transferências de excedente na economia portuguesa...

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Nicolau Anlise Social, vol. XXIII (96), 1987-2., 279-308

Isabel Salavisa

Transferncias de excedentena economia portuguesa:balano de ganhos e perdas1

INTRODUO

A degradao persistente da base produtiva da economia portuguesa e,particularmente, da sua base industrial; os ganhos ntidos de um sectorexportador, ainda largamente tradicional; o enriquecimento sbito deestratos ligados a certas actividades comerciais e especulativas; o desenvol-vimento das actividades tercirias; e o papel relevante da poltica doEstado em tudo isto eis os fenmenos directamente observveis na rea-lidade portuguesa da ltima dcada2 que constituram o nosso ponto departida.

A nossa investigao consistiu em indagar se eles eram verificveis numquadro terico em termos de partilha ou, mais precisamente, em termos detransferncias do excedente social.

Nesta formulao, a crise actual seria acompanhada por uma pronun-ciada transformao dos mecanismos e intensidades de circulao do refe-rido excedente.

A hiptese central prosseguida pode ser equacionada do seguintemodo: no perodo em anlise ter-se-ia assistido a um deslocar do peso eco-nmico e social do sector produtivo para o sector improdutivo. O corpo dehipteses secundrias respeitaria:

melhoria relativa do segmento exportador, destacando-se nitida-mente no seio do sector produtivo;

Ao papel da inflao como meio privilegiado de transferncia do exce-dente;

1 O presente artigo retoma uma investigao originalmente realizada no mbito do mes-trado em Economia, no ISE, em seminrio dirigido pelo Prof. Francisco Pereira de Moura,e contou com o apoio informtico de Lus Fraga. As opes tericas e metodolgicas (e oseventuais erros) so, obviamente, da responsabilidade das autoras.

2 Ver referncias ascenso de agentes improdutivos, especuladores e outros em MrioMurteira, Desenvolvimento, Subdesenvolvimento e o Modelo Portugus, Lisboa, EditorialPresena, 1979; Antnio Rodrigues, Desvalorizao do escudo seu significado e conse-quncias, in Economia e Socialismo, n. 16, Julho de 1977, pp. 3-30, e O acordo com oFMI e a actual poltica econmica, in Economia e Socialismo, n. 28, Julho de 1978, pp. 16-22; e Augusto Mateus, Economia portuguesa: que crise?, in Economia e Socialismo,n. 59, Outubro-Dezembro de 1983, pp. 5-25. 279

importncia central da poltica do Estado nas alteraes ocorridas,sendo de sublinhar a utilizao do sector pblico empresarial.

Convm desde j explicitar os aspectos que, em nosso entender, limi-tam o alcance da investigao.

Em primeiro lugar, o facto de integrar insuficientemente os aspectossociais e polticos, to relevantes na fase aberta pelo 25 de Abril. Sem secircunscrever exclusivamente nos limites econmicos, a sua tnica aindaa do econmico. Ora o problema da recomposio de um bloco hegem-nico que em permanncia tem atravessado a ltima dcada exige umaateno muito cuidada aos aspectos especificamente sociais e polticos,com relevo para a actuao basilar do Estado3.

Em segundo lugar, o prprio mtodo de abordagem. A dicotomia pro-dutivo/improdutivo pode ser questionada quer em termos de relevnciaterica, quer em termos de operacionalidade prtica assunto de que bre-vemente nos ocuparemos.

Em terceiro lugar, algumas opes tomadas no decurso da investigaoemprica, principalmente decorrentes das insuficincias estatsticas. Assim,o perodo em anlise abrange apenas os anos de 1977-81 nicos para osquais se dispunha, na altura, de informao. A inexistncia de dados sobreo consumo de capital fixo, os encargos financeiros e os volumes deemprego, por ramo, implicou, por seu turno, a adopo de simplificaesconsiderveis.

No quadro destes limites, curioso verificar que o essencial das hipte-ses de partidas no foi refutado, donde decorre a concluso principal deque as modalidades vigentes de circulao, apropriao e afectao doexcedente social apresentam um elevado grau de conflitualidade com asnecessidades da acumulao reprodutiva, tal como esta se tem vindo a pro-cessar. Por outras palavras, de que a circulao e afectao do excedentesocial se revelaram incompatveis com a reconstituio da base produtivada economia portuguesa. Acrescente-se que de admitir que a incluso defactores como os gastos de capital fixo e os encargos financeiros, que one-ram de forma mais decisiva o sector produtivo, viria ainda reforar o sen-tido das nossas concluses.

1. O VELHO PROBLEMA PRODUTIVO/IMPRODUTIVO

O primeiro problema a resolver, e o mais srio, prendia-se com a classi-ficao dos ramos em produtivos e improdutivos. A soluo que adopt-mos apenas uma das possveis, e como tal deve ser encarada.

Uma metodologia interessante a proposta por Lorenzi, Pastr eToledano4, a qual assenta na ideia de que o sector tercirio no global-mente improdutivo, visto certo nmero de actividades tercirias favorece-

3 Sobre este assunto ver os artigos de Boaventura de Sousa Santos, A crise e a reconsti-tuio do Estado em Portugal (1974-1984), in Revista Crtica de Cincias Sociais, n. 14,Novembro de 1984, pp. 7-29, e Estado e sociedade na semiperiferia do sistema mundial: ocaso portugus, in Anlise Social, vol. xxi, n.os 87-89, 1985, pp. 869-901.

4 Jean-Herv Lorenzi, Olivier Pastr e Jolle Toledano, La crise du XXe sicle, Paris,280 Econmica, 1980, pp. 262-265.

rem a acumulao e a valorizao do capital. Os critrios distintivos queapontam so os seguintes:

1) A estrutura mais ou menos capitalista da actividade considerada;2) A lgica do financiamento (se interno s leis do sistema capitalista,

o trabalho produtivo, se externo, improdutivo);3) A produtividade (as actividades improdutivas tero fracos ganhos de

produtividade);

E, finalmente, o critrio mais importante:

4) A ligao ao sistema produtivo, que leva a considerar produtivastodas as actividades auxiliares anteriormente realizadas pelasempresas e agora englobadas no tercirio (exemplos: contabilidade,informtica, engenharia tcnica); a subcontratao da gesto dosfactores de produo (como o leasing); as actividades de manu-teno de produtos materiais, como a reparao automvel; e,ainda, a parte das actividades financeiras e bancrias adstritas aofinanciamento do sistema produtivo.

Ao sector improdutivo pertenceriam apenas o comrcio e os servios aparticulares.

A sofisticao da metodologia apresentada um sinal evidente da com-plexidade daquilo que est em jogo. Todavia, questionando a aplicaodos critrios, pareceu-nos que subsistiam problemas:

Por um lado, problemas tericos, designadamente decorrentes de seconsiderarem produtivas as actividades tercirias que favorecem aacumulao e a valorizao do capital. Por analogia de razes,dever-se-ia classificar como produtivo o comrcio, porque, ao con-tribuir para abreviar o processo de circulao e aprofundar a divi-so do trabalho, tambm ele, indiscutivelmente, auxilia o processode valorizao do capital industrial. Outras actividades, como osservios de educao e de sade, por arrastamento, seriam tambmpassveis de incluso. Gradualmente, ver-nos-amos perante anecessidade de deslocar o eixo da pesquisa para a criao de ummodelo, ou sistema global, que articulasse, de modo complexo,integrado e, na realidade, no separvel, todas as actividades.Tratar-se-ia ento de apreender uma dinmica, virtuosa ou no vir-tuosa, de criao de riqueza, mas j no o papel de alguns compo-nentes razoavelmente simples.

Por outro lado, srios problemas prticos que, inevitavelmente, surgi-riam na passagem dos critrios para a sua aplicao.

Estas duas ordens de razes presidiram ento adopo de uma abor-dagem bastante restrita, de tipo smithiano, em que o sector produtivoengloba os ramos ligados produo material, cabendo os restantes ao sec-tor improdutivo.

Dado o carcter hbrido dos transportes e das reparaes, optmos porincluir o primeiro no sector improdutivo e o segundo, por dizer respeitofundamentalmente a reparaes industriais, no sector produtivo. 281

2. AS TRANSFERNCIAS DE EXCEDENTE ENTRE RAMOS

2.1 O MTODO DE ABORDAGEM...

A matria-prima emprica -nos fornecida pelos quadros de entradase sadas das contas nacionais. E o objectivo , nesta fase, triplo:

Em primeiro lugar, analisar as alteraes na partilha do excedente entresector produtivo e improdutivo;

Em segundo lugar, destacar os ramos do sector produtivo que tmapresentado variaes mais ou menos favorveis na criao/apro-priao do excedente;

Em terceiro lugar, evidenciar os factores que contriburam, no essen-cial, para essa evoluo.

