transgenicos - monopolio de sementes

32
TRANSNACIONAIS E TRANSGÊNICOS: O MONOPÓLIO DE SEMENTES E INSUMOS Antônio Inácio Andrioli No decorrer do desenvolvimento capitalista, também a semente tornou-se uma mercadoria. Enquanto, historicamente, a semente foi para o agricultor apenas parte guardada da última colheita, atualmente ela se tornou mais um insumo que precisa ser comprado. Sob uma nova ótica, as possibilidades oferecidas pelos transgênicos aprofundam a mercantilização das sementes, alterando, assim, o seu valor de uso, de tal maneira que acabam por gerar relações cada vez mais dependentes. Juntamente com a semente transgênica, os agricultores acabam comprando, necessariamente, o controle e a determinação externos à sua propriedade. De fora, é determinado o que deve ser cultivado, que insumos serão utilizados no processo de produção, e quanto, enfim, pode ser lucrado. O uso de plantas transgênicas, as quais servem aos interesses das multinacionais que patenteiam a semente, conduzem a uma monopolização inédita do mercado agrícola, assim como a uma maior inserção das relações capitalistas na agricultura familiar e, consequentemente, a uma exclusão ainda maior dos agricultores.

Upload: eiderson-kbcinha

Post on 05-Jun-2015

1.401 views

Category:

Education


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Transgenicos - Monopolio de Sementes

TRANSNACIONAIS E TRANSGÊNICOS: OMONOPÓLIO DE SEMENTES E INSUMOS

Antônio Inácio Andrioli

No decorrer do desenvolvimento capitalista, tambéma semente tornou-se uma mercadoria. Enquanto,historicamente, a semente foi para o agricultor apenas parteguardada da última colheita, atualmente ela se tornou mais uminsumo que precisa ser comprado. Sob uma nova ótica, aspossibilidades oferecidas pelos transgênicos aprofundam amercantilização das sementes, alterando, assim, o seu valor deuso, de tal maneira que acabam por gerar relações cada vezmais dependentes. Juntamente com a semente transgênica, osagricultores acabam comprando, necessariamente, o controlee a determinação externos à sua propriedade. De fora, édeterminado o que deve ser cultivado, que insumos serãoutilizados no processo de produção, e quanto, enfim, pode serlucrado. O uso de plantas transgênicas, as quais servem aosinteresses das multinacionais que patenteiam a semente,conduzem a uma monopolização inédita do mercado agrícola,assim como a uma maior inserção das relações capitalistas naagricultura familiar e, consequentemente, a uma exclusãoainda maior dos agricultores.

Page 2: Transgenicos - Monopolio de Sementes

508

1 O mito da neutralidade dos transgênicos

Há mais tempo se defende na imprensa e, inclusive,em círculos científicos, a necessidade de uma ciênciapuramente objetiva, neutra, especializada, orientada pelosfatos, livre de ideologias, valores e emoções. A afirmaçãopressupõe a existência de uma espécie de coerção objetiva dosfatos na ciência, (SACHZWANG), que deveria servir deorientação aos políticos. Embora na ciência se almeje umaaproximação da verdade, com essa compreensão de ciência, apesquisa científica é confundida com a verdade. Portanto, aprocura pela verdade, fundamentada em Karl Popper, passa aser concebida como sendo a própria verdade. Isso podeconstituir a base para o aumento da tecnocracia na sociedade,ou seja, o conhecimento especializado passa a ser aceito comofato consumado, como se o processo de pesquisa e a suainterpretação estivessem livres de influências subjetivas.Nesse sentido, as opiniões que se desviam do conhecimentocientífico teriam um caráter exclusivamente “político”.

Mesmo que isso pareça plausível a um grandepúblico, no processo de construção do conhecimentocientífico essa questão não é tão simples. Se levarmos emconsideração como a ciência funciona particularmente, éevidente que são tomadas decisões subjetivas. Iniciando coma escolha do tema, dos objetivos da pesquisa, do referencialteórico e da metodologia, até chegar à interpretação dos dadoscoletados, um cientista ou uma comunidade científica tomam,necessariamente, decisões subjetivas. Essas decisões, por suavez, são influenciadas pelas ideologias e cosmovisões docontexto, no qual uma pesquisa é realizada. Por isso, a ciênciaé contraditória, histórica e contextualizada. Consequente-mente, a ciência não está livre de valores e ela se diferenciade outras formas de acesso ao conhecimento em função doseu método, através do qual se procura analisarempiricamente um determinado contexto, fundamentando-oteoricamente. Esse método foi desenvolvido ao longo da

Page 3: Transgenicos - Monopolio de Sementes

509

história, quando as visões de mundo eram dominadas pormitos, crenças e superstições. A ciência afirmou sua condiçãode procurar primeiramente compreender um contexto antes deacreditar nele.

O debate sobre transgênicos, entretanto, está maisdominado por crenças do que pela ciência. Trata-se,basicamente, de um debate político, o qual, numa sociedadedemocrática, deveria ser decidido pela publicidade crítica enão pela arrogância e pelo poder da tecnocracia. Para isso, oconhecimento e a pesquisa são importantes, mas de que tipode ciência se trata? Uma ciência que estigmatizaideologicamente o contexto, em que não haveria paralelosentre fenômenos naturais e entre acontecimentos históricos?Uma ciência, na qual a pesquisa para a indústria química éconfundida com progresso tecnológico? O que significa,afinal, a liberdade de pesquisa, quando os interesses daindústria química e farmacêutica se sobrepõem aos interessesda maioria dos consumidores e agricultores?

O objetivo que está por detrás da transgenia ficouevidente. Diante da resistência da população em nívelmundial, a indústria química se queixa em função dosinvestimentos realizados em pesquisa e que os empregos deladecorrentes estariam em perigo. Cientistas anunciam queexiste a possibilidade de não mais atuarem em países queproibiram o cultivo de transgênicos. Diante disso, sepressupõe que os governos deveriam continuar assegurandoque uma técnica não desejada pela maioria da populaçãocontinue sendo utilizada.

Se, em decorrência da proibição do cultivo, apesquisa, que não pressupõe necessariamente sua utilização,continua permitida, por que tais cientistas deixariam depesquisar? A questão fundamental está exatamente naparcialidade ideológica dessa pesquisa: não se pesquisa o quenão poderá ser utilizado e só é utilizado o que interessa àindústria química. Por conta disso, a indústria anunciainvestimentos para manter postos de trabalho. A situação mais

Page 4: Transgenicos - Monopolio de Sementes

510

marcante é a dos pesquisadores, que, com suas pesquisas,procuram construir a base para a aceitação dos transgênicos,de forma a assegurar seus próprios empregos. Nessa situação,é possível desconsiderar os interesses da indústria química edos cientistas por ela financiados?

Ideologias surgem em decorrência da junção entreinteresses e conhecimento. Conforme Marcuse, “o conceito derazão técnica é talvez ela mesma ideologia. Não somente suaaplicação, porém já a técnica em si é dominação (sobre anatureza e sobre os seres humanos); uma dominaçãometódica, científica, calculada e calculadora” (MARCUSE,1979: 127). Há poucos exemplos na história da ciência quedemonstram, de forma tão evidente, o caráter ideológico datécnica como o dos transgênicos. Também não há outro setorda pesquisa pública, em que universidades, laboratóriospúblicos, empresas privadas e multinacionais cooperem tantono desenvolvimento de uma técnica e em sua pesquisa, quantona área da transgenia. Muitos pesquisadores reconhecidossimpatizam com a proposta de comercialização de seusresultados e utilizam sua posição acadêmica para forçar o usodesta técnica não desejada pela maioria da sociedade.

