ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL COM BASE

NA ABORDAGEM ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL

DANIELE DE OLIVEIRA CARLOS1

MARIA ENIANA ARAUJO GOMES PACHECO2

Resumo: O psicólogo organizacional trabalha de forma interdisciplinar o comportamento humano no campo das

relações das pessoas com as organizações através da compreensão dos fenômenos psicológicos. Assim o analista

do comportamento terá sua atuação pautada nos fundamentos do Behaviorismo Radical de Skinner. O presente

artigo apresenta as possibilidades de atuação do psicólogo organizacional a partir do referencial analítico-

comportamental. Este estudo foi construído a partir de um levantamento bibliográfico e de meio eletrônico, com a

finalidade de compreender melhor o tema, a partir de um resgate histórico da psicologia dentro das organizações

de trabalho, apresentação da análise do comportamento pelo Behaviorismo radical de Skinner e a prática do

psicólogo organizacional baseada na teoria comportamental.

Palavras-chave: Psicologia organizacional. Análise do comportamento. Behaviorismo Radical de Skinner.

ROLE OF ORGANIZATIONAL PSYCHOLOGIST BASED ON

ANALYTICAL-BEHAVIORAL APPROACH

Abstract: The organizational psychologist works in an interdisciplinary way human behavior in the field of

relations of people with organizations by understanding the psychological phenomena . Thus the behavior analyst

will have its action based on the behaviorism Skinner's Radical fundamentals. This article presents the

organizational psychologist possibilities from the behavior-analytic framework. This study was constructed from

a literature review , in order to better understand the issue from a historical psychology within labor organizations

, analysis of the presentation of the behavior by the radical behaviorism of Skinner and practice of organizational

psychologist based on behavioral theory .

Key-words: Organizational psychology. Behavioranalysis. Behaviorism Radical Skinner.

1 Graduada em psicologia pela Faculdade Doutor Leão Sampaio. Especialista em Psicologia Organizacional pela

Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro/Instituto Dom José de Educação e Cultura (IDJ). E-mail:

danycarloss@hotmail.com 2 Graduada em psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em gestão e serviço de saúde

pela UFC. Mestre em políticas públicas e sociedade pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Doutoranda

em psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Orientadora de TCC do curso de Especialização em

Psicologia Organizacional do Instituto Dom José (IDJ). Professora do curso de Psicologia da Faculdade Luciano

Feijão (FLF). E-mail: enianaagp@yahoo.com.br

2

INTRODUÇÃO

Conforme Lemos e Cols (2007) o século XXI incorpora-se de diferentes avanços

tecnológicos paralelos ao mundo do desemprego na realidade de muitos empregados, gerentes

e líderes de empresas privadas. Diante desse contexto, os líderes precisam de uma boa

capacidade de diagnóstico capaz de fazer uma análise das cobranças do ambiente

(empresa/relação entre indivíduos) e ter a capacidade de adaptar seu estilo de liderança para

atuar neste meio.

Dessa maneira, na contemporaneidade, a psicologia surge nas organizações para dar

suporte aos processos administrativos, ao fazer um reconhecimento estrutural e de diagnóstico

dos possíveis problemas, obtendo assim dados para estratégias e procedimentos de mudanças

no ambiente organizacional.

Sendo a psicologia uma profissão que atende a demandas variadas em diferentes

contextos, visando a promoção da saúde e qualidade de vida, nos seus vários campos de atuação

como, por exemplo, nas organizações, torna-se necessário a construção desse trabalho,

proporcionando aos leitores um maior esclarecimento sobre esse campo de atuação do

psicólogo organizacional com embasamento na análise do comportamento.

De acordo com Ranceschini (2009) a Análise do Comportamento considera que os

comportamentos emitidos pelos sujeitos (trabalhadores) se dão na interação destes com seu

ambiente de trabalho, incluindo seus relacionamentos com outros trabalhadores (ambiente

social), práticas culturais e empresariais vigentes. A linha de pensamento advinda da filosofia

do Behaviorismo Radical de B.F. Skinner estuda o comportamento humano como interação

entre sujeito e ambiente. Na perspectiva organizacional essa abordagem atua no sentido de

identificar quais arranjos ambientais podem garantir o alcance e manutenção dos objetivos da

empresa.

