressão pode se resumir num recado ao estimado leitor: o compromisso do verdadeiro jornalista é jamais lhe negar o fato de que os bárbaros estão mesmo nos portões, principalmente se alguns já escalam as muralhas. Essa notícia não será dada por ser alarmante e ajudar a vender jornal - mas sim por ser verdadeira e sua difusão necessária. E nunca de forma a servir de chamariz para outros bárbaros, por acaso desatentos. Não é tarefa fácil: depende de incontáveis decisões subjetivas e está sujeita a erros humanos. Mas é nosso trabalho. Ø Por favor, como já disse o outro, não fuzilem o carteiro.

[Crônicas - O Globo]

Em (8a) o silogismo é mais complexo:

Tarefas difíceis estão sujeitas a erro. Nossa tarefa (de mensageiro) é difícil. (Portanto) nossa tarefa (de mensageiro) está sujeita a erro. Todos devem realizar o seu trabalho. Esse é o nosso trabalho (de mensageiro). (Portanto, temos (os mensageiros) de realizar nosso trabalho sujeito a erro). Portanto, não devem incriminar (não fuzilem) o carteiro (o mensageiro).

20

Resumindo, encontramos no último silogismo dois atos de fala:

(i) Afirmar a relação lógica entre causa: temos que realizar nosso trabalho (implícito)

e consequência: não ser incriminado (não ser fuzilado);

(ii) Ato de pedido: não incriminem (fuzilem) o mensageiro (o carteiro).

Ter de realizar o trabalho (de mensageiro) que lhes for atribuído justifica o pedido e

persuade o leitor a atendê-lo.

Observe-se nos exemplos (7a) e (8a) que os conectores explícitos e implícitos são

mutuamente substituíveis.

(7a) O voto é a maior arma do eleitor.

∅ É fundamental que a população examine com calma e critério (...).

(8a) Mas é nosso trabalho. Portanto, por favor, como já disse (...).

2.2.1.1. Gramaticalização do portanto

A primeira consideração que temos sobre gramaticalização, em geral, refere-se à

Antoine Meillet (um pioneiro no termo), o qual conceituou o processo da gramaticalização

como “a atribuição de um caráter gramatical a uma palavra anteriormente autônoma,

observando que a transição é sempre uma espécie de continuum e, nos casos em que se pode

conhecer a fonte primeira de uma forma gramatical, a fonte encontrada foi um item lexical”

(MEILLET, 1948 apud NEVES, 2004, p.13-28).

O processo de gramaticalização está há muito radicado entre conceitos básicos do

modelo funcionalista, mais especificamente na explicação de fenômenos de mudança no

interior da língua.

A origem etimológica do portanto é claramente a combinação de preposição com o

pronome demonstrativo intensificador anafórico. Podemos definir anáfora como:

21

“O relacionamento interpretativo, em um enunciado ou sequência de enunciados, de

ao menos duas sequências, sendo que a primeira tem a função de guiar a interpretação da

outra ou das outras” (CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2006, p.36).

Bello (1984, p.131-2; 331) atribui a origem de portanto a por = per - derivado do

Latim (preposição); tanto = pronome demonstrativo de intensidade. E reafirma que essas

formas se gramaticalizam a partir da conexão entre orações. Exemplo: – “Malos sean los años

que me quedan por vivir, dijo Sancho, si lo dije por tanto.” Bello acrescenta: “Por tanto es por

eso”.4

Votre; Cezário e Martelotta (2004) apontam as fortes restrições sintáticas que

ocorrem quando operadores originalmente elementos mais voltados para “se identificar como

advérbio vão apresentando sucessivamente novas funções de caráter gramatical. Essas novas

funções tendem a identificar partes do discurso já mencionados (anafóricos) ou por mencionar

(catafóricos), ou ainda a ligando partes do discurso, dando-lhes uma relação argumentativa

(conjunções)”.

Longhin-Thomazi (2009) em Grammaticalization of conjunctions, retoma a

definição de gramaticalização como sendo um processo de mudança linguística

principalmente diacrônico e gradual onde novas formas gramaticais são desenvolvidas pela

reinterpretação de formas menos gramaticais em contextos linguísticos específicos.

O artigo trata das conjunções coordenadas no português e propõe-se a avaliar o papel

do contexto nos processos históricos de gramaticalização envolvidos. A autora se detém na

reconstrução diacrônica do processo emergente do marcador conjuntivo adversativo porém

através de abordagens sincrônica e diacrônica.

4 Com relação ao processo de gramaticalização, tanto é chamado de elemento de intensificação, e segundo Votre; Cezário e Martelotta (2004), ocorria em contextos de cláusulas correlacionadas que ora se apresentava como comparativas (...) ora como consecutivas. A gramaticalização de portanto parte da evolução do elemento fórico a elemento argumentativo. De acordo com os autores, elementos fóricos são a primeira etapa do processo de gramaticalização no sentido de funcionar como operador argumentativo. O mesmo observamos nas conclusivas.

22

A autora remete à Meillet (1912) quando conclui que a formação da conjunção é um

campo fértil no trato da renovação da história das línguas principalmente com relação às

conjunções coordenadas, e que a gramaticalização das conjunções estão ligadas por

mecanismos de base cognitiva e pragmática (p.578).

O trabalho confirma “a hipótese de que os advérbios tendem a realçar (enhance) todo

o conjunto das conjunções.” “[Por um lado] a aquisição de traços conjuntivos e, por outro, a

reinterpretação contextual determinou a emergência de um novo significado” (p.583).5

Pezatti (2000, p.60-71) em seu artigo Portanto: conjunção conclusiva ou advérbio?

investiga se o conector portanto já se gramaticalizou como conjunção no português falado

culto do Brasil. Diante da falta de critérios claros e explícitos de delimitação na questão da

classificação de conjunções, a autora decide restringir-se às gramáticas tradicionais.

A autora parte da hipótese de que a construção conclusiva exprime a relação de

causa/consequência, ou seja, “uma relação de implicação entre a proposição antecedente e a

consequente, onde a primeira oração é uma premissa e a segunda uma conclusão.”

Outra questão investigada diz respeito à legitimidade de portanto como conjunção

em português. Quanto a esse aspecto, remete à Carone6 (1988, p.58-9 apud PEZATTI, 2000),

segundo a qual as conjunções são expressões que geralmente passaram de um estado de

advérbio para o de conjunção. Para explicar tal transformação, Carone se fundamenta no

processo diacrônico de recategorização sintática, no qual locuções adverbiais passam a

exercer função de conjunção.

Quanto a outros marcadores que atuam como elementos de coesão: por isso, então,

assim, a autora conclui que se situam na transição de advérbio para conjunção, comportando-

se como elementos de coesão e estão a caminho de se gramaticalizarem como conjunções

5 Do original: (...) hypothesis that adverbs tend to enhance the whole set of conjunctions. (...) the acquisition of conjunction traces by the item, and, on the other, the contextual reinterpretation determined the emergence of a new meaning (p.583). 6 CARONE, Flávia de Barros. Subordinação e coordenação: confrontos e contrastes. São Paulo: Ática, 1988.

23

coordenativas. Salienta Pezatti que o valor coesivo desses elementos provém de seu caráter

anafórico.

Pezatti lista as etapas do processo de coordenação de orações, defendidas por

Carone.

a) um termo de valor adverbial, pertencente à estrutura da segunda oração

coordenada, reitera a primeira oração como um todo;

b) esse termo é um representante da primeira oração dentro da segunda;

c) esse circunstante entra em processo de cristalização, no decorrer do qual se

desvanece paulatinamente a noção de que ele é uma anáfora da oração inicial;

d) ao mesmo tempo ganha força sua função relacionadora: é um laço que a segunda

oração estende para agarrar-se à oração inicial;

e) completando-se o processo, está criada mais uma conjunção coordenativa,

morfema que faz parte da segunda oração coordenada.

Pezatti concorda com Carone quanto à hipótese de que a transformação pela qual

locuções adverbiais passam a exercer função de conjunção se dá por um processo diacrônico

de recategorização sintática, conceito proposto por Hopper & Traugott (1993 apud

PEZATTI, 2000).

O trabalho de Pezatti (2000) avança esclarecendo que a conjunção conclusiva por

excelência é logo, e aponta a possibilidade do portanto alternar, na mesma posição com esse

conector prototípico. Para justificar a prototipicidade de logo, ela arrola alguns parâmetros

que atestam o processo completo de gramaticalização desse conector, exemplificando-os:

a) Não apresentar mobilidade no interior da sentença que inicia: “O narciso é uma flor, logo pertence ao reino vegetal. *O narciso é uma flor, pertence, logo, ao reino vegetal.” b) Não poder ser precedido de outra conjunção, como a aditiva:

24

“*O narciso é uma flor, e logo pertence ao reino vegetal.” c) Pode coordenar termos, como as demais conjunções coordenativas (e, ou e mas): “Você está sentindo a sua emoção, daí ser mais fidedigno, logo mais verdadeiro.” d) Não aceita focalizadores, como advérbios de inclusão/exclusão: “*O narciso é uma flor é logo que pertence ao reino vegetal.”

A autora esclarece que os traços que apontam o conector logo como prototípico, já

apresentados, servem também para o conector portanto. Como hipótese, a autora aponta

alguns fatores que confirmam o comportamento que explica a gramaticalização do portanto.

São eles:

a) a possibilidade de o conector ser antecedido por e, considerando a hipótese de que

a presença de um juntor (cf. Pezatti, 2000, s.p.) elimina automaticamente a necessidade de um

segundo, a não ser que eles exerçam diferentes funções;

b) o nível estrutural da coordenação, se oração ou termo, considerando que a junção

com e, ou e mas, coordenativos prototípicos, realiza-se em vários níveis estruturais;

c) tendo em vista que elementos já gramaticalizados como as conjunções ocupam

uma posição fixa, a inicial na apódose, verifica-se a mobilidade dos juntores com o intuito de

verificar se ainda preservam o caráter adverbial;

d) considerando a natureza híbrida das conjunções e o fato dos advérbios permitirem

focalização por meio de clivagem ou de partículas especiais, verifica-se como se comportam

os juntores conclusivos em relação a esse aspecto.

Desta forma, a autora considerou:

- a restrição por meio de advérbios de inclusão/exclusão (ILARI et al, 1996a apud

PEZATTI, 2000).

25

Lembremos que, para Carone (1988 apud PEZATTI, 2000), portanto é uma

conjunção conclusiva pois já superou as fases do processo de cristalização, ou seja, o termo de

valor adverbial foi perdendo, no decorrer do processo, a noção de que ele era uma anáfora da

oração inicial e foi adquirindo uma função relacionadora. Para firmar o que diz sobre a

cristalização do portanto, Carone lembra da forma ortográfica, antes preposição por e

advérbio tanto que se juntaram para formar o portanto.

No entanto, o resultado da pesquisa feita por Pezatti revelou que 89,4% das

ocorrências portanto poderiam ser substituídas por logo (juntor considerado prototípico).

Dentre elas, 68,4% admitiam ser introduzidas pela conjunção e (o que lhe daria um status de

advérbio).

Diante disso, Pezatti verifica que se existem duas conjunções, no caso e e portanto,

parece que a gramaticalização de portanto ainda não está completa em seu processo, o que

contraria a afirmação de Carone.7

Pezatti (2000) coloca em dúvida a posição de Carone sobre a gramaticalização de

portanto. Consideramos portanto prototípica.

Exemplo de gramaticalização de por isso:8

(9) Nada, porém, justifica a reação como a do piloto de avião. Um brasileiro que tivesse reação semelhante ao desembarcar em algum aeroporto dos Estados Unidos certamente também seria punido. São atos indignos, que ofendem o país e, por isso, não merecem tolerância e devem ser avaliados pela justiça.

[Editorial - Extra]

7 Encontramos em nossos dados sete casos em que o conector conclusivo aparece com a conjunção e. Foram eles: dois casos de e portanto (em Crônicas); três casos de e por isso (1 em Crônicas e 2 em Editorial); um caso de e consequentemente (em Crônicas) e um caso de e com isso (em Editorial). Ao todo foram sete casos envolvendo a conjunção e. 8 O conector por isso como advérbio não interessa ao corpus. Cf. exemplo: Dar as boas vindas a estrangeiros exibindo corpos femininos seminus não é, definitivamente, uma atitude de quem está preocupado em incrementar o turismo nacional. A tal comissão, que aliás é mantida com dinheiro do contribuinte, deu um péssimo exemplo e deveria vir a público se desculpar por isso. [Editorial – Extra]

26

Os insights das três autoras (Longhin-Thomazi; Pezatti e Carone) nos parecem

fundamentais para a definição e delimitação das nossas variantes explícitas. A

gramaticalização dos conectores e o grau de coesão entre explicativa e conclusiva explicariam

a escolha das formas nos contextos.

Observe-se que embora logo seja apontado como conector canônico não foi

registrado em periódicos cariocas.

A questão do conector prototípico torna-se mais complexa diante da ausência do

conector logo. Assim, considerando as restrições apontadas por Pezatti (2000), identificamos

portanto como conector conclusivo canônico.

Alguns critérios para escolha de outros conectores são: a) a frequência de ocorrência,

isto é, o número de dados é superior a todas as demais se considerando individualmente; b) a

especialização, ou seja, não ambiguidade como conector conclusivo.

Ressalve-se, porém, o caráter escrito e formalizado da linguagem midiática. Na fala

espontânea, certamente seu uso é bem reduzido.

2.2.2. Conectores não-canônicos: e, por isso, pois, então...

Os conectores conclusivos em geral têm origem em locuções adverbiais,

gramaticalizadas ou em processo de gramaticalização. Constatamos além de portanto, a

presença de diversos conectores conclusivos em nosso corpus: e, por isso, pois, então, assim,

aí, consequentemente.

a) complexos:

por isso (27 casos); com isso (1 caso); consequentemente (1 caso);

27

b) leves:

e (41 casos); pois (16 casos); então (15 casos); assim (12 casos); aí (2 casos)

(HALLIDAY & HASAN, 1976, p.234).

(10) Mas o samba não atingiu a esse apogeu de graça, não. Foi preciso muita luta e uma grande dose de sofrimento de muitos pioneiros. Por isso vejo 2004 com exagerada esperança de um novo tempo.

[Crônicas - O Povo] (11) Uma das mais importantes é a que estabelece que os organizadores deverão garantir não só as condições das instalações do local do evento, como a segurança das áreas internas. Assim, em caso de brigas, as equipes de som e os clubes responderão na Justiça pelos problemas que venham a surgir em seus ambientes.

