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Tribunal de Contas da União Dados Materiais: c/03 volumes Assunto: Relatório de Auditoria Colegiado: Segunda Câmara Classe: Classe III Sumário: Auditoria realizada para avaliar e acompanhar a atuação da ANEEL nos contratos de concessão, permissão autorização. Exame do alcance das metas do Governo e da fiscalização dos serviços. Metas incompatíveis. Utilização de indicadores que não refletem o crescimento do sistema elétrico. Prazos de processos administrativos excessivamente longos. Determinações. Arquivamento. Natureza: Relatório de Auditoria Data da Sessão: 09/10/2001 Relatório do Ministro Relator: Adoto como Relatório a bem elaborada peça de autoria da equipe de auditoria composta pelos AFCE's Luciano dos Santos Danni e Denise Torres de Mesquita da Silveira e Silva: Página inicial 45 Em dezembro de 1999 foi realizada a primeira auditoria na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com o objetivo de conhecer a agência, sua estrutura organizacional e suas atividades. A leitura daquele relatório de auditoria é recomendável para os que desejem conhecer os fundamentos básicos do novo modelo do setor elétrico brasileiro e o processo de estruturação da Agência. O presente trabalho tem como foco a verificação do cumprimento das metas traçadas pelo Governo Federal para a Agência, com ênfase no desempenho das áreas de fiscalização do serviço de energia elétrica.

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Page 1: Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Relatório de ... · Auditoria realizada para avaliar e acompanhar a atuação da ANEEL nos contratos de concessão, permissão autorização

Tribunal de Contas da União

Dados Materiais:

c/03 volumes

Assunto:

Relatório de Auditoria

Colegiado:

Segunda Câmara

Classe:

Classe III

Sumário:

Auditoria realizada para avaliar e acompanhar a atuação da ANEEL nos contratos de

concessão, permissão autorização. Exame do alcance das metas do Governo e da

fiscalização dos serviços. Metas incompatíveis. Utilização de indicadores que não refletem o

crescimento do sistema elétrico. Prazos de processos administrativos excessivamente

longos. Determinações. Arquivamento.

Natureza:

Relatório de Auditoria

Data da Sessão:

09/10/2001

Relatório do Ministro Relator:

Adoto como Relatório a bem elaborada peça de autoria da equipe de auditoria composta

pelos AFCE's Luciano dos Santos Danni e Denise Torres de Mesquita da Silveira e Silva:

Página inicial 45

Em dezembro de 1999 foi realizada a primeira auditoria na Agência Nacional de Energia

Elétrica (ANEEL), com o objetivo de conhecer a agência, sua estrutura organizacional e suas

atividades. A leitura daquele relatório de auditoria é recomendável para os que desejem

conhecer os fundamentos básicos do novo modelo do setor elétrico brasileiro e o processo

de estruturação da Agência. O presente trabalho tem como foco a verificação do

cumprimento das metas traçadas pelo Governo Federal para a Agência, com ênfase no

desempenho das áreas de fiscalização do serviço de energia elétrica.

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3. A análise aqui apresentada segue a abordagem top-down: a primeira parte do trabalho

apresenta uma avaliação do desempenho global da agência, abordando os dois programas

de governo do Plano Plurianual (PPA) sob responsabilidade da Agência e os resultados das

ações que os compõem. Em uma segunda parte, a análise é aprofundada e o foco passa a

ser o desempenho da fiscalização: apresenta-se uma breve descrição de como se dá o

processo de fiscalização, quais as etapas a cumprir para instaurar um processo punitivo,

como se dá o relacionamento da ANEEL com as agências reguladoras estaduais, finalizando

com uma avaliação do desempenho da fiscalização no ano 2000. Na terceira e última parte,

o foco passa a ser a atuação da ANEEL no caso específico da fiscalização dos serviços

prestados pela COELCE, que chegou a estar ameaçada de ter sua concessão cassada.

4.Com a análise deste caso específico foi possível observar o grau de aderência dos

procedimentos adotados pela agência com o previsto na legislação do setor, a

tempestividade e a efetividade das ações de fiscalização em termos de induzir o

concessionário de energia elétrica a atingir padrões de qualidade no atendimento aos

consumidores e corrigir práticas empresariais danosas ao interesse público. Foi assim

possível apresentar uma análise qualitativa do desempenho do fiscalizador, além de medir o

resultado final de suas ações.

4. DESEMPENHO DA ANEEL - METAS TRAÇADAS PELO GOVERNO FEDERAL

5.As orientações básicas para as ações de Governo nos próximos quatro anos, e mais

especificamente para o ano de 2000, são expressas por meio de instrumentos de

planejamento e orçamento, respectivamente o Plano Plurianual - PPA - e o Orçamento Geral

da União - OGU. As ações e metas destes programas constam também do Contrato de

Gestão, como determina o art. 7 da Lei nº 9.427, de 1996.

6. Com a ênfase dada pelo Governo Federal à utilização do PPA e do Orçamento Programa

como ferramentas de planejamento e gestão, e a decorrente aproximação com o Ministério

do Planejamento, que acompanha o desempenho dos Programas de Governo, o Contrato de

Gestão tem assumido progressivamente um caráter formal, em função da redundância com

os outros instrumentos citados.

7.As atividades que caracterizam a inserção da ANEEL na Orientação Estratégica do

Presidente da República compõem os programas de abastecimento e qualidade no

fornecimento de energia elétrica. Esses dois programas têm por macro-objetivos,

respectivamente, criar um ambiente favorável ao crescimento econômico sustentado, e

promover a modernização da infra-estrutura e a melhoria dos serviços de energia elétrica.

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8.O objetivo do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica é estabelecer condições

para o necessário aumento da oferta deste tipo de energia. Nesse sentido, a diretriz é

reforçar a regulação e a fiscalização do setor privado e dar continuidade ao programa de

privatização. As ações do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica são as seguintes:

Ação 1: Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica (PCH);

Ação 2: Autorização de Instalação de Usina Termelétrica;

Ação 3: Autorização de Transmissão de Energia Elétrica;

Ação 4: Concessão de Distribuição de Energia Elétrica;

Ação 5: Concessão de Potenciais de Energia Hidráulica;

Ação 6: Concessão de Transmissão de Energia Elétrica;

Ação 7: Implantação do Horário de Verão;

Ação 8: Inventário dos Potenciais de Energia Hidráulica;

Ação 9: Campanha de uso racional de recursos naturais;

Ação 10: Estudos para reestruturação tarifária de fornecimento de energia elétrica;

Ação 11: Regulamentação do uso da conta de consumo de combustíveis.

9.O Programa de Qualidade de Energia Elétrica tem por objetivo assegurar a qualidade dos

serviços de energia elétrica, observando-se as exigências e os requisitos de mercado, e

ainda, a satisfação dos consumidores. É composto pelas ações relacionadas a seguir:

Ação 1: Fiscalização das Centrais Geradoras de Energia Elétrica;

Ação 2: Fiscalização das concessionárias de distribuição de energia elétrica;

Ação 3: Fiscalização das concessionárias de transmissão de energia elétrica;

Ação 4: Regulamentação relativa à qualidade dos serviços de energia elétrica;

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Ação 5: Campanha de divulgação do sistema de ouvidoria;

Ação 6: Campanha de divulgação dos direitos do consumidor;

Ação 7: Implantação de registradores automáticos para medição da qualidade dos serviços;

Ação 8: Implantação de sistema de aferição de medidores de energia elétrica;

Ação 9: Implantação de sistema de ouvidoria.

4.1. Programa de Abastecimento de Energia Elétrica

10.O crescimento da demanda de energia elétrica no País tem apresentado elevadas taxas

anuais, o que deve continuar a ocorrer com a retomada do crescimento da economia. Ao

final de 1998, a capacidade instalada nacional alcançava 62,2 mil MW. Para atender às

necessidades do mercado brasileiro, no período 2000-2003, será necessário ampliar a oferta

em cerca de 20 mil MW, o que representa uma taxa média de crescimento de 5,7 % a.a. ou

um incremento de 4 mil MW/ano. Se este resultado se verificar, a capacidade instalada em

2003 será de 82,2 mil MW.

11.A expansão da oferta de energia elétrica exige múltiplas iniciativas de forma a permitir a

sua concretização. Dentre elas, destacam-se a ampliação da oferta via energia hidrelétrica,

a expansão da rede de transmissão (para assegurar a absorção dos novos acréscimos de

geração e ampliar os ganhos energéticos da operação integrada do sistema elétrico), a

ampliação da participação das usinas termelétricas a gás natural e a importação de energia

elétrica de países vizinhos.

12.A alternativa energia hidrelétrica constitui vocação natural do País. No período 2000-

2001, o Programa Indicativo de Licitação de Geração de Usinas Hidrelétricas deverá ofertar

aos investidores 31 empreendimentos, que totalizam 9,6 mil MW. Com potencial estimado

de 260 mil MW de capacidade hidrelétrica, o Brasil aproveita atualmente 25% de seus

recursos para a geração de energia elétrica.

13.O Programa Prioritário de Termelétricas pretende aumentar a oferta de energia no País

em mais de 15 mil MW até 2003. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia

(MME), as 49 usinas, situadas em 18 estados brasileiros, ao entrarem em operação, irão

alterar a matriz energética, aumentando de 7% para 20% a geração de energia de origem

térmica nos próximos dez anos. Dependem da ANEEL as ações de outorga dos atos de

autorização, de fiscalização, tanto das obras quanto dos serviços, e de regulamentação

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adequada que dê confiança e segurança aos investidores. Das 49 usinas previstas no

Programa, apenas 16 encontram-se em fase de implantação, das quais 8 com participação

acionária da Petrobras. As demais encontram-se paralisadas principalmente em função do

risco cambial envolvido nestes projetos e ainda não equacionado de forma satisfatória pelo

Governo Federal do ponto de vista dos investidores e bancos financiadores. A competência

para equacionar o assunto depende de várias instâncias de governo, em especial o

Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Fazenda.

14.O Programa Indicativo de Licitação de Concessões de Linhas de Transmissão previa

para o ano 2000 a licitação de 5.000 km de novas linhas de transmissão. A ANEEL adotou a

modalidade leilão em substituição à modalidade clássica de concorrência por entender ser

este um processo de licitação mais ágil. Constam do programa de licitação de concessões

de linhas de transmissão grandes interconexões como a Interligação Norte - Sul II a

Expansão da Interligação Norte - Sul e a Interligação Sudeste - Nordeste.

15.A comercialização de energia elétrica importada, no âmbito do mercado de livre

negociação, poderá ser exercida por detentores de autorização para fazê-lo. A atividade de

comercialização de energia elétrica, compreende a compra, a importação, a exportação e a

venda de energia elétrica a outros comercializadores ou a consumidores que tenham livre

opção de escolha do fornecedor.

16.O fator crítico de sucesso do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica será a

obtenção de uma ação integrada entre todos os segmentos envolvidos, pois o seu sucesso

não depende exclusivamente da ANEEL. De fato, em função do novo modelo prever a

participação da iniciativa privada na expansão da infraestrutura elétrica do país, o sucesso

deste programa depende principalmente dos vários agentes envolvidos (stakeholders).

17.Como exemplo típico desta integração pode-se citar a instalação de usinas termelétricas.

Não basta a ANEEL criar condições e facilitar a expedição dos respectivos atos

autorizativos, mas é fundamental que os investidores assim também o desejem, e para isso

levam em consideração aspectos de natureza macro e microeconômica, política e

institucional. Para a sociedade, o que importa é o resultado final do Programa. Assim, a

ANEEL e o Governo Federal, cientes destes desafios, devem prever metas a serem medidas

do ponto de vista finalístico. Emitir os corretos sinais de natureza macro e microeconômica é

responsabilidade a ser compartilhada por estes dois agentes.

18.Obter um bom desempenho do Programa de Abastecimento é fundamental para o país

atingir suas metas de crescimento econômico. O relatório “Planejamento Anual da Operação

Energética - ano 2000”(1), elaborado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS)(2), já

alertava que “os estudos desenvolvidos com 2000 séries sintéticas de afluências indicam

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riscos de déficit superiores aos de critério de garantia de suprimento (5% de risco) no

período de 2000/2004 em todos os subsistemas, exceto para a Região Norte no ano 2003”

(fls. 17). Esta situação é apresentada por meio da Tabela 1. Ou seja, há pelo menos um ano

sabe-se que o sistema está operando em uma situação de risco acima de níveis aceitáveis.

---------------------

(1)Planejamento Anual da Operação Energética - ano 2000 - Sistema Interligado Nacional,

de abril de 2000. Trabalho disponível no site do NOS: www.nos.com.br.

---------------------

(2)As atividades de planejamento e coordenação da operação eletroenergética do Sistema

Interligado Nacional para diferentes horizontes, desde períodos plurianuais até a operação

em tempo real, são executadas pelo ONS, entidade privada, criada em 26 de agosto de

1998 e responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e

transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional. O ONS foi criado pela Lei

no 9.648, de 27 de maio de 1998, regulamentado pelo Decreto no 2.655, de 2 de julho de

1998, e teve seu funcionamento autorizado pela Resolução no 351 da Agência Nacional de

Energia Elétrica, de 11 de Novembro de 1998. As atividades atribuídas ao ONS dão

seguimento às de planejamento da expansão dos sistemas elétricos brasileiros, as quais são

desenvolvidas sob a responsabilidade do Comitê Coordenador do Planejamento da

Expansão dos Sistemas Elétricos - CCPE, entidade responsável pelo planejamento da

expansão do sistema elétrico, criada pela portaria MME no 150, de 10 de maio de 1999.

----------------------

Tabela 1 - Riscos de déficit (qualquer déficit) com séries sintéticas.

INSERIR FIGURA 02-37-2C

19.Segundo matéria publicada no jornal Valor Econômico, de 13 de março de 2001, o

BNDES já reconhecia o risco de racionamento como "uma possibilidade efetiva no

horizonte", no documento "O Cenário Macroeconômico e as Condições de Oferta de Energia

Elétrica no Brasil". Este risco decorreria de três razões:

"da longa e dessincronizada transição do modelo estatal para o modelo privado;

dos riscos regulatórios do novo modelo, que geraram paralisia na decisão de investir da

iniciativa privada; e,

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da ausência de articulação das reformas do setor".

20.Segundo aquele documento, subestimou-se as dificuldades de implementação do novo

modelo e o peso do crescimento da demanda sobre o consumo de energia. "A perda de

momentum do programa de privatização fez com que, sem que tivesse condições de

investir, o Estado mantivesse em suas mãos o segmento que deveria realizar os

investimentos na expansão do sistema", argumentam os economistas do BNDES,

concluindo que isso criou uma fonte de incerteza sobre os rumos e o ritmo de abertura do

setor, desencorajando investimentos privados.

21.Dentre as medidas para superar as dificuldades atuais do setor, os economistas do

BNDES sugerem o estabelecimento de metas obrigatórias de expansão da capacidade nos

novos contratos, o desenvolvimento de uma ação articulada, a redução do risco cambial das

térmicas, o aumento das importações de energia; e o estímulo ao gerenciamento da

demanda com tarifas que incentivem a diminuição do consumo nos horários de pico.

22.Por ocasião da finalização deste relatório estavam sendo anunciadas as metas do

racionamento de energia elétrica, a ser implantado a partir de junho, a princípio indicando

uma redução global no consumo da ordem de 20%. A obtenção de uma oferta de energia

compatível com o crescimento da demanda é importante não só para solucionar a situação

de crise no curto prazo, mas também é fundamental para assegurar o sucesso do novo

modelo no longo prazo. A situação de desabastecimento vivida pelo Estado da Califórnia

(EUA) e a conseqüente explosão dos preços de energia elétrica tem como principal origem o

descasamento entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda por energia elétrica.

23.Os resultados alcançados com o Programa de Abastecimento de Energia Elétrica são

sintetizados na Tabela 2, que apresenta a execução física das ações no ano 2000. A seguir

são apresentados comentários referentes a cada uma destas ações.

Tabela 2 - Execução física das ações do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica no

ano 2000.

