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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO? Mariana Aline Barbosa Pereira Orientadora: Josemary Omena Passos Ferrare Novembro de 2011

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Page 1: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?

Mariana Aline Barbosa Pereira

Orientadora: Josemary Omena Passos Ferrare

Novembro de 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA ALINE BARBOSA PEREIRA

ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?

Trabalho Final de Graduação, elaborado pela graduanda Mariana Aline Barbosa Pereira, com foco em patrimônio pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pertencente a instituição Universidade Federal de Alagoas.

Orientadora: Profª. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare.

Maceió, Novembro de 2011.

Page 3: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

PEREIRA, Mariana Aline Barbosa. Ecletismo e Hotéis em Maceió, alguma relação? Maceió, 2011.

Trabalho Final de Graduação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal de Alagoas, 2011.

Área: Patrimônio

Orientadora: Josemary Omena Passos Ferrare

1. Patrimônio 2. Hotéis 3. Ecletismo 4.Comércio de Maceió

Page 4: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

MARIANA ALINE BARBOSA PEREIRA

ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?

Trabalho Final de Graduação, elaborado pela graduanda Mariana Aline Barbosa Pereira, com foco em Patrimônio pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pertencente a instituição Universidade Federal de Alagoas.

Orientadora: Profª. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare

Aprovado por:

_________________________________________________

Prof. Dr. Augusto Aragão de Albuquerque Universidade Federal de Alagoas

_________________________________________________

Profa. Me. Thalianne de Andrade Leal Universidade Federal de Alagoas

_________________________________________________

Aqta. Esp. Maria Adeciany A. de Souza Centro Universitário CESMAC

Maceió, Novembro de 2011.

Page 5: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar aos meus maiores ídolos, sem os quais nada disto seria

possível, sem os quais a minha vontade não seria suficiente. Pai, Mãe, tudo o que eu

conquistei até aqui, eu dedico a vocês, à sua fé, ao seu amor e ao seu esforço.

Agradeço também a Deus, por me dar a fé que sempre precisei para acreditar que daria

certo e que todo o esforço seria recompensado. Agradeço também a ele por colocar no meu

caminho pessoas maravilhosas que me ajudaram direta e indiretamente em cada etapa

deste trabalho.

Às minhas irmãs por me inspirarem e encorajarem, por me apoiarem e darem força sempre.

À Professora Josemary Ferrare, que acompanhou cada passo deste trabalho, desde suas

primeiras ideias, quando ainda era um embrião, até as últimas revisões e ajustes. Por ter

continuado do meu lado mesmo diante das situações mais adversas, fazendo jus à minha

confiança em seu profissionalismo e dedicação, e sempre me acalmando e encorajando.

À minha equipe de Teoria do Restauro, Clarissa, Luana e Tuany, por terem me ajudado a

seguir em frente com a ideia do projeto de restauro para o Hotel Lopes, acompanhando

sempre meu amadurecimento, até a evolução do meu trabalho. Sempre compartilhando

comigo os dados e arquivos adquiridos ao longo da disciplina.

À minha prima querida Cristina e à Adeciany Souza por terem conseguido livros essenciais

para que eu complementasse meu referencial teórico. Em especial à Cristina por não medir

esforços em me ajudar sempre que precisei.

Não posso deixar de agradecer à SEMPLA, ao MISA, ao IHGA e em especial ao Professor

Benedito Ramos, diretor da Associação Comercial, por me permitirem acessar

exaustivamente seu acervo e me auxiliarem em minhas pesquisas.

Meu cunhado Marcos, que revisou meu trabalho, me ajudou em tudo o que precisei,

principalmente nos momentos finais e de maior stress, pelo mesmo agradeço à minha irmã

Mácia, por me ajudar todas as vezes que precisei.

Minha prima Adlany por disponibilizar tempo para revisar com todo o cuidado o meu

trabalho. E à Camila e Imyra por serem meu plantão de dúvidas o tempo todo!

Ao meu namorado, Murilo, por estar sempre ao meu lado, me levando e buscando, me

acompanhando nas pesquisas e levantamentos, além de me acalmar, dar força e entender

meus momentos de ausência, me incentivando sempre.

Também aos meus amigos e amigas por acompanharem e entenderem a correria, o stress e

a ausência destes últimos meses de trabalho.

Por último devo agradecer aos proprietários dos imóveis, que permitiram meu acesso, o

levantamento fotográfico e documental, me recebendo sempre com paciência e boa

vontade. Obrigada Cézar Marabá e Seu Jorge!

Enfim, agradeço a todos que tornaram a conclusão desta primeira etapa da minha carreira,

sonhando junto comigo e acreditando sempre em mim! A vocês não apenas agradeço, mas

dedico esta vitória!

Mariana Aline Barbosa Pereira

Page 6: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

“Ecletismo é a linguagem eufórica da

liberdade calcada na nova tecnóloga.”

Carlos Lemos

Page 7: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

RESUMO

Diante da atual situação do patrimônio arquitetônico da cidade de Maceió, é de se

esperar que sua memória se perca aos poucos em meio à demolições e intervenções

indevidas nas edificações, predominantemente decorrentes da herança arquitetônica da

cidade do século XIX. Dentre tal acervo, os exemplares, outrora de uso hoteleiro e em perfil

estilístico exerceram em meio ao ápice do desenvolvimento de seu comércio e economia e

de sua elevação ao posto de Capital da Província, o importante papel de "cartão de visitas"

para a cidade. Essa função ganhou ainda mais destaque com o advento ferroviário que

passou a comunicar mais facilmente a cidade com outras regiões, ampliando o alcance de

sua atividade comercial dentro do país, permitindo também a afluência crescente

de visitantes e comerciantes, atraídos pela prosperidade econômica da cidade. Para

registrar e compreender a relevância destes hotéis no contexto urbano da Maceió do século

XIX foi necessário entender a relevância dos mesmos, através da compreensão do

Ecletismo, de sua relação com as transformações urbanas que ocorriam no país e da

evolução histórica de Maceió, o que permitiu a inserção deste estilo na ex-vila que

experimentava o fascínio dos ares de cidade e capital, comercialmente bem desenvolvida.

Palavras-chave:

Patrimônio – Hotéis – Ecletismo – Comércio de Maceió.

Page 8: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

ABSTRACT

Given the current state of architectural heritage of the city of Maceio, is to be

expected that its memory will be lost gradually through demolitions and inappropriate

century. Between those buildings, previously as hotels with an stylistic profile exercised,

through the apex of the development of this commerce and economy and its elevation to the

rank of provincial capital, the important role of city visitors‟ card. This function is even more

prominently after the advent of the railway that made the communication whit other regions

easier, expanding the reach of its business activity within the country and also allowing the

penetration of more visitors and traders attracted by the economic prosperity of the city. To

register and understand the relevance of these hotels in the urban context of Maceio in the

nineteenth-century, it was necessary to understand these relevance, through the

comprehension of Eclecticism, its relationship with the urban transformations that occurred in

the country and the historical evolution of Maceio, which allowed insertion of this style in the

ex-village that experienced the fascination of the airs of a developed capital city.

Keywords:

Heritage – Hotels – Eclecticism – Commerce of Maceio.

Page 9: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

LISTA DE IMAGENS

Imagem 01 Esquema dos períodos de atuação de dominância Eclética e Neoclássica

Imagem 02: Esquema de edificação Neoclássica

Imagem 03: Esquema de edificação Neoclássica em tipologia de entrada lateral

Imagem 04: Biblioteca Saint Geneviève

Imagem 05: Teatro Municipal do Rio de Janeiro

Imagem 06: Esquema de disposição das casas coloniais

Imagem 07: Ilustração das ruas coloniais

Imagem 08: Avenida Central no início das obras de reforma

Imagem 09: Avenida Central pós-reforma

Imagem 10: Teatro Municipal de São Paulo

Imagem 11: Estação da Luz em São Paulo

Imagem 12: Recife Novo e seu conjunto de edificações Ecléticas

Imagem 13: Teatro Santa Isabel

Imagem 14: Teatro Municipal

Imagem 15: Edifícios com tom Eclético

Imagem 16: Teatro da Paz em Belém - PA

Imagem 17: Esquema de evolução das casas térreas para casas com porão alto

Imagem 18: Esquema de evolução das plantas residenciais antes e depois do fim do

trabalho escravo

Imagem 19: Forte São João

Imagem 20: Ship Chandler. Armazém de molhados de importação e exportação

Imagem 21: Phulmann & Cia. Exportadores de Açúcar e outros gêneros

Imagem 22: Trapiche Faustino

Imagem 23: Trapiche Jaraguá

Imagem 24: Trapiche Williams

Imagem 25: Trapiche Novo

Imagem 26: CATU

Imagem 27: Bilhete Postal – Ponte de Desembarque

Imagem 28: Bilhete Postal – Pça. Euclides Malta

Imagem 29: Bilhete Postal – Estação Central

Imagem 30: Bilhete Postal – Porto da Levada

Imagem 31: Hotel Avenida

Imagem 32: Hotel Avenida à esquerda da Praça 16 de julho

Imagem 33: Hotel Central ao fundo do lado esquerdo da foto

Imagem 34: Demarcação da atual desembocadura do Riacho Salgadinho

Imagem 35: Linha continua de edificações na Avenida da Paz

Imagem 36: Riacho Salgadinho antes do desvio de seu fluxo

Imagem 37: Trecho de balaustrada e pináculo aparentes

Imagem 38: Varandas e balaustrada aparentes

Imagem 39: Fachada frontal original do Hotel Atlântico

Imagem 40: Fachada lateral atual

Imagem 41: Fachada frontal atual

Imagem 42: Palacete dos Machados próximo ao ano de sua construção, ainda sem a cúpula

Imagem 43: Palacete dos Machados sendo visto a partir da margem do Riacho Salgadinho

Imagem 44: Museu Théo Brandão no período em que permaneceu fechado e sem

manutenção

Page 10: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

Imagem 45: Gradis aludindo ao Guerreiro

Imagem 46: Janela fazendo alusão ao Muxarabi

Imagem 47: Praça Bráulio Cavalcante com o Hotel Lopes ao fundo

Imagem 48: Imagem antiga do Hotel Lopes

Imagem 49: Reconstrução das fachadas

Imagem 50: Divisão do hotel em Blocos

Imagem 51: Corte Longitudinal mostrando a laje intermediária

Imagens 52 e 53: A metade inferior dos vãos no pavimento intermediário e a outra metade

no pavimento superior, tornando clara a introdução posterior desta laje

Imagem 54: Hotel Lopes logo após o desmembramento

Imagem 55: Hotel Lopes ainda com todos os letreiros que encobriam sua fachada

Imagem 56: Hotel Lopes em janeiro de 2011

Imagem 57: Hotel Lopes em setembro de 2011

Imagem 58: Recuperação dos ornamentos

Imagem 59: Ornamentos perdidos

Imagem 60: Hotel Bela Vista

Imagem 61: Construção do Hotel em 1922

Imagem 62: Fachada do Hotel com suas balaustradas e gradis

Imagem 63: Vista da praia a partir do Hotel mostrando sua cúpula

Imagem 64: Vista da Catedral Metropolitana a partir do Hotel mostrando uma luminária

arrematando a varanda em

Imagem 65: Praça dos Palmares ainda conhecida como 16 de Julho

Imagem 66: Hotel Palmares e sua ausência de recuos

Imagem 67: Concha encontrado na edificação

Imagem 68: Acrotério encontrado na edificação

Imagem 69: Pináculo encontrado na edificação

Imagem 70: Gradis

Imagem 71: Frontão interrompido na fachada da edificação

Imagem 72: “Pega-ladrão”

Imagem 73: Jardineira

Imagem 74: Parede vazada

Page 11: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

SUMÁRIO

Introdução ......................................................................................................................... 12

1 - O Ecletismo em seu berço Europeu e questões sobre sua essência ...................... 17

2 - A chegada do Ecletismo nas terras Tupiniquins1 ...................................................... 25

2.1 - A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil e a Missão Francesa trazendo o

Neoclássico ......................................................................................................................... 25

2.2 - A Manifestação do Ecletismo no Brasil ...................................................................... 28

2.3 - A modernização das cidades e da Arquitetura ........................................................... 35

3 - A evolução comercial das Alagoas e o advento dos transportes ............................. 39

3.1 - A conquista das terras alagoanas .............................................................................. 39

3.2 - A Enseada do Jaraguá e o desenvolvimento comercial de Maceió ............................ 43

3.3 – O papel do presidente Póvoas na elevação de Maceió a condição de cidade

e capital ............................................................................................................................... 50

3.4 - A modernização da nova capital ............................................................................... 53

3.5 - O advento das ferrovias e o aumento do fluxo de visitantes ...................................... 59

4 - Os Hotéis ecléticos de Maceió e sua participação no processo evolutivo da cidade ............................................................................................................................................ 65

4.1 - A importância destes hotéis nas atividades econômicas da cidade ........................... 65

4.2 – A localização dos Hotéis e a dinâmica criada por eles .............................................. 68

4.3 - Hotel Atlântico “O encanto Eclético da Praia da Avenida” .......................................... 71

4.3.1 - Localização ..................................................................................................... 71

4.3.2 - Histórico.......................................................................................................... 71

4.3.3 - Análise Estilística ............................................................................................. 73

4.3.4 - Situação atual ................................................................................................. 74

4.4 - Hotel do Palacete dos Machados – Théo Brandão “O Excelente Sobrado da Avenida

da Paz”2 ............................................................................................................................... 76

4.4.1 - Localização ...................................................................................................... 76

4.4.2 - Histórico.......................................................................................................... 77

4.4.3 -Análise Estilística .............................................................................................. 79

4.6.4 - Situação atual ................................................................................................ 80

1 Grupo Indígena brasleiro pertencente à Nação Tupi qu e deu orige ao uso do termo para caracterizar na língua

brasileira, aquilo que é nacional. (Povos Indígenas no Brasil, disponível em: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tupiniquim). 2 Expressão (MENEZES; BORA, 1990, apud FERRARE, 1999).

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4.5 - Hotel Lopes “O „Quê‟ exuberante e sinuoso da Praça Montepio” ............................... 83

4.5.1 - Localização ..................................................................................................... 83

4.5.2 - Histórico......................................................................................................... 84

4.5.3 - Análise Estilística ........................................................................................... 85

4.5.4 - Situação atual ................................................................................................. 85

4.6 - Hotel Bela Vista “O excêntrico Palacete da Praça dos Palmares” .............................. 89

4.6.1 - Localização ..................................................................................................... 89

4.6.2 - Histórico......................................................................................................... 89

4.6.3 - Análise Estilística ............................................................................................ 91

4.6.4 - Situação atual ................................................................................................ 92

4.7 - Hotel Palmares “O Compacto Recinto Eclético da Boca de Maceió” .......................... 93

4.7.1 - Localização ..................................................................................................... 93

4.7.2 - Histórico......................................................................................................... 93

4.7.3 - Análise Estilística ............................................................................................ 94

4.7.4 - Situação atual ................................................................................................ 95

5 – Entre Maceió e o Ecletismo, o desenvolvimento comercial .................................... 97

6 - Referências ................................................................................................................ 100

7 – Anexo I - Imagens ...................................................................................................... 104

8 – Anexo II - Mapas ......................................................................................................... 115

9 – Anexo III – Levantamento de Plantas e fachadas ................................................... 117

10 – Anexo III – Análises descritivas dos elementos que integram as fachadas das edificações ...................................................................................................................... 138

Page 13: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

12

INTRODUÇÃO

Em todo o mundo os séculos XVIII e XIX constituíram momentos de significativas

transformações. A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII transformou os

sistemas de produção manual. Segundo Pazzinato; Senise (1995), com a introdução da

máquina à vapor, o capitalismo passou então a ser o sistema econômico a vigorar no

período. Surgiram com a Revolução novas matérias-primas, em especial os minerais e

incrementou-se a indústria. Surgiu também uma nova classe, a burguesia, que acumulava

os lucros da produção, concentrava a propriedade das fábricas e enriquecia em função da

produção em massa, efetuada por operários e máquinas, nas diversas fábricas que se

espalharam pela Inglaterra na época.

Teve início assim a incorporação das colônias, enquanto produtoras de matérias-

primas, no sistema capitalista e o grande aumento da população nas cidades, atraída pelas

oportunidades de emprego das indústrias em crescente desenvolvimento.

Tem-se então um cenário de transformações em que a população se diversifica não

somente no tocante à miscigenação de raças, oriunda da “globalização” trazida com a

Revolução, mas também no tocante à estratificação social consequente do acúmulo de

riquezas nas mãos da burguesia, e do empobrecimento da classe operária.

Para além de todos os benefícios que trouxe, a Revolução Industrial também

aumentou a pobreza, distanciou ainda mais as classes sociais, quase criando um verdadeiro

abismo entre estas. As cidades passam a ser ocupadas indiscriminadamente pela

população crescente, aumentam os cortiços, e as condições de vida insalubres nas

periferias destas.

A Revolução industrial acabou por influenciar o surgimento de diversos conflitos em

torno da necessidade de se conseguir territórios para escoar a produção em massa das

indústrias, esses conflitos culminaram com a Primeira Guerra Mundial em 1914 (Pazzinato;

Senise,1995).

As consequências da Revolução Industrial causaram nas cidades a geração de um

cenário negativo, impessoal. E a ambiência industrializada trouxe a necessidade de se criar

um cenário positivo, revalorizando a identidade local, passa-se então a buscar no passado

idealizado, uma tentativa de resgate da identidade dessas nações, para tal algumas cidades

resgatam o estilo medieval, outras buscaram os referenciais do repertório classicista.

Essa tendência de idealização do passado originou o Ecletismo e os Revivals, entre

eles o Neoclássico e o Neogótico.

Apesar de todas as críticas, o Ecletismo teve grande importância na transformação

das cidades no século XIX. Juntamente com o Neoclássico, trouxe a idealização do retorno

ao passado e o resgate da identidade de elementos culturais que se diluíram em meio à

Revolução Industrial. Porém o Ecletismo, diferentemente do Neoclássico, conduzia essa

idealização do passado com liberdade estilística, sem se prender necessariamente aos

Page 14: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

13 parâmetros de um ou outro estilo, e trazia também a valorização de culturas exóticas,

enquanto o Neoclássico recorria tão somente na fonte do Classicismo.

Apesar de ambos os estilos se originarem de uma tendência historicista oriunda de

fundamentos da Academia, o Neoclássico teve uma abordagem apriorística sobre a tradição

Clássica e surgiu na Europa. Já o Ecletismo revisitava o passado incorporando elementos

de diferentes estilos, contudo, buscando também uma liberdade de fugir à regras e cânones

que não se via no Neoclássico, ao tempo em que introduzia em suas composições,

elementos de origem Neobarroca, Mourisca, Neogótica, entre outros.

No Brasil este espírito idealizador chegou a partir da vinda da Corte Portuguesa em

1808, somada ao advento da Missão Francesa (1816) e a fundação da Academia de Belas

Artes.

O Neoclassicismo já se manifestava de forma mais singela em algumas edificações

da época, mas foi encorajado pelo movimento artístico francês, quando aos poucos os ares

de colônia começavam a ser modificados com o estabelecimento da sede do governo

português no Rio de Janeiro, que passou ser a capital do Império.

Com o tempo as edificações em sistema porta-janela, com simples cobertas em

duas águas, cumeeira paralela à rua, telhas de capa-canal nos beirais com paredes

estruturadas em pau-a-pique, e coladas nos limites dos lotes. Deram lugar a casas de

porão-alto e sobrados com platibandas decoradas e/ou cobertas elaboradas com mais de

duas águas e com rufos, arrematadas por jardins laterais, e construídas em alvenaria de

tijolos batidos. Até então a arquitetura civil brasileira era representada pelas construções

coloniais e Barrocas, tendo este ultimo estilo uma maior ênfase na arquitetura religiosa.

Porém, tais transformações não foram instantâneas, foram parte de um processo

em que, segundo Reis Filho (2004) as primeiras edificações construídas neste período de

modificação, mantinham os padrões coloniais, aplicando-lhes apenas algumas singelas

características diferenciadas. Tinha-se a princípio o mesmo padrão de casas coladas nos

lotes que iam inovando as cobertas com rufos e quedas d‟água, sobrepunham-se agora em

porões altos e recebiam discretos balcões em balaustrada.

Reis Filho (2004) afirma ainda que aos poucos com a abertura dos portos e

ingresso do Brasil no mercado mundial é que se tornou possível importar novas técnicas e

materiais. As casas térreas e sobrados começaram a serem arrematadas por platibandas

decoradas por ornamentos em forma de estátuas, guirlandas, fruteiras e conchas; as portas

e janelas das casas recebiam agora bandeiras de vidro, além das balaustradas, peitoris em

ferro e „pseudo-pilares‟.

As técnicas construtivas tenderam a se modernizar ainda mais com o fim da

escravidão, que impulsionou a imigração de mão-de-obra europeia. E já na segunda metade

do século XIX, com o crescimento da exportação de café tornou-se ainda maior a

Page 15: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

14 importação de materiais e equipamentos, o que aprimorou ainda mais o sistema construtivo

brasileiro.

Com o fim do período imperial essas cidades passaram a ganhar feições ainda

mais modernas, pois no intuito de romper com os laços da colonização portuguesa, e do

domínio econômico britânico, adotou-se a cultura francesa como fonte de inspiração aos

próximos passos de modernização das cidades brasileiras. Esse processo se deu pelo fato

dos franceses não estarem ligados ao sistema que por tantos anos podou o crescimento da

nação. A partir de tais acontecimentos tornou-se mais nítida a substituição das feições de

simplicidade colonial por uma verdadeira onda de edificações de matriz estilística

Neoclássica e depois Eclética.

É certo que a evolução de cada cidade brasileira teve suas motivações e seu

tempo. Conforme já se comentou, o Rio de Janeiro começou a mudar suas feições coloniais,

ao tornar-se sede do governo português, após a chegada da Corte em 1808. Já São Paulo

modernizou-se um pouco mais tarde, através da evolução do Ciclo do Café.

Maceió, cidade objeto de estudo deste trabalho, teve o embelezamento de suas

feições impulsionado pelo desenvolvimento comercial resultante das relações de exportação

e importação realizadas na Enseada de Jaraguá3.

Maceió cresceu a partir deste desenvolvimento econômico, e teve no século XIX

uma grande mudança em sua ambiência. A modernização oriunda do aumento da facilidade

de comunicação com outras regiões e o aumento também da importância de Maceió dentro

da Província, gerou a necessidade de uma mudança de postura.

No início do século XVIII a Província vivia um clima de instabilidade oriundo da

Invasão Holandesa (século XVII) e do domínio da oligarquia rural, essa questão foi resolvida

com a criação de uma Comarca para a região em 1712. Aos poucos com o desenvolvimento

comercial crescente, a dependência das praças de Pernambuco e Bahia foi se reduzindo. E,

quando se emancipou de Pernambuco, e tornou-se uma capitania, Alagoas passou a ter seu

comércio local incrementado e a se abrir ainda mais ao comercio externo, passando

também a possuir governo próprio.

A partir da nomeação de um governador para Alagoas, gerou-se uma verdadeira

disputa para sediar a capital, começam então as especulações em torno de Alagoas do Sul

e Maceió. Após um longo processo, atrasado pelos produtores rurais e pela resistência de

Alagoas do Sul, Agostinho da Silva Neves nomeia, em um único decreto no ano de 1839,

Maceió como cidade e capital da Província das Alagoas.

Os ares ainda de vila, com um tom de reminiscência colonial, edificações ainda

coladas nos lotes, que revelavam simplicidade construtiva, ainda associada à singeleza de

3 Localização do Porto de Maceió que foi o responsável pela ascenção comercial e econômica da pequena vila, conferindo-lhe

posteriormente condições para sediar a capital da Província.

Page 16: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

15 materiais e formas, aos poucos foram dando lugar à „glamourosas‟ edificações que

sediavam seus mais importantes órgãos públicos.

Aos poucos, modificaram-se também os perfis das residências, das casas

comerciais e demais estabelecimentos. Para fazer de Maceió uma capital, buscou-se o que

havia de mais novo no mundo Europeu, e então, o “aformoseamento” da nova cidade foi

conduzido de acordo com os padrões da Arquitetura Eclética, por ser esta a tendência que

vigorava na Europa, com ascendência na França.

A partir de então a cidade passou a receber também infraestruturas e desenvolveu

o sistema de transportes, o que deu suporte para que pudesse se comunicar com outras

regiões, e passasse a receber cada vez mais negociantes, que viam nela um lugar próspero

e com ótimas condições econômicas.

Neste contexto a cidade foi recebendo investimentos, atraindo cada vez mais

capital e explorando ao máximo seu potencial econômico. As novidades chegavam através

do Porto, e modificavam não apenas a arquitetura e o ambiente urbano, mas também os

hábitos da população que importava cada vez mais costumes europeus. Emergia com o

apogeu comercial uma classe burguesa que colhia os lucros da vida comercial no porto de

Jaraguá. Essa burguesia contribuía para embelezar a cidade com admiráveis palacetes e

sobrados.

No tocante às mudanças urbanas, a implantação de infraestruturas associada à

importação de costumes europeus, fez com que as ruas deixassem de ser local de

passagem e virassem agora um elemento de apreciação. A cidade passou a receber praças

e canteiros “paisagisticamente” bem tratados. E com o passar do tempo criou-se um cenário

capaz de atrair cada vez mais visitantes e comerciantes.

Foi em meio a essa paisagem esplendorosa que muitos dos Hotéis que se

instalaram em Maceió, assumiram importante papel de cartão de visitas da cidade,

completando, com vocabulário de arquitetura eclética, sua imagem de desenvolvimento e

prosperidade.

No momento em que a cidade passou a se comunicar mais diretamente com outras

regiões, os hotéis constituíam a primeira impressão de visitantes e comerciantes que vinham

à Maceió. Estes eram cada vez mais atraídos por sua economia próspera, associada agora

à facilidade trazida pelo advento ferroviário, que reduzia as distâncias e enquadrava Maceió

nos roteiros de comercialização com cada vez mais frequência.

O foco deste trabalho está na compreensão da importância destes hotéis em meio

à paisagem urbana da cidade na época do recorte temporal destacado, que vai desde 1839

até 1922, e sua relação com o desenvolvimento comercial e econômico de Maceió. Este

recorte abrange o início das transformações urbanas que aconteceram em Maceió, por ser

esta a data de sua elevação ao posto de cidade e capital da Província das Alagoas, e o

período de construção dos hotéis Ecléticos em Maceió. O final deste recorte é delimitado

Page 17: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

16 pela data de inauguração do Hotel Bela Vista, um dos mais significativos exemplares

estudados nesta pesquisa4.

Os hotéis abordados neste trabalho foram selecionados por pertencerem ao estilo

Eclético e por localizarem-se no eixo Centro-Jaraguá da cidade. Um olhar mais atento às

imediações destes dois bairros permitiu a localização de quatro edificações em estilo

Eclético que funcionaram como hotéis no recorte temporal estudado neste trabalho, são elas

o Hotel Lopes, o Hotel Palmares, o Hotel Atlântico e o atual Museu Théo Brandão.

A partir de levantamentos e pesquisas que fundamentaram este trabalho foi

possível descobrir a existência de mais um hotel eclético na área do Centro, o Hotel Bela

Vista, que foi demolido na década de 1960 e deu lugar ao Edifício Palmares.

Entre as áreas de localização destes hotéis, a que mais concentrou exemplares foi

a Praça dos Palmares, onde ainda foi possível identificar outras edificações hoteleiras não-

incluídas neste trabalho por não pertencerem ao estilo Eclético, são elas o Hotel Avenida e o

Hotel Central.

Objetivando ainda este trabalho, destacar o pouco que permanece dentre os

exemplares de Arquitetura Eclética de uso Hoteleiro, para contar esta história e entender

como ela se comunica/relaciona com os acontecimentos que os determinaram ao longo do

tempo. Fez-se necessário para tal, conhecer os acontecimentos que guiaram as

transformações arquitetônicas, culturais, políticas e urbanas que ocorreram em Maceió no

século XIX e a ligação destes acontecimentos a nível regional com o ambiente político e

cultural do resto do mundo.

4 A escolha deste exemplar para delimitar o recorte temporal está no fato de ser ele o único a possuir registros documentais que indiquem

sua data de construção.

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1 - O Ecletismo em seu berço Europeu e questões sobre sua essência.

“Eclética seria, num sentido estrito, a arquitetura que associa num mesmo edifício referências estilísticas de diferentes origens [...]” (BRASIL, 2009, p.6).

Há muito a palavra Ecletismo é justificada pela junção de elementos escolhidos de

diferentes estilos formando um “todo”. O termo pode aplicar-se, segundo Brasil (2009) não

somente a arquitetura, mas também ao jeito de vestir-se, a um sistema moral ou ao gosto

pessoal.

No século XIX, Victor Crousin propõe um sistema filosófico que dá ao Ecletismo

uma conotação diferente na medida em que, para ele este estilo buscava:

Distinguir entre o verdadeiro e o falso nas diferentes doutrinas e, após um processo de depuração e separação pela análise e dialética, reunir as verdades de cada uma em um todo legítimo para obter uma doutrina melhor e mais ampla. (BRASIL, 2009, p.5).

Na Europa, a curiosidade pelo exótico e desconhecido, gerava a incorporação,

cada vez mais recorrente, de elementos alheios à sua cultura. Essas tendências típicas das

civilizações europeias ganharam impulso com o advento da máquina a vapor associada aos

transportes – trens e navios, e desse modo, as distâncias foram reduzidas e as culturas

cada vez mais aproximadas. A Europa passa então a promover trocas cada vez mais

periódicas com outras nações.

