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1 Transcrição do participante 5 (ERG) Pergunta: Vamos lá começar. Bem, começando pela parte da empresa, quando é que começaste a pensar em criar uma empresa, quais foram as principais motivações…essa ideia surgiu sozinho, com colegas? Resposta: O primeiro momento em que a ideia de formar uma empresa que prestasse serviços nesta área…ela quase que faz parte de um passado, que não aquele momento decisivo, que avançámos mesmo determinados para o projecto. Era uma ideia que de vez em quando se falava, mais numa atitude de quase…gostaríamos que no futuro isto pudesse vir a acontecer, sem concretizarmos muito o projecto. A partir de determinada altura a minha situação profissional lá na AutoEuropa, eu entendi que ela estava a estagnar, o que me deixava de alguma forma desconfortável e confrontei na empresa se em termos de evolução profissional havia alguma expectativa ou se o plano que eles tinham para mim era apenas conservar-me naquela posição e a fazer aquilo que fazia. A resposta foi aquela que eu não gostaria de ouvir, ou seja foi negativa, “não, nós não temos outro plano que não este que tens conhecimento”… e perante esse cenário resolvi pensar um bocado sobre a vida e achar que era o momento para eu dar o salto. E na altura, agora minha sócia, a Y, também de alguma forma procurando dar uma rentabilidade diferente ao conhecimento que ela tem vindo a adquirir em função da actividade de docência que ela tem, era também uma ideia que ela gostava de materializar, pôr à disposição o conhecimento que ela tem ao serviço das empresas. E se calhar o que ela ainda aguardava na altura era precisamente o impulso por parte de outra pessoa que a acompanhasse no projecto. E como nós tínhamos alguma proximidade e falávamos sobre estas questões algumas vezes, houve uma altura em que a ideia começou a ser mais desenvolvida, motivada pela minha insatisfação profissional, e em 2005 a ideia começou a ser consolidada. Tanto que eu nessa altura apenas para que as coisas pudessem depois acontecer faltava-me acabar o mestrado…e resolvi fazer as coisas por etapas e na AutoEuropa fiz ali uma paragem para terminar precisamente essa fase, essa tese de mestrado e a seguir soube de um curso lá no ISCTE - INDEG que tratava precisamente a temática de empreendedorismo e criação de empresas…e fui frequentar o curso à procura precisamente de ferramentas e conhecimento do que é que poderia estar inerente à criação de uma empresa. Ainda decorria o curso e nós começámos a preparar o projecto…eu saí da AutoEuropa em 2005, em Dezembro de 2005, e portanto em Julho do outro ano estávamos a fazer a formação da empresa,

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Transcrição do participante 5 (ERG)

Pergunta: Vamos lá começar. Bem, começando pela parte da empresa, quando é que

começaste a pensar em criar uma empresa, quais foram as principais motivações…essa

ideia surgiu sozinho, com colegas?

Resposta: O primeiro momento em que a ideia de formar uma empresa que prestasse

serviços nesta área…ela quase que faz parte de um passado, que não aquele momento

decisivo, que avançámos mesmo determinados para o projecto. Era uma ideia que de

vez em quando se falava, mais numa atitude de quase…gostaríamos que no futuro isto

pudesse vir a acontecer, sem concretizarmos muito o projecto. A partir de determinada

altura a minha situação profissional lá na AutoEuropa, eu entendi que ela estava a

estagnar, o que me deixava de alguma forma desconfortável e confrontei na empresa se

em termos de evolução profissional havia alguma expectativa ou se o plano que eles

tinham para mim era apenas conservar-me naquela posição e a fazer aquilo que fazia. A

resposta foi aquela que eu não gostaria de ouvir, ou seja foi negativa, “não, nós não

temos outro plano que não este que tens conhecimento”… e perante esse cenário resolvi

pensar um bocado sobre a vida e achar que era o momento para eu dar o salto. E na

altura, agora minha sócia, a Y, também de alguma forma procurando dar uma

rentabilidade diferente ao conhecimento que ela tem vindo a adquirir em função da

actividade de docência que ela tem, era também uma ideia que ela gostava de

materializar, pôr à disposição o conhecimento que ela tem ao serviço das empresas. E se

calhar o que ela ainda aguardava na altura era precisamente o impulso por parte de outra

pessoa que a acompanhasse no projecto. E como nós tínhamos alguma proximidade e

falávamos sobre estas questões algumas vezes, houve uma altura em que a ideia

começou a ser mais desenvolvida, motivada pela minha insatisfação profissional, e em

2005 a ideia começou a ser consolidada. Tanto que eu nessa altura apenas para que as

coisas pudessem depois acontecer faltava-me acabar o mestrado…e resolvi fazer as

coisas por etapas e na AutoEuropa fiz ali uma paragem para terminar precisamente essa

fase, essa tese de mestrado e a seguir soube de um curso lá no ISCTE - INDEG que

tratava precisamente a temática de empreendedorismo e criação de empresas…e fui

frequentar o curso à procura precisamente de ferramentas e conhecimento do que é que

poderia estar inerente à criação de uma empresa. Ainda decorria o curso e nós

começámos a preparar o projecto…eu saí da AutoEuropa em 2005, em Dezembro de

2005, e portanto em Julho do outro ano estávamos a fazer a formação da empresa,

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portanto em 2006, estávamos a constituir a empresa nos centros de formalidades ali na

Junqueira…e foram estes os passos. Basicamente as razões foram uma procura de uma

nova realidade profissional, de um novo desafio profissional, porque sentíamos que

havia espaço para que as nossas competências pudessem vir a ter importância noutros

locais…e a procura dessa informação e depois sentimo-nos preparados…claro,

amealhámos algum dinheiro, porque para se constituir a empresa é preciso um capital

social mas não apenas teórico porque ele tem que servir para fazer isto: comprar

secretárias, para comprar cadeiras, para comprar computadores…e no fundo para uma

primeira instalação. Tínhamos no fundo essas reservas e formámo-nos sem outra

dificuldade desse género porque há situações onde não havendo essa disponibilidade

financeira se tem que recorrer a investidores ou a um financiamento externo o que nós

não fizemos… e porque também, creio eu, que para esta actividade não haveria assim

um investidor muito interessado nisso porque é um risco muito grande e eles não

estarão muito confortáveis em arriscar em projectos que não trazem uma rentabilidade

grande…enfim…

Comentário entrevistador: Pelo menos imediata…

Comentário entrevistado: Exactamente…

Pergunta: Está bem…pronto…então os sócios fundadores na altura foram o X e a…

Resposta: E a Y. Na altura e somos os únicos sócios da empresa…somos nós os dois.

Pergunta: Ah… continuam a ser?

Sim, sim…

Pergunta: E que cargo é que…o X é o sócio gerente e a Y é o quê?

Resposta: É só… no fundo accionista. A figura de accionista até porque impedimentos

legais assim o impõe.

Pergunta: OK. E quais são as formações? Além do X, a Y qual é a formação? Também

é licenciada…

Resposta: É…é licenciada em Ergonomia…fez lá também na faculdade, como é óbvio,

e tem depois o doutoramento feito no INRETS em Lion.

Pergunta: Está bem…e então como é que foi isto tudo desde o início, como é que

constituíram e organizaram desde o início, quais foram assim os passos, as maiores

dificuldades, maiores obstáculos? Obviamente que alguns ainda se manterão, mas de

início …

Resposta: Uma das coisas que nós tivemos muito tempo a reflectir foi como é que

nós…o que é que nós vamos oferecer às empresas, o que é que vão ser os serviços e o

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que é que as empresas nos vão comprar…a resposta a isto parece, aparentemente, é

simples mas pensar de que forma é que o conhecimento e a nossa experiência

profissional pode vir a ser transformada em serviços prestados às outras empresas não é

um passo tão linear quanto isso…porque uma coisa é aquilo que nós pensamos que faz

falta às empresas, outra coisa é o que o mercado das empresas realmente sentem essa

necessidade. E então, em determinada altura, deparámo-nos com uma situação caricata

que é, isto quase que nos remete para uma estratégia em que nós, enquanto empresa

formada, temos que criar a necessidade desses serviços e infelizmente, ou não, ainda

não sei muito bem o adjectivo que qualifica um bocadinho isto, é um bocado a realidade

de Ergonomia. As empresas ainda não estão propriamente despertas e conhecedoras das

vantagens em poder ter a opinião e o parecer técnico dos Ergonomistas…e estando

numa atitude de espera que aguardam pelos resultados, ou seja, eu sei que poderia

acautelar uma série de factores mas eu vou dispensar essa atenção para verificar se de

facto os efeitos da forma como eu estou a prescrever o trabalho resultam em danos ou

resultam em acidentes de trabalho ou resultam em doenças profissionais. Nessa altura

depois eu logo vejo como é que me vou desenrascar. E esse passo é obrigação nossa

pensarmos como é que nós, conhecendo esta realidade podemos apresentar ao mercado

serviços que possam despertar essa atenção. Então essa reflexão e essa elaboração de

que serviços é que nós podemos divulgar e que farão sentido para as empresas foi um

passo muito demorado e quase doloroso porque de vez em quando dizíamos “ mas isto

assim não vai funcionar…se nós comunicarmos a coisa assim as pessoas não vão

perceber o que é que nós vamos fazer”. E nessa ideia surgiu uma proposta que foi no

nosso site divulgarmos não apenas que fazemos serviço de consultoria e ajudamos as

empresas a encontrar as melhores soluções possíveis para os problemas que elas

eventualmente possam vir a ser detectados lá e colocámos questões de problemas tipo

que podem aparecer nas empresas, para que a empresa pudesse consultar essas mesmas

questões e pudesse conferir se aquilo era o panorama dela na empresa, do género:

“Preciso de diminuir as doenças profissionais na minha empresa. O que é que eu posso

fazer?” e na nossa resposta, sendo uma orientação quase técnica, a resposta está

orientada para que a pessoa reconheça que nós na Empresa temos a competência para

fazer aquilo que a resposta, do ponto de vista, se quisermos, técnico ou científico, a

resposta aquela questão está dada por nós. E nós depois vamos dizer que satisfazemos

todos aqueles critérios e aquelas competências. Isso foi um passo que era a estruturação

e a organização dos serviços. Depois o outro passo foi como é que nós vamos conjugar

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os diferentes serviços para que em termos de negócio isto faça sentido, porque

estávamos relativamente dispersos nas nossas reflexões sobre aquilo que gostaríamos de

fazer porque invariavelmente a nossa expectativa era “vamos fazer tudo”, e uma

empresa não pode fazer tudo…eventualmente pode mas se ela não se torna muito boa

numa determinada área corre o risco de estar muito dispersa no tipo de serviços que

presta. Então tivemos que fazer um novo esforço que foi “vamos ver do espectro todo

dos serviços que nós podemos prestar quais é que são aqueles que nós nos podemos

concentrar agora para vermos se isto em termos estratégicos tem ou não sentido”. E aí a

decisão foi “vamos avançar primeiro para aquelas competências que estão mais

consolidadas em termo da experiência profissional” que eram, por exemplo, aquelas que

eu trazia por ter trabalhado na indústria. Então esse foi o investimento principal e o

investimento inicial foi “vamos comunicar que fazemos serviços às empresas”,

designadamente empresas que tenham produção, que transformem matéria-prima num

produto. Inicialmente pensámos que isto podia ser bem sucedido…não foi tanto assim.

Tivemos algum tempo em que a resposta a este tipo de serviço não aconteceu da forma

como nós estávamos à espera e tivemos uma surpresa, que foi, o mercado da formação

começou a ser um serviço mais pedido à nossa empresa e era quase…e olhámos para

isso como “isto então tem que ser a nossa porta de entrada na empresa” através da

formação nós vamos cumprir a missão tal a qual a empresa nos chamou mas vamos ter

que perceber se isto satisfaz ou não todas as necessidades daquela empresa porque

raramente o faz, um processo de formação em que o objectivo é dar um conjunto de

informações ou de conhecimentos que raramente vão para a criação das competências

na própria empresa é no sentido de aumentar o conhecimento das pessoas sobre aquela

matéria, mas não criando competências, depois não tem os efeitos às vezes desejáveis

ou pelo menos aqueles que nós detectamos que seriam os principais para tornar o

trabalho daquela empresa mais favoráveis aos operadores do ponto de vista…deste

ponto de vista de factor humano. E então isso significa que o mercado de da formação

começou a ser um serviço que nós estávamos a responder às empresas com maior

volume do que aquele que inicialmente nós tínhamos estimado…e portanto tivemos que

olhar um bocadinho para esta oportunidade que estava um bocadinho desconsiderada

porque nós achávamos que para efeitos de formação o mercado já estava muito

competitivo, há muitas empresas a fornecerem formação. Percebemos é que depois as

empresas, num momento inicial, davam, ou chamavam os técnicos para formação

independentemente da preparação dos mesmo técnicos em que eles se preparavam

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naqueles conteúdos mas depois os clientes começaram a ser mais exigentes e já

recorriam às empresas que lhes levariam uns técnicos com uns conhecimentos

ligeiramente diferenciados. E a partir daí nós percebemos essa oportunidade e a

Ergonomia começa agora a fazer alguma diferença nessa formação e portanto temos

essa oportunidade de colaborar, normalmente, em regime de parceria, porque essa é

outra parte do problema…como é uma empresa nova nós não conseguimos comunicar,

ou melhor, não somos tão eficientes a colocar este serviço no cliente e então a nossa

estratégia foi conhecermos algumas empresas que já têm uma carteira de clientes

razoável, vamos perguntar-lhes se para este âmbito destas temáticas eles querem ir

connosco… ou nós queremos ir com eles, se eles também estão interessados em

levarmos esse cliente com essa formação. E tem, de alguma forma, resultado,

nomeadamente há uma empresa do parque industrial da AutoEuropa que é a ATEC, que

no fundo vem revolucionar um bocadinho a formação para a área industrial e levou-nos

num projecto em particular para um cliente onde temos estado ao longo do último ano,

foi um problema de formação que abrangeu todos os operadores e estamos todas as

sextas-feiras a com esses operadores oito horas para fazer formação só em Ergonomia e

Higiene e Segurança no Trabalho. E portanto o mercado da formação não é o mais

expressivo, está a ser através de parcerias e não através de uma relação directa nossa

com o cliente. E pronto, foi mais ou menos desta forma que nós fomos evoluindo na

preparação do nosso pacote de serviços a dar às empresas. Outros pontos, em termos de

serviços, que nós ainda não atacámos mas que finalmente começam agora a ter alguma

relevância, ou algum retorno em termos do cliente que é…falei na parte dos serviços

que nós organizamos, ou que preparámos para responder aos problemas das empresas

na área da produção, depois no mercado da formação e na área do produto apareceu,

recentemente, uma empresa a pedir isso…e quer uma outra área, sendo esta mais a área

de especialização da Professora Y, que nós queríamos desenvolver, mas sabendo que o

mercado não estava muito receptivo a isso, estávamos a aguardar o momento ideal e

apareceu, recentemente apareceu essa oportunidade e portanto isso revela que a reflexão

inicial estava de alguma forma correcta, alinhada…ela teria era que ser filtrada por uma

questão estratégica que é “não vamos avançar tudo ao mesmo tempo”, temos que ir

consolidando a nossa imagem no mercado para que possamos ser conhecidos por um

tipo de serviços mais comuns e depois ir aumentando essa diferenciação através de

outras coisas que nós podemos ser capazes de oferecer, como isto, como a avaliação do

produto. E pronto, são estas as três, basicamente, áreas que nós temos vindo a trabalhar

