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UNIVERSIDADE LUSÓFONA DE HUMANIDADES E TÉCNOLOGIAS Treino das Capacidades Motoras e Técnico- Tácticas Manutenção da posse de bola -Passe Rui Horta 03/01/2014 “Uma acção de jogo é, uma relação funcional entre o jogador e o contexto situacional em que se encontra, no qual se desenvolve um conjunto de recursos específicos, com o intuito do cumprimento de objectivos estratégicos e tácticos.(Castelo, 2009)

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Trabalho realizado no âmbito do mestrado em Treino Desportivo - Alto Rendimento da Universidade Lusófona

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Page 1: Trabalho de Treino das Capacidades Motora e Técnico Tácticas - Passe na manutenção de posse de bola

UNIVERSIDADE LUSÓFONA DE HUMANIDADES E TÉCNOLOGIAS

Treino das Capacidades Motoras e Técnico-

Tácticas Manutenção da posse de bola -Passe

Rui Horta

03/01/2014

“Uma acção de jogo é, uma relação funcional entre o jogador e o contexto situacional em que se

encontra, no qual se desenvolve um conjunto de recursos específicos, com o intuito do

cumprimento de objectivos estratégicos e tácticos.” (Castelo, 2009)

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Rui Alexandre Horta Vieira - 21303425

Índice Temática ........................................................................................................................................ 2

Objectivos do trabalho .................................................................................................................. 3

Revisão Bibliográfica ..................................................................................................................... 4

Jogos desportivos colectivos ..................................................................................................... 4

Futebol ...................................................................................................................................... 4

Manutenção de posse de bola .................................................................................................. 5

Subsistema Táctico/Técnico ...................................................................................................... 6

Passe .......................................................................................................................................... 8

Definição ............................................................................................................................... 8

Execução ................................................................................................................................ 8

Opções tácticas dos jogadores no passe ............................................................................... 9

Análises ............................................................................................................................... 10

Combinações Tácticas ............................................................................................................. 11

Caracterização do Jogo de Futebol ......................................................................................... 12

Resistência Específica .............................................................................................................. 13

Efeito da fadiga no passe ........................................................................................................ 14

Proposta de Trabalho .................................................................................................................. 15

Bibliografia .................................................................................................................................. 20

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Rui Alexandre Horta Vieira - 21303425

Temática

O futebol é provavelmente o desporto mais popular do mundo. Apesar da sua

natureza universal e a sua história se estender à mais de cem anos, ainda existem muitas

incertezas quanto às suas exigências multidimensionais (fisiológicas, psicológicas,

biomecânicas) e, portanto, quanto ao planeamento do treino ideal. Na verdade, este jogo

é muito complexo, porque o terreno de jogo é substancialmente grande (cerca de 100 x

60 m), a bola é controlada com os pés e com a cabeça e podem haver interacções com

os onze companheiros de equipa e entre os onze adversários, quase todos com diferentes

papéis no jogo (Aguiar, Botelho, Lago, Maças, & Sampaio, 2012).

Este trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular de Treino das

Capacidades Motoras e Técnico-Tácticas, e tem como objectivo desenvolver um estudo

sobre uma acção técnica ou situação técnico/táctica.

A situação técnico/táctica escolhida é a manutenção de posse de bola com o

foco na acção técnica de passe para a realização da mesma.

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Objectivos do trabalho

Este trabalho foi desenvolvido com objectivos, sendo que pode ser definido um

objectivo geral e um objectivo específico. Como objectivo geral, este trabalho tem uma

importância no aumento da base teórica sobre o futebol, e sobre o tema escolhido,

nomeadamente, o passe e a manutenção de posse de bola. O objectivo específico deste

trabalho assenta numa melhor compreensão da prescrição de exercícios para o

desenvolvimento do passe para a manutenção de posse de bola, procurando criar

exercícios de treino que aperfeiçoem esta situação técnico/táctica e a sua acção técnica

inerente (o passe), partindo de uma situação mais analítica para situações de maior

complexidade, com um crescendo da intenção táctica adjacente ao exercício e ao seu

objectivo.

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Revisão Bibliográfica

Jogos desportivos colectivos

Os jogos desportivos colectivos podem ser caracterizados, entre outros factores,

pela preeminência da aciclicidade técnica, por solicitações e efeitos acumulativos,

morfológicos-funcionais e motores e por uma elevada participação psíquica.

(Teodorescu, 2003). “Os jogadores necessitam de manter uma permanente atitude

táctico-estratégica atendendo ao vasto leque de acontecimentos cuja frequência,

ordem cronológica e complexidade não podem ser previstas antecipadamente nos

Jogos Desportivos Colectivos” (Graça & Oliveira, 2005).

