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UFF-UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ICHF - INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA JUDITH HELENA GENUÍNO DA COSTA ENVELHECER: Novas perspectivas na construção de um futuro produtivo Niterói 2018

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UFF-UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ICHF - INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

JUDITH HELENA GENUÍNO DA COSTA

ENVELHECER:

Novas perspectivas na construção de um futuro produtivo

Niterói

2018

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JUDITH HELENA GENUINO DA COSTA

ENVELHECER:

Novas perspectivas na construção de um futuro produtivo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Sociologia da Universidade

Federal Fluminense para obtenção do grau de

Bacharel em Sociologia.

Orientador: Prof (a). Dr (a). Carmen Lucia Tavares Felgueiras

Niterói

2018

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Ficha catalográfica automática - SDC/BCG

G341e Genuíno, JUDITH HELENA GENUINO DA COSTA

Envelhecer: Novas perspectivas na construção de um futuro

produtivo / JUDITH HELENA GENUINO DA COSTA Genuíno ; Carmen

Lucia Tavares Felgueiras Felgueiras, orientadora. Niterói,

2018.

37 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Sociologia)-

Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências

Humanas e Filosofia, Niterói, 2018.

1. Idoso. 2. Terceira Idade. 3. Envelhecimento. 4.

Cidadania. 5. Produção intelectual. I. Título II.

Felgueiras,Carmen Lucia Tavares Felgueiras, orientadora. III.

Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências

Humanas e Filosofia. Departamento de Sociologia e Metodologia

das Ciências Sociais.

CDD -

Bibliotecária responsável: Angela Albuquerque de Insfrán - CRB7/2318

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JUDITH HELENA GENUINO DA COSTA

ENVELHECER:

Novas perspectivas na construção de um futuro produtivo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Sociologia da Universidade

Federal Fluminense para obtenção do grau de

Bacharel em Sociologia.

Aprovada em ___ de Julho de 2018.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Orientadora: Profª. Dr.ª. Carmen Lucia Tavares Felgueiras

________________________________________

Prof. Dr. (o). Fábio Roberto Barbolo Alonso

________________________________________

Profª Dr. (a). Elisabete Cristina Cruvello da Silveira

Niterói

2018

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia à minha família, mãe, irmãos,

sobrinhos que são base de confiança e amor, e principalmente

a meus filhos, que tanto comemorou o meu ingresso na

Universidade e me apoiou nos momentos mais difíceis de

minha vida, um exemplo de dedicação, confiança e força.

E, dedico especialmente, a meus filhos Camila Helena e

Marcos Jr. que desde a matrícula na Universidade até o final

tem sido o meu sustentáculo.

A todos que de alguma forma colaboraram para a efetivação

deste trabalho, que acreditaram em mim.

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Agradecimentos

Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para o

desenvolvimento e realização deste trabalho. Primeiramente a Deus por estar

comigo em todos os momentos me dando força e sabedoria, não permitindo que as

dificuldades da vida me desanimassem e que os obstáculos fossem ultrapassados.

À minha família, desde minha mãe, irmãos, sobrinhos e cunhado pela

paciência, carinho e apoio sempre.

A minha orientadora Dr.ª. Carmen Lucia Tavares Felgueiras que teve um papel

fundamental no desenvolvimento desse trabalho com muita paciência cuidado e

atenção e uma generosidade imensa comigo.

A minha filha do coração Vanessa Mara que desde o início sempre esteve ao

meu lado nos momentos mais difíceis que enfrentei, só consegui ultrapassá-los

porque ela estava ao meu lado me dando força, ajudando em tudo, muito obrigada

por fazer parte desse processo e por ser fundamental na minha vida. A minha

estimada Claudia Katharina que em momentos tumultuados trouxe muita alegria e

descontração para que eu pudesse ultrapassá-los, obrigada pela grande ajuda.

Obrigada por fazerem parte da minha vida, e me estender a mão quando precisei.

E finalmente o Sr. Benedito Joaquim dos Santos, Presidente de Honra da

Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Municípios de Niteroi e São

Gonçalo, minha maior inspiração para o tema dessa pesquisa e sua secretária a

Sra. Angélica, pessoas de fundamental importância nesse trabalho me fornecendo

todas as informações necessárias para sua execução, a todos os meus amigos que

sempre me deram muita força para que eu nunca desistisse.

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RESUMO

O presente estudo tem como objeto o modo como vivem as pessoas

classificadas na “terceira idade”, especificamente o caso dos membros da

Associação de Aposentados e Pensionistas dos Municípios de São Gonçalo e

Niterói; trata-se aqui de investigar a maneira como estas pessoas se sentem e se

situam nas relações sociais que configuram a atualidade e que se caracterizam de

um modo geral pela busca frenética, constante e determinada do novo. Com isso, as

dinâmicas que determinam o mundo social parecem para o “velho” dotar-se de uma

velocidade inalcançável, principalmente no que tange, por exemplo, às inovações

tecnológicas, reforçando a necessidade de discutirmos os processos de limitação

que se impõe às pessoas de idade avançada.

Palavras-chave: TERCEIRA IDADE. IDOSO. ENVELHECIMENTO. CIDADANIA.

PRODUÇÃO INTELECTUAL.

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ABSTRACT

The present study has as object the way the people classified in the "old age",

specifically the case of the members of the Association of Retirees and Pensioners of

the Municipalities of São Gonçalo and Niterói; it is a question of investigating the way

in which these people feel and are situated in the social relations that configure the

present and which are characterized in general by the frenetic, constant and

determined search of the new. Thus, the dynamics that determine the social world

seem to the "old" to be at an unreachable speed, especially with regard to, for

example, technological innovations, reinforcing the need to discuss the processes of

limitation imposed on people of advanced age.

Keywords: THIRD AGE. OLD MAN. AGING. CITIZENSHIP. INTELLECTUAL

PRODUCTION.

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SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES.

AAPMNSG - Associação dos Aposentados e Pensionistas nos Municípios de Niterói

e São Gonçalo

SONRJ – Sindicato dos Operários dos Operários Navais do Estado do Rio de

Janeiro

SESI – Serviço Social da Indústria

ADAMA – Associação dos Amigos da Mama Niterói e RJ

INSS – Instituto Nacional de seguridade Social

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Sumário

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 8

CAPÍTULO I - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 11

1.1 O tema do envelhecimento na área biomédica e saúde pública. ....................... 12

1.2 O tema do envelhecimento nas ciências humanas .............................................. 14

1.3 Como pensar a terceira idade a partir de contemporaneidade .......................... 21

CAPÍTULO 2 - A ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DOS MUNICÍPIOS DE NITERÓI E SÃO GONÇALO (AAPMNSG) ....................................... 23

2.1 História da Associação ........................................................................................... 23

2.2 Necessidade De Permanência (a Associação hoje) ......................................... 24

2.3 O Relato Etnográfico .............................................................................................. 25

Reunião de Diretoria ............................................................................................... 25

Assembléia ............................................................................................................... 26

Almoço ....................................................................................................................... 28

Baile ........................................................................................................................... 28

Outras percepções .................................................................................................. 28

Característica da composição do corpo diretor da Associação. ...................... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 31

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 33

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INTRODUÇÃO

“A velhice não é um fato estático; é o resultado e o

prolongamento de um processo. Em que consiste este

processo? Em outras palavras, o que é envelhecer? Esta ideia

está ligada à ideia de mudança. Mas a vida do embrião, do

recém-nascido, da criança, é uma mudança contínua. Caberia

concluir daí, como fizeram alguns, que nossa existência é uma

morte lenta? É evidente que não. Semelhante paradoxo

desconhece a verdade essencial da vida: ela é um sistema

instável no qual se perde e se reconquista o equilíbrio a cada

instante; a inércia é que é o sinônimo de morte. A lei da vida

é mudar” (BEAUVOIR, 1990. p. 17.)

