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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?
Mariana Aline Barbosa Pereira
Orientadora: Josemary Omena Passos Ferrare
Novembro de 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MARIANA ALINE BARBOSA PEREIRA
ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?
Trabalho Final de Graduação, elaborado pela graduanda Mariana Aline Barbosa Pereira, com foco em patrimônio pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pertencente a instituição Universidade Federal de Alagoas.
Orientadora: Profª. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare.
Maceió, Novembro de 2011.
PEREIRA, Mariana Aline Barbosa. Ecletismo e Hotéis em Maceió, alguma relação? Maceió, 2011.
Trabalho Final de Graduação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal de Alagoas, 2011.
Área: Patrimônio
Orientadora: Josemary Omena Passos Ferrare
1. Patrimônio 2. Hotéis 3. Ecletismo 4.Comércio de Maceió
MARIANA ALINE BARBOSA PEREIRA
ECLETISMO E HOTÉIS EM MACEIÓ, ALGUMA RELAÇÃO?
Trabalho Final de Graduação, elaborado pela graduanda Mariana Aline Barbosa Pereira, com foco em Patrimônio pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pertencente a instituição Universidade Federal de Alagoas.
Orientadora: Profª. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare
Aprovado por:
_________________________________________________
Prof. Dr. Augusto Aragão de Albuquerque Universidade Federal de Alagoas
_________________________________________________
Profa. Me. Thalianne de Andrade Leal Universidade Federal de Alagoas
_________________________________________________
Aqta. Esp. Maria Adeciany A. de Souza Centro Universitário CESMAC
Maceió, Novembro de 2011.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar aos meus maiores ídolos, sem os quais nada disto seria
possível, sem os quais a minha vontade não seria suficiente. Pai, Mãe, tudo o que eu
conquistei até aqui, eu dedico a vocês, à sua fé, ao seu amor e ao seu esforço.
Agradeço também a Deus, por me dar a fé que sempre precisei para acreditar que daria
certo e que todo o esforço seria recompensado. Agradeço também a ele por colocar no meu
caminho pessoas maravilhosas que me ajudaram direta e indiretamente em cada etapa
deste trabalho.
Às minhas irmãs por me inspirarem e encorajarem, por me apoiarem e darem força sempre.
À Professora Josemary Ferrare, que acompanhou cada passo deste trabalho, desde suas
primeiras ideias, quando ainda era um embrião, até as últimas revisões e ajustes. Por ter
continuado do meu lado mesmo diante das situações mais adversas, fazendo jus à minha
confiança em seu profissionalismo e dedicação, e sempre me acalmando e encorajando.
À minha equipe de Teoria do Restauro, Clarissa, Luana e Tuany, por terem me ajudado a
seguir em frente com a ideia do projeto de restauro para o Hotel Lopes, acompanhando
sempre meu amadurecimento, até a evolução do meu trabalho. Sempre compartilhando
comigo os dados e arquivos adquiridos ao longo da disciplina.
À minha prima querida Cristina e à Adeciany Souza por terem conseguido livros essenciais
para que eu complementasse meu referencial teórico. Em especial à Cristina por não medir
esforços em me ajudar sempre que precisei.
Não posso deixar de agradecer à SEMPLA, ao MISA, ao IHGA e em especial ao Professor
Benedito Ramos, diretor da Associação Comercial, por me permitirem acessar
exaustivamente seu acervo e me auxiliarem em minhas pesquisas.
Meu cunhado Marcos, que revisou meu trabalho, me ajudou em tudo o que precisei,
principalmente nos momentos finais e de maior stress, pelo mesmo agradeço à minha irmã
Mácia, por me ajudar todas as vezes que precisei.
Minha prima Adlany por disponibilizar tempo para revisar com todo o cuidado o meu
trabalho. E à Camila e Imyra por serem meu plantão de dúvidas o tempo todo!
Ao meu namorado, Murilo, por estar sempre ao meu lado, me levando e buscando, me
acompanhando nas pesquisas e levantamentos, além de me acalmar, dar força e entender
meus momentos de ausência, me incentivando sempre.
Também aos meus amigos e amigas por acompanharem e entenderem a correria, o stress e
a ausência destes últimos meses de trabalho.
Por último devo agradecer aos proprietários dos imóveis, que permitiram meu acesso, o
levantamento fotográfico e documental, me recebendo sempre com paciência e boa
vontade. Obrigada Cézar Marabá e Seu Jorge!
Enfim, agradeço a todos que tornaram a conclusão desta primeira etapa da minha carreira,
sonhando junto comigo e acreditando sempre em mim! A vocês não apenas agradeço, mas
dedico esta vitória!
Mariana Aline Barbosa Pereira
“Ecletismo é a linguagem eufórica da
liberdade calcada na nova tecnóloga.”
Carlos Lemos
RESUMO
Diante da atual situação do patrimônio arquitetônico da cidade de Maceió, é de se
esperar que sua memória se perca aos poucos em meio à demolições e intervenções
indevidas nas edificações, predominantemente decorrentes da herança arquitetônica da
cidade do século XIX. Dentre tal acervo, os exemplares, outrora de uso hoteleiro e em perfil
estilístico exerceram em meio ao ápice do desenvolvimento de seu comércio e economia e
de sua elevação ao posto de Capital da Província, o importante papel de "cartão de visitas"
para a cidade. Essa função ganhou ainda mais destaque com o advento ferroviário que
passou a comunicar mais facilmente a cidade com outras regiões, ampliando o alcance de
sua atividade comercial dentro do país, permitindo também a afluência crescente
de visitantes e comerciantes, atraídos pela prosperidade econômica da cidade. Para
registrar e compreender a relevância destes hotéis no contexto urbano da Maceió do século
XIX foi necessário entender a relevância dos mesmos, através da compreensão do
Ecletismo, de sua relação com as transformações urbanas que ocorriam no país e da
evolução histórica de Maceió, o que permitiu a inserção deste estilo na ex-vila que
experimentava o fascínio dos ares de cidade e capital, comercialmente bem desenvolvida.
Palavras-chave:
Patrimônio – Hotéis – Ecletismo – Comércio de Maceió.
ABSTRACT
Given the current state of architectural heritage of the city of Maceio, is to be
expected that its memory will be lost gradually through demolitions and inappropriate
century. Between those buildings, previously as hotels with an stylistic profile exercised,
through the apex of the development of this commerce and economy and its elevation to the
rank of provincial capital, the important role of city visitors‟ card. This function is even more
prominently after the advent of the railway that made the communication whit other regions
easier, expanding the reach of its business activity within the country and also allowing the
penetration of more visitors and traders attracted by the economic prosperity of the city. To
register and understand the relevance of these hotels in the urban context of Maceio in the
nineteenth-century, it was necessary to understand these relevance, through the
comprehension of Eclecticism, its relationship with the urban transformations that occurred in
the country and the historical evolution of Maceio, which allowed insertion of this style in the
ex-village that experienced the fascination of the airs of a developed capital city.
Keywords:
Heritage – Hotels – Eclecticism – Commerce of Maceio.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 01 Esquema dos períodos de atuação de dominância Eclética e Neoclássica
Imagem 02: Esquema de edificação Neoclássica
Imagem 03: Esquema de edificação Neoclássica em tipologia de entrada lateral
Imagem 04: Biblioteca Saint Geneviève
Imagem 05: Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Imagem 06: Esquema de disposição das casas coloniais
Imagem 07: Ilustração das ruas coloniais
Imagem 08: Avenida Central no início das obras de reforma
Imagem 09: Avenida Central pós-reforma
Imagem 10: Teatro Municipal de São Paulo
Imagem 11: Estação da Luz em São Paulo
Imagem 12: Recife Novo e seu conjunto de edificações Ecléticas
Imagem 13: Teatro Santa Isabel
Imagem 14: Teatro Municipal
Imagem 15: Edifícios com tom Eclético
Imagem 16: Teatro da Paz em Belém - PA
Imagem 17: Esquema de evolução das casas térreas para casas com porão alto
Imagem 18: Esquema de evolução das plantas residenciais antes e depois do fim do
trabalho escravo
Imagem 19: Forte São João
Imagem 20: Ship Chandler. Armazém de molhados de importação e exportação
Imagem 21: Phulmann & Cia. Exportadores de Açúcar e outros gêneros
Imagem 22: Trapiche Faustino
Imagem 23: Trapiche Jaraguá
Imagem 24: Trapiche Williams
Imagem 25: Trapiche Novo
Imagem 26: CATU
Imagem 27: Bilhete Postal – Ponte de Desembarque
Imagem 28: Bilhete Postal – Pça. Euclides Malta
Imagem 29: Bilhete Postal – Estação Central
Imagem 30: Bilhete Postal – Porto da Levada
Imagem 31: Hotel Avenida
Imagem 32: Hotel Avenida à esquerda da Praça 16 de julho
Imagem 33: Hotel Central ao fundo do lado esquerdo da foto
Imagem 34: Demarcação da atual desembocadura do Riacho Salgadinho
Imagem 35: Linha continua de edificações na Avenida da Paz
Imagem 36: Riacho Salgadinho antes do desvio de seu fluxo
Imagem 37: Trecho de balaustrada e pináculo aparentes
Imagem 38: Varandas e balaustrada aparentes
Imagem 39: Fachada frontal original do Hotel Atlântico
Imagem 40: Fachada lateral atual
Imagem 41: Fachada frontal atual
Imagem 42: Palacete dos Machados próximo ao ano de sua construção, ainda sem a cúpula
Imagem 43: Palacete dos Machados sendo visto a partir da margem do Riacho Salgadinho
Imagem 44: Museu Théo Brandão no período em que permaneceu fechado e sem
manutenção
Imagem 45: Gradis aludindo ao Guerreiro
Imagem 46: Janela fazendo alusão ao Muxarabi
Imagem 47: Praça Bráulio Cavalcante com o Hotel Lopes ao fundo
Imagem 48: Imagem antiga do Hotel Lopes
Imagem 49: Reconstrução das fachadas
Imagem 50: Divisão do hotel em Blocos
Imagem 51: Corte Longitudinal mostrando a laje intermediária
Imagens 52 e 53: A metade inferior dos vãos no pavimento intermediário e a outra metade
no pavimento superior, tornando clara a introdução posterior desta laje
Imagem 54: Hotel Lopes logo após o desmembramento
Imagem 55: Hotel Lopes ainda com todos os letreiros que encobriam sua fachada
Imagem 56: Hotel Lopes em janeiro de 2011
Imagem 57: Hotel Lopes em setembro de 2011
Imagem 58: Recuperação dos ornamentos
Imagem 59: Ornamentos perdidos
Imagem 60: Hotel Bela Vista
Imagem 61: Construção do Hotel em 1922
Imagem 62: Fachada do Hotel com suas balaustradas e gradis
Imagem 63: Vista da praia a partir do Hotel mostrando sua cúpula
Imagem 64: Vista da Catedral Metropolitana a partir do Hotel mostrando uma luminária
arrematando a varanda em
Imagem 65: Praça dos Palmares ainda conhecida como 16 de Julho
Imagem 66: Hotel Palmares e sua ausência de recuos
Imagem 67: Concha encontrado na edificação
Imagem 68: Acrotério encontrado na edificação
Imagem 69: Pináculo encontrado na edificação
Imagem 70: Gradis
Imagem 71: Frontão interrompido na fachada da edificação
Imagem 72: “Pega-ladrão”
Imagem 73: Jardineira
Imagem 74: Parede vazada
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 12
1 - O Ecletismo em seu berço Europeu e questões sobre sua essência ...................... 17
2 - A chegada do Ecletismo nas terras Tupiniquins1 ...................................................... 25
2.1 - A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil e a Missão Francesa trazendo o
Neoclássico ......................................................................................................................... 25
2.2 - A Manifestação do Ecletismo no Brasil ...................................................................... 28
2.3 - A modernização das cidades e da Arquitetura ........................................................... 35
3 - A evolução comercial das Alagoas e o advento dos transportes ............................. 39
3.1 - A conquista das terras alagoanas .............................................................................. 39
3.2 - A Enseada do Jaraguá e o desenvolvimento comercial de Maceió ............................ 43
3.3 – O papel do presidente Póvoas na elevação de Maceió a condição de cidade
e capital ............................................................................................................................... 50
3.4 - A modernização da nova capital ............................................................................... 53
3.5 - O advento das ferrovias e o aumento do fluxo de visitantes ...................................... 59
4 - Os Hotéis ecléticos de Maceió e sua participação no processo evolutivo da cidade ............................................................................................................................................ 65
4.1 - A importância destes hotéis nas atividades econômicas da cidade ........................... 65
4.2 – A localização dos Hotéis e a dinâmica criada por eles .............................................. 68
4.3 - Hotel Atlântico “O encanto Eclético da Praia da Avenida” .......................................... 71
4.3.1 - Localização ..................................................................................................... 71
4.3.2 - Histórico.......................................................................................................... 71
4.3.3 - Análise Estilística ............................................................................................. 73
4.3.4 - Situação atual ................................................................................................. 74
4.4 - Hotel do Palacete dos Machados – Théo Brandão “O Excelente Sobrado da Avenida
da Paz”2 ............................................................................................................................... 76
4.4.1 - Localização ...................................................................................................... 76
4.4.2 - Histórico.......................................................................................................... 77
4.4.3 -Análise Estilística .............................................................................................. 79
4.6.4 - Situação atual ................................................................................................ 80
1 Grupo Indígena brasleiro pertencente à Nação Tupi qu e deu orige ao uso do termo para caracterizar na língua
brasileira, aquilo que é nacional. (Povos Indígenas no Brasil, disponível em: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tupiniquim). 2 Expressão (MENEZES; BORA, 1990, apud FERRARE, 1999).
4.5 - Hotel Lopes “O „Quê‟ exuberante e sinuoso da Praça Montepio” ............................... 83
4.5.1 - Localização ..................................................................................................... 83
4.5.2 - Histórico......................................................................................................... 84
4.5.3 - Análise Estilística ........................................................................................... 85
4.5.4 - Situação atual ................................................................................................. 85
4.6 - Hotel Bela Vista “O excêntrico Palacete da Praça dos Palmares” .............................. 89
4.6.1 - Localização ..................................................................................................... 89
4.6.2 - Histórico......................................................................................................... 89
4.6.3 - Análise Estilística ............................................................................................ 91
4.6.4 - Situação atual ................................................................................................ 92
4.7 - Hotel Palmares “O Compacto Recinto Eclético da Boca de Maceió” .......................... 93
4.7.1 - Localização ..................................................................................................... 93
4.7.2 - Histórico......................................................................................................... 93
4.7.3 - Análise Estilística ............................................................................................ 94
4.7.4 - Situação atual ................................................................................................ 95
5 – Entre Maceió e o Ecletismo, o desenvolvimento comercial .................................... 97
6 - Referências ................................................................................................................ 100
7 – Anexo I - Imagens ...................................................................................................... 104
8 – Anexo II - Mapas ......................................................................................................... 115
9 – Anexo III – Levantamento de Plantas e fachadas ................................................... 117
10 – Anexo III – Análises descritivas dos elementos que integram as fachadas das edificações ...................................................................................................................... 138
12
INTRODUÇÃO
Em todo o mundo os séculos XVIII e XIX constituíram momentos de significativas
transformações. A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII transformou os
sistemas de produção manual. Segundo Pazzinato; Senise (1995), com a introdução da
máquina à vapor, o capitalismo passou então a ser o sistema econômico a vigorar no
período. Surgiram com a Revolução novas matérias-primas, em especial os minerais e
incrementou-se a indústria. Surgiu também uma nova classe, a burguesia, que acumulava
os lucros da produção, concentrava a propriedade das fábricas e enriquecia em função da
produção em massa, efetuada por operários e máquinas, nas diversas fábricas que se
espalharam pela Inglaterra na época.
Teve início assim a incorporação das colônias, enquanto produtoras de matérias-
primas, no sistema capitalista e o grande aumento da população nas cidades, atraída pelas
oportunidades de emprego das indústrias em crescente desenvolvimento.
Tem-se então um cenário de transformações em que a população se diversifica não
somente no tocante à miscigenação de raças, oriunda da “globalização” trazida com a
Revolução, mas também no tocante à estratificação social consequente do acúmulo de
riquezas nas mãos da burguesia, e do empobrecimento da classe operária.
Para além de todos os benefícios que trouxe, a Revolução Industrial também
aumentou a pobreza, distanciou ainda mais as classes sociais, quase criando um verdadeiro
abismo entre estas. As cidades passam a ser ocupadas indiscriminadamente pela
população crescente, aumentam os cortiços, e as condições de vida insalubres nas
periferias destas.
A Revolução industrial acabou por influenciar o surgimento de diversos conflitos em
torno da necessidade de se conseguir territórios para escoar a produção em massa das
indústrias, esses conflitos culminaram com a Primeira Guerra Mundial em 1914 (Pazzinato;
Senise,1995).
As consequências da Revolução Industrial causaram nas cidades a geração de um
cenário negativo, impessoal. E a ambiência industrializada trouxe a necessidade de se criar
um cenário positivo, revalorizando a identidade local, passa-se então a buscar no passado
idealizado, uma tentativa de resgate da identidade dessas nações, para tal algumas cidades
resgatam o estilo medieval, outras buscaram os referenciais do repertório classicista.
Essa tendência de idealização do passado originou o Ecletismo e os Revivals, entre
eles o Neoclássico e o Neogótico.
Apesar de todas as críticas, o Ecletismo teve grande importância na transformação
das cidades no século XIX. Juntamente com o Neoclássico, trouxe a idealização do retorno
ao passado e o resgate da identidade de elementos culturais que se diluíram em meio à
Revolução Industrial. Porém o Ecletismo, diferentemente do Neoclássico, conduzia essa
idealização do passado com liberdade estilística, sem se prender necessariamente aos
13 parâmetros de um ou outro estilo, e trazia também a valorização de culturas exóticas,
enquanto o Neoclássico recorria tão somente na fonte do Classicismo.
Apesar de ambos os estilos se originarem de uma tendência historicista oriunda de
fundamentos da Academia, o Neoclássico teve uma abordagem apriorística sobre a tradição
Clássica e surgiu na Europa. Já o Ecletismo revisitava o passado incorporando elementos
de diferentes estilos, contudo, buscando também uma liberdade de fugir à regras e cânones
que não se via no Neoclássico, ao tempo em que introduzia em suas composições,
elementos de origem Neobarroca, Mourisca, Neogótica, entre outros.
No Brasil este espírito idealizador chegou a partir da vinda da Corte Portuguesa em
1808, somada ao advento da Missão Francesa (1816) e a fundação da Academia de Belas
Artes.
O Neoclassicismo já se manifestava de forma mais singela em algumas edificações
da época, mas foi encorajado pelo movimento artístico francês, quando aos poucos os ares
de colônia começavam a ser modificados com o estabelecimento da sede do governo
português no Rio de Janeiro, que passou ser a capital do Império.
Com o tempo as edificações em sistema porta-janela, com simples cobertas em
duas águas, cumeeira paralela à rua, telhas de capa-canal nos beirais com paredes
estruturadas em pau-a-pique, e coladas nos limites dos lotes. Deram lugar a casas de
porão-alto e sobrados com platibandas decoradas e/ou cobertas elaboradas com mais de
duas águas e com rufos, arrematadas por jardins laterais, e construídas em alvenaria de
tijolos batidos. Até então a arquitetura civil brasileira era representada pelas construções
coloniais e Barrocas, tendo este ultimo estilo uma maior ênfase na arquitetura religiosa.
Porém, tais transformações não foram instantâneas, foram parte de um processo
em que, segundo Reis Filho (2004) as primeiras edificações construídas neste período de
modificação, mantinham os padrões coloniais, aplicando-lhes apenas algumas singelas
características diferenciadas. Tinha-se a princípio o mesmo padrão de casas coladas nos
lotes que iam inovando as cobertas com rufos e quedas d‟água, sobrepunham-se agora em
porões altos e recebiam discretos balcões em balaustrada.
Reis Filho (2004) afirma ainda que aos poucos com a abertura dos portos e
ingresso do Brasil no mercado mundial é que se tornou possível importar novas técnicas e
materiais. As casas térreas e sobrados começaram a serem arrematadas por platibandas
decoradas por ornamentos em forma de estátuas, guirlandas, fruteiras e conchas; as portas
e janelas das casas recebiam agora bandeiras de vidro, além das balaustradas, peitoris em
ferro e „pseudo-pilares‟.
As técnicas construtivas tenderam a se modernizar ainda mais com o fim da
escravidão, que impulsionou a imigração de mão-de-obra europeia. E já na segunda metade
do século XIX, com o crescimento da exportação de café tornou-se ainda maior a
14 importação de materiais e equipamentos, o que aprimorou ainda mais o sistema construtivo
brasileiro.
Com o fim do período imperial essas cidades passaram a ganhar feições ainda
mais modernas, pois no intuito de romper com os laços da colonização portuguesa, e do
domínio econômico britânico, adotou-se a cultura francesa como fonte de inspiração aos
próximos passos de modernização das cidades brasileiras. Esse processo se deu pelo fato
dos franceses não estarem ligados ao sistema que por tantos anos podou o crescimento da
nação. A partir de tais acontecimentos tornou-se mais nítida a substituição das feições de
simplicidade colonial por uma verdadeira onda de edificações de matriz estilística
Neoclássica e depois Eclética.
É certo que a evolução de cada cidade brasileira teve suas motivações e seu
tempo. Conforme já se comentou, o Rio de Janeiro começou a mudar suas feições coloniais,
ao tornar-se sede do governo português, após a chegada da Corte em 1808. Já São Paulo
modernizou-se um pouco mais tarde, através da evolução do Ciclo do Café.
Maceió, cidade objeto de estudo deste trabalho, teve o embelezamento de suas
feições impulsionado pelo desenvolvimento comercial resultante das relações de exportação
e importação realizadas na Enseada de Jaraguá3.
Maceió cresceu a partir deste desenvolvimento econômico, e teve no século XIX
uma grande mudança em sua ambiência. A modernização oriunda do aumento da facilidade
de comunicação com outras regiões e o aumento também da importância de Maceió dentro
da Província, gerou a necessidade de uma mudança de postura.
No início do século XVIII a Província vivia um clima de instabilidade oriundo da
Invasão Holandesa (século XVII) e do domínio da oligarquia rural, essa questão foi resolvida
com a criação de uma Comarca para a região em 1712. Aos poucos com o desenvolvimento
comercial crescente, a dependência das praças de Pernambuco e Bahia foi se reduzindo. E,
quando se emancipou de Pernambuco, e tornou-se uma capitania, Alagoas passou a ter seu
comércio local incrementado e a se abrir ainda mais ao comercio externo, passando
também a possuir governo próprio.
A partir da nomeação de um governador para Alagoas, gerou-se uma verdadeira
disputa para sediar a capital, começam então as especulações em torno de Alagoas do Sul
e Maceió. Após um longo processo, atrasado pelos produtores rurais e pela resistência de
Alagoas do Sul, Agostinho da Silva Neves nomeia, em um único decreto no ano de 1839,
Maceió como cidade e capital da Província das Alagoas.
Os ares ainda de vila, com um tom de reminiscência colonial, edificações ainda
coladas nos lotes, que revelavam simplicidade construtiva, ainda associada à singeleza de
3 Localização do Porto de Maceió que foi o responsável pela ascenção comercial e econômica da pequena vila, conferindo-lhe
posteriormente condições para sediar a capital da Província.
15 materiais e formas, aos poucos foram dando lugar à „glamourosas‟ edificações que
sediavam seus mais importantes órgãos públicos.
Aos poucos, modificaram-se também os perfis das residências, das casas
comerciais e demais estabelecimentos. Para fazer de Maceió uma capital, buscou-se o que
havia de mais novo no mundo Europeu, e então, o “aformoseamento” da nova cidade foi
conduzido de acordo com os padrões da Arquitetura Eclética, por ser esta a tendência que
vigorava na Europa, com ascendência na França.
A partir de então a cidade passou a receber também infraestruturas e desenvolveu
o sistema de transportes, o que deu suporte para que pudesse se comunicar com outras
regiões, e passasse a receber cada vez mais negociantes, que viam nela um lugar próspero
e com ótimas condições econômicas.
Neste contexto a cidade foi recebendo investimentos, atraindo cada vez mais
capital e explorando ao máximo seu potencial econômico. As novidades chegavam através
do Porto, e modificavam não apenas a arquitetura e o ambiente urbano, mas também os
hábitos da população que importava cada vez mais costumes europeus. Emergia com o
apogeu comercial uma classe burguesa que colhia os lucros da vida comercial no porto de
Jaraguá. Essa burguesia contribuía para embelezar a cidade com admiráveis palacetes e
sobrados.
No tocante às mudanças urbanas, a implantação de infraestruturas associada à
importação de costumes europeus, fez com que as ruas deixassem de ser local de
passagem e virassem agora um elemento de apreciação. A cidade passou a receber praças
e canteiros “paisagisticamente” bem tratados. E com o passar do tempo criou-se um cenário
capaz de atrair cada vez mais visitantes e comerciantes.
Foi em meio a essa paisagem esplendorosa que muitos dos Hotéis que se
instalaram em Maceió, assumiram importante papel de cartão de visitas da cidade,
completando, com vocabulário de arquitetura eclética, sua imagem de desenvolvimento e
prosperidade.
No momento em que a cidade passou a se comunicar mais diretamente com outras
regiões, os hotéis constituíam a primeira impressão de visitantes e comerciantes que vinham
à Maceió. Estes eram cada vez mais atraídos por sua economia próspera, associada agora
à facilidade trazida pelo advento ferroviário, que reduzia as distâncias e enquadrava Maceió
nos roteiros de comercialização com cada vez mais frequência.
O foco deste trabalho está na compreensão da importância destes hotéis em meio
à paisagem urbana da cidade na época do recorte temporal destacado, que vai desde 1839
até 1922, e sua relação com o desenvolvimento comercial e econômico de Maceió. Este
recorte abrange o início das transformações urbanas que aconteceram em Maceió, por ser
esta a data de sua elevação ao posto de cidade e capital da Província das Alagoas, e o
período de construção dos hotéis Ecléticos em Maceió. O final deste recorte é delimitado
16 pela data de inauguração do Hotel Bela Vista, um dos mais significativos exemplares
estudados nesta pesquisa4.
Os hotéis abordados neste trabalho foram selecionados por pertencerem ao estilo
Eclético e por localizarem-se no eixo Centro-Jaraguá da cidade. Um olhar mais atento às
imediações destes dois bairros permitiu a localização de quatro edificações em estilo
Eclético que funcionaram como hotéis no recorte temporal estudado neste trabalho, são elas
o Hotel Lopes, o Hotel Palmares, o Hotel Atlântico e o atual Museu Théo Brandão.
A partir de levantamentos e pesquisas que fundamentaram este trabalho foi
possível descobrir a existência de mais um hotel eclético na área do Centro, o Hotel Bela
Vista, que foi demolido na década de 1960 e deu lugar ao Edifício Palmares.
Entre as áreas de localização destes hotéis, a que mais concentrou exemplares foi
a Praça dos Palmares, onde ainda foi possível identificar outras edificações hoteleiras não-
incluídas neste trabalho por não pertencerem ao estilo Eclético, são elas o Hotel Avenida e o
Hotel Central.
Objetivando ainda este trabalho, destacar o pouco que permanece dentre os
exemplares de Arquitetura Eclética de uso Hoteleiro, para contar esta história e entender
como ela se comunica/relaciona com os acontecimentos que os determinaram ao longo do
tempo. Fez-se necessário para tal, conhecer os acontecimentos que guiaram as
transformações arquitetônicas, culturais, políticas e urbanas que ocorreram em Maceió no
século XIX e a ligação destes acontecimentos a nível regional com o ambiente político e
cultural do resto do mundo.
4 A escolha deste exemplar para delimitar o recorte temporal está no fato de ser ele o único a possuir registros documentais que indiquem
sua data de construção.
17
1 - O Ecletismo em seu berço Europeu e questões sobre sua essência.
“Eclética seria, num sentido estrito, a arquitetura que associa num mesmo edifício referências estilísticas de diferentes origens [...]” (BRASIL, 2009, p.6).
Há muito a palavra Ecletismo é justificada pela junção de elementos escolhidos de
diferentes estilos formando um “todo”. O termo pode aplicar-se, segundo Brasil (2009) não
somente a arquitetura, mas também ao jeito de vestir-se, a um sistema moral ou ao gosto
pessoal.
No século XIX, Victor Crousin propõe um sistema filosófico que dá ao Ecletismo
uma conotação diferente na medida em que, para ele este estilo buscava:
Distinguir entre o verdadeiro e o falso nas diferentes doutrinas e, após um processo de depuração e separação pela análise e dialética, reunir as verdades de cada uma em um todo legítimo para obter uma doutrina melhor e mais ampla. (BRASIL, 2009, p.5).
Na Europa, a curiosidade pelo exótico e desconhecido, gerava a incorporação,
cada vez mais recorrente, de elementos alheios à sua cultura. Essas tendências típicas das
civilizações europeias ganharam impulso com o advento da máquina a vapor associada aos
transportes – trens e navios, e desse modo, as distâncias foram reduzidas e as culturas
cada vez mais aproximadas. A Europa passa então a promover trocas cada vez mais
periódicas com outras nações.
