trabalho individual de longa duraÇÃo força de... · resumo analÍtico a forÇa de ... os...
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INSTITUTO DE ALTOS ESTUDOS MILITARES
CURSO SUPERIOR DE COMANDO E DIRECÇÃO
ANO LECTIVO 2004 / 2005
TRABALHO INDIVIDUAL DE LONGA DURAÇÃO
AA FFOORRÇÇAA DDEE RREEAACCÇÇÃÃOO RRÁÁPPIIDDAA CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO NNAA DDEEFFEESSAA CCOONNTTRRAA
AAMMEEAAÇÇAASS AAOOSS IINNTTEERREESSSSEESS NNAACCIIOONNAAIISS EE NNOO ÂÂMMBBIITTOO
DDOOSS CCOOMMPPRROOMMIISSSSOOSS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS
Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha
Coronel de Infantaria
A Força de Reacção Rápida
DDOOCCUUMMEENNTTOO DDEE TTRRAABBAALLHHOO
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EEXXÉÉRRCCIITTOO PPOORRTTUUGGUUÊÊSS..
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 i
A Força de Reacção Rápida
AA FFOORRÇÇAA DDEE RREEAACCÇÇÃÃOO RRÁÁPPIIDDAA CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO NNAA DDEEFFEESSAA
CCOONNTTRRAA AAMMEEAAÇÇAASS AAOOSS IINNTTEERREESSSSEESS
NNAACCIIOONNAAIISS EE NNOO ÂÂMMBBIITTOO DDOOSS
CCOOMMPPRROOMMIISSSSOOSS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS
IAEM, 21 de Fevereiro de 2005
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 ii
A Força de Reacção Rápida
DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA
Dedico este trabalho ao Homem, ao Militar, ao Chefe, ao “meu” Comandante, ao Herói Português, que tanto me inspirou e ajudou com o seu exemplo:
- Cor Tir Inf RAUL MIGUEL SOCORRO FOLQUES.
Raul Cunha
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 iii
A Força de Reacção Rápida
RREESSUUMMOO AANNAALLÍÍTTIICCOO
A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA, CONCEITO DE EMPREGO NA DEFESA CONTRA
AMEAÇAS AOS INTERESSES NACIONAIS E NO ÂMBITO DOS COMPROMISSOS
INTERNACIONAIS
por Cor Raul Cunha
O Exército do amanhã deverá ser mais projectável e ter a capacidade de enfrentar as futuras
ameaças ao longo de todo o espectro da guerra. A nova Força de Reacção Rápida é essencial para
esta transformação do Exército. Este documento examina o papel da FRR e a forma como esta
preenche o leque de capacidades das forças existentes. Começa por enquadrar os actuais tipos de
conflito existentes no Mundo, as alianças em que Portugal se insere e as ameaças que enfrenta ao
tentar contribuir para uma estabilidade generalizada. Após algumas considerações sobre o tipo
destas forças e a sua estrutura habitual, ao analisar a questão central, este documento apresenta um
conceito operacional que está fundamentalmente articulado e desenvolvido com base na força tipo,
sem deixar de se interrelacionar com as possíveis missões e com o ambiente operacional.
AABBSSTTRRAACCTT
THE RAPID REACTION FORCE. ITS OPERATIONAL CONCEPT TO FACE THE POSSIBLE
THREATS TO THE NATIONAL INTERESTS AND WITHIN THE FRAME OF
INTERNATIONAL COMPROMISES
by Col. Raul Cunha
The Army of tomorrow must be more deployable and capable of meeting future threats across the
full spectrum of war. Essential to this transformation is the Army’s new Rapid Reaction Force
(RRF). This document examines the RRFs role and how it bridges the existing capabilities gap of
its forces. It starts with the framing of the present types of conflicts in the world, the alliances
regarding Portugal and the threats it faces when trying to contribute for the overall stability. After
some basic considerations on this type of forces and their usual structure, when analyzing the
research question, this document presents an operational concept which is fundamentally developed
based on a type-force and relating it with the possible missions and the operational environment.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 iv
A Força de Reacção Rápida
AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas a quem tenho de agradecer pelas suas importantíssimas contribuições para
este trabalho. Foi uma tarefa muito exigente e na sua resolução contei com a ajuda e conselho de
muitos amigos, todos camaradas de “armas”.
Antes de todos os demais, tenho de reconhecer o contributo dos meus companheiros dos SAS1, pois
além de me incentivarem a manter uma apreciável forma física conjugando-a com substanciais
degustações de “Coca-Cola”, foram incansáveis nos estímulos, sugestões e conselhos. Eles foram,
sem dúvida, e é com orgulho que o afirmo, os autênticos “orientadores” deste trabalho, são
verdadeiros, grandes e fiéis amigos e decididamente acreditaram nas minhas faculdades pelo que
espero nunca os vir a decepcionar, profissionalmente ou em termos pessoais.
Em segundo lugar, quero agradecer aos Cor Inf Martins Branco, Cor Art Rovisco Duarte, TCor Inf
Perestrelo e TCor Inf Almendra, os quais comigo e com alguns dos companheiros dos SAS fazem
parte do privilegiado “Grupo de Florença”2 e ao Cor Inf Cameira Martins e TCor Cav Luís Fonseca
pela sua ajuda em termos de elementos de consulta e oportunas “dicas”. A sua colaboração em
muito facilitou este projecto.
Quero também agradecer, em especial, ao meu velho amigo e “cunhado” Cor Tir Art Vítor Viana,
pela inspiração e conselhos ao longo de todo este processo – sem dúvida que o seu exemplo me
motivou a uma entrega ainda um pouco maior. Devo acrescentar que foram de extrema utilidade
todas as nossas conversas, sobre inúmeros temas relacionados com o Curso – com ele aprendi
sempre alguma coisa.
Por último, quero agradecer à Direcção do IAEM pela valiosa orientação, ensinamentos e apoios
recebidos ao longo do Curso Superior de Comando e Direcção, até à data em que fiz a entrega deste
trabalho. Aproveito ainda para agradecer aos meus companheiros de curso pela sua camaradagem e
amizade.
Só me resta deixar uma nota de amor para a minha mulher e filhos, por quem sigo lutando.
1 “Saturdays and Sundays”: núcleo “duro” que se junta aos Sábados e Domingos de manhã para juntos palmilharem uns quilómetros em passo de corrida e amena cavaqueira – TCor AdMil João Reis, TCor AdMil Jorge Reis e TCor Eng José Fonseca. Não confundir com os “Special Air Service”, que esses só ajudam alguém, se para tal receberem ordem de S. Majestade Britânica.
2 Militares que serviram no EM da EUROFOR, nessa belíssima cidade italiana. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 v
A Força de Reacção Rápida
SIGLAS E ABREVIATURASSIGLAS E ABREVIATURAS AA Anti-Aérea
ACar Anti-Carro
AMat Anti-Material
Ap Apoio
AT Aeroterrestre
BAAT Batalhão de Apoio Aeroterrestre
BAI Brigada Aerotransportada Independente
BApSvc Batalhão de Apoio de Serviços
Bat Batalhão
BCMDS Batalhão de Comandos
BI Batalhão de Infantaria
BIMec Batalhão de Infantaria Mecanizada
BLI Brigada Ligeira de Intervenção
BMI Brigada Mecanizada Independente
Brig Brigada
CAt Companhia de Atiradores
CAp Companhia de Apoio
Cbt Combate
CCMDS Companhia de Comandos
CCS Companhia de Comando e Serviços
CEDN Conceito Estratégico de Defesa Nacional
CEM Conceito Estratégico Militar
CEME Chefe de Estado Maior do Exército
CIMIC Civil-Military Cooperation (Cooperação Civil Militar)
CIOE Centro de Instrução de Operações Especiais
CIS Communication and Information Systems (Sistemas de Comunicações e Informação)
CJTF Combined Joint Task Force (Força Operacional Conjunta e Combinada)
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 vi
A Força de Reacção Rápida
CMDS Comandos
CP Capability Package (Conjunto de Capacidades)
CPLP Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa
CRO Crisis Response Operations (Operações de Resposta a Crises)
CSAR Combat Search and Rescue (Busca e Salvamento em Combate)
DOE Destacamento de Operações Especiais
EM Estado-Maior
EME Estado Maior do Exército
EMGFA Estado Maior General das Forças Armadas
EOD Explosive Ordnance Disposal (Inactivação de Engenhos Explosivos)
ETAT Escola de Tropas Aerotransportadas
ETE Escola de Tropas Especiais
EU European Union
EUA Estados Unidos da América
EUFOR European Force (Força Europeia – na Bósnia-Herzegovina)
Expl Exploração
FA Forças Armadas
FAC Forward Air Controller (Controlador Aéreo Avançado)
FOPE Força Operacional Permanente do Exército
FRR Força de Reacção Rápida
Fuz Fuzileiros
GAC Grupo de Artilharia de Campanha
GALE Grupo de Aviação Ligeira do Exército
GU Grande Unidade
HIC High Intensity Conflict (Conflito de Alta Intensidade)
HRF High Readiness Forces (Forças de Elevada Prontidão)
ISAF International Security Assistance Force (Força Internacional para Auxílio à Segurança – Afeganistão)
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 vii
A Força de Reacção Rápida
LPM Lei de Programação Militar
Man Manutenção
MDN Ministério da Defesa Nacional
MEU Marine Expeditionary Unit
MIFA Missões das Forças Armadas
ML Metralhadora Ligeira
Mort Morteiros
Msl Míssil
MSU Multinational Specialized Unit
NATO North Atlantic Treaty Organisation
NBQ Nuclear, Bacteriológico e Químico
NPL Navio Polivalente Logístico
NRF NATO Reaction Force
OAF Observador de Apoio de Fogos
ONU Organização das Nações Unidas
OSCE Organização para a Cooperação e Segurança na Europa
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
Pára Pára-quedistas
PC Posto de Comando
PE Polícia do Exército
PfP Partnership for Peace (Parceria para a Paz)
PREC Precursores
PS Posto de Socorros
Reab Reabastecimento
RLA Reconhecimento de Longo Alcance
RRF Rapid Reaction forces
SACEUR Supreme Allied Commander Europe
SFN Sistema de Forças Nacional
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 viii
A Força de Reacção Rápida
SFOR Stabilization Force (Força de Estabilização – na Bósnia-Herzegovina)
SOGA Saltador Operacional a Grande Altitude
TA Target Acquisition (Aquisição de Objectivos)
TO Teatro de Operações
TOA Transfer of Authority (Transferência de Autoridade)
Tpt Transporte
UAV Unmanned Aerial Vehicle (Veículo Aéreo não tripulado)
UE União Europeia
UEB Unidade de Escalão Batalhão
UN United Nations (Nações Unidas)
VBTP Viatura Blindada de Transporte de Pessoal
VSTOL Vertical/Short Take-off and Landing
ZL Zona de Lançamento
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 ix
A Força de Reacção Rápida
ÍNDICE GERALÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................1
2. CONFLITUALIDADE E ALIANÇAS. AMEAÇAS A PORTUGAL
a. A Actual Conflitualidade Mundial...........................................................................................3
b. As Organizações Internacionais, as Alianças e Coligações na Prevenção e Resolução dos
Conflitos ...................................................................................................................................5
c. As Ameaças a Portugal ..........................................................................................................10
3. A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITO
a. Pressupostos e Linhas Orientadoras.......................................................................................12
b. Estrutura e Possibilidades ......................................................................................................20
c. Vantagens e Inconvenientes desta Organização da FRR .......................................................24
4. CONCEITO DE EMPREGO
a. Finalidade ...............................................................................................................................24
b. Pressupostos ...........................................................................................................................25
c. Conceito Operacional.............................................................................................................26
d. Orientações.............................................................................................................................27
e. Empenhamento Operacional ..................................................................................................34
f. Requisitos Fundamentais para Aplicação do Conceito de Emprego da FRR ........................35
g. Critérios para Validação.........................................................................................................36
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
a. Generalidades .........................................................................................................................36
b. Conclusões Sectoriais.............................................................................................................37
c. Horizonte Temporal ...............................................................................................................40
GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICES:
A - ORGANOGRAMAS
B - INSTRUÇÃO
C - APOIO LOGÍSTICO
D - APOIO DE C4IVR
ANEXOS:
A - NEW AIRLIFT REQUIREMENTS
B - VIATURA TIPO “MULA MECÂNICA”
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 x
A Força de Reacção Rápida
11 –– INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO "A rapidez é a essência da guerra."
Sun Tzu – “ A Arte da Guerra” – 500 AC
Porquê uma Força de Reacção Rápida (FRR)
A afirmação de Sun Tzu, que encima o capítulo, sintetiza magistralmente a razão da existência de uma
Força de Reacção Rápida e da importância, corolário da necessidade presente, do desenvolvimento
conceptual do emprego dessa força.
O Exército Português atravessa um processo de transformação, organizando-se e dotando-se de forças
mais flexíveis e de grande mobilidade, com adequados níveis de prontidão e sustentação, de modo a ser
capaz de enfrentar o amplo espectro de ameaças existente no actual ambiente estratégico e a prosseguir
outros interesses nacionais.
Um dos aspectos fundamentais dessa transformação é a alteração das estruturas das actuais três Brigadas
que compõem a Força Operacional Permanente do Exército (FOPE), de forma a que se preencha todo o
leque de constituições possíveis – Pesada, Média e Ligeira3. Dessa alteração decorre também a
necessidade de rendibilizar todo o “know-how” existente nas actuais “ditas” Forças Especiais e, face às
limitações existentes, quer económicas, quer de infra-estruturas, quer de pessoal, determinar um diferente
enquadramento para todas estas forças. De facto, também as actuais condições restritivas envolventes têm
por consequência a desactualização do modelo existente para a Brigada Aerotransportada, pelo que
também se impõe a sua reestruturação e adaptação às novas realidades.
Nos tempos actuais, a possibilidade de um rápido emprego das forças militares imediatamente disponíveis
nos locais problemáticos do mundo ganhou um novo impulso, necessidade e significado político-
estratégico. Os conflitos mais recentes, tais como as duas Guerras do Golfo, os massacres inter-étnicos na
ex-Jugoslávia e as chacinas no Ruanda, enormemente mediatizados, espevitaram a consciência
internacional e aumentaram o já crescente sentimento de culpa, por omissão ou inacção contrários aos
benefícios da paz pós guerra fria, das comunidades regionais e internacionais. Tal, por sua vez, provocou o
aparecimento de missões para as forças armadas, mais “consideradas” e de melhor aceitação pela opinião
pública: as de prevenir, ou pelo menos minimizar os conflitos armados. Um velho conceito4 ganhou uma
visibilidade e popularidade acrescidas com o nome de “Forças de Reacção Rápida (FRR)” – “Rapid
Reaction Forces (RRF)”.
Caracterização Genérica da FRR
A Força de Reacção Rápida terá de ser uma força de combate apta a enfrentar um largo espectro de
ameaças e passível de utilização em ambientes operacionais muito diversificados. Como um todo, deverá
poder proporcionar capacidades suficientes para se constituir como uma das unidades de manobra de uma
Divisão ou mesmo Corpo de Exército e, eventualmente, como o Comando ou parte do Comando, num
Teatro Operacional de maior importância; no entanto, dever-se-ão ter em conta as suas limitações neste 3 De facto, com a aquisição e futura atribuição à Brigada Ligeira de Intervenção (BLI) da família de novas viaturas blindadas de
rodas, o “peso” desta GU passará por certo a deixar de ser Ligeiro devendo outrossim ser considerado como Médio. 4 Bem como outros conceitos naturalmente renascidos, como o de forças expedicionárias. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1
A Força de Reacção Rápida âmbito, nomeadamente em protecção, apoio de fogos e apoio de serviços. Acima de tudo, a FRR estará
essencialmente vocacionada para destacar sub-unidades de escalão Agrupamento e Sub-agrupamento para
operações de contingência em menor escala. A sua capacidade de rápida projecção e entrada não
permissiva em qualquer teatro permitir-lhe-á desenvolver operações ofensivas, imediatamente após a sua
entrada, de forma a conter, minimizar, estabilizar ou resolver um conflito, ou então implementar a paz. Em
tempo de paz, a FRR conduzirá os seus programas de treino e aprontamento, dando especial atenção às
questões de racionalização, normalização e interoperabilidade de equipamentos e doutrina com os outros
Ramos e com potenciais aliados ou parceiros de coligação.
Definição do Objectivo de Investigação
Considerou-se importante estabelecer, com coerência e fluidez, os elementos doutrinários base para o
emprego da FRR, em conflitos de carácter assimétrico ou convencional:
Na defesa do TN;
Como componente terrestre numa FRR Nacional (conjunta);
Autonomamente na defesa dos interesses nacionais fora do TN;
Em alianças e coligações, fora do TN e em qualquer “faixa” do espectro de conflitos.
Do Conceito
O Conceito de Emprego da FRR aqui desenvolvido é um conceito experimental, carecendo de validação
em exercícios e em operações. Pretende constituir-se como uma referência de “como fazer”, de acordo
com a arte e ciência da guerra, e não como um mero arrolamento de capacidades existentes ou a
desenvolver nas suas unidades constituintes. Não define nem pormenoriza, consequentemente, detalhes
práticos. Produto sempre inacabado, após uma validação inicial deverá sujeitar-se a um processo
incremental e iterativo de aperfeiçoamento ao longo do tempo, respondendo à experiência adquirida e à
evolução tecnológica, organizacional, táctica e político-estratégica.
O presente conceito está fundamentalmente articulado e desenvolvido com base na força tipo (um dado
essencial), sem deixar de se interrelacionar com as missões tipo – desde as operações de apoio à paz até
aos conflitos convencionais de alta intensidade – e com o ambiente operacional.
Metodologia
O percurso metodológico iniciou-se através da realização de uma pesquisa bibliográfica e documental
sobre forças de reacção rápidas estrangeiras.
Identificou-se, em seguida, a questão central que serviu de guia para a investigação:
Como empregar uma FRR num ambiente operacional em que as ameaças mais prováveis
assumem um carácter difuso e múltiplo, onde o assimétrico poderá conviver simultaneamente com
o convencional?
Perante esta questão central, e tendo em atenção os meios existentes ou passíveis de obter a curto prazo,
identificaram-se algumas questões derivadas:
Que missões irá cumprir e como?
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 2
A Força de Reacção Rápida Qual a organização a adoptar?
Qual a composição e capacidades inerentes?
Que especificidade organizacional, técnica ou táctica, poderá potenciar e optimizar a experiência
adquirida nos TO africanos e nas missões de apoio à paz?
Quais as consequências resultantes a nível doutrinário, organizacional, instrução e treino?
Retomou-se então a pesquisa bibliográfica e documental, não só de documentos de organizações
internacionais, alguns deles classificados, como também de artigos académicos nacionais e estrangeiros e
trabalhos de think tanks europeus, africanos, australianos e norte-americanos. Como complemento deste
instrumento de investigação, entrevistou-se o Chefe da Divisão de Planeamento e Programação do EME e
Sub-CEME interino, que tinha estado na génese do tema proposto e que pôde transmitir as questões
fundamentais que esperava ver tratadas, clarificando simultaneamente os conceitos e ideias que presidiram
à introdução deste novo elemento no Sistema de Forças do Exército.
Estrutura e Conteúdo do Trabalho
O trabalho está estruturado numa sequência que se considera lógica para dar resposta à questão central.
Após a introdução, dedica-se o segundo capítulo à análise conceptual do que tem sido a evolução recente
da conflitualidade, à percepção das ameaças a Portugal e ao enquadramento das alianças em que o nosso
País se insere, em matéria de segurança e defesa. No terceiro capítulo, descrevem-se possíveis linhas de
orientação para a constituição da Força e apresenta-se uma estrutura tipo com a pormenorização dos
principais componentes e das suas capacidades em termos operacionais. No quarto capítulo, procura-se
dar resposta à questão central, individualizando-se, nas suas linhas gerais, um conceito de emprego para a
Força descrita no capítulo anterior. O trabalho termina com a apresentação de conclusões e as
recomendações daí decorrentes, entendidas como adequadas ao objecto do presente estudo e dentro das
limitações de espaço e de tempo para ele consideradas.
22 –– CCOONNFFLLIITTUUAALLIIDDAADDEE EE AALLIIAANNÇÇAASS.. AAMMEEAAÇÇAASS AA PPOORRTTUUGGAALL “... na realidade, as alianças não são mais do que casamentos de conveniência e que tendem a dissolver-se na ausência de uma ‘finalidade geral’ claramente reconhecida.”
William Tow5
a. A Actual Conflitualidade Mundial
A queda do Muro de Berlim, em 1989, materializou o fim da Guerra Fria. Foi uma Guerra prolongada,
que se dirimiu durante mais de quarenta anos entre dois blocos, cada um deles liderado pela sua
superpotência. Foi, também, uma Guerra sustentada por uma capacidade nuclear que punha em causa, se
utilizada, a própria Humanidade. Conscientes dessa realidade, os líderes das duas superpotências
preocuparam-se em manter um baixo nível de confrontação directa, tendo reservado a guerra quente para
as áreas de interesse geoestratégico mundial em disputa. Assim sucedeu na Coreia, no Vietname e em 5 TOW, William T.: The United States in Northeast Asia. The future of alliances, Paper prepared for IRAPRU (UQ)-ASPI
workshop ‘Northeast Asian Security: Policy Challenges for Australia’ Customs House, Brisbane, 17-18 October 2003, p. 2, acedido em 12Ago04.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 3
A Força de Reacção Rápida África, para citar apenas as guerras ou confrontações mais significativas.
A previsibilidade foi uma das características marcantes da Guerra Fria. Previsibilidade na repartição do
trabalho estratégico, na evolução e aplicação das doutrinas, nas ameaças, na gestão das crises, na
possibilidade de empenhamento militar efectivo, na própria sucessão e personalidade dos líderes. Foi, em
suma, um período de “espada de Damócles” que sempre pendeu sobre a cabeça dos ameaçados sem
jamais ter chegado a cair.
O fim da Guerra Fria levou alguns analistas a vaticinar o fim da História6, esta entendida como o processo
evolutivo das sociedades humanas. Segundo eles, a derrota do comunismo perante a democracia liberal
constitui a demonstração cabal que esta é a forma final de governo humano, não havendo lugar a mais
nenhuma evolução. Coincidente com a ideia de alguns pensadores do passado7, muitos chegaram a prever
que esta situação de liberdade e igualdade política e económica acarretaria a redução progressiva dos
conflitos até se atingir o estádio final de não-guerra.
Contudo, a realidade demonstrou o inverso. Após a queda do Muro de Berlim, o número de conflitos
aumentou, bem como o seu poder destrutivo e alcance. Por exemplo, no respeitante a baixas de civis
verificadas na segunda metade do século XX, a respectiva percentagem foi aumentando progressivamente
de 52% nos anos sessenta, para 73% nos anos setenta, para 85% nos anos oitenta, até se atingir 95% no
final do século8.
Na busca das razões para esse aumento de conflitualidade, qualquer cidadão mais atento diria que o
sistema internacional passou a ter uma única superpotência; que a confrontação Leste-Oeste deu lugar à
confrontação Norte-Sul; que a globalização diluiu o conceito tradicional de fronteira e associou-lhe novos
conceitos; que os conflitos têm sido mais intra-estados e menos inter-estados; e que têm emergido novas
ameaças e riscos difusos, de que o maior expoente é o terrorismo transnacional. Atrever-nos-íamos a
resumir a situação em quatro “ismos”: unilateralismo, nacionalismo, transnacionalismo e terrorismo. O
unilateralismo advém da posição de supremacia e, sobretudo, da postura dos EUA no xadrez mundial, por
muitos já apelidada de “Estado Imperial”. O nacionalismo catalisa estados de tensão entre comunidades
diferentes sob os pontos de vista étnico, religioso, sócio-cultural ou económico, conduzindo a guerras,
sobretudo no interior dos Estados (de que exemplos marcantes são a Bósnia, o Ruanda, a Chechénia e o
Kosovo, para só citar alguns). O transnacionalismo consubstancia-se na globalização, que permite o
acesso e a partilha de bens, capitais, serviços e informação de e para qualquer parte do mundo, muitas
vezes de uma forma quase imediata, mas que origina lutas por recursos naturais e matérias-primas,
competição económica desenfreada, degradação ambiental, migrações das zonas pobres do Sul para as
zonas ricas do Norte, bem como agudização de ódios e tensões, pela percepção e acentuação das
assimetrias existentes. Por fim, o terrorismo: é a face mais proeminente e preocupante – muito
tragicamente visível no 11 de Setembro de 2001 e no 11 de Março de 2004 – das novas ameaças, onde
6 FUKUYAMA, Francis: O Fim da História e o Último Homem, Gradiva, Lisboa, Setembro de 1992. 7 Entre os quais Kojève, discípulo de Hegel, que defendeu esta linha de pensamento, em contraposição ao seu mestre. 8 Fonte: PEACE PLEDGE UNION, Great Britain. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 4
A Força de Reacção Rápida também pontificam a proliferação de armas de destruição em massa, o crime organizado e as decorrências
de Estados párias ou do fenómeno de desestruturação dos Estados.
O mundo está, portanto, perante a realidade por muitos já classificada de “nova conflitualidade”, mas onde
os fenómenos apontados não são novos. Já houve situações na História de uma única grande potência
mundial. Sempre existiram aspirações nacionalistas no interior de Estados. A globalização começou a ser
desenhada nos finais dos anos oitenta do século passado. O terrorismo também não é um fenómeno novo.
Pese embora o “terrorismo do novo tipo” se distinga do “terrorismo tradicional” pelo seu impacto
estratégico, potenciado pela utilização de violência em larga escala e pela capacidade de actuação a nível
global. O que, de facto, diferencia a “nova” da “velha” conflitualidade são os modus faciendi. A
superpotência mundial tem capacidade para gerir, conduzir, sustentar e vencer guerras prolongadas e de
modo inteiramente independente, bem como de impor a sua vontade perante a impassibilidade forçada das
demais nações. Os fenómenos nacionalistas sobrepuseram-se à lógica de um Estado uno e indivisível, e
conduziram a guerras ou a extremismos revestidos de grande violência, em particular os
fundamentalismos islâmicos. A globalização levou os Estados a repensar toda a lógica da defesa dos seus
“santuários” territoriais, na medida em que os recursos neles existentes e por vezes também já uma parte
significativa da massa humana, poderão já não ser exclusivamente nacionais. O terrorismo transnacional
demonstrou que nada está imune à sua acção e que, mesmo podendo ser considerado como uma ameaça
externa por uma nação, esta está sujeita à emergência do terrorismo do exterior para o seu interior. Daí a
actual discussão que se verifica, sobretudo em Portugal, em torno do papel das Forças Armadas, cuja
missão fundamental é “assegurar a defesa militar da República contra qualquer agressão ou ameaça
externas” 9.
Na procura de antever qual será a evolução previsível das capacidades militares dos principais actores
internacionais neste ambiente de nova conflitualidade, um estudo realizado pelo Jane's Information
Group10 conclui que os EUA irão manter o seu predomínio e serão o único Estado capaz de projectar
poder ao nível global até por volta de 2030, ano em que a China e a UE provavelmente se lhes juntarão.
Também por essa altura a Índia e o Japão poderão já deter uma capacidade multi-regional análoga à
actualmente usufruída quer pela Grã-Bretanha quer pela França. Parece ser consensual a opinião que
muito dependerá dos resultados obtidos pelos EUA, no curto e médio prazos, na condução da war on
terror11.
b. As Organizações Internacionais, as Alianças e Coligações na Prevenção e Resolução dos
Conflitos
A guerra é considerada a ultima ratio para a resolução de conflitos. Adriano Moreira relembra que a
guerra materializa uma subida aos extremos, pois “não é fácil encontrar um problema que a guerra tenha
9 Art.º 9.º da Lei n.º 29/1982, de 19 de Dezembro, Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas. 10 Jane's Information Group, “Estudo sobre Capacidade Militar Relativa”, Agosto de 2002.
