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O MERCADO A. A Demanda Chama-se mercado o lugar (que não necessita ser fisicamente determinado e delimitado, mas é ao contrário um lugar “econômico”) no qual se encontram muitos vendedores de muitos compradores, para trocar entre si uma ou várias mercadorias. Pode-se falar de mercado de uma certa mercadoria, ou de mercado de um grupo de mercadorias (por exemplo, o mercado de gêneros alimentícios, ou o mercado de matérias primas) e, também do mercado geral de todo o sistema econômico: esta última acepção da palavra mercado é justificada pelo fato de que, como veremos, nada do que acontece num mercado é totalmente indiferente ao que acontece nos demais. Resulta da definição que se pode falar de mercado, no sentido próprio da palavra, somente quando as trocas realizam-se através da intermediação da moeda. O problema fundamental que se deve examinar agora é: como se formam os preços no mercado? Por que o preço da mercadoria A é, digamos, o dobro do preço da mercadoria B, e uma vez e meia o da mercadoria C? Como fica claro pela formulação da pergunta, o que interessa, pelo menos neste momento, é a formação dos preços relativos. Para responder a esta questão, devemos começar introduzindo dois conceitos muito importantes, que usaremos continuamente em todo o nosso tratado e dos quais damos aqui uma primeira ilustração, com a condição de precisá-los melhor em seguida. Trata-se dos conceitos de demanda e de oferta. A demanda pode, num primeiro momento, ser definida do seguinte modo: a demanda de certo bem é a quantidade deste que os sujeitos do sistema desejam adquirir por um certo preço desse bem. A expressão “por um certo preço” é essencial, já que a quantidade de certo bem que os sujeitos desejam adquirir varia, em geral, ao variar o preço desse bem. De que modo varia a quantidade demandada ao variar o preço? Comecemos por considerar um bem de consumo e um único sujeito que deseja consumi-lo. Antes de mais nada é claro que, mesmo que o bem fosse cedido gratuitamente, isto ó, se o seu preço fosse zero, nem por isso o consumidor o demandaria numa quantidade infinita: há sempre um limite ao consumo que cada um pode realizar de certo bem. Existe, portanto, uma bem determinada quantidade que é demandada a preço zero, e não podem existir, da parte do nosso consumidor, quantidades demandadas maiores que esta. Se o preço aumenta, assumindo valores positivos cada vez maiores (entenda-se: cada vez maiores em relação aos demais preços que, neste raciocínio, supomos constantes), então a demanda diminui. Este é um fato óbvio e de experiência comum. Mas se se quer procurar propriamente uma explicação racional, basta considerar o seguinte. Cada um de nós sabe que, em geral, a satisfação ou a utilidade que se obtém do consumo de uma unidade de uma mercadoria decresce ao crescer o número de unidades à disposição. O consumo de um quilo de pão dá lugar a uma certa utilidade. O consumo do quilo seguinte de pão dá lugar a uma utilidade menor, porque, em geral, satisfaz uma necessidade menos urgente que a necessidade satisfeita pelo primeiro quilo de pão. O que equivale a dizer que a utilidade conjunta de dois quilos de pão é menor que o dobro da utilidade de um quilo. Portanto, cada sujeito, se está disposto a dar, suponhamos 10 unidades monetárias por um quilo de pão, não está disposto, pois, a das 20 por dois quilos, mas, digamos, estará disposto a dar somente 14. Isto é, enquanto por um quilo de pão está disposto a pagar um preço 10, por dois quilos estará disposto

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O MERCADOA. A Demanda

Chama-se mercado o lugar (que não necessita ser fisicamente determinado e delimitado, mas é ao contrário um lugar “econômico”) no qual se encontram muitos vendedores de muitos compradores, para trocar entre si uma ou várias mercadorias. Pode-se falar de mercado de uma certa mercadoria, ou de mercado de um grupo de mercadorias (por exemplo, o mercado de gêneros alimentícios, ou o mercado de matérias primas) e, também do mercado geral de todo o sistema econômico: esta última acepção da palavra mercado é justificada pelo fato de que, como veremos, nada do que acontece num mercado é totalmente indiferente ao que acontece nos demais. Resulta da definição que se pode falar de mercado, no sentido próprio da palavra, somente quando as trocas realizam-se através da intermediação da moeda.

