trabalhos monográficos sobre a guarda municipal

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Guarda Municipal Agente da CidadaniaPor: Claudio Frederico de CarvalhoColetânea de Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal contendo assuntos afetos a sua formação profissional e sua atuação.Monografias:1. Trabalho de conclusão de curso para obtenção do Grau de MBA em Gestão Pública pela Faculdade de Tecnologia OPET, com o Titulo, “GUARDA MUNICIPAL AGENTE DA CIDADANIA”.2. Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Preparação à Magistratura em nível de Especialização. Escola da Magistratura do Paraná, Núcleo de Curitiba, com o Titulo, “O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL”

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Page 1: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

iii

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Trabalhos Monográficos

Guarda Municipal

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO

COMO ATIVIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL

GUARDA MUNICIPAL AGENTE DA CIDADANIA

Claudio Frederico de Carvalho 2012

Page 2: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

iv

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARANÁ XXIX CURSO DE PREPARAÇÃO À MAGISTRATURA

NÚCLEO CURITIBA

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO

ATIVIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL

CURITIBA 2011

Page 3: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO

ATIVIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL

Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Preparação à Magistratura em nível de

Especialização. Escola da Magistratura do Paraná, Núcleo de Curitiba.

Orientador: Prof. Luiz Osório Moraes Panza

CURITIBA

2011

Page 4: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

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TERMO DE APROVAÇÃO

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADE

JURÍDICA CONSTITUCIONAL

Monografia aprovada como requisito parcial para conclusão do Curso de Preparação à Magistratura em nível de Especialização, Escola da

Magistratura do Paraná, Núcleo de Curitiba, pela seguinte banca examinadora.

Orientador: Prof. Luiz Osório Moraes Panza

Avaliador: Prof. Fernando Gustavo Knoerr

Avaliador: Prof. Evandro Portugal

Curitiba, 12 de dezembro de 2011.

Page 5: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra aos Honrosos Policiais com suas

diversas denominações em todo o Brasil e em especial aos Guardas

Municipais, que nestes últimos dois séculos vêm procurando trazer a

paz e a harmonia em uma sociedade conturbada pelos momentos

políticos, aspectos socioculturais e econômicos de uma nação em

desenvolvimento.

Seus serviços, prestados quase sempre no anonimato,

refletem de maneira significativa para a garantia do exerc ício de

cidadania em seus Municípios, Estados e União.

Page 6: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

8

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por estar sempre me guiando, me

dando saúde, paz interior, auxílio nas horas difíceis, por ter me

abençoado com uma família maravilhosa e por me dar inspiração

para redigir esta obra, pois Ele é o criador de tudo e de todos.

Agradeço ao meu filho Lucas, pela compreensão em ser

privado da minha companhia nos momentos que dediquei à

elaboração deste trabalho, bem como a minha esposa Viviane, que

sempre esteve ao meu lado, principalmente, no incentivo para a

concretização de mais esta etapa acadêmica.

Agradeço ao corpo docente e discente da Escola da

Magistratura do Paraná, onde junto passamos a compor uma grande

família.

A todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram

para a conclusão deste curso, meus sinceros agradecimentos.

Page 7: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

EPÍGRAFE

“O povo é a polícia e a polícia é o povo, a polícia nada

mais é que aqueles, pagos e uniformizados, para fazer aquilo que é

dever de todos nós.”

Sir Robert Peele (Pai do policiamento moderno / 1828).

Page 8: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

10

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 9

2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS ................................................................ 11

2.1 UM CONCEITO COM VÁRIOS SENTIDOS ................................................ 11

2.2 O QUE É DEFESA SOCIAL ......................................................................... 12

2.3 O QUE É SEGURANÇA PÚBLICA ............................................................. 13

3 POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO .............................................. 15

3.1 QUAIS SÃO AS INSTITUIÇÕES POLICIAIS QUE EXERCEM O POLICIAMENTO

OSTENSIVO PREVENTIVO NO BRASIL ...................................................... 20

3.2 PRINCÍPIOS QUE REGEM O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO23

4 DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL .............................................................. 26

4.1 DO POLICIAL FERROVIÁRIO FEDERAL .................................................. 29

4.2 DO POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL .................................................... 33

4.3 DO POLICIAL MILITAR ............................................................................... 34

4.4 DO GUARDA MUNICIPAL .......................................................................... 36

5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ELENCADOS NO ART. 5.º.................... 40

5.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCINAIS DO ART. 5°, INCISO, XIII; .................... 43

6 A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL E A ATIVIDADE POLICIAL

............................................................................................................................ 48

7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, O CONSELHO NACIONAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO E A ATIVIDADE JURÍDICA .................................... 54

8 DOS JULGADOS DOS TRIBUNAIS QUANTO A ATIVIDADE POLICIAL 65

9 DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE JURÍDICA PELOS PROFISSIONAIS

QUE EXERCEM O POLICIAMENTO REPRESSIVO JUDICIÁRIO ................ 70

10 CONCLUSÃO.......................................................................................... 78

REFERÊNCIAS................................................................................................ 84

Page 9: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem a intenção de servir como objeto de estudo para a reflexão e compreensão do que efetivamente

vem a ser o policiamento ostensivo preventivo, e qual é o seu vínculo com a área do direito, em especial, a es fera penal, demonstrando com isso que o policial é um profissional do direito, assim como, o

advogado, o promotor de justiça e o magistrado. É sabido que na esfera penal, senão na sua totalidade, a maioria dos processos judiciais criminais inicia-se nas ruas, durante o

policiamento ostensivo preventivo, onde, o policial que inicialmente atendeu a ocorrência teve que fazer a sua avaliação sobre o fato, a fim de verificar se era ou não um caso de pol ícia (um crime).

Para que se inicie a persecução penal, faz-se necessário antes que este profissional, no local do crime, tome todas as medidas cabíveis de acordo com o mandamento legal, ou seja, isolamento do local do

crime, coleta de provas e evidências, além de arrolar as testemunhas e envolvidos quando houver. Para que o exercício de sua função seja realizado a contento, sem

que o mesmo venha a responder por um crime comissivo por omissão, por um abuso de poder e/ou pelo crime de prevaricação, faz-se mister que, o profissional tenha uma formação sólida,

alicerçada aos conhecimentos jurídicos, não apenas em breves relatos, mas sim de maneira aprofundada com várias disciplinas do direito e com uma carga horária significativa, além de ter que estar se

atualizando constantemente. Desse modo e por estas razões cada vez mais, vemos profissionais da área da segurança pública, em específico, da esfera do

policiamento ostensivo preventivo, buscando os bancos acadêmicos, nos cursos de direito, a fim de que possam exercer as suas funções laborais, de maneira exemplar e desejável, encontrando amparo para

as suas ações, no exercício regular do direito em harmonia ao princ ípio da legalidade.

Palavras-chave: policiamento ostensivo preventivo; profissional do direito; atividade jurídica;

Page 10: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal
Page 11: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

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1 INTRODUÇÃO

Diversos são os serviços públicos e privados, os quais

estão diretamente vinculados a fiel execução e cumprimento da lei

vigente em um país, contudo, algumas instituições especificamente

as de caráter público, em razão do poder de polícia inerente ao

Estado, tem como missão primordial além do cumprimento da lei, a

preservação da ordem pública e da incolumidade física do cidadão e

do patrimônio.

Essas instituições são comumente conhecidas como

garantes da lei e da ordem pública, sendo que seus profissionais

consequentemente exercem o respectivo poder de polícia, visando

dar cumprimento aos seus preceitos constitucionais.

O exerc ício da função policial efetivamente consiste em

limitar o exerc ício dos direitos individuais em benefício do interesse

público, sempre primando pela lei e a ordem.

Antes da Constituição de 1988, a ordem pública se

restringia à segurança pública e o poder de polícia, era então,

sinônimo de segurança coletiva/pública. Modernamente, porém, o

Estado assumiu novas atribuições e o conceito de ordem pública

Page 12: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

10

envolve agora, a ordem econômica e social. Assim, ampliou-se o

poder de polícia.

Deste modo, as organizações policiais passaram a se

afeiçoar as novas atribuições decorrentes da lei, onde assumiram

uma nova função, agora, mais social e menos truculenta, vindo a ser

conhecida modernamente como pol ícia-cidadã.

Page 13: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS

Etimologicamente falando policiar é o ato de civilizar.

O termo Polícia tem origem em 1791 no ordenamento

jurídico da França, onde concomitantemente dividiu a polícia em

administrativa e judiciária, contudo, já em Roma Antiga t ínhamos as

“polícias”, onde em virtude de sua natureza eram divididas em Civita

ou Militare.

CIVITA Civil derivação de cidade civis moradores da

cidade.

MILITARE Militar combatente na guerra moravam fora do

limite das cidades.

2.1 UM CONCEITO COM VÁRIOS SENTIDOS

Confunde-se muito o termo pol ícia-função (sentido original)

com polícia-denominação (sentido usual).

1. Função

POLÍCIA

2. Denominação

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Claudio Frederico de Carvalho

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1. Ostensiva/Administrativa (+ preventiva, - repressiva)

POLÍCIA

2. Judiciária (+ repressiva, - preventiva)

1. Função/Atividade Polícia Judiciária/Repressiva

(Tipicamente estatal) Polícia Ostensiva/Preventiva

POLÍCIA

(Conceito) 2. Denominação/Corporação

(Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia

Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Guarda

Municipal)

2.2 O QUE É DEFESA SOCIAL

É a concepção de justiça criminal, como ação social de

proteção e prevenção, caracterizando-se pela aceitação da mutação

de acordo com a evolução da sociedade. O Direito Penal, é então,

parte da polícia social; o crime está na sociedade, o homem apenas o

revela. A eficácia do Direito Penal e da polícia em geral no controle

da criminalidade é apenas de relativa importância. A prevenção

prevalece sobre a repressão.

Page 15: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

13

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

A criminalidade não se resolve no contexto restrito do

Direito Penal, mas sim, num programa de ampla defesa social, isto é,

numa política social que envolva o punir (quando útil e justo) e o

tratamento ressocializante do criminoso e do foco social de onde

emerge.

Um sistema de Defesa Social abrange segurança pública,

defesa civil, entre outras ações do poder público, sendo estas, na

maioria de caráter preventivo, minimizando assim, as situações de

grande envergadura, as quais acabam consequentemente incidindo

efetivamente na esfera do Poder Judiciário.

Ressalte se que, as situações envolvendo a esfera penal,

geralmente são o equivalente em média de 5% (cinco por cento) do

atendimento realizado pelo policial.

2.3 O QUE É SEGURANÇA PÚBLICA

É o afastamento, por meio de organizações próprias, de

todo perigo, ou de todo mal, que possa afetar a ordem pública, em

prejuízo da vida, da liberdade, ou dos direitos de propriedade do

cidadão.

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Claudio Frederico de Carvalho

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A segurança pública, assim, limita as liberdades individ uais,

estabelecendo que a liberdade de cada cidadão, mesmo em fazer

aquilo que a lei não lhe veda, não pode ir além da liberdade

assegurada aos demais, ofendendo-a.

É, pois, uma atividade pertinente aos órgãos estatais e a

comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a

cidadania, prevenindo e controlando manifestações de criminalidade

e de violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da

cidadania nos limites da lei.

Sistema de Segurança Pública

(Policiamento ostensivo preventivo)

* Guarda Municipal (nos Municípios)

Segurança Pública * Polícia Civil e Militar (nos Estados)

* Polícia Federal, Polícia Rodoviária

Federal e

Polícia Ferroviária Federal (na União)

Page 17: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

3 POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO

Para estudarmos o tema “policiamento ostensivo

preventivo” inicialmente teremos que conceituar isoladamente cada

um dos termos, no caso, policiamento ostensivo e sucessivamente

policiamento preventivo.

Ressalte-se que, ambos os conceitos foram inovados com a

promulgação da Constituição de 1988, a qual mudou

significativamente a forma de estruturação e ação das atuais

instituições policiais no Brasil.

Antes da Carta Constitucional de 88, encontrava-se em

vigor o Decreto-lei nº 667, de 2 de julho de 1969, o qual em seu artigo

3°, alínea “a”, outorgava com exclusividade o policiamento ostensivo

para as Polícias Militares, sendo ainda, ,inexistente o termo,

policiamento preventivo.

Art. 3º- Instituídas para a manutenção da ordem

pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983)

a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a f im de assegurar o cumprimento da lei, a

manutenção da ordem pública e o exercício dos

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Claudio Frederico de Carvalho

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poderes constituídos; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983) o grifo é do autor1

Com o advento da nova Constituição, o referido texto legal

foi tacitamente revogado, uma vez que não foi recepcionado pela

Carta Magna, pelo fato de estar em completa contradição e

desarmonia com o artigo 144, da atual Constituição Federal.

Deste modo, tivemos uma evolução no conceito de polícia

ostensiva, e sucessivamente do policiamento ostensivo, o qual

pressupõe o exerc ício do poder de polícia lato sensu, não mais

limitado apenas a uma instituição e com uma única missão em

específico, qual seja, “manutenção da ordem pública e segurança

interna nos Estados”.

Nas palavras de Soibelman, Polícia Ostensiva, “é a que

age de uma forma visível pelo público. Opõe-se a polícia secreta (V.).

é a que obtém resultados preventivos pela simples ação da

presença”2.

1 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias

Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Território e

do Distrito Federal, e dá outras providências. Diário Oficial [da República

Federativa do Brasil], Brasília, DF, 03 jul. 1969. 2 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 5ª ed. rev. Rio de Janeiro:

Thex, 1994. p. 278.

Page 19: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Quanto à função de policiamento preventivo, era

completamente ignorada em nosso ordenamento jurídico, uma vez

que o policiamento além de ostensivo era mais direcionado a

repressão, seguindo o estabelecido na alínea “a” do art. 3º, do

Decreto-Lei nº 667/69 - “a fim de assegurar o cumprimento da lei, a

manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes

constituídos”.

Feitos estes esclarecimentos, para Soibelman Polícia

Preventiva, são: “Medidas adotadas pela administração pública para

prevenir comprometimento da segurança, higiene, moralidade ou

economia pública”3.

Vemos que o conceito é oriundo de um período ditatorial,

onde a própria prevenção era confundida como apenas “medidas

adotadas pela administração pública”, excluído assim a

responsabilidade dos órgãos responsáveis pela segurança pública e

incolumidade física do cidadão.

3 SOIBELMAN, L. Id.

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Claudio Frederico de Carvalho

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Seguindo este entendimento teremos que definir o que vem

a ser “prevenir comprometimento da segurança ”, ou seja, o que

significa Polícia de Segurança?

Para Soibelman, “é a que protege o ordenamento jurídico e

a integridade do Estado. Órgão encarregado da proteção da ordem

política e social. Função administrativa destinada a proteger a

segurança e tranqüilidade (sic) públicas. Polícia preventiva e

administrativa”.4

Diante do exposto, podemos concluir que com o advento da

Constituição de 1988, as instituições policiais passaram a ter as suas

atribuições mais definidas vindo inclusive a assumir efetivamente a

função do policiamento ostensivo preventivo, o que outrora não fazia

parte do nosso ordenamento jurídico.

Hoje temos no policiamento preventivo uma das maiores

razões para com a diminuição e/ou o controle da criminalidade em

determinadas regiões, devendo as ações de governo assumir cada

4 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 5ª ed. rev. Rio de Janeiro:

Thex, 1994. p. 278.

Page 21: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

19

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

vez mais esta função que é efetivamente inerente ao poder estatal,

devendo ser realizado pelos órgãos de segurança pública.

Realiza o policiamento ostensivo preventivo o profissional

da segurança pública, que isoladamente ou em grupo, realiza o

patrulhamento fardado e/ou uniformizado, equipado de armamento

mais ou menos letal, estando a pé, a cavalo, em veículo de tração

animal ou veículo de tração mecânica, em aeronave ou embarcação

fluvial, que procura durante o deslocamento estar atento a todas as

situações adversas da normalidade, aonde quer que esteja

executando as suas atividades laborais.

Sob esse aspecto, a principal característica do policiamento

ostensivo preventivo é a capacidade de ser visto e reconhecido como

tal, mesmo que de relance, uma vez que o potencial de dissuasão

decorre justamente dessa ostensividade.

É correto afirma que a redução do índice de criminalidade

em um local é inversamente proporcional a atuação do profissional da

segurança pública, pois, o policial fardado/uniformizado deve acabar

por conseguinte dissuadindo o pretenso infrator em dado local, haja

vista, sua presença mais efetiva através do policiamento ostensivo.

Page 22: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

20

Destarte, ao contrário do que pode parecer, um grande

número de prisões em flagrante realizadas pelo policiamento

ostensivo não revela, necessariamente, eficiência, pois demonstra

sim que os agressores da sociedade estão agindo livremente, apesar

da presença do profissional da segurança pública, e/ou este não está

tão presente quanto se espera, permitindo aos delinqüentes agirem

sem receio algum.

3.1 QUAIS SÃO AS INSTITUIÇÕES POLICIAIS QUE EXERCEM O

POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO NO BRASIL

Conforme menciona a Carta Magna no artigo 144, todos os

órgãos de Segurança Pública tem as suas funções predefinidas no

mencionado mandamus constitucional.

Especificamente, sobre o policiamento ostensivo preventivo

temos no inciso II, a Polícia Rodoviária Federal; no inciso III, a

Polícia Ferroviária Federal; no inciso V, as Polícias Militares; e no

parágrafo 8º as Guardas Municipais.

A Polícia Rodoviária Federal tem as suas atribuições

especificadas no parágrafo 2º, do referido texto constitucional, tendo

Page 23: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

21

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

como missão principal o patrulhamento ostensivo das rodovias

federais.

A Polícia Ferroviária Federal, como a própria denominação

menciona, destina-se ao patrulhamento ostensivo das ferrovias

federais.

Às Polícias Militares dos Estados, conforme o parágrafo 5º,

tem como missão primordial o policiamento ostensivo e a

preservação da ordem pública.

Equiparasse as Polícias Militares para fins de interpretação

por analogia a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, a qual tem a

mesma função que as citadas organizações.

Os Municípios por sua vez, o constituinte foi mais modesto

no termo policiamento ostensivo, suprimindo esta denominação e

inserido a respectiva função na sentença: “proteção de seus bens,

serviços e instalações”.

Neste diapasão facultou aos munic ípios no parágrafo 8º, a

possibilidade de se constituir Guardas Municipais destinadas à

proteção de seus bens, serviços e instalações, permitindo assim uma

ampla discussão quanto ao efetivo poder de polícia dos municípios e

das Guardas Municipais em relação à segurança pública local.

Page 24: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

22

Semelhante a interpretação por analógica da Brigada Militar

do Estado do Rio Grande do Sul em relação as demais polícias

militares, a qual manteve a sua denominação após a Constituição

Federal de 1946, temos também no Brasil as Guardas Civis

Municipais, instituições policiais municipais muito comum de se

encontrar principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro,

onde algumas se mantiveram atuantes até os dias atuais, cruzando

as fronteiras do período do Brasil Imperial e completando mais de um

século de existência.

Essas instituições, Guardas Civis Municipais, embora não

estejam especificadas na Constituição Federal são reconhecidas e

aceitas principalmente pelo Ministério da Justiça como sendo as

Guardas Municipais descritas no texto constitucional, em seu

parágrafo 8º.

Todo o texto constitucional de que trata sobre a Segurança

Pública é composto pelo artigo 144, o qual esta inserido no capitulo

III “Da Segurança Pública”, fazendo parte do t ítulo V, da Constituição

Federal que trata sobre “a Defesa do Estado e das Instituições

Democráticas”, não havendo com isso necessidade de discorrer

mais sobre o assunto.

Page 25: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Ressalte-se que, caso seja considerado incompleto o

presente texto constitucional, existe em seu parágrafo 7º , a previsão

para que se discipline a organização e o funcionamento dos órgãos

responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a

eficiência de suas atividades.

A preocupação do constituinte neste sentido foi de evitar

estagnar o assunto, segurança pública ao ponto de torná-lo inflexível

e de certa forma arcaico, permitindo com isso a sua evolução em

harmonia com a sociedade de onde emerge.

3.2 PRINCÍPIOS QUE REGEM O POLICIAMENTO OSTENSIVO

PREVENTIVO

A origem e os princ ípios que regem o policiamento

ostensivo preventivo, sendo um conceito novo e moderno, encontram

o seu amparo legal no texto Constitucional, em seu artigo 144,

vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]

II - polícia rodoviária federal;

Page 26: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

24

III - polícia ferroviária federal; [...]

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...] § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,

serviços e instalações, conforme dispuser a lei.5

Assim compreendemos que o policiamento ostensivo

preventivo compõe-se das ações de fiscalização de polícia, sobre a

matéria de segurança pública, ou seja, é o modo de atuar do Poder

de Polícia, que, conforme esclarece Maria Silvia Zanella Di Pietro, “é

a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos

individuais em benefício do interesse público e o Policiamento

Ostensivo objetiva, precipuamente, satisfazer as necessidades

básicas de segurança pública inerentes a qualquer comunidade ou a

qualquer cidadão”6

.

Neste diapasão concluímos que o policiamento ostensivo

tem como função precípua realizar a prevenção dos crimes,

contravenções penais e violações de normas administrativas em

áreas específicas, como o trânsito, meio ambiente, e posturas

5 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

6 DI PIETRO, Maria Silvia Zanella. Direito Administrativo, 13ª ed. – São

Paulo: Atlas, 2001, p. 110

Page 27: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

25

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

municipais. Constitui se em medidas preventivas de segurança, para

evitar o acontecimento de delitos e de violações de norma, tendo

como objetivo principal eliminar e/ou dificultar a possibilidade de se

delinquir.

O policiamento ostensivo é um serviço indispensável e que

desempenha um papel de suma importância na consecução dos

objetivos finais da polícia; é a única forma de serviço policial que

diretamente trata de eliminar a oportunidade do mau comportamento

e reprime o desejo de delinquir, destruindo as expectativas e

influências negativas por parte do possível delinquente.

Page 28: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

26

4 DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional, ou seja, a educação do profissional

da segurança pública é algo tão natural e universal, a qual pressupõe

clara compreensão e cumprimento por parte de todos os gestores

públicos, contudo, nem sempre foi assim, até o ano 2003 as

instituições policiais, mantinham em suas grades curriculares

disciplinas diversas atingindo uma média de 220 horas/aulas até

1.160 horas/aulas, distribuídas em média em 30 (trinta) disciplinas.

O Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de

Segurança Pública (SENASP), percebendo esta discrepância entre

uma e outra formação, bem como, a desproporcionalidade de

conteúdo prático e teórico, no ano de 2003 durante o Seminário

Nacional sobre Segurança Pública, apresentou a primeira versão do

trabalho intitulado “Matriz Curricular Nacional”, propondo que o

mesmo viesse a servir como um referencial “teórico-metodológico

para orientar as Ações Formativas dos Profissionais da Área de

Segurança Pública – Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros Militares

Page 29: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

– independentemente da instituição, nível ou modalidade de ensino

que se espera atender” (Matriz Curricular Nacional –MJ/SENASP).7

Proposta esta que foi aceita e implementada por todas as

Instituições voltadas a formação do profissional da área da segurança

pública, assim, dado a complexidade do assunto e a divergência

entre o prático e o teórico, tivemos em 2005 a sua primeira revisão,

quando foram agregados ao trabalho realizado pela SENASP, as

Diret rizes Pedagógicas para as Atividades Formativas dos

Profissionais da Área de Segurança Pública.

No período de 2005 a 2007, a Senasp, em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, realizou

seis seminários regionais, denominados Matriz Curricular em Movimento, destinados à equipe técnica e aos docentes das academias e centros de formação. Esses seminários possibilitaram a apresentação dos

fundamentos didático-metodológicos presentes na Matriz, a discussão sobre as disciplinas da Malha Curricular e a transversalidade dos Direitos Humanos, bem como reflexões sobre a prática pedagógica e

sobre o papel intencional do planejamento e execução das Ações Formativas8.