Diante da necessidade do profissional de psicologia dentro das organizações, no intuito

de entender o sujeito como um todo e sua relação com o meio surge o interesse de pesquisar

como se dá a atuação do psicólogo organizacional com base na análise do comportamento, uma

3

atuação que tem mostrado resultados positivos no contexto organizacional, pois não enxerga o

sujeito (empregado) somente a frente de linhas de produção, mas no seu desenvolvimento

biopsicossocial.

O objetivo geral desse estudo se dá em compreender a atuação do psicólogo nas

organizações embasado no referencial analítico–comportamental, tendo como objetivos

específicos entender a abordagem da análise do comportamento, descrever a psicologia

organizacional e o papel do psicólogo nas organizações com ênfase na análise do

comportamento.

MÉTODO

De acordo com Gil (2007) a pesquisa é definida como um procedimento racional e

sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos.

Mediante esse aspecto essa pesquisa se deu na busca de conhecimentos acerca do referencial

temático, tendo como base na sua construção a elaboração de uma metodologia.

Segundo Gerhardt e Silveira (2009) a metodologia é o estudo da organização, dos

caminhos a serem percorridos, para se realizar uma pesquisa ou um estudo, ou para se fazer

ciência. A metodologia auxilia em como vai ser realizada a pesquisa, mostrando como obter e

como trabalhar com as informações.

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica qualitativa e exploratória, além de

textos da esfera eletrônica, que tem como finalidade conhecer o que já se estudou sobre o

assunto das possibilidades de atuação do psicólogo organizacional a partir do referencial teórico

analítico-comportamental. Segundo Berviam e Cervo (2002, p. 65) a pesquisa bibliográfica

procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos e pode

ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental.

A busca de material será feita especialmente no site da coleção de revistas e artigos

científicos do Scielo, além de leituras no site do Google Acadêmico e outros artigos que tratam

da temática. Na pesquisa foram utilizadas como palavras-chave: Psicologia Organizacional,

4

Behaviorismo Radical de Skinner e Análise do comportamento. Foram discutidos 10 artigos,

escolhidos de acordo com a coerência do conteúdo em relação à busca do pesquisador e a forma

de exposição da temática.

No que tange ao estudo dos conteúdos, será utilizada de pesquisa exploratória, visando

a análise do tema e assim uma proximidade do pesquisador da referida realidade a partir dos

relatos encontrados, consequentemente possibilitando uma maior compreensão e transcrição do

questionamento inicial. De acordo com Berviam e Cervo (2002), a pesquisa exploratória é

normalmente o passo inicial no processo de pesquisa, pela experiência e o auxílio que traz à

formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

De acordo com Miranda (2013) a psicologia organizacional se caracteriza como uma

subárea da ciência psicológica que tem sua atuação voltada a trabalhar de forma interdisciplinar

o comportamento humano no campo das relações das pessoas com as organizações através da

compreensão dos fenômenos psicológicos.

Segundo Sena e Silva (2004) a noção psicologia organizacional ou do trabalho derivou

da psicologia industrial, para entendermos melhor é necessário fazer um resgaste histórico da

concepção do mercado de trabalho. Sena e Silva (2004) relatam que a Revolução Industrial

(séculos XVIII e XIX) e a Revolução Francesa (1789-1799) mudaram o mundo, uma para

firmar o capitalismo e a segunda, pelas questões políticas.

Atrelado a esses dois acontecimentos históricos começava a desestruturação do sistema

feudal, surgindo trabalhadores independentes de senhores feudais, que inventavam seus

trabalhos, com suas ferramentas. Nesse período a ideia de trabalhador, tido como independente

começa a ser extinta, pois era necessário que alguém fizesse a ponte entre o trabalho e o

mercado, ou seja, que alguém pudesse vender o produto no mercado. De modo que o

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trabalhador antes independente se via agora, mediante a industrialização, na condição de

empregado (SENA e SILVA 2004).

