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Renato de Freitas Souza Machado TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES

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Renato de Freitas Souza Machado

TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES

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Fontes● RENCTAS - Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais

Silvestres (acessível em http://www.renctas.org.br/pt/trafico/rel_renctas.asp)

● Relatório da CPI do Tráfico de Animais e Biopirataria (2006, acessível em http://www.renctas.org.br/pt/trafico/rel_cpi.asp/OBS: Relatório da CPI foi encaminhado pela 4ª CCR e 2ª CCRs às PRs, contudo, em MG, DF e GO não gerou nenhuma investigação, cível ou criminal)

● Operação OXÓSSI – MPF (2009)

● Manual GT fauna (http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/institucional/grupos-de-trabalho/gt-fauna/documentos-diversos/manual_gt_fauna.pdf )

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● O tráfico de vida silvestre, no qual se inclui a flora, a fauna e seus produtos e subprodutos, é considerado a terceira maior atividade ilegal do mundo, depois das armas e das drogas. Ninguém sabe a exata dimensão desse comércio, mas estima-se que movimente anualmente de 10 a 20 bilhões de dólares por todo o mundo (Webster apud Webb, 2001). Estima-se também que o Brasil participa com cerca de 5% a 15% deste total (Rocha, 1995; Lopes, 2000).

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● O Tráfico de animais é um atividade que, como todas as demais formas de comércio ilegais (armas, drogas, produtos falsificados ou contrabandeados, etc..) envolve “produção, circulação e consumo” que, neste caso específico, se traduzem na caça (ou pesca), transporte e revenda dos animais silvestres.

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ESPÉCIES DE TRÁFICO (I)

1) Animais para colecionadores particulares e zoológicos: prioriza principalmente as espécies mais ameaçadas. Quanto mais raro for o animal, maior é o seu valor de mercado. Os principais Colecionadores particulares da fauna silvestre brasileira situam-se na Europa (Alemanha, Portugal, Holanda, Bélgica, Itália, Suíça, França, Reino Unido e Espanha), Ásia (Singapura, Hong Kong, Japão e Filipinas) e América do Norte (EUA e Canadá).

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ESPÉCIES DE TRÁFICO (II)

2) Animais para fins científicos (Biopirataria): Neste grupo encontram-se as espécies que fornecem substâncias químicas, que servem como base para a pesquisa e produção de medicamentos. É um grupo que, devido à intensa incursão de pesquisadores ilegais no território brasileiro, em busca de novas espécies, aumenta a cada dia. É importante ressaltar que nem todo o tráfico de animais e seus produtos são biopirataria, mas toda biopirataria é tráfico. Esta modalidade movimenta altos valores

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ESPÉCIES DE TRÁFICO (III)

3) Animais para pet shop e feiras livres: É a modalidade que mais incentiva o tráfico de animais silvestres no Brasil. Devido à grande procura, quase todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas nessa categoria. Os preços praticados dependem da espécie e da quantidade encomendada. É a que mais causa morte de animais em massa, em razão do pouco cuidado que se tem com a captura e o transporte.

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PRINCIPAIS ROTAS

●“Pelas informações do IBAMA reunidas em investigações de campo e fornecidas à CPI (Anexo 17), são rotas importantes do tráfico de animais silvestres no País:

(…)

● de Feira de Santana (BA), saindo pela BR-101 para Itabuna (BA), Serra (ES), e depois para o Rio de Janeiro;

● de Barra do Tarrachil (BA), pela BR-116 para Feira de Santana (BA), e depois para São Paulo via Belo Horizonte;

● de Barreiras (BA) para Brasília via BR-020 e depois de Brasília para Belo Horizonte via BR-040;

● a BR-230, saindo da Paraíba e passando por Picos (PI), até Carolina (MA), e do Maranhão entrando em Tocantins, via BR-010, rumo a Goiânia e São Paulo;

● a BR-153, no Tocantins, passando por Goiânia e tendo por ponto final a cidade de Marília (SP);

(...);

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PRINCIPAIS ROTAS●a BR-070, saindo de Cáceres (MT) para Jaraguá (GO) e indo, via BR-

