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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 023.738/2015-4 1 GRUPO II – CLASSE V – Plenário TC 023.738/2015-4. Natureza: Relatório de Auditoria. Entidade: Confederação Brasileira de Ciclismo. Responsáveis: Carlos Arthur Nuzman (007.994.247-49); Confederação Brasileira de Ciclismo - CBCiclismo (51.936.706/0001-09); José Luiz Vasconcellos (367.628.309-00); Marcus Vinícius Simões de Freire (812.927.327-68). Representação legal: Jefferson Dias Santos (45249/OAB-PR) e outros, representando Primage Agência Digital Ltda - ME; Ricardo Lazzari da Silva Mendes Cardozo (208019/OAB-SP) e outros, representando Savio V.c. Balestrero Viagens e Turismo-ME (Bality Viagens e Turismo); Paulo Roberto Ciola de Castro (65750/OAB-PR) e outros, representando Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda.-ME SUMÁRIO: AUDITORIA. ANÁLISE DA APLICAÇÃO DE RECURSOS DA LEI AGNELO/PIVA PELA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CICLISMO (CBCiclismo). ANÁLISE DAS RESPOSTAS ÀS OITIVAS E AUDIÊNCIAS. ACOLHIMENTO PARCIAL DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA. REALIZAÇÃO DE NOVA OITIVA. CIÊNCIA AO COB E À CBCiclismo. RELATÓRIO Trata-se de relatório de auditoria realizada na Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo), com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva). 2. Transcrevo a seguir, com ajustes de forma, excerto do relatório (peça 35) elaborado pela Secretaria de Controle Externo no Estado do Paraná (Secex-PR), com cujas conclusões e encaminhamento manifestaram-se de acordo os dirigentes da unidade (peças 36 e 37): I. Apresentação 1. Trata-se de relatório de auditoria de conformidade, organizado a partir da formatação do sistema Fiscalis, na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), realizada no COB e no CPB, com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da auditada Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo), sediada em Londrina/PR, que é sustentada, originariamente, pelas vinte e sete federações estaduais de ciclismo e que as representa nacional e internacionalmente. 2. O COB e o CPB, com o objetivo de estimular a modalidade do ciclismo repassa recursos públicos por intermédio de convênios para custear manutenção, preparação técnica dos atletas, equipe permanente de técnicos, fomento da modalidade e eventos nacionais e internacionais. A equipe realizou auditoria de conformidade nos principais convênios de 2013 a 2015 visando a verificar a correta aplicação dos recursos públicos. 3. Preliminarmente, constata-se, ao longo do relatório, que a CBCiclismo não devia receber recursos públicos porque não apresenta autonomia financeira e que desvios de finalidade ocorrem por deficiência de controles internos. Conclusivamente, além da inviabilidade financeira, constatou-se que a entidade realiza despesas sem seguir as normas de convênio. As irregularidades

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 023.738/2015-4

1

GRUPO II – CLASSE V – Plenário TC 023.738/2015-4.

Natureza: Relatório de Auditoria. Entidade: Confederação Brasileira de Ciclismo. Responsáveis: Carlos Arthur Nuzman (007.994.247-49); Confederação

Brasileira de Ciclismo - CBCiclismo (51.936.706/0001-09); José Luiz Vasconcellos (367.628.309-00); Marcus Vinícius Simões de Freire

(812.927.327-68). Representação legal: Jefferson Dias Santos (45249/OAB-PR) e outros, representando Primage Agência Digital Ltda - ME; Ricardo Lazzari da

Silva Mendes Cardozo (208019/OAB-SP) e outros, representando Savio V.c. Balestrero Viagens e Turismo-ME (Bality Viagens e Turismo);

Paulo Roberto Ciola de Castro (65750/OAB-PR) e outros, representando Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda.-ME

SUMÁRIO: AUDITORIA. ANÁLISE DA

APLICAÇÃO DE RECURSOS DA LEI

AGNELO/PIVA PELA CONFEDERAÇÃO

BRASILEIRA DE CICLISMO (CBCiclismo).

ANÁLISE DAS RESPOSTAS ÀS OITIVAS E

AUDIÊNCIAS. ACOLHIMENTO PARCIAL

DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA.

REALIZAÇÃO DE NOVA OITIVA.

CIÊNCIA AO COB E À CBCiclismo.

RELATÓRIO

Trata-se de relatório de auditoria realizada na Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo), com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva).

2. Transcrevo a seguir, com ajustes de forma, excerto do relatório (peça 35) elaborado pela Secretaria de Controle Externo no Estado do Paraná (Secex-PR), com cujas conclusões e

encaminhamento manifestaram-se de acordo os dirigentes da unidade (peças 36 e 37):

I. Apresentação

1. Trata-se de relatório de auditoria de conformidade, organizado a partir da formatação do sistema Fiscalis, na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), realizada no COB e no CPB, com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da auditada Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo), sediada em Londrina/PR, que é sustentada, originariamente, pelas vinte e sete federações estaduais de ciclismo e que as representa nacional e internacionalmente.

2. O COB e o CPB, com o objetivo de estimular a modalidade do ciclismo repassa recursos públicos por intermédio de convênios para custear manutenção, preparação técnica dos atletas, equipe permanente de técnicos, fomento da modalidade e eventos nacionais e internacionais. A equipe realizou auditoria de conformidade nos principais convênios de 2013 a 2015 visando a verificar a correta aplicação dos recursos públicos.

3. Preliminarmente, constata-se, ao longo do relatório, que a CBCiclismo não devia receber recursos públicos porque não apresenta autonomia financeira e que desvios de finalidade ocorrem por deficiência de controles internos. Conclusivamente, além da inviabilidade financeira, constatou-se que a entidade realiza despesas sem seguir as normas de convênio. As irregularidades

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constatadas foram objeto das propostas de audiência dos responsáveis, podendo resultar débito ou multa.

II. Introdução

II.1. Deliberação que originou o trabalho

4. Em cumprimento ao Despacho de 24/08/2015 do Min. Vital do Rêgo (TC 019.708/2015-7), realizou-se a auditoria Comitê Olímpico Brasileiro, no período compreendido entre 14/09/2015 e 09/10/2015.

5. As razões que motivaram esta auditoria foram expostas no relatório consolidador TC 019.708/2015-7 e se resumem na existência de recursos públicos repassados às confederações sem que haja controles sobre as despesas dos mesmos.

6. Visão geral 7. O art. 217 da Constituição Federal/1988 (CF/1988) prescreve que é dever do Estado fomentar as práticas desportivas, respeitada a autonomia das entidades desportivas quanto à sua organização e funcionamento, tendo em vista a natureza jurídica dessas entidades. O mesmo artigo ressalta que uma das formas de fomento estatal ao desporto deve ocorrer mediante destinação de recursos públicos à essa área.

8. A Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva), que alterou a Lei 9.615/1998 (Lei Pelé), estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao COB e ao CPB. A partir de alterações posteriores à Lei Pelé, incluiu-se a Confederação Brasileira de Clubes (CBClubes) como beneficiária das receitas oriundas de concursos de prognósticos federais. Dos 2% da arrecadação bruta, 85% são destinados ao COB e 15% ao CPB, enquanto da parcela de 1/6 do adicional de 4,5% sobre cada bilhete é destinada à CBClubes.

9. A Lei 9.615/1998 ainda dispõe, em seu art. 9º, §1º, que anualmente, COB e CPB receberão a renda líquida total de um dos testes da Loteria Esportiva Federal, para treinamento e para competições preparatórias das equipes olímpicas nacionais, e, nos anos de realização dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Pan-Americanos, a renda líquida de um segundo teste, para a participação de delegações nacionais nesses eventos. Esses recursos constituem receitas próprias das entidades, apesar de a lei determinar sua destinação.

10.Conforme apresentado no relatório de levantamento do TCU sobre o Sistema Nacional de Desporto (TC 021.654/2014-0), a principal fonte de recursos do desporto olímpico e paraolímpico brasileiro é a Lei Agnelo/Piva. Segundo dados declarados pelas entidades integrantes do SND, considerando os valores recebidos e projeções de valores a receber nos próximos exercícios, 48% do financiamento do setor provêm da Lei Agnelo/Piva.

11.No entanto, é justamente no repasse e na aplicação desses valores provenientes da Lei Piva que se destacam os pontos críticos e as deficiências de controle, haja vista que a CBCiclismo não apresenta autonomia financeira, as transferências não passam por conta específica de cada convênio, a finalidade pública não é observada. Por último, aquilo que seria o principal objetivo da Lei Piva, qual seja, o benefício do atleta e o fomento do ciclismo, não foi percebido pela equipe de auditoria, pois todos os recursos são revertidos na manutenção da CBCiclismo com diárias e passagens de dirigentes e na contratação de assessoria desportiva ou jurídica.

II.3. Objetivo e questões de auditoria

12.A presente fiscalização teve por objetivo verificar a conformidade da aplicação da Lei Agnelo/Piva pela Confederação Brasileira de Ciclismo - CBCiclismo.

13.A partir do objetivo do trabalho e a fim de avaliar em que medida os recursos estão sendo aplicados de acordo com a legislação pertinente, formularam-se as questões adiante indicadas:

a) Questão 1: O estatuto apresenta o conteúdo mínimo determinado no art. 18-A, inciso VII, da Lei 9.615/1998?

b) Questão 2: O processo de eleição para presidente/dirigente máximo da entidade contempla requisitos que dificultam a alternância no exercício dos cargos de direção?

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c) Questão 3: A entidade movimenta os recursos da Lei 10.264/2001 (Agnelo/Piva) de acordo com os normativos vigentes e o instrumento de convênio?

d) Questão 4: Foi realizada prévia pesquisa de preços?

e) Questão 5: Houve a devida publicidade do certame nos meios e prazos adequados?

f) Questão 6: Há um mínimo de três propostas válidas no processo licitatório?

g) Questão 7: Há indícios de ocorrência de procedimentos fraudulentos com direcionamento da licitação ou de licitação montada?

h) Questão 8: Existe preço acima do mercado nos bens e serviços contratados e executados?

i) Questão 9: Os bens/serviços contratados foram efetivamente recebidos/prestados, de acordo com as especificações?

j) Questão 10: Foram apresentados documentos válidos para comprovação de despesas?

k) Questão 11: O objeto do ajuste está sendo executado conforme o Plano de Trabalho Aprovado?

l) Questão 12: Há pagamento de remuneração de dirigentes estatutários, com recursos da Lei Agnelo/Piva, superior, em seu valor bruto, a 70% do limite estabelecido para a remuneração de servidores do Poder Executivo federal?

m) Questão 13: Há sobreposição de recursos da Lei Agnelo/Piva, repassados pelo COB e pelo CPB, para as mesmas despesas administrativas?

13.1 A equipe de auditoria ampliou as investigações previstas nas questões anteriores e elaborou comparação dos recursos próprios da CBCiclismo em comparação com os recursos recebidos durante o ano de 2014 e, disso, resultou no achado intitulado: A CBCiclismo não possui viabilidade ou autonomia financeira.

II.4. Metodologia utilizada

14.A auditoria foi realizada na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) e os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União (Portaria-TCU n. 280, de 8 de dezembro de 2010, alterada pela Portaria-TCU n. 168 de 30 de junho de 2011) e com observância aos Padrões de Auditoria de Conformidade estabelecidos pelo TCU (Portaria-Segecex n. 26 de19 de outubro de 2009).

II.5. Limitações inerentes à auditoria

15.Não houve limitações de auditoria.

II.6. Volume de recursos fiscalizados

16.O volume de recursos fiscalizados alcançou o montante de R$ 7.349.152,50.

II.7. Benefícios estimados da fiscalização

17.Entre os benefícios estimados desta fiscalização pode-se mencionar o incremento da economia, eficiência, eficácia ou efetividade de órgão ou entidade da administração pública.

II.8. Processo conexo

18.Foram constatados os seguintes processos conexos a esse trabalho.

a) TC 019.708/2015-7

b) TC 021.654/2014-0

III. Achados de auditoria

III.1. Manutenção de conta única para movimentação de recursos de diversos projetos, dificultando o controle dos gastos específicos de cada projeto

19.Os recursos transferidos pelo COB são depositados em uma única conta da CBCiclismo, número 2233-3, agência 1479, da Caixa Econômica Federal. No entanto, deveriam ser depositados em conta específica para cada objeto conveniado. Despesas de manutenção, de fomento, de preparação de atletas, de equipe permanente de treinamento de atletas, de eventos, de patrocínios e

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de receitas próprias são movimentadas em uma única conta corrente da CBCiclismo. Essa irregularidade é grave e foi constatada pela análise da ficha financeira 1479/003/00002233-3/2014 - Extrato da conta corrente da CBCiclismo na Caixa Econômica Federal (peça 6, p. 2-80).

20.Os critérios normativos que permitem a descrição dessa irregularidade grave evidenciada no demonstrativo de extratos bancários da conta corrente 147/003/0002233-3 da CBCiclismo constam do artigo 43, inciso XIII, e artigo 64 da Portaria 507/2011 do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão/MF/CGU.

21.A equipe constatou que a causa da ocorrência dessa irregularidade foi a deficiência de controles internos e que teve como consequência prejuízos ao erário em virtude da ausência de fiscalização.

22.A proposta de encaminhamento dessa irregularidade será determinar, no mérito do processo, ao Comitê Olímpico Brasileiro que estabeleça controles específicos para cada projeto aprovado da Confederação Brasileira de Ciclismo mediante abertura de conta única para cada projeto.

III.2. Direcionamento de licitação ou licitação montada – Irregularidade grave

23.A equipe de auditoria constatou que as contratações das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva, CNPJ 02.490.595/0001-36, e Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, não seguiram os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, os nomes das duas empresas convidadas já estavam escritos nas minutas de contrato previamente elaboradas aos respectivos editais. No caso específico da Práxis, além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente o publicado no edital, sendo que as duas outras empresas convidadas, nos dois convites analisados, foram proforma. Essa situação pode ser constatada no Edital 004/2013 (peça 7, p. 1-53) – Contratação de consultoria em direito desportivo e justiça desportiva - e no Edital 001/2013 (peça 8, p. 1-61) - Contratação de pessoa jurídica para consultoria em ciência do esporte. Essa conduta foi enquadrada no critério constante do artigo 90 da Lei 8.666/1993.

24.São evidências desse direcionamento de licitação, os processos de contratação da Práxis Advocacia e da Sport Training que constam dos editais do Convite CBC 004/2013 e do Convite 001/2013 divulgando o valor estimado do objeto a ser contratado e da minuta de contrato assinada pelos membros da comissão previamente preenchida com o nome da empresa contratada e, ainda, no caso da Práxis Advocacia, a proposta foi exatamente no mesmo valor do edital.

25.As causas da ocorrência desse achado não foram identificadas, não se podendo colocar na deficiência de controles internos um eventual direcionamento ou montagem de licitação. Os efeitos dessa irregularidade são de restrição ao caráter competitivo da licitação e do consequente prejuízo, haja vista que a concorrência diminui o valor da contratação.

26.O Senhor José Luiz Vasconcellos aprovou edital e minuta de contrato com o nome e valor do contratado. Com esse ato ele foi o elo sem o qual a irregularidade não existiria, sendo razoável afirmar que era possível ao responsável ter consciência da ilicitude do ato que praticou. A conduta do responsável é culpável, ou seja, reprovável, há ainda a obrigação de reparar o dano. Portanto deve o responsável ser ouvido em audiência a fim de avaliar se merece ser citado pelo débito e/ou apenado com a aplicação de multa.

27.Cabe, nessa situação, proposta de audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, nos termos o art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa pela contratação das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva (CNPJ 02.490.595/0001-36) e Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda - ME, CNPJ 03.508.818/0001-08, com direcionamento das contratações ou licitações montadas.

III.3. Desvio de finalidade na execução do objeto – Irregularidade grave

28.A CBCiclismo realizou dois eventos voltados para decisões políticas: Um para eleição do Presidente, realizado em janeiro de 2013, na cidade de Curitiba, e outro em março de 2015, na cidade de São Paulo para mudança do estatuto. Passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança dos 27 (vinte e sete) presidentes de federações estaduais habilitados a votar

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foram pagos com dinheiro público. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte despesas de (a) “Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo” e; (b) “Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo”.

