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INSTITUTO DE ALTOS ESTUDOS MILITARES CURSO SUPERIOR DE COMANDO E DIRECÇÃO ANO LECTIVO 2004 / 2005 TRABALHO INDIVIDUAL DE LONGA DURAÇÃO A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA CONCEITO DE EMPREGO NA DEFESA CONTRA AMEAÇAS AOS INTERESSES NACIONAIS E NO ÂMBITO DOS COMPROMISSOS INTERNACIONAIS Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha Coronel de Infantaria

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INSTITUTO DE ALTOS ESTUDOS MILITARES

CURSO SUPERIOR DE COMANDO E DIRECÇÃO

ANO LECTIVO 2004 / 2005

TRABALHO INDIVIDUAL DE LONGA DURAÇÃO

AA FFOORRÇÇAA DDEE RREEAACCÇÇÃÃOO RRÁÁPPIIDDAA CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO NNAA DDEEFFEESSAA CCOONNTTRRAA

AAMMEEAAÇÇAASS AAOOSS IINNTTEERREESSSSEESS NNAACCIIOONNAAIISS EE NNOO ÂÂMMBBIITTOO

DDOOSS CCOOMMPPRROOMMIISSSSOOSS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS

Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha

Coronel de Infantaria

A Força de Reacção Rápida

DDOOCCUUMMEENNTTOO DDEE TTRRAABBAALLHHOO

OO TTEEXXTTOO CCOORRRREESSPPOONNDDEE AA UUMM TTRRAABBAALLHHOO FFEEIITTOO DDUURRAANNTTEE AA

FFRREEQQUUÊÊNNCCIIAA DDOO CCUURRSSOO NNOO IIAAEEMM SSEENNDDOO DDAA RREESSPPOONNSSAABBIILLIIDDAADDEE DDOO

SSEEUU AAUUTTOORR,, NNÃÃOO CCOONNSSTTIITTUUIINNDDOO AASSSSIIMM DDOOUUTTRRIINNAA OOFFIICCIIAALL DDOO

EEXXÉÉRRCCIITTOO PPOORRTTUUGGUUÊÊSS..

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 i

A Força de Reacção Rápida

AA FFOORRÇÇAA DDEE RREEAACCÇÇÃÃOO RRÁÁPPIIDDAA CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO NNAA DDEEFFEESSAA

CCOONNTTRRAA AAMMEEAAÇÇAASS AAOOSS IINNTTEERREESSSSEESS

NNAACCIIOONNAAIISS EE NNOO ÂÂMMBBIITTOO DDOOSS

CCOOMMPPRROOMMIISSSSOOSS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS

IAEM, 21 de Fevereiro de 2005

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 ii

A Força de Reacção Rápida

DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA

Dedico este trabalho ao Homem, ao Militar, ao Chefe, ao “meu” Comandante, ao Herói Português, que tanto me inspirou e ajudou com o seu exemplo:

- Cor Tir Inf RAUL MIGUEL SOCORRO FOLQUES.

Raul Cunha

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 iii

A Força de Reacção Rápida

RREESSUUMMOO AANNAALLÍÍTTIICCOO

A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA, CONCEITO DE EMPREGO NA DEFESA CONTRA

AMEAÇAS AOS INTERESSES NACIONAIS E NO ÂMBITO DOS COMPROMISSOS

INTERNACIONAIS

por Cor Raul Cunha

O Exército do amanhã deverá ser mais projectável e ter a capacidade de enfrentar as futuras

ameaças ao longo de todo o espectro da guerra. A nova Força de Reacção Rápida é essencial para

esta transformação do Exército. Este documento examina o papel da FRR e a forma como esta

preenche o leque de capacidades das forças existentes. Começa por enquadrar os actuais tipos de

conflito existentes no Mundo, as alianças em que Portugal se insere e as ameaças que enfrenta ao

tentar contribuir para uma estabilidade generalizada. Após algumas considerações sobre o tipo

destas forças e a sua estrutura habitual, ao analisar a questão central, este documento apresenta um

conceito operacional que está fundamentalmente articulado e desenvolvido com base na força tipo,

sem deixar de se interrelacionar com as possíveis missões e com o ambiente operacional.

AABBSSTTRRAACCTT

THE RAPID REACTION FORCE. ITS OPERATIONAL CONCEPT TO FACE THE POSSIBLE

THREATS TO THE NATIONAL INTERESTS AND WITHIN THE FRAME OF

INTERNATIONAL COMPROMISES

by Col. Raul Cunha

The Army of tomorrow must be more deployable and capable of meeting future threats across the

full spectrum of war. Essential to this transformation is the Army’s new Rapid Reaction Force

(RRF). This document examines the RRFs role and how it bridges the existing capabilities gap of

its forces. It starts with the framing of the present types of conflicts in the world, the alliances

regarding Portugal and the threats it faces when trying to contribute for the overall stability. After

some basic considerations on this type of forces and their usual structure, when analyzing the

research question, this document presents an operational concept which is fundamentally developed

based on a type-force and relating it with the possible missions and the operational environment.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 iv

A Força de Reacção Rápida

AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

São muitas as pessoas a quem tenho de agradecer pelas suas importantíssimas contribuições para

este trabalho. Foi uma tarefa muito exigente e na sua resolução contei com a ajuda e conselho de

muitos amigos, todos camaradas de “armas”.

Antes de todos os demais, tenho de reconhecer o contributo dos meus companheiros dos SAS1, pois

além de me incentivarem a manter uma apreciável forma física conjugando-a com substanciais

degustações de “Coca-Cola”, foram incansáveis nos estímulos, sugestões e conselhos. Eles foram,

sem dúvida, e é com orgulho que o afirmo, os autênticos “orientadores” deste trabalho, são

verdadeiros, grandes e fiéis amigos e decididamente acreditaram nas minhas faculdades pelo que

espero nunca os vir a decepcionar, profissionalmente ou em termos pessoais.

Em segundo lugar, quero agradecer aos Cor Inf Martins Branco, Cor Art Rovisco Duarte, TCor Inf

Perestrelo e TCor Inf Almendra, os quais comigo e com alguns dos companheiros dos SAS fazem

parte do privilegiado “Grupo de Florença”2 e ao Cor Inf Cameira Martins e TCor Cav Luís Fonseca

pela sua ajuda em termos de elementos de consulta e oportunas “dicas”. A sua colaboração em

muito facilitou este projecto.

Quero também agradecer, em especial, ao meu velho amigo e “cunhado” Cor Tir Art Vítor Viana,

pela inspiração e conselhos ao longo de todo este processo – sem dúvida que o seu exemplo me

motivou a uma entrega ainda um pouco maior. Devo acrescentar que foram de extrema utilidade

todas as nossas conversas, sobre inúmeros temas relacionados com o Curso – com ele aprendi

sempre alguma coisa.

Por último, quero agradecer à Direcção do IAEM pela valiosa orientação, ensinamentos e apoios

recebidos ao longo do Curso Superior de Comando e Direcção, até à data em que fiz a entrega deste

trabalho. Aproveito ainda para agradecer aos meus companheiros de curso pela sua camaradagem e

amizade.

Só me resta deixar uma nota de amor para a minha mulher e filhos, por quem sigo lutando.

1 “Saturdays and Sundays”: núcleo “duro” que se junta aos Sábados e Domingos de manhã para juntos palmilharem uns quilómetros em passo de corrida e amena cavaqueira – TCor AdMil João Reis, TCor AdMil Jorge Reis e TCor Eng José Fonseca. Não confundir com os “Special Air Service”, que esses só ajudam alguém, se para tal receberem ordem de S. Majestade Britânica.

2 Militares que serviram no EM da EUROFOR, nessa belíssima cidade italiana. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 v

A Força de Reacção Rápida

SIGLAS E ABREVIATURASSIGLAS E ABREVIATURAS AA Anti-Aérea

ACar Anti-Carro

AMat Anti-Material

Ap Apoio

AT Aeroterrestre

BAAT Batalhão de Apoio Aeroterrestre

BAI Brigada Aerotransportada Independente

BApSvc Batalhão de Apoio de Serviços

Bat Batalhão

BCMDS Batalhão de Comandos

BI Batalhão de Infantaria

BIMec Batalhão de Infantaria Mecanizada

BLI Brigada Ligeira de Intervenção

BMI Brigada Mecanizada Independente

Brig Brigada

CAt Companhia de Atiradores

CAp Companhia de Apoio

Cbt Combate

CCMDS Companhia de Comandos

CCS Companhia de Comando e Serviços

CEDN Conceito Estratégico de Defesa Nacional

CEM Conceito Estratégico Militar

CEME Chefe de Estado Maior do Exército

CIMIC Civil-Military Cooperation (Cooperação Civil Militar)

CIOE Centro de Instrução de Operações Especiais

CIS Communication and Information Systems (Sistemas de Comunicações e Informação)

CJTF Combined Joint Task Force (Força Operacional Conjunta e Combinada)

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 vi

A Força de Reacção Rápida

CMDS Comandos

CP Capability Package (Conjunto de Capacidades)

CPLP Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa

CRO Crisis Response Operations (Operações de Resposta a Crises)

CSAR Combat Search and Rescue (Busca e Salvamento em Combate)

DOE Destacamento de Operações Especiais

EM Estado-Maior

EME Estado Maior do Exército

EMGFA Estado Maior General das Forças Armadas

EOD Explosive Ordnance Disposal (Inactivação de Engenhos Explosivos)

ETAT Escola de Tropas Aerotransportadas

ETE Escola de Tropas Especiais

EU European Union

EUA Estados Unidos da América

EUFOR European Force (Força Europeia – na Bósnia-Herzegovina)

Expl Exploração

FA Forças Armadas

FAC Forward Air Controller (Controlador Aéreo Avançado)

FOPE Força Operacional Permanente do Exército

FRR Força de Reacção Rápida

Fuz Fuzileiros

GAC Grupo de Artilharia de Campanha

GALE Grupo de Aviação Ligeira do Exército

GU Grande Unidade

HIC High Intensity Conflict (Conflito de Alta Intensidade)

HRF High Readiness Forces (Forças de Elevada Prontidão)

ISAF International Security Assistance Force (Força Internacional para Auxílio à Segurança – Afeganistão)

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 vii

A Força de Reacção Rápida

LPM Lei de Programação Militar

Man Manutenção

MDN Ministério da Defesa Nacional

MEU Marine Expeditionary Unit

MIFA Missões das Forças Armadas

ML Metralhadora Ligeira

Mort Morteiros

Msl Míssil

MSU Multinational Specialized Unit

NATO North Atlantic Treaty Organisation

NBQ Nuclear, Bacteriológico e Químico

NPL Navio Polivalente Logístico

NRF NATO Reaction Force

OAF Observador de Apoio de Fogos

ONU Organização das Nações Unidas

OSCE Organização para a Cooperação e Segurança na Europa

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

Pára Pára-quedistas

PC Posto de Comando

PE Polícia do Exército

PfP Partnership for Peace (Parceria para a Paz)

PREC Precursores

PS Posto de Socorros

Reab Reabastecimento

RLA Reconhecimento de Longo Alcance

RRF Rapid Reaction forces

SACEUR Supreme Allied Commander Europe

SFN Sistema de Forças Nacional

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 viii

A Força de Reacção Rápida

SFOR Stabilization Force (Força de Estabilização – na Bósnia-Herzegovina)

SOGA Saltador Operacional a Grande Altitude

TA Target Acquisition (Aquisição de Objectivos)

TO Teatro de Operações

TOA Transfer of Authority (Transferência de Autoridade)

Tpt Transporte

UAV Unmanned Aerial Vehicle (Veículo Aéreo não tripulado)

UE União Europeia

UEB Unidade de Escalão Batalhão

UN United Nations (Nações Unidas)

VBTP Viatura Blindada de Transporte de Pessoal

VSTOL Vertical/Short Take-off and Landing

ZL Zona de Lançamento

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 ix

A Força de Reacção Rápida

ÍNDICE GERALÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................1

2. CONFLITUALIDADE E ALIANÇAS. AMEAÇAS A PORTUGAL

a. A Actual Conflitualidade Mundial...........................................................................................3

b. As Organizações Internacionais, as Alianças e Coligações na Prevenção e Resolução dos

Conflitos ...................................................................................................................................5

c. As Ameaças a Portugal ..........................................................................................................10

3. A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITO

a. Pressupostos e Linhas Orientadoras.......................................................................................12

b. Estrutura e Possibilidades ......................................................................................................20

c. Vantagens e Inconvenientes desta Organização da FRR .......................................................24

4. CONCEITO DE EMPREGO

a. Finalidade ...............................................................................................................................24

b. Pressupostos ...........................................................................................................................25

c. Conceito Operacional.............................................................................................................26

d. Orientações.............................................................................................................................27

e. Empenhamento Operacional ..................................................................................................34

f. Requisitos Fundamentais para Aplicação do Conceito de Emprego da FRR ........................35

g. Critérios para Validação.........................................................................................................36

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

a. Generalidades .........................................................................................................................36

b. Conclusões Sectoriais.............................................................................................................37

c. Horizonte Temporal ...............................................................................................................40

GLOSSÁRIO DE CONCEITOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICES:

A - ORGANOGRAMAS

B - INSTRUÇÃO

C - APOIO LOGÍSTICO

D - APOIO DE C4IVR

ANEXOS:

A - NEW AIRLIFT REQUIREMENTS

B - VIATURA TIPO “MULA MECÂNICA”

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 x

A Força de Reacção Rápida

11 –– INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO "A rapidez é a essência da guerra."

Sun Tzu – “ A Arte da Guerra” – 500 AC

Porquê uma Força de Reacção Rápida (FRR)

A afirmação de Sun Tzu, que encima o capítulo, sintetiza magistralmente a razão da existência de uma

Força de Reacção Rápida e da importância, corolário da necessidade presente, do desenvolvimento

conceptual do emprego dessa força.

O Exército Português atravessa um processo de transformação, organizando-se e dotando-se de forças

mais flexíveis e de grande mobilidade, com adequados níveis de prontidão e sustentação, de modo a ser

capaz de enfrentar o amplo espectro de ameaças existente no actual ambiente estratégico e a prosseguir

outros interesses nacionais.

Um dos aspectos fundamentais dessa transformação é a alteração das estruturas das actuais três Brigadas

que compõem a Força Operacional Permanente do Exército (FOPE), de forma a que se preencha todo o

leque de constituições possíveis – Pesada, Média e Ligeira3. Dessa alteração decorre também a

necessidade de rendibilizar todo o “know-how” existente nas actuais “ditas” Forças Especiais e, face às

limitações existentes, quer económicas, quer de infra-estruturas, quer de pessoal, determinar um diferente

enquadramento para todas estas forças. De facto, também as actuais condições restritivas envolventes têm

por consequência a desactualização do modelo existente para a Brigada Aerotransportada, pelo que

também se impõe a sua reestruturação e adaptação às novas realidades.

Nos tempos actuais, a possibilidade de um rápido emprego das forças militares imediatamente disponíveis

nos locais problemáticos do mundo ganhou um novo impulso, necessidade e significado político-

estratégico. Os conflitos mais recentes, tais como as duas Guerras do Golfo, os massacres inter-étnicos na

ex-Jugoslávia e as chacinas no Ruanda, enormemente mediatizados, espevitaram a consciência

internacional e aumentaram o já crescente sentimento de culpa, por omissão ou inacção contrários aos

benefícios da paz pós guerra fria, das comunidades regionais e internacionais. Tal, por sua vez, provocou o

aparecimento de missões para as forças armadas, mais “consideradas” e de melhor aceitação pela opinião

pública: as de prevenir, ou pelo menos minimizar os conflitos armados. Um velho conceito4 ganhou uma

visibilidade e popularidade acrescidas com o nome de “Forças de Reacção Rápida (FRR)” – “Rapid

Reaction Forces (RRF)”.

Caracterização Genérica da FRR

A Força de Reacção Rápida terá de ser uma força de combate apta a enfrentar um largo espectro de

ameaças e passível de utilização em ambientes operacionais muito diversificados. Como um todo, deverá

poder proporcionar capacidades suficientes para se constituir como uma das unidades de manobra de uma

Divisão ou mesmo Corpo de Exército e, eventualmente, como o Comando ou parte do Comando, num

Teatro Operacional de maior importância; no entanto, dever-se-ão ter em conta as suas limitações neste 3 De facto, com a aquisição e futura atribuição à Brigada Ligeira de Intervenção (BLI) da família de novas viaturas blindadas de

rodas, o “peso” desta GU passará por certo a deixar de ser Ligeiro devendo outrossim ser considerado como Médio. 4 Bem como outros conceitos naturalmente renascidos, como o de forças expedicionárias. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1

A Força de Reacção Rápida âmbito, nomeadamente em protecção, apoio de fogos e apoio de serviços. Acima de tudo, a FRR estará

essencialmente vocacionada para destacar sub-unidades de escalão Agrupamento e Sub-agrupamento para

operações de contingência em menor escala. A sua capacidade de rápida projecção e entrada não

permissiva em qualquer teatro permitir-lhe-á desenvolver operações ofensivas, imediatamente após a sua

entrada, de forma a conter, minimizar, estabilizar ou resolver um conflito, ou então implementar a paz. Em

tempo de paz, a FRR conduzirá os seus programas de treino e aprontamento, dando especial atenção às

questões de racionalização, normalização e interoperabilidade de equipamentos e doutrina com os outros

Ramos e com potenciais aliados ou parceiros de coligação.

Definição do Objectivo de Investigação

Considerou-se importante estabelecer, com coerência e fluidez, os elementos doutrinários base para o

emprego da FRR, em conflitos de carácter assimétrico ou convencional:

Na defesa do TN;

Como componente terrestre numa FRR Nacional (conjunta);

Autonomamente na defesa dos interesses nacionais fora do TN;

Em alianças e coligações, fora do TN e em qualquer “faixa” do espectro de conflitos.

Do Conceito

O Conceito de Emprego da FRR aqui desenvolvido é um conceito experimental, carecendo de validação

em exercícios e em operações. Pretende constituir-se como uma referência de “como fazer”, de acordo

com a arte e ciência da guerra, e não como um mero arrolamento de capacidades existentes ou a

desenvolver nas suas unidades constituintes. Não define nem pormenoriza, consequentemente, detalhes

práticos. Produto sempre inacabado, após uma validação inicial deverá sujeitar-se a um processo

incremental e iterativo de aperfeiçoamento ao longo do tempo, respondendo à experiência adquirida e à

evolução tecnológica, organizacional, táctica e político-estratégica.

O presente conceito está fundamentalmente articulado e desenvolvido com base na força tipo (um dado

essencial), sem deixar de se interrelacionar com as missões tipo – desde as operações de apoio à paz até

aos conflitos convencionais de alta intensidade – e com o ambiente operacional.

Metodologia

O percurso metodológico iniciou-se através da realização de uma pesquisa bibliográfica e documental

sobre forças de reacção rápidas estrangeiras.

Identificou-se, em seguida, a questão central que serviu de guia para a investigação:

Como empregar uma FRR num ambiente operacional em que as ameaças mais prováveis

assumem um carácter difuso e múltiplo, onde o assimétrico poderá conviver simultaneamente com

o convencional?

Perante esta questão central, e tendo em atenção os meios existentes ou passíveis de obter a curto prazo,

identificaram-se algumas questões derivadas:

Que missões irá cumprir e como?

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 2

A Força de Reacção Rápida Qual a organização a adoptar?

Qual a composição e capacidades inerentes?

Que especificidade organizacional, técnica ou táctica, poderá potenciar e optimizar a experiência

adquirida nos TO africanos e nas missões de apoio à paz?

Quais as consequências resultantes a nível doutrinário, organizacional, instrução e treino?

Retomou-se então a pesquisa bibliográfica e documental, não só de documentos de organizações

internacionais, alguns deles classificados, como também de artigos académicos nacionais e estrangeiros e

trabalhos de think tanks europeus, africanos, australianos e norte-americanos. Como complemento deste

instrumento de investigação, entrevistou-se o Chefe da Divisão de Planeamento e Programação do EME e

Sub-CEME interino, que tinha estado na génese do tema proposto e que pôde transmitir as questões

fundamentais que esperava ver tratadas, clarificando simultaneamente os conceitos e ideias que presidiram

à introdução deste novo elemento no Sistema de Forças do Exército.

Estrutura e Conteúdo do Trabalho

O trabalho está estruturado numa sequência que se considera lógica para dar resposta à questão central.

Após a introdução, dedica-se o segundo capítulo à análise conceptual do que tem sido a evolução recente

da conflitualidade, à percepção das ameaças a Portugal e ao enquadramento das alianças em que o nosso

País se insere, em matéria de segurança e defesa. No terceiro capítulo, descrevem-se possíveis linhas de

orientação para a constituição da Força e apresenta-se uma estrutura tipo com a pormenorização dos

principais componentes e das suas capacidades em termos operacionais. No quarto capítulo, procura-se

dar resposta à questão central, individualizando-se, nas suas linhas gerais, um conceito de emprego para a

Força descrita no capítulo anterior. O trabalho termina com a apresentação de conclusões e as

recomendações daí decorrentes, entendidas como adequadas ao objecto do presente estudo e dentro das

limitações de espaço e de tempo para ele consideradas.

22 –– CCOONNFFLLIITTUUAALLIIDDAADDEE EE AALLIIAANNÇÇAASS.. AAMMEEAAÇÇAASS AA PPOORRTTUUGGAALL “... na realidade, as alianças não são mais do que casamentos de conveniência e que tendem a dissolver-se na ausência de uma ‘finalidade geral’ claramente reconhecida.”

William Tow5

a. A Actual Conflitualidade Mundial

A queda do Muro de Berlim, em 1989, materializou o fim da Guerra Fria. Foi uma Guerra prolongada,

que se dirimiu durante mais de quarenta anos entre dois blocos, cada um deles liderado pela sua

superpotência. Foi, também, uma Guerra sustentada por uma capacidade nuclear que punha em causa, se

utilizada, a própria Humanidade. Conscientes dessa realidade, os líderes das duas superpotências

preocuparam-se em manter um baixo nível de confrontação directa, tendo reservado a guerra quente para

as áreas de interesse geoestratégico mundial em disputa. Assim sucedeu na Coreia, no Vietname e em 5 TOW, William T.: The United States in Northeast Asia. The future of alliances, Paper prepared for IRAPRU (UQ)-ASPI

workshop ‘Northeast Asian Security: Policy Challenges for Australia’ Customs House, Brisbane, 17-18 October 2003, p. 2, acedido em 12Ago04.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 3

A Força de Reacção Rápida África, para citar apenas as guerras ou confrontações mais significativas.

A previsibilidade foi uma das características marcantes da Guerra Fria. Previsibilidade na repartição do

trabalho estratégico, na evolução e aplicação das doutrinas, nas ameaças, na gestão das crises, na

possibilidade de empenhamento militar efectivo, na própria sucessão e personalidade dos líderes. Foi, em

suma, um período de “espada de Damócles” que sempre pendeu sobre a cabeça dos ameaçados sem

jamais ter chegado a cair.

O fim da Guerra Fria levou alguns analistas a vaticinar o fim da História6, esta entendida como o processo

evolutivo das sociedades humanas. Segundo eles, a derrota do comunismo perante a democracia liberal

constitui a demonstração cabal que esta é a forma final de governo humano, não havendo lugar a mais

nenhuma evolução. Coincidente com a ideia de alguns pensadores do passado7, muitos chegaram a prever

que esta situação de liberdade e igualdade política e económica acarretaria a redução progressiva dos

conflitos até se atingir o estádio final de não-guerra.

Contudo, a realidade demonstrou o inverso. Após a queda do Muro de Berlim, o número de conflitos

aumentou, bem como o seu poder destrutivo e alcance. Por exemplo, no respeitante a baixas de civis

verificadas na segunda metade do século XX, a respectiva percentagem foi aumentando progressivamente

de 52% nos anos sessenta, para 73% nos anos setenta, para 85% nos anos oitenta, até se atingir 95% no

final do século8.

Na busca das razões para esse aumento de conflitualidade, qualquer cidadão mais atento diria que o

sistema internacional passou a ter uma única superpotência; que a confrontação Leste-Oeste deu lugar à

confrontação Norte-Sul; que a globalização diluiu o conceito tradicional de fronteira e associou-lhe novos

conceitos; que os conflitos têm sido mais intra-estados e menos inter-estados; e que têm emergido novas

ameaças e riscos difusos, de que o maior expoente é o terrorismo transnacional. Atrever-nos-íamos a

resumir a situação em quatro “ismos”: unilateralismo, nacionalismo, transnacionalismo e terrorismo. O

unilateralismo advém da posição de supremacia e, sobretudo, da postura dos EUA no xadrez mundial, por

muitos já apelidada de “Estado Imperial”. O nacionalismo catalisa estados de tensão entre comunidades

diferentes sob os pontos de vista étnico, religioso, sócio-cultural ou económico, conduzindo a guerras,

sobretudo no interior dos Estados (de que exemplos marcantes são a Bósnia, o Ruanda, a Chechénia e o

Kosovo, para só citar alguns). O transnacionalismo consubstancia-se na globalização, que permite o

acesso e a partilha de bens, capitais, serviços e informação de e para qualquer parte do mundo, muitas

vezes de uma forma quase imediata, mas que origina lutas por recursos naturais e matérias-primas,

competição económica desenfreada, degradação ambiental, migrações das zonas pobres do Sul para as

zonas ricas do Norte, bem como agudização de ódios e tensões, pela percepção e acentuação das

assimetrias existentes. Por fim, o terrorismo: é a face mais proeminente e preocupante – muito

tragicamente visível no 11 de Setembro de 2001 e no 11 de Março de 2004 – das novas ameaças, onde

6 FUKUYAMA, Francis: O Fim da História e o Último Homem, Gradiva, Lisboa, Setembro de 1992. 7 Entre os quais Kojève, discípulo de Hegel, que defendeu esta linha de pensamento, em contraposição ao seu mestre. 8 Fonte: PEACE PLEDGE UNION, Great Britain. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 4

A Força de Reacção Rápida também pontificam a proliferação de armas de destruição em massa, o crime organizado e as decorrências

de Estados párias ou do fenómeno de desestruturação dos Estados.

O mundo está, portanto, perante a realidade por muitos já classificada de “nova conflitualidade”, mas onde

os fenómenos apontados não são novos. Já houve situações na História de uma única grande potência

mundial. Sempre existiram aspirações nacionalistas no interior de Estados. A globalização começou a ser

desenhada nos finais dos anos oitenta do século passado. O terrorismo também não é um fenómeno novo.

Pese embora o “terrorismo do novo tipo” se distinga do “terrorismo tradicional” pelo seu impacto

estratégico, potenciado pela utilização de violência em larga escala e pela capacidade de actuação a nível

global. O que, de facto, diferencia a “nova” da “velha” conflitualidade são os modus faciendi. A

superpotência mundial tem capacidade para gerir, conduzir, sustentar e vencer guerras prolongadas e de

modo inteiramente independente, bem como de impor a sua vontade perante a impassibilidade forçada das

demais nações. Os fenómenos nacionalistas sobrepuseram-se à lógica de um Estado uno e indivisível, e

conduziram a guerras ou a extremismos revestidos de grande violência, em particular os

fundamentalismos islâmicos. A globalização levou os Estados a repensar toda a lógica da defesa dos seus

“santuários” territoriais, na medida em que os recursos neles existentes e por vezes também já uma parte

significativa da massa humana, poderão já não ser exclusivamente nacionais. O terrorismo transnacional

demonstrou que nada está imune à sua acção e que, mesmo podendo ser considerado como uma ameaça

externa por uma nação, esta está sujeita à emergência do terrorismo do exterior para o seu interior. Daí a

actual discussão que se verifica, sobretudo em Portugal, em torno do papel das Forças Armadas, cuja

missão fundamental é “assegurar a defesa militar da República contra qualquer agressão ou ameaça

externas” 9.

Na procura de antever qual será a evolução previsível das capacidades militares dos principais actores

internacionais neste ambiente de nova conflitualidade, um estudo realizado pelo Jane's Information

Group10 conclui que os EUA irão manter o seu predomínio e serão o único Estado capaz de projectar

poder ao nível global até por volta de 2030, ano em que a China e a UE provavelmente se lhes juntarão.

