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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1 6y 1 GRUPO II CLASSE VII Plenário TC 032.202/2008-1 Natureza: Representação. Órgão: Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro SR/DPF/RJ. Interessada: empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., CNPJ n. 34.043.125/0001-10. SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. LICITAÇÃO. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM PREGÃO VISANDO A CONTRATAR EMPRESA ESPECIALIZADA EM ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DE MANUTENÇÃO VEICULAR PREVENTIVA E CORRETIVA. PROCEDÊNCIA PARCIAL. DETERMINAÇÕES. RELATÓRIO Trata-se da Representação formulada pela empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., com pedido de medida cautelar, em face de supostas irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico n. 017/2008, sob responsabilidade da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro SR/DPF/RJ. 2. Segundo os documentos de fls. 25/110, o certame em causa foi instaurado para a contratação de empresa especializada na prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção preventiva e corretiva de veículos automotivos, com fornecimento de peças e acessórios originais e transporte por guincho, com implantação e operação de sistema informatizado e integrado para gestão de frota por meio de internet, por meio de rede de estabelecimentos credenciados, para atender aos automóveis que compõem a frota da SR/DPF/RJ e delegacias descentralizadas do Rio de Janeiro, além de veículos com autorização judicial de uso para o Departamento da Polícia Federal, sendo participantes do procedimento as demais unidades do DPF. 3. Trago os principais registros da instrução elaborada no âmbito da Secex/RJ (fls. 129/135), mediante a qual se faz a síntese dos fatos suscitados pela empresa interessada e a correspondente análise: 3.1. em essência, a Representante alega que a SR/DPF/RJ alterou e distorceu o objeto pretendido, qual seja, a manutenção de sua frota de veículos, provocando a restrição de competição, com vistas ao direcionamento da licitação, pois, em vez de contratar oficinas mecânicas, diretamente, como vinha fazendo, optou por firmar compromisso com empresa de gerenciamento e de administração de serviços correlatos, com ampla rede de estabelecimentos conveniados, de maneira que o julgamento licitatório terá em conta a menor taxa gerencial e administrativa, o que, no entender da interessada, ensejará a não-consideração, pelos proponentes, do efetivo custo dos serviços licitados, a exemplo dos insumos de mão-de-obra e peças automotivas; 3.2. em suma, são apontadas as seguintes irregularidades: desrespeito ao artigo 3°, II, da Lei n. 10.520/2002, quanto à definição do objeto contratual; inobservância aos princípios administrativos e jurídicos da competitividade, da finalidade, do justo preço, da comparação objetiva das propostas, da proporcionalidade e da razoabilidade; afronta ao art. 9°, I e § 2°, do Decreto n. 5.450/2005, quanto à elaboração do termo de referência; não-exigência de licença ambiental de

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 1

GRUPO II – CLASSE VII – Plenário

TC 032.202/2008-1

Natureza: Representação.

Órgão: Superintendência Regional do Departamento de Polícia

Federal no Estado do Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ.

Interessada: empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., CNPJ n.

34.043.125/0001-10.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. LICITAÇÃO. POSSÍVEIS

IRREGULARIDADES EM PREGÃO VISANDO A

CONTRATAR EMPRESA ESPECIALIZADA EM

ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DE MANUTENÇÃO

VEICULAR PREVENTIVA E CORRETIVA. PROCEDÊNCIA

PARCIAL. DETERMINAÇÕES.

RELATÓRIO

Trata-se da Representação formulada pela empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., com

pedido de medida cautelar, em face de supostas irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico n.

017/2008, sob responsabilidade da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no

Estado do Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ.

2. Segundo os documentos de fls. 25/110, o certame em causa foi instaurado para a

contratação de empresa especializada na prestação de serviços de administração e gerenciamento de

manutenção preventiva e corretiva de veículos automotivos, com fornecimento de peças e acessórios

originais e transporte por guincho, com implantação e operação de sistema informatizado e integrado

para gestão de frota por meio de internet, por meio de rede de estabelecimentos credenciados, para

atender aos automóveis que compõem a frota da SR/DPF/RJ e delegacias descentralizadas do Rio de

Janeiro, além de veículos com autorização judicial de uso para o Departamento da Polícia Federal,

sendo participantes do procedimento as demais unidades do DPF.

3. Trago os principais registros da instrução elaborada no âmbito da Secex/RJ (fls. 129/135),

mediante a qual se faz a síntese dos fatos suscitados pela empresa interessada e a correspondente

análise:

3.1. em essência, a Representante alega que a SR/DPF/RJ alterou e distorceu o objeto

pretendido, qual seja, a manutenção de sua frota de veículos, provocando a restrição de competição,

com vistas ao direcionamento da licitação, pois, em vez de contratar oficinas mecânicas, diretamente,

como vinha fazendo, optou por firmar compromisso com empresa de gerenciamento e de

administração de serviços correlatos, com ampla rede de estabelecimentos conveniados, de maneira

que o julgamento licitatório terá em conta a menor taxa gerencial e administrativa, o que, no entender

da interessada, ensejará a não-consideração, pelos proponentes, do efetivo custo dos serviços licitados,

a exemplo dos insumos de mão-de-obra e peças automotivas;

3.2. em suma, são apontadas as seguintes irregularidades: desrespeito ao artigo 3°, II, da

Lei n. 10.520/2002, quanto à definição do objeto contratual; inobservância aos princípios

administrativos e jurídicos da competitividade, da finalidade, do justo preço, da comparação objetiva

das propostas, da proporcionalidade e da razoabilidade; afronta ao art. 9°, I e § 2°, do Decreto n.

5.450/2005, quanto à elaboração do termo de referência; não-exigência de licença ambiental de

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operação das empresas licitantes e descumprimento de decisão do TCU; e não-exigência de registro de

empresas licitantes no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro

– Crea/RJ;

3.3. pelo contido nos autos, a empresa interessada não aponta quaisquer evidências de

prejuízo à legalidade, legitimidade ou economicidade do ato de definição do objeto licitatório em

questão, a exigir direta intervenção deste Tribunal;

3.4. o que se verifica é a intenção da SR/DPF/RJ de ampliar e aperfeiçoar o método até

então adotado para a manutenção de seus veículos, a ponto de ser levada a modificar a forma de

prestação destes serviços, não havendo evidências de que o objeto licitatório foi distorcido, mas a sua

alteração em relação ao anterior, a fim de ajustar-se às novas exigências da administração pública;

3.5. a Comissão Permanente de Licitação – CPL da SR/DPF/RJ, ao encaminhar à Secex/RJ

informações acerca da impugnação do edital em discussão, via e-mail, o fez com o rol de 14 empresas

notificadas da respectiva decisão (fl. 127);

3.6. relativamente à menor taxa de gerenciamento e administração como fator de

julgamento da licitação, não se pode admiti-la por instrumento de violação ao obrigatório critério de

menor preço, porquanto restará traduzida em valor absoluto, assim como prevê o subitem 5.4 do edital;

3.7. o custo efetivo dos serviços vinculados à licitação, por sua vez, não estará sujeito à

livre vontade dos estabelecimentos conveniados, mas ao devido registro de preços, conforme regulado

nos itens 10 a 13 do instrumento convocatório;

3.8. o objeto do Pregão n. 017/2008 atende ao disposto no art. 3º, II, da Lei n. 10.520/2002,

eis que demonstra com precisão, suficiência e clareza a pretensão da SR/DPF/RJ;

3.9. as limitações à competição, como alegado pela interessada, não devem ser confundidas

com as limitações técnicas de empresas do ramo de administração e gerenciamento de manutenção de

veículos e, tampouco, por óbvio, de empresas estranhas a tais atividades;

3.10. cabe frisar que, ao contrário do que faz crer a Representante, a licitação em pauta não

dispensará o critério de menor preço para julgamento de propostas;

3.11. a representante, de modo geral, não se atém aos princípios reclamados, quais sejam

aqueles da competitividade, da finalidade, do justo preço, da comparação objetiva das propostas, da

proporcionalidade e da razoabilidade; ressalve-se, entretanto, os casos em que os define, mas sem fixar

o nexo causal entre a conduta da SR/DPF/RJ e a quebra de seus preceitos, especialmente quanto aos

princípios da competitividade e da comparação objetiva das propostas;

3.12. no tocante ao princípio da razoabilidade, a interessada apenas evoca a desnecessidade

de estabelecimentos conveniados em outras unidades da federação, haja vista que a manutenção de

veículos em operação fora do Estado do Rio de Janeiro seria mera exceção; inadvertidamente, porém,

a representante desconsidera a prerrogativa própria do gestor para delimitar as necessidades do órgão

público sob sua responsabilidade, bem como deixa de mostrar elementos que comprometam a decisão

adotada;

3.13. não é cabível a comparação entre os serviços licitados em 2006 e os que constituem o

objeto do Pregão Eletrônico n. 017/2008, ora em debate, com faz a empresa Peça Oil Distribuidora

Ltda., dada as alterações entre tais serviços;

3.14. acerca do questionamento relativo à ausência do detalhamento do orçamento-base,

que, na opinião da Representante, deveria apresentar a quantificação estimada de mão-de-obra e peças

automotivas para cada veículo, com os respectivos preços de mercado, deve-se relembrar a distinção

entre a licitação em pauta e o pregão eletrônico anterior, no qual se baseia a representante, estando o

Anexo I ao Edital de Pregão Eletrônico n. 017/2008 – Termo de Referência (fls. 56/73) de acordo com

o prescrito no Decreto n. 5.450/2005;

3.15. ademais, para o conjunto de veículos considerado, a SR/DPF/RJ fundamentou sua

orçamentação em quantitativos de mão-de-obra e peças automotivas, apontados em planilha destacada

(fl. 72);

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3.16. no que diz respeito a licenciamento ambiental, a representante protesta, em particular,

sem apontar a base legal inerente ao caso, contra a não-exigência, por parte do órgão, da licença para

operação das empresas licitantes;

3.17. a esse respeito, vale apresentar as seguintes considerações:

a) consoante o Edital de Pregão Eletrônico n. 017/2008, tem por objetivo a contratação de

uma única empresa de administração e gerenciamento de serviços, que não guarda, por evidente,

qualquer relação com atividades poluidoras;

b) em que pese tal argumentação, a afastar a hipótese de inobservância à lei e de

descumprimento de decisão do TCU, é de se refletir acerca da adequação ambiental dos

estabelecimentos conveniados, que integrarão a rede de serviços da contratada;

c) em interpretação do artigo 60 da Lei n. 9.605/1998, que cuida das sanções penais e

administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, em conjunto com o

Decreto-Lei n. 134/1975 RJ (fls. 117/119) e o Decreto n. 1.633/1977 RJ (fl. 120), pode-se inferir pela

obrigatoriedade de licença de operação imposta às oficinas mecânicas;

d) logo, sem prejuízo do regular andamento do Pregão Eletrônico n. 017/2008, revela-se

pertinente, ao final, propor que este Tribunal recomende à SR/DPF/RJ cobrar da licitante vencedora a

exigência de devida e rigorosa atenção à legislação ambiental em vigor, por parte sua rede de

estabelecimentos conveniados;

3.18. sobre a ausência de registro profissional no Crea/RJ das empresas licitantes, de modo

similar ao apontado no questionamento anterior, é de se atentar que o órgão licitante não tenciona

contratar prestadoras de serviços de engenharia, mas uma única empresa de administração e

gerenciamento veicular;

3.19. embora a representante não indique a base legal que sustenta a tese aventada, em

interpretação do artigo 6°, alínea a, da Lei n. 5.194/1966, que regula o exercício das profissões de

Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-agrônomo, sugere-se, analogamente ao proposto no assunto acima

referido e sem adentrar o mérito da questão, que seja recomendado à SR/DPF/RJ cobrar da licitante

vencedora a exigência de devida e rigorosa atenção à legislação profissional em vigor, por parte de sua

rede de estabelecimentos conveniados.

4. Ao final do exame, o AUFC da Secex/RJ apresentou a seguinte proposta de

encaminhamento, que contou com o endosso da Sra. Diretora em Substituição (fls. 134/136):

4.1. com base no artigo 113, §1°, da Lei n. 8.666/1993, e no artigo 237, inciso VII, do

RI/TCU, conhecer da presente Representação;

4.2. indeferir o pedido de medida cautelar apresentado pela empresa Peça Oil Distribuidora

Ltda., tendo em vista a inexistência dos pressupostos necessários para tanto;

4.3. julgar improcedente a Representação formulada;

4.4. recomendar à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no

Estado do Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ que:

a) determine à licitante vencedora do Pregão Eletrônico n. 017/2008 que exija dos

estabelecimentos de sua rede conveniada rigorosa observância à legislação ambiental e profissional

aplicável às suas atividades;

b) encaminhe ao órgão de Controle Interno competente, para apuração, os fatos narrados

pela empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., relativamente a eventuais irregularidades havidas no último

certame licitatório de serviços de manutenção automotiva da Superintendência Regional do

Departamento de Polícia Federal no Estado de São Paulo – SR/DPF/SP, notadamente quanto à

modalidade e tipo de licitação adotados;

4.5. encaminhar cópia da Representação e da instrução de mérito à Superintendência

Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro, para adequada

implementação da recomendação prevista na alínea b retro;

4.6. dar ciência à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no

Estado do Rio de Janeiro e à Representante acerca da deliberação que vier a ser adotada;

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4.7. arquivar os presentes autos.

5. O Sr. Secretário de Controle Externo, mediante o parecer de fls. 164 a 166, divergiu do

encaminhamento acima indicado, por considerar presente o fumus boni iuris, no caso em exame.

Reproduzo trecho do aludido parecer, na parte que sustenta a opinião do titular da unidade técnica:

“4. O primeiro aspecto diz respeito à forma de contratação dos serviços. A seleção da

vencedora do pregão com base apenas na menor taxa de administração/gerenciamento, percentual

a ser aplicado sobre o valor dos serviços e peças cobrados pelas oficinas credenciadas, deixa em

aberto o real valor a ser pago por tais serviços. Ainda que as peças com código da montadora e o

quantitativo de mão-de-obra sejam tabelados, resta em aberto o valor da mão-de-obra.

5. Prevê o Edital que cabe à contratada buscar, com acompanhamento da fiscalização do

órgão, o maior desconto oferecido pelas oficinas credenciadas. Tal previsão parece buscar

minimizar o problema relacionado ao fato de que quanto mais caro for o serviço, maior a taxa de

administração/gerenciamento recebida pela empresa, e pode até minorá-lo, mas não o elimina.

6. O problema maior, no entanto, reside no fato apontado pela Representante de que o

certame não busca o melhor preço global, mas apenas a menor taxa de

administração/gerenciamento. Em juízo de cognição sumária, mostra-se acentuado o risco de

aumento de despesas na forma de contratação pretendida.

7. Embora assista razão ao Analista ao afirmar que o objeto em licitação difere do hoje

contratado, impedindo comparações diretas de preços, não se deve perder de vista que os objetos

visam a atender à mesma necessidade. Se tem o gestor a discricionariedade de escolher o objeto

que melhor atende o interesse público, incumbe-lhe, também, o dever de considerar o fator preço

nessa escolha, justificando eventual aumento de custo na opção escolhida.

8. Ao colocar efetivamente em licitação apenas 3%, aproximadamente, do valor do

contrato, a Administração abre mão de possíveis descontos sobre os 97% restantes, o que, nos

cálculos da Representante, baseado nos descontos oferecidos em licitação anterior (fl. 17), pode

representar mais de R$ 2 milhões.

9. O segundo aspecto que me leva a concluir pela existência da fumaça do bom direito

também diz respeito à escolha da Administração, desta vez, pela abrangência nacional do

contrato, fundada no Sistema de Registro de Preços. À primeira vista, mais parece que não se trata

de Registro de Preços, mas de contratação de âmbito nacional, conforme aponta a planilha às

folhas 84/85.

10. O problema é que esse objeto poderia ser dividido por unidade da Federação ou, ao

menos, por região, aumentando a probabilidade de competição. De fato, uma vez que não foi

possível concluir essa análise antes da realização do pregão, pudemos constatar (fls. 137/145) que

apenas duas empresas participaram da disputa, ocorrida em 04/12/2008.

