trabalho

9
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE ENSINO SUPERIOR NORTE - CESNORS CURSO: ENGENHARIA AMBIENTAL DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO Acadêmico: Fernando Piaia

Upload: fernando-piaia

Post on 04-Aug-2015

12 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalho

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR NORTE - CESNORS

CURSO: ENGENHARIA AMBIENTAL

DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO

Acadêmico: Fernando Piaia

FREDERICO WESTPHALEN, OUTUBRO 2012.

Page 2: Trabalho

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO

No decorrer das últimas décadas a preocupação com o meio ambiente vem ocupando posição destacada na mídia, política, direito e economia. Devido a este fato vem ocorrendo muitas discussões referentes ao que é plausível e viável na manutenção do bem-estar ambiental do planeta em contraposição aos benefícios do desenvolvimento do mundo globalizado. A partir deste contexto teve origem a idéia de um desenvolvimento sustentável, partindo de um modelo de sociedade produtiva capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer os recursos necessários ao desenvolvimento das gerações futuras.

Segundo Milaré (2005), a Conferência de Estocolmo, realizada de 5 a 16 de junho de 1972 é considerada como o ponto de partida do movimento em busca do desenvolvimento sustentável, uma vez que o final da década de 60 foi o indicador de que o crescimento econômico e o processo de industrialização predatória estavam trazendo resultados desastrosos para o planeta. Esta Conferência teve a participação de 113 países, 250 ONGs e organismos da ONU.

A Declaração de Estocolmo teve como principal objetivo a cooperação internacionalpara a proteção do meio ambiente, formalmente prevista em seu Princípio 20: “Deve ser fomentada, em todos os países, especialmente naqueles em desenvolvimento, a investigação científica e medidas desenvolvimentistas, no sentido dos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais.”

Soares (2001) ressaltava que, já nas reuniões preparatórias à Conferência de Estocolmo, ficaria evidente a oposição entre países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento. O controle populacional e a redução de crescimento econômico foram contestados por parte dos países em desenvolvimento, pois viam nesses objetivos um movimento de ampliação da subordinação internacional dos países subdesenvolvidos aos países desenvolvidos. Nesse sentido, foram incluídas na declaração princípios que tentavamresguardar a soberania dos Estados sobre seus territórios e sobre seus recursos naturais. Nessesentido, sustentava que para os primeiros, o desenvolvimento seria a causa de problemas ambientais. Para os últimos, seria o veículo de correção dos desequilíbrios ambientais e sociais. A melhoria da qualidade ambiental dos países em desenvolvimento dependeria da obtenção de melhores condições de saúde, educação, nutrição e habitação, apenas alcançáveis através do desenvolvimento econômico.

A influência da comunidade científica fortaleceu-se nos anos seguintes à Estocolmo graças aos tratados internacionais, como a Convenção de Viena para a Proteção da Camada deOzônio, encerrada em março de 1985, e Protocolo de Montreal sobre Substâncias que destroem a Camada de Ozônio, encerrado em setembro de 1987, quando este fenômeno até então desconhecido.

Em 1983, a Assembléia Geral das Nações Unidas criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que durante três anos visitou todos os países e realizou reuniões deliberativas em diversas cidades e encerrou suas atividades em 1987, com a entrega do Relatório Brundtland que dá especial atenção aos problemas econômicos, sociais e ambientais, à Assembléia Geral das Nações Unidas. Silva (2002) aponta que o Relatório Brundtland, sugeriu, entre outras coisas, que a Assembléia deveria considerar a conveniência de ser convocada uma conferência internacional para avaliar os progressos obtidos pós-Estocolmo. Assim, o Relatório Brundtland e a Resolução 44/2289, aprovada por consenso pela Assembléia Geral, em dezembro de 1989, foram fundamentais na preparação da Conferência de 1992, a ser realizada no Rio de Janeiro.