O mesmo maquinário, aliado à preponderância militar das potências industriais, acarretou um novo tipo de colonialismo europeu, forçou a partilha da África e atingiu o Oriente, indianos circulavam em Londres, ingleses na África do Sul. Havia franceses na Argélia e libaneses em Paris. Essas diferenças culturais deviam ser acomodadas e provocar por bem ou por mal, a coexistência e as trocas (BRASIL, 2009, p.5)
Pode-se dizer que a Revolução Industrial, século XVIII, motivou essas trocas
culturais por diversas razões; reduziu as distâncias com a criação da máquina à vapor e
consequente evolução nos meios de transporte, levou ao aumento e miscigenação de
culturas nas cidades devido ao fato de atrair cada vez mais as pessoas do campo, e os
imigrantes para as grandes cidades em busca de oportunidades de trabalho nas fábricas. E
foi devido a este aumento da população que surgiram nas cidades os cortiços e habitações
coletivas, as condições de trabalho eram cada vez mais desumanas, os salários cada vez
mais baixos e, por consequência, as condições de moradia eram cada vez mais inópias.
Criou-se assim um cenário negativo dentro das cidades; onde os subúrbios
empobrecidos e com condições precárias de salubridade somavam-se à impessoalidade
trazida pelas inovações tecnológicas que invadiam os centros urbanos.
Não se deve negar o fato de que a Revolução Industrial trouxe inúmeros benefícios
ao desenvolvimento das cidades entre os séculos XVIII e XIX. Porém trouxe também uma
18 nítida estratificação social, onde a burguesia passou a enriquecer cada vez mais,
acumulando os lucros gerados com o incremento da atividade industrial, e a classe
trabalhadora, passou a trabalhar cada vez mais em condições piores.
A partir deste cenário negativo, começa a existir um sentimento nostálgico, de
saudade do passado e a vontade de buscar a identidade dessas cidades que já se perdera
em meio ao “boom” inovador trazido pela Revolução Industrial. Começa-se então a idealizar
esse passado, e a trazê-lo à tona.
Neste mesmo período surgem duas correntes francesas e de origem universitária; a
da Academia e a da Engenharia. Segundo Brasil (2009) a corrente da Academia Royale
d‟Architecture (1671) é a mais antiga escola de ensino superior em Arquitetura e foi
transformada por Napoleão na Ecole Nationale Supérieure dês Beaux-Arts. Já a da
Engenharia veio mais tarde, e em 1750 foi fundada a Ecole dês Ponts et Chaussées de
ensino superior de engenharia e em 1793 foi transformada em Ecole Polytechnique. Ambas
serviram como referência no ensino da arquitetura e da engenharia para outras escolas do
resto do mundo. Enquanto a corrente da Engenharia adotava métodos matemáticos, e
soluções pragmáticas, a corrente da Beaux–Arts era tradicionalista, tratava a arquitetura
como uma arte, aplicando-lhe os princípios de proporção, simetria e equilíbrio.
Mais tarde, ainda segundo Brasil (2009) em meados do século XVIII a Beaux-Arts,
diante da tendência romântica de idealização do passado, que aflorava naquele momento,
introduziu em seus ensinamentos o conceito de Historicismo5.
O caráter dessa corrente Historicista era nacionalista, visava valorizar a cultura
local de cada país, e a partir de então, surge na Inglaterra o Neogótico, que pode ser
representado pelo Parlamento Britânico (Ver Imagem 01 – Anexo I), um marco de seu auge.
No Norte da Europa6 surge o Neoclássico, também no século XVIII, retomando a essência
dos templos greco-romanos e que pode ser representado pelo Palácio de Exposições de
Munique (Ver Imagem 02 – Anexo I). Mais tarde essa tendência se espalha por outros
países e começam a surgir outras correntes revivalistas como o Neoromânico e o
Neobarroco. Em Portugal, por exemplo, tem-se no século XIX o surgimento do
Neomanuelino7, exemplificado pelo Palácio Hotel do Bussaco (Ver Imagem 03 – Anexo I), e
no Brasil aparece o Neocolonial 8 , que pode ser representado pelo Palacete Numa de
Oliveira em São Paulo (Ver Imagem 04 – Anexo I), uma tendência que surgiu e disseminou-
se, a partir da década de 1910, remetendo às edificações típicas da época do Brasil Colônia
(Itaú Cultural, 2010).
5Uma tendência revivalista que surgiu na Europa no século XVIII, teve seu apogeu no século XIX e perdurou até meados do século XX.
6 Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.
7Corrente Revivalista que surgiu em meados do século XIX e que referencia o estilo Manuelino, que seria um gótico português tardio
(NotaPositiva.com, por Catarina Viegas). 8 Retomada do Barroco e do Rococó, resgatanto as obras de Mestre Valentin e Aleijadinho (Itaúcultural.org.br).
19
Reitera-se que, tanto o Neoclassicismo quanto o Ecletismo, tiveram sua origem na
vertente da Academia, através da introdução do conceito de Historicismo (BRASIL, 2009).
No entanto são os exemplares do Neoclássico, surgido aproximadamente na década de
1770 em meio ao fervor revivalista, que predominavam o período.
O estilo Neoclássico, como já dito, surgiu no Norte da Europa, em meados do
século XVIII, Século das Luzes, onde a partir das ideias iluministas surgem várias
academias no intuito de formar artistas e distribuir conhecimento. Nessas academias a
Antiguidade Clássica ganha destaque e acaba por originar um novo estilo que rebuscava os
preceitos essenciais do Classicismo. Esse estilo demonstrava um claro interesse, através do
uso de elementos da cultura clássica, em ir de encontro às tendências do Barroco e Rococó,
para assim romper com o uso marcante do ornamento, da sinuosidade, do jogo de formas e
volumes. Para conduzir tal anteposição, o Neoclássico trazia os princípios de ordem,
simetria, equilíbrio, e toda a sobriedade e pureza de formas da estética do Classicismo
(BRASIL, 2009)(Ver Imagens 02 e 04).
Já o Ecletismo surge, como corrente principal, mais ou menos na década de 1840
(Séc. XIX), e nasce da intenção de se contrapor à preeminência Neoclássica, que trazia
uma arquitetura inspirada nos princípios Greco-romanos e que era imbuída de regras e
preceitos. Para tal, segundo Brasil (2009), o Ecletismo fazia uso da riqueza de elementos de
estilos utilizados anteriormente, rebuscando uma concepção de passado idealizado e
romântico. Suas composições mostravam-se ricas em ornamentos (Ver Imagem 03 e 05).
Para Leonardo Benévolo,
[...] O Ecletismo não se interpreta mais como uma posição de incerteza, mas como um propósito deliberado de não encerrar-se em nenhuma formulação unilateral, de julgar caso por caso, objetiva e imparcialmente. (BENÉVOLO apud REIS FILHO, 2004, p.183).
Imagem 01: Esquema dos períodos de atuação de dominância Eclética e Neoclássica.
Fonte: Guia da Arquitetura Eclética no rio de Janeiro, (p.7,2009).
Como principais diferenças entre ambos os estilos tem-se; a simetria, sobriedade,
equilíbrio, contenção e formalismo Neoclássico, diante do movimento, sinuosidade,
liberdade estilística, dramaticidade, comodidade, expressividade, esplendor, sentimento e
exuberância plástica do Ecletismo (BRASIL, 2009).
20
Imagem 02: Esquema de edificação Neoclássica. Fonte: Adaptado de Blog Renascimento, S.d.
Imagem 03: Esquema de edificação Neoclássica em tipologia de entrada lateral.
Fonte: REIS FILHO, p.47, 2004.
Imagem 04: Biblioteca Saint Geneviève. Imagem 05: Teatro Municipal do Rio de Janeiro - Neocássica. - Eclético. Fonte: Blog Parci Parla, S.d. Fonte: Blog Archi in Brazil, S.d
Ao Neoclassicismo importava menos o conforto do cidadão do que a formação do
seu pensamento:
Se, para o Ecletismo, a ornamentação acentua a dramaticidade cenográfica da composição, confere luxo à arquitetura, excita e diverte a vista com detalhes preciosos; para o Neoclassicismo, teve função completamente diferente: visava a ressaltar o sentido de ordem e disciplina didática, a pôr em relevo com simplicidade e economia, forma a essência do edifício com contenção e nobreza (BRASIL, 2009, p.12).
A palavra Ecletismo tem origem do Grego onde [Eclego = escolher, tomar]
significando uma atitude de acomodação, de adequação. [Eclesia = reunião] no tocante à
21 escolha. Brasil (2009) afirma que diante do crescimento acelerado das cidades, resultante
da Revolução Industrial, a “acomodação” eclética veio a calhar, pois diante do gosto pela
retomada do passado idealizado, entre todas as correntes revivalistas que surgiram entre os
séculos XVIII e XIX, a liberdade estilística do Ecletismo passou a satisfazer os ideais de uma
sociedade que estava cada vez mais diversificada e que não mais se adequava aos moldes
regrados do Neoclássico.
Outro importante fator para a inserção do Ecletismo nesta sociedade foram as
consequências da urbanização caótica decorrente da Revolução Industrial, a partir de
quando surgem as plantas utópicas que propõem cidades verdes, limpas e repletas de ar
puro, contrapondo-se totalmente ao cenário „poluente‟ criado pela “era industrial”. Introduz-
se assim um conceito de higiene e princípios ecológicos dentro das cidades. Nesse contexto
o Ecletismo entra como o estilo utilizado para erguer as edificações de cidades que
recuperavam sua paisagem, e assim mesclava as tendências antigas dos estilos passados
com as inovações tecnológicas que surgiam na época, e que facilitavam a concepção da
parte estrutural das obras (BRASIL, 2009).
Também com o advento da industrialização é que nasceram novos programas que
já se adequavam às exigências da atividade industrial. É nesse período que aparecem
edificações feitas totalmente em ferro, tornando-se inclusive uma tendência no período
(1880-1910), propiciada pela exportação de edifícios pré-fabricados em ferro na Europa para
diversos países (GOMES, 2011). Os países importadores da „arquitetura do ferro‟, as ex-
colônias de Portugal, Espanha e França. Ou seja, as “novas nações americanas”, assim
pontuadas pelo arquiteto Geraldo Gomes em sua vasta obra sobre o estilo eclético.
Gerou-se mesmo grande dependência dessas novas nações em relação aos países
europeus. Era uma dependência não apenas econômica, mas também cultural, pois:
O progresso e o desenvolvimento passaram a ser medidos pela capacidade de seguir hábitos, moda e consumo de produtos industriais, arquitetura [...] Assim, cidades portuárias situadas em países subdesenvolvidos cresceram rapidamente com negócios de importação e exportação, provocando necessidades que tiveram de ser satisfeitas com novos serviços, novos edifícios e novos materiais, como o ferro. (GOMES, 2011).
Ainda segundo Gomes (2011) Devido ao fato de não serem concebidos
relacionando-se com seu local de inserção, os edifícios de ferro eram, por muitas vezes,
desconsiderados enquanto arquitetura. O ferro esteve presente a princípio como elemento
de composição das fachadas: balcões, guarda-corpos e outros elementos compositivos em
ferro fundido, que antecipavam as edificações pré-moldadas que estavam por vir. Esse novo
elemento que invadia a produção arquitetônica do período também foi o responsável pela
expansão das ferrovias, que com a Revolução Industrial e o consequente desenvolvimento
das indústrias de metais nas cidades só tendiam a se desenvolver ainda mais.
22
Almeida (1997) afirma que na segunda metade do século XIX a escolha dos estilos
acabou por, de certa forma, se reduzir ao revestimento, à parte decorativa da edificação, e é
nesse período que surgem as maiores críticas à produção Eclética.
Todavia, durante muito tempo o Ecletismo foi alvo de argumentos pejorativos que o
tinham como uma redução do que seria de fato um estilo arquitetônico.
Em 1880 o crítico italiano Camilo Boito declarou ser o Ecletismo uma “Babelê
formalística”. Auguste Ghoisy, em sua História da Arquitetura de 1889 apontou a profusão
de estilos da arquitetura de seu tempo tratando-a como “uma arte reduzida a viver nos
fundos do passado, à espera do surgimento de uma ideia original, de um princípio que lhe
seja próprio”. Segundo Brasil (2009), outros ainda o referenciavam como “bolo de noiva”,
“arquitetura bizarra”.
Entre vários posicionamentos, vale destacar autores como PATTETA, que definiu o
Ecletismo como:
Uma cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa que dava primazia ao conforto, amava o progresso (especialmente quando melhorava suas condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a produção artística e arquitetônica ao nível da moda e do gosto (1987, p.13).
Já para Almeida (1997) o Ecletismo significava “complexa riqueza a nível teórico e
figurativo da produção arquitetônica, ainda tão ignorada, que se adequa perfeitamente ao
processo de modernização das cidades”.
Collins analisou o Ecletismo ignorando a visão pejorativa que a maioria teve sobre
este movimento e rompeu o preconceito modernista em relação ao ornamento,
“considerando-o como uma perspectiva fundamental para o entendimento do seu significado
simbólico na arquitetura Eclética, contextualizando sua aplicação” (ALMEIDA,1997 apud
COLLINS, 1977, p.25).
Refutando todos esses posicionamentos críticos, entende-se que o Ecletismo traz
um repertório de grande riqueza formal, que faz uso da liberdade estilística para buscar em
diversas fontes e juntar em uma unidade, elementos de estilos e origens diferentes. Em
suma, entende-se que o Ecletismo resultou por significar um estilo inovador, que não se
ateve às tendências unilaterais, como o fizeram os estilos revivalistas, voltando é bem
verdade ao passado e resgatando dele subsídios para um estilo que mescla intenções
historicistas e elementos emergentes da industrialização em uma arquitetura ímpar.
Toda a diversidade do Ecletismo acabou por ser interpretada e aplicada de forma
diversa, por diferentes princípios estilísticos. Luciano Patetta (1987) descreve essas
diferentes interpretações/aplicações do Ecletismo classificando-as em três tipos:
“Composição Estilística”, o “Historicismo Tipológico” e os “Pastiches Compositivos”. De fato
a fragmentação é uma forte característica desse período e assim as manifestações artísticas
23 e arquitetônicas tomam diferentes rumos, e é por tal motivo que essas três vertentes,
citadas acima, interpretam de forma diferente a essência do Ecletismo.
A primeira classificação que Patetta chama de “Composição Estilística” buscou,
segundo ele, copiar, de forma coerente e correta elementos pertencentes a um determinado
estilo arquitetônico (1987). Esta vertente caracteriza-se por um maior rigor filosófico, onde
elege-se e “imita-se” um único estilo, não há miscelâneas. Para as criações sob esta
vertente, havia a preocupação com a teoria da arquitetura e com a leitura dos tratados já
existentes. Segundo Almeida (1997), os exemplos mais destacados desta primeira
“classificação” de Patetta são o Neo-grego, o Neo-egípicio e o Neo-gótico.
No caso do “Historicismo Tipológico”, Patetta (1987) afirma que o estilo era utilizado
de acordo com a finalidade a que o edifício se destinava. Por exemplo, o estilo clássico lhes
oferecia a sobriedade e imponência dignas de um prédio do Parlamento ou sede dos
Ministérios, Museus entre outros. Em suma, esta vertente preocupava-se sempre em
relacionar estilo e função, atribuindo valores associativos para cada estilo, e para Almeida
(1997) uma parte significativa da produção arquitetônica mundial do período (fins do séc.
XVIII e séc. XIX) atrelava-se a esta tendência.
O último exemplo classificado por Patetta (1997) é o dos “Pastiches Compositivos”,
que criavam soluções estilísticas “historicamente inadmissíveis” que beiravam o mau gosto.
Trata-se de uma imitação mais “grosseira” da obra artística que admite a fusão de diversos
elementos oriundos de origens distintas. Para Almeida (1997), esta tendência desenvolveu-
se bastante no século XIX devido ao “descompasso” em relação ao desenvolvimento
tecnológico. Para esta autora, boa parte da produção arquitetônica brasileira neste período
corresponde, como o diria Luciano Patetta, aos Pastiches.
Patetta efetivamente percebe “desvios” na aplicação da arte Eclética e os classifica
mostrando o quanto reduzem o glamour do fazer Eclético, mas tais classificações não
inferiorizam a relevância do estilo.
É muito comum que o Ecletismo seja confundido com os Revivals, como por
exemplo, o Neogótico e o Neoclássico, mas existe um distanciamento entre ambos já que os
Revivals são muito mais relacionados a estilos específicos e possuem todo um apelo
ideológico.
Mesmo envolto em tanta polêmica e exuberância, aos poucos ganhou o mundo, foi
sendo transmitido a outras culturas. Na Europa, seu berço, surgiu no fim do século XVIII e
afirmou-se até meados do século XX, permanecendo ainda de forma secundária. Já nas
Américas, para Almeida (1997), ele aparece no início do século XIX e vigora até o fim do
mesmo, ou seja, desde o período de decadência do Neoclassicismo até os primórdios da
era moderna na arquitetura.
Mais especificamente no Brasil, o Ecletismo surge concomitante à ascensão de
uma nova classe social, a burguesia, que cria um novo cenário econômico e social nas
24 “terras Tupiniquins” e substitui as oligarquias rurais, que até então dominavam o país. Esse
surgimento está atrelado ao sentimento de modernização do Brasil-Colônia diante das
transformações que lhe alcançavam naquele período.
Apesar de todas as críticas, é possível perceber que o Ecletismo tem importante
papel não apenas em nível de inovação tecnológica e estilística, mas também nas reformas
urbanas que recuperavam a salubridade das cidades do século XIX, e que lhe extraíam os
becos e cortiços. O Ecletismo introduziu os porões altos nas edificações e as recuou
lateralmente para carrear ventilação e jardins para as moradias. Vieram para os espaços
públicos os boulevars, amplos e arborizados, que renovaram o ar e revitalizaram as cidades
industriais. É a partir de então que aos poucos se retoma o ambiente positivo que a
Revolução Industrial acabou por degradar, utilizando-se os recursos construtivos e estéticos
que a mesma potencializou criar.
25
2 - A chegada do Ecletismo nas terras Tupiniquins.
2.1 - A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil e a Missão Francesa trazendo o
Neoclássico.
Desde 1500 até 1808, ano da chegada da Família Real ao Brasil, o país possuía
uma arquitetura civil colonial, e fazia uso do Barroco nas construções religiosas. A
ambiência dessa arquitetura era, segundo Reis Filho (2004), simples devido às limitações
tecnológicas e à base da mão-de-obra escravista. As casas eram térreas, alinhadas no
limite da rua, coladas nos lotes, feitas em pau-a-pique, no simples sistema de porta-janela,
com cobertas de duas águas e a cumeeira paralela à rua. Como pode ser observado nas
imagens 06 e 07:
Imagem 06: Esquema de disposição das casas coloniais. Imagem 07: Ilustração das ruas coloniais. Fonte: REIS FILHO, 2004. Fonte: REIS FILHO, 2004.
Neste período o Brasil era colônia de Portugal, servindo assim como foco de
exploração, de onde retiravam toda a matéria-prima necessária a incrementar seu mercado
de especiarias, ervas madeiras e, principalmente, ouro.
Quando Napoleão invadiu a Península Ibérica em 1807, a Corte Portuguesa tratou
de se refugiar na colônia sul-americana com o auxílio intencional da escolta britânica, que o
fez com interesse numa troca de favores, afinal, Napoleão também prejudicara os ingleses
com o Bloqueio Continental. Em troca da escolta britânica, Portugal abriu os portos
brasileiros, permitindo a penetração da Inglaterra na colônia, além de firmar diversos outros
acordos de concessões aos ingleses.
A vinda da Corte ao Brasil, em 1808, trouxe uma grande transformação na estrutura
administrativa da região. O Imperador D. João instalou ministérios, órgãos administrativos,
culturais, educacionais, de saúde e de justiça, investindo também em comunicação. Fazia-
se necessário, segundo Del Brenna (1987), modernizar e embelezar a nova capital do
Império, Rio de Janeiro, para que vendesse ao exterior uma imagem positiva e atraísse
investimentos, possibilitando assim seu ingresso no cenário mundial. Para tal, segundo o
autor, o Neoclássico foi adotado como estilo oficial, e ganhou ainda mais força com o
advento da Missão Francesa em 1816. Mas, mesmo sendo o estilo próprio da corte, o
Neoclássico não impediu o afloramento de manifestações Ecléticas, principalmente nas
26 residências e nos jardins laterais, porém este estilo firmou-se e superou a hegemonia
Neoclássica apenas no último quartel do século XIX.
Como sede do reino de Portugal, neste período, o governo tratou de iniciar uma
grande reforma no Rio de Janeiro, de modo a serem implantadas estradas, iluminação
pública e prédios-sede fazendo uso do estilo oficial do Império.
Conforme já foi citado, a abertura dos portos brasileiros trouxe uma significativa
abertura do país em relação a outras nações, que passou a se comunicar com outras
culturas e reduziu o isolamento consequente da colonização9. Agora o país importava não
apenas mercadorias, mas também hábitos e costumes. No mesmo momento eram abertas
indústrias no país e assim as cidades iam se desenvolvendo e reestruturando. Peter (2007)
afirma que enquanto o país se desenvolvia, era desenvolvida e incentivada também a sua
cultura, tendo sido em 1815, proposta a criação de uma Academia de Belas Artes já que a
única referência artística legada ao Brasil vinha dos Jesuítas, que atuaram no processo de
colonização.
Ainda segundo Peter (2007), a fim de enriquecer a cultura brasileira a nível mundial
o então ministro D. Antônio de Araújo e Azevedo, mais conhecido como Conde da Barca,
convocou um grupo de artistas e intelectuais franceses, que compuseram a chamada
Missão Artística Francesa. Foi então que em 26 de março de 1816 desembarcaram no
Brasil diversos artistas plásticos, arquitetos, músicos, serralheiros entre outros. Este grupo
era comandado por Joachim Lebreton, que vinha em companhia de nomes como Jean-
Baptiste Debret, Grandjean de Montigny, Auguste Marie Taunay, Nicolas-Antonie Taunay,
Segismund Neukon e Zephiryn Ferrez.
A arte trazida por esse grupo obedecia sempre às tendências francesas e a
arquitetura passou a ser produzida sob a ascendência do Neoclassicismo. Segundo Peter
(2007), foi de Grandjean de Montigny10 o projeto para a Academia de Belas Artes (Ver
Imagem 06 – Anexo I) e também a Casa França-Brasil (Alfândega) (Ver Imagem 07 – Anexo
I), tendo sido esta última o marco da introdução do Neoclássico no país e do seu ingresso
oficial no estilo mundial. A Academia de Bels Artes só chegou a ser inaugurada em 1826 e
sua primeira exposição só ocorreu em 1829.
Como resultado da Missão Artística Francesa tem-se a introdução do Neoclássico e
consequente modernização da arquitetura brasileira, com a implantação de estilos mais
refinados fazendo com que o modelo das construções coloniais fossem deixadas de lado,
agora “Escadarias, colunas e frontões de pedra ornavam com frequência as fachadas de
9 Tal isolamento gerava um descompasso de expresões artísticas e arquitetônicas, pois limitava a arte brasileira às obras de Aleijadinho
enquanto a Europa cultivava o Neoclassicismo. 10
Grandjean de Montigny muito ajudou na implantação do Neoclassicismo no Brasil, permitindo assim que as feições coloniais fossem
substituídas cada vez mais por uma aparência moderna e condizente com a evolução do país.
27 edifícios principais, ostentando um refinamento técnico, que não correspondia ainda ao
comum das construções”. (REIS FILHO, 2004, p.36).
Para Reis Filho (2004), tais fatos associados à liberdade de comunicação com
outras nações, consequente da abertura dos portos, permitiram a modernização ainda mais
significativa dessa arquitetura principalmente nas cidades litorâneas, viam-se agora
platibandas no lugar dos beirais, calhas, peças em vidro nas bandeiras das portas, vasos,
figuras do porto. Todas estas inovações adaptando-se às tradições construtivas coloniais.
Segundo o mesmo autor, foi neste período que ganhou destaque a tipologia de
porão alto para proteger a intimidade das casas, e a entrada agora passava a ser lateral,
feita através de pequenas escadas bem ornadas. Estes porões eram aproveitados para o
alojamento dos empregados e para os setores de serviço da casa (Ver Imagem 12). As
edificações agora se abriam para os jardins laterais com belos balcões e varandas, não
encontrados na antiga arquitetura colonial.
A Missão Francesa introduziu também princípios europeus que influenciaram o
Brasil em nível urbano. Segundo Reis Filho (2004), as casas agora possuíam instalações
hidráulicas, afastamentos dos lotes, jardins laterais. Inspirando-se nos grandes passeios
europeus, aumentou o número de calçadas, surgiram os passeios próximos às casas,
apareceram os primeiros jardins públicos à moda europeia, como o Passeio Público do Rio
de Janeiro.
Contudo, o exemplo francês permaneceu incentivando a evolução arquitetônica e
urbana do Brasil e do mundo. Um grande marco deste incentivo foi ,segundo Peter (2007), a
reforma urbana parisiense por Haussman (Ver Imagem 05 – Anexo I) entre 1851 e 1869. É
nítida a influência francesa sob outras cidades que se desenvolveram à luz de suas
descobertas e inovações. A França foi uma referência para as elites mundiais por ser o
centro cultural da Europa, o berço do Iluminismo, e por ter, através do Plano de Haussman,
se tornado um modelo de reformulação urbana.
28 2.2– A manifestação do Ecletismo no Brasil
Antes mesmo da Proclamação da República em 1889, Peter (2007), afirma que o
Brasil já vinha aos poucos cultivando um sentimento de negação da cultura portuguesa,
afinal, esta foi a cultura que os colonizou e, em certo sentido, limitou seu desenvolvimento
durante um bom tempo. Mas, também havia a grande dependência da cultura inglesa, que
desde a abertura dos portos em janeiro de 1808, vinha impondo ao Brasil laços de
dependência econômica. Já, a cultura francesa lhes era semelhante, lembrava em parte a
cultura portuguesa por ser europeia com a diferença de que a França não lhes remetia
atrasos e colonização, mas sim modernidade e desenvolvimento.
Aos poucos o Brasil adotou, segundo Reis Filho (2004), uma postura de
rompimento com as culturas que o oprimiram durante tanto tempo e passa a adotar outros
modelos culturais como referência, são estes o francês e o italiano, tendo o primeiro uma
repercussão mais forte. Para modernizar-se, o país buscou o que havia de mais moderno no
cenário europeu (França), que neste período, fim do século XIX, era o Ecletismo. A adoção
deste estilo nas terras brasileiras neste período está também associada às inovações nos
transportes, nas indústrias e também nos meios construtivos. Agora o país tinha ainda maior
facilidade em importar tecnologias e a matéria-prima necessária para empregar inovações.
E todos esses fatores associados ainda à substituição da mão-de-obra escrava, por
trabalhadores assalariados, com um maior nível de instrução, foram vitais para a
implantação do Ecletismo no país.
A arquitetura modernizava-se ainda mais, e a sutis mudanças notadas logo após a
chegada da corte e a vinda da Missão Francesa trazendo o Neoclássico, tornaram-se mais
nítidas. No período outras nações iam se desenvolvendo em função da globalização trazida
pela Revolução Industrial e, principalmente, nas ex-colônias portuguesas, francesas e
espanholas, o ideal de modernização, de rompimento com os parâmetros coloniais ganhou
força exatamente enquanto o Ecletismo fervilhava na Europa. Por consequência este
acabou por ser o estilo adotado pelas nações que emergiam no cenário mundial, como é o
caso do Brasil.
Em 1902-1904, Francisco Pereira Passos, então prefeito do Rio de Janeiro,
providenciou, segundo Dias [S.d.], uma reformulação e higienização urbana mais ampla,
através da demolição de prédios coloniais para dar lugar a exemplares Ecléticos, e a
abertura de vias arteriais com implantação de infraestrutura. Um bom exemplo foi a
reformulação da Avenida Central (Ver Imagens 08 e 09), e teve início então o marco inicial
da arquitetura Eclética no Brasil.
29
Imagem 08: Avenida Central no início das obras de reforma. Imagem 09: Avenida Central pós-reforma.
Fonte: Vivercidades.org, S.d. Fonte: Vivercidades.org, S.d.
Este estilo Eclético que aos poucos surgia no cenário brasileiro, trazia nítidos traços
de influência do romantismo inglês e do tradicionalismo português, que o Brasil costumava
seguir, afinal, a própria arquitetura colonial traz nítidos traços da arquitetura portuguesa.
Este tradicionalismo era, representado pelo “enriquecimento cromático através do uso de
azulejos, de telhas esmaltadas e outros elementos decorativos de tipo oriental” (DEL
BRENNA, 1987, p.32).
Em São Paulo, o Ecletismo penetrou mais tarde através do crescimento da
produção cafeeira, que , segundo Dias [S.d.], mudou bastante o perfil da antiga vila11 e a fez
ganhar posição de destaque diante do resto do país. Esse fato só se tornou possível devido
à introdução de linhas férreas na região, que a tornaram local de passagem do café e das
riquezas da Província em meio ao auge do Ciclo do café12 e da consequente exportação do
produto.
Desde 1875 até 1886 o número de edificações em São Paulo quase triplicou,
Lemos (1987) afirma que as paredes de taipa e os telhados de palha foram logo se
extinguindo; surgiram aos poucos grandes restaurantes, hotéis e teatros espalhados pela
cidade, como o Teatro Municipal (Ver Imagem 10). Emerge também neste período a
arquitetura de ferro, composta pelas edificações pré-fabricadas importadas da Europa, como
já mencionado no capítulo anterior, sendo exemplo a Estação da Luz. (Ver Imagem 11).