AçãoUnidade

De

MedidaMetaExecução Física (%)

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ProgramadoRealizado

1- Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica - PCHPotência outorgada

(MW)500582116

2- Autorização de instalação de usina termelétricaPotência outorgada (MW)10009466946

3- Autorização de transmissão de energia elétricaautorização outorgada1314107

4- Concessão de distribuição de energia elétricaconcessão outorgada49225

5- Concessão de potenciais de energia hidráulicaPotência outorgada (MW)20002328116

6- Concessão de transmissão de energia elétricaconcessão outorgada8675

7- Implantação do horário de verãoMW de ponta economizados30002997100

8- Inventário dos potenciais de energia hidráulicaPotencial in-ventariado (MW)9000773286

9-Campanha de uso racional de recursos naturaisCampanha realizada11100

10- Estudos para reestruturação tarifária de fornecimento de energia elétricaestudo realizado

11100

11- Regulamentação do Uso da Conta de Consumo de Combustíveisnorma publicada11100

4.1.1.Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica

24.A legislação estabelece que a instalação de centrais hidrelétricas com potência instalada

de até 1 MW deve ser precedida de registro na ANEEL. As centrais de potência entre 1 e 30

MW devem ser autorizadas pela Agência antes de instaladas, e as de potência superior a 30

MW são objeto de concessão. A meta para esta ação foi autorizar a construção de pequenas

centrais hidrelétricas totalizando 500 MW de potência no ano 2000. A ANEEL emitiu 50

autorizações para implantação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) totalizando a

potência de 576 MW. Além destas, foram registrados por intermédio de despacho 13

aproveitamentos hidrelétricos totalizando a potência de 6 MW, sendo disponibilizado um total

de 582 MW de potência no ano, ou 116% da meta fixada.

25. Entendemos que o cumprimento desta meta pode ser melhor avaliado se for adicionado

um outro indicador: o incremento de potência instalada ao Sistema no ano, proveniente da

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entrada em operação de novas PCHs. A entrada em operação não é decorrente das ações

tomadas neste ano, uma vez que os investimentos em novas usinas demoram algum tempo

(mais de 2 anos) para serem concretizados. Entretanto, este não é um argumento contrário

à sua utilização. O indicador proposto mediria finalisticamente a efetividade das ações

tomadas para a entrada em operação de PCHs.

26.Do ponto de vista do planejamento a médio prazo, como é o caso do PPA, este indicador

é bastante adequado para medir o sucesso das ações tomadas, pois o horizonte de tempo

considerado é suficiente para que uma usina autorizada entre em operação. Uma outra

qualidade do indicador é que possibilitaria “conectar” as metas de diferentes anos em termos

de potência autorizada com aumento de capacidade instalada: a potência adicionada ao

sistema neste ano mede a efetividade de todas as ações tomadas nos últimos anos.

4.1.2.Autorização de Instalação de Usina Termelétrica

27.As usinas termelétricas de até 5.000 kW (5 MW) são objeto de registro perante a

Agência. Para potências acima desse valor, as usinas são objeto de autorização. A meta

para esta ação foi autorizar a instalação de usinas termelétricas totalizando 1000 MW de

capacidade no ano 2000. A ANEEL emitiu, no exercício de 2000, 40 autorizações para

implantação de usinas termelétricas totalizando a potência de 8.230 MW. Foram registradas,

por intermédio de despacho, 105 centrais geradoras termelétricas, totalizando a potência de

248 MW, bem como autorizada a ampliação de 20 centrais geradoras, perfazendo o

montante de 988 MW. Assim, no ano 2000 foi autorizado um total de 9.466 MW, ou 946% da

meta prevista.

28.Neste caso, como em outras autorizações, a sua emissão não significa necessariamente

o início imediato das obras para implantação das usinas. Ao solicitar a autorização, o

investidor apresenta à ANEEL um cronograma de execução do projeto da central. A

resolução que concede a autorização coloca como obrigação da autorizada cumprir

determinados marcos. Após a autorização, a Superintendência de Fiscalização dos Serviços

de Geração (SFG) faz o acompanhamento da implementação do cronograma, aplicando as

penal idades cabíveis quando do seu descumprimento, podendo chegar à

extinção/revogação da autorização. No entanto, apesar das possíveis penalidades, não há

como tirar do investidor a possibilidade de não realizar seu projeto.

29.Tanto é que entre a autorização e o início dos empreendimentos podem haver problemas

que, das 49 termelétricas a gás natural previstas no Programa Prioritário de Termelétricas

(PPT), apenas 16 encontram-se em fase de implantação, das quais 8 com participação

acionária da Petrobras. As demais esbarram em obstáculos como indefinição sobre o

mecanismo que compensará os empreendedores em caso de variações cambiais abruptas,

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uma vez que tanto o gás natural quanto cerca de 60% dos equipamentos utilizados nas

termelétricas são cotados em dólares, além de dificuldades para licenciamento ambiental e

de captação de água em determinadas situações.

30.Como discutido nos itens 25 e 26, a adoção de um indicador para medir o incremento de

potência instalada ao Sistema no ano, proveniente da entrada em operação de novas

termelétricas, além do já adotado, possibilita medir a efetividade das ações relacionadas ao

objetivo de incrementar a capacidade instalada do sistema. A mesma análise aplica-se ao

caso.

31.Se a análise fosse feita por meio de um indicador que medisse a entrada de nova energia

no sistema, ou que desse uma idéia de quantos projetos estão sendo feitos no ritmo previsto

pelos cronogramas apresentados nas autorizações emitidas pela ANEEL, muito

provavelmente esta Ação seria a com piores resultados dentro do Programa. Isto contrasta

com o aparente quadro de superação de metas apresentado pelo indicador atualmente

utilizado.

32.Além disso, ao explicitar as razões para o descasamento entre os resultados que

dependem exclusivamente de suas ações e daquelas que dependem das ações de outras

instâncias de Governo, a ANEEL terá a oportunidade de deixar registrados argumentos que

justifiquem o seu desempenho. Este procedimento poderá contribuir para o aumento na

transparência do processo de planejamento no setor energético.

4.1.3.Autorização de Transmissão de Energia Elétrica

33.Tendo como referência o Programa Determinativo de Transmissão, elaborado pelo

CCPE, horizonte dezembro/2001 e o Programa de Ampliações e Reforços, elaborado pelo

ONS, horizonte dezembro/2003, a ANEEL recebe pedidos de empresas transmissoras para

obtenção de autorização e incremento de receita pela disponibilidade de instalações que

visam a ampliação, melhoria e reforços na malha básica do sistema elétrico interligado. São

ainda objeto de ato de autorização os projetos de conexões de usinas geradoras. A meta

para esta ação foi autorizar instalações de ampliações, reforços e/ou conexões na rede de

transmissão elétrica para 13 empresas no ano 2000. Neste ano foram autorizadas 57

instalações de ampliações e reforços no sistema elétrico de 8 empresas transmissoras, 4

empresas distribuidoras, e 2 centrais geradoras, totalizando ampliações e reforços em 14

empresas, superando a meta fixada.

34.Sugerimos a adoção de um indicador para medir a efetiva entrada em operação dos

novos empreendimentos. Neste caso, espera-se prazos mais curtos de implantação do que

os verificados nos empreendimentos de geração (como discutido nos itens 25 e 26). Para

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fins de planejamento e controle, seria recomendável a adoção de indicadores mais

detalhados, como número de quilômetros de linhas de transmissão em diferentes níveis de

tensão, quantidade de subestações instaladas, etc, que permitam, por síntese, a criação de

um índice de sucesso para empreendimentos de ampliação, reforço ou conexão na rede de

transmissão elétrica.

4.1.4.Concessão de Distribuição de Energia Elétrica

35.Existem hoje no Brasil 64 Concessionárias operando no segmento do serviço público de

distribuição de energia elétrica. Destas, 26 passaram por processos de privatização, se

habilitaram a receber novas concessões por 30 anos e celebraram os respectivos Contratos.

As 64 Concessionárias de distribuição dividem-se em 50 empresas privadas (24

originalmente constituídas e 26 privatizadas) e 14 empresas estatais. A meta para esta ação

era outorgar 4 concessões de distribuição de energia elétrica no ano 2000. Foram assinados

9 contratos no ano 2000, ou 225% da meta prevista.

4.1.5.Concessão de Potenciais de Energia Hidráulica

36.A meta para esta ação foi leiloar com sucesso (isto é, contam os empreendimentos

efetivamente arrematados em leilão) concessões para a construção de usinas hidrelétricas

totalizando 2000 MW no ano 2000. Foram promovidos seis leilões durante o ano de 2000,

onde foram leiloadas 15 usinas hidrelétricas, totalizando 2.328 MW de potência, ou 116% da

meta fixada.

37.Neste caso, entendemos que há uma inconsistência entre a meta estipulada e a unidade

de medida utilizada na Tabela 2, uma vez que a outorga da concessão não ocorre por

ocasião do leilão, mas apenas quando assinado o contrato. Podem haver interferências que

atrasem ou mesmo cancelem a assinatura do contrato. Se a ANEEL entende que medir o

número de leilões realizados, em termos da quantidade de MW dos empreendimentos

leiloados, deve adotar como unidade de medida “concessões leiloadas”, em MW.

38.Não obstante, entendemos que não é vantajoso ou adequado utilizar como indicador para

a meta de concessão de potenciais energia hidráulica um resultado intermediário do

processo de concessão. Em um caso crítico, o da concessão do aproveitamento hidrelétrico

de Campos Novos (leilão 01/98 da ANEEL, acompanhado neste Tribunal por meio do TC

005.322/1997-9), o leilão foi homologado em 30 de julho de 1998 e a assinatura do contrato

deu-se em 29 de maio de 2000, quase dois anos depois. Assim, entendemos que o mais

adequado seria medir “concessões outorgadas”, em MW. E mais, seguindo o raciocínio

apresentado nos itens 25 e 26, para medir efetivamente o aumento da capacidade instalada

a solução é adicionar um indicador medindo “concessões entrando em operação” em MW.

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4.1.6.Concessão de Transmissão de Energia Elétrica

39.A meta para esta ação foi assinar os contratos de outorga das concessões para a

construção de 8 linhas de transmissão de energia da rede básica no ano 2000,

correspondendo a 3.660 km de linhas novas a serem construídas, que demandarão

investimentos da ordem de R$ 1,8 bilhões. Foram assinados 6 novos contratos de outorga

de concessão de linhas de transmissão, ou 75% da meta estipulada. Devido a problemas na

assinatura de dois contratos, a Superintendência de Concessões e Autorizações de

Transmissão e Distribuição (SCT) não conseguiu cumprir a meta. Este fato suporta a

argumentação apresentada na seção 4.1.5, de que a etapa adequada para medir ações de

outorga de concessão no curto prazo é a assinatura dos contratos, uma vez que podem

ocorrer imprevistos após a realização do leilão

40.Seguindo o raciocínio apresentado nos itens25 e 26, para medir efetivamente o aumento

da capacidade instalada a solução é adicionar um indicador medindo “concessões entrando

em operação”. Neste caso, a adoção de um índice de sucesso semelhante ao proposto na

meta para autorização de reforços na malha de transmissão (seção 4.1.3.) possibilitaria

medir o impacto final de todas as ações relacionadas à entrada em operação de novas

linhas de transmissão. A combinação de um indicador de outorga e entrada em operação

permite um melhor acompanhamento do encadeamento das ações, como discutido na seção

anterior.

4.1.7Implantação do Horário de Verão

41.A meta para esta ação foi reduzir em 3000 MW a demanda de potência elétrica no

horário de ponta, durante a implementação do horário de verão no período 1999/2000. A

meta foi cumprida. Como parte das atividades envolvidas para tal, foi realizada a avaliação e

divulgação dos resultados finais do Horário de Verão do período 1999/2000, concluída uma

pesquisa de opinião pública nos Estados do Nordeste, e realizada uma audiência pública na

Câmara Federal sobre aplicação do Horário de Verão no Nordeste.

42.O Horário de Verão para 2000/2001 teve sua implantação realizada de acordo com o

programado, tendo sido regulamentada pelo Decreto nº 3.592, de 06/09/2000. Porém, por

ação do Presidente da República, foram excluídos os Estados de Pernambuco e Roraima,

por meio do Decreto nº 3.630, e posteriormente Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do

Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Estas exclusões deverão comprometer o cumprimento da

meta para o próximo ano.

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4.1.8 Inventário dos Potenciais de Energia Hidráulica

43.A meta para esta ação foi disponibilizar novos empreendimentos identificados por meio

de estudos de inventário de bacias hidrográficas totalizando 9.000 MW de potenciais de

energia hidráulica ao longo do ano 2000. Foram aprovados 23 inventários hidrelétricos,

totalizando 7.732 MW, ou 86% da meta prevista para o ano.

44.Deste resultado, 136 MW devem ser creditados à ação direta da ANEEL/DNAEE que

resultou na aprovação dos estudos dos potenciais hidrelétricos do Estado do Amapá, por

intermédio de convênio com a Eletronorte. Estava planejado para este ano um convênio que

deveria ser efetivado com a Secretaria de Energia do Ministério das Minas e Energia (9

estudos de inventário, com potência prevista de 5.250 MW). No entanto, em função de

redefinições no âmbito daquele órgão terem ocorrido ao longo do período, tal convênio não

foi assinado. Isto forçou a ANEEL a traçar uma nova estratégia para tentar cumprir a meta.

45.Diante deste quadro, a ANEEL optou por contratar 3 fundações universitárias de apoio à

pesquisa, no valor de R$ 5.325 mil para a realização de 4 estudos (2.650 MW) dos 9

originalmente previstos. Além disso, a ANEEL assinou novo convênio com a Eletrobrás

visando à continuação do inventário dos rios do Sangue e Parnaíba, de 1.000 MW de

potência, a um custo de cerca de R$ 2 milhões.

46.Segundo a ANEEL, outro fato relevante para o não cumprimento da meta é que parcela

dos estudos, totalizando 1.863 MW, apresentaram imprecisões e foram objetos de

questionamentos, o que demandou rodadas de reuniões e revisões posteriores que

impossibilitaram as conclusões das análise, no exercício 2000.

4.1.9 Campanha de Uso Racional de Recursos Naturais

47.A meta para esta ação é realizar uma campanha de uso racional de recursos naturais. Os

trabalhos desta ação dividem-se em quatro atividades. Seus diversos produtos foram

divulgados e/ou publicados dentro dos prazos e em eventos de relevância nacional.

- Atividade 1: divulgar a disponibilidade das informações hidrológicas em tempo real na

internet;

Atividade 2: divulgar programa de combate ao desperdício de energia elétrica da ANEEL;

- Atividade 3: promover campanha sobre a postura da ANEEL em relação ao uso de

recursos naturais;

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- Atividade 4: elaborar programa plurianual de uso eficiente de energia elétrica.

48.A atividade relacionada ao tema hidrologia foi desenvolvida como uma série de eventos e

publicações de documentos técnicos para a sociedade. A atividade relacionada aos temas

desperdício de energia e meio ambiente apresenta como resultados uma série de eventos e

produtos que visam disseminar à toda sociedade informações relativas a estes temas. A

meta relacionada ao tema programa plurianual de uso eficiente de energia elétrica foi

considerada concluída após a publicação da Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000, e da

Resolução ANEEL nº 271, de 19 julho de 2000.

49.A Lei nº 9.991 dispõe sobre a realização de investimentos em pesquisa e

desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias,

permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica. A Resolução nº 271 estabelece

para os concessionários e permissionários de serviço público de distribuição de energia

elétrica os critérios de aplicação de recursos em ações de combate ao desperdício de

energia elétrica e pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor elétrico brasileiro.

4.1.10 Estudos para Reestruturação Tarifária de Fornecimento de Energia Elétrica

50.A meta para esta ação foi realizar estudos com vistas à publicação de uma resolução

prevendo alteração na estrutura tarifária de fornecimento de energia elétrica no ano 2000. As

atividades desenvolvidas no âmbito desta meta compreenderam a coordenação do trabalho

com consultores, a realização de um seminário com a participação de diversos agentes do

setor (inclusive representantes de órgãos de defesa do consumidor) e um workshop interno.

Encontra-se no site da agência na Internet (www.aneel.gov.br) uma minuta de resolução; a

audiência pública para receber sugestões ocorreu no dia 28 de março de 2001. Com isto, a

meta foi cumprida.

4.1.11. Regulamentação do Uso da Conta de Consumo de Combustíveis

51.A regulamentação do uso da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) foi realizada

conforme determinado na legislação em vigor. A Resolução que trata do assunto é a de nº

245/99 da ANEEL, que estabelece as condições e os prazos para a sub-rogação dos

benefícios do rateio da CCC aos projetos a serem estabelecidos em sistemas elétricos

isolados em substituição à geração termelétrica que utilize derivados de petróleo.

52.A meta para o ano 2000 consistiu em divulgar os incentivos propostos, o que foi feito por

meio da disponibilização no site da agência na Internet do “Manual de Procedimentos para

Utilização dos Benefícios da CCC” estabelecido pela resolução nº 245/99. O Manual de

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procedimentos para utilização da CCC foi elaborado considerando a legislação em vigor,

apesar das expectativas quanto a alteração desta, no tocante à CCC. Essas modificações

representariam uma alteração completa no Manual. O entendimento da ANEEL é de que o

conjunto dos documentos (Resolução e Manual), constituem a unidade de medida proposta.