“O futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os jogadores estão agrupados

numa relação de adversidade – rivalidade desportiva, numa luta incessante pela

conquistada posse da bola com o objectivo de a introduzir o maior número de vezes

na baliza adversária e evitá-los na sua própria baliza, com vista à obtenção da

vitória” (Castelo, 2009). O mesmo autor refere, que ao longo da sua existência, esta

modalidade tem sido ensinada, treinada e investigada, à luz de diferentes

perspectivas, as quais deixam perceber concepções diversas a propósito do conteúdo

do jogo e das características que o ensino e o treino devem assumir, na procura da

eficácia. O desenrolar do jogo de Futebol encerra um conjunto diversificado de

situações momentâneas do jogo que por si só, representam uma sucessão de

acontecimentos imprevisíveis. Os jogadores perante as situações – problema que

lhes sucedem no decorrer do jogo, têm de tomar decisões certas no meio uma grande

imprevisibilidade. Perante isto, é necessário que o processo de treino decorra cada

vez mais da reflexão metódica e organizada da análise competitiva do conteúdo do

jogo, ajustando-se e adaptando-se a essa realidade. Este contexto orienta

irremediavelmente a forma de encarar a prática, não sendo esta reduzida à “simples”

alternância entre a carga (esforço) e descanso (regeneração). Daí a necessidade desta

assentar numa base teórica – prática formulada e fundamentada a partir da análise

do seu conteúdo, pois só assim, podemos intervir eficientemente nessa realidade

competitiva. De forma a elaborar uma actividade metodológica – sistemática e

diferenciada, e definir igualmente os fundamentos pedagógicos do seu ensino

(Castelo, 1994)

Futebol

Segundo Garganta (1997) o jogo de futebol decorre da natureza do confronto

entre dois sistemas dinâmicos complexos, as equipas, e caracteriza-se pela alternância

de ordem e desordem sucessiva, estabilidade e instabilidade, uniformidade e variedade,

sendo que o futebol é “um desporto colectivo que opõe duas equipas formadas por 11

jogadores num espaço claramente definido, numa luta incessante pela conquista da

posse de bola com a finalidade (objectivo) de a introduzir o maior número de vezes

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possível na baliza adversária (marcar golo) e evitar que esta entre na sua própria baliza

(Castelo, 2009).

Além da relação de oposição entre as equipas em confronto, existe uma relação

de cooperação entre os elementos da mesma equipa, cooperação essa que ocorre num

contexto aleatório e volátil que traduz a essência do jogo (Garganta & Pinto, 1994).

Apesar do jogo de futebol ter uma aparente simplicidade na sua finalidade,

marcar golo e evitar golo, este contém em si uma ampla e complexa variedade de

variáveis quer do domínio técnico, táctico, físico, psicológico e social que se

condicionam mutuamente, complica-se ainda mais pela variedade de estratégias pré-

estabelecidas e através da aplicação de medidas tácticas, consequentes das alterações

previstas ou não, que ocorrem durante um jogo (Castelo, 2009).

No entender de Teoduresco (1984) uma equipa pode ser considerada como um

sistema, “uma vez que as acções dos jogadores são integradas numa determinada

estrutura, segundo um determinado modelo, de acordo com certos princípios e regras;

tem uma determinada funcionalidade uma vez que o objectivo visado e a repartição das

missões de cada jogador são coordenadas com as dos outros companheiros

(organização); é um sistema dinâmico, uma vez que tem a capacidade de auto-

regulação, portanto, de se adaptar às situações (factores de perturbação, isto é, acções

dos adversários) sem se desorganizar com facilidade”.

Manutenção de posse de bola

A posse de bola é a capacidade do jogador ou equipa de estar no controlo da

bola contra o adversário, com resultado em: habilidades, velocidade e confiança, apesar

da pressão do adversário (Amuchie & Amodu, 2002). Por outras palavras, é a

habilidade e a capacidade de jogadores de uma equipa para manter a posse de bola o

maior tempo que puder, enquanto a equipa adversária tenta recuperar a posse de bola.

A posse de bola tem de ser vista como o primeiro passo para o desenvolvimento

e culminação do processo ofensivo. Usufruir da posse de bola é condição fundamental

para a concretização dos objectivos fundamentais do ataque: a progressão/ finalização e,

a manutenção de posse de bola. A manutenção da posse de bola pressupõe evitar o risco

irracional presente em alguns jogadores que, em diferentes circunstâncias do jogo,

perdem a posse de bola. Agindo desta forma, estes comprometem todo um esforço

colectivo que, determinou a sua recuperação, bem como, todos os comportamentos de

carácter ofensivo até esse momento executados (Castelo, 2009).

“Em função de um conjunto de circunstancialismos inerentes ao próprio jogo,

independentemente da dimensão estratégica e táctica (plano) da equipa para essa

partida, a resolução de diferentes contextos situacionais prever a impossibilidade

temporária de se progredir ou, de se atacar a baliza adversária em condições que

possibilitem, um sucesso mínimo aceitável. Neste sentido, não havendo ou não se

percepcionando essas condições mínimas, os jogadores devem manter a posse de bola,

de forma, a temporizar o processo ofensivo até que essas condições se reúnam. Assim, a

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maximização deste objectivo até que essas condições se reúnam. Assim, a maximização

deste objectivo pressupõe: (i) avaliar e resolver as situações de jogo, em função do

binómio risco/segurança, (ii) quebrar o ritmo de jogo do adversário e, (iii) controlar a

iniciativa do jogo.

(1) Avaliar e resolver as situações de jogo em função do binómio

risco/segurança. Cada jogador quando intervém sobre a bola, deverá

percepcionar e avaliar prognosticamente de forma realista, quais as

vantagens e desvantagens, para os objectivos tácticos da sua equipa, da

execução deste ou daquele comportamento. Assim, dentro de um leque mais

ou menos largo de opções. É preferível uma acção táctico/técnica “a mais”

do que, uma acção que entregue a bola ao adversário. Logo, uma

determinada intervenção táctico/técnica pode não constituir a solução mais

adequada para uma dada situação momentânea de jogo, mas permite à

equipa manter a posse de bola que, é sempre um aspecto positivo.