11 War on terror – política “oficial” dos EUA de combate directo ao terrorismo, que se iniciou com as acções militares no Afeganistão, em 2002.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 5
A Força de Reacção Rápida resolvido, nem uma guerra em que os dividendos da paz compensem o preço sofrido por todos os
intervenientes”12. Já há mais de 2.000 anos Sun Tzu havia observado que “vencer o exército adversário
sem o combater é o apogeu da arte”13. Este ilustríssimo pensador aflorou a acepção tradicional da
diplomacia, que se define como a arte de convencer sem empregar a força. Mas não se trata da diplomacia
pura, porque esta só existe quando têm lugar relações de cooperação e acomodação. “A acção diplomática
recorre, em maior ou menor grau, a formas de pressão (económica, psicológica ou de outra natureza), pelo
que o que na realidade então existe é uma estratégia diplomática”14.
A Organização das Nações Unidas (ONU)
No capítulo da prevenção dos conflitos ou, sob outro ponto de vista, da estratégia diplomática, a ONU
tem, por definição, um papel destacado, uma vez que o seu principal objectivo é a manutenção da paz. “O
fim da Guerra Fria implicou um regresso do mundo à ONU, talvez porque era a única fonte de
legitimidade sobrevivente para buscar uma resposta aos conflitos que se multiplicam em todas as áreas.”15
A realidade, porém, é que a ONU tem tardado em afirmar-se como uma verdadeira gestora das crises
internacionais. No capítulo da intervenção directa em conflitos foi claramente impotente, para não dizer
humilhada, na Bósnia, no Camboja, na Somália e no Ruanda. A declaração ratificada por 151 Chefes de
Estado na Cimeira do Milénio, em Setembro de 2000, visando dar às operações de manutenção de paz das
Nações Unidas meios e condições que retirassem aos capacetes azuis a imagem de tropa ineficaz
dificilmente foi posta em prática.16 Mesmo na parte que advém da sua legitimidade como fórum de
diálogo e ponto de encontro para a resolução de diferendos entre as nações, a ONU viu a sua credibilidade
ferida, primeiramente pela intervenção da OTAN no Kosovo, em 1999, que obrigou a uma Resolução do
Conselho de Segurança a posteriori, mas sobretudo pela intervenção dos EUA e do Reino Unido no
Iraque, em 2003. Tendo considerado ilegítima esta ofensiva militar por ausência de consenso
internacional, a ONU foi sendo ultrapassada pelos acontecimentos, a ponto de se ver obrigada a respaldar
acções ulteriores, através de resoluções habilmente negociadas pelos EUA. Hoje em dia, a percepção
generalizada é que a ONU intervém numa determinada crise apenas em segunda instância, ou seja, por
ausência de interesse da superpotência mundial ou quando por esta é instada a intervir e esteja garantido o
não-veto pelos outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança. Contudo, a esta percepção
contrapõe-se, por exemplo, a do Embaixador Santa Clara Gomes, quando refere que “as Nações Unidas
não são um substituto para os equilíbrios clássicos de poder, mas têm uma função de segurança
fundamental. Por outras palavras, são um instrumento muito importante do poder.”17
As Alianças e Coligações
A constituição e a natureza de alianças e coligações, e os seus desaparecimentos, têm a ver com os 12 MOREIRA, Adriano, Teoria das Relações Internacionais, Almedina, Coimbra, 1997, p. 85 13 SUN TZU, A Arte da Guerra, Publicações Europa-América, Mem Martins, p.18 14 COUTO, Abel C., Elementos de Estratégia, Vol. I, IAEM, Lisboa, 1988, p.81 15 MOREIRA, Adriano, op. cit., p. 511 16 Houve, no entanto, uma missão em que a ONU reagiu de forma clara a acções violentas por parte de forças hostis. Na missão da
UNTAET, em Timor Leste, 3 elementos de grupos hostis foram mortos pela força de paz da ONU, no período de Fevereiro de 2000 até finais de Outubro do mesmo ano.
17 GOMES, Embaixador Gonçalo Santa Clara: Entrevista ao Diário Económico, edição de 27Jan05. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 6
A Força de Reacção Rápida (des)interesses comuns das partes18. No capítulo militar, as nações poderão agrupar-se segundo dois tipos
de estruturas militares multinacionais19: as alianças, em que o objectivos a atingir são variados e se
estendem por um horizonte temporal alargado, e as coligações, nas quais predomina em regra um
objectivo militar particular, a ser atingido num curto espaço de tempo, após o que são dissolvidas. São os
interesses, e a possível ameaça a estes, que ditam a existência das alianças ao nível das relações
internacionais20, sendo qualquer outro motivo resultante de ingenuidade ou de artifícios de retórica21.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
As alterações profundas ocorridas com o fim da Guerra Fria, nomeadamente a implosão da máquina
militar soviética e a consequente dissolução do Pacto de Varsóvia, conduziram alguns analistas a vaticinar
a dissolução da OTAN por ausência de contendor. Contudo, a OTAN foi rápida a demonstrar o seu
dinamismo. Em primeiro lugar, com a alteração do seu conceito estratégico, em 1991, introduzindo a
possibilidade de intervenção out of area, que ocorreu pela primeira vez na Bósnia-Herzegovina, em 1995.
Depois, com a implementação da Parceria para a Paz (PfP), visando a aproximação progressiva aos ex-
países de Leste, e com a evolução do conceito Combined Joint Task Force (CJTF), conferindo capacidade
efectiva e flexibilidade para as intervenções out of area. Em 1999, nova actualização do conceito
estratégico, adesão de 3 novos membros e intervenção decisiva para o fim das hostilidades no Kosovo. Na
sequência do 11 de Setembro de 2001, e ao abrigo do Artigo V, a OTAN cerrou fileiras com o seu mais
proeminente membro num objectivo comum jamais visto desde a queda do Muro. Seguiu-se o apoio à
intervenção no Afeganistão. Porém, em 2003, verificou-se uma fractura nítida na coesão da OTAN, em
resultado das posições antagónicas relativas à intervenção anglo-americana no Iraque. Aparentemente
recomposta, a OTAN viria a adquirir nova dinâmica com a adesão, em 2004, de 10 novos membros. Hoje
em dia, é inegável que a OTAN é o principal garante da segurança e da estabilidade euro-atlânticas. O seu
sucesso foi e é visível na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo e no Afeganistão. Resta o Iraque, onde ainda
não foram reunidas condições para uma intervenção da OTAN, sobretudo pela oposição desde sempre
demonstrada pela Alemanha e também pela posição recente da Espanha, de retirar os seus efectivos
militares presentes naquele Teatro. Outra prova da vitalidade da OTAN está também patente na profunda
reorganização que empreendeu a partir de 2003 e que, no capítulo da sua capacidade efectiva de
intervenção, consagrou a materialização progressiva da NATO Response Force (NRF). Quando
definitivamente constituída, com os seus cerca de 21.000 efectivos, será uma força com alto grau de
prontidão, credível e robusta, com a capacidade de se projectar rapidamente como e onde requerido pelo
Conselho do Atlântico Norte para participar no espectro completo das missões OTAN22.
18 MENON, Rajan, New Order: The End of Alliances, Los Angeles Times, March 02, 2003, acedido em 12Ago04. 19 FM 100-8, The Army in Multinational Operations, US Army, 1997. 20ADMIRE, John H., Transforming Coalition Warfare with Network Centric Capabilities, Ninth International Command and Control
Research and Technology Symposium Coalition Transformation: An Evolution of People, Processes & Technology to Enhance Interoperability 14-16 September 2004--Copenhagen, Denmark, Evidence Based Research, Inc. 1595 Spring Hill Road, Suite 250 Vienna, Virginia 22182-2216, p.3, acedido em 12Ago04.
21 LAGASSÉ, Philippe, Specialization And The Canadian Forces, Occasional Paper No. 40, 2003, The Norman Paterson School of International Affairs, Carleton University, 1125 Colonel By Drive, Ottawa, Ontario, K1S 5B6, p.30.
22 NATO – Military Decision on MC 477, Military Concept for the NATO Response Force, p. 4. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 7
A Força de Reacção Rápida A União Europeia (UE)
Acontecimentos ocorridos na década de 90 do século passado puseram a nu a incapacidade da UE na
gestão de crises e na projecção de forças. Em primeiro lugar, porque jamais houve uma posição comum
europeia em relação a uma determinada crise ou conflito, vide a Bósnia-Herzegovina, a Albânia e o
Kosovo. Em segundo lugar, por manifesta incapacidade e falta de empenho dos países europeus para um
projecto militar conjunto.
Uma das lições aprendidas dos Balcãs foi a percepção, por parte da UE, da necessidade de
desenvolvimento das suas capacidades de intervenção. Também as dificuldades sentidas pelos elementos
da coligação interveniente na 1ª Guerra do Golfo, nomeadamente pela França e pelo Reino Unido23,
foram um claro aviso das limitações dos dois países e influenciaram as respectivas políticas de defesa.
Quando da Cimeira de St. Malo, em 1998, foram, justamente, o Presidente da França e o Primeiro
Ministro do Reino Unido os impulsionadores do nascimento de uma política de defesa da UE,
posteriormente apelidada oficialmente de Política Europeia de Segurança e Defesa (ESDP - European
Security and Defence Policy), na Cimeira de Colónia, de Junho de 1999. Em Dezembro desse mesmo ano,
no Conselho Europeu de Helsínquia, foi estabelecido o objectivo de criar uma Força de Reacção Rápida
da UE composta por 60.000 elementos24, com capacidade de ser projectada no prazo máximo de 60 dias.
O prazo limite previsto para a efectiva criação dessa Força de Reacção Rápida Europeia foi o fim de
2003. Esta meta não foi atingida, sobretudo porque se verificaram visíveis lacunas em capacidades
consideradas essenciais, designadamente em transporte e informação estratégicos. Apenas a França e o
Reino Unido possuem alguma capacidade de projecção de forças, embora limitada e mais ajustada às suas
necessidades particulares, por via das suas responsabilidades como ex-potências coloniais. São exemplo as
intervenções da França no Zaire e no Chade e do Reino Unido nas Falklands.
Desde cedo, a UE tomou consciência que as exigências do cenário estratégico actual fazem apelo a forças
expedicionárias capazes de intervirem rapidamente em qualquer lugar do mundo, com organização,
estrutura e equipamentos mais leves e maior capacidade C4IVR25. Por isso, a UE entendeu dar corpo a
elementos de intervenção rápida, que denominou battle groups e que são forças de escalão Batalhão ou
Agrupamento com cerca de 1.500 efectivos, dotadas de apoio de combate e de apoio de serviços, bem
como de capacidade de projecção e sustentação, vocacionadas essencialmente para o cumprimento das
23 CORDESMAN, Anthony H., CHAIR, Arleigh A. Burke, in Strategy, The Gulf and Transition US Policy Ten Years After the
Gulf War: The Challenge of Providing USCENTCOM and US Power Projection Forces with Adequate Capabilities, Center for Strategic and International Studies 1800 K Street N.W., Washington, DC 20006, (202) 775-3270, Revised October 16, 2000, acedido 13Ago04, p.41.
24 Member States have set themselves the headline goal by the year 2003, cooperating together voluntarily, they will be able to deploy rapidly and then sustain forces capable of the full range of “Petersberg Tasks” as set out in the Amsterdam Treaty, including the most demanding, in operations up to corps level (up to 15 brigades or 50,000-60,000 troops). These forces should be militarily self-sustaining with the necessary command, control and intelligence capabilities, logistics, other combat support services and additionally, as appropriate, air and naval elements. Member states should be able to deploy in full at this level within 60 days, and within this to provide smaller rapid response elements available and deployable at very high readiness. They must be able to sustain such a deployment for at least one year. This will require an additional pool of deployable units (and supporting elements) at lower readiness to provide replacements for the initial forces. – Presidency conclusions, Helsinki Summit, 10-11 December 1999).
25 GÄRTNER, Heinz, Senior Researcher, Austrian Institute for International Affairs, European Security: The End of Territorial Defense, Winter/Spring 2003 – Volume IX, Issue 2 , p. 137
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8
A Força de Reacção Rápida chamadas “Missões de Petersberg”. São forças destinadas a uma primeira intervenção num teatro de
operações, criando as condições para a entrada de forças subsequentes. A UE pretende tornar efectivos
estes battle groups a partir de 2007, a fim de atingir um novo objectivo, apelidado de Headline Goal 2010.
Sublinhe-se que, apesar de tudo, a UE já conduziu duas operações de modo autónomo, a primeira na
Macedónia, em Março de 2003 (Operação Concórdia)26, mas utilizando meios e capacidades da NATO, e
a segunda, esta sim completamente autónoma, na República Democrática do Congo, em Junho de 2003
(Operação Artemis)27. A partir de 1 de Dezembro de 2004 a UE passou a ser responsável pela operação de
paz na Bósnia-Herzegovina, empenhando a EUFOR, força herdeira da SFOR com cerca de 7.000
efectivos.
Pode afirmar-se que a UE caminha para a sua afirmação no capítulo militar. Mas fá-lo timidamente, seja
porque as operações que conduz de forma autónoma são de pequena envergadura ou têm pouco impacto
mediático, seja porque recebe o testemunho da OTAN, essa sim a verdadeira responsável pela
estabilização e consolidação da situação.
As coligações
Para citar de memória um exemplo evidente de coligação torna-se necessário recuar até 1991, ano da I
Guerra do Golfo. As forças que combateram e venceram as forças iraquianas provinham de 38 países
ocidentais e árabes, que se congregaram no propósito comum de restabelecer a ordem e a soberania no
Koweit, expulsando as forças iraquianas do seu território. Também para travar a II Guerra do Golfo foi
constituída uma coligação, embora com um número reduzido de países, sob a liderança dos Estados
Unidos e com a Grã-Bretanha como parceiro principal. Ambas as situações são exemplos de associações
de dois ou mais países que têm por principal objectivo atingir um objectivo militar particular num curto
espaço de tempo. Estes dois elementos – objectivo militar e duração breve – indiciam que as coligações
são constituídas para operar fundamentalmente na esfera do conflito convencional, onde é determinante a
minimização do desgaste em meios humanos e materiais.
O “Estado Imperial”
Esta abordagem não poderia deixar de ser feita, ainda que de modo breve. A actual ordem internacional
evidencia a existência de um país – os EUA – visivelmente preponderante sobre os demais países. Não só
porque é o mais evoluído de todos em termos económicos, tecnológicos, educacionais e de investigação
de ponta, mas sobretudo porque é detentor da mais eficiente máquina militar do planeta. Significa apenas
isto: os EUA são o único país capaz de planear, iniciar e sustentar um conflito militar prolongado, em
qualquer parte do mundo, de forma totalmente autónoma. Pode-se afirmar que a sua postura recente tem
sido essa, reflectindo uma clara tendência para o unilateralismo, percepcionada por muitos analistas como
uma verdadeira afirmação de “Estado Imperial”, que sobrepõe a sua vontade à de todos os restantes
26 AAVV: European defence. A proposal for a White Paper. Report of an independent Task Force, Institute for Security Studies,
European Union, Paris, May 2004, p. 63
27 KEOHANE, Daniel: EU defence policy: Beyond the Balkans, beyond peacekeeping? published: 1 July 2003, acedido 12Ago04. KUCHEIDA, M.: Les forces terrestres européennes projetables – Réponse au rapport annuel du Conseil, Document A/1857, 2 juin 2004, acedido a 12Ago04.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 9
A Força de Reacção Rápida Estados.
O papel de Portugal
Saído de um conflito prolongado de 13 anos em África, a que se seguiram anos de consolidação política e
económica, bem como de reestruturação da sua estrutura da Defesa Nacional, Portugal soube adaptar-se e
responder afirmativamente às solicitações de âmbito militar provenientes dos países aliados e amigos.
Sobretudo a partir da década de 90 do século passado, cumpriu missões sob a égide das Nações Unidas
(designadamente na Bósnia-Herzegovina, entre 1991 e 1995; em Moçambique, em 1994; em Angola,
entre 1994 e 1996; em Timor, entre 2000 e 2004). Tem tido também grande relevância a participação de
forças militares portuguesas sob a égide da OTAN na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo e no Afeganistão.
Adicionalmente, Portugal cumpriu missões no quadro da União Europeia (Missão de Monitores da
Comunidade Europeia, na Bósnia Herzegovina, em 1992 e em 2000). Portugal desencadeou, ainda, no
âmbito dos seus interesses próprios, três operações autónomas de resgate de cidadãos nacionais em África,
no Congo, na Guiné Bissau e no Zaire. No total, desde 1990 foram já empenhados no exterior do território
nacional, em operações de paz e de gestão de crises, 43 Batalhões/Agrupamentos e mais de 15 mil
militares do Exército e cerca de 5 centenas da Marinha.
c. As Ameaças a Portugal
Os Conceitos Estratégicos de Defesa Nacional e Militar
O edifício conceptual e estrutural da Defesa Nacional e das Forças Armadas envolve etapas contínuas e
sequenciais, de que a primeira é a (re)definição do Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN),
seguindo-se-lhe o Conceito Estratégico Militar (CEM). Numa perspectiva lógica, estes documentos
devem identificar as ameaças que se colocam a Portugal, permitindo partir delas para a definição das
Missões das Forças Armadas, do Sistema de Forças e do Dispositivo, por esta ordem. “Os níveis de
ameaças têm impacto quer nas tarefas atribuídas às forças armadas, quer no que se gasta com elas. Os
níveis de ameaças são também tomados em conta para a estruturação das forças, o que vai além das meras
capacidades para defender o território.”28
Da leitura do CEDN – documento aprovado pelo Governo em 20 de Dezembro de 2002 – podem extrair-
se as seguintes ameaças relevantes: agressão armada ao território, à população, às Forças Armadas ou ao
património; terrorismo, nas suas variadas formas; desenvolvimento e proliferação não regulados de
armas de destruição maciça, de natureza nuclear, radiológica, biológica ou química; crime organizado
transnacional (tráfico de pessoas e de droga e imigração ilegal) e atentados ao ecossistema.
Da leitura do CEM – documento confidencial, datado de 15 de Janeiro de 2004 – retiram-se as seguintes
ameaças: ataque militar directo contra o território nacional, emergência de “Estados párias”29,
proliferação de armas de destruição em massa; terrorismo transnacional; crime organizado (tráfico
de pessoas e de droga); fluxos migratórios desregulados; acções de rotura no aprovisionamento de
28 LAGASSÉ, Philippe, op. cit., p.9
29 E também os Estados falhados ou resultantes do fenómeno de desestruturação dos Estados, que podem levar outros Estados a desencadear operações de evacuação de cidadãos não combatentes, seus e/ou de países amigos.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 10
A Força de Reacção Rápida recursos vitais e atentados ecológicos.
É óbvio que as ameaças constantes no CEM coincidem com as enunciadas no CEDN, porque o primeiro
dimana deste. Procurar identificar outras ameaças constituiria um exercício puramente académico com
resultados discutíveis, pois a elaboração dos citados conceitos foi cuidadosa, participada e abrangente. No
entanto, poderemos tentar classificar as ameaças segundo dois critérios distintos: o primeiro, distinguindo
ameaças próprias e ameaças partilhadas; o segundo, fazendo a destrinça das ameaças segundo o tipo de
forças envolvidas e a sua tecnologia.
As ameaças partilhadas estão relacionadas com os compromissos de Portugal em relação às organizações
de que é membro, designadamente a ONU, a OTAN e a UE30. As ameaças próprias são as que impendem
directamente sobre Portugal e que, quando concretizadas, devem ser enfrentadas e resolvidas de modo
autónomo. Afigurando-se óbvio que, hoje em dia, a maioria das ameaças podem ser consideradas
partilhadas, as ameaças próprias consistirão no ataque militar directo ao território nacional (pelo menos
até ao momento do accionamento dos mecanismos das alianças), ameaças transnacionais, incluindo o
terrorismo e o crime organizado transfronteiriço, hoje considerados como os mais prováveis, e a rotura no
aprovisionamento ou no acesso a recursos vitais.
A classificação das ameaças segundo o tipo de forças envolvidas e a sua tecnologia é uma abordagem
inovadora que se encontra sustentada em documentação australiana31. Segundo esta abordagem, as
ameaças são de três tipos: forças convencionais de baixa-média tecnologia, com possibilidade de inserção
de alta tecnologia; forças irregulares de baixa tecnologia, com possibilidade de ameaças de alta tecnologia
visando interesses nacionais e a sociedade civil; e forças de pequena massa dotadas de alta tecnologia.
Poder-se-á considerar que o ataque militar directo contra o território nacional configura uma ameaça do
primeiro tipo e que as restantes se enquadram no segundo tipo. De momento, não estão identificadas
ameaças a Portugal do terceiro tipo.
Probabilidade de ocorrência das ameaças
Definidas as ameaças nos documentos conceptuais de base, haverá que analisá-las sob o ponto de vista da
sua probabilidade de ocorrência. O ataque militar directo contra o território nacional é uma ameaça de
muito baixa probabilidade de ocorrência.32 A proliferação de armas de destruição em massa e as acções de
rotura no aprovisionamento de recursos vitais poderão ser consideradas de baixa a média probabilidade de
ocorrência. As restantes ameaças serão de elevada probabilidade de ocorrência ou, pode mesmo dizer-se,
estão já a ter lugar: os Estados párias estão identificados e destacam-se pela forma como agem sem
respeitarem quaisquer regras; o terrorismo transnacional, que não conhece fronteiras e que por vezes
aparece conectado com o crime organizado, tem sido referenciado pelo extremo grau de violência das suas
acções mais recentes; o tráfico de pessoas e de droga, assim como os fluxos migratórios desregulados, são
30 Sobre a necessidade, génese e construção dum conjunto europeu de forças multinacionais, algumas de que Portugal integra, vide
FONSECA, Tenente-Coronel José Nunes da: Forças Multinacionais Europeias: Realidades e Perspectivas, Revista Militar, nº 2365/2366 – Fevereiro/Março de 1999, pp. 663-711
31 Army Vanguard Concept MOLE (Manoeuvre Operations in the Littoral Environment), Australian Army, http://www.army.gov.au32 Conceito Estratégico Militar, parágrafo 4.a. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 11
A Força de Reacção Rápida uma realidade que visa e tem sobretudo lugar nos países desenvolvidos ou de maior poder económico e
financeiro; os atentados ecológicos ocorrem nas zonas mais desguarnecidas dos espaços de soberania.
Verifica-se, pois, que o leque de ameaças mais prováveis que Portugal enfrenta é complexo, imprevisível e
de possível ocorrência simultânea.
As ameaças a Portugal e a sua capacidade de reacção rápida
Cumprindo os preceitos constitucionais, Portugal concretiza uma capacidade de resposta rápida, na
perspectiva de actuação em qualquer parte do território nacional e, justificando-se, além-fonteiras.33 A
opção de Portugal dispor desta capacidade foi clara. Importa, portanto, aquilatar quais as ameaças para as
quais estará mais vocacionada.
Em primeiro lugar, o termo “rápida” pressupõe prontidão, o que significa para fazer face a uma ameaça de
contornos bem definidos. Apenas o ataque militar directo convencional possui estas características, pelo
que seria redutor ter forças de resposta rápida para enfrentar exclusivamente uma ameaça de tão baixa
probabilidade de ocorrência.
Em segundo lugar, o termo “rápida” pressupõe curto tempo de reacção até à intervenção. Pode-se afirmar
que todas e cada uma das ameaças levantadas, quando concretizadas, podem justificar a actuação de forças
de resposta rápida.
Em terceiro lugar, o termo “rápida” pressupõe ligeireza e flexibilidade de emprego, quer no transporte e
mobilidade, quer nas modalidades de intervenção. Neste âmbito podem ser enquadradas as ameaças
associadas aos Estados párias, ao fenómeno de desestruturação dos Estados, ao terrorismo transnacional e
ao crime organizado.
Em suma, uma força de resposta rápida portuguesa deverá estar apta a fazer face ao amplo espectro das
ameaças que Portugal enfrenta, para o que deverá possuir elevado grau de prontidão, curto prazo de
disponibilidade, grande mobilidade estratégica e adequada flexibilidade de emprego.
33 –– A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITOA FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITO Aprender sem pensar é trabalho perdido; pensar sem aprender é perigoso.
Confúcio
a. Pressupostos e Linhas Orientadoras
Pressupostos
Neste trabalho há a considerar três pressupostos fundamentais. O primeiro: o Exército manterá, com todas
as suas implicações (sobretudo materiais), a valência pára-quedista das suas forças. O segundo: entende-se
vantajoso agregar todas as “ditas” forças especiais sob um só comando. O terceiro: a FRR a criar terá,
logo que possível, um empenhamento real, de preferência na variante de um conflito de menor
intensidade. Esse empenhamento será efectivo em função do conceito agora expresso, que deverá ser
validado de acordo com os parâmetros actualmente considerados como referência ao nível da NATO:
33 Conceito Estratégico de Defesa Nacional, parágrafo 8.2. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 12
A Força de Reacção Rápida doutrina, organização, instrução, material, liderança, pessoal e infra-estruturas (doctrine, organization,
training, materiel, leadership, personnel, and facilities – DOTMLPF). Esta validação deverá permitir
determinar se a FRR é uma força efectivamente capaz e operacional e, portanto, de acordo com a visão e
objectivos que norteiam a actual transformação do Exército.
Definição de Reacção Rápida
O conceito de reacção rápida é passível de muitas interpretações e, a não ser que fique desde logo
claramente estabelecido, qualquer FRR estará destinada a operar num ambiente conceptual e de decisão de
emprego de grande confusão e ambiguidade, sendo seguramente mais difícil optimizar a concretização das
expectativas da sua utilização.
Parece óbvio que a definição terá de ser enquadrada em termos de TEMPO e DISTÂNCIA – o tempo até
ao empenhamento terá de ser decidido se será medido em termos de horas, dias, semanas, ou meses desde
o alerta da FRR até ao final da operação; por outro lado, a distância irá seguramente ser medida em termos
de centenas ou milhares de quilómetros desde a base de partida ou da base avançada até ao local alvo.
Tomando em conta a posição e descontinuidade geográfica do nosso País, a diáspora e os nossos
interesses, originando distâncias a percorrer provavelmente de elevada grandeza, e também que, no
destino, as infra-estruturas de entrada e de apoio poderão estar incapazes ou mesmo nem existir, qualquer
FRR, para ser viável, terá de possuir a inerente capacidade de poder ser empenhada em questão de
horas a distâncias que poderão ir até aos milhares de quilómetros, como claramente ficou
demonstrado no exercício “Central Asian Battalion 97” onde cerca de 500 pára-quedistas da 82ª Divisão
Aerotransportada partiram da base Pope nos EUA, em 14 de Setembro de 1997, percorreram cerca de
8.000 milhas durante 20 horas, com três reabastecimentos aéreos dos C-17 Globemasters III envolvidos no
exercício, para saltarem em Shymkent no Casaquistão. Estes parecem ser os parâmetros que deverão
enquadrar a constituição da FRR a levantar.
Possíveis Tarefas para a Força de Reacção Rápida
Dado que a FRR deverá estar apta a operar a milhares de quilómetros numa questão de horas e tendo em
atenção o expresso anteriormente, quais serão as missões e tarefas que uma tal força poderá ser
normalmente chamada a executar?
Os exemplos históricos abundam e dão-nos algumas referências quanto às possíveis missões. Será,
contudo, essencial para qualquer empenhamento da FRR que este tenha sido sancionado
internacionalmente e que a sua credibilidade seja sustentável. Neste sentido, será preferível a sua actuação
no seio de outras forças da NATO ou UE, com a aprovação da Organização das Nações Unidas ou, no
caso de uma intervenção num País Lusófono, com a aprovação da CPLP, sem descurar em caso limite a
capacidade de intervenção unilateral34 em qualquer TO.
