trabalho alienado (karl marx)[1]

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    pela fora, em vez de conseqncias necessrias, inevitveis e naturais do monoplio, do sistema de guildas e

    da propriedade feudal.

    Por isso, temos agora de apreender a ligao real entre todo esse sistema de alienao - propriedade privada,

    ganncia, separao entre trabalho, capital e terra, troca e competio, valor e desvalorizao do homem,

    monoplio e competio - e o sistema do dinheiro.

    No iniciaremos nossa exposio, como o faz o economista, por uma legendria situao primitiva. Uma tal

    situao arcaica nada explica; simplesmente afasta a pergunta para uma distncia turva e enevoada. Ela afirma

    como fato ou acontecimento o que deveria deduzir, ou seja, a relao necessria entre duas coisas; por

    exemplo, entre a diviso do trabalho e a troca. Da mesma maneira, a teologia explica a origem do mal pela

    queda do homem; isto , ela assegura como fato histrico aquilo que deveria elucidar.

    Partiremos de um fato econmico contemporneo. O trabalhador fica mais pobre medida que produz mais

    riqueza e sua produo cresce em fora e extenso. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata

    medida que cria mais bens. A desvalorizao do mundo humano aumenta na razo direta do aumento de

    valor do mundo dos objetos. O trabalho no cria apenas objetos; ele tambm se produz a si mesmo e ao

    trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporo em que produz bens.

    Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe ope

    como um ser estranho, como uma fora independentedo produtor. O produto do trabalho humano trabalho

    incorporado em um objeto e convertido em coisa fsica; esse produto uma objetificao do trabalho. A

    execuo do trabalho simultaneamente sua objetificao. A execuo do trabalho aparece na esfera da

    Economia Poltica como uma perverso do trabalhador, a objetificao como uma perdae uma servido ante o

    objeto, e a apropriao como alienao.

    A execuo do trabalho aparece tanto como uma perverso que o trabalhador se perverte at o ponto de

    passar fome. A objetificao aparece tanto como uma perda do objeto que o trabalhador despojado das

    coisas mais essenciais no s da vida, mas tambm do trabalho. O prprio trabalho transforma-se em um

    objeto que ele s pode adquirir com tremendo esforo e com interrupes imprevisveis. A apropriao doobjeto aparece como alienao a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produz tanto menos pode

    possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital.

    Todas essas conseqncias decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com o produto de seu trabalho

    como com um objeto estranho. Pois est claro que, baseado nesta premissa, quanto mais o trabalhador se

    desgasta no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo de objetos por ele criado em face dele mesmo,

    tanto mais pobre se torna a sua vida interior, e tanto menos ele se pertence a si prprio. Quanto mais de si

    mesmo o homem atribui a Deus, tanto menos lhe resta. O trabalhador pe a sua vida no objeto, e sua vida,

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    dos trabalhadores a um gnero brbaro de trabalho e converte outros em mquinas. Ele produz inteligncia,

    porm tambm estupidez e cretinice para os trabalhadores.

    A relao direta do trabalho com seus produtos a entre o trabalhador e os objetos de sua produo. A relao

    dos possuidores de propriedade com os objetos da produo e com a prpria produo meramente uma

    conseqnciada primeira relao e a confirma. Apreciaremos adiante este segundo aspecto. Portanto, quando

    perguntamos qual a relao importante do trabalho, estamos interessados na relao do trabalhador com a

    produo.

    At aqui consideramos a alienao do trabalhador somente sob um aspecto, qual seja o de sua relao com os

    produtos de seu trabalho. No obstante, a alienao aparece no s como resultado, mas tambm como

    processo de produo, dentro da prpria atividade produtiva. Como poderia o trabalhador ficar numa relao

    alienada com o produto de sua atividade se no se alienasse a si mesmo no prprio ato da produo? Oproduto , de fato, apenas a sntese da atividade, da produo. Conseqentemente, se o produto do trabalho

    alienao, a prpria produo deve ser alienao ativa - a alienao da atividade e a atividade da alienao A

    alienao do objeto do trabalho simplesmente resume a alienao da prpria atividade do trabalho.