Page 3: Trabalho

Nesta Conferência foi consagrado o termo “desenvolvimento sustentável” cujo objetivo principal é a compatibilização entre as dimensões econômica, social e ambiental. Este conceito, segundo Silva (2002), contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram de maior responsabilidade dos países desenvolvidos, responsável por maior parcela de emissão de gases poluentes. Reconheceu-se, ainda, a necessidade de os países em desenvolvimento receberem apoio tecnológico e financeiro a fim de atingirem um maior desenvolvimento sustentável sem, contudo, isentá-los de suas responsabilidades para com as questões ambientais, baseado no princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada.

Um dos programas estabelecidos pela Agenda 21, desenvolvido na Declaração sobre Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento (Declaração da Rio-92) se refere a poluição atmosférica transfronteiriça, cujo principal desafio é o controle das emissões de gases pelas indústrias e automóveis, que causam a chuva ácida e contribuem de forma efetiva para o efeito estufa e, consequentemente, para o aquecimento global. O combate à poluição atmosférica transfronteiriça pode ser identificado no Princípio 14 da Declaração da Rio-92 que faz alusão ao princípio da cooperação internacional: “Os Estados devem cooperar efetivamente para desestimular ou impedir a recolocação ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que causem grave degradação ambiental ou sejam nocivas à saúde humana”.

Inegavelmente, as tragédias serviram de substrato inicial para o desenvolvimento da preocupação com o meio ambiente. Este, com seus recursos extraídos de forma predatória e usados como depósito de lixo dos resíduos da evolução da tecnologia e produção. Dentre estes desastres, seguem abaixo alguns com significativa repercussão em suas épocas.

O acidente na Baía de Minamata-Japão: O caso foi provocado pelo despejo de efluentes industriais, sobretudo mercúrio, na Baía de Minamata. O mercúrio presente em resíduos industriais despejados durante anos na baía de Minamata, no sul do Japão, contaminou o pescado da região. De 1953-1997, 12.500 pessoas haviam sido diagnosticadas com o “Mal de Minamata”. É uma contaminação que degenera o sistema nervoso e é transmitida geneticamente, acarretando deformação nos fetos. As consequências: surdez, cegueira e falta de coordenação motora. A repercussão só se deu em 1972, quando por força de decisão judicial inédita no mundo, as vítimas passaram a receber indenizações pelos males sofridos.

O acidente de SEVESO-ITALIA (1976): Em 10 de julho de 1976, sábado, em Seveso, cidade italiana perto de Milão, o superaquecimento de um dos reatores da fábrica de desfolhantes (agente laranja utilizado na Guerra do Vietnã ) liberou densa nuvem que, entre outras substâncias, continha dioxina, produto químico muito venenoso. A nuvem baixou no solo, atingindo um setor da cidade e voltou a subir. Logo no domingo, começaram a morrer animais domésticos, e dias depois os moradores, principalmente crianças, apresentando sintomas de grave intoxicação. As 733 famílias da região afetada foram retiradas, e abriram-se crateras de 200 metros de diâmetro para enterrar tudo que se encontrasse na área contaminada.

Acidente de BHOPAL-ÍNDIA (1984): Vazamento de isocianato de metila, gás altamente venenoso que matou 3.300 pessoas, além de bois, cães e aves, na cidade de Bhopal, na India, em 4 de dezembro de 1984. O número citado é apenas oficial, correspondente às primeiras horas após o acidente. Na verdade, dos aproximadamente 680.000 habitantes de Bhopal na ocasião, 525.000 foram afetados, muitos gravemente, o que leva a crer que o total de mortos teve crescimento desde então. A fábrica de pesticida onde ocorreu o vazamento foi imediatamente fechada pelo governo indiano, e Bhopal, semanas depois da tragédia, estava praticamente vazia. A maior parte da população fora retirada ou fugira.

Acidente na BASILÉIA-SUÍÇA (1986): Rio Reno. Derramamento de agrotóxico no recurso hídrico.