34 Finally, to be effective we must maintain credible operational capability and we must be fit to fight. And when not fighting we must be able to conduct the full range of tasks we are called upon to undertake professionally and effectively. Our forces have to be fully trained, equipped, sustainable, adaptable, agile, responsive and deployable, able to operate anywhere in the spectrum of conflict with or without allies. BOYCE, Admiral Sir Michael: Achieving effect. (Extracted from the Royal United Services
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 13
A Força de Reacção Rápida Uma vez certificada de acordo com parâmetros internacionalmente reconhecidos, a FRR poderá receber
missões e tarefas nas diversas situações ou níveis de conflito ou de guerra. Poderão igualmente ser-lhe
cometidas tarefas dentro de toda a gama de operações de paz, que vai desde a monitorização, passando
pela manutenção até à imposição da paz. No âmbito das operações de paz, uma série de acções poderão ter
lugar, tais como a reposição no poder de um governo legítimo que tenha sido derrubado pela força,
terminar com uma guerra civil e mesmo pôr fim a motins ou outras formas de violência de grupo.
A outra área de actuação em que a FRR poderá ser utilizada será na protecção e salvamento de pessoas,
bens e interesses nacionais que estejam ameaçados noutro País por uma qualquer situação de grande
violência. Neste âmbito, poderá tornar-se necessário libertar reféns e proteger embaixadas, centrais
hidroeléctricas, instalações petrolíferas, complexos industriais e outras estruturas de natureza económica
ou política.
Assim e tendo em vista uma visão global das tarefas que se vislumbram para a FRR, algumas destas são
listadas em seguida:
Operações ofensivas e contra-ofensivas;
Demonstrações de Força;
Reconhecimento e Vigilância Especial;
Operações de Decepção;
Conquista de uma base operacional avançada;
Protecção e operação de uma base operacional avançada;
Protecção e salvamento de pessoas, bens e interesses nacionais que estejam ameaçados noutro País;
Contra-insurreição;
Operações anti-terroristas;
Imposição de Paz; Manutenção de Paz e Monitorização de Paz;
Ajuda humanitária;
Auxílio de emergência e apoio às autoridades civis;
Assistência Militar.
Forças adequadas para a FRR e a sua utilidade colateral
Uma vez assente o que se entende por Reacção Rápida e identificadas as possíveis tarefas da FRR, pode-
se agora raciocinar sobre a forma de estruturar e organizar a Força. A este respeito duas questões
essenciais a ter em conta são:
"Qual(is) o(s) tipo(s) de forças mais adequado(s) para integrar a FRR?"
"Até que ponto o seu pessoal e equipamento podem ser utilizados para tarefas essencialmente não
militares?"
Para começar, nenhuma FRR poderá ser viável se for constituída com base num único Ramo das Forças
Armadas. É um erro vulgar pensar-se numa FRR como uma força exclusiva do Exército, já que nenhuma
Institute Briefing by Admiral Sir Michael Boyce, the UK Chief of the Defence Staff, delivered in December 2002), etsnews, acedido a 28Jan05.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 14
A Força de Reacção Rápida força deste Ramo se poderá deslocar a milhares de quilómetros sem a participação da Marinha ou da
Força Aérea. Por outro lado, só a Força Aérea poderá transportar uma força do Exército a estas distâncias
num prazo de algumas horas.
Portanto, haverá que pensar na forma de incluir a Marinha e a Força Aérea desde o início, levando a que
os Ramos se comprometam numa maior e crescente sincronização dos seus programas da LPM (e.g. no
caso das aeronaves de transporte e do(s) navio(s) polivalente logístico). A isto, junta-se a necessidade de
frequentes treinos conjuntos (e.g. o salto operacional de pára-quedistas, que qualifica não só estes, mas
também as tripulações das aeronaves que os lançam) como elemento fundamental da eficácia operacional
das Forças Armadas. Esta capacidade de actuação inter-ramos pressupõe, além de uma alteração absoluta
de mentalidades consubstanciada numa genuína vontade de mudança, a criação de doutrina, a implantação
de uma efectiva cultura conjunta, e depois, muito trabalho, numa prática intensiva e árdua, em conjunto. A
imputação racional e justa do custo destes exercícios conjuntos terá também um efeito positivo na
percepção mútua das consequências financeiras para o País e Ramos da execução concreta de operações
conjuntas35.
A este respeito, refira-se que, sendo a capacidade e rapidez de projecção da FRR um “must” e, dadas as
reconhecidas vulnerabilidades nacionais em termos de transporte estratégico, essa responsabilidade não
recairá apenas no Comandante da Força, mas antes envolverá as chefias militares a todos os níveis e,
inclusive, os órgãos competentes da Tutela, que deverão manter-se atentos e tomar as medidas necessárias
para assegurar os meios necessários para a colocação da Força, no Teatro de Operações em questão, no
prazo requerido.
Entende-se também que deverá haver representantes dos outros Ramos no QG da Força, ou Oficiais de
Ligação da FRR nos Comandos Operacionais dos outros Ramos (no mínimo, no COFA). Ao comando da
Força deverá ser atribuído comando completo36 sobre as sub-unidades da FRR, o que passa por também
comandar as unidades territoriais onde estiverem aquarteladas (obviamente que naquelas em que
coexistirem actividades de formação, a sua dependência para esse efeito será do Comando da Instrução).
O estado-maior da Força deverá existir em permanência de forma a rotinar tarefas e a integrar-se no seu
meio e internamente, se bem que, por outro lado, muitas das tarefas de comando e controlo devam ser
descentralizadas para as estruturas regimentais onde estão instaladas as sub-unidades da FRR. Só uma tal
acção lhes dará o mais adequado sentido de responsabilidade e o resultante incremento de entusiasmo e
empenhamento nos objectivos a cumprir.
Se bem que o emprego da FRR como um todo seja uma hipótese menos plausível (será muito mais lógico
esperar que o seu empenhamento venha a acontecer por sub-unidades de escalão Agrupamento ou Sub-
35 Embora numa dimensão diferente, mas que é suficientemente elucidativo, poderemos apontar como um exemplo o exercício
denominado Combined Joint Task Force Exercise '96, em que participaram forças dos diversos Ramos dos EUA e do Reino Unido, num efectivo de 53.800 militares e num cenário que envolvia desembarques anfíbios e operações aerotransportadas, teve um custo estimado de $USD 17 e $USD 45 milhões para os EUA e Reino Unido, respectivamente. DORSEY, Jack: 53,800 Personnel to join U.S.-British Maneuvers, The Virginian-Pilot, April 19, 1996, acedido a 22Dec04.
36 Sobre os graus de Comando, de Controlo e Coordenação vide FONSECA, Tenente-Coronel José Nunes da: “O Comando de Forças Terrestres Multinacionais”, Revista Militar, nº 2395/2396 – Agosto/Setembro de 2001, pp. 631-636.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 15
A Força de Reacção Rápida Agrupamento) entende-se que o escalão adequado para a Força será o de Brigada37. Tendo em atenção
mesmo o seu remoto empenhamento como um todo, haverá sobretudo que acautelar as necessidades de
gestão de custos, manutenção, instrução e aprontamento, espírito de corpo, etc.
Aspecto igualmente a considerar, na justificação deste escalão, é a possibilidade de intervenção em duas
situações simultâneas, eventualmente em cenários geopolíticos distintos, com forças de massa crítica ainda
dissuasora – batalhão ou agrupamento – garantindo ainda uma reserva imediata do mesmo escalão.
Atenua-se a possibilidade de uma maior tentação de aproveitamento oportunista por terceiros, se o escalão
for inferior a Brigada e estiver porventura empenhado. Os três batalhões de manobra terrestre possibilitam,
caso dum cenário único, o empenhamento dum Batalhão ou Agrupamento, o aprontamento de um
segundo e a reorganização e reconstituição do terceiro.
Importa salientar, também, que os países que deliberadamente mantêm uma capacidade de intervir fora do
seu território, estabeleceram ou pré-designaram forças específicas para essas missões. Por exemplo, a Grã-
Bretanha designou a 16ª Brigada de Assalto Aéreo38 e a 3ª Brigada Comando para as operações “Fora de
Área”: foram sub-unidades destas formações que garantiram o núcleo da força expedicionária que
retomou as Ilhas Falkland em 1982. A França utiliza a 11ª Divisão Paraquedista para as operações
intervencionistas. Os Belgas têm a sua Brigada Pára-Comando39 especialmente orientada para operações
em África. Mesmo os EUA recorrem aos seus Batalhões Ranger (como no assalto aéreo a Granada em
1983) ou à 82ª Divisão Aerotransportada (como no Panamá em 1989) apoiados por forças dos seus
Fuzileiros Navais (as MEU –Marine Expeditionary Unit), sempre que necessitam de projectar forças
rapidamente numa acção intervencionista. As capacidades de projecção de forças da Índia estão centradas
à volta da sua 50ª Brigada Paraquedista Independente40.
Cabe aqui recordar, como mais um exemplo significativo, a actual reestruturação do Exército do Reino
Unido onde serão desactivados 4 batalhões de infantaria. Um deles, o 1º Batalhão do Regimento de Pára-
quedistas, dará expressamente lugar a um batalhão Ranger (tudo indica que o nome foi escolhido para,
entre outros motivos, evitar confusões com os Royal Marines Commandos). Este batalhão, que será tri-
service, leia-se tri-Ramos, ficará localizado nas vizinhanças do 22 Special Air Service (SAS) Regiment em
Hereford41. Pretende-se que o Batalhão possua a capacidade de intervenção, através do salto em pára-
37 O que vai também ao encontro das modernas correntes doutrinárias americanas. Units of Action are the tactical warfighting
echelons of the Objective Force. For analytic purposes, UAs comprise those echelons brigade and below. Manoeuvre UAs are the smallest combined arms units that can be committed independently. ... Brigades are expected to employ most combat battalions in dispersed yet integrated engagements, while periodically cycling individual units into and out of contact to sustain operational momentum. Military Operations. Objective Force Maneuver Units of Action, TRADOC Pamphlet 523-3-90, Department of the Army Headquarters, United States Army Training and Doctrine Command, Fort Monroe, Virginia, 1 November 2002, p. 2.
38 Substituindo a 5ª Brigada Aerotransportada. 39 Que, apesar de todos os “cortes” e restruturações ocorridas nas suas FA’s, foi muito sensatamente mantida intacta. 40 Durante a tentativa de golpe de estado nas Ilhas Maldivas em 1988, a Índia enviou, em 24 horas, 2 Batalhões Pára-Comando dessa
Brigada, os quais rapidamente dominaram a rebelião
41 Our special forces are critical to our prosecution of the war against terror. We were able to announce some improvements to our special forces in July. We are also considering the broader arrangements whereby the armed forces provide support to special forces operations. One option that has emerged in that continuing work is the creation of a tri-service "ranger" unit, which would be dedicated to special forces support. I have decided that it would be appropriate to develop such a unit over the next few years, and it would take its place alongside the other enhancements to specialist support elements of the Army. The fourth infantry battalion reduction will therefore be found by removing the 1st Battalion the Parachute Regiment from the infantry structure and using its highly trained manpower as the core of a new, tri-service ranger unit. HOON, [Defence Secretary] Geoff: Future
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 16
A Força de Reacção Rápida quedas, se necessário, por forma a apoiar e reforçar a actuação dos SAS. Esta concepção é um remake
duma anterior, na qual se perspectivava, dado o stress causado pelas inúmeras intervenções dos SAS e dos
SBS, a atribuição de um batalhão. Nessa altura, equacionava-se ser de infantaria, que após 6 meses a 1 ano
seria substituído por um outro42. Esta solução, que abarca ensinamentos, nomeadamente da intervenção
no Afeganistão, acolhe a prática habitual de se recorrer a uma sub-unidade do Regimento de Pára-
quedistas para um apoio “musculado” de acção directa, como foi o caso da Operação “Barras” na Serra
Leoa, em Setembro de 2000.
Dos exemplos apresentados verifica-se que a parte mais importante das forças de reacção rápida existentes
em outros Países, é do tipo aerotransportado43. Estas forças poderão, após a sua entrada no TO e se
necessário, ser seguidas por forças mais pesadas deslocadas também por via aérea, por via marítima ou
terrestre, ou uma combinação destas, forças que terão então uma maior capacidade de protecção,
mobilidade, poder de fogo e sustentação.
Não é também de somenos importância o efeito operacional-estratégico que a existência desta Força pode
oferecer. A ocupação do aeroporto de Pristina por um punhado de pára-quedistas russos e a colocação de
outros 300 e de 6 IL-76 em alerta permanente44, constituiu uma vitória a nível estratégico para os russos
(confirmada pelos acordos de Helsínquia de 18 de Junho de 1999), colocou em disputa o Tenente-General
Mike Jackson e o SACEUR, General Wesley Clark45 e (re)demonstrou as dificuldades da falta de
unidade, grau e capacidade de comando46 em organizações multinacionais, mesmo no caso da NATO,
devido aos interesses e agendas próprios47. Os russos garantiram assim a sua participação no quadro da
KFOR, com uma presença de cerca de 3.600 militares48.
Por tudo isto, a Força necessitará de ser ligeira, aero-transportável (e de preferência aero-lançável
tornando-a independente de pontos de entrada como portos e aeroportos49) e com uma composição
Infantry Structure, House of Commons debates, Thursday, 16 December 2004, acedido em 04Fev05. vide também RIPLEY, Tim: Chief's real battle was aligning army with modern demands – ANALYSIS, Fri 17 Dec 2004, News.Scotsman.com, acedido a 11Jan05. EVANS, Michael, Defence Editor: Historic names live on in new model Army (but in brackets), Timesonline, December 17, 2004, acedido em 04Fev05. The Future Army Structure – The Chief of the General Staff, Published Thursday 16th December 2004, UK Defence Today, Ministry of Defence, acedido a 11Jan05. RIPLEY, Tim: UK Future Army Structure creates “Ranger” battalion, Janes Defence Weekly, 22 December 2004, p. 6. MASSIVE defence cuts which will affect Aldershot troops have been slammed by the town’s MP Gerald Howarth, Aldershot News and Mail on line,Tuesday 11th January 2005, acedido a 11Jan05.
42 EVANS, Michael, Defence Editor: SAS plan to blow up Saddam's germ sites.Timesonline, July 12, 2002, acedido em 04Fev05.43 One lesson from Afghanistan is that light forces – Infantry, Airborne, and Airmobile forces – unencumbered by the IBCT structure
or equipment still have a place in the Army’s order of battle. ROSTKER, Bernard: Transformation and the Unfinished Business of Jointness: Lessons for the Army from the Persian Gulf, Kosovo, and Afghanistan, in DAVIS, Lynn E., SHAPIRO, Jeremy, The U.S. Army and the New National Security Strategy, (edited by) RAND, ARROYO CENTER, 2003, p. 150
44 A ter havido uma confrontação esta teria, também, como opositores iniciais outras forças pára-quedistas. The Supreme Allied Commander, General Wesley Clark, told Jackson to fly forward a force of British and French paratroopers to oppose the Russians. THOMPSON, [Edited by] Major General Julian: The Imperial War Museum Book of Modern Warfare – British and Commonwealth Forces at War 1945-2000, Pan, 2003, p. 348.
45 Sir, I’m not starting the World War III for you... CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001, p. 394. 46 The [Pristina] incident shows again that rarely does an international commander in NATO or the UN have full operational
command and ability to change the mission. He merely has operational control for the agreed mission and operational command remains with the national capitals. THOMPSON, [Edited by] Major General Julian: The Imperial War Museum Book of Modern Warfare – British and Commonwealth Forces at War 1945-2000, Pan, 2003, p. 348.
47 Sobre a supremacia dos interesses pessoais relativamente aos interesses comuns vide REIS, Tenente-Coronel João: EU (Un)Common Defence. The Path of Ambiguity. Brussels, June 2002 (manuscrito).
48 CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001y, p. 402.
49 The combination of the allocation of airlift that the Army can reasonably expect to receive and the infrastructure limitations in the places it can expect to fight means that only relatively small units – a battalion task force – can deploy extremely rapidly. Even a dramatic expansion of the airlift fleet will often have no effect on shortening deployment times because airport throughput is often
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 17
A Força de Reacção Rápida equilibrada nas suas unidades de manobra. Na forma ideal, seria uma brigada pára-quedista independente,
compreendendo principalmente batalhões de infantaria pára-quedista com as suas armas de apoio, mas
incluindo alguma capacidade anti-carro (adicional), artilharia ligeira ou morteiros pesados, um elemento
de mísseis ligeiros antiaéreos, alguma capacidade em engenharia de combate e transmissões, bem como o
necessário apoio logístico50 (que deveria incluir a capacidade de abastecimento aéreo).
Quanto às tarefas não militares, de “utilidade colateral” ou múltipla utilidade, anteriormente expressas, são
importantes pois servem para rendibilizar os investimentos efectuados e esclarecer a opinião pública
quanto à utilidade da FRR em tempo de paz, justificando assim os custos da sua constituição, manutenção
e treino.
Considerações doutrinárias
Todos estes quesitos obrigam a repensar a tríade constituída pela doutrina, a organização e a tecnologia
disponível para emprego pela FRR e também pelo Exército, Marinha e Força Aérea. Ressalta a
necessidade objectiva por parte de todos os elementos envolvidos nas intervenções/operações, desde o
decisor político ao elemento da patrulha ou do check point, de atentarem nas consequências daí resultantes
a nível táctico, operacional e estratégico.
Como ponto de partida, e atendendo à natureza da Força e tipos de intervenção, parece-nos haver a
necessidade de adoptar a “Teoria da Manobra”51 como base doutrinária, ajustando-a à nossa
idiossincrasia. Só esta permite a liberdade de acção em cenários lacunares, operacionais e políticos
complexos, frequentemente isolados e sujeitos a decisões imediatas, eventualmente de sérias
consequências. Não desenvolvemos pormenorizadamente este campo por entendermos que se situa a
montante na formação do militar e, em particular, na dos militares do Quadro Permanente, limitando-se os
elementos da FRR a aplicá-la (e.g. ordens tipo missão ou Auftragstaktik52, tempo, Schwerpunkt ou foco do
esforço53, superfícies e intervalos54, armas combinadas...). Relativamente à componente tecnologia e
organização, convém realçar a simbiose e interacção que devem existir entre elas e a doutrina por forma a
the limiting factor. GORDON, John and ORLETSKY, David: Moving Rapidly to the Fight, in DAVIS, Lynn E., SHAPIRO, Jeremy, The U.S. Army and the New National Security Strategy, (edited by) RAND, ARROYO CENTER, 2003, p.192.
50 “Edificaremos forças mais leves, mais ágeis, mais projectáveis, interoperáveis com os nossos aliados e cuja protecção e sustentação esteja assegurada. A isto corresponderá o reforço das características expedicionárias do Exército”. VALENÇA PINTO General Luis Vasco, Entrevista do General CEME ao Jornal do Exército, Out 2004
51 “No outro modo, o defensor da [teoria da] manobra procurará derrotar o adversário através de soluções que empreguem não a força dos números mas os factores humanos anteriormente referidos. A velocidade de execução, a ousadia, os artifícios, a determinação dos pontos fracos e fortes do adversário e a oportuna exploração dos primeiros, isto é, a orientação sobre o inimigo, são a sua característica determinante. O combate ocorrerá como um outro elemento ou forma de utilizar ou expressar a força militar e, se este não for necessário concretizar-se-á a excelência da arte da guerra, segundo Sun Tzu, de vencer sem combater.” REIS, Tenente-Coronel Jorge: Os Níveis da Guerra. A Manobra Táctica e Operacional. A Organização e a Tecnologia. Dezembro 2002 (manuscrito), p. 19.
52 The forces of NATO members use very different leadership philosophies and military doctrines. This may very effectively wreck a military operation. Some forces are sworn to variants of auftragstaktik, where the sub-unit commander is given a lot of freedom in how to accomplish a task as long as he fulfils the chief’s intent. Others forces have institutionalised a system of complex synchronisation in which all orders have to describe almost every detail of how to solve a task. If some sub-units in a brigade or a division are accustomed to auftragstaktik and others to detailed orders, the staff, presumably accustomed to one of the two philosophies, will have a difficult time.ULRIKSEN, Ståle: Military Europe: Capabilities and Constraints Draft article presented in Kristiansand August 2003, p. 6, acedido a 11Jan05.
53 “Também designado ponto do esforço principal ou ainda, pela palavra alemã Schwerpunkt. Mais do que uma palavra poderemos dizer que se trata mais de um conceito de concentração do esforço, ou de esforços, no centro de gravidade do inimigo, criando uma fraqueza relativa no oponente por forma a permitir obter uma decisão definitiva.” REIS, Tenente-Coronel Jorge: op. cit, p. 22.
54 Mais conhecida pela terminologia inglesa de surfaces and gaps. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 18
A Força de Reacção Rápida optimizar os meios. É importante o desejo de obtenção dos últimos materiais e equipamentos existentes
mas, relembra-se, aquela só é empregue eficientemente quando enquadrada num contexto doutrinário e
organizacional adequado, facilmente demonstrável pelos resultados de alguns confrontos assimétricos, em
que o sucesso não tendeu necessariamente para o tecnologicamente melhor equipado ou mais avançado.
A estrutura da FRR procurou respeitar os princípios da Teoria da Manobra55. A sua actuação é prevista
num contexto de rapidez de planeamento e execução, onde a surpresa táctica, a operacional e a estratégica
se também for possível, deverá ser alcançada. A operação deverá ser executada sobre um flanco ou
intervalo (gap), fundamento do domínio de todas as formas de inserção no terreno, no tempo mais
adequado. Perspectiva-se a possibilidade de criação de uma Reserva capaz de actuar, se possível a reforçar
ou explorar o sucesso, contrariamente à Teoria Atricionista, onde a Reserva será mínima e todas as armas
não empregues serão um desperdício de fogos, numa perspectiva jominiana de um campo de batalha
linear. O princípio do emprego das armas combinadas é respeitado pela diversidade e capacidade de
competências complementares para uma multiplicidade de cenários e a facilidade de integração de outras
unidades. O apoio de fogos, que se pretende flexível e actuante, é concebido não na perspectiva tradicional
atricionista de um grande volume de fogos destrutivo, mas sim para permitir a manobra da FRR, isolar o
objectivo, efectuar a decepção... Os fogos em si são manobra, podendo actuar no interior do dispositivo
inimigo, caso dos raids de artilharia, se essa for a modalidade de acção adequada. Esta flexibilidade e
capacidade de colocação rápida, violenta e precisa de fogos nos pontos fracos e vitais, em substituição de
atacar o forte, exige menor consumo de munições, obtendo-se o aligeiramento do apoio logístico sem
prejuízo do apoio de fogos. A logística da FRR procura estar de acordo com os princípios da manobra
enunciados. A FRR manobra, não se pretendendo, pelo menos numa primeira fase, a criação ou
estabilização de uma posição. Reduzindo-se o volume de munições destinado ao apoio de fogos, a
segunda opção é reduzir os consumos de combustível, o que se consegue pelo tipo de Força56 agora
estruturada. A qualidade dos elementos de manobra seleccionados, que são susceptíveis de operar em
condições mais rústicas de apoio, aligeira igualmente o apoio logístico necessário, redução que poderá
ainda ser acentuada pela possibilidade do emprego do reabastecimento aéreo. A modularização da FRR e
a possibilidade do seu “encorpamento faseado” em função da conduta é um outro aspecto da aplicação da
teoria à conceptualização da Força.
Também no respeito da teoria, não foi esquecido o efeito provocado pela componente psicológica, ao
utilizar militares profissionais de elite numa Unidade claramente destinada, e disponível, para a projecção
de poder57.
55 Também apelidada de manoeuvrist approach, nomeadamente em alguns países anglo-saxónicos, ou onde a sua influência
doutrinária se fez sentir. Exemplos de seguidores: Austrália, Nova-Zelândia, Reino-Unido, Singapura e Holanda. Para ver mais sobre a teoria da manobra vide: REIS, Tenente-Coronel Jorge: op. cit, : HOOKER, Richard D.: Maneuver Warfare: an anthology, Presidio, 1993; LIND, William S.: Maneuver Warfare Handbook, Westview Special Studies in Military Affairs, 1985; LEONHARD, Robert R.: The Art of Maneuver: Maneuver-Warfare Theory and AirLand Battle, Presidio, 1994.
56 A nível das forças terrestres, o GALE possui o seu próprio apoio logístico e doutrina própria de actuação.
57 Secondly, logistic reach and sustainability was vital on Operation Barras in Sierra Leone, enabling us to deploy forces rapidly into theatre from the UK, take down the West Side Boys and extract forces and hostages expeditiously. The after-effect of the application of precise force had a profound impact on west-African perceptions of UK's strategic intent in the area and re-
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 19
A Força de Reacção Rápida b. Estrutura e Possibilidades
A estrutura base da FRR foi criada para dar uma resposta credível a uma diversidade de situações e
ameaças, em conformidade com o que será exposto no corpo do Conceito. Olhando de forma mais
objectiva para a realidade actual do Exército Português e para as suas efectivas possibilidades entende-
se que a Força de Reacção Rápida deverá ter a seguinte composição:
Comando e Companhia de Comando
1 Companhia de Transmissões (Pára-quedista)
2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista (a 3 CAt e 1 CAp cada)
1 Batalhão de Comandos (a 3 CCmds – todos c/ qualificação pára-quedista)
1 Grupo de Aviação Ligeira
1 Batalhão de Apoio Aeroterrestre, compreendendo:
1 Companhia de Incursores (a 4 Dest)
1 Companhia de Equipamento e Abastecimento Aéreo
1 Companhia de Apoio de Combate
1 Companhia de Apoio de Serviços
1 Companhia de Operações Especiais (a 3 DOE – todos c/ qualificação pára-quedista)
Comando e Companhia de Comando
São incluídos um Destacamento Sanitário (Antena Cirúrgica Pára-quedista) e um Pelotão de PE. Com
capacidade para montar um PC Táctico da Força e um PC de Brigada.
Companhia de Transmissões
Responsável pelo apoio de transmissões à FRR. Todo o pessoal é pára-quedista e o respectivo
equipamento poderá também ser lançado de pára-quedas. São responsáveis por garantir as
comunicações intra-força, com os escalões superiores e com os outros Ramos, designadamente no
Apoio de Fogos Aéreo ou Naval quando necessário. Garantem também a interoperabilidade com outras
forças, ou comandos, de países aliados ou coligados.
1 Batalhão de Comandos
As 3 Companhias de Comandos constituem preferencialmente o primeiro elemento de combate
principal a ser empregue. Caracterizam-se pela acção de surpresa, agressiva, rápida e violenta mas de
sustentação limitada. Concebidas e treinadas para a execução de operações especiais de acção directa,
com particular destaque para golpes de mão e emboscadas normalmente contra objectivos importantes,
oferecem uma grande flexibilidade de actuação, pela diversidade e qualidade do seu treino e pela
integração de elementos de todas as Armas, Serviços e especialidades58, mas com limitada capacidade
inforced the peace process. BOYCE, Admiral Sir Michael: Achieving effect. (Extracted from the Royal United Services Institute Briefing by Admiral Sir Michael Boyce, the UK Chief of the Defence Staff, delivered in December 2002), etsnews, acedido a 28Jan05.
58 I had left them (MILAN antitank guided missiles) there because at that stage of the operation (Falklands War-1982) there was no tank threat, and I saw no need for them and I was using my antitank troop, which is part of the support company, in a different role. They were all commando soldiers, and they were being used in a reconnaissance role to boost up my reconnaissance
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 20
A Força de Reacção Rápida de defesa (estática). Constituem a força de assalto por excelência e são os elementos mais ágeis, mais
rápidos e mais ligeiros, actuando com precisão, em áreas ou zonas hostis, controladas pelo inimigo, ou
de duplo controlo, necessitando de serem rapidamente extraídas, rendidas ou reforçadas. Podem ser
colocadas no terreno por meios terrestres, lançamento de pára-quedas, aeronaves de asa fixa ou rotativa
e ainda por meios anfíbios. Possuem igualmente uma elevada competência em todo o tipo de operações,
terrestres e aéreas, integrando-se facilmente nas acções de forças de outra natureza, tais como as
mecanizadas e blindadas, e no pedido ou regulação de acções de apoio de fogos terrestres, aéreos ou
navais, em qualquer tipo de terreno, clima e condições meteorológicas, de dia ou de noite.