Também por essa altura a Índia e o Japão poderão já deter uma capacidade multi-regional análoga à

actualmente usufruída quer pela Grã-Bretanha quer pela França. Parece ser consensual a opinião que

muito dependerá dos resultados obtidos pelos EUA, no curto e médio prazos, na condução da war on

terror11.

b. As Organizações Internacionais, as Alianças e Coligações na Prevenção e Resolução dos

Conflitos

A guerra é considerada a ultima ratio para a resolução de conflitos. Adriano Moreira relembra que a

guerra materializa uma subida aos extremos, pois “não é fácil encontrar um problema que a guerra tenha

9 Art.º 9.º da Lei n.º 29/1982, de 19 de Dezembro, Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas. 10 Jane's Information Group, “Estudo sobre Capacidade Militar Relativa”, Agosto de 2002.

11 War on terror – política “oficial” dos EUA de combate directo ao terrorismo, que se iniciou com as acções militares no Afeganistão, em 2002.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 5

A Força de Reacção Rápida resolvido, nem uma guerra em que os dividendos da paz compensem o preço sofrido por todos os

intervenientes”12. Já há mais de 2.000 anos Sun Tzu havia observado que “vencer o exército adversário

sem o combater é o apogeu da arte”13. Este ilustríssimo pensador aflorou a acepção tradicional da

diplomacia, que se define como a arte de convencer sem empregar a força. Mas não se trata da diplomacia

pura, porque esta só existe quando têm lugar relações de cooperação e acomodação. “A acção diplomática

recorre, em maior ou menor grau, a formas de pressão (económica, psicológica ou de outra natureza), pelo

que o que na realidade então existe é uma estratégia diplomática”14.

A Organização das Nações Unidas (ONU)

No capítulo da prevenção dos conflitos ou, sob outro ponto de vista, da estratégia diplomática, a ONU

tem, por definição, um papel destacado, uma vez que o seu principal objectivo é a manutenção da paz. “O

fim da Guerra Fria implicou um regresso do mundo à ONU, talvez porque era a única fonte de

legitimidade sobrevivente para buscar uma resposta aos conflitos que se multiplicam em todas as áreas.”15

A realidade, porém, é que a ONU tem tardado em afirmar-se como uma verdadeira gestora das crises

internacionais. No capítulo da intervenção directa em conflitos foi claramente impotente, para não dizer

humilhada, na Bósnia, no Camboja, na Somália e no Ruanda. A declaração ratificada por 151 Chefes de

Estado na Cimeira do Milénio, em Setembro de 2000, visando dar às operações de manutenção de paz das

Nações Unidas meios e condições que retirassem aos capacetes azuis a imagem de tropa ineficaz

dificilmente foi posta em prática.16 Mesmo na parte que advém da sua legitimidade como fórum de

diálogo e ponto de encontro para a resolução de diferendos entre as nações, a ONU viu a sua credibilidade

ferida, primeiramente pela intervenção da OTAN no Kosovo, em 1999, que obrigou a uma Resolução do

Conselho de Segurança a posteriori, mas sobretudo pela intervenção dos EUA e do Reino Unido no

Iraque, em 2003. Tendo considerado ilegítima esta ofensiva militar por ausência de consenso

internacional, a ONU foi sendo ultrapassada pelos acontecimentos, a ponto de se ver obrigada a respaldar

acções ulteriores, através de resoluções habilmente negociadas pelos EUA. Hoje em dia, a percepção

generalizada é que a ONU intervém numa determinada crise apenas em segunda instância, ou seja, por

ausência de interesse da superpotência mundial ou quando por esta é instada a intervir e esteja garantido o

não-veto pelos outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança. Contudo, a esta percepção

contrapõe-se, por exemplo, a do Embaixador Santa Clara Gomes, quando refere que “as Nações Unidas

não são um substituto para os equilíbrios clássicos de poder, mas têm uma função de segurança

fundamental. Por outras palavras, são um instrumento muito importante do poder.”17

As Alianças e Coligações

A constituição e a natureza de alianças e coligações, e os seus desaparecimentos, têm a ver com os 12 MOREIRA, Adriano, Teoria das Relações Internacionais, Almedina, Coimbra, 1997, p. 85 13 SUN TZU, A Arte da Guerra, Publicações Europa-América, Mem Martins, p.18 14 COUTO, Abel C., Elementos de Estratégia, Vol. I, IAEM, Lisboa, 1988, p.81 15 MOREIRA, Adriano, op. cit., p. 511 16 Houve, no entanto, uma missão em que a ONU reagiu de forma clara a acções violentas por parte de forças hostis. Na missão da

UNTAET, em Timor Leste, 3 elementos de grupos hostis foram mortos pela força de paz da ONU, no período de Fevereiro de 2000 até finais de Outubro do mesmo ano.

17 GOMES, Embaixador Gonçalo Santa Clara: Entrevista ao Diário Económico, edição de 27Jan05. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 6

A Força de Reacção Rápida (des)interesses comuns das partes18. No capítulo militar, as nações poderão agrupar-se segundo dois tipos

de estruturas militares multinacionais19: as alianças, em que o objectivos a atingir são variados e se

estendem por um horizonte temporal alargado, e as coligações, nas quais predomina em regra um

objectivo militar particular, a ser atingido num curto espaço de tempo, após o que são dissolvidas. São os

interesses, e a possível ameaça a estes, que ditam a existência das alianças ao nível das relações

internacionais20, sendo qualquer outro motivo resultante de ingenuidade ou de artifícios de retórica21.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

As alterações profundas ocorridas com o fim da Guerra Fria, nomeadamente a implosão da máquina

militar soviética e a consequente dissolução do Pacto de Varsóvia, conduziram alguns analistas a vaticinar

a dissolução da OTAN por ausência de contendor. Contudo, a OTAN foi rápida a demonstrar o seu

dinamismo. Em primeiro lugar, com a alteração do seu conceito estratégico, em 1991, introduzindo a

possibilidade de intervenção out of area, que ocorreu pela primeira vez na Bósnia-Herzegovina, em 1995.

Depois, com a implementação da Parceria para a Paz (PfP), visando a aproximação progressiva aos ex-

países de Leste, e com a evolução do conceito Combined Joint Task Force (CJTF), conferindo capacidade

efectiva e flexibilidade para as intervenções out of area. Em 1999, nova actualização do conceito

estratégico, adesão de 3 novos membros e intervenção decisiva para o fim das hostilidades no Kosovo. Na

sequência do 11 de Setembro de 2001, e ao abrigo do Artigo V, a OTAN cerrou fileiras com o seu mais

proeminente membro num objectivo comum jamais visto desde a queda do Muro. Seguiu-se o apoio à

intervenção no Afeganistão. Porém, em 2003, verificou-se uma fractura nítida na coesão da OTAN, em

resultado das posições antagónicas relativas à intervenção anglo-americana no Iraque. Aparentemente

recomposta, a OTAN viria a adquirir nova dinâmica com a adesão, em 2004, de 10 novos membros. Hoje

em dia, é inegável que a OTAN é o principal garante da segurança e da estabilidade euro-atlânticas. O seu

sucesso foi e é visível na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo e no Afeganistão. Resta o Iraque, onde ainda

não foram reunidas condições para uma intervenção da OTAN, sobretudo pela oposição desde sempre

demonstrada pela Alemanha e também pela posição recente da Espanha, de retirar os seus efectivos

militares presentes naquele Teatro. Outra prova da vitalidade da OTAN está também patente na profunda

reorganização que empreendeu a partir de 2003 e que, no capítulo da sua capacidade efectiva de

intervenção, consagrou a materialização progressiva da NATO Response Force (NRF). Quando

definitivamente constituída, com os seus cerca de 21.000 efectivos, será uma força com alto grau de

prontidão, credível e robusta, com a capacidade de se projectar rapidamente como e onde requerido pelo

Conselho do Atlântico Norte para participar no espectro completo das missões OTAN22.

18 MENON, Rajan, New Order: The End of Alliances, Los Angeles Times, March 02, 2003, acedido em 12Ago04. 19 FM 100-8, The Army in Multinational Operations, US Army, 1997. 20ADMIRE, John H., Transforming Coalition Warfare with Network Centric Capabilities, Ninth International Command and Control

Research and Technology Symposium Coalition Transformation: An Evolution of People, Processes & Technology to Enhance Interoperability 14-16 September 2004--Copenhagen, Denmark, Evidence Based Research, Inc. 1595 Spring Hill Road, Suite 250 Vienna, Virginia 22182-2216, p.3, acedido em 12Ago04.

21 LAGASSÉ, Philippe, Specialization And The Canadian Forces, Occasional Paper No. 40, 2003, The Norman Paterson School of International Affairs, Carleton University, 1125 Colonel By Drive, Ottawa, Ontario, K1S 5B6, p.30.

22 NATO – Military Decision on MC 477, Military Concept for the NATO Response Force, p. 4. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 7

A Força de Reacção Rápida A União Europeia (UE)

Acontecimentos ocorridos na década de 90 do século passado puseram a nu a incapacidade da UE na

gestão de crises e na projecção de forças. Em primeiro lugar, porque jamais houve uma posição comum

europeia em relação a uma determinada crise ou conflito, vide a Bósnia-Herzegovina, a Albânia e o

Kosovo. Em segundo lugar, por manifesta incapacidade e falta de empenho dos países europeus para um

projecto militar conjunto.

Uma das lições aprendidas dos Balcãs foi a percepção, por parte da UE, da necessidade de

desenvolvimento das suas capacidades de intervenção. Também as dificuldades sentidas pelos elementos

da coligação interveniente na 1ª Guerra do Golfo, nomeadamente pela França e pelo Reino Unido23,

foram um claro aviso das limitações dos dois países e influenciaram as respectivas políticas de defesa.

Quando da Cimeira de St. Malo, em 1998, foram, justamente, o Presidente da França e o Primeiro

Ministro do Reino Unido os impulsionadores do nascimento de uma política de defesa da UE,

posteriormente apelidada oficialmente de Política Europeia de Segurança e Defesa (ESDP - European

Security and Defence Policy), na Cimeira de Colónia, de Junho de 1999. Em Dezembro desse mesmo ano,

no Conselho Europeu de Helsínquia, foi estabelecido o objectivo de criar uma Força de Reacção Rápida

da UE composta por 60.000 elementos24, com capacidade de ser projectada no prazo máximo de 60 dias.

O prazo limite previsto para a efectiva criação dessa Força de Reacção Rápida Europeia foi o fim de

2003. Esta meta não foi atingida, sobretudo porque se verificaram visíveis lacunas em capacidades

consideradas essenciais, designadamente em transporte e informação estratégicos. Apenas a França e o

Reino Unido possuem alguma capacidade de projecção de forças, embora limitada e mais ajustada às suas

necessidades particulares, por via das suas responsabilidades como ex-potências coloniais. São exemplo as

intervenções da França no Zaire e no Chade e do Reino Unido nas Falklands.

Desde cedo, a UE tomou consciência que as exigências do cenário estratégico actual fazem apelo a forças

expedicionárias capazes de intervirem rapidamente em qualquer lugar do mundo, com organização,

estrutura e equipamentos mais leves e maior capacidade C4IVR25. Por isso, a UE entendeu dar corpo a

elementos de intervenção rápida, que denominou battle groups e que são forças de escalão Batalhão ou

Agrupamento com cerca de 1.500 efectivos, dotadas de apoio de combate e de apoio de serviços, bem

como de capacidade de projecção e sustentação, vocacionadas essencialmente para o cumprimento das

23 CORDESMAN, Anthony H., CHAIR, Arleigh A. Burke, in Strategy, The Gulf and Transition US Policy Ten Years After the

Gulf War: The Challenge of Providing USCENTCOM and US Power Projection Forces with Adequate Capabilities, Center for Strategic and International Studies 1800 K Street N.W., Washington, DC 20006, (202) 775-3270, Revised October 16, 2000, acedido 13Ago04, p.41.

24 Member States have set themselves the headline goal by the year 2003, cooperating together voluntarily, they will be able to deploy rapidly and then sustain forces capable of the full range of “Petersberg Tasks” as set out in the Amsterdam Treaty, including the most demanding, in operations up to corps level (up to 15 brigades or 50,000-60,000 troops). These forces should be militarily self-sustaining with the necessary command, control and intelligence capabilities, logistics, other combat support services and additionally, as appropriate, air and naval elements. Member states should be able to deploy in full at this level within 60 days, and within this to provide smaller rapid response elements available and deployable at very high readiness. They must be able to sustain such a deployment for at least one year. This will require an additional pool of deployable units (and supporting elements) at lower readiness to provide replacements for the initial forces. – Presidency conclusions, Helsinki Summit, 10-11 December 1999).

25 GÄRTNER, Heinz, Senior Researcher, Austrian Institute for International Affairs, European Security: The End of Territorial Defense, Winter/Spring 2003 – Volume IX, Issue 2 , p. 137

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8

A Força de Reacção Rápida chamadas “Missões de Petersberg”. São forças destinadas a uma primeira intervenção num teatro de

operações, criando as condições para a entrada de forças subsequentes. A UE pretende tornar efectivos

estes battle groups a partir de 2007, a fim de atingir um novo objectivo, apelidado de Headline Goal 2010.

Sublinhe-se que, apesar de tudo, a UE já conduziu duas operações de modo autónomo, a primeira na

Macedónia, em Março de 2003 (Operação Concórdia)26, mas utilizando meios e capacidades da NATO, e

a segunda, esta sim completamente autónoma, na República Democrática do Congo, em Junho de 2003

(Operação Artemis)27. A partir de 1 de Dezembro de 2004 a UE passou a ser responsável pela operação de

paz na Bósnia-Herzegovina, empenhando a EUFOR, força herdeira da SFOR com cerca de 7.000

efectivos.

Pode afirmar-se que a UE caminha para a sua afirmação no capítulo militar. Mas fá-lo timidamente, seja

porque as operações que conduz de forma autónoma são de pequena envergadura ou têm pouco impacto

mediático, seja porque recebe o testemunho da OTAN, essa sim a verdadeira responsável pela

estabilização e consolidação da situação.

As coligações

Para citar de memória um exemplo evidente de coligação torna-se necessário recuar até 1991, ano da I

Guerra do Golfo. As forças que combateram e venceram as forças iraquianas provinham de 38 países

ocidentais e árabes, que se congregaram no propósito comum de restabelecer a ordem e a soberania no

Koweit, expulsando as forças iraquianas do seu território. Também para travar a II Guerra do Golfo foi

constituída uma coligação, embora com um número reduzido de países, sob a liderança dos Estados

Unidos e com a Grã-Bretanha como parceiro principal. Ambas as situações são exemplos de associações

de dois ou mais países que têm por principal objectivo atingir um objectivo militar particular num curto

espaço de tempo. Estes dois elementos – objectivo militar e duração breve – indiciam que as coligações

são constituídas para operar fundamentalmente na esfera do conflito convencional, onde é determinante a

minimização do desgaste em meios humanos e materiais.

O “Estado Imperial”

Esta abordagem não poderia deixar de ser feita, ainda que de modo breve. A actual ordem internacional

evidencia a existência de um país – os EUA – visivelmente preponderante sobre os demais países. Não só

porque é o mais evoluído de todos em termos económicos, tecnológicos, educacionais e de investigação

de ponta, mas sobretudo porque é detentor da mais eficiente máquina militar do planeta. Significa apenas

isto: os EUA são o único país capaz de planear, iniciar e sustentar um conflito militar prolongado, em

qualquer parte do mundo, de forma totalmente autónoma. Pode-se afirmar que a sua postura recente tem

sido essa, reflectindo uma clara tendência para o unilateralismo, percepcionada por muitos analistas como

uma verdadeira afirmação de “Estado Imperial”, que sobrepõe a sua vontade à de todos os restantes

26 AAVV: European defence. A proposal for a White Paper. Report of an independent Task Force, Institute for Security Studies,

European Union, Paris, May 2004, p. 63

27 KEOHANE, Daniel: EU defence policy: Beyond the Balkans, beyond peacekeeping? published: 1 July 2003, acedido 12Ago04. KUCHEIDA, M.: Les forces terrestres européennes projetables – Réponse au rapport annuel du Conseil, Document A/1857, 2 juin 2004, acedido a 12Ago04.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 9

A Força de Reacção Rápida Estados.

O papel de Portugal

Saído de um conflito prolongado de 13 anos em África, a que se seguiram anos de consolidação política e

económica, bem como de reestruturação da sua estrutura da Defesa Nacional, Portugal soube adaptar-se e

responder afirmativamente às solicitações de âmbito militar provenientes dos países aliados e amigos.

Sobretudo a partir da década de 90 do século passado, cumpriu missões sob a égide das Nações Unidas

(designadamente na Bósnia-Herzegovina, entre 1991 e 1995; em Moçambique, em 1994; em Angola,

entre 1994 e 1996; em Timor, entre 2000 e 2004). Tem tido também grande relevância a participação de

forças militares portuguesas sob a égide da OTAN na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo e no Afeganistão.

Adicionalmente, Portugal cumpriu missões no quadro da União Europeia (Missão de Monitores da

Comunidade Europeia, na Bósnia Herzegovina, em 1992 e em 2000). Portugal desencadeou, ainda, no

âmbito dos seus interesses próprios, três operações autónomas de resgate de cidadãos nacionais em África,

no Congo, na Guiné Bissau e no Zaire. No total, desde 1990 foram já empenhados no exterior do território

nacional, em operações de paz e de gestão de crises, 43 Batalhões/Agrupamentos e mais de 15 mil

militares do Exército e cerca de 5 centenas da Marinha.

c. As Ameaças a Portugal

Os Conceitos Estratégicos de Defesa Nacional e Militar

O edifício conceptual e estrutural da Defesa Nacional e das Forças Armadas envolve etapas contínuas e

sequenciais, de que a primeira é a (re)definição do Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN),

seguindo-se-lhe o Conceito Estratégico Militar (CEM). Numa perspectiva lógica, estes documentos

devem identificar as ameaças que se colocam a Portugal, permitindo partir delas para a definição das

Missões das Forças Armadas, do Sistema de Forças e do Dispositivo, por esta ordem. “Os níveis de

ameaças têm impacto quer nas tarefas atribuídas às forças armadas, quer no que se gasta com elas. Os

níveis de ameaças são também tomados em conta para a estruturação das forças, o que vai além das meras

capacidades para defender o território.”28

Da leitura do CEDN – documento aprovado pelo Governo em 20 de Dezembro de 2002 – podem extrair-

se as seguintes ameaças relevantes: agressão armada ao território, à população, às Forças Armadas ou ao

património; terrorismo, nas suas variadas formas; desenvolvimento e proliferação não regulados de

armas de destruição maciça, de natureza nuclear, radiológica, biológica ou química; crime organizado

transnacional (tráfico de pessoas e de droga e imigração ilegal) e atentados ao ecossistema.

Da leitura do CEM – documento confidencial, datado de 15 de Janeiro de 2004 – retiram-se as seguintes

ameaças: ataque militar directo contra o território nacional, emergência de “Estados párias”29,

proliferação de armas de destruição em massa; terrorismo transnacional; crime organizado (tráfico

de pessoas e de droga); fluxos migratórios desregulados; acções de rotura no aprovisionamento de

28 LAGASSÉ, Philippe, op. cit., p.9

29 E também os Estados falhados ou resultantes do fenómeno de desestruturação dos Estados, que podem levar outros Estados a desencadear operações de evacuação de cidadãos não combatentes, seus e/ou de países amigos.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 10

A Força de Reacção Rápida recursos vitais e atentados ecológicos.

É óbvio que as ameaças constantes no CEM coincidem com as enunciadas no CEDN, porque o primeiro

dimana deste. Procurar identificar outras ameaças constituiria um exercício puramente académico com

resultados discutíveis, pois a elaboração dos citados conceitos foi cuidadosa, participada e abrangente. No

entanto, poderemos tentar classificar as ameaças segundo dois critérios distintos: o primeiro, distinguindo

ameaças próprias e ameaças partilhadas; o segundo, fazendo a destrinça das ameaças segundo o tipo de

forças envolvidas e a sua tecnologia.

As ameaças partilhadas estão relacionadas com os compromissos de Portugal em relação às organizações

de que é membro, designadamente a ONU, a OTAN e a UE30. As ameaças próprias são as que impendem

directamente sobre Portugal e que, quando concretizadas, devem ser enfrentadas e resolvidas de modo

autónomo. Afigurando-se óbvio que, hoje em dia, a maioria das ameaças podem ser consideradas

partilhadas, as ameaças próprias consistirão no ataque militar directo ao território nacional (pelo menos

até ao momento do accionamento dos mecanismos das alianças), ameaças transnacionais, incluindo o

terrorismo e o crime organizado transfronteiriço, hoje considerados como os mais prováveis, e a rotura no

aprovisionamento ou no acesso a recursos vitais.

A classificação das ameaças segundo o tipo de forças envolvidas e a sua tecnologia é uma abordagem

inovadora que se encontra sustentada em documentação australiana31. Segundo esta abordagem, as

ameaças são de três tipos: forças convencionais de baixa-média tecnologia, com possibilidade de inserção

de alta tecnologia; forças irregulares de baixa tecnologia, com possibilidade de ameaças de alta tecnologia

visando interesses nacionais e a sociedade civil; e forças de pequena massa dotadas de alta tecnologia.

Poder-se-á considerar que o ataque militar directo contra o território nacional configura uma ameaça do

primeiro tipo e que as restantes se enquadram no segundo tipo. De momento, não estão identificadas

ameaças a Portugal do terceiro tipo.

Probabilidade de ocorrência das ameaças

Definidas as ameaças nos documentos conceptuais de base, haverá que analisá-las sob o ponto de vista da

sua probabilidade de ocorrência. O ataque militar directo contra o território nacional é uma ameaça de

muito baixa probabilidade de ocorrência.32 A proliferação de armas de destruição em massa e as acções de

rotura no aprovisionamento de recursos vitais poderão ser consideradas de baixa a média probabilidade de

ocorrência. As restantes ameaças serão de elevada probabilidade de ocorrência ou, pode mesmo dizer-se,

estão já a ter lugar: os Estados párias estão identificados e destacam-se pela forma como agem sem

respeitarem quaisquer regras; o terrorismo transnacional, que não conhece fronteiras e que por vezes

aparece conectado com o crime organizado, tem sido referenciado pelo extremo grau de violência das suas

acções mais recentes; o tráfico de pessoas e de droga, assim como os fluxos migratórios desregulados, são

30 Sobre a necessidade, génese e construção dum conjunto europeu de forças multinacionais, algumas de que Portugal integra, vide

FONSECA, Tenente-Coronel José Nunes da: Forças Multinacionais Europeias: Realidades e Perspectivas, Revista Militar, nº 2365/2366 – Fevereiro/Março de 1999, pp. 663-711

31 Army Vanguard Concept MOLE (Manoeuvre Operations in the Littoral Environment), Australian Army, http://www.army.gov.au32 Conceito Estratégico Militar, parágrafo 4.a. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 11

A Força de Reacção Rápida uma realidade que visa e tem sobretudo lugar nos países desenvolvidos ou de maior poder económico e

financeiro; os atentados ecológicos ocorrem nas zonas mais desguarnecidas dos espaços de soberania.

Verifica-se, pois, que o leque de ameaças mais prováveis que Portugal enfrenta é complexo, imprevisível e

de possível ocorrência simultânea.

As ameaças a Portugal e a sua capacidade de reacção rápida

Cumprindo os preceitos constitucionais, Portugal concretiza uma capacidade de resposta rápida, na

perspectiva de actuação em qualquer parte do território nacional e, justificando-se, além-fonteiras.33 A

opção de Portugal dispor desta capacidade foi clara. Importa, portanto, aquilatar quais as ameaças para as

quais estará mais vocacionada.

Em primeiro lugar, o termo “rápida” pressupõe prontidão, o que significa para fazer face a uma ameaça de

contornos bem definidos. Apenas o ataque militar directo convencional possui estas características, pelo

que seria redutor ter forças de resposta rápida para enfrentar exclusivamente uma ameaça de tão baixa

probabilidade de ocorrência.

Em segundo lugar, o termo “rápida” pressupõe curto tempo de reacção até à intervenção. Pode-se afirmar

que todas e cada uma das ameaças levantadas, quando concretizadas, podem justificar a actuação de forças

de resposta rápida.

Em terceiro lugar, o termo “rápida” pressupõe ligeireza e flexibilidade de emprego, quer no transporte e

mobilidade, quer nas modalidades de intervenção. Neste âmbito podem ser enquadradas as ameaças

associadas aos Estados párias, ao fenómeno de desestruturação dos Estados, ao terrorismo transnacional e

ao crime organizado.

Em suma, uma força de resposta rápida portuguesa deverá estar apta a fazer face ao amplo espectro das

ameaças que Portugal enfrenta, para o que deverá possuir elevado grau de prontidão, curto prazo de

disponibilidade, grande mobilidade estratégica e adequada flexibilidade de emprego.

33 –– A FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITOA FORÇA DE REACÇÃO RÁPIDA DO EXÉRCITO Aprender sem pensar é trabalho perdido; pensar sem aprender é perigoso.

Confúcio

a. Pressupostos e Linhas Orientadoras

Pressupostos

Neste trabalho há a considerar três pressupostos fundamentais. O primeiro: o Exército manterá, com todas

as suas implicações (sobretudo materiais), a valência pára-quedista das suas forças. O segundo: entende-se

vantajoso agregar todas as “ditas” forças especiais sob um só comando. O terceiro: a FRR a criar terá,

logo que possível, um empenhamento real, de preferência na variante de um conflito de menor

intensidade. Esse empenhamento será efectivo em função do conceito agora expresso, que deverá ser

validado de acordo com os parâmetros actualmente considerados como referência ao nível da NATO:

33 Conceito Estratégico de Defesa Nacional, parágrafo 8.2. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 12

A Força de Reacção Rápida doutrina, organização, instrução, material, liderança, pessoal e infra-estruturas (doctrine, organization,

training, materiel, leadership, personnel, and facilities – DOTMLPF). Esta validação deverá permitir

determinar se a FRR é uma força efectivamente capaz e operacional e, portanto, de acordo com a visão e

objectivos que norteiam a actual transformação do Exército.

Definição de Reacção Rápida

O conceito de reacção rápida é passível de muitas interpretações e, a não ser que fique desde logo

claramente estabelecido, qualquer FRR estará destinada a operar num ambiente conceptual e de decisão de

emprego de grande confusão e ambiguidade, sendo seguramente mais difícil optimizar a concretização das

expectativas da sua utilização.

Parece óbvio que a definição terá de ser enquadrada em termos de TEMPO e DISTÂNCIA – o tempo até

ao empenhamento terá de ser decidido se será medido em termos de horas, dias, semanas, ou meses desde

o alerta da FRR até ao final da operação; por outro lado, a distância irá seguramente ser medida em termos

de centenas ou milhares de quilómetros desde a base de partida ou da base avançada até ao local alvo.

Tomando em conta a posição e descontinuidade geográfica do nosso País, a diáspora e os nossos

interesses, originando distâncias a percorrer provavelmente de elevada grandeza, e também que, no

destino, as infra-estruturas de entrada e de apoio poderão estar incapazes ou mesmo nem existir, qualquer

FRR, para ser viável, terá de possuir a inerente capacidade de poder ser empenhada em questão de

horas a distâncias que poderão ir até aos milhares de quilómetros, como claramente ficou

demonstrado no exercício “Central Asian Battalion 97” onde cerca de 500 pára-quedistas da 82ª Divisão

Aerotransportada partiram da base Pope nos EUA, em 14 de Setembro de 1997, percorreram cerca de

8.000 milhas durante 20 horas, com três reabastecimentos aéreos dos C-17 Globemasters III envolvidos no

exercício, para saltarem em Shymkent no Casaquistão. Estes parecem ser os parâmetros que deverão

enquadrar a constituição da FRR a levantar.

Possíveis Tarefas para a Força de Reacção Rápida

Dado que a FRR deverá estar apta a operar a milhares de quilómetros numa questão de horas e tendo em

atenção o expresso anteriormente, quais serão as missões e tarefas que uma tal força poderá ser

normalmente chamada a executar?

Os exemplos históricos abundam e dão-nos algumas referências quanto às possíveis missões. Será,

contudo, essencial para qualquer empenhamento da FRR que este tenha sido sancionado

internacionalmente e que a sua credibilidade seja sustentável. Neste sentido, será preferível a sua actuação

no seio de outras forças da NATO ou UE, com a aprovação da Organização das Nações Unidas ou, no

caso de uma intervenção num País Lusófono, com a aprovação da CPLP, sem descurar em caso limite a

capacidade de intervenção unilateral34 em qualquer TO.