Os resultados obtidos nos seminários e a crescente

demanda dos Estados com o intuito de se implantar a Matriz

7 BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Matriz Curricular Nacional – Para Ações Formativas dos Profissionais da

Área de Segurança Pública. Brasília: 2010. p.1 8 BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Matriz Curricular Nacional – Para Ações Formativas dos Profissionais da

Área de Segurança Pública. Brasília: 2010. p.2

Page 30: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

28

Curricular estimularam o governo federal, através da SENASP, a

lançar uma versão atualizada e ampliada da Matriz, agora contendo

em um só documento as orientações que servem de referência para

as Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança

Pública, tendo como objetivo é garantir a unidade de pensamento e

ação dos profissionais da área de Segurança Pública.

O investimento e o desenvolvimento de ações formativas são necessários e fundamentais para

qualif icação e aprimoramento dos resultados das instituições que compõem o Sistema de Segurança Pública frente aos desafios e demandas da sociedade.9

Atualmente, as 27 (vinte e sete) Unidades da Federação

utilizam a Matriz Curricular como referencial pedagógico, para a

formação, aperfeiçoamento e qualificação do quadro funcional.

Amaral preleciona que: “O policial é um profissional do

Direito, tanto quanto o juiz, o advogado, o promotor de justiça, jamais

um profissional da guerra. O policial não deve ter quartel porque não

há de esperar para entrar em ação, ele deve estar permanentemente

bem distribuído”10

.

9 Idem.

10 AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Direito e Segurança Pública – a

juridicidade operacional da polícia. Brasília: Consulex, 2003. P 72.

Page 31: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

29

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

4.1 DO POLICIAL FERROVIÁRIO FEDERAL

A Polícia Ferroviária Federal é a polícia especializada mais

antiga no Brasil, foi criada no ano de 1852 e não apenas

recepcionada pela Constituição Federal de 1988, mas sim, mantida

como um órgão de segurança pública, vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...] III - polícia ferroviária federal;

[...] § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em

carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.11

O Brasil dispõe de apenas 28.168 km de malha ferroviária

em 1998. Cerca de 35% de nossas ferrovias operam há mais de 60

anos. A falta de investimentos e a baixa demanda por vagões e

locomotivas, fazem com que a indústria ferroviária esteja com sua

produção praticamente parada desde 1991.

11 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

Page 32: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

30

Em igual proporção a Polícia Ferroviária Federal, que tem

como missão institucional zelar por todos os aspectos relacionados

às ferrovias brasileiras, incluindo a fiscalização e prevenção de

acidentes nos 28 mil quilômetros de malha ferroviária.

A sua carreira funcional por falta de regulamentação e

incentivo do governo federal quase chegou à extinção, tendo sido

realizado o último concurso público para o ingresso na carreira no

ano de 1989. Resultando com isso, em um quadro de servidores

estagnado, pois os antigos policiais ferroviários federais acabaram

sendo demitidos, aposentados e ou emprestados a outras instituições

(especialmente as de gerência e controle dos trens urbanos).

Estimasse hoje que o quadro destes servidores gere em

torno de mais ou menos oitocentos policiais ferroviários no Brasil,

com o mínimo de tempo de serviço de 20 anos, ou seja, grande parte

do seu quadro funcional esta próximo da aposentadoria.12

Com isso a fiscalização e prevenção de acidentes nas

ferrovias que deveria ser função destes profissionais , acabam na

12 SINDICATO DOS METROVIÁ RIOS DE PERNAMBUCO – PE.

História da polícia ferroviária federal.

Disponível em: <http://www.sindmetrope.org.br/historia>. Acesso em: 05

nov. 2011

Page 33: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

31

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

prática, sendo realizada por outras instituições (incluindo outras

policiais) e por seguranças privados.

Atualmente, com a promulgação da Lei 12.462/11, a sua

missão institucional foi restabelecida, permitindo assim que esses

profissionais possam voltar a desenvolver suas atividades

subordinadas ao Ministério da Justiça, assim como é feito pela Polícia

Federal e a Polícia Rodoviária Federal, restando tão somente a

devida regulamentação da profissão para que esses policiais

exerçam com eficiência e competência, a demanda que a sociedade

exige, vejamos:

Art. 48. A Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, passa a vigorar com as seguintes

alterações: "Art.29..................................................... .....................

XIV - do Ministério da Justiça: o Conselho Nacional de Polít ica Criminal e Penitenciária, o Conselho Nacional de Segurança Pública, o Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, o Conselho

Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, o Conselho Nacional de Arquivos, o Conselho Nacional de Polít icas sobre Drogas, o Departamento de Polícia Federal, o

Departamento de Polícia Rodoviária Federal, o Departamento de Polícia Ferroviária Federal, a Defensoria Pública da União, o Arquivo Nacional e até 6 (seis) Secretarias;(Grifo do Autor)

................................................................ § 8º “Os profissionais da Segurança Pública Ferroviária oriundos do grupo Rede, Rede Ferroviária Federal

Page 34: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

32

(RFFSA), da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Empresa de Trens Urbanos de Porto

Alegre (Trensurb) que estavam em exercício em 11 de dezembro de 1990, passam a integrar o Departamento de Polícia Ferroviária Federal do Ministério da Justiça."13 (Grifo do Autor)

Diante do exposto, não podemos falar muito sobre o

treinamento, aprimoramento e formação destes profissionais no

período compreendido entre 1991 a 2011.

Resta claro que com a entrada em vigor da Lei n.12.462/11,

e o retorno da Polícia Ferroviária Federal ao Ministério da Justiça,

tratamento semelhante dado aos policiais federais e policiais

rodoviários federais, será dispensado a estes honrosos profissionais

que fizeram a história do Brasil, nestes últimos dois séculos.

13 BRASIL. Lei n. 12.462, de 4 de agosto de 2011. Institui o Regime

Diferenciado de Contratações Públicas - RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28

de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da

República e dos Ministérios, a legislação da Agência Nacional de Aviação

Civil (Anac) e a legislação da Empresa Brasileira de Infraestrutura

Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de

Ministro de Estado, cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego

Aéreo; autoriza a contratação de controladores de tráfego aéreo temporários;

altera as Leis nºs 11.182, de 27 de setembro de 2005, 5.862, de 12 de

dezembro de 1972, 8.399, de 7 de janeiro de 1992, 11.526, de 4 de outubro

de 2007, 11.458, de 19 de março de 2007, e 12.350, de 20 de dezembro de

2010, e a Medida Provisória nº 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e revoga

dispositivos da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Diário Oficial [da

República Federativa do Brasil], Brasília , DF, 05 ago. 2011.

Page 35: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

33

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

4.2 DO POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL

Inicialmente criada com a denominação Polícia de

Estradas, em 24 de julho de 1928, a Polícia Rodoviária Federal, no

ano de 1935, foi criado o primeiro quadro de policiais denominados a

época, "Inspetores de Tráfego".

Com a Constituição de 1988, assim como a Polícia

Ferroviária Federal, a Polícia Rodoviária Federal foi integrada ao

Sistema Nacional de Segurança Pública, recebendo como missão

exercer o patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]

II - polícia rodoviária federal; [...] § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em

carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.14

Desde 1991, a Polícia Rodoviária Federal integra a

estrutura organizacional do Ministério da Justiça, como Departamento

de Polícia Rodoviária Federal.

14 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

Page 36: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

34

A base da atuação da Polícia Rodoviária Federal é o trânsito, onde tudo começa. Ao longo dos 61 mil

quilômetros de malha federal, a PRF fiscaliza o cumprimento do CTB, previne e reprime os abusos, como excesso de velocidade e embriaguez ao volante, e presta atendimento às vítimas de acidentes.

A PRF também colabora com a segurança pública, prevenindo e reprimindo o tráfico de armas e de drogas, assalto a ônibus e roubo de cargas, furto e roubo de veículos, tráfico de seres humanos,

exploração sexual de menores, trabalho escravo, contrabando, descaminho e pirataria e crimes conta o meio ambiente15.

Diante do fato de estar diretamente vinculada a Secretaria

Nacional de Segurança Pública, gestora da Matriz Curricular,

dispensamos comentários a respeito da formação, aperfeiçoamento e

capacitação destes profissionais, os quais assemelhassem às

atenções dispensadas a formação do policial federal.

4.3 DO POLICIAL MILITAR

A estrutura hierárquica das Instituições Policiais Militares

brasileiras está organizada de forma seqüencial, onde encontramos

os círculos de oficiais e dos praças.

15 BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Net, Brasília , Nov. 2011. Seção

Conheça a PRF. Disponível em: <

http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/conhecaPRF.faces > Acesso em: 05

nov.2011.

Page 37: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

35

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...] § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de

bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.16

Convém esclarecer que o ingresso na carreira ocorre em

regra por meio de concurso público em ambos os casos, contudo, o

oficial ingressa inicialmente no Curso de Formação de Oficial, após

aprovação em procedimento seletivo paralelo ao exame vestibular

realizado pelas Universidades Federais, por sua vez, os praças

mesmo realizando concurso público para o ingresso na carreira, em

virtude do grau de complexidade da sua função, o nível escolar

exigido não corresponde efetivamente a ensino universitário, motivo

pelo qual sua formação profissional assemelhasse ao nível técnico.

Neste entendimento, percebemos que a formação de

ambos profissionais pertencentes a mesma instituição policial , se

realiza de forma diferenciada, sendo que o oficial conclui o curso de

16 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

Page 38: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

36

formação de oficial em média no período compreendido entre t rês a

quatro anos, e por sua vez, o praça esta pronto para o serviço

operacional em média 1.160 horas/aulas, e/ou pouco mais que 40

(quarenta) semanas de curso de formação.

O que convém ressaltar é que independente de estarmos

falando do curso de formação de praça ou de oficial, em ambas as

formações a preocupação maior esta justamente no ensinamento

com maior ênfase na cultura jurídica, em todas as instruções

independente do foco de abordagem em regra sempre procura se

trabalhar o aspecto legal, associado à prática policial.

4.4 DO GUARDA MUNICIPAL

A Guarda Municipal, instituição que retornou ao

ordenamento jurídico após muitos anos estando distante,

principalmente no período ditatorial em que o país passou.

Após a promulgação da Carta Constitucional de 1988, de

maneira modesta o constituinte inseriu esta faculdade aos municípios,

os quais aos poucos dado as necessidades locais foram criando, re-

Page 39: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

37

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

criando e/ou transformando os seus serviços municipais de vigilância

em Guardas Municipais, vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito

e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

[...] § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.17

Visando dar uma resposta mais positiva aos anseios da

sociedade, em abril de 2002, o Governo Federal at ravés do Instituto

Cidadania apresentou aos órgãos de segurança pública o Projeto

Segurança Pública para o Brasil, podendo se afirmar que este é o

marco divisor entre o antigo modo de se fazer segurança pública, e a

evolução do policiamento moderno, qual seja, o policiamento

cidadão.

Este projeto foi fruto de t rabalho de quinze meses,

interagindo entre pesquisadores, estudiosos, especialistas em

segurança pública e membros dos Três Poderes, entre outros

representantes da sociedade.

17 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

Page 40: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

38

Um dos pontos de suma importância para os municípios foi

justamente em relação as Guardas Municipais, uma vez que,

segundo a edição do Plano Nacional de Segurança Pública em vigor

desde junho de 2000, as atribuições do munic ípio frente a segurança

pública tomaram uma envergadura maior trazendo mais

responsabilidade e atribuições para o poder local, assim, o novo

projeto apresentou dentre uma das propostas a de reestruturar e

redirecionar a atuação das Guardas Municipais, vejamos:

“Reformular as Guardas Municipais, preparando-as

para que se tornem agências de novo tipo, capazes de combinar eficiência e respeito aos direitos humanos, gestoras da segurança pública local e operadoras interativas, mediadoras de conflitos, preventivas da

violência e da criminalidade”.18

Com a edição da Matriz Curricular em 2003, assim como a

polícia ferroviária foi deixada de lado, a guarda municipal também

teve este infortúnio.

Com o intuito de corrigir este relapso, em 2005 foi criada a

Matriz Curricular Nacional para Formação das Guardas Municipais

desenvolvida pela Secretaria Nacional de Segurança Pública

(SENASP), tendo como objetivo enfatizar a atuação das Guardas

18

INSTITUTO CIDA DANIA. Pro jeto Segurança Pública para o Brasil. São

Paulo, Fundação Djalma Guimarães, 2002.

Page 41: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

39

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Municipais na prevenção da violência e criminalidade, destacando o

papel dos munic ípios no Sistema Único de Segurança Pública

(SUSP).

Segundo a Matriz Curricular o Guarda Municipal deve

compreender o exerc ício de sua atividade como prática da cidadania,

motivando-se a adotar no dia a dia, atitudes de justiça entre outros.

Por fim, estabelecem diretrizes e princ ípios que devem

nortear a atuação das Guardas Municipais existentes nas diversas

regiões do país, respeitando e considerando as especificidades

regionais.

Assim, cumprindo os preceitos legais, bem como, a Matriz

Curricular e o Plano Nacional de Segurança Pública, as Guardas

Municipais iniciaram um processo de readequação profissionalizando

e capacitando cada vez mais o seu quadro de servidores.

A formação em Segurança Pública constitui hoje, uma

necessidade de âmbito nacional. Ela deve estar baseada no

compromisso com a cidadania e a educação para a paz , articulando-

se permanentemente com os avanços científicos e o saber

acumulado.

Page 42: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

40

5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ELENCADOS NO ART. 5º

A Constituição da República Federativa do Brasil, fruto de

diversas lutas e conquistas ao longo de toda a história desta nação e

da própria humanidade, em 5 de outubro de 1988, foi promulgada

vindo a estabelecer uma nova era no direito Brasileiro, pois, ao

restabelecer o regime democrático de direito, excluiu os resquícios de

um sistema ditatorial entre outros.

“Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes19: (...)”

Uma breve leitura feita no “caput” do artigo 5º, da

Constituição Federal nos esclarece com precisão qual foi à fiel

intenção do constituinte ao elencar o Título “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”, e neste Capítulo destinado aos “Direitos e Garantias

Individuais e Coletivos”.

19

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 4 5ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 6.

Page 43: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

41

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Restou evidente que dentre os princ ípios basilares da

Constituição, todo o cidadão brasileiro e estrangeiro residente no

Brasil, a garantia da “inviolabilidade do Direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade” (Brasil, 1988, p.11)20

.

Neste raciocínio surge a indagação – Quem são os agentes

públicos que irão dar cumprimento a este texto Constitucional? No

caso, a Garantia da inviolabilidade e da proteção aos Direitos

elencados.

Em verdade o profissional da área de segurança pública,

em específico o que realiza o policiamento ostensivo preventivo, tem

por missão primordial proteger a integridade física do cidadão, quer

seja, vítima ou infrator, o policial deve procurar sempre “combater o

crime e não o criminoso”21

.

Neste diapasão, concluímos que para se dar cumprimento

ao princípio constitucional “segurança” ou aos demais princ ípios

constitucionais, pelos órgãos responsáveis pelo efetivo exercício das

20

Idem 21

CA RVA LHO, Claudio Frederico de. O que você precisa saber sobre

Guarda Municipal e nunca teve a quem perguntar. 3ª ed. Curit iba: Edição do

autor, 2011. p. 248.

Page 44: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

42

garantias constitucionais, devemos acima de tudo ter um profissional

capaz de compreender e colocar em prática tais premissas

existenciais.

Em outras palavras, para se aplicar o direito, cumprir e fazer

cumprir o mandamento legal, é mister que, o profissional deva estar

tão capacitado quanto outro operador do direito, segue neste

entendimento o Professor Luiz Otavio Amaral.

“O policial é um profissional do Direito, tanto quanto o juiz, o advogado, o promotor de justiça, jamais um profissional da guerra. O policial não deve ter quartel porque não há de esperar para entrar em ação, ele

deve estar permanentemente bem distribuído”.

Convém ressaltar que, o do artigo 5º da Carta

Constitucional em seus 78 incisos e parágrafos, aborda com

profundidade os cinco princ ípios basilares dos “Direitos e Garantias

Individuais e Coletivos”, quais sejam, à vida, à liberdade, à igualdade,

à segurança e à propriedade.

Por fim, em virtude da complexidade e o grau de

importância do citado texto constitucional, o mesmo é considerado

pela Carta Magna de 1988, como sendo uma cláusula pétrea,

conforme dispõe o artigo 60, § 4º da CF.

Page 45: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

43

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

[...] § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.22 [...]

5.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 5º INCISO, XIII;

Em específico o objeto principal de estudo, tratasse da

atividade do policiamento ostensivo preventivo como equiparado ao

exercício da função de atividade jurídica em atividade não privativa do

Bacharel em Direito, ou seja, a prática reiterada de atos que exijam a

utilização preponderante de conhecimento jurídico.

É notório que em regra todo o cidadão busca o seu

crescimento quer na carreira profissional que optou, quer em outras

carreiras, as quais exigem uma maior preparação, dado as suas

exigências escolares e demais requisitos.

Assim, um profissional da área de segurança pública, em

específico o que exerce o policiamento ostensivo preventivo, ao

22

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 23.

Page 46: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

44

ingressar na carreira geralmente procura inicialmente se formar em

cursos superiores, vindo a atender as suas habilidades e vocações,

muitas vezes descobertas na caserna e/ou nos cursos de formação23

.

Quando este profissional se especializa nas áreas da

educação e saúde, acaba podendo ser 100% (cem por cento)

aproveitado dentro desta nova área de atuação, muitas vezes sem

precisar se desvincular da sua função policial.

Agora no caso, temos um profissional mais qualificado,

atuando em uma área mais específica, a qual esta diretamente

vinculada ao exercício da função de policiamento ostensivo

preventivo, sem existir qualquer impedimento, quer dos órgãos de

classe e/ou restrições funcionais, pois em ambos os exemplos são

consideradas atividades técnicas, as quais permitem acumulação

inclusive de cargo ou emprego público, vejamos:

23

Deixamos de abordar neste tópico sobre o policiamento repressivo

judiciário, pois, já existe um parecer favorável proferido pelo eminente

relator Ministro Claudio Godoy, em Pedido de Providências n .1238,

formulado pelo Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal, o qual

será objeto de estudo no item – 10 - DO RECONHECIMENTO DA

ATIVIDADE JURÍDICA PELOS PROFISSIONAIS QUE EXERCEM O

POLICIAMENTO REPRESSIVO JUDICIÁ RIO.

Page 47: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

45

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.

a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científ ico c) a de dois cargos ou empregos privativos de

profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;24

Diferente situação ocorre com os profissionais da área de

segurança pública, no que concerne ao policiamento ostensivo

preventivo, uma vez que ao concluir a Faculdade de Direito, acaba

sendo impedido de exercer as atividades inerentes ao bacharelado,

em completa desarmonia com os preceitos Constitucionais, vejamos:

“Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualif icações profissionais que a lei estabelecer;”25

Neste aspecto devemos ressaltar o texto constitucional, “é

livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,

24

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 16. 25

Ibidem, p 6.

Page 48: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

46

atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” ,

dentre as atividades desenvolvidas nas áreas da saúde e da

educação, não existem dúvidas quanto a sua fiel aplicação.

Fato contrário é o que ocorre com o profissional da área

segurança pública (policiamento ostensivo), sendo bacharel em

direito. Os seus conhecimentos acadêmicos serão por certo

aproveitados e diga se, muito bem aproveitados, no seio da sua

corporação, e na sociedade onde presta seus serviços públicos, quer

nas:

Atividades Administrativas, principalmente a área do

direito administrativo, na administração e apuração de procedimentos

sindicantes; na elaboração de minutas de legislações e normas

específicas entre outras atividades administrativas;

Atividades de Ensino, nos diversos ramos do direito, nos

cursos de formação, aperfeiçoamento e especialização; nas palestras

educativa e preventivas junto a comunidade em modo geral;

Atividades Específicas, de policiamento ostensivo

preventivo, onde este profissional irá aplicar efetivamente as

habilidades acadêmicas, principalmente nas áreas de Direito

Administrativo (legislação de trânsito, posturas e normas

Page 49: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

47

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

administrativas); Direito Constitucional (no cumprimento do seu dever

legal, sendo um garante da lei e da ordem); na área do Direito Penal

(coibindo e prevenindo a prática delituosa); na área do Direito Civil

(atividade junto aos conselhos comunitários e orientações as vítimas

de infrações); e, por fim na área do Direito Processual Penal, (durante

o encaminhamento dos infratores a Autoridade Policial, bem como, no

isolamento do local do crime, coleta de informações e dados

necessários para o início da persecução penal, entre outras

atividades inerentes a função policial e que estão diretamente

vinculadas ao estrito cumprimento da lei).

Este profissional com todo este arcabouço jurídico, sendo

integrante de uma corporação policial, em razão deste fato acaba

sendo impedido de se almejar alçar sonhos em uma nova profissão

quer seja, como advogado, juiz ou promotor de justiça.

Fase a distinção de ambos os enfoques, sendo um para o

exercício da função de advogado e outro em relação ao ingresso na

carreira do ministério público e na magistratura, ambos os temas

serão discorridos em capítulo próprio, a fim de poder dividir em dois

grupos para uma melhor compreensão e abordagem do tema.

Page 50: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

48

6 A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL E A ATIVIDADE

POLICIAL

Com a entrada em vigor do “Estatuto da Advocacia e a

Ordem dos Advogados do Brasil” (OAB), Lei nº 8.906/94, em seu

artigo 28, inciso V, de maneira tácita o legislador t ratou sobre a

matéria em relação aos impedimentos legais, de modo que é patente

que o exerc ício da função da advocacia é incompatível com o

exercício da atividade policial de qualquer natureza, vejamos:

Art. 27. A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a proibição parcial do exercício da advocacia. Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa

própria, com as seguintes atividades: [...] V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer

natureza; [...] § 1º A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou função deixe de exercê-lo

temporariamente.26

Mesmo existindo norma neste sentido, alguns profissionais

da segurança pública, ao concluírem o seu bacharelado em direito,

26

MACEDO, Geronimo Theml de. Estatuto da Advocacia e da OAB e

Legislação Complementar. 2ª ed. rev. atu. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005,

p 14.

Page 51: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

49

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

realizaram o exame da ordem e ingressaram com o pedido de

inscrição, pedido este que evidentemente foi negado provimento,

uma vez que efetivamente existe o risco da associação do exercício

da função em situações diversas, inclusive na captação de uma

clientela específica em razão da própria função policial.

Assim resta manifesto que o policial que atua nas ruas ao

efetuar o policiamento ostensivo preventivo, encontrasse diante de

um fato delituoso, após avaliar todo o contesto da ocorrência policial,

toma as mediadas cabíveis a fim de por termo a ocorrência.

Neste caso, na hipótese do policial poder exercer

cumulativamente a atividade de advogado, este poderi a acabar, não

sabendo separar o policial do advogado, prejudicando com isso todo

o direcionamento da ocorrência, sem que tivesse intenção escusa,

mas sim, pela busca e o desejo de fazer o que considera mais correto

possível.

É evidente que o policiamento ostensivo preventivo na

esfera do direito penal é na maioria dos casos, o ponto de partida da

persecutio criminis, vindo a culminar na aplicação da lei penal ao

individuo infrator.

Page 52: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

50

Conforme nos ensina Damásio de Jesus, “Quando o sujeito

pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele e o

Estado. Surge o jus puniendi, que é o direito que tem o Estado”.27

No ponto inicial de uma ação delituosa, teremos quase que

na sua totalidade, um profissional da área de segurança pública

sendo que na sua maioria o primeiro a ter contato com o crime e o

local do crime será propriamente dito o profissional que efetua o

policiamento ostensivo preventivo.

Destarte é perfeitamente razoável a existência de uma

norma legal impeditiva neste aspecto, contudo, porém, a maneira que

se apresenta hoje, torna terminantemente impossível para o policial

adquirir os três anos de atividade jurídica de que trata o artigo 93,

inciso I, da Constituição Federal, através do respectivo órgão de

classe.

Tendo em vista ser considerada uma incompatibilidade

funcional e não apenas um impedimento, para que o policial venha a

ter a sua inscrição deferida junto a Ordem dos Advogados do Brasil,

27

JESUS, Damásio E. de. Direito Penal 1 – Parte Geral. 32ª ed. rev. atu. São

Paulo: Saraiva, 2011. p 23.