(2) Quebrar o ritmo do jogo adversário. Os jogadores deverão ter o sentido e a

sensibilidade táctica de, em certas situações de jogo, terem que quebrar o

ritmo de jogo do adversário. Para que isso aconteça, assumem

comportamentos que, imprimam um ritmo mais conveniente à sua própria

equipa. Ou, criar uma falsa noção de ritmo que, proporcione uma acentuação

da iniciativa do ataque, através de acções colectivas realizadas em

profundidade, aproximando-se da grande área adversária, a partir da qual se

circula a bola em termos de largura, utilizando os jogadores dos sectores

mais recuados.

(3) Controlar a iniciativa do jogo. Assumir uma iniciativa constante e agressiva

de jogo é um dos pressupostos fundamentais para: (i) surpreender o

adversário, (ii) cansá-lo fisicamente, (iii) obriga-lo a jogar sobre uma grande

pressão psicológica e, por último (iv) criar condições favoráveis, para que a

equipa adversária evidencie situações de crise de raciocínio táctico. ”

(Castelo, 2009).

Subsistema Táctico/Técnico

“Qualquer actividade humana, nos seus diferentes domínios, suporta-se numa

determinada racionalidade que, é genericamente dominada de procedimento técnico.

Com efeito, durante a actividade competitiva, o desempenho de um jogador ou de uma

equipa, consiste sempre na unidade entre a tomada de decisão e a execução de uma

acção ou acções sucessivas, bem como, o resultado objectivo dessa ou dessas acções.

Em competição ou em treino, quando referimos que, este ou aquele jogador tem uma

boa técnica, procuramos evidenciar que, a sua forma de resolver as diferentes

contextualidades situacionais é: (i) mais precisa, mais segura e mais económica

relativamente à acção em si (eficiência da acção) e, (ii) coerente e adaptada

relativamente aos comportamentos dos restantes colegas, numa dimensão estratégica

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pré-concebida em função das circunstancias que envolvem a competição e, táctica

estabelecida pelas conjunturas de cada situação de jogo (eficácia da acção) ” (Castelo,

2009).

Técnica e táctica do jogo de futebol têm uma importância essencial na

preparação global de jogadores de futebol. É por isso que surge a necessidade de

identificação dos elementos técnicos e tácticos do jogo de futebol, que são realizados

com alto grau de eficiência (Jankovic, Leontijevic, Jelusic, & Pasic, 2010).

O subsistema táctico/técnico deriva da noção de organização dinâmica de uma

equipa de futebol, é definido pelos procedimentos accionados na fase de ataque ou de

defesa pelos jogadores individualmente ou colectivamente na procura de solucionar

situações de jogo. Os jogadores são condicionados interiormente pelos processos

cognitivos, fisiológicos, afectivos e motores, e exteriormente pelas condições

contextuais da situação, que é suportado pelas Leis que definem os comportamentos do

jogo de futebol (Castelo, 2009).

“Uma acção de jogo é, uma relação funcional entre o jogador e o contexto

situacional em que se encontra, no qual se desenvolve um conjunto de recursos

específicos, com o intuito do cumprimento de objectivos estratégicos e tácticos. Nesta

perspectiva as acções táctico/técnicas são um meio para atingir um fim, sendo o

culminar de um processo psico-fisiologico, sistematicamente treinado, em

conformidade com as Leis de jogo, com o intuito de atingir um rendimento individual e

colectivo máximo.” (Castelo, 2009).

“Os níveis do subsistema procedimental fundamenta-se essencialmente nos

diferentes níveis de formação e rendimento de uma equipa, a qual reflecte, em função

das situações de jogo, uma organização elementar e complexa que, assenta em acções,

as quais procuram a execução de comportamentos de carácter: (i) individual e, (ii)

colectivo.

Acções individuais ofensivas e defensivas – a execução de um complexo de

procedimentos táctico/técnicos, que objectivam de imediato a resolução das situações de

jogo.

Acções colectivas ofensivas e defensivas – a execução de um complexo de

procedimentos que objectivam: (i) a coerência de movimentação e, uma ocupação

racional do espaço de jogo, (ii) a resolução temporária das situações tácticas de jogo e,

(iii) as soluções estereotipadas das partes fixas do jogo.”(Castelo, 2009)

O vocábulo técnica é entendido por Garganta como sendo um conjunto de

processos bem definidos e transmissíveis que se destinam à produção de certos

resultados. No Futebol, as técnicas constituem acções motoras especializadas que

permitem resolver as tarefas do jogo (Garganta, 2002).

Para Garganta and Pinto (1994) “a aprendizagem dos procedimentos técnicos

constitui apenas uma parte dos pressupostos necessários para que, em situação de jogo,

os praticantes sejam capazes de resolver os problemas que o contexto específico lhes

coloca. Desde os primeiros momentos da aprendizagem, importa que os praticantes

assimilem um conjunto de princípios que vão do modo como cada um se relaciona com

o móbil do jogo (bola), até à forma de comunicar com os colegas e contra comunicar

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com os adversários, passando pela noção de ocupação racional do espaço de jogo”.

