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Pedro Casqueiro

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Pedro Casqueiro

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Pedro Casqueiro nasceu em Lisboa, em 1959.Vive e trabalha em Lisboa. De 1981 a 1984frequentou o curso de Pintura da Escola Su-perior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL).Realizou numerosas exposições individuais,nomeadamente: Galeria Tempo, Lisboa (1981);Café Concerto, Lisboa (1982); Casa Bocage,Setúbal (1984); Bar Frágil, Lisboa (1984); Mó-dulo – Centro Difusor de Arte, Lisboa (1985,1986, 1988, 1989, 1990, 1992, 1993, 1994, 1995 e2002); Fein Arts Gallery, Bruxelas (1991); CAM –Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (1997);Museu de Arte Contemporânea, Fortaleza deSão Tiago, Funchal (1998); Renate Schroeder,Colónia (2001); Galeria Filomena Soares, Lis-boa (2005, 2007 e 2010); Galeria Presença,Porto (2005); Entre la palabra y la imagen,Fundación Luis Seoane, Corunha (2006);Culturgest, Porto (2012). Participou em diver-sas exposições coletivas desde 1980, entreas quais: Talentos Emergentes, Galeria Leo,Lisboa (1981); Situação II: URUBOROS, Mó-dulo, Lisboa (1984); Fogo, Palácio de Queluz(1984); Portuguese Contemporary Artists: Portuguese Week in New York, World TradeCenter, Nova Iorque (1985); Seis Artistas Con-temporâneos, Módulo, Porto (1985); Represen-tação Portuguesa na XLII Bienal de Veneza(1986); Litoral, Palacio Municipal de Exposicio-nes Kiosco Alfonso, Corunha (1986); Nove,John Hansard Gallery, Southampton (1986); Si-tuação III: Demogorgon, Módulo, Lisboa (1987);Artistas Portugueses Contemporâneos, Palá-cio Anjos, Algés (1987); Lisbonne Aujourd’hui,Museu de Toulon (1988); Arte portuguesa hoy,Palácio Conde Duque, Madrid (1989); Pers-pectivas, Módulo, Lisboa (1989); Voies, GaleriaBab Rouah, Rabat e Galeria Wafaaa Bank, Casablanca (1990); Import / Export, Lisboa ePorto (1990); Tríptico, Europália 91 – Portugal,Museum van Hedendaagse Kunst, Gent,Bélgica (1991); 10 Contemporâneos, Funda-

ção de Serralves, Porto (1992); Arte Contem-porânea Portuguesa na Colecção da FundaçãoLuso-Americana para o Desenvolvimento, CAM– Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa(1992); Arte Moderna em Portugal, Coleção daCaixa Geral de Depósitos, Lisboa (1993); Mar-garet Lipworth Gallery (com John Walker eGerald Lang), Boca Raton, Florida (1993); AnaJotta e Pedro Casqueiro, Galeria Alda Cortez,Lisboa (1994); Além da Taprobana, A FiguraHumana nas Artes Plásticas dos Países deLíngua Portuguesa, Sociedade Nacional deBelas-Artes, Lisboa (1994); Museu de ArteModerna do Rio de Janeiro (1994); Pedro Cas-queiro, Carlos Figueiredo e João Jacinto, Mó-dulo, Porto (1996); Ein Leuchtturm ist eintrauriger und glucklicher Ort, Akademie derKünste, Berlim (1998); Uma Sociedade de Ad-vogados como Espaço de Cultura, FundaçãoPMLJ, Lisboa (1999); Colecção António Cachola– Arte portuguesa anos 80/90, Museo Extre-meño e Iberoamericano de Arte Contemporá-neo (MEIAC), Badajoz (1999); EDP.ARTE,Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio daAjuda, Lisboa (2000); Colecção Banco Privadopara Serralves, Museu de Serralves, Porto(2000); Al Quimias, Centro Cultural EmmericoNunes, Sines (2001); Colecção de arte con-temporânea da Caixa Geral de Depósitos,MEIAC, Badajoz (2003); Pedro Casqueiro,Porto (2005); Entre la palabra y la imagen, Fun-dación Luis Seoane, Corunha (2006); SéculoXXI – Anos 10, Centro de Arte Manuel de Brito –CAMB (2010); A Culpa Não É Minha – Trabalhosda Colecção António Cachola, Museu ColeçãoBerardo (2010); Linguagem e Experiência, Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósi-tos, Museu de Aveiro, Aveiro (2010); Povo, Fun-dação EDP, Lisboa (2010); A Secreta Vida dasPalavras, Arte Contemporânea em Sines,Centro Cultural Emmerico Nunes e Centrode Artes de Sines (2010).