Nesse contexto, estudos críticos, que há mais de 10anos apontam para os efeitos negativos dos transgênicos, sãosimplesmente ignorados de forma irresponsável. O argumentodominante é que não se deve deixar de usar uma “tecnologiade futuro”; e isso, mesmo sabendo que os cultivostransgênicos existentes não são mais produtivos e sustentáveisdo que os cultivos convencionais. A discussão sobre o futuroestá baseada em crenças, pois as experiências dos agricultoresdemonstram o contrário: após poucos anos de cultivo dasplantas transgênicas resistentes a herbicidas e/ou insetos,surgem resistências de inços e pragas, de maneira que atécnica perde sua eficácia. Os cientistas e políticos “neutros”também desconsideram os efeitos negativos dos transgênicosao meio ambiente e à saúde de seres humanos e animais. Omeio ambiente e as pessoas, que vivem nos países em que os

Page 5: Transgenicos - Monopolio de Sementes

511

transgênicos foram introduzidos há mais tempo, são atingidos,especialmente, em função do aumento do uso de agrotóxicos,correspondendo aos interesses de expansão da indústriaquímica e farmacêutica.

Trata-se, portanto, de um debate político, e ostransgênicos estão relacionados com a dominação nasociedade. As tentativas tecnocráticas de forçar a sociedade ausar uma técnica inefetiva estão fundamentadasideologicamente, seja através do medo neomalthusiano (deque futuramente faltaria comida para alimentar uma crescentepopulação mundial) ou através da crença nos “milagres datécnica”. Se o uso de uma técnica representa vantagens parauma minoria e causa prejuízos para a maioria, a decisão sobresua utilização cabe à sociedade. Os cultivos experimentais emambiente aberto, assim como os cultivos comerciais detransgênicos, representam a destruição de lavouras e de bensalheios, em função da contaminação resultante. Contra isso,as leis de proteção à maioria atingida são bem vindas. Osrepresentantes da indústria química e seus defensores, que emoutros momentos se manifestaram como legalistas, nãoquerem aceitar esse tipo de decisão e continuam tentandopropagar a “razão técnica”, com o objetivo de afirmar seusinteresses ideológicos.

2 Darwin, os transgênicos e a imunodeficiência

Há 200 anos nasceu Charles Robert Darwin, um dosmais famosos cientistas do mundo. 150 anos atrás foipublicada sua principal obra sobre a origem das espécies, aqual, desde então, modificou decisivamente a concepçãohumana acerca da natureza. Em On the Origin of SpeciesDarwin criou a teoria da evolução e superou a, até entãodominante, teoria da teologia natural. Ao contrário daexplicação criacionista para o surgimento da vida, a teoria daevolução afirma a mutabilidade das espécies, baseando-se na

Page 6: Transgenicos - Monopolio de Sementes

512

adaptação dos seres vivos ao ambiente, através da variação eda seleção natural. Darwin considerava a seleção natural omais importante mecanismo da evolução e, com isso,esclareceu o desenvolvimento de todos os organismos vivos esua divisão em diversas espécies. De acordo com essaconcepção, do excesso de indivíduos sobreviveriam apenasaqueles que melhor se adaptam às condições ambientais.Somente bem mais tarde, nos anos 1930, a teoria da seleçãonatural, desenvolvida por Darwin, foi combinada com asregras da hereditariedade de Mendel, originando a teoriasintética da evolução. A enorme força dessa teoria se tornouum princípio organizativo central da Biologia moderna econstitui a explicação mais atual para a diversidade da vida noplaneta. O que isso teria a ver com transgênicos?

A transgenia surgiu do desenvolvimento de diversosconhecimentos nas Ciências Naturais. Após as teorias deDarwin e Mendel, foi fundamental para a transgenia adescoberta do DNA (ácido desoxirribonucleico) e aconstatação de que nele estavam genes dispostos numadeterminada sequência, sendo responsáveis pelascaracterísticas hereditárias. Até esse ponto há o consenso deque o desenvolvimento científico constitui um enormeprogresso, que desperta grandes esperanças para a criação deplantas e animais. Mais tarde, se descobriu que o DNA érecombinante, sendo possível isolar e recortar suas partes como auxílio de enzimas. Já essa intervenção em seres vivos estáassociada a muitos riscos. O desenvolvimento da ciência,entretanto, foi muito mais longe, de forma que se tornoupossível introduzir em um ser vivo as partes recortadas doDNA de outro. Isso é possível através de 2 métodos: 1) apistola de DNA, com a qual células com partículas de metalsão pressionadas, para que determinado gene penetre ogenoma de uma planta; 2) o uso de agrobactérias, que causamum tumor na planta, permitindo uma transferência de genesque supera barreiras reprodutivas existentes entre espécies.

Page 7: Transgenicos - Monopolio de Sementes

513

2.1 Transgenia e melhoramento genético

Muitas vezes se procura confundir melhoramentogenético com transgenia, utilizando conhecimentos daBiologia e da Genética. Embora os conceitos não sejamidênticos, o principal argumento comparativo é o seguinte: nodecorrer da história, o DNA de plantas teria sido modificadomesmo sem o uso da transgenia. Com base na concepçãodarwiniana da natureza é possível explicar que, no decorrer daevolução, ocorreram mutações, responsáveis pelatransferência de genes entre as espécies. Esses fenômenos sãomuito raros e ocorreram ao longo de muito tempo, permitindoa adaptação das espécies ao seu ambiente.

Diferente do melhoramento genético tradicional, atransgenia é uma técnica de transferência de genes entreespécies. Em uma planta, por exemplo, o milho, sãointroduzidos genes da bactéria Bacillus Thuringiensis (queproduz uma toxina nociva a determinados insetos). Trata-sede um cruzamento entre espécies que na natureza não secruzam (o que poderia acontecer com a evolução destas emmilhares ou milhões de anos) e, portanto, de uma aceleraçãoou de um retardamento artificial de processos naturais,ignorando a base necessária à adaptação e evolução dasespécies. Parte-se do pressuposto de que a sequência genéticatenha sido constituída por acaso e que a modificaçãotransgênica resultaria apenas em vantagens.

As multinacionais da indústria química e seusdefensores trabalham com dois dogmas centrais, ou seja, quea transgenia seria objetiva (isto é, que os genes seriamisoláveis e objetivamente transferíveis entre os seres vivos) eque, no caso dos novos genes inseridos, seria verificávelapenas o efeito intencionado. Essas afirmações, no entanto,não são comprovadas cientificamente. Através dos métodosatuais de transgenia os genes são inseridos espontaneamente,de forma que permanece desconhecido o local exato dainserção no genoma do organismo receptor, assim como a

Page 8: Transgenicos - Monopolio de Sementes

514

frequência da integração. Por isso, é falso afirmar que avantagem da transgenia em relação ao melhoramento genéticotradicional seria o fato de poder incidir de forma mais objetivasobre a reprodução das plantas. A genética molecular estásendo simplificada pelo conceito da transgenia comometodologia de cultivo de plantas, reduzindo-a a unidadesaproveitáveis. Com isso, subestima-se o fato de uma plantanão consistir, simplesmente, na soma de genes, que aregulagem genética funciona em rede e a diversidade deinterações de um organismo com o meio ambiente, comoconsequência de sua capacidade histórica de adaptação(ANDRIOLI, 2007: 166).

2.2 Transgênicos e imunodeficiência

Embora a maioria dos cientistas financiados pelaindústria química continue ignorando os dados disponíveis, aexperiência com o cultivo de transgênicos demonstra queessas plantas apresentam uma menor produtividade e carecemde um maior uso de agrotóxicos em relação às plantasconvencionais. Como se explica isso?

A ideia de que um gene teria apenas uma determinadafunção foi superada em 2001, quando se constatou que o serhumano possui menos genes do que se estimava. A partirdessa constatação, se parte do pressuposto de que, no mínimo,40% dos genes humanos sejam responsáveis por muitas emais complexas funções do que se supunha até então(ANDRIOLI, 2007: 165). As consequências da interferênciado contexto em que um organismo vive em relação ao seudesenvolvimento aumenta as dificuldades da ciência, pois nãobastam os resultados de pesquisas em laboratório, se apossibilidade de sua generalização para além desse ambiente émuito reduzida. Todavia, já sabemos que um gene não atua de

Page 9: Transgenicos - Monopolio de Sementes

515

forma isolada e que a sua ação é condicionada pela basegenética e pelo ambiente onde ele se situa.

