transferÊncia do direito de construir (tdc) · o instrumento da tdc - previsto no art. 35 do ec -...
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PROGRAMANACIONAL DECAPACITAÇÃO
DAS CIDADES
PROGRAMANACIONAL DECAPACITAÇÃO
DAS CIDADESC O N H E C E R P A R A C R E S C E R
CAPACIDADES
COLEÇÃO CADERNOS TÉCNICOS DE
REGULAMENTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
DE INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE
VOLUME 6
COLEÇÃO CADERNOS TÉCNICOS DE
REGULAMENTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
DE INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE
VOLUME 6
www.capacidades.gov.br
TRANSFERÊNCIA DO
DIREITO DE
CONSTRUIR (TDC)
TRANSFERÊNCIA DO
DIREITO DE
CONSTRUIR (TDC)
MINISTÉRIO DAS CIDADES
Ministro de EstadoALEXANDRE BALDY
Secretário-ExecutivoSILVANI ALVES PEREIRA
Secretário Nacional de Desenvolvimento Urbano – SNDUGILMAR SOUZA SANTOS
Diretora do Departamento de Planejamento e Gestão Urbana – DPGUDIANA MEIRELLES DA MOTTA
Programa Nacional de Capacitação das Cidades - PNCCPAULO COELHO AVILA - Coordenador
Colaboradores na produção e elaboração do Caderno TécnicoCAROLINA BAIMA CAVALCANTICLÉO ALVES PINTO DE OLIVEIRALETÍCIA MIGUEL TEIXEIRA
Revisão de textoCAROLINA DE SOUSA AQUINOINGRID ZWICKER
LINCOLN INSTITUTE OF LAND POLICY
Diretor do Programa para América Latina e CaribeMARTIM O. SMOLKA
Equipe de elaboração do Caderno TécnicoFERNANDA FURTADOSONIA RABELLOISABELA BACELLAR
BANCO INTERAMERICANO DEDESENVOLVIMENTO – BID
Representante no BrasilHUGO FLOREZ TIMORAN
Housing and Urban Development Division (HUD)JASON ANTHONY HOBBS
Projeto Gráfico e ilustraçõesMARCELO VASCONCELOS ALVES JUNIOR
COLEÇÃO CADERNOS TÉCNICOS DE
REGULAMENTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
DE INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE
VOLUME 6
COLEÇÃO CADERNOS TÉCNICOS DE
REGULAMENTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
DE INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE
VOLUME 6
TRANSFERÊNCIA DO
DIREITO DE
CONSTRUIR (TDC)
TRANSFERÊNCIA DO
DIREITO DE
CONSTRUIR (TDC)
©2017 Ministério das Cidades
É totalmente proibida a reprodução total ou parcial deste material sem a prévia autorização do Ministério das Cidades.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
Furtado, Fernanda; Rabello, Sonia e Bacellar, Isabela.
Transferência do Direito de Construir: Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação/ Furtado, Fernanda; Rabello, Sonia e Bacellar, Isabela. Brasília: Ministério das Cidades, 2017.
6 vol. Coleção Cadernos Técnicos de Regulamentação e Implementação de Instrumentos do Estatuto da Cidade.
Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano, Programa Nacional de Capacitação das Cidades e Lincoln Institute of Land Policy.
ISBN: 978-85-7958-072-7
1. Transferência do direito de construir. 2. Solo criado. 3. Desenvolvimento urbano. 4. Estatuto da Cidade 5. Política urbana. 6. Gestão urbana. 7. Planejamento urbano 8. Furtado, Fernanda; 9. Rabello, Sonia e 10. Bacellar, Isabela.
APRESENTAÇÃO
Este Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação da Transferência doDireitodeConstruirconstituioVolume6dacoleçãode“CadernosTécnicosdeRegulamentaçãoeImplementaçãodeInstrumentosdoEstatutodaCidade”.ATransferênciadoDireitodeConstruir(TDC), definidanoEstatutodaCidade, éum instrumento regulamentadopor leimunicipalquepermiteaoproprietáriodeumdeterminadoterrenourbanoexerceremoutrolocal,oualienarparaestefim,odireitobásicodeconstruirquandoessedireitonãopuderserexercido,notodoouemparte,noterrenodeorigememvirtudedointeressepúblico.Noâmbitodoplanejamentourbanomunicipal,aTDCfacilitaaobtençãode imóveisparaa implantaçãodeequipamentosurbanosecomunitários,paraapreservaçãodopatrimôniohistóricoecultural,etambémnoscasosvinculadosaointeresseambiental,paisagísticoousocial.
O Ministério das Cidades, por intermédio da Secretaria Nacional de DesenvolvimentoUrbano,emparceriacomoBancoInteramericanodeDesenvolvimento(BID)eoLincolnInstituteofLandPolicy(LILP),apresentamestapublicaçãocomoobjetivodeauxiliarosgovernoslocaisnaregulamentação e aplicação da transferência do direito de construir para promover e apoiar odesenvolvimentourbano.
AlexandreBaldyMinistrodasCidades
MartimOscarSmolkaAssociadoSenioreDiretordo
ProgramaparaAmericaLatinaeCaribedoLILP
HugoFlóresTimoránRepresentantedoBidnoBrasil
SUMÁRIO
09 Lista de Abreviaturas e Siglas
11 Introdução
13 Caracterização geral da Transferência do Direito de Construir
a. Definição e conceituação
b. Antecedentes
c. Fundamentos no Brasil
d. Os coeficientes de aproveitamento na TDC
e. A TDC no Estatuto da Cidade
35 Regulamentação da Transferência do Direito de Construir
a. Introdução
b. Questões relativas à TDC segundo suas finalidades
c. Alertas sobre as bases para regulamentação da TDC
d. Definição de áreas ou imóveis transmissores e receptores
e. TDC direta e indireta
f. Fórmula de equivalência entre terrenos transmissor e receptor
g. Cuidados na aplicação conjunta da TDC e da OODC
h. Elementos necessários para a regulamentação da TDC
57 Implementação da Transferência do Direito de Construir
a. Introdução
b. Estrutura administrativa para aplicação e gestão da TDC
c. Documentação para a aplicação da TDC
d. Estipulação de prazos para a implementação da TDC
e. Passos necessários para a implementação
f. Interação com outros instrumentos
71 Tira-Dúvidas
77 Referências
81 Anexo
APAC - Área de Proteção do Ambiente Cultural
APP - Área de Preservação Permanente
art. – ar�go
CA – coeficiente de aproveitamento
CEPAC – Cer�ficados de Potencial Adicional de Construção
CF – Cons�tuição federal
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
EC – Estatuto da Cidade
EUA – Estados Unidos da América
HIS – Habitação de Interesse Social
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
inc. - inciso
IPHAN – Ins�tuto do Patrimônio Histórico e Ar�s�co Nacional
IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
ISS – Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza
ITBI – Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
LUOS - Lei de Uso e Ocupação do Solo
OODC – Outorga Onerosa do Direito de Construir
OUC – Operação Urbana Consorciada
PD – Plano Diretor
PEUC – Parcelamento, Edificação ou U�lizações Compulsórios
RGI – Registro Geral de Imóveis
STF – Supremo Tribunal Federal
TAU - Transferencia de Aprovechamientos Urbanís�cos
TDC – Transferência do Direito de Construir
TDR- Transferable Development Rights
TPLD - Transfer de Plafond Légal de Densité
ZAC - Zones d'Aménagement Concertés
ZEIS – Zona de Especial Interesse Social
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO
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Este Caderno Tecnico tem como objetivo apresentar o instrumento de polıtica urbanaconhecidocomoTransferenciadoDireitodeConstruir(TDC),situandoseuentendimentonosmarcosdoEstatutodaCidade(EC),Leinº10.257de10dejulhode2001,edasdiretrizescontidasnoseuart.2º.
ApartirdasbasesconceituaisestabelecidaspeloEC,osinstrumentosdepolıticaurbanadevemser regulamentados pelos entes federativos, e aplicados pelos municıpios brasileiros, de forma aadequa-losassuasrealidadesregionaiselocais,segundosuasespeci�icidades.Essesinstrumentossaomeios de operacionalizaçao da polıtica urbana municipal, materializando assim os princıpiosconstitucionais,easdiretrizesdapolıticaurbananacional.
O instrumentodaTDC -previstonoart. 35doEC - consistena autorizaçaodadapor leimunicipalparaqueaadministraçaopublicafaculteaoproprietariodeumdeterminadoterrenourbanoexerceremoutrolocal,oualienar,paraeste�im,oseudireitodeconstruirbasico,quando,porrazoesdeinteressepublico,essedireitonaopuderserexercido,notodoouemparte,noterrenodeorigem.
ImportadestacarqueaTDCeumdosinstrumentosquecontribuiparadarefetividadeaoprincıpiodajustadistribuiçaodosonusebenefıciosdecorrentesdoprocessodeurbanizaçao,previstonojareferidoart.2º,inc.IXdoEC;istoporqueaTDCtemestreitarelaçaodedependenciacomoutroinstrumentoprevistonoEC:aOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir(OODC).E� atravesdaOODCquesede�ineacobrançadecontrapartidaspeloexercıcio,pelosinteressados,dedireitosdeconstruiracimado patamar basico de aproveitamento do terreno, denominado de Coe�iciente deAproveitamentobasico(CAbasico).E� aimplantaçaodaOODC,coma�ixaçaodoCAbasico-comoelementoestruturantedestesistemadepolıticaurbana-quepermitearticularosdoisinstrumentos.
Noambitodoplanejamentourbanomunicipal,aTDCeuminstrumentoalternativoquepodefacilitaraobtençaodeimoveisparaaimplantaçaodeequipamentosurbanosecomunitarios,assimcomoserutilizadaparacompensarosproprietarioscujos imoveissofreramrestriçoesconstrutivasespecı�icas e especiaisde interessepublico, que impeçamsuaedi�icaçao ate oCAbasicoadotado,conformeexplicitaoart.28doEC.
O poder publico municipal, ao decidir adotar a TDC, precisa estar informado quanto anecessidadede conheceros alcancese limitesdaaplicaçaodo instrumento,parao seuadequadofuncionamento, e para evitar efeitos indesejados. Nao menos importante e a compreensao, pelacoletividade,dequeaTDCeuminstrumentoaseraplicadosegundo�inalidadesdeinteressepublico,equeasuaconcessao,comoumbenefıcio,consisteemumaopçaodaadministraçaomunicipal.
AconcessaodobenefıciodaTDCdeveocorrerdentrodasareasdelimitadaspeloPlanoDiretor,eemimoveisconsideradosnecessariosparaas�inalidadesdeutilizaçaonasquaisointeressepublicosesobreponhaaointeresseprivado.E� defundamentalimportanciaalertarasadministraçoesmunicipaiseaos legisladores que a TDC e um instrumento a ser utilizado em condiçoes muito especı�icas,consistindoemumaexceçaomaisdoqueemumaregra.
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Essas e outras questoes sao desenvolvidas ao longo deste caderno, que tem comoobjetivoelaboraraestruturadeentendimentodasbasesconceituaisdaTDC,oalcancedesuaaplicaçao,seus limitesedesa�ios,quepossamservircomosubsıdio asuaregulamentaçaoeimplementaçaopelosmunicıpiosbrasileiros.Paraisso,otextoabordaediscutefundamentosjurıdicoseurbanısticosessenciaisparaacompreensaodospropositosedasformasdeaplicaçaodoinstrumento,explorandoosseuspotenciaisbenefıciosparaoprocessodedesenvolvimentourbanodascidadesbrasileiras.
CARACTERIZAÇÃO GERALDA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
CARACTERIZAÇÃO GERALDA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
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Caracterização Geral Caracterização Geral da TDC
1.OinstrumentodaTDCaparecetambememalgumasexperienciascomoTPC-transferenciadopotencialconstrutivo-,embora,comoveremosmaisadiante,issopossaresultaremumainterpretaçaoinadequadadoinstrumento.
a.De�iniçõeseconceituação
ATransferenciadoDireitodeConstruir(TDC)eumdosinstrumentosdisponıveisparaapoiaraexecuçaodapolıticaurbanamunicipal,dandoe�icaciaasdiretrizesprevistasnoart.2ºdoEstatutodaCidade,LeiFederalnº10.257de2001.Essasdiretrizesdecodi�icamosprincıpiosestabelecidosnoart.182daConstituiçaofederalde1988,especialmenteodequeapolıticaurbanamunicipaltemcomoobjetivo“ordenaroplenodesenvolvimentodasfunçoessociaisdacidadeegarantirobem-estardeseushabitantes”.
A TDC esta referida no Estatuto da Cidade no art. 4º, alınea “o”, como um dosinstrumentos de carater jurıdico e polıtico do planejamento urbano. E o art. 35 dessa leiespeci�icousuascaracterısticas,ouseja,seuobjetolegal,bemcomoasbasesdesuaaplicaçao.
SEÇA�OXIDatransferenciadodireitodeconstruir
Art.35.Leimunicipal,baseadanoPlanoDiretor,poderaautorizaroproprietariodeimovelurbano,privadooupublico,aexerceremoutrolocal,oualienar,medianteescriturapublica,odireitodeconstruirprevistonoPlanoDiretorouemlegislaçaourbanısticadele decorrente, quando o referido imovel for consideradonecessariopara�insde:I–implantaçaodeequipamentosurbanosecomunitarios;II–preservaçao,quandooimovelforconsideradodeinteressehistorico,ambiental,paisagıstico,socialoucultural;III–serviraprogramasderegularizaçaofundiaria,urbanizaçaodeareasocupadasporpopulaçaodebaixarendaehabitaçaodeinteressesocial.§1ºAmesmafaculdadepoderaserconcedidaaoproprietarioquedoaraoPoderPublicoseuimovel,oupartedele,paraos�insprevistosnosincisosIaIIIdocaput.§2ºAleimunicipalreferidanocaputestabeleceraascondiçoesrelativasaaplicaçaodatransferenciadodireitodeconstruir.
OEstatutodaCidadeconsolidou,em ambitonacional,umconjunto instrumentosdepolıticaurbana,frutodeexperienciasmunicipaisanteriores.DentreessesinstrumentosestaaTDC¹,quejasefaziapresenteemvariosPlanosDiretoresmunicipaisdesde�inaisdadecadade1970. A sua utilizaçao esta documentada em diversos estudos tecnicos e academicos queabordamesseeoutrosinstrumentosrelacionadosaosdireitosdeconstruir.
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Figura1:DiferentespossibilidadesdaTDC
Transferência do Direito de Construir (TDC)
Limites urbanís�cosmáximos
Direito de construirbásico
Terreno 1Restrição parcial
à edificação
Terreno 2 Terreno 3Restrição total
à edificação
Terreno 4
O instrumento da TDC consiste na autorizaçao, dada por leimunicipal, para que aadministraçaopublicafaculteaoproprietariodeumdeterminadoterrenourbanoexerceremoutrolocal,oualienarparaeste�im²,oseudireitodeconstruir(basico)quando,porrazoesdeinteressepublicode�inidasnosincisosIaIIIdoart.35doEstatutodaCidade,essedireitodeconstruir(basico)naopossaserexercido,notodoouemparte,noterrenodeorigem.
A�igura1contempladiferentespossibilidadesdatransferenciadodireitodeconstruir.Noterreno1,harestriçaoparcialdodireitodeconstruirbasicoemfunçao,porexemplo,daproteçaodoimovelcomopatrimonioculturalouambiental,equandoestaproteçaoimpeçaqueedi�icaçoesnoloteatinjamareacorrespondenteaodireitodeconstruirbasico;nestecaso,aconcessaodaTDCefeitaparcialmente,comoveremosadiante.Nocasodoterreno3,harestriçaototaldodireitodeconstruirbasico,parautiliza-lo,porexemplo,comoumapraçapublica,oucomo uma area de preservaçao permanente; aı, o direito de construir a ser transferidocorrespondeatotalidadedodireitodeconstruirbasico.Osterrenos2e4-receptoresdodireitode construir transferido de outros terrenos - devem estar em areas consideradas aptas aoadensamentoconstrutivo.
2.JoseAfonsodaSilva(2006)distingueaTDCinterlocativaeaTDCintersubjetiva.Aprimeirasituaçaoequandooproprietariodoimovelurbano,nascondiçoesestabelecidaspelaleimunicipal,combasenoPlanoDiretor,exerceemoutrolocal,desuapropriedade,odireitodeconstruir.Asegunda,quandodireitodeconstruirprevistonoPlanoDiretorouemlegislaçaourbanıs ticadeladecorrenteealienado,nasmesmascondiçoes,paraoutroproprietario.ATDCintersubjetivaetambeminterlocativa.
DireitoouDireitosdeConstruir³?
Oart.28doEstatutodaCidade,aodiferenciarocoe�icientedeaproveitamentobasicodoscoe�icientesmaximos,consolidouoconceitodeque–nodireitourbanısticobrasileiro–janaosedevemaisfalaremdireitodeconstruir,massimemdireitosdeconstruir.Apartirdestanormanacionalgeral,infere-sequehaodireitodeconstruircorrespondenteaocoe�icientedeaproveitamentobasico,mencionadono§2ºdoart.28,epeloqualopoderpubliconaocobraraqualquer contrapartida, e os direitos de construir adicionais aquele direito basico, quecorrespondemaoscoe�icientesmaximosdeaproveitamento,paracujoexercıcioointeressadodeverasolicitaraobtençaodasuaoutorgamediantepagamentodecontrapartida(art.28,caput).
Ora,separaoexercıciodaedi�icabilidadedentrodocoe�icientebasiconaoecobradaqualquer contrapartida, deduz-se que essa e uma faculdade que esta dentro da esferapatrimonialprivada.E� importantelembrarqueodireitodeconstruirbasico,contidonaesferapatrimonial privada, ainda pode estar tambem sujeito as limitaçoes dos regulamentosadministrativos,comoprevistonoart.1299doCodigoCivil.
Poroutrolado,ointeressadopodedesejarconstruiralemdocoe�icientebasicodeusodoimovel.Mas,paratanto,teraqueobterdamunicipalidadeestesdireitosadicionaisaobasicopormeiodeoutorgaonerosa.Ecomoamunicipalidadenaopodeoutorgaroquenaoeseu,especialmente cobrandocontrapartida,deduz-sequeopotencial construtivodeum terrenoacimadocoe�icientebasicoeumrecursourbanısticopublico.
Portanto,podemosconsiderarqueoantes conhecido “direitode construir” e agorabipartido em “direitos” de construir, a saber: o direito de construir basico, decorrente docoe�icientebasicodeusodoimovel,equeestadentrodaesferapatrimonialprivada,eosdireitosdeconstruiradicionais,quecorrespondemaoscoe�icientesdeedi�icabilidadeacimadobasicoateomaximo,equesaorecursosurbanısticospublicos,colocadosadisposiçaodosinteressadosnasuaobtençaoonerosa,mediantepagamentodecontrapartidaaserdeterminadapelalei.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
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Figura1:Recursosprivadoserecursos
urbanísticospúblicos
3.NoBrasil,comoemmuitospaısesdelıngualatina,apalavra“direito”podeterdoissigni�icados:1.Podesigni�icarquealguemtemumdireitoproprio,umdireitosubjetivo,quepodeserporeleexercido;2.podesigni�icartaosomenteumareferenciaaumatipologiadelegislaçao,cujoconjuntocongregadireitoseobrigaçoes,porexemplo:direitocivil,direitotrabalhista,direitoaeronautico,direitourbanıs tico.Paracompreendermelhorestadiferenciaçaosemantica,reporta-seadiferençadeusoeminglesdaspalavraslawerights,quere�letemosdoissigni�icadosdiferentesnousodapalavra“direito”.Nestetrabalho,aosereferiradireitooudireitosdeconstruir,ousodaexpressaoesta rigorosamentenosegundocaso,ouseja, signi�icandoapenasa legislaçaoreferente aquelascondiçoesrelativasaspossibilidadesdeseconstruir.
Direito de construirbásico
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Direito de construiradicional
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
ATDCeuminstrumentodeaplicabilidadecomplexa,tantourbanisticamente,quantojuridicamente,pois trata,demodogeral,da transferenciadodireitodeconstruirbasico,dotitulardodomınio(notodoouemparte)quenaoserealizou;oexercıciodeumafaculdadedeusobasicodeimovelurbanoquenaopodesermaterializadanaformadeumaconstruçaoagregadaaosolo.Trata-se,portanto,desetransferir,paraoutroimovel,parteouatotalidadedafaculdadedeusobasica,naoexercidapelotitulardodomınioemseuimovel.
Daı porque o procedimento para a realizaçao dessas operaçoes de TDC deve serdetalhadamenteprevistoemtodososseusaspectosformaiseprocedimentais.Assim,aleiqueregulamentaraincidenciadoinstrumentodeveincorporaromaximodeelementospossıveissobreoscasosdeincidenciadaTDCeasformasprevistasparasuaoperacionalizaçao,demodoadarsegurançatecnicaejurıdicaatodososatosadministrativosrealizadosquandodasuaaplicaçao.