Chiado 8 – Arte Contemporânea, inaugurado em janeiro de 2002, é um projeto da Companhia de Seguros Fidelidade Mundialque, aproveitando a localização privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar nas iniciativas de reabilitaçãodo Chiado através da criação de um espaço de divulgação da arte contemporânea.

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Bruno MarchandTríptico

Como notou recentemente Miguel Wands-chneider, a pintura de Pedro Casqueiro coloca um problema ideológico a todo equalquer agente que se disponha a estudar,organizar e devolver ao público uma ideiaestruturada e unitária sobre o seu conjunto1.O problema, naturalmente, não está na obramas precisamente nas noções de estruturae de unidade e no modo como estas persis-tem em implementar lógicas de entendimentoe de categorização unívocas que remontama um tempo e a um espaço epistemológicosdos quais a obra de Pedro Casqueiro já nãofaz, manifestamente, parte. Como este textoinevitavelmente acabará por confirmar, nãoserá aqui, nem agora, que se assistirá a umarutura com este estado de coisas. E tal nãoacontecerá, não por uma qualquer resistên-cia “deontológica” ou militância ortodoxaperante a herança crítica positivista, masporque a tentativa de contornar ou de resol-ver este impasse ideológico implicaria, muitoprovavelmente, uma construção textual quemimetizasse os mecanismos internos daobra deste artista – o que equivale a dizerque seria um texto feito de descontinuida-des, de inflexões e de ruturas – ou, em alter-nativa, uma abordagem que se distanciassede tal modo das pinturas que a sua tarefa sevisse circunscrita à observação dessasmesmas descontinuidades, inflexões e ru-turas, redundando, portanto, numa análiseestritamente morfológica do trabalho dePedro Casqueiro.

Se a primeira opção conduziria este textoa uma espécie de experiência em segundamão – a versão contrafeita do encontro comuma obra intrinsecamente múltipla –, a se-gunda resultaria num ror de argumentos paraa diversidade que o visitante pode compro-var nas reproduções incluídas neste mesmocatálogo. O que talvez não seja tão evidenteassim, e que por essa razão se torna no motedeste texto, é o modo como a heterogenei-

dade intrínseca do trabalho de Pedro Cas-queiro e a sua resistência a leituras unívocas,deixa a nu alguns dos constrangimentos queimpendem sobre as modalidades tradicio-nais do trabalho curatorial – nomeadamente,o ensaio escrito e a conceção expositiva –bem como a sua habitual e expectável am-bição de sentido. Como o próprio título destetexto e da exposição indicia, Tríptico é umaresposta, a um tempo una e diversa, ao con-fronto que a obra deste artista oferece aosprocessos canónicos da mediação artísticae às expectativas que neles se depositam.

O caminho “reativo”, como o apelidou opróprio Pedro Casqueiro, tem sido uma daspoucas constantes identificáveis no seupercurso2. Como contraponto direto à ideiamais tradicional de evolução ou de aprofun-damento de matérias anteriormente enuncia-das, esta noção de prática reativa sublinhauma estratégia de despiste que se poderiasupor fosse governada por uma lógica deoposição direta. Porém, um olhar retrospe-tivo sobre a sua produção não confirma umaaplicação desta hipotética regra, mas antesuma espécie de constante alargamento doseu território artístico por via de incursõesque não se demoram o suficiente para seenraizar. Como que numa permanente via-gem, a prática de Pedro Casqueiro sinalizaestados de passagem por um universo depossibilidades pictóricas que, embora nãodesconsiderem a história do próprio meio,não a assumem como motor da autênticadérive3 que o artista leva a cabo. Nas pala-vras de Jorge Molder, esta deriva é “algomais como uma peregrinação, no sentidode uma visita de lugares acompanhada poruma qualquer forma de crença. E, contudo,não está esta associada aos traços comunsde uma devoção, quer a favor quer contra,mas de uma serenidade do olhar que pro-longa o pensamento como uma atenção religada ao mundo”4.

