trabalho smlxl

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ISCTE | Mestrado Integrado em Arquitectura Teoria da Arquitectura Contemporânea II 3º Ano | 2º Semestre Docente: Ana Vaz Milheiro Koolhaas Tangram S, M, L, XL: Um Atlas da Arquitectura Metropolitana Luís Santiago Baptista Aline Gonçalves 60554 Andreia Simões 60825 Jéssica Morgado 60335 Mariana Brito 62071

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Crítica Reflexiva sobre o livro de Rem Koolhaas, S, M, L, XL

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  • ISCTE | Mestrado Integrado em Arquitectura

    Teoria da Arquitectura Contempornea II

    3 Ano | 2 Semestre

    Docente: Ana Vaz Milheiro

    Koolhaas Tangram

    S, M, L, XL: Um Atlas da Arquitectura Metropolitana

    Lus Santiago Baptista

    Aline Gonalves 60554

    Andreia Simes 60825

    Jssica Morgado 60335

    Mariana Brito 62071

  • 1

    S, M L, XL - BIGNESS em forma de livro

    O S,M,L,XL no um livro de arquitectura comum uma vez que foge de

    todos os mtodos de apresentao e representao habituais. No apresenta

    os projectos, mas em vez disso, representa-os, atravs de contradies,

    montagens, sobreposies, esquios, grficos, desenhos de processo, ensaios,

    entradas de dirio, poemas, sempre com o objectivo de provocar reaces,

    caracterstica muito prpria do seu autor, Remment Koolhaas, que "compila"

    este livro em parceria com o designer Bruce Mau. Sendo um cruzamento de vrias formas de expresso, S,M,L,XL apresenta

    os dramas e as dificuldades projectuais, mostrando a estrutura de um atelier

    que d mais valor ao desenvolvimento e negociao de um projecto de

    arquitectura do que ao seu resultado final. Este um livro que, acima de tudo,

    pretende apresentar o pensamento de um autor, no atravs de um edifcio,

    mas sim de uma publicao1, uma vez que se trata de uma monografia crtica

    que no pretende ser veculo para exposio de um trabalho mas para crtica

    desse prprio trabalho.

    o inicio da carreira de Rem Koolhaas como jornalista num jornal liberal

    que vai determinar a complexidade e a qualidade das suas obras escritas, pois

    este percebe que tudo o que feito ou dito cria impacto, tanto que a sua

    primeira grande obra corresponde a uma publicao escrita, Delirious New

    York, publicada em 1978. Rem Koolhaas reduz assim a distncia entre a

    escrita e a arquitectura, declarando que ambos so surpreendentes pois criam

    intrigas.2

    Pode afirmar-se que h uma relao subentendida entre a teoria do

    Bigness (ensaio de 1994) e o contedo e estrutura deste livro, comeando pela

    escala do mesmo. A escala desempenha um papel extremamente importante,

    no s ao nvel da densidade do livro, que tem 1376 pginas, mas tambm ao

    1Ciclo Koolhaas Tangram, Lisboa, 2015 S, M, L, XL: Um Atlas da Arquitectura Metropolitana. Lus Santiago Baptista. 2Koolhaas, Rem Entrevista:Lunch with the FT: Rem Koolhaas, Food and Drink. Veneza, 2011 [Em linha] Disponvel em

  • 2

    nvel da sua organizao e apresentao, servindo-se da heterogeneidade dos

    elementos para ilustrar os diferentes projectos do OMA (Office for Metropolitan

    Architecture). Esta concentrao de diversos elementos com caractersticas

    opostas, inseridas numa nica unidade, remete-nos para a arquitectura de

    Nova Iorque, em que os edifcios so organizados em altura, o que influencia o

    desenvolvimento da sociedade. Cada edifcio concentra em si as mais diversas

    programticas, tornando-se num mundo, o que atrai as mais variadas massas,

    promovendo assim a cultura da congesto.

    As experincias de Manhattan partem tambm da lobotomia dos edifcios,

    em que o arranha-cus dividido em duas partes: a fachada e o seu interior.