34 Finally, to be effective we must maintain credible operational capability and we must be fit to fight. And when not fighting we must be able to conduct the full range of tasks we are called upon to undertake professionally and effectively. Our forces have to be fully trained, equipped, sustainable, adaptable, agile, responsive and deployable, able to operate anywhere in the spectrum of conflict with or without allies. BOYCE, Admiral Sir Michael: Achieving effect. (Extracted from the Royal United Services

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 13

A Força de Reacção Rápida Uma vez certificada de acordo com parâmetros internacionalmente reconhecidos, a FRR poderá receber

missões e tarefas nas diversas situações ou níveis de conflito ou de guerra. Poderão igualmente ser-lhe

cometidas tarefas dentro de toda a gama de operações de paz, que vai desde a monitorização, passando

pela manutenção até à imposição da paz. No âmbito das operações de paz, uma série de acções poderão ter

lugar, tais como a reposição no poder de um governo legítimo que tenha sido derrubado pela força,

terminar com uma guerra civil e mesmo pôr fim a motins ou outras formas de violência de grupo.

A outra área de actuação em que a FRR poderá ser utilizada será na protecção e salvamento de pessoas,

bens e interesses nacionais que estejam ameaçados noutro País por uma qualquer situação de grande

violência. Neste âmbito, poderá tornar-se necessário libertar reféns e proteger embaixadas, centrais

hidroeléctricas, instalações petrolíferas, complexos industriais e outras estruturas de natureza económica

ou política.

Assim e tendo em vista uma visão global das tarefas que se vislumbram para a FRR, algumas destas são

listadas em seguida:

Operações ofensivas e contra-ofensivas;

Demonstrações de Força;

Reconhecimento e Vigilância Especial;

Operações de Decepção;

Conquista de uma base operacional avançada;

Protecção e operação de uma base operacional avançada;

Protecção e salvamento de pessoas, bens e interesses nacionais que estejam ameaçados noutro País;

Contra-insurreição;

Operações anti-terroristas;

Imposição de Paz; Manutenção de Paz e Monitorização de Paz;

Ajuda humanitária;

Auxílio de emergência e apoio às autoridades civis;

Assistência Militar.

Forças adequadas para a FRR e a sua utilidade colateral

Uma vez assente o que se entende por Reacção Rápida e identificadas as possíveis tarefas da FRR, pode-

se agora raciocinar sobre a forma de estruturar e organizar a Força. A este respeito duas questões

essenciais a ter em conta são:

"Qual(is) o(s) tipo(s) de forças mais adequado(s) para integrar a FRR?"

"Até que ponto o seu pessoal e equipamento podem ser utilizados para tarefas essencialmente não

militares?"

Para começar, nenhuma FRR poderá ser viável se for constituída com base num único Ramo das Forças

Armadas. É um erro vulgar pensar-se numa FRR como uma força exclusiva do Exército, já que nenhuma

Institute Briefing by Admiral Sir Michael Boyce, the UK Chief of the Defence Staff, delivered in December 2002), etsnews, acedido a 28Jan05.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 14

A Força de Reacção Rápida força deste Ramo se poderá deslocar a milhares de quilómetros sem a participação da Marinha ou da

Força Aérea. Por outro lado, só a Força Aérea poderá transportar uma força do Exército a estas distâncias

num prazo de algumas horas.

Portanto, haverá que pensar na forma de incluir a Marinha e a Força Aérea desde o início, levando a que

os Ramos se comprometam numa maior e crescente sincronização dos seus programas da LPM (e.g. no

caso das aeronaves de transporte e do(s) navio(s) polivalente logístico). A isto, junta-se a necessidade de

frequentes treinos conjuntos (e.g. o salto operacional de pára-quedistas, que qualifica não só estes, mas

também as tripulações das aeronaves que os lançam) como elemento fundamental da eficácia operacional

das Forças Armadas. Esta capacidade de actuação inter-ramos pressupõe, além de uma alteração absoluta

de mentalidades consubstanciada numa genuína vontade de mudança, a criação de doutrina, a implantação

de uma efectiva cultura conjunta, e depois, muito trabalho, numa prática intensiva e árdua, em conjunto. A

imputação racional e justa do custo destes exercícios conjuntos terá também um efeito positivo na

percepção mútua das consequências financeiras para o País e Ramos da execução concreta de operações

conjuntas35.

A este respeito, refira-se que, sendo a capacidade e rapidez de projecção da FRR um “must” e, dadas as

reconhecidas vulnerabilidades nacionais em termos de transporte estratégico, essa responsabilidade não

recairá apenas no Comandante da Força, mas antes envolverá as chefias militares a todos os níveis e,

inclusive, os órgãos competentes da Tutela, que deverão manter-se atentos e tomar as medidas necessárias

para assegurar os meios necessários para a colocação da Força, no Teatro de Operações em questão, no

prazo requerido.

Entende-se também que deverá haver representantes dos outros Ramos no QG da Força, ou Oficiais de

Ligação da FRR nos Comandos Operacionais dos outros Ramos (no mínimo, no COFA). Ao comando da

Força deverá ser atribuído comando completo36 sobre as sub-unidades da FRR, o que passa por também

comandar as unidades territoriais onde estiverem aquarteladas (obviamente que naquelas em que

coexistirem actividades de formação, a sua dependência para esse efeito será do Comando da Instrução).

O estado-maior da Força deverá existir em permanência de forma a rotinar tarefas e a integrar-se no seu

meio e internamente, se bem que, por outro lado, muitas das tarefas de comando e controlo devam ser

descentralizadas para as estruturas regimentais onde estão instaladas as sub-unidades da FRR. Só uma tal

acção lhes dará o mais adequado sentido de responsabilidade e o resultante incremento de entusiasmo e

empenhamento nos objectivos a cumprir.

Se bem que o emprego da FRR como um todo seja uma hipótese menos plausível (será muito mais lógico

esperar que o seu empenhamento venha a acontecer por sub-unidades de escalão Agrupamento ou Sub-

35 Embora numa dimensão diferente, mas que é suficientemente elucidativo, poderemos apontar como um exemplo o exercício

denominado Combined Joint Task Force Exercise '96, em que participaram forças dos diversos Ramos dos EUA e do Reino Unido, num efectivo de 53.800 militares e num cenário que envolvia desembarques anfíbios e operações aerotransportadas, teve um custo estimado de $USD 17 e $USD 45 milhões para os EUA e Reino Unido, respectivamente. DORSEY, Jack: 53,800 Personnel to join U.S.-British Maneuvers, The Virginian-Pilot, April 19, 1996, acedido a 22Dec04.

36 Sobre os graus de Comando, de Controlo e Coordenação vide FONSECA, Tenente-Coronel José Nunes da: “O Comando de Forças Terrestres Multinacionais”, Revista Militar, nº 2395/2396 – Agosto/Setembro de 2001, pp. 631-636.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 15

A Força de Reacção Rápida Agrupamento) entende-se que o escalão adequado para a Força será o de Brigada37. Tendo em atenção

mesmo o seu remoto empenhamento como um todo, haverá sobretudo que acautelar as necessidades de

gestão de custos, manutenção, instrução e aprontamento, espírito de corpo, etc.

Aspecto igualmente a considerar, na justificação deste escalão, é a possibilidade de intervenção em duas

situações simultâneas, eventualmente em cenários geopolíticos distintos, com forças de massa crítica ainda

dissuasora – batalhão ou agrupamento – garantindo ainda uma reserva imediata do mesmo escalão.

Atenua-se a possibilidade de uma maior tentação de aproveitamento oportunista por terceiros, se o escalão

for inferior a Brigada e estiver porventura empenhado. Os três batalhões de manobra terrestre possibilitam,

caso dum cenário único, o empenhamento dum Batalhão ou Agrupamento, o aprontamento de um

segundo e a reorganização e reconstituição do terceiro.

Importa salientar, também, que os países que deliberadamente mantêm uma capacidade de intervir fora do

seu território, estabeleceram ou pré-designaram forças específicas para essas missões. Por exemplo, a Grã-

Bretanha designou a 16ª Brigada de Assalto Aéreo38 e a 3ª Brigada Comando para as operações “Fora de

Área”: foram sub-unidades destas formações que garantiram o núcleo da força expedicionária que

retomou as Ilhas Falkland em 1982. A França utiliza a 11ª Divisão Paraquedista para as operações

intervencionistas. Os Belgas têm a sua Brigada Pára-Comando39 especialmente orientada para operações

em África. Mesmo os EUA recorrem aos seus Batalhões Ranger (como no assalto aéreo a Granada em

1983) ou à 82ª Divisão Aerotransportada (como no Panamá em 1989) apoiados por forças dos seus

Fuzileiros Navais (as MEU –Marine Expeditionary Unit), sempre que necessitam de projectar forças

rapidamente numa acção intervencionista. As capacidades de projecção de forças da Índia estão centradas

à volta da sua 50ª Brigada Paraquedista Independente40.

Cabe aqui recordar, como mais um exemplo significativo, a actual reestruturação do Exército do Reino

Unido onde serão desactivados 4 batalhões de infantaria. Um deles, o 1º Batalhão do Regimento de Pára-

quedistas, dará expressamente lugar a um batalhão Ranger (tudo indica que o nome foi escolhido para,

entre outros motivos, evitar confusões com os Royal Marines Commandos). Este batalhão, que será tri-

service, leia-se tri-Ramos, ficará localizado nas vizinhanças do 22 Special Air Service (SAS) Regiment em

Hereford41. Pretende-se que o Batalhão possua a capacidade de intervenção, através do salto em pára-

37 O que vai também ao encontro das modernas correntes doutrinárias americanas. Units of Action are the tactical warfighting

echelons of the Objective Force. For analytic purposes, UAs comprise those echelons brigade and below. Manoeuvre UAs are the smallest combined arms units that can be committed independently. ... Brigades are expected to employ most combat battalions in dispersed yet integrated engagements, while periodically cycling individual units into and out of contact to sustain operational momentum. Military Operations. Objective Force Maneuver Units of Action, TRADOC Pamphlet 523-3-90, Department of the Army Headquarters, United States Army Training and Doctrine Command, Fort Monroe, Virginia, 1 November 2002, p. 2.

38 Substituindo a 5ª Brigada Aerotransportada. 39 Que, apesar de todos os “cortes” e restruturações ocorridas nas suas FA’s, foi muito sensatamente mantida intacta. 40 Durante a tentativa de golpe de estado nas Ilhas Maldivas em 1988, a Índia enviou, em 24 horas, 2 Batalhões Pára-Comando dessa

Brigada, os quais rapidamente dominaram a rebelião

41 Our special forces are critical to our prosecution of the war against terror. We were able to announce some improvements to our special forces in July. We are also considering the broader arrangements whereby the armed forces provide support to special forces operations. One option that has emerged in that continuing work is the creation of a tri-service "ranger" unit, which would be dedicated to special forces support. I have decided that it would be appropriate to develop such a unit over the next few years, and it would take its place alongside the other enhancements to specialist support elements of the Army. The fourth infantry battalion reduction will therefore be found by removing the 1st Battalion the Parachute Regiment from the infantry structure and using its highly trained manpower as the core of a new, tri-service ranger unit. HOON, [Defence Secretary] Geoff: Future

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A Força de Reacção Rápida quedas, se necessário, por forma a apoiar e reforçar a actuação dos SAS. Esta concepção é um remake

duma anterior, na qual se perspectivava, dado o stress causado pelas inúmeras intervenções dos SAS e dos

SBS, a atribuição de um batalhão. Nessa altura, equacionava-se ser de infantaria, que após 6 meses a 1 ano

seria substituído por um outro42. Esta solução, que abarca ensinamentos, nomeadamente da intervenção

no Afeganistão, acolhe a prática habitual de se recorrer a uma sub-unidade do Regimento de Pára-

quedistas para um apoio “musculado” de acção directa, como foi o caso da Operação “Barras” na Serra

Leoa, em Setembro de 2000.

Dos exemplos apresentados verifica-se que a parte mais importante das forças de reacção rápida existentes

em outros Países, é do tipo aerotransportado43. Estas forças poderão, após a sua entrada no TO e se

necessário, ser seguidas por forças mais pesadas deslocadas também por via aérea, por via marítima ou

terrestre, ou uma combinação destas, forças que terão então uma maior capacidade de protecção,

mobilidade, poder de fogo e sustentação.

Não é também de somenos importância o efeito operacional-estratégico que a existência desta Força pode

oferecer. A ocupação do aeroporto de Pristina por um punhado de pára-quedistas russos e a colocação de

outros 300 e de 6 IL-76 em alerta permanente44, constituiu uma vitória a nível estratégico para os russos

(confirmada pelos acordos de Helsínquia de 18 de Junho de 1999), colocou em disputa o Tenente-General

Mike Jackson e o SACEUR, General Wesley Clark45 e (re)demonstrou as dificuldades da falta de

unidade, grau e capacidade de comando46 em organizações multinacionais, mesmo no caso da NATO,

devido aos interesses e agendas próprios47. Os russos garantiram assim a sua participação no quadro da

KFOR, com uma presença de cerca de 3.600 militares48.

Por tudo isto, a Força necessitará de ser ligeira, aero-transportável (e de preferência aero-lançável

tornando-a independente de pontos de entrada como portos e aeroportos49) e com uma composição

Infantry Structure, House of Commons debates, Thursday, 16 December 2004, acedido em 04Fev05. vide também RIPLEY, Tim: Chief's real battle was aligning army with modern demands – ANALYSIS, Fri 17 Dec 2004, News.Scotsman.com, acedido a 11Jan05. EVANS, Michael, Defence Editor: Historic names live on in new model Army (but in brackets), Timesonline, December 17, 2004, acedido em 04Fev05. The Future Army Structure – The Chief of the General Staff, Published Thursday 16th December 2004, UK Defence Today, Ministry of Defence, acedido a 11Jan05. RIPLEY, Tim: UK Future Army Structure creates “Ranger” battalion, Janes Defence Weekly, 22 December 2004, p. 6. MASSIVE defence cuts which will affect Aldershot troops have been slammed by the town’s MP Gerald Howarth, Aldershot News and Mail on line,Tuesday 11th January 2005, acedido a 11Jan05.

42 EVANS, Michael, Defence Editor: SAS plan to blow up Saddam's germ sites.Timesonline, July 12, 2002, acedido em 04Fev05.43 One lesson from Afghanistan is that light forces – Infantry, Airborne, and Airmobile forces – unencumbered by the IBCT structure

or equipment still have a place in the Army’s order of battle. ROSTKER, Bernard: Transformation and the Unfinished Business of Jointness: Lessons for the Army from the Persian Gulf, Kosovo, and Afghanistan, in DAVIS, Lynn E., SHAPIRO, Jeremy, The U.S. Army and the New National Security Strategy, (edited by) RAND, ARROYO CENTER, 2003, p. 150

44 A ter havido uma confrontação esta teria, também, como opositores iniciais outras forças pára-quedistas. The Supreme Allied Commander, General Wesley Clark, told Jackson to fly forward a force of British and French paratroopers to oppose the Russians. THOMPSON, [Edited by] Major General Julian: The Imperial War Museum Book of Modern Warfare – British and Commonwealth Forces at War 1945-2000, Pan, 2003, p. 348.

45 Sir, I’m not starting the World War III for you... CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001, p. 394. 46 The [Pristina] incident shows again that rarely does an international commander in NATO or the UN have full operational

command and ability to change the mission. He merely has operational control for the agreed mission and operational command remains with the national capitals. THOMPSON, [Edited by] Major General Julian: The Imperial War Museum Book of Modern Warfare – British and Commonwealth Forces at War 1945-2000, Pan, 2003, p. 348.

47 Sobre a supremacia dos interesses pessoais relativamente aos interesses comuns vide REIS, Tenente-Coronel João: EU (Un)Common Defence. The Path of Ambiguity. Brussels, June 2002 (manuscrito).

48 CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001y, p. 402.

49 The combination of the allocation of airlift that the Army can reasonably expect to receive and the infrastructure limitations in the places it can expect to fight means that only relatively small units – a battalion task force – can deploy extremely rapidly. Even a dramatic expansion of the airlift fleet will often have no effect on shortening deployment times because airport throughput is often

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 17

A Força de Reacção Rápida equilibrada nas suas unidades de manobra. Na forma ideal, seria uma brigada pára-quedista independente,

compreendendo principalmente batalhões de infantaria pára-quedista com as suas armas de apoio, mas

incluindo alguma capacidade anti-carro (adicional), artilharia ligeira ou morteiros pesados, um elemento

de mísseis ligeiros antiaéreos, alguma capacidade em engenharia de combate e transmissões, bem como o

necessário apoio logístico50 (que deveria incluir a capacidade de abastecimento aéreo).

Quanto às tarefas não militares, de “utilidade colateral” ou múltipla utilidade, anteriormente expressas, são

importantes pois servem para rendibilizar os investimentos efectuados e esclarecer a opinião pública

quanto à utilidade da FRR em tempo de paz, justificando assim os custos da sua constituição, manutenção

e treino.

Considerações doutrinárias

Todos estes quesitos obrigam a repensar a tríade constituída pela doutrina, a organização e a tecnologia

disponível para emprego pela FRR e também pelo Exército, Marinha e Força Aérea. Ressalta a

necessidade objectiva por parte de todos os elementos envolvidos nas intervenções/operações, desde o

decisor político ao elemento da patrulha ou do check point, de atentarem nas consequências daí resultantes

a nível táctico, operacional e estratégico.

Como ponto de partida, e atendendo à natureza da Força e tipos de intervenção, parece-nos haver a

necessidade de adoptar a “Teoria da Manobra”51 como base doutrinária, ajustando-a à nossa

idiossincrasia. Só esta permite a liberdade de acção em cenários lacunares, operacionais e políticos

complexos, frequentemente isolados e sujeitos a decisões imediatas, eventualmente de sérias

consequências. Não desenvolvemos pormenorizadamente este campo por entendermos que se situa a

montante na formação do militar e, em particular, na dos militares do Quadro Permanente, limitando-se os

elementos da FRR a aplicá-la (e.g. ordens tipo missão ou Auftragstaktik52, tempo, Schwerpunkt ou foco do

esforço53, superfícies e intervalos54, armas combinadas...). Relativamente à componente tecnologia e

organização, convém realçar a simbiose e interacção que devem existir entre elas e a doutrina por forma a

the limiting factor. GORDON, John and ORLETSKY, David: Moving Rapidly to the Fight, in DAVIS, Lynn E., SHAPIRO, Jeremy, The U.S. Army and the New National Security Strategy, (edited by) RAND, ARROYO CENTER, 2003, p.192.

50 “Edificaremos forças mais leves, mais ágeis, mais projectáveis, interoperáveis com os nossos aliados e cuja protecção e sustentação esteja assegurada. A isto corresponderá o reforço das características expedicionárias do Exército”. VALENÇA PINTO General Luis Vasco, Entrevista do General CEME ao Jornal do Exército, Out 2004

51 “No outro modo, o defensor da [teoria da] manobra procurará derrotar o adversário através de soluções que empreguem não a força dos números mas os factores humanos anteriormente referidos. A velocidade de execução, a ousadia, os artifícios, a determinação dos pontos fracos e fortes do adversário e a oportuna exploração dos primeiros, isto é, a orientação sobre o inimigo, são a sua característica determinante. O combate ocorrerá como um outro elemento ou forma de utilizar ou expressar a força militar e, se este não for necessário concretizar-se-á a excelência da arte da guerra, segundo Sun Tzu, de vencer sem combater.” REIS, Tenente-Coronel Jorge: Os Níveis da Guerra. A Manobra Táctica e Operacional. A Organização e a Tecnologia. Dezembro 2002 (manuscrito), p. 19.

52 The forces of NATO members use very different leadership philosophies and military doctrines. This may very effectively wreck a military operation. Some forces are sworn to variants of auftragstaktik, where the sub-unit commander is given a lot of freedom in how to accomplish a task as long as he fulfils the chief’s intent. Others forces have institutionalised a system of complex synchronisation in which all orders have to describe almost every detail of how to solve a task. If some sub-units in a brigade or a division are accustomed to auftragstaktik and others to detailed orders, the staff, presumably accustomed to one of the two philosophies, will have a difficult time.ULRIKSEN, Ståle: Military Europe: Capabilities and Constraints Draft article presented in Kristiansand August 2003, p. 6, acedido a 11Jan05.

53 “Também designado ponto do esforço principal ou ainda, pela palavra alemã Schwerpunkt. Mais do que uma palavra poderemos dizer que se trata mais de um conceito de concentração do esforço, ou de esforços, no centro de gravidade do inimigo, criando uma fraqueza relativa no oponente por forma a permitir obter uma decisão definitiva.” REIS, Tenente-Coronel Jorge: op. cit, p. 22.

54 Mais conhecida pela terminologia inglesa de surfaces and gaps. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 18

A Força de Reacção Rápida optimizar os meios. É importante o desejo de obtenção dos últimos materiais e equipamentos existentes

mas, relembra-se, aquela só é empregue eficientemente quando enquadrada num contexto doutrinário e

organizacional adequado, facilmente demonstrável pelos resultados de alguns confrontos assimétricos, em

que o sucesso não tendeu necessariamente para o tecnologicamente melhor equipado ou mais avançado.

A estrutura da FRR procurou respeitar os princípios da Teoria da Manobra55. A sua actuação é prevista

num contexto de rapidez de planeamento e execução, onde a surpresa táctica, a operacional e a estratégica

se também for possível, deverá ser alcançada. A operação deverá ser executada sobre um flanco ou

intervalo (gap), fundamento do domínio de todas as formas de inserção no terreno, no tempo mais

adequado. Perspectiva-se a possibilidade de criação de uma Reserva capaz de actuar, se possível a reforçar

ou explorar o sucesso, contrariamente à Teoria Atricionista, onde a Reserva será mínima e todas as armas

não empregues serão um desperdício de fogos, numa perspectiva jominiana de um campo de batalha

linear. O princípio do emprego das armas combinadas é respeitado pela diversidade e capacidade de

competências complementares para uma multiplicidade de cenários e a facilidade de integração de outras

unidades. O apoio de fogos, que se pretende flexível e actuante, é concebido não na perspectiva tradicional

atricionista de um grande volume de fogos destrutivo, mas sim para permitir a manobra da FRR, isolar o

objectivo, efectuar a decepção... Os fogos em si são manobra, podendo actuar no interior do dispositivo

inimigo, caso dos raids de artilharia, se essa for a modalidade de acção adequada. Esta flexibilidade e

capacidade de colocação rápida, violenta e precisa de fogos nos pontos fracos e vitais, em substituição de

atacar o forte, exige menor consumo de munições, obtendo-se o aligeiramento do apoio logístico sem

prejuízo do apoio de fogos. A logística da FRR procura estar de acordo com os princípios da manobra

enunciados. A FRR manobra, não se pretendendo, pelo menos numa primeira fase, a criação ou

estabilização de uma posição. Reduzindo-se o volume de munições destinado ao apoio de fogos, a

segunda opção é reduzir os consumos de combustível, o que se consegue pelo tipo de Força56 agora

estruturada. A qualidade dos elementos de manobra seleccionados, que são susceptíveis de operar em

condições mais rústicas de apoio, aligeira igualmente o apoio logístico necessário, redução que poderá

ainda ser acentuada pela possibilidade do emprego do reabastecimento aéreo. A modularização da FRR e

a possibilidade do seu “encorpamento faseado” em função da conduta é um outro aspecto da aplicação da

teoria à conceptualização da Força.

Também no respeito da teoria, não foi esquecido o efeito provocado pela componente psicológica, ao

utilizar militares profissionais de elite numa Unidade claramente destinada, e disponível, para a projecção

de poder57.

55 Também apelidada de manoeuvrist approach, nomeadamente em alguns países anglo-saxónicos, ou onde a sua influência

doutrinária se fez sentir. Exemplos de seguidores: Austrália, Nova-Zelândia, Reino-Unido, Singapura e Holanda. Para ver mais sobre a teoria da manobra vide: REIS, Tenente-Coronel Jorge: op. cit, : HOOKER, Richard D.: Maneuver Warfare: an anthology, Presidio, 1993; LIND, William S.: Maneuver Warfare Handbook, Westview Special Studies in Military Affairs, 1985; LEONHARD, Robert R.: The Art of Maneuver: Maneuver-Warfare Theory and AirLand Battle, Presidio, 1994.

56 A nível das forças terrestres, o GALE possui o seu próprio apoio logístico e doutrina própria de actuação.

57 Secondly, logistic reach and sustainability was vital on Operation Barras in Sierra Leone, enabling us to deploy forces rapidly into theatre from the UK, take down the West Side Boys and extract forces and hostages expeditiously. The after-effect of the application of precise force had a profound impact on west-African perceptions of UK's strategic intent in the area and re-

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 19

A Força de Reacção Rápida b. Estrutura e Possibilidades

A estrutura base da FRR foi criada para dar uma resposta credível a uma diversidade de situações e

ameaças, em conformidade com o que será exposto no corpo do Conceito. Olhando de forma mais

objectiva para a realidade actual do Exército Português e para as suas efectivas possibilidades entende-

se que a Força de Reacção Rápida deverá ter a seguinte composição:

Comando e Companhia de Comando

1 Companhia de Transmissões (Pára-quedista)

2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista (a 3 CAt e 1 CAp cada)

1 Batalhão de Comandos (a 3 CCmds – todos c/ qualificação pára-quedista)

1 Grupo de Aviação Ligeira

1 Batalhão de Apoio Aeroterrestre, compreendendo:

1 Companhia de Incursores (a 4 Dest)

1 Companhia de Equipamento e Abastecimento Aéreo

1 Companhia de Apoio de Combate

1 Companhia de Apoio de Serviços

1 Companhia de Operações Especiais (a 3 DOE – todos c/ qualificação pára-quedista)

Comando e Companhia de Comando

São incluídos um Destacamento Sanitário (Antena Cirúrgica Pára-quedista) e um Pelotão de PE. Com

capacidade para montar um PC Táctico da Força e um PC de Brigada.

Companhia de Transmissões

Responsável pelo apoio de transmissões à FRR. Todo o pessoal é pára-quedista e o respectivo

equipamento poderá também ser lançado de pára-quedas. São responsáveis por garantir as

comunicações intra-força, com os escalões superiores e com os outros Ramos, designadamente no

Apoio de Fogos Aéreo ou Naval quando necessário. Garantem também a interoperabilidade com outras

forças, ou comandos, de países aliados ou coligados.

1 Batalhão de Comandos

As 3 Companhias de Comandos constituem preferencialmente o primeiro elemento de combate

principal a ser empregue. Caracterizam-se pela acção de surpresa, agressiva, rápida e violenta mas de

sustentação limitada. Concebidas e treinadas para a execução de operações especiais de acção directa,

com particular destaque para golpes de mão e emboscadas normalmente contra objectivos importantes,

oferecem uma grande flexibilidade de actuação, pela diversidade e qualidade do seu treino e pela

integração de elementos de todas as Armas, Serviços e especialidades58, mas com limitada capacidade

inforced the peace process. BOYCE, Admiral Sir Michael: Achieving effect. (Extracted from the Royal United Services Institute Briefing by Admiral Sir Michael Boyce, the UK Chief of the Defence Staff, delivered in December 2002), etsnews, acedido a 28Jan05.

58 I had left them (MILAN antitank guided missiles) there because at that stage of the operation (Falklands War-1982) there was no tank threat, and I saw no need for them and I was using my antitank troop, which is part of the support company, in a different role. They were all commando soldiers, and they were being used in a reconnaissance role to boost up my reconnaissance

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 20

A Força de Reacção Rápida de defesa (estática). Constituem a força de assalto por excelência e são os elementos mais ágeis, mais

rápidos e mais ligeiros, actuando com precisão, em áreas ou zonas hostis, controladas pelo inimigo, ou

de duplo controlo, necessitando de serem rapidamente extraídas, rendidas ou reforçadas. Podem ser

colocadas no terreno por meios terrestres, lançamento de pára-quedas, aeronaves de asa fixa ou rotativa

e ainda por meios anfíbios. Possuem igualmente uma elevada competência em todo o tipo de operações,

terrestres e aéreas, integrando-se facilmente nas acções de forças de outra natureza, tais como as

mecanizadas e blindadas, e no pedido ou regulação de acções de apoio de fogos terrestres, aéreos ou

navais, em qualquer tipo de terreno, clima e condições meteorológicas, de dia ou de noite.