A previsao da TDC pode abarcar, como ja mencionado, uma grande diversidade desituaçoes, comoos casosde transmissaoounaodapropriedadedos terrenosparaopoderpublico, e a existencia ou nao de benfeitorias, combinados com as diferentes �inalidadesprevistasnoEstatutodaCidade.Alemdisso,parasuaaplicaçao,faz-senecessarioestabelecerpreviamentena legislaçaoumaseriedecondiçoesespecı�icas, taiscomo:oscasosemqueomunicıpio pretende aplicar o instrumento, a de�iniçao das areas e imoveis transmissores ereceptoresdodireitodeconstruirbasico,a formapelaqualaTDCsearticulara comoutrosinstrumentosdepolıticaurbana,comosedaraaparticipaçaosocial,dentreoutroscriterios.
b.Antecedentes
Os antecedentes internacionais da transferencia do direito de construir remetem avariadosentendimentosdassuasfunçoes.Esseconstituiummecanismosujeitoadiferentesapropriaçoes,quevemsendoadotadoeadaptadoemdiversospaısessegundoseuscontextoseespeci�icidades.Issoocorremesmonospaısesqueinspiraramasexperienciasmaisrecentes:Espanha, França eEstadosUnidosdaAmerica.De fato, emuma compilaçaoda experienciainternacionaldaTDC,ZulmaBolıvar(2013)apresentasuautilizaçaocomotecnicadegestaonaEspanha,comomecanismoderegulaçaonaFrança,ecomoferramentaparaapreservaçaodeareassensıveisaalteraçoesurbanısticasnosEstadosUnidosdaAmerica(EUA).
Apesardeimportantesdiferenças comosuautilizaçaoemcasosindividuaisoudentrodeplanosurbanos,aTDCeinstrumentossimilarespercorrem,emcomum,trespassosouetapasdoprocessoderegulaçaourbanıstica.Emprimeirolugar,aatribuiçaoaumterreno,deformaequanimeaoutrosnamesmazonaouemsituaçoessimilares,deumdeterminadodireitodeconstruirbasico;emumsegundomomento,arestriçaoaestedireito,porrazoesespecı�icasdeinteressepublico;e,�inalmente,apossibilidadedautilizaçao,emoutroterreno,daqueledireitodeconstruirrestringido.
4. O Codigo Civil de 2002 de�ine, em seu art. 79, que “Sao bens imoveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ouarti�icialmente”e,emseuart.92,que“Principaleobemqueexistesobresiabstrataouconcretamente;acessorioeaquelecujaexistencia supoeadoprincipal”.Daı conclui-sequea construçao seriaoacessorioqueadeririaaoprincipal,o solo,objetodapropriedadeinscritanoRegistroImobiliario.
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NaEspanha,atecnicadaTDC eabaseparaagestaodoprocessodeurbanizaçao,emparticulardoparcelamentodosolo.Elaeaplicadadentrodeumplanourbanopararedistribuiros aproveitamentos entre os terrenos, e obter areas para a implantaçao de equipamentosurbanoseareasverdes.Masseuusotambemserveapreservaçaodopatrimoniopaisagıstico,historico,culturalouarquitetonico.
NaFrança,aideiadaTDCseconcretizouemconjuntocomaversaofrancesadaOODC,nasegundametadedosanosde1970.Essesinstrumentospermitiramaconstrutoresepromotoresimobiliarios a compra do direito de construir de lotes vizinhos porventura afetados porrestriçoesdeaproveitamentourbanıstico,comoalternativaoucomplementaçaodaaquisiçaoamunicipalidadededireitosdeconstruçaoadicionaisacimadocoe�icientedeaproveitamentobasico.Apesardeoinstrumentotersidosubstituıdonaregulaçaourbanafrancesaporoutrosdeconcepçaourbanamaisintegral,anoçaodaTDCcontinuaaseraplicadaemoutrassituaçoes,comopor exemplo, na preservaçao de areas naturais no entorno de areas adensaveis. EstasituaçaopodeserilustradapelocasodaestaçaodeesquidePrazdeLysSommand,citadoporVincent Renard (2001), no qual o direito de construir oriundo das areas preservadas foitransferidoparaocomplexohoteleirodeesqui.
NosEstadosUnidosdaAmericaencontramosasprincipaisreferenciasaTDC.Emborapresente em algumas cidades do paıs desde �ins da decada de 1970, e curioso observar atrajetoriadeutilizaçaodoinstrumento,poissuaaplicaçaomajoritaria,hoje,naoeamesmadesuas experiencias iniciais. O instrumento, em suas primeiras aplicaçoes, foi usado para apreservaçao de importantes marcos arquitetonicos e historicos em grandes cidades, emresposta as pretensoes de seusproprietarios de substituiçao dessas construçoes pornovasedi�icaçoesemaltura(torres).Comoexemplo,haoscasosdaedi�icaçaodoBankofCaliforniaemSaoFrancisco,umaconstruçaode1908,relatadoporJohnCostonisemsuafamosapublicaçaosobreotema-SpaceAdrift(apudSchnidman,1978,p.537),eodaGrandCentralStationdeNovaIorque,queadquiriugrandenotoriedadedevidoaseuvalorafetivoparamuitasfamıliascujospatriarcas chegaram a cidade nessa estaçao ferroviaria. Nos dois casos, como em outrossimilares naquele paıs, os ındices construtivos atribuıdos ao imovel restringido foramredistribuıd osentreterrenosadjacentes.
Contudo,poucoapouco,ecommaisforçaapartirdosanosde1990,oinstrumentopassaatercomoprincipalfunçaocontribuirpararesolveracrescentequestaodamanutençaodeareaslivres,cinturoesverdes,areasagriculturaveisnoentornodascidades,eareasdeconservaçaoambiental. Outro aspecto considerado e o uso do instrumento para conter o espraiamentourbano caracterıstico das cidades norte-americanas. Nesse caso, sao de�inidas areastransmissoras (as que se pretende preservar, usualmente fora da zona urbana), e areasreceptoras(aspassıveisdeadensamentonointeriordascidades).
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
5.TransferenciadeAprovechamientosUrbanísticos(TAU).6.TransferdePlafondLégaldeDensité(TPLD).OTPLDetido,noBrasil,comoabaseconceitualparaoSoloCriado,posteriormenterenomeadodeOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir.7.ComoasZonesd'AménagementConcertés(ZAC),conceitosimilaraodasOperaçoesUrbanasConsorciadas(OUC)doBrasil.8.TransferableDevelopmentRights(TDR).9.Estapublicaçaode1974,incluindouma�iguraexplicativadamecanicadoinstrumento,constadepublicaçoesseminaissobreasdiscussoesdosolocriadoedaTDCnoBrasil.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
A partir dos anos de 1990, essas versoesmais tradicionais da TDC vieram inspirar ainserçaodeinstrumentossimilaresnalegislaçaourbanısticadascidadeslatino-americanas,ouatenaregulaçaonacionaldepaısescomoMexico,Colombia,Venezuela,Argentina,I�ndia,dentreoutros.
NoBrasil,aformulaçaoconceitualdaTDC,assimcomodaOODC,sedesenvolveuapartirdemeadosdosanosde1970;estaformulaçaoteminspiraçaomista,poisbaseou-senanoçaofrancesadesolocriado,associadaaconcepçaodatransferenciadedireitosdeconstruir,nosmoldesnorte-americanos.
Haquementendaquecompensaçoesedilıc iasnoproprioloteseriamantecedentesdaTDC,comonoscasosemque,havendoexpropriaçaoparcialdolote,oproprietarioaceitaserpago,ou“compensado”,comafaculdadedeconstruir,norestantedolote,amaisdoqueoındiceordinariamente atribuıdo ao terreno remanescente. Porem, neste caso, nao ha terrenostransmissoresereceptores,enemalienaçaododireitodeconstruirpeloproprietario;porisso,essahipotesenaosecaracterizacomoumantecedente,estritosenso,daTDC.
c.FundamentosnoBrasil
AorigemdasdiscussoessobreaTDCnoBrasilestaligadaaosestudosedebatessobre“SoloCriado”,ocorridosapartirdasegundametadedadecadade1970.Estanoçaofoi,aepoca,disseminadaapartirdapublicaçaodetextoselaboradosporestudiososdotema.
“De um ponto de vista puramente técnico, toda vez que uma construção proporcionar uma área u�lizável, maior do que a área do terreno haverá criação de solo. De um ponto de vista prá�co, poderá ser considerado como SOLO CRIADO, a área construída que exceder uma certa proporção de área do terreno. Baseado neste conceito de SOLO CRIADO, podemos propor três novos instrumentos extremamente importantes para o controle do uso do solo, a saber: coeficiente de aproveitamento único; transferência de direitos de construir; proporcionalidade entre áreas construídas e áreas de uso público.” (Azevedo Ne�o et al., 1977, pp. 9-10).
Essanoçaopartedoentendimentodequeosdireitosdeconstruirdeumterrenourbano,acimadocoe�icientedeaproveitamentobasico,naoeumatributoinerenteapropriedadedoterreno,masumaconcessaodopoderpublico.Assim,de�inindo-seoındicebasicocomoumamesma proporçao para todos os terrenos urbanos por meio de um coe�iciente deaproveitamento em princıpio unico busca-se efetivar a equidade urbanıstica entreproprietarios.Essetipodemecanismoecapazdeminimizarodesequilıb rioeconomicoqueresultadasnormasurbanısticas,queatribuemintensidadesdeadensamentodiversasparaosterrenosemrazaodasdecisoestecnicasdoplanejamentourbano.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
O fundamento do “Solo Criado” vai ao encontro do entendimento jurıdico, expostoanteriormente,dequeosdireitosdeconstruirlimitadospelosındicesconstrutivosadicionaisacimadoındicebasico-previstosporleiparaumterrenourbanolocalizadoemdeterminadazona-pertencemacoletividade.Deduz-sedaıqueexistaumındicedeedi�icabilidadebasico,atribuıvelaosterrenosurbanos,quevisadaratodosostitularesdedomınio,umusoutilbasicoasuapropriedade,conferindo-lhe,essencialmente,conteudoeconomico;istoporque,emregra,sepressupoequetodoterrenourbanoprivado,paraterumusoutilbasico,tenhaqueedi�icaralgo.Destemodo,esteındiceoucoe�icientebasicoconstituiria,emprincıpio,direitosubjetivodoproprietarioaoexercıcioutildesuapropriedadeimobiliaria,razaopelaqualnaohacobrança,pelopoderpublico,peloexercıciodestedireitobasicodeuso.
Porem, eproprioda funçaopublicade regulaçaourbanısticaatribuiradensamentosmaiores ou menores para areas e terrenos especı�icos, sempre visando os interesses doplanejamentourbano,observandosempreainfraestruturainstaladanasdiferentesareasdacidade, os equipamentos urbanos existentes, as areas livres, as possibilidades de acesso aserviçosurbanoseaqualidadeambiental.OconceitodeSoloCriadopermiteentaoqueovaloreconomico dos adicionais edilıc ios, decorrente dessas regulaçoes, que so sao possıveis emfunçao de toda infraestrutura urbana publica instalada, e que tem um signi�icativo valoreconomico,sejaapropriadopelacoletividade,pormeiodaaplicaçaodaOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir(OODC).10
CARTADOEMBU–11dedezembrode1976
“Conclui-seque:1.E� constitucionala�ixaçao,pelomunicıpio,deumcoe�icienteunicodeedi�icaçao
paratodososterrenosurbanos. 1.1A�ixaçaodessecoe�icientenaointerferecomacompetenciamunicipalparaestabelecer ındices diversos de utilizaçao dos terrenos, tal como ja se faz,mediantelegislaçaodezoneamento. 1.2Todaedi�icaçaoacimadocoe�icienteunicoeconsideradasolocriado,querenvolvaocupaçaodeespaçoaereo,queradesubsolo.
2.E� constitucionalexigir,naformadaleimunicipal,comocondiçaodecriaçaodesolo,queointeressadoentregueaopoderpublicoareasproporcionaisaosolocriado;quando impossıvel a oferta destas areas, por inexistentes ou por nao atenderem ascondiçoes legaisparatantorequeridas, eadmissıvelsuasubstituiçaopeloequivalenteeconomico. 2.1Oproprietariodeimovelsujeitoalimitaçoesadministrativas,queimpeçamaplenautilizaçaodocoe�icienteunicodeedi�icaçao,poderaalienaraparcelanaoutilizaveldodireitodeconstruir. 2.2 No caso de imovel tombado, o proprietario podera alienar o direito deconstruircorrespondenteaareaedi�icadaouaocoe�icienteunicodeedi�icaçao.”
10.VeroCadernoTecnicodeRegulamentaçaoeImplementaçaodaOODC.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Todoesseconjuntodeideiasurbanısticasejurıdicasfoiobjetodeamplodebatetecnico,eseuconteudoresultou,em1976,na“CartadoEmbu”,documento�inaldeumSeminariosobreSoloCriadoorganizadopeloCEPAM–CentrodePesquisasdaAdministraçaoMunicipal(SP).Estedocumentoehojeconsideradoumareferencianacionalparaotema.
AsideiasconsolidadasnaCartadoEmbu,comoveremos,saoasqueiraoorientarasde�iniçoesadotadaspeloEstatutodaCidadeparaaOODCeaTDC.Taisde�iniçoesestabeleceramuma necessaria e estreita relaçao entre esses dois instrumentos, ambos relacionados aoconceitodeSoloCriado,eaoestabelecimentodeumpatamarbasicocomumdeedi�icaçaoparaosterrenosurbanos.
d.OsCoe�icientesdeAproveitamentonaTDC
Oındicedeedi�icabilidadebasico,atribuıdoaosterrenosurbanosequelhesconfereumuso util economicomınimo, foi incorporado ao Estatuto da Cidade, em seu art. 28, com adenominaçao de Coe�iciente de Aproveitamento basico (CA basico). A importancia de seestabeleceroCAbasicocomoumpatamardeedi�icaçaoqueconfereutilidadesocialevaloreconomicoaosterrenosurbanos,foiobjetodaResoluçaoRecomendadanº148doConselhodasCidades, aprovada em 07 de junho de 2013. Esta Resoluçao, ao estabelecer diretriz deordenaçaoterritorialparaosplanosurbanısticosdascidadesbrasileiras¹¹,relacionaoCAbasicocom os demais instrumentos que inter�iram, direta ou indiretamente, sobre os direitos deconstruir,eoposicionacomoprincıpiobalizadordapolıticafundiariaurbanamunicipal¹².
A referida Resoluçao n° 148/2013 decodi�ica o art. 28 do Estatuto da Cidade, parapermitir o entendimento de que os coe�icientes de aproveitamento acima do CA basicocorrespondem a recursos urbanısticos publicos. Portanto, os coe�icientes maximos deaproveitamento,oudireitosdeconstruiradicionais,naointegramoconteudopatrimonialdedomınioprivado,razaopelaqualopoderpublicopodeedevecobrarcontrapartidapelasuaoutorgaaosinteressadosemutiliza-los.
Por via de consequencia, os coe�icientes de aproveitamento ou ındices construtivosacimadoCAbasicoateoslimitesmaximosdeaproveitamento,previstosemleiecomumentechamadosdedireitosdeconstruir,naopertencemaoproprietariodoterrenourbano,e,porisso,naosao,enuncaforam,direitosadquiridosseus,e,nemmesmo,antesdalicençadeconstruçao,umdireitosubjetivoaedi�icaçao.
Destemodo,paraseoperacionalizaraTDC,ecompatibiliza-lacomaOODC,haqueseentenderqueoproprietariosomentepoderatransferir,viaTDC,umdireitoseu.Ouseja,elenaopoderatransferir,aindaqueatıtulodecompensaçao,oequivalenteaosındicesurbanısticosmaximos,ındicesestesqueestaoforadaesferapatrimonialprivada,equeelesopodeadquirirmediantecontrapartida.DaıporqueaTDCsoocorreradentrodos limitesnaoexercidosdocoe�icientedeaproveitamentobasicodoterreno.
11.Verart.21,incisoIXdaCF/1988.12.Paramaisdetalhes,comoaadoçaodecoe�icienteunicoeunitariooudecoe�icientesmenoresqueumemsituaçoesespeciais,veraResoluçaonaıntegraemanexo.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Assim, ao argumento usado para a OODC de que “... somente faz sentido prever apossibilidade de outorga onerosa (de todo modo, uma faculdade que assistirá ao particularinteressadoemedi�icarparaalémdocoe�icientebásicodeaproveitamento)sepreexistiranoçãodequeaedi�icaçãoparaalémdestesparâmetrosconstituicriaçãodesoloàqualnãocorrespondeum direito subjetivo do particular” (MarquesNeto, 2002, p. 232), podemos adicionar o seucomplemento em relaçao a TDC: de que somente faz sentido prever a possibilidade datransferenciadedireitos construtivos sepreexistir anoçaodequeodireitopatrimonialdoparticularestaranomaximocircunscritoaoCAbasicodeseuterrenourbano.
É o coeficiente de aproveitamento básico (e não os coeficientes máximos de edificabilidade) o parâmetro para incidência da autorização, pelo poder público municipal, de transferência de direito de construir pelo proprietário do terreno, quando sobre este coeficiente básico incidirem limitações administra�vas que lhe restrinjam este uso básico, de forma parcial ou total.
No entanto, nem toda restriçao imposta sobre o CA basico devera ser objeto,necessariamente,deTDC.Imoveisespecı�icospodemterumaproveitamentomenor,como,porexemplo,os terrenos localizadosem areasde interesseambientalemzonasurbanas.Nestasareas,oslotespodemter,emfunçaodesuasespeci�icidades,maioresdimensoesecoe�icientesdeaproveitamentomaisreduzidosemrelaçaoaosdemaislotesurbanos.Porisso,sobreesteaspectoparticular,o§2ºdoart.28previuapossibilidadedaadoçaodeumCAbasico“unicoparatodaazonaurbanaoudiferenciadoparaareasespecı�icasdentrodazonaurbana”.(grifosnossos)
Aautorizaçaoparanegociaçaododireitodeconstruirbasicoentreproprietarios,viaTDC,comoformadecompensaçaoemfunçaodaincidenciadelimitaçoesadministrativassobreoterreno,apenasseexplicaemcasosdeincidenciasespeciaiseanormais:situaçoesespeciaisemque �ique caracterizado evidente prejuızo ao exercıcio de uso ou edi�icaçao no terreno,dentrodocoe�icientebasico,emfunçaoderestriçaoimpostaaumimovelespecı�icoemrelaçaoaosimoveisproximos,emdeterminadazonadacidade.
Toda TDC tem como limite de alienação, ou exercício em outro local, o coeficiente de aproveitamento básico, mas nem toda restrição ao CA básico é objeto de TDC.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
AlemdoCAbasico,oschamadosdireitosdeconstruirserelacionamtambemcomoslimitesmaximosdeedi�icaçao,talcomoestabelecidono§3ºdoart.28doEstatutodaCidade.Oscoe�icientesdeaproveitamentomaximosedemaisındicesurbanısticos¹³saode�inidospelasnormasdeplanejamentourbanoem funçaodomodelodeocupaçaourbanapretendido, dacapacidadedesuportedainfraestruturapublicaeequipamentosurbanosparaoadensamentodecadaareadacidade,eaindacomoparametrosderegulaçaodedensidadesconstrutivasehabitacionais, segundosuaadequaçao asorientaçoesdeusoeaproveitamentodasdistintaszonasdacidade.
OsdireitosdeconstruiradicionaisaoCAbasico,aoseremviabilizadospelanormativapublica em funçao da infraestrutura instalada, conforme diretrizes contidas no art. 2º doEstatutodaCidade,especialmentenoseuincisoVI,eateolimitemaximode�inidoparacadaareasao,porconsequencia,recursosurbanısticospublicos,recursosdeedi�icabilidadeque,porestarazao,sopoderaoserexercidosseforemadquiridos.Estaaquisiçaopodesedardeduasformas:amaiscomumseriapormeiodaOODC,mediantepagamentodecontrapartidaaopoderpublico;ou, entao, o interessado podera adquirir esses direitos de construir, mediante aquisiçao erecepçaodaTDC,oriundosdeoutrossetoresdacidade.
PRINCÍPIOSJURÍDICOS
OEstatutodaCidadeconsolidouprincıpiosjahamuitotempoexistentesnodireitobrasileiro,emespecialdoisdeles:oprincıpioquevedaaAdministraçaoconcederdireitose/ouvantagens,graciosaenaoisonomicamente,aparticulares,especialmentequandodelesresulteproveitoeconomico;eoprincıpiodavedaçaodoenriquecimentosemcausa,princıpiogeraldedireitoqueseencontra,atualmente,explicitadonoart.884eseguintesdoCodigoCivilbrasileirode2002.
Ora, e fatoincontroversoquequandoa legislaçaourbanısticapreve,concedeepermite usos e aproveitamentos maximos diferenciados a terrenos urbanos, destadiversidaderesultam,tambem,patamaresporvezesbastantediferenciadosnospreçosdas propriedades imobiliarias urbanas. Porem, em funçao dos princıpios acimamencionados,edasdiretrizescontidasnoEstatutodaCidade,impoe-seumaintervençaoporpartedopoderpublico,nosentidodecorrigirestasdistorçoesquecausamnaosoiniquidadesurbanısticas,comotambemenriquecimentosemcausa.