A Resolução foi expedida em 1999 porém a elaboração e divulgação do manual somente se

concretizou em 2000, complementando a ação.

4.2 Programa de Qualidade no Fornecimento de Energia Elétrica

53.O Estado, ao reduzir sua função executiva no campo da infra-estrutura em energia

elétrica, abandonando o papel de prestador direto de serviços, buscou fortalecer as funções

de regulação e fiscalização. A ANEEL, por intermédio do Programa de Qualidade dos

Serviços de Energia Elétrica, busca assegurar que a qualidade dos serviços seja compatível

com as exigências e requisitos de mercado e propicie a satisfação dos consumidores de

energia elétrica.

54.Adicionalmente, este programa, por intermédio das ações de fiscalização da atuação dos

concessionários, está também alinhado com a diretriz de reforçar a regulação e a

fiscalização da atuação privada no setor elétrico. O índice de satisfação dos consumidores

será o principal indicador de avaliação do desempenho do Programa. Este índice é resultado

do desenvolvimento de metodologia própria e da realização da primeira Pesquisa Nacional

de Satisfação dos Consumidores de Energia Elétrica, cujo objetivo foi verificar o grau de

satisfação dos consumidores residenciais em relação às concessionárias de distribuição que

prestam o serviço de fornecimento de energia em todo o país. A ANEEL entende que sua

utilização é preferível aos índices de continuidade para auferir “em última instância” a

qualidade dos serviços.

55.Os resultados alcançados com o Programa são sintetizados na Tabela 3, que apresenta

a execução física das ações no ano 2000. A seguir são apresentados comentários

referentes a cada uma destas ações. As ações relacionadas à fiscalização são analisadas

mais detalhadamente em um tópico à parte (ver seções 5.4 e 5.6).

Tabela 3 - Execução física das ações do Programa de Qualidade do Serviço de Energia

Elétrica no ano 2000.

AçãoUnidade de medidaMetaExecução Física (%)

ProgramadoRealizado

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Fiscalização das centrais geradoras de energia elétricacentrais fiscalizadas661722109

2- Fiscalização das concessionárias de distribuição de energia elétricaempresa fiscalizada72

72100

3- Fiscalização das concessionárias de transmissão de energia elétricaempresa fiscalizada

1515100

4- Regulamentação relativa à qualidade dos serviços de energia elétricanorma publicada11

100

5- Campanha de divulgação do sistema de ouvidoria

campanha realizada11100

6- Campanha educativa sobre direitos e deveres dos consumidores de energia elétrica

campanha realizada11100

7-Implantação de registradores automáticos para medição da qualidade dos serviços

registrador implantado800800100

8- Implantação do sistema de aferição de medidores de energia elétrica% de implantação40

40100

9- Implantação de sistema de ouvidoria% de implantação4070175

4.2.1 Fiscalização das Centrais Geradoras de Energia Elétrica

56.A meta para esta ação foi fiscalizar 661 centrais geradoras de energia elétrica no ano

2000, aí incluídas inspeções de usinas em operação e em obras. Foram fiscalizadas 722

centrais geradoras, ou 109% da meta estabelecida. Como a verificação do trabalho de

fiscalização mereceu destaque na programação desta auditoria, este tópico será detalhado

na seção 5.4.

4.2.2 Fiscalização das Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica

57.A meta para esta ação foi fiscalizar, por meio de inspeções in loco, 40% das

concessionárias de distribuição e transmissão de energia elétrica, o que correspondia a 72

empresas, nos aspectos econômico-financeiros, técnicos e comerciais no ano 2000. Ao

negociar as metas com o Ministério do Planejamento, a ANEEL acabou por defini-las por

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segmento de atuação das empresas fiscalizadas, e não por tipo de fiscalização. A meta foi

cumprida integralmente. Mais à frente, nas seções 5.5 e 5.6, a verificação da fiscalização é

feita com mais detalhes e com o foco no tipo de fiscalização efetuada, ou seja, por

superintendência.

4.2.3 Fiscalização das Concessionárias de Transmissão de Energia Elétrica

58.A meta para esta ação foi fiscalizar por meio de inspeções in loco, 40% das

concessionárias de transmissão de energia elétrica, o que corresponde a 15 empresas, no

ano 2000. A meta foi cumprida integralmente. Mais à frente, na seções 5.5 e 5.6, a

verificação da fiscalização é feita em mais detalhes e com o foco no tipo de fiscalização

efetuada, ou seja, por superintendência.

4.2.4 Regulamentação Relativa à Qualidade dos Serviços de Energia Elétrica

59.A meta para esta ação foi publicar uma resolução sobre a qualidade dos serviços de

energia elétrica no ano 2000. Os padrões técnicos de continuidade do fornecimento de

energia elétrica ficaram incompatíveis com o processo de reestruturação do setor elétrico,

com as novas exigências dos consumidores e com o avanço tecnológico dos equipamentos

e dos processos de produção. Para suprir esta lacuna, a ANEEL editou a Resolução n.º 024,

em 27/01/2000, criando novos indicadores para aferição da qualidade, para os quais

estabelece padrões e metas a serem cumpridas pelas concessionárias e multas pelo não

cumprimento dos padrões, além de várias outras obrigações.

4.2.5 Campanha de Divulgação do Sistema de Ouvidoria

60.A meta para esta ação foi realizar uma campanha de divulgação no ano 2000. Ao longo

do ano, a ANEEL fez-se representar em uma série de eventos institucionais do setor elétrico

e/ou cuja participação justificava-se como de relevante interesse para que a Agência

iniciasse a campanha de divulgação do sistema de ouvidoria, objeto da ação em questão.

Destacam-se as seguintes atividades:

16 palestras proferidas em câmaras legislativas estaduais, associações, conselhos de

consumidores, agências reguladoras estaduais conveniadas, órgãos de defesa dos

consumidores, pelo Diretor Ouvidor e pelo Superintendente de Mediação Administrativa e

Setorial;

12 estandes temáticos em feiras e seminários, sendo 1 deles de nível internacional (38ª

Bienal da CIGRÉ, em Paris);

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confecção de 20.000 “magnets” produzidos com o número da Central de Teleatendimento

(CTA);

confecção de 20.000 pastas “portfólio institucional”, com 5 folders inclusos, sendo um deles

dedicado exclusivamente ao Sistema de Ouvidoria;

veiculação de matéria sobre a CTA no periódico “Correio dos Estados e Municípios, v. 4 n.

120 de abril de 2000;

produção de 2 vídeos institucionais.

4.2.6 Campanha de Divulgação dos Direitos do Consumidor

61.A meta para esta ação foi realizar uma campanha de divulgação no ano 2000. A

participação da ANEEL em seminários, cursos, palestras, descritas na ação de divulgação

do sistema de ouvidoria, na maioria dos casos, serviu também para cumprir objetivos

relacionados a esta ação particular. Destacam-se as seguintes atividades:

confecção de 50.000 cartilhas de direitos do consumidor;

veiculação de matéria em duas revistas nacionais;

publicação do “Manual de Fiscalização”;

elaboração do folder: “A Aneel e o desenvolvimento municipal”;

elaboração do folder do “Projeto Argos”;

reimpressão do documento “Prestação de Contas”;

apoio na reformulação da home-page da Aneel, da Intranet e do Portal.

4.2.7 Implantação de Registradores Automáticos para Medição da Qualidade dos Serviços

62.A aquisição confiável dos dados de qualidade dos serviços é imprescindível para o

correto monitoramento do desempenho das concessionárias de distribuição de energia

elétrica. Dentro deste contexto a ANEEL desenvolveu o ARGOS, projeto piloto visando nova

forma de monitoramento da qualidade da energia elétrica distribuída pelas concessionárias,

por meio do envio automático de dados sobre as interrupções no fornecimento de energia

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aos consumidores para uma central de controle situada na Agência. A meta para esta ação,

implantar 800 registradores automáticos no ano 2000, foi cumprida integralmente.

63.O Sistema permite o envio imediato de dados, por via telefônica, informando sobre a

interrupção o e restabelecimento do fornecimento de energia. Assim, mede a duração e a

freqüência da interrupção, indicadores importantes para avaliar a qualidade do serviço.

Quando falta energia elétrica, o ARGOS dispara automaticamente uma ligação telefônica

para a ANEEL, informando a ocorrência. Da mesma forma, ele avisa quando a energia

retorna, sem necessidade de interferência do consumidor. Para utilizar o Sistema, o

consumidor precisa apenas tornar disponível uma linha telefônica direta, que poderá

continuar sendo usada normalmente, de forma compartilhada, pois será ocupada apenas

quando houver interrupção e retorno do fornecimento de energia.

64.O Projeto ARGOS foi iniciado em 1999, e as áreas de instalação foram restritas aos

estados do Pará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul (em áreas

metropolitanas). A fase inicial do projeto foi considerada concluída após instalados

aproximadamente 800 unidades sensoras. Os dados obtidos serviram para a avaliação do

Sistema. Esse projeto confere à ANEEL nova ferramenta de fiscalização permitindo uma

ação de verificação do cumprimento pelas empresas concessionárias de padrões mínimos

de qualidade.

65.O sistema poderá auxiliar nas tarefas de auditoria da qualidade das informações emitidas

pelas empresas concessionárias em razão da disponibilização de dados estatísticos

amostrais de interrupções e suas respectivas durações, os quais poderão ser utilizados para

validar, mediante correlações estatísticas, a confiabilidade dos dados do universo referente a

este tipo de informação, fornecidos pela empresa concessionária.

66.Já existem 1.277 registradores implantados até fevereiro/2001. Por meio do site da

ANEEL na Internet é possível acessar informações relativas a interrupções medidas pelo

projeto nos anos de 1999 e 2000, para diversas concessionárias. A próxima fase deste

Projeto, a ser conduzida pela Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Eletricidade

(SFE), prevê a instalação de 30.000 equipamentos de monitoramento, com vistas a apoiar

as atividades de fiscalização da Agência.

4.2.8 Implantação de Sistema de Aferição de Medidores de Energia Elétrica

67.A meta para esta ação, executar 40% do programa de implantação de sistema de

aferição de medidores de energia elétrica no ano 2000, foi integralmente cumprida. Foram

realizadas diversas reuniões, com definição de custos e cronograma detalhado de trabalho.

Foi assinado, em 29/09/00, convênio para execução dos serviços, e já foi feita a contratação

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de pessoal que participará do programa. Em dezembro de 2000, esse pessoal esteve em

fase de treinamento por meio de amostras reais no Estado do Rio de Janeiro e foram

adquiridos os equipamentos de aferição com previsão de entrega para fevereiro de 2001.

4.2.9 Implantação de Sistema de Ouvidoria

68.A meta para esta ação foi implantar 40% do sistema de ouvidoria. Com este sistema a

ANEEL terá capacidade para atendimento de 43.000 a 237.000 demandas/mês dos

Consumidores de Energia Elétrica. A capacidade instalada já foi implementada, porém com

recebimento de aproximadamente 11.500 demandas/mês dos consumidores de energia

elétrica.

4.3 Síntese dos resultados dos programas em 2000

69.Medida pelos indicadores atualmente utilizados para cada uma das ações que compõem

esses Programas, a performance da ANEEL é, de modo geral, de atingimento e superação

das metas traçadas pelo Governo Federal. Isto reflete, por um lado, a rápida evolução da

Agência em implementar novos processos e rotinas de trabalho e o engajamento de seu

quadro técnico.

70.Por outro lado, é possível que indicadores inadequados tenham sido utilizados e/ou que

as metas traçadas para expansão da oferta de energia elétrica tenham sido tímidas, uma

vez que a despeito de quase todas as metas para o Programa de Abastecimento terem sido

cumpridas e algumas terem sido superadas (ver Tabela 2), o País está vivendo uma grave

crise energética, com perspectivas de racionamento de 20% da demanda por energia

elétrica a partir de junho de 2001.

71.Esta situação é reflexo de ações implementadas em exercícios anteriores, não apenas no

ano 2000. Boa parte das metas definidas e alcançadas para o ano 2000 terão reflexo nos

exercícios seguintes. Segundo a ANEEL, a mensuração das metas tem respeitado as

necessidade de acréscimo de capacidade definida nos estudos de planejamento. A definição

clara das responsabilidades dos diferentes agentes na crise energética em que se encontra

o país requer estudos mais aprofundados, devendo ser objeto de auditoria específica deste

Tribunal.

72.O que foi apurado no escopo deste trabalho, a partir das referências citadas ao longo do

texto, é que a crise energética decorre de uma série de fatores, como o regime hidrológico

desfavorável ocorrido em 2001, associado à de falta de investimentos no setor no último

decênio (especialmente na geração e transmissão) e a algumas indefinições no quadro

macroeconômico, além de algumas questões ainda pendentes quanto à macro-regulação e

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macro-planejamento do setor energético (que devem ser resolvidas no âmbito do Conselho

Nacional de Planejamento Energético - CNPE).

73.A demora na implementação e posterior inoperância do Conselho Nacional de Política

Energética (CNPE), conselho interministerial criado pela Lei nº 9.478/97 para assessorar o

Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes de energia, foi fator

determinante na manutenção das indefinições que contribuíram para chegar-se à atual

situação. Assim, coloca-se um desafio de superação para a ANEEL, especialmente quanto à

capacidade de seus dirigentes de buscar articulações técnicas e políticas, inclusive de

sensibilizar o alto escalão do Governo Federal, para resolver as questões ainda pendentes

no setor elétrico.

74.O Tribunal de Contas da União já demonstrava sua preocupação quanto à atuação do

CNPE na elaboração da política energética brasileira, ao determinar em sua decisão nº 833-

39/2000, exarada por ocasião do julgamento da primeira auditoria realizada na ANEEL (TC

003.163/2000), ao Ministro das Minas e Energia, que tomasse “as medidas necessárias para

imediata entrada em operação” desse Conselho. Também a fixação e acompanhamento das

metas foi objeto da mesma Decisão, que determinou ao Secretário de Energia do MME que

participasse da “definição das metas e dos indicadores aplicáveis ao Contrato de Gestão da

ANEEL, bem como da sistemática de acompanhamento de execução das metas definidas e

da avaliação anual de desempenho”.

75.A situação de abastecimento de energia elétrica tornou-se tão grave que o Presidente da

República instaurou a Câmara de Gestão da Crise de Energia, coordenada pelo ministro

licenciado da Casa Civil, Pedro Parente. Se o Governo tivesse agido tempestivamente,

muitos dos problemas previstos para ocorrer em função da dimensão do racionamento

poderiam ser evitados. Fato é que o diagnóstico de risco elevado havia sido feito há algum

tempo, como apresentado neste trecho do relatório do ONS, de abril de 2000(3):

(3) Panejamento Anual da Operação Energética - ano 2000 - Sistema Interligado Nacional,

de abril de 2000. Trabalho disponível no site do ONS: www.ons.com.br.

“Deve-se ressaltar a importância das previsões de carga própria e da expansão do parque

gerador no atual ciclo de planejamento, tendo em vista que os resultados dos estudos

desenvolvidos com 2000 séries sintéticas de afluências indicam riscos de déficit superiores

aos do critério de garantia de suprimento (5% de risco) no período 2000/2004, em todos os

subsistemas, exceção única feita ao subsistema Norte no ano 2003. (...) O risco mais severo

observado corresponde ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste e ocorre no biênio 2000/2001,

em valores em torno de 20% (fls. 17).

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Deve-se ressaltar que esta tendência de deterioração das condições de atendimento

energético nos próximos anos, já registrada anteriormente em Planos de Operação do

GCOI, reflete os constantes adiamentos nos programas de obras de geração previstos

nesses últimos ciclos de planejamento, e coloca o sistema brasileiro, predominantemente

hidrelétrico, fortemente dependente do reenchimento dos seus reservatórios a cada estação

chuvosa. Desta forma, a demanda é atendida não somente com energia garantida, mas

também com uma parcela de energia secundária e com deplecionamentos acentuados do

estoque de água dos reservatórios do sistema.” (fls. 28).

76.Com relação aos resultados de cada uma das ações que compõem o Programa de

Abastecimento de Energia Elétrica, apenas em duas ações do Programa de Abastecimento

as metas não foram atingidas. Dessas, acreditamos que especial atenção deve ser dada à

concessão de novas linhas de transmissão de energia elétrica, dada a importância da

retomada de investimentos neste segmento para o aumento da oferta de energia elétrica. Na

ação relativa ao inventário de novos potenciais, o atraso deveu-se a problemas institucionais

com o MME, e parece estar equacionado, não devendo ser preocupante para o próximo ano.