11. Verifica-se, também, na Ata do Pregão, que a empresa vencedora ofertou valor

simbólico para a administração/gerenciamento: R$ 0,0001/unidade ou R$ 0,02 no total. Isso deixa

evidente que se colocou em disputa parcela irrisória do objeto.

12. Quanto aos demais pontos apontados pela Representante, acolho a análise da 2ª DT.

13. Estando presente, também, o perigo da demora, uma vez que o objeto já foi adjudicado,

restando apenas a homologação e a assinatura do contrato, entendo que deve esta Corte suspender

a licitação, com posterior oitiva do órgão e da licitante vencedora, Ticket Serviços S.A., em

respeito à ampla defesa, até decisão de mérito.”

6. Em decorrência do raciocínio exposto, o Secretário da Secex/RJ sugeriu que o Tribunal

adotasse as seguintes medidas (fls. 165 e 166):

6.1. com base no artigo 113, § 1°, da Lei n. 8.666/1993, e no artigo 237, inciso VII, do

RI/TCU, conhecer da presente representação;

6.2. determinar:

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6.2.1. à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio

de Janeiro, com fulcro no art. 276 do RI/TCU, que suspendesse, cautelarmente, o Pregão n. 17/2008,

abstendo-se de promover a assinatura do respectivo contrato até decisão de mérito do TCU;

6.2.2. à Secex/RJ que promovesse a oitiva do Pregoeiro da SR/DPF/RJ e da empresa

Ticket Serviços SA., para que se pronunciassem, em até cinco dias, sobre os fatos ensejadores da

suspensão do certame, encaminhando cópia da deliberação, dos pareceres e da Representação.

7. Não obstante os indícios apontados pelo titular da Secex/RJ sinalizassem para possíveis

irregularidades no Edital do Pregão Eletrônico n. 017/2008, em exame nesta Representação,

determinei, preliminarmente, mediante despacho singular (fl. 167), com fundamento no art. 276, § 2º,

do Regimento Interno/TCU, a oitiva prévia da unidade licitante e da empresa Ticket Serviços S.A., a

fim de que, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, apresentassem manifestação acerca da presente

Representação, em especial no que tange às ocorrências indicadas no despacho do Secretário de

Controle Externo do Rio de Janeiro, informando sobre a situação atual do certame.

8. Restituídos os autos à Secex/RJ, foram adotadas as medidas saneadoras determinadas por

este Relator, mediante os Ofícios ns. 2.612 e 2.613/2008/TCU/Secex/RJ-DT2 (fls. 169 e 171),

respectivamente.

9. A SR/DPF/RJ, por meio do Presidente da sua Comissão Permanente de Licitação, Sr.

Marcus Vinicius Peixoto da Costa, remeteu, em resposta, o expediente de fls. 172/175 e os

documentos anexos (fls. 176/189). A empresa Ticket Serviços S/A apresentou os documentos de fls.

191/200 e 201/254, v. 1.

10. A unidade técnica, em instrução de fls. 277/280 – vol. 1, datada de 05/01/2009, assim se

manifestou acerca dos elementos acostados ao processo:

“Importa mencionar que o contrato, ainda, não foi assinado, conforme informado pela

SR/DPF/RJ, à fl. 175. Segundo o presidente da CPL, a entidade está aguardando a decisão do

TCU sobre a procedência do pedido de cautelar e, conseqüente, suspensão do pregão.

Análise do pedido de cautelar

2. Analisados os fatos e os argumentos apresentados pela representante e presidente da

CLP/SR/DPF/RJ, entendo que se encontra presente o fumus boni iuris no pedido de medida

cautelar solicitado pela representante, pelos motivos que passo a expor a seguir, e o periculum in

mora, haja vista a homologação do pregão eletrônico em 10/12/2008 e a iminência da próxima

fase processual de celebração do contrato.

3. Assiste razão à representante ao argumentar que o pregão em tela deixou de licitar pelo

critério de menor preço, uma vez que somente a taxa de administração é objeto de disputa,

conforme dispõe o subitem 5.4 do edital (fl. 36). Os demais preços, que são os de maior vulto,

dependerão do valor dos serviços a serem prestados pelas oficinas credenciadas. Ora, não sendo

esses previamente fixados não há como se conhecer os preços a serem pagos, logo não há como se

comparar o que não é conhecido.

4. O modelo de negócio de gerenciamento de frota a ser contratado pela Superintendência

demonstra-se temerário quanto à observância do princípio da economicidade, visto que a

Administração não possui garantias de que será pago o menor preço tanto na aquisição de peças

como na prestação de serviços de manutenção. É o que se extrai da leitura das regras editalícias

abaixo:

„2.2.1.20 – As oficinas integrantes da rede conveniada deverão ter como limite máximo de

preço para peças e acessórios originais que possuam código da montadora (número de

peça), os constantes da Tabela de Preço Oficial da montadora do veículo para o qual

material está sendo adquirido.

2.2.1.20.1 – O Contratante deverá adquirir as peças ou acessórios atentando para o melhor

desconto ofertado pela rede conveniada, sendo considerado como critério a proximidade do

local onde o serviço será executado, avaliando-se o custo-benefício.

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2.2.1.21 – No caso de comprovada a necessidade de aquisição de peça ou acessório

original (material com as mesmas características, especificações e fabricante do que

compõe a montagem original da viatura) que não seja contemplada com código da

montadora (número de peça) na tabela de Preços Oficial da respectiva montadora, a

cotação do menor preço ficará a cargo do fiscal designado pelo Departamento de Polícia

Federal, conforme item 3.1.22 [do Termo de Referência, idêntico ao item 2.2.1.22 abaixo].

2.2.1.22 – A fiscalização de preços ficará a cargo do fiscal designado pelo Departamento

de Polícia Federal, devendo a Contratada garantir que os preços cobrados na rede

credenciada terão como limite o preço de à vista.

2.2.1.23 – A base do cálculo do preço praticado para prestação de serviços de mecânica,

elétrica, lanternagem, alinhamento e balanceamento e outros deverá ser de acordo com o

tempo para a execução do serviço constante da Tabela de Tempos Padrão de Reparos

adotada pela montadora de acordo com o modelo da viatura (código, descrição e tempo

padrão de execução do serviço).

2.2.1.24 – Os serviços somente poderão ser executados após o envio on line/real time,

pela empresa conveniada, de orçamento detalhado, através dos menus eletrônicos

apropriados existentes no ambiente web da Contratada, e respectiva autorização pelo fiscal

designado pelo Departamento de Polícia Federal, que se pronunciará após imediata análise

e avaliação do orçamento a ele submetido previamente.‟ (fl. 32).

5. Antes de comentar os itens acima, acresça-se o esclarecimento prestado pelo presidente

da CLP, in verbis, de que o fiscal do contrato irá aprovar o conserto com base em 3 (três)

orçamentos apresentados pela administradora contratada:

„Na prática a utilização dos serviços se dará da seguinte forma: Quando uma viatura

necessitar de manutenção preventiva ou corretiva, ela será encaminhada a um

estabelecimento credenciado onde será verificado que tipo de serviço deverá ser realizado

e quais peças deverão ser substituídas. Com base neste relatório, a administradora

contratada irá solicitar aos estabelecimentos da rede credenciada que apresentem, no

mínimo, 3 orçamentos, ou seja, serão consultadas 3 fornecedores distintos, no mínimo. O

servidor do Departamento de Polícia Federal, designado fiscal de contrato, irá então

aprovar o orçamento de menor valor, verificar a regularidade do estabelecimento

credenciado, acessar o sistema através de senha fornecida pela administradora e autorizar a

realização do serviço.‟ (fl. 173)

6. O primeiro ponto a ser destacado é o fato de que a aprovação pelo fiscal do contrato do

orçamento de menor preço consiste, na essência, em outro procedimento licitatório. Será nesse

momento que a Polícia Federal irá tentar fazer valer o princípio da seleção da proposta mais

vantajosa, com o agravante de que o levantamento das propostas, isto é, a escolha dos

fornecedores é feita pela contratada e não pela Administração, sem a obrigatoriedade do rito

processualístico da licitação quanto à confidencialidade das propostas até a abertura dos envelopes

de preço, o que propicia a quebra do sigilo dos orçamentos e o conluio entre as empresas

orçadoras.

7. Conforme se depreende do subitem 2.2.1.20, o edital admite que seja pago o preço

máximo constante da Tabela de Preço Oficial da montadora do veículo. Ou seja, a Administração

deixa a cargo da administradora contratada negociar o desconto da tabela oficial junto aos

fornecedores. Nesse ponto, concordo com o representante quando afirma que as regras do Pregão

Eletrônico n. 17/2008 fazem com que o procedimento público objetivo da licitação seja

substituído por um procedimento não-público, não-objetivo, não-garantidor do menor preço.

8. Destaque-se que o edital não exige o valor efetivo da hora da mão-de-obra para

composição do preço dos serviços. O subitem 2.2.1.23 dispõe tão-somente sobre o tempo padrão

adotado pela montadora para execução dos serviços.

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9. Consoante o disposto nos subitens acima transcritos e esclarecimentos prestados pelo

órgão, verifica-se que a administradora contratada nem mesmo tem a obrigação de buscar a

cotação mais vantajosa entre as empresas da rede credenciada. Assim, a administradora poderá

solicitar os orçamentos entre fornecedores que praticam o preço máximo ou próximo do máximo

da tabela oficial de peças ou oficinas que praticam os maiores preços de valor-hora de mão de

obra, pois repercutirá em maior rendimento para si. Descartando-se essa hipótese, a

administradora, mesmo sem agir por má-fé, não estaria imbuída de buscar o menor preço, pois

não tem essa obrigação contratual. Cumpre ressaltar, por oportuno, que esse dever não poderia ser

transferido para um particular, visto que a seleção da proposta mais vantajosa é ato administrativo

a ser praticado por agente público.

10. A Ticket Serviços, por sua vez, assinala sobre a gestão de manutenção que:

„Nessa modalidade o Ticket Car disponibiliza para o Cliente uma poderosa ferramenta,

onde seu gestor de frotas realiza cotações e negocia diretamente com as oficinas credenciadas,

aprovando a execução dos serviços no estabelecimento de sua preferência.‟(fl. 242).

11. Essa informação da Ticket conflita com a justificativa apresentada pelo Presidente da

CPL da Polícia Federal/RJ de que será a administradora contratada que irá selecionar quais as

oficinas credenciadas oferecerão os orçamentos para prestação de serviços. Todavia,

independentemente de quem irá selecionar as oficinas credenciadas e irá proceder à negociação,

estar-se-ia transgredido o princípio da impessoalidade e o sigilo das propostas. Note-se que ainda

que o fiscal do contrato faça a cotação dos preços diretamente, através do sistema informatizado

da Ticket, persistirá a dúvida acerca da confiabilidade quanto ao sigilo dos orçamentos,

fundamental para coibir possível conluio entre as oficinas orçadoras.

12. Quanto à alegação da Polícia Federal de que a taxa de administração obtida de 0% é

vantajosa, não havendo custo para o órgão, ela não procede, pois como os preços efetivos das

peças e dos serviços a serem prestados não foram licitados, estão em aberto, não se pode garantir

que os preços totais a serem pagos pelos serviços serão os mais vantajosos ao erário.

13. Outro argumento que denota que a taxa de administração de 0% não representa uma

vantagem para a Polícia Federal é o fato de isto implicar o não-auferimento de ganho financeiro

pela Ticket Serviços S/A com o vultoso negócio orçado em R$ 16.423.000,00 (dezesseis milhões,

quatrocentos e vinte e três mil reais) (fls. 26 e 72).

14. O presidente da CPL afirma que „a empresa vencedora será remunerada através de sua

rede de estabelecimentos credenciados, não havendo custo para o Departamento de Polícia

Federal‟ (fl. 173). Só que o pagamento da taxa de credenciamento pelas oficinas não tem nexo

causal com a celebração desse contrato com a Polícia Federal. Aliás, essa receita com a taxa de

credenciamento é pré-condição para existência do Sistema Ticket Car, pois não haveria o serviço

de gerenciamento de frota, se não houvesse empresas já credenciadas. Sendo assim, a

administradora Ticket não pode ser remunerada através de sua rede de estabelecimentos com a

celebração do contrato em tela (com taxa de administração de 0%), uma vez que só lhe restaria ser

remunerada com a taxa de credenciamento, que já foi obtida previamente à realização do pregão.

15. Diante dessa constatação, parece ter fundamento o argumento apresentado pelo

representante à fl. 16 de que a Ticket cobra da rede credenciada taxas adicionais, além da taxa de

administração contratada pelo cliente. Do contrário, com a taxa de credenciamento já auferida e

com a taxa de administração de 0%, como a Ticket obterá receita com a celebração de um novo

negócio? Nessa hipótese, as taxas extras seriam embutidas nos preços finais orçados pelas oficinas

credenciadas, onerando, assim, o custo dos serviços. Portanto, por esse ângulo, a taxa de

administração de 0% não consiste em uma vantagem para o Departamento de Polícia Federal.

16. O pregão em análise não configura um Sistema de Registro de Preços estabelecido na

Lei n. 8.666/1993, regulamentado pelo Decreto n. 3.931/2001, uma vez que os preços das peças e

serviços não foram objeto de disputa pública. Não foram fixados e, portanto, passíveis de serem

registrados na Ata de Registro de Preços. Observe-se que os valores constantes do item 1.2 da

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 8

denominada Ata de Registro de Preços, Anexo IV do edital (fl. 77), são na realidade valores

estimativos a serem gastos pela Administração no objeto a ser contratado, que não vinculam às

partes à sua observância.

17. Assim, ao contrário do alegado, tais valores não revelam um Registro de Preços, apenas

confirmam que a licitação foi feita a nível nacional, pois os valores estimados englobam todos os

carros da Polícia Federal distribuídos nas diversas unidades federativas.

18. O âmbito nacional da prestação dos serviços previsto no subitem 2.1.1 do edital (fl. 26)

restringe o caráter competitivo do certame. Ressalte-se que apenas 2 (duas) empresas participaram

da licitação: a Ticket Serviços S/A e a Embratec (fls. 137/163). Apesar da justificativa apresentada

pela Polícia Federal da necessidade de uma rede credenciada nacional para atender aos veículos

em missões em localidades diversas de sua origem, não-cobertos pelos contratos de outros locais,

o que acarreta o reboque das viaturas para a localidade de origem e atrasos nas missões, penso que

outras alternativas administrativas poderiam ser buscadas a fim de solucionar esse problema

operacional. Os contratos locais poderiam prever a cobertura das viaturas deslocadas em missões

especiais. A Lei n. 8.666/1993 (art. 65, §1º) permite que os contratos de serviços sejam aditivados

em até 25% do seu valor original. A manutenção corretiva das viaturas deslocadas de sua origem

poderia ser coberta por esse dispositivo legal. Não se pretende com esse comentário adentrar na

discricionariedade do administrador, mas tão somente registrar a necessidade de se buscar outras

soluções que não restrinjam o caráter competitivo da licitação.

19. Além dos aspectos observados anteriormente, há perda de economia de escala na

contratação em comento, uma vez que o fornecimento das peças e os serviços de manutenção da

frota podem ser distribuídos pela administradora contratada entre diversos fornecedores e oficinas

da rede credenciada, fracionando, assim, o objeto contratual.

20. Ademais, caso aceitássemos possível um fracionamento do objeto por entendermos que

negociações isoladas poderiam baratear o custo dos serviços, ele poderia ser feito pela própria

Polícia Federal, não necessitando de contratação de uma empresa intermediária.

21. No tocante aos órgãos citados pela Polícia Federal utilizados como base para a

contratação em tela (fl. 172), foram consultados seus respectivos sites. Na consulta ao sítio do

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – TJ/RJ, não se encontrou licitação de serviços de

gerenciamento de frota, mas sim de manutenção preventiva e corretiva de frota (fls. 255/257). No

site da Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf, verificadas as contratações de 2007 e

2008, constatou-se tão somente o contrato com a Ticket Serviços S/A para fornecimento de vales

alimentação e refeição (fl. 258). No link contas públicas do Departamento de Polícia Federal, não

há informações sobre as contratações do Departamento de São Paulo. O site do Tribunal Regional

do Trabalho da 24ª Região – TRT/24R estava fora do ar nas consultas efetuadas em 30/12/08 e

02/01/09. No site do Ministério Público do Trabalho da 15ª Região – MPT/15R, verificou-se a

realização de licitação de serviços de gerenciamento de frota (fls. 259/269), tendo participado do

pregão somente 1 (uma) empresa, a Ticket Serviços S/A, sagrada vencedora do certame com a

taxa de administração de 9,8% (fl. 268). No site da Procuradoria da República na Bahia (fls.