Cada Companhia é constituída por 3 Grupos de Combate e 1 Grupo de Apoio. Os primeiros são os

elementos de manobra e, os segundos, com as suas 6 armas anti-carro, os 3 morteiros 60 mm longos e as

3 ML 7,62 mm, proporcionam o apoio de fogos orgânico mais “pesado”.

2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista

Os 2 Batalhões de Infantaria Pára-quedista a 3 Companhias de Atiradores Pára-quedistas e 1

Companhia de Apoio cada, constituem no seu conjunto, de pessoal e meios, a força principal de

manobra e serão normalmente as segundas unidades a intervir, como força de seguimento ou para

efectuar a rendição ou o reforço do Batalhão de Comandos, ou subunidades ou elementos deste. Estão

especialmente vocacionados para a inserção por meio do salto em pára-quedas. A Companhia de Apoio

confere-lhes um poder de fogo e capacidade de sustentação superior ao Batalhão de Comandos, não

obstante a sua constituição ser à base de infantaria ligeira, pela possibilidade de emprego dos seus seis

morteiros 81mm e das suas 6 armas anti-carro. Possuem capacidade autónoma para conquistar

objectivos importantes, nomeadamente estratégicos, e de se manter no terreno por períodos de tempo

limitados e garantem ainda a capacidade “sustentada” imediata de combate. Contribui para o seu

aligeiramento a existência de um único tipo de viatura em boa quantidade (sobretudo para as armas de

apoio) – a “mula mecânica”. Incluem:

Comando e Estado-Maior do Batalhão

3 Companhias de Atiradores Pára-quedistas – a 3 Pelotões de Atiradores e um Pelotão de Apoio

cada.

Pel At – Sec Cmd c/ 1 arma ACar e 1 ML 7,62; 3 SecAt c/ 2 ML 5,56 e 2 Esp c/ LG cada

Pel Ap – 1 Sec ACar (4 CG); 1 SecMort (2 Mort 60mm); 1 Sec AMat (2 armas); 1 Sec LG (2LG)

Companhia de Apoio

1 Pelotão de Apoio de Serviços com 1 Secção Sanitária, 1 Secção de Man/Tm, 1 Secção de

Transportes e 1 Secção de Reabastecimento.

1 Pelotão de Morteiros – a 3 Secções com 2 morteiros 81mm cada

1 Pelotão Anti-Carro – a 3 Secções com 2 armas (Msl MILAN) cada.

capabilities, and they left their antitank weapons behind. MCMICHAEL, Major Scott R.: “Discussions on Training and Employing Light Infantry”, CSI Report No. 8, Combat Studies Institute, p.12. I

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 21

A Força de Reacção Rápida Batalhão de Apoio Aeroterrestre

Responsável pelo apoio aeroterrestre, de combate e logístico integrado aos escalões imediatos da FRR.

Sub-unidade preciosa e fulcral para esta Força, constitui seguramente uma mais-valia operacional e

definitivamente condiciona a dependência da Unidade territorial onde se encontra. As suas utilíssimas

valências, sobretudo no campo aeroterrestre, fazem dela um instrumento determinante e torna-se

imperioso que o Exército assim o reconheça. É constituído por:

1 Companhia de Incursores

É o elemento da força vocacionado para o reconhecimento, antes, durante e após o lançamento das

operações. É responsável pelas actividades necessárias, nomeadamente as de balizagem de Zonas de

Salto ou de Lançamento, para o desencadear de uma operação aerotransportada ou de assalto aéreo.

Com os DestPrec também executa as acções de TA, FAC e RLA em proveito da Força; com os

DestExpl executa as acções de reconhecimento clássico em proveito dos BIPára. Embora não seja a

sua vocação primária, poderá desencadear operações de combate, de carácter limitado, em proveito

da Força.

1 Companhia de Apoio de Combate

Para fornecimento do necessário apoio de combate modular. A 1 Pelotão de Morteiros Pesados (6

Mort 120mm), 1 Pelotão de Artilharia Anti-Aérea (Manpad), 1 Pelotão Anti-Carro (12 Msl 3ª

geração), 1 Pelotão de Engenharia de Combate.

1 Companhia de Equipamento e Abastecimento Aéreo

Com capacidade de executar a manutenção do material aeroterreste. Armazena e mantém o

equipamento aéreo, em particular os pára-quedas destinados ao pessoal e material. Inclui a

capacidade de efectuar operações de terminal, nomeadamente do tipo aéreo. Farão parte desta sub-

unidade 1 Pelotão de Abastecimento Aéreo, 1 Pelotão de Equipamento Aéreo, 1 Pelotão de

Manutenção do Equipamento Aeroterrestre e 1 Pelotão de Operações de Terminal e de Voo.

1 Companhia de Apoio de Serviços

Responsável pelo reabastecimento, manutenção e, se oportuno e viável, pelo transporte rodoviário

de pelo menos uma das UEB da FRR. É constituída por 1 Pelotão de Manutenção, 1 Pelotão de

Reabastecimento e 1 Pelotão de Transporte.

Reforçam, apoiam, garantem o cumprimento da Missão até à chegada das Forças de seguimento ou

extracção. São a componente mais pesada da FRR.

1 Grupo de Aviação Ligeira do Exército

Considera-se que a existência do GALE na FRR é uma mais-valia, na medida em que confere

mobilidade acrescida aos Batalhões de manobra designadamente para a sua colocação no terreno. Hoje

em dia, a mobilidade é crucial, especialmente no contexto das FRR, em ambiente multinacional. A falta

de mobilidade da FRR é um dos condicionamentos com que um Comandante, a quem esta força estiver

atribuída, terá de lidar em permanência. Por outro lado, não dispondo a FRR organicamente de unidades

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 22

A Força de Reacção Rápida de reconhecimento, a capacidade de reconhecimento, vigilância e ligação poderá ser assegurada pelos

helicópteros de observação do GALE. Logo, o Comandante da FRR deverá o mais possível ter o GALE

disponível para emprego em proveito da força de acordo com o seu conceito, eliminando ou

minimizando a eventual tendência para a sua utilização sob a dependência de níveis de decisão mais

elevados.

Os seus helicópteros NH-90 e os de observação (a definir, mas equivalentes aos OH-58), possibilitam a

execução de assaltos aéreos, o apoio de fogos próximo, evacuação sanitária, transporte logístico,

reconhecimento, vigilância e ligação. Possui apoio logístico próprio, o que lhe dá mais flexibilidade de

actuação e às forças em proveito de quem trabalha.

1 Companhia de Operações Especiais

Para actuação no âmbito das Operações Especiais, em particular nas de Acção Indirecta e de âmbito

estratégico e outras (de Acção Directa) que sub-unidades ou elementos do Batalhão de Comandos e da

Companhia de Incursores não tenham capacidade de executar ou, possuindo-a, não se considere

conveniente empenhar outra componente da FRR.

Forças Atribuíveis (Affiliated) à Força de Reacção Rápida:

1 Batalhão de Fuzileiros

A ser atribuído quando a Operação envolva a constituição de uma cabeça-de-praia, como garantia da

posse e controlo de um ponto de entrada, ou de saída, aquando da execução de operações pela FRR

perto do litoral, de lagos ou rios navegáveis. Este Batalhão representa a componente anfíbia

especializada, preparada para efectuar desembarques anfíbios, conquistar e controlar uma cabeça-de-

praia.

1 Grupo de Artilharia de Campanha

Caso necessário, deve ser atribuído à FRR o GAC da Brig Intervenção, que está equipado com 18

obuses 10,5 cm “Light Gun”. Para facilitar essa atribuição, deverá ser o único GAC com todos os seus

elementos pára-quedistas (ou, no mínimo, uma Bateria), capazes de integrarem qualquer modalidade de

acção, mesmo que exija a sua colocação no terreno por meios aéreos, incluindo nestes o lançamento dos

obuses por pára-quedas, ou o seu transporte pelos NH-90. É uma garantia de apoio de fogos em

profundidade, inclusive a partir do interior do dispositivo inimigo, caso dos “raids” de artilharia na

profundidade do dispositivo do In, estando contudo limitado mais por razões logísticas (volume, peso e

transporte) do que operacionais. Pode desdobrar-se em baterias, vocacionadas para o apoio a cada um

dos Batalhões da FRR59.

59 Embora pouco frequente é uma das possibilidades a ter em conta. The commander of 29 Commando also decentralized the control of his guns for the forthcoming attack by dedicating the fires from a single artillery battery to the support of each attacking infantry battalion [Falklands War-1982]. SCALES, Robert H.: Firepower in Limited War, National Defense University Press, Washington , DC, November 1993, p.221

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 23

A Força de Reacção Rápida c. Vantagens e Inconvenientes desta Organização da FRR

Vantagens

Modularização e especialização.

Responde aos cenários estratégicos actuais, à evolução da doutrina e à capacidade de sustentação de

meios materiais e humanos.

Apoio de Combate e Logístico integrados e Forças de manobra ligeiras, flexíveis e de capacidade

incremental.

Oferece, para o tipo de missões para que foi concebida, uma elevada capacidade de intervenção.

Garante a possibilidade de alargar a nossa contribuição nas diversas entidades internacionais, com

uma Força credível e assim seguramente poder cumprir o nível de ambição prescrito para o Exército

no Conceito Estratégico Militar.

Actua num nicho em que Portugal possui reconhecida capacidade, podendo sem tibiezas

complementar outras de países mais poderosos60.

Concebida para trabalhar em ambiente conjunto e/ou combinado, nas dimensões terrestre, aérea,

marítima, lagunar ou fluvial, em qualquer tipo de terreno e clima.

No caso máximo de emprego da FRR como um todo implica o comando de apenas 5 UEB (1

BCMDS, 2 BI Pára, 1 Bat Apoio Aeroterrestre, 1 GALE)

Se reforçada poderá alcançar as 7 UEB (1 BCMDS, 2 BI Pára, 1 Bat Apoio Aeroterrestre, 1 GALE,

1 Bat Fuz e 1 GAC) subordinadas a um único Comando, o que ainda não é excessivo.

Inconvenientes

Limitada capacidade de colocação por via aérea, salto ou aterragem, de sub-unidades da Força.

Limitada protecção blindada.

Limitada capacidade anti-carro.

Limitada capacidade de sustentação logística.

Limitada capacidade de transporte terrestre.

44 –– CCOONNCCEEIITTOO DDEE EEMMPPRREEGGOO “O incessante progresso da humanidade provoca uma mudança contínua no armamento; e com isso deve vir uma mudança na forma de combater.”

Alfred Mahan

a. Finalidade

O conceito que se apresenta visa enquadrar os instrumentos que possibilitem responder

militarmente a um largo espectro de ameaças e problemas militares, gerados num ambiente

60 Outros países especializaram-se em outras áreas que os faz serem procurados. A República Checa na guerra NBQ, a República Eslovaca, Roménia e Eslovénia em tropas de montanha, os países Bálticos em EOD. Das “faltas” que foram identificadas assinalam-se a nível das forças especiais, HUMINT, apoio sanitário, capacidade de transporte táctico e estratégico, NBQ, CSAR (combat search and rescue) . AAVV: European defence. A proposal for a White Paper. Report of an independent Task Force, Institute for Security Studies, European Union, Paris, May 2004, pp. 119-20. PENGALLY, Owen: Rapid Reaction Forces: More Questions Than Answers, BASIC, 25 January 2003, acedido a 11Jan05.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 24

A Força de Reacção Rápida estratégico complexo, incerto e em contínua mutação.

Pretende-se que a FRR seja dotada com um conceito “robusto” para o seu emprego,

transformando-a num meio estrategicamente relevante, tacticamente decisivo e flexível,

optimizando o contributo do Exército para a Defesa e Segurança Nacionais, tendo em

consideração a posição geoestratégica de Portugal e a sua capacidade de gerar, projectar,

sustentar e regenerar forças militares em operações.

Este conceito envolve o esboço de uma estrutura, organização, atribuição de meios e modos de

empenhamento da FRR. Orienta-se este emprego para operações de estabilização mas sem

descurar a participação em operações de intervenção em áreas especializadas. Procura-se

relevar competências já demonstradas pelo Exército e complementar capacidades de forças

aliadas ou coligadas quando em operações combinadas.

b. Pressupostos

Para o desenvolvimento do conceito operacional assumem-se pressupostos no âmbito político,

estratégico e operacional/táctico.

Político

O poder político continuará a utilizar a manu militari como instrumento político de

afirmação de Portugal.

Os conflitos armados continuarão a ser determinantes nas relações internacionais.

A profissionalização das Forças Armadas é acompanhada pela intenção da sua

modernização e da rendibilização dos efectivos, obrigando ao desenvolvimento de novos

conceitos operacionais para o emprego das suas Forças.

Os meios militares serão, cada vez mais, solicitados para tarefas não militares, como a

protecção civil, a ajuda humanitária e o auxílio de emergência.

Estratégico

O horizonte temporal do conceito da FRR será semelhante ao das forças aliadas com as

mesmas características, nomeadamente dos EUA e RU, data que é actualmente referenciada

a 2020.

Geoestrategicamente, Portugal manterá a sua relevância, quer na ligação transatlântica, quer

no relacionamento com actores não estatais, quer ainda na ligação UE – África.

A Segurança e Defesa de Portugal são encaradas num conceito comum de defesa,

fundamentado em alianças e coligações. Para tal, e no sentido de Portugal ter uma voz

credível e capacidade para intervir no estabelecimento de objectivos estratégicos no seu

seio, as forças terão que ser operacionalmente relevantes e interoperáveis com as forças

aliadas.

A UE tenderá progressivamente a afirmar-se na defesa europeia mantendo-se os EUA como

a única superpotência com capacidade para actuar globalmente. A UE e os EUA definirão

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 25

A Força de Reacção Rápida áreas de intervenção ou de actuação complementar.

A FRR constitui-se como uma força fundamental para a (uma) Estratégia Militar de

Portugal.

Operacional/Táctico

A FRR poderá ser empregue quer em âmbito exclusivamente nacional quer em alianças e/ou

coligações, como um todo ou em parte, designadamente através de sub-unidades de escalão

agrupamento e sub-agrupamento.

A FRR pode ser empenhada em qualquer nível do espectro de ameaças / conflitos.

A caracterização actual e a natural evolução dos conflitos releva condições francamente

favoráveis ao emprego de forças de reacção rápida.

A mobilidade estratégica da FRR deverá ser assegurada através de meios nacionais próprios

ou, quando não possível, por outras nações amigas, aliadas ou coligadas.

No âmbito táctico, para operações desenvolvidas com forças de escalão batalhão ou inferior,

a FRR não deve, preferencialmente, estar dependente de meios das coligações e alianças

(e.g. transporte táctico).

As forças apeadas, nomeadamente a infantaria, continuarão a ser os elementos decisivos nas

operações de contra-insurreição.

c. Conceito Operacional

(1) Princípios Gerais

A FRR poderá desencadear de imediato operações ofensivas ou defensivas, autonomamente ou

fazendo parte de forças conjuntas ou combinadas. A sua capacidade de projectar poder, em

particular para TO fora do território nacional, tornam-na numa força “expedicionária”61 ao

serviço da concretização de objectivos e defesa dos interesses nacionais.

Em acções de defesa do território nacional, dados o seu limitado poder de fogo e menor

capacidade de sobrevivência, nomeadamente em “terreno” aberto, a FRR estabelece as

condições necessárias para forças de seguimento ou de reforço de características médias e

pesadas actuarem decisivamente.

Primariamente a FRR está preparada para, em conflitos de cariz assimétrico, projectar as suas

unidades em operações de contra-insurreição, contra terroristas e em operações de estabilização

ou de ajuda humanitária. Secundariamente, poderá integrar coligações em conflitos

tradicionalmente convencionais.

O emprego da FRR terá de ser sempre concebido dentro de um conceito do predomínio da

manobra, procurando acelerar o ritmo das acções (operações) de modo a causar um efeito

desestabilizador e de paralisia das forças In face ao poder e precisão demonstrados. A

identificação de factores críticos do campo de batalha, obriga à utilização judiciosa da FRR

61 Ou projectável. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 26

A Força de Reacção Rápida sobre os pontos críticos e decisivos de modo a desintegrar o centro de gravidade do In. Esta

visão operacional e holística da força e do campo de batalha conduz ao empenhamento a “long-

range” do In, quer através das forças de manobra da FRR, quer através de fogos não orgânicos.

A FRR tem necessidade de se poder integrar com outras forças, conjuntas ou combinadas, para

se extrair dela o máximo das suas potencialidades.

A actuação da FRR privilegia a constituição de forças estruturadas face à especificidade das

missões, normalmente de (até) escalão batalhão, para a execução de operações de elevado risco,

de grande intensidade e curta duração, visando criar o choque62 e incapacitar as forças adversas

de desenvolverem oportunamente acções efectivas. A sua sobrevivência é acrescida pela

integração da informação e manobra até ao mais baixo nível táctico, pela preferência pelo

combate nocturno e em condições especiais particularmente adversas, pela sua dispersão e,

naturalmente, pelo reforço e apoio de fogos em profundidade (long-range) não orgânicos.

Sumariamente a FRR introduz, aliás, capacidades únicas em operações conjuntas/combinadas

que potenciam a sua utilização:

O maior grau de reacção, acessibilidade, flexibilidade e adaptabilidade;

A possibilidade de projectar rapidamente poder a longas distâncias; e

O alargar das opções para o emprego dos meios militares aos decisores políticos e militares.

(2) Actuação

A actuação da FRR fundamenta-se em dois elementos essenciais:

(a) O emprego agressivo de forças reduzidas e ligeiras, com grande mobilidade táctica,

capacidade de sacrifício, rapidamente colocadas nos objectivos críticos; e

(b) O emprego subsequente das restantes forças ou de outras forças com maior poder de

fogo orgânico e protecção.

Esta composição “equilibrada”, isto é, de forças extraordinariamente ligeiras complementadas

na mesma grande unidade (GU) por outras ligeiramente mais pesadas, com capacidade superior

em mobilidade, poder de fogo e protecção, garante uma versatilidade notável no seu emprego

táctico.

d. Orientações

(1) Para o emprego das Sub-unidades mais ligeiras.

As sub-unidades mais ligeiras e de armas combinadas, constituídas especificamente de acordo

com as missões cometidas, podem desenvolver acções tácticas contra um grande leque de

ameaças. Essa versatilidade e flexibilidade na composição e articulação das forças torna-as

62 Operational shock is a systemic effect against the enemy systems control mechanisms, which achieves paralysis, disorganization, and disintegration, In Search of a Joint Urban Operational Concept, School of Advanced Military Studies, United States Army, Maj Lee K. GRUBS, page 17. Shock can be defined as a sudden violence concentration. Its effects, are to terror-stricken, deter, and frighten, in The British Army by 2010, Foreign Studies, LtCol CONSTANT.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 27

A Força de Reacção Rápida aptas para o combate em terreno “complexo” (urbanizado63, floresta...) e para desenvolver

acções agressivas de reconhecimento em prol da FRR ou da coligação. As características destas

forças permitem também o seu emprego em reforço ou em apoio de forças mais especializadas

na actuação em condições especiais. A sua capacidade de inserção por mar (e ar) e adaptação às

diversas características físicas do TO tornam-nas adequadas para participarem em operações

combinadas ou com outras forças nacionais e estrangeiras, permitindo, caso necessário, o seu

“encorpamento” até atingir 3 Batalhões, constituindo estes uma massa crítica normalmente

suficiente64. Assim, poderão participar em operações anfíbias quer reforçando as unidades de

Fuzileiros quer como força de seguimento. Podem, também, se necessário, executar, reforçar ou

apoiar outras forças na execução de operações no âmbito do contra-terrorismo. Algumas acções

terroristas apresentam características de planeamento, execução e de meios, próximas de

operações militares aconselhando, consequentemente, a intervenção de forças militares para o

seu combate e neutralização. A necessidade de resgatar cidadãos nacionais ou reféns, fora do

país, pode exigir em simultâneo da parte das forças a utilizar, especialização e treino em

operações de contra-terrorismo, de assalto aerotransportado, aeromóvel e anfíbio.

(2) Para as restantes forças da FRR.

As restantes forças acrescem indubitavelmente a eficácia da FRR, consequência da maior

mobilidade táctica, protecção blindada e apoio de fogos que aportam. Embora ainda situadas na

esfera das GU ligeiras, não deixam de reforçar ou apoiar as acções desencadeadas pelas forças

mais ligeiras ou, se assim for entendido aquando da estruturação da subunidade, de dotá-la com

meios que aumentem a sua letalidade e a sua capacidade de sobrevivência.

Actuando a FRR como um todo, esta carece fundamentalmente de mobilidade estratégica e de

apoio de fogos indirectos não orgânicos. Sem este apoio, a FRR não tem, em geral, capacidade

para enfrentar GU “médias” ou “pesadas”.

(3) Para o emprego dos meios aéreos

A adequada e atempada utilização dos meios aéreos será importante, para não dizer

determinante, para projectar ou apoiar a FRR. Por uma questão de facilidade de análise

poderemos considerar 3 aspectos: um, referente à colocação de fogos no apoio à manobra, o 63 Seventy percent of the world’s population will live in cities by the year 2014, in Soldiers in Cities: Military Operations on Urban

Terrain, de. Michael C. Desch (SSI, 2001), pg 4, citado em «In Search of a Joint Urban Operational Concept», School of Advanced Militaries Studies, USA, Maj LEE K. Grubbs, pg 2. Recent forecasts based on population statistics and the worldwide migration trend from agrarian to industrialized societies predict that 85 percent of the world’s population will reside in urbanized areas by the year 2025. Military Operations on Urbanized Terrain (MOUT), Marine Corps, Warfighting Publication (MCWP) 3-35.3, DEPARTMENT OF THE NAVY, Headquarters United States Marine Corps Washington, DC 20380-0001, 26 April 1998, p. 1-1. According to United Nations estimates, the urban population of developing countries worldwide increases by about 150,000 people each day, with the most pronounced growth occurring in Africa and Asia. By the year 2025, three-fifths of the world’s population — five billion people — will live in urban areas. A Concept for Future Military Operations on Urbanized Terrain, Department of the Navy, Marine Corps Combat Development Command Quantico, VA, 25 July 1997, p. III-3

64 Operation Just Cause validated the force size required to conduct not only the forced entry mission but also other SOF missions directed by the NCA. The three battalions achieved decisive mass at crucial points to accomplish the mission. A smaller force, e.g., two battalions, would not have met the mission requirements. It should be noted that all three Ranger Battalions were needed and committed in Panama, leaving no force available for other contingencies. CHAE, Chelsea Y., Maj USA B.S., The Roles and Missions of Rangers in the Twenty-first Century, United States Military Academy, West Point, New York, 1982, Fort Leavenworth, Kansas,1996, pg. 62.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 28

A Força de Reacção Rápida segundo, como instrumento de comunicações, reconhecimento e vigilância65 e, o terceiro, como

meio de transporte e colocação ou inserção/extracção da FRR no terreno.

A colocação de fogos pode assumir diversos matizes, sendo o mais frequente o Apoio Aéreo

Próximo – “Close Air Support” (CAS) da Força66. Este apoio de fogos poderá ser executado por

aeronaves de asa fixa como o C-130 Spectrum e o A-10 Thunderbolt II, que embora de

características muito distintas são exemplo suficientemente elucidativos deste tipo de apoio de

fogos aéreos. É importante realçar que é um dos meios mais empregue no combate em

profundidade67.

A outra grande componente é efectuada pelos helicópteros numa função anti-carro ou anti-

pessoal68.

No que concerne às comunicações, reconhecimento e vigilância, encontramos por exemplo69 o

DO-27 das campanhas de África e mais recentemente os UAV, designadamente no Líbano, no

Afeganistão e no Iraque.

O apoio logístico é de suma importância interessando destacar dois aspectos: o apoio à própria

Força e respectiva Missão, e o apoio a outras forças ou a missões subsequentes70.

O apoio à Força varia consoante a missão, o inimigo, o terreno, os meios, a rapidez de

execução, a população (ou nacionais e aliados no caso das NEO) e a missão subsequente. O

mais importante, e certamente o mais difícil, será o apoio sanitário quando não for possível

executar evacuações, obrigando a estabilizar os feridos e acidentados e a aguardar a eventual

chegada de uma força de junção.

O último aspecto em análise – meio de transporte e de colocação ou inserção/extracção – é

determinante, justificando até o aparecimento de forças e unidades especialmente treinadas para

actuarem a partir da sua colocação no terreno por aeronaves. Esta colocação varia no tipo de

aeronave (aviões, planadores ou helicópteros) ou no método (por aterragem, por salto em pára-

quedas, por descida em rappel ou corda rápida, ou puramente por salto da aeronave para o solo

– de helis ou aviões71). Sendo este aspecto relevante para as características e possibilidades da

FRR entendemos criar uma alínea própria, que se apresenta de seguida.

(4) Para a Inserção vertical

A inserção vertical oferece, como grandes vantagens, a flexibilidade e rapidez de actuação. 65 A utilização de satélites artificiais complementa, e por vezes substitui, os meios aéreos na realização de algumas destas missões. 66 Não significa isto um atribuir de uma menor importância às outras missões, como o testemunha a abertura dum corredor aéreo

pelos Heli no início da Operação Tempestade no Deserto. 67 Embora o desenvolvimento tecnológico tenha permitido uma parcial substituição, pela utilização de mísseis cada vez mais precisos

como os Tomahawk (BGM-109). 68 E que têm exemplos expressivos, e conhecidos, no AH-1 COBRA do Vietname, no ALOUETTE III em África (na função heli-

canhão) no Mi-24 HIND D no Afeganistão, ou o AH-64A APACHE 69 O E-2C HAWKEYE (que opera a partir de porta-aviões), ou o E-3 SENTRY, mais conhecido pelo AWACS, ou o O-2 ou o OV-

10A BRONCO (North American Rockwell) do Vietname . 70 Situação concretizada no estabelecimento das FOB COBRA e VIPER durante a 1ª Guerra do Golfo em 1991.

71 Situação extrema relatada na frente russa durante a 2ª G.M. Some troops without parachutes were also dropped during the course of the operation (March 1942). Slow-flying U-2 biplanes would skim close to the ground, and the paratroopers would leap off into deep snowdrifts. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio,1995, ISBN 0-89141-399-5, p.72.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 29

A Força de Reacção Rápida Esta, ao contrário do que poderá acontecer com outro tipo de forças, não é tão afectada pela

existência de obstáculos naturais ou artificiais, nem se encontra dependente de uma possível

falta, neutralização ou destruição de infra-estruturas nos locais de empenhamento, como sejam

estradas, portos e aeroportos. A possibilidade de execução da inserção vertical, alcançada

através da aterragem de assalto de aeronaves de asa fixa, de operações aeromóveis ou de assalto

aéreo ou ainda de assalto pára-quedista é garantia de maior sucesso, pela possibilidade de

colocação directa no objectivo72, ou muito próximo73 e pela variedade de combinações que tais

possibilidades de actuação oferecem, i.e. aterragem de assalto conjugada com um assalto pára-

quedista e assalto aéreo e com múltiplas inserções. Sem negarmos a necessidade de maior

especialização em determinadas áreas de uma parte dos elementos da FRR torna-se evidente,

para potenciar e facilitar todas as modalidades de acção referidas, a conveniência em qualificar

e habilitar o máximo efectivo possível da Força para a inserção por meio de pára-quedas.