E� sobretudoadiretrizcontidanoart.2º,incisoIXdoEstatutodaCidade,queimpoeao poder publico, quando no exercıcio de seu poder-dever de planejar e promover aurbanizaçaodeformaequanimeparatodososcidadaos,proprietariosounao,queaOODCe,emdecorrencia,aTDC,encontramseurespaldoconceitual. E� nestedispositivoqueseestabelecequeapolıticadedesenvolvimentourbanodeveatendera“justadistribuiçaodosbenefıcioseonusdecorrentesdoprocessodeurbanizaçao”.(grifosnossos)
13.I�ndicesurbanısticoscomotaxasdeocupaçao,gabaritosoualturasmaximas,ındicesdepermeabilidade,recuos,afastamentos,tiposdeusoetc.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Aprincipalconsequenciadestecomandoimplicaequalizaroındicedeaproveitamentodoterrenocomumatodososproprietarios,atravesdochamadocoe�icientedeaproveitamento(CA)basico.Assim,aspossibilidadesdeconstruiracimadoCAbasico,limitadasaoestabelecidopelos ındices urbanısticos maximos, se tornam, de fato e de direito, nao so recursosurbanısticospublicos,comotambemrecursoseconomicosdacidade,jaqueseraooutorgadosonerosamenteaprivados,segundoointeresseeaspossibilidadesnormativasdacidade.Daıque e conceitualmente impreciso referir-se a TDC como Transferencia de PotencialConstrutivo,aindaquetenhasidoassimdenominadaemalgumaslegislaçoesmunicipais.
Eventualmente,aindapodehaverquemquestioneseosındicesurbanısticosmaximos,permitidos e outorgados gratuitamente aos proprietarios pelo poder publico em algumaslegislaçoesmunicipais,seriam,ounao,“direitosadquiridos”dostitularesdedomınio;estamosnosreferindoaıahipoteseemqueosproprietariosaindanaomaterializaramasconstruçoesem seus lotes. Considerar que os proprietarios teriam direitos adquiridos aos ındices deedi�icabilidade apenas previstos em lei, mas ainda nao realizados, e um entendimentojuridicamenteequivocado,mascompreensıvel,jaquemesmonaorealizadasasconstruçoes,otao somente fatodeos ındices atribuırem, gratuitamente, coe�icientesde edi�icabilidadeamaior,fazcomqueestesoperemexpectativaseconomicasdeaumentodepreçoprivadodolote;ouseja,ganhosdosproprietariosporfatosalheios asuavontadeouesforço,geradosexclusivamente pela norma urbanıstica, editada em funçao dos interesses publicos e dainfraestruturaurbanıstica.
A jurisprudencia brasileira, contudo, em dois julgamentos do Supremo TribunalFederal(STF),jaseposicionousobreessasquestoes.Aprimeiradecisao,noanode1985,dizrespeitoaquestaodanaturezajurıdicadochamadodireitodeconstruir,eseeleintegraria,ounao,antesdaedi�icaçao,odireitopatrimonialdodonodoterreno. Adecisaoconsolidouoentendimentodequeaprevisao,nalei,deındicesconstrutivosnaoatribuiaoproprietario“direitoadquirido”aoexercıciodaquelafaculdade.Restou,portanto,assentadoqueochamado“direitodeconstruir”emerafaculdadededireito,equenaohadireitoadquiridoaconstruçaosenaoquandojativersidodeferidaalicençadeconstruçao,einiciadaaobra,e,aindaassim,nostermosdessalicença.
AsegundajurisprudenciadoSTFessencial acompreensaodamateria–oRecursoExtraordinario387047de2008-emuitomaisrecente,edizrespeitoanaturezajurıdicadochamadosolocriado.OcasodecididosedeuapartirdalegislaçaomunicipaldeFlorianopolis,jaqueanosantesdeaOODCaestarprevistanoart.28doEC,aquelemunicıpiojapreviraoinstituto, com o nome de solo criado. Foi proposta a açao para questionar aconstitucionalidade,alegalidade,ealegitimidadedesteinstrumentofrenteaoordenamentojurıdiconacional.ChegandoalideaoSTF,depoisdepassarportodasasinstanciasinferiores,aSupremaCorte reconheceunao so a legitimidade, como tambema constitucionalidadedacobrançadacontrapartidaporcoe�icientesdeedi�icabilidadesuperioresaobasico,naepocachamadosdesolocriado,ehojedenominados,peloEstatutodaCidade,comoOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir.
14.OleadingcaseresolvidonoRecursoExtraordinario85002,cujorelatorfoioMinistroMoreiraAlves.15.TevecomorelatoroMinistroErosGrau.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
e.ATDCnoEstatutodaCidade
ATDCestaprevistanoartigo35daLeiFederalnº10.257,de2001,oEstatutodaCidade,econtem varios elementos a serem detalhados para melhor entendimento dos alcances doinstrumento,edasbasestecnicaelegalparaasuaaplicaçao.
i.Ocaputdoartigo35doEC
Lei municipal, baseada no Plano Diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no Plano Diretor ou em legislação urbanís�ca dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de:
Observa-sequeaadoçaodaTDCcomoinstrumentodapolıticaurbanaeumaprerrogativamunicipal.OmunicıpioquevieradecidirincluiraTDCnoseuroldeinstrumentosdeverapreve-laemseuPlanoDiretore,posteriormente,aprovarleimunicipalespecı�icadetalhandoascondiçoesparasuaaplicaçao,conformedeterminaexpressamenteoparagrafo2ºdoart.35.16
§ 2° A lei municipal referida no caput estabelecerá as condições rela�vas à aplicação da transferência do direito de construir.
ii.OsincisosIaIIIdoartigo35
I - implantação de equipamentos urbanos e comunitários;II - preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, paisagís�co, social ou cultural;III - servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e habitação de interesse social.
16.OselementosnecessariosparaaregulamentaçaodaTDCnoPlanoDiretorenaleimunicipalespecı�icaestaoapresentadosnoitem3.h.
Esses dispositivos da lei indicam as hipoteses de aplicaçao da TDC. E� importanteobservarqueemqualquerdessaspossibilidades,aaplicaçaodaTDCsosejusti�icaemrazaodointeressepublico,ecomoumaprerrogativadopoderpublicomunicipal.Vejamoscomo istoocorre.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
A aplicaçao do instrumento para a implantaçao de equipamentos urbanos ecomunitarios constituiumapossibilidadede suprirdi�iculdadesmunicipaisnaobtençaodeterrenosouimoveisnecessariosarealizaçaodeprojetosdeobraspublicas,como,porexemplo,paraaimplantaçaodeumaescolaouaduplicaçaodeumaviapublica.Nestecaso,ousodaTDCpoderaevitargastosderecursos�inanceirosdiretospelomunicıpioe,comsuautilizaçao,haverumimpactorelevantenareduçaodocusto�inanceirodessasobras,porvezesinadiaveis.Elatambem pode possibilitar uma maior agilidade na obtençao desses imoveis, como ummecanismodesubstituiçaoadesapropriaçao,desdequehajaconcordanciadosproprietarios.
A TDC tambem podera ser utilizada como instrumento para obtençao de terrenosdirecionadosaosprogramasderegularizaçao fundiaria,urbanizaçaode areasocupadasporpopulaçaodebaixarendaehabitaçaodeinteressesocial.ValeressalvarqueaTDCseaplicasomenteemcasosnosquaisosimoveisjanaotenhamsidoadquiridosporusucapiao.
Da mesma maneira como nos casos de terrenos necessarios a implantaçao deequipamentosurbanosecomunitarios,aTDCparatais�inalidadespermiteadesoneraçaodoscofres publicos de gastos imediatos para a �ixaçao de populaçao de baixa renda, podendoconferirmaioragilidadeaesteprocesso.AutilizaçaodaTDCparatais�inalidadespodepermitir,sobretudo,aresoluçaodoscon�litosfundiariosemareasdeterceirosocupadasporpopulaçaodebaixarendapara�insdemoradia.
Nos casos de preservaçao, quando o imovel for considerado de interesse historico,ambiental,paisagıstico,socialoucultural,aTDCpodeseraplicadaparaaobtençao,pelopoderpublicomunicipal, dos imoveisprotegidos, oupode servir como compensaçao, excepcional,aquelesproprietariosque,emfunçaodalimitaçao,vierematerodireitodeconstruirbasicorestringido,ouatesuprimido.Valenotarqueambasaspossibilidadesexistemtantonocasodeterrenosquevenhama serusados como areasdepreservaçao ambiental, comono casodereconhecimentodovalorculturaldoimovelpelopoderpublico.
Assim, a TDC pode funcionar, quando for o caso, como uma forma alternativa adesapropriaçao,paraaquisiçaodeimoveisdeinteressepublico,nostrescasosindicadosnosincisosdoart.35doEC.
Porem, deve-se atentar que a TDC nao pode ser utilizada como forma unilateral depagamentodeumadesapropriaçaopelopoderpublico,umavezqueaConstituiçaofederalde1988(art.5º,XXIV)exigequeadesapropriaçaosejapagapreviamenteemdinheiro.E� imprescindıvelesclarecerqueaopçaopelousodaTDC,comoformadeaquisiçaodapropriedadepelopoderpublicoalternativaadesapropriaçao,eumadecisaoaseraceitavoluntariamentepeloproprietariodoimovel,jaquecabeaele,proprietario,optarporreceberaindenizaçaoemdinheiro,oufazerumapermutadoseuimovelpelaTDC.
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17.Constituiçaofederalde1988,art.5º,XXIV–“aleiestabeleceraoprocedimentoparadesapropriaçaopornecessidadeouutilidadepublica,ouporinteressesocial,mediantejustaepreviaindenizaçaoemdinheiro,ressalvadososcasosprevistosnestaConstituiçao.”
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Omunicıpio,aoutilizaraTDCcomoalternativaadesapropriaçao,adquirindoumbemparaqualquerdas�inalidadesprevistasnoart.35,incorporaraomesmoaoseupatrimonio.Noentanto, no caso do inciso III (regularizaçao fundiaria), os imoveis incorporados poderao,eventualmente,serobjetodecessaooutransferenciaaterceirosposteriormente,nostermosdalegislaçaopertinente.
TalcomonaOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir,masvistapelo “outro ladodamoeda”, a aplicaçao da TDC nos casos relacionados ao caput do art. 35, da concretude aoprincıpioda“justadistribuiçaodosbenefıcioseonusdecorrentesdoprocessodeurbanizaçao”,diretriz prevista no art. 2º, inc. IX do Estatuto da Cidade, possibilitando compensar oproprietarioemfunçaodeinteressespublicosespeciais.
OquadroaseguirapresentaashipotesesprevistasparaoincisoII.
Art. 35 - Hipóteses do inciso II (preservação)
Propriedadedo imóvel
A propriedade do imóvel con�nua com o proprietário.
A propriedade do imóvel é transferida para o poder público municipal.
Por meio de doação(art. 35, § 1º
referente ao fim previsto no inc. II)
(art. 35, inc. II) (art. 35, inc. II)
Condição aplicada
Restrição total(Ex.: preservação
ambiental)
Restrição parcial(Ex.: preservação de edificação cultural)
Imóvel necessário para interesse
públicoPor Doação
Recebe o direito de construir
correspondente ao CA básico do
terreno+
Indenização em dinheiro por benfeitorias.
Recebe o direito de construir
correspondente à diferença entre o
CA básico do terreno e a área
da edificação existente.
Recebe o direito de construir
correspondente ao CA básico do
terreno.
Recebe o direito de construir
correspondente ao CA básico do
terreno.
Proprietário
Concessão de TDC como
faculdade do poder público.
TDC como alterna�va à
desapropriação.
TDC como compensação a restrições especiais e anormais ao direito de
construir básico.
Finalidade da TDC
Quadro1–AplicaçãodaTDCnoscasosprevistosparaoincisoII,art.35doEstatutodaCidade.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
iii.Oparágrafo1ºdoartigo35
§ 1º A mesma faculdade poderá ser concedida ao proprietário que doar ao poder público seu imóvel, ou parte dele, para os fins previstos nos incisos I a III do caput.
Haqueseentenderqueesteparagrafoserefereaumasituaçaodiversadaqueladispostanocaputdoartigo35.Trata-sedeumaampliaçaodaaplicaçaodaTDC,emboraparaasmesmas�inalidadesprevistasnos incisos I a IIIdocaputdoart.5;mas,nocasodeste§1º,havera aaplicaçaodaTDCsehouverdoaçaodeimovelporpartedoproprietarioaopoderpublico.Mas,sendoambosaplicaveisaosincisosprevistos,eprecisoentenderemquesentidooparagrafo§1ºdoart.35sediferenciadocaputdomesmoartigo.
Aprimeirapartedocaputdoart.35tratadesituaçoesimpostasaosproprietariospelopoderpublico,destinadaacasosemqueosimoveisseapresentemcomoimprescindıveisaosinteressespublicosdescritosnosincisosIaIII.Estanecessidade,tenhaelacomoresultadoatransferencia do imovel para o poder publico, ou no caso em que represente apenas umalimitaçao que permita a manutençao do imovel com o proprietario privado, se concretizamedianteatodeclaratoriodointeressepublico,porpartedosetorpublicocompetente.Aposestadeclaraçaoformal,aleifacultaaopoderpublicoautorizaroproprietarioaalienar,ouexerceremoutrolocal,odireitodeconstruirbasicocorrespondenteaoimoveltransferidoaopoderpublico,ou,nocasodeimoveisedi�icadossujeitosapreservaçao,aparcelanaoexercidadessedireito.
Jao§1ºdomesmoartigotratadeumatovoluntarioporpartedoproprietariodoimovel.OinstitutodadoaçaoestaprevistonoCodigoCivilbrasileirode2002,emseuart.538,comoumatodeliberalidadedodoador,aindaquehajaencargo:“Considera-sedoaçaoocontratoemqueumapessoa,porliberalidade,transferedoseupatrimoniobensouvantagensparaodeoutra”(grifosnossos).
E� importantedestacarqueopoderpublicopodeaceitarourejeitaradoaçaoensejadapeloproprietariodoimovel,emfunçaodosinteressesdamunicipalidade.Ouseja,estapossibilidadeserefere,emgeral,ainiciativadoparticularquepode,ounao,coincidircomprojetospublicosquesejamdesejaveis,masnaoimprescindıveisnaquelemomento.Assim,nessescasos,senaohouveracordoquantoaTDCoferecidapelopoderpublicoaoproprietariocomoeventualencargodadoaçao,estapoderanaoserealizar,jaquenaoeimprescindıvel,masapenasdesejavel.
Poder-se-ia perguntar por que, ou em que situaçoes um proprietario de imovel urbanodesejariadoarseuimovel,ereceberemtroca,comoeventualencargodadoaçao,odireitodeconstruirbasicocorrespondenteaoseuterreno,paraexerce-loemoutrolocaloualiena-lo.Arespostaseriaadequepodehaversituaçoesnasquaiselejanaopossa,ounaoqueira,manteroimovel.Saoexemplos:umimovelcomumaedi�icaçaoantigaedeterioradacujarestauraçaosejademasiadocustosa;umimovelcujotombamentotenharestringidoasuaadaptaçaofısicaparaos�insdesejadospeloproprietario;umimovelcujatributaçaoanualnaoestejaaoalcancedoproprietario,ouumterrenocujascaracterısticasfısicastornemaconstruçaodifıcilecara,masquesirvamparaopoderpublicoparaos�insprevistonoincisoI;e,umahipoteserelativamentecomum,umimovelquetenhasidoocupadoporpopulaçaodebaixarenda,equeinteresseaopoderpublicoaregularizaçaodaquelasituaçaohabitacional.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Nahipotesedo§1ºdoart.35,entende-sequeoproprietario,doadordoimovel,quandoofereceoseuimovelaopoderpublicoestacientequeobenefıcioquepoderarecebercomoencargo da doaçao corresponde ao equivalente a seu direito de construir basico em TDC,havendoounaoedi�icaçoesououtrasbenfeitoriasemseuterreno.CabeaeleavaliarseternasmaosovalordaTDClheemaisbene�icodoquemanteroimovelemseudomınio.
Essaeoutradiferençadacondiçaodenecessidadepublicaexpressanocaputdoart.35,poisaquela,quandofuncionacomoformadeaquisiçaoalternativaadesapropriaçao,precisaconsideraroCAbasicodoterrenopara�insdeconversaoemTDC,etambem,separadamente,asbenfeitoriasnelerealizadas,aseremindenizadasemdinheiro,ouquesejamreconstituıdaspelopoderpublico,casohajaessapossibilidade.IstoparaquenaosetransformeaTDCemmoedadepagamentodequaisquertiposdeindenizaçoes.
Oentendimentoeque,nousodaTDCcomoalternativaadesapropriaçao,naosedeveabsorver o valor da benfeitoria na concessao da TDC, ja que isso representara a perda decorrespondenciaemmetrosquadradosentreoterrenotransmissoreoreceptor,aumentandoorisco de "inundar" a cidade com direitos de construir, sem vinculaçao com os ındicesconstrutivos,esemumacorretaavaliaçaodoimpactodorealexercıciodessedireito.SeriaatransformaçaodaTDCemmoeda,comojaa�irmado,oqueseriavedadopelosistema�inanceirodo paıs. A TDC se refere, exclusivamente, a direitos de construir e deve haver um cuidadoextremo em limita-la a isso, sob pena de desvirtuar-se, e perder-se como instrumento deplanejamentourbanoparaoqualfoielaborada.
Opagamentopelasbenfeitoriasemdinheiro(ou,comoopçao,recompostasnocasodetransferencia da propriedade somente de parte do imovel) contribui para um maiorcomprometimentoe responsabilidadedomunicıpio,quando �izeralgumprojetoqueexijaaincorporaçaodeterrenosdeparticulares.
Imóvel a ser transferido ao poder público para os fins previstos nos incisos I a III do art. 35 do Estatuto da Cidade (TDC)
Caput do art. 35:Necessário para fins públicos (incisos I a III).
§ 1º do art. 35:Doação (incisos I a III).
Inicia�va do poder público Inicia�va do proprietário (ato voluntário)
TDC equivalente ao CA básico do terreno+
Indenização em dinheiro por benfeitorias.TDC equivalente ao CA básico do terreno
Caso o proprietário não aceite a TDC:Inicia-se processo de desapropriação.
Caso o proprietário não aceite a TDC:O projeto de interesse público não se realiza
naquele local ou naquele momento.
Quadro2–Diferençasentreocaputeo§1ºdoart.35doEstatutodaCidade.
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Duas especi�icidades precisam ainda sermencionadas. Em primeiro lugar, quando setratardeglebaaindanaoparcelada,haqueseconsideraroCAbasicoreferenteaarealıquidadoslotes,descontando-seospercentuaisexigidospelomunicıpioemsuasnormas,destinadosasviaspublicas,asareascomunspublicaseaosequipamentosurbanos.Emsegundolugar,nautilizaçaoda TDC para a obtençao de terrenos ocupados por populaçao de baixa renda com vistas arealizaçaodeprogramasderegularizaçaofundiariaouurbanısticadessasareas,emqualquerdoscasos, seja de interesse publico ou social, ou por doaçao pelo proprietario, a TDC devecorresponder somente ao CA basico dos terrenos, ja que as benfeitorias pertencem aospossuidores,enaoaoproprietariodoterreno.
Tendoemvistaasdiversaspossibilidadesdeaplicaçao,podemosa�irmarqueoobjetivocentraldaTDCefacilitarocumprimentodasfunçoespublicasdoplanejamentourbanomunicipal.AsdiversasformasdeaplicaçaodaTDCtemimportantesrelaçoeseefeitossobreosistemadeplanejamento urbano municipal e seu conjunto de institutos urbanısticos. Estas formas deaplicaçao, bem como suas relaçoes e efeitos, precisam ser detalhadas, para uma adequadaregulamentaçaoeimplementaçaodaTDC,oqueseraobjetodosproximoscapıtulos.
f.ATDCesuarelaçãocomaOODCnosistemadeplanejamentourbanomunicipal
Paraainserçaodoinstrumentonosistemadeplanejamentourbanomunicipal,oprimeiroelementoaconsiderar,comocondiçaoessencialparaaaplicaçaodaTDC, equeoCAbasicodosterrenosjaestejade�inidonoambitodoPlanoDiretor.E� importanteressaltarquea�ixaçaodoCAbasiconaotemrelaçaocomoplanejamentourbanısticopublicodacidade,ouseja,eleedeferidoapenasparapossibilitarousoutilbasicoisonomicodosimoveisurbanos;nempossuiconteudo�iscal,conformeexplicitadonaResoluçaoRecomendadadoConselhodasCidadesnº148,jamencionada.
Em segundo lugar, a aplicaçao da TDC somente faz sentido como complemento ainstituiçao das bases da OODC no planejamento urbano do municıpio, ja que ambas estaoconectadaspormeiodoCAbasico.
ATDCeaOODCdevementaoserentendidascomoinstrumentoscomplementares:aTDCpermitequeoproprietariodeumimovelcujaareaedi�icadanaotenhaatingidooCAbasico,possaalienarouexerceremoutroterrenoodireitodeconstruircorrespondenteaoCAbasicorestringidoemseuterreno;aOODC,porsuavez,consistenacobrançadeumacontrapartida,pagaaopoderpublicopelointeressadoemedi�icar,paraadquirirdireitosdeconstruçaoacimadoCAbasico.
A TDC deve ser u�lizada em conjunto e de forma coordenada com a OODC.
AutilizaçaodaTDCedaOODCparaosdiferentesterrenosurbanoscompletaoentendimentodequeoexercıciodedireitosdeconstruiradicionaisaoCAbasico,emcadaterrenourbano,naoegratuito, estando sujeito aopagamentodeuma contrapartida.Quandoosdois instrumentos saoaplicadosdeformaarticulada,direitosdeconstruiradicionaispodemseradquiridosdopoderpublicopelointeressadomedianteaaplicaçaodaOODC,ouadquiridodeparticularespormeiodaTDC.
