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Teresina2019

ORGANIZADORES

FRANCISCO DE ASSIS RIBEIRO DOS SANTOSCLÁUDIA ELENA CARNEIRO

PINDORAMA

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FICHA CATALOGRÁFICAUniversidade Federal do Piauí

Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello BrancoServiço de Processamento Técnico

Copyright © 2019 by Francisco de Assis Ribeiro dos Santos & Cláudia Elena CarneiroProjeto gráfico, capa do livro e editoração eletrônica: Ericson PeresRevisão de provas: Francisco de Assis Ribeiro dos SantosNormalização bibliográfica: Francisco de Assis Ribeiro dos SantosRevisão textual: Francisco Cezar Rosa Ribeiro & Francisco Fábio Pinheiro de Vasconcelos

P648 Pindorama / organizadores, Francisco de Assis Ribeiro dos Santos, Cláudia Elena Carneiro. – Teresina : EDUFPI, 2019.

167 p.

ISBN 978-85-509-0518-1 Modo de acesso: https://www.ufpi.br/e-book-edufpi

1. Apicultura. 2. Arecaceae. 3. Nordeste. 4. Palinologia. 5. Palmeiras. I. Santos, Francisco de Assis Ribeiro dos. II. Carneiro, Cláudia Elena.

CDD 638.1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍReitor: José Arimatéia Dantas Lopes

Vice-Reitora: Nadir do Nascimento NogueiraSuperintendente de Comunicação Social: Jacqueline Lima Dourado

Editor: Ricardo Alaggio RibeiroConselho Editorial: Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente), Acácio Salvador Veras e

Silva, Antonio Fonseca dos Santos Neto, Wilson Seraine da Silva Filho, Gustavo FortesSaid, Nelson Nery Costa e Viriato Campelo

Editora da Universidade Federal do Piauí - EDUFPICampus Universitário Ministro Petrônio Portella

CEP: 64049-550 - Bairro Ininga - Teresina - PI - BrasilTodos os direitos reservados

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Rede Pindorama

Esta publicação é uma súmula dos principais estudos que os pesquisadores da Rede Pindorama e seus associados produziram ao longo do último período. São estudos aprofundados sobre vários aspectos das palmeiras que são o principal foco de estudo da Rede. A maior parte dos estudos en-volve aspectos da biologia do pólen e sua interação com as abelhas; caracterização das fibras dos frutos e folhas de algumas espécies; e caracterização das principais pragas, especialmente insetos (Coleoptera) e fungos (Ascomycota).

Os estudos da Rede Pindorama contaram com a participação de mais de 50 pesquisadores e 45 estudantes que direta ou indiretamente participaram das atividades de pesquisas dos cinco prin-cipais projetos que a constituem coletivamente. A Rede é fruto de uma indução do Governo Federal pela “Chamada MCTI/CNPq/FNDCT Ação Transversal Nº 79/2013” do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (#407717/2013-7). Assim, esta rede é vinculada à Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).

A maior parte dos pesquisadores e estudantes que se congregaram à Rede Pindorama é de uni-versidades de diferentes estados do Nordestes. Assim os cinco principais projetos da Rede tiveram envolvimento das seguintes universidades: UEMA – Universidade Estadual do Maranhão, UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, UFAL – Universidade Federal de Alagoas, UFBA – Universidade Federal da Bahia, UFPI – Universidade Federal do Piauí, UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFS – Universidade Federal de Sergipe e UNEB – Universidade do Estado da Bahia. A única instituição de ensino com atuação exclu-siva na Escola Básica foi a EFA – Escola Família Agrícola de Jaboticaba (Secretaria Estadual de Educa-ção, Bahia), instituição que se destaca ante aos seus estudos associados ao licuri (Syagrus coranata).

Houve também uma convergência de pesquisadores de diferentes institutos de ensino e pesquisa para a temática do estudo das palmeiras, entre os quais estão: CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – Estação Experimental Lemos Maia (Bahia), EMBRAPA Tabuleiros Costeiros – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Alagoas e Sergipe), EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte, IESM – Instituto de Ensino Superior Múltiplo (Maranhão), IF Baiano – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, e IFPB – Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Paraíba. Associado à rede, também está o MBC – Montgomery Botanical Center (Miami, USA) que gentilmente possibilitou a participação do Dr. Larry Noblick, um dos prin-cipais conhecedores das espécies de Arecaceae do Brasil e que assessorou os pesquisadores além de dar grande contribuição com a lista das espécies que ocorrem no Nordeste.

Essa Rede Pindorama, cujo nome foi inspirado no nome tupi-guarani do Brasil e que significa terra das palmeiras, é, portanto, uma iniciativa de ampliar o conhecimento dos recursos que essas plantas disponibilizam, e também as possibilidades de usos dos resíduos que podem por elas serem gerados. A Rede é apenas um “despertar” para um grupo de plantas que quem além do significado histórico, tem um importante papel na fisionomia de várias áreas do Nordeste e também importân-cia sócio-econômica para várias comunidades e até cidades.

Francisco de Assis Ribeiro dos SantosCoordenador da Rede Pindorama

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Sumário

O licuri (Syagrus coronata) e a Educação do Campo das EFA movimentando a práxis da juventude camponesa no Semiárido

O gênero Attalea na Bahia: diversidade, utilização e potencialidade

Aproveitamento de resíduos em Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae) através da análise micrométrica das fibras do fruto e da folha

Qualificação das fibras do pericarpo do fruto de Attalea funifera Mart. e Elaeis guineensis Jacq. para indicação de uso sustentável de seus resíduos

O pólen de piaçava (Attalea funifera Mart.), dendê (Elaeis guineensis Jacq.) e licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.), do litoral sul da Bahia

Potencial das palmeiras para a produção de pólen apícola: Foco na Costa do Dendê, litoral da Bahia

Potencial das áreas da palmeira do Buriti (Mauritia flexuosa L. f.) para a produção de pólen apícola na região Meio Norte do Brasil

Pólen apícola das matas de babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.): potencial produtivo e protéico

Identidade Biológica Química e Molecular do Pólen Apícola Monofloral de Palmeiras (Arecaceae) do Nordeste do Brasil

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Teor de minerais no pólen apícola de coqueiro (Cocos nucifera L.) e dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.)

Análise da viabilidade produtiva e econômica de quatro espécies de palmeiras para produção de pólen apícola monofloral no Nordeste brasileiro

Euterpe oleracea Mart. e Elaeis guineensis Jacq. (Arecaceae): Novos hospedeiros para o registro de ocorrência de microfungos (Ascomycota) no Brasil

Controle do ácaro-da-necrose Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae) em coqueiro

Coleópteros associados a palmeiras na região Sul da Bahia

Ocorrência de Rhynchophorus palmarum (L.) (Coleoptera: Curculionidae) em Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore numa área do Piauí

Uso de barreira mecânica no controle de Rhinostomus barbirostris (F.) (Coleoptera: Curculionidae) em coqueiro

Autores

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As Escolas Famílias Agrícolas (EFA) do Sertão (Monte Santo – BA) e de Jaboticaba (Quixabeira – BA), estão inseridas no bioma Caatinga e adotam o complexo temático do licuri, Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Are-caceae). Para lograr êxito em seus processos educativos, assumem os princípios da educação do campo no contexto do semiárido: trabalho enquanto princípio educativo, regime de alternância e educação por meio da pesquisa; ancoradas na aproximação e diálogo permanente entre estudantes, comunidades, professo-res e formação técnica contextualizada, formando sujeitos para a práxis necessária à transformação social, a partir do engajamento e fortalecimento de iniciativas comunitárias de convivência com o semiárido. Nesse contexto, promovem a valorização socioeconômica e ambiental do licuri, enquanto agroextrativis-mo sustentável, gerador de emprego e renda, associado à conservação dos recursos naturais existentes. Tem-se como resultado desse trabalho um amplo processo de desenvolvimento do território sertanejo se materializando na construção de leis municipais de defesa e uso dos licurizais, coparticipação em eventos regionais consolidados como a Festa do Licuri, em sua 11a versão em 2018, implantação de unidade de pro-dução de mudas e de beneficiamento do licuri com extração de óleo, além de rede de parceiros no campo acadêmico como o IF Baiano, UEFS e UFRB.

(EFAJ), no município de Quixabeira – BA, Terri-tório Bacia do Jacuípe, e na Escola Família Agrí-cola do Sertão (Efase), no município de Monte Santo – BA, Território do Sisal; ambas as insti-tuições comunitárias criadas por associações de agricultores familiares e que desenvolvem um projeto educativo voltado para as demandas e especificidades da juventude do campo destes territórios.

Para tanto, as EFA têm suas bases metodoló-gicas calcadas em uma educação que se orienta em regime de alternância, no qual parte do currí-culo se desenrola no espaço escolar e outra parte nas comunidades rurais das quais os alunos são oriundos, formando uma inteireza que integra os espaços da escola e da comunidade em um contínuo formativo. A formação profissional em agropecuária se desenvolve juntamente com o ensino médio e as duas escolas mantêm suas atividades formando técnicos em agropecuária e desenvolvendo formas de articulação política do campesinato sertanejo há mais de duas déca-das no estado da Bahia.

A EFAJ e a Efase somam esforços para a for-mação técnico-política da juventude camponesa por meio de duas redes de EFA na Bahia: a Rede

O licuri (Syagrus coronata) e a Educação do Campo das EFA movimentando a práxis da juventude camponesa no Semiárido

Aurélio José Antunes de Carvalho, Gabriel Troilo, Nelson de Jesus Lopes, Iracema Lima dos Santos & Marcio Harrison dos Santos Ferreira

A origem da relação EFA × Licuri

No sertão da Bahia, a educação do campo se estrutura em estreita conexão com as formas de resistência camponesa por meio das estratégias de convivência com o Semiárido. No presen-te capítulo, será apresentado o licuri, Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Arecaceae), enquanto complexo temático, na educação do campo do sertão baiano. Parte-se da necessidade do mane-jo sustentável e valorização dos múltiplos usos dessa palmeira, considerada uma importante la-voura xerófila (Duque 2003; Carvalho, Ferreira, Alves 2014; Carvalho, Ferreira 2015), estratégica para o enfrentamento da mudança climática no Semiárido brasileiro (Rodrigues et al. 2015; Car-valho et al. 2016) e importante patrimônio bio-cultural (sensu Toledo & Barreira-Bassols 2015) dos povos do sertão (Projeto de Lei 21.135/2015, cf. Bahia, 2017).

Os complexos temáticos orientam práticas pedagógicas que integram diversas disciplinas e campo de saberes, dentro do contexto de neces-sário engajamento de sujeitos e transformação da realidade (Pistrak 2003; Freire 2009). Aqui, apresenta-se o uso do complexo temático do li-curi na Escola Família Agrícola de Jaboticaba

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das Escolas Famílias Agrícolas do Semiárido (Refaisa) e a Associação das Escolas das Comuni-dades e Famílias Agrícolas da Bahia (Aecofaba). Ambas estão imersas numa realidade social que expressa um conjunto de desafios, como a luta pela permanência nos territórios e pela manu-tenção de modos de vida tradicionais.

As EFA tiveram sua origem na França na década de 1930, chegando ao Brasil nos anosda década de 1960, trazidas por padres italianos. Surgem como parte dessas lutas, sendo criadas sob influência de trabalhos de base da Igreja Ca-tólica, inspirados na teologia da libertação (e.g., Sofiati 2012) e no pensamento de Paulo Freire (e.g., Freire 1983; Freire 2009). Nascem da luta dos agricultores camponeses pela terra, pela água e produção sob bases agroecológicas. A Efase é exemplo deste processo pelo fato de estar instalada e desenvolver suas atividades dentro de duas comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, endêmicas do estado da Bahia, que desen-volvem historicamente formas de resistência pela manutenção de seus territórios.

Por meio deste debate, tentaremos a se-guir expor a relação entre a educação do cam-po promovida pelas EFA e a práxis da juventu-de camponesa na construção das estratégias de convivência com o Semiárido e conservação da Caatinga, dando atenção especial ao agroextra-tivismo sustentável do licuri.

Antecedentes: Um olhar sobre os projetos políticos pedagógicos das EFA

Orso (2008) reconhece que o papel da edu-cação na sociedade pode ser o de apenas repro-duzir as condições em que ela está inserida, compondo-se mais como forma de adestramen-to, disciplinarização e treinamento dos indiví-duos, ou pode ser transformadora, compondo-se como meio de transformação social. Levando em conta a primeira forma, que na sociedade capi-talista se configura na educação formal dos su-jeitos como única e legítima formação técnica--político-profissional, encontramos um objetivo primordial da educação: incluir os sujeitos como força de trabalho, explorada no processo produ-tivo dominante.

Ao se tratar da educação da juventude do campo, este processo é ainda mais perverso, pois a formação em nível médio, empreendida pelo Estado, e que é oferecida em espaços urba-nos, a qual os jovens do campo têm acesso, ou se

mostra diretamente atrelada às demandas da cidade, por força de trabalho pouco qualificada para ser facilmente explorada, ou, quando tem caráter técnico-profissionalizante, acaba for-mando força de trabalho demandada pelo agro-negócio. Nestas condições, os objetivos da edu-cação formal, essencialmente urbanocêntrica e tecnicista, tornam-se bastante claros: castrar o potencial criativo, socializador e de resistência do jovem do campo e retirar toda e qualquer pos-sibilidade de valorização dos saberes existentes em seus territórios.

Em contraposição a tal processo, os movi-mentos sociais do campo e uma série de enti-dades e instituições de ensino têm lutado para construir uma educação que vá ao encontro das demandas de desenvolvimento do campo e ge-rem identidade dos sujeitos com seu modo de vida (Caldart 2004). Dentre os princípios e prá-ticas gestadas pela educação do campo há fortes elementos trazidos da educação popular: a for-mação política pelo avanço de uma consciência crítica da realidade vivida e a identificação da situação de opressão, a fim de identificar suas causas e possibilidades de superação.

Por sua vez, Freire (1987) nos ensina que a educação realmente transformadora tem a tare-fa de gerar um processo de avanço da consciên-cia crítica dos sujeitos através de uma consciên-cia histórica e, assim, tornar os sujeitos capazes de compreender os problemas de seu espaço e de seu tempo e saber agir na transformação dos mesmos. Por outro lado, ressalta-se que o ponto de partida metodológico da pedagogia histórico--crítica (e.g., Saviani 2012; Saviani 2016), inter-mediado pela problematização, instrumentali-zação e catarse, não é a preparação dos alunos, cuja iniciativa é do professor (pedagogia tradi-cional), nem a atividade, que é de iniciativa dos alunos (pedagogia nova), mas é a prática social (primeiro passo), que é comum a professores e alunos, compreendida, assim, como ponto de partida na educação do campo (Basso et al. 2016).

As experiências de formação profissional e política dos jovens do campo, empreendidas pelas EFA no semiárido nordestino, têm cami-nhado a partir destas perspectivas. A partir de uma proposta de educação integral, de caráter transformador e diretamente ligada às deman-das das comunidades sertanejas, as Escolas Fa-mílias Agrícolas do semiárido têm construído um forte enfrentamento de classe no campo da formação. As EFA são forjadas na organicidade da pedagogia da alternância, como projeto edu-cativo cujo propósito central é a aproximação da escola às comunidades rurais.

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Desse modo, na estrutura educativa da al-ternância, a todo momento, teoria e prática dia-logam, pedagogicamente, ampliando o ambien-te educativo para além da sala de aula e dos am-bientes de atividades práticas. A comunidade e o meio social como um todo se tornam ambientes educativos, onde o estudante alterna suas ativi-dades de aprendizado em tempos definidos para educação integral na escola, o “tempo escola”, e para realização de atividades nas comunidades, o “tempo comunidade” (Nosella 2012).

Um importante aspecto fundante das EFA é a aprendizagem por meio do trabalho, que é rotina cotidiana no espaço escolar. O trabalho está presente em todos os momentos e espaços educativos das EFA, seja no desenvolvimento das técnicas de produção do campo, seja na or-ganização social e política, com práticas inseri-das em todas as atividades laborais da escola, di-vidida em setores produtivos como horticultura, apicultura, caprinocultura e ovinocultura, além da parte de bovinos e aves; e atuando no zelo e cuidado com o ambiente escolar.

A esse respeito, trazemos a reflexão de Pis-trak (1987) sobre o trabalho como princípio edu-cativo, importante fator a ser levado em conta ao se analisar o potencial formativo do traba-lho no interior escolar. Na EFA, o jovem passa a constituir um ambiente colaborativo tanto no aprendizado quanto no trabalho em setores pro-dutivos agropecuários e de gestão do espaço es-colar, havendo, assim, um processo de descons-trução do elemento individualista de desenvol-vimento pessoal e o início de construção de uma consciência coletiva, pela percepção de que as necessidades do grupo estão sempre acima das vontades individuais.

Ao mesmo tempo em que o jovem passa a adquirir qualificação profissional necessária para atuar no desenvolvimento de suas comu-nidades, no sentido econômico, político, social e ambiental, há, também, um processo de avanço da consciência política que o coloca sob posição de compromisso de trabalho junto à sua comu-nidade e, em sentido mais amplo, com o campe-sinato em geral.

Esse processo se estende para o meio social através de um conjunto de instrumentos pe-dagógicos que proporcionam aos estudantes a oportunidade de estabelecer conexões entre o contexto da família/comunidade e a formação técnico-política que se desenvolve na escola. Dentre esses instrumentos, a Atividade de Re-torno (AR) é a responsável central por estabele-cer o diálogo escola-comunidade através da ação

dos estudantes. Portanto, são organizadas por um processo elaborado de investigação, temati-zação, debate e orientação no espaço da escola.

As AR não se restringem apenas ao repasse de conhecimentos adquiridos em aulas ou prá-ticas agropecuárias, pois há uma mediação en-tre educadores, famílias, entidades, associações e demais parceiros na elaboração dos temas e atividades a serem desenvolvidas, de forma que este diálogo se concretize, sobretudo no momen-to das ações dos estudantes, pelo apoio e orien-tação dos parceiros em campo.

A atuação dos educandos no tempo comu-nidade possibilita a compreensão das contra-dições vividas pelos agricultores familiares e a percepção das necessidades de mudança. Tal re-flexão levada para o tempo escola torna possível o estudo crítico do contexto político-social em que se dão os problemas, e a compreensão dos fatores históricos que os geraram e insistem em perpetuá-los. Tal processo conflui na elaboração de ações para enfrentamento desses problemas e desafios, pela organização de ações concretas junto às forças políticas da comunidade, quando do retorno para a mesma.

É nesse sentido que, no trabalho formativo das EFA, revela-se o tripé ação-reflexão-ação, a prática política de ação pensada, crítica, que Freire (2009) nos ensina. A práxis educativa das EFA atinge o âmbito político de intervenção nas comunidades a partir do que Andrade (2012, p.1) nos revela: “a educação é determinada pelo modo de produção da vida”. Quer seja, a educa-ção empreendida no âmbito da pedagogia da al-ternância, além de produzir espaços de forma-ção crítica dos sujeitos, ainda assim, vai ao en-contro das necessidades produtivas e sociais das comunidades camponesas.

Neste ambiente, a Agroecologia (e.g., Capo-ral, Costabeber 2000; Gliessman 2001; Altieri 2002) realça, enquanto ciência e movimento, de modo a favorecer tecnologias que otimizem a utilização e ciclagem de recursos, que aprovei-tem o potencial do ambiente de maneira ampla, além de todas as formas de trabalho sociopolíti-co necessários à organização das comunidades, tanto para gerirem sua produção quanto para organizarem as lutas.

Os educandos das EFA encontram no campo desafios de toda ordem, em sua maioria relacio-nados à adaptação das atividades agropastoris e agroextrativistas, tradicionalmente realiza-das na Caatinga, de modo a construir estraté-gias mais eficientes diante da restrição hídrica. Diante disso, metodologias de armazenamento,

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utilização eficiente da água e dos recursos da biodiversidade local à luz da tecnologia social (sensu Dagnino 2014) são elementos necessá-rios ao desenvolvimento local. Neste contexto, é patente que o licuri sobressai diante de seu po-tencial de uso e geração de renda para as comu-nidades locais, conjugado com a conservação da Caatinga.

Em síntese, ao olhar para as EFA, é notório se compreender o modo como a pedagogia da alternância e seus instrumentos colocam o edu-cando como sujeito ativo no processo de avanço do conhecimento e trazem a realidade vivida em suas comunidades para dentro do processo for-mativo. O método pedagógico das EFA objetiva gerar resultados importantes para a formação da juventude do campo: a profissionalização necessária ao trabalho atrelada à uma forma-ção política que coloque o jovem em posição de se organizar e lutar por melhores condições de vida no campo. E, no viés do ensino técnico, na área de agrárias com foco na agricultura campo-nesa e convivência com o semiárido, trabalhan-do conhecimentos sobre organização produtiva e social do campo, o método pedagógico das EFA fornece as ferramentas necessárias para que o jovem do campo atue na construção de estraté-gias de resistência de suas comunidades, produ-zindo, assim, o suporte necessário para o desen-volvimento local.

Das EFA à práxis: o agroextrativismo sustentável do licuri como desafio para a juventude camponesa dos territórios rurais do semiárido

Em duas décadas de existência, as EFA de Monte Santo e Jaboticaba transformaram pro-fundamente as formas de territorialidade cam-ponesa no semiárido baiano através da ação dos técnicos colocados em campo. Vários egressos das EFA encontram-se engajados em ações de desenvolvimento comunitário através de as-sociações, cooperativas e outras entidades de cunho popular. Este processo gerou novas pers-pectivas para jovens (homens e mulheres do campo) que trabalham próximo às suas comuni-dades em diversas áreas da organização, da pro-dução, da convivência com o semiárido e gera-ção de renda. Torna-se claro que a educação do campo realizada nesses territórios possibilitou a formação crítica dos sujeitos do campo e seu engajamento na geração de renda, de emprego e de desenvolvimento socioeconômico nas comu-nidades. Percebe-se que educar é formar pes-

soas para que possam transformar a realidade, buscando a superação da exclusão, a superação do êxodo rural, a superação da desqualificação do trabalho camponês com engajamento social e capacitação técnica.

Nesse contexto, sob inspiração das bases agroecológicas (e.g., Gliessman 2001; Primave-si 2002; Altieri 2002) de valorização dos saberes existentes nas comunidades (Freire 1983; Boff 1986; Toledo & Barreira-Bassols 2015), e sob o aporte do trabalho como princípio educativo articulado pelas EFA com a Educação do Campo (Molina 2003; Caldart 2004), e da formação de complexos temáticos (Pistrak 2003), surgem no bioma Caatinga as estratégias de convivência com o semiárido. Dentre elas, sobressai-se no sertão do semiárido da Bahia o trabalho com o licuri (FIGURA 1), palmeira de uso múltiplo que permanece verde todo ano, mesmo em meio às estiagens mais frequentes e longas, sendo a sal-vação do gado e de pessoas em períodos de es-cassez, espécie referenciada desde os trabalhos pioneiros, no campo agronômico por Bondar (1938) e no da botânica por Noblick (1991).

O licuri, dada sua importância estratégica para os agricultores camponeses nestes terri-tórios, especialmente para mulheres na figura da quebradeira-de-licuri, brotou enquanto um complexo temático dentre as comunidades ser-tanejas: de um lado, a Efase articula as comuni-dades extrativistas para qualificar o trabalho de beneficiamento do licuri e valorizar a atividade extrativista, montando uma unidade de extra-ção de óleo; mais à frente, em parceria com di-versas organizações como Secretaria de Desen-volvimento Rural do estado da Bahia – SDR, Ban-co do Nordeste, CNPq e IF Baiano, a entidade am-plia sua capacidade e qualidade de extração do azeite do licuri e passa a atuar, em quase todo o território, na estruturação de economias de base comunitária ligadas ao beneficiamento do coco.

Destacam-se dois projetos fomentados: um pelo MEC/Proext Edital 2011, executado em 2013, Programa CONCA – Sistema de Produção do Licuri: Sustentabilidade, Saberes e Sabores da Caatinga; e o outro pelo CNPq (processo 468249/2014-1), o Licuri, tecnologias e sustentabilidade nas caa-tingas. O primeiro atuou em quatro frentes: o bioma Caatinga e os licurizais; as tecnologias sociais com maquinários adaptados; fitotecnia e políticas públicas, tendo destaque para o aper-feiçoamento da produção das máquinas de be-neficiamento.

Assim, em Monte Santo, um grupo de jovens egressos da Efase passa a gerir a unidade de be-neficiamento que esmaga o endosperma do licuri

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FIGURA 1. Diversos momentos do licuri enquanto complexo temático: Seminário do Licuri na EFAJ, dentro da programação da 9a Festa do Licuri no Alto do Capim em Quixabeira – BA, 11 de junho de 2016, com a exposição de subprodutos do licuri (a), máquinas (b) e oficinas de conservação (c); 8a Festa do Licuri na Comunidade de São Miguel em Caldeirão Grande – BA (d, e), com a Missa do Licuri (g); 6ª Festa do Licuri na comunidade de Vaca Brava, São José do Jacuípe – BA, em 18 de agosto de 2013 (f); Turnê guiada na Caatinga com estudantes do Pronera/EFASE, setembro de 2017 (h); Manifestação de Interesse de Criação da Resex do Licuri, abaixo assinado realizado no Seminário e durante a 9ª Festa do Licuri (i). Fotos: Aurélio J. A. Carvalho (c, d, e, h) e Marcio H. S. Ferreira (a, b, f, g).

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para extração do óleo. Adquirem e transportam o produto de diversas comunidades e, em troca, os agricultores e suas organizações criam uma alternativa de renda e geram subprodutos para alimentação de rebanhos, como a torta do licuri e a pele do licuri (epicarpo e mesocarpo secos). Este complexo permeado no currículo escolar que dá margem à integração e articulação orgâ-nica entre o tempo Comunidade e tempo Escola, com reais necessidades trazidas pela agricultura familiar camponesa no semiárido. Esse fluxo foi capaz de produzir alimentos inovadores do licuri e a produção de máquinas e métodos de benefi-ciamento do produto (Ferreira et al. 2015; Carva-lho et al. 2016), marcado como agroextrativismo sustentável na Caatinga (Siqueira-Filho 2012). Esse processo de valorização econômica, junto com trabalho educativo, desencadeia iniciativas de conservação dos licurizais nos municípios e territórios de influência da Efase.

Por sua vez, em um trabalho participativo com o fomento do CNPq, foram desenvolvidos maquinários (Figura 1b) como quebradeira, se-cador solar, despeladeira e extratora de óleo, o que foi possível com o engajamento dos sujeitos envolvidos nas comunidades, ouvir e perceber a capacidade inventiva dos agricultores e peque-nas metalúrgicas da região produzirem suas máquinas aperfeiçoadas em projeto de parce-ria com a Efase, Coopes, UFBA e IF Baiano. Esses produtos geraram pedido de primeira patente compartilhada sob protocolo no INPI: BR 10 2018 004230-0.

Com relação à EFAJ, a Festa do Licuri sobres-sai enquanto evento marcante de culminância de seus trabalhos curriculares (e.g., Carvalho et al. 2016; Silva et al. 2016). Ocorre há 10 anos, sem interrupção, e tem sua centralidade em alguma comunidade rural dos territórios de influência desta EFA. É uma promoção da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina – Coopes, com sede em Capim Grosso – BA. O des-locamento da festa para zona rural promove co-munidades rurais que são invisibilizadas pelos moradores das cidades. A Festa é um momento único e, ao mesmo tempo, cívica, religiosa, for-mativa, cultural, gastronômica, política, com música, dança, bandas de pífano e brincadeiras coma disputa entre as quebradeiras do licuri na pedra (Silva et al. 2016). Trata-se de um evento tão múltiplo quanto o licuri.

Vale destacar que, antecedendo a 9ª Fes-ta do Licuri (2016), ocorrida na Comunidade de Alto do Capim (Quixabeira – BA), a EFAJ sediou e promoveu com a Coopes o Seminário de Tec-nologia e Políticas Públicas para Conservação dos

Licurizais, o qual contou com a participação de mais de 200 pessoas. Discutiu-se a lei de con-servação dos licurizais no estado da Bahia e a possibilidade de uma unidade de conservação do licuri, ou seja, uma reserva agroextrativista (Resex) do Licuri, ainda sem local definido para demarcação. Além disso, um ano e meio antes com estudantes e agricultores, foi promovida uma audiência pública sobre a propositura de leis municipais de conservação dos licurizais, resultando na aprovação destas em municípios da região (Carvalho, Ferreira, Alves 2016).

Resultado de toda essa movimentação, em dezembro de 2017, a lei foi aprovada pela Assem-bleia Legislativa da Bahia. A normativa proíbe a supressão do licuri, salvo quando necessária a execução de obras, planos, atividades, projetos de utilidade pública ou de relevante interesse social; ou em áreas urbanas, mediante prévia autorização do órgão competente, respecti-vamente condicionadas ao plantio ou o trans-plantio das espécies suprimidas (Projeto de Lei 21.135/2015, aprovado Alba/Bahia 2017). A lei estadual incorporou, além do licuri, mais duas espécies-chaves: o umbu (Spondias tuberosa L., Anacardiaceae) e o ariri (Syagrus vagans (Bon-dar) A. D. Hawke, Arecaceae), enquanto patrimô-nio biocultural do povo baiano.

No espaço de discussão estavam funcioná-rios públicos, estudantes indígenas Kaimbé e Payayá, representantes de comunidades qui-lombolas, o Movimento dos Pequenos Produto-res (MPA), Universidades e Institutos Federais e muito estudantes das EFA, que foram partici-pantes nas exposições sobre produtos do licuri e das máquinas de beneficiamento do licuri, de-senvolvido pelo Projeto CNPq: Licuri, tecnologia e sustentabilidade nas caatingas do IF Baiano, já mencionado. Isso demonstra a capacidade de articulação entre o trabalho da escola e as neces-sidades reais das comunidades onde os estudan-tes estão inseridos.

A despeito do ariri ou licurioba (S. vagans), trata-se de palmeira endêmica, com caule sub-terrâneo, restrita a áreas de Caatinga de solos arenosos e de baixa fertilidade química, na Bahia e no Norte de Minas, até 550 m de altitude, que tem grande potencialidade para artesanato de palhas, com maior elasticidade e flexibilidade para os trançados que a palha do licuri, além de extração da polpa para alimentação de pessoas e animais. Esta percepção quanto ao ariri foi tra-zida na 8ª Festa (2015), sediada pela comunidade de Boa Esperança em Várzea do Poço, onde gru-pos de mulheres tiram seu sustento de artesana-to da palha do ariri que buscam em áreas mais

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distantes de suas moradias, a mais 30 km de dis-tância. O ariri, antes abundante no entorno da localidade, foi extinto. As mulheres da localida-de apontam que as principais causas da extinção foi a criação do gado em fazendas, o cercamento das áreas e a mecanização.

As EFA, por meio dos projetos profissionais do jovem, fazem com que o estudante, a partir do segundo ano de curso no seu tempo comunida-de, desenvolva projetos que são pequenos criató-rios e cultivos na Caatinga. Muitos destes estão vinculados às lavouras xerófilas (Duque 2004), sobressaindo o licuri, o maracujá-do-mato (Pas-siflora cincinnata Mast., Passifloraceae) e o um-buzeiro (Spondias tuberosa L., Anacardiaceae). E, com foco no licuri, têm-se projetos que tratam do beneficiamento dessa espécie para alimentação humana e de animais domésticos, da produção de mudas de licuri, dentre outros.

Porém, mesmo com um terreno tão fértil em avanços na educação do campo, há lacunas formativas, especialmente, dos professores das áreas de ciências agrárias. Esses profissionais advêm de uma base formativa linear e, muitas vezes, descolada da agricultura sob bases agroe-cológicas. Há projetos, mesmo no espaço de uma educação transformadora, que promovem ve-lhas receitas da agricultura convencional, seja para as lavouras, seja para as criações.

Muitos professores dessa área não conse-guem perceber o valor das espécies xerófilas enquanto possibilidade de geração de renda e conservação ambiental, ainda apostando em projetos de gado (bovino, suínos, ovinos e ca-prinos) de raças exógenas e de uso de semente ou variedades convencionais. Nesse sentido, há o Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Lavouras Xerófilas (XERÓFILAS), uma parceria entre o IF Baiano e o CNPq, que visa a estimular debates, estudos, pesquisas com o agroextrativismo e ações conservacionistas com espécies xerófilas do bioma Caatinga.

Diante da fragilidade identificada, ante-cedendo o ano letivo de 2018, a EFAJ promoveu um diálogo com gestores e professores acerca da problemática e da busca de bases conceituais que dialogam com agroecologia e saberes locais (Altieri 2002; Demo 2003; Caldart 2015; Toledo & Barrera-Bassols 2015).

A mesma problemática também identifi-cada na Efase, que tem apostado e se engajado firmemente no projeto CVT Fundo de Pasto (pro-cesso 402695/2017-8), financiado pelo CNPq, em execução, tem como lastro a ideia no campo das tecnologias sociais de captação de água de chu-

va, com inclusão das lavouras xerófilas. Apre-senta-se uma tecnologia de captação de água de chuvas agregada a um desenho de um agroecos-sistema com três zonas produtivas. O licuri assu-me destacado papel com inserção de seu plantio (zona 2) em uma área pensada em três zonas dis-tintas: produção de hortaliças (zona 1); produção de fruteiras (zona 2); e produção de forragem com o uso da captação de água de chuva (zona 3).

Portanto, ao trabalhar com o Semiárido, am-bas as EFA elegeram o licuri como planta-chave, gerando conhecimento a partir do diálogo ho-rizontalizado entre camponeses sertanejos, es-tudantes, monitores, técnicos, articulando par-cerias com as secretarias estaduais, órgãos de pesquisa e extensão, os Institutos Federais e Uni-versidades. Além disso, a base formativa do en-gajamento, do pertencimento e do trabalho como princípio formativo e da pesquisa participante promoveram formação de pessoas e de organi-zações comunitárias que hoje assumem a defesa dos licurizais e seu aproveitamento associado à conservação ambiental no Semiárido baiano.

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq pelo muito que tem contribuído com o fomento de nosso trabalho, que possibilita elevar: o acervo sobre o licuri na Bahia, a educação do campo e a agroecologia. Ao Pe. Xavier, grande sustentáculo da EFAJ e defensor dos licurizais e do povo subalterniza-do da caatinga, que resiste e luta. Aos membros do Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Lavouras Xerófilas (XERÓFILAS, IF Baiano/CNPq) pela pro-fícua parceria. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano, Campus Santa Inês) e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI, Campus Uru-çuí) pelo apoio logístico e por viabilizarem nossa participação em diferentes agendas nos projetos e divulgações em eventos. Por fim, aos coletivos e organizações da agricultura familiar campo-nesa, às quebradeiras-de-licuri, especialmente do Centro-Norte baiano, e às comunidades de Fundo de Pasto, comunidades tradicionais endê-micas do estado da Bahia, as quais efetivamente ensinam a convivência com o semiárido.

ReferênciasAltieri MA. 2002. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, Rio Grande do Sul – RS.Andrade GS. 2012. Escola Família Agrícola do Sertão: Experiência da Relação Escola-Família/Comunidade.

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A família Arecaceae tem suas espécies po-pularmente conhecidas como “palmeiras”, apre-sentando atualmente 181 gêneros aceitos e cerca de 2.600 espécies (Baker & Dransfield 2016), com grande amplitude de distribuição em quase to-dos os continentes (exceção das regiões polares) e ocupando diferentes habitats, cujo grande desen-volvimento e disseminação da família pelo plane-ta tiveram início no Eoceno (Soares et al. 2014).

O porte imponente da maioria das espécies se dá em função de sua apresentação, cujo esti-pe pode ser ramificado (mais raro) ou solitário, sempre com folhas pinadas e terminais no ápice do caule, formando uma “coroa” bastante visto-sa (Dransfield et al. 2008; Lorenzi et al. 2010).

No Brasil ocorrem 37 gêneros e 296 espécies, considerando-se a atual classificação (Baker & Dransfield 2016), estando representadas em todas as regiões brasileiras. As estruturas vege-tativas (caules, espata e folhas) e reprodutivas (cocos) dessas palmeiras são muito aproveitadas pela população tanto na alimentação como para ornamentação e, no país, sua comercialização é resultado do extrativismo de subsistência (Lo-renzi et al. 2010), além de muitas espécies con-tribuírem para o fortalecimento do agronegó-cio, sobretudo na região Nordeste.

A região Nordeste do país detém o segun-do maior registro de ocorrências de espécies de

Arecaceae (17 gêneros e 96 espécies), sendo re-gistradas para a Bahia 73 espécies (Flora do Bra-sil 2018), dentre elas Attalea spp. (babaçu), Cocos nucifera L. (coqueiro), Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore (carnaúba), Elaeis guineensis Jacq. (dendê), Mauritia flexuosa L.f. (buriti) e Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri), possuem grande relevância econômica e cultural.

As palmeiras no Nordeste são bastante uti-lizadas comercialmente, seja para extração de amêndoas (Attalea speciosa Mart., Attalea eichle-ri (Drude) A.J.Hend., Attalea × teixeirana (Bon-dar) Zona e Syagrus coronata), de fibras (Attalea spp., Copernicia prunifera e Mauritia flexuosa), de palmito (Euterpe edulis Mart.) ou de óleos (Atta-lea speciosa, Acrocomia aculeata Lodd. ex Mart., Astrocaryum sp., Elaeis guineensis e Syagrus co-ronata), além do uso do fruto na alimentação e culinária (Cocos nucifera) e para a fabricação de cera (Copernicia prunifera e Syagrus coronata) (Guimarães & Silva 2012).

Delimitação taxonômica, ocorrência e uso de Attalea na Bahia

Attalea Kunth é um dos dez gêneros da sub-tribo Attaleinae, também formada por Allagop-tera Nees, Butia Becc., Cocos L. e Syagrus Mart.,

O gênero Attalea na Bahia: diversidade, utilização e potencialidade

Isadora Almeida Melo Santos, Danilo Luis Cerqueira Dias, Marcelo dos Santos Silva, Lazaro Benedito da Silva & Kelly Regina Batista Leite

Arecaceae é uma das mais antigas famílias dentre as monocotiledôneas, com espécies disseminadas por quase todos os continentes (exceção das regiões polares). No Brasil, a família está bem representada, ocor-rendo em todas as regiões. Na Bahia, as espécies de Attalea, dentre outras em diferentes gêneros, se mos-tram importantes como fonte geradora de renda, ocupando posição de destaque em alguns municípios e comunidades no interior do estado. A partir do exposto, este trabalho tem como objetivo apresentar a atual circunscrição taxonômica de Attalea, com destaque para a diversidade de espécies no estado da Bahia, assim como sua utilização e potencialidades, além de comparar qualitativamente aspectos da ana-tomia foliar apresentada por A. pindobassu com a espécie S. coronata, esta última, comum em áreas de caatinga da Bahia. Neste estado, dentre as espécies de Attalea registradas, A. pindobassu, espécie endê-mica, é bastante aproveitada comercialmente devido à presença abundante de esclerênquima nas folhas e frutos e de óleo no fruto, gerando renda para a população do entorno à sua área de ocorrência.

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este último considerado grupo-irmão de Atta-lea (Freitas et al. 2016). O gênero é caracterizado morfologicamente por ter caule solitário, colu-nar, de acaulescente a 30m de altura, com folhas pinadas, inflorescências estaminadas e andrógi-nas, às vezes, na mesma planta, e fruto (o coco) ovóide com endocarpo muito duro e rico em óleo (Lorenzi et al. 2010).

Algumas espécies de Attalea, de acordo com as regiões onde ocorrem, têm seus frutos utili-zados para extração de amêndoas (Attalea bar-reirensis Glassman, A. brasiliensis Glassman, A. burretiana Bondar, A. compta Mart., A. exigua Drude, A. funifera Mart., A. oleifera Barb.Rodr., A. seabrensis Glassman, A. vitrivir Zona), da farinha (A. speciosa) e de óleo (A. burretiana, A. compta, A. eichleri, A. geraensis Barb.Rodr., A. humilis Mart., A. oleifera, A. pindobassu Bondar, A. speciosa, A. vitrivir), do estipe é retirado o palmito (A. pindo-bassu), suas folhas secas são usadas para cober-tura de casas (A. burretiana, A. compta, A. eichle-ri, A. funifera, A. geraensis, A. humilis, A. oleifera, A. pindobassu, A. seabrensis, A. vitrivir), e fabri-cação de cestos (A. exigua) e vassouras (A. funife-ra) a partir das fibras extraídas das longas folhas pinadas. Os resíduos de frutos e folhas gerados a partir desse extrativismo geralmente são rea-proveitados como carvão, prática já feita com A. eichleri e A. funifera (Lorenzi et al. 2010).

Na Bahia, Attalea está representado por 13 espécies, sendo elas: Attalea barreirensis,

A. brejinhoensis (Glassman) Zona, A. burretiana, A. eichleri, A. funifera, A. geraensis, A. humilis, A. × piassabossu Bondar, A. pindobassu, A. salvado-rensis Glassman, A. seabrensis, A. vitrivir e A. × voeksii Noblick ex Glassman (Quadro 1).

As espécies que ocorrem na Bahia (algumas com ocorrência também em outros estados) ape-sar de apresentarem caracteres morfológicos di-ferentes quanto às estruturas reprodutivas (in-florescências e frutos) e hábito variado, de acau-lescente a caules com até 30 metros (Lorenzi et al. 2010), algumas delas não são aceitas em con-senso pelos especialistas (Quadro 1). Por exem-plo, A. brejinhoensis e A. vitrivir estão no comple-xo de espécies A. speciosa, formado também por A. spectabilis Mart. As espécies A. burretiana e A. seabrensis pertencem ao complexo A. oleifera, composto também por A. compta, A. pindobassu e A. salvadorensis (Pintaud 2008). E no caso de A. burretiana, esta é considerada como sinônimo de A. oleifera (Henderson et al. 1995), porém ain-da não é um consenso entre os especialistas que elas sejam a mesma espécie.

Extrativismo e qualificação das fibras do babaçu

Apesar de haver muitos esforços por par-te dos pesquisadores, estudos com as palmeiras nativas da Bahia ainda são insipientes e percebe

QUADRO 1. Lista das espécies de Attalea ocorrentes na Bahia, de acordo com Pintaud (2008) e Lorenzi et al. (2010).

Espécies Complexo de espécies Ocorrência no Brasil Status taxonômicoA. barreirensis - BA, GO, TO Aceito/Incl. em A. exigua*A. brejinhoensis A. speciosa BA Aceito/Incl. em A. speciosa*

A. burretiana A. oleifera BA, ES, MG Sinônimo de A. oleifera/ Nome aceito**

A. eichleri - BA, MA, PI, TO Nome aceitoA. funifera - AL, BA, SE Nome aceitoA. geraensis - BA, GO, MS, MT, MG, SP Nome aceitoA. humilis - BA, ES, MG, RJ, SP Nome aceitoA. pindobassu A. oleifera BA Nome aceitoA. salvadorensis A. oleifera BA Nome aceito/Incl. em A. oleifera*A. seabrensis A. oleifera BA Nome aceito/Incl. em A. pindobassu*A. vitrivir A. speciosa BA, MG Nome aceito/A. speciosa pro parte*A. × piassabossu - BA Híbrido (A. burretiana e A. funifera)A. × voeksii - BA Híbrido (A. funifera e A. humilis)

*Henderson et al. (1995); **Glassman (1999). Siglas dos estados: AL – Alagoas, BA – Bahia, ES – Espírito Santo, GO – Goiás, MA – Maranhão, MG – Minas Gerais, MS – Mato Grosso do Sul, MT – Mato Grosso, PI – Piauí, RJ – Rio de Janeiro, SP – São Paulo, SE – Sergipe e TO – Tocantins.

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-se uma lacuna de dados sobre as propriedades físicas e químicas das fibras e óleos das espécies ocorrentes no estado. Santos et al. (2018, in prep.) estudando Attalea pindobassu demonstraram as propriedades físicas das fibras do fruto e da folha através do coeficiente de rigidez, fração de pa-rede, índice de Runkel e índice de enfeltramen-to, enquanto que Oliveira (2010) estudando Sya-grus, grupo irmão de Attalea, especificamente a espécie S. coronota, além de analisar as mesmas propriedades, avaliou características químicas e a capacidade de tração das fibras desta espécie para sua utilização como agregado de concreto.

Os índices utilizados por Oliveira (2010) e Santos et al. (2018, in prep.) são importantes para avaliar as propriedades das fibras, como potenciais para uso na produção de papel ou para combustão. O coeficiente de rigidez indica o grau de achatamento das fibras, a fração de parede a quantidade de celulose e lignina pre-sente nelas, o índice de Runkel está relacionado à rigidez da fibra e à sua capacidade de interli-gação (que são inversamente proporcionais), en-quanto que o índice de enfeltramento sugere o grau de resistência ao rasgo e ao arrebentamen-to (Foelkel et al. 1975, Paula & Alves 1997). Se-gundo esses autores, os valores indicados para a utilização das fibras para combustão são fra-ção de parede acima de 60% e índice de Runkel a partir de dois; para produção de papel os valores devem ser baixos para o índice de Runkel (valor acima de dois), e altos para o coeficiente de rigi-dez e o índice de enfeltramento (acima de 50). Os resultados com A. pindobassu atestaram que as folhas e o fruto são recomendados para queima, e especificamente o mesocarpo possui qualida-

de razoável para produção de papel (Santos et al. 2018, in prep.), enquanto que em S. corona-ta, as folhas são melhores indicadas para gera-ção de energia e o fruto para confecção de papel (Oliveira 2010).

Recentemente, Santos & Leite (2018, in prep.), analisando qualitativamente a anato-mia foliar das espécies de Attalea ocorrentes na Bahia, demonstraram que diferentemente das espécies de Syagrus (Noblick 2013), o mesofilo em Attlaea apresenta menor quantidade de es-clerênquima em relação a Syagrus, sendo a maior quantidade dessas células, observadas na forma de fibras apenas na nervura mediana e bordo do segmento foliar de algumas espécies (Figura 1A-B). Mesmo assim, sendo um gênero que ocor-re espontaneamente no estado, acredita-se que as fibras da folha e do fruto (cocos) apresentem potencial para geração de renda, visto a quan-tidade das fibras em ambos os órgãos, havendo, assim, necessidade de qualificação do potencial esclerenquimáticos nestes órgãos como em ou-tras espécies do gênero.

Oliveira (2010), estudando a fibra do licuri (S. coronata) na produção de compósitos, verifi-cou que a maioria dos estudos ainda está centra-da em espécies cujas fibras são utilizadas indus-trialmente como o sisal, linho, cânhamo, juta e rami e, mesmo com o incentivo da utilização da piaçava e do coco, no semiárido e do buriti nas regiões mais úmidas, há outros exemplos de no-vas possibilidades de oferta tanto para a indús-tria como para a economia de subsistência, es-pecialmente para a Bahia, como as espécies de Attalea citadas nesse texto.

FIGURA 1. Seção anatômica da folha de espécies de Attalea. A. Nervura mediana de Attalea humilis Mart., evidenciando grande quantidade de fibras circundando o feixe vascular. B. Bordo de A. geraensis Barb. Rodr., mostrando o feixe vascular de terceira ordem e fibras associadas. Escala 100µm.

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De acordo com nossas análises e assim como observado por Oliveira (2010), grande parte dos municípios baianos está enquadra-da no índice de vulnerabilidade à seca “Alta” e “Média-Alta”, e visando à manutenção do lavra-dor no campo, minimizando o êxodo rural, há uma necessidade da busca por matérias primas alternativas renováveis.

As fibras vegetais de Attalea têm sido impor-tante fonte de recurso renovável, biodegradável, atóxico, de baixo custo de produção, abundante, resistente e de baixo impacto ambiental, tendo--se apresentado como uma excelente fonte de renda para a comunidade de Cocho de Dentro, região do Piemonte da Diamantina (Jacobina, Bahia), em cuja área a espécie ocorre natural-

mente em ambientes mais elevados das serras (Figura 2A). Nesta e em outras regiões do esta-do, as palmeiras crescem espontaneamente e pesquisas têm demonstrado que assim como ou-tras espécies, no caso de A. pindobassu, além das amêndoas do fruto (Figura 2B) serem utilizados para fabricação de cosméticos (Figura 2C) óleos com fins alimentícios (Figura 2D), as fibras na-turais quer sejam da folha mas principalmente do fruto, podem ser utilizadas para produção de material de baixo custo de produção e alto valor de mercado agregado à planta, pois além da be-leza da espécie, suas fibras têm alta resistência e durabilidade e têm sido tradicionalmente em-pregadas para produção de carvão (Figura 2E) e confecção de ornamentos como joias e objetos de decoração (Figura 2F).

FIGURA 2. Produtos confeccionados pela comunidade de Cocho de Dentro, município de Jacobina (Bahia), a partir de insumos de Attalea pindobassu (babaçu). A. Habitat de uma população de babaçu, na região de Cocho de Dentro. B. Preparo das amêndoas, após serem retiradas dos cocos. C. Produtos cosméticos (hidratante corporal, óleo perfumado e sabonete), confeccionados a partir do óleo das amêndoas. D. O óleo de babaçu com o qual é possível ter diversos usos, incluindo o alimentício. E. Resíduos dos cocos de babaçu (as fibras), sendo utilizados para produção de carvão. F. Enfeites artesanais feitos com sementes de plantas variadas e partes do coco de babaçu.

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Estudos anatômicos com segmentos fo-liares das espécies de Attalea na Bahia têm de-monstrado que a região mediana e o bordo, do segmento foliar, apresentam uma grande e quantidade de fibras provavelmente de origem pericíclica, apresentando-se mais abundantes nas espécies A. barreirensis, A. burretiana, A. ge-raensis, A. humilis e A. seabrensis (Santos & Leite 2018, in prep.) em relação às demais ocorrentes no estado.

Este texto busca alertar para a importância de desenvolvimento de novos estudos com fi-bras de outras espécies de palmeira, visando ao investimento na reprodução destas espécies que poderão servir de base para o desenvolvimen-to social, econômico, ambiental e científico em toda a região Nordeste.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoló-gico – CNPq (# 405811/2013-6) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB (T.O. PET0039/2012, PNE 0020/2011) pelo auxí-lio financeiro.

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Aproveitamento de resíduos em Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae) através da análise micrométrica das fibras do fruto e da folha

Isadora Almeida Melo Santos, Danilo Luis Cerqueira Dias, Kelly Regina Batista Leite, Marcelo dos Santos Silva & Lazaro Benedito da Silva

O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o potencial dos resíduos provenientes do extrativismo vegetal de Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae), espécie endêmica da Bahia, a fim de co-nhecer seu potencial energético, fornecer subsídios para uso como matéria-prima alternativa na indústria, e preservação da espécie dada a sua importância e distribuição limitada. As coletas foram realizadas em Jacobina, município da região norte da Chapada Diamantina. Para esta análise, foram realizados mace-rados da folha e do fruto, com posterior mensuração das fibras e subsequente aplicação desses valores para os cálculos dos valores derivados, a partir do qual a qualificação para uso foi realizada. Os resultados mostram que as fibras de folha de A. pindobassu possuem qualidade para o uso como combustível devido as suas paredes espessas. Contrariamente, as fibras do fruto possuem status regular para a produção de papel e consequentemente para a combustão, especialmente as do mesocarpo. Por fim, destaca-se a im-portância deste estudo por ser pioneiro na qualificação do potencial econômico das fibras dos segmentos foliares e dos frutos da palmeira A. pindobassu.

Introdução

O termo popular “babaçu” nomeia diferen-tes espécies do gênero Attalea, um táxon com-plexo devido a problemas de identificação intra e interespecífico, estimando-se que haja cerca de 70 espécies, muitas com delimitações pro-blemáticas. Para, além disso, muitos casos de sinonímia e de hibridização são descritos (Pin-taud 2008). Esse gênero ocorre predominante-mente em áreas do Neotrópico, apresentando como centro de diversidade brasileiro, o estado da Bahia (Glassman 1999), com 13 espécies das 34 aceitas para o Brasil.

A espécie foco desse trabalho é a Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae), que é endêmi-ca da Bahia, e pouco conhecida do ponto de vis-ta morfoanatômico. Segundo a caracterização morfológica feita por Glassman (1999) e Lorenzi et al. (2010), esta espécie é reconhecida por pos-suir caule solitário, colunar, de até 15 m de al-tura e 35-50 cm de diâmetro; folhas pinadas, as-cendentes, alternas, com 90-160 pinas de cada lado da ráquis, regularmente distribuídas sobre toda extensão da raque; com inflorescências pistiladas ou andróginas na mesma planta; fru-tos de 8-10 cm por 5,0-6,5 cm de tamanho, com

mesocarpo seco-farináceo, de coloração amar-ronzada (quando maduro e seco); as amêndoas (sementes) são encontradas geralmente em nú-mero de três a quatro, às vezes até seis, por fruto, e são ricas em óleo comestível.

Muitas outras espécies do gênero Atta-lea, como A. attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer, A. butyracea (Mutis ex L.f.) Wess. Boer, A. burretiana Bondar, A. compta Mart., A. du-bia (Mart.) Burret, A. eichleri (Drude) A. J. Hend., A. funifera Mart. ex Spreng., A. geraen-sis Barb. Rodr., A. humilis Mart. ex Spreng., A. insignis (Mart.) Drude, A. maripa Mart., A. mi-crocarpa Mart., A. oleifera Barb. Rodr., A. pha-lerata Mart. ex Spreng., A. pindobassu Bondar, A. princeps Mart., A x piassabossu (Bondar) Glas-sman & Noblick, A. racemosa Spruce, A. sea-brensis Glassman, A. speciosa Mart. ex Spreng., A. x voeksii Noblick ex Glassman e A.vitrivir Zona são aproveitadas para diversos propósi-tos, como por exemplo, a palha da folha que é usada para fabricação de coberturas de casas, compósitos, vassouras, cordas para amarração de navios, enchimentos de estofados, fabri-cação de acessórios (bolsas e chapéus), vasos (substituição do xaxim) e artesanatos (Lorenzi et al. 2010; Guimarães & Silva 2012).

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A espécie A. pindobassu é de grande impor-tância sócio-econômica pelo aproveitamento de suas estruturas reprodutivas e vegetativas pela população rural que as exploram. O fruto des-ta espécie, por sua vez, é mais utilizado na área alimentícia e de cosmético, através da extração do leite e do óleo das amêndoas, utilizado no preparo de pratos da culinária local, sabonete e detergentes caseiros, mas também pode ser transformado em carvão vegetal de alto valor calorífero. O epicarpo e endocarpo do fruto, e as folhas também já foram testados para produção de combustível de origem vegetal (Lorenzi et al. 2010; Guimarães & Silva 2012).

Na localidade de Cocho de Dentro, muni-cípio de Jacobina (Bahia), existe um grupo de catadoras, vinculadas à Associação Comuni-tária de Moradores e Agricultores de Cocho de Dentro (ACMCD), que se destaca pelo extrativis-mo de A. pindobassu (babaçu). Essa associação aproveita o babaçu de diversas formas, sobres-saindo-se a utilização da polpa do coco para ob-tenção de óleos utilizados na fabricação de sa-bonetes e cremes, além daqueles aproveitados na culinária. Disso, resulta grande quantidade de resíduos (cascas), que podem ser aprovei-tados a partir do estudo do potencial de suas fibras. Dentro de uma abordagem aplicada da anatomia vegetal, uma avaliação micromor-fométrica das fibras poderá qualificar esses resíduos para serem aproveitados comercial-mente, resultando em um aumento da renda das famílias dessa associação. Atualmente no Nordeste, o Laboratório de Anatomia Vegetal e

Identificação de Madeiras (LAVIM) da Universi-dade Federal da Bahia – UFBA, em parceria com laboratórios da Universidade Federal de Sergi-pe - UFS e da Universidade Estadual do Piauí - UEPI, integram o projeto Pindorama, vincula-dos à Rede Renorbio – CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que tem como foco desenvolver estudos sobre o potencial econômico das palmeiras nordesti-nas, especialmente a A. pindobassu, Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore (carnaúba) e Sya-grus coronata (Mart.) Becc. (licuri), dentro de uma perspectiva sustentável.

