uff- universidade federal fluminense camila ... - camila...a autora (marimba-ani-1882) descreve os...
TRANSCRIPT
-
UFF- UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CAMILA NEVES DE SOUZA
Acordo de paz
Resiliência baseada na espiritualidade científica
1
-
CAMILA NEVES DE SOUZA
Acordo de paz
Resiliência baseada na espiritualidade científica
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Antropologia
da Universidade Federal Fluminense, como parte das exigências para
obtenção do título de Bacharel em Antropologia.
Niterói, Rio de Janeiro
2018
2
-
Agradecimentos
Agradeço a todas as energias que me impulsionaram até aqui. Agradeço a energia
materna regida pela minha mãe e irmã, da qual eu não estaria na universidade senão fosse a
luta das mesmas para viver sobrevivendo e resistindo com suas resiliências aguçadas e que
merecem toda a louvação da parte do universo.
Agradeço a energia infantil que é o meu filho, Samuel, que este foi o melhor presente
do universo e é com certeza a maior benção da minha vida.
Agradeço a energia paterna que fez com que financeiramente me permitisse estar na
universidade.
Agradeço aos meus amigos, Tunã, Lorena, Tainá, Giulia, Bárbara, Débora e Laís que
cresceram comigo ao longo da graduação transformando suas potências em sentimentos belos
para o mundo ser transformado para o melhor.
Por fim, agradeço à universidade, um espaço ilusório que me fez crescer em cima da
exclusão e ultrapassar minhas rasas expectativas para avançar para além do que poderia
imaginar.
3
-
Ouro na terra,
que quando encontra as águas
e é carregado pelo rio,
ao peneirar,
reluz.
Sem.Nome
4
-
Resumo
Este trabalho visa através da resiliência de mulheres negras mostrar a capacidade de se
produzir conhecimento plural e satisfatório para evolução do espírito e do material na vida de
uma pessoa. Ele visa transformar a leitura em um sentimento satisfatório e entendível aos
olhos de quem procura o trabalho para o entendimento sobre o material e o espírito. Trata dos
assuntos diversos ao mundo do corpo dos quais estamos envolvidas para mostrar que a
realidade construída pelos nossos olhos pode ser mudada a qualquer momento através do
conhecimento que leva a educação. Este trabalho busca transcender as expectativas
normativas vigentes neste século transformando-se assim uma bela mensagem de paz para
todas as pessoas.
Palavras-chave: Resiliência. Paz. Ciência. Espírito. Mulheres Negras.
Abstract
This work aims through the resilience of black women showthat it is capable of
producing plural and satisfactoryknowledge for the evolution of the spirit and the material in
aperson's life. It aims to transform the reading of those who read in a satisfactory and
understandable feeling in the eyes of those who seek work to clarify themselves.
It treats various subjects to the world of the body from whichwe are involved to show that the
reality built by our eyes canbe changed at any time through the knowledge that leads
toeducation. This work aims to transcend the normative expectationsprevailing in this century,
thus transforming a beautifulmessage of peace for all people. .
Keywords: Resilience. Peace. Spirit.Science. Black Woman
5
-
Sumário
1. Introdução.............................................................................................7
2. Ocidente................................................................................................8
3. Brasil e o corpo de sua sociedade........................................................12
3.1 Transgêneros..................................................................................15
3.2 Negros e Pardos.............................................................................17
3.3 Branquitude....................................................................................21
3.4 Indígenas........................................................................................23
4. A Academia..........................................................................................24
5. Espiritualidade científica......................................................................27
6. Resiliência............................................................................................30
7. Grupos de (Re)resistência....................................................................36
8. Conclusão.............................................................................................39
6
-
1 - Introdução
Este trabalho visa através da resiliência de mulheres negras mostrar que é capaz de se
produzir conhecimento plural e satisfatório para evolução do espírito e do material na vida de
uma pessoa. Ele visa transformar a leitura de quem lê em um sentimento satisfatório e
entendível aos olhos de quem procurar o trabalho para se esclarecer. Trata sobre assuntos
diversos ao mundo do corpo da qual estamos envolvidas para mostrar que a realidade
construída pelos nossos olhos pode ser mudada a qualquer momento através do conhecimento
que leva a educação.
Este trabalho busca transcender as expectativas normativas vigentes neste século
transformando-se assim uma bela mensagem de paz para todas as pessoas.
São sete passos para entendermos como a resiliência se constrói dentro de um ser
nessa sociedade. O corpo em si onde está situado - no Ocidente, em qual país - Brasil, sua
crença, seu espírito, a resiliência e a resistência que o corpo faz para se dar novas medidas de
viver ao meio. Como o sistema de crenças introduz esses pensamentos nas consciências das
pessoas, falando sobre a academia e a religiosidade na consciência do ocidente.
O espírito que trago é para a salvação da alegria junto com o desejo de transformar o
mundo em um local plural e que o único fundamento seja o respeito a todos com a devida
prescrição para tal.
Respeitando-se que todo fundamento deve ser analisado e entendido como próprio de
cada corpo e trazendo as práticas daquele ser enquanto ele mesmo pensa sobre ele mesmo.
Entendo que o mundo não entrará em um consenso, nem que um fundamentalismo será
perfeito para todas as pessoas. Portanto, deixo em aberto uma discussão para pensarmos sobre
como o conhecimento do ser pode nos trazer a resposta que desejamos há muitos séculos.
A verdade, a nossa verdade e a verdade coletiva sobre o espírito.
A pesquisa feita com as mulheres negras teve como base a filosofia científica e espiritual, e
7
-
através dela foi captada a perspectiva de suas vivências para traduzir para se pensar junto com
a resiliência dessas mesmas mulheres. A vivência com elas foi de incrível enriquecimento do
espírito e de perspectiva perante a vida. Esta pesquisa foi realizada a partir do pensamento de
variados autores que tem como missão entender o conhecimento humano e transformá-lo em
intelectualidade conectada com o crescimento do espírito.
2 - Ocidente
A autora (marimba-ani-1882) descreve os conceitos de Asili que são as sementes
centrais ou a “matriz de germinação” da cultura. É onde se encontra o problema europeu, a
matriz do problema onde toda a questão começa a ser germinada para ser regada pelo
Utamawazo, “pensamento culturalmente estruturado” ou visão de mundo, que é a maneira em
que o pensamento dos membros de uma cultura deve ser modelado para asili ser cumprida, e a
Utamaroho, que é a força vital de uma cultura ou sua fonte de energia, que lhe dá seu tom
emocional e motiva o comportamento coletivo de seus membros. Asili cultural, ou seja, a
forma como uma cultura do mesmo se desenvolve.
Nesta cultura constaria a semente que contém um núcleo ideológico, o conceito de
como a cultura que está buscando a asili se desenvolve, portanto, sua pesquisa é a forma de
estudar a asili da cultura ocidental.
“De acordo com o modelo de (marimba-ani 1882) o utamawazo da cultura
europeia "é estruturado pela ideologia e bio-cultural experiência "e sua
utamaroho ou força vital é dominação, refletida em todas as estruturas
baseadas na Europa e a base para estruturas de imposições de valores
ocidentais de milhões de pessoas ao redor do mundo, destroem culturas
e linguagens em nome do progresso.(8)(15) O livro usa o termo Maafa
que significa o grande desastre para descrever a escravidão que foi a
enorme capacidade de penetração da violência psíquica praticada contra
a cultura negra resultando em um tratamento genocida e anti humano
contra as pessoas negras.” (yurugu-marimba-ani 1882)
8
-
A realidade material no ocidente é entendida sem a manifestação do espírito. As
filosofias ocidentais dizem “Penso, logo existo”, onde o sujeito é induzido a afirmar que
somente ao pensar sua capacidade de avaliação e percepção pode ser considerada como real.
Sua forma de análise é vista somente com o pensar lógico e raciocínio prático. Uma forma
desleal de enquadrar o ser em suas percepções lógicas e idealistas do que é pensar e sentir. Ao
invés da lógica separada do sentir, poderíamos pensar na conectividade dos dois para operar
nossas vidas.
Nós somos o universo, porém a asili europeia nos permite pensar que somos seres
separados do organismo vivo. Ser pensante e ser emocional, duas separações divinas
operacionais que nos fazem adoecer e sermos controlados por um cartel de objetivos egoístas
e controladores para que nos forcem a crer que a nossa realidade não pode ser controlada.
O ocidente tira a conectividade entre matéria e espírito e diz que para conhecer o
universo precisa-se se separar dele em vez de olhar para dentro de si, a cultura deve dominar e
controlar aquelas culturas que não separam o espírito da parte emocional e da parte pensante.