O mesmo maquinário, aliado à preponderância militar das potências industriais, acarretou um novo tipo de colonialismo europeu, forçou a partilha da África e atingiu o Oriente, indianos circulavam em Londres, ingleses na África do Sul. Havia franceses na Argélia e libaneses em Paris. Essas diferenças culturais deviam ser acomodadas e provocar por bem ou por mal, a coexistência e as trocas (BRASIL, 2009, p.5)

Pode-se dizer que a Revolução Industrial, século XVIII, motivou essas trocas

culturais por diversas razões; reduziu as distâncias com a criação da máquina à vapor e

consequente evolução nos meios de transporte, levou ao aumento e miscigenação de

culturas nas cidades devido ao fato de atrair cada vez mais as pessoas do campo, e os

imigrantes para as grandes cidades em busca de oportunidades de trabalho nas fábricas. E

foi devido a este aumento da população que surgiram nas cidades os cortiços e habitações

coletivas, as condições de trabalho eram cada vez mais desumanas, os salários cada vez

mais baixos e, por consequência, as condições de moradia eram cada vez mais inópias.

Criou-se assim um cenário negativo dentro das cidades; onde os subúrbios

empobrecidos e com condições precárias de salubridade somavam-se à impessoalidade

trazida pelas inovações tecnológicas que invadiam os centros urbanos.

Não se deve negar o fato de que a Revolução Industrial trouxe inúmeros benefícios

ao desenvolvimento das cidades entre os séculos XVIII e XIX. Porém trouxe também uma

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18 nítida estratificação social, onde a burguesia passou a enriquecer cada vez mais,

acumulando os lucros gerados com o incremento da atividade industrial, e a classe

trabalhadora, passou a trabalhar cada vez mais em condições piores.

A partir deste cenário negativo, começa a existir um sentimento nostálgico, de

saudade do passado e a vontade de buscar a identidade dessas cidades que já se perdera

em meio ao “boom” inovador trazido pela Revolução Industrial. Começa-se então a idealizar

esse passado, e a trazê-lo à tona.

Neste mesmo período surgem duas correntes francesas e de origem universitária; a

da Academia e a da Engenharia. Segundo Brasil (2009) a corrente da Academia Royale

d‟Architecture (1671) é a mais antiga escola de ensino superior em Arquitetura e foi

transformada por Napoleão na Ecole Nationale Supérieure dês Beaux-Arts. Já a da

Engenharia veio mais tarde, e em 1750 foi fundada a Ecole dês Ponts et Chaussées de

ensino superior de engenharia e em 1793 foi transformada em Ecole Polytechnique. Ambas

serviram como referência no ensino da arquitetura e da engenharia para outras escolas do

resto do mundo. Enquanto a corrente da Engenharia adotava métodos matemáticos, e

soluções pragmáticas, a corrente da Beaux–Arts era tradicionalista, tratava a arquitetura

como uma arte, aplicando-lhe os princípios de proporção, simetria e equilíbrio.

Mais tarde, ainda segundo Brasil (2009) em meados do século XVIII a Beaux-Arts,

diante da tendência romântica de idealização do passado, que aflorava naquele momento,

introduziu em seus ensinamentos o conceito de Historicismo5.

O caráter dessa corrente Historicista era nacionalista, visava valorizar a cultura

local de cada país, e a partir de então, surge na Inglaterra o Neogótico, que pode ser

representado pelo Parlamento Britânico (Ver Imagem 01 – Anexo I), um marco de seu auge.

No Norte da Europa6 surge o Neoclássico, também no século XVIII, retomando a essência

dos templos greco-romanos e que pode ser representado pelo Palácio de Exposições de

Munique (Ver Imagem 02 – Anexo I). Mais tarde essa tendência se espalha por outros

países e começam a surgir outras correntes revivalistas como o Neoromânico e o

Neobarroco. Em Portugal, por exemplo, tem-se no século XIX o surgimento do

Neomanuelino7, exemplificado pelo Palácio Hotel do Bussaco (Ver Imagem 03 – Anexo I), e

no Brasil aparece o Neocolonial 8 , que pode ser representado pelo Palacete Numa de

Oliveira em São Paulo (Ver Imagem 04 – Anexo I), uma tendência que surgiu e disseminou-

se, a partir da década de 1910, remetendo às edificações típicas da época do Brasil Colônia

(Itaú Cultural, 2010).

5Uma tendência revivalista que surgiu na Europa no século XVIII, teve seu apogeu no século XIX e perdurou até meados do século XX.

6 Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.

7Corrente Revivalista que surgiu em meados do século XIX e que referencia o estilo Manuelino, que seria um gótico português tardio

(NotaPositiva.com, por Catarina Viegas). 8 Retomada do Barroco e do Rococó, resgatanto as obras de Mestre Valentin e Aleijadinho (Itaúcultural.org.br).

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Reitera-se que, tanto o Neoclassicismo quanto o Ecletismo, tiveram sua origem na

vertente da Academia, através da introdução do conceito de Historicismo (BRASIL, 2009).

No entanto são os exemplares do Neoclássico, surgido aproximadamente na década de

1770 em meio ao fervor revivalista, que predominavam o período.

O estilo Neoclássico, como já dito, surgiu no Norte da Europa, em meados do

século XVIII, Século das Luzes, onde a partir das ideias iluministas surgem várias

academias no intuito de formar artistas e distribuir conhecimento. Nessas academias a

Antiguidade Clássica ganha destaque e acaba por originar um novo estilo que rebuscava os

preceitos essenciais do Classicismo. Esse estilo demonstrava um claro interesse, através do

uso de elementos da cultura clássica, em ir de encontro às tendências do Barroco e Rococó,

para assim romper com o uso marcante do ornamento, da sinuosidade, do jogo de formas e

volumes. Para conduzir tal anteposição, o Neoclássico trazia os princípios de ordem,

simetria, equilíbrio, e toda a sobriedade e pureza de formas da estética do Classicismo

(BRASIL, 2009)(Ver Imagens 02 e 04).

Já o Ecletismo surge, como corrente principal, mais ou menos na década de 1840

(Séc. XIX), e nasce da intenção de se contrapor à preeminência Neoclássica, que trazia

uma arquitetura inspirada nos princípios Greco-romanos e que era imbuída de regras e

preceitos. Para tal, segundo Brasil (2009), o Ecletismo fazia uso da riqueza de elementos de

estilos utilizados anteriormente, rebuscando uma concepção de passado idealizado e

romântico. Suas composições mostravam-se ricas em ornamentos (Ver Imagem 03 e 05).

Para Leonardo Benévolo,

[...] O Ecletismo não se interpreta mais como uma posição de incerteza, mas como um propósito deliberado de não encerrar-se em nenhuma formulação unilateral, de julgar caso por caso, objetiva e imparcialmente. (BENÉVOLO apud REIS FILHO, 2004, p.183).

Imagem 01: Esquema dos períodos de atuação de dominância Eclética e Neoclássica.

Fonte: Guia da Arquitetura Eclética no rio de Janeiro, (p.7,2009).

Como principais diferenças entre ambos os estilos tem-se; a simetria, sobriedade,

equilíbrio, contenção e formalismo Neoclássico, diante do movimento, sinuosidade,

liberdade estilística, dramaticidade, comodidade, expressividade, esplendor, sentimento e

exuberância plástica do Ecletismo (BRASIL, 2009).

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Imagem 02: Esquema de edificação Neoclássica. Fonte: Adaptado de Blog Renascimento, S.d.

Imagem 03: Esquema de edificação Neoclássica em tipologia de entrada lateral.

Fonte: REIS FILHO, p.47, 2004.

Imagem 04: Biblioteca Saint Geneviève. Imagem 05: Teatro Municipal do Rio de Janeiro - Neocássica. - Eclético. Fonte: Blog Parci Parla, S.d. Fonte: Blog Archi in Brazil, S.d

Ao Neoclassicismo importava menos o conforto do cidadão do que a formação do

seu pensamento:

Se, para o Ecletismo, a ornamentação acentua a dramaticidade cenográfica da composição, confere luxo à arquitetura, excita e diverte a vista com detalhes preciosos; para o Neoclassicismo, teve função completamente diferente: visava a ressaltar o sentido de ordem e disciplina didática, a pôr em relevo com simplicidade e economia, forma a essência do edifício com contenção e nobreza (BRASIL, 2009, p.12).

A palavra Ecletismo tem origem do Grego onde [Eclego = escolher, tomar]

significando uma atitude de acomodação, de adequação. [Eclesia = reunião] no tocante à

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21 escolha. Brasil (2009) afirma que diante do crescimento acelerado das cidades, resultante

da Revolução Industrial, a “acomodação” eclética veio a calhar, pois diante do gosto pela

retomada do passado idealizado, entre todas as correntes revivalistas que surgiram entre os

séculos XVIII e XIX, a liberdade estilística do Ecletismo passou a satisfazer os ideais de uma

sociedade que estava cada vez mais diversificada e que não mais se adequava aos moldes

regrados do Neoclássico.

Outro importante fator para a inserção do Ecletismo nesta sociedade foram as

consequências da urbanização caótica decorrente da Revolução Industrial, a partir de

quando surgem as plantas utópicas que propõem cidades verdes, limpas e repletas de ar

puro, contrapondo-se totalmente ao cenário „poluente‟ criado pela “era industrial”. Introduz-

se assim um conceito de higiene e princípios ecológicos dentro das cidades. Nesse contexto

o Ecletismo entra como o estilo utilizado para erguer as edificações de cidades que

recuperavam sua paisagem, e assim mesclava as tendências antigas dos estilos passados

com as inovações tecnológicas que surgiam na época, e que facilitavam a concepção da

parte estrutural das obras (BRASIL, 2009).

Também com o advento da industrialização é que nasceram novos programas que

já se adequavam às exigências da atividade industrial. É nesse período que aparecem

edificações feitas totalmente em ferro, tornando-se inclusive uma tendência no período

(1880-1910), propiciada pela exportação de edifícios pré-fabricados em ferro na Europa para

diversos países (GOMES, 2011). Os países importadores da „arquitetura do ferro‟, as ex-

colônias de Portugal, Espanha e França. Ou seja, as “novas nações americanas”, assim

pontuadas pelo arquiteto Geraldo Gomes em sua vasta obra sobre o estilo eclético.

Gerou-se mesmo grande dependência dessas novas nações em relação aos países

europeus. Era uma dependência não apenas econômica, mas também cultural, pois:

O progresso e o desenvolvimento passaram a ser medidos pela capacidade de seguir hábitos, moda e consumo de produtos industriais, arquitetura [...] Assim, cidades portuárias situadas em países subdesenvolvidos cresceram rapidamente com negócios de importação e exportação, provocando necessidades que tiveram de ser satisfeitas com novos serviços, novos edifícios e novos materiais, como o ferro. (GOMES, 2011).

Ainda segundo Gomes (2011) Devido ao fato de não serem concebidos

relacionando-se com seu local de inserção, os edifícios de ferro eram, por muitas vezes,

desconsiderados enquanto arquitetura. O ferro esteve presente a princípio como elemento

de composição das fachadas: balcões, guarda-corpos e outros elementos compositivos em

ferro fundido, que antecipavam as edificações pré-moldadas que estavam por vir. Esse novo

elemento que invadia a produção arquitetônica do período também foi o responsável pela

expansão das ferrovias, que com a Revolução Industrial e o consequente desenvolvimento

das indústrias de metais nas cidades só tendiam a se desenvolver ainda mais.

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Almeida (1997) afirma que na segunda metade do século XIX a escolha dos estilos

acabou por, de certa forma, se reduzir ao revestimento, à parte decorativa da edificação, e é

nesse período que surgem as maiores críticas à produção Eclética.

Todavia, durante muito tempo o Ecletismo foi alvo de argumentos pejorativos que o

tinham como uma redução do que seria de fato um estilo arquitetônico.

Em 1880 o crítico italiano Camilo Boito declarou ser o Ecletismo uma “Babelê

formalística”. Auguste Ghoisy, em sua História da Arquitetura de 1889 apontou a profusão

de estilos da arquitetura de seu tempo tratando-a como “uma arte reduzida a viver nos

fundos do passado, à espera do surgimento de uma ideia original, de um princípio que lhe

seja próprio”. Segundo Brasil (2009), outros ainda o referenciavam como “bolo de noiva”,

“arquitetura bizarra”.

Entre vários posicionamentos, vale destacar autores como PATTETA, que definiu o

Ecletismo como:

Uma cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa que dava primazia ao conforto, amava o progresso (especialmente quando melhorava suas condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a produção artística e arquitetônica ao nível da moda e do gosto (1987, p.13).

Já para Almeida (1997) o Ecletismo significava “complexa riqueza a nível teórico e

figurativo da produção arquitetônica, ainda tão ignorada, que se adequa perfeitamente ao

processo de modernização das cidades”.

Collins analisou o Ecletismo ignorando a visão pejorativa que a maioria teve sobre

este movimento e rompeu o preconceito modernista em relação ao ornamento,

“considerando-o como uma perspectiva fundamental para o entendimento do seu significado

simbólico na arquitetura Eclética, contextualizando sua aplicação” (ALMEIDA,1997 apud

COLLINS, 1977, p.25).

Refutando todos esses posicionamentos críticos, entende-se que o Ecletismo traz

um repertório de grande riqueza formal, que faz uso da liberdade estilística para buscar em

diversas fontes e juntar em uma unidade, elementos de estilos e origens diferentes. Em

suma, entende-se que o Ecletismo resultou por significar um estilo inovador, que não se

ateve às tendências unilaterais, como o fizeram os estilos revivalistas, voltando é bem

verdade ao passado e resgatando dele subsídios para um estilo que mescla intenções

historicistas e elementos emergentes da industrialização em uma arquitetura ímpar.

Toda a diversidade do Ecletismo acabou por ser interpretada e aplicada de forma

diversa, por diferentes princípios estilísticos. Luciano Patetta (1987) descreve essas

diferentes interpretações/aplicações do Ecletismo classificando-as em três tipos:

“Composição Estilística”, o “Historicismo Tipológico” e os “Pastiches Compositivos”. De fato

a fragmentação é uma forte característica desse período e assim as manifestações artísticas

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23 e arquitetônicas tomam diferentes rumos, e é por tal motivo que essas três vertentes,

citadas acima, interpretam de forma diferente a essência do Ecletismo.

A primeira classificação que Patetta chama de “Composição Estilística” buscou,

segundo ele, copiar, de forma coerente e correta elementos pertencentes a um determinado

estilo arquitetônico (1987). Esta vertente caracteriza-se por um maior rigor filosófico, onde

elege-se e “imita-se” um único estilo, não há miscelâneas. Para as criações sob esta

vertente, havia a preocupação com a teoria da arquitetura e com a leitura dos tratados já

existentes. Segundo Almeida (1997), os exemplos mais destacados desta primeira

“classificação” de Patetta são o Neo-grego, o Neo-egípicio e o Neo-gótico.

No caso do “Historicismo Tipológico”, Patetta (1987) afirma que o estilo era utilizado

de acordo com a finalidade a que o edifício se destinava. Por exemplo, o estilo clássico lhes

oferecia a sobriedade e imponência dignas de um prédio do Parlamento ou sede dos

Ministérios, Museus entre outros. Em suma, esta vertente preocupava-se sempre em

relacionar estilo e função, atribuindo valores associativos para cada estilo, e para Almeida

(1997) uma parte significativa da produção arquitetônica mundial do período (fins do séc.

XVIII e séc. XIX) atrelava-se a esta tendência.

O último exemplo classificado por Patetta (1997) é o dos “Pastiches Compositivos”,

que criavam soluções estilísticas “historicamente inadmissíveis” que beiravam o mau gosto.

Trata-se de uma imitação mais “grosseira” da obra artística que admite a fusão de diversos

elementos oriundos de origens distintas. Para Almeida (1997), esta tendência desenvolveu-

se bastante no século XIX devido ao “descompasso” em relação ao desenvolvimento

tecnológico. Para esta autora, boa parte da produção arquitetônica brasileira neste período

corresponde, como o diria Luciano Patetta, aos Pastiches.

Patetta efetivamente percebe “desvios” na aplicação da arte Eclética e os classifica

mostrando o quanto reduzem o glamour do fazer Eclético, mas tais classificações não

inferiorizam a relevância do estilo.

É muito comum que o Ecletismo seja confundido com os Revivals, como por

exemplo, o Neogótico e o Neoclássico, mas existe um distanciamento entre ambos já que os

Revivals são muito mais relacionados a estilos específicos e possuem todo um apelo

ideológico.

Mesmo envolto em tanta polêmica e exuberância, aos poucos ganhou o mundo, foi

sendo transmitido a outras culturas. Na Europa, seu berço, surgiu no fim do século XVIII e

afirmou-se até meados do século XX, permanecendo ainda de forma secundária. Já nas

Américas, para Almeida (1997), ele aparece no início do século XIX e vigora até o fim do

mesmo, ou seja, desde o período de decadência do Neoclassicismo até os primórdios da

era moderna na arquitetura.

Mais especificamente no Brasil, o Ecletismo surge concomitante à ascensão de

uma nova classe social, a burguesia, que cria um novo cenário econômico e social nas

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24 “terras Tupiniquins” e substitui as oligarquias rurais, que até então dominavam o país. Esse

surgimento está atrelado ao sentimento de modernização do Brasil-Colônia diante das

transformações que lhe alcançavam naquele período.

Apesar de todas as críticas, é possível perceber que o Ecletismo tem importante

papel não apenas em nível de inovação tecnológica e estilística, mas também nas reformas

urbanas que recuperavam a salubridade das cidades do século XIX, e que lhe extraíam os

becos e cortiços. O Ecletismo introduziu os porões altos nas edificações e as recuou

lateralmente para carrear ventilação e jardins para as moradias. Vieram para os espaços

públicos os boulevars, amplos e arborizados, que renovaram o ar e revitalizaram as cidades

industriais. É a partir de então que aos poucos se retoma o ambiente positivo que a

Revolução Industrial acabou por degradar, utilizando-se os recursos construtivos e estéticos

que a mesma potencializou criar.

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2 - A chegada do Ecletismo nas terras Tupiniquins.

2.1 - A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil e a Missão Francesa trazendo o

Neoclássico.

Desde 1500 até 1808, ano da chegada da Família Real ao Brasil, o país possuía

uma arquitetura civil colonial, e fazia uso do Barroco nas construções religiosas. A

ambiência dessa arquitetura era, segundo Reis Filho (2004), simples devido às limitações

tecnológicas e à base da mão-de-obra escravista. As casas eram térreas, alinhadas no

limite da rua, coladas nos lotes, feitas em pau-a-pique, no simples sistema de porta-janela,

com cobertas de duas águas e a cumeeira paralela à rua. Como pode ser observado nas

imagens 06 e 07:

Imagem 06: Esquema de disposição das casas coloniais. Imagem 07: Ilustração das ruas coloniais. Fonte: REIS FILHO, 2004. Fonte: REIS FILHO, 2004.

Neste período o Brasil era colônia de Portugal, servindo assim como foco de

exploração, de onde retiravam toda a matéria-prima necessária a incrementar seu mercado

de especiarias, ervas madeiras e, principalmente, ouro.

Quando Napoleão invadiu a Península Ibérica em 1807, a Corte Portuguesa tratou

de se refugiar na colônia sul-americana com o auxílio intencional da escolta britânica, que o

fez com interesse numa troca de favores, afinal, Napoleão também prejudicara os ingleses

com o Bloqueio Continental. Em troca da escolta britânica, Portugal abriu os portos

brasileiros, permitindo a penetração da Inglaterra na colônia, além de firmar diversos outros

acordos de concessões aos ingleses.

A vinda da Corte ao Brasil, em 1808, trouxe uma grande transformação na estrutura

administrativa da região. O Imperador D. João instalou ministérios, órgãos administrativos,

culturais, educacionais, de saúde e de justiça, investindo também em comunicação. Fazia-

se necessário, segundo Del Brenna (1987), modernizar e embelezar a nova capital do

Império, Rio de Janeiro, para que vendesse ao exterior uma imagem positiva e atraísse

investimentos, possibilitando assim seu ingresso no cenário mundial. Para tal, segundo o

autor, o Neoclássico foi adotado como estilo oficial, e ganhou ainda mais força com o

advento da Missão Francesa em 1816. Mas, mesmo sendo o estilo próprio da corte, o

Neoclássico não impediu o afloramento de manifestações Ecléticas, principalmente nas

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26 residências e nos jardins laterais, porém este estilo firmou-se e superou a hegemonia

Neoclássica apenas no último quartel do século XIX.

Como sede do reino de Portugal, neste período, o governo tratou de iniciar uma

grande reforma no Rio de Janeiro, de modo a serem implantadas estradas, iluminação

pública e prédios-sede fazendo uso do estilo oficial do Império.

Conforme já foi citado, a abertura dos portos brasileiros trouxe uma significativa

abertura do país em relação a outras nações, que passou a se comunicar com outras

culturas e reduziu o isolamento consequente da colonização9. Agora o país importava não

apenas mercadorias, mas também hábitos e costumes. No mesmo momento eram abertas

indústrias no país e assim as cidades iam se desenvolvendo e reestruturando. Peter (2007)

afirma que enquanto o país se desenvolvia, era desenvolvida e incentivada também a sua

cultura, tendo sido em 1815, proposta a criação de uma Academia de Belas Artes já que a

única referência artística legada ao Brasil vinha dos Jesuítas, que atuaram no processo de

colonização.

Ainda segundo Peter (2007), a fim de enriquecer a cultura brasileira a nível mundial

o então ministro D. Antônio de Araújo e Azevedo, mais conhecido como Conde da Barca,

convocou um grupo de artistas e intelectuais franceses, que compuseram a chamada

Missão Artística Francesa. Foi então que em 26 de março de 1816 desembarcaram no

Brasil diversos artistas plásticos, arquitetos, músicos, serralheiros entre outros. Este grupo

era comandado por Joachim Lebreton, que vinha em companhia de nomes como Jean-

Baptiste Debret, Grandjean de Montigny, Auguste Marie Taunay, Nicolas-Antonie Taunay,

Segismund Neukon e Zephiryn Ferrez.

A arte trazida por esse grupo obedecia sempre às tendências francesas e a

arquitetura passou a ser produzida sob a ascendência do Neoclassicismo. Segundo Peter

(2007), foi de Grandjean de Montigny10 o projeto para a Academia de Belas Artes (Ver

Imagem 06 – Anexo I) e também a Casa França-Brasil (Alfândega) (Ver Imagem 07 – Anexo

I), tendo sido esta última o marco da introdução do Neoclássico no país e do seu ingresso

oficial no estilo mundial. A Academia de Bels Artes só chegou a ser inaugurada em 1826 e

sua primeira exposição só ocorreu em 1829.

Como resultado da Missão Artística Francesa tem-se a introdução do Neoclássico e

consequente modernização da arquitetura brasileira, com a implantação de estilos mais

refinados fazendo com que o modelo das construções coloniais fossem deixadas de lado,

agora “Escadarias, colunas e frontões de pedra ornavam com frequência as fachadas de

9 Tal isolamento gerava um descompasso de expresões artísticas e arquitetônicas, pois limitava a arte brasileira às obras de Aleijadinho

enquanto a Europa cultivava o Neoclassicismo. 10

Grandjean de Montigny muito ajudou na implantação do Neoclassicismo no Brasil, permitindo assim que as feições coloniais fossem

substituídas cada vez mais por uma aparência moderna e condizente com a evolução do país.

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27 edifícios principais, ostentando um refinamento técnico, que não correspondia ainda ao

comum das construções”. (REIS FILHO, 2004, p.36).

Para Reis Filho (2004), tais fatos associados à liberdade de comunicação com

outras nações, consequente da abertura dos portos, permitiram a modernização ainda mais

significativa dessa arquitetura principalmente nas cidades litorâneas, viam-se agora

platibandas no lugar dos beirais, calhas, peças em vidro nas bandeiras das portas, vasos,

figuras do porto. Todas estas inovações adaptando-se às tradições construtivas coloniais.

Segundo o mesmo autor, foi neste período que ganhou destaque a tipologia de

porão alto para proteger a intimidade das casas, e a entrada agora passava a ser lateral,

feita através de pequenas escadas bem ornadas. Estes porões eram aproveitados para o

alojamento dos empregados e para os setores de serviço da casa (Ver Imagem 12). As

edificações agora se abriam para os jardins laterais com belos balcões e varandas, não

encontrados na antiga arquitetura colonial.

A Missão Francesa introduziu também princípios europeus que influenciaram o

Brasil em nível urbano. Segundo Reis Filho (2004), as casas agora possuíam instalações

hidráulicas, afastamentos dos lotes, jardins laterais. Inspirando-se nos grandes passeios

europeus, aumentou o número de calçadas, surgiram os passeios próximos às casas,

apareceram os primeiros jardins públicos à moda europeia, como o Passeio Público do Rio

de Janeiro.

Contudo, o exemplo francês permaneceu incentivando a evolução arquitetônica e

urbana do Brasil e do mundo. Um grande marco deste incentivo foi ,segundo Peter (2007), a

reforma urbana parisiense por Haussman (Ver Imagem 05 – Anexo I) entre 1851 e 1869. É

nítida a influência francesa sob outras cidades que se desenvolveram à luz de suas

descobertas e inovações. A França foi uma referência para as elites mundiais por ser o

centro cultural da Europa, o berço do Iluminismo, e por ter, através do Plano de Haussman,

se tornado um modelo de reformulação urbana.

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28 2.2– A manifestação do Ecletismo no Brasil

Antes mesmo da Proclamação da República em 1889, Peter (2007), afirma que o

Brasil já vinha aos poucos cultivando um sentimento de negação da cultura portuguesa,

afinal, esta foi a cultura que os colonizou e, em certo sentido, limitou seu desenvolvimento

durante um bom tempo. Mas, também havia a grande dependência da cultura inglesa, que

desde a abertura dos portos em janeiro de 1808, vinha impondo ao Brasil laços de

dependência econômica. Já, a cultura francesa lhes era semelhante, lembrava em parte a

cultura portuguesa por ser europeia com a diferença de que a França não lhes remetia

atrasos e colonização, mas sim modernidade e desenvolvimento.

Aos poucos o Brasil adotou, segundo Reis Filho (2004), uma postura de

rompimento com as culturas que o oprimiram durante tanto tempo e passa a adotar outros

modelos culturais como referência, são estes o francês e o italiano, tendo o primeiro uma

repercussão mais forte. Para modernizar-se, o país buscou o que havia de mais moderno no

cenário europeu (França), que neste período, fim do século XIX, era o Ecletismo. A adoção

deste estilo nas terras brasileiras neste período está também associada às inovações nos

transportes, nas indústrias e também nos meios construtivos. Agora o país tinha ainda maior

facilidade em importar tecnologias e a matéria-prima necessária para empregar inovações.

E todos esses fatores associados ainda à substituição da mão-de-obra escrava, por

trabalhadores assalariados, com um maior nível de instrução, foram vitais para a

implantação do Ecletismo no país.

A arquitetura modernizava-se ainda mais, e a sutis mudanças notadas logo após a

chegada da corte e a vinda da Missão Francesa trazendo o Neoclássico, tornaram-se mais

nítidas. No período outras nações iam se desenvolvendo em função da globalização trazida

pela Revolução Industrial e, principalmente, nas ex-colônias portuguesas, francesas e

espanholas, o ideal de modernização, de rompimento com os parâmetros coloniais ganhou

força exatamente enquanto o Ecletismo fervilhava na Europa. Por consequência este

acabou por ser o estilo adotado pelas nações que emergiam no cenário mundial, como é o

caso do Brasil.

Em 1902-1904, Francisco Pereira Passos, então prefeito do Rio de Janeiro,

providenciou, segundo Dias [S.d.], uma reformulação e higienização urbana mais ampla,

através da demolição de prédios coloniais para dar lugar a exemplares Ecléticos, e a

abertura de vias arteriais com implantação de infraestrutura. Um bom exemplo foi a

reformulação da Avenida Central (Ver Imagens 08 e 09), e teve início então o marco inicial

da arquitetura Eclética no Brasil.

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Imagem 08: Avenida Central no início das obras de reforma. Imagem 09: Avenida Central pós-reforma.

Fonte: Vivercidades.org, S.d. Fonte: Vivercidades.org, S.d.

Este estilo Eclético que aos poucos surgia no cenário brasileiro, trazia nítidos traços

de influência do romantismo inglês e do tradicionalismo português, que o Brasil costumava

seguir, afinal, a própria arquitetura colonial traz nítidos traços da arquitetura portuguesa.

Este tradicionalismo era, representado pelo “enriquecimento cromático através do uso de

azulejos, de telhas esmaltadas e outros elementos decorativos de tipo oriental” (DEL

BRENNA, 1987, p.32).

Em São Paulo, o Ecletismo penetrou mais tarde através do crescimento da

produção cafeeira, que , segundo Dias [S.d.], mudou bastante o perfil da antiga vila11 e a fez

ganhar posição de destaque diante do resto do país. Esse fato só se tornou possível devido

à introdução de linhas férreas na região, que a tornaram local de passagem do café e das

riquezas da Província em meio ao auge do Ciclo do café12 e da consequente exportação do

produto.