Sena e Silva (2004) ressaltam que os trabalhadores, diante da revolução industrial e o

surgimento de máquinas, ainda conseguiam ter certo controle sobre o produto, que dependia do

ritmo de trabalho desse trabalhador, entretanto com esse novo contexto no qual ele, trabalhador,

se encontrava foi o esgotando, já que não era mais o homem quem ditava o ritmo de trabalho e

sim, as máquinas. Tendo agora que obedecer ao ritmo da produção maquinal, perdendo o

controle de suas limitações e/ou características físicas e psicológicas. Os referidos autores

mostraram que a psicologia industrial se formou num período das duas grandes guerras

mundiais, tendo seu reconhecimento apenas em 1924, período em que foram feitos estudos

relacionados às condições de trabalho, o que levou a se pensar em novas formas de se trabalhar.

Nesse período Sampaio (2011) relata que a psicologia industrial se dá atrelada aos

interesses das indústrias baseados nos pressupostos do Taylorismo e se resumia apenas na

seleção e recrutamento de trabalhadores, desenvolvendo atividades como: treinamento,

avaliação de desempenho e colocação profissional. O termo psicologia organizacional foi

surgindo na medida em que os psicólogos deixaram de estudar apenas os postos de trabalho e

a produtividade e passaram a contribuir na organização como um todo, assim havendo uma

ampliação no seu objeto de estudo.

O caráter instrumental da psicologia organizacional acabou por supervalorizar as

teorias comportamentais na psicologia, que maximizam a influência do ambiente no

comportamento humano e minimizam as influências intrapsíquicas, reduzindo-as ao

âmbito da satisfação, novo tema que surgiu dentro dos estudos de motivação

(SAMPAIO, 2011, pag. 25).

A ampliação do espaço de atuação dos psicólogos nas organizações é também produto

de mudanças ocorridas no âmbito das organizações. De acordo com Lima, Costa e Yamamoto

(2011) a psicologia organizacional é fortemente influenciada pelos pressupostos da Psicologia

Social Crítica, considerando o trabalho uma construção histórica e social, com influências

significativas sobre a subjetividade e saúde do indivíduo (trabalhador).

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Para Lima, Costa e Yamamoto (2011) a história da inserção do psicólogo nas

organizações, remonta ao desenvolvimento da própria Psicologia no Brasil, que é permeada de

polêmicas que abrangem desde a sua denominação, às atividades que seriam de sua

competência, até o lugar que o profissional desse campo ocuparia na divisão capitalista do

trabalho.

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

De acordo com Moreira e Medeiros (2007, p. 213): “a análise do comportamento é uma

abordagem psicológica que busca compreender o ser humano a partir de sua interação com o

ambiente”, o que em análise do comportamento refere-se ao mundo físico e ao mundo social,

ou seja, nossa história de vida, nossa interação com as pessoas e a relação do sujeito com ele

mesmo.

O comportamento é o resultado da interação organismo-ambiente, só podendo ser

entendido a partir da identificação das circunstâncias em que ocorre. O

comportamento é, então, uma unidade interativa que deve ser investigada

sistematicamente (SKINNER, 1953 apud FONSECA; PACHECO, 2010, p.3).

A análise do comportamento tem como base filosófica o Behaviorismo Radical de

Skinner, que compreende o comportamento humano a partir de uma metodologia científica de

investigação, como ressalta Marçal (2010).

Segundo Marçal (2010) o termo radical vem de raiz (algo oculto) e serve para diferenciá-

lo de outros tipos de behaviorismo que não consideram os eventos privados (parte diretamente

não observável do comportamento humano) como ferramenta de estudo. Para Mattos (1999

apud FONSECA; PACHECO, 2010, p.3): “Behaviorismo é radical por negar radicalmente a

existência de algo que não seja identificável no espaço e no tempo e por aceitar radicalmente

todos os fenômenos comportamentais”.

Marçal (2010) ressalta que o behaviorismo radical afasta-se de explicações metafísicas,

por não haver diferença entre físico e metafísico no ser humano, pois este é considerado como

tendo apenas uma natureza material, assim acabando com o dualismo mente-corpo. De acordo

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com esse pensamento, também são considerados comportamentos eventos como pensar, sentir,

raciocinar, imaginar e fantasiar, assim, se os eventos privados também são comportamentos,

devem ser explicados da mesma forma que os eventos públicos, a partir de suas interações com

o ambiente.