Limites urbanís�cosmáximos
CA básico
Terreno 1 Terreno 2 Terreno 3
TDC
OODC
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Emqualquerdoscasos,“apossibilidadedoexercıciodedireitosdeconstruiradicionaisaosde�inidospelocoe�icientedeaproveitamentobasicodeveestarsubordinadaaointeressepublico”,conformeoart.3ºdaResoluçaoRecomendadadoConselhodasCidadesnº148.
Os direitos de construir adquiridos por meio de TDC sempre se originam de outros imóveis, ou seja, têm origem em propriedades par�culares, enquanto os direitos de construir adquiridos por meio de OODC sempre provêm do poder público.
Outro elemento fundamental para a aplicaçao da TDC (assim como da OODC) e ade�iniçaodoslimitesmaximosdeedi�icabilidadeparaasdiferentesareasurbanas.AocontrariodoCAbasico,oslimitesmaximosdevemserde�inidossegundoosobjetivosdoplanejamentourbano. Estes, representados pelos coe�icientesmaximos de edi�icabilidade, tem funçao deregulaçaourbanısticae,porisso,devemlevaremconsideraçaoacapacidadedeinfraestruturaeconsequenteadensamentodecada areaurbana,alemdeoutroscriterioscomoimpactosdevizinhançaeambiental.En�im,devemlevaremcontaparasua�ixaçaotodasasdiretrizesdeplanejamentourbano,especialmenteascontidasnoart.2ºdoEC.
Aqui, eprecisoressaltarumpontomuitoimportante:os limitesmaximosdevemserrespeitados emqualquer situaçao, para evitar adensamentos excessivosou indesejados emdeterminadasareas,e,paraisso,aaplicaçaodaTDCdeveraestarcoordenadacomaOODC.
Figura3–DiferentespossibilidadesdeaplicaçãodaTDCedaOODC.
A�igura3apresentadiferentespossibilidadesdeaplicaçaodosinstrumentosdaTDCedaOODCnaquelesterrenosaptosaoadensamento.Noterreno1,osdireitosdeconstruiracimadoCAbasicosaoadquiridospeloproprietariomedianteopagamentodaOODCaopoderpublico,enquantonoterreno3,oproprietarioadquireosdireitosdeconstruirdeoutroparticularpormeiodaaplicaçaodaTDC.
Aopçaopelacompradedireitosdeconstruirdeparticularesnecessitaqueoterrenoestejaemareade�inidapeloPlanoDiretorcomoreceptoradeTDC.Nocasodoterreno2,ambososinstrumentossaoutilizadosdeformaacumulada,semprerespeitandooslimitesurbanısticosmaximos.
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Assim, TDC e OODC são duas alterna�vas para a obtenção, sempre voluntária, de direitos de construir adicionais ao CA básico e limitados pelos índices máximos de edificabilidade.
AlemdaarticulaçaoentreaTDCeaOODC,noquetangeaosimoveisreceptoresdedireitosdeconstruir,eprecisotambemdelimitar,nainserçaodaTDCnosistemadeplanejamentourbano,asbaseseefeitosnoqueserefereaosimoveistransmissoresdedireitosdeconstruir.
Finalmente,valerepetirqueaTDCnaopodeenaodeverepresentarumanovafontederecursos�inanceirosparaosmunicıpios.Alemdisso,emuitoimportantecompreenderque,aquiloqueopoderpublicodeixadegastar,porexemplo,comeventuaisdesapropriaçoes,quandoutilizaaTDCnosimoveistransmissores,deixatambemdeobterpormeiodacobrançadaOODCnosimoveisreceptores.Porisso,oscriteriosparaorientarasdecisoespelousodaTDCdevemestarvinculadosanecessidadedeviabilizaras�inalidadesparaasquaisoinstrumentofoielaborado.
Figura4–AtuaçãocomplementardaTDCe
daOODC.
CA básico
TDC
OODC
REGULAMENTAÇÃODA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
REGULAMENTAÇÃODA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
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RegulamentaçãoRegulamentação da TDC
a.Introdução
Oartigo40doEstatutodaCidade,acompanhandooestabelecidonaConstituiçaofederalde1988emseucapıtulosobreaPolıticaUrbana,de�ineoPlanoDiretorcomooinstrumentobasicodapolıticadedesenvolvimentourbanoaserexecutadapelosmunicıpios.Porisso,neledevemconstar todosos instrumentosdepolıtica urbanaqueomunicıpio desejausar, paraoperacionalizarsuafunçaopublicadeplanejamento.
Ressalte-sequenemtodososinstrumentoscitadosnoEstatutodaCidadeprecisamestarobrigatoriamente previstos nos planos diretores municipais, mas somente quando oinstrumentoerelevanteeutilparaoseudesenvolvimentourbano. AResoluçaoRecomendadanº34doConselhodasCidadesdaestaorientaçao, jaqueascidades,emfunçaodoportedomunicıpio, da sua historia e da regiao onde se inserem, podem ter Planos Diretores comconteudodiferenciado.
NocasodaTDC,edealgunsoutrosinstrumentosdepolıticaurbana,oEstatutodaCidadede�ine,noincisoIIdeseuart.42,queasdisposiçoesrequeridasparaousodosinstrumentosfazemparte do conteudomınimodos planos diretoresmunicipais . Assim, se omunicıpiopretenderutilizaroinstrumento,eledeveestarobrigatoriamenteprevistonoPlanoDiretor,edeveestaracompanhadodeaomenosalgunscriteriosbasicosparaasuaimplementaçao.
DentrecriteriosbasicosaseremprevistosnosplanosdiretoresquepretendemutilizaraTDC,devemestarpresentes:adelimitaçaodoalcancedo instrumentodentrodashipotesesprevistas no art. 35 e seus incisos, criterios para a determinaçao de areas ou imoveistransmissoresereceptores,aspossıveisformasdeutilizaçao,eosprocessosdecisoriosparadecisaodeutilizaçao,especialmentecomaparticipaçaodeconselhoparticipativo,entreoutrosparametros.Asdemaiscondiçoesparaaregulamentaçaodoinstrumentopodemestarcontidasno Plano Diretor ou em legislaçao municipal nele baseada, dependendo do contexto e dacapacidadeinstitucionaldecadaadministraçaolocal,comoespeci�icadonoitem4.b.
Deve ser especialmenteobservada a relaçao coordenadadaTDC comaOODCpelosmunicıpios,tendocomoelementodeligaçaooCAbasico,oquefacilitara,emmuito,oprocessodeaplicaçaodeambososinstrumentos.
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18.SobreoconteudoeabrangenciadoPlanoDiretor,verResoluçaonº34doConselhodasCidades,publicadanoDiarioO�icialdaUniaoem14dejulhode2015,seçao1,p.89,aqualemiterecomendaçoeseorientaçoesquantoaoconteudomınimodoPlanoDiretor.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
b.QuestõesrelativasàregulamentaçãodaTDCsegundosuas�inalidades
Comoapresentado,ousodoinstrumentoTDCtemcomopontodepartidasuaprevisaonoPlanoDiretormunicipal, coma estipulaçao, ali, dos criteriosbasicosqueorientarao suaaplicaçao. Assim comonao e obrigatorio que omunicıpio se utilize daTDC, tambemnao eestritamente necessario que o municıpio utilize o instrumento para todas as �inalidadesindicadasnaleifederal.Ocriterioparaaescolharelaciona-secomasnecessidadesdomunicıpio,a capacidade institucional de gestao do instrumento e as proprias caracterısticas fısicas daregiao,comoporexemplo,aexistenciadeareasambientalmenterelevantessobpressaoparaocupaçao urbana. Para essa decisao, os legisladores, os administradores e os tecnicosmunicipais, com a participaçao dos conselhos de desenvolvimento urbano dosmunicıpios,devemconsiderartambemaaplicaçaodeoutrosinstrumentosemecanismosparaatingir�insespecı�icosdeinteressepublico.
Alemdisso,omunicıpiopoderaounaopreverafaculdademunicipaldispostano§1ºdoart.35,daconcessaodeTDCpeladoaçaodeimovelnotodoouemparteparaquaisquerdas�inalidadesprevistasnosincisosIaIII.Valerecordar,porem,que,nessescasosdeiniciativadoproprietario,obenefıciodaTDCrefere-seaoCAbasicointegraldaareadoada,equeaseventuaisbenfeitorias nao devem ser indenizadas, pois nao se trata de aquisiçao compulsoria depropriedade e sim de uma liberalidade por parte do proprietario, conforme expostoanteriormente.
i.BasesparaaregulamentaçãodaTDCparaimplantaçãodeequipamentosurbanosecomunitários
AaplicaçaodaTDCnessecasovisafacilitaraobtençaodeimoveisparaarealizaçaodeprogramas e projetos urbanos que, como uma forma de aquisiçao alternativa, pode ser,eventualmente, mais agil e menos custosa do que o procedimento expropriatorio. Seja nasituaçaodeaquisiçaototalouparcialdoimovel,oPlanoDiretordeveconteraprevisaodeusodoinstrumentoparaestahipoteseespecı�ica.
Quantoaleiespecı�icadaTDC,mencionadanocaputdoart.35,seuobjetopodeserotratamentomaisdetalhadodasvariashipotesesdeaplicaçaodaTDC,oumesmoelapodereferir-seasomenteumprojetoespecı�ico.Porexemplo,aleipoderaincluiritenscomoaampliaçaodeviasparaadequaçaodamobilidade,parapromoçaodeacessibilidadeuniversal,aimplantaçaodeparques,aimplantaçaodeprojetosdereabilitaçaodeespaçospublicos,entreoutrosprojetosdeimplantaçaodeequipamentosurbanosecomunitarios,eparacadaumdeles,detalharasformasecondiçoesdesuaaplicaçao,bemcomoosprocedimentosadministrativosdecisoriosparasuaimplantaçao.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Diferentementedaaquisiçaode imoveisviaexpropriaçao,emqueoprocedimento ecompulsorioemrelaçaoaanuenciadodono,aopçaodeusodaTDCdependedaaceitaçaodonegocio jurıdicoporpartedosproprietarios. Issosigni�icaqueaprefeiturapodeconsiderarinteressantetornaraopçaopelaTDCvantajosaparaoproprietario,oquedeveserprevistonaformaenoslimitesde�inidosnaleiespecı�ica.Assim,comoomontantedemetrosquadradosdeedi�icaçaodisponıveisparaaTDCestapreviamentedeterminadopeloCAbasicoestabelecidopelanormativaurbanısticaparaoimovelemquestao,outrosfatorespodemserconsideradospara tornar atrativa a opçao pela TDC, tais como a agilidade com que os recursos saodisponibilizados,ooferecimentodebonusparaasadesoesimediatas,ouaindaaampliaçaodoprazoconcedidoaoproprietarioparaaalienaçaododireitodeconstruiroriundodaTDC.
Emtodosessescasos,quandoatransmissaodapropriedadedoimoveleindispensavel,aseventuaisbenfeitoriasdevemserindenizadaspelopoderpublico,oupoderaoserrecompostaspelopoderpublico,nocasodetransferenciaapenasparcialdosterrenosenvolvidos.
ii. Bases para a regulamentação da TDC para preservação de interesse histórico,ambiental,paisagístico,socialoucultural
Trata-sedocasomaiscomumdeaplicaçaodoinstrumentonoBrasil. Issoporqueascidades brasileiras, ao longo das ultimas decadas, tem dado aos proprietarios de imoveiscoe�icientes de aproveitamento maximos generosos e gratuitos. Essas graciosidadespressionam os administradores municipais eleitos quando estes, em contraste com estasgraciosidadesurbanısticas,restringem,emoutrosimoveis,oscoe�icientesdeedi�icabilidade,em funçao da preservaçao cultural ou ambiental do imovel. A soluçao mais corriqueira eimediataquetemsidoencontradaparaaliviarestapressaopolıticatemsidoade“compensar”,comaTDC,osproprietariosrestringidosnosındicesmaximos.
19.Obonussejusti�icaparaagilizarasadesoesaoPrograma,demodoarestringirassituaçoesemquealgunsproprietariosatrasemanegociaçaocomvistasaaumentarseupoderdebarganha.Maseimportantequeosbonussejamcuidadosamentecalculadossegundo as caracterısticas de cada area atingida e a possibilidade de absorçao dos direitos de construir adicionais a seremtransferidosmedianteaTDC.EmPortoAlegre,paraaemissaodeTDCnocasodaampliaçaoda3ªAvenidaPerimetral,umPlanodeIncentivosenvolvendoaconcessaodebonusfoielaboradoeaprovadopelaLeinº409/1998(UZON,2013).
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Para que haja uma situação de transparência e controle social na aplicação da TDC como mecanismo compensatório à imposição de limitações administra�vas, o procedimento, o âmbito de incidência, sua abrangência, limites e hipóteses de incidência devem estar previamente regulamentados, e devem ser objeto de procedimento administra�vo decisório formal e com publicidade.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Quandoexisteo interessepublicoparaapreservaçaodeum imovel,podehaverumcon�litoentreasconsequentesrestriçoesimpostaseoexercıciododireitodeconstruirbasicodoimovel.ATDCpodeserutilizadaemsituaçoesexcepcionaiscomoummecanismoauxiliaraosdemaisinstrumentosdeproteçao.
CabealertarqueaaplicaçaodaTDC“compensatoria”sedestinaprioritariamenteacasosindividuaisnosquaisarestriçaoaodireitodeconstruirbasicodeumimovelcon�igureumaclarasituaçaodedesvantagememrelaçaoaosdemaisimoveisdazona.Ouseja,noscasosemqueajurisprudenciabrasileiratem,excepcionalmente,reconhecidocabıveleventualindenizaçaoporrestriçaoanormaleespecialadeterminadapropriedade.
Consequentemente,emcasosdeconjuntospreservados,sejaportombamento,sejaporqualqueroutraformadeproteçao,comoainstituiçaodeareasdepreservaçaocultural,nosquaisasrestriçoesrecaemdemaneiramaisuniformesobrediversosimoveis,naocabe,emgeral,autilizaçaodaTDC.Istoporqueestasrestriçoesgenericasdeconjuntosdeimoveisdecorremdeumzoneamentoespecı�ico.Trata-se,portanto,dahipoteseprevistanasegundapartedo§2ºdoart.28doEstatutodaCidade,emqueeprevistaapossibilidadedeumCAbasicodiferenciadodaquelegenericodacidade.
Emoutraspalavras,ousodaTDCnoscasosdepreservaçaoculturalcorrespondeaumaindenizaçao,esoprocedecasoalimitaçaoadministrativacause,comparativamenteaosdemaisimoveis,prejuızoconcreto,atual,eanormal,aoconteudoeconomicodapropriedade;naocabem,portanto,indenizaçoes,viaTDC,aexpectativasdeprejuızofuturoeeventual.Cabeobservarque,quandooproprietariodeumbemimoveleindenizadoporqualqueroutraforma,emfunçaodalimitaçaoadministrativaporpreservaçaocultural,issosigni�icadizerqueeleabriumaodesercompensadoviaTDC.
Emoutrasituaçao,seocorrer,aposaTDC,ocancelamentodotombamento,odireitodeconstruirtransferidonaopoderaserrestituıdoaoimoveldeorigem,umavezqueestetenhasidoefetivamente exercido em outro local. Para garantir esse controle, alem de prever em leimecanismoscomooaverbamentodaTDCnamatrıculadoimovel,enecessarioestabelecerumtrabalhoconjuntoentreaprefeituraeoorgaoresponsavelpeloimovelouconjuntoprotegido²¹.
20.NoRiodeJaneiro,porexemplo,desde1992foiinstituıdaaA� readeProteçaodoAmbienteCultural-APAC,naqualosbensdevalorexcepcionalsaotombados;osquecaracterizamoconjuntosaopreservadoseosdemaissaotutelados.21.EssacooperaçaosetornaaindamaisnecessariacasoestejaprevistaapossibilidadedeTDCemimoveisprotegidosemoutrasesferasquenaoamunicipalou,ainda,quandodiversosnıveisdeproteçao(municipal,estadualefederal)coexistamemummesmoimovelouconjunto.
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O tombamento (por qualquer esfera de governo) não vincula, direta e necessariamente, o uso da TDC. A aplicação do instrumento compete ao município, devendo estar prevista no Plano Diretor e regulamentada pela legislação específica.
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Finalmente,entendemosqueoPlanoDiretordomunicıpioque�izeraprevisaodousodaTDCnestescasos,podeedeveindicaroscasosemque,emboraindividuais,naoseracabıvelousodaTDC. Trata-se,porexemplo,doscasosdegrandesareasexistentesnosmunicıpiosquetemusossociais,comoareasdeclubessociaiseesportivos, areasdegrandesequipamentossociais, como escolas privadas ou universidades, imoveis religiosos, areas de condomıniosespeciais,emqueaaprovaçaodosmesmos,eateacessaooudoaçaodessasareasforamobjetodeprojetosespeciais.Seriaquaseimpossıvelfazerumzoneamentoespecı�icoparaestasareasque,semduvida,naopodemterumCAbasico igualaogenericodacidade, jaqueestaoemsituaçao especial, por origem ou por programa. A deferencia de TDC para estas areas secaracterizaria,namaioriadasvezes,apenascomoumaformadequeentidadesvenhamaobterrecursos�inanceiros,oquenaoeoobjetivolegaldoinstrumento.
ATDCemimóveisdeinteresseambiental
Aplicam-se a preservaçao ambiental as mesmas consideraçoes apresentadas acimasobreaincidenciadeusodeTDCapreservaçaocultural.Portanto,napreservaçaoambiental,aTDCso sera cabıvelnoscasosemqueexistaumdanoespecı�icocausadoaoCAbasico,porlimitaçoesadministrativas,especı�icaseanormaisaumimovelespecial.Ouseja,paraqueaTDCofereçaapossibilidadederestabelecerasituaçaodeequidadecomvizinhos,desdequeoimovelnaosejadeusodestinado,desdesempre,aumprogramaespecial,comoumclube,porexemplo.
Alerta-separaofatodeque,demodogeral,asareasdeinteresseambientaldentrodoperımetrourbanopossuemgrandesdimensoes,nasquaisaconcessaoindiscriminadadaTDCpode teroefeito indesejavelde “inundar”a cidadededireitosde construir,prejudicandoaaplicaçaodaOODC.
Assim,recomenda-seque,nomomentodaaprovaçaodozoneamentomunicipaloudaLeideUsoeOcupaçaodoSolo, se adotem,paraessas areasambientalmenteestrategicas eimportantesparaamanutençaodaqualidadedevidaedapolıticaambientalnacidade,CAbasicosdiferenciados,inferioresaoCAbasicogeral,de�inidoparaasdemaiszonasurbanas.
Nocasodeimoveiscomrestriçaototalaedi�icabilidade,oidealeestabeleceraTDCemareasondehajaointeressepubliconatransferenciadapropriedadeparaomunicıpio,para�insdemelhor gestao e conservaçao. Caso se preveja a hipotese demanutençao de areas comrestriçaototalaedi�icaçaocomoproprietariooriginal,recomenda-seumaavaliaçaocautelosaparaaveriguarousoqueseradadoaoimovelemrelaçaoaointeressepublicoquemotivouarestriçaoimposta.
AconcessaodobenefıciodaTDCnassituaçoesdepreservaçaoambientaldevetambemlevar em conta a situaçao da normativa anterior do terreno. As situaçoes deverao serconsideradascasoacasoe,emsetratandodeumarestriçaototal aedi�icaçao, epertinenteconsiderarseoterrenofoicompradoouparceladoantesdalegislaçaomaisrestritiva,comocondiçaopreviaparaaconcessaodaTDC.Emtodososcasos,oquedeveserlevadoemconta,precipuamente,eointeressepublicopelapreservaçaoambientaldaarea.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
iii. Bases para a regulamentação da TDC para programas de regularização fundiária,urbanizaçãodeáreasocupadasporpopulaçãodebaixarendaehabitaçãodeinteressesocial
AutilizaçaodaTDCparaestas�inalidadesestarelacionadaprincipalmentearesoluçaodecon�litosfundiariosurbanos,comoadeterrenosprivadosocupadosporterceiros,desdequesejaumaalternativavantajosaenecessariaparaapolıticahabitacionaldamunicipalidade.
Nestescasos,oproprietarionaoresidenoterreno,eesteencontra-sedesvalorizadoporseuusoreal.Assim,podeserinteressanteparaoproprietarioreceberaautorizaçaoparaexerceremoutrolocal,oualienar,odireitodeconstruirbasicodoseuterreno,viaTDC.
HaqueseatentarparaovalorreduzidodoterrenonaatribuiçaodeTDC.Valemencionartambemque,dependendodascondiçoesdoterrenoemquestao,elepoderaestarsujeitoaaplicaçaodoinstrumentodoParcelamento,Edi�icaçaoeUtilizaçaoCompulsorios(PEUC)²²,alemdepoderserdesignadocomoZonadeEspecialInteresseSocial(ZEIS)noPlanoDiretorouemleiespecı�ica.
E� importantedestacarqueaTDCnaodeveseraplicadaa imoveiscujospossuidorespreencham as condiçoes para a aquisiçao da propriedade por meio de usucapiao. Nessasituaçao,haqueseconsiderarque,juridicamente,osposseirosjatemodireitodereivindicarapropriedadedoimovel,sendoaaçaodeusucapiaosomentedeclaratoria,para�imderegistrodatransmissaodapropriedadeaospossuidores.
