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TC – 13.144/989/16.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO GABINETE DO AUDITOR SAMY WURMAN
SENTENÇA
PROCESSO: TC – 13.144/989/16.
ENTIDADE: Prefeitura Municipal de Dracena.
MATÉRIA: Apartado das Contas Municipais do exercício de
2014 (TC – 234/026/14) – Pagamentos a maior aos
Secretários Municipais – Item B.5.2 do relatório de
fiscalização.
RESPONSÁVEL: Sr. José Antônio Pedretti – Ex-prefeito.
INTERESSADOS: Srs. Antonio Eduardo Penha e Francisco Eduardo
Ancieto Rossi – Secretários Municipais, à época.
INSTRUÇÃO: UR – 18 – Unidade Regional de Adamantina.
ADVOGADO: Sr. Vladimir de Mattos – OAB/SP n.º 172.849.
Consoante decisão da Segunda Câmara deste
Tribunal de Contas, tomada nos autos do TC – 234/026/14, que
abrigaram as Contas Municipais da Prefeitura de Dracena, relativas ao
exercício de 2014, com edição de parecer prévio favorável à sua
aprovação, na Sessão de 12.04.2016, foi determinada a instauração
deste processo apartado para tratar de possíveis pagamentos a maior a
Secretários Municipais (eventos 1.1, 6.2, 6.6 e 6.8).
De acordo com a Fiscalização (eventos 6.2 e 6.8), no
exercício em exame, os Senhores Antonio Eduardo Penha e Francisco
Eduardo Ancieto Rossi, então Secretários Municipais, perceberam, a
título de subsídio, valores superiores aos fixados pela legislação local,
em desconformidade como o regramento jurídico-constitucional de
incidência.
Nesse sentido, explicou a equipe técnica de
fiscalização da Unidade Regional de Adamantina que, apesar de serem
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servidores efetivos do Município, tais agentes políticos estavam
submetidos à disciplina instituída pelo artigo 39, § 4.º, da Constituição
Federal, razão por que não se lhes seria devido nenhum adicional ou
acréscimo, cabendo-lhes somente o valor do subsídio legalmente fixado,
consoante julgados desta Casa, abrigados, entre outros, nos TC –
800.068/096/03 e TC – 800.087/075/08.
Dessarte, creu que houve no período pagamentos a
maior, conforme abaixo demonstrado:
Nome: Antonio Eduardo Penha Cargo: Secretário Municipal de Gabinete e Assuntos Jurídicos
CPF: 080.436.498-20 Tipo Valor – R$
Adicional por Tempo de Serviço 2.998,82 Diferença 13º Salário (R$ 5.295,35 - R$ 5.043,19) 252,16 Total 3.250,98
Nome: Francisco Eduardo Aniceto Rossi Cargo: Secretário Municipal de Saúde
CPF: 042.030.648-05 Tipo Valor – R$
Adicional por Tempo de Serviço 5.834,98 Sexta-parte 3.403,75 Diferença de salário como Dentista em abril (27 dias) (R$ 1.837,31 – R$ 1.653,58) 183,73 Subsídio a maior, pago abril (R$ 5.043,19 / 30 x 3 dias = R$ 504,33) 19,31 Diferença do 1/3 de férias s/adicionais 1.007,45 Total 10.449,22
(*) Subsídio de abril (parcial) foi pago concomitantemente ao salário de Dentista.
Por fim, salientou que o Senhor Francisco Eduardo
Ancieto Rossi exerceu o cargo de Secretário Municipal de Saúde até
03.04.2014, tendo sido devolvida, em 05.08.2015, a quantia de R$
523,63, por ele recebida como saldo de subsídio.
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Na defesa carreada aos autos originais (evento 6.4), a
Origem consignou:
Inicialmente, é necessário enfatizar que tanto os servidores, quanto a Municipalidade, agiram de total boa-fé, haja vista que todos os ex-secretários municipais ocupantes de cargo efetivo sempre receberam tais valores, sem quaisquer questionamentos por parte deste E. Tribunal de Contas.