[Editorial - Extra] (12) Nada mais natural. As autoridades passaram dos limites. A população não merece isso, principalmente num momento de festa. E deve, ao menos, ser poupada do bate-boca entre os representantes da população que costumam protagonizar episódios como este.

[Editorial - Extra]

2.2.3. Conector zero

O conector zero é aquele que não é explicitamente marcado, mas que se justifica na

relação de causa e consequência, como já vimos (cf. 13-15).

(13) [causa] A desigualdade e a impunidade. A elas, aos que oprimem o povo, convém manter o cidadão, você, acovardado, fraco e manipulável. [consequência] Ø Vamos dizer não a isso. Vamos vencer o medo! Vamos levantar a cabeça e votar desassombrada e afirmativamente, como cidadãos livres e responsáveis. Donos de nosso destino. Vamos votar na esperança, no que acreditamos seja o melhor para o Brasil e não porque estamos assustados. A política do medo só nos leva para trás.

[Crônicas - Jornal do Brasil]

(14) Um caso típico para o Procon, independentemente de o futebol ser o esporte de massas, o mais popular do país, paixão que arrebata multidões. [causa] Evidentemente que trata-se de um golpe contra o torcedor, equivalente a um gol de mão ou uma entrada desleal. [consequência] Ø Uma iniciativa que merece cartão vermelho e fim de papo.

[Editorial - Extra]

28

(15) [causa] Desta figura que marcou aquela fase de muito sofrimento da existência da Mangueira, tenho outras tantas historinhas, quase todas explorando a sua doce e positiva ingenuidade.[consequência] Ø Seu Juvenal Lopes,(...) deveria servir como exemplo aos postulantes como um presidente que mais do que nunca, dentro da sua "matutice", soube unir os verdadeiros mangueirenses e legando aos dirigentes que o sucederam lições de amor à Estação Primeira de Mangueira.

[Crônicas - O Povo]

A seguir passamos à revisão bibliográfica deste estudo.

29

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Visão da linguística

Mostraremos a visão linguística de alguns estudiosos no âmbito dos conectores

conclusivos: Halliday (1994), Mann & Thompson (1992), Câmara Jr. (1986), Neves (2000),

Maingueneau (1996), Gryner (2000), Silva (2007).

3.1.1. Halliday

Halliday (1994) em seu An Introduction to Functional Grammar descreve tipos de

interdependência com relação à complexidade. Parataxe e hipotaxe são geralmente relações

não restritas ao nível da oração. Elas definem complexidade em qualquer nível (p.221):

a) complexidade de oração;

b) complexidade de grupo ou sintagma (phrase);

c) complexidade de palavra.

Parataxe é a ligação de elementos de igual status. Tanto o elemento que inicia quanto

o elemento que dá continuidade são livres no sentido de que cada um poderia funcionar

independentemente do outro; hipotaxe é a união de elementos de status desiguais. O elemento

dominante é livre, mas o elemento dependente não é.

Halliday (1994, p.225, 232 e 234) propõe três tipos de expansão de uma oração: por

elaboração, por extensão e por realce. Para fins de nosso estudo, vamos nos deter no que ele

apresenta como expansão por realce. Uma oração realça o significado de outra qualificando-a

de várias formas, conforme faz referência: 1) ao tempo; 2) ao lugar; 3) ao modo; 4) à causa

(grifo nosso); e 5) à condição (cf. quadro 1):

30

Segundo a proposta de Halliday (1994), o vínculo entre explicação (causa-razão) e

conclusão (resultado) seria definido como de hipotaxe, isto é, explicativa e conclusiva seriam

desiguais.

Categoria Significado

1. Temporal

ao mesmo tempo A enquanto B

tempo diferente: mais tarde A subsequentemente B

tempo diferente: mais cedo A previamente B

2. Espacial

no mesmo lugar C lá D

3. Modo

através de N através de M

comparação N é como M

4. Causa/condição

causa: razão porque P então resultou Q

causa: propósito por causa da intenção de Q então agiu P

condição: positiva se P então Q

condição: negação se não P então Q

condição: concessão se P então contrário à expectativa de Q

Quadro 1 Principais tipos de expansão por realce (HALLIDAY, 1994, p. 234)

31

3.1.2. Mann & Thompson

Mann & Thompson (1992) propõem uma Teoria da Estrutura Retórica (Rethoric

Structure Theory, no original) na qual as relações textuais/discursivas se dão em diferentes

níveis (entre oração, entre períodos, entre parágrafos ou entre grupos de parágrafos) dentro de

uma estrutura que abrange todo o texto (estrutura holística).

Estas relações não dependem de conjunções explícitas, pois se definem

semanticamente. Apontam ainda que as conjunções explícitas são secundárias, isto é, figuram

apenas como “sinalizador” da relação e que são menos frequentes que as implícitas.

Para Mann & Thompson (1992) há dois tipos de relação entre causa e consequência,

ambas hipotáticas. Um, que focaliza a causa como oração satélite e a consequente como

oração núcleo (relação hipotática causal); outro que focaliza a consequência como satélite e

causa como núcleo (relação hipotática resultante). Temos, portanto, a conexão explicativa-

conclusiva como hipotaxe.

3.1.3. Câmara Jr.

Câmara Jr. (1986) em seu Dicionário de linguística e gramática referente à língua

portuguesa define o verbete conclusiva situando-a entre as orações coordenadas. Coordenação

ou parataxe é a construção em que os termos se ordenam numa sequência e não ficam

conjugados num sintagma. E acrescenta ainda que “na coordenação, cada termo vale por si e a

sua soma dá a significação global em que as significações dos termos constituintes entram

ordenadamente lado a lado.”

Sobre coordenação, Câmara Jr. (1986) esclarece que, além de “composição lexical

por coordenação” existe coordenação como construção sintática, em vários níveis: a) de

32

palavras; b) de grupos lexicais, e c) de orações subordinadas a uma principal ou inteiramente

independentes (p.86).

De acordo com Câmara Jr. (1986):

Na coordenação sintática diz-se que há assíndeto, ou coordenação assindética, quando os termos se seguem apenas separados por uma pausa, a que na escrita corresponde a vírgula ou o ponto e vírgula; mas pode dar-se a ligação, ou síndeto, entre os termos coordenados por meio da conjunção copulativa e, tendo-se então a coordenação sindética. [Conjunções], são vocábulos gramaticais que, como conectores, estabelecem: a) uma coordenação entre duas palavras, dois membros de oração ou duas orações (orações coordenativas) e b) uma subordinação entre duas orações, que constituem um sintagma oracional, em que uma, como determinante, fica subordinada à outra, principal, como determinado.

Além da coordenação sindética copulativa mencionada há coordenação sindética por

meio de outras conjunções coordenativas, que introduzem as noções de contraste, de

alternativa, de conclusão, de explicação.

As ideias gramaticais de: a) contraste; b) alternativa; c) conclusão e d) explicação são

indicadas, respectivamente por conjunções: a) adversativas (mas; porém); b) alternativas (ou);

c) conclusivas (ora; portanto) e d) explicativas (pois) (p.81).

3.1.4. Neves

Neves (2000) acerca de conectores conclusivos, na sua Gramática de usos do

português, descreve:

33

Advérbios que operam conjunção de orações: são advérbios juntivos, de valor anafórico, que ocorrem numa oração ou num sintagma, referindo-se a alguma porção da oração ou do sintagma anterior. a) indicando contraste; b) indicando conclusão: portanto, por conseguinte, então = em conseqüência (disso). A gramática tradicional coloca esses advérbios como conjunções coordenativas (adversativas e conclusivas, respectivamente), admitindo, assim, orações coordenadas sindéticas conclusivas. Na verdade, são elementos em processo de gramaticalização. Nesse processo, está em estágio mais avançado o elemento conclusivo logo, que tem o comportamento próximo ao de uma conjunção coordenativa (p.241).

3.1.5. Maingueneau

Maingueneau (1996), analisando as orações de resultado (como as conclusivas)

aponta que estas orações expressam dois atos de fala. O primeiro (resultado de uma ação) e o

segundo (resultado de uma justificativa).

Segundo Maingueneau, no caso das conclusivas, o que garante a legitimidade do

proposto na explicação é a própria fala do enunciador, explicitada no contexto que precede a

consequência.

3.1.6. Gryner

Gryner (2000) em A sequência argumentativa: estrutura e funções propõe um

esquema para caracterizar a estrutura da sequência do texto argumentativo.

A autora apresenta um quadro com a estrutura argumentativa básica, constituída por

categorias e funções facultativas e obrigatórias. Trata-se simplificadamente das seguintes

categorias: posição – ponto de vista – asserção básica sustentada pelo locutor;

explicação/justificação – explicitação das causas e razões da posição defendida pelo locutor;

sustentação – evidência que sustenta a posição do locutor; contraste – oposição entre duas

categorias; conclusão – fecho da argumentação, confirmação da posição defendida pelo

34

locutor; avaliação (ou coda) – asserção externa ao argumento que expressa a atitude do

locutor.9

Explicação/justificação, sustentação e contraste constituem a argumentação

propriamente dita; posição e conclusão constituem a tese e sua retomada; coda constitui uma

avaliação externa ao texto.

Desse artigo, interessa-nos a relação entre explicação e conclusão, cujas

características e desdobramentos serão observados na análise das conclusivas na modalidade

escrita.

3.1.7. Silva

Silva (2007), no artigo intitulado A expressão do tempo numa sequência explicativa,

parte do pressuposto de que “a sequência explicativa do discurso pode ocorrer em qualquer

gênero discursivo, embora sejam os textos de natureza didática e científica os que apresentam

maior número de sequências deste tipo.”

Quanto ao nível composicional, o autor propõe que a sequência explicativa é

constituída por três macroposições:

i) questionamento – apresenta a explicitação de uma questão (ou mais) em função de

uma pergunta do tipo por que? ou como?

ii) resolução – completa um (ou vários) enunciado equivalente ao que se inicia por

por que?

iii) conclusão – expressa uma (ou mais de uma) asserção incontestável.

9 Encontramos alguns casos de orações conclusivas que constituem verdadeiras codas.

35

O autor focaliza a organização discursiva em que predomina a relação discursiva de

resultado.

3.2. Visão das gramáticas tradicionais10

Mostraremos a visão das gramáticas tradicionais e ao final, fazemos um resumo geral

acerca da nomenclatura utilizada pelos gramáticos no âmbito dos conectores conclusivos.

3.2.1. Rocha Lima

Rocha Lima (1983) na Gramática normativa da língua portuguesa, define o conceito

de conjunções. São palavras que relacionam entre si:

a) dois elementos da mesma natureza como, por exemplo, substantivo + substantivo; adjetivo + adjetivo; advérbio + advérbio; oração + oração, etc.; b) duas orações de natureza diversa, das quais a que começa pela conjunção completa a outra ou lhe junta uma determinação.

Assim, Rocha Lima (1983) apresenta indiretamente os processos sintáticos de

coordenação e de subordinação. Para ele, o processo de coordenação se dá na comunicação de

um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações gramaticalmente independentes,

constituindo o período composto por coordenação.

Segundo o autor para transmitir aquele pensamento, necessitamos das duas orações

em conjunto. Poderia haver entre elas uma conjunção coordenativa: quando esta partícula não

existir, diz-se que a coordenação é assindética, e quando existir, ela é sindética.

Rocha Lima (1983) classifica as orações coordenadas sindéticas de acordo com as

conjunções que as iniciam, sendo classificadas em: aditivas, adversativas, alternativas,

10 Os autores Garcia (1968) e Borba (1984), não são gramáticos.

36

conclusivas, explicativas, e ressalva que, desde que tenha o mesmo valor sintático, nem

sempre é indiferente a ordem das orações no período composto por coordenação. As orações

se dispõem conforme o sentido e a sucessão lógica dos fatos.

A oração que vem em primeiro lugar, o ponto de partida do pensamento, é chamada

coordenada culminante. O autor sugere que todas as vezes que os fatos têm ordem histórica, a

narração deve também seguir em lugares sucessivos os momentos sucessivos do tempo. Ele

lembra que a conclusão de uma premissa deve aparecer em último lugar, e dá o exemplo:

Penso; logo, existo. Esta é uma ordem que não pode ser invertida.

A oração conclusiva é vinculada a uma explicativa por uma relação de causalidade –

causa, razão, justificativa, explicação (P) – seguida de consequência, resultado, conclusão (Q)

assinalada ou não por um conector.

3.2.2. Said Ali

Encontramos em Said Ali (1971)11, Gramática histórica da língua portuguesa, uma

conceituação de coordenação e subordinação que até certo ponto antecipa os

desenvolvimentos recentes da linguística:

Aos termos coordenação e subordinação prefere a lingüística moderna as expressões parataxe e hipotaxe. Será conveniente que o estudante de sintaxe se familiarize com estes dous vocábulos e conheça alguns fatos que não se costumam mencionar em compêndios. Dá-se parataxe quando a uma proposição inicial se acrescenta proposição copulativa, adversativa ou disjuntiva, que se reconhecem ou pela presença de partícula característica ou pelo sentido (construção assindética). Dá-se ainda o mesmo fenômeno se a segunda oração é causal, e se usa, sem conjunção ou com a partícula porque, tendo esta o sentido do francês car, inglês for, alemão denn; quer isto dizer, a proposição causal constituirá um pensamento à parte, podendo haver uma pausa forte entre ela e a proposição inicial. Se porém existe união mais íntima, é porque corresponde a francês parce que, inglês because, alemão weil, a oração causal figura como subordinada.

11 Os textos foram citados segundo a ortografia original.

37

Seguindo-se à sentença inicial uma proposição que tenha por fim exprimir o efeito, a conseqüência (conclusiva, consecutiva), haverá parataxe se a construção for assindética ou se se empregar como conjunção logo, portanto, por conseguinte, por conseqüência, ou se se usar de modo que, de maneira que, de sorte que, estando completo o sentido da primeira oração. Será evidentemente caso de hipotaxe a combinação por meio dos mesmos dizeres de modo que, de sorte que, etc. quando sem a segunda oração ficar suspenso ou alterado o sentido da sentença inicial. Por estas considerações e pelo estudo que na Lexeologia fizemos do sentido e origem das partículas conjuncionais, vê-se que nem sempre se manifesta bem clara ao analista a diferença entre parataxe ou coordenação e hipotaxe ou subordinação (p.273).

3.2.3. Cunha

Cunha (1970), na Gramática moderna, categoriza as combinações de orações e as

conjunções. Segundo o autor, dividem-se em: aditivas; adversativas; alternativas; conclusivas,

e explicativas. A elas se opõem as conjunções subordinativas.

