ufpr 2008 2f comentada historia

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www.dombosco.com.br/curso 1| Página HISTÓRIA — 2ª Fase ‐ UFPR/08 01 “Iremos ter em três dias um espetáculo magnífico, um combate, não de simples gladiadores, mas com inúmeros libertos. Titus, meu senhor, tem a alma grande [...]. Com ele é ferro puro, sem direito à fuga. No anfiteatro, vai ser uma carnificina linda de se ver, e ele tem dinheiro para isso.” (Discurso de Echion. PETRÔNIO. Satyricon. São Paulo: Brasiliense, 1985, cap. XLV.) Com base nos conhecimentos sobre a sociedade romana na Antiguidade, comente o contexto social que explica a adoção da política de “pão e circo” por Roma. 02 “Com o tempo, a Reforma desfecharia golpes bem rudes contra as curas régias. O poder taumatúrgico [poder milagroso] dos reis decorria de possuírem caráter sagrado; este era criado ou confirmado por uma cerimônia, a sagração, que constava das pompas da antiga religião. O protestantismo encarava com horror os milagres que a opinião comum atribuía aos santos. Os milagres atribuídos aos reis não lembravam muito de perto os milagres dos santos? [...] Mas não foi só por sua ação propriamente religiosa (talvez essa ação nem tenha sido a causa principal) que a Reforma colocou em perigo o velho respeito pelo poder medicinal dos reis. Desse ponto de vista, as conseqüências políticas da Reforma foram muito graves. Nas perturbações que desencadeou simultaneamente na Inglaterra e na França, os privilégios dos reis foram submetidos a um tremendo ataque; entre eles, estava o privilégio taumatúrgico.” (BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio. França e Inglaterra. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 225–226.) Tendo por base a mudança social mencionada no texto, analise as relações existentes entre religião e política na configuração do Estado Absolutista Moderno. 03 Considere o texto de Maraliz Christo e a imagem da pintura de Pedro Américo “Tiradentes Esquartejado”, de 1893. “O sentido da tela vagueia entre os dois extremos: da cabeça plena de significados positivos (o herói santificado) à materialidade cadavérica da coxa, dos ideais de liberdade à perversidade colonial, da eternidade à fragilidade humana. Ao pintar o esquartejamento, Pedro Américo entrou em choque com a visão ufanista do herói, que se opôs à sua exibição aos pedaços. Não sendo útil à construção do mito republicano, o quadro não circulou como imagem, reproduzido em gravuras ou fotografias. “Tiradentes Esquartejado” só passou a ser conhecido pelo grande público depois de 1969, ilustrando enciclopédias. Hoje, a tela é interpretada apenas como denúncia da repressão colonial.” (CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. A imagem da capa. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Ano 2, nº 19, abril de 2007, p. 4.) Na prova de História da primeira fase, abordouse a apropriação da figura do mártir da Inconfidência tanto pelos partidários à esquerda quanto pelos partidários à direita no espectro político nacional. Com base na interpretação do texto e da imagem “Tiradentes Esquartejado”, comente as possibilidades de leitura do mito Tiradentes. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O Estado Absolutista Moderno consistiu em uma estrutura voltada para a centralização do poder político nas mãos dos reis, estrutura essa contrária à descentralização política vigente no mundo feudal. Nesse contexto, havia necessidade de um embasamento ideológico e filosófico que sustentasse o absolutismo. Eram teorias de diversas naturezas, inclusive religiosa, como a doutrina do “Direito Divino dos Reis”, sintetizada por Jacques Bossuet, a partir de uma interpretação parcial da Bíblia. Esta teoria pregava que o rei possuía uma natureza especial, embora não divina em si mesma, que o colocava acima dos demais homens, como um eleito, um homem ungido pelo poder do próprio Deus para governar os demais. Outra relação a se fazer entre religião e política na configuração do Estado Absolutista foi a propiciada pela Reforma Religiosa, tanto com a ruptura por parte de alguns governantes com a Igreja, como, por exemplo, o caso da Inglaterra, quanto ao fortalecimento do culto católico, como ocorreu na França, Espanha e Portugal. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O “Pão e Circo” foi uma política adotada em Roma, tanto no período da República quanto do Império, que consistia em entreter o povo com diversão e distribuição de alimentos, a fim de afastar suas atenções dos problemas reais que enfrentavam no diaadia. Era uma política particularmente útil em períodos de crise, quando as tensões sociais atingiam níveis críticos. Fenômenos como o da expansão territorial do período republicano servem para ilustrar esta conjuntura, uma vez que as guerras de conquista elevaram a disponibilidade de mãodeobra escrava, inclusive baixandolhe o preço. Essa conjuntura provocou desemprego nas zonas rurais, estimulando o êxodo. Conseqüentemente, nas zonas urbanas, a massa de desempregados se acotovelava nas ruas, fomentando a instabilidade social e acirrando a luta de classes. Nesse contexto, a política “pão e circo” tornouse a prática do governo para amenizar e, até mesmo neutralizar, tensões sociais.