Passe

“O passe consiste numa transmissão do móbil de jogo entre os elementos da

mesma equipa na fase ofensiva. Nessa medida, constitui um meio que une as intenções

dos jogadores e traduz a coesão ofensiva de uma equipa (Wrzos, 1984), razão pela qual,

em alguns casos, funciona como um indicador importante para a caracterização do estilo

e método de jogo praticados.” (Garganta, 1997)

Definição

“Entendemos por passe, a acção táctico/técnica de relação de comunicação material

(com bola), estabelecida entre dois jogadores da mesma equipa. Neste âmbito, o passe é

a acção de relação colectiva mais simples de observar e executar. A acção táctico-

técnica de passe é, considerado o elemento básico de colaboração entre os jogadores de

uma mesma equipa (os quais devem possuir uma ampla “bagagem técnica”, formada

por diferentes tipos de passe), sendo imprescindível para a consecução dos objectivos

tácticos do ataque. O passe é, sem duvida, a acção predominante no jogo de futebol. Em

80% das situações em que o jogador está de posse de bola, a sua intenção é de a passar a

outro companheiro. Nas restantes situações, dribla, finta, conduz, simula ou remata.”

(Castelo, 2009).

Execução

“Segundo Hughes (1990) “nada destrói tão rapidamente a confiança de uma equipa

como um passe impreciso, nada constrói tão rapidamente a confiança de uma equipa

como um passe preciso… não existe nenhum substituto para uma boa acção técnica de

passe e não existe nenhuma estratégia que resista a passe imprecisos”. A execução

táctico/técnica do passe é baseada numa atitude que, procura levar o centro do jogo

rapidamente em direcção à baliza adversária, consubstanciando dois aspectos essenciais:

(i) táctico e, (ii) técnico.

Táctico- Seleccionar o passe. É determinado pela análise da situação

momentânea de jogo que, por si estabelecerá, o objectivo táctico da execução do passe.

Esta análise é baseada em cinco factores: 1- posição dos companheiros. A existência ou

não, de atacantes posicionados ou preparados para explorar espaços vitais do terreno de

jogo, de forma a poderem concretizar o desenvolvimento ou a concretização do ataque;

2- posição dos adversários. Consubstancia o nível de organização defensiva e, a

possibilidade de se poder tirar vantagem da sua precariedade; 3- zona do terreno de

jogo. Onde se calcula a relação entre o risco e a segurança da execução da acção

(observa-se a diminuição percentual da execução deste procedimento à medida que o

centro de jogo se aproxima da baliza adversária). Neste sentido, 60% dos passes são

executados no meio campo, devendo-se ao facto destas zonas do terreno de jogo se

constituírem como espaços preferenciais para a preparação e, construção das acções

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ofensivas. Complementarmente, os jogadores quando perto da baliza adversária têm que

encontrar e executar outros procedimentos, tais como o drible/finta ou simulação que,

consubstanciam a procura de criação de vantagens para a concretização eficiente do

processo ofensivo; 4- conhecer os limites da sua capacidade. O atacante deve saber os

limites das suas capacidades de forma a não executar acções para as quais não está

habilitado. Assim, mesmo que a decisão seja a mais correcta para determinada situação

de jogo, importa, fazê-la corresponder às suas verdadeiras capacidades de execução do

passe seleccionando e, 5- objectivos tácticos da equipa. Estes pressupostos

compreendem um largo conjunto de factores tais como, o resultado numérico

momentâneo do jogo, do tempo de jogo, quebra do ritmo de jogo do adversário,

temporizar para que os companheiros se desloquem para certas posições, as quais

determinem um elevado nível de organização ofensiva. Assim, há que adequar

tacticamente a acção de passe em função dos objectivos momentâneos da equipa.

Técnico- executar o passe. É determinado pela execução propriamente dita desta acção.

Neste sentido existem cinco factores fundamentais para a execução do passe: (i)

simular. O atacante deverá simular a sua verdadeira intenção táctica, produzindo um

conjunto de “falsos sinais”, contribuindo assim para que os defesas adoptem

posicionamentos inadequados à situação do jogo, (ii) tipo de passe a executar. O tipo de

passe depende, largamente, da intenção táctica pré-estabelecida pelo atacante. Assim,

este poderá ter uma amplitude longa ou curta, uma trajectória alta ou rasa, ser executada

com ou sem efeito, (iii) tempo de passe. Um passe executado no tempo correcto põe o

companheiro (receptor), numa posição de máxima vantagem e, naturalmente, torna o

trabalho defensivo mais difícil e complexo, (iv) potência do passe. Um passe eficaz

atinge o alvo a uma velocidade, que não cria problemas acrescidos ao companheiro na

recepção da bola. Se isto não acontecer, irá ter consequências marcantes, não só, na

relação de comunicação entre os dois jogadores, como na diminuição da fluidez e ritmo

do processo ofensivo e, (v) precisão do passe. Este factor determina se o companheiro

(receptor), tem ou não, que modificar a direccionalidade e o objectivo do seu

comportamento para recepcionar a bola. A precisão não é tudo no passe, mas tudo o

resto, não tem qualquer significado se o passe for impreciso.” (Castelo, 2009)

Opções tácticas dos jogadores no passe

Castelo (2009) definiu que “a acção técnico-táctica de passe é um meio para atingir

um fim”, o que nos leva a uma cascata de decisão relativa a uma ordem de prioridades

da sua dimensão estratégico-táctica:

1- Passar a bola para um espaço entre a linha defensiva e a linha final do terreno de

jogo, desde que haja companheiros preparados para explorar esse espaço e

rapidamente atacar a baliza adversária.