270/271), constatou-se, também, a realização de licitação de serviços de gerenciamento de frota

nos moldes semelhantes aos da Polícia Federal/RJ, tendo sido utilizado o critério de menor

percentual de taxa de administração, porém não é informado o número de participantes, nem a

empresa contratada.

22. Com base nessas informações, não é possível formular um juízo conclusivo sobre a

concorrência desse segmento de mercado, mas sim pontuar que causa espécie a participação de

apenas 1 (uma) empresa, a Ticket Serviços, na licitação promovida pelo MPT/15R, sinalizando

uma possível baixa competitividade do setor. Mediante pesquisa à Internet, encontrou-se a notícia

no Portal Fator Brasil de 11/08/2007 (fl. 272) de que a Ticket é líder e pioneira no setor de gestão

de frotas no Brasil, atuando no mercado desde 1990, inicialmente com a gestão de abastecimento e

hoje, também, com a gestão de manutenção. Foi encontrado, ainda, o Parecer n. 06148/2007/RJ da

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Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (fls. 273/276), que embora

não verse sobre o produto Ticket Car em face do princípio da livre concorrência, assinala a Ticket

como a maior empresa do ramo de gestão de abastecimento de combustível, abarcando 60% do

mercado, contra 14% da Embratec, 15% da CFT, 5% da Nutricasch etc (fl. 275). Diante desses

dados, pode-se inferir a baixa concorrência do mercado em âmbito nacional.

23. Além dos questionamentos acerca do caráter competitivo do pregão em análise, o ponto

crucial para o deferimento do pedido de cautelar são os preços em aberto do fornecimento de

peças e prestação dos serviços. O que é, indubitavelmente, temerário à consecução da

economicidade na contratação pretendida. Reputo fundamental a licitação dos descontos sobre a

tabela oficial de peças e do valor-hora da mão-de-obra, com vistas a assegurar o pagamento dos

menores preços pela Administração durante a execução contratual.”

11. Desse modo, a AUFC da Secex/RJ, com o endosso da Secretária Substituta, apresentou a

proposta de encaminhamento de fl. 280, v. 1, no sentido de conhecer da presente Representação, para

determinar à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de

Janeiro que suspendesse, cautelarmente, o Pregão n. 17/2008, abstendo-se de promover a assinatura do

respectivo contrato até decisão de mérito do TCU. Também foi proposta a audiência do

Superintendente e do Pregoeiro da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no

Estado do Rio de Janeiro e da empresa Ticket Serviços SA, acerca dos fatos ensejadores da suspensão

do certame, quais sejam:

a) ausência de disputa pública dos descontos a serem ofertados pelas oficinas sobre a

Tabela de Preço Oficial da montadora do veículo, em descumprimento ao princípio da seleção da

proposta mais vantajosa, comprometendo a observância do princípio da economicidade;

b) ausência de disputa pública do valor-hora da mão-de-obra por serviço discriminado,

constante da Tabela de Tempos Padrão de Reparos, em descumprimento ao princípio da seleção da

proposta mais vantajosa, comprometendo a observância do princípio da economicidade;

c) exigência de prestação dos serviços em âmbito nacional, que cerceia o caráter

competitivo da licitação.

12. O Exmo. Ministro Ubiratan Aguiar, no exercício da Presidência deste TCU, exarou o

Despacho de fls. 281/285, v. 1, pela concessão da medida cautelar e determinação das providências

indicadas pela unidade técnica.

13. Reinstruindo os autos, às fls. 319/323, v. 1, após as medidas saneadoras implementadas, a

Secex/RJ entende que as razões de justificativa acostadas ao processo não lograram comprovar que a

contratação de um sistema de gerenciamento de frota é a melhor solução para a SR/DPF/RJ, à luz dos

princípios da eficiência, economicidade e isonomia.

14. Trago, a seguir, excerto da instrução técnica, na parte em que baseia o seu entendimento

acerca do procedimento trazido ao conhecimento deste Tribunal:

“Em que pese a alegação de que a implantação de novo sistema trará redução de gastos,

não foi trazida aos autos documentação comprovando essa economia aos cofres públicos. O que,

aliás, comprovaria a economia obtida em contrato de gestão de combustíveis e não no sistema de

gerenciamento analisado nestes autos. O documento apresentado às fls. 304/315 versa sobre

oportunidades de redução de custos de consumo de combustíveis e não trata de economia gerada

com despesa de manutenção corretiva e preventiva de veículos com a implantação de sistema de

gerenciamento de frota.

10. Também não restaram comprovados nestes autos os argumentos de que: i) a contratação de

uma única oficina de grande porte não atenderia à demanda, de modo a comprometer à atividade

operacional, em afronta ao princípio da eficiência, ii) o fracionamento do objeto, com a

conseqüente perda de economia de escala, é largamente superado pelo aumento da concorrência.

11. Sobre o argumento de aumento da concorrência, saliente-se que o Presidente da CPL

esclareceu, no expediente à fl. 173, que „serão consultados 3 fornecedores distintos, no mínimo‟.

Primeiramente, registre-se que esse procedimento não está estipulado no edital (fls. 25/110).

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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Logo, a Administração não terá respaldo contratual para exigir o mínimo de 3 (três) orçamentos.

Em segundo lugar, observe-se que, com base no procedimento informado pelo Presidente da CPL,

o gestor do contrato terá obrigatoriedade de consultar apenas 3 (três) fornecedores, não havendo,

nesse caso, uma ampla competição, o que conflita com a alegação de aumento da concorrência.

12. Quanto aos relatórios gerenciais, supõe-se que essa atividade já é realizada ou, pelo menos,

deveria ser realizada pela SR/DPF/RJ com vistas a planejar suas operações e alocar sua frota de

veículos. Tal vantagem do novo sistema não justifica a contratação em questão.

13. Sobre a justificativa de que o sigilo das propostas é mantido, uma vez que as oficinas

credenciadas desconhecem os orçamentos das demais durante o processo de cotação, é preciso

registrar que o sistema é de propriedade de uma pessoa jurídica de direito privado. Escapando,

assim, da competência do TCU ou de outro órgão público a possibilidade de elaborar certificação

quanto aos requisitos de segurança e confiabilidade do sistema. Embora os responsáveis agora

esclareçam que a solicitação e a seleção das propostas ficarão a cargo do DPF, persiste ainda a

ausência do rito processualístico da licitação quanto à confidencialidade das propostas até abertura

dos envelopes de preço em sessão pública.

14. Os responsáveis confirmaram nesta etapa processual em suas razões de justificativa,

conforme aventado no parágrafo 9.15 do Despacho do Presidente à fl. 284, que a administradora

cobra uma comissão das oficinas credenciadas, isto é, taxas adicionais além da taxa de

administração de 0%. Significa dizer que a taxa de administração é desconhecida e variável de

acordo com a negociação caso a caso. Os defendentes alegam que „esse ônus deve ser encarado

como o preço de utilização de um sistema cujas vantagens, no nosso entendimento, tornam a

relação custo-benefício altamente favorável à Administração Pública, como, aliás, tem sido

constatado pela Superintendência Regional do DPF em São Paulo, que já adota o sistema de

gerenciamento de frota‟ (fl. 298).

15. A aceitação da cobrança de comissão obscura pela Administração Pública transgride os

princípios da legalidade, moralidade, isonomia e seleção da proposta mais vantajosa. Afeta a

legalidade e a moralidade, porque é preço não-declarado. Afeta a igualdade entre os licitantes,

porque uma parcela da composição dos preços não é conhecida dos demais. Afeta a seleção da

proposta mais vantajosa, porque não há garantias de que serão contratados os menores preços, já

que a comissão repercutirá diretamente nos preços cotados pelas oficinas credenciadas, majorando

os valores dos serviços e peças.

16. No tocante ao âmbito nacional da contratação, os gestores alegam que essa abrangência

nacional objetiva garantir a padronização dos serviços em todo o país, de modo que os veículos

possam ser consertados mesmo estando em outra base. Além disso, permite o gerenciamento da

logística policial de forma centralizada, fator importante para o sucesso das operações. Sobre a

questão operacional, não há o que se questionar, pois o planejamento logístico da atividade

policial é intrínseco à atividade-fim do órgão, não competindo ao TCU imiscuir-se nessa questão.

Todavia, não restou refutada a restrição à competitividade do certame. Os defendentes

argumentam que o âmbito nacional da contratação „não impediu que a competitividade do

certame fosse forte a ponto de baixar a taxa de administração para 0%‟ (fl. 298). Sobre essa

alegação, conforme exposto nos parágrafos 14 e 15 acima, a taxa de administração de 0% não é

real. Os próprios gestores confirmaram a cobrança de comissão (taxas adicionais) pela Ticket

Serviços. Portanto, a consecução de taxa de administração de 0% não representa uma vantagem

econômica para a Administração, decorrente de uma ampla competitividade do certame. Os

preços estão em aberto. Os componentes formadores do preço não foram licitados. Hoje, não se

pode garantir que os preços a serem pagos pelos serviços são os mais vantajosos para o erário.

17. Registre-se que a SR/DPF/RJ informou no expediente de 23/12/2008 (fls. 172/175) que

não havia assinado o contrato, para aguardar a decisão de mérito do TCU. Nesta etapa processual,

a SR/DPF/RJ informa no expediente de 02/02/2009 (fls. 296/299) que foram assinados 25

contratos com a Ticket Serviços S/A, das 34 unidades gestoras do DPF. Essa informação causa

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espécie, porque, consoante se depreende do edital (fls. 56/73) e do contrato (fls. 99/110), a

Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro

celebraria o contrato com abrangência nacional. Caso o TCU decida no mérito pela suspensão do

Pregão Eletrônico n. 17/2008, convém determinar, com fundamento no art. 45 da LO/TCU, ao

Departamento de Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça, que adote as providências

cabíveis com vistas à sustação dos contratos, porventura, celebrados pelas unidades gestoras do

DPF com a Ticket Serviços S/A.

18. Por último, ressalte-se que não foram refutados os pontos inquinados quanto à ausência de

disputa pública dos descontos sobre as tabelas oficiais das montadoras e do valor-hora da mão-de-

obra. Penso que a contração de sistema de gerenciamento de frota não impossibilita que sejam

submetidos à disputa pública os componentes formadores do preço: percentual de desconto sobre

as peças e preço da hora da mão-de-obra por serviço discriminado.”

15. Em razão do raciocínio exposto, a Secex/RJ, em pareceres uniformes (fls. 322/324, v. 1),

oferece proposta de encaminhamento no sentido de rejeitar as razões de justificativa do

Superintendente e do Pregoeiro da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no

Estado do Rio de Janeiro (aquele ratificou as informações prestadas por este), em razão de não terem

comprovado a observância dos princípios que regem a licitação pública, em especial, os princípios da

legalidade, moralidade, isonomia e seleção da proposta mais vantajosa, além das seguintes medidas:

15.1. determinar, com fundamento no artigo 45 da LO/TCU:

15.1.1. à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio

de Janeiro revogar o Pregão Eletrônico n. 17/2008 – CPL/SR/DPF/RJ, abstendo-se de assinar o

contrato com a empresa Ticket Serviços S/A.;

15.1.2. ao Departamento de Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça, que adote

as providências cabíveis com vistas a sustar os contratos porventura celebrados entre suas unidades

gestoras e a Ticket Serviços S/A, decorrente do Pregão Eletrônico n. 17/2008 – CPL/SR/DPF/RJ;

15.2. cientificar à Segecex sobre a contratação de sistema de gerenciamento de frota pela

Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado de São Paulo, para adoção

de providências que julgar cabíveis, haja vista a matéria ora analisada.

16. O Ministério Público junto ao TCU, ouvido por iniciativa deste Relator, apresenta o

Parecer de fls. 326/331, v. 1, da lavra do Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado. Reproduzo, em

seguida, parte do aludido parecer:

“Conforme se extrai dos elementos trazidos aos autos, o que a Polícia Federal pretende

com o pregão em foco é substituir a sistemática anterior de contratos de manutenção da sua frota

celebrados diretamente com as oficinas por um modelo de gerenciamento no qual se transfere à

contratada não só a administração da frota, que deverá ser feita através de um sistema

informatizado de gestão, mas também o encargo de cuidar da manutenção preventiva e corretiva

de veículos, envolvendo o fornecimento de peças, acessórios e mão-de-obra, por meio de rede

credenciada de âmbito nacional.

Um dos pontos que mais chama a atenção no referido edital é o critério de julgamento

eleito para a definição do licitante vencedor. Está com a razão o representante quando afirma que

o critério ali adotado compromete por completo qualquer avaliação quanto à vantajosidade do

pregão, pois que somente a taxa de administração, que representa apenas 3,5% do valor

estimado para o contrato, foi submetida à disputa pública.

Vale dizer que os itens que efetivamente compõem os custos relativos à manutenção de

veículos, preços de peças e serviço de mão-de-obra, não foram objeto de disputa, o que se

traduz na impossibilidade de o contratante de antemão obter descontos sobre os mesmos, com

sérios riscos de prejuízo ao erário em razão do montante de recursos que está em jogo, visto que

os itens peças e valor hora da mão-de-obra somam o total estimado de R$ 16.423.000,00.

Segundo informou o presidente da CPL, a realização dos serviços de manutenção será

precedida de pesquisa de preços pelo fiscal do contrato junto às oficinas credenciadas da

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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contratada, oportunidade em que deverão ser obtidos, no mínimo, três orçamentos de

fornecedores distintos, quando, então, o fiscal irá “(...) aprovar o orçamento de menor valor,

verificar a regularidade do estabelecimento credenciado, acessar o sistema através de senha

fornecida pela administradora e autorizar a realização do serviço” (fl. 173, v. p.).

Pela rotina acima descrita, e apesar de os preços das oficinas credenciadas apresentarem

como limite máximo os valores constantes da tabela de preço oficial da montadora do veículo,

nada assegura que a Administração conseguirá preço menor (melhor desconto) do que aquele

que obteria caso todas as oficinas interessadas, credenciadas ou não, participassem da

competição. A verdade é que a confrontação de preços a ser realizada pelo fiscal do contratado

com vistas a encontrar o de menor valor é medida que deveria integrar o próprio procedimento

licitatório, de maneira que sua realização, a posteriori, não supre a exigência legal de se

promover a disputa de preços em momento oportuno, qual seja, previamente à escolha do

licitante vencedor.

A propósito, como advertiu a AUFC da Secex/RJ, é no momento da referida cotação de

preços junto à rede credenciada, portanto durante a própria execução do contrato, que a Polícia

Federal tentará dar concreção ao princípio da seleção da proposta mais vantajosa, sem, contudo,

atentar para o rito processualístico da licitação previsto pela legislação aplicável.

Na prática, a valer o procedimento pretendido pela SR/DPF/RJ cada cotação de preços

significará uma nova disputa, como se fosse um outro certame, cujos valores serão definidos

caso a caso, a depender da negociação firmada em cada contratação, tudo ao arrepio da Lei n.

8.666/93 e da Lei n. 10.520/2002. Assim o é porque „como os preços efetivos das peças e dos

serviços a serem prestados não foram licitados, estão em aberto, não se pode garantir que os

preços totais a serem pagos pelos serviços serão os mais vantajosos ao erário‟ (fl. 278, vol. 1).

