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Page 1: Trilhas campesinas   integrando vidas e saberes final

TRILHAS CAMPESINAS: Integrando vidas e saberes

Compreender o lugar da escola na Educação do Campo,

é ter claro, que ser humano ela precisa ajudar a formar,

e como pode contribuir com a formação dos novos sujeitos sociais

que se constituem no campo hoje.

Caldart

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EXERCÍCIO NA MODALIDADE DA

EDUCAÇÃO DO CAMPO

MODALIDADE: À DISTÂNCIA

Duração: ano letivo de 2013

Carga horária: 80 h sendo 40 h no 1º semestre e 40 h no 2º semestre.

Público alvo: Educadores que atuam nas Escolas do Campo

Proponentes: Arlete Tavares Buchardt, José Aldair Pinheiro e Ketheley Leite Freire,

Luiz Garcia Júnior.

Colaboradores: Professores formadores responsáveis pelas Escolas do Campo, sendo

Ernandes Lopes Cervantes, Antônio Ramos de Faria e Christiane Valeria Zubler.

INTRODUÇÃO

As discussões sobre as realidades vivenciadas pelos povos do campo no que

concerne à educação são bastante recentes. Foi na década de 1980 que houve alguns

progressos consideráveis visando o desenvolvimento de uma educação pública de

qualidade para os alunos da zona rural. A partir desse período organizações e

movimentos sociais relacionados ao campo e às lutas pela terra passaram a reivindicar

os direitos dos Cidadãos do Campo, em especial o Direito à Educação.

A Constituição Federal do Brasil de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDBEN 9394/1996) em seus artigos 23 e 28 garante o direito à

educação contemplando a especificidade contextual dos diversos campos. Temos

também alguns Pareceres e Resoluções dos Conselhos de Educação, assim como as

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Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo que nos dão a

clara indicação de que há a preocupação em garantir uma estrutura organizacional

política e curricular própria para os povos do campo. Todavia, Direitos registrados por

escrito não quer dizer que serão cumpridos.

A história tem registrado altos índices de analfabetismo no campo, escolas em

péssimas condições físicas, profissionais sem formação, trabalho pedagógico centrado

nas características da Escola Urbana somente para citar algumas dificuldades. A fim de

superar ou amenizar essas fragilidades é urgente e indispensável superar a dicotomia

entre rural e urbano, criar laços que possam desenvolver ou gerar o sentimento de

pertença, de identidade campesina, oferecendo a possibilidade de defesa das ideias, da

cultura e da valorização do campo e de seu entorno.

A Educação do Campo precisa estar vinculada a uma cultura que se produz por

meio de relações mediadas pelo trabalho na terra, entendendo trabalho como produção

cultural de existência humana. (Rocha, Passos e Carvalho)

Ao debater Educação do Campo necessitamos estar cientes de que os sujeitos do

campo possuem história, participam de lutas sociais, sonham, tem nomes e rostos,

lembranças, gêneros e etnias diferenciadas e que os currículos precisam se desenvolver

tendo isso como referência. O currículo não pode deixar ausentes as discussões sobre os

direitos humanos, as questões de raça, gênero, etnia, a produção de sementes, o

patenteamento das matrizes tecnológicas e das inovações na agricultura, a justiça social

e a paz. (Silva)

O elemento que transversaliza os currículos nas escolas do campo é a terra e

com ela as relações com o cosmo, a democracia, a resistência e a renovação das lutas e

dos espaços físicos, assim como as questões ambientais, políticas, de poder, ciência,

tecnológica, sociais, culturais e econômicas. (Silva)

Os moradores do campo são pessoas que pensam uma educação que respeite e

que parta do seu contexto sócio-cultural, sabem o que desejam e necessitam enquanto

sociedade que querem construir. Não se submetem aos desmandos da tirania, mas

buscam uma educação que se realize no campo, lugar em que habitam, que respeite sua

diversidade, suas vidas e seus saberes.

A fim de contemplar a especificidade da Educação do Campo é essencial que a

comunidade escolar tenha suporte teórico/metodológico voltado para a construção de

sua identidade, para a busca da sustentabilidade, para um trabalho pedagógico

contextualizado com o entorno da unidade escolar. Visando atender essa demanda o

Centro de Formação de Professores CEFAPRO de Sinop, situado a Av. da Embaúbas nº

1447 através das professoras Arlete Tavares Buchardt, Ketheley Leite Freire, Márcia

Weber e dos professores José Aldair Pinheiro e Luiz Garcia Júnior apresenta a proposta

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de Formação Continuada à Distância aos educadores das Escolas do Campo com o

intuito de promover momentos de estudos proporcionando crescimento pessoal e

profissional bem como, permitir espaços para que os educadores registrem suas ações

com o propósito de suscitar boas reflexões sobre o trabalho do dia a dia em sala de

aula, socializando experiências curriculares contextualizadas.

JUSTIFICATIVA

A formação inicial, indispensável ao exercício da função do educador, não

atende a toda demanda formativa do profissional. Ao se defrontar com a prática diária

da educação percebe-se que há lapsos que não foram contemplados pela formação

inicial e necessitam ser trabalhados. Isso sem contar nas transformações sociais que

repercutem na escola e requerem também um estudo mais apurado e centrado naquele

ponto em específico a fim de se solucionar ou amenizar as problemáticas educacionais.

