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Page 1: Trabalhocompleto dalla costa_e_zanetti_gt08

PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO ENSINO SUPERIOR: DOCÊNCIA

E DISCÊNCIA

* Charles Dalla Costa

** Mirieli A. Zanetti

Resumo: O objetivo do presente estudo é investigar a relação entre o crescimento do número de mulheres concluintes no ensino superior e o número de mulheres em funções docentes nas instituições de ensino superior no Brasil entre os anos de 2003 e 2007. Foram coletadas as sinopses estatísticas da educação superior (graduação), disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Testando a hipótese de que existe uma correlação entre as mulheres em funções docentes e o número de mulheres que concluiu a graduação, os dados do INEP foram importados em programa de computador para análise estatística. Também foram utilizadas variáveis de controle pesquisadas no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para verificar o crescimento na participação da mulher no ensino superior em relação à participação de mulheres no mercado de trabalho. O estudo aponta evidências de correlação entre o número de mulheres em funções docentes e o número de mulheres concluindo o ensino superior, bem como crescimento real na participação da mulher no ensino superior.

Palavras-chave: Ensino Superior; Gênero; Mulheres docentes.

Introdução

A atual participação da mulher brasileira em todos os segmentos da sociedade através

da sua participação no mercado de trabalho e níveis de escolaridade é um fenômeno recente.

Seu início e desenvolvimento percorreram uma lenta trajetória para derrubar barreiras

culturais e então conseguir aos poucos ganhar força e tornar-se significativa.

* Mestrando em Administração pela Universidade Positivo. [email protected] ** Mestranda em Gestão Ambiental pela Universidade Positivo. [email protected]

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Dados estatísticos evidenciam este quadro e permitem inferir que há uma maior

presença de mulheres tanto na educação básica como na superior. Alguns estudos mostram

que atualmente há cerca de meio milhão de mulheres a mais do que homens nas universidades

brasileiras. Segundo o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do INEP -

(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Dilvo Ristoff

(2006), as mulheres ainda são minoria na docência da educação superior, mas a sua

participação cresce a cada ano num ritmo 5% maior que a dos homens, mostrando que se

mantida a atual tendência de crescimento, elas serão maioria também na docência dentro de

no máximo cinco anos.

A estrutura do desenvolvimento traz um breve histórico sobre o papel e participação

da mulher na economia, considerações sobre a mulher e educação, a investigação sobre a

situação atual da mulher na economia e na educação, e as considerações finais resultantes do

estudo.

Para efeitos desta pesquisa, foram utilizados levantamentos de literatura como artigos

científicos e suplementos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), o qual apresenta dados levantados numa pesquisa mensal de empregos, realizada

entre 2003 a 2008 em algumas capitais brasileiras como, Recife, Salvador, Belo Horizonte,

Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Também foram utilizadas séries estatísticas

levantadas por agências oficiais brasileiras como a FIBGE (dados dos Censos Demográficos e

as PNADs- Pesquisas Domiciliares por Amostra de Domicílios), o Ministério do Trabalho

(dados da RAIS- Relação Anual de Informações Sociais) e do INEP/MEC (o Censo do Ensino

Superior, o Censo Escolar e o da Educação Profissional).

Histórico

No início do século XIX, a sociedade acreditava que o homem era o único provedor

das necessidades da família, e cabia à mulher a função de mantenedora do lar e educadora dos

filhos. A mudança começou a ocorrer com as I e II Guerras Mundiais (1914 – 1918 e 1939 –

1945), onde as mulheres tiveram que assumir a posição dos homens no mercado de trabalho.

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Foi nesse momento que as mulheres sentiram-se na obrigação de se responsabilizar além da

casa e dos filhos, pelo provimento financeiro da família (ARAÚJO, 2004).