A indústria da transgenia tenta suprimir os riscosapresentados pelos produtos transgênicos, tendo comofundamento razões econômicas. Na avaliação dos riscos,parte-se de uma chamada “equivalência substancial” entreorganismos transgênicos e convencionais, sendo que sãoestudados, de forma exclusiva, os genes, sem abordar osefeitos destes a partir do contexto em que estão inseridos. Osgenes de seres humanos e de macacos, por exemplo,coincidem em 99%, o que deixa claro que a mera análisegenética pouco esclarece sobre a composição de umorganismo. Diante disso, fica claro que o princípio de uma“equivalência substancial” entre a soja transgênica e aconvencional é avaliado mais por um desejo econômico doque pela seriedade científica.

A argumentação dos defensores dos transgênicosgeralmente ignora a principal tese de Darwin, de que aevolução se desenvolveu de acordo com determinadascondições ambientais, que conduziram a uma adaptação eseleção dos seres vivos. Com base nesse referencial teórico, épossível argumentar que a estrutura de genes de um ser vivo éresultado da sua capacidade de adaptação às condiçõesambientais. Através do melhoramento genético se buscainterferir artificialmente nesse processo de adaptação, deforma que, através de cruzamentos, as característicasdesejáveis à agricultura possam ser obtidas de formaplanejada.

Como a atividade de um gene depende de sua posiçãoexata, do ambiente celular e do meio ambiente, é muitoimprovável que a integração de um novo gene tenha apenasuma função, sendo, portanto, difícil excluir efeitos colateraisindesejados, como, por exemplo, a produção de novassubstâncias tóxicas. Ainda que se desenvolvam novosmétodos para garantir o controle de genes inseridos (até o

Page 10: Transgenicos - Monopolio de Sementes

516

momento muito complicado, como, por exemplo, inserindo deuma só vez blocos de genes em uma planta), os efeitoscolaterais não serão menores. Pelo contrário: a probabilidadesó pode crescer na medida em que o metabolismo da plantaaumentar em complexidade.

Nós estamos diante de um fenômeno de altacomplexidade. É possível que a interferência transgênica noDNA de uma planta possa interferir de tal forma na suacapacidade de adaptação ao ambiente, que o seu sistemaimunológico seja prejudicado. Seguindo a concepção denatureza de Darwin, essa possibilidade existe. Se a sequênciagenética não surgiu por acaso, sendo o resultado de milharesou até milhões de anos de adaptação e seleção natural,podemos pressupor que uma alteração artificial do DNA deum ser vivo tenha consequências sobre a sua capacidade deadaptação. Nós já sabemos que, na natureza, as plantas maisfracas tendem a ser mais atacadas por pragas do que as outras.Isso pode ser explicado pelo mecanismo de seleção natural. Oque aconteceria com plantas que foram modificadasartificialmente pela transgenia, de tal forma que foramsubmetidas a um processo de evolução acelerada ouretardada? Na melhor das hipóteses, essas plantas nãoestariam adaptadas às atuais condições ambientais. Queefeitos poderiam ser esperados nesse caso? Se essa hipótesefor confirmada, podemos pressupor que as plantastransgênicas não conseguirão se afirmar, porque, em relaçãoàs outras plantas, elas não estariam em condições de seadaptarem ao meio ambiente.

Seria necessário adaptar a natureza às plantas, pois,do contrário, elas não sobreviveriam. Essa era a concepção damaioria dos cientistas protagonistas da fracassada “RevoluçãoVerde” na agricultura, quando entendiam que a modernizaçãoda agricultura se daria da mesma forma que a industrialização.Os argumentos dos defensores dos transgênicos (não poracaso) são os mesmos da época da “Revolução Verde”: maiorprodutividade, menos custos de produção e combate à fome.

Page 11: Transgenicos - Monopolio de Sementes

517

Os resultados desse processo, no entanto, hoje são evidentes:mesmo que, nos primeiros anos, a produtividade tenhaaumentado, ela foi diminuindo gradativamente, os problemastécnicos, as aplicações de agrotóxicos e os custos de produçãoaumentaram.

Embora através da técnica se tenha tentado diminuir ainfluência de processos biológicos sobre a agricultura, oslimites desse processo continuam existindo, mesmo emvariedades de plantas altamente desenvolvidas. A naturezainfluencia e determina consideravelmente os processosprodutivos na agricultura (entre outros, as estações do ano, atemperatura, os índices pluviométricos, a umidade e afotossíntese). Alterações nesses fatores (através de estufas, dairrigação, do isolamento, e do aquecimento contra geadas,entre outros) apresentam limites econômicos e técnicos. Estastecnologias são viáveis somente no caso de determinadosprodutos e grupos de produtos (legumes, determinadas frutas,viveiros de mudas, flores e outros), mas os custos se elevamem áreas de cultivo intensivo e, a partir de um determinadomomento, se tornam economicamente inviáveis. A tecnologiaagrícola, portanto, carece, fundamentalmente, da adaptação aomeio ambiente, e não inversamente, como no caso daindústria, onde o ambiente pode ser adaptado à produção e hácondições de separar o processo produtivo da natureza(ANDRIOLI: 2007: 81).

A transgenia não funciona na agricultura, porque asua lógica não considera os mecanismos da natureza e seumétodo está invertido: se procura desenvolver soluções antesde tentar entender as causas dos problemas. Por exemplo, hápouca pesquisa para entender porque uma lagarta se tornapraga no milho ou porque mais plantas se tornam inços. Assoluções desenvolvidas propõem matar, envenenar,exterminar, como se a natureza não reagisse.

Atualmente, sabemos que sementes de plantas maisrobustas e resistentes não estão mais disponíveis no mercado,porque isso não interessa às multinacionais da indústria

Page 12: Transgenicos - Monopolio de Sementes

518

química. Com a expansão de monoculturas e a monopolizaçãodo mercado de sementes, perde-se, ao mesmo tempo,conhecimento e diversidade biológica. Como, então,poderemos resolver problemas técnicos da produção agrícolano futuro, se a base para a pesquisa está sendo exterminada?Com a transgenia essa situação somente piora, pois foramrealizadas modificações artificiais na estrutura de reproduçãodas plantas, de forma que as menos adaptadas competemcontra as forças da natureza.

Essa é a atual experiência com transgênicospropagada pela indústria química, pois, em função dascondições naturais, a coexistência entre cultivos transgênicose convencionais não é possível. Especialmente no caso domilho, a contaminação genética pode ser constatada em todasas regiões do mundo em que as plantas transgênicascomeçaram a ser cultivadas. Querer evitar a contaminaçãopode ser um desejo político em muitos países, entretanto, éuma proposta distante da realidade. Se a contaminação nãofosse uma realidade, em função de pólens serem muitopesados, o cruzamento depender do mesmo período defloração e não haver a possibilidade de transferência genética,então tanto a teoria da evolução como a concepção denatureza de Darwin estariam superadas. A coexistência não épossível e, se essa é a realidade, então não adianta ter leis queestabelecem como ela deveria ser garantida.Consequentemente, em função dos cultivos transgênicos, aliberdade de escolha de agricultores e consumidores deixa deser assegurada, pois ambos passam a ser forçados a utilizar asplantas transgênicas.