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recentemente. Num cliente em particular, e ainda regressando à formação, houve a

hipótese de nós alterarmos um bocadinho a coisa, ou seja, a forma clássica como o

pedido para formação acontece é “nós precisamos que os senhores venham falar sobre

um tema” e normalmente a nossa reacção é ok, o que é que nós sabemos sobre este

tema, preparamos, em termos de conteúdos, esse tema e vamos ao cliente dizer “ok, isto

é o que há a saber sobre esse tema” e às vezes não há uma correspondência tão directa

quanto isso entre os conteúdos abordados na formação e as necessidades específicas

daquele cliente. Então isso alertou-nos para “temos que fazer alguma alteração a isto”,

porque se nós queremos atingir níveis de satisfação com o nosso serviço nos clientes,

temos que de alguma forma tentar fazer uma correspondência entre as necessidades do

cliente e os conteúdos da formação que levamos. E alterámos um bocadinho a forma, ou

testámos essa alteração, na forma como vamos dizer ao cliente “sim senhor, vamos

ajudá-lo no processo de formação”…e fizemos uma experiência recente com um cliente

que nos pediu isso, em que fizemos uma primeira visita, em que dissemos ao cliente

“sim senhor, nós vamos comprometer-nos em ajudá-los para esse objectivo que têm,

criar competências nessa área mas primeiro nós precisamos de fazer uma visita quase de

auditoria para percebermos quais é que são as vossas necessidades e depois ajustamos

os conteúdos às vossas necessidades. Normalmente isto é acompanhado por uma

proposta ligeiramente mais cara porque este serviço de auditoria não está contemplado

numa formação normal…

Comentário entrevistador: É um processo de diagnóstico…

Comentário entrevistado: Exactamente…Mas este surpreendentemente o cliente

achou interessante a ideia e estamos a desenvolver precisamente neste momento essa

situação que vai ser também muito interessante para nós podermos avaliar que

diferenças é que vão acontecer no plano clássico e nesta nova forma de abordagem. E eu

acho que isso é um factor de inovação importante para nós Ergonomistas porque o que

nós, do ponto de vista do conhecimento científico, ouvimos sempre, e é quase

redundante no discurso dos nossos professores, é na área da Ergonomia, da intervenção

empresa raramente o Ergonomista pode descansar numa receita. Eu…por exemplo, no

âmbito mais ligado à Higiene, se eu trabalho num ambiente quem tem um determinado

contaminante, eu sei que, na maioria das situações eu tenho que proteger o operador, é

esta a reacção do Técnico Superior, é “ok, tenho que fazer protecção individual”…nós

na Ergonomia não procuramos muito soluções standard, as tais receitas, porque a

especificidade da situação é tão particular de outra que…até poderia haver a suspeita

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que poderíamos transferir para lá a solução, mas não, há sempre alguma uma

especificidade muito própria da outra situação que merece uma solução à medida. E o

trabalho do Ergonomista é um bocadinho isso, é ser constantemente criativo

para…estudando cada uma das situações, desenvolver soluções à medida do cliente e

essa também é alguma dificuldade pelas quais as empresas não estão ainda muito

receptivas porque, obviamente se eu vou criar soluções à medida, eu preciso de um

tempo para criar conhecimento para suportar essa solução, e esse tempo tem que ser

pago. E portanto o serviço, quando bem estruturado por parte do Ergonomista, é

comparativamente a outras propostas, ligeiramente mais caro porque o tempo que nós

demoramos a desenvolver a solução é maior e portanto esse tempo tem que ser pago…

Comentário entrevistador: Claro…

Entrevistado: Não faz sentido ser de outra forma…E isso cria-nos alguma dificuldade

também de entrarmos no mercado…Há uns quantos meses atrás…há uma empresa, que

sabendo que está ainda a insistir muito…e há uma situação curiosíssima, a empresa

identificou que seria através de uma intervenção Ergonómica que poderia resolver um

conjunto de problemas e consultou-nos para nós apresentarmos uma proposta. As

nossas propostas são sempre apresentadas depois de uma visita ao cliente…que na

verdade é um esforço da nossa parte porque significa deslocação, às vezes significa

estadia, mas enfim, mas é dessa forma que nós asseguramos que estamos a propor uma

coisa com capacidade de implementação e não…um modelo, um protocolo que já

fizemos para não sei quantas vezes. E na parte da quantificação que é um problema, que

já aqui vamos falar, em termos do custo…preparámos aquela proposta e quando

calculámos que preço é que vamos pedir ao cliente, pensámos que aquilo seria um preço

mais que justo porque até era um projecto com alguma duração, o cliente disse “não,

nós não vamos ter essa capacidade para suportar isso, agradecemos a vossa atenção mas

infelizmente não vamos poder”, e ele continua à espera de outras propostas, tem

consultado outras empresas porque nós ainda somos poucos e vamo-nos conhecendo

uns aos outros e sabemos dessa consulta….

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …Contactou a faculdade para eventualmente saber se haveria

disponibilidade de algum estudante estagiário para realizar o trabalho…não havendo

estagiários disponíveis sabemos que aguarda pela disponibilidade dum estágio

profissional, portanto a empresa está altamente interessada em desenvolver este tipo de

intervenção, não tem é…não preparou foi o volume - euros necessários para suportar

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este projecto. Obviamente que isto em termo de empresa faz todo o sentido, no meu

orçamento de 2008 eu não tenho dinheiro para pagar este estudo eu tenho que ir

encontrar uma forma mais económica para o fazer, mas é uma boa notícia a empresa

estar completamente dedicada àquele objectivo mas não ter recursos para o fazer,

pensando que isto poderia ser feito com um décimo daquele valor que nós

apresentámos…não faço ideia…mas são indicadores interessantes. A outra parte que

nós tivemos alguma dificuldade em estarmos de acordo ou verificarmos se estávamos a

fazer como o mercado, como o resto das empresas fazem, é a formação do preço.

Nenhum de nós, nem eu nem a Y, tivemos uma experiência na área da consultoria

anterior e às vezes isso ajuda para estimar que preços, valor hora que nós vamos fazer

para este projecto ou para aquele…e portanto foi tudo, foi uma experiência que foi

sendo ganha à medida que os projectos nos iam aparecendo e à medida em que os

clientes diziam sim ou não. E há uma percepção que agora faz parte, é uma

sensibilidade quase, se quiseres, que nós temos para um preço, embora ele esteja ali

numa margem mas é sempre muito difícil fazer porque é sobretudo pelo preço que as

empresas decidem…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: Nós temos confiança que as propostas que fazemos têm…são

diferenciadoras em relação à nossa concorrência mais directa…e diferenciadora pela

direccionalidade quase que as propostas têm para o problema que o cliente nos reporta e

porque vamos lá visitar e portanto vamos saber um bocadinho mais sobre a realidade do

cliente para podermos ajustar a nossa resposta. O preço é sempre um factor decisivo, é

lógico não é, nos tempo que correm pesa mas às vezes o mais barato vai sair caro àquele

cliente e nós ainda não descobrimos a forma de confrontar e….

Comentário Entrevistador: Sugerir isso às pessoas, aos clientes….

Entrevistado: E tem que ser também por aí o nosso caminho mas ainda não temos

ideias de como o fazer porque normalmente o cliente é soberano nessa decisão…o que

nós fazemos é disponibilizamo-nos tantas vezes quanto o cliente quer para

esclarecermos as dúvidas que ele tem em relação à nossa proposta…e já houve

situações até que foram um bocadinho desconfortáveis para nós onde pela distância que

tinha que ser vencida fomos várias vezes a esse cliente o que de alguma forma nos

animou relativamente ao desfecho final…

Comentário Entrevistador: Claro…

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Entrevistado: E depois a decisão acabou por ser negativa, ou seja, não nos adjudicaram

o projecto mas depois percebemos que no fundo o que ele estava a fazer era confrontar-

nos com uma série de questões que resultavam da análise de outras propostas que

entretanto lhes estavam a chegar… e queriam ver como é que a nossa proposta se

posicionava face a essas informações que as outras propostas tinham. E eu penso que aí

ficou a consciência que a nossa proposta seria de maior qualidade e a decisão deles era

“vamos prejudicar, se calhar, um bocadinho a qualidade para conseguirmos ir com este

preço que nós conseguimos assegurar”. E isso tocou-nos e obviamente fez com que nós

tivéssemos que fazer uma revisão do nosso preço e neste momento é quase doloroso

sentir isso… nós estamos muito abaixo de um valor que nós julgaríamos justo para

remunerar o nosso trabalho. Mas porque é, ou melhor, não é a única forma mas foi a

forma que nós decidimos…implementar para que pudéssemos apresentar ainda, se

calhar no primeiro semestre deste ano, uma carteira de clientes razoável, prejudicando-

nos em termos do preço mas pelo menos podemos aparecer no mercado a dizer “já

fizemos projecto para este, para aquele e para aquele e os resultados foram estes, estes e

estes”. E é mais um investimento da nossa parte para podermos, se calhar, trabalhar essa

questão e depois mais tarde podemos aumentar um bocadinho o preço, embora isso,

têm-nos avisado que é um risco muito grande porque é difícil fazer isso…

Comentário Entrevistador: Começar com um preço e aumentar…

Entrevistado: Mas é um teste porque nestas questões pode ser que trabalhando um

preço baixo com o cliente, é claro que nós queremos que esse cliente regresse mais

tarde…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: E se calhar para esse cliente vai ser difícil apresentar o preço justo na

medida que ele irá ser muito diferente deste que nós estamos a fazer agora, mas outros

novos clientes poderão vir a ser já alvo desse novo preço e portanto será mais fácil

trabalhar por aí…estamos a experimentar essa estratégia porque não estávamos a

conseguir encontrar adjudicações suficientes para que nós nos sentíssemos confortáveis

e conhecidos aí no mercado. E foi assim de uma forma geral as dificuldades que nós

temos tido neste momento. Depois há aquelas dificuldades clássicas que é num

momento não há nada, não há um projecto que nos ocupe e depois, entretanto, aparecem

duas adjudicações e entretanto o nosso tempo começa a ser difícil de ser dividido entre

projectos. E isto porquê?! Porque, por enquanto, nós ainda não temos capacidade para

contratar…Neste momento temos a ajuda da S no âmbito do estágio dela mas é

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impossível nós sermos justos e dizer “ok, vamos contratar agora uma pessoa com

contracto de trabalho de seis meses ou um ano, o que for, porque nós não sabemos o que

é que vai acontecer para o mês que vem…

Comentário Entrevistador: Claro, ainda há uma grande flutuação a nível das

solicitações do mercado…

Entrevistado: E porque os projectos têm uma duração muito reduzida que não

permitem que… a segurança nessa contratação. Se um projecto acontecesse para seis

meses aí sim, nós já sabemos que vamos precisar de um recurso a seis meses então

vamos lá…E portanto isso significa muito envolvimento da nossa parte também na

componente técnica do trabalho…Depois isso resulta menos disponibilidade para a

parte mais da gestão e do pensar e antecipar necessidades futuras…e é sempre um

compromisso delicado porque ao mesmo tempo que queremos intervir na parte técnica

porque as nossas competências obviamente que são importantes para garantir a

qualidade daquele trabalho, por outro lado, sabemos que enquanto estamos a fazer o

trabalho técnico não estamos disponíveis para encontrar novos clientes, para trabalhar a

empresa no fundo, não é…e é este tempo que tem que ser repartido por “n” actividades

que às vezes é difícil perceber se estamos a fazer bem ou não, ou se estamos a

prejudicar, embora estejamos a dar resposta ao actual, não estar a trabalhar no futuro

pode comprometer isso…enfim…são riscos.

Pergunta: Quando vocês abriram a empresa existia alguma outra empresa que

fornecesse os mesmos serviços?

Resposta: Ah, essa também foi uma dificuldade que era, quando nós tentámos fazer o

nosso plano de negócios uma das partes que, obviamente um plano de negócios tem e

obriga é “conheça a sua concorrência” e nós…houve uma altura que achámos que não

tínhamos concorrência directa, que o que nós estávamos a apresentar ao mercado era de

tal forma inovador que não poderíamos, ou que não reconhecíamos ninguém no

mercado que fosse nosso concorrente. E na verdade não é bem assim…Na altura a

reflexão não produziu nada que…nesses termos, ou seja, não conseguimos identificar

nenhuma empresa. (interrupção) Nessa altura, na identificação da concorrência,

achámos que não tínhamos porque ninguém prestava os serviços da forma como nós

estávamos a prepará-lo. Depois obviamente que numa reflexão futura não foi bem

assim…foi, há empresas que já fazem ou têm no seu catálogo de serviços…vendem

também Ergonomia e já são mais do que aquelas que supostamente as pessoas…ou a

ideia geral têm que as pessoas…, e todas elas obviamente …é quase exigência que

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assim aconteça, todas elas são, ou têm Ergonomistas licenciados na FMH como o

elemento âncora dessa empresa. A primeira, talvez, que começou a vender alguns

serviços de Ergonomia é a ESSION que já falámos….Depois, não sei se

cronologicamente vou ser correcto na ordem, mas...talvez a PERCENTIL que é da

Catarina…o Luís Coelho, que nunca me lembro como se chama a empresa dele…

Pergunta: Não é a SIMULACRO ?

Resposta: Essa é a do…a SIMULACRO é do Araújo, José Araújo…Como é que se

chama a empresa do Coelho? (Pergunta feita a terceira pessoa presente na sala) …Daqui

a nada lembro-me…e o Araújo com a SIMULACRO, depois a Praxis D da Marta Dias

que terá sido talvez a última, depois aparecermos nós, embora…enfim, cada uma destas

não vende apenas serviços na área da Ergonomia e por isso é que nós nos achávamos, e

nos achamos, inovadores no mercado, somos a empresa que presta exclusivamente

serviços para este objectivo. As outras têm um conjunto de outros serviços que na

verdade até são os serviços que as suportam…porque pela nossa experiência, então isso

é evidente…estes projectos de Ergonomia vão aparecendo, não permitem às

empresas…ou não permitiam, porque pelos vistos se as coisas tiverem bem organizadas

é possível sobreviver prestando apenas prestando estes serviços… E então essa

análise…essa concorrência que existe, óbvio…nós encaramo-la com respeito mas

também com alguma tranquilidade porque o mercado não é muito grande mas nós ao

conhecermo-nos sabemos, ou antecipamos que nível de resposta é que as outras

empresas estarão preparadas para dar…e estamos convencidos que o nosso nível de

resposta consegue ser melhor em termos de qualidade do que os nossos concorrentes. A

outra parte que interessa e que à bocado andámos a falar…do preço, é que pode não ser

o factor decisivo da adjudicação e portanto aí sempre que nós apresentamos um preço

mais elevado do que a concorrência a empresa que solicita essa proposta adjudicará à

concorrência e não a nós, mas confiamos que em termos da qualidade da resposta nós

estamos bem posicionados…e tem sido também essa informação que as empresas,

potenciais clientes, nos têm dito, que a proposta estava muito bem elaborada, em termos

de metodologia, em termos daquelas coisas todas que eles valorizam mas que no

momento decisivo do preço…é isso que lhes interessa mais, por razões que cada um

saberá.