Em conformidade com a perspectiva da autora que acabamos de citar,

o foco desta pesquisa está no pólo oposto ao da estigmatização e da

vitimização. Pretendemos nos concentrar no modo como determinados

grupos de pessoas idosas elaboram estratégias para viverem uma velhice

digna, o que inclui a percepção da necessidade de inclusão na vida da

sociedade, ou seja, do exercício ativo da cidadania.

O campo pesquisado é, portanto, o de um grupo de idosos que, juntos,

formam a Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Municípios de São

Gonçalo e Niterói. Nesse grupo, que inicialmente era composto por

companheiros de profissão, encontramos pessoas de várias origens

profissionais que, ao se aposentarem e se depararem com um tempo “ocioso”,

resolveram que teriam que ocupá-lo com algo que fosse de alguma forma útil

para a sociedade e agradável para si. O grupo proposto serve bem como

ponto de partida para a análise das inquietações em relação a manutenção

da vida e do bem-estar social. Nele, é possível observar as formas com

que a grande bagagem acumulada ao longo das trajetórias dos indivíduos que

o compõem sustentam as suas necessidades de atuação e provêem os

meios para que possam contribuir para a sociedade abrangente com uma

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representação positiva do fato do envelhecimento. Neste sentido, o problema que

motiva a pesquisa pode ser enunciado da seguinte forma: A idade é sinônimo

da velhice ou uma extensão para o processo? Mais do que o envelhecimento

do corpo, a velhice é definida pela delimitação social de condutas nos

diferentes estágios da vida. “O homem não vive nunca em estado natural; na

sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela

sociedade a qual pertence” (BEAUVOIR, 1990, p. 74).

O recorte etnográfico traz em voga as correlações conceituais de

velhice/ terceira idade e de aposentadoria/incapacidade laborativa. Nas práticas

sociais e nas narrativas dos idosos participantes do grupo estudado há de se

questionar esses preconceitos, já que incapacidade laborativa não está

determinada pela aposentadoria; e que nem a velhice nem a terceira idade

necessariamente incapacitam. São dois fatores que levam à aposentadoria: o

fator tempo de trabalho e a idade – quando atinge a quantidade mínima de

anos para aposentadoria legal; e o fator doença, onde a pessoa é aposentada

por invalidez, quando na sua trajetória profissional se é acometido por alguma

doença incapacitante.

O avanço da idade aparece como limitador das aptidões físicas, criando

grande obstáculo incapacitante em relação, por exemplo, à locomoção, a parte

motora e fisiológica. O grande drama da velhice talvez esteja na imposição da

sociedade em delimitar o tempo de vida produtiva do indivíduo. O que se

observa no campo é que tendo chegado a certa idade, o idoso perde parte

do seu valor social. Isto é arbitrário porque estabelece um "prazo de validade“

para o ser humano.

E o que fazer com o conhecimento acumulado ao longo da vida?

Apenas em casos raros se vê a apreciação do velho como condutor do saber.

Na vida cotidiana mais atribulada, ele se vê obsoleto. Portanto, a velhice

experimentada nesse contexto específico de representações negativos atua na

construção de sujeitos e suas maneiras de se constituírem e se relacionarem

nesses ambientes. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um

estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários

tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem

pensar, reduzimos suas chances de vida: Construímos uma teoria do estigma;

uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela

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representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras

diferenças, tais como as de classe social. Utilizamos termos específicos de

estigma como aleijado, bastardo, retardado, em nosso discurso diário como

fonte de metáfora e representação, de maneira característica, sem pensar no

seu significado original. (GOFFMAN, 1975, p.8)

A partir das entrevistas já feitas, foi possível observar a apreensão da

velhice sob esta circunstância social, ou seja, como papéis desempenhados

por velhos, dado a idade: “Quando que você percebe o olhar do outro, a te

impor teu papel social. Você não se vê velha, você se vê velha no outro”.

Ou a através das frases típicas como: “Nossa! Peguei fulano no colo!”. Por

outro lado, durante a experiência que tive com o Sr. Presidente de Honra da

Associação, por exemplo, pude testemunhar o que compreendi como uma

resistência ao estigma da velhice.

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CAPÍTULO I - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Reinauguração

Nossa idade – velho ou moço – pouco importa. Importa é

nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e

revestidos de beleza, a exata beleza que vem dos gestos

espontâneos e do profundo instinto de subsistir enquanto

as coisas em redor se derretem e somem como nuvens

errantes no universo estável.

Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos a

um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos.

Esta é a magia do tempo. Esta é a colheita particular que

se exprime no cálido abraço e no beijo comungante, no

acreditar na vida e na doação de vivê-la em perpétua

procura e perpétua criação. E já não somos apenas

finitos e sós.

Carlos Drummond de Andrade

O objetivo deste trabalho é indicar aspectos que configuram o processo de

envelhecimento na sociedade atual, especificamente as diferentes conceituações

utilizadas para definir este processo em relação aos aspectos cronológicos,

biológicos, políticos e sociais envolvidos. A partir das análise de revisão literatura

sobre o tema em questão, conclui-se que a idade cronológica não é a única forma

de mensurar o processo de envelhecimento, sendo este uma interação de fatores

complexos que apresentam uma influência variável sobre o indivíduo e que podem

contribuir para a variação da passagem do tempo. Crenças em relação à velhice.

Fases de ciclo da vida. Crescer e envelhecer.

Tais referências foram organizadas em duas grandes áreas: ciências sociais e

humanas (sociologia, antropologia, psicologia, serviço social, educação e

comunicação social) e área biomédica e saúde pública (políticas de saúde, serviços

de saúde, epidemiologia, medicina, nutrição, enfermagem e educação física).

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1.1 O tema do envelhecimento na área biomédica e saúde pública.

A maior parte dos estudos sobre o envelhecimento são encontrados na área

da saúde.

Foram analisados vários artigos com o tema envelhecimento e pela ótica das

ferramentas eletrônicas e através do estudo bibliométrico, foram selecionados

alguns artigos e analisados descritivamente quanto a titulação, formação e atuação

dos autores da área da saúde, doutores enfermeiros e docentes no desenvolvimento

de estudos. Foram utilizados recursos da base de dados Scielo, as pesquisas

realizadas se mostraram interessante pelo curto espaço de tempo utilizado nesse

método.