Assim, o presente trabalho tem como ob-jetivo analisar microscopicamente as fibras da “casca” (epicarpo e mesocarpo) do fruto, e da folha de A. pindobassu (Arecaceae), com a finali-dade de qualificar os resíduos provenientes des-ses órgãos, indicando uma alternativa adequada para seu aproveitamento e contribuição em pes-quisas futuras, visando ao manejo sustentável desta e de outras espécies de palmeiras.

Material e métodos

Coleta do material

A coleta do material foi realizada na loca-lidade de Cocho de Dentro, município de Jaco-bina, Chapada Diamantina - Bahia (11°50’50” S, 40°31’06” W), em enclave de Mata Atlânti-ca dentro do domínio da Caatinga (Figura 1). Foram realizadas excursões nos períodos de

FIGURA 1. Município de Jacobina (delimitado pela linha vermelha), local de coleta de Attalea pindobassu Bondar, em enclave de mata atlântica (verde) na região de caatinga na Bahia. Fonte: Ferramenta de Módulo de Avaliação Preliminar (MAP) - Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).

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setembro de 2015, a 2018, nas quais foram co-letadas amostras de frutos e folhas de Attalea pindobassu Bondar.

O material coletado pertence aos vouchers Fernandez, I.V.N. 03; Silva, M.S. 195; Leite, K.R.B. 542, inseridos na coleção do Herbário Alexandre Leal Costa (ALCB) da UFBA, somando-se três in-divíduos amostrados. As amostras provenientes dos frutos e das folhas passaram pelo processo de secagem em estufa e foram acondicionadas no Laboratório de Anatomia Vegetal e Identificação de Madeiras (LAVIM) e na Xiloteca professor José Pereira de Souza (PJPSw), ambos pertencentes à Universidade Federal da Bahia (UFBA). Conside-rou-se três frutos e um segmento foliar (localiza-do na região mediana da folha) para cada indiví-duo, destinados ao processo de maceração.

Preparo dos macerados

Antes do amolecimento químico para a ma-ceração, os frutos passaram por cozimento de 21 horas, com o objetivo de deixá-los menos resisten-tes. Para cada segmento foliar, três regiões foram amostradas independentemente: ápice, meio e base. Essas amostras passaram pelo processo de fixação em FAA 70% (formaldeído, ácido acético e álcool etílico) (Kraus & Arduin 1997) e foram ar-mazenadas em álcool etílico 70%, passando por aquecimento de apenas cinco minutos.

Para confecção dos macerados do epicarpo e do mesocarpo do fruto, um tratamento adicio-nal de amolecimento foi realizado com etileno-diamina a 10% (Kraus & Arduin 1997). O fruto, devido a sua rigidez, ficou 30 dias na estufa a 60 °C. Em seguida, esses materiais foram cortados em pedaços pequenos e colocados na mistura de peróxido de hidrogênio e ácido acético glacial 1:1 (Kraus & Arduin 1997), posteriormente fo-ram colocados na estufa, retirados após uma (os segmentos foliares) e duas semanas (os frutos), quando estavam com aparência branca e consis-tência mole. E, por fim, foram lavados com água destilada (numa série de oito vezes, 15 minutos cada), e em seguida em etanol 50%. Os mace-rados dos segmentos foliares foram acondicio-nados em safranina 1% e glicerina a 50%, e os macerados do fruto em álcool etílico 70%, para posterior análise micrométrica das fibras.

Análise micromorfométrica das fibras

Esta análise teve como foco a mensuração do comprimento total, espessura da parede, diâ-metro total e diâmetro do lúmen, através do au-

xílio do microscópio Olympus BX41® com ocular micrométrica. Foram selecionadas de maneira randômica, 30 fibras para cada uma das três amostras dos frutos e 30 fibras para cada uma das três regiões amostradas do segmento foliar. A partir dessas mensurações foram calculados o coeficiente de rigidez (CR), o qual indica o grau de achatamento das fibras no processo de fabri-cação de papel; a fração da parede (FP) que de-monstra a utilidade da madeira para o uso como combustível (valores altos, acima de 80%, indi-cam material bom para uso com combustível); o índice de enfeltramento (IE) que indica o quão resistente ao rasgo é a fibra; e o índice de Runkel (IR), que nos mostra a escala de uso das fibras, variando de 0 a acima de 2. Foram seguidos os cálculos estabelecidos por Foelkel et al (1975).

Foram feitos testes estatísticos do índice de Runkel, com a intenção de analisar se há variação significativa entre as médias das diferentes re-giões do fruto e do segmento foliar consideradas nesse trabalho. Os dados referentes a este índi-ce foram analisados com o auxílio do programa estatístico RStudio v1.0.136®, utilizando o teste estatístico ANOVA one-way para os resíduos das folhas, por apresentarem mais de dois grupos de média (~ápice, ~meio, ~base), e o teste-T de Stu-dent para os resíduos dos frutos por possuírem dois grupos de média (~epicarpo, ~mesocarpo), sendo que estas apresentam distribuição nor-mal dos dados. Consideramos como diferenças significativas valores de p menor que 0,05.

Os macerados da folha e do fruto foram fo-tomicrografados em fotomicroscópio AxioScope A1, Carl Zeiss®, acoplado à câmera Canon®; as es-calas foram obtidas pelo programa Axio Vision®. A terminologia e classificações utilizadas aqui para as descrições das fibras segue o que foi es-tabelecido por Metcalfe & Chalk (1983) e Tostes et al. (2013).

Resultados e Discussão

O fruto (Figura 2A) apresenta camadas bem distintas: epicarpo fibroso, amarronzado e duro; mesocarpo oleoso, amarelado e com aparência de farinha quando seco; e o endocarpo denso e duro (Figura 2B-C), com três a quatro amêndoas (Figura 2D). As folhas são pinadas, eretas, alter-nas, com nervura central proeminente na face adaxial da lâmina foliar. Estes resultados das características morfológicas e dos espécimes es-tudados corresponderam às descrições presen-tes na literatura para a espécie (Glassman 1999; Lorenzi et al. 2010).

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Análise das fibras através do macerado (Tabela 1)

Baseado nas classificações de Metcalfe & Chalk (1983) e Tostes et al. (2013), as fibras do fruto apresentaram-se extremamente curtas (menores que 500 µm) e com paredes espessas (3 a 5 µm), enquanto as das folhas apresentaram--se como moderadamente curtas (700 µm a 900 µm) e com paredes muito espessas (> 5 µm), com ambos os diâmetros totais pequenos (até 25 µm). Em ambos, fruto e folha, as fibras são librifor-mes (Figura 3A-B), e apresentaram bifurcações nas extremidades (Figura 3C-D).

O resultado dos índices para os resíduos do epicarpo do fruto foram: fração parede de 54%, coeficiente de rigidez de 45%, índice de Runkel de 1,5 e índice de enfeltramento de 15. No mesocarpo a fração parede foi de 60%, coe-ficiente de rigidez de 35%, índice de Runkel de 2, e índice de enfeltramento de 30 (Tabela 2). Houve diferença estatística significativa para o índice de Runkel entre epicarpo e mesocarpo (p=0.005422) (Figura 4). O resultado da aná-lise estatística aplicada às diferentes regiões do fruto indica que as fibras do mesocarpo são

mais espessas, qualificando-as como mais ade-quadas para a queima.

Nas folhas, os resultados foram fração de parede de 76%, coeficiente de rigidez de 21%, ín-dice de Runkel de 3,5 e índice de enfeltramen-to de 40. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os valores das diferentes re-giões do segmento foliar para o índice de Runkel (F0,05;2;267=2,13) (Figura 5).

A partir dos valores dos índices demonstra-dos na tabela 1, foi realizada uma comparação destes com os valores estimados por Paula & Al-ves (2005), e Tostes et al. (2013), que consideram os seguintes valores derivados como recomen-dados para a utilização das fibras na combustão: fração parede acima de 60% e índice de Runkel a partir de 2. A comparação entre as duas regiões do fruto nos permite inferir que o mesocarpo possui uma maior densidade que o epicarpo, uma vez que a fração parede e o índice de Run-kel revelaram valores mais elevados, e o coefi-ciente de rigidez com valor mais baixo. O valor do índice de Runkel encontrado para as fibras do mesocarpo nos indica que estas possuem status regular para a produção de papel, mas podem ser utilizadas para a combustão (Almeida et al.

FIGURA 2. Fruto de Attalea pindobassu Bondar (babaçu). A. Fruto inteiro. B-D. Seções transversais. B. Diferenciação das regiões em epicarpo, mesocarpo e endocarpo (setas). C. Endocarpo, evidenciando os lóculos das amêndoas. D. Endocarpo com as amêndoas.

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TABELA 1. Medidas (µm) das fibras do fruto (epicarpo e mesocarpo) e da folha (ápice, meio e base) de Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae).

Fruto FolhaEpicarpo Mesocarpo Ápice Meio Base

Comprimento total 193,16 404,16 660,78 887,94 813,78Diâmetro total 13,16 13,49 12,94 13,32 13,51Espessura da parede 3,62 4,28 5,00 5,30 5,28Diâmetro do lúmen 5,91 4,18 2,96 2,64 2,96

FIGURA 3. Fibras dos resíduos de epicarpo e da folha de Attalea pindobassu Bondar (babaçu). A. Fibras do epicarpo. B. Fibras da folha. C-D. Fibras do epicarpo, com bifurcações nas extremidades. Escala = 100µm.

TABELA 2. Valores médios dos índices encontrados referentes às fibras do fruto (epicarpo e mesocarpo) e da folha (ápice, meio e base) de Attalea pindobassu Bondar (Arecaceae).

Fruto Folha

Epicarpo Mesocarpo Ápice Meio Base

Fração de Parede (%) 54,47 63,34 76,52 78,61 77,67

Coeficiente de Rigidez (%) 45,53 36,66 23,48 21,39 22,33

Índice de Runkel 1,51 2,33 3,69 4,16 3,92

Índice de Enfeltramento 15,28 30,53 50,43 64,94 60,23

2002; Teixeira 2002; Carrazza et al. 2012; Gui-marães & Silva 2012).

Assim como o mesocarpo, as folhas foram consideradas recomendadas para queima, po-rém inapropriadas para fabricação de papel (Paula & Alves 1997; Tostes et al. 2013). Seguin-do o que foi estabelecido na literatura (Paula & Alves 1997; Paula 2005; Tostes et al. 2013), os re-sultados obtidos foram baixos para o coeficiente

de rigidez e índice de enfeltramento (média de 22,4% e 58,53 respectivamente), indicando bai-xo grau de colapso das fibras e sem afilamento adequado; e valores altos para o índice de Run-kel (fibras do ápice, meio e da base tipo V – va-lores acima de dois) e da fração de parede (mé-dia de 77,6%), indicando alta rigidez das fibras e grande quantidade de lignina e celulose. As fibras por serem curtas e com paredes espessas,

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não possuem flexibilidade, resistência e nem grau adequado de achatamento, sendo conside-radas inapropriadas para fabricação de papel. A alta quantidade de lignina e celulose indica uma maior quantidade de biomassa para queimar durante o processo de combustão, logo podem ser utilizadas satisfatoriamente para este fim, e também para uso na fabricação de compósitos e de carvão ativado, como em Attalea funifera Mart. por compartilhamento dessa caracterís-tica (De Deus et al. 2005; D’Almeida et al. 2006; Avelar et al. 2010).

Conclusão

A análise dos valores derivados (índices), e o tratamento estatístico dos dados obtidos, a partir das medidas das fibras do epicarpo e mesocarpo do fruto em microscopia óptica, evidenciam que tais estruturas são positivamente indicadas para a combustão e utilização na indústria, sendo que as fibras do mesocarpo se mostraram ainda mais adequadas. Quanto às fibras das folhas, não obti-vemos diferenças significativas entre as diferen-tes regiões do segmento foliar. Por demonstrarem

FIGURA 4. Comparação dos valores médios do Índice de Runkel das fibras do epicarpo e mesocarpo de Attalea pindobassu Bondar (babaçu).

FIGURA 5. Comparação dos valores médios do Índice de Runkel entre as diferentes regiões de seguimentos foliares localizados na região mediana da folha de Attalea pindobassu Bondar (babaçu): ápice (fa), base (fb) e meio (fm).

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valores mais elevados do que os encontrados nos frutos, concluímos que estas também se mostra-ram adequadas para a combustão, mas inapro-priadas para produção de papel. Estudos compa-rando os caracteres aqui descritos com o de outras espécies de Attalea serão importantes para auxi-liar tanto na qualificação do potencial das fibras da folha e fruto desse gênero, quanto para a diag-nose interespecífica, podendo vir a contribuir para uma melhor delimitação do grupo.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoló-gico – CNPq (405811/2013-6) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB (T.O. PET0039/2012, PNE 0020/2011) pelo auxí-lio financeiro.

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Qualificação das fibras do pericarpo do fruto de Attalea funifera Mart. e Elaeis guineensis Jacq. para indicação de uso sustentável de seus resíduos

Geovane de Jesus Santos, Danilo Luis Cerqueira Dias, Kelly Regina Batista Leite, Marcelo dos Santos Silva & Lazaro Benedito da Silva

As palmeiras oleaginosas constituem importante alternativa de renda para os agricultores, figurando-se com um fator contribuinte para a fixação do homem no campo e conseqüente diminuição do êxodo ru-ral. Sua produção é notória em diversos municípios da Bahia apresentando variadas formas de utilidades, podendo ser aproveitada todas as partes da planta, praticamente, na forma de alimentos, confecção de ar-tesanatos, construções, dentre outros. O uso das amêndoas e dos óleos tem gerado diversos resíduos não aproveitáveis comercialmente estabelecendo um problema para os produtores. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo a análise das dimensões das fibras do pericarpo dos frutos de Attalea funi-fera Mart. e Elaeis guineensis Jacq., a fim de qualificá-las para uso como combustível ou na produção de papel, agregando valores a estes resíduos. Foi adotado o método de maceração de Franklin a fim de fazer a dissociação das fibras dos frutos, seguida da mensuração das fibras em microscopia e, posteriormente, o cálculo dos valores derivados. Os resultados apontaram que as fibras das espécies estudadas possuem potencial para serem utilizadas como fonte de energia.

Introdução

As palmeiras pertencem à família Areca-ceae (Palmae) com cerca de 1.500 espécies e 200 gêneros no mundo, ocorrendo em quase todos os habitats (Lopes et al. 2015). No Brasil são co-nhecidos 39 gêneros nativos que agrupam 264 espécies (Leitman et al. 2013). Esta família é re-conhecida pela diversidade de usos de seus pro-dutos na alimentação, construções, artesanatos, cosméticos, dentre outros, constituindo uma importante fonte de renda em diversas regiões do Brasil e do mundo (Clemente et al. 2005). Des-ta forma, segundo Lopes et al. (2015), ela é con-siderada uma das mais importantes fontes de produtos não madeireiros.

Attalea funifera Mart. (piaçava) e Elaeis gui-neenses Jacq. (dendezeiro), duas espécies oleagi-nosas cultivadas na Bahia apresentam grande importância econômica local. A. funifera é endê-mica do Brasil, possuindo alto valor agroeconô-mico. Esta espécie apresenta maior concentração de cultivo nos municípios de Canavieiras, Ilhéus, Itacaré, Maraú, Camamu, Ituberá, Nilo Peçanha, Taperoá, Valença e Cairu, considerando o estado da Bahia (Melo 2001). Segundo Barreto (2009) a Bahia é responsável por 95% do cultivo dessa es-

pécie, ressaltando o uso desta palmeira para con-fecção de artesanatos, no Litoral Norte, e artesa-natos e vassouras no Litoral Sul. O fruto é classi-ficado como simples, pluricarpelar e plurilocular, destacando-se no uso para alimentação, através da extração de óleos, e para a confecção de biju-terias, com o endocarpo (Barreto 2009). Outras utilizações são descritas por Melo (2001), a citar: a exploração como isolante térmico, cobertura de quiosques em praias, além da utilização do endo-carpo na fabricação de carvão ativado e combus-tível em fornos industriais, e do mesocarpo para produção da chamada farinha de “satim”.

A Elaeis guineensis é de origem africana e foi introduzida no Brasil no período colonial, inicial-mente na Bahia e na região amazônica, no sécu-lo XVI, usada na culinária pelos povos escraviza-dos (Venturieri et al. 2009). Segundo Agrianual (2008) os maiores cultivos situam-se na região amazônica, sendo o Estado do Pará o maior pro-dutor nacional. De acordo com Muller (1998) seu fruto é rico em óleos no epicarpo e mesocarpo, e nas amêndoas, chegando a produzir até 5t de óleo de palma e até 1,5t de óleo de palmiste por hecta-re anualmente, possuindo um mercado bem es-truturado. Outro uso é destacado por Silva et al. (2005) na fabricação da chamada torta de dendê,

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para alimentação animal. Segundo Paula (2005) as palmeiras arbóreas são altamente ricas em lig-nina, notadamente os estipes, folhas e frutos, e podem, portanto, serem consideradas uma fonte de energia alternativa renovável a ser explorada.

Há alguns trabalhos na área de qualifica-ção de madeiras que justificam a importância do Brasil desenvolver tecnologias destinadas à exploração sustentável de energia acumulada nos vegetais. Destacam-se alguns de Paula, nos quais ele descreve espécies do Cerrado (Paula 2005), de matas ciliares do centro-oeste brasi-leiro (Paula et al. 2000) e da Amazônia (Paula 2003). Na Bahia, menciona-se o estudo de Silva et al. (2018) que qualifica 25 espécies nativas da Mata Atlântica para produção de papel e/ou energia. Todos estes estudos citados qualificam as madeiras de acordo com características ana-tômicas e de sua densidade.

Muitas comunidades do Nordeste utilizam os produtos das palmeiras como fonte de renda e subsistência familiar. Dentre estas, destacam--se o uso das duas espécies foco deste estudo e a produção de uma grande quantidade de resíduos provenientes de partes do fruto que não são apro-veitados comercialmente, constituindo-se em um problema para os produtores. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo examinar a di-mensão das fibras do epicarpo dos frutos de A. funifera e E. guineensis a fim de qualificá-las para geração de energia e/ou fabricação de papel, de forma a agregar valores a estes resíduos enfati-zando sua produção sustentável e responsável.

Material e Métodos

Coleta de materiais

A coleta dos frutos foi realizada nos mu-nicípios de Nilo Peçanha (13°36’13’’ S, 39°6’14’’ W), Ituberá (13º43’56’’ S, 39°09’01’’ W) e Tape-roá (13º32’17” S, 39º05’55” W), Bahia, Brasil em dezembro de 2017. Coletou-se frutos de três in-divíduos de cada espécie estudada. As amostras foram processadas, incluindo lavagem e secagem em estufa, no Laboratório de Anatomia Vegetal e Identificação de Madeiras (LAVIM) do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia - UFBA, e na Xiloteca Professor José Pereira de Sou-sa (PJPSw) pertencente a essa mesma instituição.

Preparo dos macerados

Para a mensuração das fibras, foi utilizada a técnica de maceração de Franklin, modificado

por Kraus & Arduin (1997). Retirou-se esquírolas longitudinais do epicarpo dos frutos de ambas as espécies, três repetições para cada indivíduo, sendo estas mantidas em peróxido de hidrogê-nio e ácido acético glacial na proporção 1:1 em estufa a 60 °C de 24 a 48 horas, ou até apresen-tar coloração clara, esbranquiçada. Em seguida o material foi submetido a lavagens em água destilada com auxílio da centrífuga Eppendorf Centrifuge 5804R® (numa série de cinco vezes, 5 minutos cada, com velocidade de rotação de 5000 rpm/raf) e, posteriormente, corados em safranina alcoólica 1% e armazenados em fras-cos de vidro com adição de duas gotas de fenol para evitar a proliferação de fungos.

As fibras foram analisadas em microscópio ótico Olympus BX41® com ocular micrometrada, e as medidas de comprimento, diâmetro total e diâmetro do lúmen foram realizadas. Selecio-naram-se 75 fibras de forma randômica da A. funifera e da E. guineensis. Após essa etapa, foi realizado o cálculo dos valores derivados: fração parede, que indica o percentual de parede ocu-pado em relação ao espaço total ocupado pela fibra; coeficiente de flexibilidade, que aponta a proporção da fibra ocupada pelo lúmen; índice de Runkel, que demostra o grau de colapso das fibras durante o processo de fabricação de pa-pel; e o índice de enfeltramento, que designa a resistência ao rasgo (Foelkel & Barrichelo 1977, Paula & Alves 2005).

A fração parede, o coeficiente de flexibilida-de, o índice de Runkel e índice de enfeltramento das fibras são determinados utilizando-se as fór-mulas: 2(EP/DT) x 100, (DL/DT) x 100, 2(EP/DL) e CT/DT, respectivamente. (CT = comprimento to-tal, DL = diâmetro do lúmen, DT = diâmetro total, EP = espessura da parede) (Paula & Alves 2005).

Resultados e Discussão

Foram calculados os valores médios do com-primento total, espessura da parede, diâmetro do lúmen e o diâmetro total das fibras após a maceração do epicarpo dos frutos (Tab. 1). As fibras são do tipo libriformes com presença de bifurcações nas extremidades, para A. funifera (Fig. 1A-C) e apresentando deposição de subs-tâncias deconhecidas no lúmen em E. guineensis (Fig. 1D-F). A partir dos dados da Tabela 1 foi pos-sível calcular os valores derivados para as duas espécies em questão (Tab. 2).

Na qualificação das fibras para produção de energia são considerados os valores da fração pa-rede, que devem ser superior a 60%, e do índice

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de Runkel, a partir de 2 (Foelkel & Barrichelo 1977, Paula & Alves 2005). Para produção de ce-lulose, além da fração parede, que deve ser in-ferior a 40%, e do índice de Runkel (até 1,0 - boa para papel), outros índices são considerados, a saber: o coeficiente de rigidez, que deve ser su-perior que 60%, e índice de enfeltramento, no qual se requer um valor igual ou superior a 50 (Runkel 1952; Nisgoski et al. 2011).

De acordo com os resultados da Tabela 2, nota-se que os frutos de ambas as espécies apre-sentam fibras com características similares, considerando os valores derivados em questão, com paredes relativamente espessas em relação

ao diâmetro total da fibra (Foelkel & Barrichelo 1975). A fração parede é superior a 60%, o índice de Runkel superior a 1,0 (limite máximo do valor que considera a fibra como boa para produção de papel) e o índice de enfeltramento inferior a 50. De acordo com a fração parede é possível es-tipular o percentual de lignina, celulose e hemi-celulose das fibras constituintes do fruto, sendo, portanto, este percentual maior que 60% para as duas espécies estudadas (Paula 2005).

Conforme os parâmetros analisados, in-fere-se que as fibras do pericarpo dos frutos de A. funifera e E. guineensis possuem “status” para geração de energia por apresentar fração

FIGURA 1. Fotomicrografias de fibras dos resíduos do fruto de Attalea funifera Mart. (1A-C) e Elaeis guineensis Jacq. (1D-F). Escala: 50 µm.

TABELA 1. Valores médios das medidas realizadas nas fibras de Attalea funifera Mart. e Elaeis guineensis Jacq.

Medidas / Espécies Attalea funifera Elaeis guineensisComprimento total 675,07 µm 455,40 µmDiâmetro total 16,07 µm 15,40 µmEspessura da parede 4,93 µm 4,75 µmDiâmetro do lúmen 6,20 µm 5,45 µm

TABELA 2. Valores derivados médios utilizados para qualificação das fibras de Attalea funifera Mart. e Elaeis guineensis Jacq.

Valores derivados / Espécies Attalea funifera Elaeis guineensisFração parede 61,74% 63,59%Coeficiente de rigidez 38,26% 36,41%Índice de Runkel 1,91 2,46Índice de enfeltramento 43,91 31,20

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parede entre 60-63% e com isso, biomassa sufi-ciente para sustentar a combustão. Não sendo recomendadas para produção de celulose por não dispor de fração parede inferior a 60%, ín-dice de Runkel menor que 1,0 e índice de enfel-tramento superior a 50. Os dados apresentados demonstram a qualificação do esclerênquima das espécies A. funifera  e  E. guineensis  para a combustão,  além da importância econômica já atribuída à estas palmeiras, visto sua utilização em artesanatos, dentre outras, constituindo-se esta utilidade como mais uma alternativa para geração de fonte de renda para os agricultores.

Conclusão

De acordo com os dados obtidos, conclui-se que o epicarpo do fruto das palmeiras A. funifera e E. guineensis, considerados, muitas vezes, resí-duos não utilizáveis comercialmente, caracteri-zando um problema enfrentado pelos produto-res, apresentam fibras que os qualificam para a produção de energia, agregando valor à utiliza-ção destes frutos, evitando o desperdício e indi-cando um manejo mais adequado e sustentável.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Alexsandro dos Santos Sousa pela coleta do material em cam-po; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - CNPq (405811/2013-6) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta-do da Bahia - FAPESB (T.O. PET0039/2012, PNE 0020/2011), pelo auxílio financeiro.

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Introdução

A família Arecaceae, representada pelas pal-meiras, é constituída por 240 gêneros e aproxi-madamente 2.700 espécies, e distribuem-se em todas as regiões do mundo sendo que a maioria das espécies se concentra nas regiões tropical e subtropical apresentando, portanto, uma distri-buição pantropical (Lorenzi et al. 2004, 2010). Pelo conjunto de características botânicas pe-culiares, representantes das Arecaceae apre-sentam potencial de uso diversificado em seto-res como ornamental, econômico e nutricional (Bauermann et al. 2010).

No Brasil, a família Arecaceae apresenta 35 gêneros e 380 espécies, sendo referidas para a região Nordeste cerca de 80 espécies, distri-buídas em 16 gêneros (Noblick 2018). O estado da Bahia, em especial, é referência no cultivo de espécies como Allagoptera arenaria (Gomes) O. Kuntze (Caxandó), Attalea funifera Mart. (Pia-çava), Cocos nucifera L. (Coqueiro), Elaeis gui-neensis Jacq. (Dendenzeiro) e Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licuri), sendo esta última comum também no norte de Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

A região sul do estado da Bahia destaca-se pela presença das grandes populações de es-pécies de Arecaceae, como a Piaçava (Attalea funifera), Coqueiro (Cocos nucifera) e Dendê (Elaeis guineensis), que contribuem de forma

significativa para o desenvolvimento da região, empregando uma parcela da população na ex-tração da fibra da piaçava, como na extração do óleo de dendê e produção de coco. Além dessas atividades, a exploração apícola tornou-se im-portante, principalmente com a produção de pólen apícola monofloral que é bastante apre-ciado pelos consumidores, por conta da tex-tura, coloração e sabor adocicado. Contudo, apesar da presença de exploração apícola na região, pouco se tem conhecimento a respeito da atividade, desde dados de flora apícola a in-formações sobre morfologia polínica das fontes florais visitadas pelas abelhas para elaboração dos seus produtos.

A carência de estudos acerca da morfologia polínica das Arecaceae é notória pelos poucos trabalhos disponíveis para a família (Harley & Baker 2001, Martins et al. 2002, Harley & Drans-field 2003, Rodriguez 2003, Bauermann et al. 2010). Por outro lado, informações relacionadas à palinologia da família Arecaceae estão presen-tes em diversos estudos de melissopalinologia (Barth 1989, Moretti et al. 2000, Aires & Freitas 2001, Ramalho et al. 2007, Oliveira et al. 2010, Silva & Santos, 2014, Jesus et al. 2014). Assim, reconhecendo a necessidade de ampliação do conhecimento da morfologia polínica de espé-cies da família Arecaceae, uma investigação da morfologia polínica com as espécies de palmei-ras de importância ecológica e econômica foi desenvolvida, principalmente pela grande par-

O pólen de piaçava (Attalea funifera Mart.), dendê (Elaeis guineensis Jacq.) e licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.), do litoral sul da Bahia

Cleber da Mota Carneiro, Paulino Pereira Oliveira & Francisco de Assis Ribeiro dos Santos

A família Arecaceae, representada pelas palmeiras, é constituída por 240 gêneros e aproximadamente 2.700 espécies, sendo, no Brasil, representada por 35 gêneros e 380 espécies, já na região Nordeste são re-feridas cerca de 80 espécies, distribuídas em 15 gêneros. A partir de grãos pólen acetolisados foi estudada, sob microscopia de luz, a morfologia polínica de dendê (Elaeis guineensis), licuri (Syagrus coronata) e da piaçava (Attalea funifera), espécies de palmeiras de importância no Nordeste. Os grãos de pólen dessas es-pécies variam de médios a grandes, de subprolatos a prolatos, com abertura monossulcada (com âmbito elipsoidal) e/ou tricotomossulcada (com âmbito triangular), ornamentação psilada. Pelo padrão morfopo-línico homogêneo, as espécies estudadas foram consideradas como estenopolínicas, não sendo possível sua diferenciação pelos grãos de pólen.

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ticipação desse grupo de plantas na produção de pólen apícola em áreas do Nordeste.

O presente trabalho tem como objetivo geral caracterizar morfologicamente os grãos de pólen das espécies Attalea funifera, Elaeis guineensis e Syagrus coronata pertencentes à família Arecaceae, de modo a permitir a sua individualização no contexto de amostras de pólen apícola.

Material e métodos

O material polinífero analisado foi obtido a partir das coletas de campo, diretamente dos indivíduos representantes das espécies de Atta-lea funifera, Elaeis guineensis e Syagrus coronata, coletando três espécimes por espécie estudada. A preparação dos grãos de pólen seguiu o mé-todo padrão de acetólise de Erdtman (1960), em seguida preparadas lâminas com gelatina glice-rinada para as analisadas qualitativa e quantita-tivamente, sob microscopia de luz.

As medidas foram realizadas no prazo de uma semana para evitar variações na dimensão do grão de pólen, conforme recomendações de Salgado-Labouriau (1973). As medidas de tama-nho foram feitas aleatoriamente, em 25 grãos de pólen por espécime, nos seguintes diâmetros equatoriais maior (D) e menor (d) no caso dos grãos monossulcados, e diâmetro equatorial no caso de grãos de pólen tricotomossulcados; o ta-manho foi estabelecido de acordo com a maior di-mensão encontrada em qualquer dos diâmetros.

Para as mensurações da exina, foram utili-zados dez grãos de pólen por espécime; a com-paração entre as camadas da exina (sexina e nexina) foi feita qualitativamente em micros-copia óptica, para análise sob objetiva de 1000× (imersão). Após as mensurações, calcularam-se as médias aritméticas.

A descrição palinológica seguiu o padrão utilizado em trabalhos de morfologia polínica, tendo como base a nomenclatura palinológica de Punt et al. (2007). Além disso, catálogos polí-nicos e especialistas na área, contribuíram para a descrição detalhada da morfologia polínicas das espécies.

As fotomicrografias foram realizadas em microscópio óptico, em aumento de 1000×, por meio de sistema fotográfico digital acoplado ao mesmo. As lâminas palinológicas foram depo-sitadas na Palinoteca do Laboratório de Micro-morfologia Vegetal da Universidade Estadual de Feira de Santana (PUEFS).

Resultados e discussão

A seguir são apresentadas as descrições pa-linológicas das espécies estudadas, seguida de uma caracterização botânica com informações acerca da distribuição geográfica, baseada em dados disponíveis em literatura.

Attalea funifera Mart. (Figura 1 A-C)Nomes populares: piaçava, piaçaveira, piaçaba--da-bahia.Descrição polínica: Grãos de pólen de tamanho grande, com simetria radial e bilateral, oblatos, âmbito subtriangular, com abertura variando de tricotomossulcada, em sua maioria, a monos-sulcada. Exina psilada, com cerca de 3,0 µm de espessura, sexina com espessura maior ou igual à nexina. Tamanho: tricotomossulcados = (57) 71 (82) µm.Observações gerais: Segundo Lorenzi et al. (2010), o caule apresenta-se desde subterrâneo a 15 metros de altura, atingindo 30 centímetros de diâmetro. Folhas pouco numerosas com lon-gos pecíolos; raque foliar ereta e ligeiramente dobrada na parte apical. Ocorrência: Alagoas, Bahia e Sergipe, na flores-ta costeira e em restingas, sobre diversos tipos de solos (Lorenzi et al. 2010).

Elaeis guineensis Jacq. (Figura 1 D-F)Nomes populares: palma-de-guiné, dendem, palmeira-dendem, coqueiro-de-dendê, dendê.Descrição polínica: Grãos de pólen de tamanho médio, com simetria radial, oblatos, âmbito sub-triangular, com abertura variando de tricoto-mossulcados, em sua maioria, a monossulcados. Exina psilada, com cerca de 2,0 µm de espessura, sexina com espessura igual à nexina. Tamanho: tricotomossulcados = (31) 36 (43) µm; monossul-cados = (35) 44 (53) µm.Descrição botânica: O caule é classificado como estipe, ereto e sem ramificações. Pode medir até 30 metros de altura, porém, em condições flo-restais, é raro atingir mais de 20 metros. O diâ-metro médio do caule é de 22 a 75 centímetros, com variações em função da espécie, do cultivar e do ambiente (Gonçalves 2001).Ocorrência: É uma palmeira originária da Cos-ta Ocidental da África, sendo este um dos prin-cipais locais onde é cultivada, juntamente com a Ásia e Américas Central e do Sul. No Brasil, os plantios comerciais estão principalmente

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nas regiões Norte e Nordeste. A região Norte é, atualmente, a responsável pela maior produção nacional de dendê, com destaque para os esta-dos do Pará e Amapá. Já a região Nordeste tem menor participação na produção nacional do dendê, destacando-se neste cenário o estado da Bahia como principal produtor da região (Go-mes et al. 2009).

Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Figura 1 G-I)Nomes populares: licuri, licurizeiro, ouricuri, coqueiro-cabeçudo.Descrição polínica: Grãos de pólen de tamanho médio, com simetria radial e bilateral, oblatos, âmbito subtriangular, com abertura conspícua, de forma irregular variando de monossulcada, em sua maioria, a tricotomossulcada. Exina psi-

lada, com cerca de 2,0 µm de espessura, sexina com espessura maior ou igual à nexina. Tama-nho: monossulcados = (31) 42 (49) µm.Observações gerais: É uma palmeira que apresenta caule solitário, ereto e com folhas dispostas em cinco fileiras verticais. O caule pode apresentar de três a dez metros de altura, e o diâmetro pode variar de 15 a 25 centímetros (Lorenzi et al. 2004).Ocorrência: Típica do semiárido nordestino, a espécie tem uma nítida preferência pelas re-giões secas e áridas das caatingas e florestas se-midecíduas, assim como nas zonas de transição para a restinga e o cerrado, abrangendo desde o norte de Minas Gerais, ocupando toda a porção oriental e central da Bahia, até o sul de Pernam-buco, incluindo também os Estados de Sergipe e Alagoas (Noblick 1986).

FIGURA 1. Grãos de pólen da família Arecaceae em vista polar. A-C. Attalea funifera Mart. D-F. Elaeis guineensis Jacq. G-I. Syagrus coronata (Mart) Becc. (Escala = 10μm). [A coloração rosada é decorrente do corante safranina, utilizado nas preparações]

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Comentários

Alguns autores descrevem os grãos de pólen da família com uma ampla variedade de carac-teres, especialmente entre os gêneros, sendo as-sim indicada uma família euripolínica (Aires & Freitas 2001, Moretti et al. 2000, Ramalho et al. 2007, Bauermann 2010).

As diferenças nos caracteres são observadas principalmente na abertura e na ornamentação. O tipo apertural pode variar de sulcado, com o sulco linear (monossulcado) ou trirradiado em Y (tricotomossulcado). Os autores citados aci-ma indicam haver ainda para a família grãos de pólen porados, diporados e triporados, mas não foram observados nas espécies estudadas. Em relação à ornamentação, os grãos de pólen das palmeiras exibem uma diversidade os padrões como escabrado, equinado, verrucado, psilado, baculado e reticulado. Como o estudo aqui apre-sentado é vinculado à aplicação dos dados mor-fopolinicos à melissopalinologia, só foram feitas análises em microscopia óptica, de modo que os grãos de pólen das espécies estudadas nesse ní-vel se apresentaram sempre com exina psilada.

Nas três espécies estudadas foram encon-trados grãos de pólen com dimorfismo apertural, isto é, com grãos de pólen monossulcados e ou-tros tricotomossulcados na mesma antera. Con-tudo, vale ressaltar que, mesmo com a presença desse dimorfismo, nas espécies Attalea funifera e Elaeis guineensis, predominaram grãos de pólen com abertura do tipo tricotomossulcados. Já em Syagrus coronata, o tipo apertural monossulcado foi o mais frequente dentre os grãos de pólen.

Variações nos diâmetros dos grãos de pólen das palmeiras estudadas também foram obser-vadas, caracterizando os grãos de pólen de Sya-grus coronata como médios, e os de Attalea funi-fera e Elaeis guineensis como grandes.

Conclusões

A morfologia dos grãos de pólen das espécies aqui examinadas permitiu inferir que os grãos de pólen são simétricos, subtriangulares, com pre-sença dos tipos aperturais monossulcado e/ou tricotomossulcado, e sexina psilada. O conjunto dessas características revelou-se insuficiente na separação dos táxons, pois são muito homogê-neos em suas características polínicas (são este-nopolínicos). Nestes casos emprega-se o agrupa-mento das espécies em tipos polínicos, conside-rando as limitações das análises sob microscopia de luz como recurso para identificação.

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A riqueza vegetal existente no nosso pla-neta é muito elevada, porém, muitas vezes, ne-gligenciada por seus habitantes. A maioria das espécies botânicas apresenta um potencial eco-nômico (medicinal, ornamental e industrial), além de contribuir para a manutenção dos ser-viços ambientais como, por exemplo, a polini-zação. Outro ponto fundamental relacionado a essa biodiversidade vegetal está diretamente ligado ao desenvolvimento agronômico, sendo fundamental para a indústria alimentícia, far-macêutica e de cosméticos, assim como uma fonte de renda para as comunidades locais e/ou regionais. Do mesmo modo, representa um va-lor cultural, científico, educacional, além do seu próprio valor.

As florestas tropicais possuem cerca de 70% das espécies vegetais, mas contribuem pouco como fonte de matéria prima. Isso está associa-do ao baixo conhecimento do potencial das plan-tas. O Brasil é um país considerado extremamen-te diverso do ponto de vista botânico, apresenta um dos biomas mais ricos do planeta, como a Amazônia e Mata Atlântica, por exemplo. Atrela-do a essa diversidade, encontram-se as elevadas taxas de endemismos que caracterizam tais re-giões e, talvez, por conta disso, a biodiversidade

não seja conhecida na sua totalidade, diante da sua complexidade e dimensão.

Dentre as 90 mil espécies vegetais existen-tes na América do Sul, um pouco mais de 1% já foi analisada para diferentes utilidades. Segun-do Myers (1984), as pesquisas relacionadas com as florestas tropicais encontram-se na pré-his-tória, uma vez que menos de 10% das espécies analisadas são comercializadas em larga escala. Essa falta de investimento na pesquisa científi-ca reflete na falta de conhecimento acerca das espécies existentes no país.

No âmbito das florestas neotropicais, des-tacam-se algumas famílias botânicas como, por exemplo, Arecaceae, considerada a segunda maior família, perdendo apenas para as gramí-neas (Poaceae), dentro do grupo das monocotile-dôneas. O Brasil, sem dúvida, é conhecido como terra das palmeiras, uma vez que possui o maior número de espécies em estado nativo. Segundo Lorenzi et al. (2010), é uma família que apresen-ta 2.700 espécies descritas, pertencentes a 240 gêneros no mundo.

Segundo Dransfield et al. (2008), as palmei-ras se constituem num dos principais ramos da evolução das monocotiledôneas. No Brasil, ocor-

Potencial das palmeiras para a produção de pólen apícola: Foco na Costa do Dendê, litoral da Bahia

Rodolfo de França Alves, Alexsandro dos Santos Sousa & Francisco de Assis Ribeiro dos Santos

O Brasil é um país considerado extremamente diverso do ponto de vista botânico e apresenta um dos biomas mais ricos do planeta, como a Amazônia e Mata Atlântica. No âmbito das florestas neotropicais, destacam-se algumas famílias botânicas como, por exemplo, Arecaceae, considerada a segunda maior família dentro do grupo das monocotiledôneas e as espécies que constituem essa família apresentam a característica de serem poliníferas. Dentre as espécies encontradas na região Nordeste, destaque para Cocos nucifera L., Elaeis guineensis Jacq. e Attalea funifera Mart., que são destaques nos estados de Ser-gipe e Bahia, respectivamente. Nessa região há registro de pesquisas para otimização da produtividade das palmeiras, através da análise polínica para o conhecimento dos recursos utilizados pelas abelhas, as-segurando uma maior veracidade na identificação dos grãos de pólen para os produtores. A produção e comercialização de pólen apícola monofloral são recentes. Nesse cenário, o pólen apícola monofloral da família Arecaceae ganhou evidência, principalmente por conta de suas características nutricionais, além da produção massiva ao longo de todo o ano. Assim, implantação de apiários em monoculturas de palmei-ras torna-se imprescindível, pois contribui para o desenvolvimento tanto do cultivo quanto da comunidade local, já que surge uma fonte secundária de renda para a população.

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rem, de forma natural, 38 gêneros e cerca de 270 espécies (Lorenzi et al. 2010). As palmeiras pos-suem uma ampla distribuição geográfica, além de possuir elevada produtividade e diversidade na sua utilização.

Por ser uma família que possui uma am-pla distribuição, a região tropical e subtropical são os principais centros de dispersão (Martins & Filgueiras 2006), com a maior ocorrência de gêneros e espécies concentrando-se na Ásia, In-donésia, Ilhas do Pacífico e Américas. Contudo, algumas espécies apresentam uma distribuição tão limitada que são consideradas endêmicas de determinadas regiões. Particularmente para a região tropical, a importância das palmeiras é ainda mais expressiva devido à grande diversi-dade de produtos que delas podem ser obtidos, especialmente aqueles relacionados aos seus frutos e sementes (Batugal et al. 2009).

Dentro da família Arecaceae é possível des-tacar algumas linhas de pesquisa, além da botâ-nica, que se destacam como, por exemplo, a área de análises químicas e biotecnológicas princi-palmente. Trabalhos relacionados com a extra-ção de compostos químicos, atividade biológica e atividade antioxidante (Silva & Andrade 2005; Leja et al. 2007; Silva et al. 2009; Yang et al. 2013) também ganham destaque.

As espécies que constituem a família Are-caceae apresentam uma produção significativa

de grãos de pólen, característica que classifica as espécies como poliníferas. Além disso, o grão de pólen é o recurso proteico utilizado pelos po-linizadores durante o forrageio. Portanto, esse recurso tem um papel importante na dieta das abelhas e, consequentemente, no desenvolvi-mento da colmeia (Ramalho et al. 1985).

Dentre as espécies encontradas na região Nordeste, destaque para Cocos nucifera L., Elaeis guineensis Jacq. e Attalea funifera Mart., que são encontradas em grandes quantidades nos esta-dos de Sergipe e Bahia, respectivamente. Essas espécies tornaram-se referências do ponto de vista econômico, uma vez que mobiliza a econo-mia local em que estão inseridas, contribuindo para o desenvolvimento da região.

Existem inúmeras possibilidades de aprovei-tamento do recurso oriundo dessas espécies, po-rém, algumas formas de aproveitamento se des-tacam melhor que outras como, por exemplo, a produção de coco, extração do óleo de dendê e fa-bricação de diversos materiais a partir das fibras da piaçava que são produtos primários dessas espécies (Figura 1). Além dessas, outros produtos considerados secundários são utilizados como, por exemplo, o potencial apícola (Alves & Santos 2017), haja vista que apresentam uma produção intermitente de grãos de pólen ao longo do ano.

As espécies da família Arecaceae destacam--se por conta da sua abundância e riqueza no meio

FIGURA 1. Produtos primários oriundos das espécies Attalea funifera, Cocos nucifera e Elaeis guineensis, respectivamente: Produção de fibras de piaçava (A), exploração de coco (B), extração de óleo de dendê (C).

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ambiente. A presença de micro habitats na sua es-trutura possibilita a sua utilização por vários gru-pos de animais, além do mais são consideradas espécies-chave em vários ecossistemas. Em algu-mas regiões, as palmeiras são responsáveis pela caracterização do ambiente como, por exemplo, os coqueirais (Cocos nucifera), dendezeiros (Elaeis guineensis) e piaçavas (Attalea funifera), encontra-dos na região Nordeste do Brasil (Figura 2).

O potencial econômico das espécies citadas acima é muito alto, por isso o surgimento de mo-noculturas de palmeiras tornou-se um atrativo para muitos produtores agrícolas. Contudo, esse potencial está vinculado a outros fatores como, por exemplo, temperatura, pluviosidade, caracte-rísticas do solo (micro e macronutrientes), entre outros. O uso dessas monoculturas associado com

a atividade apícola também passou a ser uma ati-vidade bastante atrativa, rentável e diferenciada.

A monocultura associada com a apicultura passou a ser uma atividade bem lucrativa, já que os produtos gerados (mel, própolis e pólen apí-cola) são bem aceitos no mercado consumidor como, por exemplo, o pólen monofloral prove-niente de Cocos nucifera, produzido no estado de Sergipe (Alves & Santos 2014); a própolis verde, produzida em algumas regiões do Centro-Oeste e Sudeste; e o mel, que é o produto mais comer-cializado e encontrado em várias partes do país.

O pólen monofloral das palmeiras (Areca-ceae), em específico, ganha um destaque no mercado consumidor por conta de algumas ca-racterísticas como a textura, coloração e o sabor

FIGURA 2. Palmeiras na “Costa do Dendê”. A – Cultivo de dendezeiro no município de Taperoá, B – Plantação de piaçaveira no município de Cairú, C – Produção de mudas de açaizeiro, D – Cultivo de açaizeiro no entroncamento da BA 001 com BA 250, município de Ituberá, E – Detalhe de Seu Antônio, o produtor das mudas de açaí (à esquerda) e Alexsandro Sousa, o pesquisador (à direita).

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adocicado, principalmente das espécies Cocos nucifera e Elaeis guineenses, que são atrativos ao gosto do consumidor.

As palmeiras do estudo

Segundo Alves & Santos (2017), a família Are-caceae possui espécies com grande potencial na produção de pólen apícola monofloral. Entre as espécies que ocorrem na Bahia, Attalea funifera Mart., conhecida popularmente como Piaçava (Figura 3), tem como principal produto comercial sua fibra utilizada para confecção de vassouras, contudo, tem a borra, a palha o coquilho e as se-mentes como subprodutos também rentáveis, usados na indústria de cosméticos, artesanato, construção civil, produção de insumos alimentares em comunidades tradicionais e em paisagismo (Guimarães & Mattos 2012). Essa

palmeira é endêmica do sul do Estado (Noblick 1991), com predomínio na zona costeira, princi-palmente nos municípios de Cairu, Ilhéus, Nilo Peçanha, Ituberá, Canavieiras, Belmonte, Tape-roá e Valença (Avelar 2008), nas qual é utilizada pelos apicultores locais para a produção de pólen.

O nome vulgar piaçava é de origem tupi e significa planta fibrosa, sendo utilizada para produção de utensílios caseiros como, por exem-plo, a vassoura. Cada palmeira pode formar, aproximadamente, 8 a 10 kg de fibras, com me-didas de até 4 metros (D’Almeida et al. 2006). Por ser uma planta que necessita de pouco recurso financeiro para plantio, manutenção e explora-ção, a piaçava passou a ser uma opção agrícola atraente, uma vez que possui custos reduzidos e altos rendimentos (Avelar 2008).

Outra espécie com grande potencial eco-nômico é Elaeis guineensis L., conhecida popu-

FIGURA 3. Piaçaveira (Attalea funifera Mart.). A – Detalhe da planta, com destaque para sua folhagem, B – Inflorescência com flores masculinas, C – Inflorescência formada por flores femininas e masculinas, D – Detalhe do fruto (Coco de Piaçava) em corte transversal.

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larmente por dendê (Figura 4). Destaca-se a tal ponto de caracterizar a costa baiana, conheci-da como “Costa do Dendê” (Figura 5), na região Nordeste. Essa planta tem uma característica marcante que está relacionada com a produção do óleo de dendê, utilizado em diversos pratos tí-picos da culinária baiana. Além disso, é uma es-pécie altamente polinífera e contribui bastante para a expansão da produção apícola na região do baixo sul da Bahia, promovendo o desenvolvi-mento e diversificação da economia local.

O dendezeiro é uma planta originária da cos-ta ocidental da África, sendo introduzido no Bra-sil no século XVII, através do tráfico de escravos. É uma planta que apresentou uma excelente adap-tação por conta das características climáticas semelhantes e possui como principal produto de extração o fruto que pode produzir dois tipos de óleo: o óleo de dendê ou de palma (palm oil, como é conhecido no mercado internacional), extraído da parte externa do fruto, o mesocarpo; e o óleo de palmiste (palm kernel oil), extraído da semen-te, similar ao óleo de coco e de babaçu.

No contexto atual, o Brasil ocupa a 11ª posi-ção em relação à produção anual de óleo de den-dê, sendo o Pará o maior produtor, seguido pelos estados do Amapá e Bahia. Assim como na produ-ção da piaçava, a dendeicultura apresenta baixo custo, boa qualidade e ampla utilização, sendo considerado uma das mais importantes ativida-des agrícolas das regiões tropicais úmidas.

Cocos nucifera L. (Figura 6) apresenta uma distribuição espacial ampla, sendo considerada a frutífera mais difundida no mundo, uma vez que é encontrada em todos os continentes, com origem nas ilhas de clima tropical e subtropical do Oceano Pacífico. O coqueiro é uma das espé-cies com maior importância socioeconômica das regiões tropicais, sendo produzida em larga escala em 86 países, com destaque para a Indo-nésia, seguida por Filipinas e Índia. Segundo a FAO, o Brasil ocupa a quarta posição com uma produção superior a 2 milhões de toneladas.

Segundo o Grupo Consultivo de Pesquisa Agropecuária Internacional (CGIAR), o coqueiro

FIGURA 4. Dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.). A – Detalhe da árvore, B – Inflorescência feminina receptiva, C – Inflorescência masculina em total deiscência, D – Detalhe de frutos maduros (dendê).

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FIGURA 5. Localização da Costa do Dendê. A – Mapa do Brasil, em destaque estado da Bahia, B – Destaque dos municípios que compõem a “Costa do Dendê”, C – Foto do município de Taperoá com palmeiras ao fundo.

FIGURA 6. Coqueiro (Cocos nucifera L.). A – Plantação de no município de Brejo Grande (Sergipe), e B – destaque para a inflorescência.

é uma das vinte e duas culturas mais valorizadas no mundo, sendo importante o investimento na conservação da espécie, uma vez que têm um papel essencial na sustentabilidade de ecossis-temas frágeis como, por exemplo, regiões costei-ras (Siqueira et al. 2002). Em relação à produção e exploração do recurso, o Brasil é o único país do mundo no qual o coco não é utilizado para a obtenção do óleo, sendo a exploração mais fo-cada em outros recursos como, por exemplo, a água de coco.

A quantidade de grãos de pólen coletado por uma colmeia é variável, pois depende de alguns fatores como a espécie da abelha, a disponibili-dade de florada e as necessidades nutricionais da colônia (Seeley 1983). Vale ressaltar que essa

quantidade, associada com a qualidade do pólen coletado, afeta diretamente a criação de larvas e a longevidade das abelhas, assim como a repro-dução e produção da colônia (Brodschneider & Crailsheim 2010).

Por outro lado, vale destacar o potencial bioativo encontrado nos grãos de pólen que, en-riquecido com a saliva das abelhas, apresenta uma composição química muito valiosa e bas-tante estudada por diversas instituições de pes-quisa e países (Carpes et al. 2007; Marghitas et al. 2009; Morais et al. 2011; Cheng et al. 2013; Pascoal et al. 2014). Esses estudos promoveram um crescimento elevado do produto no merca-do interno e externo, pois a busca por uma vida saudável associada com uma alimentação equi-

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librada tornou esse produto bem visto pelos con-sumidores. O pólen apícola é considerado um suplemento alimentar, além de ser uma exce-lente fonte energética e apresentar proprieda-des bioativas e antioxidantes (Silva et al. 2009; Féas et al. 2012; Bogdanov 2014).

Produção do pólen apícola

A apicultura com o objetivo de produzir pó-len apícola é uma opção interessante, do ponto de vista financeiro, para os apicultores, e se tor-nou destaque no Brasil devido aos bons preços ofertados pelo produto no mercado consumidor nacional, além der ser uma alternativa para di-versificação dos produtos obtidos nas colmeias.

Segundo Barreto et al. (2005), a produção de pólen apícola no Brasil começou de forma modesta no final da década de 80. Os primei-ros trabalhos brasileiros sobre a caracterização, processamento, coleta, preparo e comercializa-ção de pólen foram realizados por Wiese (1982), Alves (1995), Moreti (1995), Funari (1997), Funari et al. (1998), entre outros trabalhos.

No sentido ecológico, a produção do pólen apícola inicia-se com as abelhas operárias no campo, com a coleta da matéria prima (grãos de pólen) diretamente das flores e, dessa forma, realizando a polinização. Esses grãos de pólen são armazenados nas patas traseiras (corbícu-las) e são transportados até a colmeia para es-tocagem e alimentação das larvas e adultos. Por conta da sua riqueza nutricional, segundo Al-meida-Muradian et al (2005), esse recurso auxi-lia no desenvolvimento de tecidos e órgãos des-ses animais.

A partir do momento que os grãos de pólen são aglutinados e armazenados nas corbículas,

passa a ser chamado de pólen apícola, pois a adi-ção de substâncias salivares modifica quimica-mente sua composição (Barreto et al. 2005). Esse produto, assim, é constituído por uma variedade enorme de espécies vegetais, cujos grãos de pólen foram levados até as colmeias para estocagem, porém antes mesmo de ser depositada, uma par-te desse produto fica retida (70%), sendo trans-portada para o interior da colmeia apenas 30%.

Essa retenção é feita mecanicamente com uma estrutura denominada pollen trap (coletor de pólen), que é colocada na entrada da colmeia (alvado) e propicia a retirada de uma parte do re-curso (Figura 7). Vale ressaltar que a colocação desse coletor deve ser, preferencialmente, no período de abundância de flores, pois assim não prejudica o desenvolvimento da colônia.

É importante ressaltar que a instalação desse coletor de pólen deve ser controlada, pois geralmente as abelhas operárias começam a migrar para as colmeias sem os coletores e isso pode provocar uma diminuição progressiva da população de abelhas e, consequentemente, na produção de pólen apícola (Alves 2013). Para tanto, é necessário que o apicultor retire o cole-tor a cada dois dias, promovendo um equilíbrio nutricional no interior da colmeia.

Após essa primeira etapa, o pólen apícola re-tido no coletor de pólen é retirado e transporta-do para o processamento que pode ser realizado através de práticas artesanais (Figura 8). O pólen apícola, inicialmente, é congelado em freezers domésticos, pois esse procedimento obrigatório funciona como agente destruidor de ácaros, ovos e larvas de traças (Salomé & Salomé 1998). Em se-guida, o material passa pelas estufas de ventila-ção para a remoção de partículas leves como, por exemplo, fragmentos de abelhas, pernas, asas, dentre outros. Por fim, o produto apícola é enca-

FIGURA 7. A – Colmeia com presença do coletor de pólen (pollen trap) no alvado e B – destaque para coletor com a entrada das abelhas Apis mellifera L.

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minhado para sala de beneficiamento, cujo setor é responsável pela limpeza detalhada do produ-to, impedindo a presença de corpos estranhos no produto apícola final (Figura 9).

Após esses procedimentos, o pólen apícola está pronto para comercialização, porém é ne-cessário que esteja regularizado pela vigilância sanitária, uma vez que é imprescindível que o produto apresente alguns parâmetros regidos pelo Ministério da Agricultura e do Abasteci-mento como, por exemplo, teor de umidade, pro-teínas, lipídios, cinzas, carboidratos, pH, dentre outros dentro dos valores estimados (Tabela 1). Essa fiscalização também depende da esfera de comercialização do produto apícola, podendo ser comercializado a nível local, estadual ou federal.