Quando a teoria que se origina na imaginação se torna mais do que uma
ferramenta epistemológica útil para tarefas específicas associadas à
investigação científica, pode se tornar perigosa, porque ela pode de fato
ofuscar a realidade que ela está tentando esclarecer e distorcer a
cognição que ela está tentando aperfeiçoar. A teoria do conhecimento
de Platão tornou-se, eventualmente, reificada em uma declaração
ideológica com implicações políticas. Sua criação viria a tornar-se um
determinante e suporte – uma fundação e uma inspiração – para o
domínio, intensificação, e valorização de uma tendência no
comportamento Europeu em detrimento de outras inclinações. A
necessidade de controlar e ter poder sobre os outros ascendeu a uma
posição de prioridade. Tornou-se uma obsessão, sempre lutando para
negar qualquer humanismo que existia na cultura, por causa da asili.
(yurugu-marimba-ani 1882)
A forma de nos relacionamos com o mundo é a realidade que somente nós possuímos,
9
-
um ponto de vista de um corpo que através de seus círculos culturais dos quais o indivíduo faz
parte e tudo o que ele guarda, incluindo todas as variantes do sentir que ele vai experimentar
amar, sofrer, desapegar, se moldar, transgredir, ser feliz, odiar e todas essas variantes que nos
tornam únicos na sociedade. Porque quanto mais vivemos mais nos perguntamos o que
estamos fazendo de nossas vidas e isso tem várias reações de sentimento, da qual a fé nos
permite seguir e confiar no pai (que significa Deus na linguagem cristã), porque crer que o
inimigo (que significa demônio na linguagem cristã) faz com o que seus problemas acabem ao
realizar as orações egoístas e fúteis, porém algumas pessoas se esquecem que as orações com
afeto e amor a todas as pessoas são de extrema importância.
O velho sistema meritocrático dissemina seu espírito capitalista em todas as formas de
relações de poder e esse sentimento de controlar algo ou alguém perpassa pelas classes altas,
medianas e baixas, o poder ocidental pode se estabelecer nas pequenas coisas que possuímos,
seja no plano material e ou simbólico, o mesmo existe sobre as diversas variantes de
desenvolvimento humano e nas suas relações de convivência.
Como essa soberania pode garantir que o conhecimento não se deforme, se transforme
e se revolucione com o movimento natural da vida? Pois é lógico que quando temos as
relações interpessoais o reconhecimento do conhecimento dado às pessoas de todas as classes
e gêneros pode ser difundido através da comunicação e do toque.
Os grupos são divididos pelas políticas racistas, divisões de gênero, controle da
violência centralizada e coletiva, e nessa instância separam os blocos dos corpos, eles
categorizam e criam teias para que os seres por eles envolvidos sejam sempre cegos, surdos e
mudos para a visão da coletividade humana. Sendo assim, o estado se apropria das leis, das
prisões, das detenções, dos conventos, das escolas, da família, da identidade, do sexo, da
linguagem, do mercado de trocas com o espírito capitalista, desejos, vontades, virtudes e
defeitos, todos os grupos de categorizações macro e materialista o estado cria e recria toda vez
que precisa flexibiliza seu eixo do bloco para atender às existências modernas. O controle
precisa manter seus gráficos demográficos estabilizados dominados para controlar os corpos e
estruturar a força de trabalho, manter o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) conforme
padrões moralistas. É uma política de hegemonia que busca ser alcançada para o crescimento
10
-
urbano de quem tem dinheiro para pagar pra viver.
É complexo como as amarras sociais têm seus pilares (estruturas e instituições)
baseados em poderes que dão a sensação de alcançar o abstrato e se tornar o ser inatingível,
sendo assim fica concentrado no mito de que certos grupos sociais mantém a fonte da
sabedoria e do conhecimento universal. Dessa forma, desclassificam os outros indivíduos
tornando-os burros e ignorantes. Esta crença que é difundida instituição-estado, detém a
permissão coletiva para ser violento com determinados grupos para manter a hegemonia do
grupo dominante, para comandar e organizar os corpos em suas funções básicas, como morar,
comer, casar, trabalhar, sobreviver e afins e organizar todas as atrocidades realizadas contra
os cidadãos que são excluídos do grupo do ser humano.
O corpo e a mente humana são o que as instituições visam controlar. O corpo para o
trabalho industrial e geração de mais fonte de renda e a mente para não se expandir, assim
criam um senso comum de escolhas, um habitus comum para o comércio se expandir em
algumas questões até pluralistas mais sempre controladas e demarcadas pelos detentores do
poder ocidental, nos tornando escravos psicóticos para sermos mandados por algo ou alguém
que tenha que nos guiar para um caminho sempre bom e digno sempre considerar que o lado
ruim existe em tudo e que para você sempre ser justo e fiel, bom e digno, precisa se tornar a
consciência de todos os lados que pode exercer sobre o si e sobre os outros. O senso de bom e
ruim, desvirtuado, é uma gangorra de poder na mão de quem exerce o poder do conhecimento
teatral e financeiro.
Portanto, o comportamento europeu se caracteriza pela relação do amor, separação,
alienação, hostilidade, competitividade e agressão. A cultura ocidental é uma máquina
esmagadoramente eficaz, concebida para consumir o universo de possibilidades mentais a
qual nós temos o controle. O padrão de comportamento que esta máquina gera tem como
principal preocupação a eficiência continuada da máquina, o ser humano permanecendo na
tradição da cultura europeia, então ela de fato, a mais bem sucedida das construções humanas.
Mas os seres humanos não são máquinas, e muito menos aguentam ser controlados por muito
tempo
Ideias verdadeiras são aquelas que podemos assimilar, validar,
11
-
corroborar e verificar. Ideias falsas são aquelas que não podemos... A
verdade de uma ideia não é uma propriedade estagnada inerente a ela. A
Verdade acontece a uma ideia. Ela se torna verdadeira, é tornada
verdadeira pelos acontecimentos. Sua verdade é de fato um evento, um
processo: o processo de sua verificação de si própria, sua verificação.
Sua validade é o processo de sua validação. [itálico de James] *[ * —
Ibid, p. 431.]
3- Brasil e o corpo de sua sociedade.
Cistema-mundo’, uso-a enquanto referência a grosfoguel (2012, 339), que
caracteriza um “[c]istemamundo ocidentalizado/cristianocêntrico
moderno/colonial capitalista/patriarcal” que produz “hierarquias
epistêmicas” em que – na leitura específica desta dissertação –
perspectivas não cisgêneras são excluídas, minimizadas, ou silenciadas.
A corruptela ‘cistema’, entre outras corruptelas do tipo, têm o objetivo
de enfatizar o caráter estrutural e institucional – ‘cistêmico’ – de
perspectivas cis+sexistas, para além do paradigma individualizante do
conceito de ‘transfobia’.São capazes de produzir. (por inflexões
decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma
análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. vivian.v-
2015)
Quem sente? Atualmente vemos cada vez mais pesquisas e vivências que mostram o
que são os privilégios e como eles se desenvolvem e modificam a estrutura da sociedade
ocidental e como ele está presente em todos os corpos de maneiras diferentes e específicas. A
cultura ocidental nos traz o falso sentimento de que negros e pessoas transgêneros não sentem,
pois a cultura escravocrata cisgênero presente ainda em 2018 nos faz pensar que estes corpos
são acostumados ao trabalho bruto, dominável, marginalizado e inexistente, e quando
retratados na mídia, nos mostram uma linguagem caricata de seres que não tem a capacidade
de sentir emoções da mesma forma que o corpo branco.
12
-
O privilégio do sentir é branco, e neste privilégio as mulheres brancas cis, as mesmas
com suas feminilidades exaladas e exaltadas pela sociedade obtém a permissividade de sentir
e de demonstrar com todos os sentimentos o que tem de vontades e desejos. Lembrando que
as mesmas estão sobre a opressão social por serem mulheres, então a caracterização do ser
mulher frágil é vista de forma que as mesmas não podem fazer nada sozinhas, pois são
incapazes de “pensar”.
Os Homens brancos cis têm o privilégio de sentir de forma masculinizada, o ser
masculino branco tem característica ser forte e ágil, não demonstrar sentimentos pois é um ser
pensante e, ter a força da inteligência e a capacidade de raciocinar rapidamente e
logisticamente para administrar e ordenhar pessoas. Este processo de dominação dos seres faz
com que os homens cis sejam presos pela sua lógica não podendo demonstrar sentimento real
ao meio em que vivem.
As mulheres negras cis, as quais têm o direito de sentir negado pela sociedade pelo
fato de serem negras e mulheres, estas ocupam essa posição no círculo de dominação que é do
sentir e precisam ter a capacidade lógica de trabalhar pesadamente, escutar tudo e a todas, dar
suas opiniões de forma que agrade o meio em que ela vive, ser submissa e ao mesmo tempo
agressiva para defender aqueles que amam e os que a cercam. É dada à mulher negra a
permissividade da agressividade, pois ela foge do conceito branco do que é ser mulher
ocidental demonstrando assim todas as faces dos lados positivos e negativos, obviamente com
os lados negativos sendo sempre em evidenciados pela sociedade.