    O que constitui a alienao do trabalho? Primeiramente, ser o trabalho externo ao trabalhador, no fazer parte

    de sua natureza, e por conseguinte, ele no se realizar em seu trabalho mas negar a si mesmo, ter um

    sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, no desenvolver livremente suas energias mentais e fsicas

    mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto, s se sente vontade em seutempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho no voluntrio, porm imposto,

    trabalho forado. Ele no a satisfao de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer outras

    necessidades. Seu carter alienado claramente atestado pelo fato, de logo que no haja compulso fsica ou

    outra qualquer, ser evitado como uma praga. O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a si

    mesmo, um trabalho de sacrifcio prprio, de mortificao. Por fim, o carter exteriorizado do trabalho para o

    trabalhador demonstrado por no ser o trabalho dele mesmo mas trabalho para outrem, por no trabalho ele

    no se pertencer a si mesmo mas sim a outra pessoa.

    Tal como na religio, a atividade espontnea da fantasia, do crebro e do corao humanos, reage

    independentemente como uma atividade alheia de deuses ou demnios sobre o indivduo, assim tambm a

    atividade do trabalhador no sua prpria atividade espontnea. atividade de outrem e uma perda de sua

    prpria espontaneidade.

    Chegamos a concluso de que o homem (o trabalhador) s se sente livremente ativo em suas funes animais

    - comer, beber e procriar, ou no mximo tambm em sua residncia e no seu prprio embelezamento -

    enquanto que em suas funes humanas se reduz a um animal. O animal se torna humano e o humano se

    torna animal.

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    Comer, beber e procriar so, evidentemente, tambm funes genuinamente humanas. Mas, consideradas

    abstratamente, parte do ambiente de outras atividades humanas, e convertidas em fins definitivos e

    exclusivos, so funes animais.

    Consideremos, agora, o ato de alienao da atividade humana prtica, o trabalho, sob dois aspectos: 1) a

    relao do trabalhador com o produto do trabalhocomo um objeto estranho que o domina. Essa relao , ao

    mesmo tempo, a relao com o mundo exterior sensorial, com os objetos naturais, como um mundo estranho e

    hostil; 2) a relao do trabalho como o ato de produodentro do trabalho. Essa a relao do trabalhador com

    sua prpria atividade humana como algo estranho e no pertencente a ele mesmo, atividade como sofrimento

    (passividade), vigor como impotncia, criao como emasculao, a energia fsica e mental pessoal do

    trabalhador, sua vida pessoal (pois o que a vida seno atividade?) como uma atividade voltada contra ele

    mesmo, independente dele e no pertencente a ele. Isso auto-alienao, ao contrrio da acima mencionada

    alienao do objeto.

    (XXIV) Temos, agora, de inferir uma terceira caracterstica do trabalho alienado, partindo das duas j vistas.

    O homem um ente-espcieno apenas no sentido de que ele faz da comunidade (sua prpria, assim como as

    de outras coisas) seu objeto, tanto prtica quanto teoricamente, mas tambm (e isto simplesmente outra

    expresso da mesma coisa) no sentido de tratar-se a si mesmo como a espcie vivente, atual, como um ser

    universale conseqentemente livre.

    A vida da espcie, para o homem assim como para os animais, encontra sua base fsica no fato de o homem

    (como os animais) viver da natureza inorgnica, e como o homem mais universal que um animal, assim

    tambm o mbito da natureza inorgnica de que ele vive mais universal. Vegetais, animais, minerais, ar, luz,

    etc., constituem, sob o ponto de vista terico, uma parte da conscincia humana como objetos da cincia

    natural e da arte; eles so a natureza inorgnica espiritual do homem, se meio intelectual de vida, que ele deve

    primeiramente preparar para seu prazer e perpetuao. Assim tambm, sob o ponto de vista prtico, eles

    formam parte da vida e atividade humanas. Na prtica, o homem vive apenas desses produtos naturais, sob a

    forma de alimento, aquecimento, roupa, abrigo, etc. A universalidade do homem aparece, na prtica, na

    universalidade que faz da natureza inteira o seu corpo: 1) como meio direto de vida, e igualmente, 2) como o

    objeto material e o instrumento de sua atividade vital. A natureza o corpo inorgnicodo homem; quer isso

    dizer a natureza excluindo o prprio corpo humano. Dizer que o homem vive da natureza significa que a

    natureza o corpodele, com o qual deve se manter em contnuo intercmbio a fim de no morrer. A afirmao

    de que a vida fsica e mental do homem e a natureza so interdependentes, simplesmente significa ser a

    natureza interdependente consigo mesma, pois o homem parte dela.