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  HISTÓRIA — 2ª Fase ‐ UFPR/08 

  

01 ‐ “Iremos ter em três dias um espetáculo magnífico, um combate, não de simples gladiadores, mas com inúmeros libertos. Titus, meu senhor, tem a alma grande [...]. Com ele é ferro puro, sem direito à fuga. No anfiteatro, vai ser uma carnificina linda de se ver, e ele tem dinheiro para isso.” 

(Discurso de Echion. PETRÔNIO. Satyricon. São Paulo: Brasiliense, 1985, cap. XLV.) Com base nos conhecimentos sobre a sociedade romana na Antiguidade, comente o contexto social que explica a adoção da política de “pão e circo” por Roma.  

 

02 ‐ “Com o tempo, a Reforma desfecharia golpes bem rudes contra as curas régias. O poder taumatúrgico [poder milagroso] dos reis decorria de possuírem  caráter  sagrado;  este  era  criado  ou  confirmado  por  uma  cerimônia,  a  sagração,  que  constava  das  pompas  da  antiga  religião. O protestantismo encarava com horror os milagres que a opinião comum atribuía aos santos. Os milagres atribuídos aos reis não lembravam muito de perto os milagres dos santos? [...] Mas não foi só por sua ação propriamente religiosa (talvez essa ação nem tenha sido a causa principal) que a Reforma colocou em perigo o velho respeito pelo poder medicinal dos reis. Desse ponto de vista, as conseqüências políticas da Reforma foram muito graves. Nas perturbações que desencadeou  simultaneamente na  Inglaterra e na França, os privilégios dos  reis  foram  submetidos a um tremendo ataque; entre eles, estava o privilégio taumatúrgico.” 

(BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio. França e Inglaterra. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 225–226.) Tendo  por  base  a mudança  social mencionada  no  texto,  analise  as  relações  existentes  entre  religião  e  política  na  configuração  do  Estado Absolutista Moderno.  

  03 ‐ Considere o texto de Maraliz Christo e a imagem da pintura de Pedro Américo “Tiradentes Esquartejado”, de 1893.  “O  sentido  da  tela  vagueia  entre  os  dois  extremos:  da  cabeça  plena  de  significados  positivos  (o  herói santificado) à materialidade cadavérica da coxa, dos  ideais de  liberdade à perversidade colonial, da eternidade à fragilidade humana. Ao pintar o esquartejamento, Pedro Américo entrou em choque com a visão ufanista do herói, que se opôs à sua exibição aos pedaços. Não sendo útil à construção do mito republicano, o quadro não circulou como imagem, reproduzido em gravuras ou fotografias. “Tiradentes Esquartejado” só passou a ser conhecido pelo grande público depois de 1969,  ilustrando enciclopédias. Hoje, a  tela é  interpretada apenas  como denúncia da repressão colonial.” 

(CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. A imagem da capa. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Ano 2, nº 19, abril de 2007, p. 4.) 

  Na prova de História da primeira  fase, abordou‐se a apropriação da  figura do mártir da  Inconfidência  tanto pelos  partidários  à  esquerda  quanto  pelos  partidários  à  direita  no  espectro  político  nacional.  Com  base  na interpretação  do  texto  e  da  imagem  “Tiradentes  Esquartejado”,  comente  as  possibilidades  de  leitura  do mito Tiradentes.  