29.Os critérios que enquadram essa irregularidade são o art. 116, § 3º, inciso II, da Lei 8666/1993, o art. 25, § 2º, da Lei Complementar 101/2000, art. 25, § 2º, o artigo 52, inciso III; art. 82, § 1º, inciso II, alínea b da Portaria Interministerial 507/2011 e os artigos 1º, 2º e 3º da Decisão Normativa 57/2004 do Tribunal de Contas da União.

30.As evidências desse achado constam da peça 9, p. 1-37, (Eleição do Presidente da CBCiclismo 01-2013) e da peça 10, p. 1-5 (Reunião de mudanças do estatuto CBC 03-2015).

31.A provável causa da ocorrência do achado foi a deficiência de controles internos, tanto do COB quanto da CBCiclismo, e os efeitos foram reais no sentido de gerar prejuízos por pagamentos indevidos no montante de R$ 317.943,19.

32.Os responsáveis pelo dano ao erário foram o Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB desde 1/1/1995; Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do recurso público do COB desde 1/1/2013; Senhor José Luiz Vasconcelos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo desde 1/1/2005.

33.A conduta dos responsáveis citados foi basicamente a mesma, haja vista que praticaram o mesmo ato, com a diferença que um recebeu e outro pagou, mas ambos ou todos beneficiaram-se da transferência do recurso público tanto à CBCiclismo quanto ao COB. Assim sendo, a conduta pode ser descrita como “o Senhor Carlos Arthur Nuzman permitiu que o Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire repassasse recursos à CBCiclismo que os recebeu e os aplicou em finalidade diversa da pública, no montante de R$ 317.943,19 (R$ 152.347,55 + R$ 165.595,64), ou seja, o Senhor José Luiz Vasconcellos pagou despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos eventos: “1-Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo” e “2-Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo”.

34.O nexo de causalidade fica caracterizado na medida que “se não tivesse transferido, repassado ou recebido os recursos que sabia serem utilizados em finalidades diversas do permitido para o uso do recurso público, então não seria responsabilizado pela devolução dos respectivos valores”. Não houve excludentes de ilicitude, isto é, nenhum deles realizou algum ato que os excluísse da responsabilidade pelo desvio de finalidade do recurso público. Nesse sentido, não houve boa-fé dos responsáveis e não houve consulta a órgãos técnicos antes de aplicarem os recursos, sendo razoável afirmar que era possível aos responsáveis terem consciência da ilicitude do ato que praticaram. A conduta dos responsáveis é culpável, ou seja, reprovável e há ainda a obrigação de repararem o dano. Portanto, os responsáveis devem ser ouvidos em audiência a fim de avaliar se merecem ser citados pelo débito e/ou apenados com a aplicação de multa.

35.É necessário ressaltar que desvio de finalidade é irregularidade que implica solidariedade entre os responsáveis e a entidade ou pessoa que recebeu o dinheiro público. Nesse sentido, a Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, praticou a conduta de receber do COB o dinheiro decorrente dos eventos “1-Reunião Geral de Federações” e “2-Assembleia Geral Ordinária” realizadas pelos responsáveis citados nos parágrafos anteriores. O nexo de causalidade fica estabelecido no sentido de que “se não tivesse utilizado recursos públicos com desvio de finalidade, então não teria obrigação de devolvê-los”.

36.A proposta de encaminhamento desse achado é “Com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos Senhores José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, Marcus Vinícius Simões de

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Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB e o representante legal da Confederação Brasileira de Ciclismo/CBCiclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagaram despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes ao eventos:

1-Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo;

2-Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo.

III.4. Pagamento de despesas com desvio de finalidade – Irregularidade grave

37.A CBCiclismo pagou remuneração do Presidente, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa que se caracteriza por ser sem finalidade pública.

38.Os objetos nos quais o achado foi constatado foram os convênios de “Fomento da modalidade/2013” (peça 11, p. 1-15) e “Fomento da modalidade/2014” (peça 11, p. 16-29) que não têm o objetivo de cobrir despesas de hospedagens, passagens aéreas, traslado, alimentação e segurança realizadas em nome do dirigente máximo da entidade.

39.Os critérios que enquadram essa irregularidade são os seguintes: Lei 8666/1993, art. 116, § 3º, inciso II; Lei Complementar 101/2000, art. 25, § 2º; Portaria 507/2011, Ministério Planejamento Orçamento e Gestão/MF/CGU, art. 52, inciso III e art. 82, § 1º, inciso II, alínea b e, por fim, a Decisão Normativa 57/2004 do Tribunal de Contas da União, artigos 1º, 2º e 3º. As evidências são as despesas de fomento com desvio de finalidade presentes na relação de convênios de fomento da modalidade ciclismo dos anos 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13).

40.A provável causa da ocorrência do achado foi a deficiência de controles internos, tanto do COB quanto da CBCiclismo, e os efeitos foram reais no sentido de gerar prejuízos por pagamentos indevidos no montante de R$ 541.163,98. O desvio de tais valores tem como efeito o prejuízo ao erário que deve ser ressarcido pelos responsáveis e pela CBCiclismo.

41.Os responsáveis pelo dano ao erário foram o Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB desde 1/1/1995; Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do recurso público do COB desde 1/1/2013; Senhor José Luiz Vasconcelos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo desde 1/1/2005.

42.Como já foi exposto no item 33 anterior, a conduta dos responsáveis citados foi basicamente a mesma, haja vista que praticaram o mesmo ato, com a diferença que um recebeu e outro pagou, mas ambos ou todos beneficiaram-se da transferência do recurso público tanto à CBCiclismo quanto ao COB. Assim sendo, a conduta pode ser descrita como “o Senhor Carlos Arthur Nuzman permitiu que o Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire repassasse recursos à CBCiclismo que os recebeu e os aplicou em finalidade diversa da pública, no montante de R$ 541.163,98. Ou seja, despesas de fomento à modalidade ciclismo, em locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 e 2014, que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo, no montante de R$ 541.163,98, ou seja permitiram que fossem pagas despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas do dirigente máximo da CBCiclismo sem que as mesmas tivessem qualquer tipo de finalidade pública.

43.O nexo de causalidade fica caracterizado na medida que “se não tivessem transferido, repassado ou recebido os recursos que sabiam serem utilizados em finalidades não públicas, então não seriam responsabilizados pela devolução dos respectivos valores”. Não houve excludentes de ilicitude, isto

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é, nenhum deles realizou algum ato que os excluísse da responsabilidade pelo desvio de finalidade do recurso público. Nesse sentido, não houve boa-fé dos responsáveis e não houve consulta a órgãos técnicos antes de aplicarem os recursos, sendo razoável afirmar que era possível aos responsáveis terem consciência da ilicitude do ato que praticaram. A conduta dos responsáveis é culpável, ou seja, reprovável e há ainda a obrigação de repararem o dano. Portanto, os responsáveis devem ser ouvidos em audiência a fim de avaliar se merecem ser citados pelo débito e/ou apenados com a aplicação de multa.

44.É necessário ressaltar que desvio de finalidade é irregularidade que implica solidariedade entre os responsáveis e a entidade ou pessoa que recebeu o dinheiro público. Nesse sentido, a Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, praticou a conduta de receber do COB o dinheiro que pagou por despesas sem finalidade pública do dirigente máximo da CBCiclismo. O nexo de causalidade fica estabelecido no sentido de que “se não tivesse utilizado recursos públicos com desvio de finalidade, então não teria obrigação de devolvê-los”.

45.A proposta de encaminhamento desse achado é “Com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos Senhores José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB e o representante legal da Confederação Brasileira de Ciclismo/CBC, CNPJ 51.936.706/0001-09, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagaram despesas de fomento à modalidade ciclismo, em locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 e 2014, que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo.

III.5. Inexistência de documentação na CBCiclismo para comprovação das despesas declaradas nas prestações de contas, documentação apresentada de forma incompleta ou comprovação de despesas mediante documentos de despesas inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados) – Irregularidade Grave

46.Situação encontrada:

(a) Consta da relação de participantes do evento Copa do Mundo da República Tcheca, CI 017/2015, convênio no valor de R$ 141.956,60 cujo objeto é o pagamento de viagem de 8 (oito) atletas ou dirigentes, mas apenas 4 (quatro) membros apresentaram comprovação de embarque, denotando pagamento de despesas não realizadas (peça 12, p. 1-14). Tendo em vista a constatação de despesas pagas e não realizadas nesse convênio CI 017/2015, a equipe de auditoria solicita ao responsável que apresente, em audiência, todos os documentos de comprovação de embarque e desembarque das passagens aéreas e das despesas de hospedagem, traslado e alimentação de todos os participantes dos eventos cujas despesas aplicadas totais foram superiores a R$ 50.000,00. Ou seja, dos eventos (peças 13, p. 57 a 95, peça 14, p. 141 a 217 e peça 15, p. 25 a 132): 1) CI 009/2013 - Panamericano de pista - Aguascalientes - México R$ 88.864,85 2) CI 015/2013 - Prova de estrada El Salvador - Feminino - R$ 52.168,23 3) CI 026/2013 - BMX Supercros World Cup Manchester - R$ 67.003,69 4) CI 027/2013 - Campeonato panamericano de MTB Tucuman Argentina - R$ 69.366,85 5) CI 032/2013 - Camp panamericano de estradas - Zacatecas -México R$ 102.289,15 6) CI 033/2013 BMX Supercros/Panamericano Santiago Del Estero/Argentina R$ 58.576,28 7) CI 037/2013 Copa Nordeste de Ciclismo de Estrada R$ 136.685,23 8) CI 040/2013 Camp Brasileiro de ciclismo Júniores R$ 94.990,75 9) CI 048/2013 Camp mundial de BMX Auckland R$ 67.475,12 10) CI 052/2013 Camp brasileiro de elite R$ 51.631,00 11) CI 056/2013 Camp brasileiro de MTB Country Olímpico (XCO) R$ 75.474,00 12) CI 058/2013 Copa do Mundo MTB Canadá R$ 67.600,70 13) CI 062/2013 Camp brasileiro de pista elite R$ 65.134,62 14) CI 064/2013 Camp mundial de MTB - África do Sul R$ 65.021,88 15) CI 065/2013 Copa Norte/Nordeste Ciclismo de Estrada R$ 205.189,30 16) CI 068/2013 BMX Supercross World Cup - Chula Vista R$ 68.722,51

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17) FR 649/2013 Camp Mundial de Estradas R$ 104.150,66 18) CI 012/2014 Volta Ciclística São Paulo R$ 65.600,00 19) CI 023/2014 Camp Panamericano de MTB de Barbacena/MG R$ 108.911,00 20) CI 033/2014 Copa Nordeste de Ciclismo/Estrada R$ 130.044,31 21) CI 045/2014 Campeonato Mundial de Estradas - Ponferrada/Espanha R$ 123.372,57 22) CI 046/2014 Camp Brasileiro de Pista Elite R$ 56.824,22 23) CI 051/2014 Copa Norte/Nordeste de Ciclismo Macapá - R$ 178.114,92 24) CI 052/2014 Camp Mundial de MTB - Hafjell/Noruega R$ 112.573,21 25) CI 065/2014 Copa do Mundo de Pista-Guadalajara/México R$ 53.641,09 26) CI 071/2014 World Cup Pista II - Londres R$ 56.315,48 27) CI 078/2014 Tour de San Luiz/Argentina R$ 50.823,78 28) CI 002/2015 Copa do Mundo de Pista Cali/Colômbia R$ 75.746,51 29) CI 010/2015 Camp Panamericano MTB Colômbia R 78.891,99 30) CI 012/2015 Copa do Mundo de BMX Manchester Inglaterra R$ 95.958,40 31) CI 014/2015 Volta Ciclística Internacional do Rio Grande do Sul R$ 86.278,95 32) CI 015/2015 Copa do Mundo de Ciclismo Papendal Holanda R$ 73.236,00 33) CI 017/2015 Copa do Mundo MTB da República Tcheca R$ 141.596,60 34) CI 019/2015 Camp Panamericano de Ciclismo Estrada R$ 108.609,10 35) CI 023/2015 Camp Panamericano BMX Santiago Chile R$ 71.156,30 36) CI 024/2015 Camp Brasileiro Ciclismo de Estrada/Pista Jr - Maringá R$ 106.665,53 37) CI 027/2015 Volta Ciclística Internacional do Paraná - Londrina R$ 229.627,50 b) As empresas A & A Nunes, Sport Training, Praxis Advocacia, ACE Consultoria Esportiva, Primage Digital, Oliveira & Lima Contadores Associados (convênio 160/2013 do CPB), Bality Viagens e Turismo e Marfly Viagens e Turismo receberam por serviços de exame antidoping, treinamento de atletas, serviços advocatícios, consultoria esportiva, suporte digital, contabilidade e serviços de emissão de passagens aéreas e outros serviços de suporte às viagens, respectivamente, que não foram comprovados nas respectivas prestações de contas. Nesse caso, o responsável deve apresentar, em audiência, razões de justificativa da não apresentação dos comprovantes de realização dos serviços dos contratos cujas despesas constam dos eventos relacionados acima: 1- Contrato da empresa A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda. visando à prestação de serviços antidoping, no total de R$ 210.820,77; 2- Contratos dos Convênios CI 65-62-56-50-40-37-19-17-16/2013 com a ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., no valor de R$ 40.637,05; 3) Contrato do Edital 004/2013, prestação de serviços advocatícios, da Praxis Advocacia no valor de R$ 100.000,00 (2014 a 8/2015); 4) Contrato do Edital 001/2013, Consultoria em ciência do esporte, assinado com a Sport Training, no valor de R$ 168.000,00; 5) Contrato 20131217/2013, manutenção mensal referente ao desenvolvimento de correções e melhorias no sistema online e website da CBCiclismo, Primage Agência Digital Ltda. ME, no valor de R$ 36.000,00; 6) Contrato sem número/2014, prestação de assessoria contábil para a CBCiclismo pagos pelo convênio de manutenção 160/2013 do Comitê Paraolímpico Brasileiro – CPB, da Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda., no valor de R$ 18.000,00; 7) Contrato de prestação de serviços de emissão de passagens e de outros serviços de suporte às viagens, celebrado com a Bality Viagens e Turismo (Savio V. C. Balestrero Viagens e Turismo – ME), com despesas no valor de R$ 1.697.957,85; 8) Contrato de prestação de serviços de emissão de passagens e de outros serviços de suporte às viagens, celebrado com a Marfly Viagens e Turismo Ltda., com despesas no valor de R$ 435.202,29.

47.Os Critérios que enquadram esse achado são o artigo 63 da Lei 4320/1964 e o artigo 64 da Portaria 507/2011 do Ministério Planejamento Orçamento e Gestão/MF/CGU. As evidências são as faturas de despesa de viagens e comprovantes de embarque (ida e volta) da Marfly Viagens e Turismo Ltda., CNPJ 00.920.881/0001-69 (peça 12, p. 1 a 14), demonstrando despesas de viagens de oito atletas ou dirigentes e comprovantes de embarque de apenas quatro (ida e volta).

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48.A equipe considerou como causas da ocorrência do achado a deficiência de controle internos, mas, mesmo nessa causa, os efeitos produziram prejuízo ao erário gerado por pagamentos indevidos que devem ser ressarcidos pelo responsável.

49.O responsável é o Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, desde 1/1/2005, cuja conduta foi de não apresentar os devidos comprovantes de despesas declaradas nas prestações de contas ou apresentar documentação de forma incompleta ou mediante apresentação de documentos de despesas inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados).

50.O nexo de causalidade fica configurado pela consideração de que “se tivesse apresentado comprovantes de despesas hábeis nas prestações de contas ou apresentado documentação completa mediante documentos válidos, então não seria responsável pelo desvio de recursos públicos”. Não houve atos que produzissem quaisquer das excludentes de ilicitude possíveis nesses casos.

51.Não houve boa-fé do responsável. Ele não consultou órgãos técnicos antes de solicitar os recursos públicos e é razoável afirmar que era possível ao responsável ter consciência da ilicitude do ato que praticou. A conduta do responsável é culpável, ou seja, reprovável, há ainda a obrigação de reparar o dano. Portanto deve o responsável ser ouvido em audiência a fim de avaliar se merece ser citado pelo débito e/ou apenado com a aplicação de multa.

