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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 6, Edição número 24, Outubro de 2016 - Abril de 2017. p
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA: INTERDISCIPLINARIDADE NOS
ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Rosangela Maria de Almeida Netzel*
Marilu Martens Oliveira**
RESUMO: Este artigo tem por escopo apresentar sugestões de práticas escolares interdisciplinares. A
questão principal de investigação é:como integrar disciplinas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?
Tal fato é relevante, pois essa pode ser uma alternativa aos desafios que se colocam aos docentes em
uma sociedade plural. Para tanto, emprega-se como instrumento metodológico a pesquisa bibliográfica,
considerando-se apontamentos teórico-metodológicos e exploração de obras infantis, sendo ponto de
partida as concepções expostas em documentos que tratam do ensino, além de teóricos que discorrem
sobre o letramento, a natureza da literatura infantil, a abordagem literária na escola e estratégias de
leitura. Espera-se contribuir com as práticas pedagógicas no segmento, motivando à organização
interdisciplinar pautada em elementos direcionadores como os temas transversais e os princípios da
Educação em Direitos Humanos, tendo-se nos livros infantis recursos privilegiados para a aproximação
entre os saberes prévios dos alunos e os conhecimentos, valores e atitudes que se pretende disseminar.
ABSTRACT: This article aims to present suggestions for interdisciplinary school practices. The main
question is: how to integrate subjects in the first years of Elementary School? This issue is relevant
because it can be an alternative to the challenges faced by teachers in a plural society. Therefore, this
study is based on a bibliographical research, considering theoretical and methodological notes, and the
work with children’s literature. The starting points are the exposed concepts in documents which deal
with education, and authors who study about literacy, the children's literature, the literary approach in
schools and reading strategies. It is expected that this study contributes with pedagogical practices,
encouraging interdisciplinary actions based on guided elements, such as, the cross-cutting themes and
the Human Rights Education principles, considering that children’s books have great resources to make
a link between the previous knowledge of the students, and the values, contents and attitudes that are
intended to be disseminated.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Literatura; Sequência Básica.
Keywords :Interdisciplinarity; Literature ; Basic sequence.
INTRODUÇÃO
A interdisciplinaridade nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é essencial, visto que,
normalmente, um único regente de turma é responsável por diversas disciplinas, como
Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes e Ensino Religioso. Diante
dessa multiplicidade, coloca-se a questão de como integrar as disciplinas, de modo a
contemplar o desenvolvimento de habilidades de escrita, leitura e raciocínio,
considerando ainda o letramento em diversas instâncias.
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Para vencer tal desafio, orientações oficiais sugerem que o ensino paute-se em
contextualizações e na integração entre as várias áreas do conhecimento, com atenção
especial para construção de atitudes e valores voltados à vida social, destacando-se os
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e os Princípios para a Educação
em Direitos Humanos (BRASIL, 2012...), que englobam o tema das diversidades, tão
presente nas discussões sociais na atualidade.
Nesse contexto, os termos transversalidade e interdisciplinaridade são citados como
formas de aprimorar a didática, justapondo conteúdos curriculares. Diante disso, nesta
pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico, coloca-se a hipótese de que a literatura
infantil seja ferramenta interessante para tal integração, atendendo ao disposto nos
referidos documentos e permitindo desdobramentos referentes a outras instâncias
curriculares.
Objetiva-se, portanto, apresentar sugestões de abordagem literária em que
transversalidade e interdisciplinaridade se complementem. Tais esquematizações,
estruturadas em formato de Sequências Básicas (COSSON, 2009), constituem os
resultados alcançados até o momento.
1 INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) versa sobre o
objetivo do Ensino Fundamental, que se constitui na formação básica do cidadão,
enfatizando o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem, entendimento do
entorno natural e social, além da disseminação de valores e atitudes solidárias e de
tolerância, tendo como base a leitura, a escrita e o cálculo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) são também documentos relacionados ao
ensino, e neles é incentivada a integração entre disciplinas, considerando, sobretudo,
problematização e análise de questões sociais relevantes, visando a que tal incorporação
ocorra por meio de temas transversais, elencados como: ética; saúde; meio ambiente;
orientação sexual; e pluralidade cultural (BRASIL, 1997, p. 41).Conceitua-se, também,
no documento referido, o termo transversalidade como um tratamento integrado das
áreas (BRASIL, 1997, p. 45), onde os conteúdos são devidamente inseridos na realidade
dos alunos, podendo, esse conceito, ser inerente à interdisciplinaridade, quando
concebida como trabalho colaborativo entre duas ou mais disciplinas.