A contribuição desse estudo para a Enfermagem se deve aos indicadores

resultantes quanto às instituições de pesquisa e aos periódicos que mais se

destacam na produção do conhecimento sobre o tema em nível nacional. Sugerem-

se outras iniciativas de ampliação de busca por artigos sobre o tema enfermagem e

envelhecimento na base SciELO em relação à abrangência regional (América Latina

e Caribe), de modo a se obter interessantes resultados sobre o perfil bibliométrico

das publicações a respeito do tema.

De acordo com os pesquisadores e profissionais da área de enfermagem Ana

Paula Xavier RavelliI; Gisele Cristina Manfrini FernandesII; Sayonara de Fátima

Faria BarbosaIII; Eunice SimãoIV; Silvia Maria Azevedo dos SantosV; Bettina Horner

Schlindwein Meirelles EM SEU ESTUDO A produção do conhecimento em

enfermagem e envelhecimento: estudo bibliométrico, a abrangência pelo serviço

social, parte da compreensão do papel do apoio social e das redes microssociais na

saúde do idoso. É discutido formas de avaliar o apoio e a rede social e reflete-se

sobre o papel do apoio social no Sistema Único de Saúde. Por fim, aborda-se o

manejo do apoio social. Como considerações finais, são destacados os principais

desafios para que o Apoio Social seja realmente considerado um determinante da

saúde das pessoas.

Grandes são os desafios, entre eles, observar o Apoio Social como

determinante importante da saúde das pessoas não somente nos serviços de saúde

(seja este serviço inserido em qualquer nível de complexidade ou tecnológico), mas

também na comunidade, como instrumento transformador do processo saúde-

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doença do idoso, devendo ser realizado pelos diversos atores sociais envolvidos,

incluindo-se o próprio idoso e demais membros da sociedade (familiares, amigos,

vizinhos, grupos religiosos, profissionais de saúde e do serviço social, estudantes,

entre outros).

Uma das multifacetas é o apoio social, que deve esta ser considerada nesta

nova perspectiva da atenção à saúde e não mais somente da atenção à doença.

Mesmo sendo apenas parte de uma atenção integral, as redes microssociais podem

ter um efeito multiplicador, nos aspectos sociais, psicossomáticos e, por que não

dizer, biológicos das pessoas, proporcionando maior interação, reduzindo efeitos

danosos à saúde e favorecendo o bem-estar dos idosos e daqueles que os rodeiam.

Em pesquisas no campo da gerontologia biomédica, tanto em “Apoio social e

o cuidado integral à saúde do idoso” realizadas por GUEDES et al (2002), quanto

em

LANA & SCHNEIDER (2014) em “Síndrome de fragilidade no idoso: uma revisão

narrativa” pudemos observar a preocupação em demonstrar a importância de se

aprofundar em estudos sobre a síndrome da fragilidade no idoso, que pode estar

associado a etnia, tipo de instrumento, local do estudo e tamanho da amostra,

mostrando o alcance de idosos frágeis no âmbito da comunidade estudada,

hospitais e instituições de longa permanência para idosos.

Os estudos demonstram que idosos com maior idade, com menor

escolaridade, doenças crônicas, institucionalizados, e com uso contínuo de

medicações, com a diminuição da própria altura nos últimos anos e com poucas

relações sociais são considerados os idosos mais frágeis.

Com essa pesquisa o que se observa é que o investimento num

envelhecimento saudável através de políticas públicas se faz necessário para

amenizar as consequências da síndrome da fragilidade no idoso.

Pesquisas e estudos como as de Giancarlo Lucchetti et al : ‘O idoso e sua

espiritualidade: impacto sobre diferentes aspectos do envelhecimento’ demonstram

que idosos acima de 65 anos expressam um contato mais frequente com a

espiritualidade e religiosidade, mas só recentemente a ciência tem demonstrado

interesse em investigar esse tema, pesquisas ainda tímidas se pode verificar nesse

campo, mas o que se tem como conclusão nesse sentido é que o envelhecimento

possui uma relação íntima com a espiritualidade nos seus mais diferentes aspectos,

estando divididos nas seguintes temáticas: bem-estar, envelhecimento bem-

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sucedido, qualidade de vida, doenças crônicas e degenerativas, doenças

neurológicas e psiquiátricas, funcionalidade mortalidade e impacto no fim da vida, se

percebe que há uma escassez de pesquisas sobre espiritualidade/religiosidade em

idosos.

1.2 O tema do envelhecimento nas ciências humanas

Foi pesquisado também o tema proteção social a partir das leis, onde o Direito é

peça fundamental para a efetivação e prática na aplicação das leis voltadas para o

seguimento idoso.

De acordo com Fábio Roberto Bárbolo Alonso em sua dissertação

:Envelhecendo com Dignidade: ‘O Direito dos Idosos como o Caminho para a

Construção de uma Sociedade para Todas as Idades’, as novas funções do Direito

definidas nessa pesquisa se dão em face de uma sociedade bem heterogênea e

estratificada, onde a lei passa a atuar com a função de defender e afirmar inúmeras

identidades sociais que surgem a cada momento apresentando diferentes demandas

e conflitos.

Nesse contexto o idoso foi caracterizado numa sociedade capitalista, onde é

natural que perca seu valor e função social devido a lógica desse sistema que exclui

aqueles que não mais estão aptos a fornecerem sua força de trabalho.

O que podemos observar é que o crescimento da população idosa é um

fenômeno mundial, o que se faz necessário é uma reorientação das políticas

públicas de modo a abarcar esse seguimento populacional e inseri-lo nas dinâmicas

sociais, e no caso do Brasil isso se torna ainda mais importante, devido a grande

desigualdade social e inoperância de suas instituições, o que na verdade acaba por

dificultar a inserção do idoso nesse processo tornando-o lento e deficiente.

Em geral, vemos que o idoso brasileiro é pobre, dependente e possui baixa

escolaridade o que vem a contrariar todas as demandas mundiais concebidas para

os indivíduos como a autonomia e a inclusão social.

Impossível concretizar estes ideais na realidade brasileira que nos mostra um

idoso abandonado e excluído, tanto em termos de valorização moral quanto em

termos de oportunidades reais de inserção social.

Constatamos aqui o grande paradoxo da situação do idoso no Brasil, onde

vemos péssimas condições de vida para a grande maioria deste segmento, ao

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mesmo tempo em que o país possui uma das legislações mais completas e

abrangentes do mundo, no caso o Estatuto do Idoso.

É primordial a conscientização da população idosa sobre os seus direitos, o

que poderá levar a um maior volume de denúncias que poderá chegar às entidades

competentes, e também desencadear um processo de aprimoramento das

instituições responsáveis na solução dos problemas deste segmento, na medida em

que possivelmente haveria uma maior cobrança da sociedade perante a atuação e a

responsabilidade destas instituições.