52.A proposta de encaminhamento é: nos termos do artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa por ter realizado pagamentos de despesas sem a devida comprovação ou apresentadas de forma incompleta ou mediante documentos inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados) nos seguintes casos:

a) Pagamentos de despesas de oito participantes do evento denominado Copa do Mundo da República Tcheca, convênio CI 017/2015, no valor de R$ 141.956,60, sendo que apenas 4 (quatro) membros tiveram a devida comprovação de embarque e desembarque, evidenciando pagamento de despesas não realizadas. Tendo em vista constatação dessa natureza, o responsável deve apresentar todos os documentos de comprovação de embarque e desembarque das passagens aéreas e das despesas de hospedagem, traslado e alimentação de todos os participantes dos seguintes eventos cujas despesas aplicadas totais foram superiores a R$ 50.000,00: 1) CI 009/2013 - Panamericano de pista - Aguascalientes - México R$ 88.864,85 2) CI 015/2013 - Prova de estrada El Salvador - Feminino - R$ 52.168,23 3) CI 026/2013 - BMX Supercros World Cup Manchester - R$ 67.003,69 4) CI 027/2013 - Campeonato pan-americano de MTB Tucuman Argentina - R$ 69.366,85 5) CI 032/2013 - Campeonato pan-americano de estradas- Zacatecas -México R$ 102.289,15 6) CI 033/2013 BMX Supercros/Panamericano Santiago Del Estero-Argentina R$ 58.576,28 7) CI 037/2013 Copa Nordeste de Ciclismo de Estrada R$ 136.685,23 8) CI 040/2013 Campeonato Brasileiro de ciclismo Júniores R$ 94.990,75 9) CI 048/2013 Campeonato mundial de BMX Auckland R$ 67.475,12 10) CI 052/2013 Campeonato brasileiro de elite R$ 51.631,00 11) CI 056/2013 Campeonato brasileiro de MTB Country Olímpico (XCO) R$ 75.474,00 12) CI 058/2013 Copa do Mundo MTB Canadá R$ 67.600,70 13) CI 062/2013 Campeonato brasileiro de pista elite R$ 65.134,62 14) CI 064/2013 Campeonato mundial de MTB -África do Sul R$ 65.021,88 15) CI 065/2013 Copa Norte/Nordeste Ciclismo de Estrada R$ 205.189,30 16) CI 068/2013 BMX Supercross World Cup - Chula Vista R$ 68.722,51 17) FR 649/2013 Campeonato Mundial de Estradas R$ 104.150,66 18) CI 012/2014 Volta Ciclística São Paulo R$ 65.600,00 19) CI 023/2014 Campeonato Panamericano de MTB de Barbacena/MG R$ 108.911,00 20) CI 033/2014 Copa Nordeste de Ciclismo/Estrada R$ 130.044,31 21) CI 045/2014 Campeonato Mundial de Estradas - Ponferrada/Espanha R$ 123.372,57 22) CI 046/2014 Campeonato Brasileiro de Pista Elite R$ 56.824,22 23) CI 051/2014 Copa Norte/Nordeste de Ciclismo Macapá - R$ 178.114,92

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24) CI 052/2014 Campeonato Mundial de MTB - Hafjell/Noruega R$ 112.573,21 25) CI 065/2014 Copa do Mundo de Pista-Guadalajara/México R$ 53.641,09 26) CI 071/2014 World Cup Pista II - Londres R$ 56.315,48 27) CI 078/2014 Tour de San Luiz/Argentina R$ 50.823,78 28) CI 002/2015 Copa do Mundo de Pista Cali/Colômbia R$ 75.746,51 29) CI 010/2015 Campeonato Panamericano MTB Colômbia R$ 78.891,99 30) CI 012/2015 Copa do Mundo de BMX Manchester Inglaterra R$ 95.958,40 31) CI 014/2015 Volta Ciclística Internacional do Rio Grande do Sul R$ 86.278,95 32) CI 015/2015 Copa do Mundo de Ciclismo Papendal Holanda R$ 73.236,00 33) CI 017/2015 Copa do Mundo MTB da República Tcheca R$ 141.596,60 34) CI 019/2015 Campeonato Panamericano de Ciclismo Estrada R$ 108.609,10 35) CI 023/2015 Campeonato Panamericano BMX Santiago Chile R$ 71.156,30 36) CI 024/2015 Campeonato Brasileiro Ciclismo Estrada/Pista Jr.-Maringá R$ 106.665,53 37) CI 027/2015 Volta Ciclística Internacional do Paraná - Londrina R$ 229.627,50 b) As empresas A & A Nunes, Sport Training, Praxis Advocacia, ACE Consultoria Esportiva, Primage e Oliveira & Lima receberam por serviços de exame antidoping, treinamento de atletas, serviços advocatícios, consultoria esportiva, suporte digital e assessoria de contabilidade (convênio do CPB), respectivamente, mas não apresentaram comprovante de realização dos serviços nos seguintes valores: 1- Contrato da empresa A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda. visando à prestação de serviços antidoping, no total de R$ 210.820,77; 2- Contratos dos Convênios CI 65-62-56-50-40-37-19-17-16/2013 com a ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., no valor de R$ 40.637,05; 3) Contrato do Edital 004/2013, prestação de serviços advocatícios, da Praxis Advocacia no valor de R$ 100.000,00 (2014 a 8/2015); 4) Contrato do Edital 001/2013, Consultoria em ciência do esporte, assinado com a Sport Training, no valor de R$ 168.000,00; 5) Contrato 20131217/2013, manutenção mensal referente ao desenvolvimento de correções e melhorias no sistema online e website da CBCiclismo, Primage Agência Digital Ltda. ME, no valor de R$ 36.000,00; 6) Contrato sem número/2014, prestação de assessoria contábil para a CBCiclismo pagos pelo convênio de manutenção 160/2013 do Comitê Paraolímpico Brasileiro – CPB, da Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda., no valor de R$ 18.000,00; 7) Contrato de prestação de serviços de emissão de passagens e de outros serviços de suporte às viagens, celebrado com a Bality Viagens e Turismo (Savio V. C. Balestrero Viagens e Turismo – ME), com despesas no valor de R$ 1.697.957,85; 8) Contrato de prestação de serviços de emissão de passagens e de outros serviços de suporte às viagens, celebrado com a Marfly Viagens e Turismo Ltda., com despesas no valor de R$ 435.202,29.

IV - Achados não decorrentes da investigação de questões de auditoria

IV.1. Transferência de recursos para entidade sem autonomia financeira – Irregularidade grave

53.Situação encontrada: As fontes de receita da CBCiclismo provêm somente da contribuição das 27 (vinte e sete) federações de ciclismo filiadas, a maioria das quais não está em dia com as contribuições mensais de R$ 1.000,00 cada uma. Essa receita, a única certa entre aquelas declaradas no artigo 88 do Estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo, totaliza, se todas efetuarem o devido pagamento, R$ 324.000,00 por ano.

54.Tal valor, na prática, é irrisório (3,8%) perante o total dos repasses públicos que podem ser assim discriminados: 1- Caixa Econômica Federal R$ 5.000.000,00 no ano de 2014. 2- Comitê Olímpico Brasileiro R$ 3.010.415,93 no ano de 2014. 3- Comitê Paraolímpico Brasileiro R$ 533.998,92 no ano de 2014.

55.Comparando-se as receitas de possíveis R$ 324.000,00 por ano com as despesas próprias da

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entidade, tais como aluguel, telefone, luz, água, remunerações de funcionários e outras despesas de manutenção, as quais, durante o ano de 2014 totalizaram R$ 729.187,11 (peça 19), constata-se que a CBCiclismo é inviável financeiramente. Isto é, durante o ano de 2014, a CBCiclismo teve déficit aproximado de R$ 400.000.00. Nenhuma instituição privada resistiria a um déficit anual desse montante e seria, consequentemente, fechada.

56.Os critérios desse achado constam da Lei 9615/1998, art. 18, caput, inciso I. As evidências são o estatuto atualizado da CBCiclismo que relaciona as fontes de receitas da entidade no seu artigo 88 (peça 16, p. 26), bem como são evidências os repasses públicos do COB 2014 que totalizaram R$ 3.010.415,93 (peça 17) e os repasses do CPB 2014 que totalizaram R$ 533.998,92 (peça 18).

57.As causas da ocorrência do achado foram imputadas às deficiências de controle interno tanto do COB quanto do CPB que não observaram a norma contida no artigo 18, inciso I, da Lei 9.615/1998 que exige verificação da autonomia financeira do convenente para receber as transferências de recursos públicos. Os efeitos ou consequências do achado são prejuízos ao erário gerados por transferências ou pagamentos indevidos com efeitos reais sobre o orçamento público, haja vista que os recursos são desviados para finalidades diversas da pública.

58.Os responsáveis são o Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB desde 1/1/1995 e o Senhor Andrew George William Parsons, CPF 052.420.207-92, Presidente do CPB desde 24/2/2009 e a Confederação Brasileira de Ciclismo que recebeu recursos sem ter viabilidade financeira.

59.A conduta dos responsáveis é, resumidamente, a mesma. Isto é, os dois sabem que a CBCiclismo não apresenta viabilidade financeira, mas acordaram em transferir, repassar ou pagar despesas de uma instituição sem condições de atender à finalidade pública de fomentar a modalidade ciclística dos atletas do Brasil, haja vista que mais R$ 3.544.414,85 foram gastos em 2014 com apenas uma dezena de atletas da modalidade ciclismo. O nexo de causalidade também está evidenciado, haja vista que se não tivessem recebido ou transferido recursos da União para entidade privada sem autonomia financeira, então não seriam responsáveis. Ressalte-se também que não houve atos que pudessem retirar a ilicitude do ato praticado.

60.A culpabilidade foi comprovada pela matriz de responsabilização constante dos anexos deste relatório, constatando-se que não houve boa-fé dos responsáveis, os mesmos não consultaram órgãos técnicos antes de repassar os recursos públicos e é razoável afirmar que lhes era possível ter consciência da ilicitude do ato que praticaram. A conduta dos responsáveis é culpável, ou seja, reprovável, há ainda a obrigação de reparar o dano. Portanto, os responsáveis devem ser ouvidos em audiência a fim de avaliar se merecem ser condenados em débito e/ou apenados com a aplicação de multa.

61.A proposta de encaminhamento dessa irregularidade será realizada no processo da FOC (TC 019.708/2015-7) e é o seguinte: com fundamento na Lei 8.443/1992, art. 43, inciso II e art. 250, inciso IV do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor Carlos Arthur Nuzmann, CPF 007.994.247-49, Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, e Senhor Andrew George William Parsons, CPF 052.420.207,92, Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, bem como audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa em virtude de transferências de recursos financeiros à Confederação Brasileira de Ciclismo, no montante de R$ 3.010.415,93 (COB) e R$ 533.998,92 (CPB), respectivamente, durante o ano de 2014, contrariando ao disposto no artigo 18, inciso I, da Lei 9.615/1998. Ainda, com fundamento na Lei 8.443/1992, art. 43, inciso II e art. 250, inciso V do Regimento Interno do TCU, oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, para, no prazo de quinze dias, apresentar alegações em virtude de recebimento de transferências de recursos financeiros do Comitê Olímpico Brasileiro (R$ 3.010.415,93) e do Comitê Paraolímpico Brasileiro (R$ 533.998,92), durante o ano de 2014, contrariando ao disposto no artigo 18, inciso I, da Lei 9.615/1998.

V. Análise dos comentários dos gestores

62.Os achados desta auditoria são de grande impacto, principalmente porque podem inviabilizar os

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repasses do COB e do CPB à CBCiclismo. No entanto, os danos ao erário ou os prejuízos constatados nos achados são objeto de audiência prévia do gestor, sendo esse o motivo da desnecessidade de comentários do gestor.

VI. Conclusão

63.A conclusão da equipe funda-se na análise resultante das treze questões de auditoria. Constatou-se que mais de três milhões de reais por ano, que deveriam ser aplicados no estímulo da formação de novos atletas da modalidade ciclismo, estão sendo aplicados em despesas voltadas à manutenção da entidade ou que servem aos dirigentes da CBCiclismo.

64.Sobre as treze questões de auditoria constantes da matriz de planejamento, cinco delas produziram achados relevantes e oito produziram apenas impropriedades que, por isso mesmo, não são apresentadas neste relatório.

65.Entre as oito questões que não produziram achados relevantes pode-se dizer que o estatuto da entidade apresenta o conteúdo mínimo determinado no artigo 18-A da Lei 9.615/1998 e a eleição do seu dirigente máximo contempla os requisitos de alternância dos cargos, haja vista sua modificação ocorrida em março de 2015.

66.Entre as irregularidades consideradas graves, como desvio de finalidade, pagamento de despesas não comprovadas, direcionamento da licitação e movimentação dos recursos repassados em conta única para todos os convênios, tornou-se irrelevante relatar ausências de prévia pesquisa de preços, inexistência da devida publicidade do certame, não apresentação de três propostas válidas, eventual contratação por preços acima do mercado, planos de trabalho mal elaborados ou sobreposição de recursos entre COB e CPB.

67.Os seis achados de auditoria relevantes são os seguintes:

67.1. Manutenção de conta única para movimentação de recursos de diversos projetos, dificultando o controle dos gastos específicos de cada projeto

67.2. Direcionamento de licitação ou licitação montada

67.3. Desvio de finalidade na execução do objeto

67.4. Pagamento de despesas com desvio de finalidade

67.5. Inexistência de documentação na CBCiclismo para comprovação das despesas declaradas nas prestações de contas, documentação apresentada de forma incompleta ou comprovação de despesas mediante documentos de despesas inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados)

67.6. Transferência de recursos públicos para entidade sem autonomia financeira.

68.Os achados identificados nos subitens 67.1 e 67.6 deverão ser tratados no processo da FOC (TC 019.708/2015-7) e, por isso, não serão objeto de proposta de encaminhamento neste relatório.

69.O encaminhamento dado aos quatro achados restantes foi audiência dos responsáveis, oportunizando aos gestores de apresentarem comentários sobre as irregularidades encontradas e, ao mesmo tempo, apresentarem prévia defesa em face de um possível débito já anunciado nos termos das audiências. Nesse sentido, propõe-se audiência e respectivas oitivas quanto às irregularidades de (1) direcionamento ou licitação montada, (2) desvio de finalidade na execução do objeto, (3) pagamento de despesas com desvio de finalidade e (4) pagamentos de despesas sem comprovação ou documentação incompleta ou mediante documentos inválidos.

Proposta de encaminhamento

70.Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:

70.1. com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa pela contratação das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva (CNPJ 02.490.595/0001-36)

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e Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda. - ME, CNPJ 03.508.818/0001-08, com direcionamento das contratações ou licitações montadas, ou seja constatou-se que as contratações das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva, CNPJ 02.490.595/0001-36, e Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, não seguiram os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, os nomes das duas empresas convidadas já estavam escritos nas minutas de contrato previamente elaboradas aos respectivos editais. No caso específico da Práxis, além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente o publicado no edital, sendo que as duas outras empresas convidadas, nos dois convites analisados, foram proforma.

70.1.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva (CNPJ 02.490.595/0001-36), por ser detentora de contrato obtido com direcionamento da contratação ou licitação montada, ou seja, beneficiou-se da irregularidade praticada pelo Senhor José Luiz Vasconcellos que não seguiu aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, o nome da empresa convidada já estava escrito na minuta de contrato previamente elaborada ao respectivo edital. Além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente igual ao publicado no edital, sendo que as duas outras empresas convidadas foram proforma;

70.1.2 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da empresa Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda. - ME, CNPJ 03.508.818/0001-08, por ser detentora de contrato obtido com direcionamento da contratação ou licitação montada, ou seja, beneficiou-se da irregularidade praticada pelo Senhor José Luiz Vasconcellos que não seguiu aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, o nome da empresa convidada já estava escrito na minuta de contrato previamente elaborada ao respectivo edital, sendo que as duas outras empresas convidadas foram proforma;

70.2. com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos responsáveis, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem, nos eventos (1) Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo e (2)-Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo:

a) do Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB, por ter permitido transferência ou repasse de dinheiro público aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, permitiu pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos eventos;

b) do Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, por ter transferido ou repassado dinheiro público que foi aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, transferiu ou repassou à CBCiclismo recursos para pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos citados eventos;

c) do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, por ter pago com dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos citados eventos;

70.2.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, para, no prazo de quinze dias, apresentar alegações por ter, nos eventos (1) Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo e (2)-Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo, recebido dinheiro público do Comitê Olímpico Brasileiro.