Da referida sistemática de escolha do melhor orçamento também se vislumbra violação ao

princípio da impessoalidade, a começar pela redação do item 2.2.1.20.1 do edital, segundo o qual

„O contratante deverá adquirir as peças ou acessórios atentando para o melhor desconto ofertado

pela rede conveniada, sendo considerado como critério a proximidade do local onde o serviço

será executado, avaliando-se o custo-benefício.’ Bem se vê que a redação da cláusula acima encerra considerável carga de subjetividade, uma vez

que caberá ao fiscal do contrato, em cada caso, avaliar a relação custo-benefício entre os

descontos apresentados e as distâncias envolvidas, sem que exista qualquer critério objetivo

sobre como essas variáveis serão ponderadas a fim de se chegar à proposta mais vantajosa.

Ademais, cumpre aqui invocar a lição de Marçal Justen Filho, para quem a „licitação é

instrumento jurídico para a realização de valores fundamentais‟. Na situação que ora se coloca,

todavia, o procedimento licitatório não se alinha a tal desiderato, à evidência de que a

oportunidade para prestar serviços demandados pela SR/DPF/RJ não é franqueada a qualquer

interessado, pois a participação na disputa dependerá de prévio credenciamento perante a

contratada e da convocação feita pelo fiscal do contrato, o que não se coaduna com o valor

fundamental encartado no princípio da igualdade entre todos os que tenham interesse em

contratar com a Administração.

Por mais que se diga que o Pregão Eletrônico n. 017/2008 não se destina à contratação de

oficinas, mas à seleção de empresa para prestação de serviços de administração e gerenciamento

da frota, a análise empreendida pela unidade técnica evidencia com clareza que a forma

empregada pela Polícia Federal para licitar os serviços de manutenção de suas viaturas

configura, isto sim, contratação sem licitação das oficinas integrantes da rede credenciada da

Ticket, à evidência de que o contrato envolve também fornecimento de peças e serviços de mão-

de-obra.

Cabe mencionar que o credenciamento das oficinas levado a efeito pela contratada não se

confunde com o credenciamento reconhecido pela doutrina e jurisprudência como hipótese de

inexigibilidade inserida no caput do art. 25 da Lei n. 8.666/93. Neste caso, o que se examina é

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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inviabilidade de competição caracterizada pelo fato de a Administração se dispor a contratar

todos os que tiverem interesse e que satisfaçam as condições por ela estabelecidas, não havendo,

portanto, relação de exclusão. Certo é que esse raciocínio não se estende à situação em apreço,

uma vez que a SR/DPF/RJ não teria condições de atender a oferta de todas as oficinas que

estivessem dispostas a prestar serviços de manutenção, havendo, portanto, espaço para a

competição entre os interessados.

A abrangência da prestação dos serviços, com a necessidade de a licitante dispor de uma

rede de oficinas localizadas em todo território nacional, restringiu o caráter competitivo do

certame pela simples razão de apenas duas empresas terem participado da licitação: a Ticket

Serviços S/A e a Embratec.

A exigência de atuação no âmbito nacional, de acordo com as justificativas trazidas pelo

presidente da CPL, está relacionada à necessidade de o DPF utilizar viaturas em missões

externas, que exijam deslocamentos em diversas localidades do país, sem que estes veículos

estejam cobertos pelos contratos de outras unidades da polícia federal.

Na mesma linha de entendimento adotada pela unidade técnica, considero que o órgão

contratante antes de partir para soluções altamente restritivas da competição, sempre que

possível, deve buscar alternativas que compatibilizem a necessidade da Administração com a

exigência de índole constitucional de ampla competitividade entre os interessados, deduzindo-se

daí a opção que melhor atenda ao interesse público.

Como bem assinalou a Secex/RJ, os „contratos locais poderiam prever a cobertura das

viaturas deslocadas em missões especiais. A Lei n. 8.666/1993 (art. 65, § 1º) permite que os

contratos de serviços sejam aditivados até 25% do seu valor original. A manutenção corretiva

das viaturas deslocadas de sua origem poderia ser coberta por esse dispositivo legal. Não se

pretende com esse comentário adentrar na discricionariedade do administrador, mas tão somente

registrar a necessidade de se buscar outras soluções que não restrinjam o caráter competitivo da

licitação‟ (fl. 279, vol. 1).

Ainda sobre a abrangência nacional do certame, utilizou-se o Sistema de Registro de

Preços para possibilitar às unidades da polícia federal localizadas em outros Estados da

Federação, na condição de participantes, a adesão à Ata de Registro de Preços resultante do

Pregão Eletrônico n. 017/2008. É de se estranhar, no entanto, que não houve o registro, como era

de se esperar, das peças e dos serviços de mão-de-obra, com os correspondentes preços unitários,

mas sim da taxa de administração; prática esta que não se amolda aos objetivos da licitação,

tampouco ao Sistema de Registro de Preços constante da Lei n. 8.666/93, regulamentada pelo

Decreto n. 3.931/2001.

Outro ponto que não restou esclarecido refere-se à remuneração da contratada. Extrai-se

dos autos que a empresa Ticket sagrou-se vencedora com a taxa de administração de 0%. Após

a alegação inicial de que a taxa de zero por cento representaria quase que uma contratação sem

custo para a SR/DPF/RJ, o presidente da CPL, desta feita em razões de justificativas, embora

reconheça que a remuneração da Ticket Serviços será definida pela taxa que cobra das oficinas

credenciadas (taxa de rede), insiste no argumento de que esse é um „ônus que deve ser encarado

como o preço de utilização de um sistema cujas vantagens‟ „tornam a relação custo-benefício

altamente favorável à Administração Pública‟ (fl. 302, vol. 1).

O fato de a Administração não saber ao certo o valor que será pago à contratada título de

remuneração torna, por si só, temerária a contratação em destaque, haja vista decorrer daí ofensa

a princípios comezinhos das licitações públicas. No ponto, a Secex/RJ examinou com precisão a

matéria, tendo concluído que: „A aceitação da cobrança de comissão obscura pela Administração

Pública transgride os princípios da legalidade, moralidade, isonomia e seleção da proposta mais

vantajosa. Afeta a legalidade e a moralidade, porque é preço não-declarado. Afeta a igualdade

entre os licitantes, porque uma parcela da composição dos preços não é conhecida dos demais.

Afeta a seleção da proposta mais vantajosa, porque não há garantias de que serão contratados os

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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menores preços, já que a comissão repercutirá diretamente nos preços cotados pelas oficinas

credenciadas, majorando os valores dos serviços e peças‟ (fl. 320, vol. 1).

No mais, são de todo louváveis as iniciativas voltadas para otimizar os mecanismos de

gestão administrativa, com a adoção de sistemas de controle mais ágeis e eficientes. Assim, não

há como questionar a importância de relatórios gerenciais como ferramentas de controle,

sobretudo no tocante ao processo de tomada de decisões no qual se exige sempre uma resposta

rápida e eficaz do agente público. Advirta-se, no entanto, que em nome da eficiência

administrativa não podem ser cometidos atropelos da legislação e de princípios básicos que

regem a atividade administrativa. Em nome de uma gestão que se diz mais ágil o interesse do

órgão contratante (interesse secundário) não pode se sobrepor ao interesse da coletividade

(interesse primário) traduzido pela adoção do regular procedimento licitatório.

No caso concreto, negligenciou-se o interesse público primário, na medida em que os

componentes formadores do preço (o valor das peças e o preço da hora da mão-de-obra por

serviço discriminado) não foram submetidos à disputa pública. Ademais, o DPF não conseguiu

demonstrar a incompatibilidade entre a licitação dos serviços de administração e gerenciamento

de manutenção e a realização de disputa pública dos descontos sobre peças e mão-de-obra em

relação à tabela de preços das montadoras, não se justificando, portanto, a ausência de

economicidade da licitação.

Diante de tudo o que foi dito, não há como discordar do juízo a que chegou a unidade

técnica no sentido de que o modelo de contratação concebido no Pregão Eletrônico n. 017/2008

ofende o princípio da impessoalidade, restringe o caráter competitivo do certame e não assegura

a obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração.

Impõe-se, assim, a nulidade do certame e, por conseguinte, a de todos os contratos que

porventura tenham sido firmados entre as unidades da Polícia Federal e a Ticket Serviços S/A,

com base na licitação ora impugnada [a SR/DPF/RJ informou, no expediente de fls. 296/299, de

02/02/2009, que, das 34 unidades gestoras do DPF, 25 já assinaram contratos com a Ticket

Serviços S/A].

Em relação aos efeitos práticos da declaração de nulidade sobre contratos com execução

em curso, não é estranho ao Ministério Público que a jurisprudência do TCU, excepcionalmente

e diante das circunstâncias específicas de cada situação concreta, admite que um ato ilegal

continue a produzir efeitos se o prejuízo resultante da sua anulação puder ser maior do que o

decorrente da sua permanência. Nota-se, contudo, que as circunstâncias impeditivas da anulação

do ato devem estar muito bem caracterizadas, demonstrando-se de forma inequívoca a presença

de relevantes razões de segurança jurídica, razoabilidade, economicidade e interesse público.

Todavia, o contexto fático-probatório descrito nos autos é insuficiente para permitir um

juízo seguro de que a manutenção dos contratos firmados entre as unidades da Polícia Federal e a

Ticket Serviços, a partir do malsinado pregão, efetivamente atenderá melhor ao interesse público

do que a sua anulação.

Não constam dos autos, p. ex., as datas de celebração desses contratos, andamento da

execução, valores, enfim, não há informações que possam excepcionar a regra segundo a qual o

ato administrativo ilegal deve ser anulado.

Assim, considero adequada a determinação proposta pela unidade técnica no sentido de

que a nulidade do pregão alcance todos os contratos eventualmente firmados entre as unidades

gestoras da Polícia Federal e a Ticket Serviços. Por óbvio que não se quer, com isso, inviabilizar

a atividade policial com a paralisação das viaturas. Então, caberá à Polícia Federal, no âmbito da

discricionariedade administrativa, e até que se ultime o regular procedimento licitatório, avaliar a

melhor alternativa para o caso, a fim de que não haja solução de continuidade dos serviços de

segurança pública, sem descuidar, é claro, da observância da legislação em vigor e das razões de

interesse público.”

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 15

17. Ante o exposto, o Procurador-Geral junto a este Tribunal manifesta-se de acordo com a

proposta formulada pela Secex/RJ às fls. 322/323, v. 1, sugerindo, apenas para melhor adequação

formal das proposições ali consignadas, que a redação das determinações contidas no subitem 15.1

retro seja alterada, constando como fundamento o art. 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c o art.

45 da Lei n. 8.443/1992, relativamente à assinatura de prazo para anulação do Pregão Eletrônico n.

17/2008 – CPL/SR/DPF/RJ e dos contratos dele decorrentes, eventualmente já firmados.

18. Presentes os autos neste Gabinete, os representantes legais da empresa Ticket Serviços

S/A. apresentaram o Memorial de fls. 01/14 do Anexo 2, acompanhado das cópias dos contratos

firmados entre as unidades da Polícia Federal e a Ticket Serviços S/A, com base na licitação ora

impugnada (fls. 15/342, Anexo 2). Ao final, os interessados requerem ao Tribunal seja (fls. 13 e 14,

Anexo 2):

18.1. considerada improcedente a Representação da inicial e, via de conseqüência,

revogada a liminar exarada;

18.2. permitido ao Departamento de Polícia Federal computar na vigência da ata o prazo

em que esteve suspensa cautelarmente;

18.3. excepcionalmente, caso não acolhidos os pleitos anteriores, permitida a continuidade

dos contratos já celebrados, a fim de evitar prejuízos maiores ao interesse público, devido à

necessidade dos serviços prestados e a possibilidade de comprometer a utilização da frota de veículos

do Departamento de Polícia Federal.

19. No dia 1º/07/2009, a Ticket Serviços S/A protocolizou nesta Corte de Contas o documento

de fls. 332 a 343, v. 1, cujo teor informa o oferecimento gracioso por parte da empresa à Polícia

Federal do Rio de Janeiro do Sistema Órion que permitirá o controle de preços de mercado à vista de

peça e de mão-de-obra empregadas nos serviços de manutenção de veículos.

20. Posteriormente, a referida empresa requereu, no dia 02/07/2009, a juntada do estudo que

ensejou a escolha da moderna sistemática de prestação de serviço de gerenciamento de abastecimento

de veículos e outros serviços pelos órgão e entidades do Estado de São Paulo (fls. 344 a 373, v. 1 ).

21. Por fim, registro que na Sessão de 08/07/2009, os autos vieram à apreciação deste Plenário,

oportunidade em que o Exmo. Ministro Aroldo Cedraz, com fundamento no art. 112 do Regimento

Interno, solicitou vista do processo. Posteriormente, o Exmo. Ministro Benjamin Zymler também

pediu vista dos autos na sessão de 14/10/2009.

É o Relatório.

VOTO REVISOR

Preliminarmente, cabe louvar o excelente trabalho apresentado pelo Excelentíssimo Senhor

Ministro Marcos Bemquerer Costa na condução destes autos. Todavia, por entender que o acórdão

proposto merece reparos, peço vênias ao ilustre Relator para discordar de suas conclusões.

2. Cuidam os autos de representação encaminhada a esta Corte pela empresa Peça Oil

Distribuidora Ltda., com pedido de medida de cautelar, noticiando a ocorrência de possíveis

irregularidades no Pregão Eletrônico nº 17/2008, conduzido pela Superintendência Regional do

Departamento de Polícia Federal no Rio de Janeiro (SR/DPF/RJ).

3. O aludido certame tem por objeto o registro de preços para a “contratação de empresa

especializada na prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção preventiva e

corretiva de veículos automotivos, com fornecimento de peças e acessórios originais e transporte por

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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guincho, com implantação e operação de sistema informatizado e integrado para gestão de frota por

meio de internet, através de rede de estabelecimentos credenciados, para atender a SR/DRF/RJ como

gerenciadora e as demais unidades do DPF como participantes”.

4. Fundado nas conclusões da Secex/RJ, o Excelentíssimo Senhor Ministro Ubiratan Aguiar

concedeu a cautelar pleiteada pela representante para suspender o pregão em tela, ao mesmo tempo em

que determinou a audiência do Superintendente e do pregoeiro da SR/DPF/RJ, em razão do

descumprimento do art. 3º da Lei nº 8.666/1993 e, em especial, dos seguintes fatos (fls. 281/285):

“14.2.1. a ausência de disputa pública dos itens a seguir indicados:

a) dos preços efetivos a serem contratados, os quais, neste certame, são resultantes dos

descontos a serem ofertados pelas oficinas sobre a Tabela de Preço Oficial da montadora

do veículo, não definidos previamente;

b) do valor-hora da mão-de-obra por serviço discriminado, constante da Tabela de

Tempos Padrão de Reparos;

14.2.2 a exigência de prestação dos serviços em âmbito nacional, que restringe a

competitividade do certame;

14.2.3. a falta de respaldo legal na definição de um particular como responsável pela

apresentação dos orçamentos para a prestação dos serviços necessários e negociações

diretamente com as oficinas credenciadas, aprovando a execução dos serviços no

estabelecimento de sua preferência, cabendo esclarecer, ainda, a divergência de

informações no que diz respeito a essa responsabilidade, que, segundo a empresa Ticket

Serviços, recairia sobre o gestor da frota, mas, de acordo com o SR/DPF/RJ,

administradora contratada é que teria essa incumbência.”

5. Por meio da instrução de fls. 319/323 (vol. 1), a Unidade Técnica considerou que as

alegações apresentadas não foram suficientes para descaracterizar as ocorrências que ensejaram a

oitiva dos responsáveis, razão pela qual propôs, em síntese, a anulação da licitação em tela e de todos

os contratos dela decorrentes.

6. O Ministério Público, representado nos autos pelo Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado,

anuiu, com alguns ajustes de forma, à proposta de encaminhamento da Unidade Técnica (fls. 326/331,

v. 1).

7. O nobre Relator dos autos divergiu dos pareceres precedentes. Segundo o Ministro Marcos

Bemquerer Costa, há nos autos indícios de que o novo procedimento aventado pela SR/DPF/RJ para

manutenção de sua frota possa ser mais econômico do que o anteriormente adotado, tendo em vista

que o teto máximo estabelecido pelo edital para gasto com peças e serviços de mão-de-obra, no valor

de R$ 16.423.000,00, encontra-se abaixo dos gastos realizados pelo órgão no exercício anterior, no

total de R$ 17.270.330,70.