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Tendo iniciado o seu percurso expositivoem 1981, Pedro Casqueiro integra uma gera-ção de artistas que, de modo assumido edesassombrado, resgatou a pintura do es-partilho conceptual em que esta se haviaenredado em meados da década anterior.Mergulhando na criação de obras de pendoressencialmente abstrato, o período inicialdo seu trabalho foi marcado pela convoca-ção de todos os recursos expressivos paraa desconstrução do espaço pictórico. Nosanos que mediaram entre 1981 – ano da suaprimeira exposição individual – e o final dessamesma década, o artista explorou um con-junto de soluções formais que desenharamum percurso entre o excesso e a velocidadepictórica e um progressivo controlo e sobrie-dade estrutural que, não obstante, pareciamcaptar o substrato de uma “interioridade ex-trovertida”5, mas nunca verdadeiramentetematizada.

Libertando-se progressivamente da toadagestualista e matérica daqueles primeirosanos, as últimas duas décadas e meia as-sistiram a um paulatino movimento em dire-ção a uma contenção formal e expressivaque viu surgir nas telas de Pedro Casqueirotodo um leque de signos visuais sobre o qualse estabeleceu um universo artístico hete-rogéneo, compósito e, frequentemente, iró-nico. Se, por volta de 1995, o artista haviachegado ao extremo desta deslocação nosentido da contenção formal e expressivacom uma série de pinturas dominadas pelafigura da grelha e pela aplicação de camposde cor homogéneos, a série imediatamenteseguinte abria um novo flanco na sua pro-dução, sendo composta por pinturas de interiores arquitetónicos em tudo seme-lhantes a espaços expositivos. Ensaiandoum rigor perspético até então insuspeito,estas pinturas traziam consigo as primeirasconsistentes irrupções de figuração na suaobra. Pontuados por representações de

pinturas monocromáticas, estes espaçosgeométricos, asséticos e estilizados não sópareciam correlatos tridimensionais da or-ganização reticular da série anterior, comoobrigavam o espectador a estabelecer umjogo de correspondências entre aquilo queeste reconhecia no plano da imagem e asua própria situação enquanto visitante deuma exposição de pintura.

Ainda que estas duas séries mantivessemcampos de sentido e de experiência bas-tante distintos, elas não deixavam de ser do-tadas de um significativo índice de coerênciae continuidade ao nível formal. Contudo, e emconformidade com o que expusemos acima,os anos seguintes assistiram ao agudizar daestratégia de permanente desvio e variação,tornando-se cada vez mais difícil estabele-cer séries congruentes e temporalmentedelimitadas. Numa lógica de assumida expan-são e alargamento do vocabulário pictórico, aviragem para os anos 2000 viu a pintura dePedro Casqueiro incorporar figuras huma-nas em formato pictogramático, caracterescom os mais variados desenhos tipográficos,frases proverbiais, títulos, slogans, estiliza-ções florais, volumetrias avulsas, configura-ções informais, escorrências, balões de falae onomatopeias importados do universo dabanda desenhada, sinaléticas e logótipos,mapas e alçados, diagramas e padrões, todauma panóplia de recursos gráficos e estilís-ticos em cuja heterogeneidade se pode lerum conjunto de reações – talvez mesmo detestes – à sobrevivência da pintura face aosmais diversos modelos e protocolos da ex-pressão visual.