Page 53: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

51

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

terá antes que pedir exoneração ou se aposentar no seu cargo de

policial, pois, a incompatibilidade permanece nos casos de licença e

afastamento funcional temporário, vejamos:

Recurso n.º 2010.08.01192-05. Recorrente: Armindo Maria. Recorrido: Conselheiro Seccional da OAB/Santa

Catarina. Relator: Conselheiro José Danilo Correia Mota (CE). Ementa PCA/37/2010. Policial Militar transferido para a reserva remunerada, aprovado no Exame de Ordem. Direito ao exercício pleno da

advocacia. Afastada ofensa ao inciso I, do art. 30 da Lei 8.906/94. Desaparecendo o vínculo funcional, com ele some a restrição de advogar contra a Fazenda que o remunera. Precedentes do STJ e desta 1ª Câmara.

Recurso conhecido e provido para determinar o cancelamento de anotações restritivas nos assentamentos do advogado. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos acórdão os membros da Primeira

Câmara do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, à unanimidade, em conhecer e dar provimento aos recursos interpostos, para

determinar o cancelamento da anotação de impedimento do art. 30, I, do Estatuto da Advocacia e da OAB, no cadastro do recorrente, nos termos do voto do relator. Impedido de votar o representante da

Seccional da OAB/SC. Brasília, 17 de Maio de 2010. Marcus Vinícius Furtado Coelho, Presidente da Primeira Câmara. José Danilo Correia Mota, Conselheiro Relator. (DJ, 27.05.2010, p. 15)

Ressalte-se que a incompatibilidade impede, inclusive, que

este profissional se inscreva no Quadro de Estagiários da OAB, como

segue:

Ementa 035/2001/PCA. ESTAGIÁRIO. INSCRIÇÃO. GUARDA MUNICIPAL. IN COMPATIBILIDADE. Para a inscrição como estagiário nos Quadros da OAB a lei impõe os mesmos requisitos exigidos para a inscrição

como advogado, exceto a prova de graduação em direito e o Exame de Ordem. Constitui causa de incompatibilidade com a advocacia o exercício de atividade relacionada, direta ou indiretamente, com

Page 54: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

52

cargo ou função policial. Recurso conhecido e provido para reformar a decisão do Conselho Pleno da

Seccional da OAB/RJ que deferiu, por maioria, inscrição de estagiário a ocupante de cargo de Guarda Municipal. (Recurso nº 5.551/2001/PCA-RJ. Relator: Conselheiro Marcos Bernardes de Mello (AL),

julgamento: 10.09.2001, por unanimidade, DJ 18.09.2001, p. 720, S1).

Como podemos observar o impedimento é absoluto, não

havendo conforme o nosso ordenamento jurídico, condições do

profissional que exerce o policiamento ostensivo preventivo qualquer

condição de ter a sua inscrição deferida junto a Ordem dos

Advogados do Brasil.

Recurso nº 0459/2005/PCA. Recorrente: Delvanio Speck Miranda OAB/PR 31.419. Recorrido: Conselho Seccional da OAB/Paraná. Relator: Conselheiro Ronald Cardoso Alexandrino (RJ). Redistribuição: Conselheiro

Daylton Anchieta Silveira (GO). Ementa PCA/026/2007. Guarda Municipal. Incompatibilidade. Cancelamento de Inscrição. Guarda Municipal que faz policiamento ostensivo, preventivo, uniformizado e armado, exerce a

"atividade policial de qualquer natureza", incompatível com o exercício da advocacia, de que trata o inciso V do art. 28 do EAOAB. Por isto, a respectiva Seccional da OAB pode, no exercício do seu poder de revisão do

ato administrativo, cancelar a inscrição deferida em evidente equívoco. Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros da Primeira Câmara do Conselho Federal da Ordem

dos Advogados do Brasil, à unanimidade de votos em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Impedido de votar o representante da OAB/PR.

Brasília, 16 de abril de 2007. CLÉA CARPI DA ROCHA Presidente da Primeira Câmara, DAYLTON ANCHIETA SILVEIRA, Conselheiro Relator. (DJ, 17.05.2007, p. 741, S.1)

Page 55: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

53

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Concluímos assim que, em princípio o profissional que

exerce o policiamento ostensivo preventivo, ao concluir seu

bacharelado em direito, muito embora possa ter o desejo de adquirir

os três anos de atividade jurídica, para o ingresso na Carreira da

Magistratura, conforme estabelece o artigo 93, inciso I, da CF:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo

Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e

títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de

classif icação;28 [...]

Ou ainda, deseje adquiri esta experiência profissional com o

intuito de ingressar na carreira do Ministério Público, conforme dispõe

o art. 129 da CF, não poderá buscar esta prática forense junto a OAB,

pelos fatos e razões descritas.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...]

§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel

em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classif icação.29

28

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 28. 29

Ibidem, p 35.

Page 56: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

54

7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, O CONSELHO

NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO E A ATIVIDADE JURÍDICA

Com a Emenda Constitucional nº 45/2004, o que antes era

denominado de “atividade forense”, foi alterado, passando com isso a

ter um sentido mais amplo com a terminologia: “atividade jurídica”.

Essa alteração muito embora possa parecer desnecessária, trouxe

para o ordenamento jurídico, uma mudança significativa, vejamos:

“A expressão prática forense é, em si, restritiva porque

se refere à prática do foro, dos tribunais. Ao passo que a expressão atividade jurídica (trazida pela EC 45) é essencialmente ampla, uma vez que reputa a toda e qualquer ação vinculada ao direito, ao jurídico”30.

Feita esta alteração a exigência dos três anos foram

mantidos, sendo agora de atividade jurídica, tanto em relação ao

ingresso na Carreira da Magistratura quanto ao ingresso na Carreira

do Ministério Público, vejamos:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

30

ALMEIDA, Dayse Coelho de. A exigência de 3 anos de atividade jurídica

nos concursos públicos para o ingresso na Magistratura e Ministério Público

e a Resolução do TST. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 669, 5 maio 2005.

Disponível em: <http://jus.com.br/rev ista/texto/6680>. Acesso em: 5 nov.

2011.

Page 57: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

55

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e

títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de

classif icação;31 [...]

Nos mesmos moldes foi incorporada a exigência, de “no

mínimo, três anos de atividade jurídica”, conforme segue:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério

Público: [...] § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-

á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e

observando-se, nas nomeações, a ordem de classif icação.32

Superada esta questão, a fim de consolidar e dar efetiva

aplicação ao texto Constitucional, o Conselho Nacional de Justiça

(CNJ), através da Resolução nº 11 de 31 de janeiro de 2006,

regulamentou a definição de “atividade jurídica”.

Em maio de 2009 com a edição da Resolução n.º 75, do

Conselho Nacional de Justiça, a Resolução nº 11 foi revogada

passando a entrar em vigor o que segue:

31

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 28.

32

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2011, p 35.

Page 58: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

56

Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º, alínea "i":

I - aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito; II - o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a participação anual mínima em 5

(cinco) atos privativos de advogado (Lei nº 8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em causas ou questões distintas; III - o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a utilização

preponderante de conhecimento jurídico; IV - o exercício da função de conciliador junto a tribunais judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas judiciais, no

mínimo por 16 (dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano; V - o exercício da atividade de mediação ou de

arbitragem na composição de litígios. § 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior à obtenção do grau de

bacharel em Direito. § 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a cargos, empregos ou funções não privativos de bacharel em Direito será realizada

mediante certidão circunstanciada, expedida pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à

Comissão de Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade do documento.33

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP),

mantendo também o mesmo objetivo de poder regulamentar de

maneira mais clara possível, com o intuito de não deixar lacunas,

acabou, por conseguinte editando a Resolução nº 04/06, alterando o

33

Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da

magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. (Publicada no

Diário Oficial da União, Seção 1, em 21/5/09, p. 72-75, e no DJ-e nº

80/2009, em 21/5/09, p. 3-19. e Republicada no DJ-e n° 155/2010, em

25/08/2010, p. 2-16, em obediência à Resolução n° 118, de 3 de agosto de

2010, Publicada no DJ-e n° 150/2010, em 18/08/2010, p. 5-7).

Page 59: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

57

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

seu texto com a Resolução nº 11/06, revogando ambas com a

Resolução nº 29/08, a qual foi posteriormente revogada pela

Resolução nº 40/0934

, e que teve por fim, o seu texto alterado pela

Resolução nº 57, em 27 de abril de 2010.

Art. 1º Considera-se atividade jurídica, desempenhada exclusivamente após a conclusão do curso de bacharelado em Direito: I – O efetivo exercício de advocacia, inclusive

voluntária, com a participação anual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei nº 8.906, de 4 Julho de 1994), em causas ou questões distintas.

II – O exercício de cargo, emprego ou função, inclusive de magistério superior, que exija a utilização preponderante de conhecimentos jurídicos. III – O exercício de função de conciliador em tribunais

judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas judiciais, assim como o exercício de mediação ou de arbitragem na composição de litígios, pelo período mínimo de 16

(dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano. § 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, a contagem de tempo de estágio ou de qualquer outra atividade anterior à conclusão do

curso de bacharelado em Direito. § 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativa a cargos, empregos ou funções não privativas

de bacharel em Direito será realizada por meio da apresentação de certidão circunstanciada, expedida pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijam a

utilização preponderante de conhecimentos jurídicos, cabendo à comissão de concurso analisar a pertinência do documento e reconhecer sua validade em decisão fundamentada.

Art. 2º Também serão considerados atividade jurídica, desde que integralmente concluídos com aprovação, os cursos de pós-graduação em Direito ministrados pelas Escolas do Ministério Público, da Magistratura e

34

Regulamenta o conceito de atividade ju ríd ica para concursos públicos de

ingresso nas carreiras do Ministério Público e dá outras providências.

Page 60: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

58

da Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os cursos de pós-graduação reconhecidos, autorizados ou

supervisionados pelo Ministério da Educação ou pelo órgão competente. § 1º Os cursos referidos no caput deste artigo deverão ter toda a carga horária cumprida após a conclusão do

curso de bacharelado em Direito, não se admitindo, no cômputo da atividade jurídica, a concomitância de cursos nem de atividade jurídica de outra natureza. (Texto alterado pela Resolução nº 57, de 27 de abril de

2010). §2º Os cursos lato sensu compreendidos no caput deste artigo deverão ter, no mínimo, um ano de duração e carga horária total de 360 horas-aulas,

distribuídas semanalmente. §3º Independente do tempo de duração superior, serão computados como prática jurídica:

a) Um ano para pós-graduação lato sensu. b) Dois anos para Mestrado. c) Três anos para Doutorado. §4º Os cursos de pós-graduação (lato sensu ou stricto

sensu) que exigirem apresentação de trabalho monográfico f inal serão considerados integralmente concluídos na data da respectiva aprovação desse trabalho.

[...]

Deste modo, através do Conselho Nacional do Ministério

Público, temos em vigor a Resolução nº 40, de 26 de maio de 2009,

com alterações feitas pela Resolução nº 57/10.

Podemos com isso esclarecer que em virtude de vários

estudos, edições e correções, hoje o conceito de atividade jurídica

obtido pelo CNMP, esta sendo mais amplo que a interpretação

aplicada atualmente pelo Conselho Nacional de Justiça.

Page 61: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

59

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Ressalte se que, em ambos os Conselhos Nacionais o

objeto principal dos estudos e elaboração das resoluções é tão

somente a interpretação da terminologia, “atividade jurídica”, para fins

de ingresso em ambas as carreiras públicas.

Feitas estas considerações, podemos observar que em

específico para o profissional que exerce o policiamento ostensivo

preventivo, o qual conclui o bacharelado em direito, tendo no seu

íntimo o desejo de seguir uma nova carreira pública quer seja na

Magistratura ou no Ministério Público, seguindo o que estabelece a

Resolução nº 75/09 do CNJ e a Resolução nº 40/09, as limitações

serão muito maiores, tornando o sonho quase inatingível.

Isso é claro, considerando que este profissional no

desenvolvimento de sua atividade laboral, executa efetivamente

atividade jurídica relativa à função não privativa de bacharel em

Direito, contudo, ambas as Resoluções não trataram deste assunto

em específico, ficando a questão merecedora de maiores reflexão e

possível regulamentação por parte de ambos os Conselhos

Nacionais.

É elementar que este profissional pode a qualquer tempo

pedir exoneração da sua função pública de policial e iniciar uma

Page 62: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

60

carreira na advocacia durante o período de três anos e/ou utilizar este

período de três anos para exercer as diversas atividades elencadas

como prática jurídica, em ambas as Resoluções, a fim de se preparar

e poder ingressar na carreira jurídica tão almejada.

Com isso temos duas considerações a serem analisadas:

A primeira vem a ser sobre o “espírito da lei”, quando da

implantação da exigência dos três anos de atividade jurídica, o

legislador nada mais buscou que regulamentar o referido critério a fim

de evitar que bacharéis em direito, recém formados, sem nenhuma ou

ao menos com pouca vivência prática da vida em sociedade, viessem

a ingressar em ambas as carreiras públicas as quais exigem do

profissional a maturidade suficiente e necessária para o bom e pleno

desenvolvimento de suas atividades jurisdicionais.

Na mesma linha de entendimento temos a posição do

Professor Hugo Nigro Mazzilli, para quem “a idéia que fundamentou

essa inovação foi a de que é preciso que os juízes, antes de

ingressarem no exercício da nobre e relevante função, adquiram um

mínimo de experiência na seara jurídico-profissional, evitando-se que

Page 63: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

61

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

bacharéis ainda imaturos quanto à vida prática possam estar aptos a

julgar os destinos alheios”35

.

Seguindo o mesmo entendimento temos a manifestação

doutrinária de Walber de Moura Agra, vejamos:

“A finalidade almejada pela Reforma do Judiciário nesse tópico foi o de exigir dos novos membros do

Ministério Público e da Magistratura um tempo mínimo de experiência no mundo jurídico. O referido tempo de maturação servirá para que os bacharéis afeitos às

mencionadas carreiras jurídicas possam se preparar melhor para exercerem suas funções, acumulando vivência no mundo jurídico, após a conclusão do bacharelado, que lhes propiciará melhor desempenho

em seu mister. Por outro lado, a nova exigência constitucional impedirá que bacharéis recém-ingressos dos bancos escolares possam vir a ocupar os mencionados cargos.

Não se está contestando a capacidade teórica daqueles que recentemente deixaram as Universidades, contudo, falta-lhes, em alguns casos, maturidade para enfrentar os complexos problemas

que serão postos cotidianamente para sua resolução e, principalmente, experiência para a apreciação das questões apresentadas. O prazo de três anos de

exercício de atividade jurídica é um tempo de maturação, de sedimentação do conhecimento acumulado durante o Curso de Direito. Um lapso temporal para que o bacharel possa colocar em prática

o que aprendeu durante a sua preparação universitária.”36

35

MAZZILLI, Hugo Nigro. A prática de "atividade jurídica" nos concursos -

Reforma do Judiciário. São Paulo: Método, 2005. 36

A GRA, Walber de Moura. Obrigatoriedade de três anos de exercício de

Atividades Jurídicas", in Comentários à Reforma do Poder Judiciário. São

Paulo: Forense, 2005.

Page 64: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

62

A segunda observação trata justamente dos quesitos

razoabilidade e proporcionalidade, qual seja o profissional do direito

que durante grande parte da sua vida atuou em atividade de

policiamento ostensivo preventivo, colocando em prática os seus

conhecimentos acadêmicos diuturnamente, e inclusive passando a

adquirir uma sensibilidade maior no trato com a sociedade, não teria

maturidade suficiente para ingressar em ambas as carreiras públicas?

Visando corrigir esta questão, atualmente está em trâmite

na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, a Proposta de

Emenda à Constituição (PEC) Estadual nº 59/2010. Esta PEC do

estado mineiro pretende acrescentar os §§ 3º e 4º ao art. 142, da

Constituição Estadual.

Sendo aprovada esta proposta, os dois pontos principais de

alteração serão no que concerne ao ingresso na carreira para o

quadro de oficiais da Polícia Militar, passando a ser exigido o título de

bacharel em Direito, por conseguinte, a PEC insere a atividade

exercida pelos oficiais da Polícia Militar no rol das carreiras jurídicas,

vejamos:

Art. 1º. Ficam acrescentados ao art. 142 da Constituição do Estado os seguintes §§ 3º e 4º: “Art. 142. (...)

Page 65: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

63

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

§ 3º. Para o ingresso no Quadro de Oficiais da Polícia Militar – QO-PM – é exigido o título de bacharel em

Direito e a aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, realizado com a partic ipação da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado de Minas Gerais.

§ 4º. O cargo de Oficial do Quadro de Oficiais da Polícia Militar – QO-PM –, com competência para o exercício da função de Juiz Militar e das atividades de polícia judiciária militar, integra, para todos os f ins, a

carreira jurídica militar do Estado.”37

Nas palavras de Mário Leite de Barros Filho, temos o

seguinte comentário:

“É importante ressaltar que a apresentação do aludido projeto foi motivada pela aprovação recente da proposta de emenda à Constituição nº 14/2007, que reconheceu a atividade exercida pelos delegados de

polícia de Minas Gerais como de natureza jurídica, f icando, desta forma, evidente que os principais objetivos da iniciativa dos oficiais da Polícia Militar são a disputa de espaço e a defesa de interesse

Institucional.”38

Com a devida vênia, muito embora não concorde com o

autor no que se refere à intenção da presente proposta, quanto à

origem, não paira dúvidas que o fato motivador foi, além de valorizar

a carreira do oficial da Polícia Militar, ainda, reconhecer que o

exercício da sua função utilizada primordialmente o conhecimento

científico do direito, e não apenas de modo superficial.

37

Minas Gerais - Proposta de Emenda à Constituição Estadual nº 59/2010.

Minas Gerais: Assembléia Leg islativa, 2010. 38

BARROS FILHO, Mário Leite de. Natureza Jurídica da Atividade

Exercida pelos Delegados de Polícia. Delegadoplantonista, Minas Gerais:

Disponível em: <http://www.delegadoplantonista.net/news/natureza-juridica-

da-atividade-exercida-pelo-delegados-de-policia/>. Acesso em: 5 nov. 2011

Page 66: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

64

Feitas essa considerações, inicialmente podemos afirmar

que na atualidade o profissional que exerce o policiamento ostensivo

preventivo, ao se graduar bacharel em direito, muito embora a sua

função pública exija que atue preponderantemente como sendo um

operador do direito, caso, este profissional queira seguir uma nova

função pública na carreira jurídica, deverá equipara-se a todas as

demais pessoas, as quais pela sua condição gozam de prerrogativas,

vedadas ao policial, qual seja, a inscrição como estagiário e/ou

advogado junto a OAB, entre outras atividades descritas em ambas

às resoluções.

Page 67: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

65

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

8 DOS JULGADOS DOS TRIBUNAIS QUANTO A ATIVIDADE

POLICIAL

Tratando de maneira apenas exemplificativa, sem discorrer

muitas laudas sobre o tema, uma vez que não é o objeto central da

pesquisa acadêmica, temos como resultado da atuação em

específico das Guardas Municipais, no policiamento ostensivo

preventivo e o entendimento jurisprudencial dos tribunais o que

segue:

Em Curitiba, nos últimos anos, através do policiamento

ostensivo preventivo realizado pela Guarda Municipal de Curitiba,

foram evitados em média mais de 300 operações impedindo as

invasões de áreas pertencentes ao munic ípio, evitando com isso o

assentamento desordenado e a posterior desapropriação dos seus

“invasores”.

Em 27 de abril de 2004, em virtude de uma ocupação

desordenada em área de risco, pertencente ao Município de Curitiba,

a Guarda Municipal recebeu através dos autos 196/04, da 2ª Vara da

Fazenda Pública da Comarca de Curitiba, a incumbência de efetuar a

reintegração de posse, sendo deferido pelo eminente Juiz de Direito,

Page 68: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

66

Dr. Luiz Osório Moraes Panza, o “uso da Guarda Municipal para

desocupação dessa área”.

Este entendimento foi alicerçado justamente na ausência de

atuação do órgão policial estadual, o qual em desrespeito a

determinação judicial, seguiu as determinações expedidas pelo

governo estadual da época.

Situação desta natureza muitas vezes se repete em várias

regiões do Brasil, demonstrando que estes profissionais estão aptos

para dar cumprimento a estas determinações judiciais sem que haja

qualquer desvio ou desvirtuamento de função pública.

Em relação às ocorrências policiais envolvendo a

participação de integrantes das Guardas Municipais, temos alguns

entendimentos que demonstram o seu efetivo poder de policia e o

seu reconhecimento junto ao Poder Judiciário, vej amos;

RHC 11938/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS

CORPUS 2001/0127472-8 Relator(a) Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA (1106) Orgão Julgador - T5 - QUINTA TURMA

Data do Julgamento - 11/06/2002 Data da Publicação/Fonte - DJ 01.07.2002 p.00354 Ementa "RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PRISÃO

PREVENTIVA. Prisão cautelar decretada, com esteio no artigo 312, do CPP, ao fundamento da necessidade de garantia da

Page 69: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

67

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

ordem pública e aplicação da lei penal. Paciente foragido do distrito de acusação.

Impetração e razões recursais que alvejam, exclusivamente ilegalidade na atuação de guardas municipais e de um policial, que ingressaram na residência do paciente, sem mandado, e efetivaram

apreensão de cocaína. Argüição que não possui o condão de elidir a custódia prévia imposta. Não se trata de auto de prisão em flagrante". Recurso desprovido.

Acórdão Por unanimidade, negar provimento ao recurso.

Seguindo este mesmo entendimento temos em relação a

prisão em flagrante realizada por Guardas Municipais, conforme

segue:

RHC 9142/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1999/0088332-2 Relator(a) Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

(1106) Orgão Julgador - T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento - 22/02/2000 Data da Publicação/Fonte - DJ 20.03.2000

p.00082LEXSTJ VOL.:00130 p.00286 RT VOL.:00779 p.00524 Ementa HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. GUARDA MUNICIPAL.

ENTORPECENTE. BUSCA E APREENSÃO. CRIME PERMANENTE. Em se tratando de delito de natureza permanente, é prescindível a apresentação de mandado para o efeito de apreensão da substância

entorpecente e prisão do portador ou depositário. Recurso desprovido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os

Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráf icas a seguir, por unanimidade, negar

provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros EDSON VIDIGAL, FELIX FISCHER, GILSON DIPP e JORGE SCARTEZZINI. Resumo Estruturado

Page 70: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

68

DESCABIMENTO, RELAXAMENTO DE PRISÃO, DENUNCIADO, TRAFICO DE ENTORPECENTE,

HIPOTESE, GUARDA MUNICIPAL, REALIZAÇÃO, PRISÃO EM FLAGRANTE, DECORRENCIA, BUSCA E APREENSÃO, ENTORPECENTE, RESIDENCIA, REU, INDEPENDENCIA, EXISTENCIA, MANDADO

JUDICIAL, INEXISTENCIA, CONSTRANGIMENTO ILEGAL, CARACTERIZAÇÃO, CRIME PERMANENTE.

Entendimento este aos poucos esta se consolidando junto

ao Poder Judiciário, vejamos:

RHC 7916/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1998/0066804-7 Relator(a) Ministro FERNANDO GONÇALVES (1107)

Órgão Julgador -T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento - 15/10/1998 Data da Publicação/Fonte - DJ 09.11.1998 p.00175 LEXSTJ VOL.:00115 p.00302 Ementa

RHC. PRISÃO EM FLAGRANTE. GUARDA MUNICIPAL. APREENSÃO DE COISAS. LEGALIDADE. DELITO PERMANENTE. 1. A guarda municipal, a teor do disposto no § 8°, do

art. 144, da Constituição Federal, tem como tarefa precípua a proteção do patrimônio do munic ípio, limitação que não exclui nem retira de seus integrantes a condição de agentes da autoridade, legitimados,

dentro do princípio de auto-defesa da sociedade, a fazer cessar eventual prática criminosa, prendendo quem se encontra em flagrante delito, como de resto

facultado a qualquer do povo pela norma do art. 301 do Código de Processo Penal. (grifei) 2. Nestas circunstâncias, se a lei autoriza a prisão em flagrante, evidentemente que faculta - também - a

apreensão de coisas, objeto do crime. 3. Apenas o auto de prisão em flagrante e o termo de apreensão serão lavrados pela autoridade policial. 4. Argüição de nulidade rejeitada, visto que os

acusados, quando detidos, estavam em situação de f lagrância, na prática do crime previsto no art. 12, da Lei nº 6.368/76 - modalidade guardar substância entorpecente.

