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COLETA DE DADOS NA PESQUISA CLNICO-QUALITATIVA: USO DE ENTREVISTAS NO-DIRIGIDAS DE QUESTES ABERTAS POR PROFISSIONAIS DA SADE
Bruno Jos Barcellos Fontanella1
Claudinei Jos Gomes Campos2
Egberto Ribeiro Turato2
Entrevistas no-dirigidas constituem o principal instrumento de coleta de dados nas pesquisas qualitativasno campo da sade. Estes estudos esto consolidados na literatura internacional. Para os profissionais de
sade, saber o que as pessoas sentem e imaginam permite-nos uma relao clnico-paciente mais adequada. indispensvel saber o que os fenmenos da vida significam para os indivduos, porque os significados tmuma funo estruturante: em torno do que as coisas significam para ns, organizamos nossas vidas, incluindo
os cuidados com nossa prpria sade. A partir de pesquisas concludas junto ao Laboratrio de Pesquisa
Clnico-Qualitativa da Universidade Estadual de Campinas, Brasil, os autores abordam, neste artigo, os seguintes
pontos: caracterizao de entrevistas no-dir igidas, diretividade das entrevistas, tcnicas de abordagem,observao de manifestaes no-verbais e para-verbais, tcnicas de registro e transcrio do discurso evalidade/confiabilidade das entrevistas no-dirigidas. O texto quer ser til para interessados em pesquisa da
graduao e ps-graduao.
DESCRITORES: entrevista psicolgica; pesquisa qualitativa; validade
DATA COLLECTION IN CLINICAL-QUALITATIVE RESEARCH: USE OF NON-DIRECTEDINTERVIEWS WITH OPEN-ENDED QUESTIONS BY HEALTH PROFESSIONALS
Non-directed interviews constitute the main data collection instrument in qualitative health research. Studies inwhich this is evident are well documented in international literature. For health professionals, knowing what
people feel and imagine makes it possible to develop a more adequate clin ician-patient relationship. It isindispensable to know what the life phenomena mean for individuals, because the meanings have a structuring
function. People organize their lives around the meaning they attribute to situations or object. This is alsorelevant to their health care. From research conducted at the Laboratory of Clinical-Qualitative Research, State
University of Campinas, Campinas (So Paulo), Brazil, the authors address, in this article, the following matters:
characterization of non-directed interviews, directiveness of interviews, approach techniques, observation ofnon-verbal and paraverbal manifestations, registry techniques / speech transcription, and validity/reliability ofnon-directed interviews. This is useful for people interested in research at graduate and undergraduate level.
DESCRIPTORS: interview, psychological; qualitative research; validity
COLECTA DE DATOS EN LA INVESTIGACIN CLNICO-CUALITATIVA: EL USO DEENTREVISTAS NO-DIRIGIDAS DE PREGUNTAS ABIERTAS POR LOS PROFESIONALES DE SALUD
Las entrevistas no-dirigidas constituyen el principal instrumento de colecta de datos de la investigacin
cualitativa en el campo de la salud. Estos estudios estn consolidados en la literatura internacional. Para losprofesionales de salud, saber lo que sienten e imaginan las personas contribuye para la construccin de una
relacin medico-paciente mas adecuada. Es indispensable saber el significado de los fenmenos de la vidapara los individuos, porque tiene una funcin estructurante: alrededor de lo que significan organizamos nuestrasvidas, incluyendo los cuidados con nuestra salud. A partir de investigaciones realizadas en el Laboratorio deInvestigacin Clnico-Cualitativa, Universidad Estatal de Campinas, Brasil, los autores tratan de: caracterizacin
de entrevistas no-dirigidas, continuum directivo de entrevistas, tcnicas del acercamiento, observacin de
manifestaciones no-verbales y paraverbales, tcnicas del registro/ transcripcin del discurso, y validez/confiabilidad de entrevistas no-dirigidas. Es til para los interesados en investigacin de graduacin y
posgraduacin.
DESCRIPTORES: entrevista psicolgica; investigacin cualitativa; validez
1 Doutor, Professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Membro do Laboratrio de Pesquisa Clnico-Qualitativa; 2 Doutor; Professor da Faculdade deCincias Mdicas, Membro do Laboratrio de Pesquisa Clnico-Qualitativa. Universidade Estadual de Campinas
Artigo de Reviso
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INTRODUO
Enfermeiros, mdicos e outros profissionais
de sade necessitam, com freqncia, ampliar a
compreenso cientfica de fenmenos acerca da vida
e da doena, tais como vivenciados e simbolizados
por seus pacientes. Conseqentemente, eles passam
a assumir o papel especfico do clnico-investigador.
Estes profissionais partem da premissa de que seus
pacientes detm experincias de vida e informaes
especficas que lhes ajudaro a compreender
profundamente vrios problemas de sade e de vida,
ento focalizados para uma investigao clnico-
psicolgica. O encontro clnico-paciente comea,
assim, a adquirir caractersticas peculiares a ambos,
e deve ocorrer de uma maneira metodologicamente
acurada, tal como realizada em qualquer pesquisa
cientfica.Os profissionais de sade esto acostumados
a coletar dados para chegar a um diagnstico clnico.