153, para Anápolis e São Paulo;

●a BR-116/251, saindo de Cândido Sales (BA) para Montes Claros (MG) e, depois, para São Paulo e Rio de Janeiro;

●a BR-116, saindo da região de Feira de Santana (BA) e indo via BR-290 para Santana do Livramento e Uruguaiana (RS), tendo como destino a Argentina, o Uruguai e o Paraguai; e

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PRINCIPAIS AEROPORTOS

●“Pelas informações do IBAMA reunidas em investigações de campo e fornecidas à CPI (Anexo 17), são rotas importantes do tráfico de animais silvestres no País:

(…)

● os aeroportos de Fortaleza, Teresina, Palmas, Belém, Manaus, Brasília, Salvador, Ilhéus, Recife, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo e Foz do Iguaçu, além de vários campos de pouso de pequeno porte.

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PONTOS DE CAPTURA

●Também segundo informações do IBAMA, os principais pontos de captura irregular de animais silvestres na natureza são:

● em Tocantins: Lizarda; Serra do Jalapão; Mateiros; Santa Rosa; Centenário; Recursolândia; Silvanópolis; Araguanã; Ponte Alta; Araguaçu; e Ilha do Bananal;

● em Goiás: Chapada dos Veadeiros; São Miguel do Araguaia; e Bonópolis;

● em Minas Gerais: Buritis; Serra das Araras; Serra dos Gaúchos; Parque Nacional Grande Sertão Veredas; e Urupuia; e

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PONTOS DE VENDA

●São pontos de venda importantes, ainda segundo a mesma fonte:

● no Distrito Federal: “feira do rolo” de Samambaia Sul e Ceilândia Sul;

● em Goiás: feira do Pedregal (entorno de Brasília);

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FATOS IMPORTANTES

● É atividade essencialmente INTERESTADUAL;● Normalmente associado a outras atividades ilícitas (porte

de arma, contrabando, corrupção, formação de quadrilha e outros crimes ambientais).

● Necessita de um mínimo de ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DE FUNÇÕES;

● Normalmente necessita da PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO DE AGENTES PÚBLICOS;

●IMPUNIDADE: Muitos traficantes atuam há muito tempo no mercado, possuem diversas anotações na FAC, mas poucas condenações ou nenhuma.

● PF realizou 27 operações policiais envolvendo tráfico de animais silvestres de 2008 a 2012, tendo apreendido mais de 35 mil animais silvestres.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (I)

● Início da repressão: somente em 1967 – Lei de Proteção à Fauna 5197

● Fauna silvestre era considerada Bem da União (Estado Brasileiro): ● art. 27: “Constitui crime punível com pena de

reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos a violação do disposto nos arts. 2º, 3º, 17 e 18 desta lei”. c/c

● “Art. 3º. É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos que impliquem na sua caça, perseguição, destruição ou apanha”.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (II)● Tráfico era apenado de forma mais gravosa que a caça:

● Art. 27 § 1º É considerado crime punível com a pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos a violação do disposto no artigo 1º e seus parágrafos, 4º, 8º e suas alíneas a, b, e c, 10 e suas alíneas a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, e m, e 14 e seu § 3º desta lei.

● Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (III)

● Constituição de 1988 : tratamento da fauna como bem ambiental ( bem de uso comum do povo, de titularidade difusa) o que por si só não é suficiente para afastar o domínio da União, tal qual ocorre com as água federais e os minerais.

● Súmula 91 do STJ : competência federal para julgar crimes contra a fauna

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (IV)

● Lei 9605/98: passam a ser considerados crimes ambientais também os maus-tratos, dos quais também podem ser objeto a fauna doméstica. A pena aplicável ao "tráfico" é diminuída sensivelmente (2 a 5 anos, passa a ter pena máxima de 01 ano):

● Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (V)

● Art. 29, § 1º Incorre nas mesmas penas:I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

● § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (VI)

● § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.

● § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;II - em período proibido à caça;III - durante a noite;IV - com abuso de licença;V - em unidade de conservação;VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.

● § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (VII)

● Incapaz a Justiça Federal de dar conta de todos os crimes contra a fauna, inclusive doméstica, a Súmula do STJ é cancelada:

PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL. CRIME CONTRA A FAUNA. ADVENTO DA LEI 9.605/98. CANCELAMENTO DA SÚMULA 91 DESTE TRIBUNAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA A BENS SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. AGRAVO IMPROVIDO.

1. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal Superior, não mais se aplica o enunciado sumular nº 91/STJ, editado com base na Lei 5.197/67,em face da superveniência da Lei 9.605/98.

2. Sob o prisma constitucional, tem-se que a proteção ao meio ambiente constitui matéria de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme art. 23, incisos VI e VII, da Constituição da República.

3. Para configurar a hipótese de competência da Justiça Federal, inscrita no art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, exige-se que o interesse seja direto e específico.

4. A norma constante do art. 82 da Lei 9.605/98 ensejou a revogação da Lei 5.197/67, haja vista que toda a matéria anteriormente versada foi tratada pela nova lei.

5. Agravo regimental improvido.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (VIII)CRÍTICAS:

1. Não houve pronunciamento do STF, embora a decisão do STJ também fosse fundamentada em dispositivos constitucionais.2. A doutrina majoritária sequer cogita da hipótese de revogação integral da 5.197 pela 9.605 3. Foi ignorado o art. 20 da Constituição:

Art. 20. São bens da União:I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

4. A aplicação das penas do art. 29 aos traficantes, igualando a gravidade de sua conduta à dos caçadores, aliada aos conflitos de competência e maior leniência dos Judiciários Estaduais com a prática estimulou impunidade

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (IX)

TRÁFICO INTERNACIONAL: COMPETÊNCIA FEDERAL (não há divergência)

● Constituição Art. 109, V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.

● O Brasil é signatário da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna em Perigo de Extinção, assinada em Washington em 1973, promulgada pelo Decreto 76623, de 17/11/1975 (CITES), implementada pelo Decreto 3607/2000, que não só coíbe o comércio internacional ilegal, mas através do qual também obrigam-se os países signatários à adoção de medidas que visem a preservação das diversas espécies ameaçadas, inclusive coibindo-se o comércio local de espécies exóticas em risco de extinção nos países em que são endêmicas;

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (X)

TRÁFICO INTERESTADUAL: COMPETÊNCIA FEDERAL (tendência do STJ em reconhecer)

eTRÁFICO DE ESPÉCIES CAPTURADAS EM UNIDADES

DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS e TERRAS INDÍGENAS (não há divergência, porém difícil a comprovação de origem, quando se trata de tráfico propriamente dito e não caça...):

● LC 140, Art. 7º São ações administrativas da União:XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e

atividades :c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação

instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XI)

TRÁFICO DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO - COMPETÊNCIA FEDERAL

(pacificado mais recentemente)● 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, Conflito de Competência no

34.689/SP , Rel. Ministro Gilson Dipp, DJU 17.06.2002 :"(Ainda, cabe a ressalva de que a 3ª Seção desta Corte, revendo posicionamento anterior, entendeu pelo cancelamento da Súmula nº 91. Outrossim, há situações específicas que justificam a competência da Justiça Privilegiada, como as seguintes: delito envolvendo espécimes ameaçadas de extinção, em termos oficiais; conduta envolvendo ato de contrabando de animais silvestres, peles e couros de anfíbios ou reptis para o exterior; introdução ilegal de espécie exótica no País; pesca predatória no mar territorial; crime contra a fauna perpetrado em parques nacionais, reservas ecológicas ou áreas sujeitas ao domínio eminente da Nação, além da conduta que ultrapassa os limites de um único Estado ou mais fronteiras do País (..)"

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XII)

TRÁFICO DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO - COMPETÊNCIA FEDERAL (continuação)

●“CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA A FAUNA. MANUTENÇÃO EM CATIVEIRO DE ESPÉCIES EM EXTINÇÃO. IBAMA. INTERESSE DE AUTARQUIA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

I - A teor do disposto no art. 54 da Lei 9.985/2000, cabe ao IBAMA, autarquia federal, autorizar a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinada a programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas.