A cadência e a ordem pelas quais estasdistintas tipologias se sucedem na produçãode Pedro Casqueiro parecem determinadaspor um autêntico processo de shuffling.Como quando selecionamos essa particularopção nos nossos leitores de música digi-tais, a natureza das próximas obras deste

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artista parece ser fruto de um processo emlarga medida aleatório. Naturalmente, estacondição coloca um desafio de base a umaexposição, como esta que agora se apresentano Chiado 8, que pretende debruçar-se sobreo que tem sido a produção de Pedro Cas-queiro na última década: como coadunar arepresentação da crescente disparidadetaxionómica que atravessa esta obra comuma consistência hermenêutica que permitaque a experiência expositiva ultrapasse omero registo da referida disparidade, parase concentrar na singularidade de cada umadas obras expostas e nos subtis jogos deaproximação e afastamento que estas esta-belecem entre si.

Trata-se de um balanço difícil, portanto;uma questão de equilíbrio entre duas noçõespraticamente contraditórias mas passíveisde serem coordenadas no espaço. O primeiroresultado deste exercício traduziu-se na decisão de apresentar apenas um núcleode pinturas em cada uma das três salas doChiado 8. A primeira, que recebe o núcleo de obras mais recentes, inclui pinturas queapresentam um leque de símbolos gráficoscomposto por caracteres, pictogramas eoutros sinais. Na sua absoluta bidimensio-nalidade, estes símbolos organizam-se, em33 (2011) e SAAP (2011), segundo uma estruturareticular que os individualiza e os distribuiregularmente pelo campo visual, observando--se uma complexificação desta relação entreelementos em Cadeado (2011) e Abril (2011).Assim como a condição compósita destasobras avança no passo da sequência agoraenunciada, também a presença sígnica pa-rece diluir-se nessa progressão, sendo pra-ticamente impossível destrinçar mais do queleves indícios de figuração simbólica em Abril.Traçando um movimento que vai da enun-ciação da palavra escrita à total dissoluçãodo registo sígnico numa construção formaldominada pela sobreposição e pelo desdo-

bramento de planos, o núcleo de obras esco-lhido para esta sala permite-nos observar osdiferentes estádios da relação do artista comesta particular linguagem ou expressão vi-sual, tornando perfeitamente evidente queesta é uma relação bastante mais apostadana miscigenação e no excesso do que na de-puração ou estabilização formal ou pictórica.

As duas restantes salas desta exposiçãoseguem precisamente o mesmo modelo noque diz respeito à seleção de obras e ao modocomo elas permitem acompanhar a respostade Pedro Casqueiro aos diferentes contextospor ele abordados. No segundo espaço doChiado 8 encontramos o artista envolvidocom a peculiar figuração que associamos aosdesenhos técnicos das áreas da engenharia e da arquitetura. Representando essencial-mente volumetrias e materiais do universo daconstrução civil – vigas, telhas, tijolos, porta-das, caixilharias, cofragens – acompanhadaspor pontuais linhas de chamada e corte, estaspinturas dão a ver projetos de construçõesque, apesar da sua sugestiva aparênciafuncional, são absolutamente inoperantes e ficcionais. Depois de um primeiro olhar a si-tuar-se perante um léxico gráfico totalmentedescritivo, o espectador é levado a concen-trar a sua atenção sobre os inúmeros jogos de sobreposições de planos, de relações depeso e leveza, de perturbação da orientaçãoespacial, ou mesmo de anulação ou reforçoda sensação perspética, que atravessameste corpo de trabalho. Assim como acon-tecia na sala anterior, também nesta se con-firma um processo de variação que ofereceao visitante a possibilidade de mapear opercurso de Pedro Casqueiro por ambas as margens do universo visual ali explorado,encontrando os seus extremos em obrascomo Charles (2005) e Cruzamento (2005).

É quase impossível, neste ponto, não darconta do cuidadoso boicote a que as lingua-gens abordadas pelo artista são sujeitas.