O desenvolvimento da anlise vai fazer-se a partir do excedente brutode explorao (EBE) constante dos quadros de entradas e sadas, que oexcedente total criado (EB) aps uma primeira repartio:

Para o Estado, atravs dos impostos indirectos lquidos de subsdios produo;

Para o comrcio, atravs das margens comerciais;Para a banca, atravs dos encargos bancrios, como as comisses, etc;E, finalmente, para os outros ramos improdutivos, atravs dos consu-

mos intermdios deles provenientes.

Designaremos a soma destas parcelas por excedente bruto distribudo(EBD).

Assim:

(1) EB = EBE + EBD

Ou seja:

(2) EBE = EB-EBD

A massa de excedente de cada ramo depender, por um lado, do valordo capital consumido e, por outro, da taxa de lucro. Contudo, no dispo-mos de dados para o consumo do capital fixo, pelo que teremos de nosvaler apenas do valor do capital circulante (VCC), ou seja, da soma dosconsumos intermdios (excluindo a parte que acima se considerou ser dis-tribuio de excedente) e da massa salarial. Este funcionar como indica-dor possvel, mas enviesado.

A partir da definio genrica de taxa de lucro, e com as reservas jmanifestadas, podemos avanar aquilo que designamos por taxa de lucrobruta e potencial:

PR(3) TLBP = -==-

VCC

Donde:

282 (4) EB = VCC X TLBP

O nvel desta taxa de lucro bruta e potencial (TLBP) depende, por seuturno, do nvel da produtividade5 e do comportamento dos termos detroca, entendidos estes como a relao entre o preo de venda da produoe o preo do capital circulante avanado.

Designando:

o valor bruto de produo por VBPo ndice de produtividade por Fo ndice dos termos de troca por Pas quantidades implcitas no VBP por QVBPo preo implcito do VBP por PVBPas quantidades implcitas no capital circulante por Q c ce os preos implcitos do capital circulante por P c c

podemos formalizar o que se disse atravs de um conjunto de equaes ele-mentares. Em primeiro lugar temos, por definio:

(5) EB = VBP-VCC(6)VBP = QVBP.PVBP(7)VCC = QCC.PCC

Donde se deduz que:

(8) EB = QVBP PVBP~QCC Pcc

Por outro lado, como j se viu:

EB = VCC X TLBP

Designando os indicadores de produtividade e de termos de troca por:

. ~ ~ QVBP

(io) P =:Pcc

deles se retira, respectivamente:

(11)QVBP = F.QCC(12) PVBP = P . P c c

Substituindo em (8), vem:

(13)EB = F .Q C C .P .P C C -Q C C .P C C

que equivalente a:

(14)EB = Q C C .P C C (F .P-1)

5 Esta produtividade no a produtividade total dos factores, mas sim a do capital circu-lante, a qual est naturalmente muito correlacionada com a produtividade do trabalho. 283

Substituindo (14) em (2), temos:

(15)EBE = QCC.PCC(F. P-1)-EBD

Mas a equao (4) pode, atendendo a (7), escrever-se:

(16)EB = QCC.PCC.TLBP

Por comparao de (16) com (14) obtemos;

(17)TLBP = F . P - 1

expresso que relaciona directamente a taxa de lucro com a produtividadee os preos.

Esta relao pode ser ilustrada atravs do grfico I, em que TLBP0,TLBP( e TLBP2 so curvas de isolucro lugares geomtricos dos pontosque representam as combinaes de ndices de produtividade e de termosde troca que originam um dado nvel de taxa de lucro. Esta pode, natural-mente, ser positiva ou negativa.

[GRFICO J]

2 -

284 OJ

Do exposto resulta que as variaes do excedente bruto de exploraode cada ramo so:

Funo inversa do excedente bruto distribudo, conforme equao (2);Funo directa de um factor de escala, representado pelo valor do capi-

tal circulante, conforme (2) e (4);Funo directa da taxa de lucro bruta potencial, igualmente segundo (2)

e(4).A taxa de lucro bruta potencial , por seu turno, funo directa do

andamento da produtividade e dos preos, segundo (17).

2.2... E OS SEUS LIMITES

Esta anlise tem, contudo, srias limitaes, que decorrem do facto deno serem levados em conta o consumo de capital fixo, os encargos finan-ceiros (muito significativos, mas desigualmente significativos) e os impos-tos directos.

As taxas de lucro bruto potencial que so taxas tericas esto, porconsequncia, constantemente sobreavaliadas em relao s taxas de rendi-bilidade efectivamente verificadas. A sobreavaliao ser tanto maiorquanto mais relevantes forem as verbas acima mencionadas.

2.3 OS RESULTADOS

O primeiro objectivo do trabalho emprico verificar, ramo a ramo, eno perodo de 1977-81, a evoluo do respectivo excedente bruto de explo-rao em relao evoluo do globalmente criado na economia. Rapida-mente se pode verificar, atravs do quadro n. l6, a existncia de ramosganhadores, ou seja, que no fim do perodo detm uma parcela maior doexcedente total do que no incio do perodo, e, simetricamente, a existnciade ramos perdedores.

Nos ganhadores figura a maioria dos ramos improdutivos (o comrcio,os servios s empresas e os hotis, restaurantes e cafs esto praticamente cabea da lista) e ainda grande parte do sector tradicional da economia(txteis e vesturio, calado e curtumes e papel e publicaes).

Dos que se apresentam com perdas mais significativas destacam-se: aenergia, a construo, o aluguer de habitao, o petrleo e a agricultura.

Quais as razes do comportamento observado?Vimos atrs que, numa primeira abordagem, os factores explicativos

so trs:

A evoluo do excedente bruto distribudo;A evoluo de um factor de escala, representado pelo valor do capital

circulante;A evoluo da taxa de lucro bruta potencial.O quadro n. 2 resume precisamente a influncia de cada um destes

factores na evoluo relativa de cada ramo. Da sua anlise ressalta a

6 Na ausncia de indicao em contrrio, os dados empricos foram extrados dos quadrosde entradas e sadas das contas nacionais (INE), com a ressalva de que os valores de 1979eram, na altura, semidefinitivos e os de 1980 e 1981 provisrios. 285

Variao do peso do excedente bruto de explorao dos ramos no total criado da economiaEBE ramo/EBE positivo total (a)

[QUADRO N. 1]

Ramos 1977

2,3421,805,003,350,010,581,780,770,35

-0,061,420,582,210,401,10

-0,151,333,410,901,360,050,160,050,630,201,780,900,191,861,251,830,180,060,720,690,810,066,281,44

-10,310,093,325,196,16

-1,0988,4017,32

1978

1,2120,014,473,390,270,701,661,210,590,322,290,671,890,751,170,051,363,100,931,610,170,260,061,100,281,510,560,181,701,371,620,20

-0,030,390,630,520,078,831,42

-12,58-0,12

2,686,555,39

-0,2087,0716,88

1979

2,9621,484,874,070,661,121,701,270,750,432,270,711,810,540,810,051,473,250,891,530,220,150,091,390,251,200,530,151,571,191,500,18

-0,300,270,540,470,455,541,12

-8,88-0,15

2,883,395,04

-0,0190,6519,23

1980

4,2721,746,204,300,841,402,271,190,710,281,590,852,040,751,260,131,623,501,071,750,160,170,110,980,181,610,790,101,601,171,580,09

-0,150,410,280,41

-0,155,540,88

-10,30-0,73

2,053,774,530,25

88,6715,59

1981

2533423426152838451435812172324272181310194720222994411323040373431639215036631415511

Txteis e vesturioComrcioServios s empresasHotis, restaurantes e cafsCalado e curtumesMquinas elctricasPapel e publicaesComunicaesOutros servios comerciaisMquinas elctricasTransportes terrestresProdutos no metlicosQumicaCarneBebidasTabacoMadeiraSilvicultura (b)LacticniosProdutos metlicos elaborados..VidroConservasCarvoMetais bsicos (c)leosOutros produtos alimentares . . .PlsticosPorcelanasServios de sadeMateriais de construoReparaoOutras indstriasSegurosServios anexos aos transportes.PescaServios de educaoMaterial de transporteBancos (c)Produtos dos cereaisNo ventiladoTransportes martimos e areos .EnergiaConstruoAluguer de habitaoPetrleoTOTALAgricultura

4,0623,986,784,140,931,382,321,540,860,452,250,902,520,751,390,121,403,380,941,390,150,290,110,650,161,630,660,071,751,181,670,00

-0,210,310,270,36

-0,507,190,85

-12,62-0,81

1,874,443,68

-4,5681,2911,25

(a) A ordenao dos ramos foi feita segundo a tendncia manifestada no perodo em estudo, a qual, por seu turno, representada pelo declive da recta de regresso ajustada s observaes de cada ramo.