O pólen apícola, para ser considerado de boa qualidade, é necessário que apresente determi-nadas características, como mostradas na tabela 1. Esses parâmetros são importantes e devem ser fiscalizados porque a maioria dos apicultores trabalha de forma clandestina, normalmente por falta de conhecimento ou por encontrar di-ficuldade na regularização do produto perante os órgãos responsáveis (Barreto et al. 2005).

O produto apícola chega ao mercado con-sumidor com uma variação muito grande no valor, pois a definição de um preço padroniza-do no Brasil torna-se complicado por conta dos impostos e taxas sobre o produto. Essa variação no valor chama a atenção do produtor para o conhecimento de informações sobre custos e processos logísticos para implantação de pre-ços fixos para as diversas formas de comercia-lização (Barreto et al. 2005). Essas informações são importantes para o desenvolvimento de es-tratégias para produção em larga escala e com visão de exportação para outros países como, por exemplo, Santa Catarina, que é o único es-tado que possui essa capacidade, com exporta-ções para Uruguai e Colômbia.

Segundo Barreto et al. (2005), as rotas de co-mercialização desse produto apícola geralmente são para o próprio estado ou até mesmo dentro do país, como é o caso do Paraná e da Bahia, que suprem as demandas internas e de estados próxi-mos. A produção de pólen apícola é muito rentável, principalmente quando comparada ao mel, o que torna a atividade altamente atrativa. Os números da produção de pólen brasileiro são estimados na ordem de 200 toneladas ao ano, com destaque para os estados da Bahia, Santa Catarina e Paraná.

Produção de pólen apícola na Costa do Dendê (Bahia)

No cenário de produtividade em palmeiras, a apicultura apresenta-se como uma ferramen-ta de otimização para polinização e produção frutos. Através da apicultura associada a mono-culturas (pólen apícola monofloral), a produção das plantações torna-se muito mais rentável e, por isso, já vem sendo bem aceito no mercado consumidor (Alves & Santos 2014).

Na região Nordeste, há registro de pesquisas para otimização da produtividade das palmei-ras, através da análise polínica para o conheci-mento dos recursos utilizados pelas abelhas, as-segurando uma maior veracidade na identifica-ção dos grãos de pólen para os produtores (Alves 2017). Existem também trabalhos com seleção de indivíduos geneticamente superiores de dende-zeiros (E. guineensis) e a sua interação com o am-biente para um bom desempenho agronômico na produtividade de frutos (Santos 2010). Além desses, há pesquisa sobre polinização assistida com a introdução de um polinizador mais efi-ciente, Elaeidobius kamerunicus Faust. - Coleop-tera, a fim de aumentar a taxa de fecundação em dendezeiros e, consequentemente, sua frutifica-ção (Moura et al. 2008).

FIGURA 8. Etapas da coleta do pólen apícola retido na caixa coletora (pollen trap).

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FIGURA 9. Processamento e beneficiamento do pólen apícola: A – Congelamento em freezers, B – estufas de ventilação e C – limpeza do pólen apícola.

TABELA 1. Parâmetros físico-químicos do pólen apícola, segundo Legislação Brasileira.

PARÂMETROS VALORESTeor de umidade 4,0%

Proteínas 8,0%Lipídios 1,8%Cinzas 4,0%

Carboidratos 14,5 a 55,0%pH 4 a 6

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Com o objetivo de fortalecer as potenciali-dades econômicas locais através segmento da apicultura na região da “Costa do Dendê”, com foco na produção de mel, pólen e própolis, as tur-mas do Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio em Florestas Integrado ao Ensino Médio da CFAF – Casa Familiar Agroflorestal do Baixo Sul da Bahia, localizada em Nilo Peçanha, vem recebendo a capacitação de Iniciação à api-cultura, por intermédio de uma parceria firma-da com a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). Os agricultores jovens são instruídos no conhecimento da flora local, na biologia, manejo das colmeias, confecção de caixas, captura de enxames, preparação de ali-mentos artificiais e investimentos e rendimen-tos das atividades, entre outros.

Desta forma, esses jovens empreendedores tendem a se tornar apicultores a trabalharem em forma de cooperativas. Além do aumen-to de renda pela comercialização de produtos apícolas, estes produtores estarão realizando

polinização assistida que uma ferramenta im-portante na produtividade de frutos das cultu-ras locais.

Um polinizador eficiente é capaz de au-mentar em mais de 40% a produtividade dos frutos das palmeiras da região. Essa “abelha ideal” para polinizar o açaizeiro (Euterpe olera-ceae Mart., Figura 10) já foi identificada como pertencente ao gênero Scaptotrigona, porém ainda está em fase de descrição taxonômica e, por isso, não tem nome científico, mas é bem conhecida pelos criadores de abelhas nativas do Pará como «abelha-canudo». Foi lançado no estado, em 2016, o Programa de Desenvolvimen-to da Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará (Pró-Açaí), elaborado pela Secretaria de Desen-volvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP) juntamente com a Embrapa Amazônia Oriental e diversas instituições, cujo principal objetivo é diminuir a sazonalidade do fruto. Atualmente, 80% da produção ocorrem nos meses de julho a dezembro (Embrapa 2018a,b).

FIGURA 10. Produção de pólen apícola. A – Detalhe de Apis mellifera coletando pólen em flores de dendezeiro, B – Inflorescência de piaçaveira sendo polinizada por abelhas-sem-ferrão, C – Apiário montado por jovens da CFAF (Casa Familiar Agroflorestal) em plantações de piaçava, D – Detalhe do pólen coletado por Apis mellifera.

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O dendezeiro e a piaçaveira são espécies facilmente polinizadas por abelhas com ferrão (Apis mellifera L.) (Figura 11A), que são genera-listas e atraídas pelos aromas liberados pelas in-florescências. Contudo, verifica-se que o pólen apícola destas espécies apresenta altas taxas de grãos de pólen de Mimosa spp. (Leguminosae) o que denota uma competição pelo polinizador (Alves 2017). A piaçaveira é comumente polini-zada por abelhas nativas sem ferrão, que reali-zam o seu forrageio após o forrageio das abelhas com ferrão (Apis mellifera) (Figura 11B).

Com base nas informações sobre a biologia dessas palmeiras fica evidente que plantações de dendezeiro possuem maior potencial para produção de pólen apícola, com florada de feve-reiro a dezembro, em detrimento das plantações de piaçaveira, florada de dezembro a abril, e do açaizeiro, florada de julho a dezembro. Este úl-timo sendo pouco polinizado por Apis, devido à disponibilidade de outros recursos alimentares para forrageio das abelhas. Mas fica evidente que nos meses de dezembro a fevereiro, com ele-vadas temperaturas e altas taxas de insolação, a produção de pólen de plantações de piaçaveira

(Figura 11C) pode ser eficiente, caso ocorra de-clínio drástico na produção do pólen provenien-te de plantações de dendezeiro. Outro ponto importante é disponibilizar no mercado uma di-versidade atrativa de tipos de pólen apícola mo-noflorais (Figura 11D).

O pólen monofloral de palmeiras

A produção e comercialização de pólen apí-cola monofloral é mais recente e, nesse cenário, a família Arecaceae ganha evidência, por conta, principalmente, das características sensoriais mencionadas anteriormente, além da produ-ção massiva ao longo do ano de grãos de pólen. O pólen monofloral das palmeiras se destaca por conta da coloração, textura e sabor adocica-do, como observado nas espécies Cocos nucifera (coqueiro) e Elaeis guineensis (dendezeiro) (Al-ves 2017). Contudo, a produção ainda é modesta quando comparada com os demais produtos apí-colas, pois, normalmente, essa produção é consi-derada uma estratégia secundária, uma vez que o foco inicial é o aumento da produtividade da monocultura através da polinização.

FIGURA 11. Açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.). A – Detalhe da planta, com infrutescência abaixo das folhas, B – Inflorescência flores em plena antese, C – Detalhe da ráqui e inserção das flores, D – Detalhe do fruto maduro a esquerda e frutos imaturos a direita.

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Esse cenário pode ser facilmente visualiza-do nas monoculturas de dendê encontradas no baixo sul da Bahia, através da indústria Opalma, que possui aproximadamente 1.900 hectares de exemplares de dendê plantados nessa região, com o objetivo de aumentar a produção do fruto e extrair o óleo de dendê. Situação semelhante é encontrada no estado de Sergipe com a mono-cultura de coco, mais especificamente nos mu-nicípios de Pacatuba, Neópolis e Brejo Grande, sendo este último o maior produtor de pólen apícola monofloral com uma produção mensal de 500 kg, colocando o estado de Sergipe como segundo maior produtor do Nordeste.

Essa elevada produção de pólen apícola monofloral de Arecaceae no estado de Sergipe atraiu a atenção de consumidores de outros Es-tados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Tocantins, Alagoas, Bahia e Santa Catarina. A Associação Brejograndense de Criadores de Abelhas (ABECA) é a responsável por toda essa produção e expressividade na re-gião, sendo considerado um projeto de inclusão social e que agrega muito valor na região, uma vez que propicia emprego e renda no município de Brejo Grande e cidades vizinhas.

Portanto, a utilização desses recursos como forma secundária de obtenção de renda pode facilmente, no futuro, se tornar primária. É ne-cessária a criação de cooperativas voltadas es-pecificamente para a produção de pólen apíco-la, principalmente, o monofloral, uma vez que é ainda mais rentável que o pólen apícola mul-tifloral. Além disso, é importante desenvolver estratégias para aumentar a produção e, conse-quentemente, ter uma maior rentabilidade com a comercialização do produto.

A presença de monoculturas cresceu no país; desse modo, a implantação de apiários nes-sas culturas torna-se imprescindível, uma vez que contribui para o desenvolvimento do cul-tivo, através da polinização como também con-tribui para o desenvolvimento local com a pro-dução de uma fonte secundária de renda para a população – a produção de pólen monofloral. Para isso, basta que exista uma cooperação entre as grandes empresas e os pequenos produtores para que ambos sejam privilegiados pela ação das abelhas.

Agradecimentos

Aos Programas de Pós-Graduação em Bo-tânica (PPGBot) e Recursos Genéticos Vegetais (PPGRGV), ao Laboratório de Micromorfologia

Vegetal (LAMIV) e ao Laboratório de Germinação (LAGER), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), pela infraestrutura disponível e apoio técnico para realização de todas as análi-ses. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio fi-nanceiro, além dos projetos vinculados à REDE PINDORAMA e ao RENORBIO (Rede Nordeste de Biotecnologia).

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Introdução

A vegetação do Sul Piauí está caracterizada por áreas de Cerrado e Caatinga, gerando ecóto-nos, marcados pela presença de espécies desses dois domínios (Gonçalves 2015; Botrel et al. 2015; Souza et al. 2017).

Formações florestais como a mata de Gale-ria, também denominada mata ciliar ou mata ripária por alguns pesquisadores (Souza & Rodal 2010; Damasceno 2011; Cunha et al. 2015), estão caracterizadas por se associar aos cursos d’água. Essa formação destaca-se pela riqueza, diversida-de genética e pelo seu papel na proteção dos re-cursos hídricos, edáficos, fauna terrestre e aquá-tica (Rezende 1998). No entanto, com relação às matas ripárias, tem-se que as condições de dispo-nibilidade de água e o próprio microclima, con-dicionado pela presença da vegetação, implicam condições diferenciadas para o processo repro-dutivo das espécies vegetais (Oliveira 1998).

Essas matas sofrem impactos naturais cau-sados pelos cursos de água, tais como erosão e sedimentação, e são também alvos frequentes de ações antrópicas, pois estão localizadas em sítios de fertilidade relativamente superior, muito vi-

sados para a agricultura (Dias 2008; MMA 2016). Dentre as várias consequências resultantes do processo de fragmentação ou destruição dessas formações florestais, destacam-se o distúrbio do regime hidrológico das bacias hidrográficas e as mudanças climáticas, porém, a consequência de maior gravidade é a perda da biodiversidade (Silva 2003).

Na região semiárida do Nordeste brasilei-ro, ocorrem, ainda, as formações típicas como os carnaubais e os buritizais. Os carnaubais são comunidades da palmeira Copernicia prunifera (Mill) H.E.Moore, que se estabelecem em áreas mal drenadas, periodicamente inundadas ou encharcadas e salinizadas, bastante comuns nas áreas litorâneas (Cunha et al. 2015). Da mesma forma, os buritizais ou veredas, formados prin-cipalmente pela palmeira Mauritia flexuosa L. f., demarcam muitos recursos hídricos, permitin-do que a comunidade vegetal que ali se encontra proteja o sistema solo-água-planta (Costa & Ols-zevski 2008).

M. flexuosa é uma palmeira da família das Arecáceas (APG IV 2016) conhecida como buri-ti e distribuída em toda a Amazônia, na região centro-oeste, em parte do Nordeste (Maranhão,

Potencial das áreas da palmeira do Buriti (Mauritia flexuosa L. f.) para a produção de pólen apícola na região Meio Norte do Brasil

Sinevaldo Gonçalves de Moura, Marcelo Souza Lopes, Darcet Costa Souza, Juliana do Nascimento Bendini, Paulo Henrique Amaral Araújo de Sousa, Jaqueline Zanon de Moura, Joana Darc Bernardo Soares, Rodrigo Brito Costa, Ivanildo da Costa Coelho & Lucas Carvalho de Oliveira

No estado do Piauí, encontramos uma grande diversificação de plantas no semiárido com flores que apre-sentam recursos tróficos para as abelhas. Uma das plantas endêmicas dessa região é o buriti (Mauritia fle-xuosa L. f), palmeira de grande importância que aparece como alternativa na oferta de pólen nos meses de menor disponibilidade de alimento para as abelhas. O buriti é uma palmeira dioica, que produz inflorescên-cias masculinas, apresenta aroma adocicado e é atrativo para as abelhas. Essas características podem po-tencializar o pólen dessa palmeira como fonte proteica para as abelhas, melhorando o desempenho das co-lônias na região semiárida. Assim, diante da presença dessa palmeira em grandes áreas no estado do Piauí, este estudo foi realizado com o objetivo fornecer informações sobre a importância da palmeira do buriti como fonte alternativa na alimentação das abelhas Apis mellifera, caracterizar bromatologicamente o pólen coletado e levantar os recursos alimentares disponíveis em mata ripária, na qual a palmeira está inserida.

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Piauí e Ceará) e Sudeste (Minas Gerais e São Pau-lo) (Almeida et al. 1998; Kinupp & Lorenzi 2014; Lorenzi et al. 2015), em áreas sujeitas ao alaga-mento, formando os buritizais (Souza & Lorenzi 2008). Corresponde à espécie dióica, variando de 4 a 25m de altura, com 23 a 80 cm de diâ-metro. As folhas têm formato flabeliforme (le-que), em número de 10 a 20, com cerca de 2 m de comprimento. As inflorescências chegam a ultrapassar esse tamanho, com 20 a 46 raquilas, portando flores actinomorfas e sésseis (Almeida et al. 1998). Frutos globosos com epicarpo esca-moso duro, de coloração marrom-avermelhada. A polpa é fina, amarelo-alaranjada, envolvendo a amêndoa (Lorenzi et al. 2015).

No Piauí, as populações de M. flexuosa podem ser encontradas em áreas vinculadas ao Cerrado, mas também próximas à Caatinga. Este bioma está presente em grande parte do Nordeste bra-sileiro, chegando até ao norte de Minas Gerais. A maioria das suas espécies vegetais perde as fo-lhas na estação seca, o que confere à paisagem, um aspecto de tonalidade branco-acinzentado. A grande diversidade aí existente ocorre pela am-pla capacidade de adaptação, bem como em fun-ção dos diferentes tipos de solos que ocorrem na Caatinga, auxiliando na formação de diferentes ecossistemas. Observa-se que, independente das estações, há sempre alguma espécie em floração ou com frutos, o que permite a alimentação con-tínua das diferentes espécies de abelhas e ani-mais silvestres em geral (Maia 2004).

A maior parte do aproveitamento das áreas de buritizais é realizada pela população regio-nal, pessoas pobres e carentes de oportunida-des de geração de renda (Clement 2005; Saraiva 2009). Assim, consorciar a produção de pólen apícola ao extrativismo das matas do buriti pode representar uma alternativa extra de renda para as comunidades locais, bem como estratégia de diversificação da produção apícola na região do Meio Norte brasileiro.

As interações entre planta e polinizadores são vitais para a integridade estrutural e fun-cional dos ecossistemas naturais, assim como para a manutenção e aumento na produção de alimento (Mendes 2013). A importância dessas interações é essencial para subsidiar programas de conservações da biodiversidade.

Na literatura, alguns trabalhos têm o enfo-que na ecologia da polinização do buriti (Storti 1993; Mendes 2013; Rosa et al. 2013), mostrando que a Apis mellifera tem uma importância na visitação e ecologia desta palmeira em área de caatinga e cerrado (Bezerra et al. 2009; Nadia et

al. 2007; Mendes et al. 2011). Contudo, ainda são poucos os relatos na literatura apícola sobre o comportamento forrageiro de Apis mellifera na palmeira do buriti, bem como sobre o potencial de produção do pólen apícola e sua composição bromatológica.

Assim, conhecer o comportamento forra-geiro é essencial para o desenvolvimento popu-lacional de uma colônia, sendo uma das ativida-des mais importantes realizadas pelas abelhas (Machado 2013).

Na atividade de voo nas inflorescências da palmeira do buriti, as Apis mellifera procuram pólen e néctar. Os padrões de forrageamento são determinados tanto por fatores intrínsecos, como número de indivíduos e condição de desen-volvimento da colmeia, bem como por fatores cli-máticos: variações de temperatura, de intensida-de luminosa, de umidade relativa, incidência de vento (Pick & Blochtein 2002; Almeida 2008).

Em relação à polinização da palmeira do bu-riti, alguns estudos apontam diferentes agentes polinizadores, podendo destacar: coleópteros das famílias Nitidulidae, Curculionidae e Myce-tophagidae (Stort 1993; Silva et al. 2011), o ven-to (Rosa & Koptur, 2013) e a abelha Trigona sp (Abreu 2001). Nesse contexto, alguns trabalhos relatam que a Apis mellifera é apenas um visitan-te floral à procura de pólen e néctar (Marques et al. 2011; Resende et al. 2012; Mendes 2013). Para Storti (1993), essa abelha é considerada ladra de pólen, uma vez que só visita a inflorescência na fase masculina.

Partindo destas premissas, este capítulo tem como objetivos: levantar os recursos alimenta-res disponíveis em mata ripária sob influência da caatinga; avaliar o comportamento forragei-ro da Apis mellifera na inflorescência da palmei-ra do buriti; caracterizar bromatologicamente o pólen coletado e avaliar sua utilização na com-plementação alimentar natural para as abelhas durante o período de escassez alimentar.

Material e métodos

Área de estudo e coletas

As pesquisas foram realizadas em uma área representativa de buriti (Mauritia flexuosa L. f), no município de Santa Luz, estado do Piauí, na loca-lidade “Ema”. A área está inserida em uma vere-da de buriti com largura variando de 150 a 300 m, que margeia o “Córrego das Emas”, afluente do Rio Gurguéia (08º57’15”S, 44º7’48”W e 330 m de altitude). A vegetação local é constituída de

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Caatinga de formações arbustivas e/ou arbóreas caducifólias espinhosas e áreas adjacentes com veredas de brejos.

Segundo a classificação de Köeppen-Gei-ger, o clima no município de Santa Luz do Piauí é classificado como Aw (Clima tropical com es-tação seca). O município está localizado em re-gião semiárida, com precipitação pluviométrica anual média de 1.010 mm, caracterizando-se por um período chuvoso, nos meses de dezembro a abril, e um período seco, de maio a novembro, com temperaturas médias mínimas e máximas de 22 oC e 36 oC, respectivamente, e umidade re-lativa do ar média anual de 62,3% (Semar 2005).

Forrageamento de abelhas (Apis mellifera L.) na palmeira do buriti (Mauritia flexuosa L. f.)

As observações referentes ao comporta-mento de forrageamento ocorreram entre os meses de setembro a outubro de 2015, uma vez que o florescimento da palmeira do buriti ocor-reu no período compreendido entre os meses de agosto até novembro. Foram considerados cinco dias de coletas distribuídos equitativamente ao longo do florescimento da planta, com observa-ções diárias da atividade de forrageamento das 05:00 às 18:00 horas.

Para otimizar a visitação nas palmeiras do buriti, foram instalados, antes do florescimen-to da palmeira, cinco enxames de abelhas afri-canizadas (Apis mellifera). Os enxames estavam alojados em colmeias Langstroth, instaladas a uma distância de 50 m da área experimental e tinham população adulta, área de cria e alimen-tos semelhantes.

Com auxílio de binóculo (Nikon Action Ex-treme) com ampliação de 12x50, foram observa-das as seguintes variáveis: números de abelhas na inflorescência das palmeiras (NA); para essa variável foi estimada uma perspectiva através de foto digital, contabilizando-se o total de nú-meros de abelhas que visitaram os raques das inflorescências da palmeira; números de flores visitadas (NFV); e o tempo gasto em segundo pe-las campeiras entre a chegada e partida na inflo-rescência (TG(s)), sendo que, para o registro des-ta última variável, foi utilizado um cronômetro digital. Para ajustes no padrão de observações e do observador, foi realizado um ensaio com cer-ca de 20 horas.

Para melhor estimar as variáveis acima, fo-ram observadas três abelhas forrageadoras por

palmeira de buriti em florescimento, repetidas em três diferentes plantas em cada hora, toman-do-se o cuidado de realizar as mensurações na primeira meia hora de cada hora observada. Tam-bém foram coletadas as temperaturas ambientes (ºC) e umidade relativa do ar (%) a cada hora.

Análise estatística: os resultados coletados para essas observações foram submetidos a aná-lise de variância pelos procedimentos do PROC GLM do Statistical Analyses System (SAS 2003), com as médias entre os dias e as horas compa-radas pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Composição bromatológica do pólen do buriti coletado por Apis mellifera e sua utilização na composição de ração para abelhas

O pólen foi coletado em cinco colmeias ins-taladas na área experimental equipadas com co-letores de pólen do tipo frontal. O material cole-tado foi mantido em freezer após a coleta, poste-riormente sendo limpo, separado e identificado por análise palinológica o material oriundo do buriti. As lâminas para análise palinológica do pólen coletado foram confeccionadas segundo método de Maurizio & Louveaux (1978); já as lâ-minas de referência para o pólen do buriti foram preparadas a partir dos botões florais em pré--antese, por meio de acetólise (Erdtman 1960).

As pelotas de pólen identificadas como sen-do de buriti foram submetidas à análise bromato-lógica (fibra bruta, matéria seca, extrato etéreo, energia bruta, cinzas e proteína), realizada no La-boratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Piauí, segundo metodologia descrita pela AOAC (2012).

Para avaliação do potencial de utilização do pólen do buriti no preparo de ração para abe-lhas, foram realizados ensaios de preferência com diferentes concentrações de pólen na ra-ção. Tendo como base a análise química do ma-terial coletado, principalmente o teor de proteí-na bruta, foram formuladas quatro dietas com os seguintes percentuais de pólen de buriti: 0%, 5%, 10% e 15%. Para a formulação das rações, fo-ram utilizados três ingredientes básicos: açúcar moído, pólen de buriti (Mauritia flexuosa L.f) e, para dar uma consistência pastosa e melhorar a aceitação do alimento pelas abelhas, mel prove-niente dos apiários do próprio setor de apicultu-ra da universidade.

Para os testes de preferência, foram utiliza-das quatro gaiolas plásticas, circulares, com 11 cm

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de diâmetro e 12,5 cm de altura. Cada uma com quatro orifícios de 3 cm de diâmetro na lateral para o encaixe dos comedouros contendo as di-ferentes dietas, dois orifícios telados de 4,5 cm de diâmetro na lateral para ventilação da gaiola, mais um orifício de 2 cm de diâmetro na parte de cima para a colocação do bebedouro. A parte infe-rior interna da gaiola era forrada com papel filtro para absorção de água oriunda do bebedouro.

Essas gaiolas receberam os quatro tipos de alimento e 60 abelhas recém-emergidas, oriun-das da mesma colmeia, e foram mantidas em uma estufa B.O.D., com temperatura e umida-de controlada, 34,5 ºC e 75%, respectivamente, (Crailsheim 2013; Ellis et al. 2008). Todos os co-medouros tiveram seu peso aferido antes e de-pois de receberem as dietas, e a cada 24 horas os mesmos foram pesados para determinação do consumo, sendo esse procedimento realiza-do durante cinco dias e, concomitantemente, era feita a contagem de abelhas mortas por dia. Para a determinação do consumo real, os dados de consumo de ração foram corrigidos, para evi-tar erro em função da umidade absorvida pelo alimento na estufa. Para isso, foram deixados comedouros com alimentos em uma gaiola tes-temunha e sem abelhas para aferir os acrésci-mos ou perdas de umidade.

Análise estatística: os resultados coletados para essas observações foram submetidos a aná-lise de variância pelos procedimentos do PROC GLM do Statistical Analyses System (SAS 2003), com as médias para consumo sendo compara-das pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Levantamento dos Recursos alimentares disponíveis em mata ripária sob influência da Caatinga, Santa Luz, Piauí

As coletas botânicas foram realizadas ao longo do transepto, com auxílio de facão e podão para que fossem retiradas as amostras com es-truturas reprodutivas das árvores de maior al-tura. Foram utilizados também tesoura de poda, prensas, papelão e jornal para prensar o mate-rial e, em seguida, secá-lo em uma estufa de cir-culação forçada, com temperatura média de 60o. Após desidratado, o material foi conservado em sacos plásticos com cânfora, no Herbário Vale do Gurguéia, no Campus Cinobelina Elvas, na UFPI.

Resultados e discussão

Forrageamento de abelhas (Apis mellifera L.) na palmeira do buriti (Mauritia flexuosa L. f.).

Durante o experimento, verificou-se uma variação no período de floração da palmeira es-tudada, o que pode ser explicado, em parte, pe-las condições abióticas e uma resposta tardia às chuvas. No entanto, Rosa et al. (2013) obser-varam indivíduos de Mauritia flexuosa em flo-ração no final da estação chuvosa e no período de transição chuva e seca. A floração do presen-te trabalho ocorreu no período seco, setembro a outubro, corroborando com Mendes et al. (2016).

FIGURA 1. Atividade de voo das abelhas Apis mellifera na palmeira da Mauritia flexuosa L. f (buriti) em Santa Luz – PI na Localidade da Ema, nas diferentes horas do dia do mês de setembro e outubro em 2015.

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Vários visitantes florais foram observados na inflorescência do buriti (Mauritia flexuosa L. f), nas coletas realizadas nos meses de setembro a outubro. No entanto, a ordem Hymenoptera apresentou-se mais frequente em relação a ou-tros visitantes florais, dentre os quais as mais vi-sualizadas, e com prioridade nas observações no presente estudo, foram as abelhas Apis melífera, corroborando com o trabalho de Resende et al. (2012) e de outros autores que apontam o buri-ti como uma palmeira visitada, principalmente por Apis mellifera (Marques et al. 2011; Resen-de et al., 2012; Mendes et al., 2016). Contudo, as pesquisadoras Rosa & Koptur (2013) chegaram à conclusão que os visitantes de Mauritia Flexuosa L. f não são polinizadores, sendo a polinização realizada pelo vento.

As abelhas Apis mellifera forrageiam a pal-meira (Mauritia flexuosa L. f) localizada em área de brejo na caatinga, observando sua presença na inflorescência masculina. Foram observadas diferenças estatísticas para os parâmetros ava-liados: número de abelhas, tempo gasto e nos elementos bioclimáticos entre as coletas reali-zadas (P<0,05), exceto para a variável número de flores visitadas (Tabela 1). Os valores médios para temperatura apresentaram-se mais favo-ráveis à atividade de voo, estando dentro da fai-xa ideal, entre 33 a 36ºC, apontada por Malerbo--Souza & Silva (2011).

Da primeira à quarta coleta, houve um me-nor número de abelhas na inflorescência do bu-riti (Mauritia flexuosa L. f), sendo que as abelhas permaneceram mais tempo na primeira coleta (Tabela 1), semelhante ao apontado por Stort (1993), que justifica esse comportamento pelo fato das primeiras flores, ao abrirem, se encon-trarem próximas da base da ráquila e, com o passar das horas, os grãos de pólen estão mais susceptíveis a se desprenderem das anteras pela ação do vento (Rosa et al. 2013).

Foram observadas diferenças estatísticas (P<0,05) em relação ao horário de forrageamen-to na palmeira (Mauritia flexuosa L. f) para todos os parâmetros avaliados na atividade de voo de Apis mellifera, bem como nos parâmetros coleta-dos (Tabela 2). Isso pode ser justificado, em par-te, pelo fato de que na primeira hora de coleta as inflorescências ainda não estavam com todas as flores abertas (Newstron et al. 1994).

As atividades de voo destes indivíduos ini-ciaram às 06h00mim e se estenderam até às 18h00mim (Figura 1), com picos médios para as cinco coletas ocorrendo por volta de sete, oito, e dezessete horas. Esse último pico de dezesse-te horas coincide com o período de abertura das flores masculinas e femininas, apontado por Storti (1993).

O decréscimo nesta atividade de voo é acen-tuado, cessando entre dez e quinze horas, sendo que nesse intervalo os valores de umidade rela-tiva do ar caem abaixo de 40,00%, coincidindo com o apontado por Alves et al. (2015), que afir-mam que a redução da umidade relativa influen-cia a frequência de forrageamento de Apis mel-lifera. Outro fator limitante neste intervalo sem visitação foi a temperatura média ambiente que se manteve acima do limite de 36,0ºC apontado por Malerbo-Souza & Silva, (2011) (Figura 1). Os resultados para as primeiras horas de forragea-mento, pela manhã, do presente trabalho, corro-bora com o apontado por Storti (1993).

Para Storti (1993), a Apis mellifera é conside-rada ladra de pólen na palmeira do buriti, pois só visitam a inflorescência masculina. Durante todo o período de floração do buriti, do presente trabalho, não foram observadas visitas das abe-lhas entre as dez da manhã até as quinze horas da tarde (Figura 1), sugerindo que esse intervalo de tempo pode ser suficiente para a efetivação da polinização pelos outros vetores disponíveis, como o vento.

TABELA 1. Médias diárias de atividade de voo e elementos bioclimáticos obtidos para a abelha Apis mellifera (Linnaeus, 1758) em forrageamento de Mauritia flexuosa Linnaeus filius (buriti) em Santa Luz – PI na Localidade da Ema em 2015.

Coleta Nº Abelhas Nº flores Visitadas

Tempo Gasto (s)

Temperatura (ºC)

Umidade do Ar (%)

1 14,97B 7,16A 30,81A 31,55B 34,21C

2 16,66AB 6,45A 20,73AB 31,36B 40,07B

3 14,64B 6,07A 18,40B 32,50A 42,28B

4 16,90AB 7,83A 28,04AB 31,31B 49,42A

5 22,76A 6,80A 21,66AB 32,72A 41,42B

Médias seguidas de mesma letra, na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

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TABELA 2. Médias por hora de atividade de voo e elementos bioclimáticos obtidos para a abelha Apis mellifera (Linnaeus, 1758) em forrageamento de Mauritia flexuosa L.f. (buriti) em Santa Luz – Piauí, na Localidade da Ema em 2015.

Hora Nº Abelhas Nº flores visitadas

Tempo gasto (s)

Temperatura (ºC)

Umidade do ar (%)

05:00 0,00E 0,00D 0,00C 18,06H 59,80AB

06:00 20,00CD 10,66C 40,00B 18,14H 67,00A

07:00 46,73B 19,13A 67,80A 22,16G 67,80A

08:00 68,00A 21,13A 75,73A 28,54F 55,60B

09:00 8,00ED 3,46D 14,06C 33,58D 43,80C

10:00 0,00E 0,00D 0,00C 36,02C 39,40CD

11:00 0,00E 0,00D 0,00C 38,18B 34,20ED

12:00 0,00E 0,00D 0,00C 39,04AB 29,80EF

13:00 0,00E 0,00D 0,00C 40,04A 25,40F

14:00 0,00E 0,00D 0,00C 40,10A 25,00F

15:00 0,00E 0,00D 0,00C 38,62AB 24,00F

16:00 24,80C 13,06BC 43,73B 33,86D 28,40EF

17:00 52,33B 17,80AB 56,06AB 31,18E 34,80ED

18:00 20,80CD 10,86C 37,66B 29,00F 45,80C

Médias seguidas de mesma letra, na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Composição bromatológica do pólen coletado por Apis mellifera na palmeira do buriti.

Na Tabela 3, são apresentados os resulta-dos da análise química do pólen do buriti. Uchôa (2009), estudando a composição química de uma mistura de pólens coletados pelas abelhas no período de chuvas na região da Bela Vista/PI, obteve como valor médio de proteína 20,8% e para energia bruta 4.414,04 cal.g-1.

O pólen puro do buriti apresentou um va-lor de energia bruta superior ao valor encontra-

do, sendo o mesmo 6.047,43 cal.g-1, e valores de proteína bruta (15,57%), Cinzas (2,13%), Lipídios (2,12%) e Fibra Bruta (9,59%) dentro do que é exi-gido pelo Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Pólen Apícola, que tem como valor máximo de Cinza 4% e como valores mínimos para Proteína, Lipídio e Fibra Bruta, 8%, 1,8% e 2% respectivamente (Milfont 2011).

Durante o período de floração do buriti (Mauritia flexuosa L.), outras espécies vegetais também se encontravam floridas, porém, de acordo com os resultados obtidos, a grande pre-ferência das abelhas foi pelo pólen do buriti, apontado pelo percentual do mesmo dentro das

FIGURA 2. Consumo total das rações por repetição (gaiola), preparadas com diferentes proporções de pólen de buriti (0%, 5%, 10% e 15%)

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coletas realizadas. Tal acontecimento pode ser influenciado pela sua composição química, na qual a dinâmica de forrageamento das abelhas Apis mellífera é direcionada a fontes alimenta-res ricas nutricionalmente, a fim de reduzir o gasto energético pelas operárias no trabalho de coleta (Araújo et al. 2007).

No teste de preferência pelas rações testa-das, verificou-se que a dieta com 15% de pólen foi mais consumida quando comparada à teste-munha, que não recebeu adição de pólen. Con-tudo, as dietas com 5% e 10% de pólen de buriti incorporado em sua composição não diferiram da que recebeu 15%. Esse comportamento, de maior consumo de alimentos com maior quan-tidade de pólen nos primeiros dias de vida da fase adulta, pode ser explicado pela necessidade das abelhas por alimentos mais proteicos. Nessa fase, elas armazenam corpos gordurosos em sua estrutura corpórea que serão posteriormente utilizados ao longo de sua vida adulta.

Com base nos resultados observados na figu-ra 2, verifica-se que o maior consumo foi da dieta com 15% de pólen. Segundo Altaye et al. (2010), em experimentos laboratoriais com utilização de gaiolas, as abelhas acabam regulando seu próprio consumo para aproximadamente 10% de proteí-na e 90% de carboidrato, o que pode explicar o maior consumo da referida ração, na qual uma alimentação proteica efetiva na primeira fase de vida das abelhas contribui para um melhor desenvolvimento da glândula hipofaringeana, promovendo uma melhor produção de geleia real para a rainha e as larvas (Pinto 2009).

O valor biológico das proteínas é determi-nado por sua fração que é efetivamente digerida pelo animal e é dependente de sua composição de aminoácidos e da necessidade do animal. Os aminoácidos que estão presentes em menor quantidade no alimento e abaixo do exigido pelo animal acabam por limitar o aproveitamento do alimento no que diz respeito à proteína, redu-zindo, assim, seu valor biológico (Pereira 2005).

Os dados de consumo referentes à gaiola 1 apontam uma grande taxa de consumo, porém, em contrapartida, a mesma apresenta uma cur-va de sobrevivência bem mais acentuada que as demais. Isso pode ter sido ocasionado pelo pro-blema observado de morte de abelhas aderidas ao alimento ou por alguma limitação nutricional. Para uma explicação mais efetiva, serão necessá-rias pesquisas mais específicas sobre o problema.

Levantamento dos Recursos alimentares disponíveis em mata ripária sob influência da Caatinga, Santa Luz, Piauí

Foram encontradas 52 espécies, 42 gêneros e 25 famílias botânicas como prováveis fontes de recursos alimentares para Apis mellífera, sendo que cinco espécies foram identificadas taxono-micamente a nível genérico, gerando, portanto, 47 táxons identificados a nível específico (con-siderando espécies afins ou a confirmar). Essas espécies foram distribuídas, de acordo com o há-bito, em árvores (42,30%), arbustos (30,76%), her-báceas (15,38%), cipós (7,69%) e escandentes (2%).

As famílias de maior riqueza florística, con-siderando o número de espécies foram: Legu-minosae, com oito, e Euphorbiaceae com cinco, sendo Anacardiaceae, Apocynaceae e Malvaceae, com 4 espécies cada. Dentre as demais, uma apresentou três, e vinte e seis famílias, uma úni-ca espécie (Tabela 4).

Conclusões

A Apis mellifera forrageia o pólen da palmei-ra do buriti (Mauritia flexuosa L, f), nos meses de agosto a outubro.

O comportamento de forrageamento de Apis millifera em Mauritia flexuosa é influencia-do pelas altas temperaturas e baixa umidade nas diferentes horas do dia, com picos de forragea-mento às oito e dezessete horas, no município de Santa Luz Piauí.

A migração de colmeias de Apis mellifera para áreas de buriti nos meses de escassez de alimento, na caatinga, representa uma boa al-ternativa de manutenção da oferta de proteína para os enxames.

O pólen do buriti se mostrou um alimento rico em energia e proteína, podendo ser utiliza-do na complementação alimentar natural para as abelhas durante o período de escassez alimentar.

TABELA 3. Composição bromatológica do pólen apícola coletado na palmeira Buriti (Mauritia flexuosa L.).

Análise QuantidadeMatéria Seca 76,43%

Energia Bruta 6047,00 cal.g-1

Extrato Etéreo 2,12%Cinzas 2,13%

Fibra Bruta 9,59%Proteína Bruta 15,57%

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TABELA 4. Lista de espécies encontradas como recursos alimentares disponíveis para Apis mellifera, na comunidade Emas, Santa Luz, PI.

Família Nome popular Espécie

Caat

inga

Mat

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pári

aJa

neir

oFe

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iro

Mar

çoA

bril

Mai

oJu

nho

Julh

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gost

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tem

bro

Out

ubro

Nov

embr

oD

ezem

bro

Anacardiaceae

cajuí Anacardium microcarpum Ducke X X Xcaju Anacardium occidentale L. X X XGonçalo-alves Astronium fraxinifolium Schott X X XPau-de-brejo Tapirira guianensis Aubl. X X X

Apocynaceae

pereiro-preto Aspidosperma pyrifolium Mart. X XPereiro-branco Aspidosperma subicanum X X- Secondatia densiflora A. DC. X X- Secondatia sp. X X

Arecaceae buriti Mauritia flexuosa L.f. X X X

Asteraceae- Mikania cordifolia (L.f.)Willd. X Xassa-peixe Vernonanthura brasiliana (L.) H.Rob. X X X

Bignoniaceae caraíbaTabebuia aurea

Benth. & Hook.f. ex S.MooreX X X

Bixaceae Algodão-brabo Cochlospermum cf. regium (Schrank.) Pilg. X X

Boraginaceae Grão-de-galo Cordia piauhiensis Fresen X X

Bromeliaceaecroá Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez. X X- Bromelia laciniosa Mart. ex Shult.f. X X

Burseraceae Almescla-do-brejo Protium heptaphyllum Marchand X X X

Caryocaraceae pequi Caryocar coriaceum Wittm. X X

Combretaceaemufumbo Combretum leprosum Mart. X Xcatinga-de-porco Terminalia fagifolia Mart. X X

Cucurbitaceae melão-de-são-caetano Momordica charantia L. X X X

Dilleniaceaesambaíba Curatella americana L. X X Xsambaibinha Davilla rugosa Poir. X X X

Erythroxylaceae- Erythroxyllum cf. nummularium Peyr. X X- Erythroxyllum sp. X X

Euphorbiaceae

pau-louro Alchornea discolor Hook.f. X X Xvelame Croton echioides Baill. X - Xvelame Croton aff. adamantinus Mull. Arg. X Xvelame Croton aff. antisyphiliticus Mart. X Xvelame Croton sp X X

Fabaceae

miroró Bauhinia cupulata Benth X X Xpodói Copaifera langsdorffii Desf. X X Xpodoinho Copaifera martii Hayne X Xjatobá Hymenaea courbaril L. X XIngá-brabo Inga cf. vera Willd. X X- Inga sp X X- Platypodium elegans Vogel X X

angico-de-bezerro

Pityrocarpa moniliformis (Benth.)

Luckow & R.W. JobsonX X X

Heliconiaceae - Heliconia psittacorum Sessé & Moc. X XLamiaceae - Vitex polygama Cham. X X X

(continua)

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Diante dos resultados obtidos no teste de preferência, o alimento com maior proporção de pólen do buriti teve um maior consumo por parte das abelhas.

A espécie que apresentou maior incidên-cia de pólen apícola e maior teor de visitas foi a Mauritia flexuosa L. f (buriti).

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Família Nome popular Espécie

Caat

inga

Mat

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Mai

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Julh

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gost

oSe

tem

bro

Out

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Nov

embr

oD

ezem

bro

Malvaceae

cachimbinho Helicteres brevispira A. St.-Hil. X XPavonia cancellata (L.) Cav. X X

malva Sida rhombifolia L. X Xmalva Sida cordifolia L. X X

MelastomataceaeClidemia capitellata (Bondl.)D.Don - X XMiconia sp. - X X X

puçá-merim Mouriri cf. cearensis Huber X - X XOchnaceae pau-serrote Ouratea ferruginea Engl. X X XRubiaceae Palicourea crocea (Sw.) Roem.&Schult. X XSapindaceae timbó Magonia pubescens A.St.-Hil. X X XSolanaceae canapú Physalis angulata L. X XTurneraceae xanana Turnera subulata Sm. X X

TABELA 4. (Continuação)

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Pólen apícola das matas de babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.): potencial produtivo e protéico

Juliana do Nascimento Bendini, Sinevaldo Gonçalves de Moura & Darcet Costa Souza

Objetivou-se descrever o potencial das matas de babaçu para a produção de pólen apícola e o teor de proteínas deste produto. Para tanto, foram instalados coletores de pólen em colmeias de abelhas africani-zadas (Apis mellifera L.) do Apiário Experimental no município de Timon, Maranhão. Amostras de pólen de cada colmeia foram coletadas diariamente durante a primeira semana de cada mês nos períodos de flo-ração e levadas para estufa (40 ºC) durante 48 h. Posteriormente, foram limpas, colocadas em sacos plás-ticos, separadas por cor e por data de coleta. Pesquisou-se a predominância do tipo polínico referente ao babaçu, sendo que as amostras provenientes da referida palmeira foram pesadas e submetidas à avaliação do teor de proteína. Observou-se que apenas a amostra de pólen referente à coleta realizada no mês de outubro foi considerada monofloral (7,42 g/colmeia). Foi observado que a ocorrência do pólen de babaçu diminuiu gradativamente até seu desaparecimento nas amostras coletadas. O teor de proteína (22,13%) foi considerado semelhante ou superior ao encontrado na literatura de diferentes regiões e origens botânicas, porém não influenciou na atividade de coleta das abelhas. Concluiu-se que o potencial de produção de pólen monofloral proveniente da palmeira babaçu na região estudada não é relevante para a exploração apícola, porém pode ser utilizado para a alimentação humana como suplemento alimentar.

Introdução

As abelhas obtêm quase todos seus nutrien-tes das plantas, principalmente das flores, de onde extraem néctar e pólen. O néctar é a fonte energética, sendo composto majoritariamente de carboidratos e água. Já o pólen representa a fonte protéica, sendo ainda a fonte de lipídios, vitaminas, minerais, além de carboidratos e ou-tras substâncias, presentes em pequenas quan-tidades, mas que são imprescindíveis para o desenvolvimento das abelhas e manutenção da colônia (Kevan 2007).

O pólen apícola é o produto da coleta dos grãos de pólen nas anteras das flores, que são aglutinados em forma de pequenas pelotas com auxílio de néctar e substâncias salivares secre-tadas pelas abelhas coletoras e transportadas em suas corbículas para a colmeia. O pólen apí-cola é coletado na entrada da colmeia por meio de coletores, por onde as abelhas são obrigadas a passar, sendo após a coleta beneficiado para ser comercializado para o consumo humano (Mil-font et al.. 2011).

Existem diferentes metodologias para se avaliar a preferência das abelhas em relação aos recursos florais disponibilizados pela flora de

uma determinada região. A observação direta e/ou a coleta da abelha na flor, a identificação dos tipos polínicos encontrados na massa de pólen transportada (melissopalinologia) no pólen ou no mel estocado são as técnicas usualmente em-pregadas nesse sentido.

A Mata de Cocais, área compreendida entre a Floresta Amazônica, a Oeste; a Caatinga, a Les-te; e o Cerrado, ao Sul, é tida como de transição ecológica ou ecotonal, situando-se entre o clima úmido da Amazônia, o clima semiárido do ser-tão nordestino e o clima menos úmido, também conhecido como de duas estações bem definidas – seco e chuvoso - do Brasil Central. As palmei-ras constituem a vegetação ali predominante, instalada após o desaparecimento da vegetação original, como consequência do forte antropis-mo e por isto, denominadas hoje, como florestas secundárias, caracterizadas pela presença de: babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.), car-naúba (Copernicia prunifera (Miller) H.E. Moo-re), tucum (Bactris setosa Mart.), buriti (Mauritia flexuosa L.), macaúba (Acromia aculeta Lood. ex Mart. e Acromia intumescens Drude) e pati (Sya-grus botryophora Mart.) (Castro 2007).

Marques et al. (2011) observaram represen-tatividade de 31,65% do tipo polínico de flores de babaçu em amostras de pólen apícola coletadas

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em colmeias de Apis mellifera L., na região de babaçuais de Santa Luzia do Paruá, Maranhão. Apesar do conhecido potencial polinífero de al-gumas palmeiras, são poucas as informações re-ferentes à produção e à qualidade nutricional do pólen apícola proveniente da palmeira babaçu.

A região Meio Norte do Brasil compreende os estados do Piauí e Maranhão e tem se destaca-do em relação ao desenvolvimento da apicultura e a produção de mel, sendo o Piauí um dos maio-res produtores do Brasil. No entanto, a produção de pólen ainda é pouco relevante na região. Da mesma forma, são escassos os estudos relacio-nados à produção e à qualidade do pólen apícola no Meio Norte do País.

Nesse sentido, o objetivo do capítulo é des-crever o potencial das matas de babaçu para a produção de pólen apícola e o teor de proteína bruta do pólen proveniente dessas matas na re-gião Meio Norte do Brasil.

Material e Métodos

A pesquisa polínica foi realizada no Setor de Apicultura do Departamento de Zootecnia, no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Fe-deral do Piauí (DZO/CCA/UFPI), em Teresina-PI. As coletas de pólen foram realizadas no Centro de Práticas Zootécnicas do Instituto de Ensino Superior Múltiplo – CPZ/IESM, no município de Timon, Maranhão. O Apiário Experimental do CPZ localiza-se em uma área de 14 hectares, com palmeiras babaçu ao seu entorno. Antes de se iniciar as coletas de pólen, foram coletados bo-tões florais em pré-antese da referida palmeira para a preparação, por meio da técnica de acetó-lise (Erdtman 1960), de uma lâmina de referên-cia do grão de pólen (Figura 1).

Foram instalados coletores de pólen do tipo frontal em cinco colmeias de abelhas africani-zadas (Apis mellifera L.) do Apiário Experimen-tal (Figura 2). As colmeias selecionadas estavam em condições biológicas semelhantes no que diz respeito ao desenvolvimento da colônia.

Para determinar o fluxo de produção diária de pólen apícola nas matas de babaçu, amostras de pólen de cada colmeia foram coletadas dia-riamente durante a primeira semana de cada mês dos períodos de floração (outubro de 2014 a janeiro de 2015) e foram então levadas para se-carem em estufa biológica a 40 ºC durante 48 h. Posteriormente, foram limpas por catação, colo-cadas em sacos plásticos separadas por cor e por data de coleta (Figura 3), sendo pesadas e arma-zenadas em freezer.

A preparação de lâminas de microscopia para análise das amostras de pólen apícola foi realizada segundo método europeu, sem uso de acetólise. Foram pesados 2 g de pólen/amostra diluídas em 10 ml de álcool a 70%, sendo monta-das as laminas a fresco. A identificação dos tipos polínicos foi realizada por meio de comparação com lâminas de referência da área de estudo e verificada a predominância dos tipos polínicos Attalea speciosa Mart. ex Spreng,. Para a deter-minação da porcentagem do pólen de babaçu

FIGURA 1. Grão de pólen do babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng., Arecaceae).

FIGURA 2. Apiário experimental localizado na mata de babaçu, município de Timon, Maranhão.

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em cada lâmina, foi realizada uma contagem de um total de quinhentos grãos de pólen, no qual o percentual era calculado com base na quantida-de de pólen de babaçu encontrado. As amostras predominantemente provenientes das referidas palmeiras foram, então, pesadas e submetidas à avaliação do teor de proteína.

Resultados e Discussão

Durante os meses de outubro de 2014 a ja-neiro de 2015, foram realizadas sete coletas de pólen apícola nas colmeias instaladas em um apiário localizado na mata de babaçu. Os resul-tados observados na quantificação do peso do

pólen por cor nas coletas realizadas são apresen-tados na Tabela 1.

Para a amostra da primeira coleta, foi obser-vado um percentual do tipo polínico do babaçu de 55,7%, representado pelo pólen de coloração creme. Segundo Louveaux et al. (1978), para que um tipo polínico seja considerado dominante em uma amostra de pólen apícola, é necessá-rio que o mesmo ocorra com uma frequência de pelo menos 45%. Assim, apenas a amostra de pólen referente à coleta realizada no mês de outubro (amostra 1) foi considerada monofloral proveniente do babaçu (37,12g/colmeia).

Nas cores amarela, laranja e laranja claro, não foram encontrados tipos polínicos referen-tes da referida palmeira. Com base nas coletas feitas, pôde-se perceber uma variação nas quan-tidades e nos tipos polínicas presentes nas amos-tras de pólen coletado pelas abelhas na região de estudo. Isso se dá em consequência da variação da disponibilidade de recursos oferecidos pelas espécies que estão em processo de floração, bem como as preferências e exigências nutricionais das colônias. Através das análises realizadas em laboratório, observou-se que quantidades de pó-len do monofloral do babaçu foram obtidas ape-nas na primeira coleta.

Foi observado que a ocorrência do pólen de babaçu diminuiu gradativamente até seu desaparecimento nas amostras coletadas. Se-gundo Fava et al. (2010), as palmeiras Attalea phalerata e Bactris glaucescens tiveram, duran-te o período de um ano, 3,7 inflorescências em média. As florações ocorriam de maneira es-paçada entre os indivíduos, não havendo dessa forma um florescimento massal da população. Tal fato também foi observado na área de estu-do e, assim, pode-se inferir que o gasto ener-gético dispensado pelas abelhas à procura dos

FIGURA 3. Amostra de pólen apícola com a separação das bolotas por coloração.

TABELA 1. Massa (g) das amostras de pólen por cor nas coletas realizadas entre os meses de outubro de 2014 a janeiro de 2015.

Amostras Amarelo Creme Laranja Laranja claro Marrom Total

Outubro 19,24 37,12 13,75 1,58 0 71,69

Novembro 438,84 1,09 24,09 0 0 465,0

Dezembro 288,54 1,04 15,32 0 67,14 372,28

Janeiro 5,01 0,53 10,33 0 5,04 20,43

Fevereiro 12,07 0,64 4,52 0 10,10 27,33

Março 14,66 0,25 19,67 0 0 34,66

Abril 3,54 0 0 0 15,11 18,98

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recursos florais disponibilizados pelo babaçu justificou a preferência das abelhas por outras espécies vegetais em florescimento durante o período estudado.

Verificou-se no pólen monofloral prove-niente do babaçu um teor de proteína bruta de 22,13%. Diversos autores determinaram o teor de proteína bruta de pólen apícolas produzidos em diferentes regiões do país. Melo et al. (2009) encontraram uma média de 23,6% para o pólen apícola proveniente da região do Vale do Ribei-ra, estado de São Paulo. Pinto et al. (2012) ob-servaram média de 15,1% em amostras de pólen apícola produzidas no Vale do Paraíba – SP. No-gueira et al. (2013) investigaram as caracterís-ticas nutricionais do pólen apícola coletado em Teresina, Piauí, durante o período produtivo. A média de proteína bruta presente nas amostras foi 25,8%.

Observou-se que, apesar do teor de proteína bruta do pólen do babaçu ser equiparado e por vezes até ultrapassar as médias encontradas por diversos autores em diferentes regiões do país, a produção de pólen apícola a partir das matas de babaçu não é potencialmente viável. No entanto, seu uso pode ser recomendado para a alimenta-ção humana, especialmente para pessoas com restrições em relação à proteína animal.

Conclusão

O potencial de produção de pólen apícola monofloral proveniente da palmeira babaçu na região estudada não é pouco relevante para a exploração apícola, especialmente quando ocor-rem outras plantas apícolas no raio de forragea-mento das abelhas.

O teor de proteína bruta (22,13%) do pólen monofloral de babaçu é considerado elevado e, dessa maneira, pode ser recomendado à suple-mentação na dieta humana.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento e Científico Tecnológico, pelo financiamento da pesquisa (#407717/2013-7).

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Identidade Biológica Química e Molecular do Pólen Apícola Monofloral de Palmeiras (Arecaceae) do Nordeste do Brasil

Edilson Divino de Araujo, Ronaldo Fernandes Pereira, Yzila Liziane Farias Maia de Araujo, Everton Silva Mota & Wilson Romão Toledo da Silva

Introdução

A apicultura é uma atividade econômica bastante difundida no Brasil, sendo uma im-portante fonte de renda em diversas regiões do país, em especial o nordeste. O principal produ-to apícola é o mel, mas diversos outros produtos são obtidos na criação de abelhas (própolis, cera, pólen, geleia real), dentre estes produtos des-taca-se o pólen, o qual além de ser diretamente usado como produto apícola comercial, também possui grande importância ecológica e econô-mica no tocante a polinização realizada pelas abelhas durante a coleta nas fontes florais. Tais características da atividade apícola evidenciam seu grande potencial sustentável, uma vez que seja realizada em conjunto com outras ativida-des agrícolas e/ou em áreas de recuperação e preservação gerando benefícios.

No nordeste brasileiro a apicultura tem crescido e ganhado destaque, inclusive levando a iniciativas governamentais visando subsidiar deu desenvolvimento. Nesta região do Brasil, a criação de abelhas é muito comum em associa-ção com culturas agrícolas diversas, com desta-que para a exploração de palmeiras da família Arecaceae, a exemplo do coqueiro (Cocos nuci-

fera), do Ouricuri (Syagrus coronata), da Piaçava (Attalea funifera), do Dendê (Elaeis guineensis), do Palmito-Juçara (Euterpe edulis) e muitos ou-tros. Esta família possui um grande valor econô-mico, além de sua ampla distribuição, possuin-do representantes tanto em regiões de Caatinga (Ouricuri), quanto de Mata Atlântica (Piaçava, Dendê, Palmito-Juçara e Coqueiro) do nordeste brasileiro.

Dentre os representantes da família Areca-ceae o mais importante é o coqueiro em razão de sua distribuição por todo o litoral nordestino e pelas suas características de floração, permitin-do que o mesmo produza pólen durante, pratica-mente, o ano todo. Assim, o coqueiro é uma fon-te de pólen bastante atrativa para abelhas.