    Tal como o trabalho alienado:

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    1) aliena a natureza do homem e

    2) aliena o homem de si mesmo, de sua prpria funo ativa, de sua atividade vital, assim tambm o aliena da

    espcie. Ele transforma a vida da espcieem uma forma de vida individual. Em primeiro lugar, ele aliena a vida

    da espcie e a vida individual, e posteriormente transforma a segunda, como uma abstrao, em finalidade da

    primeira, tambm em sua forma abstrata e alienada.

    Pois, trabalho, atividade vital, vida produtiva, agora aparecem ao homem apenas como meiospara a satisfao

    de uma necessidade, a de manter sua existncia fsica. A vida produtiva, contudo, vida da espcie. vida

    criando vida. No tipo de atividade vital, reside todo o carter de uma espcie, seu carter como espcie; e a

    atividade livre, consciente, o carter como espcie dos seres humanos. A prpria vida assemelha-se somente

    a um meio de vida.

    O animal identifica-se com sua atividade vital. Ele no distingue a atividade de si mesmo. Ele sua atividade.

    O homem, porm, faz de sua atividade vital um objeto de sua vontade e conscincia. Ele tem uma atividade

    vital consciente. Ela no uma prescrio com a qual ele esteja plenamente identificado. A atividade vital

    consciente distingue o homem da atividade vital dos animais: s por esta razo ele um ente-espcie. Ou

    antes, apenas um ser auto-consciente, isto , sua prpria vida um objeto para ele, porque ele um ente-

    espcie. S por isso, a sua atividade atividade livre. O trabalho alienado inverte a relao, pois o homem,

    sendo um ser autoconsciente, faz de sua atividade vital, de seu ser, unicamente um meio para sua existncia.

    A construo prtica de um mundo objetivo, a manipulaoda natureza inorgnica, a confirmao do homem

    como um ente-espcie, consciente, isto , um ser que trata a espcie como seu prprio ser ou a si mesmo

    como um ser-espcie. Sem dvida, os animais tambm produzem. Eles constrem ninhos e habitaes, como

    no caso das abelhas, castores, formigas, etc. Porm, s produzem o estritamente indispensvel a si mesmos ou

    aos filhotes. S produzem em uma nica direo, enquanto o homem. produz universalmente. S produzem

    sob a compulso de necessidade fsica direta, ao passo que o homem produz quando livre de necessidade

    fsica e s produz, na verdade, quando livre dessa necessidade. Os animais s produzem a si mesmos,

    enquanto o homem reproduz toda a natureza. Os frutos da produo animal pertencem diretamente a seuscorpos fsicos, ao passo que o homem livre ante seu produto. Os animais s constrem de acordo com os

    padres e necessidades da espcie a que pertencem, enquanto o homem sabe produzir de acordo com os

    padres de todas as espcies e como aplicar o padro adequado ao objeto. Assim, o homem constri tambm

    em conformidade com as leis do belo.

    justamente em seu trabalho exercido no mundo objetivo que o homem realmente se comprova como um ente-

    espcie. Essa produo sua vida ativa como espcie; graas a ela, a natureza aparece como trabalho e

    realidade dele. O objetivo do trabalho, portanto, a objetificao da vida como espcie do homem, pois ele no

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    mais se reproduz a si mesmo apenas intelectualmente, como na conscincia, mas ativamente e em sentido

    real, e v seu prprio reflexo em um mundo por ele construdo. Por conseguinte, enquanto o trabalho alienado

    afasta o objetivo da produo do homem, tambm afasta sua vida como espcie, sua objetividade real como

    ente-espcie, e muda a superioridade sobre os animais em uma inferioridade, na medida em que seu corpo

    inorgnico, a natureza, afastado dele.