Os homens negros cis são animalescos, bandidos e agressivos vistos do ponto de vista
social. Ao passo que têm o privilégio do ser homem nesta sociedade eles têm o papel de não
sentir, exercer trabalhos exaustivos e mesmo quando não precisam trabalhar no serviço
pesado têm o papel do ser viril e sempre pronto para a luta. Criminoso de fato, até que provem
o contrário. E mesmo se provarem continuarão sendo apontados como culpados. O homem
negro busca e propaga sua masculinidade forte e sem sentimentos, que guarda de forma
pitoresca e sofre os efeitos do que é minimizar sentimentos dentro de si.
A classificação das instituições de caráter burguês, segregacionista e cisgênero, que ao
enquadrar a pessoas em um cistema tem a sua forma de prisão dentro das suas vontades e
13
-
acabam desenvolvendo psicoses, toques, manias e recalques contra o outro, pois nós mesmos
não conseguimos nos libertar de nossas amarras sociais, que as instituições produzem na
nossa mente. A categorização é feita muito bem planejada e transformada conforme o tempo
para manter a psique presa nos moldes de um corpo doente porque não consegue se
desenvolver, ou seja, as instituições travam o corpo de toda liberdade de expressão que ele
pode adquirir, tiram sua identidade e travam o que ele poderia atingir caso não houvesse
colocando sobre eles, classificações para as genitálias, modificando através de alimentos,
vestimentas, e outros controles as ideologias para mudar a concepção que o científico e toda a
composição binária do mundo se encaixarem na ferrugem do desenvolvimento arcaico do
mesmo.
Um ser humano de classe média alta vai ter a formação do seu ser modificado pelo
cistema? Sim. Ele vai ter questões existenciais? Sim, pois até este ser é aprisionado ao bloco
que deram para ele. Porém, a violência que o estado pratica nos corpos não atingirá com a
mesma intensidade, a forma de dominação será outra e ditas mais civilizadas e guiadas pelos
bons costumes. Agora, as classes baixas da sociedade que geralmente são negros e
LGBTQI’s, mulheres, deficientes e etc, vão ter seus corpos invadidos 24horas por dia e a
violência contra esses grupos são absurdamente desumanas.
O belo é uma ideia que antecede o ato, ou seja, a imagem do corpo das pessoas é a
fonte de dominação em massa, afinal, a dominação cis tem na imagem a sua fonte de obter o
poder da maioria dos corpos de trabalho para as superpotências continuarem superpotências
por isso dominar a nossa mente ou psique é uma das tarefas mais difíceis que existem, pois
essas instituições nos moldam a um nível micro-macro que não conseguimos sair sem termos
que perder algo socialmente. Portanto, é necessário desenvolver o autoconhecimento, pois
quanto mais nos conhecermos, mais teremos condições de aprender sobre nossos processos
internos; nossos profundos desejos, nossas vontades reprimidas, nossas questões sem
resposta, mais sobre nós.
Feche o olho e mentalize o seu ser
Ele não tem forças para suspender?
14
-
Então trabalhe com fé e precisão sobre o teu
ter
E entenda que ninguém nada tem
Pois o ter é material
Do que adianta o material sem o espiritual?
Abra os olhos e perceba que a infinidade de
Questões estão na sua e na minha cabeça
Juntas somos
O subjetivo
Como um verbo bem abusivo...
Abuse do seu ser. (Sem.Nome)
3.1- Transgêneros
Pessoas transgênero são aquelas que transcendem o ser masculino e feminino, são
aquelas que não podem ser definidas simplesmente como homem ou mulher, pois sua áurea é
tão vasta e complexa que não pode ser reduzida a tão pouco. Porém, em um mundo ocidental
onde as pessoas são criadas para pensarem linearmente (graças a Platão) estas pessoas são
vistas como abominações e como motivo de escárnio, e em vez de serem tratadas como seres
humanos como quaisquer outros, colocadas à margem da sociedade. Atualmente são mais de
56 identidades de gêneros e ainda temos as novas que estão cada vez mais se autoafirmando
neste contexto pluralista em que estamos vivendo. Travestis, transexuais, crossdressers, drag
queens/kings e outros/as cada um com suas especificidades e diferenças são colocadas no
ramo dos marginalizados e excluídos socialmente, lembrando que ao mesmo tempo que são
15
-
excluídas, elas criam seu próprio mundo social onde serão ali livres e aptos a serem quem são
conforme sua maneira de ser. Portanto, ao passo que são marginalizadas e esquecidas são
empoderadas, vistas e mantém seus sentimentos.
Cissexismo é qualquer tipo de discriminação baseada na noção de que só
existem dois gêneros binários: masculino e feminino, e que as pessoas devem
estar obrigatoriamente alinhadas dentro de um desses dois, de preferência
aquele que lhe fora designado ao nascer. (Hailey Alves, 2012).
A luta pelo direito de viver dignamente sem padrões impostos e pressionados se
tornam divergentes e o nosso corpo começa a estranhar tamanho aprisionamento e acabamos
nos abrindo para algo que faça sentido no íntimo, e nossas reações a essa [re]existência
sintomática que somos obrigados a saturar e triturar em alguns casos, tem a mesma
diversidade da qual as pessoas são capazes de produzir, o auto ódio e a valorização do ser são
formas de amar e/ou odiar sua transgressão, se é a nossa realidade que nos define, é a mesma
que também não tem poder nenhum sobre nós, mesmo através das nossas construções
coletivas e individuais porque definição nenhuma consegue ser mantida sobre os corpos,
porque SOMOS LIVRES, e temos a capacidade criativa de sobreviver e desenvolver em
qualquer aspecto e em qualquer ambiente.
O transfeminismo é a exigência ao direito universal pela auto-determinação,
pela auto-definição, pela auto-identidade, pela livre orientação sexual e pela
livre expressão de gênero. Não precisam de autorizações ou concessões para
sermos mulheres ou homens. Não precisam de aprovações em assembleias para
sermos feministas. O transfeminismo é a auto-expressão de homens e mulheres
trans e cissexuais. O transfeminismo é a auto-expressão das pessoas
andrógenas em seu legítimo direito de não serem nem homens nem mulheres.
Propõe o fim da mutilação genital das pessoas intersexuais e luta pela
autonomia corporal de todos os seres humanos. O transfeminismo é para todxs
que acreditam e lutam por uma sociedade onde caibam todos os gêneros e
todos os sexos (FREITAS, 2005, p. 1).
16
-
A diversidade é a nossa dádiva, poder ser o que se quer ser é, deveria nos seguir e nos
guiar pela nossa passagem na terra. Mas como manter esse sentimento tão genuíno do ser
quando criamos conceitos antes mesmo de sabemos o que sentimos direito? Se o belo é uma
ideia que antecede o ato, o ato de ser é criticado antes mesmo de ser entendido e aceito. Essa
culpa que segue nossos instintos positivos e negativos faz com que percamos o controle
emocional das nossas ações e atitudes, sentimentos começam a ser revertidos em
racionalidades e mixados a nossa forma de ser e vê o mundo. Dessa forma, criamos a lógica
que o erro está tão somente no outro, e quando nos damos conta que os erros do outro também
é compassível de entendimento e perdão é que percebemos que essas qualidades e defeitos
são naturais a todos os seres humanos e que todas as pessoas são iguais. Primeiro para
entendermos que existe igualdade precisamos aceitar as diferenças, e que essas diferenças são
naturais e também criadas pelo mesmo meio da qual fazemos parte.
3.2 - Negros e Pardos
América Afro-Latina 1800-2000 trata da formação das sociedades latino-americanas a
partir das relações a que foi submetido e das relações que construiu, ou contribuiu para a
construção, o povo negro, a partir da colonização do continente e até o século XX.
George Andrews, o autor, entende América Latina como o “grupo de nações
americanas dominadas desde o século XVI até o século XIX por Espanha e Portugal” e parte
do conceito de América Afro-Latina elaborado por Anani Dzidzienyo e Pierre-Michel
Fontaine na década de 1970, definido pelos países latino-americanos com o mínimo de 5% a
10% de negros compondo sua população – que o autor chama de “América latina cêntrica”– e
propõe uma segunda definição, concentrada nas experiências dos grupos e indivíduos “de
ascendência africana conhecida”, sendo aqueles reconhecidos como de ascendência africana.
