trajetÓria pregressa de carreiras longevas de ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de...

22
1 TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE PARLAMENTARES FEDERAIS Cesar Canato 1 RESUMO: Busca-se expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento individual e partidário, da trajetória pregressa de 84 políticos que se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006). Com base na biografia apresentada pela Câmara dos Deputados, buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade profissional e política. Os dados relevam uma forte presença dos profissionais liberais tradicionais. Também fora visível a coerente distribuição social e profissional com as orientações políticas e ideológicas do início da filiação partidárias. PALAVRAS-CHAVE: Carreira Parlamentar, Partidos Políticos, Deputados Federais. INTRODUÇÃO Busca-se no texto, expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento individual e partidário, da trajetória pregressa de políticos que permaneceram por um longo tempo num mesmo exercício do cargo eletivo proporcional federal. Partindo do início de sua primeira filiação partidária até o ano de 2006, ano este que marca a terceira eleição consecutiva da carreira estática e longeva da pesquisa, 84 políticos permaneceram no mínimo por 16 anos como Deputados Federais, na medida em que se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006), configurando uma carreira estática por quatros mandatos consecutivos e ininterruptos. Fora analisada a trajetória política que antecede a carreira estática e longa dos parlamentares na Câmara dos Deputados brasileira (1995-2010). Em se tratando de um grupo específico de parlamentares com carreira estática e longa, pressuponho que a variável mais comum é a de um perfil político com trajetória política que lhe forneça: estrutura e experiência eleitoral, partidária e legislativa longa. Este argumento vai de encontro à afirmação de SANTOS (2000, p.92), ao se referir ao período pós 1 CANATO, Cesar: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), [email protected], graduado em Ciências Econômicas (UNESP) e doutorando em Ciência Política (UFSCar).

Upload: hanhi

Post on 12-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

1

TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE PARLAMENTARES FEDERAIS

Cesar Canato1

RESUMO: Busca-se expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento individual e partidário, da trajetória pregressa de 84 políticos que se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006). Com base na biografia apresentada pela Câmara dos Deputados, buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade profissional e política. Os dados relevam uma forte presença dos profissionais liberais tradicionais. Também fora visível a coerente distribuição social e profissional com as orientações políticas e ideológicas do início da filiação partidárias.

PALAVRAS-CHAVE: Carreira Parlamentar, Partidos Políticos, Deputados Federais.

INTRODUÇÃO

Busca-se no texto, expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento

individual e partidário, da trajetória pregressa de políticos que permaneceram por um

longo tempo num mesmo exercício do cargo eletivo proporcional federal. Partindo do

início de sua primeira filiação partidária até o ano de 2006, ano este que marca a

terceira eleição consecutiva da carreira estática e longeva da pesquisa, 84 políticos

permaneceram no mínimo por 16 anos como Deputados Federais, na medida em que

se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três

eleições seguintes (1998, 2002, 2006), configurando uma carreira estática por quatros

mandatos consecutivos e ininterruptos.

Fora analisada a trajetória política que antecede a carreira estática e longa dos

parlamentares na Câmara dos Deputados brasileira (1995-2010). Em se tratando de

um grupo específico de parlamentares com carreira estática e longa, pressuponho que

a variável mais comum é a de um perfil político com trajetória política que lhe forneça:

estrutura e experiência eleitoral, partidária e legislativa longa. Este argumento vai de

encontro à afirmação de SANTOS (2000, p.92), ao se referir ao período pós

1 CANATO, Cesar: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),

[email protected], graduado em Ciências Econômicas (UNESP) e doutorando em Ciência Política (UFSCar).

Page 2: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

2

Constituição de 88, de que políticos “que tendem a permanecer na Câmara não

possuem experiência prévia relevante”.

Com base nos dados levantados da biografia apresentada pela Câmara dos

Deputados citadas aqui, é importante buscar no perfil dos parlamentares aqui

investigados o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade,

gênero, escolaridade e atividade profissional e política são buscadas, dentro do que

KELLER (1967) chamou-os de atributos adstritos e adquiridos, ou que SANTOS

(2000) se referiu ao background dos parlamentares e que RODRIGUES (2002)

chamou de socioocupacional.

Os dados revelam que, dada uma trajetória pregressa longa, não houve

exclusividade pelo grupo, de trajetória modal: local, burocrática e empresarial, utilizado

por AMES (2003). Também não fora constatada forte migração partidária no tempo de

filiação longa, o que fortalece argumentos que dizem da importância da presença da

organização partidária para a construção da carreira política no parlamento. Se as

análises sobre parlamentares federais brasileiros, dizem de um padrão de baixa

experiência legislativa anterior ao ingresso, alta circulação e mobilidade no cargo, os

dados sobre o grupo de 84 parlamentares revelam serem predominantemente

homens, com ingresso de idade avançada e considerável tempo de trajetória

partidária, ocupantes antes de cargos eletivos proporcionais e majoritariamente

pertencentes do bloco ideológico de direita.

A preocupação aqui é fazer a caracterização partidário-ideológica com menor

interesse com relação ao recrutamento partidários dos políticos e maior interesse em

destacar que; dado um perfil ideológico-partidário, o político estaria iniciando sua

atividade político-partidária com maior ou menor autonomia frente à organização

partidária. O que pode ser explicativa do perfil da trajetória pregressa deste grupo de

84 parlamentares é que, eles possuem trajetória partidária média de 13 anos (até

1994), migração em média por mais de três legendas e alta concentração advinda de

bloco ideológico de direita e centro.

Parte-se do pressuposto, que o recrutamento parlamentar de cada partido

ocorre de meios sociais e profissionais variados, a expectativa aqui é encontrar se

existem padrões de ocupação socioocupacional para os três grupos de geração de

políticos, ao longo da sua trajetória pregressa. Outro prisma que foi perseguido é o

cruzamento ideológico-partidário e socioocupacional. Os dados relevam uma forte

presença dos profissionais liberais tradicionais. Também fora visível a coerente

distribuição social e profissional com as orientações políticas e ideológicas do início da

filiação partidárias.