Com a consolidação do sistema capitalista no século XIX, o desenvolvimento

tecnológico, a crescente utilização de máquinas e um incremento feminino na mão-de-obra,

algumas mudanças ocorreram, entre elas a criação de novas leis regulamentadoras do

trabalho, as quais passaram a beneficiar as mulheres. Na constituição brasileira de 32, por

exemplo, ficou estabelecido que não haveria distinção de sexo, que todo trabalho de igual

valor corresponderia a salários iguais, foi proibido o trabalho de mulheres grávidas durante o

período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois, além de proibir a

demissão de mulheres grávidas pelo simples fato da sua condição (PROBST, 2005). Mesmo

assim, algumas formas de exploração continuaram: Jornadas entre 14 e 18 horas e diferenças

salariais acentuadas eram comuns. Estas ações eram justificadas por uma consciência

machista que determinava que apesar do salário recebido pela mulher, ela ainda era sustentada

pelo marido e desse modo não havia necessidade de receber um salário equivalente ou

superior ao do homem pelo mesmo trabalho e carga horária.

Já na década de 70, conforme afirmam Hoffmann e Leone (2004) intensificaram-se a

participação das mulheres nas atividades econômicas devido ao contexto de expansão da

economia com acelerado processo de industrialização e urbanização. Também comentam que

esse cenário prosseguiu na década de 80, apesar da estagnação da atividade econômica.

Porém, nos anos 90, década caracterizada pela intensa abertura econômica, pelos baixos

investimentos e pela terceirização da economia, continuou a tendência de crescente

incorporação da mulher na força de trabalho (HOFFMANN; LEONE, 2004).

Felizmente, com muita determinação esses valores estão mudando. Ao longo dos anos,

as mulheres vêm conquistando seu espaço - não somente no mercado de trabalho - e a antiga

visão da estrutura familiar, vem sendo reconstruída.

Ao analisar o comportamento da força de trabalho feminina no Brasil no último quarto

de século, destaca-se o vigor e a persistência na conquista do seu espaço. Mas, a velocidade

que isso acontece, depende de algumas questões como culturais, por exemplo. Os países

culturalmente mais desenvolvidos permitem que as mulheres tenham uma atuação mais ativa,

enquanto que nos países de baixo desenvolvimento cultural, a mulher ainda é vista de forma

inferior aos homens, o que dificulta seu desenvolvimento.

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No Paraná, em específico, a participação feminina no mercado de trabalho no período

de 2003 a 2006, apresentou um crescimento constante, com um índice da ordem de 1,7%.

Segundo dados dos Registros Administrativos da Relação Anual de Informações Sociais do

Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS), a força de trabalho feminina no Paraná ocupava

40,2% dos empregos formais no ano de 2003, evoluiu para 40,5% em 2004, alcançando

41,1% em 2005 e atingiu 41,9% em 2006. Em estudo realizado no estado, Cimbalista (2007)

apresenta dados que mostram que o trabalho exercido pela mulher ainda é mais precário

devido à funções que exigem pouca escolaridade e algum tipo de qualificação. Também

comenta que devido às mudanças no contexto sócio-econômico e cultural, um expressivo

contingente de mulheres na faixa etária entre 40 e 54 anos com baixa escolaridade,

ingressaram no mercado de trabalho contribuindo para este quadro de precarização. Tais

informações podem ser observadas na tabela 1, que mostra a ocupação de empregos formais

de acordo com o gênero, comparando os avanços ocorridos entre 1985 e 2005

(CIMBALISTA, 2007).

Tabela 1: Empregos formais, segundo gênero (1985-2005).

GÊNERO 1985 1995 2005

Empregos Part. (%) Empregos Part. (%) Empregos Part. (%) Masculino 759.385 69,0 921.846 63,0 1.241.930 58,9 Feminino 341.666 31,0 540.638 37,0 867.418 41,1 TOTAL 1.101.051 100,0 1.462.484 100,0 2.109.348 100,0

Fonte: ANÁLISE CONJUNTURAL, v.29, n.07-08, p.15, jul./ago. 2007, apud MTE-RAIS

Mulher e Educação

Tosi (1998) faz referência à luta das mulheres, pelo direito à educação já no começo

do século XV. Segundo ele, durante muito tempo a educação das mulheres ficou restrita no

contexto familiar e consistia na leitura, na escrita e em noções de matemática suficientes para

a administração do lar.

Segundo Manfrinato (2007), no Brasil, as mulheres adquiriram o direito à educação,

pela Lei de 5 de outubro de 1827. No entanto, elas deveriam se contentar apenas com a

educação primária. Almeida (1998) considera que a primeira oportunidade de instrução de

nível médio às mulheres, ocorreu com a abertura da sessão feminina da Escola Normal do

Seminário da Glória em 1876, no âmbito do ensino Público.

Mais tarde, com a implantação do Regime Republicano no Brasil, oficializado em

1889, realçaram-se os ideais nacionalistas que supervalorizavam a educação e a viam como a

opção mais adequada e capaz de solucionar os problemas sociais do país (BERALDO, 2001).

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Com a disponibilização da educação para todos, surgiu um novo desafio, pois esta abertura

gerou a necessidade de encontrar saída para a profissionalização feminina. Segundo Beraldo

(2001), na época, o curso de magistério representava a educação que não atentava contra os

valores sociais, uma vez que estavam no momento mais voltados para a preparação do

casamento e maternidade, do que para o desenvolvimento intelectual da mulher.

Somente em 19 de abril de 1879, foi proposto um decreto-lei, pelo conselheiro do

imperador D. Pedro II, chamado Leôncio de Carvalho, o qual permitia as mulheres a se

inscreverem em cursos superiores. Até este momento, apenas os homens tinham este direito

(MANFRINATO, 2007).

Segundo dados levantados por Manfrinato (2007), em meados de 1940 as mulheres

representavam um pouco mais que 10% dos que possuíam diploma de curso superior no país,

sendo que este percentual praticamente quadruplicado na década de 70. Atualmente as

mulheres ocupam a maior parcela das “cadeiras” disponíveis nos cursos de graduação e pós-

graduação no ensino superior no Brasil. Situação que se repete em outros países.

Além disso, não somente crescem em números expressivos na discência, quanto na

docência. Profissões científicas que, antigamente, constituíam um monopólio masculino,

estão cada vez mais abrindo espaço para as mulheres. Segundo os números divulgados pelo

MEC o número de professoras na educação superior no Brasil, no ano 2000 correspondia a

40,8% do total do país, enquanto o de docentes do sexo masculino correspondia a 58,2%.

Esses números vêm crescendo gradualmente, tanto que em 2005, o percentual de docentes do

sexo feminino teve um aumento expressivo num prazo de 5 anos, totalizando 129.140 -

44,3% do total de docentes. Enquanto que o número de homens era de 162.865, o que

corresponde a 55,7% do total. Ou seja, em um curto período de tempo, o número de docentes

mulheres cresceu cerca de 4% nas instituições de ensino superior, e o de homens caiu quase

que na mesma proporção.

De acordo com a gerente de projetos da Secretaria Especial de Políticas para as

Mulheres, Dirce Grosz, não há estudos que expliquem o fenômeno da explosão de matrículas

femininas no ensino superior, mas há algumas possíveis respostas. Segundo ela, "há uma

proporção maior de mulheres na população, principalmente a partir dos 20 anos de idade.

Tem mais mulheres terminando o ensino médio do que homens. E, ao mesmo tempo, a mulher

está buscando se aperfeiçoar para conseguir uma melhor colocação no mercado e no mundo

do trabalho" (CRESCE, 2006).

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Situação Atual

Atualmente, são observados avanços na participação da mulher no mercado de

trabalho bem como avanços na escolaridade.

A tabela 2 procura ilustrar, através dos dados provenientes de pesquisa do IBGE nas

regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto

Alegre, o número de anos de estudo da população feminina ocupada (empregada, trabalhando,

autônoma), comparando os meses de janeiro de 2003 e janeiro de 2008.

Tabela 2: Anos de estudo das mulheres ocupadas em atividades econômicas Anos de estudo % (jan/2003) % (jan/2008)

Sem instrução, menos de um ano de estudo

3,1 1,6

De 1 a 3 anos de estudo 5,6 3,9 De 4 a 7 anos de estudo 22,1 18,8 De 8 a 10 anos de estudo 17,7 15,8 11 anos ou mais de estudo 51,3 59,9 Fonte: Elaboração baseada em IBGE, 2009, p. 13.

Através do estudo do IBGE é possível inferir que existe um crescimento no número de

anos de estudo da população feminina ativa no mercado de trabalho, com notório

desenvolvimento da camada a partir de onze anos de estudo.

O estudo do IBGE ainda traz informação sobre o crescimento da proporção de

mulheres ocupadas em relação ao total da população economicamente ativa das regiões

metropolitanas estudadas. O crescimento percentual entre os períodos estudados foi de 3

pontos percentuais para o nível de ocupação das mulheres, ao passo que o nível de ocupação

dos homens cresceu apenas 1,1 ponto percentual. Os dados absolutos, em milhares, podem ser

observados na tabela 3.

Tabela 3: Estimativas da população (em milhares) Mulheres Total Jan/03 Jan/08 Jan/03 Jan/08

População em Idade Ativa 19.641 21.919 36.985 40.961 População Economicamente Ativa 9.093 10.508 20.758 23.104

População Ocupada 7.868 9.445 18.441 21.261 População Desocupada 1.224 1.063 2.317 1.842

Fonte: IBGE, 2009, p. 6.

Nas estimativas do IBGE apresentadas na tabela 3, as mulheres representavam 53,11%

da população economicamente ativa em janeiro de 2003, e 53,87% em janeiro de 2008, ou

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seja, a proporção entre os gêneros, estatisticamente, nas regiões do estudo, se manteve

praticamente constante.

Nas regiões metropolitanas do estudo do IBGE, a distribuição entre as atividades

econômicas das mulheres ocupadas, na estatística de janeiro de 2008, é dissecada conforme a

tabela 4.

Tabela 4: Distribuição das mulheres nas atividades econômicas em Janeiro de 2008. Ocupação %

Serviços domésticos 16,5 Administração Pública, Educação, Defesa, Segurança e Saúde

22,0

Serviços prestados à Empresa 13,3 Indústria 13,1 Construção 0,6 Comércio 17,4 Outros serviços e outras atividades 17,0

Fonte: Elaboração baseada em IBGE, 2009, p. 10.

Por fim, o estudo do IBGE descreve os setores com maior diferença de participação

entre homens e mulheres como sendo as ocupações na Construção e nos Serviços Domésticos.

A construção representa 20% da ocupação dos homens, ao passo que a ocupação Serviços

Domésticos representa apenas 0,7% das ocupações masculinas, nas regiões do estudo.

Investigando a faixa da ocupação feminina de 22,0% aonde se enquadra a Educação,

analisaremos os dados provenientes do INEP, referentes à participação da mulher no ensino

superior, tanto no papel de docente quanto como concluinte do curso superior.

Na tabela 5, é possível observar um resumo das estatísticas do INEP, com destaque

para a evolução na participação das mulheres entre os anos de 2000 e 2007.

Tabela 5: Distribuição de Gênero na Docência e Discência

Ano Total de Docentes

Docentes (Mulheres)

Total de Formandos

Formandos (Mulheres)

2000 197712 80737 324734 198416 2001 219947 92709 352305 217437 2002 242475 103655 466260 293309 2003 268816 116221 528223 329311 2004 293242 128695 626617 391995 2005 305960 135643 717858 446724 2006 316882 141003 736829 446263 2007 334688 150392 756799 452295 Fonte: Dados extraídos das sinopses do INEP, 2009.

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A evolução de crescimento é expressiva. De 2000 à 2007, o número de concluintes,

formandas, cresceu 44%, quando o índice de crescimento dos concluintes homens foi de 41%.

O número de docentes mulheres também é informação de interesse. O crescimento das

mulheres em funções docentes no ensino superior foi de 54% - (80737 em 2000 para 150392

em 2007).

Na tabela 6 são calculados os percentuais de mulheres concluintes do ensino superior,

em relação ao total de fomandos.

Tabela 6: Distribuição de Gênero na Discência

Ano Total de

Formandos Formandos (Mulheres)

% de mulheres

2000 324734 198416 61,10% 2001 352305 217437 61,72% 2002 466260 293309 62,91% 2003 528223 329311 62,34% 2004 626617 391995 62,56% 2005 717858 446724 62,23% 2006 736829 446263 60,57% 2007 756799 452295 59,76% Fonte: Dados extraídos das sinopses do INEP, 2009.

Os dados apresentados na tabela 6 sugerem uma estabilidade proporcional, com as

mulheres tendo alcançado o patamar de sessenta por cento dos concluintes de ensino superior

no país.

Também é verificada a representatividade percentual da mulher em seu papel de

docência, no ensino superior, através dos dados compilados na tabela 7.

Tabela 7: Distribuição de Gênero na Docência e Discência

Ano Total de Docentes

Docentes (Mulheres)

% de mulheres

2000 197712 80737 40,84% 2001 219947 92709 42,15% 2002 242475 103655 42,75% 2003 268816 116221 43,23% 2004 293242 128695 43,89% 2005 305960 135643 44,33% 2006 316882 141003 44,50% 2007 334688 150392 44,93% Fonte: Dados extraídos das sinopses do INEP, 2009.

Pelas informações da tabela 7, podemos afirmar que as mulheres ainda não são

maioria no corpo docente das instituições, porém o crescimento de sua participação é

vigoroso, conquistando mais de quatro pontos percentuais desse mercado de trabalho, no

período da sinopse do INEP.

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As informações do INEP contemplam todas as instituições de ensino superior,

públicas e privadas, reconhecidas e regulares junto ao Ministério da Educação e Cultura –

MEC.

Para análise da correlação entre o número de mulheres concluintes do ensino superior

com o número de mulheres cuja ocupação é em papel função docente, também nas

instituições de ensino superior, os dados do INEP foram importados para o aplicativo

computacional de estatística SPSS - Statistical Package for the Social Sciences – (pacote

estatístico para as ciências sociais). Pelo método de correlação bivariada, podemos observar o

resultado da análise estatística na tabela 8.

Tabela 8: Correlação entre Concluintes e Docentes (Mulheres)

Concluintes

(Feminino)

Docentes

(Feminino)

Concluintes (Feminino) Pearson Correlation 1 ,985**

Sig. (2-tailed) ,000

N 8 8

Docentes (Feminino) Pearson Correlation ,985** 1

Sig. (2-tailed) ,000

N 8 8

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Fonte: Dados processados pelos autores, 2009.

Como resultado, apresenta-se uma correlação alta (Pearson de 0,985), e significativa,

sugerindo que realmente existe uma forte relação entre as duas variáveis analisadas. Porém o

teste estatístico paramétrico utilizado (Pearson, técnica paramétrica bivariada), é indicado

para o mínimo de 30 casos na amostra. Como a amostra possui um caso para cada ano

analisado pelo INEP entre os anos de 2000 e 2007, apenas oito casos se fazem presentes.

Dessa forma é necessário corroborar o resultado com um teste não-paramétrico mais robusto e

que possa ser utilizado para os oito casos disponíveis – Correlação de Spearman.

Os resultados utilizando-se o método da correlação de Spearman podem ser

observados na tabela 9.

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Tabela 9: Correlação entre Concluintes e Docentes (Mulheres) – Spearman

Concluintes

(Feminino)

Docentes

(Feminino)

Spearman's rho Concluintes (Feminino) Correlation Coefficient 1,000 ,976**

Sig. (2-tailed) . ,000

N 8 8

Docentes (Feminino) Correlation Coefficient ,976** 1,000

Sig. (2-tailed) ,000 .

N 8 8

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Fonte: Dados processados pelos autores, 2009.

O método de Spearman confirma o teste anterior, mostrando alto coeficiente de

correlação – 0,976.

Conclusões

A hipótese de que existe uma correlação entre as mulheres em funções docentes e o

número de mulheres que concluintes do ensino superior foi comprovada pelos testes

estatísticos, que demonstram uma relação forte e positiva do crescimento do número de

mulheres em uma ocupação delimitada (função de docência em instituições de ensino

superior), e seu crescimento em capacitação (concluintes do ensino superior).

Os dados das pesquisas dos institutos de referência (INEP e IBGE), confirmam e

detalham o crescimento da participação da mulher na sociedade (pela presença na economia e

na educação, neste estudo). Algumas surpresas são positivas, pois além do crescimento da

participação da mulher, as estatísticas apresentadas mostraram também que o número total de

estudantes concluindo o ensino superior também está em ritmo de crescimento. Bem como o

número de pessoas ativas e com ocupação na economia. E, na maior parte dos estudos e

estatísticas analisados o ritmo de crescimento feminino é mais veloz do que o masculino.

Remetendo aos dados históricos, considerando que fazem pouco mais de cem anos que

foi permitido que as mulheres ingressassem no ensino superior, (CIMBALISTA, 2007), a

participação atual, no patamar de sessenta por cento, não é apenas uma conquista, mas já se

torna uma virada histórica.

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Fator também corroborado pela tendência de estabilidade da proporção de homens e

mulheres economicamente ativos, apontada no estudo do IBGE.

Logo, se a proporção entre homens e mulheres economicamente ativos é estável, se a

mulher é maioria nos concluintes do ensino superior, o crescimento das mulheres na

participação do mercado de trabalho apontada pelos estudos ainda deve continuar e com

vantagens para o gênero feminino, visto que em toda a série dos dados do INEP (anos de 2000

até 2007), as mulheres são a maioria dos concluintes do ensino superior, constituindo, por

conseguinte, a força de trabalho com maior qualificação acadêmica.

Algumas limitações do estudo devem ser apontadas. Uma limitação é o acesso aos

dados estatísticos de uma faixa temporal específica, tanto dos dados do INEP quanto do

IBGE, impossibilitando a análise de dados de períodos anteriores. Os dados do IBGE também

são limitantes, pois o estudo sobre mulheres no mercado de trabalho é amostral e em

determinadas regiões metropolitanas do país. Outra limitação é inerente aos objetivos da

pesquisa, restritos a busca de relações entre duas variáveis (docência e discência), e sua

contextualização.

Estudos futuros podem buscar explicação sobre o sentido da correlação, ou seja, se é o

nível de estudo que influencia os níveis de ocupação da mulher, ou o caminho inverso. O

presente estudo traz a observação e relação entre os fenômenos, mas as causas e

conseqüências (tantos sociais como econômicas), da crescente participação da mulher na

educação e mercado de trabalho, também são importantes campos de pesquisa a serem

explorados. Ainda para análises estatísticas, uma comparação dos dados deste estudo com

informações de outros países também seria objeto interessante de pesquisa, a fim de verificar

se a correlação e o crescimento da participação feminina são fenômenos globais.

Referências

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ARAUJO, Luis César G. de. As mulheres no controle do mundo – elas têm influência em todas as esferas, da política à comunicação. Forbes Brasil, São Paulo, 2004.

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