Entretanto, o recurso da anamnese, como bem se
sabe, difere de um roteiro de entrevista da pesquisa
qualitativa(1).Enquanto a anamnese representa uma
entrevista dirigida, portanto com questes
preestabelecidas para uma coleta ordenada de dados,
organizando a memria do entrevistado (pacientes
e/ou acompanhantes), visando dar diagnstico em
clnica ou em pesquisa, a entrevista da pesquisa
qualitativa igualmente um encontro interpessoal paraa obteno de informaes verbais e/ou escritas,
porm de uma maneira no-dirigida, consistindo em
um instrumento de pesquisa cientfica a fim de gerar
conhecimentos novos sobre vivncias humanas. Um
profissional clnico, devido a sua habitual prtica de
assistncia teraputica, e embora agora j como um
investigador qualitativista, poder interagir ainda
ingenuamente com a pessoa doente, coletando dados
automaticamente atravs de numerosas perguntas
seqenciais, at mesmo solicitando respostas
padronizadas, como geralmente ocorre quando sevisam descries clnicas aprendidas nos ambientes
e nos tratados mdicos.
De um ponto de vista metodolgico, se
algum quiser explicar cientificamente certo
fenmeno, por exemplo, relacionado dependncia
de drogas, este seria um assunto para investigadores
em psiquiatria, em epidemiologia ou farmacologia
clnica. Mas se algum quiser compreender o que este
fenmeno significa para um paciente dependente, este
um tema para investigadores qualitativistas, que
podem ser psiclogos, psicanalistas, socilogos,
antroplogos ou educadores. Entretanto, seria muito
interessante se enfermeiros, mdicos e todos os
outros profissionais de sade, eles mesmos pudessem
empregar mtodos qualitativos. Estes trazem a
vantagem - devido a sua experincia de cuidado
sade - de trazer uma atitude clnica e existencialista
inerentes(1), que lhes permitir executarem valiosas
coleta de dados e fazerem interpretaes dos
resultados com autoridade.
Em recente editorial, o renomado jornal
britnico Medical Education anunciou uma nova srie
sobre pesquisa qualitativa para aumentar a
conscincia dos leitores acerca da variedade de
mtodos disponveis(2). O assistente editorial enfatizou
que, nos ltimos dez anos, os mtodos qualitativos
de pesquisa, cada vez mais, tm se tornado bem
aceitos em peridicos da sade. Diversas revistastm publicado regularmente pesquisas qualitativas e
dispem de rbitros com claras diretrizes para avaliar
os respectivos artigos. difcil encontrar profissionais
da sade que ainda no tenham cincia sobre
mtodos qualitativos e sobre sua contribuio s
bases de conhecimento.
A respeito doproblema a ser eleito para uma
pesquisa qualitativa, este no deve ter sido explorado
cientificamente de modo extenso. No caso dapesquisa
clnico-qualitativa, a informao que interessa ao
investigador necessita ser encontrada do ponto devista subjetivo dos indivduos em estudo (sejam
pacientes, parentes ou mesmo os profissionais de
sade). Esta a chamada perspectiva mica de uma
pesquisa genuna(3), isto , o investigador respeita a
posio do insider, com fidelidade fala destes
entrevistados, interpretando os resultados de acordo
com a prpria lgica deles considerando as relaes
de significado que estabelecem. Conseqentemente,
isto permitir gerar, de fato, um conhecimento original.
A confrontao com os dados de literatura tem ento
uma funo complementar, como uma estratgia detriangulao terica. Mas nunca deve servir como
ponto inicial da discusso, na qual a apresentao
das citaes, extrada do material das entrevistas,
somente ajudaria a confirmar teorias j estabelecidas.
Considerando ser, infelizmente, uma prtica muito
comum nas produes acadmicas, o conhecimento
cientfico, neste modo, realmente no avana.
Referente s tcnicas de pesquisa, a fim de
apreender espontnea e eficientemente o discurso
dos sujeitos, um instrumento adequado de coleta de
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dados deve colocar as duas pessoas face-a-face,
procurando desenvolver um setting natural. Certos
fenmenos vitais so mais evidenciados nesta
situao, particularmente aqueles colocados em nveis
mais profundos da realidade(4), tais como: as reaes
psicolgicas e culturais a respeito do risco e do
processo de adoecer; as crenas/atitudes dos
pacientes ou dos profissionais a respeito da
compreenso clnica da doena; a adeso aos
tratamentos e s medidas de preveno; o manejo
do estigma da doena e assim por diante.
As ferramentas de pesquisa mais adequadas
a tais peculiaridades so as entrevistas no-dirigidas
em seus subtipos, a saber: as entrevistas abertas e
as entrevistas semidirigidas. Nestes mtodos, os
entrevistados falaro sobre os significados que eles
atribuem a suas experincias de vida e da doena.
interessante notar que este modo pode levar oentrevistador a aproximar-se de dados no
esperados(5), que so os famosos achados de
serendipidade: aqueles que so encontrados por
acaso. O investigador ter que descrever e interpretar
tais dados, como pode ser lembrado o exemplo bem
conhecido de serendipidade da descoberta cientfica
da penicilina no campo das cincias naturais.