Pergunta: Então consideras que a empresa inovou ao nível dos serviços, dos produtos

finais oferecidos aos clientes e também ao nível dos processos utilizados para conceber

esses produtos, ou não?

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Resposta: Nós achamos que sim, e estamos convencidos que sim porque…mas não é

nada que seja patente nossa. Aquilo que nós fazemos é um respeito muito grande por

aquilo que as regras de como fazer bem Ergonomia mandam. E não abdicamos…

daí…não vamos pelas facilidades e portanto estamos altamente convencidos que se nós

seguirmos o protocolo que os livros nos ensinam, nós vamos estar lá, vamos chegar

aquela solução…que é aquele trabalho difícil que há pouco falava que é não confiamos

nas soluções que já existem no mercado, não é um confiar no sentido de dizer…em

determinadas circunstâncias não podemos indicar que aquilo resolveria a situação ou

seria a resolução do problema, não é isso…é…obviamente se o mercado já dispõe

aquela solução não aconselhar nesse sentido mas no âmbito da indústria dada a

particularidade e a especificidade de cada situação não é possível garantir um bom

trabalho ao cliente se o nível de reposta for apenas para a identificação das soluções

standard, das receitas, e é isso que nós estamos dispostos a fazer, é trabalhar com o

cliente o conhecimento, a informação que ele tem e transformar isso no conhecimento

relevante para lhe dizer “É isto que precisa, isto e aquilo”. É seguir o protocolo que nos

é ensinado e ser trabalhador no fundo, porque custa chegar lá, não é fácil mas enfim…é

a nossa profissão, não nos podemos queixar sobre isso.

Pergunta: Mudaste de concelho de residência ou concelho de trabalho por causa da

empresa?

Resposta: Sim. Quer dizer…sim, de facto sim. A minha…eu tenho residência em

Setúbal e não dá muito jeito estar lá do outro lado e fazer estes quilómetros todos os

dias mas enfim, não foi a única razão…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: Já haviam outros motivos na minha vida particular que me fariam estar

em Lisboa mas em rigor sim…não estou a ir a Setúbal, estou agora aqui por

Lisboa…porque é um custo completamente estúpido para além de que vir numa fila de

trânsito para Lisboa de manhã e não dá satisfação a ninguém…

Pergunta: Que factores a nível de recursos e apoios de formação contribuíram para a

formação da empresa? Tiveram algum tipo de apoios?

Resposta: Apoios da família, nomeadamente da Y, estamos neste espaço por esse

consentimento…recursos próprios…e de facto há uma coisa que não tem uma

relevância muito grande na nossa actividade, mas há pessoas que nos apoiam quase

moralmente, não é…nos incentivam “vão, vão para a frente com isso porque vocês

sabem fazer isto e aquilo”…os amigos, no fundo a classe dos amigos dão-nos esse

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estímulo e há pessoas que também acreditam no projecto como por exemplo o nosso

contabilista que nos tranquilizou a dizer “deixem….os meus serviços depois nós

falamos quando vocês tiverem capacidade para mos pagar mas até lá não se preocupem

com a minha remuneração…vão lá caminhando, vão lá fazendo pela vida da empresa

que quando vocês tiverem capacidade logo…” portanto isto são pequenas coisinhas que

todas juntas…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …vão fazendo alguma diferença. E basicamente…acho que não me

estou a esquecer de nenhum apoio mais relevante…mas é o que é o normal, não é…a

família, os amigos e os malucos, costuma-se dizer não é?!

Pergunta: Pronto, ao nível de empregados já percebi que não têm…nunca contrataram,

ainda não têm…

Resposta: Não…

Pergunta: Aceitam um estagiário por ano é isso?

Resposta: Não existe uma regra…

Pergunta: Ou foi uma situação excepcional?

Resposta: Excepcional não, foi trabalhada. Nós de alguma forma…a nossa expectativa

era que a empresa viesse a desenvolver…ou melhor, perante o número de propostas que

nós estávamos a apresentar aos potenciais clientes era nossa expectativa que uma

percentagem destas propostas viessem a ser adjudicadas…e havendo a oportunidade de

termos connosco um estudante estagiário na altura a coincidência com o período em que

o estudante estagiário estaria disponível e o número de projectos que nós tínhamos em

antecipação, permitiu-nos ter essa esperança até porque havia, e há, um projecto que nós

queremos desenvolver nosso…e foi por isso que nós fomos buscar a S…tendo aliciado

a S para vir trabalhar connosco e não ir para outro sítio qualquer…mas não, foi

intencional, a procura foi intencional, não foi uma atitude passiva que obedece a uma

regra de um estagiário por ano…foi…” nós agora dava-nos muito jeito termos uma

ajuda” e essa ajuda veio através do estudante estagiário, pela disponibilidade que havia

e pelas características que nós conhecíamos da S porque se não fosse a S não seria outra

pessoa, não era uma questão de escolha…

Comentário Entrevistador: Não era uma questão que fosse…

Entrevistado: Era, era…

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Pergunta: Relativamente ao volume de negócios, que está em evolução obviamente,

mas actualmente a empresa gera lucros que se sustente a si própria e a todas as despesas

inerentes? A nível de recursos humanos, recursos materiais…

Resposta: A facturação tem estado a crescer, felizmente sim…comparativamente ao

ano anterior sim. Os lucros que nós geramos são…na verdade geramos, ou seja, o preço

pelo qual nós remuneramos os nossos serviços são normalmente superiores ao custo que

isso tem para a empresa mas porque o nosso custo para a empresa está muito abaixo

daquilo que seria o custo real e o custo justo e portanto é nesse esforço é que as coisas

vão resultando…portanto é um cuidado constante que é apurarmos e não termos no

fundo…honrarmos todos os nossos compromissos em termos dos custos fixos que

temos e gerirmos por aí…e fazendo isso à custa de uma remuneração baixa… de nós, de

nós próprios. Pronto, basicamente isso é….ah, as receitas dão para assumirmos os

nossos custos fixos mas não remuneram ainda…com a devida qualidade o nosso

envolvimento, e…mas isso também era esperado, foi previsto que houvesse um período

em que a coisa tinha que ser assim…infelizmente não há outra hipótese.

Comentário Entrevistador: Claro…salvo raras excepções em que as empresas

também começam logo ali…

Comentário Entrevistado: A crescer…

Comentário Entrevistador: …a ter os ordenados ideais…

Comentário Entrevistado: Chorudos….

Comentário Entrevistador: …a cada um dos sócios…

Pergunta: Quais são os projectos futuros aqui para a empresa? E as expectativas

iniciais foram superadas ou estão ainda em fase de superação?

Resposta: As expectativas não…as minhas não, não foram, eu pensava, e aliás isso

era…é uma reflexão recorrente com outros colegas do ISCTE, eu pensava que este

período de rampa de lançamento da empresa atingisse um stedytsep mais, mais, mais

depressa e está a ser um esforço muito prolongado, são dois anos, basicamente, que nós

estamos a chegar em termos do início da sociedade da empresa…e estimávamos que

nesta fase nós já estivéssemos a navegar…como é que se diz…em fase de cruzeiro. E

não está a acontecer…porque também se calhar as nossas expectativas vão sendo

corrigidas em função do que existe agora, queremos fazer sempre mais, mais, mais….

Comentário Entrevistador: Depende da actual situação do país também…

Entrevistado: Exacto…mas ainda há espaço para crescermos muito mais

obviamente…não há qualquer dúvida para isso…não apenas em termos de volume mas

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em termos da diversidade daquilo que oferecemos…E isso significa um projecto em

particular que nós queremos…que seja nosso ou que tenha a nossa marca, e que vai

ajudar-nos a nós, mas vai também ajudar a classe profissional em geral…tem a ver com

uma especificidade em termos quase técnica relacionada com a profissão porque o

aspecto central da nossa profissão é a nossa competência em olhar, sobretudo, para esta

área, para o trabalho e perceber com a análise do trabalho o que é que o Ergonomista

deve respirar dessa observação que está a fazer…e sistematizar essa informação para

que ela resulte nessa construção dessa solução. E temos reparado que há colegas que ao

dispersarem um bocadinho a sua atenção nesta fase de recolha de informação não

garantem bons resultados, portanto essa preocupação não é apenas inerente à nossa

actividade mas uma aposta que nós fazemos para a classe em geral para garantirmos que

a qualidade da resposta vai ser transversal aos Ergonomistas e isto permite afirmar a

classe…e nós julgamos que afirmando a classe do ponto de vista da qualidade da sua

resposta também estamos a contribuir para a consolidação da imagem da empresa não

é…se conseguirmos chegar a este produto e disponibilizando-o a outros é obvio que

isso representa uma vantagem enorme para nós…estamos nós convencidos disso. E esse

é um projecto que nós acarinhamos com alguma particularidade. Outros projectos são

um pouco na sequência daquilo que há pouco também dizia, a aposta na diversificação

dos nossos serviços, por exemplo na área do produto e noutros segmentos do mercado

que de acordo com algumas opiniões de observadores…são uma matéria que o futuro

vai trazer também para o nosso país…e estamos a tentar posicionarmo-nos para isso,

antecipando…ou melhor, tendo estado atentos a esses observadores, estamos a tentar

reunir competências e informação, suficiente e relevante, para que no momento chave

estejamos preparados para dar essa resposta. E são estas três áreas…o desenvolvimento

desse quase protocolo de observação, ou de análise do trabalho, esta aposta na

antecipação das necessidades futuras e o desenvolvimento desta área do produto que

seria bom para nós.

Pergunta: Está bem…já percebi. Desde que vocês abriram até agora acham que as

mentalidades das pessoas têm mudado relativamente à importância que eles atribuem às

questões da Ergonomia, relacionadas com o trabalho, ou não? Têm vindo…têm

observado essa mudança?

Resposta: Eu…eu não sei se…

Pergunta: Acha que é uma preocupação crescente das empresas?

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Resposta: Eu acho que isso sim, acho que é…não sei se é muito evidente, mas parece-

nos que sim porque…mas temos alguma dificuldade em diferenciar se é desde que nós

existimos ou se é pelo facto das pessoas quando procuram alguma coisa sobre

Ergonomia já também nos encontrarem e fazerem chegar até nós esse pedido ou se isso

já acontecia mas só que nós não éramos considerados ou porque não existíamos ou

porque ainda éramos muito recentes…embora ainda o sejamos. Essa avaliação é

estranha…eu quero confiar que sim porque o confronto que…na generalidade…com o

que acontece na generalidade é cada vez maior, é pela televisão, é pelos jornais, é pelas

campanhas que organismos com responsabilidade promovem para sensibilizar as

pessoas para a importância que é a segurança e a saúde no trabalho…e isso tem que ter

algum resultado. Por outro lado, as empresas chegam a uma determinada altura em que

percebem que afinal o trabalho que os seus operadores estiveram a fazer está a produzir

efeitos que não são bons para os índices de competitividade daquela empresa porque a

seguir começam a ter que lidar com períodos de absentismo elevado, com doenças

profissionais, com insatisfação dos trabalhadores, com erros no produto, com a falta de

qualidade do produto e portanto…depois quando esses efeitos são identificados as

empresas começam a relacionar ou têm a possibilidade de relacionar uma coisa com a

outra e aí aproximam-se e pedem. Eu queria, eu gostava que isso pudesse ser verdade,

que as empresas estão a ficar mais conscientes…mas não estou muito seguro…nós

contribuímos para isso porque existimos e porque estamos a confrontar as empresas,

através do nosso site, com uma série de resultados do trabalho que não são bons para

elas e portanto este choque é para despertar nelas o alerta de que se calhar têm que

acautelar isto. O ideal para nós nem era apenas que acontecesse assim, que as pessoas

quando percebem que…que as empresas quando percebem que há ali uma série de

efeitos que não deveriam lá estar nos chamassem, é bom que nos chamem mas o que

nós gostaríamos que no futuro também acontecesse era que percebendo que o futuro das

empresas pode apresentar esses efeitos elas trabalhassem na preparação ou no

planeamento e aí ainda não tivemos nenhum projecto que nos envolvesse na fase de

planeamento e é outra das expectativas…mas isso nós estamos convencidos que

podemos vir a trabalhar isto de uma outra forma com empresas que já tenham sido

nossas clientes porque já conhecem o tipo trabalho que nós fazemos e na preparação de

um novo projecto, de um novo produto, a empresa sabendo que pode acautelar…estou a

evitar dizer acautelar porque a S diz que falo muito em acautelar…a empresa pode

antecipar isso e saber “ok, se chamarmos nós conseguimos corrigir na origem estes

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problemas que depois não queremos que aconteçam no futuro”…mas pronto resumindo,

não sei se houve alguma evolução…até porque o nosso país está a mudar um bocadinho

em termos de tecido produtivo, não é….as empresas estão a deslocar-se, portanto,

aquelas que se mantêm por cá, provavelmente, são empresas com um nível de

organização já muito considerável e de uma forma ou outra estas preocupações já

existiriam porque é de facto…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …importante para a empresa preparar o trabalho, as condições de

trabalho para que ele não desenvolva estes impedimentos perante a intervenção que as

pessoas têm lá…mas enfim…o que é que eu posso dizer…sendo nossa expectativa

também não é um marasmo completo porque senão nós não estávamos a apresentar

propostas…não sei se isso se deve ao facto de uma evolução ou se já era assim e apenas

nós estamos a ser considerados por essas empresas, não consigo avaliar bem isso.

Pergunta: Ok…Para além da empresa tem outras actividades profissionais

actualmente? Quais?

Resposta: Sim…muito marginal…uma é a colaboração numa…com uma instituição de

ensino privada que é o ISEC, obviamente falando de Ergonomia numa cadeira

Ergonomia que eles têm, depois outra responsabilidade é na Associação Portuguesa de

Ergonomia e excepto essas duas não…portanto é a empresa, a APERGO e essa

colaboração na docência.

Pergunta: Não colabora em mais nenhuma…porque no currículo…deu aulas em várias

instituições, actualmente só no ISEC?

Resposta: Ah…Sim porque eu não quero…embora de vez em quando surja a

oportunidade de nós participámos nesses planos de formação de Técnicos Superiores de

Higiene e Segurança no Trabalho mas isso retira-nos algum tempo em termos de

empresa…e não…foi uma aposta que é não…vou abdicar um bocadinho disso…se isso

fosse o negócio da empresa ok mas não é porque essa, normalmente, é uma formação a

título particular…e prescindo para me concentrar um bocadinho mais nestes

problemas…

Pergunta: Ok…Aqui a última questão desta parte era para me dar um exemplo de

empreendedorismo representativo na sua área. Eu lembro-me que na altura quando

falámos, falou-me da SIMULACRO não era, porque inovava na questão da segurança

para as crianças. Mantém-se?

