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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003 1 T92 A35 TRATAMENTO DAS INFILTRAÇÕES OCORRIDAS NA BARRAGEM DE ITÁ Álvaro Eduardo Sardinha ENGEVIX ENGENHARIA S.A. Ricardo Mazzutti CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Engevix Engenharia e a Construtora Norberto Odebrecht pelo apoio na elaboração deste trabalho, e em especial a ITASA por permitir a publicação destas informações. RESUMO O enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Itá correu no período de dezembro de 1999 a junho de 2000, e após a carga de água atingir uma coluna de 90 m, foram observadas as primeiras medições de vazões de infiltração. O valor máximo observado foi de 1723 l/s, e após sucessivas intervenções para controlar estas infiltrações foi possível estabilizar as vazões em torno de 200 l/s, aceitável para as condições de utilização da barragem. Este trabalho relata os procedimentos adotados no tratamento das zonas da face da barragem por onde ocorreram as infiltrações, assim como os métodos utilizados para diagnosticar o problema e as suas possíveis causas. ABSTRACT The HPP Itá reservoir impounding took place between December 1999 and June 2000. After the water load achieved 90 meters, it was observed the first leakage measurements. The maximum observed value was 1723 l/s and after

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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003

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T92 – A35

TRATAMENTO DAS INFILTRAÇÕES OCORRIDAS

NA BARRAGEM DE ITÁ

Álvaro Eduardo Sardinha

ENGEVIX ENGENHARIA S.A.

Ricardo Mazzutti

CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Engevix Engenharia e a Construtora Norberto Odebrecht pelo apoio na elaboração deste trabalho, e em especial a ITASA por permitir a publicação destas informações. RESUMO O enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Itá correu no período de dezembro de 1999 a junho de 2000, e após a carga de água atingir uma coluna de 90 m, foram observadas as primeiras medições de vazões de infiltração. O valor máximo observado foi de 1723 l/s, e após sucessivas intervenções para controlar estas infiltrações foi possível estabilizar as vazões em torno de 200 l/s, aceitável para as condições de utilização da barragem. Este trabalho relata os procedimentos adotados no tratamento das zonas da face da barragem por onde ocorreram as infiltrações, assim como os métodos utilizados para diagnosticar o problema e as suas possíveis causas. ABSTRACT The HPP Itá reservoir impounding took place between December 1999 and June 2000. After the water load achieved 90 meters, it was observed the first leakage measurements. The maximum observed value was 1723 l/s and after

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many interventions to control these leakages, it was possible to stabilize them at about 200 l/s. This paper presents the procedures adopted to treat fissured zones on the dam´s face and the methods used to diagnosticate the problems as the possible causes of such leakages. 1 - INTRODUÇÃO O Aproveitamento Hidrelétrico Itá localiza-se no médio curso do Rio Uruguai na divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sua construção durou 46 meses e o enchimento do reservatório se deu em 6 meses. A barragem de Itá é do tipo enrocamento com face de concreto, com cerca de 125 m de altura máxima, um volume total de 8.9 milhões de m3 de enrocamento e 110 mil m2 de área de face. O vale do rio Uruguai, no local de implantação da barragem, apresenta uma sucessão de oito derrames basálticos com espessuras variáveis de 10 a 40 m. As principais feições geológicas estruturais são caracterizadas pelo lineamento “C 1”, na margem direita, contato interderrames K-K’ no leito do rio e de um dique de diabásio, na margem esquerda, com cerca de 20 m de espessura que corta a região da Tomada de água e túneis forçados. A barragem foi executada com enrocamento proveniente das escavações obrigatórias. A seção transversal apresentada na Figura 1 ilustra o zoneamento da barragem, como construído, que basicamente reproduz os perfis tradicionais das Barragens de Enrocamento com Face de Concreto.