Um grande exemplo da falta de conscientização deste segmento é o mau

aproveitamento da Delegacia do Idoso, sobre esta Instituição, poderíamos sugerir

uma atividade itinerante, onde periodicamente poderiam ser montados postos de

atendimento à população idosa em locais públicos, como praças, por exemplo, que

tornassem visível o funcionamento do serviço. Mas isto depende, é claro, da vontade

de nossos grupos políticos em fazer da Delegacia um serviço de proteção ao idoso,

e não um instrumento de propaganda política.

Salientamos então que é essencial a participação do próprio idoso na

discussão e na reivindicação acerca de suas questões sociais, de forma a

alinharem-se com os profissionais atuantes na área da Gerontologia em busca de

um objetivo comum, no caso a dignidade e a cidadania da população idosa.

Esperamos que seja desmistificada a idéia criada no imaginário social da

generalização da condição de debilidade física e mental do idoso, que estaria desta

forma, incapacitado para uma participação política ativa na sociedade, devendo

assim se dedicar exclusivamente à ocupação do seu tempo ocioso com lazer e

cuidados com a preservação da saúde.

Quanto as políticas públicas, é necessária uma atuação mais eficiente do

Estado principalmente na área da Saúde, uma vez que é justamente neste setor que

o idoso mais precisa de um atendimento de qualidade, e encontra, ao contrário, uma

rede pública completamente deficiente e estagnada. Quando se fala dos problemas

do sistema de saúde pública, muitos se esquecem de que são exatamente os idosos

aqueles que mais sofrem com a precariedade deste serviço, já que precisam muito

mais de um acompanhamento constante de sua condição física do que qualquer

outro grupo social.

Sem esquecer, é claro, que são também os idosos que pagam os valores

mais altos nos Planos Privados de Saúde, tornando-os grandes reféns desse

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sistema de Saúde. Precisam muito, o Estado não é competente e os Planos de

Saúde se aproveitam disso tudo. Esta é a lógica perversa do sistema.

É de fundamental importância que se faça a longo prazo um trabalho, onde o

desenvolvimento de programas de saúde preventiva desde a infância, passando

pela fase adulta, e finalmente se chegando a velhice, possa modificar

completamente o cenário sombrio da saúde em nosso país. É uma questão muito

simples perceber que uma criança saudável provavelmente se tornará um adulto

saudável, e conseqüentemente um idoso saudável, o que levaria os cofres públicos

a economizarem grandes fortunas em investimentos em hospitais e postos de saúde

públicos voltados para atender uma população debilitada fisicamente.

Além disso, frisamos neste trabalho a importância de uma análise

institucional, já que acreditamos que a principal dificuldade encontrada neste

momento para a consolidação dos direitos dos idosos no Brasil é o despreparo das

Instituições responsáveis pela sua fiscalização e pelo seu cumprimento, já que

ainda estamos na fase de adaptação, e até mesmo na fase de criação de algumas

destas Instituições, o que demanda tempo para a obtenção de resultados concretos

em suas atividades.

Cremos que não nos cabe neste momento críticas às Instituições que estão

iniciando suas atividades, ou que ainda estão em uma fase de reorientação

estrutural que viabilize a proteção aos idosos, esperamos vislumbrar possíveis

estratégias administrativas e também ideológicas que venham a aprimorar o

atendimento ao idoso e consolidar efetivamente os direitos já conquistados por este

segmento.

O Estado está cumprindo seu papel, através da criação de Promotorias do

Idoso e da implementação de serviços como o Disque-Idoso, já atuantes em

algumas cidades para a apuração de denúncias. Esperamos que sejam criadas

condições objetivas nestas Instituições que permitam o desenvolvimento de um

trabalho sério e competente voltado para os idosos, e principalmente, que estes

conheçam estas entidades, e as vejam como um efetivo canal de defesa de seus

direitos.

Esperamos também que os quadros legislativos de nosso país também se

mobilizem em torno do ideal de um envelhecimento com dignidade.. Afinal, os

representantes legítimos da sociedade têm a obrigação de zelar pelo segmento

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idoso, podendo utilizar seu status e seu poder de coerção para consolidar as

garantias sociais deste grupo.

Punição, então, ainda é algo utópico quando se trata de transgressões contra

idosos.

O que podemos concluir é que a luta dos idosos ainda está muito longe de

chegar ao fim, pois mesmo com os avanços das legislações conquistadas, ainda há

muito que se conquistar na nossa sociedade que nesse momento atravessa uma

onda de incertezas em todos os seguimentos, não obstante esse grupo que sofre

com a invisibilidade sempre estará numa posição bem longe do que seria aceitável.

Devemos sonhar com uma sociedade para todas as idades como um ideal

ainda longe de ser atingido, como uma meta a ser alcançada em um futuro ainda

indeterminado, onde os idosos não seriam incluídos na lógica do sistema, o que

seria uma grande utopia, mas poderiam ter seus direitos respeitados e garantidos

como outras gerações os têm. Acreditamos ser possível uma sociedade para todas

as idades no sentido de que todos tenham uma vida digna e exerçam plenamente os

seus direitos de cidadania.

Imaginamos também que o futuro nos indica grandes possibilidades de

avanço na qualidade de vida da população idosa, uma vez que atualmente

percebemos gradativas melhoras no acesso à educação, no funcionamento de

algumas Instituições, e também em um maior desenvolvimento de políticas públicas

voltadas para grupos sociais mais vulneráveis, o que pode fazer do idoso de

amanhã um indivíduo muito melhor preparado para enfrentar os obstáculos da vida

do que os idosos de hoje, que sofrem com a herança do passado e com o descaso

do presente. Por outro lado, observamos o desmonte da Previdência Pública e a

crise do trabalho formal, nos levando a pensar que o idoso de amanhã talvez se

encontre em uma posição ainda mais desamparada em termos de benefícios e

garantias sociais.

A luta pelos idosos é uma batalha diária, uma vez que a sua situação de

exclusão provavelmente ainda persistirá por algum tempo, o que coloca todos

aqueles comprometidos com a defesa dos idosos em uma árdua missão, que

consiste em lutar contra o sistema e contra a lógica vigente. Isto nos exige uma

perseverança ainda maior, onde cada conquista deve ser vista como apenas um

passo em uma luta que ainda está longe de ser finalizada, que é aquela luta por

transformações que modifiquem a estrutura social e a mentalidade dos indivíduos,

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onde os idosos passem a ser vistos com dignidade e respeito. Os idosos não devem

lutar sozinhos, e nem devemos lutar por eles, mas devemos sim, lutar com eles, pois

nos tornaremos um deles.

Os temas destes trabalhos giram em torno de alguns eixos: o idoso de hoje

diante do mundo urbano, e atuação política, evocando seu passado por meio da

memória, vivenciando experiências de inúmeras transformações nos mais diversos

campos da vida. Ao tratar do tema do envelhecimento e analisando a situação

brasileira, Mariele R. Correa cita o seguinte trecho do trabalho de DEBERT:

“A ideia de um país sem memória, que despreza o seu passado, usada por historiadores e políticos, é para o discurso gerontológico a prova do descaso com que os velhos são tratados pela sociedade e uma justificativa central para os trabalhos interessados em recuperar a memória dos idosos.