Para as abelhas o pólen representa uma im-portante fonte de proteínas, a qual é usada para alimentar as larvas em desenvolvimento, estan-do o crescimento da colônia diretamente asso-ciado ao estoque de pólen, assim grande quan-tidade de pólen são coletados pelas abelhas para serem estocados (em excesso) na colmeia, este pólen coletado e transportando pelas abelhas é chamado de pólen apícola.

Já para o homem o pólen apícola é usado como um suplemento alimentar por ser um ali-

O pólen apícola é um suplemento alimentar bastante conhecido no mercado mundial. No entanto, a di-versidade de fontes botânicas em sua composição é enorme, especialmente nas regiões tropicais do pla-neta, resultando na natureza multifloral da maior parte do pólen apícola comercializado. Para fins bio-tecnológicos, por outro lado, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos à base de pólen apícola, a utilização de pólen monofloral apresenta grande vantagem, tanto no que diz res-peito à reprodutibilidade das análises, como na agregação de valor aos produtos derivados. Nesse capítulo apresentamos uma nova forma de identificação molecular de pólen apícola monofloral, utilizando DNA barcode de quatro espécies de Arecaceae, a saber: Ouricuri (Syagrus coronata), Piaçava (Attalea funifera) e Dendê (Elaeis guineensis) e, com especial referência ao Coco da Bahia (Cocos nucifera), que é a principal espécie de palmeira cultivada na região Nordeste do Brasil. O perfil químico do pólen apícola monofloral é apresentado aqui por meio de ensaios químicos envolvendo a composição de aminoácidos, teores totais de fenóis e flavonoides, perfil, composição e quantificação das frações dos compostos fenólicos, análises de atividade antioxidante e de toxicidade, apresentando atividades funcionais do pólen apícola de Areca-ceae, contribuindo de maneira prática para estudos futuros.

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mento funcional rico (Souza et al. 2004; Zhao et al. 2007; Guerrini et al. 2009; Martins 2010; Pinto et al. 2010; Estevinho et al. 2012; Pinto et al. 2012; Žilić et al. 2014), pois possui substâncias bioati-vas que são capazes de benefícios que superam a simples reposição alimentarem, a exemplo dos flavonoides que tem capacidade antioxidante e estão relacionados com a prevenção de muitas doenças, além de vitaminas e minerais (Kroyer & Hegedus 2001; Šarić et al. 2009; Hassan 2011; Chantarudee et al. 2012; Arruda et al. 2013; Avni et al. 2014; Bárbara et al. 2015; Chen et al. 2015).

Diante da importância e da relevância do pólen apícola, em especial, daquele oriundo de palmeiras, nosso grupo de pesquisa em genéti-ca e recursos naturais tem desenvolvido vários estudos a cerca de uma década com o intuito de caracterizar o pólen apícola economicamente, nutricionalmente e geneticamente, além de de-senvolver produtos e processos que agreguem valor ao pólen apícola de palmeiras.

Origem botânica e propriedades nutricionais e funcionais do pólen apícola monofloral de palmeiras do Nordeste

A origem botânica é um dos fatores que in-terfere na composição nutricional, pois determi-na as características físico-químicas e bioativas do pólen, em nossos estudos podemos observar tal fato, já que quase não se observa variação en-tre os principais componentes nutricionais ava-liados no pólen apícola do nordeste brasileiro, devido às fontes florais do pólen pertencer à fa-mília Aracaceae, ainda que de espécies diferen-tes (tabela 1). Tal proximidade nas composições de nutrientes remete-se ao fato de o pólen apí-cola de ser monofloral de palmeiras, ou seja, for-mado por pelo menos 90% de pólen de palmeira.

O pólen monofloral preserva as características de seu representante floral. Assim as caracterís-ticas nutricionais, físicas, químicas e bioativas são equivalentes as de sua origem botânica.

Comparando o resultado para o índice de proteína, o segundo grupo mais abundante no pólen apícola de Arecaceae e um dos componen-tes mais relevantes no contexto comercial, devi-do a sua relação direta com a nutrição humana (Orzáez Villanueva et al. 2002; Szczęsna 2006), podemos observar uma diferença estatística significativa (ainda que pequena) entre o pólen de A. funifera em relação ao produzido por S. co-ronata e E. guineensis. Isto é esperado, visto que são três gêneros de palmeiras bem distintos, co-letados em regiões também muito distintas da Bahia e de Sergipe. Ainda considerando-se que S. coronata é uma espécie encontrada tanto na Caatinga como em áreas de Mata Atlântica, po-derá haver alteração na de seu pólen composição nutricional a depender da área de coleta em ra-zão das condições sazonais e das características do solo da região. Tal diferença não se observa nos outros componentes nutricionais, indican-do um padrão de conservação das característi-cas nutricionais em representantes distintos da família Arecaceae.

Mesmo com variações pequenas o pólen apícola de Arecaceae monofloral demonstra um perfil nutricional padrão, visto que as variações de seus componentes físico-químicos são meno-res, o que permite caracterizar o produto gera-do, destacando propriedades em evidencia e/ou produzindo linhas para nichos de mercado espe-cíficos, este tipo de aplicação só é possível a par-tir de um pólen monofloral padronizável. Isto fica evidente quando se compara o conteúdo de proteína, lipídeos e/ou açucares, com os obtidos em estudos com pólen apícola multifloral (ou seja, oriundo de fontes botânicas heterogêneas), por exemplo, o trabalho de Barreto et al. (2005)

TABELA 1. Análises das características físico-químicas (g/100g) de amostras de pólen monoflorais, com vista à identificação protéica, lipídica e de carboidratos.

Origem do pólen Proteína Lipídeos Açúcar total Açúcares redutores

Attalea funifera 17,10d ±0,82 4,37bc 30,43a ±1,11 28,33 abc±0,85Cocos nucifera 18,72cd ±0,92 2,18cd 28,70ab ±0,82 27,38 ac ±1,09Elaeis guineensis 20,30c ±0,82 6,20b 30,88a ±0,81 30,79a ±0,85Syagus coronata 20,30c ±0,82 3,42cd 29,47a ±1,11 29,58 ab±0,85MAPA* Mín. 8% Mín.1,8% *** ***

* Valores legais estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2001.** médias com a mesma letra na coluna não diferem estatisticamente (Tukey, p<0,05).***Valores não estabelecidos por Brasil (2001).

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onde foram analisados pólen multifloral em seis estados brasileiros, obtendo teores de proteínas entre 8,40 e 19,60 g/100g, estando esta variação ampla relacionada a origem botânica do pólen amostral. Entrementes, o estudo de Modro et al. (2011) com pólen apícola de diversas fontes botâ-nicas, encontraram conteúdo proteico de 22,73% em agosto a 40,53% em novembro e 32,71% em dezembro, registrando mais de 13 fontes botâni-cas no pólen apícola em Minas Gerais, corrobo-rando com a variação das características nutri-cionais do pólen apícola multifloral.

Conforme observado na tabela 2, outro as-pecto que pode influenciar a composição nutri-cional, ao alterar as características físico-quími-cas do pólen apícola de Arecaceae é o manejo do pólen pelo apicultor e/ou o tipo de tratamento que o mesmo sofre durante seu processamento. Em uma de nossas pesquisas, usando-se pólen apícola monofloral de coqueiro oriundo de Ser-gipe, podemos observar que diferentes tipos de tratamentos geravam alterações, ainda que pe-quenas, no padrão físico-químico do pólen, tais alterações foram inerentes ao processamento que o pólen sofreu, podendo esse processamen-to resguardar certos nutrientes ou provocar per-da do mesmo, é o caso do conteúdo proteico de pólen seco em estufa, o qual sofreu perda após realização do processo. Em contrapartida, ao se liofilizar o pólen observa-se que ocorre preser-

vação de conteúdo proteico, de forma significa-tiva comparando-se com a secagem em estufa, prevenindo perdas que podem ocorre até no pó-len in natura (ainda que tais perdas não sejam significativas estatisticamente).

A tabela 2 ilustra bem que em muitos aspec-tos físico-químicos, o tratamento e/ou manejo do pólen é determinante, a exemplo da acidez, do pH, das fibras, da umidade, da atividade de água, mesmo do teor de proteínas, podem apre-sentar diferenças significativas a depender do tratamento ou método de conservação a ser usa-do, sendo assim, é de grande importância que as técnicas de manejo sejam realizadas de maneira correta, respeitando os limites legais. É evidente que tais variações estão mais relacionadas com as características do próprio pólen como um todo, do que com relação a sua origem botânica, a exemplo da umidade, a qual se manteve acima do limite legal mesmo após 8h de secagem em estufa, tal resultado está mais relacionado a um manejo incorreto durante a secagem, permitindo que o pólen reabsorva umidade contida no ar me-diante sua característica altamente higroscópica natural. Diversos autores alertam para tal conse-quência em decorrência do manejo inadequado do pólen, enfatizando que fatores como umidade alta podem facilitar a proliferação de microrga-nismo no produto final (Almeida-Anacleto 2007; Modro et al. 2007; De Almeida et al. 2012).

TABELA 2. Composição físico-química de pólen e resíduo de pólen apícola monofloral de coqueiro em diferentes processos de tratamento.

Componente Pólen in natura

Pólen seco em estufa Resíduo Pólen

liofilizado Pólen light MAPA

Umidade (%) 37,83±0,08a 5,53±0,05c 7,20±0,30b 3,60±0,08d 3,93±0,00d4% seco

30% frescoAw* 0,893±0,008a 0,314±0,002c 0,365±0,002b 0,321±0,002c 0,160±0,008d *°Brix 33,00±0,00c 49,00±0,00a 45,67±0,50b 50,67±0,00a 33,00±0,90c 14,5 a 55%Carboidrato total** 37,08±0,50a 70,11±0,62d 65,87±0,35c 63,54±0,43c 52,32±0,55b **pH 4,57±0,01b 4,52±0,00c 4,58±0,04b 4,50±0,01c 4,81±0,01a 4 a 6Acidez livre (meq/ Kg) 205,67±1,41b 177,50±0,50d 121,66±2,89c 245,76±2,52a 202,67±2,52b Máx. 300

mEq/kg

Cinzas (%) 2,55±0,07b 3,61±0,03a 3,80±0,01a 3,64±0,14a 3,76±0,01a Máx. 4%

Lipídeos (%) 2,69±0,53b 2,71±0,09b 2,65±0,50b 3,32±0,31b 8,90±0,33a Mín. 1,8%

Proteínas (%) 17,55 ±0,42b,c 15,56±0,61c 17,70±0,10b,c 20,35 ±1,69b 27,60±1,1a Mín. 8%Fibras (%) 2,30±0,15c 2,48±0,16b,c 2,78±0,05b,c 5,55±0,56a 3,49±0,29b Mín. 2%

* Atividade de água (22 °C) e não e preconizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (Brasil 2001).** Carboidrato total = diferença entre 100 e a soma de umidade, cinzas, lipídios, proteína e fibras. Resolução - RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003 (Brasil 2003).*** Médias seguidas de mesma letra (linha) não são diferentes estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05).

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Quanto aos limites legais estabelecidos pela legislação brasileira através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (Brasil 2001), a maioria das características físi-co-químicas que informa o conteúdo nutricio-nal do pólen apícola de Arecaceae se encontram dentro destes limites legais, a exemplo de teor de fibras, proteínas, lipídeos, acidez e pH. No en-tanto, existem lacunas nas normas vigentes, as quais não estabelecem limites para atividade de água ou uma faixa aceitável para o teor de car-boidratos totais. No tocante a atividade de água (Aw), este índice é de extrema importância para determinar o controle de qualidade biológico, visto Aw altos remetem a iminente prolifera-ção de agentes biológicos contaminantes, não só diminuindo a vida de prateleira, como também podendo representar risco a saúde humana.

Em se tratando do teor de carboidratos, tais limites poderiam servir com um indicativo para os consumidos acerca de produtos específicos, como o pólen light (o qual é um produto à base de pólen apícola desenvolvido por nosso grupo de pesquisa e protegido pela patente PI1107450-7 e), ou ainda, a depender dos tipos de açucares que constituem o pólen apícola de Arecaceae, estabelecer restrições ou não a grupos de risco, como diabéticos. Em se tratando de frações de carboidratos, nosso grupo já esta desenvolvendo um estudo para elucidar as frações de carboi-dratos que compões o pólen de coqueiro, apoian-do-se em estudos internacionais que tem indi-cado que o pólen possui grandes quantidades de Frutose como açúcar de reserva (Szczêsna 2007), fato que caso se repita no pólen nordestino, gera um importante dado para o consumo de pólen por grupos de consumidores diabéticos, em vir-tude de a frutose ser uma alternativa a Glicose para este grupo de consumidores, possuindo características semelhantes a esta ultima, mas não afetando os níveis glicemia do consumidor (Jenkins et al. 1981).

A condição monofloral do pólen apícola, por si só, não garante níveis constantes em sua com-posição nutricional, de modo a garantir um pa-drão de suas características físico-químicas ou bioativas, para tal também é necessário que sua produção polínica se mantenha perene mesmo diante de variações climática e/ou em diferen-tes regiões geográficas, neste sentido o pólen de C. nucifera demonstra ser promissor. Conforme demonstrado no Quadro 1, com os resultados de um estudo de nosso grupo acerca da floração de palmeiras da família Arecaceae, oriundas de di-ferentes regiões dos estados da Bahia e Sergipe, nota-se que o coqueiro (C. nucifera) apresenta uma floração regular, quase anual, o que de-monstra um grande potencial de produção, bem como a possível geração de produtos com meno-res variações de componentes nutricionais ou bioativos, e/ou de um polo brasileiro produtor de pólen apícola de Arecaceae, com ênfase no pólen de C. nucifera (para confirmar esta hipó-tese, estudos futuros precisam ser realizados com grupos amostrais maiores, constituídos de pólen apícola monofloral de C. nucifera de dife-rentes regiões do nordeste).

Este padrão fenológico de C. nucifera tem sido relatado na literatura em diversos estados do nordeste a exemplo do Ceará (Passos et al. 2006), de Pernambuco (Leite & Da Encarnação 2002) e, mesmo, em Sergipe (Fontes et al. 2006), confirmando seu padrão de floração anual.

Outra abordagem do conteúdo físico-quími-co do pólen apícola é sua importância em pesqui-sas que visem analisar sua relação com a manu-tenção da colmeia e que consequentemente ira ter uma relação direta com a atividade econômi-ca apícola, por fornecer uma fonte de proteínas à colônia mesmo em períodos de baixa floração das fontes nativas, conferindo resistência às abe-lhas a enfermidades. Além disso, podem-se ela-borar rações a base de pólen apícola de Arecaceae (principalmente de coqueiro) com características

QUADRO 1. Registro dos meses de floração por coleta de pólen apícola monofloral no coletor da colmeia no período de setembro de 2011 a agosto de 2013 para C. nucifera e S. coronata, e no período de outubro 2013 a agosto 2014 para E. guianensis e A. funifera.

Origem do pólen Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jun Jul

Attalea funifera • • • • • •

Cocos nucifera • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Elaeis guineensis • • • • • • •

Syagrus coronata • • • • • •

Meses: Set – setembro, Out – outubro, Nov – novembro, Dez – dezembro, Jan – janeiro, Fev – fevereiro, Mar - março, Abr – abril, Mai – maio, Jun – junho, e Jul – julho.

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atrativas as abelhas, como uma alternativa para apicultores de outras regiões onde as fontes polí-nicas não têm uma floração perene.

Composição de aminoácidos do pólen apícola de palmeiras do Nordeste

O teor proteico é um importante componen-te nutricional em qualquer alimento, seja para uso como suplemento alimentar para praticantes de exercício físico, atletas profissionais, ou até como fonte primária para consumidores vegeta-rianos ou veganos. No entanto, o índice de pro-teínas totais é pouco informativo para o valor nu-tricional real de um alimento, visto que existem aminoácidos essenciais (fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, valina e triptofano) que só podem ser obtidos via alimentação e que não são encontrados em todas as fontes de alimento, deste modo o pólen apíco-la rico em proteínas totais, pode ser uma fonte pobre em aminoácidos essenciais, o que diminui seu valor nutricional consideravelmente.

Neste sentido ao observar os teores protei-cos totais obtidos em pólen apícola nas diversas espécies de Arecaceae do nordeste brasileiro,

chegamos a valores consideráveis em relação ao limite mínimo estabelecido pela legislação brasileira (8g/100g), conforme observado nas tabelas 1 e 2 (sendo a tabela 2 apenas para pólen de coqueiro, de Sergipe), apresentando uma va-riação muito baixa entre as diferentes espécies de palmeiras. Surpreendentemente, esta con-dição de baixa variação também se manteve na concentração de aminoácidos livres do polen em todas as amostras de pólen monofloral das pal-meiras analisadas (ver Tabela 3).

Com base em uma análise estatística, ape-nas um aminoácido apresentou diferença sig-nificativa entre todos os tipos analisados (Tukey p<0,05), sendo a prolina em S.coronata (60,98 mg/g), com o menor teor deste aminoácido den-tre as amostras. Em um estudo similar, Negrão et al. (2014) também não encontrou diferenças significativas entre os aminoácidos para pólen apícola, ainda que multiflorais em Botucatu, es-tado de São Paulo, mesmo com o ingresso de fon-tes botânicas diferentes ao longo de doze meses, uma vez que também foi analisada a sazonali-dade de aminoácidos. Tais dados sugerem um valor base de referência para teores de aminoá-cidos, diante da baixa variabilidade das taxas de aminoácidos mesmo em mostras multiflorais.

TABELA 3. Composição e quantificação (mg/g de proteína) encontrada de pólen apícola monofloral de palmeiras, e comparação com os índices recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Aminoácidos Valores padrões*

Attalea funifera

Cocos nucifera

Elaeis guineensis

Syagrus coronata

EssenciaisHistidina (His) 19 24.63 ±0,165 25.48 ±2,81 20.82 ±0,35 21.45 ±0,99Fenilalanina (Phe) + Tirosina (Tyr) **63 96,99 ±0,1 103,27 ±3,1 88,73 ±0,16 104,35 ±0,17Isoleusina (Ile) 28 52.41 ±3,07 51.82 ±2,31 55.62 ±0,865 51.46 ±4,15Leucina (Leu) 66 90.66 ±5,785 105.77 ±1,29 104.89 ±2,41 98.01 ±1,43Lisina (Lys) 56 79.04 ±0,32 91.77 ±19,505 89.00 ±1,5 65.71 ±3,02Metionina (Met) + Cisteina (Cys) **25 29,72 ±4,76 31,24 ±1,88 28,64 ±1,81 28,64 ±0,32Treonina (Thr) 34 48.40 ±1,09 39.71 ±0,28 40.03 ±0,77 44.50 ±0,55Valina (Val) 35 60.71 ±3,56 65.25 ±0,57 60.53 ±2,33 61.87 ±3,07Não essenciaisAlanina (Ala) 65.52 ±4,22 66.42 ±2,755 67.28 ±0,46 64.63 ±1,91Aspartato (Asp) 83.52 ±8,31 94.15 ±3,17 51.18 ±4,04 102.71 ±2,37Arginina (Arg) 62.94 ±2,53 46.27 ±2,365 59.78 ±0,19 61.44 ±0,62Glutamato (Glu) 109.43 ±5,275 99.76 ±0,93 110.58 ±1,99 144.47 ±1,09Glicina (Gly) 55.75 ±0,64 45.76 ±1,655 54.31 ±1,025 48.11 ±0,22Prolina (Pro) 79.54 ±6,725 86.50 ±8,715 124.86 ±4,78 60.98 ±0,85Serina (Ser) 54.07 ±1,07 44.89 ±2,07 46.42 ±0,03 48.08 ±2,61

*WHO/FAO (2007)** Somatório de dois aminoácidos, quando um serve de síntese para o outro.

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A pouca quantidade de trabalhos com análise de aminoácidos de pólen apícolas, principalmente no nordeste, impede conclusões mais precisas.

Em decorrência de limitações metodoló-gicas é a razão para a ausência dos aminoáci-dos asparagina, glutamina e triptofano. Estas perdas se deram durante a extração através da conversão de asparagina em aspartato e da glu-tamina em glutamato, já o triptofano evapora na hidrolise ácida. Mesmo com as perdas decor-rentes da motodologia escolhida, nossos dados são semelhantes aos encontradas em outras re-giões do país por Carpes et al. (2008) e Martins et al. (2011), bem como fora do Brasil, no estudo de Szczêsna (2006) que analisou pólen apícola de três países (Polônia, China e Coreia). Nestes trabalhos, indica-se a ocorrência de 16 aminoá-cidos em pólen apícola, no entanto em pólen de palmeira do nordeste é possível que os 20 ami-noácidos estejam presentes, fato que, provavel-mente, não foi observado em nossos resultados mediante limitações metodológicas. Esta hi-pótese se sustenta ao consultar os trabalhos de Nicolson & Human (2013), os quais utilizaram outras metodologias para obter o teor de ami-noácidos e com isso registraram a presença de triptofano em suas amostras de pólen apícola.

Considerando apenas os aminoácidos es-senciais, é certa a presença de oito dos nove previstos para o organismo humano: fenilala-nina (Phe), histidina (His), isoleucina (Ile), leuci-na (Leu), lisina (Lys), metionina (Met), treonina (Thr), e valina (Val) faltando apenas o triptofano por motivos já discutidos acima. Um ponto re-levante acerca do pólen apícola monofloral de

Arecaceae do nordeste brasileiro refere-se aos percentuais de aminoácidos essenciais acima do padronizado pela WHO/FAO (2007), conferindo a esse pólen um grande valor nutricional, com destaque para a isoleucina, a leucina e valina que estão mais de 70% acima do padrão reco-mendado pela WHO/FAO, conforme demonstra-do na figura 1.

Deve-se destacar que todo o processo de aproveitamento do aminoácido passa pela ques-tão da digestibilidade do pólen apícola, sendo uma área carente de estudos, considerando que no organismo humano os alimentos são apenas reduzidos na boca, ou seja, não sofrem modifi-cações químicas neste órgão, onde vai iniciar o processo de aproveitamento nutricional no es-tômago, dado que as proteínas e polipeptídios são desnaturados por ação do HCl e hidrolisadas pela pepsina, sendo ainda que a digestão no es-tômago representa apenas 10-20% da digestão total protéica (Frenhani & Burini 1999), com isso passa a ser fundamental entender as taxas de di-gestibilidade do pólen apícola, pois embora com-provada uma riqueza nutricional, essa pode não ser aproveitada, sendo também variável confor-me a fonte botânica. Neste âmbito, nosso grupo de pesquisa tem realizado pesquisas para eluci-dar aspectos acerca da digestibilidade de pólen apícola de coqueiro, sendo este trabalho parte de um doutorado em desenvolvimento.

Outro aspecto importante do pólen apícola de palmeira, com relação à sua composição nu-tricional é o teor de aminoácidos de cadeia ra-mificada (ACR) ou BCAA (Branched-chain Ami-no Acids), sendo respectivamente a valina, leu-

FIGURA 1. Concentração (%) de aminoácidos essenciais no pólen apícola monofloral, por fonte botânica, tendo como referência padrão da FAO/OMS.

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cina e isoleucina que também são aminoácidos essenciais, conforme demonstrado na figura 2. Os ACR presentes em pólen apícola monofloral de diferentes palmeiras do Nordeste brasileiro superam a recomendação prescrita de consumo diário dos suplementos hoje comercializados no Brasil, onde as dosagens diárias de consumo são de 3 a 4g, segundo Alves & Lima (2009).

Esses aminoácidos têm uma relação direta com necessidades de reposição após esforço físi-co, uma vez que os ACR’s correspondem 35% dos aminoácidos essenciais em proteínas muscula-res, considerado que um indivíduo adulto possui 40 a 45% da massa corporal total composta de massa muscular, conforme descrito por Rogero & Tirapegui (2008). Assim sendo, esta categoria de aminoácidos importantes como suplemen-tos alimentares, visando à reposição energética principalmente de atletas ou pessoas sujeitas a grandes esforços físicos, constituindo esse um importante nicho mercadológico a ser explora-do para a comercialização de pólen apícola de Arecaceae do nordeste brasileiro.

Teores totais de fenóis e flavonoides de pólen apícola monofloral de coqueiro

Além das características nutricionais, os alimentos podem possuir características fun-cionais (chamados alimentos funcionais), sendo estes alimentos ricos em compostos que atuam na melhoria da qualidade de vida e na proteção à saúde, para tal estes alimentos possuem com-postos bioativos, ou seja, que exercem alguma atividade biologia como combate ao envelheci-mento, combate a microrganismos patogênicos, controle do processo inflamatório, prevenção e combate a doenças diversas (como o câncer), melhoria do desempenho em atividades diver-

sas (como exercício físico ou atividade intensas), entre outras.

Os compostos fenólicos (flavonóides e áci-dos fenólicos) são os principais agentes bioati-vos do pólen com funções antioxidantes, antii-nflamatórios, antimicrobianos e antitumorais (Zheng & Wang 2001; Carpes et al. 2008; Neves et al. 2009). Neste sentido procuramos, em nos-sos estudos, caracterizar os compostos fenólicos presentes no pólen apícola de palmeiras nordes-tinas, para tal um primeiro estudo apenas com pólen apícola de coqueiro (oriundo de Sergipe) foi desenvolvido. Primeiramente elucidamos o perfil dos fenóis e flavonoides (grupo de com-postos fenólicos) totais, a partir de dois métodos de extração distintos (Banho Maria e Ultrassom) e quantificação com bases em métodos espectro-fotométricos, assim um perfil inicial dos efeitos dos processamentos sofridos pelo pólen apícola de coqueiro e de diferentes métodos de extração dos compostos em questão puderam ser conhe-cidos e serviram como parâmetros básicos para os estudos posteriores que realizamos.

A escolha do método de extração pode in-fluenciar muito na obtenção de diferentes clas-ses de composto, em especial dos fenólicos por serem bastante diversificados e possuírem dis-tintas características e estruturas químicas, ainda assim, em nossas condições não obser-vamos diferenças estatísticas significativas de rendimento entre os tipos de extração testados para compostos fenólicos. As amostras de pó-len seco em estufa e resíduo de pólen apícola de coqueiro apresentaram rendimento de extrato seco de 28% e 26% na extração por banho-maria, enquanto para a extração por ultrassom apre-sentaram 33% e 25,5%, respectivamente. Apesar disso, é válido lembrar que o rendimento não indica a qualidade do extrato de pólen e resí-duo, podendo uma amostra demonstrar menor rendimento e possuir propriedades biológicas efetivas, ou ainda ter uma diversidade de tipos compostos maior que métodos com rendimento maior (conforme sugerem algumas de nossas observações, descritas mais a frente).

Sobre os teores totais de fenóis das amos-tras de pólen apícola seco em estufa e resíduo de pólen apícola de coqueiro, extraídos em ba-nho-maria (32,26a e 26,11b mg GAE/g de pólen) e em ultrassom (30,57 e 23,54 mg GAE/g de pólen), demonstram valores intermediários quando comparados com o teor de polifenóis encontra-dos em pólen apícola brasileiro. Segundo Carpes et al. (2008) amostras de pólen da região Sul do Brasil apresentaram resultados que variaram de 19,28 a 48,90 mg para fenóis totais. Neves et al.

FIGURA 2. Percentual de ACR em cada tipo de pólen apícola em relação a 1g de proteína.

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(2009) ao estudar amostras de pólen apícola de-sidratado de Minas Gerais e da região Nordeste, verificaram que os fenólicos totais variaram 6,9 a 13,7 mg, resultados esses inferiores ao encon-trado no presente trabalho. Apesar da variação encontrada, o teor de compostos fenólicos em pólen apícola pode ser considerado alto, na mes-ma faixa de fenólicos totais encontrados em fru-tos como manga e mamão (Oliveira et al. 2011).

Levando-se em consideração apenas di-ferentes processos de secagem não se verifica diferença significativa ao se comparar pólen seco em estufa, resíduo de pólen apícola e pólen liofilizado, este comportamento não é comum a todos os compostos do pólen como pode ser observado no tópico anterior quando tratamos de diversos componentes nutricionais do pólen apícola. Os resultados dos teores de fenóis e fla-vonoides totais dos extratos obtidos pelo método banho-maria estão apresentados na Tabela 4.

De acordo com os resultados, observa-se que as amostras mesmo sendo derivadas do mesmo lote de pólen apícola in natura diferem signifi-cantemente (p<0,05) quanto ao teor de fenóis totais. No entanto, todas as formas de pólen seco analisadas apresentaram teores cerca de 10 ve-zes maiores que o encontrado nas amostras de pólen apícola in natura. É importante ressaltar os resultados obtidos para o pólen light que apre-sentou valores significativamente maiores para os teores de compostos fenólicos totais (63,44 mg GAE/g) e especialmente para flavonóides (74,27 mg de quercetina/g de pólen). O proces-so de obtenção do pólen light contribuiu para a concentração destes compostos, chegando a tri-plicar a concentração de flavonóides totais. Tais dados sugerem fortemente a necessidade de se desenvolver e estudar novas formas de proces-samento de pólen apícola (no nosso caso, origi-nários de Arecaceae) possibilitando, com isso, o beneficiamento de certas características especi-ficas e contribuindo para diversificação do mer-cado de pólen apícola.

Ao se olhar de perto o perfil quantitativo dos teores totais de fenóis e flavonoides para pólen de diversas regiões, pode-se notar uma grande va-riação, tais oscilações são inerentes a fatores di-versos que vão desde a origem botânica do pólen, o tipo de solo em que a planta cresce, os padrões sazonais climáticos, bem como os diferentes mé-todos de extração e obtenção dos teores em si. Es-tas variações nos teores de fenóis e flavonoides podem ser observadas comparando-se trabalhos na literatura conforme descrito na Tabela 5. Esses dados indicam que o pólen apícola com predomi-nância de coqueiro apresenta, em média, maio-res valores para os teores de compostos fenólicos e flavonoides totais, principalmente em compa-ração com amostra de fora do Brasil.

No tocante ao perfil observado do pólen apícola de coqueiro podemos destaca duas si-tuações distintas observadas nos trabalhos de Neves et al. (2009) e Araújo et al. (2017), os dois trabalhos usam amostras de pólen apícola de coqueiro de Sergipe, sendo que no primeiro os teores não muito baixos, já no segundo os teo-res são bem elevados, principalmente para fe-nóis, (semelhantes aos encontrados nos estudos de nosso grupo) tal variação pode ser explicada pela escolha de metodologias diferentes de ex-tração e quantificação dos teores fenólicos, visto que no primeiro estudo foi realizada a extração dos compostos com etanol, em contrapartido no trabalho de Araújo foi obtido um extrato me-tanólico. O estudo de Kroyer & Hegedus (2001) demonstrou este efeito da escolha da metodolo-gia de extração em pólen apícola, de modo que a quantidade de 8,2 mg/g de compostos fenó-licos foi obtida quando realizada uma extração com metanol/água (1:1), entretanto, quando o mesmo pólen foi processado utilizado-se etanol como solvente de extração, o seu teor de fenóis aumentou para 24,6 mg/g.

É evidente que mais estudo acerca dos efei-tos das variações metodológicas nos teores fe-nóis e flavonoides do pólen de Arecaceae preci-

TABELA 4. Teor de compostos fenólicos totais e flavonóides totais de pólen apícola in natura e matrizes derivadas, obtidos por extração em banho-maria.

Ensaios Pólen in natura

Pólen seco em estufa Resíduo Pólen

liofilizadoPólen light

Fenóis totais (mg GAE/g)* 19,85±1,04d 32,26±0,22b 26,11±0,30c 27,32±0,16c 63,44±0,0a

Flavonóides totais (mg Qe/g)* 23,90±0,24b 24,00±0,26c 24,81±0,22c 22,65±0,12b 74,27±0,01a

* GAE: Equivalente a ácido gálico, Qe equivalente a quercetina. ** Médias seguidas de mesma letra (linha) não são diferentes estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05)

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sam ser realizados para se determinar as reais quantidades, bem como se entender a compo-sição deste grande grupo, visto que estas varia-ções podem interferir, não só, na quantidade, mas também nas concentrações do diferentes grupos que compõem os fenóis.

Composição e quantificação das frações dos compostos fenólicos

Considerando-se tudo que foi dito aqui até o momento, pode-se notar como a análise dos compostos fenólicos totais constitui um dado pertinente quanto a bioatividade de um deter-minado produto natural, ainda assim este grupo é formado por diversas substancias químicas de ampla variedade estrutural e, deste modo, com atividade biológicas distintas. Sabendo-se disso, é importante conhecer a concentração das fra-ções que compõem o perfil fenólico do produto bioativo, neste caso do pólen apícola monofloral de Arecaceae.

Para entender as frações que compõem os fenóis do pólen de Arecaceae, nós estudamos, primeiramente, o padrão das frações fenólicas em um representante característico da famí-lia, devido tanto a sua vasta ocorrência no nor-deste brasileiro, quanto ao seu perfil de produ-ção de pólen perene em todo o ano, trata-se de Cocos nucifera. Em um segundo momento, inves-tigamos, comparativamente, o perfil das frações fenólicas do pólen apícola em outros três repre-

sentantes (A. funifera, E. guineensis e S. corona-ta) além de Cocos nucifera, oriundos de regiões diferentes do nordeste, de modo a compreender as variações entre os perfis de fenóis dentro de diferentes espécies de palmeiras da família Are-caceae. Todas as análises foram realizadas por cromatografia líquida.

O perfil das frações fenólicas do pólen de coqueiro

Vamos abordar primeiro o perfil encontra-do apenas em pólen apícola de coqueiro, neste caso consideraremos dois métodos de extração (Banho Maria e Ultrassom) para comparação, além de diferentes técnicas de secagem e de processamento do pólen (são eles: pólen in na-tura, resíduo de pólen, pólen seco em estufa, pó-len liofilizado e pólen light). Os extratos obtidos através da extração por banho-maria e ultras-som demonstraram perfis cromatográficos bas-tante distintos com cerca de 90 compostos.

De uma maneira geral em pólen apícola de coqueiro é possível identificar três ácidos fenó-licos e dois flavonóides tanto para o pólen seco em estufa como para seu resíduo: o p-cumári-co, o clorogênico e o ferúlico como também a rutina e a robinina, sendo as maiores concen-trações obtidas para o resíduo de pólen apíco-la submetido a extração em ultrassom (45,51 e 14,25 mg/100g, para os ácidos clorogênico e fe-rúlico, respectivamente).

TABELA 5. Lista de teores totais de fenóis e flavonoides descritos na literatura, dentro e fora do Brasil.

Procedência Fenóis Totais (mg GAE/g)*

Flavonoides Totais (mg de Qe/g)* Fonte

Sergipe 7,01 4,97 Neves et al. (2009)Sul do Brasil 19,28 a 48,90 - Carpes et al. (2008)Bahia 14,31 a 64,14 0,72 a 1,99** Menezes et al. (2010)São Paulo 1,60 a 2,30 - Negri et al. (2011)Bahia 41.50 a 213,00 - Freire et al. (2012)Paraiba 19,69 6,81 Almeida et al. (2017)Bahia e Sergipe 33,73 a 75,60 1.42 a 9.05 Araújo et al. (2017)****

USA 15,91 a 34,85 2,66 a 5,48 LeBlanc et al. (2009)Chile 7,12 a 18,50 - Montenegro et al. (2013)Letônia, Lituânia, Espanha e China 14,20 a 26,80 2,70 a 5,20 Kaškonienė et al. (2015)

China 12.57 22.89*** Sun et al. (2017)

* GAE referi-se a equivalente de ácido gálico; e Qe diz respeito a equivalente de quercetina** Amostra medida em mg de equivalente de epicatequina /g*** Amostra medida em mg de equivalente de equivalente de rutina /g**** Os maiores teores foram de pólen de Cocos nucifer sergipano

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A Figura 3 ilustra os perfis cromatográ-ficos no comprimento de onda de 310 nm, das amostras de pólen seco em estufa extraídas em banho-maria e ultrassom, assim como, os perfis dos extratos dos resíduos de pólen, submetidos por estes dois procedimentos de extração.

Como pode ser observado na figura 3, o re-síduo de pólen apícola submetido à extração em banho-maria apresentou uma maior área do áci-do p-cumárico em comparação com as amostras de pólen apícola seco em estufa, em contraparti-da, verificou-se uma menor área deste composto tanto para o resíduo quanto para o pólen apícola quando utilizada a extração com ultrassom. Além disso, foi observada uma maior área da rutina nas amostras de resíduo de pólen apícola submetidas à extração em ultrassom, provavelmente devido à granulometria do resíduo ser menor que a do pólen apícola, que facilita a absorção do solvente e maior liberação dos compostos fenólicos exis-tentes na amostra, uma vez que o resíduo encon-tra-se na forma de um pó fino.

Segundo Rosa et al. (2000), a extração de compostos orgânicos está diretamente influen-ciada pela granulometria da amostra. Ou seja, a menor granulometria favorece a extração de maior teor de compostos devido ao aumento da superfície de contato da amostra com a so-lução extratora. Esta mesma observação é feita no estudo realizado por Soares et al. (1998) onde eles discutem que em processos de extração de-vem ser considerados uma série de fatores, tais como: granulometria, polaridade do solvente, acidez do meio, agitação do sistema, método de extração, temperatura e o tempo de contato da amostra com o solvente extrator.

Ao se comparar resultados obtidos a partir de resíduo de pólen apícola de coqueiro, este se mostra sempre superiores aos de pólen seco em estufa, assim não faz o menor sentido desprezar o pó de pólen como resíduo a ser descartado du-rante o processamento1. O pólen em pó mostra--se mais fácil de ser degradado e, portanto, seus componentes podem ser obtidos mais facilmen-

FIGURA 3. Perfis cromatográficos do pólen apícola seco em estufa e do resíduo de pólen apícola: A – Pólen com extração em banho-maria; B – Pólen com extração em ultrassom; C – Resíduo de Pólen com extração por banho-maria; D – Resíduo de Pólen com extração por ultrassom. 1 – ácido clorogênico; 2 – Robinina; 3 – Rutina; 4 – ácido ferúlico; 5 – ácido p-cumárico.

1 O resíduo de pólen é o pólen em pó produzido pelo processo de manipulação do apicultor durante a secagem e triagem do pólen, sendo descartado devido a baixa aceitação pelo consumidos, devido sua aparecia.

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te ao ser consumido, assim sendo uma forma mais adequada para o consumo humano em vir-tude de promover maior biodisponibilidade.

O pólen seco em estufa sob a forma de pellet mantém-se como um costume do consumidor, ainda que este arranjo estrutural do pólen (pel-let) não esteja associado à qualidade do produto. A forma de pellet parece ser simplesmente a for-ma mais adequada para as abelhas transporta-rem as cargas de pólen para as suas colmeias. O processamento deste pellet de pólen a exemplo de fracionamento em forma de pó, ou a produ-ção de pólen light (que também se apresenta em forma de pó) configura uma forma de aumentar as qualidades nutricionais do pólen, conforme evidenciado por pesquisas aqui discutidas.

Neste âmbito, o polen apícola de coqueiro mais apropriado para o consumo seriam: o pó de pólen, que se trata do resíduo de pólen oriundo da manipulação pelo apicultor durante seu pro-cessamento; e o pólen light que também se apre-senta sob a forma de pó. No entanto, o encapsu-lamento ou outros métodos de proteção podem ser requeridos para o pólen apícola em pó, a fim de impedir o ganho de umidade em função de suas características higroscópicas.

Na Tabela 6, estão apresentadas as concen-trações de três compostos fenólicos presentes no pólen seco em estufa e no resíduo de pólen apí-cola: rutina, ácido clorogênico e ferúlico, cujos coeficientes de correlação (R2) foram equivalen-tes a 0,9996; 0,9994 e 0,9951, respectivamente.

De acordo com esses dados, os maiores teo-res de compostos fenólicos quantificados (ruti-na, ácidos clorogênico e ferúlico) foram obtidos nos resíduos de pólen em ambos os métodos de extração quando comparados ao pólen apícola, sendo os melhores resultados obtidos naqueles submetidos à extração com ultrassom. Apesar

disto, de acordo com o teste de Tukey para com-paração de médias, não houve diferenças signi-ficativas do ácido ferúlico para o pólen apícola comparado.

Dentre os compostos fenólicos, o maior teor foi da rutina (328,61 mg/100g) no resíduo de pó-len quando extraído em ultrassom. De acordo com Galati et al. (2003) e Martínez-Flórez et al. (2002), a rutina é um flavonóide com requisitos para exercer uma atividade antioxidante efetiva e antiulcerogênica, devido a presença da dupla ligação na posição 2,3 e a presença dos grupos hidroxila na posição 3,5 (confira a estrutura da rutina na figura 4). Além disso, tem sido utili-zada como medicamento fitoterápico com a fi-nalidade de diminuição da fragilidade capilar, melhor absorção da vitamina C e coadjuvante no tratamento da hipertensão arterial. De acordo com Halliwell & Gutteridge (1995) a rutina tem despertado grande interesse para a indústria alimentar por constituir um suplemento dieté-tico, ser antioxidante e contribuir na preserva-ção dos alimentos. Além disso, a rutina também foi observada em outros representantes de Are-caceae do nordeste, conforme será demonstrado mais a frente.

O ácido clorogênico é outro fenol com ativi-dade antioxidante, ele é um éster formado pelo ácido cafeico e o ácido (L)quínico (ver estrutura na figura 5), os quais são responsáveis por con-ferirem atividade ao ácido clorogênico. A iden-tificação deste ácido fenólico em um produto natura pode ser um indicador indireto da pre-sença individual de seus compostos formadores (conforme será discutido mais a frente no caso do ácido cafeico).

No tocante a sua ação, estudos como o de Ro-driguez de Sotllo et al. (1994) demonstraram que o ácido clorogênico apresenta atividade antio-xidante similar ao BHA que é um antioxidante

TABELA 6. Teor dos compostos fenólicos presentes em extratos hidroalcoolico de pólen (EHP) e em extratos hidroalcoolico de resíduo de pólen (EHRP) submetidos à extração em banho-maria e em ultrassom. R2 = 0,9996; 0,9994 e 0,9951, respectivamente.

Compostos Fenólicos

Banho Maria UltrassomPólen seco em estufa

Resíduo de Pólen

Pólen seco em estufa

Resíduo de Pólen

Rutina (mg/100g) 181,82±0,03c 210,26±0,01b 189,56±0,02bc 328,61±0,05a

Ácido Clorogênico (mg/100g) 36,8±0,02b 41,22±0,01ab 39,16±0,01b 45,51±0,03a

Ácido Ferúlico (mg/100g) 13,01±0,02a 13,55±0,02a 12,77±0,05a 14,25±0,02a

As médias seguidas pelas mesmas letras na mesma linha não diferem estatisticamente entre si (p<0,05) pelo teste de Tukey.

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sintético usado na área de alimentos. Além de apresentar propriedades antioxidantes, o ácido clorogênico produz derivados com diferentes atividades biológicas, tais como as lactonas de ácidos clorogênicos que apresentam afinidade de ligação em centros opióides do cérebro e os isômeros do grupo de ácidos dicafeoilquínicos, que apresentaram, in vitro, capacidade de ini-bir de enzimas integrases na replicação do vírus HIV (Boublik et al. 1983; Zhu et al. 1999; Vitorino et al. 2001; Nogueira and Trugo 2003).

Outro importante composto fenólico com propriedade antioxidante também encontrado nas amostras de pólen seco em estufa e resíduo de pólen apícola foi o ácido ferúlico. O ácido ferú-

lico é um antioxidante, com função de proteger a vitamina C e a vitamina E, além de intensificar a ação de fotoproteção destas vitaminas (Srini-vasan et al. 2007). Já a robinina, também conhe-cida como kanferol glicosilado, além dos seus efeitos antioxidantes com a capacidade de dimi-nuir os radicais livres (De Angelis 2005) apresen-ta também ação antiinflamatória (Hämäläinen et al. 2007). Dentre as atividades imunofarmacoló-gicas o kanferol e a rutina reduzem a liberação da histamina triptase de mastócitos (Theoharides et al. 2001). Além da proteção antioxidante, muitas das atividades farmacológicas encontradas no pólen apícola devem-se também a esses flavonói-des (Medeiros et al. 2006).

No tocante a extração dos compostos deve--se considerar a elevada temperatura do sistema reacional, a presença de compostos intermediá-rios instáveis e a ocorrência de reações parciais paralelas e consecutivas como fatores que confe-rem complexidade ao sistema reacional durante a extração. Mesmo usando-se métodos distintos de extração não foi possível observar diferença significativa para as quantidades de fenóis e suas frações em pólen e resíduo de pólen apícola de coqueiro, com exceção do flavonóide rutina que se mostrou em maior quantidade na extra-ção do resíduo por ultrassom. É importante cha-mar atenção para a possibilidade de outras aná-lises, com foco em outros compostos fenólicos, poderem alcançar resultados diferentes (con-forme demonstraremos adiante quando anali-sarmos frações de fenóis oriundas de pólen de diferentes espécies de Arecaceae). Além disso, o método de ultrassom utiliza baixa temperatura, que é de aproximadamente 30 °C, temperatura bastante inferior a da extração em banho-maria que é de 70 °C, assim temperaturas altas podem contribuir na degradação de alguns compostos fenólicos (Liutti 2007).

Perfil comparativo das frações fenólicas do pólen apícolas de diferentes espécies de palmeiras do Nordeste

Nos pólen apícola monofloral de Arecaceae do nordeste, estudados por nosso grupo de pes-quisa, foram registrados 16 possíveis compostos fenólicos diferentes, através de técnicas de cro-matografia de alta performance, em amostras de pólen de 4 espécies distintas de Arecaceae, entretanto, foram identificados apenas cinco fe-nóis com base nos padrões utilizados. Dois destes compostos já foram mencionados anteriormente

FIGURA 5. Molécula do ácido clorogênico, um éster de ácido cafeico com ácido (L)quínico. Circulo azul núcleo do ácido (L)quínico; quadrado vermelho núcleo do ácido cafeico. Fonte: De Ben Mills - Trabalho própio, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6812526

FIGURA 4. Molécula da rutina. Fonte: Shaddack - Obra própria, usando: ChemWindow, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=385368.

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em nossa discussão acerca do perfil de pólen de coqueiro, sendo eles a rutina e o ácido p-cumári-co (escutiremos esta diferença mais a frente).

As espécies de palmeiras da família Areca-ceae comparadas neste tópico serão A. funifera, C. nucifera, E. guineensis e S. coronata e os com-postos fenólicos identificados em seu pólen fo-ram ácido abscisico, ácido p-cumárico, ácido gá-lico, Rutina, Narigerina. Neste caso, não foram encontrados o ácido cafeico, Quercetina e ácido trans cinâmico, mesmo sendo usados como pa-drões durante as análises do estudo. Tais com-postos podem estar ausentes por diversos moti-vos, desde a sua não produção pela planta, ou até pela metodologia escolhida para a extração dos compostos fenólicos (conforme já descrito ante-riormente). Assim estudos abordando diferentes metodologias de extração precisam ser realiza-dos em pólen de diferentes espécies de palmeira do nordeste brasileiro para melhor caracterizar os compostos fenólicos neles contidos.

Um exemplo disso é a ocorrência de ácido clorogênico em amostras de pólen de coqueiro (conforme descrito no tópico 2.3.1), este ácido é um éster oriundo da união entre ácido cafeico e o ácido (L)quínico (ver figura 5), o que sugere fortemente a presença de ácido cafeico no pólen

apícola de Arecaceae, pelo menos de coqueiro. Todavia, o que se tem observado é a ausência do ácido cafeico em pólen de coqueiro, mesmo com o uso do padrão para o ácido cafeico nas análi-ses cromatográficas. Este fato intrigante pode estar associado a diversos fatores complexos, dentre eles a metodologia de extração escolhida (como já observado aqui), ou mesmo caracterís-ticas metabólicas inerentes à família Arecaceae quanto a biossíntese do ácido clorogênico e/ou do ácido cafeico.

Em todo caso mais estudos precisam ser rea-lizados, a fim de compreende a variação dos teo-res fenólicos em relação a diferentes métodos de extração, além de determinar as flutuações das frações fenólicas em relação esta variação de mé-todo, uma vez que muitos estudos se limitam aos teores de fenóis totais. Esta necessidade de novas pesquisas é eminente para pólen apícola de Are-caceae do nordeste brasileiro, diante da pouca quantidade de estudos acerca das variações do perfil de frações fenólicas neste tipo de pólen.

Na Figura 6 estão ilustrados os cromatogra-mas com os perfis das frações fenólicas obtidas de pólen de quatro palmeiras do nordeste bra-sileiro. As figuras 6A, 6C e 6D representam es-pécie de Arecaceae típica da região litorânea do

FIGURA 6. Cromatogramas dos principais compostos fenólicos presentes no pólen apícola monofloral de quatro origens botânicas da família Arecaceae. A – cromatograma referente a espécies Elaeis guineensis; B – cromatograma da espécie Syagrus coronata; C – cromatograma referente a espécie Attalea funifera; D – cromatrograma relativo a espécie Cocos nucifera. 1-Ácido p-cumárico; 2 – Ácido Abscisico; 4 – Narigerina; 15 a 25 – compostos não identificados; 26 – Ácido gálico; 27 – Rutina.

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nordeste brasileiro (E. guineensis, A. funifera e C. nucifera, respectivamente), já na figura 6B o representante é uma palmeira oriunda da caa-tinga, no semiárido nordestino (S. coronata). Em 6A e 6B foi possível registrar 12 picos ma-joritários, no entanto, apenas três destes com-postos foram identificados, dentre os quais um flavonoide (Naringerina). Em geral, a origem botânica de ocorrência geográfica na caatinga registrou os maiores picos de compostos, isso demonstra que a origem geográfica e a tipologia fitossociologica podem influenciar na composi-ção bioquímica do pólen (Serrano 2014), assim os aspectos climáticos induzem a planta adap-tações fisiológicas e, com isso, pode afetar uma diferenciação bioquímica.

Dentre as palmeiras de Mata Atlântica do li-toral nordestino, aquela ilustradas na figura 6C e 6D (A. funifera e C.nucifera, respectivamente), apresentaram os menores picos em relação as outras espécies, contudo pode-se destacar a gran-de presença do ácido p-cumárico e do flavonoide rutina no pólen apícola de C. nucifera (coqueiro).

O panorama aqui abordado expôs a necessi-dade de se ampliar estudos em plantas do semiá-rido onde as condições de solo e clima, especial-mente o stress hídrico, levam a planta a adotar estratégias fisiológicas diferenciadas, com isso, afetando a composição geral do pólen. Cabe des-tacar que a maioria dos estudos com pólen apí-cola abordam origens botânicas de domínio de florestas estacionais, sendo raros apontamentos sobre a composição físico-química e fenólicas de plantas de caatinga.

De uma forma geral, a identificação de ape-nas 30% dos picos registrados pode estar rela-cionada ao tipo de metodologia e padrões uti-

lizados, além dos aspectos de granulometria, que influenciam na eficiência da extração dos compostos. Segundo Rosa et al. (2000), a extra-ção de compostos orgânicos é diretamente in-fluenciada pela granulometria da amostra, ou seja, quanto menor a granulometria, a extração tende a apresentar um maior teor de compostos devido ao aumento da superfície de contato da amostra com a solução extratora.

Esse fato pode ser uma das explicações pos-síveis para os diferentes números de picos de frações fenólicas observados nos cromatogra-mas para pólen apícola de Arecaceae, conforme demonstrado na Figura 7.

Outros estudos destacam que além da gra-nulometria, a polaridade do solvente, acidez do meio, agitação do sistema, método de extração, temperatura e o tempo de contato da amostra com o solvente extrator, causam influência sig-nificativa na identificação e quantificação dos compostos fenólicos (Soares et al. 1998; Rosa et al. 2000). Conforme já foi dito anteriormente é necessário aprimorar os processos de extração de compostos fenólicos no pólen apícola, am-pliando os estudos comparativos acerca de dife-rentes métodos de extração de compostos fenó-licos para pólen apícola de Arecaceae.

Na Figura 8 mostra a quantidade de com-postos identificados em cada tipo polínico apí-cola e a sua quantificação em mg/g de pólen apícola. Alguns compostos ocorreram isolada-mente em certos tipos de pólen. Isso pode ser ex-plicado pela característica monofloral do pólen apícola, onde mais de 90% dos tipos polínicos que os constituem são de uma única fonte bo-tânica (uma espécie de Arecaceae), reduzindo a contribuição de outras fontes que agiriam inter-

FIGURA 7. Número de picos totais obtidos em cada amostra polínica monofloral de Arecaceae em relação aos identificados por padrões cromatográficos conhecidos.

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ferindo de maneira significativa na representa-tividade da composição fenólica.

Dos compostos identificados, dois foram ex-clusivos de pelo menos um tipo de pólen apícola de palmeira, sendo eles o ácido gálico que apa-receu em A. funífera, e a rutina em C. nucifera. Os demais compostos estiveram presentes em pelo menos dois tipos polínicos, sendo o ácido p-cumárico e o ácido abscisico os que estiveram presentes em todos os tipos de pólen. Vale lem-brar que em relação as frações demonstradas anteriormente apenas para C. nucifera, a rutina e o ácido p-cumárico foram os únicos que ocor-reram nos dois momentos (ver tópico anterior).

A flavona Rutina esteve presente apenas em C. nucifera, e ocorreu em dois estudos distintos (sua primeira identificação foi descrita no tópi-co anterior deste capitulo), o que sugere forte-mente que esta flavona pode ser um marcador bioquímico para identificação e caracterização de pólen de C. nucifera em relação ao grupo de palmeiras. Evidente que se torna importante ampliar amostragens abordando mais espécies da família Arecaceae de ocorrência no nordeste de forma a minimizar a interferência geográfica na indicação do marcador bioquímico. Além dis-so, a rutina atua na redução dos níveis de ácidos graxos, colesterol total, β-lipoproteína e lipídeos totais, para além da alta atividade antioxidante, sendo a presença deste composto importante no tocante a sua bioatividade independentemente de qualquer outra finalidade.

Entre os compostos ativos destaca-se o áci-do p-cumárico e o ácido Abscísico que estiveram presentes em todos os tipos polínicos, com des-taque para uma maior concentração do ácido

p-cumarico em C. nucifera, entretanto este perfil é esperado para este composto fenólico uma vez que este seja um dos compostos fenólicos mais comum na natureza (Carpes, et al. 2008), sendo encontrado amplamente em produtos apícolas. Quanto à atividade do ácido p-cumárico estudo tem demonstrado que esse composto é respon-sável por um grande espectro de atividade an-tibacteriana e antifúngica (Montenegro et al. 2012), além de atua positivamente em linhagens de melanoma onde induziu a diferenciação por meio de alterações morfológicas e aumento na produção de melanina (Liu et al. 1997).

Diante do exposto é importante destacar o papel do pólen apícola monofloral (em especial de Arecaceae) em viabilizar uma possível padro-nização especifica de compostos, já que sua ca-racterística de prevalência de uma fonte floral especifica (constituindo mais de 90% do pólen) reduz a interferência de outros tipos polínicos na sua composição fenólica (e físico-químicas também) deste pólen. Consequentemente este arranjo do pólen tem impacto direto na bioati-vidade do produto final, pois a atividade dos bio-compostos contidos no pólen depende da com-posição e da quantidade de suas frações. Assim, um pólen monofloral possui uma composição muito mais estável que pólen não monofloral (multifloral), considerando ainda que, no caso de pólen multifloral, não é possível apontar qual fonte floral é responsável por tal ação ou com-posto devido a heterogeneidade da amostra.

A caracterização de pólen apícola monofloral de Arecaceae contribui para a elaboração de pro-dutos com recomendações direcionadas a públi-cos específicos, de modo a valorizar determina-das características em certas amostras de pólen apícola monofloral de uma espécie floral onde a sua composição química viabiliza atividades bio-lógicas ou ganhos nutricionais exclusivos.