Em contraste com as tcnicas da pesquisa
experimental, as entrevistas no-dirigidas so
instrumentos interativos complexos, em que o
investigador no deveria - e de fato no pode -controlar variveis emocionais, cognitivas e
comportamentais. Uma verdadeira pesquisa de campo
deveria ir alm do histrico papel passivo de confirmar
ou de refutar hipteses. As entrevistas qualitativas
tm que produzir dados a fim de realizar, pelo menos,
quatro importantes funes que deveriam desenvolver
os modelos tericos, nomeadamente: os resultados
iniciam, reformulam, redirecionam e clareiam
teorias(5).
DEFINIO E OBJETIVO
A Metodologia Clnico-Qualitativa - uma das
muitas abordagens qualitativas - um particular
refinamento da genrica metodologia qualitativa vinda
das cincias humanas. definida como se segue:
o estudo terico - e seu uso correspondente em
investigao - de um conjunto de mtodos cientficos,
tcnicas e procedimentos adequados para descrever
e interpretar os sentidos e os significados atribudos
a fenmenos e relacionados vida dos indivduos,
sejam pacientes ou qualquer outra pessoa participante
do setting dos cuidados com a sade (parentes,
membros da equipe profissional e da
comunidade)(6).
Frente ao delineado acima, o arrazoado deste
artigo fornece estratgias para melhor conhecer o
que as pessoas sentem e imaginam sobre os
fenmenos da sade. De pesquisas conduzidas junto
ao Laboratrio da Pesquisa Clnico-Qualitativa, da
Universidade Estadual de Campinas, os autores
almejam discutir seis problemas: caracterizao de
entrevistas no-dirigidas; diretividade das entrevistas;
tcnicas de abordagem; observao de manifestaes
no-verbais e paraverbais; tcnicas de registro e
transcrio do discurso; e, finalmente, validade/
confiabilidade das entrevistas no-dirigidas.
A CARACTERIZAO DE ENTREVISTASNO-DIRIGIDAS
Certos textos que definem entrevistas no-
dirigidas tm indicado dois aspectos especficos deste
instrumento de coleta de dados, a saber: seu intento
exploratrio e seu carter de assimetria(7). Quanto
menos dirigidas, as entrevistas puderem ser, mais
eficientes se apresentaro. Em contraste com uma
conversao diria, so conduzidas de modometodologicamente acurado por um investigador. De
um lado, h uma pessoa que um tcnico no papel
de detentor de certo conhecimento cientfico - o
pe squi sado r, e de outro lado, h uma pessoa
convidada que assume o papel do receptor da
abordagem tcnica - o entrevistado.
Essa assimetria tem sido definida como uma
relao entre duas ou mais pessoas, em que estas
intervm como tais. (...) [a entrevista] consiste em
uma relao humana, na qual um dos integrantes
deve procurar saber o que est acontecendo e deveatuar segundo esse conhecimento(8). De maneira
similar, a assimetria da entrevista de pesquisa foi
assim comentada por outro autor: A conversao
em uma entrevista de pesquisa no a interao
recproca de dois parceiros iguais. H uma definida
assimetria de poder: o entrevistador define a situao,
introduz os tpicos da conversao e, atravs de
perguntas sucessivas, guia o curso da entrevista(9).
A assimetria da entrevista no-dirigida torna
possvel aos entrevistados configurar o campo da
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pesquisa de acordo com sua particular estrutura
psicolgica, modulando-a em conformidade com o
que lhes acontece e no em conformidade com um
questionrio previamente organizado e fechado que
lhes tenha sido mostrado. Compreender a modulao,
assim como permitir a livre manifestao dos
entrevistados, papel do entrevistador. Isto no
implica em uma atitude passiva frente queles
primeiros, mas ao contrrio, o entrevistador deve usar
tanto seu conhecimento tcnico como o conhecimento
do universo cultural dos entrevistados. O
entrevistador deve aplicar sua habilidade ao problema
sob investigao, deve usar tcnicas de explorao
e, finalmente, deve modular a diretividade da
entrevista. Cada conduta tomada durante a entrevista
usada na explorao daquilo a que se props.
A DIRETIVIDADEDAS ENTREVISTAS
As intervenes do pesquisador fornecem
maior ou menor diretividade entrevista, criando
desse modo um continuum de possibilidades entre
duas extremidades - a entrevista informal e a
entrevista padronizada. Na pesquisa clnico-
qualitativa, o instrumento de escolha poderia ser tanto
a entrevista aberta ou a entrevista semidirigida (com
perguntas abertas). Quanto menos se sabe sobre o
problema que est sendo pesquisado, menos dirigidadeve ser a entrevista. Em pesquisas de natureza mais
exploratria, poucos temas devem ser propostos.
Os antroplogos aplicam freqentemente as
referidas entrevistas informais nas situaes
chamadas observao participante, em sua imerso
na comunidade em estudo. Esta estratgia foi
desenvolvida a partir de famoso estudo sobre os
nativos da Oceania, h quase um sculo(10). Esses
pesquisadores pressupem ter assim mais
compreenso do problema do que seria alcanado
por qualquer tipo de questionrio (longo ou curto,mltipla escolha, escalas ou outros). Algumas
vantagens dessa tcnica so as seguintes: garantia
de ter acessado a fonte original, alta validade dos
dados coletados e, por fim, grande confiana com
baixo custo operacional.