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70.3. com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos responsáveis, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja:

a) o Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB, permitiu transferência ou repasse de dinheiro público aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, permitiu pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes às despesas sem finalidade pública realizadas pela CBCiclismo, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

b) o Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, por ter transferido ou repassado dinheiro público que foi aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, transferiu ou repassou à CBCiclismo recursos para pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa) que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

c) o Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, ter pago com dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa) que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

70.3.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, na pessoa do seu representante legal Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, para, no prazo de quinze dias, apresentar alegações por ter aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa) que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

70.4. Nos termos do artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, em solidariedade com as empresas abaixo relacionadas, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa por ter realizado pagamentos de despesas sem a devida comprovação ou apresentadas de forma incompleta ou mediante documentos inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados) nos seguintes casos:

a) Pagamentos de despesas de oito participantes do evento denominado Copa do Mundo da República Tcheca, convênio CI 017/2015, no valor de R$ 141.956,60, sendo que apenas 4 (quatro) membros tiveram a devida comprovação de embarque e desembarque, evidenciando pagamento de despesas não realizadas. Tendo em vista constatação dessa natureza, o responsável deve apresentar todos os documentos de comprovação de embarque e desembarque das passagens aéreas e das despesas de hospedagem, traslado e alimentação de todos os participantes dos seguintes eventos cujas despesas aplicadas foram superiores a R$ 50.000,00:

1) CI 009/2013 - Panamericano de pista - Aguascalientes - México R$ 88.864,85

2) CI 015/2013 - Prova de estrada El Salvador - Feminino - R$ 52.168,23

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3) CI 026/2013 - BMX Supercros World Cup Manchester - R$ 67.003,69

4) CI 027/2013 - Campeonato pan-americano de MTB Tucuman Argentina - R$ 69.366,85

5) CI 032/2013 - Campeonato pan-americano de estradas - Zacatecas -México R$ 102.289,15

6) CI 033/2013 BMX Supercros e Panamericano Santiago Del Estero - Argentina R$ 58.576,28

7) CI 037/2013 Copa Nordeste de Ciclismo de Estrada R$ 136.685,23

8) CI 040/2013 Campeonato Brasileiro de ciclismo Júniores R$ 94.990,75

9) CI 048/2013 Campeonato mundial de BMX Auckland R$ 67.475,12

10) CI 052/2013 Campeonato brasileiro de elite R$ 51.631,00

11) CI 056/2013 Campeonato brasileiro de MTB Country Olímpico (XCO) R$ 75.474,00

12) CI 058/2013 Copa do Mundo MTB Canadá R$ 67.600,70

13) CI 062/2013 Campeonato brasileiro de pista elite R$ 65.134,62

14) CI 064/2013 Campeonato mundial de MTB -África do Sul R$ 65.021,88

15) CI 065/2013 Copa Norte/Nordeste Ciclismo de Estrada R$ 205.189,30

16) CI 068/2013 BMX Supercross World Cup - Chula Vista R$ 68.722,51

17) FR 649/2013 Campeonato Mundial de Estradas R$ 104.150,66

18) CI 012/2014 Volta Ciclística São Paulo R$ 65.600,00

19) CI 023/2014 Campeonato Panamericano de MTB de Barbacena/MG R$ 108.911,00

20) CI 033/2014 Copa Nordeste de Ciclismo/Estrada R$ 130.044,31

21) CI 045/2014 Campeonato Mundial de Estradas - Ponferrada/Espanha R$ 123.372,57

22) CI 046/2014 Campeonato Brasileiro de Pista Elite R$ 56.824,22

23) CI 051/2014 Copa Norte/Nordeste de Ciclismo Macapá - R$ 178.114,92

24) CI 052/2014 Campeonato Mundial de MTB - Hafjell/Noruega R$ 112.573,21

25) CI 065/2014 Copa do Mundo de Pista-Guadalajara/México R$ 53.641,09

26) CI 071/2014 World Cup Pista II - Londres R$ 56.315,48

27) CI 078/2014 Tour de San Luiz/Argentina R$ 50.823,78

28) CI 002/2015 Copa do Mundo de Pista Cali/Colômbia R$ 75.746,51

29) CI 010/2015 Campeonato Panamericano MTB Colômbia R 78.891,99

30) CI 012/2015 Copa do Mundo de BMX Manchester Inglaterra R$ 95.958,40

31) CI 014/2015 Volta Ciclística Internacional do Rio Grande do Sul R$ 86.278,95

32) CI 015/2015 Copa do Mundo de Ciclismo Papendal Holanda R$ 73.236,00

33) CI 017/2015 Copa do Mundo MTB da República Tcheca R$ 141.596,60

34) CI 019/2015 Campeonato Panamericano de Ciclismo Estrada R$ 108.609,10

35) CI 023/2015 Campeonato Panamericano BMX Santiago Chile R$ 71.156,30

36) CI 024/2015 Campeonato Brasileiro Ciclismo de Estrada/Pista Júnior - Maringá R$ 106.665,53

37) CI 027/2015 Volta Ciclística Internacional do Paraná - Londrina R$ 229.627,50

b) As empresas A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda., ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., Sport Training Consultoria e Eventos Ltda., Primage Agência Digital Ltda. ME, Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda.; Praxis Consultoria e

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Informação Desportiva; Marfly Viagens e Turismo Ltda. e Bality Viagens e Turismo receberam por serviços de exame antidoping, treinamento de atletas, serviços advocatícios, consultoria esportiva, suporte digital, assessoria contábil (CPB), serviços advocatícios, fornecimento de passagens e outros serviços relativos às viagens de atletas e dirigentes da CBCiclismo, respectivamente, mas não apresentaram comprovante de realização dos serviços contratados. Por isso, o Senhor José Luiz Vasconcellos, deve apresentar razões de justificativa pelos pagamentos dos serviços dos contratos das empresas ouvidas nas oitivas abaixo. Ou seja, nos termos do artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, propõe-se oitiva das empresas:

70.4.1 A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda. CNPJ 10.552.118/0001-86, por receber R$ 210.820,77 em serviços de exame antidoping, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.2 ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., CNPJ 06.126.975/0001-47, por receber R$ 40.637,05 em serviços de treinamento de atletas, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.3 Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, por receber R$ 168.000,00 em serviços de consultoria esportiva, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.4 Primage Agência Digital Ltda. ME, CNPJ 09.337.043/0001-31, por receber R$ 36.000,00 em serviços de suporte digital, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.5 Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda., CNPJ 07.904.627/0001-16, por receber R$ 18.000,00 (Convênio CPB) em serviços de consultoria contábil, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.6 Praxis Consultoria e Informação Desportiva, CNPJ 02.490.595/0001-36, por receber R$ 100.000,00, no período de 1/2014 a 8/2015, em serviços de advocacia, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.7 Marfly Viagens e Turismo Ltda., CNPJ 00.920.881/0001-69, por receber R$ 435.202,29 em serviços de fornecimento de passagens, mas não apresentou todos os comprovantes de sua realização;

70.4.8 Bality Viagens e Turismo, CNPJ 07.936.673/0001-05, por receber R$ 1.697.957,85 em serviços de fornecimento de passagens, durante os anos de 2013 e 2014, mas não apresentou todos os comprovantes de sua realização;

3. Realizadas as audiências dos responsáveis e as oitivas da entidade mediante autorização

deste Relator, a Secex/PR elaborou o relatório a seguir transcrito e que integra os autos à peça 39, com cujas conclusões e encaminhamento manifestaram-se de acordo os dirigentes da unidade (peças 40/41):

INTRODUÇÃO

1. Cuidam os autos de auditoria com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte do ComitêOlímpico Brasileiro (COB) edo ComitêParalímpico Brasileiro(CPB). O trabalho foi realizado na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), sob coordenação da Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação), e contou com a participação de seis Secretarias de Controle Externo de âmbito estadual.

HISTÓRICO

2. A equipe de fiscalização, ao examinar o repasse de recursos públicos desses Comitês à Confederação Brasileira de Ciclismo durante os anos de 2013 a 2015, no montante total de R$ 7.349.152,61, consignou em seu relatório (peça 35) seis achados de auditoria, dos quais dois foram tratados no processo de consolidação da FOC, e quatro foram objeto de audiência dos responsáveis e oitiva das empresas envolvidas.

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2.1. Os indícios de irregularidades apurados referem-se a: (1) direcionamento ou licitação montada, (2) desvio de finalidade na execução do objeto, (3) pagamento de despesas com desvio de finalidade e (4) pagamentos de despesas sem comprovação ou documentação incompleta ou mediante documentos inválidos. As razões de justificativas apresentadas, bem como as respostas às oitivas realizadas, serão a seguir analisadas em tópicos distintos conforme o indício de irregularidade apurado.

EXAME TÉCNICO

I. Quanto aos indícios de direcionamento ou de licitação montada

3. O tópico se refere à seguinte proposta de encaminhamento do relatório de auditoria:

70.1 com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa pela contratação das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva (CNPJ 02.490.595/0001-36) e Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda. - ME, CNPJ 03.508.818/0001-08, com direcionamento das contratações ou licitações montadas, ou seja constatou-se que as contratações das empresas Práxis Consultoria e Informação Desportiva, CNPJ 02.490.595/0001-36, e Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, não seguiram os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, os nomes das duas empresas convidadas já estavam escritos nas minutas de contrato previamente elaboradas aos respectivos editais. No caso específico da Práxis, além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente o publicado no edital, sendo que as duas outras empresas convidadas, nos dois convites analisados, foram proforma.

70.1.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva (CNPJ 02.490.595/0001-36), por ser detentora de contrato obtido com direcionamento da contratação ou licitação montada, ou seja, beneficiou-se da irregularidade praticada pelo Senhor José Luiz Vasconcellos que não seguiu aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, o nome da empresa convidada já estava escrito na minuta de contrato previamente elaborada ao respectivo edital. Além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente igual ao publicado no edital, sendo que as duas outras empresas convidadas foram proforma;

70.1.2 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da empresa Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda. - ME, CNPJ 03.508.818/0001-08, por ser detentora de contrato obtido com direcionamento da contratação ou licitação montada, ou seja, beneficiou-se da irregularidade praticada pelo Senhor José Luiz Vasconcellos que não seguiu aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Isto é, o nome da empresa convidada já estava escrito na minuta de contrato previamente elaborada ao respectivo edital, sendo que as duas outras empresas convidadas foram proforma.

Razões de Justificativa

4. As razões de justificativas apresentadas pelo Senhor José Luiz Vasconcellos acerca desse item da audiência (peça 101, p.3-5) esclarecem que a minuta de contrato anexa ao edital foi preenchida com os dados das duas empresas apenas depois de concluídos os respectivos certames, ocasião em que não se suprimiu o termo “minuta de contrato”, equívoco que não caracterizaria a irregularidade apontada. Da mesma forma, a oferta de preços iguais aos estimados no certame tampouco seria prova de ocorrência de fraude.

5. A resposta à oitiva encaminhada à empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva acrescentou que a minuta de contrato anexa ao edital estava em branco originariamente (peça 73, p. 9-14), sendo preenchida com os dados da empresa vencedora apenas quando da assinatura do contrato, em 1/4/2013, sem que se procedesse à retirada do cabeçalho presente na minuta.

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6. Por sua vez, a empresa Sport Training, em resposta à oitiva (peça 70), negou que tivesse ocorrido qualquer tipo de direcionamento ou montagem da licitação com objetivo de beneficiá-la, mesmo porque foi vencida com preços significativamente inferiores ao estimado no Edital (R$ 168.000,00 anuais em vez de R$ 240.000,00).

6.1. Afirma ainda que “conquanto conste da minuta data anterior, é preciso esclarecer que tal documento só foi assinado pela Sport Training após a divulgação do processo licitatório”, quando foi convocada para essa finalidade pela entidade.

Análise

7. De fato, as evidências colhidas na auditoria não são por si só prova de ocorrência de fraude, não obstante causar estranheza a substituição de peça editalícia no processo por outra já preenchida pela empresa vencedora. Mesmo a utilização de papel timbrado da empresa no documento referente ao Anexo III pode indicar apenas aproveitamento do arquivo referente ao Edital recebido por meio eletrônico.

8. No entanto, na contratação da empresa Sport Training, consta que o contrato (que tem como cabeçalho os termos “Anexo II – Minuta de Contrato”), juntamente com a Carta de Credenciamento constante do Anexo III e a declaração constante do Anexo IV do Edital, teriam sido assinados em 18/1/2013, três dias da data constante das propostas das outras duas licitantes (peça 8, p. 42-49). No entanto, a proposta da própria empresa contratada é datada de 18/2/2013 (peça 8, p. 52-54). A adjudicação da licitação ocorreu em 25/2/2013 (peça 8, p. 22), data limite para apresentação de propostas, e o contrato teve sua vigência iniciada apenas a partir de 1/3/2013, conforme os termos editalícios e contratuais, respectivamente.

8.1. Além do fato de ter sido elaborado um termo de contrato com erros tanto no cabeçalho como na data que já veio aposta, que não obstante foi assinado por ambas as partes nessas condições, causa também estranheza a previsão de entrega dos convites “a partir do dia 10/01/2013 até 25/02/2013”, em vez uma data e hora específica. Junte-se a isso o fato de constar da ata da licitação 001/2013 (peça 8, p. 21) que as três licitantes convidadas “entregaram a documentação e se ausentaram”, sendo posteriormente abertos os envelopes. Devido a esse estranho comportamento das licitantes, de curiosamente não demonstraram interesse em conhecer do resultado da licitação em que participaram, não consta da ata de adjudicação a assinatura das licitantes.

8.2. Ainda corroborando os indícios de montagem de licitação, constatou-se que a Promo Total, uma das empresas convidadas, não obstante ter assinado sua proposta em Londrina/PR, é sediada na Rua Dias da Cruz, 679, casa 19, Meier, Rio de Janeiro/RJ, onde trabalha sua proprietária e signatária da proposta, Andrea D’Aiuto dos Santos Martins, como professora de educação física do ensino fundamental da prefeitura daquela cidade (peça 111). A empresa tem como atividade econômica “artes cênicas, espetáculos e atividades complementares não especificadas anteriormente”, e não possui página na internet ou referências a ela em sites de busca de empresas.

8.3. A outra empresa convidada, Psisport Consultoria Esportiva Ltda. ME, hoje Clínica e Saúde Multidisciplinar Integral Life Ltda – ME, tem como atividade econômica principal “atividades de psicologia e psicanálise”, e como atividades secundárias acupuntura, nutrição e fisioterapia. Consta como objeto social “clínica de psicologia, acupuntura MTC, sistêmica, auricular e micropuntura estética, nutrição clínica e esportiva. Fisioterapia preventiva e de reabilitação, atividades de treinamento e desenvolvimento profissional e gerencial, administração de recursos humanos, seleção de pessoal, psicologia do esporte, psicologia do trabalho, psicologia forense, saúde ocupacional e esportiva”. A despeito de tão extenso leque de atividades, não há o que se enquadre nos objetivos da contratação, voltada para o treinamento técnico da modalidade de ciclismo, para fins de preparação de atletas para competições nacionais e internacionais (peça 112).

8.4. Não obstante constar do cadastro do CNPJ como sediada em Londrina, no endereço residencial de seus dois sócios, as referências a Psisport na internet, exercendo exatamente as

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mesmas atividades acima descritas, mostram que a empresa está de fato localizada em Macaé/RJ. Não há referências na internet com o nome da clínica, exceto por parte dos sites que coletam dados de empresas do cadastro do CNPJ. O endereço cadastrado para a empresa e seus sócios (Rua Manoel Jacinto Correia, 43, bairro Santa Rita 1, Londrina/PR) não consta como existente pelo aplicativo Google Maps, enquanto que o endereço constante da proposta da licitante (Rua Alagoas, 1284, ap. 310, Londrina/PR) se refere a um prédio residencial. Consta ainda que o Sr. Jorge Luiz Ribeiro da Silva, sócio que assinou a proposta da empresa, trabalha desde 2006 na matriz da empresa MPE Montagens e Projetos Especiais S.A. (conhecida pelo seu envolvimento na Lava Jato, e por ter sido citada pelo TCU a devolver recursos devido a superfaturamento e fraude na garantia apresentada, nas obras do metrô de Salvador), localizada no Rio de Janeiro/RJ.