5. RHC improvido. Acórdão Por unanimidade, negar provimento ao recurso. Resumo Estruturado

Page 71: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

69

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

LEGALIDADE, PRISÃO EM FLAGRANTE, APREENSÃO, ENTORPECENTE, HIPOTESE,

GUARDA MUNICIPAL, PERSEGUIÇÃO, REU, APRESENTAÇÃO, AUTORIDADE POLICIAL, LAVRATURA, APREENSÃO, AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, CRIME, GUARDA, ENTORPECENTE,

CRIME PERMANENTE.

Assim, resta evidente que efetivamente a Guarda Municipal,

órgão pertencente ao Sistema Único de Segurança Pública, conforme

Lei 10.201/01, tem nos seus agentes, profissionais da área de

segurança pública que efetuam o policiamento ostensivo preventivo

nas cidades onde foram constituídas.

Page 72: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

70

9 DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE JURÍDICA PELOS

PROFISSIONAIS QUE EXERCEM O POLICIAMENTO

REPRESSIVO JUDICIÁRIO

Uma grande incógnita que permeia nas corporações

policiais é justamente em razão da exigência quanto a comprovação

de 3 (t rês) anos de prática jurídica para ingresso nas carreiras da

Magistratura e do Ministério Público.

Afinal, se, enquanto policiais, o exercício de suas funções é

incompatível com o exerc ício da advocacia, como estes profissionais

poderiam depois de formados, amealharem a prática jurídica sem

pedir demissão?

Diante desta lacuna deixada pelo legislador, haja vista o

entendimento sedimentado em todas as organizações policiais de

que o desempenho da sua atividade laboral esta diretamente

vinculada à aplicação do direito, ou seja, o exercício da função de

polícia nada mais é do que o direito aplicado propriamente dito.

Seguindo este entendimento o Sindicato dos Policiais

Federais protocolou consulta ao Conselho Nacional de Justiça,

Page 73: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

71

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

questionando se as funções exercidas pelos agentes de polícia

judiciária eram ou não consideradas atividades de cunho jurídico.

A resposta ao Pedido de Providências nº 1238, foi

favorável, não somente para os agentes e escrivães da Polícia

Federal, mas também sendo extensivo aos demais integrantes das

polícias civis dos estados da federação.

Pedido de Providências nº 1238 Relator: Conselheiro Cláudio Godoy

Requerente: Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal – SINDIPOL/DF Requerido: Conselho Nacional de Justiça CERTIFICO que o PLENÁRIO, ao apreciar o processo

em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: „O Conselho, por unanimidade , em obediência à decisão plenária tomada no julgamento do Pedido de

Providências n. 1079 (relator Conselheiro Eduardo Lorenzoni), respondeu afirmativamente à consulta formulada, com as ressalvas indicadas no voto do relator. Ausentes, justif icadamente os Conselheiros

Ellen Gracie (Presidente), Marcus Faver, Jirair Aram Meguerian e Eduardo Lorenzoni. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes.

Plenário, 20 de março de 2007‟. Presentes à sessão os Excelentíssimos Senhores Conselheiros Antônio de Pádua Ribeiro (Corregedor Nacional de Justiça), Vantuil Abdala, Douglas

Rodrigues, Cláudio Godoy, Germana Moraes, Paulo Schimidt, Ruth Carvalho, Oscar Argollo, Paulo Lobo, Alexandre de Moraes e Joaquim Falcão. Ausentes, justif icadamente, o Procurador-Geral da

República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, não restam

dúvidas quanto ao indispensável conhecimento técnico jurídico para o

Page 74: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

72

exercício da função de policiamento repressivo judiciário. Vejamos a

íntegra da decisão:

PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS Nº 1238

REQUERENTE: SINDICATO DOS POLICIAIS FEDERAIS NO DISTRITO FEDERAL – SINDIPOL/DF Pedido de Providências. Extensão do conceito de atividade jurídica. Resolução CNJ n. 11. Função dos

escrivães de polícia e agentes da Polícia Federal. Utilização preponderante de conhecimentos jurídicos. Submissão a previsão do art. 2º Consulta respondida. O Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal

consulta sobre se as funções desempenhadas pelos escrivães de polícia e agentes federais podem ser consideradas atividade jurídica para os f ins e nos

termos da Resolução CNJ n.11. Aduzem, para tanto, que, em sua atuação, inclusive conforme normatização própria, os servidores referidos se valem, de maneira preponderante, de conhecimentos técnicos jurídicos.

É o relatório. Pela sua repercussão e dada a particularidade em especial da atuação dos agentes, como, na polícia civil, da atuação dos investigadores, entende-se de

conhecer da consulta e submetê-la ao Plenário, até para se evitar, uma vez proferida decisão monocrática, a superveniência de eventual conflito interpretativo. Não parece haver dúvida, pelo que se considera, de

que a atuação do escrivão da polícia, quer federal, quer mesmo estadual, esteja a pressupor preparo jurídico, esteja a exigir, marcadamente, a utilização

desses conhecimentos técnicos . E isto mesmo que, como no caso, para o respectivo concurso não se reclame, propriamente, curso de direito completo, mas sim qualquer curso superior.

Lembre-se, a propósito, que a Resolução n. 11, em seu artigo 2º, mencionou não só o bacharelato em direito, como, também, o exercício de cargo, emprego ou função que exija a utilização preponderante de

conhecimento jurídico. E, nesse sentido, ao escrivão incumbe, basicamente, a prática de atos atinentes ao desenvolvimento de inquérito policial, peça investigativa do cometimento

de delitos, típicos porque previstos em lei, assim cujo conhecimento não pode ser estranho ao funcionário. Mais, trata-se de procedimento administrativo também

Page 75: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

73

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

disciplinado por normas técnicas e jurídicas de manejo constante.

Na espécie isto se confirma pelo teor da Portaria 523/89 do Ministério do Planejamento, que estabelece as funções do escrivão, dentre tantas a de dar cumprimento a formalidades processuais, lavratura de

termos, autos e mandados, além da escrituração dos livros cartorários. Repita-se, atividade técnico-jurídica. Situação talvez menos clara seja a do agente, tal como

o é, no âmbito das polícias civis estaduais, a do investigador. Veja-se que, como está na mesma portaria citada, a função essencial do agente é de investigação e de realização, nessa senda, de

operações e coleta de informações. Tudo isso, porém, voltado a um fim, que é o de esclarecimento de delitos. Ora, se assim é, igualmente se reputa haja

preponderante uso de conhecimentos técnicos. Por um lado, investigativa está a pressupor conhecimento das normas próprias que regem a coleta de provas ou a efetivação de diligências como de prisão, apreensão, e

outras do gênero. De outra parte, se toda a gama dessas atividades se destina a apurar a prática de um delito e sua autoria, decerto que ainda aqui a utilização de conhecimentos técnicos, legais, jurídicos, é uma

constante. Nem se olvide, por f im, que o sentido da norma em exame foi o de alcançar toda e qualquer atividade que servisse a demonstrar a vivência do candidato ao

concurso da magistratura no mundo jurídico, em sua acepção mais ampla, como agente atuante, o que, na hipótese vertente, se considera que, evidentemente,

ocorra. Por isso é que se responde afirmativamente a consulta formulada, mas, em obediência a decisão plenária tomada no julgamento do PP 1079, relator o Cons.

Eduardo Lorenzzoni, ressalvando-se que sempre facultada a exigência de que, a despeito do cargo ocupado, seja comprovado o efetivo desempenho de funções a que pressuposto conhecimento técnico

jurídico, no caso de escrivania e de investigação. Este o voto. CLAUDIO GODOY

Page 76: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

74

Relator”39

Quanto à decisão proferida pelo egrégio Conselho Nacional

de Justiça, não pairam quaisquer dúvidas em relação a estes

profissionais (policiamento repressivo judiciário) e o efetivo exercício

de atividade jurídica não privativas de Bacharel em Direito.

É oportuno, porém tecer alguns comentários sobre a

matéria, haja vista a similaridade desta função pública, para com o

exercício da função de policiamento ostensivo preventivo, pois, como

discorrido em tópicos anteriormente, a origem da persecução penal

se dá efetivamente nas ruas e não nas repartições públicas, quais

sejam as Delegacias de Polícia.

Destarte, tornasse evidente a pretensão de demonstrar a

necessidade do reconhecimento pelo Conselho Nacional de Justiça,

quanto à preponderante utilização de conhecimento jurídico para o

exercício da função de policiamento ostensivo preventivo, a qual

presta um serviço de estrema relevância a sociedade, principalmente

em razão do exerc ício da atividade técnico-jurídica, conhecimento

39

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de Providência nº 1238,

Requerente Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal. Relator

Ministro Cláudio Godoy. Brasília: 2007

Page 77: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

75

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

este muitas vezes adquiridos nos cursos de formação e

aperfeiçoamento na carreira.

Não nos parece haver dúvida, pelo que se considera,

atividade técnico-jurídica, de que a atuação dos profissionais que

executam o policiamento ostensivo preventivo, esteja a pressupor o

preparo jurídico necessário para o bom desempenho da função.

Lembremos que o propósito, da Resolução nº 11, a qual foi

revogada pela Resolução nº 75 do CNJ, em seu artigo 59, parágrafo

2º, traz no seu bojo a previsão do exercício de cargo, não exclusivo

de Bacharel em Direito, mas que exija a utilização preponderante de

conhecimento jurídico, vejamos:

Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos

do art. 58, § 1º, alínea "i": [...] § 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a cargos, empregos ou funções não

privativos de bacharel em Direito será realizada mediante certidão circunstanciada, expedida pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijam a utilização

preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à Comissão de Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade do documento.40

40

Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da

magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. (Publicada no

Diário Oficial da União, Seção 1, em 21/5/09, p. 72-75, e no DJ-e nº

80/2009, em 21/5/09, p. 3-19. e Republicada no DJ-e n° 155/2010, em

25/08/2010, p. 2-16, em obediência à Resolução n° 118, de 3 de agosto de

2010, Publicada no DJ-e n° 150/2010, em 18/08/2010, p. 5-7).

Page 78: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

76

Se, para o escrivão de polícia o exerc ício de sua função

“incumbe, basicamente, a prática de atos atinentes ao

desenvolvimento de inquérito policial ”, neste entendimento ao policial

ostensivo preventivo, cabe o início da referida peça inquisitória, assim

também, “disciplinado por normas técnicas e jurídicas de manejo

constante”.

Nesse raciocínio lógico, podemos seguir a inte rpretação

onde extensivamente os agentes de polícia, quer civil ou federal, na

função de investigador, tiveram os mesmos direitos reconhecidos

para fins de considerar o exerc ício de sua função investigativa com

sendo “atividade técnico-jurídica”.

Veja-se que, na referida função a alegação para considerar

atividade técnico-jurídica, foi justamente em razão de que:

“[...] a função essencial do agente é de investigação e de

realização, nessa senda, de operações e coleta de informações. Tudo isso, porém, voltado a um fim, que é o de esclarecimento de delitos. Ora, se assim é, igualmente se reputa haja

preponderante uso de conhecimentos técnicos. Por um lado, investigativa está a pressupor conhecimento das normas próprias que regem a coleta de provas ou a

efetivação de diligências como de prisão, apreensão, e outras do gênero. De outra parte, se toda a gama dessas atividades se destina a apurar a prática de um delito e sua autoria, decerto que ainda aqui a utilização

Page 79: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

77

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

de conhecimentos técnicos, legais, jurídicos, é uma constante.

[...]”41

Diante do exposto, é evidente que a função do profissional

que exerce o policiamento ostensivo preventivo é de suma

importância para o cumprimento da função do policial que exercer o

policiamento repressivo judiciário, haja vista, ser em verdade o fato

gerador para que as demais atividades se desencadeiem, inclusive a

própria elucidação da ação criminosa e a punição do infrator pelo

Poder Judiciário.

Neste diapasão entendemos que por analogia o exercício

da função de policiamento ostensivo preventivo equiparasse ao

exercício da função de policiamento repressivo judiciário, haja vista a

necessidade do conhecimento preponderante na área jurídica, sendo

considerado como “atividade técnico-jurídica”.

41

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de Providência nº 1238,

Requerente Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal. Relator

Ministro Cláudio Godoy. Brasília: 2007

Page 80: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

78

10 CONCLUSÃO

Com os estudos realizados em torno da temática

“policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica

constitucional”, podemos compreender que muito embora ainda não

exista uma previsão legal neste aspecto, as tendências jurídicas

levam a crer que em breve o nosso ordenamento jurídico irá

regulamentar este ponto falho.

Atualmente esta em t râmite na Assembléia Legislativa do

Estado de Minas Gerais, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)

Estadual nº 59/2010. Com a aprovação desta PEC, teremos no

estado mineiro a exigência do bacharelado em direito para o ingresso

como oficial nos quadros da Polícia Militar, bem como, o

reconhecimento legal desta atividade como sendo eminentemente

jurídicas.

Como marco inicial entre o reconhecimento da atividade

jurídica, realizada pelos profissionais da área de segurança pública,

existe a previsão legal da Lei nº 8.906/94, onde em seu artigo 28,

inciso V, considera incompatível a função desempenhada pelo

advogado e a atividade policial de qualquer natureza.

Page 81: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

79

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Tal impedimento surgiu não aleatoriamente, mas sim, em

razão de ambas as funções estarem intimamente ligadas na

execução de suas atividades, em regra um profissional prende e ou

outro profissional por sua vez oportuniza condições de oferecer a

defesa e inclusive, obter a liberdade e/ou absolvição do seu cliente.

No caso são profissionais que trabalham no mesmo ramo

do direito, contudo em pólos distintos, um defendendo os interesses

da sociedade e o outro cumprindo com a sua missão constitucional

que é oportunizar o direito a ampla defesa e ao contraditório a todo o

cidadão que se encontrar em conflito com a lei.

Neste racioc ínio consideramos perfeitamente coerente a

existência desta norma impeditiva, evitando assim possíveis conflitos

entre o profissional que queira atuar em ambos os pólos do direito ao

mesmo tempo.

Relembremos os ensinamentos do Prof. Luiz Otavio Amaral,

onde nos ensina que, “o policial é um profissional do Direito, tanto

quanto o juiz, o advogado, o promotor de justiça, jamais um

profissional da guerra. O policial não deve ter quartel porque não há

de esperar para entrar em ação, ele deve estar permanentemente

bem distribuído”.

Page 82: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

80

Assim, passamos ao segundo ponto da explanação sobre a

atividade de policiamento ostensivo preventivo, como efetiva

atividade jurídica.

Para tanto seguimos o entendimento proferido no Pedido de

Providências nº 1238, formulado pelo Sindicato dos Policiais Federais

no Distrito Federal, junto ao Egrégio Conselho Nacional de Justiça.

Como resultado desta pesquisa (pedido de providências),

tivemos o parecer favorável, emitido pelo eminente Ministro Cláudio

Godoy, onde considera em síntese a atuação da atividade de

policiamento repressivo judiciário, como “atividade técnico-jurídica”,

ou seja, atividade não exclusiva de bacharel em direito que utiliza

preponderante de conhecimento jurídico.

Seguindo este entendimento, podemos considerar que os

demais profissionais da área da segurança pública, os quais exercem

o policiamento ostensivo preventivo, uniformizados e armados,

procurando manter a lei e a ordem, sendo inclusive considerados

“garantes”, da sociedade, devem ser acolhidos pelo supra

mencionado entendimento emitido pelo CNJ, pelos menos motivos

apresentados ora elencados.

Page 83: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

81

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

Feitas estas considerações concluímos que o nosso

ordenamento jurídico ainda carece de uma atenção especial em

específico ao profissional que exerce o policiamento ostensivo

preventivo, e que em paralelo concluíram o bacharelado em direito.

São profissionais que em regra procuram sempre dar o

melhor de si, para com a Nação e em especial a sociedade onde

desempenham as suas atividades laborais, prova maior disso esta

justamente no fato de procurarem o crescimento, tanto profissional

quanto pessoal, utilizando com isso os bancos acadêmicos como,

possibilidade de um novo horizonte.

A sociedade brasileira exige, cada vez mais, que seus

agentes públicos sejam dotados de boa capacidade intelectual,

aptidão para o exerc ício das atribuições que lhe foram conferidas e

preparo técnico compatível à complexidade do serviço realizado. A

profissão policial é, indiscutivelmente, complexa, pois o encarregado

de levar segurança ao cidadão lida com conflitos que podem

acarretar em perda de vidas, antes disso, sabe-se que sua missão é

a de preservá-la.

Neste contexto, é necessário lembrar do princ ípio

constitucional da eficiência administrativa, at ravés do emprego de

Page 84: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

82

policiais bem orientados e esclarecidos quanto à correta aplicação da

lei.

Assim, ressalta-se que as políticas públicas de segurança,

promovidas pela União, pelos estados federados e municípios, devem

passar pela preocupação com a excelência na formação e

treinamento dos profissionais que lidam nesta área.

A correta preparação do policial repercute em ações

revestidas de respeito à população, ressalte-se que o principal

instrumento de trabalho do policial, quer seja no policiamento

ostensivo preventivo ou repressivo judiciário, é, e sempre será o seu

conhecimento técnico cient ífico principalmente com a cultura jurídica.

Como nos ensina Edgard Antonio, no trabalho intitulado

“considerações sobre a formação jurídica da praça de polícia militar”,

conforme segue:

Na área de cultura jurídica, o militar receberá aulas dos

diversos ramos do Direito, objetivando alcançar os conhecimentos necessários ao desenvolvimento das atribuições correspondentes à graduação que ocupará na Instituição. No ensino ministrado à praça de polícia

militar encontram-se os seguintes ramos: Constitucional, Administrativo, Processual Administrativo, Penal, Processual Penal, Penal Militar, Processual Penal Militar, Cível, Legislação Jurídica

Especial (leis ordinárias criminais) e Direitos Humanos. Para a formação do soldado, o estudo das disciplinas jurídicas corresponde a aproximadamente 15 % (quinze por cento) da carga-horária total do curso,

Page 85: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

83

O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

elevando-se este percentual para a formação ou atualização de sargentos, uma vez que estes

exercerão funções de comando.42

A criminalidade não se resolve no contexto restrito da

Segurança Pública, mas em um programa de ampla defesa social,

isto é, numa política social que envolva o punir (quando útil e justo) e

o tratamento ressocializante do criminoso e do foco social de onde

emerge. Conforme comenta Theodomiro Dias Neto:

“Pesquisas norte-americanas realizadas durante os anos de 60 e 70 revelaram que embora a cultura e

estrutura policial estivessem inteiramente voltadas à repressão policial, parte signif icativa dos pedidos de assistência referia-se a pequenos conflitos. Hoje é fato conhecido que a polícia, mesmo em contexto de alta

criminalidade, chega a consumir 80% de seu tempo com questões como excesso de ruído, desentendimento entre vizinhos ou casais, distúrbios

causados por pessoas alcoolizadas ou doentes mentais, problemas de trânsito, vandalismo de adolescentes, condutas ofensivas à moral, uso indevido do espaço público, ou serviços de assistência

social, como partos”43

Como vimos na pesquisa, o que nos Estados Unidos era

realidade nos anos 60 e 70, aqui no Brasil continua sendo uma rotina,

a qual faz parte do cotidiano do profissional que atua na área da

segurança pública, exigindo com isso que este esteja em constante

processo de aperfeiçoamento e capacitação.

42

SOUZA JUNIOR, Edgard Antonio de. Considerações sobre a formação jurídica da praça de polícia militar. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2173, 13 jun. 2009. Disponível em:

<http://jus.com.br/revista/texto/12986>. Acesso em: 6 nov. 2011. 43

CARVALHO, Claudio Frederico de. O que você precisa saber sobre Guarda Municipal e nunca teve a quem perguntar. 3ª ed. Curitiba: Edição do autor, 2011. p. 252

Page 86: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

84

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Descritivo – Pesquisa do Perfil Organizacional das Guardas Municipais 2003. Brasília: nov 2005. p.29. BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Matriz

Curricular Nacional – Para Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública. Brasília: 2010. p.160.

BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Direitos Humanos e Segurança Pública: Algumas Premissas e Abordagens – Jornadas Formativas de Direitos Humanos com ênfase no Estudo e na Pesquisa em Segurança Pública com Cidadania. Brasília: 2011. p.144.

Page 87: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

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O policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

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CARVALHO, Claudio Frederico de. O que você precisa saber sobre Guarda Municipal e nunca teve a quem perguntar. 3ª ed. Curitiba: Edição do autor, 2011.

FREITAS, G. P.; FREITAS, V. P. Abuso de Autoridade. 9ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Segurança Pública para o Brasil. São Paulo,

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MACEDO, Geronimo Theml de. Estatuto da Advocacia e da OAB e Legislação Complementar. 2ª ed. rev. atu. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.

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MAZZILLI, Hugo Nigro. A prática de "atividade jurídica" nos concursos - Reforma do Judiciário. São Paulo: Método, 2005.

Page 88: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

86

FACULDADE DE TECNOLOGIA OPET

CURSO DE MBA EM GESTÃO PÚBLICA

GUARDA MUNICIPAL AGENTE DA CIDADANIA

CURITIBA

2008

Page 89: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

iv

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

GUARDA MUNICIPAL AGENTE DA CIDADANIA

Trabalho de conclusão de

curso para obtenção do

Grau de MBA em Gestão

Pública pela Faculdade de

Tecnologia OPET.

Orientadora: Profª. Ma.

Alessandra Vanessa

Ferreira dos Santos

CURITIBA

2008

Page 90: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Grande Arquiteto do Universo,

por nos dar inspiração para redigir esta obra,

pois Ele é o criador de tudo e de todos.

Agradeço ao meu filho Lucas, pela

compreensão em ser privado da minha companhia

nos momentos que dediquei à elaboração deste

trabalho.

Agradeço a minha esposa Viviane, que

sempre esteve ao meu lado.

Agradeço a Faculdade OPET, e aos

funcionários da Coordenação de Pós-Graduação,

Pesquisa e Extensão,

pelo apoio e possibilidade de realizar os

meus sonhos profissionais.

Agradeço a professora orientadora, Ma.

Alessandra Vanessa Ferreira dos Santos, que me

direcionou na pesquisa acadêmica, com seus

direcionamentos,

sugestões e auxílio.

Page 91: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

vi

O povo é a polícia e a polícia é

povo, a polícia nada mais é que aqueles, pagos e uniformizados, para fazer aquilo que é dever de todos

nós.

Sir Robert Peele

(Pai do policiamento moderno / 1828)

Page 92: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

RESUMO

Este trabalho de pesquisa tem dois objetivos: o primeiro, compilar e coletar material útil e existente sobre o título Guarda Municipal; o

segundo, sobre Segurança Pública no âmbito municipal, de maneira prática e objetiva pela qual podem guiar-se, a fim de que venham a ter embasamento nas múltiplas e complexas missões de Defesa

Social. Primeiramente, devemos conceituar Segurança Pública, partindo do questionamento: O que é Polícia? Encontraremos diversos intelectos na área, onde preconizam a mesma essência:

atividade do Estado para manter a ordem pública em relação ao exercício dos direitos individuais e coletivos. Ainda, hoje, temos um elo entre segurança pública, ordem econômica e ordem social,

totalmente de responsabilidade do Estado, devendo realizar políticas públicas de qualidade aos cidadãos. Etimologicamente falando, policiar é o ato de civilizar. Na Roma Antiga já existia as “polícias”,

onde, em virtude de sua natureza, eram divididas em Civita (polícia da cidade) e Militare (polícia da guerra). O termo Polícia tem origem em 1791, no ordenamento jurídico da França, quando dividiu a polícia

em administrativa e judiciária. Como podemos perceber inicialmente, não é tão fácil quanto parece definir o que é polícia sem observarmos os aspectos de evolução de uma sociedade. Para o Brasil, por

exemplo, este conceito tem vários sentidos, onde, muitas vezes por desconhecimento, acaba-se confundindo o termo polícia-função (sentido original) com polícia-denominação (sentido usual).

Palavras-chave: coletar, guarda municipal, polícia, evolução, civilizar, estado, sociedade.

Page 93: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

viii

ABSTRACT

This work of research has two objectives: the first one, to compile and to collect useful and existing material on the heading Municipal Guard;

as, on Public Security in the municipal scope, in practical and objective way for which they can be guided, so that they come to have basement in the multiple and complex missions of Social Defense.