Ao propor essa segunda definição, Andrews busca não uma diferenciação completa da
primeira definição, racialmente inclusiva, mas analisar as relações em que estão envolvidas
essas populações afro-latinas a partir do seu caráter diaspórico, exclusivas aos indivíduos
socialmente reconhecidos como afro-descendentes e não limitadas às fronteiras nacionais, e
17
-
estender essa análise tanto para a estrutura no nível macro, quanto para as ações humanas no
nível micro e além, para a interação entre as relações nesses dois níveis. Simultaneamente, o
autor busca compreender nessa análise, a complexidade das identidades raciais na América
Latina, marcada pela diferenciação entre o negro e o “pardo” e o “mulato” - categorias raciais
criadas pela necessidade dessas sociedades de impedir o acesso ao status de brancos, com
todos os seus benefícios, aos afro-descendentes que pudessem reivindicar sua ascendência
europeia.
A partir da história da organização e ação desses indivíduos e grupos afro-latinos,
tanto em movimentos e instituições de caráter racialmente inclusivo, em união com brancos,
indígenas e mestiços, quanto nos movimentos e instituições de caráter diaspórico, George
Andrews busca entender e demonstrar como essas pessoas respondem às condições as quais
foram submetidas e como essas respostas modificam e influenciam na organização social, na
política, na economia e na cultura dessa América Afro-latina.
A raça como fator criminógeno, ou seja, como causa da criminalidade e da desordem
social, é defendida justamente no período em que as formas de controle sociais fundadas na
divisão entre negros-escravos e brancos-livres, características do sistema escravista, estavam
em crise, quer pela necessidade de fundar o mercado de mão-de-obra livre quer pelos atos de
insurreição escrava. Ao mesmo tempo, estavam em ampla difusão duas novas categorias
sociais: a de negro-escravo urbano e a de negro-liberto. Em síntese, Nina Rodrigues
desenvolve suas teses quando os negros passam a habitar e a redefinir a ocupação do espaço
urbano, da polis, e, no plano político, quando se estava a definir os contornos da civitas, ou
seja, os direitos atribuídos aos cidadãos, em especial, os negros, ex-escravos.
No século XVIII, a palavra “raça” era principalmente usada para a descendência
comum de um conjunto de pessoas; as suas características distintivas eram tidas por assentes e
usava-se a categoria “raça” para explicar como as conseguiram. Logo, o termo era utilizado
no sentido de “linhagem”.
As diferenças entre raças variam das circunstâncias da sua história e, embora se
mantivessem através de gerações, não eram fixas, entretanto, no século XIX, “raça torna-se
um meio de classificar as pessoas por essas características”, passando a significar “uma
18
-
qualidade física inerente à categoria ‘raça’”. Pressuposto quase inquestionável na história da
ciência, passa servir à compreensão da diversidade humana e, principalmente, para demarcar a
“inferioridade das populações não-européias”. Assiste-se ao nascimento de um paradigma
científico, pois a construção da categoria raça implicava um conjunto de “problemas” a serem
“resolvidos” pelos intelectuais da época, em outras palavras, o paradoxo do conceito de raça é
inerente a sua constituição.
A descoberta da raça representou um encobrimento da sua irracionalidade. De fato, ela
era conhecida desde o início e nunca foi um mero erro de cientistas marcados por suas boas
intenções para com a compreensão da condição humana. Desde o seu surgimento, a raça foi
um conceito político.
Neste contexto, a necessidade de pensar um novo status aos denominados híbridos
tornava-se mais evidente, eles eram incorporados à teoria, na medida em que também eram
incorporados aos arranjos nas relações de poder entre metrópole e colônias.
A solução recorria à própria ideia de uma desigualdade entre as raças e ao argumento
de que os povos negros e os nativos das Américas seriam inferiores. O desenvolvimento desse
paradigma, porém, comportou rupturas internas. Três fases marcam o desenvolvimento das
teorias raciais: a da tipologia racial, do darwinismo social e dos estudos proto-sociológicos,
portanto, no interior do debate sobre as raças humanas presenciamos o surgimento de teorias
da raça e teorias sobre o racismo. As teorias sobre o racismo representaram uma verdadeira
revolução de paradigmas. Porém, o nascimento da Criminologia foi contemporâneo ao
desenvolvimento da Teoria dos Tipos e do Darwinismo Social. Elas constituíram seus
conceitos centrais e suas hipóteses explicativas.
As imbricações entre teorias da raça e teorias sobre o criminoso e a criminalidade são
tão decisivas que se pode sugerir que há apenas uma diferença de especialização, em vez de
autonomia científica, a coincidência e construção de um “senso comum” europeu sobre raça.
Não se tratava apenas de evidenciar diferenças com base no conhecimento científico de uma
época, mas de construir diferenças e de fazê-las coincidir com características das populações
não-européias.
19
-
O modelo proposto por Ferri representará uma novidade diante da perspectiva de
relacionar indivíduo e raça no controle social. A mudança pode ser percebida no modo pelo
qual o individualismo burguês marcou o surgimento das formas de controle social. A Escola
Clássica havia construído o Direito Penal do fato que partiu da concepção filosófica sobre a
igualdade do gênero humano, fundamentou a responsabilidade penal na liberdade e encontrou
na elaboração da teoria do crime a sua tarefa principal. Estava preocupada em descrever as
condições segundo as quais um indivíduo poderia ser responsabilizado por um ato tido como
criminoso, em certa medida, a Criminologia foi um dos primeiros frutos desse ciclo de poder
mundial que permitiu a construção dos Estados Nacionais e dos Impérios Coloniais.
A desigualdade diferia da desigualdade atual, garantida pelo funcionamento real do
sistema penal, mediante a operacionalização de estereótipos que não estão inscritos na lei,
mas nas “teorias de todos os dias” dos agentes do cistema, em especial, das agências policiais.
Vivenciar a desigualdade no discurso significava, antes de tudo, revelá-la, expô-la e, portanto,
assumir o conflito social, ainda que de forma limitada, porque era sobre a base da
superioridade/inferioridade racial que o conflito era colocado. De outra parte, a ideia de tipo
criminal, assim como a de tipo racial, não pode ser separada de determinadas práticas sociais
modernas.
De igual modo, a desaculturação e a criação de uma sub-cultura decorrente da
institucionalização são fenômenos semelhantes aos encontrados nas colônias. Desse modo, a
Criminologia racista, ao aproximar o criminoso e o “selvagem”, adquire novos contornos.
Uma ideologia que confundirá a agressividade e a alienação do homem sujeito ao processo de
colonização com sua intrínseca maldade, classificando como criminoso todas as formas de
sobrevivência à realidade colonial, as adaptações aos modelos impostos e à violência
classificatória sofrida, mas, sobretudo, toda a diversidade humana biológica distinta dos
padrões europeus e todas as formas de expressões culturais capazes de possibilitar respostas,
ainda que simbólicas, à perda da identidade diante do processo colonizador.
A “colônia”, fundada na relação de poder existente entre colonizado e colonizador,
assemelhou-se a uma instituição de sequestro. O monopólio da palavra pelo colonizador
demonstra a presença de um poder de nominação do Outro, muito semelhante à rotulação
20
-
criminal.
“Quem deve ser controlado: os indivíduos abstratamente ou as “raças
inferiores” e seus descendentes?" (Nina Rodrigues)
3.3- Branquitude
A branquitude surge quando as diferentes culturas (europeias – portugueses,
espanhóis, holandeses, ingleses, etc.) a partir do processo de colonização, que pode ser
classificado como uma alteridade violenta e genocida, percebem um traço em comum entre
elas: a brancura. Então, passaram a empregar a suposta noção de superioridade determinada
pelo tom da pele branca para construção desse argumento legitimador dos seus interesses de
exploração e dominação sobre os outros grupos culturais, depois, classificados por eles como
“não-brancos”.
A construção da identidade branca se tornou um produto necessário e de caráter
estrutural ao colonialismo europeu, que se baseou na “brancura” da tez dos colonizadores
como marco identitário nítido de diferenciação dos povos colonizados, com o objetivo de
controle e exploração. Ou seja, a formação do grupo branco ocorreu através da imposição e da
opressão. Para demarcar sua suposta supremacia utilizou de métodos violentos de natureza
simbólica ao impor sua cultura e de natureza biopolítica através do controle e extermínio de
corpos desviantes. Essas novas significações de identidades e raças afetou diretamente os
diferentes grupos seja de colonizados ou colonizadores.
Para McLaren (1998), a branquitude diz respeito a uma forma sócio-histórica
de consciência oriunda das relações impostas pelo colonialismo europeu e
pelo capitalismo. Nessa perspectiva, Rossato e Gesser (2001) apontam a
branquitude como a experiência branca, expressa pela consciência silenciada
que tende a negar sua participação nos conflitos raciais, na medida em que
toma sua identidade como norma, passando a caracterizar os demais
indivíduos pertencentes aos grupos não brancos como desviantes do padrão
21
-
hegemônico de humanidade.