11
A São Paulo anterior ao café era uma verdadeira ilha isolada por quase trezentos anos das inovações que corriam o mundo, até o fim do
século XVIII, pouco conheceu portanto do Neoclássico introduzido no país através da Missão Francesa (LEMOS, 1987, p.72). 12
O café foi um dos gêneros mais importantes para a economia brasileira e para a expansão de seu comércio externo. Com a queda nas
exportações de algodão e açúcar, viu-se a possibilidade de explorar os lucros do chamado “Ouro Negro”, o café, aumentando os investimentos e expandindo os cafezais. A produção de café na região Centro-sul do país fervilhava e só tendeu a aumentar com o estabelecimento de um sistema ferroviário ligando São Paulo ao interior do país. Aos poucos o café elevou a posição do país no cenário mundial e repercutiu de forma avassaladora na região responsável por sua produção. “*...+ O café introduziu outra classe de brancos os imigrantes, os quais logo trataram de ajudar o desenvolvimento de outra atividade, a indústria, e, a seguir, deram oportunidade ao alto comércio” (LEMOS, 1989, p.8).
30
Imagem 10: Teatro Municipal de São Paulo. Imagem 11: Estação da Luz em São Paulo. Fonte: Blog Ticarioca, S.d. Fonte:Saopaulominhacidade.com.br, 1903.
Já no Recife, Dias [S.d.], afirma que a transformação urbana no século XX, abertura
das avenidas Rio Branco e Marquês de Olinda, incentivou a construção de diversos prédios
ecléticos em seu decorrer a fim de passar o sentido de modernidade, sendo a principal
referência desse Ecletismo o Clássico Greco-Romano (Ver Imagens 12 e 13).
Imagem 12: Recife Novo e seu conjunto de edificações Ecléticas. Imagem 13: Teatro Santa Isabel. Fonte: Vitruvius, S.d. Fonte: Teatrosantaisabel.com, S.d.
Quanto a Belo Horizonte, Salgueiro (1987) afirma que o Neoclássico e o Ecletismo
só apareceram bem mais tarde, pois, afinal essa capital só começou a ser construída em
1894, sendo concluída apenas em 1914. Instalou-se no Arraial do Curral del-Rei a nova
capital das Minas Gerais que, até então, só possuía construções de aspecto colonial, passa
então a receber “palácios, parques e avenidas (...) e tudo o quanto pode constituir o orgulho
de uma cidade moderna e adiantada” a intenção era trazer para a nova capital o que havia
de mais novo no mundo Europeu, para tal Aarão Reis, responsável pela obra, importou o
Ecletismo.
O mesmo autor afirma ainda que o Neoclássico aparece nas edificações oficiais e
há também resquícios de Neogótico, mas a arquitetura que teve papel principal na criação
desta cidade foi a Eclética, sendo um bom exemplo o Teatro Municipal (Ver Imagem 14).
Já na antiga capital Vila Rica, atual Ouro Preto, segundo Lemos; Martins; Silva Bois
[S.d.], as mudanças não foram tão marcantes. Manteve-se culturalmente rica, com vasto
acervo Barroco. As novidades começaram a chegar no fim do século XIX, em especial a
partir de 1880 com o advento ferroviário, e apesar de não se enxergarem mudanças radicais
no perfil arquitetônico das edificações, o que se tem é a introdução singela de elementos
estilísticos, materiais e técnicas importadas do Ecletismo. Aos poucos substituiu o pau-a-
31 pique por tijolos, surgem os primeiros sobrados, as vergas em arco pleno, as portas-
sacadas e a casas elevadas sob porões altos (Ver Imagem 15).
Imagem 14: Teatro Municipal. Imagem 15: Edifícios com tom Eclético. Fonte: Arquivo Público Mineiro, S.d. Fonte: ArcoWeb, S.d.
Em Belém, Dias (S.d.) afirma que a interação com as novidades da arquitetura
eclética foram muito tardias, somente com o Ciclo da Borracha é que a economia da região
se ampliou e se reformulou. Apenas em 1870 é que as novidades começam a chegar, e
estas estiveram representadas pelo estilo Eclético.
Para tal processo de desenvolvimento e modernização, teve um importante papel o
arquiteto italiano Antônio Landi. Este foi o responsável por diversas obras que levaram
Belém ao encontro do resto do país em seu processo de transformações urbanas e sociais.
Ao chegar a Belém, Landi se deparou com um cenário rico em cultura, porém em estado de
grande atraso em relação ao resto do país. A Arquitetura do Ferro também teve grande
importância na região, pois devido ao seu desenvolvimento tardio, Belém tentava
modernizar-se à passos rápidos, e para tal, associou seus recursos financeiros com os
edifícios pré-fabricados em ferro importados do continente europeu. Um exemplo dessa
arquitetura Eclética paraense é o Teatro da Paz (Ver Imagem 16).
Imagem 16: Teatro da Paz em Belém - PA.
Fonte: Blog TiCarioca, S.d.
A essa altura o Rio de Janeiro já havia se tornado o centro das atenções e a porta
de entrada para todas as inovações que invadiam o Brasil. De acordo com a avaliação de
Brasil (2009) neste período o Rio de Janeiro tornara-se “[...] um acúmulo de camadas
históricas”, proveniente da migração de grande contingente de mão-de-obra em prol da
modernização da cidade, e essa diversidade que lhe era peculiar foi acentuada pelo
Ecletismo. A cidade funcionou como um verdadeiro canal para as novidades trazidas da
32 Europa, as quais gradativamente iam sendo introduzidas no interior do país, até o Brasil
esboçar uma feição Eclética, mais “propriamente sua”, e por tal motivo deve-se dar uma
maior atenção à produção Eclética desta cidade.
Havia no Rio de Janeiro, diversas tendências Ecléticas reconhecidas por Brasil
(2009) como o “Ecletismo Classicizante” com uma tendência nitidamente clássica, muito
notável no acervo carioca de 1870 a 1940, por exemplo, o Hospício dos Alienados (Ver
Imagem 08 – Anexo I) e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (Ver Imagem 09
– Anexo I). Outra expressão Eclética notada no acervo carioca é chamada pelo autor de
“Ecletismo Propriamente Dito”, onde uma linguagem nova era criada a cada edifício,
tomando como base os outros estilos existentes. Deve-se lembrar também da forte
presença do chamado “Ecletismo Popular”, pois, as exigências decorativas do Ecletismo
influenciaram a geração de uma mão-de-obra artesanal muito bem aprimorada que deu
origem a uma arquitetura própria dos populares, é o caso das edificações do SAARA (Ver
Imagem 10 – Anexo I) e da Avenida Mem de Sá (Ver Imagem 11 – Anexo I).
Havia um pouco do estilo inglês do refinamento francês, este último pode ser
exemplificado pelo Jóckey Club (Ver Imagem 12 – Anexo I) e a Antiga Estação de
Passageiros da Praça Mauá. Tem-se também o Palácio Laranjeiras (Ver Imagem 13 –
Anexo I) e o Museu Nacional de Belas Artes. Segundo Brasil (2009), também havia a
produção arquitetônica carioca voltada para o Neogótico, especialmente nas Igrejas
católicas, uma amostra dessa arquitetura é a Igreja da Imaculada Conceição em Botafogo
(Ver Imagem 14 – Anexo I) e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Ver Imagem 15 –
Anexo I)13.
No Brasil o termo Ecletismo não designa apenas um estilo arquitetônico, surgido na
França que incorpora as tendências de diversos estilos, mesclando o que estes têm de
melhor, mas sim toda a produção arquitetônica oriunda da criação da Academia no período
pós-neoclássico.
Com o tempo a economia do país passou a investir cada vez mais na construção
de indústrias e de ferrovias que viabilizavam a comunicação com outras nações. Desse
modo, segundo Reis Filho (2004), o país passou a se inserir e se firmar no mercado
mundial, possibilitando a importação de técnicas e materiais impulsionando um processo
“globalizado”. Pode-se dizer, portanto, que o café modificou a feição das cidades, a
arquitetura evoluiu em forma e formação, descobrindo, sobretudo os benefícios da alvenaria
sobre o pau-a-pique, a ponto de já ter sido dito que “foi o café que popularizou o tijolo, a
começar pelas obras diretamente ligadas ao beneficiamento daquele produto agrícola”.
(LEMOS, 1989, p.40).
13
Outra tendência arquitetônica do período era a dos chalés enrriquecidos com lambrequins em zinco, vasos, flechas. Esta tendência
importava os costumes da habitação rural na Europa, traziam um ar campestre e ao mesmo tempo luxuoso (Del Brenna, 1987).
33
Reis Filho afirma que o advento dos transportes facilitou a comunicação do país
interna e externamente, e assim, as novidades a nível mundial penetravam mais facilmente
no país e se disseminavam também entre as cidades do interior “Tupiniquim” (2004, p.148).
O processo de industrialização, ainda segundo o mesmo autor, oriundo do
crescimento da economia brasileira incentivou, o surgimento de empresas e o incentivo ao
trabalho assalariado, mas esse incentivo não foi tão avassalador a ponto de exterminar de
vez o sistema escravista, que continuava movendo a produção cafeeira. Ao passo que a
exploração do café trazia significativas transformações, o domínio das oligarquias deixava o
país em enorme retrocesso, na medida em que a sociedade ainda não estava totalmente
aberta às inovações a nível mundial e a economia cafeeira ainda estava baseada no
sistema escravista.
O fim do trabalho escravo14, somente aconteceu entre 1850 e 1888, e acabou por
ajudar a motivar a implantação de mão-de-obra europeia. Reis Filho (2004), afirma que o
primeiro passo que auxiliou esse processo de modernização foi a criação da Lei do Ventre
Livre, em 27 de maio de 1871, propondo que dali em diante seriam livres todas as crianças
nascidas de pais cativos. Em seguida veio a Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888, trazendo
definitivamente a liberdade para os escravos.
Tal atitude “obrigou” as oligarquias rurais a substituírem a mão-de-obra explorada
gratuitamente por trabalhadores assalariados. É então que o país, após ter aberto suas
portas às inovações tecnológicas do mundo europeu, abriu-se para receber a mão-de-obra
oriunda daquele continente, (os colonos italianos) que tinham outro nível intelectual e
traziam técnicas novas para o desenvolvimento das diversas atividades que assumiram no
país. A transformação causada pela substituição da mão-de-obra escrava, associada ao
processo embrionário de industrialização do país trouxe ainda mais desenvolvimento e
impulsos à modernização.
Reis Filho (2004) segue afirmando que o funcionamento das residências não era
mais norteado pelo trabalho servil, agora a mão-de-obra europeia trazia novos hábitos
funcionais e tendências construtivas. As mudanças eram sutis no esforço de adaptar-se a
um novo sistema, introduziam-se agora mecanismos hidráulicos nas casas, que passavam a
se descolar dos lotes no intuito de trazer arejamento e iluminação natural. Em alguns casos,
tinham-se as duas laterais da edificação livres, em outros, apenas uma lateral não avançava
e recebia um jardim (Ver Imagens 17 e 18). Os primeiros sinais que indicam as mudanças
resultantes da substituição da mão-de-obra escrava são algumas modificações técnicas nos
processos construtivos, o tijolo ganha espaço e as telhas de capa-canal dão,
14
Foram muitos os movimentos abolicionistas que ocorreram no período, visando um tratamento mais humano aos trabalhadores
responsáveis pela produção que enchia o país de lucros, e pela modernização das cidades, das fábricas, docomércio, e impulsionava o enquadramento do país nas linhas europeias. Há muito se queria uma mão-de-obra assalariada, com um nível de conhecimento maior, com mais disponibilidade a aprender e se especializar.
34 gradativamente, lugar às telhas importadas de Marselha15. Além de que, ainda segundo este
autor, a madeira serrada agora permitia acabamentos mais perfeitos de portas e janelas.
Imagem 17: Esquema de evolução das casas térreas para casas com porão alto.
Fonte: Adaptado de REIS FILHO, 2004, p.41.
Imagem 18: Esquema de evolução das plantas residenciais antes e depois do fim do trabalho escravo. Fonte: Adaptado de REIS FILHO, 2004, p.39 e p.67.
Estas modificações fizeram parte de um longo processo de modernização, que
lentamente foi modificando a paisagem das cidades brasileiras e popularizando ainda mais
as tendências europeias de construção. Este processo ganhou ainda mais força com a
Proclamação da República em 1889, quando o país abriu-se ainda mais, recebendo assim o
Ecletismo, como estilo oficial das “inovações pós-República”. Tais fatos históricos confirmam
a modernização brasileira, e a implantação definitiva do Ecletismo no Brasil já nos fins do
século XIX (REIS FILHO, 2004).
15
Cidade francesa com considerável atividade comercial por sua localização às margens do Mediterrâneo.
35 2.3– A modernização das cidades e da Arquitetura
De modo efetivo, após a abolição da escravatura e usufruindo do reconhecimento
mundial trazido pela comercialização do café, veio um surto de modernização incentivado,
em parte, pelos estabelecimentos que promoviam campanhas em prol da educação popular
e da especialização e preparação da mão-de-obra. Em São Paulo, o Lyceu de Artes e
Ofícios ajudou na transformação dos trabalhadores. Segundo Reis Filho (2004), o objetivo
deste era moldar esses trabalhadores de acordo com a demanda surgida com as inovações
tecnológicas que aos poucos invadiam o país.
Com o desenvolvimento econômico alcançado, começou a existir uma nítida
estratificação das classes trabalhistas e a surgir uma nova camada social composta por
médicos, engenheiros e militares. Passa a nascer “uma arquitetura aprimorada, com novas
técnicas e mão-de-obra especializada” (REIS FILHO, 2004, p.151).
A partir de então, ainda segundo Reis Filho, o processo construtivo evoluiu
bastante, aumentou o número de edificações a fim de atender as novas demandas sociais.
Para se adaptar a tamanho desenvolvimento, os centros urbanos passaram a ser munidos
de toda a infraestrutura necessária ao seu bom funcionamento, como “redes de
abastecimento de água, luz e esgoto, além de implantar as primeiras linhas de transporte
coletivo” (REIS FILHO, 2004, p.151).
Gradativamente, os centros urbanos passaram a possuir mais prestígio do que as
zonas de antigas propriedades rurais. Morar próximo à cidade passara a ser , segundo Reis
Filho (2004), símbolo de nobreza e definiu-se a tendência de migração dos proprietários
rurais para a cidade, além da modificação da feição das casas rurais para adaptar-se à
moda urbana. Aos poucos as inovações Ecléticas, também passaram a encantar a classe
social emergente e a modificar o perfil da mão-de-obra do país, pois:
A tecnologia exigida pelo Ecletismo novidadeiro, por motivos óbvios, não poderia ser plenamente satisfeita pela mão-de-obra local e então vemos juntarem-se aos incontáveis mestras e pedreiros italianos, alvanéus portugueses, calceteiros, estucadeiros (...) escultores, estofadores de diversas nacionalidades, todos comandados pela algo pretenciosa classe média, sempre em dia com a moda, com as modernidades vistas nos bairros elegantes [...] (LEMOS, 1989, p.14).
Na opinião de Reis Filho (2004), os bairros populares também cresceram, e foi
visível o aumento da oferta de mão-de-obra nas cidades, consequência da falência dos
meios de cultivo rural convencionais, aliada ao desenvolvimento da indústria e do comércio,
fez surgirem os primeiros cortiços e favelas nas cidades. Essa mesma mão-de-obra que
habitava os cortiços ajudava a produzir uma arquitetura cada vez mais esplendorosa para as
classes mais abastadas.
36
Para Carlos Lemos o surgimento da indústria e a expansão cada vez mais forte do
cultivo cafeeiro foram aos poucos criando na classe média o desejo de promover
“manifestações qualitativas na sua produção arquitetônica” (LEMOS, 1989, p.17).
Aos poucos as paredes passaram a ser edificadas em alvenaria, fato que reduzia
significativamente os erros de medidas, e permitia a padronização dos elementos
construtivos16. A princípio essas paredes chegavam a possuir 60 cm de espessura e a
alcançar 5m de altura em casas térreas e a 10m em sobrados. Quanto aos pisos, nas áreas
molhadas e áreas externas fazia-se uso do ladrilho hidráulico, nos demais ambientes era
comum o uso do piso de Paquet.
As casas começam agora a ser totalmente recuadas em relação aos lotes.
Segundo Reis Filho (2004), uniam-se agora a tradição das chácaras ladeadas por jardins e
os sobrados que antes eram “grudados” aos limites dos lotes. Como já mencionado
anteriormente, as mudanças nessa arquitetura posterior à abolição da escravatura e à
Proclamação da República foram lentas e graduais, apesar de inovarem, ainda continuavam
a utilizar esquemas típicos de períodos anteriores.
A gente branca que Carlos Lemos diz ter ajudado no desenvolvimento da indústria,
tinha o tijolo como símbolo de modernidade (1989, p.8). Para o autor “[...] de repente outros
conhecimentos, outras técnicas, outros materiais romperam aquela acomodação baseada
na tradição cultural aos velhos tempos. Surgiu o tijolo. Apareceu a alvenaria argamassada
contrapondo-se à terra socada [...]” (LEMOS,1989, p.34).
Segundo Reis Filho (2004), os telhados deixaram de obedecer ao esquema básico
das antigas coberturas em capa-canal, caibros, ripas e suportes em pontaletes, apenas.
Passam a ser estruturados por tesouras em madeira, apoiando telhas de barro vindas de
Marselha, na França, ou telhas de lâmina de ardósia. Estes, que antes ficavam aparentes
arrematados por beirais que protegiam as edificações da insolação, passaram a ficar
encobertos por platibandas, e quando estas não estavam presentes os beirais eram
arrematados por peças de gesso, lambrequins e mãos-francesas.
Ainda quanto às novas tendências das cobertas, Lemos (1989, p.35), afirma que
“os telhados urbanos saíram da simplicidade das duas águas para as soluções complicadas
de vários planos recortados e movimentados, somente possíveis graças às calhas internas
das águas-furtadas ou rincões”.
A implantação das redes de esgoto e água permitiu que os banheiros fossem
definitivamente incluídos nos programas residenciais e adotados como um cômodo da casa.
Outro ponto importante foi a implantação da iluminação a gás, que incentivou também a
16
Durante muito tempo as cidades eram constituídas por edificações em pau-a-pique e com cobertas em palha. Não demorou muito para
que o surto de “importação de modernidades” atingisse os meios construtivos. A princípio as paredes eram trabalhadas em taipa ou pedra, nas localidades próximas a regiões e várzeas utilizava-se a argila para produzir uma arquitetura de pau-a-pique. (LEMOS, 1989, p.26).
37 importação de luminárias e peças decorativas destinadas a iluminar os espaços internos
(REIS FILHO, 2004). Para acompanhar tal desenvolvimento, fazia-se cada vez mais
necessária a importação de diferentes elementos de composição desta nova arquitetura, tais
como:
Os vidros lisos, lapidados, fosqueados, coloridos ou espelhados; como os vitrais das igrejas e palacetes; como as ferragens em geral; chapas de cobre para a confecção de calhas onduladas; papéis de parede, lisos ou decorados em relevo estampado; telhas de cerâmica vindas de Marselha [...]. (LEMOS, 1989, p.36).
O ferro agora possui não apenas função estrutural. Era utilizado na obra como
elemento decorativo ajudando a compor a fachada e os elementos internos, notadamente
em alpendres, gradis, escadas, balcões, todos trabalhados, prontos para incrementar a
estética da obra. Eram normalmente cercadas por belos jardins e terraços para os quais os
balcões e varandas da edificação se debruçavam, preocupava-se agora com a iluminação e
ventilação naturais na residência (REIS FILHO, 2004). Quanto a essa preocupação com a
higienização das edificações Carlos Lemos ainda afirma:
[...] O primeiro esquema de circulação doméstica foi substituído por aquele cujo partido é caracterizado pelo corredor lateral descoberto, patrocinador de ar e luz aos cômodos intermediários [...] Agora, os novos conceitos de higiene da habitação estavam sendo atendidos graças à renovação tecnológica aplicada ao desenho do telhado. (LEMOS, 1989, p.96).
A partir deste momento todas as fachadas passam a ter igual importância, o
costume colonial de dotar a casa de apenas uma fachada principal, secundarizando as
outras, foi deixado para trás. A partir daí os telhados de apenas duas águas com cumeeira
paralela à rua dão lugar aos elaborados telhados de quatro águas (REIS FILHO, 2004).
Reis Filho (2004) afirma ainda que a fim de aproximar cada vez mais a edificação
do jardim que a circundava, os porões tiveram sua altura reduzida. Nos sobrados tinham-se
os ambientes de permanência locados no pavimento térreo, os serviços locados no porão17
e os dormitórios locados no primeiro andar.
É evidente o crescimento urbano notado em especial na região influenciada pelo
cultivo do café. No tocante a esse aspecto, “velhas fachadas tiveram seus beirais
arrancados e substituídos por platibandas decoradas e guarnecidas de vasos, estátuas e
pinhas de porcelana [...] A cidade que crescia ia inventando coisas” (LEMOS, 1989, p.53).
17
Porém, a utilização dos porões na tipologia arquitetônica vigente na época, era resultado de uma imposição legislativa que visava a
elevação da casa em relação ao nível do terreno para proteger o assoalho da umidade do solo, e dava mais privacidade aos cômodos dianteiros da casa em relação aos transeuntes. (LEMOS, 1989, p.98).
38
A partir de então os programas habitacionais passaram “a fazer parte das
cogitações legais e legisla-se sobre as dimensões mínimas dos cômodos” (LEMOS, 1989,
p.56).
Para o arquiteto Nestor Goulart Reis Filho, “o Ecletismo foi importante, pois
funcionou como uma tipologia estética que auxiliou na assimilação dos padrões
arquitetônicos e inovações tecnológicas trazidas da Europa” (REIS FILHO, 2004, p.178).
Neste período:
“Toda casa que se prezasse deveria possuir grades, gradis, cancelas18, portões e portas, guarda-corpos e grimpas19de „serralheria artística‟ [...] Estofados e móveis incríveis, nas madeiras mais finas, em „puro estilo provençal‟. Mosaicos, estuques 20 , escaiolas variadíssimas; molduras gregas e festões de gesso decorado.” (LEMOS, 1989, p.116).
As cidades brasileiras evoluíam ao passo que o país se engajava no cenário
mundial, e o Ecletismo auxiliava na reformulação da paisagem destas cidades. Como
melhor exemplo do papel deste estilo nas transformações urbanas ocorridas no país ao
longo do século tem-se a reforma urbana de Pereira Passos no Rio de Janeiro em 1902,
onde antigas ruelas e cortiços tiveram fim, a cidade ganhou vias amplas e arejadas, e
corredores de prédios modernos, Ecléticos, que embelezaram a cidade.
Como já mencionado anteriormente, Belo Horizonte foi construída à luz da
arquitetura Eclética, o Pará deixou de lado seu atraso em relação ao resto do país através
do Ecletismo implantado por Landi. São Paulo abandonou o aspecto de vila, isolada dos
acontecimentos no país serra à cima, com a implantação do Ecletismo.
Em Alagoas não foi diferente, a modernização da nova capital em meio à “era
comercial” alagoana, fez uso do Ecletismo para dar nova feição à antiga vila do “Engenho
Macayó” como será visto a seguir.
18
Portão em gradil de ferro. 19
Ponto mais elevado de um edifício, pode-se entender por cume, ventoinha. 20
Pó de mármore amassado com cal, gesso e areia utilizado para fazer ornamentos.
39
3 - A evolução comercial das Alagoas e o advento dos transportes
3.1 – O Povoamento das terras alagoanas
A história alagoana teve início no período de administração do Brasil-colônia
através das capitanias hereditárias, durante o governo do segundo donatário 21 , Duarte
Coelho de Albuquerque, iniciado em 1560. Segundo Costa (1983), Duarte organizou duas
bandeiras para desbravar as terras da capitania, uma destas direcionou-se para o Sul de
Olinda, explorando a região litorânea e chegando assim a Alagoas em março de 1535.
Valente (1952) afirma ainda que Duarte tomou posse do território e providenciou a povoação
das terras por colonos portugueses. De acordo com Barros (1991) estabeleceram-se
inicialmente três núcleos de povoação; o primeiro ao Norte, Porto Calvo, o segundo ao
Centro, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul22 e o terceiro ao Sul, Penedo.
Valente (1952) afirmava que Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, ou Alagoas
do Sul, se estabeleceu a 88m acima do nível da Lagoa Manguaba23. Sua povoação teve
início no ano de 1591, quando foram doadas a Diogo de Melo e Castro 5 léguas de terras
para a fundação de uma vila que deveria chamar-se Madalena, a área foi povoada, mas só
foi elevada à categoria de vila 45 anos depois.
Os autores Ferrare (2002) e Barros (1991) convergem informações no sentido de
que Alagoas do Sul estava localizada a 8 km da costa atlântica, primeiramente implantada
às margens do Rio Sumaúma e da Lagoa Mundaú, e de que, esta localização deu-se devido
à necessidade de proteção contra ataques pela costa, durante o período de invasão
holandesa, firmar-se próximo à costa no período era submeter-se ao perigo. Ferrare (2002)
diz ainda que se acredita ser essa localização de Alagoas do Sul, afastada da costa,
decorrente da influência das diretrizes urbanísticas espanholas, já que Alagoas do Sul foi
ocupada em pleno domínio Luso-espanhol (1580 – 1640).
Enquanto Maceió era apenas um pequeno povoado que se formava nas terras do
Engenho Maçayó, Alagoas do Sul ia se desenvolvendo e sediava as residências das
principais autoridades civis e religiosas.
Em 1630, quando se deu a invasão holandesa24, “Porto Calvo, Alagoas, Penedo,
Santa Luzia do Norte, São Miguel dos Campos, Camaragibe eram centros de atividade
agrícola e comercial, empórios já notáveis dos povoados adjacentes” (COSTA, 1983, p.28).
Segundo Costa (1983) todo o domínio holandês25 durou cerca de três décadas se
ao fim da guerra motivada pela invasão destes, os núcleos povoados de Alagoas resultaram
21
Nobres ou pessoas de confiança do Rei que recebiam as faixas de terras (capitanias) no intuito de administrá-las, colonizá-las e
desenvolvê-las. 22
Núcleo de povoamento que mais tarde veio chamar-se Madalena do Sumaúma, Alagoas do Sul e por Último cidade das Alagoas e que
hoje é a cidade de Marechal Deodoro (FERRARE, 2002). Neste trabalho iremos tratá-lo por Alagoas do Sul. 23
Possivelmente essa localização elevada tinha o intuito de proteger do risco de enchentes e de ataques por via marítima Essa afirmação
comprova-se através de registros holandeses da instalação desses povos em uma área mais elevada (FERRARE, 2002, p.21).
40 bastante agredidos pela invasão. Enquanto isso alguns pequenos povoados vinham
crescendo e se destacando, São Miguel, Maceió, Atalaia, Anadia, entre outros. Com a
retirada das tropas holandesas, Alagoas do Sul tomou fôlego e começou a se reerguer com
a construção de novos edifícios, principalmente de cunho religioso.
Foi quando, segundo Valente (1952) diante do ambiente inseguro deixado pela
invasão holandesa e da intenção dos proprietários rurais, senhores de engenho, em assumir
o poderio da frágil região, o Governo Geral estabeleceu na região, em 1712, uma
Comarca26. Esta tinha jurisdição em Penedo e Porto Calvo, e Alagoas do Sul era a cabeça
desta Comarca. Em 1636 esse povoado foi elevado à categoria de vila pelo donatário da
capitania de Pernambuco, ato que serviu de incentivo à sua reconstrução, a fim de
recuperar os estragos do domínio holandês.
Já Maceió, passou, segundo Barros (1991) de povoado a vila em 5 de dezembro de
1815, fato que trouxe melhores condições para o desenvolvimento da atividade comercial,
reduzindo sua dependência em relação a Alagoas do Sul.
Dois anos mais tarde já contava com 200 engenhos, entre os quais, Utinga, Riacho
Doce e Cachoeira, o que mostrava a nítida evolução da indústria açucareira que era a base
econômica da região. Neste mesmo ano a 16 de setembro “Alagoas entrava para a
comunhão brasileira com foros de capitania” (COSTA, 1983, p.88). Isto se deu através da
Revolução de 1817 27 , onde a Comarca de Alagoas, que integrava a capitania de
Pernambuco, foi tomada por seus habitantes sem nenhuma articulação prévia. E para
Barros (1991) os recursos naturais e econômicos de Alagoas ajudaram para que fosse
desmembrada de Pernambuco.
Em 16 de setembro de 1817, houve o desmembramento, mas somente no ano
seguinte foi nomeado um governador para a nova capitania, Sebastião de Mello Póvoas,
que só tomou posse na Cidade das Alagoas em 1819. Neste período Maceió ainda era uma
pequena vila que se desenvolvia a partir da atividade comercial portuária e:
Sua physionomia, no conjunto de ruelas e habitações rústicas, com a matta á beira do casario, o pantano da Bocca de Maceió
28 e os mangues da lagôa,
se não era de animar ao comércio, não seria de escandalizar ao governador (COSTA, 1983, p.90).