(b) um ramo perdedor, j que em 1977 absorvia 3,4% do total do excedente criado e em 1981 apenas 3,38%. Noentanto, a tendncia manifestada para uma melhoria na posio relativa.

(c) So ramos ganhadores, mas com tendncia a perder.Fonte: quadros de entradas e sadas do INE, conforme nota 6, para este e para os restantes quadros do artigo.

286

importncia da taxa de lucro (bruta e potencial, bom no esquecer) comofactor explicativo da evoluo verificada. De um modo geral, pode-se afir-mar que evolues favorveis desta taxa esto associadas a ganhos de exce-dente, enquanto evolues desfavorveis esto associadas a perdas.

Factores determinantes da variao relativa do excedente bruto de explorao por ramos deactividade

[QUADRO N.c

Ramos

Ramoscom

ganhosno

excedentebruto

deexplorao

Ramoscom

perdasno

excedentebruto

deexplorao

2]

Devido variao relativada taxa de lucro

TxteisComrcio

Servios s empresasHotis, restaurantes e cafs

Calado e curtumesMquinas elctricasPapel e publicaes

ComunicaesOutros servios comerciais

Mquinas no elctricasTransportes terrestres

Produtos no metlicos

CarneBebidasTabacoMadeira

__

ConservasCarvo

Bancos

_Outros produtos alimentares

PlsticosPorcelanas

Servios de sadeMateriais de construo

ReparaoOutras indstrias

, Servios de transporte

PescaServios de educao

Produtos cereais

EnergiaConstruo

Aluguer de habitao

PetrleoAgricultura

Devido variao relativado capital circulante

_Servios s empresas

Mquinas elctricas

Mquinas no elctricas_

Produtos no metlicosQumica

Carne

_

LacticniosProdutos metlicos elaborados

__

Metais bsicos-

leosOutros produtos alimentares

Plsticos

_

Reparao_

Seguros

Pesca_

Material de transporteProdutos cereais

Aluguer de habitao_

Agricultura

Devido variao relativado excedente bruto distribudo

TxteisComrcio

Calado e curtumesMquinas elctricasPapel e publicaes

Outros servios comerciais

Produtos no metlicosQumica

CarneBebidasTabacoMadeira

_Produtos metlicos elaborados

VidroConservas

Metais bsicos

-

__

Materiais de construoReparao

_Seguros

Servios de transporte__

Transportes martimos e areos

Petrleo-

No entanto, as variaes relativas da escala e do excedente bruto distri-budo tm tambm uma influncia aprecivel, quer em simultneo, querisoladamente. O ganho nos lacticnios e as perdas nos leos e material de 287

transporte devem-se apenas a variaes na escala de produo, enquanto,para o vidro, o relevante a evoluo da distribuio do excedente.

Resta agora analisar mais detalhadamente o peso da evoluo da pro-dutividade e dos termos de troca sobre a taxa de lucro7. O quadro n. 3mostra a sntese dessas relaes.

Factores determinantes da variao relativa da taxa de lucro por ramos de actividade

[QUADRO N. 3]

Ramos

Ramos ganhadoresno excedente

bruto de explorao

Ramos perdedoresno excedente

bruto de explorao

Variao relativada taxa de lucro

Com evoluorelativamentefavorvel dataxa de lucro

Com evoluorelativamente

desfavorvel dataxa de lucro

Com evoluorelativamentefavorvel dataxa de lucro

Com evoluorelativamente

desfavorvel dataxa de lucro

Devido variao relativada produtividade

TxteisComrcio

Servios s empresasHotis, restaurantes e cafs

Calado e curtumesMquinas elctricasPapel e publicaes

ComunicaesOutros servios comerciais

Mquinas no elctricasTransportes terrestres

Produtos no metlicosCarne

BebidasTabacoMadeira

ConservasCarvoBancos

Metais bsicos

QumicaLacticnios

Produtos metlicos elaborados-

leos

Outros produtos alimentaresPlsticos

PorcelanasServios de sade

_

Outras indstriasServios de transporte

PescaServios de educao

_Energia

ConstruoAluguer de habitao

Petrleo

Devido variao relativados termos de troca

Txteis_

Servios s empresasHotis, restaurantes e cafs

Calado e curtumesMquinas elctricasPapel e publicaes

ComunicaesOutros servios comerciais

Mquinas no elctricasTrarsportes terrestres

Carne

BebidasTabacoMadeira

ConservasCarvoBancos

-

__

Vidro

leosSeguros

Material de transporteTransportes martimos e areos

_Porcelanas

Servios de sadeMaterial de construo

Reparao

Servios de educaoProdutos cereais

Energia

Aluguer de habitao

Agricultura

Nota Este quadro corresponde desagregao da primeira coluna do quadro anterior, ou seja, identificao dosfactores explicativos da variao da taxa de lucro.

288 7 Quando nada mais se disser, estamos a referir-nos taxa de lucro bruta potencial.

Nele se verifica que, para os ramos ganhadores (em termos de exce-dente bruto de explorao), tanto as variaes relativas de produtividadecomo as dos termos de troca explicam, na maioria dos casos, a evoluorelativamente favorvel da taxa de lucro. Excepes, apenas o comrcio, osprodutos no metlicos e os metais bsicos, em que no ocorreu melhoriarelativa dos termos de troca. Quando, e ainda para os ramos ganhadores,a taxa de lucro evoluiu desfavoravelmente, a situao apresentou-sediversa, dominando um ou o outro factor, de modo exclusivo. Assim, aevoluo desfavorvel da taxa de lucro na qumica, nos lacticnios e nosprodutos metlicos elaborados deve-se a perdas relativas de produtividade,enquanto para o vidro radica na deteriorao dos termos de troca.

Por seu turno, e do lado dos ramos perdedores, o jogo de influncia bastante irregular. curioso, contudo, verificar que a situao do ramomais perdedor a agricultura seja exclusivamente explicada pela degrada-o dos respectivos termos de troca. Inversamente, no petrleo segundoramo mais perdedor, o nico factor influente a degradao relativa daprodutividade.

Passemos agora a um outro tipo de anlise, comparando, em 1981, aposio relativa dos ramos na partilha do excedente bruto de exploraocom a sua importncia relativa na produo (grfico n).

Algumas concluses parecem vir reforar as nossas hipteses. Assim,para o ano de 1981, o comrcio, com apenas 12% da produo, detm24% do excedente bruto de explorao criado, o que leva a concluir pelasua posio particularmente favorvel. Se, alm disso, considerarmos que

Relao entre as posies relativas dos ramosno excedente bruto de explorao e na produo (1981)

[GRFICO II] EBEj

EBE t24- 33 Comrcio

> Agricultura

42 Serv. emp. / 39 Bancos

31 Construo Txteis e vesturio

8 12 18 22 24 36 Transp. marit. areos VBPj

Petrleo

(a) Todos os outros ramos.

VBPt

Fonte: quadros de entradas e sadas do INE. 289

os encargos financeiros (conforme se pode inferir de estudo do BPA8) tmpara o comrcio, bem como para outras actividades improdutivas, um pesonos meios libertos totais das empresas inferior ao das actividades indus-triais e que o consumo do capital fixo igualmente menor, poderemosreforar a ideia anterior e concluir que a situao vantajosa de boa partedo sector improdutivo estar mais prxima da sua situao real do que aque ficou evidenciada para as actividades industriais.

Em oposio ao comrcio veja-se, por exemplo, os txteis, que, com8% da produo global, absorvem apenas 4% do excedente bruto criado.

3. O SECTOR PRODUTIVO

o sector produtivo que, a partir de agora, ir reter a nossa ateno.Comearemos por uma anlise em termos globais, para, em seguida, nosdebruarmos com algum detalhe sobre o seu segmento exportador (porsimplicidade, designado sector exportador) e, finalmente, sobre a sua par-cela pblica.

3.1 A DINMICA DA PRODUO

3.1.1 A EVOLUO DA PRODUO POR RAMOS

A produo da economia cresceu, a preos de 1977, entre aquele anoe 1981, a uma taxa mdia anual de 4,3%. Contudo, o comportamento dosdiversos ramos est longe de ser homogneo.