E essa é, provavelmente, uma responsabilidade aindamais séria da política: enquanto não estiverem disponíveisestudos científicos suficientes sobre os efeitos dostransgênicos na saúde e no meio ambiente (entre outros,porque a indústria química não tem interesse nisso), não sepode afirmar que o cultivo de transgênicos teria os mesmosriscos que os cultivos convencionais. Também isso pode ser

Page 13: Transgenicos - Monopolio de Sementes

519

desejado, mas está longe da realidade, pois já estãodisponíveis muitos estudos demonstrando os perigos e osriscos dos transgênicos, como as plantas contendo genes doBacillus thuringiensis, nas quais em cada célula é produzidauma toxina. Até agora, o fator decisivo para o cultivo domilho transgênico tem sido a possibilidade de combaterpragas de uma forma mais eficiente e barata. Em poucos anos,no entanto, se desenvolvem pragas resistentes à toxinaproduzida, porque se usa apenas um produto e em enormesquantidades. Assim, em pouco tempo, a única vantagem dessaplanta, o combate mais eficiente de determinadas pragas,deixa de existir.

A experiência mundial com plantas transgênicasdemonstra que a transgenia é ineficiente a longo prazo (emfunção das crescentes resistências de pragas e inços), onerosa(em decorrência do aumento do uso de agrotóxicos), nãodesejada pelos consumidores e associada a muitos riscos. Ofato de muitas lideranças políticas estarem ignorando essarealidade deveria nos fazer refletir, pois a maioria dapopulação deseja e cientistas independentes aconselham quese evite o uso dessa técnica. Como alerta John BellamyFoster, “no curso da evolução – corretamente entendida nãocomo um processo teleológico ou rigidamente determinado,mas como um processo que contém a cada etapa colossaisníveis de contingência –, as espécies, inclusive os sereshumanos, tornaram-se adaptadas aos seus ambientes por meiode um processo de seleção natural de variações inatas,operando numa escala cronológica de milhões de anos. Então,segundo esta perspectiva, nós deveríamos ter muita cautela aofazer mudanças ecológicas fundamentais, reconhecendo que,se introduzirmos no meio ambiente substâncias novas, quenão sejam produto de uma longa evolução, estaremosbrincando com fogo” (FOSTER, 2005: 30).

Darwin oferece a base para o entendimento de muitosdos problemas da transgenia, que já estão em curso. É claroque carecemos de muito mais pesquisa nessa área. Entretanto,

Page 14: Transgenicos - Monopolio de Sementes

520

não qualquer tipo de pesquisa. São urgentes e necessáriosmaiores investimentos em pesquisa crítica, independente,sustentável e de comprovado uso social. Do contrário, restaráaos seres humanos acreditar nos cientistas. E, exatamente,contra essa tendência na ciência, Darwin também lutou: nãose trata de uma questão de crença, é necessário entender comoa natureza funciona. A teoria da evolução continua sendo amelhor explicação para os fenômenos biológicos. Essaperspectiva os cientistas naturais deveriam considerar, antesde transformarem a técnica em religião e, em função da suacrença nas assim chamadas tecnologias do futuro, ignorarem arealidade.

3 Transgênicos e agricultura familiar na AméricaLatina

A disseminação dos transgênicos, na América Latina,deve ser compreendida no contexto da modernizaçãocapitalista da agricultura, a qual se iniciou, particularmente, apartir da década de 1950, e criou a base para a crescentedependência dos agricultores, através de insumos dasmultinacionais da indústria química. A chamada “revoluçãoverde” tentou propagar, globalmente, a necessidade doaumento da produção agrícola para combater a fome. Destaforma, o melhoramento genético de sementes poderiacontribuir, desenvolvendo variedades adaptadas adeterminados locais, as quais seriam mais produtivas e maisresistentes contra doenças e pragas. Contribuiriam, para isso,o uso de tecnologias “modernas”, tais como o adubo químicoe os “defensivos agrícolas”. Isto, combinado com o uso demáquinas agrícolas, elevaria a produtividade das propriedadesrurais e do trabalho. Assim, a chamada “modernização” daagricultura representava uma oportunidade de expansão davenda de tratores, colheitadeiras, adubos e “defensivosagrícolas”.

Page 15: Transgenicos - Monopolio de Sementes

521

A estratégia da chamada “revolução verde” baseava-se em três elementos interligados: 1) a mecanização, atravésda produção de tratores, colheitadeiras e equipamentos; 2) aaplicação de adubo químico, pesticidas e medicamentos paraa criação de animais; 3) o progresso na biologia, através dodesenvolvimento de sementes híbridas e novas raças deanimais com potencial produtivo superior. Com a crescentecrise das monoculturas, iniciou-se a procura dasmultinacionais por possibilidades para continuar controlandoo mercado agrícola e, ao mesmo tempo, garantir acomercialização de seus produtos. Desafios que puderamsuscitar uma demanda da parte do agricultor, como o aumentoda produtividade, a diminuição dos custos de produção e amaior facilidade no trabalho, mas, também, melhorias nospróprios produtos, para poder oferecê-los de forma maisatrativa ao consumidor são vistos como oportunidades pelasmultinacionais.

3.1 A biotecnologia no centro das atenções

Com a chamada biotecnologia se abrem grandesexpectativas, particularmente, para a agricultura nos paísesque dependem do aumento da produtividade de alimentos e dadiminuição de importações de agroquímicos. A concorrênciaentre as multinacionais e os países em desenvolvimento, nessaárea, ocorreu na década de 1980. Contudo, a sensação queesse fato pretende criar na sociedade não é nova: ele lembra,fatalmente, a crença no progresso da chamada “revoluçãoverde”, pois os argumentos básicos são simplesmenterepetidos, como se nada tivesse sido aprendido da história da“modernização” da agricultura. “A lição talvez maisimportante que a ‘revolução verde’ nos ensinou, é quetecnologia em si não é a resposta a determinados problemas,senão meramente um instrumento – certamente muitoespecífico, o qual, tendencialmente, já implica emdeterminado desenvolvimento social” (HOBBELINK, 1989:10).

Page 16: Transgenicos - Monopolio de Sementes

522

A resposta das multinacionais à crise dasmonoculturas são os transgênicos. O cultivo de plantasresistentes a herbicida é propagado com o lema “aplicarherbicida ao invés de capinar”, como uma oportunidade parao cultivo em enormes áreas e utilizando pouca força detrabalho. Agregam-se a isto grandes expectativas de aumentaro mercado mundial do herbicida, visando aumentar os lucrosdas multinacionais.

Como Mooney (1987) e Hobbelink (1989), nos anosde 1989, já ressaltavam, a transgenia na agricultura é umaestratégia global, com vistas ao controle de toda a produçãode alimentos, apresentando grandes oportunidades demercado, particularmente para algumas multinacionais.Tappeser e outros caracterizam isso como uma guerra domundo ocidental, travada com armas biotecnológicas, contra anatureza, contra os poucos países menos privilegiados, contrao futuro e contra si mesmos (TAPPESER, 1999). A esperançadas corporações do setor químico num novo período deprosperidade através das descobertas da biotecnologia éincentivada pelo apoio financeiro dos governos de paísesindustrializados, pois, para eles, trata-se da manutenção dacompetitividade de sua indústria química, ainda que se tratede um dos setores de menor intensidade de trabalho, sem falardos riscos para a natureza e a saúde humana. “Efetivamentenão se trata de postos de trabalho, isso até os representantesda indústria e da ciência admitem, abertamente, mas sim dagarantia de parcelas no mercado mundial” (RIEWENHERM,2000: 83). Hans-Gunter Gassen, diretor do Instituto daBioquímica na Universidade Técnica de Darmstadt, confirmaessa afirmação, ressaltando que a indústria da biotecnologiadeve ser apoiada por se tratar de uma mudança estrutural,apesar de dificilmente criar novos postos de trabalho(GASSEN, 1999).