Desde 1875 até 1886 o número de edificações em São Paulo quase triplicou,

Lemos (1987) afirma que as paredes de taipa e os telhados de palha foram logo se

extinguindo; surgiram aos poucos grandes restaurantes, hotéis e teatros espalhados pela

cidade, como o Teatro Municipal (Ver Imagem 10). Emerge também neste período a

arquitetura de ferro, composta pelas edificações pré-fabricadas importadas da Europa, como

já mencionado no capítulo anterior, sendo exemplo a Estação da Luz. (Ver Imagem 11).

11

A São Paulo anterior ao café era uma verdadeira ilha isolada por quase trezentos anos das inovações que corriam o mundo, até o fim do

século XVIII, pouco conheceu portanto do Neoclássico introduzido no país através da Missão Francesa (LEMOS, 1987, p.72). 12

O café foi um dos gêneros mais importantes para a economia brasileira e para a expansão de seu comércio externo. Com a queda nas

exportações de algodão e açúcar, viu-se a possibilidade de explorar os lucros do chamado “Ouro Negro”, o café, aumentando os investimentos e expandindo os cafezais. A produção de café na região Centro-sul do país fervilhava e só tendeu a aumentar com o estabelecimento de um sistema ferroviário ligando São Paulo ao interior do país. Aos poucos o café elevou a posição do país no cenário mundial e repercutiu de forma avassaladora na região responsável por sua produção. “*...+ O café introduziu outra classe de brancos os imigrantes, os quais logo trataram de ajudar o desenvolvimento de outra atividade, a indústria, e, a seguir, deram oportunidade ao alto comércio” (LEMOS, 1989, p.8).

Page 31: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

30

Imagem 10: Teatro Municipal de São Paulo. Imagem 11: Estação da Luz em São Paulo. Fonte: Blog Ticarioca, S.d. Fonte:Saopaulominhacidade.com.br, 1903.

Já no Recife, Dias [S.d.], afirma que a transformação urbana no século XX, abertura

das avenidas Rio Branco e Marquês de Olinda, incentivou a construção de diversos prédios

ecléticos em seu decorrer a fim de passar o sentido de modernidade, sendo a principal

referência desse Ecletismo o Clássico Greco-Romano (Ver Imagens 12 e 13).

Imagem 12: Recife Novo e seu conjunto de edificações Ecléticas. Imagem 13: Teatro Santa Isabel. Fonte: Vitruvius, S.d. Fonte: Teatrosantaisabel.com, S.d.

Quanto a Belo Horizonte, Salgueiro (1987) afirma que o Neoclássico e o Ecletismo

só apareceram bem mais tarde, pois, afinal essa capital só começou a ser construída em

1894, sendo concluída apenas em 1914. Instalou-se no Arraial do Curral del-Rei a nova

capital das Minas Gerais que, até então, só possuía construções de aspecto colonial, passa

então a receber “palácios, parques e avenidas (...) e tudo o quanto pode constituir o orgulho

de uma cidade moderna e adiantada” a intenção era trazer para a nova capital o que havia

de mais novo no mundo Europeu, para tal Aarão Reis, responsável pela obra, importou o

Ecletismo.

O mesmo autor afirma ainda que o Neoclássico aparece nas edificações oficiais e

há também resquícios de Neogótico, mas a arquitetura que teve papel principal na criação

desta cidade foi a Eclética, sendo um bom exemplo o Teatro Municipal (Ver Imagem 14).

Já na antiga capital Vila Rica, atual Ouro Preto, segundo Lemos; Martins; Silva Bois

[S.d.], as mudanças não foram tão marcantes. Manteve-se culturalmente rica, com vasto

acervo Barroco. As novidades começaram a chegar no fim do século XIX, em especial a

partir de 1880 com o advento ferroviário, e apesar de não se enxergarem mudanças radicais

no perfil arquitetônico das edificações, o que se tem é a introdução singela de elementos

estilísticos, materiais e técnicas importadas do Ecletismo. Aos poucos substituiu o pau-a-

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31 pique por tijolos, surgem os primeiros sobrados, as vergas em arco pleno, as portas-

sacadas e a casas elevadas sob porões altos (Ver Imagem 15).

Imagem 14: Teatro Municipal. Imagem 15: Edifícios com tom Eclético. Fonte: Arquivo Público Mineiro, S.d. Fonte: ArcoWeb, S.d.

Em Belém, Dias (S.d.) afirma que a interação com as novidades da arquitetura

eclética foram muito tardias, somente com o Ciclo da Borracha é que a economia da região

se ampliou e se reformulou. Apenas em 1870 é que as novidades começam a chegar, e

estas estiveram representadas pelo estilo Eclético.

Para tal processo de desenvolvimento e modernização, teve um importante papel o

arquiteto italiano Antônio Landi. Este foi o responsável por diversas obras que levaram

Belém ao encontro do resto do país em seu processo de transformações urbanas e sociais.

Ao chegar a Belém, Landi se deparou com um cenário rico em cultura, porém em estado de

grande atraso em relação ao resto do país. A Arquitetura do Ferro também teve grande

importância na região, pois devido ao seu desenvolvimento tardio, Belém tentava

modernizar-se à passos rápidos, e para tal, associou seus recursos financeiros com os

edifícios pré-fabricados em ferro importados do continente europeu. Um exemplo dessa

arquitetura Eclética paraense é o Teatro da Paz (Ver Imagem 16).

Imagem 16: Teatro da Paz em Belém - PA.

Fonte: Blog TiCarioca, S.d.

A essa altura o Rio de Janeiro já havia se tornado o centro das atenções e a porta

de entrada para todas as inovações que invadiam o Brasil. De acordo com a avaliação de

Brasil (2009) neste período o Rio de Janeiro tornara-se “[...] um acúmulo de camadas

históricas”, proveniente da migração de grande contingente de mão-de-obra em prol da

modernização da cidade, e essa diversidade que lhe era peculiar foi acentuada pelo

Ecletismo. A cidade funcionou como um verdadeiro canal para as novidades trazidas da

Page 33: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

32 Europa, as quais gradativamente iam sendo introduzidas no interior do país, até o Brasil

esboçar uma feição Eclética, mais “propriamente sua”, e por tal motivo deve-se dar uma

maior atenção à produção Eclética desta cidade.

Havia no Rio de Janeiro, diversas tendências Ecléticas reconhecidas por Brasil

(2009) como o “Ecletismo Classicizante” com uma tendência nitidamente clássica, muito

notável no acervo carioca de 1870 a 1940, por exemplo, o Hospício dos Alienados (Ver

Imagem 08 – Anexo I) e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (Ver Imagem 09

– Anexo I). Outra expressão Eclética notada no acervo carioca é chamada pelo autor de

“Ecletismo Propriamente Dito”, onde uma linguagem nova era criada a cada edifício,

tomando como base os outros estilos existentes. Deve-se lembrar também da forte

presença do chamado “Ecletismo Popular”, pois, as exigências decorativas do Ecletismo

influenciaram a geração de uma mão-de-obra artesanal muito bem aprimorada que deu

origem a uma arquitetura própria dos populares, é o caso das edificações do SAARA (Ver

Imagem 10 – Anexo I) e da Avenida Mem de Sá (Ver Imagem 11 – Anexo I).

Havia um pouco do estilo inglês do refinamento francês, este último pode ser

exemplificado pelo Jóckey Club (Ver Imagem 12 – Anexo I) e a Antiga Estação de

Passageiros da Praça Mauá. Tem-se também o Palácio Laranjeiras (Ver Imagem 13 –

Anexo I) e o Museu Nacional de Belas Artes. Segundo Brasil (2009), também havia a

produção arquitetônica carioca voltada para o Neogótico, especialmente nas Igrejas

católicas, uma amostra dessa arquitetura é a Igreja da Imaculada Conceição em Botafogo

(Ver Imagem 14 – Anexo I) e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Ver Imagem 15 –

Anexo I)13.

No Brasil o termo Ecletismo não designa apenas um estilo arquitetônico, surgido na

França que incorpora as tendências de diversos estilos, mesclando o que estes têm de

melhor, mas sim toda a produção arquitetônica oriunda da criação da Academia no período

pós-neoclássico.

Com o tempo a economia do país passou a investir cada vez mais na construção

de indústrias e de ferrovias que viabilizavam a comunicação com outras nações. Desse

modo, segundo Reis Filho (2004), o país passou a se inserir e se firmar no mercado

mundial, possibilitando a importação de técnicas e materiais impulsionando um processo

“globalizado”. Pode-se dizer, portanto, que o café modificou a feição das cidades, a

arquitetura evoluiu em forma e formação, descobrindo, sobretudo os benefícios da alvenaria

sobre o pau-a-pique, a ponto de já ter sido dito que “foi o café que popularizou o tijolo, a

começar pelas obras diretamente ligadas ao beneficiamento daquele produto agrícola”.

(LEMOS, 1989, p.40).

13

Outra tendência arquitetônica do período era a dos chalés enrriquecidos com lambrequins em zinco, vasos, flechas. Esta tendência

importava os costumes da habitação rural na Europa, traziam um ar campestre e ao mesmo tempo luxuoso (Del Brenna, 1987).

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33

Reis Filho afirma que o advento dos transportes facilitou a comunicação do país

interna e externamente, e assim, as novidades a nível mundial penetravam mais facilmente

no país e se disseminavam também entre as cidades do interior “Tupiniquim” (2004, p.148).

O processo de industrialização, ainda segundo o mesmo autor, oriundo do

crescimento da economia brasileira incentivou, o surgimento de empresas e o incentivo ao

trabalho assalariado, mas esse incentivo não foi tão avassalador a ponto de exterminar de

vez o sistema escravista, que continuava movendo a produção cafeeira. Ao passo que a

exploração do café trazia significativas transformações, o domínio das oligarquias deixava o

país em enorme retrocesso, na medida em que a sociedade ainda não estava totalmente

aberta às inovações a nível mundial e a economia cafeeira ainda estava baseada no

sistema escravista.

O fim do trabalho escravo14, somente aconteceu entre 1850 e 1888, e acabou por

ajudar a motivar a implantação de mão-de-obra europeia. Reis Filho (2004), afirma que o

primeiro passo que auxiliou esse processo de modernização foi a criação da Lei do Ventre

Livre, em 27 de maio de 1871, propondo que dali em diante seriam livres todas as crianças

nascidas de pais cativos. Em seguida veio a Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888, trazendo

definitivamente a liberdade para os escravos.

Tal atitude “obrigou” as oligarquias rurais a substituírem a mão-de-obra explorada

gratuitamente por trabalhadores assalariados. É então que o país, após ter aberto suas

portas às inovações tecnológicas do mundo europeu, abriu-se para receber a mão-de-obra

oriunda daquele continente, (os colonos italianos) que tinham outro nível intelectual e

traziam técnicas novas para o desenvolvimento das diversas atividades que assumiram no

país. A transformação causada pela substituição da mão-de-obra escrava, associada ao

processo embrionário de industrialização do país trouxe ainda mais desenvolvimento e

impulsos à modernização.

Reis Filho (2004) segue afirmando que o funcionamento das residências não era

mais norteado pelo trabalho servil, agora a mão-de-obra europeia trazia novos hábitos

funcionais e tendências construtivas. As mudanças eram sutis no esforço de adaptar-se a

um novo sistema, introduziam-se agora mecanismos hidráulicos nas casas, que passavam a

se descolar dos lotes no intuito de trazer arejamento e iluminação natural. Em alguns casos,

tinham-se as duas laterais da edificação livres, em outros, apenas uma lateral não avançava

e recebia um jardim (Ver Imagens 17 e 18). Os primeiros sinais que indicam as mudanças

resultantes da substituição da mão-de-obra escrava são algumas modificações técnicas nos

processos construtivos, o tijolo ganha espaço e as telhas de capa-canal dão,

14

Foram muitos os movimentos abolicionistas que ocorreram no período, visando um tratamento mais humano aos trabalhadores

responsáveis pela produção que enchia o país de lucros, e pela modernização das cidades, das fábricas, docomércio, e impulsionava o enquadramento do país nas linhas europeias. Há muito se queria uma mão-de-obra assalariada, com um nível de conhecimento maior, com mais disponibilidade a aprender e se especializar.

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34 gradativamente, lugar às telhas importadas de Marselha15. Além de que, ainda segundo este

autor, a madeira serrada agora permitia acabamentos mais perfeitos de portas e janelas.

Imagem 17: Esquema de evolução das casas térreas para casas com porão alto.

Fonte: Adaptado de REIS FILHO, 2004, p.41.

Imagem 18: Esquema de evolução das plantas residenciais antes e depois do fim do trabalho escravo. Fonte: Adaptado de REIS FILHO, 2004, p.39 e p.67.

Estas modificações fizeram parte de um longo processo de modernização, que

lentamente foi modificando a paisagem das cidades brasileiras e popularizando ainda mais

as tendências europeias de construção. Este processo ganhou ainda mais força com a

Proclamação da República em 1889, quando o país abriu-se ainda mais, recebendo assim o

Ecletismo, como estilo oficial das “inovações pós-República”. Tais fatos históricos confirmam

a modernização brasileira, e a implantação definitiva do Ecletismo no Brasil já nos fins do

século XIX (REIS FILHO, 2004).

15

Cidade francesa com considerável atividade comercial por sua localização às margens do Mediterrâneo.

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35 2.3– A modernização das cidades e da Arquitetura

De modo efetivo, após a abolição da escravatura e usufruindo do reconhecimento

mundial trazido pela comercialização do café, veio um surto de modernização incentivado,

em parte, pelos estabelecimentos que promoviam campanhas em prol da educação popular

e da especialização e preparação da mão-de-obra. Em São Paulo, o Lyceu de Artes e

Ofícios ajudou na transformação dos trabalhadores. Segundo Reis Filho (2004), o objetivo

deste era moldar esses trabalhadores de acordo com a demanda surgida com as inovações

tecnológicas que aos poucos invadiam o país.

Com o desenvolvimento econômico alcançado, começou a existir uma nítida

estratificação das classes trabalhistas e a surgir uma nova camada social composta por

médicos, engenheiros e militares. Passa a nascer “uma arquitetura aprimorada, com novas

técnicas e mão-de-obra especializada” (REIS FILHO, 2004, p.151).

A partir de então, ainda segundo Reis Filho, o processo construtivo evoluiu

bastante, aumentou o número de edificações a fim de atender as novas demandas sociais.

Para se adaptar a tamanho desenvolvimento, os centros urbanos passaram a ser munidos

de toda a infraestrutura necessária ao seu bom funcionamento, como “redes de

abastecimento de água, luz e esgoto, além de implantar as primeiras linhas de transporte

coletivo” (REIS FILHO, 2004, p.151).

Gradativamente, os centros urbanos passaram a possuir mais prestígio do que as

zonas de antigas propriedades rurais. Morar próximo à cidade passara a ser , segundo Reis

Filho (2004), símbolo de nobreza e definiu-se a tendência de migração dos proprietários

rurais para a cidade, além da modificação da feição das casas rurais para adaptar-se à

moda urbana. Aos poucos as inovações Ecléticas, também passaram a encantar a classe

social emergente e a modificar o perfil da mão-de-obra do país, pois:

A tecnologia exigida pelo Ecletismo novidadeiro, por motivos óbvios, não poderia ser plenamente satisfeita pela mão-de-obra local e então vemos juntarem-se aos incontáveis mestras e pedreiros italianos, alvanéus portugueses, calceteiros, estucadeiros (...) escultores, estofadores de diversas nacionalidades, todos comandados pela algo pretenciosa classe média, sempre em dia com a moda, com as modernidades vistas nos bairros elegantes [...] (LEMOS, 1989, p.14).

Na opinião de Reis Filho (2004), os bairros populares também cresceram, e foi

visível o aumento da oferta de mão-de-obra nas cidades, consequência da falência dos

meios de cultivo rural convencionais, aliada ao desenvolvimento da indústria e do comércio,

fez surgirem os primeiros cortiços e favelas nas cidades. Essa mesma mão-de-obra que

habitava os cortiços ajudava a produzir uma arquitetura cada vez mais esplendorosa para as

classes mais abastadas.

Page 37: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

36

Para Carlos Lemos o surgimento da indústria e a expansão cada vez mais forte do

cultivo cafeeiro foram aos poucos criando na classe média o desejo de promover

“manifestações qualitativas na sua produção arquitetônica” (LEMOS, 1989, p.17).

Aos poucos as paredes passaram a ser edificadas em alvenaria, fato que reduzia

significativamente os erros de medidas, e permitia a padronização dos elementos

construtivos16. A princípio essas paredes chegavam a possuir 60 cm de espessura e a

alcançar 5m de altura em casas térreas e a 10m em sobrados. Quanto aos pisos, nas áreas

molhadas e áreas externas fazia-se uso do ladrilho hidráulico, nos demais ambientes era

comum o uso do piso de Paquet.

As casas começam agora a ser totalmente recuadas em relação aos lotes.

Segundo Reis Filho (2004), uniam-se agora a tradição das chácaras ladeadas por jardins e

os sobrados que antes eram “grudados” aos limites dos lotes. Como já mencionado

anteriormente, as mudanças nessa arquitetura posterior à abolição da escravatura e à

Proclamação da República foram lentas e graduais, apesar de inovarem, ainda continuavam

a utilizar esquemas típicos de períodos anteriores.

A gente branca que Carlos Lemos diz ter ajudado no desenvolvimento da indústria,

tinha o tijolo como símbolo de modernidade (1989, p.8). Para o autor “[...] de repente outros

conhecimentos, outras técnicas, outros materiais romperam aquela acomodação baseada

na tradição cultural aos velhos tempos. Surgiu o tijolo. Apareceu a alvenaria argamassada

contrapondo-se à terra socada [...]” (LEMOS,1989, p.34).

Segundo Reis Filho (2004), os telhados deixaram de obedecer ao esquema básico

das antigas coberturas em capa-canal, caibros, ripas e suportes em pontaletes, apenas.

Passam a ser estruturados por tesouras em madeira, apoiando telhas de barro vindas de

Marselha, na França, ou telhas de lâmina de ardósia. Estes, que antes ficavam aparentes

arrematados por beirais que protegiam as edificações da insolação, passaram a ficar

encobertos por platibandas, e quando estas não estavam presentes os beirais eram

arrematados por peças de gesso, lambrequins e mãos-francesas.

Ainda quanto às novas tendências das cobertas, Lemos (1989, p.35), afirma que

“os telhados urbanos saíram da simplicidade das duas águas para as soluções complicadas

de vários planos recortados e movimentados, somente possíveis graças às calhas internas

das águas-furtadas ou rincões”.

A implantação das redes de esgoto e água permitiu que os banheiros fossem

definitivamente incluídos nos programas residenciais e adotados como um cômodo da casa.

Outro ponto importante foi a implantação da iluminação a gás, que incentivou também a

16

Durante muito tempo as cidades eram constituídas por edificações em pau-a-pique e com cobertas em palha. Não demorou muito para

que o surto de “importação de modernidades” atingisse os meios construtivos. A princípio as paredes eram trabalhadas em taipa ou pedra, nas localidades próximas a regiões e várzeas utilizava-se a argila para produzir uma arquitetura de pau-a-pique. (LEMOS, 1989, p.26).

Page 38: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

37 importação de luminárias e peças decorativas destinadas a iluminar os espaços internos

(REIS FILHO, 2004). Para acompanhar tal desenvolvimento, fazia-se cada vez mais

necessária a importação de diferentes elementos de composição desta nova arquitetura, tais

como:

Os vidros lisos, lapidados, fosqueados, coloridos ou espelhados; como os vitrais das igrejas e palacetes; como as ferragens em geral; chapas de cobre para a confecção de calhas onduladas; papéis de parede, lisos ou decorados em relevo estampado; telhas de cerâmica vindas de Marselha [...]. (LEMOS, 1989, p.36).

O ferro agora possui não apenas função estrutural. Era utilizado na obra como

elemento decorativo ajudando a compor a fachada e os elementos internos, notadamente

em alpendres, gradis, escadas, balcões, todos trabalhados, prontos para incrementar a

estética da obra. Eram normalmente cercadas por belos jardins e terraços para os quais os

balcões e varandas da edificação se debruçavam, preocupava-se agora com a iluminação e

ventilação naturais na residência (REIS FILHO, 2004). Quanto a essa preocupação com a

higienização das edificações Carlos Lemos ainda afirma:

[...] O primeiro esquema de circulação doméstica foi substituído por aquele cujo partido é caracterizado pelo corredor lateral descoberto, patrocinador de ar e luz aos cômodos intermediários [...] Agora, os novos conceitos de higiene da habitação estavam sendo atendidos graças à renovação tecnológica aplicada ao desenho do telhado. (LEMOS, 1989, p.96).

A partir deste momento todas as fachadas passam a ter igual importância, o

costume colonial de dotar a casa de apenas uma fachada principal, secundarizando as

outras, foi deixado para trás. A partir daí os telhados de apenas duas águas com cumeeira

paralela à rua dão lugar aos elaborados telhados de quatro águas (REIS FILHO, 2004).

Reis Filho (2004) afirma ainda que a fim de aproximar cada vez mais a edificação

do jardim que a circundava, os porões tiveram sua altura reduzida. Nos sobrados tinham-se

os ambientes de permanência locados no pavimento térreo, os serviços locados no porão17

e os dormitórios locados no primeiro andar.

É evidente o crescimento urbano notado em especial na região influenciada pelo

cultivo do café. No tocante a esse aspecto, “velhas fachadas tiveram seus beirais

arrancados e substituídos por platibandas decoradas e guarnecidas de vasos, estátuas e

pinhas de porcelana [...] A cidade que crescia ia inventando coisas” (LEMOS, 1989, p.53).

17

Porém, a utilização dos porões na tipologia arquitetônica vigente na época, era resultado de uma imposição legislativa que visava a

elevação da casa em relação ao nível do terreno para proteger o assoalho da umidade do solo, e dava mais privacidade aos cômodos dianteiros da casa em relação aos transeuntes. (LEMOS, 1989, p.98).

Page 39: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

38

A partir de então os programas habitacionais passaram “a fazer parte das

cogitações legais e legisla-se sobre as dimensões mínimas dos cômodos” (LEMOS, 1989,

p.56).

Para o arquiteto Nestor Goulart Reis Filho, “o Ecletismo foi importante, pois

funcionou como uma tipologia estética que auxiliou na assimilação dos padrões

arquitetônicos e inovações tecnológicas trazidas da Europa” (REIS FILHO, 2004, p.178).

Neste período:

“Toda casa que se prezasse deveria possuir grades, gradis, cancelas18, portões e portas, guarda-corpos e grimpas19de „serralheria artística‟ [...] Estofados e móveis incríveis, nas madeiras mais finas, em „puro estilo provençal‟. Mosaicos, estuques 20 , escaiolas variadíssimas; molduras gregas e festões de gesso decorado.” (LEMOS, 1989, p.116).

As cidades brasileiras evoluíam ao passo que o país se engajava no cenário

mundial, e o Ecletismo auxiliava na reformulação da paisagem destas cidades. Como

melhor exemplo do papel deste estilo nas transformações urbanas ocorridas no país ao

longo do século tem-se a reforma urbana de Pereira Passos no Rio de Janeiro em 1902,

onde antigas ruelas e cortiços tiveram fim, a cidade ganhou vias amplas e arejadas, e

corredores de prédios modernos, Ecléticos, que embelezaram a cidade.

Como já mencionado anteriormente, Belo Horizonte foi construída à luz da

arquitetura Eclética, o Pará deixou de lado seu atraso em relação ao resto do país através

do Ecletismo implantado por Landi. São Paulo abandonou o aspecto de vila, isolada dos

acontecimentos no país serra à cima, com a implantação do Ecletismo.

Em Alagoas não foi diferente, a modernização da nova capital em meio à “era

comercial” alagoana, fez uso do Ecletismo para dar nova feição à antiga vila do “Engenho

Macayó” como será visto a seguir.

18

Portão em gradil de ferro. 19

Ponto mais elevado de um edifício, pode-se entender por cume, ventoinha. 20

Pó de mármore amassado com cal, gesso e areia utilizado para fazer ornamentos.

Page 40: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

39

3 - A evolução comercial das Alagoas e o advento dos transportes

3.1 – O Povoamento das terras alagoanas

A história alagoana teve início no período de administração do Brasil-colônia

através das capitanias hereditárias, durante o governo do segundo donatário 21 , Duarte

Coelho de Albuquerque, iniciado em 1560. Segundo Costa (1983), Duarte organizou duas

bandeiras para desbravar as terras da capitania, uma destas direcionou-se para o Sul de

Olinda, explorando a região litorânea e chegando assim a Alagoas em março de 1535.

Valente (1952) afirma ainda que Duarte tomou posse do território e providenciou a povoação

das terras por colonos portugueses. De acordo com Barros (1991) estabeleceram-se

inicialmente três núcleos de povoação; o primeiro ao Norte, Porto Calvo, o segundo ao

Centro, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul22 e o terceiro ao Sul, Penedo.

Valente (1952) afirmava que Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, ou Alagoas

do Sul, se estabeleceu a 88m acima do nível da Lagoa Manguaba23. Sua povoação teve

início no ano de 1591, quando foram doadas a Diogo de Melo e Castro 5 léguas de terras

para a fundação de uma vila que deveria chamar-se Madalena, a área foi povoada, mas só

foi elevada à categoria de vila 45 anos depois.

Os autores Ferrare (2002) e Barros (1991) convergem informações no sentido de

que Alagoas do Sul estava localizada a 8 km da costa atlântica, primeiramente implantada

às margens do Rio Sumaúma e da Lagoa Mundaú, e de que, esta localização deu-se devido

à necessidade de proteção contra ataques pela costa, durante o período de invasão

holandesa, firmar-se próximo à costa no período era submeter-se ao perigo. Ferrare (2002)

diz ainda que se acredita ser essa localização de Alagoas do Sul, afastada da costa,

decorrente da influência das diretrizes urbanísticas espanholas, já que Alagoas do Sul foi

ocupada em pleno domínio Luso-espanhol (1580 – 1640).

Enquanto Maceió era apenas um pequeno povoado que se formava nas terras do

Engenho Maçayó, Alagoas do Sul ia se desenvolvendo e sediava as residências das

principais autoridades civis e religiosas.

Em 1630, quando se deu a invasão holandesa24, “Porto Calvo, Alagoas, Penedo,

Santa Luzia do Norte, São Miguel dos Campos, Camaragibe eram centros de atividade

agrícola e comercial, empórios já notáveis dos povoados adjacentes” (COSTA, 1983, p.28).

Segundo Costa (1983) todo o domínio holandês25 durou cerca de três décadas se

ao fim da guerra motivada pela invasão destes, os núcleos povoados de Alagoas resultaram

21

Nobres ou pessoas de confiança do Rei que recebiam as faixas de terras (capitanias) no intuito de administrá-las, colonizá-las e

desenvolvê-las. 22

Núcleo de povoamento que mais tarde veio chamar-se Madalena do Sumaúma, Alagoas do Sul e por Último cidade das Alagoas e que

hoje é a cidade de Marechal Deodoro (FERRARE, 2002). Neste trabalho iremos tratá-lo por Alagoas do Sul. 23

Possivelmente essa localização elevada tinha o intuito de proteger do risco de enchentes e de ataques por via marítima Essa afirmação

comprova-se através de registros holandeses da instalação desses povos em uma área mais elevada (FERRARE, 2002, p.21).

Page 41: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

40 bastante agredidos pela invasão. Enquanto isso alguns pequenos povoados vinham

crescendo e se destacando, São Miguel, Maceió, Atalaia, Anadia, entre outros. Com a

retirada das tropas holandesas, Alagoas do Sul tomou fôlego e começou a se reerguer com

a construção de novos edifícios, principalmente de cunho religioso.

Foi quando, segundo Valente (1952) diante do ambiente inseguro deixado pela

invasão holandesa e da intenção dos proprietários rurais, senhores de engenho, em assumir

o poderio da frágil região, o Governo Geral estabeleceu na região, em 1712, uma

Comarca26. Esta tinha jurisdição em Penedo e Porto Calvo, e Alagoas do Sul era a cabeça

desta Comarca. Em 1636 esse povoado foi elevado à categoria de vila pelo donatário da

capitania de Pernambuco, ato que serviu de incentivo à sua reconstrução, a fim de

recuperar os estragos do domínio holandês.

Já Maceió, passou, segundo Barros (1991) de povoado a vila em 5 de dezembro de

1815, fato que trouxe melhores condições para o desenvolvimento da atividade comercial,

reduzindo sua dependência em relação a Alagoas do Sul.

Dois anos mais tarde já contava com 200 engenhos, entre os quais, Utinga, Riacho

Doce e Cachoeira, o que mostrava a nítida evolução da indústria açucareira que era a base

econômica da região. Neste mesmo ano a 16 de setembro “Alagoas entrava para a

comunhão brasileira com foros de capitania” (COSTA, 1983, p.88). Isto se deu através da

Revolução de 1817 27 , onde a Comarca de Alagoas, que integrava a capitania de

Pernambuco, foi tomada por seus habitantes sem nenhuma articulação prévia. E para

Barros (1991) os recursos naturais e econômicos de Alagoas ajudaram para que fosse

desmembrada de Pernambuco.

Em 16 de setembro de 1817, houve o desmembramento, mas somente no ano

seguinte foi nomeado um governador para a nova capitania, Sebastião de Mello Póvoas,

que só tomou posse na Cidade das Alagoas em 1819. Neste período Maceió ainda era uma

pequena vila que se desenvolvia a partir da atividade comercial portuária e:

Sua physionomia, no conjunto de ruelas e habitações rústicas, com a matta á beira do casario, o pantano da Bocca de Maceió

28 e os mangues da lagôa,

se não era de animar ao comércio, não seria de escandalizar ao governador (COSTA, 1983, p.90).