77.Para um melhor acompanhamento das ações do Programa de Abastecimento, sugerimos

modificar o indicador relativo à Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Elétrica - para

captar a última etapa do processo de outorga da concessão. Entendemos que o mais

adequado seria medir concessões outorgadas, em MW (ver itens 33 e 34), contabilizados

após a assinatura do contrato.

78.Além disso, sugerimos a alteração dos indicadores utilizados nas ações 1, 2, 3, 5 e 6, ou

a inclusão dos seguintes indicadores para captar os resultados finais das ações em termos

de energia nova disponibilizada ao mercado:

Ação 1 - Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica: incremento de

potência instalada no ano, proveniente da entrada em operação de novas PCHs, em MW

(ver itens 19 e 22) ;

Ação 2 - Autorização de Instalação de Usina Termelétrica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas térmicas, em MW (ver item

25);

Ação 3 - Autorização de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para

empreendimentos de ampliação, reforço ou conexão à rede de transmissão elétrica entrando

em operação no ano (ver item 27);

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Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Hidráulica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas hidrelétricas, em MW (ver

item 34);

Ação 6 - Concessão de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para novas

linhas de transmissão e subestações no ano (ver item 36);

79.Estas modificações são fundamentais para evitar distorções como as verificadas na Ação

2, Autorização de Instalação de Usina Termelétrica. Tal como medido seu desempenho a

Ação apresenta cumprimento de 946% da meta traçada, enquanto na realidade o Programa

de Termoelétricas encontra-se atrasado.

80.Com relação aos resultados de cada uma das ações que compõem o Programa de

Qualidade de Energia Elétrica, todas as metas foram atingidas integralmente. Para um

melhor acompanhamento das ações do Programa de Qualidade, sugerimos modificar as

ações relativas à fiscalização, para serem avaliadas por superintendência, e não por

segmento de atuação (geração, transmissão e distribuição). Em entrevistas com técnicos da

Agência foi relatado que a separação das ações de fiscalização por segmento foi exigência

do Ministério do Planejamento, sendo que a posição original da ANEEL era no sentido de

que a avaliação fosse feita por superintendência.

81.Os técnicos relataram também qual a lógica por trás desta exigência: que desta forma

seria mais fácil para pessoas de fora do setor avaliarem o cumprimento das metas destas

ações, que se ganharia em transparência. Sem discordar do argumento, ressaltamos que

apesar de interessante do ponto de vista teórico, ao ser aplicada, esta estratégia resultou em

prejuízos. Primeiro, porque misturam-se diferentes tipos de fiscalizações por segmento,

perdendo-se em possibilidades de comparação. Segundo, porque a “transposição” de

resultados obtidos por cada superintendência para os resultados setoriais demonstrou ser

fonte de enganos e confusões. Ao longo do trabalho, algumas vezes os técnicos da ANEEL

tiveram que retificar as informações dadas a esta equipe, em funções de problemas relativos

a tal “transposição” de informações.

82.Os indicadores que resumem o desempenho dos Programas de Abastecimento e

Qualidade no PPA são, respectivamente, a quantidade de MW adicionados ao sistema

elétrico e o índice de satisfação dos consumidores. No ano 2000, foram adicionados 4.262

MW ao sistema. A pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi, elaborada a partir de 18.600

questionários, resultou em um índice de satisfação de 62%. Como o foco desta auditoria foi

a verificação do cumprimento das metas por ação de cada um dos dois Programas sob

responsabilidade da ANEEL, não apresentamos aqui uma análise detalhada desses macro-

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indicadores utilizados no PPA.

5. FISCALIZAÇÃO

83.Antes de analisar o desempenho da Agência com relação às metas de fiscalização dos

concessionários, apresentamos análise da evolução dos indicadores DEC e FEC, que dão

uma medida da atuação da ANEEL no sentido de impor às concessionárias de distribuição

de energia elétrica padrões de atendimento cada vez mais rígidos. Apresentamos também

um breve sumário de como funciona o processo de fiscalização, que pode culminar com a

aplicação de penalidades aos concessionários.

5.1 Evolução dos indicadores DEC e FEC

84.Os indicadores utilizados para avaliar a continuidade no fornecimento de energia elétrica

são o DEC, Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, e o FEC,

Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, conforme determina a

Resolução nº 24/2000-ANEEL, de 27 de janeiro de 2000.

85. Estes indicadores são apurados mensalmente pelas concessionárias de distribuição de

energia elétrica para conjuntos de consumidores com base nos dados de interrupções de

fornecimento de energia. Tais conjuntos devem abranger toda a área de concessão. O DEC

representa a duração ou intervalo de tempo que, em média, no período de observação, em

cada unidade consumidora do conjunto considerado ocorreu descontinuidade da distribuição

de energia elétrica. O FEC representa o número de interrupções ocorridas, em média, no

período de observação, em cada unidade consumidora do conjunto considerado.

86. Anualmente a ANEEL publica resoluções com novas metas para os indicadores DEC e

FEC para cada concessionário de energia elétrica, buscando assim a convergência destes

para os padrões considerados aceitáveis. É possível observar pelos gráficos e tabelas a

seguir (4)que a Agência tem obtido sucesso nesta tarefa, pois apesar de ainda significativas,

as disparidades regionais vêm se reduzindo nos 3 últimos anos. Esta evolução positiva dos

indicadores é sinal de que a atuação da ANEEL tem sido efetiva no sentido de impor às

concessionárias de distribuição de energia elétrica padrões de atendimento cada vez mais

rígidos, e de fiscalizar o cumprimento destes padrões.

(4) Todos os dados foram obtidos no site da ANEEL - http//:www.aneel.gov.br.

Tabela 4 - Evolução do indicador DEC por regiões (horas por ano).

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INSERIR FIGURA 03-37-2C

Figura 1 Evolução do indicador DEC por regiões (horas por ano).

INSERIR FIGURA 04-37-2C

Tabela 5 - Evolução do indicador FEC por regiões (interrupções por ano).

INSERIR FIGURA 05-37-2C

Figura 2 Evolução do indicador FEC por regiões (interrupções por ano).

INSERIR FIGURA 06-37-2C

87.No entanto, apesar da evolução positiva dos indicadores regionais, ainda existem no

Brasil grandes disparidades quanto à continuidade do fornecimento de energia elétrica entre

diferentes concessionárias de diferentes regiões. Entre diferentes localidades de uma

mesma região também existem grandes disparidades, especialmente naquelas com piores

indicadores globais. Este fato pode ser observado pelas tabelas e gráficos a seguir, relativos

ao desempenho de concessionárias de distribuição de energia elétrica atuando na Região

Norte.

Tabela 6 - Evolução do indicador DEC para algumas concessionárias da Região Norte.

INSERIR FIGURA 07-37-2C

Figura 3 - Evolução do indicador DEC para algumas concessionárias da Região Norte.

INSERIR FIGURA 08-37-2C

Tabela 7 - Evolução do indicador FEC para algumas concessionárias da Região Norte.

INSERIR FIGURA 09-37-2C

Figura 4 - Evolução do indicador FEC para algumas concessionárias da Região Norte.

INSERIR FIGURA 10-37-2C

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5.2 Da fiscalização à punição

88.Anualmente, as fiscalizações a realizar no período são planejadas por cada uma das

superintendências responsáveis, em função das metas traçadas. A Figura 5 apresenta as

diversas etapas do processo de fiscalização. É interessante notar o aspecto de circularidade

e realimentação no processo de planejamento/execução das fiscalizações, uma vez que os

resultados de fiscalizações anteriores e do monitoramento são determinantes das próximas

fiscalizações a efetuar.

Figura 5 - Processo de fiscalização econômico-financeira.

INSERIR FIGURA 11-37-2C

89.Uma vez executada determinada fiscalização e constatado que existem não

conformidades ou irregularidades, estas são apontadas por meio do Relatório de

Fiscalização, e são feitas recomendações e/ou determinações (5) com vistas a saná-las. A

concessionária é comunicada por meio de Termo de Notificação (TN), podendo então

manifestar-se, dentro do prazo de 15 dias.

----------------------

(5) A partir de 1999 a ANEEL passou a distinguir não-conformidade de determinação. No

primeiro caso detecta-se um problema que deve ser corrigido em determinado prazo,

modificando o comportamento da empresa. Já no segundo, além de modificar seu

comportamento, a empresa deve reparar danos causados pelo seu comportamento anterior.

----------------------

90.Após apreciar a manifestação do concessionário, a ANEEL pode ou não iniciar o

processo administrativo punitivo, que é o mesmo para todos os tipos de fiscalização, apesar

das peculiaridades de cada uma delas. As penalidades a serem aplicadas são comunicadas

ao concessionário por meio do Auto de Infração, como mostrado pela Figura 6. O processo

administrativo punitivo é regulado pela Resolução ANEEL n º 318, de 1998.

91.Segundo o art. 2º dessa Resolução, as infrações às disposições legais e contratuais

relativas à prestação de serviços, implantação e operação de instalações de energia elétrica

sujeitarão o infrator às penalidades de: advertência; multa; embargo de obras; interdição de

instalações; suspensão temporária de participação em licitações para obtenção de novas

concessões, permissões ou autorizações; impedimento de contratar com a ANEEL e de

receber autorizações para os serviços e instalações de energia elétrica; revogação da

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autorização; intervenção administrativa; e, em casos extremos, caducidade da concessão ou

permissão.

92.Nos artigos 4 a 7 da mesma Resolução as infrações passíveis de multa são classificadas

em grupos em função de sua gravidade. A cada grupo é associado um percentual da receita

obtida nos doze meses anteriores à lavratura do Auto de Infração, após descontar o ISS e o

ICMS:

Grupo I: até 0,01%;

Grupo II: até 0,1%;

Grupo III: até 1%;

Grupo IV: até 2%.

Figura 6 - Fluxograma do processo administrativo punitivo

- emissão de auto de infração.

INSERIR FIGURA 12-37-2C

93.Se considerada a possibilidade de pedido de reconsideração à Diretoria da Aneel, o

processo punitivo ilustrado na figura anterior pode atingir 90 dias, como mostrado a seguir.

Após emitido o Auto de Infração (AI), a concessionária tem 15 dias para apresentar sua

defesa, que será julgada por um dos diretores da agência no prazo de até 30 dias, como

mostra a Figura 7.

Figura 7- Fluxograma do processo administrativo punitivo - defesa e julgamento.

INSERIR FIGURA 13-37-2C

94.Caso o diretor decida manter a punição, a concessionária ainda tem 15 dias para recorrer

desta decisão para a Diretoria Colegiada, que tomará uma decisão final em até 30 dias a

partir do recebimento do recurso, como mostra a Figura 8.

Figura 8- Fluxograma do processo administrativo punitivo - recurso.

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INSERIR FIGURA 14-37-2C

95.A Tabela 8 apresenta uma síntese dos processos administrativos punitivos instaurados

pela ANEEL contra agentes do setor elétrico, desde sua criação. O elevado número de

multas aplicadas pela SFF e revogadas pela diretoria ocorreu porque, na ocasião da

assinatura dos contratos iniciais de fornecimento de energia elétrica (o que marcou o início

da transição para o novo modelo de competição na comercialização e geração de energia

elétrica), vários agentes recusaram-se a assinar os contratos de uso do sistema de

transmissão (CUST). A ANEEL reagiu multando todos os que não seguiram sua

determinações. Os concessionários acabaram por acatar tais determinações e assinaram os

contratos. Desse modo, a Diretoria da ANEEL entendeu por bem revogar as multas.

Tabela 8 - Processos administrativos punitivos instaurados contra agentes do setor elétrico.

Emissor do AIPenalidades AplicadasFase de Recursos AdministrativosMultas Recolhidas

Não Recolheu

EspecificaçãoValor R$ MilRevogadaConfirmadaModifi-cadaEm Fase de RecursoANEEL

JuizoRecurso na JustiçaInadim-plência

TIPOQDQDR$ milQDR$ milQDR$ milQDR$ milQDR$ milQDR$ milQDR$ milQDR$ mil

ANEEL(1)Advertência------------------

Multa22.656--22.656----12.0171639----

SFGAdvertência2-----2(*)-1---------

Multa66754198136--1441--------

SFEAdvertência1---1-------------

Multa1510.592114675.289--43.69652.097--23.192--

SFFAdvertência-----------0------

Multa9332.5857022.10794.001891456.59611893151154943.228

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TOTAL GERAL11946.5077522.4512011.98189141110.665175.006269033.74143.228

(1) Auto de infração emitido antes da estruturação das Superintendências de Fiscalização.

(*) "Transformada de Multa para Advertência"

Obs.: A divergência entre o valor das penalidades aplicadas e da fase de recursos

administrativos refere-se aos AI modificados.

96.Para realizar as fiscalizações, a ANEEL conta com o apoio de agências estaduais de

regulação, além de contratar fundações de apoio à pesquisa (ligadas a universidades) e

empresas especializadas. A Figura 9 apresenta o mapa das agências estaduais de

regulação criadas, destacando aquelas que já auxiliam a ANEEL nos trabalhos de

fiscalização: ARCE (CE), ARCON (PA), ARSEP (RN), AGERGS (RS), AGERBA (BA) e

CSPE (SP).

97. A cada ano, cada agência descentralizada apresenta à ANEEL seu Plano de Atividades

e Metas (PAM), que deve conter a justificativa das fiscalizações e atividades propostas,

cronogramas, número de fiscais envolvidos e custos de fiscalização. A ANEEL, a seu

critério, propõe modificações, negocia custos (se encontrar discrepâncias entre as Agências)

até considerá-los adequados a seus objetivos, aprovando os planos e oferecendo como

contrapartida os recursos financeiros para que sejam executados. O PAM é objeto de

prestação de contas a ser realizado a cada trimestre.

5.3 Sistemas Informatizados de Apoio à Fiscalização

98.O trabalho de fiscalização envolve o monitoramento do desempenho técnico e

econômico-financeiro das empresas concessionárias de energia elétrica. Por meio deste

monitoramento é possível detectar pontos problemáticos e programar fiscalizações e

inspeções específicas para investigar suas causas, bem como acompanhar o cumprimento

de determinações e recomendações feitas em fiscalizações passadas.

99.A ANEEL tem buscado desenvolver ferramentas de apoio ao trabalho de fiscalização, o

que tem contribuído para a evolução dos trabalhos tanto em termos de agilidade quanto de

qualidade da análise. Já encontra-se em operação o Sistema de Informações do Setor

Elétrico (SISEN), um sistema de informações com dados relativos ao sistema elétrico

nacional, composto de quatro módulos:

acompanhamento do mercado padronizado, com dados técnicos sobre produção e consumo

de energia elétrica;

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contabilidade de empresas (balancetes e demais demonstrações contábeis das empresas);

indicadores de qualidade (DEC, FEC - benchmarking para o país, região, estado, capital);

concessões e permissões (informações cadastrais).

100.Encontra-se em fase final de desenvolvimento o Sistema de Gestão da Fiscalização

(SIGEFIS), uma ferramenta de apoio para a elaboração dos relatórios de fiscalização. Com

esta ferramenta, a ANEEL pretende conferir maior uniformidade aos relatórios, tanto entre as

diferentes áreas de fiscalização como entre os diferentes agentes que a executam. Por meio

deste sistema, os relatórios poderão ser elaborados fora da Agência, sendo os dados

alimentados diretamente a um banco de dados em suas dependências por meio de uma

extranet. Assim, o trabalho realizado pelas agências descentralizadas e por contratados

estará disponível para a ANEEL no formato desejado, em menos tempo, sem a necessidade

de retrabalho para armazená-los.

101.Uma vez feitas as considerações gerais sobre o funcionamento do processo de

fiscalização - do planejamento ao acompanhamento das determinações e recomendações -,

sobre como se dá a sua descentralização e sobre o processo punitivo, passamos aos

resultados das 3 superintendências de fiscalização no ano 2000.

5.4 Fiscalização dos Serviços de Geração

102.No caso da Superintendência de Fiscalização de Geração, sua meta coincide com a

meta da ação 1 do Programa de Qualidade do Serviço de Energia Elétrica, de fiscalizar 661

centrais geradoras de energia elétrica no ano 2000. O número de fiscalizações efetuadas,

comparado com a meta para o ano 2000, é apresentado na Tabela 9, sendo decomposto em

número de inspeções de centrais em operação, número de inspeções de obras e número de

centrais monitoradas. Para realizar seu trabalho, a SFG conta com o apoio da Fundação de

Apoio à Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (FEESC), da CSPE e da

ARCON.

Tabela 9 - Resumo da meta e ações de fiscalização realizadas pela SFG no ano 2000.