Assim, cumpre-nos informar e esclarecer os fatos de forma clara, objetivando o entendimento deste respeitável Conselheiro no sentido de alertá-lo que não há qualquer vedação na Lei Complementar n.º 02/92 (Estatuto dos Servidores Públicos Municipais) e, tampouco, em toda a legislação municipal que regule a vedação acerca do recebimento dos citados valores.
Com efeito, os servidores efetivos fazem jus ao recebimento de suas gratificações sobre os vencimentos que perceberem, pois sendo ocupantes de cargos em carreira, as referidas gratificações são incorporadas em seus vencimentos, além de possuírem vínculo direto com a Municipalidade e recolher INSS sobre o teto.
Quanto à aparente falha imputada, oportuno tecer alguns argumentos, extraídos da Consulta n.º 780.445 - TCE/MG.
É de primordial importância que realizemos uma análise da natureza do chamado cargo em comissão, para que se verifique se com ela é compatível os adicionais por tempo de serviço, como quinquênio e sexta-parte, além de outros direitos normalmente garantidos aos servidores ocupantes de cargo efetivo, que estão previstos no Estatuto dos Servidores Públicos Municipais de Dracena.
A Constituição Federal de 1988, sobre o tema, assim dispõe:
"Art. 37. [. . . ]
[ . . . ]
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II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 19, de 1998) (grifo nosso)
[ . . . ]
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;" (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 19, de 1998) (grifo nosso)
Assim, diante da expressão "livre nomeação e exoneração", tem-se que os cargos em comissão são cargos de ocupação transitória.
O mestre JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, leciona que a natureza desses cargos impede que os titulares adquiram estabilidade, vejamos:
"[...] assim como a nomeação para ocupá-los dispensa a provação prévia em concurso público, a exoneração do titular é despida de qualquer formalidade especial e fica a exclusivo critério da autoridade nomeante. Por essa razão é que são considerados de livre nomeação e exoneração (art. 37, II, CF)".
Desta forma, a chamada demissibilidade ad nutum tem significado. Ao prevê-la, o constituinte permitiu que cada autoridade pudesse contar com pessoas de sua confiança nos cargos públicos de chefia, direção e assessoramento.
No Poder Executivo, a importância dessa característica dos cargos em comissão fica ainda mais patente, tendo em vista que a alternância de poder de um grupo para outro exige que o novo governante possa contar com uma equipe
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comprometida com seu projeto de governo, alocada na estrutura da administração.
Nesse sentido, o constitucionalista MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO5 diz que os titulares de cargos comissionados são pessoas de absoluta confiança das autoridades superiores, especialmente dos agentes políticos, constituindo os canais de transmissão das diretrizes políticas, para a execução administrativa.
Contudo, o ocupante de cargo comissionado é, assim como o efetivo, servidor público lato sensu, termo que pode ser definido, juntamente com o conceito de cargo.
Na legislação específica dos servidores públicos e na doutrina pátria, em nenhum momento se faz distinção entre servidor efetivo e aquele ocupante de cargo de provimento em comissão, ambos são igualmente considerados servidores públicos, conforme afirmado acima.
A diferença existente, considerando o regime jurídico aplicado a ambos, é a forma de provimento e desprovimento do cargo, pela natureza de confiança que se impõe na relação jurídica, e porque a lei assim previu.
Vale aqui frisar que os comissionados que receberam os benefícios o fizeram por serem servidores efetivos, e tão somente, por assim figurarem, estando temporariamente nos cargos em comissão.
Sendo assim, o direito de o servidor ocupante de cargo comissionado a adicionais por tempo de serviço, quinquênio e sexta-parte, além de outros direitos normalmente garantidos aos servidores ocupantes de cargo efetivo, que estão previstos no Estatuto dos Servidores Públicos Municipais de Dracena, integra o seu patrimônio, haja vista que é um direito adquirido ao longo do efetivo exercício na função pública. Assim, alguns direitos são inerentes aos cargos de provimento efetivo.
Importante observar que, concedida ao servidor público uma vantagem pessoal, esta se incorpora ao seu patrimônio, tornando-se um atributo
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personalíssimo. Nesse passo, ao conceder adicionais por tempo de serviço, compreendido quinquênio e sexta-parte, entre outros, cria-se uma situação concreta em favor do servidor público, consolidando um direito que se integra ao seu patrimônio.