Mais especificamente, o gramático define a função das conclusivas “as conjunções

conclusivas servem para ligar à anterior uma oração que exprime conclusão, consequência.

São: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim,...” (p.263).

Consta ainda uma observação quanto à conjunção pois conclusiva, que “vem sempre

posposto a um termo da oração a que pertence” (p.263).

3.2.4. Cunha & Cintra

De acordo com Cunha & Cintra (2007) em sua Nova gramática do português

contemporâneo:

Conjunções são vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. As conjunções que relacionam termos ou orações de idêntica função gramatical têm o nome de coordenativas.

38

Conjunções coordenativas conclusivas servem para ligar à anterior uma oração que exprime conclusão, conseqüência. São: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim,... (p.594).

Com relação ao conector pois, os autores dizem que: “(...) quando conjunção

conclusiva, vem sempre posposta a um termo da oração a que pertence” (p.594). E

acrescentam: As conclusivas logo, portanto e por conseguinte, podem variar de posição,

conforme o ritmo, a entoação, a harmonia da frase (p.594).

Sobre o conector e, Cunha & Cintra (2007) afirmam:

Certas conjunções coordenativas podem, no discurso, assumir variados matizes significativos de acordo com a relação que estabelecem entre os membros (palavras e orações) coordenados. Por exemplo, é o caso do conectivo e, que pode ter valor adversativo; expressar uma finalidade, ou ainda pode indicar uma conseqüência, uma conclusão (grifo nosso) (p.594-6).

3.2.5. Azeredo

Em Gramática Houaiss da língua portuguesa, Azeredo (2008a) distingue sete

adjuntos conjuntivos de conclusão:

Os adjuntos conjuntivos [de conclusão] portanto e logo (...) introduzem uma oração que exprime a continuação lógica do raciocínio iniciado com a oração anterior: Portanto (ou logo) introduz a conclusão que se tira de um fato ou idéia (...). Por conseguinte, consequentemente, por isso, então – estes adjuntos conjuntivos também expressam conclusão e podem substituir portanto e logo. A diferença entre eles está no grau de formalismo: Por conseguinte e consequentemente só ocorrem em usos ultraformais da língua, e praticamente só se encontram na modalidade escrita; por sua vez, então e por isso são coloquiais. Por isso e então são usuais no discurso narrativo, opcionalmente precedidos da aditiva e, para a associação de fatos que se sucedem no tempo e se relacionam como causa e efeito. A natureza adverbial dessas formas tradicionalmente classificadas como conjunções – permite que a elas se junte uma autêntica conjunção. (p.307-9)

39

Azeredo (2008a) menciona a coordenação de orações subordinadas que: “Funcionam

como meios de conexão, pois, entretanto e portanto só associam orações independentes.”

Quanto aos conectores, refere-se a adjuntos conjuntivos. O autor diz que “tais

adjuntos são utilizados como recurso de coesão textual.” E que “estes sintagmas pressupõem

alguma porção de sentido precedente no discurso ou no texto, em relação à qual a porção a

que eles se unem expressa” (no caso das conclusivas):

(...) uma conclusão, uma inferência, um resultado, como por exemplo: portanto, pois,

por isso, por conseguinte, em consequência; (...)

Com relação à coordenação de orações independentes, o autor lembra que: “duas

orações podem estar coordenadas sem que qualquer conectivo as uma” (2008a, p.299).

Azeredo (2008b) em Fundamentos de gramática do português conceitua a

coordenação como um processo de ligação entre unidades da mesma classe (sintagmas,

orações, etc). Define portanto e logo como conectores conclusivos e adota o rótulo advérbios

conjuntivos por introduzirem uma oração que exprime a continuação lógica do raciocínio

iniciado com a oração anterior. O autor se restringe a afirmar que tais conectores introduzem a

conclusão de um fato ou ideia (AZEREDO, 2008b, p.251).

3.2.6. Bechara

Encontramos em Bechara (2009, p.320), Moderna gramática portuguesa, que há três

tipos de conjunções coordenativas de acordo com o significado da relação entre as unidades

coordenadas que unem: aditivas, alternativas e adversativas. Quanto às demais, inclusive as

conclusivas, distingue-as como expressões adverbiais que não (grifo nosso) são conjunções

coordenativas:

40

Levada pelo aspecto de certa proximidade de equivalência semântica, a tradição gramatical tem incluído entre as conjunções coordenativas certos advérbios que estabelecem relações inter-oracionais ou intertextuais. É o caso de: pois, logo, portanto, entretanto, contudo, todavia, não obstante. Assim, além das conjunções coordenativas já assinaladas, teríamos as explicativas (pois, porquanto, etc) e conclusivas (pois [posposto], logo, portanto, então, assim, por conseguinte, etc), sem contar: contudo, entretanto, todavia que se alinham junto com as adversativas. (BECHARA, 2009, p.322).

Bechara (2009, p.46) distingue diferentes “propriedades dos estratos de estruturação

gramatical.” São elas: a) superordenação (ou hipertaxe); b) subordinação (ou hipotaxe); c)

coordenação (ou parataxe) e d) substituição (ou antitaxe).

Para Bechara (2009, p.48-9):

A parataxe (ou coordenação) consiste na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível de contrair relações sintagmáticas próprias das unidades simples deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical, isto é, uma não determina a outra, de modo que a unidade resultante da combinação é também gramaticalmente equivalente às unidades combinadas. Outro ponto que há de merecer a nossa atenção é o fato de que, partindo dos três tipos fundamentais e opositivos de coordenação em português (a aditiva, adversativa e a alternativa), estas construções podem ainda exprimir relações internas de “dependência”, o que, à primeira vista, parece paradoxal, porque é o mesmo que dizer que a parataxe inclui a hipotaxe ou que a parataxe também é hipotaxe. Na realidade, o que temos nesses casos é, a uma só vez, parataxe e hipotaxe, mas não no mesmo nível de estruturação gramatical. No nível da oração tais construções são paratáticas; mas exprimem ao mesmo tempo relações internas de dependência no que diz ao sentido do discurso e, por isso, manifestam funções sintagmáticas no nível do texto: os segundos elementos dessas construções se acham coordenados no nível da oração, mas são subordinados aos primeiros elementos enquanto unidades textuais. É o mesmo caso que ocorre com as orações introduzidas por pois, porquanto, por isso, por conseguinte, logo, a que a gramática tradicional e escolar chama orações conclusivas e causais-explicativas. Embora exprimindo estados de coisas comparáveis aos das orações subordinadas, são consideradas, não sem razão, orações principais ou independentes. Na realidade, são independentes no nível da oração, mas são elementos subordinados do ponto de vista de unidades de conteúdo no nível superior do texto.

41

Bechara destaca a importância da sintaxe. De acordo com o autor, “é preciso insistir

nesse critério sintático de oração independente, dependente e principal, quando se quer

detectar uma relação” (BECHARA, 1976 apud PAULIUKONIS, 1988, p.68-9).

3.2.7. Garcia

Garcia (1968) vê a coordenação gramatical como subordinação psicológica, quando

define: “dependência semântica mais do que sintática observa-se também na coordenação,

salvo apenas, talvez, no que diz respeito às conjunções e, nem, ou“ (GARCIA, 1968 apud

PAULIUKONIS, 1988, p.70).

3.2.8. Borba

Borba (1984) compartilha da opinião de Garcia (1968) em que, “por fazerem parte de

um conjunto em que as ideias se interdependem, deve-se falar apenas de orações

subordinadas.” O autor propõe uma diferença de grau na classificação das coordenadas:

“copulativas são as coordenadas por excelência, havendo ainda as que indicam contraposição

de juízos e exclusão de ideias. As que demonstram conclusão ficam melhor classificadas

entre as subordinadas.” Finalizando, ele reconhece que é difícil traçar um limite rígido entre

coordenação e subordinação do ponto de vista semântico, sugerindo que a nomenclatura deva

se referir apenas ao critério sintático (BORBA, 1984 apud PAULIUKONIS, 1988, p.70-1).

Sintetizando a conceituação dos gramáticos, temos:12

12 Levantamos aqui as propostas de autores tradicionalmente estudados entre estudantes brasileiros.

42

a) quanto aos conectores conclusivos:

- conjunção coordenativa: Rocha Lima (1983); Cunha (1970); Cunha & Cintra

(2007); Bechara (2009);

- adjuntos conjuntivos: Azeredo (2008a) e (2008b);

- advérbios juntivos: Neves (2000).

b) quanto à vinculação explicativa-conclusiva:

- coordenação: Rocha Lima (1983); Cunha (1970); Cunha & Cintra (2007); Neves

(2000);

- parataxe: Said Ali (1971); Câmara Jr. (1986);

- subordinação: Borba (1984); Garcia (1968);

- coordenação (parataxe) e subordinação: Bechara (2009);

- coordenação de subordinadas: Azeredo (2008a) e (2008b).

No próximo capítulo abordaremos os pressupostos teóricos e metodológicos em que

se fundamenta.

43

4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

4.1. Pressupostos teóricos

Este estudo se baseia em três modelos complementares: a Teoria da Variação, o

Funcionalismo linguístico e a análise do discurso argumentativo. A Teoria da Variação é

proposta por William Labov (1972).

4.1.1. Sociolinguística e Teoria da Variação

A Sociolinguística variacionista é uma área da linguística que estuda o uso real da

língua, como meio de comunicação social no interior da comunidade de fala. Ou seja, é um

modelo linguístico que vê a língua em ação no contexto social.

Este ramo da Sociolinguística tem como objeto de estudo o uso variável entendido

como um princípio geral e universal. Ela parte do pressuposto de que alternâncias de uso se

correlacionam estatisticamente a variáveis sociais e estruturais. A variação entre língua e

sociedade é inerente às línguas humanas e não se submete a imposições uniformizadoras

(MOLLICA, 2004, p.9-10).

A Teoria da Variação permite estabelecer a estabilidade ou mutabilidade na

passagem do tempo, nos usos em todos os níveis: fonético-fonológicos, morfológicos,

sintático e discursivo13 e sociais14. A correlação estatística entre formas variáveis e os

contextos que favorecem ou inibem o seu uso permite identificar as regularidades da língua

em termos quantitativos (LABOV, 1972 apud FIGUEIREDO, 2007).

Assim, o objetivo primeiro é identificar os contextos relevantes para o uso das

variantes em detrimento das demais. A Teoria da Variação usa o método quantitativo: ela 13 Como o gênero discursivo. 14 Como o nível sócio-econômico dos leitores do jornal.

44

formula hipóteses sobre o efeito de contextos linguísticos e extralinguísticos,

operacionalizados como grupos de fatores sobre a escolha de uma variante.

De acordo com Labov (1972 apud FIGUEIREDO, 2007), é possível reconhecer os

membros de uma comunidade linguística pelo fato de que eles partilham de um conjunto de

normas de uso que são expressos ora pelos julgamentos explícitos ora pela uniformidade dos

esquemas de variação observados na sua produção linguística. Em uma mesma comunidade

linguística pode haver variação linguística entre grupos sociais, com padrões linguísticos

distintos dos prescritos oficialmente. A partir de métodos de investigação rigorosamente

construídos, o modelo de Labov permite identificar, analisar e explicar a regularidade destas

variações.

Dentro deste quadro, podemos dizer que sempre ocorre o conector portanto no

contexto de presente do indicativo na oração é porque não ocorreu variação. Se, porém,

ocorrer tanto portanto, quanto outro conector conclusivo ou mesmo se não houver conector

ligando explicativa-conclusiva há variação e, assim, pode-se pesquisá-la com base na Teoria

da Variação.

4.1.2. Funcionalismo linguístico

O funcionalismo é uma corrente linguística derivada do estruturalismo, que se

desenvolveu a partir dos anos 30 no Círculo Linguístico de Praga e a cuja criação estão

ligados os nomes de N. Trubetzkoi e R. Jakobson. Retomado pelos Funcionalistas europeus e

norte-americanos, o modelo vem-se desenvolvendo em diferentes escolas.

Givón (1984 apud NEVES, 2004) tem por objetivo a organização de um quadro

sistemático e abrangente de sintaxe, semântica e pragmática unificadas. O autor defende uma

gramática internamente estruturada e não uma lista de níveis isolados entre si. Existe uma

45

hierarquia entre os diversos níveis e inter-relações que levam em consideração a proximidade

de alguns níveis em detrimento de outros. Para Givón, a sintaxe é tida como a codificação de

dois domínios funcionais distintos: a semântica e a pragmática.

Todas as manifestações linguísticas devem possuir uma estrutura temática coerente,

já que o objetivo primeiro das manifestações linguísticas é a comunicação. Esta estrutura é

observável na frase e no discurso. O discurso, sendo de natureza multiproposicional, deve

permitir a identificação das estruturas hierárquicas de proposições (GIVÓN, 1984 apud

NEVES, 2004).

Ao observarmos esta hierarquia, entramos em contato com as regras do discurso, que

não devem ser quebradas para que não haja quebra da estrutura temática e para que haja

coesão e coerência na comunicação (NEVES, 2004, p.25).

Xavier & Mateus (1992, p.185 e 194) definem Gramática funcional como uma teoria

alternativa a um modelo formalizado do estudo das línguas e que se baseia numa perspectiva

pragmática da língua como forma de interação social.

De acordo com Cunha (2008):

O funcionalismo é uma corrente lingüística que, em oposição ao estruturalismo e ao gerativismo, se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas. (...) Os funcionalistas concebem a linguagem como um instrumento de interação social, alinhando-se, assim, à tendência que analisa a relação entre linguagem e sociedade. Seu interesse de investigação lingüística vai além da estrutura gramatical, buscando na situação comunicativa - que envolve os interlocutores, seus propósitos e o contexto discursivo - a motivação para os fatos da língua (p.157).

A autora ressalta que: “A abordagem funcionalista procura explicar as regularidades

observadas no uso interativo da língua, analisando as condições discursivas em que se verifica

esse uso” (CUNHA, 2008, p.157).

46

Este trabalho de pesquisa se remete à abordagem funcionalista na medida em que

procura explicar as regularidades discursivas nas situações de uso variável guiando-se por

seus pressupostos.

A língua é um instrumento de comunicação entre os seres humanos. Ressalve-se que

o conceito de comunicação não está restrito à transmissão de informação, mas sim engloba

toda uma variedade de funções que ocorrem nas sociedades humanas, incluindo a organização

e a manutenção das relações sociais (BUTLER, 2003, p.3 apud CORIOLANO, 2009, p.15).15

De acordo com Nichols (1984) o objeto de estudo do funcionalismo é todo o

complexo de padrões que constituem a língua, devendo-se relacionar essa complexidade de

padrões ao seu uso nas atividades comunicativas. Para a linguista, a situação comunicativa

motiva, restringe, explica e determina a estrutura gramatical. Desta forma, o estudo do sistema

deve acontecer dentro da perspectiva do uso.