Costa (1983) afirma que ao chegar a Alagoas, Póvoas deparou-se com os pedidos
apressados do Senado da Câmara, para que elegesse a vila de Maceió como sede do
25
Tropas de reconhecimento holandesas percorreram a pé toda a costa da capitania fazendo registros e anotações à cerca de tudo o que
viam. Nesses registros escreveram sobre o Jaraguá afirmando que não havia água, a que se tinha era salobra (PEDROSA, 1998, p.23). 26
Subdivisão admnistrativa do Conselho. E segundo Barros, o estabelecimento da comarca serviria para “combater a arrogância dos
capitães do açúcar” e para unificar territorialmente a região (1991, p.42). 27
Os senhores de engenho foram a favor da Coroa, para que permanecesse a ordem vigente, por medo de perder seus benefícios, o
Ouvidor Geral, Antônio José Ferreira Batalha também não foi a favor da causa dos revoltosos já que a emancipação política de Alagoas implicaria no enfraquecimento da capitania de Pernambuco com a redução de seu território (BARROS, 1991, p.43). 28
Entrada de Maceió onde hoje localiza-se a Estação Central da cidade.
41 governo, apresentando-lhe as vantagens dessa vila. Devido a isso Póvoas demorou-se em
Maceió, a fim de analisar suas condições para ser sede administrativa da Província.
Somente no mês seguinte apresentou-se em Alagoas para tomar posse do governo,
voltando em seguida para Maceió, onde permaneceu de 1818 até 1821.
Ainda para Costa (1983) acreditava-se que a sede do governo seria a velha Vila
das Alagoas em nome da tradição, por funcionar como cabeça de comarca há mais de 100
anos. Alagoas trazia como bagagem “seus foros seculares de criação e cabeça de
comarca”, já Maceió possuía suas vantagens topográficas e as condições naturais de seu
ancoradouro29(COSTA, 1983, p.93). Ao fim Póvoas acabou escolhendo Maceió para sediar
os órgãos fiscais da capitania. Descartou a aparência, a estrutura e a tradição, e levou em
consideração à cima de tudo as possibilidades futuras de expansão econômica daquele
lugar.
A partir do século XIX Alagoas passou a ser governada por juntas administrativas
que possuíam um presidente. Em 1839 foi eleito para governar a província Agostinho da
Silva Neves, seu governo foi marcado pela sedição em torno da mudança da capital e
depois de golpes e transtornos políticos. “A 3 de dezembro a Assembleia reuniu-se e o
presidente, depois de expor os acontecimentos, propôs a transferência da capital para
Maceió”, essa proposta foi discutida e em 7 de dezembro foi aprovada, e sancionada no dia
9 do mesmo mês, nessa resolução Maceió era elevada de vila à categoria de cidade e sede
do governado da província (COSTA, 1983, p.113).
Costa (1983) afirma que Alagoas passou então a ganhar maior autonomia
administrativa, mas ainda assim a dependência comercial da Bahia estendeu-se por
décadas. A vida econômica da Província girava em torno da atividade açucareira30 e na
época o governo português tornou o açúcar monopólio oficial “recebendo-o em caixas de
madeira no porto de Lisboa” (COSTA, 1983, p.157). Mas com a abertura dos portos esse
monopólio caiu, pois passou a ocorrer o desvio da produção para outros países.
A produção de algodão poderia ter concorrido, segundo Costa (1983), com a de
cana-de-açúcar, mas prejudicou-se pela proibição da produção por parte do Marquês de
Lavradio. Apenas com D. João VI31 é que a produção de algodão foi permitida, mas tornou a
ser proibida em 1810 pelo tratado32 comercial com a Inglaterra33.
29
Enseada de Jaraguá que possuía profundidade ideal para que atracassem até os navios mais pesados e uma ótima localização geográfica. 30
Segundo COSTA (1983, p.158), a cultura da cana de açúcar era sua única fonte de riqueza considerável, os engenhos – movidos à água
ou tocados por bestas – centralizavam toda a sua atividade industrial.
31
Ao chegar ao Brasil com sua Corte após a invasão de Portugal por tropas francesas , Dom João declarou livres as indústrias brasileiras e
abriu os portos do Brasil ao comércio estrangeiro (Dados do site Oficial da Casa Imperial do Brasil). 32
Apenas um de uma série de Tratados assinados nessa década com a Inglaterra, em troca do apoio que esta sempre deu aos portugueses
desde a invasão holandesa. Entre estes foram fechados tratados de Comércio e Navegação e um de Amizade e Aliança, assinados em 19 de fevereiro de 1810. (Gebara, S.d.). 33
Segundo COSTA(1983, p 159) somente mais tarde é que os estadistas da Maioridaderevogaram esses tratados comerciais e devolveram
a autonomia das fábricas de algodão.
42
Em 23 de julho de 1840 teve início o Segundo Reinado34, e segundo Cancian
(2011) a presença da figura de um rei no comando e o pulso firme com que D.Pedro
administrou o governo trouxeram desenvolvimento social e econômico para o país.
Em Alagoas tem-se o crescimento das exportações. Além do açúcar e do algodão
do porto de Jaraguá também saíam outros gêneros, como “madeira, carne, couro, coco,
azeite de mamona, arroz, aguardente e outros itens eram enviados a portos do poderoso
império inglês, tais como Cowes, Falmouth, Liverpool, Gibraltar, Alexandria e Londres”
(TENÓRIO, 1983, p.37).
Em 1889 veio a República e com ela a capacidade produtiva de Alagoas acelerou-
se, “a República, estabelecendo a vida autonoma das Províncias, determinou a expansão de
todas as fontes econômicas que existiam e creou outras” (COSTA, 1983, p.160). Era nítido
que o centro da economia alagoana era o setor agrícola – com a produção da cana e do
algodão – e quanto a isso Costa (1983) debruça-se a respeito afirmando que apesar de
termos as melhores terras, a organização das técnicas e do trabalho agrícola era incipiente.
E diz ainda quanto ao desenvolvimento da atividade portuária de Maceió que “As cifras
frisam uma situação vantajosa para o nosso excelente ancoradouro de Jaraguá. Em
cincoenta annos registramos um augmento de 200% em nossa população e em nossa
riqueza [...]” (COSTA, 1983, p.161).
Ainda segundo Costa em cerca de 300 anos, Alagoas evoluiu consideravelmente,
os três únicos núcleos de povoamentos existentes em seus primórdios no fim do século XIX
já haviam dado lugar a 29 municípios com 14 comarcas, 27 termos, com 21 juizados
municipais e 55 juízes de paz, 7 cidades, 22 vilas. O autor afirma ainda que eram 34
freguesias da igreja católica e quanto ao ensino, possuía 182 escolas primárias, o Liceu
Alagoano tratava da educação secundária e havia também alguns poucos estabelecimentos
direcionados à educação profissional. No século XX foram fundadas, as primeiras usinas de
Alagoas, e a produção tomou novos rumos, melhoraram as condições de produção e os
lucros, ganhando força a atividade comercial e as transações de exportação e importação
no Porto de Jaraguá.
34
Quando D. Pedro de Alcântara foi declarado maior, e empossado do poder, começando a exercer suas funções constitucionais. A
intenção do golpe era pacificar as províncias que estavam em clima constante de rebelião durante a Regência. E de fato o segundo Reinado trouxe a pacificação das províncias (CANCIAN, 2011).
43 3.2 - A Enseada do Jaraguá e o desenvolvimento comercial de Maceió
O mar protegido pelo complexo de escolhos abrigava as embarcações nos portos naturais da quase retilínea costa alagoana. Por outro lado, fácil acesso ao relevo aplainado e de pouca altitude, associado a um clima estável de verão seco e inverno chuvoso, assim como outros fatores geográficos, vieram beneficiar sobremaneira, o desbravamento dos primeiros colonizadores. (BARROS, 1991, p.39).
A Revolução Industrial inundou a Inglaterra com diversas transformações
econômicas e comerciais, a começar pela introdução de máquinas na sua indústria, fato que
impulsionou, segundo Barros (1991), o seu vínculo ao capitalismo e a fez se sobressair em
relação às outras nações, influenciando assim vários países europeus que aderiram a esse
sistema. Para este autor, tais fatores só aumentavam a rivalidade franco-britânica e com o
Bloqueio Continental35 seu mercado acabou privado do comércio dentro de seu próprio
continente. Como não podia permanecer sem um mercado consumidor, a solução foi voltar
suas exportações para as nações da América.
Ao tentar penetrar nos países da América do Sul encontraram sérias dificuldades,
por conta do monopólio colonial português. Com a invasão napoleônica na Península
Ibérica36, a Corte Portuguesa refugiou-se nas terras brasileiras e para tal contaram com a
proteção britânica. Ocorrendo como diria Barros, “uma troca de gentilezas”, já que em
retribuição à escolta britânica, o monopólio comercial no Brasil foi extinto e seus portos
abertos. A partir de então a Inglaterra logo tratou de penetrar em solo brasileiro com seus
produtos e a assumir o controle da atividade portuária do país (BARROS, 1991, p.28).
Criou-se assim, ao ver de Barros (1991), um profundo laço de dependência do país
em relação à Inglaterra. Essa amarração ficou ainda mais forte após a independência do
país e consequente redução da concorrência portuguesa no poderio sobre a colônia. Ainda
segundo este autor, no século XIX a economia agrária do país começa a decair e toma lugar
a atividade comercial, de certa forma os comerciantes foram aos poucos se destacando e
superando os senhores de engenho.
Em Maceió as duas atividades caminharam sempre juntas. A produção rural
abastecia o comércio nos portos e a entrada de capital na atividade comercial aumentava a
demanda agrícola. A princípio o pequeno comércio de Alagoas era feito em maior parte
pelo Porto do Francês, segundo relato do Padre Cipriano Lopes de Arroxelas Galvão citado
por Barros:
É, pois fato certo e inegável que o pouco comércio e navegação antigamente praticada nesta Província até a época da instalação dela cujo território antes era sujeito a Pernambuco, se distribuía por vários portos dela, dos quais até a dita época o mais frequentado era o do Francês fazendo-se por eletoda importação e exportação direta para as praças de Pernambuco e Bahia (BARROS,1991, p.50).
35
Atitude tomada por Napoleão I que isolou economicamente a Grã-Bretanha das outras nações europeias. 36
Formada pelos territórios de Portugal, Espanha, Gibraltar, Andorra e uma parte do território da França.
44
Para Barros (1991) o porto do Francês seria no período o mais capaz de
responsabilizar-se por tais atividades, pois, Alagoas do Sul era beneficiada pela abundância
de áreas drenáveis que a circundavam, o que o potencializava a ser um ponto de
escoamento dos produtos da zona açucareira para abastecer o restante da província, além
das praças de Pernambuco e Bahia. Porém com o desenvolvimento do comércio no Porto
de Jaraguá, tornaram-se evidentes as fraquezas do Porto do Francês.
Barros (1991) prossegue afirmando que enquanto o porto de Jaraguá fervia com o
comércio internacional, não há registros da presença de estrangeiros na velha capital, pois
não havia condições favoráveis para a atividade mercantil naquele local, tanto pela
localização do porto, quanto pelo perfil geográfico. A Cidade das Alagoas encontrava-se
isolada entre uma zona acidentada e a Lagoa Manguaba, era difícil a sua comunicação com
o resto da província, esse fator pode ter influenciado seu caráter mais rural do que urbano.
Esse isolamento prejudicava seu crescimento econômico, pois além de ter difícil
comunicação com o resto da Província, a estrada que a ligava ao seu porto, Porto do
Francês, estava, segundo Barros (1991) em condições precárias. Barros também afirma
que, durante o governo de Póvoas, e com a emancipação de Pernambuco em 1817, este
porto foi interditado e todas as atividades de importação e exportação passaram a ser feitas
no porto de Jaraguá.
Com a evolução das atividades portuárias na vila crescia a necessidade de estudos
prévios a cerca da navegação na região. Por esta razão em 1803 o português José
Fernandes Portugal desenhou o “Plano das Enseadas de Jaraguá e Pajuçara” a fim de
facilitar a navegação na região. O plano mostrava os surgidouros 37 , e descrevia as
condições dos fundos para ancoragem, as profundidades de cada área, as correntezas e as
marés. Em um trecho do plano, Portugal descreve minunciosamente o melhor tempo para
atracarem embarcações no Jaraguá levando-se em consideração, os ventos, as marés e as
correntes:
No Porto de Jaraguá podem surgir e carregar navios com cômodo desde setembro até abril, que reinam o nordeste e são muito abrigados de maio até agosto que assopram os ventos de quadrante sueste não podem ali estar sem grande perigo porque a corrente da maré não os deixa filar ao vento puxando assim muito pela amarra. (PEDROSA, 1998, p.24).
Maceió foi surgindo tímida e sem regras38, com poucas ruas e casas de taipa – em
função da dificuldade de se adquirir pedras na região. Mesmo acanhada Maceió crescia a
cada momento e chamava a atenção dos investidores estrangeiros, pelas vantagens da
localização do Porto em Jaraguá e a viabilidade da comunicação com o interior da Província
para o escoamento dos produtos. A maioria destes estrangeiros era de comerciantes
37
Local onde surgem, ou ancoram os navios. 38
Barros cita uma nota publicada em revista do Instituo Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGA) sobre o aspecto urbano de Maceió em
1819, quatro anos após tornar-se vila, tem-se que se organizava em ruas e lugares como a rua do Palácio, Boca de Maceió, Cambona, Mutange, Bebedouro, Freixal e Fernão Velho, entre outros (BARROS, 1991, p.47).
45 estando entre eles: Antônio José Gonçalves Branco, Francisco José da Graça, Vicente
Nunes Cascaes que criaram, segundo Barros (1991) naquelas proximidades seus
estabelecimentos para comercializar diversos produtos regionais.
É nítido que o Jaraguá tinha uma vida diária movimentada pelo fluxo dos carros de
boi (Ver Imagem 16 - Anexo I) que traziam mercadorias (açúcar, algodão, farinha, fumo) do
interior para o porto onde eram escoadas para as Praças de Recife e Salvador para de lá
serem conduzidas ao comércio exterior39.
O caminho entre o Porto do Jaraguá e o Centro de Maceió, através da Avenida da
Paz e da Rua do Imperador, feito rotineiramente para o transporte de mercadorias à cavalo,
ou em carroças e carros de boi, era um “extenso areal, praia a sua esquerda, diante de
umas poucas casas de teto baixo, na maioria residências modestas de frente para o mar”.
(COSTA apud PEDROSA, 1998, p.31). Nessa descrição de Craveiro Costa do percurso feito
pelo presidente Póvoas para seguir o caminho dos comboios que transportavam as
mercadorias comercializadas no porto de Jaraguá, nota-se a dificuldade ali existente. A
descrição continua mostrando que Póvoas:
Chegou num local à margem da Lagoa Maceió, que transpôs em alguns
minutos em canoa ou batelão40
para a estiva41
na outra margem distante
cinquenta ou sessenta braças [...] em seguida, percorreu uma rua voltada para o sul, casas alinhadas umas pelas outras, da estiva até o córrego que chamavam de Lagoa D‟água Negra ou Lagoa Manoel Fernandes, também Olho D‟água. Era a Boca de Maceió [...] caminho natural entre Jaraguá e a Vila”. (COSTA apud PEDROSA, 1998, p.31).
Segundo Craveiro Costa (1983), mesmo encontrando em Maceió um combinado de
ruelas e um casario rústico surgindo em meio à mata que o cercava, Póvoas esteve
encantado não com o cenário presente de Maceió, mas com suas enormes perspectivas de
futuro. Conforme se percebe o bairro começou a ser ocupado por armazéns e casas de
comércio42. Ocorrendo que em seu governo, segundo Pedrosa (1998), Póvoas procurou
instalar edificações nas adjacências do porto como a Alfândega, a Casa do Consulado e
Rendas, estaleiros e fortificações. Providenciou a construção da Bateria43 de São Pedro em
conjunto com a de São João (Ver Imagem19), localizada na Boca de Maceió.
39
A princípio o comércio marítimo da comarca era apenas de cabotagem, pois as praças de Recife e Salvador é que repassavam a produção
ao comercio exterior, essas exerciam ascendência comercial sobre as vilas alagoanas. Alagoas estava presa a Pernambuco por conta do monopólio comercial e o acordo de exclusividade marítima, esse fato tornava mais cara a vida da população e retardava seu progresso(COSTA, 1983, p.95). 40
Barco grande apropriado para carregar artilharia e carga pesada. 41
Segundo o Priberam podem ser traves que formam o leito das pontes de madeira, Casa de despacho aduaneiro de géneros que não
necessitam verificação. 42
Aos poucos o bairro do Jaraguá foi crescendo e sendo edificado em função das atividades mercantis. Nele os descendentes de mascates
faziam fortuna com base na exploração do algodão, e do açúcar que iam povoando o bairro, segundo PEDROSA,“foram os burgueses que construíram o Jaraguá” (1998, p.32). 43
Desde 1673 havia a preocupação por parte do governo em providenciar a construção de um forte no porto de Jaraguá para proteger e
evitar possíveis atividades de contrabando, porém, devido ao desinteresse por parte do então Governador Geral, Visconde de Barbacena,
46
Imagem 19: Forte São João. Fonte: BARROS, 1991, p.49.
Maceió se destacava no quadro econômico da província fornecendo produtos44
para os países da Europa, principalmente para a Inglaterra, onde, no período, era vivida
intensamente a Revolução Industrial. Ainda segundo Barros (1991, p.36) “Com o controle
britânico, Maceió começou a desenvolver a atividade de exportação de produtos regionais e
importação de produtos manufaturados”.
A movimentação no porto de Jaraguá crescia constantemente, há registros de que
no ano de 1866 saíram em direção a portos de outros países, “53 embarcações inglesas, 4
portuguesas, 2 bremenses (alemãs), 2 suecas, 1 dinamarquesa, 1 francesa e 1 holandesa”
(TENÓRIO, 1979, p.95). Nota-se através destes números a supremacia britânica nas
relações comercias de Alagoas com países estrangeiros. Para Barros, “O Porto de Jaraguá
era o mais movimentado da Província”. Uma tabela de entrada de embarcações de diversos
países nos portos da Província no ano de 1824 reforça tal afirmação, mostrando que o porto
de Jaraguá recebeu 77,5% de todas as embarcações que entraram na província neste ano,
o correspondente a 62 embarcações contra 2 do Porto do Francês, conforme a Tabela 01:
Porto Número de embarcações:
Jaraguá 62
Penedo 06
Porto de Pedras 04
Barra Grande 03
Santo Antônio Grande 02
Francês 02
São Miguel 01
TOTAL 80
Tabela 01: Número de embarcações que chegaram à Província em 1824. Fonte: BARROS, 1991, p.49.
O primeiro produto a constituir o comércio exportador no Jaraguá foi, segundo
Barros (1991), a madeira. Mais tarde, no âmbito da produção agrária, outros produtos
esse forte não chegou a ser erigido, somente no governo de Póvoas é que se investiu na proteção do porto (PEDROSA, 1998, p.34). E também porque após a retirada das tropas Holandesas, os riscos que implicavam na necessidade da construção de fortes nas regiões litorâneas do país deixaram de existir.
44
Madeira, açúcar, algodão, entre outros. (BARROS, 1991, p21).
47 incrementaram as exportações em Alagoas; o algodão adentrou na região alagoana em
1779 e provocou a povoação do agreste e do sertão. O “boom” algodoeiro foi, para
Tenório(1979), consequência da guerra civil norte-americana que deixou o mercado
internacional carente do produto. Quanto ao café, o autor afirma que seu plantio na região
teve início em 1876 em Santa Luzia do Norte, no engenho Riachão.
No entanto o produto que realmente se sobressaía no porto de Jaraguá era o
açúcar. A produção açucareira impulsionada pela existência de diversos engenhos na região
fomentou o comércio no Porto de Jaraguá, onde “depois de ensacado, o açúcar era
colocado nos troles e empurrado na rampa por dois ou três homens até a ponta do
Trapiche45, (...) e no fim da ponte (...), chegava o açúcar das barcaças” (PEDROSA, 1998,
p.82). Estas barcaças, segundo o autor, transportavam o açúcar até os engenhos onde era
preparado, reensacado e conduzido aos navios
Com o tempo a região maceioense tornou-se bastante importante economicamente
para Inglaterra, tanto que de acordo com o autor citado, foi criado um vice-consulado
britânico em Maceió para administrar seus negócios.
Barros (1991) afirma que o porto de Jaraguá atraiu a instalação das primeiras vilas
mercantis, onde ali próximo também se estabeleceram firmas britânicas, além de uma sede
bancária (Ver Imagem 17 no Anexo I). O autor prossegue dizendo que se acredita que o
interesse britânico pela Vila de Maceió estava na sua situação topográfica privilegiada e em
seu lucrativo comércio, consequência do fácil escoamento dos produtos através do porto do
Jaraguá.
Algumas dessas firmas eram a Ship Chandler (Ver Imagem 20), que possuía um
armazém de importação e exportação na Rua da Alfândega, Jaraguá, e a Phulmann & Cia
(Ver Imagem 21), um armazém especializado em molhados, também localizado na Rua da
Alfândega.
Imagem 20: Ship Chandler, Armazém Imagem 21: Phulmann& Cia.
de molhados de importação e exportação. Exportadores de Açúcar e outros gêneros. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.
45
Trata-se de um armazém, para depósito de mercadorias de importação e expotação. No começo do século XIX, haviam próximo à
Enseada de Jaraguá diversos Trapiches, os mais importantes deles eram o Trapiche Faustino, o Trapiche Segundo, o Trapiche Jaraguá e o Trapiche Novo, send este último o maior, mais bem estruturado e mais importante da Província.
48
Para autores como Tenório, o Porto de Jaraguá passou a ser tomado por diversos
itens como tecidos de algodão, chita, lã, seda, e gêneros alimentícios como; bacalhau,
vinhos, trigo, azeite, sal. Barros (1991) cita outros registros de 29 de agosto de 1858
mostram que o mercado maceioense recebia produtos como: carvão de pedra, tachas e
barras de ferro, folhas de flandres46, cervejas, peças de algodão, fazendas47 de brim, arroz,
louças, manteiga, salitre48, entre outros.
Quanto aos botes e o atracamento dos navios no porto de Jaraguá, Pedrosa(1998)
explica que as mercadorias eram levadas em botes aos navios que ficavam distanciados da
costa, estes possuíam fundo chato e ficavam fundeados a 4 metros de profundidade entre
os recifes e a praia. E esse comércio fervilhava porque a sociedade encontrava-se num
momento de importante desenvolvimento e máximo contato com os ares europeus, o que
ditou influências nos diversos aspectos da cultura europeia assimilados na gastronomia, nas
vestimentas49, na arquitetura e até nos hábitos da população maceioense.
Quanto ao aspecto urbano, Pedrosa (1998) mostra uma planta baixa do Jaraguá.
(Ver Mapa de Localização no Anexo II – Prancha I), feita pelo Engenheiro Carlos Mormay
em 184150, contabilizou 170 construções, sendo que 69 eram cobertas por palha e 101 por
alvenaria e telha. Conclui-se então que quase quatro décadas depois da confecção da
planta de José Fernandes Portugal, o Jaraguá possuía vinte vezes mais edificações.
Na mesma planta identifica-se uma aglomeração de casas num padrão de linhas
retas, onde as edificações de maior porte encontram-se voltadas para o mar. Segundo
Pedrosa (1998), maioria dos armazéns tinham seus fundos voltados para os becos do
Jaraguá, sem nenhuma ligação com os mesmos. Com a instalação das pontes de embarque
e desembarque, o trânsito local foi dificultado e estes começaram a ser usados como ruas.
Efetivamente, a evolução comercial de Maceió se manifestou, segundo Barros
(1991), pela variedade de estabelecimentos mercantis que surgiram na segunda metade do
século XIX: lojas de fazendas, armarinhos, panificações, tipografias, hotéis, farmácias entre
outros. Esses fatores somados ao impulso britânico que por mais que tenha podado um
crescimento que poderia ter sido ainda maior, permitiu a Maceió sair de um atraso
assombroso, influenciando assim sob aspectos positivos e negativos o desenvolvimento da
cidade.
Somente em 1940 é que foi construído o atual porto de Maceió, com o aterro de
recifes que adentravam no mar. Onde está situado hoje, segundo o mapa elaborado por
46
Material laminado utilizado em elementos decorativos. 47
Peças de tecido. 48
Sal oxigenado. 49
Era bastante significativo também o comércio de confecções, que segundo TENÓRIO ( S.d., p.38) era na época um dos mais dinâmicos e
sofisticados, já que a população em posição ascendente tentava adaptar-se às tendências europeias vigentes, para tal a imprensa “anunciava paletós de casimira de diversos padrões, paletós de alpaca para meninos e meninas, paletós de brim de linhos de cor, chapéus franceses de pelo, de copa alta, modernos, chapéus de sol e seda e chitas de percalina muito finas. 50
Feita com base no mapa confeccionado por José da Silva Pinto em 1820. (Ver Mapa 2 no Anexo II).
49 José Fernandes Portugal, junto ao Plano das Enseadas de Jaraguá e Pajuçara, ficava o
local onde eram carregadas e descarregadas as mercadorias, apontado por Pedrosa (1998,
p.26) como “Surgidouro de Sumacas51”.
Esse desenvolvimento comercial na vila de Maceió durante o século XIX, apesar de
ter beneficiado muito mais os britânicos do que a economia local, ainda assim foi de grande
valia, pois trouxe bastante êxito e fomentou muitas transformações. Tornou o pequeno
povoado com origem nas terras do Engenho Macayó, em cidade promissora e coração da
economia Alagoana.
A evolução comercial na Enseada de Jaraguá permitiu a Maceió, não mais ser
ofuscada pela tradicional hegemonia político-administrativa de Alagoas o Sul dentro da
Comarca, e trouxe a esta vila perspectivas de futuro e desenvolvimento comercial à longo
prazo, dando assim a esta, condições para disputar o título de capital da nova Província.
51
Segundoo Priberam Embarcação rasa e ligeira, de dois mastros, usada especialmente na América do Sul.
50 3.3–O papel do presidente Póvoas na elevação de Maceió a condição de cidade e capital
Como já dito anteriormente, Alagoas do Sul funcionava como capital provincial, mas
Maceió possuía o porto e devido ao seu desenvolvimento no setor comercial funcionava
como capital econômica. E, segundo Barros (1991 p.1), “a província das Alagoas,
recentemente alçada à condição de unidade provincial do Império, aparece recebendo os
novos ventos da chamada civilização, a forte influência inglesa substituindo os laços de
dependência com Portugal”.
Aminadab Valente (1952) aponta um relatório descritivo feito pelo Ouvidor Antônio
Batalha, a fim de justificar a necessidade da implantação de serviços jurídicos na região.
Tinha-se relatada a situação em que se encontravam os núcleos de povoamento da
Província, como menosprezador de Alagoas do Sul, descrevendo-a de forma negativa,
frisando suas casas de palha, sua pobreza, e sua dependência da atividade pesqueira.
Enquanto enaltecia as condições propícias ao desenvolvimento de Maceió, sua ótima
localização geográfica, a proximidade da Enseada de Jaraguá e ainda sugeriu que Maceió
fosse elevada à categoria de vila, e este fato concretizou-se no dia 5 de dezembro de 1815.
Começa então a nascer, segundo Valente (1952) um sentimento de rivalidade entre
alagoenses e maceioenses já que ambas estavam agora em igual posição, eram vilas, e
disputavam os privilégios administrativos do governo. Costa (1983) frisa que, com a
emancipação de Pernambuco através de Alvará Régio em 16 de setembro de 1817, e a
chegada de Póvoas para governador da nova capitania, começam as especulações a cerca
de qual das duas vilas mereceriam sediar governo.
Quando chegou a Maceió, Póvoas deparou-se com o areal do Jaraguá que na
época já possuía alguns armazéns, e acomodações de embarque e desembarque de
mercadorias. Na época, segundo Pedrosa (1998), eram cerca de 35 mil habitantes e Maceió
havia sido elevada à condição de vila há três anos. Esperava-se então que Alagoas do Sul
centralizasse as “atividades governamentais já que era sede judiciária, religiosa e militar”,
era, segundo Barros (1991) o centro político e administrativo da Província.
Maceió possuía ótimas perspectivas para ser sede administrativa e política da
capitania, tinha condições favoráveis à implantação da atividade mercantil, devido à sua
localização geográfica e ao seu ancoradouro. Póvoas demorou a ir á Alagoas do Sul tomar
posse do governo, permanecendo na ascendente vila de Maceió por quase um mês, para,
segundo ele, analisar as capacidades desta vila.
Segundo Barros (1991), Maceió apresentava ótimas condições para sediar o órgão
administrativo da província, e durante seu governo, Póvoas deixou claro seu interesse na
implantação de infraestruturas nesta vila, esse fato gerou divergências entre os habitantes
de Maceió e da Cidade das Alagoas.
51
Barros (1991) afirma ainda que, somente em 22 de janeiro de 1819 Póvoas tomou
posse do governo em Alagoas do Sul. Logo depois retornou a Maceió e lá permaneceu até a
proclamação da Constituição Portuguesa52.
Eram inúmeras as vantagens econômicas de Maceió sobre Alagoas do Sul, e no
intuito de rebater todas as comparações sobressair-se na disputa Alagoas do Sul também
buscava mostrar suas vantagens53.
Porém Maceió possuía além da curta distância em relação ao porto, o que facilitava
a condição das mercadorias, a profundidade de sua enseada era superior a do Porto do
Francês. Este último possuía, segundo Barros (1991), muitos bancos de areia que tornavam
inseguro o desembarque de grande porte com cargas pesadas, como por exemplo, o
comércio de madeiras, que era feito somente pelo porto de Jaraguá. A partir do que
observou em Maceió e percebendo que mesmo em sua formação embrionária já
centralizava o comércio da região através das condições naturais de seu porto, Póvoas
opta, segundo Valente (1952) por instalar o aparelho fiscal da Província nesta vila.