Page 17: Transgenicos - Monopolio de Sementes

523

3.2 O monopólio como meta e a contaminaçãocomo tática

A transgenia acaba envolvendo enormesinvestimentos na pesquisa, obtendo seus lucros através deroyalties (taxas sobre o uso de tecnologias) e da venda deagrotóxicos. Com o objetivo de dividir entre si o “mercado daalimentação”, poucas multinacionais se mantiveram nomercado para investir maciçamente na transgenia, naexpectativa de que seja um bom negócio. Para tanto, a maioriadas multinacionais da química aliaram-se comprando as maisimportantes empresas produtoras de sementes. Assim, asmaiores transacionais da indústria química (Monsanto, Bayer,Syngenta, BASF e DuPont), por intermédio de enormesinvestimentos em pesquisa, tentam cooptar cada vez maispesquisadores e universidades públicas para os seus projetos.“Não há outro setor da pesquisa pública em queuniversidades, laboratórios públicos, empresas privadas emultinacionais cooperem tanto no desenvolvimento e napesquisa quanto na área da transgenia. Sempre maispesquisadores de ponta, da pesquisa básica acadêmica,simpatizam com a proposta de comercialização de seusresultados” (RIEWENHERM, 2000: 85).

Para a Monsanto, que na década de 1990 investiu 9bilhões de dólares na compra de empresas, tratava-se de umaquestão de “vida ou morte”. A patente, para seu produto maisimportante, o total herbicida glifosato, expirou em 2000, e amultinacional apostou em sua estratégia de melhorar suasituação econômica através de sementes resistentes aherbicidas. Brian Tokar, professor no Instituto de EcologiaSocial, em Vermont (EUA), ocupa-se, desde o fim da décadade 1980, intensivamente, com a história da Monsanto edestaca que a multinacional teve um importante papel tanto naI quanto na II Guerra Mundial, aumentando suas vendas como fornecimento de produtos químicos ao governo norte-americano. Nos anos de 1960, a Monsanto foi mal-afamadaem função do desenvolvimento do Agente Laranja. Este foi

Page 18: Transgenicos - Monopolio de Sementes

524

um herbicida aplicado, maciçamente, pelos EUA na Guerra daIndochina, provocando não apenas danos ambientais, masgrandes tragédias humanas (intoxicações, abortos, bem comoa geração de fetos mal-formados). No final dos anos de 1990,a multinacional se concentrou na produção de sementes e, noBrasil, adquiriu a maior produtora de sementes, a Agroceres.Em 2002, a Monsanto experimentou uma situação complicadaquando obteve apenas 4,8 bilhões de dólares de lucro,aproximadamente 1,7 bilhão aquém do ano de 2000, quandoainda mantinha o monopólio sobre a venda do glifosato.(CASTANHEIRA, 2003) Não obstante, dois terços dasvendas ainda se devem à venda de herbicidas, que integramtambém os lucros realizados com o Roundup Ultra (variantedo glifosato, mais concentrado e efetivo), que estaria sendoaplicado na Colômbia para destruir as plantações de coca.Pelo fato do preço do Roundup ter caído pela metade, em2000, e a Monsanto ter que disputar com outros concorrentesno mercado, a empresa apostou, objetivamente, na produçãode sementes. Das variedades transgênicas existentes nomercado, a Monsanto possui 90% dos direitos de patentes(TOKAR, 2004).

A liberação do cultivo da soja transgênica no Brasil éestrategicamente interessante para a Monsanto, a fim de quenão haja mais mercados constantes para a soja convencionalno mundo, forçando, assim, os consumidores europeus aaceitarem os grãos de soja transgênica. Para Jon Ratcliff, daFood and Agriculture Consultancy Services, na Inglaterra, oseguinte prognóstico é muito provável: “Se uma parte daEuropa exigir que os animais não sejam mais alimentadoscom ração transgênica, isso será possível apenas porque oBrasil está oferecendo a soja convencional, sendo que, em2002, os europeus compraram 9,4 milhões de toneladas. Se oBrasil plantar soja transgênica, a Europa não terá opção, poisnão haverá mais soja convencional suficiente no mercadomundial” (citado por Rocha, 2003).

Page 19: Transgenicos - Monopolio de Sementes

525

Para que os transgênicos se impusessem como“obrigatórios” na agricultura, introduziu-se a tática dacontaminação de lavouras através de sementescontrabandeadas. “A tática mais efetiva é a gradativa e globalcontaminação transgênica” (BUNTZEL; SAHAI, 2005:189).Neste sentido, a estratégia é aplicada, propositalmente, pelaMonsanto, na América Latina, concretizando-se pelosseguintes passos: a) acostumar os agricultores ao uso doherbicida, o que está ocorrendo desde o início da década de1990 com o “plantio direto”; b) influenciar a pesquisa pública,particularmente, pelo financiamento de pesquisas einstituições de pesquisa, bem como pela conexão com osinstitutos de pesquisa e suas direções; c) adquirir empresasprodutoras de sementes nos países e monopolizar suaprodução; d) escolher uma região e aguardar a contaminação(neste caso, a Argentina foi a escolhida na América Latina);e) ganhar, estrategicamente, pesquisadores e políticos para acausa da multinacional; f) instalar uma rede de técnicosparceiros, através da criação de empresas de assistênciatécnica que trabalhem em função da multinacional ou de seufinanciamento; g) promover enormes campanhas depublicidade, particularmente na TV, no rádio e nos jornais; h)escolher, como propriedades-modelo, agricultores bem-sucedidos nos municípios e apoiá-los, por exemplo, comviagens de estudos; i) criar fatos que diminuam argumentoscríticos do público em geral; j) promover ofertas baratas paraherbicidas e sementes (isto é, inicialmente livres de royalties);k) forçar condições legais pelo trabalho de lobby e dainfluência sobre parlamentos e governos; l) ganharorganizações parceiras para o controle: as cooperativas eoutras empresas agrícolas, incumbidas da compra da produçãoe do fornecimento de insumos (particularmente sementes eherbicidas), que, pela participação, estejam dispostas a cobraros royalties dos agricultores (ANDRIOLI, 2007: 243).

A oportunidade das multinacionais em terem, naAmérica Latina, condições ideais para criar uma aceitação

Page 20: Transgenicos - Monopolio de Sementes

526

entre os agricultores, sem terem de temer uma resistênciaorganizada por parte dos consumidores e governos, explica osavanços atuais de plantas transgênicas no continente. Pordetrás disto, reconhece-se uma estratégia clara voltada àexpansão dos produtos transgênicos no mercado mundial. Asoja e o milho representam as plantas transgênicas maisimportantes. Já em 1994, a multinacional Monsanto, deatuação global, obteve a licença para o plantio de sojaresistente a herbicida, a soja Roundup Ready (soja RR), cujaprimeira produção chegou à Europa em 1996, sob fortesprotestos de organizações ambientalistas e de consumidores,causando o primeiro grande conflito em torno das plantastransgênicas. A seguir, o cultivo da soja RR foi tambémliberado no Japão, no Canadá, na Argentina e no México. NoBrasil, a Monsanto iniciou suas pesquisas em 1995 e, já apartir de 1999, a empresa tentou introduzir o cultivocomercial (Agrofolha, 1998).

3.3 Exploração com outros meios

O aprofundamento da dependência do hemisfério sulaos países do hemisfério norte tem uma importância políticadeterminante no debate dos transgênicos, considerando quecom a tecnologia transgênica as indústrias multinacionaisapresentam um grande interesse na diversidade de recursosgenéticos existentes no hemisfério sul. A divisão internacionaldo trabalho, descrita por Wallerstein (1979), continua sendomantida e aprofundada. Ressaltava o referido autor que ospaíses em desenvolvimento se concentram na exportação dematéria-prima, enquanto os países industrializados se ocupamcom produtos manufaturados.

As multinacionais procuram, no fundo, integrar naeconomia de mercado capitalista os recursos naturais “aindanão contabilizados” e seus potenciais econômicos,explorando-os com vistas à acumulação de capital. “Tanto a‘reprodução ampliada’ do capital global, como o crescimento

Page 21: Transgenicos - Monopolio de Sementes

527

capitalista pela acumulação permanente de novos capitaissomente são possíveis diante da constante troca entre as partescapitalistas e não-capitalistas da economia nacional einternacional, respectivamente” (LUTZ, 1984: 58).