First, we must appraise Public Security, leaving of the questioning: What it is Policy? We will find diverse intellects in the field, where they praise the same essence: activity of the State to keep the public order

in relation to the individual and collective right of action. Still, today, we have a link between public security, economic order and social order, total of responsibility of the State, having to carry through public

politics of quality to the citizens. Etymology speaking, to police is the act to civilize. In Old Rome already it existed the “policies”, where, in virtue of its nature, they were divided in Civita (policy of the city) and

Militare (policy of the war). The term Policy has origin in 1791, in the legal system of France, when it divided the administrative and judiciary policy in. As we can perceive initially, it is not so easy how

much it seems to define what it is policy without observing the aspects of evolution of a society. For Brazil, for example, this concept has some directions, where, many times for unfamiliarity, are finished

confusing the term policy-function (original direction) with policy-denomination (usual direction).

Word-key: to collect, keep municipal theatre, policy, evolution, to civilize, state, society.

Page 94: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 07

2 A INSTITUIÇÃO GUARDA MUNICIPAL................................................. 10

2.1 RESUMO HISTÓRICO......................................................................... 11

2.2 CRIAÇÃO DA POLÍCIA NO BRASIL.................................................. 18

2.3 CRIAÇÃO DA GUARDA MUNICIPAL DE CURITIBA......................... 35

3 A GUARDA MUNICIPAL E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ... 38

3.1 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: PROTEÇÃO................................... 40

3.2 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: BENS.............................................. 40

3.3 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: SERVIÇOS...................................... 43

3.4 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: INSTALAÇÕES............................... 45

3.5 INTERPRETAÇÃO DA ORAÇÃO: CONFORME DISPUSER A LEI..... 45

4 DA AUTONOMIA MUNICIPAL............................................................ 47

5 DESENVOLVIMENTO DA GUARDA MUNICIPAL DE CURITIBA......... 48

6 CONCLUSÃO........................................................................................... 91

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 94

Page 95: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

7

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, torna-se necessário aprimorar os

conhecimentos de segurança pública e das organizações policiais,

pois foram os baluartes da ordem e da segurança interna das

Nações, lutando constantemente contra o crime, fazendo cumprir a

Lei, zelando pelos interesses individuais e coletivos e protegendo

sistematicamente o patrimônio.

Infelizmente, dado às necessidades momentâneas e

subjetivas dos governantes, muitas vezes, estas instituições passam

a viver no anonimato, quase que esquecendo as suas funções

primordiais ou sendo desvirtuadas da sua real atribuição.

A influência das políticas públicas dentro das instituições

de Segurança Pública mostra-se de maneira clara nas Guardas

Municipais do Brasil, onde os seus comandantes, na grande maioria

são provenientes do quadro de Oficiais da reserva remunerada das

Polícias Militares. Por conseguinte, trazendo conceitos e princípios da

caserna, acarretam conflitos com a instituição (que é de caráter

Page 96: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

8

eminentemente civil), afetando várias esferas de desenvolvimento

das Guardas Municipais, inclusive incorporando estatutos e normas,

não condizentes com a verdadeira atuação.

É sabido que, inconscientemente existem premissas e

tendências subjetivas dos comandantes, sendo esta a bagagem

intransferível que se traz de uma para outra instituição.

Dentro da esfera de atuação das Guardas Municipais,

existe um leque incomensurável de atribuições que estas

corporações podem desenvolver na sua municipalidade, desde que

os seus governantes estejam cientes e capacitados para que, de

acordo com o seu plano de governo, proponham políticas públicas

realmente viáveis, não criando fatos e mitos.

Por fim, no que tange à Segurança Pública e às Políticas

de Segurança implementadas pelos seus governantes, infelizmente,

percebesse claramente que, um dos maiores problemas é o fato da

polícia estar intimamente ligada a Política, de tal forma que, acaba

sufocando as atividades institucionais, criando modalidades utópicas

de segurança, as quais, na grande maioria, demonstram ser

Page 97: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

9

incoerentes com a segurança, aumentado com isso, o índice de

insegurança.

A importância do tema, portanto, pode ser caracterizada

pela necessidade de se avaliar os aspectos referentes quanto à

omissão do Poder Público Municipal no combate a criminalidade.

Na expectativa de contribuir com a redução da falta de

segurança que existe nos municípios, aproveitando os recursos

humanos e financeiros locais, espero estar proporcionando, na

realidade, uma argumentação significativa, quanto a otimização da

prestação de serviço das Guardas Municipais.

Page 98: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

10

2 A INSTITUIÇÃO GUARDA MUNICIPAL

Desde Aristóteles ficou patenteado que "o homem é um

ser gregário por natureza"; isso significa que é próprio do homem

viver em sociedade. Mas a sociedade, gerando interações, gera

também conflitos.

Para vencer esses conflitos foram criadas regras que, se

obedecidas, minimizam as pendências. Para gerenciar essas regras,

se fizeram necessários mecanismos que variam de acordo com o

tamanho da sociedade.

Numa sociedade tribal, o chefe do clã tem condições para

administrar as regras e fazê-las cumprir. Na medida em que a

sociedade cresce, porém, passa a ser imperiosa a ação de agentes

de coerção mais eficazes, pois a partir de certo momento, as ações

dos indivíduos não podem ser controladas apenas por um chefe. É

nesse momento que surge a organização que se chama Polícia.

Polícia é, assim, um organismo criado pelo grupo para

garantir a coesão e o bem comum da própria sociedade.

Page 99: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

11

É a Polícia uma instituição universal, não havendo

grupamento humano que a prescinda, dentro de uma forma ou de

outra.

O progresso do conhecimento e da humanidade criou

compartimentação para o sentido de Polícia. Temos hoje polícia

administrativa, polícia judiciária, alfandegária, federal, fiscal, etc. São,

porém ramos de um mesmo setor do Estado, cuja missão final é a

manutenção da ordem e da segurança dos cidadãos.

2.1 RESUMO HISTÓRICO

No Brasil as origens da Polícia remontam ao período

colonial. Após o descobrimento, Portugal não demonstrou interesse

imediato pela nova terra acrescentada a seus domínios, e só não a

abandonou completamente em razão das constantes invasões e

incursões de estrangeiros, notadamente dos franceses.

As primeiras expedições se destinavam muito mais a

patrulhar o litoral do que propriamente a colonizar. No entanto, foram

instaladas feitorias ao longo da costa, deixando-se colonos para

garantir a posse por Portugal. Esses colonos exerciam um papel

Page 100: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

12

múltiplo. Eram lavradores, membros de uma força de defesa e

policiais.

No Brasil, a primeira tropa organizada de que se tem

notícia foi armada em São Vicente em 1542 e sua missão era de

expulsar uma força espanhola que ameaçava a capitania.

Posteriormente passaram a existir três linhas de tropas na

colônia: A primeira que era paga, e tinha por finalidade a defesa

externa. A segunda, também paga que tinha a incumbência da

segurança interna, ou de polícia. E a terceira, constante de

voluntários, que serviam para suprir a falhas das duas anteriores em

efetivos. As três eram compostas por cidadãos que, quando não

necessários seus préstimos para a segurança interna ou externa,

exerciam suas atividades usuais: eram lavradores, comerciantes,

professores.

No Governo Geral de Martin Afonso de Souza, em 1531,

estabeleceram-se as primeiras diretrizes destinadas à ordem pública

e à realização da justiça em território brasileiro, com a Carta de D.

João III, Rei de Portugal, que delegava competência civil e penal para

Page 101: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

13

todas as questões.

Pouco depois, Duarte Coelho, em 1550, na Capitania de

Pernambuco, propôs-se a estabelecer uma Polícia rigorosa e uma

Justiça de escarmento, um sistema de repressão contra os facínoras

que invadiam as zonas povoadas. Os livros das Ordenações

Afonsinas, Manuelinas e, finalmente o Livro V das Ordenações

Filipinas, que enumeravam os crimes e as penas e dispunham sobre

a forma do processo de apuração, representaram importância

extraordinária para a vida jurídica do Brasil.

Durante todo o período colonial, embora houvesse essa

divisão em "linhas", não havia diferenças estruturais entre tropas de

defesa externa e de manutenção da ordem interna.

As constantes guerras com as colônias espanholas, que

se estenderam até mesmo muito depois das respectivas

independências, e a pacata vida da colônia antes e do vice -reinado

depois, convidavam ao uso indiscriminado dos militares ora em ações

internas (raras) ora em ações externas, estas mais freqüentes.

Até inícios do século XIX eram as tropas de segunda e de

Page 102: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

14

terceira linha que exerciam o papel de polícia na capitania de São

Paulo. Havia Unidades particularmente bem treinadas e bem

uniformizadas, chegando a despertar admiração dos reinóis que por

aqui passaram.

Conforme é de conhecimento de todos e pelos

testemunhos históricos que chegaram até os nossos dias, sabe-se

que no alvorecer do Século XVIII, impulsionados pela cobiça do ouro

e pedras preciosas encontrados nas Minas Gerais, afluíram para a

promissora Província expedições oriundas de outros lugarejos mais

desenvolvidos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco

e até mesmo Portugal.

No seio dessa heterogênea "massa" humana, a única lei

vigente e que prevalecia era a lei do mais forte, fundamentada na

força bruta e na violência. Contudo, somente a questão da fraude

fiscal preocupava os dirigentes d'além mar.

Nesse contexto, a lei soava como letra fria e morta para a

maioria da população que vivia espalhada em longínquos rincões. A

segurança das autoridades, das vilas e o transporte dos valores

Page 103: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

15

arrancados da terra exigiam também, mais do que o poder dos

simples "almotacés", dos bandos e das ordenanças ou o medo

imposto pelos castigos previstos nas "Ordenações Filipinas". Exigia a

presença de uma tropa que, superando a cobiça própria, fosse

estruturada na disciplina e hierarquia militares e pudesse agir no

campo e nas cidades, sem que se deixasse levar pelo brilho do ouro,

tornando-se ao mesmo tempo, obediente e tecnicamente apta para

cumprir suas missões específicas.

Assim, com a finalidade de impedir a sonegação de

impostos e a institucionalização da violência, bem como erradicar o

clima de agitação ora instalado na Capitania, o Governador Pedro

Miguel de Almeida - o Conde de Assumar - recorre ao Rei de

Portugal, que envia a Minas Gerais duas Companhias de Dragões,

constituídas somente de portugueses, que tão logo aqui chegaram

foram contaminados pelo sonho da riqueza fácil, trocando suas armas

pelas bateias e almocafre.

Diante do enfraquecimento das Companhias de Dragões e

de seu desempenho insatisfatório, o Governador de Minas Gerais -

Page 104: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

16

Dom Antônio de Noronha - extinguiu-a, criando, no dia 09 de junho de

1775, o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, em cujas fileiras

foram alistados somente mineiros, que receberiam seus vencimentos

dos cofres da Capitania.

Em 1º de dezembro de 1775, Joaquim José da Silva

Xavier, o "TIRADENTES", tornou-se Alferes no Regimento de

Cavalaria Regular da Capital de Minas Gerais. Em 1780 era o

Comandante do Quartel de Sete Lagoas, sendo sempre o escolhido

para as missões mais difíceis e perigosas.

Em janeiro de 1789 acertaram-se os primeiros planos para

a chamada "Inconfidência Mineira". O Alferes Joaquim José da Silva

Xavier foi seu líder e arrastou a principal culpa da Inconfidência.

A Influência Francesa

Na França da Idade Média eram os militares que se

encarregavam de toda a segurança, interna e externa, sem nenhuma

divisão de função. Apenas eram conhecidos como "marechais" os

militares encarregados pelo rei a patrulhar e defender a população

contra salteadores de estrada, comuns na época. A força comandada

Page 105: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

17

pelos "marechais" era chamada de "marechausée", que poderia ser

traduzida para "marechaleza" ou atividade de marechal. Até o

iluminismo do século XVIII foi esse o quadro da segurança interna

francesa.

Com o advento da "Declaração dos Direitos do Homem e

do Cidadão" em 1789, o artigo 12 desse documento previa a criação

de uma "força pública" para a garantia dos direitos formulados na

"Declaração".

A "Marechausée" foi então convertida em "Gendarmaria",

do francês "Gendarmerie", de "Gens d'Armes", literalmente homens

armados.

As tropas de Napoleão, logo após a subida ao poder do

famoso corso, se espalharam pela Europa, disseminando em todo o

continente as conquistas gaulesas, não só as científicas e

intelectuais, mas especialmente as sociais.

Portugal não ficou imune a essa lufada de inovações,

tendo criado em 1801 a "Guarda Real de Polícia", evidentemente

inspirada na "Gendarmerie".

Page 106: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

18

A vinda da Família Real para o Brasil trouxe a "Guarda

Real de Polícia", que aqui foi reorganizada, tornando-se a polícia da

Corte (Rio de janeiro).

2.2 CRIAÇÃO DA POLÍCIA NO BRASIL

As Ordenações Filipinas deram os primeiros passos para

a criação e desenvolvimento de Polícias Urbanas no Brasil, ao

disporem sobre os serviços gratuitos de polícia. Esses serviços eram

exercidos pelos moradores, sendo organizados por quadros ou

quarteirões e controlados primeiramente pelos alcaides e mais tarde,

pelos juízes da terra.

No Livro I, das Ordenações Filipinas, em seu título LXXIII,

tratava-se da figura dos Quadrilheiros que estavam presentes em

vilas, cidades e lugares para prender os malfeitores. Esses “policiais”

eram moradores dessas cidades, dentre os quais 20 eram eleitos por

Juízes e Vereadores das Câmaras Municipais, sendo ordenado,

neste ato, um como Oficial Inferior de Justiça, a fim de representar os

demais integrantes, servindo todos gratuitamente durante três anos

Page 107: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

19

como Quadrilheiros.

Essa “Polícia” foi caindo em desuso, de modo que os

Quadrilheiros foram substituídos progressivamente por Pedestres,

Guardas Municipais, Corpos de Milícias e Serviços de Ordenanças,

sendo que na Legislação Brasileira, a partir de 31 de março de 1742,

nunca mais se ouviu falar dos Quadrilheiros, possivelmente

substituídos pelos atuais Oficiais de Justiça.

A segurança pública na época era executada pelos

chamados "quadrilheiros", grupo formado pelo reino português para

patrulhar as cidades e vilas daquele país, e que foi estendido ao

Brasil colonial. Eles eram responsáveis pelo policiamento das 75 ruas

e alamedas da cidade. Com a chegada dessa “nova população", os

quadrilheiros não eram mais suficientes para fazer a proteção da

Corte, então com cerca de 60.000 pessoas, sendo mais da metade

escravos.

Uma vez fixada no Brasil a Corte Portuguesa com D. João

VI, foi criado o cargo de Intendente Geral de Polícia, através do

Alvará de 10 de maio de 1808.

Page 108: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

20

De forma mais específica ao que se refere às Guardas

Municipais, um Decreto de 13 de maio de 1809 criou a Divisão Militar

da Guarda Real no Rio de Janeiro. Este Decreto homologou a

existência das Guardas Municipais Permanentes no Brasil, ocasião

em que o Príncipe Regente percebeu a necessidade de uma

organização de caráter policial para o provimento da segurança e

tranqüilidade pública na cidade do Rio de Janeiro e demais

províncias.

Em 13 de maio de 1809, dia do aniversário do Príncipe

Regente, D. João criou a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da

Corte, formada por 218 guardas com armas e trajes idênticos aos da

Guarda Real Portuguesa. Era composto por um Estado-Maior, 3

regimentos de Infantaria, um de Artilharia e um esquadrão de

Cavalaria. Seu primeiro comandante foi José Maria Rebello de

Andrade Vasconcellos e Souza, ex -capitão da Guarda de Portugal.

Como seu auxiliar foi escolhido um brasileiro nato, Major de Milícias

Miguel Nunes Vidigal.

A Guarda passou a ser subordinada ao Governador das

Page 109: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

21

Armas da Corte, sendo este comandante da força militar e sujeito ao

Intendente Geral de Polícia, como autoridade Policial.

A Divisão Militar teve participação decisiva em momentos

importantes da história brasileira como, por exemplo, na

Independência do país. No início de 1822, com o retorno de D. João

VI a Portugal, começou as articulações para tornar o Brasil um país

independente. A Guarda Real de Polícia, ao lado da princesa D.

Leopoldina e o Ministro José Bonifácio de Andrade e Silva,

mantiveram a ordem pública na cidade de forma coesa e fiel ao então

príncipe D. Pedro, enquanto ele viajava as terras do atual estado de

São Paulo.

A Independência desorganizou a "Guarda Real de

Polícia", que era composta em sua maioria por portugueses, ficando

a segurança da cidade a cargo das chamadas "Milícias", que, embora

fossem continuadoras da "Guarda", não desempenhavam suas

funções a contento. Foi então que a Regência, a 9 de outubro de

1831 baixou lei que criava o "Corpo de Municipais Permanentes" na

Corte, e autorizava que fosse feito o mesmo nas províncias.

Page 110: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

22

Era a reorganização da antiga "Guarda Real de Polícia",

mas era também a certidão de nascimento das Polícias Mil itares.

Em 14 de junho de 1831, foi reorganizado em cada

Distrito de Paz um Corpo de Guardas Municipais, sendo os mesmos

divididos em esquadras.

Neste mesmo momento histórico, em 18 de agosto de

1831, em virtude do Novo Governo, D. Pedro I abdica do trono,

deixando em seu lugar o Príncipe Herdeiro, seu filho menor, D. Pedro

II. O Brasil passa a ser governado, então, pela Regência Trina.

É nesta ocasião, após a lei que t ratava da tutela do

Imperador e de suas Augustas irmãs, que é editada a lei que instituiu

a Guarda Nacional, sendo extintas no mesmo ato as Guardas

Municipais, Corpos de Milícias e Serviços de Ordenanças.

Em São Paulo, a 15 de dezembro de 1831, por lei da

Assembléia Provincial, proposta pelo Presidente da Província,

Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, foi criado o Corpo de Municipais

Permanentes, composto de cem praças a pé, e trinta praças a cavalo;

eram os "cento e trinta de trinta e um". Estava fundada a Polícia

Page 111: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

23

Militar do Estado de São Paulo.

Conseqüentemente, a fim de manter a ordem pública nos

municípios, em 10 de outubro do mesmo ano – data em que se

comemora o Dia Nacional das Guardas Municipais – foram

novamente reorganizados os Corpos de Guardas Municipais

Voluntários no Rio de Janeiro e nas demais Províncias, sendo este

um dos atos mais valorosos realizados pelo então, Regente Feijó, o

qual tornou pública tamanha satisfação, ao dirigir -se ao Senado em

1839, afirmando que:

“Lembrarei ao Senado que, entre os poucos serviços que

fiz em 1831 e 1832, ainda hoje dou muita importância à criação do

Corpo Municipal Permanente; fui tão feliz na organização que dei,

acertei tanto nas escolhas dos oficiais, que até hoje é esse corpo o

modelo da obediência e disciplina, e a quem se deve a paz e a

tranqüilidade de que goza esta corte”.

Ainda no ano de 1831, sendo um período conturbado, no

dia 25 de novembro, foi extinto o lugar de Comandante Geral das

Guardas Municipais Permanentes do Brasil.

Page 112: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

24

Em Curitiba, neste período, a Câmara Municipal era a

responsável pelo alistamento dos referidos Guardas Munic ipais que

atuavam no policiamento da cidade e freguesias, inclusive com

destacamentos na Lapa, tendo sido de grande valia na defesa do

Cerco da Lapa.

Em 05 de junho de 1832, as Guardas Municipais

passaram a ter em seu Corpo o posto de Major, ano este em qu e o

Major Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), no dia 18 de

outubro, foi nomeado Comandante do Corpo de Guardas Municipais

Permanentes da Corte, após ter atuado no subcomando deste corpo,

desde 07 de junho.

Duque de Caxias comandou bravamente a Guarda

Municipal durante oito anos, vindo a passar o comando da mesma, ao

ser nomeado Coronel, no final de dezembro de 1839, para seguir

novas funções públicas. Ao se despedir dos seus subordinados fez a

seguinte afirmação:

“Camaradas! Nomeado presidente e comandante das

Armas da Província do Maranhão, vos venho deixar, e não é sem

Page 113: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

25

saudades que o faço: o vosso comandante e companheiro por mais

de oito anos, eu fui testemunha de vossa ilibada conduta e bons

serviços prestados à pátria, não só mantendo o sossego público

desta grande capital, como voando voluntariamente a todos os

pontos do Império, onde o governo imperial tem precisado de nossos

serviços (...). Quartel de Barbonos, 20/12/39. Luís Alves de Lima e

Silva”.

18 de novembro de 1837 com a denominação inicial de

Corpo Policial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Em 1º de julho de 1842, fora criado o Regulamento Geral

n.º 191, das Guardas Municipais Permanentes do Brasil,

padronizando atuação, patentes e uniformes.

Com a Emancipação Política do Paraná, em 10 de agosto

de 1854, por meio da Lei n.º 07/1854, a Província passou a contar

com a nova Força Pública, vindo a somar no policiamento de Curitiba

com as Guardas Municipais.

Outro fato histórico que teve participação importante da

Divisão Militar da Guarda Real de Polícia de Corte foi o conflito

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Claudio Frederico de Carvalho

26

iniciado em 1865 contra o Paraguai. O Brasil formou com Uruguai e a

Argentina a chamada Tríplice Aliança. Na época não tínhamos um

contingente militar suficiente para combater os quase 80 mil soldados

paraguaios. O governo brasileiro se viu forçado, então, a criar os

chamados "Corpos de Voluntários da Pátria". Em 10 de julho,

partiram 510 oficiais e praças do Quartel dos Barbonos da Corte,

local onde hoje está o situado Quartel General da Polícia Militar. A

este grupo foi dado o nome de 31º Corpo de Voluntários da Pátria,

atual denominação do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de

Praças da corporação. A participação deste grupo foi vitoriosa em

todas as batalhas das quais tomou parte: Tuiuti, Esteiro Belaco,

Estabelecimento, Sucubii, Lomas Valentinas e Avaí.

Com as longas batalhas e revoltas, tanto internas como

externas, que surgiam no Brasil Imperial, como a Guerra do Paraguai,

onde durante seis longos anos de combate foram dizimados dois

terços da população paraguaia e milhares de brasileiros perderam a

vida, tendo sido o conflito mais sangrento da América do Sul

(morreram mais de 650.000 pessoas), defenderam bravamente as

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Guarda Municipal Agente da Cidadania

27

nossas fronteiras, na sua maioria Guardas Municipais Permanentes e

Voluntários, que juntos somavam-se aos Batalhões de Infantaria da

Guarda Nacional.

“Os voluntários da Pátria tomaram a mais brilhante parte

na campanha, já combatendo nos seus corpos, organizados ao

primeiro chamamento do país em perigo,...” (História Militar do Brasil

– Capítulo VI – p. 74).

“Com população de 87.491 habitantes, o Paraná

contribuíra até o fim do primeiro ano de guerra, com 1.239 soldados,

sendo 517 voluntários da pátria, 416 guardas nacionais, 221 soldados

de linha e 85 recrutas, o que correspondia a 1,42% da sua

população” (O Paraná na História Militar do Brasil – XXIII – p. 224).

Em 1873 passou a denominar-se Força Policial

No dia 15 de novembro de 1889, a Força Policial teve

destacada participação no apoio ao Marechal Floriano Peixoto,

considerado o consolidador dos anseios de proclamação da

República. Ao alvorecer daquela data, uma tropa ficou a postos na

Praça da Aclamação (hoje Praça da República/Campo de Santana),

Page 116: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

28

onde os republicanos estavam reunidos, para garantir a efetivação do

desejo popular.

A partir da Proclamação da República no Brasil, em 1889,

recebeu as seguintes denominações: Guarda Cívica (1889), Corpo

Policial (1889) e finalmente Brigada Militar (1892).

No município de Curitiba, no ano de 1895, após a

Proclamação da República, mostrava-se claramente que, após a

mudança da forma de governo, ainda as Guardas Municipais

permaneceram em pleno exercício, pois continuavam a ser

contemplados, bem como a ser direcionada a sua atuação nesta

municipalidade.