FIGURA 1: Seção típica da Barragem

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2 - OBSERVAÇÕES EFETUADAS O processo de infiltração através da laje da face da barragem somente começou a ser notado a partir do momento em que o nível do reservatório alcançou uma elevação de 90 m acima do nível de fundação. No entanto os trabalhos de investigação para diagnosticar as possíveis causas das infiltrações só foram levados a efeito a partir do momento em que estas vazões de infiltração alcançaram valores da ordem de 200 l/s, as quais foram acompanhadas durante todo o processo de enchimento do reservatório. Este comportamento veio a provocar fissuras na laje da face da barragem, que por sua vez originaram vazões de infiltração pela mesma da ordem de 1700 l/s, quando as previsões, a partir de valores referenciais de outras barragens do mesmo porte de Itá, sinalizavam valores em torno de 250 l/s como aceitáveis, podendo chegar até 500 l/s. A partir do momento em que as vazões atingiram valores próximos dos níveis de alerta, estabelecidos no Manual de Operação da Instrumentação das Estruturas da UHE Itá, os resultados da instrumentação de auscultação instalada na barragem passaram a ser analisados de maneira mais rigorosa. Este procedimento orientou a linha de ação a ser seguida. A Figura 2 ilustra uma vista geral da laje da face da barragem com a região intensamente fissurada, principalmente na margem direita, conforme mapeamentos executados entre os meses de abril e agosto/00. Em abril/00 as vazões de infiltração chegaram a valores da ordem 1700 l/s, quando foi determinado que deveria ser iniciado o lançamento efetivo de materiais arenosos a partir da crista de barragem.

FIGURA 2 – Detalhe fotográfico subaquático de fissura da laje

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3 - TRATAMENTOS EFETUADOS 3.1 - HISTÓRICO Com o início do processo de enchimento do reservatório e o conseqüente carregamento da laje de montante da barragem, foi observada a surgência de água, ainda incipiente, no medidor de vazão de jusante da barragem no dia 25/02/2000, quando o reservatório registrava o nível d’água na El. 340,00m, cerca de 90 m.c.a. As vazões de infiltração registradas no medidor de vazão instalado no off-set, a jusante da barragem, no final do mês de março de 2000, apresentaram uma evolução rápida e intensa, tendo em 31/03/2000, com o reservatório na El. 359,60m, atingido a marca de 413,70l/s. Em 18/04/2000, com o reservatório na El. 362,03m a vazão chegou a 1.012,00l/s. Atingiu 1.528,10l/s em 24/04/2000 e o pico de 1.723,80l/s em 12/05/2000 com o reservatório na El. 367,54m. Na Figura 4, é possível observar a evolução da infiltração bem como do enchimento e oscilações de nível do próprio reservatório.

O programa de investigação para identificação dos locais de infiltração foi estabelecido com base em exemplos de obras similares com o mesmo tipo de problema, de modo a identificar as possíveis causas das elevadas infiltrações registradas. 3.2 - MONITORAMENTO A inspeção minuciosa da face de montante da Barragem e das ombreiras, foi conduzida procurando investigar o estado de todas as juntas verticais, da junta perimetral, do plinto e das lajes, na qual foram utilizados os procedimentos listados a seguir: • Auscultação por Equipamento de Sondagem Sônica; • Inspeção visual “in loco” por mergulhadores até 30m; • Inspeção visual “in loco” por mergulhadores de 30m a 50m com apoio de

câmara hiperbárica; • Inspeção com filmagem subaquática por “Veiculo de Controle Remoto”; • Utilização de Traçadores Colorimétrico Radio Isópacos; • Instalação de Piezômetros; • Medição do pH da água.