8.5. Encontra-se portanto presente um conjunto até mais amplo de evidências de montagem da licitação do que os que foram consignados no relatório de auditoria, de modo que não merecem acolhida as razões de justificativa apresentadas pelo responsável. Considerando ainda as evidências de duplo pagamento por serviços que já estavam sendo prestados, conforme análise nos itens 20 a 21.5 abaixo, propõe-se que o responsável seja citado para efetuar o ressarcimento do débito correspondente à integralidade dos pagamentos irregularmente realizados, ou apresentar alegações de defesa para as irregularidades apuradas.

II. Quanto aos indícios de desvio de finalidade na execução do objeto e no pagamento de

despesas

9. As duas irregularidades seguintes de que trata o parágrafo 2.1 supra, referentes aos itens 70.2 e 70.3 do relatório de auditoria, foram analisadas em conjunto, por tratarem de aspectos relativos ao desvio de finalidade, como atesta a similaridade do teor das razões de justificativa apresentadas para os respectivos itens de audiência.

9.1. Assim, o presente tópico se refere às seguintes propostas de encaminhamento do relatório de auditoria:

70.2 com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos responsáveis, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem, nos eventos (1) Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo e (2)-Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo:

a) do Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB, por ter permitido transferência ou repasse de dinheiro público aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, permitiu pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos eventos;

b) do Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, por ter transferido ou repassado dinheiro público que foi aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, transferiu ou repassou à CBCiclismo recursos para pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos citados eventos;

c) do Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, por ter pago com dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes aos citados eventos;

70.2.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, para, no prazo de quinze dias, apresentar alegações por ter, nos eventos (1) Reunião Geral de Federações, convênio CI 004/2013, no valor de R$ 152.347,55, realizado em 15/1/2013, em Curitiba/PR, com o objetivo de eleger o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo e (2)Assembleia Geral Ordinária, convênio CI 007/2015, no valor de 165.595,64, realizado em 15/3/2015, em São Paulo/SP, com o objetivo de mudar o estatuto da Confederação Brasileira de Ciclismo, recebido dinheiro público do Comitê Olímpico Brasileiro.

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70.3. com fundamento no artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência dos responsáveis, para, no prazo de quinze dias, apresentarem razões de justificativa por terem aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja:

a) o Senhor Carlos Arthur Nuzman, CPF 007.994.247-49, Presidente do COB, permitiu transferência ou repasse de dinheiro público aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, permitiu pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas referentes às despesas sem finalidade pública realizadas pela CBCiclismo, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

b) o Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire, CPF 812.927.327-68, responsável pelo repasse do COB, por ter transferido ou repassado dinheiro público que foi aplicado em objeto sem finalidade pública, ou seja, transferiu ou repassou à CBCiclismo recursos para pagamento de despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa) que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

c) o Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, Presidente da CBCiclismo, ter pago com dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa) que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

70.3.1 com fundamento no artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo, CNPJ 51.936.706/0001-09, na pessoa do seu representante legal Senhor José Luiz Vasconcellos, CPF 367.628.309-00, para, no prazo de quinze dias, apresentar alegações por ter aplicado dinheiro público em objeto sem finalidade pública, ou seja, pagou despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, segurança e outras despesas, durante os exercícios de 2013 (R$ 335.012,85) e 2014 (R$ 206.151,13), em convênio de fomento da modalidade, a título de despesas de passagens aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior. No entanto, não há nenhum normativo ou autorização que comporte esse tipo de despesa que não se coadunam com estímulo aos atletas do ciclismo;

Razões de Justificativa do Senhor Carlos Arthur Nuzman

10.O Senhor Carlos Arthur Nuzman, em suas razões de justificativa (peça 90), esclarece, preliminarmente, que as atividades dos dirigentes de uma confederação filiada ao COB, na gestão da respectiva entidade, são elegíveis quanto ao recebimento de verbas descentralizadas na forma da Lei Agnelo-Piva e sua regulamentação, pois tratam-se de funções eminentemente voltadas ao fomento e desenvolvimento da da modalidade, imprescindíveis à própria organização das competições e manutenção das atividades dos atletas.

10.1. Acrescenta que as assembleias são realizadas justamente pelo atendimento do que exige a Lei Geral do Esporte às entidades que recebem recursos da União, e que as entidades esportivas guardam autonomia quanto à destinação dos recursos recebidos, em observância ao princípio da autonomia desportiva insculpido no art. 217 da Constituição Federal, sendo que o próprio normativo do COB (IN 01/2014) estabeleceria que as despesas relacionadas à gestão da entidade como fomento da modalidade esportiva como regulares.

10.2. Quanto às questões apontadas no relatório de fiscalização, o responsável ressalta que o Decreto 7.984/2013, que veio regulamentar a Lei Agnelo-Piva, remete-se ao fomento das práticas

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desportivas, que teria o sentido de estimular o desenvolvimento das atividades relacionadas com o esporte específico de cada categoria, o que perpassaria as atividades desenvolvidas pelo dirigente da entidade esportiva, no estrito cumprimento de sua função de representante daquela modalidade, pois a forma organizativa de uma entidade esportiva é fundamental para o fomento daquela modalidade.

10.3. O responsável alega não vislumbrar proibição na legislação para o custeio de tais atividades, ao contrário: a realização de reuniões e assembleias da espécie constituiria exigência estatutária, essencial inclusive para o recebimento de recursos da Lei Agnelo Piva, nos termos da IN COB 1/2014. Como as entidades têm a obrigação de comprovar a licitude dos mandatos de seus dirigentes para se habilitarem ao recebimento de recursos, a eleição de diretoria e alteração estatutária da CBCiclismo estariam em plena consonância com o significado de fomento da atividade esportiva.

10.4. Da mesma forma, também fariam parte do fomento da atividade esportiva o emprego de despesas a título de passagem aéreas, hospedagem, alimentação, transporte e segurança no Brasil e no exterior dos representantes legais e demais integrantes da entidade em atividades relacionadas à modalidade esportiva. Ressalta que desde o início da utilização da Lei Agnelo Piva faz-se uso dessa verba para custeio dessas atividades, nunca tendo recebido qualquer crítica do TCU a respeito, como corroboram inúmeros acórdãos prolatados por esta Corte que analisaram a gestão financeira do COB.

10.5. Por fim, o responsável salienta a inexistência de qualquer ação comissiva ou omissiva do signatário que possa ser considerada como uma permissão para a prática dos atos supostamente irregulares, de modo que não haveria fundamentação legal para que sequer fosse ouvido em audiência.

Razões de Justificativa do Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire

11.O Senhor Marcus Vinícius Simões de Freire esclarece, em suas razões de justificativa (peça 91), que “o fomento de uma atividade esportiva perpassa as atividades desenvolvidas pelo dirigente da entidade esportiva, no estrito cumprimento de sua função de representante daquela modalidade”. Salienta que no caso concreto, as atividades exercidas são estritamente institucionais e objetivaram a organização da própria entidade.

11.1. Acrescenta que os gastos em questão “são demonstrados na prestação de contas como essenciais ao fomento da modalidade: reuniões com a Federação Internacional (União Ciclística Internacional - UCI), com o Ministério do Esporte, com entidades estaduais ou municipais objetivando questões de caráter técnico, implantar projetos e ampliar a prática esportiva local. Não há, portanto, que se falar em despesas que não se coadunam com estimulo aos atletas para o ciclismo, pois o fomento da atividade esportiva é muito mais amplo que tal estímulo stricto

sensu”.

Razões de Justificativa do Senhor José Luiz Vasconcellos

12.O Senhor José Luiz Vasconcellos, em suas razões de justificativa (peça 101, p. 5-12), acrescenta aos esclarecimentos anteriores que “os dois eventos não se limitaram ao apontado no Relatório da Auditoria (eleição e alteração estatutária). Visando otimizar custos a entidade promoveu simultaneamente a essas duas assembleias a assembleia anual de prestação de contas, quando todos os recursos, públicos e privados da própria entidade, são apresentados às federações filiadas com parecer do Conselho Fiscal e da auditoria”.

12.1. Destaca ainda que, para atingir as finalidades a que se destina e aplicar adequadamente os recursos provenientes das diversas fontes públicas a que faz jus, a entidade precisa ter sua representação jurídica adequada e estar presente nos diversos eventos no Brasil e exterior. Assim, o fomento às práticas desportivas e estrutura a que se refere tal repasse, deve estar relacionada não apenas à prática em si, mas ao conjunto de elementos que visa atender esta prática, como treinamentos e estrutura administrativa da entidade.

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Oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo

13. Por fim, a oitiva encaminhada à Confederação Brasileira de Ciclismo recebeu resposta (peça 100) de mesmo teor das razões de justificativa apresentadas pelo seu presidente, nada agregando, portanto, ao que já foi acima exposto.

Análise

14.Observa-se que as justificativas apresentadas pelos responsáveis centram-se na tese de que o termo “fomento, desenvolvimento e manutenção do desporto”, constante do inciso I do art. 21 do Decreto 7.984/2013, que regulamenta a Lei Agnelo-Piva, deve ser entendido em seu sentido mais amplo, de modo a abrigar qualquer atividade relacionada à modalidade esportiva de que se incumbe a respectiva Confederação.

14.1. No entanto, o caput do citado dispositivo vincula a aplicação dos recursos em questão a “programas e projetos” a que se referem cada um dos seus incisos. Desse modo, o inciso I implica que os recursos serão aplicados a “programas e projetos de fomento do desporto”, a “programas e projetos de desenvolvimento do desporto” e a “programas e projetos de manutenção do desporto”, assim como o inciso II exige que os recursos sejam aplicados em “programas e projetos de formação de recursos humanos, o inciso III em “programas e projetos de preparação técnica, manutenção e locomoção e atletas”, e o inciso IV em “programas e projetos de participação em eventos esportivos”.

14.2. O parágrafo único do mesmo artigo procura trazer ainda maior clareza ao significado de cada um desses incisos, sendo que, no caso do primeiro, considera que o fomento, desenvolvimento e manutenção do desporto equivale à promoção das práticas desportivas de que trata o art. 217 da Constituição Federal, ou seja, as práticas desportivas formais e as não-formais, como direito de cada um.

14.3. Assim, a aplicação de recursos da Lei Agnelo-Piva está vinculada à existência de programas e projetos de fomento, desenvolvimento e manutenção das práticas desportivas formais e não-formais. Os responsáveis, contudo, extraíram desse contexto apenas o termo “fomento” para, de forma isolada do restante do dispositivo legal, adotar o seu sentido mais amplo, fazendo-o abarcar atividades como a realização de assembleias e reuniões, para finalidades como escolha do presidente da entidade ou aprovação do seu estatuto, como se fossem equivalentes à execução de programas e projetos de fomento de práticas desportivas.

14.4. Não se questiona a importância dessas atividades para a organização do esporte, e inclusive para o atendimento de dispositivos da Lei Geral do Esporte, mas sim a utilização de recursos da Lei Agnelo-Piva para atividades internas à entidade, em vez da execução de programas e projetos finalísticos, principal preocupação que sobressai da Lei Agnelo-Piva e do Decreto que a regulamenta. Considerando que essa lei foi saudada como “uma fonte de renda perene para investir em projetos visando à preparação dos atletas e à participação nas mais diversas competições nacionais e internacionais, além da aquisição de equipamentos e da contratação de pessoal especializado, como treinadores e profissionais de alto gabarito” (www.brasil2016.gov.br/pt-br/incentivo-ao-esporte/lei-agnelo-piva), é nítido que refoge à real intenção do legislador a adoção de interpretações tão extensivas.

14.5. A permissividade demonstrada pelo COB na aplicação pelas confederações desportivas dos recursos provenientes da Lei Agnelo-Piva por ele repassados acaba se mostrando prejudical para o alcance dos objetivos finalísticos das confederações, que deveriam ser priorizados e incentivados por aquele Comitê. Considerando que a CBCiclismo, nos anos de 2013 e 2014, deu apoio financeiro para a participação em 58 eventos desportivos, a um custo médio de R$ 49.651,16 por evento, o custo dessas duas reuniões, caso bancado com recursos próprios da entidade, teria possibilitado a participação de atletas em seis outros eventos desportivos.

14.6. Quanto à afirmação de que tal posicionamento não encontra guarida na Instrução Normativa n. 1, de 19/12/2014, do próprio COB, anexada pelo Sr. Carlos Arthur Nuzman às suas razões de justificativa, observa-se que os seus itens 26 e 27, referentes ao capítulo “Despesas de Viagem e Diárias”, fazem referência apenas a eventos esportivos, e em nenhum momento a reuniões de

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dirigentes. Já o item 31 da IN inclui como fomento da modalidade a possibilidade de realização de assembleias (item 31., subitem a.2.1) com recursos oriundos da Lei 9.615/98 (Lei Geral do Esporte, também conhecida como Lei Pelé), que todavia prevê outras fontes de financiamento além da instituída pela Lei Agnelo-Piva, ora em questão.

14.7.Há que se considerar, no entanto, que seria necessário efetuar uma interpretação sistêmica da IN-COB 01/2014, do COB, à luz do que dispõe o §3º do art. 56 do aludido diploma legal, para que se concluísse que tal permissão não deveria se estender aos recursos de que trata o inciso VI do mesmo dispositivo. Considerando que uma instrução normativa tem por função especificar procedimentos administrativos condizentes com o ordenamento jurídico vigente, desincumbindo a atividade operacional das dificuldades inerentes à hermenêutica jurídica, não se mostra razoável o apenamento de gestores que atuaram em conformidade com normativos internos da entidade a que estão vinculados.

14.8. A questão se expande, então, para a legalidade das disposições constantes da IN-COB 01/2014. Por se tratar, todavia, de assunto que extrapola o que foi questionado no presente item da audiência, seu desenvolvimento será objeto de tópico específico mais adiante nesta instrução.

14.9. Assim, não obstante diversos dos posicionamentos defendidos pelos responsáveis atentarem contra a devida interpretação da legislação que cerca a matéria, os atos questionados se mostram amparados por normativos internos do Comitê Olímpico Brasileiro, de modo que se entendem acolhidas as razões de justificativas apresentadas pelos responsáveis ouvidos acerca da irregularidade, assim como descaracterizada a necessidade de ressarcimento ao COB pela realização de despesas por ele próprio aprovadas.