Em conclusão a este tópico acerca dos com-postos fenólicos do pólen apícola de Arecaceae devemos destacar a necessidade de se ampliar análises acerca de pólen apícola de Arecaceae de representantes florais oriundos da caatinga, considerando o perfil fenólico apresentado por S. coronata e sua evidente diferença em relação às espécies do litoral (Mata Atlântica). Mostran-do que as áreas de caatinga do Brasil podem apresentar espécies de Arecaceae com potencial para a produção apícola e com uma grande ex-pressividade de compostos bioativos que podem estar relacionado diretamente as condições cli-máticas e fitossociológica da vegetação, que por sua vez é endêmica do Brasil, representando um diferencial em termos mundiais.

FIGURA 8. Quantificação e identificação dos compostos bioativos identificados em pólen apícola monofloral pelo método HPLC (mg/g).

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Atividade antioxidante e biológica do pólen apícola monofloral de Arecaceae

As atividade funcionais de alimentos bioa-tivos estão diretamente associadas às concen-trações dos compostos bioativos que compões este alimento, sendo que a maior classe destes compostos formada pelos fenóis. Diante desse conhecimento é importante aqui traçar um pa-ralelo entre as quantidades totais e fracionadas dos fenóis presentes no pólen apícola de Are-caceae, além de buscar entender alguns efei-tos biológicos desempenhados por estas subs-tâncias funcionais. Para isso iremos traçar um perfil de algumas ações importantes desempe-nhadas por estas biomoleculas a partir de dados obtidos nos estudos de nosso grupo de pesquisa, sendo estas ações: 1) Atividade doadora de H+ ao radical DPPH; 2) Capacidade antioxidante total pelo ensaio de fosfomolibdênio (P-Mo); 3) Poder Redutor; 4) Seqüestro do Peróxido de Hidrogê-nio (H2O2); 5) Seqüestro do Radical Superóxido; 6) Captura de radicais livres do óxido nítrico; e 7) Ensaio Hemolítico.

Atividade doadora de H+ ao radical DPPH·

Os resultados obtidos para pólen e resí-duo de pólen apícola monofloral de coqueiro demonstraram que possuem atividade antio-xidante, capazes de reduzir o radical DPPH•, entretanto o pólen in natura apresentou o me-nor valor de inibição conforme apresentado na figura 9 abaixo.

Sendo a análise da atividade antioxidante por DPPH uma metodologia padrão adotada na maioria dos estudos que mensuram esta ativi-dade, não é difícil encontrar trabalhos que uti-lizem esta metodologia com pólen, a exemplo do estudo de LeBlanc et al. (2009) que avaliaram

amostras de pólen apícola do deserto do Sono-ran nos Estados Unidos e observaram atividade antioxidante com valores entre 11,35% a 75,90%. De acordo com Neves et al. (2009) valores variá-veis foram obtidos avaliando amostras de pólen da região nordeste e do estado de Minas Gerais, que apresentaram inibição de 60,13% a 93,46%. Trabalhos avaliando a ação antioxidante de pó-len com predominância de coqueiro ainda são escassos na literatura. Alviano et al. (2004), es-tudaram extrato da planta de Cocos nucifera L., e comprovaram que esta possuía ação antio-xidante e demonstrou um EC50 de 26,6 µg/mL através da técnica de DPPH. Segundo Esquenazi et al. (2002), extratos aquosos de C. nucifera L., apresentaram alguns compostos como catequi-na e epicatequina que são flavonóides respon-sáveis por ação antioxidante. Esses resultados ratificam a ação antioxidante de pólen apícola e resíduo de pólen apícola de coqueiro.

A alta atividade antioxidante indica que o pólen apícola e o resíduo proveniente de pólen com predominância de coqueiro possuem im-portante ação antioxidante que previne contra os radicais livres no organismo. Além disso, o resíduo de pólen apícola pode ser considerado também um potencial produto a ser comerciali-zado juntamente com o pólen desidratado, uma vez que este apresenta uma composição quími-ca e físico-química bastante semelhante e em alguns pontos até melhor que o próprio pólen comercializado. As propriedades biológicas dos compostos fenólicos estão relacionadas com a atividade que cada fenol exerce sobre determi-nado meio, sendo que a estrutura química dos flavonóides favorece a ação antioxidante, em-bora outros constituintes como proteínas e vi-taminas também possam contribuir para essa propriedade (Campos et al. 2003).

Os extratos de pólen light, seco em estufa e liofilizado apresentaram maior atividade antio-xidante (85,79, 69,77 e 71,06%, respectivamente) capaz de reduzir o radical DPPH, resultando em valores superiores ao encontrado por Neves et al. (2009) com amostras de pólen apícola coletadas em São Cristóvão (Sergipe) de 62,09% e Carpes et al. (2008) de 20,68% com pólen do Paraná. Entre-tanto, esses resultados são semelhantes quando comparados a outras amostras brasileiras, como observado também em Neves et al. (2009) que analisaram amostras de Alagoas, Bahia e Minas Gerais pela técnica de DPPH• e encontraram 93.46, 89.32 e 60,13%, respectivamente, como também os valores observados por Menezes et al. (2010) que variaram entre 37,94 a 91,81% para pólen coletado em Alagoinhas/BA.

FIGURA 9. Atividade antioxidante de extratos de pólen e resíduo de pólen medidas pelo método de DPPH.

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Leja et al. (2007), ao analisar a capacidade an-tioxidante do pólen apícola de diferentes espécies da região da Krakow (Polônia), encontraram uma grande variedade de compostos fenólicos e que, na maioria das amostras, a atividade antioxidan-te estava relacionada com o teor de fenilpropa-nóides. Também foi verificado que a contribuição dos flavonóides no teor de compostos fenólicos totais diferia consideravelmente em função da origem botânica. Sroka & Cisowski (2003) descre-vem que a eficiência de constituintes fenólicos, como os anti-radicais e antioxidantes, depende de muitos fatores, como o número de grupos de hidroxila ligado no anel aromático e a posição da hidroxila no anel aromático. Assim como a téc-nica DPPH que avalia a ação antioxidante. Essa técnica é preliminar e ajuda a determinar se a matriz de estudo possui ou não ação antioxidante antes de dar continuidade com outros testes mais específicos como ABTS+, FRAP, Fosfomolibdênio, Peroxidação lipídica dentre outros. É importante ressaltar que dentre as amostras analisadas, o pó-len light novamente obteve os maiores valores de capacidade antioxidante para o ensaio de DPPH.

Capacidade antioxidante total pelo ensaio de fosfomolibdênio (P-Mo)

A atividade antioxidante total foi medida pelo método fosfomolibdênio que é baseado na redução do Mo (VI) para Mo (V) pelo composto antioxidante da formação de um fosfato verde / Mo (V) complexo formado na condição de pH ácido e foram monitorados a 695 nm com um es-pectrofotômetro (Prieto et al. 1999).

O aumento da absorvância indica o aumento da atividade antioxidante total. Todos os extra-tos exibiram atividades significativas (Tabela 7). Os resultados mostraram que a capacidade an-tioxidante total (TAC) dos extratos de pólen va-riou entre 23,71 a 92,86%, sendo, novamente, o pólen light o que apresentou maior atividade.

O molibdênio é encontrado em quantida-des mínimas no organismo e é prontamente ab-sorvido no estômago e intestino delgado sendo excretado primeiramente pela urina como tam-bém pela bile (Basu & Dickerson 1996). A defi-ciência desse componente pode causar taquicar-dia, náusea ou mesmo cefaléia e o excesso pode causar uma síndrome semelhante à gota (Maban & Escott-Stump 1987). As fontes mais ricas em molibdênio são leguminosas, grãos de cereais, vegetais de folha verde-escura e vísceras. Como o pólen é um alimento que tem maior proximi-dade da categoria dos cereais essa avaliação da capacidade antioxidante se torna essencial para o conhecimento deste produto alimentar.

Ensaio do Poder Redutor

Outra metodologia implementada para a avaliação da atividade antioxidante, diz respei-to ao poder redutor que os compostos fenólicos apresentam para reduzir a espécie Fe3+ a Fe2+ (Berker et al. 2007). Todos os extratos de pólen apresentaram efeito do poder redutor dose-de-pendente, ou seja, cada vez que aumenta a con-centração do extrato maior é sua ação antioxidan-te como pode ser observado na Tabela 8 abaixo.

TABELA 8. Atividade do poder redutor dos extratos de pólen apícola monofloral de coqueiro (Cocos nucifera).

ExtratosConcentração (µg/mL)

10 25 50 100 200In natura 12,47 ± 0,74d 13,54 ± 0,41d 15,70 ± 1,15c 25,17 ± 3,75b 45,32 ± 1,43a

Light 7,55 ± 1,90e 11,75 ± 1,60d 28,30 ± 4,79c 54,55 ± 1,09b 90,28 ± 9,97a

Liofilizado 5,03 ± 0,62d 6,95 ± 0,83d 18,70 ± 1,43c 31,41 ± 1,69b 39,92 ± 1,64a

Seco em estufa 8,99 ± 0,71c 11,39 ± 1,15b 14,38 ± 2,00b 26,61 ± 1,56a 28,77 ± 2,51a

As médias seguidas pelas mesmas letras na mesma linha não diferem estatisticamente entre si (p<0,05)

TABELA 7. Capacidade antioxidante total dos extratos de pólen apícola.

Amostras Inibição (%)Pólen in natura 23,71 ± 0,17d

Pólen liofilizado 28,90 ± 0,23b

Pólen light 92,86 ± 6,03a

Pólen seco em estufa 26,43 ± 0,17c

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O poder redutor está ligado à capacidade de transferência de elétrons. No ensaio de poder redutor, a cor do sistema FeCl3/K3Fe (CN)6 alte-ra para vários tons de verde e azul, dependendo do poder redutor de cada extrato. O poder de redução é um dos mecanismos antioxidantes mais poderosos que indicam boa atividade dos extratos testados. A capacidade de doar elétron e átomo de hidrogênio reflete o poder redutor de compostos bioativos e está associada com ati-vidade antioxidante (Ak & Gülçin 2008). Este é um método indireto de avaliação da atividade antioxidante de pólen, por utilizar radicais está-veis que simulam sistemas oxidáveis complexos. Entretanto o pólen apresenta ação similar para algumas amostras enquanto outras apresentam resultados melhores quando comparada com os resultados obtidos por Santos et al. (2007), onde amostras de café torrado apresentaram poder redutor que variaram de 18% a 37% na concen-tração de 100 µg/mL enquanto nesse estudo o pólen apresentou inibição que variou de 25,17% a 54,55% como é o caso do pólen light nessa mes-ma concentração de extrato.

Sequestro do Radical Superóxido

No ensaio de sequestro do radical superó-xido, os extratos de pólen apícola monofloral de coqueiro demonstraram efeito inibitório redu-zido, ou seja, não foram capazes de seqüestrar o radical O2-. Esta informação é pertinente, pois permite conhecer quais as atividades funcionais o pólen pode desempenhar, contribuindo de ma-neira prática para que estudos futuros sejam di-recionados a ações funcionais significativas ou ainda que sejam planejados para elucidar meca-nismos de ação daquelas atividades sabidamen-te funcionais do pólen.

Sequestro do Peróxido de Hidrogênio (H2O2)

Na Figura 10, os extratos de pólen monoflo-ral de coqueiro apresentaram atividade de eli-minação do peróxido de hidrogênio na forma de dose-dependência da concentração. O pólen seco em estufa e o pólen liofilizado apresentaram os maiores valores em relação às demais amostras.

O peróxido de hidrogênio não é altamente reativo, mas pode induzir radicais hidroxila, o que resultaria em grandes danos para as célu-las (Halliwell and Gutteridge 1995). O Peróxido de hidrogênio pode inativar algumas enzimas diretamente, geralmente por oxidação do grupo

tiol essenciais (-SH). O H2O2 pode atravessar as membranas celulares rapidamente, uma vez no interior da célula, pode reagir com íons Fe2+ e, possivelmente com Cu2+ para formar radicais hidroxila e esta pode ser a origem de muitos dos seus efeitos tóxicos (Ohye & Sugawara 2010). As-sim, a remoção de H2O2, bem como O2- é muito importante para a saúde humana.

De acordo com Raymundo et al. (2004), ex-tratos metanólicos de algas foram capazes de sequestrar o peróxido de hidrogênio, mas o efeito foi bastante reduzido variando entre 1,26 e 20,01%. Nesse estudo o pólen apícola variou seus resultados entre 10,51 a 17,20% de inibição na menor concentração testada que foi de 10 µg/mL. A busca por novas fontes de inibidores de ERO’S é muito importante para o tratamento de muitas doenças, como alguns tipos de câncer. Compostos fenólicos naturais podem desempe-nhar papel fundamental como potentes agentes quimiopreventivos (Jeong et al. 2009).

Captura de radicais livres do óxido nítrico

Extratos hidroalcoólicos do pólen monoflo-ral de coqueiro apresentaram efeito inibitório sobre a produção de óxido nítrico. O radical do óxido nítrico gerado a partir de nitroprussiato de sódio a pH fisiológico foi inibido por todos os extratos de pólen apícola como apresenta na Figura 11. Os índices de inibição do pólen estão numa faixa entre 25,08% (na concentração de 200 µg/mL) a 82,45% (na concentração de 10 µg/mL), sendo que a maior inibição ocorreu no pó-len seco em estufa, seguido do pólen light.

O óxido nítrico (ON) é um mediador quími-co importante gerado pelas células endoteliais, macrófagos, neurônios, etc., e está envolvido na regulação de vários processos fisiológicos.

FIGURA 10. Capacidade de limpeza do radical H2O2 encontrada nos extratos de pólen.

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Excesso de concentração de ON está associado a várias doenças (Förstermann 2010). O oxigênio reage com o óxido nítrico para gerar o excesso de anions de nitrito e peroxinitrito, que atuam como radicais livres.

Ensaio Hemolítico

O teste de hemólise vem sendo emprega-do rotineiramente em estudos de toxicidade de plantas de interesse peculiário (Pequeno & So-to-Blanco 2006) mostrando se positivo, sobre-tudo, as espécies que apresentam saponinas em sua constituição. Os extratos hidroalcoólico de pólen apícola monofloral de coqueiro apresenta-ram ação hemolítica dose-dependente, ou seja, na medida em que a concentração aumenta, maior é a sua ação hemolítica, como apresenta-do na Tabela 9, abaixo.

O extrato de pólen seco em estufa não foi ca-paz de lisar as hemácias de forma direta na con-centração de 10 µg/mL e o mesmo ocorreu com o pólen light, tanto na concentração de 10 µg/mL quando na concentração de 25 µg/mL. Em se tra-tando de uma estrutura rica em lignina, celulo-se e outros componentes estruturais que podem formar espículas e estruturas rígidas, espera--se que o pólen apícola monofloral de coqueiro

apresente grande potencial de lise de hemácias em testes in vitro. No entanto, os resultados obti-dos com o pólen seco em estufa e especialmente o pólen light indicam que as etapas de processa-mento desses produtos modificam tais estrutu-ras e alteram as propriedades do pólen apícola reduzindo o poder desse material em danificar as células sanguíneas.

Identificação genética do pólen apícola monofloral de Arecaceae

A identificação do pólen apícola monofloral se dá por análises palinológicas, através da com-paração das características morfológicas exter-nas do pólen (Alves 2013). Embora a análise pa-linológica se mostre eficiente é importante que outras formas de identificação sejam desenvol-vidas, de modo a tornar o processo mais rápido e fácil, além de possibilitar a análise de diversas amostras de uma só vez. Neste âmbito a biolo-gia molécula pode constituir uma ferramenta muito útil. Assim, nosso grupo desenvolveu uma metodologia de identificação por código de bar-ras genético (DNA Barcode, no inglês), neste sen-tido disponibilizando opções de identificação do pólen, além de realizar uma análise comparati-va entre as técnicas.

Neste tópico procuraremos apresentar al-guns aspectos desta forma de identificação de pólen apícola de palmeira. Para tal, demonstra-remos os resultados obtidos em um de nossos tra-balhos utilizando as quatro espécies de palmei-ras da família Arecaceae que já exemplificamos nos tópicos anteriores (A. funifera, C. nucifera, E. guineensis e S. coronata).

Na abordagem molecular de identificação um ponto crítico para obter sucesso é a esco-lha da região a ser amplificada, para tal alguns critérios deve ser obedecidas para que um locus seja considerada apto para Barcode, devendo: possuir sequências curtas; facilmente amplifi-

FIGURA 11. Capacidade de inibição do óxido nítrico por extratos de pólen apícola.

TABELA 9. Atividade de inibição (%) hemolítica de extratos de pólen apícola monofloral de coqueiro (Cocos nucifera).

AmostraConcentração (µg/mL)

10 25 50 100 200Seco em estufa 0,00± 0,00d 7,35± 0,52c 7,45± 0,22c 14,07± 0,24b 37,28± 0,31a

Liofilizado 6,12± 0,74d 15,75± 0,34c 15,86± 0,43c 22,47± 0,50b 45,69± 0,80a

In Natura 3,95± 0,25d 4,48± 0,50d 8,15± 0,42c 34,97± 0,60b 44,29± 0,66a

Light 0,00± 0,00d 0,00± 0,00d 6,93± 0,31c 33,71± 0,44b 80,91± 0,45a

As médias seguidas pelas mesmas letras na mesma linha não diferem estatisticamente entre si (p<0,05)

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cada; mostrar variação suficiente dentro da re-gião para permitir a separação entre as espécies; ser conservadas o suficiente para estar presente mesmo considerando a diversidade dentro da espécie; e Gerar um produto único de amplifica-ção (Ford et al. 2009).

Varias regiões gênicas podem são possíveis alvos para o desenvolvimento de um Barcode, dentre elas COX 1 e ITS. A primeira trata-se de um gene mitocondrial, codificador da subuni-dade Citocromo c Oxidase 1, possui aproximada-mente 650 pb (pares de base), e tem sido consi-derado uma região importante para a identifi-cação de espécies animais. Já a segunda é o gene Internal Transcribed Spacer (figura 12), que faz parte do DNA ribossomal e separa os genes 18S e 26S, sendo dividida em duas regiões, a ITS1, que separa os genes 18S e 5.8S e a região ITS2 que se-para os genes 5.8S e 26S; por se tratar de uma região muito conservada intraespecificamente, porém variável Inter especificamente, esta re-gião permite a distinção a nível específico.

Tanto Cox 1 como ITS foram testados por nos-so grupo, além deste genes outros dois possuem ainda mais relevância como regiões Barcode para identificação de pólen de palmeiras da família Arecaceae, sendo eles: 1) o gene matK (Maturase k) que é uma ORF (open Reading Frame), de cerca de 1500 pb, localizada dentro de um íntron clas-se II, entre os exons 5’ e 3’ do gene que codifica o tRNA para a lisina; em seus 1500pb, apresenta

regiões mais conservadas e mais variáveis (ver figura 13). 2) O gene rbcL codificador da Ribulo-se bifosfato carboxilase (ver figura 13), que apre-senta uma função extremamente importante no processo de fotossíntese das plantas, uma vez que esta enzima capta o gás carbônico atmosférico e fixa-o em um açúcar denominado RuDP (Ribulo-se 1,5-bifosfato) a reação entre estes, dá origem a duas moléculas de fosfoglicerato, sendo assim responsável pelo primeiro passo do ciclo de Cal-vin, a partir disto é possível entender o grau de conservação nos pares de base da sequência que codifica esta enzima, logo ressalta-se o motivo por esta região ser considerada uma potencial re-gião para o Barcode.

Escolhida a região, devem-se desenhar os primers ou iniciadores que vão indicar a região a ser amplificada e sequenciada para se obter a identificação, este primers são então testados tanto em laboratórios com in sílico, ou seja, com-putacionalmente. Para o desenvolvimentos dos primers, com base na sequência do gene escolhi-do, pode-se utilizar vários softwares como o Pri-me3Plus, já para testar os primers desenhados a ferramenta computacional mais utilizada é o BlastN, que permite verificar se a região alvo é amplificada para as espécies desejadas. Apenas os 02 primers listados no Quadro 2 mostram-se eficientes, até o momento, para a identificação de pólen apícola de palmeira, com base nos estu-dos realizados por nosso grupo de pesquisa.

FIGURA 13. Representação esquêmica dos genes matK e rbcL . A) representação do gene matK; B) esquema do gene rbcL. Fonte: A - modificado de Duffy, A.M. (2008); modificado Sharwood et al. (2008).

FIGURA 12. Representação esquemática da região ITS. Fonte: modificado de Coleman (2003).

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Para testar laboratorialmente um primer é necessário otimizar a reação através de uma gradiente de temperatura no qual se varia a tem-peratura de anelamento a ser usada para pro-mover a ligação do primer ao DNA alvo, duran-te uma reação em cadeia da polimerada (PCR). O quadro 3 mostra as condições ótimas da rea-ção para os primers dos genes rbcL e matK.

A figura 14 mostra o resultado da PCR, evi-denciando a amplificação uniforme das regiões dos genes escolhidos. Neste caso, já é possível inferir que os dados moleculares apontam para uma mesma espécie em todas as amostras de pó-len testado, isto se deve por que o gel de agarose não permite uma diferenciação eficiente entre as bandas do amplicon, deste modo não se tem como afirmar quais espécies compõem o pólen testado apenas com uma análise por eletrofore-se é necessários sequenciar os amplicons e com-parar as sequencias obtidas de cada amostra de pólen, esta comparação é feita com ferramentas de bioinformática.

Algumas questões importantes devem ser observadas acerca do sequenciamento no tocan-te a identificação de espécies, devemos ter cui-dado na determinação dos parâmetros de con-fiança da montagem uma vez que erros de mon-tagem podem enviesar a análise das sequências provocando falsos negativos e falsos positivos, com isso é aconselhável que o valor de phred se-lecionado seja entorno de 30, o que permite um erro de 1 a cada 1000pb.

A espécie que compõe a amostra polínica é conhecida com base em uma análise compa-

rativa entre a sequência que você obteve e as sequência depositadas em um banco de dados, esta análise comparativa é feita usando-se, fre-quentemente, a ferramenta BLAST gerando um resultado semelhante ao descrito no Quadro 4, logo abaixo.

As amostras P1-P5 e D6 obtiveram resul-tados incongruentes, devido à ausência da se-quência referente a Attalea funifera no banco

QUADRO 2. Primers capazes de identificar a origem floral do pólen apícola monofloral de palmeiras.

Gene Primer Sequência 5’-3’ Temperatura de melting

rbcLrbcl-F

rbcl-R

5’ ATGTCACCACAAACAGAGACTAAAGC 3’

5’ GAAACGGTCTCTCCAACGCAT 3’

5’ TTCGTTGGGCACAACAATTA 3’

5’ TTGTCCTCCAAAAAGGGAAA 3’

55 °CmatK

E_matK-F

E_matK-R

QUADRO 3. Condições ótimas para a PCR utilizano-se os primers rbcL e matK.

Etapa Temperatura TempoDesnaturação inicial 94° C 5 minutosDesnaturação final 94° C 1 minutoAnelamento 55° C 1 minutoExtensão Inicial 72° C 1 minutoExtensão Final 72° C 5 minutos

FIGURA 14. Revelação do terceiro gel onde as amostras enumeradas de 1 a 3 obtiveram a amplificação do gene rbcl e as amostras enumeradas de 4 a 6 obtiveram a amplificação do gene matK. As letras correspondem: C - Cocus nucifera; P - Attalea funifera; O – Syagrus coronata; D – Elaeis guineensis; e “C-“ - controle negativo.

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QUADRO 4. Amostras de pólen apícola identificadas a partir de técnicas moleculares, destacando os parâmetros de confiança (E-value), a identidade das sequências com aquelas do banco de dados (ID) e os genes usados como marcador barcode.

Sequenciamento das amostras de folhas

Amostras Gene Identificação molecular ID (%) E-value Acessos NCBI

C1 Rbcl Cocos nucifera 100 0.0 KX028884.1C2 Rbcl Cocos nucifera 99 0.0 KX028884.1C3 Rbcl Cocos nucifera 100 0.0 KX028884.1

C4 matK Cocos nucifera 100 5e-31 KX028884.1

C5 matK Cocos nucifera 99 2e-30 KX028884.1C6 matK Cocos nucifera 99 2e-88 KX028884.1D1 Rbcl Elaeis guineensis 100 0.0 JF274081.1D2 Rbcl Elaeis guineensis 99 0.0 JF274081.1D3 Rbcl Elaeis guineensis 100 0.0 JF274081.1D4 matK Elaeis guineensis 100 2e-29 JF274081.1D5 matK Elaeis guineensis 100 2e-29 JF274081.1D6 matK Cocos nucifera 100 3e-14 KX028884.1O1 Rbcl Syagrus coronata 99 0.0 KT896548.1O2 Rbcl Syagrus coronata 100 0.0 KT896548.1O3 Rbcl Syagrus coronata 99 0.0 KT896548.1O4 matK Syagrus coronata 100 1e-31 KT896548.1O5 matK Syagrus coronata 100 1e-31 KT896548.1O6 matK Syagrus coronata 100 5e-31 KT896548.1P1 Rbcl Cocos nucifera 100 0.0 KX028884.1P2 Rbcl Cocos nucifera 100 0.0 KX028884.1P3 Rbcl Cocos nucifera 100 0.0 KX028884.1P4 matK Cocos nucifera 100 3e-27 KX028884.1P5 matK Cocos nucifera 100 3e-27 KX028884.1

Origem floral das amostras de pólen: C - Cocus nucifera; P - Attalea funifera; O – Syagrus coronata; D – Elaeis guineensis.As amostras marcadas em vermelho obtiveram identificação divergente à esperada; e em verde as correspondentes às identificações esperadas, com base na análise palinológica; * Amostra que não obtive bons resultados no sequenciamento, impossibilitando sua identificação.

de dados, porém a qualidade do sequenciamen-to foi significante, o que reforça o fato de que a identificação não foi possível apenas por não haver a sequências desta espécie nos bancos de dados gênicos.

De acordo com os dados, observamos uma maior qualidade na identificação através da re-gião rbcl, por se tratar de uma região com maior número de nucleotídeos (~600pb) houve infor-mação suficiente para distinguir as espécies es-tudadas, já com a região matK houve menor qua-lidade nesta etapa, uma vez que a quantidade de nucleotídeos disponíveis para a comparação foi de no máximo (108pb), logo, houve menos dados para que o banco de dados conseguisse distin-guir as espécies por este locus.

Também houve maior eficiência no sequen-ciamento da região rbcl (~80%) da sequência apresentava alta qualidade para a formação dos contigs; já no matK, cerca de 60% da sequência era aproveitada, isto também interfere na quali-dade da identificação.

Ao analisar o grau de identidade, percebe-mos que grande parte das amostras apresentaou 100% de identidade com as sequência do banco de dados. Por fim, ao se comparar os alinhamen-tos do blast com seus respectivos E-value notam--se valores baixos, que garantem uma baixa pro-babilidade destes alinhamentos serem ao acaso.

A identificação molecular da origem botâni-ca de pólen monofloral de Arecaceae mostra-se

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uma realidade, no entanto, ainda faz-se neces-sário um estudo mais amplo (com um maior nú-mero de amostras), o desenvolvimento de mais marcadores Barcode (ou seja, o uso de locus dife-rentes) e uma pesquisa acerca das informações sobre as sequências gênicas de palmeiras (Are-caceae) contidas nos bancos genômicos, para desta forma melhorar fortemente a eficiência da identificação genética destas fontes florais.

Agradecimentos

Ao CNPq pelo financiamento de pesqui-sas vinculadas ao projeto Pindorama (CNPq, #407717/2013-7) e a bolsa concedida ao quarto autor. À Fapitec do Estado de Sergipe e à Capes pela bolsa concedida ao último autor, através da parceira Capes/Fapitec em 2016 (Edital Fapitec/SE/Capes N° 12/2016 - Programa de Formação de Mestres e Doutores no Estado de Sergipe). Por fim, agradecemos a RENORBIO por proporcionar a execução das teses que compõem este capitulo e, também aos apicultores dos estados de Sergipe e Bahia pelo apoio e fornecimento de amostras.

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Teor de minerais no pólen apícola de coqueiro (Cocos nucifera L.) e dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.)

Girliane Regina da Silva, Ayala Nara Pereira Gomes, Celso Amorim Camara, Rodolfo França Alves, Francisco de Assis Ribeiro dos Santos & Tania Maria Sarmento Silva

As espécies vegetais da família Arecaceae (palmeiras) possuem grande importância econômica no Nor-deste brasileiro e são polinizadas por abelhas. O pólen coletado pelas abelhas (pólen apícola) apresenta composição química variada e atividades biológicas variadas. Do ponto de vista econômico, nutricional e terapêutico, o pólen apícola monofloral (predominância de pólen de uma espécie vegetal) apresenta vantagem por apresentar as mesmas características físico-químicas, químicas e biológicas. Os minerais presentes no pólen apícola são expressos em macro e microelementos e essenciais para regulação das vias metabólicas e processos fisiológicos. Para análises de minerais, nove amostras de pólen apícola de Elaeis guineensis (dendê) e 12 de Cocos nucifera (coco) foram coletadas nos municípios de Nilo Peçanha e Ma-raú, Estado da Bahia. Um alto nível de elementos benéficos como K (811,1±14,20 mg/100 g), Ca (235,4±6,05 mg/100 g), Mg (1159,4 ± 147,2 mg/100 g), Zn (6,2±0,09 mg/100 g), Fe (2,9±0,07 mg/100 g), Mn (13,3± 3,0 mg/100 g) e Cu (0,7± 0,03 mg/100 g) foram encontrados nas amostras, sendo considerados como fonte ou alimento com alto conteúdo mineral, de acordo com a regulamentação Brasileira. O alto teor de minerais mostrados no pólen monofloral analisado agregam valor ao produto.

Introdução

As plantas da família Arecaceae, popular-mente conhecidas como Palmeiras, destacam--se pela relevância na subsistência de muitas comunidades tradicionais que utilizam tanto na alimentação (produtos que podem ser obtidos como óleo, amido, palmito, cera e fibras) como para combustível, construção de moradia e pro-dução de artesanato, sendo considerada uma al-ternativa econômica para as comunidades (Büt-tow et al. 2009; Arruda et al. 2014).

Os polinizadores fornecem um serviço essen-cial ao ecossistema e trazem inúmeros benefícios à sociedade, através do seu papel na agricultura com a produção de alimento e na conservação da diversidade biológica (Ribeiro et al. 2015). As abe-lhas estão entre os principais responsáveis pelo processo de polinização das palmeiras (Dorneles et al. 2013; Gottsberger et al. 2013).

A apicultura é uma prática de grande poten-cial no Brasil devido a fatores favoráveis como o clima e a diversidade da flora (Neto & Neto 2006). É uma das poucas atividades agropecuárias que atende aos três requisitos da sustentabilidade: o econômico, o social e o ecológico. Sendo assim,

fornece renda para o apicultor, ocupa mão de obra familiar ou contratada e contribui para a preservação da flora nativa, pois é dela que são extraídos o néctar e o pólen, componentes es-senciais para a vida das colmeias (Neto & Neto 2006). No nordeste brasileiro, ainda predomina a obtenção de pólen apícola obtido da flora nati-va (Novais et al. 2009; Freire et al. 2012).

A origem dos produtos elaborados pelas abelhas, bem como as vantagens comerciais em determinar a qualidade promoveu o uso do conhecimento da morfologia de grãos de pólen como uma ferramenta de investigação (Modro et al. 2011). A determinação das plantas visita-das pelas abelhas para formar a massa de pólen apícola é realizada pela palinologia, que permite a identificação botânica (taxonômica) dos grãos presentes na mesma (Santos 2011).

As abelhas podem apresentar preferência em visitar e coletar o pólen de determinadas es-pécies de plantas em relação a outras (Russell et al. 2016) e “grãos de pólen mono-típicos” pas-sam a conter apenas um tipo polínico ou uma maior frequência (Conti et al. 2016). Quando há 60% ou mais de um único tipo polínico, sem ocorrência de um pólen acessório (que ocorre

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numa frequência de 15 a 45% do total dos grãos contados), considera-se como monofloral (Barth 2004), que tem por vantagem a manutenção das características físico-químicas e organoléoticas do produto (Yang et al. 2013), saindo dessa faixa o pólen e considerado poli ou multifloral.

O pólen apícola é um dos mais ricos e puros suplementos alimentares naturais embalados por abelhas em grânulos e, posteriormente, co-lhidos a partir de colmeias por seres humanos (Bogdanov 2016). É o resultado da aglutinação do pólen das flores, néctar e substâncias salivares das abelhas (BRASIL 2001) coletado por meio de uma grade de retenção denominado de coletor de pólen. No final da coleta, encontram-se reunidas as bolotas de grãos de coloração variável, indican-do as diversas espécies botânicas colecionadas pelas abelhas, formando uma mistura conhecida por “mix” polínico, sendo esse material removido pelo apicultor para o beneficiamento, comercia-lização e consumo animal e humano. Na colmeia, o pólen é coberto por uma fina camada de mel e cera e é, então, formado o pão de abelha que sofre fermentação anaeróbica e que, devido ao ácido lático resultante, mantém-se preservado. O pão de abelha constitui a fonte básica de proteína para colônia, além de susbtâncias nutricionais e minerais (Komosinska-Vassev et al. 2015).

Por meio de técnicas analíticas avançadas, é possível identificar muitos compostos químicos em pólen apícola proveniente de várias espécies vegetais (Denisow & Denisow-pietrzyk 2016). Os componentes majoritários do pólen apícola são açúcares (13-55%), fibras (0,3-20%), proteínas (10-40%) e lipídeos (1-10%) (Feás et al. 2012). Outros componentes em menor quantidade são mine-rais (cálcio, manganês, magnésio, fósforo, selê-nio, zinco, cobre, ferro, potássio e sódio) (Morga-no et al. 2012); vitaminas (tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, piridoxina, ácido as-córbico, biotina, ácido fólico e tocoferol) (Arruda et al. 2013); aminoácidos essenciais (Silva et al. 2014); compostos fenólicos, em especial os flavo-noides (Freire et al. 2012; Ulusoy & Kolayli 2013; Silva et al. 2009; Campos et al. 2008); esteroides e terpenos (Bogdanov 2016). Devido aos seus in-gredientes vitais, o pólen de abelha é considerado como um dos alimentos mais completos e nutriti-vos da natureza (Paradowska et al. 2017).

O conteúdo mineral do pólen é frequentemen-te expresso em macro e microelementos (Kostic et al. 2017), e sua composição é dependente de con-dições intrínsecas (origem botânica) e extrínsecas (solo, origem geográfica) (Yang et al. 2013). Esses bioelementos estão presentes em cerca de 1,6% do pólen, estando entre os principais macronutrien-

tes K, Ca, Mg e Na e micronutrientes Fe, Cu, Zn, Mn e Se (Komosinska-Vassev et al. 2015).

Os minerais são essenciais para regulação das vias metabólicas e processos fisiológicos. Sua ingestão adequada é fundamental para manter a homeostase, proteção celular, funcionalidade e saúde, enquanto a sua deficiência pode desen-cadear doenças específicas. A presença de zinco, cobre e ferro, bem como a razão potássio/sódio torna o pólen apícola um alimento significativo para o equilíbrio de dietas em relação ao conteú-do mineral (Ares et al. 2017).

A composição química do pólen ganhou in-teresse para pesquisa de abrangência ampla que vai desde a fisiologia das plantas até a bioquími-ca. Tais pesquisas indicaram diferenças apreciá-veis entre composições do pólen de várias amos-tras, regiões ou países (Yang et al. 2013).

A produção de pólen apícola é uma atividade recente no Brasil, tendo começado no final da dé-cada de 1980. No entanto, o país tem o potencial de se tornar um dos grandes produtores mun-diais de pólen de alta qualidade, particularmente por causa da grande diversidade da flora tropical e da variedade da abelha Apis mellifera. Essa bio-diversidade permite que as abelhas coletem o pó-len durante todo o ano (Freire et al. 2012).

O nordeste brasileiro é uma das poucas re-giões no mundo com o potencial de produzir pro-dutos apícolas orgânicos em grande quantidade, devido à diversidade de espécies de plantas e mi-croclimas, juntamente com vastas áreas de ter-ras inexploradas, livre da atividade agrícola con-vencional (Morgano et al. 2012). A proeminência do Nordeste brasileiro com sua alta produção extrativa de produtos de abelhas contrasta com o comércio local desta produção, que tem baixos valores de mercado. Com certificação botânica, é possível aumentar esses valores e, portanto, melhorar as condições sociais e econômicas dos trabalhadores agrícolas, especialmente os api-cultores (Dórea et al. 2010).

O litoral do sul da Bahia é uma área indica-da para a produção de pólen em decorrência das grandes floradas das palmeiras e as áreas de res-tinga. O tempo de floração destas espécies ocor-re em todo ano, com pico entre agosto e setem-bro. Dentre os principais municípios produtores é possível destacar Maraú e Nilo Peçanha. Esses municípios são caracterizados por extensões de floresta com ênfase em palmeiras, que possuem rica flora com espécies de plantas poliníferas e nectaríferas, sendo importantes para a apicul-tura (Dórea et al. 2010), e permitem a produção de mel, pólen, própolis e geleia real.

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Materiais e métodos

Equipamentos, reagentes e padrões

A análise dos minerais foi feita em espec-trômetro de absorção atômica sequencial com atomização em chama (AA240FS – Fast Sequen-tial, Varian, Mulgrave, Austrália), com correção da radiação de fundo feita por lâmpada de deu-tério. Lâmpadas de cátodo oco foram utilizadas como fontes de radiação primária para cada mineral e a chama ar/acetileno foi utilizada em todos os experimentos. Ainda nesta análise, uti-lizou-se um acessório de geração de vapor (VGA-77, Varian, Mulgrave, Austrália), para geração de hidretos (HGAAS, do inglês Hydride Generation AAS). Soluções padrão a 1000 ppm dos mine-rais cálcio (Ca), cobre (Cu), ferro (Fe), potássio (K), magnésio (Mg), manganês (Mn), sódio (Na), zinco (Z) e selênio (Se) (Qhemis-Hexis, São Pau-lo, Brasil) foram utilizados para obtenção das curvas padrão. Ácido nítrico (Merck, Darmstadt, Germania) foi utilizado para digestão das amos-tras, realizada em micro-ondas (MarsXpress, CEM, São Paulo, Brasil).

Coleta de amostras e análise palinológica

As amostras do pólen apícola (de Apis mellifera) foram coletadas em apiários loca-lizados na região Sul da Bahia, na cidade de Maraú (14°6′10″S, 39°0′54″W) e Nilo Peçanha (13°36′13″S e 39°06′14″W). O bioma predomi-nante é a floresta de Mata Atlântica com co-bertura vegetal, sendo esta associada às plan-tações de palmeiras, principalmente coqueiro (Cocos nucifera) e dendê (Elaeis guineensis L.), respectivamente, que contribuem para a ativi-dade comercial da região. As coletas foram rea-lizadas diariamente, durante os meses de mar-ço de 2012 a março de 2013 para C. Nucifera, e junho de 2013 a dezembro de 2014 para E. guineensis. O pólen fresco coletado foi leva-do para secagem em bandejas a temperatura ambiente por um sistema de ventilação apro-priado e, após remoção das impurezas, foi ar-mazenado à 20°C.

As análises palinológicas foram realizadas pelo Prof. Dr. Francisco de Assis Ribeiro dos Santos, Laboratório de Micromorfologia Vege-tal, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia. A metodologia consistiu em dissolver 2,0 g da amostra em água destilada a 40 °C, deixan-do-a em repouso por no mínimo 2 horas e, em seguida, em banho de ultrassom por 10 minu-

tos. Uma alíquota de 1,0 mL foi transferida para um tubo Falcon e centrifugado por 10 minutos a 2.500 rpm. A água do tubo foi descartada, fican-do o sedimento polínico no fundo. Adicionou-se ácido acético glacial, deixou-se em repouso por 24 horas e centrifugou-se, descartando em se-guida o ácido sobrenadante. Foi adicionada ao tubo a mistura acetolítica (anidrido acético e ácido sulfúrico, 9:1), deixando-o em banho-ma-ria a 100 °C por 3 a 5 minutos. Após atingir a temperatura ambiente, centrifugou-se e des-cartou-se a mistura acetolítica, ficando o sedi-mento polínico. Adicionou-se 35,0 mL de água destilada e, após agitação vigorosa, o tubo foi centrifugado e a água descartada, ficando o se-dimento polínico no fundo. Adicionou-se uma solução aquosa de glicerina (50%), agitando le-vemente para a penetração da glicerina em todo o sedimento. A amostra foi deixada em repouso por 24 horas. Centrifugou-se e descartou-se a glicerina. O sedimento foi utilizado para mon-tagem das lâminas em gelatina glicerinada. Os tipos polínicos foram identificados por compa-ração com lâminas da Palinoteca do Laborató-rio de Micromorfologia Vegetal, onde todas as amostras deste estudo estão depositadas.

Análises de minerais

Para as análises dos minerais as amostras foram digeridas em micro-ondas, eliminando toda matéria orgânica. Pesou-se aproximada-mente 0,5 g do pólen pulverizado e adicionou--se 5,0 mL de ácido nítrico. O seguinte método foi utilizado para digestão: de 0-5 minutos a temperatura passou de ambiente a 120 °C, com 800 W de potência; 5-10 minutos permaneceu a 120 °C; 10-15 minutos a temperatura passou de 120 a 160°C, com 1600 W de potência; 15-23 mi-nutos permaneceu constante a 160°C; e de 23-30 minutos ocorreu o resfriamento das amos-tras. As amostras digeridas foram diluídas (1:1) com água destilada e levadas para leitura em espectrômetro de absorção atômica sequencial com atomização em chama. A quantificação dos elementos Ca, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, Zn e Se foi feita a partir da curva de calibração, prepa-rada utilizando soluções estoque a 1000 ppm de cada mineral, determinados nos comprimentos de onda 239,9; 327,4; 386,0; 404,4; 202,6; 403,1; 330,2; 213,9 e 196,0 nm, respectivamente. Para a análise do elemento selênio, presente em con-centrações mais baixas, utilizou-se o acessório VGA para geração de hidretos.

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Resultados e discussão

Os resultados das análises palinológicas mostraram frequências entre 28,4 e 64,8% (Tabela 1) de grãos de pólen de Cocos nucifera (12 amostras) e de 0,7 e 90,5% de Elaeis guineensis (18 amostras), espécies predominantes na re-gião de Maraú e Nilo Peçanha - Bahia, respecti-vamente. As amostras de pólen apícola selecio-nadas para análises de minerais foram as que apresentaram maior frequência polínica das espécies Cocos nucifera (12 amostras) e Elaeis guineenses (nove amostras).

As amostras foram coletadas em apiário lo-calizado na cidade de Maraú, Bahia e está inseri-do em uma vasta área de vegetação à beira mar. Segundo os apicultores, as abelhas percorrem, aproximadamente, 2,0 km para coleta de pólen. Uma técnica de manejo foi desenvolvida para produção exclusiva de pólen apícola monofloral e chega a uma tonelada por mês (Figura 1).

As Tabelas 2 e 3 mostram os níveis de macro e microelementos em amostras de pólen de coquei-ro e dendê, respectivamente. O mineral predo-minante encontrado no pólen apícola de coquei-ro foi K (811,1±14,20 mg/100 g), seguido de Ca (235,4±6,05 mg/100 g), Mg (74,6±1,14 mg/100 g) e Na (17,4±2,82 mg/100 g), Mn (8,9±0,36mg/100 g),

Zn(6,2±0,09mg/100 g), Fe (2,9±0,07 mg/100 g), Cu (0,7± 0,03 mg/100 g) e Se (8,3±3,12 μg/100 g). Enquanto que o mineral mais abundante encon-trado no pólen apícola de dendê foi o Mg (1159,4 ± 147,2mg/100 g), seguido por K (475,7± 93,5 mg/100 g), Na (10,4± 3,8 mg/100 g), Mn (13,3± 3,0 mg/100 g), Ca (8,4± 3,0 mg/100 g), Zn (4,2 ± 0,2 mg/100 g), Fe(2,5 ± 0,4 mg/100 g), Cu (0,37± 0,1 mg/100 g) e Se (22,5±5,2 μg/100 g).

Em escala decrescente de teor, os minerais se apresentam da seguinte forma: K>Ca>Mg>-Na>Mn>Zn>Fe>Cu>Se para pólen de coqueiro e Mg>K>Na>Mn>Ca>Zn>Fe>Cu>Se para pólen de dendê. Essas diferenças nos níveis de minerais estão relacionadas a fatores como: variedades de flores, a partir das quais o pólen apícola ela-borado, condições climáticas, geografia, condi-ções ambientais, composição genética das espé-cies vegetais, procedimentos agrícolas (fertiliza-ção e pulverização agrícola) e processos apícolas (Altunatmaz et al. 2017).

No Brasil, a composição mineral de pólen apícola foi investigado em 154 amostras de di-ferentes regiões (Sul, Sudeste, Nordeste e Cen-tro-oeste). K, P, Ca e Mg foram os principais elementos minerais presentes no pólen. Esta-dos brasileiros do Nordeste parecem ser pro-missores para a produção de pólen de abelha,

TABELA 1. Concentração (%) de grãos de pólen das palmeiras focais nas amostras do pólen apícola.

Amostras Cocos nucifera (coqueiro) Amostras Elaeis guineensis

(dendezeiro)Mar/2012 47,6 Jul/2013 46,7Abr/2012 45,2 Ago/2013 7,0Mai/2012 63,3 Set/2013 13,1Jun/2012 56,7 Out/2013 25,7Jul/2012 28,4 Nov/2013 10,9

Ago/2012 43,1 Dez/2013 28,7Set/2012 64,8 Jan/2014 82,0Out/2012 41,0 Fev/2014 90,5Nov/2012 50,5 Mar/2014 30,9Dez/2012 41,8 Abr/2014 52,6Jan/2013 50,8 Mai/2014 38,5Fev/2013 53,4 Jun/2014 8,2Mar/2013 39,7 Jul/2014 1,4

Ago/2014 0,7Set/2014 1,4Out/2014 5,9Nov/2014 34,5

    Dez/2014 22,4

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FIGURA 1. Imagens da coleta e processamento do pólen apícola: A. Coletor de pólen; B. Pólen fresco; C. Secagem do pólen; D. Armazenamento do pólen desidratado.

TABELA 2. Teor de minerais nas amostras do pólen apícola de Cocos nucifera (mg/100g ± DP) e a dose diária recomendada para adultos (IDR).

Minerais Amostras Ca Cu Fe K Mg Mn Na Zn Se**

Mar/2012 268,0±7,32 0,8±0,06 3,5±0,15 893,9±12,98 80,4±0,37* 11,3±0,61 20,3±0,01* 6,8±0,23 3,3±0,1*

Abr/2012 266,2±6,32 0,7±0,02 3,3±0,12 915,2±14,29 79,6±0,27* 10,8±0,22 21,4±0,87* 6,7±0,07 2,8±0,02*

Mai/2012 249,5±6,61 0,6±0,02 3,0±0,07 810,6±7,14* 76,6±0,00* 9,6±0,25 9,9±0,20* 6,3±0,12 4,3±0,35*

Jun/2012 252,7±0,75 0,7±0,01 2,8±0,01 805,7±3,38* 77,8±0,18* 9,3±0,17 3,8±0,43* 6,4±0,10 3,6±0,29*

Jul/2012 252,1±6,49 0,6±0,03 2,7±0,05 810,6±10,17* 73,9±0,87* 8,6±0,09 3,8±0,42* 6,3±0,24 3,0±0,06

Ago/2012 234,7±2,44 0,6±0,01 2,8±0,20* 780,2±7,13 74,5±0,72 8,6±0,09 5,7±0,49* 6,1±0,06 2,5±0,54*

Set/2012 245,4±6,50 0,6±0,03 2,9±0,08* 808,4±8,45 75,7±0,02 9,1±0,14 11,1±1,12* 11,1±1,12* 2,1±0,20

Out/2012 200,9±11,20 0,5±0,01 2,8±0,01* 723,6±12,81* 63,6±1,03* 5,9±0,01* 28,2±0,51* 5,7±0,15 1,1±0,17*

Nov/2012 228,8±9,44 0,6±0,02 2,7±0,04 819,4±19,56 73,8±0,70 8,4±0,12 36,8±0,53* 5,9±0,04 1,2±0,15

Dez/2012 214,5±1,56 0,6±0,02 2,7±0,08 806,3±8,68 74,3±0,44* 8,3±0,06 19,9±0,79 6,0±0,02* 2,2±0,25

Jan/2013 228,3±10,67 0,6±0,02 2,6±0,34* 743,9±78,02* 72,1±3,61* 8,2±0,03 25,9±6,11* 6,1±0,05 34,1±0,83*

Fev/2013 213,6±5,71 0,6±0,08 2,6±0,06 797,5±15,54 73,6±0,79 8,0±0,15 23,8±1,73* 6,0±0,08 19,3±3,43*

Mar/2013 217,3±5,13 0,9±0,06 2,9±0,04* 829,4±5,87 74,3±0,00* 8,6±0,31* 15,3±0,89* 6,4±0,23 28,4±4,50*

Média ± DP 235,4±6,05 0,7±0,03 2,9±0,07 811,1±14,20 74,6±1,14 8,9±0,36 17,4±2,82 6,2±0,09 8,3±3,12

IDR para adultos (mg) 1000,0 0,9 14,0 -- 260,0 2,3 -- 7,0 34,0**

*n=2**Concentração em micrograma (µg).

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pois amostras desta região apresentam valores significativamente mais elevados de minerais e mostrou produção constante ao longo do ano (Morgano et al. 2012).

De acordo com a regulamentação brasileira (Brasil 2012) para minerais, a contribuição de mais de 30% da IDR (Ingestão Diária Recomen-dada) de referência por 100 g de produto classi-fica o alimento como “alto conteúdo” e acima de 15% como “fonte”.

Com base na IDR de cobre, manganês e zin-co, ambas as amostras de pólen podem ser con-sideradas como “alto conteúdo” e em relação ao ferro como “fonte”. Na Tabela 4, é apresentado o percentual de mineral em relação a IDR/100g de produto, para a média das amostras de pólen de coqueiro e dendê e a classificação segundo a RDC.

Para as duas amostras o conteúdo de manga-nês foi tão significativo que uma porção de 100g supre 100% da necessidade diária de um indiví-duo adulto. Esse elemento desempenha um pa-pel importante nos processos redox na planta (fotossíntese) e como cofator importante em 35 enzimas diferentes. Em humanos, Mn, também, desempenha um papel importante como cofator de diferentes enzimas (Kostic et al. 2015). A mé-dia das amostras de pólen de E. guineensis tam-bém apresentou elevado conteúdo de magnésio, no qual 100g supre 100% da necessidade diária de um indivíduo adulto; entretanto, o conteú-do de cálcio foi mais baixo quando comparado

ao de C. Nucifera. Yang et al. (2013) demonstram que o teor de minerais nos grãos de pólen pode variar conforme a espécie vegetal, origem geo-gráfica e composição do solo. Kostic et al. (2015) ressaltam a importância nutricional do zinco e do ferro, minerais com os quais o pólen de abe-lha é mais rico do que outros produtos de abelha. Se usado como suplemento alimentar, o pólen apícola estudado pode atender a mais de 15% da necessidade diária humana para o uso de ferro e mais de 60% do requerimento diário para o zinco. A alta relação K Na torna o pólen de abe-lhas potencialmente valioso para dietas com um equilíbrio eletrolítico definido. Selênio e Cu são considerados nutrientes antioxidantes porque são componentes estruturais das enzimas antio-xidantes (Silva et al. 2014).

Estudos feitos em outros países além do Bra-sil demonstram que condições climáticas e ou-tros fatores levam a uma variação no teor de mi-nerais no pólen. Stanciu et al. (2012), estudando o teor de minerais em diferentes tipos de pólen apícola monofloral na Romênia, observaram que os níveis de minerais nas amostras variaram con-sideravelmente devido às diferenças na origem floral do pólen. Isso foi verdade para K, Mg, Ca, Mn e Fe, enquanto o teor de Zn do pólen pareceu ser mais constante. Em todas as amostras foi en-contrado o K em maiores concentrações, seguido de Ca. Taha (2015), estudando pólen apícola mul-tifloral na Arábia Saudita, apresentou intervalos semelhantes para K e Zn, enquanto Ca, Mg e Fe

TABELA 3. Teor de minerais nas amostras do pólen apícola de Elaeis guineensis (mg/100g ± DP) e a dose diária recomendada para adultos (IDR).

Minerais Amostras K Mg Mn Na Ca Zn Fe Cu Se**

Jul/2013 412,3±27,0* 111,7±25,6* 15,53±0,9 5,1±0,1 10,7±1,2 4,1±0,1 2,0±0,4 0,46±0,08 44,4±7,6

Out/2013 367,1±7,7* 910,4±12,6* 14,70±0,9 8,1±0,8 7,3±0,7* 3,9±0,2 2,7±0,2 0,24±0,05 12,2±0,08

Dez/2013 617,2±50,2* 928,9±0.9* 19,0±0,4 18,9±0,3 8,7±1,0* 4,0±0,1 2,9±0,2 0,22±0,06 7,5±0,2

Jan/2014 447,8±11,9* 1261,2±3,9* 13,6±0,5 8,3±0,6 8,8±2,8* 4,1±0,02 1,8±0,1 0,38±0,05 4,4±0,4

Fev/2014 371,0±28,5* 1253,6±21,1* 13,7±0,4 9,3±0,1 9,1±0,2* 4,0±0,1 1,8±0,1 0,40±0,03 8,2±2,2

Mar/2014 581,8±19,8* 1160,7±33,3* 9,9±0,7 11,2±0,2 7,5±0,1* 4,4±0,1 2,8±0,3 0,32±0,06 4,0±0,3

Abr/2014 458,4±4,1* 1229,4±2,6 9,9±0,3 10,9±0,5 7,6±1,0 4,5±0,2 2,2±0,1 0,27±0,1 28,7±0,9

Mai/2014 448,5±5,5* 1277,3±33,3 10,2±0,4 9,6±0,3 13,6±1,3* 4,5±0,2 2,7±0,5 0,39±0,05 20,2±0,6

Nov/2014 576,4±10,8* 1295,2±9,5 12,9±0,7 12,2±0,5 2,1±1,0* 4,3±0,3 3,2±0,04 0,63±0.1 15,2±1,09

Média ± DP 475,6,4±93,5 1159,4±147,2 13,1±3,0 10,4±3,8 8,4±3,0 4,3±0,2 2,5±0,4 0,37±0,1 22,5±5,2

IDR para adultos (mg) 1000,0 0,9 14,0 - 260,0 2,3 - 7,0 34,0**

*N=2; **Concentração em micrograma (µg).

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foram superiores, mostrando em seu resulta-do um maior conteúdo de Na seguido de K nas amostras estudadas. Amostras de pólen apícola estudadas na Turquia por Kalaycioglu et al. (2017) apresentam prevalência semelhante as estuda-das na Arábia Saudita, tendo também Na como mineral de maior conteúdo, já os teores de K de pólen de abelhas estudados na China (Yang et al. 2013) são ligeiramente menores em comparação com os conteúdos de pólen turco (Kalaycioglu et al. 2017) e sérvios (Kostic et al. 2017).

Com o objetivo de caracterizar o pólen na Colômbia, um estudo mostrou que o mesmo se encontra dentro dos limites relatados na lite-ratura (Fuenmayor et al. 2014), apresentando a mesma prevalência dos elementos do pólen chinês. Grembeka et al. (2013), estudando mel e produtos derivados de abelha na Polônia, ob-servaram uma ordem decrescente de conteúdo dos minerais diferente, se comparada aos outros estudos, tendo Ca o maior conteúdo seguido por Mg, e só depois por K, além de valores abaixo do intervalo relatado na literatura para Na e K. Pes-quisas sugerem que um critério de qualidade do pólen é seu conteúdo mineral, estando na faixa: K (4000 a 20000 mg/kg), Mg (200 a 3000 mg/kg), Ca (200 a 3000 mg/kg), Zn (30 a 250 mg/kg) e Fe (11 a 170 mg/kg) (Campos et al. 2008). De Melo et al. (2016), estudando o teor de mine-rais em duas diferentes formas de desidratação de pólen coletado no estado de São Paulo, Brasil, observaram valores consistentes com a literatu-ra com um maior teor de K seguido de Ca, Mg, Na e Zn. Esse resultado é semelhante ao estudo realizado por Morgano et al. (2012) com amos-tras de pólen coletadas em várias regiões do país que mostraram uma ordem decrescente dos ele-mentos semelhante, relatando o K como mineral de maior teor seguido de Ca, Mg, Na, Fe, e Zn.