Tais considerações remetem ao conceito de letramento, bastante presente nas discussões
educacionais na atualidade, que, em uma abordagem social, refere-se às habilidades de
ler e escrever textos do cotidiano em contextos específicos, de acordo com as
necessidades, valores e práticas do indivíduo (SOARES, 1998).
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No entanto, conceber as práticas sociais como direcionadoras do ensino requer
discussões constantes sobre as diversidades, visto que novos conceitos a elas relativos
têm pautado as vivências de muitos dos educandos, seja no âmbito familiar, midiático
ou social em geral.
Acrescenta-se o fato de que leis recentes buscam regulamentar tal inserção, como o
Programa Nacional de Direitos Humanos (BRASIL, 2009), enfatizando que a formação
na Educação Básica deve consistir em possibilitar, desde a infância, a formação de
cidadãos cientes de seus direitos, no combate a formas de preconceito, pautados no
respeito às diversidades (BRASIL, 2009); e, ainda, o documento que trata dos
Princípios da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b), com referência ao
caráter transversal, em uma abordagem interdisciplinar, visando à adoção de estratégias
metodológicas que privilegiem a construção prática de valores (BRASIL 2012b). Dessa
maneira, percebe-se que ambos os documentos referem-se à Educação em Direitos
Humanos (EDH) como essencial ao ensino, desde os anos iniciais.
Diante dessas orientações, as práticas interdisciplinares, imbuídas da transversalidade,
podem ser uma alternativa à organização de conteúdos, desde que se conte com recursos
facilitadores da necessária integração. Nesse contexto, afirma-se que a abordagem de
literatura infantil, em seu potencial artístico e cultural, seja alternativa viável, pois
facilita a contextualização de temas, possibilitando atender às novas exigências que se
impõem ao ensino, em práticas concretas de letramento.
2 ABORDAGEM LITERÁRIA E PRÁTICAS CURRICULARES
Candido (1995) afirma que tão importante quanto o direito à saúde e à educação é o
direito à literatura, às artes e outras formas culturais. Assim, independentemente da
classe social, todos os indivíduos devem ter acesso a esses bens. Devido ao fato das
esferas sociais comunicarem-se, o sujeito poderá transitar por diferentes instâncias, por
isso a garantia de acesso à cultura popular e à erudita é colocada como inalienável.
A literatura infantil, em sua natureza artística - representação de mundo por meio da
palavra em que se fundem realidade e fantasia -,foi produzida em diferentes momentos
históricos e as concepções relativas a ela também foram diferentes. Destinando-se a
crianças, seres em idade de aprendizagem, é também pedagógica, podendo ser mais que
entretenimento, “[...] experiência rica de vida, inteligência e emoções” (COELHO,
2000, p. 32).
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Na escola, espaço privilegiado para o encontro entre o leitor e o livro, a literatura pode
ser utilizada como recurso à formação de leitores, em um trabalho pautado pela
interdisciplinaridade e pelas práticas sociais. Isso remete ao plano do conteúdo, tendo
como elemento principal as temáticas universais, com base na concepção clássica de
amplitude e dupla função de “instruir agradando”, estendendo a diversos gêneros tal
classificação, em uma abordagem ampla, desde que sua produção ocorra também com
intenção artística.
Ainda sobre critérios de seleção das obras, seria uma alternativa ao professor considerar
o itinerário de aprendizagem desejado, englobando fatores como qualidade literária,
valores morais, opiniões dos leitores (COLOMER, 2007, p.125-139). Deste modo, a
seleção de livros pode ser um jogo coletivo e consciente, uma prática social, o que
motivará à exploração das obras sugeridas na escola.
Por ser leitor maduro, a leitura do mestre tende a ser mais abrangente do que a do leitor
imaturo, possibilitando-lhe mediar a leitura de modo a fazer do texto um ponto de
encontro entre autor e leitor. A maturidade será, por conseguinte, construída mediante a
intimidade com muitos textos. Portanto, no aprendizado, cada nova leitura desloca e
altera o significado de tudo lido anteriormente, ampliando a compreensão quanto aos
livros, às pessoas e às vivências. Entretanto prevalece o alerta feito por muitos teóricos,
ao longo dos anos, de que é preciso propor estudos significativos do texto, dando
preferência a obras integrais em detrimento da fragmentação por vezes apresentada nos
livros didáticos.