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• Sondagem Sônica Equipamento contratado junto ao CEHPAR, idêntico ao utilizado com sucesso na identificação de infiltrações na Barragem de Salto Caxias. O equipamento foi testado e calibrado junto a locais em que se sabia da ocorrência de infiltrações, como nas comportas do Vertedouro 2, e onde foi registrado o ruído característico de vazamento/infiltração. Na região da laje da barragem, nas suas juntas e no plinto, não foi possível detectar ruído algum atribuído à percolação de água. Ainda foram utilizados mergulhadores, que conduziram o hidrofone, fonte de captação do equipamento de Sondagem Sônica, diretamente sobre trechos das juntas e lajes. Mesmo assim não foi constatado nenhum tipo de som característico de infiltração. No caso de Itá este processo foi considerado sem efeito prático e foi abandonado. • Inspeção Subaquática com Mergulhadores Com apoio de equipe de mergulhadores experientes neste tipo de trabalho, foram feitas duas intervenções subaquáticas em momentos distintos. A primeira foi iniciada com mergulhos até 30,0m de profundidade, abrangendo os extremos da junta perimetral, as juntas de tração nas ombreiras e de compressão na região central e a laje da face como um todo. Foi observado que na junta de tração entre as lajes 3 e 4, o perfil superior (veda-junta de neoprene), apresentou-se rompido em alguns pontos, desde a superfície, no muro parapeito, até a proximidade do plinto sem registro de infiltrações. A Figura 3 mostra a intensa movimentação nesta junta. O movimento relativo de abertura e translação entre as duas lajes provocou o arrancamento da superfície de aderência do concreto. Para monitorar a movimentação das juntas foram instalados pinos de referência no topo do muro parapeito. A segunda intervenção, com mergulhadores, deu-se no intervalo de 30,0m a 50,0m de profundidade. De acordo com legislação de segurança específica para mergulho, foi necessário o apoio de câmara hiperbárica. Esta fase teve dupla finalidade: complementação da investigação visual com filmagem neste intervalo de profundidade, bem como para implementação de ação corretiva “in loco” das infiltrações identificadas. Onde e quando possível foi executado o lançamento localizado de material apropriado de acordo com a magnitude da infiltração de cada ponto.

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FIGURA 3: Deslocamento relativo entre as lajes 3 e 4.

Nesta intervenção, o mergulhador identificava o local de infiltração e na seqüência era aplicado o material (areia artificial, silte arenoso e/ou mistura de cimento e areia). O material era preparado em superfície e transportado em pequenas quantidades pelo próprio mergulhador até o ponto de infiltração. Filmagens da execução do processo mostraram a eficiência do mesmo e o acompanhamento posterior comprovou a eliminação do problema. • Inspeção Subaquática com Veículo de Controle Remoto – VCR O emprego de equipamento utilizado comumente para apoio subaquático a trabalhos em plataformas de exploração de petróleo, “off shore”, tipo “mini submarino”, equipado com câmara de filmagem, radio controlado e com central de gravação em superfície, foi a investigação que apresentou os melhores resultados práticos. A Figura 4 ilustra o equipamento utilizado. Foi possível obter-se e registrar as principais informações da real situação encontrada devido aos recursos de rádio comando que permite uma interação completa da investigação, garantida pela alta qualidade das imagens e registro concomitante em fita de vídeo. Este equipamento fornece ainda a indicação instantânea da profundidade. A inspeção foi executada com o VCR, nesta primeira campanha, e foi de extrema importância, quando pela primeira vez, foi possível inspecionar e gravar imagens de praticamente toda a laje de montante e seus principais elementos construtivos, as juntas verticais entre lajes, bem como a junta perimetral.

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FIGURA 4: Equipamento de inspeção subaquática.