O pólen apícola monofloral coletado na Pa-raíba mostrou resultado semelhante para al-guns elementos, houve prevalência de K como o elemento de maior teor, seguido de Ca e Mg; no entanto, não foi possível detectar o Na pelo mé-

todo estudado e o Zn apresentou maior teor que o Fe quando comparado aos trabalhos descritos anteriormente (Silva et al. 2014). Estudo realiza-do em três estados da região Sul do Brasil com pólen de diferentes espécies vegetais, incluin-do da família Arecaceae, mostrou perfil de ele-mentos minerais semelhantes aos encontrados na Bahia também com Palmeiras (Carpes et al. 2009). Algumas amostras apresentaram pólen dominante da família Arecaceae (>45%), confir-mando que há uma manutenção de característi-cas físico-químicas quando há uma maior pre-valência de um tipo polínico (Yang et al. 2013).

Potássio (K)

O Potássio é o sétimo elemento mais comum que ocorre na crosta terrestre e essencial para a vida vegetal e humana. Em nosso organismo, os íons de potássio se juntam com o íon de sódio e, em seguida, agem nas membranas celulares na transmissão de impulsos eletroquímicos dos nervos e fibras musculares e no balanceamento da atividade de alimentação e remoção de sub-produtos nas células (Sudre et al. 2014). Quase todos os estudos relatam o K como o mais abun-dante no pólen apícola, de acordo com a literatu-ra em torno de 60% (Campos et al. 2008), sendo considerado o principal elemento. As concen-trações podem variar de acordo com a região. Romênia (5135 mg/kg), Arábia Saudita (6904 mg/kg), Servia (6170 mg/kg), China (5324 mg/kg) e Colômbia (5624 mg/kg) apresentaram con-centrações próximas (Stanciu et al. 2012; Taha 2015; Kostic et al. 2017; Yang et al. 2013; Fuenma-yor et al. 2014), enquanto Turquia (3346 mg/kg) e Polônia (700 mg/kg) apresentaram média das amostras mais baixas do que as comumente en-contradas na literatura (Kalaycioglu et al. 2017; Grembeka & Szefer 2013).

Dentre os estudados no Brasil, houve pouca variação entre as amostras da Região Sul (5051 mg/kg), São Paulo (5200 mg/kg), Paraíba (5918 mg/kg), Bahia (4757 mg/kg) e, em estudo reali-

TABELA 4. Percentual de mineral em relação à IDR/100g de produto para a média das amostras polínicas de Cocos nucifera e Elaeis guineensis e a classificação segundo a RDC nº 54 de 2012.

Fe Zn Cu Mn Mg Ca SeC. nucifera 20,7 88,5 77,7 >100 28,6 23,5 24,4

Classificação Fonte Alto Conteúdo

Alto Conteúdo

Alto Conteúdo Fonte Fonte Fonte

E. guineensis 17,9 60,5 41,1 >100 >100 0,8 66,1

Classificação Fonte Alto Conteúdo

Alto Conteúdo

Alto Conteúdo

Alto Conteúdo - Alto

Conteúdo

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zado com pólen de vários estados (4919 mg/kg), apenas o pólen de coqueiro coletado na Bahia apresentou conteúdo maior (8111 mg/kg); mes-mo assim, todas se apresentaram dentro da fai-xa encontrada na literatura (Carpes et al. 2009; De Melo et al. 2016; Silva et al. 2014; Morgano et al. 2012).

Cálcio (Ca)

O cálcio é o 5º dos elementos mais abundan-tes da crosta terrestre e é também o mais abun-dante no corpo humano, além de estar envolvido em uma grande quantidade de aspectos da vida, como contração muscular, ativação enzimática, diferenciação celular, resposta imune, morte ce-lular programada e atividade neuronal (Pu et al. 2016; Zhou et al. 2013). Nas plantas, possui um papel fundamental na especificidade das vias de sinalização, pois desempenha diferentes fun-ções nos tecidos vegetais, notadamente na pro-teção das membranas e paredes celulares e na sinalização de resposta às condições de estresse biótico ou abióticos (Lenzone et al. 2018; Yama-moto et al. 2011).

De acordo com a literatura, o Ca está entre os três minerais com maior conteúdo em pólen apícola. Grembeka & Szefer (2013) obtiveram em seus resultados o cálcio como mineral mais encontrado em pólen na Polônia (950 mg/kg) e essa concentração é semelhante a de estudos com amostras da Romênia (1632 mg/kg), Tur-quia (1435 mg/kg) e Colômbia (1717 mg/kg). Arábia Saudita (4282 mg/kg) e China (2068 mg/kg) mostraram teores mais elevados, en-quanto Sérvia (550 mg/kg) encontrou quan-tidade menor em relação aos outros (Stanciu et al. 2012; Kalaycioglu et al. 2017; Fuenmayor et al. 2014; Taha 2015; Yang et al. 2013; Kostic et al. 2017).

Em algumas regiões do Brasil, esses resulta-dos são semelhantes, amostras de pólen da Bahia (2354 mg/kg) e da Paraíba (2644 mg/kg) mostra-ram um conteúdo maior desse mineral em rela-ção a São Paulo (1475 mg/kg) e estados da Região Sul (996 mg/kg) (Silva et al. 2014; De Melo et al. 2016; Carpes et al. 2009). Amostras de pólen de dendê apresentaram uma concentração de Ca inferior ao relatado na literatura (84 mg/kg), no entanto, a quantidade ne Mg foi muito maior do que se tem relatada. Essa relação Ca:Mg pode estar ligada a propriedades químicas muito si-milares, como o grau de valência e a mobilidade, fazendo com que haja competição pelos sítios de adsorção no solo e na absorção pelas raízes (Sal-vador et al. 2011).

Magnésio (Mg)

Em torno de 60% ou 25 g de Mg estão loca-lizados no osso adulto, no qual ele desempenha um papel central no desenvolvimento esqueléti-co, além de ser essencial para a estabilização con-formacional de macromoléculas, manutenção de atividades enzimáticas, e também servir como um regulador do equilíbrio catiônico-aniônico nas células e como um turgor de células regula-doras de íons osmoticamente ativo junto com K. O Mg é particularmente importante para as plan-tas, com cerca de 75% de Mg de folhas envolvidas na síntese de proteínas e 15-20% de Mg total asso-ciada a pigmentos de clorofila, atuando principal-mente como um cofator de uma série de enzimas envolvidas na fixação e metabolismo fotossinté-tico do carbono (Guo et al. 2016). De acordo com Campos et al. (2008), o Mg destaca-se como um dos quatro bioelementos de maior conteúdo em pólen apícola (200 – 3000 mg/kg). Estudos con-duzidos com pólen de diversas localidades geo-gráficas como, Polônia (774 mg/kg), Turquia (787 mg/kg), Sérvia (940 mg/kg), Romênia (958 mg/kg), Colômbia (1029 mg/kg), China (1449 mg/kg) reportaram valores nessa faixa (Grembeka & Szefer 2013; Kalaycioglu et al. 2017; Kostic et al. 2017; Stanciu et al. 2012; Fuenmayor et al. 2014; Yang et al. 2013). Taha (2015), estudando pólen apícola monofloral na Arábia Saudita, observou uma quantidade do mineral maior (3636 mg/kg) do que nos outros países, o que pode ser atribuído as características do solo, clima, origem botânica, entre outros fatores (Yang et al. 2013).

No Brasil, observa-se que a maioria das amos-tras estudadas apresenta um conteúdo similar aos outros países e dentro da faixa reportada na literatura. De-Melo et al. (2016) relataram o teor de Mg em torno de 775 mg/kg para amostras pau-listas de pólen apícola, resultados similares aos de Carpes et al. (2009) que estudaram pólen polifloral na região Sul do país (740 mg/kg) e Morgano et al. (2012) com amostras de pólen em diferentes re-giões do Brasil (1114 mg/kg). Na região Nordeste, Silva et al. (2014) descreveram teor de minerais em amostras obtidas em dois anos 2009 e 2011 e ob-servou uma variação de mais de 100% em relação aos dois anos (2166 e 975mg/kg respectivamente). Ainda no Nordeste, amostras de pólen monofloral de coqueiro coletadas na Bahia apresentaram con-teúdo dentro da faixa relatada na literatura (746 mg/kg), no entanto, amostras de Dendê, também coletadas na Bahia, apresentaram um teor de Mg maior do que o reportado (11.595 mg/kg), como já descrito. Isso pode ter ocorrido devido à competi-ção com o Cálcio pelos sítios de adsorção no solo e na absorção pelas raízes.

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Sódio (Na)

O sódio desempenha funções importantes no organismo humano juntamente com o potás-sio por meio da bomba sódio/potássio ATPase, envolvida nos aumentos significativos do po-tencial osmótico das células, podendo estimu-lar o transporte de aminoácidos e a absorção de glicose e água (Schöler & Krause 2017). É funda-mental no controle da osmoticidade, além de participar na geração da atividade elétrica em diferentes tecidos excitáveis (Delattre 2007). Por ser um bioelemento determinante no volume extracelular, está envolvido no processo de re-gulação da pressão arterial, de forma que o au-mento de sódio na dieta acarreta uma elevação da mesma (Farquhar et al. 2015). Os mecanismos subjacentes não são completamente compreen-didos, mas podem envolver alterações na função renal, volume de fluido, hormônios reguladores de fluidos, vasculatura, função cardíaca e siste-ma nervoso autônomo (Oh et al. 2017).

Para as plantas é considerado um elemento benéfico: baixos níveis de Na são essenciais, em contraste, altas concentrações citosólicas de Na são tóxicas para as plantas. Devido às suas seme-lhanças químicas, algumas funções desempe-nhadas pelo potássio podem ser realizadas pelo sódio, como ajuste osmótico, regulação de poten-cial de membrana, crescimento celular, atividade enzimática e síntese proteica. No entanto, o papel principal de Na é considerado regulação da pres-são do turgor e expansão celular (Adams & Shin 2014). Os principais efeitos da salinidade em plantas são: efeito osmótico, que leva a um déficit hídrico devido a altas concentrações de solutos presentes no solo, e estresse de íons específicos, levando à deficiência de K, devido à alteração da razão K/Na (Keisham et al. 2018).

O sódio apresenta um conteúdo muito va-riado em amostras de pólen apícola, sendo que, em algumas amostras, esse mineral é predomi-nante e, em outras, não são encontrados teores quantificáveis. Em análise realizada na Arábia Saudita e Turquia, observou-se o Na como o ele-mento de maior teor (7023 e 5772 mg/kg, respec-tivamente), já na Romênia não foram reporta-das quantidades significativas do mineral (Taha 2015; Kalaycioglu et al. 2017; Stanciu et al. 2012). Quantidades intermediárias foram descritas em pesquisas na Sérvia (20 mg/kg), Polônia (58 mg/kg), Colômbia (99 mg/kg) e China (483 mg/kg) (Kostic et al. 2017; Grembeka & Szefer 2013; Fuenmayor et al. 2014; Yang et al. 2013).

Nos estudos realizados com pólen apícola coletados no Brasil, observa-se uma menor va-

riação entre os resultados. Na região Sul e Su-deste do país, encontrou-se um conteúdo de só-dio em torno de 199 e 38 mg/kg respectivamente (De-Melo et al. 2016; Carpes et al. 2009). Na Bah-ia, amostras de coqueiro e dendê apresentam cerca de 170 e 104 mg/kg, e estudo realizado por Morgano et al.(2012) em vários lugares do país descreve cerva de 34 mg/kg de sódio em amos-tras de pólen apícola. Apenas o pólen coletado no estado da Paraíba ficou fora dessa faixa, não sendo encontradas quantidades apreciáveis do mineral (Silva et al. 2014).

Ferro (Fe)

O Ferro (Fe) é essencial para a sobrevivên-cia da planta, uma vez que está envolvido em processos como respiração e fotossíntese. Em plantas superiores, 80% do Fe celular em folhas verdes está localizado nos cloroplastos, que são essenciais para a fotossíntese (Zhang et al. 2017). Fe existe em grande parte como complexos fér-ricos pouco solúveis sob condições aeróbicas. As-sim, em solos com pH elevado (solos calcários), a absorção de Fe e outros metais (por exemplo, Zn e Mn) é dificultada e a espécie vegetal pode apre-sentar baixo conteúdo desse mineral, podendo ter o crescimento e o metabolismo significativa-mente prejudicados (Bashir et al. 2017).

No corpo humano, o ferro ocorre na forma de compostos inorgânicos (óxidos, sais) e orgâ-nicos (proteínas contendo ferro, complexos or-gânicos de baixo teor molecular). O ferro está presente no corpo em formas oxidada e reduzi-da, ou, respectivamente, trivalente e divalente. Na concentração fisiológica do oxigênio, o ferro trivalente é mais estável e forma complexos com proteínas que atuam como formas de transpor-te (transferrina) e reserva (ferritina) do metal no corpo humano. O ferro reduzido desempenha um papel importante no metabolismo porque é um substrato para transportadores transmem-branares, participa na síntese da heme e inte-rage com a ferritina (Milto et al. 2016). Por ter participação na formação da heme, grupamento responsável por carrear oxigênio no interior da hemoglobina na forma hemoproteica, é funda-mental na oxigenação celular; além de atuar em outros processos como na síntese do ácido de-soxirribonucleico e como transportador de elé-trons na cadeia respiratória mitocondrial, sendo sua deficiência responsável por um significativo prejuízo ao organismo (Grotto 2010).

O ferro apresenta teor pouco variável entre as amostras e uma faixa que vai desde 11 a 170 mg/kg, com exceção de um estudo com amostras

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da Arábia Saudita, que apresentou um conteúdo acima do relatado (427 mg/kg), é comum que seja observada a presença do mineral na faixa fre-quente, como por exemplo, o estudo com pólen apícola monofloral realizado por Yang et al. 2013, na China, no qual foi possível observar a presença de 119 mg/kg do mineral, resultado semelhante aos obtidos na Romênia (73 mg/kg), Turquia (83 mg/kg), Colômbia (70 mg/kg) e Servia (42 mg/kg) (Stanciu et al. 2012; Kalaycioglu et al. 2017; Fuen-mayor et al. 2014; Kostic et al. 2017).

Da mesma forma que em outros países, no Brasil também se observa certa frequência no conteúdo de Ferro nas amostras de pólen anali-sadas. Morgano et al. (2012) relataram um con-teúdo médio de 60 mg/kg em amostras de pólen de diversas regiões do Brasil. Corroborando com esses dados, Carpes et al. (2009), estudando pó-len apícola em três estados da região Sul do país, encontraram um teor de 73 mg/kg, enquanto Silva et al. (2014), trabalhando com amostras da Bahia, região Nordeste do país, observaram um teor médio de 24 mg/kg, assim como amostras de pólen apícola de dendê e coqueiro, também coletadas na Bahia, apresentaram um conteúdo similar, 25 e 29 mg/kg, respectivamente.

Zinco (Zn)

O zinco é essencial para a saúde humana porque serve como cofator para mais de 300 enzimas e 2000 fatores de transcrição, propor-ciona estabilidade estrutural às membranas celulares e regula a expressão gênica. Destaca--se, ainda, por contribuir para o bom funciona-mento do sistema de defesa antioxidante, no qual atua protegendo as células contra o dano oxidativo através da inibição da enzima nicoti-namida adenina dinucleotídio fosfato oxidase (NADPH-Oxidase), uma enzima pro-oxidante e indução da síntese da metalotioneína que está envolvida na redução dos radicais hidroxílicos (OH) e no sequestro das espécies reativas de oxigênio produzidas sob condições de estresse (Marreiro et al. 2017; Ranasinghe et al. 2015). Es-tudos demonstram que o zinco está envolvido na fosforilação dos receptores de insulina e na re-gulação da sinalização por tirosina-fosfatase. A deficiência de zinco pode levar a um aumento de glicose circulante devido a mau funcionamento de células beta e resistência à insulina, o que tor-na mais fácil para diabetes mellitus tipo 2 (DM2) acontecer (Carvalho et al. 2017).

A deficiência de zinco é conhecida por afetar 1/3 da população mundial, um fator importan-te que contribui para 1,4% das mortes em todo

o mundo, e está associada a muitas doenças, in-cluindo síndrome de má absorção, doença hepá-tica crônica, doença renal crônica, doença celular falciforme e diabetes (Ranasinghe et al. 2015).

O zinco pertence aos elementos minerais que são essenciais para todos os tipos de plan-tas. Incorporando-se nas enzimas associadas à síntese de proteínas e aos processos energéticos, é necessário para manter a integridade das bio-membranas e também desempenha um papel importante no desenvolvimento de sementes e órgãos generativos. Entre os fatores que alte-ram a biodisponibilidade do zinco nas plantas podemos citar o pH do solo, quantidade de com-ponente argiloso, a proporção de componentes orgânicos, umidade de solo e concentração de outros elementos (Sturikova et al. 2018).

O Zinco é o mineral com menor variabilida-de de conteúdo entre os estudados. Campos et al. (2009) apresentam uma faixa de 30 a 250 mg/kg de pólen apícola para esse mineral, e dentre os trabalhos pesquisados todos apresentam um conteúdo médio dentro desse intervalo. Estu-dos conduzidos na Romênia (35 mg/kg), Arábia Saudita (36 mg/kg), Turquia (36 mg/kg), Sérvia (49 mg/kg), China (45 mg/kg) e Colômbia (47 mg/kg), demonstram a similaridade (Stanciu et al. 2012; Taha 2015; Kalaycioglu et al. 2017; Kostic et al. 2017; Yang et al. 2013; Fuenmayor et al. 2014;). No Brasil, não é diferente, amostras da região Su-deste (105 mg/kg), Sul (50 mg/kg) e Nordeste (53 mg/kg), além de um trabalho realizado por Mor-gano et al. (2012) que estudou pólen apícola de di-versas regiões do país obtendo uma média de 46 mg/kg de amostra, se encontram na faixa e com conteúdo similar mesmo quando coletadas em diferentes regiões, climas e solos (De-Melo et al. 2016; Carpes et al. 2009; Silva et al. 2014).

Outros minerais

O manganês (Mn) é um elemento essencial mantido em um nível ótimo no corpo humano para o bom funcionamento do cérebro, também desempenha um papel significativo no metabo-lismo de carboidratos, lipídios e proteínas e atua como cofator de várias enzimas antioxidantes como superóxido dismutase e glutamina sinte-tase (Tarale et al. 2016).

Nos cloroplastos, Mn está no centro do com-plexo evolutivo de oxigênio do fotossistema II e é responsável por transformar a água em oxi-gênio molecular e elétrons para reabastecer os doados à cadeia de transporte de elétrons. Nas mitocôndrias, é o cofator da superóxido dismu-

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tase que desintoxica o superóxido. Como outros micronutrientes, o Mn é absorvido por raízes e distribuído ao longo da planta para chegar às organelas (plastídios e mitocôndrias) e locais de armazenamento (vacúolo) (Salomé 2017). Além disso, contribui para a ativação de diversas rea-ções enzimáticas como carboxilação, metabolis-mo de carboidratos, ciclo do ácido cítrico e pro-dução de clorofila. Verificou-se que as respostas das plantas a diferentes níveis de Mn disponível no solo e na solução de nutrientes são variáveis entre espécies (Nazari et al. 2017).

O selênio (Se) é um componente essencial das selenoproteínas desempenhando um papel importante em muitas funções biológicas no corpo humano, como defesa antioxidante, for-mação de hormônios tireoidianos, síntese de DNA, fertilidade e reprodução. Pode ser conver-tido no organismo em vários metabolitos, como o metilselenol que desempenha um papel na prevenção do câncer. Também atua, além da vi-tamina E, na função muscular, melhorando a re-sistência, recuperação e retardando o processo de envelhecimento (Mehdi et al. 2013).

As plantas captam e metabolizam Se atra-vés da via de assimilação de enxofre (S) (Quinn et al. 2011). Não existe nenhuma função essen-cial conhecida em plantas superiores. No entan-to, o Se tem sido relatado como um provável ele-mento benéfico para muitas espécies de plantas, atuando no crescimento e em mecanismos de resistência (Pilon-smits et al. 2009).

Conclusão

As análises realizadas para determinação do conteúdo de minerais em pólen apícola de coqueiro e dendê usando digestão assistida por micro-ondas em sistema fechado e quantifi-cação por espectrometria de absorção atômica sequencial com atomização em chama (FAAS) mostrou boa precisão e robustez, permitindo determinação de micro e macro elementos no pólen apícola. Variações entre os conteúdos de minerais entre as amostras coletadas em dife-rentes apiários são observadas, como já repor-tado, em outras literaturas. K, Mg e Ca foram os principais minerais encontrados na composição do pólen apícola.

A determinação do conteúdo mineral em pólen apícola juntamente com as análises físi-co-químicas são parâmetros que demonstram a qualidade das amostras, agregando valor ao produto. Por ser considerado alimento, é im-portante que seja realizada a quantificação dos

bioelementos no pólen apícola, enquadrando-o de acordo com a ingestão diária recomendada como um alimento de fonte ou alto conteúdo de cada mineral. Pesquisas em vários lugares do mundo comprovam que a variedade do conteú-do dos oligoelementos em diferentes amostras pode estar relacionada a fatores como varieda-des de flores, a partir das quais o pólen de abe-lha foi coletado, condições climáticas, geogra-fia, condições ambientais, composição genética das espécies vegetais, procedimentos agrícolas (fertilização e pulverização agrícola) e processos apícolas.

O Nordeste brasileiro mostra-se promissor para a produção de pólen de abelhas, pois amos-tras dessa região apresentaram quantidades sig-nificativas de minerais além de produção cons-tante ao longo do ano. Em termos de valores mé-dios, as amostras de pólen apícola estudadas po-dem ser considerados fonte de alto conteúdo de Mg, Mn, Se, Cu e Zn e fonte de Ca e Fe. A alta rela-ção K/Na pode tornar valioso produto para dietas com equilíbrio eletrolítico definido; e a presença de Se, Cu e Zn faz dele uma fonte potencial de mi-nerais antioxidantes para a dieta humana.

A nutrição das espécies vegetais impacta não só no crescimento das mesmas, mas tam-bém na maioria dos outros organismos vivos, uma vez que são a base de muitas cadeias ali-mentares. Animais e humanos necessitam de todos os minerais discutidos e sua abundância e distribuição nas plantas afetam os componentes da dieta.

Agradecimentos

Este projeto foi financiado pelo CNPq-Renor-bio-Pindorama (Processo número 407659/2013-7 e 407717/2013-7) e FACEPE-PRONEM (Processo número 0741.1.06/14).

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Análise da viabilidade produtiva e econômica de quatro espécies de palmeiras para produção de pólen apícola monofloral no Nordeste brasileiro

Ronaldo Fernandes Pereira & Edilson Divino de Araujo

O pólen apícola é uma matéria prima promissora para o mercado de alimentos naturais e fármacos por possuir aplicação em tratamentos respiratórios, sistemas imunológico, alimentação etc. Entretanto para que o pólen apícola seja promissor para indústria e mercado consumidor a sua exploração deve ser viável tanto economicamente como produtiva, de maneira a suprir o mercado consumidor o ano todo. Esse estu-do analisou a viabilidade econômica e produtiva de quatro espécies de palmeiras - Coco (Cocos nucifera), Dendê (Elaeis guineensis), Piaçava (Attalea funifera) e Ouricuri (Syagrus coronata) - na produção de pólen apícola monofloral, coletado por Apis mellifera. No contexto produtivo todas as espécies analisadas apre-sentaram dominância monofloral acima de 80% caracterizando homogeneidade polínica demonstrando a preferência das abelhas africanizadas por essa fonte de pólen no período de sua florada. O coco apresen-tou o maior período de produção com 300 dias/ano e o Ouricuri, o menor com 80 dias/ano. A maior média produtiva foi registrada para Piaçava com 156,80 g/colmeia/dia. Com exceção de S. coronata, as demais pal-meiras apresentaram viabilidade econômica, com base nos custos e preços de produção apurados nesse estudo, registrando índices de lucratividade anual superiores a 40%.

Introdução

As florestas tropicais contêm cerca de 70% das espécies vegetais do planeta e dessas menos de 10% são utilizadas pelo homem em escala comercial (Guimarães & Silva 2012). O conheci-mento etnobotânico já demonstrou que a nossa diversidade florística tem potencialidades nas diversas áreas importantes para humanidade destacando a médicas, nutricional, energética, construção entre outras. Porém ainda se têm priorizado as práticas destrutivas das florestas e o manejo não sustentável.

Na verdade hoje estamos em um ritmo acele-rado de destruição de nossas florestas que possi-velmente não conseguiremos avançar no conhe-cimento dessa biodiversidade que poderia solu-cionar problemas econômicos e sociais. O avanço da monocultura florestal e da agropecuária ainda são os principais fatores de redução dos ecossis-temas florestais, pois ainda vivemos no mundo que não entende o valor da biodiversidade.

As palmeiras são os melhores exemplos de uma utilização múltipla e racional tendo como exemplo o coco (Cocos nucifera L.), o dendê (Elaeis guineensis Jacq.) e a piaçava (Attalea fu-nifera Mart.).

O Brasil é um dos países com o maior nume-ro de espécies de palmeiras em estado nativo (in situ) com aproximadamente 300 espécies, consi-derando variedades e híbridos naturais (Lorenzi et al. 2010, apud Guimarães & Silva 2012). Das pal-meiras tropicais, podem-se utilizar tudo desde as folhas ao fruto, e a transformação desse material produz uma econômica capaz de suster popula-ções tradicionais e empresas multinacionais.

O resultado dessa utilização são óleos co-mestíveis, combustível como o biodiesel, fibras, carvão, bebidas, cosméticos, alimentos entre outros de maneira que a exploração não madei-reira das palmeiras é mais rentável economica-mente e socialmente que a sua destruição. No Brasil, a exploração das palmeiras ainda está em escala inicial e ainda é em sua maioria extrati-vista, entretanto o potencial das palmeiras já vem sendo demonstrado muito tempo, faltando, na verdade, incentivo governamental em tornar essas atividades uma fonte econômica viável como outras culturas.

Nordeste brasileiro, a exploração da carnau-beira (Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore) é fundamental na manutenção de muitas comu-nidades do Piauí, Ceará e Maranhão, onde o pro-cessamento do pó é transformado em cera é um

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produto bastante apreciado por variados setores da indústria e as exportações de cera da carnaú-ba tem se mostrado sempre crescentes onde o Estado do Piauí é um dos grandes exportadores.

Outra espécie nativa de grande valor co-mercial no nordeste em especial na Bahia, Ser-gipe e Alagoas é a piaçava (Attalea funifera) que tem na utilização de suas fibras o seu maior po-tencial econômico. Segundo o IBGE, em 2008 a produção brasileira de piaçava chegou a 78.167 toneladas, sendo a Bahia responsável por que 87% dessa produção. Além da exploração des-ses produtos conhecidos, as palmeiras tropicais vêm surgindo como uma importante fonte pro-dutora de pólen apícola.

O pólen apícola é diferente do pólen floral por conter além dos grãos de pólen das flores, enzimas, néctar e saliva das abelhas e, por con-seguinte, possuir características bioquímicas diferenciadas do pólen floral. As abelhas acu-mulam os grãos de pólen nas corbículas, man-tendo-os agregados pela adição de néctar e, em seguida, são transferidos para a colmeia, que são utilizadas como fonte essencial de proteína ao enxame.

Embora todas as abelhas coletem pólen das flores, os coletados por Apis mellifera L. são mais o foco para uma escala comercial. Essa atividade vem sendo desenvolvida com mais intensidade a partir dos anos 1980, mas somente nas últi-mas décadas devido seus princípios bioativos, atividade enzimáticas, fonte de proteínas, vita-minas, aminoácidos além de ser promissor nas ações preventivas a diversos tipos de câncer ele ganhou mais destaque no Brasil tanto na par-te comercial como em estudos biotecnológicos (Wang et al. 2013; Feas et al. 2012; Almeida-Mu-radian 2005).

A composição química e funcional do pólen está relacionada diretamente a origem botânica vegetal (Nogueira et al. 2012; Almeida-Muradian 2005; Qian et al. 2008) dessa forma existe uma diferença entre os tipos de pólen apícola confor-me a sua fonte vegetal.

Estudos já comprovam que o coco (Cocos nu-cifera) é uma das principais fontes de produção do pólen apícola (Barreto et al. 2006) especial-mente em Sergipe e na própria Bahia. Porém, aparentemente, todas as palmeiras apresentam a mesma potencialidade devido ao potencial de sua inflorescência contendo um grande número de flores.

Dessa forma, para que seja explorada de for-ma sustentável, toda matéria prima in natura tem que ser viável no contexto produtivo e ain-

da oferte retorno econômico compatível com os custos de sua exploração e comercialização caso contrário, não haverá interesse de investidores e o produto ou mecanismo não se viabiliza. Dian-te disso é fundamental o aumento de estudos no sentido de interrelacionar o comportamento ecológico das palmeiras, em especial o seu ciclo fenológico com sua potencialidade econômica. O cruzamento dessas informações é que pode levar a utilização racional e sustentável das pal-meiras tropicais, mesmo em seu estado nativo.

Aqui se apresenta o estudo de viabilidade produtiva e econômica de quatro espécies de palmeiras com fins de produção do pólen apíco-la no Nordeste brasileiro, mostrando que possí-vel desenvolver uma atividade planejada e sus-tentada com plantios comerciais em forma de manejo ou nativos.

Área de estudo

O Nordeste brasileiro é uma região rica em diversidade de ecossistemas, sendo caracteriza-da por ambientes costeiros, biomas do cerrado, mata atlântica, amazônico e caatinga, sendo esse último bioma endêmico do Brasil e da região.

Esta pesquisa focou em quatro espécies de palmeiras com indicativo potencial à produção de pólen apícola monofloral: Cocos nucifera L. (Coco-da-bahia), Elaeis guineensis Jacq. (Dendê), Attalea funifera Mart. (Piaçava) e Syagrus coro-nata (Mart.) Becc. (Ouricuri). A amostragem en-volveu plantios comerciais e áreas de vegetação nativas (Tabela 1) que tinham como característi-ca a dominância de uma das espécies botânicas estudadas.

Para confirmação da dominância botânica adotou-se um transecto de 100m de raio a partir das colmeias, o que correspondeu a uma área a 3,14 hectares sendo essa distancia ótima para o forrageamento de abelhas (Pacheco 1982; Wolff et al. 2008).

As espécies Dendê (Elaeis guineensis) e Coco (Cocos nucifera) ocorreram em plantios comer-ciais onde as áreas avaliadas possuíam mais de 100 hectares de plantio da planta. Para espécie A. funifera (Piaçava), a área analisado foi am-biente nativo inserida na mata Atlântica baiana, porém em local com grande dominância visual dessa palmeira. O local amostral possuía mais de 50 hectares em floresta contínua.

Para a espécie Ouricuri (Syagrus coronata), a área analisada foi de 10 hectares no semiárido sergipano em local fortemente antropizado com

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dominância visual da espécie. No caso de S. coro-nata, ressalta-se o status crítico de conservação em Sergipe, porém similar a outras regiões do nordeste onde desde a década de 1990 já se vêm apontando redução expressiva das populações nativas dessa palmeira.

Metodologia

Determinação da dominância botânica do pólen apícola

A identificação da dominância polínica nas amostras foi determinada em laboratório com a separação de amostras de pólen apícola das col-meia (n=5), sendo realizada a homogeneização da amostra polínica tendo como base sua cor e morfologia, seguindo uma adaptação na propos-ta de Correia-Oliveira et al. (2008).

Depois de organizados os grupos polínicos, foi retirado 1 g do pólen dominante homogenei-zado e a partir das quais foram confeccionadas três lâminas microscópicas para análise via ace-tólise, conforme descrito por Erdtman (1960). A montagem de lâminas foi realizada conforme a metodologia de Louveaux et al. (1978), modi-ficada por Barth (1989), onde os grãos de pólen foram analisados em microscópio ótico e conta-dos 500 grãos por lamina para confirmação da dominância monofloral conforme espécie ana-lisada. Comprovada a dominância botânica pro-cederam-se as demais analises.

Metodologia para determinação da analise produtiva

Cada área de amostragem recebeu cinco col-meias de Apis mellifera L., conforme metodologia empregada por Modro et al. (2007) e Silva Filho et al. (2010). Essas colmeias foram selecionadas de forma aleatória em um apiário composto de 30 enxames e cada uma delas foi equipada com cole-tor de pólen, modelo tipo frontal baiano (Barreto et al. 2006) composto por peça frontal inclinada

em PVC (trampa) com espessura de 3 mm e cole-tor de pólen com tela em aço inoxidável.

As colmeias foram coletadas coleta duran-te cinco dias consecutivos/ mês durante toda a fase floral da planta, conforme apontamen-to dos estudos fenológicos para cada espécie (Pereira 2015).

A viabilidade produtiva foi analisada para cada espécie botânica, levando-se em conside-ração dados médios da produção obtidos diaria-mente por colmeia durante os cinco dias conse-cutivos por mês obtendo uma base de produtivi-dade colmeia dia e durante todo ciclo de produ-ção por planta obtendo dados de produção para cada fonte botânica.

Cada colmeia teve sua produção pesada in-dividualmente e extraída a média geral levando--se em consideração o peso do pólen apícola in natura (verde).

Determinação da viabilidade econômica para produção de pólen apícola de palmáceas

Para o cálculo de viabilidade econômica, foi criado um cenário futuro sendo um apiário com 35 colmeias produtivas, conforme padrão pro-dutivo para o Estado de Sergipe (Correia-Olivei-ra et al. 2008). O preço de venda do pólen apícola in natura (verde) foi estabelecido com base em entrevista a dez produtores de pólen, resultando em um preço médio de US$ 11,75/kg (cotação do dólar R$ 3,83 – Banco Central, 26 Jun 2018) con-siderando um acréscimo de 20% no valor para o segundo ano conforme apontamento com o mercado local.

Os indicadores econômicos foram baseados na metodologia descrita por Caione et al. (2011) e Fachini et al. (2013) que avaliaram o potencial econômico da apicultura para produção de mel. Destacando que trabalhos de analise econômi-ca e produtiva envolvendo a cadeia apícola são muito escassos e com isso fica difícil de padroni-zar uma metodologia.

TABELA 1. Localização e caracterização geográficas das áreas amostradas por espécie botânica estudada. Plantio: N (nativo) e C (comercial).

Espécie Município Plantio Coordenadas GeográficasAtalea funifera Nilo Peçanha/BA N S 03º 36’36.5” e W 39º 05’09.3”Cocos nucifera Barra dos Coqueiros/SE C S 10º 51’10.5” e W 36º59’45.3”

Elaeis guineensis Itaperoá/BA C S 13º 51’10.5” e W 36º59’45.3”Syagrus coronata Poço Redondo/SE N S 09º 92’67.17” e W 37º62’38.73”

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A composição de todos os valores utilizados nesse capítulo, foram baseados nos parâmetros estabelecidos por Pereira (2015) que relata a composição e a formação de custo de cada item para produção de pólen apícola em Sergipe.

Essa analise econômica somente leva em consideração os aspectos produtivos relaciona-dos diretamente ao apicultor, não sendo apura-dos valores de custos e receitas com o beneficia-mento final realizado em casa de pólen.

Para o custo de implantação (CI) foram con-sideradas as indumentárias, coletores, fume-gador, a aquisição de 50 colmeias e um freezer para armazenamento do pólen, totalizando US$ 7.488,98, que no cenário empírico do trabalho foi tabulado para pagamento em 24 meses, sem carência bancaria. Os custos operacionais (CO) englobam as despesas cotidianas, como mão--de-obra, troca de cera apícola, arame, limpeza de área, alimentação de enxames e preparo de ração proteica. Nesse estudo, não foram levados em consideração os custos de depreciação de máquinas e equipamentos. Existem outros in-dicadores que compõem um plano de negócio, mas que não foram focados no estudo.

Para composição dos indicadores econômi-cos (IE), foram utilizados:

• Para analisar a receita, adotou-se o índi-ce de lucratividade (IL) que representa em percentual de lucro real que o apicultor afere com a venda de sua matéria-prima, já deduzida todos os custos (CI+CO).

Os indicadores econômicos são dados pelas seguintes fórmulas:

• Preço de Equilíbrio - PEq: Refere-se ao volume de produção total com base no valor de mercado menos todos os custos com isso determina-se o valor minimo do pólen apícola capaz de pagar as despesas, sendo dado pela equação PEq= (CO+CI)/Pr onde,

Pr: Preço pago pelo mercado pelo pro-duto;

CO: Custos operacionais totais;

CI: Custos de implantação da ativida-de apícola/ano.

• Índice de lucratividade - IL: Indica em percentual (%) qual o lucro líquido obti-do com atividade, levando em conside-ração a receita bruta e a receita líquida, que é aquela que já deduz todos os custos

(operacionais e de implantação), sen-do expressa da seguinte forma: IL=(RL/RB)*100 onde,

• Renda bruta - RB representada pelo valor apurado pelo produtor com a venda direta do seu produto, sem a dedução dos custos, sendo dire-tamente relacionado à quantidade produzida (PR) pelo preço de venda por Kg (PV) logo, RB = PR x PV;

• Renda liquida - RL: Refere-se ao valor obtido com a venda dos pro-dutos, subtraindo os custos totais (CT) que é igual a soma do custo de implantação e de operação (CI+CO) dado pela fórmula RL = RB – CT.

Resultados e discussão

Análise Produtiva

A sazonalidade florística influencia na produção e na composição físico-química do pólen apícola onde os fatores ambientais, como solo, umidade, clima, disponibilidade do recurso floral e origem geográfica são itens importantes na determinação da qualidade biotecnológica e nutricional do pólen apícola como nos aspectos produtivos (Estevinho et al. 2012; Modro et al. 2011).

Devido esses fatores para um estudo de pro-dução apícola é fundamental a determinação do ciclo de produtivo do pasto apícola como base em estudos fenológicos, porque eles tendem a fundamentar melhor uma tomada de decisão quanto ao retorno do investimento e da sua via-bilidade econômica.

Como o presente estudo analisou plantas especificas buscando o pólen apícola monoflo-ral, ou seja, aquele em que mais de 80% das car-gas polínicas são de uma úbica planta foi funda-mental determinar e comprovar a dominância botânica (Almeida-Muradian et al. 2005; Gonzá-lez-Martín et al. 2007; Carpes et al. 2013).

Todas as espécies de palmeiras estudadas ti-veram uma grande representatividade de domi-nância polínica nas amostras de pólen coletadas nas colmeias, sendo superior a 80% (Tabela 2). Esse resultado evidencia que as espécies anali-sadas possuem perfil produtivo positivo para produção monofloral de pólen apícola podendo ser explorada comercialmente na atividade apí-cola. Por outro lado comprovada sua viabilidade econômica poder-se-á buscar alternativas de

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manejo sustentável em ambiente nativo ou em escala comercial para essas espécies.

Outro aspecto levado em consideração na dominância polínica foi o fato que esse resulta-do demonstra que a abelha Apis mellifera tem nas palmeiras sua principal fonte de pólen no perío-do da florada das respectivas fontes botânicas demonstrando uma grande atratividade apícola.

Como mostrado no quadro 1 do nono capítu-lo deste livro que trata da identidade biológica e molecular do pólen monofloral de palmeiras, an-teriormente, o ciclo sazonal (mensal) produtivo de pólen apícola, referente às fontes botânicas analisadas em suas localidades, indica que S. co-ronata, espécie que ocorreu no semiárido sergi-pano, possui o menor ciclo produtivo em relação às outras espécies de palmeiras, de ocorrência em áreas mais úmidas, especificamente na mata atlântica (C. nucifera, E. guianeensis e A. funife-ra). Esse apontamento corrobora com os aspec-tos que a origem geográfica e fatores ambien-tais influenciam na produção do pólen apícola e consequentemente nos indicadores econômicos para aquela espécie, assim como na qualidade do produto final como já descrito por alguns autores (Estevinho et al. 2012; Modro et al. 2011).

A floração da planta está ligada diretamen-te a sua capacidade produtiva na cadeia apícola em geral. Destaca-se que esse processo biológico sofre modificações conforme a origem geográ-fica, devido às características pluviométricas, edáficas e climáticas. Assim, uma mesma es-pécie de plantas poderá ter épocas distintas de floração conforme a região (Novais et al. 2009; D’Apolito et al. 2010).

Com as informações registradas no quadro 1 foi possível sumarizar os dias produtivos de cada espécie gerando as informações sobre o ci-clo produtivo em dias para cada espécie. A com-preensão de quantos dias dura o ciclo produtivo de cada fonte botânica favorece a elaboração de um plano de manejo sustentável para cada espé-

cie além de reduzir o grau de empirismo do ce-nário produtivo econômico anual.

O coco (C. nucifera) foi a fonte botânica que apresentou o maior ciclo produtivo (quadro 1), sendo 300 dias, corroborando com as informa-ções de Passos et al. (2006) e Fontes (2018) que analisando a fenologia do coco gigante no Cea-rá e Sergipe comprovaram que a espécie emite inflorescências durante todo o ano com picos trimestrais e nos meses mais secos ocorrendo redução de flores nos meses chuvosos. A tabela 3 registra em dias e os meses de produção nas localidades amostradas demonstrando o ciclo de produção para cada espécies de palmeira duran-te 24 meses de acompanhamento fenológico.

Considerando que durante o ciclo produti-vo de cada espécie foi realizada a coleta do pó-len apícola diretamente na colmeia por meio de coletores, sendo que registrou-se dominância floral logo quando realizada a pesagem do pólen apícola individualmente por colmeia foi pos-sível estimar a produtividade por colmeia para cada fonte floral (Tabela 4).

Os dados de produtividade apresentados na tabela 4 são valores médios produtivos mínimos, uma vez que as colmeias não foram manejadas para essa coleta. Essa informação aponta que se o apicultor trabalhar com manejo de rainha, trocas de cera e controle do tamanho do enxa-me esses números tendem a aumentar signifi-

TABELA 2. Percentual de dominância do pólen apícola por espécie de Palmeira encontrado nas colmeias de Apis mellifera obtidas por meio de coletor de pólen frontal.

Espécie % de pólen monofloral presente na amostra

Attalea funifera 88,10±7,56Cocos nucifera 87,60±3,96

Elaeis guineensis 81,40±6,23Syagrs coronata 85,70±5,87

TABELA 3. Número de dias de floração de cada fonte botânica de palmeiras amostrada correlacionando com os dias de produção de pólen apícola produzido por Apis mellifera.

Espécie/dias de produçãoOuricuri Coco Piaçava Dendê

Número de dias de produção

90 300 180 210

Produção nov-fev jan-dez nov-mai ago-fev

TABELA 4. Dados médios de produção por espécie botânica durante o ciclo produtivo, valores em grama/colmeia/dia (g).

Espécie ProduçãoAttalea funifera 156,80±41,19 ab

Cocos nucifera 122, 18± 5,42bcd

Elaeis guineenses 142,40±20,28abc

Syagrus coronata 81,14±13,34d

**Médias seguidas de letras diferentes diferem estatisti-camente

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camente. Dentro dos princípios da apicultura profissional uma das técnicas mais importantes para produção apícola é o manejo de rainhas, de forma que se ocorrer todo o preparo produtivo dos enxames com a finalidade de coleta de pólen apícola os números irão aumentar em relação aos dados médios apresentados na tabela 4.

Realizada analise estatística observa-se que, A. funifera e E. guineensis não apresentaram dife-renças estatísticas entre si, de igual maneira para C.nucifera e S. coronata. Com isso observe que em escala produtiva as espécies podem gerar a mes-ma quantidade de pólen apícola, sendo a produ-ção influenciada pela permanência da floração.

Dentre as espécies A. funifera é que tem a maior produtividade mesmo com um ciclo pro-dutivo inferior a E. guineensis e C.nucifera. O Ou-ricuri (S. coronata) registrou o menor índice de produtividade, porém é importante considerar que foi a única palmeira amostrada no semiári-do e sua localização foi em área degradada, dife-rente das demais palmáceas que se encontram em áreas planejadas e não degradadas e com ín-dices pluviométrico maiores. Dessa forma, para avaliar melhor o dado produtivo de S. coronata seria necessário ampliar sua amostragem em áreas menos degradadas e em regiões mais úmi-das a exemplo da zona da mata nordestina, área de sua ocorrência natural.

O Ouricuri de todas as palmeiras amostra-das é que se encontra em estágio mais crítico de conservação, devido o manejo extrativista e a expansão agropecuária no nordeste. Sendo ne-cessário buscar meios para o estabelecimento de suas populações e possivelmente o manejo apícola pode ser uma das melhores alternativas devido ao retorno econômico que essa atividade pode ofertar.

De uma forma geral, as palmeiras de ocor-rência na mata Atlântica não diferiram estatis-ticamente em sua produção. Os índices de pro-dutividade encontrados são superiores a 100g/colmeia/dia, corroborando com os dados de Barreto et al. (2006) que analisaram a produção apícola em nove estados brasileiros destacando

C. nucifera como uma importante planta produ-tora de pólen apícola.

Analisando os resultados e a fenologia de outras plantas verifica-se de forma objetiva que o coco tem uma maior duração de floradas o que ira refletir em uma maior produção apícola.

Para consolidar a analise econômica refe-rente a oferta produtiva de pólen apícola mono-floral foi realizada uma projeção considerando o cenário anual de produção dentro do ciclo floral de cada palmácea. Nessa projeção, foi levada em consideração a produtividade por colmeia/ano porém transformando esses dados médios para um apiário com de 35 colmeias ativas/produti-vas (Tabela 5).

Esses valores referem-se a dados mínimos produtivos, uma vez que as colmeias foram sele-cionadas de forma aleatória de um apiário pro-dutor de pólen apícola e sem nenhum manejo es-pecifico para a coleta do trabalho. Por outro lado, esses dados demonstram que as palmáceas tem uma grande capacidade produtiva podendo pro-duzir com 35 colmeias ativas valores superiores a 1 tonelada de pólen apícola ano. Alves e Nascimen-to (2013) estudando o babaçu (Orrbignya speciosa (Mart.) Barb. Rodr.) no Ceará, na Serra do Meruo-ca encontraram dados produtivos superiores aos registrados nesse estudo (500g/colmeia/dia), cor-roborando que as palmeiras de fato ofertam um grande potencial produtivo de pólen apícola.

Logo considerando a viabilidade produti-va apresentada, caso as palmeiras nativas bra-sileiras sejam manejadas de forma adequada elas podem representar uma importante fonte botânicas para a exploração comercial do pólen apícola. Com isso sendo outra oportunidade de renda para comunidades extrativistas do norte e nordeste do Brasil, área de ocorrência nativa de muitas espécies de palmeiras.

Analise de viabilidade econômica

Para análise econômica foram tabulados os dados médios produtivos considerando o ciclo de produção anual de cada espécie e tendo como

TABELA 5. Produção média de pólen apícola por fonte botânica considerando dados diários e no ciclo produtivo de cada espécie para um apiário composto de 35 colméias de Apis mellifera em escala de produção.

Produção (kg) Ouricuri Coco Piaçava DendêColméia/Mês 2,43 3,67 4,70 4,27Colmeia/Ciclo Produtivo 7,30 36,66 28,22 29,90Apiário/Ano (N=35) 255,55 1282,93 987,84 1046,64

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referência de cálculo o cenário de um apiário produtivo com 50 colmeias das quais 35 estão em plena produção.

O custo de implantação (CI) foi considerado como um investimento a ser pago em dois anos e os custos operacionais (CO) são variáveis con-forme o ciclo produtivo de cada espécie. Esse va-lor é variável devido aos custos com diárias de trabalho (homem/dia) e alimentação diária das abelhas, de maneira que uma planta com ciclo maior irá ter maiores custos operacionais, mas espera-se uma maior renda bruta.

Considerando o aspecto de cenário produti-vo foi previsto um aumento de 20% na produção para o segundo ano, assim como aumento no preço de venda (PV) do pólen apícola. Esse cená-rio mesmo estipulado de forma empírica reflete uma realidade possível, porque considera o au-mento da experiência do apicultor adquirido no primeiro ano e a estabilização dos enxames, de maneira que a renda bruta e liquida tende au-mentar anualmente enquanto os custos opera-cionais tende a diminuir.

A tabela 6 resume todos os indicadores eco-nômicos para cada fonte botânica considerando a produção anual na projeção de dois anos pro-dutivos (n=24 meses).

Observa-se que o índice de lucratividade (IL) é o percentual que representa a margem de lu-cro do projeto sendo que ele aumenta a partir do segundo ano, sendo superior a 50%. No entan-to já no primeiro ano é registrado um aumento significativo nos índices, onde a cultura do coco

registrou um índice de 51,1% e o dendê de 43%, demonstrando uma alta viabilidade econômica produtiva. Evidentemente que no terceiro ano IL irá aumentar consideravelmente já que não haverá os custos de implantação. Mesmo no caso da palmeira Ouricuri onde os índices foram ne-gativos caso dilua o valor de investimentos para mais de 24 meses essa atividade poderá apre-sentar alguma rentabilidade.

Mas no caso do Ouricuri (S. coronata), será necessário diferenciar o seu valor de venda em relação as demais palmáceas para que ocorra essa diferenciação é fundamental aprimorar os estudos biotecnologicos e etnobotânicos buscan-do alguma qualidade diferencial que possa justi-ficar o seu aumento no mercado. Possivelmente o fato de ser uma planta que as populações silves-tres estão ameaçadas pode ser uma justificativa para essa diferenciação mercadológica.

Também é importante, novamente frisar que para o Ouricuri a área amostrada não foi a região do semiárido onde as condições climáticas e edáficas influenciam muito no ciclo fenológico da planta, sendo fundamental realizar o estudo e outra área para definir melhor se a planta ofere-ce um IL negativo em relação as demais.

Considerando que as palmeiras no nordeste são utilizadas de maneira extrativista por mui-tas comunidades e o manejo não é madeireiro, ou seja, se utilizam outros produtos como frutos, folhas, resinas essa atividade pode ser integrada ao manejo apícola criando uma nova oportuni-dade de renda a essas comunidades.

TABELA 6. Indicadores econômicos para viabilidade produtiva de pólen apícola monofloral de quatro espécies de palmeira de ocorrência na região Nordeste. Ver texto para maior detalhamento.

CI CO CT RB RL PV PEq Pr IL (%)

Ano 1Coco 3744,47 3614,65 7359,12 15073,61 7714,49 11,75 5,74 1282,93 51,18Ouricuri 3744,47 2792,19 6536,67 3002,52 -3534,14 11,75 25,58 255,55 -117,71Piaçava 3744,47 3144,67 6889,15 11606,48 4717,33 11,75 6,97 987,84 40,64Dendê 3744,47 3262,17 7006,64 12297,34 5290,70 11,75 6,69 1046,64 43,02

Ano 2Coco 3744,47 3614,65 7359,12 26127,60 18768,48 16,97 4,78 1539,52 71,83Ouricuri 3744,47 2792,19 6536,67 5204,38 -1332,29 16,97 21,32 306,66 -25,60Piaçava 3744,47 3144,67 6889,15 20117,89 13228,74 16,97 5,81 1185,41 65,76Dendê 3744,47 3262,17 7006,64 21315,38 14308,74 16,97 5,58 1255,97 67,13

Abreviaturas: CI - custo de implantação; CO - custos operacionais; CT - custos totais; IL - índice de lucratividade; PEq - preço de equilíbrio; Pr - produção por apiário/ciclo anual (kg); PV - preço de venda (2018); RB - renda bruta; RL - renda líquida.

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Considerando que o valor do pólen apícola beneficiado pode chegar a 100% do seu valor in natura a implementação de casa de pólen, irá aumentar a rentabilidade dessa atividade eco-nômica Deve-se levar em consideração que nos indicadores econômicos apontados nesses estu-dos foram apenas os relacionados diretamente a exploração produtiva não sendo computados valores relacionados aos aspectos de beneficia-mento direto em casa de pólen.

O estudo demonstrou que a produção de pó-len apícola por Apis mellifera com as palmáceas nativas pode ser uma grande oportunidade de renda para comunidades extrativistas entre ou-tros. Demonstrando a potencialidade comercial não madeireiro desse grupo de plantas e que a sua integração econômica com atividade apíco-la pode ser uma forma de assegurar a conserva-ção de muitas espécies de palmeiras tropicais e melhorar as condições de vida de comunidades tradicionais.

Agradecimentos

À Petrobras S.A, por meio do Programa Pe-trobras Ambiental (2010) por ter financiado integralmente todo o estudo através do Projeto Frutos da Floresta. À Codevasf por ter acreditado no potencial da pesquisa e ter autorizado o de-senvolvimento do doutorado na pessoa da técni-ca Kenya Marcelino, João Afonso, Paulo Sergio e Paulo Viana. A RENORBIO/UFS por ter disponi-bilizado, pesquisadores e meios para execução de todos os testes. Ao apicultor Marcio Brasil por ter disponibilizado tempo e seus apiários para coleta do material na Bahia. A toda equipe de profissionais do Projeto Frutos da Floresta pelo apoio na coleta do material botânico e demais procedimentos na execução do projeto.

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Euterpe oleracea Mart. e Elaeis guineensis Jacq. (Arecaceae): Novos hospedeiros para o registro de ocorrência de microfungos (Ascomycota) no Brasil

Nadja Santos Vitória, Maiara Araújo Lima dos Santos & José Luiz Bezerra

As palmeiras além da beleza e da importância para o meio ambiente contribuem com impacto social, cultural, nutricional e econômico. Euterpe oleracea (açaí) e Elaeis guineensis (dendê) são palmeiras de im-portância econômica e neste trabalho constituem novos hospedeiros botânicos para onze novos registros de microfungos (Ascomycota): Anthostonella ludoviciana A. nitidissima, Calonectria sp., Capsulospora aff. calamicola, C. frondicola, Gloniopsis praelonga, Nemania sp., Oxydothis manokwariensis, O. mauritiae, Seynesia nobilis e Thaxteriella cf. pezizula. Os fungos A. nitidissima, Capsulospora aff. calamicola, C. fron-dicola, O. manokwariensis e O. mauritiae são registrados pela primeira vez para o Brasil e A. ludoviciana pela primeira vez no estado da Bahia.

Introdução

Estudos sobre fungos associados à família Arecaceae se destacaram a partir da década de 90, estendendo-se aos dias atuais, tendo enfo-que o levantamento da micota para fornecer da-dos de distribuição e estimativas de diversidade (Fröhlich & Hyde 1994; Hyde, Taylor & Fröhlich 2000; Hyde et al. 2007; Vitoria et al. 2014, 2016a; Santos et al. 2016). Espécies de Arecaceae são componentes importantes dos ambientes natu-rais, em função da sua abundância e interações com outros organismos¸ como, por exemplo, os fungos que colonizam os substratos das plantas em busca de nutrientes, abrigo ou transporte, estabelecendo relações mutualísticas, de parasi-tismo ou de patogenicidade.

Ascomycota é o maior filo do Reino Fungi, com mais de 64.000 espécies descritas (Kirk et al. 2008). Ascomicetos em palmeiras são muito diversos e, considerando o número de espécies de fungos em geral, Hyde (1996a) sugeriu a ra-zão palmeira: fungos de 1:26, mais elevada do que a geralmente aceita de 1:6 para outras plan-tas (Hawksworth 1991). Ainda assim, a micota de palmeiras no Brasil é pouco estudada.

As palmeiras possuem valor econômico, ecológico, ornamental e alimentar. Dentre as es-pécies de Arecaceae de importância econômica destacam-se Euterpe oleracea Mart. (açaizeiro) e Elaeis guineensis Jacq. (dendezeiro). O açaizeiro

tem várias utilizações tais como alimentação, fabricação de casas, corante natural, ração ani-mal, arborização, medicina caseira e produção de celulose (Oliveira & Muller 1998). Do dende-zeiro utiliza-se o fruto, cachos vazios dos frutos, cascas da amêndoa (caroço) e tronco.