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   O Estado Absolutista Moderno consistiu em uma estrutura voltada para a centralização do poder político nas mãos dos reis, estrutura essa contrária à descentralização política vigente no mundo feudal. Nesse contexto, havia necessidade de um embasamento ideológico e filosófico que sustentasse o absolutismo. Eram teorias de diversas naturezas,  inclusive religiosa, como a doutrina do “Direito Divino dos Reis”, sintetizada por Jacques Bossuet, a partir de uma interpretação parcial da Bíblia. Esta teoria pregava que o rei possuía uma natureza especial, embora não divina em si mesma, que o colocava acima dos demais homens, como um eleito, um homem ungido pelo poder do próprio Deus  para  governar  os  demais. Outra  relação  a  se  fazer  entre  religião  e  política  na  configuração  do  Estado  Absolutista  foi  a propiciada pela Reforma Religiosa,  tanto  com a  ruptura por parte de  alguns  governantes  com a  Igreja,  como, por  exemplo, o  caso da Inglaterra, quanto ao fortalecimento do culto católico, como ocorreu na França, Espanha e Portugal. 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:  O “Pão e Circo” foi uma política adotada em Roma, tanto no período da República quanto do  Império, que consistia em entreter o povo com diversão e distribuição de alimentos, a fim de afastar suas atenções dos problemas reais que enfrentavam no dia‐a‐dia. Era uma política particularmente útil em períodos de  crise, quando as  tensões  sociais atingiam níveis  críticos. Fenômenos  como o da expansão territorial do período republicano servem para ilustrar esta conjuntura, uma vez que as guerras de conquista elevaram a disponibilidade de mão‐de‐obra  escrava,  inclusive  baixando‐lhe  o  preço.  Essa  conjuntura  provocou  desemprego  nas  zonas  rurais,  estimulando  o  êxodo. Conseqüentemente, nas zonas urbanas, a massa de desempregados se acotovelava nas ruas, fomentando a instabilidade social e acirrando a luta de classes. Nesse contexto, a política “pão e circo” tornou‐se a prática do governo para amenizar e, até mesmo neutralizar, tensões sociais. 

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  O texto a seguir é referência para as questões 04 a 06.   “Não era,  com  certeza, uma  tarefa  simples. Acomodar na  cidade do Rio de  Janeiro o príncipe  regente e  seu  séqüito  significava encontrar, num  curto espaço de tempo,  locais suficientes para hospedar de 12 a 15 mil pessoas. Mas o primeiro  intendente de polícia, Paulo Fernandes Viana, a desempenhou com habilidade, em virtude dos amplos poderes que  lhe eram atribuídos. Coube a ele garantir o cumprimento da  lei das aposentadorias, que obrigava aquele que tivesse sua casa marcada com as letras PR, isto é, ‘Príncipe Regente’ (ou, como interpretava o povo, ‘Ponha‐se na Rua’ ou ainda ‘Prédio Roubado’), a entregar o imóvel para acomodação dos recém‐chegados.” 

(MIRANDA, A. P. e LAGE, L. Da polícia do rei à polícia do cidadão. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Ano 3, nº 25, outubro de 2007, p. 44.)  04 ‐ Descreva duas mudanças no cotidiano da cidade do Rio de Janeiro com a chegada da família real e de seu séqüito.  

  05  ‐ É  razoável afirmar que desde a  chegada da Corte portuguesa ao Brasil discute‐se o papel da polícia em nossa  sociedade. Assim, a partir da  “habilidade” revelada pelo primeiro intendente de polícia, Paulo Fernandes Viana, assinale as características que estavam na origem das instituições policiais brasileiras e que se reproduziram durante o Brasil republicano.  

  06 ‐ Considerando o estudo da História do Brasil, caracterize, a partir de meados do século XX, um momento em que a sociedade brasileira buscou reestruturar o papel social do aparato policial nacional concebido à época do intendente Paulo Fernandes Viana.  