Page 3: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

3

A ANÁLISE DE TRAJETÓRIA PREGRESSA

Partindo do ano que inicia a primeira filiação partidária até o ano de 2006, ano

este que marca a terceira eleição consecutiva da carreira estática e longeva da

pesquisa, 84 políticos permaneceram no mínimo por 16 anos como Deputados

Federais, ao se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por

mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006), configurando uma carreira estática

por quatros mandatos consecutivos e ininterruptos.

Busca-se expor e analisar a trajetória política que antecede a carreira estática e

longa dos parlamentares na Câmara dos Deputados brasileira (1995-2010). Dado que

o ingresso no partido tenha se iniciado em longa data e de forma variada, sejam elas:

passando pelas três esferas políticas federativas, pela disputa de cargos proporcional

ou majoritário e na ocupação de cargos executivos não eletivos; é possível inferir que

a entrada e permanência por 4 mandatos de deputado federal não ocorre com

trajetória político-partidária pregressa curta. Em se tratando de um grupo específico de

parlamentares com carreira estática e longa, pressuponho que a variável mais comum

é a de um perfil político com trajetória política que lhe forneça: estrutura e experiência

eleitoral, partidária e legislativa longa. Este argumento vai de encontro à afirmação de

SANTOS (2000, p.92), ao se referir ao período pós Constituição de 88, de que

políticos “que tendem a permanecer na Câmara não possuem experiência prévia

relevante”.

A pesquisa se apoia nos trabalhos de AMES (2003), que utilizou três trajetórias

modais para investigar o caso brasileiro. São elas: política local, atividade empresarial

e burocracia. As trajetórias de deputados “locais” seriam aquelas em que o

parlamentar, no momento anterior a entrada na Câmara dos Deputados, tenha

exercido o cargo de prefeito ou vereador. Neste caso, pressupõe-se que uma base

eleitoral fora formada, experiência política seja adquirida e por motivos diversos, mas

próximo de uma ambição progressiva, pleiteou e conquistou o cargo de deputado

federal. Já uma trajetória “empresarial” seriam aquelas carreiras que, no momento

anterior, exerciam atividade profissional no setor privado. Aqui, o que conta como

vantajosa é a capacidade de financiamento de campanha e a proximidade com a

clivagem social; por outro lado, o ingresso pode ter sido possibilitado à revelia do

partido político, com maior independência frente à organização partidária. O terceiro

caso seriam as trajetórias “burocráticas”, em que os cargos do setor público,

Page 4: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

4

principalmente existentes nas esferas estaduais e federal, o tenham cacifado

eleitoralmente, para a conquista do mandato parlamentar.

O autor chama a atenção para a trajetória modal “empresarial” como a que

apresenta maior diferença frente às outras duas. Poderiam estar ocorrendo uma

carreira política que “prolongue” a atividade dos seus interesses econômicos. Seriam

representações de cunho mais corporativista, pouco preocupada em manter uma base

eleitoral e que a aproximação com o poder Executivo se faz maior do que o

fortalecimento do poder legislativo, onde atua, uma vez que se tem o entendimento de

que é naquela instância de poder que a regulamentação da política econômica se dá

com maior força de iniciativa política. (AMES, 2003, p.189) Neste caso, mesmo em

função da maior autonomia organizacional partidária, pressuponho que carreiras

estáveis e longas na Câmara dos Deputados não sofreriam empecilhos de serem

almejadas.

Cabe ressaltar que, com uma trajetória política anterior longa, maiores as

chances que tenha havido uma combinação de duas ou mais atividade de trajetórias

“distintas”. Neste caso, o que se pode priorizar na pesquisa é o maior tempo de

atividade política ou empresarial que tenha prevalecido, assim como, destacar a

atividade profissional/política que fora exercida no tempo de mandato eleitoral

imediatamente anterior (4 anos) ao ingresso no cargo no ano de 1995.

No entanto, observa-se que a trajetória modal utilizada por AMES (2003) pouco

evidencia o papel que a organização partidária tenha contribuído para se chegar à

conquista do cargo proporcional legislativo. Sendo assim, Incluo aqui a investigação

feita por MARENCO DOS SANTOS (2001), uma vez que no Brasil, os candidatos ao

um cargo político eletivo, desde as eleições de 1945, obrigatoriamente tenham que

estar filiado e concorrer por um partido político. Pode-se inferir que em sistema

pluripartidário, os partidos políticos são desafiados a selecionar e ter o controle do

ingresso e continuidade da carreira política de seus membros integrantes. Para

MARENCO DOS SANTOS (2001, p. 82) deve-se olhar com prudência para o

“tratamento uniforme conferido às organizações partidárias brasileiras”. Entre os

achados da pesquisa do autor, destacam-se três: Primeiro, os partidos apresentam

uma configuração híbrida quanto às trajetórias e vínculos de lealdade de seus

membros; segundo, migração e lealdade partidárias constituem fenômenos cuja

explicação não parece residir em variáveis demográficas e terceiro, quando se

Page 5: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

5

encontra nas regras eleitorais, no modelo de RPLA, a causa para a adoção de

estratégias não leias.

Com base nas pesquisas citadas aqui, é importante buscar no perfil dos

parlamentares aqui investigados o tempo de filiação e de carreira política partidária.

Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade profissional e política são

buscadas, dentro do que KELLER (1967) chamou-os de atributos adstritos e

adquiridos, ou que SANTOS (2000) se referiu ao background dos parlamentares e

RODRIGUES (2002) chamou de dados socioocupacionais. Com isto, a trajetória

pregressa dos 84 parlamentares será investigada com o intuito de se buscar

evidências de perfis ou padrões de comportamento que dizem da construção de uma

carreira parlamentar estática e longa na Câmara dos Deputados.

A TRAJETÓRIA PREGRESSA PROJETA CARREIRAS PARLAMENTARES

LONGAS?

O objetivo deste tópico não é percorrer a trajetória pregressa dos 84

parlamentares federais com carreiras longas no intuito de mensurar a seletividade do

recrutamento parlamentar e muito menos identificar a presença de gerações políticas

distintas presentes no Congresso Nacional. Estamos tratando de um grupo específico

de parlamentares que já apresentaram sucesso eleitoral e permaneceram por quatro

mandatos consecutivo e ininterrupto no cargo proporcional federal.