Os adicionais incorporam-se à remuneração do servidor, de acordo com a lei que as instituiu. Consumado o fato que a lei define como o gerador da incorporação, a vantagem pecuniária incorpora-se ao patrimônio do servidor como direito adquirido. Essa vantagem pessoal será irredutível, a teor do art. 37, inciso XV, da CF/88.
O ilustre Professor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO estabelece distinção conceituai para vantagem pessoal, observe:
"Vantagem pessoal é aquela que o servidor perceba em razão de uma circunstância ligada à sua própria situação individual - e não ligada pura e simplesmente ao cargo".
O respeitadíssimo mestre HELY LOPES MEIRELLES, sobre o tema, assim sintetiza:
''Vantagens irretiráveis do servidor só são as que já foram adquiridas pelo desempenho efetivo da função (pro labore facto) ou pelo transcurso do tempo de serviço (ex facto temporis) [...]”
Desse modo, no caso em tela, os valores recebidos a título de adicionais por tempo de serviço e sexta parte pelos servidores efetivos que ocupam cargos de secretários municipais, tratam-se de direitos e vantagens decorrentes de condições pessoais dos servidores, vale dizer, atribuem-se em razão do tempo de exercício de cargo público ou em razão de desempenho de função, integrando-se ao patrimônio do servidor, que não podem ser suprimidos destes, sob pena de enriquecimento ilícito e flagrante ilegalidade.
Assim, não podem os servidores serem punidos pela interpretação extremamente rígida, desprovida de razoabilidade, efetuada por parte do agente de fiscalização.
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Portanto, diante de tudo quanto foi exposto, roga-se a Vossa Excelência a reconsideração da suposta falha apontada e a legalidade dos atos praticados.
Instaurados os presentes autos, foram a Origem, o
Responsável e os demais agentes interessados notificados, nos termos
do artigo 30 da Lei Complementar Estadual n.º 709/1993, para que
tomassem conhecimento dos autos e apresentasse alegações de
interesse, conforme despacho publicado no DOE, em 07.10.2016
(eventos 9.1 e 15.1).
Em resposta, o responsável, Senhor José Antonio
Pedretti, ainda na condição de Prefeito Municipal, ofertou razões e
documentos, repisando, basicamente, as mesmas justificativas
encaminhadas aos autos originais, acima transcritas (eventos 22 e 23).
Ainda, informou que, tendo em vista o apontado, o
servidor Antonio Eduardo Penha solicitou o cancelamento do pagamento
do adicional de tempo de serviço, bem como que não sejam efetuados
pagamentos de quaisquer outros adicionais, enquanto estiver ocupando o
cargo de Secretário Municipal, realizando, assim, a opção pelo
recebimento exclusivo do subsídio do respectivo cargo.
Após ter sido pessoalmente notificado por meio do
Ofício C.C.A. n.º 781/2017 (evento 27.1), o Ex-secretário Municipal de
Saúde, Senhor Francisco Eduardo Ancieto Rossi, compareceu aos autos
e, por meio de seu advogado, ofereceu-lhes alegações de interesse e
documentação (eventos 31).
Repetindo as idênticas explicações já formuladas
pela Origem, lembrando que se trata de servidor efetivo, invocando a
boa-fé das partes envolvidas e entendendo não ter ocorrido prejuízo ao
erário, defendeu a legalidade dos pagamentos em exame, pois que
consentâneos, no seu juízo, com a legislação municipal de regência.
Nessa senda, explanou que os valores questionados
foram recebidos a título de adicional por tempo de serviço e sexta-parte
pelo fato de ser ocupante de cargo efetivo e ter sido nomeado
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Secretário Municipal, de modo que envolvem direitos e vantagens
pessoais, os quais não poderiam ser suprimidos sob pena de
enriquecimento ilícito e flagrante ilegalidade.
Malgrado o acrescido, a Assessoria Técnico-Jurídica
opinou pela irregularidade da matéria, compreendendo descumprida a
norma abrigada no artigo 39, § 4.º, da Constituição Federal, no que
disciplina o regime de subsídios para os agentes políticos. Todavia,
devido ao caráter alimentar, assim como não haver nos autos qualquer
prova de má-fé dos servidores, deixou de propor a devolução dos valores
percebidos (evento 39.1).