2- Passar a bola a um companheiro, que esteja posicionado de forma profunda no

ataque, desde que tenha apoio/cobertura por parte dos seus colegas, evitando-se

assim, situações de inferioridade numérica.

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3- Passar a bola a um companheiro pondo o máximo de adversários à frente da

linha da bola, isto é, impossibilitando que estes se posicionem entre a bola e a

sua própria baliza.

4- Passar a bola mudando rapidamente o ângulo de ataque, proporcionando largura

e profundidade a este processo e simultaneamente procurar desequilibrar a

organização defensiva adversária.

5- Passar a bola para trás (na direcção da sua própria baliza) como ultimo recurso,

devido ao facto deste estar pressionado pelos adversários, não ter nenhuma outra

opção ou que o colega a quem passar a bola está em melhores condições para

cumprir os objectivos tácticos momentâneos da equipa. (Castelo, 2009)

Análises

Segundo Castelo (2009) “todas as superfícies corporais podem ser executadas

para a execução desta acção táctico/técnica, mas os mais utilizados são: os pés (parte

interna, externa e peito do pé), a cabeça e as mãos (pelo guarda-redes dentro da sua

grande área e no lançamento de linha lateral). O emprego da melhor superfície para

passar a bola, será função da situação de jogo, da direcção, precisão e velocidade que

queiramos transmitir-lhe. Assim, quanto maior for a área de impacto, maior será a

precisão do passe, mas menor será a distancia que a bola poderá percorrer. Logo, quanto

menor for a superfície de contacto, menos preciso será a acção, mas maior será a

distância a que a bola poderá ser lançada. Portanto, a parte do pé que oferece maior

precisão é a parte interna e, a que permite lançar a bola a uma maior distância é, o peito

do pé, se não considerar-mos a ponta do pé. Observa-se que a parte interna do pé é

preponderante e fundamental em qualquer zona, sector ou corredor do terreno de jogo,

em relação a todas as outras formas de contacto na execução de um passe. A parte

interna do pé é, a superfície corporal de contacto que imprime e transmite uma maior

precisão, eficácia e segurança a esta acção táctico/técnica. Todavia, verifica-se uma

diminuição de utilização desta superfície corporal (cerca de 23%), à medida que o

centro do jogo se aproxima da baliza adversária. Este facto pode ser explicado pela

necessidade dos jogadores terem de utilizar outras partes do pé, adaptando-se rápida e

eficientemente, em função das exigências prementes e determinantes da situação de

jogo (p. ex.: a utilização do calcanhar), ou de imprimirem uma maior velocidade e

potencia à acção de passe (p. ex.: o peito do pé). Outro aspecto importante ligado às

análises da acção de passe é, a relação privilegiada entre os jogadores. Assim observa-se

que o guarda-redes recebe, fundamentalmente passes dos defesas (59%). Os defesas dos

médios (46%) e os jogadores médios recebem fundamentalmente, passes dos

companheiros do mesmo sector (42%). Os jogadores avançados recebem

fundamentalmente passes dos médios (54%).”

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Combinações Tácticas

Podemos considerar as combinações tácticas como um aspecto fundamental para

a manutenção da posse de bola, sendo estas definidas segundo Castelo (2009) como: “a

coordenação das acções individuais de natureza ofensiva, de dois ou três jogadores,

desenvolvidos no absoluto respeito pelos princípios do ataque, (gerais e específicos).

Visando a resolução de uma tarefa parcial (temporária) específica do jogo e,

assegurando a criação de condições mais favoráveis (analogamente aos deslocamentos

ofensivos), tem termos numéricos, espaciais e temporais.”.

O objectivo das combinações tácticas, é, a resolução táctica das situações

momentâneas do jogo, criando assim condições favoráveis à realização dos objectivos

do processo ofensivo. Esta acção tem como objectivo: colocar atacantes em espaços

vitais e livres de oposição; romper o equilíbrio ou manter o desequilíbrio da organização

defensiva da equipa adversária; e reorganizar constantemente o método defensivo

adversário, que tem como consequência um nível maior de empenho físico e mental dos

seus jogadores. (Castelo, 2009)

As combinações tácticas podem ser classificadas como combinações simples,

combinações directas e combinações indirectas.

“Combinação simples (combinações a dois ou “passa-e-sai”). A realização das

combinações tácticas simples, são consumadas de forma que: (i) o portador da bola fixa

a acção do adversário directo (penetração), (ii) executa um passe a um companheiro,

que consubstancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento

imediato (passar e mover), para um espaço ou posição facilitadora e favorável para

receber a bola.

Combinação directa (um-dois ou passa-e-sai). A realização das combinações

tácticas directas, são consumadas de forma que: (i) o portador da bola fixa a acção do

adversário directo (penetração), (ii) execução de um passe a um companheiro que

consubstancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento

imediato (passar e mover) para um espaço ou posição facilitadora e favorável para a

recepção da bola e, (iii) devolução da bola ao portador inicial.