Page 4: Trabalho

Acidentes Nucleares: Flisborough(Reino Unido, 1974)-Explosão de uma planta de caprolactama devido à ruptura de tubulação. 28 mortos; Three Mile Island, Harrisburg, Pensilvânia (EUA, 1979). 200 mil pessoas abandonaram a região nos primeiros dias depois do desastre. Chernobyl (Ucrania)- Explosão de um reator da usina em 1986, espalhou radioatividade em quantidade superior a 10 bombas atômicas do tipo lançado em Hiroshima. Danos: Morte de 10 mil pessoas e arredores. 600 mil trabalhadores encarregados da limpeza de Chernobyl após os desastres foram afetados pela radiação em doses críticas e 200 mil pessoas foram retiradas da região pelo governo; Goiânia – Acidente Radiológico ocorrido em setembro de 1987. Segundo dados, foram atingidas 250 pessoas e morreram quatro pessoas.

Grandes acidentes marítimos com petroleiros. Atlantic Express (1979) derramou 276.000 toneladas de petróleo bruto; Amoco Cadiz (282.000 toneladas); Torrey Canyon e Exxon Valdez ( 240.000 barris). O resultado eram as “marés negras” que, jogadas para as costas dos países, chegavam às praias, matavam aves e, sobretudo, onde havia mangue, o tornava inapto à continuar sendo o berço de reprodução de crustáceos e outros animais deste ecossistema peculiar.

A necessidade de proteção ambiental nem sempre foi tratada no Brasil da forma que deveria ser, porém denota-se que muito embora esse tratamento tenha sido feito de forma insuficiente, sempre se falou nessa matéria. Foi uma longa jornada percorrida até o alcance do entendimento atual de que a proteção ambiental é e sempre será necessária como uma forma de proteção do homem, sendo este atualmente o centro das atenções quanto a esse assunto.

O inicio Direito Ambiental no Brasil ocorreu quando este ainda era colônia de Portugal, assim a fase colonial brasileira pode ser considerada como período embrionário do atual Direito Ambiental brasileiro.

Na época, defendia meios que evitassem a escassez e a falta de alimentos (mediante a proibição de transporte de certos gêneros alimentícios), proteger os animais por meio da proibição, de furto de aves, e a proteção dos recursos florestais mediante a proibição de corte deliberado de árvores frutíferas.

É considerado como o nascimento do Direito Ambiental Brasileiro, o período logo após 1548, quando o governador Geral passou a expedir regimentos, ordenações, alvarás, e outros instrumentos legais. A partir daí a legislação ambiental se desenvolveu, mas só tomou corpo realmente durante o século XVIII, através das cartas de leis, que eram determinação de caráter geral, por tempo indeterminado, muitas vezes confundidas com os alvarás que deveriam ter eficácia por um ano.

Após essas ordenações existiram no Brasil outros regramentos que tutelavam o meio ambiente como, por exemplo, a legislação florestal que surgiu da carta régia de 08 de maio de 1773 escrita por D. Maria I, que ordena ao Vice Rei do Estado do Brasil, um cuidado especial com as madeiras cortadas nas matas, determinando cuidado na conservação das matas.

Em 1787, foram expedidas cartas régias declarando propriedade da Coroa todas as matas e arvoredos existentes à borda da costa ou dos rios que desembocassem imediatamente no mar e por qualquer via fluvial que permitisse a passagem de jangadas transportadoras de madeiras.

Em 1799, surgiu o Regimento de Cortes de Madeira que estabelecia rigorosas regras para derrubada de árvores. Em 1802 foram baixadas as primeiras instruções para se reflorestar a costa brasileira, já bastante devastada.

Em 1830 com a promulgação do primeiro Código Criminal, dois artigos impunham penas para o corte ilegal de madeiras.

Na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, buscou-se proteger os recursos naturais de importância econômica, estabelecendo normas que regulamentaram o acesso e o uso.

Page 5: Trabalho

Com a Revolução de 30 e da Revolução Constitucionalista de 1932, ocorrida em São Paulo, foi elaborada uma nova Constituição Federal em 1934, a qual buscava conciliar capital e trabalho, estabelecendo um modelo teórico que fosse capaz de acomodar conflitos presentes no Brasil, como a crise cafeeira e a industrialização que começava a se desenvolver aceleradamente.

Foi na Constituição Federal de 1934 que a legislação ambiental passou a ser mais abrangente e foi criado o Código Florestal (Decreto 23.793 de 23.01.1934) e o Código de Águas (Decreto 26.643 de 10.7.1934), o Código de Pesca (Decreto lei 794 de 19.10.1938).