A seguir, sintetizamos algumas das principais propriedades do funcionalismo,

apresentando as sete características listadas por Butler:

1) Ênfase na língua como meio de comunicação humana em contextos sociais e

psicológicos;

2) Rejeição, total ou parcial, da assunção de que o sistema linguístico é arbitrário e

auto-suficiente, em favor de explicação funcional em termos de fatores cognitivos,

sócio-culturais, fisiológicos e diacrônicos;

3) Rejeição, total ou parcial, da assunção de que a sintaxe é um sistema auto-

suficiente, em favor de uma abordagem segundo a qual a semântica e a pragmática

são consideradas centrais e a sintaxe é concebida como um meio para expressar

significados e que é parcialmente motivada por esses significados;

4) Reconhecimento do caráter não-discreto da classificação linguística e, de maneira

mais geral, reconhecimento da importância da dimensão cognitiva;

5) Preocupação com a análise de textos e seus contextos de uso;

6) Grande interesse pela tipologia;

15 BUTLER, Christopher. Functionalist approaches to language. In: BUTLER, Christopher. Structure and Function: A guide to three major structural functional theories. Part I: Approaches to the simplex clause. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2003.

47

7) Adoção de uma visão construcionista de aquisição da linguagem.

(Adaptado de BUTLER, 2003, p.29 apud CORIOLANO, 2009, p.16).

O funcionalismo se fundamenta em princípios analíticos, tais como iconicidade,

marcação, transitividade, planos discursivos, informatividade, gramaticalização, dentre

outros. Dentre os conceitos funcionalistas relevantes para nosso trabalho estão a noção de

iconicidade, marcação, planos discursivos e gramaticalização.

O princípio da iconicidade é definido como a correlação natural e motivada entre

forma e função, isto é, entre o código linguístico e seu significado. Para o subprincípio da

proximidade, conteúdos que estão mais próximos cognitivamente também estão mais

integrados na estruturação linguística. (GIVÓN, 1990 apud CUNHA, 2008, p.167).

O princípio da marcação contrasta dois elementos: um marcado e o outro não-

marcado: o elemento marcado exibe uma propriedade ausente no outro termo que é

considerado não-marcado. As formas não-marcadas são caracterizadas: 1) por ocorrerem com

maior frequência na língua; 2) por possuírem um amplo contexto de ocorrência; 3) por

apresentarem uma forma simplificada e 4) por serem adquiridas mais precocemente

(CUNHA, 2008, p.170).

A distinção entre Planos discursivos relaciona-se com a coexistência, na sequência

de um texto, de dois campos: o que é central (figura) e o que é periférico (fundo).

Por figura entende-se aquela porção do texto narrativo que apresenta a sequência temporal de eventos concluídos, pontuais, afirmativos, realis, sob a responsabilidade de um agente, que constitui a comunicação central. Já fundo corresponde à descrição de ações e eventos simultâneos à cadeia da figura, além da descrição de estados da localização dos participantes da narrativa e dos comentários avaliativos (CUNHA; COSTA; CEZARIO, 2003, p.39).

A gramaticalização foi inicialmente definida (MEILLET, 1912 apud LONGHIN-

THOMAZI, 2009), como a passagem do léxico para gramática. A ideia de unidirecionalidade

48

vem sendo questionada nos últimos anos. No entanto, não cabe nos limites deste trabalho nos

deter nesta questão.

Os operadores argumentativos, resultados de processo de gramaticalização, passam a

organizar de forma lógica as ideias do texto, estabelecendo, entre cláusulas e pedaços maiores

de texto relações de sequencialidade temporal de causa/efeito (grifo nosso), de condição, etc.

Em síntese, a gramática é acessível às pressões do uso. Nos termos de Neves (2004,

p.15), funcionalismo linguístico leva em consideração a capacidade dos indivíduos em usar e

interpretar, e não apenas em codificar ou decodificar.

Desta forma, tentamos apontar a estreita conexão entre Funcionalismo Linguístico e

Teoria da Variação Linguística. Tanto um quanto o outro estão preocupados em estudar e

analisar o uso da língua no contexto social, onde a mesma é considerada em sua dinamicidade

e heterogeneidade.

Com base nos pressupostos funcionalistas, podemos investigar os fenômenos

variáveis levando em consideração a interação entre diversos níveis linguísticos e as funções

correlacionadas aos contextos linguísticos (estruturais e discursivos) e extralinguísticos. A

análise de nossos dados e interpretação dos resultados estatísticos se baseia em grande parte

em alguns conceitos funcionalistas.

4.1.3. Análise do discurso argumentativo

Desde a Retórica de Aristóteles16 até o século XX com estudos da Análise de

conversação (SCHIFFRIN, 1987) ou da Argumentação (PERELMAN–TYTECA, 1988)

16 Aristóteles divide a argumentação em: a) exórdio (introdução); b) narração (argumentação propriamente dita); c) provas (sustentação através de comprovação) e d) peroração (conclusão).

49

inúmeros trabalhos procuram estabelecer os aspectos formais e semânticos da Argumentação

(cf. Gryner, 2000).

Pode-se definir a argumentação (ADAM, 2008, p.189), de modo abrangente como a

expressão de um ponto de vista, em vários enunciados ou em um único, ou ainda em uma

única palavra. Seus conectores “associam as funções de segmentação, de responsabilidade

enunciativa e de orientação argumentativa dos enunciados”.

Lavandera (1990, cap.7, p.117), em um texto sobre discurso argumentativo comenta

a relevância do discurso argumentativo para a linguística, dado que mobiliza peculiarmente

diversos aspectos: flexão verbal (modo, tempo, aspecto etc); modos de incorporar o Outro no

relato (discurso direto, indireto); ordem das palavras, conectores, e modos de relacionar os

discursos.

Os textos são encarados pela autora como processos dinâmicos que têm lugar no

tempo. No discurso existe uma tensão dialética muito forte entre semelhança e diferença. Por

um lado o falante encontra as semelhanças e por outro marca as diferenças. Quando a

diferença é muito grande se estabelece uma comparação e quando estabelece semelhanças,

tem que diferenciar.

Gryner (2000) analisa a variação nas estruturas argumentativas no português falado,

com dados coletados em situações espontâneas de entrevista. O corpus é constituído de textos

de sequências argumentativas com falantes de diferentes grupos de idade, escolaridade e de

ambos os gêneros, que foram definidos como tal pela presença de orações condicionais.

Gryner (2000) propõe uma estrutura argumentativa básica composta por:

- Posição, que expressa o ponto de vista a ser defendido;

- Justificação, expressa geralmente por oração que introduz conectivo causal (porque

ou que);

50

- Sustentação, é o núcleo da argumentação. Ela pode ser de especificação

(constituída por uma asserção restringida por condicional posposta ou de alternância entre

duas ou mais condicionais) ou de exemplificação (com a presença de elementos como, por

exemplo, vamos supor, etc);

- Contraste, oposição entre duas categorias;

- Conclusão, que encerra o desenvolvimento da sequência argumentativa.

Caracteriza-se por retomar parcial ou totalmente o conteúdo de posição;

- Avaliação (ou coda), que vem no fim da sequência argumentativa e expressa a

atitude do locutor.

Representando através de um fluxograma, Gryner (2000) propõe uma estrutura

variável constituída por categorias argumentativas e sua correlação com contextos linguísticos

e sociais, onde demonstra a regularidade do uso dessas categorias.

Relevante para este trabalho: a relação (potencialmente recorrente) entre explicação e

conclusão, e mesmo coda. E, além disso, como propõe Adam (2008, p.189) a distinção entre

dois planos: argumentação e tese (retomada na conclusão).

Pauliukonis (1988), em tese de doutorado, compara e distingue polifonia e

argumentação (p.53). Para a pesquisadora, uma análise que se proponha a definir a diferença

entre sentido e significação dirá que aquele se prende ao sistema, ao passo que esta se refere

ao uso linguístico, ou melhor, aos efeitos da enunciação, na qual está presente o ponto de vista

do sujeito enunciador.

Quanto à função argumentativa da comparação focalizada pela autora, sugere que a

argumentação, considerada como uma ação que tende sempre a modificar um estado de

coisas pré-existentes, tem por fim conseguir a adesão de um auditório às teses defendidas pelo

sujeito do discurso:

51

Não é demais acrescentar que certos operadores argumentativos não podem ser explicados apenas pela sua relação com o sistema de que fazem parte, mas são elementos cujo referencial constitui uma atitude dos locutores diante do dito ou do implícito. É relevante observar que o uso dos operadores argumentativos ativa o contínuo das significações, a partir do que então, a língua pode ser vista como um conjunto infinito de enunciações e não como um conjunto de enunciados lógicos. (PAULIUKONIS, 1988, p.56)

Do que foi visto até aqui, as três bases teóricas para o estudo das conclusivas

parecem convergentes.

4.2. Pressupostos metodológicos

Dentro da perspectiva da Sociolinguística Quantitativa adotamos os procedimentos

para obtenção, levantamento e tratamento dos dados já que se trata de análise empírica dos

conectores encontrados no uso real da língua (GUY, 2007).

Após a definição do fenômeno – a variação entre conectores conclusivos – e o

âmbito de uso a ser pesquisado – textos publicados em periódicos cariocas passamos à

pesquisa propriamente dita.

4.2.1. Caracterização da amostra e obtenção dos dados

A amostra utilizada foi extraída do banco de dados do PEUL/UFRJ - Projeto de

Estudos sobre o Uso da Língua da UFRJ, que congrega um grupo de pesquisa dedicado

principalmente no estudo da variação no português da cidade do Rio de Janeiro.

A amostra é composta de textos escritos da mídia impressa, extraídos de quatro

periódicos cariocas, compreendendo os anos de 2002 a 2004. Os periódicos Extra e O Povo

52

compreendem os anos de 2003 e 2004 enquanto os periódicos Jornal do Brasil e O Globo

compreendem os anos de 2002 a 2004. Esses periódicos possuem traços particulares.17

Os gêneros textuais com os quais trabalhamos foram: Crônicas com 75 textos,

Opinião com 100 textos e Editorial com 100 textos. Sabemos que o gênero textual Crônicas é

um tipo de texto que tende ao coloquial, enquanto Opinião e Editorial são gêneros textuais

basicamente argumentativos, mas em todos ocorre argumentação.18

A amostra forneceu o corpus – conjunto de dados com que trabalhamos. Foram

encontrados 527 casos de conexão explicativa.19

Seguindo os parâmetros da Teoria da Variação, estabelecemos as variáveis a serem

testadas estatisticamente:

a) Variáveis dependentes (variantes):

Foram identificadas três variantes: Conector portanto – 44 dados; conectores não-

canônicos – 115 dados; conector zero – 368 dados. Total: 527 dados (cf. quadro 2).

b) Variáveis independentes (contextos ou grupos de fatores):

Foram propostos 10 grupos de fatores como contextos possivelmente relevantes para

o uso das variantes.

17 Sobre a amostra PEUL/UFRJ de textos midiáticos de jornais, cabe ressaltar que no gênero Opinião, os artigos do jornal O Povo têm o mesmo tema: corrida de cavalo. No gênero Crônicas, os artigos do jornal O Povo têm o mesmo tema: Carnaval. No gênero Editorial, os artigos do jornal Extra não têm título e o editorial dos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Extra e O Povo não têm autor. 18 A pesquisa considerou ainda os gêneros Coluna Social e Notícias & Reportagens. Entretanto, dada a baixa frequência de dados foram excluídos da análise. 19 Observe-se que foram excluídos os casos do conector portanto ligando sintagmas nominais porque não ocorre com as demais variantes (conectores não-canônicos e conector zero). A variável gênero/sexo também foi excluída, dado que Editoriais não identificam o autor.

53

Periódicos Crônicas Opinião Editorial Total

Jornal do Brasil 98 56 40 194

O Globo 84 36 29 149

Extra - 74 23 97

O Povo 54 28 5 87

Total 236 194 97 527

Quadro 2 Distribuição dos dados por periódicos e gêneros discursivos

4.2.2. Tratamento dos dados

Usamos o método de análise multivariada. Este “modelo incorpora a ideia de que os

processos linguísticos são influenciados simultaneamente por diversas variáveis

independentes, tanto linguísticas quanto extralinguísticas (sociais) (GUY, 2007, p.100).

O pacote de programas Goldvarb (2001) seleciona e ordena os grupos de fatores

relevantes para o uso da variante indicada e nos dá o valor de aplicação da regra em cada

contexto. Além disso, calcula a significância de cada rodada para a variante indicada.

Os grupos de fatores não selecionados constam do programa e eventualmente

apresentam índices interessantes.

Em um primeiro momento, foram propostos dez grupos de fatores. São eles: 1)

Periódicos; 2) Gêneros discursivos; 3) Referência temporal; 4) Explicativa; 5) Nível de

54

conectividade; 6) Polaridade; 7) Sequência temporal; 8) Posição do conectivo na sentença; 9)

Co-referência de sujeito; 10) Gênero/sexo.20

Três grupos de fatores foram afastados: posição do conector na sentença e co-

referência de sujeito, por não se mostrarem relevantes.

Como vimos, trabalhamos com três variantes, isto é, três formas de conexão

conclusiva mutuamente substituíveis: portanto (conector canônico), conectores não-

canônicos e conector zero.21

As três variantes foram analisadas pelo programa Goldvarb (2001) a fim de

testarmos a frequência das três, e depois, duas a duas, a fim de testarmos o peso relativo quer

da variante portanto em relação à variante zero quer da variante portanto em relação aos

conectores não-canônicos.22

Foram selecionados seis grupos de fatores na rodada de portanto vs. conector zero.

Obedecendo a ordem de seleção do programa, são: 1º) Nível de conectividade; 2º) Gêneros

discursivos; 3º) Periódicos; 4º) Referência temporal; 5º) Proximidade; 6º) Polaridade. Obteve-

se significância: 0,014.

Na rodada portanto vs. conectores não-canônicos foram selecionados três grupos de

fatores: 1º) Referência temporal; 2º) Periódicos; 3º) Gêneros discursivos. Obteve-se

significância: 0,000.

No que se segue, analisamos cada um dos grupos de fatores selecionados

apresentando lado a lado resultados estatísticos correspondentes à portanto vs. conector zero.