Assim, a capacidade de salto em pára-quedas não se restringirá aos actuais Batalhões de

Infantaria Pára-quedista, devendo, se possível, estender-se a toda a FRR. Assinale-se que a

impossibilidade do emprego de helicópteros – são facilmente afectados pela altitude, humidade,

temperatura, condições meteorológicas como o vento e a chuva – e o seu menor raio de acção e

velocidade, comparativamente com as aeronaves de asa fixa74, pode colocar como sendo a

melhor opção o lançamento da Força, ou parte dela, em Pára-quedas75. O inverso também

poderá suceder pela inexistência de condições meteorológicas, i.e. vento superior a 14 nós, pela

inexistência de ZL adequadas (pequenas, arborizadas76 ou acidentadas) ou ainda pela

necessidade de não dispersar a Força77. Os avanços tecnológicos têm atenuado as limitações

72 Often air assaults landed right on top of a defending enemy. GRAU, Lester W., GRESS, Michael A.: The Soviet-Afghan War,

How a Superpower Fought and Lost, University Press, 2002, ISBN 0-7006-1186-X, p.217. 73 Como na Operação Urgent Fury, em 25 de Outubro de 1983, onde constitui um exemplo a ocupação do aeroporto de Pearls

inicialmente por uma Companhia de Marines ou a tomada da Mansão do Governador Geral de Granada por 22 SEALS, estes transportados em 2 BLACKHAWK,

74 An air assault in the mountains often required almost twice the number of helicopters of normal circumstances. ... For example, an Mi-8 helicopter can carry 24 fully equipped troopers at sea level, but in the mountains, no more than 12, and in some cases even fewer. GRAU, Lester W., GRESS, Michael A.: The Soviet-Afghan War, How a Superpower Fought and Lost, University Press, 2002, ISBN 0-7006-1186-X, p.201.

75 Como sucedeu nas acções de contra-insurreição levadas a cabo pelas forças rodesianas, no actual Zimbabwe: Three operational jumps in a single day was something no other paratrooper had ever been expected to do. Indeed other paratroops of other nations had endured nothing like it. In 1950-1952, for example, the French Colonial Paras in Indo-China proudly boasted of their fifty odd combat jumps. This was more than double the 24 operational jumps, which the two vaunted French Foreign Legion Para battalions made between March 1949 and March 1954. Altogether the French were to make over a hundred combat jumps while later in Vietnam the Americans only made one major combat jump. The Americans, of course, were by then making tactical use of helicopters. WOOD, Prof. J.R.T.: FIRE FORCE Helicopter Warfare in Rhodesia: 1962-1980.

76 Uma prática original, no sentido de aproveitar o que à partida seria considerado uma limitação, foi o desenvolvimento do tree jumping pelos SAS no conflito da Malásia na década de 50 (Malayan Emergency). Como as bases da guerrilha se situavam em locais longínquos e de difícil acesso os SAS optaram por saltar em pára-quedas sobre a selva, tendo sido realizado em Fevereiro de 1954 o seu primeiro salto operacional deste tipo. A técnica consistia em admitir como pressuposto que a calote do pára-quedas ficaria presa na copa das árvores, bastando depois descer até ao solo por meio duma corda previamente preparada para o efeito. Após a ocorrência de diversos acidentes, alguns deles fatais, e o maior emprego de helicópteros, esta técnica de salto foi abandonada. BILLIÈRE, General Sir Peter de la: Looking for Trouble: SAS to Gulf Command – The Autobiography, HarperCollins, pbk edition 1995, pp. 123-5. GERAGHTY, Tony: Who Dares Wins, The Special Air Service, 1950 to the Gulf War, Warner Book, pp. 338-342. KEMP, Anthony: The SAS Savage Wars of Peace, Signet, 1995, pp. 24-5. NEILLANDS, Robin: In The Combat Zone: Special Forces Since 1945, Orion, pp. 106-107.

77 It was evident that parachutes were of no use in Afghanistan, so most specialized parachute equipment was put into storage at the Bagram and Kabul air bases or shipped back to Soviet Union. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio, 1995, p. 240.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 30

A Força de Reacção Rápida melhorando o desempenho dos helicópteros, as possibilidades dos pára-quedas (mais

manobráveis e permitindo lançamento a velocidades do vento superiores e altitudes inferiores –

18 nós a 150 m) e o aperfeiçoamento de aeronaves VSTOL com maior raio de acção e

capacidade de aterrar verticalmente78, o que poderá melhorar significativamente a colocação

das forças mas, haverá sempre a possibilidade de utilização do pára-quedas79.

(5) Para o emprego dos meios navais e anfíbios

A FRR é, essencialmente, uma força expedicionária, empregando os meios considerados

necessários e adequados para essa finalidade. A maioria da população e das capitais dos países

encontram-se na costa, ou relativamente perto dela, constituindo-se o mar, e os meios que nele

operam uma clara possibilidade ou necessidade de emprego80.

Poderemos distinguir duas formas distintas, uma como meio de colocação de forças,

participando ou, melhor dizendo, antecipando a manobra terrestre. Outra, como elemento de

apoio, de fogos e logístico.

(a) Como meio de colocação de Forças

Numa acção precedida de desembarque anfíbio, convém sempre realçar que os Fuzileiros são

forças anfíbias e, como tal, deverão ser os primeiros a constituir a cabeça de praia81. No

entanto, a versatilidade e competência da FRR, especialmente as suas unidades de Comandos,

poderão permitir-lhes actuar como Força de Seguimento. Outra possibilidade será a sua

utilização para actuar no interior da linha de costa, em ambiente claramente não anfíbio, ou na

execução de operações especiais de acção directa. A existência de helicópteros oferece a

possibilidade de projectar a FRR para acções terrestres, via assalto aéreo82, a partir do ambiente

marítimo libertando, se necessário,83 os Fuzileiros para a componente anfíbia mais

especializada.

O factor de colocação rápida dos meios no terreno é fundamental, havendo pois necessidade de

78 O Osprey é uma aeronave VSTOL (Vertical/Short Take-off and Landing) que tem suscitado muito interesse junto dos Marines

americanos. 79 Parachutes provide a degree of strategic mobility that still cannot be provided by other means. Although helicopters are a much

more practical means of delivery at ranges of 100 miles, parachute operations can occur ar ranges of 500 miles. ZALOGA, Steven J.: Inside the Blue Berets, A Combat History of Soviet and Russian Airborne Forces, 1930-1995, Presidio,1995, pp. 311-2.

80 Some 70 percent of the world population lives within 200 miles of a coastline. Four out of five world capitals are within 300 miles of the coast. Spring 1994 / JFQ 47. The results of geographical studies show that 60 percent of politically significant urban areas outside allied or former Warsaw Pact territory are located along or within 25 miles of a coastline; 75 percent are within 150 miles; 87 percent are within 300 miles; 95 percent are within 600 miles; and all are within 800 miles. Military Operations on Urbanized Terrain (MOUT), Marine Corps, Warfighting Publication (MCWP) 3-35.3, DEPARTMENT OF THE NAVY, Headquarters United States Marine Corps Washington, DC 20380-0001, 26 April 1998, p. 1-1. The purpose of our Naval forces is to directly and decisively, influence events ashore from the sea, anytime, anywhere. Since 80 percent of the world’s population and 80 percent of capitals are within 500 miles of an ocean, our Navy-Marine Corps team is uniquely situated to project power “From the Sea”. We recently demonstrated the value of ready, forward-deployed naval forces during Operation Desert Fox and continue that effort today in the skies over Iraq, on the ground in Kuwait, and in “and under” the sea in the Arabian Gulf. WILLIAMSON, Rear Admiral USN Robert C., On Littoral Force Protection and Power Projection in the 21st Century, Statement Before the Senate Armed Services Seapower Subcommittee, 24 March 1999.

81 Nem sempre isso acontece. A primeiras força britânica a desembarcar nas Falklands-1982, para além dos SBS e SAS, foi o 2º Batalhão Pára-quedista logo seguido do Commando 40. THOMPSON, Julian: No Picnic, Cassell, 2001, pg. 53.

82 A exemplo do Suez 1956

83 42 Commando, with the Somerset Light Infantry anti-tank gunners under command, was to land from the sea but 45 Commando was to initiate a new form of warfare by going ashore in helicopters. NEILLANDS, Robin: A Fighting Retreat, The British Empire 1947-97, Hodder and Stoughton, 1997, ISBN 0-340-63521-5, pg. 325.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 31

A Força de Reacção Rápida considerar a capacidade das lanchas de desembarque e dos helicópteros, e a correspondente

correlação na forma, tamanho e peso das viaturas e equipamentos que deverão embarcar. É a

capacidade de projecção táctica, pronta a empenhar-se, que mais interessa, mais do que a

capacidade de transporte dos meios navais e aéreos. Considerando ainda a limitada capacidade

de entrada em força, não permissiva, ter-se-á sempre que observar que a reacção rápida não é

condicionada pela necessidade absoluta da existência, e respectivas possibilidades, de possíveis

portos de desembarque84.

(b) Como elemento de apoio

Como elemento de apoio pode-se tornar uma absoluta necessidade, mesmo imprescindível, para

execução de determinado tipo de missão. A componente fogos navais, por exemplo, poderá ser

de fulcral importância, permitindo aligeirar ainda mais a força (a empregar). O mesmo poderá

ser dito como meio de apoio logístico nas suas diversas componentes. No caso da existência de

um alerta prévio, poderá posicionar-se e funcionar como base avançada – forward base,

aliviando também desta forma a FRR. Considerando a distribuição dos interesses próximos de

Portugal, o alcance dos meios navais permite, igualmente, a mais fácil aceitação do risco de

desencadear operações aerotransportadas dentro das condições de sustentação e sobrevivência

autónoma da FRR pelo conhecimento da possível chegada, em tempo útil, da componente

marítima, que rapidamente poderá colocar em terra elevados efectivos e quantidades de

material, através de um serviço de vaivém de lanchas e helicópteros disponíveis.

Os meios navais podem também ser um meio privilegiado para a inserção e extracção de Forças

Especiais, em particular através do emprego de submarinos, dado o seu carácter furtivo.

Se a duração da missão o permitir, nomeadamente no caso de operações mais prolongadas ou

dilatadas no tempo, poderão ser o meio de fornecer às forças ligeiras já projectadas no TO

viaturas ligeiras e VBTP (de preferência de rodas e resistentes a minas)85.

Perante estes cenários é evidente a exigência crescente de uma maior interoperabilidade e

conjugação de meios, doutrina e treino entre os Ramos.

(6) Para o emprego de fogos não orgânicos

A dificuldade na projecção de forças, em particular por meios aéreos, é factor limitativo na

atribuição de meios humanos e materiais, nomeadamente no respeitante a meios de apoios de

fogos directos e indirectos orgânicos86.

A alternativa é melhorar as possibilidades de aplicação de fogos não orgânicos, adequando

doutrinas de emprego e ajustando melhor os meios existentes. O aspecto “Conjunto” assume

aqui um peso determinante, pelo emprego da componente naval e aérea. 84 Os Aliados não estiveram no dia D dependentes dos portos, pese embora a natureza diferente das operações nem estiveram,

também, os Britânicos nas Falklands. 85 Como por exemplo do tipo “Piranha”, que equipa as forças da Austrália, do Canadá e as novas Brigadas Sttriker dos EUA e que

poderiam (deveriam) ter sido as viaturas escolhidas para a aquisição por Portugal ao abrigo da LPM.

86 O tipo de operação, o secretismo, a rapidez e a surpresa ... são igualmente factores condicionantes da composição e possibilidades de intervenção da FRR.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 32

A Força de Reacção Rápida Deverá consequentemente ser dado largo espaço a um Sistema de Coordenação e Controlo de

Apoio de Fogos e a uma particular atenção ao Apoio de Fogos Naval e ao CAS. As implicações

na formação e no treino são desde já evidentes. Qualquer elemento da FRR deverá ser capaz de

pedir apoio de fogos já que, poderá encontrar-se isolado ou ser aquele melhor posicionado para

os solicitar.

Mas, como qualquer tipo de apoio, este será tanto mais eficaz quanto melhor for orientado por

observação directa. Há absoluta necessidade de desenvolver a capacidade dos OAF da Força,

integrando elementos da Marinha ou da FA, se for necessário. Estes OAF terão também que

dominar todas as formas e métodos de inserção, aéreo, terrestre ou aquático o que implicará,

para além duma elevada formação técnica a nível de apoio de fogos, a frequência do curso de

Pára-quedismo e de Comandos, considerando a elevada possibilidade de terem de ser

infiltrados, em primeiro lugar e em território hostil, para desempenharem a sua função em

proveito da FRR.

A possibilidade de colocar fogos, de qualquer natureza, ajustados e de elevada letalidade,

permite a atrição localizada, a abertura de corredores aéreos e anfíbios e, em última instância, a

própria sobrevivência e capacidade de extracção da Força.

(7) Para o emprego de meios blindados

Outra importante limitação, a da falta de protecção blindada, não será facilmente contornada.

Algumas viaturas blindadas serão possíveis de empregar, quer pelas várias sub-unidades anti-

carro quer pela Companhia de Incursores, através da utilização das viaturas M-11 que

actualmente equipam os ERec da BAI e da BLI. Mas, em todo o caso, será a missão que a FRR

irá cumprir que determinará ou não, uma maior necessidade de protecção blindada.

Convém também separar, para efeitos de análise, a ameaça blindada da já referida protecção

blindada. Os tipos de missões e de tarefas consideradas para o emprego desta força têm como

um dos seus pressupostos uma fraca ameaça de blindados e, a existir, esta provavelmente estará

dentro dos parâmetros que esta força aerotransportada poderá enfrentar87. Para além da ameaça

blindada há ainda que considerar, mesmo na sua ausência, a vantagem que reside no seu

emprego, atendendo ao poder de choque e de apoio de fogos que viaturas blindadas, mesmo

ligeiras, podem oferecer88.

No entanto, desde que a FRR tenha armamento e viaturas em quantidade suficiente e aero-

largáveis de forma a garantir o necessário poder de fogo e mobilidade logística, uma formação

de escalão Brigada será seguramente a mais adequada. O facto das viaturas e equipamento da

FRR serem relativamente menos sofisticados, quando comparados com os das forças blindadas 87 Army Special Forces also seized control of the Pacora River Bridge and blocked armored counterattacks into Ranger drop zones

around Torrijos/Tocumen Airport. EMBREY, Lieutenant Colonel James H.: OPERATION JUST CAUSE: Concepts for Shaping Future Rapid Decisive Operations in MURRAY, Williamson: TRANSFORMATION CONCEPTS FOR NATIONAL SECURITY IN THE 21st CENTURY, September 2002, ISBN 1-58487-104-0, pg 211.

88 Vide por exemplo o artigo de HEAD, Captain Daniel T., The 2nd Parachute Battalion’s War in the Falklands: Light Armor Made the Difference in South Atlantic Deployment, ARMOR, September-October 1999.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 33

A Força de Reacção Rápida ou mecanizadas, extremamente robustos (devido às especificações para resistirem aos

lançamentos aéreos) e de fácil manutenção e em estado de elevada prontidão, ainda aumentam

mais a sua adequabilidade para a integrar.

(8) Para o desenvolvimento do Espírito de Corpo e Moral da Força

São os homens o elemento fundamental de qualquer força. A sua coesão, ou a falta dela, é

factor determinante para o sucesso de tal forma que, mesmo as teorias da guerra mais recentes,

e não obstante a atracção exercida pela ciência e tecnologia actual, enfatizam esta qualidade.

Considerando a variedade de especialidades que a FRR engloba, a forma porventura mais fácil e

imediata de acentuar essa coesão, será precisamente pelo salto em pára-quedas. Obtêm-se desta

forma dois resultados, a melhoria das capacidades de inserção e intervenção e o robustecimento

do espírito e moral da Força, pelo sentimento de pertença a algo diferente, considerado de elite,

onde a valorização de qualidades como a coragem, a agressividade e o profissionalismo

encontrarão mais facilmente lugar. O ser pára-quedista implica também, por si só, o duplo

voluntarismo, o ser militar e saltar de pára-quedas, que o deverá conduzir de motu proprio num

processo de socialização através de um árduo percurso de selecção e formação89. Tal é

particularmente importante quando se considera que, independentemente da natureza das

operações em que a FRR será seguramente envolvida, estas serão pela sua própria urgência e

demais características, extremamente desgastantes para o pessoal que as integra90.

(9) Para a condução de Acções Humanitárias

Do ponto de vista da eficiência da utilização de recursos humanos e materiais da FRR, o seu

pessoal com aptidões diversificadas, capacidade de iniciativa mais desenvolvida e padrões

físicos superiores à média dos restantes militares, facilmente se adequa a participar em tarefas

de apoio humanitário e ajuda em caso de catástrofe ou calamidade pública, e no apoio a

programas de desenvolvimento económico de comunidades desfavorecidas, etc. Não sendo

encarado como missão específica da FRR, não deverá deixar de ser considerada e treinada de

modo a ser eficazmente utilizada ou de, numa fase posterior de transição assegurar a execução

deste tipo de acções enquanto não é rendida por outras forças ou organizações especializadas.

e. Empenhamento Operacional

O empenhamento da FRR pode englobar quatro fases, que embora para efeitos de apresentação

surjam sequencialmente, tendem a ocorrer de uma forma concorrente. São elas:

Fase Preparatória onde se processa a recolha de informação e o desencadear de acções

conducentes a permitir maior eficácia ao emprego da FRR. Incluem-se nesta fase todas as

89 Parachuting may therefore be compared with combat, providing a very real sense of danger under circumstances that allow units

of soldiers to practice overcoming their fears in relative safety. MCMANNERS, Hugh: The Scars of War, HarperCollins Publisher, 1994, ISBN 0-586-211-292-2, pg.70.

90 I would say, also, that inevitably the selection standards for the parachute forces and the commando forces must be higher than others, and I would think this applies to light infantry in the way you consider it as well. I would think there has to be a reasonably severe selection process both with officers (particularly with officers) and with men. MCMICHAEL, Major Scott R.: Discussions on Training and Employing Light Infantry, CSI Report No. 8, Combat Studies Institute, p.5.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 34

A Força de Reacção Rápida acções convencionais e não convencionais com o objectivo de garantir a surpresa e degradar

a capacidade de actuação do inimigo. O emprego de Forças Especiais, em particular dos

elementos de Operações Especiais, reveste-se de primordial importância.

Entrada “forçada” ou permissiva, caracterizada pela colocação no terreno através de meios

(ou combinação de meios) de inserção, terrestres, aéreos ou marítimos. Esta é a fase mais

vulnerável e complexa. As forças deverão ter organicamente meios que garantam a

mobilidade táctica e poder de fogo adequados ao Teatro de Operações e tipo de ameaça. O

emprego de pequenas forças altamente treinadas permite uma maior rapidez de intervenção

mas acresce a sua vulnerabilidade.

Acção Decisiva. Acção desenvolvida por subunidades constituídas da FRR ou por outras

forças, normalmente mais pesadas e com maior poder de fogo e blindagem. Procura-se

manter a iniciativa e a surpresa, explorando o sucesso das acções desencadeadas pelas forças

iniciais. Esta acção está muito dependente das informações tácticas e da vigilância a longas

distâncias permitindo o empenhamento do inimigo com fogos de precisão de modo a reduzir

ou anular a sua capacidade para desenvolver o combate próximo.

Fase de Transição, em particular das acções militares do espectro mais elevado dos

conflitos para operações de estabilização ou de apoio às populações. Nesta fase verifica-se a

rendição por outras forças mais vocacionadas para este tipo de operações, ou por entidades

civis.

f. Requisitos Fundamentais para Aplicação do Conceito de Emprego da FRR

Para que o conceito de emprego da FRR tenha utilidade e possa ser empregue quer em acções

unilaterais (nacionais) quer no âmbito de alianças e de coligações regionais ou globais, torna-se

necessário que os seguintes requisitos sejam cumpridos:

Um eficiente Sistema de C4IVR;

Existência de informações abrangentes e actualizadas, quer a nível operacional quer a nível

táctico, permanentemente difundidas de modo a alargar o leque de opções tácticas para o

emprego da FRR;

Capacidade para concentrar apoio de fogos da FRR ou da força conjunta / combinada ou da

coligação em benefício das pequenas unidades no TO;

Capacidade de mobilidade táctica de escalão Batalhão, em particular através da atribuição

de meios aéreos (asa fixa e helis);

Capacidade para empenhar simultaneamente 3 sub-unidades de escalão batalhão;

Todo o pessoal, envolvido na manobra terrestre, ser qualificado no salto em pára-quedas e

todo o material e equipamento, essencial para a manobra, ser aerotransportável;

Interoperabilidade dos meios quer em operações conjuntas quer em coligações;

O conceito de “conjugação” inter-ramos, isto é, onde for possível, o material, equipamento e

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 35

A Força de Reacção Rápida treino serem comuns, deve constituir um objectivo a prosseguir o mais depressa possível;

Valorização da capacidade de comando e iniciativa, conhecimento técnico profissional e

agilização do processo de decisão;

Treino vocacionado para as situações de maior exigência do combate.

Comando e Estado-Maior permanentemente constituído e treinado.

Existência em pessoal e material, no mínimo a 90% dos Quadros Orgânicos.

g. Critérios para Validação

Não cabe no âmbito deste trabalho o desenvolvimento de critérios específicos, mas tão somente

definir considerações gerais em que devem ocorrer ou de que forma poderão ocorrer. Assim os

critérios a desenvolver deverão ser objectivos de modo a:

Permitir a medida da eficácia e eficiência do emprego da FRR de acordo com o novo

conceito de emprego;

Respeitar princípios e metodologias em uso na NATO facilitando uma possível certificação

da FRR (ou de parte).

A validação final deverá ocorrer efectivamente em ambiente operacional.

55 –– CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS EE RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS “... a Brigada de Reacção Rápida do Exército será uma

força efectiva, isto é, não será um enunciado teórico.” General Valença Pinto91

a. Generalidades

Pretende este capítulo ultrapassar a mera função de ser um repositório sintetizado dos capítulos

precedentes para, na medida do possível, se transformar num instrumento de utilidade prática imediata.

A questão fundamental colocada foi estabelecer os princípios gerais orientadores de como empregar

tacticamente a FRR existente, como um todo ou em parte, autonomamente ou em coligações, no TN ou

projectada, a fim de executar um largo espectro de operações desde o apoio à paz até a conflitos

convencionais.

Do exposto nos capítulos anteriores se infere que o presente conceito não se aplica nas seguintes

condições:

Quando os requisitos fundamentais não forem cumpridos;

Quando a FRR, como um todo, ou qualquer das suas Sub-unidades forem empregues sem respeitar

a doutrina da manobra.

O conceito apresentado caracteriza-se por ser experimental, i.e., carece de validação e exige a sua

reavaliação e revisão periódicas, face à erosão doutrinária que poderá advir da rápida mutação do

ambiente operacional, da evolução tecnológica nos armamentos e outros equipamentos e, da táctica.

Após validação, este conceito deverá ser revisto sempre que necessário, apontando um prazo de 5 anos

91 Entrevista do General CEME ao Jornal do Exército, Out 2004 Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 36

A Força de Reacção Rápida como limite máximo para a sua revisão obrigatória e dos documentos que dele decorram.

O conceito de emprego definido estabelece as orientações de modo a:

Privilegiar o emprego da FRR, no todo ou em parte, autonomamente ou incluída em forças conjuntas

e/ou combinadas, para actuar em ambientes operacionais diversificados, desde operações de apoio à

paz a conflitos de alta intensidade;

Reforçar a versatilidade da FRR, através da constituição de Sub-unidades de capacidades múltiplas,

diferenciadas e complementares, potenciando quer as sinergias da sua integração quer o emprego em

TO com características distintas ou desempenhando funções operacionais diferentes em forças de

coligações ou de alianças.

O carácter expedicionário da Força é bem patente e obriga à íntima cooperação entre os Ramos se se

pretender constituir uma FRR verdadeiramente operacional, credível e nacional. Assim a colaboração

inter-Ramos é avocada na:

Instrução, formação e treino;

Aquisição de material e equipamento;

Na correcta imputação de custos e consequente reavaliação dos orçamentos dos Ramos;

Revisão doutrinária.

Algumas das Recomendações inseridas ultrapassam o próprio Exército, obrigando a uma cooperação

inter-Ramos e com outras entidades nacionais ou ainda promovendo a necessidade de alterações

legislativas importantes.

b. Conclusões Sectoriais

(1) Doutrinárias e organizacionais

Ameaças difusas e potenciais TO lacunares92, impõem capacidades múltiplas reforçadas e prazos de

reacção mais curtos, dada a imprevisibilidade temporal e espacial da concretização daquelas ameaças.

Assim, é enfatizada a manobra e a acção violenta e continuada, valorizando-se a acção de comando

descentralizada, a interoperabilidade dos meios e a versatilidade da Força.

As capacidades com que se pretende dotar as Sub-Unidades obriga a que se defina, através dos

documentos doutrinários adequados93, com realismo, rigor e pragmatismo, o campo de actuação das

unidades de Comandos, dos elementos de Operações Especiais, dos Precursores e das unidades

Aerotransportadas. As implicações na instrução, treino e logística são imediatas, com opções inadiáveis.

A estrutura da Força foi pensada concorrentemente com os conceitos definidos, destacando-se:

A necessidade de uma Unidade de Comandos de Escalão Batalhão;

O seu carácter ligeiro mas equilibrado e complementar (BCmds, 2 BIPára e restantes Sub-unidades);

A existência do Batalhão Aeroterrestre com capacidades únicas e fundamentais.

A fim de garantir elevados níveis de operacionalidade e prontidão o Comandante da FRR deverá ter

92 Conceito que rompe com a percepção jominiana da linearidade do campo de batalha. 93 Manuais de Campanha; NEP... Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 37

A Força de Reacção Rápida comando completo sobre todas as Sub-Unidades da Força.

A capacidade incremental de poder da FRR

Recomendações:

Constituir o Batalhão de Comandos;

Preservar o Batalhão Aeroterrestre com a nova estrutura e capacidades propostas.

(2) Pessoal

O factor humano é o factor principal na constituição e operacionalidade da FRR. Releva-se a necessidade

do cuidado no processo de selecção e, posteriormente, da formação e treino do militar. A selecção deverá

ser efectuada num universo o mais amplo possível, quer no interior quer fora das Forças Armadas,

porquanto se buscam aptidões muito específicas para serem desenvolvidas a níveis de excelência, isto é

seleccionar profissionais que sejam os melhores. A regeneração desta Força (manutenção de efectivos)

requer especial preocupação e deve ser assumida logo desde o início da constituição da FRR.

A caracterização do futuro TO exige que os militares das unidades de apoio sejam qualitativamente

robustos física e psicologicamente e, técnica e tacticamente preparados como os das unidades de manobra.

O moral e espírito de corpo da FRR devem ser desenvolvidos como mais um factor de sucesso aquando

do combate.

Recomendações:

Selecção do pessoal num universo mais alargado;

Definição rigorosa dos perfis do pessoal a recrutar, prevendo o seu futuro empenhamento;

Critérios mais exigentes na selecção;

Reforçar o ethos de cada sub-unidade, preservando o ethos do conjunto da FRR.

(3) Instrução

A instrução numa FRR revela-se de extrema diversidade e complexidade. No entanto é possível deduzir

as seguintes necessidades:

Qualificação de pára-quedista, garantindo maior integração e versatilidade;

Instrução diferenciada e especializada (operações comando; antiterrorismo; operações anfíbias; em

montanha; em áreas urbanas; reconhecimento estratégico; target acquisition; ...);

Interoperabilidade dos meios e linguagem (terminologia) entre os Ramos.

Recomendações:

Centralizar e coordenar a gestão da instrução dos militares da FRR – (ETE)

Delimitação específica das missões das diversas Forças Especiais;

Multi-especialização dos militares;

Uniformização inter-Ramos da linguagem (terminologia) e procedimentos.

(4) Operações

Não se treinam operações, executam-se! Assim sendo, a realização de exercícios impõe-se com cenários

e em condições tão diversas e realistas quanto possíveis. O treino colectivo inter-ramos é absolutamente

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 38

A Força de Reacção Rápida necessário numa Força com estas características. O Programa de Treino e Exercícios da FRR deverá ser

exaustivo, rigoroso e abrangente, englobando as diferentes fases desde o individual até ao colectivo,

com intensidade, ritmo e dificuldade progressivos, explorando a diversa tipologia de exercícios

possíveis, a fim de exercitar adequadamente os comandos e a tropa aos vários escalões, contextos e

ambientes operacionais. Igualmente importantíssimo, é a implantação no nosso Exército de um eficaz e

eficiente esquema de recolha, processamento e aplicação de Lições Aprendidas, decorrentes de

operações e exercícios que envolveram forças nacionais.

Recomendações:

Realização de mais exercícios conjuntos e combinados;

Rápida validação operacional das Sub-Un de manobra.