Com base nas definições das três trajetórias modais trabalhas por AMES

(2003) constata-se que duas delas, “locais e burocráticas” possibilitam que logo no

início da vida adulta o indivíduo que deseja ingressar na vida política possa fazê-lo

quando atingir a idade de 18 anos, para os cargos de prefeitos, secretarias municipais

e vereador. Já para concorrer ao cargo de Deputado Federal a idade mínima é de 21

anos. Este início precoce na carreira pode ser estimulado seja em função de um

projeto individual de construção de uma vida profissional na política, seja por influência

de um ambiente familiar e social estimulante. Já com relação à trajetória “empresarial”,

que também pode ocorrer na mesma faixa de idade, muitas vezes propicia ao político

um ingresso um pouco mais tardio, após o término do curso superior. O ingresso na

vida política, quando ocorre, pode ser em função de uma posição privada e

Page 6: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

6

profissional bem sucedida que tenha estimulado para a inclinação em buscar uma vida

política posterior.

Mas não basta desejar o cargo político, é preciso conquista-lo numa eleição e

ser filiado a um partido político. Para MARENCO DOS SANTOS (2000, p.86-87) o

primeiro cargo “representa o rito de passagem”. Quando se pretende prosseguir na

carreira política, é necessária a posse de requisitos individuais, disposição vocacional

e afinidade eletiva que podem ter sido conferidos ao político na medida em que a

primeira eleição tenha resultado em sucesso eleitoral e se inicia o mandato político. Os

dados de sua pesquisa sobre a idade do primeiro mandato para deputado federal no

Brasil (1946 – 1998) apresentou uma maior concentração na faixa entre 30 a 40 anos.

Mas, importante análise pode ser contrastada entre os que iniciam precocemente na

carreira política, destacada pela pesquisa com outra duas, ou seja, na idade de até 30

anos e com os parlamentares em primeiro mandato, com a idade acima dos 40 anos.

Quando se soma em observação na pesquisa, a proporção de carreiras de

empresários e profissionais de formação superior, as percentagens demonstram uma

tendência de queda, para a carreira que se inicia antes dos 30 anos. No caso

específico para o ano de 1994, a carreira para empresários ficou em torno de 7% e

profissionais com formação superior em 16%, ante 25% e 20 % para o ano de 1946.

Para os deputados em primeiro mandato com mais de 40 anos, acentuam as

percentagens para empresários e profissionais de formação superior, com patamares

de 50% e 37% nas eleições de 1994, respectivamente.

Segundo MARENCO DOS SANTOS (2000, p. 91), isto se deve ao fato de se

tratar de um perfil de indivíduos que ingressam na carreira com a vida profissional e

formação superior já estabelecida, o que diz de não dependerem da “carreira pública

para sobreviver”. Outro contraste empírico destacado pelo autor é em relação aos

“precoces” iniciarem como vereadores e prefeitos e cargos de confianças na

administração pública. Já os deputados que ingressam com mais de 40 anos, é mais

frequente a entrada direta ao cargo de deputado federal.

Outra análise a ser destaca no trabalho de MARENCO DOS SANTOS (2000, p.

93) é a “discrepância” entre o tipo de posto ocupado inicial e o intervalo de tempo

marcado entre o início da trajetória política e a conquista de uma carreira parlamentar.

O autor considera que existam “diferenças significativas”, ainda que, ao serem

comparados entre os três ciclos partidários, ao longo de 14 legislaturas, as evidencias

Page 7: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

7

se acentuaram no último dos três ciclos, caraterizado pelo segundo período

pluripartidário (1986-1998).

MARENCO DOS SANTOS (2000) não está interessado apenas em destacar a

entrada na carreira de deputado federal advinda de trajetórias modais “locais”,

trabalhada por AMES (2003), que de forma menos detalhada, considerada este modal

como um dos três modelos possíveis. O autor registra dois argumentos que diz do

porque o tempo gasto na trajetória pública de deputados que iniciam como

vereadores, por exemplo, possuírem um tempo sempre superior a outros perfis de

ingresso. Primeiro, os indivíduos devem possuir recursos mais escassos, e utilizam a

escala de competição local mais acessível antes de uma empreitada mais ousada.

Segundo, este tempo maior irá resultar em treinamento político importante para a

ocupação de cargos políticos de maior destaque, como o de Deputado Federal.

Ao analisar o tempo de carreira política que o parlamentar federal teve antes de

ingressar ao primeiro mandato, MARENCO DOS SANTOS (2000) elenca elementos

importantes que podem elucidar tais comportamentos. Primeiro, a presença de uma

estabilidade ao sistema político. Tal elemento se mostra um importante fator

explicativo para estudar a continuidade na representação parlamentar. Segundo o

autor, na medida em que haja uma estabilidade favorável para que a classe política

possa construir sua vida partidária, ocupação de cargos públicos, participar de

campanhas eleitorais. No Brasil, o cargo de Deputado Federal é considerado de nível

médio na hierarquia na estrutura de cargos políticos eletivos. Muitos mais postos, em

termos absolutos são oferecidos para os cargos de prefeito, vereador e deputado

estadual. Portanto, na medida em que uma estabilidade política esteja presente, mais

difícil torna-se o ingresso ao posto de forma desafiante e mais favorável aos que

buscam carreiras estáveis. Principalmente quando a taxa de circulação de postos se

apresenta de forma reduzida.

Dado um cenário político de maior estabilidade política, mas importante se

mostra ao aspirante, o tempo de experiência pregressa ao cargo. Os dados da

pesquisa do autor, que trabalhou 14 legislaturas e percorreu três ciclos de regime

partidários, constatou uma tendência de queda do contingente de parlamentares que

chegam à Câmara dos Deputados com longas experiências política. Divididos estes

contingentes em três grupos: menos de 4 anos, entre 5 e 15 anos e mais de 15 anos;

a mudança de queda mais significativa fora para o grupo de mais de 15 anos, que

inicia no ano de 1946, com 30% e termina para o ano de 1998 com 16%, sendo que

Page 8: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

8

em 1994 fora de 9%. Prevalece como maioria e de forma ascendente o grupo entre 5

e 15 anos de trajetória política. O primeiro grupo, com até 4 anos de experiência

política é ressaltado pelo autor, com estável frequência nos dados que dizem de laços

de descendentes de parentesco a políticos e baixa inexperiência política, os indivíduos

que são estranhos ao mundo da política e que queima etapas ao ocupar ao cargo de

deputado federal, aparecem como uma nova tendência do aspirante ao cargo

parlamentar.