Como podemos ver nas Posturas Municipais de 23 de

novembro de 1895, em seus artigos 341, 346, 347, 350 e 355, onde

se atribuía aos Guardas Municipais a competência de verificar se os

comerciantes pagavam ou não os impostos devidos, e ainda,

determinava os guardas a fazer a exata correção trimestral, a fim de

verificar se eram observadas ou não as Posturas Municipais.

Competia-lhes, ainda, a aplicação de multas para os infratores,

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Guarda Municipal Agente da Cidadania

29

havendo inclusive a previsão de punição de multa, caso ocorresse à

omissão por parte dos guardas e não viessem a autuar os infratores.

E por fim, preconizava que “todo aquele que desobedecer ou injuriar

os guardas municipais, quando em exerc ício de suas funções, sofrerá

a multa de 30$000, além das penas em que incorrer”.

A fim de ampliar a segurança de Curitiba e periferias, em

17 de junho de 1911, pelo Decreto Estadual n.º 262, foi criada a

Guarda Civil do Paraná, órgão civil incumbido de auxiliar na

manutenção da ordem e segurança pública.

O Ato n.º 15, do município de Curitiba, assinado pelo

Prefeito Moreira Garcez, de 18 de fevereiro de 1927, nomeia para o

Cargo de Guarda de 2ª Classe o Sr. Brasílio Pery Moreira, sendo o

ato seguinte a promoção por merecimento do Guarda de 2ª Classe,

Sr. Manoel de Oliveira Cravo, para o Cargo de Guarda de 1ª Classe.

Convém ressaltar que o Prefeito Ivo Arzua Pereira,

quando em exercício, como forma de reconhecimento para com os

serviços prestados pelo Guarda Pery Moreira, deu o seu nome à

edificação onde se encontra atualmente a Sede da Procuradoria

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Claudio Frederico de Carvalho

30

Geral do Município de Curitiba.

Em agosto de 1932, a Guarda Civil, em decorrência da

Revolução Constitucionalista, veio a ser incorporada, servindo como

força auxiliar do Exército.

Neste momento histórico, após seus atos de bravura

frente à Revolução Constitucionalista, o Marechal Zenóbio da C osta,

oriundo do Exército, tendo sido um grande comandante e mobilizador

das forças policiais, assumiu, de maio de 1935 até abril de 1936, o

cargo de Inspetor Geral da Polícia Municipal do Rio de Janeiro.

Tornou-se posteriormente o criador do Pelotão de Polícia Militar da

FEB (Força Expedicionária Brasileira), e após o término da Segunda

Guerra Mundial, foi o responsável pela criação da Polícia do Exército

no Brasil.

Seu convívio junto a um corpo policial de caráter civil por

diversas vezes, em momentos distintos, tornou-o um exemplo de

policial, o qual não media esforços para atender a qualquer chamada

da Nação, inclusive mobilizando, sempre que necessário, as Guardas

Civis. Desse modo, surgiu o Código de Honra do PE, pautado nos

Page 119: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

31

ensinamentos do policiamento cidadão.

Em 1936, com o estabelecimento do que se chamou o

“Estado Novo”, à feição totalitária dos estados nazi-fascistas, não

havia mais o que se falar em autonomia dos Estados e Municípios, e,

portanto, em forças dissuasórias do poder central. Se a Guarda

Municipal e a Força Pública eram ainda úteis como instrumento de

contenção popular, elas iam perdendo a posição antes desfrutada

para as Forças Armadas, em especial para o Exército; para evitar

rebeliões civis e policiais contra o poder central, elas foram despindo-

se gradativamente de suas autonomias, por meio do poder público

federal, que aos poucos foi limitando cada vez mais suas atribuições,

chegando ao ponto de torná-las inúteis e onerosas.

Com o advento da Lei Estadual n.º 73, de 14 de dezembro

de 1936, foram transferidos os serviços públicos de Guarda Civil e

Inspetoria de Tráfego do Munic ípio de Curitiba, ambos

desempenhados pela Guarda Municipal de Curitiba, para o Estado do

Paraná, sendo neste mesmo ato transferido o seu efetivo operacional.

A partir de 1935, em decorrência algumas Constituições Estaduais, a

Page 120: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

32

atividade policial passou a ser competência exclusiva do Estado: A

Guarda Civil e a Guarda de Trânsito passaram a fazer o policiamento

ostensivo na Capital, enquanto a Brigada Militar assumiu o

policiamento no interior.

Em 1939, o Exército dos Estados Unidos criou a Military

Platoon Police “MP”, polícia esta inserida dentro das Divisões de

Infantaria, a fim de manter a ordem nos acampamentos, bem como

efetuar a guarda de presos de guerra, entre outros.

A Polícia do Exército não existia na organização militar

brasileira até o ingresso do Brasil na 2ª Guerra Mundial, quando

seguindo os moldes da organização americana, surgiu um Pelotão de

Polícia Militar (MP), “dado o desconhecimento quase abso luto do

Exército sobre questões policiais e de tráfico pensou-se em

aproveitar, de alguma corporação já existente, a experiência

necessária. Assim, do núcleo original formado por 19 homens do

Exército, formou-se um contingente de 44 voluntários, oriundos da

Guarda Civil de São Paulo”. (A Polícia do Exército Brasileiro – p. 26)

“A Guarda Civil do Estado de São Paulo, habituada aos

Page 121: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

33

problemas de tráfego intenso na capital paulista, selecionou os 44

voluntários para completar o efetivo de 66 homens, entre aqueles de

moral ilibada, de físico atlético e profissionalmente competente no uso

de armas de defesa pessoal e combate corpo a corpo, incluindo-se

10 homens com conhecimento das línguas alemão e italiano”.

(História da Polícia do Exército – PE – p. 27)

Com o término da 2ª Guerra Mundial e o retorno das

tropas brasileiras, extinguiu-se a Força Expedicionária Brasileira.

Contudo, sabedor da grande importância de um corpo policial dentro

da organização militar, o General Euclydes Zenóbio da Costa, tendo

implantado e comandado este Pelotão anteriormente, conseguiu por

meio do Estado-Maior do Exército, transformá-lo em 1ª Companhia

de Polícia do Exército.

Com a promulgação da Constituição da República de 18

de setembro de 1946, surgiram as “polícias militares, instituídas para

a segurança interna e a manutenção da ordem nos Estados”, sendo

consideradas como forças auxiliares e reservas do Exército.

Desse modo, com a publicação do Decreto-Lei n.º 544, de

Page 122: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

34

17 de dezembro de 1946, a Força Policial do Estado do Paraná

passou a denominar-se Polícia Militar do Estado do Paraná.

A partir de então, o Município de Curitiba, na tarefa de

preservação da ordem pública, passou a contar somente com os

Inspetores de Quarteirão, os quais, em 03 de outubro 1951, por meio

da Lei Municipal n.º 357/51, foram reconhecidos novamente como

integrantes dos serviços públicos municipais, sendo denominados

como Guarda Noturna.

Desencadeado pelo Golpe Militar, por meio dos Decretos–

Lei Federais 667, de 02 julho de 1969 e 1070, de 30 de dezembro de

1969, os municípios tornaram-se impossibilitados de exercer a

segurança pública. Contudo, mesmo com todas essas mudanças

políticas, alguns mantiveram as suas Guardas Municipais, umas

restritas à banda municipal, outras à vigilância interna dos próprios.

Entretanto em algumas cidades apenas mudaram o nome das suas

instituições para Guarda Civil Metropolitana, mantendo -as até os dias

de hoje.

Através do Decreto-Lei 667 e suas modificações, garantiu-

Page 123: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

35

se às Polícias Militares, a Missão Constitucional de Manutençã o da

Ordem Pública, dando-lhes exclusividade do planejamento e

execução do policiamento ostensivo, com substancial reformulação

do conceito de "autoridade policial", assistindo-se, também, a

extinção de "polícias" fardadas, tais como: Guarda Civil, Corpo de

Fiscais do DET, Guardas Rodoviários do DER e Guardas Noturnos.

A partir de 1968, a Brigada Militar passou a executar, com

exclusividade, as atribuições de policiamento ostensivo.

Em 1969, a Guarda Civil pertencendo ao Governo do

Estado do Paraná desde o ano de 1937, passou então a estar

diretamente subordinada à Polícia Militar do Estado, sendo esta

corporação efetivamente extinta em 17 de julho de 1970.

2.3. CRIAÇÃO DA GUARDA MUNICIPAL DE CURITIBA

Com a queda do Regime Militar e a segurança municipal

deficitária, começou a se cogitar a possibilidade de reorganizar as

Guardas Municipais nas grandes cidades e regiões metropolitanas.

Neste mesmo período, Curitiba enfrentava um aumento

Page 124: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

36

repentino de criminalidade, bem como depredações em seus

“próprios“ municipais, despertando a necessidade de se criar um

grupo diferenciado, onde proteção à população seria a sua

prioridade, pois “o povo em coro clama pela volta da Guarda Civil”.

Com este intuito, em 17 de junho de 1986, exatamente 16

anos após a sua extinção, o Prefeito Municipal Roberto Requião

sancionou, com aprovação da Câmara Municipal dos Vereadores de

Curitiba, conforme as prerrogativas inerentes ao seu cargo, o Projeto

de Lei n.º 56/84, de autoria do Vereador José Maria Correia, surgindo

assim a Lei n.º 6867, que criou o Serviço Municipal de Vigilância -

VIGISERV.

A autonomia municipal se consolidou através da Carta

Magna de 1988, que conferiu aos municípios a faculdade de “criar

novamente” as Guardas Municipais, seguindo o estatuído em seu

Artigo 144, § 8º.

Desse modo, aplicando o preceito legal da Constituição da

República Federativa do Brasil, a VIGISERV teve a sua denominação

alterada por meio da Lei n.º 7.356/89, passando a ser denominada

Page 125: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

37

Guarda Municipal de Curitiba, com o lema: “PRO LEGE SEMPER

VIGILANS” (Pela Lei, Sempre Vigilantes) – lema este, oriundo da

extinta Guarda Civil do Paraná.

Em 1988, os Constituintes da República, estabeleceram

um Sistema de Segurança Pública, constituído por órgãos policiais,

de acordo com o Art. 144 da Constituição da República, com

estruturas próprias e independentes, porém, embora com atribuições

distintas, interligados funcionalmente, corporificando o esforço do

Poder Público para garantir os direitos do cidadão e da coletividade,

prevenindo e combatendo a violência e a criminalidade.

Page 126: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

38

3 A GUARDA MUNICIPAL E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Guarda Municipal é um dos poucos órgãos, senão o

único, de prestação de serviço público municipal, que está inserida na

Constituição Federal, tamanha a sua importância frente à segurança

pública local.

Na Carta Magna, em seu artigo 144, § 8º, ao estabelecer

atividades, órgãos e atuação frente à Segurança Pública e à

incolumidade das pessoas e do patrimônio, preconiza a

responsabilidade de todos, e principalmente do “Estado” (Uniã o,

Estados Membros, Distrito Federal e Municípios), sendo um direito e

responsabilidade de todos.

“Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos

seguintes órgãos:

.....

§ 8º Os munic ípios poderão constituir guardas municipais

Page 127: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

39

destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme

dispuser a lei.”

Quando o constituinte incluiu os Municípios, no capítulo

destinado a Segurança Pública, a fez considerando-o um ente

federado, com a sua respectiva parcela de responsabilidade frente à

segurança pública, compreendendo e respeitando as suas possíveis

limitação econômicas, deste modo, facultou ao munic ípio a criação

das Guardas Municipais.

Com esta facultas agendi, os municípios que de acordo

com os seus recursos puderem constituir as ditas Guardas

Municipais, a fim de contribuir com a sua parcela de responsabilidade

na preservação da ordem pública e da incolumi dade das pessoas e

do patrimônio, o farão, amparados por este dispositivo constitucional.

Quanto à destinação desta instituição, o próprio texto

constitucional já trás explicitamente, quando menciona que as

guardas municipais têm a incumbência da proteção dos bens,

serviços e instalações municipais.

Page 128: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

40

3.1 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: PROTEÇÃO

Ao realizarmos uma interpretação ipsis litteris, podemos

constatar que o constituinte ao inserir o termo proteção, considerou

de maneira gramatical, traduzindo na tutela jurisdicional do Estado,

para com os itens mencionados no texto constitucional, a que se

refere o termo proteção.

Ressaltando que proteção, conforme o ordenamento

jurídico, deriva do “Latim protectio, de protegere (cobrir, amparar,

abrigar), entende-se toda espécie de assistência ou auxílio, prestado

às coisas ou às pessoas, a fim de que se resguardem contra males

que lhe possam advir”44

.

3.2 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: BENS

Saliente-se que a leitura de todo o texto constitucional,

deve ser interpretada utilizando-se das técnicas jurídicas existentes,

deste modo, quando o constituinte se refere ao termo bens, sendo

44

SILVA, De Plácido, Vocabulário Juríd ico, 4ª ed. 1975, Volume III, ed.

Forense SãoPaulo, p. 1249

Page 129: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

41

este um conceito originário do Código Civil, trata-se de maneira

ampla, abrangendo a vida e o corpo das pessoas (bens corpóreos e

incorpóreos), pois o maior bem do munic ípio são os seus munícipes.

Vejamos:

No Código Civil Brasileiro em seu art. 98, temos a

descrição dos bens públicos do domínio nacional, sendo estes os que

pertencem às pessoas jurídicas de direito público interno, excluindo

com isso desta interpretação os bens particulares, seja qual for à

pessoa a que pertença.

Ainda, conforme a Lei n.º 10.406/02, Código Civil, em seu

art.99, teremos a descrição dos bens públicos, sendo eles: os de uso

comum do povo; os de uso especial; e os dominicais.

Em especifico no que diz respeito aos bens dos

municípios, encontramos na categoria de bens de uso comum do

povo, rios, mares, estradas, ruas e praças. No que concerne a bens

de uso especial, edifícios ou terrenos destinados a serviço ou

estabelecimento da administração municipal, inclusive os de suas

autarquias. Quanto aos bens dominicais, são os que constituem o

Page 130: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

42

patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de

direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

Conforme o professor Leib Soibelman, nos ensina, “Bem é

um conceito muito mais amplo que o de coisa. Bem é todo valor

representativo para a vida humana, de ordem material ou imaterial.

Nem tudo que no mundo material é coisa adquire a mesma categoria

no mundo jurídico, como acontece, por exemplo, com o corpo do

homem vivo, considerado elemento essencial da personalidade e

sujeito de direito, já que não é possível separar na pessoa viva o

corpo da personalidade. Os direitos também não são coisas embora

freqüentemente sejam mencionados como ”coisas incorpóreas”.

Juridicamente não existem coisas imateriais. Se desta natureza, o

mais admitido hoje é falar em bens incorpóreos. A palavra coisa

refere-se sempre aos bens materiais, corpóreos tangíveis, sensíveis.

Coisa é o que não sendo pessoa pode ser tocado, ou pelo menos

sentido como as energias. Todo o valor que representa um bem para

uma sociedade, e cuja distribuição, segundo os padrões nela

vigentes pode provocar injusta competição, torna-se objeto do

Page 131: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

43

direito”45

.

Corroborando com este entendimento temos as lições do

saudoso professor Hely Lopes Meirelles, “O conceito de bem é

amplo, abrangendo tudo aquilo que tenha valor econômico ou moral e

seja suscetível de proteção jurídica. No âmbito local consideram-se

bens ou próprios municipais todas as coisa corpóreas ou incorpóreas:

imóveis, móveis e semoventes: créditos, débitos, direitos e ações que

pertençam, a qualquer t ítulo, ao Município.”46

3.3 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: SERVIÇOS

Tratando da definição da terminologia serviços, cabe

lembrar que na esfera de atuação do poder público municipal, tal a

sua abrangência na prestação de serviços, desde a área de

Educação, Saúde, Trânsito, Meio Ambiente, ainda, tem um número

quase que incalculável de atribuições e atividades desempenhadas

45

SOIBELMAN, Leib, Enciclopédia do Advogado, 5ª. ed. Rio de Janeiro:

Thex Editora, 1994 46

MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Municipal Brasileiro, 9ª ed. São Paulo :

Malheiros, 1990, 221/222

Page 132: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

44

pela municipalidade, onde, para fornecer segurança à prestação de

todos esses serviços, efetivamente o Guarda Municipal estará

realizando o policiamento ostensivo/preventivo.

Como nos ensina o mestre Celso Antônio Bandeira de

Mello, “A prestação de serviços pelo Poder Público é a atribuição

primordial do governo, e até certo ponto, a sua própria razão de ser.

O Estado na sua acepção ampla – União, Estado-membro e

Município – não se justifica senão como entidade prestadora de

serviços públicos aos indivíduos que compõem”47

.

Mantém o mesmo entendimento nosso saudoso Jurista

Lopes Meirelles, “A função governamental, e particularmente a

administrativa, visa a assegurar a coexistência dos governados em

sociedade, mantendo a paz externa e a concórdia interna, garantindo

e fomentando a iniciativa particular, regulando a ordem econômica,

promovendo a educação e o ensino, preservando a saúde pública,

propiciando, enfim, o bem-estar social, através de obras e serviços

necessários à coletividade (serviços públicos propriamente ditos) ou

47

MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Prestação de Serviços Públicos e

Admin istração Indireta, 2ª ed., São Paulo, Ed. RT, 1979

Page 133: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

45

convenientes aos indivíduos (serviços de utilidade pública).48

3.4 INTERPRETAÇÃO DO TERMO: INSTALAÇÕES

Sobre instalações, considerando a sua interpretação

gramatical derivada do verbo instalar, uma vez que não é uma

terminologia jurídica, cabe lembrar que este item sim pode ser

considerado sobre o aspecto meramente patrimonial, pois se refere

ao ato ou efeito de instalar-se, desse modo, às edificações

pertencentes ou sob a guarda do poder público municipal, podem ser

consideradas instalações púbicas, trazendo com isso, data vênia, a

pseudo interpretação de “Guarda Patrimonial”.

3.5 INTERPRETAÇÃO DA ORAÇÃO: CONFORME DISPUSER A LEI

Por fim, quando o dispositivo constitucional menciona,

conforme dispuser a lei, pelo fato de ser a Constituição da

República Federativa do Brasil que trata deste item, ela menciona

48

MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Municipal Brasileiro, 9ª ed. São Paulo :

Malheiros, 1990, 253

Page 134: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

46

implicitamente “Lei Federal”, sendo ainda, uma Lei Complementar,

uma vez que tem por “função promover a complementação das

previsões constitucionais, que na maior parte das vezes não são

auto-executáveis e devem ser aprovadas por maioria absoluta dos

votos dos membros das duas Casas do Congresso Nacional,”49

como

nos ensina Durval Ayrton Cavallari.

Neste mesmo entendimento temos o ensinamento do

grande professor Celso Ribeiro Bastos, “Ela possui essa

denominação em virtude da sua natureza de norma integrativa da

vontade constitucional. Eis porque podemos afirmar que nesse caso a

lei é complementar segundo um critério ontológico. È examinando o

próprio ser da norma integradora e o papel por ela representado na

composição dos comandos constitucionais, que vai ser possível

cognomina-la de complementar”50

.

49

CA VA LLA RI, Durval Ayrton, Manual Prático de Direito Constitucional,

São Paulo Ed. Iglu, 1998, p. 92 50

BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Constitucional, São Pau lo, Ed

Saraiva, 4ª ed. Ed Saraiva, 1981, p.162

Page 135: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

47

4 DA AUTONOMIA MUNICIPAL

Sendo a Guarda Municipal um órgão público municipal,

não há que se escusar em tecer breves comentários sobre a

autonomia municipal, uma vez que o município como ente federado

tem a faculdade de instituir este organismo conforme mandamento

constitucional.

A Constituição Federal, além de taxativamente inscrever a

autonomia como prerrogativa intangível do Município, em seu Art. 34,

inciso VII, alínea “c”, ainda, descreve as competências exclusivas do

município em seu Art. 30, bem como, enumera a competências

concorrentes com a União, os Estados-membros e o Distrito Federal.

Convém ressaltar que, as competências exclusivas do m unicípio, não

podem ser interpretadas como únicas e limitadas, mas sim,

estanques no que concerne a elas, evitando com isso que outros

entes federados afrontem este limite constitucional.

Page 136: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

48

5 DESENVOLVIMENTO DA GUARDA MUNICIPAL DE CURITIBA

Em Curitiba, aos primeiros raios solares do dia 17 de julho

de 1986, antecedendo a Carta Magna vindoura, a Câmara Municipal

de Curitiba, por meio do Vereador José Maria Correia, atendendo ao

pedido do Chefe do Executivo Municipal, o Prefeito Roberto Requião,

viu em votação e aprovação o projeto que viria a ser o embrião da

Guarda Municipal de Curitiba.

Modestamente, a fim de minimizar os índices de

insegurança nesta municipalidade, vindo com isso de encontro às

necessidades e anseios dos cidadãos, surgiu o VIGISERV (Serviço

Municipal de Vigilância).

Conforme a Lei n.º 6867, de 17 de julho de 1986,

seguindo o ora estabelecido, foi publicado o Edital de Regulamento

do Concurso Público para VIGISERV, no dia 21 de janeiro de 1988,

normatizando os critérios para admissão com provas físicas,

psicológicas, culturais e antecedentes criminais. Essa avaliação

limitava consideravelmente a margem de escolha dos candidatos.

Page 137: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

49

No início do ano de 1988, foi realizado o 1º Concurso da

Guarda Municipal de Curitiba, tendo como requisitos para o

provimento do cargo os seguintes itens: ser brasileiro nato ou

naturalizado; apresentar título de eleitor; certi ficado de reservista de

1ª categoria; possuir no ato da inscrição o 1º Grau completo;

apresentar cédula de identidade; apresentar atestado de

antecedentes criminais; ter no mínimo 19 anos completos e no

máximo 35 anos completos; ter no mínimo 1,70m para homens e

1,60m para mulheres.

O certame do concurso realizou-se da seguinte forma:

1ª fase: prova objetiva de conhecimentos, exame de

saúde, aptidão física (equilíbrio, salto em extensão, subida na corda,

corrida de velocidade, corrida aeróbica) e teste psicopatológico;

2ª fase: curso de formação técnico-profissional.

Em 04 de agosto de 1988, quando os candidatos

encontravam-se ainda em formação, iniciou-se a atividade da

VIGISERV – “Guarda Municipal de Curitiba”, com objetivo de prestar

atendimento às praças, parques, bosques, creches, escolas, centros

Page 138: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

50

de saúde, ciclovias, terminais de transportes e demais equipamentos

do município, representando nova proposta em termos de proteção

do patrimônio público e defesa aos cidadãos.

Nesta data, ocorreu a solenidade realizada no Edifício

Presidente Castelo Branco, localizado no Centro Cívico de Curitiba. A

turma de formandos passou por um concurso público, regido pela

CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), onde realizaram

treinamento prático de patrulhamento, curso de defesa pessoal,

primeiros-socorros, instruções teóricas de princípios constitucionais e

criminais, aulas de relações públicas e comunicação, sempre

baseados na disciplina.

O corpo era composto por 130 Guardas Municipais, sendo

100 homens e 30 mulheres, trajando um uniforme social na cor azul

petróleo, camisa azul clara, quepe de oito pontas, apito e cinto de

guarnição com algemas e bastão PR-24.

Os Guardas Municipais, de maneira educada e gentil,

apresentavam-se à população curitibana nos centros históricos,

praças, parques, bosques e terminais de transporte coletivo, atuando

Page 139: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

51

em conjunto com os demais organismos de Segurança Pública, para

garantir a segurança, prevenir acidentes, como também orientar e

aconselhar os munícipes.

Seus tratos finos e polidez tornaram a Guarda Municipal

de Curitiba um exemplo de policiamento cidadão, onde o combate era

direcionado ao crime e não ao criminoso.

O Chefe do Executivo do Município, visando a

implantação de um serviço de segurança que viesse de encontro às

necessidades municipais, bem como que estivesse em sintonia com a

vindoura Carta Constitucional. Com 35 dias de antecedência à

publicação da nova Constituição Federal, por meio do Decreto

387/88, o então Prefeito Roberto Requião alterou a denominação da

VIGISERV para Guarda Municipal de Curitiba e isentou os seus

integrantes do pagamento da tarifa do transporte coletivo no

município, desde que devidamente uniformizados.