Considerando tais aspectos, o estudo integral da obra literária permite
interdisciplinaridade e transversalidade, podendo gerar desdobramentos múltiplos
como a criação de histórias matemáticas que envolvam resolução de problemas, por
exemplo, ou mesmo a discussão e a ampliação dos estudos, usando-se pesquisas e
entrevistas sobre assuntos de disciplinas como Ciências, História, Geografia, ou outras
disciplinas presentes nos anos iniciais do Ensino Fundamental (doravante Ensino
Fundamental Inicial - EFI), como Artes e Ensino Religioso, que podem relacionar-se ao
caráter artístico e cultural da literatura, como já comentado.
É importante ressaltar que há, ainda, algumas estratégias de leitura, a serem utilizadas
desenvolvidas na escola, para utilização de acordo com os objetivos de cada indivíduo
nas diversas situações, sendo elas: ativação de conhecimentos de mundo; antecipação ou
predição de conteúdos ou de propriedades dos textos; checagem de hipótese; localização
e/ou retomada de informações; comparação de informações; generalização; produção de
inferências locais; produção de inferências globais. Portanto, há de se considerar os
conhecimentos prévios do aprendiz, as inferências que apresenta ao explorar
antecipadamente o livro (dando espaço à curiosidade e hipóteses), a busca de
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informações literais, o reconto pessoal do texto lido e os comentários críticos originados
da sua apreciação da obra (ROJO, 2009, p. 77-79).
Assim é que Cosson (2009), voltando-se à mediação, aponta passos a serem trilhados na
abordagem escolar de obras literárias. Trazendo suas contribuições para o contexto do
EFI e considerando que o professor regente do segmento não leciona apenas literatura
ou outra disciplina isolada, uma possibilidade é utilizar a Sequência Básica para o
Letramento Literário, obedecendo aos seguintes passos: Motivação, Introdução, Leitura
e Interpretação. A Sequência Básica, então, será detalhada no próximo tópico.
3 SUGESTÕES DE SEQUÊNCIAS BÁSICAS PARA O EFI
Na metodologia da Sequência Básica para o Letramento Literário, Motivação é o
momento lúdico de introdução ao tema principal de que a obra literária tratará; a
Introdução é a apresentação de autor, contexto de produção e outras características da
obra que mereçam ser comentadas; a Leitura é vista como o momento de contato entre
leitor e obra, preferencialmente individual; e a Interpretação como o momento de
partilha entre os muitos sentidos que a obra assume para cada um dos leitores, dando
margem à interação e a estratégias de avaliação dinâmica de leitura.
Buscando enfatizar a importância da abordagem literária no EFI, as sugestões aqui
apresentadas têm como recursos alguns dos livros presentes nos acervos do Plano
Nacional do Livro Didático (PNLD) 2013, entregues às escolas públicas pelo MEC
(BRASIL, 2012a), de fácil acesso a muitos professores do segmento, considerando-se
os temas relativos aos PCNS e aos Princípios da EDH. Dessa forma, foi possível
relacioná-los da seguinte forma:
QUADRO 1: Relação entre temas e obras infantis Temas transversais
– PCNS (BRASIL,
2007)
Princípios da EDH (BRASIL, 2012b) Obras selecionadas do
acervo PNLD 2013
(BRASIL, 2012a)
Ética Democracia na educação 1. O livro do pode-não-pode
(STRAUSZ, 2005)
Saúde Dignidade humana 2. Gente de muitos
anos(CARVALHO, 2009)
Meio ambiente Sustentabilidade socioambiental. 3. A quarta-feira de
Jonas(ACIOLI, 2010)
Orientação sexual Igualdade de direitos; 4. Carta do tesouro para ser
lida às crianças (MIRANDA,
2009)
Pluralidade cultural Reconhecimento e valorização das 5. Canção dos povos
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diferenças e das diversidades; africanos(PAIXÃO, 2010)
Pluralidade cultural Laicidade do estado 6. O livro das
combinações(FELICIANI,
2012)
Meio ambiente Transversalidade, vivência e globalidade 7. Tudo por causa do
pum?(SUERTEGARAY,
2011)
Fonte: Autoria própria.
Estabelecidos esses pontos comuns entre as temáticas expostas nos documentos e
elegendo-se obras que os suscitassem, foi possível construir propostas de Sequências
Básicas como sugestões a professores do EFI, ou mesmo de outros segmentos que
pretendam adaptá-las.