    Esta diviso tambm um dos factores que cativou Koolhaas, que revela

    desde sempre um fascnio pela cidade dividida. precisamente esse fascnio

    que nos leva ao captulo Foreplay do S,M,L,XL: a caracterizao do sonho de

    diviso da cidade de Londres em duas zonas, com o projecto Exodus,

    recorrendo a um objecto arquitectnico, semelhana do muro de Berlim.

    essa perversidade que acaba por dar o ttulo a este captulo, Foreplay, que

    Koolhaas caracteriza como o momento preliminar antes do projecto, em que

    mostra ao cliente um incio ainda cru do mesmo, de forma a alici-lo para o que

    ir concretizar, sendo este um termo oriundo da indstria cinematogrfica, cujo

    significado estimulao do parceiro, normalmente como um preldio do ato

    sexual.

    Partindo do conceito de Tabula Rasa, Koolhaas prope aplic-lo tambm

    s publicaes de arquitectura "tradicionais" e construir a sua prpria

    publicao, de acordo com as suas ideias. Abstraindo-se de tudo aquilo que

    tido at ento como modelo, ele cria uma publicao que apesar de ter o

    aspecto de um livro comum de arquitectura , na verdade, um statement. Para

    servir o propsito que este pretende, o S,M,L,XL jamais poderia ser igual a

    outras publicaes anteriores. Teria de se afirmar e, para tal, ser tambm

    representado de maneira diferente. Esta viso de Koolhaas aplica-se desde a

    pequena escala de um livro at grande escala metropolitana. Este comea

    por considerar que, apesar dos edifcios antigos serem preciosos, uma vez que

    em tempos serviram o seu propsito, impossvel restaurar a sua

    autenticidade, ressuscit-los: estes edifcios que tentamos conservar no

  • 3

    podem voltar ao que eram, portanto no faz sentido mant-los, bem como no

    faz sentido destru-los. O que devemos fazer aceitar o ciclo de vida dos

    edifcios e deixar que a cidade evolua naturalmente. esta evoluo natural da

    metrpole que nos possibilita partir de uma tctica de tabula rasa em que os

    vazios naturais so um potencial para a melhoria da cidade, Koolhaas afirma:

    Onde no existe nada, tudo possvel. Onde existe arquitectura nada (mais)

    possvel.3

    a maneira como Rem Koolhaas se deixa de importar com o contexto da

    cidade e cria algo de transcendente malha urbana que faz com que a cidade

    ganhe novos cones, independentes da sua envolvente, que nos remete para o

    termo fuck context, referido no ensaio Bigness .

    O Bigness no depende da cidade para poder existir, mas sim compete

    com a mesma. independente da cidade, ou melhor, o Bigness uma cidade

    por si s. () Bigness is no longer part of any urban tissue. It exists; At most, it

    coexist. Its subtext is fuck context.4

    So vrios os projectos em que o OMA tenta aplicar esta teoria. No

    entanto, devido carga histrica e sociolgica, estes vm-se impossibilitados

    de levar a cabo a sua construo. Entre esses projectos, o ZKM em 1992

    (Centro de Arte e Mdia, em Karlsruhe, Alemanha), em que apesar do concurso

    ter sido ganho pelo OMA, nunca viria a ser construdo, devido ao

    conservadorismo da cidade alem relativamente sua grande escala (de

    carcter Bigness), uma vez que iria criar uma grande sombra sobre o resto da

    cidade. Esta histria contada por Koolhaas em S,M,L,XL de uma forma

    dramtica, tanto que a histria -nos introduzida como Passion Play (que

    simboliza o sofrimento de Cristo na cruz) e a imagem utilizada para a

    caracterizar a de um homicdio em praa pblica, uma ironia ao impedimento

    da construo de um projecto j ganho.

    semelhana deste, outros tantos projectos para vrias cidades europeias

    (como Paris) foram rejeitados, o que provocar em Koolhaas um crescente

    desinteresse nestas cidades. Embora ele perceba que ali existe potencial

    3AAVV (2014) Koolhaas Tangram, Porto: Circo de Ideias.Pgina 51. 4"O Bigness no faz mais parte de qualquer tecido urbano. Ele existe.No mximo, ele coexiste. O seu subtexto : que se lixe o contexto".KOOLHAAS, Rem/MAU, Bruce (1995). S,M,L,XL, The Monacelli Press: New York. Pgina502.