Sabe-se que a explorao cientfica de um
tema clnico deve abranger, alm do conhecimento
terico do entrevistador, um conjunto de contedos e
habilidades, advindas de entrevistas clnicas
previamente realizadas durante atividades
assistenciais. Atravs dessa experincia profissional,
o investigador clnico-qualitativo j ter familiarizao
com o seguinte: o vocabulrio acerca do tema que
ser pesquisado; o modo de ser dos sujeitos com os
quais ele interagir; e as habituais demandas
emocionais e sociais dessa populao.
Conseqentemente, as entrevistas clnicas
conduzidas durante a vida acadmico-profissional do
pesquisador tero assegurado diversas habilidades
socioculturais, tcnicas e psicolgicas, tais como
requeridas para a pesquisa clnico-qualitativa.
Os pesquisadores qualitativistas mantm
tambm uma valiosa atitude clnica de acolhida dos
sofrimentos emocionais da pessoa, inclinando-lhes a
escuta e o olhar, movidos pelo desejo e pelo hbito
de fornecer ajuda(1). Tais habilidades clnicas so
similares competncia cultural buscada pelos
antroplogos durante a fase informal da entrevista,quando querem conhecer o funcionamento
sociocultural cotidiano no campo em observao. A
competncia cultural, requerida para o pesquisador
clnico-qualitativo, consiste em um certo conhecimento
do problema da pesquisa e do campo, evitando erros
que comprometeriam a validade dos dados obtidos,
tais como impor problemas estranhos ao universo
scio-psicolgico das pessoas ou usar conceitos no-
correntes na populao pesquisada.
As denominadas entrevistas de aculturao
so necessrias, devido s mesmas razes, ou sejapara familiarizao do pesquisador frente a um
especfico setting envolvendo entrevistador-
entrevistado. As entrevistas de aculturao das
investigaes qualitativas correspondem,
metodologicamente, s clssicas entrevistas piloto das
pesquisas quantitativas(1). Com relao entrevista
semidirigida de perguntas abertas, tais entrevistas
livres precedentes servem para adaptao de seu
roteiro. Elas permitem ratificar a adequao do roteiro
previamente elaborado ou mesmo incluir tpicos no
planejados anteriormente, em caso de certa nfaseespontnea, por parte dos entrevistados, ser
percebida para uma questo especfica. As entrevistas
preliminares permitem tambm ao pesquisador
avaliar seu prprio comportamento no campo,
calibrando a si mesmo enquantopesquisador-como-
instrumento e reduzindo suas ansiedades (normais)
neste particular setting de pesquisa.
Em entrevistas no-dirigidas, o entrevistador
no necessita formular muitas perguntas, mas ele
meramente convida os entrevistados a falar sobre:
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os prprios problemas vivenciados, interesses,
preocupaes, opinies, expectativas, medos,
fantasias, devaneios e assim por diante. Espera-se
que os entrevistados se expressem com suas prprias
palavras, comportando-se como um sujeito ativo na
entrevista. As entrevistas no-dirigidas podem durar
mais tempo, mas compensando esta aparente
desvantagem prtica do instrumento possibilita
possvel menos vieses nas fases da coleta de dados
e da interpretao, sendo conseqentemente mais
eficazes em situaes de pesquisa exploratria.
No caso do subtipo da entrevista aberta, o
pesquisador prope um assunto e posteriormente
apenas catalisar o discurso do entrevistado, usando-
se estmulos sonoros de comunicao, que facilitam
a manifestao das possibilidades de expresso do
entrevistado. Freqentemente, descrita como sendo
uma entrevista em profundidade(3), reforando as
possibilidades ilimitadas de consideraes por parte
do entrevistado, acerca do tema proposto e de suas
associaes, podendo ir alm do que o pesquisador
havia imaginado ou categorizado previamente.
O subtipo da entrevista semidirigida uma
espcie de guia temtico, mais curto, que serve como
roteiro para o encontro. Algumas questes-tpicos j
so suficientemente conhecidas para serem propostas,
porm o todo da entrevista no est predeterminado e
nem as respostas esto preditas(1). A diretividade
subliminarmente alternante entre ambos participantes
e, por conseguinte, tambm no transcorrendo ao
acaso, no guiada pelo desejo exclusivo do
entrevistador ou do entrevistado. As entrevistas
semidirigidas so altamente dinmicas e,
conseqentemente, as consideraes sobre como
realiz-las so somente tentativas de esquematiz-las.
Tipicamente, a entrevista semidirigida deveria
ter um carter aberto ao incio, quando uma primeira
pergunta considerada - a chamada a questo
disparadora. Ela focaliza o trabalho de investigao,
encorajando a gerao de idias, deve ser bem entendida
para a resposta ser suficientemente desenvolvida. Apergunta no deve se referir a um assunto ambguo,
nem deve enderear-se a um tpico sobre o qual o
entrevistado no tenha habilidade emocional ou cognitiva
para falar. A frase usada para focar o problema no
deve ser muito geral, nem muito especfica, impedindo
desenvolvimentos que no tenham sido de interesse do
entrevistador. Obviamente, a pergunta disparadora est
relacionada diretamente ao objetivo geral da pesquisa.