Costa (1983) afirma que ao chegar a Alagoas, Póvoas deparou-se com os pedidos

apressados do Senado da Câmara, para que elegesse a vila de Maceió como sede do

25

Tropas de reconhecimento holandesas percorreram a pé toda a costa da capitania fazendo registros e anotações à cerca de tudo o que

viam. Nesses registros escreveram sobre o Jaraguá afirmando que não havia água, a que se tinha era salobra (PEDROSA, 1998, p.23). 26

Subdivisão admnistrativa do Conselho. E segundo Barros, o estabelecimento da comarca serviria para “combater a arrogância dos

capitães do açúcar” e para unificar territorialmente a região (1991, p.42). 27

Os senhores de engenho foram a favor da Coroa, para que permanecesse a ordem vigente, por medo de perder seus benefícios, o

Ouvidor Geral, Antônio José Ferreira Batalha também não foi a favor da causa dos revoltosos já que a emancipação política de Alagoas implicaria no enfraquecimento da capitania de Pernambuco com a redução de seu território (BARROS, 1991, p.43). 28

Entrada de Maceió onde hoje localiza-se a Estação Central da cidade.

Page 42: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

41 governo, apresentando-lhe as vantagens dessa vila. Devido a isso Póvoas demorou-se em

Maceió, a fim de analisar suas condições para ser sede administrativa da Província.

Somente no mês seguinte apresentou-se em Alagoas para tomar posse do governo,

voltando em seguida para Maceió, onde permaneceu de 1818 até 1821.

Ainda para Costa (1983) acreditava-se que a sede do governo seria a velha Vila

das Alagoas em nome da tradição, por funcionar como cabeça de comarca há mais de 100

anos. Alagoas trazia como bagagem “seus foros seculares de criação e cabeça de

comarca”, já Maceió possuía suas vantagens topográficas e as condições naturais de seu

ancoradouro29(COSTA, 1983, p.93). Ao fim Póvoas acabou escolhendo Maceió para sediar

os órgãos fiscais da capitania. Descartou a aparência, a estrutura e a tradição, e levou em

consideração à cima de tudo as possibilidades futuras de expansão econômica daquele

lugar.

A partir do século XIX Alagoas passou a ser governada por juntas administrativas

que possuíam um presidente. Em 1839 foi eleito para governar a província Agostinho da

Silva Neves, seu governo foi marcado pela sedição em torno da mudança da capital e

depois de golpes e transtornos políticos. “A 3 de dezembro a Assembleia reuniu-se e o

presidente, depois de expor os acontecimentos, propôs a transferência da capital para

Maceió”, essa proposta foi discutida e em 7 de dezembro foi aprovada, e sancionada no dia

9 do mesmo mês, nessa resolução Maceió era elevada de vila à categoria de cidade e sede

do governado da província (COSTA, 1983, p.113).

Costa (1983) afirma que Alagoas passou então a ganhar maior autonomia

administrativa, mas ainda assim a dependência comercial da Bahia estendeu-se por

décadas. A vida econômica da Província girava em torno da atividade açucareira30 e na

época o governo português tornou o açúcar monopólio oficial “recebendo-o em caixas de

madeira no porto de Lisboa” (COSTA, 1983, p.157). Mas com a abertura dos portos esse

monopólio caiu, pois passou a ocorrer o desvio da produção para outros países.

A produção de algodão poderia ter concorrido, segundo Costa (1983), com a de

cana-de-açúcar, mas prejudicou-se pela proibição da produção por parte do Marquês de

Lavradio. Apenas com D. João VI31 é que a produção de algodão foi permitida, mas tornou a

ser proibida em 1810 pelo tratado32 comercial com a Inglaterra33.

29

Enseada de Jaraguá que possuía profundidade ideal para que atracassem até os navios mais pesados e uma ótima localização geográfica. 30

Segundo COSTA (1983, p.158), a cultura da cana de açúcar era sua única fonte de riqueza considerável, os engenhos – movidos à água

ou tocados por bestas – centralizavam toda a sua atividade industrial.

31

Ao chegar ao Brasil com sua Corte após a invasão de Portugal por tropas francesas , Dom João declarou livres as indústrias brasileiras e

abriu os portos do Brasil ao comércio estrangeiro (Dados do site Oficial da Casa Imperial do Brasil). 32

Apenas um de uma série de Tratados assinados nessa década com a Inglaterra, em troca do apoio que esta sempre deu aos portugueses

desde a invasão holandesa. Entre estes foram fechados tratados de Comércio e Navegação e um de Amizade e Aliança, assinados em 19 de fevereiro de 1810. (Gebara, S.d.). 33

Segundo COSTA(1983, p 159) somente mais tarde é que os estadistas da Maioridaderevogaram esses tratados comerciais e devolveram

a autonomia das fábricas de algodão.

Page 43: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

42

Em 23 de julho de 1840 teve início o Segundo Reinado34, e segundo Cancian

(2011) a presença da figura de um rei no comando e o pulso firme com que D.Pedro

administrou o governo trouxeram desenvolvimento social e econômico para o país.

Em Alagoas tem-se o crescimento das exportações. Além do açúcar e do algodão

do porto de Jaraguá também saíam outros gêneros, como “madeira, carne, couro, coco,

azeite de mamona, arroz, aguardente e outros itens eram enviados a portos do poderoso

império inglês, tais como Cowes, Falmouth, Liverpool, Gibraltar, Alexandria e Londres”

(TENÓRIO, 1983, p.37).

Em 1889 veio a República e com ela a capacidade produtiva de Alagoas acelerou-

se, “a República, estabelecendo a vida autonoma das Províncias, determinou a expansão de

todas as fontes econômicas que existiam e creou outras” (COSTA, 1983, p.160). Era nítido

que o centro da economia alagoana era o setor agrícola – com a produção da cana e do

algodão – e quanto a isso Costa (1983) debruça-se a respeito afirmando que apesar de

termos as melhores terras, a organização das técnicas e do trabalho agrícola era incipiente.

E diz ainda quanto ao desenvolvimento da atividade portuária de Maceió que “As cifras

frisam uma situação vantajosa para o nosso excelente ancoradouro de Jaraguá. Em

cincoenta annos registramos um augmento de 200% em nossa população e em nossa

riqueza [...]” (COSTA, 1983, p.161).

Ainda segundo Costa em cerca de 300 anos, Alagoas evoluiu consideravelmente,

os três únicos núcleos de povoamentos existentes em seus primórdios no fim do século XIX

já haviam dado lugar a 29 municípios com 14 comarcas, 27 termos, com 21 juizados

municipais e 55 juízes de paz, 7 cidades, 22 vilas. O autor afirma ainda que eram 34

freguesias da igreja católica e quanto ao ensino, possuía 182 escolas primárias, o Liceu

Alagoano tratava da educação secundária e havia também alguns poucos estabelecimentos

direcionados à educação profissional. No século XX foram fundadas, as primeiras usinas de

Alagoas, e a produção tomou novos rumos, melhoraram as condições de produção e os

lucros, ganhando força a atividade comercial e as transações de exportação e importação

no Porto de Jaraguá.

34

Quando D. Pedro de Alcântara foi declarado maior, e empossado do poder, começando a exercer suas funções constitucionais. A

intenção do golpe era pacificar as províncias que estavam em clima constante de rebelião durante a Regência. E de fato o segundo Reinado trouxe a pacificação das províncias (CANCIAN, 2011).

Page 44: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

43 3.2 - A Enseada do Jaraguá e o desenvolvimento comercial de Maceió

O mar protegido pelo complexo de escolhos abrigava as embarcações nos portos naturais da quase retilínea costa alagoana. Por outro lado, fácil acesso ao relevo aplainado e de pouca altitude, associado a um clima estável de verão seco e inverno chuvoso, assim como outros fatores geográficos, vieram beneficiar sobremaneira, o desbravamento dos primeiros colonizadores. (BARROS, 1991, p.39).

A Revolução Industrial inundou a Inglaterra com diversas transformações

econômicas e comerciais, a começar pela introdução de máquinas na sua indústria, fato que

impulsionou, segundo Barros (1991), o seu vínculo ao capitalismo e a fez se sobressair em

relação às outras nações, influenciando assim vários países europeus que aderiram a esse

sistema. Para este autor, tais fatores só aumentavam a rivalidade franco-britânica e com o

Bloqueio Continental35 seu mercado acabou privado do comércio dentro de seu próprio

continente. Como não podia permanecer sem um mercado consumidor, a solução foi voltar

suas exportações para as nações da América.

Ao tentar penetrar nos países da América do Sul encontraram sérias dificuldades,

por conta do monopólio colonial português. Com a invasão napoleônica na Península

Ibérica36, a Corte Portuguesa refugiou-se nas terras brasileiras e para tal contaram com a

proteção britânica. Ocorrendo como diria Barros, “uma troca de gentilezas”, já que em

retribuição à escolta britânica, o monopólio comercial no Brasil foi extinto e seus portos

abertos. A partir de então a Inglaterra logo tratou de penetrar em solo brasileiro com seus

produtos e a assumir o controle da atividade portuária do país (BARROS, 1991, p.28).

Criou-se assim, ao ver de Barros (1991), um profundo laço de dependência do país

em relação à Inglaterra. Essa amarração ficou ainda mais forte após a independência do

país e consequente redução da concorrência portuguesa no poderio sobre a colônia. Ainda

segundo este autor, no século XIX a economia agrária do país começa a decair e toma lugar

a atividade comercial, de certa forma os comerciantes foram aos poucos se destacando e

superando os senhores de engenho.

Em Maceió as duas atividades caminharam sempre juntas. A produção rural

abastecia o comércio nos portos e a entrada de capital na atividade comercial aumentava a

demanda agrícola. A princípio o pequeno comércio de Alagoas era feito em maior parte

pelo Porto do Francês, segundo relato do Padre Cipriano Lopes de Arroxelas Galvão citado

por Barros:

É, pois fato certo e inegável que o pouco comércio e navegação antigamente praticada nesta Província até a época da instalação dela cujo território antes era sujeito a Pernambuco, se distribuía por vários portos dela, dos quais até a dita época o mais frequentado era o do Francês fazendo-se por eletoda importação e exportação direta para as praças de Pernambuco e Bahia (BARROS,1991, p.50).

35

Atitude tomada por Napoleão I que isolou economicamente a Grã-Bretanha das outras nações europeias. 36

Formada pelos territórios de Portugal, Espanha, Gibraltar, Andorra e uma parte do território da França.

Page 45: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

44

Para Barros (1991) o porto do Francês seria no período o mais capaz de

responsabilizar-se por tais atividades, pois, Alagoas do Sul era beneficiada pela abundância

de áreas drenáveis que a circundavam, o que o potencializava a ser um ponto de

escoamento dos produtos da zona açucareira para abastecer o restante da província, além

das praças de Pernambuco e Bahia. Porém com o desenvolvimento do comércio no Porto

de Jaraguá, tornaram-se evidentes as fraquezas do Porto do Francês.

Barros (1991) prossegue afirmando que enquanto o porto de Jaraguá fervia com o

comércio internacional, não há registros da presença de estrangeiros na velha capital, pois

não havia condições favoráveis para a atividade mercantil naquele local, tanto pela

localização do porto, quanto pelo perfil geográfico. A Cidade das Alagoas encontrava-se

isolada entre uma zona acidentada e a Lagoa Manguaba, era difícil a sua comunicação com

o resto da província, esse fator pode ter influenciado seu caráter mais rural do que urbano.

Esse isolamento prejudicava seu crescimento econômico, pois além de ter difícil

comunicação com o resto da Província, a estrada que a ligava ao seu porto, Porto do

Francês, estava, segundo Barros (1991) em condições precárias. Barros também afirma

que, durante o governo de Póvoas, e com a emancipação de Pernambuco em 1817, este

porto foi interditado e todas as atividades de importação e exportação passaram a ser feitas

no porto de Jaraguá.

Com a evolução das atividades portuárias na vila crescia a necessidade de estudos

prévios a cerca da navegação na região. Por esta razão em 1803 o português José

Fernandes Portugal desenhou o “Plano das Enseadas de Jaraguá e Pajuçara” a fim de

facilitar a navegação na região. O plano mostrava os surgidouros 37 , e descrevia as

condições dos fundos para ancoragem, as profundidades de cada área, as correntezas e as

marés. Em um trecho do plano, Portugal descreve minunciosamente o melhor tempo para

atracarem embarcações no Jaraguá levando-se em consideração, os ventos, as marés e as

correntes:

No Porto de Jaraguá podem surgir e carregar navios com cômodo desde setembro até abril, que reinam o nordeste e são muito abrigados de maio até agosto que assopram os ventos de quadrante sueste não podem ali estar sem grande perigo porque a corrente da maré não os deixa filar ao vento puxando assim muito pela amarra. (PEDROSA, 1998, p.24).

Maceió foi surgindo tímida e sem regras38, com poucas ruas e casas de taipa – em

função da dificuldade de se adquirir pedras na região. Mesmo acanhada Maceió crescia a

cada momento e chamava a atenção dos investidores estrangeiros, pelas vantagens da

localização do Porto em Jaraguá e a viabilidade da comunicação com o interior da Província

para o escoamento dos produtos. A maioria destes estrangeiros era de comerciantes

37

Local onde surgem, ou ancoram os navios. 38

Barros cita uma nota publicada em revista do Instituo Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGA) sobre o aspecto urbano de Maceió em

1819, quatro anos após tornar-se vila, tem-se que se organizava em ruas e lugares como a rua do Palácio, Boca de Maceió, Cambona, Mutange, Bebedouro, Freixal e Fernão Velho, entre outros (BARROS, 1991, p.47).

Page 46: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

45 estando entre eles: Antônio José Gonçalves Branco, Francisco José da Graça, Vicente

Nunes Cascaes que criaram, segundo Barros (1991) naquelas proximidades seus

estabelecimentos para comercializar diversos produtos regionais.

É nítido que o Jaraguá tinha uma vida diária movimentada pelo fluxo dos carros de

boi (Ver Imagem 16 - Anexo I) que traziam mercadorias (açúcar, algodão, farinha, fumo) do

interior para o porto onde eram escoadas para as Praças de Recife e Salvador para de lá

serem conduzidas ao comércio exterior39.

O caminho entre o Porto do Jaraguá e o Centro de Maceió, através da Avenida da

Paz e da Rua do Imperador, feito rotineiramente para o transporte de mercadorias à cavalo,

ou em carroças e carros de boi, era um “extenso areal, praia a sua esquerda, diante de

umas poucas casas de teto baixo, na maioria residências modestas de frente para o mar”.

(COSTA apud PEDROSA, 1998, p.31). Nessa descrição de Craveiro Costa do percurso feito

pelo presidente Póvoas para seguir o caminho dos comboios que transportavam as

mercadorias comercializadas no porto de Jaraguá, nota-se a dificuldade ali existente. A

descrição continua mostrando que Póvoas:

Chegou num local à margem da Lagoa Maceió, que transpôs em alguns

minutos em canoa ou batelão40

para a estiva41

na outra margem distante

cinquenta ou sessenta braças [...] em seguida, percorreu uma rua voltada para o sul, casas alinhadas umas pelas outras, da estiva até o córrego que chamavam de Lagoa D‟água Negra ou Lagoa Manoel Fernandes, também Olho D‟água. Era a Boca de Maceió [...] caminho natural entre Jaraguá e a Vila”. (COSTA apud PEDROSA, 1998, p.31).

Segundo Craveiro Costa (1983), mesmo encontrando em Maceió um combinado de

ruelas e um casario rústico surgindo em meio à mata que o cercava, Póvoas esteve

encantado não com o cenário presente de Maceió, mas com suas enormes perspectivas de

futuro. Conforme se percebe o bairro começou a ser ocupado por armazéns e casas de

comércio42. Ocorrendo que em seu governo, segundo Pedrosa (1998), Póvoas procurou

instalar edificações nas adjacências do porto como a Alfândega, a Casa do Consulado e

Rendas, estaleiros e fortificações. Providenciou a construção da Bateria43 de São Pedro em

conjunto com a de São João (Ver Imagem19), localizada na Boca de Maceió.

39

A princípio o comércio marítimo da comarca era apenas de cabotagem, pois as praças de Recife e Salvador é que repassavam a produção

ao comercio exterior, essas exerciam ascendência comercial sobre as vilas alagoanas. Alagoas estava presa a Pernambuco por conta do monopólio comercial e o acordo de exclusividade marítima, esse fato tornava mais cara a vida da população e retardava seu progresso(COSTA, 1983, p.95). 40

Barco grande apropriado para carregar artilharia e carga pesada. 41

Segundo o Priberam podem ser traves que formam o leito das pontes de madeira, Casa de despacho aduaneiro de géneros que não

necessitam verificação. 42

Aos poucos o bairro do Jaraguá foi crescendo e sendo edificado em função das atividades mercantis. Nele os descendentes de mascates

faziam fortuna com base na exploração do algodão, e do açúcar que iam povoando o bairro, segundo PEDROSA,“foram os burgueses que construíram o Jaraguá” (1998, p.32). 43

Desde 1673 havia a preocupação por parte do governo em providenciar a construção de um forte no porto de Jaraguá para proteger e

evitar possíveis atividades de contrabando, porém, devido ao desinteresse por parte do então Governador Geral, Visconde de Barbacena,

Page 47: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

46

Imagem 19: Forte São João. Fonte: BARROS, 1991, p.49.

Maceió se destacava no quadro econômico da província fornecendo produtos44

para os países da Europa, principalmente para a Inglaterra, onde, no período, era vivida

intensamente a Revolução Industrial. Ainda segundo Barros (1991, p.36) “Com o controle

britânico, Maceió começou a desenvolver a atividade de exportação de produtos regionais e

importação de produtos manufaturados”.

A movimentação no porto de Jaraguá crescia constantemente, há registros de que

no ano de 1866 saíram em direção a portos de outros países, “53 embarcações inglesas, 4

portuguesas, 2 bremenses (alemãs), 2 suecas, 1 dinamarquesa, 1 francesa e 1 holandesa”

(TENÓRIO, 1979, p.95). Nota-se através destes números a supremacia britânica nas

relações comercias de Alagoas com países estrangeiros. Para Barros, “O Porto de Jaraguá

era o mais movimentado da Província”. Uma tabela de entrada de embarcações de diversos

países nos portos da Província no ano de 1824 reforça tal afirmação, mostrando que o porto

de Jaraguá recebeu 77,5% de todas as embarcações que entraram na província neste ano,

o correspondente a 62 embarcações contra 2 do Porto do Francês, conforme a Tabela 01:

Porto Número de embarcações:

Jaraguá 62

Penedo 06

Porto de Pedras 04

Barra Grande 03

Santo Antônio Grande 02

Francês 02

São Miguel 01

TOTAL 80

Tabela 01: Número de embarcações que chegaram à Província em 1824. Fonte: BARROS, 1991, p.49.

O primeiro produto a constituir o comércio exportador no Jaraguá foi, segundo

Barros (1991), a madeira. Mais tarde, no âmbito da produção agrária, outros produtos

esse forte não chegou a ser erigido, somente no governo de Póvoas é que se investiu na proteção do porto (PEDROSA, 1998, p.34). E também porque após a retirada das tropas Holandesas, os riscos que implicavam na necessidade da construção de fortes nas regiões litorâneas do país deixaram de existir.

44

Madeira, açúcar, algodão, entre outros. (BARROS, 1991, p21).

Page 48: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

47 incrementaram as exportações em Alagoas; o algodão adentrou na região alagoana em

1779 e provocou a povoação do agreste e do sertão. O “boom” algodoeiro foi, para

Tenório(1979), consequência da guerra civil norte-americana que deixou o mercado

internacional carente do produto. Quanto ao café, o autor afirma que seu plantio na região

teve início em 1876 em Santa Luzia do Norte, no engenho Riachão.

No entanto o produto que realmente se sobressaía no porto de Jaraguá era o

açúcar. A produção açucareira impulsionada pela existência de diversos engenhos na região

fomentou o comércio no Porto de Jaraguá, onde “depois de ensacado, o açúcar era

colocado nos troles e empurrado na rampa por dois ou três homens até a ponta do

Trapiche45, (...) e no fim da ponte (...), chegava o açúcar das barcaças” (PEDROSA, 1998,

p.82). Estas barcaças, segundo o autor, transportavam o açúcar até os engenhos onde era

preparado, reensacado e conduzido aos navios

Com o tempo a região maceioense tornou-se bastante importante economicamente

para Inglaterra, tanto que de acordo com o autor citado, foi criado um vice-consulado

britânico em Maceió para administrar seus negócios.

Barros (1991) afirma que o porto de Jaraguá atraiu a instalação das primeiras vilas

mercantis, onde ali próximo também se estabeleceram firmas britânicas, além de uma sede

bancária (Ver Imagem 17 no Anexo I). O autor prossegue dizendo que se acredita que o

interesse britânico pela Vila de Maceió estava na sua situação topográfica privilegiada e em

seu lucrativo comércio, consequência do fácil escoamento dos produtos através do porto do

Jaraguá.

Algumas dessas firmas eram a Ship Chandler (Ver Imagem 20), que possuía um

armazém de importação e exportação na Rua da Alfândega, Jaraguá, e a Phulmann & Cia

(Ver Imagem 21), um armazém especializado em molhados, também localizado na Rua da

Alfândega.

Imagem 20: Ship Chandler, Armazém Imagem 21: Phulmann& Cia.

de molhados de importação e exportação. Exportadores de Açúcar e outros gêneros. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.

45

Trata-se de um armazém, para depósito de mercadorias de importação e expotação. No começo do século XIX, haviam próximo à

Enseada de Jaraguá diversos Trapiches, os mais importantes deles eram o Trapiche Faustino, o Trapiche Segundo, o Trapiche Jaraguá e o Trapiche Novo, send este último o maior, mais bem estruturado e mais importante da Província.

Page 49: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

48

Para autores como Tenório, o Porto de Jaraguá passou a ser tomado por diversos

itens como tecidos de algodão, chita, lã, seda, e gêneros alimentícios como; bacalhau,

vinhos, trigo, azeite, sal. Barros (1991) cita outros registros de 29 de agosto de 1858

mostram que o mercado maceioense recebia produtos como: carvão de pedra, tachas e

barras de ferro, folhas de flandres46, cervejas, peças de algodão, fazendas47 de brim, arroz,

louças, manteiga, salitre48, entre outros.

Quanto aos botes e o atracamento dos navios no porto de Jaraguá, Pedrosa(1998)

explica que as mercadorias eram levadas em botes aos navios que ficavam distanciados da

costa, estes possuíam fundo chato e ficavam fundeados a 4 metros de profundidade entre

os recifes e a praia. E esse comércio fervilhava porque a sociedade encontrava-se num

momento de importante desenvolvimento e máximo contato com os ares europeus, o que

ditou influências nos diversos aspectos da cultura europeia assimilados na gastronomia, nas

vestimentas49, na arquitetura e até nos hábitos da população maceioense.

Quanto ao aspecto urbano, Pedrosa (1998) mostra uma planta baixa do Jaraguá.

(Ver Mapa de Localização no Anexo II – Prancha I), feita pelo Engenheiro Carlos Mormay

em 184150, contabilizou 170 construções, sendo que 69 eram cobertas por palha e 101 por

alvenaria e telha. Conclui-se então que quase quatro décadas depois da confecção da

planta de José Fernandes Portugal, o Jaraguá possuía vinte vezes mais edificações.

Na mesma planta identifica-se uma aglomeração de casas num padrão de linhas

retas, onde as edificações de maior porte encontram-se voltadas para o mar. Segundo

Pedrosa (1998), maioria dos armazéns tinham seus fundos voltados para os becos do

Jaraguá, sem nenhuma ligação com os mesmos. Com a instalação das pontes de embarque

e desembarque, o trânsito local foi dificultado e estes começaram a ser usados como ruas.

Efetivamente, a evolução comercial de Maceió se manifestou, segundo Barros

(1991), pela variedade de estabelecimentos mercantis que surgiram na segunda metade do

século XIX: lojas de fazendas, armarinhos, panificações, tipografias, hotéis, farmácias entre

outros. Esses fatores somados ao impulso britânico que por mais que tenha podado um

crescimento que poderia ter sido ainda maior, permitiu a Maceió sair de um atraso

assombroso, influenciando assim sob aspectos positivos e negativos o desenvolvimento da

cidade.

Somente em 1940 é que foi construído o atual porto de Maceió, com o aterro de

recifes que adentravam no mar. Onde está situado hoje, segundo o mapa elaborado por

46

Material laminado utilizado em elementos decorativos. 47

Peças de tecido. 48

Sal oxigenado. 49

Era bastante significativo também o comércio de confecções, que segundo TENÓRIO ( S.d., p.38) era na época um dos mais dinâmicos e

sofisticados, já que a população em posição ascendente tentava adaptar-se às tendências europeias vigentes, para tal a imprensa “anunciava paletós de casimira de diversos padrões, paletós de alpaca para meninos e meninas, paletós de brim de linhos de cor, chapéus franceses de pelo, de copa alta, modernos, chapéus de sol e seda e chitas de percalina muito finas. 50

Feita com base no mapa confeccionado por José da Silva Pinto em 1820. (Ver Mapa 2 no Anexo II).

Page 50: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

49 José Fernandes Portugal, junto ao Plano das Enseadas de Jaraguá e Pajuçara, ficava o

local onde eram carregadas e descarregadas as mercadorias, apontado por Pedrosa (1998,

p.26) como “Surgidouro de Sumacas51”.

Esse desenvolvimento comercial na vila de Maceió durante o século XIX, apesar de

ter beneficiado muito mais os britânicos do que a economia local, ainda assim foi de grande

valia, pois trouxe bastante êxito e fomentou muitas transformações. Tornou o pequeno

povoado com origem nas terras do Engenho Macayó, em cidade promissora e coração da

economia Alagoana.

A evolução comercial na Enseada de Jaraguá permitiu a Maceió, não mais ser

ofuscada pela tradicional hegemonia político-administrativa de Alagoas o Sul dentro da

Comarca, e trouxe a esta vila perspectivas de futuro e desenvolvimento comercial à longo

prazo, dando assim a esta, condições para disputar o título de capital da nova Província.

51

Segundoo Priberam Embarcação rasa e ligeira, de dois mastros, usada especialmente na América do Sul.

Page 51: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

50 3.3–O papel do presidente Póvoas na elevação de Maceió a condição de cidade e capital

Como já dito anteriormente, Alagoas do Sul funcionava como capital provincial, mas

Maceió possuía o porto e devido ao seu desenvolvimento no setor comercial funcionava

como capital econômica. E, segundo Barros (1991 p.1), “a província das Alagoas,

recentemente alçada à condição de unidade provincial do Império, aparece recebendo os

novos ventos da chamada civilização, a forte influência inglesa substituindo os laços de

dependência com Portugal”.

Aminadab Valente (1952) aponta um relatório descritivo feito pelo Ouvidor Antônio

Batalha, a fim de justificar a necessidade da implantação de serviços jurídicos na região.

Tinha-se relatada a situação em que se encontravam os núcleos de povoamento da

Província, como menosprezador de Alagoas do Sul, descrevendo-a de forma negativa,

frisando suas casas de palha, sua pobreza, e sua dependência da atividade pesqueira.

Enquanto enaltecia as condições propícias ao desenvolvimento de Maceió, sua ótima

localização geográfica, a proximidade da Enseada de Jaraguá e ainda sugeriu que Maceió

fosse elevada à categoria de vila, e este fato concretizou-se no dia 5 de dezembro de 1815.

Começa então a nascer, segundo Valente (1952) um sentimento de rivalidade entre

alagoenses e maceioenses já que ambas estavam agora em igual posição, eram vilas, e

disputavam os privilégios administrativos do governo. Costa (1983) frisa que, com a

emancipação de Pernambuco através de Alvará Régio em 16 de setembro de 1817, e a

chegada de Póvoas para governador da nova capitania, começam as especulações a cerca

de qual das duas vilas mereceriam sediar governo.

Quando chegou a Maceió, Póvoas deparou-se com o areal do Jaraguá que na

época já possuía alguns armazéns, e acomodações de embarque e desembarque de

mercadorias. Na época, segundo Pedrosa (1998), eram cerca de 35 mil habitantes e Maceió

havia sido elevada à condição de vila há três anos. Esperava-se então que Alagoas do Sul

centralizasse as “atividades governamentais já que era sede judiciária, religiosa e militar”,

era, segundo Barros (1991) o centro político e administrativo da Província.

Maceió possuía ótimas perspectivas para ser sede administrativa e política da

capitania, tinha condições favoráveis à implantação da atividade mercantil, devido à sua

localização geográfica e ao seu ancoradouro. Póvoas demorou a ir á Alagoas do Sul tomar

posse do governo, permanecendo na ascendente vila de Maceió por quase um mês, para,

segundo ele, analisar as capacidades desta vila.

Segundo Barros (1991), Maceió apresentava ótimas condições para sediar o órgão

administrativo da província, e durante seu governo, Póvoas deixou claro seu interesse na

implantação de infraestruturas nesta vila, esse fato gerou divergências entre os habitantes

de Maceió e da Cidade das Alagoas.

Page 52: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

51

Barros (1991) afirma ainda que, somente em 22 de janeiro de 1819 Póvoas tomou

posse do governo em Alagoas do Sul. Logo depois retornou a Maceió e lá permaneceu até a

proclamação da Constituição Portuguesa52.