As primeiras ocorrências de infiltração foram observadas em trincas existentes nas lajes 8, 9 e 10 a profundidade de 58,00m no entorno da elevação 312,00m. O VCR foi utilizado também para observação do comportamento do material silto-arenoso lançado sobre a laje. Foi possível constatar em inspeção na laje 8, que o material lançado, por sobre esta laje, havia descido, e se concentrado, a partir dos 20,00m de profundidade, em toda sua extensão. Em 05 de maio de 2000, deu-se como concluída a primeira inspeção da face de montante como um todo, com auxilio do VCR. • Traçador Fluorescente Como mais uma opção alternativa de localização de zonas de perda de água, foi proposta a utilização de traçadores fluorescentes. A idéia era lançar uma solução destes elementos traçadores em pontos da fundação da barragem que possivelmente apresentariam uma condutividade elevada, e assim buscar identificá-los no corpo de água coletado no medidor de vazão a jusante da barragem. Com apoio técnico do COPPETEC / UFRJ, que elaborou um plano de trabalho específico, foram escolhidos e injetados três tipos de solução química: o corante fluorescente Amidorodamina G; a Uranina e a Eosina. As injeções foram feitas no centro do canal de aproximação do Vertedouro 1; na parede esquerda do mesmo canal na proximidade da ombreia direita da barragem; e no leito do rio. Na seqüência, foram recolhidas amostras de água na saída do medidor de vazão, com a periodicidade estabelecida e enviadas para o laboratório da UFRJ, para medição espectrofluorimetrica das mesmas.

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De um total de 500 amostras analisadas, não ocorreu nenhuma identificação consistente de qualquer um dos traçadores fluorescentes injetados. Foram paralisadas as coletas e análises das amostras e dado por concluído este processo investigatório. • Piezômetros Em função das características geológicas da ombreira direita, do tipo do contato entre os derrames, das cotas de sua ocorrência e das profundidades das injeções realizadas, bem como das leituras dos piezômetros instalados na galeria do Vertedouro 1, que acusaram pressões piezométricas elevadas, foi programada a execução de uma série de piezômetros do tipo tubo aberto nas ombreiras da barragem. Objetivando obter informações que subsidiassem uma análise da situação apresentada, foi sugerida a perfuração e instalação de piezômetros nos extremos das ombreiras da barragem, a jusante da cortina de injeção, para avaliação da eficiência da mesma e conhecimento da permeabilidade do maciço abaixo dela, entre os contatos dos derrames “F e G” (elevação +/- 320,0m), e principalmente entre “G e H” (elevação +/- 290,0m). As pressões piezométricas elevadas na ombreira direita forneceram os primeiros indícios de uma possível passagem de água para jusante da cortina e abaixo do limite de execução da mesma, concentrando-se nos contatos entre os derrames. Estas observações orientaram o aprofundamento da cortina de injeção neste local. Na margem esquerda os níveis piezométricos se mostraram dentro da normalidade, e atestaram a eficiência satisfatória da cortina de injeção do local. • Medição do pH da água Em paralelo com o trabalho de injeção de cimento realizado no aprofundamento da cortina no extremo da ombreira direita, foi implementado o monitoramento do pH da água do reservatório, em diversos pontos e profundidades, juntamente com a água do medidor de vazão a jusante. Foi constatada uma característica bastante alcalina da água coletada na saída do medidor de vazão. Com pH superior a 9,0, enquanto que o reservatório encontrava-se na faixa de 6,0 a 7,0. Este resultado foi indicativo de que, possivelmente esta alcalinidade tenha sido provocada pelo cimento das injeções, além de mostrar uma provável zona de passagem de água pelo local em tratamento.