Todas as perguntas deveriam motivar um
discurso respeitando o princpio da livre associao
de idias(11). Por outro lado, o pesquisador pode
retomar pontos j abordados pelo entrevistado, caso
no tenham sido claramente expressos - fato que
caracteriza uma alternncia de diretividade. Quando
um ponto foi adequadamente abordado, o
entrevistador introduz ento outros tpicos, em
concordncia com o que foi includo no projeto de
pesquisa. O pesquisador verifica quais tpicos ainda
no foram abordados e ento os prope de uma
maneira neutra e aberta. Estas perguntas refletem
naturalmente os objetivos especficos da pesquisa que
tinham sido definidos, sempre em correspondncia
com as hipteses inicialmente formuladas. No se
espera que o tema e seus subtemas sejam sempre
propostos a diferentes entrevistados da mesma
maneira. As perguntas e o modo como so expressas
variaro obviamente de acordo com caractersticas
pessoais de cada informante.Com o instrumento da pesquisa em mos, o
investigador acompanha as variaes do campo e as
estimula, sem perder de vista os objetivos da
pesquisa. A lista dos subtemas adquire maior
relevncia dependendo da fluncia dos entrevistados,
quando estes focalizam a informao que se refere
ao tema principal. Em geral, prefervel abordar os
entrevistados somente uma vez. Uma segunda
entrevista pode ser desnecessria, embora em alguns
casos ela possa ter um efeito de maximizao da
validade dos dados coletados neste mtodo.Opondo-se a tal no-diretividade, as
entrevistas padronizadas ou estruturadas so
incompatveis com pesquisas puramente qualitativas.
Neste caso, o pesquisador l um questionrio
previamente construdo com perguntas ordenadas e
fixas. As respostas so anotadas e escolhidas pelo
entrevistado necessariamente dentre aquelas
predeterminadas e includas no instrumento. Para as
mesmas perguntas feitas, pode haver respostas
semelhantes, que de fato estariam com sentidos
potencialmente enviesados, pois tiveram de serenquadradas s alternativas limitadas. Tais respostas
tm a vantagem de no despender muito tempo e de
se permitir certa homogeneizao dos dados
coletados. Quanto mais dirigida for a entrevista,
menor ser o nmero das variveis do instrumento
de coleta de dados, incluindo as varveis relativas
aos prprios pesquisadores. O extremo da
diretividade o questionrio auto-aplicvel, devido
menor variao possvel do comportamento do
entrevistador.
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AS TCNICAS DE ABORDAGEM
Abordar indivduos atravs de entrevistas
no-dirigidas implica em intervir cuidadosamente para
se obter o mximo em profundidade sobre seus
pontos de vista. Os indivduos podem falar sobre os
tpicos almejados, mas tambm sobre questes
introduzidas por eles mesmos durante a entrevista,
obviamente se forem teis aos objetivos da pesquisa.
Interveno mnima pode significar simplesmente
permitir um momento ao entrevistado para que ele
pense sobre o que estava dizendo, ficando o
entrevistador sem intervir durante esses instantes.
O silncio do entrevistado no significa
necessariamente uma concluso de seu raciocnio,
certa inibio ou um desinteresse, mas pode ter
diversos significados psicolgicos a serem
interpretados, tal como por exemplo, a procura damelhor forma de elaborar mentalmente o que ele est
sentindo ou imaginando. Por sua vez, o silncio do
pesquisador pode corresponder a uma eloqente
linguagem de sentimentos angustiantes e at mesmo
uma relao afetiva prazerosa estabelecida
inconscientemente.
Certas expresses faciais podem mostrar que
o observador est seguindo o raciocnio do
entrevistado. Movimentos afirmativos com a cabea,
leves interjeies ou emisso de sons estimulantes
so outras pequenas intervenes do pesquisador quemostram ao entrevistado que suas respostas so
pertinentes e teis e, conseqentemente, o informante
ver isto como uma oportunidade de expandir suas
respostas. Para exploraes mais detalhadas, sem
tentar dirigir o entrevistado, indica-se repetir as
ltimas palavras ditas pelo informante, transmitindo
a idia de que desejvel que ele desenvolva mais o
argumento em andamento.
Introduzir um subtema novo representaria a
mais radical interveno em uma entrevista no-
dirigida. O pesquisador estaria antecipando umapossvel resposta espontnea do entrevistado.
Teoricamente, esta posio pode indicar certa
ansiedade por parte do entrevistador, mas um
fenmeno que nem sempre diminui a validade dos
dados coletados. Entretanto, esta possvel atitude
contratransferencial(um deslocamento involuntrio
dos sentimentos do entrevistador ao entrevistado)
deveria ser usada como um elemento de sua auto-
observao a fim de compreender melhor, na futura
fase de tratamento dos dados, como a dinmica da
entrevista ocorreu. O citado comportamento pode
tambm resultar da boa interao da dupla, da
cooperao entre as partes, correspondendo ao
instante exato em que uma nova pergunta, devido a
razes diversas, teria que ser apresentada. O
entrevistador estaria demonstrando, por exemplo, j
ter compreendido o contedo latente do que foi
revelado de algum modo pelo entrevistado.