Resposta: Sim, sim, sim… É um bom exemplo.

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Pergunta: Relativamente a atributos pessoais, quais são as qualidades que considera

importantes para se criar e desenvolver uma empresa, com tudo o que isso implica e

acarreta? E porquê?

Resposta: Então…ter alguma resistência às adversidades porque são constantes, os

problemas…ou seja, a única certeza que temos é que vão aparecer problemas e portanto

é preciso ultrapassá-los e ter alguma resistência, algum suporte para lhes dar a

volta….Por outro lado é um misto de…ter uma boa reserva de confiança porque há

momentos em que nós podemos pôr tudo em causa mas tendo essa

consciência…mesmo assim é preciso seguir em frente e achar que na altura a coisa se

vai resolver…Ter alguma capacidade de antecipação também, no sentido de quantos

mais cenários eu antecipar que podem…que eu posso ser confrontado no futuro melhor

preparado estou para os enfrentar…de alguma forma já pensei, ou já me confrontei ou já

experimentei qualquer coisa, nem que seja ao nível da reflexão…Atributos pessoais é

um bocadinho por aí…que é a capacidade de resistência, a confiança mesmo que

desprotegido…e achar que, enfim, que tem…que tem a resposta correcta ou que tem…a

resposta correcta para a situação, achar que consegue lá chegar. Outras situações que eu

acho que são essenciais…é… a nossa vida faz-se com um suporte financeiro e ponto

final. E se nos dedicamos a um projecto destes… prepararmos a nossa vida para

podermos prescindir desse incoming durante uns tempos porque a não ser que seja um

caso de um sucesso extremo ele vai estar muito…

Comentário Entrevistador: Demorar algum tempo até ter um lucro compensável…

Entrevistado: Exactamente, exactamente. E portanto é preparar isso para não destruir o

outro suporte porque ele é necessário para o resto não é…porque sem esse suporte, ou

da família, ou dos amigos, tudo se destabiliza…porque depois não há, precisamente,

essa base de sustentação. Então é antecipar essa situação e preparar-se para isso…E ter

a consciência que vai deixar de haver horários, não há das nove às cinco, não é assim…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …não há um horário, não há propriamente…não se obedece a um ritmo

de semana, embora seja bom ter essa disciplina porque a cabeça também precisa de

descansar mas perde-se um bocadinho essa, essa divisão que é feita, semana e fim-de-

semana…Outro atributo que eu acho importantíssimo que nós tivemos que trabalhá-lo,

eu pessoalmente tive que trabalhá-lo bem, é…nós rapidamente mudamos de técnicos

para nós termos que apresentar competências ao nível comercial. Nós temos que saber

vender os nossos serviços senão nem a proposta vai acontecer…e trabalhar a relação

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com o cliente é qualquer coisa que não sendo inata nós não estamos preparados para a

ter na sua…como ela deve ser feita e isso foi, é um processo que nós estamos a ter,

estamos a aprender ainda e é…mas é algo muito delicado e que eu me senti menos

preparado para isso…mas é obrigatório, eu tenho que deixar, nós, enquanto

responsáveis pela empresa, temos que deixar de pensar apenas…ou sermos puristas em

termos técnicos para pensarmos nessa relação comercial…

Comentário Entrevistador: Empatia talvez….

Entrevistado: É…e perceber…enfim, perceber dessas estratégias comerciais, como é

que eu vou…ou…mas aqui, se calhar, também é uma personalidade ou é um traço de

personalidade próprio…eu sou muito persistente numa ideia em que eu pense que é…o

cliente apresentou-me um problema e eu penso que a resolução para aquele problema é

esta ideia que eu tenho e sou muito convicto daquela ideia, independentemente daquela

ideia estar a dar, não só aquilo que o cliente pediu, mas mais “n” coisas, e eu penso

“então se eu forneço mais n coisas ao cliente melhor para ele” mas às vezes o cliente

não está interessado nas “n” coisas, só quer aquela que ele pediu e esse purismos técnico

se nós conseguirmos também dar ao cliente mais aquelas coisas, embora seja

satisfatório enquanto profissional, não é isso que faz sentido numa relação comercial. É

um exemplo, materializando um bocado essa suspeita…e isso tem que ser corrigido.

Portanto, a pessoa que se dedica a um negócio tem que ter alguma preparação nesta

relação comercial…e que de facto, é uma coisa que, embora nós tenhamos ouvido

durante a formação em empreendedorismo, não é trabalhada ao nível da competência,

nós temos que ir à procura dela posteriormente. E eu ainda sinto algumas dificuldades

nisso…e tenho corrigido mas faz parte do processo.

Pergunta: Relativamente à família, pronto, referiu à bocadinho que a sua família o

apoiava…eles apoiaram-no na sua decisão desde início da criação da empresa, desde a

saída da AutoEuropa? De que forma é que eles o apoiaram?

Resposta: Sim…quer dizer, não foi assim um apoiar que….ou melhor, regra geral a

minha família não me tem impedido de decidir para aqui ou para ali…normalmente eu

apresento a ideia, ou apresento…enfim…sim, discuto a ideia mas já vou muito

determinado naquilo porque, normalmente, já pensei muito e portanto não…salvo raras

excepções, volto atrás nessa decisão. Portanto já vou muito determinado naquela ideia e

se calhar um bocadinho por conhecerem essa forma de ser…nesta situação em particular

não houve nem uma resistência, nem um apoio incondicional…disseram “sim, se tu

achas que é isso que queres fazer e se achas que estás preparado para o fazer vai em

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frente porque não vale a pena estares numa situação profissional que não desejas e que

te sentes insatisfeito”, foi uma aceitação e não foi um apoio condicional do género “Vai,

vai, vai que nós estamos cá para apoiar”. É óbvio, a família está sempre mas foi mais

uma aceitação.

Pergunta: E qual foi o ponto de vista deles, dos seus pais, relativamente à criação do

próprio emprego? Há famílias que são renitentes que preferem “não, trabalha porque

tens sempre alguém que paga”, há outros que dizem “Não, vai…arrisca”.

Resposta: Na verdade, e eu não tinha sido ainda muito confrontado com a ideia até ao

momento que eu percebi que na verdade todos nós fizemos um bocadinho isso. A

começar pelos meus pais, eles eram empregados na agricultura por conta de outrem,

decidiram, em determinada fase da vida, implementar um negócio próprio, na altura,

uma taberna em Évora. Uma das minhas irmãs…empregada fabril numa unidade lá de

produção em Évora resolveu, a determinada altura da vida, fazer um acordo com a

empresa e apostar no ramo da restauração com o marido; a outra irmã continua também

a trabalhar por conta de outrem mas incentivou o marido a criar um negócio próprio,

uma sapataria e portanto a família…

Comentário Entrevistador: Bem…pelo menos tiveram todos um percurso…

Entrevistado: Foi…e portanto quando eu…enfim…começámos a pensar nisto…disse

“ah, afinal tenho algum suporte familiar de empreendedorismo sem ter consciência do

mesmo não é…porque achávamos que aquilo era uma resposta que a pessoa estava a dar

aquela condição de vida que naquele momento lhe parecia desfavorável e então ia à

procura de uma solução melhor….

Comentário Entrevistador: Claro….

Entrevistado: Enfim, é normal….De maneira que, se calhar também por isso, não

houve muita estranheza porque nós todos acabámos por fazer alguma coisa e felizmente

todos os exemplos estão a ser bem sucedidos e eu gostaria que o meu também fosse,

como é óbvio. Mas eles, se calhar, também percebem melhor porque eles próprios estão

envolvidos…

Comentário Entrevistador: Já fizeram essa decisão.

Entrevistado: Exactamente.

Pergunta: Então acha que foi influenciado pelo percurso dos restantes elementos da

família? Ou acha que não…que como não tinha consciência não chegou a ser

directamente influenciado?

Resposta: Não sei…se calhar a influência está…

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Pergunta: É que às vezes as conversas…há pais que dizem “eu acho que é bom todos

criarmos, passarmos pela fase de criar uma empresa”, há pais que falam isso com os

filhos, há pais que não, que dizem “quando fores grande é melhor…”. Acha que eles o

influenciaram de alguma forma?

Resposta: Dessa forma declarada não…no sentido de me dizerem “então se estás a ser

confrontado com este problema, se calhar, criares uma empresa resolve”…acho que

nunca me confrontaram, ou nunca discutimos nestes termos…

Comentário Entrevistador: Em termos dos percursos de vida deles de forma

indirecta…

Entrevistado: Aí talvez isso lá estivesse não é…no sentido de procurarmos uma

autonomia própria, de procurarmos desenrascarmo-nos na vida sem ter muito, muitas

contas a dar a outrem…aí se calhar talvez esses ensinamentos que faziam parte do nosso

dia-a-dia tenham tido agora a sua manifestação e a sua concretização. Mas de facto

nunca tinha pensado nisto nestes termos, nunca tinha estruturado o raciocínio desta

forma, não sei…se calhar até lá, muito atrás, o momento decisivo foi ainda em Évora e

não propriamente cá em Lisboa. Mas não sei…

Pergunta: Pronto, passando agora para a parte dos factores sociais, apoios e barreiras,

acha que actualmente a nossa sociedade, de uma forma geral, apoia, ou não, os

empreendedores? Porquê? E se me podia dar exemplos específicos de situações que

tenham ocorrido.

Resposta: Não, acho que sim. E sem dúvida nenhuma, até… por um lado porque está a

haver oferta formativa que dinamize este processo, esclarece as pessoas nesse processo

de formação da empresa e prepara-as para quem ou tem a motivação ou quer vir a estar

preparado para isso. Por outro lado, em termos dos instrumentos ou ferramentas que o

estado e o governo disponibilizam há cada vez mais programas que apoiam e

incentivam quer a criação da empresa quer o crescimento das empresas já existentes.

Portanto acho que esses instrumentos estão também a permitir que as ideias que vão

nascendo encontrem depois a possibilidade de serem concretizadas. Por outro lado a

disponibilidade e…no mercado financeiro de investidores ou de dinheiro que pode ser

investido para dinamizar a concretização desses projectos, aí na parte já do interesse

privado, também permite isso embora no nosso país não seja tão dinâmico quanto eles

dizem que noutros países acontecem. Mas que existe dinheiro existe, o que se diz é que

esse dinheiro não está a encontrar ideias suficientemente boas para ser aplicado, de

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maneira que existe. Depois os concursos…por exemplo o BES Inovação, enfim, estão

todos os anos a aparecer…

Comentário Entrevistador: O AUDAX também está com alguns programas…

Entrevistado: Exactamente. Estão sempre a aparecer motivos que confrontam pessoas

com essa necessidade de não fecharem na gaveta as ideias que eventualmente

tenham…e possam ser bem sucedidas nos negócios. E acho que até têm sido bem

articuladas as várias ferramentas e as várias acções que têm sido feitas porque hoje em

dia começa a haver também por parte do ensino universitário essa preocupação, em não

apenas investir na formação científica mas encontrar ali uma fonte de incentivo à

transformação desse modelo de aluno também num potencial empreendedor, e portanto

acho que as coisas estão bem alinhadas e é bom que assim seja porque isso significa

uma transformação no tecido empresarial no nosso país e no reforço de competências

nesse mesmo tecido a médio prazo, acho que é uma boa aposta nesse sentido.

Pergunta: Acha que ainda podiam evoluir mais as coisas…podia-se fazer mais a

nível…o estado podia promover mais algum tipo de iniciativas nesse âmbito?

Resposta: Eu não sei porque…de facto a ideia de…quando alguém está convencido que

a sua ideia de negócio faz sentido, estar à procura da oportunidade do estado apoiar é

quase contraditório à iniciativa do empreendedor, ou seja…

Comentário Entrevistador (após uma interrupção): Estávamos a falar das questões

dos apoios…ah, exactamente, a última parte era “ah…o estado a apoiar…”…

Entrevistado: Acho que é quase contraditório à iniciativa…acho…enfim, não

sei…estou a generalizar…mas das pessoas que eu conheço ninguém ficou à espera de

um apoio por parte do estado para iniciar o seu projecto. Não sei se da outra vez falei,

há uma colega minha do ISCTE que trouxe uma ideia que ela já alimentava num

período em que ela esteve em Londres, e implementou o projecto, a empresa dela

também já está formada, chama-se P e a ideia era tratar para o nosso mercado a

simplificação da linguagem para que o utilizador comum de uma carta das finanças, de

um aviso da conservatória não sei do quê, quando recebe a carta perceba a mensagem

que lá vem e não seja uma mensagem cheia de decretos e de alíneas e segundo isto e

segundo aquilo…e é…enfim, no primeiro confronto toda a gente acha a ideia brilhante

porque de facto é um serviço que vem simplificar a vida das pessoas…se eu percebo

melhor o conteúdo de uma carta que me é enviada eu automaticamente tenho uma

resposta mais adequada, ou mais participativo…

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Comentário Entrevistado: Claro…e até poupa tempo aos próprios serviços em

esclarecerem e tirar dúvidas…

Entrevistado: Correcto, correcto. A implementação da….a operacionalização dos

serviços em termos de vender este produto às empresas, tem sido um processo também

complicado embora ela seja uma pessoa extremamente empenhada…e é verdade que

isto faz falta mas…esta passagem…e ela não esteve cá à espera de incentivo nenhum, a

única coisa que ela fez, porque estava a receber o subsídio de desemprego, foi antecipar

as mensalidades que está previsto e darem por atacado o conjunto de mensalidades que

ela teria a receber para formar a empresa…Acho que não faz muito sentido estar à

espera disso, não é determinante, se ajudar melhor, mas não é determinante.

Pergunta: Está bem…Há aqui uma questão, mas pronto…o tempo de criação da

empresa é relativamente reduzido para…isto faz sentido com pessoas que têm a

empresa há dez anos…que era, antigamente as coisas eram diferentes ou não? Mas acho

que isso…

Resposta: Claro….pois…Não o nosso processo foi…e nós não fizemos na…ou melhor,

não fizemos aquele processo da empresa na hora em que se sai já com a empresa

formada.

Comentário Entrevistador: Foram pelas formalidades…

Entrevistado: Nós queríamos um nome…

Comentário Entrevistador: Claro…eu acho… a empresa na hora tem aquela lista ali

muito restrita…é um processo instantâneo, mas pouco personalizado talvez…

Pergunta: Pronto, não recorreram a qualquer tipo de apoio para a criação da M…da

empresa peço desculpa…

Comentário Entrevistado: Também vais falar com a M?