22.Paramaioresdetalhes,revisaroCadernodePEUCeIPTUprogressivonotempopublicadopeloMinisteriodasCidades(volume2destaColeçao).
Interesse público em promover a regularização fundiária
Terreno ocupado irregularmente por população de baixa renda
Não preenche requisitos para ação de usucapião
Preenche requisitos para ação de usucapião
Poder público autoriza a TDC para o proprietário, recebendo o terreno para
promover a regularização fundiária
Poder público não autoriza a TDC e proprietário perde o terreno por ação
de usucapião
Quadro3-TDCeregularizaçãofundiária.
Valelembrarmaisumavez,quenousodaTDCpara�imdetransferenciadeimovelpararegularizaçaofundiaria,ahipotesedeveestarprevistanoPlanoDiretore,seforocaso,emleiespecı�ica,deformaamoldarascondiçoeselimitesurbanısticose�inanceirosdesuaincidencia,formaeprocedimentodecisorio,edemaiscircunstanciasdeexecuçaodessapolıticahabitacional,inclusiveamodalidadedetransferencia,ounao,dapropriedadedoimovelaosmoradores.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Deve entao ser autorizada ao proprietario a transferencia da totalidade do direito deconstruirateoCAbasicooriginalmenteatribuıdoaolote,ouapenasoCAbasicolıquidodoslotesquandosetratardeglebasnaoparceladas²³.
Quantoaseventuaisedi�icaçoesexistentes,haqueseconsiderarqueasmoradiasdebaixarendaconstruıdasporocupantesdeterrenodepropriedadedeterceiro,aindaquesemaanuenciado proprietario, constituem benfeitorias pertencentes aos ocupantes, nao cabendo qualquerindenizaçao ao proprietario a elas correspondente em funçao deste negocio urbanıstico(regularizaçao do terreno em face do proprietario). Ou seja, neste caso, somente devem serindenizadasaoproprietarioasbenfeitoriasoriginaisdesuapropriedade.
Hatambemqueconsiderar,assimcomonadesapropriaçaodeimoveisparaessa�inalidade,queovalordoterreno(emmetrosquadrados)queseraaplicadoaformuladecalculodaconcessaodaTDCdevere�letirasuadesvalorizaçao,emfunçaodacondiçaodeocupaçaoporterceiros,enaoatendersimplesmenteaocriteriodesualocalizaçaonazonadeusodaqualfaçaparte.
Em suma, independentemente da opçao pelas �inalidades possıveis de aplicaçao doinstrumento, estas devem ser adequadas ao interesse publico, de forma que os instrumentospossamserconsideradosemumsistemamaisamplodeplanejamentourbano.
c.AlertassobreasbasesparaaregulamentaçãodaTDC
i.ATDCeoestadodeconservaçãodosimóveis
AlgunsmunicıpiosbrasileirosqueadotaramaTDCcomoinstrumentodepolıticaurbanapara�insdepreservaçaodeedi�icaçoesdevalorartısticoe/ouhistoricovinculamaconcessaodaTDCaoestadodeconservaçaodoimovelaserpreservado.Outrosutilizamamesmaideiaparaaconservaçaooumanutençaodeareasdeinteressepaisagısticoe/ouambiental.
Asexperienciasdiversi�icam-seemrelaçaoaomomentodaconcessaodaTDC.HacasosemqueaTDCsomente econcedidaparaaqueles imoveisque jaseencontramembomestadodeconservaçao. Outros concedem a TDC com a �inalidade de que o proprietario possa obter osrecursos�inanceirosparaexecutarasobrasnoimovel,ouparaamanutençaodeareasdevalorambiental.Emalgunscasos,aTDCeconcedidaparceladamente,amedidaqueasetapasdaobraouda manutençao sao �inalizadas. Nesses casos, a concessao da TDC atua como uma forma de�inanciamentoparaamanutençaodasedi�icaçoesoudoselementosdapaisagem.
Noentanto,seentendermosqueaaplicaçaodaTDC,nashipotesesdeimoveisdeinteressehistorico, cultural, paisagıstico, ou ambiental, tem como causa ou motivaçao geradora acompensaçao pela incidencia da limitaçao administrativa especial e anormal ao CA basico deaproveitamentodeusodoimovel,apraticadevincularaconcessaodaTDCacomprovaçaodobomestadodeconservaçaodoimovelsuscitamuitasduvidasediscussoes.
23.Descontadasasareasdecessaoedoaçaoparasistemaviario,equipamentosurbanosetc.,segundoalegislaçaomunicipalvigentesobreparcelamento.
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Os direitos de construir de um determinado imóvel que já tenham sido transferidos não poderão ser objeto de nova transferência!
Transferência do Direito de Construir (TDC)
A conservaçaodas edi�icaçoesurbanas, preservadasounao, e obrigaçaode todososproprietariosdeimoveis.Eassimtemsidoduranteestesoitentaanosdepolıticadepreservaçaodopatrimonioculturaleambiental.Porisso,naohaquesefalar,emprincıpio,deindenizaçaooucompensaçaoatıtulodeconservaçaodoimovelpormeiodaTDC.
Apolıticadepreservaçaoeconservaçaodeimoveis,quandonecessario,podeedeveestarvinculada a uma estrutura planejada de fomento aos proprietarios, quando for o caso. Istoporqueincentivosapreservaçaoeconservaçaodevemconsiderarosvariosnıveisdeexigenciasdeconservaçao,emfunçaodamodalidadedapreservaçao(ex.tombamentoartıstico,historico,etnogra�ico,paisagıstico,individual,coletivoetc.),dasituaçaoeconomicadoproprietario,entreoutros fatores. Hamunicıpios que usam tambem isençoes de impostos para este �im, comoisençoestotaisouparciaisdeIPTUouISS.HaestadosquepraticamformulasdeincentivocomredistribuiçaodeICMS. EaUniaotemprogramasespecı�icosdefomento,atraves,porexemplo,de �inanciamentos atraves da Lei “Rouanet”. Tudo, en�im, deve estar estudado, planejado,estruturadodemodoanaotransformarobrigaçoesdecorrentesdafunçaosocialdapropriedadeemfontesdeindenizaçoesoucompensaçoespelopoderpublico.
PorissoequeestasformasdeconcessaodeTDCsaoimproprias,comoformatransversadeconcessaode fomento a conservaçaode imoveis,pois trata-sedeusodeum instrumentourbanısticodeplanejamentourbanoparaatenderaumaoutra�inalidadelegal,desconectandooinstrumentodaTDCdeseueloessencialaremanejamentosurbanısticosconcernentesaoCAbasico,eaOODC.Parailustrarestaassertiva,alertamosparacasosjaocorridosemmunicıpiosondehouveaconcessaodaTDCpormaisdeumavez,aomesmoimovel,passadosalgunsanos,epelofatodoproprietario“necessitar”,maisumavez,denovosrecursosparaconservaçaodoseubem.Comisso,omunicıpionaosoestariatransformandoaTDCemumamoedamunicipal,comotambemestariaacarretandoageraçaoarti�icialdedireitosdeconstruirdesvinculadosdosistemadeplanejamentourbano.Emboraestaopçaopareçaabsurda(jaque,umaveztransferidos,osdireitosdeconstruircorrespondentesdeixamdepertenceraoproprietariodoimovel),elapodeserconcretamenteencontradaemalgumasdasprincipaisexperienciasbrasileiras.
24.ODecreto-Leinº25de1937eumadasprincipaisleisquetratamdopatrimoniohistoricoeartısticonacionaledeterminaaoproprietariodeedi�icaçao tombadaconservarobem, independentementedaconcessaodealgumbenefıciooude indenizaçaodecorrentedoatodetombamento.Hasituaçoes,noentanto,nasquaisoestadodedegradaçaodaedi�icaçaoexigeummontantederecursosexcepcionalparaaexecuçaodasobrasderestauraçaodobemtombado.Nessecaso,deacordocomoart.19doDecreto-Lei,oproprietarioquenaodispuserderecursosparaaconservaçaodoimoveldevecomunicaraoorgaoquetombouobemsobreaimpossibilidadederealizarasobras;nestecaso,oorgaopodeexecutarasintervençoesoudesapropriarobem.
24
Finalmente,cabeacrescentarqueepossıveltambemque,emumsistemaarticuladoentreaTDCeaOODC,comodeveser,partedosrecursosoriundosdaOODCsejadestinadaaumapolıticaouprogramadeconservaçaodeimoveispreservados,medianteumapolıticadefomento,lembrandoqueeprecisohavercriteriosclarosecontrolesocialparaqueointeressepublicoestejaasseguradoemtodososcasos.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
ii.CAbásicoeCAmáximoparaaconcessãodaTDC
OinstrumentodaTDCapresenta-secomoumaalternativaviaveladesapropriaçaoparaaobtençaodeterrenospormotivosdeinteressepublico,masasvantagensdaTDCemrelaçaoadesapropriaçaodevemserconsideradastantoparaoproprietarioquantoparaopoderpublico.
Na desapropriaçao, a indenizaçao pela transferencia do imovel para a administraçaopublica,queepraticadacombasenovalordemercadodoimovel,eumdospontoscentraisdodebate.Comoalternativaadesapropriaçao,aTDCtambemestaassociadaaessedebate.ExistemexperienciasmunicipaisnasquaisaTDCeconcedidaateolimitedoCAmaximo,comajusti�icativadequeesteexpressariaovalordemercadodoimovel.
Entretanto,estainterpretaçaoecontrariaaoprincıpiodaTDC,jaquesuaincidenciaocorresomenteateoCAbasico,queeorecursoqueseconsideravinculadoaesferapatrimonialprivada.E� importanteentenderquevincularaconcessaodeTDCaoCAmaximo,emqualquersituaçao,eumaaçaocontraditoriaporpartedopoderpublicomunicipal,poisgeraconfusaoaodarummesmotratamento–equivocado–entrerecursosdaesferapatrimonialprivada(oCAbasico),erecursosurbanısticospublicos,representadospeladiferençaentreoCAmaximoeoCAbasico.
Omesmoentendimentoequivocadopodeserencontrado,narevisaodeexperienciascomaTDC,paraocasodadoaçaodeimoveisaopoderpublico,demodoaofereceraoproprietarioquedoaoimovelumavantagememrelaçaoaquelequepermanececomoimovel.Entretanto,naosepode esquecer que a doaçao, tal como de�inido na legislaçao civil, e um ato voluntario doproprietario,quetambempodeterinteressepublicosubsidiario.
Assim,comojamencionado,paraestimularaopçaodoproprietariopelaTDCfrenteadesapropriaçao, oumesmo em certos casos na doaçao, pode ser considerado algum fator deincentivo,desdequeesteestejatotalmentedesvinculadodoCAmaximo.
d.De�iniçãodeáreasouimóveistransmissoresereceptores
EmcadaautorizaçaodeTDCesta envolvidoum imovel transmissor, cujoproprietariorecebeaautorizaçaoparaatransferenciadeseudireitodeconstruirateoCAbasicoquenaotenhasidoutilizadoemseuimovel,eumimovelreceptor,noqualosdireitostransferidospodemserexercidos.Essesimoveispodemestarlocalizadosnamesmaareaouzonaurbana,ouemoutrasareas ou zonas, conforme seja de�inido na normatizaçao da TDC. Nas areas de�inidas comoreceptoras,osdireitosdeconstruirpodemseradquiridosparaseremutilizadosemumoumaisimoveis,respeitadaaquantidadedemetrosquadradosdedireitosdeconstruiradvindadoimoveltransmissor,eoslimitesmaximosdeedi�icaçaodosimoveisreceptores.
Figura5–TDCgeradaemum
terrenotransmissoreutilizadaem
terrenosreceptoresdistintos.
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
Terreno 1 Terreno 2 Terreno 3
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Damesmaforma,etambempossıvelqueosdireitosdeconstruiraseremadquiridosparaumimovelemareareceptorasejamoriundosdemaisdeumimovelemareatransmissora,ouseja,haapossibilidadedesetransferirparceladamenteodireitodeconstruir.
Figura6–TDCgeradaemdiferentesterrenostransmissoreseutilizadaemumterrenoreceptor.
Alegislaçaomunicipal,segundocriteriosdoplanejamentourbano,devedeterminarasareas ou imoveis transmissores e tambem as areas ou imoveis receptores de direitos deconstruir. Embora nao seja incomum encontrar regulamentaçoes municipais que apenasconsideramaorigemdosdireitosconstrutivospassıveisdeseremtransferidos(porexemplo,por�inalidadeenaoporarea),eessencialde�inirterritorialmenteaorigemeodestinoparaoexercıciodessesdireitos,poisambosguardamrelaçoescomoadensamentoconstrutivodasdiferentesareasurbanas.E� tambemrelevantequeasareastransmissorasereceptorassejamde�inidas em conjunto, uma vez que elas devem funcionar de forma articulada naimplementaçaodaTDC.
ApesardeoEstatutodaCidadenaofazerreferenciaade�iniçaodeareastransmissorasereceptoras, o Conselho das Cidades recomenda, na Resoluçao Recomendada nº 34, que alegislaçaomunicipalestabeleçaessasareas.
Diversos aspectos de planejamento urbano e ındices urbanısticos devem serconsideradosparaummelhorcontroledoadensamentodecadazonadacidade,bemcomoparaagarantiadautilizaçaodosdireitosconstrutivosadvindosdaTDC.Ade�iniçaodas areasouimoveisreceptoresdeveconsideraroslocaisondeoadensamentopopulacionaleconstrutivoedesejavel e deve ser estimulado, como por exemplo, nas areas mais centrais dotadas deinfraestruturaurbanaenaquelasproximasaosprincipaiscorredoresviarios,quegeralmentesaoservidasportransportepublicodemassa.Algumaslegislaçoesmunicipaisdeusoeocupaçaodosolourbanode�inemzonasdeadensamentopreferencial,comasquaisasareasreceptorasdeTDCpodemtambemestararticuladas.
A recepção da TDC está sujeita, em cada terreno, aos limites máximos dos coeficientes de aproveitamento definidos no Plano Diretor (conforme art. 28 § 3º do Estatuto da Cidade), válidos também para a OODC.
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
Terreno 1 Terreno 2 Terreno 3
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Emalgunscasos,asareastransmissorasereceptoraspodemserde�inidasempares,ouseja,articula-seaareatransmissora1comaareareceptora1,aareatransmissora2comaareareceptora2,eassimpordiante.Podehaverumaintençaodemanterumequilıbriodoprocessodeadensamentoaolongodotempoentreasdiversaszonasdacidade,eparaissoeusualde�inirareastransmissorasereceptorasdentrodeumamesmazonadacidade.
Estaconsideraçaodeareastransmissorasereceptorasdentrodamesmazonadacidadetambemeimportantequandohouverobraspublicasnazonatransmissora,demodoapreveniravalorizaçao diferenciada entre imoveis transmissores e receptores, o que geraria umdesequilıb rioindesejado.
Outrapossibilidadequantoade�iniçaodasareasdeaplicaçaodaTDCeasuautilizaçaoemtodas as areas da cidade, de forma coordenada com a aplicaçao da OODC. Estando a OODCimplantadaemtodaacidade(exceçaofeitaasareasconsideradasnaoadensaveis),aTDCtambempoderiaseraplicadaemtodaaareaurbana,poisosproprietariosquedesejamconstruiracimadoCA basico, ate os limites maximos de edi�icaçao, poderiam adquirir os direitos de construiradicionaispormeiodaOODCoudaTDC.
Recomenda-se,noentanto,umestudocuidadosonaaplicaçaocoordenadadaOODCcomaTDC,paraqueaaplicaçaodeuminstrumentonaocomprometaautilizaçaodooutro.
Nos casos de terrenos necessarios a obras publicas e implantaçao de equipamentosurbanosecomunitarios–de�inidos,portanto,comotransmissoresdedireitosdeconstruir–,deveser elaborado um projeto urbano que determine exatamente quais terrenos ou parcelas deterrenosseraoatingidospelasobras.Esteprojetopermitirade�inirdeformaconjuntaosvarioscriteriosespecı�icosparaaaplicaçaodaTDC,facilitandoagestaodoinstrumento.
Ressalta-seque,nessescasos,quandohaprevisaodeutilizaçaoapenasparcialdoterreno,osdireitosdeconstruirpoderaoseraplicadosnaarearemanescentedomesmo,respeitando-seoslimitesmaximosdeedi�icaçao.Omesmopoderaserfeitonocasodepreservaçaodeedi�icaçao,seanormalocaldepreservaçaopermitir.
e.TDCdiretaeindireta
ATDCpodeserrealizadadeduasformasnoquedizrespeitoatransmissaododireitodeconstruirbasicodeumterrenoaoutro:deformadiretaeindireta.
Naprimeira,odireitodeconstruirateoCAbasicoquenaopossaserexercidoemumdeterminado imovel transmissor e transferido diretamente a outro terreno onde podera sermaterializado,mediante autorizaçao dada pelo poder publico. Essa forma exige a vinculaçaoimediatadatransferenciadodireitodeconstruirbasicodeumterrenotransmissoraumterrenoreceptor.Ouseja,aindaquesejamemitidosdocumentosrepresentativosdodireitodeconstruirtransferido,enecessariaaindicaçao,nomomentodatransmissao,doterrenoqueirareceberessesdireitos,havendoaincorporaçaodiretadosmesmosaoterrenoreceptoremumaunicatransaçao.
25.Emboraestaautorizaçaonaosecon�igurecomoTDC,comoargumentadomaisacima.
25
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
Amodalidadedireta,emvirtudedamaiorfacilidadedegestaoecontroledaaplicaçaodaTDC,podesermaisadequadaparaosmunicıpiosdemenorporteque,emgeral,dispoemdeumcorpotecnicoreduzido.Nosmunicıpiosdemaiorporte,podehaveraopçaopelamodalidadediretaoupelaindireta.
Limites urbanís�cosmáximos
CA básico
Terreno 1(Transmissor)
Terreno 2(Receptor)
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
Transferência de direito de construir
Figura7-TDCdireta.
Na transferencia indireta, nao ha vinculaçao entre a autorizaçao publica para atransmissaododireitodeconstruirbasicoearecepçaoimediatadessedireitopeloterrenodedestino,oquepermiteacomercializaçaosecundariadodireitodeconstruirasertransferido.Nessecaso,odocumentocomprobatorio,representativodeumacertaquantidadedemetrosquadrados de direito de construir, deve ser emitido pelo poder publico e entregue aoproprietariodoterrenotransmissor.Aquelesqueadquiriremodireitodeconstruir,aoexerce-loemoutrosterrenosdevemrespeitaranormativamunicipalrelativaaos limitesurbanısticosmaximosemcadazona,quepodesertemporalmentemutavel.
A TDC é sempre expressa, nos documentos comprobatórios, em metros quadrados de direito de construir.
Omodeloindiretonecessitadeumaestruturadegestaonaadministraçaopublicacapazde exercer o papel regulador em todo o processo, com o controle dos documentoscomprobatoriosdedireitosdeconstruirdisponıveisno“mercado”,bemcomoamanutençaodeumabaseperiodicamenteatualizadadosvaloresrelativosdometroquadradodosterrenosemcadaareatransmissoraereceptoradacidade.
Deveserobservadaanecessidadedecontroledosestoquesdedireitosdeconstruirdisponıveis,paraagestaodamodalidadeindiretadaTDC.Ressalte-sequeamodalidadeindiretaemaisrecomendavelparacidadesondeagestaodaOODCjaestejaconsolidadaou,ainda,paraviabilizara implantaçaodeequipamentosurbanosecomunitariosno ambitodeumprojetourbano.Nessescasos,amodalidadeindiretapodeincentivaraopçaodosproprietariospelaTDC,tornando-amaisatrativafrenteadesapropriaçao(veritem4.d).
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Quadro4-ProcedimentosdaTDCdiretaedaTDCindireta.
Limites urbanís�cosmáximos
CA básico
Terreno 2(Receptor)
Terreno 1(Transmissor)
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
Emissão dedocumento de TDC
(momento 1)
Terreno 3(Receptor)
Recepção do direito deconstruir no terreno 2
(momento 2)
Recepção do direito deconstruir no terreno 3
(momento 3)
Poder público emite CERTIDÃO DE TDC
para o proprietário do imóvel transmissor
TDC indireta(Existência de um mercado
secundário)
Proprietário do imóvel transmissor ALIENA O
DIREITO DE CONSTRUIR a terceiro.
Poder público emite CERTIDÃO DE TDC para proprietário do imóvel
receptor.
Portador da cer�dão ALIENA O DIREITO DE
CONSTRUIR para outro interessado.
Proprietário do imóvel transmissor ALIENA O
DIREITO DE CONSTRUIR a terceiro.
Poder público emite CERTIDÃO DE TDC para
o proprietário do imóvel transmissor.
Com transferência da propriedade do imóvel para o poder público.
Adquirente do direito de construir e proprietário do imóvel receptor apresenta a CERTIDÃO DE TDC
NO PROCESSO DE APROVAÇÃO DE PROJETO E LICENCIAMENTO DE OBRA.
RESTRIÇÃO AO DIREITO DE CONSTRUIR é ANOTADA na matrícula do imóvel transmissor no registro
imobiliário.
Poder público AUTORIZA O PROPRIETÁRIO A
EXERCER EM OUTRO LOCAL o direito de
construir até o CA básico (total ou parcialmente).