Para conduzir uma entrevista de pesquisa de
uma maneira satisfatria, reconhecendo o fato de que
ela consiste em um encontro interpessoal rico e
multidimensional, as caractersticas de personalidade
do entrevistado deveriam tambm ser reconhecidas.
Essas caractersticas modulam inexoravelmente o
contedo e a forma do discurso de qualquer
informante e, conseqentemente, todo o setting da
entrevista. Pelo menos seis tipos de relaes
psicolgicas podem ser sistematizadas comoelementos auxiliares s consideraes investigador,
como os tipos: histrico, fbico, obsessivo, paranide,
socioptico e esquizide(12). No setting da entrevista,
o investigador aprende como detectar tais
caractersticas e administr-las, assim como pode
instruir-se previamente pela literatura cientfica e por
aulas/conferncias sobre o assunto.
A OBSERVAO DAS MANIFESTAES
NO-VERBAIS E PARAVERBAIS
Alm das enunciaes das palavras, devem
igualmente ser anotados os mltiplos elementos no-
verbais do informante, tais como: apresentao
pessoal, comportamento global, mudanas na postura
corporal, gesticulaes, mmica facial, riso, sorriso,
choro e muitos outros(1). Anotar mudanas no
volume, intensidade, tom, durao e ritmo da fala
tambm importante. Sabe-se que a comunicao
paraverbal e no-verbal traz informaes adicionais
cruciais para a interpretao do entrevistador/observador, usada ento para confirmar,
complementar ou mesmo - a partir de uma revelao
inusitada - para contradizer o que foi falado acerca
de pontos do tema tratado ou a respeito de assuntos
gerais. O que uma pessoa no pode trazer como
informao explcita, ela seria capaz de oferecer-nos
- ou deixar emergir de alguma forma - atravs de
outras manifestaes, tais como o comportamento
global ou a linguagem no-verbal, expondo um lado
de sua histria, em graus variveis de convergncia
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ou divergncia, frente ao que ela havia expressado
de um modo verbal e consciente.
Observar e reagir s manifestaes acima
mencionadas no constitui propriamente uma tcnica,
mas sobretudo, uma conseqncia das caractersticas
pessoais do pesquisador. O entrevistador procura fazer
geralmente uso mximo de sua capacidade de
observao. Observar e reagir aos comportamentos
no-verbais da amostra sob estudo reflete a empatia
do pesquisador com essa populao especfica -
capacidade que no facilmente atingvel com mero
treinamento. Em cada pesquisa de campo,
reivindicam pesquisadores com habilidades
especficas de respeito ao outro, que sejam, em
conseqncia, sensveis s nuanas do
comportamento singular de seu entrevistado.
As tcnicas de observao em cincias
humanas se aperfeioaram como resultado daexperincia dos antroplogos em campo,
particularmente em sua interao com pessoas de
diferentes crenas e valores, como participantes da
cultura. O dirio de campo transformou-se em uma
tcnica bsica para registrar as observaes
conhecidas como anotaes de campo. Em entrevistas
no-dirigidas, talvez as anotaes tenham que ser
feitas durante seu andamento, minimizando o posterior
vis de uma memria diluda. Mas para facilitar a
espontaneidade dos entrevistados, prefervel anotar
os dados da linguagem no-verbal logo em seguida entrevista.
AS TCNICAS DE REGISTRO ETRANSCRIO DAS FALAS
As entrevistas no-dirigidas so registradas
geralmente em gravador de fita ou digital ou ainda,
menos freqentemente, em vdeo, permitindo um
tratamento posterior de tal material. A transcrio
do udio para texto facilita alguns aspectos da anliseda entrevista, atravs de leitura e releituras
flutuantes, enquanto as repetidas audies dos
registros em udio permitem uma recordao mais
precisa do contexto afetivo, atravs do novo contato
com as variaes emocionais do tom e da voz, tais
como ocorreram durante o setting. A forma de
transcrio costuma variar de acordo com os objetivos
do estudo. Na pesquisa clnico-qualitativa, as
transcries na integra so geralmente a opo,
refletindo acuradamente as palavras dos entrevistados
e do entrevistador, porm sem a considerar ecos ou
interjeies, que poderiam ter um efeito negativo de
dificultar a leitura, particularmente quando so
numerosos.
Os presentes autores escolheram comear
expondo o processo da transcrio utilizado em
pesquisas j publicadas
(13-14)
. aconselhvel que atranscrio seja feita na forma de um texto literrio
comum. As adaptaes so feitas de acordo com um
equilbrio entre a fidelidade ao udio, a compreenso
do material transcrito e o conforto psicolgico para a
leitura. Por exemplo, freqentes superposies de fala
so transcritas como se a contribuio de cada locutor
fosse respeitada. Estes investigadores optam tambm
pela ortografia etimolgica (preservando a redao
das palavras de acordo com a norma culta), em
detrimento da ortografia fontica (que escreve as
palavras correspondendo aos sons pronunciados pelosentrevistados), porque manter pronncias erradas
na transcrio resulta geralmente em uma
interpretao pouco produtiva e inapropriada.