Chamados de outsiders, estre grupo vem apresentando proporção de 30%

dentre os membros da Câmara que não possuem nem sequer nenhuma carreira

anterior. Somando-se as proporções dos outsiders com os de Trajetórias Locais

(vereadores e prefeitos), o contingente de ingressantes com vida política pregressa

chega a 60%. O que evidencia que, em tempos de estabilidade política e sistema

pluripartidário, como é caraterístico do último ciclo estudo por MARENCOS DOS

SANTOS (2000), a trajetória política anterior dos parlamentares quando alcançam o

primeiro mandato na Câmara constitui um perfil de político com baixa experiência

política e capaz de se mostrar um desafiante com sucesso eleitoral.

O que dizer da trajetória política do grupo de parlamentares que atuaram no

terceiro ciclo pluripartidário e demonstraram forte capacidade de sucesso eleitoral e

que construíram longa e estável carreira no parlamento federal?

A TRAJETÓRIA PREGRESSA DOS PARLAMENTARES LONGEVOS.

O objetivo aqui não é analisar os padrões de circulação no recrutamento

parlamentar brasileiro, mas, evidenciar, ainda que seja de forma percentualmente

descritiva, perfis e padrões de parlamentares federais que construíram uma carreira

estática e longeva, no atual período de experiência democrática e pluripartidária

brasileira.

Se a trajetória política de um parlamentar federal inicia-se em longa data de

atividade política e partidária, podendo ocorrer dentre as três esferas políticas

federativas; é possível inferir que a entrada e conquista eleitoral do primeiro mandato

de deputado federal não ocorre com trajetórias curtas e que, portanto, ficar no

exercício do cargo por um longo período requer experiência eleitoral e partidária

Page 9: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

9

pregressa. Em pesquisa realizada sobre o primeiro ciclo pluripartidário brasileiro,

MARENCO DOS SANTOS (2000) encontrou o predomínio de tempo de atividade

política pregressa mais longa, entre 5 e 15 anos, comparada com o segundo ciclo

pluripartidário. Segundo o autor, ainda que seja pequeno o grupo de parlamentarem

com 5 legislatura, suas trajetórias apresentam forte associação (r=.876, P>0.01) “entre

continuidade parlamentar e o tempo prévio de carreira antes do ingresso na Câmara”.

MARENCO DOS SANTOS (2000, p. 151) Com relação a idade, SANTOS (2000)

examinou a distribuição por faixa etária dos deputados federais brasileiros, entre 1946

até 1999, encontrou 68% dos deputados eleitos com idade entre 40 e 59 anos.

Uma primeira consideração é por se tratar de um grupo específico de 84

parlamentares, que alcançaram um longo tempo de exercício de mandato de

Deputado Federal. Suponho que a variável mais comum é a de experiência eleitoral e

legislativa longa anterior ao inicio da carreira estática. Portanto, ficará difícil a análise

comparativa com a maior parte dos trabalhos sobre o tema, que utilizaram dados

empíricos do total de integrantes da Câmara dos Deputados e em alguns casos,

inserindo parlamentares suplentes, que assumem o mandato e decidem concorrer à

reeleição.

Uma primeira análise descritiva é com o auxílio do “atributo adstrito” idade

(KELLER, 1967), que se refere à característica que diferenciam os indivíduos e que

permanecem com eles continuamente vinculadas, mas que podem ser importantes

para traçar perfis socioeconômicos de parlamentares.

Antes, esclareço que em relação ao outro atributo adstrito gênero, apenas uma

parlamentar, dentre os 84, fora verificada. Entre 1946 e 1999, SANTOS (2000, p. 96)

observa cresce incorporação das mulheres no legislativo, partindo de 6 (seis) casos

entre 1946-1967 para 88 casos entre 1987-99. Só para o ano das eleições gerais de

2010, segundo FEITOSA (2012) menciona apenas 45 candidatas eleitas,

demonstrando uma baixa frequência de casos com sucesso eleitoral, dado uma

elevação no número de candidaturas de mulheres para o cargo naquela eleição. Este

relativo interesse na carreira e ingresso no cargo parece não ter efeitos significativos

quando se trata de permanecer por mais tempo na casa legislativa federal.

Já com relação à idade, a média para os 84 parlamentares é de 46 anos,

quando vencem as eleições em 1994. Em 2010, que seria o último ano ao final de

quatro mandatos, a média de idade é de 62 anos, o que demonstra atributo adstrito

Page 10: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

10

idade factível e apropriado ao exercício de um cargo político de nível hierárquico na

estrutura de oportunidades médio. Ou seja, em média, ingressaram com idade

avançada para uma carreira política que poderia ter se iniciado aos 21 anos e quando

completam quatro mandatos, ainda possuem fôlego em relação ao fator idade para

pleitear uma carreira de ambição política progressiva.

TABELA 01 Faixa de idade (%) do ingresso no mandato (1995-1998)

Faixa etária 1995 % Acumulado

18 a 20 - - -

21 a 25 - - -

26 a 30 1 1% 1%

31 a 35 5 6% 7,0%

36 a 40 11 13% 20,0%

41 a 45 19 23% 42,7%

46 a 50 20 24% 66,5%

51 a 55 12 14% 80,8%

56 a 60 10 12% 92,7%

61 a 70 6 7% 99,8%

71 ou mais - - -

Total 84 100,0%

Fonte: TSE, Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.

Até a faixa de idade entre 51 e 55 anos, perto de 80% dos 84 parlamentares

venceram as eleições de 1994 para o cargo de Deputado Federal, demonstrando um

perfil de idade avançada e tardia. Dentre uma escala de idade (10 anos), predomina a

ocorrência de 36 (43%) para parlamentares que nasceram entre os anos de 1941 e

1950. A faixa posterior (1951 e 1960) vem em segundo lugar com 27 casos (32%).

Somados, acumulam 75% de políticos que nasceram ao longo do primeiro ciclo

pluripartidário (1945-1965). Como pode ser observado na tabela 01 acima, ao se

desmembrar a faixa de idade para 5 anos e remeter ao ano de 1995, quase 80% dos

84 parlamentares tinham até 55 anos de idade. Até a idade de 30 anos apresenta

apenas uma ocorrência, o que diz de uma faixa de idade de perfil de carreira política

que muito se afasta de um ingresso outsiders. Curta atividade política e carreiras

laterais parecem não caracterizar parlamentares federais com carreira estática e

longa. Qual foi a trajetória modal para estes indivíduos anterior ao inicio do mandado

Page 11: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

11

em 1995? Qual atividade profissional e política teriam prevalecido? Onde houve o

acúmulo de experiência eleitoral e partidária?