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3.3 - APROFUNDAMENTO DA CORTINA DE INJEÇÃO DE CIMENTO Como ação tentativa inicial de combate às infiltrações, foi executado no extremo direito, um aprofundamento da cortina de injeção com redução do espaço divisional entre os furos. Buscou-se reforçar com tratamento de injeção de cimento uma feição geológica de contato entre derrames aproximadamente na elevação 290,00 m, não alcançada na etapa inicial. Esta feição poderia estar provocando a percolação de água, e alimentando o maciço de enrocamento E3, compactado sem molhagem. Este processo seria então a causa para a saturação deste maciço de enrocamento de jusante, e que por conseguinte, seria capaz de provocar recalques mais acentuados. As injeções de calda de cimento iniciadas a partir da lateral do vertedouro 1 na direção da barragem, alcançaram a profundidade da ordem de 87,0m. Na elevação 288,20 m, as absorções de cimento foram normais, desde nula até no máximo 43kg/m. Na seqüência foram injetados mais três furos, com profundidade máxima de 94,60m, com absorções pouco superiores, 153kg/m, sem reflexo positivo na redução da infiltração. Consumo expressivo foi registrado, no furo 47 BII, com profundidade de 76,0m, onde no trecho entre 57,00 m e 76,00 m foram injetadas 11.648 kg de cimento, com uma taxa de 613kg/m, absorção extremamente elevada quando comparada as médias obtidas até então. Este furo foi concluído com uma tomada total de cimento de cerca de 18.000 kg. O total geral de cimento consumido na cortina de injeção nesta área, em 17 furos, foi superior a 104.000 kg. 3.4 - LANÇAMENTO DE MATERIAL DE VEDAÇÃO SOBRE A LAJE • Lançamento de material com draga Com a mobilização de draga utilizada para exploração de areia foi criado, no extremo direito da ombreira, em patamar existente na elevação +/- 370,0m, um local para basculamento direto com caminhão. O aluvião (silte arenoso), era então succionado, até o ponto de lançamento com tubulação, disposta na vertical, acima dos locais de infiltração. • Lançamento de material a partir da crista da barragem Concluídas as investigações com o VCR, e tão logo analisados os resultados foram definidos os planos de ataque, para lançamento de material direto sobre as lajes, a partir da crista da barragem. Com emprego de carregadeira CAT-966, foi realizado o lançamento de cerca de 260 m3 de material granular (areia artificial), por sobre a laje no 20 (Figura 5). Este procedimento, conjugado com a injeção do furo 47BII, provocou uma substancial redução da infiltração de 1.723,80l/s para 819,80l/s no dia seguinte.

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Com a retomada, de forma mais intensa, do lançamento de areia artificial e também de solo aluvionar (silte arenoso), cujas curvas granulométricas estão apresentadas na Figura 07, as infiltrações reduziram a 386,10l/s em 31/05/00. Sucessivamente as operações de lançamento destes materiais foram retomadas e paralisadas, durante os meses de junho e julho de 2000. Apesar da pouca variação do nível do reservatório, a vazão de infiltração aumentou lentamente, chegando a casa dos 1.000l/s. Mais uma vez, orientado pelas filmagens feitas por meio do “VCR”, foram identificadas novas feições importantes de infiltração, quando então foram retomados os lançamentos de material no início de setembro de 2000. A resposta foi imediata provocando uma redução da infiltração para valores de cerca de 800l/s.

FIGURA 5: Lançamento de material para vedação da laje • Lançamento de material por Tubulação Em função da análise das investigações realizadas pelo VCR, foi proposta e definida uma solução de tratamento com lançamento de areia fina siltosa (aluvião), e/ou de areia artificial com adição de cimento, por meio de tubulação metálica, previamente instalada sobre a face de montante nos pontos onde fora registrada ocorrência de infiltrações. Ação específica foi realizada sobre as juntas entre as lajes 44/45; 45/46; 46/47 e 47/48, onde as filmagens mostraram que os veda-juntas de neoprene de proteção superior da junta encontravam-se rompidos. O fluxo de água nestes pontos indicava também o rompimento do elemento inferior de cobre. Para este trabalho, foi adaptado um flutuante de apoio, sobre o qual instalou-se um sistema de guincho elétrico com roldanas para permitir e facilitar a movimentação de uma tubulação de 4” tipo alvenius que deslizava sobre a laje por meio de eixos com rodas.