    Assim como o trabalho alienado transforma a atividade livre e dirigida pelo prprio indivduo em um meio,

    tambm transforma a vida do homem como membro da espcie em um meio de existncia fsica.

    A conscincia que o homem tem de sua espcie transformada por meio da alienao, de sorte que a vida

    como espcie torna-se apenas um meio para ele.

    (3) Ento, o trabalho alienado converte a vida do homem como membro da espcie, e tambm comopropriedade mental da espcie dele, em uma entidade estranhae em um meiopara sua existncia individual.

    Ele aliena o homem de seu prprio corpo, a natureza extrnseca, de sua vida mental e de sua vida humana.

    (4) Uma conseqncia direta da alienao do homem com relao ao produto de seu trabalho, sua atividade

    vital e a sua vida como membro da espcie, o homem ficar alienado dos outros homens. Quando o homem se

    defronta consigo mesmo, tambm est se defrontando com outroshomens.

    O que verdadeiro quanto relao do homem com seu trabalho, com o produto desse trabalho e consigo

    mesmo, tambm o quanto sua relao com outros homens, com o trabalho deles e com os objetos desse

    trabalho.

    De maneira geral, a declarao de que o homem fica alienado da sua vida como membro da espcie implica em

    cada homem ser alienado dos outros, e cada um dos outros ser igualmente alienado da vida humana.

    A alienao humana, e acima de tudo a relao do homem consigo prprio, pela primeira vez concretizada e

    manifestada na relao entre cada homem e os demais homens. Assim, na relao do trabalho alienado cada

    homem encara os demais de acordo com os padres e relaes em que ele se encontra situado como

    trabalhador.

    (XXV) Principiamos por uma fato econmico, a alienao do trabalhador e de sua produo. Exprimimos esse

    fato em termos conceituais como trabalho alienadoe, ao analisar o conceito, limitamo-nos a analisar um fato

    econmico.

    Examinemos, agora, mais alm, como esse conceito de trabalho alienado deve expressar-se e revelar-se na

    realidade. Se o produto do trabalho me estranho e enfrenta-me como uma fora estranha, a quem pertence

    ele? Se minha prpria atividade no me pertence, mas uma atividade alienada, forada, a quem ela pertence?

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    A um ser, outroque no eu. E que esse ser? Os deuses? evidente, nas mais primitivas etapas de produo

    adiantada, por exemplo, construo de templos, etc., no Egito, ndia, Mxico, nos servios prestados aos

    deuses, que o produto pertencia a estes. Mas os deuses nunca eram por si ss os donos do trabalho humano;

    tampouco o era a natureza. Que contradio haveria se quanto mais o homem subjugasse a natureza com seu

    trabalho, e quanto mais as maravilhas dos deuses fossem tornadas suprfluas pelas da industria, ele se

    abstivesse da sua alegria em produzir e de sua fruio dos produtos por amor a esses poderes!

    O ser estranho a quem pertencem o trabalho e o produto deste, a quem o trabalho devotado, e para cuja

    fruio se destina o produto do trabalho, s pode ser o prprio homem. Se o produto do trabalho no pertence

    ao trabalhador, mas o enfrenta como uma fora estranha, isso s pode acontecer porque pertence a um outro

    homem que no o trabalhador. Se sua atividade para ele um tormento, ela deve ser uma fonte de satisfao e

    prazer para outro. No os deuses nem a natureza, mas s o prprio homem pode ser essa fora estranha

    acima dos homens.

    Considere-se a afirmao anterior segundo a qual a relao do homem consigo mesmo se concretiza e objetiva

    primariamente atravs de sua relao com outros homens. Se, portanto, ele est relacionado com o produto de

    seu trabalho, seu trabalho objetificado, como com um objeto estranho, hostil, poderoso e independente, ele est

    relacionado de tal maneira que um outro homem, estranho, hostil, poderoso e independente, o dono de seu

    objeto. Se ele est relacionado com sua atividade como com uma atividade no-livre, ento est relacionado

    com ela como uma atividade a servio e sob jugo, coero e domnio de outro homem.