1” (DEBERT -2004, p.200 Apud CORREA- pp.67)

Na década de 1980, muitos trabalhos foram produzidos na academia com a

temática do idoso, entre muitos autores destacamos Guita Debert que direciona para

a “representação do Idoso” como “fonte de recursos”.

Recursos referente a memória que deveriam ser tratados através da

oralidade. Podemos acrescentar que a importância de se escutar esse idoso é a

forma de dar valor ao saber acumulado em sua experiência e saberes guardados e

silenciados.

Para Debert os jovens tendem a “superistimar a realidade problemática dos

mais velhos”, que numa visão geral se contrastam na visão dos próprios idosos

sobre si mesmos, pois estes segundo os mais jovens projetam uma imagem muito

mais positiva da sua situação.

“Os dados sobre o perfil do público mobilizado indicam que ele é relativamente jovem do ponto de vista da idade cronológica. É rara a participação de indivíduos com 70 anos ou mais. Trata-se de um público funcionalmente independente, o que permite a participação em atividades como festas, bailes, coral, que fazem parte das atividades propostas, inclusive nas Universidades para a Terceira Idade.

Nos diferentes programas, as atividades desenvolvidas são organizadas por especialistas com formação ou treinamento em Gerontologia. Embora essas atividades tenham diferenças, em termos de

1 DEBERT, Guita, 2004. Pp. 200 Apud CORREA, MR Cartografias do envelhecimento na contemporaneidade:

velhice e terceira idade.[on line] São Paulo: Editora UNESP: São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009, 125p.

Disponível em: http://books.scielo.org

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recursos disponíveis em cada uma das instituições e em função das características e do tipo de envolvimento dos coordenadores, elas, em geral, envolvem trabalhos manuais, bailes, passeios e excursões, ginástica. Nas universidades, é dada maior ênfase a aulas e conferências.

Apesar da diversidade, a tônica geral dos programas é a tentativa de rever estereótipos e preconceitos por meio dos quais se supõe que a velhice seja tratada na nossa sociedade.” (DEBERT-

Para Marcelo Salgado, há uma diferença entre ser e estar velho:

“Ser velho é o destino de todos nós, o que a humanidade, por mais progressos que tenha feito, não conseguiu ainda evitar. Estar velho é outra coisa. Este conceito se refere ao sentido pejorativo da velhice, enquanto significa uma série de manias, achaques, confusões, ensimentos que podem afetar as pessoas, independentemente de sua idade cronológica. Assim, existem jovens velhos e velhos jovens (SALGADO -1996, p.7)

2”

O envelhecimento e a velhice, em especial, são tratados por meio de

representações sociais dos próprios idosos, de seus familiares, de cuidadores e de

profissionais de saúde. Os pontos de reflexão se concentram na identidade, no

sentido existencial, na personalidade e na auto-estima. A maioria quase absoluta da

produção, independentemente do enfoque – desde aqueles de abordagem mais

estereotipada e marcada pelos rótulos dominantes, em que o envelhecimento é um

problema de Estado ou de saúde, e, portanto, deve ser regulado e tratado, até

aqueles que reservam um espaço de reflexão e ações alternativas para este

segmento etário da população, reconhecendo as perdas sem, no entanto, nunca

tratar estes fatos tristes como sinônimo da velhice –, não incorpora uma dimensão

que julgo contemporânea e de necessária reflexão.

A sociedade brasileira oferece ao idoso pouca oportunidade para ativar e

exercitar sua lembrança, tão importante ao diálogo com as demais gerações.

Contemporâneo ou não, o diálogo é indispensável ao exercício do pensamento. A

sociedade dominante tem, ao contrário, estimulado o esquecimento. O que foi

produzido no passado não tem interesse hoje e possivelmente será esquecido

amanhã. (Magalhães, 1986, p.11)3

2 SALGADO, Marcelo . Aspectos da problemática social do idoso no Brasil e as ações do SESC de São Paulo:

SESC 1978 – 1996.pp.5 3 MAGALHÃES, D.N. O crescimento do número de idosos nos países em desenvolvimento, Rio de Janeiro-

boletim intercãmbio, p. 5-14, out/dez 1986

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O envelhecimento é uma questão explorada por pesquisadores, estatísticos

por meio de investigações científicas encontradas na literatura nacional e

internacional, que revelam a projeção notória desta população de idosos. No

panorama mundial, bem como nos países em desenvolvimento, a população idosa

aumenta significativamente e o contraponto desta realidade aponta que o suporte

para essa nova condição não evolui com a mesma velocidade.

Diante disto, a preocupação com esse novo perfil populacional vem gerando,

nos últimos anos, inúmeras discussões e a realização de diversos estudos com o

objetivo de fornecerem dados que subsidiem o desenvolvimento de políticas e

programas adequados para essa parcela da população. Isto devido ao fato que a

referida população requer cuidados específicos e direcionados às peculiaridades

advindas com o processo do envelhecimento sem segregá-los da sociedade.

Simone de Beauvoir, no livro A velhice4, realiza um traçado histórico desse

período da vida desde a Grécia Antiga. Em seu estudo, a autora salienta que muitos

pensadores e pesquisadores da velhice acreditam que ela é uma fase

correspondente ao inverno da vida, repleto de doenças e do desgaste do corpo.

Segundo sua concepção, “até o século XV, trazendo receitas, modos de

conservar a saúde ou de minimizar doenças, sintomas e seus respectivos

tratamentos. Mesmo que nestes tempos ainda haja o discurso do envelhecimento

ativo, esse efeito de sentido desvitalizador é bastante presente na produção

bibliográfica.

Cabe ressaltar, a procura por um conceito de velhice propõe interface com

outras áreas do conhecimento; não obstante, seu veio apresenta forte presença do

discurso voltado somente para os aspectos biológicos do envelhecimento, no qual o

corpo do idoso é visto como um corpo que se desgastou. A construção da categoria

de velhice passa por diferentes esferas de saber, assim como há também a

dificuldade em situá-la em uma determinada etapa da vida. A procura por um

conceito de velhice demonstra a preocupação em caracterizar e delimitar essa fase.

Circunscrevendo-a no interior de determinadas características entendidas como

próprias da velhice, ela é, enfim, discriminada de outras idades da vida. Em sua

obra, a autora salienta a necessidade de quebrar a “conspiração de silêncio” em

4 BEAUVOIR, Simone. A Velhice . Rio de Janeiro: Nova Fronteira – 1990

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torno da velhice, um tabu para a medicina, as artes, as políticas públicas e a

sociedade em geral.

1.3 Como pensar a terceira idade a partir de contemporaneidade

As exigências pessoais sobre as necessidades do cuidado com a saúde se

transformaram. O acesso e a disponibilidade a novas tecnologias e ações para a

saúde modificaram a percepção das pessoas e da sociedade sobre como os

serviços e os profissionais da saúde e de outras áreas atuam e se organizam.

Entretanto, novas atitudes compatíveis com estas transformações são

indispensáveis. As novas demandas e os anseios da população, sobretudo a idosa,

só serão atendidos com uma mudança no olhar para um cuidar humanizado, efetivo,

para e com estas pessoas5.