Comentário Entrevistador: Já falei…

Comentário Entrevistado: Ai já? Que é para eu…

Comentário Entrevistador: Também é muito gira a iniciativa dela, no âmbito do

exercício e saúde e ela é impecável, aliás todos com quem tenho falado têm sido assim,

cinco estrelas…

Pergunta: Acha que no interior é mais fácil, talvez esta questão não se aplique, mas há

pessoas que dizem “se isto fosse no interior isto era muito mais fácil ter apoios para esta

iniciativa”…há áreas em que isto faz sentido, há outras que não…ou nas ilhas…às vezes

há fundos mesmo das regiões autónomas que apoiam…

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Resposta: Na nossa não…a não ser agora com o QREN. Os incentivos que o QREN

disponibiliza privilegiam as regiões que estão fora da área metropolitana de Lisboa, aÍ

se calhar sim, mas para a formação da empresa e para nós, não faria muito sentido

termos a sede noutro sítio porque….

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …Se tivesse sentido era deslocarmo-nos mais para Norte porque, ao que

parece, a iniciativa…

Comentário Entrevistador: Outra metrópole, nunca para o interior onde não houvesse

conhecimento nem…

Comentário Entrevistador: Exactamente, exactamente…

Pergunta: Se tivesse de escolher um aspecto que mais tivesse influenciado o seu

percurso de empreendedor, qual escolheria? E se tivesse que pôr por ordem os vários

aspectos qual seria a ordem?

Resposta: Então, o primeiro aspecto, sem dúvida, foi a insatisfação com a situação

profissional…achar que eu tinha mais coisas para dar e que conseguia dar mais

coisas….então, a ordem será…portanto…esse em primeiro não é…a insatisfação com a

situação profissional em primeiro, em segundo lugar talvez venha a vontade de querer

fazer coisas diferentes…e em terceiro lugar aquela aspiração de fazer coisas que nos

fazem tornar muito satisfeitos connosco próprios, ou seja, eu fiz nascer um projecto, eu

construí, a sensação de construir qualquer coisa, de fazer coisas…bem, eu penso que foi

sobretudo isso, a procura…dessa transformação em termos profissional e a nível pessoal

um motivo de satisfação de que eu passei por aqui mas não deixei as coisas como

estavam, fiz uma coisa diferente…

Comentário Entrevistador: Querer fazer a diferença não é?

Comentário Entrevistado: Exactamente, exactamente…

Pergunta: Houve algum aspecto que tivesses abdicado durante este percurso de

dedicação à empresa e que se tivesse arrependido?

Resposta: Não, não…Há sempre dias em que estamos mais…ou menos bem dispostos

do que outros mas a sensação de “não faria isto” não…

Comentário Entrevistador: Ok…

Entrevistado: Até à data não…

Pergunta: Passando aos factores académicos, com que idade é que começou a

trabalhar? Qual foi o primeiro trabalho que teve? E em que área…remunerado, regime

de voluntariado?

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Resposta: O primeiro, primeiro foi ainda em Évora, eu…numa rádio, na rádio local,

numa rádio local lá em Évora…e para aí o quê? Eu estava ainda no secundário, portanto

devia ter para ai uns dezasseis, dezassete anos…e nessa altura não era

remunerado…Esse foi o primeiro e depois era mais o quê?

Entrevistador: Era a área basicamente…e na base de regime de voluntariado

Entrevistado: Ah… era na rádio local.

Pergunta: Ok…Relativamente à licenciatura, porque é que concorreu para Ergonomia?

Quais foram as outras opções de candidatura?

Resposta: O porquê foi por uma razão muito estranha…eu tinha uma grande fixação,

enquanto estava no secundário, que era a Educação Física e o Desporto e todos os

professores de Desporto, porque eu era da área de Desporto, quando eles falavam da sua

experiência do ISEF, na altura tinha sido a escola deles, eu tinha…vivia muito aquela

caracterização toda e portanto a ideia de ir para o ISEF era qualquer coisa que estava

muito presente na minha vontade…E na altura tinha um grande interesse na área da

ginástica e por aí…e portanto a fixação foi “eu tenho que ir para aquela faculdade

porque eu quero ter um período da minha que eu quero viver estas coisas todas”…e

nesse momento quando eu vou concorrer, os critérios mudam e passa a ser determinante

o currículo desportivo da pessoa no âmbito federado, ou seja, tínhamos que apresentar

justificações de termos sido federados nalguma coisa e isso era discriminatório. E eu

não tinha tido essa oportunidade de ser federado em nenhuma modalidade e portanto, na

altura não entrei. Eu disse “não vou abdicar, existem outros, eu vou ver o que é que lá

existe porque se não vou para Educação Física vou para outra coisa qualquer” e então as

opções foram a Ergonomia, a Educação Especial, na altura Educação Especial e

Reabilitação…

Comentário Entrevistador: Eu também ainda tirei de Educação Especial…

Entrevistado: …e acho que não concorri a mais nada porque eu não queria ir para

outra….ah…não, mentira…e depois concorri também para a UTAD e para a Guarda.

Pergunta: Para que cursos?

Resposta: De Desporto, Educação Física e Desporto.

Comentário Entrevistador: Que giro…

Entrevistado: Houve um destes resultados que…ah, porque eles lá, o critério de

entrada não tinha a ver com o currículo desportivo, em termos federados, mas com

provas desportivas. E então fui lá fazer as provas e tal…e entrei para uma delas, não me

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recordo qual, penso que a UTAD. E depois disse “ Não, não vou lá para cima, vou para

Lisboa e…

Pergunta: Na nossa não se pediam pré–requisitos na altura?

Resposta: Não, mudou-se…

Pergunta: Era a questão se eram federados ou não?

Resposta: Não, não interessava. Até à data eram para os da Natação, Atletismo….E

depois naquele ano, desde que não se apresentasse o currículo federado…E portanto foi

um bocado esse processo, decidi entrar em Ergonomia…o primeiro ano é aquele ano

clássico…é “vou ver o que isto tem para me dar” e…continuei a ficar…

Pergunta: Converteu-se?

Resposta: Sim.

Pergunta: Não quis mudar a meio nem nada?

Resposta: Não. Houve uma altura em que…eu não tenho assim muita consciência da

forma como o fazia, a não ser uma ideia assim muito, muito por alto, mas alguns

professores dizem que eu era um aluno muito crítico e que…enfim, era um bocado

insatisfeito com a condição de ser aluno de Ergonomia e não questionar o porquê de

estar ali, e eles tinham que provar que…eu tinha que fazer a prova se gostava daquilo ou

não. E talvez por esse confronto e essa tentativa de encontrar uma resposta para

justificar os próximos anos…essa tentativa de procura….essa procura….tenha

consolidado, no fundo, o interesse, porque na verdade uma das áreas em que eu me

revia, em alternativa, seria na área da gestão empresarial. Tinha que ser assim…tinha

que ser assim uma coisa qualquer que tivesse a ver com as empresas. E na altura, a

Ergonomia apresentava-se precisamente com este cenário, que era uma área que

havendo na faculdade para a qual eu queria ir, era a área mais próxima de uma relação

possível com as empresas…então foi por aí. E depois não hesitei.

Pergunta: E nunca Gestão do Desporto?

Resposta: Não. Na altura…eu não estava bem informado, mas não fazia…

Pergunta: Ainda não tinham ramo?

Entrevistado: Mas eu acho que ainda não havia ramo. Ele só aconteceu para meio do

nosso percurso, é que começou a haver a Gestão do Desporto…Pois, porque já no meu

ano, 2006/2007…não, 98…97 foi quando acabei, 92/97…quando nós acabámos já

houve colegas que acabaram como em Gestão do Desporto, portanto foi para aí a meio

que eles tomaram essa decisão…

Comentário Entrevistador: Foi a meio que houve…

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Entrevistado: Acho que é no terceiro ano que eles optavam se seguiam…

Comentário Entrevistador: É…o de Gestão ele também, na altura, ele disse-me….eu

não me lembro do período de licenciatura dele, mas o que ele diz é que a diferenciação

foi pelo estágio, ou seja, a formação era comum e depois diferenciava no estágio.

Comentário Entrevistado: Então é isso…

Comentário Entrevistador: Nem sequer havia a nomenclatura de Gestão do

Desporto…uma coisa que surgiu…

Comentário Entrevistado: Ah, mas essa de Gestão é anterior. Ele deve ter saído para

aí em 93, coisa assim não era? Esse colega da Gestão…

Comentário Entrevistador: Chama-se J…

Comentário Entrevistado: Porque na minha altura acho que já não se fazia apenas

pelo estágio…fazia-se…a decisão era anterior, para aí no terceiro ano…

Comentário Entrevistador: Ah, já havia mesmo uma ramificação em que eles

optavam e tinham mesmo já…

Entrevistado: Isso tinha a ver com as propedêuticas e eles substituíam lá as

propedêuticas por umas mais próximas da área…acho eu…já não me recordo bem…

Pergunta: Mas de qualquer forma a Gestão do Desporto nunca poderia ter sido uma

hipótese?

Resposta: Nunca me fez por isso…não, não…

Comentário Entrevistador: E aqui viu a relação…pronto, a relação com a parte das

empresas e isso…

Comentário Entrevistado: Mas agora que dizes isso terá sido uma estupidez

provavelmente, porque na altura não considerei sequer…não havendo informação

disponível, depois como comecei com Ergonomia, nunca questionei a coisa….”não vou

mudar agora”, não é? Mas por acaso teria sido…

Comentário Entrevistador: Também era uma boa opção…

Comentário Entrevistado: Pois era…pois é…

Comentário Entrevistador: Na próxima vida vai aliar o Desporto e à Gestão…

Comentário Entrevistado: Pois é…vou pensar nisso. Porque era juntar as duas coisas

que de facto faziam sentido, para mim, naquela altura.

Pergunta: Durante a licenciatura na FMH participou em actividades fora do âmbito da

faculdade?

Resposta: Sim, sim, sim…Tudo o que eu podia ter feito naquela faculdade eu fiz. A

primeira que eu me recordo foi…a Câmara de Oeiras convidou a faculdade a ir com

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uma equipa a um concurso que estava a dar na televisão na altura e que era realizado em

Itália. E então eu fui integrado nessa equipa porque estava na classe do professor

Granger, de Ginástica Acrobática, então o professor Sidónio Serpa era, no fundo, lá o

mestre, o nosso treinador e foram identificadas uma série de pessoas lá na faculdade,

penso eu que também pela proximidade que nós tínhamos à Associação de Estudantes, e

porque era já…e eu estava para aí…terá sido, se calhar, o meu segundo ano, acho

eu….Depois comecei a participar na Associação de Estudantes e no CODAPTEC e daí

até pertencer à Tuna também foi um pulinho, então fiz assim nestas iniciativas, mais da

borga…participei. Depois, nos órgãos de gestão, fui o estudante lá do Conselho

Directivo, tive no Pedagógico, enfim, nesses percursos normais que o estudante

minimamente atento, ou preocupado, ou querer participar na vida da faculdade fez. E

depois eu, como estudante deslocado de Évora…

Comentário Entrevistador: Tinha mais tempo disponível do que os outros que eram

de cá.

Entrevistado: … e vivia na residência, portanto, para mim, fazia todo o sentido eu

envolver-me com estas iniciativas porque era também uma forma de eu preencher o

meu tempo…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …de uma forma construtiva, achava eu…e ainda bem que o fiz porque

isso…na altura nós não temos essa consciência e só sabemos porque os outros nos

dizem, dizem “Ah, é bom que faças porque vais atingir um conjunto de experiências que

vão ser relevantes para o teu futuro” e de facto assim é…

Pergunta: Acha que alguma dessas experiências proporcionou algum ganho a nível da

visão empresarial, de lidar com as pessoas?

Resposta: A Associação sem dúvida, o CODAPTEC idem. Na Associação eu

tinha…pertenci à direcção e depois fui um dos presidentes da Associação, e então tinha

que gerir pessoas, não no sentido do trabalho que elas faziam mas no sentido da

motivação que essas pessoas tinham para contribuir para Associação…porque é…todos

gostávamos de pertencer à Associação mas depois organizar os contributos dos vários

era complicado. E o CODAPTEC…porque houve um projecto…dois projectos

interessantíssimos que aconteceram durante a minha passagem por lá…a professora Ana

Paula Batalha tinha sempre um secretário, que era no fundo um aluno que a ajudava a

executar alguns projectos. E houve um ano, acho que em 95, que houve a possibilidade

de nós participarmos num concurso, num festival de dança em Macau, e era preciso

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encontrar recursos para levar oito pares, para aí…pelo menos oito pares e acho que nós

fomos mais porque tinha que ficar alguém de fora, para Macau, com viagem de avião e

estadia e tal, embora a organização do festival já assegurasse algum apoio…e esse

trabalho todo, estive muito envolvido nele e foi muito gratificante na tentativa de reunir

dinheiro…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: O objectivo era dinheiro e prepararmo-nos para ir para lá e dizer muito a

preparação do projecto e querer que as coisas acontecessem assim e planear as

coisas…E depois foi outra participação nossa, numa iniciativa que aconteceu nas Ilhas

Terceira e São Miguel, portanto nos Açores…

Comentário Entrevistador: Que giro…

Entrevistado: Por altura da comemoração do aniversário, não sei quantos, da ANA,

acho eu…e então também estive envolvido…E foi sobretudo isso, por essa exposição

que eu tive, que na altura revelou-se…nessa altura apenas para cumprir aquele

objectivo, mas que depois veio-me dar alguma tarimba para situações futuras.

Pergunta: Ou seja, acha que a participação e organização de projectos pode contribuir

para uma visão empreendedora?

Resposta: Sem dúvida nenhuma, porque aquilo que nós…

Pergunta: Planear até à operacionalização e até ao concretizar as ideias, acha que é

importante para um estudante?

Resposta: Porque a consciência que nós temos de apenas idealizar, ou antecipar o

acontecimento das coisas, e nós podemos fazer uma antecipação rigorosíssima, mas no

momento em que nós começamos a aplicar o plano, vamo-nos confrontar com uma série

de acontecimentos inesperados que é preciso saber gerir…e no fundo é essa

competência que é determinante nalgumas situações de negócio real, é dizer “E agora?

Como é que eu resolvo este problema?” e a resposta tem que ser dada, não pode ficar à

espera de…e numa escala muito diferente isso acontece também nesses casos, o pôr as

mãos na massa tem essa vantagem de pôr a pessoa à prova, não apenas para verificar se

aquilo que planeou, foi de facto bem planeado e está a acontecer na devida forma mas

também se a pessoa consegue repor um desvio inesperado no caminho que ela acha que

deve ser agora, aquele que deve traçar…fundamental…

Pergunta: E achas, por exemplo, que algum docente, nalguma disciplina, promoveu

essa realização de projectos, que aproximasse o vosso contacto com a realidade ou não?

Não tinham cadeiras que…façam projecto de uma coisa que queiram

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implementar…pensem nos patrocínios, pensem no espaço, pensem em tudo. Houve

alguma disciplina…durante a licenciatura?