A Formação Continuada vem suprir essa necessidade ao vivenciar o processo de

prática reflexiva sobre a ação diária, buscando alternativas que deem suporte teórico e

metodológico ao profissional. Num constante rever da práxis busca o profissional seu

aperfeiçoamento a fim de melhor atender ao aluno e a seu processo de construção e

apreensão de conhecimentos.

É impossível abordar a Formação Continuada nas escolas do Campo sem a

devida reflexão sobre o contexto social, histórico e cultural que permeia a realidade das

escolas fixadas nesse espaço.

Historicamente a Educação do Campo surgiu, não das elites, mas das mãos do

povo, dos camponeses e camponesas, dos parceiros, dos líderes populares que

buscavam fazer cumprir o direito do cidadão de ter educação no lugar em que se

encontra conforme garante a Constituição, lutando por permanecer no campo com

qualidade de vida e de educação, tendo seus direitos assegurados na teoria e na prática.

Todavia, não se faz Educação do campo sem luta, além de ser difícil inverter uma

“lógica” estabelecida socialmente de que se estuda para sair do campo.

Tendo a Educação do Campo sido relegada ao quase completo esquecimento por

décadas, ainda hoje deixada ao descaso de governantes que poderiam suprir suas

necessidades e amenizar suas dificuldades que vão desde infraestrutura a materiais e

equipamentos, o que desejamos ressaltar é o descaso para com a formação do

profissional que atenderá aos alunos do campo. Como esses profissionais cursam

universidades urbanas, com teorias urbanizadas, ao irem para o campo carregam

consigo sua história de vida e construção pessoal e profissional desfocada do contexto

campesino.

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Somente a partir da década de 1990 é que se percebeu com clareza alguns

avanços na Educação do Campo no que concerne a um currículo contextualizado de

acordo com os interesses e atividades do camponês conforme garante a LDB 9394/96.

Este período foi palco de inestimáveis vitórias para a Educação do Campo. Um dos de

maior importância foi a publicação da Resolução 1/2002 CNE/CEE que definiu as

Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, cujo texto

prima pelo respeito à diversidade e à identidade do campesinato. Estas vitórias,

juntamente com a gestão democrática das escolas públicas oportunizaram às Escolas do

Campo a possibilidade de haver em cada unidade a construção de um currículo que

contemplasse suas peculiaridades, um Projeto Político Pedagógico que atendesse suas

especificidades culturais e sociais.

Essas conquistas não foram, entretanto, suficientes para que os educadores das

Escolas do Campo passassem a atuar de acordo com o contexto, para que se construísse

um currículo que integrasse o núcleo comum à diversidade cultural de cada região

camponesa. A legislação assegura, mas o profissional não está qualificado para tal, sua

formação inicial não atende a essa demanda: integração curricular dos conhecimentos

do núcleo comum com os do campo.

O Governo do estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de

Educação, em 2007, vendo essa demanda no campo, criou a gerência de Educação do

Campo a qual passou a se preocupar em prover suporte aos educadores dessas escolas a

fim de que os mesmos garantissem o cumprimento dessa legislação no campo e

promovesse a integração curricular.

Também os profissionais dos CEFAPROS (Centro de formação e Atualização

dos Profissionais da Educação Básica), responsáveis pela Formação Continuada no

Estado, na perspectiva do Projeto Sala de Educador, passaram a buscar essa integração

curricular. Com esse objetivo em mente promoveu-se a construção coletiva das

Orientações curriculares da Educação Básica das Áreas do Conhecimento e das

diversidades Educacionais, entre estas, a da Educação Ambiental e do Campo, além da

sugestão de uma matriz que contemplasse as Ciências Agrárias, sendo Agricultura

Familiar, Agroecologia e Socioeconomia Solidária do ponto de vista da sustentabilidade

ambiental, social e cultural.

Apesar de toda essa documentação legal e pedagógica construída, ainda não se

alcançou a idealizada integração, pois isso é trabalho de vida, de práxis diária em cada

escola, advinda da integração não apenas de todos esses materiais, mas da integração

humana entre os educadores que constituem o corpo de cada escola do Campo. São eles

que, saindo de sua prática habitual descontextualizada do camponês e sua história, sua

identidade irão agora buscar atender a essa necessidade.

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Os profissionais do CEFAPRO de Sinop, sentindo a necessidade e a urgência

dessa questão, se reuniram e construíram coletivamente o projeto TRILHAS

CAMPESINAS: Integrando vidas e saberes. Esta ação visa exatamente a isso, oferecer

aos educadores das Escolas do Campo uma possibilidade de integração curricular que

respeite a identidade e o contexto campesino.