8. O Relator salientou ainda que os métodos antes utilizados pela Polícia Federal para a

contratação dos aludidos serviços, ajustes firmados diretamente com oficinas, não estavam atendendo

as necessidades de logística do órgão, além de demandar o uso constante de suprimento de fundos para

fazer frente a despesas com manutenção em localidades não contempladas com oficinas estruturadas

para participar de um certame licitatório.

9. Assim, a implementação do procedimento ora licitado pela SR/DPF/RJ guardaria

correlação com o princípio da eficiência.

10. Anote-se que, pelas informações contidas nas minutas de Relatório e Voto distribuídas

pelo Relator, a pretensão da SR/DPF/RJ, com a realização da licitação em tela, seria substituir a

sistemática anterior de contratos de manutenção, celebrados diretamente com oficinas, por um modelo

de gerenciamento de veículos.

11. Por essa nova metodologia, seria transferido à contratada, além da administração da frota,

que se daria por meio de sistema informatizado de gestão, o encargo de cuidar da manutenção

preventiva e corretiva dos veículos, envolvendo o fornecimento de peças, acessórios e mão-de-obra,

por meio de rede credenciada de âmbito nacional.

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6y 17

12. Com efeito, não há como afastar, de plano, a possibilidade de existir vantagens

operacionais com a implementação desse novo modelo de contratação. Nada obstante, torna-se

necessário verificar se, a par de atender as necessidades de logística daquele órgão, a nova sistemática

amolda-se aos ditames da legislação que rege as contratações pelo setor público, notadamente no que

concerne aos princípios da impessoalidade e da seleção da proposta mais vantajosa para a

Administração.

13. Para melhor desenvolvimento desta análise, a matéria ora em debate foi dividida em seis

títulos. Nos quatro primeiros, que tratam da possível violação aos princípios da eficiência e da

economicidade, da fuga à licitação, da remuneração da contratada e do critério de julgamento, faço um

exame crítico da nova sistemática adotada pela SR/DPF/RJ para a contratação dos serviços de

manutenção de suas viaturas. No quarto, procuro apresentar alternativas para aprimorar o modelo

proposto, de forma a harmonizar suas premissas ao conjunto normativo vigente. Por fim, apresento

considerações sobre a necessidade de dar continuidade à contratação, a despeito das desconformidades

apresentadas.

14. Ressalvo, desde logo, que as sugestões apresentadas no quarto título, relativo ao modelo de

credenciamento, inserem-se no âmbito de discricionariedade do gestor, a quem compete avaliar a

conveniência e oportunidade de adotá-las. Isso porque não cabe a este Tribunal, no desempenho de

suas funções de controle, imiscuir-se no papel do administrador público, sob pena de ingerência

indevida nas atividades do ente jurisdicionado.

15. Esclareço, ainda, que ao formar minha convicção não deixei de ponderar a necessidade de

aperfeiçoamento dos procedimentos relativos às contratações estatais frente à realidade de mercado e

às demandas administrativas.

16. De fato, as aquisições de bens e serviços pela Administração Pública cingem-se ao

regramento imposto pelo sistema jurídico-normativo que as regula. Este sistema, todavia, não é infenso

ao influxo do natural processo evolutivo por que passam as relações comerciais. Ignorar este processo,

não permitindo sua transcendência à interpretação das leis, pode se revelar uma ameaça à estabilidade

jurídica pretendida pela legislação. O intérprete, ao atentar para estas circunstâncias, assegura ao

processo de subsunção do fato à norma não apenas a estabilidade das relações reguladas, como

também, e principalmente, o caráter de atualidade de que deve se revestir as normas jurídicas.

17. Dentro desse contexto, entendo não ser possível ignorar este processo evolutivo

permanente das normas, que deve ser sopesado com reflexão e moderação por esta Corte, notadamente

em vista de seu papel de órgão fiscalizador.

DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E DA ECONOMICIDADE

18. De início, observo que o critério de julgamento adotado para a definição do licitante

vencedor compromete qualquer avaliação quanto à vantajosidade do certame, pois somente a taxa de

administração, que representa apenas 3,5% do valor estimado para o contrato, foi submetida à disputa

pública por meio do Pregão Eletrônico nº 17/2008.

19. Vale dizer, os itens que efetivamente compõem os custos relativos à manutenção dos

veículos, preços de peças e mão-de-obra, no total estimado de R$ 16.423.000,00, não foram objeto de

concorrência.

Assim, a Administração da SR/DPF/RJ acabou por abrir mão de possíveis descontos que poderia obter

se envolvesse esses itens, de significativa representatividade, no critério de julgamento do certame.

20. Registre-se que, ao final dos lances efetuados pelas participantes na licitação em exame, a

taxa de administração ofertada pela Ticket Serviços S/A atingiu o patamar de 0%, o que apenas

evidencia a insignificância da parcela do objeto colocada em disputa.

21. De acordo com o novo procedimento que se pretende implementar, na hipótese de uma

viatura necessitar de manutenção, ela será encaminhada a um estabelecimento credenciado pela

contratada para que seja verificado o tipo de serviço a ser realizado e as peças que eventualmente serão

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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substituídas. Após, a contratada solicitará aos estabelecimentos de sua rede credenciada que ofereçam,

no mínimo, três orçamentos, tendo como limite máximo os valores constantes da tabela de preços

oficial da montadora do veículo. Esses orçamentos serão encaminhados ao fiscal do contrato, para

escolha daquele de menor valor, verificação da regularidade do estabelecimento credenciado e

autorização do serviço.

22. Consoante se verifica, pela rotina acima descrita, apesar de os preços das oficinas

credenciadas apresentarem como limite máximo os valores constantes da tabela de preços oficial da

montadora do veículo, nada assegura que a Administração conseguirá preço menor (melhor desconto)

do que aquele que obteria caso todas as oficinas interessadas, credenciadas ou não pela contratada,

participassem da competição.

23. Na realidade, a ausência de disputa em torno dos preços das peças e dos serviços deixa em

aberto o valor a ser pago pela Administração durante a execução do ajuste, o que impede a verificação

da vantajosidade da proposta contratada.

24. Registre-se, ademais, que todo esse procedimento é insuscetível de controle por parte do

Estado, já que a contratada determina, de forma unilateral, as oficinas que participarão da coleta de

preços para execução dos serviços. Nesse momento, abre-se a janela do arbítrio para a escolha de

empresas que convenham ao interesse da contratada.

25. Segundo o eminente Relator, o fato de as despesas concernentes à execução do futuro

contrato estarem limitadas aos dispêndios efetuados pela SR/DPF/RJ no exercício anterior para os

mesmos serviços impede que se conclua, no caso concreto, por possível violação ao princípio da

economicidade.

26. De fato, adotando-se como parâmetro a comparação com os dispêndios efetuados no

exercício financeiro precedente não se pode concluir que o órgão contratante infringiu o princípio da

economicidade. Contudo, também não há garantias de que, com a limitação imposta pelo edital ora

questionado, esse princípio será observado.

27. Na realidade, a economicidade da contratação deve ser analisada não apenas pelo valor

global das despesas realizadas, mas, sim, pelo confronto desse valor com o quantitativo de serviços

executados. Explico. É possível gastar R$ 16 milhões com a contratação de 500 unidades de serviço

em um exercício e despender R$ 17 milhões para 1.000 unidades do mesmo serviço em outro

exercício. Sob esse prisma, é evidente que o gasto de R$ 17 milhões, apesar de maior, revela-se mais

econômico se comparado ao exercício anterior, em que a despesa totalizou R$ 16 milhões.

28. Ademais, diante da amplitude do objeto contratado, não é possível afirmar que os serviços

já executados e os preços cobrados serão os mesmos do contrato em exame.

29. Outrossim, nada impede que, em uma situação hipotética, o exercício tomado como

paradigma tenha seus valores viciados e com isso a Administração prorrogue um erro no tempo.

30. Registre-se que, de acordo com o texto constitucional, a licitação é instrumento jurídico

disciplinado para a realização de valores fundamentais e para o atingimento de certos fins impostos à

Administração, enumerados, em especial, no art. 3º da Lei nº 8.666/1993. Por isso, revela-se

inapropriada a adoção de procedimentos que, embora formalmente harmonizados com o texto

legislativo, tragam consigo a possibilidade de afronta a esses valores.

31. Assim, em que pese o edital ter estabelecido teto máximo para gasto com peças e serviços

de mão-de-obra inferior aos gastos realizados pela SR/DFP/RJ no exercício anterior, não há como

negar que a forma de contratação pretendida afronta, em certa medida, o princípio da eficiência, por

impedir a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração.

DA FUGA À LICITAÇÃO

32. Da referida sistemática, resta ainda violação ao princípio da licitação, na medida em que a

Administração da SR/DPF/RJ está transferindo para um particular a prerrogativa de selecionar as

oficinas que, além de apresentar as propostas, executarão os serviços de manutenção.

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33. Isso porque, apesar de o objeto do pregão em tela ser a seleção de empresa para prestação

de serviços de administração e gerenciamento da frota de veículos da Polícia Federal, as informações

trazidas aos autos deixam claro que o procedimento escolhido pela SR/DPF/RJ tem por objetivo

contratar os serviços de manutenção de suas viaturas. Prova disso é o fato de os valores envolvidos na

contratação destinarem-se exclusivamente ao pagamento de peças e serviços.

34. Na realidade, o resultado do certame em análise será a possibilidade de contratação, sem

licitação, das oficinas integrantes da rede credenciada da Ticket Serviços S/A. Mas não é apenas isso.

Como será a administradora contratada que solicitará aos estabelecimentos de sua rede credenciada a

apresentação de três orçamentos, a Administração está transferindo para um particular a prerrogativa

de selecionar a empresa para prestar os serviços de que necessita, o que vai de encontro aos princípios

das licitações públicas.

35. Mas não é só. Como é a contratada que detém o poder de incluir ou excluir oficinas de sua

rede credenciada, será a Ticket Serviços S/A, ao fim e ao cabo, que delimitará a competição possível.

Vale dizer, quem decidirá os “potenciais licitantes” será a empresa contratada, num procedimento que

não encontra amparo na legislação.

36. Ademais, consoante destacou o representante do Ministério Público, na situação que ora se

coloca também se vislumbra violação aos princípios da impessoalidade e da isonomia, na medida em

que o edital atribui ao fiscal do contrato, em cada caso, a avaliação da relação custo-benefício entre os

descontos apresentados e as distâncias envolvidas. Contudo, não há qualquer critério objetivo sobre

como essas variáveis serão ponderadas a fim de se alcançar a proposta mais vantajosa.

37. Na realidade, pouco importa quem selecionará a oficina que executará os serviços, se a

contratada ou o fiscal do contrato. O que não se coaduna com o ordenamento jurídico é a falta de

critérios objetivos para a seleção da proposta mais vantajosa e a restrição evidente da competitividade

do certame, em face do arbítrio absoluto conferido a um particular.

38. Diria mais. Há grande potencial de ofensa ao princípio da moralidade no procedimento que

se pretende implementar. A contratada, de acordo com as informações prestadas, deve cobrar das

oficinas pelo credenciamento. Assim sendo, detém poder quase absoluto para decidir quem participará

ou não do certame. Se o arbítrio é vedado ao Estado, mesmo na defesa do interesse público, como

imaginar um procedimento que confere ao particular um poder dessa magnitude.

DA REMUNERAÇÃO DA CONTRATADA

39. No caso em exame, outro ponto que chama a atenção refere-se à remuneração da

contratada.

40. Pelo que ressai dos autos, a empresa Ticket sagrou-se vencedora do certame com taxa de

administração de 0%, o que, em princípio, representaria uma contratação sem custo para a SR/DFP/RJ.

41. O presidente da Comissão Permanente de Licitação, em suas razões de justificativas,

admitiu que a administradora cobrará uma comissão das oficinas credenciadas. Contudo, não se tem

notícias do valor dessa remuneração.

42. Esse fato, por si só, torna essa contratação temerária para o Poder Público. No ponto, a

Secex/RJ examinou com precisão a matéria, tendo concluído que: “A aceitação da cobrança de

comissão obscura pela Administração Pública transgride os princípios da legalidade, moralidade,

isonomia e seleção da proposta mais vantajosa. Afeta a legalidade e a moralidade, porque é preço

não-declarado. Afeta a igualdade entre os licitantes, porque uma parcela da composição dos preços

não é conhecida dos demais. Afeta a seleção da proposta mais vantajosa, porque não há garantias de

que serão contratados os menores preços, já que a comissão repercutirá diretamente nos preços

cotados pelas oficinas credenciadas, majorando os valores dos serviços e peças”.

43. Não se pode olvidar, ademais, que essa comissão não declarada, que possivelmente será

cobrada pela Ticket Serviços S/A de suas credenciadas, afronta o princípio da publicidade, na medida

em que não se terá notícias sobre a efetiva remuneração da contratada durante a execução do ajuste.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

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DO CRITÉRIO DE JULGAMENTO

44. Via de regra, a contratação de bens e serviços pela Administração Pública observa regras

comumente respeitadas no mercado. In casu, não é usual a contratação de agenciadora para

intermediar serviços de manutenção de veículos a serem prestados por oficinas mecânicas. Assim,

qualquer inovação nesse sentido por parte do administrador deve adotada com muita cautela, sempre

na defesa do interesse público e em harmonia com os princípios da atividade administrativa.

45. Certo é que as circunstâncias de mercado impõem ao Estado limitações no momento de

suas contratações, no que se refere à definição da modalidade de licitação, sua inexigibilidade ou

dispensa, tipo e especificação do objeto. Tanto que esta Corte vem admitindo, ao longo do tempo,

variações em torno do modelo legal para viabilizar contratações de acordo com as situações fáticas

encontradas no dia a dia da Administração, atinentes a mercados específicos.

46. Nesse sentido, o critério de julgamento que leva em consideração o “maior desconto”

incidente sobre uma base referencial é aceito na contratação de combustíveis, passagens aéreas e,

recentemente, na manutenção de veículos (Acórdão nº 818/2008 - 2ª Câmara, Relator Ministro Aroldo

Cedraz).

47. Não se pode olvidar, contudo, preocupação já externada pelo Ministro Aroldo Cedraz ao

relatar o Acórdão nº 818/2008 - 2ª Câmara, no sentido de que os contratos decorrentes de

procedimentos licitatórios calcados no critério de maior desconto aplicável a uma determinada planilha

de preços são mais vulneráveis a fraudes e majorações de valores, se comparados àqueles que têm em

suas origens licitações julgadas com base no menor preço, seja global ou unitário. Cite-se, como

exemplo, a possibilidade de elevação nos valores das tabelas de preços utilizadas como referência no

contrato, as quais podem ser alteradas de forma alheia ao controle do Estado e, até mesmo, em comum

acordo entre fornecedor e contratada.

48. Em vista disso, a despeito de o TCU admitir a adoção desse critério de julgamento, que ao

final leva ao mesmo resultado da licitação do tipo menor preço, apenas o faz em situações bem

específicas, quando o critério de seleção fundado no maior desconto for o único material e

economicamente viável, em vista das circunstâncias fáticas do mercado. Ilustram essas situações as

contratações de jornais e revistas, serviços de transporte aéreo e combustíveis.

49. Contudo, em todas essas hipóteses, é conferido ao Estado a possibilidade de contratar o

objeto desejado diretamente. Aplica-se o “maior desconto” tão somente como fórmula matemática

para se chegar ao menor preço. Isso porque esses intermediários (distribuidoras ou bancas de jornais e

revistas, agências de viagem e postos de combustíveis), via de regra, não detém o poder de escolha do

fornecedor que, ao final, atenderá às necessidades da Administração.

50. Na compra de passagens, por exemplo, a Administração tem ampla liberdade de definir a

companhia aérea que prestará os serviços de transporte, levando em consideração o roteiro, os horários

e os valores que melhor atendam a seus interesses. Basta, para isso, consultar essas informações nos

endereços eletrônicos das companhias aéreas na internet. Definido o vôo, a Administração informa a

agência de viagem, que providenciará a emissão da passagem.

51. Veja que, nessa situação, é possível à Administração ter pleno controle sobre a escolha do

prestador final do serviço, com base em critérios transparentes e objetivos.