II - Compete à Justiça Federal, dado o manifesto interesse do IBAMA, o processamento e julgamento de ação penal cujo objeto é a suposta prática de crime ambiental que envolve animais em perigo de extinção.

Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3a Vara Federal de Uberlândia (MG).

(STJ - CC – 37137 - Processo: 200201492075, UF: MG, Órgão Julgador: TERCEIRA SEÇÃO, Data da decisão: 12/03/2003, Documento: STJ000480394, Fonte DJ, DATA:14/04/2003, PÁGINA:178, Relator(a) FELIX FISCHER)

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XIII)TRÁFICO DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO -

COMPETÊNCIA FEDERAL (continuação)●"CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA A FAUNA.

MANUTENÇÃO EM CATIVEIRO DE ESPÉCIES EM EXTINÇÃO. IBAMA. INTERESSE DE AUTARQUIA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

I - A teor do disposto no art. 54 da Lei 9.985/2000, cabe ao IBAMA, autarquia federal, autorizar a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinada a programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas.

II - Compete à Justiça Federal, dado o manifesto interesse do IBAMA, o processamento e julgamento de ação penal cujo objeto é a suposta prática de crime ambiental que envolve animais em perigo de extinção.

III - Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3ª Vara Federal de Uberlândia (MG).

(STJ - , 3ª Seção, CC nº 37.137/MG, Rel. Ministro Félix Fischer, DJU 14.04.2003). (grifou-se)

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XIV)Art. 7º da LC 140:(Ações administrativas da União)

●XVI - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e de espécies sobre-explotadas no território nacional, mediante laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ; 

●XVII - controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e espécies nativas; 

●XVIII - aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos;

●XIX - controlar a exportação de componentes da biodiversidade brasileira na forma de espécimes silvestres da flora, micro-organismos e da fauna, partes ou produtos deles derivados;

●XX - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas;●XXI - proteger a fauna migratória e as espécies inseridas na relação prevista

no inciso XVI;●XXII - exercer o controle ambiental da pesca em âmbito nacional ou regional;

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XV)Art. 8º da LC 140:(Ações dos Estados)

●XVII - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção no respectivo território, mediante laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ; 

●XVIII - controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa científica, ressalvado o disposto no inciso XX do art. 7º; 

●XIX - aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre; 

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XVI)Conceito de grupo criminoso organizado que vem sendo utilizado pela

doutrina e Jurisprudência, previsto na Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto 5015 de 2004, in verbis :

a) Grupo Criminoso Organizado: grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente, atuando com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente um benefício econômico ou outro benefício material

b) infração grave: ato que constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior

c) grupo estruturado: grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada.”

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XVI)LEI 12850:

● Art. 1º.  Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

§1º  Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

§2º  Esta Lei se aplica também:I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando,

iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XVII)● Para se aplicar ao tráfico de animais

silvestres a nova lei do crime organizado, se necessitaria, ao início da investigação, de elementos concretos sobre a prática de crime mais grave. Art. 29 pode chegar a 4 anos e meio a pena, se houver indícios da comercialização de animais em extinção e de se tratar de caça profissional.

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CRIMINALHISTÓRICO e COMPETÊNCIA (XVIII)DESAFIOS PARA A ATUAÇÃO CRIMINAL:

●1. INVESTIGAÇÕES MAIS APROFUNDADAS COM UTILIZAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO ESPECIFICAMENTE PREVISTOS PARA CRIME ORGANIZADO. (AÇÃO CONTROLADA, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, AGENTES INFILTRADOS, ETC..);

●2. GARANTIR PRIORIDADE NAS INVESTIGAÇÕES, MESMO DE CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO, EVITANDO PRESCRIÇÃO E IMPUNIDADE.