OBJETIVO GERAL

Promover a formação continuada dos profissionais das Escolas do Campo,

visando o desenvolvimento de um currículo que integre as Orientações Curriculares das

Áreas, as Orientações Curriculares do Campo e a matriz pedagógica (Agricultura

Familiar, Socioeconomia Solidária e Agroecologia).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Resgatar os conhecimentos, valores e a identidade do camponês por meio de

atividades de valorização e análise do contexto sócio ambiental e cultural;

Proporcionar aos educadores a construção de planejamentos coletivos;

Articular conhecimentos teóricos e práticos de forma a promover atividades

interdisciplinares;

Promover a socialização de práticas pedagógicas contextualizadas fazendo uso do

Blog da formação;

Aprofundar os conhecimentos sobre as Orientações Curriculares das áreas e das

Orientações Curriculares do Campo;

Prover suporte teórico e metodológico para integração das áreas no contexto da

comunidade escolar campesina;

Propiciar análise e observação crítica sobre o espaço geográfico, social e cultural da

comunidade, visando o desenvolvimento de ações sustentáveis;

Planejar ações que contemplem a matriz pedagógica da SEDUC ((Agricultura

Familiar, Socioeconomia Solidária e Agroecologia);

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Perceber o espaço, o entorno da comunidade escolar e visualizar quais as

possibilidades de utilização que o mesmo proporciona para a construção de uma

trilha ecológica/interpretativa que contemple atividades físicas, de lazer e

pedagógicas;

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta formação serão utilizados textos, sites e blogs

previamente selecionados com o objetivo de fornecer suporte teórico no

desenvolvimento das atividades de execução do projeto. A formação ocorrerá à

distância. Serão sugeridas atividades que serão postadas no Blog da formação e os

participantes irão interagir e postar suas contribuições no Blog.

A fim de tornar a ação dos educadores mais prática, dividimos a formação em

três caminhadas, afinal estamos numa trilha, vamos, pois, caminhar. Cada caminhada

possui três passos os quais apresentarão as atividades a serem realizadas e postadas no

Blog “trilhascampesinas.blogspot.com”, preparado especialmente para esse fim,

socializar as atividades entre os educadores e entre as unidades escolares participantes.

RESULTADOS ESPERADOS:

Promover novos olhares para o currículo da Educação do Campo, repensando sua

metodologia, buscando possibilidades curriculares contextualizadas com as experiências

vividas pela comunidade escolar campesina, visando a integração das áreas do

conhecimento, das temáticas pedagógicas e das políticas públicas do Estado de Mato

Grosso para a Educação do Campo

AVALIAÇÃO

A avaliação se efetivará mediante a realização das atividades propostas e

mediante a análise das reflexões propostas registradas no Blog da formação.

Utiliza-se muito atualmente da avaliação intitulada “diagnóstica, processual e

contínua”. A fim de que se efetive tal processo avaliativo é importante diagnosticar as

dificuldades, os avanços, quais aspectos necessitam de intervenção a fim de ser

aperfeiçoado. Dessa forma, a cada atividade, estaremos analisando os problemas e as

vitórias alcançadas pela formação. Isso se dará mediante a análise das atividades,

mediante a participação e interação no blog com os educadores de outras unidades

escolares.

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CERTIFICAÇÃO

Terá direito à certificação de 80 horas os participantes que completarem 75%

das atividades propostas referentes aos três módulos.

RECURSOS FINANCEIROS

Certificação

ARTE: Ketheley Leite Freire

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agricultura Orgânica: negócio sustentável. SEBRAE.

CORTEZ, Baltazar Campos. Os professores do campo e a sua formação na perspectiva

dos sujeitos da pesquisa

Programa de Desenvolvimento Ecosustentável Escolar e Comunitário. Apostila

orientadora para educadores. Fundação Gaia - Secretaria Municipal de Educação de

Viamão, Secretaria Municipal de Educação e Desporto de POA Pró - Reitoria de

Extensão - UFRGS

BERBEL, Neusi Aparecida Navas. A problematização e a aprendizagem baseada em

problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos?

SANTOS, Júlio César Furtado dos. O papel do professor na promoção da aprendizagem

significativa.

Orientações Curriculares de Educação Ambiental- SEDUC – MT, 2010.

Orientações Curriculares para a Educação Básica nas Escolas do Campo - SEDUC –

MT, 2010.

ALTIERI, Miguel Ángel. Agroecologia: princípios e estratégias para a agricultura

sustentável na América Latina do século XXI

Page 8: Trilhas campesinas   integrando vidas e saberes final

MARCATTO, Celso. Agricultura Sustentável: Conceitos e Princípios

Brasil. Conselho Nacional de Educação\ Câmara de Educação Básica. Diretrizes

Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução nº 1 de 03 de

abril de 2002.

Texto Base: Educação do Campo. ROCHA, Eliene Novaes, PASSOS, Joana Célia dos

e CARVALHO, Raquel Alves de. Disponível em www.forumeja.org.br. Acessado em

15/04/2013 por Arlete Tavares Buchardt.

NÓVOA, António. Professores: Imagens do futuro presente. EDUCA Instituto de

Educação. Universidade de Lisboa. Lisboa | Portugal, 2009.

DECRETO Nº 7.352, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2010. DOU 05.11.2010. Dispõe

sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma

Agrária - PRONERA.

SILVA, Maria do Socorro. Reflexões sobre currículo e Educação do Campo.