  07  ‐  “Cabe  lembrar que  as  reivindicações  trabalhistas, quando  foram  atendidas,  já  tinham uma história de muitas  lutas nesses países:  são  as  conquistas dos trabalhadores,  e não  a política populista, o que os  governantes  atuais da América  Latina  estão destruindo. Preocupados  com  a  ‘modernização’, que  significa possibilidade de competição no  jogo da economia globalizada,  relegam os problemas  sociais a um plano secundário.  [...] Neste contexto, alguns opositores do ‘Neoliberalismo’ se tornam nostálgicos; incapazes de acreditar em novas formas de democracia e justiça social, lamentam o fim dos regimes ‘populistas’. A estes, cabe indagar: não haverá melhor caminho para a democracia latino‐americana do que a tentativa de preservar a ‘cidadania controlada’ introduzida nesses regimes? A resposta talvez esteja no desafio de  ‘invenção da democracia’  [que] pode constituir um exercício mais estimulante do que viver a reboque daquele passado, que, junto com a legislação social, nos legou uma cultura política eficiente no que se refere a novas formas de controle social, mas ineficiente em relação à construção de uma democracia plena e justa.” 

(CAPELATO, Maria Helena Rolim. Populismo latino‐americano em discussão. In FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 165.) 

a) Cite e caracterize um exemplo de regime populista na América Latina entre os anos 1940 e 1970. b) Com base na caracterização elaborada, comente por que alguns atores sociais tendem a identificar elementos do populismo na política de alguns países latino‐americanos neste início do século XXI.  

 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Tiradentes foi alçado à condição de herói em momento de conveniência política. Quando visto sob a ótica da sociedade colonial, da qual fez parte, as posturas oficiais trataram‐no como o mais desprezível dos seres, amaldiçoado por sucessivas gerações. Tiradentes era mulato e pobre, sem meios de se defender da  sanha do poder central. Os demais acusados da  sedição, por outro  lado, possuíam dinheiro e  reputações  consolidadas. Sua morte brutal serviu  de  castigo  exemplar  e,  ao mesmo  tempo,  poupou  a  vida  de  outros  figurões.  Interpretá‐lo  como  herói  convinha  ao  período  da  consolidação republicana, pois esta mesma idéia republicana carecia de legitimidade na suposta luta da “liberdade” contra a “opressão” imperial. Assim, de réprobo à mártir da causa da Liberdade, Tiradentes é um mito que se constrói a cada momento em função do que determina o meio sócio‐político. 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   A ocupação de prédios na  região  central da  cidade,  citada no  texto,  foi um  transtorno  acentuado pela  repentina  chegada de  todo o  fausto  e  a ostentação da corte, o pomposo cerimonial do dia‐a‐dia da família real, com seu caráter aristocrático a contrastar com a simplicidade do gentio, o desfile constante de autoridades e gente importante, todos estes exemplos alteraram profundamente o cotidiano carioca.  

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   A principal função da polícia foi, como se percebe desde o princípio, a da proteção da elite. A própria criação da Guarda Nacional e sua utilização a partir de então serve de exemplo para se compreender como a milícia, ainda que formalmente constituída por um poder supostamente comprometido com os interesses populares, menos garante a segurança da população e mais defende os interesses da nata que a sustenta. Não apenas na formação e atuação da polícia, mas também na concepção da estrutura  jurídica o Brasil se revela patrimonialista e elitista. O Direito Penal brasileiro, que pune os desvios de conduta  e  define  os  crimes,  é  “reservado”  aos  pobres.  Isto  se  exemplifica  pela  triste  impressão  de  impunidade  que  perpassa  a  todos  nós  quando  o criminoso é rico, contrastando com a severidade das punições aplicadas quando o criminoso é pobre.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:    O fim da República Velha, o advento da Era Vargas e a conseqüente salvaguarda dos interesses da classe trabalhadora, até então reprimida pelo aparato policial, forçou um primeiro episódio de releitura da função social do aparato policial. Certo retrocesso pode ser percebido durante os episódios de ditadura da história do Brasil  (1937 – 1945 e 1964 – 1985), quando o aparato policial voltou a atuar em  franca defesa dos  interesses da elite política situacionista. Impulso definitivo  foi dado a partir da  redemocratização do país, a partir de 1985, culminando com a promulgação da Constituição Federal de 1988, dita “Constituição Cidadã”, mundialmente famosa por consolidar em seu texto os direitos humanos e dispositivos eficientes contra os abusos de poder por parte do governo e, conseqüentemente, da polícia.  