Seguido dos resultados estatísticos relativos à portanto vs. conectores não-canônicos. Sempre

20 O grupo de fatores gênero/sexo foi apenas uma sugestão inicial de trabalho que não pode ser levado adiante em função do gênero Editorial não apresentar autor identificado. No entanto, o grupo de fatores foi testado na primeira rodada do Programa Goldvarb (2001). 21 Foram encontrados 115 exemplos de conectores não-canônicos, isto é, a baixa frequência individual dos mesmos. Considerando que são substituíveis por portanto e visando testar se se comportam como conectores ou como adjuntos adverbiais, optamos por unificá-los como uma só variante. 22 Observa-se que foi testada a combinação de conector não-canônico vs. conector zero. Entretanto, os resultados não foram relevantes.

55

que os resultados não selecionados apresentam índices comparáveis aos dos selecionados

serão incorporados à análise.

4.2.3. Análise quantitativa

A análise quantitativa dos dados é feita pelo programa Goldvarb (2001), um

programa matemático que testa além da frequência, a percentagem de ocorrência e o peso

relativo, ou seja, a probabilidade de ocorrência do fenômeno a ser investigado.

O programa Goldvarb (2001), seleciona os grupos de fatores com base em cálculos

matemáticos explicitados em Sankoff (1988) e Naro (2004).

Através do uso deste pacote foi possível verificar a frequência e os pesos relativos

associados a cada fator e a ordem de relevância estatística de cada grupo de fatores,

necessários à compreensão da regularidade da variação.

Para a análise estatística da variação, seguimos o modelo variacionista proposto por

Labov (1972) (cf. Guy (2007), e Mollica & Braga (2004)).

56

5. HIPÓTESES

Apresentaremos as hipóteses relativas aos grupos de fatores. Iniciaremos pelas

variáveis linguísticas seguida da variável social.

5.1. Variáveis linguísticas

Aqui, apresentamos os seis grupos de fatores linguísticos analisados: nível de

conectividade, gêneros discursivos, referência temporal, proximidade, polaridade e sequência

temporal.

5.1.1. Nível de conectividade

Distingue-se a conexão conclusiva entre orações dentro do período (intrafrástica) e

entre períodos dentro do texto (interfrástica).

A conexão intrafrástica caracteriza-se oralmente pela maior coesão entre explicativa-

conclusiva representada na escrita pela presença da vírgula entre as duas orações. A conexão

interfrástica, ao contrário, corresponde à maior separação entre explicativa e conclusiva.

Levantamos a hipótese de que maior coesão favorece o uso do portanto.

5.1.2. Gêneros discursivos

Os gêneros discursivos avaliados se distinguem por dois traços: pessoalidade e

coloquialidade.

57

Gêneros: Editorial Opinião Crônica

Pessoalidade: - + +

Coloquialidade: - - +

Os gêneros Editorial e Opinião (caracteristicamente textos impessoais) tendem a co-

ocorrer com o conector portanto, ao contrário das Crônicas (caracteristicamente texto

coloquial) que tendem a desfavorecê-lo.

5.1.3. Referência temporal

A posição ou tese se apresenta geralmente no presente do indicativo, tempo das

asserções genéricas, habituais e fatuais (GRYNER, 2000). A conclusão por retomar a tese do

enunciador, tende a reproduzir o mesmo tempo verbal.

A repetição do tempo presente da tese, dada a semelhança entre os dois enunciados,

favorece a presença do conector portanto. A presença de tempos verbais distintos da tese

tende a desfavorecê-lo.

5.1.4. Proximidade

A oração explicativa que não precede imediatamente a conclusiva favorece o uso de

portanto, ao contrário daquela que precede imediatamente desfavorece o uso do portanto.

Givón (1990 apud CUNHA, 2008) distingue o subprincípio da proximidade, segundo o qual

conteúdos que estão mais próximos cognitivamente também estão mais integrados na

estruturação linguística.

58

5.1.5. Polaridade

Orações explicativas e conclusivas com modalidades análogas (ambas afirmativas)23

por manterem a mesma perspectiva na sequência do texto, favorecem o uso de portanto.

Orações com modalidades opostas (primeira afirmativa e segunda negativa, ou vice-versa),

por quebrarem a perspectiva na sequência textual, tendem a não ocorrer com este conector.

5.1.6. Sequência temporal

A fixação da sequência icônica constitui uma cristalização da relação explicação-

conclusão e favorece a forma canônica, ao contrário das sequências simultâneas e anti-

icônicas.

A sequência explicativa-conclusiva cuja referência temporal que reproduz

iconicamente a sequência antes-depois (presente-futuro; passado-presente; passado-futuro)

favorece o uso de portanto.

A sequência anti-icônica (presente-passado; futuro-presente; futuro-passado)

desfavorece o uso deste conector.

Estas hipóteses foram operacionalizadas como grupos de fatores linguísticos para

testagem estatística através do programa Goldvarb (2001).

23 Há ocorrência de apenas um caso de negativa+negativa.

59

5.2. Variável social

Propusemos aqui o único grupo de fatores extralinguísticos analisados: os periódicos.

5.2.1. Periódicos

Periódicos voltados para um público mais escolarizado – Jornal do Brasil seguido de

O Globo – favorecem o conector portanto, enquanto periódicos voltados para um público

menos escolarizado – Extra seguido de O Povo – desfavorecem.

A seguir, veremos a análise dos dados desta pesquisa.

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6. ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Iniciaremos a análise pelas variáveis dependentes a que se seguem as variáveis

independentes. Os grupos de fatores são exemplificados e comprovados por índices

probabilísticos que serão interpretados à luz da fundamentação teórica.

Neste capítulo apresentamos as variantes e analisamos a correlação estatística entre

as variantes: portanto, conector não-canônico e o conector zero (variáveis dependentes) e os

grupos de fatores (variáveis independentes) correspondentes às hipóteses propostas.

Apreciamos inicialmente a variação entre portanto vs. conector zero, analisando um

a um os grupos de fatores selecionados pelo programa.

Como vimos, nem sempre os grupos selecionados para estas variantes são

selecionados para as variantes portanto vs. não-canônicos. Nestes casos, sempre que os

índices o justifiquem apresentamos resultados não selecionados.

Apresentamos a seguir as variantes estudadas.

6.1. Variáveis dependentes

Foram analisadas três variantes: portanto, conector não-canônico e conector zero (cf.

os exemplos (16), (17) e (18) abaixo:

- portanto

(16) Ele transformou o Complexo Penitenciário de Bangu em escritório central do crime organizado e chegou a comandar chacinas dentro e fora do presídio. Portanto, é fundamental que tudo isso seja levado em consideração pelas pessoas na hora de decidir o futuro do traficante.

[Editorial - Extra]

61

- conector não-canônico

(17) Um estigma que agora pode ser relegado ao esquecimento se as novas regras forem, de fato, cumpridas. Uma das mais importantes é a que estabelece que os organizadores deverão garantir não só as condições das instalações do local do evento, como a segurança das áreas internas. Assim, em caso de brigas, as equipes de som e os clubes responderão na Justiça pelos problemas que venham a surgir em seus ambientes.

[Editorial - Extra]

- conector zero

(18) Entretanto, não há o que comemorar: o décimo-terceiro salário é um direito do servidor público, municipal estadual ou federal, e não uma concessão ou

benesse especial do governo. ∅ O importante, daqui pra frente, é criar mecanismos para que isso não se repita jamais. Pagar o funcionalismo em dia é o mínimo que se espera de um governo.

[Editorial - Extra]

Em 6.1 vimos as variáveis dependentes. Seguem-se as variáveis independentes.

6.2. Variáveis independentes

As variáveis independentes foram tratadas estatisticamente como grupos de fatores.

Os grupos de fatores linguísticos e extralinguístico correspondem às hipóteses do

trabalho, ou seja, os contextos postulados como relevantes para a escolha das variantes.

Os resultados da análise quantitativa revelaram que as variantes conclusivas

propostas se agrupam duas a duas: portanto vs. conector zero e portanto vs. conector não-

canônico, ou seja, o conjunto de conectores (e, por isso, pois, então, assim, aí,

consequentemente).

Como vimos, a análise de portanto vs. conector zero foram selecionados pelo

programa os seguintes grupos de fatores (obedecendo a ordem de seleção):

a) Nível de conectividade; b) Gêneros discursivos; c) Periódicos; d) Referência

temporal; e) Proximidade; f) Polaridade.

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A análise de portanto vs. conector não-canônico selecionou:

a) Referência temporal; b) Periódicos; c) Gêneros discursivos.

Observe-se que os três grupos selecionados para portanto vs. conector não-canônico

estão entre os seis grupos selecionados para portanto vs. conector zero.

No que se segue apresentamos cada um dos grupos de fatores, os resultados

estatísticos e sua interpretação. Iniciamos pelos grupos de fatores linguísticos seguidos do

extralinguístico.

6.2.1. Variáveis linguísticas

Procedemos primeiramente à análise binária de portanto vs. conector zero e seguida

a análise de portanto vs. conector não-canônico. Seguem os grupos de fatores selecionados.

6.2.1.1. Nível de conectividade

Este grupo de fatores é constituído por duas categorias:

a) Conexão Intrafrástica e b) Conexão Interfrástica.

A conexão intrafrástica é aquela entre orações dentro do período. Na modalidade

escrita, a separação entre explicativa e conclusiva é representada por vírgula ou ponto e

vírgula. A conexão interfrástica é aquela entre períodos dentro do texto. Por definição, é

anunciada por ponto final seguido de maiúscula.

A questão da conectividade remete aos conceitos de coesão e coerência.

Segundo Xavier & Mateus (1992, p.86-7) coesão é propriedade semântica dos

discursos que se refere ao significado que existe dentro do texto e que o define como tal, isto

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é, lhe dá textura. Tal concepção está relacionada com a função textual proposta por Halliday

& Hasan (1976).

Dependendo das teorias, coesão e coerência podem denotar conceitos semelhantes

ou não. É possível considerar que a coesão é um tipo de conectividade fundamentalmente

sequencial e a coerência é um tipo de conectividade conceptual. Há vários mecanismos de

coesão textual, tanto gramaticais (frase, interfrases, tempo, referência) quanto lexicais.

Pauliukonis (1988, p.64) esclarece:

Se um texto é uma manifestação natural de linguagem dotada de um sentido, a textualidade, segundo Mira Mateus é o conjunto de propriedades que uma manifestação da linguagem humana deve possuir para ser um texto (discurso). Dentre as propriedades principais, destaca-se a conectividade, segundo a qual, uma expressão linguística A está ligada a B de tal forma que suas interpretações semânticas são interdependentes.

A autora descreve a coesão entre coordenadas:

“Na coordenação, ligam-se duas proposições, de modo que a segunda retoma o

conteúdo da primeira anaforicamente e forma com ela uma sequência sem hierarquia

sintática”(p.66-7).

Seguem abaixo exemplos de conexão intrafrástica e interfrástica:

- Conexão intrafrástica:

- ponto e vírgula

(19) E deve ser tida como certa a punição severa do engenheiro que se recusou a inspecionar a casa de Felipe. Nada disso, no entanto, pode ser confundido com qualquer avanço na busca de solução do problema permanente. Ele é localizado nas cidades grandes e médias; portanto, trata-se de preocupação obrigatória em todos os níveis de governo.

[Editorial - O Globo]

64

- vírgula (20) Este é um ano de muita felicidade para nós, por isso queremos dividí-la com essas jovens. A Escola vai dar o vestido, o sapato, o bolo, o buffet, enfim tudo o que essas jovens merecem para que seus sonhos sejam completos.

[Crônicas - O Povo]

- Conexão interfrástica: - ponto (21) Ou seja, todos precisam ser iguais perante a nova previdência; o teto da seguridade oficial tem de ser comum a todos, e acima dele as complementações deverão sair de fundos de pensão constituídos para tal. O tempo passa e a cada ano o déficit previdenciário aumenta. Portanto, a reforma do sistema é urgente. Cabe, agora, ao governo recolocar o assunto no bom caminho e esclarecer de uma vez por todas que a situação não permite privilégios, nem exceções.

[Editorial - O Globo]

(22) Para isso foi necessária a informação de que o conceito de direito adquirido já havia sido discutido no STF. E que, com um único voto contrário - o do próprio ministro Marco Aurélio Mello - foi dada ao conceito uma interpretação sensata: apenas os servidores aposentados e aqueles em condições legais de sair do serviço ativo têm direito a beneficiar-se de normas antigas. Assim, confirma-se a existência de sólido embasamento legal para a realização da imprescindível reforma da seguridade pública.

[Editorial - O Globo]

- início de parágrafo24

(23) A redução dos juros vai diminuir o custo do financiamento da dívida pública e ampliar a oferta de crédito, fatores que associados a uma gradual recuperação da renda e do emprego deverão trazer impactos positivos sobre o nível da demanda.

Portanto, um cenário de crescimento para a economia brasileira em 2004 já está dado, até porque a base de comparação é bastante baixa, com o fraco desempenho do ano passado.

[Crônicas - Jornal do Brasil]

24 Tivemos apenas um caso de conexão interfrástica com o portanto no início de parágrafo.

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(24) O motivo das luvas? É que sou um socador compulsivo em jogos desse teor. Um esmurrador de paredes com várias entradas no Miguel Couto.

E que venham os touros, mas que venham com a costumeira fúria. Não me decepcionem.

[Opinião - Extra]

(25) A desativação merece prioridade, pois o terminal é um velho produtor de desastres ecológicos.

Ø A Petrobrás pode pensar com largueza e aproveitar a região privilegiada para construir em Angra um paraíso ecológico que seja paradigma universal.

[Editorial - Jornal do Brasil]

Como vimos, esse grupo de fatores foi o primeiro a ser selecionado pelo Programa

Goldvarb como estatisticamente relevante. Os resultados da análise quantitativa encontram-se

nas tabelas (2a) e (2b):

Tabela 2a Efeito do nível de conectividade no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Intrafrástica 20/65 30% .95

Interfrástica 24/347 7% .35

Os índices da tabela (2a) revelam que a conexão intrafrástica favorece fortemente o

uso do portanto (.95), em detrimento do conector zero. A função coesiva da entoação é maior

na conexão do tipo intrafrástica – uma curva entoacional. Visto por outro ângulo, o

desfavorecimento da variante zero neste contexto talvez se deva à ambiguidade com simples

aditivas desfeita pelo conector.

Inversamente portanto é desfavorecido em conexões interfrásticas (.35), onde a

quebra em duas curvas entoacionais favorece a interpretação conclusiva.