●3. UTILIZAÇÃO DE TIPOS PENAIS MAIS GRAVOSOS (RECEPTAÇÃO, CONTRABANDO, PORTE DE ARMA, FORMAÇÃO DE QUADRILHA, ART. 29 § 5º, ETC)

●4. VALORAÇÃO DO DANO (DEVE SER VIÁVEL O PAGAMENTO PELO INFRATOR, CONTUDO, TEM DE SER ESTABELECIDO VALOR QUE DESINCENTIVE A REINCIDÊNCIA)

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ATUAÇÃO CÍVELPREVENÇÃO E REPRESSÃO

COMPETÊNCIA Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

(CASOS DE AÇÃO OU OMISSÃO ILÍCITA DA UNIÃO, IBAMA E ICMBIO)

(...)III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União

com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

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ATUAÇÃO CÍVELPREVENÇÃO E REPRESSÃO POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO CÍVEL:

● EXIGIR MAIS FISCALIZAÇÃO EM PORTOS, AEROPORTOS, RODOVIAS, FEIRAS LIVRES

● EXIGIR MEDIDAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA POPULA-ÇÃO;

● INCLUSÃO DE CAÇADORES EM PROGRAMAS SOCIAIS;

● INDENIZAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS (PROBLEMÁTICA DA VALORAÇÃO E DA CAPACIDADE ECONÔMICA DO AGENTE – QUESTÃO QUE POR FORÇA DA LEI 9605 ENCONTRA-SE TAMBÉM VINCULADA À ATUAÇÃO CRIMINAL)

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RODOVIAS: ● Empresas de ônibus/ANTT: Exigir das empresas de ônibus campanhas

educativas, capacitação dos funcionários e que criem rotinas para impedir o ingresso de pessoas portando animais silvestres e, em caso, de apreensão de animais silvestres em ônibus, propor ações também em face das empresas, já que a responsabilidade é objetiva. Em caso de ficar constatado o eventual conluio do motorista com o traficante de animais, deve-se dar conhecimento do fato à concessionária. (Art. 7º, V Resolução 1383/2006 ANTT – recusa do embarque de usuários com animais silvestres em desacordo com a lei ou regulamento).

● Polícia Rodoviária Federal: Deve ser exigido que esta intensifique a fiscalização nas principais rotas apontadas, especialmente em pontos situados mais próximos às áreas de capturas e unidades de conservação, onde o fluxo de veículos ainda não é tão intenso e antes que os animais sejam trazidos aos grandes centros urbanos, onde a fiscalização através de blitz é menos eficaz em função do grande fluxo de veículos. (PRF elenca como dificultadores a falta de efetivo, de um banco de dados centralizado, e de locais para recepção dos animais silvestres em caso de apreensão).

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PORTOS, AEROPORTOS e FRONTEIRAS (I): ● Polícia Judiciária/PF/DELEMAPHS : informa que as operações feitas

nos últimos anos em aeroportos foram quase inócuas, em razão de fraudes envolvendo criadouros de fauna – muitos animais saem do país com documentação falsa obtida através de petshops e criadouros.

(Operações Cage e Ramp – realizadas cada uma em períodos de 01 mês com intensificação de ações em aeroportos - maior parte das apreensões ocorreu através dos Correios, criadouros e estabelecimentos comerciais).

●Serviço de Polícia Marítima/PF: Informa que os portos não são meios de saída mais usualmente utilizados por quadrilhas de traficantes de animais.

●Serviço de Segurança Aeroportuária/PF: não tem atribuição na matéria.

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PORTOS, AEROPORTOS e FRONTEIRAS (II): ● Receita Federal: Compete ao IBAMA certificar a origem do animal e

emitir licença para importação/exportação, bem como a conferência e emissão de parecer no sentido de que a operação de transporte não prejudicará a sobrevivência do animal. Após a análise do IBAMA, há o controle fiscal, a cargo da Receita, que verifica a exatidão dos dados declarados em relação à mercadoria aos documentos apresentados e legislação, com vista ao desembaraço aduaneiro. No caso dos animais silvestres, há necessidade de endosso da autoridade aduaneira nos formulários de licença emitidos pelo IBAMA, com a finalidade de informar a quantidade real de animais, eis que na licença exite autorização para uma quantidade máxima. (IN SRF 28/1994; IN SRF 680/2006; Portaria SECEX 23/2011; Decreto 6759/2009).