A implantação do aparelho fiscal em Maceió 54 somada à “convergência da
produção” no Jaraguá transformou-a, segundo Barros (1991, p.67) no centro econômico da
Província. A partir de então, Alagoas do Sul começou a entrar em decadência. A interdição
do Porto do Francês só veio contribuir ainda mais para que Maceió se Sobressaísse em
relação á Cidade das Alagoas. Ainda segundo Barros (1991, p.52) “Vinha o momento
histórico criar circunstâncias favoráveis ao burgo litorâneo com o aumento de seu comércio
e pelo afluxo de capital britânico, em decorrência da Revolução Industrial”. A cidade das
Alagoas criou assim um vínculo de dependência econômica em relação à Vila de Maceió.
Sediando agora o cofre da Província e com condições cada vez maiores de evoluir
comercialmente, Maceió alcança posição de destaque e fica a um passo de ter transferido
todo o órgão administrativo para suas terras. Começa a surgir então um sentimento de
frustração por parte dos alagoenses em relação à evolução constante de Maceió. E, para
Barros (1991) a atitude de Póvoas em tomar partido de Maceió na disputa para ser capital
só acirrou ainda mais os ânimos dos alagoenses55.
Ainda este autor a todos os fatores que favoreciam Maceió no quadro de disputa
pela sede administrativa da Província, somou-se o movimento revolucionário na Cidade das
Alagoas que provocou o aceleramento do processo de mudança da capital por parte do
então presidente, Agostinho da Silva Neves. Nadando contra o movimento promovido pelos
52
Quando a capitania passou a ser governada de Alagoas do Sul, a partir de 1821, por uma junta governativa. 53
Ainda segundo BARROS, Alagoas do Sul mostrava suas vantagens a Póvoas em relação a Maceió, alegando os benefícios de sua
centralidade geográfica, a segurança oferecida pelo local para a instalação de repartições fiscais e os baixos fretes cobrados nos produtos destinados àquele ancoradouro ( BARROS, 1991, p.75) Já Maceió replicava os argumentos alagoenses alegando a proximidade da enseada de Jaraguá, apenas 2,4Km em comparação com a distância do Porto do Francês em relação às Alagoas (BARROS, 1991, p.76). Eram nítidas as vantagens do ancoradouro natural da enseada de Jaraguá em relação ao Porto do Francês.
54
Inicativa de Póvoas, por acreditar nas perspectivas economicas de Maceió. 55
População de Alagoas do Sul.
52 alagoenses estava João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú, o Visconde de Sinimbú56. No
lado oposto destacaram-se o Dr. Tavares Bastos e o major Manoel Mendes da Fonseca.
Sinimbú defendia a transferência da capital por acreditar ser Maceió próspera e promissora,
já Tavares Bastos se opunha à transferência por saber que traria o declínio de Alagoas do
Sul.
Devido aos conflitos causados pela insatisfação popular, Agostinho da Silva Neves
afastou-se do governo. Em seu lugar assumiu, segundo Barros (1991), o 5° presidente na
ordem de sucessão, e quem permitiu essa ação foi a Câmara Municipal, porém segundo a
legislação o Dr. João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú que era o vice-presidente é quem
deveria assumir. Sinimbú deu então um contragolpe em Tavares Bastos (que era líder dos
revoltosos) e iniciou um governo provisório. Enquanto isso, Agostinho da Silva Neves era
mantido preso na Cidade das Alagoas do Sul pelos revoltosos, foi aí que Sinimbú, agora no
poder, deu início à contra sedição. Porém a intenção de Sinimbú nunca foi estar na
presidência, seus objetivos eram conseguir a liberdade de Agostinho da Silva Neves para
assim restaurar a legalidade do governo.
Segundo Costa (1983) Sinimbú estava proibido de devolver o poder às mãos de
Agostinho por recomendações da comarca, mas mesmo assim o fez57 .No dia seguinte
Agostinho retomou suas funções e passa a cuidar para que a transferência da capital seja
logo executada, pois agora se soma ao seu desejo natural o fato de que na velha capital ele
não era mais aceito. Barros (1991) afirma que, criou-se assim um sentimento de repulsa
diante de sua preferência por Maceió, tornando então impossível permanecer com a sede
do governo ali. Silva Neves tratou de convocar a Assembleia Legislativa afim de que fosse
elaborado um projeto de lei para elevar a vila de Maceió à capital da Província e em 16 de
dezembro de 1838, Silva Neves o fez58.
Como consequência da transferência, segundo Barros (1991), o corpo
administrativo da Província, que até então residia e trabalhava na velha Alagoas do Sul,
transferiu-se para Maceió junto com o título de capital. Assim a renda de Alagoas do Sul
sofreu forte redução, reduziam-se também as expectativas de futuro da cidade. Enquanto
isso Maceió só evoluía, possuía instrumentos suficientes para crescer como cidade e fazer
jus ao título de capital e a presença britânica associada ao seu comércio latente e as já
mencionadas qualidades de seu porto só vieram a somar em seu desenvolvimento.
56
Membro da aristocracia rural da época e foi um dos líderes do movimento de contra-sedição. 57
No dia 2 de novembro de 1839 um patacho57
esperava por Silva Neves no Porto de Jaraguá para conduzi-lo para fora da Província.
Sabendo de tal fato, Sinimbú entregou ao comandante do mesmo uma carta-de-prego57
que deveria ser entregue e lida por ele em alto
mar. O conteúdo da carta explicava que assim que entrasse na embarcação, Agostinho da Silva Neves deveria ser tratado como presidente, e o patacho deveria ficar à sua disposição para desembarcar em qualquer porto da Província à sua escolha (BARROS, 1991, p.81). 58
Para garantir a segurança no processo de transferência da capital, Silva Neves providenciou a punição dos principais chefes do
movimento sedicioso de Alagoas do Sul(BARROS, 1991, p.87).
53 3.4 - A modernização da nova capital
Após a transferência da capital, segundo Barros (1991) fazia-se necessário ajustar
o ambiente urbano da antiga vila de Maceió aos moldes de uma cidade-capital. O governo
provincial e o município trataram então de providenciar melhoramentos no ambiente urbano,
entre tais mudanças estavam o calçamento de ruas, iluminação pública e estradas vicinais59,
visando facilitar o escoamento dos produtos em direção ao porto de Jaraguá.
Quando se tornou capital, em 1839, Maceió ainda possuía uma feição muito aquém
de sua condição política recém-alcançada60 . As transformações61 da mais nova capital
seguiam o rumo da transformação geral que ocorria no resto do país e para Barros (1991) a
porta de entrada dessas transformações em Alagoas era o Porto de Jaraguá.
Barros (1991) ainda cita que segundo, José Saturnino da Costa Ferreira, no ano de
1842, contabilizou-se que Maceió continha 818 casas das quais 619 eram de telha e 199 de
palha. E segundo Tenório (1979) contava com 53 ruas e diversas povoações inseridas em
seu entorno urbano, eram elas; Jaraguá, Trapiche, Poço e Bebedouro.
Após o golpe da maioridade, década de 1840, já no último período da monarquia,
Barros (1991) afirma que Maceió contava com ampla diversificação profissional “eram
funileiros, padeiros, entalhadores, sapateiros, ourives, douradores, pintores, relojoeiros,
retratistas, marceneiros, alfaiates, farmacêuticos (...)” entre outros.
Segundo Tenório (1979), em 1870 Maceió já tinha uma população de 12.118
habitantes, sendo destes 10.486 homens livres. Nesse mesmo ano a província contava com
9 comarcas; Alagoas, Anadia, Atalaia, Imperatriz, Maceió, Passo de Camaragibe, Penedo,
Paulo Afonso e Porto Calvo. Ainda segundo este autor, a partir deste ano, com a
mecanização das lavouras e a substituição da mão-de-obra, aconteceu uma grande
mudança no quadro da arquitetura brasileira. No século XIX a arquitetura alagoana estava
bastante vinculada às influências inglesas, nota-se tal afirmação pelo surgimento de
chácaras, casas e sobrados descolados do terreno e cercados por „oitões‟62 vegetados.
Em Alagoas aconteceu igual, os registros mostram que a exportação de açúcar no
porto do Jaraguá só aumentou após o fim do sistema escravocrata e consequente
modernização da produção. Antes de se alcançar o fim da escravidão, o sentimento de
liberdade era forte, nota-se que até mesmo membros de famílias mais abastadas,
mobilizaram-se contra o sistema escravocrata afim de devolver a liberdade aos negros
cativos.
59
Que ligam povoados ou aldeias próximas. 60
Era privada de serviços básicos de infraestrutura como água encanada, calçamento, coleta de lixo, iluminação pública e transporte.
(TENÓRIO, S.d., p.39). 61
Essas transformações ocorreram somente mais tarde com o segundo reinado, 1840, quando a política mais liberal deste governo
permitiu que repercutissem em Alagoas as transformações que ocorriam no país (1979, p.93). 62
Recuos laterais da residência.
54
Em 1881 foi fundada em Maceió a Sociedade Libertadora Alagoana na data de
comemoração dos 10 anos da Lei do Ventre Livre, seu objetivo era aos poucos reduzir o
número de escravizados e para manter-se em funcionamento, a sociedade contava,
segundo Lima Júnior (2001), com membros associados, que ajudavam como podiam.
Ainda segundo este autor, com a promulgação da Lei Áurea em 13 de maio de
1888, a Libertadora encerrou suas atividades alcançando seu tão almejado objetivo, mas
antes disto, reuniu importantes membros da sociedade em um festival comemorativo que
fora anunciado nos jornais da época.
A cidade estava ganhando novos ares, se modernizando, esse fato era nítido
também em outras cidades brasileiras. É evidente, porém que o processo de
desenvolvimento no Nordeste não teve o mesmo ritmo do Sudeste, as transformações
ocorreram de forma gradual e lenta. Surgem neste mesmo período, segundo Tenório (1979,
p.96), “a caixa Comercial de Maceió, Caixa Econômica, Companhia União Mercantil”. É
importante também frisar os primeiros passos da indústria têxtil em Alagoas por iniciativa do
Barão de Jaraguá. Também surgem na época o Instituto Arqueológico e Geográfico de
Alagoas, a Associação Beneficente Typográfica e alguns clubes recreativos e literários.
Barros (1991) explica que com tal desenvolvimento comercial e o início de um
refinamento nos modos da população e nos serviços a ela prestados, cresce junto o nível de
alfabetização e instrução no estado. Diante da necessidade de se capacitar os professores,
em Alagoas o ensino secundário acabou antecedendo o primário. Criou-se em 1843 o
Conselho Permanente de Instrução Pública que tinha a função de administrar o ensino
primário e secundário no estado, mais tarde essa função ficou a cargo do Lyceu63 que foi
fundado em 1849 e passou a ser o centro de educação oficial do estado. Depois surgiram as
escolas estaduais de ensino primário.
Já o desenvolvimento industrial de Alagoas, ao ver de Tenório (1979), foi bastante
tardio, pois, como dependia muito do capital estrangeiro, especialmente britânico, foi
dificultado pelo desinteresse desses em abrir concorrência nas industrias, atrasou o
desenvolvimento industrial do estado que por muito tempo esteve limitado aos engenhos, à
indústria fabril de Fernão Velho e algumas pequenas fundições e fabriquetas. Já o comércio,
apesar de estar comprimido entre as praças Baiana e Pernambucana, com o advento da
ferrovia, não se fazia mais necessário o intermédio destas na comercialização com outros
países.
Algumas transformações na ambiência maceioense podem ser notadas
principalmente nos serviços públicos e na arquitetura. Neste período foram construídos
importantes edifícios na cidade entre eles a “Câmara Municipal, Tesouraria da Fazenda,
Santa Casa de Misericórdia, Casa do Júri, Casa de Detenção, Jardim Público do Largo da
63
Estabelecimento oficial de ensino secundário.
55 Matriz, o Quartel da Tropa da Linha, o Mercado Público, Assembleia Legislativa, Alfândega
[...]” (TENÓRIO, 1979, p.94).
Tenório (1979) afirma ainda que também foram construídas importantes edificações
particulares como o Palácio do Barão de Jaraguá. E quanto ao urbanismo pode-se destacar
o calçamento de vias arteriais, a implantação de iluminação pública a querosene, e
posteriormente a vapor, a construção de pontes e a implantação de serviços
complementares à atividade portuária como a construção das pontes de embarque e
desembarque. Em conjunto com os serviços públicos, se modificava também a ambiência
da cidade, principalmente nas proximidades do Porto.
Segundo Costa (apud LIMA JÚNIOR, 2001, p.41), o primeiro sistema de iluminação
pública em Maceió foi implantado pela Câmara Municipal e era composta por lampiões de
azeite de peixe. Em 1880, Maceió passa a ser iluminada a querosene, e dezesseis anos
depois por lâmpadas de arco voltaico, somente em 1924 chegou o sistema de lâmpadas
incandescentes. Para Lima Júnior (1976 apud FERRARE, 1999, p.4), no aspecto
arquitetônico as mudanças foram ainda maiores. Quando às residências térreas com
tipologia recorrente ao período colonial 64 , deram lugar em meados do século XIX, a
“sobrados de dois ou três pavimentos e fachadas rebuscadas revestidas de azulejos,
ornados com pinhais, jarros, estatuetas, janelas rasgadas e balaustradas de ferro ou pedra”.
Essa arquitetura ia:
De edificações neoclássicas, passando pelas variações marcadas por envasaduras e perfis “neogotizados”, e também por emolduramentos “neobarrocos”, despontaram exemplares ecléticos, num impulso à modernização, a partir deste contexto, sempre ascendente e favorecido pela versatilidade de opções que nutriam o encantamento pela novidade da florescente classe burguesa. (FERRARE, 1999, p.4).
A Maceió dos fins do século XIX era composta por um belo cenário arquitetônico de
edificações65 de presença imponente e notável que embelezavam os bairros mais antigos da
cidade. Mas segundo Menezes e Borba, logo
[...] em seguida o Ecletismo assume proporções extravagantes: é a época das construções bizarras; de uma linguagem prolixa, onde se mesclam soluções híbridas de provável intenção mourisca, como o velho palacete da Bela Vista recentemente demolido, o excelente sobrado da Avenida da Paz e o prédio da estrada para Bebedouro hoje uma casa de saúde, estes ainda existentes ( MENEZES E BORBA apud FERRARE, 1999, p.5).
64
Ainda com existência de algumas cobertas em palha e pau-a-pique. 65
Segundo Pedrosa (1998, p.52), no ano de 1901 havia no Jaraguá os prédios da “Recebedoria e a casa de guarda, a Alfândega, a
Enfermaria militar, o Correio, a Delegacia fiscal, a Escola de Aprendizes de Marinheiros”, além da Estação Telegráfica, Estação Marítima da Via Férrea de Alagoas, Associação Comercial, entre outros.
56
A Avenida da Paz destacava-se pelos edifícios de maior porte, principalmente nas
proximidades da Praça Sinimbú, para Pedrosa (1998), tais prédios certamente sediavam
escritórios de importantes firmas, repartições do governo e casas de famílias mais
abastadas. Ainda segundo Pedrosa, as melhores casas ficavam localizadas não apenas na
Avenida da Paz, mas também na Rua Santo Amaro, localizada depois da Pajuçara. Os mais
pobres instalavam-se em casebres de palha, além do trilho do trem, próximo do cemitério do
Jaraguá, e nas ruas da Ponta da Terra.
Enquanto na face voltada para o mar estabelecia-se um Jaraguá rico e
desenvolvido, nos becos, para onde os fundos dos trapiches (Ver Imagens 22, 23, 24 e 25)
e armazéns se voltavam, estavam abrigados a prostituição das classes mais baixas, os
moradores de ruas e os bêbados. Na rua Sá e Albuquerque tinham-se a vida boemia e a
prostituição de primeira classe ocupando a vida noturna do Jaraguá, é o que afirma Pedrosa
(1998).
Imagem 22: Trapiche Faustino. Imagem 23: Trapiche Jaraguá. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.
Imagem 24: Trapiche Williams. Imagem 25: Trapiche Novo. Fonte: MISA, 1919. Fonte: MISA, S.d.
Em concomitância com os bondes, foram surgindo os carros de aluguel que
complementavam o transporte da população como mostra uma publicação do jornal O
Mercantil de 8 de julho de 1861:
Viva o progresso! – Joaquim José Bezerra Montenegro faz ver a quem interessar possa, que comprou a grande cocheira de carros de aluguel da rua David, faz também ver que a mesma cocheira continua a ter excelente carros e “cabriolets”
66 para alugar, tanto para passeio nesta cidade como em
seus subúrbios (...) (LIMA JÚNIOR, 2001, p.27).
Em 1866, segundo Lima Júnior (2001, p.28), a Província contratou o serviço de
“Tramway” ligando Jaraguá ao Trapiche, sendo esse transporte puxado por uma locomotiva
66
Espécie de carruagem da época.
57 conhecida como “Maxabomba” (Ver Imagem 18 - Anexo I). Em 14 de junho de 1890 foi
fundada a Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos (CATU) (Ver Imagem 26), com sede na
Praça Sinimbú, possuindo subestações em Bebedouro, no Trapiche, no Farol, no Jaraguá,
entre outros. Ainda na Praça Sinimbú, instalou-se a cocheira.
Em 1904, segundo Lima Júnior (2001), o serviço de bondes foi aprimorado e os
bondes puxados por burros deram lugar aos elétricos que utilizavam energia fornecida pela
Nova Empresa Luz Elétrica com as linhas Centro-Pajuçara e Poço-Mangabeiras.
Imagem 26: CATU. Fonte: MISA, S.d.
Nos fins do século XIX Maceió consolidou seu desenvolvimento e
Foi o que se deu em Maceió. A partir de (1890) o surto progressista acentua-se numa curva ascendente. Desdobram-se os orçamentos; as finanças; com renda própria os governos municipais oferecem à cidade possibilidades de progresso.[...] Começam os trabalhos e realizações. O necessário era fazer a cidade; urbanizá-la como que para lhe tirar os ares passadistas que tinha. Abrem-se e alargam-se ruas; constroem-se praças [...].Os bairros e arrabaldes agitam-se na renovação. São os mesmos, aliás, dos tempos imperiais. Em cada um, porém, aparece sempre um sinal de atividade; ruas novas, palacetes que se constroem casas que se edificam, praças que aparecem tendo nas extremidades estátuas de animais, (de homens lutando com bichos[...] os deuses mitológicos enche-nas, [...] As praças surgem também neste período, com mais importância; o contexto com a rua não é privativo dos moleques, dos negros, dos vagabundos [...]. As famílias já procuram as ruas, já vão às praças, já assistem a festejos públicos [...] (DIÉGUES JÚNIOR, 1939.. In COSTA, 1981 Apêndice, p.4. apud FERRARE, 2008)
Segundo Ferrare (2008) foi o gosto pela rua que aos poucos foi enriquecendo a
tipologia do casario que emoldurava as ruas da cidade, que agora mais do que um local de
passagem, eram um lugar para passeio e apreciação, afirmando ainda que no contexto
republicano a sociedade estava mais interessada em idealizar recordações românticas do
que preocupar-se com padrões rigorosos e normas a serem seguidas.
Essa fase romântica na estética das tipologias arquitetônicas pode ser notada em
Maceió pela adoção de “pináculos góticos, torreões medievais, cúpulas bulbosas, entre
tantos outros contornos e referências excêntricas; ou, simplesmente, dispor de linhas
despojadas, praticamente proto-modenristas” (FERRARE, 2008, p.5), a adoção desses
elementos foi financiada pela fervente industrialização que fazia jorrar ferro e outros
materiais que facilitavam o emprego de formas e funções diversas.
58
Nos fins do século XIX e início do século XX, tinha Maceió uma feição
“aformoseada”, eram vários os prédios públicos que empregavam o que havia de mais
moderno entre as novidades trazidas da Europa, sem contar nos numerosos palacetes
ecléticos que enriqueciam a estética da cidade.
E com o enriquecimento dos meios de transporte através da implantação de linhas
férreas, ligando não somente os setores mais participativos nas atividades comerciais da
cidade, mas também ligando a própria cidade com outras regiões da Província e de fora
dela, esse desenvolvimento só tendia a ser ainda maior.
59 3.5 - O advento das ferrovias e o aumento do fluxo de visitantes
“O homem agora não se limita somente ao cavalo e sua velocidade limitada” (TENÓRIO, 1979).
Durante o período da colonização o Brasil era, segundo Tenório(1979), formado por
territórios desconhecidos de matas fechadas e terrenos acidentados. Dessa forma tornava-
se difícil a exploração dessas terras, pois não havia meios de locomoção para tal, e
acredita-se que se deva a isso o fato de a colonização brasileira ter se limitado a ocupações
litorâneas. Com o tempo passou-se a utilizar estradas, mas a situação destas era precária,
normalmente eram muito acidentadas, o transporte através de rios era muito inseguro por
não existir estudos prévios sobre a locomoção através desse meio.
O atento historiador Douglas Apratto Tenório afirma que as estradas que ligavam
Maceió ao interior não possuíam um esquema pré-definido, penetravam aleatoriamente o
interior seguindo as trilhas abertas de acordo com a necessidade “dos comboios, carros de
boi, cavalheiros e escravos” (TENÓRIO, 1979, p.95).
Ainda segundo este autor, o Brasil desde o princípio inspirava-se em outras nações
para promover seu desenvolvimento, e quando em 1830 surgiu a primeira linha férrea
construída no mundo, os governantes brasileiros encheram-se de esperanças. A segunda
metade do século XIX, no período imperial a economia cafeeira vinha trazendo um grande
desenvolvimento econômico ao país, a população vinha aumentando com a chegada dos
imigrantes em substituição à mão-de-obra escrava, e por consequência surgiam novos
centros urbanos. O mercado externo expandiu-se cada vez mais, era um período ímpar de
avanços para o país.
Com o tempo tanto a capital quanto as Províncias foram, segundo Tenório (1979),
se desenvolvendo também, eram telégrafos, ruas calçadas, esgotos, iluminação pública,
multiplicação das indústrias e estabelecimentos comerciais, bancos, companhias de
navegação a vapor e estradas de ferro.
Esse período de desenvolvimento coincidiu com a fase de expansão britânica
quando os ingleses dominavam o mercado internacional, nesse momento o Brasil estava
„apto‟ a receber os investimentos britânicos. Tenório afirma ainda que a abolição da
escravatura ajudou o país a se integrar ao mercado internacional, pois os investimentos
antes feitos no comércio negreiro agora podiam ser “canalizados para atividades produtivas”
(1979, p.16). Durante o período de maior expansão do mercado externo brasileiro o café era
o produto mais exportado67. E a produção só aumentou com a construção das primeiras
estradas de ferro ligando São Paulo ao interior e devido ao acelerado desenvolvimento
67
Além de ter que lidar com o estouro da produção e comercialização cafeeira no Centro-Sul do país os produtores de açúcar e algodão
ainda tinham de enfrentar a concorrência por parte de outros países, esses fatores fizeram com que a região Norte do país enfrentasse sérias dificuldades no desenvolvimento da atividade comercial desses gêneros, que eram seu forte (TENÓRIO, 1979, p.18).
60 dessa atividade produtiva o Brasil atingiu uma posição hegemônica na produção de café
mundial.
A inovação férrea foi muito bem aceita na Inglaterra68 , tanto que na segunda
metade do século XIX, segundo Tenório (1979), pelo fato de o Brasil estar vinculado
economicamente à Inglaterra não havia como ficar indiferente a essa importante inovação
tecnológica. Mas como consequência os vínculos de dependência com os ingleses só
aumentaram, pois para importar a tecnologia ferroviária e implantar esse transporte em
terras brasileiras foram necessários acordos com concessões aos ingleses.
A situação dos transportes brasileiros era precária e incipiente, as estradas eram
estreitas, esburacadas e tortuosas, quanto à navegação, havia carência de estudos prévios
das áreas navegáveis e o transporte aquático tornava-se inseguro.
Surge então, segundo Tenório (1979) o primeiro acordo com a Inglaterra, em 31 de
outubro de 1835 a Lei n°101 traz concessões com privilégios aos britânicos pelo prazo de 40
anos em troca da construção de ligações ferroviárias entre o Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Rio Grande do Sul e Bahia.
Ainda segundo este autor, várias propostas foram feitas, mas não chegaram a ser
colocadas em prática talvez por sua incipiência, pela pouca clareza, ou por não serem
atrativas aos interesses capitalistas dos ingleses. O Decreto Regencial só alcançou seus
objetivos anos mais tarde. O Decreto 101 não garantia todas as exigências dos capitalistas
ingleses e acabou não atraindo investimentos significativos ao setor. Criou-se então a Lei n°
641 em 26 de junho de 1852. que era mais objetiva e trazia maiores vantagens e garantias
aos capitalistas. Essa mesma Lei dava preferência ao eixo Rio-São Paulo devido ao fato de
serem a base da produção cafeeira nacional e a intenção principal da implantação das
ferrovias no país era exatamente facilitar o escoamento dos produtos das regiões
interioranas para os portos. Para este autor, a Lei n°641 foi o marco do advento ferroviário
brasileiro, criaram-se assim as linhas Mauá-Petrópolis, Recife-São Francisco entre outras69.
A associação ao capital inglês não parava apenas na construção das ferrovias, mas
também na manutenção, já que as firmas nacionais não tinham capital nem “Know-How70”
(TENÓRIO, 1979, p.47). Essa relação causava, porém uma forte dependência nacional em
relação aos ingleses. - o país estava subordinado às preferências britânicas. Outro problema
é que o sistema ferroviário era um tipo de serviço completamente novo no país, não tinha,
portanto quem fiscalizasse as atividades de construção, então muitas vezes os orçamentos
eram muito superiores ao valor real.
68
O primeiro teste de um trem foi feito em 26 de setembro de 1825, na Inglaterra. A “máquina de ferro” percorreu 15 Km de Stockton a
Darlington. Foram diversos testes até que em 1830 a Inglaterra estabeleceu a primeira linha regular de viação ferroviária do mundo, esta ligava Manchester a Liverpool (TENÓRIO, 1979, p.19). 69
Em 1872 constrói-se a Madeira-Mamoré69
, a primeira ferrovia intercontinental a abranger terras brasileiras. Segundo Tenório (1979,
p.50) na década de 1860 as ferrovias eram uma verdadeira febre. 70
Refere-se ao conhecimento do processo.
61
A segunda porção de ferrovias construídas no país está amparada na Lei. 2450 de
24 de setembro de 1873 que traz ainda mais benefícios aos ingleses. Cerca de 90% das
ferrovias brasileiras foram executadas após a sanção desta Lei que, segundo Tenório (1979,
p.50) aumentava exacerbadamente os privilégios dos capitalistas ingleses. E percebe-se
também que “O segundo reinado com sua política liberal de incentivos dotou o país de uma
rede ferroviária” (TENÓRIO, 1979, p.54).
O sistema ferroviário brasileiro teve, porém muitas falhas, entre elas a não
padronização das bitolas71, sistematização das ferrovias através da elaboração de um plano
de implantação. Segundo Tenório (1979), dessa forma as ferrovias não eram implantadas
racionalmente de modo que todo o sistema pudesse ser posteriormente interligado
aumentando os lucros da atividade.
Como se sabe a colonização brasileira teve início na costa litorânea e só mais tarde
vencidos os perigos e a resistência indígena é que os interiores começaram a ser
desbravados. Para Tenório (1979), os caminhos entre a costa e os interiores produtores
eram feitos á carro de boi, e a orientação das ferrovias seguiu esses caminhos.
Por mais que o interior tenha sido explorado posteriormente, os núcleos de
povoamento mais importantes estavam localizados próximos à costa e em Alagoas:
Ao tempo da ocupação holandesa os topônimos mais importantes – Penedo e algumas localidades mais ao norte do rio São Francisco, Porto do Francês, Alagoas do Norte, Alagoas do Sul, Jaraguá, Porto Calvo, Maragogi (...) delimitam a área geográfica palmilhada pelos colonizadores. (TENÓRIO, 1979, p.62, grifo nosso).
Até a segunda metade do século XIX eram inúmeros os portos na costa brasileira,
pois a exportação de produtos nativos através de pequenos portos locais fez com que cada
região assumisse a predominância de algum gênero específico. Segundo Tenório (1979),
quase toda enseada da costa brasileira possuía um porto. O sistema marítimo e fluvial
durante muito tempo foi superior ao terrestre tanto que “a barcaça, a canoa e a jangada
estiveram por muito tempo ligadas à cana, ao açúcar e ao negro de engenho. Tanto quanto
o carro de boi” (FREYRE apud TENÓRIO, 1979, p.65).
Em Alagoas a primeira estrada de ferro a ser construída foi a Estrada de Ferro
Central de Alagoas que servia de ligação entre Maceió e Viçosa e tinha uma extensão de 88
km e percorria a região mais fértil da zona da mata alagoana. Tenório (1979) afirma que, os
investimentos em ferrovias em Alagoas significaram altas despesas, pois tudo era
importado, não só a matéria-prima para a construção das linhas, como também a mão-de-
obra operadora e o combustível72.
71
Largura convencionada da via férrea segundo o Priberan. 72
Outro problema é que as verdadeiras necessidades regionais não eram acudidas devido ao desconhecimento por parte dos investidores
estrangeiros e também porque o interesse capitalista acabava falando mais alto (TENÓRIO, 1979, p.75).