Criação de um órgão especificamente dedicado às Lições Aprendidas

(5) Logística

O apoio logístico é crucial, quer para o desencadear das operações, quer na sobrevivência das Forças

empenhadas. Daí o reconhecimento e valorização atribuída ao Batalhão Aeroterreste.

O apoio logístico deverá melhorar a sua eficiência através da evolução doutrinária associada a novos

métodos de gestão e evolução tecnológica. A par disto, dever-se-ão desenvolver algumas boas

práticas que simplifiquem e facilitem o apoio logístico:

a modularidade e interoperabilidade dos meios intra e inter-Ramos;

a existência do maior número de equipamentos comuns inter-Ramos;

Recomendações:

Melhoria das infra-estruturas existentes (Unidades; treino/instrução)

Aquisição de equipamentos específicos:

Armas anti-material (tipo Barrett, M82A 1A, cal. 12,7mm)

Rádios com suficiente largura de banda

Sistema Integrado de Comando e Controlo Táctico

Mulas mecânicas

Mísseis ACar de 3ª geração.

(6) Finanças

O envolvimento político na garantia da atribuição dos meios financeiros é crucial, exigindo uma análise

profunda dos custos resultantes da constituição da FRR e a consequente reavaliação dos orçamentos das

actividades de vida corrente, instrução e reequipamento das FA.

Recomendações:

Imputação e repartição de custos de:

Formação;

Aquisição e manutenção do material e equipamentos;

Instrução e treino.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 39

A Força de Reacção Rápida

c. Horizonte Temporal

O objectivo da constituição da NRF em 2006 e dos Battlegroups em 2007 introduz limitações no período

para desenvolvimento e aprovação de um conceito de emprego, caso Portugal pretenda integrar qualquer

das forças, como se pensa ser o caso. Considerações no âmbito da aquisição de materiais e equipamento, e

o seu possível relacionamento com a LPM, poderão também condicionar a aplicação do conceito. Assim

parece lógico admitir que a validade deste conceito experimental não deverá ultrapassar os 5 anos de

modo a já estar aprovado em 201094, permitindo a Portugal ter uma força de reacção rápida apta e

credível.

Para finalizar:

Não poderão restar dúvidas que o conceito de reacção rápida está firmemente implantado no moderno

mundo militar. As sugestões aqui apresentadas criam novas questões ainda sem resposta e a

implementação do que aqui se preconiza, com as consequentes acções colaterais e os seus naturais

sucedâneos, fará seguramente vir à superfície um elevado número de problemas. Mas, no entanto, não

existem problemas que não tenham já sido resolvidos noutra parte qualquer do mundo. Uma aproximação

séria e dedicada por parte dos participantes neste empreendimento poderá tornar tudo isto viável. A

NATO, no seu meio século de existência, tem vindo a resolver quase todas as dificuldades de integração

de diferentes doutrinas, equipamentos e sistemas logísticos. As respostas, portanto, existem e o preço da

paz, da segurança, da estabilidade e da prosperidade, fazem com que valha a pena procurá-las.

Para além do Conceito de Emprego que foi esboçado, julgamos adequado rematar as conclusões deste

trabalho com a apresentação da nossa “visão” da FRR:

A Força de Reacção Rápida (FRR), componente fundamental da Força Operacional Permanente do Exército,

deverá estar apta a cumprir todo o espectro de missões, que vai das operações de combate, às operações de apoio

à paz e à defesa de interesses nacionais próprios.

Força de escalão Brigada, com composição equilibrada e capacidades múltiplas, elevada prontidão, curto prazo

de disponibilidade e fácil projecção, a FRR estará especialmente vocacionada para ser enquadrada na

componente de forças de resposta da OTAN – designadamente a NRF e o ARRC – assim como para operar

segundo o conceito de Battlegroup da UE. A FRR deverá, ainda, potenciar em permanência a articulação e

actuação com forças dos outros Ramos das FA, garantindo capacidade conjunta para intervir de modo

autónomo em operações de contingência de pequena escala.

A FRR será uma força assente na coesão, no espírito de corpo e na disciplina. Os militares que a integram serão

reconhecidos pelo seu elevado nível de qualificações e apurado treino, inteira disponibilidade, manifesta

motivação e, sobretudo, pelo seu grande orgulho de servirem no Exército de Portugal.

IAEM, 21 de Janeiro de 2005

94 Para um análise mais aprofundada ver: “Considerations on the relationship between the EU Battlegroups and the NATO Response Force”, EU, 14 December 2004.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 40

A Força de Reacção Rápida

GLOSSÁRIO DE CONCEITOSGLOSSÁRIO DE CONCEITOS

Battlegroup

Resultante de uma iniciativa franco-britânica, posteriormente alargada à Alemanha, para operacionalizar

os Elementos de Resposta Rápida que os Helsinki Headline Goals previam. Em Maio de 2004 passa a

estar no centro de novos headline goals estabelecidos pela UE para o ano 2010. É constituído por uma

força, de escalão batalhão reforçado, com cerca de 1500 militares com capacidades adicionais de apoio

de serviços e de apoio de combate em elevado grau de prontidão, preferencialmente vocacionados para

missões da ONU.

Busca e Salvamento – Search and Rescue (SAR)

O emprego de aeronaves, meios terrestres, submarinos, equipas especializadas de salvamento, e

equipamento para procurar e resgatar pessoal em sofrimento em terra ou no mar. AAP 6 - NATO Glossary of Terms and Definitions

Busca e Salvamento em Combate – Combat Search and Rescue (CSAR)

Uma operação coordenada utilizando procedimentos pré-estabelecidos para a detecção, localização,

identificação e recuperação de tripulações de aeronaves abatidas em território inimigo em tempo de

crise ou de guerra e, se apropriado, pessoal isolado em sofrimento, que esteja treinado e equipado para

ser recuperado. AAP 6 - NATO Glossary of Terms and Definitions

Capacidade

No âmbito do presente trabalho diz respeito ao que uma força militar pode assegurar, isto é, aquilo que

deve estar pronta para executar. Pressupõe a existência integrada de três componentes distintas: a sua

organização, os meios e o treino para a sua utilização.

Crise

Rotura no normal fluir dos acontecimentos políticos, quer internos quer externos, dos agentes do sistema

internacional, que pode colocar em risco a estabilidade estratégica e, como tal, exige uma resposta

política complexa onde, normalmente, o recurso à coacção é utilizado95.

Comando Administrativo-Logístico

É a autoridade conferida a um Comandante sobre forças que dependem de outro comandante no aspecto

operacional, caracterizada pelo vínculo hierárquico limitado aos aspectos Administrativo-Logístico. É

exercido sobre forças orgânicas ou atribuídas. Tem competência disciplinar e responsabilidade de apoio

técnico e de instrução. RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.

95 VIANA, Vítor Daniel Rodrigues – O Conceito de Segurança Alargada e o seu Impacto nas Missões e Organização das Forças Armadas. Boletim IAEM. p. 161.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1

A Força de Reacção Rápida Comando Operacional

É a autoridade conferida a um Comandante para utilizar forças postas à sua disposição no desempenho

de missões de natureza operacional. A sua caracterização é dada pela natureza funcional do vínculo

hierárquico, ou seja, circunscrito aos aspectos operacionais o que permite determinar missões aos

comandos subordinados, articular as forças da maneira mais conveniente para execução de tarefas

operacionais, inspeccionar e determinar procedimentos administrativo-logísticos directamente

relacionados com a actividade operacional e delegar autoridade de grau igualou inferior à de comando

operacional. Tem competência disciplinar e responsabilidade pelo treino de conjunto das forças postas à

sua ordem (atribuídas). RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.

Conflito Assimétrico

Tentativas de contornar ou minar o potencial de um opositor enquanto se exploram os seus pontos

fracos, utilizando métodos substancialmente diferentes do modo habitual do opositor operar.

US Joint Chiefs of Staff

Controlo Operacional

É a autoridade conferida a um Comandante para dirigir forças no desempenho de missões ou tarefas

específicas, pormenorizando a execução se necessário. Não tem competência disciplinar, nem pode

determinar missões ou delegar nos comandos subordinados qualquer tipo de autoridade relacionado

com as forças sob controlo. RC 130-1 OPERAÇÕES Capítulo 4-8.

Doutrina

Princípios fundamentais pelos quais as forças militares orientam as suas acções em apoio de objectivos.

É determinante mas exige capacidade de julgamento na sua aplicação. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986

Escalada

Um aumento, deliberado ou não premeditado, no nível de violência de um conflito. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986

Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente – EEINP

O território que se define, nas suas referências cardeais, entre o ponto mais a norte, no concelho de

Melgaço, até ao ponto mais a Sul, nas Ilhas Selvagens; e do ponto mais a Oeste, na Ilha das Flores, até

ao ponto mais a Leste, no concelho de Miranda do Douro; o espaço de circulação entre as parcelas do

território nacional, dado o seu carácter descontínuo; os espaços aéreo e marítimo sob responsabilidade

nacional, as nossas águas territoriais, os fundos marinhos contíguos, a zona económica exclusiva e a

zona que resultar do processo de alargamento da plataforma continental. Conceito Estratégico de Defesa Nacional, 20 Janeiro 2003

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 2

A Força de Reacção Rápida Estado Falhado (resultante do fenómeno de desestruturação dos Estados)

É um termo controverso utilizado para significar um Estado fraco cujo governo central tem pouco

controlo prático sobre uma grande parte do seu território. Quando isto acontece (e.g. pela presença

dominante de senhores da guerra, milícias, ou terrorismo), a própria existência do Estado torna-se dúbia

pelo que se transforma em Estado falhado. A dificuldade em determinar se um dado governo mantém

um “monopólio legítimo do uso da força” (que inclui o problema da definição de “legítimo”) significa

não ser muito claro quando se pode afirmar com precisão que um Estado é “falhado”. A controvérsia

deriva das implicações políticas e militares de se classificar um Estado como “falhado”. As leis e

proclamações do seu governo podem ser ignoradas e em alguns casos podem ser desencadeadas acções

violentas no interior das fronteiras do “Estado falhado” por agentes de outros países. http://www.answers.com/main

Estado Pária

É uma entidade política que, contrariamente aos desejos expressos por outras potências, tenta adquirir

armas que os outros países procuram evitar que tenha sob sua custódia, utiliza armas em conflitos

internos ou internacionais que as outras potências consideram abomináveis, comete crimes contra a

humanidade, acolhe terroristas, tolera actividades tais como o tráfico de drogas que os outros países

combatem, ou procura derrubar ou corromper os processos políticos de outros países. http://www.answers.com/main

Força Combinada

É estruturada para um período mais ou menos longo com elementos das forças armadas de duas ou mais

nações aliadas.

Força Conjunta

É constituída por elementos significativos de mais de um ramo das forças armadas, subordinados ao

mesmo Comandante. Pressupõe uma certa permanência no tempo.

Força Expedicionária

Uma força armada organizada para cumprir um objectivo específico num país estrangeiro. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Força Operacional

É um agrupamento temporário de unidades e/ou suas fracções, de um ou mais ramos, sob o comando de

um único Comandante, constituído com a finalidade de executar uma operação ou uma missão

específica.

Imposição da Paz – Peace Enforcement

Operações efectuadas ao abrigo do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Têm uma natureza

coerciva e são conduzidas quando o consentimento de todas as Partes de um conflito não foi alcançado

ou possa ser incerto. São concebidas para manter ou restabelecer a paz ou impor os termos especificados

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 3

A Força de Reacção Rápida no mandato. MC 327/2

Intensidade dos Conflitos

Conceito que se prende com a sua natureza numa óptica do emprego de forças militares em oposição e

que varia de acordo com o grau de violência e os níveis de tecnologia em confronto, envolvendo uma

noção de escala. A abordagem clássica considera três níveis de conflitos de acordo com a sua

intensidade:

Conflito de Baixa Intensidade – Low-intensity conflict (LIC)

Confrontações político-militares limitadas, com objectivos políticos, militares, sociais, económicos,

ou psicológicos. Na sua maior parte são de longa duração e vão desde a pressão diplomática,

económica e psicológica até ao terrorismo e insurreição. Estão normalmente confinadas a uma área

geográfica específica e muitas das vezes caracterizam-se por limitações em armamentos, tácticas e

níveis de forças. Envolvem uma perspectiva de uso, ou mesmo o uso concreto de meios militares

até precisamente abaixo do nível de combate entre forças armadas regulares. U.S. Army Training Manual TM 100-20, Maio de 1986

Conflito de Média Intensidade – Medium-Intensity Conflict (MIC)

Guerras entre duas ou mais nações e respectivos aliados, se existirem, em que os beligerantes

empregam a mais moderna tecnologia e todos os recursos de informação, mobilização, poder de

fogo, excluindo as armas NBQ, comando e controlo, e comunicações e apoio de serviços. NC – 70-70-09 (NS96008), Operações de Paz e Dissuasão, IAEM, 1996

Conflito de Alta Intensidade – High-Intensity Conflict (HIC)

Guerras entre duas ou mais nações e respectivos aliados, se existirem, em que os beligerantes

empregam a mais moderna tecnologia e todos os recursos de informação, mobilização, poder de

fogo, incluindo as armas NBQ, comando e controlo, e comunicações e apoio de serviços. NC – 70-70-09 (NS96008), Operações de Paz e Dissuasão, IAEM, 1996

Manutenção da Paz – Peacekeeping

Operações geralmente efectuadas ao abrigo do Capítulo VI da Carta das Nações Unidas e conduzidas

com o consentimento de todas as partes de um conflito para monitorizar e facilitar a implementação de

um acordo de paz. MC 327/2

Interoperabilidade

A capacidade dos sistemas, unidades, ou forças, garantirem e/ou aceitarem serviços de outros ramos,

unidades, ou forças. A utilização da troca de serviços permite que operem mais eficazmente em

conjunto. Historicamente, os problemas de interoperabilidade têm vindo a ser resolvidos principalmente

através das experiências e falhas ocorridas durante a conduta de operações reais por um período de

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 4

A Força de Reacção Rápida tempo alargado. US Army Field Manual FM 100-8, 1997

Missões de “Petersberg”

São missões humanitárias ou de evacuação de cidadãos, missões de manutenção de paz e missões

executadas por forças de combate para a gestão de crises, incluindo operações de restabelecimento da

paz. http://europa.eu.int/scadplus/leg/en/cig/g4000p.htm

Modularização

Tem por objectivo subdividir um problema extenso e complexo em problemas menores que

possibilitem a delegação de tarefas, a contenção da propagação de erros e, sobretudo, poderem

reaproveitar-se módulos antigos para sistemas novos sem ser necessário reconstruir a sua estrutura

interna.

NATO Response Force

Força criada por iniciativa dos EUA e apresentada na Cimeira de Praga (2002) cujo objectivo é

providenciar à Aliança Atlântica capacidades terrestres, marítimas e aéreas, integradas e completamente

interoperáveis, sob um mesmo comando, a enviar para onde quer que o NAC o decida.

Nível Operacional da Guerra

O nível da Guerra no qual as campanhas e grandes operações são planeadas, conduzidas e sustentadas

para se cumprirem objectivos estratégicos nos teatros ou áreas de operações. Neste nível, as actividades

implicam uma dimensão mais alargada no tempo e espaço do que as tácticas e garantem os meios pelos

quais os sucessos tácticos são explorados para se conseguirem os objectivos estratégicos. U.S. Army Field Manual FM 100-20, Maio de 1986

Operação Aerotransportada

Uma operação que compreende o movimento aéreo para uma área de objectivo, de forças de combate e

o seu apoio logístico, para a execução de uma operação táctica, operacional, ou estratégica. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Operações Aeromóveis

Operações militares nas quais as forças combatentes e o seu equipamento se deslocam sobre o campo de

batalha em meios aéreos, principalmente helicópteros. As forças empenham-se em combate terrestre sob

o controlo de um comandante terrestre. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Operações de Apoio à Paz – Peace Support Operations

Operações multifuncionais efectuadas imparcialmente em apoio de um mandato das Nações Unidas/

OSCE, envolvendo forças militares e agências diplomáticas e humanitárias e são concebidas para se

alcançar uma resolução política duradoura ou outras condições especificadas no mandato. Incluem a

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 5

A Força de Reacção Rápida manutenção de paz e a imposição da paz, bem como a prevenção de conflitos, a criação e a construção

da paz e as operações humanitárias. MC 327/2.

Operações de Evacuação de Não Combatentes – Non-combatant Evacuation Operations (NEO)

Operações efectuadas para recolocar não combatentes ameaçados num país estrangeiro. AJODWP 96.

Operações humanitárias – Humanitarian Operations

Operações efectuadas para aliviar o sofrimento humano. Podem preceder ou acompanhar actividades

humanitárias desenvolvidas por organizações civis especializadas. MC 327/2.

Planeamento de Forças

Tem por objectivo definir as Unidades (em número, tipo e equipamento) capazes de defrontar os

desafios do futuro, tendo em atenção os recursos disponíveis. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Ponto Crítico

1. Um ponto ou posição chave geográfica, importante para o sucesso de uma operação. 2. Em termos de

tempo, uma crise ou ponto de viragem numa operação. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Potencial Militar

É a parte do potencial estratégico que viabiliza e rentabiliza a aplicação da força física para a

consecução dos objectivos nacionais.

As forças militares são o elemento actuante do potencial militar. São constituídas por homens, armas e

outros meios militares, organizados em unidades capazes de realizarem operações militares. A

organização de tais forças deve atender aos objectivos que visam e à natureza e tipo de ameaças que se

opõem à consecução desses objectivos.

Prevenção de Conflitos – Conflict Prevention

Acções normalmente conduzidas sob o Capítulo VI da Carta das Nações Unidas. Variam desde

iniciativas diplomáticas à projecção preventiva de forças com a intenção de evitar a escalada de disputas

em conflitos armados ou que alastrem. Podem também incluir missões de busca de factos, consultas,

avisos, inspecções e acções de monitorização. A projecção preventiva de forças no quadro da prevenção

de conflitos consiste na projecção de forças operacionais com capacidade de dissuasão suficiente para

impedir a abertura de hostilidades. MC 327/2.

Projecção de Poder

A capacidade de uma nação para aplicar todos ou alguns dos seus elementos de poder nacional –

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 6

A Força de Reacção Rápida político, económico, de informação, ou militar – para rápida e eficazmente projectar e sustentar forças

para e a partir de múltiplos locais dispersos em resposta a crises, para contribuir para a dissuasão, e

promover estabilidade regional. Este conceito está associado ao de “elementos de poder nacional”,

definidos como: todos os elementos disponíveis para serem empregues na persecução dos objectivos

nacionais. http://usmilitary.about.com/library/glossary/p/bldef04849.htm

Prontidão

Consiste na conjugação de capacidade operacional e tempo de resposta, é uma medida da possibilidade

de um elemento das FA cumprir uma missão atribuída. A capacidade operacional é a capacidade real do

elemento das FA quando comparada com o seu quadro orgânico, medida pela sua relativa situação em

termos do pessoal existente, equipamentos que possui, níveis de instrução e componentes de apoio de

serviços e comando e controlo. Tempo de resposta é o tempo que medeia entre a emissão de uma ordem

preparatória e o momento em que o elemento que recebeu a missão tem de estar completamente pronto

a iniciar a sua execução; não inclui o tempo em trânsito para a área de operações. Os níveis de prontidão

estão ligados a um cenário ou a um elemento das FA que tenha recebido uma missão com um designado

tempo de resposta e, portanto, poderão ser aumentados ou diminuídos em resposta a mudanças de

situação, níveis específicos de ameaça, ou recursos.

Racionalização

Qualquer acção que aumente a eficiência de forças aliadas, através de uma utilização mais eficaz dos

recursos de defesa atribuídos à aliança. Inclui a consolidação, re-atribuição das prioridades nacionais

face às maiores necessidades da aliança, normalização, especialização, apoio mútuo ou

interoperabilidade melhorada, e maior cooperação. Aplica-se quer aos sistemas de armamento quer aos

assuntos relativos aos outros recursos materiais que não incluem armamento. FM 100-8, US Army, 1997

Resposta Flexível

A capacidade de forças militares reagirem eficazmente a qualquer ameaça ou ataque inimigo com

acções apropriadas e adaptadas às circunstâncias existentes. www.dtic.mil/doctrine/jel/doddict/data/

Sistema de Forças Nacional

1 - O sistema de forças nacional é constituído por:

a) Uma componente operacional, englobando o conjunto de forças, e meios relacionados entre si

numa perspective de emprego operacional integrado.

b) Uma componente fixa ou territorial, englobando o conjunto de órgãos e serviços essenciais a

organização e apoio geral das Forças Armadas e seus ramos.

2 - Os tipos e quantitativos de forças e meios que devem existir em permanência e em tempo de guerra

para cumprimento das missões das Forças Armadas são definidos tendo em conta as suas capacidades Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 7

A Força de Reacção Rápida específicas e a adequada complementaridade operacional dos meios.

3 - O sistema de forças permanente deve dispor de capacidade para crescer dentro dos prazos admitidos

nos planos gerais de defesa ou nos planos de contingência para os níveis de forças ou meios neles

considerados.

4 - A definição do sistema de forças e do dispositivo é feita nos termos do artigo 25.°da Lei n.° 29/82,

de 11 de Dezembro.

Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas.

Sustentação

É a capacidade de uma força militar de manter a sua prontidão operacional durante o tempo necessário

para cumprir a sua missão. Consiste no abastecimento continuado de consumíveis, manutenção e

substituição de equipamentos desgastados ou danificados, serviços de engenharia, apoio sanitário, e

serviços de pessoal incluindo recompletamentos.

Terrorismo Táctico e Estratégico96

O Terrorismo Táctico procura alterar a forma de um estado, normalmente promovendo a secessão de

uma região. O Terrorismo Estratégico não só procura alterar a direcção de um estado mas também a

sociedade em si mesma. Consequentemente a relação entre o ataque e o efeito político é muito diferente

nos dois tipos de terrorismo. Para o Terrorismo Estratégico, apenas os grandes efeitos, como por

exemplo, os assassínios em massa, estão ao nível do seu ambicioso e terrível objectivo.

Transformação

É um processo que através de novas combinações de conceitos, capacidades, pessoal e organizações

procura redefinir os níveis de sucesso militar no cumprimento de missões previamente inimagináveis ou

impossíveis excepto sob um risco e custo proibitivos.

Treino Operacional

O conjunto de actividades de treino que se destinam à manutenção e aperfeiçoamento das capacidades

operacionais dos militares, individual ou colectivamente. É neste conjunto de actividades que se inserem

os exercícios operacionais, sendo também no quadro do treino operacional, que o Exército aplica e

valida a doutrina em vigor no que ao planeamento e conduta das operações diz respeito, pratica e

aperfeiçoa as necessárias acções de coordenação entre os elementos de comando, de manobra, de apoio

de fogos, de apoio de combate e de apoio de serviços das suas unidades operacionais, pratica e

aperfeiçoa as acções de coordenação com os outros ramos das Forças Armadas e se for caso disso, com

elementos de Forças Armadas de outros países. Regulamento Geral da Instrução do Exército, Cap. 3, p. 3-8.

96 Bertelsmann Foundation, A European Defence Strategy, 2004. Site Internet, http//www.bertelsmann-stiftung.deCor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8

A Força de Reacção Rápida

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Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 8

A Força de Reacção Rápida

AAPPÊÊNNDDIICCEE AA –– OORRGGAANNOOGGRRAAMMAASS

“As coisas que mais receamos nas organizações – flutuações, perturbações e desequilíbrios – são a principal fonte de criatividade.”

Margaret J. Wheatley97

1. Força de Reacção Rápida

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Cmd eCCmdCmd eCCmd

FRRFRR

Ap ATAp AT

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2. Batalhão de Comandos

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Cmd

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ApoioCmd

.....

97 Autora americana (sobretudo na área de liderança), é a Presidente do “Berkana Institute”, Utah, EUA Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 1

A Força de Reacção Rápida

3. Batalhão de Pára-quedistas

Cmd eCAp

Cmd eCAp

Cmd eCAp

4. Comando e Companhia de Apoio do BIPára

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Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 2

A Força de Reacção Rápida

5. Batalhão Aeroterrestre

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Op TermVoo

6. GALE

EM

Ap Svc

EM

Ap Svc

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 A - 3

A Força de Reacção Rápida

AAPPÊÊNNDDIICCEE BB –– IINNSSTTRRUUÇÇÃÃOO “Levar para a guerra um povo não treinado é deitá-lo fora.”

Confúcio

CONTRIBUTOS CONCEPTUAIS PARA UMA NOVA ORIENTAÇÃO,

ASSENTE NA CONSTITUIÇÃO DE UMA ESCOLA DE TROPAS ESPECIAIS 98

Optou-se por, no presente apêndice, apresentar uma nova filosofia de reestruturação da instrução

das tropas “de manobra” que integrarão a FRR visando a integração sinergética da formação

actualmente conduzida na BAI, nas unidades de Comandos e no CIOE, processo que se concebe

tendo o objectivo último de aumentar a qualidade e diminuir os custos, sem comprometimento da

identidade e cultura organizacional respectivas e no estrito respeito das suas especificidades.

Enquadramento

Este estudo é condicionado por factores que, embora externos ao Exército Português, o

influenciam de forma determinante, a saber:

A exigência de mudança profunda do sistema de formação do Exército por força das

alterações legislativas levadas a cabo a nível nacional, muito por imperativos comunitários.

Referimo-nos ao desafio presentemente colocado ao Exército Português pelos processos de

acreditação das entidades formadoras e de certificação dos seus cursos, empresa esta na qual

os restantes Ramos nos precederam e se encontram já bastante avançados;

A extinção do SEN: dinâmica que obriga presentemente o Exército a repensar o seu

processo de selecção e recrutamento e que, por si só – e independentemente dos factores

exógenos anteriormente mencionados – justificaria uma urgente revisão do sistema de

formação do Exército.

A circunstância da extinção do SEN é também relevante a outro título: ao pôr em evidência

a existência de um voluntariado específico para as Tropas Especiais (entenda-se: Pára-

quedistas, Comandos e Forças de Operações Especiais) trouxe uma renovada importância à

discussão da racionalização da Formação Geral Comum – da sua padronização e localização

– como mecanismo para alimentar as Armas e Serviços em termos de recursos humanos.

Constitui também um factor enquadrante, da maior relevância para este estudo, o processo de

transformação do Exército em curso incidindo sobre o Dispositivo e, em particular, sobre a

FOPE: se é verdade que esta dinâmica não foi inicialmente considerada como base de trabalho

para os trabalhos de transformação da formação, considera-se não obstante relevante – e,

mesmo, concorrente – para o levantamento de uma Escola de Tropas Especiais (ETE), o

98 Este apêndice está baseado num documento com este título, produzido por iniciativa individual, pelo TCor Inf Frederico

Almendra, no qual apenas se introduziram pequenas alterações de forma e conteúdo, mas sem modificar o seu intuito e sentido. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 1

A Força de Reacção Rápida desiderato da constituição de uma Força de Reacção Rápida – integrando, precisamente, tropas

Pára-quedistas, Comandos, o CIOE e o GALE.

A Infra-estrutura Militar de Implantação

A Escola de Tropas Aerotransportadas está inserida no Polígono Militar de Tancos, vasto

complexo militar onde estão implantados, para além desta escola, o Comando de Tropas

Aerotransportadas, o Grupo de Aviação Ligeira do Exército e a Escola Prática de Engenharia.

O polígono militar configura uma área militar de características privilegiadas para a condução

de actividades de formação e treino, nomeadamente:

Em termos de localização, encontra-se situado no centro do país, próximo do nó ferroviário

do Entroncamento e do CMSM, sendo servido por um IP que o atravessa e que permite uma

ligação rápida à A1. Considera-se ainda relevante a proximidade aos espelhos de água das

barragens de Castelo do Bode e de Montargil.

Inclui uma infra-estrutura aeroportuária de elevada qualidade e dimensão – permitindo a

operação de aviões a reacção de transporte de passageiros – situada na vizinhança da Zona

de Lançamento do Arripiado (a única ZL permanente do Exército Português; ZL que

permite a execução de lançamentos por Salto de Abertura Automática, por patrulhas, a partir

da aeronave C-130); a importância estratégica do aeródromo de Tancos, suscita – e mais

suscitará, no futuro – um vivo interesse por parte da aeronáutica civil, da FAP e também da

NATO (está previsto um investimento importante no aeródromo de Tancos), tanto mais

quanto resulta óbvia a constatação de que a actividade aérea conjunta do GALE e do CTAT

é algo magra para argumentar sustentadamente a manutenção do controlo desta infra-

estrutura pelo Exército em termos futuros.