    Toda auto-alienao do homem, de si mesmo e da natureza, aparece na relao que ele postula entre os outros

    homens, ele prprio e a natureza. Assim a auto-alienao religiosa necessariamente exemplificada na relao

    entre leigos e sacerdotes, ou, j que aqui se trata de uma questo do mundo espiritual, entre leigos e um

    mediador. No mundo real da prtica, essa auto-alienao s pode ser expressa na relao real, prtica, do

    homem com seus semelhantes.

    O meio atravs do qual a alienao ocorre , por si mesmo, um meio prtico. Graas ao trabalho alienado, por

    conseguinte, o homem no s produz sua relao com o objeto e o processo da produo como com homens

    estranhos e hostis, mas tambm produz a relao de outros homens com a produo e o produto dele, e a

    relao entre ele prprio e os demais homens. Tal como ele cria sua prpria produo como uma perverso,

    uma punio, e seu prprio produto como uma perda, como um produto que no lhe pertence, assim tambm

    cria a dominao do no-produtor sobre a produo e os produtos desta. Ao alienar sua prpria atividade, ele

    outorga ao estranho uma atividade que no deste.

    Apreciamos at aqui essa relao somente do lado do trabalhador, e posteriormente a apreciaremos tambm

    do lado do no-trabalhador.

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    Assim, graas ao trabalho alienado o trabalhador cria a relao de outro homem que no trabalha e est de fora

    do processo do trabalho, com o seu prprio trabalho. A relao do trabalhador com o trabalho tambm provoca

    a relao do capitalista (ou como quer que se denomine ao dono da mo-de-obra) com o trabalho. A

    propriedade privada, portanto, o produto, o resultado inevitvel, do trabalho alienado, da relao externa do

    trabalhador com a natureza e consigo mesmo.

    A propriedade privada, pois, deriva-se da anlise do conceito de trabalho alienado: isto , homem alienado,

    trabalho alienado, vida alienada, e homem afastado.

    Est claro que extramos o conceito de trabalho alienado (vida alienada) da Economia Poltica, partindo de uma

    anlise do movimento da propriedade privada. A anlise deste conceito, porm, mostra que embora a

    propriedade privada parea ser a base e causa do trabalho alienado, antes uma conseqncia dele, tal e qual

    os deuses no so fundamentalmente a causa, mas o produto de confuses da razo humana. Numa etapaposterior, entretanto, h uma influncia recproca.

    S na etapa final da evoluo da propriedade privada revelado o seu segredo, ou seja, que , de um lado, o

    produtodo trabalho alienado, e do outro, o meio pelo qual o trabalho alienado, a realizao dessa alienao.

    Esta elucidao lana luz sobre diversas controvrsias no solucionadas:

    (1) A Economia Poltica inicia tomando o trabalho como a verdadeira alma da produo e, a seguir, nada lhe

    atribui, concedendo tudo propriedade privada. Proudhon, defrontando-se com essa contradio, decidiu em

    favor do trabalho contra a propriedade privada. Percebemos, contudo, que essa aparente contradio a

    contradio do trabalho alienadoconsigo mesmo e que a Economia Poltica meramente formulou as leis do

    trabalho alienado.

    Observamos, tambm, por conseguinte, que salrios e propriedade privadaso idnticos, porquanto os salrios

    como o produto ou objetivo do trabalho, o prprio trabalho remunerado, so apenas conseqncia necessria

    da alienao do trabalho. No sistema de salrios, o trabalho aparece no como um fim por si mas como o servo

    dos salrios. Mais tarde nos entenderemos sobre isto, limitando-nos, aqui, a desvendar algumas dasconseqncias (XXVI).

    Um aumento de salrios imposto (desprezando outras dificuldades, e especialmente a de que uma anomalia

    dessas s poderia ser mantida pela fora) no passaria de uma remunerao melhor de escravos, e no

    restauraria, seja para o trabalhador seja para o trabalho, seu significado e valor humanos.