62
Quando o advento ferroviário atingiu a zonas algodoeiras e canavieiras, as usinas
de açúcar ganharam mais impulso, se expandiram e deram fim aos engenhos-banguês73. No
ano de 1864 o então vice-presidente Roberto Calheiros de Mello sancionou a seguinte lei:
“Lei N° 428 de 2 de julho de 1864 Art. 1° - Fica o governo autorizado a mandar proceder aos estudos necessários a factura de uma via-férrea, que, partindo do porto de Jaraguá, ponha esta capital em comunicação com o centro da província. Art. 2° - Fica igualmente autorizado a garantir a companhia, que se organizar para esse fim, um quarto de juro que lhe for garantido pela assembleia legislativa geral. Art. 3° - Ficam revogadas todas as leis e disposições em contrário.Ass. Roberto Calheiros de Mello Presidente, em exercício, da Província” (TENÓRIO, 1979, p.106).
A “Era Ferroviária” em Alagoas teve início apenas 1868, segundo Tenório (1979),
mais especificamente a 25 de março com a inauguração de um ramal de 6Km que ligava a
ponte de desembarque do Jaraguá ao Trapiche da Barra. Tal passo foi dado porque, ainda
segundo o mesmo autor o transporte dos produtos que chegavam do interior ao Trapiche
para serem exportados no Jaraguá era bastante inseguro, pois era feito precariamente
através de carroças de boi, ou no lombo dos animais, percorrendo-se um extenso areal. No
ano de 1866 houve um ataque na região a um comboio e as autoridades resolveram então
solucionar o problema.
Vinculava-se assim o transporte fluvial feito pela lagoa Manguaba – chegada de
mercadorias do interior - e o transporte marítimo no Jaraguá – saída de mercadorias para o
exterior - compondo-se um importante eixo de transporte de mercadorias.
O trem de ferro, que vai de Maceió até a zona do açúcar e do algodão, e a navegação a vapor nas lagoas do Norte e do Sul e no Litoral, se constituem no símbolo da tecnologia moderna dos transportes. A abolição é um corte profundo na vida do país em 1889. O império agoniza e morre. A República nascente cambaleia com a turbulência dos anos iniciais, mas se consolida em seguida. (TENÓRIO, [S.d.], p.49 – cartões postais).
Tenório (1979) afirma que este ramal teve continuidade com a bifurcação na rua do
Livramento, atual Senador Mendonça, que prosseguia até o povoado do Bebedouro, essa
parte do ramal foi construída em 1872 e tinha uma extensão de 5Km. Com o êxito do
sistema ferroviário o governo logo autorizou a penetração das linhas férreas no interior do
estado, com a construção de uma ferrovia ligando Maceió a Imperatriz acompanhando o
vale do Mundaú.
Entre as várias mudanças de companhias encarregadas da implantação das
ferrovias no estado, Alagoas atingiu na década de 1880 do século XIX um total de
269,116Km de ferrovias construídas.
73
O próprio engenho com a propriedade rural.
63
As expectativas agora eram outras, a prosperidade enchia os olhos dos alagoanos,
é possível perceber esse sentimento, por exemplo, através da publicação do jornal do Pilar
de 24 de setembro de 1872:
[...] Efectuada a construção da estrada da via férrea central veremos como por encanto mudar-se este estado de cousas tão contristador para aquelles que acompanham o movimento progressivo do século, veremos nossas principais fontes de riqueza, a agricultura usando os machinismos aperfeiçoados que o invento e as ciências positivas tem introduzido no mundo europeu. SEREMOS UM POVO CIVILIZADO E NÃO MAIS UMA TRIBO DE PELES VERMELHAS! O Século, Maceió, edição de 24 de setembro de 1872, A PEP. (TENÓRIO, 1979, p.135).
Como consequência das ferrovias tem-se a geração de emprego, a qualificação da
mão-de-obra nacional e consequente valorização da mesma, o desenvolvimento dos setores
industriais a ela vinculados (metalurgia entre outros), e a cima de tudo, as rodovias deram
um impulso a economia brasileira, atraindo comerciantes e investidores.
O trem de ferro, as embarcações modernas e a praça eram inovações que estimulavam a convivência, a troca de informações, o consumo de artigos exóticos, a moda dos grandes centros” (TENÓRIO, S.d., p.38 – cartões postais).
Outra consequência é o surgimento de novos ramos comerciais e o aumento dos
estabelecimentos comerciais estrangeiros na cidade. Um bom exemplo são as “companhias
Northern Assurance Companyof London and Aberdeen e a New Life Insurrance Company”.
Próximo ao Porto no Jaraguá também estabeleceram-se outras casas comerciais de
importação e exportação, eram elas “ Borstelmannand Company, John H. Boxwellan
Companye J. Rippeland Company” (TENÓRIO, 1979, p.96). Para Tenório, o Jaraguá era um
verdadeiro armazém do comércio maceioense.
Podemos dizer que em Alagoas conceito de turismo começou a ser desenhado com a chegada desse instrumento de comunicação, pois além de conhecer as belezas famosas de outros lugares do Brasil e do mundo, o postal despertou a sensibilidade do alagoano para as nossas paisagens e atrativos” (TENÓRIO, S.d.,p.39).
Apesar dos muitos elogios, Tenório (1979, p.213) afirma que se sabia que os
serviços da Alagoas Railway deixavam a desejar, havia suspeitos de jogos de interesses,
boicotes à fiscalização das obras, e a escolha de locais para a implantação das vias sem
justificativas plausíveis. A proclamação da República significou a libertação do Brasil dos
laços que o prendiam à Inglaterra, criou-se um plano geral de viação para gerir o sistema
ferroviário e rodoviário do país. Em 1896 teve início um processo de extinção do regime de
concessões criado no império, “era o fim da „Era de ouro‟ das ferrovias britânicas no Brasil”,
64 mas essa decisão não pôs fim à presença britânica, pois algumas firmas permaneceram,
como por exemplo a emergente Great Western.
Ainda de acordo com o que cita Tenório (1979), o governo republicano aplicou
multas diversas a Alagoas Railway por suas irregularidades, como o descumprimento de
horários, a omissão de documentos importantes, ao não pagamento de gastos referentes à
construção e manutenção das ferrovias.
Ainda segundo este autor, o trem fez com que Maceió pudesse conhecer o mundo,
pudesse se engajar em temas políticos assim como as grandes cidades do sul, também
trouxe a melhoria dos serviços públicos. Permitiu a entrada de ares intelectuais e passou a
atrair para a cidade pessoas da região interiorana e também de outras províncias. Os
viajantes e negociantes vinham com mais frequência à cidade, pois a ferrovia facilitava essa
locomoção.
É nesse quadro que as edificações de uso hoteleiro ganham destaque e assumem
parte da responsabilidade de vender uma imagem de desenvolvimento, êxito e “glamour”
aos que chegavam à capital.
65
4 - Os Hotéis Ecléticos de Maceió e sua participação no processo evolutivo da
cidade
4.1 – A importância destes hotéis nas atividades econômicas da cidade
O comércio foi a fonte de renda e de desenvolvimento de Maceió desde o princípio
de sua ocupação. Como já mencionado anteriormente, suas condições geográficas, lhe
davam a vantagem de uma enseada natural muito bem localizada e com excelentes
condições de fundeio. Já desde os primórdios os benefícios desse porto natural tornou-se
conhecido dos que ocuparam essas terras.
Com a Chegada da Corte lusitana ao Brasil, os portos brasileiros foram abertos, por
meio de um acordo com os ingleses74. Assim o Brasil tornou-se permeável à penetração
britânica, não tendo sido diferente nas terras alagoanas. O porto de Jaraguá começou a
comercializar, através das praças de Pernambuco e Bahia, com nações de todo o mundo.
Nota-se que a evolução urbana de Maceió caminhou junto com a evolução
econômica movida pelo “dom comercial” da Enseada de Jaraguá. Assim impulsionada,
Maceió aos poucos deixou de ser povoado, passou a ser vila, logo depois cidade e capital.
O Porto de Jaraguá aos poucos foi tendo suas adjacências ocupadas por estabelecimentos
mercantis, e casas de inspeção, no intuito de controlar a qualidade dos produtos ali
comercializados.
Quando, em 1839, foi elevada à condição de cidade e capital75. Maceió recebeu
alguma infraestrutura e passou a sediar o órgão administrativo da Província e, a sediar as
residências das principais autoridades de Alagoas. Com todos esses fatores, sua feição
começou a ser modificada, edifícios de maior porte e rigor estilístico começaram a ser
edificados, principalmente nas proximidades do Jaraguá, da Boca de Maceió e da Avenida
da Paz. Esses pontos passaram a ser o centro do status e do glamour da próspera Maceió
do século XIX.
Autores como Ferrare, ressaltaram que a população passava a utilizar as ruas
como áreas de passeio e para promover festejos públicos, em contraste com a
desvalorização dada a estas nos tempos coloniais. A partir de então manifestou-se nas
edificações algum apelo estético pois tornara-se um hábito da população se adornar para
passear pelas ruas da capital em postura contemplativa (1999).
Com o aparecimento das ferrovias Maceió viu seu horizonte ampliado. Esse
transporte facilitou a comunicação com as regiões interioranas da Província de forma mais
rápida, afinal os antigos carros de boi que transportavam as mercadorias das zonas de
74
Tratado de Amizade e Aliança, assinado em 19 de fevereiro de 1810, mais um em meio a uma série de tratados impostos no mesmo
período pelos ingleses a Portugal, gerando assim fortes laços de dependência. A própria retirada da Corte Portuguesa para o Brasil, reflete esses fortes laços com a Inglaterra, afinal a Invasão Napoleônica foi motivada pela não-adesão dos portugueses ao Bloqueio Continental. De grande importância na criação destes laços de dependência de Portugal em relação aos ingleses foram os Tratados de Windsor (1386) e o de Methuen (1703), ambos refrentes a “favores” comerciais e de troca de produtos entre as duas nações (Peter, 2007). 75 Conforme decreto sancionado em 16 de dezembro de 1838, após solicitção de Agostinho da Silva Neves à Assembleia Legislativa afim de
que fosse elaborado um projeto de lei para elevar a vila de Maceió à capital da Província (Barros, 1991).
66 produção agrícola para a costa maceioense o faziam de forma lenta. A máquina à vapor
sobre trilhos penetrava com facilidade não apenas as terras alagoanas, e tinha a capacidade
de comunicar a Província com outras regiões do país, coisa que os comboios terrestres não
faziam. Efetivamente, essa máquina deslizante reduziu as distâncias, aos poucos Maceió
ganhou linhas que a ligavam a outras províncias e desse modo sobressaiu-se mais uma
vez, pois era evidente a atração de uma cidade dotada de ferrovias sobre os viajantes, em
relação às que ainda não conheciam os benefícios desta.
Maceió já tinha suas portas abertas há muito pelo Porto de Jaraguá, agora se
abriam outras para que chegassem de trem mais inovações, mais visitantes e negociantes
dispostos a colher os louros da bem-sucedida atividade. Já possuía sedes para os órgãos
administrativos da região e agora precisava equipar-se para receber os negociantes que ali
chegassem. É clara a importância de um bom “cartão de visitas” para a geração de negócios
bem sucedidos. No período vários bilhetes postais retratam a beleza e os ares modernos da
cidade, estes traziam imagens da Estação Central e de grades ícones arquitetônicos do
período (Ver Imagens 27, 28, 29 e 30).
Imagem 27: Bilhete Postal – Ponte de Desembarque. Imagem 28: Bilhete Postal – Pça. Euclies Malta.
Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.]. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.].
Imagem 29: Bilhete Postal – Estação Central. Imagem 30: Bilhete Postal – Porto da Levada. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.]. Fonte: DANTAS, Cármen [S.d.].
67
Os hotéis passaram a ser também “cartão de visitas” fundamentais, aliados às
paisagens naturais da cidade e à sua feição em conformidade com as inovações europeias,
estes estabelecimentos acolhiam os responsáveis pela geração de renda no setor comercial
da cidade.
São vários os hotéis de que se tem conhecimento na época, alguns mantiveram
suas funções, outros serviram a outros setores, outros tantos foram demolidos ou
abandonados, porém esses dados não são precisos já que a Secretaria municipal de
Turismo não disponibiliza os registros de hotéis existentes na época. É certo que boa parte
destes é um verdadeiro registro do sentimento que aflorava nos fins do século XIX e início
do século XX, a sensação de europeização que nascia em Maceió se nota pela forte
presença do Ecletismo em seu ambiente construído.
Para uma equiparação aos ares civilizados os hotéis edificados nessa época
traziam linhas ecléticas com influências clássicas, mouriscas, neo-góticas, barrocas, etc.
Predominantemente, faziam uso de balaustradas nas varandas, escadarias, por vezes
escaioladas, pisos em ladrilho hidráulico, colunas com capitéis definidos, pináculos,
ornamentos em frisos e platibandas em massa com motivos fitomorfos (em guirlandas) e
antropomorfos, entre outros.
Outro ponto marcante é que o visitante que se hospedava nesses hotéis, podia
debruçar-se por alpendres e balaustradas que se abriam para as ruas e para as praças, que
compunham a paisagem dos seus entornos, e até pelos cursos d‟água que cortavam o
Centro da cidade, sobretudo nas imediações da localização da Estação Ferroviária ou
mesmo para o mar exuberante da então orla urbana – a praia da Avenida76.
A cidade tinha assim, elementos suficientes para atrair visitantes e vender sua
imagem no âmbito nacional e internacional. Os bairros de Jaraguá, Centro e Bebedouro
ainda hoje continuam como importantes marcos desse período tão relevante na evolução
urbana, cultural, social e econômica da cidade.
76
O registro de localização dos principais hotéis edificados entre 1839 e 1922 (recorte temporal estudado) reforçaram esta constatação.
68 4.2 – A localização dos Hotéis e a dinâmica criada por eles
Os hotéis estudados neste trabalho estão localizados em importantes eixos da
cidade na estrutura que apresentava no século XIX, (Ver mapa de localização no Anexo II -
Prancha 01). Como já mencionado anteriormente, o traçado urbano da Cidade estava
diretamente associado à sua evolução comercial a partir da enseada de Jaraguá. Ao redor
da enseada instalaram-se, segundo Barros (1991) as primeiras vilas mercantis compostas
por armazéns, trapiches, casas de inspeção e estabelecimentos de comercialização de
mercadorias.
Durante o século XIX, conforme descreve Barros (1991, p.52), a cidade tinha
alguns pontos que eram fortes atrativos aos visitantes, como: as adjacências do porto, onde
o coração da cidade pulsava no decorrer das transações comerciais, e onde aos poucos
começou a existir movimentada vida noturna preenchendo o bairro no período em que o
comércio se recolhia à espera do dia seguinte. No Centro da cidade, mais precisamente nas
ruas que mais concentravam o fluxo comercial, Rua do Comércio, Rua do Livramento, Rua
do Apolo, Praça Montepio dos Artistas e na antiga Boca de Maceió, onde se instalara a
Estação Ferroviária Central (Ver Imagem 19 – Anexo I), servindo como uma porta de
entrada aos que chegavam de outras regiões movidos, segundo Tenório (1979, p.95), pela
máquina sobre trilhos e onde está a Praça dos Palmares, cenário de boa parte dos hotéis
citados neste trabalho.
E por último nas proximidades da Avenida da Paz que possui vista privilegiada para
o mar, formada por um casario intercalado por casas térreas e sobrados, arrematadas por
platibandas, e na época ainda trazia em seu entorno o Riacho do Salgadinho sobreposto
pela famosa ponte dos Fonseca77, importante eixo de ligação entre o Jaraguá e o Centro da
cidade, e ladeado pela formosa Praça Euclides Malta ou Praça Sinimbú, esta última era
circundada pela Estação de Bondes, o Lyceu de Artes e Ofícios e o Tribunal Eleitoral de
Alagoas. Conforme expõe Ferrare (1999), a Avenida da Paz ainda destacava-se pela Praça
Napoleão Goulart78, que ficava à frente do Clube Fênix Alagoana, representativo espaço de
lazer e encontros da sociedade de Maceió (Ver Imagem 20 – Anexo I). Seria exatamente
nessas áreas que se localizariam os hotéis em foco.
Como se pode ver no mapa em anexo (Ver mapa de Localização no Anexo II -
Prancha 01), no centro da cidade foi erguido o Hotel Lopes, margeando a antiga Praça
77
A ponte dos Fonseca representa um marco das antigas ligações entre o Porto do Jaraguá, que recebia as mercadorias importadas, e o
Centro da cidade, que as comercializava. Sua extensão era de 120m e largura de 4m, foi edificada na gestão de José Bento da Cunha Figueiredo por Hugo Wilson, como um representativo acontecimento da engenharia em Alagoas. Seguindo a legislação devia ser feita em paralelepípedos com os passeios laterais protegidos por guarda-corpos de ferro. Esta ponte foi destruída em 1924 por uma tromba d’água (FERRARE, 1999, p.7). Aliás, o ferro era material corriqueiramente empregado nas obras urbanas de Maceió, pois além de trazer um ar de solidez, o acesso a esse tipo de material tornara-se muito fácil com o advento da industrialização. 78 Quanto ao espaço desta praça, Ferrare (1999, p.7) descreve que “era agenciado por canteiros, possuindo inclusive um caramanchão
central, similar a um coreto, e consistia em um dos jardins públicos, (...) e de todo o tratamento arborístico da Avenida da Paz, até este ter sido cedido pela prefeitura Municipal ao empreendimento construtivo do Clube Fênix”.
69 Montepio dos artistas. Está localizado na Rua Barão de Penedo, que funcionava como um
eixo de ligação direta entre a Estação Ferroviária e os pontos nodais do centro comercial da
cidade, facilitando o deslocamento de quem chegava a Maceió de trem, no intuito de fazer
transações comerciais.
Bem próximo à Estação Central, estavam localizados os hotéis Bela Vista (antigo
Universal), Palmares, Avenida e Central, ambos voltados para a Praça dos Palmares79.
Entretanto, esses dois últimos não foram abordados neste trabalho por não possuírem
repertório arquitetônico Eclético.
O Hotel Avenida foi localizado em uma foto do acervo do Museu da Imagem e do
Som de Alagoas (MISA), apresentando características formais típicas do estilo colonial (Ver
Imagens 31 e 32). Sua localização era próximo à antiga Praça 16 de Julho, atual Praça dos
Palmares. Ainda observando-se o acervo do MISA, foi possível localizar em uma foto do
Bela Vista Palace hotel, um outro hotel ao fundo, o Hotel Central (Ver Imagem 33).
Imagem 31: Hotel Avenida. Imagem 32: Hotel Avenida à esquerda da Praça 16 de julho.
Fonte: MISA, [S.d.]. Fonte: MISA, [S.d.].
Imagem 33: Hotel Central ao fundo do lado esquerdo da foto.
Fonte: MISA, [S.d.].
Na Avenida da Paz, tinha-se o antigo Hotel Atlântico, que possuía privilegiada vista
para o mar, e o “Palacete dos Machados”, atual Museu Théo Brandão. Ambos localizados
nessa área mais valorizada da cidade no período, onde só se tinham estabelecimentos
79
Esta localizada exatamente entre a Rua Barão de Penedo, cuja importância já foi mencionada a cima, e a Rua do Comércio, que ganhou
este nome pela grande movimentação comercial que tinha na época e que conserva até hoje.
70 públicos e comerciais de importância. Além de residências de pequeno porte e belos
sobrados muito bem afeiçoados que compunham um visual de luxo e exuberância em
conformidade com a bela vista da praia da Avenida.
Essa localização explica-se não só pelo luxo implícito nos arredores da Avenida da
Paz e pelo romantismo que a cerca, mas também por significar mais um eixo de ligação,
desta vez entre o Porto de Jaraguá e o Centro da cidade.
É certo que a implantação destes hotéis no contexto urbano de Maceió está
diretamente vinculada à dinâmica comercial da mesma, já que o que movia a economia do
local era o comércio interno e o mantido com outros estados e nações. O transitar de
pessoas de outras localidades em Maceió, no século XIX estava ligado à exploração do seu
potencial econômico, tanto que se justifica assim tamanha evolução da Cidade em relação
ao resto da Província.
Apesar da importância destes hotéis na historia da cidade, é notável o descuido do
poder público. Somente O Hotel Lopes, está inserido em um Setor de Preservação Rigorosa
(SPR – 01), e é considerado um monumento histórico. Já o Hotel do Palacete dos
Machados (Museu Théo Brandão) é considerado um imóvel histórico pela Zona Especial de
Preservação do Centro - 02 (ZEP– 02), ou seja, não está inserido em uma zona de
preservação rigorosa. Já o Hotel Palmares e o Hotel Atlântico estão localizados apenas em
Setores de Preservação de Entorno (SPE) do Centro e do Jaraguá, respectivamente80.
80
Lei Municipal N° 5593 de 08 de Fev. de 2007. Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento – SEMPLA. Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural – Centro (DPHC).
71 4.3 – Hotel Atlântico “O encanto Eclético da Praia da Avenida”
4.3.1 - LOCALIZAÇÃO
Mapa 01: Mapa de Localização do Hotel Atlântico.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
O Hotel foi edificado entre as casas térreas e os sobrados da Avenida da Paz. Até
que, no ano de 1941 o surto de progresso em que se encontrava a cidade, acabou por ser
determinante para o aterro do leito do Riacho Salgadinho levando-o a desembocar na praia
da Avenida81 (Ferrare, 2008) (Ver Mapa 01).
A partir deste momento o Hotel tornou-se uma edificação “de esquina” margeando a
desembocadura do Riacho Salgadinho no mar. Sua localização é na esquina da Avenida da
Paz com a Avenida Aspirante Alberto Melo da Costa.
4.3.2 - HISTÓRICO
Não se sabe a data certa da construção desta edificação, sabe-se apenas que seu
repertório arquitetônico corresponde ao início do século XIX. Há poucos registros de sua
existência, apenas poucas fotos, mas nenhum registro documental de conhecimento
público. O que se pode afirmar com segurança é que seu entorno mudou completamente, o
contexto luxuoso onde se inseria entre as décadas de 20 e 30 do século XIX, período em
que a cidade usufruía do status proporcionado pelo título de capital e pelo desenvolvimento
comercial, difere completamente da paisagem urbana que se tem hoje. Tinha-se uma linha
contínua de edificações na Avenida da Paz que só foi interrompida com o desvio da
desembocadura do Riacho Salgadinho para aquela localidade. (Ver Imagens 34, 35 e 36).
81
A fim de aproveitar o terreno antes ocupado por ele para a obtenção de mais áreas disponíveis para a construção civil.
72
Imagem 34: Demarcação da atual desembocadura do Riacho Salgadinho.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 35: Linha continua de edificações Imagem 36: Riacho Salgadinho antes na Avenida da Paz. do desvio de seu fluxo. Fonte: MISA, S.d. Fonte: Blog Olhares, 2011.
No período os arredores “paisagisticamente” atraentes chamavam a atenção dos
transeuntes e atraíam cada vez mais visitantes a se hospedarem no hotel. Segundo Miranda
(2005, p.18), nos anos 1950 o Hotel passou a pertencer à família Miranda que na época era
conhecida como “comunista” por conta do envolvimento de alguns membros da família com
rebeliões contra o regime da ditadura militar. O mais conhecido dentre os membros desta
família, o advogado Jaime Amorim de Miranda foi preso e exilado e desde 1975. Essa
relação dos proprietários do hotel com o movimento comunista, fez deste um ponto de
encontros políticos, inclusive Carlos Prestes chegou a frequentá-lo82.
Na década de 1960 suas feições luxuosas foram comprometidas por uma enorme
transformação em sua estrutura física. A atitude partiu de uma ordem do Estado, para que o
Hotel perdesse metade de sua área a fim de permitir a construção de uma via paralela ao
Riacho Salgadinho para conduzir quem vem da praia para a Avenida Buarque de Macêdo,
a via recebeu o nome de Avenida Aspirante Alberto Melo da Costa.
A secção do hotel causou sua descaracterização tanto externamente quanto
internamente. Segundo Miranda, a fim de compensar a perda de metade da área da
edificação, seus proprietários construíram um anexo utilizando a área livre do hotel, e houve
também a divisão de um pavimento em dois. Esse foi apenas o primeiro passo para as
inúmeras reformas e intervenções que a edificação sofreu ao longo do tempo. Toda essa
82
Informações cedidas pela família Miranda à aluna Lays Rocha Miranda.
73 transformação se deu porque na época o edifício não estava protegido pela legislação (Ver
Levantamento das plantas e fachadas atuais – Anexo – III).
Diversas reformas ocorreram com o passar dos anos e aos poucos o partido
original da edificação foi completamente perdido, vários anexos foram sendo acrescidos. Ao
fim do processo as fachadas foram “vedadas”, suas balaustradas, colunas, pináculos,
balcões e sua riqueza de ornamentos perderam-se em meio a uma “caixa de concreto” que
passou a esconder a rica história deste hotel. Porém ainda é possível observar trechos de
balaustradas e varandas que aparecem tímidos em meio ao peso da caixa de alvenaria que
as encobre (Ver Imagens 36 e 38).
Imagem 37: Trecho de balaustrada Imagem 38: Varandas e balaustrada aparentes
e pináculo aparentes. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).
A decadência da arquitetura do Hotel Atlântico associou-se à desvalorização
crescente de seu entorno que, com a poluição do Riacho Salgadinho e marginalização da
Praia da Avenida, deixou de ser uma área de significativo status e importância no contexto
urbano da Maceió do século XIX, e tornou-se um setor decadente, marginalizado e perigoso.
A área urbana “paisagisticamente” bem tratada, que era apreciada pelos
transeuntes que passeavam a pé pelas ruas ou em seus charmosos cabriolets e bondes,
sediava o lazer da boemia. Segundo Miranda (2005), em meados de 1990, após um longo
processo de declínio, o Hotel Atlântico foi definitivamente desativado.
Atualmente não está sendo utilizado para nenhum fim, encontra-se abandonado e o
acesso ao seu interior no processo de construção deste trabalho não foi possível. Por tal
motivo o levantamento de plantas e fachadas anexado a este estudo foi realizado em 2006
pela aluna Lahys Rocha.
4.3.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Sobrado
Na edificação, nitidamente eclética com alguns traços de repertório clássico, nota-
se a forte simetria, o ritmo regular de suas esquadrias, a proporção e a harmonia total da
composição (Ver Imagem 39). O uso deste estilo, que vigorava nas capitais brasileiras por
influência principalmente da Missão Francesa (1816), transmitia imponência e status
agregando-lhe importantes valores em meio ao mercado hoteleiro do período.
74
Imagem 39: Fachada frontal original do Hotel Atlântico.
Fonte: MISA, S.d.
Suas formas eram dispostas equilibradamente em uma composição sóbria formada
por cimalhas, cornijas, pináculos, arcos, frontões. No tocante ao aspecto Eclético, esta
edificação traz balcões em balaustrada, acrotérios, gradis de ferro, colunas não estruturais e
entablamento preenchido com ornamentos em massa (Ver Análise Estilística 1 - Anexo IV).
Quanto à organização funcional de seus espaços torna-se impossível sua análise
devido à inexistência de documentos que mostrem sua planta original. O que se tem é um
levantamento cadastral datado de 2004, realizado por Lahys Rocha Miranda em um trabalho
final de graduação da Universidade Federal de Alagoas, neste levantamento cadastral
constam as plantas baixas num total de cinco, dois cortes e duas fachadas, já que apenas
duas faces do edifício voltam-se para o entorno (Ver Levantamento das plantas e fachadas
atuais – Anexo – III).
Sabe-se que os espaços internos estão divididos em três pavimentos somados a
um subsolo, as adições feitas durante as reformas que sofreu, deram-se de forma
extremamente aleatória, descaracterizando ainda mais o conjunto arquitetônico.
4.3.4 - SITUAÇÃO ATUAL
Já é impossível fazer uma leitura arquitetônica da edificação, pois sua feição atual é
completamente incompatível com seu partido formal original.
Encontra-se completamente oculto em meio a uma verdadeira “caixa” de alvenaria
que não permite que sua estrutura original seja visualizada. Suas fachadas têm servido de
mural para letreiros, propagandas políticas e anúncios, e observando-se de fora é possível
ver os “estragos” internos que o tempo lhe causou (Ver Imagens 40 e 41).
Imagem 40: Fachada lateral atual. Imagem 41: Fachada frontal atual.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
75
Após a divisão de sua área total em duas partes, por iniciativa do Estado, o Hotel
passou a ocupar uma área de aproximadamente 980m², o que mostra a magnitude de seu
porte original, em meio à maioria de casas térreas que compunham seu entorno nesta área.
Miranda (2005, p.21), menciona a atual feição do hotel como um verdadeiro
“equívoco arquitetônico” que representa um vazio/lacuna dentre os resquícios históricos da
Avenida da Paz. Neste caso o desenvolvimento urbano da cidade se sobrepôs à memória
coletiva, subtraindo um importante ícone da história maceioense, no tocante ao
desenvolvimento da sociedade, do setor comercial, dos importantes acontecimentos
econômicos e de sua ascensão política ao longo dos anos.
A exuberância formal do Ecletismo deu lugar a um desarranjo de formas
amontoadas desarmonicamente em total contraste com o perfil das demais edificações que
compõem o conjunto eclético formado na Avenida da Paz.