De Acordo com Mattos (1999) o behaviorismo radical fundamenta seus princípios a

partir do modelo selecionista de Darwin que acredita que todas as mudanças comportamentais

resultam do processo de seleção pelas consequências. Desse modo “o comportamento é

entendido como produto de três níveis de seleção: filogênese, ontogênese e cultura”, explicando

o comportamento através da história da espécie, história do comportamento do indivíduo, bem

como a história social e cultural, como afirma Aldinucci (2011, p.5).

Segundo Aldinucci (2011) todo comportamento é visto como resultado das

contingências, ou seja, das relações de dependência entre eventos ambientais e as respostas

emitidas pelo organismo. Além disso, todo comportamento segue os mesmos princípios de

aprendizagem dos quais podemos citar: a modelagem, a modelação, o reforço positivo e

negativo, a punição positiva e negativa, a extinção, a discriminação, a generalização e o

comportamento governado por regras.

Sendo o comportamento a relação do indivíduo com o meio, há dois tipos de

comportamento: respondente e operante. De acordo com Moreira e Medeiros (2007) o termo

comportamento operante de Skinner refere-se àquele comportamento que produz

consequências no ambiente, ou seja, que modifica o ambiente, sendo afetado por elas (R – C).

Outro termo adotado pelo behaviorismo radical é o comportamento respondente ou reflexo de

Watson que se dá por uma alteração no ambiente que elicia uma resposta no organismo (S –

R).

Entender o comportamento operante é fundamental para compreendermos como

aprendemos nossas habilidades e nossos conhecimentos, ou seja, falar, ler, escrever,

raciocinar, abstrair, etc. e até mesmo como aprendemos a ser quem somos, a ter nossa

personalidade (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p.47).

Banaco, Zamignani e Meyer (2010) destacam que a ferramenta básica de intervenção

do analista do comportamento é a análise funcional que investiga a função do comportamento

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por meio de observações e manipulações das contingências nas quais o comportamento

problemático aparece. “A análise funcional nada mais é do que a busca dos determinantes da

ocorrência do comportamento. Sob uma perspectiva behaviorista radical, esses determinantes

estão na interação do organismo com o meio” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p.146).

A análise funcional busca descrever os problemas de comportamento identificando os

termos da tríplice contingência. De acordo com Neto, Rodrigues e Brito (2012, p.4): “a tríplice

contingência é a representação esquemática da forma como ambiente e comportamento

exercem influência um sobre o outro”, acrescentando um elemento antecedente à resposta. Sª

(estimulo antecedente) – R (resposta) – S (estímulo consequente).

De acordo com Moreira e Medeiros (2007, p.147): “analisar o comportamento

funcionalmente refere-se a uma busca da função do comportamento, e não de sua estrutura ou

forma”. Comportamentos que apresentam as mesmas estruturas podem ter funções diferentes

para cada indíviduo. Segundo Leonardi e Rubano (2002, p.16): “a análise funcional é a base de

compreensão de todo e qualquer comportamento e é dela que deve partir qualquer proposta de

intervenção.

Com base em Banaco, Zamignani e Meyer (2010, p.167): “o modelo analítico-

comportamental visa uma abordagem funcional do comportamento tipicamente classificado

como patológico”.

A análise do comportamento, como prática que se fundamenta no Behaviorismo

Radical, não aceita que as chamadas doenças mentais sejam tomadas como causa do

comportamento dito patológico, por que esse tipo de explicação é circular. Circular

por que explica um comportamento por agentes interiores ao organismo que se

comporta e não esclarece porque a pessoa se comporta de maneira como o faz

(ALDINUCCI, 2011, p.2).

Ullmann e Kraser (1975 apud GONGORA, 2003, p.95): “afirmam que o

comportamento ‘patológico’ ou anormal não é diferente do comportamento ‘saudável’ ou

normal no seu desenvolvimento, na sua manutenção ou na maneira em que ele possa ser

mudado”. De acordo com Gongora (2013), eles seguem os mesmo princípios de aprendizagem:

respondente e operante. Portanto não importa qual o princípio de aprendizagem, mas a

concepção de que todo comportamento aprendido pode ser mudado.