Evoluo da produo em volume por finalidade do produto

[ G R F I C O III]

ndicesVBP1 2 7 T

125-

120-

115-

110"

105-

100

^ Bens de equipamentoBens intermdios

Sector ^ ~ - ~ ~ " produtivo

Total

Bens de consumofinal

77 78 79 80 81 ANOS

Fonte: quadros de entradas e sadas deflacionados.

8 Banco Portugus do Atlntico, Indicadores Econmicos e Financeiros da Central de290 Balanos (1978-1980), s. 1. n. d.

Os bens de consumo final foram os que evidenciaram menor ritmo decrescimento, inferior quer mdia do sector produtivo, quer do conjuntoda economia (grfico in). De salientar, todavia, a carne, os lacticnios, ostxteis e vesturio e o calado e curtumes (quadro n. 4), os quais regista-ram crescimentos acima da mdia do respectivo grupo.

A heterogeneidade de comportamento dos ramos dentro dos grupos(ndices do valor bruto de produo: 1977 = 100)

[QUADRO N. 4]

Ramos 1978 1979 1980 1981

PescaCarneLacticniosConservasleos.Produtos cereaisBebidasTabacoTxteis e vesturioCalado e curtumesMadeiraPapel e publicaesPlsticosReparaoBENS DE CONSUMO FINAL

AgriculturaSilviculturaCarvoPetrleoEnergia . .Metais bsicosProdutos no metlicosPorcelanasVidro . . .Material de construoQumicaOutros produtos alimentares .BENS DE CONSUMO INTERMDIO

Produtos metlicos elaboradosMquinas no elctricasMquinas elctricasMaterial de transporteOutras indstriasConstruoBENS DE INVESTIMENTOSECTOR PRODUTIVOTOTAL ECONOMIA

87,1108,6104,2105,198,1

103,4105,099,6

103,3109,4102,3101,096,1

102,6103,1103,3107,4102,3110,5104,6120,4114,0101,3106,1109,4103,793,7

105,1110,2112,2116,193,5

118,5112,5109,7105,5104,7

84,5105,0118,182,3

107,0106,5109,5100,5113,1122,3109,4106,1104,1107,4108,4123,7118,394,9

149,4111,9130,3120,6112,8116,6106,5117,0100,0121,8116,7122,0127,694,5

117,7107,2109,4113,5110,6

88,7119,6120,186,8

117,3107,6110,398,5

120,4121,4112,7112,2110,6110,7114,5132,1118,593,3

138,5111,0140,2131,2131,1116,8119,7117,6111,4125,9132,1127,6146,1106,3126,6115,8120,2120,0116,6

88,5126,4127,888,498,2

107,1106,499,8

119,8124,3106,9114,6109,7112,1114,5120,4107,587,6

146,7101,0143,0136,0142,0123,7125,2120,5111,8125,1135,4144,1150,6113,5115,7120,4125,2121,0118,5

Fonte: quadros de entradas e sadas das Contas Nacionais (INE) deflacionados.

Esta situao reflecte, por um lado, a diminuio dos salrios reais quese iniciou em 1977 e, por outro, o facto de nesse ano estarem j amorteci-dos os efeitos positivos, sobre o consumo, do aumento da populao quese fez sentir na sequncia do fim da guerra colonial e da descolonizao.

Foram os bens intermdios, pelo contrrio, os que evidenciaram maiordinamismo relativo, sobretudo entre 1978 e 1980, a que no deve ser alheia 291

a expanso das exportaes nesses anos. Dentro deste grupo, foram opetrleo, os metais bsicos, os produtos no metlicos e as porcelanas quemais contriburam para a evoluo positiva.

A evoluo relativamente favorvel dos bens de investimento deve-seno s contribuio directa e indirecta das exportaes (veja-se o quadron. 10), mas tambm situao de partida, isto , ao baixo nvel em quese encontravam em 1977. Neste ano estavam praticamente ao nvel de19739. medida que o prmio de risco foi diminuindo, como reflexo deuma maior estabilidade poltica, os empresrios foram retomando a pro-cura de bens de investimento, reagindo, contudo, ao longo do perodo,quer s variaes da taxa de juro, quer s expectativas quanto ao nvel daprocura.

Com crescimento mais acentuado neste grupo, encontram-se as mqui-nas elctricas, as mquinas no elctricas e os produtos metlicos elabo-rados.

Teria o maior interesse detectar o que, nesta evoluo, representa ummero prolongamento de tendncia, ou, pelo contrrio, uma ruptura emrelao ao passado. Na dificuldade de o fazer, podemos, contudo,tomando como referncia o. total do sector produtivo, classificar os ramosde acordo com o seu dinamismo relativo.

O critrio de classificao o seguinte: consideraram-se ramos em cres-cimento mdio aqueles cuja produo cresceu volta da mdia do sectorprodutivo (com desvio de 5%). Com crescimento superior e inferior aodeste grupo encontram-se, respectivamente, os ramos em crescimentorpido e os ramos em regresso relativa. A aplicao desta partio produzos seguintes conjuntos:

Ramos em crescimento rpido: lacticnios, petrleo, produtos nometlicos, porcelanas, produtos metlicos elaborados, mquinasno elctricas, mquinas elctricas e metais bsicos;

Ramos em crescimento mdio: carne, txteis e vesturio, calado e cur-tumes, agricultura, vidro, material de construo, qumica, outrasindstrias e construo;

Ramos em regresso relativa: pesca, silvicultura, conservas, leos, pro-dutos cereais, bebidas, tabaco, madeira, papel e publicaes, plsti-cos, reparao, carvo, energia, outros produtos alimentares ematerial de transporte.

3.1.2 AS ALTERAES NO SISTEMA DE PREOS RELATIVOS

Em perodo de forte inflao, a anlise em termos reais insuficientepara caracterizar o comportamento relativo dos ramos. Com efeito, torna--se necessrio entrar em conta com a alterao da estrutura de preos rela-tivos, resultante do conflito entre preos que subjaz a todo o processoinflacionado.

Ora, e como revela o quadro n. 5, uma heterogeneidade muito pro-funda o que caracteriza a variao dos preos de produo de cada ramo.

Esta evoluo muito diferenciada dos preos altera substancialmente aclassificao dos ramos quando de uma anlise em termos de volume sepassa a uma anlise em termos de valor. O quadro-resumo revela, com

292 9Ver o Relatrio do Banco de Portugal, gerncia de 1977.

Variao dos preos da produo(ndices: 1977 = 100)

[QUADRO N. 5]

RamosVariao dos preos

do valor bruto daproduo (1977-81)

1 Agricultura2 Silvicultura3 Pesca4 Carvo5 Petrleo6 Energia7 Metais bsicos8 Produtos no metlicos9 Porcelanas

10 Vidro ..'11 Material de construo12 Qumica13 Produtos metlicos elaborados14 Mquinas no elctricas15 Mquinas elctricas16 Material de transporte17 Carne18 Lacticnios19 Conservas20 leos21 Produtos cereais22 Outros produtos alimentares23 Bebidas24 Tabaco25 Txteis e vesturio26 Calado e curtumes27 Madeira28 Papel e publicaes29 Plsticos30 Outras indstrias31 Construo32 Reparao

Total economia

160,7225,2253,2272,4393,0303,3206,3236,9193,7226,4226,7241,8199,8235,1217,1227,3174,8205,3258,0205,9214,2205,6249,6290,4226,4267,2223,2236,8218,9213,5210,6226,7

220,5

efeito, que aumentos de preos mais acentuados que a mdia geral da eco-nomia fazem passar o calado e curtumes e a energia para ramos em cresci-mento rpido; as bebidas, o tabaco e o papel e publicaes, para ramos emcrescimento mdio. Por seu turno, devido a aumentos inferiores mdia,os lacticnios, a carne, a agricultura e a construo so transferidos parao grupo em regresso relativa e os metais bsicos, as porcelanas e os produ-tos metlicos elaborados para o grupo em crescimento mdio.

Ser esta anlise suficiente para avaliar o efeito diferenciado da infla-o, que , como atrs se referiu, um dos veculos de transferncia do exce-dente? Na realidade, sendo necessria, no ainda suficiente.

O estudo das alteraes relativas dos preos de produo10 ter de sercomplementado por um estudo homlogo para os preos dos inputs (con-

10 Caberia aqui tambm relacionar a evoluo dos preos de produo com a produtivi-dade, no sentido de verificar at que ponto os ramos com aumentos menores de preos tmacrscimos mais intensos de produtividade. Uma breve verificao revelou no existir relaoentre os dois fenmenos. Para a maioria dos casos, a evoluo no mesmo sentido. 293

sumos intermdios + massa salarial), para avaliar em que medida as varia-es dos primeiros se limitam a repercutir as variaes dos segundos.Trata-se, no essencial, de analisar a evoluo dos termos de troca relativos.