Cada Companhia é constituída por 3 Grupos de Combate e 1 Grupo de Apoio. Os primeiros são os
elementos de manobra e, os segundos, com as suas 6 armas anti-carro, os 3 morteiros 60 mm longos e as
3 ML 7,62 mm, proporcionam o apoio de fogos orgânico mais “pesado”.
2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista
Os 2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista a 3 Companhias de Atiradores Pára-quedistas e 1
Companhia de Apoio cada, constituem no seu conjunto, de pessoal e meios, a força principal de
manobra e serão normalmente as segundas unidades a intervir, como força de seguimento ou para
efectuar a rendição ou o reforço do Batalhão de Comandos, ou subunidades ou elementos deste. Estão
especialmente vocacionados para a inserção por meio do salto em pára-quedas. A Companhia de Apoio
confere-lhes um poder de fogo e capacidade de sustentação superior ao Batalhão de Comandos, não
obstante a sua constituição ser à base de infantaria ligeira, pela possibilidade de emprego dos seus seis
morteiros 81mm e das suas 6 armas anti-carro. Possuem capacidade autónoma para conquistar
objectivos importantes, nomeadamente estratégicos, e de se manter no terreno por períodos de tempo
limitados e garantem ainda a capacidade “sustentada” imediata de combate. Contribui para o seu
aligeiramento a existência de um único tipo de viatura em boa quantidade (sobretudo para as armas de
apoio) – a “mula mecânica”. Incluem:
Comando e Estado-Maior do Batalhão
3 Companhias de Atiradores Pára-quedistas – a 3 Pelotões de Atiradores e um Pelotão de Apoio
cada.
Pel At – Sec Cmd c/ 1 arma ACar e 1 ML 7,62; 3 SecAt c/ 2 ML 5,56 e 2 Esp c/ LG cada
Pel Ap – 1 Sec ACar (4 CG); 1 SecMort (2 Mort 60mm); 1 Sec AMat (2 armas); 1 Sec LG (2LG)
Companhia de Apoio
1 Pelotão de Apoio de Serviços com 1 Secção Sanitária, 1 Secção de Man/Tm, 1 Secção de
Transportes e 1 Secção de Reabastecimento.
1 Pelotão de Morteiros – a 3 Secções com 2 morteiros 81mm cada
1 Pelotão Anti-Carro – a 3 Secções com 2 armas (Msl MILAN) cada.
capabilities, and they left their antitank weapons behind. MCMICHAEL, Major Scott R.: “Discussions on Training and Employing Light Infantry”, CSI Report No. 8, Combat Studies Institute, p.12. I
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 21
A Força de Reacção Rápida Batalhão de Apoio Aeroterrestre
Responsável pelo apoio aeroterrestre, de combate e logístico integrado aos escalões imediatos da FRR.
Sub-unidade preciosa e fulcral para esta Força, constitui seguramente uma mais-valia operacional e
definitivamente condiciona a dependência da Unidade territorial onde se encontra. As suas utilíssimas
valências, sobretudo no campo aeroterrestre, fazem dela um instrumento determinante e torna-se
imperioso que o Exército assim o reconheça. É constituído por:
1 Companhia de Incursores
É o elemento da força vocacionado para o reconhecimento, antes, durante e após o lançamento das
operações. É responsável pelas actividades necessárias, nomeadamente as de balizagem de Zonas de
Salto ou de Lançamento, para o desencadear de uma operação aerotransportada ou de assalto aéreo.
Com os DestPrec também executa as acções de TA, FAC e RLA em proveito da Força; com os
DestExpl executa as acções de reconhecimento clássico em proveito dos BIPára. Embora não seja a
sua vocação primária, poderá desencadear operações de combate, de carácter limitado, em proveito
da Força.
1 Companhia de Apoio de Combate
Para fornecimento do necessário apoio de combate modular. A 1 Pelotão de Morteiros Pesados (6
Mort 120mm), 1 Pelotão de Artilharia Anti-Aérea (Manpad), 1 Pelotão Anti-Carro (12 Msl 3ª
geração), 1 Pelotão de Engenharia de Combate.
1 Companhia de Equipamento e Abastecimento Aéreo
Com capacidade de executar a manutenção do material aeroterreste. Armazena e mantém o
equipamento aéreo, em particular os pára-quedas destinados ao pessoal e material. Inclui a
capacidade de efectuar operações de terminal, nomeadamente do tipo aéreo. Farão parte desta sub-
unidade 1 Pelotão de Abastecimento Aéreo, 1 Pelotão de Equipamento Aéreo, 1 Pelotão de
Manutenção do Equipamento Aeroterrestre e 1 Pelotão de Operações de Terminal e de Voo.
1 Companhia de Apoio de Serviços
Responsável pelo reabastecimento, manutenção e, se oportuno e viável, pelo transporte rodoviário
de pelo menos uma das UEB da FRR. É constituída por 1 Pelotão de Manutenção, 1 Pelotão de
Reabastecimento e 1 Pelotão de Transporte.
Reforçam, apoiam, garantem o cumprimento da Missão até à chegada das Forças de seguimento ou
extracção. São a componente mais pesada da FRR.
1 Grupo de Aviação Ligeira do Exército
Considera-se que a existência do GALE na FRR é uma mais-valia, na medida em que confere
mobilidade acrescida aos Batalhões de manobra designadamente para a sua colocação no terreno. Hoje
em dia, a mobilidade é crucial, especialmente no contexto das FRR, em ambiente multinacional. A falta
de mobilidade da FRR é um dos condicionamentos com que um Comandante, a quem esta força estiver
atribuída, terá de lidar em permanência. Por outro lado, não dispondo a FRR organicamente de unidades
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 22
A Força de Reacção Rápida de reconhecimento, a capacidade de reconhecimento, vigilância e ligação poderá ser assegurada pelos
helicópteros de observação do GALE. Logo, o Comandante da FRR deverá o mais possível ter o GALE
disponível para emprego em proveito da força de acordo com o seu conceito, eliminando ou
minimizando a eventual tendência para a sua utilização sob a dependência de níveis de decisão mais
elevados.
Os seus helicópteros NH-90 e os de observação (a definir, mas equivalentes aos OH-58), possibilitam a
execução de assaltos aéreos, o apoio de fogos próximo, evacuação sanitária, transporte logístico,
reconhecimento, vigilância e ligação. Possui apoio logístico próprio, o que lhe dá mais flexibilidade de
actuação e às forças em proveito de quem trabalha.
1 Companhia de Operações Especiais
Para actuação no âmbito das Operações Especiais, em particular nas de Acção Indirecta e de âmbito
estratégico e outras (de Acção Directa) que sub-unidades ou elementos do Batalhão de Comandos e da
Companhia de Incursores não tenham capacidade de executar ou, possuindo-a, não se considere
conveniente empenhar outra componente da FRR.
Forças Atribuíveis (Affiliated) à Força de Reacção Rápida:
1 Batalhão de Fuzileiros
A ser atribuído quando a Operação envolva a constituição de uma cabeça-de-praia, como garantia da
posse e controlo de um ponto de entrada, ou de saída, aquando da execução de operações pela FRR
perto do litoral, de lagos ou rios navegáveis. Este Batalhão representa a componente anfíbia
especializada, preparada para efectuar desembarques anfíbios, conquistar e controlar uma cabeça-de-
praia.
1 Grupo de Artilharia de Campanha
Caso necessário, deve ser atribuído à FRR o GAC da Brig Intervenção, que está equipado com 18
obuses 10,5 cm “Light Gun”. Para facilitar essa atribuição, deverá ser o único GAC com todos os seus
elementos pára-quedistas (ou, no mínimo, uma Bateria), capazes de integrarem qualquer modalidade de
acção, mesmo que exija a sua colocação no terreno por meios aéreos, incluindo nestes o lançamento dos
obuses por pára-quedas, ou o seu transporte pelos NH-90. É uma garantia de apoio de fogos em
profundidade, inclusive a partir do interior do dispositivo inimigo, caso dos “raids” de artilharia na
profundidade do dispositivo do In, estando contudo limitado mais por razões logísticas (volume, peso e
transporte) do que operacionais. Pode desdobrar-se em baterias, vocacionadas para o apoio a cada um
dos Batalhões da FRR59.
59 Embora pouco frequente é uma das possibilidades a ter em conta. The commander of 29 Commando also decentralized the control of his guns for the forthcoming attack by dedicating the fires from a single artillery battery to the support of each attacking infantry battalion [Falklands War-1982]. SCALES, Robert H.: Firepower in Limited War, National Defense University Press, Washington , DC, November 1993, p.221
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 23
A Força de Reacção Rápida c. Vantagens e Inconvenientes desta Organização da FRR
Vantagens
Modularização e especialização.
Responde aos cenários estratégicos actuais, à evolução da doutrina e à capacidade de sustentação de
meios materiais e humanos.
Apoio de Combate e Logístico integrados e Forças de manobra ligeiras, flexíveis e de capacidade
incremental.
Oferece, para o tipo de missões para que foi concebida, uma elevada capacidade de intervenção.
Garante a possibilidade de alargar a nossa contribuição nas diversas entidades internacionais, com
uma Força credível e assim seguramente poder cumprir o nível de ambição prescrito para o Exército
no Conceito Estratégico Militar.
Actua num nicho em que Portugal possui reconhecida capacidade, podendo sem tibiezas
complementar outras de países mais poderosos60.
Concebida para trabalhar em ambiente conjunto e/ou combinado, nas dimensões terrestre, aérea,
marítima, lagunar ou fluvial, em qualquer tipo de terreno e clima.
No caso máximo de emprego da FRR como um todo implica o comando de apenas 5 UEB (1
BCMDS, 2 BI Pára, 1 Bat Apoio Aeroterrestre, 1 GALE)
Se reforçada poderá alcançar as 7 UEB (1 BCMDS, 2 BI Pára, 1 Bat Apoio Aeroterrestre, 1 GALE,
1 Bat Fuz e 1 GAC) subordinadas a um único Comando, o que ainda não é excessivo.
Inconvenientes
Limitada capacidade de colocação por via aérea, salto ou aterragem, de sub-unidades da Força.
Limitada protecção blindada.
Limitada capacidade anti-carro.
Limitada capacidade de sustentação logística.
Limitada capacidade de transporte terrestre.
44 –– CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO “O incessante progresso da humanidade provoca uma mudança contínua no armamento; e com isso deve vir uma mudança na forma de combater.”
Alfred Mahan
a. Finalidade
O conceito que se apresenta visa enquadrar os instrumentos que possibilitem responder
militarmente a um largo espectro de ameaças e problemas militares, gerados num ambiente
60 Outros países especializaram-se em outras áreas que os faz serem procurados. A República Checa na guerra NBQ, a República Eslovaca, Roménia e Eslovénia em tropas de montanha, os países Bálticos em EOD. Das “faltas” que foram identificadas assinalam-se a nível das forças especiais, HUMINT, apoio sanitário, capacidade de transporte táctico e estratégico, NBQ, CSAR (combat search and rescue) . AAVV: European defence. A proposal for a White Paper. Report of an independent Task Force, Institute for Security Studies, European Union, Paris, May 2004, pp. 119-20. PENGALLY, Owen: Rapid Reaction Forces: More Questions Than Answers, BASIC, 25 January 2003, acedido a 11Jan05.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 24
A Força de Reacção Rápida estratégico complexo, incerto e em contínua mutação.
Pretende-se que a FRR seja dotada com um conceito “robusto” para o seu emprego,
transformando-a num meio estrategicamente relevante, tacticamente decisivo e flexível,
optimizando o contributo do Exército para a Defesa e Segurança Nacionais, tendo em
consideração a posição geoestratégica de Portugal e a sua capacidade de gerar, projectar,
sustentar e regenerar forças militares em operações.
Este conceito envolve o esboço de uma estrutura, organização, atribuição de meios e modos de
empenhamento da FRR. Orienta-se este emprego para operações de estabilização mas sem
descurar a participação em operações de intervenção em áreas especializadas. Procura-se
relevar competências já demonstradas pelo Exército e complementar capacidades de forças
aliadas ou coligadas quando em operações combinadas.
b. Pressupostos
Para o desenvolvimento do conceito operacional assumem-se pressupostos no âmbito político,
estratégico e operacional/táctico.
Político
O poder político continuará a utilizar a manu militari como instrumento político de
afirmação de Portugal.
Os conflitos armados continuarão a ser determinantes nas relações internacionais.
A profissionalização das Forças Armadas é acompanhada pela intenção da sua
modernização e da rendibilização dos efectivos, obrigando ao desenvolvimento de novos
conceitos operacionais para o emprego das suas Forças.
Os meios militares serão, cada vez mais, solicitados para tarefas não militares, como a
protecção civil, a ajuda humanitária e o auxílio de emergência.
Estratégico
O horizonte temporal do conceito da FRR será semelhante ao das forças aliadas com as
mesmas características, nomeadamente dos EUA e RU, data que é actualmente referenciada
a 2020.
Geoestrategicamente, Portugal manterá a sua relevância, quer na ligação transatlântica, quer
no relacionamento com actores não estatais, quer ainda na ligação UE – África.
A Segurança e Defesa de Portugal são encaradas num conceito comum de defesa,
fundamentado em alianças e coligações. Para tal, e no sentido de Portugal ter uma voz
credível e capacidade para intervir no estabelecimento de objectivos estratégicos no seu
seio, as forças terão que ser operacionalmente relevantes e interoperáveis com as forças
aliadas.
A UE tenderá progressivamente a afirmar-se na defesa europeia mantendo-se os EUA como
a única superpotência com capacidade para actuar globalmente. A UE e os EUA definirão
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 25
A Força de Reacção Rápida áreas de intervenção ou de actuação complementar.
A FRR constitui-se como uma força fundamental para a (uma) Estratégia Militar de
Portugal.
Operacional/Táctico
A FRR poderá ser empregue quer em âmbito exclusivamente nacional quer em alianças e/ou
coligações, como um todo ou em parte, designadamente através de sub-unidades de escalão
agrupamento e sub-agrupamento.
A FRR pode ser empenhada em qualquer nível do espectro de ameaças / conflitos.
A caracterização actual e a natural evolução dos conflitos releva condições francamente
favoráveis ao emprego de forças de reacção rápida.
A mobilidade estratégica da FRR deverá ser assegurada através de meios nacionais próprios
ou, quando não possível, por outras nações amigas, aliadas ou coligadas.
No âmbito táctico, para operações desenvolvidas com forças de escalão batalhão ou inferior,
a FRR não deve, preferencialmente, estar dependente de meios das coligações e alianças
(e.g. transporte táctico).
As forças apeadas, nomeadamente a infantaria, continuarão a ser os elementos decisivos nas
operações de contra-insurreição.
c. Conceito Operacional
(1) Princípios Gerais
A FRR poderá desencadear de imediato operações ofensivas ou defensivas, autonomamente ou
fazendo parte de forças conjuntas ou combinadas. A sua capacidade de projectar poder, em
particular para TO fora do território nacional, tornam-na numa força “expedicionária”61 ao
serviço da concretização de objectivos e defesa dos interesses nacionais.
Em acções de defesa do território nacional, dados o seu limitado poder de fogo e menor
capacidade de sobrevivência, nomeadamente em “terreno” aberto, a FRR estabelece as
condições necessárias para forças de seguimento ou de reforço de características médias e
pesadas actuarem decisivamente.
Primariamente a FRR está preparada para, em conflitos de cariz assimétrico, projectar as suas
unidades em operações de contra-insurreição, contra terroristas e em operações de estabilização
ou de ajuda humanitária. Secundariamente, poderá integrar coligações em conflitos
tradicionalmente convencionais.
O emprego da FRR terá de ser sempre concebido dentro de um conceito do predomínio da
manobra, procurando acelerar o ritmo das acções (operações) de modo a causar um efeito
desestabilizador e de paralisia das forças In face ao poder e precisão demonstrados. A
identificação de factores críticos do campo de batalha, obriga à utilização judiciosa da FRR
61 Ou projectável. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 26
A Força de Reacção Rápida sobre os pontos críticos e decisivos de modo a desintegrar o centro de gravidade do In. Esta
visão operacional e holística da força e do campo de batalha conduz ao empenhamento a “long-
range” do In, quer através das forças de manobra da FRR, quer através de fogos não orgânicos.
A FRR tem necessidade de se poder integrar com outras forças, conjuntas ou combinadas, para
se extrair dela o máximo das suas potencialidades.
A actuação da FRR privilegia a constituição de forças estruturadas face à especificidade das
missões, normalmente de (até) escalão batalhão, para a execução de operações de elevado risco,
de grande intensidade e curta duração, visando criar o choque62 e incapacitar as forças adversas
de desenvolverem oportunamente acções efectivas. A sua sobrevivência é acrescida pela
integração da informação e manobra até ao mais baixo nível táctico, pela preferência pelo
combate nocturno e em condições especiais particularmente adversas, pela sua dispersão e,
naturalmente, pelo reforço e apoio de fogos em profundidade (long-range) não orgânicos.
Sumariamente a FRR introduz, aliás, capacidades únicas em operações conjuntas/combinadas
que potenciam a sua utilização:
O maior grau de reacção, acessibilidade, flexibilidade e adaptabilidade;
A possibilidade de projectar rapidamente poder a longas distâncias; e
O alargar das opções para o emprego dos meios militares aos decisores políticos e militares.
(2) Actuação
A actuação da FRR fundamenta-se em dois elementos essenciais:
(a) O emprego agressivo de forças reduzidas e ligeiras, com grande mobilidade táctica,
capacidade de sacrifício, rapidamente colocadas nos objectivos críticos; e
(b) O emprego subsequente das restantes forças ou de outras forças com maior poder de
fogo orgânico e protecção.
Esta composição “equilibrada”, isto é, de forças extraordinariamente ligeiras complementadas
na mesma grande unidade (GU) por outras ligeiramente mais pesadas, com capacidade superior
em mobilidade, poder de fogo e protecção, garante uma versatilidade notável no seu emprego
táctico.
d. Orientações
(1) Para o emprego das Sub-unidades mais ligeiras.
As sub-unidades mais ligeiras e de armas combinadas, constituídas especificamente de acordo
com as missões cometidas, podem desenvolver acções tácticas contra um grande leque de
ameaças. Essa versatilidade e flexibilidade na composição e articulação das forças torna-as
62 Operational shock is a systemic effect against the enemy systems control mechanisms, which achieves paralysis, disorganization, and disintegration, In Search of a Joint Urban Operational Concept, School of Advanced Military Studies, United States Army, Maj Lee K. GRUBS, page 17. Shock can be defined as a sudden violence concentration. Its effects, are to terror-stricken, deter, and frighten, in The British Army by 2010, Foreign Studies, LtCol CONSTANT.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 27
A Força de Reacção Rápida aptas para o combate em terreno “complexo” (urbanizado63, floresta...) e para desenvolver
acções agressivas de reconhecimento em prol da FRR ou da coligação. As características destas
forças permitem também o seu emprego em reforço ou em apoio de forças mais especializadas
na actuação em condições especiais. A sua capacidade de inserção por mar (e ar) e adaptação às
diversas características físicas do TO tornam-nas adequadas para participarem em operações
combinadas ou com outras forças nacionais e estrangeiras, permitindo, caso necessário, o seu
“encorpamento” até atingir 3 Batalhões, constituindo estes uma massa crítica normalmente
suficiente64. Assim, poderão participar em operações anfíbias quer reforçando as unidades de
Fuzileiros quer como força de seguimento. Podem, também, se necessário, executar, reforçar ou
apoiar outras forças na execução de operações no âmbito do contra-terrorismo. Algumas acções
terroristas apresentam características de planeamento, execução e de meios, próximas de
operações militares aconselhando, consequentemente, a intervenção de forças militares para o
seu combate e neutralização. A necessidade de resgatar cidadãos nacionais ou reféns, fora do
país, pode exigir em simultâneo da parte das forças a utilizar, especialização e treino em
operações de contra-terrorismo, de assalto aerotransportado, aeromóvel e anfíbio.
(2) Para as restantes forças da FRR.
As restantes forças acrescem indubitavelmente a eficácia da FRR, consequência da maior
mobilidade táctica, protecção blindada e apoio de fogos que aportam. Embora ainda situadas na
esfera das GU ligeiras, não deixam de reforçar ou apoiar as acções desencadeadas pelas forças
mais ligeiras ou, se assim for entendido aquando da estruturação da subunidade, de dotá-la com
meios que aumentem a sua letalidade e a sua capacidade de sobrevivência.
Actuando a FRR como um todo, esta carece fundamentalmente de mobilidade estratégica e de
apoio de fogos indirectos não orgânicos. Sem este apoio, a FRR não tem, em geral, capacidade
para enfrentar GU “médias” ou “pesadas”.
(3) Para o emprego dos meios aéreos
A adequada e atempada utilização dos meios aéreos será importante, para não dizer
determinante, para projectar ou apoiar a FRR. Por uma questão de facilidade de análise
poderemos considerar 3 aspectos: um, referente à colocação de fogos no apoio à manobra, o 63 Seventy percent of the world’s population will live in cities by the year 2014, in Soldiers in Cities: Military Operations on Urban
Terrain, de. Michael C. Desch (SSI, 2001), pg 4, citado em «In Search of a Joint Urban Operational Concept», School of Advanced Militaries Studies, USA, Maj LEE K. Grubbs, pg 2. Recent forecasts based on population statistics and the worldwide migration trend from agrarian to industrialized societies predict that 85 percent of the world’s population will reside in urbanized areas by the year 2025. Military Operations on Urbanized Terrain (MOUT), Marine Corps, Warfighting Publication (MCWP) 3-35.3, DEPARTMENT OF THE NAVY, Headquarters United States Marine Corps Washington, DC 20380-0001, 26 April 1998, p. 1-1. According to United Nations estimates, the urban population of developing countries worldwide increases by about 150,000 people each day, with the most pronounced growth occurring in Africa and Asia. By the year 2025, three-fifths of the world’s population — five billion people — will live in urban areas. A Concept for Future Military Operations on Urbanized Terrain, Department of the Navy, Marine Corps Combat Development Command Quantico, VA, 25 July 1997, p. III-3
64 Operation Just Cause validated the force size required to conduct not only the forced entry mission but also other SOF missions directed by the NCA. The three battalions achieved decisive mass at crucial points to accomplish the mission. A smaller force, e.g., two battalions, would not have met the mission requirements. It should be noted that all three Ranger Battalions were needed and committed in Panama, leaving no force available for other contingencies. CHAE, Chelsea Y., Maj USA B.S., The Roles and Missions of Rangers in the Twenty-first Century, United States Military Academy, West Point, New York, 1982, Fort Leavenworth, Kansas,1996, pg. 62.
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A Força de Reacção Rápida segundo, como instrumento de comunicações, reconhecimento e vigilância65 e, o terceiro, como
meio de transporte e colocação ou inserção/extracção da FRR no terreno.
A colocação de fogos pode assumir diversos matizes, sendo o mais frequente o Apoio Aéreo
Próximo – “Close Air Support” (CAS) da Força66. Este apoio de fogos poderá ser executado por
aeronaves de asa fixa como o C-130 Spectrum e o A-10 Thunderbolt II, que embora de
características muito distintas são exemplo suficientemente elucidativos deste tipo de apoio de
fogos aéreos. É importante realçar que é um dos meios mais empregue no combate em
profundidade67.
A outra grande componente é efectuada pelos helicópteros numa função anti-carro ou anti-
pessoal68.
No que concerne às comunicações, reconhecimento e vigilância, encontramos por exemplo69 o
DO-27 das campanhas de África e mais recentemente os UAV, designadamente no Líbano, no
Afeganistão e no Iraque.
O apoio logístico é de suma importância interessando destacar dois aspectos: o apoio à própria
Força e respectiva Missão, e o apoio a outras forças ou a missões subsequentes70.
O apoio à Força varia consoante a missão, o inimigo, o terreno, os meios, a rapidez de
execução, a população (ou nacionais e aliados no caso das NEO) e a missão subsequente. O
mais importante, e certamente o mais difícil, será o apoio sanitário quando não for possível
executar evacuações, obrigando a estabilizar os feridos e acidentados e a aguardar a eventual
chegada de uma força de junção.
O último aspecto em análise – meio de transporte e de colocação ou inserção/extracção – é
determinante, justificando até o aparecimento de forças e unidades especialmente treinadas para
actuarem a partir da sua colocação no terreno por aeronaves. Esta colocação varia no tipo de
aeronave (aviões, planadores ou helicópteros) ou no método (por aterragem, por salto em pára-
quedas, por descida em rappel ou corda rápida, ou puramente por salto da aeronave para o solo
– de helis ou aviões71). Sendo este aspecto relevante para as características e possibilidades da
FRR entendemos criar uma alínea própria, que se apresenta de seguida.
(4) Para a Inserção vertical
A inserção vertical oferece, como grandes vantagens, a flexibilidade e rapidez de actuação. 65 A utilização de satélites artificiais complementa, e por vezes substitui, os meios aéreos na realização de algumas destas missões. 66 Não significa isto um atribuir de uma menor importância às outras missões, como o testemunha a abertura dum corredor aéreo
pelos Heli no início da Operação Tempestade no Deserto. 67 Embora o desenvolvimento tecnológico tenha permitido uma parcial substituição, pela utilização de mísseis cada vez mais precisos
como os Tomahawk (BGM-109). 68 E que têm exemplos expressivos, e conhecidos, no AH-1 COBRA do Vietname, no ALOUETTE III em África (na função heli-
canhão) no Mi-24 HIND D no Afeganistão, ou o AH-64A APACHE 69 O E-2C HAWKEYE (que opera a partir de porta-aviões), ou o E-3 SENTRY, mais conhecido pelo AWACS, ou o O-2 ou o OV-
10A BRONCO (North American Rockwell) do Vietname . 70 Situação concretizada no estabelecimento das FOB COBRA e VIPER durante a 1ª Guerra do Golfo em 1991.
71 Situação extrema relatada na frente russa durante a 2ª G.M. Some troops without parachutes were also dropped during the course of the operation (March 1942). Slow-flying U-2 biplanes would skim close to the ground, and the paratroopers would leap off into deep snowdrifts. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio,1995, ISBN 0-89141-399-5, p.72.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 29
A Força de Reacção Rápida Esta, ao contrário do que poderá acontecer com outro tipo de forças, não é tão afectada pela
existência de obstáculos naturais ou artificiais, nem se encontra dependente de uma possível
falta, neutralização ou destruição de infra-estruturas nos locais de empenhamento, como sejam
estradas, portos e aeroportos. A possibilidade de execução da inserção vertical, alcançada
através da aterragem de assalto de aeronaves de asa fixa, de operações aeromóveis ou de assalto
aéreo ou ainda de assalto pára-quedista é garantia de maior sucesso, pela possibilidade de
colocação directa no objectivo72, ou muito próximo73 e pela variedade de combinações que tais
possibilidades de actuação oferecem, i.e. aterragem de assalto conjugada com um assalto pára-
quedista e assalto aéreo e com múltiplas inserções. Sem negarmos a necessidade de maior
especialização em determinadas áreas de uma parte dos elementos da FRR torna-se evidente,
para potenciar e facilitar todas as modalidades de acção referidas, a conveniência em qualificar
e habilitar o máximo efectivo possível da Força para a inserção por meio de pára-quedas.
Assim, a capacidade de salto em pára-quedas não se restringirá aos actuais Batalhões de
Infantaria Pára-quedista, devendo, se possível, estender-se a toda a FRR. Assinale-se que a
impossibilidade do emprego de helicópteros – são facilmente afectados pela altitude, humidade,
temperatura, condições meteorológicas como o vento e a chuva – e o seu menor raio de acção e
velocidade, comparativamente com as aeronaves de asa fixa74, pode colocar como sendo a
melhor opção o lançamento da Força, ou parte dela, em Pára-quedas75. O inverso também
poderá suceder pela inexistência de condições meteorológicas, i.e. vento superior a 14 nós, pela
inexistência de ZL adequadas (pequenas, arborizadas76 ou acidentadas) ou ainda pela
necessidade de não dispersar a Força77. Os avanços tecnológicos têm atenuado as limitações
72 Often air assaults landed right on top of a defending enemy. GRAU, Lester W., GRESS, Michael A.: The Soviet-Afghan War,
How a Superpower Fought and Lost, University Press, 2002, ISBN 0-7006-1186-X, p.217. 73 Como na Operação Urgent Fury, em 25 de Outubro de 1983, onde constitui um exemplo a ocupação do aeroporto de Pearls
inicialmente por uma Companhia de Marines ou a tomada da Mansão do Governador Geral de Granada por 22 SEALS, estes transportados em 2 BLACKHAWK,
74 An air assault in the mountains often required almost twice the number of helicopters of normal circumstances. ... For example, an Mi-8 helicopter can carry 24 fully equipped troopers at sea level, but in the mountains, no more than 12, and in some cases even fewer. GRAU, Lester W., GRESS, Michael A.: The Soviet-Afghan War, How a Superpower Fought and Lost, University Press, 2002, ISBN 0-7006-1186-X, p.201.