No século XX, com a experimentação da sua própria potência violenta, quando os
nazistas se voltaram contra os brancos que não eram considerados puros o suficiente para
serem chamados de arianos, foi que o branco europeu se deu conta do tamanho da sua
incivilidade e pensou muito timidamente em rever seu histórico comportamental e
supostamente racionalista através de Sartre e outros existencialistas. Trata-se de uma questão
complexa e contraditória já que é necessária a utilização de categorias capazes de promover o
entendimento da questão de acordo com suas particularidades sócio-históricas de cada região,
sem excluir as generalidades que atravessam o processo colonial que afetou todo o globo.
Evidentemente esse privilégio transborda a dimensão material, que reitera a hegemonia
branca na ocupação dos espaços de poder.
No Brasil, conforme demonstra a “Análise das Condições de Vida da População
Brasileira 2013” realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), as desigualdades de oportunidades entre brancos e não brancos se
perpetuam nos diferentes aspectos da vida, inclusive no que tange ao padrão de vida e
distribuição de renda. Embora a maioria da população do país seja composta por não
brancos - pretos e pardos - os brancos detêm uma melhor condição de vida, na
medida em que possuem mais anos de estudo, maior renda mensal, dominam o
mercado de trabalho formal bem como a posição de empregadores. Até quando se
encontram em uma condição socioeconomicamente desfavorecida as pessoas brancas
apresentam mais chance de mobilidade social em relação as não brancas, em função
de possuírem o privilégio simbólico da brancura, o que facilita o trânsito e a
ascensão (BENTO, 2002a).
Assim, a branquitude guarda a premissa de normatividade. Todavia, essa suposta
neutralidade mascara as assimetrias de poder. Aqui, é necessário ressaltar que mesmo
indivíduos brancos que se posicionem e lutem contra as assimetrias coloniais cis-hétero-
normativas e raciais de poder, acabam por experimentar o privilégio social da branquitude.
Faz parte desse privilégio branco que o indivíduo responda apenas por sua própria
individualidade, ele não responde por seu grupo. Em contraposição o lugar do negro é o do
22
-
seu grupo como um todo. Um indivíduo negro responde por todo o seu grupo.
Portanto, a branquitude faz com que os brancos não vejam o racismo como um
problema seu e defende a ideia de que os negros devem criar os mecanismos capazes de
solucionar essa problemática. Dessa forma, os brancos acreditam que não experimentam o
racismo por não serem capazes de perceber que são seu agente causador.
3.4 - Indígenas
Atualmente há cerca de 240 tribos que vivem hoje no Brasil, totalizando
aproximadamente 900.000 pessoas, ou 0,4% da população do país. O governo
reconheceu 690 territórios para a população indígena, que abrange cerca de
13% do território brasileiro. Quase todas estas terras (98,5%) encontram-se na
Amazônia.(Survival)
Brasil é a casa de mais povos isolados do que qualquer outro país do mundo. Há cerca de 80
tribos isoladas que vivem na Amazônia. Viva a resistência destes povos. Contudo, da metade
dos índios brasileiros viverem fora da Amazônia, essas tribos ocupam somente 1,5% da área
total reservada para os índios no país, os que possuem maior terriotorio são os Yanomami ,
relativamente isolados com uma população de 19.000, que ocupam 9,4 milhões de hectares no
norte da Amazônia.
‘Por que está demorando tanto tempo para acreditar que se ferimos a natureza, ferimos a
nós mesmos? Nós não estamos vendo o mundo de fora. Nós não estamos separados disso.
’Davi Kopenawa Yanomami
23
https://www.survivalinternational.org/povos/yanomamihttps://www.survivalinternational.org/povos/yanomami
-
Sem mais palavras…..
4- A Academia.
A veracidade científica do real, a verdade colonizada da linguagem, a intriga
padronizada e opressora da moral e dos bons costumes faz parte de uma filosofia que é
culturalmente construída para a dominação e ainda é considerada no topo da sabedoria
mundial.
O ponto que é fundamental para a análise do pensamento e do comportamento
Europeus é que a teoria e epistemologia Platônicas e seu posterior,
desenvolvimento, inculturação, e reformulação forneceram a base ideológica
mais eficaz para a política e padrões de comportamento culturalmente
agressivos e imperialistas por parte dos cidadãos Europeus precisamente
porque o argumento era afirmado em termos intelectuais e acadêmicos
“científicos”. Platão não só ajudou a estabelecer uma teoria do ser humano que
valorizaria a cognição “científica” em detrimento de outros modos cognitivos,
mas ele estabeleceu a Academia. (Yuguru-Marumba-Ani 1882)
Os seres humanos conseguem observar e viver através da ciência sob o pretexto do
saber científico e atribuir a exclusivamente a propriedade intelectual aos produtores de
conhecimento participantes da academia. Assim, estabelecem uma simbologia e nela resgatam
o passado intelectual que somente os corpos privilegiados dentro do cistema conseguem
atingir com prosperidade e fervor como o espírito capitalista pede.
A meritocracia serve para afirmar e sustentar o estereótipo de pessoas de determinados
ciclos sociais, culturais e biopsicológicos são detentoras do saber, formando assim uma linha
de produção do conhecimento filosófico. Torna-se perceptível no final de cada livro e/ou
artigo que estes grupos não produzem com clareza por não possuírem o discernimento da
intelectualidade, dialogando apenas com determinados grupos detentores de privilégios
sociais e sua visão acaba sendo restrita e etnocêntrica.
24
-
No caso da ciência, o ceticismo, ou seja, a dúvida de tudo e de todos é uma relação de
amor com a fé na ciência. O pilar dessas instituições céticas tem limites frágeis dentro do
sistema em que vivemos, teoriza-se que precisamos estudar o outro, não a si próprio,
(paradoxo da relação entre sujeito e objeto) trazer a reflexão para dentro de nós é considerado
antiacadêmico e ineficaz já que a cultura observada é que precisa ser colocada em um pedestal
de valorização ou desvalorização. Logicamente devemos e podemos estudar o outro, desde
que esse estudo também passe pela percepção do seu ser. Entender que o pesquisador deve ser
analisado e desconstruído de suas crenças socializadoras é umas das principais questões a se
pensar. Portanto é o olhar acadêmico folclórico do próprio tema de estudo que deve ser
aniquilado dos centros de pesquisa da academia para melhor analise do corpo brasileiro e sua
sociedade.
Na prática, nós pesquisadores trataríamos nosso objeto em percepção conjunta com a
nossa vida, ou seja, como pessoas pertencentes a um grupo social que possui virtudes e “não
virtudes” construídas por esta socialização. Todos os questionamentos que vem através da
vivência pela qual os corpos passam são formas que nossos corpos se modificam nas
diferentes realidades em que vivemos.
Tendo em perspectiva nosso lugar como pesquisador ativo e passivo de práticas
sociais a qual estamos inseridos, entendemos que os corpos podem manter os padrões sociais
biológicos e políticos aos quais eles são abrigados, criados, cultivados e priorizando seus
privilégios em suas teses. Portanto, fica explícito que eles nada sabem sobre outros tipos de
experimentação social, e que sua produção é linear e segregacionista, contendo a mesma
lógica que produzem dentro de um sistema excludente.
Se o corpo faz parte do ambiente no qual circula, precisa-se entender que a alteridade
é olhar para vários corpos pertencentes a outras realidades e conceber os mesmos como
realidades também. As ideias precisam transgredir a fronteira do discursivo para passar para o
palpável, a concretude dos fatos altera a forma do produto, assim como a fórmula do produto
deve se dar pela concretude dos fatos.
O intelectual não pode apenas ser alguém que lida com as ideias. Tenho muitos
colegas que lidam com ideias e a quem eu muito relutaria em chamar de intelectuais.
25
-
Intelectual é alguém que lida com as ideias transgredindo fronteiras discursivas porque
ele ou ela vê a necessidade de fazê-lo, alguém que lida com ideias em sua vital relação
com uma cultura política mais ampla. (Bell Hooks - Intelectuais Negras)
A falta de renovação do modelo acadêmico e a transformação das teorias da
universidade em projetos de monopólio entre dar, receber e retribuir contribui na forma como
as pessoas têm deixado o caos no mundo acontecer, e a exclusão a informação que a própria
academia deveria lutar contra.
Na visão de mundo Euro-Americana, há uma separação entre o eu e o não-eu (mundo
fenomenal). Através deste processo de separação o mundo fenomênico torna-se um Objeto,
um “isto” (ou “coisa”) [an “it”]. Por objeto, quero dizer, os fenômenos concebidos como
constituindo o não-eu [nonself], ou seja, todos os fenômenos que são a antítese do sujeito, ego,
ou autoconsciência. O mundo fenomenal se torna uma entidade considerada como totalmente
independente do ser em vez de como afetada pelo sentimento ou de reflexões do ser.
Realidade torna-se aquilo que é estabelecido perante a mente para ser apreendido, quer se trate
de coisas externas no espaço ou concepções formadas pela própria mente.[Dixon, p. 55.]