Antes de inserir essa abordagem na prática pedagógica, é necessário compreender,
porém, a importância de que, nas Sequências Básicas, cada criança possa ter contato
com o livro, mesmo que posteriormente ao trabalho em sala, para leitura autônoma,
explorando assim toda sua carga literária e linguística. Além disso, na etapa de
interpretação, é preciso estar atento para que se mantenha o principal objetivo desse tipo
de mediação, que é a socialização das impressões de leitura dos alunos, coletivamente
ou em grupos.
QUADRO 2: Sequência Básica com a obra O livro do pode-não-pode
Tema: Direitos e deveres dos cidadãos
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): DEMOCRACIA NA EDUCAÇÃO
Tema transversal (BRASIL, 1997): ÉTICA
Obra complementar: O livro do pode-não-pode (STRAUSZ, 2005)
Autor(a): Rosa Amanda Strausz
Ilustração: Eduardo Albini
Em O livro do pode-não-pode, conta-se a história do caminhoneiro Tião Parada, que adora seu ofício e
vive percorrendo as regiões do Brasil. Em cada lugar onde chega, ele cria laços de amizade e se apega
ao local. Gosta especialmente do Nordeste, por apreciar tudo: as pessoas, as cidades e, especialmente, a
comida, motivo que o leva à prisão na cidade de Piripaque. Essa obra leva o leitor a refletir sobre temas
como cidadania, liberdade e autoritarismo. Tião Parada e o temido delegado Jegue Brabo revelam, de
maneira cômica, a importância de se conhecer as leis para a luta pelos seus direitos(BRASIL, 2012a, p.
131).
Motivação: Atividade escrita individual sobre 3 regras de convivência ideais na opinião das crianças,
imaginando uma escola com normas diferentes.
Leitura pela professora e anotação no quadro das 6 regras mais “absurdas” que os alunos apresentarem.
Introdução (contextualização sobre tema, autor e obra)
Discorrer sobre a existência da Constituição Federal e de outras leis que normatizam a convivência
entre os brasileiros.
Dinâmica “Cadeira dos autores”, considerando-se a sinopse contida na contracapa do livro e as breves
biografias nele expostas: os alunos recebem esses textos, leem e elaboram questões simples; dois deles
são escolhidos para representar a autora e o ilustrador, buscando responder aos questionamentos,
também baseados nos dois textos.
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Mostrar o mapa do Brasil e, mais especificamente, a localização do Nordeste, onde se passa a narrativa.
Explicar que a cidade onde ela acontece é fictícia.
Leitura: Como é um livro extenso, se houver poucos exemplares na escola, a leitura poderá ser feita
pela professora, em uma ou mais aulas.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, poderá ser realizada a
produção de texto coletivo resumindo a obra, ou mesmo a produção de textos em grupo ou individuais,
inspirados na história, mas trocando a cidade por uma família ou uma escola.
Fonte: Autoria própria.
QUADRO 3: Sequência Básica com o livro Gente de muitos anos Tema: Direitos dos idosos
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): DIGNIDADE HUMANA
Tema transversal (BRASIL, 1997): SAÚDE
Obra complementar: Gente de muitos anos (CARVALHO, 2009).
Autor(a): Malô Carvalho (Maria Eugênia Silveira Carvalho)
Imagens: Suzete Armani
Gente de muitos anos trata da temática “direitos dos idosos” e aborda vários aspectos em torno do seu
cotidiano, com ilustrações belas que despertam o interesse do leitor. Malô Carvalho, autora da obra,
propõe modelos e situações habituais de socialização entre gerações de forma lúdica e divertida. O livro
também retoma aspectos históricos da legislação e transcreve partes específicas do estatuto do idoso:
saúde; transportes coletivos; violência e abandono; entidades de atendimento ao idoso; lazer, cultura e
esporte; trabalho; habitação. A leitura é capaz de provocar situações de análise e reflexão sobre valores
e atitudes fundamentais para a formação cidadã (BRASIL, 2012a, p. 72).
Motivação: Dinâmica em duplas, em que um colega tem os olhos vendados e deverá ser guiado por
outro colega pela sala ou escola, trocando de lugar em um segundo momento (no caso de alunos
pequenos melhor fazer com uma ou duas duplas como exemplo à turma).