Construes gramaticais diferentes da norma
acadmica, indicativas do universo sociocultural do
entrevistado so mantidas caso representem
significados interpretveis.
Partes ininteligveis, comentrios descritivos
e anotaes explcitas sobre as pessoas e instituies
mencionadas so indicados com observaes entre
colchetes, como: [trecho ininteligvel de 5 segundos],
[ele/ela riu], [fim da fita], [irmo do entrevistado].
Nomes pessoais so substitudos por nomes fictcios.
Nomes de instituies ou cidades que no identificam
o entrevistado podem ser mantidos. Reticncias
indicam pausas entre palavras e frases no-
concludas. Entonaes enfticas so marcadas com
pontos de exclamao. Referncias ao discurso direto
de outras pessoas ou dos prprios pensamentos do
entrevistado so transcritas entre aspas. Hesitaes
para pronunciar palavras so indicadas pela primeiraletra ou slaba seguidas por reticncias. Sinais de
pausa (ponto, vrgula, etc.) devem ser usados
adequadamente.
Finalmente, um quadro com as seguintes
informaes bsicas deve preceder cada transcrio:
identificao biodemogrfica, contextualizao quanto
aa sade (diagnstico, durao do problema clnico,
tratamentos e assim por diante), reaes do
entrevistador entrevista (auto-observao),
circunstncias ambientais relevantes e outras.
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A VALIDADE E CONFIABILIDADE DASENTREVISTAS NO-DIRIGIDAS
As entrevistas dirigidas so identificadas
primam pelo atributo da confiabilidade, enquanto as
no-dirigidas so distinguidas pelo rigor metodolgico
da validade dos dados obtidos. De acordo com o MeSH
- Medical Subject Headings - da Biblioteca Nacional
de Medicina dos EUA, confiabilidade a
reprodutibilidade ou a repetitividade estatstica das
mensuraes, freqentemente em um contexto
clnico, incluindo o teste de instrumentos ou de tcnicas
para obter resultados reprodutveis (15). Validade
corresponde aos trs seguintes pontos: o mtodo de
pesquisa escolhido; as tcnicas de coleta de dados
empregadas; e cuidados tomados com os
procedimentos em campo os quais permitem o
investigador capturar os fenmenos sob observao.A confiabilidade das entrevistas no-dirigidas
avaliada de modo prprio, sendo tambm um aspecto
a ser considerado na calibragem do rigor
metodolgico das pesquisas qualitativas, embora nem
todos os pesquisadores qualitativistas vejam isto como
uma necessidade.
A validade de um instrumento de coleta de
dados refere-se sua capacidade de revelar a
verdade, permitindo emergir contedos que espelham
a realidade. As perguntas a ser respondidas so as
seguintes: O instrumento revela (mede) corretamenteo que pretende revelar (medir)? uma tcnica que
leva o investigador a focalizar a essncia do objeto?
Os resultados diferentes obtidos refletem diferenas
reais ou ocasionais? Sabe-se que os instrumentos
diferentes devem ter a propriedade de se referirem
s medidas da realidade emprica. As pesquisas
qualitativas baseiam-se na validade interna
determinada pelos graus de correo da apreenso
e pela abordagem adequada do objeto que est sendo
examinado(16).
Em investigaes clnico-qualitativas,vivncias devem ser apreendidas em situaes
especficas da vida dos entrevistados. O instrumento
de coleta ter que capturar isto com acurcia, de um
modo a assumir que as manifestaes esto revelando
essas experincias, garantindo assim sua validade
interna. Por estar na rea das cincias humanas, a
validade cientfica verifica-se na plausibilidade dos
elementos apreendidos na intersubjetividade, haja
vista que o objeto de estudo das humanidades,
diferentemente das cincias exatas, um ser humano
tal como o pesquisador. Alm disso, um dos critrios
de validade das entrevistas no-dirigidas o
estabelecimento de uma transferncia positiva
entrevistado-pesquisador, de modo que ao ocorrer, o
informante demonstra uma atitude de colaborao
confivel, passando tambm a perseguir os objetivos
da pesquisa.
Outras tcnicas que maximizam a validade
deste instrumento, por facilitar a expresso da
subjetividade dos entrevistados, so os seguintes:
garantia do anonimato; conforto fsico durante a
entrevista; disponibilidade da dupla para estender,
se necessrio, o tempo previsto do procedimento;
setting familiar da entrevista para o entrevistado (sua
casa ou, preferencialmente, o servio de sade em
que costuma ser atendido, sendo este um setting
tambm familiar ao entrevistador); relao de
confiana entre entrevistador e entrevistado; mesmo
espao fsico para todas as entrevistas e somente
um entrevistador para a amostra inteira (permitindo
que as variaes das entrevistas somente aconteam
devido s variaes dos entrevistados); competncia
sociocultural do entrevistador frente ao entrevistado;
possibilidade de mais de um encontro com o mesmo
entrevistado ou, se o aspecto da catarse da entrevista
tenha sido especialmente relevante, a evitao de
uma segunda entrevista.