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   a) O populismo pode  ser definido politicamente  como um ordenamento político  voltado para  a manipulação  e  controlador das massas  trabalhistas, baseado na concessão de direitos às camadas populares, com o objetivo de neutralizar suas ações reivindicatórias, fazendo‐a sentir‐se como parte do poder. É,  em  suma,  uma  política  eleitoreira  e  paternalista,  amplamente  calcada  no  apoio  popular  que,  via  de  regra,  se  cristaliza  na  figura  de  um  governante carismático. De posse deste apoio amplo dos setores populares, é comum encontrar  líderes que manipulam as  instituições políticas no sentido de ampliar seus  poderes  pessoais. Na América  Latina,  temos  Juan  Perón  (na Argentina),  Lázaro  Cárdenas  (no México), Getúlio Vargas,  Juscelino  Kubitschek  e  Jânio Quadros (no Brasil) como exemplos mais representativos do período.      b) Casos como os dos presidentes Evo Morales (da Bolívia), Hugo Chaves (do Venezuela) e, no entender de alguns, Luís  Inácio Lula da Silva (Brasil) são citados como exemplos de um “populismo moderno”, porque reúnem características fundamentais do populismo tradicional, a saber: apelo ao apoio popular, política  oficial  paternalista  e  assistencialista, manipulação  das  instituições  políticas  pelo  líder  carismático  com  vistas  à  expansão  do  poder  pessoal  do 

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08 ‐ “A comédia também é benéfica porque permite o exame de assuntos sérios – mas freqüentemente desconfortáveis – em um fórum mais confortável. Entre outras  coisas, Os Simpsons  têm abordado assuntos  relevantes,  como  racismo,  relações entre os  sexos opostos, política pública e defesa do ambiente.  [...] Na maioria dos casos, a comédia pode dirigir a atenção das pessoas para um tema, e até mesmo oferecer uma opinião sobre ele, sem incitar muito antagonismo ou parecer muito pesada.” 

(MACMAHON, Jennifer L. A função da ficção: o valor heurístico de Homer. In: IRWIN, Willian; CONARD, Mark T. e SKOBLE, Aeon J. Os Simpsons e a filosofia. São Paulo: Madras, 2005.) Tendo por base a abordagem do seriado Os Simpsons, apresente e discuta um outro exemplo de produção cultural (filme, periódico, programa, etc.) marcado por essa relação entre comédia e crítica social.  

  09 ‐ O trecho a seguir reproduz algumas observações registradas durante a celebração do 90º aniversário do consagrado historiador Eric Hobsbawm.      “Seu objetivo, escreve, é ajudar os jovens ‘a enfrentarem as perspectivas sombrias do século 21... com o pessimismo necessário’. Seu prognóstico certamente não  é  animador.  Ele  fala  da  ‘extraordinária  instabilidade  da  nova  economia  global’.  O  novo  imperialismo  americano  está  fadado  ao  fracasso.  Ele  teme desigualdades econômicas mais pronunciadas dentro de nações e um aumento da xenofobia no Ocidente, e consegue ver pouco futuro na política verde porque ‘ela só tem apelo para pessoas prósperas’.” 

(LAITY, Paul. Lições do paladino da persuasão. In: O Estado de S. Paulo, Caderno 2, set. 2007, p. D2.) Tendo por base as palavras de Hobsbawm e o contexto social deste início de século, demonstre de que forma os indícios mencionados pelo historiador justificam a projeção de perspectivas sombrias para o século 21.  