Dentro do que se distribui a trajetória modal, selecionei as atividades de cargos

políticos eletivos ocupados pelos 84 parlamentares antes de ocupar o mandato em

1995. Em média, os 84 parlamentares ocuparam quase 8 (oito) anos de alguma

atividade política eleitoral partidária Com base nas informações fornecidas na biografia

dos Deputados Federais da Câmara, pode-se constatar que prevalece a experiência

anterior adquirida em cargos legislativos proporcionais, com grande destaque para as

esferas estaduais e federais. Houve 16 ocorrências para a ocupação do cargo de

vereador em igual número para a ocupação do cargo executivo municipal, que

caracteriza a trajetória local de 19% dos parlamentares de carreira longa. È baixa a

porcentagem, comparada com a ocorrência estatística de 22 (26%) casos para

deputado estadual com os 39 (46%) para Deputado Federal, cuja ocupação do cargo

que depois pleiteará permanecer por mais tempo. A princípio, parece haver pouca

procedência de uma carreira política local, que representa a base na estrutura de

cargos políticos no Brasil e que poderia fornecer ao parlamentar federal com carreira

longa, base eleitoral, experiência política e recursos políticos e partidários para que a

construção de uma carreira com ambições políticas maiores fosse alcançada.

TABELA 02 Trajetória pregressa de cargos políticos eletivos.

Municipal Estadual Federal

Prefeito Vereador Governador Dep. Estadual Dep. Federal Senador

16 16 1 22 39 1

Prefeito /vereador

12

Prefeitos/vereador/demais 16

Deputado Estadual

9

Deputado Estadual e Federal

6

Deputado Federal

22

Outros

19

Total 84

Fonte: Câmara dos Deputados: Biografia, elaborada pelo autor.

Em vista de uma trajetória política partidária pregressa longa, com média de

oito anos, busquei somar e apresentar na tabela 02 as ocorrências de acúmulos de

Page 12: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

12

cargos eletivos. Observa-se que, dentre os casos isolados: somente ter sido: prefeito e

vereador, deputado estadual ou deputado federal, se destaca em ocorrência o cargo

de Deputado Federal. Foram 22 casos de parlamentares que ocuparam o cargo de

Deputado Federal, antes de permanecem por mais quatro mandatos no mesmo cargo

proporcional. Pode-se ainda, somar os casos mais próximos em perfis, quando

constatamos 16 casos de prefeitos/vereador/demais, com outros 6 casos de deputado

estadual e federal. Pode-se inferir que para quase 44 casos, houve um ou mais a

ocupação da atividade política de um cargo proporcional, que exige a capacidade de

ter sido filiado por algum partido, eleito pelo sistema eleitoral de RPLA, atividade e

experiência em legislativo. Para ser mais preciso nos dados, são 39 casos de

parlamentares que ocuparam o cargo de Deputado Federal no mandato anterior

(1990-1994).

A ocorrência “outros”, com 19 ocorrências, não pode ser desprezada na

análise, uma vez que abarca todas as outras possibilidades de atuação, tanto

profissional como política, uma vez que representa a ocupação de cargos políticos não

eletivos, representação em associações, como: sindicatos, partidos e demais

existentes na sociedade civil. No entanto, representa uma trajetória mais próxima do

que AMES (1003) chama de burocrática e empresarial.

DADOS PARTIDÁRIOS DA TRAJETÓRIA PREGRESSA

Haveria um padrão ideológico e partidário predominante na trajetória pregressa

de parlamentares que conquistaram uma carreira estática e longeva na Câmara?

Mesmo que a literatura consagre que os políticos buscam uma ambição estática ou

progressiva de suas carreiras, MARENCO DOS SANTOS; SERNA (2007)

encontraram padrões de carreira política não homogêneos para parlamentares filiados

à partidos de direita e esquerda, de três países: Brasil, Chile e Uruguai; ao buscar

explicações de padrões de recrutamento para o legislativo. RODRIGUES (2002, 2006)

também encontra relação consistente e coerente entre os meios socioocupacionais de

recrutamento partidário e orientações político-programáticas dos partidos no Brasil.

Como se configura a trajetória dos políticos e qual seria esta não

homogeneidade, inseridos e atuantes partidariamente em mais de um sistema

partidário vigente? Mantendo a base de dados biográficos dos parlamentares eleitos

Page 13: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

13

por quadro mandatos consecutivos (1995-2010), serão levantados: 1) o ano e partido

político da primeira filiação partidária e mais o partido pelo qual concorreu nas eleições

de 1994 e 2006, (primeiro e quarto mandatos); 2) o número de legendas até 2010, que

marca a trajetória de filiação partidária dos 84 parlamentares; 3) a formação e

profissão do parlamentar e qual atividade política/profissional exercia no mandato

imediato anterior as eleições de 1994.

Existem diferenças observadas nos padrões de carreira política, explicadas por

haver variações no “perfil social e recursos individuais dos candidatos eleitos por cada

legenda partidária” (partidos de esquerda e direita). (MARENCO DOS SANTOS;

SERNA, 2007, p.93) Os partidos de esquerda apresentariam um perfil de carreira

endógena. Os políticos dependeriam mais da estrutura organizacional partidária e

associativa, por terem menos recursos eleitorais próprios, assim como, predomina o

recrutamento da bancada eleita de atividade profissional exercida no setor público,

classe média assalariada, sindicatos, lideranças associativas e lideranças de

movimento sociais. No caso dos parlamentares eleitos por partidos de direita, o

recrutamento social é mais elitista, de proprietários, profissionais liberais e com

recursos materiais próprios; que os torna mais independente da estrutura

organizacional financeira do partido pelo qual esteja filiado, implicando também, em

menor lealdade à filiação partidária. Para além de identificarmos os recursos

individuais advindo da posição social, a pesquisa irá percorrer também as diferentes

bases sociais de recrutamento partidários para os 84 parlamentares.