Políticas públicas voltadas para o idoso são fundamentais para a qualidade de vida

dos mesmos e necessárias para a sociedade, visto que nas últimas décadas só

ouvimos falar no aumento da expectativa de vida dos brasileiros e que seremos um

país de idosos muito em breve.

O que vemos hoje é o aumento expressivo da expectativa de vida da

população, e como consequência desse envelhecimento podemos observar que

está havendo necessidade da implantação de políticas públicas voltadas para o

público mais carente.

Políticas voltadas para um melhor atendimento na área da saúde pública tão

precária hoje em nosso país.

Parte da população continua a envelhecer com a saúde precária, pois

apresentam fragilidades e uma das consequências são doenças crônicas. O que

precisamos na verdade é de políticas voltadas para a população mais fragilizada que

sem acesso a uma saúde pública de qualidade acaba por não conseguir se cuidar

como deveria.

5 RAVELLI, Ana Paula Xavier. A Produção do Conhecimento em Enfermagem e Envelhecimento:

Estudo Bibliométrico. Aprovação final: 3 de agosto de 2009

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O aumento da expectativa de vida está atrelado a qualidade de vida, e

quando falamos em qualidade estamos falando em envelhecimento saudável, cuidar

da saúde física e mental é fundamental. Para afastar o estigma de velhice sinônimo

de morte a atividade intelectual é fundamental para o envelhecimento saudável, o

corpo envelhece a mente não, mas se não a exercitarmos certamente atrofiará.

“Quando normais e estigmatizados realmente se encontram na presença imediata uns dos outros, especialmente quando tentam manter uma conversação, ocorre uma das cenas fundamentais da sociologia porque, em muitos casos, esses momentos serão aqueles em que ambos os lados enfrentarão diretamente as causas e efeitos do estigma.”

6(Goffman/1963-

p.15)

6 GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada / Erving Goffman;

tradução de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes, Rio de Janeiro : Zahar, 1975.

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CAPÍTULO 2 - A ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DOS

MUNICÍPIOS DE NITERÓI E SÃO GONÇALO (AAPMNSG)

A Associação é formada por um grupo de idosos aposentados que se reúnem

duas vezes por mês na sede do Sindicato dos Operários Navais do Rio de Janeiro

(SONRJ). O objetivo principal é a busca por soluções e melhorias pertinentes ao

cotidiano dos associados. Essas inquietações estarão por compor uma pauta, que é

apresentada nas assembleias.

A Associação foi criada a partir da necessidade de um grupo operários da

construção naval em 16 de junho de 1986, com a finalidade de ações conjuntas

desses operários que a partir daquele momento encontravam-se sem atividade

laborativa iniciando suas aposentadorias. Importa-nos refletir, neste momento,

acerca da visão destes trabalhadores sobre a sua própria condição associativa, as

suas condições de enfrentamento político e as suas relações sociais.

2.1 História da Associação

Por que essa associação foi criada? Ela partiu de uma necessidade que eles

tiveram de reivindicar direitos que eles tinham enquanto ex-funcionários do estaleiro

naval. A diretoria foi formada para eles ingressarem com uma ação coletiva

reivindicando direitos pós golpe de 64.

A associação foi fundada em 16 de junho de 1986 por vários integrantes do

Sindicato dos Operários Navais do Rio de Janeiro (SONRJ ) um dos principais

integrantes hoje é presidente de honra da associação. Este fundador foi um líder

sindical muito atuante antes do golpe militar, que junto com alguns companheiros,

resolveram fundar essa associação depois de aposentados.

O lugar que dá sede à Associação foi palco de luta dos operários navais do

Rio de Janeiro. O prédio fica situado no bairro do Barreto em Niterói e foi construído

com a contribuição de um dia de trabalho – p/ mês durante toda a construção - de

cada operário da construção naval. Este fato é motivo de orgulho e honra desses

sindicalistas. O referido fundador atesta o fato e acrescenta que muitos dos seus

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companheiros participaram efetivamente da construção do do prédio, colocando a

“mão na massa”, como se habitua a dizer.

A associação é originária tanto dos agentes que compunham quanto do

objetivo principal do Sindicado, que era abarcar tudo que envolvia os seus

profissionais. E então alguns foram se aposentando, não atuando mais efetivamente

pelo o que foi construído. Parte da luta contra o desvinculo foi a criação dessa

associação, que encontrou formas para impedir o total desligamento dos operários

aposentados desse sindicato.

Ela hoje abriga também qualquer aposentado pela Previdência Social que

queira se associar e que possa também contribuir de alguma forma.

2.2 Necessidade De Permanência (a Associação hoje)

Além das pertinências cotidianas, é um espaço de lazer e sociabilidade. Se dá

também por sociabilidade, porque ela não tem tanto força política. É pela junção

dessas pessoas duas vezes por mês para discussões de temas da atualidade e

confraternização.

Aquilo ali é o elo que as liga, pois estiveram unidas através do trabalho a vida

inteira, através sindicato que alguns dos integrantes ajudou a fundar, apesar de não

atuarem mais na profissão. Atuando politicamente para os operários navais que um

dia vão se aposentar.

A associação é um espaço de sociabilidade que visa a integração das

pessoas na terceira idade. É importante porque ocupa um espaço que de alguma

maneira atua informando e questionando fatos pertinentes ao idoso.

Dois dos líderes que compõe a diretoria se dedicam exclusivamente à

manutenção da associação. Um atua mais na questão dos direitos; o segundo se

dedica muito à parte política da associação; e ambos participam raramente das

atividades de lazer que eles mesmos se empenham em manter junto com outros,

para se concentrarem em seus afazeres políticos de atuação e assim continuar a

manter todo o processo.

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2.3 O Relato Etnográfico

A encargo de uma entrevista possibilitada pelo projeto de memórias dos

operários navais 7 foi que se deu a minha inserção no campo. Através do mesmo

que foi possível conhecer uma das figuras centrais que mediaria a minha

observação e participação na Associação dos Aposentados e Pensionistas dos

Municípios de Niterói e São Gonçalo.

Este primeiro momento se deu na casa do entrevistado, em São Gonçalo, em

agosto de 2016. Durante sua fala, menciona como uma de suas atividades atuais o

exercício como presidente de honra da Associação, revelando ter feito parte de sua

fundação.

Houve uma predisposição – apontado no modo como foi solícito e tomado,

talvez, por uma curiosidade - deste interlocutor quando expus meu interesse em

pesquisar a terceira idade, para além do projeto de extensão. Ele comunica, então, à

diretoria para intermediar o convite que me faria posteriormente. No mês seguinte

ele telefona convidando-me a assistir uma reunião de diretoria para entender o

funcionamento da Associação.

Por conta desse ocorrido, e dali em diante, se constrói o estudo por método

de redes de relações. A partir de deste contato, e dado um carisma que se instaurou

entre a pesquisadora e um dos protagonistas do projeto, deu vias a esta etnografia.