III. Quanto aos pagamentos de despesas sem comprovação ou documentação incompleta ou

mediante documentos inválidos

15.A irregularidade se refere ao seguinte encaminhamento do relatório de auditoria:

70.4 Nos termos do artigo 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 e do artigo 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, audiência do Senhor José Luiz Vasconcellos, em solidariedade com as empresas abaixo relacionadas, Presidente da CBCiclismo, para, no prazo de quinze dias, apresentar razões de justificativa por ter realizado pagamentos de despesas sem a devida comprovação ou apresentadas de forma incompleta ou mediante documentos inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados) nos seguintes casos:

a) Pagamentos de despesas de oito participantes do evento denominado Copa do Mundo da República Tcheca, convênio CI 017/2015, no valor de R$ 141.956,60, sendo que apenas 4 (quatro) membros tiveram a devida comprovação de embarque e desembarque, evidenciando pagamento de despesas não realizadas. Tendo em vista constatação dessa natureza, o responsável deve apresentar todos os documentos de comprovação de embarque e desembarque das passagens aéreas e das despesas de hospedagem, traslado e alimentação de todos os participantes dos seguintes eventos cujas despesas aplicadas foram superiores a R$ 50.000,00:

1) CI 009/2013 - Panamericano de pista - Aguascalientes - México R$ 88.864,85

2) CI 015/2013 - Prova de estrada El Salvador - Feminino - R$ 52.168,23

3) CI 026/2013 - BMX Supercros World Cup Manchester - R$ 67.003,69

4) CI 027/2013 - Campeonato pan-americano de MTB Tucuman Argentina - R$ 69.366,85

5) CI 032/2013 - Campeonato pan-americano de estradas - Zacatecas -México R$ 102.289,15

6) CI 033/2013 BMX Supercros e Panamericano Santiago Del Estero - Argentina R$ 58.576,28

7) CI 037/2013 Copa Nordeste de Ciclismo de Estrada R$ 136.685,23

8) CI 040/2013 Campeonato Brasileiro de ciclismo Júniores R$ 94.990,75

9) CI 048/2013 Campeonato mundial de BMX Auckland R$ 67.475,12

10) CI 052/2013 Campeonato brasileiro de elite R$ 51.631,00

11) CI 056/2013 Campeonato brasileiro de MTB Country Olímpico (XCO) R$ 75.474,00

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12) CI 058/2013 Copa do Mundo MTB Canadá R$ 67.600,70

13) CI 062/2013 Campeonato brasileiro de pista elite R$ 65.134,62

14) CI 064/2013 Campeonato mundial de MTB -África do Sul R$ 65.021,88

15) CI 065/2013 Copa Norte/Nordeste Ciclismo de Estrada R$ 205.189,30

16) CI 068/2013 BMX Supercross World Cup - Chula Vista R$ 68.722,51

17) FR 649/2013 Campeonato Mundial de Estradas R$ 104.150,66

18) CI 012/2014 Volta Ciclística São Paulo R$ 65.600,00

19) CI 023/2014 Campeonato Panamericano de MTB de Barbacena/MG R$ 108.911,00

20) CI 033/2014 Copa Nordeste de Ciclismo/Estrada R$ 130.044,31

21) CI 045/2014 Campeonato Mundial de Estradas - Ponferrada/Espanha R$ 123.372,57

22) CI 046/2014 Campeonato Brasileiro de Pista Elite R$ 56.824,22

23) CI 051/2014 Copa Norte/Nordeste de Ciclismo Macapá - R$ 178.114,92

24) CI 052/2014 Campeonato Mundial de MTB - Hafjell/Noruega R$ 112.573,21

25) CI 065/2014 Copa do Mundo de Pista-Guadalajara/México R$ 53.641,09

26) CI 071/2014 World Cup Pista II - Londres R$ 56.315,48

27) CI 078/2014 Tour de San Luiz/Argentina R$ 50.823,78

28) CI 002/2015 Copa do Mundo de Pista Cali/Colômbia R$ 75.746,51

29) CI 010/2015 Campeonato Panamericano MTB Colômbia R 78.891,99

30) CI 012/2015 Copa do Mundo de BMX Manchester Inglaterra R$ 95.958,40

31) CI 014/2015 Volta Ciclística Internacional do Rio Grande do Sul R$ 86.278,95

32) CI 015/2015 Copa do Mundo de Ciclismo Papendal Holanda R$ 73.236,00

33) CI 017/2015 Copa do Mundo MTB da República Tcheca R$ 141.596,60

34) CI 019/2015 Campeonato Panamericano de Ciclismo Estrada R$ 108.609,10

35) CI 023/2015 Campeonato Panamericano BMX Santiago Chile R$ 71.156,30

36) CI 024/2015 Campeonato Brasileiro Ciclismo de Estrada/Pista Júnior - Maringá R$ 106.665,53

37) CI 027/2015 Volta Ciclística Internacional do Paraná - Londrina R$ 229.627,50

b) As empresas A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda., ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., Sport Training Consultoria e Eventos Ltda., Primage Agência Digital Ltda. ME, Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda.; Praxis Consultoria e Informação Desportiva; Marfly Viagens e Turismo Ltda. e Bality Viagens e Turismo receberam por serviços de exame antidoping, treinamento de atletas, serviços advocatícios, consultoria esportiva, suporte digital, assessoria contábil (CPB), serviços advocatícios, fornecimento de passagens e outros serviços relativos às viagens de atletas e dirigentes da CBCiclismo, respectivamente, mas não apresentaram comprovante de realização dos serviços contratados. Por isso, o Senhor José Luiz Vasconcellos, deve apresentar razões de justificativa pelos pagamentos dos serviços dos contratos das empresas ouvidas nas oitivas abaixo. Ou seja, nos termos do artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, propõe-se oitiva das empresas:

70.4.1 A & A Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos Ltda. CNPJ 10.552.118/0001-86, por receber R$ 210.820,77 em serviços de exame antidoping, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.2 ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda., CNPJ 06.126.975/0001-47, por receber R$ 40.637,05 em serviços de treinamento de atletas, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.3 Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, por receber R$ 168.000,00 em serviços de consultoria esportiva, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.4 Primage Agência Digital Ltda. ME, CNPJ 09.337.043/0001-31, por receber R$ 36.000,00 em serviços de suporte digital, mas não apresentou comprovantesde sua realização;

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70.4.3 Sport Training Consultoria e Eventos, CNPJ 03.508.818/0001-08, por receber R$ 168.000,00 em serviços de consultoria esportiva, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.4 Primage Agência Digital Ltda. ME, CNPJ 09.337.043/0001-31, por receber R$ 36.000,00 em serviços de suporte digital, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.5 Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda., CNPJ 07.904.627/0001-16, por receber R$ 18.000,00 (Convênio CPB) em serviços de consultoria contábil, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.6 Praxis Consultoria e Informação Desportiva, CNPJ 02.490.595/0001-36, por receber R$ 100.000,00, no período de 1/2014 a 8/2015, em serviços de advocacia, mas não apresentou comprovantes de sua realização;

70.4.7 Marfly Viagens e Turismo Ltda., CNPJ 00.920.881/0001-69, por receber R$ 435.202,29 em serviços de fornecimento de passagens, mas não apresentou todos os comprovantes de sua realização;

70.4.8 Bality Viagens e Turismo, CNPJ 07.936.673/0001-05, por receber R$ 1.697.957,85 em serviços de fornecimento de passagens, durante os anos de 2013 e 2014, mas não apresentou todos os comprovantes de sua realização

Análise das Razões de Justificativa do Senhor José Luiz Vasconcellos

16.O Senhor José Luiz Vasconcellos afirma ter encaminhado em anexo às suas razões de justificativa os comprovantes das despesas impugadas (peça 101, p. 13), mas todavia não o fez.

Análise da Oitiva da empresa A. A. Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos

17.A empresa A. A. Nunes Administração de Empreendimentos Esportivos, nome de fantasia “No Doping”, em resposta à oitiva (peça 72), esclareceu ser responsável pelas atividades relativas ao controle de “doping” junto à CBCiclismo há vários anos, e que os pagamentos referem-se à sua atuação em sete eventos esportivos promovidos pela Confederação. Apresentou em anexo as notas fiscais emitidas e os comprovantes de pagamento de taxas e envio de amostras ao exterior, bem como os resultados dos exames efetuados para quatro dos sete eventos.

18.A despeito do formulário padrão apresentado em conjunto com a nota fiscal possuir nove itens para discriminação dos serviços e materiais prestados/utilizados, eles são invariavelmente deixados em branco, sendo apresentados apenas o total dos serviços prestados, impossibilitando com isso a verificação da composição dos custos desses serviços, cujo custo por exame realizado apresenta variações conforme o evento.

18.1. De todo modo, considerando que foram devidamente apresentadas as notas fiscais pelos serviços prestados, entende-se satisfatoriamente esclarecido

Análise da oitiva da empresa ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda

19.A empresa ACE Assessoria e Consultoria Esportiva S/S Ltda, em resposta à oitiva (peça 87), apresentou farta documentação relativa aos serviços prestados, comprovando a regularidade dos respectivos pagamentos.

Análise da Oitiva da empresa Editora Sport Training Consultoria e Eventos

20.A empresa Editora Sport Training Consultoria e Eventos, nome de fantasia da empresa Sport Training – Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda., em resposta à oitiva, apresentou as notas fiscais dos serviços prestados (peça 70, p. 64-75), cronogramas trimestrais das atividades a serem desenvolvidas (peça 70, p. 76-88) e relatório técnico anual (peça 70, p. 89-110 e peça 71).

21.A contratação da empresa tinha por objeto essencialmente a alocação de um professor de educação física com especialização em treinamento desportivo, durante 20 horas semanais, além da atividade de planejamento das ações relacionadas com a preparação de atletas ao longo do ano, que ocuparia, depreende-se, o restante das 100 horas mensais contratadas junto à empresa (peça 70, p. 50).

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21.1. Constam das considerações finais de todos os relatórios de prestação de serviço de consultoria científica a informação de que a empresa é representada pelo prof. Dr. Antônio Carlos Gomes e seu Coordenador, Francisco Cusco y Florencio, que assumem total responsabilidade pela qualidade do desenvolvimento dos trabalhos propostos.

21.2. O relatório anual de atividades inicia com a informação de que as ações foram desenvolvidas no Departamento de Alto Rendimento da CBCiclismo, que teria sido criado por sugestão da Sport Training, para concentrar as ações relacionadas aos projetos da Seleção de Ciclismo nas disciplinas olímpicas, interagindo com outros Departamentos já existentes na Confederação como Financeiro, Técnico, Marketing e a Presidência (peça 70, p. 89).

21.3. Ressalta, na sequência, que o profissional indicado em contrato para desempenhar as funções nele previstas foi o “Gestor Francisco Florêncio, que atuou na Confederação no Departamento de Alto Rendimento, e será citado nas ações ao longo desse Relatório Anual ora como Gestor de Rendimento ou Diretor de Alto Rendimento da Confederação, sejam nas matérias vinculadas como evidências, Atas de reunião em anexo entre outras citações”.

21.4. No entanto, foram colhidas diversas evidências na internet de que tal departamento já existia em meados de 2012, antes mesmo da licitação e contratação da empresa, e tinha como titular o próprio Sr. Francisco Cusco y Florêncio (peças 108 a 110).

21.5. Assim, os indícios de montagem de licitação discutidos anteriormente no parágrafo 9 teriam por objetivo a contratação de empresa apenas para simular a prestação de serviços que já eram realizados pela Diretoria de Alto Rendimento da CBCiclismo. Com isso, fica evidenciada a existência de execução fraudulenta dos recursos envolvidos na presente contratação, ensejando citação dos responsáveis envolvidos na licitação, contratação, pagamento e execução dos serviços contratados.

Análise da Oitiva da empresa Primage Agência Digital Ltda.

22.A empresa Primage Agência Digital Ltda., em resposta à oitiva (peça 87), apresentou descrição detalhada dos serviços prestados e cópias das respectivas notas fiscais, ressalvando que o valor do contrato era de R$ 24 mil, e não R$ 36 mil como consta do relatório de auditoria. Mesmo que alguns dos serviços desenvolvidos, como a nova página da entidade na internet, não foram implementadas devido a problemas no servidor contratado pela CBCiclismo, ainda pendente de solução, entende-se devidamente comprovada a regularidade dos pagamentos realizados à empresa.

Análise da Oitiva da empresa Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda.

23.A empresa Oliveira & Lima Contadores Associados Ltda., em resposta à oitiva (peça 79), apresentou descrição dos serviços realizados e comprovação de entrega de declarações de imposto de renda e de débitos e créditos junto à Receita Federal, de modo que se entende devidamente comprovada a regularidade dos pagamentos realizados à empresa.

Análise da Oitiva da empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva

24.A empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva, em resposta a este item da oitiva, não apresentou notas fiscais para os pagamentos recebidos, limitando-se a comprovar os serviços prestados por meio de cópias de mensagens enviadas por e-mail (peças 76, p.6-36, 77 e 78), nas quais o presidente da empresa assina na qualidade de Assessor Jurídico da CBCiclismo.

24.1. Conforme já assinalado anteriormente no parágrafo 8, e similarmente ao observado em relação à empresa Sport Training, a Práxis foi contratada apenas para viabilizar a realização de pagamentos com recursos da Lei Agnelo/Piva a pessoa dos próprios quadros da entidade. Desse modo, mostra-se igualmente cabível a citação dos responsáveis envolvidos na licitação, contratação, pagamento e execução dos serviços contratados.

Análise da Oitiva das empresas Marfly Viagens e Turismo Ltda e Bality Viagens e Turismo

25. As empresas Marfly Viagens e Turismo Ltda e Bality Viagens e Turismo, em resposta à oitiva (peças 61 e 84-85, respectivamente), encaminharam detalhamento das despesas e comprovantes de faturamento das passagens e demais serviços prestados, relativos a hospedagem, traslado e

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alimentação de participantes dos eventos esportivos patrocinados pela entidade, sem contudo apresentar os comprovantes de embarque solicitados. No caso das passagens internacionais, contudo, há indicação de que os trechos foram de fatos utilizados (“status: used”).

26. Observa-se que não é prática da entidade e tampouco das empresas que prestam serviços de fornecimento de passagens a comprovação do embarque do passageiro. Há, contudo, exigência expressa nesse sentido no Anexo A da IN-COB 01/2014, nos seguintes termos:

3. Com relação à aquisição de passagens aéreas efetuada diretamente pelas Entidades filiadas, com recursos da Lei n° 9.615/98 é indispensável que os bilhetes utilizados e os cupons de embarque sejam enviados ao COB ou anexados às faturas de aquisição das passagens aéreas, apresentadas na prestação de contas (Formulário n.° 4), juntamente com o Relatório Técnico de Participação em Evento ou o Relatório de Viagem e cópia do Formulário n.° 2, que deu origem ao pedido de aquisição de passagem.

26.1. Há que se considerar, contudo, que alguns aspectos relevantes distinguem a situação aqui observada com a exigência de prestação de contas desses gastos na Administração pública, em que o cartão de embarque ou comprovante equivalente constitui ao mesmo tempo prova da realização de trabalho externo e controle das diárias percebidas pelo servidor. No presente caso, em que os passageiros são atletas beneficiados com o apoio da entidade, para participação em competições de seu próprio interesse, e não há percepção de diárias, entende-se que a inexistência de controles sobre os cartões de embarque constitui falha de caráter meramente formal, sobre a qual cabe dar ciência COB e à CBCiclismo ao para que tomem medidas para fazer cumprir o que determina a IN-COB 01/2014 sobre a matéria.

OUTRAS CONSTATAÇÕES

27. Os documentos acostados aos autos pela equipe de auditoria mostram que as restrições para a aplicação dos recursos oriundos da Lei Agnelo-Piva, impostas pelo §3º do art. 56 da Lei 9.615/1998, foram desrespeitadas também em outras ocasiões, além das que já foram objeto de análise no item 14 supra, referentes às despesas com realização de eventos.

27.1. O referido dispositivo, cuja redação atual é dada pela Lei n. 13.155/2015, estabelece que esses recursos “serão exclusiva e integralmente aplicados em programas e projetos de fomento, desenvolvimento e manutenção do desporto, de formação de recursos humanos, de preparação técnica, manutenção e locomoção de atletas, bem como sua participação em eventos desportivos” (grifo nosso).

27.2. Conforme bem explanado no Manual de Gestão de Projetos do TCU, seção I, no tópico “Diferença entre Projeto e Atividade Funcional”, tem-se que “projetos são empreendimentos finitos que têm objetivos claramente definidos em função de um problema, uma oportunidade ou um interesse, de determinada pessoa ou organização, para desenvolver produtos únicos, sejam bens ou serviços”, enquanto que “as atividades funcionais, que fazem parte da rotina da organização, são processos de trabalho que se repetem continuamente. Elas se realizam sempre do mesmo modo com pequenas variações ao longo do tempo”.

27.3. Também elucidativo para essa questão é o Manual Técnico de Orçamento, elaborado pela Secretaria de Orçamento Federal, que divide as ações orçamentárias em atividade – definida como “instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à manutenção da ação de Governo” – e projeto – “instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo” (sublinhado nosso).

27.4. É evidente, portanto, que o cuidado do legislador em se destinar recursos especificamente a programas e projetos demonstra inequívoca intenção de evitar que esses recursos sejam despendidos em atividades de rotina e de manutenção das entidades responsáveis por sua gestão,

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possibilitando seu direcionamento para o atendimento de ações finalísticas que visem ao aperfeiçoamento do desporto.

27.5. No entanto, o que se observa da despesa executada pela CBCiclismo, no que se refere aos programas e projetos de desenvolvimento e manutenção do desporto, é que esses recursos são aplicados exclusivamente na manutenção da própria entidade (peça 13, p. 17-29; peça 14, p. 16-55; peça 15, p. 3-20), numa clara violação do dispositivo legal supracitado.

27.6. Esses gastos – que totalizaram R$ 549.402,87 em 2013, R$ 566.437,11 em 2014, e R$ 200.004,36 até maio de 2015 – abrangem desde pagamentos de salários e encargos de funcionários, contas de luz e telefone, despesas com condomínio, e diversos outros não especificados (como “Kalunga Com. e Ind. Gráfica Ltda.” – peça 13, p. 25/28 – e “Banco Rendimento” – peça 13, p. 25/27/28), sem que nenhuma dessas despesas possa ser associada a programas e projetos de desenvolvimento e manutenção do desporto, como exigido pela Lei Geral do Esporte.