Combinação indirecta (combinações a três jogadores). A utilização de

combinações simples (a dois), são muitas vezes difíceis de concretizar, face às grandes

concentrações de jogadores ou à falta de espaços livres. São assim fáceis de anular

sempre, que a cobertura defensiva é assegurada. De modo a garantir um maior

desequilíbrio na organização defensiva, integra-se mais um jogador, realizando uma

combinação a três, que abre mais possibilidades. Em função da iniciativa (selecção de

uma opção), da circunstancia (local da acção espaço) e, da colocação ou posicionamento

sobre o terreno (posição relativa dos adversários baliza): (i) o portador da bola fixa a

acção do adversário directo (penetração), (ii) execução de um passe a um companheiro

que consubstancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento

imediato (passar e mover) para um espaço ou posição facilitadora e favorável para a

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recepção da bola e, (iii) devolução da bola, não ao portador inicial, mas a um 3º jogador

cuja situação favorável resulta de um benefício directo (fruto da acção que

desencadeou) e, um benefício indirecto (fruta da acção desenvolvida pelo primeiro

portador da bola).” (Castelo, 2009).

Os meios de suporte às combinações tácticas resultam essencialmente nos

deslocamentos ofensivos de apoio. As combinações são complementadas com a

introdução de mudanças de ritmo e direcção, as quais assumem consequências muito

acentuadas no equilíbrio defensivo adversário, quer por, resultarem em situações em

que o jogador de posse de bola fica livre de marcação, e por permitirem criar no

momento situações de superioridade numérica nas unidades funcionais da equipa

(Castelo, 2009).

Caracterização do Jogo de Futebol

O futebol incorpora períodos de exercício de alta intensidade intercalados com

períodos de exercício de baixa intensidade (Svensson & Drust, 2005). Ekblom (1986),

Reilly & Doran (2003) e Reilly & Thomas (1976) citados por (Svensson & Drust,

2005) referem que as demandas fisiológicas do futebol exigem que os jogadores para

serem competentes, a sua aptidão física deve incluir potência aeróbia e anaeróbia,

força muscular, flexibilidade e agilidade.

O futebol é um desporto intermitente que se caracteriza por aproximadamente

1200 mudanças acíclicas e imprevisíveis de actividade (todas entre 3 a 5 segundos),

envolvendo, entre outros, 30 a 40 sprints, mais de 700 mudanças de direcção, e 30 a 40

“tackles” e saltos. Além disso, o jogo requer outras acções intensas como

desacelerações, remates, dribles, e “tackles”. Todos estes esforços impostos aos

jogadores contribuem para tornar o futebol fisiologicamente muito exigente. Análises

revelaram que os jogadores de futebol de primeira classe realizam 2 a 3 Km de alta

intensidade de execução (> 15 km/h) e aproximadamente 0,6 quilómetros de sprint (>

20 km/h). Além disso, estas distâncias de corrida e sprint correspondem,

respectivamente, a 28% e 58% mais que os níveis de jogadores de nível moderado

profissionais (Iaia, Rampinini, & Bangsbo, 2009). A distância total percorrida durante

um jogo é 10.86±0.18km para jogadores de topo e 10.33±0.26km para jogadores de

nível moderado (Mohr, Krustrup, & Bangsbo, 2003). As equipas menos bem sucedidas

apresentam maiores decréscimos na distância total de sprint percorrida durante uma

partida, o que sugere que a capacidade de realizar actividades de alta intensidade ao

longo de um jogo é muito importante. Cada uma das posições de jogo é caracterizada

pelo seu próprio perfil de actividade e diferentes requisitos tácticos em relação ao

movimento da bola. Os defesas centrais percorrem menos distância a alta intensidade de

execução, enquanto os avançados realizam mais sprints e um número maior de

actividade de alta intensidade, quando a equipa detém a posse de bola do que os médios

centro e os defesas. Durante a segunda parte do jogo, a distância total e de alta

intensidade sofre uma queda acentuada, com a quantidade de esforços de alta

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intensidade a apresentarem valores 20% a 40% menores nos últimos 15 minutos do jogo

em comparação com os 15 minutos iniciais. Um maior decréscimo na corrida é

observado quanto mais actividade for realizada na primeira parte do jogo. Estes

resultados indicam que os jogadores apresentam níveis de fadiga no final de um jogo e,

esporadicamente, durante um jogo (Iaia et al., 2009). A fadiga também pode ter um

impacto negativo na precisão, com os jogadores menos aptos a mostrar uma

deterioração mais acentuada no desempenho técnico (Rampinini et al., 2007). Segundo

Mombaerts (1991) 61% do trabalho em jogo é realizado com predomínio da fonte

aeróbia, com valores de VO2max de 60% a 75% e com velocidade de 3 a 10Km/h; 24%

do trabalho é desenvolvido no limiar anaeróbio conforme a qualidade atlética do

jogador com valores de 80% a 85% do VO2max e 10 a 17Km/h; cerca de 14% do

trabalho é desenvolvido utilizando a capacidade anaeróbia aláctica, em “sprints” curtos

de 2 a 3 segundos (10-15m) com velocidades compreendidas entre os 18 e 27Km/h. O

mesmo autor alertou para o facto de ao longo dos anos haver uma evolução no volume

de “sprints” curtos: 1947 (71); 1970 (145); 1985 (185); e 1989 (195). Mombaerts (1991)

afirma que 50% do tempo de jogo se joga sem bola. No tempo que se joga com bola as

acções desenvolvidas são: passes (33%); domínio e controlo de bola (20%); duelos 1x1a

nível do terreno de jogo (20%); duelos 1x1 aéreos (10%); esquemas tácticos (10%);

intercepções (5%); e remates (2%). Agnevik (1975) e Jacobs (1982) citados por

Mombaerts (1991) constataram a existência de uma depleção quase completa dos

“stocks” de glicogénio no final do jogo, relativamente aos dois tipos de fibras

musculares. Esta “depleção” tem implicações ao nível da força muscular, prestação

técnica e prestação motora ao nível das distâncias e intensidades dos deslocamentos.