O ano em que ocorreu a primeira filiação partidária tipifica a geração política

pela qual são advindos os políticos. Com base nos dados que mensuram o número de

legendas partidárias pelo qual os 84 parlamentares foram membros até 2010, obtemos

uma média de 3,5 legendas. Com um caso extremo de político que passou por 10

legendas, somente 14 ocorrências são verificadas para políticos que ficam com

exclusividade em uma única legenda partidária. Isto significa também que

organizações partidárias estão consolidando e oferecendo estrutura partidária para

seus membros filiados construam carreiras políticas longas. Cabe observar também,

que algumas legendas importantes mudaram de nome, como por exemplo: MDB para

PMDB, ARENA para PDS/PPB/PP e PFL para DEM, dentre outras, o que contribui

para elevar a média do número de legendas.

Recortando os dados em três grupos do sistema partidário brasileiro, Verificou-

se 27 indivíduos para o primeiro grupo demarcado (1954 – 1979). O ano de 1954

Page 14: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

14

marca o ano da primeira filiação constatada até o ano da lei que amplia o número de

partidos políticos após o sistema bipartidário. Para o segundo grupo (1980 – 1989),

verificou-se 53 casos de políticos que efetivaram a primeira filiação na década de 80,

que representa um contexto político de abertura política e partidária, onde novas e

antigas legendas voltam a existir enquanto estrutura organizacional partidária. Por fim,

o terceiro grupo (1990 até 1994) tiveram apenas 14 parlamentares que iniciaram como

filiados após as eleições legislativas proporcionais de 1990, configurado num contexto

de maior estabilidade no sistema partidário brasileiro.

RODRIGUES (2002, p. 20) encontrou uma relação consistente e coerente entre

os meios socioocupacionais de recrutamento partidário e as orientações político-

programáticas dos partidos, na escala ideológica direita-centro-esquerda. Pesquisando

somente a 51ª legislatura federal brasileira (1999-2003), o autor estava interessado

em fornecer informações sobre as fontes de recrutamento “da parcela” de

representantes da Câmara e que ajuda na avaliação dos partidos brasileiros. O autor

analisou seis partidos (PFL, PSDB, PMDB, PPB, PT, PDT) dentre as 18 legendas que

possuíam representação partidária na Câmara e abarca 84% das cadeiras. No caso

dos dados coletados por esta pesquisa, foram identificadas 18 legendas pelo qual se

distribuiu a primeira filiação dos 84 parlamentares. Conforme podem ser observadas

na Tabela 03, elas foram separadas por três blocos ideológicos. Os critérios teóricos

da orientação ideológica-partidário seguem a orientação de RODRIGUES (2002). No

caso do PTB, por exemplo, existe uma filiação com data de 1963 e outra com data de

1989. O PSD, PL, PTN, UDN e PDC (1); são legendas que remontam ao primeiro

período pluripartidário (1945-1965). ARENA e MDB remontam ao período bipartidário

(1996-1979). PDS, PDC (3), PFL, PP, PRN, PSDB, PMDB, PDT, PT e PV; são

partidos políticos constituídos no atual período pluripartidário.

Tabela 03 Primeira filiação por três blocos ideológicos.

Direita Centro Esquerda

ARENA (11) PSD (2) MDB (8) PDT (3)

PDC (4) PMDB (16) PT (5)

PDS (7) PSDB (5) PTB (1)

PFL (14)

PV (1)

PL (1)/PP (1)/ PRN (1)

PTB (1)/PTN (1)

UDN (2)

Page 15: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

15

43 31 10

51% 37% 12%

Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.

Os dados revelam que metade dos 84 parlamentares inicia a filiação em

partidos do bloco ideológico de direita. Quase 40% no bloco ideológico de centro.

Somente 12% são oriundos no bloco de esquerda. A definição de determinado

partidos serem de direita, centro ou esquerda, tem sido adotada, discutida e

caracterizada com muitas controvérsias, dentre os pesquisadores brasileiros e

brasilianistas. A preocupação aqui é fazer a caracterização partidária-ideológica com

menor interesse com relação ao recrutamento partidários dos políticos e maior

interesse em destacar que; dado um perfil ideológico-partidário, o político estaria

iniciando sua atividade político-partidária com maior ou menor autonomia frente a

organização partidária. O que pode ser explicativa do perfil da trajetória pregressa

deste grupo de 84 parlamentares é que possuem trajetória partidária média de 13

anos (até 1994), migração em média por mais de 3 legendas e alta concentração

advinda de bloco ideológico de direita e centro.

Já o perfil educacional dos 84 parlamentares classifica-se ao lado do perfil

socioocupacional como atributos adquiridos (KELLER, 1971), ou seja, que podem ser

conquistados ou aperfeiçoados pelos indivíduos ao longo da vida. No caso do atributo

escolaridade, surpreende que 13 (15%) dos 84 parlamentares não possuíam

escolaridade de superior completo, uma vez que a educação é um requisito importante

para os políticos atingirem postos médios de poder político, como é o caso para

Deputado Federal. No entanto, estes percentuais de escolaridade sem curso superior

completo não se distanciam muito, quando comparados, por exemplo, com os dados

para todos os integrantes da 51ª legislatura, em que 17,2% (88) parlamentares

possuíam escolaridade até superior incompleto. (RODRIGUES, 2006, P. 163)

Partindo do pressuposto que o recrutamento parlamentar de cada partido

ocorre de meios sociais e profissionais variados, a expectativa aqui é encontrar se

existem padrões de ocupação socioocupacional para os três grupos de geração de

políticos, ao longo da sua trajetória pregressa. Outro prisma que pode ser perseguido

é o cruzamento ideológico-partidário e socioocupacional. Os dados foram obtidos na

seção de biografia, da Câmara dos Deputados. Seguindo os termos trabalhados por

Page 16: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

16

RODRIGUES (2002), que distribui ao profissões/ocupações de forma desagregada, o

dados do grupo de 84 parlamentares na tabela 04 demonstrou uma alta porcentagem

para a categoria ocupacional de “Profissionais liberais tradicionais”. Dentre elas, se

destacam profissionais com formação superior nas áreas do: direito (28 casos),

engenharia (14 diversas) e médicos (10 casos).