Para além do Campo Militar de Santa Margarida – cujas infra-estruturas constituem um

forte argumento em favor do levantamento desta ETE na ETAT (por disponibilizar, a curta

distância desta, infra-estruturas críticas para a formação e treino operacional de FE como

sejam carreiras de tiro p/ sniper, uma pista de aterragem ou um campo de manobras) –

também a Escola Prática de Engenharia, unidade do polígono contigua à ETAT, constitui

uma enorme mais-valia para este projecto, na medida em que para o qual poderá concorrer

com as valências de formação nas áreas de NBQ, CIMIC, Sapadores/Inactivação ou com as

suas infra-estruturas de apoio à instrução (carreira de tiro e infra-estruturas para a execução

de tiros pirotécnicos; parque de pontes; trincheira didáctica; quartel do Casal do Pote, etc)

É, portanto, incontestável que, no presente momento, o Exército Português detém uma infra-

estrutura aeroportuária de inestimável valor, situada na vizinhança de uma ZL de massa de que é

também proprietário e sob um espaço aéreo extraordinariamente desimpedido, beneficiando ainda

de condições meteorológicas de excepção (tendo por referência o padrão das infraestruturas Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 2

A Força de Reacção Rápida equivalentes que os nossos parceiros europeus dispõem). Além de tudo isto a Escola de Tropas

Aerotransportadas integra infra-estruturas de apoio à formação aeroterrestre (aparelhos de instrução

aeroterrestre para treino da saída, descida e aterragem, bem como a maquetes das diferentes

aeronaves), à instrução terrestre (carreira de tiro de 100m, parque de pistas de combate, piscina,

complexo de salas de aula e auditórios e um laboratório de línguas).

A ETAT

A Escola de Tropas Aerotransportadas é uma unidade territorial do CTAT que se encontra na

dependência técnica e funcional do Comando de Instrução;

Na ETAT encontra-se sedeado o Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), unidade que integra

sub-unidades de apoio técnico aeroterrestre e uma sub-unidade de Precursores Aeroterrestres.

Esta unidade pertencente à BAI é já hoje crítica para o treino operacional de unidades da FAP (a

CAA trabalha em benefício quase exclusivo da Esq 501 – e da Armada (treino de infiltração

vertical do DAE). A sua implantação na ETAT assume um potencial sinergético do ponto de

vista da formação: por um lado, através do apoio técnico à actividade aeroterrestre da escola

(missões de lançamento de pessoal e material); por outro lado, porque os seus quadros técnicos

intervêm como formadores na área aeroterrestre.

Para efeitos do levantamento da ETE, a dupla importância do BAAT – para a FOPE, e para a

formação – poderá colocar questões de dependência hierárquica, as quais, embora

potencialmente difíceis de gerir, não devem obstar ao desenvolvimento deste projecto.

Por último, importa também referir o Centro de Selecção das Tropas Aerotransportadas, órgão

que se encontra também implantado na ETAT e que se entende relevante para o levantamento

da ETE por dois motivos:

À semelhança do BAAT, por questões de dependência hierárquica, uma vez que prevalece a

sua dependência da DR;

Pelo potencial que representa para o lançamento, em termos futuros – e em absoluta sintonia

com a lógica que suporta o levantamento de uma ETE – de um órgão de Selecção de Tropas

Especiais.

Conceito proposto

Constituir uma Escola de Tropas Especiais que permita, através da integração da direcção da

formação e da racionalização da formação comum – visando a prossecução última de objectivos de

qualidade e economia de recursos – uma resposta adequada às necessidades de formação técnica

aeroterrestre e de formação inicial das tropas especiais dos Ramos, na estrita observância das suas

especificidades em termos de cultura organizacional e recrutamento.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 3

A Força de Reacção Rápida Vantagens e Inconvenientes

A ideia do levantamento de uma escola de tropas especiais levanta (automática e

compreensivelmente) reservas mentais uma vez que, no esforço de racionalização e integração

por mor da optimização do sistema, o projecto poderá redundar no comprometimento, por

descaracterização, da formação específica das diferentes tropas especiais – formação esta

profundamente impregnada de elementos da tradição e da cultura organizacional de cada um

dos corpos e que concorre para o desenvolvimento das “qualidades intangíveis” sobre as quais

se fundamenta a sua identidade corporativa.

Não obstante – saliente-se – este projecto não obriga à co-localização da formação específica

das diferentes tropas especiais; insiste, sim, na racionalização da sua formação inicial (hoje até

assente numa formação geral comum) e nos méritos, em nosso entender óbvios, da sua reunião

sob a chefia pedagógica e científica de uma direcção de formação comum, realidade esta que,

para além da economia de recursos que implica, apresenta, sobretudo, o mérito inquestionável

de articular os diferentes processos de formação (começando logo pelo estabelecimento

esclarecedor dos respectivos perfis e decorrentes competências). O alcançar deste objectivo só

poderá redundar em benefícios para o Exército em geral e para a FRR em particular.

Por outro lado, a constituição desta ETE permitirá ao comando do Exército reunir, sob uma

mesma entidade directora de formação, todas as valências de formação de vocação conjunta:

Na área aeroterrestre, embora o potencial de integração da formação inter-ramos seja ainda

enorme, esta integração foi já iniciada. A ETAT dá já formação aeroterrestre a militares da

FAP e da Armada. O potencial da constituição de um centro de formação aeroterrestre nesta

ETE permitirá capitalizar nesta realidade e – por via dos méritos da infra-estrutura

aeroportuária incipientemente já argumentados – abre mesmo a porta ao estabelecimento de

um centro de formação aeroterrestre de importância internacional (no passado, Espanhóis,

Belgas, Ingleses, Alemães e Italianos foram formados ou conduziram formação técnica

aeroterrestre na ETAT e o seu interesse em voltar a fazê-lo não diminuiu tendo sido

reiterado ainda recentemente no exercício Guadiana ou na visita de Adidos de Defesa) e,

porque não, apresentá-lo como Centro de Excelência da NATO ao serviço de todos os

nossos aliados e amigos (pagando estes a sua quota parte, claro!).

Na área da formação terrestre, este projecto apresenta o mérito quase “automático” da

clarificação de competências e permite, no mínimo, a integração da formação inicial comum.

Não obstante, apresenta implicitamente um enorme potencial de desenvolvimento também

nesta área: basta imaginar a efectivação do levantamento de forças especiais a nível conjunto

para nos permitirmos imaginar o Exército a estender também aos outros Ramos a “prestação

de serviços” da sua ETE não só na área da formação inicial do combatente, mas, porque não,

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 4

A Força de Reacção Rápida em todas as outras áreas técnicas implicadas na formação deste sofisticado combatente

terrestre – comunicações estratégicas, técnicas avançadas de infiltração e exfiltração

(SOGA, HELI, outras), sobrevivência fuga e evasão, estudo de área, etc.

Em resumo, este projecto teria os seguintes méritos:

Articular, integrando sistémicamente e coordenando, os planos de formação das diferentes

tropas especiais bem como a formação, propriamente dita, em termos de formação inicial

comum e, adicionalmente, em todas as áreas que as diversas tropas especiais entenderem não

resultar da racionalização prejuízo para a sua identidade e/ou especificidade;

Operacionalizar, para efeitos de formação de tropas especiais, a extraordinária concentração de

recursos, para este fim vocacionados, existentes no Polígono Militar de Tancos, em conjunção

que, por ser única a nível europeu, não deixará de interessar aos restantes Ramos, bem como aos

nossos parceiros da NATO.

Articulação conceptual da ETE

Face à argumentação apresentada, apontam-se, de seguida, alguns dos princípios a observar na sua

organização:

O levantamento de uma Direcção de Formação comum, independentemente da deslocalização

dos centros e pólos de formação das diferentes tropas especiais.

A articulação da formação conduzida na ETE em dois centros de formação: um Centro de

Formação Aeroterrestre (CFAT) e um Centro de Formação Terrestre Conjunto (CFTC).

A constituição de um Batalhão de Alunos, unidade sem encargos de formação e unicamente

vocacionada para o aquartelamento e enquadramento administrativo dos instruendos.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 B - 5

A Força de Reacção Rápida

AAPPÊÊNNDDIICCEE CC –– AAPPOOIIOO LLOOGGÍÍSSTTIICCOO "The first essential condition for an army to be able to stand the strain of battle is an adequate stock of weapons, petrol and ammunition."

Marechal de Campo Erwin Rommel99

ALTERAR OS PROCEDIMENTOS POR FORMA A MELHORAR

A CAPACIDADE DE PROJECÇÃO E SUSTENTAÇÃO DA FRR

A FRR só existe para ser empregue num cenário real, onde se concretize a sua projecção para um

território exterior à sua base, ou como força dissuasora pela sua própria existência e pelas

possibilidades e capacidades exibidas ou demonstradas.

Só faz sentido, face ao conceito de criação, de emprego e da realidade político-militar existente, que

esta Força seja considerada como um todo, numa simbiose completa dos seus elementos

constitutivos qualquer que seja a sua natureza. Isto é, não faz qualquer sentido separar, a nível de

planeamento e execução, os elementos, e necessidades, de manobra, de apoio de combate e apoio

logístico100. Situação que se torna mais complexa se pensarmos nesta FRR como uma Força de

vocação global, com perspectivas naturais de ser empregue numa multiplicidade de cenários de

diferentes níveis de conflitualidade e de violência, em terrenos e ambientes climatéricos muitos

diversos, se não mesmo adversos, aos existentes na sua base de origem. Este todo inclui, nunca é

demais referir, as restantes forças das Alianças ou Coligações, cujas agendas e interesses

específicos poderão colidir com as necessidades objectivas do cumprimento de uma operação101.

Contudo a assunção de um todo completamente integrado, e não um conjunto de elementos ou

meios independentes, encontra resistências de ordem cultural dificilmente ultrapassáveis e que

limitarão sempre a prontidão e eficácia de qualquer força102.

Salvaguardando o que atrás foi referido iremos debruçar-nos em separado, mas apenas por razões

metodológicas de análise e estudo, sobre uma das suas componentes: a logística.

De imediato interessa fazer a distinção entre o que se poderá denominar logística interna, orgânica

da própria Força, e externa da dependência de outro Comando, ou escalão, que não o da FRR.

99 The Rommel Papers, p.132 citado por CREVELD, Martin Van: Supplying War, Logistics from Wallenstein to Patton, Cambridge

University Press, p. 200. 100 Operational planning consists of an intimate blend of tactical and logistic thinking to carry out strategic concepts. This unity and

coherence is essential to swift, decisive military action in any type of human conflict ... in combat the logistic support that may be considered inadedquate by a timid or mediocre commander may be adequate for a bold and competent commander who understands the nature and source of flexibility, provided he has adequate control of a flexible logistic system. SKINNER: NORTHAG, a Study of Organizational Structure, citado in THOMPSON, Julian: Lifeblood of War, Logistics in Armed Conflict, Brassey’s, 1991, ISBN 0-08-040977-6, p. 294.

101 It came as an welcome surprise that the Americans redeployed their Patriots without our knowledge, leaving our extensive Supply Area without any air defence cover whatsoever. WHITE, Major General Martin: Gulf Logistics, Blackadder’s War, Brassey’s, 1995, p.47.

102 Since the appearance of ancient divisions of labor brought functional specialization, one characteristic of military organizations has been political conflict between the combat arms who believed they were the only ones entitled to the perquisites of a military calling, and a soldier/logisticians, whom “real soldiers” considered unentitled to recognition as co-participants in the military life. LYNN, John A.: Feeding Mars, Logistics in Western Warfare from the Middle Ages to the Present, Westview, 1993, p. 251.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 1

A Força de Reacção Rápida A logística interna da FRR está directamente ligada ao conceito do seu emprego e à análise, que

aqui simplificamos, dos factores MITMT já conhecidos.

A Missão é, sem margem de dúvida, o factor determinante. Conceptualmente, já que neste

momento não se encontra atribuída missão específica, será conveniente considerarmos as mais

gravosas do seu quadro geral de utilização. Ficará assim de fora, na elaboração da sua estrutura

base, a possibilidade de intervenção contra forças blindadas, semelhante, por exemplo, ao ocorrido

na fase inicial da Guerra do Golfo em 1990 onde, se tivesse de facto acontecido a invasão da Arábia

Saudita por forças blindadas iraquianas, as forças da 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA seriam

destruídas, ou sofreriam um número apreciável de baixas considerando tratar-se de uma GU

“ligeira” (veja-se o que aconteceu na Operação Market Garden na II GM muito bem retratado no

filme “Uma ponte longe demais”).

Excluindo este tipo de cenários, a logística destinar-se-á de início a apoiar de uma forma

simplificada e rápida, com um crescendo progressivo até à retirada da Força ou a sua rendição.

Perspectivamos assim, como raciocínio base e de acordo com o desenvolvido no conceito, o

emprego rápido e violento do Batalhão de Comandos, seguida de retirada imediata ou de reforço

por unidades de Infantaria “ligeira” mais robustas e com maior protecção e capacidade de fogo, os

Batalhões de Infantaria Pára-quedista. (e.g. Operação Just Cause – Panamá, 1999). A esta fase

suceder-se-ia a retirada ou a rendição por Forças de Seguimento Motorizadas ou Mecanizadas com

a sua própria e adequada capacidade logística. É evidente que a natureza da missão, seja ela

operação de manutenção ou imposição de paz, NEO, entrada não permissiva ou “raid”, será sempre

determinante, mas, um dos aspectos que caracterizam as missões para que a Força se destina é a sua

rapidez de execução, que lhe permite ganhar a surpresa táctica e operacional (a estratégica é

frequentemente perdida a nível político), e a protecção por falta de “blindagem”.

Perante este conceito de actuação, e salvaguardando as alterações sempre necessárias para adequar a

Força à Missão, o apoio logístico na primeira fase será transportado pela própria Força, às costas ou

em veículos ligeiros (do tipo “mula mecânica”, ou outros meios: barcos, canoas, helicópteros) que

eventualmente a possam acompanhar ou então, ser colocado ou obtido localmente.103

No seguimento da análise metodológica tradicional interessa considerar o Inimigo, ou parte ou

natureza da ameaça. As possibilidades de sucesso têm naturalmente a ver com o Inimigo a enfrentar

e a sua capacidade de actuação e reacção. Segundo o conceito de emprego, a nossa FRR não deverá

ser utilizada contra forças blindadas em terreno mais adequado a estas (tank country) a não ser que

a natureza da missão e a rapidez de execução alterem os parâmetros da equação, e/ou em que a

103 Numa função supletiva já que o que se pretende é a autonomia da Força, no sentido da não necessidade de apoios exteriores ou da nação hospedeira para o cumprimento da Missão.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 2

A Força de Reacção Rápida vantagem seja decididamente da FRR. Neste caso, desde que um factor (e.g. terreno complexo), ou

conjunto de factores (e.g. terreno e condições meteorológicas, inépcia de comando, restrições

políticas...) anulem ou alterem as vantagens proporcionadas ao In, poderá ser possível, ou até

desejável e conveniente, o emprego da FRR.

O outro aspecto a considerar é o Terreno no seu sentido lato incluindo neste o clima. A FRR é mais

adequada para actuar em terreno mais complexo, como áreas urbanizadas ou arborizadas. Mas

mesmo nestas circunstâncias poderão ocorrer surpresas. É possível visualizar cenários, onde forças

mecanizadas sejam empregues com toda a propriedade em zonas arborizadas, urbanizadas, ou

outras, como as acções desenvolvidas no Vietname, na Chechénia e na faixa de Gaza podem

testemunhar. Também a existência ou ameaça de emprego de armas NBQ podem condicionar as

modalidades de acção a adoptar e o tipo de forças, dando-se preferência a forças motorizadas ou

mecanizadas, o que terá consequências imediatas na concepção e apoio logístico da Força.

O Tempo disponível aparece-nos segundo diversos matizes e, quanto mais alargado for, mais

permitirá, em princípio, uma melhor recolha de informações e adequação da Força à missão a

cumprir, sendo fundamental equacionar-se o tempo de projecção e de empenhamento. A rapidez é,

normalmente, associada à ligeireza das forças a actuar em determinado contexto. Também aqui

interessa considerar as situações mais exigentes, aquelas que requerem uma intervenção imediata,

no sentido de lançar ou desencadear a operação, e uma rapidez de execução também elevada. Todas

estas situações obrigam a um acelerar de todos os tempos, quer de decisão quer de execução. No

âmbito da logística ter-se-ão de reduzir os escalões de decisão no sentido de garantir um grau de

flexibilidade e adaptabilidade elevado que permita reagir rapidamente às contingências que

eventualmente possam surgir, minimizando-se o risco de desencadear operações com forças

próximas do limiar da sua “ligeireza”.

Depois de efectuadas estas considerações, teremos que considerar de que forma poderemos adequar

o apoio logístico ao acima referido. O primeiro problema que se nos coloca é como poderemos

responder às necessidades de uma Força que, embora tenha uma estrutura de base, é pelo próprio

conceito de emprego flexível e “ajustável” às missões que lhe possam ser atribuídas.

A resposta ao desafio da flexibilidade passa pela Modularização, isto é, na constituição de

elementos, ou conjuntos de elementos, que satisfaçam a uma necessidade ou função e que possam

igualmente ser agregados, consoante a natureza e volume, de forma a responder às necessidades da

Missão. Realce-se que estas poderão ser bastante diferentes das necessidades da Força

individualmente considerada, por a missão exigir outras para além do mero consumo táctico. É o

caso duma NEO, onde o apoio aos cidadãos nacionais pode exigir um volume e qualidade de apoio

muito diferentes dos da Força (e.g. material sanitário para crianças).

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 3

A Força de Reacção Rápida A padronização, compatibilidade e interoperabilidade são aspectos iniludíveis a considerar

especialmente quando se referem a operações conjuntas e combinadas. A actuação cada vez mais

corrente no âmbito de Alianças ou Coligações torna imperativo o cumprimento destes aspectos. Se

um País fornecer o transporte, o apoio aéreo próximo ou a evacuação sanitária e a FRR não

conseguir sequer comunicar a não ser com o fornecimento de novos rádios, teremos certamente um

agravamento do desempenho logístico se não mesmo do operacional. Este problema não tem sido

fácil de resolver, mesmo dentro de alianças como a NATO.

Por sua vez a Modularização exige a Simplificação, quer ao nível das necessidades efectivas quer

no meio de as suprir. A rapidez de intervenção remete todas as questões para um patamar de

urgência muito próximo do da sobrevivência, passando tudo o resto a ser considerado ”supérfluo”,

podendo ser satisfeito numa segunda fase. É perfeitamente admissível que numa operação NEO, por

exemplo, o apoio seja o mínimo para garantir a sobrevivência dos cidadãos nacionais, se essa for a

melhor solução para garantir o sucesso da operação.

A FRR é por natureza constituída por militares possuidores duma rusticidade e moral acima do

normal, com elementos especialmente seleccionados e treinados, preparados para elevados níveis de

stress físico e mental104. Características que deverão ser exploradas ao máximo para garantir maior

mobilidade, rapidez e eficácia à Força. O resto, não obstante serem artigos ou funções importantes,

deverão ser priorizados e satisfeitos em fases sucessivas ou posteriores da operação. Refeições e

banhos quentes são, sem qualquer margem de dúvidas, importantes, mas, em determinadas

circunstâncias, poderão ser considerados secundários.

A estes princípios acresce o Planeamento realista e a assunção de riscos. As tabelas de cálculo

logísticas terão de ser revistas com base nas operações mais recentes e com pressupostos actuais. As

situações tipo deverão ser testadas em exercícios com duração semelhante em tempo e em esforço

às reais. Os consumos de munições terão de ser recalculados consoante o tipo de operação, a

manobra prevista e o nível de esforço a realizar. O acessório para o cumprimento da missão

deverá ser descartado. Isto é importante especialmente ao nível do apoio de fogos indirectos. O

apoio de fogos com meios não orgânicos, como sejam a Artilharia Naval e Aéreos, poderá reduzir

em muito a carga logística. É evidente a necessidade de uma assunção de riscos que não pode ser

escamoteada, como é bem exemplificado pela interrupção do apoio naval e aéreo em Goose

Green105, com um impacto significativo que não se pôde esconder.

104 A number of British naval ratings when war looked likely in the Falklands in 1982, were on record as saying that they had not

joined the Navy to go to war! No such remark was recorded in the case of the commandos and parachute battalions. THOMPSON, Julian: Lifeblood of War, Logistics in Armed Conflict, Brassey’s, 1991, ISBN 0-08-040977-6, p. 359.

105 At 3.14 am, in the middle of this battle, HMS Arrow, who was supporting the attack with naval gunfire, developed a fault in her turret which stopped her firing. ... The Battalion mortars had run out of ammunition and the Harriers could not take off from the carriers because of mist at sea. THOMPSON, Julian: No Picnic, Cassell, 2001, p.76 e p.77.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 4

A Força de Reacção Rápida Também é aqui, na Logística da FRR, que se deverá observar a excelência duma concepção

holística da Força, ou seja, a existência real da Força como um todo, na associação das sinergias

para a optimização de esforços e meios para o cumprimento da Missão. O correcto entendimento da

Missão e das limitações e possibilidades de apoio libertam igualmente meios “menos necessários”

aliviando o peso e o volume da manobra e dos apoios106. Nunca é demais também referir o pessoal,

atendendo às suas características. As Tropas de Montanha por natureza são mais adequadas para

serem empregues em zonas montanhosas onde em princípio serão mais eficientes. Quando tratamos

de ambientes extremos, por exemplo, clima, é importante não esquecer que as baixas não devidas a

combate nestes TO costumam suplantar as devidas a combate. Para além duma maior eficiência no

desempenho táctico, também no apoio se obterão ganhos. A redução das perdas sanitárias e as

consequências que têm para a missão e a Força obrigam a este cuidado. Forças melhor treinadas e

especializadas aumentam a eficiência e reduzem as necessidades em muitos dos meios. Algo

semelhante se poderá dizer das Forças mais disciplinadas onde o cumprimento de hábitos sanitários

correctos (e.g. profilaxia da malária107) e redução de consumos (munições, água, equipamento) se

traduzem na redução do peso logístico e no aumento da eficiência.

Outros consumos logísticos devem ser revistos e, se necessário, providenciada a substituição por

equipamentos mais robustos, modernos ou eficientes de acordo com a missão e condições a

enfrentar. A tentação de aquisição de equipamento civil comercial para uso militar é cada vez

maior. Nada haverá a opor a esta opção desde que se considerem os parâmetros de robustez,

fiabilidade, e restantes especificações técnicas definidas para os equipamentos militares.

A capacidade de reforçar, em termos logísticos, é fundamental, uma vez que a redução do peso e

volume tem consequências significativas no aumento da rapidez de projecção e execução. Essa

capacidade de reforço poderá ser acelerada através dum melhor planeamento logístico, já

referenciado anteriormente, pelo conhecimento actual da situação logística permitida pelas novas

tecnologias, pela previsão e antecipação das necessidades logísticas, pela melhoria dos sistemas de

armazenagem e embalagem (atente-se na revolução que foi a introdução dos contentores) e pelo

encurtamento das distâncias e de tempo e melhoria do sistema de distribuição. Esta última

alcançada pelo pré-posicionamento no TO (prévio aos acontecimentos), pelo emprego de Forças

106 Exemplo típico é o planeamento inicial de libertação de mais de uma centena de reféns do voo 139 da Air France de Tel Aviv para

Paris, sequestrados por elementos da Frente de Libertação da Palestina em 27 de Junho de 1976. No início previa-se o emprego de uma pequena força para neutralizar os terroristas procedendo-se posteriormente à evacuação e repatriamento por meios normais, via aérea com meios da El Al. A força saltaria dum Hercules C-130 sobre o Lago Vitória e abordaria, de barco, o terminal do aeroporto. Após a confirmação de que Idi Amin e o exército Ugandês eram coniventes com a situação, os planos foram alterados exigindo cerca de 10 Hercules C-130. O aperfeiçoamento do plano previa, no final, o emprego de um Boeing 707 de comando, e apenas mais 4 Hercules C-130, 3 viaturas ligeiras (2 Land Rover e 1 Mercedes) que seguiriam no primeiro avião, 2 VBTP e um Jeep de comando que seguiriam no segundo, mais 2 VBTP no terceiro e uma viatura Peugeot, para a rápida evacuação dos feridos, no quarto avião. Sobre o resgate de Entebe vide HERZOG, Chaim : The Arab-Israeli Wars: War and Peace in the Middle East from the War of Independence through Lebanon, Vintage, pp.327-36.; Operação Jonathan, o Resgate em Entebe, Military Review (Edição em português) 4º Trimestre, 1982.

107 Dos cerca de 4 500 militares britânicos que actuaram na Operação Palliser Maio a Junho de 2000, apenas 80 contraíram paludismo, apesar desta doença ser endémica na Serra Leoa.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 5

A Força de Reacção Rápida Especiais durante a própria operação, pelo desencadear de acções com esse objectivo específico,

pela colocação em bases avançadas, pelo posicionamento em navios, pela utilização de meios de

transporte mais rápidos e com maior capacidade (e.g. o catamaran em Timor) e/ou pela utilização

dos recursos locais108. Como exemplos, poderemos apontar a criação de bases logísticas avançadas

em território iraquiano na Guerra do Golfo - 1990, FOBs COBRA e VIPER109, tendo para isso sido

necessário executar dois Assaltos Aéreos .

Não parece, pois, restarem dúvidas de que a logística da FRR deve ser estudada, desenvolvida e

praticada ao mesmo nível e qualidade das restantes áreas e, as transformações que se operam ao

nível dos assuntos militares terão naturalmente que incluir a logística. A utilização intensiva dos

meios tecnológicos modernos, de novas estruturas organizacionais e decisionais110 e a possibilidade

de conhecimento em tempo real permitirão o aligeirar a Força com o acrescido bónus de aumento

da sua capacidade operacional, num exemplo de procura de optimização de sinergias, com claro

destaque da unidade de comando, da maior velocidade de execução e de um apoio logístico ágil e

adequado.

108 No resgate de Entebe estava previsto que os aviões da força se reabasteceriam no próprio local, o que não chegou a ser necessário

por ter sido autorizado o reabastecimento no Aeroporto de Nairobi no Quénia. 109 It’s worth noting that in the four-day ground war against Iraq, the 101st Airborne Division carried out four brigade-scale

operations. Two of these involved taking FOBs – in other words, big gas stations. BOLGER, Daniel P., Death Ground, Today’s American Infantry in Battle, Presidio Press, 2000, p.107. Sobre estas operações vide SCALES Jr., Brig. Gen. Robert H.: Certain Victory, The U.S.Army in the Gulf War, Brassey’s, 1994, pp.217-221 e pp. 303-305; MILLER, Major General John E., US Army, and BOLGER, Major Daniel P.: US Army: Going Deep, Division Air Assault Operations, Military Review, April 1993, pp. 2-12.

110 Como o “normalizar” o encaminhamento directo ultrapassando escalões de comando ou de apoio intermédios. Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 C - 6

A Força de Reacção Rápida

AAPPÊÊNNDDIICCEE DD –– AAPPOOIIOO DDEE CC44IIVVRR111

“When things go wrong in your command, start searching for the reason in increasingly larger concentric circles around your own desk.”

General Bruce Clarke

Do Início da História

Sempre foi uma preocupação dos comandantes, saber o que se passa no terreno, ter a possibilidade

de dar ordens, possuir a capacidade de verificar se estavam a ser cumpridas e, se possível, poder

alterá-las no decorrer da batalha para a influenciar. No início da História Militar, tal como a

conhecemos, isso era difícil de acontecer. Os próprios chefes envolviam-se fisicamente na batalha e,

uma vez iniciada esta, tudo parecia estar determinado pelas medidas e opções previamente tomadas,

pelo valor dos combatentes e, frequentemente pelo facto de não tombarem em combate. A actuação

da falange é um claro exemplo demonstrativo destas asserções.