A edificação vem sendo acometida por diversas patologias graves, entre as quais
algumas são:
Infiltrações causadas degradação da coberta e aberturas;
Fissuras consequentes da degradação dos materiais da edificação;
Corrosão das ferragens que encontram-se à mostra devido ao desgaste das
estruturas em concreto;
Produção de mofo em consequência da umidade acumulada nos espaços
internos abandonados;
Desgaste dos revestimentos;
Observando-se o caso do Hotel Atlântico é possível comprovar o quanto o
desenvolvimento urbano tem passado por cima da memória da cidade. Um ícone
arquitetônico tão „narrador‟ relevante ao se contar a história de Maceió, de seu
desenvolvimento comercial vinculado ao porto. O mais surpreendente é saber que esse
exemplar perdeu sua magnitude não por uma intervenção privada e desinformada, mas por
uma decisão do estado e durante a aplicação de uma diretriz urbanística.
76 4.4 – Hotel do Palacete dos Machados – Théo Brandão “O Excelente Sobrado da Avenida
da Paz”
4.4.1 - LOCALIZAÇÃO
Mapa 02: Mapa de Localização do Hotel do Palacete dos Machados.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Localizado às Margens da Praia da Avenida, com uma fachada voltada à antiga
Praça Euclides Malta – Praça Sinimbú (Ver Imagem 21 – Anexo I). No período em que foi
construído, esta era uma das áreas mais nobres da cidade, tinha-se a Praça Euclides Malta
que convergia importantes edifícios da cidade como a sede da Companhia Alagoana de
Trilhos Urbanos (CATU), o Lyceu de Artes e Ofícios (Ver Imagem 22 – Anexo I) e o Tribunal
Eleitoral de Alagoas. Sua fachada principal voltada para a Avenida da Paz (Ver Imagem 23
– Anexo I), reunindo-se aos outros edifícios deslumbrantes em estilo Eclético que ali
sediavam importantes residências e órgãos administrativos (Ver Mapa 02).
Situado num importante eixo da cidade, que no século XIX funcionava como a
principal ligação entre o Jaraguá e a rua do Sol, onde os produtos do porto eram escoados
para o desenvolvido comércio que funcionava naquela rua. Este eixo ligava também o
Centro da cidade com o Bebedouro83.
Sua fachada lateral debruçava-se sobre a Ponte dos Fonseca (Ver Imagem 24 –
Anexo I), que fazia ligação entre o Centro comercial da cidade e o Porto de Jaraguá, estava,
portanto situado em um importante local de passagem diária de pessoas e mercadorias, que
movimentavam a vida econômica da cidade. Segundo Ferrare (1999) a localização deste
palacete era primorosa, a “fachada principal voltada para a praia da Avenida e com vista na
lateral direita e posterior para o Riacho Salgadinho que o separava do largo espaço
agenciado com a Praça Euclides Malta”.
83 Localidade que naquele período, esbanjava esplendor, com seu belo casario, que abrigava as altas classes burguesas que buscavam
nesse bairro a paz e a calmaria que não se encontrava próximo ao burburinho do centro da cidade. Às margens da Lagoa Mundaú, o local servia às famílias mais abastadas principalmente nos períodos de veraneio. Um bom exemplo desta rica arquitetura é o Palacete da família José Lopes, atual Casa de Saúde José Lopes.
77 4.4.2 - HISTÓRICO
Não se sabe ao certo o ano em que foi edificado o Palacete dos Machados (Ver
Imagem 42), mas é certo acreditar que devido ao seu apelo estético tipicamente eclético,
deve datar dos fins do século XIX.
Foi edificado, segundo Ferrare (1999), com o fim residencial para a família do Sr.
Eduardo Ferreira Santos, mas entre os anos de 1914 e 1915, a residência passou para o
nome do Doutor Arthur de Melo Machado que era filho do Comendador José Teixeira
Machado. Este era médico, formado na Universidade da Bahia e por um bom tempo foi
diretor da fábrica de tecidos de Fernão Velho – Fábrica Cármen (Ver Imagem 25 – Anexo I).
Imagem 42: Palacete dos Machados próximo ao ano de sua construção, ainda sem a cúpula.
Fonte: MISA, S.d.
Ainda segundo esta autora, foi neste período que edifício sofreu uma importante
reforma que lhe agregou uma decoração interna feita em estuque e “uma extensão circular
no terraço lateral direito encimada por uma cúpula bulbosa”. Estes acréscimos mostram a
preocupação crescente de investir no edifício a fim de que acompanhasse a evolução
estética das edificações que compunham a paisagem da Avenida da Paz. De acordo com
Ferrare (1999) “a requintada feição lhe conferiu a alcunha de „Palacete dos Machados‟” (Ver
Imagem 43).
De acordo com registros dos membros da família Machado, no período que
pertenceu a estes os espaços da casa funcionavam da seguinte forma; as duas primeiras
salas do primeiro piso atendiam ao convívio social, os dois ambientes posteriores abrigavam
a capela e o quarto de casal, os ambientes do lado oposto serviam de gabinete para o chefe
da família, a outra sala externa servia de sala de leitura para a dona da casa, os outros
cômodos serviam de despensa e cozinha e estavam diretamente ligados aos ambientes
direcionados aos serviços de lavanderia e de depósito que ficavam instalados no pavimento
inferior – porão alto, e o andar superior direcionava-se aos dormitórios.
78
Imagem 43: Palacete dos Machados sendo visto a partir da margem do Riacho Salgadinho.
Fonte: IHGA, S.d.
No ano de 1951 Arthur Machado falece e o prédio passa então para o nome de
Eduardo Ferreira Santos que modifica seu uso aluga-o a empreendedores que
provavelmente buscavam aproveitar o surto evolucionista da cidade, a privilegiada
localização do edifício e suas belas e luxuosas feições. Neste período é que passou a
funcionar como hotel, por tempo indeterminado, e posteriormente como restaurante.
(FERRARE, 1999).
Nove anos depois o prédio foi decretado de utilidade pública, e em 4 de junho de
1963 foi desapropriado para o uso da Universidade Federal de Alagoas, deste modo sediou
primeiramente a Residência Universitária de Alagoas (RUA). Nesta ocasião o prédio sofreu
modificações adaptativas como o fechamento do terraço posterior. Em 1977 o palacete
começou a ser adaptado para o uso de museu, passou então a sediar o Museu de
Antropologia e Folclore Théo Brandão84.
Com o tempo, o descaso e a falta de manutenção começaram a afetar o bom
funcionamento do Museu, esses fatores levaram então ao posterior fechamento do mesmo e
o armazenamento de seu acervo em duas salas do espaço cultural da Universidade Federal
de Alagoas85 (Ver Imagem 44).
E foi através do Tombamento Estadual decretado no dia 9 de fevereiro de 1983,
pelo Conselho de Preservação Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de
Alagoas, que o prédio pôde ser reconhecido como “exemplar arquitetônico de características
peculiares e de uso social relevante”, e teve assim assegurado o direito de preservação
(FERRARE, 1999).
84
(...) abrigando a partir de então, um considerável acervo de peças procedentes dos diversos municípios de Alagoas, como também de
várias partes procedentes dos diversos municípios de Alagoas como também de várias partes do Brasil e até do exterior, como algumas peças vindas do México, Portugal e Espanha. Destaca-se dentre o acervo regional, sobretudo a coleção de ex-votos e de moringas antropomórficas de Carrapicho-Sergipe, além do acervo de arte folk e artesanal doada pelo Professor Théo Brandão, notável folclorista alagoano que se aprofundou na pesquisa das tradições e expressões artísticas e utilitárias populares. (FERRARE, 1999, p.10). 85 Aos poucos o espaço reduzido destinado às obras passou também a comprometer o acervo. A população ficou então privada deste rico
montante cultural, que agora se limitava a restritas consultas de parte acessível do acervo (FERRARE, 1999, p.10).
79
Imagem 44: Museu Théo Brandão no período em que permaneceu fechado e sem manutenção.
Fonte: SEMPLA, S.d.
A iniciativa de recuperação do espaço físico do Palacete dos Machados partiu da
Universidade Federal de Alagoas e segundo Ferrare esta foi uma representativa
preservação a ambiência urbana na Maceió do século XIX (1999).
Atualmente, o “excelente sobrado da Avenida da Paz” - o exemplar remanescente de uma época desenvolvimentista que deixou muitas marcas nesta parte da cidade, figura como um atalaia que, do ápice de sua cúpula, busca afirmar a importância da co-existência de diversos estilos e expressões arquitetônicas, para que a cidade seja lida como um livro de referências múltiplas, interligadas pela dinâmica sócio-urbana que cada momento histórico determina. (FERRARE, 1999, p.12).
No ano de 2001 é que teve início a obra de restauração do edifício, financiada pela
Caixa Econômica Federal, como iniciativa do projeto de restauração de patrimônios
encabeçado pela mesma em comemoração aos 500 anos do Brasil, obra foi entregue em 23
de novembro do mesmo ano.
4.4.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Edificação de porão alto e de entrada lateral
O edifício corresponde nitidamente ao estilo eclético. Está voltado para a
apreciação do mar da Avenida e do Riacho do Salgadinho, que na época tinha suas águas
límpidas fluindo naturalmente por traz do prédio, formando uma paisagem poética. Sua
tipologia é de sobrado com porão alto - mais alto do que o comum - com respiradores, vãos
com pequenas janelas no estilo importado da arquitetura mourisca, o muxarabi.
É notável o ritmo da fachada principal que traz um movimento peculiar, resultante
dos balcões em balaustrada que se debruçavam sobre o mar, e também dos ornamentos;
figuras antropomórficas e fitomórficas, pináculos, pilares falsos com almofadas, dorsos de
cariátidne posicionados na direção do mar, como se fosse a frente de um barco quebrando
as ondas do mar e penetrando em sua infinidade (Ver Análise Estilística 2 - Anexo IV).
Ao entrar no Palacete dos Machados é perceptível que o hall de entrada responde
pelo estilo português e sua escadaria principal possui três variações de escaiolas. Outro
ponto notável são as diferentes paginações de piso em cada ambiente, trabalhadas em
tacos de madeiras em tonalidade escura e clara, sempre em contraste. Ainda no tocante às
80 paginações de piso, nota-se também o uso dos tacos de madeira nas áreas internas e nas
partes mais externas o ladrilho hidráulico.
Quanto aos vãos internos, nota-se uma nítida característica eclética, o alinhamento
entre as aberturas de cada ambiente, cada vão de um ambiente alinha-se ao vão do lado
oposto, tornando mais clara a comunicação entre os cômodos. As varandas balaustradas
são feitas em meio balaústre, como medida de economia o balaústre apenas era cheio do
lado de fora, internamente era cortado (Ver levantamento das plantas e fachadas – Anexo –
III).
No porão alto a princípio funcionavam os depósitos e a parte de serviço, nele
observa-se a rusticidade dos revestimentos, devido à questão da umidade do local e ao seu
uso não se investia muito em revestimentos. O assoalho é aparente mostrando
perfeitamente o encaixe das peças de madeira do piso do pavimento superior. Neste mesmo
ambiente funciona atualmente um pequeno auditório financiado pela PETROBRÁS, com a
finalidade de promover palestras, e apresentação das exposições. Nesse mesmo
pavimento há um espaço reservado para a memória fotográfica do processo de restauração.
Como já dito anteriormente, a parte da cúpula foi um acréscimo feito à obra, que se
optou por conservar durante o processo de restauro, já que este elemento agregou valor à
unidade da obra. Nele notam-se capitéis florais nos pilares, piso hidráulico (característica
das áreas externas da edificação), meio balaústres (como nas outras áreas), frisos de aço
inoxidável no centro do teto da porção coberta pela cúpula, fazendo alusão a frisos que
existiam antes, mas que não se sabe ao certo em que material foram confeccionados e
textura de folhas de acanto86.
4.4.4 - SITUAÇÃO ATUAL
Com o passar do tempo a dinâmica urbana foi se modificando, as necessidades
agora eram outras e diante de tal verdade, a primeira mudança que se vê é no entorno do
palacete.
O prédio do Antigo Lyceu de Artes e ofícios, localizado na Praça Euclides Malta,
deu lugar ao edifício-sede da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Alagoas. Onde antes estava a sede da C.A.T.U., instalou-se a residência universitária
masculina e o restaurante universitários. Segundo Ferrare (1999), em 1961, no governo de
Sandoval Cajú a praça Sinimbú modificou-se, foram implantados bancos em forma circular,
canteiros sinuosos e outros elementos idealizados por Lauro Menezes e José da Costa
Passos Filho. Reduziram-se seus canteiros, o aterro do Riacho Salgadinho, deu à ponte dos
Fonseca, (Ver Imagem 26 – Anexo I), a simples existência contemplativa, tanto que muito
passam por ali e não percebem ser uma ponte.
86
Informações adquiridas com a professora Josemary Ferrare.
81
Durante um bom tempo já funcionando como sede do Museu de Antropologia e
Folclore Théo Brandão, o edifício foi se desgastando em meio as intempéries associadas à
falta de manutenção, até que foi necessário o seu fechamento e deslocamento do acervo
para outo local.
Para reverter o processo de degradação de um ícone tão importante para a
arquitetura e para a história de Maceió, teve início no ano de 2001 seu processo de
restauração. Entre os exemplares citados neste trabalho, este é o único que foi restaurado87.
Cada ambiente do Palacete encontra-se hoje dividido em espaços nomeados e
direcionados para cada tema do acervo 88 (Ver Imagem 27 – Anexo I). No porão alto
funcionam as exposições temporárias que mantiveram a rusticidade própria do cômodo que
era dedicado aos serviços de lavanderia e limpeza. O assoalho permaneceu aparente, por
conta do pé-direito do porão que já era baixo, as instalações elétricas e hidráulicas do porão
também ficaram expostas, afim de não ferir ainda mais a estrutura do edifício rasgando-se
as paredes para embuti-las.89 (Ver Imagem 28 – Anexo I) (Ver Levantamento das plantas e
fachadas atuais – Anexo – III).
Atualmente o Palacete encontra-se em um estado satisfatório de conservação, é
certo que há indícios de que a manutenção não é muito eficaz, já que há trechos em que as
escaiolas encontram-se em estado de escamação, há esquadrias que não abrem mais e os
gradis de ferro da fachada principal encontram-se em estado de corrosão. O museu recebe
exposições temporárias, peças, palestras, além das visitas de diárias e de todo o acervo fixo
que fica exposto à visitação de terça à sábado.
A obra de restauração do edifício teve enorme reconhecimento, entrou no catálogo
de obras restauradas e ganhou o prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade na Categoria
Preservação de Bens Móveis e Imóveis.
As autoras da obra foram as arquitetas Josemary Omena Passos Ferrare e Adriana
Guimarães Duarte. As responsáveis pela obra, também fizeram uso de recursos modernos
para contribuir ao “todo” da obra, os antigos gradis retos de ferro foram substituídos por um
moderno desenho do artista Getúlio Mota, que representa o Guerreiro, tão importante para
nossa cultura (Ver Imagem 45). As pequenas janelas do porão alto, úteis à ventilação e
iluminação deste ambiente, receberam um tratamento especial, as antigas esquadrias
preenchidas com muxarabis, foram substituídas por esquadrias de alumínio e folha e vidro
com um efeito jateado do que seria um muxarabi (Ver Imagem 46).
87
Ao fim do processo o acervo foi devolvido e distribuído de forma gloriosa entre os renovados ambientes que resultaram das obras de
restauração. Como já dito anteriormente o acervo do museu surgiu da iniciativa do folclorista Théo Brandão em doar símbolos do folclore e cultura alagoanos, e também (em menor escala) de outros países e regiões. O museu retrata também as crenças do povo, a culinária, as tradições, através de fotografias, objetos, esculturas de artistas da terra entre outros. 88 Na sala “O fazer alagoano” são expostos elementos relativos à culinária regional, na sala “O que há de novo” estão as esculturas que
foram produzidas para o prêmio Gustavo Leite e em seguida doadas e incorporadas ao acervo do Museu, já na sala “Fé” estão presentes verdadeiros relatos das crenças e fés encontradas na cultura local. 89
Informações obtidas com a Professora Josemary Ferrare.
82
Imagem 45: Gradis aludindo ao Guerreiro. Imagem 46: Janela fazendo alusão ao Muxarabi.
Fonte: OLIVEIRA, 2010. Fonte: OLIVEIRA, 2010.
É extremamente válido ressaltar a importância desta iniciativa da Universidade
Federal de Alagoas em valorizar de forma esplendorosa um importante ícone arquitetônico
para a cidade de Maceió em conjunto com a junção de importantes signos da cultura
popular alagoana em um rico acervo que conta a quem venha visitar essa região o quão rica
e diversa é a cultura local.
83 4.5 – Hotel Lopes: “O „Quê‟ exuberante e sinuoso da Praça Montepio”
4.5.1 - LOCALIZAÇÃO
Mapa 03: Mapa de localização do Hotel Lopes.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Localiza-se na esquina entre a Rua Zadir Índio e a Rua Barão de Penedo, em frente
à Praça Bráulio Cavalcante (Ver Mapa 03), antigamente conhecida como Praça Montepio,
Praça Montepio dos Artistas ou ainda, mais atualmente como Praça da Alimentação (Ver
Imagem 47).
Imagem 47: Praça Bráulio Cavalcante com o Hotel Lopes ao fundo.
Fonte: MISA, S.d.
Esta praça90 foi fundada em 1883 e recebeu o nome de Montepio, por abrigar a
Sociedade Montepio dos Artistas, uma sociedade de fins beneméritos. A praça servia de
ponto de encontro entre os membros da mesma. Esta sociedade tinha como objetivo
reivindicar os direitos dos artistas, operários e comerciários. Formava-se um local próprio
para a boemia, onde os poetas e escritores sentavam-se a noite para compor músicas em
companhia dos literários do direito que estudavam na faculdade de direito ali locada.
Esta localização faz-se importante por estar o Hotel em um importante eixo de
ligação entre a Estação Ferroviária Central e o Centro comercial da cidade. Tal fato tornava
90 No ano de 1931 foi reinaugurada sob o nome de Praça Bráulio Cavalcante, em homenagem ao jovem poeta, tribuno e escritor, que era
membro da sociedade maceioense de letras. Era também um humanista revolucionário. Nesta praça foi implantado um busto, em alvearia detalhada com bronze, de Bráulio com os seguintes dizeres: “Às memórias de trindade Lessa e Libânio Teixeira. Sacrificados à liberdade da pátria. 1911”90.
84 muito cômodo aos negociantes, que ali chegavam de trem, atraídos pelo progresso
econômico do comércio local, a hospedagem em um local próximo de suas negociatas e de
seu ponto de partida e de chegada.
Outro ponto importante para a sua valorização na época é que o Hotel Lopes
inseria-se em uma área da cidade onde maioria das edificações possuía grande valor
histórico, e que na época não se encontravam em péssimas condições de conservação.
Este entorno era composto pela Praça Montepio dos Artistas que na época possuía uma
ambiência paisagística rica e exuberante, belos canteiros e árvores proporcionando sombra
e áreas adequadas ao ponto de encontro da população.
Entre as edificações que a circundavam, estavam a Maçonaria em estilo eclético; a
Antiga Sociedade Montepio dos Artistas, também em estilo eclético; a Antiga Faculdadede
Direito, atual OAB, em estilo protomodernista - 1930; e mais atualmente o Edifício Brêda,
importante marco da era da arquitetura modernista na cidade (Ver Imagens 29, 30, 31 e 32
no Anexo I).
4.5.2 - HISTÓRICO
Sua construção data do final do século XIX. O Hotel não hospedava apenas
turistas, recebia também muitos comerciantes atraídos especialmente pelas vantagens de
sua localização, no eixo comercial da cidade próximo da estação ferroviária, principal meio
de comunicação com outras regiões na época, e principal entrada da cidade. (AMORIM et
al., 2010, p.5). (Ver Imagem 48).
Imagem 48: Imagem antiga do Hotel Lopes.
Fonte: IHGA, S.d.
Funcionou como hotel por muitos anos até que em meados da década de 1970
passou a sediar temporariamente a rodoviária de Maceió, fato que propiciou a primeira
intervenção no espaço físico do edifício, ou seja, a retirada do muro com gradil de ferro que
cercava a lateral direita do hotel, devido a necessidade de uma área para estacionar os
veículos.
A princípio a edificação era disposta em dois pavimentos, segundo Santa Maria
(2007, p.39) era provável que o térreo fosse destinado às áreas de convívio, estar, jantar,
85 cozinha, serviço, varanda e escada de acesso ao pavimento superior. Porém não há sinais
legítimos desta disposição já que a estrutura interna do edifício foi modificada, as lajes foram
alteradas, para reaproveitamento dos espaços interiores. O pavimento superior era
supostamente composto por três quartos, circulação, banheiros e a varanda conjunta. São
apenas suposições observadas de acordo as dimensões e localização dos espaços, porém
pouco restou da organização interna para que se possa reler a disposição dos ambientes
dentro da edificação. (SANTA MARIA, 2007).
4.5.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA - Sobrado
O Hotel é Eclético com ênfase no jogo de luz e sombra, típico das construções
barrocas, o que lhe empresta ares de teatralidade e exuberância. Em sua fachada conta
com portas cerradas por balcões em balaustrada, sendo estas encimadas por frontões
interrompidos. Há também volutas arrematando a platibanda da varanda superior. É válido
frisar a rica presença de ornamentos em massa, cimalhas e colunas não-estruturais, além
dos detalhes antropomórficos e fitomórficos (Ver Estilística 3 e 3.1 – Anexo IV). Outro
aspecto nitidamente Eclético é a presença dos gradis de ferro que cercavam a porção lateral
do edifício, arrematando um pequeno muro, que originalmente era composta por um belo
jardim.
4.5.4 - SITUAÇÃO ATUAL
O edifício encontra-se em processo de recuperação das fachadas, que se
encontravam seriamente desconfiguradas devido a diversas intervenções pontuais,
realizadas pelos diferentes proprietários que o Hotel Lopes teve no decorrer dos anos. (Ver
Imagem 49).
Imagem 49: Reconstrução das fachadas. Imagem 50: Divisão do hotel em Blocos.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
A unidade formal há muito foi perdida, devido à modificação da dinâmica do bairro,
que com o passar do tempo adquiriu significativa valorização dos terrenos ali localizados, a
visão capitalista gerou uma carência muito grande de espaços para a ampliação do setor de
comércio e serviços no centro da cidade. Criou-se então uma tendência a
desmembramentos e divisões das edificações em partes menores arrendadas a diferentes
inquilinos (Ver Imagem 50).
86
Foi assim que o Hotel Lopes passou a sofrer cada vez maiores intervenções e
modificações em seu partido original. Através das visitas in loco foi possível perceber a
criação de um pavimento intermediário ( Ver Imagem 51) que hoje corta os vãos da porção
superior do edifício em duas partes, claramente divididas pela laje construída posteriormente
(Ver Imagens 52 e 53). Este pavimento foi feito de modo individual adotando diferentes
dimensões em cada bloco da edificação.
Imagem 51: Corte Longitudinal mostrando a laje intermediária.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 52 e 53: A metade inferior dos vãos no pavimento intermediário e a outra metade no pavimento superior,
tornando clara a introdução posterior desta laje. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
O pavimento térreo foi dividido em quatro partes, pertencentes a quatro diferentes
donos, a parte superior foi dividida em iguais partes que serviam de depósito aos
estabelecimentos locados no pavimento térreo. Desse modo cada inquilino foi fazendo
alterações nos revestimentos, nas esquadrias, nos forros, de acordo com suas
necessidades.
Essa divisão do edifício, aos poucos “diluiu”, a responsabilidade para com a
manutenção do prédio. As intempéries foram consumindo sua estrutura externa, os
ornamentos foram sendo perdidos e aos poucos alguns acréscimos, em desconformidade
com o partido arquitetônico, porém coerentes às novas necessidades da edificação, foram
sendo feitos e a essência eclética do belo hotel foi se perdendo (Ver Levantamento das
plantas e fachadas atuais – Anexo – III).
A reforma que vem sofrendo agora é iniciativa de um dos proprietários, Sr. Jorge
Higino de Albuquerque, antigo inquilino, que mantém desde março de 2010 uma pequena
87 lanchonete localizada no pavimento térreo, na extremidade final da fachada lateral do
edifício. Atualmente ele possui parte do prédio em seu nome (porção frontal), outra porção
alugada a ele e outra parte, possuí outro dono que o aluga a dois inquilinos. Seu objetivo é,
aos poucos adquirir todo o prédio (informação verbal) 91.
Pode-se estabelecer um quadro comparativo entre as imagens retiradas no período
em que começou a ser desmembrado (Ver Imagem 54), outras tiradas em 2010 (Ver
Imagem 55), outras em janeiro de 2011 (Ver Imagem 56), e as últimas retiradas no dia 3 de
setembro de 2011 (Ver Imagem 57). A partir da análise das fotos é possível comparar o
constante processo de mutação em que o edifício se encontra, obedecendo à dinâmica
instável do Centro. O que se tem de positivo agora é a retirada dos enormes letreiros que
encobriam boa parte da fachada e reestabelecimento, na medida do possível do seu
equilíbrio comum, através da reconstrução dos elementos perdidos em sua fachada.
Imagem 54: Hotel Lopes logo após Imagem 55: Hotel Lopes ainda com todos o desmembramento. os letreiros que encobriam sua fachada.
Fonte: MISA, S.d. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 56: Hotel Lopes em janeiro de 2011. Imagem 57: Hotel Lopes em setembro de 2011.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Em outubro de 2010, a balaustrada localizada na porção do pavimento superior
respectiva à sua lanchonete foi demolida, pois segundo Sr. Jorge, estava prestes a desabar.
Apesar da demolição, o atual proprietário guardou os balaústres, visando uma posterior
reforma e reposição dos mesmos. Há cerca de um mês, após adquirir a parte frontal do
edifício, o Sr. Jorge tratou de dar início a uma obra de reforma do prédio com objetivo de
recuperar o máximo possível da identidade formal da fachada. Segundo ele, há uma
91
Informações obtidas com o proprietário da lanchoete que fuciona no edifício, Sr. Jorge.
88 arquiteta e um engenheiro auxiliando na obra e tem sido possível contar com o auxílio da
Secretaria Municipal de Planejamento.
Ainda há muito que ser feito, até então não foi decidido qual o destino a ser dado
aos dois blocos que foram anexados à fachada lateral e infelizmente a reforma não
contempla a porção interna do edifício com o mesmo teor das fachadas, afinal não seria tão
simples recuperar a configuração original dos espaços internos. A intenção é “aformosar” as
fachadas e repaginar os espaços internos levando em conta a dinâmica do edifício sem, no
entanto retomar sua originalidade (Ver Imagens 58 e 59).
Imagem 58: Recuperação dos ornamentos. Imagem 59: Ornamentos perdidos.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
89 4.6 – Hotel Bela Vista “O excêntrico Palacete da Praça dos Palmares”
4.6.1 - LOCALIZAÇÃO
Mapa 04: Mapa de Localização do Hotel Bela Vista.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
O prédio do Bella Vista Palace Hotel localizava-se onde hoje se encontra o edifício
Palmares à Praça Palmares no centro de Maceió, mais precisamente na Rua Luiz Pontes de
Miranda, em frente ao antigo Mercado das Flores (Ver Imagem 33 – Anexo I).
Sua proximidade com a Boca de Maceió e com a Estação Central provavelmente
devem explicar o porquê de ser tão citado nos jornais e anuários da época92. Era comentado
como prédio inusitado, de arquitetura estranha, porém pomposa, que atraía os visitantes
recém-chegados à Estação Central da Great Western não apenas por seu estilo e seu porte
nobre, mas pela proximidade com a estação e a comodidade que oferecia. (Ver mapa 04).
É importante também ressaltar a relevância do entorno na valorização do edifício,
pois na época a Praça dos Palmares não tinha o aspecto deplorável que possui atualmente.
Era “paisagisticamente” bem elaborada e mantida, era cercada por belos edifícios em
correspondência com o estilo vigente no século XIX, Ecletismo, e estava em uma área
privilegiada pro sua centralidade – próximo ao Centro, próximo da praia, não muito distante
da zona portuária e vizinho à Estação Central da cidade.
4.6.2 - HISTÓRICO
Sua construção se deu provavelmente entre 1922 e 1923, em um terreno de
45,20m x 28,40m, para sediar a residência de Arsênio Fortes, um alto comerciante da época
que lidava com negociatas de consignações e comissões (Ver Imagens 60 e 61). Depois de
certo tempo optou por dar um novo uso ao palacete, para tal organizou uma sociedade
anônima denominada S/A Bela Vista Palácio Hotel (SANT‟ANA, 1993).
92
Informações obtidas em levantamento feito na hemeroteca do Insituto Histórico e Geográfico de Alagoas, aalisando-se jornais como: O
Natal, O Bacurau e o Mercantil.
90
Imagem 60: Hotel Bela Vista. Imagem 61: Construção do Hotel em 1922.
Fonte: CAVALCANTE, [S.d.]. Fonte: O Palácio, [S.d.].
Segundo RAMOS, a construção do palacete recebeu incentivo fiscal do governo
estadual através da Lei 94393 , sancionada pelo então Governador José Fernandes de
Barros Lima.
Foi inaugurado como Hotel Universal (Ver Imagem 34 - Anexo I) em 21 de Junho de
1923, em uma esplendorosa festa com direito a banquete, bandas de música da Polícia
Militar e do 20° Batalhão de Caçadores e a Orquestra do Cinema Floriano. (RAMOS, 2011).
O projeto ficou a encargo do arquiteto alemão Guilherme Jârgerfeld94. O edifício
possuía três andares, foi edificado em alvenaria e cimento armado. Possuía, segundo
Sant‟Ana (1993), 30m de altura e ocupava uma área de 1400m².