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Segundo Halliday & Hasan (1976, p.232-3), a modalidade escrita tem suas próprias

convenções, e a transcrição da entoação através da pontuação é uma delas. Vale ressaltar que

esta convenção não é rígida e que a variação na oralidade tende a ser transposta para a escrita.

É interessante comparar os resultados da variação portanto vs. conector zero às da

variação portanto vs. conector não-canônico.

Tabela 2b Efeito do nível de conectividade no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Intrafrástica 20/59 33% .59

Interfrástica 24/100 25% .44

Observa-se que apesar da menor polarização, há analogia entre as duas tabelas. Isto

revela a semelhança entre o uso do conector zero e do conector não-canônico, isto é, em

última instância, a não gramaticalização destes conectores.

6.2.1.2. Gêneros discursivos

Como vimos nos pressupostos metodológicos, o corpus deste trabalho é constituído

pelos gêneros discursivos: Editorial, Opinião e Crônicas.

Sobre gênero, Bazerman (1994 apud MARCUSCHI, 2008, p.16) considera:

(...) apesar de nosso interesse em identificar os gêneros e classificá-los, parece impossível estabelecer taxonomias e classificações duradouras. O estudo dos gêneros é uma fértil área interdisciplinar. Desde que não concebamos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, temos de ver os gêneros como entidades dinâmicas. Existe uma grande variedade de teorias de gêneros no momento atual, tendo-se em vista que o gênero é essencialmente flexível e variável.

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Muitos têm sido os esforços de categorizar tanto a noção de gênero como suas classificações. Estas classificações hoje são muitas e com variadas perspectivas.

Bonini (2008, p.51) diz que o jornal é um exemplo de suporte25 convencionado de

hiper-gênero, uma vez que é um gênero constituído por vários outros.

O jornal apresenta uma abertura e um conjunto de seções organizadas de modo mais

ou menos característico.

O autor analisa uma amostra de trinta (30) exemplares do Jornal do Brasil de janeiro

de 2000. A comparação dos exemplares revelou uma estrutura de grandes seções fixas e

variáveis. As fixas são diárias e as variáveis são esporádicas aparecendo em um ou dois dias

da semana. As grandes seções são divididas em seções menores. O autor declara que o

levantamento dos gêneros que ocorriam dentro dos jornais só foi possível em função das

pesquisas realizadas no PROJOR26 sobre gêneros específicos (reportagens, nota, nota-

consulta), o que possibilitou alguma clareza quanto ao modo como os gêneros do jornal se

caracterizam e se distinguem.

Bonini (2008, p.52) apresenta um quadro com a estrutura de seções fixas e variáveis

através das grandes seções, das seções e das subseções. Entre as seções fixas encontra-se o

gênero Opinião.

O autor fez um mapeamento do Jornal do Brasil, onde se evidenciou a ocorrência de

quarenta e dois (42) gêneros. Os gêneros foram categorizados em centrais e periféricos

(quanto maior ou menor proximidade dos propósitos principais do jornal) e, os centrais, em

presos e livres (quanto ao papel que desempenham na estruturação do suporte do jornal).

25 Sobre suporte o autor define como uma espécie de elemento em que o gênero se fixa e que está encarregado de colocar esse gênero em circulação (BONINI, 2008, p.51). 26 PROJOR – Projeto Gêneros do jornal (BONINI, 2004a) que recorre à teoria de John M. Swales (1990, 1992, 1998) – autor que define gênero como “uma classe de eventos comunicativos” (BONINI, 2008, p.51).

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O autor não garante que todos os gêneros identificados sejam de fato “gêneros”. Em

decorrência da “criatividade”, alguns textos não revelam claramente um gênero, não há

garantias de que ocorram em outros jornais e que tenham estabilidade.

Bonini (2008, p.54) apresenta um segundo quadro em que arrola os gêneros que

ocorreram em dois exemplares de análise. Na categoria dos gêneros centrais – presos

encontra-se o Editorial, e na categoria dos gêneros centrais – livres encontra-se o artigo de

Opinião e a Crônica. Na categoria dos gêneros periféricos, dentre outros estão o anúncio de

evento e a palavra cruzada.

O autor chega à conclusão de que as fronteiras entre os gêneros são frouxas, em

função da forma como a enunciação se dá. Os gêneros se misturam e não é claro definir o que

é gênero e o que é seção, o que dificulta a explicação de um gênero particular, pois existe um

entrelaçamento dos gêneros. O autor conclui que o gênero dificilmente é delimitado em

unidades isoladas.

Observa-se no gênero Crônicas traços coloquiais como discurso direto, menção a

eventos pontuais. Embora se trate de argumentação, as características do texto são

basicamente narrativas. Isto explica o índice mais baixo do conector portanto, forma canônica

de argumentação, em favor da ausência da marca de conexão, variante zero, próprias da fala

informal.

Inversamente, em Editorial e Opinião os índices de portanto são mais altos. Trata-se

de gêneros opinativos e se opõem pela fonte do compromisso com o enviado. No Editorial,

embora represente o ponto de vista do jornal, a responsabilidade não é individualizada ou

explicitada, ou seja, é atribuída à comissão do editorial. Na Opinião o texto é assinado, tem o

compromisso do articulista.

Os Editoriais se caracterizam pela impessoalização, voz passiva, tratamento de

assuntos genéricos e abstratos. As Opiniões se caracterizam pelo envolvimento do

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enunciador: verbos modais, orações hipotéticas, temas polêmicos, vistos pelo prisma do

enunciador.

Crônicas:

(26) Não vejo por que, então, discriminar o "bingo". Dei parecer favorável ao projeto do deputado Gilmar Machado, pois permite combater os efeitos anti-sociais da atividade com instrumentos que, hoje, não existem.

No famoso episódio da instituição, na Roma antiga, do imposto sobre as latrinas públicas, o imperador Vespasiano respondeu às críticas de seu filho Tito com a célebre frase: o tributo non olet (não cheira). Ø Creio que é melhor tributar atividades que se encontram na linha limítrofe entre o regular e o irregular do que permitir que criminosos as explorem, impunemente, utilizando sua receita - não controlada - para atividades ilícitas, inclusive para a corrupção.

[Crônicas - Jornal do Brasil]

Opinião:

(27) Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade, pois, segundo o artigo 20º da Carta Magna brasileira, os poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes e harmônicos entre si.

Como, portanto, criar-se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário, a ele se sobreponha? De que natureza será esse órgão? Ou será mais um poder da União?

[Opinião - Jornal do Brasil]

Editorial: (28) De fato, não há como o presidente eleito aceitar uma renegociação da dívida de estados e municípios, por exemplo, sem que o governo federal transfira - em decorrência de uma reforma tributária - mais responsabilidades para o âmbito de governadores e prefeitos. Nesse caso, a União poderia abrir mão de receitas, pois estará também se desvinculando de despesas ou transferências obrigatórias para cofres estaduais e municipais. Portanto, o momento continua a austeridade fiscal.

[Editorial - O Globo]

Este grupo de fatores foi selecionado pelo Programa Goldvarb. Os resultados da

análise estatística encontram-se nas tabelas (3a) e (3b):

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Tabela 3a Efeito de gêneros discursivos no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Crônicas 8/194 4% .28

Opinião 21/152 14% .64

Editorial 15/66 22% .79

Os índices revelam que Editorial é o contexto que mais favorece o uso de portanto

(.79).

Tabela 3b Efeito de gêneros discursivos no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Crônicas 8/52 16% .23

Opinião 21/63 34% .66

Editorial 15/44 33% .62

Os índices revelam que Opinião e Editorial favorecem o uso de portanto (.66) e (.62)

e que Crônicas o desfavorecem (.23).

As taxas da tabela (3a) confirmam a hipótese de que há uma escala entre os gêneros:

a variante portanto tende a ocorrer mais em Editoriais (.79) seguido de Opinião (.64), sendo

menos provável em Crônicas (.28) (a escala inversa favorece a variante zero).

Pode-se interpretar estes resultados como uma oposição entre os gêneros

basicamente argumentativos (Editorial e Opinião) e basicamente não argumentativos

(Crônicas).

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As taxas da tabela (3b) assemelham-se à anterior. Nota-se, no entanto, a

neutralização entre Opinião (.66) e Editorial (.62), ou seja, a questão do envolvimento do

articulista não é pertinente quando se trata do uso de portanto vs. não-canônico.

6.2.1.3. Referência temporal

O grupo de fatores referência temporal é constituído pelas formas verbais da oração

conclusiva. a) presente do indicativo; b) não-presente.

Vários tempos verbais foram registrados. Entretanto, dado o número insignificante

de dados para cada caso particular agrupamos os menos frequentes como não-presente (do

indicativo). O grupo fica, portanto, com duas categorias.

Pesquisamos o seu efeito na escolha da variante.

- Presente:

(29) A função dos responsáveis pelo trânsito é muito mais educativa que punitiva. Portanto, é fundamental que a prefeitura apresente à população os resultados práticos do uso destas engenhocas eletrônicas.

[Editorial – Extra]

(30) Não custa notar também que, com todos os senões, no Rio já houve pelo menos uma operação policial importante e bem-sucedida que contou com a participação do "Pax Rio" - a captura do traficante Elias Maluco.

Assim, a decisão é pelo menos precipitada. [Editorial – Extra]

(31) Infelizmente, este não é um assunto novo entre nós. Nos últimos 20 anos a economia brasileira cresceu em média pouco mais de 2% ao ano. É um grande contraste com o nosso passado de crescimento médio de 7% ao ano, ou de outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia do Sul.

Ø A questão principal é saber se a nossa perspectiva futura é uma repetição do passado recente, pouco recomendável, ou se a economia brasileira tem condições de virar o jogo.

[Crônicas – Jornal do Brasil]

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- Não-presente:

(32) Mas não deixa de ser interessante entregar a chave da cidade para alguém que não tenha uma silhueta tão avantajada. Além do mais, as marcas do carnaval são a alegria e a fantasia. Portanto não haveria problema em engordar artificialmente o Rei Momo com enchimentos na fantasia. Como toda novidade, vale a pena ser testada e avaliada pelo grande júri do carnaval, que é a população do Rio.

[Editorial – Extra]

(33) É tempo de mudança. A república dos bacharéis pertence ao passado. A maioria dos eleitores se identifica com Lula na origem, na formação e nos dramas pessoais. Lula é acima de tudo um igual, um brasileiro que conseguiu vencer duras batalhas. Por isso, tornou-se sinônimo de esperança.

[Editorial – Jornal do Brasil] (34) Esse desempenho deverá favorecer o crescimento das exportações brasileiras. Ø A balança comercial deverá pelo menos repetir o saldo positivo do ano passado, com um superávit próximo de US$ 25 bilhões.

[Crônicas – Jornal do Brasil]

Este grupo de fatores selecionado revelou-se estatisticamente relevante para o uso de

portanto vs. conector zero. Os resultados da análise quantitativa encontram-se nas tabelas (4a)

e (4b):

Tabela 4a Efeito de referência temporal no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

presente 42/324 13% .61

não-presente 2/88 2% .14

Os índices da tabela (4a) revelam que o contexto verbal que mais favorece o uso de

portanto nas conclusivas é o presente do indicativo. Ao contrário, as demais

formas/significados verbais desfavorecem esta variante.

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Como vimos, Gryner (2000) apresenta uma proposta de estrutura argumentativa

constituída por categorias argumentativas variáveis. Os argumentos se situam entre a posição

(tese) e a conclusão.

A posição, único constituinte indispensável à argumentação, é a asserção básica

sustentada pelo locutor. Expressa a tese ou ponto de vista a ser defendido pelo locutor e

apresenta verbo no indicativo (cf. Gryner 2000).

Tabela 4b Efeito de referência temporal no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

presente 42/130 33% .59

não-presente 2/29 6% .15

Os resultados da tabela (4b) confirmam o que foi dito acima sobre portanto vs.

conector zero.

6.2.1.4. Proximidade

Este grupo de fatores se relaciona ao princípio da iconicidade, mais especificamente

à questão da proximidade. Partimos da hipótese de que a distância entre explicativa e

conclusiva interfere no uso das variantes. Assim, quanto maior a distância maior a

probabilidade de ocorrer o conector portanto.

Foram propostas duas categorias:

a) Próxima: a oração explicativa precede imediatamente a conclusiva;

b) Distante: a oração explicativa precede não imediatamente a conclusiva.

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A distância decorre da intermediação de outras orações, por exemplo, adjetivas,

hipotáticas, subordinadas, entre outras.

Paiva (1991) focaliza a organização sintagmática dos enunciados causais–relação

causa/efeito - no discurso oral.

Eles xingaram a professora e a diretora escutou. (causa) Colocou a gente meia-hora de castigo. (efeito) (PAIVA, 1991, p.10)

Em outros casos a combinação se dá entre uma cláusula explicativa, em que se

apresenta um argumento que conduz à conclusão. Neste caso, não se exclui a possibilidade de

atribuir-lhe tanto significado causal quanto explicativo.

- Minha mãe foi criada na roça. (apresenta um argumento) - Então ela não teve estudo mesmo. (conclusão) (PAIVA, 1991, p.10)

Vejamos exemplos encontrados na escrita midiática:

a) Oração explicativa precedente imediata

(35) O voto é a maior arma do eleitor. Portanto, é fundamental que a população examine com calma e critério as propostas, reflita sobre cada uma delas, confira se as promessas na eleição passada de fato foram cumpridas e principalmente, não se deixe levar por apelos meramente eleitoreiros.

[Editorial – Extra]

(36) Nada, porém, justifica a reação como a do piloto de avião. Um brasileiro que tivesse reação semelhante ao desembarcar em algum aeroporto dos Estados Unidos certamente também seria punido. São atos indignos, que ofendem o país e, por isso, não merecem tolerância e devem ser avaliados pela justiça.

[Editorial – Extra] (37) Um caso típico para o Procon, independentemente de o futebol ser o esporte de massas, o mais popular do país, paixão que arrebata multidões. Evidentemente que trata-se de um golpe contra o torcedor, equivalente a um gol de mão ou uma entrada desleal. Ø Uma iniciativa que merece cartão vermelho e fim de papo.

[Editorial – Extra]

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b) Oração explicativa precedente não-imediata

(38) De fato, não há como o presidente eleito aceitar uma renegociação da dívida de estados e municípios, por exemplo, sem que o governo federal transfira - em decorrência de uma reforma tributária - mais responsabilidades para o âmbito de governadores e prefeitos. Nesse caso, a União poderia abrir mão de receitas, pois estará também se desvinculando de despesas ou transferências obrigatórias para cofres estaduais e municipais. Portanto, o momento continua a austeridade fiscal.