Quadro-resumo

Classificao dos ramossegundo o dinamismo da

produo em volume

Classificao dos ramossegundo o dinamismo da

produo em valor

Ramos emcrescimentorpido

Ramos emcrescimentomdio

Ramos emregressorelativa

PetrleoMq. no elctricasLacticniosMetais bsicosProdudos no metlicosPorcelanasProd. met. elab.Mq. elctricas

CarneTxteis e vesturioCalado e curtumesVidroMat. construoQumicaConstruoAgriculturaOutras indstrias

EnergiaCarvoConservasOut. prod. alim.BebidasMadeiraPapel e publicaesSilviculturaPescaMat. transporteleosProd. cereaisPlsticosReparaoTabaco

PetrleoMq. no elctricasProd. no metlicosMq. elctricas

alado e curtumesEnergia

Metais bsicosPorcelanasProd. met. elab.TxteisVidroMat. construoQumicaBebidasPapel e publicaes

baco

icticniosjCarneConstruo"AgriculturaPescaMat. transporteleosProd. cereaisPlsticosReparaoCarvoSilviculturaConservasOut. prod. alim.MadeiraOutras indstrias

294

Atravs do quadro n. 6 torna-se evidente que ao longo do perodo sefoi verificando uma disperso cumulativa dos termos de troca (em ndices)de cada ramo em relao ao total da economia. Em 1981 emergem j comontidos beneficirios, por via de uma melhoria dos termos de troca, e paraalm do tabaco, o carvo, as bebidas e os produtos alimentares. Comoprincipais perdedores, a agricultura, a energia e os materiais de construo.

Estes dados permitem confirmar uma das nossas hipteses de partida:a de que uma das caractersticas da actual crise o acentuar da heteroge-neidade de comportamento dos ramos, particularmente na sua componentepreos.

Desvios dos ndices de termos de troca dos ramos produtivosem relao ao total da economia

[QUADRO N. 6]

Ramos 1978 1979 1980 1981

1 Agricultura2 Silvicultura3 Pesca4 Carvo5 Petrleo6 Energia7 Metais bsicos8 Produtos no metlicos9 Porcelanas

10 Vidro11 Material de construo12 Qumica13 Produtos metlicos elaborados14 Mquinas no elctricas15 Mquinas elctricas16 Material de transporte17 Carne18 Lacticnios19 Conservas20 leos21 Produtos cereais22 Outros produtos alimentares .23 Bebidas24 Tabaco25 Txteis e vesturio26 Calado e curtumes27 Madeira28 Papel e publicaes .'.29 Plsticos30 Outras indstrias31 Construo32 Reparao

-2,49-9,26

0,905,680,49

-0,721,99

-0,84-1,29-0,88-0,37

0,44-1,17

0,66-0,26-1,12

0,400,64

-0,50-0,91-2,04

0,66-5,09

3,580,270,78

-0,40-0,35-1,51-0,41-1,33-4,14

-10,410,251,70

10,89-0,93-4,69

1,75-0,09-0,69

0,51-1,67-0,31

0,032,560,16

-0,391,854,020,85

-0,17-4,29

4,792,70

11,252,381,070,612,770,330,56

-0,19-4,72

-12,01-0,75

2,2211,44-2,58-4,22-2,20-0,70-1,07

0,06-4,38

1,790,573,701,401,123,964,641,990,86

-3,475,316,11

27,594,144,601,511,721,511,070,95

-3,51

-15,72-4,39

1,6811,452,26

-5,63-1,55-2,47-1,40-0,60-5,32

1,250,595,091,440,713,304,483,140,69

-4,137,427,78

36,684,035,941,841,36

-0,561,020,96

-3,35

Em jeito de sntese apresentamos agora, no quadro n. 7, o cruzamentodos dois critrios principais precedentemente utilizados: a variao da pro-duo em volume e a evoluo dos termos de troca. curioso verificarque, em boa parte das actividades, um crescimento medocre da produofoi contrabalanado pelos ganhos resultantes da inflao.

Isto sugere a existncia de mecanismos particulares de formao dospreos, analisados, entre outros, por Aglietta11 e Boyer e Mistral12, masque carecem de ser estudados na sua especificidade portuguesa.

M M. Aglietta, Rgulation et crises du capitalisme, 2.a ed., Paris, Calmann-Lvy, 1982.l2Robert Boyer e Jacques Mistral, Accumulation, inflation, crises, 2.a ed., Paris, Presses

Universitaires de France, 1983. 295

Caracterizao dos ramos produtivos de acordo com os critrios do dinamismo da produoe da evoluo dos termos de troca

[QUADRO N. 7]

Segundo o crescimentoda produo

Ramosem crescimento

rpido

Ramosem crescimento

mdio

Ramosem regresso

relativa

Segundo os ganhos (perdas) resultantes da evoluodos respectivos

Ganhadores

Mquinas no elctricasLacticniosPetrleoMquinas elctricasProdutos metlicos elaborados

CarneTxteis e vesturioCalado e curtumesQumicaConstruo

CarvoOutros produtos alimentaresBebidasMadeiraPapel e publicaesPescaTabacoMaterial de transporteleosConservasOutras indstrias

termos de troca

Perdedores

Metais bsicosProdutos no metlicosPorcelanas

VidroMaterial de construoAgricultura

EnergiaSilviculturaProdutos cereaisPlsticosReparao

3.2 O SECTOR EXPORTADOR

O interesse de nos debruarmos agora sobre os ramos de actividademais virados para a exportao parece evidente: por um lado, eles tmbeneficiado de uma poltica econmica (ao nvel cambial, de crdito e fis-cal) que, como vrios autores assinalaram13, promoveu uma rpida emacia transferncia de rendimento a seu favor; por outro lado, pelo factode actuarem em mercados qualitativamente diferentes do mercado interno,tero seguramente caractersticas particulares.

A nossa ateno no incidir, contudo, sobre a problemtica geral apesar da sua manifesta importncia, mas sobre um dos seus aspectosparticulares: as transferncias de excedente entre esses grupos e o festo daeconomia.

Antes de mais, delimitemos o nosso objecto. O sector exportador ser,doravante, constitudo pelo conjunto dos ramos que, em 1981, exporta-ram mais de 25% da sua produo (ver quadro n. 8), e isto independen-temente do seu peso nas exportaes totais. Aquele conjunto represen-tava, no mesmo ano, cerca de 70% das exportaes totais do sectorprodutivo.

296

13 Veja-se Augusto Mateus, Economia portuguesa: que crise?, in Economia e Socia-lismo, n. 59, Outubro-Dezembro de 1983, p. 23, e Antnio Rodrigues, A situao da eco-nomia portuguesa e os resultados da 'carta de intenes', in Economia e Socialismo, n. 45,Dezembro de 1979, p. 4.

Exportaes/valor bruto da produo a preos de 1977[QUADRO N. 8]

Sector exportador 1977 1978 1979 1980 1981

Outras indstriasCalado e curtumesMquinas elctricasMquinas no elctricasPorcelanasMadeiraMaterial de transporte .ConservasTxteis e vesturioVidroBebidasPapel e publicaes

49,629,641,743,116,933,719,129,623,222,225,823,9

32,233,939,336,619,933,325,630,027,723,826,0

;

56,740,143,040,927,638,833,736,531,625,430,925,7

73,441,343,140,237,239,231,837,229,329,930,826,9

78,643,240,338,836,335,432,730,230,127,927,827,9

3.2.1 A CARACTERIZAO

No contexto das actividades produtivas, o sector exportador caractefi-za-se, com excepo da madeira e conservas, por um dinamismo mdio ouacima da mdia, no que toca ao crescimento da produo em valor (verquadro n. 9).

Caracterizao do sector exportador, 1977-81[QUADRO N. 9]

Crescimentoda produo

em valor

Ramos emcrescimentorpido (a)

Ramos emcrescimento

mdio (a)

Ramos emregressorelativa (a)

Posio na partilha do excedente e nos preos

Ganhos deexcedenterelativo

Mquinas elctricasMq. no elctricasCalado e curtumes

Txteis e vesturio

VidroBebidasPapel e publicaes

MadeiraConservas

Perdas deexcedenterelativo

Porcelanas

Mater. de transporte

Outras indstrias

Ganhos determos de troca

relativos

Mquinas elctricasMq. no elctricasCalado e curtumes

Txteis e vesturio

BebidasPapel e publicaes

Mater. de transporteMadeiraConservasOutras indstrias

Ganhosde

produtividade

Mquinas elctricasMq. no elctricasCalado e curtumes

Txteis e vesturio

VidroBebidasPapel e publicaes

MadeiraConservas

(a) Em relao ao sector produtivo.