Ao final da atividade, os alunos dizem como se sentiram ao serem guiados e ao guiar o colega.
O professor anota no quadro as descrições feitas.
Explicar que nem todos os idosos têm dificuldade de enxergar, mas vão adquirindo limitações físicas
ou psicológicas e precisam muito da compreensão e colaboração de todos.
Introdução:
Contextualização do tema, autores e obra: Ler para os alunos os depoimentos dos autores (breve
biografias) nas páginas 34 e 35 do livro. Podem ser lidas ou apenas comentadas também as informações
presentes nas p. 30-33 sobre o estatuto do idoso, ou ainda ser proposta uma pesquisa sobre o tema
como tarefa de casa.
Leitura: A leitura poderá ser feita por meio de jogral, com uso de microfone, se possível, e com a
participação de todos ou de alguns alunos.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, poderá ser proposta uma
atividade artística como produção de cartazes ou esculturas (usando massinha) sobre o tema, em
grupos, e a exposição e/ ou apresentação de trabalhos.
Fonte: Autoria própria.
QUADRO 4: Sequência Básica com o livro A quarta-feira de Jonas Tema: Meio ambiente e atitudes conservacionistas.
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): SUSTENTABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL.
Tema transversal (BRASIL, 1997): MEIO AMBIENTE
Obra complementar: A quarta-feira de Jonas (ACIOLI, 2010).
Autor(a): Socorro Aciole
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Imagens: Rafael Limaverde
A quarta-feira de Jonas é um livro que, por meio de uma história centrada na amizade entre o menino
Jonas e uma família de golfinhos, apresenta situações decorrentes da nossa atitude em relação ao
descarte dos resíduos. Nessa perspectiva, a autora traz duas possibilidades de final para a narrativa: a
poluição das águas e a consequente morte dos animais, ou a preservação dos ambientes pela reciclagem
dos resíduos. O enredo convida o leitor a refletir sobre a importância das atitudes em favor do meio
ambiente, que beneficiem o ser humano e os outros animais, em um exercício de cidadania (BRASIL,
2012a, p. 82).
Motivação: Podem ser exploradas imagens de ambientes conservados e de ambientes degradados e
discutir-se sobre os motivos, a culpa e as consequências de tais cenários (até mesmo imagens do livro
didático).
Introdução: Ler ou pedir que algum aluno leia para a turma a biografia da autora e do ilustrador ao final
do livro. Se possível, acessar com os estudantes ou pedir que o professor de informática acesse as
páginas da autora e do ilustrador, indicados na última página do livro (abaixo das biografias).
Leitura: Poderá ser realizada a leitura dramatizada. A professora começará a narrativa e depois dois
grupos de alunos ficam com uma versão, dividindo as falas.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, poderá ser proposta às
crianças a montagem de um calendário semanal com as atividades de Jonas na versão que mais
gostaram.
Fonte: Autoria própria.
QUADRO 5: Sequência Básica com o livro Carta do tesouro para ser lida às crianças Tema: Respeito à diversidade de opiniões.
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): IGUALDADE DE DIREITOS
Tema transversal (BRASIL, 1997): ORIENTAÇÃO SEXUAL
Obra complementar: Carta do tesouro para ser lida às crianças (MIRANDA, 2009)
Autor(a): Ana Miranda
Imagens: Ana Miranda
O livro Carta do tesouro é uma opção de abordagem dos direitos das crianças na perspectiva do
multiculturalismo e da diversidade cultural, étnica, linguística, religiosa, sexual, de gênero, de arranjo
familiar e de classe social. Enfatiza que tais direitos se impõem em quaisquer contextos. Desenhos de
crianças de todos os lugares do mundo real e do mundo ficcional, como o saci, as bonecas de pano
(Emília), os bonecos de pau (Pinóquio) e até mesmo um marciano favorecem um trabalho de estímulo à
imaginação, à criatividade e às atitudes de participação e comprometimento com o coletivo (BRASIL,
2012a, p. 73).
Motivação: Recorte e colagem de revistas para formar uma pessoa, usando partes de várias outras.
Discussão dos resultados e reflexão sobre como agiriam se encontrassem alguém com aquela aparência
ou tivessem eles próprios aquela aparência.
Fotocopiar alguns desenhos do livro que representem rostos de crianças e pedir que cada aluno
reproduza um deles.