Pude então observar durante as reuniões de diretoria e das assembleias como se

dão as relações do grupo, suas preocupações e anseios. Percebi um grupo muito

coeso em discutir tudo que se passa na sociedade que afeta diretamente a eles e a

sua descendência: as mudanças das leis trabalhistas, da previdência social, políticas

de saúde pública e na manutenção de benefícios.

Reunião de Diretoria

As reuniões de diretoria são parte fundamental no que tange questões

políticas. Trata-se de um grupo menor interessado em debater assuntos que

7 Projeto de extensão intitulado “De sonhos, lutas e decepções: a experiência democrática do governo João

Goulart (1961-1964) na memória dos operários da construção naval de Niterói e São Gonçalo”, liderado pelo

Professor Dr. Sérgio de Souza Montalvão.

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implicam ao seu cotidiano. Ocorre uma discussão onde todos expõem suas ideias,

buscando um consenso para que, ao final, seja elaborada a pauta da assembleia.

Os encontros acontecem no segundo andar do prédio do Sindicado dos

Operários Navais do Rio de Janeiro (SONRJ), ao lado da secretaria, numa sala de

reuniões, cujo único acesso possível hoje é por meio de escadas, apesar de ter no

edifício um elevador que hoje encontra-se desativado por falta de recursos

financeiros, o custo tornou-se alto demais. Ocorre toda terceira sexta-feira do mês,

começando com um café-da-manhã por volta de oito e meia; e às dez horas se inicia

a reunião.

Funcionam da seguinte maneira: cada membro de diretoria aborda um

assunto e dá sua percepção sobre o tema. Esta apresentação tem intenções de

mobilização. Trazem sempre um “que tal falarmos sobre isso”, comumente trazendo

falas interessadas em “passar essa informação sobre o que está acontecendo na

previdência social”; ou quanto a “um informativo para o pessoal, para ficarem

alertas, se mobilizarem para impedir que passe na Câmara, no Senado”; debatem a

viabilidade de viagens à Brasília para protestar, apesar de que até o presente

momento não houve a possibilidade por falta de recursos financeiros.

O corpo de diretoria é composto por seis mulheres e seis a oito homens. Há

essa variação porque alguns fazem parte, mas não são assíduos. Também contam

com uma secretária e com grupo de apoio, que, em geral, é responsável pela

preparação das refeições, eventos e questões administrativas8 ..

Encerra-se ao meio dia, seguido do almoço feito pela secretária e outras ajudantes.

Na sexta-feira seguinte acontece a assembleia para todos os associados.

Assembléia

A assembleia é a reunião de todos os associados com a intenção de que

participem e tomem ciência acerca dos informativos resultantes da reunião de

diretoria. É composta pelos momentos: coffee break, abertura, que constitui um

breve discurso do presidente com a apresentação de todos tópicos daquela

assembleia; seguido pelas palestras; encerrando com o sorteio de brindes.

8 A secretária e este grupo que a apoia são responsáveis pela rotina administrativa: trabalho burocrático de

admissão de associados, contatos com palestrantes, recebimento das contribuições, as compras, etc.

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Acontece no auditório, que fica também no segundo andar do prédio, em

frente à secretaria. Inicia-se pontualmente às 10 horas. O presidente e orador abre a

assembleia. Num primeiro momento chama um dos membros da diretoria para fazer

a oração do “Pai-nosso”. Ao término da mesma o presidente retoma para fazer a

apresentação da palestra do dia e o que mais vai acontecer, antecedendo a

apresentação de toda nova atividade.

De forma esporádica, ao se creditar relevância, assuntos pertinentes que

aparecem na reunião de diretoria são expostos em um breve comentário de um dos

membros diretores. O presidente de honra que vem acompanhando

sistematicamente as mudanças na previdência social é, em toda assembleia,

convidado a relatar suas descobertas mais recentes. Ambos pronunciamentos

podem acontecer ou antes ou depois das palestras.

Faz parte da apresentação palestras de temas atuais ministradas por um

visitante –líderes de ONGs como a ADAMA (Associação dos Amigos da Mama

Niterói e RJ) que abordou o tema da prevenção contra o câncer de mama,

representantes de instituições como o SESI (Serviço Social da Indústria) com a

confecção de carteirinhas para os associados terem acesso ao serviço de

ambulatório médico e serviço social. E as temáticas das palestras geralmente tratam

de questões ligadas ao direito, à saúde, sexualidade, esporte, lazer. Trazendo como

exemplo a representante do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) na

Cidade de Niterói, onde foi abordado o tema Aposentadoria e esclarecido tudo em

torno dos direitos dos aposentados.

O que acontece durante a assembleia é um alvoroço, sendo necessário pedir

silêncio ou baixa das vozes, várias vezes. Devido a ansiedade do baile, inclusive a

porta de cima deve estar trancada até o termino da assembleia, para que não subam

e deixei de participar e ouvir as questões elaboradas pela diretoria.

Eles estão ali interessados, muitas vezes, no almoço e baile; é a diversão, a

confraternização que mais parecem acudi-los. Percebe-se tal coisa, por exemplo,

pela concentração na porta do auditório, sendo necessário que se convide a

sentarem-se; junto com um burburinho contínuo que se transforma em um vozerio,

mesmo durante alguma apresentação.

Termina pontualmente ao meio dia. A secretária do Sindicato, que também

auxilia na Associação, faz o encerramento com o agradecimento a todos os

participantes, palestrantes e voluntários.

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Almoço

Acontece no terceiro andar, que vem a ser o terraço do prédio, geralmente é

um sopão e em ocasiões especiais é servido um almoço mais elaborado, sempre

acompanhado de música ao vivo.

Nesse almoço que também é uma grande confraternização, onde há uma

troca de experiências nas conversas, se dão nas mesas por um tempo de

aproximadamente duas horas, é o prenuncio para o que virá a seguir o tão esperado

baile.

Baile

Nesses bailes começam vários tipos de relações. Conversando com muitos

deles, notei que a maioria são sozinhos, vivem sozinhos, apesar de terem parentes

e filhos. Então, aquele momento de socialização no baile passa a ser o momento

mais aguardado pela maioria, pois trata-se do único momento de lazer que muitos

têm durante o mês. Esse dia é sempre aguardado com muita ansiedade, pois as

expectativas de extravasamento de sentimentos bons como de alegrias,

descontração e muitos desabafos só ali acontecem.

Muitos frequentadores desses bailes anseiam por encontrar um par para dividir a

vida, e muitas paqueras se concretizam ali. Muitos casais foram formados nesse

baile, gerando uniões que ainda perduram e algumas que já se findaram.

No baile a maioria dos integrantes são do sexo feminino, devido a isso muitos

trazem convidados para enriquecer o baile e geralmente são convidados a se

associarem.

Outras percepções

A secretária que faz parte do apoio administrativo é a que geralmente cuida

da agenda de palestrantes, sendo ponte entre a Associação e todas as outras

entidades parceiras. Algumas parcerias são voluntárias, sendo alguns parceiros a

ADAMA, o SESI - que costuma colaborar disponibilizando e difundindo gratuidades e

promoções na área social e recreativa, inclusive dando palestras nesse sentido.