Tabela 04 Atividade socioocupacional para 84 parlamentares

Categorias Ocupacionais Absolutos %

Profissionais liberais tradicionais 69 82%

Empresários urbanos 17 20%

Empresários rurais 5 6%

Comunicadores 5 6%

Trabalhadores industriais qualificados 3 4%

Pastores e padres 1 1%

Lavradores e trabalhadores rurais 1 1%

Total 84 (17) 120%

Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborado pelo autor

Alguns parlamentares indicaram mais de uma atividade profissional e

acumulou-se para 17 casos, o que revela uma forte presença (82%) dos profissionais

liberais tradicionais. RODRIGUES (2002, p. 64) já havia chamado a atenção para a

“forte representação nos três blocos ideológicos” da categoria profissionais liberais

tradicionais, ao analisar o perfil dos 513 integrantes referente à 51ª legislatura (1999-

2003). É um ramo de atividade bastante heterogêneo. Nas palavras do autor:

“Alguns grandes nomes, de muita legitimidade, podem conseguir

uma taxa elevada de conversão de capital cultural e intelectual em

capital econômico e chegar a rendimentos muitos altos, superiores a de

muitos empresários. Outros (principalmente jovens em início de

carreiras) podem estar nos estratos intermediários de renda e status.”

(RODRIGUES, 2002, p. 64)

Page 17: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

17

Na Tabela 05, foram cruzados os dados absolutos das categorias

socioocupacionais para os 84 parlamentares, eleitos em 1994, por três blocos

ideológico-partidários, dando prioridade à atividade profissional de “empresário”,

quando o político informava também sua “profissão liberal tradicional”. Observa-se em

relação a anterior tabela 04, algumas quedas percentuais, uma vez que não se

trabalha mais com duplicidade de informações das categorias socioocupacionais. Com

este critério adotado, fica mais visível a coerente distribuição social e profissional com

as orientações políticas e ideológicas do início da filiação partidárias, encontrada por

RODRIGUES (2002) para a Câmara dos Deputados brasileira e MARENCOS DOS

SANTOS; SERNA (2007) para os legisladores de Brasil, Chile e Uruguai.

Tabela 05 Categoria socioocupacional por bloco ideológico.

Blocos ideológicos Direita Centro Esquerda T.

Profissões/Ocupações, 1994

PFL

PL

PP

PPR

PTB

PMDB

PSDB

PCdoB

PDT

PT

PV

PSB %

Profissionais liberais tradicionais. 12 2 2 6 3 13 9

2 3

3 65%

Empresários urbanos 7

2 1 1 2 2

2

20%

Empresários rurais 1

1

2

5%

Comunicadores 1

1

1

4%

Trabalhadores ind. qual.

3

4%

Pastores e padres

1

1%

Lavradores e trab. rurais

1

1%

Total 21 2 6 7 4 17 11 1 4 7 1 3 84

Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborado pelo autor.

A categoria de “empresários” fora dividida entre urbana e rural. Muitos políticos

são construtores, diretores de empresa, ocupam cargos de direção em empresas

públicas, agropecuaristas e demais atividade que podemos denomina-los como

empresários. A relação que quero estabelecer é a de que, no momento do ingresso na

atividade política, marcada pela primeira filiação partidária, seja para ocupar cargos no

partido político, cargos de confiança no poder executivo ou disputar eleições; tem uma

forte relação com a sua autoatribuição de atividade socioocupacional mencionada em

Page 18: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

18

sua biografia na Câmara dos Deputados. Fora significativa a presença da categoria

“empresariado” nos partidos pertencentes ao bloco de direita, com menor presença no

bloco de centro e quase inexistente entre os partidos do bloco de esquerda. Com

relação ao bloco de esquerda, cabe observar a presença de categoria como:

lavradores rurais, trabalhadores da indústria qualificados e comunicadores. O bloco de

centro, com maior presença de profissionais liberais tradicionais, como é típico desde

grupo, observa-se que; dentre os três blocos, uma nítida gradação de maior para

menor nos números de casos, quando se cruza a análise com o espectro ideológico-

partidário da direção direita-centro-esquerda.

Na tabela 06 que segue abaixo, os dados priorizaram a atividade dos 84

parlamentares nos 4 anos anteriores ao ingresso, no período (1990-94). A

mensuração neste período busca enxergar com maior precisão o capital intelectual,

político e econômico que o projetou para o primeiro, dentre os quatro mandatos

seguintes.

Tabela 06 Categoria socioocupacional em 1990-94, por bloco ideológico.

Blocos ideológicos/1990-94 direita centro esquerda Total

Profissões/Ocupações.1990-94 PFL PL PP PPR PTB PMDB PSDB PCdoB PDT PT PV PPS PSB %

Deputado Federal 9 5 3

4 9 2 1 1 3 1 1

46%

Deputado Estadual 1

1

3 4 1

2

1 15%

Vereador/Prefeito 2

3

3 2

1 1

14%

Altos funcionários públicos

1

2 1

1 6%

Profissionais liberais trad.

2

2%

Empresários urbanos

e rurais 1 1 1

1

5%

Associações/políticos

3

2

1

7%

Comunicadores

1

1

1

4%

Total 13 6 13 0 7 21 9 1 2 7 2 1 2 84

Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.

Pode-se constatar agora uma forte percentagem de “políticos profissionais”,

entendido aqui não como atividade profissional exclusiva, mas como atividade última

anterior, demarcando um mínimo de 4 anos de experiências em eleições no sistema

eleitoral RPLA, atividade legislativa e partidária. Se somarmos as três atividade

Page 19: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

19

legislativas (vereador, deputado estadual e federal) chegamos a 75% do grupo e se

consideramos as atividade política de “altos funcionários públicos” e

associações/políticos” como também, oportunidades de os torna-los mais propensos a

uma construção de uma carreira de “políticos profissionais”, esta percentagem chega a

87% dos 84 dos parlamentares federais com carreira estática e longa. Portanto, no

que é percurso da trajetória pregressa, desde o momento inicial da primeira filiação até

o ano de 1994, que marca o início da carreira estática e longa aqui investigada, fora

mensurada um tempo médio de 13 anos para os 84 parlamentares.

Ao se comparar os números de partidos políticos por bloco ideológico direita-

centro-esquerda e suas percentagens, constata-se uma leve inclinação positiva para o

bloco da esquerda e negativa na direita, mas, mantendo um perfil majoritariamente do

bloco de direita, somando-se a segunda maior força o bloco de centro e uma menor

presença de partidos representantes do bloco de esquerda.