Manutenção da propriedade do imóvel.
TDC direta(Exercer em outro local ou alienar)
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
f.Fórmuladeequivalênciaentreoterrenotransmissoreoreceptor
O documento comprobatorio da TDC expressa os metros quadrados de direito deconstruir do terreno transmissor que poderao ser transferidos para outros terrenos.Entretanto, no momento da de�iniçao do terreno receptor dos direitos de construir, eimprescindıvelefetuarumaequivalenciaqueestabeleçaarelaçaoentreosvaloresdometroquadradodoterrenotransmissor,edoterrenoreceptor.Estarelaçao,porsuavez,vaisere�letiremumajustedaquantidadedemetrosquadradosdedireitosdeconstruirentreosterrenos,pormeiodeumaformuladeequivalencia.
A formula de equivalencia objetiva compatibilizar a TDC entre terrenos e areas devaloresdiferenciados.Considere-se,porexemplo,queumterrenotransmissortenhaautorizadaatransferenciade200m²dedireitodeconstruir,cujovalordometroquadradosejadeR$500,00aepocadatransferencia.SeestedireitodeconstruirforutilizadoemumterrenoreceptorcujometroquadradocusteR$1.000,00,ouseja,odobrodoterrenotransmissor,eprecisoefetuarumaequivalenciaentreessesdiferentesvalores.Medianteessaequivalencia,seraautorizadanoterrenoreceptor,duasvezesmaiscaro,umaconstruçaoadicionaldeapenas100m²,ouseja,ametadedametragemgeradano terreno transmissor.Assim, �ica claroqueasmetragensdetransmissao e recepçao devem ser inversamente proporcionais aos valores dos terrenostransmissorereceptor.
Figura9-Ometroquadradodoterreno1valeametadedometroquadradodoterreno2.
CA básico
Terreno 1($m²)
Terreno 2($$m²)
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
Oopostoeverdadeiro:seometroquadradodoterreno1valeodobrodometroquadradodoterreno2,osmetrosquadradosdedireitodeconstruiraseremrecepcionadospeloterreno2seraoodobrodosmetrosquadradosdedireitodeconstruiroriginalmenteatribuıdosaoterrenotransmissor.
Figura10-Ometroquadradodoterreno1valeodobrodometroquadradodoterreno2.
CA básico
Terreno 1($$m²)
Terreno 2($m²)
TDC - direito de construirrecepcionado
TDC - direito de construirtransferido
Edificação até o CA básico
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Paraummelhorentendimentodasistematicadaequivalenciadevaloresdeterrenostransmissoresereceptoresesuarelaçaocomdireitosdeconstruir,estarelaçaoinversamenteproporcionalpodeserexpressaemumaformula.Nela,observa-sequeoprodutodaquantidadedos direitos de construir recepcionados (TDCr) pelo valor do metro quadrado do terrenoreceptor(Vr)eigualaoprodutodaquantidadedosdireitosdeconstruirtransferidos(TDCt),emmetrosquadrados,pelovalordometroquadradodoterrenotransmissor(Vt).
TDCr (m²) x Vr ($/m²) = TDCt (m²) x Vt ($/m²)
TDCr (m²) = TDCt (m²) x Vt ($/m²) Vr ($/m²)
TDCr = quan�dade de metros quadrados a ser recepcionadaVr = valor do metro quadrado do terreno receptorTDCt = quan�dade de metros quadrados a ser transferidaVt = valor do metro quadrado do terreno transmissor
Assim,paracalcularaareaadicionalemmetrosquadradosdedireitosdeconstruiremumdeterminadoterrenoreceptor(TDCr),multiplica-sea areaemmetrosquadradosdedireitosdeconstruir autorizados para transferencia (TDCt) pelo valor do metro quadrado do terrenotransmissor(Vt)eoprodutoeentaodivididopelovalordometroquadradodoterrenoreceptor(Vr).
Vale ressaltar que a quantidade demetros quadrados a ser recepcionada nao podeultrapassaroslimitesurbanısticosmaximosprevistosparaoterrenoreceptor.Casoistoocorra,a quantidade remanescente demetros quadrados de direito de construir passıveis de TDCdeveraserutilizadaemoutroterreno.
Aequivalenciaexige,alemdaprevisao legalda formula,aavaliaçaodosvaloresdosterrenosenvolvidosnaTDC,medianteumabasecadastraldisponıvelnaprefeiturarelacionadaaumatabeladevaloresdosterrenos,quepodeseraquelautilizadaparaocalculodoITBIouumatabelaespecı�icaparaaaplicaçaodaTDCedaOODC.Emqualquerhipotese,atabeladeveserperiodicamenteatualizadaepublicizada,bemcomoosnegociosjurıdicosfeitoscomosdireitosde construir originados de TDC. Uma alternativa e a utilizaçao do cadastro territorialmulti�inalitario,desdequeesteestejapermanentementeatualizadoparaeste�im.
26. O Cadastro Territorial Multi�inalitario relaciona os dados do inventario territorial o�icial e sistematico de ummunicıpio(localizaçaoedimensoes,ovaloreosproprietariosdosimoveis)comascaracterısticasambientais,asredesdeserviços,asnormasurbanıs ticaseoper�ilsocioeconomicodoshabitantes.
26
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
g.CuidadosnaaplicaçãoconjuntadaTDCedaOODC
ATDCeaOODCcompartilhamdamesmaorigemconceitualesuaaplicaçaoconjuntaecoordenadacontribuiparaae�icaciadoprincıpiodajustadistribuiçaodosbenefıcioseonusdoprocessodeurbanizaçao,diretrizdoEstatutodaCidade, contidanoart.2º, inc. IX, como jaapresentado.Anoçaode"solocriado"estabeleceaarticulaçaoentreosinstrumentospormeiodoCAbasico.
Tendoemvistaoentendimentoarespeitodosconceitosdedireitodeconstruirbasicoeadicionais,aaquisiçaodosdireitosadicionaisaoCAbasicopodeserrealizadapormeiodeOODCou TDC. Ao optar pela compra dos direitos de construir adicionais por meio da TDC, oproprietario,obviamente,naonecessitarafaze-lopormeiodaOODC.Paratal,nomomentodaaprovaçaodoprojetoe/ou licenciamentodoprojeto/obra,oproprietariodeveapresentaracertidao relativa a compra dos direitos pormeio de TDC. Contudo, cabe amunicipalidade,sempre, o calculo de equivalencia dos metros quadrados do direito de construir entre osterrenosenvolvidosnaTDC.
No entanto, por causa dessa estreita relaçao conceitual e operacional entre essesinstrumentos,deveserobservadaumaseriedecuidadosnaregulamentaçaodaTDCemrelaçaoaOODC.EssescuidadossaovalidostantonassituaçoesemqueomunicıpiojacontecomaOODCnalegislaçaomunicipal,comonoscasosemqueosdoisinstrumentossejamadotadosdemodoconcomitantenoPlanoDiretor.
Umaspecto jamencionado,masquevaleapenareforçar, eanecessidadedequeoslimitesmaximosdeedi�icaçaoprevistosparacadaareaurbanasejamobservadosquandodautilizaçaoconjuntadaTDCedaOODC,evitandoindesejadoseexcessivosadensamentos,ouseja,aaplicaçaodeambososinstrumentosnaodeveultrapassaroslimitesurbanısticosmaximos.
Um aspecto a ser observado, relativo a autorizaçao para a utilizaçao dos doisinstrumentosnasmesmas areas,dizrespeito asde�iniçoessobreas formasdeaquisiçaodedireitosconstrutivospormeiodaTDCedaOODC.Taisformasdevemserequilibradasdemodoaevitarqueumadasformasdeaquisiçaopredomineeinibaaoutra,excetoseestaforumaaçaointencional,noambitodasestrategiasdoplanejamentourbano.Valeressaltarquepodehaveruma concorrencia na escolha pela aquisiçao de TDC ou de OODC, quando, por exemplo, aaquisiçaodedireitosdeconstruirpormeiodeuminstrumentosededeformamaissimpli�icada.Como ilustraçao,podemoscitarumcasoemqueacomercializaçaodedireitosdeconstruiradicionaisviaTDCadquiridadiretamentedeparticulares,aqualquertempo,inibiuointeressepelaOODC,adquiridapormeiodeleilaopublico,emdatasespecı�icas.
Tambemdeveserconsiderado,comoelementocomumaTDCeaOODC,abasedevaloresdosimoveisaserutilizadaparaosdoisinstrumentos.E� essencialuni�icarestesvaloresmedianteaadoçaodeumatabeladevalorescomumaserutilizadaparaaaplicaçaodasformulasdecalculodaTDCedaOODC.Paragarantiroobjetivomaiordeambas–implementarajustadistribuiçaodosbenefıcioseonusdecorrentesdaurbanizaçao,diretrizquejusti�icaosinstrumentos,essesvaloresdevemestarproximosaosvaloresdemercadodosimoveis,podendoserusadaabasepara o calculo do ITBI, se esta for permanentemente atualizada, ou uma base de valoresespeci�icamenteelaboradaparaaaplicaçaodaTDCedaOODC.
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Paracumprircomoscuidadosacima,eimportantecentralizaragestaodaaplicaçaodaTDC e da OODC em ummesmo setor da administraçao publicamunicipal, ou distribuir asatividadescorrelatasdosdoisinstrumentosentresetoresespecializados,demodoquecadasetortenhaocontroledosmesmoscriteriosparaosdoisinstrumentos.
Por �im, como base para uma perfeita articulaçao entre os instrumentos, e precisoutilizarosmesmosconceitoseterminologiajurıdicanaregulamentaçaodaTDCedaOODC,demodoaevitarqueocorramquestionamentos legais sobreaaplicaçaodequalquerdosdoisinstrumentos.
h.ElementosnecessáriosparaaregulamentaçãodaTDC
OEstatutodaCidadedeterminaainclusaodecondiçoesbasicasdaTDCnoPlanoDiretoreaelaboraçaodeleiespecı�icaparasuaregulamentaçao.Porem,paraagarantiadaparticipaçaosocial e da gestao democratica na adoçao da TDC pelo municıpio, como condiçao para aelaboraçao,revisaoeaprovaçaodoPlanoDiretor,esteseapresentacomooinstrumentolegıtimoparade�inirtodososelementosbasicosaseremposteriormentedetalhadospelaleiespecı�ica.
Porisso,recomenda-sequeantesdainserçaodaTDCnalegislaçaomunicipal,hajaarevisaodoPlanoDiretorparaaprevisaodeutilizaçaodoinstrumento,demodoapermitirqueomesmopossaserutilizadodemaneiracoerentecomasdiretrizesdoEstatutodaCidade.Umdosrequisitosprincipaiseestabelecer,comclarezaesemambiguidades,ade�iniçaodoCAbasicodos terrenos urbanos e a forma como ele deve ser considerado na regulamentaçao deinstrumentosrelacionadosagestaodeındicesurbanısticos.
AindaqueoEstatutodaCidadedeterminearegulamentaçaodaTDCporleimunicipalespecı�ica(§2º,art.35)ainserçaodecondiçoesbasicasparaaaplicaçaodaTDCnoPlanoDiretorvisaasseguraracoerenciaentreosinstrumentosurbanısticosdecontroledousoeocupaçaodosoloeosobjetivosaseremalcançadoscomaaplicaçaodaTDC(art.42doEC).
Alemdisso,oprocessoderevisaodoPlanoDiretorampliaadiscussaocomoutrosatoresecontribuiparaadisseminaçaodeinformaçoessobreoinstrumento.DeveserasseveradaatransparenciadosprocessoseprocedimentosdaaplicaçaodaTDC.
AssimcomonosprocessosdeelaboraçaoerevisaodoPlanoDiretor,eimportantequealei especı�ica para a TDC seja precedida por estudos tecnicos, com o envolvimento deespecialistasoriundosdosdiversoscamposdoconhecimentoenvolvidosnaregulamentaçaoeaplicaçaodoinstrumento,comoossetoresjurıdico,�iscal,urbanısticoedeplanejamento,bemcomodoconselhodeplanejamentoqueassegureaparticipaçaosocial.
Por�im,deformaaevitarresultadosurbanısticosindesejados,deve-seatentarparaasinter-relaçoesdaaplicaçaodaTDCcomoutros instrumentosdapolıticaurbana (comoseraabordadonoitem4.f.),alemdaOODC,semprerespeitandooslimitesurbanısticosmaximos.
Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
OquedeveconstarnoPlanoDiretor:
Ÿ PrevisaodoCAbasicoadotadopelamunicipalidade,assimcomoasbasesdaOODC.
Ÿ Consideraçaodosparametrosde�inidospelaLeideUsoeOcupaçaodoSolomunicipal(LUOS),taiscomooslimitesurbanısticosmaximosparacadazonaurbana.
Ÿ De�iniçaodas�inalidadesdaaplicaçaodaTDCnomunicıpio,dentreasqueconstamnoart.35doEstatutodaCidade.
Ÿ De�iniçaodasformasdeaplicaçaodaTDC:diretaouindireta.
Ÿ Estabelecimentodecriterios(situaçoesecondiçoes)dequandodevehaver,ounao,atransmissaodapropriedadedoimovelparaopatrimoniodomunicıpio.
Ÿ De�iniçao dos criterios e indicaçao das areas onde a TDC pode ser aplicada,distinguindo-seas areasou imoveis transmissorese receptorese, se forocaso,combinandoessasareas.
Ÿ AszonasdearticulaçaodaTDCcomaOODC.
Ÿ IndicaçaodoselementosnecessariosparaaformuladecalculoeparaaequivalenciaentreterrenostransmissoresereceptoresdeTDC.
Ÿ Previsaodeprocedimentodeliberativodecisorioformaletecnico,paradeferimentoda TDC, cujos criterios passem, preferencialmente, por um conselho deplanejamentodacidade.
Oquedevesertratadoemleimunicipalespecı�ica:
Ÿ De�iniçao dos tipos de programas e projetos para cada uma das diferentes�inalidadesadotadasdaaplicaçaodaTDC.
Ÿ NocasodaTDCcomdoaçaodoimovel,determinaçaodoscriteriosecondiçoesparaqueopoderpublicoaceiteadoaçaodoimovel.
Ÿ Determinaçao da tabela de valores adotada para a equivalencia de metrosquadradosdosterrenosenvolvidosnaTDC.QuandoaconcessaodaTDCresultarnatransferenciadapropriedadedoimovelparaamunicipalidade,preveraformadeindenizaçaodaseventuaisbenfeitorias.
Ÿ De�iniçaodaformuladecalculoparaaconcessaodaTDCeparaaequivalenciadatransaçaodedireitosdeconstruirentreterrenoscompreçosdometroquadradodiferenciados.
Ÿ Determinaçao de perımetros, areas e imoveis especı�icos de�inidos comotransmissoresoureceptoresdodireitodeconstruir.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Ÿ De�iniçaodemecanismosparaequilibrarautilizaçaodaTDCedaOODC.
Ÿ DeterminaçaodostramitesdoprocessodesolicitaçaoeconcessaodeTDC.
Ÿ EstipulaçaodeprazosparaautilizaçaododireitodeconstruiradvindodeTDCeprazosparaaalienaçaodeTDC,seforocaso.
Ÿ Desenvolvimento dos criterios e procedimentos para emissao e utilizaçao decertidoesdeTDC.
Ÿ PrevisaodemecanismosdecontroleegestaodaTDC,incluindo-seasatribuiçoesdassecretariaseorgaosresponsaveisparataisfunçoes.
Ÿ Elaboraçaodenormasespecı�icasparaaaprovaçaodeprojetoselicenciamentodeobrascomautilizaçaodascertidoesdeTDC,aseremaprovadasporconselhodeplanejamentomunicipalquegarantaaparticipaçaosocial(art.43eseguintesdoEC).
Ÿ ConsideraçaoarespeitodaaplicaçaodaTDCnasZonasdeEspecialInteresseSocial,nasZonas/A� reasdeEspecialInteresseUrbanısticoeoutrosinstrumentos.
Ÿ Estabelecimento de procedimento decisorio especı�ico para aprovaçao denormativa,implantaçao,edeferimentodeprojetosurbanoscomTDCs,nosquaissegarantaoencaminhamentotecnicoeaparticipaçaosocial,especialmenteatravesdeorgaoscolegiadosdeplanejamento,eamplapublicidade.
IMPLEMENTAÇÃODA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
IMPLEMENTAÇÃODA TRANSFERÊNCIA DODIREITO DE CONSTRUIR
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IMPLEMENTAÇÃOIMPLEMENTAÇÃO DA TDC
a.Introdução
A implementaçao da TDC trata, principalmente, da gestao dos ındices urbanısticospassıveisde transferencia, tantonomomentodaautorizaçaoparaa transmissaoquantonomomentodavinculaçaoaoimovelreceptor,dodireitodeconstruirtransferido.
Agestaodautilizaçaodoinstrumentoexigealgumaestruturaadministrativapropria–cujoportediferencia-sedeacordocomotamanhodomunicıpioeaformadeutilizaçao(TDCdiretaouindireta).Ocontrolepublicosedatantoemrelaçaoasareasouimoveistransmissoresquantoaosreceptores,comaemissaodedocumentaçaoespecı�ica,comotambemmedianteapublicizaçaodoprocessodecisorio.Portanto,cadamunicıpiodeveavaliarcomoadotaraTDCsegundosuaspossibilidadesdegestaodoinstrumento.
E� importantetambem,paraaimplementaçaodaTDC,aprevisaodasuaarticulaçaocomoutraspolıticaspublicaseconsequenteinteraçaocomoutrosinstrumentosdoplanejamentourbanolocal.
E� tambem relevante, para uma efetiva implementaçao da TDC, a participaçao dasociedadenagestaoenocontrolesocialdasatuaçoesurbanısticasdopoderpublico,bemcomoomonitoramento da circulaçao dos direitos advindos das TDC concedidas. A participaçaocontınuadapopulaçaoefundamentalparaqueoinstrumentonaosejaapropriadodeformainadequada,talcomoaautorizaçaoparaaTDCsemsuavinculaçaocomosinteressespublicosprevistosemlei.
OConselhodaCidadeoudePolıticaUrbana localpodeedeve atuar como �iscaldaadministraçaopublicamunicipalquantoaocontroledasautorizaçoesparaaTDCedoestoquededireitosdeconstruirdisponıveisparaedi�icaçaonosterrenosurbanosdasareasreceptoras.
b.EstruturaadministrativaparaaaplicaçãoegestãodaTDC
ATDC euminstrumentodepolıticaurbanaqueexigemonitoramentoconstanteeaparticipaçao de diversos orgaos e secretarias. E� importante, portanto, que as secretariasmunicipaisestejamarticuladaseinformadassobreosprocedimentosdaTDC.
Cabe a administraçao municipal, mediante procedimento administrativo regulamentado,autorizaraTDCaosproprietariosdosimoveistransmissorese,posteriormente,acomercializaçaodosdireitosdeconstruirparaimoveisreceptores,bemcomomanterumbancodedadosparaocontroledastransferenciasocorridasedossaldosdeTDCemcirculaçao.
Nocasodatransferenciadireta,osprocedimentossaomenoscomplexos,poisenvolvemumnumeromenordeetapasparaocumprimentodoprocesso.Entretanto,aTDCindiretaexigeumcontrolepublicomaisefetivo.Nessecaso,erecomendavelqueaadministraçaolocalcrieumaestruturaadministrativaquesejaresponsavelpelagestaoemonitoramentodautilizaçaodosdireitosdeconstruiradvindosdaTDC.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
UmaestruturaadministrativaespecializadaeparticularmenteimportantenocasodousodaTDCparaarealizaçaodeprojetosurbanosouobraspublicasdegrandeporte,poiselapossibilitareduziros tempos de efetivaçao da concessao da TDC e proporcionar um atendimento diferenciado aosproprietariosdeimoveistransmissores.
ValeobservarquenaaplicaçaodaTDCnaohaqualquerarrecadaçaopecuniariadecaratertributario por parte do poder publico. Este atua somente concedendo as autorizaçoes para atransmissaoerecepçaodaTDC,emitindoadocumentaçaopertinente.
Emgeral,aprincipalsecretariaenvolvidanaregulamentaçaoeimplementaçaodaTDCeadeurbanismoouplanejamentourbano, cujasatribuiçoesprincipaisnoque tangeao instrumentosaode�iniroscriteriosespecı�icosdeplanejamentourbanoparaasuaaplicaçaoecoordenartodooprocessode concessao e monitoramento. A Secretaria de Fazenda municipal tambem se apresenta comofundamentalnas transaçoesdeTDC, fornecendo informaçoesperiodicamente atualizadas sobreosvaloresdosterrenosnomunicıpioaseremutilizadosnas formulasdeequivalencia.Alemdisso,ossetoresdeaprovaçaodeprojetose licenciamentodeobrasprecisamestarcientesdaaplicaçaodoinstrumentode forma a veri�icarema regularidadedosdocumentosdeTDCpara a concessao delicençasdeedi�icaçao.
c.DocumentaçãoparaaplicaçãodaTDC
Opoderpublicomunicipaldevefornecerdocumentosquecerti�iquemosdireitosdeconstruirquesejamobjetodaTDC,garantindosegurançajurıdicaaoperaçao,tantoparaoproprietariodoimoveltransmissorquantoparaoadquirentedessesdireitosdeconstruir.
OdocumentoaseremitidopelopoderpublicoparaoproprietariodoimoveltransmissorpodeconsistiremumacertidaoqueautorizaraautilizaçaoemoutroterrenodosdireitosdeconstruirateoCAbasicoobjetoderestriçaonoimoveloriginal,ouasuaalienaçaoaoutroparticular.Osdireitosdeconstruir correspondentes serao expressos em metros quadrados relativos a area e zoneamentoespecı�icosemqueseencontraoimoveltransmissor,oquere�letira,futuramente,oseuvalor.
NocasodaTDCindireta,acirculaçaodestacertidaodeveraserreguladaeautorizadapelopoderpublico.Autilizaçaodacertidaoparaaautorizaçaodoexercıciodedireitosdeconstruiradicionaisemterreno(s)receptor(es)sedaramediantearealizaçaodocalculodeequivalenciapelopoderpublico.
Valeobservarque,nocasodetransferenciadeapenasumapartedosdireitosdeconstruirde�inidosnacertidaodaTDC,novascertidoesdeveraoseremitidasemsubstituiçaoaprimeira,umapara que o adquirente possa exercer o direito de construir adicional no terreno receptor, a serapresentadanomomentodasolicitaçaodelicençadeconstruçao,eoutraparaoproprietariooriginal,com o saldo remanescente a ser utilizado em outro(s) terreno(s), dentro dos prazos previstos.Recomenda-sequetodasascertidoesrelativasaomesmoimoveltransmissormantenhamamesmanumeraçao(porexemplo,123,123A,123B),demodoafacilitarocontroledo�luxoedossaldosdedireitosdeconstruirdaqueleimovel.
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OscartoriosderegistrodeimoveisestaraoenvolvidosnoprocessodeaplicaçaodaTDC,poisarestriçaoaedi�icaçaonoimovelquetenharecebidoobenefıciodaTDCdeveseranotadacomoumgravamenasuamatrıculanoRegistro Imobiliario,demodoa tornarpublicaessarestriçaoainteressadoscompradores.
Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
A faculdade de construir, quando ainda não materializada na forma de uma edificação, não é um direito real e, por isso, não consta da matrícula do imóvel no Registro Geral de Imóveis (RGI). Porém, quando da autorização para a TDC, para garan�r a segurança jurídica das partes, a TDC deve ser averbada no registro imobiliário do imóvel transmissor, nos termos pactuados pelo poder público.
Poroutro lado, cabealertarque,quandoda transferenciadodireitodeconstruiraoimovelreceptor,socaberaaaverbaçaodaconstruçaocomoumtodo,naconclusaodaobra,ecomaapresentaçaodosdemaisdocumentosexigidos.
NacertidaodeTransferenciadeDireitosdeConstruir(TDC)devemconstar:
Ÿ aidenti�icaçaodoimovel,comendereço,matrıculadoIPTU,areadoterreno,registronoRGI;
Ÿ aidenti�icaçaodo(s)proprietario(s)dasTDCs;
Ÿ azonaurbanaeparametrosurbanısticosondeselocalizaoimoveltransmissordodireitodeconstruir;
Ÿ asrazoesparaaconcessaodaTDC,conformeashipotesesprevistaspelomunicıpionoPlanoDiretorounaregulamentaçaomunicipaldaTDC;
Ÿ o(s)direito(s)deconstruir(totalouparcial)passıveldetransferencia,expressoemmetrosquadrados,tendocomoreferenciaoCAbasicodoterreno;
Ÿ adatadaautorizaçaodaTDC,queserviracomoreferenciaparaosprazosdeutilizaçaodosdireitosdeconstruircorrespondentes.
A certidao deve tambem conter a previsao para anotaçao dos dados referentes aoadquirente,tantonocasodaTDCdiretacomodaindireta,assimcomoasinformaçoesreferentesasualiquidaçao,mediantevinculaçaoaterreno(s)receptor(es).Alerta-sequeaaquisiçaodaTDCporparticularesnaodeveinterromperosprazosde�inidosparaasualiquidaçao.
Finalmente,ressalte-seserabsolutamenteimprescindıvelqueasprefeiturastenhamemantenhamatualizadosregistroebancodedadosdetodasasTDCsautorizadasecerti�icadas,com ampla transparencia dos negocios realizados, suas tabelas de conversao e dados dostransmitentes e dos adquirentes. Estes dados urbanısticos sao publicos, e o acesso a estainformaçaopodeserrequeridoeacessıvelaqualquercidadao.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
d.EstipulaçãodeprazosparaaimplementaçãodaTDC
A primeira referencia necessaria sobre a estipulaçao de prazos e a validade daequivalenciadevaloresentreosterrenosouareasenvolvidas.Ocadastroespecı�ico,referenciadona lei da TDC, com a base de valores dos terrenos urbanos deve, como ja mencionado, serperiodicamenteatualizado.Recomenda-sequeessaatualizaçaoocorraanualmenteequesejadisponibilizadaaopublicoemgeral.
OutroelementoaconsiderarequeapassagemdotempotemefeitosimportantessobreoprocessodeaplicaçaodaTDC,porqueaestruturaçaodascidadesedinamica.ArevisaodoPlanoDiretor, exigida a cada dez anos, pode alterar ındices urbanısticos, de�inidores de usos eaproveitamentos maximos para as diferentes zonas da cidade, alem de rede�inir areas deaplicaçaodeTDC,alterarperımetrosurbanosetc.Novascondiçoesdeusoeaproveitamentodosterrenosurbanos,porsuavez,incidemsobreosvaloresrelativosdosterrenosedasareasurbanas,valorizandorelativamentemaiscertasareasdacidade.Assim,paraumaaplicaçaoadequadadaTDC,devemserde�inidos,nalei,prazosassociadosasetapasdeimplementaçaodaTDC.
Duassituaçoesdevemserconsideradasnaestipulaçaodosprazos:(i)otempoparaqueoproprietarioquerecebeuobenefıciodaTDCalieneosdireitosdeconstruirparaoutrem,ouparaexercerodireitoemoutroterrenodesuapropriedade;e(ii)oprazoparaqueoproprietarioqueadquiriuosdireitosdeconstruirosexerça,ouseja,vinculeosdireitosdeconstruiraumalicençade construçao. Assim, deve haver prazos diferenciados para os proprietarios dos terrenostransmissoresedosreceptores.
AretençaodaTDCporlongosperıodos,sejapeloproprietarioquerecebeuobenefıciodaTDCcomoporaquelequeadquiriuosdireitosdeconstruiradicionais,podetrazerproblemasdecontroleeregulaçaodosestoquesdedireitosadicionaisdeconstruirporpartedaAdministraçaoPublica.Alemdisso,estaretençaopodesecon�igurarcomoumaformadeespeculaçaoanalogaaquelaqueseveri�icacomterrenosurbanosociosos.
Amanutençaodeterrenosurbanossemusoesuaconsequenteretençaoespeculativavaicontraoprincıpiodafunçaosocialdapropriedade.Paracombate-la,foramprevistosmecanismosconstitucionais, posteriormente adotados tambem no Estatuto da Cidade e a disposiçao dosmunicıpios.CertidoesdeTDC,representativasdedireitosdeconstruir,estaotambemsujeitasaretençao especulativa, aguardando que outras intervençoes publicas posteriores aquela queoriginouaTDC,taiscomonovosserviçoseequipamentosurbanosnaareaquefoiobjetodaTDC,valorizemdeformadiferenciadaaareaquefoiobjetodaTDC.
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27.VeroCadernodeParcelamento,Edi�icaçaoouUtilizaçaoCompulsorios(PEUC)eIPTUProgressivonoTempodestaColeçaodoMinisteriodasCidades.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Por isso, e importanteestabelecer,por lei,mecanismosderegulaçaodosprazosparaaalienaçaoeutilizaçaodosdireitosdeconstruiradvindosdaTDC.Aformarecomendadaparaaaplicaçao desses prazos e o estabelecimento de desagios temporais, ou seja, de uma reduçaogradual da quantidade demetros quadrados presentes nos documentos de TDC, com temposde�inidos.Assim,aleimunicipalquenormatizaoinstrumentodeveserclaraquantoaosprazosdequedispoemostransmitenteseadquirentesparaautilizaçaodostıtulosrelativosaTDC,osquaispodemedevemserdireitossujeitosatermos(prazostemporaisdeexercıcio),alemdasdemaiscondiçoesparasuautilizaçao.
Nocasodosproprietariosdeterrenostransmissores,sugere-secomotempoadequadoparaalienar ou vincular a TDC a outro terreno, garantindo a integralidade dos metros quadrados, oequivalente ao dobro do prazo de licença de construçao adotado nomunicıpio. Apos este prazo,recomenda-se que seja adotada uma reduçao progressiva na quantidade de metros quadradosconcedidos–porexemplo,de20%acadadoisanos,demodoarepresentarumincentivoparaavinculaçaodosdireitosadicionaisdeconstruiraumoumaisterrenosreceptores.
Mas,paraqueexistaummercadoqueabsorvabemessadinamicatemporalafavordosportadoresdeTDC,enecessarioqueomunicıpiotenhaimplantado,emtodooseuterritorio,osistemadevinculaçaodeconstruçoesadicionaisaoCAbasicoaopagamentodecontrapartidas,sejamedianteaOODCouaTDC.
Quantoaoprazodeefetivaçaodosdireitosdeconstruirpeloproprietariodoterrenoreceptor,estepodeestarvinculadoaoprazodaproprialicençadeconstruçaoesuaspossibilidadesecondiçoeslegaisdeprorrogaçao,prazoquegeralmentevariaconformeacategoria(edi�icaçao,parcelamentoetc.),tipoeportedoempreendimento.Aaplicaçaodeumareduçaogradualtambemeadequadanestaetapa.
Emqualquersituaçao,aestipulaçaodeprazosecorrespondentesreduçoesdaquantidadedemetrosquadradosoriundosdaTDCdeveestar,valerepetir,claramentede�inidanaleiespecı�icadaTDC. Esta deve tambem conter a referencia ao perıodo de revisao decenal do Plano Diretor domunicıpio,alertandoparapossıveisalteraçoesquepoderaoincidirsobreascondiçoesdeaplicaçaodaTDC,taiscomoade�iniçaodeareasreceptoras,aalteraçaodeındicesurbanısticosnessasareasetc.,naosopeloPlanoDiretor,comoporlegislaçaourbanısticaqueocomplemente.
i.AvalorizaçãonotempododireitodeconstruirbásicooriundodaTDC
OefeitododecursodotemponavalorizaçaododireitodeconstruirbasicoeespecialmenteimportantenousodaTDC,paragarantiraequidadeentreosproprietariosdeterrenoslocalizadosnamesmaareadaintervençao,ecomoformadetornaraTDCumaopçaointeressanteparaoproprietario,frenteaalternativadadesapropriaçao.
QuandoaTDC eutilizada comomecanismodeaquisiçaoalternativo adesapropriaçaonaobtençaodeimoveisparaobraspublicas,ascertidoesdedireitodeconstruirgeradas,representadasporumacertaquantidadedemetrosquadrados,estaraovinculadasaareaondeestasobraspublicasestao sendo realizadas. Posteriormente, nomomento da utilizaçao dessas certidoes nos terrenosreceptores,deveraserrealizadoocalculodeequivalenciaentreovalordometroquadradonaareadeorigem,eovalordometroquadradonaareadedestino,demodoaajustaraquantidadedemetrosquadradosaserutilizadanoterrenoreceptor.
Com o passar do tempo (e a efetivaçao da obra publica), a area de origem estara,possivelmente,maisvalorizadaemtermosrelativosqueoutrasareasquenaoestejamnaareadein�luenciadaintervençaoe,comisso,ascertidoesiraore�letirapossıvelvalorizaçaogeradaporaquelaobrapublica.Note-sequenestecasonaoseestapermitindoaapropriaçaoprivadadavalorizaçao vinculada a direitos de construçao adicionais, mas somente aquela eventualvalorizaçaorelacionadacomoCAbasico.ATDCpermiteque,especi�icamentenestecaso,oproprietarioqueoptoupelatransferenciasebene�iciedavalorizaçaodecorrentedaobrasobreodireito de construir ate o CA basico, assim como seus vizinhos que permaneceram com apropriedadedeseusimoveis.Essavalorizaçaoviabilizatambem,pelaequivalenciadevalores,queoproprietariodoimovelatingidoadquiraoutroimovelnomesmolocal.
Figura12-TDCeequivalênciaemmetrosquadrados,combasenavalorizaçãodosolo.
Limites urbanís�cosmáximos
CA básico
Área 1Terreno 2(Receptor)
$/m²
TDC - direito de construirtransferido do terreno 1para o terreno 2
Edificação até o CA básico
MOMENTO T0
Área 1Terreno 1
(Transmissor)$/m²
Área 2Terreno 3(Receptor)
$/m²
Limites urbanís�cosmáximos
CA básico
Área 1Terreno 2(Receptor)
$$/m²
MOMENTO T1
Área 1Terreno 1
(Transmissor)$$/m²
Área 2Terreno 3(Receptor)
$/m²
TDC - direito de construirtransferido do terreno 1para o terreno 3
Transferência do Direito de Construir (TDC)
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Poder público ELABORA PROJETO urbanís�co
Poder público NOTIFICA proprietários cujos terrenos serão necessários para fins de interesse público e ORIENTA proprietários quanto à opção pela desapropriação ou por
receber o bene�cio da TDC, concedendo PRAZO para que os proprietários façam a opção
Poder público emite CERTIDÃO DE TDC
Proprietário do terreno transmissoropta pelo EXERCÍCIO do direito de
construir EM OUTRO LOCAL
Proprietário do terreno transmissor opta pela ALIENAÇÃO
do direito de construir
Proprietário opta pela DESAPROPRIAÇÃO Proprietário opta pela TDC
Poder público dá INÍCIO AO PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO
O poder público faz o CÁLCULO DA QUANTIDADE DE METROS
QUADRADOS de direito de construir que podem ser transferidos
Quadro5-TDCcomoformade
aquisiçãodeimóveisalternativaàdesapropriação–imóveltransmissor
e.Passosnecessáriosparaaimplementação
Paraoimoveltransmissor,oscaminhosnautilizaçaodaTDCsaode�inidosdeacordocomospropositosbasicosdoinstrumento:comoalternativaadesapropriaçaoparaaobtençaodeterrenosnecessariosparaprojetospublicos,oucomocompensaçaoporrestriçoesespeciaisaodireitodeconstruirbasicoemvirtudedapreservaçaode imoveisprotegidosculturalouambientalmente.Osdiagramasaseguirapresentamosprincipaispassosnecessariosemcadaumadessashipoteses.
Quadro6-TDCcomocompensaçãoarestriçõesaodireitodeconstruirbásico–imóveltransmissor
Transferência do Direito de Construir (TDC)
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Imóvel sofre RESTRIÇÕES AO DIREITO DE CONSTRUIR
BÁSICO
Proprietário do terreno transmissor SOLICITA O BENEFÍCIO DA TDC
Poder público NÃO AUTORIZA TDC
Poder público DETERMINA, em lei, AS ÁREAS OU IMÓVEIS TRANSMISSORES de TDC
Poder público AUTORIZA TDC
O poder público faz o CÁLCULO DA QUANTIDADE DE METROS
QUADRADOS que pode ser objeto de TDC e emite
CERTIDÃO DE TDC para o proprietário do imóvel
transmissor
A RESTRIÇÃO AO DIREITO DE CONSTRUIR é anotada na
matrícula do imóvel transmissor no REGISTRO
IMOBILIÁRIO
Proprietário do terreno transmissor opta pelo
EXERCÍCIO do direito de construir EM OUTRO LOCAL
Proprietário do terreno transmissor opta pela
ALIENAÇÃO do direito de construir
Nocasodoimovelreceptor,autilizaçaodaTDCdependedaopçaofeitapeloproprietariodoimoveltransmissor,quepodeexercerodireitodeconstruiremoutrolocal,oualienaressedireitoaterceiros.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
Proprietário do terreno transmissor opta pelo EXERCÍCIO do direito de construir
EM OUTRO LOCAL
Proprietário do terreno transmissor opta pela ALIENAÇÃO do direito de construir
Poder público emite CERTIDÃO de TDC para o proprietário do terreno transmissor
Proprietário do imóvel transmissor DEFINE O TERRENO RECEPTOR
Proprietário interessado em adquirir o direito de construir DEFINE O TERRENO RECEPTOR
Poder público realiza CÁLCULO DE EQUIVALÊNCIA do direito de construir com base nos valores dos terrenos envolvidos na TDC
Proprietário vincula o direito de construir ao terreno receptor
Adquirente vincula o direito de construir ao terreno receptor
Proprietário do imóvel transmissor EXERCITA O DIREITO DE CONSTRUIR em outro terreno de
sua propriedade, mediante a construção
Adquirente EXERCITA O DIREITO DE CONSTRUIR no terreno receptor,
mediante a construção
Após a construção, é feita a AVERBAÇÃO DA EDIFICAÇÃO NA MATRÍCULA DO IMÓVEL junto ao REGISTRO DE IMÓVEIS
Quadro7-TDC–imóvelreceptor
segundoaopçãodoproprietáriodo
imóveltransmissor
f.Interaçãocomoutrosinstrumentos
Osinstrumentosjurıdico-urbanısticos,orientadosporprincıpiosediretrizescontidosnoEstatutodaCidade,devemserregulamentadoseutilizadospelasadministraçoesmunicipaisdeformaharmonicaeinseridosemumsistemamaisabrangentedeplanejamentourbano.Dessaforma, e importante veri�icar as repercussoes da aplicabilidade de cada um deles, quandoaplicados para propositos comuns. A partir de uma analise integrada e possıvel, inclusive,potencializarousodecadaumdosinstrumentosenvolvidos.
A relaçao essencialdaTDC e comaOODC, como ja apresentado, eha tambemumarelaçaointensacomadesapropriaçao,umavezqueaTDCeacionadacomosoluçaoalternativaaaplicaçaodesseinstituto,respeitando-seasdiferençasprevistasemlei.Outrosinstrumentoscujos objetivos ou �inalidades estao relacionados diretamente com a TDC sao as Zonas deEspecialInteresseSocial(ZEIS)easOperaçoesUrbanasConsorciadas(OUC).
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28.Dispositivoslegaisbrasileirostratamoutrostiposdedesapropriaçao,asaber:Desapropriaçaoporinteressesocial(CF/1988,art.5º,XXIV;LeiFederalNº4.132/1962;Desapropriaçaosançao,ao�imdoprocedimentodenoti�icaçaoparaedi�icaçaoouparcelamentocompulsorioeaplicaçaodoIPTUProgressivonoTempo(CF/1988,art.182,§4º,inc.III);Desapropriaçaopara�insdereformaagraria(CF/1988,art.184eLeiComplementarn°76/1993);Expropriaçaodeglebascomcultivodeculturasilegaisdeplantaspsicotropicas(CF/1988.art.243eLeiFederalNº8.257/1991).(Essasistematizaçaoencontra-seemFernandeseAlfonsin,2009,pp.27-28).
Transferência do Direito de Construir (TDC)
i.TDCeDesapropriação
O instituto jurıdicodadesapropriaçaopor interessepublico e umdosmeiospara aincorporaçaodebensdeparticularesaopatrimoniopublico,medianteopagamentopreviodeindenizaçaoemdinheiroaoparticular,conformeaprevisaoconstitucionaldoart.5º,XXIVeregulamentaçaoespecı�icapeloDecreto-Leinº3.365,de21dejunhode1941.
Emgeral,autilizaçaodadesapropriaçaogerainsatisfaçoesdetodaordem,tantodapartedosproprietariosafetados,quantodasadministraçoespublicasque,emmuitoscasos,enfrentamcustososprocessosjudiciaisquerefutam,principalmente,ovalordaindenizaçao.Amorosidadedoprocedimentoadministrativodadesapropriaçaoeaaltacargadeburocraciaenvolvida,quepodemin�luenciaratemesmooandamentodasobras,eoutroproblemarecorrente.
AutilizaçaodaTDCcomomecanismoalternativoadesapropriaçaoporinteressepublicotemcomopropositofacilitaraobtençaodeterrenosurbanosnecessariosaobraspublicas.Comojamencionado,aTDCdispensaautilizaçaoderecursosorçamentariosdiretosparaopagamentodosterrenosqueseriamobtidospormeiodedesapropriaçao,quesao,emgeral,oitemmaiscarodasobraspublicas. Ademais,aadoçaodaTDCpodecontribuirparaagilizarosresultadosdatransferenciadaspropriedadesaopoderpublicoeresolvem,deformanaocon�lituosa,arelaçaocomosproprietarios,evitando-seprocessosjudiciais.
Tais instrumentos, ainda que possam ser utilizados para o mesmo proposito, saobastantedistintos.Enquantoadesapropriaçaoeumatoimperativodopoderpublicoparaaaquisiçaodoimovel,aTDCeumaalternativaoferecidaaoproprietario,queoptapelaTDCaoinvesdereceberaindenizaçaoemdinheiromedianteoprocessoexpropriatorio.Oprocessoexpropriatorioeumprocedimentoformal,de�inidoemlei,enquantoaTDCocorredeformanegociadaeconsensual,aindaqueseuprocedimentosejaregulamentadotambemporlei.DiferetambemaTDCdadesapropriaçaoquantoaobenefıciorecebidopeloproprietarioqueperdeapropriedade do imovel. Na desapropriaçao, a indenizaçao e paga antecipadamente e emdinheiro;janaTDC,oproprietariorecebemetrosquadradosdedireitodeconstruir,osquaispodemseralienadosouexercidosemoutroterreno.