Por outro lado, todos os ramos exportadores conheceram ganhos deexcedente relativo, com excepo das porcelanas, do material de transportee das outras indstrias.

No quadro n. 9 pode-se igualmente observar que quase todos elesbeneficiaram nos termos de troca e obtiveram ganhos de produtividadesuperiores mdia.

Tentando isolar o contributo das exportaes para o crescimento daproduo de cada um dos ramos exportadores, chegamos concluso deque aquele foi maioritrio em todos eles, com excepo das mquinas elc-tricas, apesar de mesmo neste caso ser muito relevante (ver quadro n. 10). 297

Contribuio das exportaes para o crescimento da produo[QUADRO N. 10J

Outras indstrias:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Calado e curtumes:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Mquinas elctricas:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Mquinas no elctricas:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Porcelanas:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Madeira:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Material de transporte:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Conservas:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Txteis e vesturio:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Vidro:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Bebidas:Taxas de crescimento da produo ..Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

Papel e publicaes:Taxas de crescimento da produo . .Contribuio das exportaesContribuio do mercado interno

1978

18,5- 0 , 118,6

9,47,51,9

16,13,9

12,2

12,2- 2 , 014,2

1,33,2

- 1 , 9

2,30,41,9

-6 ,54,7

-11,2

5,12,03,1

3,35,4

- 2 , 1

6,13,13,0

5,01,53,5

1,0- 1 , 2

2,2

1979

- 0 , 724,2

-24,9

11,810,81,0

9,98,01,9

8,77,90,8

11,410,80,6

6,98,3

- 1 , 4

1,18,5

-7 ,4

-21,7- 1 , 4

-20,3

9,56,82,7

9,94,15,8

4,36,1

- 1 , 8

5,04,60,4

1980

7,622,1

-14,5

- 0 , 80,9

-1 ,7

14,56,38,2

4,611,8- 7 , 2

16,215,60,6

3,01,61,4

12,52,1

10,4

5,62,72,9

6,50,36,8

0,24,5

-4 ,3

0,70,10,6

5,72,82,9

1981

- 8 , 6- 1 , 6- 7 , 0

2,43,0

- 0 , 6

3,1-1 ,5

4,6

12,93,69,3

8,32,45,9

-5 ,1- 5 , 6

0,5

6,83,13,7

1,8-6 ,5

8,3

-0 ,50,6

-1 ,1

5,9-0 ,3

6,2

-3 ,5- 4 , 0

0,5

2,11,60,5

Mdia das taxas,1978-81

4,211,2-7,0

5,75,60,1

10,94,26,7

9,65,34,3

9,38,01,3

1,81,20,6

3,54,6

-1,1

-2,3-0,8-1,5

4,73,11,6

5,52,92,6

1,60,90,7

3,52,01,5

Nota A contribuio das exportaes para o crescimento da produo calculou-se da seguinte forma:

EXPn . \ EXPn_,

298EXP,n-l VBP,n-l

A contribuio do mercado interno achou-se por diferena.

3.2.2 A DIFERENCIAO DE PREOS ENTRE MERCADOS INTERNO E EXTERNO E AS TRANSFERNCIAS DEEXCEDENTE

As caractersticas dos mercados em que as empresas actuam condicio-nam o poder de conduo dos preos.

Assim, enquanto, no mercado interno, as formas dominantes de con-corrncia permitem uma prtica geral de formao do preo por imposiode uma taxa de margem aos custos de produo, nos mercados externos,o que corrente o alinhamento dos preos pelos dos segmentos maiscompetitivos. Referimo-nos, como evidente, queles com que se defrontaa exportao nacional.

Deste modo, a evoluo dos preos de exportao difere da dos inter-nos, da resultando fluxos de rendimento entre as actividades exportadorase o conjunto da economia. O sentido e a intensidade daqueles fluxosdependem da interaco entre a concorrncia internacional e a especializa-o dos pases, a qual compreende trs processos essenciais14:

1) O efeito prprio da concorrncia internacional sobre os mercados,segundo o qual a deteriorao do preo nico formado no mercadointernacional pode conduzir a uma rendibilidade insuficiente paraas exportaes de alguns pases em virtude da heterogeneidade decustos de produo nacionais, por comparao com os respecti-vos mercados internos;

2) O efeito de especializao adquirido, que se traduz numa diferentecomposio do conjunto dos produtos exportados em relao produo interna dessas indstrias. Se a especializao na exporta-o se concentrar em mercadorias cuja procura mundial cresce maisrapidamente que a procura interna, a valorizao das exportaes,traduzindo-se num aumento de preos relativos, permite uma evo-luo mais favorvel dos lucros para as actividades exportadoras.No entanto, pode acontecer que o aumento de procura desencadeierendimentos de escala crescentes, permitindo baixar o preo rela-tivo das exportaes sem que tal signifique baixa de rendibilidade;

3) O efeito de orientao na mudana de especializao, o qual estassociado a uma modificao da estrutura industrial, de forma aobter vantagens da transformao das normas internacionais deproduo e troca, sob a influncia do progresso tcnico e das alte-raes da composio da procura mundial.

Ser possvel baixar os preos relativos na exportao, sem que talimplique restries nos lucros, no caso de a produtividade crescer mais for-temente nos respectivos ramos ou segmentos.

Contudo, o sucesso de alguns pases nesta via implica restries maisseveras para os restantes, deparando-se a estes ltimos quer a baixa de ren-dibilidade das respectivas exportaes, quer a necessidade de depreciar asrespectivas moedas.

O estudo comparado da evoluo dos preos na produo e na exporta-o permite ter uma ideia aproximada deste comportamento diferenciado.

14Ver M. Aglietta, A. Orlan e G. Oudiz, Des adaptations diffrencies aux contraintesinternationales; les enseignements d'un modele, in Revue conomique, vol. 32, Julho de1982, pp. 665-667. 299

Em termos globais, e conforme se pode verificar no grfico iv, a evo-luo dos preos na exportao mais favorvel que a dos preos da pro-duo, acentuando-se essa diferena a partir de 1978. Isto pressupe umavalorizao relativa das exportaes em relao ao mercado interno, o que reflexo mais de uma poltica deliberada de reafectao de recursos a

Evoluo dos preos implcitos na produo e exportao (total economia)

[GRFICO IV]

ndicesde

Preos

220 -

180-

140-

100

Preos de exportaoPreos do VBP

77 78 79I

8081 ANOS

300

Fonte: quadros de entradas e sadas.Nota O ndice de preos do VBP traduz a evoluo dos preos implcitos da produo sada da fbrica. Por seu

turno, o ndice de preos implcitos da exportao exprime a evoluo dos preos FOB.

favor do sector exportador, adoptada desde 1977 e levada a cabo atravsda manipulao da taxa de cmbio, do controlo do crescimento dos sal-rios nominais e da concesso de condies especiais de crdito do que daexistncia de efeitos de especializao adquiridos ou de esforo de orienta-o de estrutura a favor de produtos cuja procura mundial tende a ser maisdinmica.

O que acabou de se afirmar no vlido, todavia, e como alis seriade esperar, para todos os ramos que compem o sector exportador. Assim,se se verifica para a madeira, papel e publicaes e vidro, j para as conser-vas, txteis e vesturio, porcelanas, bebidas, material de transporte,mquinas elctricas e calado e curtumes, a relao aparece invertida, isto, o preo da produo tem sofrido acrscimos mais rpidos que o preodas exportaes.

Temporalmente, o comportamento tambm no uniforme: a referidasituao nas conservas, txteis e vesturio e porcelanas s aparece em 1981

(ano em que as cotaes mdias dos produtos exportados apresentam desa-celerao generalizada15), enquanto nas mquinas elctricas se verificalogo a partir de 1978. Para as bebidas a evoluo irregular.

A existncia destes casos levou-nos tentativa de investigar at queponto a evoluo mais lenta dos preos de exportao se poderia traduzirem preos mdios inferiores aos do mercado interno. A validade de talobservao obrigaria a que os grupos de produtos tivessem idntica com-posio, supondo homognea a qualidade das exportaes em relao dos consumos internos.

Preos mdios de produo e de exportao de conservas de sardinhaem azeite e leo e cavala (a)

[GRFICO V]

Preopor

unidade

100-

50 -

Preosna produoPreosna exportao

77 78 79 80 ANOS

(a) Esta amostra representa cerca de 80% das exportaes de conservas de peixe.