A validao feita pelos participantes,
referentes aos dados tratados (a ratificao pelos
entrevistados acerca da anlise feita posteriormente
pelo investigador) incomum na pesquisa em settings
clnicos. De um lado, se o entrevistado tiver
oportunidades de explicar-se melhor, o investigador
pode ser percebido como algum digno da confiana.
Por outro lado, a exposio dos sujeitos a certas
interpretaes psicolgicas ou sociolgicas feitas pelo
pesquisador, quando realizadas fora do setting clnico,
pode resultar em iatrogenias para o entrevistado. A
validao pelos participantes destina-se a pesquisas
sobre temas que no se referem diretamente a eles
prprios, subjetividade do indivduo entrevistado enem sua vida ntima, tal como ocorre nas pesquisas
historiogrficas ou macrossociais.
A confiabilidade refere aos graus da
confiana relacionados a certo mtodo ou
instrumento, que reproduziria os mesmos achados,
se outros pesquisadores estudassem outra amostra
de sujeitos - porm de mesmo perfil - em outros
settings ou outros momentos. H idias polmicas
que defendem que a entrevista em profundidade
detm uma confiabilidade baixa, porque cada
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entrevistador, devido sua prpria personalidade,
trabalharia de maneiras distintas. No haveria razo
para discordar deste pensamento, se a mesma
definio e as mesmas medidas da confiabilidade, tais
como usadas em estudos quantitativos, fossem
aplicveis pesquisa clnico-qualitativa e a seu
instrumento de coleta de dados. Mas a discusso sobre
a generalizao das concluses colocada em outros
termos no caso das pesquisas qualitativas(17-18).
Devido ao reconhecido fato de que os estudos
qualitativos no se propem a generalizar os
resultados matematicamente construdos, os
questionamentos acadmicos correspondentes ao
atributo da confiabilidade no so, portanto, aplicveis
a estes estudos. No caso da pesquisa qualitativa, se
os resultados obtidos com entrevistas
metodologicamente corretas (acessveis aos leitores
atravs das transcries, que so anexadas aorelatrio final da pesquisa) forem admitidos e aceitos
pelos pares da comunidade cientifica, como gozando
de plausibi lidade , ento os consumidores destes
estudos tentaro aplic-los a outros settings para ver
se tais concluses lhes fazem sentido. Se aqueles
resultados que forneceram conhecimento original se
relacionarem ao tema do novo estudo, tero jogado
luz na compreenso dos elementos neste outro setting,
podemos dizer que o carter da generalizabilidade
aconteceu(19).
CONCLUSES
Entrevistas no-dirigidas no devem ser
vistas como simples veculos de manifestaes clnico-
psicolgicas das pessoas estudadas em settings da
sade. Elas consistem realmente de instrumentos da
explorao de problemas novos para a cincia, sendo
assim: (a) elas so empreendidas para fazer emergir
significados atribudos a fenmenos, at aquele
momento uma exclusiva propriedade (nem sempreconscientes) dos entrevistados; (b) podem produzir
novos e relevantes fenmenos a partir da interao
entrevistador-entrevistado; e (c) registram tais dados,
permitindo-lhes tratamentos/anlises. Os dados
coletados sero cientificamente teis somente se
forem conduzidos rigorosamente pelo investigador no
relatrio da pesquisa.
A hiptese da investigao poder, desta
maneira, ser revista, assim como os leitores dos
relatrios podero aumentar seu conhecimento sobre
o comportamento e as reaes da populao
estudada, melhorando sua prtica clnica e ajustando
mais efetivamente os recursos assistenciais. Alm
disso, uma das principais conseqncias dos
conhecimentos produzidos a partir das entrevistas
no-dirigidas na rea clnica, levantar problemas
novos para pesquisa, assim como a formulao de
hipteses cientficas novas para serem conferidas e
expandidas qualitativamente ou mesmo testadas pormeio de outros mtodos.
Entrevistas abertas e semidirigidas so
tambm teis particularmente nos segmentos tcnico-
cientficos relacionados s seguintes reas
multidisciplinares: cuidado em sade geral, Sade
Mental, Sade Coletiva, Sade da Famlia, da Criana,
do Adolescente e do Idoso, Sade Reprodutiva e
reas correlatas. Entretanto, as reas clnico-
cirrgicas e a epidemiologia poderiam tambm se
beneficiar dos estudos qualitativos, principalmente
quando tais estudos investigam os problemas novosou razoavelmente desconhecidos, associados a
adaptaes psicossociais a doenas crnicas,
comportamentos de risco para doenas transmissveis
ou ambientais, ou prticas teraputicas informais,
complementares e alternativas, e assim por diante.
Apesar dos numerosos textos j produzidos sobre
entrevistas qualitativas, as respectivas tcnicas
deveriam estar em um contnuo processo de
refinamento. Finalmente, espera-se que os assuntos
discutidos neste artigo possam ser teis para os que
se interessam por pesquisa, estudantes graduadosou graduandos.
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