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) UA1g UWVERSIDADE DO ALGARVE PROVA PARA AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR DOS MAIORES DE 23 ANOS 20 17/2018 Faculdade de Ciências Humanas e Sociais 1 Escola Superior de Educação e Comunicação Licenciaturas em Línguas e Comunicação, Línguas, Literaturas e Culturas, e Ciências da Comunicação Componente Específica de Português Leia atentamente a seguinte crónica de Rui Tavares e responda às questões: Se as palavras ainda significam alguma coisa Enquanto filho mais novo numa família com cinco irmãos, eu juro que imagino pertbitamente a posição em que está Marcelo Rebelo de Sousa quando vai ao Parlamento no 25 de Abril e tem de dizer qualquer coisa que não ponha toda a gente de candeias às avessas. Não tenho senão empatia pelas circunstâncias que o levaram a fazer uma exortação a favor de “um nacionalismo patriótico e de vocação universal, não um nacionalismo egocèntrico, agarrado a um pretenso passado. recriado porque não real e insuscetível de enfrentar o ftituro”. Ainda assim, porque o mundo anda perigoso e as ideias confusas, acho que vale a pena dissecar este tipo de frases antes que, para contentar toda a gente, o discurso do próximo ano não contenha um apelo ao “paganismo cristão”, à “bebedeira sóbria” ou ao “minimalismo rocócó”. Se as palavras ainda significam alguma coisa um “se” dos diabos, nos tempos que correm nacionalismo e patriotismo querem dizer coisas distintas e. em grande medida, opostas. Autores tão inconciliáveis como Alvaro Cunhal ou George Onvell conciliavam-se ao menos nisso. Patriotismo é um amor da pátria que não exclui outras afiliações humanidade. à solidariedade de classe, à comunidade religiosa, ao universalismo, etc.). O nacionalismo podemos definir como a ideia de que a única escala soberana possível é a da nação e, consequentemente, que a única organização legítima do sistema internacional é exclusivamente baseada no interesse nacional. Estou a usar uma definição generosamente neutral de nacionalismo, sem o confundir com a tese do destino manifesto de uma nação (excecionalismo americano, húngaro, francês e por ai afora) ou da superioridade hierárquica de uma nação sobre outras (“supremacismo”. que houve alemão, austríaco e de tantas outras cores e paladares). Hoje que ter paciência e mesmo cautela, porque os nacionalistas de todas as estirpes ficam abespinhados à séria se não os tratamos com a deferência que julgam ser-lhes devida, tal deve ser a falta de confiança que têm nos seus argumentos. O patriotismo reconhece o interesse nacional, mas não se esgota nele. Caso contrário. não conseguiria limitar-se quando o interesse nacional põe em causa valores universais. Nem sequer conseguiria corrigir-se quando o nacionalismo acaba ameaçando o próprio interesse nacional. Página 1 de 3

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)UA1gUWVERSIDADE DO ALGARVE

PROVA PARA AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA FREQUÊNCIA DO ENSINO

SUPERIOR DOS MAIORES DE 23 ANOS

20 17/2018

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais 1 Escola Superior de Educação e Comunicação

Licenciaturas em Línguas e Comunicação, Línguas, Literaturas e Culturas,

e Ciências da Comunicação

Componente Específica de Português

Leia atentamente a seguinte crónica de Rui Tavares e responda às questões:

Se as palavras ainda significam alguma coisa

Enquanto filho mais novo numa família com cinco irmãos, eu juro que imaginopertbitamente a posição em que está Marcelo Rebelo de Sousa quando vai ao Parlamento no 25 deAbril e tem de dizer qualquer coisa que não ponha toda a gente de candeias às avessas. Não tenhosenão empatia pelas circunstâncias que o levaram a fazer uma exortação a favor de “umnacionalismo patriótico e de vocação universal, não um nacionalismo egocèntrico, agarrado a umpretenso passado. recriado porque não real e insuscetível de enfrentar o ftituro”. Ainda assim,porque o mundo anda perigoso e as ideias confusas, acho que vale a pena dissecar este tipo de frasesantes que, para contentar toda a gente, o discurso do próximo ano não contenha um apelo ao“paganismo cristão”, à “bebedeira sóbria” ou ao “minimalismo rocócó”.

Se as palavras ainda significam alguma coisa — um “se” dos diabos, nos tempos quecorrem — nacionalismo e patriotismo querem dizer coisas distintas e. em grande medida,opostas. Autores tão inconciliáveis como Alvaro Cunhal ou George Onvell conciliavam-se aomenos nisso. Patriotismo é um amor da pátria que não exclui outras afiliações (à humanidade.à solidariedade de classe, à comunidade religiosa, ao universalismo, etc.). O nacionalismopodemos definir como a ideia de que a única escala soberana possível é a da nação e,consequentemente, que a única organização legítima do sistema internacional é exclusivamentebaseada no interesse nacional. Estou a usar uma definição generosamente neutral denacionalismo, sem o confundir com a tese do destino manifesto de uma nação (excecionalismoamericano, húngaro, francês e por ai afora) ou da superioridade hierárquica de uma nação sobreoutras (“supremacismo”. que já houve alemão, austríaco e de tantas outras cores e paladares).Hoje há que ter paciência e mesmo cautela, porque os nacionalistas de todas as estirpes ficamabespinhados à séria se não os tratamos com a deferência que julgam ser-lhes devida, tal deveser a falta de confiança que têm nos seus argumentos.

O patriotismo reconhece o interesse nacional, mas não se esgota nele. Caso contrário.não conseguiria limitar-se quando o interesse nacional põe em causa valores universais. Nemsequer conseguiria corrigir-se quando o nacionalismo acaba ameaçando o próprio interessenacional.

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Querem exemplos? Eles não faltam nas galerias de horrores da história, mas para nãoabespinhar ninguém vamos para uma realidade mais próxima e comezinha.

Portugal precisa de patriotismo. Sem patriotismo seria mais difícil termos um paíssustentável (como bem lembrou o Presidente), querermos aqui viver ou regressar, votar oupagar impostos, cuidar do património ou divulgar a nossa cultura, ou simplesmente lutar peloPortugal livre, justo e solidário’ de que rala a Constituição.

O mundo não precisa de mais nacionalismo. Mas se fôssemos a cair no erro de promovertal ideia, Portugal seria dos países mais prejudicados. Com o lamanho, as fronteiras, a economia eos emigrantes que temos, enveredar pelo nosso nacionalismo seria, inevitavelmente, fomentar o dosoutros e equivaleria a dar dez milhões de tiros em pares de pés cá dentro e mais uns tantos lá fora.Na China e nos EVA o nacionalismo pode ser viável no imediato, embora sempre desagradável aprazo. Em países como Portugal, nem isso. Na Hungria, por exemplo, Orbán não é nacionalista porcausa do interesse húngaro (ou não andaria a querer fechar uma das melhores universidades domundo no seu pais) mas por causa do interesse de apenas um certo e determinado húngaro em tersempre mais poder e mais dinheiro.

Em suma: gosto de pensar que, se fosse chinês ou americano, os meus princípios fossemsuficientemente fortes para me fazer rejeitar o nacionalismo. Sendo português, há outra razão maisdo que convincente para me impedir de abraçar tal ideia: o meu patriotismo não deixa.

Rui Tavares. Público. 28 de Abril de 2017

1. Que motivação apresenta o autor para fazer a distinção entre nacionalismo e patriotismo?

(1 valor)

2. Por que razão opta o autor por uma definição de nacionalismo “generosamente neutral”?

(1,5 valor)

3. Em cerca de 100 (cem) palavras, resuma a distinção feita no texto entre nacionalismo

e patriotismo

(2,5 valores)

4. Indique a que categorias sintáticas (nome/substantivo, verbo, adjetivo, ele.) pertencem as

seguintes palavras, assinalando os eventuais casos de ambiguidade categorial.

depressa como em da

(1 valor)

1 Poderá ultrapassar, ainda que ligeiramente, o limite de palavras referido.

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5. Identifique o tempo/modo verbal correspondente a cada uma das seguintes formas e construauma frase gramatical com a primeira delas:

pode-sefizesse interviemos

(1.5 valor)

6. Reformule as seguintes frases, mantendo o significado:

a) /vfanfestamente, fazer as afirmações que ele fez é motivo suficiente para o demitirem.

(inicie a sua reformulação com “que ele”)

b) No caso de ela se ter divorciado no ano passado, o documento perdia validade.

(inicie a sua reformulação com se ela”)

(2.5 valores)

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Em cerca de 250 (duzentas e cinquenta) palavras2, elabore um texto em que exprima, deforma clara e fundamentada, o seu ponto de vista sobre um dos seguintes temas:(1 O valores)

a) Deverão ser impostos limites para o modo como a fé religiosa se manifestapublicamente, designadamente (mas não só) em contextos nos quais se trate dereligiões minoritárias (por exemplo, limites para o uso de simbolos cristãos em paísesmuçulmanos ou vice-versa)?

b) Deverá a prostituição ser uma atividade legal?

2 Poderá ultrapassar, ainda que ligeiramente, o limite de palavras referido.

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