Tabela 07 Três períodos da trajetória partidária por bloco ideológico.

Trajetória pregressa direita centro esquerda

Partidos 1ª filiação 51% 37% 12%

Partido eleição 1994 48% 33% 19%

Partido eleição 2006 46% 36% 18%

Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.

Por fim, ao se comparar os números de partidos, observa-se uma maior

pluralidade no momento de primeira filiação partidária, com 10 legendas no bloco de

direita, explicada pelo fato de que, os 84 parlamentares realizaram este passo na vida

política partidária em três distintos períodos do sistema partidário brasileiro. Quando

se mensura o número de partidos para as eleições de 1994 e 2006, ano este último

que demarca a terceira eleição disputada pelos 84 parlamentares no recorte desta

pesquisa, para ambos os anos, o número cai para 5 partidos. Já em relação aos

números do bloco de esquerda, que era de 4 legendas do momento da primeira

filiação, cresce para 5 e 6, para as eleições de 1994 e 2006. Não só em

representação política que o bloco de esquerda levemente aumenta, mas também no

número de partidos políticos que garantem espaço organizacional para carreiras

estática e longa na Câmara dos Deputados.

Page 20: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

20

CONSIDERAÇÕES

Duas considerações devem ser iniciadas neste momento da pesquisa.

Primeiro, tendo em vista que, parte da literatura acadêmica argumentar que, o sistema

de eleições proporcionais uninominais de lista aberta, principalmente em

circunscrições eleitorais de magnitude muito elevada, facilita a entrada de

“desafiadores” e dificulta a reeleição dos “veteranos”, foram altas a percentagens de

deputados federais que alcançaram a reeleição, nas eleições de 1994. Buscar a

trajetória pregressa para os 84 parlamentares federais evidenciou uma alta

percentagem de políticos que já estavam sob a experiência e vigência dos sistemas

eleitoral e partidário, foram bem sucedidos eleitoralmente quando do momento que

construíram uma carreira estática e longa na Câmara dos Deputados.

Dentre os 84 parlamentares, 39 (75%) exerciam o mesmo cargo no mandato

imediatamente anterior (1990-1994) e quase 69 (88%) dos parlamentares podem ser

considerados “políticos profissionais”, na medida em que já exerciam cargos políticos

outros, seja no poder executivo, seja no legislativo e tiveram sucesso eleitoral em suas

carreiras políticas, tanto quando apostaram a ambição estática como na ambição

progressiva.

Um segundo ponto a considerar, é voltar a análise para o quadro dos partidos,

dentro da distribuição por bloco ideológico-partidário. Para as eleições de 2002,

RODRIGUES (2006, p. 157) verificou mudanças em relação ao quadro sucessório na

Câmara dos Deputados. Para o autor, os partidos de direita e centro “tiveram mais

dificuldade para renovar suas bancadas do que os partidos de esquerda”. Seguindo

suas análises, o fato dos partidos de esquerda estarem ampliando suas bancadas no

Congresso, explica a maior renovação de seus quadros representativos. No caso dos

partidos de direita e esquerda, apresentaram maiores proporções percentuais de

reeleitos por partidos. Dentro de uma análise do autor quer observou mudanças da

classe política no total dos integrantes da Câmara dos Deputados para as 51ª e 52ª

legislaturas, um dos resultados foi verificar bancadas mais experientes para os

partidos de direita e centro, uma vez que taxas de renovação foram menores e com

tendência de menor tamanho.

Page 21: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

21

Considerado que, para os dados apresentados por bloco ideológico-partidário

dos 84 parlamentares com carreira estática e longevas, numa perspectiva de três

grandes períodos de suas trajetórias partidárias que percorre, do momento de sua

primeira filiação até as eleições de 2006, que houve uma diminuição da representação

partidária, para os partidos de direita transportada para os partidos de esquerda,

permanecendo quase inalterada, mudanças nas percentagens dos partidos de centro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMES, Barry. Os entraves da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

FEITOSA, Fernanda. “A participação política das mulheres nas eleições 2010: panorama geral de candidatos e eleitos.” In: Mulheres nas eleições de 2010. São Paulo: ABCP/Secretaria de políticas para as mulheres, 2012. Pp. 139-165.

KELLER, Suzanne. O destino das elites. Rio de Janeiro: Forense, 1967.

PEGURIER, Fabiano José Horgades Carreiras políticas e a Câmara de Deputados brasileira, 125f. Tese (Doutorado em Ciência Política). Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.

MARENCO DOS SANTOS, André. Não se fazem mais oligarquias como antigamente: Recrutamento parlamentar, experiência política e vínculos partidários entre deputados brasileiros (1946-1998). 259 f. (Doutorado em Ciência Política). Programa de pós-graduação/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2000.

MARENCOS DOS SANTOS, André. Sedimentação de lealdades partidárias no Brasil: tendências e descompassos. Revista Brasileira Ciências Sociais. São Paulo, v. 16, n. 45, fev. 2001. Disponível em http://www.scielo.br/>. Acesso em 04 jun. 2013.

MARENCOS DOS SANTOS, André; SERNA, Miguel. Por que carreiras políticas na esquerda e na direita não são iguais? Recrutamento legislativo em Brasil, Chile e Uruguai. Revista Brasileira Ciências Sociais. São Paulo, v. 22, n. 64, junho/2007. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/>. Acesso em 04 jun. 2012.

RODRIGUES, Leôncio. Martins. Partidos, ideologia e composição social: um estudo das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados. São Paulo: EDUSP, 2002.

RODRIGUES, Leôncio Martins. Mudanças na classe política brasileira. São Paulo: Publifolha, 2006.

SANTOS, Fabiano. “Deputados federais e instituições legislativas no Brasil: 1946-99”. In: Elites políticas e econômicas no Brasil contemporâneo: a desconstrução da ordem corporativa e o papel do legislativo no cenário pós-reformas. São Paulo: Fundação Konrand Adenauer, 2000, Pp89-117.

Page 22: TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE ...³ria... · buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade

22

SCHLESINGER, Joseph. Ambition and politics: political carreers in the United States. Chicago: Rand McNally, 1966.