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Segundo Neef e Northup (2007 apud BANACO; ZAMIGNANI; MEYER, 2010, p.177),

“uma abordagem funcional não busca hipóteses acerca de etiologias”, mas sim procura

investigar sob quais circunstâncias aquele comportamento dito patológico pode ter sido

originado, provocado e mantido, assim buscando a partir desses aspectos possíveis formas de

intervenção.

A análise do comportamento usa em vez de diagnóstico o termo avaliação

comportamental que segundo Banaco, Zamignani e Meyer (2010) é um processo por meio do

qual é possível avaliar as relações entre o indivíduo e seu ambiente físico e social, tendo como

objetivo encontrar as possíveis causas que mantém o comportamento problema.

A terapia analítico-comportamental não se baseia na dicotomia normal-patológico,

pois, profundamente influenciada pela teoria da evolução por seleção natural de

Charles Darwin, compreende que os repertórios comportamentais são produto de

histórias de variação e seleção nos níveis biológico, individual e cultural

(LEONARDI, 2009, p.1).

De acordo com Nicodemos e Albregard (2012), a terapia analítico-comportamental é

um dos vários tipos de psicoterapia oferecidos para o enfrentamento dos problemas humanos.

Embasada nos pressupostos do Behaviorismo Radical de Skinner, essa prática é orientada nos

princípios da aprendizagem. As ações utilizadas por terapeutas analítico-comportamental

fundamentam-se no modelo explicativo da seleção pelas consequências de Darwin e com a

análise de contingências, enquanto ferramenta interpretativa.

O PAPEL DO PSICÓLOGO NAS ORGANIZAÇÕES COM ÊNFASE NA ANÁLISE DO

COMPORTAMENTO

Para Ranceschini (2009) o objeto de estudo de psicólogos dentro das organizações

empresariais com ênfase na análise do comportamento, ou seja, psicólogos analistas

comportamentais, é o comportamento organizacional (respondente / operante). Assim para se

realizar uma análise organizacional é necessário entender a definição do termo “organização”,

que consiste em interações dinâmicas entre o comportamento das pessoas e seus produtos

(realizações), ou seja, a relação que estas estabelecem com o produto do seu comportamento é

10

também definidora das organizações, como ressalta Glenn e Mallot (2005 apud

RANCESCHINI, 2009).

De acordo com esse pensamento, Silva, Todorov e Silva (2012) relatam que mediante

os comportamentos emitidos (tarefas desempenhadas) pelos indivíduos dentro das organizações

haverá consequências individuais e outras resultantes do acúmulo dos desempenhos

estabelecidos, que podem ser entendidas como produto da organização.

Para exemplificar a teoria acima citada, Glenn e Mallot (2005 apud RANCESCHINI,

2009, p.117) nos traz um maior esclarecimento, através de uma análise funcional:

Por exemplo, imaginemos uma indústria X produtora de peças de plástico. O esquema

de produção (antecedente) contém instruções ao trabalhador para montar o molde

(respostas) para peças plásticas. Um molde finalizado é o produto do comportamento

deste operário. O operário coloca o molde em uma empilhadeira para levá-lo à prensa.

Se o molde é fixado adequadamente na prensa, a tarefa estará completa

(consequência). Se o molde não se encaixar, o operário deve manipulá-lo até que ele

se ajuste. A relação entre suas ações e a prensa adequadamente carregada

(contingência) afetará a maneira como a fixação do molde será feita da próxima vez

(GLENN e MALLOT, 2005, apud RANCESCHINI, 2009, p.117).

Assim de acordo com os autores acima citados os comportamentos dos indivíduos

(empregados) serão moldados (condicionados) a partir das consequências dos seus

comportamentos, por exemplo, seguimento de regras e instruções, relacionamento com seu

patrão e colega de trabalho, horários, dentre outros. Seguindo a linha de pensamento do

behaviorismo radical o comportamento deste sujeito será moldado através dos três níveis de

seleção: filogenético, ontogenético e cultural.