[Editorial – O Globo]

(39) Faltou lembrar que a geração de empregos passa pela desoneração da sociedade brasileira em relação ao Estado. Além da carga tributária, toda uma sorte de exigências burocráticas impede as empresas de ampliarem o contingente de empregados. Fica, pois, a contribuição do Balanço Mensal: o crescimento ajuda, mas não basta para reduzir as taxas de desemprego.

[Editorial – Jornal do Brasil]

(40) A população espera de seus governantes, no ano que se inicia hoje, o empenho necessário à solução dos graves problemas que afetam o estado como um todo, nas mais diferentes áreas. Ø Que as boas idéias de 2003 sejam perpetuadas e os problemas, enfrentados com disposição e seriedade; que as falhas não sejam simplesmente esquecidas ou ignoradas: devem ser consideradas até para não serem repetidas.

[Editorial – Extra]

Este grupo de fatores foi selecionado pelo Programa Goldvarb. Os resultados da

análise quantitativa encontram-se nas tabelas (5a) e (5b):

Tabela 5a Efeito da proximidade no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

imediata 12/104 11% .24

não-imediata 32/308 10% .59

Os índices da tabela (5a) confirmam a hipótese de que o uso de portanto é favorecido

quando oração explicativa não precede imediatamente a conclusiva.

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Ao contrário, quando a oração conclusiva é precedida imediatamente pela explicativa

a tendência é não usar este conector, favorecendo, portanto, o conector zero.

Estes resultados refletem o princípio da iconicidade, segundo o qual conteúdos

distantes são expressos por formas também distantes. A presença de portanto separa

fisicamente orações semanticamente mais distantes.

Quanto à variação entre as variantes portanto e conectores não-canônicos, os

resultados são semelhantes (cf. tabela (5b)).

Tabela 5b Efeito da proximidade no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

imediata 12/42 27% .45

não-imediata 32/117 29% .51

6.2.1.5. Polaridade

Este grupo foi inicialmente constituído por quatro categorias:

a) Afirmativa + afirmativa;

b) Afirmativa + negativa;

c) Negativa + afirmativa;

d) Negativa + negativa.27

27 Encontramos apenas um caso de Negativa + negativa. Ex: O cronograma de investimentos da TIM é novo exemplo de que a privatização, quando bem idealizada e realizada, é generosa nos frutos. Depende, também, da ação eficaz da agência reguladora. Mas eficiência não faltou à Anatel. Que o novo governo, portanto, não ceda à tentação de mexer em time que está ganhando. [Editorial - Jornal do Brasil]

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Hopper & Traugott (2003) incluem a polaridade entre os parâmetros de

transitividade, portanto, associada ao plano discursivo. Orações afirmativas caracterizam o

fundo, negativas a figura. A sequência que alterna afirmativa e negativa ou negativa e

afirmativa marcava o contraste discursivo entre a explicação e a conclusão.

Afirmativa + afirmativa:

(41) Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann.

[Opinião – Jornal do Brasil]

(42) O Brasil certamente contribui para tal mudança de comportamento. No lugar de eleger o FMI como causa dos nossos males, o Brasil assumiu a responsabilidade de enfrentá-los - arcando como inevitável custo do ajuste. Assim, o país se credenciou nas instituições multilaterais para conduzir com rédeas próprias o seu programa, recebendo crédito para tal.

[Editorial – O Globo]

(43) A população espera de seus governantes, no ano que se inicia hoje, o empenho necessário à solução dos graves problemas que afetam o estado como um todo, nas mais diferentes áreas. Ø Que as boas idéias de 2003 sejam perpetuadas e os problemas, enfrentados com disposição e seriedade; que as falhas não sejam simplesmente esquecidas ou ignoradas: devem ser consideradas até para não serem repetidas.

[Editorial – Extra]

Afirmativa + negativa:

(44) No Brasil e na Argentina, acredita-se que é possível, primeiro, reforçar o Mercosul para depois negociar a Alca. Zoellick foi consultado sobre um acordo que tivesse de um lado o Mercosul e de outro, os EUA. Mas descartou de pronto o formato 4+1.

Ø O Brasil não tem tempo a perder. [Editorial – Jornal do Brasil]

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Negativa + afirmativa: (45) Entretanto, por desinformação, a população do Rio de Janeiro, que tem na solidariedade uma de suas principais marcas, acaba não se envolvendo como deveria. É necessário, portanto, que sejam feitas campanhas de esclarecimento em todos os níveis. Cabe às autoridades fazer esse trabalho de conscientização. A vida agradece.

[Editorial – Extra] Este grupo de fatores, amalgamado em duas categorias, foi selecionado como

estatisticamente relevante (cf. tabela (6a)):

Tabela 6a Efeito da polaridade no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

afirmativa + afirmativa 42/335 13% .57

afirmativa + negativa

e

negativa + afirmativa

2/77 2% .20

Observa-se que polaridades iguais (afirmativa+afirmativa) favorecem o uso de

portanto (.57). Inversamente, portanto é desfavorecido no caso de polaridades opostas.

Observamos que o contexto que mais favorece o portanto (afirmativa+afirmativa), é

justamente o contexto mais produtivo. Segundo o princípio funcionalista da marcação,

estruturas não marcadas se caracterizam por apresentar maior frequência, menor

complexidade cognitiva e menor complexidade formal. Assim, polaridades opostas

estabelecem elos de vinculação menos coesos, desfavorece o uso de portanto em favor do

conector zero.

No caso da sequência explicativa–conclusiva há mudança de plano: da argumentação

propriamente dita para a conclusão (que reafirma a tese).

79

A alternância entre afirmativa e negativa marcaria por si só mudança de plano. A

ausência dessa marca – afirmativa seguida de afirmativa – favoreceria a explicação do

conector.

Tabela 6b Efeito da polaridade no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

afirmativa + afirmativa 42/145 30% .53

afirmativa + negativa

e

negativa + afirmativa

2/14 14% .20

A tabela (6b) apresenta o efeito da polaridade na escolha entre portanto e conector

não-canônico.

Os resultados confirmam a oposição entre as duas variantes, ou seja, que o uso de

conectores não-canônicos é análogo ao do conector zero.

6.2.1.6. Sequência temporal

O grupo de fatores sequência temporal é constituído por três categorias:

a) simultâneas: presente + presente; passado + passado; futuro + futuro;

b) icônicas: presente + futuro; passado + presente; passado + futuro;

c) anti-icônicas: presente + passado; futuro + presente; futuro + passado.

Em Cunha (2008, p.167-9), iconicidade como um dos princípios do funcionalismo se

manifesta em três subprincípios: da quantidade; da integração; da ordenação sequencial (grifo

80

nosso). O subprincípio da ordenação sequencial se divide em dois subprincípios: da

ordenação linear (grifo nosso) e da relação entre ordem sequencial e topicalidade.

O subprincípio da ordenação linear se baseia na ordenação de orações no discurso

que inclina-se a mostrar a sequência temporal que os eventos ocorrem.

De acordo com Paiva (1991, p.26) o pressuposto de existência de uma ordenação

natural, na sua versão lógica ou na sua versão cognitiva, prevê que a cláusula causal antecede

a cláusula efeito, refletindo a ordem em que os fatos ocorrem na realidade. O pressuposto de

ordem natural está estreitamente associado ao princípio de temporalidade ou de

sequencialidade temporal. Os fatos são percebidos como dispostos no eixo do tempo, de

forma que o fato causa ocorre num momento de tempo anterior aquele em que se dá o efeito.

Para a autora, a ordenação de cláusulas de causa/efeito ou argumento/conclusão se

fundamentam no pressuposto de existência da ordenação natural e em princípios de natureza

discursiva.

Simultâneas:

(46) Retomando à Gávea após breve campanha no Sul, Infinite Sail, fêmea de cinco anos, descendente de Quaech e Frontier Sail, aparece como boa opção de crava para aqueles que gostam de "economizar combinações e dinheiro", colocando "firme", em qualquer jogo - principalmente na, Superpule de Placê e Super Tri, - 100° de bonificação -, esta defensora do Stud Presenteador, que tem como treinador o excelente César Guerreiro Tavares. Aliás, é ótima a oportunidade para a menina Josiane Gulart (tem tido muito pouca chance de pilotar), conseguir vencer e marcar mais um ponto na estatística de jóqueis (continuo afirmando ser uma das melhores profissionais em termos técnicos e atlético), pois, tendo animal, dificilmente não conquista o primeiro lugar. Portanto, quem também optar por uma crava, acredite no triunfo desta tordilha nascida e criada no Haras Mersen.

[Opinião – O Povo]

(47) Uma das mais importantes é a que estabelece que os organizadores deverão garantir não só as condições das instalações do local do evento, como a segurança das áreas internas. Assim, em caso de brigas, as equipes de som e os clubes responderão na Justiça pelos problemas que venham a surgir em seus ambientes.

[Editorial – Extra]

81

(48) Esse desempenho deverá favorecer o crescimento das exportações brasileiras. Ø A balança comercial deverá pelo menos repetir o saldo positivo do ano passado, com um superávit próximo de US$ 25 bilhões.

[Crônicas – Jornal do Brasil]

Anti-Icônicas:

(49) A operação no terminal é do tempo em que o Brasil importava mais petróleo do que produzia. Perdeu, portanto, utilidade diante dos riscos para uma região violentada por descarga de óleo e ameaça implícita na usina nuclear.

[Editorial – Jornal do Brasil] (50) A imprensa está dizendo que Luma de Oliveira precisou de um bombeiro. O Brasil, também. A mídia fez de Luma um facho aceso sobre nossa pátria. A beleza exerce atração. E quem exerce atração, exerce poder. Ø Pautaram Luma para a crise. Como as matérias vêm sempre ilustradas com fotos, pelo menos esta crise é encantadora. Melhor contemplar a alegria algo despudorada de Luma de Oliveira do que as sombras que cercam Waldomiro Diniz e seus asseclas, alguns ainda em sombras muito mais pesadas.

[Crônicas – Jornal do Brasil] Icônicas:

(51) Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade, pois, segundo o artigo 20º da Carta Magna brasileira, os poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes e harmônicos entre si. Como, portanto, criar-se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário, a ele se sobreponha? De que natureza será esse órgão? Ou será mais um poder da União?

[Opinião – Jornal do Brasil] (52) Não custa notar também que, com todos os senões, no Rio já houve pelo menos uma operação policial importante e bem-sucedida que contou com a participação do "Pax Rio" - a captura do traficante Elias Maluco.

Assim, a decisão é pelo menos precipitada. [Editorial – O Globo]

(53) Não vejo por que, então, discriminar o "bingo". Dei parecer favorável ao projeto do deputado Gilmar Machado, pois permite combater os efeitos anti-sociais da atividade com instrumentos que, hoje, não existem. No famoso episódio da instituição, na Roma antiga, do imposto sobre as latrinas públicas, o imperador Vespasiano respondeu às críticas de seu filho Tito com a célebre frase: o tributo non olet (não cheira). Ø Creio que é melhor tributar atividades que se encontram na linha limítrofe entre o regular e o irregular do que permitir que criminosos as explorem, impunemente, utilizando sua receita - não controlada - para atividades ilícitas, inclusive para a corrupção.

[Crônicas – Jornal do Brasil]

82

Tabela7a Efeito de sequência temporal no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Simultâneas 30/265 11% .52

Anti-Icônicas 5/48 10% .49

Icônicas 9/99 11% .42

Os índices revelam que a sequência simultânea é o contexto que mais favorece o uso

de portanto na relação de portanto vs. conector zero (.52). A relação causa/resultado (icônica)

desfavorece o portanto em favor do conector zero (.42). A relação icônica não precisa do

portanto porque tem uma diferença temporal que mostra a relação de causa/resultado. A causa

faz parte dos argumentos enquanto o resultado é a tese.

A relação resultado/causa (anti-icônica) ocupa uma posição intermediária (.49). A

relação causa/resultado (simultânea) favorece o uso do portanto (.52). Como a causa antecede

a consequência (PAIVA, 1991), usa-se o portanto para indicar a conclusão. De acordo com

Weinrich (1989) o tempo verbal marca se a oração tem movimento icônico ou anti-icônico.

Tabela 7b Efeito de sequência temporal no uso de portanto vs. não-canônicos

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Simultâneas 30/116 26% .47

Anti-Icônicas 5/10 50% .84

Icônicas 9/33 33% .47

83

Os índices revelam que a sequência anti-icônica é o contexto que mais favorece o

uso de portanto na relação de portanto vs. conector não-canônico (.84).

6.2.2.Variável social

O grupo de fatores extralinguístico são os periódicos Jornal do Brasil, O Globo,

Extra e O Povo.

6.2.2.1. Periódicos

Mollica & Braga (2004) dizem que aparentemente caótica e aleatória, a face

heterogênea imanente da língua é regular, sistemática e previsível, porque os usos são

controlados por variáveis estruturais e sociais (p.27).

Como vimos na descrição da amostra, trabalhamos com os quatro periódicos

selecionados pelo PEUL/UFRJ: Jornal do Brasil, O Globo, Extra e O Povo. A escolha teve

por objetivo cobrir as diferentes faixas sócio-econômicas do público leitor, presumivelmente

associados ao preço do jornal.

Jornal do Brasil:

(54) Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade, pois, segundo o artigo 20º da Carta Magna brasileira, os poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes e harmônicos entre si. Como, portanto, criar-se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário, a ele se sobreponha? De que natureza será esse órgão? Ou será mais um poder da União?

[Opinião – Jornal do Brasil]

84

O Globo: (55) Ao falar com algum assecla, o bandido anunciou o planejamento de uma operação de impacto para suspender as atividades em bairros da cidade. A governadora, portanto, agiu com bom senso ao pedir o apoio federal, previsto na Constituição.

[Editorial – O Globo]

Extra:

(56) Nada, porém, justifica a reação como a do piloto de avião. Um brasileiro que tivesse reação semelhante ao desembarcar em algum aeroporto dos Estados Unidos certamente também seria punido. São atos indignos, que ofendem o país e, por isso, não merecem tolerância e devem ser avaliados pela justiça.

[Editorial – Extra]

O Povo:

(57) Recebendo os cuidados do excelente treinador Roberto Morgado Junior (dispensa qualificações), [explicação=como] a castanha nascida e criada no Haras San Francesco, pode mesmo ser uma pule salvadora para a rapaziada que já está a perigo nesta prova final da semana. Portanto, [conclusão=portanto] quem acreditar, embarque nesta canoa, pois, as informações recebidas são que o jóquei Gilvan Guimarães será responsável por sua direção, está confiante na vitória.