52. No procedimento em exame nestes autos não. A contratada, ao determinar de forma

unilateral as oficinas que participarão da coleta de preços, retira do Estado o controle sobre a execução

dos serviços que serão prestados, impedindo, inclusive, a aplicação, in concreto, do disposto no art. 67

da Lei nº 8.666/1993.

53. Ademais, diferentemente das contratações de jornais e revistas, serviços de transporte

aéreo e combustíveis, o arbítrio conferido ao particular com a metodologia que se pretende

implementar possibilita, em tese, a ocorrência de desvios no interesse da contratada, na medida em que

será essa empresa que definirá os possíveis fornecedores da Administração.

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6y 21

54. Outrossim, não há como negar que a sistemática ora proposta gera incerteza, em nível

considerável, da capacidade de as oficinas credenciadas pela contratada prestarem, de forma

satisfatória e confiável, os serviços pretendidos. Isso não ocorre nas contratações diretas, assim

entendidas aquelas em que não há intermediação de terceiros na prestação de serviços, nem naquelas

em que, em função das circunstâncias de mercado, tem-se admitido a interferência de um particular na

efetiva execução do objeto, a exemplo dos contratos para o fornecimento de jornais e revistas,

combustíveis e serviços de transporte aéreo já mencionados.

55. Veja que, no primeiro caso, a legislação fornece à Administração instrumentos concretos

para que seja verificada a capacidade do interessado em prestar os serviços, relacionados, em especial,

no art. 30 da Lei nº 8.666/1993. Já na segunda hipótese, a Administração tem, como regra, a

possibilidade de indicar exatamente o produto ou serviço que lhe convém.

DO CREDENCIAMENTO

56. No mais, reconheço como louváveis iniciativas voltadas a otimizar os mecanismos de

gestão administrativa com a adoção de procedimentos mais ágeis simplificados. Contudo, entendo que

não se pode, em nome da eficiência administrativa, deixar de ter em conta as regras da legislação,

tampouco preceitos que regem a Administração Pública, como os princípios da moralidade e da

impessoalidade.

58. No caso concreto, evidencia-se descompasso entre a nova metodologia proposta pelo DPF

e o ordenamento jurídico, em especial no que se refere à validade da delegação conferida à contratada

para selecionar as oficinas que apresentarão os orçamentos para a execução dos serviços. Torna-se

necessário, assim, buscar novas formas de contratação que, a par de atender as necessidades da Polícia

Federal, se amoldem ao conjunto normativo vigente.

59. Segundo o Relator dos autos, os métodos antes utilizados pela Polícia Federal para

contratação de serviços desse jaez – avenças celebradas diretamente com oficinas – não vem

atendendo as necessidades de logística policial de forma satisfatória. O Relator cita, inclusive, a

existência de documento lavrado em 31/01/2008 (fl. 182), pelo fiscal do contrato relativo ao ano de

2008, que atesta haver inúmeras viaturas da SR/DPF/RJ paradas na oficina desde 2007, além de

diversos problemas relacionados ao tema (fl. 183).

60. Com efeito, trata-se de serviço diferenciado, considerando não apenas o vulto da

contratação, no total estimado de R$ 16.423.000,00, mas também o tamanho, a dispersão e as

condições de uso da frota. A esse propósito, observo que as necessidades operacionais da Polícia

Federal, por vezes, demandam o deslocamento de viaturas em missões externas para todo território

nacional. Em conseqüência, surge a necessidade de utilização dos serviços de manutenção desses

veículos em locais geograficamente não determinados.

61. Ressalvada a liberdade do gestor público, no campo da discricionariedade, para a adoção

de medida mais adequada, vislumbro, à primeira vista, no caso concreto, duas possíveis alternativas

para atendimento das demandas da Polícia Federal: ou os contratos firmados pelas diferentes unidades

da Polícia Federal passam a prever a cobertura das viaturas deslocadas de outros estados em missões

especiais; ou o órgão adota, dentro do sistema de credenciamento, um modo de selecionar a oficina

que oferecer, em cada serviço, a melhor oferta de preço.

62. Ressalte-se que, na primeira hipótese, a Administração pode se valer, inclusive, da

prerrogativa contida no § 1º do art. 65 da Lei nº 8.666/1993, que permite o acréscimo de até 25% do

valor originalmente pactuado, para atender a demandas não previstas por ocasião da contratação.

63. Quanto à segunda alternativa, observo que esta Corte tem considerado legal a utilização do

credenciamento quando, em vista das particularidades do objeto contratado, torna-se conveniente e

viável para a Administração a contratação de um número ilimitado de interessados (Acórdãos nº

642/2004 e 1.751/2004, ambos do Plenário).

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 22

64. O credenciamento deve ser precedido de processo de convocação, por meio de edital, no

qual deverão estar descritos os requisitos de habilitação jurídica e de qualificação técnica, além de

critérios objetivos para a remuneração e distribuição dos serviços entre as oficinas selecionadas, de

forma a privilegiar o princípio da isonomia entre os interessados.

65. Logo, assim como numa licitação, o credenciamento realizado pela Administração cumpre

o objetivo de tornar o processo de escolha das oficinas mais nítido, amplo e acessível a todos que se

interessem pela prestação do serviço e que reúnam as condições para tanto, sejam grandes

estabelecimentos ou pequenas oficinas localizadas em cidades do interior.

66. Além disso, e o que importa para fins de aperfeiçoamento da sistemática em exame nestes

autos, a convocação realizada pela Administração tem o condão de retirar do particular o poder de

decisão quanto à oficina a ser demandada para a execução dos serviços.

67. Via de regra, no credenciamento, a Administração estabelece o preço máximo a ser pago

pelos serviços. Ao comentar as características do sistema de credenciamento de prestadores de

serviços, Jorge Ulisses Jacoby Fernandes adverte que “a fixação dos valores previamente pela

Administração implica o dever inafastável de comprovar e demonstrar (...) a vantagem ou igualdade

dos valores definidos em relação à licitação convencional ou preços de mercado. Essa justificativa será

objeto de futuro exame perante as esferas de controle, nos termos da lei.” (in Contratação Direta sem

Licitação, Brasília Jurídica, 5ª ed., 2004, p. 533)

68. Com razão, embora o credenciamento não seja compatível com o procedimento licitatório,

trata-se, na opinião dos juristas, de caso de inexigibilidade de licitação pela inviabilidade ou pela

desnecessidade de competição, dado que, em tese, todos os interessados na prestação do serviço ficam

disponíveis para a contratação. Assim, são exigidos os elementos prescritos no parágrafo único do art.

26 da Lei nº 8.666/93, entre eles a justificativa do preço fixado pela administração contratante.

69. Cumpre lembrar que o fato de a Administração fixar preços máximos de contratação não

impede que sejam adotados, dentro do sistema de credenciamento, procedimentos objetivos de escolha

da empresa que executará os serviços. Por exemplo, o edital de convocação do credenciamento pode

permitir que as oficinas interessadas ofereçam, a priori, percentuais de desconto sobre determinada

tabela de preços para peças e serviços. Esses descontos podem ser utilizados como parâmetro objetivo

para a escolha das empresas que apresentarão, no futuro, orçamento para execução dos serviços de

manutenção.

70. A propósito, a Administração pode, sempre que a situação permitir, solicitar diferentes

cotações para os serviços, de maneira a acirrar a competição e reduzir preços. Para tanto, é possível

valer-se, inclusive, de recursos de tecnologia da informação, facultando aos credenciados a

oportunidade de oferecer cotações eletrônicas para os serviços.

71. É possível, ainda, estabelecer o rodízio entre os cadastrados, à semelhança do que dispõem

os §§ 6º e 7º do art. 23 da Lei nº 8.666/1993.

72. Importa anotar, ademais, que a inexigibilidade não significa um descompromisso com o

controle e com os princípios da moralidade e da impessoalidade. Em vista disso, a opção pelo

credenciamento deve ser precedida de amplo estudo por parte da Administração, por meio do qual se

demonstre a vantajosidade e a conveniência da adoção desse procedimento, o qual, se admitido, deve

observar com rigor os princípios que regem a atividade administrativa.

73. A propósito, a opção pelo credenciamento não impede, a meu ver, a contratação de

terceiros para auxiliar a Polícia Federal no cadastramento das oficinas e manutenção do banco de

dados. É claro que essa hipótese demandaria da Administração a realização do prévio procedimento

licitatório, como forma de escolha da contratada, a qual teria sua remuneração desvinculada dos

serviços de manutenção.

DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 23

74. Diante de tudo o que foi dito, não há como discordar do juízo a que chegaram a Unidade

Técnica e o Ministério Público, no sentido de que o modelo de contratação concebido no Pregão

Eletrônico nº 17/2008 ofende o princípio da impessoalidade, restringe o caráter competitivo do

certame e não assegura a obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração.

75. Cogitei, por esse motivo, apresentar proposta declarando a nulidade do certame e, por

conseguinte, a de todos os contratos que porventura tenham sido firmados entre as unidades da Polícia

Federal e a Ticket Serviços S/A, com base na licitação ora impugnada.

76. Não se pode olvidar, contudo, que o ordenamento jurídico, a par de estabelecer os

princípios que devem ser observados por ocasião das contratações públicas, sinaliza a necessidade de

se garantir a prestação ininterrupta e satisfatória do serviço público.

77. No caso concreto, considero que a aventada declaração de nulidade do certame implicaria

ilicitude de maior gravidade do que aquela decorrente da falta de observância das normas que regem o

procedimento licitatório. Isso porque a anulação dos contratos poderia comprometer o regular

desenvolvimento da prestação dos serviços desempenhados pela Polícia Federal.

78. Assim sendo, em respeito ao princípio da continuidade do serviço público, entendo que o

TCU deva permitir a execução dos contratos em tela pelo prazo estritamente necessário à realização de

novos estudos sobre a forma de contratação dos serviços e realização de outra licitação, se for o caso.

79. A proposta ora apresentada demanda desta Corte a necessidade de uma observação mais

acurada da forma de prestação dos serviços de manutenção de veículos da Polícia Federal, motivo pelo

qual julgo adequado determinar à Secex/RJ que, nos termos do art. 241, II, do Regimento Interno,

promova o acompanhamento dos presentes contratos e dos futuros ajustes que se seguirão.

80. Tendo em vista que o Relator dos autos acolheu em parte a proposta por mim apresentada,

acompanho Sua Excelência no encaminhamento destes autos.

Diante do exposto, com as vênias de estilo por divergir, Voto no sentido de que o Tribunal

aprove o Acórdão que ora submeto à apreciação deste Plenário.

TCU/Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Sousa, em 18 de novembro de 2009.

Benjamin Zymler

Ministro

PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO

A presente Representação, encaminhada a esta Corte pela empresa Peça Oil Distribuidora

Ltda., com pedido de concessão de cautelar, merece ser conhecida, porquanto encontra amparo no § 1°

do art. 113 da Lei n. 8.666/1993, c/c os arts. 237, inciso VII, e 235 do Regimento Interno/TCU.

2. A Representante registra a ocorrência de possíveis irregularidades no edital do Pregão

Eletrônico n. 017/2008 deflagrado pela Superintendência Regional do Departamento da Polícia Federal

no Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ.

3. O objeto do certame em foco consiste na “contratação de empresa especializada na

prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção preventiva e corretiva de

veículos automotivos, com fornecimento de peças e acessórios originais e transporte por guincho, com

implantação e operação de sistema informatizado e integrado para gestão de frota por meio de

internet, através de rede de estabelecimentos credenciados, para atender a SR/DRF/RJ como

gerenciadora e as demais unidades do DPF como participantes”.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 24

4. Após o exame inicial da matéria pela Secex/RJ, determinei, mediante o Despacho de fl.

167, a oitiva prévia da empresa Ticket Serviços S/A, vencedora do torneio licitatório, e do órgão

empreendedor do edital do Pregão Eletrônico n. 017/2008 (SR/DPF/RJ), o qual ofereceu arrazoado

subscrito pelo Sr. Marcus Vinicius Peixoto da Costa, presidente da Comissão Permanente de Licitação

– CPL.

5. Com fulcro na instrução da unidade técnica de fls. 277/280, v. 1, o Exmo Ministro-

Presidente Ubiratan Aguiar concedeu a medida cautelar pleiteada pela representante (referendada pelo

Plenário na sessão de 21/01/2009, Ata n. 02/2009) para suspender o pregão ora em exame, ao mesmo

tempo em que determinou a adoção de medidas no sentido de promover audiência do Superintendente

e do pregoeiro da SR/DPF/RJ, em face do descumprimento do art. 3º da Lei n. 8.666/1993 (que veicula

os princípios orientadores da licitação) e, em especial, dos seguintes fatos (fls. 281/285, v. 1):

5.1. ausência de disputa pública acerca:

a) dos preços efetivos a serem contratados, os quais, neste certame, são resultantes dos

descontos a serem ofertados pelas oficinas sobre a Tabela de Preço Oficial da montadora do veículo,

não definidos previamente;

b) do valor-hora da mão-de-obra por serviço discriminado, constante da Tabela de Tempos

Padrão de Reparos;

5.2. a exigência de prestação dos serviços em âmbito nacional, que restringe a

competitividade do certame;

5.3. a falta de respaldo legal na definição de um particular como responsável pela

apresentação dos orçamentos para a prestação dos serviços necessários e negociações diretamente com

as oficinas credenciadas, aprovando a execução dos serviços no estabelecimento de sua preferência,

cabendo esclarecer, ainda, a divergência de informações no que diz respeito a essa responsabilidade,

que, segundo a empresa Ticket Serviços, recairia sobre o gestor da frota, mas, de acordo com a

SR/DPF/RJ, a administradora contratada é que teria essa incumbência (este item ficou prejudicado

diante do esclarecimento de que a solicitação e a correspondente seleção das propostas ficariam a

cargo do DPF).

6. A unidade técnica, em derradeira instrução (fls. 319/323, v. 1), considerou que as razões de

justificativas ofertadas não foram suficientes para descaracterizar as ocorrências que ensejaram as

audiências dos responsáveis, por não restar comprovada a observância dos princípios que regem os

certames públicos, mormente, os princípios da legalidade, moralidade, isonomia e seleção da proposta

mais vantajosa.

7. Em conseqüência, sugere ao Tribunal, em síntese, que determine: a) à SR/DPF/RJ a

anulação do Pregão Eletrônico n. 17/2008, abstendo-se de assinar o contrato com a empresa Ticket

Serviços S/A.; b) ao Departamento de Polícia Federal o exato cumprimento da lei para anular todos os

contratos que porventura tenham sido assinados entre suas unidades gestoras e a Ticket Serviços S/A.,

sob a égide do Pregão Eletrônico n. 17/2008; c) por fim, propõe seja cientificada a Segecex sobre a

contratação de sistema de gerenciamento de frota pela Superintendência Regional do Departamento de

Polícia Federal no Estado de São Paulo, para adoção de providências que julgar cabíveis, em face da

matéria analisada.

8. O parquet especializado, mediante o parecer de fls. 326/331, v. 1, manifesta-se de acordo

com as conclusões da unidade técnica, alvitrando alguns ajustes de forma nas proposições

consignadas.

9. Antes de adentrar o mérito do processo, registro que os representantes legais da empresa

Ticket Serviços S/A., quando da apresentação do Memorial noticiado no Relatório precedente,

ofereceram cópias dos contratos firmados entre as unidades da Polícia Federal e a referida empresa,

com base na licitação ora impugnada (fls. 15/342, Anexo 2). Apesar de a SR/DPF/RJ ter informado no

expediente de fls. 296/299, v. 1, que, das 34 unidades gestoras do DPF, 25 já haviam assinado

contratos com a Ticket Serviços S/A, acompanham o memorial cópias de 23 contratos, sendo que 2

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 25

contratos são provenientes da SR/DPF/PI e outros 2 da SR/DPF/RS. Ou seja, parece que estes últimos

foram computados em dobro.

10. A respeito das datas em que os pactos foram assinados, nenhum daqueles que possuem

data ultrapassou o dia da sessão de 21/01/2009 (Ata n. 02/2009) em que foi referendada a cautelar

conferida no bojo destes autos, esclarecendo-se, todavia, que nos ajustes efetuados pelas SR/DPF/DF,

PE, PI, RR, TO e RN não foram especificadas as datas das avenças.