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Assim como o potencial comunicativo dossímbolos se vê anulado nas primeiras obraspor via de uma repetição, justaposição e di-luição, a natureza icónica e descritiva dasobras da segunda sala vê-se, em última ins-tância, cancelada pela incongruência dospróprios objetos nelas descritos. Em ambosos casos, as estratégias de hipotética signi-ficação e/ou atribuição de sentido são pre-teridas a favor da implementação de regimesexclusivamente visuais e expurgados dequalquer veleidade comunicativa, narrativae, por vezes, mesmo, representativa. Che-gado à última sala da exposição, o visitanteé novamente obrigado a um ajuste da suaexpectativa. Confrontado com pinturas com-postas essencialmente pela conjugação depequenos círculos e áreas retangulares decores, tamanhos e proporções diversas, oque agora lhe é proposto é um exercício quedispensa toda e qualquer referência prove-niente do universo exterior para se concen-trar em três elementos basilares do universopictórico: ponto, cor e plano. O percurso quese descreve entre Teste (2007) e Augenblick(2009) repete as mesmas táticas de indaga-ção dos limites do território instituído, destafeita através da construção de diferentesefeitos de densidade, contraste, aproxima-ção e afastamento, profundidade, simetria,regularidade e irregularidade – todos elesconcorrendo para o estabelecimento de vi-brações, estridências e subtilezas óticasque desafiam a estabilidade percetiva.

Há uma unidade sub-reptícia em Tríptico.Sem melindrar a lógica da diversidade e daheterogeneidade morfológica que caracte-riza a obra de Pedro Casqueiro, esta unidadeé de natureza processual. Isto significa queela não só não é imediatamente percetível,como se deixa esconder por entre a extraor-dinária oferta imagética e pictórica que com-põe o trabalho deste artista. Mais ainda, istosignifica, também, que, pese embora o seu

pendor gráfico, o seu caráter inclusivo e asua natureza irrequieta, a obra de PedroCasqueiro não deixa de conter uma dimen-são exploratória que tem lugar no plano davariação, da inflexão e da diferença dentrode núcleos delimitados.

Como se pode comprovar, esta exposiçãonão abdicou de facilitar a observação destesmicro fenómenos. Pelo contrário, mandatadapela estrutura retrospetiva que adotou desdeo início – centrar-se nos últimos dez anos deprodução do artista –, esta é uma exposiçãoque assumiu o desafio aporético que a obrade Pedro Casqueiro coloca aos já referidosprocessos canónicos da mediação artísticae das expectativas de sentido que neles sedepositam. Evitando inscrever-se ora na purademonstração da heterogeneidade morfo-lógica, ora na construção de um fio de con-tinuidade e contaminação que impusessesobre esta prática uma dimensão narrativaque lhe é manifestamente alheia, Tríptico éuma construção que pugna pela singulari-dade do encontro com cada uma destasobras e pelas condições para uma temporá-ria estabilização da experiência artística.Neste hiato, poder-se-á descortinar que a frenética versatilidade da obra de PedroCasqueiro não é fruto da aplicação de umadisciplina regulamentar, mas antes de umesgotamento processual análogo à conclu-são de um mapeamento superficial; que aatenção do artista se desloca sempre nosentido de uma horizontalidade sem se dei-xar enredar nas eventuais ambições ontoló-gicas da pintura; que a sua identidade autoralé uma construção circunstancial e transitó-ria, prestes a ser testada em outros contex-tos visuais, segundo outras perspetivasformais, e à luz de outros critérios pictóricos.

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Entrada

Monólogo, 2010Acrílico sobre tela100 × 111 cmColeção do artista, Lisboa

Sala 1

33, 2011Acrílico sobre tela83 × 197 cmCortesia Galeria FilomenaSoares, Lisboa

Cadeado, 2011 Acrílico sobre tela130 × 195 cmColeção particular, Paço de Arcos[pp. 6-7]

Sem título, 2011Acrílico sobre tela88 × 150 cmColeção particular, Lisboa

SAAP, 2011Serigrafia e acrílico sobre tela66 × 137 cmColeção particular, Lisboa

Sala 2

Fora, 2004Acrílico sobre tela195 × 97 cmColeção particular, Lisboa

Dormer, 2004Acrílico sobre papel coladosobre tela213 × 75 cmColeção João Bernardo, Estoril

Essência de Cabana, 2004 Acrílico sobre tela193 × 167 cm Coleção particular, Fafe[p. 5]

Cruzamento, 2005Acrílico sobre tela176 × 215 cmCortesia Galeria FilomenaSoares, Lisboa