75 Como sucedeu nas acções de contra-insurreição levadas a cabo pelas forças rodesianas, no actual Zimbabwe: Three operational jumps in a single day was something no other paratrooper had ever been expected to do. Indeed other paratroops of other nations had endured nothing like it. In 1950-1952, for example, the French Colonial Paras in Indo-China proudly boasted of their fifty odd combat jumps. This was more than double the 24 operational jumps, which the two vaunted French Foreign Legion Para battalions made between March 1949 and March 1954. Altogether the French were to make over a hundred combat jumps while later in Vietnam the Americans only made one major combat jump. The Americans, of course, were by then making tactical use of helicopters. WOOD, Prof. J.R.T.: FIRE FORCE Helicopter Warfare in Rhodesia: 1962-1980.
76 Uma prática original, no sentido de aproveitar o que à partida seria considerado uma limitação, foi o desenvolvimento do tree jumping pelos SAS no conflito da Malásia na década de 50 (Malayan Emergency). Como as bases da guerrilha se situavam em locais longínquos e de difícil acesso os SAS optaram por saltar em pára-quedas sobre a selva, tendo sido realizado em Fevereiro de 1954 o seu primeiro salto operacional deste tipo. A técnica consistia em admitir como pressuposto que a calote do pára-quedas ficaria presa na copa das árvores, bastando depois descer até ao solo por meio duma corda previamente preparada para o efeito. Após a ocorrência de diversos acidentes, alguns deles fatais, e o maior emprego de helicópteros, esta técnica de salto foi abandonada. BILLIÈRE, General Sir Peter de la: Looking for Trouble: SAS to Gulf Command – The Autobiography, HarperCollins, pbk edition 1995, pp. 123-5. GERAGHTY, Tony: Who Dares Wins, The Special Air Service, 1950 to the Gulf War, Warner Book, pp. 338-342. KEMP, Anthony: The SAS Savage Wars of Peace, Signet, 1995, pp. 24-5. NEILLANDS, Robin: In The Combat Zone: Special Forces Since 1945, Orion, pp. 106-107.
77 It was evident that parachutes were of no use in Afghanistan, so most specialized parachute equipment was put into storage at the Bagram and Kabul air bases or shipped back to Soviet Union. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio, 1995, p. 240.
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A Força de Reacção Rápida melhorando o desempenho dos helicópteros, as possibilidades dos pára-quedas (mais
manobráveis e permitindo lançamento a velocidades do vento superiores e altitudes inferiores –
18 nós a 150 m) e o aperfeiçoamento de aeronaves VSTOL com maior raio de acção e
capacidade de aterrar verticalmente78, o que poderá melhorar significativamente a colocação
das forças mas, haverá sempre a possibilidade de utilização do pára-quedas79.
(5) Para o emprego dos meios navais e anfíbios
A FRR é, essencialmente, uma força expedicionária, empregando os meios considerados
necessários e adequados para essa finalidade. A maioria da população e das capitais dos países
encontram-se na costa, ou relativamente perto dela, constituindo-se o mar, e os meios que nele
operam uma clara possibilidade ou necessidade de emprego80.
Poderemos distinguir duas formas distintas, uma como meio de colocação de forças,
participando ou, melhor dizendo, antecipando a manobra terrestre. Outra, como elemento de
apoio, de fogos e logístico.
(a) Como meio de colocação de Forças
Numa acção precedida de desembarque anfíbio, convém sempre realçar que os Fuzileiros são
forças anfíbias e, como tal, deverão ser os primeiros a constituir a cabeça de praia81. No
entanto, a versatilidade e competência da FRR, especialmente as suas unidades de Comandos,
poderão permitir-lhes actuar como Força de Seguimento. Outra possibilidade será a sua
utilização para actuar no interior da linha de costa, em ambiente claramente não anfíbio, ou na
execução de operações especiais de acção directa. A existência de helicópteros oferece a
possibilidade de projectar a FRR para acções terrestres, via assalto aéreo82, a partir do ambiente
marítimo libertando, se necessário,83 os Fuzileiros para a componente anfíbia mais
especializada.
O factor de colocação rápida dos meios no terreno é fundamental, havendo pois necessidade de
78 O Osprey é uma aeronave VSTOL (Vertical/Short Take-off and Landing) que tem suscitado muito interesse junto dos Marines
americanos. 79 Parachutes provide a degree of strategic mobility that still cannot be provided by other means. Although helicopters are a much
more practical means of delivery at ranges of 100 miles, parachute operations can occur ar ranges of 500 miles. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio,1995, pp. 311-2.
80 Some 70 percent of the world population lives within 200 miles of a coastline. Four out of five world capitals are within 300 miles of the coast. Spring 1994 / JFQ 47. The results of geographical studies show that 60 percent of politically significant urban areas outside allied or former Warsaw Pact territory are located along or within 25 miles of a coastline; 75 percent are within 150 miles; 87 percent are within 300 miles; 95 percent are within 600 miles; and all are within 800 miles. Military Operations on Urbanized Terrain (MOUT), Marine Corps, Warfighting Publication (MCWP) 3-35.3, DEPARTMENT OF THE NAVY, Headquarters United States Marine Corps Washington, DC 20380-0001, 26 April 1998, p. 1-1. The purpose of our Naval forces is to directly and decisively, influence events ashore from the sea, anytime, anywhere. Since 80 percent of the world’s population and 80 percent of capitals are within 500 miles of an ocean, our Navy-Marine Corps team is uniquely situated to project power “From the Sea”. We recently demonstrated the value of ready, forward-deployed naval forces during Operation Desert Fox and continue that effort today in the skies over Iraq, on the ground in Kuwait, and in “and under” the sea in the Arabian Gulf. WILLIAMSON, Rear Admiral USN Robert C., On Littoral Force Protection and Power Projection in the 21st Century, Statement Before the Senate Armed Services Seapower Subcommittee, 24 March 1999.
81 Nem sempre isso acontece. A primeiras força britânica a desembarcar nas Falklands-1982, para além dos SBS e SAS, foi o 2º Batalhão Pára-quedista logo seguido do Commando 40. THOMPSON, Julian: No Picnic, Cassell, 2001, pg. 53.
82 A exemplo do Suez 1956
83 42 Commando, with the Somerset Light Infantry anti-tank gunners under command, was to land from the sea but 45 Commando was to initiate a new form of warfare by going ashore in helicopters. NEILLANDS, Robin: A Fighting Retreat, The British Empire 1947-97, Hodder and Stoughton, 1997, ISBN 0-340-63521-5, pg. 325.
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A Força de Reacção Rápida considerar a capacidade das lanchas de desembarque e dos helicópteros, e a correspondente
correlação na forma, tamanho e peso das viaturas e equipamentos que deverão embarcar. É a
capacidade de projecção táctica, pronta a empenhar-se, que mais interessa, mais do que a
capacidade de transporte dos meios navais e aéreos. Considerando ainda a limitada capacidade
de entrada em força, não permissiva, ter-se-á sempre que observar que a reacção rápida não é
condicionada pela necessidade absoluta da existência, e respectivas possibilidades, de possíveis
portos de desembarque84.
(b) Como elemento de apoio
Como elemento de apoio pode-se tornar uma absoluta necessidade, mesmo imprescindível, para
execução de determinado tipo de missão. A componente fogos navais, por exemplo, poderá ser
de fulcral importância, permitindo aligeirar ainda mais a força (a empregar). O mesmo poderá
ser dito como meio de apoio logístico nas suas diversas componentes. No caso da existência de
um alerta prévio, poderá posicionar-se e funcionar como base avançada – forward base,
aliviando também desta forma a FRR. Considerando a distribuição dos interesses próximos de
Portugal, o alcance dos meios navais permite, igualmente, a mais fácil aceitação do risco de
desencadear operações aerotransportadas dentro das condições de sustentação e sobrevivência
autónoma da FRR pelo conhecimento da possível chegada, em tempo útil, da componente
marítima, que rapidamente poderá colocar em terra elevados efectivos e quantidades de
material, através de um serviço de vaivém de lanchas e helicópteros disponíveis.
Os meios navais podem também ser um meio privilegiado para a inserção e extracção de Forças
Especiais, em particular através do emprego de submarinos, dado o seu carácter furtivo.
Se a duração da missão o permitir, nomeadamente no caso de operações mais prolongadas ou
dilatadas no tempo, poderão ser o meio de fornecer às forças ligeiras já projectadas no TO
viaturas ligeiras e VBTP (de preferência de rodas e resistentes a minas)85.
Perante estes cenários é evidente a exigência crescente de uma maior interoperabilidade e
conjugação de meios, doutrina e treino entre os Ramos.
(6) Para o emprego de fogos não orgânicos
A dificuldade na projecção de forças, em particular por meios aéreos, é factor limitativo na
atribuição de meios humanos e materiais, nomeadamente no respeitante a meios de apoios de
fogos directos e indirectos orgânicos86.
A alternativa é melhorar as possibilidades de aplicação de fogos não orgânicos, adequando
doutrinas de emprego e ajustando melhor os meios existentes. O aspecto “Conjunto” assume
aqui um peso determinante, pelo emprego da componente naval e aérea. 84 Os Aliados não estiveram no dia D dependentes dos portos, pese embora a natureza diferente das operações nem estiveram,
também, os Britânicos nas Falklands. 85 Como por exemplo do tipo “Piranha”, que equipa as forças da Austrália, do Canadá e as novas Brigadas Sttriker dos EUA e que
poderiam (deveriam) ter sido as viaturas escolhidas para a aquisição por Portugal ao abrigo da LPM.
86 O tipo de operação, o secretismo, a rapidez e a surpresa ... são igualmente factores condicionantes da composição e possibilidades de intervenção da FRR.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 32
A Força de Reacção Rápida Deverá consequentemente ser dado largo espaço a um Sistema de Coordenação e Controlo de
Apoio de Fogos e a uma particular atenção ao Apoio de Fogos Naval e ao CAS. As implicações
na formação e no treino são desde já evidentes. Qualquer elemento da FRR deverá ser capaz de
pedir apoio de fogos já que, poderá encontrar-se isolado ou ser aquele melhor posicionado para
os solicitar.
Mas, como qualquer tipo de apoio, este será tanto mais eficaz quanto melhor for orientado por
observação directa. Há absoluta necessidade de desenvolver a capacidade dos OAF da Força,
integrando elementos da Marinha ou da FA, se for necessário. Estes OAF terão também que
dominar todas as formas e métodos de inserção, aéreo, terrestre ou aquático o que implicará,
para além duma elevada formação técnica a nível de apoio de fogos, a frequência do curso de
Pára-quedismo e de Comandos, considerando a elevada possibilidade de terem de ser
infiltrados, em primeiro lugar e em território hostil, para desempenharem a sua função em
proveito da FRR.
A possibilidade de colocar fogos, de qualquer natureza, ajustados e de elevada letalidade,
permite a atrição localizada, a abertura de corredores aéreos e anfíbios e, em última instância, a
própria sobrevivência e capacidade de extracção da Força.
(7) Para o emprego de meios blindados
Outra importante limitação, a da falta de protecção blindada, não será facilmente contornada.
Algumas viaturas blindadas serão possíveis de empregar, quer pelas várias sub-unidades anti-
carro quer pela Companhia de Incursores, através da utilização das viaturas M-11 que
actualmente equipam os ERec da BAI e da BLI. Mas, em todo o caso, será a missão que a FRR
irá cumprir que determinará ou não, uma maior necessidade de protecção blindada.
Convém também separar, para efeitos de análise, a ameaça blindada da já referida protecção
blindada. Os tipos de missões e de tarefas consideradas para o emprego desta força têm como
um dos seus pressupostos uma fraca ameaça de blindados e, a existir, esta provavelmente estará
dentro dos parâmetros que esta força aerotransportada poderá enfrentar87. Para além da ameaça
blindada há ainda que considerar, mesmo na sua ausência, a vantagem que reside no seu
emprego, atendendo ao poder de choque e de apoio de fogos que viaturas blindadas, mesmo
ligeiras, podem oferecer88.
No entanto, desde que a FRR tenha armamento e viaturas em quantidade suficiente e aero-
largáveis de forma a garantir o necessário poder de fogo e mobilidade logística, uma formação
de escalão Brigada será seguramente a mais adequada. O facto das viaturas e equipamento da
FRR serem relativamente menos sofisticados, quando comparados com os das forças blindadas 87 Army Special Forces also seized control of the Pacora River Bridge and blocked armored counterattacks into Ranger drop zones
around Torrijos/Tocumen Airport. EMBREY, Lieutenant Colonel James H.: OPERATION JUST CAUSE: Concepts for Shaping Future Rapid Decisive Operations in MURRAY, Williamson: TRANSFORMATION CONCEPTS FOR NATIONAL SECURITY IN THE 21st CENTURY, September 2002, ISBN 1-58487-104-0, pg 211.
88 Vide por exemplo o artigo de HEAD, Captain Daniel T., The 2nd Parachute Battalion’s War in the Falklands: Light Armor Made the Difference in South Atlantic Deployment, ARMOR, September-October 1999.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 33
A Força de Reacção Rápida ou mecanizadas, extremamente robustos (devido às especificações para resistirem aos
lançamentos aéreos) e de fácil manutenção e em estado de elevada prontidão, ainda aumentam
mais a sua adequabilidade para a integrar.
(8) Para o desenvolvimento do Espírito de Corpo e Moral da Força
São os homens o elemento fundamental de qualquer força. A sua coesão, ou a falta dela, é
factor determinante para o sucesso de tal forma que, mesmo as teorias da guerra mais recentes,
e não obstante a atracção exercida pela ciência e tecnologia actual, enfatizam esta qualidade.
Considerando a variedade de especialidades que a FRR engloba, a forma porventura mais fácil e
imediata de acentuar essa coesão, será precisamente pelo salto em pára-quedas. Obtêm-se desta
forma dois resultados, a melhoria das capacidades de inserção e intervenção e o robustecimento
do espírito e moral da Força, pelo sentimento de pertença a algo diferente, considerado de elite,
onde a valorização de qualidades como a coragem, a agressividade e o profissionalismo
encontrarão mais facilmente lugar. O ser pára-quedista implica também, por si só, o duplo
voluntarismo, o ser militar e saltar de pára-quedas, que o deverá conduzir de motu proprio num
processo de socialização através de um árduo percurso de selecção e formação89. Tal é
particularmente importante quando se considera que, independentemente da natureza das
operações em que a FRR será seguramente envolvida, estas serão pela sua própria urgência e
demais características, extremamente desgastantes para o pessoal que as integra90.
(9) Para a condução de Acções Humanitárias
Do ponto de vista da eficiência da utilização de recursos humanos e materiais da FRR, o seu
pessoal com aptidões diversificadas, capacidade de iniciativa mais desenvolvida e padrões
físicos superiores à média dos restantes militares, facilmente se adequa a participar em tarefas
de apoio humanitário e ajuda em caso de catástrofe ou calamidade pública, e no apoio a
programas de desenvolvimento económico de comunidades desfavorecidas, etc. Não sendo
encarado como missão específica da FRR, não deverá deixar de ser considerada e treinada de
modo a ser eficazmente utilizada ou de, numa fase posterior de transição assegurar a execução
deste tipo de acções enquanto não é rendida por outras forças ou organizações especializadas.
e. Empenhamento Operacional
O empenhamento da FRR pode englobar quatro fases, que embora para efeitos de apresentação
surjam sequencialmente, tendem a ocorrer de uma forma concorrente. São elas:
Fase Preparatória onde se processa a recolha de informação e o desencadear de acções
conducentes a permitir maior eficácia ao emprego da FRR. Incluem-se nesta fase todas as
89 Parachuting may therefore be compared with combat, providing a very real sense of danger under circumstances that allow units
of soldiers to practice overcoming their fears in relative safety. MCMANNERS, Hugh: The Scars of War, HarperCollins Publisher, 1994, ISBN 0-586-211-292-2, pg.70.
90 I would say, also, that inevitably the selection standards for the parachute forces and the commando forces must be higher than others, and I would think this applies to light infantry in the way you consider it as well. I would think there has to be a reasonably severe selection process both with officers (particularly with officers) and with men. MCMICHAEL, Major Scott R.: Discussions on Training and Employing Light Infantry, CSI Report No. 8, Combat Studies Institute, p.5.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 34
A Força de Reacção Rápida acções convencionais e não convencionais com o objectivo de garantir a surpresa e degradar
a capacidade de actuação do inimigo. O emprego de Forças Especiais, em particular dos
elementos de Operações Especiais, reveste-se de primordial importância.
Entrada “forçada” ou permissiva, caracterizada pela colocação no terreno através de meios
(ou combinação de meios) de inserção, terrestres, aéreos ou marítimos. Esta é a fase mais
vulnerável e complexa. As forças deverão ter organicamente meios que garantam a
mobilidade táctica e poder de fogo adequados ao Teatro de Operações e tipo de ameaça. O
emprego de pequenas forças altamente treinadas permite uma maior rapidez de intervenção
mas acresce a sua vulnerabilidade.
Acção Decisiva. Acção desenvolvida por subunidades constituídas da FRR ou por outras
forças, normalmente mais pesadas e com maior poder de fogo e blindagem. Procura-se
manter a iniciativa e a surpresa, explorando o sucesso das acções desencadeadas pelas forças
iniciais. Esta acção está muito dependente das informações tácticas e da vigilância a longas
distâncias permitindo o empenhamento do inimigo com fogos de precisão de modo a reduzir
ou anular a sua capacidade para desenvolver o combate próximo.
Fase de Transição, em particular das acções militares do espectro mais elevado dos
conflitos para operações de estabilização ou de apoio às populações. Nesta fase verifica-se a
rendição por outras forças mais vocacionadas para este tipo de operações, ou por entidades
civis.
f. Requisitos Fundamentais para Aplicação do Conceito de Emprego da FRR
Para que o conceito de emprego da FRR tenha utilidade e possa ser empregue quer em acções
unilaterais (nacionais) quer no âmbito de alianças e de coligações regionais ou globais, torna-se
necessário que os seguintes requisitos sejam cumpridos:
Um eficiente Sistema de C4IVR;
Existência de informações abrangentes e actualizadas, quer a nível operacional quer a nível
táctico, permanentemente difundidas de modo a alargar o leque de opções tácticas para o
emprego da FRR;
Capacidade para concentrar apoio de fogos da FRR ou da força conjunta / combinada ou da
coligação em benefício das pequenas unidades no TO;
Capacidade de mobilidade táctica de escalão Batalhão, em particular através da atribuição
de meios aéreos (asa fixa e helis);
Capacidade para empenhar simultaneamente 3 sub-unidades de escalão batalhão;
Todo o pessoal, envolvido na manobra terrestre, ser qualificado no salto em pára-quedas e
todo o material e equipamento, essencial para a manobra, ser aerotransportável;
Interoperabilidade dos meios quer em operações conjuntas quer em coligações;
O conceito de “conjugação” inter-ramos, isto é, onde for possível, o material, equipamento e
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 35
A Força de Reacção Rápida treino serem comuns, deve constituir um objectivo a prosseguir o mais depressa possível;
Valorização da capacidade de comando e iniciativa, conhecimento técnico profissional e
agilização do processo de decisão;
Treino vocacionado para as situações de maior exigência do combate.
Comando e Estado-Maior permanentemente constituído e treinado.
Existência em pessoal e material, no mínimo a 90% dos Quadros Orgânicos.
g. Critérios para Validação
Não cabe no âmbito deste trabalho o desenvolvimento de critérios específicos, mas tão somente
definir considerações gerais em que devem ocorrer ou de que forma poderão ocorrer. Assim os
critérios a desenvolver deverão ser objectivos de modo a:
Permitir a medida da eficácia e eficiência do emprego da FRR de acordo com o novo
conceito de emprego;
Respeitar princípios e metodologias em uso na NATO facilitando uma possível certificação
da FRR (ou de parte).
A validação final deverá ocorrer efectivamente em ambiente operacional.
55 –– CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS EE RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS “... a Brigada de Reacção Rápida do Exército será uma
força efectiva, isto é, não será um enunciado teórico.” General Valença Pinto91
a. Generalidades
Pretende este capítulo ultrapassar a mera função de ser um repositório sintetizado dos capítulos
precedentes para, na medida do possível, se transformar num instrumento de utilidade prática imediata.
A questão fundamental colocada foi estabelecer os princípios gerais orientadores de como empregar
tacticamente a FRR existente, como um todo ou em parte, autonomamente ou em coligações, no TN ou
projectada, a fim de executar um largo espectro de operações desde o apoio à paz até a conflitos
convencionais.
Do exposto nos capítulos anteriores se infere que o presente conceito não se aplica nas seguintes
condições:
Quando os requisitos fundamentais não forem cumpridos;
Quando a FRR, como um todo, ou qualquer das suas Sub-unidades forem empregues sem respeitar
a doutrina da manobra.
O conceito apresentado caracteriza-se por ser experimental, i.e., carece de validação e exige a sua
reavaliação e revisão periódicas, face à erosão doutrinária que poderá advir da rápida mutação do
ambiente operacional, da evolução tecnológica nos armamentos e outros equipamentos e, da táctica.
Após validação, este conceito deverá ser revisto sempre que necessário, apontando um prazo de 5 anos
91 Entrevista do General CEME ao Jornal do Exército, Out 2004 Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 36
A Força de Reacção Rápida como limite máximo para a sua revisão obrigatória e dos documentos que dele decorram.
O conceito de emprego definido estabelece as orientações de modo a:
Privilegiar o emprego da FRR, no todo ou em parte, autonomamente ou incluída em forças conjuntas
e/ou combinadas, para actuar em ambientes operacionais diversificados, desde operações de apoio à
paz a conflitos de alta intensidade;
Reforçar a versatilidade da FRR, através da constituição de Sub-unidades de capacidades múltiplas,
diferenciadas e complementares, potenciando quer as sinergias da sua integração quer o emprego em
TO com características distintas ou desempenhando funções operacionais diferentes em forças de
coligações ou de alianças.
O carácter expedicionário da Força é bem patente e obriga à íntima cooperação entre os Ramos se se
pretender constituir uma FRR verdadeiramente operacional, credível e nacional. Assim a colaboração
inter-Ramos é avocada na:
Instrução, formação e treino;
Aquisição de material e equipamento;
Na correcta imputação de custos e consequente reavaliação dos orçamentos dos Ramos;
Revisão doutrinária.
Algumas das Recomendações inseridas ultrapassam o próprio Exército, obrigando a uma cooperação
inter-Ramos e com outras entidades nacionais ou ainda promovendo a necessidade de alterações
legislativas importantes.
b. Conclusões Sectoriais
(1) Doutrinárias e organizacionais
Ameaças difusas e potenciais TO lacunares92, impõem capacidades múltiplas reforçadas e prazos de
reacção mais curtos, dada a imprevisibilidade temporal e espacial da concretização daquelas ameaças.
Assim, é enfatizada a manobra e a acção violenta e continuada, valorizando-se a acção de comando
descentralizada, a interoperabilidade dos meios e a versatilidade da Força.
As capacidades com que se pretende dotar as Sub-Unidades obriga a que se defina, através dos
documentos doutrinários adequados93, com realismo, rigor e pragmatismo, o campo de actuação das
unidades de Comandos, dos elementos de Operações Especiais, dos Precursores e das unidades
Aerotransportadas. As implicações na instrução, treino e logística são imediatas, com opções inadiáveis.
A estrutura da Força foi pensada concorrentemente com os conceitos definidos, destacando-se:
A necessidade de uma Unidade de Comandos de Escalão Batalhão;
O seu carácter ligeiro mas equilibrado e complementar (BCmds, 2 BIPára e restantes Sub-unidades);
A existência do Batalhão Aeroterrestre com capacidades únicas e fundamentais.
A fim de garantir elevados níveis de operacionalidade e prontidão o Comandante da FRR deverá ter
92 Conceito que rompe com a percepção jominiana da linearidade do campo de batalha. 93 Manuais de Campanha; NEP... Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 37
A Força de Reacção Rápida comando completo sobre todas as Sub-Unidades da Força.
A capacidade incremental de poder da FRR
Recomendações:
Constituir o Batalhão de Comandos;
Preservar o Batalhão Aeroterrestre com a nova estrutura e capacidades propostas.
(2) Pessoal
O factor humano é o factor principal na constituição e operacionalidade da FRR. Releva-se a necessidade
do cuidado no processo de selecção e, posteriormente, da formação e treino do militar. A selecção deverá
ser efectuada num universo o mais amplo possível, quer no interior quer fora das Forças Armadas,
porquanto se buscam aptidões muito específicas para serem desenvolvidas a níveis de excelência, isto é
seleccionar profissionais que sejam os melhores. A regeneração desta Força (manutenção de efectivos)
requer especial preocupação e deve ser assumida logo desde o início da constituição da FRR.
A caracterização do futuro TO exige que os militares das unidades de apoio sejam qualitativamente
robustos física e psicologicamente e, técnica e tacticamente preparados como os das unidades de manobra.
O moral e espírito de corpo da FRR devem ser desenvolvidos como mais um factor de sucesso aquando
do combate.
Recomendações:
Selecção do pessoal num universo mais alargado;
Definição rigorosa dos perfis do pessoal a recrutar, prevendo o seu futuro empenhamento;
Critérios mais exigentes na selecção;
Reforçar o ethos de cada sub-unidade, preservando o ethos do conjunto da FRR.
(3) Instrução
A instrução numa FRR revela-se de extrema diversidade e complexidade. No entanto é possível deduzir
as seguintes necessidades:
Qualificação de pára-quedista, garantindo maior integração e versatilidade;
Instrução diferenciada e especializada (operações comando; antiterrorismo; operações anfíbias; em
montanha; em áreas urbanas; reconhecimento estratégico; target acquisition; ...);
Interoperabilidade dos meios e linguagem (terminologia) entre os Ramos.
Recomendações:
Centralizar e coordenar a gestão da instrução dos militares da FRR – (ETE)
Delimitação específica das missões das diversas Forças Especiais;
Multi-especialização dos militares;
Uniformização inter-Ramos da linguagem (terminologia) e procedimentos.
(4) Operações
Não se treinam operações, executam-se! Assim sendo, a realização de exercícios impõe-se com cenários
e em condições tão diversas e realistas quanto possíveis. O treino colectivo inter-ramos é absolutamente
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 38
A Força de Reacção Rápida necessário numa Força com estas características. O Programa de Treino e Exercícios da FRR deverá ser
exaustivo, rigoroso e abrangente, englobando as diferentes fases desde o individual até ao colectivo,
com intensidade, ritmo e dificuldade progressivos, explorando a diversa tipologia de exercícios
possíveis, a fim de exercitar adequadamente os comandos e a tropa aos vários escalões, contextos e
ambientes operacionais. Igualmente importantíssimo, é a implantação no nosso Exército de um eficaz e
eficiente esquema de recolha, processamento e aplicação de Lições Aprendidas, decorrentes de
operações e exercícios que envolveram forças nacionais.
Recomendações:
Realização de mais exercícios conjuntos e combinados;
Rápida validação operacional das Sub-Un de manobra.
Criação de um órgão especificamente dedicado às Lições Aprendidas
(5) Logística
O apoio logístico é crucial, quer para o desencadear das operações, quer na sobrevivência das Forças
empenhadas. Daí o reconhecimento e valorização atribuída ao Batalhão Aeroterreste.