Continua existindo, portanto, a notória estruturaagrícola, em que o Sul deve fornecer a matéria-prima,permanecendo os lucros e o poder econômico no Norte. “Maisde 90% da biodiversidade mundial encontram-se nos paísesdo Sul, mas empresas de países industrializados detêm maisde 97% de todos os direitos autorais” (MAYER et al., 2002:14). Deduz-se disso que multinacionais do Norte estãoautorizadas, por meio de direitos de patentes, a apropriar-sede seres vivos e de conhecimentos tradicionais do Sul, dedesenvolver produtos a partir disso e mais, de oferecê-los aosmesmos países como uma nova invenção, exigindo, assim, opagamento de royalties por seu uso. “Algumas empresasbiotecnológicas ocidentais buscam os genes desses países,providenciam sua propriedade pela patente, desenvolvemnovos produtos daí originados e revendem esses produtos – entre outros, aos países do ‘Terceiro Mundo’”(RIEWENHERM, 2000: 87).

Trata-se, aqui, da exploração dos países emdesenvolvimento por intermédio de novos meios, sendo queas crises monetárias e o endividamento dos países maispobres os conduzem a uma beco sem saída, aumentando adependência da periferia dos centros econômicos. Naeconomia mundial “globalizada”, as existentes assimetriasentre países pobres e ricos, fundadas no elevado padrão devida dos países industrializados, são agravadas, exteriorizandocustos sociais e ecológicos (MASSARAT, 1999). Isso acabagerando novas dependências, assim como o aprofundamentodo poderio díspar, tanto entre os países quanto entre os atoresnos próprios países em desenvolvimento, no que diz respeitoao acesso desigual aos meios de produção e aos recursosvitais. Tanto a “armadilha do endividamento” quanto aconseguinte dependência financeira de países assumem um

Page 22: Transgenicos - Monopolio de Sementes

528

papel essencial no que tange à submissão e crescentefragilidade da economia e dos Estados nacionais nos paísesem desenvolvimento.

Governos e empresas dos países industrializados,assim como organizações internacionais, o Banco Mundial e oFMI (Fundo Monetário Internacional) ressaltam quejustamente em função de sua riqueza em recursos genéticos,países em desenvolvimento teriam uma chance de atrairinvestimentos e elevar suas exportações, melhorando, assim,sua balança comercial, podendo honrar o pagamento da dívidaexterna. No entanto, para que os investimentos das empresasmultinacionais efetivamente fluam aos países emdesenvolvimento foi importante que a legislação possibilitasseformas de garantir seus lucros. “A argumentação se baseia naideia de que empresas preferem investir num país e transferirtecnologias (ainda que em contrapartida de royalties) quandosuas invenções são protegidas contra cópias gratuitas naquelepaís” (MAYER et al., 2002: 15). Isto é exatamente o que oAcordo sobre Aspectos dos Direitos de PropriedadeIntelectual realiza, quando trata do direito à privatização deinvenções: “Quem torna uma invenção pública, obtém, comisso, uma proteção contra a imitação ou pode cobrarroyalties” (RIEWENHERM, 2000: 86). E é disso que se trata,primeiramente, nas negociações globais da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), quando se refere à“diminuição de restrições comerciais” na área da transgenia.Condições políticas e jurídicas referentes à temática dabiotecnologia são negadas, objetivamente, para que ocorrauma “desregulamentação simpática à indústria”. “Acompetição pela desregulamentação está prestes a se iniciarem todas as áreas, ou já está ocorrendo [...]. A reforma deregulamentação das patentes (TRIPS) sobre seres vivos é oexemplo manifesto” (WEIZSÄCKER, 1998: 08).

No centro das atenções das multinacionais está ocombate ao Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, poiseste impõe padrões de segurança no âmbito internacional,

Page 23: Transgenicos - Monopolio de Sementes

529

quanto à movimentação de organismos transgênicos, além dedestacar o princípio da precaução. “A importação deorganismos transgênicos está sujeita a um processo dehomologação, que prevê, necessariamente, uma informaçãoao país importador pelo exportador e a posterior análise derisco” (BRUHL/MEYER, 2001: 27). Governos que, diante daimportação de produtos transgênicos, temam por danosambientais ou para a saúde podem se basear no Protocolo deCartagena, para proibir tais importações. Os EUA são os quemais se empenham no combate ao Protocolo de Cartagena,alegando a necessidade de abrir mercados com a OrganizaçãoMundial do Comércio, para defender seus produtos deexportação. “Em face de seu tradicional balanço do comércioexterior deficitário, os EUA procuram sempre mais mercadopara seu excedente agrícola”. Portanto, “abolir a rotulagemobrigatória para produtos de organismos transgênicos edemais entraves comerciais não-tarifários faz parte das metasprincipais da política de comércio norte-americana” (MAIER,1998: 4). É neste contexto que se pode compreender a ação dogoverno norte-americano, em 2003, contra a moratória dostransgênicos na União Europeia, o que, mundialmente, acabouexplicitando a interconexão dos transgênicos com a crítica àglobalização. “Desde que Bush impetrou uma ação, em maiode 2003, junto à Organização Mundial do Comércio, contra amoratória europeia sobre os transgênicos, a pedido de suagrande patrocinadora Monsanto, a temática da transgenia e daOrganização Mundial do Comércio estão, repentinamente, emvoga em todo movimento crítico à globalização. Através desua política contrária ao meio ambiente, sustentada porchavões neoliberais, ele acabou demonstrando, para muitos, aestreita ligação entre a destruição ambiental e a globalizaçãoneoliberal” (MITTLER, 2003: 17).

Page 24: Transgenicos - Monopolio de Sementes

530

3.4 Transgênicos, produção de alimentos ecombate à fome

A atual produção mundial de alimentos é superior àcapacidade de consumo dos seres humanos. Assim, podemosconstatar que a fome não resulta de uma baixa produtividadeou de pouca produção de alimentos no mundo. A questão,entretanto, é a seguinte: como os 900 milhões de sereshumanos que passam fome podem ter acesso aos alimentos?Alternativas técnicas, como a transgenia, poderiam contribuirpara combater a fome?

As questões políticas fundamentais que se colocam nodebate sobre a produção de alimentos giram em torno do que,porque, como, por quem e para quem algo é produzido. Nosúltimos anos, se vislumbrou, de forma crescente, apossibilidade de lucrar com a produção de alimentos. Umadas formas é disponibilizar alimentos baratos sob taiscondições que a produção local em outros países sejadestruída e se gere uma dependência na importação. Porexemplo, o Brasil exporta frangos para a Europa, os europeusconsomem as partes mais nobres e as que não desejamconsumir são exportadas gratuitamente para a África, com osuposto propósito de combate à fome. Assim, o frangoexportado para os países africanos destroi a produção local,pois estes não têm condições de competir com as doações dealimentos. Essa é uma forma de dependência acompanhada deum “espírito de solidariedade” e assistencialismo, pois oseuropeus argumentam que, assim, estariam ajudando os paísespobres. Mas, quais alimentos são produzidos? No caso doBrasil, é evidente que o país produz demasiadamente soja,que, em sua maior parte, se destina à alimentação de bovinos,suínos e aves dos europeus, estadunidenses e chineses. E,atualmente, também passa a contribuir para abastecer veículosna forma de agrodiesel. A monocultura da soja destroi o meioambiente e a produção local de alimentos para servir decombustível para os países ricos.