Segundo Ramos (2011), o hotel contava com 36 quartos, sendo 11 localizados no
subsolo, 11 no primeiro andar, 11 no segundo e 3 no terceiro. Além de todos os aposentos
contava ainda com cinco “terraços mosaicados” compostos por balaustradas artisticamente
elaboradas 95.
A turbulenta história de vida do hotel trouxe vários momentos instáveis. Sant‟Ana
(1993) afirma que dois anos após sua inauguração, em 31 de dezembro, fechou suas portas
pela primeira vez. Em 15 de março do ano seguinte as portas foram reabertas e novamente
fechadas dois anos depois, em 15 de maio de 1928.
Ainda segundo este autor, no ano seguinte, diante da autorização dos membros da
sociedade a qual pertencia, o Hotel foi a leilão, às 14h00 do dia 11 de abril de 1929, quem
arrematou o edifício foi a empresa de seguros Aliança da Bahia. A partir de então passou à
administração de Romeu dos Santos, no ano seguinte passou para o capitalista Adib Rabay,
que o explorou como hotel com o nome de Bela Vista Palace Hotel.
93 Art. 1° - Fica o Governador do Estado autorizado a conceder à Sociedade Anônyma, sob a denominação de <<Bella Vista Palácio Hotel>>,
por 15 anos, isenção de todos os impostos estaduais e quaisquer taxas presentes e futuras, assim como a isenção de imposto de importação para todo material entrado neste Estado com destino às obras, decoração e instalação do referido Hotel, até a sua inauguração. (RAMOS, 2011, p.3).
94
Como era muito comum na época contratar arquitetos de fora já que a profissão mal existia na região (Sant’Ana, 1993, p.84). 95 Nas noites era iluminado com energia elétrica própria, esta era gerada por dínamos acionados por motores “Deutz” movidos a gás.
Quanto ao abastecimento de água, é importante frisar que também contava com energia elétrica para bombear o montante armazenado em um poço tubular artesiano, de 46m de profundidade, para a caixa d’água locada a 24m de altura com capacidade para 16.000L (SANT’ANA, 1993, p.85).
91
Na década de 1960 suas portas foram fechadas definitivamente. Em 1963 o prédio
foi vendido ao Instituto de Aposentadoria e pensões dos Industriários (IAPI) para que no
local fosse erguido seu edifício-sede. Sant‟Ana (1993) afirma que no dia 7 de outubro deste
mesmo ano teve início sua demolição.
O mesmo autor segue dizendo que no mesmo período corria na Assembleia
Legislativa do Estado um projeto de lei que autorizava a desapropriação do hotel por parte
do Estado, com o intuito de ali sediar a Secretaria da Educação e Cultura e a biblioteca
estadual. No entanto no local, acabou por ser edificado o Prédio-sede do Instituto Nacional
de Assistência Médica Previdência Social (INAMPS).
4.6.3 –ANÁLISE ESTILÍSTICA - Palacete
O estilo do palacete era Eclético composto por três planos enriquecidos com
balcões em balaustrada que se debruçavam em direção à bela sede da Estação Central, ao
mar e à glamorosa e arborizada Praça dos Palmares.
O edifício era arrematado por platibandas encimadas por guarda-corpos em
balaustrada finalizados por pináculos, esferas pequenos vasos e luminárias (Ver Imagem
17), além dos gradis que compunham os portões de acesso ao hotel (Ver Imagem 17).
Segundo Ramos (2011), trazia tendências de ArtNouveau96, mescladas às balaustradas do
terceiro piso (Ver Análise Estilística 4 - Anexo IV). Havia também uma ascendência
mourisca comunicada pela cúpula bulbosa que arrematava o cume da porção lateral em
forma circular da edificação, esta cúpula trazia aspecto escamoso, bem comum na época
(Ver Imagens 62, 63 e 64).
Imagem 62: Fachada do Hotel com suas balaustradas e gradis.
Fonte: MISA, S.d.
96
Estilo arquitetônico oriundo da Inglaterra e encabeçado por Willian Morris no intuito de reverter a pouca relevância estética que,
segundo ele, o século XIX significava. Um significativo nome deste estilo é Victor Horta. O estilo sugere a reaprocimação com a natureza e a negação da máquina industrial.
92
Imagem 63: Vista da praia a partir do Hotel Imagem 64: Vista da Catedral Metropolitana a partir do Hotel mostrando sua cúpula mostrando uma luminária arrematando a varanda em balaustrada. Fonte: CAVALCANTE, 2011. Fonte: CAVALCANTE, 2011.
4.6.4 - SITUAÇÃO ATUAL
Como já dito anteriormente, em 1963 o edifício foi demolido (Ver Imagens 35 e 36 –
Anexo I) para dar lugar a uma edificação moderna que sediaria o INAMPS (Ver Imagens 37
e 38 – Anexo I), atualmente no terreno onde reinou o exuberante hotel, funciona o edifício
Palmares, em alusão ao nome da Praça. É possível notar as linhas modernas deste que
veio a substituir o palacete Eclético.
O caso do Hotel Bela Vista, denota uma grande perda na memória da cidade afinal,
este grande ícone da arquitetura Eclética na cidade de Maceió é, entre as edificações
encontradas no repertório da cidade, um dos maiores e mais significativos exemplares. Tal
fato se confirma a partir dos registros em jornais e folhetins da época, e até por depoimentos
de pessoas que conheceram a Maceió do período e que se encantavam com a exuberância
e com o teor exótico deste edifício. Como em outros casos já mencionados neste trabalho, a
dinâmica do bairro, Centro, modificou-se e para atender às novas demandas comprometeu-
se mais uma parcela da história de Maceió.
93 4.7 – Hotel Palmares “O Compacto Recinto Eclético da Boca de Maceió”
4.7.1 - LOCALIZAÇÃO
Mapa 05: Mapa de Localização do Hotel Palmares.
Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).
O Hotel Palmares foi construído na Rua Barão de Penedo, em frente à Praça dos
Palmares, em uma área de enorme importância para a cidade em seu período de
desenvolvimento, por constituir uma das principais portas de entrada da cidade. (Ver
Imagem 65).
Imagens 65: Praça dos Palmares ainda conhecida como 16 de Julho.
Fonte: MISA, S.d.
Era nesse ponto da capital da Província, ao lado da estação da Great Western (Ver
Imagem 39 – Anexo I), que chegavam os trens, oriundos de outras regiões, cheios de novos
materiais, tecnologias, modas, costumes e demais inovações que contribuíam ao
desenvolvimento da cidade em ascensão.
4.7.2 - HISTÓRICO
A construção do Hotel Palmares data dos fins do século XIX, início do século XX,
porém não se sabe ao certo o ano de sua edificação, devido à carência de registros a
94 respeito da mesma. Mas sabe-se que foi construído com o intuito de servir ao uso
residencial (informação verbal) 97.
Com o desenvolvimento do setor comercial de Maceió através do Porto de Jaraguá,
o número de visitantes e negociantes aumentou, e com o advento do transporte ferroviário a
mobilidade e a comunicabilidade entre as províncias só cresceu. Tais fatores foram
fundamentais para a instalação de diversos hotéis nestas proximidades, e o Palmares é o
único, entre os que circundavam a praça no século XIX, que existe.
4.7.3 – ANÁLISE ESTILÍSTICA – Construção Térrea com porão.
O Hotel Palmares possui um diferencial em relação aos outros exemplares
estudados neste trabalho, não obedece à nova tendência de edifícios descolados dos limites
do lote, desenvolvidos com total exuberância e grande porte (Ver Imagem 66). É pequeno,
sua forma encaixa-se no terreno quase que à moda colonial, não fosse pelo recuo frontal e,
possui apenas uma fachada voltada para a rua, todas as outras são cegas. Talvez esta
morfologia da edificação indique que sua construção se enquadre em um período inicial de
implantação do Ecletismo na região. Segundo Reis Filho (2004), em boa parte do país ainda
adaptava-se as inovações trazidas da Europa às disposições típicas do período colonial, e
tal fato significava suaves intervenções que ocorriam e modificavam a arquitetura do lugar
lentamente.
Imagens 66: Hotel Palmares e sua ausência de recuos.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Em sua fachada é possível ver sua essência Eclética ainda pontuada com arcos
plenos, cimalhas e algumas referências ao Neoclássico. Essa tipologia mesclada justifica-se
pelo uso de conchas (Ver Imagem 67) e acrotérios (Ver Imagem 68), oriundos do Barroco,
mesclados aos pináculos (Ver Imagem 69), e à forte presença dos gradis (Ver Imagem 70),
tipicamente Ecléticos, e o frontão reto interrompido (Ver Imagem 71), característico do
Neoclássico (Ver Análise Estilística 5 - Anexo IV).
97
Informação obtida com com o primo do atual proprietário da edificação, Cézar Marabá.
95
Imagens 67,68 e 69 (respectivamente): Concha, Acrotério e Pináculo encontrados na edificação.
Fonte: BARBOSA, Mariana(2011).
Imagens 70 e 71 (respectivamente): Gradis e Frontão interrompido na fachada da edificação.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Internamente, as paredes das áreas de circulação são revestidas com barrados em
azulejos que, segundo o proprietário, são portugueses. Os pisos destas áreas são de
ladrilho hidráulico e o forro em madeira. Nas salas e quartos têm-se os tetos também em
madeira, os pisos em assoalho de parquet, trabalhados com diferentes diagramações.
Ao todo são nove cômodos organizados entre dois corredores, um para circulação
geral e o outro para circulação interna dos quartos. Entre estes ambientes têm-se as duas
salas principais de entrada, os quartos, um banheiro comunitário e a cozinha. A edificação
conta ainda com uma varanda posterior que possuí uma escada de acesso ao porão. No
porão tem-se cerca de 10 pequenos quartos que acomodam-se no pé-direito baixo, não
possuem o mínimo de luxo e que fazem acreditar, ter sido aquela uma área exclusivamente
direcionada às atividades de serviço da edificação (Ver Imagens 40, 41 e 42 – Anexo I).
Caminhando-se um pouco mais para os fundos é possível notar um anexo feito
com dois blocos térreos divididos em pequenos quartos, dos quais não foi permitido tirar
fotos. A pequena fachada esconde, portanto uma grande área, dividida em diversos espaços
menores.
4.7.4 - SITUAÇÃO ATUAL
O Hotel foi comprado recentemente por Carlos Duarte, com o intuito de ser
demolido e transformado em estacionamento. Porém somente após a compra é que o
proprietário ficou sabendo que a edificação é parte do Patrimônio Público do Estado e não
pode ser demolida ou sofrer intervenções sem a autorização e participação da prefeitura. No
momento a intenção de ambos é encontrar compradores, caso isso não aconteça,
pretendem montar um pequeno restaurante aproveitando a disposição dos espaços internos
96 do prédio (informação verbal) 98. Apesar de não se obter fotografias, ou plantas antigas
deste exemplar, é possível notar as nítidas intervenções feitas posteriormente na estrutura
do edifício. (Ver Levantamento das plantas e fachadas atuais – Anexo – III).
As mais evidentes são a colocação de grades “pega-ladrão” nos vãos da parte
frontal (Ver Imagem 72). A introdução de um barramento em azulejo nitidamente moderno
em relação ao conjunto da edificação (Ver Imagem 73). A colocação de uma pequena
jardineira em alvenaria na fachada frontal (Ver Imagem 73) e a construção de uma pequena
parede em tijolos vazada na porção posterior da fachada lateral esquerda (Ver Imagem 74).
Imagem 72: “Pega-ladrão”. Imagem 73: Jardineira. Imagem 74: Parede vazada. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Internamente tem-se também a introdução de azulejos na parte posterior do
edifício, não condizentes com o período de edificação do hotel. A introdução de uma parede
em chapisco marrom no Hall de entrada. E a colocação de forro em gesso nas duas
primeiras salas. Quanto à coberta, é possível notar que está distribuída em duas águas com
cumeeira perpendicular ao alinhamento da rua e em telhas de amianto 99 . Foi possível
identificar na edificação grande diversidade de patologias, como infiltrações, rachaduras,
proliferação de fungos e mofo, revestimentos deteriorados, surgimento de plantas
incrustadas na alvenaria como consequência do excesso de umidade infiltrada, além de
intervenções feitas aleatoriamente em total desarmonia com o todo da edificação.
O hotel Palmares é o único, entre os exemplares estudados nesse trabalho, ainda
existente que possui seu partido original conservado. Nunca sofreu processos de reforma ou
restauro. No momento vem sofrendo patologias associadas às intempéries e a falta de
manutenção, afinal, a intenção do atual proprietário não é, a de preservar o partido da
edificação e fazer uso de sua importância histórica e de sua estética. É antes a de demolir
para aproveitar a área do terreno para fazer um estacionamento, seguindo a lógica da nova
dinâmica do bairro. A edificação está, portanto na eminência de transformar-se em mais
uma lacuna na memória alagoana.
98 Informações obtidas com o primo do atual proprietário da edificação, Cézar Marabá. 99
Indicativo de que a coberta foi substituída já que as telhas de amianto são uma inovação posterior ao período em que acredita-se que a
edificação tenha sido construída.
97 5 – Hotéis & Ecletismo: uma relação direta entre desenvolvimento comercial e a
imagem da " Maceió de Outrora"100.
Dentre o repertório arquitetônico de Maceió no século XIX, há um lugar de destaque
para o estilo Eclético, este estilo que representou a modernização da cidade, para se
adequar ao seu novo papel dentro da Província, para atrair cada vez mais investimentos e
proporcionar um maior desenvolvimento econômico a esta tão próspera localidade.
Entende-se que a arquitetura é um registro material imóvel da história e dos
acontecimentos do lugar onde se insere. A arquitetura Eclética implantada em Maceió conta
sua evolução, seu surgimento já no período imperial do país, seu poderio e o status que
alcançou no século XIX. Época em que a significativa produção de açúcar nos engenhos,
espalhados no interior da Província, associada às condições ideais de „atracamento‟ da
Enseada de Jaraguá, trouxeram um surto de prosperidade e desenvolvimento.
Tomando proveito dessas condições favoráveis ao seu desenvolvimento, Maceió
acabou por ser elevada à condição de capital e para manter seu status, e seu processo de
crescimento econômico, tratou de adaptar-se a tal condição “aformoseando-se”.
O estilo Eclético vem então transformar a Maceió com aspecto de vila, em cidade
moderna, desenvolvida e atrativa. Os hotéis da época associam-se a esse estilo, para
cumprir seu papel de “cartão de visitas” da cidade, abrindo suas portas a visitantes e
comerciantes. As respectivas localizações por si só, são indicativas da relação entre estes
hotéis e a dinâmica comercial da cidade.
O Ecletismo como um todo está vinculado, no caso de Maceió, ao desenvolvimento
comercial, ao fato de a cidade ter ascendido e prosperado de forma tão esplendorosa ao
longo de menos de um século.
Com efeito, estes hotéis representam parte da memória do apogeu comercial de
Maceió, mais precisamente de um dos momentos mais nobres que a sociedade maceioense
viveu, porém não são tratados como tais. Em sua maioria, os exemplares Ecléticos da
cidade passam despercebidos pelo olhar dos transeuntes, no bairro do Centro enormes
letreiros não permitem ver as ricas platibandas Ecléticas que se espalham pelas ruas
movimentadas do bairro.
Neste trabalho tratamos de exemplares de hotéis Ecléticos situados em dois bairros
antigos da cidade; o Centro e o Jaraguá. Este primeiro, como já dito, possui boa parte dos
exemplares ocupados servindo a usos comerciais e de serviço, não há porém a adequação
desses usos ao partido da edificação, pelo contrário, esta é que se adequa, na maioria dos
casos, à dinâmica do bairro. E em meio à disputa cada vez mais recorrente por áreas para
implantação de comércios nesta região, a essência Eclética vai se perdendo.
100
Expressão original de LIMA JÚNIOR, Félix. Maceió,2001.
98
A passagem mais grave de descaso com a memória da cidade, em prol de
melhores resultados econômicos, é a do Hotel Bela Vista. Este foi demolido em meio ao
processo de modificação da dinâmica do bairro do Centro, a fim de ter seu terreno ocupado
por um edifício de grande porte, que receberia um novo uso atendendo ao ramo dos
serviços.
Pode-se citar também o Hotel Lopes como uma „vítima‟ dessa modificação tão
significativa no uso dos espaços no bairro. Com a evolução urbana e comercial o metro
quadrado no Centro foi ficando mais caro e assim os prédios antigos passaram a ser
desmembrados e locados a vários inquilinos, ou então a ser demolidos para dar lugar a
prédios maiores, aproveitando-se assim melhor o espaço. O Hotel Lopes tem hoje sua
estrutura totalmente dividida, cada parte pertencendo a um inquilino, cada um administrando
e mantendo sua porção da edificação ao seu modo. Tem-se assim uma completa
desconfiguração de seu partido original.
Internamente a planta não corresponde mais ao seu desenho original, assim como
seus revestimentos. Cada parte do edifício possui acessos independentes, disposições e
revestimentos avulsos. No Hotel Palmares as modificações foram menos abruptas, uma ou
outra intervenção isolada, algumas modificações de revestimentos e um anexo (edícula)
criado na porção posterior. Apesar de situar-se em meio a uma região de grande movimento
no Centro, e mesmo contra a vontade de seu proprietário, mantém-se de pé.
Já no Bairro do Jaraguá a transformação da dinâmica foi mais branda, este bairro
conserva ainda boa parte de seu elenco de edificações do século XIX, mas ainda assim,
uma modificação urbana trouxe grande perda a um dos exemplares de hotéis estudados
neste trabalho. O Hotel Atlântico, como já dito anteriormente, teve sua área reduzida à
metade com o desvio da desembocadura do Salgadinho na década de 1960. A partir daí
tiveram início uma série de transformações que criaram uma verdadeira lacuna em meio à
memória maceioense do período.
O único exemplo positivo que se tem entre os exemplares estudados é o do Hotel
do Palacete dos Machados, atual Museu Théo Brandão. Graças a uma intervenção por
parte da Universidade Federal de Alagoas em conjunto com a Caixa Econômica Federal,
que tratou de restaurar a edificação, trazendo de volta a exuberância que lhe é inerente.
Como resultado, tem-se uma série de ações que promovem o descaso para com
estes exemplares. O descaso não parte só dos proprietários, vinculando-se às suas
questões econômicas, mas também por parte do próprio governo. Afinal, é provável que a
demolição do Hotel Bela Vista e as transformações desordenadas na estrutura do Hotel
Lopes se deram sim, por iniciativa privada, mas só ocorreram pela falta de legislação (na
época) ou da aplicação da mesma.
No caso da intervenção sofrida no Hotel Atlântico tem-se um agravante, já que foi o
próprio governo que providenciou a demolição de metade de sua estrutura. A fim de criar
99 uma via paralela à nova desembocadura do Riacho Salgadinho, que agora trazia junto
consigo os esgotos de boa parte da cidade.
Tais circunstâncias só nos deixam acreditar que a situação em que se encontra o
patrimônio maceioense, não apenas no tocante aos hotéis Ecléticos estudados, é
responsabilidade do Estado e da prefeitura, da falta de gestão e de aplicabilidade da
legislação vigente, até porque estes exemplares estão inseridos apenas em setores de
Preservação de entorno, como já citado anteriormente. Somente o Hotel Lopes está situado
em um Setor de Preservação Rigorosa (SPR – 01) e ainda assim não tem respeitado seu
partido, já que este enquadramento consta na Lei Municipal N° 5593 de 2007 e os registros
fotográficos deste trabalho mostram intervenções realizadas após o estabelecimento desses
setores. Cria-se assim um quadro de perdas irreparáveis na memória e na história da
cidade.
Uma possível solução para revalorizar entre os exemplares estudados os que ainda
existem, no contexto urbano da Maceió do século XXI seria atribuir-lhes usos relativos à
cultura e a atividades de divulgação turística. Caberia ao município, conjuntamente com o
estado, firmar acordos para instalar novos usos nestas edificações.
Seria importante ao mesmo tempo divulgá-las e tornar clara à população a sua
importância no tocante à história da cidade, afinal a desvalorização destes exemplares se
dá, em parte, pela falta de conhecimento da população. Para tal o ideal seria atribuir-lhes
usos relativos ao turismo, centros de hospedagem como pousadas e albergues para os
comerciantes que vem ao Centro da cidade, ou atividades culturais, como museus,
hemerotecas, livrarias.
A atribuição destes novos usos deveria para tanto considerar, além da ligação com
a história das edificações, a dinâmica atual do bairro. Seria preciso avaliar quais usos
relacionariam de forma satisfatória as ligações da edificação com seu passado e com o seu
contexto atual. Tal possibilidade permitiria preservar a integridade de tais edificações dando-
lhes usos que respeitem seu partido e sua história e que estabeleçam uma relação de
compromisso com a preservação e manutenção destas edificações. E pondo fim às
intervenções desenfreadas por parte da iniciativa privada, devolver o teor histórico dos
exemplares de Hotéis Ecléticos em Maceió.
Um bom exemplo de que esta possibilidade de reestabelecimento de usos a estas
edificações daria certo é o Museu Théo Brandão, único entre os exemplares estudados que
se encontra preservado e conservado. O estabelecimento do uso de museu para esta
edificação devolveu-lhe sua essência, e tem contribuído para preservar sua historia e seus
traços tipicamente ecléticos.
Nota-se assim, que não é impossível regatar a vitalidade destes exemplares, em
meio ao contexto urbano da “Maceió de agora”, se houver empenho em ressaltar-lhes a
importância que possuíam na “Maceió de outrora”.
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Blog Via Arte. Disponível em: <http://www.viaarte.org/2011/06/um-espaco-de-arte-no-centro-do-rio.html>Acesso em: 08 Set. 2011.
Blog Viver Cidades. Disponível em: <http://www.vivercidades.org.br/publique_222/web/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1357&sid=21&tpl=printerview> Acesso em: 03 Nov. 2011.
Casa imperial do Brasil. Disponível em: <http://www.monarquia.org.br/NOVO/obrasilimperial/DJoaoVI.html> Acesso: 15 Ago. 2011.
Flickr do Yahoo. Disponível em: <http://www.flickr.com/photos> Acesso em: 08 Set. 2011.
Itaú Cultural. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3809> Acesso em: 30 Out. 2011.
Nota Positiva. Disponível em: <http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/historia/historia_trab/estilomanuelino.htm> Acesso em: 30 Out. 2011.
Portal São Francisco. Disponível em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br> Acesso em: 07 Set. 2011.
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/neoclassicismo/neoclassicismo-9.php> Acesso em: 30 Out. 2011.
Portal Vitruvius. Disponível em:
<http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/11.123/3514> Acesso em: 31 Out. 2001.
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/01.003/2102> Acesso em: 03 Nov. 2011.
Site do Armazém Usina. Disponível em:<http://www.armazemuzina.com> Acessado em: 08 Set. 2011.
Sua Pesquisa. Disponível em: <http://suapesquisa.com/historiadobrasil/ciclo_cafe.htm.> Acesso: 14 Maio 2011.
Teatro Santa Isabel. Disponível em: <http://www.teatrosantaisabel.com.br/conheca-o-teatro/galeria-fotos-teatro.php> Acesso: 21 Nov. 2011.
104
7 - ANEXO I -
Imagens
105
Imagem 01: Esquema Parlamento Britânico
Fonte: Radiometrópole.com, S.d.
. Imagem 02: Palácio de Exposições de Munique.
Fonte: Portal São Francisco, S.d.
Imagem 03: Palácio Hotel do Bussaco - Lisboa.
Fonte: Almeidahotéis.com,S.d.
Imagem 04: Palacete Numa de Oliveira – São Paulo.
Fonte: Blog São Paulo Antigo, S.d.
106
Imagem 05: Desenho de Haussman para Paris, onde as linhas mais grossas representam novas ruas, os tracejados quadriculados representam novos bairros e o tracejado horizontal representa grandes parques
periféricos. Fonte: BENÉVOLO, 1999.
Imagem 06: Academia de Belas Artes.
Fonte: Blog Diretório Monárquico, 2010.
Imagem 07: Casa França-Brasil.
Fonte: Blog Via Arte, 2011.
107
Imagem 08: Hospício dos Alienados. Imagem 09: INES. Fonte:LADEIRA, [S.d.]. Fonte:ROCHA, [S.d.].
Imagem 10: Conjunto arquitetônico no SAARA. Imagem 11: Conjunto arquitetônico Av. Mem de Sá. Fonte: Flickr, 2010. Fonte: Flickr, 2009.
Imagem 12: Jockey Club. Imagem 13: Palácio Laranjeiras.
Fonte: FERRAZ, 2009. Fonte: COLIN, 2006.
Imagem 14: Imaculada Conceição. Imagem 15: Sagrado Coração de Jesus. Fonte: Blog Louvores a Maria. Fonte: Blog Daqui do Méier, 2009.
108
Imagem 16: Carro de boi no final do século XIX. Imagem 17: Banco de Londres. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001. Fonte: BARBOSA, Caroline (2008).
Imagem 18: Maxabomba. Imagem 19: Estação Central da Great Western. Fonte: TENÓRIO, 1979. Fonte: MISA, [S.d].
Imagem 20: Praça Napoleão Goulart. Imagem 21: Praça Sinimbú. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001. Fonte: MISA, [S.d].
Imagem 22: Avenida da Paz. Fonte: CAVALCANTE, [S.d].
109
Imagem 23: Antigo Lyceu de Artes e Ofícios. Imagem 24: Ponte dos Fonseca. Fonte: MISA, S.d. Fonte: MISA, S.d.
Imagem 25: Fábrica Cármen. Imagem 26: Ponte dos Fonseca atualmente.
Fonte: Flickr, 2009. Fonte: FERRARE, 2008.
Imagem 27: Sala “Fé”. Imagem 28: Porão – Revestimentos e Assoalho à mostra. Fonte: OLIVEIRA, 2010. Fonte: OLIVEIRA, 2010.
Imagem 29: Antiga Maçonaria. Imagem 30: Sociedade Montepio dos Artistas.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2007). Fonte: MISA, S.d.
110
Imagem 31: OAB. Imagem 32: Edifício Brêda Fonte: BARBOSA, Mariana (2007). Fonte: BARBOSA, Mariana (2007).
Imagem 33: Bilhete postal do Mercado das Flores. Imagem 34: Hotel Universal. Fonte: MISA, S.d. Fonte: LIMA JÚNIOR, 2001.
Imagens 35 e 36: Hotel Bela Vista em demolição.
Fonte: O Palácio, 2011.
111
Imagens 37 e 38: Lançamento da pedra fundamental do INAMPS e o processo de sua construção.
Fonte: O Palácio, 2011.
Imagem 39: Estação Central da Great Western.
Fonte: DANTAS, Cármen Lúcia, S.d.
Imagem 40: Escada de acesso ao porão.
Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagens 41 e 42: Imagens do Porão. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
112 ANEXO I – A
Análise comparativa do quadro evolutivo do Hotel Lopes entre 2010 e 2011.
Imagem 14: Recuperação da guirlanda. Imagem 15: Guirlanda incompleta. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
Imagem 16: Recuperação da balaustrada. Imagem 17: Situação em que se encontrava a Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). balaustrada no ano de 2010. Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
Imagem 18: Recuperação da balaustrada. Imagem 19: Situação em que se encontrava a da varanda da fachada lateral. balaustrada no ano de 2010. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
Imagem 20: Almofadas recuperadas. Imagem 21: Almofadas deterioradas Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
113
Imagem 22: Caixa de ar-condicionado retirada Imagem 23: Caixa de ar-condicionado para a recuperação da fachada. que descaracterizava a fachada Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). juntamente com a escada helicoidal. . Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
Imagem 24: Fachada lateral em fase de Imagem 25: Fachada lateral ainda recuperação. com a marquise e encoberta Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). por letreiros. . Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
Imagem 26: Fachada lateral em fase de Imagem 27: Fachada lateral ainda recuperação. encoberta por letreiros. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011). Fonte: BARBOSA, Mariana (2010).
.
114
ANEXO I – B Alguns detalhes internos do antigo H. Palmares
Imagem 28: Afloramento de Imagem 29: Indício de Imagem 30: Forro em madeira espécie vegetal em meio fungos nas paredes em estado de apodrecimento à alvenaria. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 31: Apodrecimento e Imagem 32: Vedação Imagem 33: Gradil de ferro em surgimento de bolor nas do vãos de acesso em estado de corrosão. esquadrias. a um dos quartos Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 34: Rachaduras na em Imagem 35: Ferragens à Imagem 36: Substituição do Alvenaria. mostra. forro original por um em gesso. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
Imagem 37: Rachaduras na Imagem 38: Revestimento Imagem 39: Forro ventilado Alvenaria. das paredes danificado pela. em madeira danificado por umidade infiltrada. cupins. Fonte: BARBOSA, Mariana (2011).
115
8 - ANEXO II -
Mapas
116
Mapa 02: Mapa da cidade de Maceió datado de 1820, confeccionado por José da Silva Pinto - o primeiro mapa da cidade de Maceió. Fonte: “La produción de léspace à Maceió (1800-1930)” – MEDEIROS, Elaine, 2011. apud
CAVALCANTE, Verônica Robalinho. Tese de Doutorado. Universite de Paris/Paris, 1998.
117
9 - ANEXO III -
Levantamento de plantas e fachadas das edificações
118
10 - ANEXO IV -
Análise descritiva dos elementos que integram as fachadas das edificações