O problema fundamental que se deve examinar agora é: como se formam os preços no mercado? Por que o preço da mercadoria A é, digamos, o dobro do preço da mercadoria B, e uma vez e meia o da mercadoria C? Como fica claro pela formulação da pergunta, o que interessa, pelo menos neste momento, é a formação dos preços relativos.

Para responder a esta questão, devemos começar introduzindo dois conceitos muito importantes, que usaremos continuamente em todo o nosso tratado e dos quais damos aqui uma primeira ilustração, com a condição de precisá-los melhor em seguida. Trata-se dos conceitos de demanda e de oferta.

A demanda pode, num primeiro momento, ser definida do seguinte modo: a demanda de certo bem é a quantidade deste que os sujeitos do sistema desejam adquirir por um certo preço desse bem. A expressão “por um certo preço” é essencial, já que a quantidade de certo bem que os sujeitos desejam adquirir varia, em geral, ao variar o preço desse bem.

De que modo varia a quantidade demandada ao variar o preço?Comecemos por considerar um bem de consumo e um único sujeito que deseja consumi-lo. Antes

de mais nada é claro que, mesmo que o bem fosse cedido gratuitamente, isto ó, se o seu preço fosse zero, nem por isso o consumidor o demandaria numa quantidade infinita: há sempre um limite ao consumo que cada um pode realizar de certo bem. Existe, portanto, uma bem determinada quantidade que é demandada a preço zero, e não podem existir, da parte do nosso consumidor, quantidades demandadas maiores que esta. Se o preço aumenta, assumindo valores positivos cada vez maiores (entenda-se: cada vez maiores em relação aos demais preços que, neste raciocínio, supomos constantes), então a demanda diminui. Este é um fato óbvio e de experiência comum. Mas se se quer procurar propriamente uma explicação racional, basta considerar o seguinte.

Cada um de nós sabe que, em geral, a satisfação ou a utilidade que se obtém do consumo de uma unidade de uma mercadoria decresce ao crescer o número de unidades à disposição. O consumo de um quilo de pão dá lugar a uma certa utilidade. O consumo do quilo seguinte de pão dá lugar a uma utilidade menor, porque, em geral, satisfaz uma necessidade menos urgente que a necessidade satisfeita pelo primeiro quilo de pão. O que equivale a dizer que a utilidade conjunta de dois quilos de pão é menor que o dobro da utilidade de um quilo. Portanto, cada sujeito, se está disposto a dar, suponhamos 10 unidades monetárias por um quilo de pão, não está disposto, pois, a das 20 por dois quilos, mas, digamos, estará disposto a dar somente 14. Isto é, enquanto por um quilo de pão está disposto a pagar um preço 10, por dois quilos estará disposto a pagar somente um preço 7. Se, portanto, o preço aumenta de 7 para 10, a demanda de pão, por parte do nosso sujeito, diminui de 2 para 1 quilo.

A demanda global. Ou demanda de mercado, do pão é a soma das quantidades de pão que são demandadas, por algum preço, pelos sujeitos que compõem o sistema. Visto que todos os sujeitos comportam-se como aquele, genérico, que examinamos, segue-se que também a demanda de mercado decresce ao crescer o preço. Deve-se, além disso, considerar que, alcançando o preço um nível suficientemente alto (entenda-se: alto em relação aos outros preços), a demanda anula-se já que, por importante que o pão possa ser para os consumidores, se o preço fosse muito alto, ninguém o demandaria, e cada um dedicaria a moeda em seu poder à aquisição de outros bens substitutos em relação ao considerado.

Tudo o que dissemos em relação ao pão pode-se estender a qualquer bem de consumo. Donde diremos que, tanto para a demanda de um sujeito individual quanto para a demanda de mercado: 1) existe uma bem determinada quantidade que é demandada a preço zero; 2) a quantidade diminui ao crescer o preço; 3) existe um preço suficientemente alto para anular a demanda.