Resistência Específica

Os jogos reduzidos podem ser usados como um modo eficaz de treino para

melhorar a aptidão aeróbica e performance de jogo em jogadores de futebol. Não foram

encontradas diferenças entre o treino específico e genérico (treino intervalado), a

escolha do modo de treino aeróbio deve ser baseado principalmente na necessidade

prática. Por exemplo, jogos reduzidos podem ser uteis para o treino de aptidão aeróbia e

componentes táctico-técnicas simultaneamente. Este factor pode ser uma vantagem

especialmente para jovens jogadores de futebol, promovendo a melhoria das habilidades

motoras específicas do desporto. Além disso, o uso de jogos reduzidos aumenta a

motivação dos jogadores e faz com que o treino aeróbio de alta intensidade seja mais

aceitável da parte dos jogadores (Impellizzeri et al., 2005).

Para preparar fisicamente um jogo, o planeamento do treino deve incluir várias

actividades físicas específicas, como jogos modificados, treino táctico e treino técnico,

bem como a realização de jogos de preparação (que são partidas de futebol

competitivos) contra equipas adversárias. É evidente que cada actividade física durante

o treino de futebol irá melhorar a condição física dos atletas de diferentes maneiras,

colocando diferentes tipos de cargas fisiológicas aos jogadores (Eniseler, 2005).

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Os valores mais altos de frequência cardíaca ocorrem durante o jogo de futebol

(frequência cardíaca média = 157 ± 19 b/min), e os valores mais baixos de frequência

cardíaca ocorrem durante o treino técnico (frequência cardíaca média = 118 ± 21

b/min). Além disso, os valores médios da frequência cardíaca durante as actividades de

treino táctico e técnico foram menores do que aqueles apresentados durante o jogo

modificado. A razão para os valores mais altos de frequência cardíaca durante a partida

e actividades de jogos modificados em comparação com os valores durante o treino

táctico e técnico de futebol podem ser justificados porque o jogo é jogado com a

presença física e pressão de um adversário. Os jogadores reagem a este tipo de pressão e

movem-se mais rapidamente durante o jogo, o que resulta em aumento das taxas de

frequência cardíaca (Eniseler, 2005).

Efeito da fadiga no passe

A fadiga relacionada com o jogo induz um declínio na capacidade de realizar um

passe curto. Além disso, um efeito negativo sobre a capacidade de realizar um passe

curto e a sua precisão foi encontrado após curtos períodos de actividade de alta

intensidade. Portanto, a deterioração das habilidades de passe curto podem estar

relacionadas com a fadiga acumulada durante todo o jogo, bem como para a fadiga

aguda resultante das fases de alta intensidade de curta duração (Rampinini et al., 2007).

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Proposta de Trabalho

Neste capítulo será apresentada uma proposta de trabalho, com exercícios de

treino, planeados para o desenvolvimento do passe para a manutenção da posse de bola.

Os exercícios apresentarão uma ordem de progressão, partindo de um exercício menos

específico e mais analítico, para um exercício com muita especificidade.

O treino do passe não deve ser dissociado das condicionantes do jogo, como o

posicionamento do adversário e dos colegas, pelos que todos os exercícios que se

seguem apresentam oposição e, os exercícios mais específicos devem ter em conta os

princípios específicos do jogo respeitando as suas orientações.

Exercício: Especifico Preparação Geral Manutenção de posse de bola

Objectivo: Técnica de passe; Criação de linhas de passe

Forma: Complementar Integrado

Dominante Técnico-Táctica: Técnica de passe Regime: Resistência específica

Número: 6 (4x2)

Espaço: 20x20 (quadrado)

Orgânica: A equipa de 4 avançados tenta manter a posse de bola, e após realizar 6

passes consecutivos sem nenhum adversário interceptar a bola, a equipa faz um ponto.

Em caso de acontecer uma combinação directa, conta como três passes. Se a equipa que

está a defender recuperar a bola e conseguir fazer um passe conta um ponto para a

equipa defensiva. De 5 em 5 minutos troca a dupla que está a defender e acaba o

exercício quando todos tiverem defendido.

Critérios de Êxito: Criação de linhas de passe laterais e frontais, passe preciso.

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Exercício: Especifico Preparação Geral Manutenção de posse de bola

Objectivo: Técnica de passe; Manutenção de posse de bola

Forma: Complementar Integrado

Dominante Técnico-Táctica: Técnica de passe Regime: Resistência específica

Número: 12 (4+4x4)

Espaço: 30x30 (quadrado)

Orgânica: A equipa branca mantem a posse de bola e tem de realizar no mínimo 5

passes para poder fazer a bola mudar de zona (para a zona da equipa cinzenta). Da

equipa defensiva apenas dois jogadores realizam pressão, sendo que os outros dois

ficam na área delimitada pelos sinalizadores. Após a bola passar para a zona da equipa

cinzenta os dois jogadores da zona realizam pressão e os dois defesas que fizeram

pressão ficam na zona. Os defesas da zona delimitada podem interceptar a bola aquando

a realização do passe. De 6 em 6 minutos troca a equipa que está a defender. A equipa

que realizar menos transições de zona, arruma o material no fim do exercício.