11. Consoante se depreende do objeto licitado, busca o órgão federal contratar empresa

especializada na prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção preventiva e

corretiva de seus veículos automotores, com abrangência nacional. Para tanto, estabeleceu-se que a

utilização desses serviços deveria seguir ao seguinte procedimento:

11.1. na hipótese de uma viatura necessitar de manutenção preventiva ou corretiva, ela será

encaminhada a um estabelecimento credenciado para que seja verificado o tipo de serviço a ser

realizado e quais as peças que eventualmente serão substituídas;

11.2. após a avaliação inicial dos serviços necessários, a administradora contratada

solicitará aos estabelecimentos da rede credenciada que ofereçam, no mínimo, três orçamentos,

configurando assim uma consulta a três fornecedores distintos;

11.3. a aprovação do orçamento de menor valor ficará a cargo um servidor do

Departamento de Polícia Federal, designado fiscal do contrato, que verificará a regularidade do

estabelecimento credenciado, acessará o sistema por meio de senha fornecida pela administradora e,

por fim, autorizará a execução do serviço.

12. O ponto fulcral desta Representação consiste em saber se a novel metodologia adotada

pelo órgão contratante – a par de atender as necessidades de logística policial referentes à manutenção

de sua frota de veículos automotivos mediante a contratação de um sistema gerencial para tal fim –

pode amoldar-se aos ditames das leis disciplinadoras da matéria, notadamente no que concerne aos

princípios norteadores dos certames licitatórios.

13. Nessa esteira de raciocínio, há que se tecer algumas considerações acerca de algumas

premissas adotadas pela unidade técnica que conduziram à conclusão veiculada na proposta de

encaminhamento no sentido de anular o Pregão Eletrônico n. 017/2008.

14. Eis o teor das referidas premissas:

14.1. as razões de justificativa apresentadas não lograram demonstrar que a contratação de

um sistema de gerenciamento de frota é a melhor solução à luz dos princípios da eficiência,

economicidade, e não foi trazida aos autos documentação atestando economia aos cofres públicos;

14.2. também não restou comprovado o argumento de que a contratação de uma única

oficina de grande porte não atenderia à demanda, de modo a comprometer à atividade operacional;

14.3. existe a possibilidade de violação do sigilo das propostas;

14.4. há cobrança de taxa de administração desconhecida e variável de acordo com a

negociação feita em cada caso, constituindo-se em preço não-declarado;

14.5. não restou refutada a restrição à competitividade do certame.

15. Quanto à assertiva de que as razões de justificativa trazidas ao descortino desta Corte pelo

responsável não conseguiram demonstrar que o sistema contratado atende, entre outros, aos princípios

da economicidade e da eficiência, há que se ponderar alguns fatores, conforme passo a explicar.

16. A teor da informação constante do documento de fl. 21, do Anexo 2, sobressai dos autos

que o Departamento de Polícia Federal, em 2008, gastou R$ 17.270.330,70 com manutenção de

veículos (serviços e peças). Da quantia retromencionada, o valor de R$ 1.911.938,29 (11%) foi

utilizado mediante suprimento de fundos. Noticia-se ainda que parte desses dispêndios com

suprimento de fundos ocorreu em razão de que, em várias localidades, as oficinas não possuíam

estrutura para participar de um certame licitatório, “o que resulta em licitações desertas.”

17. Da situação fática acima é possível depreender que as despesas concernentes à manutenção

de viaturas relativas ao ano anterior de R$ 17.270.330,70 foram superiores ao teto máximo estimado –

de R$ 16.423.000,00 – pelo edital ora questionado para o gasto com peças e serviços de mão-de-obra,

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no mesmo objeto, conforme o subitem 5.4 do edital do Pregão Eletrônico n. 017/2008 (fl. 35, do

Anexo 2). Vale dizer, tendo por parâmetro a comparação com os dispêndios efetuados no exercício

financeiro precedente, não se pode afirmar que o órgão contratante infringiu, no ponto, o princípio da

economicidade.

18. Anote-se que o referido valor estimado poderá ser reduzido a posteriori mediante a

disputa em torno do menor preço ofertado pelas oficinas credenciadas, quando instadas pelo fiscal do

contrato (servidor do DPF) a apresentar os orçamentos correspondentes aos serviços a serem

executados, numa espécie de competição diferida pelo menor preço.

19. Ainda no tocante à economicidade, cumpre anotar que o documento elaborado pela

Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (fls. 304/315, v.

1), versando sobre o uso do sistema de gerenciamento de frota do DPF no abastecimento de

combustíveis – embora de objeto diverso ao que ora se analisa (manutenção) –, assinala um potencial

de redução de gastos da ordem de R$ 1,76 milhão por ano, o que, ao sentir do DPF, tornam otimistas

as expectativas quanto à diminuição de custos pela implementação de tal sistema de gerenciamento

para manutenção de veículos.

20. Contudo, apesar desses indícios de que o procedimento escolhido pelo DPF possa, em tese,

ser mais econômico do que o anteriormente adotado e ainda tendo em vista que a sistemática de

contratação no objeto de manutenção é inovadora para o DPF, entendo que deve haver uma observação

mais acurada a respeito desse modo de prestação de serviços de administração e gerenciamento de

manutenção preventiva e corretiva de veículos automotores, razão pela qual considero adequado

determinar à Secex/RJ que, nos termos do art. 241, II, do Regimento Interno/TCU, promova o

Acompanhamento dessa técnica empregada pelo órgão contratante, em especial, no que tange ao

aspecto da economicidade.

21. Sob o viés da eficiência, deve ser sopesado que os métodos antes utilizados pela Polícia

Federal para contratação de serviços desse jaez – avenças celebradas diretamente com oficinas – não

estavam atendendo as necessidades de logística policial de forma satisfatória. Transcrevo trecho em

que o Presidente da CPL da Polícia Federal relata a problemática (fl. 173):

“No modelo atual, (...) constantemente temos sofrido com atrasos e má prestação dos

serviços contratados, o que tem gerado desgastes constantes e trazido dificuldades para a

Administração, pois o resultado prático da contratação nos moldes atuais é que por muitas

das vezes não podemos contar com viaturas em condições para execução das atividades

fim e meio do órgão. O que a Administração busca com o presente procedimento é realizar

a contratação de empresa que ofereça ao DPF uma moderna ferramenta de gestão e

logística que atenda a demanda atual das necessidades do órgão.”

22. Nesse mesmo sentido, vem à lume o documento lavrado, em 31/01/2008 (fl. 182), pelo

fiscal do contrato relativo ao ano de 2008, que atesta haver inúmeras viaturas da SR/DPF/RJ paradas

na oficina desde de 2007, além de diversos problemas relacionados ao tema (fl. 183).

23. Outro fator que chama atenção, referente ao sistema antigo de contratação, consiste no uso

pelo DPF do mecanismo de suprimento de fundos para fazer frente a parte expressiva das despesas

com manutenção de veículos automotores em localidades não contempladas com oficinas estruturadas

para participar de um certame licitatório.

24. De ressaltar que o suprimento de fundos deve ser utilizado de forma excepcional para

despesas que não possam subordinar-se ao processo normal de aplicação (art. 68 da Lei n. 4.320/1964

e art. 45 do Decreto n. 93.872/1986). Ademais, cumpre lembrar da existência do princípio da

indispensabilidade da licitação ou da obrigatoriedade geral de licitar para o Poder Público adquirir,

alienar ou locar bens, contratar a execução de obras ou serviços, o qual tem assento constitucional (art.

37, inc. XXI, da Carta Política) e infraconstitucional (art. 2º da Lei n. 8.666/1993), ressalvadas as

hipóteses de dispensas e inexigibilidade de disputa previstas em lei.

25. O conjunto desses fatos, acrescido da necessidade de ser a Polícia Federal contemplada

com serviço de manutenção que atenda as necessidades de deslocamento de equipes para a realização

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 27

de trabalhos nos rincões do País em obediência às suas atribuições constitucionais de âmbito nacional,

fez com que o órgão optasse pela novel sistemática no desígnio de buscar o gerenciamento, à guisa

centralizada, da logística policial voltada para manutenção preventiva e corretiva de veículos

automotores, ainda que tais veículos estejam empregados em missões noutras bases regionais ou

locais.

26. Dessa forma, creio que a implementação do procedimento adotado pela Polícia Federal

guarda correlação com o princípio da eficiência, que, sob o escólio de Celso Antônio Bandeira de

Mello representa uma faceta de um princípio mais amplo tratado no Direito italiano, qual seja, o

princípio da “boa administração”. Este último, na doutrina de Guido Falzone, consiste em desenvolver

a atividade administrativa “do modo mais congruente, mais oportuno e mais adequado aos fins a serem

alcançados, graças à escolha dos meios e da ocasião de utilizá-los, concebíveis como os mais idôneos

para tanto.” (in Il Dovere di Buona Amministrazione, Milão, Giuffrè, Ed., 1953, p. 64).

27. Sobre a assertiva da unidade técnica de que não restou comprovado nestes autos pelo órgão

federal que a contratação de uma única oficina de grande porte não atenderia à sua demanda, de modo

a comprometer à atividade operacional, vale contrapor à afirmação da Secex/RJ com o fato de que

seria muito difícil uma contratação nesses moldes – ainda mais considerando as peculiaridades da

Polícia Federal com deslocamentos de equipes por todo país –, porquanto a empresa contratada deveria

possuir capilaridade suficiente no território nacional para suprir com serviços de peças e mão-de-obra

as trinta e quatro unidades gestoras do DPF, ao passo que o sistema atual de gerenciamento de frota

permite que várias oficinas prestem serviços, de forma tempestiva, a cada unidade do DPF.

28. Acerca da possibilidade de violação dos sigilos das propostas, creio que o procedimento

descrito no item 11 acima não dá ensejo à intelecção nesse sentido, porque advindos os orçamentos de

no mínimo três fornecedores distintos será escolhido pelo servidor do DPR (fiscal do contrato) aquele

que contemplar o menor valor, não havendo, em tese, comunicabilidade entre os ofertantes, sem

olvidar que o acesso ao sistema pelo fiscal do contrato é realizado por meio de senha.

29. No caso de o servidor do DPF constatar indícios de conluio entre os fornecedores ou de

alguma outra burla ao sistema ou ao procedimento delineado para a utilização desses serviços, deve

proceder conforme determina o art. 67, e seus parágrafos, da Lei n. 8.666/1993, que trata das

atribuições do fiscal de contratos.

30. Quanto ao quesito da remuneração da contratada (empresa Ticket Serviços S/A.), a

unidade técnica sustenta que há cobrança de taxa desconhecida e variável de acordo com a negociação

feita em cada caso, constituindo-se em preço não-declarado.

31. Conforme estabelecido no subitem 5.4 do Edital do Pregão Eletrônico n. 017/2008 (fl. 36),

foi licitada somente a taxa de administração, que, ao final dos lances efetuados no certame, atingiu ao

patamar de taxa zero, portanto não foram objeto de disputa as peças e os serviços de mão-de-obra, eis

que, na ótica desenvolvida pelo DPF, a referida disputa seria postergada entre as fornecedoras

credenciadas junto à empresa contratada pela Polícia Federal, como se fosse uma competição diferida

pelo menor preço.

32. O presidente da Comissão Permanente de Licitação, em suas razões de justificativa,

admitiu que a administradora cobrará uma comissão das oficinas credenciadas, verbis:

“(...) a administradora cobra uma comissão das oficinas credenciadas. Elas, por sua vez,

repassarão esse custo ao DPF, que assim terá um ônus mesmo com taxa de 0% atingida no

pregão. Esse ônus deve ser encarado como o preço de utilização de um sistema cujas vantagens,

no nosso entendimento, tornam a relação custo-benefício altamente favorável à Administração

Pública, como, aliás, tem sido constatado pela Superintendência Regional do DPF em São Paulo,

que já adota o sistema de gerenciamento de frota” (fl. 298, v. 1).

33. Interpreta-se que a Ticket Serviços S/A. receberá uma comissão das oficinas integrantes da

rede credenciada, e tal comissão será embutida nos preços finais orçados por essas oficinas.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 032.202/2008-1

6y 28

34. Entendo que essa questão relativa à remuneração da empresa gerenciadora dos serviços

avençados pelo DPF deverá ser observada no bojo do Acompanhamento acerca da economicidade de

todo o sistema de contratação, conforme já mencionado acima.

35. No que se refere a outro ponto abordado pela unidade técnica concernente à restrição ao

caráter competitivo do certame, tem-se que de fato somente duas interessadas acorreram à disputa (a

Ticket Serviços S/A e a Embratec, conforme Ata de fls. 137/140), entretanto, observando as exigências

especificadas no edital não vislumbro que foram excessivas a ponto de inibir a participação de outras

empresas. Creio que, no caso concreto, a própria magnitude e abrangência nacional do objeto licitado

pode ter feito com que poucas empresas se lançassem ao torneio licitatório.

36. Assim, tendo em vista que o objeto de gerenciamento de manutenção preventiva e

corretiva de veículos automotivos de uma frota como a da Polícia Federal é de magnitude

considerável, entendo que se deva determinar ao DPF que, nos futuros certames envolvendo serviços e

sistemática de contratação semelhantes ao que ora se examina, avalie a conveniência e a oportunidade

de admitir a participação de empresas organizadas em consórcio no desígnio de aumentar a

concorrência.

37. Poder-se-ia cogitar, como fez o Titular da unidade técnica, em se fragmentar o objeto para

incrementar o caráter competitivo do certame. Como regra geral, nos termos do art. 23, § 1º, da Lei n.

8.666/1993, exige-se o parcelamento do objeto licitado sempre que isso se mostre técnica e

economicamente viável. A respeito da matéria, esta Corte de Contas já editou a Súmula n. 247/2004,

verbis: “É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das

licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde

que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o

objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes...” (grifos não constam do original).

38. Depreende-se do dispositivo legal que a divisão do objeto deverá ser implementada sempre

que houver viabilidade técnica e econômica para a sua adoção.

39. Desta feita, é mister considerar os dois aspectos básicos acima suscitados, quais sejam, o

técnico e o econômico. Sob o primeiro, o parcelamento dependerá da divisibilidade do objeto licitado.

No que concerne ao segundo quesito, o fracionamento deve ser balizado pelas vantagens econômicas

que proporciona à Administração Pública, com a redução de custos ou despesas, de modo a

proporcionar a obtenção de uma contratação mais vantajosa para a Administração.

40. Nesse ponto, calha trazer à baila o escólio de Marçal Justen Filho: “O fracionamento em

lotes deve respeitar a integridade qualitativa do objeto a ser executado. Não é possível desnaturar um

certo objeto, fragmentando-o em contratações diversas e que importam o risco de impossibilidade de

execução satisfatória.” (Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 10. ed. São

Paulo: Dialética, 2004. p. 209).

41. Considerando o objeto do contrato e o desiderato buscado pela Polícia Federal em obter

um gerenciamento de sua logística policial de forma centralizada e ainda de garantir uma padronização

nos serviços prestados, possibilitando o atendimento tempestivo das demandas, em especial, das

necessidades de deslocamento de equipes pelo território nacional, creio que cabe ao DPF verificar, nos

próximos certames dessa natureza, se houver, a conveniência e a oportunidade de fragmentar o objeto

por unidade da Federação ou por região, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou perda da

economia de escala, conforme orienta a Súmula/TCU n. 247/2004. Dessa forma, afigura-se adequado

expedir determinação ao órgão nesse sentido.

42. Sob o viés econômico, já foram feitas as pertinentes considerações noutro ponto desta

Proposta de Deliberação, quando se tratou da observância do princípio da economicidade.

43. A respeito do indício de irregularidade apontado pela empresa representante acerca da não-

exigência de registro de empresas licitantes junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e

Agronomia do Rio de Janeiro – Crea/RJ, considero que os serviços descritos no edital e termo de

referência em exame não necessitam de tal registro, uma vez que a Lei n. 5.194/1966 – que regula o

exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-agrônomo – não descreve o serviço de

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manutenção preventiva e corretiva de veículos como exercício profissional das áreas abrangidas pelo

aludido Conselho.