O Regulamento Geral do Departamento do Serviço

Municipal de Vigilância foi aprovado em 30 de novembro de 1988, por

meio do Decreto n.º 535/88 (1º Regulamento da Guarda Municipal), o

Page 140: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

52

qual, mesmo sofrendo algumas alterações, continua parcialmente em

vigor.

A partir desta data, conforme art.39 do mesmo Decreto

Municipal, os Guardas Municipais em Curitiba passaram a trabalhar

armados com revólveres calibre 38, a fim de prestar a defesa da

população curitibana, bem como para a sua segurança pessoal.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná,

por meio da Escola de Polícia Civil do Paraná, e a Prefeitura

Municipal de Curitiba, em 28 de dezembro de 1988, realizaram no

Auditório Presidente Castelo Branco a Solenidade da 2ª Turma do

Curso de Formação Técnico-Profissional de Guarda Municipal, onde

57 novos guardas municipais, após o curso de formação, estavam

sendo entregues à comunidade curitibana para atuar no policiamento

das ruas, parques, bosques, terminais rodoviários e praças.

O Prefeito Roberto Requião, além de implantar o Serviço

Municipal de Vigilância (VIGISERV), iniciou ainda o processo de

transformação do mesmo, nos moldes da Constituição da República.

No período de seis meses, realizou ainda dois Concursos Públicos

Page 141: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

53

com objetivo de ver perpetuados o seu trabalho, o qual vinha ao

encontro dos clamores públicos, tendo uma visão real sobre a

responsabilidade do município em relação à Segurança Pública.

Na gestão do Prefeito Jaime Lerner, em 11 de agosto de

1989, por meio do Decreto 400/89, os componentes da Guarda

Municipal passaram a receber o Risco de Vida, inerente à profissão,

onde foi incorporado um acréscimo de 30% no vencimento dos

servidores.

A Divisão de Vigilância foi criada através do Decreto n.º

428/89, em 29 de agosto de 1989, inserindo os servidores da

Prefeitura Municipal de Curitiba provido no cargo de Guardião e Vigia,

onde os mesmo passaram à subordinação direta da Guarda

Municipal de Curitiba.

Efetivamente, muito embora já existissem alguns decretos

tratando da VIGISERV - Serviço Municipal de Vigilância - como

Guarda Municipal, em 05 de outubro de 1989, por meio da Lei n.º

7356/89, a VIGISERV passou a denominar-se efetivamente Guarda

Municipal de Curitiba.

Page 142: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

54

Conforme a Lei n.º 7360, de 27 de outubro de 1989, as

atribuições da Guarda Municipal foram acrescidas, passando a ter

prioridade o atendimento das escolas da Rede Municipal de Ensino,

sendo regulamentado, posteriormente, o Pelotão Escolar.

Após o Curso de Formação Técnico-Profissional de

Guarda Municipal, em 02 de janeiro de 1990, com a conclusão da 3ª

Turma, formaram-se 104 guardas municipais que foram direcionados

para atender em caráter prioritário as escolas públicas municipais e

as estações-tubo do transporte coletivo que estavam sendo

inauguradas.

Seguindo as diretrizes estabelecidas pela Constituição

Federal, em 09 de janeiro de 1991, por meio da Lei n.º 7600/91, os

servidores regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)

optaram pelo novo Regime Jurídico Único. Desta forma, todos os

integrantes da Guarda Municipal de Curitiba passaram a ser

estatutários.

Em 25 de março de 1991, formou-se a 4ª Turma de

Guardas Municipais de Curitiba, conforme Decreto n.º 507/91, o qual

Page 143: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

55

designou 24 servidores para a função de Guarda Municipal, ficando

lotados na Secretaria de Governo Municipal.

Por meio do Decreto n.º 400, em 20 de julho de 1991, foi

criado o Grupamento de Proteção Ambiental – Guarda Verde –

uniformizados no estilo do Policiamento Canadense, tendo por

objetivo o exerc ício das atividades de policiamento e proteção ao

Meio Ambiente em bosques, parques e áreas florestais. O

Grupamento de Proteção Ambiental, formado por guardas municipais,

recebeu treinamento especial, freqüentando cursos na Secretaria

Municipal do Meio Ambiente e na Polícia Florestal (Polícia Militar do

Paraná - PMPR), tendo inclusive aulas de Ikebana, objetivando

conscientizar os treinandos da importância de um convívio de afeto e

respeito com o Meio Ambiente.

Atualmente, mesmo estando sem o uniforme verde, os

guardas municipais, divididos pelas nove Regionais de Curitiba, estão

atendendo ininterruptamente os 30 parques e bosques de Curitiba, na

sua grande maioria com o patrulhamento e o policiamento motorizado

(motociclistas), garantindo a segurança dos usuários e turistas.

Page 144: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

56

A Guarda Municipal de Curitiba, seguindo o estatuído na

Lei n.º 7360, agora regulamentada pelo Decreto n.º 455, de 13 de

agosto de 1990, implantou efetivamente o Pelotão Escolar, sendo

que o mesmo foi dividido entre as suas Distritais (atuais Núcleos

Regionais), tendo como finalidade a segurança, trânsito, orientação e

acompanhamento dos alunos da Rede Municipal de Ensino.

As escolas municipais passaram a contar no mínimo com

um guarda fixo no período de aulas, bem como com uma viatura por

Regional específica para ronda nos referidos equipamentos. Durante

os horários ociosos, as escolas passaram a contar com o sistema

interno de monitoramento de alarmes, somado à ronda motorizada da

viatura do Pelotão Escolar.

Desta forma, a Guarda Municipal de Curitiba atende

atualmente 376 equipamentos municipais da área da Educação,

sendo eles: 167 Escolas Municipais e Centros de Educação Integral,

24 Bibliotecas (Farol do Saber), 145 Centros Municipais de Educação

Infantil (Creche), 8 Centros de Atendimentos Especializados, 30

Programas de Integração da Infância e Adolescência (Casa do Piá) e

Page 145: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

57

2 Escolas de Educação Especial.

A 5ª Turma de Guardas Municipais formou-se em 23 de

outubro de 1991, sendo nomeados nesta data 56 novos integrantes

que vieram a somar no trabalho desempenhado pela Guarda

Municipal de Curitiba, atuando prioritariamente na região do anel

central, vindo inclusive a inaugurar a Rua 24 Horas.

Com o advento do Decreto n.º 660, de 30 de outubro de

1991, a carreira da Segurança Municipal foi alterado e revogado o

Art. 13 do Decreto 535/88, no que diz respeito as suas Graduações

Internas. Desta forma, a Guarda Municipal passou a ter em seus

quadros as seguintes patentes: Inspetor de 1ª Classe, Inspetor de 2ª

Classe, Inspetor de 3ª Classe, Sub-Inspetor, Supervisor, Guarda

Municipal de 1ª Classe, Guarda Municipal de 2ª Classe e Guarda

Municipal de 3ª Classe.

Com isso, foram preenchidos todos os cargos em

vacância por Guardas Municipais de 3ª Classe, até a abertura de um

Procedimento Seletivo Específico para Promoção, que somente em

1994 veio a concretizar-se, pois até esta data muitos servidores

Page 146: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

58

desempenharam a função de fato, sem efetivamente pertencerem às

correspondentes graduações.

Em 19 de março de 1992, a 6ª Turma de Guardas

Municipais de Curitiba veio a se formar conforme a Portaria n.º

671/92, a qual nomeou 232 novos integrantes em virtude de

habilitação em Concurso Público na Carreira de Guarda Municipal, na

função de Guarda Municipal de 3ª Classe, ficando lotados na

Secretaria Municipal de Administração.

O Deputado Luciano Pizzato, em 08 de abril do ano de

1992, entra com projeto na Assembléia Legislativa para alterar a

Constituição Estadual, dando poder à Guarda Municipal de atuar no

Combate efetivo à criminalidade.

Ainda neste ano, em parceria com a Escola de Polícia

Civil, os guardas municipais passaram por um treinamento, onde

aprenderam, dentre outras práticas de alto risco, a desmontar

bombas.

O Decreto n.º 428/92, de 07 de julho de 1992, considerou

atividade perigosa o exerc ício da função da Carreira de Segurança

Page 147: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

59

Municipal para os integrantes da Guarda Municipal, Guardião e

Vigilante, sendo mantida a gratificação por Risco de Vida.

O Regimento Interno da Secretaria Municipal de

Administração foi aprovado no dia 06 de agosto de 1992, por meio do

Decreto n.º 538, e por fazer parte desta pasta o Departamento da

Guarda Municipal, o mesmo veio a ser reestruturado, sendo alterado

parcialmente o Decreto n.º 535/88 no que tange à estrutura

organizacional da Guarda Municipal.

O Departamento da Guarda Municipal de Curitiba, em 11

de janeiro de 1993, conforme o Decreto n.º 239 foi transferido da

Secretaria Municipal da Administração para o Gabinete do Prefeito.

Pela primeira vez, foi nomeado como Secretário Executivo

da Comissão Municipal da Defesa Civil – COMDEC, o Comandante

da Guarda Municipal, por meio do Decreto n.º 255, de 22 de janeiro

de 1993, iniciando uma nova realidade para o Departamento da

Guarda Municipal, pois além da atribuição inerente ao cargo de

prestar colaboração a Defesa Civil, agora estava iniciando um novo

marco na história, onde um Comandante da GMC passou

Page 148: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

60

efetivamente a ser um membro da COMDEC, estando mais próximo

da população curitibana, que além da prestação de serviço

continuada, ainda recebia atendimento nas situações de emergência

e estado de calamidade pública.

Em março de 1993, ao comemorar os 300 anos da cidade

de Curitiba, o Prefeito Rafael Greca, resgatou do acervo histórico o

uniforme utilizado pela Guarda Municipal de Curitiba, nos idos de

1780, tornando-o uniforme histórico a ser utilizado em datas

comemorativas.

A partir de 01 de maio de 1993, conforme a Lei n.º 8164

foi extintas as Carreiras de Guardião e Vigilante na Prefeitura

Municipal de Curitiba, com um total de 1.092 e 40 cargos

respectivamente. Na mesma Lei, foi c riado na Carreira da Segurança

Municipal o cargo de Agente de Segurança, com um total de 1.132

vagas remanescentes do cargo anterior, cujo provimento inicial foi os

integrantes da Carreira de Guardião e Vigilante.

O Prefeito Rafael Greca, no uso de suas atribuições

legais, por meio do Decreto n.º 570, datado de 01 de junho de 1993,

Page 149: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

61

instala a Secretaria da Segurança Municipal – SSM – de natureza

extraordinária, com o propósito de estabelecer diretrizes, estudos e

projetos, objetivando a estruturação do setor responsável pela

proteção dos bens, serviços e instalações municipais.

Essa Secretaria passou a contar com estrutura técnica e

operacional do Departamento da Guarda Municipal, bem como com o

Gabinete do Prefeito e o Instituto Municipal da Administração Pública.

Foi um marco precursor para o futuro a Guarda Municipal estar

vinculada efetivamente a uma secretaria destinada a sua área

específica de atuação, pois sendo uma Secretaria Extraordinária,

tinha previsão legal para sua extinção em 31 de maio de 1994.

Neste mesmo mês, implanta-se o plano de vigilância na

Rua das Flores e Largo da Ordem, onde foi instalado 01 módulo no

Pelourinho (Praça Tiradentes), 06 guaritas ao longo do calçadão da

Rua XV e 03 guaritas no Largo da Ordem, com duplas de guardas

circulando 24 horas por dia, no intuito de transformar a Rua das

Flores e o Setor Histórico em um espaço seguro a moradores,

comerciante e visitante.

Page 150: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

62

Considerando o parecer da Comissão de Racionalização

de Despesas de Custeio designada pelo Decreto n.º 582/93, foi

concluído pela necessidade de reformulação dos critérios para a

configuração do Risco de Vida ou Saúde, sendo por fim extinto o

Risco de Vida aos servidores da Guarda Municipal, conforme o

Decreto n.º 658, de 01 de julho de 1993. Em 06 de julho de 1993, por

meio do Decreto n.º 669, foi concedida a gratificação pelo

Desempenho de Funções de Segurança, vindo a substituir o Risco de

Vida.

Na festa de “Comemoração de Cinco Anos da

Corporação”, o Prefeito Rafael Greca anunciou, no mês de agosto de

1993, que a Guarda Municipal deveria ganhar um estatuto próprio de

plano de carreira. Esta referência foi feita em Boletim Oficial, onde

foram analisados os objetivos da Guarda Municipal e os desafios que

vinha enfrentando.

Nessa comemoração, houve homenagem por ato de

bravura e serviços humanitários em favor da população. Quatro

guardas municipais foram homenageados durante esse evento,

Page 151: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

63

sendo dois deles por auxiliar um parto de emergência em uma viatura

da Corporação; outro, em decorrência de estar trabalhando no

armazém da família, onde ocorreu um assalto e posterior tiroteio,

vindo a ficar paraplégico; e por fim, o último, quando em exercício da

função, evitando a já instalada invasão na Cidade Industrial, em

virtude da represália, foi atingido por um tiro desferido por um dos

invasores.

No mês de outubro de 1993, foi aprovado projeto que

dispunha sobre instalação de módulos da Guarda Municipal nos

bairros da Cidade, por iniciativa do Vereador Mauro Moraes, que

obteve aprovação unânime. A medida tinha objetivo de reforçar o

aparato de segurança pública, utilizando módulos que deveriam ser

instalados em locais estratégicos dos bairros. Cada módulo deveria

ter funcionamento ininterrupto, equipado com viatura e quatro

guardas em cada turno. Os primeiros bairros a serem beneficiados

eram aqueles de maior densidade populacional e incidências de

crimes.

Cumprindo o proposto no mês de agosto de 1993, o

Page 152: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

64

Prefeito Rafael Greca, no dia 10 de dezembro, por meio da Lei n.º

8340, aprovou e alterou a Carreira de Segurança Municipal,

implantando os institutos de progressão e promoção, sendo nesse

mesmo ato reformulados os cargos da Guarda Municipal. Dando

continuidade a esta reestruturação, no dia 09 de fevereiro do ano

seguinte, foi aprovado o Regulamento do Avanço Funcional por

Progressão e Promoção, com o Decreto n.º 62.

Como forma de reconhecimento pelos valorosos serviços

prestados por integrantes das instituições de segurança pública do

Paraná e do Município de Curitiba, em 03 de março de 1994, por

meio da Lei n.º 8369, instituiu o Título Honorífico do Munic ípio de

Curitiba, denominado Mérito Policial, devendo o mesmo ser

concedido pela Câmara Municipal de Curitiba aos integrantes das

unidades policiais civis e militares, incluindo-se os do Corpo de

Bombeiros e da Guarda Municipal que tenham sido reconhecidos em

suas respectivas corporações por atos de bravura no cumprimento do

dever.

Dando continuidade à reestruturação dos cargos da

Page 153: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

65

Guarda Municipal, em 06 de abril de 1994, por meio do Decreto n.º

189, foram aprovadas especificações, atribuições, tarefas típicas,

requisitos e demais características de Cargos e Classes da Carreira

de Segurança Municipal, sendo revogado o decreto n.º 660/91.

Aos dezoito dias do mês de abril de 1994, por meio do

Decreto n.º 214, foi designada a Comissão Executiva de

Procedimento Seletivo Específico de Promoção para Classe de

Guarda Municipal na Carreira de Segurança Municipal.

A Secretaria de Segurança Municipal, em 30 de maio de

1994, por meio do Decreto n.º 384 teve seu prazo de exercício

prorrogado, passando a ter a previsão pa ra extinção em 31 de

dezembro de 1995.

Após concluírem com êxito o 1º Curso de Formação de

Supervisor da Guarda Municipal, em 31 de maio de 1994, através de

Procedimento Seletivo Específico, foi concedido o Avanço Funcional

por Promoção a funcionários da classe de Guarda Municipal para a

de Supervisor, num total de 25 graduados, conforme o Decreto n.º

395.

Page 154: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

66

Em 13 de junho de 1994, por meio da Lei n.º 8470, foi

instituída a Gratificação de Segurança aos integrantes da Carreira de

Segurança Municipal, sendo revogado o Decreto n.º 669/93.

A 7ª Turma de Guardas Municipais de Curitiba formou-se

em 07 de julho de 1994 e foram nomeados 57 novos integrantes em

Concurso Público, na Carreira de Guarda Municipal, na função de

Guarda Municipal de 3ª Classe, ficando lotados na Secretaria

Municipal de Administração.

Baseado nos moldes dos Faróis de Alexandria surgiu em

Curitiba, no dia 19 de novembro de 1994, o primeiro Farol do Saber,

com o nome de Machado de Assis, em homenagem ao patrono da

Academia Brasileira de Letras, um dos maiores escritores da língua

portuguesa.

Este projeto inovador do Prefeito Rafael Greca, trouxe

consigo a união da Cultura e Segurança, junto à comunidade. Com

uma construção modular em estrutura metálica, tem 17 metros do

térreo ao alto da torre-guarita e 98m2 de área construída. De longe,

avista-se a construção, pintada em vermelho, amarelo e azul.

Page 155: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

67

Toda a edificação é protegida por isolamento térmico à

base de lã de vidro. Sua divisão interna é simples: o andar térreo -

com os livros, um mezanino e uma escada em caracol, que conduz

ao topo da torre, onde fica a guarita, coberta por abóbada metálica e,

em cima, um galo. À noite, o Farol do Saber contribui para a

segurança do bairro, lançando sinais luminosos.

Os Faróis do Saber foram construídos em locais centrais

dos bairros, onde, além de ofertar a cultura at ravés dos livros e

computadores com acesso a Internet, ainda forneciam a segurança

de um Guarda Municipal aos moradores do seu redor e derredor.

Em 07 de fevereiro de 1995, foi ratificado o Decreto n.º

181, o qual tratava sobre as especificações, atribuições, tarefas

típicas, requisitos e demais características dos Cargos da

Administração Direta da Municipalidade de Curitiba aos integrantes

da Carreira de Segurança Municipal, e foi mantido o que estava

disposto no Decreto n.º 189/94.

No ano de 1995, no Dia Nacional das Guardas Municipais

- 10 de outubro, Curitiba comemorou também a formatura da 8ª

Page 156: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

68

Turma de Guardas Municipais, com 78 novos integrantes. A

cerimônia foi realizada no Cine Ritz, contando com a presença de

representantes das Forças Armadas, das Polícias Civil e Militar do

Estado do Paraná.

Os novos guardas reforçaram a proteção nos parques,

praças, ciclovias, terminais de transportes coletivos e outros

patrimônios públicos municipais. Com esta formatura, a Guarda

Municipal elevou o número de seu efetivo para 1.600 integrantes.

Novamente, em 22 de dezembro de 1995, conforme o

Decreto n.º 1164, foi prorrogado o prazo de vigência da Secretaria de

Segurança Municipal para 31 de dezembro de 1996, a qual cumprido

o prazo legal, veio efetivamente a ser extinta.

Durante o ano de 1996, após decisão judicial em virtude

do 1º Procedimento Seletivo Específico, foi concedido o Avanço

Funcional por Promoção a funcionários da classe de Guarda

Municipal para a de Supervisor, num total de 06 novos graduados,

conforme Portaria n.º 1900.

Com a mudança de Governo Municipal, o Departamento

Page 157: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

69

da Guarda Municipal foi transferido, em 30 de janeiro de 1997, por

meio do Decreto n.º 283, retornando do Gabinete do Pre feito para a

Secretaria Municipal de Administração.

No dia 25 de julho de 1997, foi designado como Secretário

Executivo da Comissão da Defesa Civil – COMDEC, o Diretor da

Guarda Municipal de Curitiba, permanecendo esta atribuição

extensivamente a todos os integrantes da Corporação, dando

continuidade às ações de Defesa Civil já em vigência.

Em 1997, novas responsabilidades foram atribuídas aos

integrantes da Guarda Municipal, que, além das suas atribuições

normais, ainda prestariam atendimentos de socorro a vítimas

domésticas e traumas simples. Com isso, os guardas municipais

receberam treinamento especial para atendimento de primeiros-

socorros, acidentes domésticos e outros serviços de apoio à

população. A idéia principal do Prefeito Cássio Taniguchi era de

manter a integração da Guarda Municipal com a comunidade.

Conforme decisão judicial, em virtude do 1º Procedimento

Seletivo Específico, foi concedido o Avanço Funcional por Promoção

Page 158: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

70

a funcionários da classe de Guarda Municipal para a de Supervisor,

passando a contar com mais 02 novos graduados, conforme Portaria

n.º 1630/97, totalizando 33 Supervisores na Carreira.

Durante o curso do ano de 1997, o Departamento da

Guarda Municipal de Curitiba, recebeu o acompanhamento de

acadêmicas do último ano do Curso de Psicologia da Universidade

Tuiuti do Paraná, a fim de realizar estágio, analisando os integrantes

da Guarda Municipal, de acordo com o exercício da sua função, seu

relacionamento interpessoal e os reflexos na sua vida pessoal e

familiar.

Em junho de 1998, a fim de agilizar os serviços internos

da Guarda Municipal de Curitiba, foi realizada uma busca minuciosa

sobre as Leis e Decretos Municipais que tratavam sobre a Guarda

Municipal, sobre funcionários municipais e competências do

município na área de segurança.

Desta forma, a Divisão de Instrução da Guarda Municipal

de Curitiba, em trabalho pioneiro, confeccionou a Coletânea de Leis e

Decretos Municipais, catalogando 72 leis do período de 1950 a 1997

Page 159: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

71

e 110 decretos do período de 1984 a 1997, os quais, de um modo em

geral, estavam diretamente relacionados ao Departamento da Guarda

Municipal.

No mês de agosto de 1998, em virtude da dedicação e

empenho de alguns guardas municipais, os quais participavam de

diversas competições de rua, buscando sempre levar o nome da sua

instituição aos outros Munic ípios e Estados, após diversas vitórias,

conquistaram a maior, que foi inserir a Corrida da Guarda Municipal

de Curitiba no calendário da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer,

na 4ª Etapa do Campeonato Adulto de Corrida de Rua.

Neste mesmo período, a Guarda Municipal de Curitiba,

buscando extinguir o cargo de Agente de Segurança na Carreira de

Segurança Municipal, iniciou primeiramente a extinção dos

respectivos uniformes, que eram calça na cor cinza, camisa azul clara

e boné cinza.

Desse modo, todos os Agentes de Segurança que

estavam em plenas condições físicas passaram a ter cursos de

aperfeiçoamento ministrados por guardas municipais, sendo que os

Page 160: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

72

mesmos passaram a integrar o Pelotão Escolar e usar o uniforme da

Guarda Municipal, apenas com a diferença no cinturão (sem coldre e

sem porta algemas), bem como o tarja de identificação braçal em

meia lua escrito AGENTE DE SEGURANÇA.

Em virtude de diversas ocorrências de ataques de cães

nos parques, praças e vias públicas municipais, em 15 de abril de

1999, surgiu a Lei Municipal n.º 9493 - Lei da Focinheira, a qual

passou a disciplinar sobre o trânsito de cães de raça notoriamente

violentos e perigosos, sendo determinadas aos seus proprietários

algumas normas de conduta e prevendo punições aos infratores.

Dando continuidade à integração da Guarda Municipal

com a comunidade, em 27 de outubro de 1999, haja vista um fato

isolado em determinada escola da Rede Pública de Ensino Municipal,

surgiu à necessidade da Guarda Municipal, por meio da Divisão de

Instrução, ministrar palestra nesta escola sobre o Estatuto da Criança

e do Adolescente, a fim de minimizar os problemas locais.

A palestra foi realizada de maneira interativa, unindo

palestrante, teatro de fantoche e alunos, onde todos interagiam,

Page 161: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

73

tratando o tema complexo com uma linguagem simples e clara, de

certa forma descontraída. Desse modo, tanto os professores quanto

os seus alunos ficaram satisfeitos com o resultado obtido. Assim,

surgiu mais uma nova atribuição para a Guarda Municipal, que seria

ministrar palestras para crianças e adolescentes tratando sobre

diversos temas, principalmente sobre direitos, deveres e obrigações,

tanto nas escolas públicas quanto nas particulares.