Segundo Alencar (2007) a atuação dos psicólogos analistas do comportamento dentro

das organizações se dá na observação e registro de contingências (comportamentos), pois

através da observação da interação entre um organismo e o meio com o qual ele interage poderá

estudar e fazer avaliações dos seus repertórios comportamentais, ou seja, como o indivíduo

aprende um determinado comportamento, por que ele faz coisas do jeito que faz, etc. Com base

nesse raciocínio Ranceschini (2009) coloca que é impossível o psicólogo analista

comportamental estudar o indivíduo (empregado) isoladamente sem levar em consideração o

ambiente (empresa) no qual ele está inserido, ignorando as condições ambientais e sociais, pois

11

estudando esses fatores separados não há como compreender como as relação entre eles são

estabelecidas.

Se partirmos da ideia de que no contexto de trabalho, respostas individuais

influenciam em resultados coletivos e que o contexto exerce influência sobre as

pessoas, um dos papéis do analista do comportamento, seria ensinar princípios da

análise do comportamento para gerentes e administradores e instrumentalizá-los com

ferramentas práticas e eficazes para o gerenciamento comportamental de equipes de

trabalho (CORREIA, 2014, p.1).

De acordo com o referido autor, a atuação nas organizações do psicólogo analista

comportamental é de suma importância, pois apresenta várias ferramentas de atuação e

compreensão do comportamento, por exemplo: “identificação de esquemas de reforçamento ou

punição vigentes no ambiente de trabalho, as variáveis que controlam os comportamentos dos

trabalhadores ou as condições culturais e estratégicas que determinaram tal estrutura”

(CORREIA, 2014, p.118).

Alencar (2007) nos traz outra importante ferramenta de atuação do psicólogo analista

comportamental frente ao recrutamento e seleção de pessoas que atuará nas organizações, sendo

esta a “seleção por competências” (a descrição de tríplice contigência). Para o autor as

ferramentas tradicionais de testagem psicológica para seleção de pessoal nas empresas não são

válidas, pois não reconhece o sujeito como único na sua totalidade. Essas ferramentas, por

exemplo, a aplicação de testes de inteligência, não levam em consideração dados de sua relação

com a família, amigos, empregos anteriores, lazer e etc., assim a análise do comportamento

compreende que mediante essas ferramentas, selecionar pessoas, nada mais é do que selecionar

repertórios comportamentais.

Diferente dessas ferramentas usadas para seleção e recrutamento de pessoas, o psicólogo

analista comportamental irá selecionar a partir das competências, através da discrição de tríplice

contigência, trabalhando a história de vida do sujeito, que mediante a função do cargo pode

desvendar possibilidades de atuação. O analista do comportamento terá sua atuação pautada na

entrevista comportamental trabalhando com a emissão de estímulos na tentativa de evocar

respostas e/ou identificar, comportamentos desejáveis pelo requisitante da vaga, como

dinamismo, liderança e iniciativa.

12

Assim “a partir do levantamento da história prévia dos candidatos é possível identificar

aqueles cuja história prévia de reforçamentos eleve a probabilidade de emissão de

comportamentos desejados para a posição”, como ressalta Ranceschini (2009 p.119).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Análise do Comportamento é uma ciência que tem como braço filosófico o

Behaviorismo Radical formulado por Skinner, que compreende o comportamento humano

como resultado da interação organismo-ambiente, sendo este entendido como produto de três

níveis de seleção: filogênese, ontogênese e cultura. Defende uma visão de homem monista que

compreende como comportamentos tanto os eventos públicos como privados, ou seja, nossas

emoções também são vistas como comportamentos.

Diante do exposto, o analista do comportamento dentro do contexto organizacional

buscará investigar as contingências envolvidas no comportamento dos indivíduos (empregados)

e a relação deste com o meio, investigando sua função, instalação e manutenção.

Vale ressaltar a importância das intervenções feitas pelo analista do comportamento

diante do contexto organizacional, tendo sua prática voltada em analisar as condições

ambientais em que o indivíduo (empregado) se encontra, realizando uma análise funcional, por

meio da tríplice contingência, sendo esta a representação esquemática da forma como ambiente

e organismo exercem influência um sobre o outro.

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