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O material depositado e preparado em pequena plataforma instalada na crista da barragem foi lançado manualmente por meio de pá, com auxílio de água para permitir a descida do mesmo e evitar o entupimento da tubulação. O tratamento destas juntas até os 30,00 m de profundidade foi acompanhado por mergulhador, possibilitando assim uma avaliação da eficiência do processo, desde a descida da tubulação até o lançamento de material. Como variante deste processo e com objetivo de tratar pontualmente as fissuras nas lajes com presença de infiltração foi fixado em forma de “T” um prolongamento de 3,00 m para cada lado, no extremo desta tubulação. Com este dispositivo, fez-se uma varredura com lançamento de material nas lajes com conhecidas ocorrências de percolação. Este procedimento para tratamento das infiltrações demonstrou ser lento, porém extremamente eficiente. Os locais com percolações que foram inicialmente tratados por este processo, apresentaram-se selados em inspeção posterior efetuada por mergulhadores. A Tabela 1 resume as intervenções efetuadas e a eficiência obtida. A Figura 6 ilustra a variação das vazões de infiltração a partir do início de enchimento do reservatório. É fácil notar o efeito das injeções e do lançamento de material arenoso a montante da barragem, e o conseqüente aumento destas vazões no período em que o reservatório recebeu a carga dos últimos 3 metros, período no qual devem ter surgido novas fissuras e ocorreram rupturas de alguns veda-junta nas juntas verticais. 4 - ANÁLISE DO PROBLEMA Uma análise detalhada de toda a instrumentação da barragem alertou para dois pontos que devem ser destacados: o primeiro, com relação às deformações do maciço da barragem e o segundo, as sub-pressões medidas na ombreira direita da mesma. Com relação aos deslocamentos da face da barragem, notou-se uma discrepância muito acentuada entre os valores previstos e os medidos, principalmente na laje L20, que se encontrava mais intensamente fissurada. Na laje L29, na seção central da barragem, não foram detectadas fissuras e a linha das deformações da face manteve uma melhor semelhança com aquela prevista em projeto. A Figura 8 ilustra as deformações da face para os dois painéis de laje acima referenciados, a partir de dados obtidos com eletroníveis instalados ao longo da face.

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TABELA 1- Lançamento de solo e redução de vazões através da barragem de Itá

FIGURA 6 – Vazões de infiltração x tempo x nível do reservatório

0

100200

300

400

500

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700800

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31-mar-00

10-mai-00

19-jun-0029-jul-00

07-set-00

17-out-00

26-nov-00

05-jan-01

14-fev-01

26-mar-01

05-mai-01

14-jun-0124-jul-01

02-set-01

12-out-01

21-nov-01

31-dez-01

09-fev-02

21-mar-02

30-abr-02

09-jun-0219-jul-02

28-ago-02

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26-dez-02

04-fev-03

16-mar-03

25-abr-03

TEMPO

VA

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L/S

)

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360

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366

368

370

372

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Vazão NA Reserv

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l / seg m mm dia m³ m³ m³ m³ m³ m³ m³ m³ Nos Un l / seg

Até 12-mai-00 1.363 366 22 28 129 1.554 0 0 0 0 0 34 7;8;9e20 4 90412-mai a 9-dez-00 726 369 17 211 2.010 3.051 38 4 9 0 0 70 25 6379-dez a 7-mar-01 480 369 20 88 0 204 0 0 0 19 26 0 25 246

7-mar a 28-mai-01 396 368 19 93 1.614 2.613 0 0 0 0 0 0 25 8428-mai a 04-jun-01 396 370 19 45 0 0 0 0 0 0 0 0 25 0

Totalização 465 3.753 7.422 38 4 9 19 26 104 25 25 _

3 a 23 e 43 a 46P

erío

do

Unidade

Indices de Acompanhamento

Descrição

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FIGURA 7: Curvas granulométricas dos materiais utilizados para controle das infiltrações