Devido no correspondncia entre a classificao das actividades eco-nmicas e a classificao nacional de mercadorias para as estatsticas docomrcio externo, s nos foi possvel construir amostras significativas paraas conservas e calado e curtumes. Em ambos os casos se verificou a pr-tica de preos de exportao inferiores aos preos de produo sada dafbrica, o que acarreta preos bastante mais elevados no mercado interno(vejam-se os grficos v e vi).

15 Conforme Relatrio do Banco de Portugal, gerncia de 1981. 301

Uma explicao possvel da existncia desta situao pode apoiar-se nafalta de homogeneidade dos mercados.

Assim, uma forte restrio internacional pode ter obrigado as empresasa diminurem o preo no exterior (apesar da desvalorizao do escudo)para manterem os seus volumes de vendas. Como operam simultaneamentenos dois mercados, e havendo uma maior rigidez da procura interna, elas

Preos mdios de produo e de exportao de calado de courode homem, senhora e criana (a)

(GRFICO VI]

Preospor par

700 -

6 0 0 -

300 -

Preosy ~ na produo

Preosna exportao

77 78 79(a) Esta amostra representa cerca de 80% das exportaes de calado.

80 ANOS

302

acabam por reflectir, atravs de aumentos de preos no mercado interno,a perda proveniente da sua falta de competitividade internacional. Nosofrem, deste modo, e em termos globais, quebra de rendibilidade, ser-vindo o mercado nacional como compensao s exportaes.

A persistncia do esforo de exportao seria ento justificada, nopela atractividade dos preos, mas por vantagens provenientes:

Do escoamento da produo que internamente tem dificuldade emcolocar-se, devido contraco da procura;

Das economias de escala proporcionadas pela possibilidade de vendasem grandes quantidades, que o mercado nacional s por si no per-mite;

De condies de pagamento geralmente mais favorveis, quer em vir-tude do prazo, quer pelo facto de serem em divisas, em constanteapreciao;

Do acesso a crditos bonificados para financiar a actividade, os quais,de outra forma, seriam mais difceis de obter e mais onerosos.

Estas razes foram, alis, apontadas por alguns industriais do caladoe dos curtumes como as mais importantes na deciso de exportar.

Outras podero, no entanto, contribuir para explicar um crescimentomais rpido dos preos de produo, ou mesmo um preo mdio superiorem valores absolutos, a saber:

Em primeiro lugar, a existncia de aumentos de produtividade maisacentuados nas empresas exportadoras do que nas viradas para o mercadointerno. A necessidade de fazer face a uma concorrncia internacionalaguerrida pode lev-las a um maior esforo de organizao e inovao tec-nolgica, de modo a permitir a prtica de preos mais baixos16.

O mercado interno pode, contudo, continuar a ser comandado pelasempresas de dimenso e produtividade inferiores, as quais, por conse-guinte, impem preos relativamente mais elevados. Adoptando interna-mente um comportamento de seguidismo, as empresas exportadoraspodem colher benefcios adicionais.

Em segundo lugar, a prtica de preos de transferncia no seio dasempresas transnacionais. A impossibilidade de controlo efectivo dos preospor parte das autoridades nacionais permite levar a cabo subfacturao deexportao em larga escala.

Provavelmente, ser esse o caso das mquinas elctricas, dado o ele-vado peso das multinacionais no ramo.

Em terceiro lugar, a prtica geral de subfacturao das exportaescomo forma de transferir capitais, a qual abrange um universo muito supe-rior ao das empresas transnacionais.

Em quarto lugar, a no coincidncia entre a gama de produtos exporta-dos e a gama de produtos consumidos internamente. Neste caso, o diferen-cial de preos encobriria uma diferena real do produto.

Apesar de tudo o que fica exposto, foram frequentes, no perodo emestudo, as reclamaes empresariais de uma desvalorizao mais acentuadado escudo, como forma de repor a competitividade perdida, se no mesmode melhor-la.

Na verdade, como j tem sido demonstrado17 e a evoluo comparadados preos de produo e exportao sugere, a desvalorizao foi superior necessria para repor o diferencial de inflao interna e externa, o quepermitiu, pelo menos para alguns segmentos, lucros suplementares. Paraoutros, conforme j verificmos, a sobredesvalorizao poder ter-se reve-lado insuficiente para colmatar uma fraca competitividade.

Devemos notar, contudo, que a poltica cambial no pode ser encaradacomo o nico meio, ou como o mais indicado, para resolver os nossos pro-blemas nos mercados externos. A especializao industrial o determi-nante principal da lucratividade das exportaes no longo prazo.

Sendo muito heterogneo o crescimento da procura, um pas dotado deum sistema produtivo orientado para a exportao de produtos cuja pro-cura externa fortemente crescente e para a importao de produtos cuja

16 Facto que, segundo alguns observadores, no se teria verificado. Ver Joo Costa Pinto,A conduo da poltica financeira na economia portuguesa, a intermediao financeira e odesenvolvimento econmico (verso provisria), comunicao II Conferncia do CISEP O Comportamento dos Agentes Econmicos e a Reorientao da Poltica Econmica emPortugal, Lisboa, ISE, 1986, p. 18.

17Ver, por exemplo, Augusto Mateus, op. cit., pp. 23-24, e Joo Costa Pinto, op. cit.,pp. 13-14. 303

Efeitos diferenciados da poltica

[QUADRO N. 11]

304

Polticacambial

Polticamonetria

Polticade rendimentos

e preos

Polticafiscal

Balano

~^^ Sectores e^ ^ \ ^ ^ agentes

Medidas de ^ ^ \poltica econmica

Desvalorizao cam-bial

Restries do crdito: limites (quanti-

dade) elevao das taxas

de juro (preo)

Conteno salarial

Estratgia de aumen-tar as taxas de impos-to em resposta dimi-nuio da base de in-cidncia, evaso efuga fiscal

Poltica econmicarestritiva

Sector produtivo

Exportador

Ganhos de competiti-vidade via preos

Crdito preferencial ebonificaes: menosafectado

Sector empresarialdo Estado

Deteriorao dos ter-mos de troca globaise aumento dos encar-gos financeiros sobrecrdito externo

Recurso ao financia-mento externo comoalternativa. Afectadosobretudo via preo

Resto do sectorprodutivo

Deteriorao dos ter-mos de troca globais.

Afectado via preo evia quantidade. Difi-culdades crescentes deinvestimento

Benefcios directos: restrio administrativa dos custos salariais.Perdas indirectas: contraco do mercado interno

Desenvolvimento deformas de defesa: subfacturao fuga e evaso fiscal repercusso nos

preos

Beneficirio em ter-mos globais

Instrumento da pol-tica. Degradao eco-nmica e financeira

Desenvolvimento deformas de defesa: subfacturao in-

terna fuga e evaso fiscal repercusso nos

preos

Perdedor em termosrelativos.

econmica (segundo o efeito principal)

Sector improdutivo

Comrcioimportador

Especulaodirecta comstocks

Comrcio

Possibilida-de de espe-culao comstocks;Aumento daexportaode servios(turismo,etc.)

Menos afectados via preopor terem perodos de re-cuperao do capital curtos.

Efeitos semelhantes aos dosector produtivo, mas com in-tensidades diversas

Desenvolvimento de formasde defesa: posio particular-mente favorvel na fuga fis-cal

Beneficirio Situao di-ferenciada.Em termosagregados,aumento depeso relativona partilhade exceden-te

Banca

Dificuldades de renta-bilidade por: diminuio das

margens entre ta-xas activas e pas-sivas

aumento dos cr-ditos mal parados

insuficincia de al-ternativas de apli-cao rendveis

Ganhos numa l.a fasee deteriorao de ren-dibilidade, em faseposterior

Outros agentes sociais

Trabalhadorespor conta de outrem

Degradao do poderde compra, via infla-o importada

Efeitos negativos indi-rectos atravs da res-trio da actividade

Reduo drstica dopoder de compra econtraco da parte dotrabalho no rendimen-to nacional

Reduo do poder decompra: indirecta, via infla-

o directa, via impos-

tos profissional ecomplementar

Perdedores

Detentores derendimentos fixos

Degradao do po-der de compra, viainflao impor-tada

Benefcios atravsdas altas taxas dejuro nominais: for-mao de uma no-va classe rentista.Degradao da ve-lha classe rentistavia inflao: pro-prietrios urbanos,etc.