O apoio logístico deverá melhorar a sua eficiência através da evolução doutrinária associada a novos
métodos de gestão e evolução tecnológica. A par disto, dever-se-ão desenvolver algumas boas
práticas que simplifiquem e facilitem o apoio logístico:
a modularidade e interoperabilidade dos meios intra e inter-Ramos;
a existência do maior número de equipamentos comuns inter-Ramos;
Recomendações:
Melhoria das infra-estruturas existentes (Unidades; treino/instrução)
Aquisição de equipamentos específicos:
Armas anti-material (tipo Barrett, M82A 1A, cal. 12,7mm)
Rádios com suficiente largura de banda
Sistema Integrado de Comando e Controlo Táctico
Mulas mecânicas
Mísseis ACar de 3ª geração.
(6) Finanças
O envolvimento político na garantia da atribuição dos meios financeiros é crucial, exigindo uma análise
profunda dos custos resultantes da constituição da FRR e a consequente reavaliação dos orçamentos das
actividades de vida corrente, instrução e reequipamento das FA.
Recomendações:
Imputação e repartição de custos de:
Formação;
Aquisição e manutenção do material e equipamentos;
Instrução e treino.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 39
A Força de Reacção Rápida
c. Horizonte Temporal
O objectivo da constituição da NRF em 2006 e dos Battlegroups em 2007 introduz limitações no período
para desenvolvimento e aprovação de um conceito de emprego, caso Portugal pretenda integrar qualquer
das forças, como se pensa ser o caso. Considerações no âmbito da aquisição de materiais e equipamento, e
o seu possível relacionamento com a LPM, poderão também condicionar a aplicação do conceito. Assim
parece lógico admitir que a validade deste conceito experimental não deverá ultrapassar os 5 anos de
modo a já estar aprovado em 201094, permitindo a Portugal ter uma força de reacção rápida apta e
credível.
Para finalizar:
Não poderão restar dúvidas que o conceito de reacção rápida está firmemente implantado no moderno
mundo militar. As sugestões aqui apresentadas criam novas questões ainda sem resposta e a
implementação do que aqui se preconiza, com as consequentes acções colaterais e os seus naturais
sucedâneos, fará seguramente vir à superfície um elevado número de problemas. Mas, no entanto, não
existem problemas que não tenham já sido resolvidos noutra parte qualquer do mundo. Uma aproximação
séria e dedicada por parte dos participantes neste empreendimento poderá tornar tudo isto viável. A
NATO, no seu meio século de existência, tem vindo a resolver quase todas as dificuldades de integração
de diferentes doutrinas, equipamentos e sistemas logísticos. As respostas, portanto, existem e o preço da
paz, da segurança, da estabilidade e da prosperidade, fazem com que valha a pena procurá-las.
Para além do Conceito de Emprego que foi esboçado, julgamos adequado rematar as conclusões deste
trabalho com a apresentação da nossa “visão” da FRR:
A Força de Reacção Rápida (FRR), componente fundamental da Força Operacional Permanente do Exército,
deverá estar apta a cumprir todo o espectro de missões, que vai das operações de combate, às operações de apoio
à paz e à defesa de interesses nacionais próprios.
Força de escalão Brigada, com composição equilibrada e capacidades múltiplas, elevada prontidão, curto prazo
de disponibilidade e fácil projecção, a FRR estará especialmente vocacionada para ser enquadrada na
componente de forças de resposta da OTAN – designadamente a NRF e o ARRC – assim como para operar
segundo o conceito de Battlegroup da UE. A FRR deverá, ainda, potenciar em permanência a articulação e
actuação com forças dos outros Ramos das FA, garantindo capacidade conjunta para intervir de modo
autónomo em operações de contingência de pequena escala.
A FRR será uma força assente na coesão, no espírito de corpo e na disciplina. Os militares que a integram serão
reconhecidos pelo seu elevado nível de qualificações e apurado treino, inteira disponibilidade, manifesta
motivação e, sobretudo, pelo seu grande orgulho de servirem no Exército de Portugal.
IAEM, 21 de Janeiro de 2005
94 Para um análise mais aprofundada ver: “Considerations on the relationship between the EU Battlegroups and the NATO Response Force”, EU, 14 December 2004.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 40
A Força de Reacção Rápida
GLOSSÁRIO DE CONCEITOSGLOSSÁRIO DE CONCEITOS
Battlegroup
Resultante de uma iniciativa franco-britânica, posteriormente alargada à Alemanha, para operacionalizar
os Elementos de Resposta Rápida que os Helsinki Headline Goals previam. Em Maio de 2004 passa a
estar no centro de novos headline goals estabelecidos pela UE para o ano 2010. É constituído por uma
força, de escalão batalhão reforçado, com cerca de 1500 militares com capacidades adicionais de apoio
de serviços e de apoio de combate em elevado grau de prontidão, preferencialmente vocacionados para
missões da ONU.
Busca e Salvamento – Search and Rescue (SAR)
O emprego de aeronaves, meios terrestres, submarinos, equipas especializadas de salvamento, e
equipamento para procurar e resgatar pessoal em sofrimento em terra ou no mar. AAP 6 - NATO Glossary of Terms and Definitions
Busca e Salvamento em Combate – Combat Search and Rescue (CSAR)
Uma operação coordenada utilizando procedimentos pré-estabelecidos para a detecção, localização,
identificação e recuperação de tripulações de aeronaves abatidas em território inimigo em tempo de
crise ou de guerra e, se apropriado, pessoal isolado em sofrimento, que esteja treinado e equipado para
ser recuperado. AAP 6 - NATO Glossary of Terms and Definitions
Capacidade
No âmbito do presente trabalho diz respeito ao que uma força militar pode assegurar, isto é, aquilo que
deve estar pronta para executar. Pressupõe a existência integrada de três componentes distintas: a sua
organização, os meios e o treino para a sua utilização.
Crise
Rotura no normal fluir dos acontecimentos políticos, quer internos quer externos, dos agentes do sistema
internacional, que pode colocar em risco a estabilidade estratégica e, como tal, exige uma resposta
política complexa onde, normalmente, o recurso à coacção é utilizado95.
Comando Administrativo-Logístico
É a autoridade conferida a um Comandante sobre forças que dependem de outro comandante no aspecto
operacional, caracterizada pelo vínculo hierárquico limitado aos aspectos Administrativo-Logístico. É
exercido sobre forças orgânicas ou atribuídas. Tem competência disciplinar e responsabilidade de apoio
técnico e de instrução. RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.
95 VIANA, Vítor Daniel Rodrigues – O Conceito de Segurança Alargada e o seu Impacto nas Missões e Organização das Forças Armadas. Boletim IAEM. p. 161.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1
A Força de Reacção Rápida Comando Operacional
É a autoridade conferida a um Comandante para utilizar forças postas à sua disposição no desempenho
de missões de natureza operacional. A sua caracterização é dada pela natureza funcional do vínculo
hierárquico, ou seja, circunscrito aos aspectos operacionais o que permite determinar missões aos
comandos subordinados, articular as forças da maneira mais conveniente para execução de tarefas
operacionais, inspeccionar e determinar procedimentos administrativo-logísticos directamente
relacionados com a actividade operacional e delegar autoridade de grau igualou inferior à de comando
operacional. Tem competência disciplinar e responsabilidade pelo treino de conjunto das forças postas à
sua ordem (atribuídas). RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.
Conflito Assimétrico
Tentativas de contornar ou minar o potencial de um opositor enquanto se exploram os seus pontos
fracos, utilizando métodos substancialmente diferentes do modo habitual do opositor operar.
US Joint Chiefs of Staff
Controlo Operacional
É a autoridade conferida a um Comandante para dirigir forças no desempenho de missões ou tarefas
específicas, pormenorizando a execução se necessário. Não tem competência disciplinar, nem pode
determinar missões ou delegar nos comandos subordinados qualquer tipo de autoridade relacionado
com as forças sob controlo. RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.
Doutrina
Princípios fundamentais pelos quais as forças militares orientam as suas acções em apoio de objectivos.
É determinante mas exige capacidade de julgamento na sua aplicação. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986
Escalada
Um aumento, deliberado ou não premeditado, no nível de violência de um conflito. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986
Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente – EEINP
O território que se define, nas suas referências cardeais, entre o ponto mais a norte, no concelho de
Melgaço, até ao ponto mais a Sul, nas Ilhas Selvagens; e do ponto mais a Oeste, na Ilha das Flores, até
ao ponto mais a Leste, no concelho de Miranda do Douro; o espaço de circulação entre as parcelas do
território nacional, dado o seu carácter descontínuo; os espaços aéreo e marítimo sob responsabilidade
nacional, as nossas águas territoriais, os fundos marinhos contíguos, a zona económica exclusiva e a
zona que resultar do processo de alargamento da plataforma continental. Conceito Estratégico de Defesa Nacional, 20 Janeiro 2003
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 2
A Força de Reacção Rápida Estado Falhado (resultante do fenómeno de desestruturação dos Estados)
É um termo controverso utilizado para significar um Estado fraco cujo governo central tem pouco
controlo prático sobre uma grande parte do seu território. Quando isto acontece (e.g. pela presença
dominante de senhores da guerra, milícias, ou terrorismo), a própria existência do Estado torna-se dúbia
pelo que se transforma em Estado falhado. A dificuldade em determinar se um dado governo mantém
um “monopólio legítimo do uso da força” (que inclui o problema da definição de “legítimo”) significa
não ser muito claro quando se pode afirmar com precisão que um Estado é “falhado”. A controvérsia
deriva das implicações políticas e militares de se classificar um Estado como “falhado”. As leis e
proclamações do seu governo podem ser ignoradas e em alguns casos podem ser desencadeadas acções
violentas no interior das fronteiras do “Estado falhado” por agentes de outros países. http://www.answers.com/main
Estado Pária
É uma entidade política que, contrariamente aos desejos expressos por outras potências, tenta adquirir
armas que os outros países procuram evitar que tenha sob sua custódia, utiliza armas em conflitos
internos ou internacionais que as outras potências consideram abomináveis, comete crimes contra a
humanidade, acolhe terroristas, tolera actividades tais como o tráfico de drogas que os outros países
combatem, ou procura derrubar ou corromper os processos políticos de outros países. http://www.answers.com/main
Força Combinada
É estruturada para um período mais ou menos longo com elementos das forças armadas de duas ou mais
nações aliadas.
Força Conjunta
É constituída por elementos significativos de mais de um ramo das forças armadas, subordinados ao
mesmo Comandante. Pressupõe uma certa permanência no tempo.
Força Expedicionária
Uma força armada organizada para cumprir um objectivo específico num país estrangeiro. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Força Operacional
É um agrupamento temporário de unidades e/ou suas fracções, de um ou mais ramos, sob o comando de
um único Comandante, constituído com a finalidade de executar uma operação ou uma missão
específica.
Imposição da Paz – Peace Enforcement
Operações efectuadas ao abrigo do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Têm uma natureza
coerciva e são conduzidas quando o consentimento de todas as Partes de um conflito não foi alcançado
ou possa ser incerto. São concebidas para manter ou restabelecer a paz ou impor os termos especificados
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 3
A Força de Reacção Rápida no mandato. MC 327/2
Intensidade dos Conflitos
Conceito que se prende com a sua natureza numa óptica do emprego de forças militares em oposição e
que varia de acordo com o grau de violência e os níveis de tecnologia em confronto, envolvendo uma
noção de escala. A abordagem clássica considera três níveis de conflitos de acordo com a sua
intensidade:
Conflito de Baixa Intensidade – Low-intensity conflict (LIC)
Confrontações político-militares limitadas, com objectivos políticos, militares, sociais, económicos,
ou psicológicos. Na sua maior parte são de longa duração e vão desde a pressão diplomática,
económica e psicológica até ao terrorismo e insurreição. Estão normalmente confinadas a uma área
geográfica específica e muitas das vezes caracterizam-se por limitações em armamentos, tácticas e
níveis de forças. Envolvem uma perspectiva de uso, ou mesmo o uso concreto de meios militares
até precisamente abaixo do nível de combate entre forças armadas regulares. U.S. Army Training Manual TM 100-20, Maio de 1986
Conflito de Média Intensidade – Medium-Intensity Conflict (MIC)
Guerras entre duas ou mais nações e respectivos aliados, se existirem, em que os beligerantes
empregam a mais moderna tecnologia e todos os recursos de informação, mobilização, poder de
fogo, excluindo as armas NBQ, comando e controlo, e comunicações e apoio de serviços. NC – 70-70-09 (NS96008), Operações de Paz e Dissuasão, IAEM, 1996
Conflito de Alta Intensidade – High-Intensity Conflict (HIC)
Guerras entre duas ou mais nações e respectivos aliados, se existirem, em que os beligerantes
empregam a mais moderna tecnologia e todos os recursos de informação, mobilização, poder de
fogo, incluindo as armas NBQ, comando e controlo, e comunicações e apoio de serviços. NC – 70-70-09 (NS96008), Operações de Paz e Dissuasão, IAEM, 1996
Manutenção da Paz – Peacekeeping
Operações geralmente efectuadas ao abrigo do Capítulo VI da Carta das Nações Unidas e conduzidas
com o consentimento de todas as partes de um conflito para monitorizar e facilitar a implementação de
um acordo de paz. MC 327/2
Interoperabilidade
A capacidade dos sistemas, unidades, ou forças, garantirem e/ou aceitarem serviços de outros ramos,
unidades, ou forças. A utilização da troca de serviços permite que operem mais eficazmente em
conjunto. Historicamente, os problemas de interoperabilidade têm vindo a ser resolvidos principalmente
através das experiências e falhas ocorridas durante a conduta de operações reais por um período de
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 4
A Força de Reacção Rápida tempo alargado. US Army Field Manual FM 100-8, 1997
Missões de “Petersberg”
São missões humanitárias ou de evacuação de cidadãos, missões de manutenção de paz e missões
executadas por forças de combate para a gestão de crises, incluindo operações de restabelecimento da
paz. http://europa.eu.int/scadplus/leg/en/cig/g4000p.htm
Modularização
Tem por objectivo subdividir um problema extenso e complexo em problemas menores que
possibilitem a delegação de tarefas, a contenção da propagação de erros e, sobretudo, poderem
reaproveitar-se módulos antigos para sistemas novos sem ser necessário reconstruir a sua estrutura
interna.
NATO Response Force
Força criada por iniciativa dos EUA e apresentada na Cimeira de Praga (2002) cujo objectivo é
providenciar à Aliança Atlântica capacidades terrestres, marítimas e aéreas, integradas e completamente
interoperáveis, sob um mesmo comando, a enviar para onde quer que o NAC o decida.
Nível Operacional da Guerra
O nível da Guerra no qual as campanhas e grandes operações são planeadas, conduzidas e sustentadas
para se cumprirem objectivos estratégicos nos teatros ou áreas de operações. Neste nível, as actividades
implicam uma dimensão mais alargada no tempo e espaço do que as tácticas e garantem os meios pelos
quais os sucessos tácticos são explorados para se conseguirem os objectivos estratégicos. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986
Operação Aerotransportada
Uma operação que compreende o movimento aéreo para uma área de objectivo, de forças de combate e
o seu apoio logístico, para a execução de uma operação táctica, operacional, ou estratégica. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Operações Aeromóveis
Operações militares nas quais as forças combatentes e o seu equipamento se deslocam sobre o campo de
batalha em meios aéreos, principalmente helicópteros. As forças empenham-se em combate terrestre sob
o controlo de um comandante terrestre. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Operações de Apoio à Paz – Peace Support Operations
Operações multifuncionais efectuadas imparcialmente em apoio de um mandato das Nações Unidas/
OSCE, envolvendo forças militares e agências diplomáticas e humanitárias e são concebidas para se
alcançar uma resolução política duradoura ou outras condições especificadas no mandato. Incluem a
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 5
A Força de Reacção Rápida manutenção de paz e a imposição da paz, bem como a prevenção de conflitos, a criação e a construção
da paz e as operações humanitárias. MC 327/2.
Operações de Evacuação de Não Combatentes – Non-combatant Evacuation Operations (NEO)
Operações efectuadas para recolocar não combatentes ameaçados num país estrangeiro. AJODWP 96.
Operações humanitárias – Humanitarian Operations
Operações efectuadas para aliviar o sofrimento humano. Podem preceder ou acompanhar actividades
humanitárias desenvolvidas por organizações civis especializadas. MC 327/2.
Planeamento de Forças
Tem por objectivo definir as Unidades (em número, tipo e equipamento) capazes de defrontar os
desafios do futuro, tendo em atenção os recursos disponíveis. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Ponto Crítico
1. Um ponto ou posição chave geográfica, importante para o sucesso de uma operação. 2. Em termos de
tempo, uma crise ou ponto de viragem numa operação. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Potencial Militar
É a parte do potencial estratégico que viabiliza e rentabiliza a aplicação da força física para a
consecução dos objectivos nacionais.
As forças militares são o elemento actuante do potencial militar. São constituídas por homens, armas e
outros meios militares, organizados em unidades capazes de realizarem operações militares. A
organização de tais forças deve atender aos objectivos que visam e à natureza e tipo de ameaças que se
opõem à consecução desses objectivos.
Prevenção de Conflitos – Conflict Prevention
Acções normalmente conduzidas sob o Capítulo VI da Carta das Nações Unidas. Variam desde
iniciativas diplomáticas à projecção preventiva de forças com a intenção de evitar a escalada de disputas
em conflitos armados ou que alastrem. Podem também incluir missões de busca de factos, consultas,
avisos, inspecções e acções de monitorização. A projecção preventiva de forças no quadro da prevenção
de conflitos consiste na projecção de forças operacionais com capacidade de dissuasão suficiente para
impedir a abertura de hostilidades. MC 327/2.
Projecção de Poder
A capacidade de uma nação para aplicar todos ou alguns dos seus elementos de poder nacional –
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 6
A Força de Reacção Rápida político, económico, de informação, ou militar – para rápida e eficazmente projectar e sustentar forças
para e a partir de múltiplos locais dispersos em resposta a crises, para contribuir para a dissuasão, e
promover estabilidade regional. Este conceito está associado ao de “elementos de poder nacional”,
definidos como: todos os elementos disponíveis para serem empregues na persecução dos objectivos
nacionais. http://usmilitary.about.com/library/glossary/p/bldef04849.htm
Prontidão
Consiste na conjugação de capacidade operacional e tempo de resposta, é uma medida da possibilidade
de um elemento das FA cumprir uma missão atribuída. A capacidade operacional é a capacidade real do
elemento das FA quando comparada com o seu quadro orgânico, medida pela sua relativa situação em
termos do pessoal existente, equipamentos que possui, níveis de instrução e componentes de apoio de
serviços e comando e controlo. Tempo de resposta é o tempo que medeia entre a emissão de uma ordem
preparatória e o momento em que o elemento que recebeu a missão tem de estar completamente pronto
a iniciar a sua execução; não inclui o tempo em trânsito para a área de operações. Os níveis de prontidão
estão ligados a um cenário ou a um elemento das FA que tenha recebido uma missão com um designado
tempo de resposta e, portanto, poderão ser aumentados ou diminuídos em resposta a mudanças de
situação, níveis específicos de ameaça, ou recursos.
Racionalização
Qualquer acção que aumente a eficiência de forças aliadas, através de uma utilização mais eficaz dos
recursos de defesa atribuídos à aliança. Inclui a consolidação, re-atribuição das prioridades nacionais
face às maiores necessidades da aliança, normalização, especialização, apoio mútuo ou
interoperabilidade melhorada, e maior cooperação. Aplica-se quer aos sistemas de armamento quer aos
assuntos relativos aos outros recursos materiais que não incluem armamento. FM 100-8, US Army, 1997
Resposta Flexível
A capacidade de forças militares reagirem eficazmente a qualquer ameaça ou ataque inimigo com
acções apropriadas e adaptadas às circunstâncias existentes. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/
Sistema de Forças Nacional
1 - O sistema de forças nacional é constituído por:
a) Uma componente operacional, englobando o conjunto de forças, e meios relacionados entre si
numa perspective de emprego operacional integrado.
b) Uma componente fixa ou territorial, englobando o conjunto de órgãos e serviços essenciais a
organização e apoio geral das Forças Armadas e seus ramos.
2 - Os tipos e quantitativos de forças e meios que devem existir em permanência e em tempo de guerra
para cumprimento das missões das Forças Armadas são definidos tendo em conta as suas capacidades Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 7
A Força de Reacção Rápida específicas e a adequada complementaridade operacional dos meios.
3 - O sistema de forças permanente deve dispor de capacidade para crescer dentro dos prazos admitidos
nos planos gerais de defesa ou nos planos de contingência para os níveis de forças ou meios neles
considerados.
4 - A definição do sistema de forças e do dispositivo é feita nos termos do artigo 25.°da Lei n.° 29/82,
de 11 de Dezembro.
Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas.
Sustentação
É a capacidade de uma força militar de manter a sua prontidão operacional durante o tempo necessário
para cumprir a sua missão. Consiste no abastecimento continuado de consumíveis, manutenção e
substituição de equipamentos desgastados ou danificados, serviços de engenharia, apoio sanitário, e
serviços de pessoal incluindo recompletamentos.
Terrorismo Táctico e Estratégico96
O Terrorismo Táctico procura alterar a forma de um estado, normalmente promovendo a secessão de
uma região. O Terrorismo Estratégico não só procura alterar a direcção de um estado mas também a
sociedade em si mesma. Consequentemente a relação entre o ataque e o efeito político é muito diferente
nos dois tipos de terrorismo. Para o Terrorismo Estratégico, apenas os grandes efeitos, como por
exemplo, os assassínios em massa, estão ao nível do seu ambicioso e terrível objectivo.
Transformação
É um processo que através de novas combinações de conceitos, capacidades, pessoal e organizações
procura redefinir os níveis de sucesso militar no cumprimento de missões previamente inimagináveis ou
impossíveis excepto sob um risco e custo proibitivos.
Treino Operacional
O conjunto de actividades de treino que se destinam à manutenção e aperfeiçoamento das capacidades
operacionais dos militares, individual ou colectivamente. É neste conjunto de actividades que se inserem
os exercícios operacionais, sendo também no quadro do treino operacional, que o Exército aplica e
valida a doutrina em vigor no que ao planeamento e conduta das operações diz respeito, pratica e
aperfeiçoa as necessárias acções de coordenação entre os elementos de comando, de manobra, de apoio
de fogos, de apoio de combate e de apoio de serviços das suas unidades operacionais, pratica e
aperfeiçoa as acções de coordenação com os outros ramos das Forças Armadas e se for caso disso, com
elementos de Forças Armadas de outros países. Regulamento Geral da Instrução do Exército, Cap. 3, p. 3-8.
96 Bertelsmann Foundation, A European Defence Strategy, 2004. Site Internet, http//www.bertelsmann-stiftung.deCor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8
A Força de Reacção Rápida
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Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8
A Força de Reacção Rápida
AAPPÊÊNNDDIICCEE AA –– OORRGGAANNOOGGRRAAMMAASS
“As coisas que mais receamos nas organizações – flutuações, perturbações e desequilíbrios – são a principal fonte de criatividade.”
Margaret J. Wheatley97
1. Força de Reacção Rápida
Cmd eCCmd
FRR
Ap AT
Op Esp
Cmd eCCmdCmd eCCmd
FRRFRR
Ap ATAp AT
Op Esp
2. Batalhão de Comandos
Cmd
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.....
Cmd
...Gr
ApoioCmd
.....
97 Autora americana (sobretudo na área de liderança), é a Presidente do “Berkana Institute”, Utah, EUA Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 1
A Força de Reacção Rápida
3. Batalhão de Pára-quedistas
Cmd eCAp
Cmd eCAp
Cmd eCAp
4. Comando e Companhia de Apoio do BIPára
..Pel
Reab SvcPel
Reab Svc
Cmd eCAp
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.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 2
A Força de Reacção Rápida
5. Batalhão Aeroterrestre
Ap AT
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MslAA
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EquipAbast AerIncursoresIncursores
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Op TermVoo
Op TermVoo
6. GALE
EM
Ap Svc
EM
Ap Svc
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 3
A Força de Reacção Rápida
AAPPÊÊNNDDIICCEE BB –– IINNSSTTRRUUÇÇÃÃOO “Levar para a guerra um povo não treinado é deitá-lo fora.”
Confúcio
CONTRIBUTOS CONCEPTUAIS PARA UMA NOVA ORIENTAÇÃO,
ASSENTE NA CONSTITUIÇÃO DE UMA ESCOLA DE TROPAS ESPECIAIS 98
Optou-se por, no presente apêndice, apresentar uma nova filosofia de reestruturação da instrução
das tropas “de manobra” que integrarão a FRR visando a integração sinergética da formação
actualmente conduzida na BAI, nas unidades de Comandos e no CIOE, processo que se concebe
tendo o objectivo último de aumentar a qualidade e diminuir os custos, sem comprometimento da
identidade e cultura organizacional respectivas e no estrito respeito das suas especificidades.
Enquadramento
Este estudo é condicionado por factores que, embora externos ao Exército Português, o
influenciam de forma determinante, a saber:
A exigência de mudança profunda do sistema de formação do Exército por força das
alterações legislativas levadas a cabo a nível nacional, muito por imperativos comunitários.
Referimo-nos ao desafio presentemente colocado ao Exército Português pelos processos de
acreditação das entidades formadoras e de certificação dos seus cursos, empresa esta na qual
os restantes Ramos nos precederam e se encontram já bastante avançados;
A extinção do SEN: dinâmica que obriga presentemente o Exército a repensar o seu
processo de selecção e recrutamento e que, por si só – e independentemente dos factores
exógenos anteriormente mencionados – justificaria uma urgente revisão do sistema de
formação do Exército.
A circunstância da extinção do SEN é também relevante a outro título: ao pôr em evidência
a existência de um voluntariado específico para as Tropas Especiais (entenda-se: Pára-
quedistas, Comandos e Forças de Operações Especiais) trouxe uma renovada importância à
discussão da racionalização da Formação Geral Comum – da sua padronização e localização
– como mecanismo para alimentar as Armas e Serviços em termos de recursos humanos.
Constitui também um factor enquadrante, da maior relevância para este estudo, o processo de
transformação do Exército em curso incidindo sobre o Dispositivo e, em particular, sobre a
FOPE: se é verdade que esta dinâmica não foi inicialmente considerada como base de trabalho
para os trabalhos de transformação da formação, considera-se não obstante relevante – e,
mesmo, concorrente – para o levantamento de uma Escola de Tropas Especiais (ETE), o
98 Este apêndice está baseado num documento com este título, produzido por iniciativa individual, pelo TCor Inf Frederico
Almendra, no qual apenas se introduziram pequenas alterações de forma e conteúdo, mas sem modificar o seu intuito e sentido. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 1
A Força de Reacção Rápida desiderato da constituição de uma Força de Reacção Rápida – integrando, precisamente, tropas
Pára-quedistas, Comandos, o CIOE e o GALE.
A Infra-estrutura Militar de Implantação
A Escola de Tropas Aerotransportadas está inserida no Polígono Militar de Tancos, vasto
complexo militar onde estão implantados, para além desta escola, o Comando de Tropas
Aerotransportadas, o Grupo de Aviação Ligeira do Exército e a Escola Prática de Engenharia.
O polígono militar configura uma área militar de características privilegiadas para a condução
de actividades de formação e treino, nomeadamente:
Em termos de localização, encontra-se situado no centro do país, próximo do nó ferroviário
do Entroncamento e do CMSM, sendo servido por um IP que o atravessa e que permite uma
ligação rápida à A1. Considera-se ainda relevante a proximidade aos espelhos de água das
barragens de Castelo do Bode e de Montargil.
Inclui uma infra-estrutura aeroportuária de elevada qualidade e dimensão – permitindo a
operação de aviões a reacção de transporte de passageiros – situada na vizinhança da Zona
de Lançamento do Arripiado (a única ZL permanente do Exército Português; ZL que
permite a execução de lançamentos por Salto de Abertura Automática, por patrulhas, a partir
da aeronave C-130); a importância estratégica do aeródromo de Tancos, suscita – e mais
suscitará, no futuro – um vivo interesse por parte da aeronáutica civil, da FAP e também da
NATO (está previsto um investimento importante no aeródromo de Tancos), tanto mais
quanto resulta óbvia a constatação de que a actividade aérea conjunta do GALE e do CTAT
é algo magra para argumentar sustentadamente a manutenção do controlo desta infra-
estrutura pelo Exército em termos futuros.