  10 ‐ “A filósofa Marilena Chauí aponta um fenômeno cada vez mais comum na mídia: a relevância dada a preferências pessoais (que música gosta, que filme viu, que perfume usa, que viagem fez) em detrimento da colocação de idéias e reflexões quando se dá espaço ao ‘debate público’. [...] O papel de refletir e pensar é usurpado pelos  ‘formadores de opinião’ – analistas, acadêmicos, artistas,  jornalistas. O  jornalismo  se  torna o detentor das plausibilidades, e os  intelectuais, o operariado do capital. O especialista é aquele que ensina a viver, a decorar a casa, a cozinhar, a fazer sexo, a educar, o que faz do comunicador o formador final da opinião pública.”  

(Mídia sufoca pluralidade e suprime pensamento crítico. Disponível em http://www.agenciacartamaior.com.br, acessado em 14 nov. 2007.) Situada no calor do debate Mídia e Democracia no Brasil, evento ocorrido na cidade de Salvador entre os dias 12 e 14 de novembro deste ano, a abordagem de Marilena Chauí assinala a  imposição da  imprensa brasileira  como porta‐voz definitiva da  chamada  “opinião pública”. Reflita  sobre  essa análise que destaca a preponderância  dos  “formadores  de  opinião”  em  detrimento  do  pensamento  crítico,  analisando  exemplos  da  mídia  brasileira  para  fundamentar  sua argumentação.  

 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Produções como “O Auto da Compadecida”, o filme “Se Eu Fosse Você”, a mini‐série “Cidade dos Homens” e o programa “Casseta e Planeta” podem ser  interpretados  como  exemplos  pertinentes. Ainda  que mesclem  elementos  dramáticos,  todas  tratam  de  temas  potencialmente  polêmicos,  como  a política nacional, o relacionamento entre homens e mulheres, a violência, o tráfico de drogas, a miséria e a religiosidade com uma dose de ingenuidade e bom humor, o que torna estes temas mais palatáveis. Não se trata, no entanto, de uma novidade na produção cultural brasileira. 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Hobsbawm  aponta  para  uma  lacuna  surpreendentemente  grande  das  posturas  “politicamente  corretas”,  enunciadas  hoje  como  soluções  para  as mazelas: a miséria. Não há, ou parece não haver, ampla divulgação ou mesmo  interesses organizados em  combater a miséria endêmica da  civilização ocidental e a gravíssima falha dos sistemas de distribuição de renda do mundo capitalista. A sociedade ocidental parece ter absorvido a má distribuição de renda como algo “natural” e um “mal necessário” do mundo globalizado, e não se discutem, nas pautas governamentais, estratégias para combater de forma sustentável a miséria e seus conseqüentes óbvios. Maior destaque recebem as políticas ambientais, o aumento do consumo, a crise energética, mas sem  atentar para  o  fato de que  a miséria  é,  ao mesmo  tempo,  causa  e  conseqüência  de  todos  estes  fenômenos. Destaque‐se  ainda,  as  perspectivas sombrias de um mundo globalizado, no qual os valores da cultura dos países ricos, sobretudo dos Estados Unidos, tornam‐se padrão cultural  imposto e absorvido cada vez mais pela humanidade. 

SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Longo debate já foi travado a respeito da capacidade da mídia em formar opinião. Há quem chame a mídia de “quarto poder”. Especializada em dar credibilidade à informação, ela sufoca a dúvida, elemento gerador de qualquer discussão e argumentação. Não há debate se não houver dúvida, e a mídia contemporânea especializou‐se em sufocar a dúvida; sufoca, portanto, o debate, a discussão, a argumentação. Boa parte da mídia preocupa‐se com os “receituários de vida”, determinando valores e comportamentos padrões a serem seguidos. Os noticiários, emitidos de forma lacônica e revestidos de tons emocionais, direcionam o público para os  interesses  aos quais os  instrumentos da mídia  estão  a  serviço. A  superexposição do público  às notícias dos “escândalos de corrupção do governo”, por exemplo, foram determinantes para a formação da opinião pública sobre a política e seu conteúdo, ainda que a política seja um domínio extremamente complexo da Filosofia, para além do senso comum. A mídia e seu senso comum “embalado para presente” são, portanto, um dos vetores do mal da alienação na sociedade contemporânea.