Variantes: A bola apenas pode ser jogada pelo chão; Passar para uma situação de 5x3.

Critérios de Êxito: Criação de linhas de passe laterais e frontais, passe preciso.

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Exercício: Especifico Preparação Geral Manutenção de posse de bola

Objectivo: Técnica de passe; Manutenção de posse de bola

Forma: Complementar Integrado

Dominante Técnico-Táctica: Técnica de passe Regime: Resistência específica

Número: 8 (3+2Jx3)

Espaço: 35x25 (rectângulo)

Orgânica: A equipa vermelha mantem a posse de bola e tem de realizar no mínimo 4

passes entre os jogadores de campo (passe para os jokers não conta) para poder fazer a

bola mudar de sector (transição de sector tem de ser feita pelas portas de entrada e o

passe tem de ser realizado por um jogador de campo). No sector ofensivo a equipa

procura finalizar. A equipa branca tenta recuperar a bola e, se recuperar a bola no sector

ofensivo, pode finalizar de imediato.

Variantes: Os jokers jogam apenas a 1 toque.

Critérios de Êxito: Criação de linhas de passe laterais e frontais, passe preciso;

combinações tácticas utilizando os jokers.

Exercício: Especifico Preparação Competitivo

Objectivo: Técnica de passe; Manutenção de posse de bola

Forma: Fundamental Fase III (GR+4+1Jx4+GR)

Dominante Técnico-Táctica: Manutenção de posse de bola Regime: Resistência

específica

Número: 9+2GR

Espaço: 45x35 (rectângulo)

Orgânica: A equipa em posse de bola tem de realizar no mínimo 6 passes para poder

finalizar. Em caso de ser o último defesa a perder a bola, a equipa que recuperou a posse

de bola pode finalizar de imediato. Sempre que existir uma interrupção (golo; falta; etc.)

a bola é reposta pelo guarda-redes da equipa de quem seguiria a bola.

Variantes: O joker joga apenas a 1 toque.

Critérios de Êxito: Criação de linhas de passe laterais e frontais, passe preciso.

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Exercício: Especifico Preparação Competitivo

Objectivo: Manutenção de posse de bola

Forma: Fundamental Fase III (GR+10x10+GR)

Dominante Técnico-Táctica: Manutenção de posse de bola Regime: Resistência

específica

Número: 20+2GR

Espaço: 70x50 (rectângulo)

Orgânica: A jogada inicia-se sempre do guarda-redes da equipa vermelha (sempre que

existir uma interrupção (golo; falta; etc.) a bola é reposta pelo guarda-redes da equipa

vermelha). A equipa vermelha para poder finalizar tem de realizar 10 passes, sendo que

a equipa branca não tem restrições para finalizar e deve procurar marcar golo através de

uma transição defesa-ataque rápida (ex.: ataque rápido). Ao fim de 25 minutos, as

equipas devem trocar de campo, passando a equipa branca a jogar em ataque organizado

e a equipa vermelha a jogar em transição rápida.

Variantes: Em caso de dificuldade na realização de 10 passes, reduzir a condicionante

para 8 passes antes de finalizar. Em caso de facilidade na realização de 10 passes,

aumentar a condicionante para 12 passes antes de finalizar.

Critérios de Êxito: Criação de linhas de passe laterais e frontais, passe preciso; cumprir

com as referências do processo ofensivo da equipa.

A capacidade motora a desenvolver nestes exercícios para suportar a acção

técnica e a situação táctica é a resistência especifica de jogo, pois para a realização de

manutenção da posse de bola, é necessária uma constante movimentação dos jogadores

sem bola, de modo a criar linhas de passe para os seus colegas e a realizar combinações

tácticas frequentes para assegurar a manutenção da posse de bola. Como foi constatado

na revisão de literatura a fadiga do jogo afecta a precisão do passe, o que demonstra que

a resistência específica de jogo para além de ser importante para assegurar as

desmarcações dos colegas sem bola e as combinações tácticas, é também importante

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para garantir a precisão dos passes e assim manter a posse de bola. As dimensões dos

espaços para a realização dos exercícios foram baseadas na tabela 2 do estudo “A

Review on the Effects of Soccer Small-Sided Games”.

No tempo em que a equipa detém a posse de bola, a acção mais

desenvolvida é o passe (33%), como demonstrado na literatura, pelo que esta acção

ganha extrema importância no jogo e no treino. Então, os exercícios que visam o

desenvolvimento do passe devem envolver características semelhantes às do jogo, para

que o processo de ensino-aprendizagem alcance maiores índices de sucesso. A escolha

de exercícios sempre com oposição deve-se ao facto de proporcionar um processo de

aprendizagem onde os jogadores para realizar passes têm de ter em conta as linhas de

intercepção da bola dos adversários, para além de realizarem passes com pressão do

adversário e com movimentos tanto dos colegas como dos adversários.

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