Introdução: Leitura da biografia da autora ao fim do livro. Conversa sobre e leitura da Declaração dos
Direitos da Criança (ao final do livro) e/ou proposta de pesquisa como tarefa de casa sobre o assunto.
Leitura: Seria ideal que pudessem visualizar o livro juntos, pois as imagens complementam o texto
escrito (talvez fotografar ou scannearas páginas e usar datashow). Assim poderiam relacionar,
coletivamente, as imagens e as características apontadas em cada parágrafo.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, poderia ser montado um
texto coletivo sobre o tema, passado para cartolinas em grupos e anexados desenhos que
representassem partes da história.
Fonte: Autoria própria.
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QUADRO 6: Sequência Básica com o livro Canção dos povos africanos Tema: Diversidade cultural.
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): RECONHECIMENTO E
VALORIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS E DAS DIVERSIDADES.
Tema transversal (BRASIL, 1997): PLURALIDADE CULTURAL.
Obra complementar: Canção dos povos africanos (PAIXÃO, 2010)
Autor(a): Fernando da Paixão
Imagens: Sérgio Melo
Pode-se discutir ou resolver um problema cantando? A obra Canção dos povos africanos apresenta, na
forma de poesia rimada, a tradição mantida por uma tribo africana, cuja característica maior é utilizar a
canção como mediadora nas relações sociais. Assim, no nascimento, no rito de passagem para a vida
adulta, na morte e mesmo nos momento sem que um membro da tribo comete um ato considerado
impróprio, é por meio da canção que todos se manifestam. O poema propicia trabalhar a noção de lugar
e região, além de ampliar o universo vocabular do leitor e desenvolver conteúdos relacionados à
pluralidade cultural (BRASIL, 2012a, p. 121).
Motivação: Pedir que os alunos tragam o nome e a letra de sua canção favorita. Deixar que os alunos
apresentem à turma, lendo ou cantando. Se houver canções iguais podem ser cantadas em grupo.
Refletir sobre a importância das canções apresentadas para cada um e as mensagens nelas contidas. Se
possível, assistir ao vídeo para aprender a brincadeira cantada com a música África (ver com os alunos,
contando com a professora da biblioteca ou outro projeto), mostrar o mapa mundi e o mapa do Brasil,
para ver lugares mencionados na música. Explorar a letra com os alunos.
Introdução: Leitura dos comentários sobre a biografia do autor e do ilustrador (fatos mais
significativos), mostrar no mapa do Brasil a localização do nordeste e do Ceará (terra natal do autor).
Leitura: Leitura dramatizada, pelos alunos em forma de jogral.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, seria interessante fazer a
montagem de encenação das estrofes, apresentação para outras turmas, acompanhada da leitura em
forma de jogral. Seria ainda interessante proceder à montagem de mural com palavras de origem
africana, colorido com estampas como as do livro, que remetem ainda a sequências de figuras e formas
(podem entrar aqui as atividades disponibilizadas pela prefeitura e enviadas ao e-mail das professoras
da escola).
Fonte: Autoria própria.
QUADRO 7: Sequência Básica com o livro O livro das combinações Tema: Respeito à diversidade de crenças.
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): LAICIDADE DO ESTADO
Tema transversal (BRASIL, 1997): PLURALIDADE CULTURAL
Obra complementar: O livro das combinações (FELICIANI, 2012)
Autor(a): Mario Rui Feliciani
Imagens: Galvão
Como decidir em qual passeio a turma deve ir? O que se pode ou não fazer em sala de aula? Usando
situações muito próximas da realidade dos leitores e valendo-se de ilustrações chamativas, a obra O
livro das combinações propicia a discussão sobre o convívio em sociedade. Estimula, ainda ,a
tolerância política, cultural, social e religiosa ao tratar de temas como a liberdade de expressão, o
direito de defesa e de ir e vir, da proteção às crianças, do combate ao racismo e da igualdade entre
homens e mulheres (BRASIL, 2012a, p. 117).
Motivação: Atividade coletiva de combinação entre sílabas para formar diferentes palavras.
Atividade de combinação entre peças de roupas de diferentes formatos, cores e tamanhos, se possível
recortadas em cartolina ou E.V.A. para manipulação dos alunos.
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Reflexão sobre diferentes resultados.
Introdução: Leitura das biografias do autor e do escritor ou dinâmica “Cadeira dos autores”.