● Vigilância Agropecuária Internacional – VIGIAGRO/Ministério da Agricultura: fiscaliza os Terminais de Logística de Carga da INFRAERO; (IN Ministerial 36/2006 – Manual de Procedimento Operacionais).

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PORTOS, AEROPORTOS e FRONTEIRAS (III): ● INFRAERO: a equipe de segurança que inspeciona os passageiros e

seus pertences de mão é orientada a acionar seu supervisor, o órgão de segurança do aeroporto, e a Polícia Federal, quando da identificação de animais silvestres. (Manual de Procedimentos 12.13A (SEA)

● EBCT/Departamento de Segurança Empresarial: (Lei 6538 art. 13, V; Manual de comercialização e Atendimento/MANCAT Módulo 1, capítulo 2, ANEXO 20; ) Não é aceito nem entregue animal vivo exceto os admitidos na CITIES. Além disso, utilizam Equipamentos de Segurança Postal (ESP) instalados em unidades de tratamento e em unidades de distribuição – raios X e espectrômetros de massa. (Manual de Tratamento e Encaminhamento/MANENC Módulo 1 capítulo 1 e Módulo 23, capítulo 5)

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FEIRAS LIVRES NAS REGIÕES METROPOLITANAS (I):

a) Deve o MPF exigir, através de TACs, Recomendações e ACPS a todos os órgãos públicos envolvidos (IBAMA, DPF, Polícias Civis, Polícia Militar/Batalhões Florestais, Prefeituras) que intensifiquem as ações de fiscalização. As dificuldades são inúmeras. A aproximação dos fiscais é facilmente percebida nas feiras e muitas vezes os traficantes fogem, deixando somente os animais. Muitas vezes os animais sequer estão expostos, mas encontram-se escondidos em depósitos próximos às feiras. Nas grandes feiras em que há fiscalização constante, os traficantes também têm se utilizado de menores de idade como mulas. A atuação dos órgãos de fiscalização deve, portanto, se adaptar aos novos subterfúgios utilizados, se utilizando de agentes à paisana e/ou infiltrados.

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E SUAS ZONAS DE AMORTECIMENTO UNIDADES FEDERAIS:

A grande dificuldade aqui é a falta de recursos e de pessoal do ICM-BIO, que gere as Unidades federais. Deve-se exigir que os Planos de Manejo busquem ao máximo mapear as principais trilhas e “ranchos de caça” utilizadas pelos caçadores e os principais pontos de captura. Na impossibilidade de que os próprios fiscais do ICM-BIO atuem, deve-se exigir que a Delegacia de Polícia Federal com atribuição para a localidade faça constantes incursões nas principais trilhas. Também deve-se buscar que a DPF forme uma rede de inteligência nas comunidades próximas às zonas de amortecimento, coletando dados sobre as principais pessoas ligadas à caça, especialmente fornecedores de armas e demais petrechos, tais como rede, visgos, alçapões, etc... Quando for possível e viável, deve-se exigir a implantação de postos de fiscalização da Polícia Federal nas Unidades.

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E SUAS ZONAS DE AMORTECIMENTO UNIDADES ESTADUAIS E MUNICIPAIS:

Não é por se tratar de Unidades de conservação estaduais e municipais que resta excluída qualquer atribuição federal no caso, já que podem guardar espécies ameaçadas de extinção. Assim, é importante exigir da Administração destas Unidades que notifiquem à Polícia Federal os casos envolvendo caça de espécies ameaçadas e que tanto a Polícia Federal quanto o IBAMA deem apoio às Unidades que possuam fiscalização deficiente e que sejam alvo constante da ação de caçadores e traficantes.

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RECUPERAÇÃO DO DANO (I):

a) DESTINAÇÃO DO ANIMAL VÍTIMA DE TRÁFICO. A recuperação do dano causado ao Meio Ambiente, em parte se dá com a destinação do animal a Jardins Zoológicos, criadouros conservacionistas ou aos Centros de Triagem de Animais silvestres do IBAMA, que dão tratamento veterinário ao animal e buscam sua reinserção na natureza, quando esta for possível. Deve se evitar que o animal que foi vítima de tráfico seja encaminhado a criadouros científicos ou comerciais, para não intensificar seu sofrimento.