44. Relativamente à não-imposição de licenciamento ambiental, à luz do art. 30, inciso IV, da

Lei n. 8.666/1993 c/c o art. 2º, § 1º, do Decreto-lei n. 134/75/RJ, creio que tal demanda não se coaduna

com o objeto licitado de administração e gerenciamento de manutenção. Também não considero

adequado estender exigências da Lei Geral de Licitações, endereçadas aos licitantes, à rede

credenciada de empresas vinculadas à empresa contratada, devendo, neste último caso, a fiscalização

ficar a cargo dos órgãos competentes protetores do meio ambiente. Acrescente-se ainda que a licitação

percorreu as suas fases interna e externa, contando inclusive com contratos já assinados por algumas

regionais da Polícia Federal.

45. Acerca do pedido veiculado no memorial oferecido pelos representantes legais da empresa

Ticket Serviços S/A, no ponto em que requer seja permitido ao Departamento de Polícia Federal

computar na vigência da ata o prazo em que esteve suspensa cautelarmente, creio que cabe ao órgão

contratante decidir pela legalidade, bem assim pela vantajosidade ou não de considerar tal prazo, à luz

do caso concreto e das normas que disciplinam a matéria, não cabendo ao Tribunal imiscuir-se nessas

questões de conveniência e oportunidade referentes ao mérito administrativo.

46. Por fim, conforme registrei no Relatório precedente, os autos retornam ao descortino deste

colegiado após pedidos de vista formulados pelos eminentes Ministros Aroldo Cedraz e Benjamin

Zymler, com fundamento no art. 112 do Regimento Interno/TCU.

47. Sugere o Exmo. Ministro Aroldo Cedraz que seja acrescentada ao Acórdão determinação

ao DPF para que, no caso de opção pela prorrogação da vigência do contrato firmado com base no

procedimento escolhido pelo órgão, somente o faça após certificar-se de que a sistemática

empreendida na contratação atual tenha sido efetivamente mais vantajosa do que a anterior, mormente

do ponto de vista econômico.

48. A proposta é pertinente e amolda-se à intelecção que conferi à matéria no sentido de

resguardar o erário, ante a inovadora iniciativa do órgão em adotar tal fórmula de contratação no

objeto de prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção preventiva e

corretiva de veículos automotivos.

49. Com base nessas considerações, reputo que deve ser reconhecida a procedência parcial

desta Representação, para que sejam encaminhadas as determinações gizadas acima.

Ante o exposto, manifesto-me por que seja adotada a deliberação que ora submeto a esse

colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões, em 18 de novembro de 2009.

MARCOS BEMQUERER COSTA

Relator

GRUPO II – CLASSE VII – Plenário

TC 032.202/2008-1

Natureza: Representação

Unidade: Superintendência Regional do Departamento de Polícia

Federal no Estado do Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ.

Interessada: Peça Oil Distribuidora Ltda. (CNPJ 34.043.125/0001-

10).

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Sumário: REPRESENTAÇÃO. LICITAÇÃO. CONTRATAÇÃO

DE ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DE

MANUTENÇÃO VEICULAR. CARACTERÍSTICAS

INOVADORAS DO MODELO DE CONTRATAÇÃO.

DISCUSSÃO DA OBSERVÂNCIA DE PRINCÍPIOS

RELATIVOS A CERTAMES LICITATÓRIOS. PROCEDÊNCIA

PARCIAL. DETERMINAÇÕES.

VOTO DO REVISOR

Discute-se, no presente processo, a compatibilidade do modelo de contratação de serviços de

administração e gerenciamento de manutenção de veículos definido pela SR/DPF/RJ com os princípios

concernentes à administração pública e aos certames licitatórios, em especial com os princípios da

eficiência, da competitividade e da seleção da proposta mais vantajosa. Assim, o exame a ser

empreendido por esta Corte deve abranger os aspectos tanto jurídicos quanto operacionais da questão.

2. No tocante à vertente legal, endosso as conclusões do relator que refutam as críticas formuladas

pela Secex/RJ e pelo MPTCU e que demonstram que os parâmetros definidos pelo órgão contratante

são compatíveis com o ordenamento normativo concernente à matéria.

3. É preciso destacar, inicialmente, que o objeto a ser contratado difere daquele que a

administração usualmente demandava, a manutenção veicular diretamente efetuada por uma única

oficina mecânica. No novo modelo, o serviço demandado é de administração e gestão da manutenção,

o que significa que o contratado não será responsável direto pela execução dos serviços mecânicos

necessários.

4. Por tal motivo, é adequado o uso do valor da taxa de administração como critério de

julgamento. Não se trata, aliás, de nenhuma inovação, já que tal sistemática têm sido rotineiramente

empregada – sem qualquer crítica desta Corte sob este aspecto, friso – em licitações para contratação

de serviços de gerenciamento em que o contratado não é o fornecedor direto do bem ou serviço final

demandado pela administração.

5. É o caso, por exemplo, dos certames para contratação de serviço de fornecimento de passagens

aéreas, em que as agências de viagens, que não são as fornecedoras do serviço de transporte aéreo

demandado pelo poder público, são selecionadas com base no valor da taxa de administração que

cobram.

6. O mesmo ocorre com o fornecimento de combustíveis ou de vales-refeições, em que idêntico

critério de julgamento é empregado e o entregador final do produto demandado não é o distribuidor de

combustíveis ou a empresa de vales, mas o posto de gasolina ou o restaurante credenciados em que o

abastecimento de cada veículo e consumo de cada refeição é feito.

7. Esta similitude com outros tipos de certame afasta a segunda crítica feita ao modelo, a de que

não haveria definição precisa do valor total do contrato e dos preços a serem praticados pelo

fornecedor final do bem demandado. Tais peculiaridades, entretanto, também ocorrem nos contratos de

fornecimento de passagens aéreas e de combustíveis e as dificuldades delas decorrentes são sanadas

pela utilização de valores estimados, prática que este Tribunal tem rotineiramente admitido e que se

repete no certame em foco.

8. Exatamente porque o mesmo critério de julgamento tem sido corriqueiramente empregado em

outras licitações sem qualquer censura desta Corte, também não procede o reparo de que a taxa de

administração corresponderia a uma fração diminuta do valor global do contrato, já que esse pequeno

peso relativo se repete em qualquer contratação de serviços realizada na forma ora em exame e que

não é possível, em princípio, vislumbrar critério alternativo adequado para remunerar os serviços do

gestor contratado.

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6y 31

9. Também não se sustenta a crítica de que a definição de um âmbito nacional para o certame

inibiria a competição ao afastar os pequenos fornecedores e poderia levar à prática de preços mais

elevados.

10. Para avaliar esse ponto, deve-se ter em conta as características específicas dos veículos do DPF,

que operam frequentemente fora das localidades em que estão baseados, inclusive em outras unidades

da Federação, e que são utilizados em condições severas e desgastantes, o que torna indispensável a

manutenção rotineira, célere e geograficamente dispersa.

11. Tais circunstâncias de uso da frota – às quais deve ser acrescentada a peculiaridade do uso de

quantidades maiores de veículos em operações de grande porte, o que acarreta a ocorrência de períodos

de concentração de demandas de reparos, com os conseqüentes atrasos de reparos e aumentos dos

tempos de indisponibilidade de viaturas – tornam inegavelmente mais vantajosa para o DPF e

compatível com o princípio da eficiência a contratação de manutenção em âmbito nacional, ao invés da

contratação de uma única oficina em determinada localidade.

12. Note-se, ainda, que, ao contrário que se poderia supor, a contratação em escala nacional, nos

moldes da nova sistemática, não acarretará inviabilidade de participação de pequenas oficinas ou a

prática de preços maiores.

13. Em primeiro lugar, porque, ao invés de implicar a contratação de uma única oficina de maior

envergadura, como acontecia no modelo anterior, o novo paradigma permitirá que pequenos

estabelecimentos, inclusive em cidades do interior, possam se credenciar junto ao administrador

contratado, o que lhes permitirá uma oportunidade de prestar serviços à administração que antes lhes

era inviável em função de seu porte reduzido.

14. Assim, o que ocorrerá, na prática, será o aumento da competitividade na prestação de cada

serviço de manutenção específico, o que implicará, provavelmente, uma redução de preços praticados.

15. Acrescente-se que, dentro do modelo delineado, também ocorrerá, na concretização de cada

serviço de manutenção singular, uma seleção entre no mínimo três propostas de preços, o que

contribuirá adicionalmente para acirrar a competição e reduzir preços.

16. Destaco, por fim, três aspectos.

17. O primeiro é que, apesar da pequena afluência de interessados ao certame em debate, foi

apontada nos autos a existência de pelo menos três outras empresas capazes de prestar os serviços de

gerenciamento demandados pelo DPF.

18. O segundo é que, com a admissão da participação de consórcios, consoante aventa o relator ao

formular proposta, que este revisor endossa, de avaliação desta alternativa, a tendência é de que a

concorrência aumente.

19. Por fim, o terceiro ponto é que, com a eventual disseminação do modelo de contratação em

discussão pela administração pública, tenderá a acontecer um movimento de mercado no sentido de

estruturação de empresas capazes de atender a esse tipo de demanda, o que afastará definitivamente

qualquer hipótese de competição diminuta.

20. Diante do exposto, considero que os princípios da competitividade e da seleção da proposta

mais vantajosa estariam sendo atendidos pela nova sistemática proposta, com o que estaria

demonstrada, em tese, a inexistência de óbices jurídicos à adoção do modelo sugerido.

21. Cabe agora averiguar os aspectos operacionais envolvidos.

22. Como visto há pouco, o tamanho, a dispersão e as condições de uso da frota de veículos do

DPF são singulares. Em conseqüência, como se vê nos autos, inúmeros problemas têm surgido para

aquele órgão, tais como: indisponibilidade prolongada de viaturas, inexistência de oficinas adequadas

em diversas localidades, atrasos em reparos, má qualidade de serviços, manutenção de estruturas

dispendiosas de controle e outras. Com isso, termina por haver certo comprometimento da eficácia e

da eficiência da atuação da força policial, que deixa de dispor de transporte adequado a qualquer

tempo e lugar.

23. O novo modelo adotado é uma tentativa de solucionar tais dificuldades. Além das prováveis

reduções de custos dos serviços – já obtidas em contratos de fornecimentos de outros tipos de produtos

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onde foi adotada a sistemática inovadora, conforme apontado nos autos – haverá redução de custos

administrativos do DPF com controle da manutenção dos veículos, além de implementação de avanços

gerenciais que favorecerão uma melhor gestão da frota, com reflexos positivos sobre as ações policiais.

24. Além disso, estaria sendo resolvido o problema do freqüente e inadequado uso de suprimentos

de fundos que tem caracterizado o atual modelo.

25. Com tais mudanças, estaria atendido, assim, também o princípio da eficiência.

26. Registro, ainda, que o modelo em discussão assemelha-se à chamada quarteirização,

procedimento em que a gestão de um serviço já terceirizado – no caso concreto, a manutenção de

veículos – é entregue a uma quarta entidade incumbida de gerenciar a atuação dos terceirizados – na

situação em foco, o administrador da manutenção.

27. Trata-se de uma prática bastante disseminada no mercado privado, cuja adoção no âmbito da

administração é salutar, pois demonstra empenho em modernizar métodos arcaicos, ineficientes e

burocráticos de gestão e, com isso, melhorar o desempenho dos órgãos e entidades públicos.

28. Assim, por se tratar de inovação, que, em tese, está em consonância com normas e princípios

que regem as licitações e a atuação dos agentes públicos, creio que esta Corte, no desempenho do

papel de indutora de aprimoramento da gestão pública que tem pautado a atuação dos órgãos de

controle no mundo moderno, deve abster-se de inibir o prosseguimento da tentativa de inovação em

análise.

29. Friso, entretanto, que a elevada possibilidade de disseminação da iniciativa pioneira do DPF

por outros setores do Estado, associada a seu caráter experimental, tornam aconselhável seu

acompanhamento e sua avaliação tanto pelo próprio órgão quanto por este Tribunal. Por tal motivo,

sugeri ao eminente relator a formulação de determinações nesse sentido, proposta gentilmente acatada

por S.Exa em seu voto e na minuta de acórdão que trouxe ao escrutínio deste colegiado.

30. Dessa forma, acompanho na íntegra o posicionamento do Ministro Marcos Bemquerer e

cumprimento V.Exª pela notável sensibilidade em perceber os significativos avanços que a matéria

tratada nestes autos pode trazer em termos de aperfeiçoamento da gestão pública.

Sala das Sessões, em 18 de novembro de 2009.

AROLDO CEDRAZ

Relator

ACÓRDÃO Nº 2731/2009 – TCU – Plenário

1. Processo TC-032.202/2008-1.

2. Grupo II; Classe de Assunto: VII – Representação.

3. Interessada: Empresa Peça Oil Distribuidora Ltda., CNPJ n. 34.043.125/0001-10.

4. Órgão: Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro

– SR/DPF/RJ.

5. Relator: Auditor Marcos Bemquerer Costa.

5.1. 1º Revisor: Ministro Aroldo Cedraz.

5.2. 2º Revisor: Ministro Benjamin Zymler.

6. Representante do Ministério Público: Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado e Subprocurador-

Geral Paulo Soares Bugarin (manifestação oral).

7. Unidade Técnica: Secex/RJ.

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8. Advogados constituídos nos autos: Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, OAB/DF n. 6.546; Jaques

Fernando Reolon, OAB/DF n. 22.885; Cristiane Miranda Mônaco, OAB/MS n. 9.499-B; e Gustavo

Valadares, OAB/DF n. 18.669.

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Representação formulada pela empresa Peça Oil

Distribuidora Ltda., com pedido de medida cautelar, em face de supostas irregularidades verificadas no

Pregão Eletrônico n. 017/2008, sob responsabilidade da Superintendência Regional do Departamento

de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ, tendo por objeto a contratação de

empresa especializada na prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção

preventiva e corretiva de veículos automotivos.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as

razões expostas pelo Relator, em:

9.1. com fundamento no art. 113, § 1º, da Lei n. 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, inciso VII, do

Regimento Interno/TCU, conhecer da presente Representação, para, no mérito, considerá-la

parcialmente procedente;

9.2. revogar a cautelar concedida no bojo deste processo;

9.3. determinar ao Departamento de Polícia Federal que, diante da especificidade do caso

concreto, efetue estudos, no prazo de um ano, com vistas a verificar a viabilidade de realizar

credenciamento de oficinas para prestação dos serviços de manutenção de suas viaturas, seja

diretamente ou por meio de empresa especializada, estabelecendo, no ato de convocação, regras

objetivas a serem observadas em todo procedimento e por ocasião das futuras contratações, em

especial no que se refere à forma de qualificação dos interessados, em consonância com os arts. 28 a

31 da Lei nº 8.666/1993, condições de pagamento e critérios a serem observados por ocasião da

escolha da empresa que executará os serviços;

9.4. determinar à Secex/RJ que, nos termos do art. 241, II, do Regimento Interno/TCU, promova

o Acompanhamento da prestação de serviços de administração e gerenciamento de manutenção

preventiva e corretiva de veículos automotivos levada a efeito pela SR/DPF/RJ, em especial, no que

tange ao aspecto da economicidade;

9.5. dar ciência desta deliberação à empresa Representante, ao Departamento de Polícia Federal

e à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro.

10. Ata n° 49/2009 – Plenário.

11. Data da Sessão: 18/11/2009 – Ordinária.

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2731-49/09-P.

13. Especificação do quorum:

13.1. Ministros presentes: Ubiratan Aguiar (Presidente), Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues,

Benjamin Zymler (2º Revisor), Augusto Nardes, Aroldo Cedraz (1º Revisor), Raimundo Carreiro, José

Jorge e José Múcio Monteiro.

13.2. Auditores presentes: Augusto Sherman Cavalcanti, Marcos Bemquerer Costa (Relator), André

Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

UBIRATAN AGUIAR MARCOS BEMQUERER COSTA

Presidente Relator

Fui presente:

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PAULO SOARES BUGARIN

Procurador-Geral, em exercício