Charles, 2005Acrílico sobre tela162 × 130 cmColeção João Pinto de Sousa,Lisboa

Sala 3

Augenblick, 2009Acrílico sobre tela130 × 162 cmCortesia Galeria FilomenaSoares, Lisboa

Teste, 2007 Acrílico sobre tela130 × 195 cmColeção particular, Colares[capa (pormenor)]

Morse, 2007 Acrílico sobre tela194 × 223 cmCortesia Galeria FilomenaSoares, Lisboa[p. 8]

Kraut, 2007Serigrafia e acrílico sobrepapel colado sobre tela130 × 50 cmColeção particular, Colares

Lista de obras

1 Cf. Miguel Wandschneider, “Pedro Casqueiro”, in PedroCasqueiro, António Palolo – Os filmes, Jeff Geys – As sombrasde Lisboa, jornal de exposição, Lisboa: Culturgest, 2012.Uma parte substancial do argumento introdutório destetexto resulta de um conjunto de conversas mantidas comMiguel Wandschneider a propósito da obra de Pedro Cas-queiro e no âmbito da exposição que este comissariou paraa Culturgest Porto (junho-setembro de 2012). A seleção deobras que ali se expôs veio confirmar, e mesmo alargar paraterrenos até então insuspeitos, a ideia de descontinuidadee de multiplicidade intrínseca do trabalho deste artista.

2Em entrevista a Celso Martins o artista afirma: “Comigo há quase sempre uma tendência reactiva de fazer o quenão estava a fazer antes.” Cf. Pedro Casqueiro, “Trabalhono limite de uma linguagem”, entrevista por Celso Martins, in Expresso, 28 de junho de 1997.

3Aqui referimo-nos à conceção situacionista de dérive como“um conjunto de passagens rápidas por entre ambientesvariados. A dérive implica um comportamento lúdico-cons-trutivo, bem como uma consciência aguda sobre efeitospsicogeográfios, o que significa que esta difere bastantedas noções clássicas de viagem ou passeio.” Cf. http://www.ubu.com/papers/debord_derive.html

4Jorge Molder, “Apresentação”, in Maria José Moniz Pereira(coord.), Pedro Casqueiro, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.

5 Pedro Casqueiro, “O quadro é uma espécie de diário”, entrevista por Alexandre Melo in Expresso, 29 de junho de 1985.

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Projeto de exposições (2009-2012)Miguel Wandschneider (Culturgest)CoordenaçãoGabinete de Comunicação e Imagem (Fidelidade Mundial)Curador Bruno MarchandCoordenação de produção e de montagem António Sequeira Lopes (Culturgest)Montagem André Lemos Heitor FonsecaNelson Santos

Catálogo

TextoBruno MarchandDesenho Pedro Falcão Proporção[A5] – 14,8 × 21 cmTipo de letraNew Rail AlphabetFotografiaCintra & Castro Caldas Lda.Coordenação editorial Rosário Sousa Machado (Culturgest)Revisão de provas am edições / antónio alves martinsImpressão e acabamentoGráfica MaiadouroTiragem1100 exemplares

ISBN978-972-769-074-9

CHIADO 8 – ARTE CONTEMPORÂNEALargo do Chiado, n.º 8 / 1249-125 LisboaTel. 213.401.676 / www.fidelidademundial.pt