Obs.: Resolução 457 CONAMA – guarda ou depósito em caso de impossibilidade das destinações previstas no art. 25§ 1º da Lei 9.605 (Art.1º), de animais do grupo de anfíbios, répteis, aves, e mamíferos da fauna brasileira, e para a manutenção em cativeiro domiciliar (art. 3º § 2º), apenas os espécimes de espécies integrantes da lista das espécies silvestres autorizadas para criação e comercialização como animal de estimação em conformidade com a Resolução CONAMA no 394, de 6 de novembro de 2007 (Art. 4º)

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●Resolução 457/CONAMA:

– Art. 5o Não serão objeto de concessão do TDAS e TGAS os espécimes de espécies:

I - com potencial de invasão de ecossistemas, conforme listas oficiais publicadas pelos órgãos competentes;II - que constem das listas oficiais da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacional, estadual, ou no Anexo I da Convenção Internacional para o Comércio de Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção-CITES, salvo na hipótese de assentimento prévio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA ou do órgão ambiental estadual competente;III - cujo tamanho, comportamento, exigências específicas de manutenção e manejo sejam incompatíveis com o espaço e recursos financeiros disponibilizados pelo interessado; eIV - das Classes Amphibia, Reptilia e Aves da Ordem Passeriformes com distribuição geográfica coincidente com o local da apreensão.Parágrafo único. Não serão objeto de TDAS os animais silvestres vítimas de maus tratos comprovados por laudo técnico

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RECUPERAÇÃO DO DANO (II):

b) INDENIZAÇÃO AOS FUNDOS. Contudo, ainda assim, reinserção dos animais na natureza não é medida suficiente para recuperar os danos causados ao Meio Ambiente, como o desequilíbrio causado, muitos dos quais, por serem irrecuperáveis, acabam se convertendo em pecúnia. Nem sempre também é possível, já que muitos animais acabam morrendo. Nestes casos, deve haver o manejo de Ações Civis Públicas ou a celebração de TACs, para indenização aos Fundos de Meio Ambiente, especialmente em se tratando de grandes traficantes. A maior dificuldade está na valoração do dano, existindo pouquíssimos trabalhos neste sentido, devendo o Procurador se socorrer de dados periciais, como valor de mercado do animal, quantidade apreendida, estado de saúde em que estes se encontravam quando da apreensão, funções ecológicas que exercem, quantidade estimada de filhotes que o animal viria a ter, risco de extinção, custos que o Poder Público terá para reinseri-lo na natureza, etc.

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RECUPERAÇÃO DO DANO (III): c) PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA E SERVIÇOS COMUNITÁRIOS. Em caso de

pequenos caçadores ou traficantes de animais, de baixa renda, a propositura de ACPs pode se tronar mais custosa que o valor da condenação, ou se tornar ao fim, inócua, por falta de bens para satisfazer a execução. Muitas das vezes o infrator sequer tem recursos suficientes para pagar as multas administrativas ou até mesmo para arcar com os custos da perícia para estabelecer o valor da condenação. A solução nestes casos é estabelecer uma indenização mínima, que ao menos impeça seu enriquecimento ilícito, fazendo com que devolva o que lucrou com a venda dos animais, e que cubra os custos que o Poder Público terá para tratar o animal. Deve ser em valor suficiente para desestimular a reincidência. Na maior parte das vezes, a economia processual sugere que as medidas sejam impostas na própria Ação Penal, seja como condições de uma suspensão do processo ou como penas alternativas a serem propostas na transação penal. Também deve-se buscar que os valores e/ou serviços sejam prestados à entidade que recebeu os animais apreendidos e/ou à Unidade de Conservação da qual foram capturados, de forma a chegar o mais próximo possível à recuperação do dano, ou que ao menos sejam revertidos a entidades relacionadas à proteção da fauna ou à proteção ambiental de um modo geral.