FIGURA 8 – Comparação das deformadas da face para os painéis L29 e L20

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Por outro lado foi observado que os piezômetros instalados entre a barragem e o vertedouro 1 indicavam elevadas sub-pressões. Este fato subsidiou outra linha de investigação visando identificar evidências que demonstrassem que poderiam estar ocorrendo infiltrações elevadas pelos contatos interderrames, apesar de todo o tratamento realizado. Deu-se prosseguimento, portanto a execução de uma série furos para injeção de calda de cimento neste maciço da ombreira direita da barragem, os quais foram prolongados até a elevação 290,00 m, de modo a que fosse interceptado o contato entre os derrames G e H. As maiores absorções variaram de 100 a 500 kg de cimento por metro de furo. Em apenas um ponto localizado, o contato apresentava-se mais aberto, onde houve absorção de cimento da ordem de 18.000 kg. 5- CONCLUSÕES Embora em linhas gerais a barragem de Itá não apresente maiores discrepâncias quanto ao zoneamento de materiais utilizados em outros empreendimentos similares, em termos de geometria do vale pode-se constatar uma diferença marcante entre a margem esquerda e a margem direita. Na margem direita observa-se uma região em patamar no entorno da elevação 295,00 m, onde sistematicamente todas as lajes apresentaram fissuras em uma faixa de 10 a 15 m acima desta elevação e onde o maciço da barragem se mostrou mais deformável. Tal comportamento não foi observado na margem esquerda, onde o efeito patamar não ocorre. Por sua vez na ombreira direita, no patamar da elevação 295,00 constatou-se a partir das investigações realizadas para se buscar a causa, uma zona no contato dos derrames G e H, indicando altas permeabilidades do maciço da ombreira, conforme atestado durante o processo de tratamento e reforço da cortina de injeções. Considera-se que o efeito de forma do patamar teve uma significativa contribuição para retenção das águas de infiltração pela ombreira direita, o que provavelmente veio a provocar a saturação de uma região muito maior do que se poderia esperar para uma situação onde os taludes das ombreiras apresentam declividades acentuadas. Dentre todos os processos utilizados para detectar as causas das elevadas infiltrações ocorridas através do maciço da barragem de Itá, os que melhores resultados forneceram foram as sondagens, com instalação de piezômetros, nas ombreiras, e a inspeção sub-aquática com Veículo de Controle Remoto – VCR, e que foram determinantes para que ficasse esclarecido como e por onde se davam as infiltrações. Face todas as evidências reportadas pode-se concluir que as elevadas infiltrações ocorridas na barragem de Itá foram causadas por uma excessiva deformação diferencial do maciço da margem direita. Estas deformações

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acentuadas do maciço estão registradas pela instrumentação e caracterizadas por um padrão de fissuramento da laje da face, raramente observado em barragens similares. Reduções obtidas nos valores das vazões de infiltração foram possíveis a partir das injeções, principalmente no furo 47BII e do lançamento de materiais arenosos por sobre a zona fissurada. Estas intervenções chegaram a provocar uma significativa redução de vazões de 1700 l/s para 380 l/s. Atualmente as infiltrações estão totalmente controladas desde meados do ano de 2001, com valores da ordem de 200 l/s. Desde então não houve qualquer necessidade de novas intervenções, demonstrando a eficácia do processo para conter as infiltrações, seja nas ombreiras e no plano da laje, seja nas juntas entre lajes. Dessa forma tem-se comprovado que as barragens de enrocamento com face de concreto são estruturas francamente confiáveis e de fácil recuperação quando ocorrem infiltrações, pela face, acima de valores esperados. 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Antunes, José S., Sardinha, Álvaro E., Fernandes, Alexandre, M. “Itá Dam,

Design and Construction”, Second Symposium on CFRD – Florianópolis, Brasil – Out/1999.

2. Antunes J.S., Sardinha A.E., Albertoni S.C., Dijkstra H.H. (2000).

Development Aspects of CFRD in Brazil. International Symposium on Concrete Faced Rockfill Dams. Beijing, China, J. Barry Cooke Volume p. 153 – 175.

3. Mori, Rui T., “Deformations and Cracks in Concrete Face Rockfill Dams”,

Second Symposium on CFRD – Florianópolis, Brasil – Out/1999. 4. Engevix Engenharia, “Relatório IT4-BP33-0018-RT – Análise Final do

Comportamento da BEFC de Itá Após o Término do Enchimento do Reservatório” - abril/2000.

5. Cooke, J. B., “Memo no. 130 – Turimiquire Dam 1980 – 1995 Performance” -

out/1995. 6. Cooke, J. B., Memo no.12 – “Underwater Audio Leak Detection” - set/1980.

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ANEXO A