Eram inúmeras as vantagens econômicas de Maceió sobre Alagoas do Sul, e no

intuito de rebater todas as comparações sobressair-se na disputa Alagoas do Sul também

buscava mostrar suas vantagens53.

Porém Maceió possuía além da curta distância em relação ao porto, o que facilitava

a condição das mercadorias, a profundidade de sua enseada era superior a do Porto do

Francês. Este último possuía, segundo Barros (1991), muitos bancos de areia que tornavam

inseguro o desembarque de grande porte com cargas pesadas, como por exemplo, o

comércio de madeiras, que era feito somente pelo porto de Jaraguá. A partir do que

observou em Maceió e percebendo que mesmo em sua formação embrionária já

centralizava o comércio da região através das condições naturais de seu porto, Póvoas

opta, segundo Valente (1952) por instalar o aparelho fiscal da Província nesta vila.

A implantação do aparelho fiscal em Maceió 54 somada à “convergência da

produção” no Jaraguá transformou-a, segundo Barros (1991, p.67) no centro econômico da

Província. A partir de então, Alagoas do Sul começou a entrar em decadência. A interdição

do Porto do Francês só veio contribuir ainda mais para que Maceió se Sobressaísse em

relação á Cidade das Alagoas. Ainda segundo Barros (1991, p.52) “Vinha o momento

histórico criar circunstâncias favoráveis ao burgo litorâneo com o aumento de seu comércio

e pelo afluxo de capital britânico, em decorrência da Revolução Industrial”. A cidade das

Alagoas criou assim um vínculo de dependência econômica em relação à Vila de Maceió.

Sediando agora o cofre da Província e com condições cada vez maiores de evoluir

comercialmente, Maceió alcança posição de destaque e fica a um passo de ter transferido

todo o órgão administrativo para suas terras. Começa a surgir então um sentimento de

frustração por parte dos alagoenses em relação à evolução constante de Maceió. E, para

Barros (1991) a atitude de Póvoas em tomar partido de Maceió na disputa para ser capital

só acirrou ainda mais os ânimos dos alagoenses55.

Ainda este autor a todos os fatores que favoreciam Maceió no quadro de disputa

pela sede administrativa da Província, somou-se o movimento revolucionário na Cidade das

Alagoas que provocou o aceleramento do processo de mudança da capital por parte do

então presidente, Agostinho da Silva Neves. Nadando contra o movimento promovido pelos

52

Quando a capitania passou a ser governada de Alagoas do Sul, a partir de 1821, por uma junta governativa. 53

Ainda segundo BARROS, Alagoas do Sul mostrava suas vantagens a Póvoas em relação a Maceió, alegando os benefícios de sua

centralidade geográfica, a segurança oferecida pelo local para a instalação de repartições fiscais e os baixos fretes cobrados nos produtos destinados àquele ancoradouro ( BARROS, 1991, p.75) Já Maceió replicava os argumentos alagoenses alegando a proximidade da enseada de Jaraguá, apenas 2,4Km em comparação com a distância do Porto do Francês em relação às Alagoas (BARROS, 1991, p.76). Eram nítidas as vantagens do ancoradouro natural da enseada de Jaraguá em relação ao Porto do Francês.

54

Inicativa de Póvoas, por acreditar nas perspectivas economicas de Maceió. 55

População de Alagoas do Sul.

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52 alagoenses estava João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú, o Visconde de Sinimbú56. No

lado oposto destacaram-se o Dr. Tavares Bastos e o major Manoel Mendes da Fonseca.

Sinimbú defendia a transferência da capital por acreditar ser Maceió próspera e promissora,

já Tavares Bastos se opunha à transferência por saber que traria o declínio de Alagoas do

Sul.

Devido aos conflitos causados pela insatisfação popular, Agostinho da Silva Neves

afastou-se do governo. Em seu lugar assumiu, segundo Barros (1991), o 5° presidente na

ordem de sucessão, e quem permitiu essa ação foi a Câmara Municipal, porém segundo a

legislação o Dr. João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú que era o vice-presidente é quem

deveria assumir. Sinimbú deu então um contragolpe em Tavares Bastos (que era líder dos

revoltosos) e iniciou um governo provisório. Enquanto isso, Agostinho da Silva Neves era

mantido preso na Cidade das Alagoas do Sul pelos revoltosos, foi aí que Sinimbú, agora no

poder, deu início à contra sedição. Porém a intenção de Sinimbú nunca foi estar na

presidência, seus objetivos eram conseguir a liberdade de Agostinho da Silva Neves para

assim restaurar a legalidade do governo.

Segundo Costa (1983) Sinimbú estava proibido de devolver o poder às mãos de

Agostinho por recomendações da comarca, mas mesmo assim o fez57 .No dia seguinte

Agostinho retomou suas funções e passa a cuidar para que a transferência da capital seja

logo executada, pois agora se soma ao seu desejo natural o fato de que na velha capital ele

não era mais aceito. Barros (1991) afirma que, criou-se assim um sentimento de repulsa

diante de sua preferência por Maceió, tornando então impossível permanecer com a sede

do governo ali. Silva Neves tratou de convocar a Assembleia Legislativa afim de que fosse

elaborado um projeto de lei para elevar a vila de Maceió à capital da Província e em 16 de

dezembro de 1838, Silva Neves o fez58.

Como consequência da transferência, segundo Barros (1991), o corpo

administrativo da Província, que até então residia e trabalhava na velha Alagoas do Sul,

transferiu-se para Maceió junto com o título de capital. Assim a renda de Alagoas do Sul

sofreu forte redução, reduziam-se também as expectativas de futuro da cidade. Enquanto

isso Maceió só evoluía, possuía instrumentos suficientes para crescer como cidade e fazer

jus ao título de capital e a presença britânica associada ao seu comércio latente e as já

mencionadas qualidades de seu porto só vieram a somar em seu desenvolvimento.

56

Membro da aristocracia rural da época e foi um dos líderes do movimento de contra-sedição. 57

No dia 2 de novembro de 1839 um patacho57

esperava por Silva Neves no Porto de Jaraguá para conduzi-lo para fora da Província.

Sabendo de tal fato, Sinimbú entregou ao comandante do mesmo uma carta-de-prego57

que deveria ser entregue e lida por ele em alto

mar. O conteúdo da carta explicava que assim que entrasse na embarcação, Agostinho da Silva Neves deveria ser tratado como presidente, e o patacho deveria ficar à sua disposição para desembarcar em qualquer porto da Província à sua escolha (BARROS, 1991, p.81). 58

Para garantir a segurança no processo de transferência da capital, Silva Neves providenciou a punição dos principais chefes do

movimento sedicioso de Alagoas do Sul(BARROS, 1991, p.87).

Page 54: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

53 3.4 - A modernização da nova capital

Após a transferência da capital, segundo Barros (1991) fazia-se necessário ajustar

o ambiente urbano da antiga vila de Maceió aos moldes de uma cidade-capital. O governo

provincial e o município trataram então de providenciar melhoramentos no ambiente urbano,

entre tais mudanças estavam o calçamento de ruas, iluminação pública e estradas vicinais59,

visando facilitar o escoamento dos produtos em direção ao porto de Jaraguá.

Quando se tornou capital, em 1839, Maceió ainda possuía uma feição muito aquém

de sua condição política recém-alcançada60 . As transformações61 da mais nova capital

seguiam o rumo da transformação geral que ocorria no resto do país e para Barros (1991) a

porta de entrada dessas transformações em Alagoas era o Porto de Jaraguá.

Barros (1991) ainda cita que segundo, José Saturnino da Costa Ferreira, no ano de

1842, contabilizou-se que Maceió continha 818 casas das quais 619 eram de telha e 199 de

palha. E segundo Tenório (1979) contava com 53 ruas e diversas povoações inseridas em

seu entorno urbano, eram elas; Jaraguá, Trapiche, Poço e Bebedouro.

Após o golpe da maioridade, década de 1840, já no último período da monarquia,

Barros (1991) afirma que Maceió contava com ampla diversificação profissional “eram

funileiros, padeiros, entalhadores, sapateiros, ourives, douradores, pintores, relojoeiros,

retratistas, marceneiros, alfaiates, farmacêuticos (...)” entre outros.

Segundo Tenório (1979), em 1870 Maceió já tinha uma população de 12.118

habitantes, sendo destes 10.486 homens livres. Nesse mesmo ano a província contava com

9 comarcas; Alagoas, Anadia, Atalaia, Imperatriz, Maceió, Passo de Camaragibe, Penedo,

Paulo Afonso e Porto Calvo. Ainda segundo este autor, a partir deste ano, com a

mecanização das lavouras e a substituição da mão-de-obra, aconteceu uma grande

mudança no quadro da arquitetura brasileira. No século XIX a arquitetura alagoana estava

bastante vinculada às influências inglesas, nota-se tal afirmação pelo surgimento de

chácaras, casas e sobrados descolados do terreno e cercados por „oitões‟62 vegetados.

Em Alagoas aconteceu igual, os registros mostram que a exportação de açúcar no

porto do Jaraguá só aumentou após o fim do sistema escravocrata e consequente

modernização da produção. Antes de se alcançar o fim da escravidão, o sentimento de

liberdade era forte, nota-se que até mesmo membros de famílias mais abastadas,

mobilizaram-se contra o sistema escravocrata afim de devolver a liberdade aos negros

cativos.

59

Que ligam povoados ou aldeias próximas. 60

Era privada de serviços básicos de infraestrutura como água encanada, calçamento, coleta de lixo, iluminação pública e transporte.

(TENÓRIO, S.d., p.39). 61

Essas transformações ocorreram somente mais tarde com o segundo reinado, 1840, quando a política mais liberal deste governo

permitiu que repercutissem em Alagoas as transformações que ocorriam no país (1979, p.93). 62

Recuos laterais da residência.

Page 55: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

54

Em 1881 foi fundada em Maceió a Sociedade Libertadora Alagoana na data de

comemoração dos 10 anos da Lei do Ventre Livre, seu objetivo era aos poucos reduzir o

número de escravizados e para manter-se em funcionamento, a sociedade contava,

segundo Lima Júnior (2001), com membros associados, que ajudavam como podiam.

Ainda segundo este autor, com a promulgação da Lei Áurea em 13 de maio de

1888, a Libertadora encerrou suas atividades alcançando seu tão almejado objetivo, mas

antes disto, reuniu importantes membros da sociedade em um festival comemorativo que

fora anunciado nos jornais da época.

A cidade estava ganhando novos ares, se modernizando, esse fato era nítido

também em outras cidades brasileiras. É evidente, porém que o processo de

desenvolvimento no Nordeste não teve o mesmo ritmo do Sudeste, as transformações

ocorreram de forma gradual e lenta. Surgem neste mesmo período, segundo Tenório (1979,

p.96), “a caixa Comercial de Maceió, Caixa Econômica, Companhia União Mercantil”. É

importante também frisar os primeiros passos da indústria têxtil em Alagoas por iniciativa do

Barão de Jaraguá. Também surgem na época o Instituto Arqueológico e Geográfico de

Alagoas, a Associação Beneficente Typográfica e alguns clubes recreativos e literários.

Barros (1991) explica que com tal desenvolvimento comercial e o início de um

refinamento nos modos da população e nos serviços a ela prestados, cresce junto o nível de

alfabetização e instrução no estado. Diante da necessidade de se capacitar os professores,

em Alagoas o ensino secundário acabou antecedendo o primário. Criou-se em 1843 o

Conselho Permanente de Instrução Pública que tinha a função de administrar o ensino

primário e secundário no estado, mais tarde essa função ficou a cargo do Lyceu63 que foi

fundado em 1849 e passou a ser o centro de educação oficial do estado. Depois surgiram as

escolas estaduais de ensino primário.

Já o desenvolvimento industrial de Alagoas, ao ver de Tenório (1979), foi bastante

tardio, pois, como dependia muito do capital estrangeiro, especialmente britânico, foi

dificultado pelo desinteresse desses em abrir concorrência nas industrias, atrasou o

desenvolvimento industrial do estado que por muito tempo esteve limitado aos engenhos, à

indústria fabril de Fernão Velho e algumas pequenas fundições e fabriquetas. Já o comércio,

apesar de estar comprimido entre as praças Baiana e Pernambucana, com o advento da

ferrovia, não se fazia mais necessário o intermédio destas na comercialização com outros

países.

Algumas transformações na ambiência maceioense podem ser notadas

principalmente nos serviços públicos e na arquitetura. Neste período foram construídos

importantes edifícios na cidade entre eles a “Câmara Municipal, Tesouraria da Fazenda,

Santa Casa de Misericórdia, Casa do Júri, Casa de Detenção, Jardim Público do Largo da

63

Estabelecimento oficial de ensino secundário.

Page 56: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

55 Matriz, o Quartel da Tropa da Linha, o Mercado Público, Assembleia Legislativa, Alfândega

[...]” (TENÓRIO, 1979, p.94).

Tenório (1979) afirma ainda que também foram construídas importantes edificações

particulares como o Palácio do Barão de Jaraguá. E quanto ao urbanismo pode-se destacar

o calçamento de vias arteriais, a implantação de iluminação pública a querosene, e

posteriormente a vapor, a construção de pontes e a implantação de serviços

complementares à atividade portuária como a construção das pontes de embarque e

desembarque. Em conjunto com os serviços públicos, se modificava também a ambiência

da cidade, principalmente nas proximidades do Porto.

Segundo Costa (apud LIMA JÚNIOR, 2001, p.41), o primeiro sistema de iluminação

pública em Maceió foi implantado pela Câmara Municipal e era composta por lampiões de

azeite de peixe. Em 1880, Maceió passa a ser iluminada a querosene, e dezesseis anos

depois por lâmpadas de arco voltaico, somente em 1924 chegou o sistema de lâmpadas

incandescentes. Para Lima Júnior (1976 apud FERRARE, 1999, p.4), no aspecto

arquitetônico as mudanças foram ainda maiores. Quando às residências térreas com

tipologia recorrente ao período colonial 64 , deram lugar em meados do século XIX, a

“sobrados de dois ou três pavimentos e fachadas rebuscadas revestidas de azulejos,

ornados com pinhais, jarros, estatuetas, janelas rasgadas e balaustradas de ferro ou pedra”.

Essa arquitetura ia:

De edificações neoclássicas, passando pelas variações marcadas por envasaduras e perfis “neogotizados”, e também por emolduramentos “neobarrocos”, despontaram exemplares ecléticos, num impulso à modernização, a partir deste contexto, sempre ascendente e favorecido pela versatilidade de opções que nutriam o encantamento pela novidade da florescente classe burguesa. (FERRARE, 1999, p.4).

A Maceió dos fins do século XIX era composta por um belo cenário arquitetônico de

edificações65 de presença imponente e notável que embelezavam os bairros mais antigos da

cidade. Mas segundo Menezes e Borba, logo

[...] em seguida o Ecletismo assume proporções extravagantes: é a época das construções bizarras; de uma linguagem prolixa, onde se mesclam soluções híbridas de provável intenção mourisca, como o velho palacete da Bela Vista recentemente demolido, o excelente sobrado da Avenida da Paz e o prédio da estrada para Bebedouro hoje uma casa de saúde, estes ainda existentes ( MENEZES E BORBA apud FERRARE, 1999, p.5).

64

Ainda com existência de algumas cobertas em palha e pau-a-pique. 65

Segundo Pedrosa (1998, p.52), no ano de 1901 havia no Jaraguá os prédios da “Recebedoria e a casa de guarda, a Alfândega, a

Enfermaria militar, o Correio, a Delegacia fiscal, a Escola de Aprendizes de Marinheiros”, além da Estação Telegráfica, Estação Marítima da Via Férrea de Alagoas, Associação Comercial, entre outros.

Page 57: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

56

A Avenida da Paz destacava-se pelos edifícios de maior porte, principalmente nas

proximidades da Praça Sinimbú, para Pedrosa (1998), tais prédios certamente sediavam

escritórios de importantes firmas, repartições do governo e casas de famílias mais

abastadas. Ainda segundo Pedrosa, as melhores casas ficavam localizadas não apenas na

Avenida da Paz, mas também na Rua Santo Amaro, localizada depois da Pajuçara. Os mais

pobres instalavam-se em casebres de palha, além do trilho do trem, próximo do cemitério do

Jaraguá, e nas ruas da Ponta da Terra.

Enquanto na face voltada para o mar estabelecia-se um Jaraguá rico e

desenvolvido, nos becos, para onde os fundos dos trapiches (Ver Imagens 22, 23, 24 e 25)

e armazéns se voltavam, estavam abrigados a prostituição das classes mais baixas, os

moradores de ruas e os bêbados. Na rua Sá e Albuquerque tinham-se a vida boemia e a

prostituição de primeira classe ocupando a vida noturna do Jaraguá, é o que afirma Pedrosa

(1998).

Imagem 22: Trapiche Faustino. Imagem 23: Trapiche Jaraguá. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.

Imagem 24: Trapiche Williams. Imagem 25: Trapiche Novo. Fonte: MISA, 1919. Fonte: MISA, S.d.

Em concomitância com os bondes, foram surgindo os carros de aluguel que

complementavam o transporte da população como mostra uma publicação do jornal O

Mercantil de 8 de julho de 1861:

Viva o progresso! – Joaquim José Bezerra Montenegro faz ver a quem interessar possa, que comprou a grande cocheira de carros de aluguel da rua David, faz também ver que a mesma cocheira continua a ter excelente carros e “cabriolets”

66 para alugar, tanto para passeio nesta cidade como em

seus subúrbios (...) (LIMA JÚNIOR, 2001, p.27).

Em 1866, segundo Lima Júnior (2001, p.28), a Província contratou o serviço de

“Tramway” ligando Jaraguá ao Trapiche, sendo esse transporte puxado por uma locomotiva

66

Espécie de carruagem da época.

Page 58: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

57 conhecida como “Maxabomba” (Ver Imagem 18 - Anexo I). Em 14 de junho de 1890 foi

fundada a Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos (CATU) (Ver Imagem 26), com sede na

Praça Sinimbú, possuindo subestações em Bebedouro, no Trapiche, no Farol, no Jaraguá,

entre outros. Ainda na Praça Sinimbú, instalou-se a cocheira.

Em 1904, segundo Lima Júnior (2001), o serviço de bondes foi aprimorado e os

bondes puxados por burros deram lugar aos elétricos que utilizavam energia fornecida pela

Nova Empresa Luz Elétrica com as linhas Centro-Pajuçara e Poço-Mangabeiras.

Imagem 26: CATU. Fonte: MISA, S.d.

Nos fins do século XIX Maceió consolidou seu desenvolvimento e

Foi o que se deu em Maceió. A partir de (1890) o surto progressista acentua-se numa curva ascendente. Desdobram-se os orçamentos; as finanças; com renda própria os governos municipais oferecem à cidade possibilidades de progresso.[...] Começam os trabalhos e realizações. O necessário era fazer a cidade; urbanizá-la como que para lhe tirar os ares passadistas que tinha. Abrem-se e alargam-se ruas; constroem-se praças [...].Os bairros e arrabaldes agitam-se na renovação. São os mesmos, aliás, dos tempos imperiais. Em cada um, porém, aparece sempre um sinal de atividade; ruas novas, palacetes que se constroem casas que se edificam, praças que aparecem tendo nas extremidades estátuas de animais, (de homens lutando com bichos[...] os deuses mitológicos enche-nas, [...] As praças surgem também neste período, com mais importância; o contexto com a rua não é privativo dos moleques, dos negros, dos vagabundos [...]. As famílias já procuram as ruas, já vão às praças, já assistem a festejos públicos [...] (DIÉGUES JÚNIOR, 1939.. In COSTA, 1981 Apêndice, p.4. apud FERRARE, 2008)

Segundo Ferrare (2008) foi o gosto pela rua que aos poucos foi enriquecendo a

tipologia do casario que emoldurava as ruas da cidade, que agora mais do que um local de

passagem, eram um lugar para passeio e apreciação, afirmando ainda que no contexto

republicano a sociedade estava mais interessada em idealizar recordações românticas do

que preocupar-se com padrões rigorosos e normas a serem seguidas.

Essa fase romântica na estética das tipologias arquitetônicas pode ser notada em

Maceió pela adoção de “pináculos góticos, torreões medievais, cúpulas bulbosas, entre

tantos outros contornos e referências excêntricas; ou, simplesmente, dispor de linhas

despojadas, praticamente proto-modenristas” (FERRARE, 2008, p.5), a adoção desses

elementos foi financiada pela fervente industrialização que fazia jorrar ferro e outros

materiais que facilitavam o emprego de formas e funções diversas.

Page 59: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

58

Nos fins do século XIX e início do século XX, tinha Maceió uma feição

“aformoseada”, eram vários os prédios públicos que empregavam o que havia de mais

moderno entre as novidades trazidas da Europa, sem contar nos numerosos palacetes

ecléticos que enriqueciam a estética da cidade.

E com o enriquecimento dos meios de transporte através da implantação de linhas

férreas, ligando não somente os setores mais participativos nas atividades comerciais da

cidade, mas também ligando a própria cidade com outras regiões da Província e de fora

dela, esse desenvolvimento só tendia a ser ainda maior.

Page 60: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

59 3.5 - O advento das ferrovias e o aumento do fluxo de visitantes

“O homem agora não se limita somente ao cavalo e sua velocidade limitada” (TENÓRIO, 1979).

Durante o período da colonização o Brasil era, segundo Tenório(1979), formado por

territórios desconhecidos de matas fechadas e terrenos acidentados. Dessa forma tornava-

se difícil a exploração dessas terras, pois não havia meios de locomoção para tal, e

acredita-se que se deva a isso o fato de a colonização brasileira ter se limitado a ocupações

litorâneas. Com o tempo passou-se a utilizar estradas, mas a situação destas era precária,

normalmente eram muito acidentadas, o transporte através de rios era muito inseguro por

não existir estudos prévios sobre a locomoção através desse meio.

O atento historiador Douglas Apratto Tenório afirma que as estradas que ligavam

Maceió ao interior não possuíam um esquema pré-definido, penetravam aleatoriamente o

interior seguindo as trilhas abertas de acordo com a necessidade “dos comboios, carros de

boi, cavalheiros e escravos” (TENÓRIO, 1979, p.95).

Ainda segundo este autor, o Brasil desde o princípio inspirava-se em outras nações

para promover seu desenvolvimento, e quando em 1830 surgiu a primeira linha férrea

construída no mundo, os governantes brasileiros encheram-se de esperanças. A segunda

metade do século XIX, no período imperial a economia cafeeira vinha trazendo um grande

desenvolvimento econômico ao país, a população vinha aumentando com a chegada dos

imigrantes em substituição à mão-de-obra escrava, e por consequência surgiam novos

centros urbanos. O mercado externo expandiu-se cada vez mais, era um período ímpar de

avanços para o país.

Com o tempo tanto a capital quanto as Províncias foram, segundo Tenório (1979),

se desenvolvendo também, eram telégrafos, ruas calçadas, esgotos, iluminação pública,

multiplicação das indústrias e estabelecimentos comerciais, bancos, companhias de

navegação a vapor e estradas de ferro.

Esse período de desenvolvimento coincidiu com a fase de expansão britânica

quando os ingleses dominavam o mercado internacional, nesse momento o Brasil estava

„apto‟ a receber os investimentos britânicos. Tenório afirma ainda que a abolição da

escravatura ajudou o país a se integrar ao mercado internacional, pois os investimentos

antes feitos no comércio negreiro agora podiam ser “canalizados para atividades produtivas”

(1979, p.16). Durante o período de maior expansão do mercado externo brasileiro o café era

o produto mais exportado67. E a produção só aumentou com a construção das primeiras

estradas de ferro ligando São Paulo ao interior e devido ao acelerado desenvolvimento

67

Além de ter que lidar com o estouro da produção e comercialização cafeeira no Centro-Sul do país os produtores de açúcar e algodão

ainda tinham de enfrentar a concorrência por parte de outros países, esses fatores fizeram com que a região Norte do país enfrentasse sérias dificuldades no desenvolvimento da atividade comercial desses gêneros, que eram seu forte (TENÓRIO, 1979, p.18).

Page 61: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

60 dessa atividade produtiva o Brasil atingiu uma posição hegemônica na produção de café

mundial.

A inovação férrea foi muito bem aceita na Inglaterra68 , tanto que na segunda

metade do século XIX, segundo Tenório (1979), pelo fato de o Brasil estar vinculado

economicamente à Inglaterra não havia como ficar indiferente a essa importante inovação

tecnológica. Mas como consequência os vínculos de dependência com os ingleses só

aumentaram, pois para importar a tecnologia ferroviária e implantar esse transporte em

terras brasileiras foram necessários acordos com concessões aos ingleses.

A situação dos transportes brasileiros era precária e incipiente, as estradas eram

estreitas, esburacadas e tortuosas, quanto à navegação, havia carência de estudos prévios

das áreas navegáveis e o transporte aquático tornava-se inseguro.

Surge então, segundo Tenório (1979) o primeiro acordo com a Inglaterra, em 31 de

outubro de 1835 a Lei n°101 traz concessões com privilégios aos britânicos pelo prazo de 40

anos em troca da construção de ligações ferroviárias entre o Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Rio Grande do Sul e Bahia.

Ainda segundo este autor, várias propostas foram feitas, mas não chegaram a ser

colocadas em prática talvez por sua incipiência, pela pouca clareza, ou por não serem

atrativas aos interesses capitalistas dos ingleses. O Decreto Regencial só alcançou seus

objetivos anos mais tarde. O Decreto 101 não garantia todas as exigências dos capitalistas

ingleses e acabou não atraindo investimentos significativos ao setor. Criou-se então a Lei n°

641 em 26 de junho de 1852. que era mais objetiva e trazia maiores vantagens e garantias

aos capitalistas. Essa mesma Lei dava preferência ao eixo Rio-São Paulo devido ao fato de

serem a base da produção cafeeira nacional e a intenção principal da implantação das

ferrovias no país era exatamente facilitar o escoamento dos produtos das regiões

interioranas para os portos. Para este autor, a Lei n°641 foi o marco do advento ferroviário

brasileiro, criaram-se assim as linhas Mauá-Petrópolis, Recife-São Francisco entre outras69.

A associação ao capital inglês não parava apenas na construção das ferrovias, mas

também na manutenção, já que as firmas nacionais não tinham capital nem “Know-How70”

(TENÓRIO, 1979, p.47). Essa relação causava, porém uma forte dependência nacional em

relação aos ingleses. - o país estava subordinado às preferências britânicas. Outro problema

é que o sistema ferroviário era um tipo de serviço completamente novo no país, não tinha,

portanto quem fiscalizasse as atividades de construção, então muitas vezes os orçamentos

eram muito superiores ao valor real.

68

O primeiro teste de um trem foi feito em 26 de setembro de 1825, na Inglaterra. A “máquina de ferro” percorreu 15 Km de Stockton a

Darlington. Foram diversos testes até que em 1830 a Inglaterra estabeleceu a primeira linha regular de viação ferroviária do mundo, esta ligava Manchester a Liverpool (TENÓRIO, 1979, p.19). 69

Em 1872 constrói-se a Madeira-Mamoré69

, a primeira ferrovia intercontinental a abranger terras brasileiras. Segundo Tenório (1979,

p.50) na década de 1860 as ferrovias eram uma verdadeira febre. 70

Refere-se ao conhecimento do processo.

Page 62: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

61

A segunda porção de ferrovias construídas no país está amparada na Lei. 2450 de

24 de setembro de 1873 que traz ainda mais benefícios aos ingleses. Cerca de 90% das

ferrovias brasileiras foram executadas após a sanção desta Lei que, segundo Tenório (1979,

p.50) aumentava exacerbadamente os privilégios dos capitalistas ingleses. E percebe-se

também que “O segundo reinado com sua política liberal de incentivos dotou o país de uma

rede ferroviária” (TENÓRIO, 1979, p.54).

O sistema ferroviário brasileiro teve, porém muitas falhas, entre elas a não

padronização das bitolas71, sistematização das ferrovias através da elaboração de um plano

de implantação. Segundo Tenório (1979), dessa forma as ferrovias não eram implantadas

racionalmente de modo que todo o sistema pudesse ser posteriormente interligado

aumentando os lucros da atividade.

Como se sabe a colonização brasileira teve início na costa litorânea e só mais tarde

vencidos os perigos e a resistência indígena é que os interiores começaram a ser

desbravados. Para Tenório (1979), os caminhos entre a costa e os interiores produtores

eram feitos á carro de boi, e a orientação das ferrovias seguiu esses caminhos.

Por mais que o interior tenha sido explorado posteriormente, os núcleos de

povoamento mais importantes estavam localizados próximos à costa e em Alagoas:

Ao tempo da ocupação holandesa os topônimos mais importantes – Penedo e algumas localidades mais ao norte do rio São Francisco, Porto do Francês, Alagoas do Norte, Alagoas do Sul, Jaraguá, Porto Calvo, Maragogi (...) delimitam a área geográfica palmilhada pelos colonizadores. (TENÓRIO, 1979, p.62, grifo nosso).

Até a segunda metade do século XIX eram inúmeros os portos na costa brasileira,

pois a exportação de produtos nativos através de pequenos portos locais fez com que cada

região assumisse a predominância de algum gênero específico. Segundo Tenório (1979),

quase toda enseada da costa brasileira possuía um porto. O sistema marítimo e fluvial

durante muito tempo foi superior ao terrestre tanto que “a barcaça, a canoa e a jangada

estiveram por muito tempo ligadas à cana, ao açúcar e ao negro de engenho. Tanto quanto

o carro de boi” (FREYRE apud TENÓRIO, 1979, p.65).