A Chefia de ATJ submeteu os autos à deliberação
deste Auditor (evento 39.2).
Este feito não foi selecionado para análise específica
pelo Ministério Público de Contas, nos termos do Ato Normativo PGC
n.º 06/2014, publicado no DOE de 08.02.2014 (evento 41.1).
Sendo que se fez necessário o saneamento dos
autos, foi o interessado, Senhor Antonio Eduardo Penha, pessoalmente
instado a manifestar-se sobre as ocorrências em debate, o que se deu
por meio do Ofício C.C.A. n.º 98/2018 (evento 51.1).
Em atenção ao seu chamamento, o Ex-secretário
Municipal de Gabinete e Assuntos Jurídicos juntou, por meio de seu
advogado, razões, seguidas de documentos (eventos 54 e 55).
A par de tudo o que já fora alegado, disse que, após
a decisão abrigada no TC – 800.032/283/13, apartado das Contas
Municipais da Prefeitura de Dracena do exercício de 2013, no sentido
da irregularidade dos pagamentos recebidos naquele período1, em que
se reconheceu a boa-fé dos servidores envolvidos, optou pelo regime de
subsídio, na medida em que foi solicitado o cancelamento do pagamento
do adicional de tempo de serviço, bem como que não fossem efetuados
1 Decisão do Auditor Alexandre Manir Figueiredo Sarquis, publicada no DOE, em 09.06.2016, e com trânsito em julgado, em 30.06.2016.
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pagamentos de quaisquer outros adicionais, enquanto estivesse ocupando
o cargo de Secretário Municipal.
Por fim, retornaram os autos conclusos a este Juiz
de Contas (evento 58).
Era o que cumpria relatar.
Passo à decisão.
Em que pesem as alegações de interesse expendidas
pelo Prefeito e pelos então Secretários Municipais, a análise dos autos
não autoriza a emissão de outro juízo à matéria, senão o de
irregularidade.
Com efeito, as razões de interesse encaminhadas a
estes autos repetem basicamente as justificativas ofertadas pela
Prefeitura de Dracena ao feito de origem, as quais já haviam sido
consideradas como insuficientes para afastar a irregularidade dos
pagamentos em tela, em consonância com o voto do Conselheiro
relator, Sidney Estanislau Beraldo, acolhido pela Segunda Câmara desta
Casa. Aliás, não foi por outro motivo que se determinou a abertura
deste processo apartado.
Como é cediço, o regime remuneratório dos agentes
políticos encontra-se disciplinado no artigo 39, § 4.º, da Carta Política
da República, com a redação que lhe foi dada pela Emenda
Constitucional n.º 19/1998, segundo o qual os Secretários Municipais
serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie remuneratória.
Entretanto, a despeito dos termos empregados pelo
constituinte reformador, valendo-se de uma interpretação sistemática e
histórica do ordenamento jurídico-constitucional, esta Corte tem
entendido que, em se tratando de servidor efetivo ocupante da função
de secretário municipal, inexistindo previsão legal específica em
sentido contrário, é licito facultar-lhe a opção pela remuneração do
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cargo de origem, com todos os acréscimos a ele regularmente
agregados.
Da mesma forma, antes mesmo do posicionamento
recentemente adotado pelo Supremo Tribunal Federal acerca da
remuneração dos agentes políticos municipais, este Tribunal não
vislumbrava óbice a que os secretários percebessem férias e décimo
terceiro salário.
Pois bem, o que não se admite em relação aos
secretários municipais é justamente o que aconteceu no caso concreto,
conforme se infere das pertinentes fichas financeiras (evento 6.3), ou
seja, a hibridez dos regimes remuneratórios do servidor e do agente
político, em que se toma como referência salarial o valor do subsídio
legalmente fixado para o Secretariado Municipal e sobre ele se faz
incidir os acréscimos pessoais e as demais vantagens pecuniárias que o
agente teria direito no exercício do cargo efetivo.
Impende destacar que a Lei Orgânica do Município
de Dracena, em perfeita sintonia com a Constituição Federal, estabelece,
em seu artigo 28, XVIII, competir privativamente à Câmara Municipal a
iniciativa de lei que vise a fixar os subsídios do Prefeito, Vice-Prefeito e
dos Secretários Municipais.