Para além do Campo Militar de Santa Margarida – cujas infra-estruturas constituem um
forte argumento em favor do levantamento desta ETE na ETAT (por disponibilizar, a curta
distância desta, infra-estruturas críticas para a formação e treino operacional de FE como
sejam carreiras de tiro p/ sniper, uma pista de aterragem ou um campo de manobras) –
também a Escola Prática de Engenharia, unidade do polígono contigua à ETAT, constitui
uma enorme mais-valia para este projecto, na medida em que para o qual poderá concorrer
com as valências de formação nas áreas de NBQ, CIMIC, Sapadores/Inactivação ou com as
suas infra-estruturas de apoio à instrução (carreira de tiro e infra-estruturas para a execução
de tiros pirotécnicos; parque de pontes; trincheira didáctica; quartel do Casal do Pote, etc)
É, portanto, incontestável que, no presente momento, o Exército Português detém uma infra-
estrutura aeroportuária de inestimável valor, situada na vizinhança de uma ZL de massa de que é
também proprietário e sob um espaço aéreo extraordinariamente desimpedido, beneficiando ainda
de condições meteorológicas de excepção (tendo por referência o padrão das infraestruturas Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 2
A Força de Reacção Rápida equivalentes que os nossos parceiros europeus dispõem). Além de tudo isto a Escola de Tropas
Aerotransportadas integra infra-estruturas de apoio à formação aeroterrestre (aparelhos de instrução
aeroterrestre para treino da saída, descida e aterragem, bem como a maquetes das diferentes
aeronaves), à instrução terrestre (carreira de tiro de 100m, parque de pistas de combate, piscina,
complexo de salas de aula e auditórios e um laboratório de línguas).
A ETAT
A Escola de Tropas Aerotransportadas é uma unidade territorial do CTAT que se encontra na
dependência técnica e funcional do Comando de Instrução;
Na ETAT encontra-se sedeado o Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), unidade que integra
sub-unidades de apoio técnico aeroterrestre e uma sub-unidade de Precursores Aeroterrestres.
Esta unidade pertencente à BAI é já hoje crítica para o treino operacional de unidades da FAP (a
CAA trabalha em benefício quase exclusivo da Esq 501 – e da Armada (treino de infiltração
vertical do DAE). A sua implantação na ETAT assume um potencial sinergético do ponto de
vista da formação: por um lado, através do apoio técnico à actividade aeroterrestre da escola
(missões de lançamento de pessoal e material); por outro lado, porque os seus quadros técnicos
intervêm como formadores na área aeroterrestre.
Para efeitos do levantamento da ETE, a dupla importância do BAAT – para a FOPE, e para a
formação – poderá colocar questões de dependência hierárquica, as quais, embora
potencialmente difíceis de gerir, não devem obstar ao desenvolvimento deste projecto.
Por último, importa também referir o Centro de Selecção das Tropas Aerotransportadas, órgão
que se encontra também implantado na ETAT e que se entende relevante para o levantamento
da ETE por dois motivos:
À semelhança do BAAT, por questões de dependência hierárquica, uma vez que prevalece a
sua dependência da DR;
Pelo potencial que representa para o lançamento, em termos futuros – e em absoluta sintonia
com a lógica que suporta o levantamento de uma ETE – de um órgão de Selecção de Tropas
Especiais.
Conceito proposto
Constituir uma Escola de Tropas Especiais que permita, através da integração da direcção da
formação e da racionalização da formação comum – visando a prossecução última de objectivos de
qualidade e economia de recursos – uma resposta adequada às necessidades de formação técnica
aeroterrestre e de formação inicial das tropas especiais dos Ramos, na estrita observância das suas
especificidades em termos de cultura organizacional e recrutamento.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 3
A Força de Reacção Rápida Vantagens e Inconvenientes
A ideia do levantamento de uma escola de tropas especiais levanta (automática e
compreensivelmente) reservas mentais uma vez que, no esforço de racionalização e integração
por mor da optimização do sistema, o projecto poderá redundar no comprometimento, por
descaracterização, da formação específica das diferentes tropas especiais – formação esta
profundamente impregnada de elementos da tradição e da cultura organizacional de cada um
dos corpos e que concorre para o desenvolvimento das “qualidades intangíveis” sobre as quais
se fundamenta a sua identidade corporativa.
Não obstante – saliente-se – este projecto não obriga à co-localização da formação específica
das diferentes tropas especiais; insiste, sim, na racionalização da sua formação inicial (hoje até
assente numa formação geral comum) e nos méritos, em nosso entender óbvios, da sua reunião
sob a chefia pedagógica e científica de uma direcção de formação comum, realidade esta que,
para além da economia de recursos que implica, apresenta, sobretudo, o mérito inquestionável
de articular os diferentes processos de formação (começando logo pelo estabelecimento
esclarecedor dos respectivos perfis e decorrentes competências). O alcançar deste objectivo só
poderá redundar em benefícios para o Exército em geral e para a FRR em particular.
Por outro lado, a constituição desta ETE permitirá ao comando do Exército reunir, sob uma
mesma entidade directora de formação, todas as valências de formação de vocação conjunta:
Na área aeroterrestre, embora o potencial de integração da formação inter-ramos seja ainda
enorme, esta integração foi já iniciada. A ETAT dá já formação aeroterrestre a militares da
FAP e da Armada. O potencial da constituição de um centro de formação aeroterrestre nesta
ETE permitirá capitalizar nesta realidade e – por via dos méritos da infra-estrutura
aeroportuária incipientemente já argumentados – abre mesmo a porta ao estabelecimento de
um centro de formação aeroterrestre de importância internacional (no passado, Espanhóis,
Belgas, Ingleses, Alemães e Italianos foram formados ou conduziram formação técnica
aeroterrestre na ETAT e o seu interesse em voltar a fazê-lo não diminuiu tendo sido
reiterado ainda recentemente no exercício Guadiana ou na visita de Adidos de Defesa) e,
porque não, apresentá-lo como Centro de Excelência da NATO ao serviço de todos os
nossos aliados e amigos (pagando estes a sua quota parte, claro!).
Na área da formação terrestre, este projecto apresenta o mérito quase “automático” da
clarificação de competências e permite, no mínimo, a integração da formação inicial comum.
Não obstante, apresenta implicitamente um enorme potencial de desenvolvimento também
nesta área: basta imaginar a efectivação do levantamento de forças especiais a nível conjunto
para nos permitirmos imaginar o Exército a estender também aos outros Ramos a “prestação
de serviços” da sua ETE não só na área da formação inicial do combatente, mas, porque não,
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 4
A Força de Reacção Rápida em todas as outras áreas técnicas implicadas na formação deste sofisticado combatente
terrestre – comunicações estratégicas, técnicas avançadas de infiltração e exfiltração
(SOGA, HELI, outras), sobrevivência fuga e evasão, estudo de área, etc.
Em resumo, este projecto teria os seguintes méritos:
Articular, integrando sistémicamente e coordenando, os planos de formação das diferentes
tropas especiais bem como a formação, propriamente dita, em termos de formação inicial
comum e, adicionalmente, em todas as áreas que as diversas tropas especiais entenderem não
resultar da racionalização prejuízo para a sua identidade e/ou especificidade;
Operacionalizar, para efeitos de formação de tropas especiais, a extraordinária concentração de
recursos, para este fim vocacionados, existentes no Polígono Militar de Tancos, em conjunção
que, por ser única a nível europeu, não deixará de interessar aos restantes Ramos, bem como aos
nossos parceiros da NATO.
Articulação conceptual da ETE
Face à argumentação apresentada, apontam-se, de seguida, alguns dos princípios a observar na sua
organização:
O levantamento de uma Direcção de Formação comum, independentemente da deslocalização
dos centros e pólos de formação das diferentes tropas especiais.
A articulação da formação conduzida na ETE em dois centros de formação: um Centro de
Formação Aeroterrestre (CFAT) e um Centro de Formação Terrestre Conjunto (CFTC).
A constituição de um Batalhão de Alunos, unidade sem encargos de formação e unicamente
vocacionada para o aquartelamento e enquadramento administrativo dos instruendos.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 5
A Força de Reacção Rápida
AAPPÊÊNNDDIICCEE CC –– AAPPOOIIOO LLOOGGÍÍSSTTIICCOO "The first essential condition for an army to be able to stand the strain of battle is an adequate stock of weapons, petrol and ammunition."
Marechal de Campo Erwin Rommel99
ALTERAR OS PROCEDIMENTOS POR FORMA A MELHORAR
A CAPACIDADE DE PROJECÇÃO E SUSTENTAÇÃO DA FRR
A FRR só existe para ser empregue num cenário real, onde se concretize a sua projecção para um
território exterior à sua base, ou como força dissuasora pela sua própria existência e pelas
possibilidades e capacidades exibidas ou demonstradas.
Só faz sentido, face ao conceito de criação, de emprego e da realidade político-militar existente, que
esta Força seja considerada como um todo, numa simbiose completa dos seus elementos
constitutivos qualquer que seja a sua natureza. Isto é, não faz qualquer sentido separar, a nível de
planeamento e execução, os elementos, e necessidades, de manobra, de apoio de combate e apoio
logístico100. Situação que se torna mais complexa se pensarmos nesta FRR como uma Força de
vocação global, com perspectivas naturais de ser empregue numa multiplicidade de cenários de
diferentes níveis de conflitualidade e de violência, em terrenos e ambientes climatéricos muitos
diversos, se não mesmo adversos, aos existentes na sua base de origem. Este todo inclui, nunca é
demais referir, as restantes forças das Alianças ou Coligações, cujas agendas e interesses
específicos poderão colidir com as necessidades objectivas do cumprimento de uma operação101.
Contudo a assunção de um todo completamente integrado, e não um conjunto de elementos ou
meios independentes, encontra resistências de ordem cultural dificilmente ultrapassáveis e que
limitarão sempre a prontidão e eficácia de qualquer força102.
Salvaguardando o que atrás foi referido iremos debruçar-nos em separado, mas apenas por razões
metodológicas de análise e estudo, sobre uma das suas componentes: a logística.
De imediato interessa fazer a distinção entre o que se poderá denominar logística interna, orgânica
da própria Força, e externa da dependência de outro Comando, ou escalão, que não o da FRR.
99 The Rommel Papers, p.132 citado por CREVELD, Martin Van: Supplying War, Logistics from Wallenstein to Patton, Cambridge
University Press, p. 200. 100 Operational planning consists of an intimate blend of tactical and logistic thinking to carry out strategic concepts. This unity and
coherence is essential to swift, decisive military action in any type of human conflict ... in combat the logistic support that may be considered inadedquate by a timid or mediocre commander may be adequate for a bold and competent commander who understands the nature and source of flexibility, provided he has adequate control of a flexible logistic system. SKINNER: NORTHAG, a Study of Organizational Structure, citado in THOMPSON, Julian: Lifeblood of War, Logistics in Armed Conflict, Brassey’s, 1991, ISBN 0-08-040977-6, p. 294.
101 It came as an welcome surprise that the Americans redeployed their Patriots without our knowledge, leaving our extensive Supply Area without any air defence cover whatsoever. WHITE, Major General Martin: Gulf Logistics, Blackadder’s War, Brassey’s, 1995, p.47.
102 Since the appearance of ancient divisions of labor brought functional specialization, one characteristic of military organizations has been political conflict between the combat arms who believed they were the only ones entitled to the perquisites of a military calling, and a soldier/logisticians, whom “real soldiers” considered unentitled to recognition as co-participants in the military life. LYNN, John A.: Feeding Mars, Logistics in Western Warfare from the Middle Ages to the Present, Westview, 1993, p. 251.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 1
A Força de Reacção Rápida A logística interna da FRR está directamente ligada ao conceito do seu emprego e à análise, que
aqui simplificamos, dos factores MITMT já conhecidos.
A Missão é, sem margem de dúvida, o factor determinante. Conceptualmente, já que neste
momento não se encontra atribuída missão específica, será conveniente considerarmos as mais
gravosas do seu quadro geral de utilização. Ficará assim de fora, na elaboração da sua estrutura
base, a possibilidade de intervenção contra forças blindadas, semelhante, por exemplo, ao ocorrido
na fase inicial da Guerra do Golfo em 1990 onde, se tivesse de facto acontecido a invasão da Arábia
Saudita por forças blindadas iraquianas, as forças da 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA seriam
destruídas, ou sofreriam um número apreciável de baixas considerando tratar-se de uma GU
“ligeira” (veja-se o que aconteceu na Operação Market Garden na II GM muito bem retratado no
filme “Uma ponte longe demais”).
Excluindo este tipo de cenários, a logística destinar-se-á de início a apoiar de uma forma
simplificada e rápida, com um crescendo progressivo até à retirada da Força ou a sua rendição.
Perspectivamos assim, como raciocínio base e de acordo com o desenvolvido no conceito, o
emprego rápido e violento do Batalhão de Comandos, seguida de retirada imediata ou de reforço
por unidades de Infantaria “ligeira” mais robustas e com maior protecção e capacidade de fogo, os
Batalhões de Infantaria Pára-quedista. (e.g. Operação Just Cause – Panamá, 1999). A esta fase
suceder-se-ia a retirada ou a rendição por Forças de Seguimento Motorizadas ou Mecanizadas com
a sua própria e adequada capacidade logística. É evidente que a natureza da missão, seja ela
operação de manutenção ou imposição de paz, NEO, entrada não permissiva ou “raid”, será sempre
determinante, mas, um dos aspectos que caracterizam as missões para que a Força se destina é a sua
rapidez de execução, que lhe permite ganhar a surpresa táctica e operacional (a estratégica é
frequentemente perdida a nível político), e a protecção por falta de “blindagem”.
Perante este conceito de actuação, e salvaguardando as alterações sempre necessárias para adequar a
Força à Missão, o apoio logístico na primeira fase será transportado pela própria Força, às costas ou
em veículos ligeiros (do tipo “mula mecânica”, ou outros meios: barcos, canoas, helicópteros) que
eventualmente a possam acompanhar ou então, ser colocado ou obtido localmente.103
No seguimento da análise metodológica tradicional interessa considerar o Inimigo, ou parte ou
natureza da ameaça. As possibilidades de sucesso têm naturalmente a ver com o Inimigo a enfrentar
e a sua capacidade de actuação e reacção. Segundo o conceito de emprego, a nossa FRR não deverá
ser utilizada contra forças blindadas em terreno mais adequado a estas (tank country) a não ser que
a natureza da missão e a rapidez de execução alterem os parâmetros da equação, e/ou em que a
103 Numa função supletiva já que o que se pretende é a autonomia da Força, no sentido da não necessidade de apoios exteriores ou da nação hospedeira para o cumprimento da Missão.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 2
A Força de Reacção Rápida vantagem seja decididamente da FRR. Neste caso, desde que um factor (e.g. terreno complexo), ou
conjunto de factores (e.g. terreno e condições meteorológicas, inépcia de comando, restrições
políticas...) anulem ou alterem as vantagens proporcionadas ao In, poderá ser possível, ou até
desejável e conveniente, o emprego da FRR.
O outro aspecto a considerar é o Terreno no seu sentido lato incluindo neste o clima. A FRR é mais
adequada para actuar em terreno mais complexo, como áreas urbanizadas ou arborizadas. Mas
mesmo nestas circunstâncias poderão ocorrer surpresas. É possível visualizar cenários, onde forças
mecanizadas sejam empregues com toda a propriedade em zonas arborizadas, urbanizadas, ou
outras, como as acções desenvolvidas no Vietname, na Chechénia e na faixa de Gaza podem
testemunhar. Também a existência ou ameaça de emprego de armas NBQ podem condicionar as
modalidades de acção a adoptar e o tipo de forças, dando-se preferência a forças motorizadas ou
mecanizadas, o que terá consequências imediatas na concepção e apoio logístico da Força.
O Tempo disponível aparece-nos segundo diversos matizes e, quanto mais alargado for, mais
permitirá, em princípio, uma melhor recolha de informações e adequação da Força à missão a
cumprir, sendo fundamental equacionar-se o tempo de projecção e de empenhamento. A rapidez é,
normalmente, associada à ligeireza das forças a actuar em determinado contexto. Também aqui
interessa considerar as situações mais exigentes, aquelas que requerem uma intervenção imediata,
no sentido de lançar ou desencadear a operação, e uma rapidez de execução também elevada. Todas
estas situações obrigam a um acelerar de todos os tempos, quer de decisão quer de execução. No
âmbito da logística ter-se-ão de reduzir os escalões de decisão no sentido de garantir um grau de
flexibilidade e adaptabilidade elevado que permita reagir rapidamente às contingências que
eventualmente possam surgir, minimizando-se o risco de desencadear operações com forças
próximas do limiar da sua “ligeireza”.
Depois de efectuadas estas considerações, teremos que considerar de que forma poderemos adequar
o apoio logístico ao acima referido. O primeiro problema que se nos coloca é como poderemos
responder às necessidades de uma Força que, embora tenha uma estrutura de base, é pelo próprio
conceito de emprego flexível e “ajustável” às missões que lhe possam ser atribuídas.
A resposta ao desafio da flexibilidade passa pela Modularização, isto é, na constituição de
elementos, ou conjuntos de elementos, que satisfaçam a uma necessidade ou função e que possam
igualmente ser agregados, consoante a natureza e volume, de forma a responder às necessidades da
Missão. Realce-se que estas poderão ser bastante diferentes das necessidades da Força
individualmente considerada, por a missão exigir outras para além do mero consumo táctico. É o
caso duma NEO, onde o apoio aos cidadãos nacionais pode exigir um volume e qualidade de apoio
muito diferentes dos da Força (e.g. material sanitário para crianças).
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 3
A Força de Reacção Rápida A padronização, compatibilidade e interoperabilidade são aspectos iniludíveis a considerar
especialmente quando se referem a operações conjuntas e combinadas. A actuação cada vez mais
corrente no âmbito de Alianças ou Coligações torna imperativo o cumprimento destes aspectos. Se
um País fornecer o transporte, o apoio aéreo próximo ou a evacuação sanitária e a FRR não
conseguir sequer comunicar a não ser com o fornecimento de novos rádios, teremos certamente um
agravamento do desempenho logístico se não mesmo do operacional. Este problema não tem sido
fácil de resolver, mesmo dentro de alianças como a NATO.
Por sua vez a Modularização exige a Simplificação, quer ao nível das necessidades efectivas quer
no meio de as suprir. A rapidez de intervenção remete todas as questões para um patamar de
urgência muito próximo do da sobrevivência, passando tudo o resto a ser considerado ”supérfluo”,
podendo ser satisfeito numa segunda fase. É perfeitamente admissível que numa operação NEO, por
exemplo, o apoio seja o mínimo para garantir a sobrevivência dos cidadãos nacionais, se essa for a
melhor solução para garantir o sucesso da operação.
A FRR é por natureza constituída por militares possuidores duma rusticidade e moral acima do
normal, com elementos especialmente seleccionados e treinados, preparados para elevados níveis de
stress físico e mental104. Características que deverão ser exploradas ao máximo para garantir maior
mobilidade, rapidez e eficácia à Força. O resto, não obstante serem artigos ou funções importantes,
deverão ser priorizados e satisfeitos em fases sucessivas ou posteriores da operação. Refeições e
banhos quentes são, sem qualquer margem de dúvidas, importantes, mas, em determinadas
circunstâncias, poderão ser considerados secundários.
A estes princípios acresce o Planeamento realista e a assunção de riscos. As tabelas de cálculo
logísticas terão de ser revistas com base nas operações mais recentes e com pressupostos actuais. As
situações tipo deverão ser testadas em exercícios com duração semelhante em tempo e em esforço
às reais. Os consumos de munições terão de ser recalculados consoante o tipo de operação, a
manobra prevista e o nível de esforço a realizar. O acessório para o cumprimento da missão
deverá ser descartado. Isto é importante especialmente ao nível do apoio de fogos indirectos. O
apoio de fogos com meios não orgânicos, como sejam a Artilharia Naval e Aéreos, poderá reduzir
em muito a carga logística. É evidente a necessidade de uma assunção de riscos que não pode ser
escamoteada, como é bem exemplificado pela interrupção do apoio naval e aéreo em Goose
Green105, com um impacto significativo que não se pôde esconder.
104 A number of British naval ratings when war looked likely in the Falklands in 1982, were on record as saying that they had not
joined the Navy to go to war! No such remark was recorded in the case of the commandos and parachute battalions. THOMPSON, Julian: Lifeblood of War, Logistics in Armed Conflict, Brassey’s, 1991, ISBN 0-08-040977-6, p. 359.
105 At 3.14 am, in the middle of this battle, HMS Arrow, who was supporting the attack with naval gunfire, developed a fault in her turret which stopped her firing. ... The Battalion mortars had run out of ammunition and the Harriers could not take off from the carriers because of mist at sea. THOMPSON, Julian: No Picnic, Cassell, 2001, p.76 e p.77.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 4
A Força de Reacção Rápida Também é aqui, na Logística da FRR, que se deverá observar a excelência duma concepção
holística da Força, ou seja, a existência real da Força como um todo, na associação das sinergias
para a optimização de esforços e meios para o cumprimento da Missão. O correcto entendimento da
Missão e das limitações e possibilidades de apoio libertam igualmente meios “menos necessários”
aliviando o peso e o volume da manobra e dos apoios106. Nunca é demais também referir o pessoal,
atendendo às suas características. As Tropas de Montanha por natureza são mais adequadas para
serem empregues em zonas montanhosas onde em princípio serão mais eficientes. Quando tratamos
de ambientes extremos, por exemplo, clima, é importante não esquecer que as baixas não devidas a
combate nestes TO costumam suplantar as devidas a combate. Para além duma maior eficiência no
desempenho táctico, também no apoio se obterão ganhos. A redução das perdas sanitárias e as
consequências que têm para a missão e a Força obrigam a este cuidado. Forças melhor treinadas e
especializadas aumentam a eficiência e reduzem as necessidades em muitos dos meios. Algo
semelhante se poderá dizer das Forças mais disciplinadas onde o cumprimento de hábitos sanitários
correctos (e.g. profilaxia da malária107) e redução de consumos (munições, água, equipamento) se
traduzem na redução do peso logístico e no aumento da eficiência.
Outros consumos logísticos devem ser revistos e, se necessário, providenciada a substituição por
equipamentos mais robustos, modernos ou eficientes de acordo com a missão e condições a
enfrentar. A tentação de aquisição de equipamento civil comercial para uso militar é cada vez
maior. Nada haverá a opor a esta opção desde que se considerem os parâmetros de robustez,
fiabilidade, e restantes especificações técnicas definidas para os equipamentos militares.
A capacidade de reforçar, em termos logísticos, é fundamental, uma vez que a redução do peso e
volume tem consequências significativas no aumento da rapidez de projecção e execução. Essa
capacidade de reforço poderá ser acelerada através dum melhor planeamento logístico, já
referenciado anteriormente, pelo conhecimento actual da situação logística permitida pelas novas
tecnologias, pela previsão e antecipação das necessidades logísticas, pela melhoria dos sistemas de
armazenagem e embalagem (atente-se na revolução que foi a introdução dos contentores) e pelo
encurtamento das distâncias e de tempo e melhoria do sistema de distribuição. Esta última
alcançada pelo pré-posicionamento no TO (prévio aos acontecimentos), pelo emprego de Forças
106 Exemplo típico é o planeamento inicial de libertação de mais de uma centena de reféns do voo 139 da Air France de Tel Aviv para
Paris, sequestrados por elementos da Frente de Libertação da Palestina em 27 de Junho de 1976. No início previa-se o emprego de uma pequena força para neutralizar os terroristas procedendo-se posteriormente à evacuação e repatriamento por meios normais, via aérea com meios da El Al. A força saltaria dum Hercules C-130 sobre o Lago Vitória e abordaria, de barco, o terminal do aeroporto. Após a confirmação de que Idi Amin e o exército Ugandês eram coniventes com a situação, os planos foram alterados exigindo cerca de 10 Hercules C-130. O aperfeiçoamento do plano previa, no final, o emprego de um Boeing 707 de comando, e apenas mais 4 Hercules C-130, 3 viaturas ligeiras (2 Land Rover e 1 Mercedes) que seguiriam no primeiro avião, 2 VBTP e um Jeep de comando que seguiriam no segundo, mais 2 VBTP no terceiro e uma viatura Peugeot, para a rápida evacuação dos feridos, no quarto avião. Sobre o resgate de Entebe vide HERZOG, Chaim : The Arab-Israeli Wars: War and Peace in the Middle East from the War of Independence through Lebanon, Vintage, pp.327-36.; Operação Jonathan, o Resgate em Entebe, Military Review (Edição em português) 4º Trimestre, 1982.
107 Dos cerca de 4 500 militares britânicos que actuaram na Operação Palliser Maio a Junho de 2000, apenas 80 contraíram paludismo, apesar desta doença ser endémica na Serra Leoa.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 5
A Força de Reacção Rápida Especiais durante a própria operação, pelo desencadear de acções com esse objectivo específico,
pela colocação em bases avançadas, pelo posicionamento em navios, pela utilização de meios de
transporte mais rápidos e com maior capacidade (e.g. o catamaran em Timor) e/ou pela utilização
dos recursos locais108. Como exemplos, poderemos apontar a criação de bases logísticas avançadas
em território iraquiano na Guerra do Golfo - 1990, FOBs COBRA e VIPER109, tendo para isso sido
necessário executar dois Assaltos Aéreos .
Não parece, pois, restarem dúvidas de que a logística da FRR deve ser estudada, desenvolvida e
praticada ao mesmo nível e qualidade das restantes áreas e, as transformações que se operam ao
nível dos assuntos militares terão naturalmente que incluir a logística. A utilização intensiva dos
meios tecnológicos modernos, de novas estruturas organizacionais e decisionais110 e a possibilidade
de conhecimento em tempo real permitirão o aligeirar a Força com o acrescido bónus de aumento
da sua capacidade operacional, num exemplo de procura de optimização de sinergias, com claro
destaque da unidade de comando, da maior velocidade de execução e de um apoio logístico ágil e
adequado.
108 No resgate de Entebe estava previsto que os aviões da força se reabasteceriam no próprio local, o que não chegou a ser necessário
por ter sido autorizado o reabastecimento no Aeroporto de Nairobi no Quénia. 109 It’s worth noting that in the four-day ground war against Iraq, the 101st Airborne Division carried out four brigade-scale
operations. Two of these involved taking FOBs – in other words, big gas stations. BOLGER, Daniel P., Death Ground, Today’s American Infantry in Battle, Presidio Press, 2000, p.107. Sobre estas operações vide SCALES Jr., Brig. Gen. Robert H.: Certain Victory, The U.S.Army in the Gulf War, Brassey’s, 1994, pp.217-221 e pp. 303-305; MILLER, Major General John E., US Army, and BOLGER, Major Daniel P.: US Army: Going Deep, Division Air Assault Operations, Military Review, April 1993, pp. 2-12.
110 Como o “normalizar” o encaminhamento directo ultrapassando escalões de comando ou de apoio intermédios. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 6
A Força de Reacção Rápida
AAPPÊÊNNDDIICCEE DD –– AAPPOOIIOO DDEE CC44IIVVRR111
“When things go wrong in your command, start searching for the reason in increasingly larger concentric circles around your own desk.”
General Bruce Clarke
Do Início da História
Sempre foi uma preocupação dos comandantes, saber o que se passa no terreno, ter a possibilidade
de dar ordens, possuir a capacidade de verificar se estavam a ser cumpridas e, se possível, poder
alterá-las no decorrer da batalha para a influenciar. No início da História Militar, tal como a
conhecemos, isso era difícil de acontecer. Os próprios chefes envolviam-se fisicamente na batalha e,
uma vez iniciada esta, tudo parecia estar determinado pelas medidas e opções previamente tomadas,
pelo valor dos combatentes e, frequentemente pelo facto de não tombarem em combate. A actuação
da falange é um claro exemplo demonstrativo destas asserções.