Page 25: Transgenicos - Monopolio de Sementes

531

O Brasil produz excessivamente soja, café, algodão,cacau, laranja, enfim, as monoculturas destinadas àexportação, produtos que, em sua maioria, não sãoconsumidos pelos brasileiros. Por outro lado, o país produzpouco arroz, feijão e mandioca, produtos que constituem abase alimentar dos brasileiros e passaram a ser importadoscom dinheiro das assim chamadas divisas do superávit dabalança comercial, resultante das exportações agrícolas. Essaé uma das formas de desigualdade que contribui para aconcentração de renda nos países ricos e pobres e para oaumento da fome. Por exemplo, o Brasil é o maior produtorde café em grão do mundo. A Alemanha, país mais rico daEuropa, é o maior exportador de café refinado do mundo semproduzir um único grão do produto. Isso não ocorre somentecom o café. Trata-se de uma política de geração dedependência, que há mais de 500 anos vigora no Brasil. Porisso, a fome e a produção de alimentos constituem umaquestão política e não técnica. Trata-se da soberania alimentarde uma população. Além disso, determinadas tecnologias,como a transgenia, proporcionam a algumas empresas o poderde se apropriarem de recursos naturais, que deveriam estar àdisposição de todos, para o aumento de seus lucros. Essasmesmas empresas são beneficiadas com a fome (a assimchamada crise alimentar), que é muito mais resultado de umaespeculação com alimentos do que da sua falta dedisponibilidade ou do aumento do consumo em algumasregiões do mundo. Os chineses, por exemplo, estãoconsumindo mais alimentos importados exatamente emfunção do forçado processo de industrialização e urbanizaçãoem curso naquele país, diminuindo a produção de alimentos,aumentando o êxodo rural e, por consequência, o número depessoas que deixam de produzir para consumo próprio.

Além dos fatores anteriormente citados, éprincipalmente a concentração no sistema alimentar mundialque tem contribuído para o aumento da fome. No Brasil, issonão significa apenas afirmar que determinadas empresas

Page 26: Transgenicos - Monopolio de Sementes

532

monopolizam diretamente a produção de alimentos, pois elasestão controlando o uso da terra. A terra continua concentradacomo propriedade de empresas que passam a produzir soja,etanol, agrodiesel e celulose. É esse o futuro projetado para aagricultura brasileira pelo “agronegócio” e, com isso, seproduz mais fome, pois estão sendo excluídos do acesso àalimentação aqueles que poderiam produzir para sealimentarem a si mesmos e que estariam em condições deproduzir um excedente para abastecer o mercado local eregional. Esse tipo de agricultura está sendo destruído, o qualé responsável pela alimentação da maior parte das pessoas noplaneta: a agricultura familiar.

A agricultura familiar não recebe apoio público naforma como deveria receber, considerando sua importânciapara a soberania alimentar das nações. O debate sobre ossubsídios agrícolas também é fundamental no que se refere àalimentação. Na Europa, por exemplo, é subsidiada aagricultura que não precisa do subsídio (os grandes produtoresrurais e corporações agrícolas), em função da pressão políticadas suas organizações. O governo apoia, prioritariamente,quem expande sua capacidade produtiva, o que gera umproblema de superprodução. Em seguida, para compensar osbaixos preços decorrentes do excesso produzido, os governossubsidiam a exportação desses produtos, que entram nomercado internacional, destruindo a produção em outrospaíses e gerando uma nova dependência.

Com referência aos transgênicos, que foramanunciados com a promessa de contribuir para o aumento daprodução de alimentos, é evidente que empresas como aMonsanto, a Syngenta, a Bayer e a Basf não estãointeressadas em combater a fome. Seu objetivo é aumentar opoder de controle sobre a produção de alimentos desde a suagênese: a semente. Nunca, na história da humanidade, seobteve um domínio tão grande sobre a produção de alimentos,porque nunca foi possível determinar, a partir de uma técnica,a apropriação dos resultados econômicos dessa tecnologia.

Page 27: Transgenicos - Monopolio de Sementes

533

Atualmente isso é possível. A transgenia e algumas outrasbiotecnologias que ainda estão por vir permitem que algumasempresas possam controlar onde e qual planta será cultivada,que tipo de insumos se vai utilizar (os insumos que essasempresas tem a oferecer) e para quem essa comida seráproduzida.

Há diversos problemas éticos envolvidos nessedebate. Existem pesquisadores (intelectuais liberais) que nãoconseguem entender porque as pessoas pobres não queremconsumir o que os ricos rejeitam: os alimentos transgênicos,com altos riscos à saúde, enormes consequências ao meioambiente e problemas sociais, que se tornaram conhecidosnos últimos dez anos, em que apenas duas formas detransgenia foram liberadas para cultivo. Trata-se de plantasresistentes a herbicidas e plantas resistentes a determinadosinsetos. Após poucos anos de cultivo essa tecnologia passa aperder a sua validade e precisam ser acrescentadas novascaracterísticas para que ela possa continuar sendo eficiente,representando um alto custo econômico, ecológico e social.

4.5 Poucas chances para a agricultura familiar

A tendência à adaptação e à integração das pequenaspropriedades rurais ao projeto das multinacionais é estimuladapelo fato destas produzirem cada vez mais para o mercado,limitando a produção para o consumo próprio. “Naagricultura, a modernização agrícola significa a forteexpansão das relações de mercado e a crescente substituiçãoda produção de subsistência pela produção voltada aomercado” (MOORE, 1974: 536). Pela intensificação daagricultura voltada à exportação, pode-se esperar, com muitaprobabilidade, uma crescente destruição da natureza, bemcomo a exclusão de pequenas propriedades rurais. Nestaconjuntura, parece restar aos pequenos agricultores aalternativa de produzir “autônomos” ou a completa integraçãodas propriedades restantes ao agronegócio. A primeira

Page 28: Transgenicos - Monopolio de Sementes

534

alternativa não parece interessante para nenhum agricultormoderno, pois também para ele interessa o acesso ao padrãode vida criado pelo capitalismo. A segunda opção existeapenas para uma minoria, que consegue suportar aconcorrência e assegurar sua existência, algo principalmentedifícil para os pequenos agricultores.

Com a produção de transgênicos diminuem aschances para a agricultura familiar, pois esta possui poucopoder de investimento para acompanhar o assim chamadoprogresso tecnológico. Com ela, os agricultores convencionaisapenas correm um novo risco, que, no entanto, não estimamcomo grave: “Ao agricultor a questão dos transgênicos emculturas vegetais se coloca no mesmo patamar do uso deagrotóxicos e de adubos químicos. Quem descarta estes,distancia-se conscientemente dos métodos convencionais deplantio, assumindo um grande risco econômico”(BERNHARD, 1990: 36). A indústria de abastecimento deinsumos surgiu neste contexto, e continua com suas pesquisas.Neste caso, tenta-se dirigir a própria demanda por intermédiode novos produtos. “No que consta em meu limitadoconhecimento, desconheço qualquer caso em que umarevolução tecnológica agrícola de impacto tenha partido dospróprios agricultores” (MOORE, 1974: 536–537).

Mediante a concentração no âmbito da tecnologiaagrícola, cresce o potencial de pesquisa e investimentos dasmultinacionais. Em função de sua posição oligopolista edominante no mercado, elas determinam a formação do preçode novos produtos técnicos e influenciam as decisões dosagricultores na escolha e na utilização da tecnologia. Opotencial de expansão da indústria agrícola no setor dapesquisa tecnológica torna atraentes os investimentos, namedida em que os direitos da patente possibilitam aapropriação privada de importante parcela dos resultados dodesenvolvimento das forças produtivas. A persistência dopequeno agricultor, neste sentido, é vista como chance demercado para a oferta de produtos tecnológicos, não sendo

Page 29: Transgenicos - Monopolio de Sementes

535

eliminado em completo enquanto ela ainda apresenta umautilidade para o capital, isto é, enquanto contribui para a suaacumulação.