A vida do ser é constituída pelo modo em que ele vive a sabedoria pre moldada
socialmente. Como ter acesso a outras filosofias quando o estado te limita em apenas um
espaço geográfico? É complicado para a aceitação da psiquê a exclusão urbana, social e
individual a qual os corpos estão inseridos.
Nossos mestres precisam entender que a arte de ensinar deles pode se apresentar
excludente ao ponto de matar a individualidade alheia. Mata-se toda a criação
potencializadora que pessoas podem desenvolver e tudo o que poderia ser criado a partir da
percepção com sabedoria. Chegamos ao ponto de que a preocupação com cópias é mais
importante do que criar espaços verdadeiros e únicos de criações livres de realidades diversas.
Perdeu-se a importância do saber e como ele entra na nossa realidade.
Torne-se um ser visionário, onde cada um transforma aquela realidade em sabedoria
26
-
consciente, caso contrário, a consciência da vida que os cerca continuará apenas em uma rasa
observação participante.
5 - Espiritualidade científica
A ciência é uma mentira baseada em fatos reais sociológicos comprovados
empiricamente, que através do mundo dá uma lente de contato para todas as pessoas que
desejam vê a sabedoria. Exatamente como os mitos utilizados ao longo da história para contar
algo, transmitir o conhecimento ancestral e ensinar as novas gerações a lidar com os conflitos
da psiquê. O mito é algo intangível mesmo quando todas as possibilidades parecem esgotadas,
há sempre um detalhe que pode mudar tudo, por isso ele é tão importante na história da
humanidade, o mito nos ensina que por trás de todas as questões sempre terá situações que
poderão mudar o rumo dos fatos. O problema é quando ele é utilizado de maneira perversa
para desvalorização dos grupos sociais ditos minoritários - mas que são a maioria no Brasil,
negros, LGBTQI’s, mulheres e indígenas. Os indígenas tiveram seu povo destruído ao longo
dos anos, mas, mesmo assim, sobrevivem até hoje.
Primeiramente, a crença na fé e um canal aberto à visão espiritual da vida, não
descarta a primeira como um poder de transformação e elevação do espírito. Ela nos revela
em diversas religiões de vários lugares do mundo, que a mesma é um caminho
sistematicamente construído para se moldar e expandir a consciência corporal e espiritual. A
fé se desdobra em mil formas e cai no mais complexo paradoxo da colonização e libertação.
A fé, assim como o saber científico, serve para racionalizar o que sentimos e
reprimimos, principalmente o que reprimimos e nessa instituição mística onde como na
ciência sempre procuramos as respostas para nossas próprias paixões e desamores perante o
ato de viver (e que ato, hein?!). Essas instituições religiosas e científicas criam a imagem, a
ideologia e a consciência para os seus grupos, e todas essas formas de analisar, sentir e
aprender como o mundo é construído por essas realidades pela manutenção dá a aparência das
coisas.
27
-
A fé do mundo é que a ciência nós leve para uma salvação coletiva das nossas almas
doentias e psicóticas deterioradas pelo padrão a nós impostos diariamente, a fé na ciência traz
para as pessoas não letradas um recado, de que a soberania se faz presente na classe pensante
que se encontra na universidade. O indivíduo que não produz cientificamente não poderá
contestar o doutor pois ele é possuidor da fonte profunda do conhecimento, para as pessoas
letradas o título doutor é uma meta a ser alcançada e quase já garantida para alguns corpos,
como por exemplo, homens cis héteros brancos onde sua vivência se encaixa no molde
acadêmico e sua assimilação do conteúdo do conhecimento vai ser considerada como fonte
principal de referência bibliográfica.
Já a religião utiliza através da fé um ceticismo que mentem o subjetivo refém do seu
próprio eu materialista profundamente raso, enquadrando assim as mentes em blocos fechados
de reprodução de pré conceitos sociais.
A religião administra atualmente dos sentimentos mais devassos coletivos dos seres
humanos, ela trata os defeitos como um problema a ser erradicado, não como um sentimento
natural da vida, errar é algo visto com maus olhos nas religiões Ocidentais porque é na base
do medo que essas instituições se perpetuam. Sempre encontraremos castigos divinos para
controlar esses desejos humanos pela dita perversão e ousadia, por isso as igrejas têm seus
pastores carismáticos, sua ação social dentro de presídios, hospitais e outros locais
comandados pelo estado, fazendo assim um trabalho social que o estado deixa a carência e
aumentando e consolidando seu espaço. A igreja controla o espaço-tempo das pessoas da qual
ela controla, modifica o humano coletivo autoconhecido para o ser meramente circunstancial
e material, as emoções das paixões e dos erros estão sendo erradicados com a consistência do
não ser, Busca-se achar sempre um ser inferior e superior a alguém, mas não busca-se achar o
equilíbrio de suas emoções e pensamentos com a pessoa do seu lado e principalmente consigo
mesmo.
Na cultura europeia não se tem uma base espiritual que sobreviva para dar inspiração
ao ser quando o espírito humano tenha se tornado entediado quando as possibilidades do
materialismo se esgotam. Valores materiais podem apenas ser temporários; eles nunca podem
ser finais pois os humanos precisam do amor, coletividade, paz de espírito e empatia que
28
-
encontramos quando nos relacionamos com os outros.
A conectividade espiritual científica é onde tudo está correlacionado entre matéria e
espírito. Ao entendermos que somos seres cósmicos e que o poder não agressivo e natural é a
energia que nos conecta para fazer tudo acontecer energizando uns aos outros, fazemos
através do poder de ação as realizações coordenadas e equilibradas com a natureza e o social.
A partir desta perspectiva, a realidade material é entendida como a manifestação do espírito.
É belo uma ideia que é argumentada com um propósito social, como entender a
espiritualidade científica demonstra. A matéria e o espírito estarão em todas as formas de
viver com a interação na sociedade e natureza demonstrando que nosso habitat é coordenado e
construído para a manifestação livre e respeitosa de todos os seres.
Portanto, porque aprender o conhecimento alheio? Os mitos da educação requerem
que o ensinado preste atenção no mestre de forma única, e ao mestre pede-se uma posição
formal e única diante da variedade de corpos e pessoas a qual precisa ensinar, e se os dois
entendessem que a arte de ensinar é justamente a junção das várias personalidades e junções
matemáticas que formam a variedade infinita do conhecimento a educação se tornaria
transcendental.
O artista pode entender que aquele meio que ele vive é uma tela branca e que está à
disposição do seu pensamento que será construído por todos, mas a responsabilidade da arte
precisa ser digerida para que justamente entendamos que a obra começa quando começamos a
pintar a tela.
A alteridade é pregada por aqueles que têm a sabedoria da natureza. Todo exercício de
aceitação da alteridade dos indivíduos são muito mais frutífero do que o aprisionamento do
mesmo. Mesmo algumas comunidades culturais que pregam a alteridade prendem a forma de
criação do ser material. Porém a resposta é que você precisa ser para ter, você precisa criar,
criar vida e o movimento para se juntar com o grupo e assim transgredir e crescer em conjunto
com o dinheiro, amor e todas as sensações do mundo.
Ao refletir sobre essas questões percebo o impacto ambiental, sociológico e cultural
29
-
causado por quem capitaliza as relações o poder de transformação das alteridades e como
acabaríamos com o problema da desigualdade, desmatamento e guerras se entendêssemos,
através da energia quântica, que somos seres transcendentais, iguais e excepcionais, cada um
desempenhando a sua forma de ser e transgredido seu pensado é que faz a ciência acontecer e
se transformar em um novo ter.
6 - Resiliência
Na pesquisa de campo perguntei sobre a ciência e a religião perpassando por todas asidades de mulheres negras para analisar como o cognitivo dessas mulheres recebem a
informação de existência humana e assim ajudar a desenvolver meu pensamento sobre a
resiliência.
Primeiramente, na ecologia, a resiliência é a capacidade de um determinado sistema de
recuperar o equilíbrio depois de sofrer uma perturbação. Remete-se para a capacidade de
restauração de um sistema. Na psicologia, a resiliência é o domínio que a pessoa tem para
lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão. Também na
física é a propriedade dos materiais que acumulam energias, quando submetidos a situações
de estresse, como rupturas. Essas matérias, logo após um momento de tensão, podem ou não
ser danificado, e caso seja, se ele terá a capacidade de voltar ao normal. É um termo oriundo
do latim resiliens, possui diversos significados para todas as áreas da ciência e para a cultura,
portanto, resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após
alguma situação crítica e fora do comum. É a capacidade do ser humano se reinventar pós
algum trauma, ou seja, as pessoas que conseguem dar significado a sua existência, continuar
sentindo e amando pós uma situação de abandono, morte, depressão, ansiedade, injuria racial,
LGBTQIfobia, machismo, opressão corporal e etc são resilientes. A resiliência é a transição
do corpo para a transcendência dos mesmos pós-impactos com a dor. Um ser resiliente é um
ser forte que usa da sua flexibilidade para adaptar a sua criatividade para encontrar soluções
alternativas para seus problemas.