28. Observa-se, porém, que tal proceder foi previsto pelo próprio COB, em sua Instrução Normativa 01/2014, revisada em 19/12/2014, cujo Anexo A, item 12 (peça 90, p. 42), define que “a ação/projeto ‘Manutenção da Entidade’, item 1.2, será exclusivamente utilizada para despesas com a manutenção administrativa burocrática da Entidade, sendo observado o limite definido pela Portaria ME 01 de 2014”. Ainda, ao definir seis “tipos de ação”, em correspondência com as seis áreas a que se refere o dispositivo legal em questão, acrescentou à descrição do tipo que corresponderia aos programas e projetos de desenvolvimento e manutenção do desporto, previstos na Lei Geral do Desporto, os termos “Manutenção da Entidade” (item 12.1).

28.1. A Portaria 01/2014 do Ministério do Esporte, a que faz referência a IN, define limites de utilização de recursos financeiros para custeio de despesas administrativas necessárias ao cumprimento das metas pactuadas pelo COB, CPB e Confederação Brasileira de Clubes, tendo em vista o disposto no art. 22 do Decreto 7.984/2013. O seu art. 6º permite que até 20% do total dos recursos de que tratam os arts. 9º e 56, incisos VI e VIII, da Lei 9.615/1998, descentralizados pelo COB às entidades a ele vinculadas, podem ser aplicados com despesas da área meio da entidade beneficiada.

28.2. Observa-se, então, que a ilegalidade tem sua origem no Decreto 7.984/2013, que veio regulamentar a Lei 9.615/1998, quando estabelece, em seu art. 22, que caberá a ato do Ministro de Estado do Esporte definir limite de utilização dos recursos oriundos da Lei Agnelo-Piva (inciso VI do caput do art. 56 da Lei 9.615/1998), para realização de despesas administrativas necessárias ao cumprimento das metas pactuadas pelas entidades.

28.3. Por meio desse expediente, o decreto acabou possibilitando que recursos públicos fossem utilizados no custeio de atividades administrativas de rotina das entidades vinculadas ao COB, algo que a própria Lei a que veio regulamentar havia tomado o cuidado de restringir, ao exigir sua aplicação exclusivamente em programas e projetos.

28.4. Essa patente ilegalidade do decreto se mostra também incompatível com o que dispõe o inciso I do art. 18 da mesma Lei. Ao estabelecer que “somente serão beneficiadas com isenções fiscais e repasses de recursos públicos federais da administração direta e indireta, nos termos do inciso II do art. 217 da Constituição Federal, as entidades do Sistema Nacional do Desporto que possuírem viabilidade e autonomia financeiras”, a Lei Geral do Esporte mais uma vez busca restringir a aplicação de recursos públicos para custeio de atividades administrativas e despesas de manutenção das confederações, uma vez que a autonomia financeira dessas entidades se traduz essencialmente na sua capacidade de se manter com recursos próprios, colhidos junto às federações de desportos a que representa.

28.5. Não houvesse essa preocupação do legislador, teria naturalmente adotados termos “atividade de manutenção”, em vez da pouco usual, porquanto mais restrita, referência a “programas e projetos de manutenção do desporto”. De notar, ainda a referência à manutenção do desporto, que obviamente não se confunde com a manutenção da entidade desportiva que lhe representa.

28.6. Assim, o Decreto 7.984/2013, ao permitir que norma infralegal do Ministério do Esporte viesse definir a parcela dos recursos oriundos da Lei Agnelo-Piva que poderia ser desviada de

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programas e projetos de caráter finalístico para o custeio de atividades da área-meio de entidades vinculadas ao COB e ao CPB, mostra-se manifestamente ilegal, visto que contraria frontalmente o disposto no inciso I do art. 18 e no § 3º do art. 56 da Lei a que veio regulamentar, tanto por uma perspectiva literal, como a partir de um exame sistêmico-teleológico da Lei Geral do Esporte.

29. Conforme apontado no relatório de auditoria (peça 35, p. 13-15), a autonomia financeira da CBCiclismo implicaria que os gastos com despesas próprias da entidade não poderia ultrapassar os R$ 324 mil arrecadados anualmente junto às federações de ciclismo a ela filiadas. No entanto, essas despesas no ano de 2014 totalizaram cerca de R$ 729 mil, comprometendo a sua autonomia e viabilidade financeiras, e tornando-a inelegível ao recebimento de recursos repassados pelo COB.

29.1. Os limites estabelecidos na Portaria ME-01/2014, no entanto, acabam possibilitando que recursos oriundos da Lei Agnelo-Piva, até o montante de R$ 602 mil, fossem aplicados adicionalmente para a manutenção da entidade em 2014, disponibilizando à entidade até R$ 926 mil para custeio da sua área meio. Com isso, uma entidade que em 2014 foi deficitária em R$ 405 mil, tornou-se para todos os efeitos superavitária em R$ 197 mil reais, em relação ao total de recursos públicos colocados à sua disposição pelos normativos do poder executivo supracitados.

29.2. Essa medida vem, portanto, propiciar que essas entidades se tornem dependentes de recursos públicos, viabilizando assim a gestão ineficiente e antieconômica dos recursos à sua disposição, que acaba por comprometer inclusive a eficácia e efetividade de suas ações finalísticas, na medida em que parte dos recursos que seriam a elas destinados passarem a ser destinados ao inchamento da área meio dessas entidades.

29.3. Diante da falta de elementos que apontem para alguma vantagem passível de ser proporcionada por tão descabida permissividade normativa, vislumbra-se como possível explicação para a ilegalidade aqui apontada uma eventual pressão exercida por dirigentes de entidades desportivas para obtenção de recursos públicos, de modo a lhes permitir prescindir de uma gestão financeira suficientemente eficiente para garantir sua sobrevivência, sem que a eles se contraponha nenhum outro grupo de interesse, que não o difusamente representado pelos desportistas e pela sociedade como um todo.

29.4. Assim, mostra-se necessário determinar ao Ministério do Esporte que exclua dos recursos aludidos na sua Portaria 01/2014 aqueles referentes ao inciso VI do caput do art. 56 da Lei 9.615/1998, de modo a contornar a afronta ao inciso I do art. 18 e ao § 3º do art. 56 da referida Lei, bem como ao Comitê Olímpico Brasileiro que altere o teor do item 12 do Anexo A de sua Instrução Normativa 01/2014, de modo a se alinhar às vedações impostas por esses mesmos dispositivos legais.

29.5. Considerando que o Decreto 7.984/2013 apenas permitiu que ato do Ministro de Saúde dispusesse sobre limites para a utilização dos recursos em questão, entende-se que a medida acima alvitrada teria plena eficácia em garantir que a ilegalidade em questão não se materializasse a partir da regulamentação da Lei Geral do Esporte.

29.6. De todo modo, entende-se cabível o questionamento da legalidade do Decreto 7.984/2013 junto ao Superior Tribunal de Justiça, uma vez que o que dispõe seu artigo 22 afronta os dispositivos acima mencionados da Lei Geral do Esporte.

29.7. Todavia, uma vez que se trata de matéria afeta às conclusões da Fiscalização de Orientação Centralizada que deu origem à presente auditoria, entende-se, do mesmo modo como foi feito o encaminhamento pelo relatório de fiscalização da irregularidade aludida no item 28 supra, que as considerações aqui traçadas sejam objeto de consideração no TC 019.708/2015-7, que consolida as auditorias que compõem a FOC, e ainda, caso necessário, por ocasião do exame do mérito do presente processo.

CONCLUSÃO

30.A análise das razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis não foram capazes de elidir as irregularidades relativas a fraude no processo licitatório e pagamento por serviços que não foram

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prestados, na contratação da empresa Editora Sport Training Comércio de Livros e Artigos Esportivos, a qual recebeu por serviços prestados pelo Sr. Francisco Cusco y Florencio, que já respondia como Diretor de Alto Rendimento da própria CBCiclismo anteriormente à contratação. A responsabilidade pelo débito, correspondente ao valor integral do contrato desnecessariamente firmado, recai solidariamente sobre o presidente da CBCiclismo, Senhor José Luiz Vasconcellos, o Presidente da Comissão Permanente de Licitação da entidade ,Senhor Lúcio Orlando Coser, e a empresa contratada.

31.Já a análise das razões de justificativas apresentadas para a realização de dois eventos, sem que houvesse respaldo para a utilização de recursos provenientes da Lei Agnelo-Piva no seu custeio, revelaram a existência de um problema mais amplo, envolvendo o financiamento público da atividade-meio da CBCiclismo como um todo. O exame em conjunto das peças acostadas aos autos, à luz da legislação vigente, apontou que as despesas para manutenção da CBCiclismo contrariam dispositivos da Lei Geral do Esporte, haja vista serem indevidamente permissivos nesse aspecto o decreto que a regulamenta, com efeitos sobre normativos infralegais deles decorrentes, como a Portaria 01/2014 do Ministério do Esporte e a atualização da IN-COB 01/2014.

32.De modo a sanear a ilegalidade, que traz desdobramentos nos critérios de descentralização de recursos do COB às entidades a ele vinculadas, é necessário que sejam promovidas modificações não apenas no teor da referida portaria, de modo a dela excluir os recursos de que trata o inciso VI do caput do art. 56 da Lei 9.615, como também na IN-COB 01/2014, de modo a compatibilizar seu teor ao que estabelece a Lei Geral do Esporte.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

33. Ante o exposto, submete-se o presente relatório à consideração superior com as seguintes propostas:

a) com fundamento no artigo 41 da Resolução TCU 259/2014, autuar processo de tomada de contas especial, a partir de cópias das peças 8, 13, 14, 15, 24, 26, 31, 32, 33, 35, 38, 43, 63, 70, 71, 78, 101 e 107 e , e dos relatório, voto e acórdão que vierem a ser proferidos nos presentes autos, e realizar a citação indicada abaixo:

a.1) no com fundamento nos artigos 10, §1º e 12, incisos I e II, da Lei 8.443/1992 e art. 202, incisos I e II, do Regimento Interno do TCU, realizar as citações do Sr. José Luiz Vasconcellos (CPF 367.628.309-00), Presidente da CBCiclismo, Sr. Lúcio Orlando Coser (CPF 005.975.969-05), Presidente da Comissão Permanente de Licitação da CBCiclismo, e da empresa Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda. - ME (CNPJ 03.508.818/0001-08), para que, no prazo de quinze dias, apresentem alegações de defesa e/ou recolham, solidariamente, aos cofres do Tesouro Nacional a quantia abaixo indicada, atualizada monetariamente a partir da respectiva data até o efetivo recolhimento, abatendo-se na oportunidade a quantia eventualmente ressarcida, na forma da legislação em vigor, em decorrência da aplicação irregular de recursos públicos na contratação de empresa para designar como responsável pela execução do contrato dirigente da própria entidade, que já prestava os mesmos serviços contratados na qualidade de Diretor de Alto Rendimento da CBCiclismo:

Data do pagamento

Valor original

09/05/2013 14.000,00

06/06/2013 14.000,00

03/07/2013 14.000,00

01/08/2013 14.000,00

03/09/2013 14.000,00

01/10/2013 14.000,00

04/11/2013 14.000,00

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05/12/2013 14.000,00

06/01/2014 14.000,00

05/02/2014 14.000,00

07/03/2014 14.000,00

Valor atualizado até 14/10/2016: R$ 194.234,81

a.2) informar aos responsáveis que, caso venham a ser condenados pelo Tribunal, os débitos ora apurados serão acrescidos de juros de mora, nos termos do §1º do art. 202 do RI/TCU;

b) com fundamento no art. 43, inciso I da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso II do Regimento Interno do TCU, determinar:

b.1) ao Ministério do Esporte que promova alterações na sua Portaria 01/2014, de modo a excluir dos recursos eligíveis a serem destinados à atividade meio das entidades vinculadas ao Comitê Olímpico Brasileiro aqueles de que trata o inciso VI do caput do art. 56 da lei 9.615/1998, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 60 dias, comprovação do cumprimento da presente determinação;

b.2) ao Comitê Olímpico Brasileiro que promova alterações na sua Instrução Normativa 01/2014, de modo a adequá-la às disposições constantes da Lei 9.615/1998, em particular quanto ao que estabelecem o inciso I do art. 18 e o § 3º do art. 56 do referido diploma legal, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 60 dias, comprovação do cumprimento da presente determinação;

c) com fundamento no art, com fulcro no art. 7º da Resolução – TCU 265/2014, dar ciência ao Comitê Olímpico Brasileiro e à Confederação Brasileira de Ciclismo acerca da não anexação dos bilhetes utilizados e dos respectivos cupons de embarque às faturas de aquisição das passagens aéreas, apresentadas na prestação de contas, no caso de passagens aéreas adquiridas com recursos oriundos da Lei n. 9.615/1998, contrariando assim o disposto no item 3 do Anexo A da Instrução Normativa COB-01/2014;

d) encerrar e arquivar os presentes autos.

É o Relatório.

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VOTO

Trata-se de relatório de auditoria de conformidade integrante do conjunto de trabalhos

executados sob a sistemática de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), com o intuito de

verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva), por parte das confederações olímpicas e paralímpicas, pelo

Comitê Olímpico do Brasil (COB), pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC).

2. Foram auditadas as seguintes entidades: Comitê Paralímpico Brasileiro, Comitê Olímpico

do Brasil, Confederação Brasileira de Clubes, Confederação Brasileira de Basketball, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Confederação Brasileira de Ciclismo, Confederação Brasileira de

Judô, Confederação Brasileira de Voleibol, Confederação Brasileira de Ginástica, Confederação Brasileira de Atletismo, Confederação Brasileira de Rugby, Confederação Brasileira de Hipismo e Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais.

3. Os critérios usados na presente fiscalização estão contidos na Lei 9.615/1998, que trata das normas gerais sobre desporto, bem como nas alterações posteriores, a exemplo da Lei Agnelo/Piva. Essa última norma foi considerada um marco para o esporte nacional ao estabelecer mais uma fonte de

recursos a serem captados para o desenvolvimento do esporte brasileiro.

4. Atualmente, referido dispositivo legal prevê que 2,7% da arrecadação bruta das loterias

federais seja destinado ao COB (62,96%) e ao CPB (37,04%), e um sexto dos recursos provenientes de concursos de prognósticos à CBC. Os recursos recebidos são repassados para os diversos entes que compõem o Sistema Nacional do Desporto, mediante instrumentos que seguem as normas de

convênios, por força de exigência legal. Como resultado prático, a Lei Agnelo/Piva possibilitou às diversas confederações esportivas o recebimento perene de recursos públicos para investimento na

preparação de atletas, compra de equipamentos, contratação de pessoal especializado, bem como a participação em competições nacionais e internacionais.

5. Dentro do escopo das auditorias, buscou-se averiguar: (i) a adequação dos estatutos das

referidas entidades com o art. 18-A da Lei 9.615/1998, inclusive quanto à alternância de direção decorrente do processo eleitoral; (ii) a regularidade da movimentação de recursos da Lei Agnelo/Piva;

(iii) aspectos relacionados à licitação para aquisições e serviços, bem assim a execução das respectivas contratações; (iv) a pertinência dos salários pagos a dirigentes e funcionários com a legislação; e (v) o controle da aplicação dos recursos concomitantemente recebidos dos comitês paralímpico e olímpico

brasileiros.

6. A auditoria referendou, ainda, as conclusões do levantamento anterior sobre a autonomia e

a viabilidade financeira de entidades beneficiadas com recursos da Lei 9.615/1998 (TC 021.654/2014-0).

7. Neste processo, especificamente, cuida-se da fiscalização realizada na Confederação

Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo).

8. As principais constatações da equipe de fiscalização foram (peça 35, p. 3):

(a) manutenção de conta única para movimentação de recursos de diversos projetos, dificultando o controle dos gastos específicos de cada projeto (achado III.1);

(b) indícios de direcionamento de licitação ou licitação montada ( achado III.2);

(c) desvio de finalidade na execução do objeto ( achado III.3);

(d) pagamento de despesas com desvio de finalidade (achado III.4);

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(e)inexistência de documentação na CBCiclismo para comprovação das despesas

declaradas nas prestações de contas, documentação apresentada de forma incompleta ou comprovação de despesas mediante documentos de despesas inválidos (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados – achado III.5);

(f) transferência de recursos públicos para entidade sem autonomia financeira (achado IV.1).