Em Alagoas a primeira estrada de ferro a ser construída foi a Estrada de Ferro

Central de Alagoas que servia de ligação entre Maceió e Viçosa e tinha uma extensão de 88

km e percorria a região mais fértil da zona da mata alagoana. Tenório (1979) afirma que, os

investimentos em ferrovias em Alagoas significaram altas despesas, pois tudo era

importado, não só a matéria-prima para a construção das linhas, como também a mão-de-

obra operadora e o combustível72.

71

Largura convencionada da via férrea segundo o Priberan. 72

Outro problema é que as verdadeiras necessidades regionais não eram acudidas devido ao desconhecimento por parte dos investidores

estrangeiros e também porque o interesse capitalista acabava falando mais alto (TENÓRIO, 1979, p.75).

Page 63: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

62

Quando o advento ferroviário atingiu a zonas algodoeiras e canavieiras, as usinas

de açúcar ganharam mais impulso, se expandiram e deram fim aos engenhos-banguês73. No

ano de 1864 o então vice-presidente Roberto Calheiros de Mello sancionou a seguinte lei:

“Lei N° 428 de 2 de julho de 1864 Art. 1° - Fica o governo autorizado a mandar proceder aos estudos necessários a factura de uma via-férrea, que, partindo do porto de Jaraguá, ponha esta capital em comunicação com o centro da província. Art. 2° - Fica igualmente autorizado a garantir a companhia, que se organizar para esse fim, um quarto de juro que lhe for garantido pela assembleia legislativa geral. Art. 3° - Ficam revogadas todas as leis e disposições em contrário.Ass. Roberto Calheiros de Mello Presidente, em exercício, da Província” (TENÓRIO, 1979, p.106).

A “Era Ferroviária” em Alagoas teve início apenas 1868, segundo Tenório (1979),

mais especificamente a 25 de março com a inauguração de um ramal de 6Km que ligava a

ponte de desembarque do Jaraguá ao Trapiche da Barra. Tal passo foi dado porque, ainda

segundo o mesmo autor o transporte dos produtos que chegavam do interior ao Trapiche

para serem exportados no Jaraguá era bastante inseguro, pois era feito precariamente

através de carroças de boi, ou no lombo dos animais, percorrendo-se um extenso areal. No

ano de 1866 houve um ataque na região a um comboio e as autoridades resolveram então

solucionar o problema.

Vinculava-se assim o transporte fluvial feito pela lagoa Manguaba – chegada de

mercadorias do interior - e o transporte marítimo no Jaraguá – saída de mercadorias para o

exterior - compondo-se um importante eixo de transporte de mercadorias.

O trem de ferro, que vai de Maceió até a zona do açúcar e do algodão, e a navegação a vapor nas lagoas do Norte e do Sul e no Litoral, se constituem no símbolo da tecnologia moderna dos transportes. A abolição é um corte profundo na vida do país em 1889. O império agoniza e morre. A República nascente cambaleia com a turbulência dos anos iniciais, mas se consolida em seguida. (TENÓRIO, [S.d.], p.49 – cartões postais).

Tenório (1979) afirma que este ramal teve continuidade com a bifurcação na rua do

Livramento, atual Senador Mendonça, que prosseguia até o povoado do Bebedouro, essa

parte do ramal foi construída em 1872 e tinha uma extensão de 5Km. Com o êxito do

sistema ferroviário o governo logo autorizou a penetração das linhas férreas no interior do

estado, com a construção de uma ferrovia ligando Maceió a Imperatriz acompanhando o

vale do Mundaú.

Entre as várias mudanças de companhias encarregadas da implantação das

ferrovias no estado, Alagoas atingiu na década de 1880 do século XIX um total de

269,116Km de ferrovias construídas.

73

O próprio engenho com a propriedade rural.

Page 64: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

63

As expectativas agora eram outras, a prosperidade enchia os olhos dos alagoanos,

é possível perceber esse sentimento, por exemplo, através da publicação do jornal do Pilar

de 24 de setembro de 1872:

[...] Efectuada a construção da estrada da via férrea central veremos como por encanto mudar-se este estado de cousas tão contristador para aquelles que acompanham o movimento progressivo do século, veremos nossas principais fontes de riqueza, a agricultura usando os machinismos aperfeiçoados que o invento e as ciências positivas tem introduzido no mundo europeu. SEREMOS UM POVO CIVILIZADO E NÃO MAIS UMA TRIBO DE PELES VERMELHAS! O Século, Maceió, edição de 24 de setembro de 1872, A PEP. (TENÓRIO, 1979, p.135).

Como consequência das ferrovias tem-se a geração de emprego, a qualificação da

mão-de-obra nacional e consequente valorização da mesma, o desenvolvimento dos setores

industriais a ela vinculados (metalurgia entre outros), e a cima de tudo, as rodovias deram

um impulso a economia brasileira, atraindo comerciantes e investidores.

O trem de ferro, as embarcações modernas e a praça eram inovações que estimulavam a convivência, a troca de informações, o consumo de artigos exóticos, a moda dos grandes centros” (TENÓRIO, S.d., p.38 – cartões postais).

Outra consequência é o surgimento de novos ramos comerciais e o aumento dos

estabelecimentos comerciais estrangeiros na cidade. Um bom exemplo são as “companhias

Northern Assurance Companyof London and Aberdeen e a New Life Insurrance Company”.

Próximo ao Porto no Jaraguá também estabeleceram-se outras casas comerciais de

importação e exportação, eram elas “ Borstelmannand Company, John H. Boxwellan

Companye J. Rippeland Company” (TENÓRIO, 1979, p.96). Para Tenório, o Jaraguá era um

verdadeiro armazém do comércio maceioense.

Podemos dizer que em Alagoas conceito de turismo começou a ser desenhado com a chegada desse instrumento de comunicação, pois além de conhecer as belezas famosas de outros lugares do Brasil e do mundo, o postal despertou a sensibilidade do alagoano para as nossas paisagens e atrativos” (TENÓRIO, S.d.,p.39).

Apesar dos muitos elogios, Tenório (1979, p.213) afirma que se sabia que os

serviços da Alagoas Railway deixavam a desejar, havia suspeitos de jogos de interesses,

boicotes à fiscalização das obras, e a escolha de locais para a implantação das vias sem

justificativas plausíveis. A proclamação da República significou a libertação do Brasil dos

laços que o prendiam à Inglaterra, criou-se um plano geral de viação para gerir o sistema

ferroviário e rodoviário do país. Em 1896 teve início um processo de extinção do regime de

concessões criado no império, “era o fim da „Era de ouro‟ das ferrovias britânicas no Brasil”,

Page 65: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

64 mas essa decisão não pôs fim à presença britânica, pois algumas firmas permaneceram,

como por exemplo a emergente Great Western.

Ainda de acordo com o que cita Tenório (1979), o governo republicano aplicou

multas diversas a Alagoas Railway por suas irregularidades, como o descumprimento de

horários, a omissão de documentos importantes, ao não pagamento de gastos referentes à

construção e manutenção das ferrovias.

Ainda segundo este autor, o trem fez com que Maceió pudesse conhecer o mundo,

pudesse se engajar em temas políticos assim como as grandes cidades do sul, também

trouxe a melhoria dos serviços públicos. Permitiu a entrada de ares intelectuais e passou a

atrair para a cidade pessoas da região interiorana e também de outras províncias. Os

viajantes e negociantes vinham com mais frequência à cidade, pois a ferrovia facilitava essa

locomoção.

É nesse quadro que as edificações de uso hoteleiro ganham destaque e assumem

parte da responsabilidade de vender uma imagem de desenvolvimento, êxito e “glamour”

aos que chegavam à capital.

Page 66: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

65

4 - Os Hotéis Ecléticos de Maceió e sua participação no processo evolutivo da

cidade

4.1 – A importância destes hotéis nas atividades econômicas da cidade

O comércio foi a fonte de renda e de desenvolvimento de Maceió desde o princípio

de sua ocupação. Como já mencionado anteriormente, suas condições geográficas, lhe

davam a vantagem de uma enseada natural muito bem localizada e com excelentes

condições de fundeio. Já desde os primórdios os benefícios desse porto natural tornou-se

conhecido dos que ocuparam essas terras.

Com a Chegada da Corte lusitana ao Brasil, os portos brasileiros foram abertos, por

meio de um acordo com os ingleses74. Assim o Brasil tornou-se permeável à penetração

britânica, não tendo sido diferente nas terras alagoanas. O porto de Jaraguá começou a

comercializar, através das praças de Pernambuco e Bahia, com nações de todo o mundo.

Nota-se que a evolução urbana de Maceió caminhou junto com a evolução

econômica movida pelo “dom comercial” da Enseada de Jaraguá. Assim impulsionada,

Maceió aos poucos deixou de ser povoado, passou a ser vila, logo depois cidade e capital.

O Porto de Jaraguá aos poucos foi tendo suas adjacências ocupadas por estabelecimentos

mercantis, e casas de inspeção, no intuito de controlar a qualidade dos produtos ali

comercializados.

Quando, em 1839, foi elevada à condição de cidade e capital75. Maceió recebeu

alguma infraestrutura e passou a sediar o órgão administrativo da Província e, a sediar as

residências das principais autoridades de Alagoas. Com todos esses fatores, sua feição

começou a ser modificada, edifícios de maior porte e rigor estilístico começaram a ser

edificados, principalmente nas proximidades do Jaraguá, da Boca de Maceió e da Avenida

da Paz. Esses pontos passaram a ser o centro do status e do glamour da próspera Maceió

do século XIX.

Autores como Ferrare, ressaltaram que a população passava a utilizar as ruas

como áreas de passeio e para promover festejos públicos, em contraste com a

desvalorização dada a estas nos tempos coloniais. A partir de então manifestou-se nas

edificações algum apelo estético pois tornara-se um hábito da população se adornar para

passear pelas ruas da capital em postura contemplativa (1999).

Com o aparecimento das ferrovias Maceió viu seu horizonte ampliado. Esse

transporte facilitou a comunicação com as regiões interioranas da Província de forma mais

rápida, afinal os antigos carros de boi que transportavam as mercadorias das zonas de

74

Tratado de Amizade e Aliança, assinado em 19 de fevereiro de 1810, mais um em meio a uma série de tratados impostos no mesmo

período pelos ingleses a Portugal, gerando assim fortes laços de dependência. A própria retirada da Corte Portuguesa para o Brasil, reflete esses fortes laços com a Inglaterra, afinal a Invasão Napoleônica foi motivada pela não-adesão dos portugueses ao Bloqueio Continental. De grande importância na criação destes laços de dependência de Portugal em relação aos ingleses foram os Tratados de Windsor (1386) e o de Methuen (1703), ambos refrentes a “favores” comerciais e de troca de produtos entre as duas nações (Peter, 2007). 75 Conforme decreto sancionado em 16 de dezembro de 1838, após solicitção de Agostinho da Silva Neves à Assembleia Legislativa afim de

que fosse elaborado um projeto de lei para elevar a vila de Maceió à capital da Província (Barros, 1991).

Page 67: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

66 produção agrícola para a costa maceioense o faziam de forma lenta. A máquina à vapor

sobre trilhos penetrava com facilidade não apenas as terras alagoanas, e tinha a capacidade

de comunicar a Província com outras regiões do país, coisa que os comboios terrestres não

faziam. Efetivamente, essa máquina deslizante reduziu as distâncias, aos poucos Maceió

ganhou linhas que a ligavam a outras províncias e desse modo sobressaiu-se mais uma

vez, pois era evidente a atração de uma cidade dotada de ferrovias sobre os viajantes, em

relação às que ainda não conheciam os benefícios desta.

Maceió já tinha suas portas abertas há muito pelo Porto de Jaraguá, agora se

abriam outras para que chegassem de trem mais inovações, mais visitantes e negociantes

dispostos a colher os louros da bem-sucedida atividade. Já possuía sedes para os órgãos

administrativos da região e agora precisava equipar-se para receber os negociantes que ali

chegassem. É clara a importância de um bom “cartão de visitas” para a geração de negócios

bem sucedidos. No período vários bilhetes postais retratam a beleza e os ares modernos da

cidade, estes traziam imagens da Estação Central e de grades ícones arquitetônicos do

período (Ver Imagens 27, 28, 29 e 30).

Imagem 27: Bilhete Postal – Ponte de Desembarque. Imagem 28: Bilhete Postal – Pça. Euclies Malta.

Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.]. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.].

Imagem 29: Bilhete Postal – Estação Central. Imagem 30: Bilhete Postal – Porto da Levada. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.]. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.].

Page 68: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

67

Os hotéis passaram a ser também “cartão de visitas” fundamentais, aliados às

paisagens naturais da cidade e à sua feição em conformidade com as inovações europeias,

estes estabelecimentos acolhiam os responsáveis pela geração de renda no setor comercial

da cidade.

São vários os hotéis de que se tem conhecimento na época, alguns mantiveram

suas funções, outros serviram a outros setores, outros tantos foram demolidos ou

abandonados, porém esses dados não são precisos já que a Secretaria municipal de

Turismo não disponibiliza os registros de hotéis existentes na época. É certo que boa parte

destes é um verdadeiro registro do sentimento que aflorava nos fins do século XIX e início

do século XX, a sensação de europeização que nascia em Maceió se nota pela forte

presença do Ecletismo em seu ambiente construído.

Para uma equiparação aos ares civilizados os hotéis edificados nessa época

traziam linhas ecléticas com influências clássicas, mouriscas, neo-góticas, barrocas, etc.

Predominantemente, faziam uso de balaustradas nas varandas, escadarias, por vezes

escaioladas, pisos em ladrilho hidráulico, colunas com capitéis definidos, pináculos,

ornamentos em frisos e platibandas em massa com motivos fitomorfos (em guirlandas) e

antropomorfos, entre outros.

Outro ponto marcante é que o visitante que se hospedava nesses hotéis, podia

debruçar-se por alpendres e balaustradas que se abriam para as ruas e para as praças, que

compunham a paisagem dos seus entornos, e até pelos cursos d‟água que cortavam o

Centro da cidade, sobretudo nas imediações da localização da Estação Ferroviária ou

mesmo para o mar exuberante da então orla urbana – a praia da Avenida76.

A cidade tinha assim, elementos suficientes para atrair visitantes e vender sua

imagem no âmbito nacional e internacional. Os bairros de Jaraguá, Centro e Bebedouro

ainda hoje continuam como importantes marcos desse período tão relevante na evolução

urbana, cultural, social e econômica da cidade.

76

O registro de localização dos principais hotéis edificados entre 1839 e 1922 (recorte temporal estudado) reforçaram esta constatação.

Page 69: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

68 4.2 – A localização dos Hotéis e a dinâmica criada por eles

Os hotéis estudados neste trabalho estão localizados em importantes eixos da

cidade na estrutura que apresentava no século XIX, (Ver mapa de localização no Anexo II -

Prancha 01). Como já mencionado anteriormente, o traçado urbano da Cidade estava

diretamente associado à sua evolução comercial a partir da enseada de Jaraguá. Ao redor

da enseada instalaram-se, segundo Barros (1991) as primeiras vilas mercantis compostas

por armazéns, trapiches, casas de inspeção e estabelecimentos de comercialização de

mercadorias.

Durante o século XIX, conforme descreve Barros (1991, p.52), a cidade tinha

alguns pontos que eram fortes atrativos aos visitantes, como: as adjacências do porto, onde

o coração da cidade pulsava no decorrer das transações comerciais, e onde aos poucos

começou a existir movimentada vida noturna preenchendo o bairro no período em que o

comércio se recolhia à espera do dia seguinte. No Centro da cidade, mais precisamente nas

ruas que mais concentravam o fluxo comercial, Rua do Comércio, Rua do Livramento, Rua

do Apolo, Praça Montepio dos Artistas e na antiga Boca de Maceió, onde se instalara a

Estação Ferroviária Central (Ver Imagem 19 – Anexo I), servindo como uma porta de

entrada aos que chegavam de outras regiões movidos, segundo Tenório (1979, p.95), pela

máquina sobre trilhos e onde está a Praça dos Palmares, cenário de boa parte dos hotéis

citados neste trabalho.

E por último nas proximidades da Avenida da Paz que possui vista privilegiada para

o mar, formada por um casario intercalado por casas térreas e sobrados, arrematadas por

platibandas, e na época ainda trazia em seu entorno o Riacho do Salgadinho sobreposto

pela famosa ponte dos Fonseca77, importante eixo de ligação entre o Jaraguá e o Centro da

cidade, e ladeado pela formosa Praça Euclides Malta ou Praça Sinimbú, esta última era

circundada pela Estação de Bondes, o Lyceu de Artes e Ofícios e o Tribunal Eleitoral de

Alagoas. Conforme expõe Ferrare (1999), a Avenida da Paz ainda destacava-se pela Praça

Napoleão Goulart78, que ficava à frente do Clube Fênix Alagoana, representativo espaço de

lazer e encontros da sociedade de Maceió (Ver Imagem 20 – Anexo I). Seria exatamente

nessas áreas que se localizariam os hotéis em foco.

Como se pode ver no mapa em anexo (Ver mapa de Localização no Anexo II -

Prancha 01), no centro da cidade foi erguido o Hotel Lopes, margeando a antiga Praça

77

A ponte dos Fonseca representa um marco das antigas ligações entre o Porto do Jaraguá, que recebia as mercadorias importadas, e o

Centro da cidade, que as comercializava. Sua extensão era de 120m e largura de 4m, foi edificada na gestão de José Bento da Cunha Figueiredo por Hugo Wilson, como um representativo acontecimento da engenharia em Alagoas. Seguindo a legislação devia ser feita em paralelepípedos com os passeios laterais protegidos por guarda-corpos de ferro. Esta ponte foi destruída em 1924 por uma tromba d’água (FERRARE, 1999, p.7). Aliás, o ferro era material corriqueiramente empregado nas obras urbanas de Maceió, pois além de trazer um ar de solidez, o acesso a esse tipo de material tornara-se muito fácil com o advento da industrialização. 78 Quanto ao espaço desta praça, Ferrare (1999, p.7) descreve que “era agenciado por canteiros, possuindo inclusive um caramanchão

central, similar a um coreto, e consistia em um dos jardins públicos, (...) e de todo o tratamento arborístico da Avenida da Paz, até este ter sido cedido pela prefeitura Municipal ao empreendimento construtivo do Clube Fênix”.

Page 70: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

69 Montepio dos artistas. Está localizado na Rua Barão de Penedo, que funcionava como um

eixo de ligação direta entre a Estação Ferroviária e os pontos nodais do centro comercial da

cidade, facilitando o deslocamento de quem chegava a Maceió de trem, no intuito de fazer

transações comerciais.

Bem próximo à Estação Central, estavam localizados os hotéis Bela Vista (antigo

Universal), Palmares, Avenida e Central, ambos voltados para a Praça dos Palmares79.

Entretanto, esses dois últimos não foram abordados neste trabalho por não possuírem

repertório arquitetônico Eclético.

O Hotel Avenida foi localizado em uma foto do acervo do Museu da Imagem e do

Som de Alagoas (MISA), apresentando características formais típicas do estilo colonial (Ver

Imagens 31 e 32). Sua localização era próximo à antiga Praça 16 de Julho, atual Praça dos

Palmares. Ainda observando-se o acervo do MISA, foi possível localizar em uma foto do

Bela Vista Palace hotel, um outro hotel ao fundo, o Hotel Central (Ver Imagem 33).

Imagem 31: Hotel Avenida. Imagem 32: Hotel Avenida à esquerda da Praça 16 de julho.

Fonte: MISA, [S.d.]. Fonte: MISA, [S.d.].

Imagem 33: Hotel Central ao fundo do lado esquerdo da foto.

Fonte: MISA, [S.d.].

Na Avenida da Paz, tinha-se o antigo Hotel Atlântico, que possuía privilegiada vista

para o mar, e o “Palacete dos Machados”, atual Museu Théo Brandão. Ambos localizados

nessa área mais valorizada da cidade no período, onde só se tinham estabelecimentos

79

Esta localizada exatamente entre a Rua Barão de Penedo, cuja importância já foi mencionada a cima, e a Rua do Comércio, que ganhou

este nome pela grande movimentação comercial que tinha na época e que conserva até hoje.

Page 71: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

70 públicos e comerciais de importância. Além de residências de pequeno porte e belos

sobrados muito bem afeiçoados que compunham um visual de luxo e exuberância em

conformidade com a bela vista da praia da Avenida.

Essa localização explica-se não só pelo luxo implícito nos arredores da Avenida da

Paz e pelo romantismo que a cerca, mas também por significar mais um eixo de ligação,

desta vez entre o Porto de Jaraguá e o Centro da cidade.

É certo que a implantação destes hotéis no contexto urbano de Maceió está

diretamente vinculada à dinâmica comercial da mesma, já que o que movia a economia do

local era o comércio interno e o mantido com outros estados e nações. O transitar de

pessoas de outras localidades em Maceió, no século XIX estava ligado à exploração do seu

potencial econômico, tanto que se justifica assim tamanha evolução da Cidade em relação

ao resto da Província.

Apesar da importância destes hotéis na historia da cidade, é notável o descuido do

poder público. Somente O Hotel Lopes, está inserido em um Setor de Preservação Rigorosa

(SPR – 01), e é considerado um monumento histórico. Já o Hotel do Palacete dos

Machados (Museu Théo Brandão) é considerado um imóvel histórico pela Zona Especial de

Preservação do Centro - 02 (ZEP– 02), ou seja, não está inserido em uma zona de

preservação rigorosa. Já o Hotel Palmares e o Hotel Atlântico estão localizados apenas em

Setores de Preservação de Entorno (SPE) do Centro e do Jaraguá, respectivamente80.

80

Lei Municipal N° 5593 de 08 de Fev. de 2007. Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento – SEMPLA. Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural – Centro (DPHC).

Page 72: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

71 4.3 – Hotel Atlântico “O encanto Eclético da Praia da Avenida”

4.3.1 - LOCALIZAÇÃO

Mapa 01: Mapa de Localização do Hotel Atlântico.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

O Hotel foi edificado entre as casas térreas e os sobrados da Avenida da Paz. Até

que, no ano de 1941 o surto de progresso em que se encontrava a cidade, acabou por ser

determinante para o aterro do leito do Riacho Salgadinho levando-o a desembocar na praia

da Avenida81 (Ferrare, 2008) (Ver Mapa 01).

A partir deste momento o Hotel tornou-se uma edificação “de esquina” margeando a

desembocadura do Riacho Salgadinho no mar. Sua localização é na esquina da Avenida da

Paz com a Avenida Aspirante Alberto Melo da Costa.

4.3.2 - HISTÓRICO

Não se sabe a data certa da construção desta edificação, sabe-se apenas que seu

repertório arquitetônico corresponde ao início do século XIX. Há poucos registros de sua

existência, apenas poucas fotos, mas nenhum registro documental de conhecimento

público. O que se pode afirmar com segurança é que seu entorno mudou completamente, o

contexto luxuoso onde se inseria entre as décadas de 20 e 30 do século XIX, período em

que a cidade usufruía do status proporcionado pelo título de capital e pelo desenvolvimento

comercial, difere completamente da paisagem urbana que se tem hoje. Tinha-se uma linha

contínua de edificações na Avenida da Paz que só foi interrompida com o desvio da

desembocadura do Riacho Salgadinho para aquela localidade. (Ver Imagens 34, 35 e 36).

81

A fim de aproveitar o terreno antes ocupado por ele para a obtenção de mais áreas disponíveis para a construção civil.

Page 73: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

72

Imagem 34: Demarcação da atual desembocadura do Riacho Salgadinho.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 35: Linha continua de edificações Imagem 36: Riacho Salgadinho antes na Avenida da Paz. do desvio de seu fluxo. Fonte: MISA, S.d. Fonte: Blog Olhares, 2011.

No período os arredores “paisagisticamente” atraentes chamavam a atenção dos

transeuntes e atraíam cada vez mais visitantes a se hospedarem no hotel. Segundo Miranda

(2005, p.18), nos anos 1950 o Hotel passou a pertencer à família Miranda que na época era

conhecida como “comunista” por conta do envolvimento de alguns membros da família com

rebeliões contra o regime da ditadura militar. O mais conhecido dentre os membros desta

família, o advogado Jaime Amorim de Miranda foi preso e exilado e desde 1975. Essa

relação dos proprietários do hotel com o movimento comunista, fez deste um ponto de

encontros políticos, inclusive Carlos Prestes chegou a frequentá-lo82.

Na década de 1960 suas feições luxuosas foram comprometidas por uma enorme

transformação em sua estrutura física. A atitude partiu de uma ordem do Estado, para que o

Hotel perdesse metade de sua área a fim de permitir a construção de uma via paralela ao

Riacho Salgadinho para conduzir quem vem da praia para a Avenida Buarque de Macêdo,

a via recebeu o nome de Avenida Aspirante Alberto Melo da Costa.

A secção do hotel causou sua descaracterização tanto externamente quanto

internamente. Segundo Miranda, a fim de compensar a perda de metade da área da

edificação, seus proprietários construíram um anexo utilizando a área livre do hotel, e houve

também a divisão de um pavimento em dois. Esse foi apenas o primeiro passo para as

inúmeras reformas e intervenções que a edificação sofreu ao longo do tempo. Toda essa

82

Informações cedidas pela família Miranda à aluna Lays Rocha Miranda.

Page 74: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

73 transformação se deu porque na época o edifício não estava protegido pela legislação (Ver

Levantamento das plantas e fachadas atuais – Anexo – III).

Diversas reformas ocorreram com o passar dos anos e aos poucos o partido

original da edificação foi completamente perdido, vários anexos foram sendo acrescidos. Ao

fim do processo as fachadas foram “vedadas”, suas balaustradas, colunas, pináculos,

balcões e sua riqueza de ornamentos perderam-se em meio a uma “caixa de concreto” que

passou a esconder a rica história deste hotel. Porém ainda é possível observar trechos de

balaustradas e varandas que aparecem tímidos em meio ao peso da caixa de alvenaria que

as encobre (Ver Imagens 36 e 38).

Imagem 37: Trecho de balaustrada Imagem 38: Varandas e balaustrada aparentes

e pináculo aparentes. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).

A decadência da arquitetura do Hotel Atlântico associou-se à desvalorização

crescente de seu entorno que, com a poluição do Riacho Salgadinho e marginalização da

Praia da Avenida, deixou de ser uma área de significativo status e importância no contexto

urbano da Maceió do século XIX, e tornou-se um setor decadente, marginalizado e perigoso.

A área urbana “paisagisticamente” bem tratada, que era apreciada pelos

transeuntes que passeavam a pé pelas ruas ou em seus charmosos cabriolets e bondes,

sediava o lazer da boemia. Segundo Miranda (2005), em meados de 1990, após um longo

processo de declínio, o Hotel Atlântico foi definitivamente desativado.

Atualmente não está sendo utilizado para nenhum fim, encontra-se abandonado e o

acesso ao seu interior no processo de construção deste trabalho não foi possível. Por tal

motivo o levantamento de plantas e fachadas anexado a este estudo foi realizado em 2006

pela aluna Lahys Rocha.

4.3.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Sobrado

Na edificação, nitidamente eclética com alguns traços de repertório clássico, nota-

se a forte simetria, o ritmo regular de suas esquadrias, a proporção e a harmonia total da

composição (Ver Imagem 39). O uso deste estilo, que vigorava nas capitais brasileiras por

influência principalmente da Missão Francesa (1816), transmitia imponência e status

agregando-lhe importantes valores em meio ao mercado hoteleiro do período.

Page 75: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

74

Imagem 39: Fachada frontal original do Hotel Atlântico.

Fonte: MISA, S.d.

Suas formas eram dispostas equilibradamente em uma composição sóbria formada

por cimalhas, cornijas, pináculos, arcos, frontões. No tocante ao aspecto Eclético, esta

edificação traz balcões em balaustrada, acrotérios, gradis de ferro, colunas não estruturais e

entablamento preenchido com ornamentos em massa (Ver Análise Estilística 1 - Anexo IV).

Quanto à organização funcional de seus espaços torna-se impossível sua análise

devido à inexistência de documentos que mostrem sua planta original. O que se tem é um

levantamento cadastral datado de 2004, realizado por Lahys Rocha Miranda em um trabalho

final de graduação da Universidade Federal de Alagoas, neste levantamento cadastral

constam as plantas baixas num total de cinco, dois cortes e duas fachadas, já que apenas

duas faces do edifício voltam-se para o entorno (Ver Levantamento das plantas e fachadas

atuais – Anexo – III).

Sabe-se que os espaços internos estão divididos em três pavimentos somados a

um subsolo, as adições feitas durante as reformas que sofreu, deram-se de forma

extremamente aleatória, descaracterizando ainda mais o conjunto arquitetônico.

4.3.4 - SITUAÇÃO ATUAL

Já é impossível fazer uma leitura arquitetônica da edificação, pois sua feição atual é

completamente incompatível com seu partido formal original.

Encontra-se completamente oculto em meio a uma verdadeira “caixa” de alvenaria

que não permite que sua estrutura original seja visualizada. Suas fachadas têm servido de

mural para letreiros, propagandas políticas e anúncios, e observando-se de fora é possível

ver os “estragos” internos que o tempo lhe causou (Ver Imagens 40 e 41).