INSERIR FIGURA 15-37-2C

103.As inspeções relativas ao trabalho realizado de “Diagnóstico dos Procedimentos de

Operação e Manutenção das Principais Centrais Geradoras do Brasil” foram realizadas em

todas as 29 centrais com capacidade instalada maior que 500 MW e em 12 centrais

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localizadas em pontos estratégicos do sistema de transmissão. Assim, dois terços da

capacidade instalada nacional foram inspecionados, resultando em 29 determinações e 196

recomendações, visando à melhoria e confiabilidade do suprimento de energia elétrica ao

sistema.

104.A partir da experiência deste trabalho, realizado em parceria com a FEESC, está sendo

elaborado um manual para o diagnóstico dos procedimentos de operação e manutenção de

centrais geradoras, e planeja-se contratar empresas para realizar este diagnóstico em

centrais geradoras com potência entre 50 e 500 MW, que representam aproximadamente

22% da capacidade instalada.

105.São monitoradas à distância (por meio de indicadores) 214 centrais hidrelétricas e

termelétricas (principalmente centrais despachadas pelo ONS e centrais dieselétricas do

sistema isolado de Rondônia, Acre e Pará). Para as usinas integradas ao sistema, são

desenvolvidos indicadores mensais (disponibilidade, taxa de falhas e desligamento e

religamento de máquinas) a partir dos dados diários enviados pelo ONS. O monitoramento

das centrais geradoras nos sistemas isolados é feito por meio dos relatórios mensais de

geração ( energia gerada).

106.Além das fiscalizações, foram realizadas reuniões com órgãos ambientais para

verificação da situação do licenciamento das centrais já autorizadas e/ou concedidas, e foi

iniciado o processo de licitação dos serviços de avaliação de obras concluídas, com o

objetivo de certificar e autorizar a sua entrada em operação comercial. Outras ações

relevantes para o trabalho da fiscalização dos serviços de geração no ano 2000 foram:

desenvolvimento e implantação de banco de dados para acompanhamento das centrais em

construção;

desenvolvimento de sistema de banco de dados corporativo (SIGEFIS), em conjunto com as

demais superintendências de fiscalização, para acompanhamento dos processos de

fiscalização da Agência. Este banco de dados permitirá a padronização de procedimentos,

termos utilizados e relatórios, além de disponibilizar todas as ações desenvolvidas no âmbito

da fiscalização;

participação, juntamente com a Superintendência de Fiscalização dos Serviços de

Eletricidade - SFE, da elaboração do manual de fiscalização do ONS;

realização do seminário “Diagnóstico dos Procedimentos de Operação e Manutenção das

Centrais de Geração de Energia Elétrica”, para a apresentação dos principais resultados

obtidos na fiscalização. O seminário contou com a participação de todas as concessionárias

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de geração do país e permitiu uma troca de experiências inédita no setor;

finalização do “Manual de Fiscalização - Tipo I - Adequação”, desenvolvido com o objetivo

de roteirizar e padronizar os procedimentos de fiscalização dos serviços de geração, tanto

internamente à superintendência quanto para as agências estaduais e demais instituições

conveniadas/contratadas;

em elaboração o livro "Centrais Termelétricas";

certificação de conclusão das obras.

Metodologia e critérios de definição das concessionárias a serem fiscalizadas

107.Na metodologia de definição das centrais geradoras a serem fiscalizadas ficou

estabelecido como meta a fiscalização de 35% das centrais geradoras em operação por ano.

Desta forma, no triênio 2000/2002 serão fiscalizadas todas as centrais geradoras. Os

critérios para definir as empresas a fiscalizar no ano 2000 foram os seguintes:

histórico da central geradora junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS ). De

acordo com os índices de qualidade de suprimento elaborados pelo ONS define-se a

seqüência das centrais geradoras a serem fiscalizadas;

para as centrais geradoras do sistema isolado define-se as prioridades de acordo com as

não conformidades detectadas em fiscalizações anteriores, bem como desligamentos

ocorridos por falhas na geração;

é determinada fiscalização imediata da central geradora que apresentar não conformidade

que implique a falta de energia elétrica para o consumidor final.;

100% das obras em andamento foram fiscalizadas, para assegurar que entrarão em

operação nas datas previstas nos contratos.

Monitoramento das fiscalizações

108.O monitoramento das fiscalizações é feito por meio do acompanhamento diário do

boletim de operações do ONS, observando eventuais problemas com as centrais geradoras,

e do acompanhamento das determinações e recomendações efetuadas em fiscalizações

anteriores, observando o cumprimento destas nos prazos estabelecidos.

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5.5 Fiscalização econômico-financeira

109.A meta para a Superintendência de Fiscalização Econômico-Financeira (SFF) está

distribuída principalmente entre as ações 2 e 3 do Programa de Qualidade do Serviço de

Energia Elétrica. A SFF realiza ações de fiscalização econômica e financeira em empresas

dos segmentos de transmissão e distribuição, e ainda por não estarem desverticalizadas, as

grandes geradoras de energia elétrica (FURNAS, CHESF e ELETRONORTE), como

apresentado na Tabela 10. O segmento de geração, constituído por Produtores

Independentes de Energia e por ser uma atividade desregulamentada, não é fiscalizado sob

a ótica econômico-financeira.

Tabela 10 - Ações de fiscalização realizadas e metas para a SFF no ano 2000.

INSERIR FIGURA 16-37-2C

110.Além do apoio da Comissão de Seviços Públicos de Energia (CSPE), a SFF contratou

as seguintes empresas para auxiliá-la nos trabalhos de fiscalização:

KPMG Auditores Independentes (contrato nº 73/2000);

Boucinhas & Campos S/C Auditores Independentes (contrato nº 74/2000);

Trevisan Auditores Independentes (contrato nº 75/2000);

PriceWaterHouseCoopers Auditores Indepentes (contrato nº 76/2000);

ARC & Associados Auditores Independentes (contrato nº 77/2000);

Ernst & Young Auditores Indepentes (contrato nº 78/2000).

111.Para efetuar o acompanhamento econômico-financeiro, a SFF criou o Sistema de

Informações do Setor Elétrico Nacional (SISEN). Este sistema possui informações contábeis

detalhadas de todos os concessionários do sistema elétrico, e é alimentado mensalmente.

Como conseqüência do controle e acompanhamento de elementos ligados a aspectos

econômicos e financeiros das empresas, busca-se manter o equilíbrio da concessão,

mediante a prestação do serviço adequado e a modicidade tarifária.

112.Das agências reguladoras estaduais, apenas a de São Paulo (CSPE) está estruturada

para realizar fiscalizações econômico-financeiras. Isto ocorre porque naquele estado há 13

empresas distribuidoras. Na maioria dos estados onde já há agência reguladora estadual, há

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apenas uma empresa distribuidora. Assim, não há razão para criar uma área especializada

na fiscalização econômico-financeira apenas para fiscalizar uma empresa. Nestes casos, a

fiscalização pelas agências reguladoras estaduais limita-se à qualidade dos serviços

prestados. No Estado de São Paulo, a ANEEL tem adotado a descentralização da

fiscalização para a CSPE em divetrsos casos.

Metodologia e critérios de definição das concessionárias a serem fiscalizadas

113.Conforme meta do Plano Plurianual - PPA para o ano 2000, foi programada a

fiscalização sob o enfoque econômico-financeiro, mediante visita in loco de 40% das 73

concessionárias do serviço público de energia elétrica, bem como o monitoramento de 100%

dessas empresas. O critério utilizado para definição das empresas visitadas foi a quantidade

e complexidade de problemas em ações fiscalizatórias anteriores. Foi considerado ainda o

porte das empresas e o alcance de todas as regiões do País.

Monitoramento das fiscalizações

114.Com base no Relatório de Fiscalização, é elaborado o Relatório de Acompanhamento

da Fiscalização - RAF. Este relatório discrimina quais as não-conformidades encontradas, a

manifestação do concessionário, as recomendações e determinações feitas. Estes dados

ficam armazenados no SIGEFIS, que alerta os fiscais da ANEEL quando da expiração dos

prazos dados ao concessionários para cumprirem determinações feitas.

Indicadores monitorados mensalmente

retorno sobre o patrimônio líquido;

receitas a realizar;

participação no capital de terceiros;

margem líquida;

liquidez de longo prazo;

liquidez corrente;

giro do ativo;

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EVA (valor adicionado);

endividamento oneroso.

5.6 Fiscalização dos Serviços de Eletricidade

115.A meta para a Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Eletricidade (SFE)

está distribuída entre as ações 2 e 3 do Programa de Qualidade do Serviço de Energia

Elétrica. A SFE realiza fiscalizações técnicas e comerciais em empresas dos segmentos de

transmissão e distribuição de energia elétrica, como apresentado na Tabela 10. Além das 6

agências listadas, a SFE contratou a FUSP, FAPEPE e FEESC para auxiliá-la nos trabalhos

de fiscalização.

Tabela 11 - Ações de fiscalização realizadas e metas para a SFE no ano 2000.

INSERIR FIGURA 17-37-2C

Metodologia e critérios de definição das concessionárias a serem fiscalizadas

116.A SFE é responsável pela fiscalização das empresas de distribuição e de transmissão

de energia elétrica, sob os aspectos técnicos e comerciais, e adotou a seguinte metodologia

de definição das concessionárias a serem fiscalizadas, no período 2000-2002:

40% das empresas por ano, com vistoria in loco;

100% das empresas por ano, por meio de monitoramento de índices técnicos,

especificamente DEC/FEC.

117.As concessionárias a serem vistoriadas são selecionadas a partir da quantidade e

complexidade de problemas detectados em ações fiscalizatórias anteriores, do porte da

empresa, dos índices DEC/FEC apresentados, sempre buscando cobrir todas as regiões do

País.

Forma de monitoramento das fiscalizações

118.O monitoramento é efetuado mensalmente, por processo automatizado (Sistema de

Gerenciamento dos Indicadores de Qualidade DEC e FEC), quando a agência recebe dados

das concessionárias distribuidoras de energia elétrica, relativos às interrupções de

fornecimento e à freqüência com que essas interrupções ocorrem. Quando os índices

estabelecidos em contrato ou na Portaria DNAEE 046/78 são transgredidos, as empresas

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estão sujeitas à notificação. Em função do controle e acompanhamento dos indicadores de

duração e freqüência das interrupções de energia elétrica, a ANEEL tem ação sobre as

empresas que transgridem esses índices, o que as obriga a tomar imediatas providências,

visando manter ou melhorar a qualidade na prestação dos serviços.

119.Toda ocorrência de desligamento não programado das instalações da Rede Básica ou

de interrupções de relevância em instalações da transmissão é comunicada imediatamente à

SFE. Neste caso é solicitado relatório detalhado da ocorrência e, após sua análise, poderá

ser emitido Termo de Notificação. Em ambas as situações, poderá ocorrer, em seqüência, a

abertura de processo administrativo punitivo. Com a implantação do Sistema Argos, a

ANEEL terá condições de monitorar diretamente as informações a respeito de interrupções.

Inicialmente, este monitoramento será capaz de fornecer amostras de dados sobre as

interrupções, o que reduzirá as chances de fraude nestes indicadores, uma vez que hoje em

dia eles são fornecidos à ANEEL pelas próprias concessionárias.

5.7 Estudo de Caso - Coelce

120.Além de verificar o desempenho da área de fiscalização da ANEEL quanto ao

cumprimento das metas para o ano 2000, esta equipe propôs-se a realizar um estudo de

caso. Ao fazê-lo, buscamos analisar como a Agência está atuando no processo de

fiscalização, e não apenas quantas fiscalizações está realizando. Passa-se assim para um

próximo passo nos trabalhos de fiscalizar o ente fiscalizador: verificar a qualidade das

fiscalizações realizadas, traduzida em termos da tempestividade, eficiência e eficácia da

atuação da Agência junto às empresas concessionárias de energia elétrica.

121.Foi escolhido um caso crítico (6) para avaliar o desempenho da fiscalização das

empresas concessionárias de energia elétrica por parte da ANEEL - o caso da Companhia

Energética do Ceará (COELCE). Este caso foi escolhido pelos seguintes motivos:

(6) Segundo o Manual de Auditoria de Natureza Operacional do TCU (fls. 60), o estudo de

caso crítico é aquele que examina uma situação especialmente relevante ou serve como um

teste crítico.

----------------------------

sendo a COELCE uma empresa do segmento de distribuição de energia elétrica, falhas na

sua operação atingem diretamente os consumidores finais, aí incluídos os consumidores

residenciais, que representam, em número de unidades, o maior segmento do mercado

consumidor de energia elétrica do país;

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a cobertura dada pela mídia aos problemas recorrentes nos serviços prestados pela

COELCE, mesmo estes sendo detectados nas fiscalizações, sinalizavam que a empresa não

estava cumprindo as determinações dos órgãos fiscalizadores;

a repercussão dos problemas atingiu outras instituições, sendo objeto de audiências na

Câmara dos Deputados, na Câmara Legislativa do Estado do Ceará, e de comunicações

formais à ANEEL por parte do Governador do Estado do Ceará;

o processo de verificação de inadimplência legal e contratual da COELCE poderia ter

culminado com a cassação da concessão, que seria a pena máxima a aplicar a um

concessionário. A abertura de tal processo foi um fato inédito até então no País;

Para chegar a este estágio, processos punitivos em fiscalizações foram concluídos, podendo

ser verificado o cumprimento de suas diversas etapas, conforme determina a Resolução

318/98 - ANEEL (como mostrado nas figuras 7 e 8).

122.A análise do caso inicia-se com uma descrição das diversas ações da ANEEL

relacionadas à fiscalização e solução dos problemas encontrados. Ao fazê-lo, procuramos

contextualizar as ações da ANEEL, mostrando como estas se encadearam, qual foi o papel

da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (ARCE) no

trabalho de fiscalização descentralizada e quais foram os desdobramentos processuais. Em

seguida, apresentamos uma síntese dos problemas encontrados ao longo do processo de

fiscalização, bem como o resultado das ações empreendidas pela ANEEL e ARCE: a

melhoria da qualidade dos serviços prestados pela COELCE.

5.7.1 Histórico das ações relacionadas à fiscalização dos serviços prestados pela Coelce

123.Desde a sua criação, a ANEEL e a ARCE - Agência Reguladora de Serviços Públicos

Delegados do Estado do Ceará - fizeram diversas fiscalizações na COELCE. Apenas

fiscalizações de geração não foram realizadas, pois a empresa não possui nenhuma

unidade geradora. Para melhor acompanhamento das ações de fiscalização descritas no

texto, apresenta-se na Figura 10 o fluxo das ações empreendidas pela ANEEL e ARCE

relativas à fiscalização e tentativa de equacionamento dos problemas encontrados junto à

COELCE.

124.A COELCE foi privatizada em abril de 1998. Até a criação da ANEEL, a fiscalização dos

concessionários de energia elétrica era realizada pelo DNAEE. A fiscalização realizada pela

ANEEL iniciou-se no ano de 1998. Havia então uma diretriz de atuar de maneira preventiva

e pedagógica. A prioridade não era aplicar penalidades aos concessionários, mas

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apresentar o trabalho de fiscalização, estabelecer o padrão de qualidade que seria exigido, e

atuar junto às empresas no sentido de induzi-las a convergir para estes padrões.

125.Como programado pela ANEEL, uma primeira fiscalização de qualidade dos serviços foi

realizada em setembro de 1998. Tendo sido encontrados diversos problemas, a Agência

decidiu realizar uma fiscalização complementar em novembro. Neste mesmo mês, foi

realizada uma fiscalização econômico-financeira, já programada. Em dezembro, mais uma

fiscalização complementar foi realizada para verificar problemas de qualidade dos serviços.

Naquele mesmo mês, a COELCE recebeu da ANEEL 3 termos de notificação (TNs): dois

relativos a problemas técnicos, de atendimento a consumidores, e de atendimento a pedidos

de ligação, e um relativo à área econômico-financeira. Nestes 3 TNs, foram feitas 36

determinações e 34 recomendações à COELCE.

126.O grande número de reclamações, apresentadas pelos consumidores junto ao DECOM

(o órgão de defesa dos consumidores no Ceará) e ARCE, revelou a falta de empenho da

COELCE em resolver os problemas apontados nas fiscalizações efetuadas no ano de 1998

e em cumprir as determinações feitas pela ANEEL. Já no início de 1999, em 14 de janeiro,

houve uma reunião entre as diretorias da ANEEL e da COELCE, onde foi explicitado que “a

tolerância da ANEEL havia chegado ao limite e que caso não houvesse progresso na

solução das reclamações, seriam aplicadas as penalidades previstas na legislação vigente”

(fls. 33).