Cabeacadaadministraçaomunicipalavaliarqualinstrumentoadotaremcadacaso.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
ii.TDCeOperaçãoUrbanaConsorciada
AOperaçaoUrbanaConsorciada (OUC) e um instrumento que reune intervençoes emedidas coordenadas pelo poder publico para a promoçao de uma transformaçao de umadeterminadaareadacidade.EmsuaprevisaolegalcontidanoEstatutodaCidade,osdireitosadicionaisdeconstruçaopodemserconvertidosemCEPAC(Certi�icadosdePotencialAdicionalde Construçao), instrumento especı�ico a ser utilizado nasOUC para a comercializaçao dosdireitosadicionaisdeconstruirdentrodoslimitesterritoriaisdaoperaçao.OsrecursosauferidospelavendadosCEPACsseraoutilizados,portanto,obrigatoriamente,naareaobjetodaOUC.
O CEPAC, como um instrumento de captaçao de recursos �inanceiros, pode serconsideradouminstrumentoemdois,poiscumprefunçoesdaOODCedaTDC.Atravesdele,saocapturadasasmais-valiasfundiariasurbanasesaoobtidososrecursosparaocusteiodasobras,assimcomoaOODC.Alemdisso,osrecursosoriundosdavendadosCEPACstambempodemseraplicadosparaopagamentodecompensaçoesdecorrentesdaobtençaodeterrenosnecessariosasobraspublicas,comoaTDC.ValerecordarqueoCEPACtemsuacirculaçaoreguladapelaComissaodeValoresMobiliarios(CVM).
TendoemvistaavastapossibilidadedeutilizaçaodosrecursosadvindosdavendadosCEPACs,naosejusti�ica,naOUC,acirculaçaodedoistiposdedocumentosrepresentativosdedireitosdeconstruiradicionais. Alemdisso,apermissaodeutilizaçaodaTDCdentrodeumaOUCabririaapossibilidadedequeesteinstrumento–quenaotemcontroleexternoaopoderpublicomunicipal–fosseusadocomosubstitutodoCEPAC,oquecomprometeriaageraçaoderecursosparaaviabilidadedasobrasdaOperaçao.
Em grandes obras viarias ou de ampla intervençao urbanıstica, o instrumentorecomendadoeaOUC,paraoqueseexigeumprojeto,alemdeumprogramaurbanıstico-socialaprovadoporleiespecı�ica.Entretanto,emsetratandodeprojetosmenoscomplexosouemintervençoesurbanasemmunicıpiosmediosoupequenos,emaisadequadaaelaboraçaodeumprojetourbanoouprojetodealinhamento,semainstituiçaodeumaOUC.Nessecaso,comoalternativaaousodoCEPAC,emaisconvenienteautilizaçaodaTDCdeformaconjugadaaOODCnaareadeintervençao.
E� importantedestacarqueaOODC,quandoaplicadaaperımetrosdelimitados,deveserobjetodeprocedimentoconcorrencial;alemdisso,osrecursosadvindosdaOODCnaodevemservinculadosaareadaintervençao,esimaosobjetivosprevistosemleiparaoinstrumento(EC,art. 31, que remete as �inalidadesprevistasno art. 26).Nessa situaçao, aOODCatua comoinstrumento de recuperaçao da valorizaçao fundiaria decorrente do exercıcio de maioresaproveitamentosurbanısticos,eaTDCeaplicadaaoscasosdepreservaçaodeimoveis,bemcomonasareasdeespecialinteresseambiental,oucomoalternativaadesapropriaçaonoscasosprevistosnoEC.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
iii.TDCeZonadeEspecialInteresseSocial
As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) compoem o rol de instrumentos deplanejamentourbanoehabitacionalaseremadotadospelosmunicıpios.EstabelecidaspeloPlanoDiretor,asZEISsaoareasdacidadeparaasquaissaode�inidosparametrosurbanısticosespeciaiscom�inalidadessociais,comoareservadeedi�icaçoes,glebaseterrenosdesocupados,naoutilizadosousubutilizados,paraaexecuçaodeHabitaçaodeInteresseSocial(HIS)ouparafacilitararegularizaçaofundiariadeareasocupadasporpopulaçaodebaixarenda.
Quando existe o objetivo de obter imoveis para tais �inalidades, a TDC pode serarticuladaasZEIS.Issopodeocorrer,porexemplo,emcasosdeocupaçaoirregulardeterrenosporpopulaçaodebaixarendanosquaisosocupantesaindanaoseencontrememcondiçaodeaquisiçaodapropriedadedoimovel,noscasosprevistospelalegislaçao,ouemsituaçoesdecon�litos fundiarios, e a prefeitura tenha interesse em regularizar a situaçao em prol dosmoradores.Aprefeiturapodeentaoproporaoproprietariodoimovelqueeleaceiteutilizaremoutrolocal,oualienar,odireitodeconstruirbasicoreferenteaoseuimovel,embenefıciodoprogramamunicipaldehabitaçao.
TIRA-DÚVIDASTIRA-DÚVIDAS
FOTO
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TIRA-DÚVIDASTIRA-DÚVIDAS
QuaissãoosobjetivosbásicosdaTDC?
ATDC,segundoosseusfundamentos,visacompensaroproprietáriodeumdeterminadoterrenourbanoquando,porrazõesdeinteressepúblico,estedireitodeconstruirbásiconãopossaserexercido,notodoouemparte.Oinstrumentotambémpodeserutilizadocomoumaalternativaàdesapropriação,comopagamentodacompensaçãoaoproprietáriopelaperdadodomíniodeseuimóvel.
Por que a TDC e a Outorga do Direito de Construir (OODC) devem ser concebidas eaplicadasconjuntamente?
ATDCeaOODCdevemseraplicadasconjuntaecoordenadamente,poisambaspartemdomesmoprincípiodeconferirmaiorequidadeentreosproprietáriosdeterrenosurbanos.ATDC,concedidaàquelesproprietárioscujaedi�icação,poralgumalimitaçãodeinteressepúblico,nãoatingiuolimitedoCAbásico,signi�icaumacompensaçãopelarestriçãoanormaleespecialaodireitodeconstruir.AOODC,comoumacontrapartidadoproprietárioqueedi�icaalémdoCAbásicoatéoslimites urbanísticos máximos, recupera para a coletividade parte dos recursos urbanísticospúblicos(direitosdeconstruiradicionaisaoCAbásico),edosquaistenhadecorridovalorizaçãopela atribuição diferenciada dos índices urbanísticosmáximos. Para a aplicação de ambos osinstrumentos,éessencialoestabelecimentodoCAbásico.
Oqueécoe�icientedeaproveitamentobásico(CAbásico)?
Coe�icientedeaproveitamentobásicoéaquelequede�ineautilizaçãoautorizadaparatodososterrenos urbanos sem o pagamento de contrapartida. O CA básico é um patamarmínimo deedi�icaçãoqueconfereutilidadeaosterrenosurbanos.
Oquesãooslimitesurbanísticosmáximos?
Os limites urbanísticos máximos correspondem aos índices que orientam a maior utilizaçãopermitidaparaoterreno,combinandoascondiçõesurbanísticaspré-existentes(infraestruturaurbana)eacapacidadedeinvestimentosfuturo,visandoaumamelhordistribuiçãodos“bene�ícioseônusdecorrentesdoprocessodeurbanização”.
PorqueaTDCdeveserconcedidasomenteatéolimitedocoe�icientedeaproveitamentobásico(CAbásico)?
Compreende-sequeodireitodeconstruiratéoCAbásicopertenceaoproprietário,erepresentaoconteúdoútildapropriedadeurbana.Porisso,somenteodireitodeconstruiratéoCAbásicopodeserconcedidodeformanãoonerosae,portanto,passíveldesercompensadopelaTDCquandohouverlimitaçõesespeciaiseanormaisaomesmo.OdireitodeconstruiracimadoCAbásicoatéoCAmáximo,ouoslimitesurbanísticosmáximosqueorepresentem,sãorecursosurbanísticoscriadosporatodopoderpúblico,porlei,eporissosão bens pertencentes à coletividade, e colocados à disposição dos interessados em adquiri-los paraampliarocoe�icientedeaproveitamentodeseuimóvelparaalémdousobásicocomumatodos.
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Transferência do Direito de Construir (TDC)
OsdireitosdeconstruirprovenientesdaTDCpodemserutilizadosacimados limitesurbanísticosmáximos?
OsdireitosdeconstruirprovenientesdaTDCdevemserutilizadosnasáreasreceptorasdentrodosparâmetrosurbanísticosmáximosprevistosnalegislaçãourbanísticacomoogabarito,aalturamáximadaedi�icação,osrecuoseafastamentosobrigatórios,ataxadeocupaçãoeocoe�icientemáximo de aproveitamento do terreno, dentre outros. Uma vez que esses parâmetros sãoestabelecidos pelo planejamento urbano segundo critérios técnicos como, por exemplo, acapacidade da infraestrutura e serviços públicos disponibilizados para suportar e atender aoadensamento construtivo e populacional, cuidados ambientais e de qualidade de vida, epreservaçãodopatrimôniocultural,oslimitesestabelecidosnãopodemserultrapassados.Deve-setambémconsiderarqueosdireitosdeconstruiradvindosdaTDCeOODC,quandoutilizadasnomesmoterreno,sãocumulativos,porémapenasatéoslimitesmáximos.
ComoaTDCrelaciona-secomadesapropriação?
Adesapropriaçãoéuminstitutojurídicopeloqualopoderpúblicoadquireumimóvelporinteresseounecessidadepública,mediantepréviaejustaindenizaçãoemdinheiro.ATDCpodeserconcedidaaoproprietáriocomoalternativaàdesapropriação,sempremedianteaaceitaçãodeste,comoumaformadecompensaçãoporterrenonecessárioparaobraseequipamentospúblicos,produçãodehabitação de interesse social ou regularização fundiária. Eventuais benfeitorias deverão serindenizadasemdinheiro.
ComoaTDCrelaciona-secomausucapião?
ATDCéumdosinstrumentosjurídico-urbanísticosdoEstatutodaCidadequepodeseraplicadoemprogramasderegularizaçãofundiáriaedehabitaçãodeinteressesocial.Usucapiãoéuminstitutojurídicoqueconfereaopossuidordeboa-féapropriedadedoterrenodeterceirospelodecursodeumdeterminadotempoesobcondiçõesde�inidasemlei.NãosedeveaplicaraTDCaterrenosquejácumpramosrequisitosparaaaquisiçãodoterrenoporusucapião.
OndesepodeutilizaraTDC?
A TDC pode ser utilizada em toda a área urbana, estabelecendo-se as áreas ou imóveistransmissoreseasáreasreceptoras,segundooscritériosdoplanejamentourbanolocal.TaisáreasdevemestarprevistasnoPlanoDiretor.
ATDCtemimpactosobreoadensamento?
Oslimitesdoadensamentoconstrutivosãoestabelecidospeloplanejamentourbano.ATDCnãodeveserutilizadaacimadosparâmetrosmáximosdeedi�icabilidade.ATDCpodein�luirsobreoadensamentonamedidaemquepodeserutilizadaparaconstruiracimadoCAbásiconasáreasondeozoneamentoassimopermite,tendocomolimiteoCAmáximo.
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ÉnecessárioqueoimóvelsejatombadoparaaconcessãodaTDC?
Énecessárioqueestejacaracterizadoointeressepúbliconapreservaçãodoimóvel.Dessemodo,énecessárioqueoimóvelsejatombadoouquesejaprotegidoporalgumtipodeinstrumentolegalqueimpeça/restrinjadeformaespecí�icaqueodireitodeconstruirbásicosejaatingido,equedestarestriçãoseexija,juridicamente,compensação.
PorqueéimportantequehajaprazoparaautilizaçãodaTDC?
UmadasrazõesparaoestabelecimentodeprazosparaautilizaçãodaTDCéevitarquehajaespeculaçãocomessesdireitos.Alémdisso,cabelembrarqueosPlanosDiretoresdevemserrevistosacadadezanos,eo acúmulo de TDC não utilizada pode suscitar questionamentos judiciais mediante alterações nalegislaçãourbanística,sejadoPlanoDiretorounão,queafetemaaplicaçãodoinstrumento.
Qual a diferença entre a Certidão de TDC e o Certi�icado de Potencial Adicional deConstrução(CEPAC)?
OCEPACéumtítulomobiliáriode livrecirculaçãonomercado,outorgadoonerosamentepelamunicipalidade,utilizadoparao �inanciamentodasgrandes intervençõesurbanas (OperaçõesUrbanasConsorciadas),equerepresentaopotencialadicionaldeconstruçãoprevistoemleiparaimóveisinseridosemumaáreadelimitadaemleiespecí�ica.ACertidãodeTDCéumdocumentopúblicoque informaaquantidadedemetrosquadradosdedireitosdeconstruirbásicosqueoproprietáriodeumimóveltransmissorpodealienarouexerceremoutrolocal.ATDCeoCEPACtambémsedistinguememrelaçãoà limitaçãoterritorialparasuautilização,poisenquantooCEPACévinculadoàáreadeintervençãodeumaOUC,aTDCpoderáserutilizadaemtodaacidade,nasáreasde�inidascomoreceptoras(ouadensáveis)pelalei.OutradiferençaéquenãoháumalimitaçãolegalquantoàquantidadedeTDCconcedida,jáquerepresentamtãosomentedireitosdeconstruirbásicos,enquantoosCEPACssãoemitidosemumaquantidadedeterminadapelaleidaOperaçãoUrbanaConsorciada.
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Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
REFERÊNCIAS
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ANEXO
AnexoI-ResoluçãoRecomendadanº148,de7dejunhode2013
MINISTE� RIODASCIDADES
CONSELHODASCIDADES
DOUde20/10/2014(nº202,Seçao1,pag.62)
Recomendaaadoçaodocoe�icientedeaproveitamentobasicocomoprincıpiobalizadordapolıticafundiariaurbanamunicipal,aserutilizadoportodososmunicıpios.
OConselhodasCidades,nousodassuasatribuiçoesestabelecidaspeloDecretonº5.790,de25demaiode2006,e
considerandoqueoEstatutodaCidade,LeiFederalnº10.257de10dejulhode2001,aoregulamentar o artigo 182 da Constituiçao federal, determinou que toda propriedade devecumprirumafunçaosocial,segundocriteriosde�inidosnosplanosdiretores;
considerandoqueumdosefeitos colateraisda legislaçaodeusodo solo e valorizardiferentementeosimoveis,comoresultadodesuacapacidadelegaldecomportarareaedi�icada,gerandosituaçoesdeinjustiça;
considerandoqueoEstatutodaCidade,LeiFederalnº10.257de10dejulhode2001,de�ine em seu artigo 28, § 1º que "coe�iciente de aproveitamento e a relaçao entre a areaedi�icaveleaareadoterreno";
considerando que o coe�iciente de aproveitamento basico e aquele que de�ine autilizaçaoautorizadaparatodososterrenosurbanossemopagamentodecontrapartida;
considerandoqueoEstatutodaCidade,LeiFederalnº10.257de10dejulhode2001,de�ineemseuartigo28,§2ºqueosPlanosDiretorespodem�ixarcoe�icientedeaproveitamentobasicounicoparatodaazonaurbana,cabendoaoConselhodasCidadesemitirorientaçoeserecomendaçoessobresuaaplicaçaosegundooartigo3ºdoDecreto5.790,de25demaiode2006;
considerandoquesegundoo§1º,doartigo1.228daLeinº10.406/2002-CodigoCivil,odireitodepropriedadedeveserexercidoemconsonanciacomassuas�inalidadeseconomicasesociais;
considerandoqueocoe�icientedeaproveitamentobasiconaopossuicaraterurbanısticoou �iscal, consistindo em um patamar de edi�icaçao que confere utilidade social e valoreconomicoaosterrenosurbanosdeformaequanime;
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considerando que na de�iniçao de um patamar basico de utilizaçao das edi�icaçoes,
quanto mais uniforme for o coe�iciente de aproveitamento basico, maior sera a igualdade
proporcionadaaspropriedadesurbanas;
considerandoqueautilizaçaogeneralizadadocoe�icientedeaproveitamentobasicopossibilita,entreoutrascoisas:
a)controlareregularopreçodaterraurbana;
b)corrigirainjustiçadavalorizaçaodiferenciadadecorrentededecisoesdanormativaurbanıstica,e
c)de�inirumabaseparaageraçaodecontrapartidas,contribuindoparao�inanciamentododesenvolvimentourbanodemodoaatender,especialmente,a�inalidadessociais.
considerandoquealemdediretamenterelacionadoaosinstrumentosdoEstatutodasCidades, o coe�iciente de aproveitamento basico tambem incide sobre a de�iniçao de areasambientaisouademarcaçaodeambientesdepreservaçao;
considerando que de acordo com o Estatuto da Cidade a adoçao do coe�iciente deaproveitamentobasicoeobrigatorianocasodautilizaçaodaOutorgaOnerosadoDireitodeConstruir(OODC),aqualsetraduznacobrançadecontrapartidapeloexercıciododireitodeconstruiracimadocoe�icientedeaproveitamentobasicoadotado;e
considerando que o coe�iciente de aproveitamento basico e essencial para aestruturaçaodeumapolıticafundiariaurbanamunicipaleecapazdefuncionarcomoprincıpiobalizadordestapolıtica,suaadoçaodeveserasseguradaportodososmunicıpiosquepretendamavançar na justa distribuiçao dos benefıcios e onus do processo de urbanizaçao, diretrizconsagradanoEstatutodaCidade,adota,mediantevotaçao,eseupresidentetornapublica,aseguinteresoluçaodePlenario:.
Art.1º-Recomendaraadoçaodocoe�icientedeaproveitamentobasicocomoprincıpiobalizadordapolıticafundiariaurbanamunicipal,aserutilizadoportodososmunicıpiosate2015.
Art.2º-De�inirqueocoe�icientedeaproveitamentobasicodeveraserunitario(um)eunicoparatodaazonaurbana.
Paragrafo unico - Poderao ser adotados, em funçao do interesse publico local,coe�icientes de aproveitamento menores do que 1 (um) para areas de proteçaoambientaloupatrimoniocultural
Art.3º-Apossibilidadedoexercıciodedireitosdeconstruiradicionaisaosde�inidospelocoe�icientedeaproveitamentobasicodeveestarsubordinadaaointeressepublico,
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§1º-Somenteasareasadequadamenteservidasdeinfraestrutura,eporissocapazesde
receber maior adensamento, poderao ser passıveis da atribuiçao de direitos
construtivosadicionaisaquelede�inidopelocoe�icientedeaproveitamentobasico.
§2º -Os limitesmaximosdeaproveitamentodos terrenosurbanosdevem levaremconsideraçao,alemdacapacidadedeinfraestrutura,oimpactodevizinhança,oimpactoambientaleomodelodedesenvolvimentourbanolocal.
§3º-Aoutorgadodireitodeconstruiracimadocoe�icientedeaproveitamentobasicodevera estar sujeita aopagamentode contrapartidasque restituam a coletividade avalorizaçaodiferenciadarecebidapelosbene�iciarios.
§4º-Naproduçaodehabitaçaodeinteressesocial,aautorizaçaoparaconstruiracimado coe�iciente unico de aproveitamento basico nao deve resultar em cobranças�inanceirasadicionais.
§5º-Oexercıciodosdireitosdeconstruiradicionais,de�inidosalemdocoe�icientedeaproveitamentobasico,aindaqueprevistoemlei,devemserexpressamenteautorizadospelaautoridademunicipalresponsavelpelolicenciamentodeempreendimentos,ouvidoorespectivoConselhoMunicipal,tendoemvistaoimpactolocalcausadopeloaumentodadensidadeconstrutiva.
Art. 4º - Os recursos provenientes da cobrança do direito de construir acima docoe�iciente unico de aproveitamento basico devem ser destinados a promoçao dehabitaçao de interesse social, envolvendo, entre outros aspectos, a regularizaçaofundiariaplenaeaprovisaodemoradiadigna.
Art.5º-OMinisteriodasCidadesdeveconstituirumbancodedadossobreosmunicıpiosqueadotameaplicamocoe�icientedeaproveitamentobasicoepromoveratividadesdeformaçaovisandoadifusaodesseinstrumento.
Art.6º-Estaresoluçaoentraemvigornadatadesuapublicaçao.
GILBERTOOCCHI-PresidentedoConselho
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Presidente da RepúblicaMICHEL TEMER
Ministro de Estado das CidadesALEXANDRE BALDY
Secretário ExecutivoSILVANI ALVES PEREIRA
Secretária Nacional de HabitaçãoMARIA DO SOCORRO GADELHA CAMPOS DE LIRA
Secretário Nacional de Desenvolvimento UrbanoGILMAR SOUZA SANTOS
Secretário Nacional de Saneamento AmbientalANTONIO HENRIQUE DE CARVALHO PIRES
Secretário Nacional de Transportee Mobilidade UrbanaINÁCIO BENTO DE MORAIS JUNIOR
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU)JOSÉ MARQUES DE LIMA
Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN)MAURÍCIO JOSÉ ALVES PEREIRA
Empresa Brasileira de Trens Urbanosde Porto Alegre S.A. (TRENSURB)DAVID BORILLE
Realização:Apoio: