trabalho teoria da geografia espaço

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Roberto Lobato Corrêa afirma que o espaço, depois de ser negligenciado pela Geografia Tradicional reaparece como conceito-chave em debates ocorridos a partir da década de 70, com o surgimento da Geografia Crítica, através do materialismo histórico dialético. Entre esses debates, o autor diz que muitos autores rebatem a obra de Marx, ao dizerem que o espaço aparece marginalmente; em outros, há uma clara defesa em prol de Marx. Entre os que defendem a obra de Marx, aparece por exemplo, David Harvey. Entre tantas discussões, as razões do desenvolvimento da análise do espaço na obra de Marx, fundamentam-se, segundo Soja e Hadjimichalis (1979) apud Corrêa, devido “à intensificação das contradições sociais e espaciais tanto nos países centrais como periféricos” ocorridos durante a década de 60, com a crise do capitalismo. Daí, o espaço produzido apareceria como “receptáculo de múltiplas contradições espaciais” (Soja e Hadjimichalis (1979) apud Correa (2003). O espaço aparece definitivamente na obra marxista a partir da obra de Henri Lefebvre, onde este autor vai afirmar que o espaço é mais do que um lugar dos números e das proporções da Geografia Teorética-Quantitativa (espaço absoluto) ou a um conjunto de coisas, objetos reunidos, tampouco um instrumento político, um campo de ações de um indivíduo ou grupo. Para este autor, “o espaço é o lócus da reprodução das relações sociais de produção, isto é, reprodução da sociedade'. (Lefebvre, 1979, p. 34, apud Correa, 2003). O conceito de formação sócio-espacial é concebido por Milton Santos, onde “segundo ele, modo de produção, formação sócio-econômica e espaço são categorias interdependentes” (Corrêa, 2003). Segundo Corrêa, “uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço, do espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da sociedade”. Milton Santos aborda o significado do espaço no papel das formas e interações espaciais, dos fixos e fluxos. Temas como espaço e dominação, à totalidade do diabo, às metamorfoses do espaço habitado e às relações entre espaço técnica e tempo, entre outros, são exemplos de estudos realizados pelo autor. Na obra O Espaço Dividido, segundo Corrêa, Milton Santos contribuiu significativamente para a compreensão da organização espacial nos países subdesenvolvidos, no qual é contemplado a existência de dois circuitos da economia, um superior e outro inferior, diferenciando-se pelo processo de modernização. Ainda referindo-se a Milton Santos, Corrêa afirma que este autor “apresenta o espaço como fator social e não apenas um reflexo social. Constitui o espaço... em uma instância da sociedade”. Este vai dizer: “E como outras instâncias, o espaço embora submetido à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia”. Autonomia esta que faz do “espaço organizado pelo homem um papel a desempenhar na sociedade, condicionando-a, compartilhando do complexo processo de existência e reprodução social”. (Corrêa, 2003). Correa define organização espacial como várias outras expressões, entre as quais: “estrutura territorial, configuração espacial, arranjo espacial, espaço socialmente produzido ou simplesmente espaço”. E Moreira vai comparar a natureza e o significado do espaço a uma quadra poliesportiva: onde as atividades humanas são realizadas em localizações próprias e de modo simultâneo. As categorias de análise do espaço são, segundo Milton Santos (1985) apud Correa (2003), estrutura, processo, função e forma relacionados entre si de forma dialética: Forma é o aspecto visível, exterior de um objeto ou conjunto de objetos (casa, bairro, cidade, rede urbana), formando um padrão espacial. Segundo Corrêa, a forma não se encerra em si mesma, não possui autonomia, portanto não pode ser considerada de forma isolada Função é o papel a ser desempenhado pela forma. Assim, “trabalho, compras, lazer”, são algumas das funções de “casa, rede urbana, cidade, bairro”, por exemplo. Para captar a natureza histórica do espaço, deve-se inserir forma e função na estrutura social e econômica de uma determinada sociedade. Processo, segundo Corrêa, é uma ação que se realiza de modo contínuo, “é uma estrutura em seu movimento de transformação”. Não podemos considerar qualquer um dos quatro mencionados acima de forma isolada dos demais. Por exemplo, se considerarmos somente estrutura e processo como categorias de análise do espaço, estaríamos realizando uma análise a-espacial, não geográfica. Conforme afirma Santos apud Corrêa: “...tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas do mundo.”...”em conjunto, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade”.

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Teoria da Geografia

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Roberto Lobato Corrêa afirma que o espaço, depois de ser negligenciado pela Geografia Tradicionalreaparece como conceito-chave em debates ocorridos a partir da década de 70, com o surgimento da Geografia Crítica, através do materialismo histórico dialético. Entre esses debates, o autor diz que muitos autores rebatem a obra de Marx, ao dizerem que o espaço aparece marginalmente; em outros, há uma clara defesa em prol de Marx. Entre os que defendem a obra de Marx, aparece por exemplo, David Harvey.Entre tantas discussões, as razões do desenvolvimento da análise do espaço na obra de Marx, fundamentam-se, segundo Soja e Hadjimichalis (1979) apud Corrêa, devido “à intensificação das contradições sociais e espaciais tanto nos países centrais como periféricos” ocorridos durante a década de 60, com a crise do capitalismo. Daí, o espaço produzido apareceria como “receptáculo demúltiplas contradições espaciais” (Soja e Hadjimichalis (1979) apud Correa (2003).O espaço aparece definitivamente na obra marxista a partir da obra de Henri Lefebvre, onde este autor vai afirmar que o espaço é mais do que um lugar dos números e das proporções da Geografia Teorética-Quantitativa (espaço absoluto) ou a um conjunto de coisas, objetos reunidos, tampouco um instrumento político, um campo de ações de um indivíduo ou grupo. Para este autor, “o espaço éo lócus da reprodução das relações sociais de produção, isto é, reprodução da sociedade'. (Lefebvre,1979, p. 34, apud Correa, 2003).O conceito de formação sócio-espacial é concebido por Milton Santos, onde “segundo ele, modo de produção, formação sócio-econômica e espaço são categorias interdependentes” (Corrêa, 2003).Segundo Corrêa, “uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço, do espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da sociedade”. Milton Santos aborda o significado do espaço no papel das formas e interações espaciais, dos fixos e fluxos. Temas como espaço e dominação, à totalidade do diabo, às metamorfoses do espaço habitado e às relações entre espaço técnica e tempo, entre outros, são exemplos de estudos realizados pelo autor. Na obra O Espaço Dividido, segundo Corrêa, Milton Santos contribuiu significativamente para a compreensão da organização espacial nos países subdesenvolvidos, no qual é contemplado a existência de dois circuitos da economia, um superior e outro inferior, diferenciando-se pelo processo de modernização. Ainda referindo-se a Milton Santos, Corrêa afirma que este autor “apresenta o espaço como fator social e não apenas um reflexo social. Constitui o espaço... em uma instância da sociedade”. Este vai dizer: “E como outras instâncias, o espaço embora submetido à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia”. Autonomia esta que faz do “espaço organizado pelo homem um papel a desempenhar na sociedade, condicionando-a, compartilhando do complexo processo de existência ereprodução social”. (Corrêa, 2003).Correa define organização espacial como várias outras expressões, entre as quais: “estrutura territorial, configuração espacial, arranjo espacial, espaço socialmente produzido ou simplesmente espaço”. E Moreira vai comparar a natureza e o significado do espaço a uma quadra poliesportiva: onde as atividades humanas são realizadas em localizações próprias e de modo simultâneo.As categorias de análise do espaço são, segundo Milton Santos (1985) apud Correa (2003), estrutura, processo, função e forma relacionados entre si de forma dialética:Forma é o aspecto visível, exterior de um objeto ou conjunto de objetos (casa, bairro, cidade, rede urbana), formando um padrão espacial. Segundo Corrêa, a forma não se encerra em si mesma, não possui autonomia, portanto não pode ser considerada de forma isoladaFunção é o papel a ser desempenhado pela forma. Assim, “trabalho, compras, lazer”, são algumas das funções de “casa, rede urbana, cidade, bairro”, por exemplo. Para captar a natureza histórica do espaço, deve-se inserir forma e função na estrutura social e econômica de uma determinada sociedade.Processo, segundo Corrêa, é uma ação que se realiza de modo contínuo, “é uma estrutura em seu movimento de transformação”. Não podemos considerar qualquer um dos quatro mencionados acima de forma isolada dos demais. Por exemplo, se considerarmos somente estrutura e processo como categorias de análise do espaço, estaríamos realizando uma análise a-espacial, não geográfica.Conforme afirma Santos apud Corrêa: “...tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas do mundo.”...”em conjunto, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade”.