  • 4

    (referindo-se particularmente a Paris), este nunca existe com as variveis

    necessrias para que se torne possvel. este desinteresse que justifica o seu

    foco futuro no Oriente (China, Nigria e Dubai) e principalmente em Nova

    Iorque. Tanto que em "Delirious New York" ele afirma que o escritor-fantasma

    de Manhattan5. E tambm em "Delirious New York" que constata que

    Manhattan uma contra-Paris, uma anti-Londres.6

    Partindo de uma folha em branco, assim como quando projecta um novo

    edifcio para cidade, Koolhaas deixa de "procurar uma relao com a sua

    envolvente" e liberta-se de tudo aquilo que tido at ento como correcto,

    comeando do zero, tambm este livro se despega de todos os conceitos e

    definies de um livro comum de arquitectura, criando algo completamente

    novo, inusitado, inovador e, acima de tudo, provocador.

    Rem Koolhaas escreve cenrios arquitectnicos a diferentes escalas, quer

    ao nvel do seu pensamento, quer ao nvel da sua arquitectura. Materializa e

    manifesta o seu pensamento crtico, no s a uma escala mais pequena,

    presente no livro S,M,L,XL, como a uma escala maior, incorporando o seu

    universo paranico-crtico tambm na escala arquitectnica.

    S,M,L,XL trata-se, portanto, de uma afirmao (statement) por parte de

    Koolhaas, semelhana de toda a sua obra.

    5I was Manhattans ghostwritter. KOOLHAAS, Rem (1978,1997). Delirious New York: A Retroactive Manifesto of Manhattan, The Monacelli Press: New York. Pgina 11. 6Manhattan is a counter-Paris, an anti-London". KOOLHAAS, Rem (1978,1997). Delirious New York: A Retroactive Manifesto of Manhattan, The Monacelli Press: New York. Pgina 20

  • 5

    Bibliografia/Webgrafia

    AAVV (2014) Koolhaas Tangram, Porto: Circo de Ideias.

    ELIAS DE SOUZA, Gabriel Girnos (2013). O design da mdia livro na construo de um discurso projetual: caso da Villa DallAva de Rem Koolhaas em S.M.L.XL.So Paulo: arq.urb.

    FAST CO DESIGN - Fast Co Design [em linha] Nova Iorque: HUSTWIT, Gary, act. 2015. [consult. 10 Abril 2015] Disponvel na internet .

    KOOLHAAS, Rem (1978, 1997). Delirious New York: A Retroactive Manifesto of Manhattan, The Monacelli Press: New York.

    KOOLHAAS, Rem/MAU, Bruce (1995). S,M,L,XL, The Monacelli Press: New York.

    MUNYNCK, BERT DE, in Archis #05The end of the skyscraper as we know it: from CCG to CCTV. [em linha] Pequim, 2007 [consult. 5 Abril 2015] Disponvel na internet

    NASCIMENTO, Guilherme - arquiTORTURA! [em linha] Rio de Janeiro: NASCIMENTO, Guilherme/SINGH Natlia, act. 2010. [consult. 10 Abril 2015] Disponvel na internet .

    ZALEWSKI, DANIEL - The New Yorker- INTELIGENT DESIGN. [em linha] Nova Iorque, 2005. [consult. 10 Abril 2015] Disponvel na internet .

    MUNYNCK, BERT DE, in Archis #05The end of the skyscraper as we know it: from CCG to CCTV. [Em linha] Pequim, 2007 [consult. 5 Abril 2015] Disponivel da internet

    MUNYNCK, BERT DE, in Archis #05The end of the skyscraper as we know it: from CCG to CCTV. [em linha] Pequim, 2007 [consult. 5 Abril 2015] Disponvel na internet MUNYNCK, BERT DE, in Archis #05The end of the skyscraper as we know it: from CCG to CCTV. [Em linha] Pequim, 2007 [consult. 5 Abril 2015] Disponivel da internet