Todos estes fatos podem ser representados por meio de um gráfico. Consideremos dois eixos cartesianos e coloquemos a quantidade demandada sobre o eixo das abcissas e os preços sobre o eixo das ordenadas. Do plano cartesiano interessa-nos apenas, evidentemente, o primeiro quadrante, pois nem os preços nem as quantidades podem ser negativos. De um certo ponto dos eixos das ordenadas, que indica o preço pelo qual a quantidade demandada é zero, parte uma curva, que desce (precisamente porque decresce o preço de quantidades demandadas cada vez maiores) até encontrar o eixo das

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abcissas num ponto que representa a quantidade demandada a preço zero. Esta curva chama-se curva de demanda e, como vimos, tem o mesmo comportamento quer se trate de uma curva de demanda relativa a um único sujeito (ou curva individual de demanda), quer se trate da curva de demanda de todo o mercado.

Um dos modos mais usados para considerar como varia a quantidade demandada ao variar o preço é fornecido pela medida da elasticidade da demanda. A elasticidade da demanda é a relação entre a variação percentual da quantidade demandada e a variação percentual (evidentemente em sentido inverso) do preço. Por exemplo, dizer que a elasticidade da demanda é 1,4 equivale a dizer que, se o preço aumenta, digamos, 10%, a quantidade demandada diminui 14%.

Note-se que a elasticidade é uma função do preço, no sentido de que, em geral, ela é diferente segundo o preço do qual se considera o incremento percentual. Assim, por exemplo, pode acontecer que, aumentando em 10% o preço 20 (isto é, passando do preço 20 ao preço 22), a demanda diminua em 12% (o que significa que, se ela era, digamos, 1000 ao preço 20, torna-se 892,86 ao preço 22), com uma elasticidade, portanto, de 1,2, enquanto que, aumentando em 10% o preço 10 (isto é, passando do preço 10 ao preço 11), a demanda diminua em 16% (o que significa que se esta era, digamos, 4.000 ao preço 10,torna-se 3.448,28 ao preço 11), com uma elasticidade, portanto, de 1,6.

É fácil verificar que: 1) se a elasticidade é maior que 1, um aumento do preço determina uma tal diminuição da quantidade demandada que, ao novo preço, o valor da quantidade demandada é menor que o valor da quantidade demandada ao preço antigo (e, ao contrário, uma diminuição do preço determina um tal aumento da quantidade demandada que o valor ao novo preço, da quantidade demandada é maior que o valor da quantidade demandada ao preço antigo); 2) se a elasticidade é igual a 1, um aumento ou uma diminuição do preço determinam, respectivamente, uma diminuição ou um aumento da quantidade demandada tais que o valor da quantidade demandada, ao novo preço, é igual ao valor da quantidade demandada ao preço antigo; 3) se a elasticidade é menor que 1, um aumento do preço determina uma diminuição da quantidade demandada tal que, ao novo preço, o valor da quantidade demandada é maior que o valor da quantidade demandada ao preço antigo (e, ao contrário, se o preço diminui, isto determina um aumento da quantidade demandada tal que, ao novo preço, o valor da quantidade demandada é menor que o valor da quantidade demandada ao preço antigo). Demos um exemplo somente para o caso 2): suponhamos que ao preço 10 a quantidade demandada seja 1.000, e que, se o preço aumenta 10%, passando a 11, a quantidade demandada diminua 10%, passando a 909,1; tanto na situação inicial como na final, o valor da quantidade demandada (levando em conta os arredondamentos) é igual a 10.000.

Retomemos agora a definição de demanda que demos há pouco ($19). Ela foi dada com base na hipótese de que a demanda de um bem varie somente em conseqüência de variações no seu preço. Nas considerações que fizemos em seguida àquela definição, para evitar complicações, e para não gerar dúvidas sobre a própria definição, supusemos sempre que no sistema econômico nada mais variasse à exceção do preço do bem considerado (e consequentemente da demanda desse bem em função do próprio preço). Mas agora devemos levar em conta o fato de que as variações do preço de um certo bem não são a única circunstância que influi sobre a demanda deste bem. Em linguagem matemática, diremos que a demanda de um bem é função não somente do seu preço, mas também de outros elementos. Estes elementos são, principalmente, os seguintes:a) Os gostos e as preferências dos consumidores. Um certo bem pode ser muito desejado hoje, mas pode ser menos desejado amanhã, porque, por exemplo, neste ínterim inventou-se um outro bem que satisfaz melhor a mesma necessidade satisfeita pelo bem em questão, ou porque, no tempo, muda a moda ou mudam os hábitos.b) As rendas dos consumidores. Se a renda em moeda que um sujeito obtém vendendo a mercadoria, ou as mercadorias, por ele produzidas, varia porque este sujeito, por uma razão qualquer, produz de mais ou de menos, isto influi sobre a demanda que ele exerce do bem em questão: se sua renda aumenta, ele pode se dar ao luxo de demandar, a cada preço dado, uma quantidade maior do que demandava antes, e o contrário acontece se sua renda diminui.c) Os preços de outros bens. As variações nos preços dos outros bens podem influir por várias razões sobre a demanda do bem considerado. Consideremos uma mercadoria A. Se o preço de uma mercadoria B, substituta em relação a A, aumenta, os consumidores serão estimulados a substituir B por A no consumo, e portanto a sua demanda de A aumenta. O contrário evidentemente acontece se o preço de B diminui. Mas mesmo que A e B não sejam substitutos, no sentido de que não satisfazem a mesma necessidade, se a demanda de B é muito elástica, um aumento de preço B diminui o valor da quantidade demandada desta mercadoria, liberando, para os consumidores, um poder de compra que pode afluir para A, aumentando-lhe a demanda. Se A e B são complementares, uma diminuição do preço de B, aumentando a demanda de B, aumentaria também a demanda de A.