[Opinião – O Povo]

Este grupo de fatores foi selecionado pelo Programa Goldvarb. Os resultados da

análise quantitativa encontram-se nas tabelas (8a) e (8b):

85

Tabela 8a Efeito de periódicos no uso de portanto vs. conector zero

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/164 7% .35

O Globo 10/125 8% .53

Extra 6/54 11% .36

O Povo 16/69 24% .83

Os índices revelam que a hipótese de um paralelo entre contínuo no uso das variantes

e a escolha sócio-econômica dos leitores de jornais não se aplica integralmente.

Vemos que o Jornal do Brasil, que postulamos como o mais planejado

surpreendentemente tende a evitar a variante portanto (.35) favorecendo o uso da variante

zero (.65).

Por outro lado O Povo, que classificamos como o mais “popular” apresenta o nível

mais alto de portanto e não da variante zero como hipotetizamos.

Os demais se comportam como esperado. Uma explicação para os altos índices do

portanto no O Povo encontra-se no comportamento idiossincrático de um único articulista,

que utiliza, 16/69 (24%) das vezes a variante portanto, quando a média é de 43/412 (12%).

Podemos atribui-lo como uma tendência à idiossincrasia – comum à língua escrita – quer ao

desejo de mais transparência por parte do autor.

De qualquer forma, a retirada desses casos, elevou as taxas do Jornal do Brasil para

(.64).

Quanto à explicação para a redução de portanto em favor da variante zero no Jornal

do Brasil, que presumivelmente se dirige aos falantes da classe mais escolarizada, poderia ser

atribuída a pretenso desvio do jornal.

86

Entretanto, segundo Fleischman (1990)28 a mesma preferência foi registrada nos

últimos três séculos na imprensa inglesa.

A tabela (8b) apresenta as taxas de portanto vs. conector não-canônico.

Tabela 8b Efeito de periódicos no uso de portanto vs. conector não-canônico

Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/43 27% .64

O Globo 10/34 32% .57

Extra 6/49 12% .17

O Povo 16/35 48% .76

A tabela (8b) confirma nossas hipóteses iniciais de que os conectores conclusivos

tendem a ocorrer nos periódicos voltados para um público mais escolarizado e em menor

número em periódicos voltados para um público menos escolarizado. A única exceção é O

Povo. Observa-se aqui o mesmo efeito do articulista idiossincrático de O Povo.29

A seguir passamos às considerações finais deste estudo.

28 A autora esclarece que parece existir uma tendência em periódicos ingleses em usar conector zero. É uma tradição que vem de 300 anos. 29 Vide tabelas 11 e 12 onde retiramos o jornal O Povo e o gênero Opinião das rodadas.

87

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início deste trabalho apresentamos as variantes conclusivas no corpus de

periódicos cariocas. Propunha-mos que a conexão explicativa-conclusiva apresentava

diferentes graus de vinculação, e que o uso da variável de um conector conclusivo ou sua

ausência correlacionava-se estatisticamente a contextos linguísticos e extralinguísticos.

Foram propostas três variantes opondo por um lado o conector canônico portanto e,

por outro, a ausência de marca explícita de conexão (conector zero).

Quanto aos conectores não-canônicos (e, por isso, pois, então, assim, aí,

consequentemente) ocupariam algum lugar – talvez intermediário – entre a presença de

portanto e a sua omissão.

De acordo com a teoria laboviana confirmamos os contextos relevantes para a

ocorrência das variantes. Foram selecionados seis contextos relevantes para o uso das

variantes: nível de conectividade, gêneros discursivos, referência temporal, proximidade,

polaridade e periódicos. Os resultados quantitativos dos seis contextos revelaram a

complementariedade entre a variante portanto e a variante zero. Assim, os contextos que

favorecem o uso de portanto desfavorecem o uso da variante zero.

Três destes contextos se revelaram igualmente relevantes – na mesma direção – para

o uso da variante portanto em relação aos conectores não-canônicos. São eles: periódicos,

gêneros discursivos e referência temporal.

Constatamos que, em geral, a natureza dos periódicos interfere no uso das variantes

da maneira prevista: maior favorecimento de portanto quando dirigidos a um público mais

escolarizado, e inversamente ao que ocorre com os jornais dirigidos ao público menos

habituado à leitura.

As exceções encontradas são explicáveis por fatores inesperados: a) o uso de

portanto como idiossincrasia em O Povo, periódico dirigido ao público menos escolarizado;

88

b) tendência a desfavorecer portanto em favor da variante zero, no Jornal do Brasil,

provavelmente, pela tendência dos periódicos modernos a uma linguagem oralizada.

Confirmamos a preferência do uso de portanto em Editoriais, (e Opiniões) e o seu

desfavorecimento (isto é, o favorecimento de zero) nas Crônicas. Explica-se pela tendência à

função de lazer e à linguagem coloquial das Crônicas, em oposição à função crítica dos

gêneros Editorial e Opinião. Entre estes, o primeiro distingue-se pelo distanciamento e o

segundo pelo envolvimento do leitor.

O emprego de portanto em orações conclusivas no presente do indicativo reflete a

organização da estrutura argumentativa na medida em que as conclusões confirmam a tese,

(em geral genérica, habitual ou fatual no presente do indicativo) que tendem a usar a mesma

forma verbal.

Outro aspecto derivado da conexão entre explicativa e conclusiva que interfere no

uso de portanto é a distância da explicativa precedente. Portanto retoma, anaforicamente, o

conteúdo da explicativa. Assim, quanto mais distante a conclusão se encontra da explicação,

mais necessária se torna a presença da marca de conexão canônica (princípio da iconicidade

subprincípio da proximidade).

Outra forma de marcar o grau conector entre conclusiva e explicativa é a pontuação.

As conexões que oralmente se inserem na mesma curva entoacional (conexão intrafrástica)

são separadas por vírgula ou ponto e vírgula, e apresentam maior vinculação e por isso

tendem a ocorrer com a variante canônica portanto; ao contrário, as que são marcadas

oralmente por curvas oracionais (conexão interfrásica), são marcadas por ponto final,

representando a menor conectividade entre as orações. Neste caso, portanto é menos

favorecido em favor da variante zero.

A combinação de oração explicativa e conclusiva com a mesma polaridade

(afirmativa) também se relaciona à questão dos planos do discurso. A sequência das

89

polaridades alternantes representa mudança de planos, no caso, a passagem da explicação

(fundo) à conclusão (figura), e portanto prescinde da explicitação do marcador de conclusão

canônico.

A sequência da mesma polaridade favorece a presença do portanto, na medida em

que esta explicita a relação entre dois planos distintos.

Embora firmemente ancorada no princípio da iconicidade, a sequência temporal –

entre conexão explicativa e conclusiva – não foi selecionada como relevante. Entretanto, aqui

também os resultados sugerem a validade da hipótese.

Como é consensual a sequência antes-depois leva à interpretação causa-consequência

(post hoc propter hoc).30 Consequentemente desfavorece a presença de portanto em favor da

variante zero.

Assim, os resultados que apresentamos permitem afirmar que o uso das variantes

portanto, conector não-canônico e conector zero não são aleatórios.

Apesar da aparente diversidade dos fatores, constata-se que o uso de cada variante, as

variáveis se alinham na mesma direção: de maior vs. menor grau de vinculação entre as

orações explicativa e conclusiva no discurso que subjacentes às variáveis postuladas existem

motivações funcionais convergentes.

Apesar do caráter não conclusivo da pesquisa, esperamos ter demonstrado a relação

entre estrutura cognitiva, discurso e práticas sociais.

30 Expressão que significa: “depois disso por causa disso.”

90

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95

ANEXOS

Tabela 9 Portanto vs. Conector zero

Grupos de Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/164 7% .35

O Globo 10/125 8% .53

Extra 6/54 11% .36

Periódicos

O Povo 16/69 24% .83

Crônicas 8/194 4% .28

Opinião 21/152 14% .64 Gêneros Discursivos

Editorial 15/66 22% .79

Presente 42/324 13% .61 Referência Temporal Não Presente 2/88 2% .14

Imediata

12/104 11% .24 Proximidade Não Imediata

32/308 10% .59

Intrafrástica

20/65 30% .95 Nível de Conectividade Interfrástica

24/347 7% .35

Afirmativa+Afirmativa

42/335 13% .57

Polaridade Afirmativa+Negativa

e Negativa+Afirmativa

2/77 2% .20

Simultânea

30/265 11% .52

Anti-icônica

5/48 10% .49

Sequência Temporal

Icônica 9/99 11% .42

Significância de Portanto vs. Conector zero = 0,01431

31 Step up em negrito.

96

Tabela 10 Portanto vs. Conector não-canônico

Grupos de Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/42 27% .64

O Globo 10/34 32% .57

Extra 6/48 12% .17

Periódicos

O Povo 16/35 48% .76

Crônicas 8/52 16% .23

Opinião 21/63 34% .66 Gêneros Discursivos

Editorial 15/44 33% .62

Presente 42/130 33% .59

Referência Temporal Não Presente

2/29 6% .15

Imediata

12/42 27% .45 Proximidade Não Imediata

32/117 29% .51

Intrafrástica

20/59 33% .59 Nível de Conectividade Interfrástica

24/100 25% .44

Afirmativa+Afirmativa

42/145 30% .53

Polaridade

Afirmativa+Negativa e

Negativa+Afirmativa

2/14 14% .20

Simultânea

30/116 26% .47

Anti-icônica

5/10 50% .84

Sequência Temporal

Icônica 9/33 33% .47

Significância de Portanto vs. Conector não-canônico = 0,000

97

Tabela 11 Portanto vs. Conector zero

Grupos de Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/164 7% .42

O Globo 10/125 8% .61

Periódicos Extra 6/54 11% .53

Crônicas 8/194 4% .40 Gêneros Discursivos Editorial 15/66 22% .82

Presente 42/324 13% .61 Referência Temporal Não-presente 2/88 2% .15

Imediata

12/104 11% .21 Proximidade Não-imediata

32/308 10% .60

Intrafrástica 20/65 30% .96

Nível de Conectividade Interfrástica 24/347 7% .34

Afirmativa+Afirmativa

42/335 13% .55

Polaridade Afirmativa+Negativa

e Negativa+Afirmativa

2/77 2% .29

Simultânea 30/265 11% .51

Anti-icônica 5/48 10% .62 Sequência Temporal

Icônica 9/99 11% .40

Significância de Portanto vs. Conector zero = 0,008

98

Tabela 12 Portanto vs. Conector não-canônico

Grupos de Fatores Apl./Total Percentagem Peso Relativo

Jornal do Brasil 12/43 27 .67

O Globo 11/34 32 .57 Periódicos

Extra 6/49 12 .35

Crônicas 9/53 16 .40 Gêneros Discursivos Editorial 15/45 33 .65

Presente 29/117 24 .58

Referência Temporal Não-Presente 2/29 6 .20

Imediata

9/41 21 .43 Proximidade Não-Imediata

22/105 20 .52

Intrafrástica 18/57 31 .68

Nível de Conectividade Interfrástica 13/89 14 .38

Afirmativa+Afirmativa

30/133 22 .53

Polaridade

Afirmativa+Negativa

e Negativa+Afirmativa

2/14 14 .19

Simultânea 22/110 20 .44

Anti-Icônica 5/10 50 .87

Sequência Temporal

Icônica 6/28 21 .54

Significância de Portanto vs. Conector não-canônico = 0,017

99

Relações das operações realizadas:

Em uma primeira rodada, analisamos um total de dez grupos de fatores.

Em uma segunda rodada, foram testados oito grupos de fatores. Foi retirado o grupo

de fatores posição do conector na sentença, e polaridade das orações com o fator

negativa+negativa; amalgamamos o grupo de sequência dos tempos verbais. O grupo de

fatores gênero/sexo não pode ser realizado porque no Editorial não tem autor identificado.

Na terceira rodada, portanto em relação a conectores não-canônicos, retiramos o

grupo de fatores proximidade e amalgamamos fatores dos grupos polaridade e sequência

temporal. Na rodada de portanto em relação ao conector zero retiramos o grupo de fatores da

co-referência de sujeito.

Na quarta rodada, testamos as variantes portanto e conectores não-canônicos. Aí

eliminamos grupo de fatores sequência temporal. No teste de portanto em relação ao conector

zero retiramos o grupo da co-referência de sujeito.

Na quinta rodada, inserimos grupo de fatores proximidade e amalgamamos fatores

do grupo sequência temporal.

Na sexta rodada amalgamamos fatores do grupo nível de conectividade e retiramos o

grupo de fatores referência temporal.

Na sétima rodada de portanto em relação a conectores não-canônicos, retiramos os

grupos de fatores proximidade e sequência temporal, e eliminamos o grupo de fatores nível de

conectividade. No teste de portanto em relação ao conector zero retiramos o grupo de fatores

proximidade; eliminamos o grupo de fatores nível de conectividade, e amalgamamos fatores

do grupo sequência temporal.

100

Houve uma segunda tentativa da sétima rodada onde foi retirada a variante portanto

do jornal O Povo gênero Opinião, com o objetivo de testar se a frequência da variante

portanto estaria afetando o resultado.

A oitava rodada foi melhor porque selecionou maior número de grupos de fatores e

apresentou a melhor significância. Nesta rodada eliminado o grupo de fatores da co-referência

de sujeito e reincidido o grupo de fatores referência temporal, proximidade; amalgamamos

fatores do nível de conectividade.

As rodadas que se seguiram não se mostraram relevantes.

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NUNES, Adriana Zanela. Conectores conclusivos em periódicos cariocas: uma visão variacionista. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2009, Dissertação de Mestrado em Linguística. RESUMO Este trabalho analisa a variação de uso dos conectores conclusivos explícitos e implícitos em textos escritos. Com base nos princípios da Sociolinguística Variacionista Laboviana e da linguística funcionalista. O corpus foi constituído da amostra de textos de jornais do Rio de janeiro, que pertencem ao banco de dados do projeto PEUL/UFRJ.

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NUNES, Adriana Zanela. Conectores conclusivos em periódicos cariocas: uma visão variacionista. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2009, Dissertação de Mestrado em Linguística. ABSTRACT This study analyses the variation use of explicit and not explicit conclusive connectives in written texts. Based on the principles of the variational sociolinguistics and of funcionalist linguistics principles. The corpus was constituted from the sample of texts from newspapers of Rio de Janeiro which belong to the data bank of PEUL/UFRJ project.