06.0731.08.2012

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Pedro Casqueiro nasceu em Lisboa, em 1959.Vive e trabalha em Lisboa. De 1981 a 1984frequentou o curso de Pintura da Escola Su-perior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL).Realizou numerosas exposições individuais,nomeadamente: Galeria Tempo, Lisboa (1981);Café Concerto, Lisboa (1982); Casa Bocage,Setúbal (1984); Bar Frágil, Lisboa (1984); Mó-dulo – Centro Difusor de Arte, Lisboa (1985,1986, 1988, 1989, 1990, 1992, 1993, 1994, 1995 e2002); Fein Arts Gallery, Bruxelas (1991); CAM –Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (1997);Museu de Arte Contemporânea, Fortaleza deSão Tiago, Funchal (1998); Renate Schroeder,Colónia (2001); Galeria Filomena Soares, Lis-boa (2005, 2007 e 2010); Galeria Presença,Porto (2005); Entre la palabra y la imagen,Fundación Luis Seoane, Corunha (2006);Culturgest, Porto (2012). Participou em diver-sas exposições coletivas desde 1980, entreas quais: Talentos Emergentes, Galeria Leo,Lisboa (1981); Situação II: URUBOROS, Mó-dulo, Lisboa (1984); Fogo, Palácio de Queluz(1984); Portuguese Contemporary Artists: Portuguese Week in New York, World TradeCenter, Nova Iorque (1985); Seis Artistas Con-temporâneos, Módulo, Porto (1985); Represen-tação Portuguesa na XLII Bienal de Veneza(1986); Litoral, Palacio Municipal de Exposicio-nes Kiosco Alfonso, Corunha (1986); Nove,John Hansard Gallery, Southampton (1986); Si-tuação III: Demogorgon, Módulo, Lisboa (1987);Artistas Portugueses Contemporâneos, Palá-cio Anjos, Algés (1987); Lisbonne Aujourd’hui,Museu de Toulon (1988); Arte portuguesa hoy,Palácio Conde Duque, Madrid (1989); Pers-pectivas, Módulo, Lisboa (1989); Voies, GaleriaBab Rouah, Rabat e Galeria Wafaaa Bank, Casablanca (1990); Import / Export, Lisboa ePorto (1990); Tríptico, Europália 91 – Portugal,Museum van Hedendaagse Kunst, Gent,Bélgica (1991); 10 Contemporâneos, Funda-

ção de Serralves, Porto (1992); Arte Contem-porânea Portuguesa na Colecção da FundaçãoLuso-Americana para o Desenvolvimento, CAM– Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa(1992); Arte Moderna em Portugal, Coleção daCaixa Geral de Depósitos, Lisboa (1993); Mar-garet Lipworth Gallery (com John Walker eGerald Lang), Boca Raton, Florida (1993); AnaJotta e Pedro Casqueiro, Galeria Alda Cortez,Lisboa (1994); Além da Taprobana, A FiguraHumana nas Artes Plásticas dos Países deLíngua Portuguesa, Sociedade Nacional deBelas-Artes, Lisboa (1994); Museu de ArteModerna do Rio de Janeiro (1994); Pedro Cas-queiro, Carlos Figueiredo e João Jacinto, Mó-dulo, Porto (1996); Ein Leuchtturm ist eintrauriger und glucklicher Ort, Akademie derKünste, Berlim (1998); Uma Sociedade de Ad-vogados como Espaço de Cultura, FundaçãoPMLJ, Lisboa (1999); Colecção António Cachola– Arte portuguesa anos 80/90, Museo Extre-meño e Iberoamericano de Arte Contemporá-neo (MEIAC), Badajoz (1999); EDP.ARTE,Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio daAjuda, Lisboa (2000); Colecção Banco Privadopara Serralves, Museu de Serralves, Porto(2000); Al Quimias, Centro Cultural EmmericoNunes, Sines (2001); Colecção de arte con-temporânea da Caixa Geral de Depósitos,MEIAC, Badajoz (2003); Pedro Casqueiro,Porto (2005); Entre la palabra y la imagen, Fun-dación Luis Seoane, Corunha (2006); SéculoXXI – Anos 10, Centro de Arte Manuel de Brito –CAMB (2010); A Culpa Não É Minha – Trabalhosda Colecção António Cachola, Museu ColeçãoBerardo (2010); Linguagem e Experiência, Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósi-tos, Museu de Aveiro, Aveiro (2010); Povo, Fun-dação EDP, Lisboa (2010); A Secreta Vida dasPalavras, Arte Contemporânea em Sines,Centro Cultural Emmerico Nunes e Centrode Artes de Sines (2010).

Chiado 8 – Arte Contemporânea, inaugurado em janeiro de 2002, é um projeto da Companhia de Seguros Fidelidade Mundialque, aproveitando a localização privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar nas iniciativas de reabilitaçãodo Chiado através da criação de um espaço de divulgação da arte contemporânea.

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