O Código Florestal de 1934, já continha normas mais específicas de proteção dos recursos naturais. Atribuindo às florestas a condição de bens de interesse comum a todos os habitantes do país e determinando limitações ao exercício do direito de propriedade.

Na década de 60, houve a Constituição Federal em 1967, emendada em 1969. Essa constituição manteve como na anterior a necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e paisagístico e disse ser atribuição da União legislar sobre as normas gerais de defesa da saúde, sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas.

Em 1967 teve início a legislação federal com o Decreto Lei 248 de 28.2.1967 que instituiu a Política Nacional de saneamento básico, que se preocupava com a chamada ‘poluição da pobreza’. Na mesma época surgiu o Decreto Lei 302, que criou o Conselho Nacional de Controle da Poluição ambiental. Ambos não tiveram muito tempo de vida, oito meses após sua edição foram revogados pela Lei 5318 de 26.9.1967, que instituiu a Política Nacional de Saneamento básico, com a criação do Conselho Nacional de Saneamento. E ainda a Lei 5197 de 3.3.1967, denominada Lei de Proteção à Fauna, que pouco avançou na integração normativa entre a fauna, os ecossistemas e a biodiversidade.

A legislação com enfoque direcionado ao meio ambiente teve início com a promulgação da Lei 6938/81 (Lei da Política Nacional do Meio ambiente), onde foi estabelecida uma Política Nacional para proteção do Meio ambiente, com a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), acompanhada da Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e, bem mais recentemente, da Lei 9605/98, que, em conjunto, formam o tripé de sustentação do atual sistema nacional de proteção do ambiente, ao lado do artigo 225 da CF de 1988. Visava estabelecer uma harmonia entre os diferentes dispositivos voltados para a defesa do Meio Ambiente. A norma constitucional ambiental faz a interseção entre as normas de natureza econômica e aquelas destinadas à proteção dos direitos individuais.

Vários artigos são dedicados a tratar do meio ambiente, sejam vinculados direta ou indiretamente conforme se descreve: Art. 5º, incisos XXIII, LXXI, LXXIII; art. 20, incisos I à XI e parágrafos 1ºe 2º; art. 21, incisos XIX, XX, XXIII, alíneas a, b, c, XXV; art. 22, incisos IV, XII e XXVI; art. 23, incisos I, II, III, IV, VI, VII, IX, XI; art. 24, incisos VI, VII, VIII; art. 43, parágrafo 2º, IV, e parágrafo 3º; art. 49, incisos XIV, XVI; art. 91, parágrafo 1º, inciso III; art. 129, inciso III; art. 170, inciso VI; art. 174, parágrafos 3º 3 4º, art. 176 e parágrafos; art. 182 e parágrafos; art. 186; art. 200, incisos VII e VIII; art. 216, inciso V e parágrafos 1º, 3º e 4º; art. 225; art.231; art. 232; e, atos das disposições Constitucionais transitórias, os art. 43, 44 e parágrafos. O artigo 225 caracteriza e concretiza a interseção entre a ordem econômica e os direitos individuais.

A evolução da legislação ambiental brasileira está diretamente relacionada ao avanço da tecnologia e dos meios de produção, à medida que estes se desenvolviam, surgia à necessidade de novas normas que regulamentavam a utilização dos recursos naturais necessários para viabilizar este crescimento, buscando minimizar os impactos causados ao ambiente. Fato semelhante ao que ocorreu em praticamente todo o mundo, porém, cada pais elaborou suas normas de acordo com suas necessidades.

Page 6: Trabalho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Declaração sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, Brasil, 1992.Disponível em: <http://www.interlegis.leg.br/informacao/copy_of_20020319150524/20030625102846/20030625104533> acesso em 25/10/12.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 4 edição, 2005, p. 1003.

ONU, Declaração da Conferência da ONU no Ambiente Humanos, Estocolmo, Suécia, 5-16 de Junho de 1972. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc> acesso em: 25/10/12.

SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento. Direito Ambiental Internacional. 2ª edição. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2002.

SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente - Emergências, Obrigações e Responsabilidades. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p.54.