O presente trabalho tem como objetivo re-latar o açaizeiro e dendezeiro como novos hos-pedeiros botânicos para o registro de ocorrência dos Ascomycota, ampliando os dados de distri-buição geográfica dos fungos em novos substra-tos para a ciência.

Material e métodos

As expedições foram realizadas em frag-mentos de Mata Atlântica nos estados da Bahia e de Pernambuco. Amostras de Euterpe oleracea Mart. e Elaeis guineensis Jacq. foram coletas nos municípios de Recife - PE (Parque Estadual Dois Irmãos, 08°15’30”S e 35°57’00”W, 30m altitude), Cabo de Santo Agostinho - PE (Reserva Ecológica de Gurjaú (RESEC) 08°10’00”S e 35°02’30”W, 54m Altitude), Tamandaré-PE (Reserva Biológica de Saltinho (REBIO) 08°43’55”S e 35°10’26”W, 95m altitude), Uruçuca-BA (Escola Media Agropecuá-ria Regional da CEPLAC (EMARC), 14°36’165”S e 39°16’608”W, 100m altitude) e Uma - BA (Estação Experimental Lemos Maia (ESMAI), 15°16’207”S e 39°05’532”’W, 86m altitude) no período de 2008–2010 (Figura 1). Os espécimes herborizados

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foram depositados nos Herbários URM (Departa-mento de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco) e CEPLAC (Coleção Micológica do Centro de Pesquisa do Cacau).

Para o levantamento da micota de palmeiras foram coletadas, com auxílio de um podão, folhas da copa, serrapilheira de palmeiras colonizadas por fungos, inflorescências, frutos e pedaços de troncos de palmeiras que apresentaram estrutu-ras reprodutivas dos fungos, assim como folhas mortas ainda presas nas árvores, a fim de verifi-car os Ascomycota associados (Figura 2).

A análise topográfica do material coletado e as mensurações das estruturas macroscópicas foram feitas com o auxílio de um microscópio estereoscópico. Após o exame, fragmentos das estruturas dos fungos foram montados entre lâmina e lamínula, utilizando lactofenol como meio de montagem, com ou sem adição de co-rantes (azul de algodão ou fucsina ácida). Rea-gente de Melzer e KOH a 10% também foram utilizados. As preparações foram observadas ao microscópio de luz em diversos aumentos para caracterização das estruturas morfológicas do fungo, as quais foram medidas com auxílio de um micrômetro ocular.

Resultados

A micobiota que habita as espécies de Areca-ceae em fragmentos de Mata Atlântica é diversi-ficada, acomodando táxons não registrados. Os resultados obtidos constituem dados relevan-tes de distribuição geográficas de Microfungos (Ascomycota) em Euterpe oleracea (açaí) e Elaeis guineensis (dendê). Os fungos identificados nes-se estudo estão organizados por hospedeiros em ordem alfabética (Tabela 1).

Anthostomella ludoviciana Ellis et Langl. (Figu-ra 3. A-G)

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Ta-mandaré, Reserva Biológica de Saltinho, em fo-lhas mortas (raque) de E. guineensis, 20/XI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2025). BRASIL. BAHIA: Uru-çuca, EMARC, em folhas mortas(raque) de E. gui-neensis 13/III/2010, Nadja Vitoria (CEPEC 2046).

Anthostomella nitidissima (Durieu et Mont.) Sacc. (Figura 4. A-N)

FIGURA 1. Áreas de coleta. A. Parque Estadual Dois Irmãos (Recife-PE). B. Reserva Biológica de Saltinho-REBIO (Tamandaré-PE). C. Reserva Ecológica de Gurjaú-RESEC (Cabo de Santo Agostinho-PE). D. Estação Experimental Lemos Maia-ESMAI (Una-BA). E. Escola Media Agropecuária Regional da CEPLAC-EMARC (Uruçuca-BA). (Fotos Vitória, N.S).

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FIGURA 2. Palmeiras coletadas. A. Euterpe oleracea. B. Elaeis guineensis. (Fotos Vitória, N.S).

TABELA 1. Lista de espécies fúngicas (Ascomycota) associadas às palmeiras Euterpe oleracea e Elaeis guineenses (Arecaceae).

Ascomycota Euterpe oleracea

Elaeis guineensis Registro de ocorrência

Anthostomella ludoviciana Ellis et Langl. – X

Primeiro registro do fungo para o estado da Bahia, tendo E. guineensis como novo hospedeiro para o fungo

Anthostomella nitidissima (Durieu et Mont.) Sacc. X X Primeiro registro do fungo para o Brasil em

dois novos hospedeiros para a ciência

Calonectria sp. X X E. oleracea e E. guineensis novos hospedeiros para o fungo

Capsulospora aff. calamicola K.D. Hyde X X Primeiro registro do fungo para o Brasil em

dois novos hospedeiros para a ciência

Capsulospora frondicola K.D. Hyde X –

Primeiro registro do fungo para o Brasil, tendo E. oleracea novo hospedeiro para o fungo

Gloniopsis praelonga (Schwein.) Underw. & Earle, Bull.

– X E. guineensis novo hospedeiro para o fungo

Nemania sp. – X E. guineensis novo hospedeiro para o fungo

Oxydothis manokwariensis K.D. Hyde X –

Primeiro registro do fungo para o Brasil, tendo E. oleracea novo hospedeiro para o fungo

Oxydothis mauritiae J. Frohl. & K.D. Hyde X –

Primeiro registro do fungo para o Brasil, tendo E. oleracea como novo hospedeiro para o fungo

Seynesia nobilis (Welw. & Curr.) Sacc. X X E. oleracea e E. guineensis novos hospedeiros

para o fungoThaxteriella cf. pezizula (Berk. & M.A. Curtis) Petr. – X E. guineensis novo hospedeiro para o fungo

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FIGURA 3. Anthostomella ludoviciana (CEPEC 2025). A. Aparência do fungo na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Perídio. D. Asco. E–G. Ascósporos. (Barras: B=100 μm, C= 10 μm, D= 20 μm, E–G= 5 μm). Fotos: Vitória, N.S.

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Recife, Parque Estadual Dois Irmãos, em folhas mortas (raque) de E. guineensis, 21/XI/2008, Nadja Vitoria (CEPEC 2028); 9/XII/2008, Nadja Vitoria (CEPEC 2029); 13/VI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC, 2031). Cabo de Santo Agostinho, Reserva Ecológica de Gurjaú, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 9/VII/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2026); em folhas mortas (raque) de E. guineensis, 9/VI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC, 2027). Taman-daré, Reserva Biológica de Saltinho, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 3/IX/2010, Nadja Vitoria (CEPEC 2124, 2125). BRASIL. BAHIA: Uru-çuca, Estação Experimental Lemos Maia (ESMAI/CEPLAC), em folhas mortas (raque) de E. guineen-sis, 19/III/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2030).

Calonectria sp. (Figura 5.A-I)Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Cabo de Santo Agostinho, Reserva Ecológica de Gur-jaú, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 09/VI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2273). BAHIA: Uru-çuca, EMARC, em folhas mortas (raque) de E. gui-neensis, 09/VII/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2274).

Capsulospora aff. calamicola K.D. Hyde (Figura 6.A-H)

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Recife, Parque Estadual Dois Irmãos, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 13/VI/2009, Nadja Vitoria (URM 83503); em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 18/XI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2277). Cabo de Santo Agostinho, Reserva Biológi-ca de Gurjaú, em folhas mortas (raque) de E. gui-neensis,09/VI/2009, Nadja Vitoria (URM 83502, CEPEC 2278).

Capsulospora frondicola K.D. Hyde (Figura 7.A-K)

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Cabo de Santo Agostinho, Reserva Ecológica de Gur-jaú, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 09/VI/2009, Nadja Vitoria (URM 83504, CEPEC 2279).

Gloniopsis praelonga (Schwein.) Underw. & Ear-le, Bull. Figura 8.A-G

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Recife, Parque Estadual Dois Irmãos, em folhas

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FIGURA 4. Anthostomella nitidissima (CEPEC 2028). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B–C. Secções dos ascomas. D. Perídio. E. Anel subapical do asco J+. E. Paráfises. G–I. Ascos. J–N. Ascósporos. (Barras: B–C= 100 μm, D, G–I= 10 μm, E–F= 2 μm, J–N= 5 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 5. Calonectria sp. (CEPEC 2273). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B–C. Secções dos ascomas. D–E. Ascos. F–I. Ascósporos. (Barras: B–C= 50 μm; D–I= 10 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 6. Capsulospora aff. calamicola (CEPEC 2277). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Anel subapical do asco (seta). D–E. Ascos. F–H. Ascósporos. (Barras: B= 50 μm; C= 3 μm; D–E= 20 μm; F–H= 10 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 7. Capsulospora frondicola (CEPEC 2279). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B–C. Secções dos ascomas. D. Anel subapical do asco J+ (seta). E–F. Ascos. G–K. Ascósporos. (Barras: B–C= 50 μm; D= 4 μm; E–F= 20 μm; G–K=10 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 8. Gloniopsis praelonga (CEPEC 2286). A. Histeriotécios na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Ascos e pseudoparáfises. D–E. Ascos. F–G. Ascósporos. (Barras: B= 50 μm; C= 1 μm; D–E= 20 μm; F–G= 5 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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mortas (pecíolo) de E. guineensis, 06/IX/2010, Nadja Vitoria (CEPEC 2286, URM 83510).

Nemania sp. (Figura 9.A-G)Material Examinado: BRASIL. BAHIA: Uruçuca, EMARC, em folhas mortas (raque) de E. guineen-sis, 09/VII/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2317).

Oxydothis manokwariensis K.D. Hyde (Figura 10.A-G)Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Cabo de Santo Agostinho, Reserva Ecológica de

Gurjaú, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 18/XI/2008, Nadja Vitoria (CEPEC 2330).

Oxydothis mauritiae J. Frohl. & K.D. Hyde (Figu-ra 11.A-G)

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Recife, Parque Estadual Dois Irmãos, em folhas mortas (raque) de E. oleracea, 18/XI/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2331).

Seynesia nobilis (Welw. & Curr.) Sacc. (Figura 12. A-H)

FIGURA 9. Nemania sp. (CEPEC 2317). A. Ascomas na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Anel amilóide do asco. D–G. Ascósporos. (Barras: B= 200 μm; C= 4 μm; D–G= 5 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 10. Oxydothis manokwariensis (CEPEC 2330). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B–C. Secções dos ascomas. D. Asco. E. Anel J+. F–G. Ascósporos. (Barras: B–D= 50 μm; E= 3 lm; F–G= 20 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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FIGURA 11. Oxydothis mauritiae (CEPEC 2331). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Perídio. D. Asco. E. Anel J+. F–G. Ascósporos. (Barras: B= 50 μm; C= 10 μm; D, F–G= 20 μm; E= 3 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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Material Examinado: BRASIL. BAHIA: Uruçuca, EMARC, em folhas mortas (raque) de E. guineen-sis, 09/VII/2009, Nadja Vitoria (CEPEC 2341). PERNAMBUCO: Cabo de Santo Agostinho, Reser-va Biológica de Saltinho, em folhas mortas (ra-que) de E. guineensis,08/XII/2008, Nadja Vitoria (CEPEC 2342), em folhas mortas (raque) de E. ole-racea, Nadja Vitoria (CEPEC 2343); em folhas mor-tas (raque) de E. guineensis, 09/VI/2009, Nadja Vitoria (URM 83525, CEPEC 2344); em folhas mor-tas (raque) de E. guineensis, 16/XI/2009, Nadja

Vitoria (CEPEC 2345), em folhas mortas (raque) de E. oleracea, Nadja Vitoria (CEPEC 2346).

Thaxteriella cf. pezizula (Berk. & M.A. Curtis) Petr. (Figura 13. A-H)

Material Examinado: BRASIL. PERNAMBUCO: Cabo de Santo Agostinho, Reserva Ecológica de Gurjaú, em folhas mortas (raque) de E. guineensis, 02/IX/2010, Nadja Vitoria (URM 83527).

FIGURA 12. Seynesia nobilis (CEPEC 2342). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B. Secção do ascoma. C. Paráfises. D. Asco (seta indicando o anel J+). E–H. Ascosporos. (Barras: B= 100 μm; D= 20 μm; C= 5 μm; E–H= 10 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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Discussão

Todos os fungos foram identificados morfo-logicamente por meio de literatura especializa-da (Lu & Hyde 2000; Hyde 1994, 1995, 1996b,c; Ju & Rogers 1996; Fröhlich & Hyde 2000; Sivanesan 1994). Tentativas de isolamento para obtenção de cultura pura a fim de realizar estudos mo-leculares para corroborar com as análises mor-fológicas também foram feitas, mas sem êxito. No Brasil, pesquisas taxonômicas e inventários

de fungos examinando substratos de palmeiras tem levado a novas informações sobre a micota dessa família (Vitoria et al. 2016b, 2012; Rodri-gues 1994; Monteiro et al. 2010).

Considerando que a descoberta de novos re-gistros de fungos é frequente, o conhecimento da micota em palmeiras de importância econô-mica pode servir como indicador dos avanços na micologia quantos aos aspectos taxonômi-cos e ecológicos de uma região ou de um grupo de hospedeiros. A Microbiota em Arecaceae do

FIGURA 13. Thaxteriella cf. pezizula (CEPEC 2349). A. Aparência dos ascomas na superfície do hospedeiro. B–C. Secções dos ascoma. C. Paráfises e ascos. E. Ascos. F–H. Ascósporos. (Barras: B–C= 100 μm; D= 3 μm; E= 20 μm; F–H= 10 μm). Fotos: Vitória, N.S.

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Brasil é rica e diversificada, assim, estudos nesse sentido podem ampliar o conhecimento sobre a preferência de substrato e padrão de distribui-ção dos fungos.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES-MEC Brasil e CNPq-Brasil pela bolsa e a CEPLAC por facilitar o uso dos laboratórios para conduzir a pesquisa

ReferênciasFröhlich J, Hyde KD. 1994. New Oxydothis species associated with palm leaf spots in north Queensland, Australia. Mycological Research 98: 213–219.Fröhlich J, Hyde, KD. 2000. Palm Microfungi. Fungal Diversity Research Series 3.Hawksworth DL. 1991. Presidential address 1990: The fungal dimension of biodiversity magnitude, significance, conservation. Mycological Research 95: 641-655.Hyde KD. 1994. Fungi from palms. XIII. The genus Oxydothis, a revision. Sydowia 46:265-314.Hyde KD. 1995. Fungi from palms. XXI. The genus Seynesia. Sydowia 47(2): 199-212.Hyde KD. 1996a. Measuring biodiversity: Diversity of microfungi in north Queensland. In: Bolye TJB., Boontawee B. (eds.) Measuring and monitoring Biodiversity in Tropical and Temperate Forest. Jakarta: Cifor, pp. 271-286.Hyde KD. 1996b. Fungi from palms. XXVI. The genus Anthostomella, with ten new species. Nova Hedwigia 62: 273-340.Hyde KD. 1996c. Fungi from palms. XXVII. Capsulospora gen. nov., with three new species. Sydowia 48 (1): 111-121.Hyde KD, Bussaban B, Paulus B, Crous PW, Lee S, McKenzie EHC, Photita W & Lumyong S. 2007. Diversity of saprobic microfungi. Biodiversity and Conservation 16(1): 7−35.

Hyde KD, Taylor JE, Fröhlich J. 2000. Genera of Ascomycetes from Palms. Fungal Diversity Research Series 2: 1-247.Ju YM, Rogers JD. 1996. A revision of the genus Hypoxylon. Mycologia Memoir. 20: 1-365.Kirk, P.M., Cannon, P.F., Minter, D.W., Stalpers, J.A. 2008. Dictionary of the Fungi. 10th ed. Wallingford: CABI.Lu BS, Hyde KD. 2000. Fungal Diversity Research Series 4. Hong Kong, Fungal Diversity Press.Monteiro SJ, Gutiérrez HA, Sotão HMP. 2010. Fungos Anamorfos (hyphomycetes) da Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará, Brasil. Novos registros para o Neotrópico. Acta Botanica Brasilica 24(3): 871-876.Oliveira MSP, Muller A A. 1998. Seleção de germoplasma de açaizeiro promissor para frutos. Belém: EMBRAPA-CPATU. 5p. (Pesquisa em Andamento, 191).Rodrigues KF. 1994. The foliar fungal endophytes of the Amazonian palm Euterpe oleracea. Mycologia 86(3): 376−385.Santos MAL, Vitória NS, Bezerra JL. 2016. Fungos ColonizandoPalmeiras em Áreas de Caatinga do Sertão da Bahia. Agrotrópica 28: 37-46.Sivanesan A 1984. The Bitunicate Ascomycetes and their Anamorphs. J. Cramer, Vaduz, Lichtenstein.Vitória NS, Cavalcanti MAQ, Hyde K, Bezerra JL. 2012. Brunneiapiospora brasiliensis sp. nov. (Clypeosphaeriaceae) on palms from Brazil. Nova Hedwigia 94: 245-250.Vitória NS, Cavalcanti MAQ, Santos MVO, Silverio ML, Bezerra JL. 2014. Ascomycota em palmeiras: novos registros e novos hospedeiros para o nordeste brasileiro. Agrotrópica (Itabuna) 26: 35-42.Vitória NS, Cavalcanti MAQ, Bezerra JL. 2016a. Species of Astrosphaeriella and Fissuroma from palms: new records for South America and Brazil. Nova Hedwigia Band, v. 102, n. 1-2, p. 129-140.Vitória NS, Cavalcanti MAQ, Bezerra JL. 2016b. Species of Astrosphaeriella and Fissuroma from palms: new records for South America and Brazil. Nova Hedwigia 102(1-2): 129-140.

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Controle do ácaro-da-necrose Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae) em coqueiro

Adenir Vieira Teodoro, Jéssica Fontes Vasconcelos, Caroline Rabelo Coelho, José Guedes de Sena Filho, Aldomario Santo Negrisoli Junior & Elio Cesar Guzzo

O ácaro-da-necrose, Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae), é uma das principais pragas do coqueiro no Brasil. O controle dessa praga geralmente é realizado por meio de aplicações frequentes de agrotóxicos. Óleos vegetais também vêm sendo usados no controle do ácaro-da-necrose, com a vantagem de serem, ge-ralmente, menos tóxicos ao homem e ao ambiente. No entanto, pouco se sabe sobre a eficiência relativa de óleos vegetais e de agrotóxicos no controle do ácaro-da-necrose. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a bioatividade de óleos vegetais ao ácaro-da-necrose e sua eficácia relativa em comparação com agrotóxicos. Os óleos de algodão, babaçu, soja degomada e coco foram tóxicos e repelentes ao ácaro-da-necrose indican-do bioatividade em condições de laboratório. Com base nos estudos de bioatividade, o óleo de algodão foi escolhido para ser avaliado em comparação com agrotóxicos no controle do ácaro-da-necrose em condições de campo. Os resultados demonstram que o óleo de algodão foi tão eficiente quanto os agrotóxicos fenpiro-ximato e abamectina na redução da abundância do ácaro-da-necrose em condições de campo.

Introdução

O ácaro-da-necrose, Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae), é uma praga chave do co-queiro no Brasil, e causa prejuízos, sobretudo na região Nordeste, em função de condições climáticas adequadas ao seu desenvolvimento (Ferreira et al. 1998; Ferreira et al. 2009; Moraes & Flechtmann 2008). Colônias do ácaro-da-ne-crose se desenvolvem protegidas sob as brácteas do fruto, o que dificulta o seu controle (Figura 1) (Moore & Howard 1996). Inicialmente, man-chas amareladas de formato triangular surgem na epiderme dos frutos, as quais evoluem para necroses (Figura 2) (Navia et al. 2013). O ataque da praga leva à redução da copra, água e queda prematura de frutos (Navia et al. 2013). O con-trole químico constitui-se na principal forma de controle do ácaro-da-necrose, e atualmente existem dez agrotóxicos registrados para o seu controle (Tabela 1) (AGROFIT 2018). No entanto, observa-se, com frequência, o uso de produtos não registrados, de amplo espectro, que provo-cam aumento no custo de produção e problemas como surtos de pragas, surgimento de resistên-cia, intoxicações dos operários e animais, danos ambientais e riscos à saúde dos consumidores (Ferreira et al. 1998; Geiger et al. 2011).

É nesse contexto que alternativas ecológicas podem auxiliar na recuperação do equilíbrio do

agroecossistema e contribuir, junto com outros métodos, para um manejo mais ecológico de pragas (Andrigueto & Kososki 2002; Gallo et al. 2002; Lemos et al. 2011). Diversos óleos vegetais vêm sendo usados empiricamente no controle de pragas, no entanto, há uma carência de estu-dos que demonstrem sua bioatividade e eficiên-cia relativa em comparação com agrotóxicos.

Material e métodos

Toxicidade de óleos vegetais

As concentrações letais (CL) dos óleos de al-godão, babaçu, soja degomada e coco foram esti-madas para o ácaro-da-necrose. Para tal, adultos da praga foram transferidos para discos meriste-máticos de frutos de coqueiro (1 cm de diâmetro) previamente pulverizados com os óleos vegetais por meio de uma torre de pulverização de Potter (Oliveira et al. 2017). A mortalidade dos ácaros foi avaliada após 24 horas da exposição aos óleos e as CLs foram estimadas por meio de análise de Pro-bit (Oliveira et al. 2017; Teodoro et al. 2017).

Repelência relativa do óleo de algodão

A repelência do óleo de algodão e dos agro-tóxicos azadiractina (Azamax®), espirodiclofeno

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TABELA 1. Acaricidas registrados para o controle do ácaro-da-necrose Aceria guerreronis em coqueiro no Brasil. Fonte: AGROFIT 2018.

Produto comercial

Ingrediente ativo

Dose do produto

comercial

Volume de calda (aplicação

terrestre)

Classe toxicológica

Periculosidade Ambiental

Envidor Espirodiclofeno 30 mL/ 100 L de água 1000 L/ha Medianamente

tóxico Perigoso

Ortus 50 SC Fenpiroximato 200 mL/ 100 L de água 500 – 600 L/ha Altamente tóxico Muito Perigoso

Azamax* Azadiractina 200-250 mL/ 100 L de água 400 – 1000 L/ha Medianamente

tóxico Pouco Perigoso

Sanmite EW* Piridabem 75 mL/ 100 L

de água 500 – 600 L/ha Medianamente tóxico Perigoso

Talento* Hexitiazoxi 3 g/ 100 L de água 2 L/ planta Altamente tóxico Muito Perigoso

Oberon* Espiromesifeno 0,4 –0,6 L/ha 400 – 1000 L/ha Medianamente tóxico Muito perigoso

Abamectin Nortox* Abamectina 75 mL/100 L de

água 400 L/ha Medianamente tóxico Perigoso

Vertimec 18 EC* Abamectina 300 mL/ha 400 L/ha Medianamente

tóxico Muito perigoso

Abamex* Abamectina 75 mL/ 100 L de água 400 L/ha Extremamente

tóxico Perigoso

Potenza Sinon* Abamectina 300 mL/ha 400 L/ha Extremamente

tóxico Perigoso

* No Agrofit, consta o nome antigo do ácaro-da-necrose, Eriophyes guerreronis, para esses acaricidas.

FIGURA 1. Colônia do ácaro-da-necrose, Aceria guerreronis. Foto: Jéssica Fontes Vasconcelos.

FIGURA 2. Fruto de coqueiro atacado pelo ácaro-da-necrose, Aceria guerreronis. Foto: Adenir Vieira Teodoro.

(Envidor®), fenpiroximato (Ortus 50 SC®), aba-mectina (Vertimec 18 EC®) foi avaliada compa-rativamente para o ácaro-da-necrose. Para tal, adultos do ácaro-da-necrose foram liberados no centro de arenas de com metade tratada e meta-de não tratada pelos produtos. Após 1 hora da li-beração, a posição dos ácaros foi registrada para avaliação da repelência. Os dados foram subme-tidos ao teste binomial a 5% de probabilidade (Teodoro et al. 2017).

Controle em condições de campo

O experimento foi instalado em coqueiral da variedade anão verde localizado em Neópo-lis – SE em delineamento inteiramente casua-lizado com sete tratamentos e cinco repetições, totalizando 35 plantas úteis sob condições de in-festação natural do ácaro-da-necrose (Figura 3). Os tratamentos foram azadiractina, espirodi-clofeno, fenpiroximato, abamectina, três pulve-

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rizações quinzenais seguidas de pulverizações mensais de óleo de algodão (+ 1% de detergente neutro como adjuvante) e duas aplicações quin-zenais seguidas de aplicações mensais de óleo de algodão (+ 1% de detergente neutro) e controle (aplicação apenas de água). O óleo de algodão foi escolhido por possuir toxicidade semelhante aos demais óleos (Tabela 2) e pela facilidade de aquisição na região onde o estudo foi conduzi-do. A concentração do óleo de algodão utilizada no experimento equivale à CL99 (concentração do óleo que mata 99% da população da ácaro--da-necrose) (Tabela 2) e os agrotóxicos foram pulverizados em suas respectivas dosagens re-comendadas pelo fabricante (Tabela 1). A apli-cação dos produtos foi realizada mensalmente e todos os cachos foram pulverizados, no entanto apenas os frutos dos dois cachos mais novos fo-ram avaliados ao longo do tempo. As avaliações foram realizadas quinzenalmente por meio da coleta de um fruto por cacho novo e contagem do número de ácaros presentes sob a superfície das brácteas. As avaliações foram realizadas até o ponto de colheita (6-7 meses). A abundância do ácaro-da-necrose nos diferentes tratamentos ao longo do tempo foi avaliada por meio de Análise de variância para medidas repetidas.

Resultados e discussão

Toxicidade de óleos vegetais

Os óleos de algodão, babaçu, soja degomada e coco foram tóxicos ao ácaro-da-necrose em con-dições de laboratório (Tabela 2). Óleos vegetais possuem ácidos graxos saturados e insaturados em sua composição, os quais conferem bioativi-dade a diversas pragas agrícolas (Sims et al. 2014; Teodoro et al. 2017; Oliveira et al. 2017). Especifi-camente, o óleo de algodão possui o ácido linolei-co como o principal ácido graxo, seguido pelo áci-do oleico e menores porções dos ácidos palmítico, linoleico, láurico, mirístico, esteárico, araquídi-co, behênico e lignocérico (Teodoro et al. 2017). Os óleos de babaçu e coco possuem composição química similar, com o ácido láurico como o com-posto majoritário, altas porções do ácido linolei-co, mirístico e palmítico e baixas quantidades dos ácidos caprílico, caproico, araquídico, lignocéri-co, cáprico, e behênico. O óleo de soja degomada possui o ácido linoleico como o principal compos-to, seguido pelos ácidos palmítico, e menores por-ções dos ácidos behênico, araquídico, mirístico e lignocérico (Oliveira et al. 2017).

Repelência relativa do óleo de algodão

Adicionalmente à toxicidade, o óleo de algo-dão e todos os agrotóxicos testados exerceram repelência ao ácaro-da-necrose (Tabela 3). Os ácaros possivelmente detectaram substâncias tó-xicas e se moveram para fora da área tratada ou o produto causou evasão após o contato (irritabili-dade) (Cordeiro et al. 2010), sugerindo que a pra-ga evitaria áreas tratadas com o óleo de algodão e os agrotóxicos testados. De fato, a repelência de produtos a pragas é um atributo não letal desejá-vel em programas de manejo integrado.

Controle em condições de campo

A densidade populacional do ácaro-da-necro-se foi influenciada pelos tratamentos (Figura 4). O número de A. guerreronis na epiderme dos

FIGURA 3. Detalhe do experimento de controle do ácaro-da-necrose, Aceria guerreronis. Foto: Adenir Vieira Teodoro.

TABELA 2. Concentrações letais (CL) (µl/cm2) de óleos vegetais ao ácaro-da-necrose Aceria guerreronis.

Óleo CL50 CL99 ReferênciaAlgodão 0,65 1,6 Teodoro et al. 2017Babaçu 0,26 1,48 Oliveira et al. 2017

Soja degomada 0,15 1,39 Oliveira et al. 2017Coco 0,38 1,03 Oliveira et al. 2017

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frutos foi menor nos tratamentos com óleo de algodão, abamectina e fenpiroximato em com-paração com azadiractina e controle (Figura 4; F6,63 = 2,67; P= 0,022). Portanto, o óleo de algodão poderia ser utilizado em programas de manejo integrado do ácaro-da-necrose.

Conclusão

Os óleos de algodão, babaçu, soja degoma-da e coco foram tóxicos ao ácaro-da-necrose em condições de laboratório. O óleo de algodão também possui atividade repelente ao ácaro-da--necrose, assim como os agrotóxicos testados, indicando que além da toxicidade esses produ-tos também repelem a praga. Em condições de campo, o óleo de algodão foi tão eficiente quan-to acaricidas (fenpiroximato e abamectina) na redução da abundância do ácaro-da-necrose. O óleo de algodão tem potencial para ser utilizado no controle ácaro-da-necrose em programas de manejo dessa praga.

ReferênciasAGROFIT - Sistemas de Agrotóxicos Fitossanitários. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Coordenação-Geral de Agrotóxicos e Afins/DFIA/SDA. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. 03 Dez. 2017.Andrigueto JR, Kososki AR. 2002. Marco legal da produção integrada de frutas do Brasil. Brasília, MAPA/SARC.Cordeiro EMG, Correia AS, Venzon M, Guedes RNC. 2010. Insecticide survival and behavioral avoidance in the lacewings Chrysoperla externa and Ceraeochrysa cubana. Chemosphere (in press). doi: 10.1016/j.chemosphere.2010.08.021.Ferreira JMS, Lima MF, Santana DLQ, Moura JIL, Souza LA. Pragas do coqueiro. In: Ferreira JMS, Warwick DRN, Siqueira LA. 1998. A cultura do coqueiro no Brasil. 2nd. Brasília, DF: Embrapa - SPI; Aracaju, Embrapa – CPATC, p. 189-267.Ferreira JMS. 2009. Pragas e métodos de controle ajustados à baixa capacidade de investimentos dos pequenos produtores rurais. In: Cintra FLD, Fontes HR, Passos EEM, Ferreira JMS. Eds. Fundamentos tecnológicos para a revitalização das áreas cultivadas com coqueiro gigante no Nordeste do Brasil. Aracaju, Embrapa Tabuleiros Costeiros. p. 191-218.Gallo D, Nakano O, Silveira Neto S, Carvalho RPL, Batista GC, Berti Filho E, Parra JRP, Zucchi RA, Alves SB, Vendramin JD, Marchini LC, Lopes JRS, Omoto C. 2002. Entomologia Agrícola. Piracicaba, Fealq.Geiger F, Bengtsson J, Berendse F et al. 2011. Persistent negative effects of pesticides on biodiversity and biological control potential on European farmland. Basic and Applied Ecology 11: 97-105.Lemos F, Sarmento RA, Teodoro AV, Santos GR, Nascimento IR. 2011. Agroecological strategies for arthropod pest management in Brazil. Recent Patents on Food, Nutrition & Agriculture 3: 142-154.Moore D, Howard FW. 1996. Coconuts. In: Lindquist EE, Sabelis MW, Bruin J. (Eds.) Eriophyoid mites: their biology, natural enemies and control. Amsterdam, Elsevier. p. 561-570.Moraes GJ, Flechtmann CHW. 2008. Manual de acarologia: Acarologia básica e ácaros de plantas cultivadas no Brasil. Ribeirão Preto, Holos.Navia D, Gondim Jr MGC, Aratchige NS, Moraes GJ. 2013. A review of the status of the coconut mite, Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae), a major tropical mite pest. Experimental and Applied Acarology 59: 67-94.Sims SR, Balusu RR, Ngumbi EN, Appel AG. 2014. Topical and vapor toxicity of saturated fatty acids to the German cockroach (Dictyoptera: Blattellidae). Journal of Economic Entomology 107: 758-763.Teodoro AV, Silva MJS, Sena Filho JG, Oliveira EE, Galvão AS, Silva SS. 2017. Bioactivity of cottonseed oil against the coconut mite Aceria guerreronis and side effects on Typhlodromus ornatus (Acari: Phytoseiidae). Systematic & Applied Acarology 22: 1037-1047.

TABELA 3. Repelência ao ácaro-da-necrose Aceria guerreronis 1 hora após liberação em arenas com metade tratada (+) e metade não tratada (-) com agrotóxicos e óleo de algodão. Teste binomial a 5% de probabilidade.

Tratamentos + - pAzadiractina 6 24 0,0007

Espirodiclofeno 9 21 0,0213Fenpiroximato 0 30 <0,0001

Abamectina 2 28 <0,0001Óleo de algodão 10 20 0,0493

FIGURA 4. Número de adultos do ácaro-da-necrose Aceria guerreronis na epiderme sob as brácteas de frutos tratados com agrotóxicos e com o óleo de algodão. Médias ± EP são apresentados. Anova para medidas repetidas seguidas de teste de Fisher a 5% de probabilidade.

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Coleópteros associados a palmeiras na região Sul da Bahia

Maria Aparecida Leão Bittencourt, Elisângela Alves Santos Félix Melo, Gildeir Braga de Souza Santos, Alexandre da Silva Lima, Yasmine Ohana Silva da Hora, Alex Martins Vidal, Juliana Coelho da Cruz, Victor Marsel Amorim Reis & Olívia Oliveira dos Santos

No período de agosto de 2014 a fevereiro de 2018, em áreas com palmeiras na região Sul da Bahia, foram alocadas armadilhas do ‘tipo Pet’, tendo como atrativos: toletes de cana-de-açúcar (alimentar) e feromô-nio de agregação, visando à captura de insetos. Em áreas com dendezeiros e piaçaveiras, foram colocadas três armadilhas adesivo-amarelas próximas às inflorescências para captura de polinizadores, por 12 meses. Na triagem, os coleópteros foram mortos, contabilizados e catalogados. Cada espécie, e ou gênero de co-leóptero foi categorizado quanto à sua dominância, abundância, frequência e constância na comunidade. O maior número de espécies ocorreu em áreas com piaçaveiras e dendezeiros. Metamasius hemipterus foi capturado em maior número em todas as áreas, seguido por Rhynchophorus palmarum e M. canali-pes (Curculionidae). Também foram capturados: Rhinostomus barbirostris e Dynamis borassi (Curculio-nidae), Pachymerus nucleorum (Chrysomelidae), Hoplopyga ocellata, H. liturata, Leucothyreus suturalis, Leucothyreus sp., Strategus aloeus e Deltochilum aff. irroratum (Scarabaeidae) . Apenas M. hemipterus e R. palmarum atingiram os índices faunísticos máximos. Coleópteros predadores também ocorreram , com identificação de Hololepta quadridentata e Omalodes foveola (Histeridae). Elaeidobius kamerunicus e E. subvittatus (Curculionidae) foram os polinizadores de maior ocorrência dendezeiros, seguido por Mystrops (Nitidulidae). Em piaçaveiras a maior ocorrência foi de exemplares de Mystrops, seguido por Andrantho-bius sp., Celetes bipunctatus e Celetes sp. (Curculionidae).

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Introdução

A família Arecaceae, cujos representantes são geneticamente conhecidos como palmeiras (Souza & Lorenzi 2008), é constituída de espécies consideradas de grande importância para o pai-sagismo e também para a exploração agrícola, como o coqueiro (Cocos nucifera), o dendezeiro (Elaeis guineensis), a pupunheira (Bactris gasi-paes), a piaçava (Attalea funifera), o açaizeiro (Eu-terpe oleracea), o palmito-juçara (Euterpe edulis) e o licurizeiro (Syagrus coronata), entre outras.

A região Sul do Estado da Bahia compreende uma faixa da Mata Atlântica, e o agronegócio de Arecaceae tem expandido em vários municípios, sendo que o coqueiro, o dendezeiro, a pupunhei-ra, a piaçaveira e o açaizeiro são as principais culturas comerciais na região. Os problemas fi-tossanitários como a alta incidência de pragas vêm sendo um dos fatores limitantes para a ex-ploração comercial causando perdas considerá-veis na produtividade (Leiras et al. 2006; Brazílio et al. 2012; Guimarães & Silva 2012; Levermann & Souza 2014; Montoya et al. 2015).

Os coleópteros são os principais insetos as-sociados às palmeiras, sendo que adultos de al-gumas espécies causam prejuízos econômicos, pois se alimentam de folhas, frutos, ramos, es-tipe, dentre outras estruturas da planta, além de serem vetores de doenças. Mas há outras es-pécies que beneficiam as palmeiras como os po-linizadores e os insetos predadores que contri-buem no controle natural das pragas.

Como uma das principais espécies de inse-tos-praga associadas às palmeiras, podemos re-latar a broca-do-olho-do-coqueiro, Rhynchopho-rus palmarum (Coleoptera: Curculionidae), pois suas larvas se alimentam dos tecidos da planta, e o adulto danifica as folhas em formação. O odor liberado pelo ataque atrai outras brocas que irão depositar ovos na base da ráquis. O adulto tam-bém é um dos vetores da doença anel-vermelho, um dos maiores problemas fitossanitário do dendezeiro na Bahia, além de infestarem ou-tras palmeiras, causada pelo nematoide Bursa-phelenchus cocophilus, e da resinose cujo agente causal é o fungo Ceratocystis paradoxa (Sánchez & Cerda 1993; Sánchez-Soto & Nakano 2002;

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Costa-Carvalho et al. 2011; Molin & Barreto 2012; Ruiz et al. 2013; Silva et al. 2016). Além de pal-meiras, há registros da sua ocorrência em plan-tios de cana-de-açúcar, abacaxi, mamão, bana-na, cacau e helicônias, sendo polífaga (Batista Filho et al. 2002; Rocha 2012; Broglio et al. 2014).

O gênero Metamasius (Coleoptera: Curculio-nidae) foi citado por Silva & Martins-Silva (1991) também como vetor da doença do anel-vermelho em dendezeiros, sendo significativa a presença dos nematoides tanto internamente quanto ex-ternamente nos insetos. A espécie Metamasius hemipterus, comumente denominada de ‘bro-ca-rajada’, deposita ovos de coloração branco--leitosa, com forma elíptica, e cerca de 2 mm de comprimento. As larvas são ápodes, de coloração branco-leitosa, com a cápsula cefálica de colora-ção amarela a marrom, podendo alcançar mais de 10 mm de comprimento nos últimos instares, e se alimentam do estipe. As pupas ficam prote-gidas dentro de um casulo confeccionado, pela própria larva, com fibras da planta hospedeira (Esteban-Durán et al. 1998; Zorzenon et al. 2000; León-Brito et al. 2005).

A ‘broca-rajada’ foi relatada atacando di-versas plantas como a pupunheira na Costa Rica (Arroyo-Oquendo et al. 2004), e no estado da Florida dos Estados Unidos; na Venezuela e na Colômbia foi capturada em armadilhas em plan-tios de bananeira (Vergara & Ramírez 2000; Se-púlveda-Cano & Rubio-Gómez 2009). No Brasil, está associada a vários hospedeiros: açaizeiro, coqueiro, dendezeiro, palmito-juçara, pupu-nheira, tamareira (Phoenix dactylifera), palmei-ra-real-da-austrália (Archontophoenix spp.), pal-meira-real (Roystonea regia) representantes da família Arecaceae (Zorzenon et al. 2000; Yasuda 2005; Gomes 2008; Molin & Barreto 2012), além da bananeira (Musa spp. – Musaceae) (Fancelli et al. 2012; Broglio et al. 2014) e de helicônias (Heliconia spp. – Heliconiaceae) (Mattos Sobri-nho et al. 2012; Rocha 2012).

Outras espécies, não menos importantes, também são descritas associadas a várias plan-tas hospedeiras de importância agrícola, como Metamasius bisbisignatus, M. canalipes, M. dis-tortus e M. ensirostris encontrados em cana-de--açúcar, Musa sp. e várias espécies da família Arecaceae (Vaurie 1966; Bulgarelli et al. 1998; Zorzenon et al. 2000; Yasuda 2005).

Como injúria e danos causados pelas lar-vas e adultos de Metamasius, foi observado o broqueamento do caule das plantas, que pode favorecer a entrada de fitopatógenos. Devido à sua distribuição e à mobilidade dessas espécies,

associadas aos nematoides, esse inseto pode ser um importante disseminador de doenças em di-versas culturas (Bulgarelli et al. 1998; León-Brito et al. 2005).

Além da broca-do-olho-do-coqueiro e da broca-rajada, outros coleópteros-praga também estão associados a espécies de Arecaceae, como a broca-do-pedúnculo-floral (Homalinotus coria-ceus) e a broca-do-estipe (Rhinostomus barbiros-tris) (Coleoptera: Curculionidae), e espécies de Pachymerus (Coleoptera: Chrysomelidae). A bro-ca-do-estipe também é considerada uma praga chave do coqueiro por seu dano direto e indireto como vetor da doença conhecida como resinose (Warwick & Passos 2009), podendo causar dimi-nuição da produtividade da planta e até morte da mesma. Fêmeas de R. barbirostris depositam ovos no estipe do coqueiro e as larvas se desen-volvem em seu interior causando interrupção no fluxo de seiva, reduções drásticas de produ-tividade e morte da planta (Warwick & Passos 2009; Moura 2017). Algumas espécies da tribo Pachymerini são economicamente importantes, pois se alimentam quase que exclusivamente de sementes de palmeiras, como Pachymerus nu-cleorum (Grenha et al. 2008, 2017).

Além de insetos-praga, outras espécies de coleópteros atuam como inimigos naturais, con-tribuindo no controle natural. Os coleópteros da família Histeridae são insetos frequentemente encontrados em matéria orgânica em decompo-sição, mas tanto os adultos quanto as larvas são predadores de várias ordens de insetos sendo considerados generalistas. Estes aproveitam lo-cais na planta onde já foram feitas galerias para se alimentar das larvas dos insetos presentes (Coletto-Silva & Freire 2006; Lopes et al. 2006; Triplehorn & Johnson 2011). Hololepta quadri-dentata e Omalodes foveola (Histeridae) foram relatadas como predadoras de larvas do mole-que-da-bananeira (Cosmopolites sordidus – Cur-culionidae) (Boscán de Martínez & Godoy 1991; Goitiá & Cerda 1998; Fancelli & Mesquita 2000; Leivas et al. 2013), e de larvas de Scyphophorus acupunctatus (Curculionidae) que é praga de plantas da família Agavaceae na Europa (Lenci-na & Gallego 2014). Há registro de Hololepta sp. em áreas de bananeiras na Venezuela onde fo-ram coletados exemplares da broca-rajada e da broca-do-olho-do-coqueiro (Vergara & Ramírez 2000), em plantios de dendezeiro no Estado do Pará (Tinôco 2008), e em plantio comercial de helicônias na região Sul da Bahia (Rocha 2012).

Os principais polinizadores das palmeiras são insetos, que se desenvolvem e reproduzem nas inflorescências, com relato de que das espé-

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cies estudadas, 29% são polinizadas por coleóp-teros, 26% por himenópteros (Meliponinae) e 8% por dípteros (Henderson 1986; Núñez-Avellane-da & Rojas-Robles 2008; Barfod et al. 2011; Núñez A. et al. 2015; Nuñez Avellaneda & Carreño 2017).

Há poucos registros sobre insetos associa-dos às inflorescências das palmeiras no Brasil (Oliveira et al. 2003). Algumas espécies de co-leópteros das famílias Curculionidae e Nitiduli-dae são consideradas os polinizadores mais im-portantes das palmeiras. Há registro de Elaeido-bius kamerunicus, E. subvittatus, E. singularis e E. plagiatus (Curculionidae) como polinizadores mais frequentes de plantas do gênero Elaeis, e de Mystrops costaricensis (Nitidulidae) (Moura et al. 2008; Kirejtshuk & Couturier 2009, 2010; Labar-ca & Narváez 2009). Mystrops debilis foi captura-do em inflorescências de piaçaveiras no Estado da Bahia, tendo sido relatado que espécies deste gênero são polinizadoras desta cultura (Voeks 2002; Kirejtshuk & Couturier 2010), e de Attalea phalerata no Estado do Mato Grosso do Sul (Fava et al. 2011). Celetes bipunctatus e C. planithorax foram observados em inflorescências de piaça-veiras na Bahia, tendo sido relatados como poli-nizadores casuais (Voeks 2002).

Outras espécies de coleópteros são relata-das como visitantes florais em inflorescências de Arecaceae. Cyclocephala stictica e C. fuliginea foram associadas à inflorescência de Oenocar-pus bataua (palmeira patauá) localizadas nos Andes Colombiano (Núñez-Avellaneda & Rojas--Robles 2008) e C. verticalis associada ao siste-ma radicular de Acrocomia aculeata (bocaiúva) no Mato Grosso do Sul (Puker et al. 2009). Em

inflorescências de pupunheira foram captura-dos exemplares de Palmocentrinus no Estado de São Paulo (Garcia et al. 2013), e P. cf. lucidulus e Dialomia sp. foram observados em flores de Sya-grus petraea (coco de vassoura) nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, tendo sido observado a ocorrência de Dialomia sp. em flores mascu-linas de Butia paraguayensis (butiá do cerrado) (Silberbauer-Gottsberger et al. 2013).

Em razão da importância de espécies de Are-caceae exploradas economicamente na região Sul da Bahia, principalmente por pequenos pro-dutores, e devido aos poucos relatos de outros insetos associados a açaizeiro, coqueiro, dende-zeiro, piaçaveira e pupunheira, o objetivo deste estudo foi registrar a diversidade de coleópteros associados a essas culturas, em municípios da região Sul da Bahia, com enfoque na determina-ção de espécies pragas e seus predadores.

Material e métodos

O estudo, em campo, foi desenvolvido no pe-ríodo de agosto de 2014 a fevereiro de 2018, em áreas com palmeiras localizadas região Sul da Bahia (Quadro 1, Figura 1).

Em campo, foram alocadas armadilhas tipo ‘Pet’ (politereftalato de etileno) confeccionadas com garrafas plásticas de 1,5 litros adaptada de Ferreira (2007). Nas armadilhas foram utiliza-dos como atrativos toletes de cana-de-açúcar (20 cm de comprimento) que foram amassados (alimentar) e feromônio de agregação (RMD-1® e Rincoforol©) que foi pendurado internamente

QUADRO 1. Dados gerais dos locais de estudo na região Sul da Bahia.

Culturas Municípios Propriedades CoordenadasAçaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) e coqueiro (Cocos nucifera L.) Ilhéus Faz. Omarita 14°47’S; 39°6’W; 8,5m

Açaizeiro e pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) Arataca Faz. Bom Retiro (15°13’S; 39°26’W)

Açaizeiro e pupunheira Camamu Faz. Nova Kênia (13º58’S; 39º10’W)Coqueiro e piaçaveira (Attalea funifera Mart.) Itacaré Faz. São Miguel 14º23’S; 39º03’W; 109m

Coqueiro, dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.) e pupunheira

Una Estação Lemos Maia 15º16’S; 39º05’W; 58m

Dendezeiro Igrapiúna Sítio São Jorge 13º50’S; 39º08’W; 41mDendezeiro e piaçaveira Igrapiúna Faz. Limeira 13º52’S; 39º08’W; 22mPiaçaveira e pupunheira Una Faz. Guarujá 15º14’S; 39º04’W; 60 mPupunheira Itajuípe Faz. Boa Vista 14°41’S; 39° 22’W; 92mPupunheira Uruçuca Faz. Centenário 14º32’S; 39º20’W; 75m

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nas armadilhas; de acordo com o fabricante, a cada dois hectares deve ser utilizada uma arma-dilha com feromônio. O produto comercial RMD-1® é distribuído pela empresa Biocontrole Ltda., e o Rincoforol© pela empresa Interacta Química Ltda. As armadilhas foram amarradas no tronco de cada planta de forma suspensa, entre 0,80 a 1,0m de altura do solo visando à captura de in-setos (Figura 2). Os atrativos alimentares foram trocados a cada 15 dias, no momento das coletas, e o feromônio a cada 60 dias, seguindo as reco-mendações do fabricante.

Em todas as áreas o número de armadilhas contendo apenas atrativo alimentar foi maior (n=8) do que o número de armadilhas com atra-tivo alimentar mais um sachê de feromônio (n=2); o número de armadilhas variou em razão do tamanho da área, não sendo inferior a cinco armadilhas.

As armadilhas foram dispostas no meio da área de forma aleatória, com distância de apro-ximadamente 20 metros uma das outras. Os in-setos capturados nas armadilhas foram acondi-cionados em potes plásticos, identificados com a espécie vegetal, data e local da coleta.

Por um período de 12 meses, foram coloca-das três armadilhas adesivo-amarelas (Figura 3) penduradas próximas a inflorescências de den-dezeiros e piaçaveiras em antese para captura de coleópteros polinizadores. Estas foram subs-tituídas a cada 15 dias, e observadas sob micros-cópio estereoscópico (Leica EZ4 – 56x). Em épo-ca chuvosa e na ausência de inflorescências no campo, não foram colocadas as armadilhas ade-sivo-amarelas.

Em laboratório, foi realizada a triagem; os coleópteros capturados nas armadilhas foram mortos, contabilizados, separados por gênero ou espécie com auxílio de microscópio ótico e estereoscópico Leica (56x), data de coleta, planta hospedeira, e armazenados em álcool 70% até a identificação com base na coleção de referencia do laboratório de Controle Biológico da Univer-sidade Estadual de Santa Cruz (UESC), estudos de Vaurie (1966) e por especialistas.

Cada espécie, e ou gênero de coleóptero foi categorizado quanto à sua dominância, abun-dância, frequência e constância na comunida-de (Silveira Neto et al. 1976). Os índices faunís-ticos foram calculados com base no programa

FIGURA 1. Área de dendezeiro localizada em Una (Estação Experimental Lemos Maia da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) (A); área de piaçaveira consorciada com pupunheira – Fazenda Guarujá (B); área de piaçaveira – Fazenda São Miguel (C); área de dendezeiro – Fazenda Limeira (D) e Sítio São Jorge (E) região Sul da Bahia.

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ANAFAU (Moraes et al. 2003) desenvolvido no Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP.

Resultados e discussão

O maior número de amostragens (n) foi rea-lizado em áreas com dendezeiros (n=143) pelo fato de apresentar maiores áreas com esta cultu-ra na região, sendo que em áreas com piaçavei-ras (n=77), com pupunheiras (n=59), com coquei-ros (n=31) e com açaizeiros (n=20) o número de amostragens foi menor. Ainda são poucas áreas com plantio de açaí comercial na região, tendo sido realizada as capturas por apenas 12 meses.

Nas áreas de estudo foi capturado um total de 16.317 exemplares de coleópteros-praga, sen-do que o maior número de espécies foi captura-do em áreas com piaçaveiras e dendezeiros.

Metamasius hemipterus (L.) (Curculionidae) (Figura 4A) foi capturado em maior número em todas as áreas com palmeiras (Tabela 1). Há registro desta espécie se alimentado de estipes de pupunheira (Zorzenon et al. 2000; Arroyo--Oquendo et al. 2004; Jordão & Silva 2006), de dendezeiros (Gomes 2008) de coqueiros (Molin & Barreto 2012), de açaizeiros e palmito-juçara (Euterpe edulis Mart.) (Zorzenon et al. 2000; Jor-dão & Silva 2006).

Rhynchophorus palmarum (L.) (Figura 4B) e Metamasius canalipes (Gyllenhal) (Figura 4C) (Curculionidae) também foram capturados em todas as áreas com palmeiras na região, po-rém em menor número do que a ‘broca-rajada’ (M. hemipterus) (Tabela 1). A ocorrência em menor número da broca-do-olho-do-coqueiro (R. palmarum) também foi observada em cul-tivos de pupunheiras (Arroyo-Oquendo et al. 2004; Ruiz et al. 2013) e em plantios de coquei-ros (Molin & Barreto 2012), embora esta espé-cie apresente preferência por palmeiras (Silva 2001; Yasuda 2005) se alimenta de outros hos-pedeiros (Rocha 2012; Broglio et al. 2014; Takada et al. 2014). A ocorrência de M. canalipes foi ob-servada em plantios de bananeiras (Broglio et al. 2014) e plantios de flores tropicais (Carneiro et al. 2014). Outra espécie, Metamasius bisbisigna-tus (Gyllenhal) (Tabela 1), foi capturada apenas em área com pupunheiras, já tendo sido captu-rada em áreas com helicônias (Rocha 2012).

Foram capturados poucos exemplares de Rhi-nostomus barbirostris (F.) (Curculionidae) (Figura 4D), denominado comumente de broca-do-estipe, em áreas com dendezeiros, piaçaveiras e coquei-

FIGURA 3. Armadilhas adesivo-amarela alocada próxima à inflorescência de dendezeiro.

FIGURA 2. Armadilha do ‘tipo Pet’ instalada em área de cultivo de pupunheira.

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FIGURA 4. Espécies de coleópteros-praga capturados em armadilhas em áreas com Arecaceae na região Sul da Bahia: R. palmarum (A), R. barbirostris (B), M. hemipterus (C), M. canalipes (D).

TABELA 1. Espécies de coleópteros-praga capturados em armadilhas tipo “Pet” em áreas com palmeiras (Arecaceae) no sul da Bahia

Espécies Dendezeiro Pupunheira Piaçaveira Coqueiro Açaizeiro

Metamasius hemipterus 6520 4039 2035 402 874

Metamasius canalipes 285 22 185 17 37

Metamasius bisbisignatus -- 2 -- -- --

Rhynchophorus palmarum 793 285 471 101 108

Rhinostomus barbirostris 15 -- 1 3 --

Pachymerus nucleorum 75 7 1 -- --

Dynamis borassi 1 -- 7 -- --

Hoplopyga ocellata 1 -- 7 -- --

Hoplopyga liturata -- 8 4 -- --

Leucothyreus saturalis 1 -- -- -- --

Leucothyreus sp. 1 -- -- -- --

Strategus aloeus 1 0 1 -- --

Deltochilum aff. irroratum -- -- 4 -- --

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ros (Tabela 1). Também poucos exemplares desta espécie foram capturados em plantios de coquei-ros no Estado do Mato Grosso (Molin & Barreto 2012). Este fato pode estar relacionado à baixa população local da praga ou ao atrativo utilizado; os adultos são de hábito noturno e durante o dia ficam abrigados nas axilas foliares, dificultando à atratividade do inseto (Jordão & Silva 2006).

Espécimes de Pachymerus nucleorum (F.) (Chrysomelidae, Bruchinae), denominado comu-mente de bicho-do-coco, foram capturados apenas em áreas com dendezeiros, piaçaveiras e pupu-nheira (Tabela 1). Esta espécie danifica diferentes espécies de palmeiras (Garcia et al. 1980; Jordão & Silva 2006; Grenha et al. 2008; Andrade et al. 2013; Grenha et al. 2017), pois a fêmea deposita o ovo no fruto e a larva se alimenta da semente.

Poucos exemplares de Dynamis borassi (F.) (Curculionidae) foram capturados nas áreas com dendezeiros e piaçaveiras (Tabela 1). Esta praga causa perfurações em estipes, bainhas fo-liares, brácteas e inflorescências de palmeiras, podendo também estar relacionada à transmis-são do nematoide do anel-vermelho em coqueiro (Gerber et al. 1990) tendo sido relatada em Astro-caryum carnosum Kahn & Millane A. chonta Mar-tius (Couturier et al. 1998), Oenocarpus mapora Karsten (bacabeira) (Couturier et al. 2000) e em açaizeiro e coqueiro (Jordão & Silva 2006).

Insetos que se desenvolvem ou vivem no solo, pelo menos durante um estágio de seu ci-clo biológico, se alimentam de material orgâni-co em decomposição ou de tecido vegetal vivo, podendo causar prejuízos econômicos. Algu-mas espécies da família Scarabaeidae, incluí-das nas subfamílias, Cetoniinae, Dynastinae, Melolonthinae e Rutelinae já foram observadas causando prejuízos, pelo fato de suas larvas se alimentarem das raízes e provocarem a murcha, amarelecimento e posterior morte das plantas (Ávila & Parra 2004; Rodrigues et al. 2010; Silva & Moura, 2017).