9. A Secex-PR promoveu, mediante autorização por despacho, audiências e oitivas necessárias ao saneamento dos autos relativamente aos achados III.2 a III.5. Especificamente quanto às irregularidades III.1 e IV.1, a unidade regional propôs o encaminhamento da questão para tratamento

no relatório consolidado (TC 023.922/2015-0) da FOC, a despeito de ter acrescentado considerações acerca da autonomia financeira e da utilização de recursos públicos por meio de uma única conta para

abrigar todas as despesas da entidade.

10. Passo ao exame dos achados de auditoria e das correspondentes justificativas.

11. Em relação aos indícios de direcionamento de licitação, o presidente da CBCicilismo, Sr.

José Luiz Vasconcellos, foi chamado em audiência ante a constatação de que, nos editais 004/2013 (peça 7, p. 1-53) e 001/2013 (peça 8, p. 1-61), os nomes de duas empresas convidadas e posteriormente selecionadas já estavam escritos nas minutas de contrato previamente elaboradas, juntadas aos

respectivos editais. No caso específico do primeiro certame, além de o nome já estar escrito na minuta do contrato, o valor contratado era exatamente o publicado no edital.

12. Os objetos das licitações eram, respectivamente, “Contratação de consultoria em direito desportivo e justiça desportiva” e “Contratação de pessoa jurídica para consultoria em ciência do esporte”. Essas circunstâncias levam a crer que as outras duas convidadas de cada licitação

participaram apenas como forma de simular competição.

13. Além da audiência, foram realizadas as oitivas das respectivas empresas. Em resposta, o

presidente da CBCicilismo esclareceu que “as minutas de contrato anexas ao editais foram preenchidas com os dados das duas empresas apenas depois de concluídos os respectivos certames, ocasião em que não se suprimiu o termo ‘minuta de contrato’, equívoco que não caracterizaria a irregularidade

apontada. Da mesma forma, a oferta de preços iguais aos estimados no certame tampouco seria prova de ocorrência de fraude.”

14. As duas empresas, Práxis Consultoria e Informação Desportiva e Sport Training Consultoria e Eventos, trouxeram argumentos com o mesmo teor das justificativas do presidente da entidade, sendo que a última delas ainda afirmou que venceu o convite com preços significativamente

inferiores ao estimado no edital 001/2013 (R$ 168.000,00 anuais em vez de R$ 240.000,00)..

15. A unidade regional analisou as respostas e concluiu que há indícios de direcionamento de

licitação ou até mesmo de licitação montada, pelos argumentos que transcrevo a seguir:

8. No entanto, na contratação da empresa Sport Training, consta que o contrato (que tem como cabeçalho os termos “Anexo II – Minuta de Contrato”), juntamente com a Carta de Credenciamento constante do Anexo III e a declaração constante do Anexo IV do Edital, teriam sido assinados em 18/1/2013, três dias da data constante das propostas das outras duas licitantes (peça 8, p. 42-49). No entanto, a proposta da própria empresa contratada é datada de 18/2/2013 (peça 8, p. 52-54). A adjudicação da licitação ocorreu em 25/2/2013 (peça 8, p. 22), data limite para apresentação de propostas, e o contrato teve sua vigência iniciada apenas a partir de 1/3/2013, conforme os termos editalícios e contratuais, respectivamente. 8.1. Além do fato de ter sido elaborado um termo de contrato com erros tanto no cabeçalho como na data que já veio aposta, que não obstante foi assinado por ambas as partes nessas condições, causa também estranheza a previsão de entrega dos convites “a partir do dia 10/01/2013 até 25/02/2013”, em vez uma data e hora específica. Junte-se a isso o fato de constar da ata da licitação

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001/2013 (peça 8, p. 21) que as três licitantes convidadas “entregaram a documentação e se ausentaram”, sendo posteriormente abertos os envelopes. Devido a esse estranho comportamento das licitantes, de curiosamente não demonstraram interesse em conhecer do resultado da licitação em que participaram, não consta da ata de adjudicação a assinatura das licitantes. 8.2. Ainda corroborando os indícios de montagem de licitação, constatou-se que a Promo Total, uma das empresas convidadas, não obstante ter assinado sua proposta em Londrina/PR, é sediada na Rua Dias da Cruz, 679, casa 19, Meier, Rio de Janeiro/RJ, onde trabalha sua proprietária e signatária da proposta, Andrea D’Aiuto dos Santos Martins, como professora de educação física do ensino fundamental da prefeitura daquela cidade (peça 111). A empresa tem como atividade econômica “artes cênicas, espetáculos e atividades complementares não especificadas anteriormente”, e não possui página na internet ou referências a ela em sites de busca de empresas. 8.3. A outra empresa convidada, Psisport Consultoria Esportiva Ltda. ME, hoje Clínica e Saúde Multidisciplinar Integral Life Ltda – ME, tem como atividade econômica principal “atividades de psicologia e psicanálise”, e como atividades secundárias acupuntura, nutrição e fisioterapia. Consta como objeto social “clínica de psicologia, acupuntura MTC, sistêmica, auricular e micropuntura estética, nutrição clínica e esportiva. Fisioterapia preventiva e de reabilitação, atividades de treinamento e desenvolvimento profissional e gerencial, administração de recursos humanos, seleção de pessoal, psicologia do esporte, psicologia do trabalho, psicologia forense, saúde ocupacional e esportiva”. A despeito de tão extenso leque de atividades, não há o que se enquadre nos objetivos da contratação, voltada para o treinamento técnico da modalidade de ciclismo, para fins de preparação de atletas para competições nacionais e internacionais (peça 112). 8.4. Não obstante constar do cadastro do CNPJ como sediada em Londrina, no endereço residencial de seus dois sócios, as referências a Psisport na internet, exercendo exatamente as mesmas atividades acima descritas, mostram que a empresa está de fato localizada em Macaé/RJ. Não há referências na internet com o nome da clínica, exceto por parte dos sites que coletam dados de empresas do cadastro do CNPJ. O endereço cadastrado para a empresa e seus sócios (Rua Manoel Jacinto Correia, 43, bairro Santa Rita 1, Londrina/PR) não consta como existente pelo aplicativo Google Maps, enquanto que o endereço constante da proposta da licitante (Rua Alagoas, 1284, ap. 310, Londrina/PR) se refere a um prédio residencial. (...)

16. Na mesma linha defendida pela unidade técnica, rejeito as justificativas apresentadas, mas assinalo que deixarei de propor multa para essas irregularidades nesta oportunidade, porquanto o

encaminhamento para esse achado deve ser avaliado em conjunto com as constatações do achado III.5 (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados), sobre as quais passo a discorrer.

17. Relativamente ao pagamento de despesas sem comprovação, a equipe de auditoria detectou a ausência dos comprovantes de embarque e desembarque da maioria dos participantes da Copa do

Mundo da República Tcheca, em desacordo com o que exige a Instrução Normativa 1/2014 (IN COB 1/2014), atualmente substituída pela IN COB 1/2015:

3. Com relação à aquisição de passagens aéreas efetuada diretamente pelas Entidades filiadas, com recursos da Lei n° 9.615/98 é indispensável que os bilhetes utilizados e os cupons de embarque sejam enviados ao COB ou anexados às faturas de aquisição das passagens aéreas, apresentadas na prestação de contas (Formulário n.° 4), juntamente com o Relatório Técnico de Participação em Evento ou o Relatório de Viagem e cópia do Formulário n.° 2, que deu origem ao pedido de aquisição de passagem. (grifos acrescidos)

18. Em face dessas constatações, a equipe solicitou a entrega dos comprovantes de embarque, hospedagem e alimentação de mais trinta e sete eventos quando do envio das respostas de audiência. Além desses documentos, foram solicitadas as comprovações de despesa de mais oito processos de

aquisição, oportunidade em que se realizaram as oitivas de cada contratada.

19. Após o exame, a unidade técnica propôs dar ciência ao COB e à CBCiclismo para que

tomem medidas para fazer cumprir o que determina a IN-COB 01/2015 sobre a matéria.

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20. Entendo adequada a proposta do órgão instrutivo cuja análise incorporo desde já às minhas razões de decidir, sem prejuízo de destacar os pontos que me pareceram importantes.

21. Para as comprovações de despesa relativas às passagens aéreas, pondero três aspectos: (i) a entidade deve exigir a comprovação de embarque dos atletas e demais funcionários que viajam com recursos públicos; (ii) para as passagens internacionais havia indicação de que os trechos foram de fato

utilizados (status: used); (iii) no presente caso, os comprovantes ausentes eram de atletas beneficiados com o apoio da entidade, para participação em competições de seu próprio interesse, sem percepção de

diárias, cuja presença na competição poderia mitigar a ausência da comprovação do embarque, muito embora não se possa admitir a recorrência dessa falta.

22. Nesse passo, considero suficiente cientificar as entidades acerca das constatações da

auditoria.

23. Relativamente às demais despesas relacionadas a oito processos de aquisição de diferentes

objetos, destaco que o presidente da CBCiclismo afirmou ter encaminhado em anexo às suas razões de justificativa os comprovantes das despesas impugnadas (peça 101, p. 13), todavia, os documentos não foram entregues com sua resposta. Apesar disso, de todas as empresas chamadas em oitiva, sete

comprovaram as despesas por meio de documentos fiscais e relatórios, sendo que a empresa Práxis Consultoria e Informação Desportiva se limitou a enviar mensagens trocadas por email, a fim de comprovar as despesas. Relembro que o contrato firmado com essa pessoa jurídica está associado ao

direcionamento de licitação, relatado anteriormente.

24. Desse modo, seria pertinente a citação dos responsáveis envolvidos na licitação,

contratação, pagamento e execução dos serviços contratados, mediante a instauração de tomada de contas especial para tal finalidade, tal qual afirmou a Secex-PR (parágrafo 24.1). Entretanto, minha assessoria manteve contato com a unidade instrutiva e identificou que não há evidências de que esse

contrato tenha sido custeado com recursos da Lei Agnelo/Piva, o que sugere que os serviços advocatícios tenham sido pagos com recursos próprios, afastando-se assim a jurisdição deste Tribunal.

25. De outro modo, muito embora a outra empresa envolvida nos indícios de direcionamento de licitação, Sport Training Consultoria e Eventos, tenha apresentado comprovantes fiscais para os serviços prestados, a Secex-PR menciona que essa contratação aconteceu apenas para viabilizar a

realização de pagamentos com recursos da Lei Agnelo/Piva a pessoa dos próprios quadros da entidade.

26. A unidade técnica esclarece que consta a informação de que a empresa é representada pelo

prof. Dr. Antônio Carlos Gomes e seu Coordenador, Francisco Cusco y Florencio, conforme considerações finais de todos os relatórios de prestação de serviço de consultoria científica dessa empresa, os quais assumem total responsabilidade pela qualidade do desenvolvimento dos trabalhos

propostos.

27. Em complemento, o relatório anual de atividades informa que as ações objeto desse

contrato foram desenvolvidas no Departamento de Alto Rendimento da CBCiclismo, que teria sido criado, por sugestão da Sport Training, para concentrar as ações relacionadas aos projetos da Seleção de Ciclismo nas disciplinas olímpicas, interagindo com outros departamentos já existentes na

Confederação como Financeiro, Técnico, Marketing e a Presidência (peça 70, p. 89).

28. De forma prudente, a Secex-PR colheu diversas evidências na internet de que tal

departamento já existia em meados de 2012, antes mesmo da licitação e contratação da empresa, e tinha como titular o próprio Sr. Francisco Cusco y Florêncio (peças 108 a 110).

29. Essas constatações alinhadas com os indícios de direcionamento de licitação ensejaram

proposta de conversão destes autos em tomada de contas especial para citação e imputação dos débitos aos responsáveis.

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30. No que se refere a esse ponto, deixo de acolher a proposta da unidade regional nesse momento pelas razões que passo a expor.

31. Grande parte das evidências aqui relatadas foram obtidas em fase posterior às conclusões dos trabalhos, na fase de instrução de mérito deste processo, situação na qual não houve manifestação dos responsáveis acerca desses fatos novos trazidos aos autos. Por esse motivo, determino a oitiva da

confederação para que se manifeste sobre as conclusões da unidade técnica em relação aos indícios de direcionamento de licitação e quanto aos indícios de pagamentos com recursos públicos para a

empresa Editora Sport Training Consultoria mediante contrato cujo objeto previa serviços já prestados por funcionário da própria confederação, contratado na qualidade de Diretor de Alto Rendimento da CBCiclismo (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados).

32. Por fim, acato as razões de justificativa dos responsáveis quanto aos achados III.3 (desvio de finalidade na execução do objeto) e III.4 (pagamento de despesas com desvio de finalidade) por

entender, tal qual analisado pela unidade regional, que os próprios normativos do COB permitem o custeio de despesas administrativas com recursos da Lei Agnelo/Piva, embasado no artigo 22 do Decreto 7.984/2013.

33. Como muito bem colocou a unidade técnica, há um conflito entre o referido decreto e a própria lei que ele regulamenta, porquanto os recursos públicos delineados na legislação somente deveriam ser direcionados a programas e projetos (§3º do art. 56 da Lei 9.615/1998), denominações que

não abrangeriam, em uma primeira análise, custeio de despesas administrativas, tal qual se permite mediante o artigo 22 do Decreto 7.984/2013.

34. Essa questão é sistêmica e deve ser tratada no processo consolidador da FOC (023.922/2015-0), tal qual sugeriu a Secex-PR, em conjunto com os apontamentos dos achados III.1 e IV.1 descritos anteriormente.

Em vista de todo o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal acolha o acórdão que ora submeto à consideração deste Plenário.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 7 de dezembro de 2016.

Ministro VITAL DO RÊGO

Relator

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ACÓRDÃO Nº tagNumAcordao – TCU – tagColegiado

1. Processo nº TC 023.738/2015-4.

2. Grupo II– Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria. 3. Interessados/Responsáveis:

3.1. Responsáveis: Carlos Arthur Nuzman (007.994.247-49); Confederação Brasileira de Ciclismo - CBCiclismo (51.936.706/0001-09); José Luiz Vasconcellos (367.628.309-00); Marcus Vinícius Simões de Freire (812.927.327-68).

4. Entidades: Confederação Brasileira de Ciclismo. 5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.

6. Representante do Ministério Público: não atuou. 7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Paraná (Secex-PR). 8. Representação legal: Jefferson Dias Santos (45249/OAB-PR) e outros, representando Primage

Agência Digital Ltda - ME; Ricardo Lazzari da Silva Mendes Cardozo (208019/OAB-SP) e outros, representando Savio V.C. Balestrero Viagens e Turismo-ME (bality Viagens e Turismo); Paulo

Roberto Ciola de Castro (65750/OAB-PR) e outros, representando Sport Training - Comércio de Livros e Artigos Esportivos Ltda.-ME 9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de relatório de auditoria realizada na Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCiclismo), com o objetivo de verificar a regularidade da

aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva);

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de

Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em: 9.1. promover a oitiva da Confederação Brasileira de Ciclismo para que esta se manifeste,

no prazo de 15 (quinze) dias, sobre os indícios de direcionamento de licitação e quanto a supostos

pagamentos com recursos públicos para a empresa Editora Sport Training Consultoria mediante contrato cujo objeto previa serviços já prestados por funcionário da própria confederação, contratado

na qualidade de Diretor de Alto Rendimento da CBCiclismo (pagamento por serviços não executados, não fornecidos ou não realizados);

9.2. dar ciência ao Comitê Olímpico do Brasil e à Confederação Brasileira de Ciclismo

acerca da não anexação dos bilhetes utilizados e dos respectivos cupons de embarque às faturas de aquisição das passagens aéreas, apresentadas na prestação de contas, no caso de passagens aéreas

adquiridas com recursos oriundos da Lei 9.615/1998, contrariando assim o disposto no item 3 do Anexo A da Instrução Normativa COB-01/2014;

9.3. encaminhar cópia deste acórdão, acompanhada do relatório e do voto que o

fundamentam aos responsáveis, ao Comitê Olímpico do Brasil e à Confederação Brasileira de Ciclismo.