127.Em abril, a ANEEL lavrou o auto de infração (AI) 005/99-SFF em razão da persistente

recusa da COELCE em enviar sua folha de pagamentos à Agência. Em abril, a multa relativa

ao valor máximo do grupo 2 (0,1% da receita do concessionário), no valor de R$ 549.096,00,

foi confirmada em última instância administrativa pela Diretoria da ANEEL. A COELCE

entrou com mandado de segurança, com pedido de liminar ( Proc. 1999.34.00023654-4),

que foi considerado improcedente. A Concessionária realizou depósito em juízo e entrou

com recurso junto ao TRF em 08.05.2000, estando nesta situação até a data de 21 de maio

de 2001.

128.Em junho de 1999, foi feita mais uma fiscalização de rotina (isto é, uma fiscalização que

faz parte do planejamento anual da ANEEL) na área de qualidade dos serviços. Nesta

fiscalização foi verificado o grau de cumprimento das determinações e recomendações

realizadas nas fiscalizações anteriores, além de novos pontos. Foi constatado que a

COELCE continuava parcialmente inadimplente quanto ao seu cumprimento. A empresa foi

então notificada em setembro, por meio do TN 041/99 - SFE, contendo 5 não-conformidades

(7), 2 determinações e 5 recomendações.

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(7) A partir de 1999 a ANEEL passou a distinguir não-conformidade de determinação. No

primeiro caso detecta-se um problema que deve ser corrigido em determinado prazo,

modificando o comportamento da empresa. Já no segundo, além de modificar seu

comportamento, a empresa deve reparar danos causados pelo seu comportamento anterior.

----------------------

129.Em função do não atendimento da COELCE a determinações relativas ao

equacionamento de problemas de fraude e desvio de energia, e de atendimento a

reclamações de consumidores, a ANEEL iniciou novo processo punitivo em novembro, por

meio do AI 041/99-SFE. A multa foi confirmada nas duas instâncias administrativas, e foi

paga em 22 de maio de 2000.

130.Ainda em novembro, foi realizada nova fiscalização econômico-financeira de rotina,

resultando em 7 determinações e cinco recomendações. A situação de não atendimento a

determinações relativas à qualidade dos serviços persistia, e neste mesmo mês iniciou-se

nova fiscalização, desta vez sob responsabilidade da ARCE. Esta fiscalização, mais longa,

foi efetuada em duas etapas: 40 dias em novembro/dezembro de 1999, e 26 dias em

janeiro/fevereiro de 2000. Os relatórios relativos a esta ação de fiscalização continham 71

constatações, 42 não-conformidades, 56 determinações e 46 recomendações. Estes

números dão uma idéia da gravidade da situação encontrada, e ilustram a recorrência de

falhas verificadas. A empresa foi notificada apenas em abril. A este tempo a situação já

estava crítica.

131.Paralelamente à notificação de tais irregularidades, a ARCE decidiu pela emissão do AI

05.002/2000 - CEn, ao verificar que a COELCE continuava não cumprindo determinações

relativas ao TN041/99 - SFE. Neste AI, a ARCE propôs a aplicação cumulativa de duas

multas do grupo 2 e duas multas do grupo 3, totalizando R$ 6.964.180,74. A COELCE

recorreu, mas a punição foi integralmente confirmada, após análise nas instâncias cabíveis,

pela Diretoria Colegiada da ANEEL, em 6 de novembro de 2000.

132.Além das ações desenvolvidas pelas agências reguladoras, outros órgãos públicos e

entidades realizaram eventos relacionados à má prestação dos serviços prestados pela

COELCE. Foram realizadas nove audiências públicas pela Assembléia Legislativa do Estado

do Ceará nos anos de 1999 e 2000, uma audiência pública conjunta pela Câmara dos

Deputados, em setembro de 1999, três audiências públicas por câmaras de vereadores

(Sobral, Iguatu e Fortaleza), uma pelo fórum permanente de defesa do consumidor da

OAB/CE e uma pela Secretaria da Infra-estrutura do Ceará (fls. 214, vol. 1).

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133.O descontentamento chegou a ser documentado pelo Governador do Estado do Ceará,

Sr. Tasso Ribeiro Jereissati, em correspondência enviada ao Presidente da COELCE em

28/04/2000 (fls. 8 e 9). Nessa ocasião, o Governador comunicou estar dando ciência do

assunto à ANEEL e determinando providências junto à Procuradoria Geral do Estado para

que identificasse “as alternativas constitucionais, legais, regulamentares e contratuais que

permitam ao Poder Público o controle desta situação, de modo a prevalecer o interesse

público no Estado do Ceará”.

134.Com a persistência dos problemas detectados nas fiscalizações da ANEEL e da ARCE

ao longo do ano de 1999 e início de 2000, a Diretoria da ANEEL reuniu-se com

representantes da ARCE no dia 4 de maio com o objetivo de avaliar a situação. Definiu-se

que a Diretoria da COELCE e um representante de seu grupo controlador seriam

convocados a comparecer à sede da ANEEL em Brasília no dia 29 do mesmo mês, quando

seria apresentado relatório indicando os principais problemas da concessão.

135.Na reunião, a diretoria da ANEEL apresentou aos diretores da COELCE a sua

percepção da situação, consubstanciada no “Relatório de Comunicação de Falhas e

Transgressões à Legislação e ao Contrato de Concessão” (fls. 35/80, vol. 1), doravante

chamado de Relatório de Falhas. Também comunicou que estava iniciando os

procedimentos para a decretação de caducidade da concessão e de abertura de prazo para

a defesa da interessada quanto à suspensão temporária de participação da COELCE em

licitações de novas concessões, permissões ou autorizações para os serviços e instalações

de energia elétrica, bem como de contratar com a Administração. Foi dado prazo de 90 dias

para a COELCE resolver definitivamente os problemas pendentes.

136.Com relação à questão processual, a COELCE apresentou, em 5/6/2000, defesa

relativa à suspensão de participar de licitações e contratar com a administração, consoante

cópia de fls. 99/141, juntamente com parecer do Professor Marçal Justen Filho, em que

posicionava-se sobre a aplicação de dispositivos da Lei nº 8.666/93 aos contratos de

concessão (fls. 147/191). Em sua defesa, a empresa alegou cerceamento de defesa por não

haver sido emitido auto de infração para abertura do processo administrativo. Acatando

parecer de sua Procuradoria-Geral (PGE), a ANEEL emitiu o AI 010/00 em agosto. Este

processo foi encerrado em primeira instância, em novembro, diante da percepção de

reversão do quadro de problemas então existente.

137.Com relação à solução dos problemas apontados no Relatório de Falhas, foi elaborado

o Programa de Melhorias da COELCE, contemplando uma série de atividades. Para verificar

a evolução do desempenho da empresa foram realizadas 3 inspeções entre os meses de

junho e agosto. No dia 25 de agosto foi realizada uma reunião entre a diretoria da ANEEL e

da ENDESA, grupo Espanhol controlador da COELCE. Dois dias após isto, a ENDESA

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enviou à Fortaleza uma equipe para analisar a situação e tomar as medidas necessárias

para corrigir os problemas existentes.

138.Em 11 de setembro ocorreu uma nova reunião, desta vez em Fortaleza, entre a equipe

da ENDESA, diretores e superintendentes da ANEEL e da ARCE. Nesta reunião, foi

apresentado o documento “Endesa S.A. - Coelce: Análise e Plano de Ação”, também

chamado de “Plano de 100 dias”, contendo uma série de ações de curto e médio prazo para

regularização dos problemas detectados. Em 19 de setembro, a Endesa enviou

comunicação à ANEEL a respeito da nomeação do Sr. Manuel Montero Camacho, que já

coordenava a equipe da Endesa em Fortaleza, como novo Presidente da COELCE.

139.Ainda em setembro, houve nova fiscalização conjunta realizada pela ANEEL (SFE e

SFF) e ARCE. O “Relatório de Verificação da Regularização das Falhas e Transgressões

pela COELCE” foi apresentado em 20 de outubro. Em 31 de outubro a Diretoria da ANEEL

deliberou, em reunião colegiada, por não dar continuidade aos procedimentos associados à

ação de caducidade da concessão outorgada à COELCE. O voto do Diretor-Relator, acatado

pelo colegiado, tendo como base o relatório de fiscalização, conclui que houve uma

“reversão significativa do quadro de problemas em que se encontrava a concessão, com um

índice global de adequacidade em torno de 80%” (fls. 289, vol. 1).

5.7.2 Falhas e transgressões cometidas pela Coelce

140.A seguir, são apresentados de maneira sintética os problemas identificados no relatório

citado no item 135 acima, subdivididos segundo sua natureza: comercialização, técnica e

econômico-financeira.

A - Área de comercialização

A.1 - Atendimento a pedido de ligação

Caracterização do Problema

Alto índice de reprovação de padrões de entrada de energia, tanto na capital como no

interior (30 e 40%, respectivamente).

Alto índice de vistorias/ligações feitas fora do prazo (37%).

Não substituição de ramais danificados de ligações já existentes, exigindo para tal que o

consumidor forneça o material.

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Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DC.07 e RC.01.

ReFis COELCE 02/99-Cen, DC.01 e DC.13.

A.2 - Unidade consumidora residencial baixa renda

Caracterização do Problema

Não classificação inicial de consumidor como baixa renda, exigindo que este retorne à

agência para solicitar a classificação caso seu consumo seja inferior a 140 KWh nos dois

primeiros meses.

Exclusão indevida da condição de baixa renda, seja por período de leitura superior a 30 dias,

seja por acúmulo de consumo devido a faturamento por média ou outros erros de

responsabilidade da concessionária.

Exigência de contrato, em desacordo com a legislação vigente, para atender consumidores

da periferia de Fortaleza.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DC.13.

ReFis COELCE 02/99-Cen, DC.11 e DC.12.

A.3 - Atendimento ao consumidor

Caracterização do Problema

Terceirização precipitada do atendimento, em outubro de 98, em todas as agências de

Fortaleza. Demissão de atendentes experientes sem treinamento prévio dos substitutos;

Treinamento precário dos novos atendentes terceirizados, com reflexos negativos no

atendimento perdurando até a época da elaboração do relatório;

Fechamento de agências e postos de atendimento, sem proporcionar outra opção de

atendimento ao consumidor.

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Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DC.14 e RC.13.

ReFis COELCE 02/99-Cen, DC.04 e DC.08.

A.4 - Arrecadação

Caracterização do Problema

Dificuldades impostas pela concessionária para a devolução de pagamentos em duplicidade.

Por ocasião da elaboração do relatório haviam R$ 2,2 milhões para serem devolvidos.

Fechamento de postos de atendimento dificultou o pagamento das contas, causando

aumento de multas por atraso e nas despesas de transporte dos consumidores para efetuar

o pagamento.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DC.04.

ReFis COELCE 03/99-Cen, DC.03.

A.5 - Participação financeira

Caracterização do Problema

Não cumprimento dos prazos para apresentação de orçamentos, início e término de obras,

mesmo com pagamento antecipado da participação financeira do consumidor.

Erros elementares no cálculo da participação financeira do connsumidor.

Grande número de obras em que o consumidor pagou o custo total ou o encargo de

responsabilidade da COELCE foi calculado a menor.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

ReFis COELCE 04/99-Cen, DC.02, DC.03, DC.04, DC.05, DC.06, DC.07, DC.08, DC.09.

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A.6 - Ressarcimento de danos

Caracterização do Problema

Em 90% das reclamações a COELCE não se manifestou nem indenizou os consumidores

dentro do prazo de 30 dias estabelecido na legislação vigente e no contrato de concessão.

Grande número de processos indeferidos por alegação de que não houve nexo causal entre

a ocorrência e o dano, impondo o ônus da prova ao consumidor.

Demora para operacionalizar o Rito Sumário nos casos de danos de pequeno valor.

Agências terceirizadas não dispõem de recursos para pagar as indenizações.

Criação de Comitê Técnico para julgar os processos de danos, o que resultou em aumento

substancial da burocracia e grandes atrasos na aprovação dos mesmos.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, RC.15.

RF-COELCE/1999-SFE, NC.04.

ReFis COELCE 03/99-Cen, DC.14.

A.7 - Fraude e desvio de energia

Caracterização do Problema

Irregularidades no cálculo e cobrança de diferenças de consumo originadas por

fraude/desvio de energia, desde outubro de 1998.

Aumento do número de processos inconsistentes.

Não informação sistemática aos consumidores dos elementos de apuração das

irregularidades, dos critérios adotados na revisão do faturamento, nem do direito de recurso

que a legislação lhes faculta.

Relutância para aceitar recursos impetrados diretamente pelos consumidores, só aceitando

quando feitos por meio de órgãos como DECOM, ARCE ou ANEEL.

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Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, RC.16 e RC.17.

RF-COELCE/1999-SFE, NC.02, NC.03 e DC. 02.

ReFis COELCE 05/99-Cen, DC.03, DC.04 e DC.05.

B - Área de qualidade do fornecimento de energia elétrica

B.1 - Aspectos da operação, conservação, manutenção e segurança das instalações

Caracterização do Problema

Diversos problemas relacionados à operação, conservação, manutenção e segurança das

subestações:

Cerca de arame farpado com pouca condição de segurança;

Britas mal espalhadas com presença de entulhos;

Vazamentos de óleo e oxidaçãonos equipamentos;

Falta de pára-raios;

Falta de placas de advertências;

Ausência ou desatualização de diagrama unifilar;

Cabos de interligação da malha de terra sobre a brita de proteção;

Falta de equipamentos de proteção individual (EPI), ou equipamentos sem condição de uso;

Codificações dos equipamentos e dos barramentos ilegíveis ou trocadas;

Redução de 21% nas inspeções visuais e de 30% nas inspeções realizadas no ano de 1999

em comparação com o ano de 1998;

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Redução de 40% nas inspeções minuciosas nas linhas de transmiissão (1998);

Redução de 30% na quantidade de análises físico-químicas do óleo mineral isolante

realizadas no ano de 1999 em comparação com o ano de 1998;

Aumento acentuado de falha em transformadores de força em subestações: uma unidade

em 1998 versus 6 em 1999 (até agosto).

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DT.01.

ReFis COELCE 06/99-Cen, DT.01.

B.2 - Níveis de tensão

Caracterização do Problema

79 alimentadores primários de distribuição com problemas de níveis de tensão, conforme

relação fornecida pela própria COELCE.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DT.02 (33 alimentadores à época)

ReFis COELCE 06/99-Cen: notificação da COELCE.

B.3 - Índices de continuidade

Caracterização do Problema

Várias irregularidades no processo de apuração dos indicadores DEC e FEC, as quais

desqualificam os dados apurados pela COELCE. A partir de amostra de 663 interrupções

selecionadas aleatoriamente realizada pela ARCE em 1999 sobre todas as interrupções

registradas pela COELCE naquele ano foi detectado que:

34% das interrupções analisadas não foram utilizadas para cálculo do DEC e FEC;

8% das interrupções analisadas foram utilizadas para cálculo do DEC e FEC com tempo

inferior ao real;

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13% dos registros de ocorrência analisados não discriminavam a hora de reclamação;

3% dos registros de ocorrência analisados tinham rasuras nos horários;

43% das interrupções foram contabilizadas corretamente.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, DT.04 e DT.05.

ReFis COELCE 06/99-Cen: notificação da COELCE.

B.4 - Aspectos de segurança das pessoas

Caracterização do Problema

Número alarmante de acidentes de trabalho envolvendo empregados da COELCE,

empreiteiras e terceiros, particularmente no ano de 1999 (26 acidentes, sendo 6 fatais).

Pela análise das descrições dos acidentes fatais, verificou-se uma série de irregularidades,

no desempenho das atividades de risco, sendo as principais causas:

Falta de utilização de sistema de proteção coletiva - SPC;

Falta de utilização de equipamento de proteção coletiva - EPC;

Falta de utilização de sistema de proteção individual - EPI;

Falta de planejamento, programação e supervisão do serviço.

Foi constatado que a COELCE não informava a novos consumidores, quando da solicitaçao

de pedidos de ligação, sobre os cuidados especiais que o uso da energia elétrica requer,

nem realizava campanhas de esclarecimento da população.

Relatórios de fiscalização contendo determinações e/ou recomendações a respeito

RF-COELCE/1998-SFE, RT.03, NC.05.

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ReFis COELCE 06/99-Cen.

C - Área econômica e financeira

C.1 - Operações com empresas do mesmo grupo

Caracterização do Problema

Aquisição de materiais no total de R$ 3,3 milhões e 1,1 milhão em 1999 e 2000,

respectivamente da empresa DIPREL, integrante do grupo controlador da COELCE sem a

prévia aprovação da ANEEL.