Foram feitas perguntas sobre como as mulheres se sentem com base nas filosofias da
30
-
vida, ou seja: ciência e fé, para uma reflexão a partir de suas perspectivas.
Rosiane Rodrigues – 40 anos – primeira entrevista
O que você quer da vida?
Chega um momento, e eu já estou com 45 anos, em que a gente sabe mais o que não
quer... Eu não quero – até porque não mais admito – que falem por mim. E também não
quero falar por ninguém. Ter poder sobre o próprio discurso é, de muitas formas, dizer às
outras mulheres que somos nós as donas dos nossos caminhos, corpos e só cabe a cada uma
de nós estas escolhas. Sejam elas quais forem. Assumir o protagonismo das nossas lutas é
fundamental para exercermos cidadania.
Como você pretende conquistar o que quer?
Estudando. O maior desafio para mim, que voltou para a universidade aos 40 anos,
foi me disciplinar para estudar. A gente trabalha desde sempre, cuida da casa, dos filhos,
ama, luta, enfrenta... mas, a gente não se acostumou a se disciplinar para o estudo. Entendi
que esta era uma estratégia racista de nos manter na subalternidade e nos tirar o foco.
Fé e Ciência são...
A mesma coisa. Rsrsrsrsrssr (risos) Nossos sistemas de crenças são constituídos para
nos informar que as coisas são separadas em caixinhas e que podem ser classificadas. Mas,
não sou profeta do caos. Entendo que nossos sistemas classificatórios (que são cristãos e
ocidentais, diga-se de passagem!), apesar de necessárias, nos induzem a pensar o mundo de
forma binária e limitada. Há ciência em cada ebó que realizo. Assim como há fé em cada
texto antropológico que leio.
Observando as relações das novas perspectivas de linguagem e escrita que tenho me
proporcionado para produzir academicamente, do qual a universidade deveria incentivar aos
alunos a pesquisarem e a criarem, me deparei com diversas respostas que transcendem o senso
comum de se pensar a existência.
31
-
Eloá Rodrigues – 24 anos – segunda entrevista
O que eu quero da vida?
Bem o que eu quero da vida é viver sem a preocupação de ser apontada, chacota ou
possivelmente uma agressão física de alguém só por conta de ser quem eu sou...
Como você pretende conquistar o que quer?
Pra eu conquistar esses objetivos eu tento mostrar minha realidade e de outras
pessoas que vivem de forma parecida, para que a sociedade entenda que nossa existência
também importa.
Fé e ciência são?
Fé é algo que independe de religião e que a grande maioria das pessoas acaba
confundindo como se estas fossem necessariamente intrínsecas. Fé é algo interior e que te
move nessa existência. Ciência é algo que o ser humano criou para legitimar determinados
pensamentos (eu acho)
Faz parte dos seres humanos se encontrarem em coincidência com o pensamento do
outro. Esta relação se chama empatia. Para as relações humanas darem certo seria importante
que o que é falado seja escutado da mesma forma que se fala, e é através dessa reciprocidade
entre o falar e o ouvir que entendemos desde a sobrevivência de uma mulher transexual para
ser reconhecida como ser, como a luta de mulheres cis pela religião, pela educação, pelo amor
e pelo de transcender da vida, que nos fazem pensar e no repensar no ato de viver.
Barbara Assis – 20 anos – terceira entrevista
Como você pretende conquistar o que quer?
Criar laços com pessoas (preferência, negras) que me apoiam , acreditam no meu
32
-
potencial , ficar atenta às ciladas e para o que não é bom pra mim , me aceitar .
Em que você acredita?
Acredito nas relações, na boa vontade, na arte, na energia, no subjetivo do ser
humano, na natureza, na lei do retorno, que só quem pode te fazer mal é quem convive com
você.
Fé e ciência são...?
Distintas. Uma é concreta e a outra, sentida. Ninguém a vê. Fé é construção
ideológica, ciência é ferramenta de reparação, restauração.
A constatação é a de que esta observação atende às expectativas desta pesquisa,
confirmando o entendimento sobre como a natureza está relacionada com a sabedoria da
ciência e fé, as duas partem do meio geográfico, chamado TERRA para observar como as
relações cotidianas acontecem. Depois de anos de ciência e civilização já chegamos ao ponto
que as ciências intelectuais devem debruçar o olhar sobre a nossa espécie, e tentar nos aceitar
e entender para sermos melhores, parece que falta perceber que o conhecimento vem do
próprio homem, mais não no sentido egóico, e sim de forma coletiva individual, ou seja,
coletivamente construindo o seu ser e entendendo que o convivo social é crucial para
formação da sua psique e que ao mesmo tempo a sua individualidade de ser deve ser achada,
construída e preservada. Portanto, nos caminhos do conhecimento antropológico o objeto que
conheceremos melhor somos nós mesmos.
Vilma Neres Bispo – 33 anos – quarta entrevista
O que você quer da vida?
Viver com dignidade, serenidade e saúde, já que sonhos são possíveis tendo um
ambiente saudável (sem poluição sonora e advinda de indústrias, menos consumo de
alimentos processados, etc.) para morar e conviver com outras pessoas.
33
-
Em que você acredita?
Na força da natureza, na luz dos Orixás e guias de luz, em minha mãe e em mim.
Fé e ciência são...?
Encontro com a espiritualidade, com a natureza terrestre e o nosso interior
A consciência deve ser defendida a todo custo, a vontade intima deve ser estudada
mais a fundo. A moralidade dos costumes e desordens desse desiquilíbrio deve ser extraída da
analise cientifica para observamos parte do ser e do não ser do conhecimento da consciência.
Ana Clara Silva – 22 anos – quinta entrevista
Oque eu quero da vida...
Querer ser feliz envolve tantas coisas… inclusive ver os outros felizes também... quero
bem- estar a todos...felicidade.
Como você pretende conquistar o que quer?
Pra conseguir o bem-estar é preciso equilíbrio entre as relações e equilíbrio interno
também… Estou longe de atingir isso (risos). Por isso que a procura do bem estar/felicidade
é constante...
Eu acredito em mim e nas pessoas, no que vivo, no que respiro, inspiro, na troca de
energias. Não tenho religião, mas acredito nas energias.
Ciência e religião são?
Amo a ciência e critico muito a religião. Critico menos a ciência.
Minha mãe é mãe de Santo. Sou filha de Oxum. Minha família é do terreiro. Não sigo
a religião, só respeito, não questiono. Mas, por exemplo, a igreja evangélica da raiva só de
falar (risos)
Entender e acreditar é muito profundo, assim como o ser torna-se profundo à medida
34
-
que é estudado. Raso é o conhecimento vago sobre o ser. Mergulhar nas dores e nos prazeres
é entender seus anos de civilização, trabalhando em conjunto com a consciência do ser. O
poder em ter é o veneno da nação, já a complexidade do ser é o antídoto da nação. Formas
elementares da vida já mostram que a dignidade de um espaço geográfico saudável deveria
ser a base universal defendida por todos os seres humanos, porém a visão ocidental primitiva
transforma o ambiente natural em que vivemos para pensamentos de dispostas e posses,
fazendo assim um grande desequilíbrio mental e financeiro para a população da cultura euro-
ocidental.
Janice Mascarenhas – 22 anos – sexta entrevista
O que você quer da vida?
Ter uma vida estabilizada financeiramente trabalhando SÓ com arte.
Em que você acredita?
Eu não tenho religião. Acredito muito na natureza, no universo como deus. No amor e
nas crianças rs (risos)
Fé e ciência são...?
Eu vejo a fé como uma possibilidade pra viver melhor. Acreditar e ter esperança por
exemplo, que são coisas que vem junto com a fé, são ferramentas muito importantes pra
suportar o dia a dia. E vejo a ciência como um estudo importante pra nossa evolução em
conjunto... n sei se vou me fazer entender kkkkk (risos) sou meio burra na hora de me
explicar
Portanto, o caos vem para transformar tudo o que o cognitivo pensou como certo para
ser duvidoso, pois através do poder de transformação no conhecimento livre é que faz com o
que pensamos em produzir para capitalizar recursos de energias sustentáveis de acordo com a
energia do universo. O processo descritivo da observação participante da qual eu utilizei
entende os meios como justificáveis para toda forma de capitalização do cognitivo no senso
35
-
comum, as relações humanas perpassam por meios diferentes e mostram que os círculos de
estagnação variam de acordo com cada cultura urbana ou rural inserida mais a resiliência dos
corpos em atravessarem o pensamento comum traz a consciência de ser renovável para
vivemos em comunhão com nossa própria existência individual coletiva. É com base nessa
perspectiva que faremos o saber cientifico espiritual mudar.