Vinculam-se essas parcerias por se tratarem que pessoas e entidades que estão

atuando com programas sociais pertinentes aos interesses desse grupo.

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Frequentemente a secretária do Sindicato, que também auxilia na

Associação, faz intervenções ao público durante a assembleia, repreendendo-os

devido a sua agitação e falatório generalizado. Costuma chamar a atenção dos

associados argumentando que tudo é feito com muito esmero e sobre respeitar as

pessoas que se dispuseram a construção daquele espaço. Outras vezes ela aparece

para elogiá-los, dizendo que eles são peça fundamental para que a Associação

exista, e pedindo que sejam mais participativos, que tragam convidados para

compartilhar daqueles encontros. Costuma lembrar sobre como as reuniões eram

lotadas, numa tentativa de incentivá-los a valorizar aquele espaço.

Essa mesma secretária é peça fundamental para o funcionamento da

Associação, pois dedica todo seu tempo aos associados, disponibilizando toda sua

atenção a eles, inclusive ligando para os mesmos quando nota sua ausência, muitas

vezes quando estão doentes vai cuidar deles em suas residências.

Há sorteios que são feitos no encerramento das assembleias, cujos brindes

são doados por alguns membros da diretoria. O sorteio acontece com o número que

corresponde ao participante, ordenado conforme as assinaturas no Livro de

Presença.

Esse Livro de Presença deve ser assinado pelos associados e visitantes, com

exceção dos membros da diretoria e palestrantes. O livro passa de mão em mão

quando os participantes já estão sentados. Interessa esse livro para se computar o

quórum da assembleia, a partir dali fazendo uma avaliação da apresentação. Às

11:00 h é marcado no livro o último a assinar para que se faça um balanço do

quórum da Assembleia, e ao final se computa o número total de participantes.

O sorteio é uma das formas que a diretoria encontrou para incentivar a

permanência dos associados até o final da assembleia. O que, no entanto, percebi

não ser de grande atrativo para os mesmos, visto que muitas vezes são chamados

mais uma vez pela secretária da ocorrência desse sorteio quando já estão

debandando.

Existe um fotógrafo, a registrar esses encontros, desde a assembleia até o

baile. Ele é pago com recursos do Sindicato e da Associação. No final da

assembleia, também como brinde são distribuídos alguns CDs com fotos da

assembleia anterior.

A colaboração mensal corresponde a 1% do salário de aposentadoria,

geralmente um salário mínimo e os associados voluntários que contribuem de

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acordo com a disponibilidade de cada um. Constitui uma das formas de manutenção

da Associação.

O custo mensal dessa confraternização é de aproximadamente R$3.500,00

mensais, o que acaba saindo caro devido aos poucos recursos arrecadados, mas

mesmo assim eles não desistem continuam a lutar para manter esse espaço de

sociabilidade como forma de luta e resistência também.

Característica da composição do corpo diretor da Associação.

A Secretária da mesa Diretora é quem redige a ata da reunião e a ata da

assembleia. É uma octagenária muito boa de escrita, de ortografia impecável, e para

tanto foi nomeada nesta função. Sua antiga profissão na qual se aposentou foi de

Assistente de faturamento.

O presidente de honra da Associação é aquele que fez parte da fundação do

Sindicato e também da Associação. O presidente de honra teve uma vida ativa na

militância política da época em que trabalhou como operário naval – tendo sido

integrante do PCB, tendo inclusive presidido o Sindicato dos Operários Navais do

Rio de Janeiro (um dos mais expressivos sindicatos no movimento contra o golpe de

1964) e devido a essa sua inquietação natural de um ativista político não se conteve

na sua aposentadoria em ficar de braços cruzados, inclusive cheguei a esse grupo

pelas mãos ainda firmes dessa pessoa.

Apenas o presidente da Associação, que é também presidente do Sindicato,

que está propriamente em atividade laborativa. É o mais jovem do grupo, um

cinquentenário que dedica junto com sua mulher e secretária todo seu tempo1

produtivo a atuar nessas atividades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ainda estar vivenciando a experiência de meu trabalho etnográfico

de pesquisa sobre o tema envelhecimento, estou na expectativa de trilhar um

caminho seguindo esse tema apaixonante e desafiador. Apesar de tantas produções

a respeito, ainda temos que derrumar estigmas e preconceitos a respeito da velhice,

muitas são as produções a respeito desse tema, mas a caminhada é longa e

grandes contribuições ainda poderão ser dadas aos estudos sobre o

envelhecimento.

Com esse trabalho espero ter despertado o interesse se não a curiosidade

sobre como todos nós vivenciaremos a velhice, pois dela não escaparemos, como

bem foi falado por diversos pensadores: “Somos sempre o jovem ou o velho em

relação a alguém.”(Pierre Bourdieu).

Não escaparemos da velhice se tivermos coragem e o privilégio da

longevidade, acumularemos experiências para transmitirmos aos mais jovens que só

terão sua vivências experenciadas com a passagem do tempo em suas vidas.

Ser velho é um estado de espírito, pois como a própria motivação dessa pesquisa

questionou, a idade é sinônimo da velhice ou uma extensão (projeção) para o

processo?, creio nessa projeção, pois é através da contagem desse tempo que

adquirimos experiência de vida, o verdadeiro sentido da existência.

A todo tempo deparamos com a exclusão do idoso na sociedade moderna,

mas partindo do ponto de vista que esse caminho todos teremos que percorrer, que

será o destino de todos, vamos refletir sobre esse processo e tentar mudar a forma

como a sociedade em que vivemos encara esse processo.

O envelhecimento é tratado como um problema a ser resolvido, nos dia de

hoje. É um problema para a família e o Estado.

Dessa forma, devemos procurar alternativas e respostas. É colocado para o

idoso que ele tem que arcar com a solução para tal problema e que ele deverá

buscar esclarecimentos sobre suas condições biológicas, as limitações que virão e

da necessidade de tornar ativo e de como integrar-se socialmente, para com isso

sanar as dificuldades advinha da idade, para melhor se preparar para velhice, tudo

isso como imposição da sociedade. Segundo (Haddad, 1986) os estudiosos da

velhice é que apontam tudo isso, e nesse campo estão os médicos, psicólogos e

cientistas sociais.

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Que envelheçamos da maneira que quisermos. Devemos sonhar com uma

sociedade para todas as idades como um ideal ainda longe de ser atingido, como

uma meta a ser alcançada em um futuro ainda indeterminado, onde os idosos não

seriam incluídos na lógica do sistema, o que seria uma grande utopia, mas poderiam

ter seus direitos respeitados e garantidos como outras gerações os têm.

Acreditamos ser possível uma sociedade para todas as idades no sentido de

que todos tenham uma vida digna e exerçam plenamente os seus direitos de

cidadania.

Como bem disse Simone de Beauvoir: Viver é envelhecer, nada mais. O que um

adulto? Uma criança inchada pela idade. Que nada nos defina. Que nada nos

sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.9

9 BEAUVOIR, Simone. A Velhice . Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990

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