Resposta: Eu não tenho essa consciência porque se calhar também, na altura, a

conjuntura da faculdade permitia que isso acontecesse de uma forma paralela porque

havia outras…outros organismos lá dentro que tinham essa responsabilidade, como por

exemplo, a Associação. E então, as iniciativas, por exemplo, do Mês Cultural, a

faculdade já confia que durante aquele mês há uma série de reflexões que acontecem

sobre um determinado tema e portanto isso não é tratado na cadeira X ou Y. Que eu me

lembre não…mas se calhar estou a ser injusto com algum docente que o fez. Mas aquilo

que me ocorre, que foi a primeira vez, que…mas ainda assim foi no âmbito da

Associação, acho eu, que eu me envolvi em qualquer coisa só exclusiva da Ergonomia,

foi na preparação de umas Jornadas de Reflexão sobre, e isso é uma questão que nos

acompanha, acho eu, desde o início, que é se a Ergonomia é ou não importante, se o

Ergonomista está ou não…

Comentário Entrevistador: A professora C falou-me dessa iniciativa.

Comentário Entrevistado: Foi? Bem, então isto deve ter acontecido, para aí, em 93…

Comentário Entrevistador: Era para explicar às pessoas o que era, porque é que era

importante, onde é que fazia sentido, onde é que…

Entrevistado: E então…aí foi, no fundo, necessário falar….conhecer que Ergonomistas

é que já estavam por aí, chamá-los à faculdade, discutimos com isso, nós os alunos,

preparámos um questionário que distribuímos aos alunos todos procurando uma

avaliação dos alunos face ao desempenho dos docentes…portanto, foi uma primeira

avaliação dos docentes, improvisada pelos estudantes de Ergonomia…enfim, os

resultados não devem ter sido muito significativos, mas foi importante por isso, se

calhar, por nos exigir que preparássemos uma reflexão que não apenas teria que

decorrer da opinião pessoal mas que era consubstanciada na verificação dos dados que

nós apresentávamos, que X alunos estavam satisfeitos com o docente X e não estavam

satisfeitos com o método, estavam insatisfeitos com isto e com aquilo…

Pergunta: Fora do âmbito da faculdade, mas mesmo assim durante o período de

licenciatura, tiveste outras actividades que proporcionassem contacto com o mundo

empresarial? Por exemplo, trabalhador estudante, estágios em empresas, trabalhos de

Verão em empresas?

Resposta: Trabalhos de Verão, mas se calhar não com o mundo empresarial assim de

uma forma linear, mas com um bocadinho de esforço vamos lá! Houve uma altura em

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que, pura coincidência, houve uns colegas nossos, da área da Gestão do Desporto, que é

o António Sacavém, Ana Casinhas da Gestão do Desporto e depois o Frederico Raposo,

integraram uma equipa de animadores do Paquete Funchal e então faziam as férias, no

Paquete Funchal, no Verão e na Páscoa. E depois…enfim, a vida deles começou a

ter…modificou-se e disponibilidade deles alterou-se, e começaram a levar substitutos da

faculdade para esses paquetes. E a função, a nossa função era criar alguma dinâmica

com os passageiros, organizar torneios disto e daquilo, jogos culturais, organizar as

pessoas quando o barco atracava num porto para os autocarros, para fazermos as

excursões, enfim…essas coisas. E a ARCÁLIA que é a empresa, o armador do navio,

acho eu que é assim que se chama, começou a achar muito interessante o perfil das

pessoas que vinham da faculdade porque tinham ali quase um dois em um…além de

sermos desenrascados já nos conhecíamos muito bem uns aos outros e criámos uma

empatia muito grande entre nós e com os passageiros…e isso foi muito giro…e

ensinou-me uma relação profissional diferente, que é, havia alturas em que…no navio

nós estamos sempre em serviço, independentemente de estarmos de estarmos com uma

actividade em curso ou não, temos que estar sempre disponíveis para o passageiro.

Então esta relação, quase com o cliente, tem que ser trabalhada nos momentos em que

não estamos de serviços, mas temos à mesma que agradar o passageiro, portanto, temos

que manter ali uma postura, temos que ser…manter alguma distância para não haver cá

confusões…de toda a espécie, e portanto isso permite-nos trabalhar a um nível

diferente. E foi…

Comentário Entrevistador: E depois também se faz o transfer, facilmente, para as

questões empresariais, quer dizer, esse aspecto da relação é importantíssimo…

Entrevistado: Foi uma série de coincidências que aconteceram num período de

formação da faculdade e aliás, que eu tenho dito a todas as pessoas da minha família,

amigos que é “não prescindas de participar em tudo o que a faculdade te proporcione

porque é durante o tempo da faculdade que te vai acontecer tudo na vida”, porque foi

essa a minha experiência, todos os anos havia uma novidade na minha vida, em termos

de iniciativas, que eu fazia à custa de estar naquele ambiente…se não fosse ali…ainda

bem que foi atitude cega de ir para a FMH porque foi…foi por isso que eu tive estas

experiências todas e que terão tido o seu contributo para que aquilo que acontece hoje

seja de facto assim…foi muito gratificante, nomeadamente essa dos paquetes…fazer

férias a ser pago é muito bom.

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Pergunta: Na realização dos trabalhos de grupo com os colegas de turma, quais eram

os aspectos que considerava mais importantes? E que papel é que costumava assumir

nos trabalhos de grupo?

Resposta: Eu hoje digo de líder, mas eu na altura não tinha muito essa consciência…e

nem eu queria assumir esse papel e isto eu não percebo muito bem porquê. Quando a

tarefa nos era dada havia uma certa dificuldade em perceber de que forma é que nós nos

podíamos organizar para responder melhor a aquela tarefa. E normalmente o que

acontecia era, havia uma certa anarquia e depois alguém, e algumas vezes fui eu, fazia o

trabalho todo e dizia “ok, eu….assim, assim, assim e assado”. Mas eu nunca senti que

tivesse sido muito bem sucedido ao nível dessa organização porque outras das minhas

dificuldades é, quando eu me apercebo de alguma dificuldade, que outros elementos,

que me acompanham na altura têm, em vez de os ajudar a pescar, eu faço a pesca por

eles…porque acho que estou a ter mais trabalho, erradamente…

Comentário Entrevistador: A perder mais tempo ensinando e rectificando…

Entrevistado: E o meu objectivo é entregar aquilo e tal…E isso é ainda hoje uma coisa

que eu constantemente trabalho, ou tento trabalhar, não sei se sou bem sucedido, mas já

na altura eu sentia assim e revela uma incompetência, de eu não conseguir organizar as

coisas, ou de eu não conseguir fazer com que os outros se organizem,

basicamente…Portanto, o papel, que nesses trabalhos de grupo, eu assumia era, se

calhar, diversificado mas às vezes eu tinha que assumir um bocado a liderança da coisa,

não me reconhecendo como líder e não me querendo impor como líder…

Comentário Entrevistador: Quando acontecia, acontecia de forma natural, não era

nada imposto…

Comentário Entrevistado: Sim, sim, sim….acho que sim. E talvez das vezes em que

eu comecei mais a ter consciência dessa importância, terá resultado de uma chamada de

atenção dum dos docentes, no caso o professor DC…em que nós tentávamos justificar

muito “ah…atrasámo-nos porque tivemos alguma…” e ele disse basicamente, por

outras palavras “azar o vosso, tivessem organizado”… “mas os outros e tal…” “mas não

interessa, tu fazes parte do grupo, tu tens que assumir essa responsabilidade, respondes

pela qualidade do grupo, portanto tens que acautelar uma série de coisas”…mais uma

vez com o acautelar….”tens que antecipar uma série de coisas e planear o vosso

trabalho”…hoje és tu, amanha será outro, não podes sacudir a água do capote”…e ele,

de vez em quando confrontava-nos assim com umas ideias …

Comentário Entrevistador: Chamadas à realidade e como as coisas são mesmo…

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Entrevistado: É, é….Mas pronto…não sei. Não era aquela “eu…é quem vai definir o

que é que nós temos”, não era nada disso. Até porque trabalhei, acho que nunca

conservei o mesmo grupo…e portanto significava que ora estava com um perfil de

pessoas, ora com outro, e se calhar uma vez ou outra até havia um outro líder no grupo e

aí acho que deixo a coisa encaminhada…porque também é mais…não diria mais segura

nem mais confortável, mas às vezes sabe bem variar…e não assumir a liderança.

Comentário Entrevistador: Claro…

Pergunta: Houve algum docente, alguma disciplina que achas que tenha influenciado a

decisão da criação da empresa, mesmo que tenha acontecido alguns anos depois?

Algum docente, pela sua postura das suas atitudes, alguma disciplina?

Resposta: Havia uma imagem, mas aí nem era directamente de um docente, ou seja,

através de um docente da casa, nós éramos confrontados, ou pela nossa participação em

seminários, éramos confrontados com aquelas pessoas que nós lemos em termos dos

artigos e tal. E sabíamos que alguns casos dessas pessoas faziam consultoria, ou tinham

empregos delas próprias, e era como se aquilo significasse o topo da carreira…

Comentário Entrevistador: O alto da camada mesmo.

Entrevistado: Exactamente. E talvez tenha sido essa imagem da…eles fazem este

caminho todo e depois vendem o seu conhecimento no final da sua profissão…das

primeiras ideias quando a coisa começou cá…a construir-se cá dentro. Portanto, isto

justifica que este projecto era remetido para um futuro, em relação ao presente em que

nós estamos, muito mais lá para a frente, depois de adquirir uma experiência

profissional…até porque o meu plano, pensava eu enquanto estudante ou até há muito

pouco tempo, nem era fazer esta sequência, eu queria ter saído da faculdade como saí e

ter oportunidade de estagiar numa indústria de relevância…ou relevante. Aconteceu na

AutoEuropa…queria lá estar…

Pergunta: O estágio foi realizado na AutoEuropa? Ah, e depois ficaste lá a trabalhar?

Resposta: Sim. A minha expectativa na altura era “eu quero adquirir experiência mais

ou menos cinco anos e depois…ter experiência profissional sendo Ergonomista e depois

quero ter uma experiência na área da docência, na universidade. Na altura o meu

objectivo era “oxalá que haja uma oportunidade de eu ir para a FMH porque é lá que faz

sentido este projecto…ou a minha participação, a minha colaboração na licenciatura

porque quero ajudar a fazer outras coisas de forma diferente”…fazer essa carreira

académica e depois de esgotada todo esse percurso, então vender o meu conhecimento

ou ajudar através desta empresa ou enfim, de uma empresa à imagem desta. E as coisas

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estão a acontecer de uma forma diferente, não por minha vontade, mas porque a

determinada altura eu percebi que a minha colaboração com a FMH não seria possível,

portanto isso…não era um sonho, era um objectivo destruído…não vale a pena estar a

insistir nisso…e portanto foi quase a antecipação do próximo passo. Mas isso,

regressando à questão central, não foi um dos nossos docentes que me tenha dado essa,

ou que tenha feito…

Comentário Entrevistador: O clique…

Entrevistado: …o clique mas foi através deles no fundo que nos puseram em contacto

com outras pessoas.

Pergunta: Ok…Houve alguma disciplina em que por exemplo, mesmo que de forma

implícita e indirecta, incentivasse esse tipo de vontade? Por exemplo, nos trabalhos de

grupo, algum docente que incentivasse os alunos a criar alguma coisa de inovador, a

lucrarem com algum produto? Havia alguma disciplina em que isso era…

Resposta: Não me lembro qual mas ou era…devia ser a… como é que se chamava a

disciplina do professor F? Ah…era ADE, Antropometria e Design Ergonómico, e no

âmbito da cadeira do professor F nós tínhamos objectivos, ou trabalhos que ele nos

propunha que não tinham uma única solução, a solução variava de acordo com a nossa

criatividade ou com a inovação que nós quiséssemos dar a aquilo. E foi, na minha

opinião, das poucas, e eu acho que devia ser desenvolvida essa competência, das poucas

disciplinas onde…mais próximo o estudante de Ergonomia está daquilo que ele pode vir

a fazer na realidade…embora ainda num ambiente muito laboratorial. Mas….mas essa

necessidade de, perante uma série de informações, nós termos que seleccionar aquilo

que é relevante para podermos trabalhar esses aspectos relevantes e transformá-los

noutra coisa, talvez tenha sido isso que também ajudado a consolidar isto que eu quero

não é…porque significa que eu vou ter possibilidade no meu futuro profissional não

estar sempre a fazer a mesma coisa…pensava eu.

Comentário Entrevistador: Tipo, a criatividade para adaptar aos diferentes perfis…

Entrevistado: Exactamente. Talvez a disciplina dele tenha sido aquela que, terão,

eventualmente, existido outras situações mas a dele…dava-nos essa possibilidade de

desenvolvermos mais essa componente criativa.

Pergunta: E relativamente a colegas, houve algum colega que tivesse influenciado

nessa decisão? Houve algum que dissesse “eu também quero, um dia quero criar…”?

Resposta: Há um colega que ainda hoje está muito próximo de nós, que é…além da Y,

que já falámos disso…que é o FS, nós fomos colegas….

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Comentário Entrevistador: Tive com ele também…

Comentário Entrevistado: Foi?

Comentário Entrevistador: Sim…Ele foi receber lá um prémio este ano por causa das

questões do curso profissional…

Comentário Entrevistado: Exactamente…

Comentário Entrevistador: Eu tive com ele…

Entrevistado: … E ele sempre foi muito…aliás, quando eu fui estagiar para a

AutoEuropa eu fui acompanhado de um Ergonomista que era ele…embora…

Pergunta: Ele trabalhava lá?

Resposta: Foi incluído neste projecto. Foi um projecto ganho pela professora A e ela

introduziu um Ergonomista e um estagiário e depois acabei por ficar eu. Mas ele sempre

nos incentivou muito porque ele sente também que em algumas coisas, do nosso

contributo nas empresas, precisam de ser corrigidas e acha que devem ser corrigidas da

forma como nós, nós os dois vemos as coisas e nós dois vemos as coisas dessa forma

porque tivemos o mesmo processo de formação, não porque sejamos duas pessoas

muito particulares, não…nós fomos colegas de turma, depois eu atrasei-me um

bocadinho mais em relação a ele…mas…

Pergunta: Colegas de turma da faculdade?

Resposta: Sim…Mas ele tem sido sempre um grande, um grande apoio e um grande

incentivo…e pronto, é mesmo…uma pessoa que nunca diz não a algumas coisas que

nós precisamos. Está sempre disponível para dar, na medida do que ele tem a

possibilidade e nas competências dele, tem sido muito cinco estrelas…mesmo.

Pergunta: Acha que o estágio e o seminário influenciaram na decisão da criação da

própria empresa? O seminário não sei se fez…na minha altura havia…

Resposta: Nós…fazíamos só o relatório de estágio, no fundo caracterizávamos aquilo

que se tinha passado na empresa, ou o que tínhamos feito mas não fazíamos

seminário…Mas ainda assim não, na altura…não me lembro disso ter feito diferença

nenhuma…

Pergunta: E a experiência de Erasmus na Finlândia, ajudou de alguma forma ou não?