Aquelas dificuldades foram progressivamente vencidas pelo engenho humano: referimo-nos à

utilização de bandeiras e flâmulas, ainda hoje constituindo um precioso património dos exércitos,

dos sinais sonoros – as trompas, cornetas, tambores, ... – de mensageiros ou estafetas e, quando do

aparecimento da pólvora, dos sinais pirotécnicos. Necessidades que se reflectiram nos próprios

uniformes: as cores garridas, o penacho de centurião no sentido transversal para ser facilmente visto

pelos seus legionários, as “canetas/cordões” dos ajudantes de campo e, em certa medida, a figura do

2º Comandante, que põe em prática as ordens do Comandante e verifica se estão a ser cumpridas.

Todas estas considerações, para deixarem de ser um mero exercício académico terão que ter

presente qual a finalidade do C4IVR, o qual, para nós, se resume num conjunto de meios, ou

melhor, de sistemas de “sistemas” que permitem a uma força, neste caso a FRR, cumprirem

a sua missão. Tendo em vista a FRR passemos a analisar os requisitos de C4IVR.

Requisitos e questões de C4IVR

Comando e Controlo

Tradicionalmente os exércitos apresentam uma estrutura muito hierarquizada e linear, tendo-se

criado um processo de decisão condizente com essa mesma estrutura. Numa FRR não é só a

estrutura organizacional que determina a natureza do comando. Os cenários mais prováveis onde

poderá actuar são complexos, lacunares, onde a dispersão táctica pode ocorrer em distâncias físicas

e temporais significativas, e cujas acções poderão ter consequências a nível táctico, operacional e

estratégico.

111 C4IVR: Comando, Controlo, Comunicações, Computadores, Informações, Vigilância e Reconhecimento Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 1

A Força de Reacção Rápida Mesmo com o apoio da tecnologia moderna não será sempre possível o exercício do comando pelo

Comandante. A solução é doutrinária, daí a importância da adopção da Teoria da Manobra, ao

incentivar o emprego de ordens tipo missão, à iniciativa dos subordinados dentro da intenção do

respectivo Comandante, pelos menos até dois escalões acima. Este ênfase na “descentralização”

parece ir contra a centralização do comando que as novas tecnologias oferecem. Não faltam

exemplos: desde a intervenção do Presidente Kennedy na crise de Cuba de 1962 junto do

Comandante que efectuou a intercepção do primeiro navio Russo 112, passando pelas situações do

Vietname, da decisão britânica de atacar Goose Green113 nas Falklands em 1982 .

É evidente que o problema se acentua numa força de projecção ou expedicionária. Em tempos mais

recuados, quando o processo de comunicação era longo, lento e perigoso, a solução por necessidade

era a da descentralização. Lembremo-nos da carta de Pero Vaz de Caminha a comunicar o

achamento do Brasil – uma carta, um navio114, um oceano – e a solução, por exemplo, de Portugal

para a Índia, a nomeação de um Vice-Rei como a forma mais expedita de aproximar o Comando, e

respectiva decisão, para junto do evento. Actualmente, o conhecimento é no momento e, se este tem

implicações estratégicas, o resultado certo é “interferência” do decisor político-estratégico junto do

Comandante no terreno, porventura ultrapassando a cadeia de comando para contactar directamente

com o Soldado na acção115 . A solução, para atenuar ou minimizar essa tendência, passa pela

formação e aumento da competência dos executores tácticos116 (profissionais, primus inter pares) e

pela nomeação, mesmo quando a operação pareça ter um desenho táctico, de “Vice-Reis”. A

“cabeça” que ocupou o aeroporto de Pristina em 1999 era comandada directamente pelo General

russo Victor Zavarine e, na operação de resgate em Entebe, no Boeing 707, estava o General Dan

Shomron.

Por sua vez o controlo não pode estar dissociado do Comando. O não cumprimento das ordens

como foram inicialmente emanadas é essencial para permitir a adaptação à situação real no terreno.

Também aqui se colocam os problemas que foram referenciados anteriormente. A dispersão, as

grandes distâncias, o tempo da operação e a rapidez da sua execução poderão não ser compatíveis

pela estrutura habitual de controlo. Mais uma vez, a solução tecnológica poderá não ser a mais

adequada, restando a doutrinária. Um conceito de operação flexível permite libertar a função de 112 CLARK, General Wesley K.: Waging Modern War, PublicAffairs, 2001, p. 396. 113 THOMPSON, Julian: “No Picnic”, Cassell, 2001, pp. 69-71. 114 “Na manhã de 2 de Maio [de 1500], Cabral enviou para Portugal, com notícias do descobrimento do Brasil, o navio de Gaspar de

Lemos, previamente despejado da reserva de mantimentos que conduzira.” PERES, [Prof. Doutor] Damião: “História dos Descobrimentos Portugueses”, Vertente, 4ª Edição, 1992, p.339.

115 Such abnormality, however, comes at a cost: in its effect on the commanders who are bypassed but are ultimately responsible for managing the consequences in theatre, and in terms of the control of tempo since focussing higher command on a specific instance must necessarily detract from their ability to deal with other concerns across the battlespace. LLOYD, OBE MA, Lieutenant Colonel Merfyn: Command considerations for UK Network Enabled Forces A Speculative View, UK Defence Science and Technology Laboratory (Dstl), p.2, acedido a 02Out03. Sobre os efeitos negativos do comando à distância: The moral here is that proper command from 13,000 kilometers away is impossible [The Falklands 1982].THOMPSON, Julian: The Royal Marines, from Sea Soldiers to a Special Force, PAN, p. 571. O registo do “alívio” de ser atribuído a um superior hierárquico a tarefa de comunicar com a chefia político-militar em THOMPSON, Julian: “No Picnic”, Cassell, 2001, p.92.

116 Vejam-se os exemplos históricos proporcionados pela Legião Estrangeira francesa. Oficiais de outros exércitos serviram como soldados, cabos ou sargentos.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 2

A Força de Reacção Rápida controlo para o que se entende como essencial, aquilo que, de facto, possa colocar em causa o

desenrolar da operação.

Comunicações, Computadores, Informações, Vigilância e Reconhecimento

A FRR actua normalmente fora da estrutura clássica de uma Unidade posicionada no terreno e com

os seus sistemas de comunicações interligados com os do escalão superior. A ela colocam-se duas

questões distintas, apesar de nalgumas situações apresentarem muitos pontos de comum,

designadamente quando sub-unidades ou elementos da FRR se encontrem muito distantes,

dispersos ou em locais de difícil comunicação.

A primeira questão é a comunicação intra FRR. Essa comunicação inclui voz como outro tipo de

informação, dados de grande volume, imagens etc. A comunicação à voz ainda é o meio por

excelência de conduzir homens em combate, nada substituindo a informação factual por ela

transmitida nem as emoções que tanta influência podem ter no comportamento dos militares. Essa

comunicação é fundamental que exista entre todos os elementos da Força e, entre esta e os seus

apoios.

Na Somália, falharam as comunicações entre os “Rangers” e os “Delta”, porque ao que parece

possuíam equipamentos incompatíveis, ou seja, foi uma repetição de problemas já havidos aquando

da intervenção americana em Granada. O operar em áreas urbanas, ou florestadas, agrava os

problemas de comunicação117, sendo já uma solução clássica a utilização de meios aéreos para

servirem de relais.

Se a voz é importante, a transmissão de dados de diversa natureza faz-se sentir cada vez mais

necessária, a digitalização dos exércitos está em marcha, exigindo equipamentos com capacidade de

resposta a estas novas exigências. A FRR é uma força em movimento118 para, no e do local de

intervenção. Os equipamentos terão de ser portáteis e não dependentes das infraestruturas do

TO, qualquer que ele seja, se quisermos uma Força credível, autónoma e verdadeiramente global.

A exploração dos recursos locais, se assim se poderá dizer, é possibilidade que deverá ser

considerada mas nunca como dado adquirido, até porque, embora possam existir, aqueles poderão

não oferecer o nível de qualidade e fiabilidade compatível com as exigências dos equipamentos e

condução das operações militares. As forças implantadas no terreno deverão poder escutar os

RELIM dos helicópteros de observação do GALE, ou solicitar a evacuação ou o transporte aéreo

quando oportuno. As unidades em apoio da Força Aérea e da Marinha deverão conhecer em detalhe

117 During OIF/Operation Telic, both U.K. and U.S. forces demonstrated the need for an increase in SATCOM. However, need must

not become dependency. Complex terrain, such as mountains or an urban environment, can obscure geostationary satellites. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, p.49.

118 The 3d U.S. Infantry Division’s (ID’s) lessons learned concluded that mobile subscriber equipment (MSE) cannot support a division’s on-the-move requirements while the division is conducting continuous operations and moving its elements. The lessons learned also identified the need for TACSAT and similar range-extension systems. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, p.48.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 3

A Força de Reacção Rápida as subunidades de manobra em proveito de quem operam, e ser capazes de comunicar com elas,

sem constrangimentos ou dificuldades de linguagem. A interligação e interoperabilidade com as

Forças de outros Países será quase certamente uma necessidade, e um motivo acrescido de

preocupação e investigação.

O sistema de comunicações também deverá permitir a transmissão e recepção, em tempo real e de

forma segura, duma diversidade de dados nomeadamente os referentes ao targeting. Essa segurança

também deverá relacionar-se com a dificuldade de sofrer acções de empastelamento, de intercepção

e de outras acções no âmbito da Guerra Electrónica. Deverá igualmente ser redundante sem que tal

signifique um acréscimo de peso significativo.

A segunda situação é a comunicação entre a Força e a base de origem, ou melhor, entre ela e o

centro de decisão político-estratégica. Não se deve, contudo, considerar esta capacidade como algo

de negativo, ou como um mal necessário em face de exemplos indesejáveis ocorridos, para o

comandante da Força. Por este canal poderão circular informações, de toda a natureza, que poderão

influenciar a decisão do comandante, sendo que a informação estratégica virá nomeadamente de

serviços de informação de países amigos.

Como se vê, as necessidades do utilizador, da Força e dos respectivos comandos, operacional e

estratégico, são exigentes e muito diversas em termos de resposta a especificações técnicas. Uma

capacidade de intervenção global significa equipamento robusto, compacto mas leve, com alcances

também globais. A utilização de satélites (“Barras”, Vietname, Afeganistão) passará a ser

normal119, exigindo, por outro lado, cuidados acrescidos devido a dificuldades de ligação

resultantes do terreno (montanha, floresta...), das condições meteorológicas e da latitude. Os

sistemas de vigilância electrónicos, desde aéreos até sensores terrestres, alguns nem pertencentes ao

Exército ou ao País, devem alimentar em tempo real quem deles precise. Isto implica repensar a

estrutura, não no sentido linear habitual, mas mais de uma forma matricial ou de nódulos

ligados em rede. É difícil elaborarmos algo em termos conceptuais e influenciar o sentido da

investigação nesta área, mas poderemos explorar o que os avanços tecnológicos civis e a nível

organizacional, têm para nos oferecer. Não admira, portanto, que no âmbito organizacional e no

nosso próprio Exército, seja a própria Chefia a reconhecer a importância destes novos conceitos e já

os comece a pôr em prática, como o afirma o próprio CEME: “... tornaremos mais unilineares as

relações de comando, estabelecendo apenas canais de comando e de autoridade técnica,

simplificando dependências e exercendo a acção de comando de modo muito mais descentralizado

do que hoje é prática, ...”.

119 The marked contrast between the performance of MSE and Ptarmigan (two apparently similar systems) is somewhat surprising. However, Ptarmigan has the advantage of having been adopted for use in an expeditionary context (in Bosnia in 1995 and Kosovo in 1999). It has routinely had VSC501 (a Landrover-deployable system), satellite-communications (SATCOM) links under tactical command for network range extension, and a permanent switching hub in the U.K. for rapidly establishing mobile subscriber access and headquarters communities— often in less than an hour. LANGLEY, Major (British Army) James A.G.: Network- Centric Warfare: An Exchange Officer’s Perspective, Military Review, November -December 2004, pp.48-9.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 4

A Força de Reacção Rápida

O que fazer?

A primeira medida, como já foi referido, é de ordem conceptual e doutrinária. Todos, do líder ao

executante de menor graduação, devem saber actuar com poucas directivas e com limitada

informação120. Tal implica confiança dos chefes e um grande esforço na formação e mudança de

mentalidades.

A segunda é ter presente que cada elemento conta, cada um constitui um elo da cadeia de

informação e da sua comunicação e estas devem circular rapidamente para quem as precisa e possa

aproveitar.

Em terceiro lugar, há que considerar a alteração organizacional dos sistemas, analisando as soluções

que as empresas civis encontraram para sobreviver num mercado cada vez mais competitivo e

globalizado.

Por último, haverá que ponderar a utilização intensiva de equipamentos civis, salvaguardando os

militares para o que efectivamente é necessário, seguro e fiável. Seleccionar os equipamentos com

maior largura de banda, com a consciência de que a digitalização crescente e o aumento de

transmissão de dados, nomeadamente de imagens, tornarão rapidamente obsoleto qualquer

equipamento.

120 Command of task groups will be done by small and highly agile command nodes that are ‘staffed to task’ and modular in nature. LLOYD OBE MA, Lieutenant Colonel Merfyn: Command considerations for UK Network Enabled Forces A Speculative View, UK Defence Science and Technology Laboratory (Dstl), p.11.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 D - 5

A Força de Reacção Rápida

AANNEEXXOO 11

NNEEWW AAIIRRLLIIFFTT RREEQQUUIIRREEMMEENNTTSS

121

Earthquakes, floods, famine and drought are natural occurrences that often require prompt and

effective international humanitarian assistance to avert disaster.

Humanitarian support and interventions by international organisations such as the UN and NATO

cover the whole range of relief missions and require the mobilisation of substantial logistic resources.

Since 1998 there have been over 90 requests for assistance to deal with international crisis situations,

with over 40% requiring the use of fixed wing transport aircraft. More recently, events in Kosovo,

East Timor, Afghanistan and Bali have highlighted the need for a reliable, long reach airlift capability,

with maximum interoperability between air forces.

There have been numerous cases of nations having to rely on third parties to provide tactical and

strategic lift due to misfit of mission loads with their existing military transport aircraft. Removal of

this dependence on external sources, coupled with the need for rapid air mobility, has set new

standards for airlift:

• Extended reach;

• Outsize and heavy load capability;

• Fast transit/high cruise altitude;

• High cruise speed for a rapid response;

• Autonomous ground handling and rapid role change capability;

• Short, soft field performance;

• Low speed characteristics for air drop and tactical flight;

• Reliability, Maintainability, Testability and dispatch availability;

• and, above all, Affordability

121 Cópia e Transposição de parte do “site” na Internet do “Airbus A400M” Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 1

A Força de Reacção Rápida

Armed forces today are equipped with inventory dating back to the 60's and 70's; transport aircraft in

particular are both technically and operationally obsolete. The current global military transport fleet

consists of more than 2300 tactical airlifters with an average age of 26 years and around 350 strategic

airlifters of which the majority is operated by the USA and Russia.

The current military transport fleets of the world do not meet future airlift requirements; they provide

today's forces with inadequate payload and range capability, lack of combined strategic / intra-theatre

transportation capability, lack of commonality and interoperability between different forces, far too

small cargo hold cross-sections for modern loads, and low fleet availability (reliability) by modern

standards.

FOCUS

The EU Member States committed themselves to rapidly develop and strengthen their operational and strategic air transport capabilities and, in line with this need, to create a “Rapid Reaction Force” (RRF). The objective of the RRF is to “develop an autonomous capability to decide on, to launch and conduct EU-led military operations in response to international crisis”:

The military capabilities to be provided by the Member States are:

• Deployment within 60 days of:

• 60 000 people and required material (out of a pool of 100 000 people, 400 combat aircraft and 100 vessels)

• For a mission of at least one year on a self-sustaining basis (command, control, intelligence capabilities, logistics, strategic transports).

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 2

A Força de Reacção Rápida

Seven-Nation Commitment

The A400M programme is a direct result of a commonly expressed need by 8 European air forces

for a new generation military airlifter. The scope of this initiative to specify and procure an aircraft

of a common definition is unique and clearly points to the way forward in the domain of "smart

procurement" for the armed forces of allied nations.

These European NATO members issued a Request for Proposal in September 1997 and it was to

respond to this RFP that the aerospace industries of these nations came together in the partnership

now known as Airbus Military. June 2001 saw the signing of a Memorandum of Understanding

(MOU), which represented a major milestone towards the industrial launch of the A400M.

On May 27th 2003, a contract was signed between Airbus Military and OCCAR (Organisation

Conjointe de Coopération en Matière d'Armement), representing Belgium, France, Germany,

Luxembourg, Spain, Turkey, and United Kingdom for a total of 180 aircraft. The industrial

programme was formally launched on May 31st 2003. This will lead to a first flight in 2008 and a

first delivery in 2009.

Belgium

Spain

France

Turkey

Germany

UK

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 3

A Força de Reacção Rápida

A400M – Setting New Airlift Standards…

Airbus Military offers the military air transport world a modern, multi-role military airlifter which

will replace the ageing fleets of C-130 Hercules and C-160 Transall in service with the air forces

around the world. With the A400M, Airbus Military is setting new airlift standards and changing

the way in which future military programmes will be managed.

The A400M, as the new airlifter of the 21st century, will have more than twice the payload and

volume of the aircraft it will replace. It will play an essential rôle in enhancing Europe's airlift

capabilities, whilst enabling the establishment of common support, training and operational

procedures and greater interoperability in multi-national humanitarian and peace-keeping missions.

The A400M Common Standard Aircraft (CSA) is capable of performing:

• strategic operations (long range, large capacity, high cruise speed)

• tactical missions (soft-field performance, autonomous ground operation, low speed / low level operations, aerial delivery)

• "in-theatre" tanking operations (receiving as well as dispensing fuel)

The A400M is designed to civil certification standards complemented where appropriate by specific

military requirements. The aircraft design incorporates leading state-of-the-art technology

including:

• Fly-by-wire Flight Control System with sidestick controllers

• Flight envelope protection system, already proven in Airbus commercial aircraft

• Advanced structural design incorporating extensive use of composite materials

• High performance turboprop engines, allowing operation in civil air traffic control environment

• High flotation landing gear, allowing operation from short, unpaved airfields.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 4

A Força de Reacção Rápida

Typical Missions There is no such thing as a 'standard mission'. However, many of the A400M's capabilities, both

logistic and tactical, can be demonstrated through the use of generic deployment scenarios. . .

Scenario: Rapid Reaction Force Further tension in the Gulf validates the decision to reinforce European troops in the region. There

is a strong possibility that further hostilities will develop in the next few days.

A Rapid Reaction Force consisting of air mobile brigade troops with additional fire support,

helicopters and two fighter squadrons is deployed. In all, 7200 personnel, 2500 wheeled and tracked

vehicles (including artillery and light armour), 23 helicopters and support material for 24 fighter

aircraft are required. The total force of over 17 000 tonnes of equipment is flown to the Gulf within

15 days using 50 A400M transports. All of this equipment can be ready to operate in half a day.

A number of A400Ms are rapidly converted into tanker role to support the deployed fighter aircraft.

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A Força de Reacção Rápida

Scenario: Hostage Rescue Operation

• Distance 1000 nm

A400M • Duration 7 days

Tactical • Fleet 18 A400M

Scenario • Transported 20 LAV, 700 troops

• Conducted Low level aerial delivery parachute assault

Civilian workers and their families have been taken hostage somewhere in the world. The

governments will not accede to the terrorists' demands, made against threats of murdering the

hostages. The deadline has been set five days hence. Only 16 A400Ms are available as the others

are already on other missions.

On Day 1, a Pathfinder Force is inserted from high altitude using one aircraft. These troops,

remaining covert throughout, carry out initial reconnaissance of the area, selecting drop zones and

potential airstrips.

At dawn on the third day, a Parachute Assault from 14 A400Ms, six with 560 troops and stores and

eight with vehicles and stores, is conducted. The A400M allows airdrop of two light armoured

vehicles (LAVs) from each aircraft, bringing additional firepower and mobility. The enhanced

Wedge capability (up to six tonnes) provides increased flexibility and instantly available material.

These troops carry out the hostage rescue.

At dawn of the fourth day a Tactical Air Land Operation, consisting of the remaining two aircraft

using Night Vision Goggles, is conducted. They secure the airstrip where the hostages are to be

taken. A force of 108 troops and up to four LAVs can be delivered.

Later on Day 4 and Day 5 the hostages are brought to the airstrip. On the sixth and seventh day

hostages are flown back home after medical examination and any immediate treatment. At the same

time, troops and equipment are withdrawn.

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A Força de Reacção Rápida

Scenario: Humanitarian Aid

A typhoon in Timor has created a major disaster and direct aid is needed. The A400M is the perfect

vehicle to perform such a mission and 20 are available within the European air forces.

Slip crews are positioned at suitable en-route stations. Within four days a European rescue force

including engineers and aeromedical evacuation personnel is positioned in Australia and Timor.

A complete medical camp is set up within hours of landing, at the main airport in Dili or on a pre-

surveyed natural surface strip further into the interior. Helicopters, transported complete or with

their rotor blades removed, quickly start operations ferrying aid workers into the region and

transferring casualties to the field hospital.

Operating out of Australia, A400Ms are used to airdrop supplies (tents, blankets, food and water) to

isolated communities cut off by the disaster. These aircraft then land to evacuate injured refugees

for longer-term medical treatment in Australia.

After 12 days the aircraft are needed elsewhere. A successful conclusion is achieved: 4500 people

rescued and the situation stabilised.

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A Força de Reacção Rápida

Performance

A400M has been designed to provide high strategic mission efficiency whilst meeting the demands

of tactical operations.

Speed / Altitude Capability

The A400M is an economical turboprop aircraft with a cruise speed almost as fast as turbofan

powered transports. Its advanced aerodynamic design, coupled with four new generation, high

performance turboprops and 8-blade propellers provide cruising speeds up to Mach 0.72 at 37

000ft.

Field Performance

For tactical missions, good field performance is a crucial factor for mission success.

The A400M provides excellent soft field capabilities and requires only a short runway length, both

for take-off and landing. In a combat situation where it would land on a semi-prepared forward

operating strip and unload all its cargo, the A400M would require less than 1000 m of usable

runway.

The aircraft is capable of operating into unprepared landing strips under adverse meteorological

conditions completely independent of ground support. With its 6-wheel main gear and high

flotation characteristics, the A400M will be able to land on soft grass fields over low plasticity clay,

a performance which far exceeds that of any similar aircraft.

Operations from remote sites, with limited or no ground facilities and limited space for manoeuvre

are severe constraints for a tactical airlifter. The A400M is designed from the outset to work in

these conditions.

• A turning radius of 28.6 m enables the A400M to be operated from simple air bases with limited aprons and taxiways;

• The A400M is capable of reversing up, under its own power, a 2% slope on hard surfaces and a 1% slope on soft surfaces at its tactical MTW in hot and high conditions.

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A Força de Reacção Rápida

Aerial Delivery

As a tactical airlifter, the A400M is capable of air dropping paratroops and equipment via parachute

or gravity extraction. A single load up to 16 tonnes, or multiple loads up to 25 tonnes of total

weight; 116 paratroops plus a wedge load of 6 tonnes; up to 20 1-tonne containers or pallets; and

heavy, medium, and light stressed platforms can be air dropped.

The A400M also features simultaneous dropping of paratroops and cargo (RAS/Wedge or Door

Loads) and Very Low Level Extraction (VLLE) of a single load up to 6.35 tonnes, or 3 individual

loads, each up to 6.35 tonnes, 4.5 m (15 ft) above ground.

Aerial delivery by gravity extraction of a single load up to 4 tonnes, or multiple loads up to 20

tonnes of total weight can be performed by a nose-up attitude or by being manually dispatched.

Air-to-Air Refuelling

The A400M is also quickly convertible into a tactical tanker. The flight envelope of the A400M

allows it to refuel a wide range of aircraft and helicopters, at the altitudes appropriate to their

missions.

• A two-point trailing drogue system can be installed within two hours by fitting two standard

air-to-air refuelling pods (optional) to the multi-role attachment points on the wings. Each

pod provides a fuel flow of up to 1200kg/min.

• A centre-line pallet-mounted hose drum unit can be fitted in the rear cargo bay. It provides a

fuel flow of 1800kg/min.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 9

A Força de Reacção Rápida

To enhance the fuel volume, up to two optional cargo bay fuel tanks (CBT) can also be installed,

providing up to 12 tonnes of extra capacity. These additional tanks connect directly to the aircraft's

fuel system and thus become part of the A400M's computer-controlled centralised fuel management

system.

Designed from the outset to be a dual-role air transport and air-to-air refuelling aircraft, the versatile

A400M offers air commanders and planners new levels of flexibility in the delivery of air power. Its

basic fuel capacity of 50 tonnes or up to 62 tonnes with the optional CBT fitted, coupled with its

own low fuel-burn rate, makes it an efficient aerial tanker and a cost-effective way for air forces to

acquire an aerial refuelling capability.

Range Capability

The A400M can carry an average military payload of 25 tonnes over 3000nm non-stop to military,

commercial, or remote, unequipped airfields.

The A400M is also fully equipped for air-to-air refuelling as a receiver, and can be converted to the

tanker role within 2 hours.

Cor Inf Raul Cunha CSCD 2004/05 1 - 10

A Força de Reacção Rápida

Cost Effectiveness

The selective application of advanced technologies only in areas where these can demonstrate clear

added value has long been an Airbus hallmark, giving Airbus products a distinct competitive edge.

The A400M has been sized to have the best balance of cargo load weight and volume. This enables

the aircraft to achieve an average per sortie payload of around 70% of total aircraft payload. Only

the A400M matches its maximum payload, and therefore aircraft weight, to the required 'outsize'

volume of today's modern loads. This is important, as an aircraft's weight largely determines its

acquisition and lifetime maintenance costs.

Life Cycle Costs

The acquisition price is only a portion of the total costs of owning and operating an aircraft. The

Life Cycle Costs (LCC) are also affected by downstream operating costs such as fuel and

maintenance. These will vary for each type of aircraft owing to many factors such as types of

engine, aircraft size, and technology employed. A fair comparison can be obtained by calculating

the LCC corresponding to the aircraft fleet required to perfom a typical mission.

A fleet of 50 A400M airlifters represents a US$ 5bn acquisition cost and a US$ 15bn 30-year life

cycle cost. When compared to a corresponding fleet of competing aircraft required to perform

identical missions, the A400M will have the lowest 30-year life cycle cost.

Cargo Handling

The entire range of current and anticipated loads defined in the European Staff Requirement are all

within A400M's carrying capability. Military loads ranging from armoured combat vehicles and

artillery to attack and utility helicopters and civil loads such as excavators and dump trucks can all

be accommodated. The A400M cargo box dimensions are optimised for the transportation of heavy

vehicles and / or cargo pallets, as well as being easily configured to carry troops, paratroops, or

Medevac.

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A Força de Reacção Rápida

The A400M cargo handling system allows for pallets and containers to be loaded / unloaded by a

single loadmaster, without any special ground support equipment. An optional 5-tonne crane can be

installed at the rear of the fuselage allowing loading and unloading of fully loaded military pallets.

The cargo hold provides enough space to carry nine standard military pallets (88in x 108in)

including two loaded on the ramp area. Civil pallets (125in-wide) can also be loaded using an

optional roller/restraint system. Simultaneously 54 troops can be seated in the side-wall seats. The

pallet roller/ restraint system can easily be stowed to provide a flat floor for tracked or wheeled

vehicle loading.

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A Força de Reacção Rápida

The A400M cargo bay can accommodate up to 116 fully equipped troops / paratroops, seated in

four longitudinal rows. Paratroops can be dropped from the rear doors or from the ramp. The hold

can also be converted for a medical evacuation role (MEDEVAC) allowing up to 66 stretchers

accompanied by 25 medical personnel.

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A Força de Reacção Rápida

AANNEEXXOO 22

VVIIAATTUURRAA TTIIPPOO ““MMUULLAA MMEECCÂÂNNIICCAA””

http://www.einsa.es/espanol/index.htm

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

• Plataforma para as necessidades tácticas e logísticas dos diferentes exércitos.

• Velocidade máxima 65 Km/h. 4 WD a todo o tempo.

• 1.000 kg capacidade de carga. 4.000 lbs em atrelado.

• Transportável em aeronaves (12 no C-130).

• Pode ser lançada em pára-quedas.

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