Imagem 40: Fachada lateral atual. Imagem 41: Fachada frontal atual.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Page 76: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

75

Após a divisão de sua área total em duas partes, por iniciativa do Estado, o Hotel

passou a ocupar uma área de aproximadamente 980m², o que mostra a magnitude de seu

porte original, em meio à maioria de casas térreas que compunham seu entorno nesta área.

Miranda (2005, p.21), menciona a atual feição do hotel como um verdadeiro

“equívoco arquitetônico” que representa um vazio/lacuna dentre os resquícios históricos da

Avenida da Paz. Neste caso o desenvolvimento urbano da cidade se sobrepôs à memória

coletiva, subtraindo um importante ícone da história maceioense, no tocante ao

desenvolvimento da sociedade, do setor comercial, dos importantes acontecimentos

econômicos e de sua ascensão política ao longo dos anos.

A exuberância formal do Ecletismo deu lugar a um desarranjo de formas

amontoadas desarmonicamente em total contraste com o perfil das demais edificações que

compõem o conjunto eclético formado na Avenida da Paz.

A edificação vem sendo acometida por diversas patologias graves, entre as quais

algumas são:

Infiltrações causadas degradação da coberta e aberturas;

Fissuras consequentes da degradação dos materiais da edificação;

Corrosão das ferragens que encontram-se à mostra devido ao desgaste das

estruturas em concreto;

Produção de mofo em consequência da umidade acumulada nos espaços

internos abandonados;

Desgaste dos revestimentos;

Observando-se o caso do Hotel Atlântico é possível comprovar o quanto o

desenvolvimento urbano tem passado por cima da memória da cidade. Um ícone

arquitetônico tão „narrador‟ relevante ao se contar a história de Maceió, de seu

desenvolvimento comercial vinculado ao porto. O mais surpreendente é saber que esse

exemplar perdeu sua magnitude não por uma intervenção privada e desinformada, mas por

uma decisão do estado e durante a aplicação de uma diretriz urbanística.

Page 77: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

76 4.4 – Hotel do Palacete dos Machados – Théo Brandão “O Excelente Sobrado da Avenida

da Paz”

4.4.1 - LOCALIZAÇÃO

Mapa 02: Mapa de Localização do Hotel do Palacete dos Machados.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Localizado às Margens da Praia da Avenida, com uma fachada voltada à antiga

Praça Euclides Malta – Praça Sinimbú (Ver Imagem 21 – Anexo I). No período em que foi

construído, esta era uma das áreas mais nobres da cidade, tinha-se a Praça Euclides Malta

que convergia importantes edifícios da cidade como a sede da Companhia Alagoana de

Trilhos Urbanos (CATU), o Lyceu de Artes e Ofícios (Ver Imagem 22 – Anexo I) e o Tribunal

Eleitoral de Alagoas. Sua fachada principal voltada para a Avenida da Paz (Ver Imagem 23

– Anexo I), reunindo-se aos outros edifícios deslumbrantes em estilo Eclético que ali

sediavam importantes residências e órgãos administrativos (Ver Mapa 02).

Situado num importante eixo da cidade, que no século XIX funcionava como a

principal ligação entre o Jaraguá e a rua do Sol, onde os produtos do porto eram escoados

para o desenvolvido comércio que funcionava naquela rua. Este eixo ligava também o

Centro da cidade com o Bebedouro83.

Sua fachada lateral debruçava-se sobre a Ponte dos Fonseca (Ver Imagem 24 –

Anexo I), que fazia ligação entre o Centro comercial da cidade e o Porto de Jaraguá, estava,

portanto situado em um importante local de passagem diária de pessoas e mercadorias, que

movimentavam a vida econômica da cidade. Segundo Ferrare (1999) a localização deste

palacete era primorosa, a “fachada principal voltada para a praia da Avenida e com vista na

lateral direita e posterior para o Riacho Salgadinho que o separava do largo espaço

agenciado com a Praça Euclides Malta”.

83 Localidade que naquele período, esbanjava esplendor, com seu belo casario, que abrigava as altas classes burguesas que buscavam

nesse bairro a paz e a calmaria que não se encontrava próximo ao burburinho do centro da cidade. Às margens da Lagoa Mundaú, o local servia às famílias mais abastadas principalmente nos períodos de veraneio. Um bom exemplo desta rica arquitetura é o Palacete da família José Lopes, atual Casa de Saúde José Lopes.

Page 78: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

77 4.4.2 - HISTÓRICO

Não se sabe ao certo o ano em que foi edificado o Palacete dos Machados (Ver

Imagem 42), mas é certo acreditar que devido ao seu apelo estético tipicamente eclético,

deve datar dos fins do século XIX.

Foi edificado, segundo Ferrare (1999), com o fim residencial para a família do Sr.

Eduardo Ferreira Santos, mas entre os anos de 1914 e 1915, a residência passou para o

nome do Doutor Arthur de Melo Machado que era filho do Comendador José Teixeira

Machado. Este era médico, formado na Universidade da Bahia e por um bom tempo foi

diretor da fábrica de tecidos de Fernão Velho – Fábrica Cármen (Ver Imagem 25 – Anexo I).

Imagem 42: Palacete dos Machados próximo ao ano de sua construção, ainda sem a cúpula.

Fonte: MISA, S.d.

Ainda segundo esta autora, foi neste período que edifício sofreu uma importante

reforma que lhe agregou uma decoração interna feita em estuque e “uma extensão circular

no terraço lateral direito encimada por uma cúpula bulbosa”. Estes acréscimos mostram a

preocupação crescente de investir no edifício a fim de que acompanhasse a evolução

estética das edificações que compunham a paisagem da Avenida da Paz. De acordo com

Ferrare (1999) “a requintada feição lhe conferiu a alcunha de „Palacete dos Machados‟” (Ver

Imagem 43).

De acordo com registros dos membros da família Machado, no período que

pertenceu a estes os espaços da casa funcionavam da seguinte forma; as duas primeiras

salas do primeiro piso atendiam ao convívio social, os dois ambientes posteriores abrigavam

a capela e o quarto de casal, os ambientes do lado oposto serviam de gabinete para o chefe

da família, a outra sala externa servia de sala de leitura para a dona da casa, os outros

cômodos serviam de despensa e cozinha e estavam diretamente ligados aos ambientes

direcionados aos serviços de lavanderia e de depósito que ficavam instalados no pavimento

inferior – porão alto, e o andar superior direcionava-se aos dormitórios.

Page 79: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

78

Imagem 43: Palacete dos Machados sendo visto a partir da margem do Riacho Salgadinho.

Fonte: IHGA, S.d.

No ano de 1951 Arthur Machado falece e o prédio passa então para o nome de

Eduardo Ferreira Santos que modifica seu uso aluga-o a empreendedores que

provavelmente buscavam aproveitar o surto evolucionista da cidade, a privilegiada

localização do edifício e suas belas e luxuosas feições. Neste período é que passou a

funcionar como hotel, por tempo indeterminado, e posteriormente como restaurante.

(FERRARE, 1999).

Nove anos depois o prédio foi decretado de utilidade pública, e em 4 de junho de

1963 foi desapropriado para o uso da Universidade Federal de Alagoas, deste modo sediou

primeiramente a Residência Universitária de Alagoas (RUA). Nesta ocasião o prédio sofreu

modificações adaptativas como o fechamento do terraço posterior. Em 1977 o palacete

começou a ser adaptado para o uso de museu, passou então a sediar o Museu de

Antropologia e Folclore Théo Brandão84.

Com o tempo, o descaso e a falta de manutenção começaram a afetar o bom

funcionamento do Museu, esses fatores levaram então ao posterior fechamento do mesmo e

o armazenamento de seu acervo em duas salas do espaço cultural da Universidade Federal

de Alagoas85 (Ver Imagem 44).

E foi através do Tombamento Estadual decretado no dia 9 de fevereiro de 1983,

pelo Conselho de Preservação Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de

Alagoas, que o prédio pôde ser reconhecido como “exemplar arquitetônico de características

peculiares e de uso social relevante”, e teve assim assegurado o direito de preservação

(FERRARE, 1999).

84

(...) abrigando a partir de então, um considerável acervo de peças procedentes dos diversos municípios de Alagoas, como também de

várias partes procedentes dos diversos municípios de Alagoas como também de várias partes do Brasil e até do exterior, como algumas peças vindas do México, Portugal e Espanha. Destaca-se dentre o acervo regional, sobretudo a coleção de ex-votos e de moringas antropomórficas de Carrapicho-Sergipe, além do acervo de arte folk e artesanal doada pelo Professor Théo Brandão, notável folclorista alagoano que se aprofundou na pesquisa das tradições e expressões artísticas e utilitárias populares. (FERRARE, 1999, p.10). 85 Aos poucos o espaço reduzido destinado às obras passou também a comprometer o acervo. A população ficou então privada deste rico

montante cultural, que agora se limitava a restritas consultas de parte acessível do acervo (FERRARE, 1999, p.10).

Page 80: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

79

Imagem 44: Museu Théo Brandão no período em que permaneceu fechado e sem manutenção.

Fonte: SEMPLA, S.d.

A iniciativa de recuperação do espaço físico do Palacete dos Machados partiu da

Universidade Federal de Alagoas e segundo Ferrare esta foi uma representativa

preservação a ambiência urbana na Maceió do século XIX (1999).

Atualmente, o “excelente sobrado da Avenida da Paz” - o exemplar remanescente de uma época desenvolvimentista que deixou muitas marcas nesta parte da cidade, figura como um atalaia que, do ápice de sua cúpula, busca afirmar a importância da co-existência de diversos estilos e expressões arquitetônicas, para que a cidade seja lida como um livro de referências múltiplas, interligadas pela dinâmica sócio-urbana que cada momento histórico determina. (FERRARE, 1999, p.12).

No ano de 2001 é que teve início a obra de restauração do edifício, financiada pela

Caixa Econômica Federal, como iniciativa do projeto de restauração de patrimônios

encabeçado pela mesma em comemoração aos 500 anos do Brasil, obra foi entregue em 23

de novembro do mesmo ano.

4.4.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Edificação de porão alto e de entrada lateral

O edifício corresponde nitidamente ao estilo eclético. Está voltado para a

apreciação do mar da Avenida e do Riacho do Salgadinho, que na época tinha suas águas

límpidas fluindo naturalmente por traz do prédio, formando uma paisagem poética. Sua

tipologia é de sobrado com porão alto - mais alto do que o comum - com respiradores, vãos

com pequenas janelas no estilo importado da arquitetura mourisca, o muxarabi.

É notável o ritmo da fachada principal que traz um movimento peculiar, resultante

dos balcões em balaustrada que se debruçavam sobre o mar, e também dos ornamentos;

figuras antropomórficas e fitomórficas, pináculos, pilares falsos com almofadas, dorsos de

cariátidne posicionados na direção do mar, como se fosse a frente de um barco quebrando

as ondas do mar e penetrando em sua infinidade (Ver Análise Estilística 2 - Anexo IV).

Ao entrar no Palacete dos Machados é perceptível que o hall de entrada responde

pelo estilo português e sua escadaria principal possui três variações de escaiolas. Outro

ponto notável são as diferentes paginações de piso em cada ambiente, trabalhadas em

tacos de madeiras em tonalidade escura e clara, sempre em contraste. Ainda no tocante às

Page 81: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

80 paginações de piso, nota-se também o uso dos tacos de madeira nas áreas internas e nas

partes mais externas o ladrilho hidráulico.

Quanto aos vãos internos, nota-se uma nítida característica eclética, o alinhamento

entre as aberturas de cada ambiente, cada vão de um ambiente alinha-se ao vão do lado

oposto, tornando mais clara a comunicação entre os cômodos. As varandas balaustradas

são feitas em meio balaústre, como medida de economia o balaústre apenas era cheio do

lado de fora, internamente era cortado (Ver levantamento das plantas e fachadas – Anexo –

III).

No porão alto a princípio funcionavam os depósitos e a parte de serviço, nele

observa-se a rusticidade dos revestimentos, devido à questão da umidade do local e ao seu

uso não se investia muito em revestimentos. O assoalho é aparente mostrando

perfeitamente o encaixe das peças de madeira do piso do pavimento superior. Neste mesmo

ambiente funciona atualmente um pequeno auditório financiado pela PETROBRÁS, com a

finalidade de promover palestras, e apresentação das exposições. Nesse mesmo

pavimento há um espaço reservado para a memória fotográfica do processo de restauração.

Como já dito anteriormente, a parte da cúpula foi um acréscimo feito à obra, que se

optou por conservar durante o processo de restauro, já que este elemento agregou valor à

unidade da obra. Nele notam-se capitéis florais nos pilares, piso hidráulico (característica

das áreas externas da edificação), meio balaústres (como nas outras áreas), frisos de aço

inoxidável no centro do teto da porção coberta pela cúpula, fazendo alusão a frisos que

existiam antes, mas que não se sabe ao certo em que material foram confeccionados e

textura de folhas de acanto86.

4.4.4 - SITUAÇÃO ATUAL

Com o passar do tempo a dinâmica urbana foi se modificando, as necessidades

agora eram outras e diante de tal verdade, a primeira mudança que se vê é no entorno do

palacete.

O prédio do Antigo Lyceu de Artes e ofícios, localizado na Praça Euclides Malta,

deu lugar ao edifício-sede da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de

Alagoas. Onde antes estava a sede da C.A.T.U., instalou-se a residência universitária

masculina e o restaurante universitários. Segundo Ferrare (1999), em 1961, no governo de

Sandoval Cajú a praça Sinimbú modificou-se, foram implantados bancos em forma circular,

canteiros sinuosos e outros elementos idealizados por Lauro Menezes e José da Costa

Passos Filho. Reduziram-se seus canteiros, o aterro do Riacho Salgadinho, deu à ponte dos

Fonseca, (Ver Imagem 26 – Anexo I), a simples existência contemplativa, tanto que muito

passam por ali e não percebem ser uma ponte.

86

Informações adquiridas com a professora Josemary Ferrare.

Page 82: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

81

Durante um bom tempo já funcionando como sede do Museu de Antropologia e

Folclore Théo Brandão, o edifício foi se desgastando em meio as intempéries associadas à

falta de manutenção, até que foi necessário o seu fechamento e deslocamento do acervo

para outo local.

Para reverter o processo de degradação de um ícone tão importante para a

arquitetura e para a história de Maceió, teve início no ano de 2001 seu processo de

restauração. Entre os exemplares citados neste trabalho, este é o único que foi restaurado87.

Cada ambiente do Palacete encontra-se hoje dividido em espaços nomeados e

direcionados para cada tema do acervo 88 (Ver Imagem 27 – Anexo I). No porão alto

funcionam as exposições temporárias que mantiveram a rusticidade própria do cômodo que

era dedicado aos serviços de lavanderia e limpeza. O assoalho permaneceu aparente, por

conta do pé-direito do porão que já era baixo, as instalações elétricas e hidráulicas do porão

também ficaram expostas, afim de não ferir ainda mais a estrutura do edifício rasgando-se

as paredes para embuti-las.89 (Ver Imagem 28 – Anexo I) (Ver Levantamento das plantas e

fachadas atuais – Anexo – III).

Atualmente o Palacete encontra-se em um estado satisfatório de conservação, é

certo que há indícios de que a manutenção não é muito eficaz, já que há trechos em que as

escaiolas encontram-se em estado de escamação, há esquadrias que não abrem mais e os

gradis de ferro da fachada principal encontram-se em estado de corrosão. O museu recebe

exposições temporárias, peças, palestras, além das visitas de diárias e de todo o acervo fixo

que fica exposto à visitação de terça à sábado.

A obra de restauração do edifício teve enorme reconhecimento, entrou no catálogo

de obras restauradas e ganhou o prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade na Categoria

Preservação de Bens Móveis e Imóveis.

As autoras da obra foram as arquitetas Josemary Omena Passos Ferrare e Adriana

Guimarães Duarte. As responsáveis pela obra, também fizeram uso de recursos modernos

para contribuir ao “todo” da obra, os antigos gradis retos de ferro foram substituídos por um

moderno desenho do artista Getúlio Mota, que representa o Guerreiro, tão importante para

nossa cultura (Ver Imagem 45). As pequenas janelas do porão alto, úteis à ventilação e

iluminação deste ambiente, receberam um tratamento especial, as antigas esquadrias

preenchidas com muxarabis, foram substituídas por esquadrias de alumínio e folha e vidro

com um efeito jateado do que seria um muxarabi (Ver Imagem 46).

87

Ao fim do processo o acervo foi devolvido e distribuído de forma gloriosa entre os renovados ambientes que resultaram das obras de

restauração. Como já dito anteriormente o acervo do museu surgiu da iniciativa do folclorista Théo Brandão em doar símbolos do folclore e cultura alagoanos, e também (em menor escala) de outros países e regiões. O museu retrata também as crenças do povo, a culinária, as tradições, através de fotografias, objetos, esculturas de artistas da terra entre outros. 88 Na sala “O fazer alagoano” são expostos elementos relativos à culinária regional, na sala “O que há de novo” estão as esculturas que

foram produzidas para o prêmio Gustavo Leite e em seguida doadas e incorporadas ao acervo do Museu, já na sala “Fé” estão presentes verdadeiros relatos das crenças e fés encontradas na cultura local. 89

Informações obtidas com a Professora Josemary Ferrare.

Page 83: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

82

Imagem 45: Gradis aludindo ao Guerreiro. Imagem 46: Janela fazendo alusão ao Muxarabi.

Fonte: OLIVEIRA, 2010. Fonte: OLIVEIRA, 2010.

É extremamente válido ressaltar a importância desta iniciativa da Universidade

Federal de Alagoas em valorizar de forma esplendorosa um importante ícone arquitetônico

para a cidade de Maceió em conjunto com a junção de importantes signos da cultura

popular alagoana em um rico acervo que conta a quem venha visitar essa região o quão rica

e diversa é a cultura local.

Page 84: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

83 4.5 – Hotel Lopes: “O „Quê‟ exuberante e sinuoso da Praça Montepio”

4.5.1 - LOCALIZAÇÃO

Mapa 03: Mapa de localização do Hotel Lopes.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Localiza-se na esquina entre a Rua Zadir Índio e a Rua Barão de Penedo, em frente

à Praça Bráulio Cavalcante (Ver Mapa 03), antigamente conhecida como Praça Montepio,

Praça Montepio dos Artistas ou ainda, mais atualmente como Praça da Alimentação (Ver

Imagem 47).

Imagem 47: Praça Bráulio Cavalcante com o Hotel Lopes ao fundo.

Fonte: MISA, S.d.

Esta praça90 foi fundada em 1883 e recebeu o nome de Montepio, por abrigar a

Sociedade Montepio dos Artistas, uma sociedade de fins beneméritos. A praça servia de

ponto de encontro entre os membros da mesma. Esta sociedade tinha como objetivo

reivindicar os direitos dos artistas, operários e comerciários. Formava-se um local próprio

para a boemia, onde os poetas e escritores sentavam-se a noite para compor músicas em

companhia dos literários do direito que estudavam na faculdade de direito ali locada.

Esta localização faz-se importante por estar o Hotel em um importante eixo de

ligação entre a Estação Ferroviária Central e o Centro comercial da cidade. Tal fato tornava

90 No ano de 1931 foi reinaugurada sob o nome de Praça Bráulio Cavalcante, em homenagem ao jovem poeta, tribuno e escritor, que era

membro da sociedade maceioense de letras. Era também um humanista revolucionário. Nesta praça foi implantado um busto, em alvearia detalhada com bronze, de Bráulio com os seguintes dizeres: “Às memórias de trindade Lessa e Libânio Teixeira. Sacrificados à liberdade da pátria. 1911”90.

Page 85: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

84 muito cômodo aos negociantes, que ali chegavam de trem, atraídos pelo progresso

econômico do comércio local, a hospedagem em um local próximo de suas negociatas e de

seu ponto de partida e de chegada.

Outro ponto importante para a sua valorização na época é que o Hotel Lopes

inseria-se em uma área da cidade onde maioria das edificações possuía grande valor

histórico, e que na época não se encontravam em péssimas condições de conservação.

Este entorno era composto pela Praça Montepio dos Artistas que na época possuía uma

ambiência paisagística rica e exuberante, belos canteiros e árvores proporcionando sombra

e áreas adequadas ao ponto de encontro da população.

Entre as edificações que a circundavam, estavam a Maçonaria em estilo eclético; a

Antiga Sociedade Montepio dos Artistas, também em estilo eclético; a Antiga Faculdadede

Direito, atual OAB, em estilo protomodernista - 1930; e mais atualmente o Edifício Brêda,

importante marco da era da arquitetura modernista na cidade (Ver Imagens 29, 30, 31 e 32

no Anexo I).

4.5.2 - HISTÓRICO

Sua construção data do final do século XIX. O Hotel não hospedava apenas

turistas, recebia também muitos comerciantes atraídos especialmente pelas vantagens de

sua localização, no eixo comercial da cidade próximo da estação ferroviária, principal meio

de comunicação com outras regiões na época, e principal entrada da cidade. (AMORIM et

al., 2010, p.5). (Ver Imagem 48).

Imagem 48: Imagem antiga do Hotel Lopes.

Fonte: IHGA, S.d.

Funcionou como hotel por muitos anos até que em meados da década de 1970

passou a sediar temporariamente a rodoviária de Maceió, fato que propiciou a primeira

intervenção no espaço físico do edifício, ou seja, a retirada do muro com gradil de ferro que

cercava a lateral direita do hotel, devido a necessidade de uma área para estacionar os

veículos.

A princípio a edificação era disposta em dois pavimentos, segundo Santa Maria

(2007, p.39) era provável que o térreo fosse destinado às áreas de convívio, estar, jantar,

Page 86: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

85 cozinha, serviço, varanda e escada de acesso ao pavimento superior. Porém não há sinais

legítimos desta disposição já que a estrutura interna do edifício foi modificada, as lajes foram

alteradas, para reaproveitamento dos espaços interiores. O pavimento superior era

supostamente composto por três quartos, circulação, banheiros e a varanda conjunta. São

apenas suposições observadas de acordo as dimensões e localização dos espaços, porém

pouco restou da organização interna para que se possa reler a disposição dos ambientes

dentro da edificação. (SANTA MARIA, 2007).

4.5.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Sobrado

O Hotel é Eclético com ênfase no jogo de luz e sombra, típico das construções

barrocas, o que lhe empresta ares de teatralidade e exuberância. Em sua fachada conta

com portas cerradas por balcões em balaustrada, sendo estas encimadas por frontões

interrompidos. Há também volutas arrematando a platibanda da varanda superior. É válido

frisar a rica presença de ornamentos em massa, cimalhas e colunas não-estruturais, além

dos detalhes antropomórficos e fitomórficos (Ver Estilística 3 e 3.1 – Anexo IV). Outro

aspecto nitidamente Eclético é a presença dos gradis de ferro que cercavam a porção lateral

do edifício, arrematando um pequeno muro, que originalmente era composta por um belo

jardim.

4.5.4 - SITUAÇÃO ATUAL

O edifício encontra-se em processo de recuperação das fachadas, que se

encontravam seriamente desconfiguradas devido a diversas intervenções pontuais,

realizadas pelos diferentes proprietários que o Hotel Lopes teve no decorrer dos anos. (Ver

Imagem 49).

Imagem 49: Reconstrução das fachadas. Imagem 50: Divisão do hotel em Blocos.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

A unidade formal há muito foi perdida, devido à modificação da dinâmica do bairro,

que com o passar do tempo adquiriu significativa valorização dos terrenos ali localizados, a

visão capitalista gerou uma carência muito grande de espaços para a ampliação do setor de

comércio e serviços no centro da cidade. Criou-se então uma tendência a

desmembramentos e divisões das edificações em partes menores arrendadas a diferentes

inquilinos (Ver Imagem 50).

Page 87: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

86

Foi assim que o Hotel Lopes passou a sofrer cada vez maiores intervenções e

modificações em seu partido original. Através das visitas in loco foi possível perceber a

criação de um pavimento intermediário ( Ver Imagem 51) que hoje corta os vãos da porção

superior do edifício em duas partes, claramente divididas pela laje construída posteriormente

(Ver Imagens 52 e 53). Este pavimento foi feito de modo individual adotando diferentes

dimensões em cada bloco da edificação.

Imagem 51: Corte Longitudinal mostrando a laje intermediária.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 52 e 53: A metade inferior dos vãos no pavimento intermediário e a outra metade no pavimento superior,

tornando clara a introdução posterior desta laje. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

O pavimento térreo foi dividido em quatro partes, pertencentes a quatro diferentes

donos, a parte superior foi dividida em iguais partes que serviam de depósito aos

estabelecimentos locados no pavimento térreo. Desse modo cada inquilino foi fazendo

alterações nos revestimentos, nas esquadrias, nos forros, de acordo com suas

necessidades.

Essa divisão do edifício, aos poucos “diluiu”, a responsabilidade para com a

manutenção do prédio. As intempéries foram consumindo sua estrutura externa, os

ornamentos foram sendo perdidos e aos poucos alguns acréscimos, em desconformidade

com o partido arquitetônico, porém coerentes às novas necessidades da edificação, foram

sendo feitos e a essência eclética do belo hotel foi se perdendo (Ver Levantamento das

plantas e fachadas atuais – Anexo – III).

A reforma que vem sofrendo agora é iniciativa de um dos proprietários, Sr. Jorge

Higino de Albuquerque, antigo inquilino, que mantém desde março de 2010 uma pequena

Page 88: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

87 lanchonete localizada no pavimento térreo, na extremidade final da fachada lateral do

edifício. Atualmente ele possui parte do prédio em seu nome (porção frontal), outra porção

alugada a ele e outra parte, possuí outro dono que o aluga a dois inquilinos. Seu objetivo é,

aos poucos adquirir todo o prédio (informação verbal) 91.

Pode-se estabelecer um quadro comparativo entre as imagens retiradas no período

em que começou a ser desmembrado (Ver Imagem 54), outras tiradas em 2010 (Ver

Imagem 55), outras em janeiro de 2011 (Ver Imagem 56), e as últimas retiradas no dia 3 de

setembro de 2011 (Ver Imagem 57). A partir da análise das fotos é possível comparar o

constante processo de mutação em que o edifício se encontra, obedecendo à dinâmica

instável do Centro. O que se tem de positivo agora é a retirada dos enormes letreiros que

encobriam boa parte da fachada e reestabelecimento, na medida do possível do seu

equilíbrio comum, através da reconstrução dos elementos perdidos em sua fachada.

Imagem 54: Hotel Lopes logo após Imagem 55: Hotel Lopes ainda com todos o desmembramento. os letreiros que encobriam sua fachada.

Fonte: MISA, S.d. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 56: Hotel Lopes em janeiro de 2011. Imagem 57: Hotel Lopes em setembro de 2011.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Em outubro de 2010, a balaustrada localizada na porção do pavimento superior

respectiva à sua lanchonete foi demolida, pois segundo Sr. Jorge, estava prestes a desabar.

Apesar da demolição, o atual proprietário guardou os balaústres, visando uma posterior

reforma e reposição dos mesmos. Há cerca de um mês, após adquirir a parte frontal do

edifício, o Sr. Jorge tratou de dar início a uma obra de reforma do prédio com objetivo de

recuperar o máximo possível da identidade formal da fachada. Segundo ele, há uma

91

Informações obtidas com o proprietário da lanchoete que fuciona no edifício, Sr. Jorge.

Page 89: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

88 arquiteta e um engenheiro auxiliando na obra e tem sido possível contar com o auxílio da

Secretaria Municipal de Planejamento.

Ainda há muito que ser feito, até então não foi decidido qual o destino a ser dado

aos dois blocos que foram anexados à fachada lateral e infelizmente a reforma não

contempla a porção interna do edifício com o mesmo teor das fachadas, afinal não seria tão

simples recuperar a configuração original dos espaços internos. A intenção é “aformosar” as

fachadas e repaginar os espaços internos levando em conta a dinâmica do edifício sem, no

entanto retomar sua originalidade (Ver Imagens 58 e 59).

Imagem 58: Recuperação dos ornamentos. Imagem 59: Ornamentos perdidos.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Page 90: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

89 4.6 – Hotel Bela Vista “O excêntrico Palacete da Praça dos Palmares”

4.6.1 - LOCALIZAÇÃO

Mapa 04: Mapa de Localização do Hotel Bela Vista.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

O prédio do Bella Vista Palace Hotel localizava-se onde hoje se encontra o edifício

Palmares à Praça Palmares no centro de Maceió, mais precisamente na Rua Luiz Pontes de

Miranda, em frente ao antigo Mercado das Flores (Ver Imagem 33 – Anexo I).

Sua proximidade com a Boca de Maceió e com a Estação Central provavelmente

devem explicar o porquê de ser tão citado nos jornais e anuários da época92. Era comentado

como prédio inusitado, de arquitetura estranha, porém pomposa, que atraía os visitantes

recém-chegados à Estação Central da Great Western não apenas por seu estilo e seu porte

nobre, mas pela proximidade com a estação e a comodidade que oferecia. (Ver mapa 04).

É importante também ressaltar a relevância do entorno na valorização do edifício,

pois na época a Praça dos Palmares não tinha o aspecto deplorável que possui atualmente.

Era “paisagisticamente” bem elaborada e mantida, era cercada por belos edifícios em

correspondência com o estilo vigente no século XIX, Ecletismo, e estava em uma área

privilegiada pro sua centralidade – próximo ao Centro, próximo da praia, não muito distante

da zona portuária e vizinho à Estação Central da cidade.