Reduo do poderde compra: indirecta, via in-

flao directa, via im-

postos

Ascenso de umanova camada ren-tista. Queda da ca-mada tradicional

Economiasubterrnea

Especulao comdivisas

Aumento da cor-rupo: obten-o crdito atra-vs de suborno

Recurso a expe-dientes para an-gariao de ren-dimentos fami-liares comple-mentares

Extenso da eco-nomia subterr-nea, por oculta-o de rendimen-to e exportaode capitais

Exploso da eco-nomia subterr-nea

305

procura interna tende a abrandar ocupa uma posio relativamente favor-vel, em termos de comrcio externo.

Ora Portugal encontra-se numa situao claramente oposta quela, emvirtude de uma especializao internacional desfavorvel. Um dos indica-dores mais relevantes o peso no sector exportador de indstrias tradicio-nais, para as quais o dinamismo da procura mundial relativamente fraco.

3.3 O SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO

A propriedade ou participao maioritria do Estado em empresas frequentemente com um importante peso nos respectivos ramos de acti-vidade levou a que estas fossem utilizadas como instrumentos de polticaeconmica, em vrios domnios (preos, investimento, poltica social) e sobuma racionalidade de gesto diversa da que geralmente preside s empresasprivadas.

Sem pretender estudar o sector empresarial do Estado no seu conjunto,procurmos identificar os ramos produtivos em que as empresas pblicastm peso significativo18 e que so o tabaco, a energia, os metais bsicos,os produtos no metlicos, o vidro, a qumica e o material de transportee analis-los segundo a ptica que temos seguido.

Assim, e apesar de a agregao excessiva esbater as caractersticas parti-culares do sector empresarial do Estado, possvel adiantar a seguinte con-cluso: excepo do tabaco, todos os outros ramos sofreram uma degra-dao absoluta dos termos de troca19 durante o perodo. A energia, osmetais bsicos e os produtos no metlicos pioraram mesmo a sua posiorelativa perante o conjunto da economia, conforme se pode verificar noquadro n. 6.

Embora esta situao no seja especfica destes ramos (como revela oreferido quadro), de admitir que, isolando o sector empresarial doEstado, a degradao fosse ainda mais acentuada. Tal deve-se ao facto degrande parte das empresas pblicas terem estado sujeitas ao regime de pre-os mximos, o que, em virtude de a sua produo ser essencialmente debens de consumo intermdio, vem beneficiando as actividades que lhesesto a jusante.

Esta concluso, plenamente corroborada por estudos posteriores20,permite sustentar a ideia do importante papel desempenhado pelas empre-sas pblicas nos mecanismos de transferncia interna do rendimento. Afir-mao que nos introduz claramente no domnio da avaliao da polticaeconmica.

18 Utilizmos o critrio de considerar pblicas as empresas com mais de 70% do capitalpertencente a rgos ou instituies pblicas e a seguir procurmos enquadr-las na desagre-gao ao nvel de ramo.

19 Dizemos que se verificou uma degradao absoluta dos termos de troca quando a razo

Preo do VBP

Preo do capital circulante

do ramo decresceu ao longo do perodo. A degradao relativa (perante o conjunto da eco-nomia) se o decrscimo for superior ao ocorrido no conjunto da economia.

20 Veja-se, por exemplo, Teodora Cardoso, As empresas pblicas e o ajustamentomacroeconmico em Portugal, in Jos da Silva Lopes (org.), Ajustamento e Crescimento na

306 Actual Conjuntura Econmica, s. 1., Fundo Monetrio Internacional, 1986, pp. 163-165.

4. OS EFEITOS DESIGUAIS DA POLTICA ECONMICA SOBRE OTECIDO ECONMICO E SOCIAL

Alteraes to profundas como as que acabaram de se analisar nopodiam deixar de ter um impacte considervel sobre o tecido econmico esocial. Na medida em que possvel avanar uma sntese, razoavelmenteespeculativa alis, esse impacte traduzir-se-ia:

Num ganho na partilha do excedente gerado na economia por parte dosector improdutivo, com destaque para o comrcio, os servios sempresas, a hotelaria, as comunicaes e os outros servios comer-ciais. Em perodos de forte inflao e elevadas taxas de juro e,por conseguinte, de drstica reduo no horizonte econmico, oscapitais com perodos de recuperao curtos esto, partida, numasituao relativa mais favorvel. A este facto acrescentem-se asoportunidades de ganhos criadas pela intensa desvalorizao cam-bial prosseguida a partir de 1977 como o investimento em stocksde bens importados ou, directamente, em divisas.

de acrescentar, alis, que a considerao dos gastos de capitalfixo e dos encargos financeiros, de peso presumivelmente mais ele-vado no sector produtivo, viria ainda, com grande probabilidade,reforar esta concluso;

Num ganho na partilha do excedente21 do segmento exportador do sec-tor produtivo via melhoria dos termos de troca e da produtivi-dade, amparado por uma poltica econmica que se constituiuem sua protectora: atravs da desvalorizao cambial, do acessoprivilegiado a crdito mais barato, da conteno dos salrios nomi-nais, etc.

Seria til verificar, distncia de uma dcada j, se o sectorexportador foi, no apenas o segmento mais dinmico, em termosde crescimento econmico, do aparelho produtivo, mas tambm omotor da inovao tecnolgica e social da economia portuguesa.Vrios observadores sustentam que tal no ocorreu22. Aparente-mente, foi a explorao das vantagens comparativas tradicionaiso que teve lugar: os baixos salrios adicionados ao emprego prec-rio e a insistncia nos bens tradicionais, os quais defrontam umafortssima concorrncia de preos por parte dos novos pases indus-trializados;

No declnio global do sector produtivo, apanhado entre os fogos cruza-dos da desvalorizao do espao econmico nacional em relao aoexterior23 e dos ganhos do sector improdutivo.

Com efeito, em situao de estagnao econmica, a resoluo (ou ate-nuao) dos conflitos pela partilha do excedente (ou do rendimento nacio-nal) no se pode fazer pela via mais indolor, que a do crescimento econ-mico. volta da mesa, os parceiros jogam um jogo de soma nula (ou, emrigor, negativa, se entrssemos em conta com a evoluo desfavorvel das

E curioso sublinhar que os dez ramos mais ganhadores, em termos de partilha do exce-dente, ou pertencem ao sector improdutivo, ou pertencem ao sector exportador.

Como, por exemplo, Joo Costa Pinto, no artigo atrs referido.23 Ver Augusto Mateus, no artigo citado, pp. 23-25. 5 0 7

relaes com o exterior): o que uns ganham, os outros perdem. E o con-flito manifesta-se atravs de uma subida continuada do.nvel geral dos pre-os, que, longe de ser homognea, encobre uma intensa diversidade deramo para ramo, posto que ela , em ltima anlise, um dos veculos essen-ciais da partilha.

Ora, no ps-25 de Abril, o pendor centralista e intervencionista doEstado Portugus foi agravado por uma confluncia bastante excepcionalde factores24. De uma forma directa, os governos passaram a gerir umaparte decisiva do rendimento social, de que os indicadores fundamentaisso:

A dimenso do sector pblico e a sua natureza estratgica;O nvel das despesas do Estado, das suas contrapartidas fiscais e da

dvida pblica;O nvel das despesas parapblicas, como as da segurana social.

Em consequncia, coube poltica econmica um papel central naemergncia dos fenmenos que verificmos. O esboo (incompleto e expe-rimental) das influncias diversificadas daquela sobre estes ltimos apre-sentado no quadro n. 11 para o perodo de 1977-81. Nele se procuramalinhar algumas conexes entre medidas de poltica, transformaes econ-micas e seus impactes diferenciados segundo os grupos sociais.

Como se trata de matria complexa, o estabelecimento daquelas cone-xes deve ser encarado de forma hipottica, ou seja, deve ser encarado, noessencial, como a proposio de um corpo de hipteses para investigaesfuturas. estritamente desse modo que deve ser lida a relao entre asmedidas de poltica econmica e a ascenso de grupos sociais ligados aosnegcios de exportao, ao comrcio de import-export, ao grande comr-cio, por um lado, e a emergncia de uma nova fraco rentista e o declnioda antiga, por outro.

Pode-se reter, contudo, a ideia de que a actual crise acompanhadapelo surgimento de ganhadores e perdedores, sejam eles sectores ou ramos,no domnio econmico, ou grupos no domnio social. A questo emaberto, comum alis a outros pases, a de saber em que medida a emer-gncia espontnea das relaes, prticas e grupos sociais a que se assisteviabiliza a configurao de um novo regime de acumulaoo qual se afi-gura necessrio ultrapassagem da crise.

308 24Sobre este assunto vejam-se os j citados artigos de Boaventura de Sousa Santos.