C.2 - Transferência de tecnologia

Caracterização do Problema

Desembolsos de R$ 7,8 milhões à empresa Synapsis S.A. (integrante do grupo controlador

da COELCE) referente à aquisição e implantação de sistemas de gestão empresarial, valor

equivalente a 1,39% de sua receita operacional anual, desrespeitando o limite de de 1%.

C.3 - Cessão de ativos

Caracterização do Problema

Cessão de ativos para empreiteiras realizarem manutenção de redes, sem que para tal

houvesse previsão contratual, sem a correspondente retribuição financeira a título de

aluguel, e sem autorização da ANEEL para a cessão de tais ativos.

C.4 - Operação de compra e venda de energia com a CERJ

Caracterização do Problema

Realização de operações comerciais de compra e venda de energia com a CERJ (empresa

integrante do grupo controlador da COELCE), sem a devida autorização da ANEEL.

5.7.3 Verificação da regularização das falhas e transgressões

141. Entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro de 2000, foi realizada uma auditoria

conjunta ANEEL/ARCE, envolvendo 17 técnicos para verificar as áreas de qualidade do

serviço (comercialização e qualidade do fornecimento) e econômico-financeira. O resultado

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desta auditoria está consubstanciado no “Relatório de Verificação de Falhas e

Transgressões pela COELCE”, de 20 de outubro de 2000 (fls. 251 a 281, vol. 1).

142.Na área comercial foram realizadas inspeções em 51 unidades de atendimento e pontos

de serviço na região metropolitana de Fortaleza e diversos municípios do interior do estado

(fls. 252, vol. 1), e nas quatro gerências regionais para efetuar os seguintes procedimentos:

vistoria das instalações compreendendo escritórios, pontos de serviço, agentes

arrecadadores, agências de atendimento ao consumidor (fixas e móveis) e central de

teleatendimento;

visitas para verificar o treinamento de atendentes;

exame de livros, contratos e documentos;

conferência de rotinas, procedimentos, normas internas e memórias de cálculo;

entrevistas com funcionários responsáveis pelos processos auditados, titulares dos pontos

de serviço, agentes arrecadadores e consumidores;

143.Para cada um dos itens apontados no Relatório de Falhas (ver seção 7.7.2 - A) , a

ANEEL construiu um índice de adequação, expresso como a média ponderada de diversos

subitens avaliados pelos fiscais responsáveis (fls. 10 a 12, vol. 2). Para cada um dos 51

pontos de serviço e unidades de atendimento avaliados (fls. 252, vol. 1), foram calculados

tais índices. A partir destes valores, foram calculadas as médias aritméticas para cada item

avaliado, representando o desempenho da empresa, como apresentado na Tabela 12 (para

maiores detalhes sobre os cálculos, ver fls. 254 a 266, vol. 1 e fls.13 a 24, vol. 2).

Tabela 12 - Índices de adequação para a área comercial.

Itens AvaliadosAdequação (%)

A1 - Atendimento a pedidos de ligação72,5

A2 - Unidade consumidora residencial de baixa renda81,9

A3 - Atendimento ao consumidor60,9

A4 - Arrecadação86,0

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A5 - Participação financeira77,5

A6 - Ressarcimento de danos74,0

A7 - Fraude e desvio de energia91,8

144.Na área de qualidade do fornecimento foram vistoriadas 29 subestações, de um total de

75 que integram o sistema de subtransmissão da COELCE. Das subestações vistoriadas, 19

situam-se na região da Gerência de Distribuição de Fortaleza, 6 na Gerência de Distribuição

de Sobral e 4 na Gerência de Distribuição Sul. Foram realizadas inspeções na rede de

distribuição, com acompanhamento por meio da medição de tensão em 21 pontos

desfavoráveis (mais distantes da subestação). Foi feita nova auditagem do processo de

coleta e apuração dos indicadores DEC/FEC.

145.De modo análogo à área de comercialização, foram construídos índices de adequação

para cada um dos itens apontados no Relatório de Falhas (ver seção 5.7.2 - B), expressos

como a média ponderada de diversos subitens avaliados pelos fiscais responsáveis (fls. 27 ,

vol. 2). Do mesmo modo, o desempenho da empresa para cada item apresentado na Tabela

13 foi obtido como a média aritmética dos índices obtidos em cada localidade (para maiores

detalhes sobre os cálculos, ver fls. 267 a 273, vol. 1 e fls.25 a 54, vol. 2).

146.Ressalta-se que o baixo desempenho medido pelo índice dos níveis de tensão deve-se,

em parte, pelo fato das medições terem sido realizadas em 21 dos 86 alimentadores

anteriormente diagnosticados como problemáticos, não representando o índice médio da

empresa.

147.O item B4 foi analisado de maneira qualitativa. Para tal, foram feitas inspeções em

campo das turmas de construção, operação e manutenção, e nas sedes das prestadoras de

serviço à COELCE, foram feitas visitas ao Sindicato dos Eletricitários do Ceará e consulta

aos relatórios elaborados pela Delegacia Regional do Trabalho do Ceará (DRT-CE) sobre os

acidentes de trabalho ocorridos na área de concessão da COELCE. Os fiscais da ANEEL

fizeram uma análise da evolução do quadro descrito nos relatórios da DRT-CE, e das

medidas tomadas pela empresa.

Tabela 13 - Índices de adequação para a área de qualidade dos serviços.

Itens AvaliadosAdequação (%)

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B1 - Aspectos de operação, construção, manutenção e segurança das instalações88,5

B2 - Níveis de tensão47,6

B3 - Índices de continuidade97,0

148.Os fiscais concluíram que “a COELCE, apesar dos esforços realizados, ainda não

conseguiu reverter os resultados negativos no que diz respeito à segurança do trabalho na

área de risco”. No entanto, finalizam o parecer neste ponto considerando que “as ações

implementadas, dentre elas a campanha publicitária veiculada de forma ampla e objetiva, a

capacitação profissional de todos os eletricistas que trabalham na área de risco e

implementação das medidas adicionais acima referidas, são providências que concorrem

para que a COELCE consiga reduzir os índices relativos aos acidentes de trabalho a valores

aceitáveis”. As medidas adicionais a que o texto refere-se abrangem oito aspectos

relacionados à questão de segurança, programadas para serem finalizadas entre dezembro

dos anos 2000 e 2003 (ver fls. 277, vol. 1).

149.Na área econômico-financeira, os fiscais da ANEEL verificaram que dos itens apontados

no Relatório de Falhas (ver seção 5.7.2 - C), apenas no item C2, relacionado à transferência

de tecnologia, continuavam a existir irregularidades: o limite de desembolsos a empresas do

mesmo grupo controlador continuava sendo desrespeitado pela empresa. A COELCE

manifestou-se pela dedução do excedente do limite para o ano seguinte, mas a ANEEL não

aceitou esta posição. Todas as outras determinações feitas na área econômico-financeira

foram atendidas pela COELCE.

150.O Relatório de Verificação de Falhas conclui que “houve uma reversão significativa do

quadro de problemas da COELCE”, com um índice de adequacidade global da ordem de

80% na solução dos problemas apontados no Relatório de Falhas. O resultado obtido foi

julgado “bastante significativo, considerando-se, principalmente, que a melhoria pode ser

observada a partir de mudanças estruturais que tendem a manter este processo de

melhoria”.

151.No Relatório de Falhas não há menção a como chegou-se ao índice de adequacidade

global, nem seu valor, mas o voto do Diretor-Relator (fls. 288, vol. 1) menciona que “das

constatações e pareceres formulados pela fiscalização e tomando por base os índices

percentuais de adequacidade para cada um dos 15 itens abordados, julgamos, numa visão

global, que aqueles relativos à área comercial estão no patamar de 80% de regularização,

os da área de qualidade no fornecimento no patamar de 70% e os da área econômica e

financeira em 90%”.

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152.A partir das melhorias apresentadas, os Superintendentes da SFE e SFF, signatários do

Relatório de Verificação de Falhas, entendem que cessam as razões, no momento, para dar-

se prosseguimento do processo de cassação da concessão. No entanto, ponderam que

“como alguns problemas ainda não foram totalmente equacionados, (...), necessitando de

ações complementares ou de continuidade, e considerando que ainda existe uma série de

providências em curso na concessionária para a consolidação das mudanças, faz-se

necessário um acompanhamento permanente das ações em andamento, até a solução total

dos problemas levantados, particularmente em relação às ações de médio e longo prazo que

se referem à solução de problemas técnicos”.

153.Assim, os autores do relatório julgam pertinente conceder um prazo adicional, conforme

solicitado pela Endesa, em seu “Plano de 100 dias” (ver item 137) para a solução total dos

problemas de ordem administrativa, técnica e de procedimentos. Em seu voto, o Diretor-

Relator segue a proposta dos Superintendentes, determinando o rigoroso acompanhamento

das providências adicionais compromissadas pela concessionária.

6. Resultados da Fiscalização e Análise do Caso COELCE

154.A área de fiscalização apresentou um bom desempenho no ano 2000, tendo cumprido

todas as metas, exceto no caso da fiscalização da geração, com um cumprimento de 94%

medido pelo indicador de número de visitas in loco. No entanto, este indicador não capta

outras ações importantes desempenhadas pela SFG no ano, como a elaboração do manual

de fiscalização do ONS, juntamente com SFE, a realização do seminário “Diagnóstico dos

Procedimentos de Operação e Manutenção das Centrais de Geração de Energia Elétrica”,

para a apresentação dos principais resultados obtidos na fiscalização, a elaboração do

“Manual de Fiscalização - Tipo I - Adequação”, e sua participação no desenvolvimento do

SIGEFIS.

155.A atuação da ANEEL na fiscalização do desempenho da COELCE caracteriza-se por

dois períodos distintos: iniciada em 1998, até meados de 1999 a fiscalização procurou

apresentar caráter educativo. Daí em diante, a ANEEL iniciou processos punitivos em função

do não cumprimento de determinações feitas pela Agência. A despeito da atuação da

ANEEL, que chegou a multar a empresa, o quadro de problemas relacionados ao mau

desempenho da COELCE agravou-se.

156.A situação chegou ao ponto crítico no início de 2000, com problemas na área de

comercialização, qualidade técnica dos serviços, segurança das pessoas, além de práticas

econômico-financeiras proibidas pelas normas do setor. Em maio do ano 2000 a ANEEL

adotou medidas extremas: abriu processo de caducidade da concessão e proibiu a COELCE

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de participar de licitações promovidas pela Agência e de contratar com a Administração.

157.Em reunião com a diretoria da empresa, a diretoria da ANEEL concedeu prazo para que

o quadro de problemas fosse revertido. Tais medidas culminaram com a troca do Presidente

da COELCE, e com a implementação de um plano de melhorias, intensamente fiscalizado

pela ARCE e ANEEL. Ao final do ano 2000, a diretoria da ANEEL decidiu pelo encerramento

do processo de caducidade além de retirar a proibição imputada à COELCE de participar de

licitações e de contratar com a Administração, por entender que já haviam sinais claros de

uma reversão estrutural no quadro de problemas anteriormente verificado.

158.Da atuação da ANEEL e da ARCE neste caso foi possível observar que a

descentralização das atividades de fiscalização foi implementada com sucesso. A agência

estadual atuou em consonância com as diretrizes traçadas pela ANEEL, com a vantagem de

obter-se uma presença física mais constante do agente fiscalizador. Por meio dos planos

anuais de metas (PAM), a ANEEL dispõe dos meios para delegar responsabilidades, e

cobrar resultados das agências descentralizadas, que, por sua vez, recebem daquela os

recursos necessários para a execução das atividades previstas.

159.Com vistas a reduzir ao máximo o grau de subjetividade no julgamento da solução dos

problemas apontados anteriormente pela fiscalização, a ANEEL desenvolveu metodologia

para obter índices de adequacidade referentes a cada tipo de problema detectado. Estes

índices constam do “Relatório de Verificação de Falhas e Transgressões pela COELCE”,

que subsidiou a diretoria da Agência na decisão de interromper o processo de caducidade,

como analisado na seção 5.7.3. Entendemos que o estabelecimento de tais índices

representa um avanço, podendo ser aplicados em diversas situações na fiscalização. Não

obstante, entendemos que o método de síntese destes índices, com vistas à obtenção de

um índice global de adequacidade, citado no relatório em questão (fls. 281, vol. 1) deve ser

descrito de maneira explícita e detalhada.

160.Por ocasião da fiscalização realizada entre os meses de novembro e fevereiro pela

ARCE, esta optou por fazer um relatório para cada assunto abordado. No entanto, todos os

relatórios foram apresentados na mesma semana. Cabe verificar se este procedimento é o

mais adequado, ou se seria melhor notificar a empresa concessionária assim que a análise

de cada relatório (assunto) fosse esgotada pela agência. Se for o caso, por ocasião da

implementação do SIGEFIS pode-se impor restrições à divisão do relatório.

161.Na maioria dos processos punitivos analisados no caso da COELCE, verificou-se que o

prazo de 30 dias estabelecidos pela Resolução nº 318 de 1998 para análise da defesa -

primeira instância, diretor responsável - e para a análise do recurso - segunda instância,

diretoria colegiada - foram ultrapassados, como apresentado na Tabela 14. Isto pode ser um

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sinal de que os prazos previstos na Resolução sejam exíguos, em função da complexidade

dos problemas envolvidos. Entendemos que o assunto merece maior atenção por parte da

ANEEL, com vistas a adequar os prazos da Resolução às reais necessidades da Agência, e

evitar o descumprimento destes, o que não seria um sinal adequado aos fiscalizados.

Tabela 14 - Prazos verificados para análise de defesas e recursos apresentados pela

COELCE à ANEEL.

INSERIR FIGURA 18-37-2C

7. Boas Práticas de Gestão

162.A estruturação da ANEEL foi feita com foco nos processos envolvidos para o

cumprimento de seus objetivos. Este trabalho de estruturação foi feito com o auxílio de

consultores externos. Quando da definição dos quadros dirigentes da ANEEL, foi feito um

workshop com a participação destes, e definidos tais processos, agrupados em macro-

processos. Hoje estão mapeados os sub-processos executados em cada superintendência,

contendo as interfaces entre as superintendências para sua execução, o que tem auxiliado

bastante o processo de gestão da Agência, e na fiscalização de suas atividades pelo

Controle Externo.

163.O processo de planejamento, execução e acompanhamento das fiscalizações é

concatenado de maneira a retroalimentar-se, sendo utilizados o monitoramento a distância

das empresas e o acompanhamento das determinações e recomendações feitas para

priorizar novas fiscalizações. O método de planejamento de fiscalizações prevê a inspeção

in loco de 100% dos concessionários em 3 anos em todos os tipos de fiscalização efetuados

pela Agência, com uma média de 40% dos concessionários visitados por ano, num esquema

de rodízio com repetições para os que apresentam problemas. Esta situação contrasta com

a existente antes da criação da Agência, quando o DNAEE fiscalizava cerca de 10% dos

concessionários por ano.

164.A implantação de sistemas informatizados de apoio à fiscalização conferiu maior

agilidade, padronização e qualidade à atividade de fiscalização da ANEEL. O Sistema de

Informações do Setor Elétrico (SISEN) permite o monitoramento de uma série de dados

relativos à performance das empresas de energia elétrica. A implantação do Sistema de

Gestão da Fiscalização (SIGEFIS) irá conferir maior uniformidade aos relatórios, tanto entre

as diferentes áreas de fiscalização como entre os diferentes agentes que a executam, além

de agilizar a compilação e tratamento dos dados dos relatórios de fiscalização.

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165.A ANEEL já firmou convênios com sete agências estaduais com vistas à

descentralização das atividades de fiscalização, e está negociando a assinatura de

convênios com outras doze, sendo pioneira nesta experiência dentre as agências

reguladoras federais. Atualmente existem seis convênios em execução, pois o convênio com

a Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos - ASEP, do Estado do Rio de

Janeiro, foi rescindido, tendo em conta questões de ordem operacional, que envolviam

aquela agência estadual para a adequada execução das atividades delegadas.

166.Destaca-se como ferramenta de gestão a utilização do Plano de Atividades e Metas

(PAM), por meio do qual a ANEEL delega responsabilidades e meios financeiros para

executar as atribuições descentralizadas às agências estaduais. No caso da atuação da

ANEEL e ARCE foi possível observar que a articulação destas funcionou a contento,

trazendo benefícios em termos de uma maior proximidade com a empresa fiscalizada e dos

consumidores por ela atendidos.

8. Conclusão

167.A ênfase dada pelo Governo Federal na utilização do novo modelo de Orçamento-

Programa e do Plano Plurianual (PPA) no processo de planejamento e acompanhamento de

suas ações executivas trouxe alguns desdobramentos para a ANEEL. As metas da Agência,

estipuladas no Contrato de Gestão, segundo art. 7 da Lei nº 9.427, de 1996, foram

agrupadas em dois grandes programas contemplados no PPA - o Programa de

Abastecimento de Energia Elétrica e o Programa de Qualidade no Fornecimento de Energia

Elétrica. Um novo agente, o Ministério do Planejamento, passou a ter um papel de grande

relevância no acompanhamento e definição das metas para a ANEEL.

168.Medida pelos indicadores atualmente utilizados para as metas das ações que compõem

os programas de Qualidade e Abastecimento de Energia Elétrica , a performance da ANEEL

foi, no ano 2000, de atingimento e superação das metas traçadas, para os dois programas

sob sua responsabilidade. Para o Programa de Abastecimento, apenas nos casos das ações

relacionadas à concessão de transmissão de energia elétrica e inventário de potenciais

hidrológicos os indicadores utilizados sinalizam cumprimento parcial da meta (75% e 86%,

respectivamente).

169.Segundo dados fornecidos pela ANEEL, no ano 2000 houve um acréscimo de 4.262

MW à potência instalada do sistema elétrico brasileiro, em torno de quatro vezes mais que a

taxa anual verificada no período 1990-1994. Foram promovidos leilões para 15 novas usinas

hidrelétricas, que em 48 meses (em média) irão acrescentar 2.328 MW de geração, foi

autorizada a construção de 50 pequenas centrais hidrelétricas, que irão produzir 582 MW em

até 24 meses, e leiloados 6 empreendimentos de transmissão de energia elétrica,

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totalizando mais de 3.660 km de extensão.

170.No entanto, a gravidade da crise energética hoje vivida sugere que as metas traçadas

para expansão da oferta de energia elétrica nos últimos anos tenham sido tímidas, ou que os

indicadores utilizados para medir o desempenho do Programa de Abastecimento tenham

sido inadequados, uma vez que a despeito do cumprimento quase que integral destas, e de

algumas terem sido superadas (ver Tabela 2), o País está vivendo uma grave crise

energética, com perspectivas de racionamento de 20% da demanda de energia elétrica a

partir de junho de 2001.

171.Esta situação é reflexo de ações implementadas em exercícios anteriores, não apenas

no ano 2000. Boa parte das metas definidas e alcançadas para o ano 2000 terão reflexo nos

exercícios seguintes. Segundo a ANEEL, a mensuração das metas tem respeitado as

necessidade de acréscimo de capacidade definida nos estudos de planejamento. A definição

clara das responsabilidades dos diferentes agentes na crise energética em que se encontra

o país requer estudos mais aprofundados.

172.O Tribunal de Contas da União já aprovou, na Sessão Plenária de 16 de maio de 2001,

Auditoria Operacional no Sistema Elétrico Brasileiro, com vistas a analisar as causas que

levaram à atual crise de abastecimento, produzir um diagnóstico dos cenários de

fornecimento de energia elétrica no médio e longo prazos, e identificar possíveis soluções

para que racionamentos de energia não mais ocorram nos próximos anos.

173.Apesar da situação de desabastecimento ser resultante de uma conjunção de fatores de

curto e longo prazos, fato é que, já em abril de 2000, relatório do ONS “Planejamento Anual

da Operação Energética Ano 2000” (fls. 17) indicava que o risco de déficit projetado para as

Regiões Sudeste e Centro-Oeste em 2000/2001 (20% de risco de déficit), era 4 vezes

superior ao do critério de garantia de suprimento (5% de risco de déficit).

174.Com base nas referências apresentadas ao longo deste trabalho, depreende-se que a

implantação do racionamento de energia deve-se a uma combinação de fatores: ao regime

hidrológico desfavorável ocorrido em 2001, associado à de falta de investimentos no setor

no último decênio (especialmente na geração) e a algumas indefinições no quadro

macroeconômico, além de algumas questões ainda pendentes quanto à macro-regulação e

macro-planejamento do setor energético (que devem ser resolvidas no âmbito do Conselho

Nacional de Planejamento Energético - CNPE).

175.A demora na implementação e posterior inoperância do Conselho Nacional de Política

Energética (CNPE), conselho interministerial criado pela Lei nº 9.478/97 para assessorar o

Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes de energia foram fatores

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determinantes na manutenção das indefinições que contribuíram para chegar-se à atual

situação.

176.O Tribunal de Contas da União já demonstrava sua preocupação quanto à atuação

deste órgão na elaboração da política energética brasileira, ao determinar em sua decisão nº

833-39/2000, exarada por ocasião do julgamento da primeira auditoria realizada na ANEEL

(TC 003.163/2000), ao Ministro das Minas e Energia, que tomasse “as medidas necessárias

para imediata entrada em operação” deste Conselho. Também a fixação e acompanhamento

das metas foi objeto da mesma Decisão, que determinou ao Secretário de Energia do MME

que participasse da “definição das metas e dos indicadores aplicáveis ao Contrato de

Gestão da ANEEL, bem como da sistemática de acompanhamento de execução das metas

definidas e da avaliação anual de desempenho”.

177.No que tange à verificação da qualidade dos serviços, em um sistema tipo rodízio, 100%

das empresas concessionárias são fiscalizadas por cada uma das superintendências

responsáveis a cada 3 anos. A cada ano são fiscalizadas in loco 40% das empresas,

repetindo-se fiscalizações no triênio em empresas que apresentarem problemas. As metas

de fiscalização vêm sendo cumpridas a contento.

178.Com o estudo de caso realizado, verificou-se que atuação da ANEEL e da ARCE na

fiscalização e imposição de penalidades à COELCE foi equilibrada, e resultou em

recuperação da qualidade dos serviços prestados. Restam alguns pontos relativos à

padronização de relatórios que devem ser resolvidos com a implantação do Sistema de

Gestão da Fiscalização (SIGEFIS).

179.Com relação aos indicadores das metas estipuladas para cada uma das ações dos

Programas do PPA, acreditamos que os processos de planejamento e controle podem ser

aperfeiçoados com a modificação de um dos indicadores e a adoção de alguns novos, como

analisado nos itens 77 e 78. Acreditamos que o acompanhamento das ações de fiscalização

pode ser racionalizado, resultando em um processo mais eficiente e transparente, se feito

por superintendência do que por segmento do mercado de energia elétrica, como discutido

nos itens 80 e 81.

180.Como nesta auditoria foram verificados o cumprimento das metas por ação de cada um

dos dois Programas sob responsabilidade da ANEEL, não foram analisados os macro-

indicadores utilizados no PPA para cada um destes.

181.Existem sinais de que os prazos estabelecidos pela Resolução nº 318/98 - ANEEL para

decisões de diretores da Agência em processos administrativos punitivos podem ser exíguos

face à complexidade das questões envolvidas, como discutido no item 161

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182.Ante o exposto, encaminhamos os autos à consideração do Excelentíssimo Ministro

Relator propondo:

a)Determinar à ANEEL, com base nas Cláusulas Segunda, itens VI e VII e Quarta, item IV ,

do Contrato de Gestão firmado nos termos do art. 7º da Lei no 9.427, de 26 de dezembro de

1996 e nos termos do art. 20 do Decreto nº 2.335, de 6 de outubro de 1997, que:

i)reveja as metas do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica para os anos de 2001

a 2003, no sentido de compatibilizá-las com o objetivo de assegurar o fornecimento de

energia elétrica suficiente para o atendimento à demanda;

ii)incorpore às ações 1,2,3,5 e 6 do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica, novos

indicadores com vistas a refletir o efetivo acréscimo de infra-estrutura ao sistema elétrico;

b)recomendar à ANEEL que:

i)planeje e acompanhe ações de fiscalização por superintendência, ao invés de fazê-lo por

segmento de mercado;

ii)para atender à determinação contida no item “a”:

ii.1)modifique o indicador relativo à Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Elétrica,

medindo concessões outorgadas, em MW (ver itens 33 e 34), contabilizados tão somente

após a assinatura do contrato;

ii.2)inclua os seguintes indicadores para captar os resultados finais das ações em termos de

energia nova disponibilizada ao mercado, e não após o leilão:

Ação 1 - Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica: incremento de

potência instalada no ano, proveniente da entrada em operação de novas PCHs, em MW

(ver itens 19 e 22) ;

Ação 2 - Autorização de Instalação de Usina Termelétrica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas térmicas, em MW (ver item

25);

Ação 3 - Autorização de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para

empreendimentos de ampliação, reforço ou conexão à rede de transmissão elétrica entrando

em operação no ano (ver item 27);

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Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Hidráulica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas hidrelétricas, em MW (ver

item 34);

Ação 6 - Concessão de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para novas

linhas de transmissão e subestações no ano (ver item 36);

iii)Verifique se os prazos estabelecidos pela Resolução nº 318/98 - ANEEL para decisões de

diretores da Agência em processos administrativos punitivos são adequados;

c) recomendar a adoção das boas práticas de gestão ressaltadas na seção 7 deste relatório

às demais agências reguladoras federais;

d) determinar à Secretaria Federal de Controle que faça o acompanhamento do

cumprimento da decisão proferida e informe ao Tribunal as providências adotadas;

e) encaminhar cópia do relatório e voto que embasarem a decisão que vier a ser proferida

para as Comissões de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados, e Serviços de Infra-

estrutura, do Senado Federal, bem como ao Sr. Ministro de Estado de Minas e Energia e ao

Diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo;

f) arquivar o presente processo.”

Voto do Ministro Relator:

De início, gostaria de louvar o trabalho produzido pela equipe de auditoria, integrada pelos

AFCE’s Luciano dos Santos Danni e Denise Torres de Mesquita Silveira e Silva, ambos

lotados na Secretaria de Fiscalização de Desestatização, que souberam desincumbir-se da

relevante tarefa que lhes foi confiada, tornada ainda mais árdua em face da exigüidade do

prazo que lhes foi conferido.

2. O objetivo dos trabalhos foi avaliar a atuação da ANEEL no tocante à execução dos

contratos de concessão, permissão e autorização e o alcance das metas traçadas pelo

Governo Federal, bem como da fiscalização dos serviços públicos prestados.

3. Diante da atual carência de energia elétrica em nosso país, a ANEEL precisa ter uma

atuação bastante ágil e eficiente de forma a transformar as metas do Governo em objetivos

alcançados adequando-as às reais necessidades da população e do empresariado em geral.

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4. Analisando as informações constantes do Relatório de Auditoria, constato que houve um

descompasso entre as metas do Governo e as reais necessidades do mercado de energia

elétrica. As metas de produção de energia foram efetivamente alcançadas, contudo o

montante produzido mostrou-se insuficiente para satisfazer a demanda, demonstrando que a

avaliação feita para fixação das metas utilizou parâmetros inadequados. Penso que será

necessário que o governo reexamine o Programa de Abastecimento de Energia Elétrica,

estabelecendo uma nova política de investimentos para o setor, suficiente para evitar o

racionamento de energia e proporcionar condições de desenvolvimento para o país.

5. A equipe de auditoria evidenciou que alguns indicadores de avaliação utilizados pela

ANEEL dão uma visão equivocada quanto à disponibilidade de energia elétrica no mercado.

Assim, o indicador relativo à Ação 5 do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica, por

exemplo, avalia as concessões outorgadas (em MW - Megawatts) que são contabilizadas

logo após a realização do leilão para escolha do concessionário, enquanto o correto seria

contabilizar o acréscimo somente após a assinatura do contrato. Essa inconsistência ocorre

em razão do longo prazo observado entre a data do leilão e a data de outorga da concessão

(data de assinatura do contrato), o que torna falso o dado informado e dá uma idéia

equivocada quanto ao número de outorgas concedidas..

6. Além disso, a Equipe de Auditoria dá notícia de uma série de indicadores que seriam

necessários para permitir o correto acompanhamento do montante de energia nova

disponibilizada para o mercado. São indicadores importantes pois demonstram o aumento

real da energia disponível e não apenas uma eventual outorga de concessão. Assim,

considero necessário que a ANEEL passe a utilizar esses indicadores, conforme proposta da

Unidade Técnica.

7. Gostaria de lembrar a meus ilustres pares que, diante das recentes medidas do Governo

adotadas em virtude da escassez de energia elétrica, o Tribunal vem aprofundando a

investigação da matéria que está sendo objeto de Auditoria específica realizada pela 1ª

Secex, atendendo determinação do Plenário que acolheu sugestão do Exmo. Sr. Presidente,

Ministro Humberto Souto.

Ante o exposto, com os ajustes que entendo necessários, VOTO no sentido de que o

Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 09 de outubro de

2001.

UBIRATAN AGUIAR

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Interessados:

Responsável: José Mário Miranda Abdo - Diretor-Geral.

Decisão:

Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, diante das

razões expostas pelo Relator, DECIDEM:

8.1- determinar à ANEEL, com base nas Cláusulas Segunda, itens VI e VII e Quarta, item IV,

do Contrato de Gestão firmado nos termos do art. 7º da Lei no 9.427, de 26 de dezembro de

1996, nos termos do art. 20 do Decreto nº 2.335, de 6 de outubro de 1997, e com fulcro no

art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443/92, que tome as seguintes providências:

8.1.1 - reveja as metas do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica para os anos de

2001 a 2003, no sentido de compatibilizá-las com o objetivo de assegurar o fornecimento de

energia elétrica suficiente para o atendimento à demanda;

8.1.2 - incorpore às ações 1,2,3,5 e 6 do Programa de Abastecimento de Energia Elétrica,

novos indicadores com vistas a refletir o efetivo acréscimo de infra-estrutura ao sistema

elétrico, da seguinte forma:

8.2. Recomendar à ANEEL que:

8.2.1. modifique o indicador relativo à Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Elétrica,

medindo concessões outorgadas, em MW, contabilizados tão somente após a assinatura do

contrato;

8.2.2. inclua os seguintes indicadores para captar os resultados finais das ações em termos

de energia nova disponibilizada ao mercado, e não após o leilão:

Ação 1 - Autorização de Construção de Pequena Central Hidrelétrica: incremento de

potência instalada no ano, proveniente da entrada em operação de novas PCHs, em MW;

Ação 2 - Autorização de Instalação de Usina Termelétrica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas térmicas, em MW;

Ação 3 - Autorização de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para

empreendimentos de ampliação, reforço ou conexão à rede de transmissão elétrica entrando

em operação no ano;

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Ação 5 - Concessão de Potenciais de Energia Hidráulica: incremento de potência instalada

no ano, proveniente da entrada em operação de novas usinas hidrelétricas, em MW;

Ação 6 - Concessão de Transmissão de Energia Elétrica: índice de sucesso para novas

linhas de transmissão e subestações no ano;

8.2.3. planeje e acompanhe ações de fiscalização por superintendência, ao invés de fazê-lo

por segmento de mercado;

8.2.4. estude a possibilidade de alteração dos prazos estabelecidos pela Resolução nº

318/98 - ANEEL para decisões de diretores da Agência em processos administrativos

punitivos visando agilizar os procedimentos;

8.3. determinar à Secretaria Federal de Controle que faça o acompanhamento do

cumprimento da decisão proferida e informe ao Tribunal as providências adotadas;

8.4. encaminhar cópia do relatório e voto que embasarem a decisão que vier a ser proferida

para as Comissões de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados, e Serviços de Infra-

estrutura, do Senado Federal, bem como ao Sr. Ministro de Estado de Minas e Energia e ao

Diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo;

Grupo:

Grupo I

Indexação:

Auditoria; Empresa; Energia; Prestação de Serviços; Contrato; Privatização; Concessão de

Serviços Públicos; Autorização; Fiscalização; Abastecimento; Distribuição; Produção;

Arquivamento;

Data da Aprovação:

25/10/2001

Unidade Técnica:

SEFID - Sec. de Fiscalização de Desestatização;

Quorum:

Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta, Ubiratan Aguiar (Relator)

e Benjamin Zymler.

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Ementa:

Auditoria. ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Execução dos contratos de

concessão, permissão e autorização. Exame do alcance das metas do governo federal e da

fiscalização dos serviços prestados. Descompasso entre a oferta de energia e a demanda.

Utilização de indicadores que não refletem o crescimento do sistema elétrico. Determinação.

Remessa de cópia ao Congresso Nacional, Ministério das Minas e Energia, e à ANP.

Arquivamento.

Data DOU:

30/10/2001

Número da Ata:

37/2001

Entidade:

Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL.

Processo:

017.656/2000-4

Ministro Relator:

UBIRATAN AGUIAR;