Em virtude das Palestras sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente ser realizadas na grande maioria das escolas

municipais, a Guarda Municipal passou a se integrar com os

docentes. Com a vinda do Projeto “Justiça se Aprende na Escola”,

elaborado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, uma d as

escolas municipais, ao ser convidado para participar do 1º Júri

Simulado, em 25 de maio de 2000, solicitou à Equipe da Divisão de

Instrução que auxiliasse na explicação, elaboração e aplicação do

Júri na própria escola, a fim de que viesse a realizar a sua

apresentação pública no Tribunal do Júri da Comarca de Curitiba.

Após o 2º Curso de Formação de Supervisor, realizado

Page 162: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

74

em virtude do Procedimento Seletivo Específico para Promoção, em

26 de junho de 2000, foi concedido o Avanço Funcional a

funcionários da Classe de Guarda Municipal para a de Supervisor,

num total de 12 novos graduados, conforme Decreto n.º 352.

Com a implantação do Fundo Nacional de Segurança

Pública, em 04 de julho de 2000, em convênio com a Secretaria

Nacional de Segurança Pública – SENASP/MJ, a Guarda Municipal

de Curitiba, buscando a redução da violência urbana, encaminhou ao

Ministério da Justiça propostas para aplicação dos recursos

financeiros a serem disponibilizados para esse Departamento, tendo

como metas: criar um programa permanente de capacitação,

desenvolver uma política integrada e intersetorial de Segurança

Pública, promover o desenvolvimento institucional, divulgar as

atividades desenvolvidas para a comunidade, promover o ingresso de

mais servidores na carreira, equipar adequadamente, de acordo com

as demandas, e criar uma Ouvidoria, fortalecendo a democracia e

cidadania.

Inovando na área de segurança e entrando no sistema de

Page 163: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

75

monitoramento por câmeras, em outubro de 2000, foi dado o início ao

monitoramento ininterrupto da Rua XV de Novembro no centro de

Curitiba, que é um “calçadão” destinado ao trânsito de pedestres,

passando o mesmo a contar com 14 câmeras de vídeo, a fim de

monitorar e trazer mais segurança e tranqüilidade aos seus

transeuntes.

Em dezembro de 2000, seguindo as diretrizes

estabelecidas pela Portaria Ministerial n.º 017, do Departamento do

Material Bélico do Mistério do Exército, de 26 de agosto de 1996

(atual Comando do Exército pertencente ao Ministério da Defesa), foi

submetido à análise e posterior aprovação do Comando da 5ª Região

Militar – Heróis da Lapa, o qual em despacho no Ofício n.º 025/GPM,

consolidou o 1º Regulamento de Uniformes da Guarda Municipal de

Curitiba.

Com a reeleição do Prefeito Cássio Taniguchi, em janeiro

de 2001, por meio do Decreto n.º 022, foi instalada a Secretaria

Municipal Extraordinária da Defesa Social - SEDS, com a finalidade

de coordenar as ações de defesa social do munic ípio articulando-se

Page 164: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

76

com as instâncias públicas, estadual e federal e com a sociedade.

Essa Secretaria visava potencializar as ações e resultados na área de

segurança pública, implantar e coordenar os Núcleos de Proteção ao

Cidadão, manter atualizado e monitorar o mapa da violência, elaborar

e implementar em conjunto com os diversos órgãos envolvidos o

Plano Municipal de Segurança Urbana, realizar convênios, contratos

e parcerias necessários à execução de suas atividades, sendo ainda

vinculado a esta pasta o Departamento da Guarda Municipal.

A Secretaria ora criada tinha a duração de dois anos,

contados da data de sua instalação, podendo este prazo ser

prorrogado; porém, veio a efetivar-se no ano de 2003, como

Secretaria Municipal da Defesa Social.

Com a implantação da Secretaria Extraordinária da

Defesa Social - SEDS surgiu à necessidade de adequar as atividades

desempenhadas pelo Departamento da Guarda Municipal de Curitiba

junto à comunidade. Com este intuito, em março de 2001, por meio

do Instituto Municipal de Administração Pública – IMAP, graduados

da Guarda Municipal de Curitiba e representantes da SEDS, realizou-

Page 165: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

77

se uma oficina (Workshop) buscando desenvolver e implantar

políticas que viessem a promover a proteção do cidadão, articulando

e integrando os organismos governamentais e a sociedade de forma

motivadora, visando organizar e ampliar a capacidade de uma defesa

ágil e solidária das comunidades de Curitiba e dos próprios

municipais.

Com este “Workshop”, resultaram alguns projetos, os

quais em sua grande maioria estão em aplicação, sendo eles: Defesa

Ágil e Solidária das Comunidades, Plano Municipal de Defesa Civil,

Cidade Segura, Ampliar a Capacidade de Defesa dos Próprios

Municipais e Comunidade Participativa.

Com o advento do Decreto n.º 642, de 30 de abril de

2001, que veio a regulamentar a Lei n.º 9493/99, a Guarda Municipal,

como órgão responsável pelo controle da aplicação da lei, passou a

advertir, notificar e autuar os infratores proprietários de cães de raça,

notoriamente violentos e perigosos, podendo inclusive apreender os

seus animais.

Buscando uma melhoria na comunicação interna, bem

Page 166: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

78

como uma proximidade nas solicitações de área, foi implantada, em

julho de 2001, a Rede de Telefonia Celular Inteligente. Este sistema

operacional disponibilizou um aparelho celular para cada viatura e

Grupamento de Segurança Regional (atual Núcleo), que veio a

funcionar como um ramal telefônico, recebendo ligações externas e

internas, podendo originar ligações apenas para a Rede da Guarda

Municipal, a fim de não gerar gastos alheios ao serviço. Por sua vez,

a comunidade local, de posse do número telefônico da viatura da sua

região, passou a poder acioná-la diretamente sem necessitar de uma

triagem, otimizando o pronto atendimento da Guarda Municipal.

Em cumprimento ao Plano Estratégico de Governo do

Prefeito Cássio Taniguchi, em 06 de dezembro de 2001, concluiu-se

os estudos sobre o Departamento da Guarda Municipal de Curitiba,

os quais originaram a proposta de Readequação da Estrutura,

Funções, Cargos e Efetivo, sob a coordenação do Diretor do

Departamento da Guarda Municipal de Curitiba Cel. PMRR Darci

Dalmas.

Muito embora já estivesse ocorrendo esta parceria entre

Page 167: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

79

os Poderes Públicos no Município de Curitiba, efetivamente em 26 de

março de 2002, foi celebrado o convênio da FISCALIZAÇÃO

INTEGRADA (Operação Integrada), sendo uma iniciativa de diversos

órgãos Federais, Estaduais e Municipais, que se uniram com o

objetivo de elaborar um projeto para redução dos delitos, envolvendo

os estabelecimentos comerciais considerados críticos e reincidentes,

prevenindo e protegendo a população usuária e sua vizinhança.

Ao invés de agir de forma isolada, os organismos

participantes uniram esforços para trabalhar em ações conjuntas,

multiplicando os benefícios para a comunidade e mostrando para a

sociedade o verdadeiro controle sobre as ações delituosas. Assim,

em uma parceria pioneira no Brasil, surgiu a Operação Integrada, na

qual duas vezes por semana realizam -se fiscalizações em Curitiba,

envolvendo os seguintes órgãos: Conselho Tutelar, Ministério Público

do Trabalho e Ministério Público da Infância e Adolescência,

Fundação de Ação Social, Secretaria Municipal da Saúde – Vigilância

Sanitária, Secretaria Municipal do Meio Ambiente – Poluição Sonora,

Secretaria Municipal do Urbanismo, Secretaria Municipal da Defesa

Page 168: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

80

Social – Guarda Municipal, Secretaria do Estado da Segurança

Pública – Polícia Civil e Polícia Militar (Comando do Policiamento da

Capital, Canil e Corpo de Bombeiros).

Após estudos realizados por órgãos da Prefeitura

Municipal de Curitiba, em 04 de junho de 2002, com o advento do

Decreto n.º 347, foi alterada a estrutura orgânica e funcional do

Departamento da Guarda Municipal, substituindo os Grupamentos de

Segurança e as Divisões Administrativas por oito Gerências

Regionais de Defesa Social, t rês Gerências Administrativas e uma

Gerência Operacional.

No período de 06 de novembro a 18 de dezembro de

2002, o Instituto Municipal de Administração Pública – IMAP, em

parceria com a Escola Superior de Policia Civil, realizou o 1º Curso

de Formação Técnico-Profissional de Guarda Municipal para

integrantes da Carreira de Segurança Municipal de Curitiba. Os ex-

agentes de segurança estavam sendo preparados para assumir a sua

nova função na carreira de segurança municipal, conforme o projeto

de lei que estava tramitando na Câmara Municipal e que veio a ser

Page 169: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

81

aprovado em 30 de dezembro do mesmo ano.

No final do ano de 2002, foi firmado Convênio entre a

Prefeitura Municipal de Curitiba e algumas Prefeituras da Região

Metropolitana, com o objetivo de criar Guardas Municipais nestas

cidades que integram a grande Curitiba, uma vez que, quand o o

crime é combatido em uma grande Capital, ao diminuir o índice de

criminalidade nesta, conseqüentemente irá aumentar nos seus

derredores. Desta forma, foram realizados Cursos de Formação

Técnico-Profissional de Guardas Municipais para as cidades de

Mandirituba, Fazenda Rio Grande e Araucária, onde, de acordo com

a disponibilidade de local, foram ministradas aulas em parceria com a

Escola Superior de Polícia Civil e com o Centro de Formação e

Aperfeiçoamento de Praça da Academia Militar do Guatupê da Polícia

Militar do Paraná. Participaram desta formação, na grande maioria,

Graduados da Guarda Municipal de Curitiba, bem como instrutores do

quadro permanente das instituições acolhedoras.

Com o advento da Lei n.º 10630, de 30 de dezembro de

2002, foi transformada a Carreira de Segurança Municipal, criando

Page 170: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

82

um único Cargo de Guarda Municipal dividido em três níveis,

elevando também o nível de escolaridade dos servidores para o de

Ensino Médio. A referida lei tratava ainda sobre promoção,

remuneração, qualificaç ão profissional e demais assuntos referentes

à carreira. Por fim, passou a permitir, em consonância com a

Legislação Federal, referendando o Decreto n.º 535/88, o porte de

arma pelos integrantes da Carreira de Segurança Municipal em todo

o território do munic ípio, para assegurar a proteção da população,

dos próprios municipais e para autodefesa, quando no exerc ício das

atribuições inerentes ao Cargo de Guarda Municipal.

Dando continuidade ao Fundo Nacional de Segurança

Pública, no ano de 2003, em convênio com a Secretaria Nacional de

Segurança Pública – SENASP/MJ e a Guarda Municipal de Curitiba

foi elaborado o Projeto das Justificativas para captação dos recursos

necessários à continuidade e ao desenvolvimento da segurança no

Município de Curitiba, em obediência ao Plano Nacional de

Segurança Pública.

Conforme a legislação nova, que remodelou o perfil do

Page 171: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

83

profissional da Guarda Municipal, em 29 de janeiro de 2003, por meio

do Decreto n.º 100, aprovou as especificações, atribuições, tarefas

típicas, requisitos e demais características do Cargo da Carreira de

Segurança Municipal.

Ao ser publicado o Decreto n.º 151, de 12 de fevereiro de

2003, o número de vagas no quadro de funcionários da Carreira de

Segurança Municipal passou a compor-se da seguinte forma: Parte

Especial - 1.175 vagas (servidores que deveriam efetuar a transição);

Parte Permanente - 1.125 vagas, sendo ocupadas por 42 Guardas

Nível II (Supervisores), estando em aberto 1.083 vagas para os que

deverão transitar nos próximos anos.

Convém ressaltar, conforme a Lei n.º 10.630/02, que a

Parte Permanente é composta por servidores com formação em nível

médio e curso de formação técnico-profissional para Guarda

Municipal, e, por conseguinte, a Parte Especial é composta pelos

ocupantes do extinto cargo de Agente de Segurança e Guarda

Municipal, cuja escolaridade é de nível básico, devendo ser

progressivamente extinto.

Page 172: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

84

Com a nova legislação em vigor, no dia 13 de fevereiro de

2003, desencadeou-se o Procedimento Específico de Transição da

Parte Especial para a Parte Permanente da Carreira de Segurança

Municipal, por meio do Decreto 156.

Efetivamente, em 03 de abril de 2003, por meio da Lei n.º

10644, foi criada a Secretaria Municipal da Defesa Social, com a

missão de desenvolver e implantar políticas que promovam a

proteção do cidadão, articulando e integrando os organismos

governamentais e a sociedade de forma motivadora, visando

organizar e ampliar a capacidade de Defesa ágil e solidária das

comunidades de Curitiba e dos próprios municipais, passando a ter

as seguintes atribuições: o planejamento operacional, a definição e a

execução da política de defesa social do Munic ípio; a coordenação

das ações de defesa social; a articulação com as instâncias pública

federal e estadual e com a sociedade, visando potencializar as ações

e os resultados na área de segurança pública; a atualização e

monitoramento de sistema de informações estratégicas de defesa

social; a administração dos mecanismos de proteção do patrimônio

Page 173: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

85

público municipal e de seus usuários; a implementação, em conjunto

com os demais órgãos envolvidos, do Plano Municipal de Segurança;

e a coordenação das ações de defesa civil no Munic ípio, articulando

os esforços das instituições públicas e da sociedade, fazendo parte

desta pasta o Departamento da Guarda Municipal de Curitiba.

A fim de concretizar a estrutura organizacional e os níveis

hierárquicos, orgânicos e funcionais da Secretaria Municipal da

Defesa Social, entrou em vigor o Decreto n.º 373, de 14 de abril de

2003.

Ainda dando continuidade à estrutura organizacional, em

23 de abril de 2003, por meio do Decreto n.º 380, criou-se na

estrutura da Supervisão de Núcleos de Assessoramento Jurídico da

Procuradoria Geral do Munic ípio o Núcleo de Assessoramento

Jurídico na Secretaria Municipal de Defesa Social.

Buscando regulamentar os Procedimentos de

Crescimento Horizontal e Crescimento Vertical por Merecimento, para

os servidores da Carreira de Segurança Municipal, conforme

estatuído pela Lei n.º 10630/02, em 12 de novembro de 2003, entrou

Page 174: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

86

em vigor o Decreto n.º 1070.

No período de 28 de outubro a 16 de dezembro de 2003,

o Instituto Municipal de Administração Pública – IMAP realizou o 2º

Curso de Formação Técnico-Profissional de Guarda Municipal para

integrantes da Carreira de Segurança Municipal de Curitiba,

contemplando os ex-agentes de segurança que estavam sendo

preparados para assumir a sua nova função na Carreira de

Segurança Municipal, conforme a Lei 10630/02.

Depois de participarem do Curso de Formação Técnico-

Profissional de Guarda Municipal, promovido pelo Instituto Municipal

de Administração Pública – IMAP e Secretaria Municipal da Defesa

Social - SMDS, em parceria com a Fundação de Estudos Sociais do

Paraná - FESP, no dia 06 de abril de 2004 formou-se a 9ª Turma de

Guardas Municipais, sendo que, a partir desta, exige-se, para o

ingresso na carreira, a conclusão do Ensino Médio e a Carteira

Nacional de Habilitação. A Cerimônia de Formatura foi realizada no

Teatro Ópera de Arame, sendo nomeados 114 novos guardas

municipais.

Page 175: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

87

O Decreto n.º 205, de 18 de março de 2004 revogou o

Decreto n.º 1070/03, vindo a regulamentar os Procedimentos de

Crescimento Horizontal e Crescimento Vertical por Merecimento, para

os servidores da Carreira de Segurança Municipal, sendo publicado o

Edital n.º 06/04 – SMRH, a fim de estabelecer as normas para o

certame de Crescimento Horizontal (crescimento da referência

salarial no mesmo nível).

Para o Crescimento Vertical por Merecimento, devido a

alguns ajustes de ordem legal, ambos os decretos anteriores

(1070/03 e 205/04) foram revogados, vindo a entrar em vigor o

Decreto nº. 342, de 10 de maio de 2004, aplicando o estabelecido

pelo Edital n.º 09, de 12 de maio de 2004, da Secretaria Municipal de

Recursos Humanos, a fim de normatizar o Procedimento Seletivo

Específico de Crescimento Vertical da Guarda Municipal (promoção

em nível hierárquico). Neste certame, galgaram êxito 67 servidores,

onde 27 Guardas Municipais do Nível II (Supervisor) foram

promovidos para o Nível III (Inspetor) e 40 Guardas Municipais do

Nível I (Guarda) foram promovidos para o Nível II (Supervisor),

Page 176: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

88

elevando desta forma a Carreira Hierárquica da Guarda Municipal de

Curitiba, contando com 82 Guardas Municipais Graduados.

Após participarem do Concurso Público, foram nomeados

no mês de julho, 40 novos guardas municipais, formados pelo Curso

de Formação Técnico-Profissional de Guarda Municipal, promovido

pelo Instituto Municipal de Administração Pública - IMAP e pela

Secretaria Municipal da Defesa Social - SMDS, constituindo-se como

a 10ª Turma de Guardas Municipais de Curitiba.

Em 14 de setembro de 2004, conforme determinação da

Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, com o intuito de

facilitar a memorização dos números telefônicos de emergência para

a população em todo o país, o número telefônico das Guardas

Municipais passou de 1532 para 153.

Cumprindo o estatuído na Lei Federal n.º 10.826/2003,

(Estatuto do Desarmamento) e artigos 43 e 44 do Decreto Federal n.º

5.123/2004, o Decreto Municipal nº. 367 de 16 de abril de 2007

instituíram a Corregedoria da Guarda Municipal na estrutura

organizacional da Procuradoria Geral do Município, bem como o

Page 177: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

89

Decreto Municipal nº. 383 de 19 de abril de 2007, instituiu a Ouvidoria

da Guarda Municipal na estrutura organizacional da Secretaria

Municipal da Defesa Social.

A Guarda Municipal de Curitiba no mês de outubro de

2007 receberá 200 novos rádios comunicadores portáteis e, ao

mesmo tempo, colocariam nas ruas 144 novos guardas aprovados

em concurso público. Todos passaram por um curso de treinamento

de 680 horas, na Escola Superior de Polícia Civil, com estágio de 80

horas nas ruas de Curitiba. Desde 2005, a Guarda Municipal ganhou

540 novos integrantes.

A Guarda Municipal também começará a colocar equipes

em locais onde é necessária uma ação pontual, como terminais de

ônibus do transporte coletivo, nos horários de pico, e grandes

eventos, como shows e jogos de futebol.

Desde que a Prefeitura de Curitiba decidiu investir na

melhoria da segurança, contratando novos guardas municipais,

adquirindo equipamentos e construindo estruturas como os Núcleos

de Proteção do Cidadão, a Polícia Militar do Paraná conseguiu

Page 178: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

90

distribuir melhor seu efetivo nas ruas da cidade, concentrando seus

objetivos. O patrulhamento de todos os parques e praças e o

atendimento a ocorrências simples, como perturbação do sossego e

pichação (vandalismo), por exemplo, hoje é de responsabilidade

exclusiva da Guarda Municipal.

Em 2004, a Guarda atendeu 3.854 ocorrências gerais.

Esse número pulou para 13.528 em 2005 e para 19.084 no ano

passado. Até 19 de setembro de 2007, já foram atendidas 17.132

ocorrências.

Atualmente o Departamento da Guarda Municipal de

Curitiba está inserido na Secretaria Municipal da Defesa Social -

SMDS, tendo em seu efetivo total 1701 servidores sendo estes: 30

Guardas Nível III (Inspetores), 93 Guardas Nível II (Supervisores) e

1578 Guardas Nível I (Guardas Municipais, dando ênfase ao lema:

“SALVAGUARDANDO A VIDA, NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO”

Page 179: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

91

6 CONCLUSÃO

As pessoas que se recusam em admitir que as

Guardas Municipais, dentro da sua função institucional, são

organismos de segurança pública, em virtude das restritas e errôneas

interpretações, acabam, por conseguinte, contribuindo indiretamente

para com objetivos escusos, tais como: 1- t ransferir a parcela de

culpa pela insegurança local, à escalões superiores; 2- negar a

parcela de responsabilidade dos dirigentes municipais na área de

segurança pública; 3- motivar o uso da insegurança dos munic ípios

como plataforma política; 4- beneficiar a manutenção do “status quo”

de alguns, em detrimento do índice alarmante da falta de segurança

generalizada (lei da oferta e da procura ― quanto mais escasso e

procurado o produto, mais caro será); 5- incentivar a ampliação do

serviço paralelo de segurança, sendo uma atividade eminentemente

de natureza privada, com fins lucrativos; e, por fim, 6- permitir o

crescimento da criminalidade, relacionado à sensação de impunidade

do Estado, para com o infrator.

Cabe lembrar que a Segurança Pública é uma

atividade exclusiva do Poder Estatal, sendo desenvolvida pela União,

Estados Membros, Distrito Federal e Munic ípios, todos tendo o dever

legal de fornecer, dentro da sua esfera de atuação, uma prestação de

serviço de excelência, minimizando desta forma, os índices de

insegurança.

Page 180: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

92

Delegar esta função à instituições privadas, é o

mesmo que transferir o poder familiar de um filho a um desconhecido.

As atividades próprias do Estado são indelegáveis, pois só,

diretamente ele, as pode exercer. Dentre elas se inserem o exercício

do poder de polícia de segurança pública e o controle do trânsito de

veículos. Desta forma, torna-se prejudicada a outorga à pessoa

jurídica de direito privado, o exercício do poder de polícia sendo essa

delegação, contrária às disposições da Constituição Federal.

Atualmente, encontramos no serviço de segurança

privada, quase que o triplo do contingente policial existente no país,

mostrando claramente a ausência dos poderes públicos constituídos,

na resolução dos problemas.

Convém ressaltar que muitas vezes, em virtude da

ausência de políticas de segurança municipais, integradas às demais

ações dos organismos de segurança estadual e federal, surgem, em

determinadas regiões, crises que acabam tomando proporções

assustadoras. Como exemplo, a cidade do Rio de Janeiro que, há

alguns anos, vem sendo veiculada na mídia nacional e internacional

como a cidade tomada pelo crime, onde a população acabou

tornando-se refém do criminoso em suas próprias residências.

Diante desses fatos, os municípios devem, por meio

dos seus dirigentes, abdicarem da posição cômoda de aguardar

providências superiores para os problemas locais.

A falha na segurança pública, até pouco tempo atrás,

estava relacionada com a ausência de sintonia e sinergia entre as

esferas públicas, no âmbito municipal, estadual e federal, onde cada

Page 181: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Guarda Municipal Agente da Cidadania

93

qual transferia a sua parcela de responsabilidade para outro

segmento.

Após muitos estudos sobre o assunto, foi

diagnosticado o problema, desencadeando-se então, por meio do

governo federal, medidas que visam suprir, de maneira significativa

estes focos globais e locais, com o emprego das Guardas Municipais.

Com o advento do Plano Nacional de Segurança

Pública, iniciou-se uma nova etapa na existência das Guardas

Municipais, onde estas corporações passaram a assumir, cada vez

mais, a sua parcela de responsabilidade frente à segurança pública

local.

Conforme menciona o professor Luiz Otavio Amaral,

“Quase sempre, entre nós, quem gerencia o sistema policial ou não

conhece profundamente qual a razão teleológica da

instituição/função, ou, quando conhece, padece do vício do

corporativismo deturpante. Enfim, a polícia, entre nós, ainda não

alcançou a sólida cultura básica de profissionalismo”51

.

Desse modo, cabe lembrar que a individualidade e o

respeito de cada corporação que atua na esfera policial estão,

efetivamente, na valorização dos seus integrantes e na manutenção

de uma identidade própria, vindo uma a acrescer com a existência da

outra.

51

AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Direito e Segurança Pública, a

juridicidade operacional da polícia p. 15.

Page 182: Trabalhos Monográficos sobre a Guarda Municipal

Claudio Frederico de Carvalho

94

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Guarda Municipal Agente da Cidadania

95

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ROMÉRO, André. “Instruções Policiais – para Guardas Rondantes”. Polícia Municipal. Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1935.

SANTOS, Antônio Norberto dos. “Policiamento”. 3ª Edição. Belo Horizonte, 1969.