As espécies Hoplopyga ocellata (Gory & Per-cheron) e Hoplopyga liturata (Olivier) (Scarabaei-dae: Cetoniinae) foram capturadas nas áreas com piaçaveiras, sendo que H. ocellata também foi capturada em área com dendezeiros e H. li-turata em áreas com pupunheiras (Tabela 1). Adultos deste gênero apresentam hábito diurno e se alimentam de frutos fermentados, flores e seiva, sendo que suas larvas ficam em madeira em decomposição e detritos orgânicos (Neita et al. 2006; Fierros-López 2007).

Foram capturados dois exemplares do gê-nero Leucothyreus Macleay (Scarabaeidae: Rute-

linae), L. suturalis Castelnau e uma espécie não identificada (Tabela 1), apenas em área com den-dezeiros. Há registro de larvas de Leucothyreus dorsalis Blanchard e de uma espécie não iden-tificada associadas ao sistema radicular da pal-meira Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. (bocaiúva) (Puker et al. 2009), e de L. suturalis em cupinzeiros (Puker et al. 2014).

Strategus aloeus (L.) (Scarabaeidae: Dynasti-nae), popularmente denominada de broca-das--raízes-e brotos, é um coleóptero que apresenta importância econômica, pois constrói galerias no estipe de palmeiras facilitando a ação de fito-patógenos (Neita et al. 2006). Apenas dois adul-tos foram capturados em áreas com dendezeiros e piaçaveiras (Tabela 1).

Deltochilum aff. irroratum (Laporte) (Sca-rabaeidae: Scarabaeinae) foi capturado apenas nas áreas com piaçaveiras (Tabela 1), sendo esta espécie relatada em fragmento da Mata Atlânti-ca no Brasil (Salomão & Iannuzzi 2015). Coleóp-teros da subfamília Scarabaeinae, que é um gru-po cosmopolita e são conhecidos popularmente como “rola-bosta”, atuam como importantes de-compositores, sendo extremamente importan-tes no funcionamento dos ecossistemas tropi-cais. Adultos e larvas utilizam matéria orgânica em decomposição na alimentação, participando ativamente na ciclagem de nutrientes; a maio-ria das espécies se alimenta de fezes (coprófa-gos) e carcaças de animais (necrófagos) (Silva 2012; Costa et al. 2013).

Em relação aos índices faunísticos (Tabela 2), as espécies M. hemipterus e R. palmarum atingiram os índices máximos de dominância, abundância, frequência e constância. Do total de coleópteros coletados, foi observado que houve predominân-cia de M. hemipterus em relação às demais espé-cies (Tabela 1). Além de atacar as palmeiras, esta espécie ocorre em plantios de bananeiras (Fancelli et al. 2012; Broglio et al. 2014) e helicônias (Mattos Sobrinho et al. 2012; Rocha 2012) que são plantios comuns na região e propiciam a manutenção e o aumento da população no Sul da Bahia.

Rhynchophorus palmarum também foi re-gistrado em todas às áreas de estudo, com um número significativo de exemplares capturados (Tabela 1). Além dos danos causados pelas larvas e adultos de Metamasius e Rhynchophorus pal-marum, estas coleobrocas também podem fa-vorecer a ocorrência de doenças nos plantios de palmeiras (Sánchez & Cerda 1993; Costa-Carva-lho et al. 2011; Ruiz et al. 2013; Silva et al. 2016).

Metamasius canalipes e P. nucleorum foram classificados como superdominante, superabun-

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dantes, super frequentes e acessória (Tabela 2), e ocorreram na maioria das aéreas com palmei-ras, dendezeiros, piaçaveiras e pupunheiras.

A broca-do-estipe (R. barbirostris) e D. borassi foram classificadas como dominantes (Tabela 2), sugerindo que estas espécies podem causar pre-juízos significativos nas áreas com palmeiras pelas injurias que causam às plantas de plantio de palmeiras (Jordão & Silva 2006).

Hoplopyga liturata e H. ocellata foram domi-nantes e acessórias. As demais espécies captu-radas nas áreas com palmeiras foram classifi-cadas como não dominantes (Leucothyreus spp., S. aloeus, D. aff. irroratum) comum, dispersas ou raras, frequente ou pouco frequente e acessória (Tabela 2), não tendo ocorrido em todas as áreas de palmeiras.

Vários fatores podem ter influenciado as populações das espécies destes coleópteros nas áreas amostradas, como a ação de inimigos na-turais (insetos predadores e, ou fungos entomo-patogênicos), as condições climáticas (pluvio-sidade), a diversidade de cultivos em algumas propriedades, presença de vegetação natural co-muns na região, servindo como áreas de refúgio (Altieri et al. 2003).

Coleópteros predadores também foram capturados nas armadilhas do ‘tipo Pet’ aloca-

das nas áreas com palmeiras. Foram captura-dos exemplares de Hololepta Paykull (n=1.733) (Figura 5A) e Omalodes Dejean (n=636) (Figura 5B) (Histeridae). Já foram identificadas as espé-cies Hololepta quadridentata (Olivier) que apre-senta coloração preta, geralmente brilhante, com élitros truncados, expondo um ou dois seg-mentos abdominais (Vergara & Ramírez 2000; Coletto-Silva & Freire 2006; Leivas et al. 2013) e Omalodes foveola Erichson com corpo arre-dondado, convexo, preto brilhante e finamente pontuado, com cerca de 5 a 6mm de compri-mento (Celli et al. 2015).

A captura de coleópteros predadores nas áreas com palmeiras está relacionada à disponi-bilidade de alimento e ao ambiente, presença de mata nativa e outras espécies, além de palmei-ras que propiciam ao aumento de matéria or-gânica em decomposição que libera odores que atraem os adultos (Costa et al. 1988; Triplehorn & Johnson 2011).

Nas armadilhas adesivo-amarelas alocadas apenas em plantas de dendezeiros e piaçaveiras na região Sul da Bahia foi capturado insetos po-linizadores. Elaeidobius kamerunicus Faust e E. subvittatus (Faust) (Curculionidae) ocorreram apenas em áreas com dendezeiros, sendo que E. kamerunicus que foi introduzida em Una em 1994 (Moura et al. 2008), e estas espécies são re-

TABELA 2. Análise faunística de coleópteros capturados em armadilha tipo ‘Pet’ em áreas com Arecaceae na região Sul da Bahia

Espécies Número de observação

Número de coleta Dominância Abundância Frequência Constância

Metamasius hemipterus 13.870 322 SD sa SF WMetamasius canalipes 546 82 SD sa SF YMetamasius bisbisignatus 2 2 ND d PF YRhynchophorus palmarum 1.758 202 SD sa SF WRhinostomus barbirostris 19 11 D ma MF YPachymerus nucleorum 83 32 SD sa SF YDynamis borassi 8 5 D c F YHoplopyga liturata 12 5 D ma MF YHoplopyga ocellata 8 4 D c F YLeucothyreus suturalis 1 1 ND r PF YLeucothyreus sp. 1 1 ND r PF YStrategus aloeus 2 2 ND d PF YDeltochilum aff. irroratum 4 1 ND c F Y

Índice de Shannon-Weaner = 0.5447; Intervalo de confiança (P = 0,005) = [0.544581; 0.544825]; Índice de uniformidade ou equitabilidade = 0.2124.Abreviaturas: SD = Super Dominante; D = Dominante; ND = Não Dominante; sa = Super Abundante; ma = Muito Abundante; a = Abundante; c = Comum; d = Dispersa; r = Rara; SF = Super frequente; MF = Muito Frequente; F = Frequente; PF = Pouco Frequente; W = Constante; Y = Acessória; Z = Acidental.

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latadas como os mais importantes polinizadores associados ao dendezeiro (Chinchilla & Richard-son 1990; Bulgarelli et al. 2002; Yue et al. 2015).

Somente exemplares do gênero Mystrops Erichson (Nitidulidae) foram obtidos em áreas com dendezeiros e piaçaveiras, embora as es-pécies não tenham sido identificadas. Espécies deste gênero são importantes polinizadores de várias espécies de palmeiras (Voeks 2002; Fava 2010; Kirejtshuk & Couturier 2009, 2010). Mys-trops costaricensis Gillogly foi observado em dendezeiros, e M. debilis Erichson foi obtido em inflorescências de piaçaveiras no Estado da Bah-ia (Kirejtshuk & Couturier 2009, 2010; Labarca & Narváez 2009), e de Attalea phalerata no Estado do Mato Grosso do Sul (Fava et al. 2011).

Outros polinizadores foram capturados apenas em áreas com piaçaveiras, Andrantho-bius sp., Celetes bipunctatus (Hustache) e outra espécie deste gênero não identificada (Curculio-nidae). Há registro de C. bipunctatus e C. plani-thorax (Bondar) como polinizadores casuais em inflorescências de piaçaveiras na Bahia (Voeks 2002). Há registro de Andranthobius setirostris sp. nov., capturada em flores de Syagrus vermi-cularis Noblick e S. cocoides Mart. na Amazônia (Valente & Silva 2014).

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq, #406662/2013-4) e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) pelo suporte financeiro e bolsas concedi-das, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado da Bahia (FAPESB) pelas bolsas de iniciação científica e de mestrado concedidas. Ao Prof. Dr. Sérgio Antônio Vanin e a MSc. Daniela de Cás-sia Bená, do Museu de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP),

e ao Dr. Paschoal Coelho Grossi pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, pela identificação dos coleópteros. Aos produto-res de palmeiras da região flores tropicais, que gentilmente permitiram a realização das coletas em seus cultivos.

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FIGURA 5. Coleópteros-predadores capturados em armadilhas em áreas com Arecaceae na região Sul da Bahia: Hololepta sp. (A), Omalodes sp. (B).

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Ocorrência de Rhynchophorus palmarum (L.) (Coleoptera: Curculionidae) em Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore numa área do Piauí

Francisco Sousa de Carvalho Quadros, Juliana do Nascimento Bendini & Maria Aparecida Leão Bittencout

O coleóptero Rhynchophorus palmarum (L.) (Coleoptera: Curculionidae) estabelece relações com diferen-tes palmeiras. O referido besouro pode atuar como praga, causando injúrias às plantas, e como vetor de fitopatologias, prejudicando economicamente às culturas. Neste sentido, o presente trabalho objetivou avaliar a ocorrência de R. palmarum e sua possível relação predatória em carnaubeira Copernicia prunife-ra (Miller) H. E. Moore no município José de Freitas, Piauí. A pesquisa foi desenvolvida em uma área extra-tivista, na zona rural do município, no período chuvoso, entre fevereiro a maio. A captura dos coleópteros foi realizada com armadilhas ‘tipo Pet’, confeccionadas artesanalmente, instaladas em 10 palmeiras sele-cionadas de acordo com altura e diâmetro, sendo realizada introdução e, ou troca do feromônio de agre-gação (Rincoforol), pedaços de cana-de-açúcar e visita quinzenalmente. Foram coletados (n = 54) insetos e destes, identificou-se 51 como R. palmarum. Observou-se não haver correlação (r = 0,4) entre o número de palmeiras com estipe perfurado e ocorrência do inseto nas armadilhas, bem como não foram observados sintomas da fitopatologia “doença anel vermelho” nas palmeiras. Concluiu-se que o R. palmarum ocorre na área de carnaubeiras estudada, porém a abundância da referida espécie foi muito pequena não sendo possível definir a relação entre o besouro e a palmeira.

Introdução

A coevolução entre animais e plantas no pastejo, dispersão e reprodução registra-se de centenas de milhões de anos (Gullan & Craston 2007). São inúmeros trabalhos realizados, em di-versas áreas do conhecimento, estudando essas relações ecológicas (Cysne et al.2013).

A família Arecaceae compreende diver-sas espécies vegetais que estabelecem rela-ções com insetos da ordem Coleoptera, espe-cialmente com os representantes das famílias Nitidulidae, Staphylinidae e Curculionidae (Ferreira et al. 2011).

A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore) é uma espécie de Arecaceae muito ocor-rente na região Nordeste do Brasil. A referida palmeira apresenta grande importância econô-mica, especialmente pela extração e comerciali-zação das palhas e da cera. Na realidade, o apro-veitamento econômico dessa espécie envolve todas as suas partes, desde as folhas, caules, até as raízes.

Um estudo de Macambiral & Jardim (1997) relataram que algumas espécies de coleópteros

visitam e auxiliam na polinização de palmeiras durante seu florescimento. Fava et al.(2011), es-tudando as palmeiras Attalea phalerata Mart. ex Spreng. (babaçu) e Bactris glaucescens Dru-de (tucum), relataram que 77,4% dos insetos encontrados foram coleópteros, seguidos de 18,3% de Hymenoptera e 4,3% de outras ordens. Ferreira et al. (2011), em pesquisa com o gênero Attalea na cidade de Manaus – AM, identifica-ram presença de 1.899 espécimes de Coleoptera em A. attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer (pa-lha branca) e 895 espécimes em A. microcarpa Mart. (palha vermelha). Os autores destacaram ainda uma maior ocorrência de representan-tes da ordem Coleoptera considerando-os como possíveis polinizadores de palmeira inajá (Atta-lea maripa (Aubl.). Mart.).

Algumas espécies de coleópteros são abun-dantes em vegetação de cerrado e no solo de todo o Brasil, comportando-se como polinizadores, predadores e/ou decompositores de matéria or-gânica, especialmente durante a estação chuvo-sa (Montoya et al. 2015; Azevedo et al. 2011). No entanto, os coleópteros da família Curculionidae são considerados sérias pragas dos coqueiros do Nordeste do Brasil (Moura et al. 1997).

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A espécie Rhynchophorus palmarum (L.) é um representante desta família muito presen-te nas palmeiras brasileiras. O referido inseto mede entre 3,5 e 5 cm de comprimento e apre-senta tonalidade preta. O macho apresenta pe-los sobre o rostro, o que o diferencia da fêmea. A fêmea muito fecunda põe entre 100 e 400 ovos por postura, geralmente no estipe das palmei-ras. A atividade deste besouro é de habito diur-no, preferencialmente nas horas mais frias, se deslocando cerca de 1,5 km dia (Warwick 2005).

O maior dano causado pelo R. palmarum, destacado em vários estudos, é transmissão do Bursaphelenchus cocophilus (Cobb) Baujard, ne-matoide causador de uma fitopatologia conhe-cida como “doença do anel vermelho”, caracteri-zada pela abertura de galerias nos tecidos jovens de coqueiro, dendezeiros, pupunheiras e até bananeiras. Em coqueiros e dendezeiros há re-latos de danos severos que chegam a ocasionar a morte de várias plantas (Castro 2009; Moura et al. 2006).

No sentido de contribuir para o conheci-mento das inter-relações de R. palmarum e da palmeira C. prunifera este trabalho teve como objetivo avaliar a ocorrência desses insetos, bem como a possível relação de injúrias em carnau-beiras no município de José de Freitas, Piauí.

Material e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida em uma área de aproximadamente 18 hectares, localizada na zona rural do município de José de Freitas – PI (Latitude: 4°65’92’’S; Longitude: 42° 54’76”’W).

As coletas foram realizadas em uma área extra-tivista de carnaúbas, durante o período chuvoso, que no Piauí compreende os meses de fevereiro a maio (Fig. 1).

A captura de coleópteros adultos foi realiza-da por meio de armadilhas do ‘tipo Pet’ (Fig. 2), confeccionadas com garrafas plásticas de 2L (Ferreira 2007), instaladas em 10 palmeiras se-lecionadas de acordo com a altura e diâmetro do caule, de forma a obter-se uma padronização dos indivíduos.

As armadilhas foram montadas em cada palmeira a uma altura de 80 cm do solo, num es-quema de arena em círculo, distanciadas entre si com no mínimo 30 m. As coletas dos insetos nas armadilhas foram realizadas a cada 15 dias, sendo na ocasião também realizada a introdu-ção e/ou troca do feromônio de atração (feromô-nio Rincoforol) com toletes de cana-de-açúcar, de acordo com a recomendação do fabricante. Durante todo o período de estudo na área, preo-cupou-se em observar se nos estipes das pal-meiras selecionadas ou nas do restante da área apresentavam sintomas da doença anel verme-lho. Para cada coleta realizada, todos os insetos foram acondicionados em frascos com álcool 70%, hermeticamente tampados e etiquetados com informações referentes à coleta (data, nú-mero de insetos). Posteriormente, o material foi enviado para identificação taxonômica por es-pecialistas da área para a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em Ilhéus, Bahia (Fig. 2-3).

Durante cada coleta foi observada em cada palmeira, com auxílio de um binóculo, a quanti-dade de possíveis perfurações nas folhas meriste-

FIGURA 1. Área extrativista de carnaubeiras naturais na Localidade Lagoa do Barro, zona rural do município de José de Freitas, Piauí.

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máticas. As observações foram realizadas a partir de todo o perímetro da palmeira. Todas as infor-mações obtidas foram anotadas em caderneta e tabuladas utilizando-se o software Excel 2010.

Resultados e discussão

Os resultados das coletas demonstraram que de todo o material coletado (n = 54), identifi-cou-se 51 exemplares de Rhynchophorus palma-rum (L.) (Coleoptera: Curculionidae), e um exem-plar de Omalodes foveola Erichson (Coleoptera: Histeridae e dois exemplares de barata (Blatto-

dea). Entretanto, no presente trabalho estudou--se apenas a ocorrência de R. palmarum.

Os totais de besouros capturados por coleta realizada em cada visita no período do estudo (12 de fevereiro a 28 de maio) estão apresentados na Figura 4. Observou-se um número reduzido de insetos capturados e que as coletas correspon-dentes aos dias 12 de fevereiro e 13 de abril resul-taram em uma maior ocorrência dos coleópteros.

Os referidos dias correspondem a primeira e a quinta coleta, posteriores a adição e reposição dos toletes de cana-de-açúcar (atrativo alimen-tar) e do feromônio nas armadilhas, respectiva-mente. Sabe-se que a interação entre o feromô-nio e a cana-de–açúcar foi essencial para efeti-var o desempenho das armadilhas na captura R. palmarum. São muitos os registros destes cur-culionídeos em espécies da família Arecaceae (Silva 1968 apud Silva 2016). Porém, observou-se neste estudo um número do besouro R. palma-rum relativamente inferior ao encontrado em outros estudos realizados em diferentes palmei-ras e regiões do país (Tab. 1).

Foi relatado em carnaúba, palmeira da fa-mília Arecaceae, a presença destes insetos (Silva 1968 apud Silva 2016), mas são escassas as infor-mações referentes à ocorrência de R. palmarum nesta palmeira no estado do Piauí.

No presente estudo, não se observou in-fluência dos fatores climáticos (pluviosidade e temperatura) no número de insetos coletados (Fig. 5). Em relação aos mesmos fatores climá-ticos, Cysne et al. (2013) e Pamplona (2016) em estudos relacionados à ocorrência de R. palma-rum em palmeiras do gênero Elaeis também não observaram forte relevância das condições cli-máticas na captura dos besouros. Vale ressaltar que, no presente trabalho, os resultados podem não terem permitido avaliar a interferência dos fatores climáticos no número de indivíduos pelo fato do estudo ter sido realizado em apenas qua-tro meses do inicio do ano, compreendendo ape-nas o período chuvoso da região.

A relação dos coleópteros R. palmarum com a palmeira C. prunifera está representada na Fig. 6 que demonstra a regressão linear realiza-da entre o número de palmeiras perfuradas e a ocorrência de coleópteros nas armadilhas. Na carnaubeira o caule ou tronco recebe o nome de estipe, podendo apresentar forma, tamanho, volume e textura variado, terminando em um meristema apical, onde ocorre o ponto de cresci-mento da planta, este órgão vital fica protegido por folhas em desenvolvimento e externamente pelas bainhas das folhas.

FIGURA 3. Exemplares de Rhynchophorus palmarum em embalagem plástica com álcool 70% para conservação para identificação em laboratório.

FIGURA 2. Armadilha tipo “pet” com feromônio atrativo e toletes de cana-de-açúcar instalada no tronco de carnaubeira para captura de Rhynchophorus palmarum.

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FIGURA 4. Ocorrência de coleópteros em palmeiras carnaúba durante o período de coleta.

TABELA 1. Compilação de trabalhos relacionados à ocorrência de Rhynchophorus palmarum em algumas espécies de Arecaceae.

Fonte bibliográfica Palmeira Área Abundância*Moura (1997) Elaeis guineensis Jacq. 33 hectares 43Soto & Takada (2002) Cocus nucifera L. 2 palmeiras 8**Yasuda (2004) Archontophoenix spp. 66 hectares 1Molim e Barreto (2012) Cocos nucifera L. 7,4 hectares 55Pamplona (2016) Elaeis guineenses Jacq. 14.203 hectares 11

Santos (2016) Elaeis guineensis Jacq. Attalea funifera Mart. 892 hectare 1

Quadros (2017) Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore 18 hectares 3

* Número de coleópteros por hectare; **foi considerado que as duas palmeiras compreendem a área de 1 hectare.

FIGURA 5. Temperaturas e pluviosidades ocorridas no período de coleta em relação ao número de coleópteros.

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A partir dos resultados obtidos, observou-se que não houve correlação (r = 0,4) entre o núme-ro de palmeiras com perfurações no estipe e a ocorrência de coleópteros nas armadilhas.

Os orifícios registrados nos meristemas api-cais das carnaubeiras selecionadas para abriga-rem as armadilhas não apresentaram graves da-nos à palmeira e podem ser resultados tanto da busca pela alimentação quanto pela reprodução (oviposição), considerando que a R. palmarum apresenta como preferência alimentar a base de tecido e fibra vegetal, especificamente de pal-meiras (Torre 2010).

Os resultados não permitem inferir que R. palmarum estabeleça uma relação de pre-dação com as carnaúbas da região do estudo, mas, provavelmente uma relação de sobrevi-vência alimentar e reprodutiva como mencio-nou Torre (2010) no trabalho sobre o inseto em coqueiros, além de Warnick (2005) e Castro et al.(2009) que ao listarem palmeiras hospedei-ras do nematoide B. cocophilus, não incluíram a carnaúba, mesmo concluindo que o referido inseto é o principal vetor do parasita causador do anel vermelho em palmeiras.

A presença de R. palmarum na área de estu-do pareceu não comprometer a sanidade das pal-meiras, considerando que externamente não foi percebido folhas secas, quebradas ou murchas, nem amarelecimento ou quaisquer avermelha-mentos nos estipes ou formação de tufos pelas folhas do centro da copa da palmeira o que para

Warwick (2015) e Castro et al.(2009) configuram sintomas típicos da doença anel vermelho, prin-cipalmente quando manifestados em coqueiros.

Como não foi verificada a presença do B. cocophilus nos insetos coletados, pode-se in-ferir, a partir da ausência desses sintomas nas carnaubeiras e da reduzida abundância de R. palmarum, que a referida fitopatologia não re-presenta preocupação aos extrativistas já que, segundo Wawick (2015), o inseto é vetor exclu-sivo do nematoide.

Conclusão

A realização deste trabalho permitiu afir-mar a ocorrência do Rhynchophorus palmarum (L.) (Coleoptera: Curculionidae) em palmeiras de carnaúbas na área estudada no município de José de Freitas, Piauí. Porém, em relação a de-mais estudos realizados em diferentes regiões e palmeiras, a abundância deste inseto em car-naúbas foi extremamente reduzida e não se esta-beleceu correlação entre o número de besouros e perfurações na região meristemática das pal-meiras, assim como não foi observado nenhum sintoma de doença do anel vermelho, transmi-tida pelo inseto R. palmarum às palmeiras. Vale a pena destacar que o presente trabalho repre-senta um dos poucos registros de R. palmarum no Território dos Carnaubais, estado do Piauí, contribuindo assim para estudos posteriores so-bre o comportamento desse coleóptero em áreas de carnaúba.

FIGURA 6. Regressão linear realizada entre o número de palmeiras com perfurações no estipe e o número de Rhynchophorus palmarum capturados nas armadilhas.

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Uso de barreira mecânica no controle de Rhinostomus barbirostris (F.) (Coleoptera: Curculionidae) em coqueiro

Paulo da Silva, Adenir Vieira Teodoro, Carla Ruth de Carvalho Barbosa Negrisoli & Aldomario Santo Negrisoli Junior

A broca-do-estipe é uma das principais pragas que causam prejuízos econômicos à cocoicultara brasileira, sem haver atualmente uma tática efetiva de controle. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o uso de barreiras mecânicas compostas de mantas de fibra vegetal em três texturas (300, 500 e 800 gramas/m2) e fibra vegetal particulada envolvidas em uma matriz cimentícia a base de cola pva-cimento ou cola pva--argamassa. Estes tratamentos foram aplicados sobre o estipe com intuito de impedir a saída de Rhinos-tomus barbirostris de seu interior, sendo também avaliados os custos de cada composto selante. O estudo foi realizado em uma plantação de coqueiro da variedade anã em Neópolis (Sergipe) no ano 2015/2016. Os tratamentos foram aplicados em uma área corresponde a um metro quadrado do tronco da planta con-tendo mais orifícios de entrada do inseto. Essa área foi recoberta com uma tela de nylon para captura dos insetos e sua contagem, a qual era realizada a cada quinze dias, bem como o levantamento do número de orifícios com expulsão de serragem. O tratamento composto de fibra vegetal-cimento-cola pva apresen-tou boa capacidade mecânica de retenção dos insetos adultos no interior do estipe e o segundo menor custo. As mantas de fibra vegetal (500 e 800 g/m2) apresentaram promissora eficiência na forma de barrei-ra mecânica, porém com um elevado alto custo de aplicação.

Introdução

O coqueiro (Cocos nucifera L) está classifi-cado na Família Arecaceae, antiga Palmaceae, e pertence à subfamília Cocoideae (Teulat et al. 2000). Possui duas variedades principais, Gi-gante (var. Typica) e Anã (var. Nana), que ao se-rem cruzadas, é obtido o coqueiro Híbrido de im-portância no mercado internacional (Joly 2002).

O coqueiro é uma das espécies perenes com maior relevância econômica no mundo uma vez que seus frutos podem ser comercializados in natura ou utilizados na indústria, gerando os mais diversos produtos e subprodutos (Costa et al. 2005). Em muitos países o produto principal do cultivo é o óleo de coco (Cuenca 1997). En-tretanto, no Brasil, a maior parte da produção é destinada ao consumo in natura e/ou a indús-tria alimentícia, gerando produtos como o leite de coco e o coco ralado (Holanda et al. 2008).

Durante os diferentes estágios de crescimen-to e desenvolvimento, o coqueiro é atacado por diversas pragas que danificam diferentes partes da planta. Dentre as pragas mais importantes destacam-se aquelas associadas aos frutos como ácaros e traças, as desfolhadoras e as brocas (cur-

culionídeos) associadas às partes específicas, além de insetos sugadores e raspadores (Ferrei-ra 2006). Dentre as coleobrocas, está o Rhinosto-mus barbirostris (Fabricius 1775) conhecido como “rina”, broca-do-tronco ou broca-do-estipe.

O adulto de R. barbirostris é um besouro pre-to de 11 mm a 40 mm de comprimento, o rosto do macho é maior que o da fêmea e possui pe-los avermelhados existentes. As fêmeas colocam seus ovos geralmente na parte baixa do estipe ou próximo à copa, fazendo aí orifícios ou apro-veitando os já existentes. As larvas emergidas iniciam sua alimentação broqueando o estipe em direção ao interior da planta onde formam as respectivas galerias as quais aumentam de diâmetro à medida que se desenvolvem (Pas-sos & Ferreira 2009, Moura 2016). Durante esse período constrói inúmeras galerias expelindo os excrementos pelo orifício de entrada que se acumulam no solo ao redor da planta um dos sintomas característicos do ataque. As galerias provocam a redução e interrupção do fluxo de seiva, culminando na queda de folhas verdes, e causando quebra de mais de 70% na produção e podendo levar à queda da planta pela ação dos ventos e enfraquecendo o coqueiro que pode ser

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derrubado pela ação de fortes ventos. O perío-do ovo-adulto dentro da planta ocorre entre 5 a 6 meses, e já na fase adulta, o inseto constrói uma galeria para o ambiente externo (Morrone & Cuevas 2002, Passos & Ferreira 2009).

Existem poucos estudos sobre o controle des-ta praga, porém Ferreira & Michereff (2002) su-gerem alguns métodos de controle como a raspa-gem da área do estipe com oviposição da praga e destruir as plantas altamente infestadas. Moura (2016) afirma que não existem inseticidas regis-trados no MAPA para o controle desta praga, ha-vendo possibilidade da aplicação de fungos ento-mopatogênicos das espécies Beauveria bassiana, B. brongniartii e Metarhizium sp. como biocon-troladores dessa praga (Ferreira 2009). A injeção de produtos sistêmicos no interior do estipe para controle de larvas não é eficiente. Moura (2016) e Neves (2014) relatam que uma das alternativas para o controle desta praga é a aplicação de uma camada de cal cimentante sobre os locais que as larvas penetraram. Segundo este autor, esta táti-ca evita a emergência dos adultos após completar o ciclo no interior do estipe. Contudo, como não existem relatos com base científica, comprovan-do a eficácia deste método de controle, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência do uso da barreira mecânica por meio de uma mistura se-lante aplicada no estipe para impedir o escape do inseto adulto da planta, causando sua morte e assim, diminuindo a densidade populacional de R. barbirostris no coqueiral.

Material e métodos

Os experimentos foram conduzidos em um plantio de coqueiro (variedade Anã) na empresa SAMAM localizada no município de Neópolis, em Sergipe no ano 2015/2016. Foi avaliada a eficiên-cia de duas barreiras mecânicas constituídas de dois selantes, um feito a partir de manta vege-tal, feita de fibra de coco (FIBRAZTECH, Frysk Industrial Ltda.) e outro a base de fibra de coco particulada obtida na própria empresa, ambos embebidos com agentes cimentícios (cimento, argamassa e cola pva - poliacetato de vinila).

No primeiro experimento, a manta foi testa-da em três diferentes densidades (300, 500 e 800 g/m2), as quais foram aplicadas sobre os troncos das plantas. Sobre estas mantas, com auxílio de uma brocha de pintura, foi aplicada uma matriz preparada a partir de cimento e cola pva na pro-porção 4:0,5, respectivamente, adicionando-se água a mistura até atingir o ponto de massa se-mi-pastosa (Fig. 1A). O delineamento deste expe-rimento foi inteiramente ao acaso com quatro

tratamentos e cinco repetições, sendo conside-rada cada planta como uma repetição.

No segundo experimento foi utilizada a fi-bra de coco particulada (FCP) em duas matri-zes cimentícias distintas: uma base de cimen-to Portland, outro a base de argamassa, ambas misturadas com cola pva na proporção de 4:2:0,5 (fibra/agente cimentante/cola), respectivamen-te, e adicionando-se água ao preparado até atin-gir o ponto de massa semi-pastosa (Fig. 1C). O delineamento experimental utilizado foi o intei-ramente ao acaso com três tratamentos e quatro repetições sendo cada planta considerada como uma repetição.

As misturas selantes foram aplicadas na região mais baixa de estipes com sintomas de maior ataque do inseto, ou seja, onde havia maior número de orifícios com expulsão de ser-ragem. Posteriormente, nas plantas onde foram feitas as aplicações foi fixado, com o auxílio de um arame, uma tela de nylon de 1,2 m, delimi-tando assim a área útil (Fig. 1B e D) e no trata-mento controle foi utilizada apenas a tela de nylon. Quinzenalmente, durante seis meses se-guintes, foram realizadas avaliações que consis-tiam na contagem do número de orifícios com expulsão recente de serragem (material fresco), os quais surgiam na área tratada e do número de insetos adultos que conseguiram romper a barreira mecânica feita pelos selantes e estavam presos na tela de nylon.

Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamen-tos comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,05) utilizando o programa estatístico SISVAR. Foi realizada também a análise de custos de 1m2 de estipe tratado com as diferentes misturas selan-tes de cada experimento. Para a estimativa do custo total (CT) de cada tratamento foram consi-derados os insumos (materiais), a mão-de-obra e o custo alternativo ou de oportunidade, obtido pela soma simples do custo fixo total (CFT) e do custo variável total (CVT) (CT=CVF+CVT). O tra-tamento que apresentou o menor custo e maior eficácia técnica total foi considerado como aquele com maior viabilidade econômica de uso.

Resultados e discussão

Eficiência de misturas selantes a base de manta de fibra vegetal

Apesar da manta de fibra vegetal ter criado uma barreira mecânica sobre o estipe, esta não impediu totalmente o escape da serragem pro-

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duzida pelos insetos (Fig. 2A e B). Inicialmente a serragem foi expelida através do orifício de en-trada e posteriormente acumula-se nas galerias. Como a saída da serragem está relacionada com a atividade interna do inseto, logo, o número de orifícios ativos pode ser considerado um indica-tivo do nível de atividade e da quantidade de R. barbirostris no interior do estipe. Sendo assim, foi observado que o número de orifícios com ex-pulsão de serragem presentes nos estipes trata-mentos com manta B5 (500 g/m2) e B8 (800 g/m2) diferiu significativamente daqueles presen-tes no tratamento controle. Dessa forma, estes tratamentos demonstraram-se eficientes como barreira mecânica, no que se refere a impedir expulsão dos excrementos de R. barbirostris do interior do estipe, com possibilidade de inter-ferência na sua biologia. O número de orifícios contabilizados nos estipes tratados com a manta de menor densidade (300 g/m2) não diferiu nem do tratamento controle nem dos demais tra-tamentos (Fig. 3). Resultado similar foi obtidos por Neves (2014) ao utilizar uma matriz selan-te de cimento/cal/cola nas proporções (5:2:0,5) (4:2:0,5) e (3:2:0,5), com redução no número de orifícios ativos em estipes atacadas pela broca--do-estipe.

Os tratamentos constituídos das mantas B5 (500 g/m2) e B8 (800 g/m2) reduziram em torno de 95% o número de orifícios presentes no esti-pe e 74% quando utilizado a manta B3 (300 g/m2). Os resultados deste trabalho corroboram com

Neves (2014) que obteve uma redução significati-va na emergência de adultos de R. barbirostris uti-lizando a matriz cimentícia de cimento/cal/cola na proporção (4:2:0,5). As mantas B5 e B8 (500 e 800 g/m2) demonstraram-se eficientes como barreiras mecânicas ao reduzirem o escape de pelo menos 80% dos adultos da broca-do-estipe do coqueiro, apesar da redução ter sido de cerca de 30% com a manta B3 (300 g/m2). Foram cap-turados durante todo o experimento em todos os tratamentos, na área útil de 1m2 delimitada pela tela de nylon, 87 adultos de R. barbirostris. Alta quantidade quando comparada com a de Neves (2014) que foi de 109 adultos em uma área útil de 2 m2. O maior número de insetos capturados neste experimento, em uma área útil menor pode estar relacionado à diferença nas épocas de ins-talação dos experimentos, pois ambos os experi-mentos tiveram o mesmo tempo de avaliações e foram realizados no mesmo município.

Eficiência de misturas selantes a base de fibra de coco particulada (FCP)

Apesar dos selantes avaliados terem pro-porcionado uma camada compactada sobre o es-tipe, a atividade interna de R. barbirostris levou a criação de orifícios por onde a serragem foi ex-pelida. A quantidade de orifícios ativos presen-tes nos estipes dos coqueiros com tratamento à base de FCP-cimento-cola (Ci) e FCP-argamassa

FIGURA 1. Etapas da instalação dos experimentos: Manta. (A) Aplicação da solução (cimento /cola) sobre a manta; (B) tela de nylon demarcando a área útil. Fibra de coco. (C) Aplicação do selante (cimento/fibra) sobre o estipe e (D) tela de nylon demarcando a área útil. (Fotos: Paulo da Silva).

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FIGURA 2. Orifícios com saída de serragem na superfície da manta 300 g/m2 por ação interna de Rhinostomus barbirostris.(Fotos: Paulo da Silva)

FIGURA 3. Número de orifícios da área útil nos tratamentos com manta: C (controle), B3 (manta - 300 g/m2), B5 (manta - 500 g/m2), B8 (manta - 800 g/m2) (Neópolis, Sergipe, 2015). (P< 0,05).

FIGURA 4. Número de espécimes de Rhinostomus barbirostris capturados no experimento com manta. C (tratamento controle); B3 (manta - 300 g/m2); B5 (manta - 500 g/m2); B8 (manta - 800 g/m2) (Neópolis, Sergipe, 2015). (P< 0,05).

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cola (Ar) foi significativamente diferente da-queles presentes no tratamento controle (Fig. 5). Com isso, estes tratamentos demostraram-se eficientes como barreira mecânica, tendo como base de a quantia de excrementos expulsos nos estipes tratados.

O tratamento a base de cimento (Ci) reduziu 88,58% o número de orifícios do estipe enquanto que aquele constituído por argamassa (Ar) redu-ziu apenas 77,03%. Essa menor porcentagem de redução no número de orifícios proporcionada pelo selante (Ar) pode estar relacionada à com-posição da argamassa, que ao ser misturada a fi-bra de coco não teve a mesma aderência devido à presença de partículas de areia, quando com-parada ao selante (Ci) que não tinha areia em sua constituição.

Apesar da mistura selante (Ar) ter propor-cionado uma camada compacta sobre o esti-pe, os adultos da broca-do-estipe conseguiram rompê-lo (Fig. 6). Percebe-se, pois, a alta capa-cidade que o aparelho bucal deste inseto em

corroer superfícies duras. O número de insetos adultos coletados nas plantas tratadas com as formulas (Ci) e (Ar) diferiram significativa-mente daqueles presentes no tratamento con-trole, não havendo variação significativa entre os respectivos tratamentos.

Quando se avaliou a porcentagem de redu-ção do escape dos adultos foi verificado que o se-lante (Ci) reduziu 100% a saída de R. barbirostris do interior do estipe enquanto que o selante (Ar) reduziu em média 84,84%.

Análise comparativa de custos dos tratamentos com manta, fibra triturada e tela de nylon

O custo dos recursos necessários para a aplicação dos tratamentos (custos fixos) foram: baldes que serviram de local para misturar os produtos e o aplicador (trincha ou broxa) que foi utilizado para a aplicação da solução (cimento/cola) na manta.

FIGURA 5. Número de orifícios presentes no estipe de coqueiro nos seguintes tratamentos: C (controle), Ci (fibra de coco/cimento/cola), Ar (fibra de coco/argamassa/cola Argamassa) (Neópolis, Sergipe, 2015/2016). (P< 0,05).

FIGURA 6. Número médio de Rhinostomus barbirostris capturados nos respectivos tratamentos: C (controle), Ci (fibra de coco/cimento/cola), Ar (fibra de coco/argamassa/cola) (Neópolis/SE, 2015/2016). (P< 0,05).

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Os materiais considerados na aplicação dos tratamentos com manta foram: 1m2 de manta, 4 kg de cimento, 0,5 l de cola, e 0,6 h/homem (mão de obra). Com fibra triturada foram: 8 kg de cimento, 8 kg de argamassa, 0,2 kg de fibra de coco triturada, 0,5 l de cola, 0,5 h/homem (mão de obra). Com tela de nylon foram: 1m2 de tela de nylon, 0,2 h/homem (mão de obra). O tra-tamento com maior custo total foi o com fibra triturada, argamassa e cola por R$ 69,06 devido especialmente ao alto valor da argamassa (Co-pVT-Argamassa) (Tabela 1). O tratamento que apresentou o menor Custo Total é o mais viável economicamente.

Conclusões

Os selantes a base de fibra de coco triturada/cola, tanto com cimento ou argamassa demons-traram-se eficientes como barreira mecânica no controle da broca do estipe, com a vantagem de serem economicamente mais viáveis que aque-les feitos a base de mantas vegetais com densi-dades de 500 e 800 g/m2.

Agradecimentos

À Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de Alagoas - FAPEAL por concessão de bolsa e ao CNPq pelo fomento à pesquisa.

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TABELA 1. Custos (R$) de cada tratamento necessários para tratar 1 m2 de estipe.

Parâmetros

Tratamentos

Manta de fibra de coco Fibra de coco trituradaTela de nylon

B3 B5 B8 Cimento Argamassa

CopFT 0,26 0,26 0,26 0,26 0,26 0,26

CaltFT 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 -

CFT 5,41 5,41 5,41 5,41 5,41 -

CopVT 15,56 16,28 16,43 15,2 19,2 4,74

CaltVT 0,16 0,16 0,17 0,15 0,19 0,05

CVT 15,72 16,44 16,6 15,35 19,39 4,81

CopT 15,82 16,54 16,69 15,46 19,46 5,02

Legenda:B3 (manta - 300 g/m2), B5 (manta - 500 g/m2), B8 (manta - 800 g/m2).CopFT (custo operacional fixo total) = soma das depreciaçõesCaltFT (custo alternativo fixo total) = soma dos custos alternativosCFT (custo fixo total) = CopFT + CaltFTCopVT (custo operacional variável total) = soma dos recursosCaltVT (custo alternativo variável total) = soma do custo variável multiplicado pela taxa de jurosCVT (custo variável total) = CopVT + CaltVTCopT (custo operacional total) = CopFT + CopVT

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Autores

Adenir Vieira Teodoro – Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), mestre em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa, doutor em Entomologia pela Georg-August-Universität Göttingen (Alemanha). Atualmente é Pesquisador A da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju - SE) e Professor Permanente dos Programas de Pós-Graduação em Agroecologia (Universidade Estadual do Maranhão, UEMA, São Luís - MA) e Agricultura e Biodiversidade da Universidade Federal de Sergipe (UFS, São Cristóvão - SE). Atua nas áreas de Acarologia; controle biológico aplicado com ácaros predadores e crisopídeos; Controle biológico por conservação; Bioatividade de fitoquímicos a pragas; MIP; uso de insetos como bioindicadores da qualidade ambiental. E-mail: [email protected] Aldomário Santo Negrisoli Junior – Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestrado em Agronomia (Entomologia) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e doutorado em Fitossanidade (Entomologia) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente é Pesquisador A da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Rio Largo - AL). Tem experiência na área de Entomologia Agrícola Aplicada, com ênfase em Controle Biológico com Nematóides Entomopatogênicos (NEPs), atuando principalmente nos seguintes temas: eficiência de NEPs sobre pragas de fruteiras, cana-de-açúcar e culturas anuais; isolamento, identificação de NEPs e sua compatibilidade em mistura com produtos fitossanitários. E-mail: [email protected] Martins Vidal – Agrônomo pela e mestre em Produção Vegetal pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] da Silva Lima – Agrônomo pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] dos Santos Sousa – Licenciado em Ciências Biológicas, mestre e doutor em Recursos Genéticos Vegetais pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Professor efetivo, lotado junto à Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Desenvolve pesquisas de análise química de pólen apícola, biologia reprodutiva, criopreservação de pólen e fisiologia polínica. E-mail: [email protected]élio José Antunes de Carvalho – Engenheiro agrônomo, licenciado em Química e mestre em Ciências Agrárias pela pela Universidade Federal da Bahia (UFBA, Cruz das Almas). É Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – IF Baiano (Campus Santa Inês). Desenvolve pesquisa na área de Agroecologia, Extensão Rural e Etnobotânica, nas quais orienta alunos de cursos técnicos, graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] Nara Pereira Gomes – Graduada em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba e aluna do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). E-mail: [email protected] Ruth de Carvalho Barbosa Negrisoli – Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí (UFPI), mestrado em Agronomia (Entomologia) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e doutorado em Fitossanidade (Entomologia) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Atualmente é professor

titular III do Centro Universitário de Maceió (Alagoas). E-mail: [email protected] Rabelo Coelho – Graduação em Agronomia e mestrado em Agroecologia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Tem experiência na área de Nematologia e tecnologia de sementes. E-mail: [email protected] Amorim Camara – Graduado em Farmácia pela Universidade Federal da Bahia e doutor em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professor associado na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Desenvolve pesquisa na área de química, na qual orienta alunos de graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] da Mota Carneiro – Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). E-mail: [email protected] Luis Cerqueira Dias – Bacharelando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desenvolve pesquisa na área de anatomia vegetal pura e aplicada à taxonomia. E-mail: [email protected] Costa Souza – Graduado em Agronomia e mestre em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Piauí (UFPI. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Criação de Abelhas, atuando principalmente nos seguintes temas: apicultura, abelhas africanizadas, apis mellifera, manejo de abelhas, criação de rainhas, melhoramento genético e mel de abelhas. E-mail: [email protected] Divino de Araújo – Bacharel em Ciências Biológicas e mestre em Genética pela UFG e doutor em Ciências (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professor Associado na Universidade Federal de Sergipe. Desenvolve pesquisa na área de Ecologia de abelhas sociais e Biotecnologia. É orientador de pós-graduação nos programas de Ecologia e Conservação da UFS e em Biotecnologia (Renorbio). E-mail: [email protected]Élio Cesar Guzzo – Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e doutorado em Entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Tem experiência na área de Entomologia, com ênfase em Entomologia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: Resistência de Plantas a Insetos, Plantas Inseticidas, Pragas de Grãos Armazenados, Pragas da Cana-de-açúcar e Pragas do Coqueiro. Atualmente é Pesquisador e membro do Comitê Técnico Interno da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Rio Largo - AL) e docente do Programa de Pós-graduação em Proteção de Plantas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: [email protected]ângela Alves Santos Félix Melo – Agrônoma pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] Silva Mota – É Licenciado em Biologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e desenvolve pesquisa nas áreas de Genética e Biotecnologia de Produtos Naturais. E-mail: [email protected]

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Francisco de Assis Ribeiro dos Santos – Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e doutor em Ciências (Botânica) pela Universidade de São Paulo (USP); professor titular na Universidade Estadual de Feira de Santana. Desenvolve pesquisas na área de palinologia pura e aplicada, na qual orienta alunos de graduação e pós-graduação. Coordenou a Rede Pindorama. E-mail: [email protected] Sousa de Carvalho Quadros – Técnico em Meio Ambiente pelo Centro Educacional Estadual Profissional Rural Firmo José da Cunha, graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). E-mail: [email protected] Troilo – Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP); professor da Escola Família Agrícola do Sertão (Efase). Desenvolve pesquisa nas áreas de educação popular, ecotoxicologia e agroecologia, na qual orienta alunos dos cursos técnicos profissionalizantes. E-mail: [email protected] de Jesus Santos – Bacharelando em Farmácia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desenvolve pesquisa na área de anatomia vegetal pura e aplicada à taxonomia. E-mail: [email protected] Braga de Souza Santos – Agrônoma pela e mestre em Produção Vegetal pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] Regina da Silva – Graduada em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Doutora em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). É professora da Faculdade Santíssima Trindade (FAST), Brasil. E-mail: [email protected] Lima dos Santos – Licenciada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); diretora da Escola Família Agrícola de Jaboticaba (EFAJ). Desenvolve pesquisa no campo da educação do campo, educação popular, avaliação da aprendizagem e metodologia e prática de ensino. E-mail: [email protected] Almeida Melo Santos – Bacharela em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desenvolve pesquisa na área de anatomia vegetal pura e aplicada à taxonomia. E-mail: [email protected] da Costa Coelho – Graduando em Zootecnia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).Jaqueline Zanon de Moura – Graduada em  Agronomia e mestre em Agronomia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), e doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Docente da UFPI. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Entomologia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: distribuição espacial de insetos, extratos vegetais, controle biológico, monitoramento de insetos. E-mail: [email protected]éssica Fontes Vasconcelos – Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) Atualmente Estudante no Programa Pós-Graduação em Agronomia/Fitotecnia na Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] D’arc Bernardo Soares – Graduanda do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Piauí. E-mail: [email protected]

José Guedes de Sena Filho – Graduação em Farmácia e mestrado Ciências Farmacêuticas pela Universaidade Federal de Pernambuco (UFPE), doutorado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). E-mail: [email protected]é Luiz Bezerra – Graduação em Biologia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP); mestrado em Botânica e doutorado em Plant Pathology pela University of Florida. Atualmente é Professor Permanente Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Biologia e Fisiologia dos Microorganismos, atuando principalmente nos seguintes temas: Rhytidhysteron rufulum, Citrus spp, etiologia, Tremella rhytidhysterii e ultra-estrutura. E-mail: jlulabezerra@]hotmail.comJuliana Coelho da Cruz – Discente de Agronomia na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] do Nascimento Bendini – Bacharel em Ciências Biológicas pela UNITAU e Doutora em Zootecnia (Produção Animal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) (Botucatu); professora adjunta na Universidade Federal do Piauí campus Senador Helvídio Nunes de Barros. Desenvolve pesquisa na área de apicultura, na qual orienta alunos de graduação. E-mail: [email protected] Regina Batista Leite – Licenciada em Ciências Biológicas pela UEFS e Doutora Botânica pela UEFS (Feita de Santana, Bahia); professora Associado I na Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisa na área de anatomia vegetal pura e aplicada, na qual orienta e co-orienta alunos de graduação e pós-graduação, respectivamente. E-mail: [email protected] Benedito da Silva – Licenciado em Ciências Biológicas pelaUniversidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Botânica pela UEFS (Feita de Santana, Bahia); professor Associado II na Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisa na área de anatomia de madeiras pura e aplicada, na qual orienta alunos de graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] Lucas Carvalho de Oliveira – Possui formação em Técnico em Agropecuária e graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Piauí (2011 e 2017). Foi bolsista PIBIC na área de nutrição animal com avaliação palinológica e bromatologia de pólen e tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Apicultura. E-mail: [email protected] Maiara Araújo Lima dos Santos – Graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Biodiversidade Vegetal pela Universidade do Estado da Bahia - Campus VIII. Atualmente é doutoranda em Biologia de Fungos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Como pesquisadora, tem experiência na área de Micologia, trabalhando com Taxonomia e Ecologia de Fungos do Filo Ascomycota (Pezizomycotina) colonizando palmeiras e plantas nativas do bioma Caatinga. E-mail: : [email protected] dos Santos Silva – Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em Botânica pela UEFS (Feita de Santana, Bahia); professor substituto da Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisa na área de anatomia vegetal pura e aplicada. E-mail: [email protected] Sousa Lopes – Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Biologia Vegetal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em Ciências

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Ambientais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). É docente da Universidade Federal do Piauí, desenvolve pesquisa com mata ciliar e de Galeria. E-mail: [email protected] Harrison dos Santos Ferreira – Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela UEFS e mestre em Ciências (Botânica) pela UEFS; professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) – Campus Uruçuí. Desenvolve pesquisa nas áreas de Etnobotânica, Agroecologia, Ecologia Vegetal e Educação do Campo, nas quais orienta alunos de cursos técnicos profissionalizantes, graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] Aparecida Leão Bittencourt – Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e doutora em Ciências (Entomologia) pela ESALQ/USP (São Paulo); professora titular/pleno na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Desenvolveu pesquisas nas áreas de entomologia agrícola e ação de extratos vegetais sobre pragas, orientando alunos de graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] Santos Vitória – Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); mestre em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Doutora em Biologia de Fungos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Professora Adjunta, Dedicação Exclusiva da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus VIII, atuando na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal; como pesquisadora tem experiência na área de Microbiologia com ênfase em Micologia, trabalhando com Taxonomia e Ecologia de Fungos, especialmente com o Filo Ascomycota (Teleomorfo, Anamorfo e Liquenizado) em áreas da Ecorregião Raso da Catarina. E-mail: [email protected] de Jesus Lopes – Engenheiro Agrônomo pela Esalq/USP; professor e diretor da Escola Família Agrícola do Sertão (Efase). Desenvolve projetos nas áreas da educação do campo, agroecologia e extensão rural. E-mail: [email protected] Oliveira dos Santos – Agrônoma pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Doutora em Agronomia pela UESB (Vitória da Conquista); professora substituta na Universidade Estadual de Goiás (Posse/GO). Desenvolve pesquisas na área de entomologia agrícola, e fruticultura, na qual orienta alunos de graduação. E-mail: [email protected] Pereira Oliveira – Licenciado em Ciências Biológicas, mestre e doutor em Botânica pela UEFS. Analista Universitário da UEFS lotado no Laboratório de Micromorfologia Vegetal. Desenvolve estudos na área de palinologia, especialmente na subárea de melissopalinologia. E-mail: [email protected] da Silva – Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Alagoas (UFAL), mestrado em Agricultura e Ambiente pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Tem experiência na área de Entomologia, com ênfase em Entomologia Agrícola, atuando principalmente em taxonomia, seletividade de inseticidas, controle químico e alternativo e manejo integrado de pragas especialmente na cultura do arroz irrigado. E-mail: [email protected] Henrique Amaral Araújo de Sousa – Bacharel em Zootecnia e mestre em Zootecnia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]

Rodolfo de França Alves – Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Tiradentes (UNIT) e doutor em Ciências naturais (Botânica) pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Atua como professor voluntário na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e desenvolve pesquisas com pólen apícola, com experiência em melissopalinologia, palinoflora, morfologia polínica, apicultura e meliponicultura. E-mail: [email protected] Brito Costa – Graduando do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected] Ronaldo Fernandes Pereira – Graduação em Engenheira Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Doutorado em Biotecnologia dos Recursos Naturais pela RENORBIO (Universidade Federal de Sergipe) – Analista de Desenvolvimento Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF). Desenvolve pesquisas pura e aplicada junto ao Sergipe Parque Tecnologico (SergipeTec) na área de apicultura,propagação e fitossociologia vegetal de essências florestais nativas e ecologia da paisagem. E-mail: [email protected] Gonçalves de Moura – Graduado em Engenharia Agronômica, mestre e doutor em Ciência Animal pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). É docente da UFPI. Tem experiência na área de Agronomia e Zootecnia, com ênfase em Apicultura. E-mail: [email protected]ânia Maria Sarmento Silva – Graduada em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutora em Química Orgânica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Desenvolve pesquisa na área de química dos Produtos Naturais, na qual orienta alunos de graduação e pós-graduação. E-mail: [email protected] Marsel Amorim Reis – Discente de Agronomia na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] Romão Toledo da Silva – Possui graduação em Ciências Biológicas Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Mestrado em Biotecnologia pela mesma instituição. Atualmente é pós-graduando (doutorado) da pela Rede Nordeste de Biotecnologia e pela UFS, tem experiência na área de Genética e Biologia Celular, com ênfase em Biologia Molecular. Tem desenvolvido estudos acerca das características do pólen apícola e suas potencialidades como produto natural e alimentício. E-mail: [email protected] Ohana Silva da Hora – Agrônoma e mestre em Produção Vegetal pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected] Liziane Farias Maia de Araujo – Licenciada em Ciências Biológicas e mestre em Saúde e Ambiente pela Universidade Tiradentes (UNIT), especialista em Ecologia e Conservação de Ecossistemas Costeiros pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Doutora em Biotecnologia pela Renorbio. É professora Adjunta da UFS na área de Biologia Geral e Educação. Desenvolve pesquisa na área de Biotecnologia de Produtos Naturais, com ênfase em produtos apícolas e atua como orientadora no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da UFS. E-mail: [email protected]

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Este livro foi composto no formato 21 x 29,7 cm, fontes Bitter (texto principal, legendas e tópicos),Montserrat (cabeçalho, títulos e subtítulos).

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PINDORAMAEsse volume faz parte dos produtos técnico-científicos da Rede Pindorama (Proc.

407717/2013-7), que é uma iniciativa fomentada pelo CNPq via RENORBIO (Chamada 79-2013) para o desenvolvimento de redes de cooperação de instituições e pesquisadores. Na Rede Pindorama, foram integrados cinco propostas pesquisa, todas com o tema principal no uso e no aproveitamento dos recursos das palmeiras (Arecaceae). A Rede também pos-sibilitou a formação de recursos humanos em todos os níveis e envolveu instituições de todos os estados do Nordeste, com participação de outras instituições nacionais e até uma do Estados Unidos da América (Montgomery Botanical Center). A Rede Pindorama teve a coordenação geral a cargo do Prof. Francisco de Assis Ribeiro dos Santos da Universidade Estadual de Feira de Santana

9 7 885 50 905 1 81

978-85-509-0518-1