Dessarte, mostra-se evidente que, no âmbito loca, o
cargo político de secretário municipal, apesar de não ser eletivo, não
integra o quadro de servidores comissionados da Administração, não se
lhe aplicando a Lei Complementar Municipal n.º 02/1992, que
disciplina o regime jurídico dos funcionários públicos municipais de
Dracena (evento 23.2).
Ainda que haja equiparação do cargo ou da função
de secretário a cargo comissionado, tal fato se dá de forma mitigada e
exclusivamente para fins remuneratórios, observadas as balizas e os
limites estabelecidos pelo texto constitucional, conforme explicado
acima.
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Sendo assim, no caso em exame, a função de
secretário comportava apenas o pagamento de subsídio e mesmo que
os agentes implicados sejam servidores municipais efetivos, os
benefícios questionados (adicional por tempo de serviço, sexta-parte e
diferença de 13.º salário) somente lhes teriam sido devidos se tivessem
optado pelos vencimentos dos seus cargos de origem, o que não foi
discutido nos autos.
Nessa conformidade, no exercício de 2014,
conforme os cálculos da Fiscalização, que não foram objeto de
impugnação nas razões trazidas ao feito, houve pagamentos indevidos a
agentes políticos, no montante de R$ 13.700,20 (treze mil, setecentos
reais e vinte centavos), devendo o erário municipal ser integralmente
ressarcido.
Não obstante, tendo em vista que a concessão
indistinta das verbas impugnadas permite concluir que os beneficiados
não concorreram para a prática irregular da Administração, ficam
acolhidas as razões de interesse por eles ofertadas, mas tão somente
para reconhecer a sua boa-fé e deixar de condená-los à devolução dos
montantes recebidos a maior.
Por outro lado, o reconhecimento da boa-fé em
relação aos então secretários municipais não afasta o malfeito cometido
pela Administração e que levou ao indevido empobrecimento do erário
municipal, motivo por que, em consonância com a Deliberação TCA-
43.579/026/08, publicada no DOE, em 04.12.2008, deverá o Ex-alcaide
e ordenador da despesa recolher aos cofres do Município a importância
acima indicada, devidamente corrigida.
Ante o exposto, nos termos da Resolução n.º
03/2012 deste Tribunal de Contas, JULGO IRREGULAR a matéria em
apreço, apartada das Contas Municipais do exercício de 2014 da
Prefeitura de Dracena, com fundamento no artigo 33, III, “b” c.c. artigo
36, caput, ambos da Lei Complementar Estadual n.º 709, de 14 de
Janeiro de 1993.
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Como consequência, condeno o responsável, Senhor
José Antônio Pedretti, a recolher aos cofres do Município, no prazo de
30 (trinta) dias, a importância de R$ 13.700,20 (treze mil, setecentos
reais e vinte centavos), devidamente atualizada, com os acréscimos
legais, até a data do seu efetivo recolhimento, de acordo com a variação
do índice IPC-FIPE.
Após o trânsito em julgado desta decisão, uma vez
oficiado, deverá o atual Prefeito, no prazo de 60 (sessenta) dias,
comparecer aos autos e demonstrar a este Auditor as medidas adotadas
ante o julgamento desfavorável da matéria, especificamente quanto ao
ressarcimento do erário municipal, sob pena de ser-lhe aplicada a multa
prevista no artigo 104, III, da referida lei complementar paulista, e
comunicada a omissão ao Ministério Público do Estado.
Dê-se conhecimento deste julgado à Câmara
Municipal de Dracena, nos termos do artigo 2.º, XV, da Lei Orgânica
desta Corte de Contas.
Também, oficie-se ao Ministério Público do Estado
para fins de conhecimento e eventual adoção de medidas.
Tratando-se de procedimento eletrônico, em
conformidade com a Resolução nº 1/2011 deste Tribunal de Contas, a
íntegra desta decisão e dos demais documentos integrantes dos autos
poderá ser obtida mediante obrigatório e regular cadastramento no
Sistema de Processo Eletrônico – e.TCESP, na página www.tce.sp.gov.br.