    Mesmo a igualdade das rendasque Proudhon exige s modificaria a relao do trabalhador de hoje em dia com

    seu trabalho em uma relao de todos os homens com o trabalho. A sociedade seria concebida, ento, como

    um capitalista abstrato.

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    (2) Da relao do trabalho alienado com a propriedade privada tambm decorre que a emancipao da

    sociedade da propriedade privada, da servido, assume a forma poltica de emancipao dos trabalhadores;

    no no sentido de s estar em jogo a emancipao destes, mas por essa emancipao abranger a de toda a

    humanidade. Pois toda servido humana est enredada na relao do trabalhador com a produo, e todos os

    tipos de servido so somente modificaes ou corolrios desta relao.

    Como descobrimos o conceito de propriedade privadapor uma anlise do conceito de trabalho alienado, com o

    auxlio desses dois fatores tambm podemos deduzir todas as categorias da Economia Poltica, e em cada

    uma, isto , comrcio, competio, capital, dinheiro, descobriremos s uma expresso particular e ampliada

    desses elementos fundamentais.

    Sem embargo, antes de considerar essa estrutura, tentemos solucionar dois problemas.

    (1) Determinar a natureza geral da propriedade privadacomo resultou do trabalho alienado, em sua relao

    com a propriedade humana e social genuna.

    (2) Tomamos como fato e analisamos a alienao do trabalho. Como sucede, podemos indagar, que o homem

    aliene seu trabalho? Como essa alienao se alicera na natureza da evoluo humana? J fizemos muito para

    resolver o problema, visto termos transformado a questo referente origem da propriedade privadaem uma

    questo acerca da relao entre trabalho alienadoe o processo de evoluo da humanidade. Pois, ao falar de

    propriedade privada, acredita-se estar lidando com algo extrnseco espcie humana. Mas, ao falar de

    trabalho, lida-se diretamente com a prpria espcie humana. Esta nova formulao do problema j encerra sua

    soluo.

    ad (1) A natureza geral da propriedade privada e sua relao com a propriedade genuna.

    Decompusemos o trabalho alienado em duas partes, que se determinam mutuamente, ou melhor, constituem

    duas expresses distintas de uma nica relao. A apropriao aparece como alienao e alienao como

    apropriao; alienao como aceitao genuna na comunidade.

    Consideramos um aspecto, o trabalho alienado, em seus reflexos no prprio trabalhador, isto , a relao

    alienada do trabalho humano consigo mesmo. E constatamos ser corolrio obrigatrio dessa relao, a relao

    de propriedade do no-trabalhadorcom o trabalhadore com o trabalho. A propriedade privada, como expresso

    material sinptica do trabalho alienado, inclui ambas as relaes: a relao do trabalhador com o trabalho, com

    o produto de seu trabalho e com o no-trabalhador, e a relao do no-trabalhador com o trabalhador e com o

    produto do trabalho deste.

    J vimos que em relao ao trabalhador, que apropriaa natureza por intermdio de seu trabalho, a apropriao

    se afigura uma alienao, a atividade prpria como atividade para outrem e de outrem, a vida como sacrifcio da

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    vida, e a produo do objeto como perda deste para uma fora estranha, um homem estranho. Consideremos,

    agora, a relao deste homem estranhocom o trabalhador, com o trabalho e com o objeto do trabalho.

    Deve ser observado, de incio, que tudo que aparece ao trabalhador como uma atividade de alienao, aparece

    ao no-trabalhador como uma condio de alienao. Em segundo lugar, a atitude prtica realdo trabalhador

    na produo e face ao produto (como estado de esprito) afigura-se ao no-trabalhador, que com ele se

    defronta, como uma atitude terica.

    (XXVII) Em terceiro lugar, o no-trabalhador faz contra o trabalhador tudo que este faz contra si mesmo, mas

    no faz contra si prprio o que faz contra o trabalhador.

    Examinemos mais de perto essas trs relaes.

    [o manuscrito interrompe-se aqui]