Jaqueline Tavares – 42 anos – sétima entrevista
O que quero da vida?
Paz, felicidade
Em que eu acredito?
Acredito na energia que movimente o universo.
Fé e ciência são?
Fé e ciência estão integradas, as duas se complementam, a fé não pode existir sem a
ciência e vice e versa...
7- Grupos de (Re)resistência.
Construímos cientificamente a racionalidade de viver e acabamos sentindo as dores
físicas e morais por causa do processo que o nosso corpo está sendo obrigado a se adequar,
em vez de desenvolvermos a nossa potência da criatividade corporal e psíquica, estamos cada
vez mais aprisionados em padrões e normas culturais. Criam-se valores estéticos,
comportamentais e subjetivos para enquadrar seres que tem probabilidade infinita de criação e
mutação ambiental a criarem uma diversidade igualitária, o famoso senso comum, onde as
pessoas pensam que suas performances sociais devem ser seguidas conforme a tabela das
instituições da qual a eles seguem desesperadamente, necessitado de afeto e explicações.
As pessoas buscam a não contradição dos seus atos e atitudes, só que se esquecem que
as atitudes não vão seguir os valores morais sujeitadas pelo sistema, porque a contradição é a
36
-
nossa energia vital para, aprender, criar e transformar, ou seja, todas nós deveríamos trabalhar
com a explosão de sentimentos que há em todas as pessoas, o bem e o mal, humildade e
egoísmo, amor e ódio, paixão e repulsa e vários outros sentimentos duais que nos causa
confusão mental na construção do ser, na metrópole ou no campo. Esse conflito de
sentimentos que possuímos forma um ponto valioso para as instituições, e as mesmas que
visam lucrar e se apropriar violentamente das vontades dos corpos para dificultar o contato
natural com as contradições, de maneira saudável e transformadora para fixar os símbolos no
cognitivo das consciências.
É necessário que resistências se desenvolvam de formas corporais e espirituais
diferentes desses grupos de resistência que já surgiram.
Os grupos de resistência trazem o protagonismo dos grupos dentro dos círculos sociais
que resistem dentro de qualquer instituição de ideologia teórica que segue a conjuntura
cultural europeia. Estes grupos que estão em oposição à tendência colonialista de introjeção,
sujeição de conceitos culturais e subjetivos são encontrados em larga escala nas metrópoles
culturais. Isso só nos mostra como o poder do espírito capitalista sobre as opressões do corpo
se transformam em produção de reCIStência. Eles fabricam a informação e não se mantém
estáticos a novas variações de consciência entende-se a arte natural das coisas, natural não no
sentido biológica evolutiva darwinista, os corpos são corpos, e nada os diferem, estão apenas
representando a diversidade dos nossos cromossomos, a nossa capacidade de criação do ser é
ampla e isso não significa classificação corporal de gênero, sexualidade, fé, ceticismo ou
quaisquer classificações.
Esses grupos dominam a sua mente que é uma das tarefas mais difíceis que existem. É
necessário desenvolver o autoconhecimento e quanto mais nos conhecemos, mais teremos
condições de aprender sobre nossos processos internos; nossos profundos desejos, nossas
vontades reprimidas, nossas questões sem resposta. É um trabalho árduo, pois envolve
esclarecer todo o nosso ser, inclusive as partes que negamos ou que tentamos esconder de nós
mesmos. Acredite, há várias coisas de si mesmo que você mantém escondida, que não deseja
lembrar e que de vez em quando assim mesmo se faz presente para você, indicando que ainda
está lá. Suprimidas, mas ainda vivas. Todos nós passamos por coisas das quais não nos
37
-
orgulhamos ou que não queremos realmente encarar. Porém, as trevas se esclarecem ao
entendermos que cada pessoa é uma estrela. Cada um é uma nota musical que toca um som
diferente de todas as outras notas.
São infinitas as sinfonias do Universo. Cada nota musical é uma vibração sonora
única, e cada ser humana possui a sua. Quão ideal seria se todas as pessoas descobrissem a
sua nota musical e, assim, pudessem compor-se, num todo, harmonicamente. Seria um evento
interessante observar diversas pessoas desenvolvendo uma relação íntima e conectiva com
seus Verdadeiros eus, com suas Verdadeiras Consciências. A beleza, a individualidade da
coletividade, a empatia e do brilho serão irradiados em todas as direções, em todos os níveis,
planos e dimensões. A Grande Obra em toda a sua plenitude e esplendor. Nós a veremos
acontecer, basta nos esclarecemos sobre quem somos.
O grupo de [RE]esistência tem como objetivo levar iluminação para o coletivo pela
comunicação não violenta. A comunicação tem como objetivo principal juntar, unir e separar
todas as três ordens juntas e misturadas, pois a mesma se dá pelo fato de termos todas as
características juntas. A comunicação é o produto do meio da qual vivemos, e ela vai ser
flexível de acordo com a sua vivência.
Quando vemos onde a comunicação pode nos levar, podemos observar que ela precisa
ser estudada, refletida e amada para que tudo possa ser mudado e amado.
A vida e o meio no qual vivemos produzem um caminho sem volta, porém com
subterfúgios para sempre se renovar, pois o destino não está definido, e o ato de se comunicar
sempre poderá mudar tudo e todas, a proposta de observação de [RE]esistência será de se
renovar o método de pesquisa através da participação pela observação e sendo assim iniciada
um novo meio para se observar como a comunicação de diversas pessoas pode-se dá em um
mesmo grupo, pode acontecer. Todos os seres serão respeitados, entendidos, valorizados,
vangloriados, exaltados, analisados, metaforizados para chegar ao que a comunicação pede, a
sua verdade, e como entendemos que cada um tem sua verdade que é inquestionável a
observação desta comunicação irá se dá com respeito e carisma a todas.
38
-
8 – Conclusão
Enfim, durante o texto foi desenvolvido em conjunto com os autores da bibliografia
uma linha de pensamento que nos permitiu pensar sobre a filosofia de vida que vivemos a
partir do meio em que vivemos e como ele pode nos influenciar sobre as nossas perspectivas
de vida e da mente. A mente é poderosa porque a consciência, que habita na mesma a ativa
para desenvolver nossos pensamentos e ações na perspectiva que nós percebemos durante a
vida. É por este motivo que através da educação de base plural é que teremos um
conhecimento maior que somos e através da mesma desenvolver a consciência do espirito,
tecnologia avançada de acordo com a natureza e a ciência mais de acordo com as leis do
universo. Ilumine-se e verás a grande obra que tu és.
BIBLIOGRAFIA
ANI, Marimba. Yurugu. Uma Crítica Africano-Centrada do Pensamento e ComportamentoCultural Europeu. Lagos: Africa World Press,1892.
BASTOS, Janaina Ribeiro Bueno. "Da história, das subjetividades, dos negros com quemando": um estudo sobre professores brancos envolvidos com a educação das relações étnico-
raciais' 18/09/2015 168 f. Mestrado em Educação, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, São
Paulo, Biblioteca Depositária: FEUSP
FONSECA.Laércio B. O Espírito e a Física Quântica. 2017. (1:30:49). Disponível em:. Acesso em: 08 jun. 2018.
_____.A Física dos Planos Espirituais. 2018. (1:28:24). Disponível em:
. Acesso em: 17 julh. 2018.
FOUCAULT, Michel. Nietzsche, Freud e Marx: Tlleatrum Philosoflcum.São Paulo.Princípio de editora.1997
39
-
HOOKS, bell. Intelectuais negras. Estudos feministas.T .2014.In:https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/10/16465-50747-1-PB.pdf Acesso
em 15/10/2018.
Índios isolados do Brasil. Survival. 2018.IN:https://www.survivalbrasil.org/povos/indios-isolados-brasil. Acesso e 30/9/2018
JESUS, Jaqueline Gomes de. Identidade de gênero e políticas de afirmação identitária. In:VI Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade Sexual e de Gênero. Anais...
Salvador: Associação Brasileira de Estudos da Homocultura, 2012b. 15 p.
_____. Interlocuções teóricas do pensamento transfeminista. In: JESUS, Jaqueline (Org.).
Transfeminismo: teorias e práticas. Rio de Janeiro: Metanoia, 2014.
REID, Andrews George .América Afro-latina, 1800 – 2000. São Carlos: Ed. UFSCAR,2007.
V. Viviane. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: umaanálise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa Multidisciplinar de PósGraduação em Cultura e Sociedade, do
Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, da Universidade Federal
da Bahia, 2015.
40
https://www.survivalbrasil.org/povos/indios-isolados-brasilhttps://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/10/16465-50747-1-PB.pdf