Publique-se por extrato.
1. Ao Cartório para que, certificado o trânsito
em julgado:
a) Notifique pessoalmente o responsável,
Senhor José Antônio Pedretti, para que recolha
aos cofres do Município, no prazo de 30 (trinta)
dias, a importância de R$ 13.700,20 (treze mil,
setecentos reais e vinte centavos), devidamente
atualizada, com os acréscimos legais, até a data
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do seu efetivo recolhimento, de acordo com a
variação do índice IPC-FIPE;
b) Expeça comunicação de praxe à Câmara
Municipal de Dracena, nos termos do artigo 2.º,
XV, da Lei Complementar Estadual n.º
709/1993;
c) Oficie ao atual Prefeito de Dracena, fixando-
lhe o prazo de 60 (sessenta) dias para que
compareça aos autos e demonstre as medidas
adotadas visando ao ressarcimento do erário
municipal, sob pena de ser-lhe cominada a
multa prevista no artigo 104, III, da Lei
Orgânica deste Tribunal, e comunicada a
omissão ao Ministério Público do Estado;
d) Encaminhe, por meio de ofício, cópia deste
julgado ao Ministério Público do Estado.
2. Após, ao arquivo.
G.A.S.W., em 12 de abril de 2018.
SAMY WURMAN
Auditor
ROL
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DESPACHO PARA PUBLICAÇÃO DE SENTENÇA
PROCESSO: TC – 13.144/989/16.
ENTIDADE: Prefeitura Municipal de Dracena.
MATÉRIA: Apartado das Contas Municipais do exercício de
2014 (TC – 234/026/14) – Pagamentos a maior aos
Secretários Municipais – Item B.5.2 do relatório de
fiscalização.
RESPONSÁVEL: Sr. José Antônio Pedretti – Ex-prefeito.
INTERESSADOS: Srs. Antonio Eduardo Penha e Francisco Eduardo
Ancieto Rossi – Secretários Municipais, à época.
INSTRUÇÃO: UR – 18 – Unidade Regional de Adamantina.
ADVOGADO: Sr. Vladimir de Mattos – OAB/SP n.º 172.849.
EXTRATO: Nos termos expendidos em sentença, JULGO IRREGULAR a
matéria em apreço, apartada das Contas Municipais do exercício de
2014 da Prefeitura de Dracena, com fundamento no artigo 33, III, “b”
c.c. artigo 36, caput, ambos da Lei Complementar Estadual n.º 709, de
14 de Janeiro de 1993. Como consequência, condeno o responsável,
Senhor José Antônio Pedretti, a recolher aos cofres do Município, no
prazo de 30 (trinta) dias, a importância de R$ 13.700,20 (treze mil,
setecentos reais e vinte centavos), devidamente atualizada, com os
acréscimos legais, até a data do seu efetivo recolhimento, de acordo
com a variação do índice IPC-FIPE. Após o trânsito em julgado desta
decisão, uma vez oficiado, deverá o atual Prefeito, no prazo de 60
(sessenta) dias, comparecer aos autos e demonstrar a este Auditor as
medidas adotadas ante o julgamento desfavorável da matéria,
especificamente quanto ao ressarcimento do erário municipal, sob pena
de ser-lhe aplicada a multa prevista no artigo 104, III, da referida lei
TC – 13.144/989/16.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO GABINETE DO AUDITOR SAMY WURMAN
complementar paulista, e comunicada a omissão ao Ministério Público
do Estado. Dê-se conhecimento deste julgado à Câmara Municipal de
Dracena, nos termos do artigo 2.º, XV, da Lei Orgânica desta Corte de
Contas. Também, oficie-se ao Ministério Público do Estado para fins de
conhecimento e eventual adoção de medidas. Tratando-se de
procedimento eletrônico, em conformidade com a Resolução nº 1/2011
deste Tribunal de Contas, a íntegra desta decisão e dos demais
documentos integrantes dos autos poderá ser obtida mediante
obrigatório e regular cadastramento no Sistema de Processo Eletrônico
– e.TCESP, na página www.tce.sp.gov.br. Publique-se.
G.A.S.W., em 12 de abril de 2018.
SAMY WURMAN
Auditor
ROL