O uso da transgenia na agricultura latino-americanaintensifica a liberação de forças destrutivas, que afetam tantoa natureza quanto as pessoas que vivem e trabalham nocampo. A privatização de recursos naturais e deconhecimentos em prol das multinacionais agrícolas e doslatifundiários aprofunda a desigualdade social, diminuindo,em muito, também as chances de resistência individual dospequenos produtores. Enquanto o capital (em especial, osinsumos, os créditos e a estrutura de processamento ecomercialização da produção agrícola) é cada vez maismonopolizado, os pequenos produtores estão sob a crescentepressão de concorrer entre si com tecnologias. A propriedaderural familiar tende a se adaptar ao desenvolvimentotecnológico descrito, em função da alegada maior facilidade eeconomia do trabalho, e a ser, assim, destruída, o que temconsequências catastróficas para o desenvolvimento dospaíses latino-americanos, nos quais os pequenos agricultoressão responsáveis pela maior parte da produção de alimentos.

Está comprovado que a transgenia é uma tecnologiaque não deu certo, com a constatação de resistência de inçosao glifosato, no caso da planta resistente à herbicida, e àresistência dos insetos contra a toxina produzida pela bactériabacilus turinguiensis, introduzida nas plantas Bt. Apesardisso, existe um lobby enorme sobre parlamentos e governos,uma forte pressão da mídia e um aparato de propaganda paraforçar a sociedade a consumir o que ela não está disposta aconsumir e os agricultores estão sendo forçados a produzir deuma só forma. Se o agricultor não consegue mais produzir deoutra forma, o consumidor não terá mais a possibilidade deescolher o tipo de alimento. Portanto, de uma só vez, estãosendo restringidos dois direitos históricos dos seres humanos:a) a liberdade dos agricultores de definirem sua forma deproduzir; b) a liberdade dos consumidores em sua opção de

Page 30: Transgenicos - Monopolio de Sementes

536

consumirem alimentos melhores, mais saudáveis e que nãocontenham toxinas ou resíduos de agrotóxicos.

Com os transgênicos estão sendo produzidosalimentos de pior qualidade, com menor produtividade e commais custos econômicos, ecológicos e sociais. Por detrásdessa temática está o debate sobre o tipo de agricultura queum país pretende priorizar, o acesso aos recursos naturais, aReforma Agrária, enfim, a possibilidade de um povo sealimentar de uma forma mais saudável e de viver com maisqualidade. A silenciosa contaminação de solos e alimentos,através dos cultivos transgênicos, integra uma estratégia dedominação associada a uma perspectiva de aumento dospreços dos alimentos. Assim, é possível controlar populaçõesinteiras que ficam subordinadas aos interesses de algumascorporações multinacionais, fazendo da produção dealimentos uma forma de enriquecimento privado e um poderpolítico sem precedentes na história da humanidade.

REFERÊNCIAS

AGROFOLHA. (1998): Soja é solução para alimentar o mundo.Folha de São Paulo, São Paulo, 15.12.98.

ANDRIOLI, A. I. (2007): Biosoja versus Gensoja: Eine Studie überTechnik und Familienlandwirtschaft im nordwestlichen Grenzgebietdes Bundeslandes Rio Grande do Sul (Brasilien). Frankfurt, Berlim,Berna, Bruxelas, Nova Iorque, Oxford, Viena: Peter Lang.

ANDRIOLI, A./Fuchs, R. (2008): Transgênicos: as sementes domal. A silenciosa contaminação de solos e alimentos. São Paulo:Expressão Popular.

BERNHARD, J. (1990): Methoden und Projekte derGentechnologie in der Pflanzenzucht. In: Altner, G./ Krauth, W./Lünzer, I./ Vogtmann, H. (Hrsg.). Gentechnik und Landwirtschaft:Folgen für Umwelt und Lebensmittelerzeugung. Karlsruhe: Müller.

Page 31: Transgenicos - Monopolio de Sementes

537

BRÜHL, T./Meyer, H. (2001): Die Umsetzung desÜbereinkommens über die biologische Vielfalt in Deutschland.Bonn: Forum Umwelt & Entwicklung.

BUNTZEL, R./Sahai, S. (2005): Risiko: Grüne Gentechnik. Wemnützt die weltweite Verbreitung gen-manipulierter Nahrung?.Frankfurt am Main: Brandes & Apsel.

CASTANHEIRA, J. (2003): Monsanto na fogueira. Revista Isto ÉDinheiro, São Paulo. Download:<http://www.terra.com.br/istoedinheiro/299/negocios/299_monsanto_fogueira.htm> (21.05.2003).

FOSTER, J. B. (2005). A ecologia de Marx: materialismo enatureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

GASSEN, H.-G. (1999): Gentechnik, Grenzzone menschlichenHandelns? Karlsruhe: Gesamtverband der DeutschenVersicherungswirtschaft.

HOBBELINK, H. (1990): Biotecnologia muito além da RevoluçãoVerde: desafio ou desastre? Porto Alegre: Fundação JuquiraCarandiru.

LUTZ, B. (1984): Der kurze Traum immerwährender Prosperität.Eine Neuinterpretation der industriell-kapitalistischen Entwicklungim Europa des 20. Jahrhunderts. Frankfurt am Main; New York:Campus.

MAIER, J. (1998): Das Biosafety-Protokoll. InternationaleGentechnikverhandlungen im Spannungsfeld von Welthandel undSicherheit. Bonn, Forum Umwelt & Entwicklung.

MARCUSE, H. (1979): Kultur und Gesellschaft 2. Frankfurt amMain: Suhrkamp.

MASSARAT, M. (1999): Nachhaltige Entwicklung durchKostenexternalisierung. Theorieansätze zur Analyse und Reformglobaler Strukturen. In: Thiel, R. (Hrsg.). Neue Ansätze zurEntwicklungstheorie. Bonn: Deutsche Stiftung für internationaleEntwicklung.

MAYER, C./Frein, M./Reichert, T. (2002): Globale Handelspolitik– Motor oder Bremse nachhaltiger Entwicklung? Eine

Page 32: Transgenicos - Monopolio de Sementes

538

Zwischenbilanz zehn Jahre nach Rio. Bonn: Forum Umwelt &Entwicklung/EED.

MITTLER, D. (2003): WTO: Hände weg von unserer Nahrung. In:Biologische Vielfalt: Nie war sie so wertvoll wie heute. Bonn:Forum Umwelt & Entwicklung, 2003

MOONEY, P. R. (1987): O Escândalo das sementes: o domínio naprodução de alimentos. São Paulo: Nobel.

MOORE, B. (1974): Soziale Ursprünge von Diktatur undDemokratie. Die Rolle der Grundbesitzer und Bauern bei derEntstehung der modernen Welt. Frankfurt am Main: Suhrkamp.

RIEWENHERM, S. (2000): Gentechnologie. Hamburg:Europäische Verlagsanstalt.

ROCHA, A. A. (2003): Brasil é o fiel da balança dos transgênicos.Jornal Valor Econômico, São Paulo, 09.06.2003. Download:<http://www.valor.com.br> (15.06.2003).

TAPPESER, B./Baier, A./Dette, B./Tügel, H. (1999): Die blauePaprika. Basel: Birkhäuser.

TOKAR, B. (2004): Cientista revela história obscura da Monsanto.Jornal Brasil de Fato. Download:<http://www.brasildefato.com.br/?page=noticia&noticia=306>(15.04.2004).

WALLERSTEIN, I. (1979): Aufstieg und künftiger Niedergang deskapitalistischen Weltsystems. In: Senghaas, D. KapitalistischeWeltökonomie. Kontroversen über ihren Ursprung und ihreEntwicklungsdynamik. Frankfurt am Main: Suhrkamp.

WEIZSÄCKER, C. (1998): Warum – in aller Welt – ist dasBiosafety-Protokoll so wichtig? In: Maier, J. Das Biosafety-Protokoll. Internationale Gentechnikverhandlungen imSpannungsfeld von Welthandel und Sicherheit. Bonn: ForumUmwelt & Entwicklung.