Resposta: Para o objectivo da criação da empresa acho que não…terá consolidado um

desejo, que ainda não deixou de existir, que é, uma coisa é nós funcionarmos no nosso

mercadozinho português, porque nos sentimos confortáveis aqui porque de alguma

forma temos mais facilidade em conhecer as empresas, ou a forma como as empresas se

implementam aqui ou ali…e o Erasmus confrontou-me com uma coisa que é a pura das

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realidades que é, se nós não adquirirmos uma experiência fora da nossa zona de

conforto não estamos a ver a realidade, estamos a ver uma outra coisa que só nós

julgamos a realidade…e ter uma experiência, um período de uma experiência

profissional num outro país, numa outra realidade…

Comentário Entrevistador: Permite alargar os horizontes…

Entrevistado: Exactamente, e eu gostaria ainda de fazer isso, não sei se será possível

mas gostaria de ir um bocadinho para outro sítio para depois no regresso poder trazer

esse…esse ar fresco…digo eu…E então não tanto para o nível da criação da empresa

mas para reunir outra preparação profissional e outro posicionamento profissional.

Pergunta: Resumindo e concluindo então, olhando para o período da licenciatura, o

que é que…se tivesses que dizer o que é que houve no curso que tivesse fornecido

alguma preparação para a criação e manutenção de empresas? Nada?

Resposta: Infelizmente, que eu faça uma relação directa, muito pouca coisa…

Comentário Entrevistador: Também não tem que haver…

Comentário Entrevistado: Pois…

Comentário Entrevistador: A faculdade à partida não é directamente

vocacionada…não é como o ISCTE, que eles saem de lá…pronto mas às vezes…

Entrevistado: Mas não era…agora já começa, se calhar a abrir…

Comentário Entrevistador: Com a questão da Gestão do Desporto e com a introdução

de outras competências…

Comentário Entrevistado: Exactamente…

Pergunta: Mas então achas que…

Resposta: Na altura não…hoje…enfim, hoje se calhar também as coisas já vão ser

tratadas de outra forma, embora nós tivéssemos cadeiras muito da área da gestão, ou que

pretendiam dar-nos a visão do funcionamento das empresas…mas não estavam a

considerar alinharmos, portanto de Ergonomia, como um potencial

empreendedor…Porque, se calhar, isto também, naturalmente, faz parte da afirmação da

profissão não é…porque é que eu estou a dizer a estes estudantes que estão ainda a

consolidar a sua profissão, porque é que eu estou preocupado em prepará-los já com

iniciativas de eles próprios criarem o seu próprio…

Comentário Entrevistador: Primeiro têm que mostrar o que é que fazem dentro das

empresas para depois puderem criar e serem contratados…

Comentário Entrevistado: Se calhar é um processo de amadurecimento um bocadinho

que… agora…

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Comentário Entrevistador: Uma área que é desconhecida fará algum sentido não

é…completamente descabido numa fase inicial.

Comentário Entrevistado: Exactamente…

Pergunta: Achas que era importante introduzir-se, depois de consolidada a identidade

profissional, achas que era importante introduzirem-se aspectos que preparassem os

alunos, num período de licenciatura, para a criação da própria empresa?

Resposta: Sim, mas não exclusivo da própria empresa porque a outra capacidade ou a

outra competência que eu acho que poderia vir a ter algum resultado em termos de

sucesso era o intra-empreendedorismo, que era prepará-los…

Comentário Entrevistador: Dentro da própria empresa marcar a diferença e inovar

e…

Entrevistado: Exactamente…E se queres que te diga, essa é uma forma que eu acho

que é muito eficiente para os Ergonomistas serem bem sucedidos nas empresas porque o

ambiente onde eles vão trabalhar é um ambiente hostil, ou seja, normalmente se nós

trabalhamos numa área que a engenharia, nós chegamos à empresa e temos tudo aquilo

que nós temos que fazer previsto, temos que fazer assim, assim e assado e o resultado

vai ser assim…portanto, não temos que ser criativos no processo de trabalhar. O

Ergonomista não é assim, ele tem que cativar, ele tem que implementar instrumentos,

ele tem que implementar protocolos e portanto é muito um trabalho às suas custas e se

calhar essas noções fazem falta para ele perceber como é que com aqueles recursos que

ali tem como é que ele se vai organizar perante aquela gente toda. Acho que era

fundamental…E até porque há uma…das orientações ou metodologias que a Ergonomia

diz que tem alguma relevância fazendo as empresas, que é a Ergonomia participativa.

No fundo é conseguirmos encontrar respostas para os problemas envolvendo os recursos

e as pessoas da empresa naquela procura, e não fazer recair apenas no Ergonomista o

estudo, ou a tentativa de resolver aquele problema. E o objectivo da Ergonomia

participativa é dispensar cada vez mais o Ergonomista para que ele só alinhe, de vez em

quando, aquela equipa que está responsável pelo problema. E com isto a empresa

poupa-se no fundo…se calhar só precisa ter um Ergonomista para, de vez em quando,

alinhar aquilo que precisar ser alinhado, mas os problemas, a massa, o volume grande

dos problemas está a ser tratado por diferentes equipas e não apenas por uma pessoa.

Isso faz com as coisas sejam resolvidas muito mais depressa, e essa competência de eu

olhar para a minha própria empresa e desenvolver quase o meu serviço dentro da minha

própria empresa, prova-o, na perspectiva de cliente fornecedor…acho que poderia vir a

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ser muito bem sucedida na nossa formação…acho que faria muito sentido…e se

calhar…até pode ser uma proposta…porque há cadeiras, ainda continuam a haver

cadeiras na área da gestão de empresas, agora não sei quais, no meu tempo eram Cultura

Ergonómica, Gestão de Recursos Humanos…e Cultura Organizacional acho eu…não

sei, agora acho que já há menos, mas provavelmente pode haver espaço para

isso…agora com Bolonha também não sei….

Pergunta: Depois do período de licenciatura, antes de abrirem a empresa, foi procurar o

curso Pós-Graduação de Empreendedorismo e Criação de Empresas, de certa forma para

responder a essa falta de ferramentas e instrumentos na…

Resposta: Sim….porque eu tinha consciência que formar uma empresa tinha outros

“Q’s” para além de uma vontade muito grande…

Comentário Entrevistador: Alguns procedimentos formais…

Entrevistado: E além disso perceber como…além…porque os procedimentos formais,

enfim, o curso não permite, ou melhor, eles estão muito acessíveis mesmo sem fazer o

curso… basta nós querermos ser informados e a informação está disponível. O que o

curso nos dá é…ou, o que eu fui buscar ao curso é… a áreas como o marketing, como a

parte mais financeira da coisa, que durante a minha licenciatura, e durante a maioria das

licenciaturas, nós não somos confrontados, e que em termos de negócios faz toda a

relevância…é preciso saber…

Comentário Entrevistador: A questão financeira é crucial…

Entrevistado: E se calhar é preciso não saber fazer mas preciso de entender como é que

aquela coisa se processa, o que é que eu tenho que acautelar para fazer, como é que eu

faço para conhecer as necessidades do meu mercado, ou como é que o devo fazer…e

isso só ali é que eu tive essa oportunidade. E ainda assim acho que não fiquei, nem por

sombras, a ser autónomo neste processo…tenho sensibilidade para a coisa e sei que é

importante ir à procura daquele conjunto de informação…mas não estou autónomo, não

criei essa competência e acho que deveria reforçá-la ainda mais…Mas por exemplo, por

sugestão da professora VT, eu um dia perguntei-lhe “Oh professora, não acha que eu

agora devia pensar no MBA?” e ela disse assim “então olhe, vou devolver-lhe a

questão; acha que a sua empresa quer que vá fazer o MBA?” e eu disse “eu acho que

sim…porque é melhor para a empresa se eu estiver preparado para lhe dar resposta aos

problemas”, e ela disse “mas tenha a consciência que durante o MBA não vai estar

disponível para a empresa. Portanto a empresa não quer que vá fazer o MBA”…e o que

é que ela estava a dizer era “vá primeiro ganhar a experiência no contexto específico da

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sua actividade de negócio, para depois, pensar no futuro se é relevante ou não ir

complementar essa formação…porque a sua empresa precisa de si agora, não é daqui a

dois anos quando terminar o MBA…se calhar já não existe se for fazer o MBA”. E

pronto, obviamente…uma coisa é o desejável, o qual gostaríamos de saber tudo, outra

coisa é a possibilidade que temos, e não sendo autónomo, por exemplo, em estudos de

Marketing…ao menos já estou sensível para que isso é relevante para a actividade da

empresa…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: E vamos tratando da questão à medida que conseguimos.

Pergunta: Ou seja, quando acabou a pós-graduação, o ano de finalização da pós-

graduação coincidiu com a abertura da empresa?

Resposta: Sim.

Comentário Entrevistador: 2006? Ok

Pergunta: Apenas o ajudou a adquirir ferramentas e conhecimentos, não contribuiu

para essa decisão…essa decisão já tinha vindo antes?

Resposta: Já estava. Aliás, nós no início do curso, uma das coisas que fazemos, é uma

apresentação e preenchemos um questionário, onde eles nos pedem que sejamos

sinceros em relação aos projectos….

Comentário Entrevistador: Para o que os procuraram…

Entrevistado: E uma das coisa precisamente é a expectativa na criação, porque o

curso…ele está muito bem alinhado para uma vertente muito prática…ao longo do ano

nós iniciamos a construção de um plano de negócios, que é transversal às várias

cadeiras…portanto, experimentamos um bocadinho dessas competências todos o que é

fantástico.

Pergunta: O que é que foi mais importante então…dentro dos vários aspectos e

conteúdos abordados na pós-graduação para uma aplicação directa aqui…e na própria

gestão?

Resposta: Relevante foi todo o ganho adquirido com a experimentação real da

construção de um plano de negócios, porque a pós-graduação…para aí dois meses ou

um mês depois de nós começarmos as aulas, exige que…nos organizemos na turma em

grupos de trabalho identificando um negócio que nós vamos desenvolver ao longo do

ano…portanto, quase que ainda não nos conhecemos, já estamos a ser influenciados

para nos organizarmos em grupos de trabalho…e isso faz com que nós tenhamos que

estar muito tempo uns com os outros, falar e almoçar para… enfim, descobrirmos as

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afinidades ali pessoais, meramente pessoais, para dizer “ok, então vamos trabalhar em

conjunto, embora aí discutir uma ideia de negócio”. Identificada essa ideia de negócio,

as várias cadeiras, que vão começar a entrar, vão-nos ajudar a definir aquilo que nós

devemos desperdiçar e aquilo que nós devemos manter…no fundo evoluir com a

ideia…e esse processo faz com que nós sejamos confrontados com ideias que à partida

não estávamos muito convictos com as mesmas e depois quando nós vamos

operacionalizar aquela ideia do ponto de vista, por exemplo, das receitas e dos custos no

plano financeiro, temos que alterar completamente a estratégia…o modelo que nós…o

grupo a que eu pertenci no ISCTE, nós tratámos de um projecto que tinha a ver com

residências para seniores, que é uma coisa que estão a haver projectos agora aí que é

uma coisa fantástica. Nós identificámos essa oportunidade no mercado e a ideia inicial

era construir…já nem me lembro, mas imaginem que a ideia inicial era construir vinte

vivendas aí num espaço. Quando nós fomos apurar os custos que a construção das

vivendas tinham que ter e as receitas esperadas em relação a esse projecto…o projecto

não era viável, não tinha lá os indicadores que iniciavam a sua viabilidade económica.

Então a partir daí tiveram que acontecer alterações à nossa ideia de negócio para tornar,

ainda assim dentro daquela actividade, aquilo viável. Então…dispensámos vivendas,

começámos a pôr apartamentos com opção de vivenda, depois já não éramos nós a

construir, passámos a construção a outra empresa, para tornar a ideia viável e portanto

essa aprendizagem só se consegue quando o aluno é confrontado com estas coisas. E de

facto foi fundamental, para um processo de aprendizagem, como é que nós resolvemos

os problemas do ponto de vista também da viabilidade financeira do mesmo. Porque

não vale a pena ir para a frente com um ideia que é destrutiva do ponto de vista

financeiro…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …porque significa…

Comentário Entrevistador: Não tem pernas para andar…

Entrevistado: Exactamente…E é fundamental, e o curso acho que hoje ainda está

melhor do que aquele que eu fiz, porque vão, no fundo, consolidando algumas

coisas…porque uma das queixas que nós apresentávamos era…nós às vezes estamos a

sentir que nos exigem decisões para as quais nós ainda não estamos preparados para

tomar, porque lá aquilo parece verdade…porque há um conjunto de tutores que vão

assistir às nossas apresentações, e cascam nos projectos…e quase que nos ofendem, do

tipo, “você é um burro, não percebe nada…”, não dizem assim mas “vocês não fazem

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ideia do que estão para aqui a dizer, têm que ir para casa trabalhar mais porque isto

aqui…”…. e destroem ali o nosso negócio num abrir e fechar de olhos. E portanto, a

preparação que se exige para uma apresentação é bastante próximo daquilo que nós

calculamos que seja necessário na realidade quando o empreendedor vai a uma capital

de risco defender a sua ideia…porque lá é assim, tem que acontecer não é…a a capital

de risco não vai investir se achar que aquilo não tem…Essa é uma valia fundamental

que aquele curso dá. A outra valia é terem docentes como aqueles que eles têm…a

professora Virgínia Trigo é a imagem do empreendedorismo…

Comentário Entrevistador: Ela é mesmo impecável…

Entrevistado: E que tem…experimentou isto não é…ela não sabe apenas sistematizar

informação e dos livros e tal…ela sabe porque experimentou e essa experiência que ela

dá, retirada também de outras culturas em que ela tem muita afinidade, é uma coisa

deliciosa.

Comentário Entrevistador: Ela já como pessoa é muito…já motiva não é…

Comentário Entrevistado: Pois é…

Comentário Entrevistador: Se começarmos a falar ela já por si já….

Pergunta: Pronto, além da pós-graduação directamente relacionada com a área da

Gestão, também realizou um mestrado e um curso de Especialização na área da Higiene

e Segurança no Trabalho, bem como um curso prático em Epidemiologia. Acha…estes

tiveram alguma decisão na criação da empresa ou não? Foi só para complementar

conhecimentos e não para o bichinho…

Resposta: Não, não.

Pergunta: Ok. O que aprendeu na pós-graduação, relativamente à criação de empresas,

acha que devia ser integrado na licenciatura? Acha que era positivo para os alunos

algumas partes?

Resposta: Algumas partes sim….nomeadamente na relação do que há pouco falámos,

que é, eu não tenho apenas que passar a mensagem do empreendedorismo para fazer

coisas por conta própria não é…eu posso fazer empreendedorismo dentro da minha

empresa…e isso pode ser uma chave do sucesso muito importante….acho que sim.

Pergunta: Ok. Acha que…a ligação à APERGO e às actividades desenvolvidas no

contexto associativo contribuíram para a criação desta empresa?