Portanto, ampliando a nossa definição anterior, podemos dizer, mais em geral, que a demanda de uma mercadoria é a quantidade desta que os sujeitos do sistema desejam adquirir em função de seus gostos e preferências, de suas rendas e de todos os preços do mercado.

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Fenómenos económicos

A palavra economia vem dos vocábulos gregos "oikos" e "nomos", que exprimem, respectivamente, a ideia de "casa/riqueza" e "regra". Podemos, então, dizer que, etimologicamente, a palavra economia significa regra da casa. E, no fundo, assim é: tal como o casal gere o orçamento familiar para satisfazer as suas necessidades, providenciando para que nada falte ou que pelo menos as necessidades elementares sejam providas, dizendo hoje que não à consola de videojogos que o filho tanto queria, para amanhã lhe poder dar o computador que lhe serve para estudar e também jogar, assim a economia prende-se com a forma como o homem cria e utiliza bens escassos com vista à satisfação das suas necessidades e ao aumento do seu bem-estar. E se é sem esforço que reconhecemos os problemas económicos como questões do quotidiano (muita vezes sem darmos por isso quando, por exemplo de manhã abrimos a torneira para o banho diário, ou quando confrontamos o nosso dinheiro com o preço das coisas de que necessitamos ou gostaríamos simplesmente de comprar) nem sempre, reconhecemos os problemas do mundo de hoje como problemas de natureza fundamentalmente económica, embora eles tenham essa dimensão implícita. Quantas vezes as crises que conduzem às guerras têm raízes económicas, ou as consequências de determinados fenómenos sociais, como a discriminação racial, os fluxos migratórios, ou o envelhecimento da população - cujas causas podem ser fundamentalmente de carácter cultural, político ou resultante da evolução científica ou médica- têm implicações no domínio económico.

Na verdade, os fenómenos económicos são os decorrentes da actividade económica, ou seja, os decorrentes da produção de bens escassos para satisfazer as necessidades ilimitadas do homem. Ora a actividade económica não é mais do que uma parte da vida em sociedade, não é mais do que um domínio da realidade social: o agricultor que lavra a terra e semeia as batatas é o mesmo que vende as mercadorias no mercado abastecedor, que baptiza o seu filho na igreja paroquial, que foi eleito pelo partido X para a Assembleia Municipal e que é sócio do clube de futebol da sua região.

Mas hoje, mercê da internacionalização do comércio, da produção e dos capitais, a dimensão dos problemas económicos assume a escala planetária. As economias dos diferentes países estão cada vez mais dependentes e integradas (União Europeia, NAFTA, MERCOSUL), a mundialização da economia e a globalização são realidades vivênciadas por todos, mesmo por aqueles que não sabem o que isso é ou o seu porquê.

Por isso, o estudo da Economia:

•fornece uma base lógica de entendimento e raciocínio que possibilita a análise de situações sociais;

•favorece a integração social do indivíduo, pela visão mais ampla e correcta que proporciona da vivência em sociedade

•promove o desenvolvimento de capacidades e atitudes de intervenção positiva como cidadão consciente. FONTE [http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=109&doc=8658&mid=2]

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