Aquelas dificuldades foram progressivamente vencidas pelo engenho humano: referimo-nos à
utilização de bandeiras e flâmulas, ainda hoje constituindo um precioso património dos exércitos,
dos sinais sonoros – as trompas, cornetas, tambores, ... – de mensageiros ou estafetas e, quando do
aparecimento da pólvora, dos sinais pirotécnicos. Necessidades que se reflectiram nos próprios
uniformes: as cores garridas, o penacho de centurião no sentido transversal para ser facilmente visto
pelos seus legionários, as “canetas/cordões” dos ajudantes de campo e, em certa medida, a figura do
2º Comandante, que põe em prática as ordens do Comandante e verifica se estão a ser cumpridas.
Todas estas considerações, para deixarem de ser um mero exercício académico terão que ter
presente qual a finalidade do C4IVR, o qual, para nós, se resume num conjunto de meios, ou
melhor, de sistemas de “sistemas” que permitem a uma força, neste caso a FRR, cumprirem
a sua missão. Tendo em vista a FRR passemos a analisar os requisitos de C4IVR.
Requisitos e questões de C4IVR
Comando e Controlo
Tradicionalmente os exércitos apresentam uma estrutura muito hierarquizada e linear, tendo-se
criado um processo de decisão condizente com essa mesma estrutura. Numa FRR não é só a
estrutura organizacional que determina a natureza do comando. Os cenários mais prováveis onde
poderá actuar são complexos, lacunares, onde a dispersão táctica pode ocorrer em distâncias físicas
e temporais significativas, e cujas acções poderão ter consequências a nível táctico, operacional e
estratégico.
111 C4IVR: Comando, Controlo, Comunicações, Computadores, Informações, Vigilância e Reconhecimento Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 1
A Força de Reacção Rápida Mesmo com o apoio da tecnologia moderna não será sempre possível o exercício do comando pelo
Comandante. A solução é doutrinária, daí a importância da adopção da Teoria da Manobra, ao
incentivar o emprego de ordens tipo missão, à iniciativa dos subordinados dentro da intenção do
respectivo Comandante, pelos menos até dois escalões acima. Este ênfase na “descentralização”
parece ir contra a centralização do comando que as novas tecnologias oferecem. Não faltam
exemplos: desde a intervenção do Presidente Kennedy na crise de Cuba de 1962 junto do
Comandante que efectuou a intercepção do primeiro navio Russo 112, passando pelas situações do
Vietname, da decisão britânica de atacar Goose Green113 nas Falklands em 1982 .
É evidente que o problema se acentua numa força de projecção ou expedicionária. Em tempos mais
recuados, quando o processo de comunicação era longo, lento e perigoso, a solução por necessidade
era a da descentralização. Lembremo-nos da carta de Pero Vaz de Caminha a comunicar o
achamento do Brasil – uma carta, um navio114, um oceano – e a solução, por exemplo, de Portugal
para a Índia, a nomeação de um Vice-Rei como a forma mais expedita de aproximar o Comando, e
respectiva decisão, para junto do evento. Actualmente, o conhecimento é no momento e, se este tem
implicações estratégicas, o resultado certo é “interferência” do decisor político-estratégico junto do
Comandante no terreno, porventura ultrapassando a cadeia de comando para contactar directamente
com o Soldado na acção115 . A solução, para atenuar ou minimizar essa tendência, passa pela
formação e aumento da competência dos executores tácticos116 (profissionais, primus inter pares) e
pela nomeação, mesmo quando a operação pareça ter um desenho táctico, de “Vice-Reis”. A
“cabeça” que ocupou o aeroporto de Pristina em 1999 era comandada directamente pelo General
russo Victor Zavarine e, na operação de resgate em Entebe, no Boeing 707, estava o General Dan
Shomron.
Por sua vez o controlo não pode estar dissociado do Comando. O não cumprimento das ordens
como foram inicialmente emanadas é essencial para permitir a adaptação à situação real no terreno.
Também aqui se colocam os problemas que foram referenciados anteriormente. A dispersão, as
grandes distâncias, o tempo da operação e a rapidez da sua execução poderão não ser compatíveis
pela estrutura habitual de controlo. Mais uma vez, a solução tecnológica poderá não ser a mais
adequada, restando a doutrinária. Um conceito de operação flexível permite libertar a função de 112 CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001, p. 396. 113 THOMPSON, Julian: “No Picnic”, Cassell, 2001, pp. 69-71. 114 “Na manhã de 2 de Maio [de 1500], Cabral enviou para Portugal, com notícias do descobrimento do Brasil, o navio de Gaspar de
Lemos, previamente despejado da reserva de mantimentos que conduzira.” PERES, [Prof. Doutor] Damião: “História dos Descobrimentos Portugueses”, Vertente, 4ª Edição, 1992, p.339.
115 Such abnormality, however, comes at a cost: in its effect on the commanders who are bypassed but are ultimately responsible for managing the consequences in theatre, and in terms of the control of tempo since focussing higher command on a specific instance must necessarily detract from their ability to deal with other concerns across the battlespace. LLOYD, OBE MA, Lieutenant Colonel Merfyn: Command considerations for UK Network Enabled Forces A Speculative View, UK Defence Science and Technology Laboratory (Dstl), p.2, acedido a 02Out03. Sobre os efeitos negativos do comando à distância: The moral here is that proper command from 13,000 kilometers away is impossible [The Falklands 1982].THOMPSON, Julian: The Royal Marines, from Sea Soldiers to a Special Force, PAN, p. 571. O registo do “alívio” de ser atribuído a um superior hierárquico a tarefa de comunicar com a chefia político-militar em THOMPSON, Julian: “No Picnic”, Cassell, 2001, p.92.
116 Vejam-se os exemplos históricos proporcionados pela Legião Estrangeira francesa. Oficiais de outros exércitos serviram como soldados, cabos ou sargentos.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 2
A Força de Reacção Rápida controlo para o que se entende como essencial, aquilo que, de facto, possa colocar em causa o
desenrolar da operação.
Comunicações, Computadores, Informações, Vigilância e Reconhecimento
A FRR actua normalmente fora da estrutura clássica de uma Unidade posicionada no terreno e com
os seus sistemas de comunicações interligados com os do escalão superior. A ela colocam-se duas
questões distintas, apesar de nalgumas situações apresentarem muitos pontos de comum,
designadamente quando sub-unidades ou elementos da FRR se encontrem muito distantes,
dispersos ou em locais de difícil comunicação.
A primeira questão é a comunicação intra FRR. Essa comunicação inclui voz como outro tipo de
informação, dados de grande volume, imagens etc. A comunicação à voz ainda é o meio por
excelência de conduzir homens em combate, nada substituindo a informação factual por ela
transmitida nem as emoções que tanta influência podem ter no comportamento dos militares. Essa
comunicação é fundamental que exista entre todos os elementos da Força e, entre esta e os seus
apoios.
Na Somália, falharam as comunicações entre os “Rangers” e os “Delta”, porque ao que parece
possuíam equipamentos incompatíveis, ou seja, foi uma repetição de problemas já havidos aquando
da intervenção americana em Granada. O operar em áreas urbanas, ou florestadas, agrava os
problemas de comunicação117, sendo já uma solução clássica a utilização de meios aéreos para
servirem de relais.
Se a voz é importante, a transmissão de dados de diversa natureza faz-se sentir cada vez mais
necessária, a digitalização dos exércitos está em marcha, exigindo equipamentos com capacidade de
resposta a estas novas exigências. A FRR é uma força em movimento118 para, no e do local de
intervenção. Os equipamentos terão de ser portáteis e não dependentes das infraestruturas do
TO, qualquer que ele seja, se quisermos uma Força credível, autónoma e verdadeiramente global.
A exploração dos recursos locais, se assim se poderá dizer, é possibilidade que deverá ser
considerada mas nunca como dado adquirido, até porque, embora possam existir, aqueles poderão
não oferecer o nível de qualidade e fiabilidade compatível com as exigências dos equipamentos e
condução das operações militares. As forças implantadas no terreno deverão poder escutar os
RELIM dos helicópteros de observação do GALE, ou solicitar a evacuação ou o transporte aéreo
quando oportuno. As unidades em apoio da Força Aérea e da Marinha deverão conhecer em detalhe
117 During OIF/Operation Telic, both U.K. and U.S. forces demonstrated the need for an increase in SATCOM. However, need must
not become dependency. Complex terrain, such as mountains or an urban environment, can obscure geostationary satellites. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, p.49.
118 The 3d U.S. Infantry Division’s (ID’s) lessons learned concluded that mobile subscriber equipment (MSE) cannot support a division’s on-the-move requirements while the division is conducting continuous operations and moving its elements. The lessons learned also identified the need for TACSAT and similar range-extension systems. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, p.48.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 3
A Força de Reacção Rápida as subunidades de manobra em proveito de quem operam, e ser capazes de comunicar com elas,
sem constrangimentos ou dificuldades de linguagem. A interligação e interoperabilidade com as
Forças de outros Países será quase certamente uma necessidade, e um motivo acrescido de
preocupação e investigação.
O sistema de comunicações também deverá permitir a transmissão e recepção, em tempo real e de
forma segura, duma diversidade de dados nomeadamente os referentes ao targeting. Essa segurança
também deverá relacionar-se com a dificuldade de sofrer acções de empastelamento, de intercepção
e de outras acções no âmbito da Guerra Electrónica. Deverá igualmente ser redundante sem que tal
signifique um acréscimo de peso significativo.
A segunda situação é a comunicação entre a Força e a base de origem, ou melhor, entre ela e o
centro de decisão político-estratégica. Não se deve, contudo, considerar esta capacidade como algo
de negativo, ou como um mal necessário em face de exemplos indesejáveis ocorridos, para o
comandante da Força. Por este canal poderão circular informações, de toda a natureza, que poderão
influenciar a decisão do comandante, sendo que a informação estratégica virá nomeadamente de
serviços de informação de países amigos.
Como se vê, as necessidades do utilizador, da Força e dos respectivos comandos, operacional e
estratégico, são exigentes e muito diversas em termos de resposta a especificações técnicas. Uma
capacidade de intervenção global significa equipamento robusto, compacto mas leve, com alcances
também globais. A utilização de satélites (“Barras”, Vietname, Afeganistão) passará a ser
normal119, exigindo, por outro lado, cuidados acrescidos devido a dificuldades de ligação
resultantes do terreno (montanha, floresta...), das condições meteorológicas e da latitude. Os
sistemas de vigilância electrónicos, desde aéreos até sensores terrestres, alguns nem pertencentes ao
Exército ou ao País, devem alimentar em tempo real quem deles precise. Isto implica repensar a
estrutura, não no sentido linear habitual, mas mais de uma forma matricial ou de nódulos
ligados em rede. É difícil elaborarmos algo em termos conceptuais e influenciar o sentido da
investigação nesta área, mas poderemos explorar o que os avanços tecnológicos civis e a nível
organizacional, têm para nos oferecer. Não admira, portanto, que no âmbito organizacional e no
nosso próprio Exército, seja a própria Chefia a reconhecer a importância destes novos conceitos e já
os comece a pôr em prática, como o afirma o próprio CEME: “... tornaremos mais unilineares as
relações de comando, estabelecendo apenas canais de comando e de autoridade técnica,
simplificando dependências e exercendo a acção de comando de modo muito mais descentralizado
do que hoje é prática, ...”.
119 The marked contrast between the performance of MSE and Ptarmigan (two apparently similar systems) is somewhat surprising. However, Ptarmigan has the advantage of having been adopted for use in an expeditionary context (in Bosnia in 1995 and Kosovo in 1999). It has routinely had VSC501 (a Landrover-deployable system), satellite-communications (SATCOM) links under tactical command for network range extension, and a permanent switching hub in the U.K. for rapidly establishing mobile subscriber access and headquarters communities— often in less than an hour. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, pp.48-9.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 4
A Força de Reacção Rápida
O que fazer?
A primeira medida, como já foi referido, é de ordem conceptual e doutrinária. Todos, do líder ao
executante de menor graduação, devem saber actuar com poucas directivas e com limitada
informação120. Tal implica confiança dos chefes e um grande esforço na formação e mudança de
mentalidades.
A segunda é ter presente que cada elemento conta, cada um constitui um elo da cadeia de
informação e da sua comunicação e estas devem circular rapidamente para quem as precisa e possa
aproveitar.
Em terceiro lugar, há que considerar a alteração organizacional dos sistemas, analisando as soluções
que as empresas civis encontraram para sobreviver num mercado cada vez mais competitivo e
globalizado.
Por último, haverá que ponderar a utilização intensiva de equipamentos civis, salvaguardando os
militares para o que efectivamente é necessário, seguro e fiável. Seleccionar os equipamentos com
maior largura de banda, com a consciência de que a digitalização crescente e o aumento de
transmissão de dados, nomeadamente de imagens, tornarão rapidamente obsoleto qualquer
equipamento.
120 Command of task groups will be done by small and highly agile command nodes that are ‘staffed to task’ and modular in nature. LLOYD OBE MA, Lieutenant Colonel Merfyn: Command considerations for UK Network Enabled Forces A Speculative View, UK Defence Science and Technology Laboratory (Dstl), p.11.
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A Força de Reacção Rápida
AANNEEXXOO 11
NNEEWW AAIIRRLLIIFFTT RREEQQUUIIRREEMMEENNTTSS
121
Earthquakes, floods, famine and drought are natural occurrences that often require prompt and
effective international humanitarian assistance to avert disaster.
Humanitarian support and interventions by international organisations such as the UN and NATO
cover the whole range of relief missions and require the mobilisation of substantial logistic resources.
Since 1998 there have been over 90 requests for assistance to deal with international crisis situations,
with over 40% requiring the use of fixed wing transport aircraft. More recently, events in Kosovo,
East Timor, Afghanistan and Bali have highlighted the need for a reliable, long reach airlift capability,
with maximum interoperability between air forces.
There have been numerous cases of nations having to rely on third parties to provide tactical and
strategic lift due to misfit of mission loads with their existing military transport aircraft. Removal of
this dependence on external sources, coupled with the need for rapid air mobility, has set new
standards for airlift:
• Extended reach;
• Outsize and heavy load capability;
• Fast transit/high cruise altitude;
• High cruise speed for a rapid response;
• Autonomous ground handling and rapid role change capability;
• Short, soft field performance;
• Low speed characteristics for air drop and tactical flight;
• Reliability, Maintainability, Testability and dispatch availability;
• and, above all, Affordability
121 Cópia e Transposição de parte do “site” na Internet do “Airbus A400M” Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 1
A Força de Reacção Rápida
Armed forces today are equipped with inventory dating back to the 60's and 70's; transport aircraft in
particular are both technically and operationally obsolete. The current global military transport fleet
consists of more than 2300 tactical airlifters with an average age of 26 years and around 350 strategic
airlifters of which the majority is operated by the USA and Russia.
The current military transport fleets of the world do not meet future airlift requirements; they provide
today's forces with inadequate payload and range capability, lack of combined strategic / intra-theatre
transportation capability, lack of commonality and interoperability between different forces, far too
small cargo hold cross-sections for modern loads, and low fleet availability (reliability) by modern
standards.
FOCUS
The EU Member States committed themselves to rapidly develop and strengthen their operational and strategic air transport capabilities and, in line with this need, to create a “Rapid Reaction Force” (RRF). The objective of the RRF is to “develop an autonomous capability to decide on, to launch and conduct EU-led military operations in response to international crisis”:
The military capabilities to be provided by the Member States are:
• Deployment within 60 days of:
• 60 000 people and required material (out of a pool of 100 000 people, 400 combat aircraft and 100 vessels)
• For a mission of at least one year on a self-sustaining basis (command, control, intelligence capabilities, logistics, strategic transports).
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 2
A Força de Reacção Rápida
Seven-Nation Commitment
The A400M programme is a direct result of a commonly expressed need by 8 European air forces
for a new generation military airlifter. The scope of this initiative to specify and procure an aircraft
of a common definition is unique and clearly points to the way forward in the domain of "smart
procurement" for the armed forces of allied nations.
These European NATO members issued a Request for Proposal in September 1997 and it was to
respond to this RFP that the aerospace industries of these nations came together in the partnership
now known as Airbus Military. June 2001 saw the signing of a Memorandum of Understanding
(MOU), which represented a major milestone towards the industrial launch of the A400M.
On May 27th 2003, a contract was signed between Airbus Military and OCCAR (Organisation
Conjointe de Coopération en Matière d'Armement), representing Belgium, France, Germany,
Luxembourg, Spain, Turkey, and United Kingdom for a total of 180 aircraft. The industrial
programme was formally launched on May 31st 2003. This will lead to a first flight in 2008 and a
first delivery in 2009.
Belgium
Spain
France
Turkey
Germany
UK
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A Força de Reacção Rápida
A400M – Setting New Airlift Standards…
Airbus Military offers the military air transport world a modern, multi-role military airlifter which
will replace the ageing fleets of C-130 Hercules and C-160 Transall in service with the air forces
around the world. With the A400M, Airbus Military is setting new airlift standards and changing
the way in which future military programmes will be managed.
The A400M, as the new airlifter of the 21st century, will have more than twice the payload and
volume of the aircraft it will replace. It will play an essential rôle in enhancing Europe's airlift
capabilities, whilst enabling the establishment of common support, training and operational
procedures and greater interoperability in multi-national humanitarian and peace-keeping missions.
The A400M Common Standard Aircraft (CSA) is capable of performing:
• strategic operations (long range, large capacity, high cruise speed)
• tactical missions (soft-field performance, autonomous ground operation, low speed / low level operations, aerial delivery)
• "in-theatre" tanking operations (receiving as well as dispensing fuel)
The A400M is designed to civil certification standards complemented where appropriate by specific
military requirements. The aircraft design incorporates leading state-of-the-art technology
including:
• Fly-by-wire Flight Control System with sidestick controllers
• Flight envelope protection system, already proven in Airbus commercial aircraft
• Advanced structural design incorporating extensive use of composite materials
• High performance turboprop engines, allowing operation in civil air traffic control environment
• High flotation landing gear, allowing operation from short, unpaved airfields.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 4
A Força de Reacção Rápida
Typical Missions There is no such thing as a 'standard mission'. However, many of the A400M's capabilities, both
logistic and tactical, can be demonstrated through the use of generic deployment scenarios. . .
Scenario: Rapid Reaction Force Further tension in the Gulf validates the decision to reinforce European troops in the region. There
is a strong possibility that further hostilities will develop in the next few days.
A Rapid Reaction Force consisting of air mobile brigade troops with additional fire support,
helicopters and two fighter squadrons is deployed. In all, 7200 personnel, 2500 wheeled and tracked
vehicles (including artillery and light armour), 23 helicopters and support material for 24 fighter
aircraft are required. The total force of over 17 000 tonnes of equipment is flown to the Gulf within
15 days using 50 A400M transports. All of this equipment can be ready to operate in half a day.
A number of A400Ms are rapidly converted into tanker role to support the deployed fighter aircraft.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 5
A Força de Reacção Rápida
Scenario: Hostage Rescue Operation
• Distance 1000 nm
A400M • Duration 7 days
Tactical • Fleet 18 A400M
Scenario • Transported 20 LAV, 700 troops
• Conducted Low level aerial delivery parachute assault
Civilian workers and their families have been taken hostage somewhere in the world. The
governments will not accede to the terrorists' demands, made against threats of murdering the
hostages. The deadline has been set five days hence. Only 16 A400Ms are available as the others
are already on other missions.
On Day 1, a Pathfinder Force is inserted from high altitude using one aircraft. These troops,
remaining covert throughout, carry out initial reconnaissance of the area, selecting drop zones and
potential airstrips.
At dawn on the third day, a Parachute Assault from 14 A400Ms, six with 560 troops and stores and
eight with vehicles and stores, is conducted. The A400M allows airdrop of two light armoured
vehicles (LAVs) from each aircraft, bringing additional firepower and mobility. The enhanced
Wedge capability (up to six tonnes) provides increased flexibility and instantly available material.
These troops carry out the hostage rescue.
At dawn of the fourth day a Tactical Air Land Operation, consisting of the remaining two aircraft
using Night Vision Goggles, is conducted. They secure the airstrip where the hostages are to be
taken. A force of 108 troops and up to four LAVs can be delivered.
Later on Day 4 and Day 5 the hostages are brought to the airstrip. On the sixth and seventh day
hostages are flown back home after medical examination and any immediate treatment. At the same
time, troops and equipment are withdrawn.
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A Força de Reacção Rápida
Scenario: Humanitarian Aid
A typhoon in Timor has created a major disaster and direct aid is needed. The A400M is the perfect
vehicle to perform such a mission and 20 are available within the European air forces.
Slip crews are positioned at suitable en-route stations. Within four days a European rescue force
including engineers and aeromedical evacuation personnel is positioned in Australia and Timor.
A complete medical camp is set up within hours of landing, at the main airport in Dili or on a pre-
surveyed natural surface strip further into the interior. Helicopters, transported complete or with
their rotor blades removed, quickly start operations ferrying aid workers into the region and
transferring casualties to the field hospital.
Operating out of Australia, A400Ms are used to airdrop supplies (tents, blankets, food and water) to
isolated communities cut off by the disaster. These aircraft then land to evacuate injured refugees
for longer-term medical treatment in Australia.
After 12 days the aircraft are needed elsewhere. A successful conclusion is achieved: 4500 people
rescued and the situation stabilised.
Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 7
A Força de Reacção Rápida
Performance
A400M has been designed to provide high strategic mission efficiency whilst meeting the demands
of tactical operations.
Speed / Altitude Capability
The A400M is an economical turboprop aircraft with a cruise speed almost as fast as turbofan
powered transports. Its advanced aerodynamic design, coupled with four new generation, high
performance turboprops and 8-blade propellers provide cruising speeds up to Mach 0.72 at 37
000ft.
Field Performance
For tactical missions, good field performance is a crucial factor for mission success.
The A400M provides excellent soft field capabilities and requires only a short runway length, both
for take-off and landing. In a combat situation where it would land on a semi-prepared forward
operating strip and unload all its cargo, the A400M would require less than 1000 m of usable
runway.
The aircraft is capable of operating into unprepared landing strips under adverse meteorological
conditions completely independent of ground support. With its 6-wheel main gear and high
flotation characteristics, the A400M will be able to land on soft grass fields over low plasticity clay,
a performance which far exceeds that of any similar aircraft.
Operations from remote sites, with limited or no ground facilities and limited space for manoeuvre
are severe constraints for a tactical airlifter. The A400M is designed from the outset to work in
these conditions.
• A turning radius of 28.6 m enables the A400M to be operated from simple air bases with limited aprons and taxiways;
• The A400M is capable of reversing up, under its own power, a 2% slope on hard surfaces and a 1% slope on soft surfaces at its tactical MTW in hot and high conditions.
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A Força de Reacção Rápida
Aerial Delivery
As a tactical airlifter, the A400M is capable of air dropping paratroops and equipment via parachute
or gravity extraction. A single load up to 16 tonnes, or multiple loads up to 25 tonnes of total
weight; 116 paratroops plus a wedge load of 6 tonnes; up to 20 1-tonne containers or pallets; and
heavy, medium, and light stressed platforms can be air dropped.
The A400M also features simultaneous dropping of paratroops and cargo (RAS/Wedge or Door
Loads) and Very Low Level Extraction (VLLE) of a single load up to 6.35 tonnes, or 3 individual
loads, each up to 6.35 tonnes, 4.5 m (15 ft) above ground.
Aerial delivery by gravity extraction of a single load up to 4 tonnes, or multiple loads up to 20
tonnes of total weight can be performed by a nose-up attitude or by being manually dispatched.
Air-to-Air Refuelling
The A400M is also quickly convertible into a tactical tanker. The flight envelope of the A400M
allows it to refuel a wide range of aircraft and helicopters, at the altitudes appropriate to their
missions.
• A two-point trailing drogue system can be installed within two hours by fitting two standard
air-to-air refuelling pods (optional) to the multi-role attachment points on the wings. Each
pod provides a fuel flow of up to 1200kg/min.
• A centre-line pallet-mounted hose drum unit can be fitted in the rear cargo bay. It provides a
fuel flow of 1800kg/min.
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A Força de Reacção Rápida
To enhance the fuel volume, up to two optional cargo bay fuel tanks (CBT) can also be installed,
providing up to 12 tonnes of extra capacity. These additional tanks connect directly to the aircraft's
fuel system and thus become part of the A400M's computer-controlled centralised fuel management
system.
Designed from the outset to be a dual-role air transport and air-to-air refuelling aircraft, the versatile
A400M offers air commanders and planners new levels of flexibility in the delivery of air power. Its
basic fuel capacity of 50 tonnes or up to 62 tonnes with the optional CBT fitted, coupled with its
own low fuel-burn rate, makes it an efficient aerial tanker and a cost-effective way for air forces to
acquire an aerial refuelling capability.
Range Capability
The A400M can carry an average military payload of 25 tonnes over 3000nm non-stop to military,
commercial, or remote, unequipped airfields.
The A400M is also fully equipped for air-to-air refuelling as a receiver, and can be converted to the
tanker role within 2 hours.
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A Força de Reacção Rápida
Cost Effectiveness
The selective application of advanced technologies only in areas where these can demonstrate clear
added value has long been an Airbus hallmark, giving Airbus products a distinct competitive edge.
The A400M has been sized to have the best balance of cargo load weight and volume. This enables
the aircraft to achieve an average per sortie payload of around 70% of total aircraft payload. Only
the A400M matches its maximum payload, and therefore aircraft weight, to the required 'outsize'
volume of today's modern loads. This is important, as an aircraft's weight largely determines its
acquisition and lifetime maintenance costs.
Life Cycle Costs
The acquisition price is only a portion of the total costs of owning and operating an aircraft. The
Life Cycle Costs (LCC) are also affected by downstream operating costs such as fuel and
maintenance. These will vary for each type of aircraft owing to many factors such as types of
engine, aircraft size, and technology employed. A fair comparison can be obtained by calculating
the LCC corresponding to the aircraft fleet required to perfom a typical mission.
A fleet of 50 A400M airlifters represents a US$ 5bn acquisition cost and a US$ 15bn 30-year life
cycle cost. When compared to a corresponding fleet of competing aircraft required to perform
identical missions, the A400M will have the lowest 30-year life cycle cost.
Cargo Handling
The entire range of current and anticipated loads defined in the European Staff Requirement are all
within A400M's carrying capability. Military loads ranging from armoured combat vehicles and
artillery to attack and utility helicopters and civil loads such as excavators and dump trucks can all
be accommodated. The A400M cargo box dimensions are optimised for the transportation of heavy
vehicles and / or cargo pallets, as well as being easily configured to carry troops, paratroops, or
Medevac.
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A Força de Reacção Rápida
The A400M cargo handling system allows for pallets and containers to be loaded / unloaded by a
single loadmaster, without any special ground support equipment. An optional 5-tonne crane can be
installed at the rear of the fuselage allowing loading and unloading of fully loaded military pallets.
The cargo hold provides enough space to carry nine standard military pallets (88in x 108in)
including two loaded on the ramp area. Civil pallets (125in-wide) can also be loaded using an
optional roller/restraint system. Simultaneously 54 troops can be seated in the side-wall seats. The
pallet roller/ restraint system can easily be stowed to provide a flat floor for tracked or wheeled
vehicle loading.
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A Força de Reacção Rápida
The A400M cargo bay can accommodate up to 116 fully equipped troops / paratroops, seated in
four longitudinal rows. Paratroops can be dropped from the rear doors or from the ramp. The hold
can also be converted for a medical evacuation role (MEDEVAC) allowing up to 66 stretchers
accompanied by 25 medical personnel.
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A Força de Reacção Rápida
AANNEEXXOO 22
VVIIAATTUURRAA TTIIPPOO ““MMUULLAA MMEECCÂÂNNIICCAA””
http://www.einsa.es/espanol/index.htm
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
• Plataforma para as necessidades tácticas e logísticas dos diferentes exércitos.
• Velocidade máxima 65 Km/h. 4 WD a todo o tempo.
• 1.000 kg capacidade de carga. 4.000 lbs em atrelado.
• Transportável em aeronaves (12 no C-130).
• Pode ser lançada em pára-quedas.
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