Resposta: Aí sim porque…na APERGO uma das possibilidades que eu tenho, ou que

as pessoas que pertencem à APERGO têm é de falarem nas iniciativas que nós

participamos, nos congressos, com muitas pessoas que nos dão alguma…quase que

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servem como um barómetro daquilo que o mercado pode vir a ser…as pessoas que

estão em organismos públicos ou não, e que vão lançar campanhas sobre isto e sobre

aquilo…e permitem no fundo verificar que existe a oportunidade desta ideia ou deste

negócio vingar…que não é apenas uma questão pessoal, que isto pode fazer sentido do

ponto de vista dos negócios. Portanto, a APERGO permite isso pela proximidade que

nos dá com essas pessoas, não significando isso que tenhamos clientes seguros não

é…porque não tem nada ver uma coisa com a outra…mas que permite isso, permite

essa facilidade.

Pergunta: Ok…Já residiste em outro país? Sempre em Portugal?

Resposta: Sempre, com excepção do período em que estive lá na Finlândia mas…

Pergunta: A criação da empresa até ao momento surgiu, nunca como uma necessidade,

mas como uma escolha, embora houvesse aquela insatisfação na AutoEuropa? Até ao

momento não foi uma necessidade pois não?

Resposta: De facto ela também é a criação do próprio posto de trabalho não é…porque

no momento em que eu decido que vou sair da AutoEuropa, depois a construção da

empresa aparece como o meu posto de trabalho, embora se não tivéssemos criado a

empresa, estou convencido que…não era…eu estaria noutro sítio qualquer, portanto não

é uma obrigação, de forma nenhuma…embora tenha tido como consequência uma

situação favorável que é o meu posto de trabalho este momento. Porque também podia

tê-la criado e pôr alguém a geri-la e a fazer pela empresa.

Pergunta: Já tinhas trabalhado por conta própria antes de criar aqui a empresa?

Resposta: Never…

Pergunta: Para finalizarmos, quais são os aspectos que consideravas relevantes

implementar-se no Ensino Superior, na FMH propriamente dita, para se promover o

empreendedorismo e a criação do próprio negócio? Além dos aspectos que já poderão

existir actualmente. Entendamos aqui empreendedorismo e/ou intraempreendedorismo.

Resposta: Vou pensar alto porque não tenho nenhuma resposta ainda muito

consolidada. Na actual circunstância eu não sei se faz muito sentido prescindir de algum

tempo, que está agora entregue a uma preparação do aluno para as suas competências

centrais na sua actividade profissional, em função do contributo que este exemplo do

empreendedorismo poderá ter para o seu futuro profissional, ou seja, seria necessário ter

uma cadeira que falasse de um conjunto de aspectos que esta temática necessita que

sejam abordados para poder fazer a diferença. Não estou muito seguro se isso deva

acontecer no primeiro ciclo ou no segundo ciclo. E porquê? Nesta altura, o plano de

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formação de três anos, não sei se não era melhor ele concentrar-se em fazer passar uma

série de aspectos, ou competências, para que a pessoa saiba exercer a sua profissão

exemplarmente…e deixar para um segundo ciclo de formação esta possibilidade de

diferenciação. Por outro lado a desvantagem é não agarrar todas as pessoas no primeiro

ciclo de formação, porque no segundo ciclo só vou buscar quem já tem um emprego

específico…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: …no primeiro ciclo eu agarro todos, essa é a desvantagem. Portanto, nas

situações em que isso comprometer um bocadinho o processo de preparação

profissional, não sei por onde é que teríamos que pender…

Pergunta: E se em vez de uma cadeira, a introdução de uma cadeira, que obriga a

existir mais espaço de horário obviamente, e aí tentavam prescindir de outras que nessa

fase são importantes, se fomentassem competências a este nível, mas transversais a

todas as áreas porque cada professor na sua cadeira pode fomentar aos alunos uma visão

diferente daquela que às vezes é fomentada e isso é…não precisa de mais tempo,

preciso de mudanças de postura talvez…Isso achas que era possível? Achas que faria

sentido?

Resposta: Acho mas acho que, se calhar aí, nós não íamos aos estudantes todos. Vou

dar-te um exemplo para ver se estamos a falar da mesma coisa. No Verão…foi no Verão

passado não foi S, que tu fizeste aquele curso na FCT?

Resposta de uma terceira pessoa presente na sala: Que eu fiz? Sim…

Entrevistado: Foram duas semanas…onde...um campus, duas semanas em que o tema

é empreendedorismo. A S foi fazer à FCT mas ainda assim eram alunos,

independentemente do seu nível de formação que estavam a frequentar, mas que tinham

interesse em ouvir aquilo, ou experimentar, ou…enfim…e não era uma coisa que

abrangia toda, toda a massa, ou todos os alunos da faculdade…

Comentário Entrevistador: Ou seja, podia haver coisas optativas…Diz S…

Comentário terceira pessoa na sala: Todos os alunos da FCT receberam um e-mail

a…

Comentário Entrevistado: Sim, mas só foi quem quis. Não tinhas essa…não é

obrigação mas não tinhas essa cadeira lá…

Comentário Entrevistador: Ou seja que eles pudessem optar de acordo com os

interesses deles porque nem toda a gente tem que ter essa opção não é?

Comentário Entrevistado: Exactamente.

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Comentário Entrevistador: Até há uns que são bons a trabalhar por conta de outrem e

há outros que deviam ter interesse. Eventualmente poderem optar…

Comentário Entrevistado: Isso era talvez o modelo que não exigiria prescindir de

espaço entregue às outras cadeiras, porque sendo opcional…tinha-se era que encontrar,

se calhar, uma forma eficiente dele depois reverter a favor do aluno de alguma forma

não é…mas não só ao nível da sua preparação mas dar-lhe… sei lá…

Comentário Entrevistador: Uma mais valia…

Comentário Entrevistado: Em termos profissionais…uma mais

valia…exactamente…Acho que faz sentido e se calhar, ali na FMH, é o modelo que

neste início poderá fazer sentido, pelo menos…em todas as áreas, hoje o mercado,

mesmo da Educação Física, está a mudar, o Exercício e Saúde é o grande empregador

da malta que sai dali…

Comentário Entrevistador: Ela por exemplo, lembro que…agora não tem a ver

propriamente com…mas a Doutora T, ela disse que uma das coisas que era giro e que

acha que na altura que fez falta e que continua a fazer, é exactamente irem

empreendedores de diferentes áreas, com algum sucesso, falar aos alunos…porque uma

coisa tão simples, e que caracteriza a nossa população, é aversão ao risco. Enquanto os

americanos arriscam, tudo serve para fazerem um negócio, se não resultar não faz mal,

avançasse para outra coisa, os portugueses não…à partida, a maior parte dos

portugueses…também existem vários relatórios que constatam esta tendência, não

arriscam…se vêem que poderá haver uma falha, que poderá falhar, à partida voltam

para trás, enquanto existem outros povos, a nível da Europa e Estados Unidos, que

não…e o facto de dizer aos alunos “não, isto é uma alternativa. Não fechem esta porta

porque isto é uma alternativa e eu fiz isto, fiz este percurso, tive este êxito, tive estas

contrariedades mas as ideias”…isso já se faz noutros países, quer dizer, nos Estados

Unidos faz-se há imenso tempo, o ir lá…vai o Bill Gates a uma escola e fala mas diz-

lhes “ eu consegui isso mas não foi fácil” e as coisas poderiam ter sido completamente

diferentes e isso…pronto, mas foi uma ideia que ela…

Comentário Entrevistado: Pois, não é só a parte cor-de-rosa que as pessoas vêem

quando a coisa já está resolvida, porque há todo o processo e era uma forma fácil

porque isso não ocupa…

Comentário Entrevistador: Não ocupa não…Isso não ocupa e é interessante porque

enquanto que há pessoas que podem ter tido essa experiência, a maior parte não teve, a

maior parte dos professores não criou uma empresa, não marcou a diferença dentro de

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uma empresa, não é…isso era muito importante para os alunos mostrar-lhe…”esta

pessoa fez isto e conseguiu isto, quer dizer, não é uma porta que vocês…é uma porta, é

uma alternativa que vocês têm…”…

Comentário Entrevistado: Mas às vezes, e se calhar também é importante, agora que

estamos a falar, é mostrar também exemplos de não sucesso, porque é que aquilo

falhou…

Comentário Entrevistador: Exactamente…e analisar

Comentário Entrevistado: A pessoa dar a cara...

Comentário Entrevistador: Exactamente…

Comentário Entrevistado: Porque uma das nossas características, e sobretudo aqui na

nossa profissão, nós fechamo-nos um bocado no casulo sob a…não é vergonha, mas

temos alguma…toda a gente é um bocadinho assim, temos alguma dificuldade em

expormos a nossa ideia à crítica dos outros sob a pena de ela vir a ser destruída e de

alguém não concordar com a mesma, mas nós não temos que obter a concordância

geral…as coisas são mesmo assim, há pessoas que têm opiniões diferentes…ou naquela

circunstância eu tive que fazer assim, mas se fosse hoje já faria de maneira diferente e

portanto, não faz mal eu ter errado, interessa é olhar para as coisas…

Comentário Entrevistador: Foi um ponto de aprendizagem, não foi um motivo de

derrota e de anulação da existência da auto-estima…

Comentário Entrevistado: E eu sou mau por isso…

Pergunta: Ok…Até que ponto então, depois isto tudo, é que achas que o

empreendedorismo é um dom pessoal ou que se pode aprender, pode-se ganhar?

Resposta: Pode…ou melhor, aprende-se, eu sou a prova disso, que é…não acho que

seja uma questão inata…o teu “nervosinho” é que pode estar inato, mas se não buscas as

ferramentas para o transformares em coisas positivas….

Comentário Entrevistador: Não se transforma em nada….

Comentário Entrevistado: Exactamente. Acontece, de vez em quando, vai havendo

assim algumas coisas mas ele não se transforma, portanto, nesse processo de

transformação é a preparação que faz a diferença…de maneira que acho que é

fundamental, não é qualquer coisa que só haja alguns iluminados a fazer, aprende-se e a

prova é que esses processos estão a ser agora alvo de oferta…por parte das instituições.

Pergunta: Acreditas é que pode haver uma característica ou outra, algum atributo

pessoal, que de facto propiciem à aquisição dessas…Ou não, podemos trabalhar uma

pessoa que não tem nada a ver, que todos aqueles atributos que consideramos

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importantes, que ela não os tenha, tem os opostos, é possível ensinar essa pessoa ou

não? Tem que haver uma predisposição mesmo que essa a nível de uma ou outra

característica…perseverança, empatia, auto-estima, a confiança…

Resposta: Vou dar-te um exemplo que aconteceu no ISTEC. Inicialmente nós éramos

um grupo de cinco pessoas, que estávamos a tratar daquele projecto dos seniores…não

diria a meio, mas seguramente, a meio ou até um bocadinho mais que meio, houve

aquilo que sempre nos avisaram que poderia acontecer, acontece sempre todos os

anos…Houve dois elementos do grupo que se incompatibilizaram e uma das pessoas

que, cuja a incompatibilidade era mais acentuada era eu porque estranhava a ausência e

o completo alheamento do contributo desses dois elementos, sempre com grandes

poderes justificativos em relação à sua ausência de contributo. E a mim fez-me um

bocadinho de impressão e então provoquei um bocadinho de discussão e para

tentarmos…fazer com que a ideia continuasse a ser desenvolvida, a sugestão que nos foi

dada foi “dividam-se em dois grupos. Vocês continuam a trabalhar os três e eles os dois

vão fazer um projecto à parte”. Nessa altura, eu também para tranquilizar a minha

consciência, enfim, um processo de defesa, eu disse “não acredito que dali possa nascer

uma grande ideia porque eles não mostraram essa convicção e esse papel dinamizador e

de…no nosso grupo”. O certo é que a ideia, na minha opinião e também por outras

razões, de facto o júri não sabia nada disto, a ideia deles foi a que ganhou o concurso no

nosso ano. Os dois primeiros prémios foram deste grupo, resultou o primeiro dos dois

incidentes e depois ficámos nós em segundo lugar com menção honrosa. E…se fosse

uma questão de opinião eu dizia que não, alguém que não tem, que nós pensamos que

não tem traços de empreendedor não tem grande sucesso enquanto empreendedor. A

prova daqueles dois colegas foi isso, enquanto trabalhavam connosco no grupo, nós não

lhes reconhecíamos essas características, depois eles os dois juntos conseguiram levar

uma ideia para a frente e torná-la vencedora de um concurso…

Comentário Entrevistador: É como se eles tivessem bloqueados pela presença de

outras pessoas, por alguma razão de incompatibilidade, que é completamente normal, e

depois sozinhos foram, os dois elemento facilitador um do outro e….

Comentário Entrevistado: É estranho porque é que isso acontece mas de facto é

isso…Na minha opinião eles não tinham aquela matéria…

Comentário Entrevistador: Tudo o que era preciso para…

Comentário Entrevistado: Exactamente. E depois…e obviamente que isto também

serviu de lição para nós…

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Comentário Entrevistador: Claro, claro…

Entrevistado: Isto, basicamente, diz que “não acredites em tudo aquilo que vês porque

lá no fundo…”

Comentário Entrevistador: …as coisas podem mudar…

Pergunta: Relativamente a este trabalho, à entrevista, há alguma coisa que queiras

acrescentar, alguma sugestão, algum aspecto que achas que não tenha sido abordado e

fosse importante abordar?

Resposta: Ah…sim, sim…Eu não referi isso…estava agora a fazer uma passagem

geral…nos projectos de sociedade, como é o caso, nós…toda a gente diz isto mas eu

não sei uma forma de resolver a questão…um projecto de sociedade é quase como um

casamento…em que as pessoas têm que estar uma com a outra…à partida num

casamento gosta-se e já há ali uma certa facilidade, mas este gostar, se calhar,

representa o interesse que as duas pessoas têm por fazer o projecto andar, que é a

empresa. Mas por vezes há dificuldades de convivência no projecto…

Comentário Entrevistador: Estás a falar relativamente à forma de constituir a

empresa…

Entrevistado: Sim…no momento em que nós escolhemos o nosso sócio há que ter

muita certeza de nós, de facto, conseguimos caminhar com essa pessoa, porque isso

pode ser impeditivo de um projecto ser bem, ou mal sucedido…

Comentário Entrevistador: Sem dúvida…

Entrevistado: …porque, como diríamos quase no princípio, a única certeza que nós

temos quando formamos a empresa é que vai haver muitos problemas no dia-a-dia e se a

pessoa que nos acompanha não nos dá alguma tranquilidade também na resolução

destes problemas e é fonte acrescida de problemas…isso é quase motivo suficiente para

dizer “se calhar vale a pena pôr aqui um bocadinho de água fria e pensar este projecto

mais tarde ou com outra pessoa”…porque é de facto um processo doloroso do ponto de

vista pessoal…e não vale a pena estar a trazer para o projecto espinhos que nos

agridem…

Comentário Entrevistador: Claro…

Entrevistado: É talvez assim uma nota de… quase conselho, ou que isto possa servir de

atenção para quem quiser formar um projecto em parceria, em sociedade.

Comentário Entrevistador: Isso por acaso é…concordo plenamente.