4.6.2 - HISTÓRICO

Sua construção se deu provavelmente entre 1922 e 1923, em um terreno de

45,20m x 28,40m, para sediar a residência de Arsênio Fortes, um alto comerciante da época

que lidava com negociatas de consignações e comissões (Ver Imagens 60 e 61). Depois de

certo tempo optou por dar um novo uso ao palacete, para tal organizou uma sociedade

anônima denominada S/A Bela Vista Palácio Hotel (SANT‟ANA, 1993).

92

Informações obtidas em levantamento feito na hemeroteca do Insituto Histórico e Geográfico de Alagoas, aalisando-se jornais como: O

Natal, O Bacurau e o Mercantil.

Page 91: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

90

Imagem 60: Hotel Bela Vista. Imagem 61: Construção do Hotel em 1922.

Fonte: CAVALCANTE, [S.d.]. Fonte: O Palácio, [S.d.].

Segundo RAMOS, a construção do palacete recebeu incentivo fiscal do governo

estadual através da Lei 94393 , sancionada pelo então Governador José Fernandes de

Barros Lima.

Foi inaugurado como Hotel Universal (Ver Imagem 34 - Anexo I) em 21 de Junho de

1923, em uma esplendorosa festa com direito a banquete, bandas de música da Polícia

Militar e do 20° Batalhão de Caçadores e a Orquestra do Cinema Floriano. (RAMOS, 2011).

O projeto ficou a encargo do arquiteto alemão Guilherme Jârgerfeld94. O edifício

possuía três andares, foi edificado em alvenaria e cimento armado. Possuía, segundo

Sant‟Ana (1993), 30m de altura e ocupava uma área de 1400m².

Segundo Ramos (2011), o hotel contava com 36 quartos, sendo 11 localizados no

subsolo, 11 no primeiro andar, 11 no segundo e 3 no terceiro. Além de todos os aposentos

contava ainda com cinco “terraços mosaicados” compostos por balaustradas artisticamente

elaboradas 95.

A turbulenta história de vida do hotel trouxe vários momentos instáveis. Sant‟Ana

(1993) afirma que dois anos após sua inauguração, em 31 de dezembro, fechou suas portas

pela primeira vez. Em 15 de março do ano seguinte as portas foram reabertas e novamente

fechadas dois anos depois, em 15 de maio de 1928.

Ainda segundo este autor, no ano seguinte, diante da autorização dos membros da

sociedade a qual pertencia, o Hotel foi a leilão, às 14h00 do dia 11 de abril de 1929, quem

arrematou o edifício foi a empresa de seguros Aliança da Bahia. A partir de então passou à

administração de Romeu dos Santos, no ano seguinte passou para o capitalista Adib Rabay,

que o explorou como hotel com o nome de Bela Vista Palace Hotel.

93 Art. 1° - Fica o Governador do Estado autorizado a conceder à Sociedade Anônyma, sob a denominação de <<Bella Vista Palácio Hotel>>,

por 15 anos, isenção de todos os impostos estaduais e quaisquer taxas presentes e futuras, assim como a isenção de imposto de importação para todo material entrado neste Estado com destino às obras, decoração e instalação do referido Hotel, até a sua inauguração. (RAMOS, 2011, p.3).

94

Como era muito comum na época contratar arquitetos de fora já que a profissão mal existia na região (Sant’Ana, 1993, p.84). 95 Nas noites era iluminado com energia elétrica própria, esta era gerada por dínamos acionados por motores “Deutz” movidos a gás.

Quanto ao abastecimento de água, é importante frisar que também contava com energia elétrica para bombear o montante armazenado em um poço tubular artesiano, de 46m de profundidade, para a caixa d’água locada a 24m de altura com capacidade para 16.000L (SANT’ANA, 1993, p.85).

Page 92: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

91

Na década de 1960 suas portas foram fechadas definitivamente. Em 1963 o prédio

foi vendido ao Instituto de Aposentadoria e pensões dos Industriários (IAPI) para que no

local fosse erguido seu edifício-sede. Sant‟Ana (1993) afirma que no dia 7 de outubro deste

mesmo ano teve início sua demolição.

O mesmo autor segue dizendo que no mesmo período corria na Assembleia

Legislativa do Estado um projeto de lei que autorizava a desapropriação do hotel por parte

do Estado, com o intuito de ali sediar a Secretaria da Educação e Cultura e a biblioteca

estadual. No entanto no local, acabou por ser edificado o Prédio-sede do Instituto Nacional

de Assistência Médica Previdência Social (INAMPS).

4.6.3 –ANÁLISE ESTILÍSTICA - Palacete

O estilo do palacete era Eclético composto por três planos enriquecidos com

balcões em balaustrada que se debruçavam em direção à bela sede da Estação Central, ao

mar e à glamorosa e arborizada Praça dos Palmares.

O edifício era arrematado por platibandas encimadas por guarda-corpos em

balaustrada finalizados por pináculos, esferas pequenos vasos e luminárias (Ver Imagem

17), além dos gradis que compunham os portões de acesso ao hotel (Ver Imagem 17).

Segundo Ramos (2011), trazia tendências de ArtNouveau96, mescladas às balaustradas do

terceiro piso (Ver Análise Estilística 4 - Anexo IV). Havia também uma ascendência

mourisca comunicada pela cúpula bulbosa que arrematava o cume da porção lateral em

forma circular da edificação, esta cúpula trazia aspecto escamoso, bem comum na época

(Ver Imagens 62, 63 e 64).

Imagem 62: Fachada do Hotel com suas balaustradas e gradis.

Fonte: MISA, S.d.

96

Estilo arquitetônico oriundo da Inglaterra e encabeçado por Willian Morris no intuito de reverter a pouca relevância estética que,

segundo ele, o século XIX significava. Um significativo nome deste estilo é Victor Horta. O estilo sugere a reaprocimação com a natureza e a negação da máquina industrial.

Page 93: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

92

Imagem 63: Vista da praia a partir do Hotel Imagem 64: Vista da Catedral Metropolitana a partir do Hotel mostrando sua cúpula mostrando uma luminária arrematando a varanda em balaustrada. Fonte: CAVALCANTE, 2011. Fonte: CAVALCANTE, 2011.

4.6.4 - SITUAÇÃO ATUAL

Como já dito anteriormente, em 1963 o edifício foi demolido (Ver Imagens 35 e 36 –

Anexo I) para dar lugar a uma edificação moderna que sediaria o INAMPS (Ver Imagens 37

e 38 – Anexo I), atualmente no terreno onde reinou o exuberante hotel, funciona o edifício

Palmares, em alusão ao nome da Praça. É possível notar as linhas modernas deste que

veio a substituir o palacete Eclético.

O caso do Hotel Bela Vista, denota uma grande perda na memória da cidade afinal,

este grande ícone da arquitetura Eclética na cidade de Maceió é, entre as edificações

encontradas no repertório da cidade, um dos maiores e mais significativos exemplares. Tal

fato se confirma a partir dos registros em jornais e folhetins da época, e até por depoimentos

de pessoas que conheceram a Maceió do período e que se encantavam com a exuberância

e com o teor exótico deste edifício. Como em outros casos já mencionados neste trabalho, a

dinâmica do bairro, Centro, modificou-se e para atender às novas demandas comprometeu-

se mais uma parcela da história de Maceió.

Page 94: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

93 4.7 – Hotel Palmares “O Compacto Recinto Eclético da Boca de Maceió”

4.7.1 - LOCALIZAÇÃO

Mapa 05: Mapa de Localização do Hotel Palmares.

Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).

O Hotel Palmares foi construído na Rua Barão de Penedo, em frente à Praça dos

Palmares, em uma área de enorme importância para a cidade em seu período de

desenvolvimento, por constituir uma das principais portas de entrada da cidade. (Ver

Imagem 65).

Imagens 65: Praça dos Palmares ainda conhecida como 16 de Julho.

Fonte: MISA, S.d.

Era nesse ponto da capital da Província, ao lado da estação da Great Western (Ver

Imagem 39 – Anexo I), que chegavam os trens, oriundos de outras regiões, cheios de novos

materiais, tecnologias, modas, costumes e demais inovações que contribuíam ao

desenvolvimento da cidade em ascensão.

4.7.2 - HISTÓRICO

A construção do Hotel Palmares data dos fins do século XIX, início do século XX,

porém não se sabe ao certo o ano de sua edificação, devido à carência de registros a

Page 95: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

94 respeito da mesma. Mas sabe-se que foi construído com o intuito de servir ao uso

residencial (informação verbal) 97.

Com o desenvolvimento do setor comercial de Maceió através do Porto de Jaraguá,

o número de visitantes e negociantes aumentou, e com o advento do transporte ferroviário a

mobilidade e a comunicabilidade entre as províncias só cresceu. Tais fatores foram

fundamentais para a instalação de diversos hotéis nestas proximidades, e o Palmares é o

único, entre os que circundavam a praça no século XIX, que existe.

4.7.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA – Construção Térrea com porão.

O Hotel Palmares possui um diferencial em relação aos outros exemplares

estudados neste trabalho, não obedece à nova tendência de edifícios descolados dos limites

do lote, desenvolvidos com total exuberância e grande porte (Ver Imagem 66). É pequeno,

sua forma encaixa-se no terreno quase que à moda colonial, não fosse pelo recuo frontal e,

possui apenas uma fachada voltada para a rua, todas as outras são cegas. Talvez esta

morfologia da edificação indique que sua construção se enquadre em um período inicial de

implantação do Ecletismo na região. Segundo Reis Filho (2004), em boa parte do país ainda

adaptava-se as inovações trazidas da Europa às disposições típicas do período colonial, e

tal fato significava suaves intervenções que ocorriam e modificavam a arquitetura do lugar

lentamente.

Imagens 66: Hotel Palmares e sua ausência de recuos.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Em sua fachada é possível ver sua essência Eclética ainda pontuada com arcos

plenos, cimalhas e algumas referências ao Neoclássico. Essa tipologia mesclada justifica-se

pelo uso de conchas (Ver Imagem 67) e acrotérios (Ver Imagem 68), oriundos do Barroco,

mesclados aos pináculos (Ver Imagem 69), e à forte presença dos gradis (Ver Imagem 70),

tipicamente Ecléticos, e o frontão reto interrompido (Ver Imagem 71), característico do

Neoclássico (Ver Análise Estilística 5 - Anexo IV).

97

Informação obtida com com o primo do atual proprietário da edificação, Cézar Marabá.

Page 96: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

95

Imagens 67,68 e 69 (respectivamente): Concha, Acrotério e Pináculo encontrados na edificação.

Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).

Imagens 70 e 71 (respectivamente): Gradis e Frontão interrompido na fachada da edificação.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Internamente, as paredes das áreas de circulação são revestidas com barrados em

azulejos que, segundo o proprietário, são portugueses. Os pisos destas áreas são de

ladrilho hidráulico e o forro em madeira. Nas salas e quartos têm-se os tetos também em

madeira, os pisos em assoalho de parquet, trabalhados com diferentes diagramações.

Ao todo são nove cômodos organizados entre dois corredores, um para circulação

geral e o outro para circulação interna dos quartos. Entre estes ambientes têm-se as duas

salas principais de entrada, os quartos, um banheiro comunitário e a cozinha. A edificação

conta ainda com uma varanda posterior que possuí uma escada de acesso ao porão. No

porão tem-se cerca de 10 pequenos quartos que acomodam-se no pé-direito baixo, não

possuem o mínimo de luxo e que fazem acreditar, ter sido aquela uma área exclusivamente

direcionada às atividades de serviço da edificação (Ver Imagens 40, 41 e 42 – Anexo I).

Caminhando-se um pouco mais para os fundos é possível notar um anexo feito

com dois blocos térreos divididos em pequenos quartos, dos quais não foi permitido tirar

fotos. A pequena fachada esconde, portanto uma grande área, dividida em diversos espaços

menores.

4.7.4 - SITUAÇÃO ATUAL

O Hotel foi comprado recentemente por Carlos Duarte, com o intuito de ser

demolido e transformado em estacionamento. Porém somente após a compra é que o

proprietário ficou sabendo que a edificação é parte do Patrimônio Público do Estado e não

pode ser demolida ou sofrer intervenções sem a autorização e participação da prefeitura. No

momento a intenção de ambos é encontrar compradores, caso isso não aconteça,

pretendem montar um pequeno restaurante aproveitando a disposição dos espaços internos

Page 97: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

96 do prédio (informação verbal) 98. Apesar de não se obter fotografias, ou plantas antigas

deste exemplar, é possível notar as nítidas intervenções feitas posteriormente na estrutura

do edifício. (Ver Levantamento das plantas e fachadas atuais – Anexo – III).

As mais evidentes são a colocação de grades “pega-ladrão” nos vãos da parte

frontal (Ver Imagem 72). A introdução de um barramento em azulejo nitidamente moderno

em relação ao conjunto da edificação (Ver Imagem 73). A colocação de uma pequena

jardineira em alvenaria na fachada frontal (Ver Imagem 73) e a construção de uma pequena

parede em tijolos vazada na porção posterior da fachada lateral esquerda (Ver Imagem 74).

Imagem 72: “Pega-ladrão”. Imagem 73: Jardineira. Imagem 74: Parede vazada. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Internamente tem-se também a introdução de azulejos na parte posterior do

edifício, não condizentes com o período de edificação do hotel. A introdução de uma parede

em chapisco marrom no Hall de entrada. E a colocação de forro em gesso nas duas

primeiras salas. Quanto à coberta, é possível notar que está distribuída em duas águas com

cumeeira perpendicular ao alinhamento da rua e em telhas de amianto 99 . Foi possível

identificar na edificação grande diversidade de patologias, como infiltrações, rachaduras,

proliferação de fungos e mofo, revestimentos deteriorados, surgimento de plantas

incrustadas na alvenaria como consequência do excesso de umidade infiltrada, além de

intervenções feitas aleatoriamente em total desarmonia com o todo da edificação.

O hotel Palmares é o único, entre os exemplares estudados nesse trabalho, ainda

existente que possui seu partido original conservado. Nunca sofreu processos de reforma ou

restauro. No momento vem sofrendo patologias associadas às intempéries e a falta de

manutenção, afinal, a intenção do atual proprietário não é, a de preservar o partido da

edificação e fazer uso de sua importância histórica e de sua estética. É antes a de demolir

para aproveitar a área do terreno para fazer um estacionamento, seguindo a lógica da nova

dinâmica do bairro. A edificação está, portanto na eminência de transformar-se em mais

uma lacuna na memória alagoana.

98 Informações obtidas com o primo do atual proprietário da edificação, Cézar Marabá. 99

Indicativo de que a coberta foi substituída já que as telhas de amianto são uma inovação posterior ao período em que acredita-se que a

edificação tenha sido construída.

Page 98: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

97 5 – Hotéis & Ecletismo: uma relação direta entre desenvolvimento comercial e a

imagem da " Maceió de Outrora"100.

Dentre o repertório arquitetônico de Maceió no século XIX, há um lugar de destaque

para o estilo Eclético, este estilo que representou a modernização da cidade, para se

adequar ao seu novo papel dentro da Província, para atrair cada vez mais investimentos e

proporcionar um maior desenvolvimento econômico a esta tão próspera localidade.

Entende-se que a arquitetura é um registro material imóvel da história e dos

acontecimentos do lugar onde se insere. A arquitetura Eclética implantada em Maceió conta

sua evolução, seu surgimento já no período imperial do país, seu poderio e o status que

alcançou no século XIX. Época em que a significativa produção de açúcar nos engenhos,

espalhados no interior da Província, associada às condições ideais de „atracamento‟ da

Enseada de Jaraguá, trouxeram um surto de prosperidade e desenvolvimento.

Tomando proveito dessas condições favoráveis ao seu desenvolvimento, Maceió

acabou por ser elevada à condição de capital e para manter seu status, e seu processo de

crescimento econômico, tratou de adaptar-se a tal condição “aformoseando-se”.

O estilo Eclético vem então transformar a Maceió com aspecto de vila, em cidade

moderna, desenvolvida e atrativa. Os hotéis da época associam-se a esse estilo, para

cumprir seu papel de “cartão de visitas” da cidade, abrindo suas portas a visitantes e

comerciantes. As respectivas localizações por si só, são indicativas da relação entre estes

hotéis e a dinâmica comercial da cidade.

O Ecletismo como um todo está vinculado, no caso de Maceió, ao desenvolvimento

comercial, ao fato de a cidade ter ascendido e prosperado de forma tão esplendorosa ao

longo de menos de um século.

Com efeito, estes hotéis representam parte da memória do apogeu comercial de

Maceió, mais precisamente de um dos momentos mais nobres que a sociedade maceioense

viveu, porém não são tratados como tais. Em sua maioria, os exemplares Ecléticos da

cidade passam despercebidos pelo olhar dos transeuntes, no bairro do Centro enormes

letreiros não permitem ver as ricas platibandas Ecléticas que se espalham pelas ruas

movimentadas do bairro.

Neste trabalho tratamos de exemplares de hotéis Ecléticos situados em dois bairros

antigos da cidade; o Centro e o Jaraguá. Este primeiro, como já dito, possui boa parte dos

exemplares ocupados servindo a usos comerciais e de serviço, não há porém a adequação

desses usos ao partido da edificação, pelo contrário, esta é que se adequa, na maioria dos

casos, à dinâmica do bairro. E em meio à disputa cada vez mais recorrente por áreas para

implantação de comércios nesta região, a essência Eclética vai se perdendo.

100

Expressão original de LIMA JÚNIOR, Félix. Maceió,2001.

Page 99: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

98

A passagem mais grave de descaso com a memória da cidade, em prol de

melhores resultados econômicos, é a do Hotel Bela Vista. Este foi demolido em meio ao

processo de modificação da dinâmica do bairro do Centro, a fim de ter seu terreno ocupado

por um edifício de grande porte, que receberia um novo uso atendendo ao ramo dos

serviços.

Pode-se citar também o Hotel Lopes como uma „vítima‟ dessa modificação tão

significativa no uso dos espaços no bairro. Com a evolução urbana e comercial o metro

quadrado no Centro foi ficando mais caro e assim os prédios antigos passaram a ser

desmembrados e locados a vários inquilinos, ou então a ser demolidos para dar lugar a

prédios maiores, aproveitando-se assim melhor o espaço. O Hotel Lopes tem hoje sua

estrutura totalmente dividida, cada parte pertencendo a um inquilino, cada um administrando

e mantendo sua porção da edificação ao seu modo. Tem-se assim uma completa

desconfiguração de seu partido original.

Internamente a planta não corresponde mais ao seu desenho original, assim como

seus revestimentos. Cada parte do edifício possui acessos independentes, disposições e

revestimentos avulsos. No Hotel Palmares as modificações foram menos abruptas, uma ou

outra intervenção isolada, algumas modificações de revestimentos e um anexo (edícula)

criado na porção posterior. Apesar de situar-se em meio a uma região de grande movimento

no Centro, e mesmo contra a vontade de seu proprietário, mantém-se de pé.

Já no Bairro do Jaraguá a transformação da dinâmica foi mais branda, este bairro

conserva ainda boa parte de seu elenco de edificações do século XIX, mas ainda assim,

uma modificação urbana trouxe grande perda a um dos exemplares de hotéis estudados

neste trabalho. O Hotel Atlântico, como já dito anteriormente, teve sua área reduzida à

metade com o desvio da desembocadura do Salgadinho na década de 1960. A partir daí

tiveram início uma série de transformações que criaram uma verdadeira lacuna em meio à

memória maceioense do período.

O único exemplo positivo que se tem entre os exemplares estudados é o do Hotel

do Palacete dos Machados, atual Museu Théo Brandão. Graças a uma intervenção por

parte da Universidade Federal de Alagoas em conjunto com a Caixa Econômica Federal,

que tratou de restaurar a edificação, trazendo de volta a exuberância que lhe é inerente.

Como resultado, tem-se uma série de ações que promovem o descaso para com

estes exemplares. O descaso não parte só dos proprietários, vinculando-se às suas

questões econômicas, mas também por parte do próprio governo. Afinal, é provável que a

demolição do Hotel Bela Vista e as transformações desordenadas na estrutura do Hotel

Lopes se deram sim, por iniciativa privada, mas só ocorreram pela falta de legislação (na

época) ou da aplicação da mesma.

No caso da intervenção sofrida no Hotel Atlântico tem-se um agravante, já que foi o

próprio governo que providenciou a demolição de metade de sua estrutura. A fim de criar

Page 100: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

99 uma via paralela à nova desembocadura do Riacho Salgadinho, que agora trazia junto

consigo os esgotos de boa parte da cidade.

Tais circunstâncias só nos deixam acreditar que a situação em que se encontra o

patrimônio maceioense, não apenas no tocante aos hotéis Ecléticos estudados, é

responsabilidade do Estado e da prefeitura, da falta de gestão e de aplicabilidade da

legislação vigente, até porque estes exemplares estão inseridos apenas em setores de

Preservação de entorno, como já citado anteriormente. Somente o Hotel Lopes está situado

em um Setor de Preservação Rigorosa (SPR – 01) e ainda assim não tem respeitado seu

partido, já que este enquadramento consta na Lei Municipal N° 5593 de 2007 e os registros

fotográficos deste trabalho mostram intervenções realizadas após o estabelecimento desses

setores. Cria-se assim um quadro de perdas irreparáveis na memória e na história da

cidade.

Uma possível solução para revalorizar entre os exemplares estudados os que ainda

existem, no contexto urbano da Maceió do século XXI seria atribuir-lhes usos relativos à

cultura e a atividades de divulgação turística. Caberia ao município, conjuntamente com o

estado, firmar acordos para instalar novos usos nestas edificações.

Seria importante ao mesmo tempo divulgá-las e tornar clara à população a sua

importância no tocante à história da cidade, afinal a desvalorização destes exemplares se

dá, em parte, pela falta de conhecimento da população. Para tal o ideal seria atribuir-lhes

usos relativos ao turismo, centros de hospedagem como pousadas e albergues para os

comerciantes que vem ao Centro da cidade, ou atividades culturais, como museus,

hemerotecas, livrarias.

A atribuição destes novos usos deveria para tanto considerar, além da ligação com

a história das edificações, a dinâmica atual do bairro. Seria preciso avaliar quais usos

relacionariam de forma satisfatória as ligações da edificação com seu passado e com o seu

contexto atual. Tal possibilidade permitiria preservar a integridade de tais edificações dando-

lhes usos que respeitem seu partido e sua história e que estabeleçam uma relação de

compromisso com a preservação e manutenção destas edificações. E pondo fim às

intervenções desenfreadas por parte da iniciativa privada, devolver o teor histórico dos

exemplares de Hotéis Ecléticos em Maceió.

Um bom exemplo de que esta possibilidade de reestabelecimento de usos a estas

edificações daria certo é o Museu Théo Brandão, único entre os exemplares estudados que

se encontra preservado e conservado. O estabelecimento do uso de museu para esta

edificação devolveu-lhe sua essência, e tem contribuído para preservar sua historia e seus

traços tipicamente ecléticos.

Nota-se assim, que não é impossível regatar a vitalidade destes exemplares, em

meio ao contexto urbano da “Maceió de agora”, se houver empenho em ressaltar-lhes a

importância que possuíam na “Maceió de outrora”.

Page 101: Trabalho Escrito - Mariana Brabosa - PDF

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103 Blog São Paulo minha cidade. Disponível em:

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Blog Ticarioca. Disponível em: < http://ticarioca.blogspot.com/2011/02/teatros-do-brasil.html> Acesso em: 03 Nov. 2011.

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104

7 - ANEXO I -

Imagens

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105

Imagem 01: Esquema Parlamento Britânico

Fonte: Radiometrópole.com, S.d.

. Imagem 02: Palácio de Exposições de Munique.

Fonte: Portal São Francisco, S.d.

Imagem 03: Palácio Hotel do Bussaco - Lisboa.

Fonte: Almeidahotéis.com,S.d.

Imagem 04: Palacete Numa de Oliveira – São Paulo.

Fonte: Blog São Paulo Antigo, S.d.

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106

Imagem 05: Desenho de Haussman para Paris, onde as linhas mais grossas representam novas ruas, os tracejados quadriculados representam novos bairros e o tracejado horizontal representa grandes parques

periféricos. Fonte: BENÉVOLO, 1999.

Imagem 06: Academia de Belas Artes.

Fonte: Blog Diretório Monárquico, 2010.

Imagem 07: Casa França-Brasil.

Fonte: Blog Via Arte, 2011.

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107

Imagem 08: Hospício dos Alienados. Imagem 09: INES. Fonte:LADEIRA, [S.d.]. Fonte:ROCHA, [S.d.].

Imagem 10: Conjunto arquitetônico no SAARA. Imagem 11: Conjunto arquitetônico Av. Mem de Sá. Fonte: Flickr, 2010. Fonte: Flickr, 2009.

Imagem 12: Jockey Club. Imagem 13: Palácio Laranjeiras.

Fonte: FERRAZ, 2009. Fonte: COLIN, 2006.

Imagem 14: Imaculada Conceição. Imagem 15: Sagrado Coração de Jesus. Fonte: Blog Louvores a Maria. Fonte: Blog Daqui do Méier, 2009.

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108

Imagem 16: Carro de boi no final do século XIX. Imagem 17: Banco de Londres. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001. Fonte: BARBOSA, Caroline (2008).

Imagem 18: Maxabomba. Imagem 19: Estação Central da Great Western. Fonte: TENÓRIO, 1979. Fonte: MISA, [S.d].

Imagem 20: Praça Napoleão Goulart. Imagem 21: Praça Sinimbú. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001. Fonte: MISA, [S.d].

Imagem 22: Avenida da Paz. Fonte: CAVALCANTE, [S.d].

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109

Imagem 23: Antigo Lyceu de Artes e Ofícios. Imagem 24: Ponte dos Fonseca. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.

Imagem 25: Fábrica Cármen. Imagem 26: Ponte dos Fonseca atualmente.

Fonte: Flickr, 2009. Fonte: FERRARE, 2008.

Imagem 27: Sala “Fé”. Imagem 28: Porão – Revestimentos e Assoalho à mostra. Fonte: OLIVEIRA, 2010. Fonte: OLIVEIRA, 2010.

Imagem 29: Antiga Maçonaria. Imagem 30: Sociedade Montepio dos Artistas.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2007). Fonte: MISA, S.d.

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110

Imagem 31: OAB. Imagem 32: Edifício Brêda Fonte: BARBOSA, Mariana (2007). Fonte: BARBOSA, Mariana (2007).

Imagem 33: Bilhete postal do Mercado das Flores. Imagem 34: Hotel Universal. Fonte: MISA, S.d. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001.

Imagens 35 e 36: Hotel Bela Vista em demolição.

Fonte: O Palácio, 2011.

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111

Imagens 37 e 38: Lançamento da pedra fundamental do INAMPS e o processo de sua construção.

Fonte: O Palácio, 2011.

Imagem 39: Estação Central da Great Western.

Fonte: DANTAS, Cármen Lúcia, S.d.

Imagem 40: Escada de acesso ao porão.

Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagens 41 e 42: Imagens do Porão. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

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112 ANEXO I – A

Análise comparativa do quadro evolutivo do Hotel Lopes entre 2010 e 2011.

Imagem 14: Recuperação da guirlanda. Imagem 15: Guirlanda incompleta. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Imagem 16: Recuperação da balaustrada. Imagem 17: Situação em que se encontrava a Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). balaustrada no ano de 2010. Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Imagem 18: Recuperação da balaustrada. Imagem 19: Situação em que se encontrava a da varanda da fachada lateral. balaustrada no ano de 2010. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Imagem 20: Almofadas recuperadas. Imagem 21: Almofadas deterioradas Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

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Imagem 22: Caixa de ar-condicionado retirada Imagem 23: Caixa de ar-condicionado para a recuperação da fachada. que descaracterizava a fachada Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). juntamente com a escada helicoidal. . Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Imagem 24: Fachada lateral em fase de Imagem 25: Fachada lateral ainda recuperação. com a marquise e encoberta Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). por letreiros. . Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

Imagem 26: Fachada lateral em fase de Imagem 27: Fachada lateral ainda recuperação. encoberta por letreiros. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).

.

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ANEXO I – B Alguns detalhes internos do antigo H. Palmares

Imagem 28: Afloramento de Imagem 29: Indício de Imagem 30: Forro em madeira espécie vegetal em meio fungos nas paredes em estado de apodrecimento à alvenaria. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 31: Apodrecimento e Imagem 32: Vedação Imagem 33: Gradil de ferro em surgimento de bolor nas do vãos de acesso em estado de corrosão. esquadrias. a um dos quartos Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 34: Rachaduras na em Imagem 35: Ferragens à Imagem 36: Substituição do Alvenaria. mostra. forro original por um em gesso. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

Imagem 37: Rachaduras na Imagem 38: Revestimento Imagem 39: Forro ventilado Alvenaria. das paredes danificado pela. em madeira danificado por umidade infiltrada. cupins. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).

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8 - ANEXO II -

Mapas

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Mapa 02: Mapa da cidade de Maceió datado de 1820, confeccionado por José da Silva Pinto - o primeiro mapa da cidade de Maceió. Fonte: “La produción de léspace à Maceió (1800-1930)” – MEDEIROS, Elaine, 2011. apud

CAVALCANTE, Verônica Robalinho. Tese de Doutorado. Universite de Paris/Paris, 1998.

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117

9 - ANEXO III -

Levantamento de plantas e fachadas das edificações

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10 - ANEXO IV -

Análise descritiva dos elementos que integram as fachadas das edificações