Leitura: Como o livro é extenso seria interessante dividir em vários textos e pedir que sejam treinados
pelos alunos em casa para serem lidos em sala.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, poderão ser montados
painéis sobre as combinações enfatizadas no livro: liberdade de expressão; o direito de defesa; proteção
às crianças; liberdade de ir e vir. Refletir com os alunos os limites de tais direitos.
QUADRO 8: Sequência Básica com o livro Tudo por causa do pum? Tema: Preservação do meio ambiente.
Princípio da Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2012b): TRANSVERSALIDADE,
VIVÊNCIA E GLOBALIDADE
Tema transversal (BRASIL, 1997): MEIO AMBIENTE
Obra complementar: Tudo por causa do pum? (SUERTEGARAY, 2011)
Autor(a): Maíra Suertegaray
Imagens: André Aguiar
A obra Tudo por causa do pum? discute, de forma bem humorada, a questão do aquecimento global. A
discussão se faz a partir da ideia de que a flatulência (o “pum”) dos bovinos produz gases poluentes
responsáveis pelo aquecimento. Na história, a vaca Godofreda e suas amigas, indignadas com tal
afirmação, fazem greve de fome e conseguem mostrar que as queimadas das florestas e do lixo, os
desmatamentos e o consumo dos combustíveis fósseis são muito mais impactantes para o meio
ambiente, levando o leitor à conclusão de que o ser humano é o principal responsável pelo
aquecimento global (BRASIL, 2012a, p. 83).
Motivação: Perguntar aos alunos o que sabem sobre aquecimento global e/ou pedir que pesquisem a
respeito (anotem em folha avulsa para montar painel ao final) e tragam as considerações para serem
apresentadas e discutidas na sala de aula.
Introdução: Leitura das biografias do autor e do escritor ou dinâmica “Cadeira dos autores”.
Leitura: A leitura poderá ser realizada pela professora em conjunto com os alunos dramatizando os
acontecimentos.
Interpretação: Após o momento de discussão das interpretações da turma, seria interessante montar um
painel com as pesquisas dos alunos, além de desenhos e colagens sobre o tema.
Fonte: Autoria própria.
Em todas as Sequências Básicas sugeridas, há mais de uma disciplina envolvida,
possibilitando transitar em diferentes conteúdos curriculares. Outro aspecto que vale a
pena ser ressaltado é a dinamicidade das práticas, visto que se busca dar abertura ao
aluno, valorizando-se a oralidade. Dessa forma, os conteúdos curriculares poderão ser
trabalhados de maneira lúdica, havendo ainda a possibilidade de desdobramentos em
atividades que objetivem desenvolvimento de habilidades diversas.
A exposição de trabalhos ao final das práticas, como sugerido, é uma forma de revisar
os temas abordados, produzindo-se outros sentidos e mostrando aos alunos que seus
trabalhos podem alcançar outros públicos, além do professor e dos alunos da turma.
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A dinâmica “Cadeira dos autores”, sugerida na primeira Sequência Básica apresentada
poderia ser utilizada em todas elas, pois exercita estratégias de leitura dos alunos, com
base nas biografias e nas sinopses expostas nas obras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A integração de disciplinas por meio da abordagem literária é uma alternativa válida
para a organização didática, uma vez que permite abordar conteúdos de diferentes áreas
em um único planejamento, atendendo ao disposto em documentos orientadores do
ensino.
Desse modo a transversalidade e a interdisciplinaridade podem complementar-se, em
aulas nas quais o lúdico esteja presente, partindo-se do conhecimento de mundo que o
aluno já possua e possibilitando a construção de outros saberes.
Por meio da pesquisa bibliográfica aqui empreendida, são lançados caminhos para que a
abordagem literária seja uma alternativa ao ensino transversal e interdisciplinar no EFI,
pois as Sequências Básicas baseadas no referencial teórico exposto comprovam que é
possível almejar e concretizar tal objetivo. Para tanto, é preciso que o trabalho com obras infantis paute-se em metodologia que
conserve seu duplo caráter, artístico e cultural, de modo que a matéria literária seja
explorada em atividades dinâmicas pautadas pela oralidade, pela criatividade e pela
partilha.
Espera-se contribuir, a partir das sugestões aqui apresentadas, para um trabalho
pedagógico integrado, em que a literatura seja concebida como recurso privilegiado,
devido ao seu caráter artístico e cultural, possibilitando diversos desdobramentos.
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*Mestre em Ensino de Ciências Humanas (UTFPR – LD).
**Doutora em Letras (UTFPR – CP/LD).